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  • 7/25/2019 Politica de boa vizinhana dos EUA

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    A Poltica deBoa Vizinhanaea influncia cultural estadunidensenaAmricaLatina

    GuilhermeAugustodoNascimento eSilvaJ onatas Pinto Lima

    Estudantes do cursodeHistriaDepartamento deArtes eHumanidades - UFV

    Resumo

    O objetivo do presente artigo analisar a fora da influncia cultural dos Estados

    Unidos da Amrica nos pases latino-americanos, tendo como ponto central a Poltica de Boa

    Vizinhana, criada por F. D. Roosevelt na primeira metade da dcada de 1930. Iniciamos

    nosso estudo a partir da criao do Office of the Coordinatior of Inter-American Affairs

    (OCIAA) - posteriormente denominado Office of Inter-American Affairs (OIAA) - em agosto

    de 1940. Focaremos-nos na influncia exercida por este rgo na produo e exibio

    cinematogrficas dos pases latino-americanos, alm de analisar outros aspectos da influncia

    cultural estadunidense nestes pases, como na difuso radiofnica, msica, literatura e

    fotografia.

    Palavras-chave:Poltica de Boa Vizinhana; Influncia cultural; Amrica Latina; Estados

    Unidos da Amrica.

    Os Eua usavam a produo artstica c omo forma

    de influncia

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    A cooperao e a amizade geram tticas maiseficientes do que ameaas e interveno armada. (DIVINE, 1992, p. 590)

    I I ntroduo

    O objetivo do presente trabalho analisar a fora da influncia cultural dos Estados

    Unidos da Amrica nos pases latino-americanos, tendo como ponto central a Poltica de Boa

    Vizinhana, criada por F. D. Roosevelt na primeira metade da dcada de 1930. Iremos iniciar

    nossa anlise a partir da criao do Office of the Coordinatior of Inter-American Affairs

    (OCIAA) - posteriormente denominado Office of Inter-American Affairs (OIAA) - em agosto

    de 1940, rgo utilizado, pelo governo dos Estados Unidos, com a inteno de implantar o

    modo de vida estadunidense na Amrica Latina como um meio de diminuir a influncia dospases do Eixo neste mesmo continente, alm de visar consolidao do domnio poltico e

    benefcios econmicos.

    Focaremos nossa anlise na influncia exercida por este rgo na produo e exibio

    cinematogrficas dos pases latino-americanos, alm de avaliar outros aspectos da invaso

    cultural estadunidense nestes pases, como na difuso radiofnica, msica, literatura e

    fotografia. Frisando sempre que tal penetrao modificou os meios de se fazer arte em toda a

    Amrica Latina, ao mesmo tempo em que reinventou os valores sociais e simblicos das

    populaes nestes pases. (CATANI, 1997, p. 309).

    No devemos esquecer que as elites dos pases latino-americanos apoiaram esta

    penetrao cultural, para atravs desta satisfazerem seus interesses, os quais estavam, na

    maioria das vezes, diretamente ligados aos Estados Unidos.

    I I A Poltica deBoa Vizinhana

    Aps o crashda bolsa de Nova York em 1929 e o incio da Grande Depresso, osEstados Unidos, passando por vrios problemas internos, precisavam mudar suas tticas de

    domnio na Amrica Latina. A Doutrina Monroe e o seu corolrio (AYERBE, 2004) foram

    repudiados no incio da dcada de 1930, por serem considerados agressivos e prejudiciais para

    a imagem do pas na comunidade internacional. Ao ser eleito presidente dos Estados Unidos

    em 1932, Franklin D. Roosevelt cria a poltica de Boa Vizinhana, que tem por preceito, a no

    interveno militar como modo de impor o domnio sobre o continente, mas sim criar formas

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    mais sutis e eficazes de atingir seus objetivos nos pases latino-americanos, melhorando as

    relaes diplomticas com os mesmos.

    F. D. Roosevelt lanou as bases da chamada Poltica de Boa Vizinhana,que, entre outras coisas, retirou os marines dos pases centro-americanos quesofriam interveno, estreitou laos diplomticos com os pases sul-americanos e inseriu organismos multilaterais de negociao na pautaexterna americana. (FERES, 1999, pp. 185-186)

    Esta poltica estava fixada no princpio do pan-americanismo, na perspectiva de uma

    Amrica como a terra da liberdade, com a idia de uma comunidade americana de naes,

    provocando a criao de uma solidariedade continental. Esses anos de 1933 a 1945

    representaram para a Amrica Latina, em todas as esferas das relaes continentais, suainsero passiva na poltica de boa vizinhana. (MACHADO, 2004, p. 1) Esta poltica dos

    EUA consistia em influenciar culturalmente os pases latino-americanos, exportando o modo

    de vida estadunidense.

    Foi neste contexto que os brasileiros aprenderam a substituir os sucosde frutas tropicais onipresentes mesa por uma bebida de gostoestranho e artificial chamada Coca-Cola. Comearam tambm a trocarsorvetes feitos em pequenas sorveterias por um sucedneo industrialchamado Kibon, produzido por uma companhia que se deslocara s

    pressas da sia, por efeito da guerra. Aprenderam a mascar uma gomaelstica chamada chiclets e incorporaram novas palavras que foramintegradas sua lngua escrita. Passaram a ouvir o fox-trot,o jazz,e oboogie-woogie, entre outros ritmos, e assistiam agora a muito maisfilmes produzidos em Hollywood. Passaram a voar nas asas daPanAmerican, deixando para traz os aeroplanos da Lati e daCondor.(MAUAD, p. 49)

    Os EUA utilizariam este novo modo de vida para obter maiores benefcios econmicos

    e aumentar sua influncia poltica. Alm do plano cultural,

    [...] havia o declarado interesse, por parte do Departamento de Estado dosEUA, em consolidar a presena norte-americana na Amrica Latina atravsde acordos comerciais, planos de cooperao internacional e, por fim, dealianas polticas que garantissem a hegemonia dos Estados Unidos naregio. (MAUAD, 2005, p. 45)

    Surge desta maneira, no um imperialismo em seus moldes tradicionais, mas um

    imperialismo cultural (WINKS, 1972, p. 270).

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    II I A I nfluncia Cultural Estadunidense

    Atravs da ao do OCIAA, os EUA procuraram estimular um intercmbio cultural

    com os pases latino-americanos, de modo a impor a ideologia e a cultura estadunidenses,criando um sentimento de solidariedade continental na Amrica. Este rgo governamental

    atuava em vrios mbitos, contendo diversas divises, sendo estas: comunicaes, relaes

    culturais, sade e comercial/financeira, alm de suas respectivas subdivises. A ao

    ideolgica do OCIAA visava incorporao dos pases latino-americanos ao discurso poltico

    estadunidense de liberdade e democracia, pois este pas observava no restante do continente a

    possibilidade de proliferao de prticas polticas de tendncias fascistas. Ressaltamos

    tambm, que no discurso estadunidense, estava imbuda a doutrina do destino manifesto

    1

    ,

    [...] que concebe a Amrica do Norte como o local da perfeio e quecompreende a sua interveno, em outras regies do mundo, como atentativa de estender tal perfeio. Os pilares desse sonho de perfectibilidadeseriam a Democracia e a Liberdade introduzidas pela homogeneizaocultural, como mais um produto a ser consumido (MAUAD, 2005, p. 46)

    O OCIAA, atravs de acordos com instituies culturais estadunidenses, inicia um

    programa de intercmbio cultural com os pases latino-americanos, concedendo bolsas de

    estudos a artistas, promovendo exposies de arte e festivais de msica latino-americanas em

    lugares como o Museu de Arte Moderna de Nova York (MAUAD, 2005, p. 48). Durante esse

    processo ocorre a vinda do escultor estadunidense Jo

    Davidson Amrica Latina para esculpir os bustos de

    inmeros presidentes de pases do continente. Tambm Walt

    Disney, patrocinado por este programa, cria o personagem

    Z Carioca, amigo brasileiro do Pato Donald, representando

    as relaes de boa vizinhana entre Brasil e EUA. GersonMoura, emTioSamchega ao Brasil, diz:

    1Sobre a Doutrina do Destino Manifesto e a poltica moral estadunidense ver, DONOGHUE, D. Os verdadeirossentimentos da Amrica, p. 216-32; e CHACE, J. Sonhos de perfectibilidade: a excepcionalidade americana e a

    busca de uma poltica externa moral, p. 233-44; In: DONOGHUE, D. et al.; A Amrica em teoria.Rio deJaneiro: Forense Universitria, 1993.

    O imperialismo estadunidenseabrangia todasasfaixas etrias.

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    Z Carioca falador, esperto e f de Donald; sente um imensoprazer em conhecer o representante de Tio Sam e logo o convidapara conhecer as belezas e os encantos do Brasil.Brasileiramente, faz-se intimo de Donald quando este lhe

    estende a mo, Z Carioca lhe d um grande abrao -, que aceitao oferecimento e sai para conhecer o Brasil (MOURA, 1988, p.78).

    No mesmo contexto, rico Verssimo convidado a ministrar um curso de literatura

    brasileira na Universidade de Berkeley, Califrnia. Segundo Ronaldo Machado, Verssimo, ao

    ministrar este curso, evidenciou a pluralidade da cultura brasileira, apoiando o dilogo

    interamericano, mas sem se render aos interesses de hegemonia cultural e econmica

    estadunidense. Verssimo defendeu uma troca cultural benfica a ambas as partes, sem que

    houvesse imposio por parte dos EUA. Apesar de convidado oficial do Departamento de

    Estado estadunidense, ele criticou a viso estereotipada do Brasil existente nos EUA criada

    e difundida principalmente por Hollywood naquilo que camuflava os interesses

    estratgicos de dominao, reivindicando uma negociao mais justa, por assim dizer, no

    conjunto das relaes entre EUA e Brasil (MACHADO, 2004, p. 3). Neste curso, o autor, ao

    afirmar a literatura brasileira como meio de construo da identidade nacional, visava mostrar

    que o Brasil tinha muito a oferecer no dilogo pan-americano, equilibrando o materialismoianque com o carter mais humano do brasileiro (MACHADO, 2004, p. 2)

    Rdio

    O rdio tinha grande importncia para a populao da Amrica Latina, j que a partir

    da dcada de 1920, foi cada vez maior o nmero de pessoas que este meio de comunicao

    veio a alcanar. O rdio, como mass media, se consolidou nos anos 1930-40. Assim, os EUA,

    viram neste meio de comunicao grande oportunidade de disseminarem sua ideologia, com a

    inteno de conquistar a opinio pblica, influenci-la, e, se possvel, manipul-la

    (KLOCKNER, 2001, p. 4).

    O pacote cultural-ideolgico dos EUA trouxe Amrica Latina um novo meio de se

    fazer rdio jornalismo, atravs de O Reprter Esso, que era transmitido a inmeros pases

    Z Carioca criado para representar apoltica da Boa Vizinhana

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    latino-americanos2. Este noticirio era caracterizado pela aparncia de objetividade,

    imparcialidade e exatido, texto sucinto, direto e vibrante, pontualidade, noo do tempo

    exato de cada notcia; contrapondo-se aos longos jornais falados da poca. Assim, este

    noticirio influenciou no modo de se fazer rdio jornalismo, implantando inmeras tcnicasantes no utilizadas na Amrica Latina.

    O controle [das notcias] era quase completo, pois a United Press [empresaresponsvel pela produo do noticirio], na origem, definia qual ainformao passvel de ser divulgada, enquanto a autocensura dosprodutores e editores se encarregava de bloquear as notcias de carter'duvidoso'. As regras impostas no Manual de Produo do Reprter Essonoeram imparciais como pareciam, atuando como uma camisa-de-fora capazde evitar que informaes opostas aos interesses da empresa fossemdifundidas. (KLOCKNER, 2001, p. 15)

    Alm desta influencia na rea profissional, o Reprter Esso ainda influiu nas disputas

    polticas, ideolgicas e culturais no continente neste perodo. Difundiu os ideais dos Aliados

    contra o nazi-facismo, por meio de sua ligao com o OCCIA, fazendo despertar o sentimento

    de defesa da ptria, condenado a ao do Eixo e apoiando a liberdade. O noticirio utilizava-

    se de artifcios retricos para manipular as notcias e conquistar a opinio pblica, colocando

    adjetivos valorativos para os feitos dos Aliados e depreciativos para os inimigos.

    O exemplo do Brasil significativo para compreendermos a magnitude da capacidadede formao da opinio pblica por parte deste noticirio. No momento em que o presidente

    Vargas decidiu apoiar os Aliados na Guerra, no ano de 1942, no houve surpresa da

    populao, pois havia uma espcie de consenso na opinio pblica de que esta era a melhor

    deciso. (KLOCKNER, 2001, p. 15)

    O Reprter Esso, como est implcito em todos os meios de penetrao cultural

    estadunidense, tambm contribuiu para a difuso do american way of life e da ideologia

    capitalista nos pases em que atuava. Seus comerciais incentivavam a compra de diversos

    bens, estimulando a americanizao do continente. E junto com a sntese noticiosa,

    chegaram os chicletes, a Coca-Cola, as revistas em quadrinhos e uma srie de hbitos

    americanos. (KLOCKNER, 2001, p. 15).

    Msica

    2

    Argentina, Brasil, Costa Rica, Cuba, Nicargua, Panam, Repblica Dominicana, Porto Rico, Venezuela,Colmbia, Peru, Chile e Uruguai. (KLOCKNER, 2001, p. 5)

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    A msica uma produo cultural que foi fortemente influenciada pelos EUA,

    provocando uma desnacionalizao, tanto das letras, quanto dos ritmos nos pases latino-

    americanos. Nota-se grande influncia da Poltica de Boa Vizinhana na produo musical

    dos pases latino-americanos, principalmente a partir da dcada de 1940.Tal influncia era exercida mais no que diz respeito ao acesso ao mercado fonogrfico.

    Os meios de produo e distribuio musical eram, no Brasil, controlados pelo Estado atravs

    da ao do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), associado ao OCIAA. S tendo

    espao, em tal mercado, msicas sofisticadas, harmnica e linguisticamente, atendendo

    assim, a uma demanda global. Esta msica tinha influncia dos arranjos de jazz; a temtica

    lrica se tornando ufanista, no contando mais com grias e perdendo o carter regionalista,

    incorporando temticas impostas ideologicamente (VICENTE, 2006)O DIP, em acordo com o OCIAA, agiu para fomentar uma interao cultural entre os

    EUA e Brasil, divulgando este ltimo atravs da msica, sendo esta um importante

    instrumento de divulgao cultural e turstica do pas, e tendo peso na construo de uma

    imagem do Brasil no exterior. (VICENTE, 2006, p. 8)

    Ocorreu no Brasil, assim, um processo de internacionalizao do samba, que saiu do

    morro para ser consumido pelas elites. Tal influncia foi marcante, e teve implicaes em

    variados movimentos posteriores na msica brasileira, como a Tropiclia e a Bossa Nova.

    Houve tambm uma interao entre cinema e msica, nos pases da Amrica Latina,

    com o advento do cinema sonoro. Nestes pases, as trilhas sonoras e canes presentes nos

    filmes hollywoodianos influenciaram fortemente os compositores musicais, sendo uma

    referncia permanente para suas composies, evidenciando grande influncia do OCIAA e

    provocando a desnacionalizao musical latino-americana. (VICENTE, 2006, p. 15)

    Um exemplo da Poltica de Boa Vizinhana se refere ao poder do Governo

    estadunidense em arregimentar corporaes ao seu programa de domnio continental, para

    promover tambm o american way of life. A Coca-Cola uma destas empresas, que iniciauma propaganda macia no Brasil, que entre outras aes, patrocina o programa Um milho

    de Melodias na Rdio Nacional (VICENTE, 2006, p. 22). Seu objetivo era transmitir

    msicas brasileiras com as influncias das harmonias do jazz, como j citado anteriormente.

    Fotografia

    A fotografia foi tambm um outro meio pensado para se criar este sentido de

    comunidade e integrao entre as Amricas. O OCIAA patrocinava fotgrafos estadunidenses

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    em viagens a pases latino-americanos para tirarem fotos que criassem uma imagem positiva

    destes pases, de progresso e desenvolvimento, e tambm um sentimento de homogeneidade,

    de pases sem contradies.

    Ana Maria Mauad analisa a atuao de Genevieve Naylor, contratada pelo OCIAApara fazer este tipo de trabalho fotogrfico no Brasil. A autora afirma que, diferentemente dos

    desejos do OCIAA e tambm do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), Genevieve

    no seguiu o protocolo criando uma imagem estereotipada e simplista do Brasil. A fotgrafa

    procurou capturar a espontaneidade e a simplicidade do povo brasileiro, sem enquadr-lo

    como extico, conseguindo expor a heterogeneidade do pas, evidenciando as contradies

    entre tradicional e moderno.

    Percebemos, a partir deste exemplo, que o OCIAA no tinha total controle sobre aao de seus empregados e que o esforo de se criar uma imagem estereotipada e homogenia

    dos pases latino-americanos para o pblico estadunidense, nem sempre se efetivava.

    Por sua vez, a fotografia obteve grande impacto nos pases do continente americano,

    principalmente por conta da insero de revistas estadunidenses no mercado editorial, como a

    Life, Time e Selees Readers Digest,que eram recheadas de fotografias dos EUA, que

    encantavam os leitores do restante do continente. Neste contexto, houve ento uma difuso do

    american way of life atravs deste tipo de revista e suas fotografias. Estas revistas tambm

    ajudaram os outros objetivos da Poltica de Boa Vizinhana, como a neutralizao da

    influncia do Eixo na Amrica Latina.

    Cinema

    O cinema foi uma das principais armas do OCIAA, e conseqentemente do Governo

    estadunidense, para a divulgao e difuso de suas ideologias na Amrica Latina, na tentativa

    de criar este sentimento pan-americanista. O OCIAA investiu grande parte de seus recursosna questo cinematogrfica. Fez parcerias com estdios de Hollywood e tambm um

    investimento paralelo na produo de filmes documentrios.

    O OCIAA investiu significativamente na produo de filmes documentrios para a

    elaborao de uma imagem positiva dos pases latino-americanos dentro dos EUA. O objetivo

    do rgo era tentar criar a solidariedade pan-americana na populao estadunidense,

    disponibilizando para audincias norte-americanas um crescente nmero de filmes voltados

    para a descrio dos costumes, estilo de vida, tradies, hbitos, educao, cincia e arte das

    demais Repblicas Americanas.(MAUAD, 2005, p. 58)

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    Tambm ocorreu a situao inversa, ou seja, a distribuio de filmes documentrios

    sobre os EUA nos pases latino-americanos, que difundiam a imagem do pas como um

    modelo a ser seguido. Na avaliao do OCIAA, o grande investimento na produo de filmes

    estava vinculada capacidade deste meio em atingir largas audincias, principalmente nocaso da Amrica Latina, onde boa parte do pblico alvo era analfabeto. (MAUAD, 2005, p.

    58) A Motion Picture Division (MPD) era a diviso encarregada deste trabalho no OCIAA.

    Esta diviso fazia o trabalho de dublagem dos filmes para o portugus e castelhano, alm de

    cuidar da distribuio das pelculas nas repblicas americanas. Tambm produziam Cine

    jornais, que apresentavam notcias principalmente sobre a participao dos Aliados na

    Segunda Guerra, e tinham a inteno de conquistar o apoio da opinio pblica causa Aliada.

    Houve um projeto amplo de distribuio dos filmes, que contava, por exemplo, com adisponibilizao de uma frota de 200 caminhes para percorrer as cidades do interior dos

    pases da Amrica Latina, com o objetivo de atingir um pblico normalmente excludo deste

    tipo de mdia, ampliando a esfera de influncia ideolgica estadunidense.

    A invaso macia das produes de Hollywood, em grande parte financiada pelo

    OCIAA, transformou o modo de se fazer cinema nos pases latino-americanos, inserindo

    novas temticas e novas tcnicas cinematogrficas, influindo e conseqentemente

    transformando o gosto do pblico. Ao criar uma indstria de cinema nestes pases, foram

    suprimidas as produes propriamente nacionais, feitas de modo mais artesanal e com maior

    autonomia criativa. Mxico e Argentina, anteriormente exportadores de filmes para os pases

    de lngua espanhola, sofreram um declnio de suas exportaes com a entrada das produes

    estadunidenses neste mercado (CATANI, 1997, p. 310), ocorrendo, deste modo, uma

    deteriorizao das produes, por ser criado um novo modelo produtivo, que estes pases no

    conseguiram combater.

    Os filmes Hollywoodianos financiados pela OCIAA e exportados para o restante da

    Amrica, evitavam a exposio de instituies e costumes estadunidenses que pudessem sermalvistos pelos latino-americanos, como a discriminao racial e banimento, por exemplo,

    dos bandidos mexicanos, bastante comuns na cinematografia hollywoodiana de perodos

    anteriores. Estes filmes tinham carter de disseminao poltico-ideolgica, visando

    dominao e controle do continente.

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    Aproximao das naes para c om os Estados Unidos.

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    IV Concluso

    Diante dos inmeros aspectos sobre a ao cultural da Poltica de Boa Vizinhana

    tratados, fica claro a amplitude do programa de dominao do continente, que, de uma formaou de outra, continuou sendo um prolongamento da Doutrina Monroe.

    Percebemos que este programa obteve sucesso e conseguiu alcanar a maioria dos

    objetivos pretendidos, como a erradicao da influncia nazi-fascista do continente e a

    implantao de hbitos estadunidenses nas mentes das populaes latino-americanas. Mas,

    mesmo com este sucesso, no podemos afirmar que as caractersticas culturais nacionais

    foram prejudicadas completamente. O que ocorreu foi uma fuso entre as caractersticas

    nacionais e dos EUA, criando novas formas de expresso cultural.

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    Foto1:www.cantocidadao.org.br/imagens/palhacos.gif

    Foto2:www.imigrantecristao.com/60/materias/disney.jpg

    Foto3: www.petfriends.com.br/comunidade/zecarioca_4.gif

    Foto4:www.terrabrasileira.net/.../influenc/xadrez.jpg

    ropeus esto perdendo..

    http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/br/arquivos/nucleos/artigos/Ayerbe1.pdf.http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/br/arquivos/nucleos/artigos/Ayerbe1.pdf.http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/handle/1904/4602.http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/handle/1904/4602.http://www.multirio.rj.gov.br/seculo21/pdf/samba/estado_novo_ok.pdf.http://www.cantocidadao.org.br/imagens/palhacos.gifhttp://www.imigrantecristao.com/60/materias/disney.jpghttp://www.petfriends.com.br/comunidade/zecarioca_4.gifhttp://www.terrabrasileira.net/.../influenc/xadrez.jpghttp://www.pdfdesk.com/http://www.terrabrasileira.net/.../influenc/xadrez.jpghttp://www.petfriends.com.br/comunidade/zecarioca_4.gifhttp://www.imigrantecristao.com/60/materias/disney.jpghttp://www.cantocidadao.org.br/imagens/palhacos.gifhttp://www.multirio.rj.gov.br/seculo21/pdf/samba/estado_novo_ok.pdf.http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/handle/1904/4602.http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/br/arquivos/nucleos/artigos/Ayerbe1.pdf.