política da ibis sobre a igualdade de género

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Política da Ibis sobre a igualdade de género Aprovado pelo Conselho da Administração da Ibis, Novembro 2005 1 Política da Ibis sobre a igualdade de género A política da igualdade de género é considerada uma ferramenta importante, a fim de tornar a visão da Ibis numa realidade. A visão da Ibis é a seguinte: “No ano 2012, as pessoas pobres representar-se-ão a si próprias, independentemente do estrato social, raça, género e etnia. Poderão exigir que os seus direitos individuais e colectivos sejam respeitados, querendo tanto uma parte justa no poder político, como uma parte equitativa na riqueza do planeta. ... O fosso da desigualdade existente entre homens e mulheres está a ser reduzido, de forma a que ambos os sexos tenham voz activa na tomada de decisão, enquanto adquirem direitos e acesso a recursos iguais. Além disso, foram dados passos significativos no que respeita ao desenvolvimento global sustentável” – Visão 2012. A Ibis reconhece que as relações de poder desiguais entre os homens e mulheres constituem um obstáculo crucial para se alcançar o desenvolvimento democrático, bem como combater as causas estruturais de pobreza, injustiça social e económica. Na maioria das sociedades, as instituições e estruturas são predominantemente moldadas por homens e baseadas quer em culturas patriarcais, quer em valores que relegam as mulheres a uma posição de subordinação. As mulheres, em todo o mundo, têm menos poder e oportunidades que os homens, enfrentando obstáculos enormes no que diz respeito à ocupação de cargos na administração pública, à participação nos processos de decisão em assuntos que afectam directamente as suas vidas, seja no âmbito das instituições públicas, organizações da sociedade civil, nível comunitário, no agregado familiar ou seja na própria família. Fazendo-se uma comparação com os homens, as mulheres têm menos controlo e acesso ao recursos dos quais dependem – tal como terra e água, emprego, oportunidades de formação e informação. Do mesmo modo, as raparigas e mulheres têm menos oportunidades de acesso que os homens e rapazes a uma educação adequada, sendo mesmo significativa a disparidade da conclusão da educação básica. Concepções culturais relacionadas com os papéis tradicionais das raparigas e rapazes estão a ser repetidas em larga escala nos sistemas educativos. Em muitas sociedades, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, inclusive o direito sobre os seus próprios corpos, são violados. Violência baseada no género, como o assédio e violação sexuais O objectivo das politicas de género é de contribuir para a mudança nas relações de desigualdade de poder entre homens e mulheres bem como a posição de desigualdade que tanto homens e mulheres têm na sociedade relacionadas com os seus direitos, participação na tomada de decisão e acesso ao controlo de recursos.

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Page 1: Política Da Ibis Sobre a Igualdade de Género

Política da Ibis sobre a igualdade de género

Aprovado pelo Conselho da Administração da Ibis, Novembro 2005 1

Política da Ibis sobre a igualdade de género A política da igualdade de género é considerada uma ferramenta importante, a fim de tornar a visão da Ibis numa realidade. A visão da Ibis é a seguinte: “No ano 2012, as pessoas pobres representar-se-ão a si próprias, independentemente do estrato social, raça, género e etnia. Poderão exigir que os seus direitos individuais e colectivos sejam respeitados, querendo tanto uma parte justa no poder político, como uma parte equitativa na riqueza do planeta. ... O fosso da desigualdade existente entre homens e mulheres está a ser reduzido, de forma a que ambos os sexos tenham voz activa na tomada de decisão, enquanto adquirem direitos e acesso a recursos iguais. Além disso, foram dados passos significativos no que respeita ao desenvolvimento global sustentável” – Visão 2012. A Ibis reconhece que as relações de poder desiguais entre os homens e mulheres constituem um obstáculo crucial para se alcançar o desenvolvimento democrático, bem como combater as causas estruturais de pobreza, injustiça social e económica. Na maioria das sociedades, as instituições e estruturas são predominantemente moldadas por homens e baseadas quer em culturas patriarcais, quer em valores que relegam as mulheres a uma posição de subordinação. As mulheres, em todo o mundo, têm menos poder e oportunidades que os homens, enfrentando obstáculos enormes no que diz respeito à ocupação de cargos na administração pública, à participação nos processos de decisão em assuntos que afectam directamente as suas vidas, seja no âmbito das instituições públicas, organizações da sociedade civil, nível comunitário, no agregado familiar ou seja na própria família. Fazendo-se uma comparação com os homens, as mulheres têm menos controlo e acesso ao recursos dos quais dependem – tal como terra e água, emprego, oportunidades de formação e informação. Do mesmo modo, as raparigas e mulheres têm menos oportunidades de acesso que os homens e rapazes a uma educação adequada, sendo mesmo significativa a disparidade da conclusão da educação básica. Concepções culturais relacionadas com os papéis tradicionais das raparigas e rapazes estão a ser repetidas em larga escala nos sistemas educativos. Em muitas sociedades, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, inclusive o direito sobre os seus próprios corpos, são violados. Violência baseada no género, como o assédio e violação sexuais

O objectivo das politicas de género é de contribuir para a mudança nas relações de desigualdade de poder entre homens e mulheres bem como a posição de desigualdade que tanto homens e mulheres têm na sociedade relacionadas com os seus direitos, participação na tomada de decisão e acesso ao controlo de recursos.

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é generalizada. Milhões de meninas e mulheres são impedidas de se protegerem contra o HIV/SIDA devido ao estatuto inferior que ocupam quer na sociedade quer na família. O compromisso da Ibis na promoção da igualdade de género está profundamente enraizado numa abordagem baseada nos direitos para o desenvolvimento. Para a Ibis a igualdade de género, os direitos das mulheres e raparigas, são vistos como parte integrante e indivisível dos direitos humanos -quer sejam esses direitos individuais, quer sejam colectivos – e também na condição fundamental para se alcançar a justiça social. A Ibis apoiará a luta pelos direitos, oportunidades e obrigações iguais tanto para mulheres como para homens no que diz respeito a direitos iguais para exercerem a cidadania, acesso à educação de qualidade, serviços de saúde, oportunidades para participarem nas decisões políticas e económicas, direitos iguais na protecção legal e no acesso à posse de recursos económicos como por exemplo, a terra, rendimentos, bem como outras possibilidades para fazerem face às responsabilidades financeiras. Convém frisar que no concernente às actividades da educação de emergência, a Ibis decidiu dar primazia às raparigas e mulheres. A Ibis reconhece que a promoção da igualdade do género e direitos iguais tanto para homens como para mulheres têm que ter em linha de conta as características culturais, étnicas e linguísticas das sociedades, ajustando-se as abordagens às culturas diferentes, mas sem, contudo, subordinar os direitos das mulheres a quaisquer uma destas ou outras considerações. A Ibis, no seu trabalho de desenvolvimento, tem trabalhado no incremento da integração de uma perspectiva de género. Esta experiência levou a reconhecer que o empoderamento e o reconhecimento dos direitos das mulheres como direitos humanos são essenciais, a fim de se alcançar um desenvolvimento democrático e sustentável. Convém referir que se aprende das experiências que o alcance da igualdade de género não é somente da responsabilidade das mulheres, mas que homens e mulheres têm toda a responsabilidade de lutar continuamente pela igualdade do género. Para se alcançar um desenvolvimento sustentável, tanto os homens como as mulheres devem envolver-se de igual modo, nas decisões que afectam as suas vidas. A Ibis compromete-se em canalizar energias, esforços e recursos em processos que criem uma sociedade que valorize de igual modo as mulheres e os homens, raparigas e rapazes. Princípios orientadores para a promoção da igualdade de género: Ao nível institucional:

• A igualdade de género deve ser considerada como uma parte integrante de todas as estratégias, programas, informação, trabalho de advocacia e políticas dos funcionários da Ibis.

• A Ibis irá garantir que sejam distribuídos os recursos adequados, incluindo formação de

pessoal, para o desenvolvimento e implementação da política do género.

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• A Ibis irá incentivar todos os níveis da organização de modo a que haja um ambiente que promova e facilite a igualdade de género.

Desenvolvimento do Programa no Sul:

• A promoção da igualdade de género interessa tanto aos homens como às mulheres, não sendo apenas um assunto que diz respeito exclusivamente às mulheres. Assim, a Ibis promoverá, aplicará e desenvolverá métodos criativos de modo a motivar os homens para que se envolvam mais activamente no trabalho pela igualdade do género.

• O empoderamento das mulheres é fundamental para se alcançar a igualdade de género.

Através do empoderamento, as mulheres tornam-se conscientes das relações de poder desiguais, têm um melhor controlo das suas vidas, e adquirem uma voz mais forte para superar as desigualdades quer em sua casa, no local de trabalho, quer na comunidade. Assim, para se alcançar a igualdade de género é essencial a participação das mulheres como agentes de mudança nos processos económicos, sociais e políticos.

• A igualdade de género implica mudanças tanto para os homens como para as mulheres. As

relações mais equitativas precisam de se basear nos direitos e responsabilidades quer dos homens como das mulheres. É então necessário trabalhar na construção de uma masculinidade que seja sensível aos novos papéis dos jovens rapazes e homens nas diferentes sociedades.

• O desenvolvimento do trabalho programático (programas temáticos) é baseado na análise da

sensibilidade ao género, de modo a identificar estratégias que contribuam na redução da desigualdade entre homens e mulheres, tirando proveito dos seus potenciais, oportunidades e recursos.

• Na fase inicial do programa ir-se-ão desenvolver objectivos claros, mensuráveis e atingíveis

sendo os programas constantemente monitorizados e avaliados de acordo com os indicadores da igualdade do género.

• Um aspecto importante do desenvolvimento do programa está relacionado com o

desenvolvimento de metodologias de modo a que se faça uma inclusão eficiente dos objectivos da igualdade do género a nível operacional dos programas temáticos.

• Um dos critérios fundamentais para que os parceiros sejam seleccionados, é o seu empenho

em promover a igualdade do género. Imagem pública, informação e advocacia:

• Informação, campanha e iniciativas de advocacia reflectem o empenho da Ibis em promover a igualdade do género.

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• Usar-se-ão em toda a comunicação, linguagem e imagens que reflitam sensibilidade ao género.

• A Convenção para Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, a

Plataforma de Pequim para Acção, assim como os objectivos de DAKAR e do Desenvolvimento do Milénio relativos à Igualdade do Género constituem uma estrutura importante tanto na advocacia da Ibis como dos parceiros na promoção da igualdade do género.

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Definições dos conceitos “igualdade de género” e “equidade de género” A terminologia de género usa dois termos “igualdade de género” e “equidade de género” dizendo respeito às mudanças das relações de poder de género, direitos iguais, acesso e controlo sobre os recursos como também influência e participação política. Tem sido difícil fazer uma distinção clara, especialmente para aqueles que não falam inglês como primeira língua. Neste contexto usamos o termo igualdade de género pois cobre os objectivos que queremos alcançar com a política a ser utilizada. As definições abaixo mencionadas são usadas pela maioria das agências de desenvolvimento e ONG’s. Igualdade de género significa que tanto as mulheres como os homens têm condições iguais para concretizarem de uma forma plena os seus direitos humanos, contribuindo e beneficiando o desenvolvimento económico, social, cultural e político. A igualdade do género significa que a sociedade valoriza de igual modo as semelhanças e as diferenças dos homens e mulheres bem como os papéis por eles desempenhados. Baseia-se no facto de as mulheres e homens serem parceiros e companheiros tanto nas suas casas, comunidade como na sociedade. Equidade de Género é o processo de justiça quer para homens quer para mulheres. Para garantir a justiça, devem ser frequentemente postas em prática medidas de modo a que compensem as desvantagens histórico -sociais que impedem as mulheres e os homens de funcionarem no mesmo campo de acção. Equidade é um meio. Igualdade e resultados equitativos são os resultados. (citação da Estrutura de Implementação da Divulgação do Género da UNESCO, última actualização Abril de 2003) Exemplo para ilustrar os passos para a igualdade do género: Se queremos a igualdade de género no seio do sistema educativo, um primeiro passo de mudança poderia ser criar um “mecanismo de equidade”, por exemplo legislação que garanta educação grátis e obrigatória para todos os rapazes e raparigas, e/ou definir um esquema de bolsas com enfoque especial na educação das raparigas. Estas medidas contribuiriampara eliminar desigualdades e disparidades no acesso e conclusão da educação, criando estruturas de acordo com as regras a fim de os rapazes e raparigas usufruírem dos mesmos direitos. Todavia, medidas equitativas por si só, na maioria das vezes, não contribuem necessariamente para a erradicação da discriminação e desigualdade do género dentro do sistema educativo. Novas medidas e estratégias têm de ser implementadas de forma a promover mudanças mais radicais nas atitudes sociais face à educação dos rapazes e raparigas bem como mudanças nas condições socio-económicas. A fim de se atingir a igualdade de género na educação, tem de se trabalhar com as

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relações de poder na própria escola, tratamento não discriminatório, e qualidade na educação que garantam sucessos equitativos na aprendizagem.

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Breve informação sobre as convenções e acordos mais relevantes relativamente à promoção da igualdade de género 1) A Convenção/Pacto sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (CEDAW) adoptada em 1979 pela Assembléia Geral da ONU (e agora adoptada por 177 países) é descrita frequentemente como a carta internacional de direitos para as mulheres. A convenção providencia a base para se alcançar a igualdade entre as mulheres e os homens garantindo acesso e oportunidades iguais para as mulheres na vida política, pública, na educação, saúde e emprego, incluindo o direito ao voto e candidatura a eleições. Além disso, a convenção estabelece que deveriam ser abolidas todas as leis, costumes, e regulamentos existentes que discriminam as mulheres, salientando também que as constituições nacionais e códigos civis deveriam incorporar o princípio de igualdade. Os partidos políticos concordam tomar as medidas adequadas, incluindo legislação bem como medidas especiais temporárias, de forma a que as mulheres possam usufruir de todos os seus direitos e liberdades fundamentais. 2) A Plataforma de Pequim para Acção da Quarta Conferência Mundial das Mulheres em 1995, aborda a igualdade entre as mulheres e homens como seja uma questão de direitos humanos bem como uma condição para a justiça social necessária e fundamental para a igualdade, desenvolvimento e paz. A Plataforma para Acção estabeleceu a promoção do estatuto das mulheres em 12 áreas, por exemplo, relacionadas com a educação e a formação, o poder e a tomada de decisão, direitos humanos e a redução da pobreza. A Plataforma de Pequim para Acção foi reconfirmada no encontro da ONU em Pequim+10 em Fevereiro/Março 2005 – também como uma condição para se alcançar os Objectivos do Milénio da ONU. 3) A Estrutura de Acção DAKAR, de 2000 e os seis objectivos da Educação para Todos foca principalmente a igualdade dede género, por exemplo, como é referido no objectivo n.º 5: “…eliminar as disparidades de género na educação primária e secundária até 2005, igualdade de género na educação até 2015, garantindo que as raparigas tenham acesso igual e total bem como sucesso numa educação básica de qualidade”. 4) A Declaração de Desenvolvimento para o Milénio da ONU de 2000 foca também a igualdade de género como sendo uma condição prévia necessária no combate à pobreza, à fome e às doenças, de modo a se promover um desenvolvimento sustentável. Segundo o objectivo n.º 3: “Promova a igualdade de género e o empoderamento das mulheres”. 5) O Programa de Acção da CIPD acordado na Conferência Internacional subordinada ao tema População e Desenvolvimento no Cairo em 1994, recomenda à comunidade internacional, um conjunto de objectivos a considerar no concernente à população e desenvolvimento. O Programa de Acção é surpreendente devido à atenção que dá à questão da saúde das mulheres. Inclui também objectivos no que diz respeito à educação, especialmente das raparigas, e redução das taxas da mortalidade infantil, e maternal. Também aborda assuntos relativos à população, ao ambiente, à prevenção e controlo da pandemia do HIV/SIDA, educação e tecnologia, entre outros.

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A implementação do Programa de Acção da CIPD é essencial a fim de se atingirem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.