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Jornada Nacional sobre Igualdade e Equidade de Género no
Setor da Comunicação Social na Guiné-Bissau
Fase di Kambansa
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ÍNDICE
FICHA TÉCNICA.................................................................................................................. 3
Enquadramento ................................................................................................................ 4
Resumo ............................................................................................................................. 4
Painel I: “Equidade e Género na Comunicação Social” .................................................... 5
Painel II: “Abordagem dos Conteúdos de Género nos Media na Guine Bissau” ........... 12
Painel III: “O Quadro Jurídico dos Media: Analise numa logica de igualdade de género”
........................................................................................................................................ 17
Painel IV: “A Comunicação Social como ferramenta para a melhoria da situação da
Mulher” ........................................................................................................................... 26
Recomendações .............................................................................................................. 31
3
FICHA TÉCNICA
Redação:
Dra. Teresa António da Veiga - Associação de Mulheres Juristas
Mr. Hamdou Tidiane - especialista em Media e Comunicação (Dakar)
Dra. Fátima Camará - Associação de Mulheres Juristas
Sra. Elida Maimuna dos Santos Fernandes Baldé - Presidente do Fórum de
Jornalistas para a promoção da saúde
Revisão:
UE-PAANE
Grafismo:
UE-PAANE
Data de realização:
De 21 a 23 de março de 2017
Local de realização:
Casa dos Direitos
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Enquadramento A realização desta Jornada enquadra-se no âmbito do resultado 2 - Os órgãos de
Comunicação Social melhoram as suas capacidades para realizar uma atividade
jornalística de qualidade, mais concretamente a atividade A.2.1 Realização de uma
Jornada Nacional sobre Igualdade e Equidade de Género no Setor da Comunicação
Social na Guiné-Bissau.
Resumo A Jornada, realizada entre os dias 21 e 23 de março de 2017 na Casa dos Direitos
contou com a participação de quatro (4) oradores convidados, distribuídos pelos
seguintes painéis:
Painel I: “Equidade e Género na Comunicação Social” – Dra. Teresa Veiga
Painel II: “Abordagem dos Conteúdos de Género nos Media na Guine Bissau”
– Mr. Hamadou Tidiane
Painel III: “O Quadro Jurídico dos Media: Analise numa logica de igualdade
de género” - Dra. Fátima Camara
Painel IV: “A Comunicação Social como ferramenta para a melhoria da
situação da Mulher” – Sra. Elida Balde
A moderação da Jornada ficou a cargo da consultora externa contratada, Nelvina
Barreto.
A atividade contou com a participação de 32 pessoas.
Em anexo encontram-se as recomendações extraídas do debate em torno das
temáticas em apreço.
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Painel I: “Equidade e Género na Comunicação
Social”
Teresa Veiga
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NOTA PRÉVIA
Antes de mais, desejo expressar o nosso mais vivo reconhecimento à EU-PAANE, por
ter associado a Associação de Mulheres Juristas da Guiné-Bissau na realização desta
tão importante reflexão sobre a problemática da Igualdade, Equidade de Género na
Comunicação Social Guineense. Reflexão conjunta sobre as barreiras que dificultam as
oportunidades das mulheres profissionais da comunicação social na Guiné-Bissau, ao
nível da sua representação nas diferentes áreas da comunicação social em postos de
responsabilidade, é contribuirmos todos juntos, na procura de soluções para quebrar
essas barreiras sem que haja algum tipo de objeção por sexo, classe social ou outra
circunstância plausível de diferença ou para torná-lo mais prático. O que significa
Ausência de qualquer tipo de discriminação em qualquer posto de responsabilidade.
Falar do tema igualdade e equidade género na comunicação social guineense é falar de
um tema de atualidade não só na Guiné-Bissau mas também no mundo.
Posto isso, a minha comunicação, está estruturada em três partes:
1- Conceito de igualdade e equidade de género;
2- Equidade, género na comunicação social na Guiné-Bissau;
3- Conclusão.
1. CONCEITO DE IGUALDADE EQUIDADE DE GÉNERO
SEXO E GÉNERO
Para uma melhor compreensão do conceito de igualdade de género, consiste em
efetuar uma distinção entre Sexo e Género. Sexo significa diferenças biológicas entre
homens e mulheres. Género significa construção cultural das características
masculinas e femininas1.
Assim sendo, o conceito de Género, é um conceito social que remete para as
diferenças existentes entre homens e mulheres, diferenças essas não de caráter
biológico, mas resultantes do processo de socialização.
1 http://www.cite.gov.pt/asstscite/downloads/caritas/CadernoCaritas_Fasciculo_I.pdf
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O conceito de género descreve assim o conjunto de qualidades e de
comportamentos que as sociedades esperam dos homens e das mulheres, formando
a sua identidade social.
A igualdade é o tratamento idêntico que um órgão, Estado, empresa, associação,
grupo ou indivíduo reserva às pessoas sem que haja algum tipo de objeção por raça,
sexo, classe social ou outra circunstância diferenciadora.
Igualdade de género descreve o conceito de que todos os seres humanos, tanto
mulheres como homens, são livres para desenvolver as suas capacidades pessoais e
fazer escolha sem limitações. Igualdade de género não significa que as mulheres e os
homens têm de ser idênticos, mas que os seus direitos, responsabilidades e
oportunidades não dependem do fato de terem nascido com o sexo feminino ou
masculino.
Assim, a equidade entre género significa que homens e mulheres são tratados de
forma justa, de acordo com as respetivas necessidades. O tratamento deve considerar,
valorizar e favorecer de maneira equivalente os direitos, benefícios, obrigações e
oportunidades entre homens e mulheres. Equidade de género, significa defesa da
igualdade entre homem e mulher no controlo e uso de bens e serviços na sociedade. O
que significa, abolir a descriminação entre ambos os sexos. Não se deve privilegiar o
homem em detrimento da mulher, em nenhum aspeto da vida social, tal como era
frequente há algumas décadas na maioria das sociedades ocidentais. Daí que,
podemos estabelecer que, para que tenha lugar a mencionada equidade de género,
tem que se ter em conta a situação geral concreta e fundamental, em que se
equacione a igualdade de oportunidades, com a criação de uma série de condições
determinadas para que se possa aproveitar citadas oportunidades.
Exemplo: Quando há um assunto da comunicação social, seja da imprensa escrita,
rádio televisão, é importante que este comunicador tenha consciência das questões de
género e da igualdade.
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Nesta ótica, há que sublinhar, que para se conseguir a mencionada equidade, qualquer
repartição deve ser operada de uma maneira justa entre ambos os sexos. Os homens e
as mulheres devem contar com as mesmas oportunidades de desenvolvimento.
Uma mulher não deve ser descriminada na ocupação de um cargo público em
proveito de um homem. Qualquer pessoa deve ganhar de acordo com o seu
mérito. Um não pode ser favorecido em prejuízo do próximo. Um homem e
uma mulher devem receber as mesmas remunerações, até mesmo trabalho
que contempla idênticas obrigações e responsabilidades;
Igualdade de género, significa igualdade de direitos e liberdades para a
igualdade de oportunidades de participação, reconhecimento e valorização de
mulheres e de homens, em todos os domínios da sociedade, política,
económico, laboral, pessoal e familiar.
Há algumas décadas, esforços têm sido empreendidos para promover a equidade de
género e a diversidade em vários espaços sociais, inclusive no mercado de trabalho.
A igualdade entre homem e mulher não pode ser entendida apenas como boa prática,
mas como produto de lei, de dever e de direito de todos.
Assim, pela Constituição da República da Guiné-Bissau, artigo 24 “todos os cidadãos
são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos
deveres, sem distinção da raça, sexo, nível social, intelectual ou cultural, crença
religiosa ou convicção filosófica”, artigo 25 “ o homem e a mulher são igu ais perante
a lei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural”.
Apesar dos obstáculos para travar essa luta, as mulheres avançaram em todos os
setores da sociedade. A história mostra-nos que essas conquistas foram resultado de
reivindicações, movimentos sociais e transformações políticas e económicas. Há vários
marcos importantes nesse caminho como a conquista. A título de exemplo:
Protesto organizado pelas WSPU (Women´s Social and Political Union), no centro de
Londres.
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O Movimento das mulheres, para o direito a votos, assim chamadas sufragistas,
grupo de mulheres britânicas militantes de uma das primeiras organizações
femininas em prol do voto feminino. O movimento surgiu em movimento posterior à
Revolução Industrial. A mudança brusca das relações sociais e a introdução do
trabalho feminino nas fábricas e na escolha dos seus governantes. Diante da negação
desses direitos, e com a influência das ideias liberais predominantes na época,
mulheres de diversos países do mundo ocidental passaram a se organizar na
reivindicação pela participação política feminina2.
Embora no Séc. XVIII, por causa da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
situação da desigualdade que imperava no mundo conseguiu ser resolvida de certa
forma, infelizmente, não pôde ser erradicada ou superada no seu todo. Além dos
direitos civis e políticos em geral as mulheres conquistaram direitos sociais, culturais e
económicos somente a partir de meados do Século XX. Na década de 1990,
conferência da ONU em Viena, no Cairo e em Beijing, marcaram a sociedade global e
estabeleceram novos patamares para o debate sobre igualdade de género.
A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de descriminação contra Mulher
(CEDEAW), de Beijing, reitera o papel da mulher como agente económico, assim
como a posição dos direitos das mulheres dentro de um contexto maior, o dos
direitos de todos os direitos humanos. Também, leis específicas consolidaram ou
regulamentaram os direitos estabelecidos pela legislação internacional que inclui a
Declaração Universal de Direitos Humanos e os Pacotes por Direitos Civis e políticos
Económicos, Sociais e Culturais.
Pois hoje em dia, já no Séc. XXI é comum ouvirmos falar de casos de discriminação
bem como até registá-los. Sem irmos mais longe, durante o mandato do Barack
Obama, como Presidente, os Estados Unidos, um dos mais poderosos países, foi
considerado o país em que casos de descriminação f oram mais registados. Aliás, ao
longo da história dos Estados Unidos sempre foram registados casos de
discriminação. De resto, é por isso que Obama deu ênfase, durante o seu mandato, a
2 http://pandoralivre.com.br/2015/12/25/quem-foram-as-suffragettes/
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este aspeto da vida daquele país, que acabou por considerar o fenómeno no programa
do seu governo.
2. EQUIDADE, GÉNERO NA COMUNICAÇÃO SOCIALDA GUINÉ-BISSAU
Equidade e género na comunicação social na Guiné-Bissau, significa trazer para este
debate as questões que se prendam com a fraca representação de mulheres
profissionais da comunicação social na Guiné-Bissau, ou se quisermos, a forma como
mulheres e homens operantes na área da comunicação social na Guiné-Bissau, se
deslocam no espaço e no tempo (nos lugares de chefia e de decisão nas diferentes
áreas da comunicação social, desde imprensa, à rádio ou televisão, enquanto
comentador dos assuntos da atualidade, porta-vozes, peritos em áreas consideradas
de mais relevância, como política, a economia ou finanças sendo apresentada como
especialistas qualificados). Enquanto isso, as vozes das mulheres são remetidos para
segundo plano, geralmente associado a temas socialmente considerados mais
femininos, como saúde, educação ou cultura. Nem sempre na qualidade de
especialistas qualificadas, mais como mães, esposas, encarregadas de educação.
São conjuntos de situações que dificultam as mulheres da comunicação social
guineense para usufruir dos direitos consagrados na nossa Constituição da República e
demais instrumentos internacionais sobre a matéria.
São precisamente esse conjunto de situações que a jornada pretende debater de
forma a podermos encontrar soluções concretas para promover a igualdade e
equidade de género na comunicação social no âmbito público, privado e comunitário.
Situações essas, que se revelam fundamentais para a adoção das políticas do território
sobre a igualdade do género. O fato é que, neste domínio, deve ser dado oportunidade
ou seja as mesmas oportunidades as mulheres tal como é dada aos homens, quer na
formação assim como nos estágios a nível interno e externo.
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Nesta ótica, há que sublinhar de que para conseguir a mencionada equidade no
género, devem ser levados a cabo distintos avanços em sua grande maioria em todos
os setores da nossa sociedade atual em particular na comunicação social.
3. CONCLUSÃO
Para concluir a presente comunicação, gostaria de realçar a importância deste
exercício pedagógico das organizações femininas da sociedade civil da Guiné-Bissau,
proporcionado pelo UE-PAANE, associando Associação de Mulheres Jurista da Guiné-
Bissau, é mais uma oportunidade oferecida às mulheres das diferentes organizações
femininas que compõem a sociedade civil, em particular as mulheres profissionais da
comunicação social guineense, para todos em conjunto falando numa só voz em prol
da defesa dos direitos de igualdade, de oportunidade de mulheres consagrados na
constituição e demais instrumentos internacionais.
Através destes encontros de reflexão, nós Associação de Mulheres Juristas, sentimo-
nos honradas por termos sido associadas a este evento com as mulheres jornalistas,
porque é através destas que nós juristas também podemos fazer passar a nossa voz
enquanto mulheres.
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Painel II: “Abordagem dos Conteúdos de Género
nos Media na Guine Bissau”
Hamadou Tidiane
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I. Definições e clarificação de alguns conceitos
1.1. Compreender a palavra « Género »
Conceito que engloba todas as características básicas que possuem um
determinado grupo ou classe de seres ou coisas.
Conjunto de seres ou coisas que têm a mesma origem ou que se encontram
ligados pela semelhança de suas principais características.
Espécie, tipo. Categoria taxonômica de animais ou vegetais que se situa abaixo
de família e acima de espécie. Categoria gramatical que classifica nomes e
pronomes de uma língua, distinguindo-os, por exemplo, entre masculino,
feminino e neutro.
Etc ...
1.2. O género no contexto social e político
A forma que a diferença sexual assume, nas diversas sociedades e culturas , e que
determina os papéis e o status atribuídos a homens e mulheres e a identidade sexual
das pessoas. Divisão dos discursos conforme os fins a que se propõem e os meios que
empregam para tal. Sobrenome com esses significados.
1.3. O género e o sexo
Género é uma construção social, que pode variar de sociedade para sociedade.
Sexo faz referência à biologia, e geralmente não se pode mudar (ainda que haja já
experiências de mudança sexual)
1.4. Género e feminismo
O género não e feminismo, ou seja, não quer dizer « promoção da mulher ».
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Uma política de género pode, em sociedades em que a mulher á vítima de
desigualdades, ajudar à causa das mulheres.
O combate ou a batalha dos movimentos feministas têm contribuído grandemente à
emergência e ao desenvolvimento do conceito do Género.
II. O género nas relações sociais
2.1. Cultura e tradição
A cultura, as tradições, impõem modos de vida e categorizações na sociedade;
Divisão do trabalho baseado no sexo;
Zonas ou esferas púbicas reservadas aos homens e outras reservadas às
mulheres.
2.2. Género, linguagem e media
Implicações da linguagem;
O género na comunicação interpessoal/ em conversações de cada dia;
A reprodução, consciente ou inconsciente, de « valores culturais »;
Utilização de estereótipos;
A responsabilidade dos media na reprodução do estereótipos.
III. Género e órgãos de comunicação social
3.1. A responsabilidade dos media
E necessário lembrar quem e o « papel social » dos media;
A imagem das mulheres (e outras categorias) nos media;
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O papel desempenhado pelos media na reprodução dos estereótipos.
3.2. Demografia da Guiné Bissau
A população (estimação dezembro 2016) encontra-se repartida em 947 460
homens (49,6 %) e 964 120 mulheres (50,4 %);
A implicação desta repartição homens /mulheres;
E essa repartição refletida nos media?
Considerações e consequências possíveis para o desenvolvimento do país.
3.3. Historia dos media na Guiné-Bissau « Afazeres » de homens?
O Comércio da Guiné : primeiro periódico editado e dirigido por um Guineense,
advogado Armando António Pereira (1930);
Ilustração da “dominação” dos homens (Fausto Duarte, Alberto Pimentel,
Álvaro Coelho Mendonça, Juvenal Cabral, João Augusto Silva e Fernando Pais
de Figueiredo).
3.4. Os media guineenses hoje
Quais são as mudanças que observamos?
- Na propriedade?
- Na direção?
- No plano editorial?
Representação das mulheres nos media;
A imagem das mulheres nos conteúdos do media;
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A reprodução dos estereótipos.
3.5. Abordar o Género nos media
A questão da representação nas posições de decisão;
Abordagem das questões de género nas notícias /conteúdo;
Ter consciência e deixar abandonar a utilização dos estereótipos;
Os óculos de género…;
… e contribuir para uma mudança positiva da sociedade.
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Painel III: “O Quadro Jurídico dos Media: Análise
numa lógica de igualdade de género”
Fátima Camara
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I. Quadro Jurídico
Lei da Imprensa Escrita e de Agências de Notícias – Lei nº 1/2013 de 25 de
Junho;
Lei da Liberdade de Imprensa – Lei nº 2/2013 de 25 de Junho;
Lei da Televisão – Lei nº 3/2013 de 25 de Junho;
Lei da Radiodifusão – Lei nº 4/2013 de 25 de Junho;
Estatuto do Jornalista – Lei nº 5/2013 de 25 de Junho;
Lei da Publicidade – Lei nº 6/2013 de 25 de Junho;
Lei do Direito de Antena e Réplica Política – Lei nº 7/2013 de 25 de Junho;
Lei do Conselho Nacional de Comunicação Social – Lei nº 8/2013 de 25 de
Junho.
II. Contexto histórico
As primeiras leis dos media foram publicadas na Guiné-Bissau em 1991, nos primórdios
da alteração do regime político guineense, do período do partido único para o
multipartidarismo.
Considerando estas mudanças que exigiam uma nova dinâmica e respeito às regras da
democracia, era imprescindível uma liberalização das comunicações, assim como a sua
regulamentação.
Passados mais de vinte anos e dada a necessidade de adequação às novas exigências
na comunicação, tais como a intensa procura de informação, pluralidade de ideias,
maior diversidade dos meios de comunicação social e alteração de regras de acesso a
algumas profissões, foi aprovada a revisão das leis em 2011, apenas publicadas a 25 de
Junho de 2013.
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III. Anotações e propostas de alteração do quadro jurídico atual
Lei da imprensa escrita e de agências de notícias
Art. 4º Funções - As atividades de imprensa, de edição de imprensa e de
agência de notícias têm por funções essenciais a expressão livre de
ideias e do pensamento, a informação, a difusão das notícias e das
informações, a formação cívica dos cidadãos e a promoção dos valores
da liberdade, da igualdade, da igualdade de género, do pluralismo e da
ordem democrática.
Art. 10º Interesse público da imprensa - A imprensa tem uma função
de interesse público, como tal reconhecida pelo Estado, desde que vise
nomeadamente:
a) A difusão de informações e conhecimentos que contribuam para
o aprofundamento da democracia e do progresso social;
b) A formação de uma opinião pública informada e esclarecida;
c) A difusão da cultura e o reforço da identidade e unidade
nacional;
d) A promoção do diálogo entre os poderes públicos e a população;
e) A mobilização da iniciativa e participação popular nos diversos
domínios de atividade;
f) A defesa da paz, dos Direitos do Homem, da amizade entre os
povos e da solidariedade;
g) A promoção e divulgação da igualdade de género.
Obs: Nesse regulamento, poderá ser atribuída uma quota para as mulheres entre os
candidatos.
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Lei da liberdade de imprensa
Art. 6º Direito dos Jornalistas – deve ser incluído o seguinte: Deve-se
garantir a todos os jornalistas os mesmos direitos e deveres no exercício
da profissão, sem discriminação em razão do sexo, raça, religião e
orientação política.
Lei da Televisão
Art. 15º Restrições à liberdade de informação e programação
1. O conteúdo dos programas de televisão deve respeitar a dignidade da
pessoa humana, os direitos e a livre formação da personalidade das
crianças e adolescentes.
3. É proibida a transmissão de programas ou mensagens que incitem à
violência, ao ódio, (à desigualdade), ao tribalismo, ao racismo, à
xenofobia ou contrariem a lei penal.
Art. 23º Tempo de emissão para confissões religiosas
Obs: Garantir também, por despacho do Governo, às OSC e associações, um tempo de
emissão gratuito para prosseguimento de atividades relacionados com a promoção e
divulgação da igualdade de género.
Os Estados democráticos são o palco por excelência da observância e materialização
das igualdades de direitos e deveres. Desta forma, deve-se utilizar estes programas
educativos, recreativos e ainda as formações e debates televisivos para uma discussão
ampla sobre as matérias de direitos humanos, igualdade de direitos, em geral e a
igualdade de género, e especial com vista a que se torne hábito de convivência cívica.
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Lei da Radiodifusão
Art. 14º Restrições à liberdade de informação e programação
2. É proibida a transmissão de programas ou mensagens que incitem
violência, à desordem social, à desigualdade, à intolerância sob todas as
suas formas e origem ou que contrariem a lei penal.
Art. 20º Tempo de emissão para confissões religiosas (Art. 11º/3. b)
Obs: Garantir também, por despacho do Governo, às OSC um tempo de emissão
gratuito para prosseguimento de atividades relacionados com a promoção e
divulgação da igualdade de género.
Estatuto do Jornalista
Art. 14º Comités de redação
1. Em cada órgão de comunicação social com o número de cinco
jornalistas profissionais existe, obrigatoriamente, um comité de redação
ao qual compete:
a) Coadjuvar o diretor na definição do estatuto editorial e na orientação
jornalística do órgão;
2. Os comités de redação são eleitos pelos jornalistas profissionais ao
serviço dos órgãos de comunicação social em que houver lugar sua
constituição, por voto secreto, segundo regulamento por eles aprovado.
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Obs: No Estatuto do Jornalista e nesse regulamento a que o nº 2 do art. 14º faz alusão,
deve estar salvaguardada a participação da mulher, através da definição de uma quota
(50/50), nas esferas de decisão dos OCS.
Deve constar ainda uma norma que atribua igualdade de direitos sem qualquer tipo de
discriminação, no exercício da atividade profissional na comunicação social.
Lei da Publicidade
Art. 5º Princípio da ilicitude
1. A publicidade deve respeitar os valores, princípios e instituições
fundamentais constitucionalmente consagrados.
2. É proibida, nomeadamente, a publicidade que:
d) Contenha qualquer discriminação em relação à raça, língua, território
de origem, religião ou sexo;
Obs: Deve-se proibir a publicidade sexista, no qual é demasiado exposto o corpo da
mulher e do homem;
Deve-se proibir a publicidade em que a mulher é conotada apenas aos trabalhos
domésticos e o homem ao seu papel de chefe de família.
Lei do Conselho Nacional de Comunicação Social
Obs: O Conselho Nacional de Comunicação Social tem 9 (nove) membros. Existe
alguma mulher?
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IV - Órgãos Comunicação Social – Chefia
Televisão da Guiné-Bissau - José Roberto Ferreira;
Agência de Notícias da GB - Salvador Gomes;
Jornal Nô Pintcha - Simão Abiná;
Jornal O Democrata - António Nhaga (Bastonário OJGB);
Diário de Bissau - João de Barros;
Última Hora - Athizar Mendes Pereira;
Donos da Bola - Pedro Lucas Mendes de Carvalho;
Gazeta de Notícias - Humberto Monteiro;
Rádio Nacional (RDN) - Abdurahmane Turé;
Rádio Sol Mansi - Leonildo Mendes Carvalho;
Galáxia de Pindjiguiti - Santim;
Capital FM - Lassana Cassamá;
Bombolom FM - Agnelo Regalla;
Rádio Jovem - Braima Darame;
Voz de Quelélé - Dauda Dabó;
Macaré - Mama Saliu Sané;
CNCS - Ladislau Embassa;
ARN - Abdú Djaquité;
SINJOTECS - Mamadú Candé;
TGB (2000) - Madalena Pina;
TGB (de Agosto de 2014 a Junho de 2016) - Paula Melo;
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Presidente da AMPCS;
RDN (1996) - Maria da Conceição Évora.
V – Questões
i. O que existe?
Um quadro jurídico que ignora a questão da igualdade de género;
A única referência expressa da “não discriminação em razão do sexo” consta da
Lei da Publicidade (art. 5º/2 d);
Falta de normas que estabeleçam uma quota de participação da mulher na
profissão jornalística;
Ocupação predominante ou quase exclusiva pelos homens dos cargos de chefia
e de decisão dos OCS e dos organismos profissionais.
ii. O que falta?
Falta um compromisso do Estado na materialização do direito à igualdade de
género, através de legislação que atribua uma quota de participação das
mulheres nos centros de decisão dos OCS, que permita a gratuitidade dos
programas televisivos e radiofónicos, e que contemple um prémio para o
programa (estudo ou reportagem) que melhor retratou a igualdade de género;
Falta a concretização do Art. 24º da CRGB;
Falta o cumprimento do Objetivo 5 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável.
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iii. O que poderia ser melhorado para que a lei possa contribuir para esta
igualdade de género?
Uma revisão do atual quadro jurídico seguida de:
Divulgação e boa interpretação das leis e direitos/deveres;
Melhorar a implementação da igualdade de género e aplicação de leis
nacionais e internacionais ratificados, através da criação de comités de
seguimento; PNIEG;
Das Mulheres, espera-se maior consciencialização dos seus direitos, qualidades,
competências e efetiva reivindicação;
Dos Homens, espera-se aceitação e colaboração na materialização da igualdade
de género;
Dos media, que haja um maior empenho na promoção, divulgação e
implementação da igualdade de género e, tendo em conta o seu papel
educativo, informativo e recreativo; que alterem os estereótipos existentes
acerca da mulher.
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Painel IV: “A Comunicação Social como ferramenta
para a melhoria da situação da Mulher”
Elida Balde
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A comunicação social tem um papel de destaque na sociedade contemporânea, sendo
considerada uma espécie de quarto poder. Os media, com sua grande força e acúmulo
de poder, constroem a realidade, ou seja, algo existe, ou não, nos dias de hoje, se é, ou
não, veiculado nos media; e cria a pauta de discussão da população, ou seja, grande
parte do que é discutido nos diversos segmentos sociais tem origem nos media, é
determinado, até certo ponto por ela.
Neste sentido, a imprensa e instituições envolvidas no processo de informar exercem
grande influência sobre os temas abordados pela população no seu quotidiano. Esta
situação é conhecida como a teoria do AGENDAMENTO.
O agendamento é um processo de três níveis: agenda mediática (agenda media), que
são as questões discutidas nos media; agenda pública, que são questões discutidas e
pessoalmente relevantes para a população; e agenda de políticas, que são as questões
que gestores públicos consideram importantes. É a conjugação destes 3 níveis que
define o que vai ser notícia, o que vai ser agendado. Tentar compreender quais os
assuntos que são selecionados, excluídos, enfatizados ou ignorados é o objetivo da
análise da agenda dos meios de comunicação.
Mais de 400 estudos empíricos, realizados sobre a teoria do agendamento,
demonstram que aquelas temáticas que são selecionadas para serem parte das
notícias e informações veiculadas pelos media, de forma constante e contínua,
provocam um aumento no interesse da população e uma inclusão da temática na
agenda dos políticos e governantes.
Na GB, o agendamento é feito através dos convites recebidos por diferentes
instituições do Estado, privadas, assim como OSC, e muitas vezes, acabamos por
publicar notícias que não são relevantes. É fundamental que os jornalistas organizem a
sua agenda, de acordo com aquilo que são prioridades reais para o desenvolvimento
do país e que não se façam depender de agendas de terceiros.
Logo, se queremos contribuir para mudar a situação da mulher na Guiné-Bissau, temos
de assumir que os media são uma ferramenta fundamental. Isto é possível se,
enquanto jornalistas, nos preocuparmos em influenciar estas agendas e em colocar,
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como notícia, de forma constante e organizada, as situações que consideramos mais
prioritárias, nomeadamente, aquelas que violam os direitos dos grupos mais
vulneráveis.
Deve evitar-se falar nestas situações, apenas em momentos de realização de algum
evento ou celebração de uma efeméride internacional: será que nos devemos lembrar
da violência de género, apenas no dia internacional da eliminação da violência contra a
mulher? Ou da MGF no Dia Internacional de Tolerância Zero da Mutilação Genial
Feminina? Não! Estas temáticas devem fazer parte da agenda dos media na Guiné-
Bissau de forma permanente, se queremos mudar comportamentos e ideias.
Isto não significa que celebrar efemérides não seja importante, é e muito, mas não
podemos limitar a nossa ação só e apenas a esses dias. A abordagem destes e de
outros assuntos deveria não ser feita só nos noticiários, telejornais, mas também
noutros espaços de comunicação. Se pretendemos fazer da comunicação uma
ferramenta para melhorar a situação da mulher, os media deveriam ter espaços
próprios para debates sobre género e outros espaços, para que a mulher possa
apresentar as suas principais preocupações.
Exemplo: podemos citar a questões políticas que hoje em dia se transforma o assunto
em debate por toda franja da sociedade guineense seja onde for, nos escritórios,
bancadas, escolas, táxis, mercados e em diferentes lugares de concentração das
pessoas.
Mas o trabalho não termina aqui. Além de converter as situações que queremos
mudar em temáticas permanentes nos media, devemos tratar essas temáticas de
forma aprofundada e não simplista. Isto é, quando cobramos uma determinada
notícia, é preciso não só informar sobre o acontecimento, mas aprofundar sobre o
problema, converter-nos em educadores/as. Por exemplo, se informamos de um caso
de maltrato a uma mulher, casos de abuso sexual, não devemos limitar-nos a informar
do fato, devemos aproveitar a notícia para ir, além disso. Devem ser enviadas
mensagens à população que desmotivem a violência de género, apresentar números,
estatísticas, consequências, informações que permitam às pessoas refletir sobre a
situação.
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Apesar de muitos estudos já confirmarem a importância que os meios de comunicação
e, comprovadamente, as notícias têm sobre a formação de opinião e no
comportamento das pessoas, o jornalismo segue sem fazer uma contextualização e
aprofundamento necessários, até mesmo para uma melhor compreensão dos
acontecimentos noticiados.
Os veículos de comunicação já fazem parte do quotidiano das pessoas, conferindo um
papel importante na mudança de comportamento. Por isso, é preciso ter uma
preocupação maior com as implicações políticas e sociais da atividade jornalística e
com o papel das notícias.
O olhar dos media sobre qualquer questão é importante de ser refletido, pois é por
meio da comunicação que elas serão amplamente difundidas na sociedade e ganharão
espaço nos debates. Neste sentido, sendo as Rádios Comunitárias o maior veículo de
comunicação no país, e o mais popular, o que alcança um maior número de pessoas,
devemos fomentar também a divulgação das notícias ou programas específicos
destinados a mudar comportamentos e ideias através das Rádios Comunitárias. A
comunicação exerce um papel importante nos processos de transição, tendo em vista
que “os conteúdos dos meios de comunicação influenciam os temas de conversação
pública.”
Para finalizar, apenas frisar que nas democracias de massas marcadas pela expansão
de direitos, o direito à informação constitui-se num direito “em si” e ao mesmo tempo
é a porta de acesso a outros direitos. Neste sentido, a informação, conforme seja a
necessidade que dela se tenha pode ser entendida como direito social, como direito
civil e como direito político.
Acredita-se que o jornalismo pode contribuir para a construção da cidadania. Isso
porque a informação jornalística pode possibilitar que as pessoas ajam como cidadãs.
O jornalismo deve oferecer “informações que o cidadão tem o direito de receber para
que possa exercer plenamente todos os seus direitos.”
Estou de acordo com Bernard Cohen um cientista e historiador norte-americano
quando afirma que "na maior parte do tempo, a imprensa pode não ter êxito em dizer
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aos leitores o que pensar, mas é espantosamente bem-sucedida em dizer aos leitores
sobre o que pensar" Vamos pôr os guineenses a pensar nas questões que queremos
mudar.
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Recomendações
Extraídas da intervenção da oradora do Painel I:
Formação inicial e contínua especializada;
Nomeação a todos os níveis por concurso público em que o critério de
Equidade de Género seja destacado;
Exortar a todos os atores da sociedade a divulgação e aplicação do PNIEG e
demais instrumentos jurídicos;
Utilização de “óculos” de género de política;
Projetos e programas para a comunicação social;
Criação de programas de informação, recreativos e de
formação/sensibilização em todos os órgãos da comunicação social públicos
e privados;
Desempenho das responsabilidades que são confiadas as mulheres com
zelo e profissionalismo.
Extraídas da intervenção do orador do Painel II:
Equilíbrio no agendamento das notícias e reportagens e nos conteúdos
(homem/mulher) – “óculos de género”;
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Encorajar os profissionais da CS a assumirem as tarefas/responsabilidades
sem estereótipos;
Rejeitar os estereótipos inclusive na publicidade;
A apresentação da imagem da mulher nos media deve ser melhorada (mais
visibilidade qualitativa/quantitativa);
Utilização dos meios digitais (facebook, youtube, blogs, etc..) para
contornar a censura e abrir as possibilidades de conhecimento e
informação.
Extraídas da intervenção da oradora do Painel III:
Exigir a aplicação efetiva das leis vigentes relativas a CS;
Supressão das lacunas existentes nas leis da comunicação social sobre
igualdade e equidade de género (foram feitas propostas específicas pela
oradora que serão apresentadas ao MCS);
Maior divulgação das leis do sector da CS pelos próprios órgãos ;
Criação de uma Provedoria no seio da Sociedade Civil para colher
informações/queixas/sugestões dos cidadãos e dar seguimento das
mesmas;
Exigir ao Conselho Nacional da CS o cumprimento integral das suas
responsabilidades e obrigações; a) Exigir especial atenção do CSCS dos
conteúdos da publicidade.
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Extraídas da intervenção da oradora do Painel IV:
Criação de parcerias entre as rádios comunitárias, TV e outras rádios para
promoção de espaços de debate e reflexão sobre temáticas ligadas à
mulher a ser transmitidos no mesmo horário;
Dar voz as mulheres através de artigos e reportagens para além do papel
tradicional que lhe é atribuído;
Sensibilizar as mulheres para uma maior participação na mudança de
comportamento;
Melhorar o agendamento das notícias com a contribuição dos técnicos,
criando/disponibilizando meios técnicos para o efeito;
Contextualizar, ampliar e aprofundar nas notícias sobre questões relevantes
para a mulher, de forma a converterem-se em informações educativas que
promovam a mudança de comportamento;
Exigir do Ministério da Mulher, da Família e da Solidariedade Social a
aplicação prática do PNIEG e a promoção de ações destinadas a uma maior
capacitação e formação das mulheres.
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