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© Institute of Public Policy e os autores junho de 2018 – Todos os direitos reservados POLICY PAPER 13 O debate público e político sobre as pensões em Portugal Daniel Carolo [email protected] Joana Andrade Vicente [email protected] Luís Teles Morais [email protected] Agradecimento O Institute of Public Policy e os autores agradecem à Fundação Calouste Gulbenkian pela iniciativa e pelo financiamento prestado ao Projeto Um sistema de pensões para o futuro, no qual se enquadra este policy brief. Os autores agradecem a Carlos Farinha Rodrigues, Pedro Pita Barros e Henrique Lopes Valença, que contribuíram para este trabalho com diversos comentários. Quaisquer erros ou omissões permanecem da exclusiva responsabilidade dos autores. Policy Papers A série de Policy Papers do Institute of Public Policy pretende apoiar o debate público com trabalhos concisos, onde se analisam políticas públicas de forma rigorosa e se explanam recomendações claras. Os autores Daniel Carolo é Professor Auxiliar Convidado no ISEG, U. Lisboa e investigador do Institute of Public Policy. Joana Andrade Vicente é investigadora no Institute of Public Policy e doutoranda no ISEG, U. Lisboa. Luís Teles Morais é investigador e diretor executivo do Institute of Public Policy e Assistente Convidado no ISEG, U-Lisboa. Sobre o Institute of Public Policy O Institute of Public Policy é um “think tank” independente, sob a forma de associação sem fins lucrativos, cuja missão é contribuir para a melhoria da análise e do debate público das instituições e políticas públicas em Portugal e na Europa, através da criação e disseminação de investigação relevante. ipp-jcs.org

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© Institute of Public Policy e os autores

junho de 2018 – Todos os direitos reservados

POLICY PAPER 13

O debate público e político sobre

as pensões em Portugal

Daniel Carolo [email protected]

Joana Andrade Vicente [email protected]

Luís Teles Morais [email protected]

Agradecimento

O Institute of Public Policy e os autores agradecem à Fundação Calouste Gulbenkian pela iniciativa e pelo financiamento prestado ao

Projeto Um sistema de pensões para o futuro, no qual se enquadra este policy brief. Os autores agradecem a Carlos Farinha Rodrigues,

Pedro Pita Barros e Henrique Lopes Valença, que contribuíram para este trabalho com diversos comentários. Quaisquer erros ou

omissões permanecem da exclusiva responsabilidade dos autores.

Policy Papers

A série de Policy Papers do Institute of Public Policy pretende apoiar o debate público com trabalhos concisos, onde se analisam políticas

públicas de forma rigorosa e se explanam recomendações claras.

Os autores

Daniel Carolo é Professor Auxiliar Convidado no ISEG, U. Lisboa e investigador do Institute of Public Policy. Joana Andrade Vicente é

investigadora no Institute of Public Policy e doutoranda no ISEG, U. Lisboa. Luís Teles Morais é investigador e diretor executivo do

Institute of Public Policy e Assistente Convidado no ISEG, U-Lisboa.

Sobre o Institute of Public Policy

O Institute of Public Policy é um “think tank” independente, sob a forma de associação sem fins lucrativos, cuja missão é contribuir para a

melhoria da análise e do debate público das instituições e políticas públicas em Portugal e na Europa, através da criação e disseminação de

investigação relevante.

ipp-jcs.org

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Índice

1. O debate sobre a sustentabilidade e as reformas .................................................. 3

2. Os dois lados da barricada: impasse no debate público ........................................ 5

2.1. O lado “esquerdo” ......................................................................................... 6

2.2. O lado “direito” .......................................................................................... 12

2.3. Outros estudos ............................................................................................ 16

3. Considerações finais .......................................................................................... 18

Referências ............................................................................................................... 20

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1. O debate sobre a sustentabilidade e as

reformas

Continuam a existir fortes dissensões em Portugal sobre o diagnóstico dos equilíbrios

financeiros a curto, médio e longo prazo do sistema público de pensões, e sobre a forma como

lidar com uma certa “herança social”, isto é, com os encargos associados a direitos atribuídos

no passado. Em qualquer caso, os dados e estudos existentes, embora longe de serem

definitivos, deixam antever importantes desafios para os sistemas de pensões apesar das

reformas já implementadas.1

Tudo isto, num contexto de fragilidade das finanças públicas, e dado o peso que o sistema

de pensões (que inclui subsistemas diferenciados como a CGA e a Segurança Social) apresenta

nestas, contribui para alguma conflitualidade social sobre as expectativas em relação ao

sistema: cortes para os pensionistas, perspetiva de pensões mais reduzidas do que as atuais

(em termos de taxa de substituição2) para as gerações mais novas, regras e perspetivas

diferentes para funcionários públicos e trabalhadores do setor privado e trabalhadores com

contratos mais ou menos precários.

O debate público tem sido inconsequente, contribuindo, por um lado, para a reduzida

compreensão pelos cidadãos sobre o funcionamento do sistema e os desafios que se lhe

colocam e, por outro, para decisões políticas menos transparentes e que parecem ter

privilegiado o grandfathering. Isto é, um impacto muito gradual de novas regras mais

restritivas, resultando na prática em cortes nas pensões futuras, por oposição a ajustamentos

estruturais que incluíssem também pensões em pagamento e/ou o nível de contribuições

sociais no presente (com exceção da Contribuição Extraordinária de Solidariedade, entretanto

já extinta). A incipiência do debate público sobre estas matérias não é nova: as três maiores

reformas realizadas nas últimas décadas foram manifestamente preparadas com reduzido

contributo da sociedade civil e sem uma discussão pública satisfatória a antecedê-las (Carolo,

2015).

Estas tensões foram intensificadas durante o período da crise e do Programa de Assistência

Económica e Financeira, em que foram aplicados cortes e outras medidas pontuais3. Tal

voltou a colocar o problema em destaque, tendo estas medidas sido mesmo sujeitas a

fiscalização de constitucionalidade. Para além disto, o sistema de pensões foi alvo de atenção

por parte da troika4, pese embora o Memorando de Entendimento não incluísse medidas

específicas de reforma do sistema (além dos referidos "cortes”).

Neste período, e no pós-troika, foram lançados diversos estudos e recomendações de

reforma que, juntando-se aos desenvolvidos no contexto das reformas na década de 2000,

foram formando o corpo essencial do que é hoje o debate sobre o tema em Portugal. É

possível enquadrar boa parte deste debate num de dois lados da “barricada”, entre as posições

mais à “esquerda” e mais à “direita” do espetro político. Sublinhe-se que tal não acontece

1 Para uma análise mais detalhada sobre este assunto, ver IPP policy paper 11 e 12, os quais constituem parte integrante da série de publicações IPP no âmbito do projeto Um sistema de pensões para o futuro. 2 Valor da pensão em percentagem do último salário. 3 Primeiro com o congelamento de pensões, depois com a introdução do Complemento Extraordinário de Solidariedade (CES) às pensões em pagamento mais elevadas e, finalmente, com as alterações no fator de sustentabilidade. 4 O exemplo mais interessante será o trabalho do FMI (2013: 34-44).

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apenas no debate político, pois também ao nível técnico as tensões são acirradas – embora as

fronteiras entre ambos possam nem sempre ser claras.

Da análise desenvolvida em seguida, parece resultar que, ao contrário do que anunciava

António Ramos Gomes (2014) no editorial de uma edição dos Cadernos de Economia dedicada

a estes temas, nem “o diagnóstico está feito”, nem “os caminhos a percorrer estão traçados”5.

5 Algo que o workshop realizado na Fundação Calouste Gulbenkian, em novembro de 2015, que reuniu especialistas de diferentes tendências, veio

evidenciar (Carolo, 2016).

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2. Os dois lados da barricada: impasse no debate

público

No verão de 2015, em antecipação às eleições legislativas, o tema da reforma do sistema

de pensões ganhou espaço no palco principal do debate público e político, no âmbito da

oposição entre o Programa Económico do Partido Socialista (PS) e o Programa de Estabilidade

do Governo de então, representativo da coligação PSD/CDS-PP.

Ambos continham propostas concretas e conflituantes, representativas das duas visões

prevalecentes sobre a situação e desafios do sistema. Já em 2016, o PSD propôs no

Parlamento a criação de uma Comissão eventual para promover uma reforma estrutural do

sistema público de Segurança Social, cuja rejeição foi justificada pela maioria de suporte

governamental com a sua discordância relativamente ao diagnóstico da situação atual do

sistema. Este debate político fortemente polarizado acaba por traduzir as acirradas divisões

que o tema suscita: intergeracional, ideológica e setorial. Isto é também manifestado pelo

bloqueio do debate na academia, algo incipiente, e na sociedade civil, aparentemente toldado

pelos interesses em presença.

A Tabela 1 infra resume as principais referências da discussão sobre o tema. Estas são

esquematizadas em função da sua identificação com um dos lados desta barricada (ou

nenhum), e se contêm ou não análise quantitativa, que aqui definiremos como análise original

de dados atualizados, agregados ou não, dos sistemas públicos de pensões6.

Naturalmente, a atribuição de uma característica político-ideológica, mais “de esquerda” ou

“de direita”, a estudos e contributos deste tipo comporta um elevado grau de subjetividade.

Mas a ocorrência frequente de determinados argumentos como os que elencamos nas

subsecções seguintes, permite-nos atribuir estas identificações com alguma segurança, ainda

que de forma imprecisa e, claro, contestável. Além do mais, a análise coincide com a autoria

dos estudos e escritos sobre o tema, sejam de entidades oficiais durante a governação de

partidos associados a um dos lados, seja de individualidades ou grupos associados a partidos

de um dos lados.

De qualquer modo, independente das limitações de precisão de uma análise deste tipo,

importa salientar que a perceção da existência de tais enviesamentos é muito comum entre os

participantes na discussão.

Numa visão de conjunto, podemos desde logo constatar que, no que diz respeito aos

estudos quantitativos, os contributos nacionais mais recentes, incluindo os estudos oficiais,

parecem associados à visão e aos setores “à direita”, o que significa que a análise quantitativa

nacional atualizada sobre o tema é descartada por metade do universo como sendo enviesada.

E, de facto, grande parte dessas análises parecem, no mínimo, apresentar conclusões cuja

solidez não é de todo clara.

Por outro lado, destaca-se a ausência de estudos de análise quantitativa que se possam

atribuir aos setores mais “à esquerda” (com exceção do realizado em preparação da reforma

de 2007), o que significa que as fortes críticas que estes dirigem aos anteriores não são

6 Uma análise crítica de dados trabalhados por outrem (p. ex. os do Ageing Working Group) não caberia nesta definição.

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acompanhadas de uma análise quantitativa. Existe uma tendência para sobrevalorizar as

funções sociais do sistema, recusando, todavia, fundamentar quantitativamente os seus

argumentos. Isto, por si só, potencia a persistência de alguns vícios argumentativos.

É também consequência disto a inexistência de estudos quantitativos substanciais

produzidos em Portugal e que sejam amplamente reconhecidos como isentos, nos últimos

largos anos. Existem apenas os estudos internacionais, da Comissão Europeia e da OCDE, que

acabam por ser as melhores fontes de informação sobre o tema. Porém, sendo elaborados

como parte de avaliações globais internacionais, acabam por não ter o grau de detalhe que

seria desejável no que diz respeito à realidade nacional.

Tabela 1 – Lista não-exaustiva de referências

2.1. O lado “esquerdo”

Do lado da barricada a que chamaremos “esquerdo”, há um conjunto de grupos com

incentivos a apoiar uma determinada visão que se pode descrever como imobilista, sobretudo

protetora de direitos adquiridos. Pode argumentar-se que os eventuais perdedores num

processo reformista correspondem aos grupos de pressão que habitualmente se opõem a

alterações nos sistemas. Designadamente: atuais pensionistas, reformados e aposentados,

destacando-se aqui as diversas Associações de Reformados, Pensionistas e Idosos,

frequentemente com apoio dos executivos municipais; e funcionários públicos em final de

carreira e/ou aderentes à CGA, representados pela CGTP e pela Frente Comum de Sindicatos

da Administração Pública.

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Tal como no outro lado da barricada, estas posições políticas são sustentadas, ou pelo

menos acompanhadas, por um vasto conjunto de investigadores/académicos que desenvolvem

teses nestas linhas. Neste caso, são sobretudo duas.

Uma em torno do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de

Coimbra (CES), sobretudo nas atividades do Observatório sobre Crises e Alternativas, com

investigadores ligados a essa Faculdade e outros. Esta é tipicamente mais associada a pessoas

identificadas com o espaço político do Bloco de Esquerda e com alguns setores do Partido

Socialista.

Outra está integrada no ISCTE, com vários investigadores e professores com currículo em

diversas áreas do estudo (sobretudo sociologia) das políticas públicas e, em particular, das

políticas sociais. Neste caso, aparenta existir uma maior proximidade ao Partido Socialista,

tendo em conta que muitos desses autores são membros desse partido e têm participado em

equipas governativas associadas ao mesmo. Existem também outros investigadores a defender

posições deste tipo noutros centros – destacando-se aqui Eugénio Rosa e, na área do direito,

alguns académicos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

No âmbito da competição política, estas posições têm particular acolhimento nos partidos

mais “à esquerda” no espetro político, o que pode ser observado nos programas eleitorais

destes partidos, submetidos para as eleições legislativas de 2015.

No programa do Partido Socialista, refere-se que a decisão de “cortar pensões já atribuídas”

constituía a “violação de um ‘contrato de confiança’”, o que “[criou] um conflito entre gerações”

e “estigmatizou um grupo geracional”. Defende-se que foi “a estratégia do PSD/CDS” que

“provocou uma queda abrupta da natalidade”. O PS “define como prioritári[o] (…) o combate à

fraude e evasão contributivas”.

No do Bloco de Esquerda diz-se que: “os reformados e pensionistas foram violentamente

assaltados pelo governo”, o qual pretendia “empurrar novas gerações para o negócio dos fundos

de pensões”; que “o maior perigo para a segurança social é (…) o desemprego”; que “as diversas

medidas [do Governo] (…) criaram um país de baixos salários e, portanto, também de baixas

contribuições (…)”. Determina-se que “cortar nas pensões em pagamento (…) não pode ser uma

opção” porque “quebrar o contrato social em que se baseou a formação das pensões (…) mina a

democracia”. Mas “cortar nas pensões futuras (…) é também um modo de quebrar o contrato

intergeracional”.

O PCP, por seu lado, exigia a reposição de “direitos confiscados”, a “revogação do fator de

sustentabilidade” e o “aumento real das pensões e reformas”. Prioriza também o combate à

“evasão e fraude contributiva” com a qual estima que a perda anual de receita seja de “mais de

2 mil milhões de euros”.

Argumentos problemáticos

Em sequência de uma breve visão geral sobre o debate, na presente secção examinam-se

algumas linhas argumentativas tipicamente empregues nas teses deste lado da barricada,

tentando pôr em evidência algumas falácias e/ou premissas erradas de que partem.

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As medidas de reforma do sistema já implementadas e em discussão pretendem

subverter o “princípio da solidariedade intergeracional”.

Este argumento, essencialmente referente a medidas que ponham em causa o valor de

pensões em pagamento ou de direitos já formados, tem um problema de confusão quanto ao

referido princípio. A “solidariedade intergeracional” é, de facto, essencial para o

funcionamento de um sistema de repartição. Mas é-o no que diz respeito ao seu nexo

contratual: os contribuintes no momento t contribuem para o sistema porque confiam que em

t+1 os contribuintes de então contribuirão para a sua pensão.

A conclusão que se retira, e em defesa da qual se invoca o dito princípio, não se enquadra

nisto. Conclui-se que se quebra o princípio se os contribuintes em dado momento não

estiverem dispostos a pagar o que for preciso para suportar a pensão prometida aos atuais

pensionistas, em vez da pensão justa considerando as contribuições realizadas e os recursos

disponíveis numa lógica coerente entre gerações, sendo certo que o acordo sobre a definição

de “justiça” nesses termos se afigura difícil. O equilíbrio intergeracional significaria assim que

a economia, i.e. a população ativa, deve assegurar a despesa necessária para financiar as

pensões prometidas, por mais extremas que possam ser as circunstâncias. Esta é a implicação

direta de assumir que as pensões em pagamento devem ser consideradas absolutamente

inalienáveis, “dogma” presente igualmente no discurso político do lado “direito”.

As pensões são direitos sociais. “Dizer que (...) a Constituição garante o direito à pensão,

mas que esse direito não protege o quantum da pensão, é tão absurdo como dizer que a

Constituição garante o direito de propriedade, mas que esse direito não protege o quantum da

minha propriedade” (Novais, 2014).

Tendencialmente nestas correntes utiliza-se abusivamente a ideia de pensões como um

todo, como se existisse apenas um sistema de pensões e todos os pensionistas tivessem sido

sujeitos às mesmas regras. Por outro lado, usa-se o conceito de direito social referindo-se às

pensões auferidas e ao seu valor, não raras vezes circunscritas a grupo(s) de pensionistas em

particular. Note-se, em primeiro lugar, que este direito social deve ser entendido como

universal, e não transposto hermeticamente para a esfera individual, e em segundo, o direito

consagrado é a uma pensão, não ao seu montante (embora a discussão doutrinária sobre este

ponto não seja estritamente consensual).

A oposição do conceito de direito social a direito de propriedade parece-nos relevante e

correta no que se refere às pensões. O problema reside na conclusão que daí se retira,

segundo a qual sendo um direito social é ainda mais importante do que um direito de

propriedade e deve ser protegido a todo o custo, sem ter em conta que a concretização desse

direito depende muito mais de uma análise subjetiva e consequente decisão política do que no

caso dos direitos de propriedade típicos, cuja definição é mais fácil.

Esta utilização dos direitos sociais subverte uma noção conceptual, que se discute a um

nível constitucional. Mas, como tal, deve ser entendido com a abrangência necessária. Não se

deve subvertê-lo para o utilizar rigidamente em situações concretas no espaço e tempo, sendo

antes uma regra geral, que deve ser respeitada pela sociedade como um todo. Não deve

confundir-se o direito fundamental a uma pensão na reforma, que deve ser garantido a todos,

com o direito “à minha pensão” ou “àquela pensão”. Nem poderia ser, já que este dependerá

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das regras existentes de cada sistema e em dado momento, regras estas que dependem

sempre das contribuições, mas também de decisão política.

Eventuais problemas de sustentabilidade da Segurança Social, a existirem, derivam

apenas do desemprego e recessão (provocados por medidas de política recessivas). “(...) o

maior perigo para a segurança social é, pois, o desemprego” (Manifesto eleitoral do Bloco de

Esquerda, Eleições legislativas 2015).

A segunda parte do argumento ignora um vasto conjunto de outros fatores estruturais,

internos e externos, conducentes à crise económica de 2010-13 e não será aqui abordada. A

primeira parte merece atenção. Embora seja expectável e natural a existência de défices

conjunturais em contextos recessivos, o sistema no seu conjunto dever-lhes-á resistir política e

economicamente, com uma adequada partilha dos riscos macroeconómicos entre gerações e

grupos sociais e sem que pensionistas e contribuintes sejam confrontados com incerteza

significativa. De outro modo, as pressões impostas por uma queda do emprego/produto, que

ocorre inevitavelmente de forma periódica em função do ciclo económico, terão de ser sempre

resolvidas com respostas conjunturais e não necessariamente consistentes.

Uma forma minorada deste argumento, que tem ganho preponderância, substitui a ideia de

que os problemas derivam estritamente do desemprego, dizendo que, não fosse o desemprego

e recessão, os indicadores do sistema no curto prazo seriam bons (Louçã et al, 2016). O efeito

prático no debate é o mesmo: subvalorizar os potenciais problemas de conceção do sistema e

sobrevalorizar a associação óbvia entre desemprego e recessão, e desequilíbrios conjunturais

no sistema.

Medidas de redução do valor das pensões agravam necessariamente as desigualdades

e/ou reduzem a progressividade do sistema. “num modelo de contas individuais virtuais (...)

o nível das pensões é a variável de ajustamento, gerando (...) efeitos redistributivos adversos”

(Murteira, 2014:5). “A imposição de um teto salarial para o plafonamento vem reduzir a

progressividade do sistema” (Louçã et al., 2016: 141).

Este argumento padece do problema da generalização. Implica que a distribuição dos

valores das pensões corresponde à distribuição de todo o rendimento (e riqueza) entre os

pensionistas (que podem simultaneamente ter outras fontes de rendimento e deter ativos,

além da pensão). A redução de uma pensão “baixa” atribuída a um pensionista “rico” agrava

ou reduz a desigualdade de rendimento e riqueza?7

No que diz respeito à introdução de mecanismos de “plafonamento”, também se aplica

uma lógica semelhante. Geralmente, este argumento descarta qualquer forma de

“plafonamento” por ser uma forma de “privatização” e “descapitalização” da Segurança

Social, retirando do sistema os recursos das camadas de rendimento mais elevado, o que só é

parcialmente verdade, visto que a despesa proporcional com pensões também deveria

diminuir. Argumenta-se também que isto agravaria as desigualdades, o que – no plano

intrageracional – é discutível, visto que a componente progressiva, de redistribuição

interpessoal nas taxas de formação das pensões, é residual e a taxa de contribuição (TSU) é

fixa (proporcional).

7 Aqui destaca-se a fundamentação na atribuição de pensões sociais que, pelo menos desde o artigo de Rodrigues e Gouveia (2004), tem sido questionada em termos de eficácia no combate á pobreza.

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Mesmo aceitando este último argumento, ele só se verificaria no caso da introdução de um

mecanismo de plafonamento que fosse actuarialmente neutro, isto é, em que o valor do

plafond contributivo corresponderia a um plafond de pensão que lhe corresponderia

actuarialmente ou, pelo menos, de acordo com as regras de formação do sistema.

Contrariamente, se ao plafond da pensão se aliasse um plafond contributivo mais elevado (ou

mesmo inexistente), a introdução de plafonamento teria um efeito redistributivo, redutor das

desigualdades.

Nos modelos de capitalização só conta o interesse individual egoísta, não há

solidariedade nem partilha de riscos. “(...) o seu principal risco está (...) na ausência de

controlo que o cidadão tem (...) estando de forma perigosa dependente do funcionamento e

evolução dos mercados de capitais (...). Se os recursos acumulados por cada cidadão se destinam

apenas à sua pensão, a contrapartida (...) é, precisamente, a individualização do próprio risco”

(Louçã et al., 2016: 55).

Os modelos de repartição podem ser preferíveis, mas não por este motivo. No longo prazo,

é claro do ponto de vista económico (ver IPP Policy Paper 12) que um sistema de capitalização

depende tanto do produto (do trabalho) de outras gerações como um sistema de repartição.

Além disso, do ponto de vista técnico, seria possível num regime público de capitalização

incorporar mecanismos de redistribuição interpessoal com os mesmos efeitos que teriam num

regime de repartição (embora se possa argumentar que tal seria mais difícil no plano político,

o que se deveria à mais fácil inteligibilidade do funcionamento desses mecanismos).

A individualização do risco, supostamente inerente à capitalização, só se aplica na medida

da variabilidade dos retornos das aplicações-reforma entre os indivíduos. Mas, em média, é de

esperar que o crescimento das pensões, para uma mesma trajetória de crescimento económico

e evolução demográfica, seja idêntica num regime de repartição e num de capitalização, e

mesmo a sua variabilidade será sempre relativamente baixa. Até porque em geral a poupança-

reforma é aplicada em ativos de grau de risco reduzido, pelo que a sua taxa de crescimento

anual acompanha de perto a taxa de crescimento do produto.

Serão necessárias alterações nas fontes de financiamento do sistema para resolver

défices. “Há certamente que encontrar fontes de financiamento alternativo que acrescentem

robustez ao sistema (…) sem nunca pôr em causa as pensões em pagamento” (Ferro Rodrigues

in Louçã et al., 2016: 10). “Neste quadro o PS irá reforçar o financiamento e a sustentabilidade

da Segurança Social através da diversificação das suas fontes de financiamento” (Partido

Socialista, 2015).

Não se contesta que poderá fazer sentido considerar alterações nas fontes de

financiamento do sistema. Mas quando se reconhece que há défices, e por isso há que

considerar alterar fontes de financiamento sem explicar porquê ou para quê – implicando que

o objetivo é basicamente “tapar” os défices –, incorre-se em potenciais iniquidades e

inadequação instrumental.

Primeiro, a criação de novas fontes de financiamento, se corresponder ao aumento da

receita por via de novos impostos/contribuições total ou maioritariamente suportados pelas

gerações no ativo. Por exemplo, “aumentar a TSU das empresas com elevados índices de

precariedade” ou “consignar à Segurança Social o imposto sobre heranças”, como propunha o

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Partido Socialista (2015), são medidas que indireta ou diretamente agravariam as

contribuições e impostos da população ativa. Poderiam, nesse sentido, ser equivalentes a um

aumento da taxa de contribuição. Mesmo podendo concluir-se como necessários e justos,

deverão sempre ser contabilizada adequadamente em termos geracionais, em conjunto com as

contribuições sociais.

Segundo, dependendo do modelo exato, a criação de novas fontes de financiamento

poderá até ser agravadora das desigualdades de rendimento (intrageracionais), como

aconteceria se se recorresse a um imposto sobre o consumo (e.g. IVA social), com efeitos

regressivos, contrapondo-se assim aos objetivos de equidade que eventualmente poderia

perseguir.

Terceiro, a redução do carácter contributivo poderá ser desadequada dependendo do mix

escolhido (ex. as receitas asseguram a cobertura de riscos com receitas apropriadas? A

financiar poupança contributiva com impostos gerais?)

Os problemas de sustentabilidade financeira do sistema derivam em parte importante

da evasão contributiva. “O problema não está (...) no modelo de repartição/solidariedade

intergeracional, como não decorre de fatores demográficos. (...) está nos impactos das medidas de

austeridade (...) e (...) há que ter presente ainda: o combate à fraude e evasão contributiva é

essencial (...); a recuperação de dívidas” (Joaquim et al., 2014:13). “(...) se não existir um

combate eficaz à evasão e fraude contributiva e se não for alterada a fórmula de cálculo das

contribuições das empresas (...) os pensionistas estão condenados a assistir à degradação das suas

pensões (...) e os futuros pensionistas a mais cortes” (Rosa, 2016b:1).

Não se pretende aqui negar que os problemas de fraude e evasão contributivas existam,

nem que tenham relevância. Uma redução substancial do problema facilitaria os equilíbrios

financeiros do sistema e, sobretudo, são desafios que colocam questões estruturais

relacionadas com potenciais iniquidades e criação de incentivos perversos no mercado de

trabalho. Porém, o impacto na receita é, apesar de tudo, reduzido e insuficiente para explicar

uma parte significativa dos problemas da Segurança Social e do sistema de pensões. O

problema destas linhas argumentativas é potencialmente induzir em erro os leitores menos

avisados, que poderão ficar com a impressão de que eventuais problemas do sistema se devem

apenas à má fé de um conjunto alargado de empresas.

Mesmo Pires e Antunes (2016) (à “esquerda”) chegam a uma estimativa rápida de 800

milhões de euros para o valor da evasão e fraude contributiva em 2014, comparando as

contribuições pagas e o que resultaria da aplicação da taxa média às remunerações

declaradas. Este valor, que corresponde a pouco mais de 5% do valor pago em contribuições,

não resolveria o problema. Até porque é certo que estes problemas nunca podem ser

eliminados, mas apenas mitigados.

Além disso, é necessário distinguir as situações de evasão e fraude das situações de

incumprimento por parte de empresas em dificuldades de liquidez ou solvência.

Torna-se assim evidente que a consideração destas dimensões não é suficiente para

equacionar os desafios que se colocam à sustentabilidade do sistema, contrariamente ao que

algumas teses (e mesmo propostas políticas) parecem implicar, ao dar-lhes tão grande

destaque e prioridade enquanto soluções para os problemas do sistema.

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2.2. O lado “direito”

Em oposição à linha de pensamento descrita anteriormente, existe uma corrente que parte

do diagnóstico de insustentabilidade financeira do sistema de pensões para propor como

inevitável uma reforma estrutural de uma tipologia particular. Esta corrente inspira-se na

arquitetura de múltiplos pilares celebrizada pelo Banco Mundial (1994) mas, mais

especificamente, no modelo sueco, um sistema de repartição de contribuição definida com

contas individuais (ou nocionais), vulgo capitalização virtual, e substituiu, de certa forma, a

corrente que anteriormente defendia a passagem a um sistema de capitalização pura (ou seja,

“fechar” o sistema de pensões de velhice da Segurança Social, em repartição, substituindo-o

por um fundo público obrigatório em capitalização individual – vd. Silva e Goes, 2006).

Em qualquer caso, o forte aumento da poupança privada que os modelos – e diagnósticos –

que têm sido propostos parecem implicar, sugere que a defesa deste tipo de políticas terá

algum alinhamento de incentivos com o setor financeiro (i.e., bancos e seguradoras), dado o

potencial crescimento do mercado que tal aumento representaria para estas. Observe-se, por

exemplo, que é frequente iniciativas sobre o tema serem patrocinadas por empresas do setor8.

No campo político, esta visão encontra mais facilmente correspondência nos programas

eleitorais e nas propostas dos partidos e coligações mais à direita. Por exemplo, o programa

eleitoral submetido para as eleições legislativas de 2015 pela coligação Portugal à Frente

(PSD/CDS-PP) propunha para a Segurança Social, entre outras, i) a criação de uma

“Caderneta de Aforro para a Reforma” que refletisse todos os movimentos registados na “Conta

Individual do beneficiário”, ii) o desenvolvimento de planos complementares de reforma de

natureza profissional e individual, e iii) o plafonamento através da introdução de um limite

superior para as contribuições e futuras pensões.

Algumas destas ideias já constavam também do Programa do XV Governo Constitucional

(2002-2004), como “o desenvolvimento articulado dos diferentes pilares (público, empresarial,

familiar e individual) da segurança social” e “a introdução, de facto, do teto contributivo, com

consequente criação de mecanismos estáveis de capitalização pública, privada e social”. No

entanto, o impacto da reforma da Segurança Social efetivamente levada a cabo por esse

Governo ficou bastante aquém da sua ambição de mudança estrutural (Carolo, 2015).

Argumentos problemáticos

Estas propostas de reforma estrutural do sistema partem de um diagnóstico de

insustentabilidade financeira. Segundo esta perspetiva, o aumento do número de beneficiários

(pensionistas) face ao número de contribuintes, tudo o resto constante, exigiria transferências

crescentes do Orçamento do Estado (OE) para financiar os défices do sistema, que deverão

atingir os 3,7% do PIB em 2060 (Bravo, 2015). Grande parte dos problemas na argumentação

passam por sobrevalorizar ou utilizar de forma imprecisa esta premissa.

Os défices de autofinanciamento que têm sido registados recentemente comprovam a

insustentabilidade do sistema. “(…) o sistema apresentou pela primeira vez em 2012

necessidades de financiamento de 471ME (0,3% do PIB), valor que aumentou para 1.121ME

8 Refira-se, a título de exemplo, as conferências “Pensões e poupança”, apoiada pelo Instituto BBVA de Pensões (18 de março de 2016, Fundação Calouste Gulbenkian) e “Meu Futuro, minha Reforma”, com o apoio do Banco Popular e da Eurovida (23 de maio de 2016, Mercado da Ribeira).

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(0,7% do PIB) em 2013 (…) não obstante todas as medidas excecionais de contenção da despesa

com pensões” (Bravo, 2015)

Geralmente parte-se de um diagnóstico, dependente de projeções a muito longo prazo para

uma série de variáveis económicas e demográficas, que conclui que o atual sistema é

financeiramente insustentável. Esta conclusão, sendo contestável, é legítima. Menos legítimo é

reforçá-la com os dados das transferências do OE para a Segurança Social durante o período

da crise (Bravo, 2015), ignorando a natureza conjuntural do acréscimo em prestações do

regime previdencial como o desemprego, além do aumento das próprias reformas

antecipadas, e do decréscimo das receitas pela redução forte do volume de emprego, para no

meio desta inconsistência temporal apresentar a proposta alternativa como inevitável.

Embora tenha mérito a ideia de que o sistema deveria apresentar uma maior robustez em

contextos de recessão, um sistema reformado também sofreria as consequências de um

comportamento económico dececionante. Adicionalmente, a experiência neste passado

recente, sobretudo num contexto tão específico como a crise de 2010-13 e sabendo que foram

implementadas diversas medidas de reforma, oferece pouco para explicar os desafios futuros.

O atual sistema é fortemente prejudicial à acumulação de capital humano e,

consequentemente, à competitividade da economia. “[U]m novo sistema de segurança social

(...) tem que (...) assumir na sua plenitude a pertinência de uma aposta consolidada nos três T

que configuram a sua distinção estratégica – talentos, tecnologia e tolerância (...)”, que “terá que

fazer apelo à mobilização efetiva dos talentos (...)”, em síntese, “(...) ser o grande ator da

mudança que se quer para Portugal” (Quesado, 2014).

O primeiro argumento utilizado para sustentar esta afirmação relaciona-se com a ligeira

progressividade na formação das pensões9. Pressupõe-se que o rendimento dos trabalhadores

decorre da “acumulação de capital humano”, e que no início e ao longo da sua vida, os

trabalhadores irão evitar qualificar-se porque, apesar de isso lhes possibilitar um aumento do

salário atual e da pensão futura, essa maior pensão refletirá uma taxa de substituição inferior.

Podendo estar presente a ideia de que uma crescente progressividade – como acontece no

IRS – se possa traduzir em crescentes distorções no mercado de trabalho (via menor incentivo

a trabalhar mais/melhor), parece haver aqui uma clara sobrevalorização, sobretudo tendo em

conta a muito reduzida dimensão daquela progressividade.

Implícita neste argumento está também a ideia simplista de que os trabalhadores encaram

as contribuições sociais de forma indiferente a outro imposto, e que pela falta de confiança no

sistema não levam em consideração nas suas decisões individuais a expectativa de receber

uma pensão futura do sistema, incluindo implicitamente esse “ativo contributivo” nos seus

balanços pessoais.

Em qualquer dos casos, certo é que nem a promoção da competitividade faz parte das

funções nucleares dos sistemas de pensões, nem estes são instrumentos apropriados ou

eficazes para a prossecução desse objetivo, pelo que se observa uma sobrevalorização

substancial desta dimensão.

O modelo de “capitalização virtual” proposto é semelhante a um modelo de

“capitalização real” (cuja implementação é já inviável). “(…) as contribuições do 9 Uma taxa global de formação variável entre 2,3% para os rendimentos mais baixos e 2% para os rendimentos mais altos (Aguiar, 2015).

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trabalhador e da entidade empregadora são registadas e valorizadas numa conta individual

aberta em nome de cada trabalhador” (Aguiar, 2015c).

Os principais contributos desta linha de pensamento revelam preferência pela capitalização

virtual, em detrimento da real, cuja implementação seria inviável devido à ausência de

condições políticas favoráveis e aos elevados custos de transição (Bravo, 2015). Sendo uma

proposta de reforma consistente, importa clarificar que, apesar da referência à capitalização

na designação de ambos os regimes, tratam-se de conceitos totalmente distintos e

basicamente incomparáveis.

O que se designa por capitalização virtual é na realidade apenas uma forma específica de

um regime de repartição, de contribuição definida (que tem a ver com lógica de

funcionamento e o nexo contratual do sistema, em que a pensão futura é incerta), com contas

nocionais (ou individuais).

A confusão entre ambos os conceitos parece contribuir para complexificar o debate, e

potenciar alguns vícios argumentativos da defesa desta proposta.

Os regimes de capitalização são necessariamente melhores que os de repartição, em

que o dinheiro desaparece. “A repartição ou pay as you go é uma forma de transferência

intergeracional que está sujeita a muitos riscos, quase se transformando, para as futuras

gerações, num "acto de fé": pray as you go!” (Félix, 2006).

Importa notar que a superioridade dos regimes de capitalização tem sido sucessivamente

posta em causa na discussão internacional (p. ex. Orszag e Stiglitz, 1999; Barr, 2000;

Krugman, 2005; Barr e Diamond, 2006). Algumas das suas principais vantagens indiretas,

como o contributo para o aumento da poupança interna, são teoricamente pouco sólidas ou só

aplicáveis sob certas condições específicas, sendo mesmo designadas de mitos (Barr) ou

confusões (Krugman).

Contudo, o principal argumento a favor dos sistemas de capitalização é a sua superior

capacidade para lidar com a inversão da pirâmide demográfica (p. ex. Bravo, 2015: 294), o

que parece carecer de fundamento teórico – ou não existindo, pelo menos, um consenso claro

na literatura nesse sentido. Com efeito, Barr (2000) compara os sistemas de repartição e

capitalização e conclui que ambos são igualmente afetados pela falta de crescimento da

produtividade e pela deterioração das perspetivas demográficas.

Uma das principais razões para a persistência desta falácia passa por não compreender não

só que os rendimentos da poupança em regimes de capitalização são também afetados pelo

crescimento da produção (e não só da produtividade) mas também que, por essa via, a

própria evolução demográfica também os afeta. Tal torna o resultado (em termos de

disponibilidade de recursos para pagamento de pensões) genericamente equivalente em

ambos os sistemas do ponto de vista teórico.

A proposta melhora a sustentabilidade e isso é suficiente para a tornar desejável.

Nestas propostas, embora se aborde a sustentabilidade de forma clara, e a equidade de

uma forma mais breve, em geral não se discute qual seria o seu impacto na adequação. A não

ser no contexto do contributo positivo que poderia ser obtido a esse nível em função do

aumento da poupança privada, este ponto é raramente abordado de forma explícita por boa

parte dos defensores do regime de capitalização virtual.

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Enquanto as baixas taxas de substituição previstas no longo prazo são incluídas no

diagnóstico sobre a insustentabilidade do atual sistema de repartição, o impacto que a

transição para um sistema de contas individuais teria sobre as taxas de substituição futuras do

sistema público costuma ser negligenciado na proposta de reforma (Aguiar, 2014; Bravo,

2015).

Refira-se, em qualquer caso, que é legítima uma leitura de que uma determinada proposta

é boa apenas por melhorar a sustentabilidade, mesmo em detrimento de outros critérios.

A enorme dívida implícita comprova a urgência da reforma proposta. “A dívida

implícita é um indicador para avaliar o nível de sustentabilidade financeira de um sistema de

pensões financiado em regime de repartição. A sustentabilidade mede-se pelo equilíbrio actuarial”

(Aguiar, 2015a).

Aqui há dois problemas distintos. Primeiro, o conceito de dívida implícita, parecendo

simples e sendo útil como indicador de sustentabilidade, pode assumir diversas formas com

diferente interpretação (detalhado no IPP Policy Paper 12). Os autores da referida corrente

têm utilizado uma versão maximalista, que corresponde à soma de todos os défices de

autofinanciamento no horizonte de projeção (mais recentemente, a realizada em MSESS,

2015), utilizando apenas o termo dívida implícita (vd. Aguiar, 2015). Isto tem contribuído

para gerar alguma confusão, por se afastar do conceito mais intuitivo de dívida (bruta).

Em Pinto (2016: 166) é referido o conceito proposto por estes autores, dizendo-se que “é

apresentado de forma similar” a outras fontes, quando estas na realidade empregam o termo

“dívida implícita” associado apenas aos compromissos já assumidos. Miguel Cadilhe (2015)10

também utiliza o termo nessa forma (chamando-lhe dívida submersa). As consequências

destas confusões conceptuais ficaram patentes na discussão tida no Workshop do Projeto Um

sistema de pensões para o futuro, onde a definição de dívida implícita chegou mesmo a gerar

forte controvérsia (Carolo, 2016).

Há também problemas na forma como este conceito tem sido empregue. As estimativas de

dívida implícita em MSESS (2015) e Aguiar (2015) são apresentadas para o sistema

previdencial-repartição como um todo (incluindo por isso as outras prestações: desemprego,

doença, invalidez, …), em vez de destrinçar apenas as referentes às pensões. Além disto, a

dívida implícita estimada em MSESS (2015) é calculada a partir dos saldos estimados em todo

o horizonte de projeção (75 anos). A incorporação de compromissos tão longínquos no tempo

numa soma de valores futuros descontados é pouco fiável11. E contrariamente ao que acontece

no caso das projeções das instituições internacionais, a metodologia utilizada nas projeções

não permite auditá-las: conhecem-se os parâmetros utilizados (inputs), mas não é público o

modelo utilizado.

10 De referir que o autor à referida dívida junta ainda o valor (se positivo) de eventuais insuficiências atuariais de pensões já pagas, face às contribuições correspondentes. 11 Contribui para a reduzida fiabilidade destas projeções a importância crítica que assume a taxa de desconto utilizada no horizonte de projeção, que é ela própria de difícil definição. Veja-se que a dívida implícita estimada em MSESS (2015) reportando-se a 1 de janeiro de 2014 e utilizando uma taxa de desconto de 5%, é mais de 100% superior à estimada com uma taxa de 3%.

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2.3. Outros estudos

Nesta secção faz-se uma análise sucinta dos diversos trabalhos que têm sido publicados

sobre o tema da Segurança Social, ou do sistema de pensões em particular, e que não se

parecem enquadrar nestas duas visões típicas e conflituantes.

Começa-se por destacar os trabalhos de maior envergadura, com projeções/simulações

detalhadas. Estas enquadram-se essencialmente em dois tipos: projeções de acordo com

metodologias atuariais/contabilísticas (o mais frequente), ou projeções utilizando modelos

macroeconómicos de equilíbrio geral. Em termos simples, a dividir os dois existe um trade-off:

o primeiro permite incorporar mais detalhe sobre as complexidades de funcionamento e

regras dos sistemas, mas não considera efeitos de feedback e integração entre os sistemas (e

medidas de alteração dos mesmos) e a evolução macroeconómica.

Ainda não foram publicados trabalhos sobre o sistema português que utilizem

metodologias de microssimulação, uma alternativa adicional a estes, associada ao primeiro,

mas que pode ser incorporado num modelo do segundo (Rodrigues, 2016).

Além de outros contributos na década de 90 (ISP, 1995; Silva, 1997; CISEP, 2000), o Livro

Branco elaborado a pedido do Governo de então pela Comissão do Livro Branco da Segurança

Social (1998) é ainda um marco importante, sendo um dos trabalhos mais abrangentes. Não

muito tempo depois, Pereira (2000) organizou um livro de contributos para reflexão sobre o

tema, incluindo projeções de longo prazo.

No contexto precedente à Reforma que conduziu à Lei de Bases de 2007, destacam-se três

trabalhos com simulações detalhadas: i) a oficial (MTSS, 2006) que serviu de base às políticas

desenvolvidas, ii) uma alternativa proposta pelo Banco de Portugal (Pinheiro e Cunha, 2007),

e iii) um outro (Pereira e Rodrigues, 2007), resultado de um projeto de investigação em que

se desenvolveu um modelo complexo do segundo tipo referido em que se integrou um módulo

de pensões estrutural, permitindo obviar parcialmente aquele trade-off, ao incorporar mais

detalhes do sistema.

Este último veio na sequência de um trabalho pioneiro do mesmo tipo por Borges e Lucena

(1988) e de um primeiro contributo neste sentido por Pereira (1999). Houve ainda, de certa

forma, continuidade nesta linha com um contributo mais recente por Castro et al. (2013), em

que se utiliza o modelo macro econométrico (de equilíbrio geral) do Banco de Portugal para

avaliar o impacto do envelhecimento, incluindo, mas não só, o nível das pensões de reforma.

Destacam-se também três contributos dedicados especificamente à análise da Caixa Geral

de Aposentações: Gouveia e Sarmento (2002), Cunha et al. (2009) e, mais recentemente, a

avaliação atuarial a este subsistema por Bravo et al. (2013).

O aumento das preocupações sobre o sistema durante e na sequência do PAEF levou a uma

intensificação da discussão, com vários contributos. Neste contexto, além dos já referidos, é de

destacar algumas propostas que fazem um ponto de situação ou do estado da arte da

discussão (Mendes e Cabral, 2014; Fernandes et al., 2016; Lagoa e Barradas, 2016) ou da

estrutura e princípios básicos dos sistemas (Goulart e Camacho, 2014). Note-se ainda a edição

de um número dos Cadernos de Economia da Ordem dos Economistas dedicado ao tema (julho

de 2014), com o mote “A (in)sustentabilidade da Segurança Social”. Mas aqui, a maior parte

dos contributos acabam por se enquadrar nas correntes referidas nas secções anteriores, sendo

variantes de propostas e análises editadas também noutros locais.

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Destacamos também alguns contributos recentes que, sendo mais modestos no seu alcance,

consideramos de especial interesse por revelarem perspetivas menos ortodoxas ou conterem

ideias mais originais para possíveis caminhos de reforma: Gouveia (2013), Pinheiro (2014),

Pereira (2015), e Cadilhe (2015, 2016). Merece ainda nota o trabalho mais teórico de

Gouveia (2017a, b) que contribui para a compreensão das motivações económicas associadas

ao apoio político a medidas de reforma do sistema de pensões.

Por fim, naturalmente, assumem especial importância os contributos das instituições

internacionais sobre o sistema de pensões português, designadamente pela Comissão Europeia

(2015a, 2015b, 2016, 2018), FMI (2013, 2016) e OCDE (2017) que fornecem as melhores

projeções disponíveis para as perspetivas do sistema no médio e longo prazo.

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3. Considerações finais

Procurou-se aqui apresentar uma visão sintética e crítica sobre o atual debate público e

político (e alguns contributos académicos) sobre o sistema de pensões em Portugal. Não só ao

nível político, mas também ao nível técnico, persistem tensões profundas que fazem do debate

algo “surdo” e inconsequente. Estas são potenciadas pela persistência de alguns vícios

argumentativos ou imprecisões conceptuais.

Contudo, a lacuna mais grave é a ausência de estudos quantitativos recentes que, em

simultâneo, i) sejam reconhecidos como independentes e isentos, aceites junto das diversas

correntes de opinião e interesses em presença; e ii) estabeleçam um diagnóstico claro, que

clarifique as consequências dos desafios demográficos e económicos num cenário de políticas

invariantes, e o resultado da implementação das principais propostas que têm sido discutidas.

Independentemente da boa-fé na produção dos estudos existentes, e da competência e

experiência dos seus autores, é notório que nenhum logrou cumprir ambas as condições.

Falta um diagnóstico que vá além dos grandes agregados demográficos e económicos e

escalpelize as atuais responsabilidades e perspetivas do sistema. Só com uma amostra de

carreiras individuais com microdados (de pensões, contribuições e indicadores de

caracterização) – como a que chegou a ser disponibilizada em Portugal12 e se produz

regularmente, para livre utilização, em Espanha – é possível:

Clarificar o impacto distributivo do figurino atual e de possíveis reformas,

relacionando-o com as desigualdades de rendimento (e.g. uma taxa de substituição de

80% pode esconder taxas de substituições muito diferentes em diferentes camadas da

distribuição do rendimento).

Observar a realidade para casos concretos anónimos ilustrativos, que permitam

entender de forma clara o impacto da demografia e das reformas, representando perfis

típicos de situações com correspondência na realidade portuguesa (e.g. senhor A,

solteiro, rendimento x entre 1979 e 2010, … Casal B, rendimento y1 desde 1997 e y2

desde 1993, 3 filhos, … etc.), com uma noção da sua representatividade. Por exemplo,

a implementação de propostas de contas nocionais individuais deveria ser testada com

microsimulações.

Compreender a dimensão e a origem dos compromissos assumidos, o que, relacionando

com a análise objetiva da evolução histórica das regras,13 permitirá uma discussão mais

fina da sua justiça. A análise destes dados permitirá ter uma noção mais precisa do

conteúdo contributivo das pensões a pagamento, argumento sempre alvo de forte

discussão. Sem estes dados, não se pode fazer melhor do que uma análise muito

grosseira, e como tal facilmente contestável por correntes de opinião divergentes14.

Compreender o papel que a dinâmica de maturação tem ou não na evolução do

sistema: perceber se ainda está a maturar ou já atingiu o estado de maturação, pois

existem opiniões contraditórias sobre isto que é, em princípio, matéria de facto. A

simples análise da evolução das carreiras contributivas médias não permite dissipar tais

12 Uma amostra de microdados chegou a ser disponibilizada pela Segurança Social (e pela CGA) para Pereira e Rodrigues (2007). 13 Incluindo uma distinção rigorosa dos subsistemas (Caixa Geral de Aposentações e Segurança Social) – ver IPP Policy Paper 12. 14 Ver p. ex. Serra (2014, 2015) para uma tentativa nesse sentido.

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dúvidas, nem comparar os efeitos reais decorrentes de diferentes carreiras

contributivas, salários, e períodos de aplicação das reformas entretanto realizadas.

Uma avaliação mais detalhada dos estudos que aqui elencámos, atendendo à matriz de

análise desenvolvida nas publicações que precedem o presente brief, poderia também

contribuir para dissipar algumas das dúvidas que alimentam as tensões descritas.

Porém, seria sobretudo essencial o desenvolvimento, em Portugal, de um estudo com as

características acima mencionadas. No âmbito do Projeto Um sistema de pensões para o futuro

não foi possível assegurar a disponibilização em tempo útil dos dados necessários para o

efeito. Ainda em desenvolvimento encontra-se o Projeto DYNAPOR15, com o apoio da

Fundação Calouste Gulbenkian, que, tendo objetivos mais vastos, procura responder a muitas

das preocupações referidas.

Como se procurou explanar aqui e nos dois Policy Papers (11 e 12) que o antecederam,

além das divisões político-ideológicas que o sistema de pensões motiva, é frequente exigir-se-

lhe que resolva uma enorme diversidade de problemas económicos e sociais – coesão social,

competitividade, democracia, desigualdades, pobreza, mercado de trabalho, inovação,

investimento, natalidade, … – que são, na realidade, alheios às funções nucleares do sistema.

Tais exigências são, na realidade, desajustadas e impossíveis de satisfazer. Importa, sim, o

foco no essencial: um sistema de pensões que forneça proteção na velhice, reduzindo, em vez

de agravando, a incerteza económica e social. Para tal, há que desbloquear o debate, desfazer

mitos instalados, permitir a realização de um estudo como o que referimos que faça luz sobre

as perspetivas do sistema e, eventualmente, abra caminho às alterações que venham a

concluir-se necessárias. Só assim se poderá alcançar uma situação em que o sistema público

de pensões deixe de ser um problema para as finanças públicas, e possa começar a fazer parte

das soluções para a economia.

15 Projeto desenvolvido em parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação Francisco Manuel dos Santos, o Instituto do Envelhecimento (ICS-U. Lisboa) e a Universidade de Southampton. Ver mais em https://gulbenkian.pt/project/dynapor-modelo-de-micro-simulacao-dinamica-para-portugal/#

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IPP Policy Paper 13. junho 2018

ISSN: 2183-9360

O debate público e político sobre as pensões em Portugal

Autores: Daniel Carolo, Joana Andrade Vicente e Luís Teles Morais

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