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© Institute of Public Policy e os autores
junho de 2018 – Todos os direitos reservados
POLICY PAPER 13
O debate público e político sobre
as pensões em Portugal
Daniel Carolo [email protected]
Joana Andrade Vicente [email protected]
Luís Teles Morais [email protected]
Agradecimento
O Institute of Public Policy e os autores agradecem à Fundação Calouste Gulbenkian pela iniciativa e pelo financiamento prestado ao
Projeto Um sistema de pensões para o futuro, no qual se enquadra este policy brief. Os autores agradecem a Carlos Farinha Rodrigues,
Pedro Pita Barros e Henrique Lopes Valença, que contribuíram para este trabalho com diversos comentários. Quaisquer erros ou
omissões permanecem da exclusiva responsabilidade dos autores.
Policy Papers
A série de Policy Papers do Institute of Public Policy pretende apoiar o debate público com trabalhos concisos, onde se analisam políticas
públicas de forma rigorosa e se explanam recomendações claras.
Os autores
Daniel Carolo é Professor Auxiliar Convidado no ISEG, U. Lisboa e investigador do Institute of Public Policy. Joana Andrade Vicente é
investigadora no Institute of Public Policy e doutoranda no ISEG, U. Lisboa. Luís Teles Morais é investigador e diretor executivo do
Institute of Public Policy e Assistente Convidado no ISEG, U-Lisboa.
Sobre o Institute of Public Policy
O Institute of Public Policy é um “think tank” independente, sob a forma de associação sem fins lucrativos, cuja missão é contribuir para a
melhoria da análise e do debate público das instituições e políticas públicas em Portugal e na Europa, através da criação e disseminação de
investigação relevante.
ipp-jcs.org
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Índice
1. O debate sobre a sustentabilidade e as reformas .................................................. 3
2. Os dois lados da barricada: impasse no debate público ........................................ 5
2.1. O lado “esquerdo” ......................................................................................... 6
2.2. O lado “direito” .......................................................................................... 12
2.3. Outros estudos ............................................................................................ 16
3. Considerações finais .......................................................................................... 18
Referências ............................................................................................................... 20
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1. O debate sobre a sustentabilidade e as
reformas
Continuam a existir fortes dissensões em Portugal sobre o diagnóstico dos equilíbrios
financeiros a curto, médio e longo prazo do sistema público de pensões, e sobre a forma como
lidar com uma certa “herança social”, isto é, com os encargos associados a direitos atribuídos
no passado. Em qualquer caso, os dados e estudos existentes, embora longe de serem
definitivos, deixam antever importantes desafios para os sistemas de pensões apesar das
reformas já implementadas.1
Tudo isto, num contexto de fragilidade das finanças públicas, e dado o peso que o sistema
de pensões (que inclui subsistemas diferenciados como a CGA e a Segurança Social) apresenta
nestas, contribui para alguma conflitualidade social sobre as expectativas em relação ao
sistema: cortes para os pensionistas, perspetiva de pensões mais reduzidas do que as atuais
(em termos de taxa de substituição2) para as gerações mais novas, regras e perspetivas
diferentes para funcionários públicos e trabalhadores do setor privado e trabalhadores com
contratos mais ou menos precários.
O debate público tem sido inconsequente, contribuindo, por um lado, para a reduzida
compreensão pelos cidadãos sobre o funcionamento do sistema e os desafios que se lhe
colocam e, por outro, para decisões políticas menos transparentes e que parecem ter
privilegiado o grandfathering. Isto é, um impacto muito gradual de novas regras mais
restritivas, resultando na prática em cortes nas pensões futuras, por oposição a ajustamentos
estruturais que incluíssem também pensões em pagamento e/ou o nível de contribuições
sociais no presente (com exceção da Contribuição Extraordinária de Solidariedade, entretanto
já extinta). A incipiência do debate público sobre estas matérias não é nova: as três maiores
reformas realizadas nas últimas décadas foram manifestamente preparadas com reduzido
contributo da sociedade civil e sem uma discussão pública satisfatória a antecedê-las (Carolo,
2015).
Estas tensões foram intensificadas durante o período da crise e do Programa de Assistência
Económica e Financeira, em que foram aplicados cortes e outras medidas pontuais3. Tal
voltou a colocar o problema em destaque, tendo estas medidas sido mesmo sujeitas a
fiscalização de constitucionalidade. Para além disto, o sistema de pensões foi alvo de atenção
por parte da troika4, pese embora o Memorando de Entendimento não incluísse medidas
específicas de reforma do sistema (além dos referidos "cortes”).
Neste período, e no pós-troika, foram lançados diversos estudos e recomendações de
reforma que, juntando-se aos desenvolvidos no contexto das reformas na década de 2000,
foram formando o corpo essencial do que é hoje o debate sobre o tema em Portugal. É
possível enquadrar boa parte deste debate num de dois lados da “barricada”, entre as posições
mais à “esquerda” e mais à “direita” do espetro político. Sublinhe-se que tal não acontece
1 Para uma análise mais detalhada sobre este assunto, ver IPP policy paper 11 e 12, os quais constituem parte integrante da série de publicações IPP no âmbito do projeto Um sistema de pensões para o futuro. 2 Valor da pensão em percentagem do último salário. 3 Primeiro com o congelamento de pensões, depois com a introdução do Complemento Extraordinário de Solidariedade (CES) às pensões em pagamento mais elevadas e, finalmente, com as alterações no fator de sustentabilidade. 4 O exemplo mais interessante será o trabalho do FMI (2013: 34-44).
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apenas no debate político, pois também ao nível técnico as tensões são acirradas – embora as
fronteiras entre ambos possam nem sempre ser claras.
Da análise desenvolvida em seguida, parece resultar que, ao contrário do que anunciava
António Ramos Gomes (2014) no editorial de uma edição dos Cadernos de Economia dedicada
a estes temas, nem “o diagnóstico está feito”, nem “os caminhos a percorrer estão traçados”5.
5 Algo que o workshop realizado na Fundação Calouste Gulbenkian, em novembro de 2015, que reuniu especialistas de diferentes tendências, veio
evidenciar (Carolo, 2016).
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2. Os dois lados da barricada: impasse no debate
público
No verão de 2015, em antecipação às eleições legislativas, o tema da reforma do sistema
de pensões ganhou espaço no palco principal do debate público e político, no âmbito da
oposição entre o Programa Económico do Partido Socialista (PS) e o Programa de Estabilidade
do Governo de então, representativo da coligação PSD/CDS-PP.
Ambos continham propostas concretas e conflituantes, representativas das duas visões
prevalecentes sobre a situação e desafios do sistema. Já em 2016, o PSD propôs no
Parlamento a criação de uma Comissão eventual para promover uma reforma estrutural do
sistema público de Segurança Social, cuja rejeição foi justificada pela maioria de suporte
governamental com a sua discordância relativamente ao diagnóstico da situação atual do
sistema. Este debate político fortemente polarizado acaba por traduzir as acirradas divisões
que o tema suscita: intergeracional, ideológica e setorial. Isto é também manifestado pelo
bloqueio do debate na academia, algo incipiente, e na sociedade civil, aparentemente toldado
pelos interesses em presença.
A Tabela 1 infra resume as principais referências da discussão sobre o tema. Estas são
esquematizadas em função da sua identificação com um dos lados desta barricada (ou
nenhum), e se contêm ou não análise quantitativa, que aqui definiremos como análise original
de dados atualizados, agregados ou não, dos sistemas públicos de pensões6.
Naturalmente, a atribuição de uma característica político-ideológica, mais “de esquerda” ou
“de direita”, a estudos e contributos deste tipo comporta um elevado grau de subjetividade.
Mas a ocorrência frequente de determinados argumentos como os que elencamos nas
subsecções seguintes, permite-nos atribuir estas identificações com alguma segurança, ainda
que de forma imprecisa e, claro, contestável. Além do mais, a análise coincide com a autoria
dos estudos e escritos sobre o tema, sejam de entidades oficiais durante a governação de
partidos associados a um dos lados, seja de individualidades ou grupos associados a partidos
de um dos lados.
De qualquer modo, independente das limitações de precisão de uma análise deste tipo,
importa salientar que a perceção da existência de tais enviesamentos é muito comum entre os
participantes na discussão.
Numa visão de conjunto, podemos desde logo constatar que, no que diz respeito aos
estudos quantitativos, os contributos nacionais mais recentes, incluindo os estudos oficiais,
parecem associados à visão e aos setores “à direita”, o que significa que a análise quantitativa
nacional atualizada sobre o tema é descartada por metade do universo como sendo enviesada.
E, de facto, grande parte dessas análises parecem, no mínimo, apresentar conclusões cuja
solidez não é de todo clara.
Por outro lado, destaca-se a ausência de estudos de análise quantitativa que se possam
atribuir aos setores mais “à esquerda” (com exceção do realizado em preparação da reforma
de 2007), o que significa que as fortes críticas que estes dirigem aos anteriores não são
6 Uma análise crítica de dados trabalhados por outrem (p. ex. os do Ageing Working Group) não caberia nesta definição.
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acompanhadas de uma análise quantitativa. Existe uma tendência para sobrevalorizar as
funções sociais do sistema, recusando, todavia, fundamentar quantitativamente os seus
argumentos. Isto, por si só, potencia a persistência de alguns vícios argumentativos.
É também consequência disto a inexistência de estudos quantitativos substanciais
produzidos em Portugal e que sejam amplamente reconhecidos como isentos, nos últimos
largos anos. Existem apenas os estudos internacionais, da Comissão Europeia e da OCDE, que
acabam por ser as melhores fontes de informação sobre o tema. Porém, sendo elaborados
como parte de avaliações globais internacionais, acabam por não ter o grau de detalhe que
seria desejável no que diz respeito à realidade nacional.
Tabela 1 – Lista não-exaustiva de referências
2.1. O lado “esquerdo”
Do lado da barricada a que chamaremos “esquerdo”, há um conjunto de grupos com
incentivos a apoiar uma determinada visão que se pode descrever como imobilista, sobretudo
protetora de direitos adquiridos. Pode argumentar-se que os eventuais perdedores num
processo reformista correspondem aos grupos de pressão que habitualmente se opõem a
alterações nos sistemas. Designadamente: atuais pensionistas, reformados e aposentados,
destacando-se aqui as diversas Associações de Reformados, Pensionistas e Idosos,
frequentemente com apoio dos executivos municipais; e funcionários públicos em final de
carreira e/ou aderentes à CGA, representados pela CGTP e pela Frente Comum de Sindicatos
da Administração Pública.
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Tal como no outro lado da barricada, estas posições políticas são sustentadas, ou pelo
menos acompanhadas, por um vasto conjunto de investigadores/académicos que desenvolvem
teses nestas linhas. Neste caso, são sobretudo duas.
Uma em torno do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra (CES), sobretudo nas atividades do Observatório sobre Crises e Alternativas, com
investigadores ligados a essa Faculdade e outros. Esta é tipicamente mais associada a pessoas
identificadas com o espaço político do Bloco de Esquerda e com alguns setores do Partido
Socialista.
Outra está integrada no ISCTE, com vários investigadores e professores com currículo em
diversas áreas do estudo (sobretudo sociologia) das políticas públicas e, em particular, das
políticas sociais. Neste caso, aparenta existir uma maior proximidade ao Partido Socialista,
tendo em conta que muitos desses autores são membros desse partido e têm participado em
equipas governativas associadas ao mesmo. Existem também outros investigadores a defender
posições deste tipo noutros centros – destacando-se aqui Eugénio Rosa e, na área do direito,
alguns académicos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
No âmbito da competição política, estas posições têm particular acolhimento nos partidos
mais “à esquerda” no espetro político, o que pode ser observado nos programas eleitorais
destes partidos, submetidos para as eleições legislativas de 2015.
No programa do Partido Socialista, refere-se que a decisão de “cortar pensões já atribuídas”
constituía a “violação de um ‘contrato de confiança’”, o que “[criou] um conflito entre gerações”
e “estigmatizou um grupo geracional”. Defende-se que foi “a estratégia do PSD/CDS” que
“provocou uma queda abrupta da natalidade”. O PS “define como prioritári[o] (…) o combate à
fraude e evasão contributivas”.
No do Bloco de Esquerda diz-se que: “os reformados e pensionistas foram violentamente
assaltados pelo governo”, o qual pretendia “empurrar novas gerações para o negócio dos fundos
de pensões”; que “o maior perigo para a segurança social é (…) o desemprego”; que “as diversas
medidas [do Governo] (…) criaram um país de baixos salários e, portanto, também de baixas
contribuições (…)”. Determina-se que “cortar nas pensões em pagamento (…) não pode ser uma
opção” porque “quebrar o contrato social em que se baseou a formação das pensões (…) mina a
democracia”. Mas “cortar nas pensões futuras (…) é também um modo de quebrar o contrato
intergeracional”.
O PCP, por seu lado, exigia a reposição de “direitos confiscados”, a “revogação do fator de
sustentabilidade” e o “aumento real das pensões e reformas”. Prioriza também o combate à
“evasão e fraude contributiva” com a qual estima que a perda anual de receita seja de “mais de
2 mil milhões de euros”.
Argumentos problemáticos
Em sequência de uma breve visão geral sobre o debate, na presente secção examinam-se
algumas linhas argumentativas tipicamente empregues nas teses deste lado da barricada,
tentando pôr em evidência algumas falácias e/ou premissas erradas de que partem.
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As medidas de reforma do sistema já implementadas e em discussão pretendem
subverter o “princípio da solidariedade intergeracional”.
Este argumento, essencialmente referente a medidas que ponham em causa o valor de
pensões em pagamento ou de direitos já formados, tem um problema de confusão quanto ao
referido princípio. A “solidariedade intergeracional” é, de facto, essencial para o
funcionamento de um sistema de repartição. Mas é-o no que diz respeito ao seu nexo
contratual: os contribuintes no momento t contribuem para o sistema porque confiam que em
t+1 os contribuintes de então contribuirão para a sua pensão.
A conclusão que se retira, e em defesa da qual se invoca o dito princípio, não se enquadra
nisto. Conclui-se que se quebra o princípio se os contribuintes em dado momento não
estiverem dispostos a pagar o que for preciso para suportar a pensão prometida aos atuais
pensionistas, em vez da pensão justa considerando as contribuições realizadas e os recursos
disponíveis numa lógica coerente entre gerações, sendo certo que o acordo sobre a definição
de “justiça” nesses termos se afigura difícil. O equilíbrio intergeracional significaria assim que
a economia, i.e. a população ativa, deve assegurar a despesa necessária para financiar as
pensões prometidas, por mais extremas que possam ser as circunstâncias. Esta é a implicação
direta de assumir que as pensões em pagamento devem ser consideradas absolutamente
inalienáveis, “dogma” presente igualmente no discurso político do lado “direito”.
As pensões são direitos sociais. “Dizer que (...) a Constituição garante o direito à pensão,
mas que esse direito não protege o quantum da pensão, é tão absurdo como dizer que a
Constituição garante o direito de propriedade, mas que esse direito não protege o quantum da
minha propriedade” (Novais, 2014).
Tendencialmente nestas correntes utiliza-se abusivamente a ideia de pensões como um
todo, como se existisse apenas um sistema de pensões e todos os pensionistas tivessem sido
sujeitos às mesmas regras. Por outro lado, usa-se o conceito de direito social referindo-se às
pensões auferidas e ao seu valor, não raras vezes circunscritas a grupo(s) de pensionistas em
particular. Note-se, em primeiro lugar, que este direito social deve ser entendido como
universal, e não transposto hermeticamente para a esfera individual, e em segundo, o direito
consagrado é a uma pensão, não ao seu montante (embora a discussão doutrinária sobre este
ponto não seja estritamente consensual).
A oposição do conceito de direito social a direito de propriedade parece-nos relevante e
correta no que se refere às pensões. O problema reside na conclusão que daí se retira,
segundo a qual sendo um direito social é ainda mais importante do que um direito de
propriedade e deve ser protegido a todo o custo, sem ter em conta que a concretização desse
direito depende muito mais de uma análise subjetiva e consequente decisão política do que no
caso dos direitos de propriedade típicos, cuja definição é mais fácil.
Esta utilização dos direitos sociais subverte uma noção conceptual, que se discute a um
nível constitucional. Mas, como tal, deve ser entendido com a abrangência necessária. Não se
deve subvertê-lo para o utilizar rigidamente em situações concretas no espaço e tempo, sendo
antes uma regra geral, que deve ser respeitada pela sociedade como um todo. Não deve
confundir-se o direito fundamental a uma pensão na reforma, que deve ser garantido a todos,
com o direito “à minha pensão” ou “àquela pensão”. Nem poderia ser, já que este dependerá
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das regras existentes de cada sistema e em dado momento, regras estas que dependem
sempre das contribuições, mas também de decisão política.
Eventuais problemas de sustentabilidade da Segurança Social, a existirem, derivam
apenas do desemprego e recessão (provocados por medidas de política recessivas). “(...) o
maior perigo para a segurança social é, pois, o desemprego” (Manifesto eleitoral do Bloco de
Esquerda, Eleições legislativas 2015).
A segunda parte do argumento ignora um vasto conjunto de outros fatores estruturais,
internos e externos, conducentes à crise económica de 2010-13 e não será aqui abordada. A
primeira parte merece atenção. Embora seja expectável e natural a existência de défices
conjunturais em contextos recessivos, o sistema no seu conjunto dever-lhes-á resistir política e
economicamente, com uma adequada partilha dos riscos macroeconómicos entre gerações e
grupos sociais e sem que pensionistas e contribuintes sejam confrontados com incerteza
significativa. De outro modo, as pressões impostas por uma queda do emprego/produto, que
ocorre inevitavelmente de forma periódica em função do ciclo económico, terão de ser sempre
resolvidas com respostas conjunturais e não necessariamente consistentes.
Uma forma minorada deste argumento, que tem ganho preponderância, substitui a ideia de
que os problemas derivam estritamente do desemprego, dizendo que, não fosse o desemprego
e recessão, os indicadores do sistema no curto prazo seriam bons (Louçã et al, 2016). O efeito
prático no debate é o mesmo: subvalorizar os potenciais problemas de conceção do sistema e
sobrevalorizar a associação óbvia entre desemprego e recessão, e desequilíbrios conjunturais
no sistema.
Medidas de redução do valor das pensões agravam necessariamente as desigualdades
e/ou reduzem a progressividade do sistema. “num modelo de contas individuais virtuais (...)
o nível das pensões é a variável de ajustamento, gerando (...) efeitos redistributivos adversos”
(Murteira, 2014:5). “A imposição de um teto salarial para o plafonamento vem reduzir a
progressividade do sistema” (Louçã et al., 2016: 141).
Este argumento padece do problema da generalização. Implica que a distribuição dos
valores das pensões corresponde à distribuição de todo o rendimento (e riqueza) entre os
pensionistas (que podem simultaneamente ter outras fontes de rendimento e deter ativos,
além da pensão). A redução de uma pensão “baixa” atribuída a um pensionista “rico” agrava
ou reduz a desigualdade de rendimento e riqueza?7
No que diz respeito à introdução de mecanismos de “plafonamento”, também se aplica
uma lógica semelhante. Geralmente, este argumento descarta qualquer forma de
“plafonamento” por ser uma forma de “privatização” e “descapitalização” da Segurança
Social, retirando do sistema os recursos das camadas de rendimento mais elevado, o que só é
parcialmente verdade, visto que a despesa proporcional com pensões também deveria
diminuir. Argumenta-se também que isto agravaria as desigualdades, o que – no plano
intrageracional – é discutível, visto que a componente progressiva, de redistribuição
interpessoal nas taxas de formação das pensões, é residual e a taxa de contribuição (TSU) é
fixa (proporcional).
7 Aqui destaca-se a fundamentação na atribuição de pensões sociais que, pelo menos desde o artigo de Rodrigues e Gouveia (2004), tem sido questionada em termos de eficácia no combate á pobreza.
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Mesmo aceitando este último argumento, ele só se verificaria no caso da introdução de um
mecanismo de plafonamento que fosse actuarialmente neutro, isto é, em que o valor do
plafond contributivo corresponderia a um plafond de pensão que lhe corresponderia
actuarialmente ou, pelo menos, de acordo com as regras de formação do sistema.
Contrariamente, se ao plafond da pensão se aliasse um plafond contributivo mais elevado (ou
mesmo inexistente), a introdução de plafonamento teria um efeito redistributivo, redutor das
desigualdades.
Nos modelos de capitalização só conta o interesse individual egoísta, não há
solidariedade nem partilha de riscos. “(...) o seu principal risco está (...) na ausência de
controlo que o cidadão tem (...) estando de forma perigosa dependente do funcionamento e
evolução dos mercados de capitais (...). Se os recursos acumulados por cada cidadão se destinam
apenas à sua pensão, a contrapartida (...) é, precisamente, a individualização do próprio risco”
(Louçã et al., 2016: 55).
Os modelos de repartição podem ser preferíveis, mas não por este motivo. No longo prazo,
é claro do ponto de vista económico (ver IPP Policy Paper 12) que um sistema de capitalização
depende tanto do produto (do trabalho) de outras gerações como um sistema de repartição.
Além disso, do ponto de vista técnico, seria possível num regime público de capitalização
incorporar mecanismos de redistribuição interpessoal com os mesmos efeitos que teriam num
regime de repartição (embora se possa argumentar que tal seria mais difícil no plano político,
o que se deveria à mais fácil inteligibilidade do funcionamento desses mecanismos).
A individualização do risco, supostamente inerente à capitalização, só se aplica na medida
da variabilidade dos retornos das aplicações-reforma entre os indivíduos. Mas, em média, é de
esperar que o crescimento das pensões, para uma mesma trajetória de crescimento económico
e evolução demográfica, seja idêntica num regime de repartição e num de capitalização, e
mesmo a sua variabilidade será sempre relativamente baixa. Até porque em geral a poupança-
reforma é aplicada em ativos de grau de risco reduzido, pelo que a sua taxa de crescimento
anual acompanha de perto a taxa de crescimento do produto.
Serão necessárias alterações nas fontes de financiamento do sistema para resolver
défices. “Há certamente que encontrar fontes de financiamento alternativo que acrescentem
robustez ao sistema (…) sem nunca pôr em causa as pensões em pagamento” (Ferro Rodrigues
in Louçã et al., 2016: 10). “Neste quadro o PS irá reforçar o financiamento e a sustentabilidade
da Segurança Social através da diversificação das suas fontes de financiamento” (Partido
Socialista, 2015).
Não se contesta que poderá fazer sentido considerar alterações nas fontes de
financiamento do sistema. Mas quando se reconhece que há défices, e por isso há que
considerar alterar fontes de financiamento sem explicar porquê ou para quê – implicando que
o objetivo é basicamente “tapar” os défices –, incorre-se em potenciais iniquidades e
inadequação instrumental.
Primeiro, a criação de novas fontes de financiamento, se corresponder ao aumento da
receita por via de novos impostos/contribuições total ou maioritariamente suportados pelas
gerações no ativo. Por exemplo, “aumentar a TSU das empresas com elevados índices de
precariedade” ou “consignar à Segurança Social o imposto sobre heranças”, como propunha o
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Partido Socialista (2015), são medidas que indireta ou diretamente agravariam as
contribuições e impostos da população ativa. Poderiam, nesse sentido, ser equivalentes a um
aumento da taxa de contribuição. Mesmo podendo concluir-se como necessários e justos,
deverão sempre ser contabilizada adequadamente em termos geracionais, em conjunto com as
contribuições sociais.
Segundo, dependendo do modelo exato, a criação de novas fontes de financiamento
poderá até ser agravadora das desigualdades de rendimento (intrageracionais), como
aconteceria se se recorresse a um imposto sobre o consumo (e.g. IVA social), com efeitos
regressivos, contrapondo-se assim aos objetivos de equidade que eventualmente poderia
perseguir.
Terceiro, a redução do carácter contributivo poderá ser desadequada dependendo do mix
escolhido (ex. as receitas asseguram a cobertura de riscos com receitas apropriadas? A
financiar poupança contributiva com impostos gerais?)
Os problemas de sustentabilidade financeira do sistema derivam em parte importante
da evasão contributiva. “O problema não está (...) no modelo de repartição/solidariedade
intergeracional, como não decorre de fatores demográficos. (...) está nos impactos das medidas de
austeridade (...) e (...) há que ter presente ainda: o combate à fraude e evasão contributiva é
essencial (...); a recuperação de dívidas” (Joaquim et al., 2014:13). “(...) se não existir um
combate eficaz à evasão e fraude contributiva e se não for alterada a fórmula de cálculo das
contribuições das empresas (...) os pensionistas estão condenados a assistir à degradação das suas
pensões (...) e os futuros pensionistas a mais cortes” (Rosa, 2016b:1).
Não se pretende aqui negar que os problemas de fraude e evasão contributivas existam,
nem que tenham relevância. Uma redução substancial do problema facilitaria os equilíbrios
financeiros do sistema e, sobretudo, são desafios que colocam questões estruturais
relacionadas com potenciais iniquidades e criação de incentivos perversos no mercado de
trabalho. Porém, o impacto na receita é, apesar de tudo, reduzido e insuficiente para explicar
uma parte significativa dos problemas da Segurança Social e do sistema de pensões. O
problema destas linhas argumentativas é potencialmente induzir em erro os leitores menos
avisados, que poderão ficar com a impressão de que eventuais problemas do sistema se devem
apenas à má fé de um conjunto alargado de empresas.
Mesmo Pires e Antunes (2016) (à “esquerda”) chegam a uma estimativa rápida de 800
milhões de euros para o valor da evasão e fraude contributiva em 2014, comparando as
contribuições pagas e o que resultaria da aplicação da taxa média às remunerações
declaradas. Este valor, que corresponde a pouco mais de 5% do valor pago em contribuições,
não resolveria o problema. Até porque é certo que estes problemas nunca podem ser
eliminados, mas apenas mitigados.
Além disso, é necessário distinguir as situações de evasão e fraude das situações de
incumprimento por parte de empresas em dificuldades de liquidez ou solvência.
Torna-se assim evidente que a consideração destas dimensões não é suficiente para
equacionar os desafios que se colocam à sustentabilidade do sistema, contrariamente ao que
algumas teses (e mesmo propostas políticas) parecem implicar, ao dar-lhes tão grande
destaque e prioridade enquanto soluções para os problemas do sistema.
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2.2. O lado “direito”
Em oposição à linha de pensamento descrita anteriormente, existe uma corrente que parte
do diagnóstico de insustentabilidade financeira do sistema de pensões para propor como
inevitável uma reforma estrutural de uma tipologia particular. Esta corrente inspira-se na
arquitetura de múltiplos pilares celebrizada pelo Banco Mundial (1994) mas, mais
especificamente, no modelo sueco, um sistema de repartição de contribuição definida com
contas individuais (ou nocionais), vulgo capitalização virtual, e substituiu, de certa forma, a
corrente que anteriormente defendia a passagem a um sistema de capitalização pura (ou seja,
“fechar” o sistema de pensões de velhice da Segurança Social, em repartição, substituindo-o
por um fundo público obrigatório em capitalização individual – vd. Silva e Goes, 2006).
Em qualquer caso, o forte aumento da poupança privada que os modelos – e diagnósticos –
que têm sido propostos parecem implicar, sugere que a defesa deste tipo de políticas terá
algum alinhamento de incentivos com o setor financeiro (i.e., bancos e seguradoras), dado o
potencial crescimento do mercado que tal aumento representaria para estas. Observe-se, por
exemplo, que é frequente iniciativas sobre o tema serem patrocinadas por empresas do setor8.
No campo político, esta visão encontra mais facilmente correspondência nos programas
eleitorais e nas propostas dos partidos e coligações mais à direita. Por exemplo, o programa
eleitoral submetido para as eleições legislativas de 2015 pela coligação Portugal à Frente
(PSD/CDS-PP) propunha para a Segurança Social, entre outras, i) a criação de uma
“Caderneta de Aforro para a Reforma” que refletisse todos os movimentos registados na “Conta
Individual do beneficiário”, ii) o desenvolvimento de planos complementares de reforma de
natureza profissional e individual, e iii) o plafonamento através da introdução de um limite
superior para as contribuições e futuras pensões.
Algumas destas ideias já constavam também do Programa do XV Governo Constitucional
(2002-2004), como “o desenvolvimento articulado dos diferentes pilares (público, empresarial,
familiar e individual) da segurança social” e “a introdução, de facto, do teto contributivo, com
consequente criação de mecanismos estáveis de capitalização pública, privada e social”. No
entanto, o impacto da reforma da Segurança Social efetivamente levada a cabo por esse
Governo ficou bastante aquém da sua ambição de mudança estrutural (Carolo, 2015).
Argumentos problemáticos
Estas propostas de reforma estrutural do sistema partem de um diagnóstico de
insustentabilidade financeira. Segundo esta perspetiva, o aumento do número de beneficiários
(pensionistas) face ao número de contribuintes, tudo o resto constante, exigiria transferências
crescentes do Orçamento do Estado (OE) para financiar os défices do sistema, que deverão
atingir os 3,7% do PIB em 2060 (Bravo, 2015). Grande parte dos problemas na argumentação
passam por sobrevalorizar ou utilizar de forma imprecisa esta premissa.
Os défices de autofinanciamento que têm sido registados recentemente comprovam a
insustentabilidade do sistema. “(…) o sistema apresentou pela primeira vez em 2012
necessidades de financiamento de 471ME (0,3% do PIB), valor que aumentou para 1.121ME
8 Refira-se, a título de exemplo, as conferências “Pensões e poupança”, apoiada pelo Instituto BBVA de Pensões (18 de março de 2016, Fundação Calouste Gulbenkian) e “Meu Futuro, minha Reforma”, com o apoio do Banco Popular e da Eurovida (23 de maio de 2016, Mercado da Ribeira).
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(0,7% do PIB) em 2013 (…) não obstante todas as medidas excecionais de contenção da despesa
com pensões” (Bravo, 2015)
Geralmente parte-se de um diagnóstico, dependente de projeções a muito longo prazo para
uma série de variáveis económicas e demográficas, que conclui que o atual sistema é
financeiramente insustentável. Esta conclusão, sendo contestável, é legítima. Menos legítimo é
reforçá-la com os dados das transferências do OE para a Segurança Social durante o período
da crise (Bravo, 2015), ignorando a natureza conjuntural do acréscimo em prestações do
regime previdencial como o desemprego, além do aumento das próprias reformas
antecipadas, e do decréscimo das receitas pela redução forte do volume de emprego, para no
meio desta inconsistência temporal apresentar a proposta alternativa como inevitável.
Embora tenha mérito a ideia de que o sistema deveria apresentar uma maior robustez em
contextos de recessão, um sistema reformado também sofreria as consequências de um
comportamento económico dececionante. Adicionalmente, a experiência neste passado
recente, sobretudo num contexto tão específico como a crise de 2010-13 e sabendo que foram
implementadas diversas medidas de reforma, oferece pouco para explicar os desafios futuros.
O atual sistema é fortemente prejudicial à acumulação de capital humano e,
consequentemente, à competitividade da economia. “[U]m novo sistema de segurança social
(...) tem que (...) assumir na sua plenitude a pertinência de uma aposta consolidada nos três T
que configuram a sua distinção estratégica – talentos, tecnologia e tolerância (...)”, que “terá que
fazer apelo à mobilização efetiva dos talentos (...)”, em síntese, “(...) ser o grande ator da
mudança que se quer para Portugal” (Quesado, 2014).
O primeiro argumento utilizado para sustentar esta afirmação relaciona-se com a ligeira
progressividade na formação das pensões9. Pressupõe-se que o rendimento dos trabalhadores
decorre da “acumulação de capital humano”, e que no início e ao longo da sua vida, os
trabalhadores irão evitar qualificar-se porque, apesar de isso lhes possibilitar um aumento do
salário atual e da pensão futura, essa maior pensão refletirá uma taxa de substituição inferior.
Podendo estar presente a ideia de que uma crescente progressividade – como acontece no
IRS – se possa traduzir em crescentes distorções no mercado de trabalho (via menor incentivo
a trabalhar mais/melhor), parece haver aqui uma clara sobrevalorização, sobretudo tendo em
conta a muito reduzida dimensão daquela progressividade.
Implícita neste argumento está também a ideia simplista de que os trabalhadores encaram
as contribuições sociais de forma indiferente a outro imposto, e que pela falta de confiança no
sistema não levam em consideração nas suas decisões individuais a expectativa de receber
uma pensão futura do sistema, incluindo implicitamente esse “ativo contributivo” nos seus
balanços pessoais.
Em qualquer dos casos, certo é que nem a promoção da competitividade faz parte das
funções nucleares dos sistemas de pensões, nem estes são instrumentos apropriados ou
eficazes para a prossecução desse objetivo, pelo que se observa uma sobrevalorização
substancial desta dimensão.
O modelo de “capitalização virtual” proposto é semelhante a um modelo de
“capitalização real” (cuja implementação é já inviável). “(…) as contribuições do 9 Uma taxa global de formação variável entre 2,3% para os rendimentos mais baixos e 2% para os rendimentos mais altos (Aguiar, 2015).
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trabalhador e da entidade empregadora são registadas e valorizadas numa conta individual
aberta em nome de cada trabalhador” (Aguiar, 2015c).
Os principais contributos desta linha de pensamento revelam preferência pela capitalização
virtual, em detrimento da real, cuja implementação seria inviável devido à ausência de
condições políticas favoráveis e aos elevados custos de transição (Bravo, 2015). Sendo uma
proposta de reforma consistente, importa clarificar que, apesar da referência à capitalização
na designação de ambos os regimes, tratam-se de conceitos totalmente distintos e
basicamente incomparáveis.
O que se designa por capitalização virtual é na realidade apenas uma forma específica de
um regime de repartição, de contribuição definida (que tem a ver com lógica de
funcionamento e o nexo contratual do sistema, em que a pensão futura é incerta), com contas
nocionais (ou individuais).
A confusão entre ambos os conceitos parece contribuir para complexificar o debate, e
potenciar alguns vícios argumentativos da defesa desta proposta.
Os regimes de capitalização são necessariamente melhores que os de repartição, em
que o dinheiro desaparece. “A repartição ou pay as you go é uma forma de transferência
intergeracional que está sujeita a muitos riscos, quase se transformando, para as futuras
gerações, num "acto de fé": pray as you go!” (Félix, 2006).
Importa notar que a superioridade dos regimes de capitalização tem sido sucessivamente
posta em causa na discussão internacional (p. ex. Orszag e Stiglitz, 1999; Barr, 2000;
Krugman, 2005; Barr e Diamond, 2006). Algumas das suas principais vantagens indiretas,
como o contributo para o aumento da poupança interna, são teoricamente pouco sólidas ou só
aplicáveis sob certas condições específicas, sendo mesmo designadas de mitos (Barr) ou
confusões (Krugman).
Contudo, o principal argumento a favor dos sistemas de capitalização é a sua superior
capacidade para lidar com a inversão da pirâmide demográfica (p. ex. Bravo, 2015: 294), o
que parece carecer de fundamento teórico – ou não existindo, pelo menos, um consenso claro
na literatura nesse sentido. Com efeito, Barr (2000) compara os sistemas de repartição e
capitalização e conclui que ambos são igualmente afetados pela falta de crescimento da
produtividade e pela deterioração das perspetivas demográficas.
Uma das principais razões para a persistência desta falácia passa por não compreender não
só que os rendimentos da poupança em regimes de capitalização são também afetados pelo
crescimento da produção (e não só da produtividade) mas também que, por essa via, a
própria evolução demográfica também os afeta. Tal torna o resultado (em termos de
disponibilidade de recursos para pagamento de pensões) genericamente equivalente em
ambos os sistemas do ponto de vista teórico.
A proposta melhora a sustentabilidade e isso é suficiente para a tornar desejável.
Nestas propostas, embora se aborde a sustentabilidade de forma clara, e a equidade de
uma forma mais breve, em geral não se discute qual seria o seu impacto na adequação. A não
ser no contexto do contributo positivo que poderia ser obtido a esse nível em função do
aumento da poupança privada, este ponto é raramente abordado de forma explícita por boa
parte dos defensores do regime de capitalização virtual.
15
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Enquanto as baixas taxas de substituição previstas no longo prazo são incluídas no
diagnóstico sobre a insustentabilidade do atual sistema de repartição, o impacto que a
transição para um sistema de contas individuais teria sobre as taxas de substituição futuras do
sistema público costuma ser negligenciado na proposta de reforma (Aguiar, 2014; Bravo,
2015).
Refira-se, em qualquer caso, que é legítima uma leitura de que uma determinada proposta
é boa apenas por melhorar a sustentabilidade, mesmo em detrimento de outros critérios.
A enorme dívida implícita comprova a urgência da reforma proposta. “A dívida
implícita é um indicador para avaliar o nível de sustentabilidade financeira de um sistema de
pensões financiado em regime de repartição. A sustentabilidade mede-se pelo equilíbrio actuarial”
(Aguiar, 2015a).
Aqui há dois problemas distintos. Primeiro, o conceito de dívida implícita, parecendo
simples e sendo útil como indicador de sustentabilidade, pode assumir diversas formas com
diferente interpretação (detalhado no IPP Policy Paper 12). Os autores da referida corrente
têm utilizado uma versão maximalista, que corresponde à soma de todos os défices de
autofinanciamento no horizonte de projeção (mais recentemente, a realizada em MSESS,
2015), utilizando apenas o termo dívida implícita (vd. Aguiar, 2015). Isto tem contribuído
para gerar alguma confusão, por se afastar do conceito mais intuitivo de dívida (bruta).
Em Pinto (2016: 166) é referido o conceito proposto por estes autores, dizendo-se que “é
apresentado de forma similar” a outras fontes, quando estas na realidade empregam o termo
“dívida implícita” associado apenas aos compromissos já assumidos. Miguel Cadilhe (2015)10
também utiliza o termo nessa forma (chamando-lhe dívida submersa). As consequências
destas confusões conceptuais ficaram patentes na discussão tida no Workshop do Projeto Um
sistema de pensões para o futuro, onde a definição de dívida implícita chegou mesmo a gerar
forte controvérsia (Carolo, 2016).
Há também problemas na forma como este conceito tem sido empregue. As estimativas de
dívida implícita em MSESS (2015) e Aguiar (2015) são apresentadas para o sistema
previdencial-repartição como um todo (incluindo por isso as outras prestações: desemprego,
doença, invalidez, …), em vez de destrinçar apenas as referentes às pensões. Além disto, a
dívida implícita estimada em MSESS (2015) é calculada a partir dos saldos estimados em todo
o horizonte de projeção (75 anos). A incorporação de compromissos tão longínquos no tempo
numa soma de valores futuros descontados é pouco fiável11. E contrariamente ao que acontece
no caso das projeções das instituições internacionais, a metodologia utilizada nas projeções
não permite auditá-las: conhecem-se os parâmetros utilizados (inputs), mas não é público o
modelo utilizado.
10 De referir que o autor à referida dívida junta ainda o valor (se positivo) de eventuais insuficiências atuariais de pensões já pagas, face às contribuições correspondentes. 11 Contribui para a reduzida fiabilidade destas projeções a importância crítica que assume a taxa de desconto utilizada no horizonte de projeção, que é ela própria de difícil definição. Veja-se que a dívida implícita estimada em MSESS (2015) reportando-se a 1 de janeiro de 2014 e utilizando uma taxa de desconto de 5%, é mais de 100% superior à estimada com uma taxa de 3%.
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2.3. Outros estudos
Nesta secção faz-se uma análise sucinta dos diversos trabalhos que têm sido publicados
sobre o tema da Segurança Social, ou do sistema de pensões em particular, e que não se
parecem enquadrar nestas duas visões típicas e conflituantes.
Começa-se por destacar os trabalhos de maior envergadura, com projeções/simulações
detalhadas. Estas enquadram-se essencialmente em dois tipos: projeções de acordo com
metodologias atuariais/contabilísticas (o mais frequente), ou projeções utilizando modelos
macroeconómicos de equilíbrio geral. Em termos simples, a dividir os dois existe um trade-off:
o primeiro permite incorporar mais detalhe sobre as complexidades de funcionamento e
regras dos sistemas, mas não considera efeitos de feedback e integração entre os sistemas (e
medidas de alteração dos mesmos) e a evolução macroeconómica.
Ainda não foram publicados trabalhos sobre o sistema português que utilizem
metodologias de microssimulação, uma alternativa adicional a estes, associada ao primeiro,
mas que pode ser incorporado num modelo do segundo (Rodrigues, 2016).
Além de outros contributos na década de 90 (ISP, 1995; Silva, 1997; CISEP, 2000), o Livro
Branco elaborado a pedido do Governo de então pela Comissão do Livro Branco da Segurança
Social (1998) é ainda um marco importante, sendo um dos trabalhos mais abrangentes. Não
muito tempo depois, Pereira (2000) organizou um livro de contributos para reflexão sobre o
tema, incluindo projeções de longo prazo.
No contexto precedente à Reforma que conduziu à Lei de Bases de 2007, destacam-se três
trabalhos com simulações detalhadas: i) a oficial (MTSS, 2006) que serviu de base às políticas
desenvolvidas, ii) uma alternativa proposta pelo Banco de Portugal (Pinheiro e Cunha, 2007),
e iii) um outro (Pereira e Rodrigues, 2007), resultado de um projeto de investigação em que
se desenvolveu um modelo complexo do segundo tipo referido em que se integrou um módulo
de pensões estrutural, permitindo obviar parcialmente aquele trade-off, ao incorporar mais
detalhes do sistema.
Este último veio na sequência de um trabalho pioneiro do mesmo tipo por Borges e Lucena
(1988) e de um primeiro contributo neste sentido por Pereira (1999). Houve ainda, de certa
forma, continuidade nesta linha com um contributo mais recente por Castro et al. (2013), em
que se utiliza o modelo macro econométrico (de equilíbrio geral) do Banco de Portugal para
avaliar o impacto do envelhecimento, incluindo, mas não só, o nível das pensões de reforma.
Destacam-se também três contributos dedicados especificamente à análise da Caixa Geral
de Aposentações: Gouveia e Sarmento (2002), Cunha et al. (2009) e, mais recentemente, a
avaliação atuarial a este subsistema por Bravo et al. (2013).
O aumento das preocupações sobre o sistema durante e na sequência do PAEF levou a uma
intensificação da discussão, com vários contributos. Neste contexto, além dos já referidos, é de
destacar algumas propostas que fazem um ponto de situação ou do estado da arte da
discussão (Mendes e Cabral, 2014; Fernandes et al., 2016; Lagoa e Barradas, 2016) ou da
estrutura e princípios básicos dos sistemas (Goulart e Camacho, 2014). Note-se ainda a edição
de um número dos Cadernos de Economia da Ordem dos Economistas dedicado ao tema (julho
de 2014), com o mote “A (in)sustentabilidade da Segurança Social”. Mas aqui, a maior parte
dos contributos acabam por se enquadrar nas correntes referidas nas secções anteriores, sendo
variantes de propostas e análises editadas também noutros locais.
17
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Destacamos também alguns contributos recentes que, sendo mais modestos no seu alcance,
consideramos de especial interesse por revelarem perspetivas menos ortodoxas ou conterem
ideias mais originais para possíveis caminhos de reforma: Gouveia (2013), Pinheiro (2014),
Pereira (2015), e Cadilhe (2015, 2016). Merece ainda nota o trabalho mais teórico de
Gouveia (2017a, b) que contribui para a compreensão das motivações económicas associadas
ao apoio político a medidas de reforma do sistema de pensões.
Por fim, naturalmente, assumem especial importância os contributos das instituições
internacionais sobre o sistema de pensões português, designadamente pela Comissão Europeia
(2015a, 2015b, 2016, 2018), FMI (2013, 2016) e OCDE (2017) que fornecem as melhores
projeções disponíveis para as perspetivas do sistema no médio e longo prazo.
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3. Considerações finais
Procurou-se aqui apresentar uma visão sintética e crítica sobre o atual debate público e
político (e alguns contributos académicos) sobre o sistema de pensões em Portugal. Não só ao
nível político, mas também ao nível técnico, persistem tensões profundas que fazem do debate
algo “surdo” e inconsequente. Estas são potenciadas pela persistência de alguns vícios
argumentativos ou imprecisões conceptuais.
Contudo, a lacuna mais grave é a ausência de estudos quantitativos recentes que, em
simultâneo, i) sejam reconhecidos como independentes e isentos, aceites junto das diversas
correntes de opinião e interesses em presença; e ii) estabeleçam um diagnóstico claro, que
clarifique as consequências dos desafios demográficos e económicos num cenário de políticas
invariantes, e o resultado da implementação das principais propostas que têm sido discutidas.
Independentemente da boa-fé na produção dos estudos existentes, e da competência e
experiência dos seus autores, é notório que nenhum logrou cumprir ambas as condições.
Falta um diagnóstico que vá além dos grandes agregados demográficos e económicos e
escalpelize as atuais responsabilidades e perspetivas do sistema. Só com uma amostra de
carreiras individuais com microdados (de pensões, contribuições e indicadores de
caracterização) – como a que chegou a ser disponibilizada em Portugal12 e se produz
regularmente, para livre utilização, em Espanha – é possível:
Clarificar o impacto distributivo do figurino atual e de possíveis reformas,
relacionando-o com as desigualdades de rendimento (e.g. uma taxa de substituição de
80% pode esconder taxas de substituições muito diferentes em diferentes camadas da
distribuição do rendimento).
Observar a realidade para casos concretos anónimos ilustrativos, que permitam
entender de forma clara o impacto da demografia e das reformas, representando perfis
típicos de situações com correspondência na realidade portuguesa (e.g. senhor A,
solteiro, rendimento x entre 1979 e 2010, … Casal B, rendimento y1 desde 1997 e y2
desde 1993, 3 filhos, … etc.), com uma noção da sua representatividade. Por exemplo,
a implementação de propostas de contas nocionais individuais deveria ser testada com
microsimulações.
Compreender a dimensão e a origem dos compromissos assumidos, o que, relacionando
com a análise objetiva da evolução histórica das regras,13 permitirá uma discussão mais
fina da sua justiça. A análise destes dados permitirá ter uma noção mais precisa do
conteúdo contributivo das pensões a pagamento, argumento sempre alvo de forte
discussão. Sem estes dados, não se pode fazer melhor do que uma análise muito
grosseira, e como tal facilmente contestável por correntes de opinião divergentes14.
Compreender o papel que a dinâmica de maturação tem ou não na evolução do
sistema: perceber se ainda está a maturar ou já atingiu o estado de maturação, pois
existem opiniões contraditórias sobre isto que é, em princípio, matéria de facto. A
simples análise da evolução das carreiras contributivas médias não permite dissipar tais
12 Uma amostra de microdados chegou a ser disponibilizada pela Segurança Social (e pela CGA) para Pereira e Rodrigues (2007). 13 Incluindo uma distinção rigorosa dos subsistemas (Caixa Geral de Aposentações e Segurança Social) – ver IPP Policy Paper 12. 14 Ver p. ex. Serra (2014, 2015) para uma tentativa nesse sentido.
19
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dúvidas, nem comparar os efeitos reais decorrentes de diferentes carreiras
contributivas, salários, e períodos de aplicação das reformas entretanto realizadas.
Uma avaliação mais detalhada dos estudos que aqui elencámos, atendendo à matriz de
análise desenvolvida nas publicações que precedem o presente brief, poderia também
contribuir para dissipar algumas das dúvidas que alimentam as tensões descritas.
Porém, seria sobretudo essencial o desenvolvimento, em Portugal, de um estudo com as
características acima mencionadas. No âmbito do Projeto Um sistema de pensões para o futuro
não foi possível assegurar a disponibilização em tempo útil dos dados necessários para o
efeito. Ainda em desenvolvimento encontra-se o Projeto DYNAPOR15, com o apoio da
Fundação Calouste Gulbenkian, que, tendo objetivos mais vastos, procura responder a muitas
das preocupações referidas.
Como se procurou explanar aqui e nos dois Policy Papers (11 e 12) que o antecederam,
além das divisões político-ideológicas que o sistema de pensões motiva, é frequente exigir-se-
lhe que resolva uma enorme diversidade de problemas económicos e sociais – coesão social,
competitividade, democracia, desigualdades, pobreza, mercado de trabalho, inovação,
investimento, natalidade, … – que são, na realidade, alheios às funções nucleares do sistema.
Tais exigências são, na realidade, desajustadas e impossíveis de satisfazer. Importa, sim, o
foco no essencial: um sistema de pensões que forneça proteção na velhice, reduzindo, em vez
de agravando, a incerteza económica e social. Para tal, há que desbloquear o debate, desfazer
mitos instalados, permitir a realização de um estudo como o que referimos que faça luz sobre
as perspetivas do sistema e, eventualmente, abra caminho às alterações que venham a
concluir-se necessárias. Só assim se poderá alcançar uma situação em que o sistema público
de pensões deixe de ser um problema para as finanças públicas, e possa começar a fazer parte
das soluções para a economia.
15 Projeto desenvolvido em parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação Francisco Manuel dos Santos, o Instituto do Envelhecimento (ICS-U. Lisboa) e a Universidade de Southampton. Ver mais em https://gulbenkian.pt/project/dynapor-modelo-de-micro-simulacao-dinamica-para-portugal/#
20
policy paper 13
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IPP Policy Paper 13. junho 2018
ISSN: 2183-9360
O debate público e político sobre as pensões em Portugal
Autores: Daniel Carolo, Joana Andrade Vicente e Luís Teles Morais
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