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Evolução do número de pessoas ocupadas na agropecuária brasileira no período de 1990 a 2004 ISSN 1413-4969 ./ / 200 Publicação Trimestral Ano XV - Nº 2 Abr Maio Jun. 6 Revista de Agroenergia: novo desafio para o Brasil Carta da Agricultura Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Condicionantes da adoção da tecnologia de despolpamento na cafeicultura Pág. 17 Pág. 19 Pág. 4 Pág. 3 Oferta e demanda de produtos agrícolas no Brasil: 2008 e 2012 Pág. 9

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Evolução do númerode pessoas ocupadasna agropecuáriabrasileira no períodode 1990 a 2004

ISSN 1413-4969

./ / 200

Publicação TrimestralAno XV - Nº 2

Abr Maio Jun. 6

Revista de

Agroenergia:novo desafiopara o Brasil

Carta da Agricultura

Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Condicionantesda adoção datecnologiade despolpamentona cafeicultura

Pág. 17

Pág. 19

Pág. 4

Pág. 3

Oferta e demanda de produtosagrícolas no Brasil: 2008 e 2012

Pág. 9

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ISSN 1413-4969Publicação Trimestral

Ano XV – Nº 2Abr./Maio/Jun. 2006

Brasília, DF

Sumário

Carta da Agricultura

Agroenergia: novo desafio para o Brasil .......................... 3Eliseu Alves

Evolução do número de pessoas ocupadas naagropecuária brasileira no período de 1990 a 2004........ 4Sérgio O. de C. Avellar / Pierre S. Vilela

Oferta e demanda de produtosagrícolas no Brasil: 2008 e 2012 .................................... 9Francisco Carlos da Cunha Cassuce / Leonardo Bornacki de Mattos /Sebastião Teixeira Gomes

Condicionantes da adoção da tecnologiade despolpamento na cafeicultura ................................ 17Edson Zambon Monte / Erly Cardoso Teixeira

Avaliação do Pronaf, grupo “B”, em Minas Gerais ........ 23Ana Bárbara Cardoso de Alvarenga / Fátima Marília Andrade de Carvalho

Uma nova etapa da Instrução Normativa nº 51:A Região Centro-Sul ..................................................... 33Maria Helena Fagundes

O mutualismo como formade gestão de risco na agricultura ................................... 49Vitor A. Ozaki

Desenvolvimento regional, efeito delocalização e clusters agroindustriais no Brasil .............. 56Marcelo Fernandes Guimarães

Estratificação para a inclusão: Enxergar asdiferenças para uma efetiva rede de laboratórios........... 63André Luiz Bispo Oliveira

Análise de risco em sistemas de produção agrícola:uma abordagem heurística ........................................... 69Eliseu Alves / Geraldo da Silva e Souza / Antônio Jorge de Oliveira

Colheita e comercialização de frutos de imbuzeiropelos agricultores da Região Semi-Árida do Nordeste ... 81Nilton de Brito Cavalcanti / Geraldo Milanez Resende /Luiza Teixeira de Lima Brito

Conselho editorialEliseu Alves (Presidente)

Edilson GuimarãesIvan WedekinElísio ContiniHélio Tollini

Antônio Jorge de OliveiraRegis N. C. Alimandro

Biramar Nunes LimaPaulo Magno Rabelo

Marlene de Araújo

Secretaria-geralRegina M. Vaz

Coordenadoria editorialMierson Martins Mota

Antônio Jorge de Oliveira

Cadastro e distribuiçãoCristiana D. Silva

Revisão de textoRúbia Maria Pereira

Tratamento editorialWesley José da Rocha

Normalização bibliográficaSimara Gonçalves Carvalho

Projeto gráfico e capaCarlos Eduardo Felice Barbeiro

Foto da capaArquivo do Banco do Brasil

Impressão e acabamentoEmbrapa Informação Tecnológica

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 2

Todos os direitos reservados.A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica

Revista de política agrícola. – Ano 1, n. 1 (fev. 1992) - . – Brasília: Secretaria Nacional de Política Agrícola, Companhia Nacionalde Abastecimento, 1992-

v. ; 27 cm.

Trimestral. Bimestral: 1992-1993.Editores: Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, 2004- .Disponível também em World Wide Web: <www.agricultura.gov.br>

<www.embrapa.br>ISSN 1413-4969

1. Política agrícola. I. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. Secretaria de Política Agrícola. II. Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

CDD 338.18 (21 ed.)

Interessados em receber esta revista, comunicar-se com:

Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoSecretaria de Política AgrícolaEsplanada dos Ministérios, Bloco D, 7º andarCEP 70043-900 Brasília, DFFone: (61) 3218-2505Fax: (61) [email protected]

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaSecretaria de Gestão EstratégicaParque Estação Biológica (PqEB), Av. W3 Norte (final)CEP 70770-901 Brasília, DFFone: (61) 3448-4336Fax: (61) 3347-4480Mierson Martins [email protected]

Esta revista é uma publicação trimestral da Secretaria dePolítica Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, com a colaboração técnica da Secretariade Gestão e Estratégia da Embrapa e da Conab, dirigida atécnicos, empresários, pesquisadores que trabalham como complexo agroindustrial e a quem busca informaçõessobre política agrícola.

É permitida a citação de artigos e dados desta Revista, desdeque seja mencionada a fonte. As matérias assinadas nãorefletem, necessariamente, a opinião do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

Tiragem5.000 exemplares

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 20063

No Brasil, a utilização do álcool data de1931, quando se instituiu a mistura de 5% deetanol na gasolina, e sua efetiva incorporaçãoà matriz energética iniciou-se em 1975, com aimplantação do Proálcool. Na atualidade, oálcool é competitivo com os combustíveisfósseis, em razão do preço do petróleo e dosavanços tecnológicos e gerenciais.

Na liderança mundial do Brasil emagricultura, destaca-se a cadeia do etanol, reco-nhecida como competitiva e avançada, sob ocomando de empresários inovadores e capazesde assumir riscos. Além disso, o País podeampliar a produção de energia renovável e, si-multaneamente, aumentar a produção dealimentos, pois dispõe de terras aptas, detecnologia e de empresários competentes.Possui água e terra adequadas à irrigação e,em muitas regiões, duas ou mais safras podemser feitas no mesmo ano.

É fácil selar um pacto entre a sociedadee o Estado e daí definir objetivos de médio elongo prazos que visem a ampliar a produçãode energia renovável e sua exportação e aproteger o meio ambiente, que beneficia-se coma redução do efeito estufa. Assim, alarga-se omercado de trabalho, fortalece-se a agriculturafamiliar, reduz-se a vulnerabilidade da matrizenergética e ampliam-se as exportações vis-à-vis as importações.

AgroenergiaNovo desafio para o Brasil

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Em consonância com as Diretrizes daPolítica de Agroenergia, período 2006–2011, oMinistério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento elaborou, em 2005, o Plano Nacional deAgroenergia, o qual visa a desenvolver propostade pesquisa, inovação e transferência de tecno-logia para garantir a sustentabilidade e competi-tividade das cadeias de agroenergia. O planoestabelece arranjos institucionais de pesquisa,o consórcio de agroenergia e contempla acriação da unidade Embrapa Agroenergia, metajá cumprida. Propõe ações de governo nosmercados nacional e internacional de biocom-bustíveis.

Estabelece marco e rumo para as açõespúblicas e privadas de geração de conhe-cimento e de tecnologias que contribuampara a produção e uso racionais da energiarenovável. Tem por meta tornar ainda maiscompetitivo o agronegócio brasileiro e darsuporte a determinadas políticas públicas,como inclusão social, regionalização dodesenvolvimento e sustentabilidade am-biental.

O desafio de fazer crescer a participaçãodas fontes renováveis na matriz energética émuito grande. Seria mesmo impossível de serenfrentado se não fosse a determinação dogoverno no contexto de um comando unificadoque envolve vários ministérios, agências e ainiciativa particular.

1 Editor da Revista de Política Agrícola.

Eliseu Alves1

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 4

Evolução do númerode pessoas ocupadasna agropecuáriabrasileira no períodode 1990 a 2004

Sérgio O. de C. Avellar1

Pierre S. Vilela2

1 Mestre em Economia Aplicada. Assessor Econômico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais. [email protected] Engenheiro Agrônomo. Assessor Econômico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais. [email protected].

Resumo: O mercado de trabalho rural eliminou muitos postos de trabalho nos últimos 14 anos,principalmente em razão da ampliação do uso de tecnologia pelo setor. No caso do Brasil, oaumento das exportações e o crescimento da produção destinada ao mercado interno contribuírampositivamente para a geração de novos empregos, mas tais fatores foram insuficientes paracompensar as vagas fechadas pela mudança tecnológica e pelas importações de produtosagrícolas. Na agropecuária, as importações tiveram impacto relativamente pequeno (235,7 milpostos de trabalho eliminados), apesar de terem afetado fortemente o emprego em alguns setores,tais como os do trigo, do arroz e do leite. Já o aumento das exportações, esse foi responsável por30,2% do total de empregos gerados pelo setor, com o restante (69,8%) ficando a cargo docrescimento promovido pela demanda doméstica. Embora o processo de ajuste no mercado detrabalho da agropecuária nacional tenha, em decorrência da variável “mudança tecnológica”,aprofundado-se nos últimos anos, ainda assim o número de pessoas ocupadas no setor vemcrescendo desde 2002, o que reforça a hipótese de que o aumento nas vendas internas e, sobretudo,das externas, gerou mais postos de trabalho que os eliminados pela adoção de novas tecnologias.

Palavras-chave: emprego, tecnologia e agropecuária.

IntroduçãoApesar dos diversos entraves, assim como

de situações conjunturais adversas, a agrope-cuária nacional apresentou, nos últimos 14anos, taxa de crescimento real anual de seuProduto Interno Bruto (PIB) superior ao desem-penho global da economia brasileira. De 1990a 2004, a taxa geométrica de crescimento do

PIB agropecuário foi de 2,4 pontos percentuais,enquanto o PIB nacional expandiu-se apenas1,11% ao ano.

O crescimento do setor agropecuário tema virtude de interiorizar e de dinamizar a eco-nomia de diversas regiões antes à margem docrescimento econômico nacional. Como exem-plos, pode-se citar o forte crescimento da renda

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das cidades de Luís Eduardo Magalhães, BA,Sorriso, MT, Rio Verde, GO, e Unaí, MG.

No entanto, para atingir tais desempenhosinterno (crescimento da renda) e externo(superávits crescentes na balança comercial,diversificação na pauta de exportação eliderança mundial na comercialização dediversos produtos) o setor agropecuário precisoude ampliar, a partir da década de 1990, seusinvestimentos em tecnologia – máquinas eimplementos agrícolas, insumos, defensivos,etc., intensificando, assim, um processo que seiniciou ainda na década de 1960, o qual é muitobem descrito por Rezende (2005). Isso provocoudois efeitos: aumento da produtividade total dosfatores, inclusive da mão-de-obra e, conseqüen-temente, da competitividade do setor; e queda nonúmero de pessoas ocupadas na agropecuária.

De acordo com dados do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),entre 1990 e 2004 o número de pessoasocupadas no setor agropecuário reduziu-se em2,2 milhões. Em 1990, 14,91 milhões de pessoasobtinham seus rendimentos na agropecuária.Quatorze anos depois, com o deslocamento,para outros setores da economia nacional, de14,7% do total de pessoas que, em 1990,ocupava-se da agropecuária, esse número caipara 12,71 milhões. Portanto, nesse período onúmero de trabalhadores ocupados no setorreduziu-se, em média, em 1,8% ao ano.

A diminuição do número de pessoasocupadas na agropecuária apresenta, ao longodo período analisado, três momentos bemdefinidos (Fig. 1). Entre 1990 e 1995, houve relativaestabilidade no estoque de pessoas ocupadas nosetor, ou seja, no somatório entre os anos os níveisde entrada e de saída de pessoas empregadas nocampo foram muito próximos.

De 1996 a 2001, a exclusão de pessoasfoi maior que a incorporação, o que fez que oestoque de pessoas ocupadas caísse sensivel-mente. Foi durante esse período que a agrope-cuária nacional enfrentou uma série deadversidades, tais como: o aprofundamento daabertura comercial (iniciado no governo Collor);

a redução dos preços médios reais dos produtosagropecuários em razão do controle da inflação;aumento do endividamento agrícola; a perda dedinamismo nas vendas externas decorrente davalorização do câmbio; e a pequena expansãodo mercado interno (após os primeiros anos daimplantação do Plano Real).

Apesar do pequeno número de observa-ções, a partir de 2002 o crescimento da agrope-cuária nacional se dá com o aumento no estoquede pessoas ocupadas. Aumento esse ocorrido emrazão do forte crescimento e da diversificação napauta de exportação dos produtos brasileiros,conseqüência das desvalorizações cambiais de1999 e de 2002, assim como do aumento nospreços internacionais das principais commoditiesagrícolas.

Essa correlação positiva entre postos detrabalho e PIB do setor agropecuário (Fig. 2)diverge daquela da fase anterior (1996 a 2001),ou seja, do período em que, mesmo com aexpansão da produção, ocorria expressivaqueda no número de trabalhadores ocupadosna agropecuária. Essa mudança estrutural dosetor (crescimento da produção, acompanhadode aumento de postos de trabalho) permite inferirque, desde que a demanda doméstica e/ou asexportações cresçam, a agropecuária nacionalé capaz de gerar emprego. No entanto, asvagas criadas durante esse ciclo de expansãodo setor diferem muito daquelas geradas nopassado, pois hoje o nível de exigência

Fig. 1. Evolução do mercado de trabalho agropecuário.* EstimativaFonte: Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) (2005a).

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tecnológica é maior, o que requer um trabalhadormais qualificado e, conseqüentemente, com nívelsalarial mais elevado.

Fig. 2. Correlação pessoas ocupadas X PIB agrope-cuário.Fonte: Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)(2005a).

Influências dos mercadosinterno e externo e da mudançatecnológica sobre os postosde trabalho no setor rural

Tal como a economia brasileira, tambémo setor agropecuário passou por um processointenso de ajuste estrutural em seu mercado detrabalho ao longo da década de 1990, o queresultou em redução no estoque de pessoasocupadas no setor.

Tabela 1. Decomposição setorial da variação de pessoal ocupado na economia brasileira(1) entre 1990 e2001.

(1) Exclusive setores "Intermediação Financeira", "Aluguéis" e "Serviços Privados Não Mercantis".(2) Inclui o efeito da variação de estoques.Fonte: Kupfer et al. (2003).

AgropecuárioMineraçãoIndústria de transformaçãoEletricidade, gás e água – SLUPConstrução civilComércioTransportes e comunicaçõesServiços empresariaisServiços pessoais e sociaisAdministração públicaTotal

Importações

(235.770)(8.096)

(684.736)(5.154)(4.221)

(397.888)21.094

(95.834)(107.732)

(30.194)(1.548.531)

Mudançatecnológica

(8.983.273)(192.944)

(3.633.578)(233.077)(757.413)3.383.645(561.464)

916.742200.330

(902.181)(10.763.213)

Total

3.080.501(88.001)

(804.801)(120.600)(137.100)2.412.500

595.9001.585.4012.906.400

(22.400)3.246.798

Exportações

1.425.10447.199

748.47013.725

6.870885.831(37.760)297.447152.083

50.1863.589.155

Demandadoméstica(2)

4.713.47865.840

2.165.043103.906617.664

(1.459.088)1.174.030

467.0462.661.719

859.78911.969.387

Em pesquisa financiada pela ComissãoEconômica para a América Latina e o Caribe(Cepal), Kupfer (2005) elaborou um estudo queapresenta a decomposição estrutural (demandadoméstica, exportações, importações e mudançatecnológica) do emprego no Brasil na década de1990, além de mostrar também o desempenhosetorial em importantes atividades produtivasnacionais, inclusive na agropecuária.

A Tabela 1 traz os resultados obtidos pelacontribuição de cada um dos componentestanto para a variação do emprego no conjuntoda economia como para os setores, individual-mente, entre 1990 e 2001.

Analisando-se os dados agregados,conclui-se que, no período analisado, o impactoda balança comercial (exportação – importa-ção) sobre o estoque de emprego foi positivo,ou seja, o comércio exterior criou 2,1 milhõesde postos de trabalho. Essa geração de empre-gos ocorreu numa época em que o processo deabertura comercial e o câmbio fixo foram res-ponsáveis pelo fechamento de muitas vagas(1,6 milhão de postos de trabalho). Mas graças aocrescimento das exportações, especialmente apósa segunda metade da década de 1990, o númerode postos de trabalho gerados pelas vendasexternas foi bastante superior à redução causadapelas importações.

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Em um país populoso como o Brasil, omercado interno (demanda doméstica) é muitorelevante para o desempenho da economiacomo um todo. No caso do mercado de traba-lho, esse componente foi o principal responsávelpela geração de empregos (11,9 milhões depessoas ocupadas) ao longo do período analisado,embora a renda da população tenha ficadopraticamente estagnada na década de 1990.

A extensão da eliminação de empregosem decorrência do componente "mudançatecnológica" corrobora, por sua vez, os dadosque mostram a década de 1990 como um períodode intenso ajuste em termos microeconômicosnas unidades produtivas, com conseqüenteaumento de eficiência e de produtividade dotrabalho na economia nacional.

Setorialmente, o mercado de trabalho naagropecuária foi afetado negativamente,sobretudo pela variável "mudança tecnológica",responsável pela eliminação de 8,9 milhões depostos de trabalho. Apesar de as importaçõesterem afetado fortemente o número de empregoem alguns setores da agropecuária nacional –como o do trigo, o do arroz e o do leite –, noagregado o seu impacto foi relativamentepequeno (235,7 mil postos de trabalho elimi-nados). Por outro lado, o aumento das expor-tações foi responsável por 30,2% do total deemprego gerado no setor, e o restante, ou seja,69,8%, ficou a cargo do aumento da demandadoméstica.

No mercado de trabalho da agropecuárianacional, o processo de ajuste decorrente davariável "mudança tecnológica" aprofundou-senos últimos anos (Fig. 3). Ainda assim, o númerode pessoas ocupadas no setor vem aumentandodesde 2002, o que reforça a hipótese de que ocrescimento nas vendas internas e, principal-mente, nas externas, gerou mais postos detrabalho que os eliminados pela adoção denovas tecnologias. A Fig. 3 apresenta a evolu-ção recente, ou seja, entre 1998 e 2004, nasvendas internas de dois importantes produtos(tratores e fertilizantes), a qual reforça o

argumento da intensificação do uso de tecno-logia no meio rural.

O número empregados na agropecuáriaestimado por Kupfer (2005) apresenta a mesmatendência dos dados divulgados pelo IBGE,segundo os quais a agropecuária nacionalfechou 3 milhões de postos de trabalho noperíodo analisado. Apesar disso, a produção ea renda do setor cresceram, o que demonstra ofato de a produtividade da mão-de-obra tercrescido ao longo do tempo.

De 1993 a 2002, a taxa de crescimentoda produtividade da mão-de-obra elevou-se4,45% ao ano, mas, caso se considere apenaso período entre 1998 e 2002, verificar-se-á queesse índice sobe para 6,35% ao ano. Os númerosdemonstram que a eficiência técnica e,conseqüentemente, a renda dos trabalhadores dosetor, têm evoluído positivamente ao longo dosanos no Brasil.

ConclusãoA evolução na produtividade da mão-de-

obra é conseqüência de um maior nível deescolaridade, bem como da ampliação donúmero e da abrangência de cursos profissio-nalizantes no meio rural no decorrer da décadade 1990. Para isso, foi de fundamentalimportância a criação, em 1991, do Serviço

Fig. 3. Evolução das vendas internas de tratores efertilizantes.Fonte: Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea,2005) e Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda, 2005).

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Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Duranteesse período, mais de 3,6 milhões de trabalhadorese produtores rurais aperfeiçoaram seus conheci-mentos e técnicas, contribuindo, assim, para quea produtividade da mão-de-obra no campocrescesse em ritmo acelerado, especialmente nosúltimos anos. Isso reforça a necessidade de seampliar o investimento na qualificação do traba-lhador e do produtor rural, uma vez que os reflexosna qualidade de vida e na melhoria de renda são,comprovadamente, geradores de riqueza para oPaís.

Em razão da situação conjuntural adversaneste ano e, provavelmente, no seguinte, aexpectativa é que haja redução no número depostos de trabalho no setor agropecuário. Mas,numa perspectiva em médio e longo prazos (dadasas vantagens competitivas da agropecuária), osetor deverá continuar a crescer e a incorporartrabalhadores cada vez mais qualificados.

ReferênciasASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS.Fertilizantes entregues ao consumidor final 1998/2004.

Disponível em <http://www.anda.org.br>. Acesso em: 25set. 2005.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FABRICANTES DEVEÍCULOS AUTOMOTORES. Vendas internas no atacadode tratores de roda nacionais 1999/2004. Disponível em<http://www.anfavea.com.br>. Acesso em: 25 set. 2005.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA(Ipea). Pessoal ocupado: agropecuária 1990/2003.Disponível em <http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em:06 set. 2005.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA(Ipea). PIB da agropecuária (valor adicionado) preçosbásicos 1990/2004. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 12 set. 2005.

KUPFER, D.; FREITAS, F. Análise estrutural da variação doemprego no Brasil entre 1990 e 2001. Disponível em:<http://www.ie.ufrj.br/download>. Acesso em: 15 ago.2005.

KUPFER, D.; FREITAS, F.; YOUNG, C. E. F. Decomposiçãoestrutural da variação do produto e do emprego entre1990 e 2001: uma estimativa a partir das matrizes insumo-produto. Relatório de pesquisa para a Cepal/Divisão deIndústria. IE/UFRJ, 2003. Mimeografado.

REZENDE, G. C. Políticas trabalhista e fundiária e seus efeitosadversos sobre o emprego agrícola, a estrutura agrária e odesenvolvimento territorial rural no Brasil. Disponível em:<http://www.ipea.gov.br>. Acesso em: 21 ago. 2005.

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Oferta e demandade produtosagrícolas no Brasil2008 e 2012

Francisco Carlos da Cunha Cassuce1

Leonardo Bornacki de Mattos2

Sebastião Teixeira Gomes3

1 Doutorando em Economia Aplicada. [email protected] Doutorando em Economia Aplicada. [email protected] Doutor em Economia. [email protected].

Resumo: Este trabalho objetiva determinar e comparar as taxas de crescimento da demanda e daoferta internas de produtos agrícolas no Brasil, e, a partir daí, estimar quantidades demandadas eofertadas em 2008 e em 2012, considerando para isso três cenários econômicos. Os resultadosmostrarão que apenas o arroz e a carne bovina apresentam taxa de crescimento da demandasuperior à da oferta e, em 2012, a demanda de carne bovina superará a oferta em termos absolutos:isso em um cenário positivo de 5% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). À exceção dofeijão, pode-se dizer que os demais produtos, em especial os voltados à exportação, como ascarnes bovina, suína e de frango, responderam positivamente a elevações na renda. No casodesses últimos dois produtos, os fatores determinantes da oferta, tais como maiores investimentosem pesquisa e melhores preços externos, foram muito mais eficazes para imprimir um maiorcrescimento que os fatores determinantes de sua demanda.

Palavras-chave: oferta, demanda, alimentos e Brasil.

IntroduçãoPretende-se analisar aqui a situação da

produção agrícola e do abastecimento alimen-tar internos. De acordo com Melo (1988), talanálise mostra-se importante na medida em quegrande parte dos gastos da população brasileiraé destinada ao consumo de alimentos, além dehaver, na economia brasileira, uma forte tendên-cia do direcionamento da produção agrícolapara atender ao mercado externo.

Nos últimos dez anos, as exportaçõesbrasileiras de produtos agropecuários vêm se

elevando consideravelmente, sobretudo no quese refere às carnes suína, bovina e de frango.Com esse direcionamento da produção para osetor externo, o equilíbrio interno entre oferta edemanda agrícolas poderia sofrer um descom-passo, e o País passaria por um possível desabas-tecimento interno.

Segundo Cassuce (2004), produtos comocarnes bovina, suína e de frango ocuparam,aproximadamente, 5,1% da pauta de exportaçãodo Brasil em 2003. Além disso, de acordo comdados do Ministério do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior (BRASIL, 2004) os produtos

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agropecuários foram responsáveis por mais de30% das exportações brasileiras em 2003.

A importância que as culturas voltadaspara exportação vêm ganhando na agriculturabrasileira deve-se, em grande parte, ao papelde estabilizador, interno e externo, atribuído aesse setor principalmente a partir de 1994, namedida em que colabora para a estabilidadede preços e auxilia o equilíbrio das contasexternas. Isso, de certa forma, é colocado porvários autores como Alves (2001), Santos eVieira (2000), Farina e Nunes (2004) e Hayamie Ruttan (1988).

Assim, o presente estudo pretendeanalisar as taxas de crescimento da demandae oferta internas de carne bovina, carne defrango, carne suína, arroz e feijão, bem comoprever a demanda interna em três cenários aser posteriormente expostos. Segundo Melo(1988), o consumo de tais produtos correspon-dem a uma parcela significativa dos gastos damédia da população4, o que corrobora a escolhadeles para a análise ora proposta.

Arroz e feijão não são produtos represen-tativos em termos de exportação e importação, jáque o País produz quase a totalidade do queconsome, sobretudo no caso do feijão, cujoconsumo é tipicamente brasileiro.

Metodologia

Demanda de alimentos

A produção de alimentos na economiabrasileira vem sofrendo alterações desde adécada de 1990, principalmente, haja vistagrande parte dos recursos agrícolas do País virsendo deslocada para a produção de bensexportáveis.

Dessa forma, a demanda por alimentosbrasileiros pode ser dividida em: interna –representada pelo arroz e o feijão; e externa –representada pela carne bovina, carne suína e

carne de frango. Pode-se dizer que ambas asdemandas, interna e externa, são concorrentesentre si, já que o aumento dos recursos para oatendimento de uma reduz os recursosdisponíveis para o da outra.

Para Melo (1988), tanto a demandaexterna quanto a interna dependeriam,basicamente, dos preços domésticos (umaelevação desses tornaria as culturas voltadaspara o mercado interno mais atraentes); da taxade câmbio; do preço externo; do tamanho dapopulação; da renda per capta; e da distribuiçãode renda. Também Melo (1983) e Mendes (1989)definem, de forma semelhante, as demandasinterna e externa de produtos agrícolas.

Não se pode falar da demanda sem sefazer comentários sobre os fatores que afetamas ofertas externa e interna de alimentos, pois,tanto a oferta externa quanto a interna depen-dem, basicamente, dos preços de exportação,dos preços internos, da taxa de câmbio, damudança tecnológica dos produtos de expor-tação em relação aos bens domésticos, assimcomo do risco econômico dos bens exportáveisem relação aos não comercializados externa-mente. Além de depender dessas variáveis, aoferta interna depende também do custo deoportunidade do fator trabalho na pequenaprodução agrícola.

Uma elevação da taxa de câmbioaumentaria a demanda externa por produtosbrasileiros, na medida em que nossos produtosse tornariam mais baratos. Isso acabariamotivando a oferta de exportação, e os recursosdestinados à produção de bens voltados para oabastecimento da demanda interna seriamdeslocados para atender a um crescimento dademanda externa.

As elevações do preço dos produtosexportáveis aumentaram o interesse do produtorpor essas culturas e, conseqüentemente,incentivaram o crescimento das pesquisasvoltadas para tais atividades. Um exemplo dissoocorreu em relação à soja: a melhora no preçoexterno tornou o grão extremamente atraente paraos produtores, estimulando pesquisas que

4 Embora esses dados possam estar defasados, acredita-se que os gastos de consumo são, até certo ponto, estáveis no tempo.

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possibilitaram o cultivo dela em regiões nas quaisisso era antes inviável. Situação oposta ocorreuno que se refere ao feijão.

Taxa de crescimento dademanda interna de alimentos

Como citado anteriormente, a demandainterna depende, entre outras variáveis, dotamanho da população, da renda per capta e dadistribuição de renda. Assim, para a estimativada taxa de crescimento da demanda internaagrícola foi utilizada a metodologia indicada porYotopoulos que, por sua vez, é citado por Melo(1988). Segundo tal metodologia, a referida taxadepende da taxa de crescimento populacional (N),da taxa de crescimento da renda per capta (y) eda elasticidade-renda da demanda médiaponderada por todas as classes de consumo (ε). Autilização de tal elasticidade desconsidera que,em diferentes níveis de renda, tanto a elasticidade-renda da demanda quanto o percentual da rendadespendido com cada produto são alterados.Logo,

D = N + ε x y (1),

em que D é a taxa de crescimento da demandainterna por produtos agrícolas. Admite-se,portanto, uma taxa de crescimento igual entreas diferentes classes de renda.

Oferta agrícola interna

A oferta agrícola interna, ou seja, aquantidade de alimentos disponíveis para oconsumidor nacional, é determinada peladiferença entre o total da produção interna deum dado bem e a quantidade exportada dessebem, somada à quantidade importada emdeterminado ano. Assim,

Of = P - X + M (2),

em que Of é a oferta interna, P a produção internatotal, X a quantidade exportada e M o total dasimportações.

Para a estimativa de taxas geométricasde crescimento5 da oferta interna de carnesbovina, suína e de frango, foram utilizados dadosanuais de 1987 a 2004, referentes à produção,à exportação e à importação. Para determinara mesma taxa para a oferta de arroz e de feijãoforam utilizados dados anuais de 1982–1983 a2003–2004.

Fonte de dadosOs dados referentes à oferta de carnes

bovina, suína e de frango, relativos aos períodosanteriormente citados, foram coletados noAnualpec (1996/2005). Os dados pertinentes aprodução, exportação, importação e demandaforam extraídos do Agrianual (1996 a 2005). Osdados referentes à renda per capita foramconstruídos a partir de outros dois: tamanho dapopulação e do PIB, ambos obtidos em InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE -2005). A taxa de crescimento populacionaltambém teve como fonte o IBGE (2005).

Os valores das elasticidades utilizadospara o cálculo das taxas de crescimento dademanda foram obtidos em Hoffmann (1999).

Resultados e discussãoInicialmente, utilizou-se a equação (2)

para criar as séries representativas da ofertainterna dos bens, cobrindo, assim, os anos de1987 a 2004 para as carnes bovina, suína e defrango, e também os anos de 1982 a 2004 parao arroz e o feijão. A partir dessas séries foramestimadas as taxas geométricas de crescimentoda oferta para esses alimentos, cujos resultadossão apresentados na Tabela 1.

A análise dos dados da Tabela 1 permiteconcluir que as taxas de crescimento dademanda interna do arroz e da carne bovinaforam inferiores às taxas de crescimento daoferta desses produtos, embora as taxasreferentes à carne bovina tenham sido muito

5 Para maiores detalhes, referente à estimativa de tais taxas, ver Gujarati (2000) e Hill e Griffiths (1999).

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próximas. O feijão praticamente não apresentoudiferença entre as suas taxas, o que não ocorreuem relação à carnes suína e à carne de frango,pois ambas apresentaram taxas de crescimentode oferta bem superiores às de demanda.

Pode-se perceber que os produtosvoltados para a exportação apresentaram taxade crescimento da oferta agrícola superior àtaxa de crescimento de sua demanda, isso secomparados aos produtos voltados para oabastecimento interno, o que já era de esperar.De acordo com dados do Anualpec (2003, 2004,2005) e do Agrianual (2003, 2004, 2005),sobretudo nos últimos dez anos as condiçõesexternas, especialmente no que se refere apreços, são bem melhores. Outro aspecto impor-tante foi a desvalorização cambial ocorrida apartir de 1999, a qual exerceu efeito sobre osbens exportáveis e, praticamente, nenhumestímulo sobre a oferta de arroz e de feijão.

Aliado a isso, a melhor perspectiva exter-na acaba por direcionar a pesquisa para os bensde exportação: outro ponto importante paraexplicar o maior crescimento da oferta dos bensexportáveis.

Com base nesses resultados foramprevistos três cenários para a economiabrasileira, com o objetivo de calcular essasmesmas taxas para 2008 e 2012 em cada umdos referidos cenários. O primeiro cenário foiformulado de uma perspectiva pessimista, naqual se considerou um crescimento de 2% aoano da economia brasileira, mantidas fixas asdemais variáveis elasticidades-renda dademanda, taxa de crescimento populacional etaxa de crescimento da oferta.

Com base nas taxas calculadas para 2008e 2012, estimou-se a demanda e a oferta dealimentos para esses anos. A Tabela 2 apresentaos resultados encontrados para o cenário 1.

Tabela 1. Elasticidade média (ε), taxa de crescimento populacional (N), taxa de crescimento da renda percapta (y), taxas de crescimento de demanda (D) e de oferta (Of) interna para 2004.(1)

(1) Taxas anuais.Fonte: dados calculados pelos autores; IBGE (2005); e Hoffmann (1999).

ArrozFeijãoCarne bovinaCarne suínaCarne de frango

Produto εεεεε

0,014-0,0410,4820,4430,155

y

0,0245130,0245130,0245130,0245130,024513

N

0,014530,014530,014530,014530,01453

D

0,0148730,0135250,0263450,0253890,018330

Of

0,0127580,0175700,0199290,0488200,085870

Tabela 2. Taxas de crescimento de demanda (D) e de oferta interna (Of), e demanda e oferta interna dealimentos para 2008 e 2012,(1) considerada uma taxa de crescimento do PIB de 2%.

(1) Os dados referentes ao arroz e ao feijão estão calculados em toneladas métricas e os relativos a carnes bovina, suína e de frango, em miltoneladas.

ArrozFeijãoCarne bovinaCarne suínaCarne de frango

Produto

D

0,0597030,0585080,0698790,0690310,062769

0,1229420,1205240,1435130,1417990,129140

2008 2012

Of

0,0520170,0721540,0609860,1537270,280364

0,1067400,1495140,1481260,3960680,780102

2008 2012

Demanda

12.981,3673.207,2786.819,0522.202,2036.426,367

13.756,0363.395,1887.288,3752.352,1066.827,698

2008 2012

Oferta

14.209,3823.286,3677.320,8062.324,7598.719,280

14.948,5113.523,4917.922,0702.813,078

12.122,490

2008 2012

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À exceção da carne bovina e do arroz,para 2008 os demais produtos apresentaramtaxa de crescimento da demanda internainferior à da oferta. Contudo, apenas no que serefere à carne suína e à carne de frango adiferença foi expressiva. Para 2012, apenas oarroz apresentou taxa de crescimento dedemanda superior à de sua oferta. Destaquedeve ser à diferença entre as taxas decrescimento de oferta e de demanda para acarne de frango e a carne suína, considerando-se que as primeiras foram bem superiores. Tantoem 2008 quanto em 2012 a oferta supera ademanda de todos os produtos.

Os resultados mostram uma tendência deelevação da oferta de bens exportáveis emrelação à demanda interna, principalmentepara a carnes suína e a de frango, ao passo queem relação aos bens voltados para o mercadointerno as taxas de demanda e de ofertacaminham juntas. Isso pode estar refletindo asmelhores condições, em termos de segurançae de preço, oferecidas pelo mercado externo,o que não acontece no mercado interno.

A Tabela 3 apresenta os resultados obtidospara o cenário 2. Nesse cenário, previu-se umataxa de crescimento do PIB de 3,5% ao ano,admitindo-se para isso uma política governa-mental neutra no sentido de continuidade do quevem sendo apresentado até então. Assim comoanteriormente, as demais variáveis foram consi-deradas constantes.

Já se percebe algumas alteraçõesreferentes ao cenário anterior: o arrozapresentou taxa de crescimento de demandainterna maior que de oferta, o mesmo ocorrendoem relação à carne bovina. Isso nos diz que,diante de um cenário com taxa de crescimentomaior, a demanda de carne bovina respondebem, ou seja, a carne bovina sofre influênciassignificativas diante de elevações na renda.Esse mesmo comentário pode ser estendido paraa carne suína. À exceção do feijão, os demaisprodutos apresentaram elevações consideráveisna taxa de crescimento da demanda nessecenário, o que comprova, como apresentadona Tabela 1, que o feijão realmente apresentauma elasticidade de renda negativa.

Os resultados referentes a 2012 são seme-lhantes. O arroz apresentou taxa de crescimentode demanda superior ao da oferta interna dealimentos. Pode-se observar também que emambos os cenários as taxas calculadas para oarroz praticamente não se alteram, o que apontauma baixa elasticidade de renda-demanda.

Também a carne bovina também apresentataxa de crescimento de sua demanda bemsuperior à taxa de crescimento de sua oferta para2012. Como no cenário anterior, a oferta supera ademanda de alimentos em ambos os períodos,mesmo para o arroz e a carne bovina.

O terceiro cenário foi previsto sob umaótica otimista, considerando-se a adoção de

Tabela 3. Taxas de crescimento de demanda (D) e de oferta interna (Of), e demanda e oferta interna dealimentos para 2008 e 2012,(1) considerada uma taxa de crescimento do PIB de 3,5%.

(1) Os dados referentes ao arroz e ao feijão estão calculados em toneladas métricas e os relativos a carnes bovina, suína e de frango, em miltoneladas.

ArrozFeijãoCarne bovinaCarne suínaCarne de frango

Produto

D

0,0605640,0559890,0994930,0962490,072292

0,1247520,1152220,2058500,1990920,149186

2008 2012

Of

0,0520170,0721540,0609860,1537270,280364

0,1067400,1495140,1481260,3960680,780102

2008 2012

Demanda

12.991,9043.199,6457.007,8072.258,2736.483,954

13.778,2163.379,1227.685,6892.470,1296.948,912

2008 2012

Oferta

14.209,3823.286,3677.320,8062.324,759

8.719,28

14.948,5113.523,4917.922,0702.813,078

12.122,490

2008 2012

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políticas governamentais capazes de estimularo crescimento da economia a um ritmo de 5%ao ano. Os resultados são apresentados naTabela 4.

Comparativamente ao cenário anterior,novamente verifica-se uma queda na taxa decrescimento da demanda de feijão, o que indicamais uma vez que a elasticidade-renda énegativa no caso desse produto. O arroz e acarne bovina de novo apresentaram taxas decrescimento da demanda interna maior do queas da oferta, tanto em 2008 quanto em 2012, oque não ocorre em relação aos demaisprodutos, embora a taxa de crescimento dademanda de arroz esteja próxima da taxa decrescimento de sua oferta.

Destaca-se, nesse cenário otimista, oconsiderável aumento da taxa de crescimentoda demanda de carnes suína e bovina,ratificando-se que esses produtos são extrema-mente sensíveis a elevações na renda.

Ao contrário dos cenários anteriores, ademanda de carne bovina supera a oferta desseproduto calculada para 2012, fato esse que nãoocorre com os demais produtos. Esse resultadonão surpreende, pois, em todos os cenários ataxa de crescimento da demanda superou ataxa de crescimento da oferta nos dois anosconsiderados (no caso da carne bovina). Aoconsiderar-se um maior crescimento do PIB, edado esse produto responder bem a elevaçõesde renda, o que se fez foi acelerar esse resulta-

do. Mesmo para o primeiro e o segundocenários espera-se que, tanto para a carnebovina quanto para o arroz, a demanda internasupere a oferta interna desses alimentos numespaço de tempo superior ao aqui estudado.

Resultados semelhantes foram encontra-dos para a demanda de leite, no Brasil, porPonchio e Gomes (2005), que tambémconsideraram em seu estudo três cenárioscaracterizados tal como aqui: um pessimista,um neutro e o outro otimista. Mesmo que tenhamutilizado metodologia um pouco diferente,Ponchio e Gomes observaram um aumento doexcedente de leite para os anos de 2007, de2010 e de 2015 em todos os três cenários.

Conclusões O trabalho objetivou estimar as taxas de

crescimento da demanda e da oferta interna dearroz, de feijão e de carnes bovina, suína e defrango, e, a partir das taxas obtidas, preverdemandas e ofertas para 2008 e 2012, sob trêscenários diferentes (um pessimista, um neutroe o outro otimista).

Para a obtenção de tais resultados conside-rou-se que a taxa de crescimento da demandainterna dependeria da taxa de crescimentopopulacional, da taxa de crescimento da rendaper capta, bem como da elasticidade-renda dademanda do produto em questão. Em relação àtaxa de oferta, considerou-se que essa seria

Tabela 4. Taxas de crescimento da demanda (D) e de oferta interna (Of), e demanda e oferta interna dealimentos para 2008 e 2012(1), considerada uma taxa de crescimento do PIB de 5%.

(1) Os dados referentes ao arroz e ao feijão estão calculados em toneladas métricas e os relativos a carnes bovina, suína e de frango, em miltoneladas.

ArrozFeijãoCarne bovinaCarne suínaCarne de frango

Produto

D

0,0611970,0541330,1213020,1162930,079306

0,1267560,1093530,2748420,2625010,171372

2008 2012

Of

0,0520170,0721540,0609860,1537270,280364

0,1067400,1495140,1481260,3960680,780102

2008 2012

Demanda

12.999,6643.194,0247.146,8102.299,5646.526,361

13.802,7643.361,3408.125,4212.600,7537.083,068

2008 2012

Oferta

14.209,3823.286,3677.320,8062.324,7598.719,280

14.948,5113.523,4917.922,0702.813,078

12.122,490

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encontrada calculando-se a diferença entre aprodução interna e as exportações, acrescidadas importações. Depois de realizado essecálculo, estimou-se uma taxa geométrica decrescimento para a oferta interna.

Os resultados mostraram que apenas oarroz e a carne bovina apresentaram, quer em2008, quer em 2012, taxas de crescimento dedemanda superiores às de sua respectiva oferta.Além disso, apenas para 2012, no terceirocenário simulado, a demanda de carne bovinasupera a oferta interna, principalmente emrazão do cenário otimista para o crescimentoeconômico brasileiro. Contudo, pode-se afirmarque, em todos os cenários, e num horizonte detempo maior, a demanda interna de carnebovina e de arroz ultrapassará a oferta dessesprodutos. No caso da carne bovina, esseresultado foi observado já para 2012, por causada ação catalisadora do crescimento elevadoda renda no terceiro cenário. Isso remete àpreocupação com a necessidade de adoção depolíticas que possam estimular a oferta dessesbens em longo prazo.

Os resultados mostraram, também, que, àexceção do feijão, todos os produtos responderampositivamente a aumentos na renda, sempre queadotado um cenário menos pessimista.

Além disso, pode-se considerar que a ofertados bens exportáveis cresceu a taxas conside-ravelmente maiores do que a dos bens destinadosao abastecimento interno. O crescimento dessaoferta deve-se principalmente a maiores inves-timentos em pesquisa, assim como às melhorescondições de preço no mercado externo.

Percebe-se, ainda, que mesmo que ademanda de carne suína e de carne de frangosejam muito sensíveis a elevações na renda, osfatores determinantes da oferta são muito maiseficazes para determinar um maior cresci-mento de oferta que de demanda no períodoanalisado.

Finalizando, é importante deixar claroque este estudo apresentou algumas limitações,na medida em que se fez necessário pressupor

nele algumas variáveis constantes como, porexemplo, a elasticidade-renda da demanda eas condições que determinam a oferta dealimentos.

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Condicionantesda adoção da tecnologiade despolpamentona cafeicultura1

Edson Zambon Monte2

Erly Cardoso Teixeira3

1 Os autores agradecem aos professores Fátima Marília Andrade de Carvalho, João Eustáquio de Lima e José Luís dos Santos Rufino os valiosos comentários eas importantes sugestões que forneceram para este trabalho.

2 Economista. Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes). [email protected] Ph.D. em Economia. Professor titular do Departamento de Economia Rural (DER) da Universidade Federal de Viçosa (UFV). [email protected].

Resumo: Os cafeicultores de Venda Nova do Imigrante, ES, que, em sua maioria, sãoagricultores familiares, têm adotado novas tecnologias para melhorar a qualidade do café arábicaproduzido na região. O objetivo deste trabalho é identificar os fatores que determinam a adoção,por parte dos referidos cafeicultores, da tecnologia de despolpamento. O modelo Logit é aquiutilizado como instrumento metodológico. Conforme poderá ser observado nos resultadosapresentados pelo estudo, os aspectos relativos a associativismo, a escolaridade, a capital próprio,a produtividade, a rentabilidade e a treinamento determinam a adoção da tecnologia dedespolpamento; e as variáveis que mais contribuem para a adoção de tal tecnologia são:rentabilidade, associativismo e treinamento.

Palavras-chave: cafeicultura, adoção tecnológica, despolpamento.

IntroduçãoAliado às constantes oscilações do preço

do café, nos últimos anos o aumento de preçodos fatores de produção e dos insumos agrícolastem ocasionado queda na renda e nacompetitividade da cafeicultura. Para superaresse problema, aumentar a produtividade emelhorar a qualidade do produto, os cafeicul-tores têm buscado novas tecnologias.

Para Hayami e Ruttan (1988), a mudançatécnica é dirigida, ao longo de uma trajetóriaeficiente, por sinais de preço de mercado.Cavallo e Mundlak (1982) salientam que a

acumulação de capital na economia favoreceà adoção da técnica moderna. Além disso,quando deparam com uma oportunidade deinvestimento os agentes econômicos preocu-pam-se com a rentabilidade desse investimento.De acordo com Shumpeter (1985), o risco deadoção de novas tecnologias diminui quando oempresário utiliza o próprio capital.

Uma vez que o avanço tecnológico éfundamental para que o produtor consiga umproduto de melhor qualidade e, conseqüen-temente, obtenha boa lucratividade, algunstrabalhos têm sido desenvolvidos com o propósitode determinar que fatores são responsáveis pela

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adoção de novas tecnologias. Silva e Teixeira(2002), por exemplo, procurou identificar, junta-mente com grandes produtores, que fatores sãodeterminantes da adoção da tecnologia “plantiodireto” na cultura de soja em Goiás. Pelosresultados, verificou-se que as variáveis determi-nantes da mudança tecnológica são: treinamento,rentabilidade, área, produtividade, investimentoe capital próprio.

O município de Venda Nova do Imigrante,localizado no Estado do Espírito Santo, produz,em média, 50 mil sacas de café por ano, compredominância do café arábica. A região temna cafeicultura, portanto, uma de suas principaisfontes de renda.

Considerando-se como propriedadesfamiliares aquelas que possuem, no máximo,quatro módulos fiscais (PRONAF, 2005), e queem Venda Nova do Imigrante um módulo fiscalcorresponde a 18 hectares, cerca de 90% daspropriedades do município podem ser conside-radas como de agricultura familiar.

Apoiados pela Cooperativa dos Cafeicul-tores das Montanhas do Espírito Santo (Pronova),recentemente alguns cafeicultores dessemunicípio vêm adotando novas tecnologias paramelhorar a qualidade do café arábica, das quaisuma é o despolpamento.4 O objetivo destetrabalho é, portanto, identificar os fatores quedeterminam a adoção de tal tecnologia peloscafeicultores da região.

MetodologiaOs dados usados neste trabalho são

primários, isto é, obtidos por meio dequestionários estruturados aplicados aosprodutores de café do Município de Venda Novado Imigrante, ES, em janeiro de 2005. O tipo deamostra utilizado foi o aleatório simples,composto por 56 cafeicultores, com base eminformações da Secretaria de Agricultura domunicípio.

Para verificar a influência das variáveisestudadas na probabilidade de adoção datecnologia de despolpamento, foi especificadoo modelo em que a variável dependente admiteapenas os valores discretos zero e um –variável binária.

A probabilidade de ocorrência de cadaresposta binária decorre de um conjunto deatributos dos indivíduos, tais como níveleducacional, renda, idade do agricultor e sexo(GUJARATI, 2000). No modelo Logit usa-se afunção de distribuição acumulada logística,dada por

(1)

em que L representa a função de distribuiçãologística; X

i, vetor de variáveis independentes;

β, vetor de parâmetros; e e , base do logaritmonatural.

Ao decidir-se por adotar ou não umadeterminada tecnologia, o produtor certamenteavaliará as vantagens e as desvantagens disso.O modelo é estimado pelo Método de MáximaVerossimilhança. A probabilidade de adoção datecnologia de despolpamento (a), bem como aprobabilidade de não adoção da tecnologia (b)podem ser calculadas pelas seguintes expressões:

(a) e

(b) , (2)

sendo Pi igual à probabilidade de adoção da

tecnologia de despolpamento;1-Pi, probabili-

dade de não adoção de tal tecnologia; Xi,

variáveis explicativas do modelo; e β, coefi-ciente das variáveis explicativas.

4 O despolpamento consiste em retirar, com um descascador mecânico, a casca dos frutos maduros (ou cerejas) e, em seguida, retirar-lhe ou não a mucilagem(EMBRAPA, 2005).

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Levando-se em consideração as teorias dedesenvolvimento agrícola apresentadas, podem-se descrever as variáveis consideradas no modelo:a) Variável dependente (VD) = variável bináriapara adoção de tecnologia, com valor 1 se oprodutor adota a tecnologia de despolpamento,ou zero se não a adota; b) Variáveis indepen-dentes: AREA = total de hectares explorado coma cafeicultura; AS = variável binária paraassociativismo, que admite valor 1 para oscafeicultores sócios da cooperativa de produtoresdo município, e zero para os não sócios; CRED =valor médio utilizado de crédito de custeio ecrédito de investimento, nas últimas cinco safras;ES = anos de escolaridade dos produtores; KP =proporção de recursos próprios convertidos eminvestimentos na propriedade (benfeitorias,máquinas ou equipamentos) em relação ao volumetotal de gastos na propriedade (capital próprio paracusteio da safra agrícola, mais crédito de custeio,mais crédito de investimento), anualmente; PROD= produtividade da cultura, medida em sacos porhectares; R = variável binária para rentabilidade,com valor zero para o preço recebido consideradobaixo e 1 para o preço recebido considerado médio/alto (médio ou alto); e T = treinamento em técnicasda pós-colheita,5 variável binária com valor 1 paraquem já recebeu treinamento e zero para quem nãoo recebeu (MONTE; TEIXEIRA, 2006).

Para determinar o efeito marginal de cadavariável sobre a probabilidade de adoção deuma dada tecnologia, faz-se necessário o usode valores médios das variáveis explicativas.

O efeito marginal da variável Xi sobre a

variável dependente é descrito pela expressão

, (3)

considerando-se

e .

Observa-se que o efeito marginal da cadavariável explicativa sobre a probabilidade deadoção não é constante, uma vez que dependedo valor médio de cada variável X

i.

Resultados e discussõesNeste trabalho, faz-se inicialmente uma

exposição de características dos cafeicultoresque adotam a tecnologia de despolpamento,assim como daqueles que não a adotam.Posteriormente são apresentados os resultadosestimados pelo modelo Logit, e, em seguida, ainterpretação das variáveis determinantes daadoção da tecnologia de despolpamento.

Características gerais dos produtoresde café de Venda Nova do Imigrante

Em Venda Nova do Imigrante, 76,79% daspropriedades são administradas pelo produtor.A cargo dos filhos fica a administração de21,43% das propriedades, e apenas 1,78% delaspossuem gerente. Quando as propriedades sãoadministradas por filhos ou gerentes, o grau deescolaridade dos administradores é bem maiselevado. Nota-se que os cafeicultores queadotam tecnologias mais avançadas possuemmaior nível de escolaridade do que aqueles quenão as adotam.

A área média das propriedades é de 22,71hectares, com amplitude de 3 a 125 hectares.No que se refere à área explorada com café, amédia é de 16,52 hectares, com amplitude de2 a 110 hectares. Quanto à decisão de adotar-se ou não novas tecnologias, 70% doscafeicultores aguardam os resultados obtidospelos vizinhos, ou pelos produtores inovadores,antes de aderirem ou não às inovações que omercado oferece. Cerca de 20% utilizam asnovas tecnologias de acordo com o orçamentoe o planejamento, e apenas 10% utilizam-nasà primeira vista.5 A assistência técnica foi considerada treinamento.

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Determinantes da adoção datecnologia de despolpamento

Em Venda Nova do Imigrante, 42,86% doscafeicultores despolpam o café, e 57,14% não.Essa tecnologia é considerada, pelos produtores,como a mais importante na obtenção de umproduto de melhor qualidade.

Na Tabela 1, são apresentados os valoresmédios das variáveis determinantes datecnologia de despolpamento. Os cafeicultoresque adotam tal tecnologia têm, para as variáveiscontínuas, valores médios maiores do queaqueles que não a adotam. O teste dediferenças de médias foi estatisticamente nãosignificativo, a 5% de significância, para AREAe CRED, ou seja, as médias de cada uma dessasduas variáveis podem ser consideradas iguais,o que implica dizer que os dois grupos decafeicultores vêm da mesma população. Portanto,essas variáveis não afetam a probabilidade deadoção. Para as variáveis AS, ES, KP e PROD, oteste foi estatisticamente significativo a 5% deprobabilidade.

A Tabela 2 mostra os coeficientes estimadospor meio do modelo Logit, para os fatores quedeterminam a adoção da tecnologia de despolpa-mento, com as respectivas significâncias estatísti-cas. O índice de razão de verossimilhançaencontrado após o ajustamento da equação, querepresenta a probabilidade de adoção da tecnolo-gia de despolpamento, foi de 0,72, ou seja, 72%das variações que ocorrem na probabilidade de

adoção são explicadas pelas variações dasvariáveis independentes do modelo.

No modelo ajustado, foram identificadasseis variáveis estatisticamente significativas, asaber: associativismo (AS), escolaridade doprodutor (ES), capital próprio (KP), produtividade(PROD), rentabilidade (R) e treinamento (T). Assim,os coeficientes dessas variáveis são estatisti-camente diferentes de zero, o que influencia naprobabilidade de adoção da tecnologia dedespolpamento. As variáveis área explorada coma cultura cafeeira (AREA) e crédito de custeio einvestimento (CRED) não foram estatisticamentesignificativas. Logo, não afetam a probabilidadede adoção, o que reafirma o teste de diferençasde médias da Tabela 1.

Os coeficientes das variáveis explicativas,estimados pelo modelo Logit, não refletem o efeitomarginal delas sobre a probabilidade de adoçãoda tecnologia de despolpamento. Para determina-ção do efeito marginal de cada variável sobre aprobabilidade de adoção são usados os valoresmédios das variáveis explicativas, coluna 1 (médiageral) da Tabela 1, de acordo com a expres-são (3).

Na Tabela 3, são apresentados os valoresdos efeitos marginais das variáveis associativismo(AS), escolaridade (ES), capital próprio (KP),produtividade (PROD), rentabilidade (R) etreinamento (T) sobre a adoção da tecnologia dedespolpamento. A variável AS teve efeito marginaligual a 0,4834, o que significa que a participaçãodo cafeicultor na cooperativa de produtores

Tabela 1. Valores médios das variáveis contínuas determinantes da adoção da tecnologia de despolpamento,em Venda Nova do Imigrante, ES, 2005.

(1) Não siginificativo.(2) Estatisticamente significativo.AREA = área explorada com a cultura de café; CRED = valor médio de crédito de custeio e de investimento utilizado na safra agrícola; ES = escolaridadedo produtor; KP = capital próprio convertido em investimentos na propriedade; e PROD = produtividade (sacas/ha).Nível de significância estatística das médias: 5%.

AREACREDESPRODKP

Variável Média geral

16,522.915,71

7,7726,10

0,50

Média para os que não adotam

12,16(1)

1.599,38(1)

6,31(2)

21,97(2)

0,36(2)

Média para os que adotam

22,34(1)

4.670,83(1)

9,71(2)

31,61(2)

0,69(2)

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Tabela 2. Coeficientes estimados do modelo Logit para os determinantes da adoção da tecnologia dedespolpamento, em Venda Nova do Imigrante, ES, 2005.

*** Significativo a 1%, ** Significativo a 5%, * Significativo a 10%, ns Não-significativo a 10%.C = constante; AREA = área explorada com a cultura de café; AS = associativismo; CRED = valor médio de crédito de custeio e de investimentoutilizado na safra agrícola; ES = escolaridade do produtor; KP = capital próprio convertido em investimentos na propriedade; PROD = produtividade(sacas/ha); R = rentabilidade (preço recebido pela saca de café, considerado baixo ou médio/alto); e T = treinamento (participação em cursos denatureza técnica e presença de assistência técnica).

CAREAASCREDESKPPRODRT

Variável

32 observações com variável dependente = 024 observações com variável dependente = 1Total de observções = 56Índice de razão de verossimilhança = 0,72Probabilidade (LR estat.) = 1,51E-09

Probabilidade

0,00380,4644ns0,0065***0,4104ns0,0687*0,0471**0,0468**0,0027***0,0504*

Valor de Z

-2,8911300,7316752,7233520,8231821,8203591,9849771,9885533,0043311,956290

Erro padrão

5,5051800,0638881,6828810,0002580,2172501,3353400,1004281,8222551,481860

Coeficiente

-15,9161900,0467454,5830770,0002120,3954732,6506190,1997075,4746562,898947

Tabela 3. Efeitos marginais das variáveis determinantesda adoção da tecnologia de despolpamento, pelomodelo Logit, em Venda Nova do Imigrante, 2005.

AS = variável binária associativismo; ES = escolaridade do produtor; KP= capital próprio convertido em investimentos na propriedade; PROD =produtividade (sc./ha); R = variável binária rentabilidade (preço recebidopela saca de café, considerado alto, médio ou baixo); T = variávelbinária de treinamento.

ASESKPPRODRT

Variável Efeito marginal

0,48340,04170,27960,02110,57740,3058

provoca aumento na probabilidade de adoçãoda tecnologia de despolpamento de 48,34pontos percentuais.

A variável ES teve efeito marginal igual a0,0417, o que implica dizer que, para cada anoa mais de escolaridade, a probabilidade de oprodutor despolpar café eleva-se em 4,17 pontospercentuais. A variável KP obteve efeitomarginal de 0,2796, ou seja, à medida que

aumenta a proporção de capital próprioconvertido em investimentos na propriedade emrelação ao total de gastos, a probabilidade deadoção se eleva em 27,96 pontos percentuais.O efeito marginal da variável PROD foi de0,0211. Logo, para cada saca a mais por hectarehá elevação na probabilidade de adoção de2,11 pontos percentuais.

O efeito marginal da variável rentabilidade(R), considerada a mais importante, é igual a0,5774, o que implica dizer que, na presença derentabilidade média/alta, a probabilidade deadoção eleva-se em 57,74 pontos percentuais.Para a variável treinamento (T), o efeito marginalfoi de 0,3058, ou seja, com treinamento aprobabilidade de adoção da tecnologia de despol-pamento aumenta 30,58 pontos percentuais.

ConclusõesAs variáveis rentabilidade (R), associativis-

mo (AS), capital próprio (KP) e treinamento (T) sãoas mais importantes quanto à adoção datecnologia de despolpamento, respectivamente.

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O despolpamento do café eleva os custosde produção, tanto na colheita como na pós-colheita. Logo, a adoção de tal tecnologia implicao aumento do preço do produto, de modo que essecubra custos e gere maior lucratividade para ocafeicultor. Além disso, trata-se de uma tecnologiaque, para ser utilizada de forma adequada, requercapacitação a ser adquirida em cursos etreinamentos. Portanto, políticas governamentaisque promovam maior lucratividade, capitalizaçãoe treinamento dos cafeicultores são necessáriaspara incentivar a busca de novas tecnologiasaptas a melhorar a qualidade do café e a aumentara competitividade da cultura cafeeira.

Os resultados deste trabalho assemelham-se aos encontrados por Silva e Teixeira (2002)relativos a grandes produtores de soja em Goiás.Por conseguinte, a adoção de novas tecnologias,tanto para grandes produtores quanto paraagricultores familiares, parece ser determinadapelos mesmos fatores, principalmente porrentabilidade, associativismo, treinamento ecapital próprio.

ReferênciasCAVALLO, D.; MUNDLAK, Y. Agriculture and economicgrowth in an open economy: the case of Argentina.Washington, D.C.: International Food Policy ResearchInstitute, 1982. 162 p. (Research Report, 36).

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.–Sistemas de Produção: café. Disponível em: <http://www.embrapa.br>. Acesso em: 08 ago. 2005.

GUJARATI, D. N. Econometria básica. São Paulo: MAKRONBooks, 2000. 845 p.

HAYAMI, Y.; RUTTAN, V. Desenvolvimento agrícola: teoria eexperiências internacionais. Brasília, DF: EMBRAPA, 1988.367 p.

MONTE, E. Z.; TEIXEIRA, E. C. Determinantes da adoção datecnologia de despolpamento na cafeicultura. Revista deEconomia Rural, Brasília, DF, v. 44, n.2, p. 201-217, 2006.

PRONAF. Programa Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar. Quem somos? – perguntas. Disponívelem: <http://www.pronaf.gov.br>. Acesso em: 21 ago. 2005.

SCHUMPETER, J. A. A teoria de desenvolvimentoeconômico. São Paulo: Nova Cultura, 1985. 169 p.

SILVA, S. P.; TEIXEIRA, E.C. Determinantes da adoção datecnologia “plantio direto” na cultura da soja em Goiás.Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, DF., v.40, n. 2, p. 305-326, 2002.

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Avaliação do Pronaf,grupo “B”, emMinas Gerais

Ana Bárbara Cardoso de Alvarenga1

Fátima Marília Andrade de Carvalho2

1 Mestre em Economia Aplicada. Professora da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira. [email protected] Doutora em Economia Agrária. Professora Adjunta do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa. [email protected].

Resumo: Este estudo trata da análise de uma das linhas de crédito do Programa Nacional de Apoioà Agricultura Familiar (o Pronaf "B"), no Município de Porteirinha, MG, como instrumento dedesenvolvimento socioeconômico do público beneficiário. Nele são analisadas tanto a evoluçãodos indicadores econômicos e sociais como a dos efeitos indiretos do programa, além da capacidadede pagamento do crédito obtido. Os resultados mostram pequenos acréscimos de produtividadena pecuária leiteira, na avicultura e na suinocultura; atividades essas diretamente beneficiadaspelo microcrédito do Pronaf “B”. Constatou-se que, entre 2000 e 2004, em todas as três atividadesque receberam crédito – pecuária leiteira, suinocultura e avicultura –, houve elevação da relaçãoMargem Líquida Média Auferida e Crédito Médio Obtido: entre 2000 e 2004, tendência importantepara as perspectivas de manutenção e de ampliação do referido programa.

Palavras-chave: avaliação do Pronaf, crédito, agricultura familiar e indicadores econômicos e sociais.

IntroduçãoNas décadas de 1960 e de 1970, além de

outras medidas de apoio que objetivavam amodernização do setor o governo federaldirecionou grande volume de recursos para aagricultura, principalmente por meio do créditorural.

Assim, ao consolidar o Complexo Agroin-dustrial Brasileiro (CAI) a atividade agropecuá-ria passou por um processo de mudança em suabase técnica, tornando-se menos dependenteda terra e da força de trabalho, e articulando-se mais com a indústria produtora de insumos ede bens de capital (DELGADO, 1985).

Na década de 1980, em decorrência doagravamento da crise da dívida externa e dascondições fiscais e financeiras do Estado (DIAS;

AMARAL, 1999) foi implantado um conjunto dereformas estruturais na economia brasileira. Aspolíticas de ajuste macroeconômico levaram àredução do volume de crédito, bem como àindexação das taxas de juros nominais à infla-ção. Tais mudanças na política agrícola faziamparte de um conjunto de medidas de controledo déficit fiscal e da geração de divisas paraequilibrar o balanço de pagamentos.

A principal mudança no crédito rural foiaquela relacionada às fontes de recursos, emrazão do esgotamento dos mecanismostradicionais de financiamento, os quais seapoiavam, pesadamente, nos recursos doTesouro, o que obrigou o governo a buscarfontes alternativas.

A partir de 1988, ocorreram novasmudanças na política agrícola, dentre as quais a

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aprovação da criação dos Fundos Constitucionaisde Desenvolvimento Regional cuja finalidade eraassegurar recursos para o financiamento dasatividades produtivas das regiões menosdesenvolvidas do País (BUANAIN, 1997).

No início dos anos 1990, o combate àinflação foi uma das principais justificativas paraa realização de reformas, as quais tinham o intuitode promover estabilidade e proporcionar maiorcrescimento e desenvolvimento do País(HELFAND; REZENDE, 2001). A economiabrasileira iniciou um processo de liberalização eabertura econômica, de privatização de algunssetores até então dirigidos pelo Estado, bem comode desregulamentação dos mercados internos.

Na década de 1990, a falta de recursoslevou à reestruturação do papel do Estado naeconomia, o que reduziu a participação deleno mercado e demandou ações conjuntas comdeferentes níveis do setor privado. Desse modo,o governo passou a transferir parte da responsa-bilidade das políticas de crédito, e de outrasformas de apoio à agricultura, para as institui-ções privadas; e, em contrapartida, desenvol-veu programas específicos que compensassempequenos e médios agricultores incapacitadosde produzir sem apoio financeiro.

A estratégia consistiu em reduzir ossubsídios destinados à agricultura comercial, bemcomo em reservar recursos para a agricultura debase familiar (MENDONÇA DE BARROS, 1998).O propósito era concentrar a ação do Estado nessesubsetor da agricultura: segmento que nãoacompanhou a mudança tecnológica dos últimosanos em razão de sua descapitalização e de suadificuldade de acesso ao sistema financeiro.

Nesse enfoque, o Programa de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (Pronaf) ganhouimportância como mecanismo de desenvolvi-mento rural cujos fundamentos são a expansãoda agricultura, o aumento da produção agrícola ea melhoria da qualidade de vida no meio rural. Oprograma prevê o apoio às atividades por meio

de financiamento (crédito rural), de melhoria deinfra-estrutura e de capacitação profissional.

De forma mais específica, os beneficiáriosdo Pronaf podem ser classificados comointegrantes de quatro grupos especiais: A, B, C eD. O grupo A é constituído por agricultoresfamiliares assentados via projetos de reformaagrária; o B é integrado por agricultores familiares,de renda mínima, que são assalariados rurais comestabelecimento rural, ou por famílias comestabelecimento rural, cujas atividades não são,porém, agropecuárias; o grupo C é constituído poragricultores familiares descapitalizados, ou portrabalhadores rurais descapitalizados, os quaisexercem atividades não agropecuárias emestabelecimento rural; e o D é formado poragricultores familiares com maior nível decapitalização, os quais exercem atividades nãoagropecuárias em estabelecimento rural.

A importância estratégica da agriculturafamiliar3 para a economia agrícola brasileirafundamenta a elaboração de estudos queconfrontem as propostas de atuação governa-mental, nessas novas linhas de crédito, com osresultados obtidos pelo Plano Municipal deDesenvolvimento Rural Sustentável, o qual foielaborado a partir da realidade e das necessida-des dos agricultores familiares para subsidiarreformulações necessárias e novas propostas deatuação.

Nessa perspectiva, este estudo buscouanalisar as mudanças havidas nas condiçõeseconômico-sociais do público atendido peloPronaf “B”, as quais têm como objetivo específicofinanciar investimentos produtivos desenvolvidospor homens e mulheres de baixa renda, excluídosdas políticas de crédito rural, e possibilitar novasoportunidades de renda e de ocupaçõesprodutivas. No caso de Minas Gerais, aexperiência do Pronaf “B” tem recebido grandeapoio governamental, por meio de serviços daEmpresa de Assistência Técnica e Extensão Ruralde Minas Gerais (Emater-MG), e já está em seuterceiro ano de atuação nas regiões do Vale doJequitinhonha, de Mucuri e do Norte, consideradas

3 De acordo com Guanziroli e Cardim (2000),"os agricultores familiares representam 85,2% do total de estabelecimentos, ocupam 30,5% da área total e sãoresponsáveis por 37,9% do Valor Bruto da Produção Agropecuária Nacional, recebendo apenas 25,3% do financiamento destinado a agricultura".

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as mais pobres de Minas Gerais. A cada ano aatuação desse programa vem aumentando onúmero de beneficiados, embora não tenha sidoainda objeto de avaliação.

A partir dessa proposta de ação governa-mental, e em parceria com a Emater-MG, anali-sou-se a evolução de indicadores econômicos esociais. Nas atividades beneficiadas pelo Pronaf"B", com base na relação Margem Líquida Auferidae Crédito Médio Obtido avaliou-se a capacidadede pagamento do produtor. Selecionou-se, comouniverso de análise, o Município de Porteirinha,por tratar-se essa de área de maior atuação, tantoem relação a número de produtores atendidoscomo de recursos disponibilizados nessa linha demicrocrédito, do referido programa em MinasGerais.

Referências analíticas

Indicadores econômicos e sociais

No setor agrícola, as decisões de aplicaçãode recursos financeiros são especialmenteimportantes dadas as sua características especí-ficas, dentre as quais podem ser citadas a escassezde capital, a instabilidade de preços, as dificulda-des de armazenamento e de comercialização dasafra e, ainda, as freqüentes modificações napolítica agrícola. Apesar das incertezas, decisõessão tomadas tanto com referência à aplicação derecursos próprios quanto à utilização de recursospúblicos via crédito rural. A decisão sobre aviabilidade de um projeto exige o emprego deregras e de critérios que devem ser obedecidospara que o projeto seja operacionalizado.

A partir do confronto entre a proposta deatuação das políticas governamentais de apoioà produção e a dinâmica de sua atuação aolongo do tempo, é possível analisar os resultadosobtidos e o alcance dos objetivos propostos.Com base nesse procedimento analítico,realizou-se neste estudo um acompanhamentodos indicadores econômicos e sociais,procedendo-se a uma avaliação comparativa

de sua evolução por meio de tabelas e deanálise de freqüência, e considerando-se asituação dos beneficiários antes e depois daimplementação do Pronaf "B".

Os indicadores econômicos consideradosforam relacionados à infra-estrutura produtiva:terra, trabalho, capital; exploração agrícola epecuária; tecnologia de produção; comerciali-zação e crédito. Além desses, foi tambémconsiderado o comportamento da rendafamiliar: indicador econômico de importânciafundamental para a análise dos resultados doprograma. Os indicadores sociais analisadosforam: escolaridade, moradia, saneamento enutrição/saúde. Com o objetivo de verificar acapacidade do programa em gerar vantagensou desvantagens fora da unidade de produção,foram analisados aspectos referentes à evoluçãoda participação dos beneficiários no mercado,em associação de produtores, em movimentoscooperativistas ou em outros programascomunitários, como previsto em sua proposta.

Relação margem líquidamédia/crédito médio

Para avaliação da capacidade depagamento do beneficiário em relação ao valorfinanciado, ou seja, à auto-sustentação daatividade financiada, foi utilizado o seguinteindicador:

I = MLM ,COM

em que:

MLM = Margem Líquida Média Auferida,em R$, e CMO = Crédito Médio Obtido, em R$.

Esse indicador foi calculado a partir dasreceitas das atividades que receberam créditodo Pronaf "B", bem como do valor médio dofinanciamento, no primeiro ano de amortizaçãodo crédito obtido (2001) e no último anopesquisado (2004).

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Um valor de I>1 significa que o produtorbeneficiado pelo Pronaf "B" obteve receitassuficientes para honrar os seus compromissosem relação ao valor financiado; e, I<1, que obeneficiário não obteve receitas suficientespara cobrir o valor da amortização dofinanciamento.

Procedimentos analíticose fontes de dados

Os dados utilizados neste estudo foram decaráter primário, ou seja, obtidos mediante aaplicação direta de questionários semi-estrutura-dos aos produtores rurais, o que caracterizou ummétodo exploratório de pesquisa em que se buscouidentificar as vantagens e as desvantagens doprograma ao longo do tempo. Os questionáriosforam aplicados por técnicos da Emater-MG, combase em uma amostragem que levou emconsideração a proporcionalidade do número depropriedades rurais, do Município de Porteirinha,beneficiadas pelo Pronaf "B", em um nível deconfiabilidade de 90%, o que totalizou umaamostra de 62 famílias beneficiadas.

Resultados

Caracterização do Municípiode Porteirinha e dosbeneficiários do Pronaf B

De acordo com dados da Emater-MG, oPronaf “B” beneficiou 165 municípios e 82.126produtores rurais localizados nas regiões doVale do Jequitinhonha, de Mucuri e do Nortede Minas. De 2000 a 2004, o valor total dosrecursos liberados foi de, aproximadamente,R$ 64 milhões, o que equivale a uma média deR$ 788,00 por produtor.

Dessas regiões, Porteirinha foi o únicomunicípio a ser beneficiado desde o primeiroano, ou seja, desde 2000, e esse foi um doscritérios de sua seleção para objeto destapesquisa. Localizado no Norte de Minas Gerais,

com uma área de 1.812,5 km² e uma populaçãode 38.081 habitantes, Porteirinha tem comoprincipais atividades econômicas a agropecuária,extrativa vegetal; a pesca; a indústria e o comérciode mercadorias e serviços. Segundo informaçõesdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE, 2002), apesar de o setor agropecuárioabsorver o maior número de seus habitantes o setorde serviços é o que gera maior Produto InternoBruto, 67,75%, para esse município.

As principais atividades pecuáriasdesenvolvidas nas propriedades beneficiadas peloPronaf "B" são: suinocultura, bovinocultura de leitee bovinocultura de corte, de caráter não comercial,ou seja, não voltadas, primordialmente, para omercado, e sim para o autoconsumo, com aeventual comercialização de excedentes produ-tivos. Embora algumas culturas se destaquem pelaimportância relativa, observa-se em Porteirinha aprática de diversificação em quase todas aspropriedades, prevalecendo, portanto, o sistemade policultura, com caráter predominante desubsistência. Os principais produtos são: milho,feijão, mandioca, cana, café, arroz, algodão, sorgoe amendoim.

Os resultados mostraram que, naspropriedades beneficiadas pelo Pronaf B, osprodutores dedicam-se à atividade rural hámuitos anos. Cerca de 33,9% das famílias têmentre 16 e 25 anos de trabalho rural; 22,6% entre26 e 35; e 21% entre 36 e 45; ou seja, há 30anos, em média, 77,5% das famílias dePorteirinha estão envolvidas na atividadeagrícola – o que, no que se refere à subsistência,reflete de certa forma a dependência delas paracom o meio rural – e desenvolvem umaagricultura familiar de baixa capitalização, oque comprova a importância de um programade apoio como o Pronaf.

Quanto ao número de membros da famíliaque residem na propriedade e se dedicam àatividade agropecuária, esse é, em média, dequatro pessoas em 30,6%; de cinco pessoas em25,6%; e de três pessoas em 16,1%. Há, assim,disponibilidade relativa de mão-de-obra para odesenvolvimento de atividades agrícolas, que

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é a principal fonte de renda da região. Essaimportância da agricultura como meio desubsistência das famílias rurais de Porteirinhaconsolida o fato de a disponibilidade de créditorural ser fundamental para a ampliação da rendade seus produtores, mantendo-os ligados àatividade rural de forma produtiva.

Evolução dos indicadoreseconômicos e sociais

No que se refere aos fatores de produção:terra, trabalho e capital, em termos gerais pode-se definir o público objeto desta análise comouma categoria de produtores que explora,intensivamente, a pouca terra de que dispõe,utilizando, ao máximo, a mão-de-obra familiar.Há grande escassez de capital, e os recursosprodutivos utilizados na produção agropecuáriasão rudimentares e tradicionais.

No período analisado, foram observadaspequenas variações no uso da terra e dotrabalho, as quais não podem ser relacionadascom a atuação do programa, senão como umaevolução e realocação natural do processoprodutivo ao longo do tempo, em razão decondições de preço, de comercialização e deoutras variáveis que afetam a decisão dosprodutores e, conseqüentemente, a áreaplantada em cada ano agrícola.

O capital empregado na condução dasatividades é precário, constituído de ferramentasmanuais e de equipamentos básicos, decondições que limitam a ampliação da produçãoe, conseqüentemente, uma comercialização maiscompetitiva. Da mesma forma, no caso da criaçãode animais prevalece um manejo inadequado ede baixo nível tecnológico, com pequenaspossibilidades de engajamento numa produçãocomercial por falta de mais e maior investimentodirecionado à realidade local.

Quanto ao desempenho da exploraçãoagrícola numa área de intervenção governamental,pode-se concluir que há mais tendência àconservação do que a mudanças nas práticas enos comportamentos, resultados esperados, por ser

um programa com pouco tempo de atuação, comrecursos de pequeno valor médio e, principal-mente, por não ter sido, nesse caso, direcionadoà atividade agrícola, e sim à pecuária. Foramobservados pequenos acréscimos na produtivi-dade da pecuária leiteira, da avicultura e dasuinocultura, os quais podem ser relacionados àatuação do programa, uma vez que o micro-crédito foi direcionado a essas atividades.

Quanto à infra-estrutura social, o quadronão difere muito do encontrado para a infra-estrutura de produção. O nível de escolaridadeé muito baixo, visto que 43,6% dos produtoresfreqüentaram apenas um ano de escola. Ascondições das habitações são também muitodeficientes. Só 4,8% do total de casas têm águaencanada; apenas 19,4% possuem energiaelétrica; e somente 1,6% contam cominstalação sanitária. No caso do saneamento,em 50% do total das casas o desemboque daságuas ocorre a céu aberto.

A avaliação do estado nutricional e de saúdeenvolve um acompanhamento mais aprofundadoe sistemático, o qual engloba levantamento dehábitos alimentares e histórico de doenças e deendemias. Assim, com base na percepção dosbeneficiários optou-se apenas por verificar se aatuação do Pronaf, embora tal programa não tenhaproposta direta de intervenção nesse aspecto,impulsionou alguma melhoria nas condições desaúde e de nutrição dos beneficiados. No que serefere à saúde, 66,1% dos entrevistados revelaramnão ter havido alteração nas condições, e 29%informaram que o aumento da renda familiarproporcionou conseqüente melhoria nascondições de saúde. Especificamente em relaçãoaos hábitos alimentares, foram identificadas asseguintes melhorias nas condições de alimen-tação: 37% de aumento no consumo de leite; 29%no consumo de carne suína; 12,9% no consumode carne bovina; 6,5% no consumo de carne defrango e de ovos; e 9,7% outras melhorias: todaselas relacionadas às atividades incrementadas, napropriedade, com a utilização do microcrédito doPronaf B. Verifica-se, assim, que na medida emque o programa proporciona ampliação daprodução, da produtividade e da renda, ou seja,

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das condições econômicas, as melhorias nasvariáveis sociais podem surgir como conse-qüência.

No que se refere à análise da participação,no mercado, do associativismo e do coopera-tivismo, como efeito indireto do programa, foramobservadas as seguintes situações: a produção écomercializada com o agente mais próximo, e ospreços nem sempre são previamente conhecidos,ocorrendo, com isso, pequenas margens de lucro.A inexistência de precondições para umacomercialização mais rentável, como aquela feitaem armazéns, em postos de venda e em feiras,assim como da prática de compra e vendacomuns, são fatores limitativos.

Não se verificou, tampouco, entre osbeneficiários do programa, um processo deorganização formal mais consolidado, o qualpudesse dar suporte e facilitar a comercia-lização. A maioria dos processos por elesadotados está vinculada a formas associativasinformais, com organizações incipientes queapenas atendem às atividades específicas comocompra e venda, sem um trabalho de mobili-zação mais engajado.

Como evidenciado pelos resultados, oPronaf "B" não trouxe grandes mudanças para osbeneficiários, a não ser pequenas alterações aindapouco significativas em termos de um saltoqualitativo em sua realidade. Por ser uma situaçãohistoricamente estagnada, a alteração de suascondições socioeconômicas exige intervençõesmais profundas e prazo de atuação maior.Mudanças efetivas nessa realidade requerem,assim, atuação de programas de apoio maisamplos e permanentes, que possam propiciarmelhorias tecnológicas na infra-estruturaprodutiva e melhores condições de comerciali-zação, de forma que gerem benefícios econômi-cos e, conseqüentemente , sociais, para o públicobeneficiado.

Comportamento da renda familiar

Um dos pressupostos básicos das políticasde apoio à produção consiste em promoveralterações positivas na renda família, as quaispossam refletir melhorias generalizadas nas

condições de produção e na qualidade de vidados pequenos produtores. Dessa forma, ocomportamento da renda das unidades deprodução torna-se o indicador mais importantedos resultados das ações do programa.

Ao contrário dos grandes proprietários,que perseguem maior lucro médio, a produçãofamiliar visa, primordialmente, à manutençãopermanente da propriedade rural. Desse modo,a renda monetária mantém-se sempre baixa,sem um padrão de acumulação estável, o quese deve às especificidades e à racionalidadeinterna da pequena produção, com limitaçõesestruturais e conjunturais que abrangem seumodo de produção e sua vivência social.

A renda da exploração agropecuáriadestaca-se na composição das atividadesprodutivas beneficiadas pelo Pronaf "B", e hátambém pequenos excedentes comercializáveis,os quais não se sobrepõem, porém, a umaprodução de subsistência: seu objetivo básico.

A principal fonte de renda das famíliasrurais beneficiadas pelo Pronaf "B" baseia-se ematividades relativas à agricultura, ou seja, 91,9%das propriedades têm, na agricultura, a base dacomposição da renda. Em 72,5% das proprie-dades, cerca de cinco pessoas da famíliamoram na propriedade e têm a atividadeagrícola com fonte de renda e de sustento dafamília. Os resultados revelaram, ainda, que em66,1% das famílias, aproximadamente, há emmédia três pessoas sem renda; e, em 12,9%,cinco. O que ocorre, em geral, é que o chefeda família fica com a remuneração do trabalhoe se encarrega das despesas correntes.

Em síntese: a análise da composição darenda das famílias revela que a principal fontede renda é a agrícola, e só em poucos casosmembros da família trabalham no comércio, ouem outras atividades, e obtêm renda comple-mentar.

Em relação ao comportamento ao longodo tempo, não se observou mudança nos itensdiferenciadores de fonte de renda, ou seja, aspequenas mudanças ocorridas nas proprieda-des, ao longo do tempo, não fizeram variar essacomposição. Contudo esse resultado eraesperado, uma vez que as políticas de apoio à

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produção têm o objetivo de fixar e de ampliar arenda agrícola, e não de diversificá-la ou dedirecioná-la para outros setores.

Outro fator que demonstra a importânciadas políticas de apoio à produção da agriculturafamiliar é a capacidade delas em alterar a faixade renda familiar mensal obtida na atividadeagrícola. No caso do Pronaf "B", 83,9% dosbeneficiários percebiam uma renda queequivalia, em média, a um salário mínimo; e12,9% uma renda equivalente, em média, a umvalor variável de um a dois salários mínimos.Em 2004, verificou-se alteração nessespercentuais, que então passaram a representar74,2% e 21,0%, respectivamente.

Embora pequeno, isto é, variável de R$500,00/ano a R$ 1.000,00/ano, o valor médio doempréstimo possibilita, a cada ano, a ampliaçãodas atividades, e chega até mesmo a gerarmudanças, as quais ainda são, porém, poucosignificativas para produzir um salto quantitativona renda média familiar. A despeito de não sepoder considerar um novo patamar compatívelcom as necessidades de uma produção para omercado, sinaliza-se uma possibilidade, nessadireção, a partir da manutenção e da ampliaçãodesse apoio governamental.

O financiamento do Pronaf B

A facilidade de obtenção de crédito é omotivo pelo qual 56,5% dos beneficiáriosutilizaram as linhas de crédito disponibilizadaspelo programa; 22,6% acreditaram na possi-bilidade de melhoria das atividades desenvol-vidas em suas propriedades, e 11,3% adquiriramo crédito como forma de obter uma oportunidadepara a introdução de nova atividade em suapropriedade. Constatou-se que 88,7% dosentrevistados não tiveram dificuldades emutilizar o crédito rural, o que demonstra que aslinhas oferecidas pelo programa são acessíveis.Essa pode ser considerada uma característicafundamental para uma política de apoio a uma

categoria de produtores que não têm o hábitode lidar com agentes financeiros, burocracia eoutras questões dessa natureza, as quaisacabam por afastá-los dos programas colocadosem prática.

Quanto às orientações técnicas previstasna política de crédito rural do Pronaf, 90,3%dos agricultores familiares informaram tê-lasrecebido do presidente da associação deprodutores, e, desses, 80,6% afirmaram que taisorientações foram suficientes e satisfatórias.

Na opinião de 40,3% dos entrevistados,a política de crédito rural é útil, adequada eeficiente, mas 16,1% deles afirmaram que adocumentação exigida é complicada e exigetempo para que seja providenciada, o queatrasa o processo de liberação do recurso.Cerca de 14,5% dos entrevistados afirmaramque a política de crédito teria mais utilidade seo valor do empréstimo liberado fosse maior, ouseja, se o recurso total disponível fosse superiora R$ 1.000,00/ano, fato que demonstra a realnecessidade de capital financeiro para aquelesque pretendem ampliar sua produção ouintroduzir nela uma nova atividade.

Relação margem líquidamédia/crédito médio obtido

Quanto à elevação de renda e ao impactono desenvolvimento econômico, como jádemonstrado o Pronaf “B” não apresentou resul-tados relevantes, senão mudanças pequenas elocalizadas. Essa realidade limitou a men-suração da relação benefícios e custos doprograma como forma de avaliar sua eficiênciae eficácia.

No entanto, a partir da relação margemlíquida média auferida4 e valor do crédito médioobtido foi possível verificar a capacidade depagamento, do beneficiário, referente aofinanciamento por ele obtido, o que estariarepresentando sua auto-suficiência.

4 Considerou-se a margem bruta como a diferença entre renda bruta e custo operacional efetivo (gastos com concentrados, mão-de-obra, medicamentos e outrosque implicam desembolso), e margem líquida como a diferença entre margem bruta e custo operacional total, que inclui mão-de-obra familiar e depreciaçãode máquinas e benfeitorias (GOMES, 2003).

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A análise e a comparação desse indicador,em 2001 e em 2004, permitiram avaliar apossibilidade de o empréstimo ser amortizado comreceita da própria atividade, e sua evolução, e decriar uma perspectiva de retorno na hipótese demanutenção do programa.

As Tabelas 1, 2 e 3 mostram os resultadosobtidos com bovinocultura de leite, aviculturae suinocultura; atividades para as quais foramdirecionados recursos do Pronaf “B”.

O cálculo da receita líquida média baseou-se na receita bruta média, descontado o customédio de cada atividade. Esse custo foi estimadoa partir de percentuais da receita bruta conformeindicação de especialistas da área5, levando-seem consideração a forma como a atividade éconduzida na região, ou seja, com baixatecnologia e infra-estrutura incipiente principal-mente para criação de aves e de suínos. Para cadaatividade foram considerados dois percentuais, isto

é, duas possibilidades de desconto na margembruta para o cálculo da margem líquida:bovinocultura de leite, 60% e 65%; avicultura, 20e 25%; e suinocultura, 30 e 35%.

No cálculo do valor das amortizaçõesanuais representativas do desembolso anual dosbeneficiários, foram consideradas as condiçõesdefinidas para o Pronaf B, a saber: carência deum ano e taxa de juros de 1% a.a. Assim, partindo-se de um valor médio de financiamento deR$ 500,00 foram obtidas as seguintes parcelasanuais de pagamento: primeira parcela, deR$ 126,25, paga em 2001; segunda, de R$ 127,51,paga em 2002; terceira, de R$ 128,79, paga em2003; e, a última, de R$ 130,08, quitada em 2004,as quais perfazem um valor total pago peloprodutor, em quatro anos, de R$ 512,63. Comoestão sendo comparados valores de 2001 e de2004, só as a primeira e a quarta parcelas foramutilizadas para compor as Tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1. Bovinocultura de leite: margem bruta, margem líquida, amortização do financiamento e relaçãomargem líquida/amortização, em reais de 2004.

20012004

AnoMargem bruta

(a)

1.2811.385

Margem líquida

494554

(b) 60%

448485

(c) 65%Amortização

(d)

126130

Relação

3,94,2

(b/d)

3,53,7

(c/d)

Tabela 2. Avicultura: margem bruta, margem líquida, amortização do financiamento e relação margem líquida/amortização, em reais de 2004.

20012004

AnoMargem bruta

(a)

112144

Margem líquida

90116

(b) 20%

84120

(c) 25%Amortização

(d)

126130

Relação

0,70,8

(b/d)

0,70,9

(c/d)

5 Esses especialistas referem-se a profissionais que dão assistência, a produtores, nas três atividades consideradas, os quais detêm conhecimentos técnicos doscustos médios de produção de acordo com o nível tecnológico adotado em cada uma.

Tabela 3. Suinocultura: margem bruta, margem líquida, amortização do financiamento e relação margemlíquida/amortização, em reais de 2004.

20012004

Ano Margem bruta(a)

151291

Margem líquida

106204

(b) 30%

98189

(c) 35%Amortização

(d)

126130

Relação

0,81,6

(b/d)

0,81,5

(c/d)

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Em todas as três atividades pode-severificar que ocorreu, de 2000 para 2004,elevação da margem bruta. Apesar de o valormédio anual das receitas ser pequeno, foramobservados acréscimos importantes, especial-mente para a criação de suínos, cuja margembruta passou de R$ 151,00 para R$ 291,00, oque representou um acréscimo de 92,8%.

No caso da bovinocultura de leite e daavicultura, os respectivos acréscimos foram de8,1% e 29,0%, quando as margens brutasaumentaram de R$ 1.281,00 para R$ 1.385,00, ede R$ 112,00 para R$ 144,00, respectivamente.

Os resultados da relação receita líquidaauferida e crédito médio obtido mostraram queesse indicador só foi superior à unidade no anode 2001, para a atividade bovinocultura de leite,o que, além de revelar capacidade de paga-mento e de auto-suficiência dessa atividade,desde o primeiro ano, indica que a renda delaé suficiente para cobrir os custos representadospelo crédito obtido.

Em 2004, no entanto, a relação foisuperior à unidade também para suinocultura,e próxima da unidade para a avicultura, o queindica progressão no sentido de atingir-se umpatamar superior ao anterior no que se refere amelhores condições de remuneração e decapacidade de pagamento.

Na análise desses resultados, é aindaimportante ressaltar o fato de, mesmo nos casosem que foram inferiores à unidade, mostrandovalores de amortizações anuais inferiores àmargem líquida, os indicadores situarem-semuito próximos de um, além de apresentaremtendência crescente, o que pode ser traduzidoem perspectivas otimistas em relação ao retornodo recurso aplicado pelo Pronaf. Isso significaque, apesar de liberar recurso de valor pequeno,de pequena abrangência em termos deatividade e de número de produtores, e de nãoter ainda se consolidado no tempo, o programaapresenta capacidade para produzir mudanças,e pode ser caracterizado como uma propostade apoio, à produção, que deve ser mantida eampliada.

ConclusõesComo evidenciado pelos resultados, o

Pronaf "B" não trouxe grandes mudanças para osbeneficiários, senão pequenas alterações aindapouco significativas em termos de um novopatamar qualitativo em sua realidade. Por tratar-se de uma situação historicamente estagnada,alterar as condições socioeconômicas dosbeneficiários exige intervenções mais profundas,tais como políticas contínuas de apoio, especial-mente direcionadas à melhoria da infra-estruturade produção e da comercialização, as quaispossam ir além de ações pontuais e localizadas.A partir do cálculo da relação margem líquidamédia e crédito médio obtido, bem como daanálise de sua evolução, foi possível verificar acapacidade de pagamento do beneficiário emrelação ao financiamento recebido e, a partir daí,criar uma perspectiva de maior retorno dasatividades beneficiadas. Constatou-se que, emtodas as três atividades que receberam crédito:bovinocultura de leite, avicultura e suinocultura,houve, de 2001 a 2004, elevação dessa relação.No entanto, o valor médio de cada receita foipequeno, e a referida relação só foi superior àunidade, nos dois anos, para a bovinocultura deleite, o que indica que essa atividade é capaz degerar receita suficiente para cobrir custosrepresentados pelo crédito obtido. Em 2004, paraa suinocultura a relação também foi superior àunidade. O que se pode ressaltar, no entanto, é ofato de esse indicador, nos demais casos, serpróximo da unidade e apresentar sempretendência de crescimento: resultado importantetanto para as perspectivas do programa como paraa defesa de sua manutenção e ampliação.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 32

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Uma nova etapada InstruçãoNormativa nº 51A Região Centro-Sul

Maria Helena Fagundes1

1 Mestre em Filosofia (M.Phil.) em Estudos do Desenvolvimento e Mestre em Ciências (M.Sc.) em Economia. Técnica da Conab/Mapa; [email protected].

Resumo: Após a verificação da insuficiente qualidade do leite produzido no País, a Secretaria deDefesa Agropecuária (SDA/Mapa) publicou a Instrução Normativa nº 51 em setembro de 2002(IN nº 51/2002), cujas novas exigências entraram em vigor, na Região Centro-Sul, em 1º/7/2005.Esse normativo estabelece requisitos mínimos de qualidade para os leites tipo A, B e C, para oleite cru refrigerado e pasteurizado, além de dispor normas para a coleta a granel da matéria-prima. Para as regiões Norte e Nordeste, essas exigências só passarão a ser obrigatórias a partirde 1º/7/2007. Trata-se de uma iniciativa que deverá incentivar a melhoria da qualidade do leiteinspecionado por meio da aplicação de testes de qualidade mais rigorosos. Estão previstas, combase em um calendário diferenciado por região, etapas progressivas para a melhoria da qualidade,as quais se estendem de 2002 a 2011 para a Região Centro-Sul (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), e de2002 a 2012 para as regiões Norte e Nordeste. A pequena produção leiteira deverá adequar-se àsnovas disposições normativas mediante a sua organização em associações, bem como com adisponibilização de tanques comunitários de resfriamento.

Palavras-chave: qualidade do leite, legislação e Centro-Sul.

IntroduçãoÉ intenção deste texto apresentar e

comentar as principais normas referentes àqualidade do leite produzido no País, as quaisforam estabelecidas pela Instrução Normativanº 51 de 2002 (IN nº 51/2002), publicada noDiário Oficial da União (DOU) pela Secretariade Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),em 20/9/2002, cuja segunda etapa entrou emvigor na Região Centro-Sul (BRASIL, 2002)desde primeiro de julho de 2005.

Partindo da constatação da insuficientequalidade do leite produzido no País, foi publicadaa IN nº 51/2002 após a disponibilização das novasorientações à consulta pública, que apresentanovas disposições normativas com o objetivo deatualizar o setor no que se refere à melhoria daqualidade de matéria-prima e à redução dos custosde coleta, visando beneficiar com isso tanto omercado consumidor interno como as exporta-ções.

Previu-se um calendário regionalmentediferenciado para a progressiva adaptação de

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produtores e de laticínios às novas exigênciasde qualidade do leite cru refrigerado, o qual seestende de 2002 a 2011, para a Região Centro-Sul (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), e de 2002 a2012 para as regiões Norte e Nordeste

Os pequenos produtores de leite deverãoorganizar-se em associações para que seadaptem às novas exigências da qualidade dematéria-prima e de seu transporte a granel, assimcomo às novas exigências de qualidade dos leitespasteurizados constantes dos regulamentostécnicos da instrução normativa.

Os testes de Contagem de CélulasSomáticas e de Contagem Padrão em Placas/Contagem Bacteriana Total, que definem,respectivamente, a sanidade do rebanho no quese refere, principalmente, à mastite, e à higienedo processo de obtenção da matéria-prima, sãoos principais indicadores dos objetivos a seremalcançados pela instrução normativa emquestão.

Medidas de monitoramento daimplementação da IN nº 51/2002

Prevendo-se dificuldades de implemen-tação na Região Centro-Sul, no que se refere aosanexos IV (Regulamento Técnico de Identidadee Qualidade de Leite Cru Refrigerado) e V(Regulamento Técnico de Identidade eQualidade de Leite Pasteurizado), o OfícioCircular/Dipoa nº 24/2005, de 29/6/2005,estabeleceu que nos próximos seis meses a partirde 1/7/2005 haveria uma fase de transição paraa implantação dos novos parâmetros de controleda qualidade do leite produzido e/ou distribuídonas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Estabeleceu-se que durante essa fase detransição não seriam aplicadas as medidas decaráter de fiscalização. Nesse período, oobjetivo seria levantar informações acerca dosrequisitos estabelecidos na IN nº 51/2002 como,por exemplo, as condições de transporte e as

temperaturas de manutenção e de recepção doleite. Os dados obtidos seriam então tabuladose analisados em dois ciclos de três meses, parafins de identificação dos entraves que estives-sem dificultando a execução dos procedimentosprevistos. Tais informações serviriam paradefinir políticas futuras para o setor, facilitando,assim, a implementação dos objetivos da IN nº51/2002.

Mesmo no caso de não atendimento aosrequisitos constantes do Regulamento Técnicosobre o leite cru refrigerado, na fase de transiçãoos produtores não seriam impedidos de fornecermatéria-prima aos estabelecimentos processado-res, e receberiam orientação sobre como aplicaras Boas Práticas de Manejo e Ordenha, as quaisos ajudariam a atingir os padrões previstos nainstrução normativa.

Também nesse período os estabelecimentosdeveriam cadastrar seus fornecedores no Sistemade Informações Gerenciais do Serviço de InspeçãoFederal (Sigsif). Para isso, o Departamento deInspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa)disponibilizaria, para os estabelecimentos indus-triais, a respectiva senha de acesso ao móduloCadastro Nacional de Produtores do Sistema.

De qualquer forma, as indústrias deveriammonitorar a qualidade da matéria-prima nostermos da IN nº 51/2002, encaminhando, para isso,as amostras de leite para uma das unidades daRede Brasileira de Laboratórios de Controle daQualidade do Leite (RBQL).2

AntecedentesCom base em discussões anteriores, as

quais constataram a insuficiente qualidade doleite produzido no País, a Portaria nº 166, de 5de maio de 1998, do Mapa, criou um grupo detrabalho para propor um programa de medidasvisando ao aumento da competitividade e àmodernização do setor lácteo nacional.

2 A Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite (RBQL) foi constituída pela Instrução Normativa nº 37/2002, de 18/4/2002, publicada no DOUde 19/4/2002. Suas unidades constam do Ofício Circular nº 17/2004 do Dipoa/Dilei.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200635

Esse grupo desenvolveu uma primeiraversão do Programa Nacional de Melhoria daQualidade do Leite (PNMQL), projeto que vinhasendo discutido desde 1996, e o submeteu àconsulta pública por meio da Portaria nº 56, de7/12/1999, publicada pela Secretaria de DefesaAgropecuária (SDA).

O resultado desses procedimentos foi aelaboração da IN nº 51/2002, que entãodeterminou novas normas de produção, deidentidade e de qualidade dos leites tipo A, B,C, pasteurizado e cru refrigerado, além deregulamentar a identidade e qualidade do leitecru refrigerado, de seu transporte a granel, bemcomo do leite pasteurizado.

Quadro geral da produção formal(sob inspeção) de leite no País

Para fins de demonstração da situaçãoatual da produção formal de leite no País, ouseja, da produção de leite sob inspeção federal,estadual ou municipal, comparou-se a produçãoformal com a produção total do Brasil, porregiões e estados, em 2003, por tratar-se essedo último ano para cuja produção total de leiteo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) dispunha de estatísticas (IBGE, 2005. Daprodução total, foi retirada a produção do leitedestinado ao autoconsumo na propriedade,representado pelo aleitamento e o consumointerno da fazenda (Tabela 1).

Como previsto, o Sudeste é a região com omaior percentual de leite sob inspeção emcomparação ao total produzido para o mercado,79,3%, com destaque para São Paulo, onde o leiteinspecionado representa 138,74% do totalproduzido. Isso faz desse estado não apenas omaior consumidor, mas também o grande centroprocessador e importador de leite, principalmentede Minas Gerais.

As regiões Sul e Centro-Oeste apresentam,aproximadamente, os mesmos percentuais deconsumo formal de leite em relação ao totalproduzido (descontada ai a produção paraautoconsumo), 60,65% e 63,10%, respectiva-

mente. Rio Grande do Sul (70,33%) e Goiás(68,62%) são os estados que apresentam o maiorpercentual de consumo formal de leite.

Na Região Norte, com uma proporção de63,01% de consumo industrial de leite sobinspeção, chama a atenção o nível de consumoformal do leite em Rondônia (109,43% do totalproduzido), o que caracteriza esse estado, deforma similar ao Estado de São Paulo, comogrande importador e processador de leite. Trata-se de um estado com baixo grau de concen-tração industrial, que possui mais de quarentalaticínios em funcionamento, os quais abaste-cem ainda os estados do Acre, do Pará e doAmazonas. Esse fato indica que o consumoformal de leite é diretamente proporcional àquantidade de laticínios em operação no estado,bem como à abrangência de seus sistemas decomercialização.

No Nordeste, o percentual de consumoformal de leite, que é de apenas 30,29% do totalproduzido (menos o autoconsumo), situa-seentre um mínimo de 8,45% na Paraíba e ummáximo de 50,04% no Rio Grande do Norte.Esses números revelam as dificuldades daregião no que se refere ao consumo de leitesob inspeção.

Tais dificuldades foram contempladaspela IN nº 51/2002, que as levou em conta aoamparar as regiões Norte e Nordeste com aprevisão de um calendário diferenciado, secomparado ao da Região Centro-Sul, deadequação aos requisitos de qualidade do leite.

A Tabela 1 mostra que, de 2000 a 2004, oconsumo industrial formal de leite cresceu, noPaís todo, a uma taxa anual de 4,62%. De 2003a 2004, esse consumo aumentou 6,42%, aindaque, relativamente à média do consumoverificado no período de 2000 a 2004, tenhahavido uma redução dele nas regiões Norte eCentro-Oeste; nessa última uma reduçãomínima. Já na comparação do primeiro trimestrede 2005 com igual período do ano anterior,constata-se significativo aumento do consumoformal de leite em todas as regiões, o que revelauma tendência nacional de crescimento daindustrialização de leite sob inspeção.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 36

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200637

De uma maneira geral pode-se concluir,a partir de dados estimados para 2005 (Tabela2), que 70,26% da produção total de leite daRegião Centro-Sul – descontada aí a produçãopara autoconsumo – deverá ser atingida pelasnovas exigências normativas, ou 13,4 bilhõesde litros que estão hoje sob inspeção, estandofora do sistema oficial de inspeção cerca de 5,7bilhões de litros (Tabela 2).

As regiões Norte e Nordeste, estima-se,produzirão, em 2005, um total de 3,7 bilhõesde leite (descontada a produção para auto-consumo), dos quais 1,6 bilhão de litros (42,53%do total) estarão inspecionados e 2,1 bilhões(57,47% do total) serão disponibilizados nomercado informal. Conforme previsto, essasregiões só terão que cumprir com as exigênciasde padrões de identidade e qualidade do leitecru refrigerado a partir de 1º/7/2007.

A Portaria Mapa nº 351, de 16/8/2005,publicada no DOU em 17/8/2005, submeteu àconsulta pública o anteprojeto de decreto queregulamenta a Lei nº 9.712, de 20/11/1998, quealtera a Lei nº 8.171 (Lei Agrícola), de 17/1/1991, e institui o Sistema Unificado de Atençãoà Sanidade Agropecuária (Suasa), propondonovas orientações sobre os limites de comer-cialização de produtos pecuários e sua vincula-ção com os níveis de fiscalização federal,estadual e municipal3 (BRASIL, 2005a).

Ao aprofundar o processo de regionali-zação dos procedimentos de fiscalização, sem

Tabela 2. Estimativa para 2005 de consumo de leite formal e informal, por grandes regiões(em 1.000 litros).

(1) Auto-consumo.Fonte: IBGE (2005).

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Quantidade

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%

perda do nível de exigências, e possibilitando umacomercialização mais ampla, essa nova regula-mentação deverá incentivar o aumento doconsumo formal de leite no País, por parte depequenos e médios laticínios, e contribuirá paraalcançar os objetivos da IN nº 51/2002.

A Instrução Normativa nº 51/2002A IN nº 51/2002 aprovou os seguintes

regulamentos técnicos, constantes de seusanexos I a VI: I) Regulamento Técnico deProdução, Identidade e Qualidade de Leite TipoA; II) Regulamento Técnico de Produção,Identidade e Qualidade de Leite Tipo B; III)Regulamento Técnico de Produção, Identidadee Qualidade de Leite Tipo C; IV) RegulamentoTécnico de Identidade e Qualidade de Leite CruRefrigerado; V) Regulamento Técnico deIdentidade e Qualidade de Leite Pasteurizado;e VI) Regulamento Técnico da Coleta de LeiteCru Refrigerado e seu Transporte a Granel.

Define-se por leite, sem outra especifica-ção, o produto da ordenha completa, ininter-rupta e higiênica de vacas sadias, bem alimen-tadas e descansadas. O produto ordenhado deoutros animais deve denominar-se segundo aespécie de que proceda.

A seguir são comentados os principaispontos dos regulamentos técnicos que tratamdo leite cru refrigerado, do leite pasteurizado eda coleta do leite cru refrigerado e de seutransporte a granel.

3 O Suasa foi regulamentado pelo Decreto nº 5.741, de 30/3/2006.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 38

Leite cru refrigeradonas propriedades rurais

O leite cru refrigerado, qualquer que sejao seu tipo, é aquele produzido nas propriedadesrurais do território nacional e destinado àpasteurização para posterior consumo humanodireto, ou então para que seja transformado emderivados em estabelecimentos industriaissubmetidos à inspeção sanitária oficial.

Deverá ser mantido em temperaturamáxima de 7oC, na propriedade rural ou emtanque comunitário, alcançada em até três horasapós a ordenha, e ser transportado em carrotanque isotérmico, da propriedade rural para umposto de refrigeração de leite ou estabelecimentoindustrial adequado, onde deverá ser mantido nomáximo a 10oC, até ser processado.

A água da propriedade produtora, comequipamento automático de cloração, decontrole diário, deve apresentar as caracterís-ticas de potabilidade fixadas no Regulamentoda Inspeção Industrial e Sanitária de Produtosde Origem Animal (Riispoa).

O controle da qualidade do leite, nafreqüência e para os itens de qualidadeestipulados no regulamento, será feito pela coletade amostras na propriedade rural ou noestabelecimento beneficiador. Entretanto, o seureconhecimento só se dará, nos termos doRegulamento Técnico de Identidade e Qualidadedo Leite Cru Refrigerado, pelo sistema oficial deinspeção sanitária a que estiver vinculado oestabelecimento, quando for realizado emunidade operacional da Rede Brasileira deLaboratórios de Controle da Qualidade do Leite(RBQL), conforme Instrução Normativa nº 37/2002, ou integrante da Coordenação deLaboratório Animal (CLA), do Departamento deDefesa Animal (DDA), vinculado à Secretaria deDefesa Agropecuária do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (SDA/Mapa) ou poresse credenciada.

A coleta das amostras nos tanques derefrigeração (individuais ou comunitários), o seuencaminhamento e o requerimento pararealização de análises laboratoriais de caráteroficial, na freqüência e para os itens dequalidade estipulados na Tabela 3, devem serde responsabilidade do estabelecimento queprimeiramente receber o leite de produtoresindividuais, assim como correr a expensas desseestabelecimento.

O SIF/Dipoa pode, a seu critério, colheramostras de leite cru refrigerado na propriedaderural para fins de realização de análises fiscaisem laboratório oficial do Mapa, ou mesmo emunidade operacional credenciada pela RBQL.Neste último caso, os custos financeirosdecorrentes da realização das análiseslaboratoriais e da remessa dos resultadosanalíticos, ao fiscal federal agropecuárioresponsável pela coleta das amostras, corrempor conta da unidade operacional credenciada.

O transporte do leite cru refrigerado deveser realizado de acordo com o disposto noRegulamento Técnico para Coleta de Leite CruRefrigerado e seu Transporte a Granel.

É admitido o transporte do leite em latões,ou em tarros, e em temperatura ambiente, desdeque: 1) o estabelecimento processador aceitetrabalhar com esse tipo de matéria-prima; 2) amatéria-prima atenda aos padrões de qualidadefixadas em regulamento técnico, em conformi-dade com o calendário da região; e 3) o leite sejaentregue, ao estabelecimento processador, nomáximo até duas horas após a ordenha.

A Tabela 3 apresenta o calendário para aprogressiva melhoria da qualidade do leite: de1º/7/2002 a 1º/7/2011, para as regiões Sul,Sudeste e Centro-Oeste; e de 1º/7/2002 a1º/7/2012 para as regiões Norte e Nordeste.

Para que a adaptação de produtores e delaticínios seja progressiva, a adequação do setorlácteo ocorrerá em quatro etapas.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200639

Na primeira etapa, de 1º/7/2002 a1º/7/2005, para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e de 1º/7/2002 a 1º1/7/2007 para asregiões Norte e Nordeste, aos estabelecimentosque se habilitaram, antecipadamente, nostermos do regulamento técnico específico,tornou-se obrigatória a refrigeração do leite eseu transporte a granel até a plataforma dolaticínio, com contagem máxima de 1 milhãode Unidades Formadoras de Colônias pormililitro (UFC/ml) para o teste Contagem Padrãoem Placas, ou Contagem Bacteriana Total (CPP/CBT); e a contagem máxima de 1 milhão decélulas somáticas por mililitro (CS/ml) para oteste Contagem de Células Somáticas (CCS).

Enquanto o CPP/CBT é um indicador daqualidade do leite em termos de higiene, desanitização dos sistemas de ordenha e de tanques

de expansão e velocidade de resfriamento, o testeCCS é um indicador da sanidade e do bem-estardo rebanho, pois detecta a incidência de mastite.

Torna-se também obrigatório o atendi-mento aos requisitos mínimos de matéria gorda,de densidade relativa, de acidez titulável, deextrato seco desengordurado, de índice crioscó-pico máximo e de nível de proteínas, conformediscriminado na Tabela 4, independentementedo tipo de leite, da região ou do período.

De 1º/7/2005 a 1º/7/2008 (para as regiõesSul, Sudeste e Centro-Oeste) e de 1º/7/2007 a1º/7/2010 (para as regiões Norte e Nordeste),passa a ser obrigatória para todos os estabele-cimentos, com as ressalvas já apresen-tadasneste texto, a aplicação dos testes CPP e CCS,com, no máximo, 1 milhão de UFC/ml e1 milhão CS/ml, respectivamente.

Tabela 3. Requisitos microbiológicos, físicos, químicos, de CCS, de resíduos químicos do Leite Cru Refrigeradoa serem avaliados pela Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite.

Obs.: Pesquisa de Resíduos de Antibióticos/outros inibidores do crescimento microbiano: limites máximos previstos no Programa Nacional deControle de Resíduos – MapaTemperatura máxima de conservação do leite: 7ºC na propriedade rural/tanque comunitário e 10ºC no estabelecimento processador.Composição centesimal: ver índices estabelecidos na Tabela 4.Prazos de vigência Leite tipo C, Cru ou Pasteurizado, conforme Regulamento Técnico específico: até 01.07.2005 nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e até 01.07.2007 nas regiões Norte e Nordeste.Fonte: Brasil (2002).

Contagem Padrão emPlacas(CPP) expressa

em UFC/mL (mínimo deuma análise mensal

com média geométricasobre 3 meses)

Método FIL 100 B:1991

Contagem de CélulasSomáticas (CCS),

expressa em CS/mL(mínimo de uma

análise mensal commédia geométricasobre 3 meses)

Método FIL 148 A:1995

Índice medido(por propriedade

rural ou portanque comunitário)

Máximo 1,0 x 106 paraestabelecimentos que

se habilitaremantecipadamente aos

termos doRegulamento Técnico

específico

Máximo 1,0 x 106 paraestabelecimentos que

se habilitaremantecipadamente aos

termos doRegulamento Técnico

específico

Até 01.07.2005Regiões: S/SE/CO

Até 01.07.2007Regiões: N/NE

Máximo 1,0 x 106

para todos osestabelecimentos,

nos termos doRegulamento

Técnico específico

Máximo 1,0 x 106

para todos osestabelecimentos,

nos termos doRegulamento

Técnico específico

De 01.07.2005até 01.07.2008

(S/SE/CO)De 01.07.2007até 01.07.2010

(N/NE)

Máximo de7,5 x 105

Máximo de7,5 x 105

De 01.07.2008até 01.07.2011

(S/SE/CO)De 01.07.2010até 01.07.2012

(N/NE)

Máximo de1,0 x 105

(individual)

Máximo de3,0 x 105

(leite deconjunto)

Máximo de4,0 x 105

A partir de01.07.2011(S/SE/CO)A partir de01.07.2012

(N/NE)

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 40

Tabela 4. Requisitos físicos e químicos do Leite Cru Refrigerado.

Fonte: Brasil (2002).

Matéria gorda, g/100 gDensidade relativa a 15/15ºC g/mLAcidez titulável, g ácido lático/100 mLExtrato seco desengordurado, g/100 gÍndice crioscópico máximoProteínas, g/100 g

Requisitos físicos e químicos

Teor original com o mínimo de 3,01,028 a 1,0340,14 a 0,18min. 8,4-0,53 H (equivalente a -0,512ºC)min. 2,9

Limites

FIL 1 C: 1987LANARA/MA, 1981LANARA/MA, 1981FIL 21 B:1987FIL 108 A:1969FIL 20 B:1993

Método de análise

De 1º/7/2008 a 1º/7/2011 (para as regiõesSul, Sudeste e Centro-Oeste) e de 1º/7/2010 a1º/7/2012 (para as regiões Norte e Nordeste),os testes CPP e CCS deverão ser feitos com, nomáximo, 750 mil UFC/ml e 750 mil CS/ml,respectivamente.

A partir de 1º/7/2011 (para as regiões Sul,Sudeste e Centro-Oeste) e de 1º/7/2012 (para asregiões Norte e Nordeste), o teste CPP deverá serfeito com, no máximo, 100 mil UFC/ml, para oprodutor individual, e com, no máximo, 300 milUFC/ml para o leite de tanques comunitários. Noque se refere ao teste CCS, esse deverá ser feitocom, no máximo, 400 mil CS/ml, independen-temente de o leite ser de origem individual ouproveniente de tanque comunitário.

A Tabela 5 apresenta a composição e osrequisitos físicos, químicos e microbiológicos do

leite cru refrigerado tipos A, B e C, bem comoos métodos de análise para seu controle.

Além do tempo necessário à realizaçãodo teste redutase de detecção de antibióticosno leite (encontrado principalmente em leite degado submetido a tratamento contra mastite,que o torna impróprio para o consumo), bemcomo a realização do teste alizarol 76% no leitetipo C recebido em latões após as 10 horas, oque diferencia os três tipos de leite são osrequisitos exigidos para a realização dos doisprincipais testes (CPP/CBT e CCS), que deverãovir em um máximo de 10 mil UFC/ml e de 600mil CS/ml para a análise do tipo A; e de 500 milUFC/ml e de 600 mil CS/ml para a análise dotipo B, respectivamente.

Para os leites dos tipos A e B, é obrigatóriapelo menos uma análise mensal por meio dos

Tabela 5. Composição e requisitos físicos, químicos e microbiológicos do leite cru refrigerado.

(1) Aplicável ao Leite Cru tipo C e Leite Cru Refrigerado tipo C.(2) Aplicável à matéria-prima recebida em estabelecimentos sob SIF após as 10:00 horas da manhã do dia de sua obtenção.Fonte: Brasil (2002).

Gordura (g/100 g)

Acidez, em g de ácido láctico/100 mL

Densidade relativa, 15/15ºC, g/mL

Índice crioscópico máximo

Índice de Refração doSoro Cúprico/20ºC

Sólidos Não-Gordurosos (g/100g)

Proteína Total (g/100 g)

Redutase (TRAM)

Estabilidade ao Alizarol 72% (v/v)

Estabilidade ao Alizarol 76% (v/v)(2)

Contagem Padrão em Placas (UFC/mL)

Contagem de Células Somáticas (CS/mL)

I tem

min. 3.0

0,14 a 0,18

1,028 a 1,034

- 0,53ºH (-0,512ºC)

min. 37º Zeiss

min. 8,4

min. 2,9

min. 5 horas

Estável

-

max. 1 x 104

max. 6 x 105

Tipo A

min. 3,0

0,14 a 0,18

1,028 a 1,034

- 0,53º H (-0,512ºC)

min. 37º Zeiss

min. 8,4

min. 2,9

min. 3,5 horas

Estável

-

max. 5 x 105

max. 6 x 105

Tipo B

min. 3,0

0,14 a 0,18

1,028 a 1,034

- 0,53ºH (-0,512ºC)

min. 37º Zeiss

min. 8,4

min. 2,9

min. 90 minutos

Estável

Estável

-

-

Tipo C(1)

IDF 1 C: 1987

LANARA/MA 1981

LANARA/MA 1981

IDF 108 A: 1969

CLA/DDA/SDA/MAPA

IDF 21 B:1987

IDF 20 B:1993

CLA/DDA/MA

CLA/DDA/MA

CLA/DDA/MA

SDA/MA 1993

IDF 148 A 1995

Método deanálise

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200641

testes de Contagem Padrão em Placas (ContagemBacteriana Total), de Contagem de CélulasSomáticas e de Pesquisa de Resíduos deAntibióticos. Esses três testes devem ser realizadosem laboratórios da Rede Brasileira de Laboratóriospara Controle da Qualidade do Leite, indepen-dentemente dos testes feitos pelo programa dequalidade interno do estabelecimento proces-sador ou da granja leiteira.

Para o controle do leite tipo C, no entanto,cujos procedimentos são diferenciados caso oleite provenha de um produtor, ou de umconjunto de produtores, não se exige essepadrão, e o seu regulamento técnico perdeu avalidade na Região Centro-Sul desde 1º/7/2005,tanto para o cru como para o pasteurizado,embora permaneça em vigor nas regiões Nortee Nordeste até 1º/7/2007.

Identidade e qualidadedo leite pasteurizado

Trata-se, o pasteurizado, do leite elaboradoa partir do leite cru refrigerado, na propriedaderural, que apresente as especificações deprodução, de coleta e de qualidade, da matéria-prima, contidas em regulamento técnico próprio,e tenha sido transportado a granel até oestabelecimento processador.

Quanto ao teor de gordura, o leitepasteurizado deve ser classificado como: integral(leite pasteurizado integral), padronizado a3% m/m – três por cento massa/massa (leitepasteurizado padronizado), semidesnatado (leitepasteurizado semidesnatado), ou desnatado (leitepasteurizado desnatado), e rotulado segundo o tipo(A, B ou C). Quando destinado ao consumohumano diretamente na forma fluida, deve sersubmetido a tratamento térmico na faixa detemperatura de 72o a 75oC, de 15 a 20 segundos,em equipamento de pasteurização a placas,seguido de resfriamento imediato, em aparelha-gem também a placas, até temperatura igual ouinferior a 4oC, assim como envasado em circuitofechado, e no menor prazo possível, sob condiçõesque minimizem contaminações.

Deverá constar, no rótulo do vasilhameem que for acondicionado o leite, o termo“homogeneizado”, quando o produto tiver sidosubmetido a esse tratamento.

Em laticínios de pequeno porte, poderáser adotado o processo de pasteurização lentana produção de leite para abastecimentopúblico, ou mesmo para a produção dederivados lácteos, desde que: 1) o equipamentode pasteurização a ser utilizado atenda aosrequisitos determinados no Regulamento deInspeção Industrial e Sanitária de Produto deOrigem Animal (Riispoa, ou especificados emregulamento técnico específico; 2) o envase sejarealizado em circuito fechado, no menor tempopossível e sob condições que minimizemcontaminações; 3) a matéria-prima satisfaça àsespecificações de qualidade estabelecidas pelalegislação referente à produção de leitepasteurizado, excetuando-se a refrigeração doleite e seu transporte a granel, quando o produtopuder ser entregue em latões, ou em tarros, ena temperatura ambiente do estabelecimentoprocessador em, no máximo, até duas horasapós o término da ordenha; e 4) o leite a sersubmetido à pasteurização lenta não tenha sidopreviamente envasado em estabelecimento sobinspeção sanitária federal.

O leite pasteurizado deve ser envasadocom materiais adequados às condições dearmazenamento previstas, em embalagemhermética e com proteção apropriada contra acontaminação.

O leite pasteurizado deve ser expedidopara o comércio distribuidor sob temperaturamáxima de 4oC, mediante acondicionamentoadequado em veículo provido de isolamentotérmico e de unidade frigorífica, com a garantiade que o produto alcançará os pontos de vendacom temperatura não superior a 7oC.

A qualidade mínima do leite pasteurizado,conforme os tipos A, B e C, é definida na Tabela 6.

Os tipos A, B e C de leite pasteurizadoserão diferenciados pelo teste de ContagemPadrão em Placas, pela pesquisa de coliformes

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 42

a 30/35oC, e a 45oC, assim como pelo teste depresença de Salmonella spp., com padrõesdiferenciados de requisitos mínimos. Para adiferenciação do leite pasteurizado tipo C ostestes enzimáticos não são necessários.

Os métodos de análise previstos noregulamento são apenas uma referência, umavez que, desde que conhecidos seus desvios ecorrelações em relação aos respectivosmétodos de referência, outros métodos decontrole operacional podem ser utilizados.

A responsabilidade pela seleção adequadada matéria-prima, e pelo controle de qualidadedurante a industrialização, é exclusiva doestabelecimento beneficiador até mesmo durantea distribuição do produto elaborado. A verificaçãodeve ser feita periódica ou permanentemente peloServiço de Inspeção Federal (SIF), de acordo comprocedimentos oficialmente previstos, a exemplodas Auditorias de Boas Práticas de Fabricação e

dos Sistemas de Análise de Perigos e de PontosCríticos de Controle (APPCC) de cada estabele-cimento, e segundo a classificação que talestabelecimento receber como conclusão daauditoria realizada.

A produção do leite pasteurizado e de outrosderivados lácteos deverá estar de acordo com oestabelecido no Regulamento Técnico sobre asCondições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticasde Fabricação para Estabelecimentos Elabora-dores/Industrializadores de Alimentos, Portaria nº368/97 do Mapa, de 4 de setembro de 1997,publicado no DOU de 8/9/1997, seção I, pág.16.697, normativo que internalizou a ResoluçãoMercosul GMC/RES nº 80/1996, de 11/10/1996,que entrou em vigor em 1/1/1997, RegulamentoTécnico do Mercosul sobre as CondiçõesHigiênico-Sanitárias e de Boas Práticas deFabricação para Estabelecimentos Elaboradores/Industrializadores de Alimentos.

Tabela 6. Composição e requisitos físicos, químicos e microbiológicos do Leite Pasteurizado.

(1) Integral (teor original); padronizado (3,0); semidesnatado (0,6 a 2,9); e desnatado (max. 0,5).(2) Teor mínimo de Sólidos Não Gordurosos (SNG) com base no leite integral. Para os demais teores de gordura, esse valor deve ser corrigido combase na seguinte fórmula: SNG = 8,652 - (0,084 x G), onde G é Gordura em g/100 g.(3) Padrões microbiológicos a serem observados até a saída do estabelecimento industrial, onde n = nº de amostras; c = nº de amostras entrem e M; m = limite mínimo e M = limite máximo, sendo UFC = unidades formadoras de colônias e NMP = número mais provável.

Fonte: Brasil (2002).

Gordura (g/100 g)

Acidez (g.ác.láctico/100 mL)

Estabilidade ao Alizarol 72% (v/v)

Sólidos não gordurosos (g/100 g)

Índice Crioscópico Máximo

Índice de Refração do SoroCúprico a 20ºC

Testes Enzimáticos:

prova de fosfatase e

prova de peroxidase

Contagem Padrãoem Placas (UFC/mL)(3)

Coliformes NMP/mL (30/35ºC)(3)

Coliformes NMP/mL (45ºC)(3)

Salmonella spp/25mL(3)

I tem

De acordo c/a classif.(1)

0,14 a 0,18

Estável

Min. de 8,4

-0,53ºH (-0,512ºC)

Min. 37º Zeiss

Negativa

Positiva

n = 5; c = 2m = 5,0x10²M =1,0x10³

n = 5; c = 0; m<1

n = 5; c = 0m = ausência

n = 5; c = 0m = ausência

Tipo A

De acordo c/a classif.(1)

0,14 a 0,18

Estável

Min. de 8,4

- 0,53ºH (-0,512ºC)

Min. 37º Zeiss

Negativa

Positiva

n = 5; c = 2m = 4,0x104

M =8,0x104

n = 5; c = 2; m=2; M=5

n=5; c=1m=1; M=2

n=5; c=0m=ausência

Tipo B

De acordo c/a classif.(1)

0,14 a 0,18

Estável

Min. de 8,4(2)

- 0,53ºH (-0,512ºC)

Min. 37º Zeiss

-

-

n = 5; c = 2m = 1,0x105

M =3,0x105

n = 5; c = 2; m=2; M=5

n=5; c=1m=1; M=2

n=5; c=0m=ausência

Tipo C**

IDF 1 C: 1987

LANARA/MA 1981

CLA/DDA/MA

IDF 21 B:1987

IDF 108 A: 1969

CLA/DDA/SDA/MAPA

LANARA/MA 1981

LANARA/MA 1981

SDA/MA 1993

SDA/MA 1993

SDA/MA 1993

SDA/MA 1993

Métodode análise

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200643

O consumo de leite pasteurizado no País

A Tabela 7 apresenta a situação nacionalde consumo de leites fluidos, pasteurizado eoutros, de 1990 a 2005.

Como sabido, a introdução no mercadobrasileiro do leite tipo Ultra-High Temperature(UHT), o longa vida, fez que a participação dosleites pasteurizados A, B e C no mercado fluidode leite se reduzisse de 95% (ou de 4,0 bilhõesde litros), em 1990, para 26,8% (ou para 1,6bilhões de litros) em 2005.

Na produção total do leite sob inspeção,a participação do leite pasteurizado diminuiude 23,6%, em 1997, para 10,9% em 2005(estimativa); e, em relação ao consumo nacionalde leite (equivalente a leite fluido), caiu de22,7% do total consumido, em 1991, para 6,8%em 2005 (estimativa).

Com as informações disponíveis até 2000,ao prever a extinção da produção de leite dotipo C pasteurizado a IN nº 51/2002 reconhecea tendência do mercado consumidor de virpreferindo os leites dos tipos A e B em detrimentoao do tipo C. O leite pasteurizado tem comodistribuidores preferenciais padarias e pequenosmercados, ainda que esteja disponível tambémem grandes redes varejistas.

Enquanto o consumo de leite tipo B passoude 8,6% do total de leite pasteurizado, em 1990,para 26,7% em 2000, a participação do tipo Ccaiu de 90,7% para 70,7%, no mesmo período.

Coleta de leite cru refrigeradoe seu transporte a granel

O Regulamento Técnico de Coleta de LeiteCru Refrigerado e de seu Transporte a Granel fixaas condições sob as quais o leite cru refrigerado,independentemente do seu tipo, deve ser coletadona propriedade rural e transportado, visando comisso promover a redução de custos de obtençãoe, principalmente, a conservação de suaqualidade até que seja recebido em estabeleci-mento industrial submetido à inspeção sanitáriaoficial.

O processo de coleta de leite crurefrigerado a granel consiste em recolher oproduto em caminhões munidos de tanqueisotérmico, internamente construídos de açoinoxidável, por meio de mangote flexível e debomba sanitária. Esse equipamento deve seracionado pela energia elétrica da propriedaderural, pelo sistema de transmissão ou pela caixade câmbio do próprio caminhão. Faz-se acoleta diretamente do tanque de refrigeração,por expansão direta, ou dos latões contidos nosrefrigeradores de imersão.

Em se tratando de tanque de refrigeraçãopor expansão direta, esse deverá ser dimensio-nado para que permita a refrigeração do leite auma temperatura igual ou inferior a 4oC, noprazo máximo de três horas após o término daordenha, independentemente de sua capaci-dade. No caso de tanque de refrigeração porimersão, a temperatura deverá ser igual ouinferior a 7oC.

É admitido o uso coletivo de tanques derefrigeração (tanques comunitários), desde quebaseados no princípio de operação por expansãodireta. A localização do equipamento deve serestratégica, de forma que facilite a entrega do leitede cada ordenha. Não é permitido acumular, emdeterminada propriedade rural, a produção demais de uma ordenha para o seu posterior envio,em uma única vez por dia, ao tanque comunitário.

No caso de tanque de expansãocomunitário, o responsável pela recepção doleite e a manutenção de suas adequadascondições operacionais deve realizar a provado alizarol, na concentração mínima de 72%v/v no leite de cada latão, antes de transferirseu conteúdo para o tanque. Esse procedimentoé de interesse de todos os usuários.

A capacidade do tanque de refrigeraçãopara uso coletivo deve ser dimensionada de modoque propicie condições mais adequadas deoperacionalização do sistema, particularmente noque diz respeito à velocidade de refrigeração damatéria-prima.

A transferência do leite do tanque derefrigeração por expansão direta para o carro

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 44

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14,6

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17,8

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26,7

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Tipo

B

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2.92

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Tip

o C

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200645

tanque deve se processar sempre em circuitofechado. Leites de diferentes tipos deverão serdepositados em compartimentos diferenciadosdevidamente identificados. Além disso, amedição de temperatura e o teste de alizarolestão entre os procedimentos a ser efetuadosantes do início da coleta.

Independentemente do tipo do leite, otempo transcorrido entre a ordenha inicial e achegada dele no local de beneficiamento(pasteurização, esterilização, etc.) deve ser de,no máximo, 48 horas; mas o ideal é que nãoultrapasse 24 horas.

Ao chegar no estabelecimento industrial,a temperatura máxima do leite cru refrigeradodeverá ser aquela estabelecida em regulamentotécnico específico (igual ou inferior a 7oC, parao tipo B, e igual ou inferior a 10oC, para o tipoC, enquanto houver produção desse último).

O leite que apresentar problemas devesofrer a destinação que lhe for conferida pelo planode controle de qualidade do estabelecimento, que,por sua vez, deve tratar dessa questão baseando-se nos critérios de Julgamento de Leite e ProdutosLácteos, do SIF/Dipoa.

Para fins de rastreamento da origem doleite fica expressamente proibida a recepçãode leite cru refrigerado transportado em veículode propriedade de pessoas físicas ou jurídicasindependentes, ou mesmo de pessoas nãovinculadas formal e comprovadamente aoPrograma de Coleta a Granel dos estabeleci-mentos controlados pelo Serviço de InspeçãoFederal (SIF), que realizem qualquer tipo deprocessamento industrial do leite, incluída ai suasimples refrigeração.

O produtor integrante de um programa degranelização é obrigado a cumprir as especifi-cações do Regulamento Técnico de Coleta deLeite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel.

O programa de coleta agranel e o pequeno produtor

Em pesquisas realizadas (BARROS et al.,2001), não se constatou associação entre a

qualidade do leite produzido e o tipo deprodutor. Muitas vezes a menor produção estáassociada à melhor qualidade, e isso graças aprocedimentos de manejo da matéria-prima ea instalações mais adequadas, como porexemplo nos casos da sanitização de latões edos sistemas de ordenha.

O pagamento por volume e a granelizaçãosão fatores de expulsão do pequeno produtor daatividade. Mesmo que contornados os problemasde recursos para o financiamento de novosequipamentos, a coleta a granel é mais vantajosapara volumes diários maiores.

A granelização é um fator muito mais deracionalização e redução de custos decaptação da indústria, e de preservação daqualidade da matéria-prima, do que uminstrumento para a melhoria da qualidade damatéria-prima, a qual é estabelecida nafazenda, pelos cuidados com a sanidade e obem-estar dos animais, assim como com ahigiene dos processos.

O destino dos pequenos produtores poderáser o de abandonar a atividade, o de vender seuproduto para pequenos laticínios que atuam nomercado informal, ou o de organizarem-se emassociações para vendê-lo, em volume maior, paraos laticínios do mercado formal.

As miniusinas, pequenos estabelecimentospara o beneficiamento do leite, são constituídas,inicialmente, por produtores que buscam agregarvalor à sua produção. O pequeno empresáriopassa a comprar matéria-prima de produtoresvizinhos e, em muitos casos, abandona a produçãoleiteira e dedica-se exclusivamente à captação eao processamento de leite fornecido por terceiros.

O mercado dos produtos das miniusinas éregional, e é na comercialização que esse sistemaprodutivo encontra seus limites devidos, entreoutros motivos, às barreiras à comercializaçãoadvindas da antiga lei de inspeção sanitária,modificada pelo Decreto que regulamentou oSistema Unificado de Atenção à SanidadeAgropecuária. No sistema antigo, o alcance dacomercialização está vinculado ao tipo de

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inspeção (federal, estadual ou municipal), o queimpede pequenos e médios laticínios negociaremseus produtos em um mercado amplo. Hátambém, em municípios maiores, dificuldades paraque supermercados negociem prazos, preços eoutras condições com esses laticínios.

No caso dos pequenos produtores, osprincipais impedimentos para sua adequaçãoàs novas disposições normativas são: falta derecursos para investimento; possível nãorentabilidade desses investimentos em face dospreços baixos e defasados pagos peloslaticínios; falta de estradas vicinais adequadas;insuficiência da eletrificação rural ou dadisponibilidade de energia elétrica de fontesalternativas, como painéis fotovoltaicos, turbinaseólicas, co-geração com uso de biogás, entreoutros. Mas ainda que contornados esses fatoreso pequeno produtor só se manterá no mercadoformal se houver, em sua região, um grandenúmero de laticínios que possam comercializarseus produtos num mercado amplo.

Dada a preponderância de pequenosprodutores, Rio Grande do Sul e Santa Catarinasão os principais estados com dificuldades deenquadramento nos critérios da IN nº 51/2002,embora essa instrução tenha previsto o prazo detrês anos, aproximadamente, para tal adequação.4

No caso da Região Sul, muitos dessespequenos produtores já foram excluídos deoutras atividades, como a produção integradade carnes: processo que demonstra a limitaçãoda reconversão produtiva apenas via mercadono setor agropecuário, e, atualmente, encon-tram na atividade de produção de leite sua fontede renda.

Sistemas de pagamentopor qualidade

O critério básico para um programa depagamento por qualidade é a composição do

leite. O sistema de preço do litro de leite éabandonado, e em seu lugar é adotado um outrode preço por quilograma de gordura, porquilograma de proteína, por quilograma delactose, etc., considerando-se que os cuidadosbásicos de higiene (CPP/CBT) e de sanidade(CCS) tenham sido obedecidos.

Os principais sistemas de pagamento porqualidade são (DÜRR et al., 2005):

a) Remuneração por infra-estrutura elimites mínimos de qualidade – Incentiva osprodutores que investem em resfriadores,pastagens, silagens, sanidade animal, ordenha-deira mecânica, etc. O leite será remuneradode acordo com os principais testes de quali-dade, como a Contagem de Células Somáticase a Contagem Padrão em Placas. Na verdade,esse sistema é o pré-requisito para a adaptaçãodos produtores às exigências específicas daindústria e, no caso da IN nº 51/2002, é umanecessidade de adequação às determinaçõesnormativas legais.

b) Remuneração baseada nos componentes(gordura, proteína, etc.) do leite – As indústriaspassam a remunerar o produtor em razão daquantidade de cada componente do leite quepossua valor industrial.

c) Remuneração baseada no destinoindustrial do leite – Pagamento de fornecedoresde matéria-prima para o leite fluido (melhorqualidade); pagamento do leite-indústria (comdiferenciais de requisitos de componentessólidos de acordo com o produto a ser fabricado– leite em pó, queijo, manteiga, etc.); e outros.

Desde julho de 2005, alguns laticíniospassaram a bonificar o produtor de leite pelaqualidade da matéria-prima, além de mante-rem, com alguma redução no diferencial depreços para grandes e pequenos produtores, opagamento por volume.

A classificação dos produtores passa a serestabelecida de acordo com o padrão alcan-

4 O Projeto de Decreto Legislativo nº 1.793, de 13/7/2005, em tramitação na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural daCâmara dos Deputados, propõe sustar os efeitos da IN nº 51/2002por tempo suficiente para implementar as condições técnicas e econômicas necessárias aoalcance dos critérios normativos estabelecidos. (BRASIL, 2005).

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çado nos testes de: Contagem Bacteriana,Contagem de Células Somáticas, níveis deproteína e gordura, entre outros.5 O produtorserá remunerado conforme a categoria em quese enquadre, e seu desempenho será registradono Boletim de Análise Mensal do Leite doProdutor, mantido pelo estabelecimento bene-ficiador.

Comentários finaisAlém da exigência de requisitos mínimos

para o controle de qualidade de todos os tiposde leite, independentemente da região ou doperíodo, em termos de matéria gorda, dedensidade relativa, de acidez, de extrato secodesengordurado, de índice crioscópico e denível de proteínas, o principal elemento demonitoramento da qualidade do leite é aobrigatoriedade – sob responsabilidade doestabelecimento industrial – de realização dostestes de Contagem Padrão em Placas/ContagemBacteriana Total, de Células Somáticas e deResíduos de Antibióticos, pelo menos uma vez aomês, em laboratórios credenciados. Essesprocedimentos significam um aumento daeficiência dos sistemas oficiais de inspeção.

O leite tipo C, cujo Regulamento Técnicoperdeu a validade em 1º/7/2005 na Região Centro-Sul e, em 1º/7/2007, nas regiões Norte e Nordeste,deverá desaparecer progressivamente assim queos produtores passarem a entregar a matéria-primano padrão exigido para outros tipos de leite.

A coleta a granel representa uma melhoriano processo de manutenção da qualidade damatéria-prima estabelecida na fazenda produtorapela atenção à sanidade e ao bem-estar dosanimais, além de pela atenção aos regulamentosde higiene, e consolida-se como um método deredução de custos de coleta por parte dosestabelecimentos industriais.

A expulsão dos pequenos produtores deleite se dá muito mais pela inexistência de um

grande número de laticínios, com escala emercados rentáveis, que possibilite a entregada matéria-prima em uma distância economi-camente viável, do que pelas novas disposiçõesnormativas de qualidade do leite.

O decreto que institui o Sistema Unificadode Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa),no âmbito da Lei Agrícola, aprofunda aregionalização do processo de fiscalização,com equivalência dos três sistemas e sem perdade eficiência, o que deverá incentivar oaumento do consumo formal de leite no País,pela ampliação dos mercados dos pequenos emédios estabelecimentos industriais, econtribuirá para o alcance dos objetivos daInstrução Normativa nº 51/2002.

A elaboração de um calendáriodiferenciado para o atendimento aos requisitosde qualidade para as regiões Centro-Sul eNorte/Nordeste procurou amparar a diversidadehoje existente no processamento de leite sobinspeção mediante a previsão de prazosdiversos para a adequação por parte dosprodutores e da indústria.

Os dispositivos normativos da IN nº 51/2002são medidas que, em conjunto com outras, comoa de erradicação de doenças, a de manejo depastagens, e a de educação e treinamento dosfuncionários das fazendas, poderão atendermelhor ao consumidor e às indústrias produtorasde derivados lácteos, ampliando, adicionalmente,os mercados para exportação.

ReferênciasANUALPEC 2005: anuário da pecuária brasileira. SãoPaulo: FNP Consultoria & Agroinformativos, 2005. SeçãoPecuária de Leite, Tabela PRDNLT01.

ABLV. Associação Brasileira do Leite Longa Vida. TabelaBrasil: mercado total de leite fluido. Disponívelem:<www.ablv.org.br>. Acesso em: 12 set. 2005.

BARROS, G. S de C.; GALAN, V. B.; GUIMARÃES, V. A;BACCHI, M. R. P. Sistema agroindustrial do leite no Brasil.Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2001.

5 Na União Européia, a qualidade média do leite apresenta as seguintes características: contagem bacteriana total menor que 25 mil/ml; contagem de célulassomáticas menor que 250 mil/ml; 4,2% de gordura; e 3,35% de proteína.

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BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária eAbastecimento. Instrução Normativa nº 51 de 2002. DiárioOficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,20 set. 2002.

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária eAbastecimento. Portaria nº 351/2005, Diário Oficial daUnião, Brasília, DF, 17 ago. 2005.

BRASIL. Decreto nº 5.741 de 30 de março de 2006.Regulamenta os arts. 27-A, 28-A e 29-A da Lei no 8.171,de 17 de janeiro de 1991, organiza o Sistema Unificado deAtenção à Sanidade Agropecuária, e dá outras providências.Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,DF, 31 mar. 2006.

BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados. Projeto deDecreto Legislativo nº 1.793 de 13 de julho de 2005, dosDeputados. Vignatti e Orlando Desconsi. Susta os efeitosda Instrução Normativa nº 51, de 18 de Setembro de 2002,do Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, que aprova os Regulamentos Técnicos deProdução, Identidade e Qualidade do Leite. Brasília, DF,13 jul. 2005.

DÜRR, J. W.; Verner, L. A.; TOMAZI, T. Pagamento do leitepor qualidade no Brasil. In: CARVALHO, M. P. de; SANTOS,M. V. dos (Org.). Estratégia e competitividade na cadeiade produção de leite. Passo Fundo: Berthier, 2005.

EMBRAPA GADO DE LEITE. Tabelas 07.01: vendas de leitefluido e leite longa vida no Brasil 1990-2002 e 07.04consumo brasileiro de leite pasteurizado 1990-2000.Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br/producao/07consumo.php>. Acesso em: 11 ago. 2005.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. SistemaIBGE de Recuperação Automática (Sidra), tabela 74:produtos de origem animal por tipo de produto e tabela599: quantidade de leite cru ou resfriado adquirido.Disponível em:<www.sidra.ibge.gov.br> Acesso em: set.2005.

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O mutualismocomo forma degestão de riscona agricultura

Vitor A. Ozaki1

1 Doutor em Economia Aplicada. Pesquisador do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP. [email protected].

Resumo: A agricultura é, notadamente, uma atividade que apresenta grau elevado de risco.Fenômenos climáticos extremos, por exemplo, podem afetar, de forma negativa, a produtividadee a rentabilidade do setor. Para protegerem-se desse risco os produtores utilizam mecanismos quebuscam mitigá-lo, dos quais o mutualismo é uma das formas mais antigas. Este artigo enfoca, demaneira analítica, as principais iniciativas dos produtores de criar, por meio de suas cooperativas,sociedades mútuas que os assegurem contra eventos aleatórios adversos.

Palavras-chave: fenômenos aleatórios adversos, risco agrícola, sociedades mútuas.

The role of mutual insurance to manage agricultural risks

Abstract: Agriculture is a highly risky economical activity. Extreme climatic events can negativelyaffect the agricultural yield and the sector profitability. To manage these risks producers used tochoose several risk management tools. Mutualism is one of the oldest forms. This article presentsanalytically how producers cope with their risks creating mutual societies to assure their incomesagainst adverse random events.

Keywords: adverse random events, agricultural risk, mutual societies.

IntroduçãoAo longo de sua história a humanidade

desenvolveu medidas de autoproteção paraprecaver-se contra eventuais desastres quecausassem alguma forma de prejuízo econômico.

Trata-se o mutualismo de uma das formas maisantigas de tais medidas de proteção.

Nesse mecanismo, vários indivíduos seunem por meio de estatutos para dividir danosou perdas que cada um poderia ter na

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ocorrência de determinado fenômeno aleatórioadverso. Por mutualismo entende-se: “a reuniãode um grupo de pessoas, com interessesseguráveis comuns, que concorrem para aformação de uma massa econômica com afinalidade de suprir, em determinado momento,necessidades eventuais de algumas daquelaspessoas.” (FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONALDE SEGUROS, 1996b, p. 9).

Nos seguros comerciais (aqueles opera-dos por seguradoras), o segurado paga umprêmio e recebe a indenização quando ocorreo sinistro.2

No seguro mútuo, em vez de pagarem umprêmio os segurados (mutualistas) contribuemcom cotas necessárias à cobertura de despesasde administração e dos prejuízos verificados. Aresponsabilidade pelo risco é, portanto,compartilhada por todos os mutualistas.

Do ponto de vista técnico, as operaçõesde seguro só se estruturam quando coletiva-mente organizadas. Já no aspecto jurídico, taisoperações se manifestam por meio de umacordo de vontades, tratando-se, portanto, deum negócio jurídico bilateral (FUNDAÇÃOESCOLA NACIONAL DE SEGUROS, 1996a).3

Os Decretos-lei nº 2.063, de 7 de marçode 1940, e nº 3.908, de 8 de dezembro de 1941,regulamentaram as operações das sociedadesmútuas de seguros no País; mas, na prática, elasnão funcionaram. Na medida em que nãotinham fim lucrativo, essas sociedades nãoincentivavam seus gestores a agir de forma quemaximizasse os lucros. Assim, e ao contráriodo que ocorre em outros países, tais sociedadesnão tiveram o sucesso esperado e foram por fimabolidas pelo legislador (VENOSA, 2002).

O Decreto-lei 73/66, que alterou,substancialmente, a legislação do seguro,inclusive o Decreto-lei nº 2.063/40, não permitiuàs sociedades mútuas o direito de exercer a

atividade seguradora, mas admitiu que ascooperativas pudessem operar segurosagrícolas (artigo 24).

Historicamente, no Brasil o setor rural tevede arcar com boa parte do risco intrínseco àatividade. As poucas experiências com o segurorural não apresentaram resultados satisfatórios.Em meados da década de 1950, o governofederal criou a Companhia Nacional de SeguroAgrícola (CNSA) – que durou apenas 13 anos –, aqual foi dissolvida, porém, pelo Decreto-lei nº 73,de 21 de novembro de 1966, em virtude dossucessivos déficits (OZAKI, 2005c).

Durante sete anos nenhuma política detransferência de risco foi adotada pelo governofederal. Apenas em 1973 o governo decidiuproteger o financiamento contraído pelosprodutores, com o Programa de Garantia daAtividade Agropecuária (Proagro). Atrasos nopagamento das indenizações, déficits e gravesproblemas de fraude deixaram o Programadesacreditado.

Em âmbito estadual, os produtorescontaram com cobertura restrita e abrangêncialimitada de algumas seguradoras estatais –Companhia de Seguros do Estado de São Paulo(Cosesp), em São Paulo; Banco do Estado deMinas Gerais (Bemge), em Minas Gerais; eCompanhia União de Seguros Gerais, no RioGrande do Sul (OZAKI, 2006).

Nesse contexto, independentemente dogoverno os produtores decidiram criar mecanis-mos para protegerem-se. Uma das opções maiseficazes são as sociedades mútuas, que vêm sendoadotadas por algumas cooperativas e associaçõesde produtores, em sua grande maioria na RegiãoSul do Brasil (OZAKI, 2005a).

De modo geral, esse mecanismo temapresentado resultados favoráveis (superávit)devidos à cobertura de riscos limitados eespecíficos, bem como ao eficiente controle dorisco moral a baixos custos.

2 Ocorrência do evento previsto em contrato de seguro que, legalmente, obriga a seguradora a indenizar.3 O contrato de seguros é bilateral, pois gera obrigações para ambos os participantes, o segurado e o segurador. O descumprimento de qualquer uma das

obrigações contratuais por uma das duas partes automaticamente desobriga a outra parte de cumpri-la.

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Uma de suas características positivas é aredução do risco de fraudes, pois, como osindivíduos participantes rateiam os eventuaisprejuízos, os segurados fiscalizam-se uns aosoutros (CAFFAGNI; MARQUES, 1999).

Contudo, um problema potencial domutualismo é a falta de algum tipo de resseguro,de reservas ou de fundos, pois o seguro não éelegível para a cobertura do Fundo de Estabili-dade do Seguro Rural (AZEVEDO-FILHO,2000).

Este artigo enfoca, de maneira analítica,as principais experiências das sociedadesmútuas no Brasil como alternativas aos seguroscomerciais para administrar o risco na atividadeagrícola. Como exemplos de mutualismo serãoabordadas as iniciativas da Cooperativa Agro-pecuária Batavo, da Cooperativa Agrária MistaEntre Rios, e da Associação dos Fumicultoresdo Brasil (Afubra).

Ressalta-se, aqui, que o estudo não apre-senta uma abordagem quantitativa, mas simuma análise qualitativa das sociedades mútuas.

Cooperativa AgropecuáriaBatavo Ltda.

A experiência de sociedade mútua daCooperativa Agropecuária Batavo Ltda. é umadas mais antigas e bem-sucedidas no Brasil.Localizada no Município de Carambeí, PR, essacooperativa criou, em 1985, o Fundo MútuoAgrícola (FMA), para proteger seus cooperadoscontra a redução de receita decorrente dedoenças, de granizo, de pragas e de seca, jáque não existiam métodos conhecidos oueconomicamente viáveis de profilaxia e decontrole. Tal experiência abrange as culturasda soja e do milho.

Uma das razões da criação do FMA foi odescontentamento dos cooperados com o Proagro,que apresentava atrasos excessivos no pagamentodas indenizações; custo final elevado – em razãodo processo de acompanhamento da safra –; esistema de baixa confiabilidade.

Até 1994, cada produtor contribuía comuma tarifa de 7% para a soja, e de 10% para omilho. A taxa de participação, ou prêmio, era atarifa multiplicada pelo custo médio deprodução Batavo que, por sua vez, eracalculado pelo Departamento de AssistênciaTécnica (DAT).

O importante a ressaltar é que a taxa eradepositada na cooperativa somente após acolheita. Caso não houvesse a comunicação denenhum sinistro, o cooperado ficaria isento dodepósito.

A cobertura era realizada sobre a diferençaentre a venda da produção restante e o custo deprodução. Se o volume de indenização fossemaior que o da taxa de participação, procedia-sea um rateio proporcional dos valores a indenizar.Caso contrário, o saldo excedente era devolvido,proporcionalmente, a cada segurado.

Para participar do seguro, o produtorcooperado deveria preencher certos requisitos:ter, nas últimas três safras, uma produtividademédia acima de 2.000 kg/ha para a soja, e de4.500 kg/ha para o milho; utilizar boa tecnologia;programar corretamente o plantio e aceitar asrecomendações do DAT. Além disso, deveriaadquirir os insumos da cooperativa e entregar-lhetoda a produção.

Recentemente, houve algumas mudançasno seguro. A taxa de participação não é maiscobrada, as indenizações totais são rateadasentre os cooperados após a colheita, e o riscomáximo de cada um é de 7% do custo individualde produção (CAFFAGNI, 1998).

Cooperativa AgráriaMista Entre Rios Ltda.

A Cooperativa Agrária Mista Entre RiosLtda. encontra-se no Distrito de Guarapuava,PR. Fundada em 1951, conta hoje com 400cooperados e, aproximadamente, com 90 milhectares de área plantada.

Em 1996, essa cooperativa implantou oplano privado de cobertura complementar dos

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prejuízos causados por granizo, criado com oprincipal objetivo de indenizar, com maisrapidez, e a custos menores que os do Proagro,os prejuízos causados pelo fenômeno.

As culturas cobertas por tal plano são ade soja e a de milho (no verão), assim como ade trigo, a de cevada e a de aveia no inverno.O seguro indeniza os custos dos insumos e dasoperações agrícolas efetivadas na lavoura,baseados em orçamentos levantados pelo DAT,o qual organiza uma planilha com o custo médioda cooperativa e os gastos de cada produtor.

Para o cálculo da indenização, conside-ram-se os custos dos insumos e das operaçõesagrícolas, deduzido o valor da produçãocolhida na mesma área, com preços demercado coletados em data específica.

A receita do plano, equivalente aoprêmio, é obtida quando se adiciona à diferençaanteriormente descrita o valor do custo davistoria. Dividindo-se esse montante pelo totalda área inscrita, determina-se, por hectare, umíndice indenizatório que, multiplicado pelo totalda área inscrita por cooperado, define o valordo rateio.

A adesão ao plano é facultativa, sendoobrigatória somente quando a cooperativaapresenta algum envolvimento com o produtor.Os gastos da vistoria efetuados pelos técnicos/peritos são também rateados, entre todos osparticipantes, no final do plano.

Além de cumprir todas as determinaçõesestatutárias por ela dispostas, comprar todos osinsumos na cooperativa, e vender toda a suaprodução por intermédio dela, é necessário queo cooperado utilize o nível de tecnologiaadequado.

Na safra 1996–1997, houve sinistros paraas culturas da aveia e da soja, o que nãoocorreu em relação ao trigo, à cevada e aomilho. O histórico de indenizações, em maisde dez anos de operação, tem mostrado aviabilidade do programa (SATTLER, 1998).

No caso do milho, por exemplo, nuncahouve indenização devida à ocorrência de

granizo, pois mesmo áreas atingidas por essefenômeno climático dificilmente produzemmenos que 3.500 kg/ha. A produtividade médiado milho na região é de 8.100 kg/ha.

No período 1996–1997 foram pagos, nocaso da aveia, pouco mais de R$ 2 mil emindenizações, em 43 hectares (de um total de 7mil hectares). Para a soja, quase R$ 16 mil, em242 hectares (de um total de 55 mil hectares).

Associação dos Fumicultoresdo Brasil (Afubra)

A Associação dos Fumicultores do Brasil(Afubra), localizada em Santa Cruz do Sul, RS,é uma entidade que representa produtores detabaco dos estados do Rio Grande do Sul, deSanta Catarina e do Paraná.

Fundada em 1955, com 103 associados,seu principal objetivo foi criar um mecanismoque protegesse as lavouras das chuvas degranizo. Atualmente, a Afubra é formada por,aproximadamente, 160 mil famílias do RioGrande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná.

A entidade resolveu idealizar um planopróprio baseado no mutualismo, criando, assim, oDepartamento de Mutualidade em novembro de1956. Na safra 1956–1957, 103 cooperadosfizeram o seguro mútuo, e 23, aproximadamente,tiveram suas propriedades atingidas. Nas safras1957–1958 e 1959–1960, o número de seguradosaumentou, respectivamente, para 861 e 5.332. Nasafra 1994–1995, mais de 100 mil lavourasestavam cobertas pelo seguro.

Eventuais sobras anuais são contabilizadascomo reserva para cobrir déficits em períodosfuturos. Além da cobertura contra granizo, desdejulho de 1962 a associação oferece o auxílio-reconstrução de estufa danificada por incêndio,decorrente da cura do tabaco. Havendo o sinistro,o segurado comunica-o, imediatamente, à Afubra,que, após a vistoria, efetua o pagamento do auxíliono prazo máximo de cinco dias, desde que oincêndio tenha ocorrido durante secagem de fumo.Isso é feito de modo que se incentive a inscrição

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de todas as estufas (à exceção das mistas) dedeterminada propriedade no seguro. Em setratando de proteção de estufas geminadas obenefício é de 75% por unidade sinistrada.

A associação oferece também o auxílio-funeral, aprovado em assembléia-geral realiza-da em julho de 1966. Esse benefício equivale a600 kg de fumo de estufa de maior valor, pagosomente no caso de morte do associado, esposaou filho solteiro, devidamente inscritos, emediante apresentação de atestado de óbito. Acontribuição anual é de três quilos de fumo damesma classe.

Nesse esquema, as indenizações decor-rem somente de danos por granizo ou danospor vendavais fortes não acompanhados degranizo. Obrigatoriamente, a lavoura atingidadeve apresentar, obrigatoriamente, no mínimouma das três características: pés quebrados,talos partidos ou nervuras de folhas rompidas.

Danos em varandas e em paióis não estãocobertos pelo seguro, e tampouco danos causadosnos fumais por ventos frios constantes, pragas,doenças, geadas, enchentes, enxurradas, secase uso inadequado de antibrotante. Também nãohá indenização no caso de estufa destruída/avariada por tempestade.

No caso de prejuízo total, a lavoura nãodeve ser eliminada antes da vistoria, poissomente caberá indenização integral seconstatado prejuízo completo, com inexistênciade folhas aproveitáveis por ocasião do eventoe desenvolvimento total do fumo.

Quando ocorre o sinistro, o associadodeve informar o fato à Afubra, que então destacauma equipe de avaliadores para apurar osprejuízos. Na safra 1993–1994, 108 pessoas,entre inspetores, coordenadores e avaliadores,atenderam 114 mil associados.

O valor da taxa para danos por granizofoi estabelecido em 5,5%. Contudo, há apossibilidade de redução de 10% dessa taxapara quem se inscreveu nas últimas quatro asete safras seguidas. Para aqueles que não foramatingidos nas últimas oito, ou mais, safras

seguidas, a redução é de 20% (CUNHA, 2003).Em 2003–2004, quase 55 mil produtores foramindenizados pela ocorrência do granizo.

Segundo Seffrin (1995, p. 71), outro fatorque reduz o custo do seguro é:

... a colaboração das empresas fumageiras que,através de suas equipes de assistência técnica,inscrevem os fumicultores no Departamentode Mutualidade, sem o que o trabalho deagenciamento seria onerado. É evidente queas empresas não prestam esse serviço àAfubra, mas aos fumicultores, pois além deacolherem as inscrições no seguro, elas fazemo cadastro e o contrato de financiamentobancário dos insumos agrícolas.

Instituto Riograndensedo Arroz (Irga)

O esquema de seguro do InstitutoRiograndense do Arroz (Irga) data de fins dadécada de 1940. A Lei nº 533, de 31 dedezembro de 1948, estabeleceu que todoorizicultor com lavouras no território do Estado,e inscrito no Irga, poderia receber umaindenização decorrente de prejuízos causadospor queda de granizo. Essa lei foi regula-mentada, anos mais tarde, pelos Decretos nº25.665, de 11 de junho de 1977, e nº 35.372, de5 de julho de 1994.

Os recursos para o programa são prove-nientes da comercialização da commodity noEstado, ou seja, um certo percentual do valor decada saca de arroz é recolhido e destinado aoIrga, o que constitui um fundo a ser utilizado peloinstituto para cobrir eventuais prejuízos causadospelo fenômeno climático (AZEVEDO, 1998).

Para requerer o valor da indenização, oprodutor deverá solicitar, ao Irga, a vistoria desua propriedade, acompanhado pelo assistenteindicado pelo solicitante por meio de umarequisição.

Para a referida solicitação, o seguradoterá prazo máximo de três dias úteis após aocorrência do evento. Após a comunicação dosinistro e a peritagem acompanhada deve ser

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feito o laudo de inspeção de danos da áreasegurada atingida pelo granizo.

Para a efetivação da liquidação dosinistro, o evento deve ter ocorrido até 30 deabril de cada ano. Além disso, a documentaçãonecessária para isso deverá ser encaminhadaao Irga até 31 de maio.

Ressalte-se que qualquer importânciarecebida, pelo segurado, de outro programa deseguro rural instituído pelo governo federaldeverá ser descontada do cálculo da indeni-zação. Na safra de 1996, o Irga arcou com umtotal indenizado de, aproximadamente, R$1.250.000, em razão da ocorrência de granizoem lavouras de arroz.

O Rio Grande do Sul conta ainda com aAssociação dos Arrozeiros de Uruguaiana,4 aqual possui um sistema de sociedade mútua queprotege seus produtores agrícolas contrafenômenos naturais adversos. Pagando, antesdo plantio, uma taxa de R$ 5 por hectare, oprodutor conta com proteção que lhe permitelevar adiante seu empreendimento. Caso ne-nhum sinistro seja registrado, após a colheitaos produtores recebem de volta o valor da taxapaga. O esquema protege uma área de 32 milhectares com 40 produtores de arroz(SEGURO..., 2005).

Além da Associação dos Arrozeiros deUruguaiana, a Cooperativa AgroindustrialAlegretense (Caal) também protege seuscooperados contra perdas provenientes dogranizo. O esquema de cobertura solidáriacomeçou em 2001. Nele 350 produtores dearroz cobrem as perdas uns dos outros.

Não há taxa de adesão a esse esquema,e a contribuição nele exigida, máxima de 150kg de arroz por hectare, ocorre somente quandoum dos produtores tem a lavoura afetada. Aindenização limita-se ao total arrecadado, e,em todos os ciclos verificados até hoje, amáxima foi de 12,6 kg por hectare para cadamutualista (SEGURO..., 2005).

Considerações finaisAté o fim da década de 1990, os

produtores contavam apenas com o apoio doProagro e da Cosesp para transferir parte de seurisco. Mesmo assim, esses mecanismos assegu-ravam-lhes apenas o financiamento contraído,e não a sua renda. Em caso de sinistro, oprodutor arcava com o prejuízo.

As sociedades mútuas suprem, em parte,a necessidade de assegurar os produtores naocorrência de sinistro. Esse mecanismo tem avantagem de, teoricamente, apresentar custosoperacionais e administrativos mais baixos queos seguros comerciais e, conseqüentemente,“taxas” mais baixas; além de ser mais ágil norepasse de indenização ao mutualista afetadoe, logo, reduzir o problema do risco moral.

Por outro lado, o mutualismo apresentaalgumas desvantagens: a) a cobertura (geral-mente) fica restrita a eventos climáticos isola-dos, por exemplo, o granizo; b) a abrangêncialimita-se aos mutualistas que participam doprograma; c) o produtor não tem a possibilidadede escolher o nível de cobertura e, conseqüen-temente, a indenização máxima restringe-se aomontante de cota pago por todos os participan-tes; e d) não possui nenhum apoio relativo aoFundo de Estabilidade do Seguro Rural (FESR)ou às resseguradoras.

Apesar dessas desvantagens, as socieda-des mútuas têm mostrado relativa eficácia namitigação do risco, e são consideradas, pormuitos produtores, uma alternativa plausível aoseguro tradicional comercializado pelasseguradoras.

Seria interessante, do ponto de vista depolíticas públicas, que o seguro mútuo fossepassível de cobertura do FESR para eventoscatastróficos. Dessa forma, ele abrangeria umnúmero relativamente maior de produtores coma possibilidade de cobrir outros riscos que nãoapenas os específicos, tais como o granizo.

4 Os 15 maiores produtores de arroz, situados no Rio Grande do Sul, somam aproximadamente 60% da produção total. O maior produtor - Uruguaiana - produzpouco mais de 367 toneladas.

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Vale ressaltar, ainda, que novas oportu-nidades despontam no horizonte. Atualmente,os governos federal e estadual (São Paulo e RioGrande do Sul) iniciaram um programa desubvenção ao prêmio pago pelo segurocomercial. Tal incentivo tende a aumentar ademanda por contratos de seguro agrícola e,com isso, oferecer maior proteção aos produ-tores.

Além da subvenção ao prêmio, o governofederal criou também o Programa Seguro-Safraque, apesar do nome, não se trata de um seguro,mas de um programa assistencialista criado pelaLei nº 10.420/02, alterado pela Lei nº 10.700/03, e regulamentado pelo Decreto nº 4.363/02.

O objetivo do Programa Seguro-Safra égarantir renda mínima aos agricultoresfamiliares da Região Nordeste, do semi-áridodo Estado de Minas Gerais (norte de MinasGerais e Vale do Jequitinhonha), da região nortedo Espírito Santo, bem como dos municípiossujeitos a estado de calamidade ou a situaçãode emergência em razão do fenômeno daestiagem. Para garantir a operacionalizaçãodesse programa foi criado o Fundo Seguro-Safra.

Nos últimos anos, apesar dos esforços,tanto do governo como das seguradoras, parao desenvolvimento de um mercado de seguroagrícola sustentável a médio-longo prazo,diversos entraves inibem sua plena operaciona-lização (OZAKI, 2005b). Nesse contexto, associedades mútuas têm papel importante namitigação do risco em benefício dos produtores,principalmente em regiões nas quais asseguradoras não oferecem nenhum tipo decobertura.

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Desenvolvimentoregional, efeito delocalização e clustersagroindustriais no Brasil

Marcelo Fernandes Guimarães1

1 Economista. Técnico de Planejamento da Conab. [email protected].

Resumo: Objetiva-se, neste artigo, uma breve revisão da literatura acadêmica sobre o desenvolvimentoregional e o efeito de localização, buscando-se, para tanto, identificar elementos que possam estarrelacionados nas diversas modalidades de organização da produção local, bem como no processo dedesenvolvimento recente da agroindústria de determinadas regiões do Brasil. Além de distinguir osconceitos de crescimento econômico e de desenvolvimento, busca-se aqui analisar as relações entreo desenvolvimento regional e o efeito de localização. As principais correntes das chamadas teorias delocalização industrial, assim como as principais formas de organização da produção local, com destaquepara os clusters e os distritos industriais italianos, são aqui enfocadas. Por fim são sintetizadas algumas análisesespecializadas sobre clusters agroindustriais no Brasil e seus efeitos sobre o desenvolvimento regional.

Palavras-chave: desenvolvimento regional, efeito de localização, território, clusters, agroindústria.

IntroduçãoObserva-se, na sociedade em geral, e,

particularmente, nos meios acadêmicos, nos orga-nismos internacionais e nas esferas governa-mentais, um revigoramento do interesse pelo temado desenvolvimento regional. Os agudos desequi-líbrios históricos na distribuição dos resultados doprogresso econômico, assim como as dificuldadespara a consecução de políticas públicas quelogrem promover o crescimento da renda nacio-nal – concomitantemente a uma maior eqüidadena distribuição dessa riqueza – formam a basepara esse debate. Paralelamente ao papel desem-penhado pelas políticas macroeconômicas esetoriais, produções acadêmicas mais recentessobre o tema têm destacado questões acerca dos

efeitos positivos da localização e da organização doterritório sobre o nível de desenvolvimento regional.

A conceituação dedesenvolvimento regional

Cabe estabelecer, inicialmente, umadistinção entre o conceito de crescimentoeconômico e o conceito de desenvolvimento.Para Boisier (2003), embora relacionados taisconceitos não apresentam, necessariamente, umarelação hierárquica entre si. Contudo, essadistinção tão cara a Boisier carece ser aquiexplicitada. Segundo esse autor, “...desenvol-vimento e crescimento são conceitos estrutural-mente distintos: intangível o primeiro, material o

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segundo, com tudo o que ele implica; sem dúvidanão conhecemos a natureza da relação entreambos, já que claramente não se trata de questõesindependentes” (BOISIER, 2003, p. 2).

Ao tratar da questão do desenvolvimentoregional, também Haddad (1999) chama a atençãopara a necessidade de estabelecer-se umadistinção entre esses dois conceitos. Assim,segundo esse autor

Para delimitar a concepção fundamental deum processo de desenvolvimento regional, épreciso, desde o início, distingui-la do meroprocesso de crescimento econômico. Alocalização e a implantação de novasatividades econômicas numa região podemelevar os seus níveis de produção, de renda ede emprego a um ritmo mais intenso do que ocrescimento de sua população, sem que,entretanto, ocorra um processo de desen-volvimento econômico e social (HADDAD,1999, p. 9).

Celso Furtado, citado por Boisier (2003),também comunga da idéia de que o verdadeirodesenvolvimento é, sobretudo, um processo sociale cultural, e apenas secundariamente econômico.Uma vez ressalvado que o crescimento econô-mico é condição necessária, mas não suficiente,para o desenvolvimento, o item a seguir procuraabordar a questão do processo de desenvol-vimento regional, bem como de sua vinculação àquestão da localização.

Localização edesenvolvimento regional

Antes de analisar-se as relações entredesenvolvimento regional, efeito de localizaçãoe agroindústrias, torna-se desejável uma breverevisão das teorias sobre economia regional.

Schejtman e Berdegué (2004), citandoKrugman, atentam para o fato de o tema dalocalização da atividade econômica no espaçoter sido quase que completamente negligenciadopela teoria econômica. O despertar de um maiorinteresse acadêmico pelos efeitos decorrentes dalocalização e do território sobre a produçãoeconômica sobreveio pela tentativa de explicar-

se os determinantes do processo de concentraçãode atividades produtivas, ou de serviços, emdeterminados espaços, bem como do maiordinamismo e da capacidade competitiva dedeterminadas localidades.

Cavalcante (2004) apresenta uma interes-sante proposta de sistematização, em três grandesblocos, da produção teórica em economiaregional: o conjunto de teorias clássicas da locali-zação; as teorias de desenvolvimento regionalcom ênfase nos fatores de aglomeração; e aprodução recente, na qual se procura incorporarmodelos e abordagens que analisam tanto osnovos padrões de produção (baseados na inte-gração e na flexibilidade) como os fenômenos daglobalização e da desregulamentação eco-nômica.

O primeiro bloco, o das teorias clássicas,inclui o “Estado isolado”, de Von Thünem; a “Teoriada localização industrial”, de Weber; os “Lugarescentrais”, de Christaller; e a “Teoria da localizaçãoe economia espacial”, de Isard. Nessas teorias,de uma maneira geral procurava-se explicar a“localização ótima” da firma em razão dos custosde transporte. Externalidades decorrentes daaglomeração eram praticamente desprezadas, eestruturas de mercado pulverizadas eram admiti-das, não se conseguindo, assim, lidar satisfato-riamente com o trade-off entre ganhos de escalae custos de transporte (CAVALCANTE, 2004).

Seguindo a sistematização proposta porCavalcante (2004), o segundo bloco correspondeàs teorias derivadas de Alfred Marshall. Assim,Schejtman e Berdegué (2004) observam que esseeconomista cunhou o conceito de distritosindustriais afirmando que a aglomeração deempresas em um espaço determinado gerava“economias externas localizadas” (externali-dades), as quais contribuíam para reduzir os custosde produção em virtude de fatores tais como:presença de trabalhadores qualificados; acessofacilitado a insumos e a serviços especializados,e disseminação do conhecimento pela proximi-dade e pela existência de uma “atmosferaindustrial”.

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Porém, é sobretudo a partir de 1950 quediversos autores, baseados em conceitosrelacionados à questão da aglomeração, passama dedicar-se ao tema do desenvolvimento regionale formulam novas teorias, dentre as quais cabedestacar: os “Pólos de crescimento”, de Perroux;a “Causação circular e acumulativa”, de Myrdal;e os “Efeitos para frente e para trás”, deHirschman.

Por fim, no terceiro e último bloco, asabordagens mais recentes buscam, segundoCavalcante (2004, p. 21) “... tratar as relações entreempresas numa perspectiva ainda mais abran-gente, considerando não apenas as relaçõespuramente mercantis mas também aquelas sociaise tecnológicas que se estabelecem entre empresassituadas num mesmo espaço geográfico e entreas empresas e a comunidade local .”

É esse último conjunto que, recentemente,vem tendo destaque, por reacender o interessepelo efeito da aglomeração sobre as empresas.Autores como Michael Best, Paul Krugman eMichael Porter, entre outros, vêm atentando paraos efeitos positivos da concentração industrialsobre o desenvolvimento regional e a competitivi-dade internacional das empresas.

Interessado na relação entre concentraçãogeográfica e competitividade das empresas, Porter(1999) destaca o importante papel da aglomeraçãoque, segundo ele, favorece, por menores custos,o acesso a insumos, a serviços e a transportes,em razão de fatores tais como: ganhos de escala;troca de informações qualificadas e a baixo custoentre especialistas (dados o convívio e aproximidade entre esses); desenvolvimento deempresas complementares na produção de bense serviços; acesso à mão-de-obra especializada,por meio de formação e treinamento provido pororganizações criadas e mantidas pelos própriosagentes para esses fins; incentivo ao provimentode bens públicos pela necessidade e demandaconcentrada; maior e mais fácil acesso atecnologias aplicáveis ao setor e aos métodos

produtivos de fornecedores e de concorrentes; efacilidade para a criação de entidades represen-tativas do setor. Há, enfim, o desenvolvimento detoda uma rede de fornecedores, de prestadoresde serviços, etc., que se forma em benefício doatendimento a um aglomerado industrial.

Em relação aos benefícios da concentraçãogeográfica e dos ganhos de escala no acesso àinformação qualificada, particularmente, Best(1993, p. 218), ao fazer uma análise específicasobre a chamada “Terceira Itália”,2 afir-ma:“Government economic policymakers inEmilia-Rogmana are aware that small andmedium-sized firms must have access toeconomies of scale in the provision of bothmarketing and technological information if theyare to remain competitive with vertically integratedfirms”.

Nos diversos conceitos de organizaçãoprodutiva local, anteriormente destacados, pode-se observar uma característica que é, em maiorou menor grau, comum a todos eles: o aspectoendógeno dessa iniciativas no que tange às suasrelações com o desenvolvimento local. Questãoessa que será abordada no item a seguir.

Organizações produtivaslocais, agroindústrias edesenvolvimento regional

A literatura especializada contemporâneatrata a questão dos diversos modos de organizaçãoda produção local apresentando seus conceitos,fundamentos e propostas com base em umaintegração de elementos centrados em suasrelações com o território. Assim, há referênciaexplícita à questão das externalidades, as quaispropiciam ganhos de escala externos, à empresa,porém internos ao território. Nesse grupo incluem-se os trabalhos sobre aglomeração industrial,clusters e arranjos produtivos locais, bem comosobre os novos distritos industriais. Há também a

2 Trata-se, a Terceira Itália, de uma região localizada na parte centro-norte da Itália, onde predominam grupos de pequenas empresas que apresentam estratégiasde inovação permanente, métodos de produção flexíveis e intensa cooperação. A expressão, cunhada por Arnaldo Bagnasco em 1977, representa umdesdobramento do tradicional dualismo italiano entre o Norte desenvolvido, que se encontrava em crise (Primeira Itália), e o Sul atrasado (Segunda Itália). Paramaiores detalhes, ver adiante subitem intitulado “Organização da produção local e desenvolvimento regional: o caso da Terceira Itália”.

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abordagem relacionada ao entorno (milieu), queenfoca a questão do conhecimento e daaprendizagem coletiva e de seus efeitos sobre ainovação e a competitividade; e, por fim, ostrabalhos sobre governança, os quais destacam aimportância das instituições e a influência delassobre o território e o desenvolvimento local. Porinstituições entende-se o conjunto de regras,costumes, leis e regulamentos (formais ouinformais) que impactam as relações produtivas3

em uma sociedade.

Entre as diversas modalidades de organiza-ção da produção local, a análise de clusters(aglomerados), e dos seus efeitos sobre odesenvolvimento local, vem despertando interessee obtendo destacada atenção na literaturaespecializada.

Clusters

O conceito de cluster é atribuído a MichaelPorter, que começa a difundi-lo em seu livro Avantagem competitiva das nações (1988). Segundoesse autor, “um aglomerado é um agrupamentogeograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numadeterminada área, vinculada por elementoscomuns e complementares.” (PORTER, 1999, p.211). O autor destaca, ainda, o caráter sinérgicodos clusters, em que o valor como um todo é maiordo que a soma das partes.

Já Schejtman e Berdegué (2004, p. 22)definem clusters da seguinte forma “...corres-pondem à concentração espacial de firmas de umdeterminado setor, entendido em um sentido amplo(agrícolas, minerais, automotores) ou em umsentido restrito (vitivinícola, móveis, maçãs).”Segundo esses autores, o interesse pelos clustersresidiria não tanto na simples aglomeração deempresas de certo tipo, mas sobretudo no poten-cial que representa a presença de componentesda cadeia de valor em um mesmo âmbitoterritorial, ou seja, quando se incluem tanto asarticulações a montante como a jusante, poispoderiam gerar oportunidades de obter-se

eficiência coletiva, baixos custos de transação eações coordenadas.

A conceituação de Haddad (1999, p. 24),contudo, parece ser mais abrangente: “os clustersconsistem de indústrias e instituições que têmligações particularmente fortes entre si, tantohorizontal quanto verticalmente, e, usualmente,incluem: empresas prestadoras de serviços;instituições de pesquisa; instituições públicas eprivadas de suporte fundamental.” Em sua análisede clusters, além de destacar a importânciarepresentada pelo acesso aos insumos críticos, dosquais as empresas precisam para ser competitivas,esse autor destaca também o fator de concen-tração de capacidades produtivas especializadase respectivos efeitos sobre o desenvolvimentolocal.

Porter (1999), de sua parte, mostra-seinteressado nos efeitos dos clusters sobre acapacidade competitiva das empresas. Nessesentido, destaca o efeito de localização afirmandoque essa afeta a vantagem competitiva por meioda influência sobre a produtividade, ou, maisprecisamente, sobre o aumento da produtividade.O crescimento da produtividade é, então, oprincipal fator de prosperidade para uma empresaou região, e tal produtividade é, segundo esseautor, fortemente influenciada pela “qualidade doambiente de negócios”, que, por sua vez, correla-ciona-se diretamente com a proximidade espacial.

Clusters e o papel do Estado

Um dos maiores interesses dos governos naformação de clusters reside em seu comprovadoefeito catalisador sobre o desenvolvimentoregional, bem como na percepção de que a suaevolução e disseminação representam umcaminho seguro para uma economia maisavançada. No entanto, a maioria dos aglomeradosprodutivos constitui-se independentemente daação do Estado,e, não raras vezes, apesar daatuação dos governos. Não obstante, há um papelmuito claro a ser desempenhado pelo Estado noestímulo à criação e ao aprimoramento das

3 Para maiores detalhes, ver Douglas North (1993) e Oliver Williamson (1989).

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diversas modalidades de organização da produçãoem localidades determinadas.

Os governos podem, e devem, atuarprincipalmente na oferta da infra-estrutura local eno desenvolvimento do arcabouço institucionalnecessário às atividades empresariais. Comrelação à infra-estrutura, mesmo diante de fortesrestrições fiscais o Estado pode desempenharpapel preponderante na remoção de obstáculosao fluxo de capitais privados para seu financia-mento, bem como de atração ao investimentoexterno. Além disso, haveria ainda uma variadagama de ações específicas a serem promovidaspelos governos. Nesse sentido, por meio dailustração de seu “diamante”4 Porter (1999) sugereuma série de ações a serem praticadas direta-mente pelos governos, ou mesmo ser por elesinfluenciadas, dentre as quais cabe destacar: aeliminação de barreiras à competição local; aimplementação de atividades de pesquisarelacionadas com o cluster em universidades ouem instituições públicas locais; a organização deórgãos governamentais pertinentes ao cluster; oestabelecimento de políticas educacionais queestimulem escolas e universidades públicas aatender às necessidades do aglomerado; olevantamento e a divulgação de informações; oestabelecimento de zonas de livre comércio e deparques industriais; e o patrocínio de atividadesindependentes de testes, certificação e avaliaçãode produtos.

Organização da produção local edesenvolvimento regional: o caso da“Terceira Itália”

A análise de algumas das principaismodalidades de organização da produção localmostra o sucesso de algumas dessas iniciativasem diversos países e regiões, o qual se traduz nãoapenas pelos indicadores econômicos associadosà produção, mas, e principalmente, pela elevaçãoconstante e substancial de indicadores sociaisassociados à qualidade de vida e ao bem-estarda sociedade. Não se ignora aqui, no entanto, o

fato de o alcance desse sucesso dever considerara dimensão temporal (que pode variar,substancialmente, conforme o caso) e anecessidade de políticas públicas que visem acorrigir distorções e a introduzir medidascompensatórias, sobretudo em virtude dos efeitosnegativos de curto prazo sobre alguns segmentosda sociedade desfavorecidos pelos impactosiniciais do processo. No entanto, de maneira geralobservam-se resultados bastante encorajadores.

Porter (1999) mostra-nos, com clareza, adiversidade de aglomerados de empresas ao longode todo os EUA, os efeitos dessa aglomeraçãosobre a produtividade e a competitividade dasempresas, e como isso impacta, favoravelmente,a economia e a sociedade norte-americanas.

No entanto, entre as diversas experiênciase análises – objeto de atuais estudos deacadêmicos e intelectuais de diversos países –uma das que mais têm despertado interesse é,indubitavelmente, a chamada “Terceira Itália”.O caso da região historicamente pobre que, nosúltimos cinqüenta anos, evoluiu de uma economiabaseada em atividades agrícolas para umaeconomia industrial fundada sobre pequenasempresas, e transformou-se em uma das áreas maisprósperas, não só da Itália como da própriaEuropa, vem atraindo considerável interessemundial. Mas quais seriam as razões desseresultado tão favorável?

Diversas são as tentativas de explicar ascausas do sucesso desse modelo tão bem-sucedido em economia regional. Evidentemente,foge aos objetivos desse texto fornecer uma visãopormenorizada dos fatores julgados, pela literaturaespecializada, determinantes de tal resultado. Noentanto, torna-se oportuno registrar o pensamentode Bagnasco ao buscar explicar as razões do bem-sucedido processo de expansão das pequenasempresas em várias regiões européias, tendo comopano de fundo a “Terceira Itália”.

Resumindo, podemos dizer que as sociedadeslocais que souberam aproveitar o crescimentoda pequena empresa beneficiaram-se de um

4 Modelo gráfico que representa os efeitos da localização sobre a competição, com base em quatro elementos inter-relacionados. Para maiores detalhes ver Avantagem competitiva das nações (1988).

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tecido urbano composto de cidades depequeno e médio porte, perfeitamenteequipado e distribuído sobre o conjunto doterritório, onde toda uma rede tradicional deempresas comerciais, artesanais, de fábricasde produção em série limitada, de serviçosbancários e administrativos, de infra-estruturasviárias e civis, de equipamentos culturais e deadministração local apropriada e eficaz,desempenhava suas funções urbanas. Essascidades ativaram esse processo em interaçãocom as regiões rurais caracterizadas, do seulado, por uma estrutura social particular: a dafamília rural autônoma, proprietária depequenos lotes de terra, en fermage ou enmétage. Essa família forneceu ao mercado detrabalho das pequenas empresas industriaisoperários polivalentes, formados num meiorural auto-suficiente e culturalmente direcio-nado para a autonomia e a mobilidade(BAGNASCO, 2002, p. 38).

Assim, o sucesso das pequenas empresaseuropéias, e o desenvolvimento alcançado pelaslocalidades onde elas se inserem, como verificadono caso da “Terceira Itália”, parece residir nacapacidade de mobilização das diversas formasde organização da produção no sentido de umsistema calcado no próprio território. É precisofrisar, no entanto, que o processo requereu,claramente, um mínimo de pré-condições locais,das quais algumas provêm do meio rural.

Clusters, agroindústrias edesenvolvimento regionalno Brasil

Conforme visto anteriormente, diversasmodalidades de organização da produçãoconcentradas em um determinado espaçogeográfico podem estimular a competitividade dasempresas e representar um efeito catalisador sobreo desenvolvimento regional. No Brasil, algunsestudiosos vêm pesquisando os resultadosproduzidos por aglomerados produtivos sobre odesenvolvimento local. Um dos setores que temdespertado a atenção desses estudos é oagroindustrial, por apresentar fortes indícios decorrelação positiva entre a presença deeconomias de aglomeração e o aumento do nível

de desenvolvimento econômico das localidadesem que elas se fazem presentes.

Estudo a esse respeito – organizado porHaddad et al. (1999) e merecedor de destaquepela qualidade da pesquisa desenvolvida – avaliaa experiência com clusters agroindustriais emdiversas regiões do Brasil, mediante a apresen-tação de um retrato fidedigno e abrangente darealidade observada. Os setores e as localidadesem análise são os seguintes: cacau, no sul daBahia; suínos, no oeste de Santa Catarina; grãos,na região em torno da cidade de Rio Verde,sudoeste de Goiás; e frutas, no pólo Petrolina-Juazeiro, fronteira entre Pernambuco e Bahia.

Como não é possível reproduzir aqui asprincipais características enfocadas, e tampoucoos problemas apontados pelo referido estudo,relativamente a cada um dos setores, procurar-se-á descrever a seguir pontos julgados maisrelevantes e comuns na análise dos quatro clustersselecionados.

A referida pesquisa procurou identificar aárea geográfica relevante de cada um dos clustersselecionados, analisando, para isso, indicadoresde desempenho setorial, infra-estrutura física deapoio e serviços de suporte empresarial, além deavaliar aspectos concernentes ao impactoambiental e ao desenvolvimento social local. Oestudo abordou também aspectos relacionados àcultura organizacional, identificou necessidadese desenvolvimento, com respectivos entraves, dosclusters em questão, assim como relacionousugestões de diversos agentes interessados noaprimoramento deles. Em face disso, trata-se esseestudo de importante contribuição para oconhecimento da realidade e da potencialidadedos clusters no Brasil, traduzindo-se em uminstrumento relevante para acadêmicos, pesquisa-dores, agências internacionais, investidores,estudantes, empresas e governos que tenhamparticular interesse no tema.

De uma maneira geral, além de um nívelelevado da competitividade dos setores agroindus-triais organizados sob a forma de clusters a leiturado estudo em questão permite observar também

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um considerável dinamismo da atividadeeconômica regional. Há, contudo, uma certaheterogeneidade nos setores e nas regiõesanalisadas, principalmente em relação a aspectossociais, culturais, de infra-estrutura e de gestãoorganizacional. No que se refere à análise evoluti-va dos indicadores sociais, de bem-estar e dequalidade de vida das populações, sobre isso oestudo deixa a desejar, mesmo porque não obje-tiva tecer comparações intertemporais. Logo, pes-quisa a isso direcionada faz-se ainda necessária.Por fim, um aspecto comum a todos os clustersanalisados diz respeito ao deficiente controleambiental.

Deve-se destacar, ainda, que desde aelaboração do estudo, em 1999, houve considerá-vel evolução de níveis de produção e de produtivi-dade de algumas regiões e setores nele em foco,principalmente de grãos e de carne suína, o quepode ter tido influência relevante sobre os aspectosantes relacionados. Esse fato representa, por si,um estímulo à realização de novos levantamentosnas regiões avaliadas, tendo-se em vista ascomparações intertemporais tão importantes paraa análise dos efeitos dos clusters sobre odesenvolvimento regional.

ConclusõesO texto procurou mostrar que há, na

literatura especializada atual, um revigoramentodo tema desenvolvimento regional e respectivasrelações com as diversas modalidades deorganização da produção local. Fortes indíciosda relevância do efeito de localização sobre odesenvolvimento econômico e social do territóriopodem ser constatados. Como os clusters são umadas formas de organização produtiva sobre oterritório, à qual se atribui a qualidade de exercerforte impacto positivo sobre a produtividade dasempresas, e de, assim, ampliar-lhes a competi-tividade, eles vêm ultimamente despertando umamaior atenção. Em análises de organização declusters constatou-se o papel relevante que o

Estado pode desempenhar para esse fim, quer sejapor meio de ações diretas, quer seja por influênciaou por estímulo.

Além disso, o estudo apresentou os distritosindustriais denominados de “Terceira Itália”atentando para o impressionante efeito deles sobreo desenvolvimento regional.

Por fim, abordou-se a questão do desen-volvimento de clusters agroindustriais no Brasil,procurando-se citar exemplos de maior destaque,assim como identificar suas característicasprincipais e efeitos comuns sobre o território.

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Estratificaçãopara a inclusãoEnxergar as diferençaspara uma efetiva redede laboratórios

André Luiz Bispo Oliveira1

1 Mestre em Ciências de Alimentos. Fiscal Federal Agropecuário do Mapa. [email protected].

Resumo: A análise de conformidade da qualidade dos produtos alimentícios em face da legislação emvigor demanda conhecimento e deve também ser acompanhada de garantias dos resultados das análiseslaboratoriais. Amparados por normas nacionais e internacionais, os laboratórios de uma determinadarede credenciada podem, entre si, reduzir e controlar a geração de resultados inconsistentes oucontraditórios, ou não conformes, segundo a necessária padronização – de meios e instrumentos, emum ou mais escopos do seu leque de análises. Este trabalho, fundamentado em alguns dos diversosfatores que permeiam a atual busca pela qualidade dos resultados analíticos nos laboratórios,contextualiza as exigências dos vários órgãos de credenciamento de laboratórios existentes no Brasile no mundo. A abordagem restringe-se aos laboratórios que controlam determinados produtos de origemvegetal, mas, guardadas as proporções necessárias, pode ser ampliada para outros laboratórios.

Palavras-chave: laboratórios, certificação, controle de qualidade, segurança alimentar e padrão dequalidade.

IntroduçãoVivemos em um mundo em transição, no

qual o sistema agroalimentar é específico e insere-se, de forma original, no processo de reestrutu-ração inerente à globalização. Novos padrões deconsumo alimentar; o papel da distribuição; areorganização das cadeias agroalimentares; adinâmica das pequenas e médias empresas; e aregulação das relações entre os atores sãofundamentais para a percepção das mudanças oraem curso (WILKINSON, 1999).

O papel do Controle de Qualidade eConformidade Vegetal e os respectivos Padrões

de Identidade e Qualidade dos produtos agrícolasin natura e processados assume posição decisóriano aspecto da exclusão social, ou não, dedeterminados atores no complexo agroindustrial,e deve ser encarado de forma especial para quese mantenha como regulador do moderno agrone-gócio cuja visão seja a de produzir alimentosseguros (não contaminados química, nutricionale microbiologicamente).

A necessidade de harmonização dalegislação nacional perante o Mercosul, e para ainserção do País no mercado mundial, gerou umamaior demanda por inovação e padronização

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tecnológica, assim como por melhor prática econtrole da qualidade por parte dos produtoresde alimentos, a fim de que sejam evitadas asbarreiras sanitárias ao comércio mundial (noâmbito das grandes empresas nacionais diante dasmultinacionais) e ao comércio local (no âmbitodas pequenas agroindústrias familiares ante osprincipais atores do mercado local), além de umarepulsa natural, por parte do consumidor local dealimentos, a produtos defeituosos e sem qualidade.

As ações de uma rede de laboratórios paraa qualidade dos produtos agropecuários envolvema configuração dessa mesma rede segundoparâmetros harmonizados, além do acompanha-mento desses laboratórios e dos resultados nelesgerados para o auxílio à proposição de normasde sua regulação. Isso a exemplo das agroindús-trias de óleos e de farelo de soja, de trigo e dederivados, bem como de derivados da mandiocaque, registradas e monitoradas pelo Estado,mantêm elevada qualidade e capacidade decompetição no mercado externo.

Alerta-se que, sem os Padrões de Identidadee Qualidade, ou sem a fiscalização ou omonitoramento dos produtos agropecuários emlaboratórios cuja qualidade seja assegurada, podehaver a inserção de produtos de empresas nãoidôneas do Brasil ou do exterior, as quais retiraramdo mercado interno recursos financeiros eempregos, pois, sem a correta fiscalizaçãopoderão atuar fora de um sistema que ateste aqualidade final do produto, comprometendo comisso a Segurança Alimentar, ou mesmo compe-tindo de forma desleal.

As ações dos laboratórios quanto àqualidade dos produtos agropecuários devemconcentrar-se na segurança dos resultados obtidosnas análises. Os laboratórios, por conseguinte,devem garantir, aos usuários, serviços analíticose resultados monitorados segundo um ou maissistemas, por um ou mais órgãos de “creden-ciamento” – palavra tomada aqui como sinônimade habilitação e de acreditação.

DesenvolvimentoA crise alimentar do final do século 20 e os

desafios decorrentes do início da estruturação dos

mercados agrícolas mundiais geraram controvér-sias e novas respostas dos vários países industriali-zados.

De modo geral, pode-se observar que,atualmente, as respostas dos países industriali-zados abordam também temas listados pelo BancoMundial em seu relatório nº. 31207 (WORLDBANK, 2005), dentre os quais:

• Independência institucional e destaqueem saúde pública – Vários países que antesregulavam, inspecionavam e promoviam aagricultura e a indústria por meio de um mesmoórgão ou ministério passaram a criar agências ouórgãos específicos para tratar do tema "alimentosseguros", buscando, com isso, clareza de objetivose de ações.

Nessa direção, em 1999 o Brasil criou aAgência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa), cujo organograma foi reestruturado, emjaneiro de 2005, pelo Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa), com o reforçoda criação da Secretaria de Defesa Agropecuária(SDA), para atender à fiscalização, à vigilância eà inspeção dos produtos de origem animal evegetal (RODRIGUES, 2005).

Para os laboratórios que atestam aconformidade dos produtos de origem vegetal aospadrões do Mapa, tal reestruturação trouxeimplicações também de ordem operacional, pois,antes dela toda a Classificação Vegetal eraorganizada sob a ótica do fomento. Agora, sob aótica da SDA, podem-se elevar os conflitos como setor produtivo, decorrentes de ação fiscal comviés punitivo e de restrições de caráter normativo.

Dessa forma, deve-se esperar tambémmaior exigência em relação aos laboratóriosquanto a conformidade deles em termos decompetência técnica e de gestão administrativa.

• Visão e foco em toda a cadeia produtiva– Vários países industrializados focam os perigosassociados aos produtos agropecuários, adotandopara isso a perspectiva de controle do campo atéà mesa.

Nesse sentido, o controle da qualidadepassa a ser mais abrangente por diminuir o foco

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no produto final e ressaltar as Boas PráticasAgrícolas, com controles e registros ao longo detodo o processo ou cadeia produtiva.

A atual opção mundial pela certificação detoda a cadeia produtiva gera desafios para oslaboratórios, pois há dúvidas quanto à necessidadede se manter, diminuir ou aumentar o volume deanálises para tal certificação. Nesse sentido,ressalta-se que boa parte das normas e dos padrõesnacionais ainda estão focadas em análises decontrole da conformidade no produto final.

• Aumento da cobrança da adoção dosplanos de Análise dos Perigos e Pontos Críticosde Controle (APPCC) – Adotado voluntariamentepor várias empresas, há clara tendência de secondicionar a comercialização de produtosagrícolas processados à adoção de planos deAPPCC.

• Aumento da aplicação de análise deriscos – Sob a ótica do Acordo Sanitário eFitossanitário (SPS), essa ferramenta vem sendoadotada cada vez mais intensamente para adefinição de novas regras, assim como para avalidação de regras contrárias às normas Codex,ou às normas internacionais consagradas.

• Aumento das inspeções nas fronteiras –Há claro aumento das inspeções de conformidadee de qualidade de produtos para o ingresso nosEstados Unidos (EUA) e na Europa. Associada atais inspeções e a padrões internos, cada vez maisrestritivos, dos EUA e de países europeus, aumen-ta-se também a pressão, aos laboratórios creden-ciados, por qualidade dos serviços prestados.

Assim, a adoção efetiva de um sistema degestão da qualidade deve ser uma necessidadeprioritária para os órgãos de credenciamentoexistentes no Brasil e no mundo.

• Aumento da transparência – Todas asanálises de risco e medidas de controle dascadeias produtivas são de domínio público epassíveis de auditoria ou de inspeção por par-ceiros comerciais.

Nesse sentido, cabe ressaltar ter havidoaumento do número de notificações naOrganização Mundial do Comércio (OMC), bem

como de Missões Internacionais aos paísesexportadores (HENSON, 2005).

A constância de especialistas internacionaisdestacados para a auditoria em laboratórios trazsérias implicações para os laboratórios creden-ciados.

• Padrões mais amplos e rigorosos – Emvários países industrializados, novas evidênciascientíficas e o fortalecimento da pressão poralimentos seguros elevaram o rigor adotado paraa definição de padrões. Na última década, houveaumento das normas e das exigências européiasrelativas a controle de resíduos químicos emprodutos agropecuários. Houve aumento tambémdo controle do ingresso dos produtos nas fronteiras,o que gerou conflitos comerciais entre países,assim como notificações na Organização Mundialdo Comércio (OMC) relacionadas a aflatoxinas,metais pesados, resíduos de agrotóxicos e demedicamentos veterinários, dentre outros.

• Bioterrorismo – Após o ataque terroristade 11 de setembro, houve, principalmente nosEUA, maior controle contra a contaminaçãovoluntária e criminosa de produtos .

• Princípio da precaução – O Acordo sobrea Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossani-tárias (SPS) permitiu a adoção de medidas adicio-nais para a proteção do meio ambiente, daprodução e dos consumidores quando há, mesmosem evidências científicas irrefutáveis, a iminên-cia de perigo. Controversa e altamente contestável,a adoção do princípio da precaução é motivo dedisputas na OMC.

• Adoção de meios distintos para a soluçãode problemas comuns – Os países continuam aadotar abordagens distintas para a resolução deproblemas comuns. Dessa forma, verifica-se aadoção de padrões e de inspeções diferentes paraum mesmo produto: esse é um ponto de disputapermanente entre países, pois há necessidade deadaptação de meios e de ações para cadaimportador ou nova exigência.

Muitas das ações para o controle e aeliminação dos perigos associados aos alimentossão simples e factíveis ainda que nas piores

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condições materiais. Entretanto, mesmo quandohá adoção efetiva dos controles as barreirasexistentes para a certificação dos produtosdemandam uma mudança de paradigmas emsociedades não industrializadas, pois há umacrescente cobrança, por parte dos países industriali-zados, por certificados rastreáveis que comprovemo controle de toda a cadeia produtiva (EL TAWIL 2002,citado por JAFEE; HENSON, 2004).

Esses sistemas de controle e de certifi-cação exigem investimentos elevados para aconformidade com os padrões da InternationalStandardization for Organization (ISO), ou comoutros necessários à acreditação e ao reconhe-cimento internacional.

Significado e importânciados custos de adequação

Dados os motivos anteriormente relacio-nados, os custos de adequação às normasinternacionais de qualidade da rede de avaliaçãoda conformidade e da fiscalização, provenientesdos países em desenvolvimento vêm, de formadistinta, demandando investimentos em ativos eem outros custos fixos bem como em treinamento,em consultorias e em outros custos variáveis.

A maior demanda de investimentos costumaser para capacitação e adequação de laboratóriosde exportação para países industrializados(JAFFEE; HENSON, 2004).

Na Tabela 1, há claro indicativo de que,em um futuro próximo, apenas certificados deconformidade provenientes de organismos oude entidades certificadas internacionalmenteserão aceitos.

Contudo, pode-se também extrair da Tabela1 a conclusão de que os sistemas atualmenteadotados para a fiscalização e o controle deprodutos de origem vegetal do Brasil enquadram-se, em quase sua integralidade, na classe“Controle” na qual as exigências são menores.

O aumento da complexidade para ocontrole e a garantia dos serviços dos laboratórios

é necessário e prioritário para o País, mas deve-se também buscar a correta estratificação dasações, ponderando-se, adequadamente, sobre orisco da não inspeção de produtos nas regiõescujos laboratórios não tenham se enquadradoainda às crescentes exigências de credencia-mento.

Corrobora-se essa afirmação a necessidadede customização das normas internacionais decredenciamento de laboratórios, principalmenteda ISO/IEC 17025, às necessidades dos usuáriosdos laboratórios (KING, 2001) e às dificuldadesexistentes para a certificação e o reconhecimento,quando buscados para a equivalência e a mútuaaceitação internacional de resultados e decontroles entre parceiros comerciais. Nessescasos há desafios e barreiras internas (materiais eculturais) para a adequação das medidas decontrole, de inspeção em laboratórios e de infra-estrutura de certificação.

Segundo o Banco Mundial (2005),paralelamente aos esforços de adequação e decertificação dos países devem ocorrer odesenvolvimento e a consolidação das institui-ções, de forma que isso permita o acesso e facilitea participação dos envolvidos no processo comoum todo.

Nesse sentido, os órgãos de credencia-mento também devem buscar a certificaçãointernacional de seus procedimentos, de suasações de fiscalização e de sua certificação delaboratórios.

Para isso faz-se necessária a construção demeios hoje inexistentes nesses órgãos de creden-ciamento, os quais possibilitem a participaçãoativa tanto dos laboratórios credenciados comodaqueles em busca de credenciamento,viabilizando, assim a abertura de canais decomunicação entre os envolvidos, com vistas naadequação das ações, por parte dos órgãos decredenciamento, e na programação dos cada vezmais necessários investimentos em infra-estruturae em capital humano (treinamento) por parte doslaboratórios.

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Tabela 1. Avaliação da conformidade e da necessidade institucional para o controle de produtos.

(1) CQ = Controle de qualidadeFonte: adaptado de Henson (2005).

Controle

Certificação

Reconhecimento

Auditoria e certificaçãodo sistema de garantiada qualidade dofabricante

Por certificadora

Item anterior +Credenciamento daentidade certificadora

Por programa decredenciamentopúblico ou privado

Itens anteriores +Reconhecimento oficialdo programa decredenciamentoadotado

Por autoridade públicareconhecidainternacionalmente

Certificação dosistemada qualidade

Certificação do produtode acordo com padrões

Por entidadeclassificadora oucontroladora

Item anterior +Credenciamento dacompetência daclassificadora econtroladora

Por programa decredenciamento públicoou privado

Itens anteriores +Reconhecimento oficialdo programa decredenciamento adotado

Por autoridade públicareconhecidainternacionalmente

Certificaçãodos produtos

CQ(1) do produto

Por laboratórioindependente

Item anterior +Credenciamento dacompetência dolaboratório

Por programa decredenciamentopúblicoou privado

Itens anteriores +Reconhecimentooficialdo programa decredenciamentoadotado

Por autoridadepública reconhecidainternacionalmente

Certificação dequalidade dosprodutos

CQ(1) eGarantia daqualidade doproduto

Pelo fabricante

Necessário

Necessário

Certificação dequalidade dosprodutos

Controle dequalidade pelo

fabricante Papel da terceira parte

ConclusõesA adequação para o reconhecimento mútuo,

que é a aceitação mútua dos procedimentos deinspeção do parceiro comercial, é peça-chave nocomércio mundial de produtos, bem comocaminho sem retorno para a inserção adequadado Brasil no cenário internacional de comérciode produtos agropecuários.

Nessa direção, o movimento dos órgãos decredenciamento suscita, quer para os laboratórioscredenciados como quer para aqueles quevislumbram o seu credenciamento, o aumento das

exigências e dos controles, com a devidapremiação de excelência para aqueles queefetivamente apoiarem o processo de acreditaçãointernacional.

A formulação e proposição corretas depolíticas, de normas ou de procedimentos dosórgãos de credenciamento implica a necessidadede ajustes internos também nesses órgãos, para onecessário feedback e envolvimento tanto dosusuários dos laboratórios como dos próprioslaboratórios que controlam a conformidade emprodutos de origem vegetal.

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A busca da excelência per se, com aexclusão de atores importantes e imprescindíveisao controle de produtos, incapazes de se adequara determinadas normas, pode impedir a efetivacertificação da conformidade dos produtos emtoda a cadeia de controle, certificação ereconhecimento da conformidade de produtos deorigem vegetal.

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Análise de riscoem sistemas deprodução agrícolaUma abordagem heurística

Resumo: Com base em um argumento probabilístico-heurístico na especificação da distribuição daprodutividade, e levando-se em conta as expectativas de preço de mercado, caracteriza-se um métodode avaliação do risco para sistemas de cultivo. Nesse contexto, são determinados também níveiscríticos de produtividade e de preços. A técnica é utilizada na análise de 14 sistemas de cultivo, depráticas modais, levantados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Nesseexercício, os sistemas considerados envolvem a produção de leite e as culturas de arroz, feijão e soja.

Palavras-chave: risco, sistemas de cultivo, preços agrícolas, produtividade.

Eliseu Alves1

Geraldo da Silva e Souza1

Antônio Jorge de Oliveira1

1 Pesquisadores da Secretaria de Gestão e Estratégica - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. [email protected], [email protected] [email protected].

IntroduçãoPeriodicamente, por intermédio de suas

unidades descentralizadas, a Embrapa levanta earmazena, em bases de dados da SGE/Sede,características dos sistemas de produção agrícolaem uso, tendo-se em conta locais e regiões deinteresse. Faz-se uso de metodologia padronizadapara a escolha das regiões, locais de levanta-mento e o tratamento dos dados relevantes sobreos sistemas de produção investigados. O resultadodesse exercício é informação para regiões e locaisde interesse sobre a produtividade do sistema deprodução, custo de produção (planilha de custos)e preços de mercado. No artigo procura-seadicionar à informação disponível uma compo-nente de risco econômico, levando-se em contavariações estocásticas na produtividade e aevolução da série de preços. A abordagem éheurística no sentido de que não se dispõe deresultados de pesquisa que permitam a caracteri-zação experimental das distribuições de produtivi-

dade envolvidas e de seus parâmetros, menosainda de uma teoria que guie as hipóteses.A exposição procede como se segue. Primeira-mente, define-se a análise do comportamentoestatístico das séries de tempo e seu uso naelaboração de classificação de níveis de risco. Aseguir, com base na distribuição de probabilidadesdas produtividades e de níveis de preço potencial-mente realizáveis, define-se a classificação emníveis decrescentes de risco e patamares mínimosde operação de produtividades e preços para osistema de produção. Finalmente, apresenta-seum exemplo de uso da metodologia proposta e aclassificação de risco, com os parâmetrosrespectivos para 14 sistemas de produção.

Séries de preçosAs séries cobrem os 12 meses de cada ano,

de 1995 a 2005. Trata-se de preços pagos aos

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produtores, como publicados pela revistaAgroanalysis (IPEA-DATA, 2006). Para cadaproduto de interesse – feijão, arroz, milho, soja eleite, ajustou-se o modelo ARMA, de ordemapropriada, à série de preços correspondente,após sua redução à estacionaridade, via oprocesso de diferenciação (BROCKWELL; DAVIS,2003). Com base no modelo ajustado, forampreditos os valores para o período 1995–2005 eos seus limites inferior e superior, no nível deconfiança de 95% . Dividiu-se a série original pelapredita e buscou-se o resultado mínimo da divisão.O valor mínimo foi multiplicado pelo preço doproduto respectivo disponível no sistema deinformação da Embrapa, e o resultado denomina-se nível provável. Repetiu-se a operação, agoracom o limite superior. O mínimo encontrado foimultiplicado pelo preço do respectivo produto edenominou-se o resultado de nível pessimista. Asculturas e os respectivos multiplicadores estãolistados na Tabela 1.

mister observar que, a julgar pelas informaçõesdisponíveis do IBGE, a maioria das produtividadesassociadas aos sistemas de produção consideradosaqui têm distribuição gama. Outras alternativas,como a distribuição log-normal, por exemplo,mostraram-se menos flexíveis. Por não haverinformação sobre o desvio padrão, ele foi tomadocomo 10% da média, outra consideraçãoheurística. Esse tipo de variabilidade relativa écomum em ensaios controlados e é o que seesperaria em repetições do sistema modal.O coeficiente de variação de gama é o inverso

de e, portanto, p =100 para qualquer sistema

de produção. A constante de escala ficadeterminada pela média, variável para cadasistema de produção. Vale informar, para umcoeficiente de escala próximo de dois, adistribuição da produtividade é essencialmentenormal pelo Teorema Central do Limite (CASELLA;BERGER, 2001).

Para um dado sistema de produção modal,conhece-se o custo total e o preço de venda doproduto2. O custo dividido pelo preço dá onivelamento. Ou seja, a produção por hectare quetão somente cobre o custo. Produtividade menorque ela significa prejuízo.

Com base nos níveis esperados de preços enas produtividades correspondentes de nivela-mento, sugerimos a classificação de risco. A regrade classificação toma como base a posiçãorelativa da produtividade de nivelamento relativa-mente ao quinto percentil da distribuição gama.A idéia é comum na área de finanças (value atrisk) e em experimentação agronômica, na qualo valor probabilístico de 0,05 é comumenteutilizado como fronteira para significância.A classificação é simples. Para cada um dos trêsníveis de preço (1=observado, 2=provável e3=pessimista), obtém-se a correspondenteprodutividade de nivelamento τi (i =1,2,3) everifica-se, na distribuição gama, a probabilidadede ocorrência δi (i =1,2,3) de produtividade menorou igual. O sistema de produção é classificadocomo inconfiável se δi > 0,05 para quaisquer dos

Tabela 1. Multiplicadores por produto, níveis provávele pessimista.

FeijãoArrozMilhoSojaLeite

Exploração

0,82880,91370,88580,87570,9430

Nívelprovável

0,71310,79160,76030,70340,8828

Nívelpessimista

Classes de risco e medidas críticasde produtividade e preços

A produtividade modal do sistema deprodução de interesse é obtida pela Embrapa pormeio de métodos específicos. Tomou-se essaprodutividade como sendo a média de umadistribuição gama (CASELLA; BERGER, 2001)com parâmetros positivos p e λ. A constante p é oparâmetro de localização e o inverso de λ, oparâmetro de escala. A escolha da distribuiçãogama é heurística, em vista de a informação modalser obtida por consenso, via entrevistas. Faz-se

2 O custo total permanece fixo. A produtividade varia de acordo com a distribuição gama.

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preços. É classificado como instável se δi < 0,05 eδ2, δ3 > 0,05. É classificado como sob suspeita seδ1, δ2 < 0,05 e δ3 > 0,05. Se δi < 0,05 paraqualquer i, diremos que o sistema é estável. ATabela 2 resume a classificação.

Observa-se na Tabela 2 que, uma vez quese obtém > 5% numa coluna, o mesmo ocorrerácom as seguintes, porque o preço que correspondea uma coluna é maior que o da seguinte: obser-vado > provável > pessimista.

relação (Custo de produção)/h. Ou seja, ao menorpreço, tem-se 95% de probabilidade de ocorrênciade uma produtividade que colocará o sistema novermelho. O menor preço é, assim, o limite inferiorpara o preço. Portanto, se a expectativa de preçospessimista for inferior ao menor preço, o sistemade produção será inconfiável.

Exemplo

Na Tabela 3, ilustra-se o cálculo dasmedidas críticas e a determinação da classificaçãode um sistema de produção para a cultura dofeijão, no Município de Castro, PR. O nível depreço observado para essa cultura é de R$ 60,00por saco. Utilizando os coeficientes da Tabela 1,obtém-se os níveis de preço provável (R$ 49,73)e pessimista (R$42,79). A distribuição gamapertinente a esse sistema de produção fica deter-minada quando se faz p=100 e pλ-1 = 40, que é amédia da distribuição. Logo, λ-1 = 0,40.

Os nivelamentos observados para os preços– observado, provável e pessimista – são, respec-tivamente, 30,19; 36,43 e 42,35 sacos por hectaree são obtidos pela divisão do custo total(R$ 1.811,35) pelo nível de preço correspondente.Para a variável aleatória X, com distribuição gamae parâmetros p = 100 e λ = 2,5 obtém-se os níveisde probabilidades τ1 = Prob (X < 30,19) = 0,04,τ

2 = Prob (X < 36,43) = 0,19 e τ

3 = Prob (X < 42,34)

= 0,73.

As probabilidades associadas à distribuiçãogama podem ser obtidas de um pacote estatísticoque disponibilize as funções quantílica e dedistribuição de probabilidades. Utilizamos o SAS,em que essas funções são λ x gamainv (0,05,x) ecdf(‘gamma’, x, p, λ-1), respectivamente.

O nivelamento crítico w é a solução daequação Prob (X < w) = 0,05. Segue que w =33,656 sacos por hectare e o preço de nivela-mento correspondente é de R$ 53,82 (1.811,35/33,656) por saco. Observe que a queda de cercade 9% do preço observado, para o nível de R$53,82, põe o sistema no vermelho.

Finalmente, o 95º percentil h da distribuiçãogama é a solução da equação Prob (X < h) = 0,95.Tem-se h=46,799, e o preço mínimo corres-pondente é de R$ 38,71 (1.811,35/46,799) por saco.

Tabela 2. Classes de risco para um sistema deprodução. Base nas probabilidades δi (i =1, 2, 3) =Probabilidade (Gama < τi) dos níveis de nivelamentoτi correspondentes aos níveis de preços.

> 5%< 5%< 5%< 5%

Nível depreço

observado

> 5%> 5%< 5%< 5%

Nível depreço

provável

> 5%> 5%> 5%< 5%

Nívelpessimista

InconfiávelInstável

Sob suspeitaEstável

Classificação

Outra informação relevante para a análisedo sistema de produção é o que chamamos denivelamento crítico. Verifica-se na distribuiçãogama associada ao sistema de produção sobanálise que produtividade menor ou igual a wocorre com 5% de chance. Essa quantidade é oquinto percentil. O preço de nivelamento é oquociente (Custo de produção)/w.

O tomador de decisão vê a classificaçãodo sistema. O inconfiável não é adotado. Oinstável pode ser adotado, mas convém comprarum seguro, cujo prêmio é arbitrado em 5% dovalor segurado. Sendo segurado R$ 1.000,00, oprêmio do seguro corresponde a R$ 50,00. Esseprêmio não é parte do custo e deve ser descontadoda receita. O estável ou sob suspeita pode seradotado sem restrição. O prêmio de seguro paraeles corresponde àquele de catástrofe, a serestabelecido pelo governo.

O menor preço também dá informaçãomuito relevante para a decisão. Como ele éencontrado? Determina-se, na distribuição gama,o 95º percentil h. O menor preço é definido pela

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 72

Tabela 3. Sistema de produção do feijão em Castro, PR. Variável aleatória produtividade X com distribuição gamacom parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,4.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Prêmio seguro/R$ 1.000,00

Item

Feijão das águas; plantio direto

Castro, PR

18/6/2004

40 sacos/hectare

0,10

R$ 1.811,35

R$ 60,00

Produtividade=33,565 sacos/hectare; Preço=R$ 53,82; Prob(X < 33,565) = 0,05Queda de preço de 10,3% relativamente ao observado

Produtividade=30,189 sacos/hectare; Preço=R$ 60,00; Prob(X < 30,189) = 0,04

Produtividade=36,425 sacos/hectare; Preço=R$ 49,73; Prob(X < 36,425) = 0,19Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade=42,335 sacos/hectare; Preço=R$ 42,79; Prob(X < 42,335) = 0,73Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 38,71; Produtividade=46,799 sacos/hectareQueda de preço de 35,49% relativamente ao observado

Instável. Precisa de seguro para ser adotado

R$ 50,00

Anotação

Resultados resumidos de14 sistemas de produção

Apresenta-se na Tabela 4 a classificação de14 sistemas de produção, sendo nove deles sobrefeijão, dois sobre milho e um para cada uma dasexplorações arroz, leite e soja.

Nenhum deles alcançou a classificaçãoestável. Foram encontrados três sistemasinconfiáveis, todos eles de alto custo total porhectare. Cinco sistemas são instáveis, e oempreendedor precisa de seguro para adotá-los,sendo o prêmio equivalente a 5% do valor

segurado. Os restantes seis sistemas receberam aclassificação sob suspeita, sendo muito baixa aprobabilidade de ocorrência de um eventodesfavorável. Por isso, o empresário pode correro risco de adotá-los sem a compra de seguro. Ouentão, deve-se segurar contra calamidade, ouseja, eventos de probabilidade menor ou igual aum em mil, prêmio a ser estabelecido pelogoverno.

As Tabelas 5 a 17 complementam asavaliações dos sistemas resumidos na Tabela 4,com exceção do Feijão do Município de Castro,PR, já avaliado na Tabela 3.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200673

Tabela 4. Avaliação de risco de 14 sistemas de produção.

(1) Custo em R$ por vaca.(2) Litros/vaca/dia.

Feijão-águasFeijão-águasFeijão-águasFeijãoFeijão-águasFeijão-águasFeijão-águasFeijão-águasFeijãoArrozMilhoMilhoSojaLeite

Lavoura

Castro, PRIrati, PRIrati, PRPrimavera do Leste, MTIrati, PRChapecó, SCCampos Novos, SCUnaí, MGParipiranga, BAIguatu, CECampos Novos, SCRio Verde, GOPedro Afonso, TOMG

Local

1.811,351.335,411.606,132.491,771.278,481.599,931.790,332.584,33

779,462.287,27

393,461.103,361.675,14

4,00(1)

Custo (R$/ha)

Plantio diretoConvencionalPlantio diretoIrrigadoPlantio diretoPlantio diretoPlantio diretoIrrigadoConvencionalIrrigadoBaixa tecnol.Alta tecnol.Alta tecnol.Convencional

Tecnologia

402540453530355030

11740

1205010(2)

Produtividade(sacos/ha)

InstávelInstávelSob suspeitaInconfiávelSob suspeitaInstávelSob suspeitaInconfiávelSob suspeitaInstávelSob suspeitaSob suspeitaInconfiávelInstável

Classe

Tabela 5. Sistema de produção do feijão em Irati, PR. Variável aleatória produtividade X com distribuição gamacom parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,40.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Prêmio seguro/R$ 1.000,00

Item

Feijão das águas; plantio convencional; semimecanizado

Irati, PR

18/6/2004

25 sacos/hectare

0,10

R$ 1.335,41

R$ 66,00

Produtividade=21,035 sacos/hectare; Preço=R$ 63,49; Prob(X < 21,035) = 0,05Queda de preço de 3,81% relativamente ao observado

Produtividade=20,234 sacos/hectare; Preço=R$ 66,00; Prob(X < 20,234) = 0,02

Produtividade=24,413 sacos/hectare; Preço=R$ 54,70; Prob(X < 36,425) = 0,42Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade=28,374 sacos/hectare; Preço=R$ 47,06; Prob(X < 42,335) = 0,91Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 45,66; Produtividade=29,249 sacos/hectareQueda de preço de cerca de 30,82% relativamente ao observado

Instável. Precisa de seguro para ser adotado

R$ 50,00

Anotação

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 74

Tabela 6. Sistema de produção do feijão em Irati, PR. Variável aleatória produtividade X com distribuição gamacom parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,25.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Plantio direto de Irati, PR

Irati, PR

17/6/2004

40 sacos/hectare

0,10

R$ 1.606,13

R$ 60,00

Produtividade=33,656 sacos/hectare; Preço=R$ 47,72; Prob(X < 33,656) = 0,05Queda de preço de 20,46% relativamente ao observado

Produtividade=26,769 sacos/hectare; Preço=R$ 60,00; Prob(X < 26,769) < 0,001

Produtividade=32,298 sacos/hectare; Preço=R$ 49,73; Prob(X < 32,298) = 0,02Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade=37,539 sacos/hectare; Preço=R$ 47,06; Prob(X < 37,539) = 0,28Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 34,32; Produtividade=46,799 sacos/hectareQueda de preço de 42,82% relativamente ao observado

Sob suspeita. Pode ser adotado

Anotação

Tabela 7. Sistema de produção do feijão em Primavera do Leste, MT. Variável aleatória produtividade X comdistribuição gama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,45.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ

2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Feijão; plantio direto; irrigado; pivô central

Primavera do Leste, MT

19/7/2005

45 sacos/hectare

0,10

R$ 2.491,77

R$ 60,00

Produtividade=37,863 sacos/hectare; Preço=R$ 65,81; Prob(X < 37,863) = 0,05Aumento de preço de 9,68% relativamente ao observado

Produtividade=41,529 sacos/hectare; Preço=R$ 60,00; Prob(X < 41,529) = 0,22

Produtividade=50,108 sacos/hectare; Preço=R$ 49,73; Prob(X < 50,108) = 0,87Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade=58,238 sacos/hectare; Preço=R$ 47,06; Prob(X < 58,238) = 1,0Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 47,33; Produtividade=52,649 sacos/hectareQueda de preço de 21.12% relativamente ao observado

Inconfiável. Não deve ser adotado

Anotação

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200675

Tabela 8. Sistema de produção do feijão em Irati, PR. Variável aleatória produtividade X com distribuição gamacom parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,35.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Feijão; plantio direto

Irati, PR

17/6/2004

35 sacos/hectare

0,10

R$ 2.491,77

R$ 60,00

Produtividade=29,449 sacos/hectare; Preço=R$ 43,41; Prob(X < 29,449) = 0,05Aumento de preço de 9,68% relativamente ao observado

Produtividade=21,308 sacos/hectare; Preço=R$ 60,00 ; Prob(X < 21,308) < 0,0001

Produtividade=25,709 sacos/hectare; Preço=R$ 49,73; Prob(X < 25,709) = 0,002Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade =29,881; Preço=R$ 47,06; Prob(X < 58,238)=0,07Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 31,22; Produtividade=40,949 sacos/hectareQueda de preço de 47,96% relativamente ao observado

Sob suspeita. Pode ser adotado

Anotação

Tabela 9. Sistema de produção do feijão em Chapecó, SC. Variável aleatória produtividade X com distribuiçãogama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,30.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Feijão; plantio direto, manual e colheita semimecanizdada

Chapecó, SC

16/5/2005

30 sacos/hectare

0,10

R$ 1.599,93

R$ 70,00

Produtividade=25,242 sacos/hectare; Preço=R$ 63,38; Prob(X < 25,242) = 0,05Aumento de preço de 9,46% relativamente ao observado

Produtividade=22,856 sacos/hectare; Preço=R$ 70,00; Prob(X < 22,856) < 0,006

Produtividade=27,577 sacos/hectare; Preço=R$ 49,73; Prob(X < 27,577) = 0,21Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade =32,052 sacos/hectare; Preço=R$ 47,06; Prob(X < 32,052) = 0,76Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 45,58; Produtividade=35,099 sacos/hectareQueda de preço de 34,89% relativamente ao observado

Instável. Pode ser adotado com seguro

Anotação

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 76

Tabela 10. Sistema de produção do feijão em Campos Novos, SC. Variável aleatória produtividade X com distribuiçãogama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,35.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ

1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Feijão; plantio direto; mecanizado; primeira safra

Campos Novos, SC

17/5/2005

35 sacos/hectare

0,10

R$ 1.790,33

R$ 75,00

Produtividade=29,449 sacos/hectare; Preço=R$ 60,79; Prob(X < 29,449) = 0,05Queda de 18,95% relativamente ao observado

Produtividade=23,871 sacos/hectare; Preço=R$ 75,00; Prob(X < 23,871) < 0,002

Produtividade=28,802 sacos/hectare; Preço=R$ 62,16; Prob(X < 28,802) = 0,03Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade=33,475 sacos/hectare; Preço=R$ 53,48; Prob(X < 33,475) = 0,34Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 43,72; Produtividade=40,949 sacos/hectareQueda de preço de 41,71% relativamente ao observado

Sob suspeita. Pode ser adotado

Anotação

Tabela 11. Sistema de produção do feijão em Unaí, MG. Variável aleatória produtividade X com distribuição gamacom parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,50.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ

3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Feijão; plantio direto; irrigado; Pivô Central; Cultura de inverno

Unaí, MG

1º/12/2004

50 sacos/hectare

0,10

R$ 2.584,23

R$ 60,00

Produtividade=42,070 sacos/hectare; Preço=R$ 61,43; Prob(X < 42,070) = 0,05Aumento de preço de 2,38% relativamente ao observado

Produtividade=43,071 sacos/hectare; Preço=R$ 60,00; Prob(X < 43,071) = 0,08

Produtividade=51,967 sacos/hectare; Preço=R$ 49,73; Prob(X < 51,967) = 0,66Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade=60,399 sacos/hectare; Preço=R$ 47,06; Prob(X < 60,399) = 0,98Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 44,18; Produtividade=58,499 sacos/hectareQueda de preço de 26,37% relativamente ao observado

Inconfiável. Não deve ser adotado

Anotação

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200677

Tabela 12. Sistema de produção do feijão em Paripiranga, BA. Variável aleatória produtividade X com distribuiçãogama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,30.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ

2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Feijão; plantio da seca; mecanização; animal e manual

Paripiranga, BA

23/8/2004

30 sacos/hectare

0,10

R$ 779,46

R$ 40,00

Produtividade=25,242 sacos/hectare; Preço=R$ 30,88; Prob(X < 25,242) = 0,05Queda de preço de 22,8% relativamente ao observado

Produtividade=19,487 sacos/hectare; Preço=R$ 40,00; Prob(X < 19,487) < 0,0001

Produtividade=23,512 sacos/hectare; Preço=R$ 33,15; Prob(X < 23,512) = 0,01Queda de preço de 17,12% relativamente ao observado

Produtividade=27,326 sacos/hectare; Preço=R$ 28,52; Prob(X < 27,326) = 0,19Queda de preço de 28,69% relativamente ao observado

R$ 22,21; Produtividade=35,099 sacos/hectareQueda de preço de 44,48% relativamente ao observado

Sob suspeita. Pode ser adotado

Anotação

Tabela 13. Sistema de produção do arroz em Iguatu, CE. Variável aleatória produtividade X com distribuição gamacom parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 = 1,17.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Arroz irrigado

Iguatu, CE

4/8/2005

117 sacos/hectare

0,10

R$ 2.287,27

R$ 24,00

Produtividade=98,443 sacos/hectare; Preço=R$ 23,23; Prob(X < 98,443) = 0,05Queda de preço de 3,21% relativamente ao observado

Produtividade=95,303 sacos/hectare; Preço=R$ 24,00; Prob(X < 95,303) = 0,03

Produtividade=104,304 sacos/hectare; Preço=R$ 21,93; Prob(X < 104,304) = 0,14Queda de preço de 8,63% relativamente ao observado

Produtividade=120,393 sacos/hectare; Preço=R$ 19,00; Prob(X < 120,393) = 0,63Queda de preço de 20,84% relativamente ao observado

R$ 16,71; Produtividade=136,887 sacos/hectareQueda de preço de 30,38% relativamente ao observado

Instável. Precisa de seguro para ser adotado

Anotação

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 78

Tabela 14. Sistema de produção do milho em Campos Novos, SC. Variável aleatória produtividade X com distribuiçãogama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 = 0,40.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ

1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Milho; sistema convencional; primeira safra; baixa tecnologia

Campos Novos, SC

31/1/2005

40 sacos/hectare

0,10

R$ 393,46

R$ 14,00

Produtividade=33,656 sacos/hectare; Preço=R$ 11,69; Prob(X < 33,656) = 0,05Queda de preço de 16,50% relativamente ao observado

Produtividade=28,104 sacos/hectare; Preço=R$ 14,00; Prob(X < 28,104) < 0,0005

Produtividade=31,728 sacos/hectare; Preço=R$ 12,40; Prob(X < 31,728) = 0,01Queda de preço de 11,43% relativamente ao observado

Produtividade=36,965 sacos/hectare; Preço=R$ 10,64; Prob(X < 36,965) = 0,23Queda de preço de 24,00% relativamente ao observado

R$ 8,41; Produtividade=52,649 sacos/hectareQueda de preço de 34,93% relativamente ao observado

Sob suspeita. Pode ser adotado

Anotação

Tabela 15. Sistema de produção de milho em Rio Verde, GO. Variável aleatória produtividade X com distribuiçãogama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 = 1,20.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ2 - Preço provável

Nivelamentoτ

3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Milho; primeira safra; alta tecnologia com plantio direto

Rio Verde, GO

8/9/2005

120 sacos/hectare

0,10

R$ 1.103,36

R$ 14,00

Produtividade=100,967 sacos/hectare; Preço=R$ 10,93; Prob(X < 100,967) = 0,05Queda de preço de 21,93% relativamente ao observado

Produtividade=78,114 sacos/hectare; Preço=R$ 14,00; Prob(X < 78,114) < 0,00001

Produtividade=88,972 sacos/hectare; Preço=R$ 12,40; Prob(X < 31,728) = 0,002Queda de preço de 11,43% relativamente ao observado

Produtividade=103,658 sacos/hectare; Preço=R$ 10,64; Prob(X < 103,658) = 0,08.Queda de preço de 24,00% relativamente ao observado

R$ 7,86; Produtividade=140,397 sacos/hectareQueda de preço de 43,86% relativamente ao observado

Sob suspeita. Pode ser adotado

Anotação

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200679

Tabela 16. Sistema de produção da soja em Pedro Afonso, TO. Variável aleatória produtividade X com distribuiçãogama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 =0,50.

(1) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ

2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(1)

Classificação

Item

Soja; primeira safra; alta tecnologia com plantio direto

Pedro Afonso, TO

7/12/2004

50 sacos/hectare

0,10

R$ 1.675,14

R$ 32,00

Produtividade=42,070 sacos/hectare; Preço=R$ 39,82; Prob(X < 42,070) = 0,05Aumento de preço de 24,44% relativamente ao observado

Produtividade=52,348 sacos/hectare; Preço=R$ 32,00; Prob(X < 52,348) = 0,69

Produtividade=59,779 sacos/hectare; Preço=R$ 28,02; Prob(X < 59,779) = 0,97Queda de preço de 12,44% relativamente ao observado

Produtividade=74,422 sacos/hectare; Preço=R$ 22,51; Prob(X < 74,422) = 1,00.Queda de preço de 29,66% relativamente ao observado

R$ 28,64; Produtividade=58,499 sacos/hectareQueda de preço de 10,50% relativamente ao observado

Inconfiável. Não deve ser adotado

Anotação

Tabela 17. Sistema de produção do leite em Minas Gerais. Variável aleatória produtividade X com distribuiçãogama com parâmetro de localização p = 100 e de escala λ-1 = 0,1.

(1) Gomes, T. G., Lins, Priscilla M. G. e Vilela, Pierre S. Diagnóstico da pecuária leiteira do Estado de Minas Gerais em 2005, Belo Horizonte, SEBRAE-MG, FAEMG, OCEMG, SENAR-AR/MG, 2006.(2) Ao menor preço, a produtividade exigida para que o valor da produção iguale o custo ocorre com 95% de probabilidade. Produtividade menor quea exigida põe o sistema no vermelho.

Título

Local

Data da coleta

Produtividade

Coeficiente de variação

Custo total

Preço de venda

Nivelamento crítico

Nivelamentoτ1 - Preço observado

Nivelamentoτ

2 - Preço provável

Nivelamentoτ3 - Preço pessimista

Menor preço(2)

Classificação

Item

Leite, baixa produtividade

Adaptada de Diagnóstico da Pecuária Leiteira de MG(1)

No ano de 2005

10 litros/vaca/dia. Produtores entre 200 e 500 litros diários

0,10

Custo diário por vaca: R$ 4,00

R$ 0,50

Produtividade=8,414 litros/vaca/dia; Preço=R$ 0,48; Prob(X < 8,414) = 0,05Queda de preço de 4,00% relativamente ao observado

Produtividade=8,000 litros/vaca/dia; Preço=R$ 0,50; Prob(X < 8,000) = 0,02

Produtividade=8,484 litros/vaca/dia; Preço=R$ 0,47; Prob(X < 8,484) = 0,06Queda de preço de 6,00% relativamente ao observado

Produtividade=9,062 litros/vaca/dia; Preço=R$ 0,44; Prob(X < 9,062) = 0,17Queda de preço de 12,00% relativamente ao observado

R$ 0,34; Produtividade=11,70 litros/vaca/diaQueda de preço de 15% relativamente ao observado

Instável. Precisa de seguro para ser adotado

Anotação

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 80

ReferênciasIPEA-DATA. Fontes. FGV-Agroanalysis. Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?158758250.Acesso em: 15 ago 2006.

BROCKWELL; PETER J.; DAVIS RICHARD A. Introduction totime series and forecasting, 2.ed, Springer, New York, 2003.

CASELLA, G.; BERGER, R. Statistical Inference, 2. ed. New York:Duxberky, 2001.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200681

Colheita e comercializaçãode frutos de imbuzeiropelos agricultoresda Região Semi-Áridado Nordeste

Resumo: O imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) é uma fruteira nativa da Região Semi-Árido doNordeste, de grande importância para as populações rurais da região. Além de fonte de rendaalternativa para os agricultores, a safra do imbuzeiro é também a principal atividade de absorçãode mão-de-obra das famílias rurais na época da colheita. O objetivo deste estudo é verificar aparticipação do extrativismo do fruto do imbuzeiro na absorção de mão-de-obra e na geração derenda dos agricultores de cinco comunidades da Região Semi-Árida do Estado da Bahia, nassafras 2001, 2002 e 2003. Foram acompanhados 878 agricultores participantes da colheita deimbu, e os resultados obtidos demonstram que, na safra de 2001, em média 68 agricultores decada comunidade participaram do extrativismo do fruto, cuja renda média foi, para cada umdeles, de R$ 328,82. Na safra de 2002 houve uma redução do percentual desses trabalhadores, oqual caiu então para 58, com uma renda média de R$ 334,44 para cada agricultor. Na safra de2003, a média de agricultores por comunidade caiu para 48, o que significou uma redução naparticipação da colheita, e proporcionou uma das rendas médias mais baixas do período analisado.Com esses resultados, pode-se concluir que a colheita e a comercialização do fruto do imbuzeirosão de fundamental importância para a formação da renda dos agricultores, bem como para aabsorção de mão-de-obra no meio rural no período da safra.

Palavras-chave: agricultores, imbuzeiro, mão-de-obra e renda.

Harvest of commercialization of the imbu tree fruitfor small farmers of Northeast Semi-Arid Region Brazil

Abstract: The imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) is a native fruit tree of the semi-arid region ofNortheast Brazil of great importance for the rural people. The imbuzeiro constitutes, in a source of

Nilton de Brito Cavalcanti1

Geraldo Milanez Resende2

Luiza Teixeira de Lima Brito3

1 Administrador de Empresas, M.Sc. Assistente de Pesquisa da Embrapa Semi-Árido. [email protected] Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Pesquisador da Embrapa Semi-Árido. [email protected] Engenheira Agrônoma, D.Sc. Pesquisadora da Embrapa Semi-Árido. [email protected].

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 82

alternative salary for the farmers and also as a main activity of labor absorption for the ruralfamilies at that time of the crop. The objective of this study was to verify the participation of theharvest of the imbu tree fruit in the job absorption and generation farmers income for fivecommunities in the semi-arid area of the State of Bahia in the crops of 2001, 2002 and 2003. Theywere accompanied 878 farmers that participated in the imbu crop. The results showed that in thecrop of 2001, on average, each community 68 farmers participated in the extraction of the imbuzeirofruit. That activity provided an average income of R$ 328.82 for each farmer. In the crop of 2002,there was a reduction in the percentage of farmers in the imbu crop with an average of 58 farmersinvolved in this activity, which provided a average income of R$ 334.44 for each farmer. In thecrop of 2003, the farmers’ average for community picking imbu fruit was of 48, what means areduction in the participation of the crop with one of average the incomes lower average in theperiod analyzed. The findings were that the crop and commercialization of the imbuzeiro fruit areof fundamental importance for the formation of the farmers’ income and for labor absorption in therural area in the period of the crop.

Key words: small farmers, imbuzeiro, labor and income.

IntroduçãoO imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) é

uma fruteira nativa da Região Semi-Árida doNordeste, de grande importância socioeconômicapara as populações rurais da região. A safra doimbu, que ocorre geralmente no período de janeiroa março, além de fonte de renda alternativa paraos agricultores é também a principal atividade deabsorção de mão-de-obra das famílias rurais naépoca da colheita.

Das plantas nativas da região, entre elas acarnaúba (Copernicia cerífera Mart), a oiticica(Pleuragina umbrosissima Arr. Cam.), o cajueiro(Ancardium occidentale L.), a maniçoba (Manihotglaziovii Muell. Arg.) e o licuri (Syagrus coronata),o imbuzeiro tem proporcionado os melhoresresultados para os agricultores como fonte derenda e de absorção de mão-de-obra. Levanta-mentos realizados por Cavalcanti et al. (1996,1999, 2000) nas comunidades da Região Semi-Árida da Bahia demonstram a importância doextrativismo do imbu na composição da rendafamiliar dos agricultores da região.

Embora Silva et al. (1995) afirmem que, nocontexto atual de crise, e em razão da fragilidadedo ecossistema semi-árido, os recursos naturais eas atividades agropecuárias ali desenvolvidas não

garantam mais a renda indispensável à sobrevi-vência de uma parcela significativa de suapopulação, o que caracteriza uma situação deextrema vulnerabilidade e insustentabilidade dosatuais sistemas de produção dependentes dechuva, a atividade extrativista do fruto doimbuzeiro é, conforme demonstrado porCavalcanti et al. (2000), de grande importância eassegura, em parte, a sobrevivência dos pequenosagricultores e de seus animais.

Tal importância foi confirmada também porMendes (1990), e a ampla distribuição doimbuzeiro foi demonstrada por Santos (1997), oqual encontrou essa fruteira em 17 regiõesecogeográficas do Nordeste brasileiro. Aocorrência do imbuzeiro é registrada em toda aRegião Semi-Árida, mas seu extrativismo épraticado principalmente nos estados do Piauí, doCeará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, dePernambuco, de Sergipe, de Alagoas e da Bahia,assim como na parte semi-árida de Minas Geraise em partes do Maranhão. A Bahia é o maiorprodutor e o principal mercado consumidor dofruto do imbuzeiro (IBGE, 2001).

Para Duque (1980), a incrementação docultivo dessa planta, para que tenha umaexploração sistemática, proporcionaria maior

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200683

renda aos pequenos agricultores, o que ostranqüilizaria diante das incertezas das safrasprejudicadas pelas irregularidades das chuvas.

O objetivo deste estudo é, portanto,verificar a participação do extrativismo do frutodo imbuzeiro na absorção de mão-de-obra ena geração de renda dos pequenos agricultoresde cinco comunidades da Região Semi-Áridada Bahia, nas safras de 2001, de 2002 e de 2003.

Material e métodosPara a realização deste estudo foram

selecionadas as comunidades de Conceição,Fazendinha, Favela, Barracão e Várzea; todaselas localizadas na região semi-árida doMunicípio de Jaguarari, BA. O trabalho foirealizado em duas etapas, com um total de 878agricultores. A primeira delas ocorreu emoutubro e novembro de 2000, quando entãoforam realizadas visitas às comunidades parafins de levantamento das famílias com pessoasenvolvidas no extrativismo do fruto doimbuzeiro. Na segunda etapa, que selecionouos agricultores para o levantamento dasinformações, cada um deles recebeu uma fichapara a anotação dos dados referentes à colheita,à produção e à comercialização dos frutos.

Na segunda etapa, ocorrida durante asafra do imbuzeiro, ou seja, de janeiro a março

de 2001, de 2002 e de 2003, foi realizado umacompanhamento dos trabalhos dos agricultoresparticipantes da colheita do imbu. Além disso,para fins de complementação das informaçõesobtidas nas fichas foram entrevistadas tanto aspessoas das comunidades que participaram dacolheita do fruto do imbuzeiro, como compra-dores desse fruto.

As variáveis analisadas foram as seguin-tes: a) Número, por comunidade, de participan-tes da colheita; b) Tempo, por pessoa, dedicadoà colheita; c) Quantidade, por pessoa, de frutoscolhidos por dia/período; e d) Renda, porpessoa, da venda dos frutos.

As informações obtidas foram submetidasà estatística descritiva, utilizando-se, para isso,o software SAS (SAS INSTITUTE INC., 1999).

Resultados e discussãoConforme pode ser observado na Tabela

1, na safra de 2001 um total de 342 agricultoresdas cinco comunidades participaram dacolheita do imbu.

Embora com as chuvas ocorridas no fimde 2000 muitos agricultores tenham plantadolavouras de milho, de feijão e de melancia, aestiagem dos meses de janeiro e de fevereirode 2001 comprometeu a produção regulardessas culturas, o que tornou a atividade

Tabela 1. Número de agricultores participantes do extrativismo do imbu, período de colheita, quantidade colhidae renda obtida, na safra de 2001, nas comunidades de Conceição, Fazendinha, Favela, Barracão e Várzea.

ConceiçãoFazendinhaFavelaBarracãoVárzeaTotalMédia

ComunidadeNúmero de

participantesda colheita

6672549357

34268

Períodomédio

de colheita

61 53 52 63 6429358,6

Dias

56457

275,4

Horas

Peso médiodiário colhidopor pessoa

(kg)

47,1243,1551,1953,1837,10

231,7446,35

Peso médiocolhido, por

pessoa, na safra(kg)

2.874,322.286,952.661,883.350,342.374,4013.547,892.709,58

Preço do kg(R$)

0,100,100,130,120,160,610,12

Renda médiapor pessoa(1)

(R$)

287,43228,70346,04402,04379,90

1.644,12328,82

(1) Número de agricultores. A renda média é a multiplicação do peso médio colhido, na safra, pelo preço do quilograma.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 84

extrativista do imbu a principal fonte de rendae de absorção de mão-de-obra da maioria dospequenos agricultores.

Na safra de 2001, cada comunidadeparticipou da colheita do imbu com, em média,68 pessoas. O destaque coube à comunidadede Barracão, onde 93 agricultores, num períodode 63 dias, colheram uma quantidade cujarenda média foi de R$ 402,04 para cada agricultor,equivalentes a 2,66 salários mínimos da época.4

Nesse ano, os valores obtidos pelos agricultoresda comunidade de Barracão foram superiores aosobtidos pelos agricultores da comunidade deLagoa do Rancho, em Uauá, BA, na safra de 1995(CAVALCANTI et al., 1996).

Quanto ao tempo dedicado à colheita,em 2001 os agricultores da comunidade deVárzea trabalharam, em média, 64 dias. Emtermos de produtividade, a comunidade deBarracão destacou-se com uma colheita médiadiária de 53,18 kg de frutos por agricultor. Issoproporcionou, durante a safra, uma produçãomédia de 3.350,34 kg de frutos por agricultor,

a qual foi responsável pela maior das rendasdas comunidades envolvidas.

Na comunidade de Várzea, cadaagricultor colheu, diariamente, 37,1 kg, emmédia, o que significou o pior resultado de todasas participantes. Apesar disso, o preço obtidopor quilograma de imbu, R$ 0,16, rendeu a seusagricultores a segunda maior renda com oextrativismo.

Os resultados apresentados na Tabela 1corroboram as afirmações de Figueira (1999),segundo as quais o extrativismo do imbu é umaalternativa muito importante para a melhoria dascondições de renda das populações rurais daCaatinga.

A Fig. 1 mostra pequenos agricultores deBarracão na colheita do fruto do imbuzeirodurante a safra de 2001.

A safra 2002 do imbuzeiro iniciou-se nofim de dezembro de 2001. No entanto, por causados danos nas estradas, provocados pelaschuvas do fim de dezembro de 2001, a venda

Fig. 1. Agricultores dacomunidade de Barracãona colheita de imbu,durante a safra de 2001.

Foto

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4 Salário mínimo em março de 2001: R$ 151,00. Valor do dólar comercial em 20/3/2001: R$ 1,9756.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200685

de imbu nas comunidades só começou a partirda segunda quinzena de janeiro. As chuvasprovocaram também a queda de frutos, o quereduziu a produção daquele ano. Apesar disso,a quantidade de frutos comercializados nessasafra foi maior que na de 2001.

Conforme pode ser observado na Tabela 2,a safra 2002 do imbuzeiro contribuiu, significa-tivamente, tanto para a absorção de mão-de-obra como para a geração de renda dos peque-nos agricultores das comunidades acompa-nhadas, sobretudo em se considerando o fatode o excesso de umidade no solo – provocadopelas muitas chuvas então havidas – ter dificul-tado o trabalho de preparação dos campos parao plantio das lavouras tradicionais.

A Tabela 2 mostra também que, das cincocomunidades acompanhadas, um total de 293agricultores participaram da colheita de imbuem 2002, com uma média de 58 agricultoresenvolvidos nessa atividade. Esse número foiligeiramente menor que o de 2001, quandoentão 68 agricultores participaram dessacolheita.

Em 2002, 58 agricultores da comunidadede Fazendinha colheram imbu num períodomédio de 69 dias, o que proporcionou a rendamédia de R$ 396,03 para cada um deles.

A segunda maior renda coube à comunidadede Favela, cujo valor médio foi de R$ 350,14,equivalentes a 1,95 salário mínimo da época.5

No entanto, a comunidade com o maiornúmero de agricultores na colheita do fruto doimbuzeiro da safra de 2002 foi a de Barracão,com 87 pessoas.

Esses resultados, obtidos pelos pequenosagricultores com a venda do imbu nas safras2001 e 2002, são semelhantes aos encontradospor Cavalcanti et al. (1996, 1999, 2000) emoutras comunidades da região.

Considerando-se que em 1998 a rendamédia das famílias rurais brasileiras que traba-lharam por conta própria foi de R$ 75,76, segundoDel Grossi e Silva (2000), a renda do extrativismoé bastante significativa para os pequenosagricultores da Região Semi-Árida do Nordeste.

Os percentuais referentes à absorção demão-de-obra e à geração de renda corroborama afirmação de Silva et al. (1987), segundo aqual as altas produções alcançadas no extrati-vismo do imbuzeiro constituem-se numa fontede renda e de absorção de mão-de-obra paramuitas famílias rurais que colhem os frutos doimbuzeiro e os vendem ou para consumo innatura, ou em forma de doces.

5 Salário mínimo em março de 2002: R$ 180,00. Valor do dólar comercial em 20/3/2002: R$ 2,356.

Tabela 2. Número de agricultores participantes do extrativismo do imbu, período de colheita, quantidadecolhida e renda obtida, na safra de 2002, nas comunidades de Conceição, Fazendinha, Favela, Barracão eVárzea.

ConceiçãoFazendinhaFavelaBarracãoVárzeaTotalMédia

ComunidadeNúmero de

participantesda colheita

4558568747

29358

Períodomédio

de colheita

6769575460

30761,4

Dias

67677

336,6

Horas

Peso médiodiário colhidopor pessoa

(kg)

45,1047,8351,1943,1238,27

225,5145,10

Peso médiocolhido, por

pessoa, na safra(kg)

3.021,703.300,272.917,832.328,482.296,2013.864,482.772,90

Preço do kg(R$)

0,100,120,120,120,150,61

0,122

Renda médiapor pessoa(1)

(R$)

302,17396,03350,14279,42344,43

1.672,19334,44

(1) A renda média é a multiplicação do peso médio colhido, na safra, pelo preço do quilograma.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 86

A Fig. 2 mostra pequenos agricultorescomercializando imbu nas ruas de Juazeiro, BA,durante a safra de 2003.

Em 2003, a safra do imbuzeiro iniciou-se na primeira quinzena de janeiro e prolongou-se até a primeira quinzena de março. Nascomunidades, as primeiras chuvas foramregistradas no fim de novembro de 2002, e oexcesso de umidade no solo causou oamadurecimento precoce dos frutos. Essefenômeno provocou tanto a queda de muitosfrutos como a redução significativa da produção.A maior parte da colheita foi comprada porcomerciantes de Salvador e de Feira deSantana, BA.

A Tabela 3 mostra que, em 2003, um totalde 243 agricultores das cinco comunidadesparticiparam da colheita, com uma média de48 agricultores por comunidade. Esse númerofoi menor que os verificados em 2001 e em 2002,quando 68 e 58 agricultores, respectivamente,colheram imbu.

Nesse mesmo ano, 72 agricultores dacomunidade de Barracão colheram imbu numperíodo médio de 54 dias de trabalho, o queproporcionou, a cada agricultor, a renda médiade R$ 227,72. Na comunidade de Várzea, onde37 agricultores participaram da colheita de imbunum período médio de 60 dias, a renda médiafoi de R$ 253,66, equivalentes a 1,26 saláriomínimo da época.6

Na comunidade de Conceição, os 40agricultores participantes da colheita de 2003obtiveram a renda média de R$ 303,41.

Como pode ser verificado na Tabela 3, asafra 2003 de imbu contribuiu, de formasignificativa, tanto para a absorção de mão-de-obra como para a geração de renda dosagricultores. Contudo, os resultados teriam sidoainda melhores caso as chuvas do período da safranão tivessem provocado queda antecipada defrutos e um ataque de borboletas, o que causoudanos significativos nos frutos e deixou boa partedeles imprópria para comercialização.

6 Salário mínimo em março de 2003: R$ 200,00. Valor do dólar comercial em 20/3/2003: R$ 3,3531.

Fig. 2. Agricultorescomercializando ofruto do imbuzeiro nasruas de Juazeiro, BA,na safra de 2003.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200687

A Fig. 3 mostra pequenos agricultores dacomunidade de Fazenda Brandão, no Municípiode Curaçá, BA, trabalhando no processamentodo imbu nda safra de 2003.

ConclusõesAlém de contribuir para absorção de mão-

de-obra e geração de renda, a atividade

extrativista do fruto do imbuzeiro, desenvolvidapelos pequenos agricultores da Região Semi-Árida do Nordeste, é também de grandeimportância para a fixação do homem nocampo, pois os agricultores que colhem o imbunormalmente permanecem em suas comuni-dades à espera da próxima safra.

Para algumas famílias de pequenosagricultores das comunidades estudadas, a

Tabela 3. Número de agricultores participantes do extrativismo do imbu, período de colheita, quantidadecolhida e renda obtida, na safra de 2003, nas comunidades de Conceição, Fazendinha, Favela, Barracão eVárzea.

ConceiçãoFazendinhaFavelaBarracãoVárzeaTotalMédia

ComunidadeNúmero de

participantesda colheita

4048467237

24348

Períodomédio

de colheita

60 65 50 54 6028957,8

Dias

76766

326,4

Horas

Peso médiodiário colhidopor pessoa

(kg)

42,1441,8047,2542,1735,23

208,5941,72

Peso médiocolhido, por

pessoa, na safra(kg)

2.528,402.717,0

2.362,502.277,182.113,8011.998,882.399,78

Preço do kg(R$)

0,120,100,12

0,10,120,560,11

Renda médiapor pessoa(1)

(R$)

303,41271,70283,50227,72253,66

1.339,98268,00

(1) A renda média é a multiplicação do peso médio colhido, na safra, pelo preço do quilograma.

Fig. 3. Agricultores dacomunidade de FazendaBrandão processando oimbu, em Curaçá, BA,durante a safra de 2003.

Foto

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 2006 88

renda do extrativismo do imbu é a principal fontede recursos no primeiro semestre do ano, e supera,em parte, outras rendas obtidas pelas famíliasrurais da região no período de entressafra.

Em média, 58 agricultores extraem o frutodo imbuzeiro em cada safra, o que lhes rende,em média, R$ 310,42 para cada um.

ReferênciasCAVALCANTI, N. B.; RESENDE, G. M.; BRITO, L. T. L.; LIMA,J. B. Extrativismo do imbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)como fonte alternativa de renda para pequenos produtoresno Semi-Árido nordestino: um estudo de caso. Ciência eAgrotecnologia. Lavras, v. 20, n. 4, p. 529-533, out./dez.,1996.

CAVALCANTI, N. B.; RESENDE, G. M.; BRITO, L. T. L.Extrativismo vegetal como fator de absorção de mão-de-obra e geração de renda: o caso do imbuzeiro (Spondiastuberosa Arr. Cam.). In: CONGRESSO BRASILEIRO DEECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 37., 1999, Foz doIguaçu. Anais... Brasília, DF: Sober, 1999. 1 CD-ROM.

CAVALCANTI, N. B.; RESENDE, G. M.; BRITO, L. T. L. Frutodo imbuzeiro: alternativa de renda em períodos de secapara pequenos agricultores na região semi-árida do Estadoda Bahia. In: CONGRESSO MUNDIAL DE SOCIOLOGIARURAL, 10.; CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA ESOCIOLOGIA RURAL, 38., 2000, Rio de Janeiro. Anais...Campinas, SP: UNICAMP; Auburn: IRSA; Brasília, DF: Sober,2000. 1 CD-ROM.

DEL GROSSI, M. E.; SILVA, J. G. da. Ocupações e rendasrurais no Brasil. In.: ORNAS: OCUPAÇÕES RURAIS NÃO-AGRÍCOLAS: OFICINA DE ATUALIZAÇÃO TEMÁTICA,2000, Londrina, PR. Anais... Londrina: Iapar, 2000. 217 p.

DUQUE, J. G. O imbuzeiro. In: O Nordeste e as lavourasxerófilas. Mossoró: Fundação Guimarães Duque, 1980.p. 238-316.

FIGUEIRA, I. Umbu, uma alternativa para Caatinga. GazetaMercantil, São Paulo, 8 jan. 1999, p. 12.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.Produção extrativa vegetal. Disponível em:<http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 06 set. 2001.

MENDES, B. V. Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.):importante fruteira do Semi-Árido. Mossoró: ESAM, 1990.66 p. il. (Esam. Coleção Mossoroense, Série C. v. 554).

SANTOS, C. A. F. Dispersão da variabilidade fenotípica doumbuzeiro no Semi-Árido brasileiro. PesquisaAgropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 32, n. 9, p. 923-930, set. 1997.

SAS INSTITUTE INC. SAS/STAT user’s guide, version 8.Cary, NC, 1999. 3.384 p.

SILVA, C. M. S. S.; PIRES, I.; SILVA, H. D. Caracterizaçãodos frutos de umbuzeiro. Petrolina: Embrapa-CPATSA,1987, 17 p. (Embrapa-CPATSA. Boletim de Pesquisa, 34).

SILVA, P. C. G.; SAUTIER, D.; SABOURIN, E.; CERDAN. C. T.Abrindo a porteira: a relação dos sistemas de produção coma comercialização e a transformação, num enfoque depesquisa-desenvolvimento. In.: ENCONTRO DA SOCIEDADEBRASILEIRA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO, 2., 1995.Londrina. Anais... Londrina: Iapar, 1995. p. 204-219.

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Ano XV – Nº 2 – Abr./Maio/Jun. 200689

1. Tipo de colaboração

São aceitos, por esta Revista, trabalhos que se enquadrem nasáreas temáticas de política agrícola, agrária, gestão e tecnologiaspara o agronegócio, agronegócio, logísticas e transporte, estudosde casos resultantes da aplicação de métodos quantitativos equalitativos aplicados a sistemas de produção, uso de recursosnaturais e desenvolvimento rural sustentável que ainda não forampublicados nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim,dentro das seguintes categorias: a) artigos de opinião; b) artigoscientíficos; d) textos para debates.

Artigo de opinião

É o texto livre, mas bem fundamento sobre algum tema atual e derelevância para os públicos do agronegócio. Deve apresentar oestado atual do conhecimento sobre determinado tema, introduzirfatos novos, defender idéias, apresentar argumentos e dados,fazer proposições e concluir de forma coerente com as idéiasapresentadas.

Artigo científico

O conteúdo de cada trabalho deve primar pela originalidade, istoé, ser elaborado a partir de resultados inéditos de pesquisa queofereçam contribuições teórica, metodológica e substantiva parao progresso do agronegócio brasileiro.

Texto para debates

É um texto livre, na forma de apresentação, destinado à exposiçãode idéias e opiniões, não necessariamente conclusivas, sobretemas importantes atuais e controversos. A sua principal carac-terística é possibilitar o estabelecimento do contraditório. O textopara debate será publicado no espaço fixo desta Revista,denominado Ponto de Vista.

2. Encaminhamento

Aceitam-se trabalhos escritos em Português. Os originais devemser encaminhados ao Editor, via e-mail, para o endereç[email protected].

A carta de encaminhamento deve conter: título do artigo; nomedo(s) autor(es); declaração explícita de que o artigo não foi enviadoa nenhum outro periódico para publicação.

3. Procedimentos editoriais

a) Após análise crítica do Conselho Editorial, o editor comunicaaos autores a situação do artigo: aprovação, aprovaçãocondicional ou não-aprovação. Os critérios adotados são osseguintes:

• adequação à linha editorial da revista;

• valor da contribuição do ponto de vista teórico, metodológico esubstantivo;

• argumentação lógica, consistente, e que ainda assim permitacontra-argumentação pelo leitor (discurso aberto);

• correta interpretação de informações conceituais e de resultados(ausência de ilações falaciosas);

• relevância, pertinência e atualidade das referências.

b) São de exclusiva responsabilidade dos autores, as opiniões eos conceitos emitidos nos trabalhos. Contudo, o editor, com aassistência dos conselheiros, reserva-se o direito de sugerir ousolicitar modificações aconselhadas ou necessárias.

c) Eventuais modificações de estrutura ou de conteúdo, sugeridasaos autores, devem ser processadas e devolvidas ao Editor, noprazo de 15 dias.

d) A seqüência da publicação dos trabalhos é dada pela conclusãode sua preparação e remessa à oficina gráfica, quando entãonão serão permitidos acréscimos ou modificações no texto.

e) À Editoria e ao Conselho Editorial é facultada a encomenda detextos e artigos para publicação.

4. Forma de apresentação

a) Tamanho – Os trabalhos devem ser apresentados no programaWord, no tamanho máximo de 20 páginas, espaço 1,5 entre linhase margens de 2 cm nas laterais, no topo e na base, em formatoA4, com páginas numeradas. A fonte é Times New Roman, corpo12 para o texto e corpo 10 para notas de rodapé. Utilizar apenasa cor preta para todo o texto. Devem-se evitar agradecimentos eexcesso de notas de rodapé.

b) Títulos, Autores, Resumo, Abstract e Palavras-chave (key-words) – Os títulos em Português devem ser grafados em caixabaixa, exceto a primeira palavra ou em nomes próprios, com, nomáximo, 7 palavras. Devem ser claros e concisos e expressar oconteúdo do trabalho. Grafar os nomes dos autores por extenso,com letras iniciais maiúsculas. O resumo e o abstract não devemultrapassar 200 palavras. Devem conter uma síntese dos objetivos,desenvolvimento e principal conclusão do trabalho. É exigida,também, a indicação de no mínimo três e no máximo cinco pala-vras-chave e key-words. Essas expressões devem ser grafadasem letras minúsculas, exceto a letra inicial, e seguidas de doispontos. As Palavras-chave e Key-words devem ser separadaspor vírgulas e iniciadas com letras minúsculas, não devendo conterpalavras que já apareçam no título.

c) No rodapé da primeira página, devem constar a qualificaçãoprofissional principal e o endereço postal completo do(s) autor(es),incluindo-se o endereço eletrônico.

d) Introdução – A palavra Introdução deve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda. Deve ocupar, no máximoduas páginas e apresentar o objetivo do trabalho, importância econtextualização, o alcance e eventuais limitações do estudo.

e) Desenvolvimento – Constitui o núcleo do trabalho, onde que seencontram os procedimentos metodológicos, os resultados dapesquisa e sua discussão crítica. Contudo, a palavra Desenvol-vimento jamais servirá de título para esse núcleo, ficando a critériodo autor empregar os títulos que mais se apropriem à natureza doseu trabalho. Sejam quais forem as opções de título, ele deve seralinhado à esquerda, grafado em caixa baixa, exceto a palavrainicial ou substantivos próprios nele contido.

Em todo o artigo, a redação deve priorizar a criação de parágrafosconstruídos com orações em ordem direta, prezando pelaclareza e concisão de idéias. Deve-se evitar parágrafos longosque não estejam relacionados entre si, que não explicam, quenão se complementam ou não concluam a idéia anterior.

f) Conclusões – A palavra Conclusões ou expressão equivalentedeve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda dapágina. São elaboradas com base no objetivo e nos resultadosdo trabalho. Não podem consistir, simplesmente, do resumo dosresultados; devem apresentar as novas descobertas da pesquisa.Confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas na Introdução, sefor o caso.

g) Citações – Quando incluídos na sentença, os sobrenomes dosautores devem ser grafados em caixa-alta-e-baixa, com a dataentre parênteses. Se não incluídos, devem estar também dentro

Instrução aos autores

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do parêntesis, grafados em caixa alta, separados das datas porvírgula.

• Citação com dois autores: sobrenomes separados por “e”quando fora do parêntesis e com ponto-e-vírgula quandoentre parêntesis.

• Citação com mais de dois autores: sobrenome do primeiroautor seguido da expressão et al. em fonte normal.

• Citação de diversas obras de autores diferentes: obedecerà ordem alfabética dos nomes dos autores, separadas porponto-e-vírgula.

• Citação de mais de um documento dos mesmos autores:não há repetição dos nomes dos autores; as datas das obras,em ordem cronológica, são separadas por vírgula.

• Citação de citação: sobrenome do autor do documentooriginal seguido da expressão “citado por” e da citação daobra consultada.

• Citações literais que contenham três linhas ou menos devemaparecer aspeadas, integrando o parágrafo normal. Após oano da publicação acrescentar a(s) página(s) do trecho citado(entre parênteses e separados por vírgula).

• Citações literais longas (quatro ou mais linhas) serão desta-cadas do texto em parágrafo especial e com recuo de quatroespaços à direita da margem esquerda, em espaço simples,corpo 10.

h) Figuras e Tabelas – As figuras e tabelas devem ser citadas notexto em ordem seqüencial numérica, escritas com a letra inicialmaiúscula, seguidas do número correspondente. As citaçõespodem vir entre parênteses ou integrar o texto. As Tabelas eFiguras devem ser apresentadas no texto, em local próximo aode sua citação. O título de Tabela deve ser escrito sem negrito eposicionado acima desta. O título de Figura também deve serescrito sem negrito, mas posicionado abaixo desta. Só são aceitastabelas e figuras citadas efetivamente no texto.

i) Notas de rodapé – As notas de rodapé devem ser de naturezasubstantiva (não bibliográficas) e reduzidas ao mínimo necessário.

j) Referências – A palavra Referências deve ser grafada comletras em caixa-alta-e-baixa, alinhada à esquerda da página. Asreferências devem conter fontes atuais, principalmente de artigosde periódicos. Podem conter trabalhos clássicos mais antigos,diretamente relacionados com o tema do estudo. Devem sernormalizadas de acordo com a NBR 6023 de Agosto 2002, daABNT (ou a vigente).

Devem-se referenciar somente as fontes utilizadas e citadas naelaboração do artigo e apresentadas em ordem alfabética.

Os exemplos a seguir constituem os casos mais comuns, tomadoscomo modelos:

Monografia no todo (livro, folheto e trabalhos acadêmicospublicados).

WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. Trad. de LeônidasHegenberg e Octany Silveira da Mota. 4. ed. Brasília, DF: EditoraUnB, 1983. 128 p. (Coleção Weberiana).

ALSTON, J. M.; NORTON, G. W.; PARDEY, P. G. Science underscarcity: principles and practice for agricultural research

evaluation and priority setting. Ithaca: Cornell University Press,1995. 513 p.

Parte de monografia

OFFE, C. The theory of State and the problems of policy formation.In: LINDBERG, L. (Org.). Stress and contradictions in moderncapitalism. Lexinghton: Lexinghton Books, 1975. p. 125-144.

Artigo de revista

TRIGO, E. J. Pesquisa agrícola para o ano 2000: algumasconsiderações estratégicas e organizacionais. Cadernos deCiência & Tecnologia, Brasília, DF, v. 9, n. 1/3, p. 9-25, 1992.

Dissertação ou Tese

Não publicada:

AHRENS, S. A seleção simultânea do ótimo regime dedesbastes e da idade de rotação, para povoamentos depínus taeda L. através de um modelo de programaçãodinâmica. 1992. 189 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federaldo Paraná, Curitiba.

Publicada: da mesma forma que monografia no todo.

Trabalhos apresentados em Congresso

MUELLER, C. C. Uma abordagem para o estudo da formulação depolíticas agrícolas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DEECONOMIA, 8., 1980, Nova Friburgo. Anais... Brasília: ANPEC,1980. p. 463-506.

Documento de acesso em meio eletrônico

CAPORAL, F. R. Bases para uma nova ATER pública. SantaMaria: PRONAF, 2003. 19 p. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/ater/Docs/Bases%20NOVA%20ATER.doc>.Acesso em: 06 mar. 2005.

MIRANDA, E. E. de (Coord.). Brasil visto do espaço: Goiás eDistrito Federal. Campinas, SP: Embrapa Monitoramento por Satélite;Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. 1 CD-ROM.(Coleção Brasil Visto do Espaço).

Legislação

BRASIL. Medida provisória nº 1.569-9, de 11 de dezembro de1997. Estabelece multa em operações de importação, e dá outrasprovidências. Diário Oficial [da] República Federativa doBrasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p.29514.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 42.822, de 20 de janeiro de1998. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, São Paulo,v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

5. Outras informações

a) O autor ou os autores receberão cinco exemplares do númeroda Revista no qual o seu trabalho tenha sido publicado.

b) Para outros pormenores sobre a elaboração de trabalhos aserem enviados à Revista de Política Agrícola, contatar diretamenteo coordenador editorial, Mierson Martins Mota, ou a secretária-geral, Regina Mergulhão Vaz, em:

[email protected]; telefone: (61) 3448-4336

[email protected]; telefone: (61) 3218-2209

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CG

PE5878

Colaboração

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento