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TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS 1 Universidade Federal de Viçosa Nilda de Fátima Ferreira Soares - Reitora Demetrius David da Silva - Vice-Reitor CEAD - Coodenadoria de Educação Aberta e a Distância Frederico Vieira Passos - Diretor Editoração Eletrônica: Hamilton Henrique Teixeira Reis. Revisão Final: Ecila Albuquerque Villani. CEAD - Prédio CEE, Avenida PH Rolfs s/n Campus Universitário, 36570-000, Viçosa/MG Telefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352

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TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS

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Universidade Federal de Viçosa

Nilda de Fátima Ferreira Soares - Reitora

Demetrius David da Silva - Vice-Reitor

CEAD - Coodenadoria de Educação Aberta e a Distância

Frederico Vieira Passos - Diretor

Editoração Eletrônica: Hamilton Henrique Teixeira Reis.Revisão Final: Ecila Albuquerque Villani.

CEAD - Prédio CEE, Avenida PH Rolfs s/nCampus Universitário, 36570-000, Viçosa/MGTelefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352

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TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS

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CAPÍTULO 1

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS

A utilização incorreta de agrotóxicos seja pelo uso inadequado de dose, época inadequada de aplicação, condições climáticas adversas, associada ao desconhecimento dos recursos do equipamento aplicador e suas limitações são fatores que contribuem para redução da eficiência dos produtos, além de aumentar o risco de intoxicação humana e contaminação ambiental.

Os agrotóxicos, para terem ação eficiente, necessitam ser distribuído da maneira mais uniforme possível sobre o alvo a ser atingido. Essa distribuição será tanto melhor quanto mais adequados forem os equipamentos e as técnicas empregadas.

O crescente aumento do custo de mão-de-obra e de energia, e a preocupação cada vez maior em relação à poluição ambiental têm ressaltado a necessidade de tecnologias mais acuradas para aplicação de agrotóxicos no alvo. Para isso, são necessários procedimentos e equipamentos mais adequados à maior proteção ao trabalhador e ao ambiente.

Na aplicação de agrotóxicos, as gotas que não são depositadas no alvo são chamadas de deriva de pulverização. Essas gotas muitas vezes são muito pequenas, com diâmetro menor que 150 μm, facilmente movidas para fora do alvo pela ação do vento e de condições climáticas. A deriva provoca deposição do produto aplicado em áreas não desejadas.

As causas da deriva, segundo Matuo et al. (2001), são muitas e estão relacionadas com os equipamentos de aplicação, formulações e com as condições meteorológicas. Tamanho de gota, altura de vôo em aplicações aéreas, altura da barra e da ponta de pulverização, velocidade de operação, velocidade do vento, temperatura e umidade do ar, volume de aplicação e formulação utilizada encontram-se como os principais fatores que influenciam a deriva.

Lino Roberto Ferreira (Prof. UFV)Aroldo Ferreira Lopes Machado (Pós Doutorando - PNPD – UFT)

Francisco Cláudio Lopes de Freitas (Prof. UFERSA)Rafael Gomes Viana (Doutorando –UFV)

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1.1. Inter-relação entre Alvo, Produto, Equipamento e Ambiente

O sucesso do controle fitossanitário, depende da interação entre características do produto aplicado (herbicida, fungicida, inseticida e outros), do equipamento de aplicação e seus acessórios (pulverizador, ponta de pulverização), das condições ambientais (temperatura, umidade relativa e vento), do momento correto da aplicação e do alvo a ser atingido (plantas daninhas, insetos, ácaros, fungos, bactérias).

Essa inter-relação ocorre para todas as aplicações de herbicidas, fungicidas e inseticidas. Na prática, antes de tomar qualquer decisão, deve-se ter em mente três questões com relação à técnica de aplicação:

O que aplicar? (qual o produto a ser aplicado e a qua-lidade do mesmo);

Como aplicar? (qual equipamento e quais acessórios utilizar para que se tenha qualidade na aplicação); e

Quando aplicar? (momento da aplicação, levando em consideração o alvo e as condições ambientais).

Atenção!

Nesse sentido, a técnica utilizada na aplicação de agrotóxicos deve considerar conhecimentos científicos, de modo que o produto biologicamente ativo seja depositado no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, com o mínimo de contaminação ambiental.

1.2. Alvo Biológico e Eficiência

O agrotóxico deve exercer a sua ação sobre determinado organismo que se deseja controlar. Portanto, o alvo a ser atingido é esse organismo, seja ele, planta daninha, inseto, fungo ou bactéria. Em função de características do alvo, como forma, tamanho e posição, a pulverização deverá ter características específicas para melhor atingi-lo. O alvo real tem que ser definido em termos de tempo e de espaço, de maneira a aumentar a porcentagem de produto que o atinge em relação à que foi emitida pelo equipamento de aplicação. Qualquer quantidade de produto aplicado, que não atinge o alvo, não terá qualquer eficácia e estará representando uma forma de perda e poluição ambiental.

Em síntese, alvo é um objeto selecionado a ser atingido, direta ou indiretamente, pelo processo de aplicação. Diretamente, quando se coloca o produto em seu contato no momento da aplicação, e indiretamente, pelo processo de redistribuição. Essa redistribuição poderá se dar por meio da translocação sistêmica ou pelo deslocamento superficial do depósito inicial do produto.

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Eficiência de aplicação (EA) é a relação entre a dose teoricamente requerida para o controle e aquela efetivamente empregada. Quando o alvo possui elevada superfície e a coleta do defensivo é favorável, a EA é elevada, como é o caso da aplicação de herbicidas sistêmicos em pós-emergência, numa área com boa cobertura de plantas daninhas, sob condições climáticas favoráveis à aplicação. Por outro lado, quando se aplica, por exemplo, inseticidas de contato, visando obter controle de lagartas no fruto, como o tomate, a EA pode atingir valores baixos, devido à dificuldade de se atingir o alvo.

A melhoria nessa eficiência poderá ser alcançada por meio da evolução no processo, nos seus mais variados aspectos. O treinamento do operador do equipamento de aplicação é, sem dúvida, um dos pontos mais importantes. O uso correto e seguro dos agrotóxicos passam por diversas etapas, desde sua aquisição, até a colheita do produto comercializado, respeitando-se o período de carência, a fim de se preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores e consumidores. Sua aquisição somente pode ser feita por meio de receituário agronômico, emitido por um profissional legalmente habilitado, valendo os princípios de uma agricultura sustentável, que procura produzir alimentos para a população, sem comprometer a produção de alimentos de futuras gerações.

No receituário devem constar informações sobre o agrotóxico (dose, finalidade, período de carência, etc.), sobre a destinação de sobras dos produtos e embalagens vazias, precauções de uso, equipamentos de proteção individual (EPIs) e primeiros socorros em casos de acidentes.

1.3. Métodos de Aplicação de Agrotóxicos

Os métodos de aplicação, dependendo do estado físico do agrotóxico, podem ser agrupados em via sólida, líquida e gasosa. Dentre essas, a via líquida utilizando a água como diluente, é o método mais utilizado. Nela, aplicação é feita na forma de gotas (pulverização), podendo em alguns casos também ser na forma de filetes líquidos (rega ou injeção) ou na forma de gotas diminutas, formando neblina (nebulização). A concentração varia em função da dose recomendada para o defensivo e do volume de calda aplicado.

A distribuição da calda é realizada, normalmente, por meio de pulverização hidráulica, que é definida como “processo mecânico de geração de gotas” pelo pulverizador (Cordeiro, 2001; Matuo, et al. 2001). As gotas são produzidas pelas pontas de pulverização que, também, determinam a vazão e a distribuição do líquido pulverizado, sendo, portanto, um dos componentes mais importantes do pulverizador (Bauer e Raetano, 2004).

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1.3.1. Aplicação Via Líquida

A água é o principal diluente ou veículo de aplicação para a via líquida, por ser de fácil obtenção, de baixo custo e por contar com ampla opção de formulações compatíveis. Entretanto, a água apresenta duas limitações: alta tensão superficial e alta pressão de vapor (Matuo et al., 2001), fazendo com que haja diminuição do volume da gota produzida.

A alta tensão superficial faz com que uma gota depositada numa superfície permaneça na forma esférica, com pouca superfície de contato. Para corrigir este problema, basta adicionar nela algum agente tensoativo (surfactante), que diminua sua tensão superficial. Com isso, a gota se espalha facilmente na superfície, molhando maior área. Alguns adjuvantes integrantes da formulação - como os molhantes, emulsionantes, etc - são agentes tensoativos; assim, a simples presença deles na formulação pode ser suficiente para diminuir a tensão superficial da água até os níveis desejados. Outras vezes, no momento da aplicação de determinados agrotóxicos, é necessário adicionar surfactante ou óleo mineral, para melhorar a cobertura foliar.

A intensidade de evaporação depende de vários fatores, dos quais os mais importantes são: a evaporação de líquidos não-voláteis ou proporção de partículas sólidas existente na mistura; temperatura, umidade do ar e velocidade do vento; tamanho da gota; e tempo que esta permanece no ar. À medida que a água vai evaporando, as gotas diminuem de tamanho e peso, reduzindo assim, a possibilidade de impactar o alvo. Gotas de mesmo tamanho podem ter comportamentos distintos, em diferentes condições ambientais. Portanto, a observação das condições ambientais é muito importante para uma aplicação correta.

A elevada capacidade de evaporação da água limita a utilização de gotas muito pequenas, principalmente nos climas tropicais. Para boa cobertura do alvo e emprego de pequenos volumes de aplicação (abaixo de 50 L ha-¹), é necessário controlar a evaporação da água ou, então, utilizar outro diluente que não seja volátil, como, por exemplo, o óleo mineral agrícola.

Nas condições noturnas, a umidade relativa é elevada e a evaporação é drasticamente reduzida, o que permite a utilização de gotas menores, por isso alguns agrotóxicos têm sido aplicados durante a noite com eficiência de controle.

Segundo Matthews (1979), existem cinco categorias de volume de aplicação para culturas de campo:

alto volume (> 600 L ha-¹) ;volume médio (200 - 600 L ha-¹); volume baixo (50 - 200 L ha-¹);

volume muito baixo (5 - 50 L ha-¹); e volume ultrabaixo (< 5 L ha-¹).

Atenção!

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No caso da aplicação com alto volume, a dose é dada por concentração do produto na calda (g 100 L-¹); se maior que 600 L ha-

¹, pulverização acima da capacidade máxima de retenção das folhas, ocorre escorrimento. Nos demais casos, a dose é recomendada em L ou kg ha-¹.

A tendência atual é a utilização de menor volume de calda, visando diminuir o custo e aumentar a rapidez do tratamento, devido ao alto custo do transporte de água ao campo e à perda de tempo representada pelas constantes paradas para reabastecimento do pulverizador. Também o menor volume de calda é importante quando a qualidade da água não é boa em razão da presença de sais minerais, especialmente Ca++ e Mg++ (Silva et al., 2005). Isso tem sido possível devido à evolução na qualidade das pontas de pulverização. Para um mesmo volume de calda aplicado, existem pontas que produzem diferentes tamanhos de gotas, o que permite escolher o tipo de ponta em função da cobertura do alvo desejada e das condições ambientais no momento da aplicação.

1.3.1.1. Cobertura do Alvo

A cobertura do alvo pode ser calculada pela fórmula proposta por Courshee (1967):

C = 15(VRK2)/AD

em que: C = cobertura (% da área); V = volume aplicado (L ha-¹); R = taxa de recuperação (% do volume aplicado captado pelo alvo); K = fator de espalhamento de gotas; A = superfície vegetal existente no hectare; e D = diâmetro de gotas.

Em aplicações com alto volume consegue-se elevada cobertura mesmo com gotas grandes, porém aumenta a probabilidade de perdas por escorrimento. O aumento da taxa de recuperação (R) é obtido utilizando tamanho de gotas mais eficientemente coletadas pelo alvo. Gotas carregadas eletricamente induzem,, na superfície foliar, carga elétrica de sinal contrário e são atraídas eletrostaticamente, aumentando bastante a taxa de recuperação pelas folhas. O aumento do fator de espalhamento de gotas (K) pode ser conseguido com adição de agentes tensoativos, que diminuem a tensão superficial, permitindo melhor espalhamento da gota. O aumento da área foliar implica redução da cobertura, se os demais fatores permane cerem constantes. O tamanho da gota também é fator importan tíssimo; gotas menores proporcionam maior cobertura (Figura 1), porém também apresentam tempo de vida menor e maior capacidade de deriva.

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Assim, o tamanho ideal das gotas depende das condições ambientais (vento, umidade relativa e temperatura) e da cobertura desejada e será definido como aquela que seja pequena o suficiente para produzir boa cobertura e grande o necessário para provocar menor perda por deriva e evaporação. Por outro lado, a cobertura desejada depende do tipo de agrotóxico a ser aplicado, tais como herbicidas (sistêmicos ou contato), inseticidas, fungicidas, dentre outros.

Alguns fatores interferem no tamanho da gota gerada pela ponta de pulverização, como a abertura do orifício da ponta, a pressão de trabalho, composição química da calda, o uso de adjuvantes e a velocidade de ventilação quando utilizado pulverizadores atomizadores.

Não é necessário alterar a pressão ou o volume de calda para aumentar a cobertura do alvo. Existem no mercado inúmeras possibilidades de se aumentar ou reduzir o tamanho de gota, a cobertura do alvo e a densidade de gotas, simplesmente alterando a ponta de pulverização utilizada (Figura 1).

Figura 1 - Representação do tamanho de gotas pulverizado por portas de pulverização de mesma vazão e com mesma pressão. Ponta de jato leque com indução de ar: gotas extremamente grossas (A); Ponta de jato leque convencional: gotas médias (B); Ponta de jato cônico: gotas finas (C).

Fonte: TeeJet Spray Products.

Na Figura 2 encontram-se os possíveis exemplos de pontas de pulverização para diferentes situações abordando o tamanho de gota, densidade de gotas e cobertura do alvo.

Pela Figura 2A observa-se a deposição de gotas com 250 µm (gotas médias) e 500 µm (gotas grossas) sobre duas folhas. O mesmo volume foi aplicado, entretanto, houve alteração na densidade de gotas e na cobertura do alvo. A folha pulverizada com gotas de 250 µm possui maior cobertura do alvo e maior densidade de gotas, nesse caso poderá ser indicada, por exemplo, na utilização de herbicidas de contato. Na outra folha, há menor cobertura e menor densidade de gotas, sendo indicado como possibilidade para aplicação de qualquer herbicida em pré-emergência ou herbicida sistêmico em

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pós-emergência.Na Figura 2 B, nas quatro porções representadas, também

o volume de calda é o mesmo, o que muda é o tamanho das gotas, que interfere na densidade de gotas e na cobertura do alvo. A probabilidade das gotas do quadro superior esquerdo (grossa, 200 micra) acertarem o alvo (inseto) é muito pequena devido ao seu tamanho e o alvo ser móvel, não sendo indicado para controle deste inseto. Já nos quadros superior direito (muito grossa) e inferior esquerdo (médias), os tamanhos das gotas utilizadas aumentam a probabilidade de acerto do alvo com menor possibilidade de deriva. No quadro inferior direito (finas), as gotas são muito pequenas, facilitam a deriva e há maior chance das gotas se depositarem fora do alvo, ocasionando perdas financeiras e impacto ao ambiente.

Na Figura 2C pode ser observada a impressão de gotas em papel hidrossensível localizados em folhas de café adulto, simulando a deposição de calda em uma aplicação de agrotóxicos com duas pressões de trabalho (40 e 60 lb pol-2) e quatro volumes de calda (140, 170, 280 e 340 L ha-2). Verifica-se que, mesmo sob condições com baixa pressão de trabalho e menor volume de calda (figura superior esquerda), há cobertura satisfatória do alvo, com menor probabilidade de deriva e menor gasto de calda, favorecendo fatores inerentes à segurança na aplicação, menor impacto ambiental e maior rendimento operacional. Nas demais situações há maior cobertura do alvo, porém com maiores riscos de deriva e escorrimento de calda, principalmente quando utilizada a pressão de 60 lb pol-2 com volume de calda de 340 L ha-1. Nessa situação, a utilização de configurações com menor pressão e volume de calda são satisfatórias tanto na cobertura do alvo como na melhoria de condições operacionais e menor risco de deriva de agrotóxicos.

Figura 2. A) Deposição de gotas sobre folhas; B) sobre insetos, e C) diferentes coberturas do alvo em função da pressão e volume de calda.

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Para expressar-se numericamente o tamanho e a uniformidade das gotas, são utilizados quatro parâmetros:

a) Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV): mediana do volume das gotas. É o volume da gota que divide o volume pulverizado em duas metades iguais (Figura 3). O valor do DMV está situado mais próximo das classes superiores do diâmetro, pois o volume de poucas gotas grandes equivale ao de muitas gotas pequenas.

Figura 3. Diâmetro Mediano Volumétrico - DMV.

b) Diâmetro Mediano Numérico (DMN: mediana do número de gotas. É o diâmetro que divide o número de gotas em duas porções iguais (Figura 4).

Figura 4. Diâmetro Mediano Numérico - DMN.

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c) Coeficiente de dispersão (r) – refere-se à relação entre DMV e DMN.

r = DMV/DMN

O coeficiente de dispersão expressa a uniformidade do conjunto de gotas. Se o valor de r for igual a 1, indica que todas as gotas têm o mesmo diâmetro e o conjunto é rigorosamente homogêneo. Quanto mais o valor de r se afastar de 1, maior a heterogeneidade das gotas. Na prática, considera-se que, quando r < 1,4, o conjunto de gotas é homogêneo.

d) Amplitude de dispersão (Span): é uma outra forma de expressar a uniformidade das gotas e é mais empregado nos dias atuais (Matuo et al., 2001). É dado pela fórmula:

s = (V90 – V10)/V50

em que: V10 = diâmetro da gota abaixo do qual os volumes acumulados totalizam 10% do volume; V90 = diâmetro da gota abaixo do qual os volumes acumulados totalizam 90% do volume; e V50 = valor do DMV. Assim, quanto menor o valor da amplitude (próximo de zero), mais uniforme é o conjunto das gotas na amostra, e vice-versa.

1.3.1.2. Classificação do tamanho de gotas

Existem duas classificações de tamanhos de gotas: uma realizada pelo Conselho Britânico de Proteção de Culturas (British Crop Protection Council - BCPC) e outra pela Associação dos Engenheiros Agrícolas Americanos (ASAE). Esta última, mais simples e prática, tem sido utilizada por vários fabricantes de pontas de pulverização para descrever os diferentes tamanhos de gotas de pulverização e facilitar a escolha certa do tipo de ponta por parte do usuário. Algumas empresas fabricantes de agrotóxicos introduziram a classificação da ASAE de recomendação de classe de tamanho de gotas a serem produzidas em seus rótulos. No Quadro 1 encontram-se as classes de tamanho de gotas proposta pela ASAE e os respectivos códigos de cores.

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Quadro 1. Classes de gotas propostas segundo norma da ASAE e suas aplicações na pulverização agrícola

Categoria CorDMV

aproximado (µm)

Risco de Deriva/Evaporação

Aplicações Agrícolas

Muito Fina Vermelho < 100 Muito alto Não recomendadoFina Laranja 100 - 175 Muito alto Fungicida de contato

Média Amarelo 175 - 250 AltoInseticidas e herbicidas de contato

Grossa Azul 250 - 375 MédioHerbicidas sistêmicos e pré-emergentes

Muito grossa Verde 375 - 450 BaixoHerbicidas sistêmicos e pré-emergentes

Extremamente grossa

Branco > 450 BaixoHerbicidas sistêmicos e pré-emergentes

Fonte: TeeJet Spray Products (2009).

Há algumas diferenças fundamentais entre as classificações BCPC e ASAE. Ambos fornecem um código de cores e uma letra para indicar o tamanho das gotas, no entanto, o foco da norma BCPC, desenvolvida por Doble et al. (1985), baseando-se na pulverização necessária para maior eficácia dos produtos fitossanitários, determinada por onde a maioria do espectro de gota é depositada. A norma ASAE tem como foco o potencial de deriva, com a eficiência sendo um conceito secundário. Essa norma estabelece o limite de uma classe como a curva do diâmetro acumulado da ponta de referência mais o desvio-padrão; o BCPC não considera o desvio-padrão. Com isso, como resultados gerais, as pontas tendem a ser classificadas como (gotas) mais finas na norma ASAE.

1.3.1.3. Qualidade de Distribuição da Pulverização

Um agrotóxico para apresentar boa eficiência deve ser depositado no alvo na quantidade correta, com tamanho de gota que produza menores perdas por deriva e evaporação, desde que a eficiência biológica seja mantida. Além disso, o produto deve ser distribuído o mais uniforme na faixa tratada.

Um dos fatores mais dominantes que pode influenciar drasticamente a eficiência de um agrotóxico é a distribuição da pulverização. A uniformidade de distribuição da pulverização, ao longo da barra ou faixa de aplicação, é um componente essencial

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para atingir a máxima eficiência do produto com um mínimo de custo e de contaminação fora do alvo. Os principais fatores que afetam a distribuição da calda pulverizada são:

a) Ponta de pulverização: tipo, pressão, espaçamento, ângulo de pulverização, ângulo de desvio, qualidade do perfil de pulverização, desgaste, entupimento e vazão. De modo geral, os bicos de jato cônico cheio produzem as maiores gotas, seguidos pelos de jato plano e de jato cônico vazio. Mesmo dentro de uma mesma forma de jato - como os de jato plano - diferentes tipos de pontas podem produzir pulverizações com diferentes tamanhos de gotas. Por exemplo, as pontas de jato plano 11003, das séries TR Hypro, LD Hypro e Turbo Teejet, na mesma pressão de trabalho, embora com a mesma vazão, produzem gotas com tamanhos diferentes.

Em relação à vazão da ponta, essa apresenta relação direta com o tamanho de gota. Pontas que apresentam vazões maiores na mesma pressão de trabalho produzem gotas maiores. As pontas de jato plano TR 11004, na pressão de 28,44 lb pol-2, com vazão de 1,29 L min-1, produzem gotas maiores que as TR 11002 na mesma pressão, porém com vazão de 0,65 L min-1.

No caso de pressão, a relação é inversa ao tamanho de gotas. Um aumento na pressão reduzirá o tamanho, enquanto a redução na pressão aumentará o tamanho das gotas.

A ponta TT 11003, na pressão de 20 lb pol-2, produz gotas maiores que a pressão de 60 lb pol-2.

Em relação ao ângulo do jato emitido pela ponta, existe uma relação inversa ao tamanho de gotas. Pontas com a mesma vazão, na mesma pressão, porém com ângulos maiores, produzem gotas menores.

O bico TR 8003, a 30 lb pol-2, produz gotas maiores que o bico TR 11003, na mesma pressão, ambos com a mesma vazão.

b) Barra: nas barras acima da altura recomendada as gotas produzidas pelas pontas de pulverização ficam mais propensas à deriva e, quando abaixo dessa altura, não permite uniformidade no padrão de deposição, ficando faixas com excesso de deposição de gotas e outras faixas sem deposição da calda aplicada. Outro fator importante em relação à barra de pulverização é a sua estabilidade quanto ao movimento: vertical, lateral e sua inclinação. Movimentos bruscos na barra de pulverização podem levar a irregularidades na deposição da calda aplicada no alvo. Esse efeito pode ser minimizado quando se utiliza espaçamentos adequados entre os bicos e velocidade de trabalho do equipamento de acordo com as condições do terreno.

c) Perdas de pressão: mangueiras e conexões que apresentam vazamentos da calda ao longo do sistema hidráulico do pulverizador

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promovem perda na pressão de trabalho, reduzindo a eficiência de aplicação.

d) Filtros obstruídos: filtros obstruídos reduzem a eficiência de aplicação e podem ser considerados como uma das principais fontes de intoxicação de aplicadores, devido à necessidade de desobstrução dos mesmos durante a aplicação.

e) Condições ambientais: velocidade e direção do vento, temperaturas máxima e mínima e umidade relativa do ar têm grande influência na qualidade da aplicação.

g) Velocidade de deslocamento do pulverizador e a turbulência resultante: em terrenos irregulares, velocidade de deslocamento do pulverizador elevada pode reduzir a eficiência de aplicação devido às perdas ocasionadas pela deriva e ao arraste das gotas provocado pela turbulência resultante do deslocamento.

1.3.1.4. Deriva – Causas e Controle

Na aplicação de agrotóxicos a deriva de pulverização é o termo usado para aquelas gotas que não foram depositadas no alvo. Essas gotas provavelmente são muito pequenas, com diâmetro menor que 100 μm, e facilmente movidas para fora do alvo pela ação do vento associado às outras condições climáticas.

A deriva pode causar a deposição de agrotóxicos em áreas não desejadas, com sérias conseqüências, tais como:

– danos nos cultivos sensíveis que ficam em áreas adjacentes,– contaminação de reservatórios e cursos de água,– riscos à saúde de animais e pessoas, e– perda de produto e menor eficiência na aplicação.As causas da deriva são muitas e estão relacionadas com

os equipamentos de aplicação, as formulações e as condições meteorológicas. As principais são:

a) Tamanho da gota: quanto menor a abertura do orifício do bico e maior a pressão, menores serão as gotas produzidas e, portanto, maior a tendência de perda por deriva. Gotas menores que 100 μm são facilmente derivadas,

b) Altura da ponta de pulverização: à medida que aumenta a distância entre a ponta de pulverização e a área-alvo, maior será a influência da velocidade do vento sobre as gotas e maior a tendência de deriva,

c) Velocidade de operação: velocidade mais alta contribui para que as gotas sejam arrastadas para trás e levadas pela corrente de vento ascendente, formando um turbilhão sobre o pulverizador, arrastando

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as gotas pequenas e aumentando a deriva,d) Velocidade do vento: é o fator de maior impacto entre os fatores meteorológicos. A deriva aumenta linearmente com a velocidade do vento. No entanto, a ausência de vento no momento da aplicação não é recomendada, pois não permite a deposição das gotas produzidas no alvo,

e) Temperatura e umidade do ar: temperaturas ambientes acima de 25 oC e baixa umidade relativa (UR < 50%) tornam as gotas pequenas propensas à deriva e à volatilização. Por isso, em condições de temperatura elevada deve-se aumentar o tamanho da gota ou suspender a aplicação, para evitar grandes perdas por deriva e, ou, volatilização. Sob condições normais de umidade e temperatura (20 oC e 80%, respectivamente), uma gota de 100 µm evapora completamente em 50 segundos. Em condições mais quente e seca (30 oC e 50%, respectivamente), a mesma gota é evaporada em 16 segundos. Uma gota de 50 µm sob condições de baixa umidade e alta temperatura (30 oC e 50%, respectivamente) percorreria apenas 15 cm antes de ser evaporada.

f) Volume de aplicação: quando a aplicação é realizada em baixo volume, geralmente utilizam-se gotas pequenas. Nessas condições, deve-se ter atenção especial com a deriva,

h) Formulação utilizada: se esta apresentar alta pressão de vapor, devem-se adotar medidas mais incisivas para minimizar a volatilização (ex.: aplicar em condições de menor temperatura e maior umidade relativa do ar).

Em alguns países europeus foi definido um padrão mínimo de gota produzida, em termos de DV0,1. Segundo esse critério, os bicos de pulverização devem atingir um DV0,1 maior do que o valor de um bico XR11002, à pressão de 35,55 lb pol-2, que é de 115 μm.

1.3.2. Equipamentos e Técnicas para Aplicação de Agro-tóxicos via Líquida

Os equipamentos para aplicação de líquidos podem ser divididos em injetores, pulverizadores e nebulizadores. Os injetores aplicam um filete líquido (sem fragmentação em gotas); os pulverizadores, gotas; e os nebulizadores, neblina.

1.3.2.1. Tipos de Pulverizadores

A classificação mais comum de pulverizadores leva em consideração o tipo de energia utilizado no processo de produção de gotas. Eles podem ser:

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a) De energia hidráulica ou de pressão: são os mais utilizados devido à grande facilidade de adaptação dos bicos de pulverização, proporcionando grande faixa de vazão, tamanhos de gotas e formas de jato para diversos tipos de aplicação, b) De energia centrífuga: nessa categoria se encontram os pulverizadores portáteis de disco e os aviões agrícolas quando operando com bicos rotativos de tela do tipo miconair ou de disco tipo aeroturbo.c) De energia pneumáticad) De energia térmica, ee) De energia elétrica.

Outra maneira de classificar os pulverizadores é quanto à forma de direcionar as gotas. Há três tipos:a) Pulverizador de jato lançado: quando a própria inércia das gotas e a gravidade levam em direção ao alvo, como é o caso dos costais manuais e os pulverizadores de barras comuns e suas adaptações. A escolha do pulverizador ideal depende do tipo de alvo a ser pulverizado, do nível tecnológico do agricultor, do tamanho e da topografia da área.

b) Pulverizadores de jato assistido: quando uma corrente de ar é criada para levar as gotas em direção ao alvo. Como exemplos podem ser citados os turbos pulverizadores utilizados em cafeicultura e fruticultura e os equipamentos com barra do tipo Vortex.

c) Pulverizadores eletrostáticos – quando as gotas produzidas são carregadas eletricamente para então serem atraídas pelas cargas opostas das superfícies das folhas.

1.3.2.1.1. Pulverizador Costal

O pulverizador costal manual (Figura 5A e B) é composto por um tanque, normalmente com capacidade para 20 litros de calda, uma bomba de pistão ou êmbolo, acionado manualmente por meio de uma alavanca. Pode apresentar ponta única de pulverização ou barra com duas ou mais pontas. De todos os pulverizados disponíveis para os produtores, esse é o que apresenta maior grau de dificuldade de operação, devido, principalmente, o baixo nível de instrução dos operadores e à falta de controles refinados, como: pressão de trabalho, velocidade de operação e altura de barra.

Os pulverizadores costais manuais apresentam baixo rendimento operacional em conseqUência do tamanho do reservatório reduzido e da pequena faixa de aplicação. A utilização de barras com dois (Figura 5C) ou três bicos, associadas às pontas de pulverização de impacto (maior ângulo de abertura), são alternativas para aumentar a faixa aplicada. No entanto, se a vazão e a pressão requeridas pela ponta de pulverização forem altas, acima de 45 lb pol-2, o operador não consegue trabalhar com a pressão necessária. Nesse sentido,

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pontas de pulverização de baixa vazão e com grandes ângulos de abertura do jato e que operam a baixas pressões (faixa de 15 a 45 lib) têm sido priorizadas.

A falta de uniformidade de pressão e vazão nesse tipo de pulverizador pode ser facilmente solucionada, adotando-se válvulas reguladoras de pressão (Figura 5D).Para aplicações de inseticidas e fungicidas em cultivos de citrus, goiabeira, mangueira, café ou hortaliças (tomate, pimentão e outras), pode-se utilizar uma ponta de jato cônico vazio ou uma ponta dupla para melhorar a cobertura do alvo (Figura 5C).

Figura 5. Pulverizador costal manual (A e B), válvula reguladora de pressão (C) e barra com dois bicos para melhor cobertura do alvo (D)

1.3.2.1.2. Pulverizadores Estacionários

São utilizados para aplicação de inseticidas e fungicidas, principalmente em lavouras de tomate e outras hortaliças. Esse equipamento também é amplamente utilizado para aplicação de agrotóxico em lavouras de café, citrus e outras culturas perenes.

São constituídos por uma bomba, geralmente de pistão, que pode ser acionada manualmente (pulverizador capeta), ou por motores elétricos ou a gasolina (Figura 6A e B), que succiona a calda a ser pulverizada do depósito. A distribuição da calda na lavoura é realizada por meio de mangueira com comprimento que varia geralmente de 20 a 50 m, onde é acoplado um sistema com gatilho

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e lança de pulverização. A lança é a parte extrema do pulverizador e serve de suporte

às pontas de pulverização. Ela pode ter tamanho variado, com o mínimo de 50 cm de comprimento, mas o ideal é ser maior, para emitir o fluxo de calda longe do corpo do operador, minimizando sua exposição. Alguns fabricantes fornecem lança extensível de diversos tamanhos, para possibilitar a pulverização com maior segurança. Na extremidade da lança pode-se adicionar uma pequena barra, com número variável de pontas de pulverização. Deve-se evitar a aplicação de volume de calda muito alto, que proporcione escorrimento superficial e consequente redução da eficiência da aplicação.

Figura 6 - Pulverizador estacionário manual (A); pulverizador estacionário a gasolina (B)

1.3.2.1.3. Pulverizador Acoplado sobre Rodas (ciclojet, carroçajet)

Trata-se de um pulverizador costal adaptado sobre uma plataforma dotada de rodas, que ao girarem, aciona o pistão da bomba, gerando a pressão da pulverização (Figura 7A). Esse tipo de pulverizador reduz o esforço do operador, além de aumentar o rendimento operacional, com uma faixa aplicada de até 4 m em função da largura da barra. Também, têm sido empregados equipamentos com mecanismo semelhante, tracionados por animais, sendo que este possui maior tanque e maior barra, o que garante maior rendimento (Figura 7B).

Dentre as vantagens desse equipamento, destacam-se a redução da exposição do operador e a uniformidade do volume de calda aplicado mesmo com alteração da velocidade, pois a variação da velocidade apresenta uma relação direta com a pressão, fazendo com que o volume de calda pulverizado na área seja uniforme.

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Figura 7. Pulverizador acoplado sobre rodas - Ciclojet (A) e Pulverizador acoplado sobre rodas com tração animal - Carroçajet (B).

1.3.2.1.4. Pulverizador de Barra Acoplado ao Trator

Os modelos mais comuns possuem capacidade do tanque variando entre 400 a 2.000 litros. O tamanho da barra é variável e deve ser planejado de acordo com a topografia do terreno. Em áreas planas e com vegetação baixa, sem presença de restos de tocos, deve-se priorizar barras maiores (Figura 8A), o que aumenta a capacidade operacional do equipamento. Em terrenos com topografias irregulares, com presença de tocos e com pequenas dimensões é aconselhado trabalhar com barras menores (Figura 8B), no sentido de reduzir oscilações, assim como facilitar manobras.

Terrenos com inclinações acentuadas inviabilizam a utilização de pulverizadores tratorizados, uma vez que a uniformidade de aplicação é reduzida em função da dificuldade em manter a altura adequada da barra.

O número de pontas na barra varia de acordo com o espaçamento entre elas, que na maioria dos pulverizadores é fixada em 0,5 m, e o tamanho da barra.

Pulverizadores tratorizados, quando utilizados corretamente, proporcionam alto rendimento e eficiência, maior segurança ao aplicador, pois reduzem o risco de exposição na aplicação principalmente em tratores com cabine fechada.

Adaptações realizadas no pulverizador de barra, cujo formato denominou-se “Conceição”, é um dos principais equipamentos para aplicação de herbicidas em reflorestamento. A “Conceição” (Figura 8C) apresenta os mesmos princípios dos pulverizadores de barra comum, podendo, da mesma forma, ser acoplados no sistema de três pontos do trator ou como carretas arrastadas. O que os difere é a estrutura da barra, que possui uma manta protetora, para evitar

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que as gotas pulverizadas atinjam as plantas não-alvos.A largura da barra protegida pode variar de 1,5 a 3,0 m,

conforme o espaçamento entre linhas de plantio ou a finalidade de aplicação. Para aplicação de herbicidas para controle da rebrota são usadas menores larguras de barras (1,5 a 2,0 m); na entrelinhas de plantio, largura de barra pode variar de 2,0 a 3,0 m, em função do espaçamento da cultura.

Cuidados devem ser tomados com relação ao espaçamento entre pontas de pulverização na barra protegida, de modo a evitar o escorrimento da calda herbicida na manta lateral (Figura 8D) e todos os arranjos das pontas de pulverização ao longo da barra devem ser testados para cada situação (tipo de ponta, ângulo de inserção na barra e largura da barra) de modo a se ter uniformidade de deposição da calda.

Figura 8. A) Pulverizador de barra acoplado ao trator; B) Pulverizador de barra adaptado para áreas com presença de tocos (pontas de longo alcance); C) pulverizador de barra protegida “Conceição” e D) detalhe do escorrimento de calda na manta protetora da “Conceição”.

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1.3.2.1.5. Turbo Atomizadores

São também chamados de pulverizadores hidro-pneumáticos, sendo utilizados na aplicação de agrotóxicos em culturas perenes como café, citrus e outras frutíferas.

O principio de funcionamento desse equipamento consta de duas etapas. Na primeira, o líquido é fragmentado, por força hidráulica, por meio da passagem da calda pelo orifício da ponta, sob influência da pressão de trabalho. As gotas devem ser de tamanho tal que não sejam muito propensas à deriva e que tenham força cinética capaz de atingir o alvo.

A segunda etapa consiste na fragmentação do líquido pelo sistema pneumático, ou seja, utilizando a velocidade do vento produzido pelo ventilador acoplado ao sistema, garantindo o carregamento da gota do pulverizador até o alvo.

Os pulverizadores pneumáticos podem ser utilizados acoplados a tratores e de aplicação manual por meio de pulverizadores costais para aplicação de fungicidas, inseticidas, acaricidas entre outros, em culturas como café, fruteiras, tomate, etc.

1.3.2.1.6. Turbo Atomizador Tratorizado

Para acionamento desse pulverizador a força utilizada é gerada pelo trator por meio da tomada de potência (TDP) ou por bombas acionadas do próprio pulverizador.

As pontas geralmente são montadas em uma barra em forma de arco, envolvendo o ventilador e montada na saída de ar. Dessa forma, as gotas produzidas são lançadas diretamente na corrente de ar, para serem conduzidas até a planta. O tipo de ponta de pulverização nesse sistema geralmente é do tipo cone cheio, sendo importante a aferição da vazão de todas as pontas de maneira que todas tenham a mesma vazão na mesma pressão.

O ponto chave na utilização desse pulverizador é escolher a vazão de ar necessária para que ocorra deposição no alvo sem, contudo, atravessar o dossel da planta, incidindo em deriva e contaminação ambiental.

Nesse equipamento é importante a angulação dos defletores e a ativação de toda a barra. Muitas vezes as palhetas defletoras direcionam o jato de ar para locais sem necessidade de aplicação, como o solo e o caule de plantas. Nesse caso, não é necessária a ativação da totalidade da barra, mas pode ser necessária a correção dos ângulos dos defletores.

1.3.2.1.7. Turbo Atomizadores Costais

O princípio de funcionamento é o mesmo do tratorizado, porém utiliza uma só ponta em um grande bocal na ponta da lança. O vento é gerado por meio de uma bomba movida à gasolina com motor dois

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tempos. A bomba e o tanque são carregados nas costas do aplicador. Possui baixo rendimento operacional devido à baixa capacidade de armazenamento de calda no tanque. A grande vantagem da utilização desse pulverizador em detrimento ao pulverizador costal manual é não necessitar de acionamento manual, o que permite melhor operacionalidade ao aplicador.

1.3.3. Aplicação Aérea

Por definição, aplicação aérea é um trabalho no qual a aeronave é usada como uma plataforma móvel para aplicar materiais como inseticidas, fungicidas, herbicidas, fertilizantes, sementes, substâncias químicas para controle de incêndio e outras. Geralmente são utilizadas aplicações aéreas nos campos da agricultura, silvicultura, combate de incêndio e na saúde pública.

A aplicação de agrotóxicos com uso de aeronaves agrícolas, aviões e helicópteros (Figura 9), vem aumentando nos últimos anos. Na utilização de aeronaves agrícolas, os cuidados são maiores e alguns diferentes daqueles observados nos equipamentos terrestres, tais como: efeitos aerodinâmicos do voo, faixa de deposição de gotas maior do que a extensão das barras, menor vazão por área, maior distancia da barra em relação ao alvo, pressões mais baixas e possibilidades do ajuste das gotas para compensação em relação às variações climáticas durante as aplicações, sem necessidade da troca da ponta e do volume por área.

A aplicação de agrotóxicos com uso de aeronaves possui vantagens, quando comparado à aplicação terrestre, tais como:

– Rapidez de aplicação, mesmo em grandes áreas; – Precisão na aplicação, devido à presença de sensores ao

longo do equipamento de aplicação; possibilidade de aplicação no momento correto “Timing”;

– Não amassamento da cultura; – Não compactação do solo. A aplicação aérea de agrotóxicos deve ser realizada por

empresas habilitadas; normalmente o serviço de aplicação é terceirizado, o que em alguns casos podem provocar atrasos no momento adequado da aplicação.Como desvantagens, enquadram a maior possibilidade de deriva, devido a maior distância da barra de aplicação e o alvo; maior dificuldade de calibração e problemas com obstáculos que podem levar à queda da aeronave.

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Figura 9. Aeronaves agrícolas no momento da aplicação: A) Avião e B) helicóptero.

Segundo legislação específica, os produtos a serem utilizados deverão estar registrados para o uso e aplicação com aeronaves agrícolas.

1.3.4. Componentes Básicos dos Pulverizadores Hidráulicos

O pulverizador pode ser conceituado como uma máquina aplicadora de agrotóxico na forma de gotas, dirigidas ao alvo, em tamanho e densidades controláveis.

Existe grande variedade de pulverizadores, todavia, quando os diferentes tipos são comparados, verifica-se que os princípios de funcionamento são semelhantes. Todos eles apresentam em comum três elementos: tanque, que armazena o líquido a ser pulverizado, uma bomba ou um sistema de alimentação por gravidade que irá conduzir o líquido até uma ou mais saídas, que são os bicos (pontas de pulverização), que irão produzir e distribuir as gotas desejadas.

Entre as principais partes dos pulverizadores tratorizados podem ser citadas: depósito, agitadores de tanque, registros, filtros, bomba, câmara de compressão, regulador de pressão, manômetro, registro ou válvulas direcionais, barra, bicos ou pontas de pulverização.

Não é objetivo desse estudo descrever com detalhes todas as partes de um pulverizador, porém será feito comentários mais aprofundados sobre algumas dessas partes.

1.3.4.1. Filtros

Devem ser colocados na boca do tanque, antes da bomba, na linha de pulverização e nos bicos, totalizando de três a seis filtros por pulverizador. Eles apresentam quatro funções importantes: a) Garantir maior uniformidade nas aplicações, não permitindo que o entupimento das pontas de pulverizações cause a distribuição desuniforme da calda;b) Garantir maior capacidade operacional dos pulverizadores,

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diminuindo o tempo parado para desentupir as pontas de pulverização, tratando assim maior área por dia;c) Garantir segurança ao trabalhador, não o expondo ao trabalho de desentupir os bicos, evitando-se o contato direto com a calda, ficando o trabalhador com a função de apenas conduzir o conjunto pulverizador, ed) Garantir maior durabilidade às pontas pulverizadoras, diminuindo as impurezas e, assim, a abrasão nos bicos, além de evitar o uso de material não recomendado, como arame para desentupir as pontas.

As malhas dos filtros devem ser escolhidas em função da formulação do produto a ser aplicado. Pó molhável e seus derivados (suspensão) devem usar filtros com malha 50. Para as formulações pó solúveis, solução-aquosa e concentrados emulsionáveis podem ser usadas malhas 80 ou 100. O modelo e tamanho das pontas de pulverização também influenciam a escolha da malha do filtro. As pontas de menor vazão exigem filtros mais finos (malha 100) e nas de maior vazão as malhas podem ser mais grossas (malha 50). É importante seguir as recomendações dos catálogos.

1.3.4.2. Bomba

A função da bomba é pressionar a calda, colocando no sistema energia que será usada para fazer a pulverização. Existem vários tipos de bombas: de pistão, de diafragma, de roletes, de engrenagens e centrífuga. A grande maioria das bombas comercializadas no Brasil ainda é de pistão, embora a bomba centrífuga esteja sendo muito utilizada nos autopropelidos. As bombas de pistão têm sua capacidade de deslocamento diretamente ligada à sua rotação e estão projetadas para trabalhar entre 450 e 540 rpm. No Brasil, a capacidade nominal de uma bomba pistão é medida a 540 rpm; assim, uma bomba especificada para 40 L min-1, se estiver a 450 rpm, desloca apenas 33,3 L min-1. Esse cálculo é feito por regra de três simples.

Dessa forma, ao regular um pulverizador para aplicação de um agrotóxico, deve-se somar a vazão individual dos bicos e observar se a bomba é capaz de deslocar volume suficiente para atender a demanda dos bicos. Tecnicamente, não se deve usar mais de 60% do volume real deslocado; o restante, muitas vezes, tem de ser usado para agitação da calda no tanque.

1.3.4.3. Regulador de pressão

Basicamente, é um divisor de volume no qual uma parte da calda vai para as pontas de pulverização e a outra retorna ao tanque. Essa peça contém uma entrada que recebe a calda (líquido) que vem do tanque e duas saídas: uma que comunica com pontas de pulverização e outra que leva o excesso de calda ao tanque.

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Para variar a proporção do líquido que vai para pontas de pulverização e a que retorna ao tanque, basta girar um parafuso, o qual comprime uma mola que comanda a passagem para o retorno. Quanto mais se comprime essa mola, mais difícil será o retorno e mais líquido será enviado às pontas de pulverização. Como a saída das pontas de pulverização é pequena, a pressão nessa parte do circuito se elevará até que as pontas de pulverização permitam a vazão desejada, por isso é chamado de regulador de pressão. Os pulverizadores de maior capacidade, como autopropelidos, já são equipados com sistemas eletrônicos computadorizados, onde o regulador de pressão tem um sistema que ajusta a pressão de acordo com o volume pré-programado e a velocidade de operação, com uma válvula de esfera funcionando como estrangulamento ou retorno. Também nesses pulverizadores já estão sendo instalados controladores de pulverização que têm gerado ganhos em uniformidade de pulverização, economia de produtos e aumento da capacidade operacional.

1.3.4.4. Manômetro

Tem a função de medir a energia do sistema para pulverizar (lb pol-2 ou kg cm-2). Os manômetros com banho de glicerina têm durabilidade maior, porém não suportam as árduas condições de trabalho no campo. Os manômetros devem ser usados apenas no momento da calibração, devendo posteriormente ser desligados ou retirados dos circuitos. Uma boa alternativa para prolongar a vida útil deste equipamento seria o kit manômetro, que é instalado no bico no momento da calibração e depois retirado; além de ele aumentar a durabilidade do manômetro, determina a pressão real de saída da calda. Normalmente, o manômetro colocado no circuito, longe dos bicos, pode indicar pressão maior que a encontrada nas pontas de pulverização, pois existem perdas de pressão por mangueiras, conectores, filtros, cotovelos etc.

1.3.4.5. Barra

O comprimento da barra varia conforme o modelo do pulverizador. Quanto mais comprida, maior a capacidade operacional, embora também aumente a oscilação e a heterogeneidade da aplicação. Tanto as oscilações verticais quanto as horizontais influenciam a uniformidade de deposição da calda pulverizada. O sistema de barra auto-estável tem a barra independente da estrutura do trator, com molas e amortecedores para absorver os impactos provenientes das irregularidades do terreno, e possibilita a construção de barras bastante longas (27 m), sem grandes problemas de oscilações, com sistema de nivelamento individualizado para cada barra, mantendo a altura (0,50 a 1,80 m).

Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração

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na aplicação de agrotóxicos é com relação à altura da barra. Na altura ideal (Figura 10A), o agrotóxico é distribuído uniformemente ao longo da faixa de aplicação. Quando a barra estiver abaixo da altura recomendada (Figura 10B), a pulverização não será uniforme, podendo ser observadas falhas no controle de plantas daninhas, alternando com toxidez nas culturas.

Figura 10. Faixa de deposição do volume pulverizado oriunda de barra na altura correta (A) e abaixo da altura recomendada (B).

1.3.4.6. Bicos

É todo o conjunto e suas estruturas de fixação na barra como corpo, capa, filtro ou peneira e ponta de pulverização (Figura 11).

Figura 11. Componentes de um bico de pulverização.

A ponta de pulverização, também chamada de bico, é o componente responsável pela formação e distribuição das gotas na pulverização. Segundo Matthews (1979), as pontas podem ser classificadas de acordo com a forma de energia utilizada na formação das gotas: gasosa, centrífuga, cinética, térmica, elétrica, hidráulica ou combinada. Dentre esses diferentes tipos de pontas de pulverização, as de energia hidráulica ainda são as mais utilizadas para aplicação de agrotóxicos, por isso, apenas estas serão discutidas a seguir.

Diferentes pontas de pulverizações produzem diferentes tamanhos de gotas, com perfis, ângulos de jato (Figura 12) e vazões distintas. Algumas dessas características são indicadas pelo número

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da ponta (Figura 13). Em relação ao ângulo do jato formado pela ponta de pulverização, a pressão de trabalho pode aumentar ou diminuí-lo, respectivamente, em função do aumento ou da diminuição da pressão (Figura 8).

Figura 12. Ângulo formado pela ponta de pulverização, em função da pressão de trabalho.

Figura 13. Nomenclatura das pontas de pulverização.

As pontas de energia hidráulica de pulverização na agricultura têm três funções importantes:a) Determinar a vazão: a vazão é função do tamanho do orifício, pressão de trabalho e característica do líquido aplicado,b) Distribuição: o modelo da ponta de pulverização, a pressão de trabalho e características do líquido aplicado que irão influenciar na distribuição da calda, e

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c) Tamanho da gota: o tamanho da gota é função do modelo da ponta de pulverização, da pressão de trabalho e característica do líquido.

É importante observar que todas as funções da ponta de pulverização dependem da pressão de trabalho, que é a fonte de energia para a formação da gota. A unidade internacionalmente usada é o “bar”, porém, a mais comum é “libras” (lb pol-2).

Veja, a seguir, outras unidades e as relações entre elas:

1 bar = 14,22 lb pol-2 = 100 kPa = 1,02 kg cm-2

A vazão de uma ponta de pulverização depende do tamanho do orifício de saída, da pressão de trabalho e da densidade e viscosidade do líquido. Para cada um desses fatores, é possível utilizar fórmulas e tabelas de correção, a fim de determinar a vazão correta da ponta. Entretanto, as variáveis mais importantes são a pressão e a densidade. A fórmula abaixo pode ser utilizada no cálculo da vazão:

V1/√P1 = V2/√P2

em que, V1 = vazão da ponta 1; V2 = vazão da ponta 2; P1 = pressão 1; e P2 = pressão 2.

Assim, para dobrar a vazão de uma ponta, é necessário quadruplicar a pressão de trabalho.

A variação da vazão, devido à densidade do líquido, pode ser corrigida utilizando-se os fatores de conversão do Quadro 2. Como as tabelas são calculadas para o uso da água (densidade =1), deve-se fazer a conversão quando a densidade da calda for diferente de 1.

Quadro 2. Fatores de conversão de vazão para líquidos com densidade diferente da água

Densidade (kg L-1)

0,84 0,96 1,00 1,08 1,20 1,28 1,32 1,44 1,68

Fator de conversão

0,92 0,98 1,00 1,04 1,10 1,13 1,15 1,20 1,30

Fonte: Matuo et al. (2001).

Quanto à forma do jato e sua distribuição, os bicos hidráulicos se dividem em pontas de jato cônico e de jato leque. Os de jato cônico se subdividem em cone cheio e cone vazio, e as pontas de jato plano, em pontas de impacto e leque.

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1.3.4.6.1. Pontas de Jato Cônico

São de uso comum entre os bicos hidráulicos, sendo as de cone vazio (Figura 14 A) as predominantes. A deposição de gotas no cone vazio se concentra somente na periferia do cone; no centro do cone praticamente não há gotas. Já nos de cone cheio (Figura 14 B), a distribuição das gotas atinge também o centro da pulverização. Existem dois modelos de bicos cônicos: os da série X e os da série D. Os bicos da série X são pontas de baixa vazão, com gotas muito pequenas. Essas pontas têm seu número relacionado à vazão em galões americanos por minuto, trabalhando a 40 lb pol-2; assim, um bico X1 é uma ponta capaz de aplicar 3,785 L min-1, se estiver trabalhando a 40 lb pol-2..

Nos bicos da série D o filtro é de ranhuras e não de malhas como nos demais bicos. O núcleo é conhecido com outros nomes, como difusor, caracol, espiral e “core” e serve para proporcionar o movimento helicoidal ao jato líquido que por ele passa. Após tomar esse movimento, o líquido passa através do orifício circular, formando um cone. A combinação de difusores e chapa orifício é que determina se o cone é cheio ou vazio. No cone cheio, o difusor tem apenas um furo no centro e, no vazio, o difusor só tem furos nas laterais.

Figura 14. Pontas de jato cônico vazio (A); e cone cheio (B).

1.3.4.6.2. Pontas de Jato Leque

Produzem jato em um só plano (Figura 15) e seu uso é mais indicado para alvos planos, como paredes, solo e culturas como soja, trigo, milho etc.

As pontas de pulverização do tipo leque podem ser de deposição contínua ou descontínua. A ponta com deposição continua (bico “Even”) pulveriza uma faixa uniforme, sendo indicado para pulverização em faixas sem haver sobreposição com os bicos vizinhos. As pontas de pulverização com deposição descontínua produzem um padrão de deposição desuniforme, também chamado de distribuição normal, decrescendo do centro para as extremidades. São recomendados para trabalhar em barras, havendo 30% de

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sobreposição com cada bico vizinho. Deve-se observar não somente o padrão de deposição de uma ponta isolada, mas a somatória da aplicação. O coeficiente de variação da somatória da aplicação não deve exceder a 10%.

As pontas de pulverização do tipo leque são comercializadas com diferentes tipos de ângulos, sendo os mais comuns os de 80o e 110 o. Essas pontas são padronizadas pela cor: a cor laranja indica vazão de 0,10 galão por minuto; as verdes, 0,15 galão por minuto; as amarelas, 0,20 galão por minuto; as azuis, 0,30 galão por minuto; e as vermelhas, 0,4 galão por minuto, isto se estiverem trabalhando a 40 lb pol-2. Cada galão equivale 3,785 litros.

Os tamanhos de gotas produzidas pelas pontas de pulverização são variáveis e dependentes do tamanho do orifício, da pressão de trabalho e da característica do líquido. Como já foi discutido, o tamanho da gota tem relação direta com a deriva, evaporação e cobertura do alvo. Desta forma, escolher uma ponta que produza uma gota de tamanho adequado ao produto a ser utilizado e ao alvo a ser atingido é de fundamental importância.

Figura 15. Pontas de pulverização de jato plano. Jato plano (A); Jato plano tipo impacto (B); Duplo jato plano (C); Duplo jato plano de impacto (D); Jato plano com Indução de ar (E). Fonte: TeeJet Spray Products.

1.3.4.6.3. Pontas de Jato Leque de Impacto

Pontas de jato plano do tipo impacto apresentam um plano inclinado na saída do jato abrindo um leque de grande ângulo (Figura 16 A e B). A grande vantagem do ângulo maior na saída do jato é a maior faixa de aplicação pulverizada por ponta. Essas pontas permitem pulverização mais próxima do alvo, ou mais distante uma das outras, permitindo espaçamento entre pontas de até 1,2 m, mesmo sob baixa pressão, fato este que reduz a deriva, além de aumentar o rendimento operacional. Comparativamente, as pontas de jato plano convencional, que operam no espaçamento de 0,5 m, as pontas de impacto espaçadas de 1,0 m reduzem pela metade o volume de calda e o caminho percorrido em uma determinada área

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pulverizada. São indicadas para aplicação de herbicidas sistêmicos em pós-emergência ou herbicidas aplicados em pré-emergência, todas em área total.

Figura 16. Secção transversal da ponta de pulverização Turbo Teejet (A) e Ponta de pulverização de impacto DT da empresa Hypro (B).

Pontas de jato duplo plano foram desenvolvidas com o objetivo de aumentar a cobertura do alvo, tanto das pontas de jato plano comum como das de impacto (Figura 16A). As pontas de jato plano comum melhoram a eficiência na deposição de inseticidas e fungicidas no dossel de culturas fazendo com que a calda seja distribuída uniformemente e atinja o terço inferior da planta.

Essa ponta forma dois jatos planos, sendo um direcionado para frente e outro para trás, formando um ângulo de 60o entre os jatos (Figura 17B). Por apresentar menor ângulo de abertura do jato (80o), o espaçamento entre pontas não pode ser maior que 50 cm. Também não é recomendada altura de barra superior a 50 cm, isso para evitar deriva, uma vez que as gotas produzidas são menores do que os de uma ponta com jato único.

Nas pontas de impacto conjugadas, com mecanismo de jato duplo (Figura 17), o funcionamento é semelhante ao da ponta descrita anteriormente (Figura 16), porém apresentando maior tamanho de gota e ângulo de saída do jato podendo aumentar o espaçamento entre pontas e assim aumentar o rendimento operacional sem reduzir a eficiência de aplicação.

Figura 17. Ponta de jato duplo Turbo Twin Jet (A); Secção transversal da ponta Turbo Twin Jet (B).

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Pontas de jato plano com indução de ar (Figura 18) permitem minimizar a deriva de gotas, no momento da aplicação do agrotóxico.

O principio de funcionamento consta da turbulência da calda devido à aspiração de ar por um sistema Venturi (Figura 18A). Essa turbulência promove a produção de gotas grossas a extremamente grossas, reduzindo significativamente a ocorrência de gotas propensas à deriva. Devido à turbulência da calda, geralmente há produção de espuma, conforme o produto químico utilizado, sendo comumente denominados bico espuma. Há uma perda de carga promovida pela entrada de ar na ponta, por isso não podem ser utilizadas pressões muito baixas (abaixo de 200 kPa). Algumas pontas já possuem o sistema de impacto adjunto à indução de ar como é o caso da ponta Turbo Teejet Induction (Figura 18B) ou mesmo o duplo leque, como o caso da ponta AVI TWIN da Jacto.

Figura 18. Secção transversal de ponta de pulverização com indução de ar (A); Ponta de pulverização Turbo Teejet Induction (B).

1.3.4.7. Calibração do pulverizador

É a regulagem da máquina com o objetivo de aplicar de maneira mais uniforme possível a quantidade de herbicida recomendada. Consiste em determinar o volume de calda que o pulverizador vai aplicar por unidade de área. Neste item, vamos simular a calibração de um pulverizador de barra, lembrando que para os demais pulverizadores o raciocínio se repete.

1.3.4.7.1. Principais passos da calibração

a) Verificar o funcionamento da máquina, se não há eventuais vazamentos e se os componentes estão funcionando a contento,

b) Verificar e adequar a velocidade de trabalho do equipamento. Nos pulverizadores acoplados ao sistema de três pontos do trator a velocidade varia de 4 a 6 km h-1, todavia, nos autopropelidos, a velocidade pode chegar a 20 km h-1,

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c) Dimensionar a barra em função da topografia do terreno e do tipo de barra. A altura da barra deve-se manter constante. Em terrenos planos, as barras podem atingir até 27 m de largura,

d) Escolher o tipo ponta de pulverização correta, em função do alvo a ser atingido, da cobertura necessária, do padrão de deposição deste, do agrotóxico e da formulação a ser aplicada, das condições ambientais (vento, umidade relativa do ar e temperatura) e não apenas em função do volume a ser aplicado,

e) Ajustar a pressão de trabalho de acordo com a ponta selecionada, observando sempre a recomendação dos fabricantes,

f) Determinar a distância correta entre bicos e a altura de trabalho da barra. A altura correta da barra depende do ângulo da ponta de pulverização e da distância entre elas,

g) Verificar a uniformidade de deposição das pontas de pulverização (padrão de deposição individual e na barra), substituindo aquelas com desvio superior a 10%,

h) Marcar uma distância de 50 m no local onde será feita a aplicação,

i) Percorrer esses 50 m, simulando a pulverização, determinando-se o tempo gasto (ex.: 40 segundos),

j) Determinar a vazão da barra nesse tempo (ex: em 40 segundos a vazão média de uma barra de 10 pontas 110 03, espaçadas entre si de 50 cm, foi de 10 L),

k) Determinar a faixa pulverizada (faixa pulverizada = número de pontas x distância entre elas). No caso do exemplo: Fp = 10 x 0,5 = 5 m, e

l) Determinar a área pulverizada no tempo gasto para percorrer os 50 m (área pulverizada = faixa pulverizada x distância percorrida). No caso do exemplo: Ap = 5 m x 50 m = 250 m2,

m) Determinar o volume de aplicação por hectare: 250 m2 ----------------10 L 10.000 m2 --------------X X = 400 L ha-¹

1.3.4.8. Balizamento

O balizamento deve ser realizado sempre que se realiza a pulverização, pois reduz os riscos de repetir a aplicação sobre uma mesma área ou de não aplicar em determinadas partes. Os erros decorrentes de balizamentos mal feitos, ou mesmo do não balizamento, são responsáveis por menor eficiência no controle do alvo e possível intoxicação da cultura, além de perdas financeiras e impacto ao ambiente.

Os principais métodos de balizamento são:a) Balizamento manual: é um processo simples e eficiente,

comumente realizado por pequenos produtores, porém muitas vezes é ignorado ocasionando erros graves na aplicação. O processo mais simples é contar as fileiras das culturas emergidas e, assim, tem-se

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sempre o referencial onde se deve retornar pulverizando. Quando não há cultura emergida, como no caso da dessecação, devem-se utilizar balizas (estacas, Figura 19 A) posicionadas ao centro da barra de aplicação ou, em caso de se utilizar apenas uma ponta, no centro do jato pulverizado. Para que a aplicação costal seja eficiente, recomenda-se a utilização de duas pessoas, uma responsável pela aplicação e outra posicionando as balizas e preparando a calda. Esse processo reduz o tempo de aplicação, é mais preciso, melhora a eficiência de controle e reduz gastos financeiros,

b) Balizamento por meio de GPS: sistema preciso e prático estando cada vez mais acessível ao campo. Sua utilização é mais comum em extensas áreas de plantio. O sistema de GPS vem adaptado geralmente a uma barra de luz (Figura 19 B) em pulverizadores tratorizados, autopropelidos e aviões Uma luz locomove-se na barra indicando ao tratorista ou piloto para que lado deva ser ajustado o caminhamento para que seja realizada a aplicação no local desejado. O sistema de posicionamento traça rotas virtuais como se fosse uma estrada a qual o tratorista deve seguir, e

c) Balizamento com marcador espuma: trata-se de um bico que forma uma espuma densa e grande que é lançada ao solo a intervalo regulares, marcando onde o tratorista deve retornar. A espuma persiste no solo por alguns minutos e não deixa resíduos danosos à planta e ao ambiente (Figura 19 C).

Figura 19. Balizamento manual por meio de estacas de bambu (A); Sistemas de balizamento por GPS acoplado a barra de luz (B) e Marcador espuma (C).

Considerações finais

O sucesso da aplicação de agrotóxicos depende do conhecimento técnico de profissionais e produtores que lidam com tais produtos. O conjunto de informações básicas aumenta o rendimento operacional de equipamentos, melhora a segurança do aplicador e minimiza riscos de contaminação ambiental. Ações educativas conjuntas de empresas públicas e privadas são fundamentais para aumentar a eficiência na aplicação de agrotóxicos. É de suma importância aliar treinamento e fiscalização, mostrando as técnicas

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corretas de aplicação e, também, os cuidados com o manuseio dos produtos fitossanitários, uma vez que mal utilizados, provocam danos ao homem e ao ambiente.

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REFERÊNCIASBAUER, F. C.; RAETANO, C. G. Distribuição volumétrica de calda produzida pelas pontas de pulverização XR, TP e TJ sob diferentes condições operacionais. Planta Daninha, v. 22, n. 2, p. 275-284, 2004.

CORDEIRO, A. M. C. Como a tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários pode contribuir para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas. In: ZAMBOLIM, L. Manejo integrado: fitossanidade, cultivo protegido, pivô central e plantio direto. Viçosa-MG: UFV, 2001. p. 683-721.

COURSHEE, R. J. Application and use of foliar fungicides. TORGESON, D.C. ed. Fungicide - An advance treatise. Academic Press, New York, 1967. p. 239-286.

DOBLE. S. J.; MATTHEUS, G. A.; RUTHERFORD, L.; SOUTHCOMBE, E. S. E. A System for classifying hydraulic and other atomizers into categories of spray quality. Proceedings British Crop Protection Conference – Weeds, 3, p. 1125 -1133.

MATTHEWS, J. A. Pesticide application methods. London, Longman, 1979. 334 p.

MATUO, T; PIO, L. C.; RAMOS, H. H.; FERREIRA, L. R. Tecnologia de aplicação e equipamentos. In: ABEAS - Curso de proteção de plantas. Módulo 2. Brasília, DF: ABEAS; Viçosa, MG: UFV; 2001. 85 p.

SILVA et al. 2005. Foi citada no texto.

SPRAYING SYSTEMS CO. Produtos de pulverização para agricultura – Catálogo 46M-BR/P. 1999.