poesia, receita de ano novo, carlos drummond de andrade

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Poesia Plural 9 , Raiz Ed, p. 295 Receita de Ano Novo Carlos Drummond de Andrade, Discurso da Primavera e Algumas Sombras, 1987

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Poesia, receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade, 9º ano, Plural 9, Raiz editora

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Page 1: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

PoesiaPlural 9, Raiz Ed, p. 295

Receita de Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade,

Discurso da Primavera e Algumas Sombras, 1987

Page 2: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novocor de arco-íris, ou da cor da sua paz,Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido(mal vivido ou talvez sem sentido)para você ganhar um anonão apenas pintado de novo, remendado às carreiras,mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,novo até no coração das coisas menos percebidas(a começar pelo seu interior)novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,mas com ele se come, se passeia,se ama, se compreende, se trabalha, (v. 12)você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,não precisa expedir nem receber mensagens(planta recebe mensagens?passa telegramas?).

Carlos Drummond de Andrade,

Discurso da Primavera e Algumas Sombras, 1987

Page 3: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

Não precisa fazer lista de boas intençõespara arquivá-las na gaveta.Não precisa chorar de arrependidopelas besteiras consumadasnem parvamente acreditarque por decreto da esperançaa partir de janeiro as coisas mudeme seja tudo claridade, recompensa,justiça entre os homens e as nações,liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,direitos respeitados, começandopelo direito augusto de viver. (v. 29)Para ganhar um Ano Novoque mereça este nome,você, meu caro, tem de merecê-lo,tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,mas tente, experimente, consciente.É dentro de você que o Ano Novocochila e espera desde sempre. (v. 36)

Carlos Drummond de Andrade,

Discurso da Primavera e Algumas Sombras, 1987

Page 4: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

1. Divisão do poema em partes:

Ano Novo, mesmo novo – doze primeiros versos

(até trabalha - v. 12)

O que não é preciso fazer para ter um Ano Novo mesmo novo – (versos 13 a 29 - até viver)

O que é preciso fazer para ter uma Ano Novo mesmo novo – últimos 7 versos.

Page 5: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

2. Expressões significativas

“Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo.”

“É dentro de você que o Ano Novocochila e espera desde sempre.”

Page 6: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

3. Ironia - o modo como o poeta caracteriza o “Ano Novo mesmo novo” é, de alguma forma, irónica, na medida em que joga com o significado de Novo (Ano) e novo no sentido de diferente. Depois o uso do verbo ganhar que em português do Brasil significa receber, merecer.

Além disso, toda a segunda parte do poema contém um tom irónico relativamente aos rituais da celebração e da vida que muitas vezes confundimos com aquilo que é essencial fazer para ser feliz, neste caso para merecer um Ano Novo feliz e mesmo novo, ou seja, diferente.

Page 7: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

4. É dentro de você que o Ano Novocochila e espera desde sempre.”

Nos dois últimos versos do poema, o poeta conclui, afirmando que é dentro de nós mesmos que reside a vontade e a força de mudar.

Page 8: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

1.1. Substituição das expressões por adjetivos

”Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido

(mal vivido ou talvez sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,”

colorido, pacífico, incomparável,

renovado, restaurado

Page 9: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

1.2. Caracterização do Ano Novo

Outros adjetivos:

belíssimo, espontâneo, perfeito

1.3. Só com adjetivos o texto fica mais pobre porque torna-se muito menos expressivo, muito menos prático e monótono.

Page 10: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

2. O verso que, em tom de receita, recorre a formas verbais com sentido imperativo é o

Verso 34:

tente, experimente

Os ingredientes desta receita são o merecimento, “tem de merecê-lo”, “fazê-lo novo”

Page 11: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

3.1. A utilização da variedade brasileira do português nota-se na forma de tratamento “você”.

3.2. A nível lexical nota-se nas palavras champanha (v. 13), birita (v. 13),

besteiras (v. 21), cochila (v. 36).

3.3. No português europeu utilizamos champanhe, cachaça, disparates, dormita.

Page 12: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

4. A musicalidade do poema é conseguida pelas repetições de palavras; repetições de construções (vv. 11,12);

“se ama, se compreende, se trabalha”

aliteração (v.4),

“(mal vivido ou talvez sem sentido)”

rima interna, rima final (vv. 31, 34)

Para ganhar um Ano Novo….tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,…É dentro de você que o Ano Novo…

Page 13: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

Exemplos de recursos expressivos:

Metáfora: “novo nas sementinhas de vir-a-ser”;

Adjetivação: “novo, espontâneo”

Personificação: “até no coração das coisas”

Enumeração: “se come, se passeia, / se ama, se compreende, se trabalha”

Interrogação retórica:

“Planta recebe mensagens?”

Page 14: Poesia,   receita de ano novo, Carlos Drummond de Andrade

Pontuação

Ao longo do poema, verifica-se a utilização de parênteses. Justifica o seu emprego.

Os parênteses servem para especificar ou clarificar o que foi dito anteriormente.