as fases da poesia de drummond

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As fases da poesia de Drummond Objetivos -Analisar nos poemas inéditos a gênese da formação poética de Carl Andrade em comparação com sua obra madura. - Contextualizar a obra de Drummond como um dos marcos da geração -Destacar os elementos caracter"sticos da poesia de Carlos Drummon especial# a ironia$ o %umor$ a poesia de matiz social e a an&lise - 'bser(ar a influência da obra poética de Drummond na poesia e na *!.- - Comparar os poemas de Drummond com a sua obra de formação e poemas de outros autores. Anos ,nsino édio Conteúdos - eração de 19! - /oesias de Carlos Drummond de Andrade - Comparação liter&ria Tempo estimado 0uatro aulas Materiais necessários - C pias da reportagem 2A pré-%ist ria de Drummond2 34ra(o5 8un%o de *!1* - C pias dos poemas 2/oema das sete faces2: 2' amor bate na 2A morte do leiteiro2$ de Carlos Drummond de Andrade e do poema 2C poética2$ de Adélia /rado para todos os alunos.

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uma leitura de Drummond

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As fases da poesia de Drummond

Objetivos-Analisar nos poemas inditos a gnese da formao potica de Carlos Drummond de Andrade em comparao com sua obra madura.- Contextualizar a obra de Drummond como um dos marcos da gerao de 1930.-Destacar os elementos caractersticos da poesia de Carlos Drummond de Andrade em especial: a ironia, o humor, a poesia de matiz social e a anlise metafsica do mundo.- Observar a influncia da obra potica de Drummond na poesia e na msica do sculo 20.- - Comparar os poemas de Drummond com a sua obra de formao e com canes e poemas de outros autores.AnosEnsino MdioContedos- Gerao de 1930- Poesias de Carlos Drummond de Andrade- Comparao literriaTempo estimado Quatro aulasMateriais necessrios- Cpias da reportagem "A pr-histria de Drummond" (Bravo!, edio 178, junho de 2012)- Cpias dos poemas "Poema das sete faces"; "O amor bate na aorta"; "Jos" e "A morte do leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade e do poema "Com licena potica", de Adlia Prado para todos os alunos.- Cpias das letras das canes "Lets play that", de Jards Macal e Torquato Neto, e "At o fim", de Chico Buarque.- Computador com projetor de vdeo para a exibio do curta-metragem"O Fazendeiro do ar", dirigido por Fernando Sabino e David Neves.

Introduo

Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira radicado no Rio de Janeiro, um autor de dimenso universal. Sua obra das mais significativas, no apenas para a literatura brasileira, mas para toda a literatura de Lngua Portuguesa.As caractersticas de sua poesia podem ser analisadas como um processo. Inicialmente, notvel a influncia da gerao heroica do Modernismo, especialmente Mrio de Andrade, Oswald de Andrade e Manual Bandeira. Em 1930, Drummond publica o livro Alguma poesia. Neste volume, ficam claras a ironia, a coloquialidade, o prosaico e uma leitura no convencional do cotidiano. A viso de mundo do poeta aparece como um modo de propor uma reflexo subjetiva sobre temas amplos como ser brasileiro, o amor, a literatura, a poltica, a religio e impresses poticas de viagens e cidades. Muitos poemas desta obra surgem de acontecimentos do cotidiano, aparentemente banais, mas que servem como reflexes poticas e lricas sobre a vida. tambm clara a filiao ao Modernismo, evidente com o uso do verso livre, uma sequncia natural das rupturas estticas e temticas proporcionadas pelo movimento de 1922.Nos livros seguintes, Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, Jos e A rosa do povo, o poeta busca um aprofundamento desta subjetividade. A ironia e o humor vo se diluindo em uma viso de relativa amargura que culmina em um clima de denncia social, prprio do intervalo entre 1930 e 1945. No Brasil, estava em curso a Era Vargas e a ditadura do Estado Novo. Na Europa, acontecia a ascenso de Hitler e do nazi-fascismo, a revoluo comunista e a escalada de violncia e dos conflitos polticos que culminaram na Segunda Guerra Mundial.Este esprito da poca reflete-se na poesia de Drummond. Nota-se a presena da angstia sobre o destino da humanidade, a incerteza sobre a efemeridade da vida, a dvida sobre o carter benevolente do ser humano e uma relativa obscuridade. Por meio de um tom social, o poeta expe os absurdos do "mundo, vasto mundo", onde as rimas no so propriamente solues, mas expresses, ora irnicas, ora angustiadas, do esprito de seu tempo.A poesia de Drummond assume, aps este perodo, um vis metafsico e existencialista. O questionamento passa a ser a prpria condio humana e o poeta resgata as marcas irnicas e as preocupaes formais que marcaram sua obra. Ao final de sua vida, na passagem dos anos 1970-1980, produziu uma obra mais sentimental, menos preocupada com as inovaes formais ou as angstias metafsicas do incio.Na reportagem "A pr-histria de Drummond", BRAVO! destaca o aparecimento do livro 25 poemas da triste alegria, escrito em um nico exemplar durante a juventude do poeta e desconhecido por boa parte da crtica. As poesias, que ficaram inditas por quase 90 anos, foram descobertas e sero publicadas neste ms. A reportagem publica seis dos 25 poemas, que so um bom ponto de partida para analisar as caractersticas da poesia de Drummond.Leia maisDrummond: um caminho sem pedrasDesenvolvimentoAula 1Antes de iniciar, leia a reportagem de Bravo! e destaque nas poesias inditas de Drummond elementos que possam indicar a gnese de sua poesia. Observe a influncia da esttica penumbrista e menes a palavras e temas que so estranhos obra madura do poeta. Destaque a preocupao com a musicalidade e o ritmo das palavras e do interesse por questes de seu tempo, aspectos que seriam aprofundados posteriormente. Compare, por exemplo, a ironia presente em "A sombra do homem que sorriu" com a terceira e a quarta estrofes do"Poema das sete faces". Procure encontrar as principais diferenas entre o poeta em formao daquele que viria a ser considerado, na maturidade, um dos mais importantes da nossa lngua.Comece a aula contando sobre a vida e obra de Drummond. Informe seu local de origem e a formao em Belo Horizonte. Conte tambm sobre a colaborao com a imprensa e a necessidade de trabalhar como funcionrio pblico que o impediu (segundo suas prprias palavras) de se tornar um anarquista militante. Demonstre que Drummond e outros poetas da chamada gerao de 1930 do Modernismo no necessitavam da afirmao esttica, to cara aos pioneiros de 1922. Isso permitiu a variedade de temas, que torna, especificamente no caso do poeta mineiro, a poesia mais reflexiva e participativa. Em outros autores, essa liberdade proporcionada pela gerao de 1922 deixou o caminho aberto para a utilizao de versos livres ou tradicionais, e tambm uma temtica que em alguns momentos tendeu ao sentimentalismo e ao retorno s formas e estticas tradicionais, como o soneto (em Jorge de Lima e Vincius de Morais) e o Simbolismo (em especial, na poesia de Ceclia Meireles).Aps esta apresentao, distribua turma cpias da reportagem "A pr-histria de Drummond". Destaque a importncia da publicao de Os 25 poemas da triste alegria pela possibilidade de observar neles a gnese da obra lrica que marcaria a poesia brasileira no sculo 20. Ainda que considerados "menores", os poemas encontrados no livro so importantes para a formao do poeta. A seguir, faa uma leitura coletiva do "Poema das sete faces". Explique o modo como este poema, que abre o primeiro livro de Drummond, pode ser lido como uma apresentao que o autor faz de sua poesia. Em sete estrofes (as sete faces) so apresentados sete aspectos da personalidade do eu-lrico.Explique que o poema apresenta, em tom de ironia amargurada, uma profisso de f do poeta, que expe sua posio em relao ao mundo. Logo na primeira estrofe, a face revelada a de um gauche, palavra francesa que indica um indivduo com dificuldades de adaptao, de caminho tortuoso e opes equivocadas, marginal inadaptado desde o incio da vida. Isso pode ser comparado com a viso de mundo angustiada e irnica, mas sempre sensvel, que marcou a obra potica de Drummond. Na segunda estrofe, h a insinuao do erotismo como uma busca desenfreada, um fim em si mesmo, que acaba se tornando um elemento de tristeza, que impede a tarde de se tornar azul, brilhante, por conta da vinculao aos desejos incontidos.Na terceira "face" do poema, o eu-lrico remete vida frentica e sem descanso das grandes cidades, com seus bondes cheios de pernas, idas e vindas sem sentido aparente - note que so "pernas" e no "rostos", o que remete coletivizao e desumanizao das pessoas em sua busca pela sobrevivncia. O corao do poeta questiona o motivo de tanta correria desenfreada, mas seus olhos, analticos e frios, resignam-se em apenas observar, como quem se resigna diante de um fato sobre o qual no se tem influncia. Na quarta estrofe, os "olhos" do eu-lrico observam um homem que se apresenta com uma aura aparente de seriedade, simplicidade e fora. No entanto, podemos interpretar o bigode como uma mscara social que torna o homem comum um ser com dificuldades de convivncia, e o faz fechado em si mesmo. Mesmo quando o homem tem um rosto e no apenas uma perna, sua identidade tambm se dilui na busca pelas aparncias, mais importante do que a essncia de seu esprito.Na quinta estrofe, observamos um retorno ao problema do modo tortuoso que o eu-lrico vive a vida. Este trecho indica uma dificuldade de adaptao e faz referncia passagem bblica em que Cristo pergunta a Deus por que o havia abandonado. A inadaptao, aliada s contradies do gauche, deixam evidente a angstia desta condio, que leva o eu-lrico a se identificar com o sofrimento angustiado da expiao de Cristo. A sexta "face" pode ser interpretada como uma crtica ao modo parnasiano de fazer potico - a busca pela rima perfeita que no produz solues angstia do ser nem ao problema da tortuosidade e da inadaptao, mas apenas resolve o problema do poema, da arte distanciada da realidade. Finalmente, a stima estrofe revela o motivo de tanta digresso, por parte do eu-lrico: a distoro se apresenta em tom de confidncia, como se a viso angustiada e tambm irnica presente no poema fosse fruto de uma comoo causada pelo excesso de bebida e de luar. Aps a leitura e anlise do "Poema de sete faces", indique turma que leia"A mulher do elevador". Pea que encontrem elementos comparativos entre os dois poemas.Questione as possveis relaes entre a saudade de uma mulher "sem cara", que sobe em um elevador, e passa como uma sombra fugaz, com as "pernas" que passam num bonde, ou homem que se esconde atrs de uma mscara social. Para a prxima aula, pea aos alunos que escrevam as concluses a que chegarem a partir da leitura e das caractersticas da obra mais madura de Drummond.

AvaliaoObserve se os textos produzidos demonstram compreenso do contexto da obra de Drummond. Utilize as discusses como base para saber se a turma entendeu os elementos irnicos, sociais e analticos e a influncia desta obra potica na literatura do sculo 20. Verifique tambm se os alunos conseguiram encontrar elementos relacionados obra do poeta quando jovem e a sua obra na maturidade.

Ilustraes ndio San

Ilustrao sobre foto de Carlos Drummond de Andrade, tirada em 1932, em Belo Horizonte. O poeta havia editado o livro desconhecido oito anos antesH um anjo protetor dos literatos novos, escreveu certa vez Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Ocupa-se em dar sumio a textos juvenis para salvar autores do embarao de se confrontar, anos depois, com a prpria imaturidade. O que um dos maiores poetas da lngua portuguesa deixou de prever foi a existncia de um anjo protetor dos leitores, a operar atrs desse material perdido para coloc-lo nas mos de um editor.Um desconhecido (e nico) volume escrito pelo moo Drummond chegou faz pouco tempo at Antnio Carlos Secchin, ensasta e crtico literrio dedicado a abastecer de raridades sua biblioteca em Copacabana, no Rio de Janeiro um osis que abriga 12 mil obras de literatura brasileira. Encadernadas numa firma de bairro, sob capa elegantemente azul, as pginas de aprendiz reuniam versos datilografados por uma jovem Dolores Dutra de Morais, j noiva do poeta de Itabira (MG). Esses mesmos 25 Poemas da Triste Alegria, assim intitulados, saem em meados deste ms, quase um sculo depois de concebidos, pela Cosac Naify. A edio a nata de uma srie de lanamentos e relanamentos que, desde o incio de 2012, vem celebrando os 110 anos do escritor. Ele tambm receber justssima homenagem na 10 Festa Literria Internacional de Paraty, programada para o comeo de julho.No meio do caminho que vai desde 1924, quando se deu a publicao artesanal, at os dias atuais, o tal volume nico foi presenteado por Drummond ao amigo Rodrigo Mello Franco de Andrade e este o emprestou a uma terceira pessoa ou o devolveu ao poeta, segundo diferentes verses. Ao menos dois outros autores modernistas leram os poemas: Mrio de Andrade, que enviou carta a Drummond com uma apreciao quase demolidora em 1926, e Manuel Bandeira, que se referiu a alguns em tom mais ameno numa crnica de 1958. Quem forneceu o exemplar a Secchin outro biblifilo, cuja identidade o crtico prefere manter em sigilo. Gosto de dizer que livro raro no tem procedncia. Tem destino, brinca o estudioso, que jamais ouvira falar da obra at v-la pela primeira vez. O biblifilo que descobre um livro desses, exemplar nico, comprova que o paraso existe, mas fica na Terra.PIOR COISA DO MUNDOInusitada por revelar a face extraviada do aprendiz de poeta, a obra carrega graa e valor adicionais por aquilo que ocupa seus espaos em branco: os comentrios ao lado de cada poema feitos mo pelo prprio Drummond, quando teve o volume novamente consigo em algum momento de 1937. Nas muitas linhas, que preenchem s vezes pgina inteira, ele ironiza o jovem que havia sido 13 anos antes. Mrio de Andrade figura entre os mais citados nas anotaes: (O poema) Momento Feliz a coisa pior deste mundo, escreve o literato mineiro, concordando com a crtica do autor de Macunama, que ameaara romper a amizade se aquilo fosse publicado. Mais adiante, ao reler versos de Convite Semanal, Quase Noturno e Ningum Sabe, Drummond confessa sentir orgulho por ter abandonado a retrica, o penumbrismo (corrente literria fortemente intimista de incios do sculo 20) e outras covardias intelectuais. Esfora-se para encontrar ali alguma substncia mais vivida do que literria, e no acha.No prefcio que redigiu para o lanamento da Cosac Naify, Secchin define Os 25 Poemas da Triste Alegria como um quase livro de pr-poeta, constitudo de dois livros paralelos. Um o do jovem e hesitante autor, antes de ser modernista. Outro, o do crtico de si mesmo. Ambos os ngulos podem ser contemplados pelo leitor nessa reedio, fac-similar. As imagens das pginas originais que se espalham ao longo de todo o novo volume foram fotografadas por Vicente de Mello, especialista em reproduzir obras de arte. A caligrafia pequena do escritor no dever causar desconforto. A parte manuscrita mantida, mas h tambm sua transcrio em letra de frma para que se tenha mais uma opo de leitura, explica o editor Milton Ohata. O livro inclui, ainda, textos de poca assinados por Drummond e encontrados em arquivos mineiros, que ajudam a compreender o que ele pensava sobre poesia.O poeta aprovaria tal inconfidncia? O mtodo infalvel para proscrever um livro juvenil destruir os originais, responde Secchin. Se no o fez, e ainda por cima o repassou a outrem, quem sabe at para evitar tentaes predatrias, porque desejava preserv-lo. Se menor o valor literrio, avalia, muito maior o valor como documento da formao do autor. Desde a redescoberta do livro, a ideia da reedio agradou famlia Drummond.PEITO ABERTODe trajetria clandestina, lembrado muito esparsamente pelo escritor e pelos amigos que viram esses primeiros versos, o novo volume de inditos surpreender at seus leitores mais dedicados. Entre lembranas, entusiasmo e humor, poetas e crticos que h dcadas acompanham a obra do mineiro receberam parte da edio pela internet para coment-la livremente, a pedido de BRAVO. O fac-smile me levou de volta aos 20 anos, quando organizei uma coletnea de minhas poesias e mandei os originais a Drummond, recorda-se a paranaense Josely Vianna Baptista, autora de Ar, Corpografia e do recente Roa Barroca.Ela conta que o poeta lhe escreveu uma carta amistosa, com aquela mesma letrinha inconfundvel de 1937, na qual citava versos seus dos quais no a salvou o anjo protetor dos literatos novos. Vm-me cabea as frases, entre gentis e travessas, em que ele dizia ser importante no temer malambas nem remandiolas, palavras que cometi no tal poema e que, revisitadas de prprio punho por Drummond, com o tempo passaram a me parecer brejeiramente irreverentes. Sobre a correspondncia entre Drummond e Mrio de Andrade, observa: Interlocuo de primeira, sem suscetibilidades nem narcisismos feridos, sria, sincera e nada sisuda.Poeta drummondiano nascido no Rio, Armando Freitas Filho, autor de obras como A Mo Livre e Lar, garante que nada falaria sobre o livro oculto se Drummond estivesse vivo, pois ele brigaria comigo. Como teme que o fantasma do amigo venha lhe puxar o p, ele diz o bvio e verdadeiro: ningum analisa melhor os poemas do que o prprio autor. Ouso, contudo, afirmar que esse Drummond inicial esboou em Ningum Sabe a potncia que irromperia em Jos, muitos anos depois. Que poeta aprendiz conseguiria tamanho feito, com tal excelncia, sobre sua potica futura? Uma anteviso desse teor no meramente inconsciente, mas fruto coeso de uma vocao irrepreensvel e insupervel.Para os estudiosos, o valor do livro como documento de formao o que mais sobressai. Trata-se de uma coletnea fascinante, comemora John Gledson, crtico literrio ingls que traduz e estuda, alm do poeta mineiro, o romancista carioca Machado de Assis. O que, naqueles versos juvenis, seria estranho ao Drummond mais conhecido? A adeso a uma esttica penumbrista, a influncia avassaladora de lvaro Moreyra, de Ronald de Carvalho e de Guilherme de Almeida, as repeties de certas palavras, como ironia e indiferena, alm das indefectveis menes a paisagens crepusculares, jardins e estrelas, responde Gledson.Os inditos tambm reforam ngulos do poeta ainda pouco estudados. Nenhum desses poemas ter feito qualquer falta obra de Drummond, mas todos interessam por demonstrarem que o jovem escritor sabia bem o que fazer com a msica e o ritmo das palavras, afirma Alcides Villaa, crtico literrio da Universidade de So Paulo e autor, entre outros, da coletnea de ensaios Passos de Drummond.Na opinio de Srgio Alcides, crtico literrio da Universidade Federal de Minas Gerais, o mais emocionante no livro so os comentrios do Drummond maduro, ou nem to maduro, mas j feito. H mistura de carinho e repulsa nesse reencontro consigo mesmo. O maior desconforto do poeta, ao reler suas tentativas antigas, que elas so meramente literrias (no mau sentido). Os artigos de crtica includos na edio tambm merecem ateno, pois mostram que Drummond se expe mais do que passaria a fazer depois da dcada de 1940, diz o professor da UFMG. Os textos revelam a ateno que um jovem poeta de provncia dedicava ao contemporneo, aos debates do seu tempo, com muita nsia de participao, de tomada de posio. Ele escrevia de peito aberto, mas sem nenhuma leviandade o que muito bonito e raro numa pessoa assim to jovem.Os poemas que acompanham esta reportagem so fac-smiles da edio do autor (comoA Sombra do Homem que Sorriu) ou transcries que mantm a grafia original (caso dePrimavera nas Folhinhas e nos Jardins).

PRIMAVERAS NAS FOLHINHAS E NOS JARDINSO PERFUME DAS ROSAS ENTRA-ME PELO QUARTO,NUMA LUFADA DE PRIMAVERA.E EU FICO, DESVAIRADO, A SENTIR O PERFUME,O PERFUME DAS ROSAS, PELO QUARTO...NUMA LUFADA DE PRIMAVERA!QUE BOM, LER OS POETAS SADOS,E NO SABER DA LUA, DAS ESTRELLAS,E NO SABER DO AMOR! E NO SABER DE TI!(DE TI QUE S PALLIDA E FEIA,PALLIDAMENTE FEIA E MELANCOLICA.)MAS APENAS SENTIR, ALLUCINANTE E FORTE,O PERFUME DAS ROSAS, PELO QUARTONUMA LUFADA DE PRIMAVERA!

V COMO A AGUA SUSSURRAV COMO A AGUA SUSSURRA NO FUNDO DOS TANQUES ERMOS,COMO A AGUA, INTIMAMENTE, CHRA.E NA FACE DOS TANQUES ERMOSBOIAM FLORES AZUES, GRANDES FLORES INDIFFERENTES.A AGUA ESPADANA NO AR, EM FLORIDO REPUXO.A ALEGRIA DA AGUA, SUBINDOSOBRE A INDIFFERENA AZUL DAS GRANDES FLORES!- V O REPUXO CAHINDONOVAMENTE, SOBRE OS TANQUES ERMOS.NOS JARDINS,A IRONIA DA VIDA FEITA DE BELLEZA.(QUE RIDICULO PENSAMENTO...)

A MULHER DO ELEVADORA QUE FICOU L LONGE, NA GRANDE CIDADE...A QUE EU VI APENAS UM MINUTO, UM MINUTO SOMENTE,NO ELEVADOR QUE SUBIA.COM QUE SAUDADE INEDITA EU ME LEMBRODA QUE NO FOI NEM UMA SOMBRA, UMA SOMBRA FUGAZ,NO MEU DESTINO.DA QUE FICOU, SORRINDO, COM UM POUCO DE MIM,COM UM POUCO DO MEU SER ANONYMO E VULGAR,A MILHARES DE KILOMETROS, NA GRANDE CIDADE...Joslia Aguiar jornalista e doutoranda em histria. Edita o blogLivros Etc. naFolha.com.O Livro:Os 25 Poemas da Triste Alegria, de Carlos Drummond de Andrade. Editora Cosac Naify.