poemas de verão - rl.art.br · seja o doce mel duma colméia. ... não ouve- se flauta de pã. ......

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1ª Edição Câmara Brasileira de Jovens Escritores Poemas de Verão Diogo Carvalho

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1ª Edição

Câmara Brasileira de Jovens Escritores

Poemasde Verão

Diogo Carvalho

Copyright©Diogo Carvalho

Câmara Brasileira de Jovens EscritoresRua Marquês de Muritiba 865, sala 201 - Cep 21910-280

Rio de Janeiro - RJTel.: (21) 3393-2163

[email protected]

Abril de 2015

Primeira Edição

Conselho Editorial

Presidente: Glaucia HelenaEditor: Georges Martins

Coordenação editorial: Luiz Carlos MartinsEditor de Arte: Alexandre CamposProdução gráfica: Fernando Dutra

Comissão de Avaliação: Leo Martins, Leonardo Ach,Milena Patrícia, Fernando Dutra,

Vânia Ferreira, Fernanda Redon, Rodrigo Tedesco,Bruna Gala, Arthur Henrique Santos

Revisão: do Autor

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, porqualquer meio e para qualquer fim, sem a autorização

prévia, por escrito, do autor.Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais

Rio de Janeiro - Brasil

Abril de 2015

Poemasde Verão

Diogo Carvalho

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

I.

Te amo como o sal

Te amo como ao sal que se diluiComo o amor ama amarTe amo como uma filosofia ou uma religião.Te amo como um grito de liberdadeOu a paz do silêncio.Te amo como desejo estar amando eComo navegar numa canoa interestelar.Te amo do tamanho das coisas que nãoConheço.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

II.

Persiste em meu pensamento

Persiste em meu pensamentoA sombra de um momentoEm que ter era ser alguém.Persiste ainda tambémAs lágrimas sobre o mantoQue por desencanto derrameiQuando ainda amante amei.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

III.

Não necessito da lua

Não necessito da lua para sonharMas necessito do teu sorriso para sorrir eDe teus pés para mostrarem-me o caminho.Caminhando tropeço em tantas lembrançasE mesmo sem querer recordo a cor de seu vestidoE o tom da sua voz que há tanto não ouço.Meu pecado é amar o perdido.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

IV.

Com o tempo aprendi

Em louvor de Willian Shakespeare

Com o tempo aprendi...Aprendi que minhas ofensas geram respostasE más respostas geram dor.Aprendi que gestos dizem mais que a combinação de todasas palavras.Aprendi que não se pode caminhar para o futuro sem ligarpontosEntre o presente e o passado.Aprendi que o amor é mais que acaso. É uma questão desorte.Aprendi que escolher é abdicar e que escolhas são umfuturo que deixa de acontecer.Aprendi que a beleza abre portas, mas é preciso algo alémdela para não fechá-las novamente.Aprendi que o homem é um ínfimo grão de areia e quejuntos somos poeira do universo.Aprendi que não se teme a morte até que ela se aproximeE que a felicidade é tudo o que procuram e tudo o que nãoconseguem encontrar, pois está sempre no lugar maisóbvio.Aprendi que um carinho não é um contrato e flores nãosão promessas.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

V.

Saudade

É deixar quem ama sem quererÉ perceber que amor ficou e aPessoa amada partiu.É ter guardada, não a sementeMas o fruto de um amor intenso.É desejar estar tão distante paraTer alguém por perto outra vez.É pagar por fazer a vida valer a pena.É sofrer silenciosamente.No fundo só não sofre quem não ama,Assim, o maior sofrimento é não sofrer.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

VI.

Pensar é não compreender

Pensar é não compreender.Rego as minhas plantas,Limpo o meu quintal.Todo o resto é sombra duma árvoreQue não me pertence.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

VII.

Se

Se não podes voar como uma águia no céuSeja passarinho em teu ninhoOu doe tuas asas.Se não podes ser árvore centenáriaSeja os mais efêmeros frutosSe não pode ser a abelha rainhaSeja o doce mel duma colméia.Se não podes ser bailarinaSeja as pernas a guiar um caminho.Se não poder ser o canto da sereiaSeja o silêncio que faz adormecer.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

VIII.

Razões para amar-te

Por mostrar a perpétua novidade da vida

Por vendar meus olhos quando a luz

De certas verdades são fortes demais

Por não pedir mais do que lhe trago

E trazer-me mais do que lhe peço

Por encher meu coração com divina fé

Por chorar quando ameaço partir

Por quere-me mais do que ontem

E menos do que amanhã

Por apagar a luz ao perceber o meu cansaço

Ou meu desejo.

Por saber o que penso sem lhe dizer

Por dizer que sente e não sentir rancor

Por acordar primeiro e adormecer como uma criança

Por dar-me a esperança de que a tempestade vai passar

Por falar coisas belas quando ninguém mais diz

Por escutar-me sempre e calar-me quando preciso.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

Por querer o meu bem e estar ao meu alcance

Por fazer-me encarar todos os perigos

Por dar-me o sabor de teu perdão mesmo diante

Da minha estupidez.

Por colorir em minha alma a fé e a tolerância

Por fazer-me justo.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

IX.

Tira-me o ar

Tira-me o ar e a carne,Mas não tira-me a alegriaQue brota de teu sorriso.Deixa-me também as precesQue trazem paz na guerraE a calma em meio ao tumulto.Tira-me o sal,Tira-me o doce,Mas não tira-me do teu pensamentoE ama-me mesmo que por mais um instante.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XI.

Tu

Faz-me crer no queNão posso ser.Faz-me sim pensarQue sou de mim.Faz-me ver o queConheço além de tiSer tudo falso.Faz-me ser o queTe basta e a vidaSer mais vasta.Faz-me ser o teu poderE a tua lei.Faz-me ingênuo acreditarFeliz que sou teu rei.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XII.

Passam na rua cortejos

Passam na rua cortejosDe mortos inexistentes.Meu coração tem desejosE esmago-os entre dentes.Passam na vida lampejosDe coisas sempre tão ausentesUma delas são os beijosDe quem jamais me dá presentes.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XIII.

Minha boca

Minha boca a lhe SorrirE meu coração a chorar.Contaria só por não irÁ capela para orar.Meu coração é sempre ateuE nunca consegue crer.Aquilo que lhe deu?Ele pede para ver.Sim, sabe bem olhar o céuE sabe que não há o melQue tanto dizem que há.As vezes quer ser DeusA imagem e semelhançaAs vezes no fundo éA imagem duma criança.Este meu coração são asCoisas que já fui.Sem saber do céu, aquiTudo flui...; tudo flui.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XIV.

Coração

Bate bate coração de corda.Bate coração que já bateuPor aquela que não acordaPelo amor que não morreu.Bate bate coração ateu.Bate descrença no amorPula carne que chorar sem ser seuPula pedaço de minha dor.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XV.

O PeregrinoEm busca do sonho a andarPasseia por descaminhos a sorrir.Não consegue o peregrino chegarMas assim, indo está a ir.É bem verdade, viver é se iludir.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XVI.

Quero te amar

Quero te amar de todas as maneirasPorque o meu silêncio precisa de suas palavrasE meus olhos querem enxergar o seu sorrisoQuero te amar a cada instante, chorar seu prantoSorrir suas alegrias, decifrar seus segredos.E quando sentir saudades e não me encontrar saberáQue em algum lugar eu também sinto e não te encontro,Saberá que te amo só para aprender a te amarE que posso reconstruir o infinito se preciso for.Quero te amar de todas as maneirasQue Deus pôde conceber para as criaturas da Terra.Vou aceita-la quando me amar e lutar mesmo que merejeite.O tempo não irá separar e a distância não existe nadimensãoDos seres que se amamE que vivem para ver a felicidade brilhar na alma de outroalguém.Somos tão jovens, nossa caminhada mal começou,Mas a realidade já nos acolhe dizendo que faltam muitospassosE que a juventude precisa sonhar.Mas que sonho há que seja maior que eternamente amar?De todas as maneiras.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XVII.

Sei bem

Sei bem que não mais consigoAndar pela estrada do quererQue até mesmo prossigoPelo caminho de não ter.Sei bem do futuro que abdiqueiE das coisas que a alma sente.Das coisas das quis me conformeiDorme o coração inda contente.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XVIII.

Em busca da beleza

Sonho de bardo epicuristaIlusão que vai e vêm tão vãE mesmo que a mente insista,Não ouve- se flauta de Pã.

Flauta de Pã está além do HorizonteOnde ouvidos não podem alcançarOnde só a imaginação é a fonteDa mentira de a ter e tocar.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XIX.

Ama

Não quero despetalar-teNem tomar o teu poder.Só quero sujar teu leiteE ser teu bem querer.Vou idolatrar tuas mamasQuando com leite pingar o melSerá para o filho das tramasPequenas gotas do céu.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XX.

Sonhar?

Sonhar? Sonhe quem acorda.Sentir? Sinta quem lê.Quem escreve tem a cordaE desenrola sem saber.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXI.

Olha

Olha o que não quer.Diz o que não sei.Será então a mulherQue um dia amei?

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXII.

Amo-te

Amo-te porque te amo. Que outra razão teria para amar-te senão amar-te?Amo-te em todos os instantes, no sonho em que tudo élindo,Na realidade que não ouso compreender.Amo-te mais do que preciso e menos do que possa imaginar.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXIII.

Tenho o meu modo

Tenho o meu modo de serEm que existir é não morrerE saber é saber que não se sabe.Tenho o meu modo de terAs coisas que não tenho,A maneira com que amoAs coisas que desenho.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXIV

Tempo

Que venha o tempo em queDesabroche a flor violetaNa terra das laranjeiras.

Que venha o tempo em queA lembrança da coisa perdidaSe evapore mesmo queSuguemo-na pelas narinas.

Que venha o tempo em queDe cem em cem anos abra-seO arcabouço das horas felizesE faça-se luz no olhar de relíquia.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXV.

Moça do campoCanto uma moça do campoEm meu verso juvenilComo um discípulo do grande ShakespeareComo sombra do admirável Neruda.

Naquela fronte brilha a brancuraMenos do que na alma reluz a frescor da idade.

Sigo-a por entre trigaisImagino-a quando não vejoEm sonhos faço-a glorificadaPois só para ela canto.

Dar-te-ei os figos mais maduros,Dar-te-ei o fogo de minhas palavrasQueimando a pele acariciada,Inocente e virginal.

Canto uma moça do campoEm meu verso juvenilEla tem flor no cabelo, olhos negrosLábios selvagens guerrilhando.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXVI.

Sou como a linha fina:Qualquer brisa enverga,Mas nenhuma espada corta.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXVII.

O Tempo

Os dias breves se vãoE depois não os apanho.Há muita suavidade nas coisas que passam,Pouca nas coisas que ficam,E nenhuma nas que buscamos outra vez.

Que venha o novo de novoMas que o retrato não se faça espelhoOs dias breves se vão e vêem como as ondasSuaves, e sem mim.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XVIII.

V

V de vinho e de virgemDe pedra e de margem,De mar e de plantaQue cresce trepadeira,Da vingança e da voz vinilNos pilares de madeira VDesenhado. Em volta labaredas.

Letra que se escreve no cadernoÍntimo, no baú e na alma.Símbolo descoberto embaixoDo coração ferido por amor.

Quantos caminhos levaram-me a VÉ primavera velha V.Como é bom ter sua companhia.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXIX.

Poucos caminhos levaram- me a tiEntretanto os encontrei e segui.Agora estamos juntos como a plantaE suas raízes.Eu te olho, tu me olhas,O amar a nossa frente.Estaríamos jovens se não fossemos tão velhosMãos dadas em cadeiras reclinadas.Nunca é tarde demais para amar quem nos ama.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXX.

A solidão

A solidão em nada me aumenta.Na vida perdido corto ramos escuros de cipreste.Meus lábios sedentos não levantam qualquer sussurro,Busco súbito o passado que abandoneiMinha terra,Meu menino,Minhas mulheres.É claro, nada encontro.Minha terra não é igual, meu filho agora é homem,Minhas mulheres já não são minhas.E se encontrasse de que adiantaria?Acaso sou o mesmo?A solidão em nada aumenta, mas não raro diminui.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXXI.

A morte

A morte chega como um carteiroTrazendo um telegramaE a vida toda se torna um grãoQue nada mais fecunda.

Em breve seremos apenas um corpoPor quem alguém rezouMais adiante, o pó que o vento varre.

Nem todo instante é o último, mas todosPodem bem ser.

Contudo não murchamos a flor antes da horaCantemos e dancemos em torno da fogueiraDepois de ouvir nossos mestres.Tudo tem um fim.Mas quem disse que viver não é celebrar?

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXXII.

Tenho fome de tua pele, de teu cheiro,De tua boca que me beija deixandoMeu pêlo arrepiado.Sigo faminto de teu corpo e de tua almaQue reluzem na escuridão.

Caminho por bosques desnutrido de tua carneE dos frutos que dela brotam.Quero engolir a luz de teus poros e aSombra de teus cílios de mulher egípcia.

Meu olfato vai seguindo tuas pegadasBuscando tua matéria.Quero tatear os teus milímetrosE encontrar lá no fundo o sabor da maça carnal.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXXIII.

Tristeza de alma

Minha alma é triste na noite aflitaQue o corpo não acorda.Nem contente fica quando imitaA alegria e arte dos sonhos.

Posso bem querer o puro,Posso bem dar rosas ao futuro,Mas nada de tudo adiantaria.

A alma é triste na noite aflitaE espalha pelo trecho sementesQue crescem, mas não frutificam.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXXIV.

Ela canta pobre menina que passaCrendo que cantar é ser felizCanta bem forte, não embaraçaNinguém a desmente ou a desdiz.

Ela canta rica menina que passaAquilo que convém, que condizNão sê-la é minha desgraça:Ela sim sabe ser mesmo feliz.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXXV.

Te quero e não te queroTe amo e não te amoDe tanto querer-teE de tanto amar-te.

Quando diante de ti minha voz se calaE quando diz as palavras se confundemMeu corpo estremece, os pensamentosParecem se esquecer.Sinto-me tão pequeno perante a união improvável.

Desejo bradar a todos os ventos o meu amorDe modo a torná-lo teu inteiramente, mas não consigo.

Graças a Deus que a pessoa amada capita sinais sutis.

O amor não se revela. Descobre-se.Descubra-o e ame.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXXVI.

A Beleza

Pouco a tendo perdi-a de vistaFicando solitário busquei-a com presaDesejando a reconquista.

Nem a defini nem a achei, mas ainda assim existe.Ah! Foi transitório o prazer de colhê-laMas que não seja no fim uma efemeridade triste.Noutros corpos posso revê-la.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXXVII.

Eu pouco estive na cidade, mas quando estive é como senão estivesse.Meus pés andam sobre aquilo do que a terra é feitaMinhas mãos seguram os dedos da natureza.Não desejo a vida breve e intensa,Repudio o som das máquinas,Espanta- me as coisas técnicas.

Desejo apenas o rio que ouve pacienteSilencioso e sem julgamentos.

Quando triste por minha solidão sento- me sobreA grande pedra que as águas do rio banham e conto aminha tristezaO rio não me responde, apenas chia continuamenteCom toda a beleza e nenhuma filosofia.

Quem dera todo o resto fosse assim, belo e isento de ideias,Comunicativo e desprovido de linguagem,Companheiro e ausente de opiniões.

Tenho o meu modo de existir e ser poeta,De apreciar minha cegueira quando os cegos são os outrosQue enxergam o que não precisam.Eis o segredo mestre da vida; saber o mínimoDaquilo que se precisa saber.

De minha cabana vejo homens elétricos e suas máquinaseletrônicas

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

Passeiam sem se dar conta que sabem demais e por issosabem nada ou pouco.A eles desejo rosas e o cheiro da terra depois da chuva,Desejo pássaros e cachoeiras, mas nenhuma abstração.

Quando a natureza obriga, vou â cidade e lá encontro casas,carros e gentes que estão sempre acompanhadas e cadavez mais sozinhas.Que tristes figuras mecânicas vejo nas cidades.Quem dera as casas fossem cavernas, os carros fossemcavalos xucros e as gentes fossem galinhas d’Angola oupatinhos selvagens destes que se come ao anoitecer.

Eu tive os planos, tive os sonhos e nada deu mais desgostoque os planos e os sonhos.Depois, passado o desencanto desvendei meus olhos, e vique ver é mais lindo que planejar ou sonhar por que osplanos e os sonhos estão sempre no tempo do por- vir e oenxergar se enxerga agora.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XXXVIII.

Tudo é com Deus quando não é comigoSolitário olho a natureza e recebo sua mensagem.Com tristeza ou alegria querendo prossigoBradando meu gládio, lutando com coragem.

Nem a perca nem a falha desfaz a grande féNaquilo que outrora foi, um dia seráMa que ainda não é, não está ao pé.Esperanças no já foi, mas a conquista o fará.

De joelhos desfiro golpe no peito do inimigoVejo-o ao chão e assim me torno maior.Que pena, oh! Deus, um dia foi um amigo.Que lástima, até vencer nos causa dor.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XXXIX.

Poema sobre a cegueira

De tanto tatear, triste estouSem saber onde ando,Desconhecendo quem eu souContudo sigo, caminhando.

Não vejo quem me ama, se amaSequer enxergo quem me cegou.Bebo o leite que tu derramaE nem sei o que bebendo estou.

Viajo sabendo dor do mundoE a cada passo antevejo a morte.Contudo, sei a cor bem no fundo.Caminho e conto com a sorte.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XL.

Bodas de cinza

No que há entre nós tudo é escuroE segue sempre desconhecidoQue contradição ser ainda puraEsse amor morno e adormecido.

Parece sempre aquilo que foiQue não se alcança e não é meuO amor que finge que ama, mas dói.

Tenho pés e asas, dou-lhe rubisMas não te lanço nem te laçoNão recordo o balanço dos quadrisContudo, mornamente a vida passo.

Um dia há de ascender a brasaE de fato se fará o fogoMais amor e alegria em nossa casaQue seja amanhã, hoje, que seja logo.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XLI.

O artista envelhecido

Afino as cordas da minha lira pura, limpo na roupa puídaas marcas do meu pincel,Descanso a cabeça branca na rede dos sonhos perdidos,tardo no caminhar, tardo no Chegar, amanheço nodespertar.Tudo em mim amanhã será menos que hoje. Ou talvezseja nada.Que importa, afinal?!As cortinas do palco se fecharam, mas não sem aplausos.Nenhuma mão segura a minha agora, mas outrora eusoube amar e ser amado.Filho algum dá-me carinho, mas não desaprendi a ser pai.A canção do momento é triste, também pudera. Contudoo sol ainda nasce para clarear o mundo e o coração doshomens.Afinadas as cordas da minha lira pura toco um fadodaqueles tristes, comoventes.Tocando desfruto da solidão da idade e a imperdível chancede não poder fazer o que se quer quando se quer.Tocando espero novamente o fechar das cortinas, masdesta vez sem aplausos nem segundo ato.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XLII.

Essa mulher

Essa mulher que me desdenha, friaE foge de meus braçosÉ a mesma que me beija e me arrebata,Que faz votos de amor e diz nomes feios.

Essa mulher que cor da alegriaQue ri de minhas declarações de amáveisÉ a única a quem me declarei.

Hoje sei, essa mulher é a felicidadeMaior que há na Terra- ou será uma vadia?Que importa? Nenhuma mulher é ruimNa moldura de uma cama.

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Prova 01CBJE

Diogo Carvalho

XLII.

O ano de 1996

Meu olhar,Nossos olhares,Sepultam o silêncio.

Nossa terra desoladaJaz morta e sepulta também.

O que será do amanhã?Questiono-a mudo.

Como saber, se ontemDesconhecíamos o presente?Responde-me telepática.

Mas o que sei,O que nós sabemos,É que o passado é prólogo do futuro.Não obstante, amanhã é novo dia.

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Prova 01CBJE

Poemas de Verão

XLIII.

Na praia do amor beijei a fronte vivaE por encanto vi escorrer dos olhosO milagre da pessoa certa.

Que efêmero e eterno instante!Que pessoa certa mais errada encontrei!Que esperanças as minhas!

Na praia do amor beijei a fronte vivaE por encanto vi escorrer dos olhosO milagre da pessoa certa. E isso basta.

Livro produzido pelaCâmara Brasileira de Jovens Escritores

Rio de Janeiro - RJ - Brasilhttp://www.camarabrasileira.com

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