a colméia e a abelha (l. l. langstroth)

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A Colméia e a Abelha do Langstroth Manual Clássico de Apicultura L. L. Langstroth Tradução C. A. Osowski

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Page 1: A colméia e a abelha (L. L. Langstroth)

A Colméia e a Abelha do Langstroth

Manual Clássico de Apicultura

L. L. Langstroth

Tradução C. A. Osowski

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Assim trabalham as abelhas,

Criaturas, que por uma lei natural, ensinam A arte da disciplina para o povo do reino. - Sheaskpeare

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A Colméia e a Abelha

do Langstroth

O Manual Clássico de Apicultura

L. L. Langstroth

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Introdução

Sinto-me feliz por saber do meu amigo Sr. Langstroth, que está prestes a ser lançada uma nova edição do seu trabalho so-bre A Colméia e as Abelhas; considero-o, de longe, de entre todos que tenho conhecido, o mais valioso tratado sobre este assunto. Tomei conhecimento das principais características de seu siste-ma de apicultura alguns anos antes de sua publicação; já naque-la data me certifiquei que ele era incomparavelmente superior a todos os outros sobre os quais eu tinha lido ou dos quais tinha ouvido falar. Esta convicção foi grandemente reforçada pelo tes-temunho de outras pessoas, bem como pelos resultados conse-guidos com minhas observações.

Durante minha vida tive experiência relevante no manejo das abelhas e, me atrevo a dizer, a colméia criada pelo Sr. Langstroth é, em todos os aspectos, muito superior a qualquer outra que eu já tenha visto, seja aqui seja no exterior. Realmente não acredito que alguém, tendo real interesse em criar abelhas, possa, por um momento sequer, hesitar em usá-la; ou melhor, possa, quando tomar conhecimento da sua natureza e méritos, ser induzido a usar qualquer outra.

Ao longo deste trabalho é desvendado o verdadeiro segredo para fazer que esta comunidade de insetos, a mais industriosa, interessante e útil, trabalhe e viva em moradias tanto confortá-veis para elas mesmas quanto maravilhosamente convenientes para sua sociedade, sua divisão e seu rápido crescimento; e tudo isto sem diminuir a produtividade do seu trabalho ou lançar mão da cruel necessidade de as destruir.

O Sr. Langstroth nos ensina em seu livro como criar abelhas sem muito trabalho e sem o risco de sofrer com a arma que o Criador lhes forneceu para sua própria defesa. Até mesmo uma delicada senhora não precisa temer de levar em frente a tarefa de se dedicar a este fascinante ramo da Economia Rural. Nada é mais fácil para qualquer família que reside numa situação favo-rável do que ter algumas colônias, e com custo mínimo. Espero, sinceramente, que muitos tirem proveito das facilidades coloca-

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das à sua frente para ter sucesso com este fácil ramo de ativida-de, não apenas tendo em vista grandes lucros, em comparação aos custos, que dele se pode conseguir, mas também pelo grande prazer que se pode encontrar na observação dos hábitos destas pequenas e maravilhosas criaturas. Quão notavelmente a sua organização geral ilustra a sabedoria e a habilidade do Grande Criador de todas as coisas.

Não posso acreditar que muitos Ministros do Evangelho, re-sidindo na zona rural, não aceitem a generosa oferta do Sr. Langstroth de livre uso de sua invenção. Com muito pouco tra-balho e custo eles podem obter da apicultura consideráveis lu-cros, bem como muito prazer. Nenhuma outra atividade indus-trial ou material pode ser mais inocente, ou menos inconsistente com suas obrigações.

Poucas são as regiões de nosso país que não são admiravel-mente apropriadas para a criação de abelhas. A saúde da nação será beneficiada em milhões de dólares se cada família, favora-velmente situada para a apicultura, mantiver algumas colméias. Não se consegue citar nenhum outro ramo de atividade no qual ocorram perdas tão reduzidas do material utilizado, ou que seus lucros se originem do vasto e inesgotável domínio da Natureza.

Tenho certeza que o trabalho do Sr. Langstroth contribuirá grandemente para instalar um departamento da Economia Rural que, neste país, tem recebido até agora tão pouca atenção da ci-ência. Cabe-lhe muito bem o título de Benfeitor; infinitamente com mais razão do que a muitos outros que, no mundo inteiro e em todos os tempos, têm recebido este honroso título. Não se passarão muitos anos para que sua valiosa invenção seja exten-samente utilizada, tanto no Mundo Antigo como no Novo. É pre-ciso apenas que seus grandes méritos sejam conhecidos e o tem-po, certamente, fará o resto.

ROBERT BAIRD

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Prefácio

Animado pelo interesse com que a edição anterior deste tra-balho foi recebida submeto ao público uma Edição Revisada, i-lustrada com novas figuras e contendo minhas últimas descober-tas e melhorias. A informação aqui apresentada se adapta não somente para os usuários da colméia de quadros móveis mas a todos que têm interesse numa apicultura rentável com qualquer colméia, ou com qualquer sistema de manejo.

Impedido, mui severamente, por causa da saúde debilitada, de cumprir com as obrigações de minha profissão e compelido a procurar uma atividade que me levasse, tanto quanto possível, para a natureza, alimentei a esperança de que meu trabalho numa área da Economia Rural pudesse ser proveitoso para a comunidade. A apicultura é vista na Europa como uma atividade intelectual e todo aquele que estuda os maravilhosos hábitos deste útil inseto, sempre encontrará material para novas e e-xaustivas observações. O Criador afixou o selo de sua Infinitude em todo o seu trabalho, assim é impossível, até mesmo nos mí-nimos objetos, "procurando, não encontrar o Onipotente perfei-tamente". Em nenhum deles, porém, ele se mostrou mais clara-mente do que na organização das abelhas:

"What well-appoited commonwealths! when each Adds to the stock of happiness for all; Wisdom´s own forums! whose professors teach Eloquent lessons in their vaulted hall! Galleries of art! And schools of industry! Stores of rich fragrance! Orchestras of song! What marvellous seats of hidden alchemy! How oft, when wandering far and erring long, Man might learn truth and viertue from the BEE!

BOWRING.

Chamamos a atenção, em particular, dos Ministros do Evan-gelho para este ramo da História Natural. Uma familiaridade ín-tima com as maravilhas das abelhas traz, de várias formas, be-nefício para eles e pode, ao mesmo tempo, levá-los, em seus sermões, a imitar mais de perto o exemplo Dele que ilustrava

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seus ensinamentos com "os pássaros do ar e os lírios do campo", bem como com o caminho normal da vida e as atarefadas ativi-dades do homem.

Sou feliz em reconhecer minhas dívidas com o Sr. Samuel Wagner, de York, Pensilvânia, pela ajuda material na preparação deste Tratado. Meus leitores sentir-se-ão devedores pelas infor-mações extremamente valiosas obtidas graças à sua extensiva e precisa familiaridade com a apicultura alemã,

L. L. LANGSTROTH

OXFORD, BUTLER COUNTY, OHIO, MARÇO, 1859.

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Índice

Página

Lista das Lâminas e Explicação das Ilustrações so-bre a História natural das Abelhas ....................... 13

Capítulo

I. FATOS LIGADOS À INVENÇÃO DA

COLMÉIA DE QUADROS MÓVEIS ................. 11

II. AS ABELHAS SÃO TRATÁVEIS ....................... 21

III. A RAINHA OU MÃE DAS ABELHAS; OS ZANGÕES; AS OPERÁRIAS; FATOS DA SUA HISTÓRIA NATURAL ............................. 25

IV. FAVO ............................................................. 59

V. PRÓPOLIS ...................................................... 67

VI. PÓLEN OU "PÃO DA ABELHA" ........................ 71

VII. VENTILAÇÃO DA COLMÉIA ............................ 77

VIII. REQUISITOS DE UMA COLMÉIA IDEAL.......... 83

IX. ENXAMEAÇÃO NATURAL E ALOJAMENTO DE ENXAMES ....................... 95

X. ENXAMEAÇÃO ARTIFICIAL .......................... 123

XI. PERDA DA RAINHA ...................................... 181

XII. A TRAÇA DA CERA E OUTROS INIMIGOS DAS ABELHAS - DOENÇAS DAS ABELHAS ................................................... 195

XIII. PILHAGEM E COMO PREVENIR ................... 225

XIV. INSTRUÇÕES PARA ALIMENTAR AS ABELHAS ................................................... 231

XV. O APIÁRIO - COMPRA DE ABELHAS - TRANSFERÊNCIA DE ABELHAS DAS COLMÉIAS COMUNS PARA AS COLMÉIAS DE QUADROS MÓVEIS ............. 243

XVI. MEL ............................................................. 249

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XVII. FORRAGEM APÍCOLA SUPER-POVOAMENTO ........................................... 255

XVIII. AGRESSIVIDADE DAS ABELHAS REMÉDIO PARA SUA FERROADA ............... 269

XIX. ABELHA ITALIANA ....................................... 279

XX. TAMANHO, FORMA E MATERIAL DAS COLMÉIAS NÚCLEO DE OBSERVAÇÃO ...... 289

XXI. HIBERNANDO AS ABELHAS ......................... 295

XXII. CALENDÁRIO DO APICULTOR AXIOMAS DO APICULTOR .......................................... 317

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Colméia de Quadros Móveis, com todos os Vidros.

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A Colméia e a Abelha 11

A COLMÉIA E A ABELHA

CAPÍTULO I

FFFAAATTTOOOSSS LLLIIIGGGAAADDDOOOSSS ÀÀÀ IIINNNVVVEEENNNÇÇÇÃÃÃOOO DDDAAA CCCOOOLLLMMMÉÉÉIIIAAA DDDEEE QQQUUUAAADDDRRROOOSSS MMMÓÓÓVVVEEEIIISSS

A apicultura neste país está em situação deprimente, encon-trando-se totalmente abandonada pela grande maioria dos mais favoravelmente situados para dela se ocuparem. Não obstante as inúmeras colméias que foram criadas, a devastação pela traça da cera1 aumentou e o sucesso tem se tornado mais e mais incerto. Enquanto muitos abandonaram a atividade por desgosto, mui-tos, mesmo os mais experientes, começam a suspeitar que todas as assim chamadas "Colméias Melhoradas" não passam de uma ilusão ou embuste e que devem retornar para a caixa simples ou para o tronco cavado e "afugentar" suas abelhas com enxofre como antigamente.

Na atual situação da opinião pública, é necessária muita confiança para introduzir outra patente de colméia ou um novo sistema de manejo; mas acreditando que chegou uma nova era para a apicultura, peço atenção dos Apicultores para a leitura atenta deste Manual, confiante que ficarão convencidos que exis-te uma forma melhor do que qualquer outra com a qual eles já tenham se familiarizado. Eles encontrarão aqui uma explicação clara para muitos assuntos até hoje misteriosos sobre a fisiologia da abelha, junto com muitas informações valiosas nunca antes comunicadas ao público.

Já decorrem mais de vinte anos desde que voltei minha a-tenção para a criação de abelhas. Tendo a situação de minha sa-úde me compelido, nos últimos anos, a passar mais tempo ao ar livre, devotei grande parte do meu tempo à investigação minucio-

1 O autor utiliza o termo "bee-moth" que foi traduzido como traça da cera. N. T.

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sa dos seus hábitos, bem como a uma série de meticulosos expe-rimentos sobre a construção e manejo das colméias.

Nos primórdios dos meus estudos apícolas construí uma colméia conforme a proposta do célebre Huber e, conhecendo al-gumas de suas mais valiosas descobertas, fiquei convencido de que os preconceitos que existiam contra ele eram totalmente in-fundados. Confiante que suas descobertas lançavam a base de um sistema apícola mais promissor, comecei a experimentar colméias com diferentes formas de construção.

Ainda que o resultado destas investigações ficasse muito longe de minhas expectativas, algumas destas colméias abrigam ainda hoje enxames vigorosos com quarenta anos de idade, os quais, sem alimentação, superaram as vicissitudes de alguns dos piores períodos nunca vividos pelas abelhas.

Ao mesmo tempo em que estou confiante que minha colméia possui peculiaridades valiosas, não me sinto capaz de livrar a a-picultura das muitas casualidades desconcertantes às quais ela está sujeita; fiquei convencido que nenhuma colméia poderá fa-zê-lo a menos que ela consiga controle completo sobre os favos, de forma que qualquer um deles, bem como todos eles, possam ser removidos quando se quiser. O uso da colméia do Huber me dei-xou satisfeito, uma vez que, com algumas precauções, os favos podem ser inspecionados sem tumultuar as abelhas, e assim é possível manter estes insetos surpreendentemente dóceis. Sem o conhecimento destes fatos, eu poderia ter procurado uma col-méia que permitisse a remoção dos favos de forma quase perigo-sa sob o ponto de vista prático. Inicialmente usei sarrafos mó-veis, ou barras, encaixados nos chanfros superiores das laterais anterior e posterior da colméia. As abelhas iniciavam seus favos nestas barras e depois os fixavam nas laterais da colméia. Cor-tando estas ligações, os favos, por estarem presos às barras, po-diam ser removidos. Não havia nada de novo no uso destas bar-ras - sua invenção ocorreu, provavelmente, há mais de cem anos - e a principal peculiaridade desta colméia é a facilidade com que eles podem ser removidos sem tumultuar as abelhas, mas de forma melhorada para obter uma produção excedente de mel.

Com colméias assim construídas, fiz experiências em escala maior do que até então e obtive, em pouco tempo, resultados magníficos. Pude abandonar totalmente a enxameação natural e ainda multiplicar as colônias com maior rapidez e certeza do que pelos métodos comuns. Todas as colônias fracas podiam ser re-

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forçadas e as que tinham perdido sua rainha podiam receber re-cursos para criar outra. Se eu suspeitasse que qualquer coisa es-tivesse errada na colméia podia averiguar prontamente a verda-deira condição e aplicar o corretivo apropriado. Em poucas pala-vras, fiquei satisfeito, a apicultura podia se tornar altamente ren-tável e ainda um negócio tão seguro quanto as demais atividades da economia rural.

Um item, no entanto, permanecia a desejar. O corte dos favos em suas ligações com a colméia trazia muita perda de tempo tanto para mim quanto para as abelhas. Isto me levou a criar um método em que os favos eram presos a QUADROS MÓVEIS, de forma que quando suspensos nas colméias não tocassem nem no topo, nem no fundo, nem nas laterais. Com este dispositivo os favos podiam ser removidos a bel prazer sem nenhum corte e transferidos prontamente para outra colméia. Depois de utilizar intensamente colméias com esta construção, conclui que eles, os quadros móveis, atendiam o objetivo proposto na invenção.

No Verão de 1851 me convenci que as abelhas podiam ser postas a trabalhar em colméia de vidro, expostas à luz do dia. Esta descoberta me trouxe a satisfação de conhecer o Rev. Dr. Berg, então pastor da Reformed Dutch Church, Filadélfia. Atra-vés dele soube, pela primeira vez, que um clérigo Prussiano de nome Dzierzon1, estava despertando a atenção das cabeças coro-adas pelas suas descobertas sobre o manejo das abelhas. Antes de ele me por a par das particularidades destas descobertas, ex-pliquei ao Dr. Berg meu próprio sistema e lhe apresentei minha colméia. Ele expressou um grande assombro pela maravilhosa semelhança entre nossos métodos de manejo sem que nenhum de nós tivesse tido qualquer conhecimento do trabalho do outro.

Nossas colméias, concluiu ele, diferiam em alguns aspectos realmente fundamentais. Na colméia de Dzierzon os favos por não estarem presos a quadros móveis mas a barras não podiam ser removidos sem serem cortados. Na minha colméia, todo favo podia ser retirado sem retirar os demais; além disso, na colméia de Dzierzon muitas vezes era necessário cortar e remover muitos quadros para ter acesso a um em particular; assim, caso fosse intenção remover o décimo era necessário retirar nove. A colméia Alemã não conseguia um excedente em mel na forma mais co-merciável em nossos mercados, ou não permitia um transporte

1 Pronuncia-se Tseertsone.

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seguro do favo. Não obstante esta desvantagem ela obteve um grande triunfo na Alemanha e trouxe um novo impulso para a criação de abelhas.

A carta que segue de Samuel Wagner, Esq., Caixa do Banco de York, York, Pensilvânia, mostra os resultados obtidos na Ale-manha com o novo sistema de manejo e sua avaliação de que a minha colméia é superior às outras em uso.

"York, Pa., Dez. 24, 1852.

"Prezado Senhor: - A teoria do Dzierzon, bem como o sistema de manejo apícola nela baseado, foi apresentada pela primeira vez, teoricamente, no ‘Eichstadt Bienen-zeitung’, ou Revista sobre Abelha, em 1845, e chamou imediatamente minha atenção. Sub-seqüentemente quando em 1848, a pedido do governo da Prús-sia, o Rev. Sr. Dzierzon publicou sua ‘Teoria e Prática da Apicul-tura’, importei uma cópia, que recebi em 1849, e que traduzi an-tes de Janeiro de 1850. Antes de concluir a tradução recebi a vi-sita de meu amigo o Rev. Dr. Berg, da Filadélfia, e, no transcor-rer da conversa sobre apicultura, mencionei a ele a teoria e o sis-tema de Dzierzon como um que eu considerava novo e muito su-perior, ainda que eu não tivesse tido a oportunidade de testá-lo praticamente. No mês de Fevereiro seguinte, quando estive na Fi-ladélfia, deixei com ele a tradução do manuscrito - e tenho dúvi-da se, até aquela data, outra pessoa, neste país, tenha tido qual-quer conhecimento da teoria de Dzierzon; nunca a mencionei a ninguém, exceto ao Dr. Berg, a não ser em termos gerais.

"Em Setembro de 1851, o Dr. Berg visitou novamente York e me informou sobre suas investigações, descobertas e invenções. Pela avaliação que o Dr. Berg me transmitiu, tenho certeza que o Senhor delineou substancialmente o mesmo sistema que o con-cebido com tanto sucesso pelo Sr. Dzierzon; mas não tenho con-dições de julgar, apenas pela descrição, o quanto a sua colméia lembra a dele. Contudo, inferi alguns pontos de diferença. A co-incidência dos sistemas e os princípios sobre os quais eles, evi-dentemente, se basearam, surpreendeu-me de modo extrema-mente singular e interessante, pois tinha certeza que o Senhor não sabia mais do Sr. Dzierzon e seu trabalho, antes do Dr. Berg mencioná-lo e o seu livro ao senhor, do que o Sr. Dzierzon sabia do seu. Estas constatações me deixaram ansioso por examinar sua colméia, e me levaram a visitar seu apiário no Oeste da Fila-délfia em agosto passado. Estando o responsável ausente, tomei a liberdade de explorar o local minuciosamente, abrindo e inspe-

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cionando um bom número de colméias e tomando conhecimento da disposição interna das partes. O resultado foi, retornei con-vencido que ainda que seu sistema fosse baseado nos mesmos princípios que os usados por Dzierzon, sua colméia era quase to-talmente diferente da dela tanto na construção como na disposi-ção; ainda que os mesmos objetivos tenham sido substancial-mente alcançados por cada um, a sua colméia é mais simples, mais conveniente e muito melhor adaptada para disseminação geral e uso, visto que a forma de usá-la é mais facilmente apren-dida. Não tenho dúvida do seu resultado e sucesso triunfantes. Acredito, sinceramente, que, quando ela chegar ao conhecimento do Sr. Dzierzon, ele mesmo há de preferi-la à sua própria. Ela combina, de fato, todas as boas qualidades que uma colméia de-ve possuir, está isenta de complicações, extravagâncias, capri-chos vaidosos e, decididamente, formas censuráveis que caracte-rizam a maioria das invenções que prometem ser superiores em tudo a uma colméia que nada mais é do que uma caixa simples ou câmara simples.

"O Senhor pode, com certeza, reivindicar iguais créditos que o Dzierzon pela originalidade na observação e descoberta sobre a história natural da abelha, pelo sucesso em descobrir os princí-pios e divisar o mais valioso sistema de manejo a partir da ob-servação dos fatos. Como sua invenção contém clareza, solidez e adapta os meios aos fins, é razão para o grande Alemão bater palmas a você.

"Envio em anexo algumas colocações interessantes a respeito de Dzierzon, e a avaliação de como o seu sistema está evoluindo na Alemanha.

Sinceramente

SAMUEL WAGNER

REV. L. L. LANGSTROTH."

A seguir as colocações às quais o Sr. Wagner se refere:

"Pode ser interessante um breve relato do crescimento e dis-seminação do sistema do Sr. Dzierzon como testemunho do valor e dos resultados que com ele se pode conseguir. Em 1835, ele começou na apicultura na forma comum com doze colônias e de-pois de vários percalços, que lhe mostraram os defeitos das col-méias comuns e da forma ultrapassada de manejo, seu inventá-rio reduziu tanto que, em 1838, teve de, virtualmente, começar

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de novo. Neste período ele divisou melhorias em sua colméia, a-inda de forma simples, o que lhe permitiu controle sobre todos os favos, e ele começou a experimentar o que a observação e o estu-do lhe permitiram divisar. Dali em diante seu progresso foi rápi-do e seu sucesso completo e triunfante. Embora ele tenha tido alguns revezes, cerca de setenta colônias lhe foram roubadas, sessenta destruídas pelo fogo e vinte e quatro pela enchente, a-inda assim, em 1846, seu inventário tinha crescido para trezen-tas e sessenta colônias, e delas ele colheu naquele ano seis mil libras de mel (2700kg), alem de algumas centenas de libras de cera. Ao mesmo tempo, a maior parte dos apicultores em suas proximidades, que continuaram com os métodos comuns, ti-nham menos colméias do que tinham quando começaram.

No ano de 1848, uma epidemia fatal, conhecida pelo nome de ‘cria pútrida’, se espalhou entre suas abelhas e destruiu qua-se todas sua colônias antes que pudesse ser controlada; apenas cerca de dez escaparam da doença que atacou tanto as antigas como seus enxames artificiais. Ele estima que sua perda, naque-le ano, foi superior a quinhentas colônias. No entanto, ele foi tão bem sucedido na multiplicação pela enxameação artificial que, com as poucas que estavam saudáveis no Outono de 1851, con-seguiu um inventário de cerca de quatrocentas colônias. Ele multiplicava suas colônias em mais de três vezes a cada ano.

A condição altamente próspera de suas colônias é atestada pelo Relatório do Secretário do Annual Apiarian Convention que ocorreu em suas proximidades na Primavera passada. Esta Con-venção, a quarta que era realizada, contava com cento e doze en-tusiastas apicultores de várias regiões da Alemanha e países vi-zinhos e, entre eles, havia alguns que, durante a reunião, eram fortes oponentes do sistema.

"Eles visitaram e examinaram pessoalmente os Apiários do Sr. Dzierzon. O relatório fala em termos realmente superlativos do seu sucesso e da superioridade clara do seu sistema de mane-jo. Ele mostrou e explicou claramente aos visitantes sua prática e princípios; eles constataram com admiração a docilidade singu-lar das abelhas e o controle total a que elas se submetiam. Ao fi-nal dos ricos detalhes apresentados nos anais, diz o Secretário:

"´Agora que vi o método de Dzierzon demonstrado pratica-mente, devo admitir que ele pode ser implantado com menos di-ficuldades do que eu tinha suposto. Com sua colméia e sistema de manejo, parece que as abelhas são mais dóceis do que em ou-

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tros casos. Considero o seu sistema o mais simples e o melhor meio de transformar a apicultura numa atividade rentável e de ser levada a todo lugar; especialmente por se adaptar às regiões onde as abelhas não enxameiam fácil e regularmente. Teve su-cesso claro em repor as pesadas perdas sofridas pela ação da e-pidemia devastadora; em poucas palavras, o poder de recupera-ção possível com o uso do sistema, demonstra conclusivamente que ele fornece o melhor, talvez o único, meio de tornar a apicul-tura uma atividade rentável da economia rural.

"´Dzierzon, modestamente, declina da idéia de ter atingido a perfeição com sua colméia. Ele insiste, antes, sobre a verdade e validade de sua teoria e sistema de manejo.´

"Do Leipzig Illustrated Almanac - Relatório sobre a Agricultura de 1846:

"´A apicultura não será mais vista como sem valor na eco-nomia rural.´

"Do mesmo, do período 1851 a 1853:

"´Desde que o sistema de Dzierzon se tornou conhecido, o-correu uma revolução completa na apicultura. Iniciou uma nova era para a apicultura e os apicultores estão voltando sua atenção para ela com zelo renovado. Os méritos de suas descobertas são apreciados pelo Governo que recomendam o seu sistema como merecedor da atenção dos professores das escolas comuns.´

"O Sr. Dzierzon reside num distrito pobre, arenoso da Baixa Silésia que, de acordo com a experiência dos Apicultores, é des-favorável para a apicultura. Mesmo assim, a despeito disto e dos vários outros infortúnios, ele conseguiu arrecadar novecentos dólares como produto de suas abelhas durante uma estação!

"Através do seu método de manejo, suas abelhas rendem, mesmo nos anos mais pobres, 10 a 15 porcento do capital inves-tido; e as colônias, conseguidas graças à perícia e trabalho do a-picultor, lhe custam apenas um quarto do valor pelo qual elas são normalmente avaliadas. Em estações normais, o lucro atinge de 30 a 50 porcento, e em estações muito favoráveis de 80 a 100 porcento."

Ao trazer a público estes fatos, me orgulho em reivindicar ter chegado, por minhas descobertas independentes, a um sistema de apicultura que provocou tanto interesse na Alemanha; desejo também fazer valer o testemunho, sobre os méritos da minha

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colméia, expresso pelo Sr. Wagner, largamente conhecido como um competente estudioso Alemão. Ele adquiriu todas as revistas sobre apicultura publicadas mensalmente na Alemanha por mais de dezenove anos e ele está, sem dúvida, mais familiar do que qualquer outra pessoa, em seu país, com a situação da cultura apícola no estrangeiro.

Quero mostrar, também, que o valor que atribuo ao meu sis-tema de manejo é justificado, sobejamente, pelo sucesso daque-les que, com o mesmo sistema, mesmo com colméias inferiores, conseguiram resultados quase inacreditáveis para o apicultor comum. Os inventores estão prontos a superestimar o valor do seu trabalho e o público tem sido iludido, tantas vezes, por pa-tentes de colméias que têm falhado totalmente em atingir os ob-jetivos preconizados, que eles raramente podem ser censurados por rejeitar toda novidade como não merecedora de crédito.

Uma Revista Apícola Americana, apropriadamente conduzi-da, pode ser valiosa para disseminar a informação, despertar o entusiasmo e proteger o público de imposições miseráveis que há tanto tempo está sendo submetido. Na Alemanha são publicadas mensalmente três revistas desta natureza; sua circulação tem disseminado amplamente os princípios que devem constituir o fundamento de qualquer sistema apícola bem orientado e rentá-vel.

Embora muitos dos principais fatos sobre a fisiologia da abe-lha tenham sido descobertos há muito tempo, infelizmente tem acontecido que alguns dos mais relevantes têm sido amplamente desacreditados. Eles, por si só, são tão maravilhosos e, muitas vezes, são incríveis para os que não conseguiram testemunhá-los, a ponto de não ser estranho que eles sejam rejeitados como conceitos fantasiosos ou invenções descabidas.

Por mais de meio século têm-se usado colméias envoltas por vidro em ambas as laterais com apenas um favo. Estas colméias são escurecidas por janelas e, quando abertas, a rainha fica tão exposta à observação quanto as demais abelhas. Descobri que, com precauções apropriadas, as colônias podem ser colocadas a trabalhar em núcleo de observação exposto continuamente à luz do dia; assim as observações podem ser feitas a toda hora, sem interromper, por uma súbita admissão de luz, as operações nor-mais das abelhas. Em tais colméias muitas pessoas, estudiosas de vários estados da União, têm visto a rainha depositar seus o-vos nos alvéolos, rodeada por um afetuoso círculo de suas devo-

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tadas filhas. Eles têm testemunhado, também, com assombro e prazer, todas as etapas misteriosas do processo de desenvolvi-mento da rainha a partir de ovos que pelo desenvolvimento nor-mal produziriam apenas abelhas comuns. Muitas vezes por perí-odo superior a três meses não passou um dia sequer, em meu apiário, no qual algumas colônias não estivessem engajadas no desenvolvimento de novas rainhas para tomar o lugar da que lhes foi tirada e eu tive o prazer de mostrar estes fatos a apicul-tores que, antes, nunca estiveram dispostos a neles acreditar.

Como todas as minhas colméias são construídas de forma que qualquer favo pode ser retirado e examinado a bel prazer, aqueles que as usarem podem conseguir toda a informação de que precisam sem que nada deva ser apenas acreditado. Que me seja permitido expressar a esperança que o tempo está, agora, na mão quando o número de observadores práticos será multiplica-do e os princípios da apicultura tão profundamente entendidos, de forma que os ignorantes e os maquinadores não terão condi-ções de impor seus conceitos e hipocrisias ao público, menospre-zando as descobertas dos que têm devotado anos de observação para o avanço do conhecimento apícola!

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CAPÍTULO II

AAASSS AAABBBEEELLLHHHAAASSS SSSÃÃÃOOO TTTRRRAAATTTÁÁÁVVVEEEIIISSS

Se as abelhas não dispusessem de uma arma tão formidável tanto para ataque como para defesa, uma multidão que a teme poderia ser facilmente induzida a se engajar na sua criação. Co-mo meu sistema de manejo permite as maiores liberdades possí-veis com estes insetos defensívos, creio ser primordial mostrar pelo básico como todas as operações necessárias podem ser rea-lizadas sem incorrer em grande risco de provocar sua defensivi-dade.

Muitas pessoas não conseguiram esconder sua surpresa ao me verem abrir colméia após colméia, retirar os favos cobertos de abelhas, sacudi-las na frente da colméia, formar novos enxames, mostrar a rainha, transferir as abelhas com toda sua reserva pa-ra outra colméia e, em poucas palavras, manuseá-las como se elas fossem moscas indefesas. Algumas vezes me perguntam se as abelhas das colméias que abri não tinham sido submetidas a prolongado treinamento; por vezes elas continham enxames que tinham sido trazidos para o meu apiário apenas no dia anterior.

Pretendo, neste capítulo, antecipar alguns princípios da his-tória natural da abelha para convencer meus leitores que qual-quer um, favoravelmente situado, pode desfrutar do prazer e do benefício da atividade que foi apropriadamente intitulada "a poe-sia da economia rural", sem se tornar familiar com uma arma pequena e afiada que pode prontamente converter toda a poesia numa prosa muito triste.

Deve ser dito para toda a cabeça pensante que o Criador concebeu a abelha, tão certamente quanto o cavalo e a vaca, pa-ra o conforto do homem. No início do mundo e, sem dúvida, até quase os tempos atuais, o mel foi praticamente o único açúcar natural; e a promessa "uma terra onde corre leite e mel" tinha outrora um significado que nos é difícil entender claramente. A abelha foi criada não apenas para meramente armazenar o deli-cioso néctar para seu próprio uso, mas com algumas tendências,

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sem as quais o homem não conseguiria submetê-la a seu contro-le mais facilmente do que consegue transformar um leão ou um tigre numa proveitosa besta de carga.

Uma das peculiaridades que constitui o fundamento do meu sistema de manejo e, sem dúvida, a possibilidade de tornar com-pletamente tratável um inseto tão defensivo, nunca foi, até onde sei, claramente colocado como um principio fundamental e de controle. Ele pode ser expresso da seguinte forma:

A abelha quando cheia de mel nunca ataca espontaneamente, mas age exclusivamente para se defender.

Esta lei da tribo melífera é tão universal, que se pode esperar antes, que uma pedra seja arremessada para o alto sem o auxílio de qualquer força propulsora, do que uma abelha cheia de mel se dispor a ferroar, a menos que seja esmagada ou machucada por um ataque direto. Quem tentou, pela primeira vez, alojar um en-xame de abelhas, deve ter tido uma grata surpresa pela tranqüi-lidade com que conseguiu concluir a proeza; é extensamente co-nhecido que as abelhas, quando tencionam enxamear, enchem sua vesícula melífera o máximo possível. Elas se tornam, assim, tão dóceis que podem ser facilmente apanhadas pelo homem, a-lém de terem material para iniciar, imediatamente, as operações em sua nova habitação e não correrem o risco de passar fome caso ocorram vários dias chuvosos logo após a emigração.

As abelhas saem de suas colméias na forma mais pacífica imaginável e, a não ser em caso de abuso, permitem serem tra-tadas com grande familiaridade. Sua captura pode sempre ser feita sem risco, se não existir, o que não é normal, alguma im-prudente ou infeliz que vai em frente sem estar cheia de alimen-to, mas, ao contrário, cheia do mais amargo furor contra quem ousar se intrometer com ela. Tal radicalismo sem utilidade deve sempre ser temido, pois elas precisam destilar sua raiva contra algo, e ainda assim morrem durante a ação.

Se a colônia inteira, ao sair, estivesse possuída de um espíri-to feroz ninguém poderia capturá-la a menos que vestido com proteção à prova de abelha e não, sem antes, até que todas as janelas de sua casa fossem fechadas, seus animais domésticos levados para local seguro, e colocadas sentinelas em locais ade-quados para alertar a todos que se aproximassem para se man-terem a distância segura. Em poucas palavras, sem a tendência de serem de boa índole depois que uma refeição farta lhes tenha

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sido fornecida, elas nunca poderiam ser manejadas e o nosso mel continuaria a ser procurado em fendas de rochas ou buracos de árvores.

Uma segunda peculiaridade da natureza das abelhas, da qual podemos nos valer com grande sucesso, pode assim ser e-nunciada:

As abelhas não conseguem, em circunstância alguma, resistir à tentação de se encherem, a si mesmas, com líquido doce.

É quase tão difícil para elas resistirem, como para um ava-rento inveterado desprezar uma chuva de ouro de duas águias1 caindo a seus pés e pedindo para serem apanhadas. Se, então, ao tentarmos realizar qualquer operação que possa provocá-las, pudermos chamar sua atenção para uma oferta fácil de doce, podemos ficar seguros que, pela influência do doce, elas nos permitirão o que quisermos, desde que não lhes causemos mal.

Deve-se tomar especial cuidado para não manuseá-las com brutalidade, pois elas sempre que apertadas ou maltratadas ex-porão o seu ferrão para mostrar sua indignidade. Se, assim que a colméia é aberta, as abelhas visíveis forem suavemente borrifa-das com água açucarada, elas se ajudarão umas às outras com grande ânsia, e em poucos instantes estarão sob controle total. A verdade é que as abelhas assim manejadas ficam satisfeitas em ver os visitantes, pois deles elas esperam receber, a cada inter-venção, uma tentadora oferta de paz. A grande objeção ao uso de água açucarada é a cobiça das abelhas das outras colméias, as quais, quando existir alguma escassez de mel no campo, muitas vezes, rondam o apiário assim que lhes for apresentado o borri-fador e tentam forçar caminho para qualquer colméia que for a-berta, a fim de roubar, se possível, uma porção do tesouro.

Uma terceira peculiaridade da natureza das abelhas garante um controle quase total sobre elas e pode ser expresso como se-gue:

As abelhas amedrontadas começam a se encher imediata-mente com mel dos favos.

Se o apicultor conseguir apenas amedrontar o pequeno inse-to, ele ficará tão pacífico a ponto de ser incapaz de ferroar. O uso

1 Segundo Michaelis - Double eagles: antiga moeda de ouro com valor de 10 dóla-res. N. T.

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de um pouco de fumaça de madeira em decomposição1, a maior e mais defensiva colônia fica completamente submissa. Assim que a fumaça for soprada sobre as abelhas, elas batem em retirada, ficam submissas ou se mostram atemorizadas e, como imagi-nando que seu mel lhes será retirado, enchem ao máximo a sua vesícula melífera. Elas agem ou como se tivessem sido advertidas que somente está a salvo o que elas conseguirem carregar em sua vesícula ou como se estivessem sendo enxotadas de suas re-servas, e assim elas ficam determinadas a começar com um su-primento completo de provisão, seja lá o que acontecer. O mesmo resultado pode ser conseguido fechando-as em sua colméia e tamborilando sobre a colméia por pouco tempo. Os diferentes processos, pelos quais é possível induzir as abelhas a se enche-rem de mel, estão mais bem explicados no capítulo sobre enxa-meação artificial.

Pelos métodos acima descritos, pode administrar um grande apiário, realizar toda a operação necessária, por prazer ou por necessidade, sem correr o risco de ser ferroado mais freqüente-mente do que seríamos ao tentar manejar uma única colméia pe-la forma ordinária.

Faça todos os movimentos junto de suas colméias de forma suave e lenta. Acostume suas abelhas à sua presença: nunca esmague ou maltrate as abelhas, não respire sobre elas durante qualquer operação; familiarize-se inteiramente com os princípios de manejo detalhados neste compêndio e você perceberá que tem menos motivos para temer o ferrão da abelha do que os chifres de sua vaca favorita ou as patas traseiras do seu leal cavalo.

Equipado com a máscara para abelhas (Lâmina XI., Figs. 25, 27) e luvas de india-rubber até mesmo o mais tímido, valendo-se destes princípios, pode abrir minhas colméias e ocupar-se com as abelhas com liberdade que surpreende à maioria dos mais ve-lhos apicultores que empregam a forma comum: no manejo de grandes apiários não se faz necessária nenhuma operação que irrite uma colônia inteira e faça as abelhas atacarem com fúria quase irresistível a pessoa do apicultor.

1 Tal madeira é muitas vezes chamada de madeira podre; ela queima sem chama até se consumir, e sua fumaça pode ser direcionada facilmente sobre as abelhas pelo sopro do apicultor.

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CAPÍTULO III

AAA RRRAAAIIINNNHHHAAA OOOUUU MMMÃÃÃEEE DDDAAASSS AAABBBEEELLLHHHAAASSS;;; OOOSSS ZZZAAANNNGGGÕÕÕEEESSS;;;

AAASSS OOOPPPEEERRRÁÁÁRRRIIIAAASSS;;; FFFAAATTTOOOSSS DDDAAA SSSUUUAAA HHHIIISSSTTTÓÓÓRRRIIIAAA NNNAAATTTUUURRRAAALLL

As abelhas só podem prosperar quando reunidas em grande número na forma de uma colônia. Solitariamente, uma simples abelha necessita de tanta ajuda quanto uma criança recém nas-cida, chegando a ficar paralisada pelo frio de uma noite amena de Verão.

Ao examinar uma colônia que se prepara para enxamear três espécies de abelhas serão encontradas na colméia.

1°: uma abelha com forma peculiar, chamada de Rainha.

2°: algumas centenas a, muitas vezes, milhares de grandes abelhas chamadas de Zangões

3°: muitas milhares do menor tipo, chamadas Operárias, ou abelhas comuns, iguais às vistas nas flores. Serão vistos muitos alvéolos contendo mel e pão da abelha, um grande número de ovos, bem como operárias e zangões não maduros. Alguns alvéo-los de tamanho não comum são destinados para o desenvolvi-mento de princesas. Na Lâmina XII, a rainha, zangão, e operária estão representados ampliados e também no tamanho natural.

A rainha é a única fêmea perfeita da colméia e todos os ovos são postos por ela. Os zangões são os machos e as operárias, são fêmeas cujos ovários, ou "depósitos de ovos", são tão pouco de-senvolvidos que elas são incapazes de procriar; estas conservam o instinto de fêmeas somente no que ser refere a cuidar da cria.

Estes fatos foram demonstrados tantas vezes que eles são tão bem conhecidos como a maioria das leis de procriação dos nossos animais domésticos. O conhecimento deles, no seu pro-pósito real, é essencial a todo aquele que quiser conseguir gran-des lucros com métodos melhorados de criação de abelhas. Estes

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que não se inteirarem das informações necessárias e, assim mesmo, criarem abelhas, podem manejá-las na forma antiga que exige menos conhecimento e habilidade.

Estou bem consciente de como é difícil persuadir os apicul-tores, aos quais foi tantas vezes imposta uma nova idéia, a ponto de eles não acreditarem nas colocações feitas pelos interessados em patentear uma colméia; ou persuadir os apicultores que rotu-lam todo o conhecimento, não coincidente com o seu, como mera "cultura literária" não dando atenção para o homem prático.

Se algum destes ler este livro, quero lembrar-lhe que todas as minhas afirmações podem ser confirmadas. Como durante muito tempo o interior da colméia foi, para o observador comum, um profundo mistério, os ignorantes ou astutos podiam afirmar o que quisessem sobre o que se passava em seu recesso escuro; mas agora, quando todo o favo pode, em poucos instantes, ser exposto á luz do dia, o homem que divulgar seus próprios concei-tos ou fatos será, prontamente, identificado como louco e como impostor.

A rainha, por ser a mãe de toda a colônia, po-de, muito apropriadamente ser chamada a abelha mãe. Ela, sem ser questionada, reina por um di-reito divino, pois toda boa mãe deve ser a rainha em sua própria família. Sua forma é muito dife-rente da forma das outras abelhas. Ela não é tão corpulenta como o zangão, mas seu corpo é mais longo; e como ela é consideravelmente mais alon-gada, com a forma de um pão de açúcar, do que a

operária, ela tem a aparência semelhante a de uma vespa. Suas asas são menores do que as asas do zangão ou da operária; a parte inferior do seu corpo é de cor dourada e a parte superior normalmente mais escura do que a das outras abelhas. Seus movimentos são, geralmente, lentos e matronais, embora ela possa, quando quiser, mover-se com surpreendente rapidez. Ne-nhuma colônia pode sobreviver, por muito tempo, sem a presen-ça deste influente inseto; mas seguramente deve morrer, assim como o corpo sem espírito entra inevitavelmente em decomposi-ção.

As abelhas tratam a rainha com o maior respeito e afeição. Um círculo de operárias afetuosas a rodeia constantemente1, tes-

1 Ver o grupo de abelhas na Página-Título.

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temunhando de várias formas sua relação de submissão; algu-mas a tocam com suas antenas, outras lhe oferecem alimento de tempos em tempos e todas elas polidamente lhe cedem o cami-nho, oferecendo-lhe livre passagem quando ela se move sobre os favos. Toda colônia privada de sua rainha fica em estado de grande agitação assim que sua perda for percebida; todas as ati-vidades da colméia são abandonadas, as abelhas correm freneti-camente sobre os favos, e freqüentemente correm para fora da colméia numa busca ansiosa por sua querida mãe. Se não con-seguirem encontrá-la, elas retornam para sua desolada casa e com um triste som revelam seu profundo sentimento por uma calamidade tão deplorável. O som em tais ocasiões, mais especi-almente assim que percebem sua perda, é de um caráter peculi-armente deplorável; ele se parece com uma sucessão de lamúrias em tom menor, e um apicultor experiente não pode confundi-lo com o zumbido normal de satisfação, assim como a mãe ansiosa não confunde o comovente gemido de uma criança doente com o jovial murmurejar quando cheia de saúde e alegria.

Sei que, para a grande maioria, isto parece mais um roman-ce do que uma sóbria realidade; mas, acreditando que é um cri-me para todo observador obstinado expor erradamente ou ocul-tar verdades fundamentais, eu decidi, ao escrever este livro, tra-zer fatos maravilhosos assim como eles são; confiante que no tempo devido eles serão universalmente reconhecidos; esperando que as muitas surpresas na economia da abelha não só desper-tem maior interesse na sua criação, mas conduzam os que as observam a respeitar a sabedoria Dele que lhes forneceu tão ad-miráveis instintos.

A fertilidade da rainha tem sido subestimada pela maioria dos escritores. Durante o ápice do período de postura, ela, mui-tas vezes, em condições favoráveis, porá entre dois e três mil o-vos por dia! No meu núcleo de observação tenho observado ela depositar ovos na taxa de seis por minuto. A prolificidade da fê-mea da formiga branca é, no entanto, muito maior podendo che-gar à taxa de sessenta ovos por minuto; mas seus ovos são sim-plesmente expelidos do seu corpo e carregados pelas operárias para berçários apropriados, enquanto a rainha, ela mesma, de-posita seus ovos nos alvéolos apropriados.

Foi dito que a rainha normalmente começa a por ovos muito cedo na estação e sempre muito antes de existir qualquer macho na colméia. Como são, então, seus ovos fertilizados? Francis Hu-

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ber, Genebra, ao longo do curso de infatigáveis investigações, lançou muita luz sobre este assunto. Antes de discorrer sobre suas descobertas, devo render meu humilde tributo de gratidão e admiração a este homem maravilhoso. É torturante a todo natu-ralista e, devo acrescentar, a todo homem honesto que tome co-nhecimento dos fatos, ouvir um apicultor como o Huber ser in-sultado pelos aprendizes e impostores; enquanto outros, devem ao seu trabalho quase tudo que tenha algum valor em sua ativi-dade

"Damn with faint praise, assent with civil leer. And, without sneering, teach the rest to sneer."

Huber perdeu a visão no início da vida adulta. Seus oposito-res imaginavam que ao mencionar este fato pudessem levar ao descrédito todas as suas observações. Para reforçar suas conjec-turas mais fortes, eles afirmam que o criado, Francis Burnens, cujo auxílio lhe permitiu conduzir seus experimentos, era apenas um agricultor ignorante. Este, assim chamado "agricultor igno-rante", era uma pessoa de grande inteligência, possuidora de uma energia e entusiasmo incansável, indispensáveis a um bom observador. Ele era daquelas raras pessoas autodidatas e chegou a ser o magistrado chefe na vila onde residia. Huber pagou um admirável tributo à sua inteligência, fidelidade, paciência indo-mável, energia e habilidade.1

Seria difícil encontrar em qualquer língua um exemplo me-lhor de raciocínio indutivo do que o trabalho de Huber com as abelhas, e este raciocínio indutivo pode ser visto como um mode-lo, caminho único, capaz de investigar a natureza a fim de che-gar a resultados confiáveis.

Huber foi assistido em suas pesquisas não só pelo Burnens, mas também por sua própria esposa, com quem noivou antes de perder a visão e que persistiu, nobremente, casando-se com ele apesar de seu infortúnio e da enorme dissuasão de seus amigos. Eles viveram mais tempo do que a média no gozo de grande ale-gria no lar, de tal forma que o amável naturalista, graças à assí-dua atenção de sua esposa, quase não sentiu falta de sua visão.

Muitos acreditam que Milton tenha sido o melhor poeta como

1 Um fato simples mostra o caráter do homem. Fez-se necessário, num certo ex-perimento, examinar todas as abelhas de duas colméias. "Burnens despendeu onze dias realizando este trabalho, e durante todo este tempo ele não se permitiu qualquer descanso a não ser o exigido pelos seus olhos".

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conseqüência de sua cegueira; e é muito provável que Huber te-nha sido um ótimo apicultor pela mesma razão. Seu espírito ati-vo e reflexivo exigia constante ocupação; ele encontrou no estudo dos hábitos das abelhas oportunidade para usar suas energias. Todas as observações e experimentos do seu leal assistente, dia-riamente relatados, recebiam dele muitos questionamentos e su-gestões, que talvez não teriam sido feitos se ele pudesse usar seus olhos.

Poucos, como ele, têm controle igual tanto sobre o tempo como sobre o dinheiro para conseguirem prosseguir por tanto tempo e profundidade, por vários anos, com custosos experimen-tos. Tendo estudado repetidamente suas observações mais rele-vantes, tenho um grande prazer em intitulá-lo, para os meus compatriotas, como o Príncipe dos Apicultores.

Retornemos às suas descobertas sobre a fecundação da rai-nha. Ao longo de experimentos cuidadosamente executados, ele apurou que, assim como muitos outros insetos, ela é fecundada no ar livre e durante o vôo; este assunto o ocupou durante anos, se não durante toda sua vida. Ele não conseguiu, no entanto, lançar uma hipótese de como eram fertilizados os ovos que ainda não estavam desenvolvidos em seus ovários. Anos mais tarde, o emitente Dr. John Hunter, e outros, supuseram que devia existir um órgão que mantinha o esperma do macho e que se comuni-cava com o oviduto. Dzierzon, que deve ser visto como um dos mais competentes contribuintes da ciência apícola atual, susten-ta esta opinião e afirma que ele encontrou um órgão desta natu-reza cheio com um fluido semelhante ao sêmen do zangão. Pare-ce que ele não confirmou suas descobertas por nenhum exame ao microscópio.

No Inverno de 1851-2 enviei várias rainhas, para exame ci-entífico, ao Dr. Joseph Leidy, Filadélfia, possuidos da maior re-putação, tanto nacional quanto internacional, como um natura-lista e anatomista especialisata em microscópia. Ele encontrou, ao fazer a dissecação, um pequeno saco globular com cerca de 1/38 polegadas (0,7mm) de diâmetro, que se comunica com o o-viduto, e cheio com um fluido esbranquiçado; este fluido, exami-nado ao microscópio, abundava em espermatozóides o que ca-racteriza o fluido seminal. Uma comparação desta substância, mais tarde durante a estação, com o sêmen de zangão, mostrou ser exatamente a mesma.

Estas investigações confirmaram, demonstração irrefutável,

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o modo pelo qual os ovos da rainha são vivificados. Ao descer pe-lo oviduto para serem depositados no alvéolo eles passam pela abertura deste saco seminal, ou "espermateca", e recebem uma porção do seu conteúdo fertilizante. Mesmo pequena como ela é, contem o suficiente para fertilizar centenas de milhares de ovos. Precisamente da mesma forma os ovos da mãe das vespas e dos hornets são fecundados. Apenas que as fêmeas destes insetos sobrevivem ao Inverno e, muitas vezes, um único inseto começa a construção do ninho no qual, inicialmente, apenas alguns ovos são colocados. Como poderiam estes ovos eclodir se as fêmeas não fossem fecundadas na estação anterior? A dissecação mos-trou que elas têm uma espermateca semelhante à da rainha das abelhas. Parece nunca ter ocorrido aos opositores de Huber que, a existência de uma vespa mãe permanentemente fecundada é quase tão difícil de explicar quanto a existência de uma rainha de abelha semelhantemente fecundada.

O memorável Swammerdam, em suas observações sobre os insetos, feitas no final do século dezessete, produziu um desenho ampliado dos ovários da rainha, do qual apresento aos leitores uma cópia reduzida (Lâmina XVIII). O pequeno saco globular (D) que se comunica com o oviduto (E), que ele pensava secretar um fluido para grudar os ovos na base dos alvéolos, é o reservatório seminal ou espermateca. Qualquer um que dissecar com cuidado uma rainha pode ver este saco, até mesmo a olho nu.

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Pode-se ver que os ovários (G e H) são dois, cada um consis-tindo de um surpreendente número de dutos1 cheios com ovos, que gradualmente aumentam de tamanho2.

Huber, para averiguar como a rainha era fecundada, confi-nou algumas jovens em suas colméias reduzindo o alvado, de forma que elas tivessem mais de três semanas de idade quando saíssem à procura de zangões. Para sua surpresa, as princesas cuja fecundação tinha sido tão retardada puseram ovos que pro-duziam apenas zangões.

Ele repetiu o experimento diversas vezes e obteve sempre o mesmo resultado. Apicultores, já da época de Aristóteles, tinham observado que, por vezes, toda a cria de uma colméia era de zan-gões. Antes de tentar explicar este surpreendente fato, devo chamar a atenção do leitor para outro dos mistérios da colméia.

Já foi dito ter sido provado por dissecação que, normalmen-te, as operárias são fêmeas estéreis. Ocasionalmente em algumas delas eles se desenvolvem suficientemente a ponto de elas serem capazes de botar ovos. Mas estes ovos, da mesma forma que os das rainhas cuja fecundação foi retardada, sempre produzem zangões. Algumas vezes, quando a colônia que perdeu sua rai-nha não consegue criar outra, as operárias que botam ovos de zangão são guindadas à condição de rainha e tratadas com a mesma consideração pelas abelhas. Huber verificou que as ope-rárias poedeiras3 eram criadas, normalmente, nas vizinhanças das realeiras, e pensou que elas recebiam algumas partículas do alimento peculiar ou geléia com a qual as rainhas eram alimen-tadas. Ele pretendia estudar o efeito da fecundação retardada sobre a rainha4; e não fez experimento algum sobre a fecundação das operárias poedeiras.

1 Neste desenho os dutos estão representados em maior número do que no dese-nho de Swammerdam. 2 Depois que a primeira edição deste trabalho foi lançada, eu verifiquei que Posel (página 54) descreve o oviduto da rainha, a espermateca e seu conteúdo, bem como o uso da última na fertilização do ovo que por ela passa. Seu trabalho foi publicado em Munique, em 1784. Parece, também, a partir do seu trabalho (pá-gina 36), que antes das investigações de Huber, Jansha, o apicultor real de Maria Teresa, tinha descoberto o fato que as princesas deixam suas colméias à procura de zangões. 3 O autor utiliza "fertile worker" que foi traduzido como "operária poedeira". N.T. 4 Embora o texto original, “He did not pretend to account ...”, permite entender que Huber não pretendia, sabe-se, consultando sua obra, que ele estudou o as-sunto. Por esta razão optamos, na tradução, pela afirmação. N.T.

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Após a publicação do trabalho de Huber, há mais de sessen-ta anos atrás, nenhuma outra luz foi lançada sobre os mistérios das rainhas e operárias com postura de zangão, a não ser muito recentemente. Dzierzon parece ter sido o primeiro a buscar a verdade sobre este assunto; e suas descobertas devem, certa-mente, ser classificadas entre os mais surpreendentes fatos den-tro da natureza animada. Parece, à primeira vista, tão inacredi-tável que eu não deveria ter a coragem de mencioná-lo, se não fosse sustentado por uma evidência indubitável, e se eu não esti-vesse determinado a mencionar todos os fatos relevantes e per-feitamente confirmados, totalmente em oposição aos preconcei-tos do ignorante e presunçoso.

Dzierzon afirma que todo ovo fertilizado produz fêmea, seja operárias ou rainha; e todo não fertilizado, macho ou zangão! Ele afirma que em várias de suas colméias ele encontrou rainhas com postura de zangão, cujas asas eram tão imperfeitas que elas não podiam voar, as quais, ao serem examinadas, se comprovou não terem sido fecundadas. Por esta razão, ele concluiu que os ovos postos tanto pela rainha quanto pela operária poedeira têm, por causa da fertilização prévia do ovo do qual ele emerge, vitali-dade suficiente para gerar um zangão, que é um inseto não tão altamente organizado como a rainha ou a operária. Já é de há muito sabido que a rainha deposita ovos de zangões em alvéolos grandes de zangão, ovos de operárias em alvéolos pequenos de operárias e que ela não comete erro. Dzierzon inferiu, por esta razão, que existe uma forma pela qual ela tem condições de deci-dir o sexo do ovo antes de botá-lo e que ela tem controle sobre a boca do saco seminal podendo, ao expulsar o ovo, controlar se ele, pela sua vontade, receberá ou não uma porção do seu con-teúdo fertilizante. Desta forma ele pensou que ela determinava o sexo pelo tamanho do alvéolo no qual ela botaria o ovo.

Meu amigo, Mr. Samuel Wagner, York, Pensilvânia, desen-volveu uma teoria muito engenhosa, considerando todos os fatos, e sem pressupor que a rainha tenha qualquer conhecimento es-pecial ou vontade sobre o assunto. Ele supôs que quando ela de-posita seus ovos nos alvéolos de operária, seu corpo é levemente comprimido por causa do tamanho do alvéolo e isto faz que o ovo ao passar pela espermateca receba uma porção do seu conteúdo vivificante. Ao contrário, quando ela deposita nos alvéolos de zangão, como a compressão não ocorre, a boca da espermateca é mantida fechada e os ovos são, necessariamente, não fértiliza-dos.

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No Outono de 1852 meu assistente encontrou uma jovem ra-inha cuja descendência consistia exclusivamente de zangões. A colônia foi formada pela remoção de alguns quadros contendo abelhas, cria e ovos de outra colméia e criou sua própria rainha. Foram encontrados alguns ovos num dos favos e insetos jovens estavam emergindo dos alvéolos, os quais eram todos zangões. Eles eram criados em alvéolos de operária pois só existia alvéolo de operária na colméia e não existindo espaço para seu desen-volvimento completo, os zangões eram de menor tamanho, embo-ra as operárias tivessem remendado os alvéolos para dar mais espaço a seus ocupantes.

Fiquei surpreso não só em encontrar zangões criados em al-véolos de operárias, mas, igualmente também, porque a jovem rainha, que inicialmente punha somente ovos de operárias1, esti-vesse colocando ovos de zangões, e de imediato conjeturei que este era o caso de uma rainha não fecundada que punha ovos de zangão, pois não havia decorrido tempo suficiente para dizer que sua fecundação tivesse sido retardada de forma não natural. To-das as precauções necessárias foram tomadas para esclarecer este assunto. A rainha foi removida de sua colméia, e embora suas asas aparentassem perfeitas, ela não conseguia voar. Pare-cia provável, porisso, que ela nunca teve condições de deixar sua colméia para a fecundação.

Para esclarecer a questão sem deixar sombra de dúvida, submeti esta rainha ao Professor Leidy para um exame ao mi-croscópio. O que segue é um extrato do seu relato. "Os ovários estavam cheios de ovos, o saco do veneno cheio de fluido; e a es-permateca distendida perfeitamente sem cor, transparente, lí-quido viscoso, sem um traço sequer de espermatozóides."

Este exame confirmava a teoria de Dzierzon de que a rainha não precisava ser fecundada para por ovos de machos.

Parecia existir muita dúvida sobre a exatidão das declara-ções de Dzierzon sobre o assunto, principalmente por ter ele formulado a infeliz conjectura de que o local do saco do veneno da operária é ocupado, na rainha, pela espermateca. I isto é completamente contrário aos fatos (Lâmina XVIII, A, D) pois esta

1 Embora tenha estudado repetidas vezes este parágrafo, fiquei com dúvidas quanto ao seu conteúdo. Está dito que inicialmente a rainha punha ovos fertili-zados e depois ovos não fertilizados. No entanto, o autor afirma, mais adiante, que a rainha não foi fecundada. N.T.

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foi uma inferência natural uma vez que este severo e, sobretudo, honesto observador não realizou dissecação, com auxílio do mi-croscópio, dos insetos que examinou. Eu me considero particu-larmente afortunado, por ter conseguido ajuda de um naturalista tão renomado como o Dr. Leidy para as dissecações ao microscó-pio.

Ao examinar esta mesma colônia, alguns dias mais tarde, encontrei evidência satisfatória que estes ovos de zangão eram postos pela rainha que tinha sido removida. Nenhum ovo fresco tinha sido posto nos alvéolos e as abelhas ao perderem a rainha tinham começado a construir realeiras, para criar, se possível, outra rainha; isto elas não conseguiriam fazer pois se uma ope-rária poedeira estivesse presente ela botaria apenas ovos de zan-gão.

Outro fato interessante prova que todos os ovos postos pela rainha eram ovos de zangão. Duas das realeiras sofreram des-continuidade em pouco tempo; enquanto uma terceira foi oper-culada da forma comum, a fim de que as mudanças prosseguis-sem até uma rainha perfeita. Se as abelhas tinham somente uma rainha que punha ovos de zangão, de onde veio o ovo feminino a partir do qual elas estavam criando uma rainha?

Primeiro imaginei que elas tivessem roubado de outra col-méia; mas ao abrir a realeira vi que ela continha apenas um zangão morto! Huber descreveu um erro semelhante cometido por algumas de suas abelhas. No fundo desta realeira existia uma quantidade não usual da peculiar geléia fornecida para de-senvolver rainhas. Pode-se até imaginar que as abelhas supera-limentaram o infeliz zangão até a morte; agindo assim elas espe-ravam que com alimentação tão liberal ocorresse uma mudança na sua organização sexual.

No Verão de 1854, encontrei outra rainha com postura de zangão em meu apiário, com as asas tão enrugadas que ela não podia voar. Eu a introduzi, sucessivamente, em várias colônias sem rainha e em todas ela depositou apenas ovos de zangão

Em 14 de julho de 1855, uma rainha do meu núcleo de ob-servação começou a botar ovos quando estava com nove dias de idade, alguns ovos nas bordas dos favos em vez de nos alvéolos. Ela persistiu com este comportamento por alguns dias, até que a transferi para uma colônia que estave sem rainha por algumas semanas, esperando que ela pudesse, se não tinha sido fecunda-

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da, fazer um vôo para encontrar os zangões. O núcleo de obser-vação no qual ela depositou os ovos estava exposto à luz do dia; a entrada era pequena e difícil de ser encontrada; pude consta-tar, em diversas ocasiões, que quando os zangões deixavam as colméias em maior número, a rainha parecia incapaz de encon-trar a saída. Nestas ocasiões ela manifestava um excitamento pouco usual e toda a colônia ficava agitada como se estivesse en-xameando. Depois de ela estar na segunda colméia por um curto tempo, constatei que ela tinha posto um certo número de ovos de zangão. Eles foram depositados próximo da base e na lateral do favo, em alvéolos um pouco maiores do que os de operária, os quais as abelhas tinham começado a alongar, para adaptá-los ao crescimento de seus ocupantes. Não existia outra cria na colméi-a. Em 9 de agosto, encontrei favos praticamente cheios com cria de operária, em estado consideravelmente menos avançado do que os dos zangões. Existe alguma razão para duvidar que estes ovos de zangões foram depositados pela rainha antes, e os ovos de operárias depois, de sua fecundação?

Na Itália existe uma variedade de abelhas que difere do tipo comum no tamanho e na cor. Se uma rainha desta variedade for fecundada por um zangão comum, sua descendência de zangão será Italiana, e sua cria operária miscigenada; mostrando assim que o zangão que ela produz não depende do macho pelo qual ela foi fecundada.

A partir de recentes descobertas na área da fisiologia parece que para a fertilização do óvulo de um animal é necessário que o espermatozóide não apenas entre em contato com ele, mas real-mente entre dentro dele através de uma pequena abertura. Apli-cando esta descoberta às abelhas, o Prof. Siebold, da Alemanha, dissecou ovos de operária e encontrou em cada um de um a três espermatozóides; mas não encontrou nenhum ao dissecar ovos de zangão.

O Dr. Donhoff, Alemanha, no Verão de 1855, desenvolveu larvas de operárias a partir de ovos de zangão1 que ele fertilizou

1 Tentei fazer isto em 1852, mas para meu grande desapontamento, as abelhas removeram ou devoraram todos os ovos assim tratados; por ter eu, como supus depois, para sua repugnância, desenvolvido operárias em alvéolos de zangão. A-creditava que as abelhas sem rainha nem cria de espécie alguma pudessem de-senvolver rainhas, operárias e zangões a partir de ovos depositados em alvéolos de zangão e que tivessem sido tocados com um pincel macio previamente mergu-lhado no sêmen de zangão diluído.

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instrumentalmente.

Aristóteles registrou, há mais de 2000 anos, que os ovos que produzem zangões são semelhantes aos ovos de operárias. Com a ajuda de um potente microscópio ainda não conseguimos de-tectar nenhuma diferença no tamanho ou na aparência entre os ovos da rainha.

Estes fatos, analisados em conjunto parece constituírem uma demonstração perfeita que rainhas não fecundadas têm, não somente, condições de botar ovos e, também, que seus ovos tem vitalidade para produzir zangões.

Parece-me provável que, caso a fecundação seja retardada por cerca de três semanas, os órgãos da rainha ficam em tal condição que a fecundação não pode mais ocorrer; assim como as partes de uma flor, depois de um certo tempo, murcham e se fecham e a planta fica incapaz de frutificar. Talvez, depois de um certo tempo, a rainha perde todo o desejo de sair à procura de zangão. Uma operária poedeira que põe ovos de zangão parece que fisicamente não pode ser fecundada.

Existe algo de análogo a estas maravilhas nos "afídios", ou piolho verde, que infestam as plantas. Temos evidência indubitá-vel que uma fêmea fecundada gera outras fêmeas e estas, por sua vez, a outras, todas as quais sem fecundação têm condições de levar adiante a cria; até que, depois de um certo número de gerações, são produzidos machos e fêmeas perfeitos e a série re-começa novamente!

Embora possa parecer improvável que um ovo não fertilizado gere um ser vivo, ou que o sexo dependa da fertilização, não te-mos a liberdade de rejeitar fatos cujas razões não compreende-mos. Aquele que se permitir tal insensatez, para ser consistente, deve estar mergulhado no sombrio abismo do ateísmo. O senso comum, bem como a filosofia e a religião nos ensinam a receber com reverência todos os fatos indubitáveis, seja do mundo natu-ral ou espiritual; embora eles possam nos parecer misteriosos, eles são maravilhosamente consistentes na visão Daquele cujo "entendimento é infinito".

Todos os fatos relativos à criação de abelhas devem ser tão familiares ao apicultor como são os fatos relativos à criação de seus animais domésticos1. Algumas noções incipientes e não

1 "Se fosse possível", disse um talentoso apicultor alemão, em 1846, "entender o

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bem sistematizadas, mas que ainda satisfazem o apicultor à mo-da antiga, não conseguirão satisfazer as necessidades daqueles que desejam conduzir uma apicultura de modo extensivo e ren-tável.

A extraordinária fertilidade da rainha já foi esclarecida. O processo de postura foi bem descrito pelo Rev. W. Dunbar, api-cultor escocês.

"Quando a rainha se prepara para por, ela coloca sua cabeça dentro do alvéolo e se mantem nesta posição por um ou dois se-gundos a fim de se certificar das boas condições para o que ela está prestes a fazer. Então ela retira sua cabeça, curva seu corpo para baixo1 e insere a parte inferior dele no alvéolo: em poucos segundos ela gira meia volta em torno de si e se retira, deixando um ovo atrás de si. Quando ela coloca um considerável número de ovos, ela o faz igualmente em ambas as faces do favo, ficando os de um lado do favo em oposição exata com os do outro lado desde que a posição relativa dos alvéolos permitam. O efeito des-ta disposição é conseguir a maior concentração possível e eco-nomizar o calor necessário para as várias mudanças da cria!"

Aqui, assim como em cada etapa na economia das abelhas observa-se uma adaptação perfeita de meios e fins, uma inteli-gência que poucas vezes parece ser inferior à do homem.

"Os ovos das abelhas2 são alongados, tem formato oval (Lâ-mina XIII., Fig. 39), levemente curvados, são de cor branca azu-lada: são lambuzados, na hora da deposição, com uma substân-cia pegajosa a fim de aderir ao fundo do alvéolo, e não mudam de posição ou situação por três a quatro dias; depois eles eclodem, sendo possível ver no fundo do alvéolo uma pequena larva bran-ca. Durante o seu crescimento (Lâmina XIII, Fig. 40 e 41), como que para tocar o ângulo oposto do alvéolo, a larva se curva sobre si mesma, para usar a linguagem de Swammerdam, como um cachorro quando se põe a dormir, flutua num líquido branco transparente, depositado nos alvéolos pelas abelhas nutrizes, com o qual se alimenta; ela aumenta gradualmente de dimensão, até as duas extremidades se tocarem formando um anel. Neste

processo reprodutivo das abelhas com tanta clareza quanto o dos nossos animais domésticos, a apicultura seria exercida, inquestionavelmente, com rentabilidade e estaria bem posicionada entre os vários ramos da economia rural." 1 Ela tem certeza, assim, de depositar o ovo no alvéolo selecionado. 2 "Bevan on the Honey-Bee"

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estado é chamada de larva ou verme. As abelhas fornecem a quantidade exata de comida necessária, de forma que nada sobre no alvéolo quando a abelha se transforma em ninfa. É opinião de muitos naturalistas eminentes que o pólen1 não é o único ali-mento da larva, mas que seu alimento é uma mistura de pólen, mel e água, parcialmente digerido no estômago das abelhas nu-trizes.

"Recebendo a assistência descrita acima, durante quatro, cinco ou seis dias, dependendo da estação, a larva cresce, até ocupar todo o espaço disponível e aproximadamente o compri-mento do alvéolo. As abelhas nutrizes agora operculam a abertu-ra do alvéolo com uma cobertura marrom clara, externamente mais ou menos convexa (o opérculo dos alvéolos dos zangões é mais convexo do que o das operárias) e assim é diferenciado dos alvéolos com mel, que são planos ou um pouco côncavos."

O opérculo dos alvéolos da cria não é feito de cera pura, mas de uma mistura de cera e pão de abelha; se apresenta ao micros-cópio cheio de finos orifícios para que o inseto enclausurado te-nha ar. Por causa da sua textura e forma é facilmente rompido pela abelha madura, ao passo que se fosse feita exclusivamente de cera, o inseto poderia ou morrer por falta de ar, ou não teria condições de abrir caminho para o mundo. Tanto o material co-mo a forma dos opérculos que cobrem os alvéolos com mel são diferentes: eles são de cera pura e impermeáveis ao ar, para pre-venir que o mel azede ou cristalize nos alvéolos; são levemente côncavos, para resistir melhor à pressão do seu conteúdo.

Retornando ao Bevan. "A larva não é perfeitamente enclau-surada a não ser depois de iniciar a revestir o alvéolo tecendo, sobre ela mesma, da mesma forma que o bicho da seda (Lâmina XIII, Fig.42), um filme sedoso e esbranquiçado, ou casulo, pelo qual ela é envolvida, como se estivesse num saco. Quando esta mudança termina a abelha recebe o nome de ninfa ou pupa. Ago-ra ela atingiu seu crescimento total e a grande quantidade de a-limento que ela ingeriu serve como reserva para se desenvolver em inseto perfeito.

"A ninfa de operária tece seu casulo em trinta e seis horas. Depois passa cerca de três dias neste estado se preparando para a nova existência, ela passa gradualmente por uma grande mu-

1 Segundo Michaelis – farina, termo utilizado pelo autor, significa farinha mas que também significa pólen. N. T.

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dança (Lâmina XIII., Fig. 43) a ponto de não restar nenhum ves-tígio de sua forma anterior.

"Passados vinte e um dias de sua existência, contados a par-tir da postura do ovo, surge um inseto alado perfeito. O casulo é deixado para traz em forma de cobertura bem presa e exata den-tro do alvéolo no qual foi tecido; desta forma os alvéolos de cria-ção se tornam menores e suas divisórias mais fortes, pelas mui-tas vezes que troca seu ocupante; pode diminuir tanto de tama-nho a ponto de não possibilitar o desenvolvimento perfeito das abelhas até o porte normal.

"Estes são os estágios da abelha operária; - os da abelha rai-nha são como seguem: ela passa três dias na forma de ovo e cin-co como larva; as operárias, então, operculam a realeira e ela começa, imediatamente, a tecer seu casulo, que a ocupa por vin-te e quatro horas. No décimo, décimo primeiro e parte do duodé-cimo dia, como se estivesse exausta por causa do trabalho, ela permanece em completo repouso. Depois ela passa quatro dias e parte do quinto dia como ninfa. No décimo sexto dia a princesa atinge o estado perfeito.

"O zangão passa três dias como ovo, seis e meio como larva e muda para inseto perfeito no vigésimo quarto ou vigésimo quinto dia depois da postura do ovo.

"O desenvolvimento de cada uma das castas ocorre, outros-sim, mais lentamente quando as colônias estão fracas ou o tem-po está frio. O Dr. Hunter observou que os ovos, larvas e ninfas, todos, requerem temperatura acima de 70oF (21oC) para sua evo-lução. Tanto zangões quanto operárias, ao emergirem do alvéolo, são, inicialmente, cinza, tenros e, comparativamente, desampa-rados, assim que deve decorrer algum tempo antes de eles se lançarem em vôo.

"As operárias e zangões tecem o casulo completo, ou seja, se envolvem com ele completamente, enquanto a larva real constrói apenas um casulo imperfeito, aberto na parte de trás, e envol-vendo somente a cabeça, o tórax e o primeiro anel abdominal; Huber concluiu, sem qualquer hesitação, que a razão final deste fato é que elas devem ficar expostas ao ferrão mortal da primeira princesa que emerge, cujo instinto leva a princesa a procurar, imediatamente, e destruir aquelas que poderão ser em breve su-as rivais.

"Se a larva real tecesse um casulo completo, o ferrão das

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princesas que procuram suas rivais para destruí-las poderia fi-car tão preso em suas malhas que a princesa não conseguiria desembaraçá-lo. Diz Huber, ´o instinto de animosidade da jovem princesa para com as outras é tal que eu vi uma delas, logo após emergir da realeira, correr para as realeiras de suas irmãs e ras-gá-las em pedaços até mesmo as larvas imperfeitas. Até agora, os filósofos têm chamado nossa atenção para a natureza e seus cuidados na preservação e multiplicação das espécies. Mas, fren-te a estes fatos, devemos agora admirar as precauções da natu-reza em expor certos indivíduos a um perigo mortal.´"

O casulo da larva real é muito mais forte e mais grosso do que o do zangão e da operária, - sua textura lembra muito o ca-sulo tecido pelo bicho da seda. A jovem princesa só deixa, nor-malmente, sua realeira depois de estar completamente madura; como o grande tamanho da realeira permite exercícios livres para suas asas, ela tem, normalmente, condições de voar assim que o deixa. Enquanto em sua realeira, ela produz o som de bater asas e de piar familiares aos apicultores observadores.

Quando os ovos da rainha estão completamente desenvolvi-dos, como os de uma galinha doméstica, eles devem ser expeli-dos; mas alguns apicultores acreditam que ela pode controlar seu desenvolvimento de modo que alguns ou muitos sejam pro-duzidos, de acordo com as necessidades da colônia. Que isto é verdade, até certo ponto, parece altamente provável; pois se a ra-inha de uma colônia fraca for retirada, seu abdômen se apresen-tará, muitas vezes, grandemente distendido; e, ainda, se for colo-cada numa colônia forte, ela se torna de imediato muito prolífica. O Mr. Wagner disse, "entendo que ela tem o poder de controlar ou reprimir o desenvolvimento de seus ovos, assim ela pode di-minuir gradualmente o número dos que estão amadurecendo e, finalmente, cessar a postura e permanecer inativa tanto tempo quanto as circunstâncias o exigirem. A rainha velha parece que se prepara para acompanhar o primeiro enxame reprimindo1 o desenvolvimento dos ovos e, se a saída do primeiro enxame ocor-rer no período mais ameno do ano, parece não ser por influência atmosférica."

Com certeza, quando o tempo está desfavorável ou a colônia muito fraca para manter a temperatura necessária menos ovos

1 Huber atribui seu tamanho reduzido, antes da enxameação, a uma causa erra-da.

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amadurecem, assim como circunstâncias desfavoráveis diminu-em o número de ovos postos pela galinha; em colônias fracas a rainha cessa a postura quando cai a temperatura ambiente.

Ao norte de Massachusetts observei que a rainha cessa a postura por certo período em outubro; e inicia novamente, em colméias fortes, no final de dezembro. Em 14 de janeiro, 1857 (o mês anterior tinha sido muito frio, o termômetro caindo por ve-zes para 17ºF abaixo de zero [-27°C]), examinei três colméias, e encontrei que os favos centrais de duas delas continham ovos e cria não operculada; havia alguns alvéolos com cria operculada na terceira. Colméias fortes mesmo por ocasião do clima mais frio, contem, normalmente, alguma cria durante dez meses do ano.

É interessante ver o que é feito com o grande número de ovos postos pela rainha. Se as operárias são poucas para cuidar de todos os ovos, ou existe deficiência de pão de abelha para ali-mentar a cria, ou se, por alguma razão, ela julga não ser o me-lhor depositá-los nos alvéolos, ela se posta sobre o favo e sim-plesmente os expele através do oviduto e as operárias os devo-ram assim que eles são postos. Tenho testemunhado repetidas vezes, no núcleo de observação, a esperteza da rainha em eco-nomizar seu trabalho e não depositar seus ovos nos alvéolos quando eles não são desejados. Qual a diferença entre ela e uma estúpida galinha, que persiste obstinadamente em sentar sobre ovos podres, peças de gesso e, por vezes, sobre coisa nenhuma!

As operárias devoram também todos os ovos que caem ou que a rainha deposita em local impróprio; assim, até mesmo um frágil ovo, em vez de ser desperdiçado, é aproveitado.

Quem observar cuidadosamente os hábitos das abelhas fica-rá, muitas vezes, inclinado a falar de suas pequenas favoritas como tendo inteligência, se não com certeza, algo quase como ra-zão: algumas vezes me perguntei, se as operárias, que gostam muito de uma guloseima com a forma de um ovo recentemente posto, não ficam em conflito entre o apetite e o dever; elas devem praticar um desprendimento para se refrear de se alimentar com os ovos tão tentadores depositados nos alvéolos.

É muito conhecido dos criadores de frangos, que a fertilidade da galinha diminui com a idade, a ponto de ela se tornar comple-tamente estéril. Pela mesma lei, a fecundidade da rainha nor-malmente diminui depois de ela entrar no terceiro ano. Uma rai-

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nha velha, algumas vezes, cessa a postura de ovos de operárias; o conteúdo de sua espermateca fica exaurido, os ovos não são mais fertilizados e ela produz apenas zangões.

A rainha normalmente morre por velhice no seu quarto ano, mas é sabido que ela pode viver muito mais tempo. Existe uma grande vantagem, conseqüentemente, para a colméia que a contem, quando for ultrapassado o perí-odo de sua maior fertilidade, que ela seja substituida.

Antes de prosseguir mais a fundo na his-tória natural da rainha, quero descrever mais particularmente outro habitante da colméia.

Os zangões são, inquestionavelmente, as abelhas macho; a dissecação prova que eles têm os órgãos apropriados para a pro-criação. Eles são maiores e mais corpulentos tanto do que a rai-nha quanto do que as operárias; no entanto seus corpos não são tão longos quanto o da rainha. Eles não possuem ferrão para se defender; nem probóscide apropriada para coletar néctar das flo-res; nem cestas em suas pernas traseiras para carregar pão da abelha; nem bolsas em seus abdomens por onde secretar cera. Eles estão, assim, fisicamente desqualificados para o trabalho ordinário da colméia. Sua obrigação é fecundar as jovens prince-sas e eles são normalmente eliminados pelas abelhas logo depois que isto ocorre.

O Dr. Evans, médico inglês e autor de um belo poema sobre abelhas, descreve-os apropriadamente:

"Their short proboscis sips No luscious nectar from the wild thyme´s lips, Nor bear their grooveless thighs the food ful meal: No other´s toils in pamper´d leisure thrive The lazy fathers of the industrious hive."

Os zangões começam a aparecer em abril ou maio; mais cedo ou mais tarde, dependendo do progresso da estação e da força da colméia. Em colônias muito fracas para enxamear, como regra geral, nenhum é criado; pois em tais colméias, como não é criada nenhuma princesa, os zangões serão apenas consumidores inú-teis.

O número de zangões na colméia é muitas vezes muito gran-de, totalizando não só centenas, mas, algumas vezes, milhares.

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Como apenas um acasalará com a rainha durante sua vida, po-deria parecer que apenas alguns deveriam ser criados. Como o acasalamento ocorre sempre no ar as princesas devem, necessa-riamente, deixar a colméia; é primordial, para a sua segurança, que elas encontrem seguramente um zangão sem serem compe-lidas a fazer freqüentes excursões; por serem maiores do que as operárias, e menos ativas no vôo, as princesas ficam mais expos-tas a serem apanhadas pelos pássaros ou destruídas por repen-tinas rajadas de vento.

Em grandes apiários, alguns zangões em cada colméia, ou o número normalmente encontrado em uma seria suficiente. Mas nestas condições as abelhas não se encontram em situação na-tural, como uma colônia vivendo na floresta, a qual, muitas ve-zes, não tem vizinhos por milhas de distância. Uma boa colméia, mesmo em nosso clima, libera, muitas vezes, três ou mais enxa-mes e no clima tropical, do qual as abelhas são, provavelmente, nativas, elas liberam muito mais1. Todo novo enxame, com exce-ção do primeiro, é liderado por uma jovem princesa; e, como ela não acasalará antes que tenha assumido a liderança da família separada, é primordial que cada uma seja seguida por um bom número de zangões: isto exige a produção de um grande número na colméia mãe.

Uma vez que esta necessidade não mais existe quando as abelhas são domesticadas, a criação de tantos zangões pode ser evitada. Foram criadas armadilhas2 para apanhá-los, mas é mui-to melhor livrar as abelhas do trabalho e do custo de criar tal hóspede consumidor inútil. Isto pode ser feito prontamente, quando se tem o controle sobre os favos; removendo os favos de zangão e colocando, em seu lugar, outros com alvéolos de operá-rias a superprodução de zangões é facilmente evitada. Para os que se opõem a isto, alegando ser uma interferência com a natu-reza, gostaria de lembrar que a abelha não se encontra em seu estado natural; a mesma contestação pode, com igual razão, ser levantada contra a matança dos machos excedentes dos nossos animais domésticos.

Se o fluxo de mel for abundante, quando um novo enxame esta construindo favos, as abelhas construirão, freqüentemente,

1 Em Sidney, Austrália, uma única colônia, foi dito, ter-se dividido em 300 em três anos. 2 Tais armadilhas já eram usadas na época de Aristóteles.

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uma quantidade não habitual de favos de zangão para armaze-nar o mel. Em estado natural, onde as abelhas têm espaço em abundância, como num buraco de árvore, ou uma fenda de ro-cha, este excesso de favo de zangão será usado na próxima esta-ção para o mesmo propósito e novos favos de zangão serão cons-truídos para atender o instinto de crescimento da colônia. Em colméias com capacidade limitada isto não pode ser feito, e as-sim muitas colméias se tornam congestionadas de zangões a ponto de se tornarem sem valor para seu proprietário.

Em julho ou agosto, ou logo depois que o período da enxa-meação terminar as abelhas expulsam, normalmente, os zangões da colméia; embora quando a colheita de mel é muito abundante elas, muitas vezes, permitam que eles permaneçam por mais tempo. Algumas vezes elas os ferroam ou mordem as raízes de suas asas, assim, quando arrastados para fora da colméia, eles não conseguem retornar. Se não forem expulsos por nenhuma destas formas sumárias, eles são importunados e passam fome e, em breve, perecem. Em tais ocasiões eles se retiram do favo, e tomam conta de si mesmo nas laterais ou no fundo da colméia. A aversão das abelhas atinge até os não incubados, que são impie-dosamente retirados dos alvéolos e descartados com os demais. Que instinto maravilhoso é este que, não existindo mais ocasião para os seus serviços, impele as abelhas a destruir estes mem-bros da colônia que pouco tempo atrás foram criados com tanta dedicação!

Nenhuma das razões acima apontadas parece explicar com-pletamente a necessidade de tantos zangões. Tenho repetida-mente me perguntado, porque o acasalamento não ocorre na colméia em vez de ao ar livre. Algumas dezenas de zangões seri-am suficientes para as necessidades de qualquer colônia, mesmo se ela enxameasse, como ocorre em climas amenos, meia dúzia de vezes, ou mais, na mesma estação; as jovens princesas não correriam nenhum risco pois não deixariam a colméia para o a-casalamento.

Por muito tempo eu não percebi a sabedoria do sistema exis-tente; contudo nunca duvidei que devia existir uma razão satis-fatória para isto que parecia uma imperfeição. Supor de outra maneira, teria sido pouco filosófico, quando se sabe que com o aumento do conhecimento muitos mistérios da natureza, até en-tão inexplicáveis, são totalmente esclarecidos.

A esperança alimentada por muitos estudiosos da natureza

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de rejeitar algumas das doutrinas da religião revelada, não é mo-vida pela verdadeira filosofia. Nem nossa ignorância sobre todos os fatos necessários para a sua elucidação completa, nem nossa falta de habilidade em harmonizar estes fatos em suas relações mútuas e dependências, justificará rejeitarmos qualquer verdade que Deus quis revelar seja no livro da natureza, seja em Seu mundo sagrado. O homem que substituir os ensinamentos divi-nos pelas suas próprias especulações, embarcou sem leme ou mapa, piloto ou bússola num oceano incerto de teorias e conjec-turas; a menos que ele volte sua proa do curso fatal, as tempes-tades e os redemoinhos se transformarão em escuridão na sua "viagem da vida"; nenhum "Sol da Retidão" lhe iluminará a ex-tensão das águas sombrias; nenhum vento favorável soprará o seu barco estilhaçado para a paz do paraíso.

O leitor zeloso não precisará de apologia alguma para este discurso moralizador, nem responsabilizar um clérigo, se alguma ez, esquecendo de falar como um mero naturalista ele se empe-nhar para encontrar

"Tongues in trees, books in running brooks, Sermons in ´bees,´ and ´God´ in every thing."

Voltemos para a explicação da razão da existência de tantos zangões. Se o fazendeiro persistir no que é chamado de cruza-

mento consangüineo, ou seja, sem troca de san-gue, a conseqüência será a degeneração da sua criação. Nem mesmo o homem está livre da in-fluência desta lei que se aplica, até onde sabe-mos, a toda vida animal. Temos nós alguma ra-zão para supor que as abelhas sejam exceção? ou que a degeneração não ocorra, a menos que

se tome alguma providência para neutralizar a tendência ao cru-zamento consangüineo? Se a fecundação ocorresse na colméia, a princesa poderia ser fecuncada por zangões filhos dos mesmos pais; o mesmo poderia ocorrer em gerações sucessivas até toda a espécie, eventualmente, desaparecer. Pelo sistema existente, as princesas, quando deixam a colméia, muitas vezes encontram o ar fervilhando de zangões, muitos dos quais pertencem a outras colônias e, assim, pelo cruzamento estão sendo tomados cuida-dos constantes para prevenir a degeneração.

A experiência provou que a fecundação pode ser efetiva não só quando não existem zangões na colméia da princesa, mas mesmo quando não existe nenhum nas imediatamente vizinhas.

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A fecundação ocorre no ar, alto do solo (talvez a exposição ao ris-co dos pássaros seja menor), e isto favorece o cruzamento entre as populações.

Estou fortemente persuadido que a decadência de muitas populações prósperas, mesmo quando manejadas com grande cuidado, pode ser atribuída ao fato que elas se debilitaram pelo cruzamento consangüíneo e ficaram, assim, sem condições de resistir a influências prejudiciais, que são comparativamente ino-fensivas quando as abelhas estão em plena forma física. Quando um criador tem apenas algumas colônias, ou está longe de ou-tros apiários, ele pode se precaver deste infortúnio trocando oca-sionalmente sua linhagem.

As operárias, ou abelhas comuns, formam a massa da popu-lação da colméia. Um bom enxame costuma conter, pelo menos, 20.000; em grandes colméias, colônias fortes que não foram di-minuídas por causa da enxameação, totalizam, freqüentemente, duas a três vezes este valor durante o pico do período de criação. Fomos informados pelo Sr. Dobrogost Chylinski, que nas colméi-as da Polônia, que muitas vezes contem vários bushels1, os en-xames saem com tanta força que "eles se parecem com uma pe-quena nuvem no ar".

Já foi dito, que as operárias são todas fêmeas cujos ovários são se desenvolveram a ponto de lhes possibilitar a postura de ovos. Por serem vistas, durante muito tempo, nem como machos nem como fêmeas, elas eram chamadas de Neutras; mas exames cuidadosos ao microscópio detectaram ovários rudimentares fi-cando assim determinado o seu sexo. A precisão destes exames é confirmada pelo fato, perfeitamente conhecido, relacionado com as operárias poedeiras.

Riem, um apicultor alemão, foi o primeiro a descobrir que as operárias, algumas vezes, põem ovos. Huber, subseqüentemente, verificou que tais operárias eram criadas em colméias que ti-nham perdido sua rainha e próximo das realeiras nas quais as princesas eram criadas. Ele conjeturou que pequenas porções do alimento, peculiar das jovens princesas, caia acidentalmente em seus alvéolos e, por as terem ingerido, seus órgãos de reprodu-ção ficavam mais desenvolvidos do que os das outras operárias.

No Verão de 1854 examinei um favo de cria que foi inserido

1 Segundo Michaelis - Bushel: equivalente a 36,67 litros. N.T.

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numa colônia sem rainha. Ele tinha onze realeiras operculadas e inúmeros alvéolos estavam operculados com uma cobertura esfé-rica, como se contivessem zangões. Ao abri-los constatei que al-guns continham ninfas de zangões e outros, ninfas de operárias. As últimas pareciam ter uma forma mais pronunciada de pão de açúcar do que as das operárias comuns e os seus casulos eram de uma textura mais áspera do que o normal. Eu já tinha sido alertado para a existência do mesmo tipo de alvéolos em colméi-as de criação artificial de rainhas, mas pensava que todas elas contivessem zangões. É um fato perfeitamente conhecido que as abelhas, muitas vezes, começam mais realeiras do que elas re-solvem terminar. Parece-me provável, por esta razão, que, ao cri-ar rainhas artificialmente, elas dão, freqüentemente, um pouco de geléia real para larvas, que, por alguma razão, elas não de-senvolvem em rainhas completas; e que tais larvas se desenvol-vem em operárias poedeiras. Huber afirma que estas operárias poedeiras, que põem apenas ovos de zangões, preferem alvéolos grandes nos quais depositá-los, recorrendo aos menores apenas quando não conseguem encontrar os de maior diâmetro. Numa colméia do meu apiário tendo muito favo de operária e somente uma pequena peça com alvéolos de zangão, uma operária fértil encheu os últimos completamente com ovos a ponto de alguns alvéolos conterem, cada um, três ou quatro ovos. Tais operárias são, em algumas ocasiões, toleradas em colméias contendo uma rainha fértil e saudável.

A operária é muito menor do que a rainha e do que o zangão. Ela possui uma língua, ou probóscide, tão extraordinariamente curiosa e complicada que um volume em separado dificilmente seria suficiente para descrever sua estrutura e uso (Lâmina XVI, Fig. 51). Com este órgão ela retira o néctar das flores e o transfe-re para sua vesícula melífera. Este órgão (Lâmina XVII, Fig. 5,4, A) a vesícula melífera, não é maior do que uma ervilha muito pe-quena e tão perfeitamente transparente a ponto de aparentar, quando cheio, a mesma cor do seu conteúdo; é, propriamente, seu primeiro estômago e está rodeado de músculos que permi-tem à abelha comprimi-lo e esvaziar o seu conteúdo através da probóscide para dentro dos alvéolos.

As pernas traseiras da operária são providas de uma depres-são em forma de colher, ou cesta, para receber o pólen que ela recolhe das flores.

Toda operária está armada com um formidável ferrão e,

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quando provocada, usa-o imediata e efetivamente como sua ar-ma natural. Submetida a um exame ao microscópio (Lâmina XVII, Fig. 53), constata-se um mecanismo realmente intrincado. "É movido por músculos1 que, embora invisíveis a olho nú, são fortes suficientes para forçarem o ferrão até a profundidade de um doze avos de polegada (dois milímetros), através da pele grossa da mão do homem. Em sua raiz situam-se duas glândulas que secretam o veneno; estas glândulas se unem num duto e eje-tam o líquido venenoso através do sulco formado pela junção de duas lanças. Existem quatro rebarbas em cada uma das lanças; quando o inseto se prepara para ferroar uma das lanças, que tem a ponta um pouco maior do que a outra, perfura primeiro a pele e fica presa pela primeira rebarba, a outra também entra, e elas penetram alternativamente cada vez mais fundo até se agar-rarem firmemente à pele com suas fisgas, e depois segue a bai-nha, transportando o veneno para dentro do ferimento. ´A ação do ferrão´, diz Paley, ´fornece um exemplo da união entre a quí-mica e o mecanismo; química, por causa do veneno que pode produzir efeitos tão poderosos; mecanismo, uma vez que o ferrão é um instrumento composto. O mecanismo seria comparativa-mente inútil não fosse o processo químico pelo qual, no corpo do inseto, o mel é convertido em veneno; e, por outro lado, o veneno seria sem efeito sem um instrumento capaz de ferir e uma serin-ga capaz de injetá-lo.´

"Examinando uma navalha afiada ao microscópio, ela apare-ce grossa como as costas de uma bela faca rude, rugosa, irregu-lar e cheia de entalhes e sulcos, mas, longe de parecer qualquer coisa afiada, um instrumento tão rombudo como este parece que não serviria sequer para rachar lenha. Uma agulha extremamen-te pequena, examinada ao microscópio, lembrará uma grosseira barra de ferro saída da forja de um ferreiro. O ferrão da abelha, visto sob o mesmo instrumento, mostra-se por inteiro de um po-limento surpreendentemente bonito, sem a mínima falha, defeito ou imperfeição e terminando numa ponta fina demais para ser percebida."

Uma vez que a extremidade do ferrão possui fisgas, como uma flecha, raramente a abelha consegue retirá-lo, se o substra-to no qual ele foi cravado for firme. Ao perder seu ferrão ela rom-pe parte de seus intestinos, e como conseqüência morre em bre-ve.

1 Bevan.

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Elas pagam preço tão elevado no exercício de seu patriótico instinto em defesa da casa e do tesouro sagrado, elas

"Deem life itself to vengeance well resign´d, Die on the wound, and leave their sting behind."

Vespões1, vespas e outros insetos que ferroam são capazes de arrancar seu ferrão do ferimento. Nunca vi explicação para a exceção do caso das abelhas; mas como o Criador pensou nelas para uso2 do homem, Ele não lhes concedeu esta peculiaridade para que elas ficassem mais completamente sujeitas ao controle humano? Sem um ferrão, elas não poderiam defender suas do-çuras tentadoras de um ataque dos gananciosos predadores: no entanto, se elas tivessem condições de ferroar inúmeras vezes, sua domesticação completa seria quase impossível

A defesa da colônia contra os inimigos, a construção dos al-véolos, supri-los com mel e pão de abelha, a criação dos jovens e, em poucas palavras, todo o trabalho da colméia, com exceção da postura de ovos, é executado pelas laboriosas pequenas abelhas.

Deve existir gentlemen em ócio na comunidade das abelhas, mas com certeza não existem ladies, seja em maior ou menor grau. A própria rainha tem sua parte de obrigações, o ofício real não é sinecura3, uma vez que a mãe que o desempenha deve se responsabilizar, diariamente, pela postura de milhares de ovos.

A rainha viverá quatro, e algumas vezes, embora muito ra-ramente, cinco ou mais anos. Como a vida dos zangões é inter-rompida pela violência, é difícil afirmar com precisão seu limite. Bevan estima que a a vida do zangão não ultrapassa quatro me-ses. Ele supõe que as operárias vivam seis ou sete meses; mas sua idade depende realmente muito de sua maior ou menor ex-posição a influências prejudiciais e trabalhos severos. As criadas na Primavera e início do Verão, que se incumbem dos trabalhos mais pesados da colméia, parece não viverem mais de dois a três

1 Segundo Michaelis – Hornet: Vespão. N. T. 2 Após a publicação da primeira edição deste tratado, tive oportunidade, durante visita à fronteira do México, de estudar os hábitos da abelha-vespão daquela re-gião. Seus ninhos lembram, em sua forma e material, os do nosso vespão co-mum; alguns deles contem muitas libras de delicioso mel. Este inseto, que na-quelas regiões é tão serviçal ao homem quanto a abelha, não tem condições de retirar o seu ferrão da ferida. Ele também tem uma rainha e vive na forma de co-lônia durante todo o ano. 3 Segundo Michaelis – Sinecura: cargo ou emprego rendoso e de pouco trabalho. N. T.

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meses1; enquanto as criadas no final do Verão e início do Outo-no, tendo condições de passar uma grande parte de seu tempo em repouso, atingem idade muito mais avançada. É muito evi-dente que "a abelha" (para usar as palavras de um velho escri-tor), "é o pássaro do Verão"; e que, com exceção da rainha, ne-nhuma vive a ponto de ter um ano de idade.

Asas chanfradas e esfarrapadas, em vez de pêlos cinzas e fa-ces encarquilhadas, são os sinais de idade avançada da abelha, como também indicam que o período do trabalho em breve terá passado. Parece que elas morrem, de preferência, subitamente; e despendem, muitas vezes, seus últimos dias e, algumas vezes, mesmo suas últimas horas em trabalhos úteis.

Poste-se em frente a uma colméia e veja a infatigável energia destas laboriosas veteranas, trabalhando lentamente com suas pesadas cargas, lado a lado de suas mais jovens companheiras e depois julgue se, enquanto qualificado para um trabalho útil, vo-cê nunca irá se render a um reconfortante descanso. Deixe o a-nimador zumbido das velhas operárias inspirá-lo com melhores resoluções, e ensiná-lo como é mais nobre morrer trabalhando, no ativo desempenho das obrigações da vida.

A idade que os membros individuais da comunidade podem atingir, não pode ser confundida com a da colônia. Sabe-se de abelhas que ocupam o mesmo domicílio há muitos anos. Tenho visto colônias prósperas com mais de vinte anos de idade; o Aba-de Della Rocca fala de algumas com mais de quarenta anos de idade; e Stoche diz ter visto uma colônia, que ele garante ter en-xameado anualmente, por quarenta e seis anos! "Casos como es-tes conduzem à errada opinião de que as abelhas são uma raça de vida longa. Mas isto, como observou o Dr. Evans, é exatamen-te tão compreensível quanto para um estranho contemplando uma cidade populosa e alheio a seus habitantes pudesse, ao fa-zer uma segunda visita, muitos anos mais tarde, e encontrando-a igualmente populosa imaginar que fosse habitada pelos mes-mos indivíduos, quando mais nenhum deles estaria vivo.

´Like leaves on trees, the race of bees is found, Now green in youth, now withering on the ground; Another race the Spring or Fall supplies,

1 Se uma rainha italiana for colocada, durante a estação de trabalho, num enxa-me de abelhas comuns, em cerca de três meses somente algumas das últimas se-rão encontradas na colônia.

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They droop successive, and successive rise.´"

O casulo tecido pela larva nunca é removido pelas abelhas; ele adere tão firmemente às laterais dos alvéolos que o trabalho para removê-lo custaria mais do que o benéfico de sua remoção. Como os alvéolos de criação podem se tornar, eventualmente, pequenos para o desenvolvimento apropriado das jovens os favos realmente velhos devem ser removidos da colméia. É um grande erro, no entanto, imaginar que os favos de cria devem ser troca-dos todos os anos. Se for desejável, isto pode ser feito facilmente nas minhas colméias; mas removendo-os mais freqüentemente do que uma vez a cada cinco ou seis anos, ocorrerá um consumo desnecessário de mel para repô-los e prejudicará as abelhas no Inverno, uma vez que os favos novos são muito mais frios do que os velhos.

Os inventores de colméias tem sido, seguidamente, "homens de uma única idéia": e esta uma, em vez de ser um fato bem fundamentado e relevante da fisiologia da abelha tem sido, fre-qüentemente, (como a necessidade de troca anual dos favos da cria), uma mera conjectura de um ideador visionário. Esta con-jectura é suficientemente inofensivo, a ponto de não ser necessá-rio nenhum esforço para impor tais sujeiras a um público igno-rante, seja na forma de uma colméia patenteada, ou ainda pior, na forma de uma colméia não patenteada cujo pretenso direito de uso seja fraudulentamente vendido a um comprador trapaceiro.1

Os apicultores, inconscientes da brevidade da vida da abelha têm, muitas vezes, construído grandes "palácios para as abelhas" e grandes aposentos, imaginando insanamente que as abelhas possam enchê-los, sendo incapazes de encontrar qualquer razão para a colônia não crescer até atingir milhões ou bilhões de habi-

1 Colméias que nunca foram patenteadas têm sido vendidas, extensivamente, como artigos patenteados por homens que, durante anos, foram capazes de pros-seguir obtendo dinheiro sob falso pretexto. Outras são oferecidas com o pretexto de que a patente continua pendente, quando nenhuma patente tenha sido solici-tada ou há muito tempo foi rejeitada. Muitas vezes a parte patenteada de uma colméia, por ser um conceito sem valor, é cuidadosamente escondida enquanto muita ingenuidade é mostrada ao exibir as características da colméia que todos tem o direito de usar; e que o vendedor, algumas vezes por implicação e algumas vezes por afirmação direta, conduz o comprador a acreditar que sejam partes es-senciais da patente.

Ninguém deveria comprar uma "colméia patenteada" até se certificar de duas coi-sas: primeiro, que realmente existe uma patente sobre a invenção; e, segundo, que a parte patenteada é, na sua opinião, mais valiosa para ele do que o dinheiro que lhe está sendo pedido pelo direito de uso.

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tantes. Mas como as abelhas nunca conseguem igualar em nú-mero, muito menos ultrapassar, o que a rainha é capaz de pro-duzir numa estação, estas vivendas espaçosas têm sempre uma abundância de espaço disponível. Parece estranho que os ho-mens possam se enganar a tal ponto quando, muitas vezes, em seus próprios apiários eles têm colméias, que, posto não terem enxameado por um ou dois anos, não são mais populosas na Primavera do que aquelas que tem perdido, regularmente, vigo-rosas colônias.

É certo que o Criador colocou um limite no crescimento do número de abelhas numa única colônia; eu me aventuro em a-pontar uma razão para isto. Suponha que ele tivesse dado para a abelha a mesma longevidade de um cavalo ou de uma vaca, ou tivesse feito cada rainha capaz de depositar diariamente algo como centenas de milhares de ovos; ou tivesse dado algumas de-zenas de rainhas para cada colméia; então a colônia poderia prosseguir no crescimento até se tornar um malefício e não um benefício para o homem. Nos climas amenos, dos quais as abe-lhas são nativas, elas se estabeleceriam numa caverna ou fenda ampla na rocha e poderiam, em breve, se tornar tão poderosas a ponto de ser um desafio tentar se apoderar dos lucros do seu trabalho.

Já foi dito que ninguém, a não ser as vespas mãe e os ves-pões, sobrevivem ao Inverno. Caso estes insetos tivessem, à se-melhança das abelhas, condições de começar a estação com a força acumulada de uma grande colônia eles poderiam, muito antes do seu término, se revelar um intolerável incômodo. Se, ao contrário, a rainha fosse compelida, solitária e sozinha, a lançar as fundações de uma nova população, a safra de mel teria desa-parecido muito antes de ela conseguir ser a mãe de uma família numerosa.

O processo de criação de rainha poderá, agora, ser descrito mais particularmente. No início da estação, se a colméia se torna muito populosa, as abelhas se preparam, normalmente, para a enxameação. Um certo número de realeiras é iniciado, são cons-truídas, normalmente, nas bordas dos favos (Lâmina XIV., a, b, c, d) que não estejam presos às laterais da colméia. Estas realei-ras lembram um amendoim (Lâmina XIII., Figs. 49, 50) e tem cerca de uma polegada (25mm) de comprimento e um terço de polegada (8mm) de diâmetro: por serem grossas é necessária mais cera para sua construção. Raramente elas são vistas em es-

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tado perfeito depois do período de enxameação uma vez que as abelhas, depois que a princesa emergiu, destroem-nas até a for-ma de uma pequena xícara sem asa (Lâmina XIV., c). Estas rea-leiras, enquanto em construção, recebem uma quantidade de a-tenção fora do comum por parte das operárias. Raramente passa um segundo sem que uma abelha não esteja espreitando seu in-terior; assim que uma fica satisfeita outra põe nela a sua cabeça para verificar o progresso, ou aumentar o suprimento de geléia real. Seu valor para a comunidade pode ser inferido facilmente da atenção que elas recebem.

Enquanto os demais alvéolos estão abertos para a lateral as realeiras pendem com sua boca para baixo. Alguns apicultores pensam que esta posição peculiar afeta, de alguma forma, o de-senvolvimento da larva real; enquanto outros, tendo se certifica-do que elas não são prejudicadas se colocadas em outra posição, consideram este desvio um dos mistérios inexplicáveis da col-méia de abelhas. Assim parece-me, até ser convencido por obser-vações mais cuidadosas, que elas pendem para baixo simples-mente para economizar espaço. A distância entre conjuntos pa-ralelos de favos na colméia é, normalmente, muito pequena para que a realeira se estende para a lateral sem interferir com os al-véolos opostos. Para economizar espaço as abelhas colocam-nas em bordas não ocupadas do favo, onde existe disponibilidade de espaço para realeiras realmente grandes.

O número de realeiras numa colméia varia muito; algumas vezes existem apenas duas ou três, normalmente não mais de cinco; ocasionalmente, mais de uma dúzia. Como não há inten-ção de que todas as princesas sejam da mesma idade as realei-ras não são iniciadas ao mesmo tempo. Não está perfeitamente explicado como os ovos são depositados nas realeiras. Por vezes pensei que as abelhas transferissem os ovos dos alvéolos comuns para as realeiras; esta pode ser sua forma geral de proceder. Ar-risco-me a conjetura, que, em situação de congestionamento da colméia, a rainha deposita seus ovos em alvéolos das beiradas do favo, alguns dos quais são posteriormente transformados pelas operárias em realeiras. O instinto de aversão à sua própria casta é tal na rainha que parece improvável que ela possa ser encarre-gada sequer dos primeiros passos para garantir uma prole de sucessoras.

As princesas são muito mais intensamente supridas com a-limento do que as demais larvas; assim, aparentemente, elas flu-

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tuam num espesso colchão de geléia, uma porção da qual pode ser normalmente encontrada no fundo das realeiras, logo que e-las emergem. Diferentemente do alimento das demais larvas, a geléia real tem um sabor levemente ácido; quando fresco, lembra amido; quando velho, uma geléia de marmelo. As abelhas, se confinadas em sua colméia e supridas com água, podem secretá-la a partir do mel e pão de abelha armazenados em seus favos.

Submeti geléia real ao Dr. Charles M. Wetherell, Filadélfia; um interessante extrato de sua análise pode ser encontrado no relatório dos anais do Philadelphia Academy of Natural Sciences de julho, 1852. Ele fala da substância como sendo um "truly bread-containing, composto albuminoso". Uma comparação dos elementos nela contidos com os contidos no alimento da larva de zangão e de operária, pode lançar alguma luz sobre o assunto ainda envolto pela obscuridade.

Os efeitos produzidos sobre a larva real, em virtude do pecu-liar tratamento são tão magníficos que eles são normalmente ta-chados como caprichos inúteis, por aqueles que não os testemu-nharam com seus olhos, nem usufruíram a oportunidade desfru-tada por outros com observação acurada. Os efeitos não só são contrários a todas as analogias comuns, mas tão maravilhosa-mente estranhos e improváveis, que muitos, quando pergunta-dos se acreditam neles, pensam que se lhes está oferecendo um insulto ao bom senso. Quero enumerar brevemente os mais rele-vantes destes efeitos.

1°. O modo peculiar com que a larva escolhida para ser rai-nha é tratada, faz ela chegar à maturidade em cerca de dois ter-ços do tempo que ela levaria se fosse criada como operária. E, ainda, como ela terá um desenvolvimento mais completo, de a-cordo com analogia ordinária, ela deveria ter um crescimento mais lento.

2°. Seus órgãos de reprodução são perfeitamente desenvolvi-dos, só assim ela pode cumprir integralmente com seu ofício de mãe.

3°. Seu tamanho, forma e cor são muito modificados; sua mandíbula inferior é menor, sua cabeça mais redonda e seu ab-dômen não dispõe das bolsas para secretar a cera; suas pernas não possuem escovas nem cestas, seu ferrão é mais curo e um terço maior (Lâmina XVIII) do que o da operária.

4°. Seus instintos são totalmente modificados. Criada como

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operária, ela exporia seu ferrão à mínima provocação; mas como rainha, ela pode ser puxada, membro após membro, e não tentar ferroar. Como operária, tratará uma rainha com a mais alta con-sideração; mas agora, se levada a contatar outra rainha, tentará destruí-la como sua rival. Como operária, freqüentemente deixa-rá a colméia, seja para trabalho ou para se exercitar; como rai-nha, nunca a deixa depois da fecundação, a não ser para acom-panhar um enxame.

5°. O tempo de vida é notadamente mais longo. Como operá-ria não viverá mais do que seis ou sete meses; como rainha po-derá viver sete ou oito vezes mais. Todas estas maravilhas per-manecem numa base impossível de ser demonstrada e, em vez de serem testemunhadas somente por poucos bem aventurados, podem agora, pelo uso da colméia de quadros móveis, ser visão familiar a qualquer apicultor que prefere familiarizar-se com os fatos em vez de criticar e ironizar o trabalho dos outros.1

O processo de criação de rainhas, para atender alguma e-mergência especial, é muito mais maravilhoso do que o descrito. Se as abelhas têm ovos de operárias ou larvas com não mais do que três dias de idade elas constroem um grande alvéolo a partir de outros três retirando a partição de dois alvéolos contíguos a um terceiro. Destroem os ovos ou as larvas em dois destes alvéo-los, colocam à disposição da ocupante do terceiro o alimento u-

1 Um breve extrato das célebres memórias de Swammerdam, escritas pelo Dr. Boerhaave, podem enrubescer a arrogância destes observadores superficiais que são doutos demais em seus próprios conceitos para valorizar o conhecimento dos outros.

"Este tratado sobre abelhas se mostrou uma façanha tão cansativa que Swam-merdam, posteriormente, não se recuperou, apesar da aparência de sua saúde perfeita e vigor. Ele permanecia envolvido durante o dia, quase continuamente, a observar e, durante a noite, quase constantemente a registrar através de dese-nhos e explicações apropriadas.

"Seu trabalho diário começava às seis da manhã, quando o sol lhe fornecia luz suficiente para enxergar objetos tão diminutos; a partir daquele horário ele con-tinuava sem interrupção até as doze, todo o tempo exposto no ar livre ao calor ardente do sol, sem chapéu, por receio de interceptar sua visão, e sua cabeça quase se dissolvendo em suor sob o ardor irresistível daquela poderosa luminá-ria. E se ele desistia ao meio dia era somente porque a força dos seus olhos esta-va muito enfraquecida pelo extraordinário afluxo de luz e pelo uso do microscó-pio, não podendo continuar por mais tempo com objetos tão pequenos.

"Muitas vezes ele desejou, para melhor executar suas observações vastas e sem limites por um período de luz e calor perpétuo para aperfeiçoar suas investiga-ções, como uma noite polar, a fim de tirar todas suas vantagens com desenhos e descrições apropriadas."

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sual das princesas; e alargam o alvéolo dando-lhe espaço amplo para desenvolvimento. Como segurança contra falhas, elas co-meçam, normalmente, um certo número de realeiras, embora, muitas vezes, o trabalho é, na maioria delas, interrompido, em seguida.

Dentro de onze a catorze dias elas estarão de posse de uma nova rainha parecendo, em todos os seus aspectos, a uma criada de forma natural; enquanto os ovos dos alvéolos adjacentes, que se desenvolveram em operárias, levarão cerca de mais uma se-mana para atingir a maturidade.

A bela representação do favo, na Lâmina XVIII1 foi retirada, com alterações e adições minhas, do Cotton "My Bee-Book", a quem estou também em débito pelo grupo de abelhas da página título. A realeira (b), é uma realeira perfeita, da qual a jovem ain-da não emergiu. A realeira (a) apresenta o boné ou tampa como seguidamente aparece logo depois que a princesa emergiu. A rea-leira (d), aberta na lateral, é uma da qual a jovem princesa foi vi-olentamente retirada; a outra (c) é uma que as abelhas reduzi-ram à forma de uma xícara sem asa. Ela se parece também a uma com apenas alguns dias de idade. Na face do favo está um alvéolo (n), apenas no começo da criação de uma rainha, esta é a posição normal das realeiras construídas para atender alguma emergência. Para apresentar os pontos ilustrados num espaço compacto, as realeiras foram desenhadas menores do que seu tamanho natural.

Devo trazer, em conexão ao assunto, uma descrição de um interessante experimento.

Uma colônia populosa foi transferida, pela manhã, para um novo local, e uma colméia vazia foi colocada em seu lugar. Milha-res de operárias que percorriam os campos ou que deixaram a colméia depois de transferida, retornaram para o local familiar. Foi realmente emocionante testemunhar seu pesar e desespero; elas voavam em círculos agitados em volta do local onde esteve sua feliz moradia, entrando na colméia vazia continuamente e expressando de várias formas suas lamentações por tão cruel perda. Por volta do anoitecer pararam de se lançar em vôo e co-meçaram a perambular em agitados pelotões, para dentro e para fora da colméia e sobre sua superfície, como à procura de algum tesouro perdido. Foi-lhes dado então um pequeno pedaço de favo

1 O favo está na fig. 47 da Lâmina XIV. N.T.

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com cria contendo ovos de operárias e larvas. O efeito produzido por esta introdução ocorreu mais rapidamente do que é possível descrever. As primeiras a tocá-lo suscitavam uma nota peculiar e, num momento, o favo foi coberto por uma densa massa de a-belhas; assim que elas reconheceram, neste pequeno pedaço de favo, uma forma de libertação o desespero deu lugar à esperan-ça, seus movimentos agitados e sons pesarosos cessaram e um animado zumbido indicava sua satisfação. Se alguém pudesse entrar num prédio com milhares de pessoas arrancando seus cabelos, batendo em seus peitos e em choros comoventes, bem como fazendo gestos furiosos, dando escape a seu desespero e pudesse com uma simples palavra fazer que todas estas demons-trações de agonia dessem lugar a sorrisos e congratulações, a mudança não seria mais instantânea do que a produzida quando as abelhas receberam o favo com cria!

Os orientais chamam a abelha "Deborah; aquela que se ex-pressa". Seria porque este pequeno inseto pode falar com pala-vras mais eloqüentes do que os inventos do homem, para os que rejeitam toda doutrina da revelação religiosa, com a convicção de que elas são tão improváveis, quanto trabalhar sob uma, a priori, dificuldade fatal. Não seriam todos os degraus do desenvolvimen-to de uma rainha, desde o ovo da operária, um trabalho com a mesma dificuldade? e não seriam eles, por esta razão vistos sempre, por muito apicultores, como não merecedores de crédi-to? Se o argumento favorito dos infiéis não resiste ao teste, quando aplicado às maravilhas da colméia, ele pode ser intitula-do como peso sério, quando, por contestar as verdades religio-sas, eles duvidam, de modo arrogante, o infinito Jehovah pelo que Ele tinha prazer de fazer ou ensinar? Com não mais exten-são do que a reclamada por tais contestadores, era fácil provar que um homem não tem obrigação alguma de acreditar em qual-quer das maravilhas da colméia, apesar de testemunhar suas verdades com seus próprios olhos.

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CAPÍTULO IV

FFFAAAVVVOOO

A cera é uma secreção natural das abelhas, e porisso pode ser chamada de óleo ou graxa. A cera é secretada na forma de pequenas lâminas, nas pequenas bolsas existentes em seu ab-dômen quando as abelhas estão empanzinadas com mel, ou qualquer líquido doce e permanecem quietas e agrupadas. (Lâ-mina XIII, Fig. 37 e 38). Assim que um enxame é alojado o fundo da colméia fica, normalmente, recoberto com estas lâminas. Pa-rece que as abelhas as perdem por causa de sacudidas violentas enquanto estão sobre os favos.

"Thus, filtered through yon flutterer´s folded mail, Clings the cooled wax, and hardens to a scale. Swift, at the well-known call, the ready train (For not a buz boon Nature breathes in vain) Spring to each falling flake, and bear along Their glossy burdens to the builder throng. These with sharp sickle, or with sharper tooth, Pare each excrescence, and each angle smoothe, Till now, in finish´d pride, two radiant rows Of snow, white cells one mutual base disclose. Six shining panels gird each polish´d round; The door´s fine rim, with waxen fillet bound; While walls so thin, with sister walls combined, Weak in themselves, a sure dependence find."

EVANS

A maioria dos apicultores, antes de Huber, supunha que a cera era feita do pão de abelha, seja no estado cru ou digerido. Confinando um enxame novo de abelhas numa colméia, em re-cinto escuro e frio, ao final de cinco dias ele encontrou vários bonitos favos brancos em seus ninhos; privando as abelhas des-tes favos e suprindo-as com mel e água, novos favos eram nova-mente construídos. Os favos foram removidos sucessivamente por sete vezes e sempre foram reconstruídos, estando as abelhas, durante todo este período, impedidas de percorrer os campos pa-ra se suprirem de pão de abelha. Através de experimentos sub-

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seqüentes ele provou que a resposta ao xarope de açúcar era a mesma que se obtinha ao mel. Fornecendo ao enxame preso fru-ta e pão de abelha em abundância ele constatou que as abelhas subsistiam na fruta e se negavam a tocar o pólen; nesta condição nenhum favo foi construído nem se formaram lâminas de cera em suas bolsas.

Apesar da extrema prudência e incansável paciência de Hu-ber em conduzir estes experimentos, ele não descobriu toda a verdade sobre este assunto. Embora ele tenha demonstrado que as abelhas podem construir favo a partir de mel e açúcar, sem a ajuda de pão de abelha, e que elas não conseguem fazê-lo a par-tir do pão de abelha, sem mel ou açúcar, ele não comprovou que quando privadas permanentemente do pão de abelha elas podem continuar a trabalhar na cera, ou se elas puderem, que o pólen não ajuda em nada na sua elaboração.

Algum pão de abelha é sempre encontrado no estômago das operárias produtoras de cera, e elas nunca constroem favo tão rapidamente como quando elas tem acesso livre a esta iguaria. O pólen deve, conclui-se, fornecer algum material da cera ou, de alguma forma, ajudar as abelhas a produzi-la. São necessárias investigações adicionais para chegar a resultados perfeitamente corretos. Afirmações presunçosas são feitas facilmente, exigem apenas um pouco de alento e algumas gotas de tinta; aqueles que gostam muito delas têm, muitas vezes, um profundo despre-zo pela observação e pelo experimento. Para provar qualquer verdade controversa com a fundamentação sólida de fatos de-monstrados exige-se, normalmente, um trabalho severo e pro-longado.

Mel e açúcar contem, em peso, cerca de oito kilogramas de oxigênio para um de carbono e hidrogênio. Convertido em cera, estas proporções são notavelmente mudadas, a cera contem a-penas um kilograma de oxigênio para mais de dezesseis de hi-drogênio e carbono. Como o oxigênio é o grande sustentador do calor dos animais, a grande quantidade consumida, ao secretar a cera, ajuda a gerar a extraordinária quantidade de calor que sempre acompanha a construção de favo e que permite as abe-lhas moldar a cera macia em formas1 tão extraordinárias, delica-das e belas. Este interessante exemplo de adaptação, que aponta

1 De acordo com o Dr. Donhoff, a espessura das laterais do alvéolo de um favo novo é de apenas um centésimo a um oitenta avos de polegada (0,25 a 0,30mm).

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claramente para a Divina Sabedoria, parece não ter chamado a atenção dos escritores antigos.

Experimentos cuidadosos provam que são necessários de treze a vinte kilogramas de mel para fazer um único kilograma de cera. Sendo a cera um óleo animal, secretada sobretudo a partir do mel, esta afirmaçã parecerá não ser desmerecedora de crédito por aqueles que estão cônscios de quantos kilogramas de milho ou feno devem ser fornecidos para o gado a fim de que ele obte-nha um único kilograma de gordura.

Muitos apicultores não estão conscientes do valor do favo va-zio. Suponha que o mel valha apenas quinze centavos por libra e o favo, quando recuperado em cera, seja valorizado a trinta cen-tavos, o apicultor que derrete uma libra de favo perde muito na operação, mesmo sem estimar o tempo que suas abelhas con-sumiram para construí-lo. Deveria, assim, ser estabelecido como primeiro princípio em apicultura nunca derreter bons favos. Uma grande população de abelhas, no auge do fluxo de néctar, os en-cherá com grande rapidez.

Infelizmente, nas colméias ordinárias pouco uso pode ser dado ao favo vazio, a menos que seja novo e possa ser colocado nas caixas de mel excedente1, mas com o uso das barras, ou dos quadros móveis, toda peça boa de favo de operária pode ser dada às abelhas.

Quando novo, ele pode ser facilmente fixando nos quadros, ou nos recipientes de armazenamento de mel, mergulhando sua borda em cera derretida e segurando firmemente no local até que endureça, se ele for velho, ou os pedaços forem grandes e cheios de pão de abelha, uma mistura de cera derretida e resina garan-tirá uma adesão mais firme. Quando o favo é colocado em vidros, ou pequenos recipientes, ele pode ser simplesmente encaixado a fim de ficar no local até que as abelhas o fixem. Como as abelhas gostam de "um bom início de vida", elas preferem os recipientes que contem algum favo vazio. Todo favo de zangão em boas con-dições deveria ser posto nestes recipientes em vez de deixar na câmara de cria da colméia.

Ninguém, que eu saiba, conseguiu, algum dia, imitar perfei-tamente o tão delicado mecanismo da abelha e construir favos artificiais para o uso normal na colméia. Se favos de armazena-

1 O autor deve estar se referindo à melgueira. N. T.

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mento puderem ser feitos de guta-percha1, eles deverão ser esva-ziados do seu conteúdo e devolvidos à colméia.

No Verão de 1854 constatei que as abelhas podem, em certas circunstâncias, fazer uso de finas raspas de cera para construir favo novo. Caso esta descoberta possa se tornar útil para propó-sitos práticos, facilitará tanto a multiplicação menos custosa e mais rápida das colônias quanto permitirá às abelhas acumular quantidades não usuais de mel. Um kilograma de cera de abelha pode ser preparado para armazenar cerca de vinte kilogramas de mel, e o apicultor poderá ganhar a diferença do valor entre um kilograma de cera e o mel que as abelhas consomem para produ-zir este kilograma. Nos períodos em que as abelhas não conse-guem mel nas flores, famílias fortes podem ser usadas, com pro-veito, para a construção de favo reserva, a fim de fortalecer famí-lias fracas, ou para qualquer outro propósito.

A construção de favo é normalmente realizada com grande atividade à noite enquanto o mel é recolhido durante o dia2. As-sim não se perde tempo. Quando o clima torna o trabalho exter-no proibitivo, os favos são construídos mais rapidamente, pois o trabalho é executado vigorosamente tanto de dia como à noite. Se, ao retornar da faina diária, as abelhas encontram espaço pa-ra armazenamento recolhem quantidades não usuais. Assim, pe-lo seu critério econômico, elas dificilmente perdem tempo, mes-mo quando confinadas por vários dias em suas colméias.

"How doth little busy bee improve each shining hour!"

O poeta pode, com igual verdade, descrevê-la aproveitando os dias sombrios e as noites escuras para suas atividades provei-tosas.

Fatos interessantes, que parece não foram percebidos até agora, são que a coleta de mel e a construção de favo prosse-guem simultaneamente; assim quando um para o outro também cessa. Logo que a colheita de mel começa a falhar, e o consumo supera a produção, as abelhas param de construir favo novo, a-inda que grandes porções de sua colméia não estejam cheias de favos. Quando o mel não mais abunda nos campos é sensato evi-

1 Segundo Michaelis - Guta-percha: substância plástica tenaz, esponjosa, não e-lástica, cinzenta ou marrom, obtida da seiva leitosa, seca, de várias árvores sapo-táceas da Malásia. N. T. 2 Em noites realmente claras pela luz da lua verifiquei abelhas apanhando mel de flores da árvore da tulipa (Liriodendron tulipfera).

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tar que ele seja consumido na construção de favo, um tesouro que pode vir a ser necessário durante o Inverno. Que regra mais segura poderia ter sido ditada a elas?

Como a cera é péssima condutora de calor, ela pode ser mais facilmente trabalhada quando aquecida pelo calor das abelhas, do que se ela perdesse o calor rapidamente. Graças a esta pro-priedade, os favos ajudam a manter as abelhas aquecidas e exis-te menos risco de sua quebra com o frio, ou de o mel cristalizar no favo. Se a cera fosse um bom condutor de calor os favos pode-riam, muitas vezes, ficarem gelados, a umidade poderia conden-sar e congelar sobre eles, e eles não poderiam atender a todas as suas finalidades.

O tamanho dos alvéolos nos quais são criadas as operárias nunca varia; o mesmo pode ser dito, essencialmente, dos alvéo-los de zangão, que são maiores; aqueles em que o mel é armaze-nado variam muito na profundidade, no diâmetro, são de todos os tamanhos, desde alvéolos de operária até de zangão. Como cinco alvéolos de operária, ou quatro de zangão, quando justa-postos medem cerca de uma polegada (25,4mm) de comprimen-to, uma polegada quadrada de favo conterá, em cada lado do fa-vo, vinte e cinco alvéolos de operária, ou dezesseis de zangão.

Como as abelhas, ao construírem seus alvéolos, não conse-guem passar imediatamente de um tamanho para o outro, elas mostram uma admirável sagacidade construindo a transição com um conjunto de alvéolos irregulares intermediários. A Lâmina XV (Fig. 48) mostra uma representação exata e bonita do favo, dese-nhado, para este trabalho sobre a natureza, por M. M. Tidd e gravado por D. T. Smith, ambos de Boston, Mass. Os alvéolos têm o tamanho natural. Os maiores são alvéolos de zangão e os menores, alvéolos de operárias. Os irregulares, alguns alvéolos com cinco lados, mostram como as abelhas passam de um ta-manho para o outro.

Constata-se que os alvéolos de abelha satisfazem perfeita-mente as condições mais sutis de um intricado problema mate-mático. Deseja-se encontrar qual a forma que uma dada quanti-dade de material deve ter para conseguir a maior capacidade e resistência ocupando, ao mesmo tempo, o menor espaço e con-sumindo o menor trabalho na sua construção. Resolvido este problema pelo processo matemático mais refinado, a resposta é o hexágono ou o alvéolo com seis lados da abelha, com três figuras de quatro lados na base!

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A forma destas figuras não pode ser alterada por pouco que seja, a não ser para o pior. Além das qualidades desejáveis já enumeradas, eles servem como berçário para a criação dos jo-vens e como pequenos recipientes herméticos para preservar o mel da fermentação e cristalização. Toda dona de casa prudente, que armazena cuidadosamente suas conservas em recipientes sem ar, pode apreciar o valor de tal sistema.

"Existem apenas três figuras possíveis para os alvéolos", diz o Dr. Reid, "que permitem fazê-los iguais e similares, sem deixar espaço vazio entre eles. Estas são o triângulo eqüilátero, o qua-drado e o hexágono regular. É bem conhecido dos matemáticos que não existe uma quarta forma possível segundo a qual um plano possa ser cortado em pequenos pedaços que sejam iguais, similares e regulares sem deixar nenhum interstício."

Um triângulo eqüilátero seria uma habitação realmente des-confortável para um inseto com corpo redondo; um alvéolo qua-drado seria um pouco melhor. Um círculo parece ser a melhor forma para o desenvolvimento da larva; mas tal figura sacrifica-ria desnecessariamente espaço, materiais e resistência; enquanto o mel, que adere tão admiravelmente aos muitos ângulos do al-véolo de seis lados, estaria mais propenso a escorrer. O corpo do inseto não maduro, à medida que as transformações ocorrem, está intensamente carregado de umidade, que passa através da cobertura reticulada do alvéolo; não poderia o hexágono, portan-to, enquanto se aproximando tanto da figura do círculo, incomo-dar menos a jovem abelha e fornecer, nos seus seis cantos, um vazio necessário para uma ventilação mais completa?

Pode-se acreditar que este pequeno inseto seja capaz de reu-nir tantos requisitos na construção de seus alvéolos, seja por a-caso, seja por estar profundamente versado na mais intricada matemática? Não somos nós compelidos a reconhecer que a ma-temática, pela qual eles constroem uma forma tão complicada e ainda a única que permite unir tantos requisitos desejáveis, deva ser atribuída ao Criador e não à sua frágil criatura? Para uma mente inteligente e sincera, a menor peça de favo de mel é a per-feita demonstração que existe uma "GRANDE PRIMEIRA CAUSA".

"On books deep poring, ye pale sons of toil, Who waste in studious trance the midnight oil. Say, can ye emulate, with all your rules, Drawn or from Grecian or from Gothic schools,

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This artless frame? Instinct her simple guide, A heaven-taught insect baffles all your pride. Not all yon marshall´d orbs, that ride so high, Proclaim more loud a present Deity, Than the nice simmetry of these small cells, Where on cach angle genuine science dwells."

EVANS

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CAPÍTULO V

PPPRRRÓÓÓPPPOOOLLLIIISSS

Esta substância é obtida pelas abelhas a partir de brotos re-sinosos e cascas de árvores: as diferentes variedades de álamo fornecem um rico suprimento. Assim que recolhida ela é, nor-malmente, de cor brilhante dourada e tão pegajosa que as abe-lhas nunca a depositam nos alvéolos, mas a aplicam imediata-mente no local para o qual foi coletada. Se uma abelha for apa-nhada, carregada da resina, se observa que a resina adere muito firmemente às suas pernas.

"Huber plantou, na Primavera, alguns galhos do álamo sil-vestre, antes de as folhas terem se desenvolvido, e os colocou em potes perto do seu apiário; as abelhas pousaram neles, separa-ram as dobras dos grandes germens com seus fórceps, extraíram o verniz em filetes e carregaram, primeiro uma perna traseira e depois a outra; para transportá-lo como o pólen, transferiram com o primeiro par de pernas para o segundo, com os quais a própolis é alojada nas corbículas." Eu as tenho visto remover a própolis aquecida de velhos fundos colocados ao sol.

A própolis é coletada freqüentemente do amieiro, castanha da índia, vidoeiro e salgueiro; e, como se pode conceber, do pi-nheiro e outras árvores do tipo do abeto. As abelhas entram, muitas vezes, em lojas de verniz, atraídas evidentemente pelo cheiro; nas proximidades de Matamoras, México, onde a própolis parece ser escassa, eu as vi apanhando pintura verde de venezi-anas e piche do cordame de uma embarcação. Bevan menciona o fato de elas carregarem uma composição de cera e terebentina de árvores às quais a mistura fora aplicada. O Dr. Evans diz ter vis-to elas coletarem o verniz balsâmico que cobria os brotos florais da malva rosa e observou elas ficarem, pelo menos, dez minutos no mesmo broto, modelando o bâlsamo com suas pernas diantei-ras e transferindo-o para as pernas traseiras, como descrito por Huber.

"With merry hum the Willow´s copse they scale,

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The Fir´s dark pyramid, or Poplar pale; Scoop from the Alder´s leaf its oozy flood, Or strip the Chestnut´s resin-coated bud; Skim the lighr tear that tips Narcissus´ ray, Or round the Hollyhock´s hoar fragrance play; Then waft their nut-brown loads exulting home, That form a fret-work for the future comb; Caulk every chink where rushing winds may roar, And seal their circling ramparts to the floor."

EVANS.

A mistura de cera e própolis, por ser mais aderente do que a cera sozinha, serve admiravelmente para reforçar a ligação dos favos na tampa e nas laterais da colméia. Se os favos não recebe-rem mel e cria, logo depois de serem construídos, eles são reco-bertos com uma delicada película de própolis que favorece em muito sua resistência; mas como este verniz natural ofusca a al-vura do favo não se deve permitir que as abelhas tenham acesso aos favos das melgueiras, exceto quando ativamente engajadas em nelas armazenar mel.

As abelhas fazem um uso realmente liberal da própolis fe-chando toda fresta em volta de seu recinto; como o aquecimento natural durante o Verão da colméia mantem a própolis macia, a traça da cera a escolhe como local para depositar seus ovos. As colméias devem ser feitas de madeira totalmente livre de fendas. Os cantos, que as abelhas normalmente preenchem com própo-lis, devem receber uma mistura derretida, três partes de resina e uma de cera de abelha; esta se mantem dura durante o clima mais quente, se tornando um desafio para a traça.

Como as abelhas encontram dificuldade para coletar própolis e, igualmente, para trabalhar um material tão pegajoso, elas de-vem ser poupadas de toda a tarefa de a amassar. Para o homem, tempo é dinheiro e para as abelhas, é mel; todo ajuste da colméia deve ser para economizá-lo ao máximo.

A própolis é algumas vezes usada de modo realmente curioso pelas abelhas. "Um caracol1 se rastejou para dentro de uma das colméias do M. Reaumur pela manhã, depois de andar por algum tempo, aderiu, pelo seu próprio muco, a um dos paineis de vidro. As abelhas, descobrindo o caracol, rodearam-no e depositaram própolis em volta dele, na borda do casco, e assim o prenderam com firmeza ao vidro de forma que ficou imóvel.

1 Bevan

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`Forever closed the impenetrable door; It naught avails that in its torpid veins Year after year, life´s loitering spark remains."

EVANS

"Maraldi, outro eminente apicultor, afirmou que uma lesma entrou em uma de suas colméias, as abelhas, assim que a viram, ferroaram-na até a morte; depois, não conseguindo retirá-la, co-briram-na totalmente com uma camada impenetrável de própo-lis.

`For soon in fearless ire, their wonder lost, Spring fiercely from the comb the indignant host, Lay the pierced monster breathless on the ground, And clap in joy their victor pinions round: While all in vain concurrent numbers strive To heave the slime - girt giant from the hive - Sure not alone by force instinctive swayed, But blest with reason´s soul-directing aid, Alike in man or bee, they haste to pour, Thick, hard´ning as it falls, the flaky shower; Embalmed in shroud of glue the mummy lies, No worms invade, no foul miasmas rise.`

EVANS

Com estes exemplos, quem pode deixar de admirar a ingenu-idade e bom senso das abelhas? No primeiro caso, uma criatura incômoda conseguiu entrar na colméia de onde, pela dificuldade de manuseá-la, elas não conseguiam remover e que, pela impe-netrabilidade de seu casco elas não conseguiam destruir; seu ú-nico recurso foi impedi-la de se locomover e evitar sua putrefa-ção; elas conseguiram, hábil e espertamente, ambos os objetivos e, como é normal com estas criaturas sagazes, com o menor cus-to possível em trabalho e material. Elas aplicam o cimento ape-nas onde necessário - em volta na borda do casco. No último ca-so, para evitar a decomposição do indesejado, pela exclusão total do ar, elas foram obrigadas a ser mais perdulárias no uso do ma-terial de embalsamento e recobriram o ´gigante mucoso´ a fim de se resguardar do cheiro de decomposição. Que meio mais efetivo poderia a sabedoria humana vislumbrar em circunstâncias se-melhantes?

Muitos acreditam que as abelhas sabem quando qualquer membro da família morre; e alguns são suficientemente supersti-ciosos para vestir as colméias de luto a fim de acalmar a tristeza de seus ocupantes; imaginado que, a menos que isto seja feito,

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as abelhas nunca mais prosperarão! Freqüentemente se afirma que elas, algumas vezes, sentem muito sua perda, a ponto de pousar sobre o ataúde onde quer que ele esteja exposto. Um pas-tor me disse que ele atendeu a um funeral onde, assim que o a-taúde deixou a casa, as abelhas se reuniram sobre ele como para provocar alarme. Alguns anos após esta ocorrência, estando o-cupado em envernizar uma mesa, as abelhas pousaram sobre ela em grande número, como para convencê-lo, que a afeição pelo verniz, mais do que a tristeza ou respeito pela morte, era o moti-vo de sua conduta durante o funeral. Quantas superstições acei-tas, mesmo por pessoas inteligentes, podem ser explicadas tão facilmente, se fosse possível verificar completamente todos os fa-tos conectados com elas!

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CAPÍTULO VI

PPPÓÓÓLLLEEENNN OOOUUU """PPPÃÃÃOOO DDDAAA AAABBBEEELLLHHHAAA"""

O pólen é colhido das flores pelas abelhas e é indispensável para a nutrição da cria - experimentos repetidos provaram que a cria não pode ser desenvolvida sem ele. Ele é muito rico em substâncias nitrogenadas não existentes no mel, sem as quais não seria possível fornecer alimentação suficiente para o desen-volvimento da abelha em crescimento. O Dr. Hunter, ao dissecar algumas abelhas não maduras, observou que seus estômagos continham pólen e nenhuma partícula de mel.

Devemos a Huber a descoberta que o pólen é o principal ali-mento das abelhas jovens. Como grandes reservas eram encon-tradas, freqüentemente, em colméias cujos habitantes passavam fome, ficou evidente que sem mel não era possível a subsistência das abelhas maduras; isto levou os primeiros observadores a concluir que o pólen servia para a construção do favo. Huber, depois de demonstrar que a cera podia ser secretada a partir de uma substância completamente diferente, confirmou, imediata-mente, que o pólen era usado para a alimentação do embrião da abelha. Confinou algumas abelhas numa colméia sem pólen e as supriu com mel, ovos e larvas. Em pouco tempo todas as jovens pereceram. Repondo a cria, agora com ampla disponibilidade de pólen, o desenvolvimento das larvas seguiu seu curso natural.

Tive uma oportunidade excelente para testar o valor do pólen na Primavera de 1852. Em 5 de fevereiro abri uma colméia con-tendo um enxame artificial do ano anterior e encontrei muitos alvéolos com cria. Ao examinar os favos no dia 23 verifiquei que não existiam ovos nem cria, nem pão de abelha; supri a colônia com pólen de outra colméia; no dia seguinte um grande número de ovos podia ser visto nos alvéolos. Quando este suprimento terminou a postura cessou novamente e só foi retomada quando houve novo suprimento. O clima estava tão ruim, durante o perí-odo destes experimentos, que as abelhas não tinham condições

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de deixar a colméia.

Dzierzon é de opinião que as abelhas podem fornecer alimen-to para sua cria, mesmo sem disponibilidade de pólen; ele admi-te, no entanto, que elas só conseguem fazer isto por pouco tempo e com grande custo de sua energia vital assim como a resistência de um animal que amamenta sua cria fica rapidamente reduzida, pois na falta de alimento a matéria do corpo da mãe deve ser convertida em leite. O experimento acima descrito não corrobora esta teoria, mas confirma o ponto de vista de Huber que o pólen é indispensável para o desenvolvimento da cria.

Gundelach, um abade alemão apicultor, diz que se uma co-lônia com rainha fértil for confinada numa colméia vazia e supri-da com mel, os favos serão rapidamente construídos e os alvéo-los receberão ovos, os quais, no tempo apropriado, eclodirão, mas todas as larvas morrerão em vinte e quatro horas.

Alguns apicultores acreditam que as abelhas, com abundân-cia tanto de pólen como de mel, secretarão cera mais rapidamen-te do que quando supridas apenas com mel; e que sua secreção, sem pólen, afeta severamente sua resistência.

Em setembro, 1856, coloquei uma colônia de abelhas muito grande numa colméia nova para apurar alguns pontos que esta-va, então, verificando. O tempo estava magnífico, elas coletavam pólen e construíam favo muito rapidamente; mesmo assim, du-rante dez dias a rainha não depositou nenhum ovo nos alvéolos. Durante todo o tempo as abelhas armazenaram muito pouco pó-len nos favos. Num dos dias que, por estar tempestuoso, as abe-lhas não puderam sair, elas foram supridas com farinha de cen-teio (ver pág. 84), da qual nada, ainda que apanhado com muita avidez, pode ser encontrado nos alvéolos. Durante todo este tem-po, como não havia cria para ser alimentada, o pólen devia estar sendo usado pelas abelhas, ou para alimentação ou para ajudá-las na secreção de cera; ou, como acredito, para ambos estes propósitos.

As abelhas preferem recolher pão de abelha fresco, mesmo quando existir grande acúmulo de velhos estoques nos alvéolos. Com colméias onde é possível o controle sobre os favos, o exces-so existente em colônias velhas pode servir para suprir a defici-ência das novas; as últimas, na Primavera, estão, muitas vezes, privadas deste insumo indispensável.

Se tanto o pólen quanto o mel puderem ser obtidos da mes-

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ma floração o inseto industrioso apanha, normalmente, uma carga de cada um. Para provar isto disse que se algumas coleto-ras de pólen quando mel é abundante; seu saco de mel estará normalmente cheio.

O modo de coletar pólen é muito interessante. O corpo da abelha aparece a olho nu coberto de finos pelos, aos quais, quando ela pousa na flor, o pó adere. Com suas pernas ela o es-cova de seu corpo e o empacota nas cavidades, ou cestas, uma em cada perna traseira; estas cestas estão rodeadas por pelos fortes que seguram a carga em seu lugar. Se, por qualquer razão, o pólen não puder ser facilmente transformado em bolas a abe-lha, muitas vezes, se esfrega nele e retorna, toda coberta de pó, para sua colméia.

Quando uma abelha traz para casa uma carga de pólen ela, muitas vezes, sacode seu corpo de forma singular para atrair a atenção de outras abelhas, as quais apanham de sua coxa tra-seira o que precisam para uso imediato; em seguida ela armaze-na o restante para futuras necessidades, inserindo seu corpo no alvéolo e escovando o pólen de suas pernas; ele é em seguida cuidadosamente pressionado, muitas vezes é recoberto com mel e selado, por cima, com cera. O pólen raramente é depositado em qualquer alvéolo a não ser nos alvéolos de operária.

Aristóteles observou que a abelha, ao apanhar pólen, se limi-ta ao tipo de floração em que ela começou, mesmo que não seja tão abundante como em outras; assim, observa-se que uma pelo-ta desta substância apanhada de sua perna traseira, será por in-teira de cor uniforme; a carga de um inseto será amarela, a do outro vermelha e de um terceiro marrom; a cor variando com a cor do pólen da planta da qual o suprimento foi obtido. Elas pre-ferem conseguir uma carga de uma única espécie de planta, por-que o pólen de diferentes tipos quando misturados não compac-tam tão bem. As abelhas, ao carregar o pólen, substância fertili-zante das plantas em seus corposde flor em flor, contribuem es-sencialmente para a sua fertilização.

Embora a importância do pólen seja conhecida de longa da-ta, apenas ultimamente é que estão sendo feitos esforços para fornecer substituto. Dzierzon observou suas abelhas, no início da Primavera, trazendo farinha de centeio, de um moinho das re-dondezas, para suas colméias, em vez de buscarem pólen nas fontes naturais. O sinal não foi perdido; agora é prática comum na Europa, onde a apicultura é praticada extensivamente, suprir

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as abelhas no início da estação com este insumo. Formas rasas, contendo uma camada com cinco centímetros de espessura de farinha de centeio, finamente pulverizada, seca não peneirada, são colocadas próximas do apiário. Milhares de abelhas, quando o clima é favorável, visitam-na com avidez e se esfregam na fari-nha retornando pesadamente carregadas para suas colméias. Com clima agradável e ameno elas executam esta atividade com grande assiduidade; preferindo a farinha ao pólen velho armaze-nado em seus favos. Assim elas criam mais cedo e seu número cresce rapidamente. A alimentação continua até que a floração forneça o artigo preferido quando elas param de carregar a fari-nha. O consumo médio por colônia é de um kilograma.

O Sr. F. Sontag, um apicultor alemão, diz que, na Primavera de 1853, ele alimentou uma de suas colônias com farinha de centeio, colocada dentro da colméia num favo velho; continuou a suprir até que elas pudessem procurar pólen fresco fora de casa. Esta colônia produziu quatro enxames fortes naquela Primavera e uma colméia próxima, que não recebeu suprimento de farinha, produziu somente um enxame fraco.

Outro apicultor alemão diz que utiliza farinha de trigo com bons resultados; as abelhas abandonaram o mel que lhes foi for-necido, e trabalharam ativamente carregando a farinha, colocada a cerca de vinte passos na frente das colméias.

A construção de minhas colméias permite colocar facilmente a farinha em local onde a abelha pode apanhá-la, sem perder tempo em sair de casa, ou sofrer por sua falta, quando o clima as confina em casa.

A descoberta deste substituto remove um obstáculo realmen-te sério na criação de abelhas. Em muitas regiões, existe por um curto período de tempo um suprimento tão abundante de mel que, qualquer que seja o número de colméias fortes, elas pode-rão, numa boa estação, colher o suficiente para elas mesmas e um grande excesso para seu dono. Em muitas destas regiões, no entanto, o suprimento de pólen é, muitas vezes, quase insufici-ente e, na Primavera, os enxames do ano anterior estão tão des-providos que, a menos que a estação se adiante, a produção de cria é seriamente reprimida e a colônia não poderá tirar proveito, ela própria, devidamente da superabundância do fluxo de mel.

Enquanto as abelhas são vistas pelos mais bem informados horticultores como amigas, muitos fruticultores neste país tem

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delas um grande preconceito; quem cria abelhas é considerado, em algumas comunidades, um mau vizinho, uma pessoa que permita seus animais domésticos roubar em jardins dos outros. Mesmo o mais caloroso amigo das "ocupadas abelhas" pode la-mentar a sua propensão em se banquetear nos belos pêssegos e pêras, e nas melhores uvas e ameixas.

Conversando com um senhor, apresentei três razões, porque as abelhas não conseguem provocar nenhum mal extensivo so-bre as uvas. Primeiro, uma vez que o Criador concebeu a ambas, abelha e fruta, para o conforto do homem, seria difícil conceber que Ele tivesse feito um ser inimigo natural do outro. Segundo, se o suprimento de mel das flores falhar completamente, se a es-tação (1854) for extraordinariamente seca e se as muitas colô-nias da vizinhança tiverem condições de se ajudarem umas às outras nas frutas sem defeito, elas devorariam totalmente as fru-tas do vinho. Terceiro, como as mandíbulas da abelha são adap-tadas principalmente para a manipulação da cera elas são muito fracas para conseguirem perfurar a pele mesmo das mais delica-das uvas.

Como resposta a estes argumentos, convidei-o a ir até suas videiras e ver os predadores em ação real; o resultado justificou minhas antecipações. Embora fossem vistas muitas abelhas se banqueteando nas uvas, nenhuma estava fazendo qualquer es-trago nas frutas sadias. As uvas machucadas da videira, ou que jaziam no solo, bem como os pedúnculos molhados, dos quais as uvas tinham sido recentemente arrancadas, estavam cobertas de abelhas; outras abelhas foram vistas pousarem em cachos e, ao concluir, depois de cuidadosa inspeção, estarem sem defeito, os abandonavam com evidente desapontamento.

Vespas e vespões, que não secretam cera, possuidores de mandíbulas fortes e serrilhadas para cortar fibras lenhosas com as quais eles constroem seus favos, podem penetrar facilmente a pele resistente dos frutos. Enquanto as abelhas, por conseguinte, são comparativamente inocentes, uma multidão destes outros predadores é vista se ajudando mutuamente nas melhores fru-tas. Ocasionalmente, uma abelha pode conjeturar em pousar num cacho onde um destes predadores está em atividade para seu próprio benefício, quando então este predador pode se voltar e "pedir briga", mais à semelhança de um cão rosnador, moles-tado por outro da sua espécie, disputando o seu osso.

Depois que o dano foi iniciado por outros insetos, ou onde

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seja identificada uma ruptura, ou seja vista uma mácula de dete-rioração, a abelha se apressa em aproveitar, sob o princípio de "recolher os fragmentos pois nada pode ser perdido". Desta for-ma, sem dúvida, elas fazem algum dano; masantes que a guerra seja declarada contra elas, que todo fruticultor pergunte se, co-mo um todo, elas não são muito mais úteis do que prejudiciais. Como as abelhas carregam em seus corpos o pólen, substância fertilizadora, elas ajudam mais intensamente na fecundação das plantas ao espreitar as flores em busca de mel ou do pão da abe-lha. Em estações maravilhosas, muitas vezes, os frutos abun-dam, mesmo que não seja criada nenhuma abelha na redondeza; mas muitas Primaveras são tão desfavoráveis que, muitas vezes, durante o período crítico do florescimento o sol brilha por apenas algumas horas e, assim, só podem esperar alguma remuneração razoável na colheita aqueles cujas árvores estavam murmurando com o agradável zumbido das abelhas.

Um grande fruticultor disse-me que suas cerejas eram real-mente uma colheita incerta, freqüentemente, quando elas esta-vam em flor, prevalecia uma tempestade fria do nordeste. Ele ti-nha sido informado que se o sol brilhasse apenas por um par de horas as abelhas lhe assegurariam uma colheita.

Se os fruticultores, que vêem as abelhas como inimigos, pu-dessem exterminar a raça, eles agiriam com tão pouca sabedoria como aquele que tenta banir de suas propriedades inóspitas todo pássaro insetívoro que busca para si uma pequena parte da a-bundância que ele ajudou a produzir. Envidar esforços sensatos, no início da Primavera, para apanhar em armadilha a mãe vespa e os vespões, que sobrevivem sozinhos o Inverno, será um golpe efetivo sobre um dos piores predadores dos pomares e jardins. Na Europa, os envolvidos extensivamente no cultivo de fruta pa-gam, muitas vezes, uma pequena quatia em dinheiro, na Prima-vera, por toda vespa e vespão destruído em suas vizinhanças.

A Fig. 62 (Lâmina XIII) mostra a cabeça ampliada do Vespão do Mel Mexicano (pág. 58). A Fig. 63 mostra a cabeça ampliada da abelha. A Fig. 64 mostra as mandíbulas do Vespão. A Fig. 65 mostra as mandíbulas ampliadas da abelha. Um olhar sobre es-tas figuras é suficiente para convencer qualquer fruticultor inte-ligente da verdade da observação de Aristóteles - feita a mais de dois mil anos atrás - que "as abelhas não ferem nenhuma espé-cie de fruta, mas as vespas e os vespões são realmente predado-res”.

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CAPÍTULO VII

VVVEEENNNTTTIIILLLAAAÇÇÇÃÃÃOOO DDDAAA CCCOOOLLLMMMÉÉÉIIIAAA

Se uma colméia populosa for examinada num dia quente, pode-se ver um bom número de abelhas pousadas no alvado com suas cabeças voltadas para a entrada da colméia, seus abdo-mens levemente elevados, e suas asas em movimento tão rápido que elas são quase imperceptíveis, como os raios de uma roda em alta rotação sobre seu eixo. Uma leve corrente de ar pode ser sentida vindo da colméia; e se uma pequena pena for suspensa, por uma linha, na entrada ela será soprada para fora de um lado e sugada do outro. Porque estão estas abelhas tão profundamen-te absortas na sua tarefa de ventilação, a ponto de não prestar a mínima atenção para as inúmeras outras indo e vindo na col-méia? e qual o significado desta dupla corrente de ar? Devemos a Huber a explicação satisfatória deste curioso fenômeno. As abe-lhas, que batem suas asas tão rapidamente, estão ventilando a colméia; esta dupla corrente é provocada pelo ar puro que entra para ocupar o espaço do ar usado que é forçado para fora. Huber constatou, através de uma série de experimentos magníficos, que o ar de uma colméia congestionada é quase tão puro quanto a atmosfera que a rodeia. Como a entrada da colméia é muitas ve-zes realmente pequena o ar do interior não pode ser renovado sem a ajuda de um meio artificial. Se uma lamparina for coloca-da num recipiente fechado com apenas um pequeno orifício a chama gastará rapidamente o oxigênio e a laparina apagará. Se um segundo orifício for feito ter-se-á o mesmo efeito. Mas se uma corrente de ar for, através de algum dispositivo, forçada para fora por uma abertura uma igual corrente forçará sua entrada pela outra e a lamparina queimará até acabar o combustível.

Com base neste princípio, manter uma dupla corrente artifí-cialmente, é que as abelhas ventilam sua congestionada habita-ção. Uma linha de ventiladoras se posta dentro e outra fora da colméia, todas com a cabeça voltada para a entrada e enquanto, pela ventilação de suas "muito brilhantes" asas, uma refrescante corrente de ar é soprada para fora da colméia uma corrente igual

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é insuflada. Como esta tarefa imprescindível demanda atividade física incomum, as exaustas operárias são, de tempos em tem-pos, revezadas por um novo destacamento. Se for possível inspe-cionar o interior da colméia, serão encontradas, com clima real-mente quente, muitas ventiladoras espalhadas pelo seu interior, todas elas atarefadamente envolvidas em sua árdua tarefa. Se a entrada for reduzida outras se juntarão, imediatamente, tanto dentro como fora da colméia; e se for totalmente fechada, o calor e a contaminação aumentarão rapidamente, a colônia como um todo se ocupará para renovar o ar através da vibração rápida de suas asas e, em pouco tempo, caso não sejam aliviadas, morre-rão sufocadas.

Experimentos cuidadosos mostraram que o ar puro é neces-sário não só para a respiração das abelhas maduras mas, tam-bém, para a eclosão dos ovos e desenvolvimento das larvas; uma fina malha de espaços com ar envolve os ovos, e os alvéolos das larvas são fechados com uma cobertura permeável ao ar.

Se, no Inverno, as abelhas forem mantidas num local escuro, que não seja muito quente nem muito frio, elas permanecem quase dormentes e necessitam de muito pouco ar; mas, mesmo nestas circunstâncias, elas não conseguem viver totalmente pri-vadas do ar; se elas ficarem excitadas pelas mudanças atmosfé-ricas, ou perturbadas por outra razão, pode ser ouvido, vindo do interior de sua colméia, um zumbido surdo e elas passam a ne-cessitar praticamente tanto ar quanto com clima quente.

Se as abelhas forem intensamente perturbadas será pouco seguro, especialmente em clima quente, confiná-las a menos que elas disponham de uma entrada de ar realmente livre; e, mesmo assim, a menos que o ar possa ser admitido tantopor cima como por baixo da massa de abelhas, as aberturas de ventilação po-dem ficar ocluidas pelas abelhas mortas e a colônia perecer. As abelhas confinadas ficam excessivamente aquecidas e seus favos podem derreter; se a umidade for acrescentada à influência já prejudicial do ar ruim elas podem adoecer; um grande número, se não toda a colônia, pode perecer por disenteria. Não é nestas circunstâncias, precisamente, que a cólera e a disenteria tem se mostrado fatal para os seres humanos? a sujeira, a umidade e as residências não ventiladas dos pobres, são, para seus infelizes habitantes, casas perfeitas de leprosos.

Muitas vezes examinei as abelhas de enxames novos que e-ram trazidos para o meu apiário tão hermeticamente confinados

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que elas poderiam ter morrido por sufocadas. Os seus corpos se encontravam sempre dilatados por uma substância amarela e fé-tida, como se tivessem morrido de disenteria. Algumas ainda se encontravam vivas e, ainda que a colônia tivesse sido mantida fechada por apenas algumas horas, os corpos, tanto das vivas quanto das mortas, estavam cheios com o mesmo repulsivo flui-do, em vez do mel que elas tinham quando enxamearam.

Sob o ponto de vista médico estes fatos são muito interes-santes; mostram como elas agem sob certas circunstâncias e quão rapidamente doenças parecidas com cólera e disenteria po-dem se implantar.

Se, em clima muito quente, uma colméia de paredes finas for exposta diretamente aos raios solares as abelhas ficam muito perturbadas pelo calor intenso e recorrem a ventilação mais in-tensa, não apenas para manter o ar da colméia puro mas tam-bém para baixar sua temperatura.

Em tal clima, as abelhas, muitas vezes, deixam quase sem-pre como um todo, o interior da colméia e se amontoam do lado de fora, não apenas para escapar do calor interno, mas para pro-teger seus favos do risco de se derreterem. Nestas ocasiões, elas são extremamente cautelosas em não se amontoar sobre favos novos que contem mel operculado, os quais, por não estarem guarnecidos com casulos e, por causa da quantidade extra de ce-ra usada para cobri-los, derretem mais rapidamente do que os alvéolos de cria.

Os apicultores sabem que as abelhas, muitas vezes, deixam seus alvéolos com mel, assim que eles são operculados; quase descobertos, mas não foi observado se isto é absolutamente ne-cessário com clima realmente quente. Em clima frio, elas podem, freqüentemente, serem encontradas amontoadas entre os favos de mel operculados porque, neste caso, não existe o risco de eles derreterem.

Poucas coisas têm condições de impressionar mais uma mente admiravelmente perspicaz do que a forma realmente cien-tífica pela qual as abelhas ventilam suas moradias. Neste assun-to relevante, a abelha está formidavelmente adiante da grande massa dos chamados seres racionais. Para ser sincero, não exis-te nenhuma habilidade em decidir, a partir de uma elaborada análise dos constituintes químicos da atmosfera, que proporção de oxigênio é essencial para garantir a vida, e quão rapidamente

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o processo de respiração o converte num veneno mortal: não se pode, como Liebig, demonstrar que Deus, ao criar o mundo vege-tal e animal, um frente o outro, tenha providenciado que a at-mosfera pudesse, através dos tempos, se manter tão pura quanto foi ao sair de Suas mãos criadoras. Mas é vergonhoso para nós! que, com toda nossa exultada inteligência vivamos pensando, muitos de nós, que o ar puro seja de pouco ou nenhum valor; ao mesmo tempo as abelhas ventilam, com uma precisão filosófica, a ponto de enrubescer a nossa criminosa negligência.

Pode a ventilação, no nosso caso, ser executada sem esforço? poderia ela ser feita por diletantismo, pelas engenhosas abelhas? Estas fileiras de abelhas, batendo suas asas tão incansavelmen-te, não estão engajadas numa diversão inútil; não poderiam elas, como um simples serviçal poderia imaginar, serem melhor em-pregadas na colheita de mel, ou na supervisão de algum outro departamento da economia da colméia. Às custas de tempo e trabalho elas estão suprindo o restante da colônia com ar puro necessário para sua saúde e prosperidade.

Ar impuro, poder-se-ia pensar, é suficientemente nocivo; mas toda sua nocividade é aumentada em muito em ambiente hermeticamente fechado, ou como o fogão1 lung-tight, que pode economizar combustível desperdiçando saúde e pondo em perigo a vida. Não somente nossas casas, mas todos nossos locais de aglomeração de público, são ou desprovidos de meios de ventila-ção ou, em maior extensão, tão deficientemente supridos destes meios que eles apenas

"Keep the Word of promise to our ear, To break it to our hope."

Não se pode duvidar que o último estágio de decadência con-corda, inevitavelmente, com uma negligência tão grosseira das leis da saúde; e estes que imaginam que a resistência física do povo possa ser solapada, e sua saúde intelectual, moral e religio-sa não sofrer declínio, conhecem pouco da conexão íntima que o Criador estabeleceu entre o corpo e o espírito.

Os homens podem, até certo ponto, resistir à influência do ar pernicioso; uma vez que suas ocupações normalmente os compe-

1 O belo fogão aberto, ou de Franklin, para carvão e lenha, fabricado por Messrs. Treadwell, Perry & Norton, Albany, Nova York, merece a maior recomendação como economizador de vida, saúde e combustível.

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lem a viver mais fora de casa: mas alas, alas1! e a pobre mulher! Neste mundo onde elas são tratadas com tão merecida deferência e respeito, muitas vezes, nada é feito para que elas sejam supri-das com aquele primeiro elemento da saúde, disposição e beleza, pureza do paraíso o ar fresco.

A face pálida ou vermelhidão febril, a forma angular e dorso tortuoso, a aparência enfraquecida de uma tão grande porção de nossas mulheres que, para usar a linguagem do pranteado Dow-ning, "pelos sinais da saúde física, podem ser comparadas aos mais desfavorecidos de todas as classes que passam fome na Eu-ropa"; todas estas indicações de debilidade, para nada dizer so-bre suas faces extenuadas com rugas prematuras, proclamam nossa violação das leis físicas de Deus e a temível punição com que Ele está punindo nossas transgressões.

Aquele que conseguir convencer as massas da relevância da ventilação e cuja mente inventiva conseguir divisar um simples, barato e eficaz meio de fornecer um suprimento abundante de ar puro para nossas casas particulares, prédios públicos e meios de transporte será um benfeitor maior do que Jenner ou Watt, do que Fulton ou Morse.

Na ventilação de minha colméia eu me esforcei, até onde possível, para atender as necessidades das abelhas, nas mais va-riadas circunstâncias às quais elas estão expostas no nosso cli-ma instável, cujos extremos severos de temperatura lembram ao apicultor, forçosamente, a máxima de Virgílio,

"Utraque vis pariter apibus metuenda." "Extremes of heat or cold, alike are hurful to the bees."

A fim de ser útil para maioria dos apicultores, a ventilação artificial deve ser simples e não, como na colméia de Nutt e em outros dispositivos elaborados, tão complicada a ponto de exigir supervisão direta como um hot-bed ou um estufa.

Fornecendo ventilação independente da entrada, é possível melhorar o método que as abelhas, em estado natural, são, mui-tas vezes, compelidas a adotar, quando a abertura do buraco da árvore é muito pequena, a ponto de elas terem de empregar na ventilação, com tempo quente, uma força maior do que, de outra forma, seria necessária. Com o uso dos meus blocos móveis (Lâ-

1 Segundo Michaelis - Interjeição que exprime: exclamação de pesar, tristeza, preocupação como: ai de mim! meu Deus! alas the day! que dia infeliz! N. T.

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mina V, Fig. 17), a entrada pode ser mantida tão pequena que apenas uma abelha possa entrar de cada vez, ou pode ser total-mente fechada, sem que as abelhas sintam falta de ar. As aber-turas de ventilação fornecem um suprimento de ar suficiente e elas podem controlar facilmente para não prejudicar a cria pela entrada de uma forte corrente de ar frio. No capítulo sobre hi-bernação das abelhas são fornecidas instruções para ventilar as colméias no clima frio a fim de remover toda umidade prejudici-al.

A construção das minhas colméias permite a ventilação pela parte superior; ela deve ser usada sempre quando as abelhas permanecerem fechadas por qualquer período de tempo, ao se-rem transportadas, para que a colônia não seja sufocada por fi-carem as aberturas de ventilação que estão abaixo obstruídas pelas abelhas mortas. Como a entrada da colméia pode, a qual-quer momento, ser ampliada o quanto desejado, sem perturbar as abelhas, será admitido todo ar que as abelhas possam neces-sitar; a ventilação pela parte traseira permite um fluxo livre atra-vés da colméia. A entrada pode ter o comprimento de catorze po-legadas (36cm) ou mais, mas, como regra geral, em grandes co-lônias, não é necessário, no Verão, exceder quatro polegadas (10cm); enquanto, durante o resto do ano, uma ou duas polega-das (2,5 ou 5cm) serão suficientes. Em clima muito quente, es-pecialmente se a colméia fica ao sol, as abelhas podem não ter muito ar; as ventilações na parte superior da colméia principal devem ser mantidas abertas.

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CAPÍTULO VIII

RRREEEQQQUUUIIISSSIIITTTOOOSSS DDDEEE UUUMMMAAA CCCOOOLLLMMMÉÉÉIIIAAA IIIDDDEEEAAALLL

Neste capítulo vou enumerar requisitos essenciais para uma colméia ideal. Em vez de depreciar outras colméias prefiro cha-mar a atenção dos apicultores para a validade destes requisitos, alguns dos quais, acredito, não existem em nenhuma colméia a não ser na minha. Se, depois de uma cuidadosa triagem, for re-comendado que sejam avaliados pelos criadores, eles servirão para testar os méritos comparativos das várias colméias de uso comum.

1. Uma colméia ideal deve possibilitar ao apicultor um controle total sobre todos os favos, permitindo que eles sejam facilmente retirados sem ne-cessidade de cortar ou perturbar as abelhas.

2. Deve permitir a realização de todas as operações necessárias sem ferir ou matar uma única abelha.

A maioria das colméias é construída de tal forma que elas não podem ser usadas sem machucar ou matar algumas abe-lhas; a destruição de apenas algumas aumenta significativamen-te a dificuldade de manejá-las.

3. Deve fornecer proteção adequada dos extremos de calor e frio, das mudanças súbitas de temperatura e do efeito maléfico da umidade.

O interior da colméia deve ser seco no Inverno e, no Verão, livre de confinamento bem como do calor sufocante.

4. Ela deve permitir a realização de toda operação desejada, sem provo-car a agressividade das abelhas.

5. Não pode exigir nenhum movimento desnecessário de uma única abe-lha.

Como o fluxo de mel é, em muitos locais, de curta duração todos os sistemas da colméia devem facilitar, ao máximo, o tra-balho das ocupadas operárias. As colméias que obrigam as abe-lhas a transitar, com suas pesadas cargas, através de favos den-samente congestionados são muito censuráveis. As abelhas po-dem acessar facilmente, as melgueiras que estão no topo das

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minhas colméias, a partir de qualquer favo da colméia, e para qualquer melgueira, sem precisar abrir caminho através de a-montoados espessos e sem circular pelos favos.

6. Deve oferecer facilidades apropriadas para a inspeção, a qualquer tempo, da condição das abelhas.

7. Deve se ajustar prontamente às necessidades tanto de enxames gran-des como de pequenos.

Minha colméia pode ser ajustada, em poucos momentos, pe-lo uso de partições móveis, às necessidades de qualquer colônia, mesmo pequena; e com igual facilidade ser ampliada, de tempos em tempos, ou de uma só vez, recuperando suas dimensões to-tais.

8. Ela deve permitir a remoção dos favos sem qualquer vibração.

As abelhas detestam os movimentos feitos para separar ou destacar os favos. Os quadros móveis, embora firmemente uni-dos, podem ser separados com poucos movimentos, sem machu-car ou irritar as abelhas.

9. Deve permitir que todo pedaço bom de favo seja dado às abelhas, em vez de ser derretido para recuperar a cera.

10. Deve induzir as abelhas a construir favos regulares.

Não se pode esperar que uma colméia, contendo muito favo próprio somente para o armazenamento de mel, ou desenvolvi-mento de zangão, prospere.

11. Deve permitir que se forneça favo vazio, e deve induzir as abelhas a prontamente ocuparem as melgueiras adicionais.

12. Deve permitir que se previna a superprodução de zangões pela possibi-lidade da remoção dos favos de zangão.

13. Deve dar condições ao apicultor de capturar em armadilha e destruir os zangões criados em demasia, antes de eles consumirem grandes quan-tidades de mel da colméia.

Isto é conseguido na minha colméia ajustando os blocos (Lâmina III, Fig. 11 e 12) para regular a entrada.

14. Deve permitir ao apicultor remover todos os favos velhos.

A parte superior do favo, por ser usada, geralmente, para o armazenamento de mel, ficará por muitos anos.

15. Deve fornecer toda a segurança necessária contra a infestação pela traça da cera.

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16. Deve fornecer ao apicultor algum lugar acessível, onde as larvas da traça da cera, quando completamente desenvolvidas, possam ser venti-ladas em seus casulos.

17. Deve possibilitar ao apicultor remover os favos para destruir as traças, se elas levaram vantagem sobre as abelhas.

18. Deve permitir que o fundo seja permanentemente fixado à colméia por conveniência para o transporte e para prevenir depredação pelas traças e larvas.

Mais cedo ou mais tarde existirão fendas entre o fundo móvel e as laterais da colméia através das quais as traças poderão en-trar e depositar seus ovos e nas quais as larvas, quando total-mente desenvolvidas, tecerão suas teias. Na minha colméia não existe local por onde a traça possa entrar, exceto pela entrada das abelhas a qual pode ser restringida ou alargada para se a-justar à força da colônia; que, por sua forma peculiar, pode ser facilmente defendida pelas abelhas. Se, no entanto, alguém pre-ferir fundo móvel ele pode ser usado na minha colméia.

19. O fundo deve ser inclinado para a entrada a fim de facilitar a retirada das abelhas mortas e outros materiais sem uso; ajudar a colônia a se proteger contra pilhadoras; remover a umidade e prevenir que a água da chuva escorra para dentro da colméia.

20. O fundo deve permitir, em clima frio, retirada fácil das abelhas mortas.

Se as abelhas mortas permanecerem elas ficam mal cheiro-sas e prejudicam a saúde da colônia. Ao arrastá-las para fora, quando o clima melhora, as abelhas, muitas vezes, caem com e-las sobre a neve e ficam sub resfriadas a ponto de não mais alça-rem vôo; a abelha, ao voar para fora com uma abelha morta, fre-qüentemente segura sua carga até ambas cairem no solo.

21. Nenhuma parte do interior da colméia deve ficar abaixo do nível da saí-da.

Se este princípio for violado, as abelhas terão de, com grande esforço, arrastar as mortas bem como demais detritos da colméia morro acima.

22. Deve apresentar facilidades para a alimentação das abelhas, tanto em clima ameno como no frio.

Neste aspecto a colméia de quadros móveis tem uma vanta-gem incomum. Com clima ameno sessenta colônias podem, em menos de uma hora, receber um quarto1 de comida, sem ne-

1 Segundo Miclaelis - Um quarto: medida para líquidos = l/4 de um galão. N. T.

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nhum alimentador, e sem risco de pilhagem.

23. Deve permitir o alojamento fácil do enxame, sem maltratar qualquer a-belha ou colocar em risco a vida da rainha.

24. Deve permitir o transporte seguro das abelhas a qualquer distância.

O fundo fixo, o favo firmemente preso aos quadros separá-veis e a facilidade com que o ar pode ser dado às abelhas confi-nadas recomendam o uso da minha colméia para o transporte.

25. Deve permitir o fornecimento de ar para as abelhas quando a entrada, por qualquer razão, tiver de ser totalmente fechada.

26. Deve fornecer facilidades para alargar, reduzir e fechar a entrada, para proteger as abelhas contra as pilhadoras e a traça da cera; e, quando a entrada for alterada, as abelhas não devem, como na maioria das col-méias, perder tempo valioso procurando-a.

27. Deve garantir a ventilação necessária sem aumentar em demasia a en-trada para não expor as abelhas às traças e às pilhadoras.

28. Deve fornecer facilidades para as abelhas alcançarem, prontamente, o ar a fim de poderem, em dias agradáveis no Inverno ou início da Prima-vera, voar e se desfazerem das fezes.

Se não existir uma saída livre para o ar, as abelhas, por per-derem uma oportunidade favorável de se desfazerem das fezes, podem sofrer de doenças provocadas pelo prolongado confina-mento.

29. Deve dar condições ao apicultor de remover o excesso de pão de abe-lha das colônias. (Ver página 82).

30. Deve dar condições ao apicultor de transferir favos, cria e estoques de uma colméia comum para uma colméia melhorada, de modo que as abelhas consigam fixá-lo em sua posição natural. Uma colônia transfe-rida para a minha colméia fará os reparos em seus favos em poucos di-as e voltará a trabalhar como antes de sua remoção.

31. Deve permitir um seguro e fácil desalojamento das abelhas da colméia.

Este requisito é especialmente valioso quando for necessário acabar com colônias fracas e uní-las a outras.

32. Deve permitir às abelhas, como também ao calor e ao odor do ninho, que passem, da forma mais livre possível, para as melgueiras

A este respeito, todas as colméias que conheci são mais ou menos deficientes: as abelhas são forçadas a trabalhar em mel-gueiras de difícil acesso, nas quais, em noites frias, é impossível manter o calor necessário para a construção de favo. As abelhas não conseguem, em tais colméias, trabalhar com vantagem em

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recipientes de vidro, ou outros recipientes pequenos. Um dos mais relevantes sistemas da minha colméia é aquele pelo qual o calor passa para as melgueiras tão naturalmente quanto o ar quente sobe para o topo de uma peça aquecida.

33. Ela deve permitir a retirada do excesso de mel da forma mais conveni-ente, bonita e econômica, sem risco de importunar as abelhas.

Em minhas colméias, o mel em excesso é armazenado, numa câmara superior, dentro de quadros, em copos, caixas de vidro, caixas de madeira pequenas ou grandes, jarros de cerâmica, po-tes floridos, em poucas palavras, em qualquer tipo de recipiente que atenda a imaginação ou conveniência do apicultor. Ou tudo isto pode também ser dispensado e o mel colhido do interior do ninho, removendo os quadros completos e colocando em seu lu-gar outros vazios.

34. Deve permitir remoção fácil do mel de alta qualidade, para em seu lugar as abelhas receberem um produto de qualidade inferior.

Em regiões onde o trigo mouro é cultivado, todo lugar vago, criado pela remoção do mel da colméia, será cheio imediatamen-te.

35. Quando a quantidade e não a qualidade for o objetivo pode se conse-guir rendimento máximo e o excesso obtido em colônias fortes pode ser fornecido, no Outono, para as que não dispõem de suprimento suficien-te.

Na minha colméia por empilhamento de caixas de mesmas dimensões e transfência de favos para estas caixas, as abelhas, quando construírem novos favos, descer e encher os quadros in-feriores, usando, assim que a cria emergir, a caixa superior para o armazenamento de mel. Os favos desta caixa, contendo uma grande quantidade de pão de abelha e sendo de tamanho adap-tado para a criação de operárias, estarão perfeitamente adequa-dos para serem fornecidos a colônias fracas.

36. Deve permitir direcionar a força de uma colônia para criar abelhas; esta cria estará disponível para formar novas colônias e fortalecer famílias fracas.

37. Deve ser construída de tal forma que, quando bem protegida das in-tempéries, o sol possa, nas manhãs da Primavera, pelo aquecimento da colméia, encorajar a criação.

38. A colméia deve ser igualmente bem adaptada para ser usada para en-xameação como para não enxameação.

Em minhas colméias as abelhas podem enxamear como nas

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colméias comuns e serem manejadas pelo sistema comum. Mesmo com este manejo, o controle dos favos trará vantagens pouco comuns.

Colméias que não enxameiem, mas são manejadas da forma comum, podem, a despeito de todas as precauções, enxamear i-nesperadamente. Em minhas colméias a partida da rainha pode ser evitada - o enxame não partirá sem ela.

39. Deve permitir ao apicultor prevenir que um novo enxame abandone a colméia.

Esta ocorrência vexatória pode sempre ser evitada, ajustando a entrada de forma que, por alguns dias, a rainha não possa sa-ir.

40. Deve possibilitar ao apicultor, caso ele queira, permitir que suas abe-lhas enxameiem e, se quiser assegurar excesso de mel, consiga preve-nir que elas enxameiem mais de uma vez durante a estação.

41. Deve permitir ao apicultor que confia na enxameação natural, e espera multiplicar suas colônias tão rápido quanto possível, fazer famílias vigo-rosas de todos os enxames secundários.

Tais enxames contem rainha jovem e, se eles puderem ser fortalecidos com critério, se transformarão, normalmente, nas melhores famílias. Minhas colméias permitem suprir todos estes enxames de uma só vez com favos contendo pão de abelha, mel e cria madura.

42. Deve permitir ao apicultor multiplicar suas colônias com certeza e rapi-dez o que é impossível se ele depender da enxameação natural.

43. Deve permitir ao apicultor suprir as colônias destituídas de rainha com meios que lhes permitam obter uma nova rainha.

Todo apicultor, por esta única razão, deveria considerar uma vantagem possuir, pelo menos, uma destas colméias.

44. Deve permitir capturar a rainha, por qualquer motivo; especialmente pa-ra remover uma velha cuja fertilidade esteja diminuindo por causa da idade.

45. A colméia ideal deve estar adaptada às necessidades dos que desejam manejar suas colônias pelos melhores métodos, bem como às vontades dos que por timidez, ignorância ou outra razão preferem o método co-mum

46. Deve permitir a um único apicultor tomar conta das colônias de diferen-tes indivíduos.

Muitas pessoas gostariam de manter abelhas se um apiário,

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como um jardim, pudesse ser administrado por um indivíduo competente. Nenhuma pessoa pode concordar em fazer isto com colméias comuns. Se for permitido que as abelhas enxameiem ele seria chamado para diferentes lugares concomitantemente e se ocorresse algum acidente, como a perda da rainha, na colônia do seu cliente, ele não teria como corrigir.

Na minha proposta de colméia, a atividade deste perspicaz inseto pode ser testemunhada pelos que o desejarem, e também gratificar seus paladares com o delicioso produto colhido em sua própria propriedade sem incorrer nem em problema nem em a-borrecimento.

47. Todas as juntas da colméia devem ser à prova de água e não deve e-xistir entrada ou abertura que possa inchar encolher ou se desfazer.

O valor deste requisito será óbvio para todo aquele que tenha convivido normalmente com a experiência irritante de tais insta-lações.

48. Deve permitir ao apicultor dispensar totalmente coberturas ou apiários custosos; a própria colméia deve resistir ao calor, ao frio, à chuva e à neve.

49. Deve ter condições de não ser derrubada por ventos fortes.

Minhas colméias podem ser colocadas tão baixo, nos locais com ventos fortes, que seria necessário quase um furacão para lhes causar dano.

50. A colméia ideal deve ter sua pista de pouso construída de forma a pro-teger as abelhas do vento e da umidade, facilitando ao máximo sua en-trada com cargas pesadas.

Se esta precaução for negligenciada a colônia não poderá ser encorajada a usar, com a melhor vantagem, os dias não promis-sores que ocorrem, freqüentemente, na estação de trabalho.

51. A colméia ideal deve proteger do saque destrutivo pelo rato durante o Inverno.

Quando o clima frio se aproxima, todas as minhas colméias podem ter sua entrada reduzida com blocos móveis de modo que o rato não possa entrar.

52. Deve permitir que as abelhas circulem sobre os favos livremente tanto no Verão como no Inverno.

Esta intercomunicação livre que facilita o trabalho da colônia durante o Verão é, no frio Inverno, freqüentemente indispensável

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para a vida da colônia.

53. Deve permitir que o mel, depois que a coleta terminou, seja armazena-do onde as abelhas mais precisam dele.

Se a última parte da estação for desfavorável, os favos cen-trais, nos quais a colônia normalmente hiberna, devem conter muito pouco mel, enquanto os outros devem estar bem supridos; em colméias onde isto não possa ser remediado ocorre, freqüen-temente, a perda das abelhas.

54. Deve permitir que, no Outono, se deixe um suprimento generoso de mel na colméia sem detrimento seja para as abelhas seja para seu do-no.

As abelhas poderão passar fome se for retirado muito mel e se o Inverno se mostrar muito desfavorável. Nas colméias co-muns, caso permanecer mel em demasia, ele não poderá ser re-movido na Primavera e será assim uma perda pior para o apicul-tor, pois ocupará o espaço necessário para o desenvolvimento da cria.

55. Deve permitir ao apicultor remover para local seguro os favos, que não puderem ser protegidos pelas abelhas.

Quando uma colônia fica muito reduzida em número seus favos desprotegidos podem ser destruídos por permitir que a tra-ça neles se abrigue; ou que seus ricos estoques de mel tentem as pilhadoras de os roubar. Nas colméias comuns freqüentemente nada pode ser efetivamente feito para prevenir estas casualida-des.

56. Deve permitir aumentar ou reduzir o espaço de melgueiras sem alterar ou destruir as partes existentes da colméia.

Se isto não for possível a força produtiva da colônia, em al-gumas estações, será grandemente diminuída.

57. Deve ser compacta para economizar, se possível, cada polegada de material em sua construção.

58. A colméia, por ter uma aparência asseada, deverá permitir, caso dese-jável, ser feita muito ornamental.

59. Deve permitir ao apicultor fechar suas colméias de forma barata e con-veniente.

Uma vez que o fundo da minha colméia não é móvel, o con-teúdo da colméia, quando fechada, só pode ser alcançado pela destruição da mesma.

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60. Deve permitir que o conteúdo da colméia - abelhas, favos e tudo - seja retirado quando ela precisar de algum reparo.

Uma vez que é possível retirar a qualquer hora e reparar os quadros móveis eles podem durar por gerações.

61. A colméia ideal, que possuir todos estes requisitos deve, se possível, combiná-los de forma barata e simples, adaptada aos desejos de todos que tenham competência para criar abelhas.

Alguns podem imaginar, ao ler esta longa lista de desejáveis, que nenhuma colméia pode atender a todos sem ser extrema-mente complicada e custosa. Pelo contrário, o baixo custo e a simplicidade com que a colméia de quadros móveis realiza isto é sua mais surpreendente façanha e o que me custou mais empe-nho do que todos os outros pontos. As abelhas podem trabalhar nesta colméia até mesmo com mais facilidade do que numa caixa simples, uma vez que os quadros, embora rudes por causa da serra, lhes fornecem um suporte admirável para a construção dos favos; as abelhas podem acessar as melgueiras reservas mais facilmente do que poderiam acessar a parte superior da caixa colméia comum com igual altura.

Existem alguns aspectos desejáveis os quais minha colméia, mesmo que fosse perfeita, não tem pretensão de atender!

Ela não promete resultados esplêndidos àqueles que são muito ignorantes ou tão negligentes a ponto de não ser possível lhes confiar o manejo das abelhas. Na apicultura, como em toda outra atividade, o homem deve primeiro entender do seu negócio e depois proceder segundo a velha e boa máxima: "a mão do dili-gente produz riqueza".

Não existe talismã que possa converter uma situação ruim para mel numa boa; ou que, seja a estação produtiva seja im-produtiva, o apicultor consiga uma colheita abundante. Da mesma forma o fazendeiro deve buscar uma espécie de trigo que renda grandes colheitas em qualquer solo e em toda estação.

Ela não possibilitará ao criador, enquanto multiplicando ra-pidamente seu plantel, garantir a maior colheita de mel de suas abelhas. Assim como poderia pretender o criador de frangos num mesmo ano e de um mesmo plantel criar o maior número de ga-linhas e vender o maior número de ovos.

Pior do que tudo, ela não consegue trazer as muitas vanta-gens enumeradas e ainda ser construída em pouco tempo, ou

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quase tão barata quanto uma colméia que, no final, custe uma verdadeira barganha!

Durante a concepção da minha invenção, ao mesmo tempo em que concedi, sem dúvida, valor inadequado a alguns pontos, me empenhei constantemente em evitar a construção de uma colméia segundo teorias não confirmadas ou meras conjecturas. Estudando cuidadosamente a natureza das abelhas, por muitos anos, e comparando minhas observações com as de outros escri-tores e criadores que dedicaram suas vidas para ampliar o cabe-dal do conhecimento apícola, empenhei-me em resolver as mui-tas dificuldades com as quais a apicultura é acossada, adaptan-do minha invenção aos hábitos reais e necessidades do inseto. Testei também os méritos desta colméia com prolongados e con-tínuos experimentos feitos em grande escala, para não acrescen-tar, iludindo tanto a mim quanto aos outros, mais uma aos dis-positivos sem uso que já enganaram e deixaram desgostoso um público tão crédulo. Gostaria, no entanto, de insistir veemente-mente que não imagino ter concebido uma colméia perfeita. A perfeição pertence apenas aos trabalhos feitos por Ele, cujo olho onisciente está presente em todas as causas e efeitos, com todas as suas relações, quando ele falou, e que do nada fez o Universo. Para o homem colocar o rótulo de perfeição sobre qualquer tra-balho seu é mostrar tanto sua insensatez quanto sua presunção.

A criação de abelhas encontra-se, confessadamente, em de-cadência neste país onde milhares podem ser induzidos a com-prar colméias que estão em berrante agressão aos mais claros di-tos do bom senso, bem como aos princípios simples do conheci-mento apícola. As perdas dos iludidos compradores foram tais que não é surpresa se eles se afastem de tudo que seja oferecido na forma de uma colméia patenteada como o pior conceito, se não uma ultrajante fraude.

A influência das assim chamadas "Colméias Melhoradas" foi tão nociva que, como regra geral, somente aqueles que usaram colméias da forma mais simples obtiveram algum lucro de suas abelhas. Eles não gastaram nem tempo, nem dinheiro, nem abe-lhas com dispositivos que não asseguram ser uma colméia supe-rior, em comparação, a uma simples caixa colméia.

Uma colméia de construção tão simples quanto possível, é uma imitação muito próxima da residência das abelhas em esta-do natural; nada mais do que um mero buraco abrigo onde, pro-tegidas do clima, elas podem acumular suas reservas. Uma col-

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méia melhorada, é uma que conta, adicionalmente, com um compartimento separado onde as abelhas podem armazenar o excesso de mel para o homem. A maioria das colméias de uso comum são apenas modificações desta última colméia e, como regra geral, são ruins, exatamente na proporção daquilo de onde partiram. Elas tentam o apicultor comum a um início nocivo num caminho batido, mas elas não fornecem a ele nenhum re-médio para a perda da rainha, ou para as casualidades a que as abelhas estão expostas. Tais colméias, por esta razão, não criam nenhuma base sólida para um sistema melhorado de manejo e, conseqüentemente, a criação de abelhas, neste país, decaiu nos últimos cinqüenta anos e os apicultores estão tão dependentes como sempre dos caprichos de um inseto que, mais do que qual-quer outro dos seus animais domésticos, pode ser submetido, in-teiramente, ao seu controle.

Gostaria de lembrar, respeitosamente, que nenhuma colméia que não permita controle total sobre todos os favos pode trazer avanço substancial de melhoria sobre uma simples caixa colméi-a, como a necessidade dos apicultores está a pedir. Destas col-méias, as melhores são aquelas que melhor unem baixo custo e simplicidade, com proteção no Inverno e pronto acesso às mel-gueiras reservas.

Tendo assim enumerado os testes a que todas as colméias devem se sujeitar, submeto-as à consideração imparcial dos que, tendo a maior experiência no manejo das abelhas, estão familia-rizados com os males do sistema atual. Se, pelo resultado de um teste completo, eles concluírem que a colméia de quadros móveis está aprovada, eles podem se dispor a endossar a manifestação entusiástica de um experiente apicultor que, ao examinar sua praticidade, declarou que "ela introduz não só uma melhoria mas uma revolução completa na apicultura".

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CAPÍTULO IX

EEENNNXXXAAAMMMEEEAAAÇÇÇÃÃÃOOO NNNAAATTTUUURRRAAALLL EEE AAALLLOOOJJJAAAMMMEEENNNTTTOOO DDDEEE EEENNNXXXAAAMMMEEESSS

A enxameação das abelhas é uma das mais belas visões em toda a extensão da economia rural. Embora muitos dos que u-sam colméias de quadros móveis prefiram a multiplicação artifi-cial das colônias, apenas alguns estão totalmente dispostos a a-brir mão do prazer excitante da enxameação natural.

"Up mounts the chief, and to the cheated eye Ten thousand shuttles dart along the sky; As swift through aether rise the rushing swarms, Gay dancing to the beam their sun-bright forms; And each thin form, still ling´ring on the sight, Trails, as it shoots, a line of silver light. High pois´d on buoyant wing, the thoughtful queen, In gaze attentive, views the varied scene, And soon her far-fetch´d ken discerns velow The light laburnum lift her polish´d brow, Wave her green leafy ringlets o´er the glade, And seen to beckon to her friendly shade. Swift as the falcons´s sweep, the monarch bends Her flight abrupt; the following host descends. Round the fine twig, like cluster´d grapes, they close In thickening wreaths, and court a short repose."

Evans

A multiplicação das colônias pela enxameação tanto preserva as abelhas do risco de sua extinção como também torna o seu trabalho altamente útil ao homem. As leis de reprodução dos in-setos que não vivem em colônias regulares asseguram um gran-de crescimento de seu número. O mesmo é verdade para os que vivem em colônia apenas durante o clima quente como os ves-pões, vespas e mamangavas. Os machos morrem no Outono e as fêmeas fecundadas se recolhem durante o Inverno, permanecem dormentes até que o clima quente as recoloque em atividade e que cada uma possa se tornar mãe de uma família.

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A abelha, no entanto, é tão organizada que pode viver em comunidade durante todo o ano; enquanto a brisa perfumada da Primavera degela rapidamente o corpo gelado da vespa adorme-cida, a temperatura da abelha não cai abaixo de 50oF (10oC); é tão difícil animar uma abelha congelada como ressuscitar os ca-dáveres endurecidos no cemitério do Convento Great St. Ber-nard. As abelhas, em tempo frio, se reunem em grande número para manter a temperatura necessária à sua preservação; a for-mação de novas colônias, à semelhança dos hornets e vespas, está fora de questão. Mesmo que a nova rainha, à semelhança da mãe vespa, tenha condições, sem nenhuma ajuda, de fundar no-vas colônias ela não conseguiria o calor necessário para o desen-volvimento da cria. Se isto fosse possível, e elas tivessem, assim como as operárias, uma probóscide para apanhar o mel, cestas em suas pernas traseiras para carregar o pão de abelha e bolsas em seus abdomens para secretar cera, elas ainda seriam incapa-zes de acumular tesouros para uso do homem, ou manter esto-ques para sua própria sobrevivência.

Quão admiráveis são todas estas dificuldades criadas pela conjuntura existente! Estando seus domicílios supridos dos ma-teriais necessários as abelhas acrescentam milhares com todo o vigor da juventude à sua população já numerosa, enquanto os insetos dependentes do calor do sol ainda estão dormentes. Elas podem, assim, produir colônias inteiras mais cedo, fortes o sufi-ciente para tirar vantagem do fluxo de néctar, e suprir a nova co-lônia em preparação para o Inverno. A partir destas considera-ções é evidente que a enxameação, longe de ser forçada ou ser um evento não natural, como alguns podem imaginar, é tal que não é dispensada no estado natural.

Investiguemos, agora, em que circunstância a enxameação normalmente ocorre.

A época em que novos enxames são esperados, sem dúvida, depende do clima, do adiantamento da estação e da força da co-lônia. Nos estados do Norte e do Centro eles saem, freqüente-mente, antes do final de maio; junho pode ser considerado como o grande mês da enxameação. Em Brownsville, Texas, baixo Rio Grande, as abelhas enxameiam, muitas vezes, no início de mar-ço.

Na Primavera, assim que a colméia estiver cheia1 de favo e

1 Nos estados do Norte e do Centro, as abelhas raramente enxameiam a menos

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não conseguir mais acomodar sua fervilhante população, as abe-lhas se preparam para emigrar construindo um certo número de realeiras. Estas células são iniciadas quando os zangões apare-cem no ar; os machos já são, normalmente, muito numerosos quando as princesas atingem a maturidade.

O primeiro enxame é liderado, invariavelmente, pela rainha velha, a menos que ela tenha morrido por acidente ou doença, quando, então, o enxame será acompanhado por uma das prin-cesas criadas para repor a perda. A velha mãe, a menos que reti-da por causa do clima desfavorável, deixa, normalmente, a colô-nia um pouco antes de uma ou mais das realeiras serem opercu-ladas.1 Não existem sinais a partir dos quais o apicultor possa prever a saída do primeiro enxame. Por anos, despendi muito tempo na vã esperança de descobrir alguns indicativos infalíveis da primeira enxameação; até que os fatos me convenceram que não existem tais indicativos. Se o clima for desfavorável ou as flores estiverem com fluxo de néctar insuficiente, as abelhas, fre-qüentemente, mudam suas intenções e se negam totalmente a enxamear, mesmo que sua preparação esteja completa, como o viajante que tenha fechado a mala, elas já estejam com sua vesí-cula melífera cheia para a pretendida viagem.

Se na época da enxameação, num dia claro, calmo e quente, quando as outras colônias estiverem atarefadas no trabalho, a-penas algumas abelhas deixarem uma colônia forte podemos procurar um enxame com grande esperança de o encontrar, a menos que o clima se torne repentinamente desfavorável. Como a rainha que acompanhará o primeiro enxame está pesada por causa dos ovos ela voa com muita dificuldade a ponto de se re-cusar a sair, exceto se os dias forem propícios e calmos. Se o clima estiver sufocante o enxame sai, algumas vezes, tão cedo quanto sete da manhã; mas o horário normal é a partir das dez da manhã até duas da tarde; a maioria dos enxames aparece quando o sol está a menos de uma hora do apogeu. Ocasional-mente um enxame se aventura tão tarde quanto cinco da tarde; uma rainha velha raramente pode ser acusada destas imprudên-cias.

Repetidamente testemunhei, em meu núcleo de observação,

que a colméia esteja cheia de favo; no Sul, no entanto, o instinto enxameatório parece ter muito mais força. Em Matamoras e Brownsville vi muitas colônias saí-rem de colméias com poucos favos. 1 Ver página 125. N. T.

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todo o processo da enxameação. No dia definido para sua partida a rainha fica muito impaciente e, em vez de depositar seus ovos nos alvéolos, circula pelos favos e comunica sua agitação para toda a colônia. As abelhas que emigrarão enchem-se de mel, normalmente um pouco antes da partida, mas numa ocasião eu as vi atacar os suprimentos mais de duas horas antes de partir. Momentos antes de o enxame partir, algumas abelhas podem ser vistas no ar, com suas cabeças voltadas sempre para a colméia; ocasionalmente elas voam para lá e para cá, como se estivessem impacientes pelo grande evento que está prestes a acontecer. Ato contínuo se instala uma violenta agitação na colméia; as abelhas parecem ficar frenéticas, rodopiam em círculos continuamente ampliados, como os feitos por uma pedra jogada numa água calma, até que, finalmente, a colméia como um todo está fervi-lhando e as abelhas, correndo impetuosamente para a entrada, emanam numa corrente contínua. Não é vista uma abelha ficar para trás, cada uma toma a dianteira, como se voassem "for dear life," ou impelidas por uma força invisível em sua impetuosa saí-da.

Muitas vezes a rainha só sai depois que muitas abelhas saí-ram; ela é, freqüentemente, tão pesada, por causa do número de ovos em seus ovários, que cai ao chão, incapaz de se manter no ar com sua colônia. As abelhas perdem-na e uma cena muito in-teressante pode ser testemunhada. As abelhas fazem uma busca minuciosa por sua mãe perdida; o enxame se espalha em todas as direções, as folhas das árvores e dos arbustos próximos ficam, muitas vezes, quase completamente cobertos por exploradoras ansiosas, como gotas depois de uma chuva copiosa. Se ela não for encontrada, elas normalmente retornam para a velha colméi-a, em cerca de cinco a quinze minutos, embora ocasionalmente elas tentem entrar numa colméia estranha ou se unir a outro enxame.

O soar de sinos, e bater em tachos e frigideiras não é, prova-velmente, nenhum pouco mais eficaz do que o horrível barulho de algumas tribos indígenas que, imaginando que o sol, num e-clipse, foi engolido por um enorme dragão, recorrem a tais meios para compelir a serpente a vomitar sua luminária favorita.

Aqueles que nunca praticaram o taborilar nunca viram um enxame sair e pousar. Ainda, como um do "sons do país", e como uma relíquia dos tempos antigos, até mesmo o apicultor mais prático pode desculpar, prontamente, o entusiasmo daquele di-

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vertido escritor do London Quarterly Review que escreveu o se-guinte:

"Numa excelente e morna manhã de maio ou junho a atmos-fera inteira parecia viva com milhares de abelhas circulando e zunindo, indo e vindo, rodando em círculos rápidos, como um grupo enlouquecido. A boa dona de casa sai com a frigideira e a chave - o ortodoxo instrumento de soar - e não cessa sua rude música até que as abelhas tenham pousado. Este é um dos cos-tumes, tão velho quanto o nascimento de Júpiter, divertido e ex-citante da vida do homem do campo; existe um impresso colorido antigo, de uma campainha de abelha, que se encontra, ocasio-nalmente, nas paredes das casas do interior, que nos causa fas-cinação e nos faz lembrar do clima claro e ensolarado no dia mais lúgubre de novembro. Se, como diz Aristóteles, ele as afeta por prazer ou medo ou se, ao contrário, elas nada ouvem1 é ain-da tão incerto quanto aquele filósofo o deixou; mas não podemos desejar sucesso a nenhum mestre apícola que despreze a tradi-ção se ele perder todo enxame para o qual ele deixar de realizar o concerto na hora certa."

Se, antes de sua partida, um enxame tiver selecionado uma nova morada, nenhum ruído o fará pousar, mas, assim que a co-lônia em migração tiver deixado a colméia, elas voam numa "li-nha-abelha" para o local escolhido. Verifiquei, que esta partida sem cerimônia parece quase comum quando as abelhas estão abandonadas, mas raramente acontece quando elas são bem cuidadas.

Quando o apicultor percebe que um enxame em vez de se amontoar sobe mais e mais no ar e parece partir, não pode ser perdido nenhum instante; em vez de ruídos sem sentido, ele deve lançar mão de meios muito mais efetivos para sustar seu impul-so errante. Jogar água ou areia sobre elas, muitas vezes, as de-sorganizará tento que serão compelidas a pousar. De todos, o método mais original para fazê-las pousar é lançar sobre elas os raios do sol com o uso de um espelho! Nunca tive ocasião de ex-perimentá-lo, mas um escritor anônimo diz que nunca soube de ter falhado. Se elas forem forçadas a ficar é quase certo que elas sairão, imediatamente depois de serem alojadas, rumo à sua mo-radia escolhida, a menos que a rainha seja presa. Se existir al-

1 O pipio da rainha como um guincho, um som metálico, pode possivelmente ser superado pelo repicar distraindo as abelhas que tentam acompanhá-la e as faz pousar.

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guma razão pela qual se espera a deserção e não se consiga prender a rainha as abelhas podem ser levadas para o porão e mantidas em escuridão total, até o por do sol do terceiro dia, sendo supridas, durante este tempo, com água e mel para cons-truirem seus favos. As mesmas precauções devem ser usadas quando enxames fugitivos são re-alojados.

É muito fácil prevenir que uma nova colônia abandone a colméia de quadros móveis, regulando a entrada para que a ope-rária carregada passe, mas a rainha não; o enxame raramente abandonará a colméia se for fornecido, para a nova colônia, um pedaço de favo contendo cria não operculada.

Logo depois de alojar um enxame pode ser verificado se ele pretende ou não abandonar a colméia. Se, ao aplicar o ouvido à lateral da colméia, for possível ouvir um som como de roer ou fricção as abelhas estão se preparando para construir favo, ra-ramente levantam acampamento.

Se a colônia decidir ir elas enxergam a colméia na qual foram colocadas apenas como um local de parada temporária e rara-mente se empenham em construir favo. Se a colméia permitir inspeção, é possível reconhecer, só em olhar, quando as abelhas estão aborrecidas com sua nova residência e pretendem abando-ná-la. Elas não só se recusam a trabalhar com a energia caracte-rística de um novo enxame, mas sua atitude real, se penduran-do, como elas fazem, com ar teimoso ou arrogante, odiando, a ponto de apenas tocar sua casa detestada, dizem para um olhar experimentado que elas são ocupantes teimosas e pretendem ca-ir fora assim que puderem. Numerosos experimentos para incitar as abelhas a trabalhar em núcleo de observação, expostas a toda a luz do dia, desde o instante em que foram alojadas, em vez de mantê-las, como faço agora, na escuridão por vários dias, me deixaram familiar com todo este procedimento de nada fazer an-tes de partir.

As abelhas, algumas vezes, abandonam suas colméias muito cedo na Primavera ou final do Verão ou Outono. Embora exibam uma aparência de enxameação natural, elas partem, não porque a colméia esteja congestionada a ponto de elas desejarem formar novas colônias, mas porque a colméia é ou muito pequena ou tão destituída de suprimentos, que elas chegaram ao desespero. Pa-rece que elas têm um pressentimento de que irão perecer se fica-rem e, em vez de esperar a aproximação certa da fome, elas par-tem para ver se não conseguem melhorar a sua condição. Co-

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nheci uma colônia que passava fome deixar sua colméia num dia primaveril de dezembro.

Parece estranho que o instinto de um inseto tão previdente não o leve a selecionar um domicílio adequado antes de se aven-turar a abandonar sua velha morada; uma vez que, antes de es-tarem novamente alojadas elas ficarão expostas à força dos ven-tos e chuvas copiosas que açoitam e destroem muitos dos seus membros.

Resolvi este problema-abelha, assim como muitos outros, considerando como o atual sistema pode trazer vantagem para o homem.

As abelhas seriam de muito pouca serventia para o homem se, em vez de permanecer até que ele tenha tempo para as alojar, seus instintos as incitassem a levantar acampamento, sem de-mora, fugindo da domesticação. Nesta, como em muitas outras coisas, vemos que aquilo que, à primeira vista, parece uma im-perfeição óbvia, se prova, após exame cuidadoso, ser um artifício especial para responder a objetivos relevantes.

Retornando ao nosso novo enxame. A rainha, algumas vezes, pousa primeiro e, outras vezes, se junta ao amontoado depois que ele começa a se formar. As abelhas não pousam, normal-mente, a menos que ela esteja entre elas; e quando pousam e se dispersam em seguida é porque, freqüentemente, depois da pri-meira subida com elas a rainha caiu, por estar exausta, em al-gum lugar onde não é encontrada pelas abelhas.

Percebendo que uma colméia estava prestes a enxamear eu, em duas ocasiões, reduzi a entrada a fim de prender a rainha quando ela aparecesse. Em ambos os casos, pelo menos um ter-ço das abelhas vieram antes que ela se juntasse a elas. Assim que o enxame cessou de procurar pela rainha e retornou para sua colméia, coloquei a rainha, com as asas cortadas, num galho de uma pequena árvore sempre-viva, ali a rainha se deslocou pa-ra o ponto mais alto do galho, aparentemente com o propósito claro de se tornar tão visível quanto possível. As poucas abelhas que primeiro a identificaram, em vez de pousar, se lançaram ra-pidamente para suas companheiras; em poucos segundos, toda a colônia foi informada de sua presença e, voando numa densa nuvem, começou a se reunir, calmamente, em torno dela. As abelhas quando em vôo se intercomunicam com rapidez tão sur-preendente que os sinais telegráficos raramente são mais instan-

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tâneos.

Não existe dúvida que as abelhas enviam batedoras para procurar uma residência apropriada. Os enxames se lançam di-retamente para sua nova casa, num vôo de cruzeiro, seja desde sua colméia seja do local onde elas se amontoaram depois de partir. Este vôo preciso para uma casa não conhecida seria cla-ramente impossível se alguns de seus membros, graças a explo-rações prévias, não fossem competentes em guiar os restantes. A visão das abelhas para objetos distantes é tão maravilhosamente acurada que, depois de atingir uma altura suficientemente ele-vada, elas podem ver, à distância de algumas milhas, qualquer objeto proeminente nas cercanias de sua casa pretendida.

É possível questionar se as abelhas enviam batedoras antes ou depois de enxamearem. Quando uma colônia voa para sua nova casa sem pousar, as batedoras devem ser enviadas antes da enxameação. Se isto fosse normal poderíamos esperar que to-da colônia fizesse a mesma partida veloz; se elas se amontoas-sem por conveniência da rainha, ou por fatiga das abelhas, por causa do excitamento da enxameação, veríamos apenas uma permanência transitória. Em vez disto elas, muitas vezes, per-manecem até o dia seguinte e não são pouco freqüentes perma-nências mais prolongada. A parada das abelhas em seu vôo, pa-ra novamente se amontoarem, não é inconsistente com estas vi-sões; pois se o clima estiver quente quando elas se amontoam pela primeira vez, e o sol brilha diretamente sobre elas, elas mui-tas vezes partem antes de ter encontrado uma habitação ade-quada. A rainha de um enxame em migração, pesada por causa dos ovos e desacostumada a voar é, algumas vezes, compelida a pousar, antes de alcançar a casa pretendida. As rainhas, em tais circunstâncias, ocasionalmente relutam em levantar vôo nova-mente e as pobres abelhas tentam, algumas vezes, lançar as fundações de sua colônia em cercas, montes de feno, ou outros lugares não adequados.

O Mr. Wagner diz que conheceu um enxame de abelhas que se alojou em baixo do galho mais baixo de um carvalho isolado numa plantação de milho. Só foi descoberto durante a colheita de milho, em setembro. Os que o encontraram pensaram se tra-tar de um enxame recente e, ao derrubá-lo para dentro de uma colméia, quebraram três favos, cada um com oito polegadas qua-dradas (50cm2). O Mr. Henry M. Zollickoffer, Filadélfia, me in-formou saber de um enxame que pousou num salgueiro naquela

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cidade, num lote pertencente ao Hospital Pensilvânia; lá perma-neceu por algum tempo e os meninos jogaram pedras a fim de se apoderarem dos favos de mel.

A necessidade de batedoras ou exploradoras parece ser in-questionável a menos que possamos admitir que as abelhas te-nham a capacidade de voar segundo uma "linha aérea" até o bu-raco de uma árvore que elas nunca viram e que deve ser a única entre milhares que lhes serve de casa apropriada.

Estas visões são confirmadas pelas repetidas ocasiões em que algumas abelhas foram vistas espreitando de modo inquisi-dor o buraco de uma árvore, ou a cornija de uma construção, e foram, depois de muito tempo, seguidas pela colônia inteira.

Tendo descrito o método normalmente seguido pelo novo en-xame, quando deixado por conta de seu instinto natural retor-nemos à colônia materna da qual ele saiu.

Pelo grande número de abelhas que a abandonou podemos inferir, naturalmente, que ela deve estar quase despovoada. Co-mo as abelhas enxameiam na melhor parte do dia alguns su-põem que a população será refeita pelo retorno de um grande número dos campos; isto, no entanto, muitas vezes, não é o caso uma vez que é raro que muitas estejam ausentes da colméia na hora da enxameação. Para aqueles que limitam a fertilidade da rainha a quatrocentos ovos por dia a recomposição rápida da colméia, depois da enxameação, deve ser inexplicável; mas para os que tem visto ela botar de um a três mil ovos por dia não é nenhum mistério. Permanecem abelhas suficientes para executar as tarefas da colméia; como a velha rainha só parte quando exis-te uma população fervilhante, quando milhares de jovens estão emergindo diariamente, dezenas de milhares amadurecendo ra-pidamente, a colméia, em pouco tempo, estará tão populosa co-mo estava antes da enxameação.

Os que supõem que a nova colméia consiste inteiramente de abelhas jovens, forçadas a emigrar pelas mais velhas, se exami-narem detidamente o novo enxame encontrarão algumas com asas esfarrapadas por causa da idade e outras tão jovens a ponto de mal e mal terem condições de voar.

Depois que cessou o tumulto da enxameação nenhuma abe-lha que não partiu tenta se juntar à nova colônia e nenhuma que o fez tenta retornar. Não temos um meio seguro de saber o que determina algumas a sair e outras a ficar. Quão notável deve ser

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o sentimento que ocorre a um inseto para fazer com que, em al-guns minutos, perca de forma tão completa sua forte afeição pa-ra com a colméia velha que, ao se instalar num novo local, que dista a apenas alguns pés da original, não preste mais a mínima atenção para sua colméia original! Quando sua colônia recém a-lojada é transferida - depois que algumas saiam para o campo - do lugar onde a colméia com as abelhas alojadas foi instalada, ao retornarem, muitas vezes elas voam durante horas em círculos ininterruptos em volta do local onde a colméia transferida esteve; algumas vezes continuam a vã procura por suas companheiras até caírem de exaustão, perecem muito próximas da colméia ori-ginal.

Já foi dito que, se o clima é favorável, a velha rainha sai, normalmente, próximo do momento em que a princesa opercula-da se transforma em ninfa.1 Em cerca de uma semana uma delas eclode; e a questão a ser decidida é se mais alguma colônia ou nenhuma será formada naquela estação. Se a colméia estiver bem suprida de abelhas e a estação é sob todos os aspectos promissora a decisão é, geralmente, afirmativa; no entanto, em tais circunstâncias, algumas colônias fortes se recusam a enxa-mear mais de uma vez; enxameações repetidas das fracas ani-quila, seguidamente, tanto a colméia original como os enxames secundários.

Se as abelhas decidirem enxamear apenas uma vez, a pri-meira princesa a emergir, lhe sendo permitido seguir seu próprio caminho, corre imediatamente para as realeiras de suas irmãs e as ferroa até a morte. As abelhas a ajudam nesta tarefa assassi-na; elas cortam o berço das inocentes mortas (Lâmina XIV., Fig. 47, d) e removem as princesas. Seus corpos mortos podem ser encontrados, muitas vezes, no chão em frente da colméia.

Depois que a princesa emergiu de sua realeira de forma na-tural, as abelhas cortam fora a realeira (Lâmina XIV, Fig. 47, c), permanecendo apenas uma pequena xícara sem asa; mas se ela teve um destino violento, elas removem, normalmente, toda a re-aleira. Contando as xícaras sem asa podemos apurar quantas ra-inhas emergiram na colméia.

Se as abelhas da colônia original decidirem lançar um enxa-me secundário a primeira princesa a emergir é impedida de ma-tar as outras. É mantida uma guarda contínua em torno das rea-

1 Ver página 117. N. T.

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leiras e, assim que ela se aproxima das mesmas com intenções assassinas, ela é maltratada ou levada a entender por demons-trações menos corteses que, nem mesmo uma rainha, pode, sempre, tudo aquilo que deseja.

Da mesma forma que os seres humanos, quando impedidos de abrirem seu próprio caminho, ela se sente altamente ofendida quando assim repelida e o expressa através de uma sucessão de notas, um som agudo e zangado semelhante à pronúncia rápida das palavras "peep, peep". Se for mantida na mão fechada, ela fará um som semelhante. Uma ou mais princesas que ainda não emergiram responderão a este som zangado de uma forma áspe-ra, como um galo cantando proposta de desafio a seus rivais. Es-tes sons, totalmente diferentes do usual calmo zumbido das abe-lhas, ou o ruído vibrante das princesas não emergidas, são tam-bém indicações infalíveis que brevemente sairá um segundo en-xame. Por vezes eles são altos a ponto de serem ouvidos a algu-ma distância da colméia. Cerca de uma semana depois da pri-meira enxameação o apicultor pode colocar seu ouvido contra a colméia, pela manhã ou à tarde quando as abelhas estão calmas, e se a rainha estiver "piando" ele reconhecerá imediatamente seus sons peculiares. Dezesseis dias depois da partida do primei-ro enxame todas as princesas estão maduras, até a última, mesmo que ele tenha partido assim que as realeiras tenham sido começadas. Se estes sons não forem ouvidos durante este perío-do é uma indicação infalível que a primeira princesa não tem ri-vais; a enxameação na colméia acabou para aquela estação.

O segundo enxame parte normalmente no segundo ou tercei-ro dia depois de ser ouvido o piar; embora algumas vezes elas re-tardem a partida até o quinto dia, como conseqüência de uma si-tuação climática desfavorável. Ocasionalmente o clima é tão ru-im que as abelhas permitem a princesa mais velha matar as de-mais e se recusam a enxamear outra vez. Esta é uma ocorrência rara pois as rainhas jovens não são tão temerosas do clima quanto as velhas e algumas vezes se aventuram não apenas quando está nublado, mas até quando está chovendo. Se isto vi-er a acontecer e não for mantida uma atenção constante estes enxames são, freqüentemente, perdidos. Como o piar começa, normalmente, cerca de uma semana depois da primeira enxame-ação, o segundo enxame parte, normalmente, nove dias depois do primeiro; sabe-se, contudo, que ele pode partir tão cedo quan-to no terceiro e tão tarde quanto no décimo sétimo, mas estes casos são realmente raros.

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Acontece, freqüentemente, na agitação da enxameação que a guarda normal sobre as realeiras é relaxada e várias emergem simultaneamente e acompanham e enxame; neste caso as abe-lhas pousam em dois ou mais amontoados separados. Nos meus núcleos de observação vi, repetidamente, jovens princesas expo-rem suas línguas através de um buraco em suas realeiras supli-cando comida às abelhas. Se for permitido que elas saiam será possível ver que elas são pálidas e fracas, como outras abelhas jovens, e, por algum tempo não têm condições de voar; mas quando confinadas durante o tempo normal elas surgem colori-das e prontas para todas as emergências. Eu as tenho visto sair neste estado quando o excitamento provocado pela remoção dos favos da colméia elimina a guarda das realeiras.

Observei o seguinte caso memorável em Matamoras, México. Um enxame secundário abandonou a colméia em que foi alojado no segundo dia depois de ser alojado, instalando-se numa árvo-re. Ao examinar a colméia abandonada foram encontradas cinco jovens rainhas mortas no fundo. O enxame retornou para a col-méia e, na próxima manhã, mais duas rainhas mortas foram en-contradas. Como a colônia, depois disso, prosperou, pelo menos oito rainhas devem ter deixado a colméia materna num único en-xame!

Jovens rainhas, cujos ovários não estão sobrecarregados de ovos, são muito mais ágeis em vôo do que as velhas e, freqüen-temente, voam mais rápido da colônia materna antes de pousar. Depois da partida do enxame secundário a princesa mais velha que permaneceu deixa sua realeira; se for liberado um outro en-xame o piar pode ser ouvido; assim também antes da saída de cada enxame depois do primeiro. Algumas vezes pode ser ouvido por um curto período depois da partida do primeiro enxame se-cundário, mesmo quando as abelhas não têm mais a intenção de enxamear novamente. O segundo enxame secundário deixa a colméia, normalmente, no segundo ou terceiro dia depois do primeiro enxame secundário e os outros em intervalos de cerca de um dia. Já vi sairem cinco enxames de uma colméia em me-nos de duas semanas. Sabe-se que nos locais de clima quente são liberados, de uma única colméia, mais do que o dobro deste número de enxames durante uma estação.

Na enxameação secundária, algumas vezes, a princesa re-torna para a colméia depois de ter aparecido no alvado. Se ela fi-zer isto uma vez ela está em condições de fazê-lo repetidas vezes

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e o enxame, a cada vez, retornará para a colméia materna.

No apiário de um amigo em Matamoras quando o primeiro enxame partiu não havia árvore para ele pousar. O vento estava forte, as abelhas não conseguiram se afastar das proximidades da colméia e começaram a pousar numa colméia próxima à sua própria. Ainda que a rainha tenha ficado com uma parte de sua colônia uma grande parte do enxame entrou na colméia vizinha. Quando esta colméia enxameou, embora uma árvore tivesse sido instalada para que o enxame nela se amontoasse, as abelhas que retornaram na primeira ocasião, fizeram o mesmo novamente, arrastando com elas o resto de suas companheiras. O único meio pelo qual podemos obter um único enxame, será colocando uma cobertura sobre todas as colméias do apiário assim que uma en-xamear e assim as abelhas, não conseguindo atravessá-la, fica-rão compelidas a pousar! Seria difícil encontrar uma ilustração melhor para a tolice em negligenciar o velho provérbio, "Um pon-to de tricô a tempo salva nove".

Os enxames secundários ou casts - este nome é dado a todo enxame depois do primeiro - reduzem seriamente a força da col-méia materna; pois quando eles saem praticamente toda a cria deixada pela rainha velha emergiu e não será posto mais ne-nhum ovo até que termine a enxameação. É uma opção inteli-gente o segundo enxame sair só depois que todos os ovos deixa-dos pela primeira rainha tenham eclodido e a cria tenha sido o-perculada, assim não haverá cria para ser alimentada. Partir en-tes deixaria poucas atendentes para as necessidades da cria. Se depois da enxameação o clima se tornar repentinamente frio e a colméia for fina, ou o apicultor mantiver a ventilação que era ne-cessária somente para a colônia congestionada, a família velha não terá condições de manter o calor e grande parte da cria, se-guidamente morre.

Os benefícios de enxameações tão freqüentes para o apiário serão discutidos no próximo capítulo. Se o apicultor não desejar enxames secundários ele pode prevenir sua partida com a minha colméia. Cerca de cinco dias depois da primeira enxameação a colméia materna deve ser aberta e todas a realeiras removidas com exceção de uma. Se feito antes desta data as abelhas podem iniciar outras no lugar das removidas. Somente aqueles que ten-taram ambas as formas saberão que esta forma é melhor do que tentar devolver os enxames secundários para a colméia materna. O apicultor que desejar multiplicar suas colméias pela enxamea-

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ção natural tão rapidamente quanto possível, encontrará orien-tações completas, em seqüência, para desenvolver todos os en-xames secundários, mesmo que pequenos, até se tornarem famí-lias vigorosas.

Deve ser lembrado que tanto a colônia materna da qual os enxames partiram, como todas as demais colônias, com exceção da primeira, têm princesa jovem. Estas princesas não deixam a colônia para serem fecundadas a não ser depois de se estabele-cerem como líderes de famílias independentes. Elas geralmente saem com este propósito, no início da tarde do primeiro dia a-gradável depois de ficarem conscientes de a que horas os zan-gões estão voando em maior número. Ao deixar sua colméia elas voam com suas cabeças voltadas para ela, muitas vezes entran-do e saindo diversas vezes, antes de finalmente se elevarem no ar. Estas precauções por parte da princesa são altamente neces-sárias uma vez que ela não pode, ao retornar, perder sua vida, por um erro, tentando entrar numa colméia estranha. Mais rai-nhas são perdidas desta forma do que de qualquer outra.

Quando uma jovem princesa parte para ser fecundada, as abelhas ficam, muitas vezes tão alarmadas, por estarem sem a princesa, que voam da colméia como se tencionassem enxamear. Sua agitação é acalmada imediatamente quando ela retorna a salvo.

Os zangões perecem no ato de fecundação da rainha. Cor-tando o zangão em dois pedaços, cada pedaço mantem sua vita-lidade por um longo tempo, acidentalmente comprovei, no Verão de 1852, que caso o seu abdômen seja suavemente pressionado e, algumas vezes, se vários são mantidos juntos na mão aqueci-da, o órgão do zangão é ejetado, com um estampido semelhante ao de pipoca estalando; o inseto, com um calafrio, se enrola e morre tão rapidamente como se tivesse sido golpeado de relâm-pago com um soco. Esta providência singular tem a intenção in-questionável de oferecer segurança adicional à rainha enquanto fora da colméia para acasalar com os zangões. Huber foi o pri-meiro a descobrir que ela retorna com os órgãos masculinos ar-rancados do zangão presos a seu corpo. Se não fosse assim, sua espermateca não ficaria cheia, a menos que a rainha permane-cesse mais tempo no ar com o zangão, incorrendo realmente num grande risco de ser devorada pelos passarinhos. Uma vez, alguns dias depois da fecundação de uma princesa, encontrei os

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órgãos do macho1, secos, presos tão firmemente a seu corpo, que

1 Na página 50 da tradução para o inglês do trabalho do Prof. Siebold sobre "Par-tenogênese" (ou seja, reprodução sem acasalamento com macho) "de Traças e A-belhas" pode ser encontrado o seguinte extrato da carta, datada de 21 de Julho, 1853, que o célebre apicultor alemão Barão Von Berlepsch escreveu para o Prof. Siebold.

"Hoje consegui espetar um alfinete numa rainha que tinha voado para acasalar, no momento em que ela re-entrava na colméia. Os sinais de fecundação estavam ali. *** Faria você a gentileza de identificar por dissecação: 1. se existem e quais as partes do zangão se encontram na vulva real; e 2. qual a condição do receptá-culo seminal. Se existirem partes do zangão que na vulva, admitir-se-á, pelo me-nos, que os zangões são os machos e que o acasalamento ocorre fora da colméi-a.*** Além disso, se você encontrar o receptáculo seminal cheio de sêmen, a hipó-tese de Dzierzon - de acordo com a qual o ovário não é fertilizado, mas o receptá-culo seminal é cheio com sêmen masculino do zangão, pelo acasalamento - será evidenciada."

O Prof. Siebold diz, que "ele tinha condições de confirmar, que aquelas partes dentro da vagina da rainha nada mais eram do que os restos dos órgãos copula-tivos da abelha macho (zangão). O estado dos órgãos internos procriadores da ra-inha coincidiam com o estado dos seus órgãos externos, e o receptáculo seminal, que se encontra vazio em todas as virgens dos insetos fêmeas estava, nesta rai-nha, estava cheio a ponto de transbordar com filamentos seminais (espermato-zóides)."

Sobre este assunto, separei o seguinte extrato interessante da minha revista: "25 de Agosto, 1852. - Encontrei o órgão masculino projetado na jovem rainha; não consegui removê-lo sem fazer tanta força que temia poder matá-la. O Dr. Joseph Leidy examinou esta rainha com o microscópio concluindo que - para usar suas palavras - ´era o pênis do macho e seus apêndices, que correspondiam, em todas as suas peculiaridades anatômicas, com os mesmos órgãos examinados, ao mesmo tempo, oriundos de outros zangões. Os testículos e vasa deferentia destes zangões se encontravam cheios do fluído espermático. A espermateca da rainha estava distendida com o mesmo semi-fluido, substância espermática.´ Este exa-me demonstrou que os zangões são machos, e que eles fecundam a rainha por cópula verdadeira."

O Prof Siebold disse ainda: "Como no ato da cópula das abelhas, o pênis do zan-gão fica completamente projetado para fora e como não existe nenhum aparelho muscular em particular para projetar o pênis, as circunstâncias em que os zan-gões copulam no vôo têm um significado valioso. *** Durante o movimento das asas, os diversos sacos aéreos do sistema de traquéias do zangão estão cheios com ar, estes agem por pressão, no interior do corpo da abelha, sobre o pênis próximo que é projetado."

O seguinte experimento interessante (Partenogênese, pág. 54) "foi conduzido por Berlepsch a fim de confirmar a produção de zangões pela princesa. Ele manteve reclusas as princesas desde o final de setembro, 1854, até a época em que não mais havia machos; ele ficou satisfeito por conseguir manter uma delas durante o Inverno, que produziu uma descendência de zangões em 2 de março, do ano seguinte, fornecendo mil e quinhentos alvéolos com zangão. Foi provado pela dis-secação realizada por Leuckart a pedido de Berlepsch que esta rainha produtora de zangões permanecia virgem. Ele encontrou o estado e conteúdo da bolsa se-minal desta rainha eram exatamente da mesma forma que são encontrados nas

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não consegui remover a não ser desfazendo-o em pedaços.

Os fatos que seguem mostrarão que a fecundação da rainha pelo zangão em pleno ar pode ser comprovada ocularmente; Le-wis Shrimplin, Wellsboro, Brook Couty, Virginia, comprou uma colméia de quadros móveis, na Primavera de 1857, na qual ele colocou um enxame secundário. Constatando, alguns dias de-pois, que as abelhas tinham construído favos retos, ele convidou alguns de seus vizinhos para testemunharem a facilidade com que ele podia retirar e trocar os favos. Estando na frente da col-méia viu a rainha sair e ocorreu-lhe a idéia de capturá-la e a-marrar uma fina linha de seda a uma de suas pernas traseiras. Nisto ele obteve sucesso; quando ela começou a subir1, os zan-gões se reuniram à sua volta em grande número. Depois de per-manecer no ar por pouco tempo ela retornou para a entrada de sua colméia exibindo aos espectadores os órgãos do zangão ain-da projetados de seu corpo.

A rainha começa a botar ovos, normalmente, cerca de dois dias depois da fecundação e, durante a primeira estação, deposi-ta praticamente apenas ovos de operárias; não há necessidade de zangões2 nas colônias que não largarão enxame até outra esta-

princesas. O receptáculo seminal destas fêmeas não contem massa de sêmen com seus característicos espermatozóides, mas apenas um fluido límpido, desti-tuído de células e grânulos, que é produzido pelas duas glândulas apendiculares da cápsula seminal e, como eu supus, serve para manter o sêmen transferido pa-ra a cápsula seminal em estado fresco e o espermatozóide ativo e, conseqüente-mente, capaz de fertilizar."

Consultando as páginas 38 e 39 o leitor poderá ver que, cerca de três anos antes deste exame de Leuckart, o Prov. Leidy dissecou para mim uma rainha com pos-tura de zangão.

O Prof. Siebold, em 1843, examinou a espermateca de uma rainha, e encontrou-a, depois da cópula, cheia com fluido seminal de zangão. Naquela época, os api-cultores não prestavam atenção aos aos pareceres do Prof. Siebold, mas conside-ravam eles, como ele disse, "elucubração teórica." Parece, portanto, que a disseca-ção do Prof. Leidy (pág. 34 e 35) não foi, como supunha até aqui, a primeira dis-secação de uma espermateca cheia de espermatozóides. 1 Dzierzon supôs que o som das asas da rainha, quando ele está no ar, excitasse os zangões. Eles nunca foram vistos dar atenção a ela no interior da colméia; as-sim ela nunca é molestada, ainda que milhares sejam membros da mesma colô-nia com ela própria. 2 Huber supôs que os ovos de zangões não se desenvolviam em seus ovários até o segundo ano; mas como o sexo depende da fertilização dos ovos, ele estava evi-dentemente equivocado. Em climas amenos, onde os enxames secundários en-xameiam novamente, os zangões são criados em grande número em colméias com rainhas jovens. A abelha é nativa, evidentemente, de clima quente, contudo ela pode viver onde haja um Verão longo suficiente para ela se preparar para o

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ção. Ela é tratada com muita atenção pelas abelhas antes de co-meçar a depositar ovos nos alvéolo; se privadas dela as abelhas mostram, pelo seu desespero, que elas reconhecem o valor do seu sucesso.

O enxame primário enxameia, algumas vezes, novamente, cerca de um mês depois de ser alojado; mas no clima do norte esta é uma ocorrência rara. No sul do Texas, conheci até mesmo enxames secundários fazerem o mesmo e, muitas vezes, colônias enxamearem em setembro e outubro, enquanto em climas tropi-cais os enxames saem em qualquer época quando a forragem é abundante. Nos nossos estados do norte e do centro a enxamea-ção termina, normalmente, três ou quatro semanas depois de começar. Apicultores inexperientes, inconscientes disto, inspe-cionam, muitas vezes, seus apiários muito depois que o período da enxameação passou.

Quero agora fornecer instruções para alojar os enxames, uma contribuição minha até mesmo para apicultores experien-tes, tão precisas para que até mesmo aqueles que nunca viram alojar um enxame concluam que o processo é formidável. A expe-riência neste assunto, como em outros, dará habilidade e confi-ança necessárias; e o choro "as abelhas estão enxameando" será, freqüentemente, transformado em até mesmo mais prazer do que um convite para um suntuoso banquete.

As colméias para os enxames novos devem ser pintadas mui-to antes de serem usadas para ficarem bem secas. O cheiro da tinta fresca é sabido muito bem ser prejudicial à vida do homem e, da mesma forma, é detestado pelas abelhas a ponto de elas, muitas vezes, abandonarem a nova colméia em vez de adotá-la. Se as colméias não puderem ser pintadas muito antes de serem usadas, a tinta não poderá conter chumbo branco, e a mistura deverá ser tal que seque tão rapidamente quanto possível.

A seguinte receita, originária do Bienenzeitung, para uma pintura barata e durável para colméias rudes é dito ser preferível à tinta a óleo; "Duas partes, medidas, de areia fina, bem penei-rada; uma do melhor cimento inglês1; um de coalho, do qual o

Inverno. O seu desenvolvimento completo, no entanto, só pode ser testemunhado em regiões tropicais e estou persuadido que muitas coisas considerados leis fixas em climas mais frios, nada mais são do que adaptações excepcionais a circuns-tâncias desfavoráveis. 1 Romano, ou cimento Hidráulico comum é, provavelmente, o meio, ou poderia ser a resposta.

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soro de leite foi bem espremido; um de leite desnatado. Deve-se misturar tudo muito bem. A pintura será aplicada às colméias, agitando sempre, com uma broxa comum. Uma segunda camada será aplicada depois de passada meia hora. Quando ficar perfei-tamente seco, o que acontecerá em dois ou três dias, será passa-da uma fina camada de óleo de linhaça fervido, ao qual poderá ser adicionada qualquer cor desejada. As madeiras a serem pin-tadas não devem ser aplainadas, mas devem permanecer rudes como deixadas pela serra. Não se deve preparar tinta de uma vez mais do que aquela que será usada no curso de meia hora pois ela endurece rapidamente. A colméia pode ser usada assim que a tinta secar."

As colméias que ficam ao sol, nunca devem ser usadas para enxames novos. As abelhas quando enxameiam por estarem ex-citadas e aquecidas acima do normal se negam, muitas vezes, a entrar em tais colméias e, na melhor das hipóteses, demorarão em tomar posse delas. A temperatura da colméia materna, no momento da enxameação sobe muito, repentinamente, e muitas abelhas ficam muitas vezes tão ensopadas pela transpiração que elas não tem condições de levantar vôo e se reunir à colônia que emigra. Induzir as abelhas de um enxame a entrar numa colméia aquecida pelo sol ardente é, desta forma, tão irracional quanto forçar uma ofegante multidão de homens ficarem na atmosfera sufocante de um quarto de sótão. Se o processo de alojamento em colméia não puder ser realizado na sombra, a colméia deve ser coberta com uma folha, ou com galhos copados.

O apicultor pode usar todos os bons favos de operária na colméia de quadros móveis amarrando-os aos quadros. Esta é uma forma de fornecer um guia para a construção dos favos nos quadros uma vez que as abelhas, mesmo numa colméia vazia, construirão os favos com maior regularidade por seguirem o gui-a, desde que na colméia não fique muito espaço vazio. Tenho vis-to, em algumas ocasiões, elas construírem favos atravessados, de quadro a quadro, assim que só se consegue removê-los cortado-os em pedaços. Isto pode ser prevenido facilmente fixando peda-ços de favo guia aos quadro (ver pág. 72). A colméia deve ser po-sicionada de forma a ficar inclinada de trás para frente para es-coar a água da chuva, mas não deve haver a mínima inclinação lateral, ou será impossível que os favos fiquem aprumados, e fará as abelhas construírem favos tortos. Favos de zangões nunca de-vem ser postos nos quadros, se isso for feito as abelhas seguirão o padrão e construirão favo apropriado somente para a criação

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de uma horda de inúteis consumidores. Tais favos, se claros, po-dem ser usados com grande vantagem nas melgueiras; se velhos, podem ser derretidos para aproveitamento da cera.

Todo bom pedaço de favo de operária, se grande o suficiente que possa ser amarrado ao quadro, deve ser usado, tanto pelo seu valor intrínseco quanto porque as abelhas ficam tão gratas quando encontram um tão inesperado tesouro na colméia que di-ficilmente o abandonam. Um enxame novo toma posse, muitas vezes, de uma colméia abandonada bem provida de favo; en-quanto dúzias delas estão vazias no apiário, elas raramente en-tram nelas por sua própria decisão. Uma vez pensei que um ins-tinto que as impelisse a assim proceder deveria ser muito melhor para nós do que o atual sistema; mas reflexões posteriores me mostraram que, ao contrário, deve ter sido fruto das interminá-veis contendas entre apicultores vizinhos; e neste, como em mui-tos outros assuntos, os instintos das abelhas devem ter sido pro-jetados com especial referência ao bem estar do homem.

Quando os quadros1 são usados pela primeira vez para um enxame novo, os entalhes onde eles descansam devem ser unta-dos com pasta de farinha; isto os manterá firmes até serem fixa-dos com própolis pelas abelhas. Se as colméias são agradáveis e secas, esfregá-las com vários tipos de ervas ou líquido, será sem-pre útil, e muitas vezes convidativo.

Se não existirem pequenas árvores ou arbustos perto do api-ário, dos quais os enxames, quando amontoados, possam ser fa-cilmente apanhados, galhos de sempre viva ou outras árvores podem ser fixados ao solo, a alguns passos em frente das col-méias, os quais desempenharão um bom papel temporariamente. Se existirem árvores altas perto das colméias, o mestre apícola, a menos que seja tomada alguma precaução especial, perderá mui-to tempo tentando alojar seus enxames.

Sabendo que um novo enxame quase sempre pousa onde as abelhas vêem uma massa de abelhas amontoadas, penso que e-las podem ser levadas a certos pontos marcados por um velho chapéu preto, ou mesmo uma haste de mullen, que, quando pin-tada de preto, dificilmente será diferenciada, à distância, de um amontoado de abelhas.

Uma meia preta de lã, ou outro tecido, presa a um galho

1 Para um ajuste apropriado, ver as Explicações das Lâminas.

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sombreado, à vista das colméias, e de onde as abelhas possam ser mais convenientemente alojadas, provavelmente poderá ser-vir para o mesmo fim. Os enxames não são atraídos apenas por cores ou objetos semelhantes às abelhas, mas são induzidas a pousarem, mais rapidamente, sobre eles se eles fornecerem algo ao qual elas possam se agarrar com facilidade, e melhor puder suportar seu amontoado semelhante a um cacho de uva. Com precauções apropriadas, antes da saída do primeiro enxame, o apicultor pode educar suas favoritas a ponto de elas pousarem freqüentemente no local por ele previamente selecionado.

O Rev. Thomas P. Hunt, de Wyoming, Pensilvânia, elaborou um plano interessante pelo qual, diz ele, consegue evitar, sem-pre, que um enxame deixe sua propriedade. Antes de suas col-méias enxamearem, ele reúne um número de abelhas mortas e, enfiando-as com uma agulha e linha, como larvas enfileiradas, ele faz com elas uma bola com o tamanho aproximado de um o-vo, deixando alguns fios soltos. Carregando esta "bee-bob" - a-marrada a uma vara - em volta do seu apiário, quando as abe-lhas estão enxameando, ou colocando-a numa posição central, invariavelmente ele captura todo enxame!

Lembrarei com mais insistência ao apicultor inexperiente, que quase todas as abelhas do enxame estão com espírito muito pacífico, pois se encheram com mel antes de deixar a colméia materna. Se o apicultor for tímido, ou sofre muito com o ferrão da abelha, deve, por todos os meios, se precaver usando a indu-mentária de proteção.

Um enxame novo deve ser alojado assim que ele se amontoar em torno de sua rainha; contudo não há necessidade da precipi-tação mostrada por alguns que, por provocar transpiração inten-sa, aumentam as chances de serem ferroados. Estes que mos-tram tão pouco auto controle não devem ficar surpresos se forem ferroados pelas abelhas de outras colméias que não estão cheias de mel mas em estado de alerta, e muito naturalmente confun-dem o objeto ao qual demonstram sua excitação. Os enxames que pousaram é quase certo que, a menos que o clima esteja muito quente ou as abelhas estejam expostas ao calor ardente do sol, não levantarão vôo antes de, pelo menos, uma ou duas ho-ras. Todas as providências convenientes, no entanto, devem ser tomadas para alojar o enxame, para que ele não envie batedoras que podem seduzir as demais para uma nova colméia, ou provo-que abelhas a saírem de outras colônias e a elas se juntarem.

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Se minhas colméias forem usadas, a entrada pode ser aberta totalmente, para que as abelhas possam entrar assim que possí-vel; e uma folha pode ser fixada firmemente à tábua de pouso, para evitar que elas sejam separadas ou sujas pela poeira; pois, se separadas, levarão um longo tempo para entrar; e uma abelha coberta de poeira ou sujeira corre o risco de morrer. As colméias comuns deverão ser colocadas sobre uma folha de forma a facili-tar a entrada mais rápida das abelhas.

Quando o galho no qual as abelhas se amontoaram pode ser facilmente alcançado, ele pode ser sacudido, com uma mão, de modo que as abelhas caiam suavemente numa cesta segurada abaixo com a outra mão. A cesta deve ser aberta suficientemente para admitir o ar livremente, mas não a ponto de permitir que as abelhas passem pelas aberturas da trama. Em seguida elas de-vem ser sacudidas suavemente ou derramadas sobre uma folha em frente de sua casa nova. Se parecer que elas relutam de to-das as maneiras a entrar, recolha suavemente algumas delas com uma grande colher e as derrame na entrada da colméia. Ca-so elas entrarem batendo as asas, elas estarão emitindo um avi-so peculiar, que comunica às suas companheiras a boa nova que elas encontraram uma casa; em pouco tempo todo o enxame en-trará, sem dano a qualquer abelha.

Quando as abelhas forem despejadas de uma vez sobre uma folha, elas ficam, praticamente, sem vontade de levantar vôo no-vamente; estando carregadas com mel, seu desejo, assim como tropas fortemente armadas, será de marchar lenta e calmamente ao local do acampamento. As abelhas sentem mais dificuldade em seu deslocamento, ao encontrarem um degrau, ou acidente de superfície, e se a folha não estiver estendida sem rugas elas, muitas vezes, ficam confusas e perdem um grande tempo até en-contrar a entrada da colméia. Se elas demorarem muito para en-trar na nova colméia, elas podem ser separadas com suavidade com uma colher ou um galho frondoso, onde elas se aglomeram em cachos sobre as folhas; elas podem ser apanhadas com a co-lher com cuidado, e derramadas na entrada da colméia. Se elas se amontoarem no pórtico de minha colméia, elas podem ser tra-tadas da mesma maneira; ou então a rainha, pensando que este lugar aberto é sua ambicionada casa pode ali montar acampa-mento com as abelhas.

Na primeira sacudida elas caem dentro da cesta, algumas podem levantar vôo e outras permanecerão na árvore; mas se a

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rainha foi apanhada, elas formarão imediatamente uma linha de comunicação com as da árvore. Se a rainha não foi apanhada as abelhas se negarão a entrar na colméia ou sairão em seguida e levantarão vôo para se juntar a ela novamente. Isto acontece, na maioria das vezes, com enxames secundários cujas rainhas jo-vens em vez de se portar com a gravidade de uma velha matrona tem condições de ficar dançando no ar. Quando as abelhas se amontoam novamente na árvore o processo de alojamento na colméia deve ser repetido.

Se o apicultor possui uma tesoura de podar e o galho no qual as abelhas se amontoaram é pequeno ele pode ser cortado sem perturbá-las e elas poderão ser carregadas no galho até a fo-lha em frente da colméia.

Se as abelhas pousarem no alto, o que torna difícil apanhá-las, a cesta pode ser presa a um sarrafo, elevada diretamente em baixo das abelhas e com um solavanco a maior parte do enxame poderá ser capturado. Se a cesta não puder ser elevada facilmen-te até elas, ela poderá ser levada até o amontoado e o apicultor, depois de sacudir as abelhas dentro dela, pode descer a cesta a-través de uma corda, sem agitação, até o assistente que aguarda.

Quando uma colônia pousa no tronco de uma árvore, ou so-bre qualquer outra coisa da qual elas não podem ser facilmente apanhadas dentro de uma cesta, amarrar um galho frondoso so-bre elas, sem perturbá-las e, com um pouco de fumaça, compelir as abelhas a subir no galho. Se o lugar for inacessível, pode-se fazê-las entrar numa cesta escura, invertida e posicionada bem acima da massa de abelhas. Uma vez alojei um enxame do vizi-nho que tinha pousado numa moita, na copa de uma árvore ina-cessível, jogando água sobre elas, para compeli-las a, gradual-mente, subir na árvore e entrar numa cesta elevada. Se um local apropriado para pouso não for fornecido, as dificuldades em alo-jar um enxame são, muitas vezes, maiores do que seu valor.

Se dois enxames se amontoarem próximos, será vantajoso mantê-los juntos, caso se possa lhes dar espaço abundante para armazenamento de mel em excesso, como nas minhas colméias. Grandes quantidades de mel são normalmente conseguidas com estes enxames, se eles saírem cedo e a estação for favorável. Se for intenção separá-los, tomar duas colméias, colocar uma por-ção das abelhas em cada uma e borrifar água suficiente em am-bos antes e depois de sacudi-las do cesto para impedi-las de le-vantar vôo a fim de novamente se unirem. Se possível fornecer

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uma rainha para cada colônia. Se ambas as rainhas entrarem na mesma colméia uma será morta imediatamente pela outra. As abelhas na colméia sem rainha começarão a sair assim que se certificarem de sua situação. Prevenir isto, encerrando-as; forne-cer a elas uma rainha, se você dispuser de uma; ou fornecer uma realeira operculada, quase madura, retirada de outra colméia. Por razões que serão fornecidas no próximo capítulo, não convem compelir as abelhas a criar uma rainha a partir de cria de operá-ria. Se o apicultor que usa colméias comuns não conseguir for-necer uma rainha madura para cada colméia, a colônia sem rai-nha voltará para a antiga família.

Se ao alojar um enxame, o apicultor desejar apanhar a rai-nha, as abelhas podem ser despejadas da cesta a cinqüenta cen-tímetros ou mais da colméia, e um olho esperto normalmente a verá passar sobre a folha. Se as abelhas relutam em avançar, al-gumas devem ser direcionadas para a entrada, tomando cuidado para escová-las na direção da colméia, quando elas avançarão numa massa tão densa a ponto de não se conseguir ver a rainha entrar. Um olho experimentado detecta prontamente sua cor e forma peculiar. Ela pode ser apanhada sem perigo, uma vez que ela nunca ferroa, a não ser quando envolvida em luta com outra rainha.

É interessante testemunhar a rapidez com que a rainha se desloca para a colméia assim que identifica a boa nova de que sua colônia encontrou uma moradia. Célere ela segue na direção da massa em movimento e suas longas pernas permitem que ela ande, facilmente, mais rápido na corrida pela posse, em relação a todas que tentam seguí-la. Outras abelhas se demoram em vol-ta da entrada, ou voam no ar, ou se juntam em aglomerações demoradas sobre a folha; mas a mãe fértil, com um ar de consci-ente importância, marcha na frente e, sem olhar nem para a di-reita nem para a esquerda, desliza colméia adentro, com a mes-ma presteza e pressa que caracteriza uma abelha ao retornar com carga completa de um campo rico em néctar.

As pessoas não acostumadas com as abelhas, podem pensar que ao dizer "juntá-las" e "derramá-las" com tanta frieza eu este-ja dando instruções de como medir vários bushels de trigo; a ex-periência os convencerá imediatamente, que a tranqüilidade com que elas podem ser manejadas não é de todo exagerada.

O velho estilo de alojar enxames subindo em árvores e cor-tando valiosos galhos deve ser totalmente abandonado; nem deve

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a colméia ser colocada sobre as abelhas a fim de não esmagar nenhuma delas, ou por em risco a vida da rainha. Um apicultor experto, com sua cesta-enxame, pode muito bem alojar seis ou mais enxames, no mesmo tempo exigido, pelo método antigo, pa-ra alojar um enxame; nos grandes apiários manejados com pro-grama de enxameação, onde um bom número de enxames sai num mesmo dia, e existe o risco constante de sua mistura, este é um assunto que merece atenção.

O Dr. Scudamore, um médico inglês, que escreveu um trata-do sobre a Formação de Enxames Artificiais, diz ter presenciado uma vez "cerca de dez enxames saindo ao mesmo tempo, pousar e se misturar, formando, literalmente, um encontro monstruoso. Citam-se casos de um número até maior de enxames se amonto-ar. Um venerável pastor do oeste de Massachusetts disse-me que no apiário de um dos seus paroquianos, uma vez, cinco enxames se amontoaram. Como ele não tinha nenhuma colméia em os pudesse alojar, eles foram postos dentro de uma grande caixa, rudemente pregada e montada. Quando inspecionada no Outo-no, ficou evidente que os cinco enxames viveram juntos como co-lônias independentes. Quatro começaram o seu trabalho, cada um junto de um canto da caixa e o quinto no centro; havia um intervalo nítido separando o trabalho das diferentes colônias. No "My Bee Book" de Cotton, existe uma figura ilustrando uma se-paração similar de duas colônias numa colméia. Alojando, numa grande caixa, enxames que tenham pousado lado a lado, e os mantendo sem perturbação até a manhã seguinte eles serão en-contrados, provavelmente, em amontoados separados, e podem ser colocados, facilmente, em colméias diferentes.

Durante a enxameação as abelhas produzem um som singu-lar de silvo ou sussurro, que faz, muitas vezes, outras colméias do apiário enxamear. Esta é uma ocorrência freqüente com famí-lias desanimadas ou insatisfeitas e ocasionalmente, ao ouvir este som, testemunhei enxameações cujas colméias maternas tinham apenas rainhas não maduras. Este som peculiar de enxameação pode ser produzido apenas pelo grande número de abelhas vo-ando ociosamente, em tais ocasiões, de um lado para outro no ar; mas parece-me que difere em suas características, uma vez que ele age, com certeza, diferentemente sobre as abelhas em re-lação ao som produzido pelo vôo normal das operárias atarefa-das, mesmo em grande número. Minhas observações sobre este assunto têm mostrado estarem errados os apicultores que negam às abelhas o sentido da audição. Este sentido, pelo contrário, pa-

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rece ser muito acurado.

Se o apicultor teme que outro enxame saia para se unir com o que ele está alojando, deve confinar a rainha com meus blocos móveis; ou envolver, imediatamente, a colméia do enxame com uma folha. Se a nova colônia for sacudida sobre a folha de en-xame, ele deve cobri-lo da vista dos outros enxames, com outra folha.

A colméia com o novo enxame deve ser instalada no suporte permanente assim que as abelhas tenham entrado; ou então as batedoras, ao retornarem, encontrarão as abelhas e as seduzirão a voarem para a floresta. Existe um perigo maior do que este, se as abelhas permanecerem muito tempo na árvore antes de serem alojadas. Tenho constatado, quase invariavelmente, que enxames que abandonam uma colméia adequada pela floresta, foram alo-jados em local próximo do qual eles se amontoaram, tendo o api-cultor intenção de removê-los ao entardecer ou no início da ma-nhã. As abelhas que enxameiam no início do dia começam a vas-culhar os campos, geralmente poucas horas depois de alojadas, ou mesmo dentro de alguns minutos, se tiverem favos vazios; as-sim, levando a colméia para seu suporte permanente logo que as abelhas tenham entrado poucas abelhas serão perdidas. Se for desejado, por qualquer razão, remover a colméia antes que todas as abelhas tenham entrado, a folha, sobre a qual as abelhas se encontram, pode ser dobrada e carregada junto com toda a colô-nia para o novo suporte, onde as abelhas poderão entrar a seu tempo.

Por vezes os enxames aparecem quando não há colméias a-dequadas disponíveis para recebê-los. Em tal emergência, alojá-las em qualquer caixa velha, barril ou recipiente, e colocá-las, com adequada proteção do sol, onde a sua nova colméia ficará; quando a colméia estiver pronta, elas poderão, por um movimen-to rápido e repentino, serem derrubadas da caixa para a folha de enxame.

Tenho me esforçado, até mesmo com o risco de ser minucio-so demais, para fornecer instruções a fim de qualificar um nova-to a alojar um enxame de abelhas, em qualquer circunstância; sabendo que, embora necessárias, as informações adequadas podem ser encontradas freqüentemente nos melhores tratados apícolas. Instruções vagas e incompletas falham no momento e-xato em que o inexperiente tenta colocá-las em prática.

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Enxames naturais podem, inquestionavelmente, se tornar al-tamente rentáveis; e como eles são os meios mais óbvios para multiplicar as colônias e exigem conhecimento e habilidade mí-nima, eles foram, indubitavelmente, o método favorito de muitos apicultores, por muitos anos, pelo menos. Devo, por esta razão, mostrar como ele pode ser conduzido com rentabilidade maior do que nunca, com o uso de minhas colméias; onde a maioria das dificuldades mais embaraçosas é, efetivamente, superada.

1. A objeção mais séria a ter esperança em enxames naturais, é o irritante fato que a maioria das colméias de enxameação são construídas de tal forma que, embora as abelhas se neguem totalmente a enxamear, elas não conseguem fornecer acomodações apropriadas, aos seus ocupan-tes amontoados; para armazenar mel. Em tais circunstâncias, hordas de inúteis consumidores abundam, muitas vezes por meses, do lado de fora das colméias, para grande prejuízo de seus desapontados proprie-tários. Nas colméias de quadros móveis, uma abundância de espaço para armazenamento pode sempre ser fornecido para as abelhas; as-sim que, se indispostas a enxamear, elas tem melgueiras facilmente acessíveis, que são duplamente atrativas pelos favos vazios nos quais podem armazenar qualquer quantidade de mel que elas consigam reco-lher.

2. Outra objeção à enxameação natural surge do fato desanimador que as abelhas são propensas a enxamear tão seguidamente a ponto de des-truir o valor tanto da colméia materna como dos enxames secundários. Apicultores experientes evitam esta dificuldade, fazendo uma boa colô-nia com dois enxames secundários e devolvendo para a colméia ma-terna todos os enxames depois do segundo e isto mesmo que a esta-ção esteja bem adiantada. Tais operações consomem, muitas vezes, mais tempo do que valem. Removendo todas as realeiras, menos uma, depois que o primeiro enxame saiu, a enxameação secundária pode ser evitada nas minhas colméias; removendo todas menos duas, pode-se permitir que saia o segundo enxame e ainda prevenir a enxameação ulterior. Enxames secundários podem, em muitas circunstâncias, se re-petir mais e mais, antes de as abelhas permitirem que uma princesa destrua as demais. Desta forma, uma grande parte do período de cole-ta é perdida; pois parece que as abelhas não têm vontade de trabalhar com sua costumeira energia, enquanto as pretensões de várias rainhas rivais não estiverem definidas1.

1 Antes de criar a colméia de quadros móveis, evitei, até onde possível, os infor-túnios da enxameação secundária, com o seguinte plano: o enxame secundário, assim que alojado, era colocado em cima da colméia materna, ou em posição pa-recida, para que as entradas das colméias, velha e nova, ficassem próximas e vol-tadas para o mesmo lado. Caso saísse um terceiro enxame, ele era, ao entarde-cer, reunido com o primeiro enxame secundário, colocando a colméia ou caixa contendo este enxame, sobre uma folha e sacudindo o terceiro enxame em frente à sua entrada. Em três ou quatro dias - tempo suficiente para que as jovens

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3. Outra objeção realmente séria à enxameação natural, como a praticada com colméias comuns é que não é possível criar famílias vigorosas com enxames tardios ou pequenos. O tempo e o dinheiro despendidos na alimentação de pequenas colônias são normalmente perdidos; uma vez que grande número delas não sobrevive ao Inverno, e muitas das que conseguem, ficam tão debilitadas que são de pouco valor. Caso e-las se salvem da pilhagem de outras colméias, ou da destruição pela traça, elas raramente se fortalecem durante a estação a ponto de en-xamear, e muitas vezes, a menos que a alimentação seja repetida na próxima estação, elas finalmente perecem. Sem dúvida, muitos dos meus leitores, a partir de sua própria experiência, podem endossar ca-da palavra destas anotações; concluírão que a tentativa de multiplicar as colônias, cuidando e alimentando pequenos enxames em colméias comuns resulta, normalmente, em nada mais do que perda e aborreci-mento. Quanto mais colméias deste tipo o homem tiver, mais pobre se-rá; por sua fraqueza, elas são, constantemente, uma tentação para su-as colméias fortes seguirem um mau caminho; ate que por fim, elas preferem, até onde puderem, viver de roubo, em vez de como uma in-dústria honesta; e mesmo que as colônias fracas escapem de serem saqueadas, elas muitas vezes se tornam berçários de criação e supri-mento de traças, para infestar o seu apiário.

Existem instruções adequadas, no capítulo sobre Alimenta-ção das Abelhas, de como fazer crescer os menores enxames se-cundários até se tornarem famílias vigorosas e como reforçar as colônias que estavam fracas na Primavera.

4. Como, tanto as colméias maternas como os enxames secundários, perdem, muito freqüentemente, suas jovens rainhas depois da enxa-meação, a colméia na qual este infortúnio possa ser remediado, será de grande utilidade para aqueles que praticam a enxameação natural. Um apicultor experiente me disse, certa vez, que ele poderia utilizar, com este propósito, pelo menos, uma colméia de quadros móveis em seu apiário,mesmo que ela não tivesse nenhuma vantagem em outros quesitos.

5. Nas colméias comuns, pouco pode ser feito para evitar a traça da cera, quando ela conseguiu se instalar; contudo, na minha, ela pode ser fa-cilmente eliminada. (Ver anotações sobre Traça da Cera).

6. Nas colméias comuns é difícil remover uma rainha velha quando sua fertilidade está comprometida; enquanto que na minha isto pode ser fei-to facilmente; e um apicultor pode ter sempre rainhas com todo o vigor de sua força reprodutiva.

princesas fossem fecundadas - as abelhas dos enxames secundários eram reuni-das, da mesma maneira, à colméia materna. Uma rainha poderá matar imedia-tamente a outra e na manhã seguinte os enxames reunidos por estarem num es-trado familiar, poderão trabalhar bem como se nunca tivessem sido separados. O favo que eles tiverem construído na nova colméia será usado nas melgueiras.

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Apicultores experientes, Verão, a partir destas anotações, que com as colméias de quadros móveis a enxameação natural pode ser conduzida com maior certeza do que nunca antes e muitas das perplexidades desencorajadorascom as quais eles conviveram até agora, serão efetivamente eliminadas.

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CAPÍTULO X

EEENNNXXXAAAMMMEEEAAAÇÇÇÃÃÃOOO AAARRRTTTIIIFFFIIICCCIIIAAALLL

Os incontáveis esforços feitos por mais de cinqüenta anos para não precisar da enxameação natural mostra a ansiedade dos apicultores em encontrar um modo mais efetivo para aumen-tar o número de suas colônias.

Embora, com controle dos favos, as abelhas possam ser mul-tiplicadas pela enxameação natural, com rapidez e certeza até agora inalcançáveis, ainda existem dificuldades inerentes a este modo de ampliar, e impossíveis de serem superadas com uma colméia qualquer. Antes de descrever os vários métodos propos-tos para aumentar o número de colônias por meios artificiais, es-tas dificuldades serão enumeradas brevemente, para que qual-quer apicultor possa decidir qual a sua melhor forma para mul-tiplicar as colônias.

1. Os inúmeros enxames perdidos a cada ano são um argumento forte pa-ra não lançar mão da enxameação natural.

Um notável apicultor estimou que, considerando todos que criam abelhas, um quarto dos melhores enxames são perdidos a cada estação. Enquanto alguns apicultores raramente perdem enxames, a maioria sofre sérias perdas pela partida de suas abe-lhas para as florestas; até mesmo para o mais cuidadoso é quase impossível evitar tais ocorrências, se a enxameação não for con-trolada.

2. A enxameação natural é desaconselhada, tendo em vista o tempo e trabalho que ela exige.

O apiário deve ser cuidado atentamente durante todo o perí-odo da enxameação; se esta tarefa é confiada a crianças desaten-ciosas, ou adultos negligentes, muitos enxames serão perdidos. Caso se tenha muitas colônias, uma pessoa competente deverá ficar a postos, no auge do período, para atender as abelhas. Nem mesmo o Sábado pode ser observado como um dia de descanso; o apicultor é, muitas vezes, obrigado a usá-lo para o árduo tra-

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balho entre suas abelhas. É tão comum alojar suas abelhas nes-te dia como é cuidar de seus outros animais, a obrigação deste trabalho dissuade muitos de tentar a apicultura.

Muitos comerciantes, mecânicos e outros profissionais que querem criar abelhas, não se dispõem a manejá-las durante o período da enxameação e, assim, muitas vezes, deixam de se en-volver numa ocupação intensamente fascinante para um espírito curioso1. Todo aquele que despende parte de seu tempo livre es-tudando os maravilhosos instintos das abelhas, nunca se quei-xará dizendo que não encontra nada para encher seu tempo fora de sua profissão ou para satisfação de seus desejos. As abelhas podem ser criadas com grande proveito, mesmo em grandes ci-dades, e estes que estão privados da atividade rural podem ainda ouvir o calmo zumbido e colher anualmente seu delicioso néctar.

Se o apicultor tiver de ficar em casa durante todo o período da enxameação será impossível, para ele, atender suas abelhas. O fazendeiro, eventualmente, poderá ser interrompido em sua ta-refa de preparar o feno pelo clamor de que suas abelhas estão enxameando; enquanto ele as estiver alojando, talvez venha a chuva e o prejuízo com seu feno será naior do que o ganho com as abelhas. Assim, criar algumas abelhas, em vez de se tornar uma fonte de lucro, pode se provar um luxo caro; num grande apiário as dificuldades se tornam muitas vezes seriamente maio-res. Se, depois de uma sucessão de dias desfavoráveis para a en-xameação, o clima se tornar agradável aparecem, muitas vezes, vários enxames de uma só vez e se amontoam próximos; não poucas vezes no meio do ruído e da confusão outros enxames le-vantam vôo e são perdidos. Vi um mestre apícola, em tais cir-cunstâncias, tão perplexo e exausto que cheguei a pensar que ele nunca tinha visto abelha.

3. A multiplicação das abelhas pela enxameação natural em nosso país frustra, quase totalmente, a instalação de grandes apiários.

O período da enxameação é, para a maioria dos apicultores, o período mais atarefado do ano e, se eles mantem um grande número de colméias de enxameação, eles devem dedicar prati-camente todo o tempo, por várias semanas, à sua supervisão; e-les podem ser obrigados a contratar mão de obra adicional e isto

1 "A Vida da Abelha", diz o Prof. Siebold, "não serve apenas para fornecer cera, mel e hidromel ao homem, mas é uma ligação extremamente valiosa na grande e altamente variada composição da cadeia da existência animal."

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em épocas de mão de obra cara.

Manter algumas colônias em colméias de enxameação, cus-ta, por vezes, mais do que elas valem, já a supervisão de um grande número só será rentável para as pessoas que podem de-dicar praticamente todos os meses do Verão para suas abelhas. O número destas pessoas, neste país, é ser muito pequeno; e po-risso existem alguns que fazem da apicultura nada mais do que uma atividade secundária.

4. Uma séria objeção ao uso da enxameação natural, é o fato desencora-jador que as abelhas, muitas vezes, se negam totalmente a enxamear; assim o apicultor não pode multiplicar suas colônias com certeza e ra-pidez, mesmo que ele esteja em situação favorável para conduzir a a-picultura num porte extensivo.

Muitos dos mais dedicados apicultores têm menos colônias do que tinham alguns anos atrás, contudo eles pensam em au-mentá-las até onde suas forças permitam. Alguns apicultores in-teligentes acreditam que existe, nos estados do norte e do centro, a metade das colméias que existia vinte anos atrás; muitos deles teriam abandonado a apicultura se eles não vissem nela uma fonte de distração, mais do que de retorno financeiro; enquanto outros não hesitam em afirmar que muito mais dinheiro foi per-dido, nos últimos anos, com colméias patenteadas, do que aque-les que as usaram, conseguiram obter de suas abelhas.

É muito fácil provar1, quase tão simples quanto um passeio

1 Os cálculos que seguem, resultados possíveis em apicultura, retirados do "Syd-serff´s Treaties on Bees", publicado na Inglaterra, 1792, é uma gema perfeita des-te tipo:

"Suponha um enxame de abelhas inicial pelo custo de 10s. 6d., do qual nem as abelhas nem os enxames serão retirados, mas que enxameie uma vez por ano" - as abelhas serão desobedientes, sem dúvida, se ousarem fazer algo diferente! - "qual será o resultado em catorze anos, e qual o lucro, se cada enxame for vendi-do por 10s 6d.?

Anos Colméias Lucro £ s. d. 1 1 0 0 0 2 2 1 1 0 3 4 2 2 0 4 8 4 4 0 ** ** * * * 14 8192 4300 16 0

"N.B. - Deduzir 10s. 6d., o custo da primeira colméia, e o restante será o lucro lí-quido; supondo que o segundo enxame pagará as colméias, trabalhos, etc.". A simplicidade com que este escritor, que parece ter tido tanta fé em suas abelhas

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imaginário pelas minas de ouro da Austrália e da Califórnia. É só comprar uma colméia patenteada e, se ela cumprir as promessas do inventor otimista, a fortuna terá se concretizado em alguns anos; mas o desapontamento que advem de as abelhas não que-rerem enxamear é tal que se a colméia pudesse remediar todas as outras dificuldades, ela ainda falharia em atender objetivos razoáveis do experiente apicultor. Se todo enxame de abelhas pudesse render vinte dólares por ano, o apicultor não consegui-ria multiplicar suas famílias pela enxameação natural, para a-tender a demanda; pois estaria totalmente dependente do capri-cho de suas abelhas, ou das leis naturais que controlam a en-xameação.

Todo apicultor prático deve estar consciente da incerteza da enxameação natural. Em circunstância alguma ele pode confiar cegamente nela. Enquanto algumas famílias enxameiam regu-larmente e repetidamente, outras, igualmente fortes em número e bem providas de reservas, se negam a enxamear, mesmo em estações propícias sob todos os aspectos. Ao serem examinadas, verifica-se que tais colônias não derem nenhum passo para a criação de rainha. Em alguns casos, as asas da velha mãe estão defeituosas, enquanto em outras, parece que ela prefere a rique-za da velha colméia aos riscos inerentes à formação de uma nova colônia. Freqüentemente acontece que, quando foram tomados todos os preparativos para a enxameação, o clima se apresenta tão impróprio que a jovem princesa atinge a maturidade antes da rainha sair e as demais serem destruídas. Em tais circunstân-cias, a enxameação, para aquela estação, é quase certo que não ocorrerá. As jovens princesas são também, algumas vezes, des-truídas, por causa de uma repentina e, talvez, apenas temporária suspensão da coleta de mel; as abelhas raramente formam colô-nias, mesmo que seus preparativos tenham sido todos concluí-dos, a menos que a floração esteja rendendo um suprimento a-bundante de mel. Por estas e outras razões, que minhas limita-ções não permitem enumerar, até agora foi impossível, no clima instável dos nossos estados do norte, para todos os mais experi-entes e enérgicos apicultores multiplicar, pela enxameação natu-

quanto na doutrina que "os números não enganam", encerra seus cálculos ao fi-nal de catorze anos, é realmente hilariante. Nenhum apicultor, num caminho de tanta prosperidade, poderia pensar em parar após vinte e um anos, tempo em que seus enxames terão aumentado para mais de um milhão, quando, provavel-mente, ele estaria disposto a encerrar o seu negócio, vendendo-o por 2,75 milhões de dólares! Respeitosamente convidada a atenção de todos os vendedores de col-méias enganosas para este antigo exemplo da arte de ludibriar.

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ral, suas colônias com rapidez satisfatória.

As numerosas dificuldades inerentes à enxameação natural têm, por anos, dirigido a atenção dos criadores para a concepção de um método um pouco mais confiável de aumentar suas col-méias1.

O antigo método de aumento artificial parece ter tido pouco sucesso; mas por volta do final do século passado, surgiu um novo interesse pelo assunto, graças à descoberta de Schirach, um pastor alemão, do fato, antes conhecido apenas por alguns, que as abelhas podiam criar uma rainha a partir da cria de ope-rária. Por falta, no entanto, de familiaridade com alguns princí-pios fundamentais da economia das abelhas, seus esforços rece-beram pouco encorajamento.

Huber, depois de suas maravilhosas descobertas sobre fisio-logia da abelha, sentiu necessidade de um método de multiplica-ção de colônias, mais confiável do que a multiplicação pela en-xameação natural. Sua colméia consistia de doze quadros, cada um com trinta e dois milímetros de largura, ligados entre si por dobradiças, assim que cada um podia ser aberto ou fechado quando desejado, como as folhas de um livro. Ele recomenda a formação de enxames artificiais pela divisão de uma destas col-méias e juntando seis quadros vazios a cada metade. Depois de eu ter usado suas colméias por anos, conclui que elas podem ser úteis somente para um hábil e destemido apicultor. As abelhas ligam os quadros com própolis, de forma que eles não podem ser facilmente abertos sem afetar os favos e despertar a ira das abe-lhas; ou fechados, sem risco constante de esmagá-las. Huber nunca falou ter multiplicado extensivamente suas colônias com sua colméia e, embora elas tenham sido utilizadas por mais de sessenta anos, elas nunca foram empregadas com sucesso para tal propósito. Se ele tivesse elaborado um plano para dar a seus

1 O Dr. Scudamore cita Columella, que por volta de meados do primeiro século da era cristã escreveu doze livros sobre criação de gado - "De re rustica" - como ten-do fornecido instruções para a produção de enxames artificiais. Ainda que ele en-sinasse como fornecer uma rainha a uma colônia sem rainha e como transferir favo com cria, com abelhas maduras, de uma colméia forte para uma fraca, pare-ce que ele não formou colônias inteiramente novas por processo artificial algum. Seu tratado sobre apicultura mostra não só que ele conhecia bem os escritores anteriores sobre o assunto, mas também que ele era um apicultor prático de su-cesso. Seus preceitos, com poucas exceções, são realmente admiráveis e provam que, em sua época, a apicultura popular devia ser muito mais avançada do que é agora.

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quadros o desempenho desejado, suspendendo-os em encaixes, em vez de prendê-los como as folhas de um livro, ele teria deixa-do pouco espaço para melhorias subseqüentes.

"Colméias divisíveis", de vários tipos, têm sido usadas neste país. Inicialmente pareciam ser dotadas de todos os elementos para o sucesso; foi somente depois de prolongados experimentos que tive condições de averiguar que, mesmo modificadas, tais colméias são, praticamente todas, imprestáveis para a enxamea-ção artificial.

Uma das leis da colméia diz que as abelhas que têm uma ra-inha não madura, raramente constroem alvéolos para operárias, constroem apenas os destinados para a estocagem de mel que são muito grandes para a criação de operárias. Antes de ler aten-tamente o manuscrito do Mr. Wagner, traduzido por Dzierzon, pensava que eu era o único observador que tinha sido alertado para o significado deste fato notável na enxameação artificial. Pode parecer, inicialmente, inexplicável que as abelhas possam construir apenas favos não adequados para a criação quando sua jovem rainha necessitará, muito em breve, de alvéolos de o-perárias para seus ovos; mas deve ser lembrado que, nestas oca-siões, elas estão em condição "anormal" ou não natural. Na natu-reza elas raramente enxameiam até que suas colméias estejam cheias de favo; ou, se o fizerem, o número de abelhas ficará tão reduzido que raramente elas terão condições de retomar a cons-trução de favo até que a jovem princesa tenha emergido.

A determinação das abelhas que não têm rainha madura de construir favos apenas para o armazenamento de mel e não a-propriados para a criação de operárias, mostra muito claramente a insensatez de tentar multiplicar as colônias com colméias divi-síveis. Mesmo que o apicultor tenha sucesso na divisão da colô-nia, isto é, que a parte sem rainha trabalhe para repor sua per-da, se esta metade tiver abelhas suficientes para construir favos novos para qualquer propósito, construirão favos apenas para o armazenamento de mel; usarão para a criação a metade da col-méia oriunda da divisão e que contem favos velhos. No ano se-guinte, esta colméia é dividida, uma das metades contem quase toda a cria, enquanto a outra, tendo a maioria de seus favos pre-parados apenas para o armazenamento de mel, ou criação de zangões, será um fracasso total.

Mesmo com o uso da colméia de Huber, a proposta de multi-plicar as colônias pela divisão da colméia inteira em duas partes

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e acrescentar outra metade vazia a cada metade, exigirá um grau de habilidade e prática, muito acima do que se pode esperar do apicultor normal. As mesmas observações são válidas para todas as colméias de quadros ou barras que não possibilitam suficiente permuta entre as partes às quais os quadros estão ligados; como as abelhas constroem normalmente seus favos levemente ondu-lados, e alguns mais grossos do que outros, serão encontradas dificuldades práticas, quase insuperáveis, para se fazer as ne-cessárias trocas de favo em tais colméias.

Concluí-se que o método de multiplicar colônias por colméias divisíveis comuns é muito mais trabalhoso e incerto do que pela enxameação natural. Todo apicultor prático que tentou usá-lo fi-cou feliz ao abandoná-lo e retornar ao modo antigo.

Alguns apicultores tentaram multiplicar suas colônias deslo-cando uma família forte, enquanto milhares de seus habitantes estão no campo para um novo cavalete e colocando uma colméia vazia em seu lugar, com um pedaço de favo de cria apropriada para a criação de rainha. Este método é até pior do que o acima descrito. Naquele, metade da colméia divisível ficou cheia de favo com cria, enquanto neste a colméia vazia ficou com quase nada e tudo que for construído antes de a rainha emergir será de tama-nho impróprio para a criação de operárias. A parte sem rainha da colméia divisível pode também conter uma rainha jovem qua-se madura, de modo que a construção de favos grandes cessará imediatamente; assim que a princesa emergir as abelhas come-çarão a construir favos de operárias1. Quando uma nova colônia é formada pela divisão de colméia velha, a parte sem rainha tem milhares de alvéolos com cria e ovos, e abelhas jovens estarão emergindo por pelo menos três semanas: ao final deste tempo, a jovem rainha estará pondo ovos normalmente, assim que haverá um intervalo de não mais do que três semanas, durante o qual a colônia não estará recebendo acréscimo. Mas quando um novo enxame é formado, pelo último método descrito, nenhum ovo se- 1 Ao criar enxames artificiais deslocando uma colméia completa, minhas abelhas têm construído favos com quase quatro polegadas de grossura; e tem, posterior-mente, acrescentado na parte inferior alvéolos de operárias para a postura da jo-vem rainha. As abelhas sem rainha fazem uma construção grosseira tão unifor-me, ou favo de zangão, que muitas vezes um relance apenas sobre os favos de uma nova colônia, mostrará se ela está sem rainha, ou que, tendo estado, acabou de criar uma nova rainha. Não é necessário que a rainha tenha começado a botar ovos para induzir sua colônia a construir alvéolos de operárias; conheci um en-xame forte com uma princesa quase encher sua colméia com belos favos de ope-rárias antes de ser depositado o primeiro ovo nos alvéolos.

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rá posto por quase três semanas, e nenhuma abelhas emergirá por quase seis semanas. Durante todo este tempo, a colônia de-crescerá rapidamente1; e quando a descendência da nova rainha começar a amadurecer, a nova colméia terá tão poucas abelhas, a ponto de, seguidamente, não ter valor algum, mesmo que seus favos sejam da melhor construção.

Depois de testar intensamente esta última proposta de en-xameação artificial, conclui que ela não tem o mínimo valor; e como este é o método que os apicultores tem tentado normal-mente não é estranho que, até agora, eles tenham condenado ve-ementemente a enxameação artificial.

Outro método de enxameação artificial tem sido zelosamente defendido, que parece exigir o mínimo de trabalho e habilidade e pode ser praticado em qualquer lugar, desde que se consiga exe-cutá-lo. Algumas colméias são conectadas através de buracos a fim de permitir que as abelhas de qualquer uma possam circular pelas demais. As abelhas, nesta configuração, se colonizarão a si mesmas, e é certo que no tempo apropriado, um enxame sim-ples, por sua própria decisão, formará famílias independentes, cada uma possuindo sua própria rainha, e todas vivendo em harmonia perfeita.

Este método, maravilhoso na teoria, repetidamente tentado com várias e engenhosas modificações, se mostrou em todas as ocasiões um fracasso total. Se for permitido que as abelhas pas-sem de uma colméia para a outra, elas limitarão suas operações de criação quase exclusivamente a um simples compartimento, se ele for de tamanho normal, e usarão os outros quase exclusi-vamente para estocar mel. Este é, quase invariavelmente, o caso se for acrescentado espaço adicional por caixas colaterais ou a-penas de um lado; a rainha dificilmente entrará nestes compar-timentos com o propósito de botar ovos; se, no entanto, a nova colméia é colocada diretamente em baixo daquela em que o en-xame está alojado, e as passagens forem satisfatórias, é quase certo que ela descerá e porá seus ovos nos favos novos assim que eles forem iniciados pelas abelhas. Ficando a colméia superior quase totalmente abandonada por ela, e assim que a cria emer-

1 Todo apicultor observador deve ter constatado quão rapidamente diminui o número de abelhas de um grande enxame, durante as três primeiras semanas depois de ele ter sido alojado na colméia. A mortandade de abelhas, durante o pi-co da estação de trabalho, é tão grande que, muitas vezes, em tempo menor do que as três semanas ele fica com apenas a metade de seu número original.

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gir, as abelhas enchem os alvéolos com mel, seu instinto as im-pele a manter seus estoques de mel, se possível, acima dos al-véolos da cria. Enquanto as abelhas tiverem espaço em abun-dância no ninho inferior, elas muito raramente enxameiam, mas se for nas laterais de sua colméia, ou acima dela, elas muitas ve-zes enxameiam antes de tomarem posse dele. Em nenhum des-tes casos, no entanto, elas formam colônias independentes, se deixadas por elas mesmas.

O apicultor habilidoso pode, sem dúvida, compelir suas abe-lhas a criar uma colônia artificial, separando-a da colméia prin-cipal, com uma lâmina, um compartimento que contenha cria; mas, a menos que suas colméias permitam inspeções totais, sem o que ele nunca saberá sua condição exata, ele mais provavel-mente fracassará do que será bem sucedido. Esta teoria plausí-vel se reduz, assim, a uma prática empírica e precária, exige mais habilidade, cuidado, trabalho e tempo, do que o necessário para manejar as colméias de enxameação normais.

O fracasso tanto dos apicultores experientes como dos inex-perientes, nas diversas tentativas de aumentar o número de co-lônias através da enxameação, levou a maioria a defender o uso geral das colméias não enxameadoras. Em tais colméias, colhei-tas de mel realmente grandes são muitas vezes conseguidas com colônias de abelhas fortes; mas é evidente que se a formação de novas colônias for desencorajada genericamente, o inseto será exterminado rapidamente.

Embora a colméia de quadros móveis possa ser mais efetiva para prevenir a enxameação do que qualquer outra com a qual tenho me familiarizado, existem ainda algumas objeções à pro-posta de não enxameação que não podem ser removidas. Sem mencionar e não aumentar o número de famílias, as abelhas trabalham normalmente com menos vigor depois de serem man-tidas em colméias não enxameadoras por várias estações. Isto será óbvio a qualquer um que comparar a super-abundante e-nergia de um novo enxame, com o trabalho mais lento até mes-mo de uma família mais forte que não enxameou.

Uma rainha velha, cuja fertilidade se tornou debilitada, pode ser facilmente apanhada e removida de uma colméia de quadros móveis; mas quando são usadas colméias em que isto não pode ser feito, o apiário terá rainhas que já passaram seu apogeu e al-gumas que podem morrer quando não existirem ovos dos quais podem ser criadas outras.

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Em nenhum assunto o autor deste trabalho experimentou mais intensamente do que na enxameação artificial; e os apicul-tores aos quais este capítulo possa, de início, parecer desneces-sariamente difuso, constatarão que ele contem muitos princípios fundamentais, os quais, em qualquer outra situação, deveriam exigiriam muito mais detalhes.

Antes de detalhar os vários métodos da enxameação artificial que podem ser praticados na colméia de quadros móveis, quero descrever um que pode ser usado com quase todas as colméias, por estes que tem suficiente segurança para manejar abelhas.

Durante a estação da enxameação natural, aquilo que cha-mo enxame forçado, pode ser obtido de uma família populosa1, pelo seguinte processo. Escolha a parte mais agradável do dia, quando a maioria das abelhas estiver fora, e se alguma estiver amontoada no alvado ou fora do ninho, sopre algumas baforadas de fumaça entre elas - a melhor é a de madeira podre - para for-çá-las a subir para entre os favos. As abelhas entrarão mais ra-pidamente se a colméia estiver inclinada para trás, ou elevada por pequenas cunhas, em cerca de um quarto de polegada (6mm) acima do fundo. Tenha à mão uma caixa - que posso chamar de caixa para forçar – cujas dimensões sejam quase iguais às da colméia do qual você pretende retirar um enxame. Levante a colméia de seu fundo, gire-a sobre si e, cuidadosamente, deslo-que-a de cerca de um rod2, pois as abelhas quando perturbadas ficam tranqüilas, se forem deslocadas a pequena distância do suporte original. Se a colméia for colocada, suavemente, com o fundo para cima sobre o solo, dificilmente uma abelha voará, e o perigo de ser ferroado será muito pequeno. O tímido e inexperi-ente pode se proteger com a indumentária de apicultor e pode borrifar as abelhas com água açucarada ou soprar mais fumaça entre elas assim que a colméia for virada. Depois de colocar a colméia sobre o solo, a caixa de forçar deve ser colocada sobre a colméia e toda abertura entre as duas, pela qual as abelhas pos-sam sair3, deve ser vedada com papel, ou outro material conve-

1 "Forçar enxames é mais fácil em clima ameno e com famílias populosas; se os favos não estiverem construídos até embaixo, pois assim as abelhas têm condi-ções de se amontoarem no espaço vazio em vez de subir até a caixa superior." - Bevan 2 Segundo Michaelis – rod: 5. Pode ser entendido como 5 metros. N. T. 3 Pessoalmente uso uma caixa, cujos cantos internos são inclinados, para facili-tar a escalada das abelhas, e o fundo preso com dobradiça, para que ela possa ser aberta para ver a rainha quando ela subir com as abelhas. As poucas abelhas

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niente. A caixa para forçar, se for lisa internamente, deve conter sarrafos presos a um terço de distância do topo para ajudar as abelhas a se amontoarem.

Assim que o apicultor tenha confinado as abelhas, ele pode colocar uma colméia vazia - que poderia chamar de colméia isca - sobre o suporte original, na qual as abelhas que retornam do campo entrarão, em vez de se dispersar pelas outras colméias, onde encontrarão, talvez, recepção muito desagradável. Como re-gra geral, no entanto, uma abelha carregada de mel ou pão de abelha, depois que a quantidade dos seus recursos for apurada, tem quase certeza de ser bem-vinda em qualquer colméia para a qual ela levar seu tesouro; enquanto a desafortunada e assolada pela pobreza que pretenda suplicar hospitalidade é, normalmen-te, imediatamente aniquilada. Um homem rico que se propõe a transformar a estalagem numa vila interiorana é quem encontra uma recepção agradável, enquanto o outro é mais um objeto de antipatia como um pobre homem, cuja oferta acaba se tornando um encargo público.

Retornando ás nossas abelhas aprisionadas: a sua colméia deve ser batida suavemente com as palmas das mãos, ou dois pequenos sarrafos, nas laterais em que os quadros estão pendu-rados, para não haver risco de perdê-los1. Estas "batidas", que na verdade não tem caráter "espiritual", produzem, entretanto, um efeito decisivo sobre as abelhas. O primeiro impulso delas, se não for usada fumaça, é de irromper para fora, e descarregar sua ira sobre quem fustiga tão rudemente sua casa de mel; mas as-sim que elas inalam fumaça e sentem o terrível abalo edem sua casa até então estável, se apodera delas o súbito temor de que elas terão de abandonar os seus tesouros. Determinadas a se preparar para este despejo sem cerimônia carregando o que pu-derem, cada abelha começa a buscar o suprimento e, em cerca de cinco minutos, todas ficam cheias até sua capacidade máxi-ma. Um prodigioso zumbido é ouvido agora, quando elas come-çam a subir para o ninho superior; em cerca de quinze minutos depois que começaram as batidas - se eles continuarem a pe-quenos intervalos - a massa de abelhas, com sua rainha, ficará

que voam, mesmo que não estejam cheias de mel estão muito confusas pela mu-dança de posição para realizar qualquer ataque. 1 Nas colméias velhas o risco de perder os quadros é pequeno, mas é necessária uma grande precaução quando os quadros da colméia são novos. Se ao inverter a colméia, as laterais dos quadros forem inclinadas e não suas extremidades, o ca-lor e o peso das abelhas pode levar a perder os favos e destruir a colméia.

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amontoada e pendurada na caixa para forçar, como qualquer enxame natural e as abelhas podem, em tempo apropriado, se-rem facilmente sacudidas, sobre uma folha, em frente da colméia onde se deseja alojá-las.

Se o enxame forçado puder agora ser colocado no suporte o-riginal, e a colméia materna transferida para um novo local no apiário, ou a última puder retornar para a posição original, e a anterior ser colocada em outro lugar, a produção de enxame arti-ficial seria enormemente simples. Nenhum método, no entanto, é infalível; toda vez que o apicultor alterar a localização da colméia, as abelhas não ficarão no novo local, como elas fazem quando enxameiam por sua própria decisão.

Sempre que a localização de sua colméia for mudada, toda abelha, quando sai, voa com a cabeça voltada pra trás, como se estivesse marcando os objetos em volta que ela poderá encontrar ao retornar. Se, no entanto, as abelhas não emigraram por sua própria vontade, muitas delas não percebendo que sua localiza-ção foi alterada, retornam para o ponto familiar; como se,

"A 'bee removed' against its will, Is of the same opinion still."

Se o apicultor, esquecendo este fato, colocar o enxame força-do no local antigo e a colméia materna no novo lugar a última pode perder tantas abelhas, que nela deveriam ser retidas, que a maioria da cria não operculada pode perecer por falta de abelhas para cuidar. Se, ao contrário, ele remover o enxame forçado para a nova posição, ele pode ficar tão despovoado que pode ser de pouco valor.

Estas dificuldades podem ser evitadas transportando a col-méia para local que diste de cerca de meia milha da sua posição original, em cujo caso, se a forragem é abundante, praticamente todas as abelhas permanecerão em sua nova posição. Alguns re-comendam que elas sejam transportadas a pelo menos três mi-lhas; mas constatei que isto não é necessário, a menos que haja uma deficiência de forragem nas proximidades da nova posição. Se as colônias forem transportadas, recomenda-se seguir à risca as instruções fornecidas em outro lugar1 para o transporte de abelhas; da mesma forma que as instruções para reter um nú-

1 O extenso índice alfabético existente no final, torna fácil encontrar qualquer as-sunto discutido neste livro.

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mero suficiente de abelhas na colméia materna. A que não for transportada pode ser posta no suporte original.

Como o transporte de colônia é trabalhoso e, muitas vezes, caro, descreverei os métodos que, após anos de experimentações, passei a utilizar. Verifiquei que se uma colméia é removida, a maioria das abelhas que, ao retornar do campo, pousar nas col-méias vizinhas, caso recebida amistosamente, não mais retorna para a posição original. Mesmo que a perda temporária de sua antiga morada ocorra por uma distração cria-se nelas uma im-pressão permanente e elas marcam o novo local cuidadosamente como um novo enxame. Constatei que, com base no mesmo princípio, praticamente todas as abelhas que retornam do cam-po, enquanto o enxame está sendo forçado da colméia materna, entrarão nesta colméia se ela for colocada sobre o suporte origi-nal, e a ela se juntarão onde quer que ela seja instalada.

Desta forma, assim que o apicultor tenha forçado o enxame, a colônia forçada deve ser transportada e instalada em local à sombra onde as abelhas não fiquem sufocadas. A colméia ma-terna pode, agora, ser colocada, sem esmagar nenhuma abelha, no suporte original, para que toda abelha que retornar do forra-geamento entre nela. As abelhas que, antes disto, estavam indo e vindo da caixa isca, num estado de grande agitação, entrarão em sua velha casa, e depois se juntarão a ela onde quer que ela seja instalada! Ela pode agora ser transportada para um novo supor-te, e sua entrada1 fechada até o entardecer. Se esta precaução não for adotada, as abelhas das outras colméias, se certificando de sua fraqueza e de estar sem rainha, tentarão roubá-la.

Se a colméia da qual o enxame foi forçado tinha intenções de enxamear, ela conterá princesas em amadurecimento, uma das quais brevemente tomará o lugar da velha rainha, como na en-xameação natural. Se não existir realeira em andamento, as abe-lhas iniciarão sua construção.

Colônias artificiais não deveriam ser formadas antes do apa-recimento dos zangões, pois a jovem princesa pode não ser fe-cundada e a colônia materna poderá perecer.

1 Ao fechar a entrada, o apicultor cuidará para manter ventilação suficiente, mas não a ponto de congelar a cria. Se o clima se tornar repentinamente muito frio, e a colméia for de paredes finas, recomenda-se cobri-la com algo que ajude a pre-servar o calor interno. Os mesmos cuidados são, muitas vezes, necessários para as colméias que enxamearam naturalmente.

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Retornemos agora para o enxame forçado. As abelhas devem ser sacudidas da caixa para forçar, e alojadas como um novo en-xame, quando, se instaladas no local original, elas trabalharão tão vigorosamente como um enxame natural. Se elas forem for-çadas para uma colméia que convem ao apicultor, esta deve ser instalada no local, original sem perturbar as abelhas.

Se, ao forçar o enxame ou ao transferi-lo da caixa para for-çar, a rainha não for vista, é possível ter certeza, dentro de cinco a quinze minutos depois de as abelhas terem entrada na nova colméia, se ela está ou não entre as abelhas.

Se as abelhas não encontrarem a rainha assim que se amon-toaram na colméia algumas saem e circulam, como procurando ansiosamente por algo que foi perdido. O alarme é comunicado de imediato a toda a colônia; as exploradoras são imediatamente reforçadas, as ventiladoras suspendem suas operações e, em se-guida, o ar fica repleto de abelhas. Se elas não conseguirem en-contrar a rainha, elas retornam para seu local original, e se ali não existir colméia, em breve entram em alguma colméia vizinha. Se sua rainha lhes for restituída, logo depois de perdida, as que estiverem circulando fora da colméia darão meia volta e retorna-rão; a boa nova é de imediato comunicada às que ainda estão em vôo que em seguida pousam e entram na colméia; cessam todas as corridas agitadas em volta da colméia, e a ventilação, com seu zumbido alegre, é novamente retomada1. Se as abelhas perma-necerem quietas na nova colméia por cerca de quinze minutos é quase certo que a rainha está entre elas.

Se o apicultor, ao produzir enxame artificial, não enxergar a rainha deve esperar até que as abelhas lhe mostrem, por sua

1 Para testemunhar esta conduta interessante, é necessário apenas capturar a rainha, e segurá-la até que a colônia perceba tê-la perdido. Para maior seguran-ça, normalmente eu a encerro, quando retirada das abelhas, num pequeno canu-do de papel, com as pontas dobradas, do qual ela pode ser facilmente liberada.

É um erro supor que um enxame não entrará numa colméia a menos que a rai-nha esteja com ele. Se algumas iniciarem, as outras em seguida as seguirão, tudo parecendo garantir que a rainha está entre elas. Mesmo depois que elas começam a se dispersar à procura dela, elas podem, muitas vezes, serem induzidas a re-tornar, um lote fresco de abelhas que for despejado na frente da colméia que a-banará as asas ao entrar na colméia fazendo as demais acreditarem que a rainha virá em seguida.

As abelhas que perdem sua rainha, nestas circunstâncias, aceitarão qualquer chapéu velho que lhes for oferecido; e podem, muitas vezes, serem acalmadas com favo de operária.

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conduta, se ela as acompanha ou não. Se elas começarem a dei-xar a colméia a entrada deve ser fechada, para confiná-las até que a colméia materna possa ser tamborilada novamente e a rai-nha, se possível, apanhada. Se não for possível induzir a rainha a deixar a colméia materna, e não se dispuser de outra para substituí-la, deve-se devolver as abelhas e a tarefa será retomada em outra hora. É provável, no entanto, que a rainha que não sa-iu da primeira vez persistirá em sua recusa.

Tenho recomendado que os enxames sejam forçados quando muitas operárias estejam no campo, de forma que elas sejam in-duzidas a aderir à colméia materna. Muitos apicultores, no en-tanto, preferem fazer seus enxames no início da manhã, ou no final da tarde, quando poucas abelhas estão coletando. Neste ca-so, um número apropriado de abelhas aderentes deve ser forne-cido para a colméia materna, sacudindo as abelhas da caixa de forçar sobre uma folha, para que elas entrem na colméia em que elas deverão residir permanentemente, muitas levantarão vôo e retornarão para a colméia isca. Depois que estas abelhas mos-trarem estar conscientes de terem perdido sua rainha, por voa-rem em grande confusão para dentro, fora e sobre a colméia, a colméia materna deve lhes ser apresentada e assim que elas tive-rem entrado, transferida para uma nova posição no apiário, e o enxame forçado colocado na posição original. Se for deixado um quarto das abelhas na colméia materna, o suprimento será grande; maior, na verdade, do que o deixado normalmente na enxameação natural.

Se no apiário existirem muitas colméias velhas muito próxi-mas é muito desejável, ao executar todas estas operações, que a colméia isca, bem como a utilizada para forçar o enxame, seja da mesma forma e até mesmo da mesma cor que a da colméia ma-terna. Se elas forem muito dissimilares as abelhas que retornam tentarão entrar nas colméias vizinhas, por causa de sua seme-lhança com a velha moradia, as colméias próximas devem ser cobertas com folhas para escondê-las das abelhas até que a ope-ração esteja concluída.

Algumas vezes consigo um suprimento de abelhas aderentes para a colméia materna, colocando-a no antigo lugar e instalan-do o enxame forçado num novo lugar. A maior parte das abelhas retornará para sua antiga moradia; algumas, no entanto, per-manecerão com sua rainha e começarão a trabalhar na nova colméia. Em dois ou três dias, troco de posição as duas colméias,

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quando abelhas suficientes, que ficaram acostumadas com o no-vo lugar, retornarão para ele e se engajarão nas atividades da colméia materna. Esta proposta tem a vantagem de reter muitas abelhas na colméia materna até que as realeiras tenham sido i-niciadas; ela se ajusta, também, para os apicultores que estejam pressionados pelo tempo e são obrigados a forçar suas colméias no início da manhã ou final da tarde, quando poucas abelhas es-tão espalhadas pelos campos.

Se a colméia materna ficar a alguma distância das outras, e for semelhante em forma, tamanho e cor com a colméia para a qual se tenciona forçar a enxameação, a divisão apropriada das abelhas pode ser realizada como segue: colocar a colméia mater-na cerca de seis polegadas (15cm) para a direita do local original e o enxame forçado em mesma distância para a esquerda; de forma que cada uma fique eqüidistante da posição original da entrada. Se alguma das colônias contiver poucas abelhas, ela pode ser mantida um pouco mais próxima da entrada original; ou ela pode ser reforçada, depois que as abelhas saírem para o trabalho, fechando a entrada da colméia mais forte até escure-cer.

Se as colméias velhas ficam muito próximas, alguns prefe-rem outro modo para a enxameação artificial. Depois que as abe-lhas foram forçadas da colméia materna, o enxame forçado é co-locado no local antigo, enquanto a colméia materna na qual foi deixado um número apropriado de abelhas, é colocado em local frio e fechada - tomando cuidado de manter ventilação - até o fi-nal da tarde do terceiro dia. Agora ele pode ser instalado no local definitivo e aberto uma ou duas horas antes do por do sol, quan-do as abelhas levantarão vôo como se tencionassem enxamear. Algumas se juntarão ao enxame forçado no local original, mas a maioria, depois de circular um pouco no ar, re-entrará na sua colméia. Enquanto a entrada esteve fechada, milhares de abe-lhas novas emergiram e estas, todas, não conhecendo outra mo-radia, se engajarão nas tarefas da colméia. As abelhas aprisiona-das devem ser supridas com água para lhes ser possível preparar comida das larvas. Na colméia comum esta pode ser injetada com canudo através de furo feito com broca.

Para os locais onde é praticada a enxameação artificial em grande escala, elaborei um plano que eu prefiro a qualquer um dos anteriormente descritos. Inicia com o apicultor obtendo um

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enxame forçado1 de algum apicultor, que diste uma ou duas mi-lhas do seu apiário, ou de alguma de suas próprias colméias, le-vadas para a mesma distância antes de as abelhas começarem a trabalhar na Primavera. Trazer o enxame para casa, seguindo as instruções fornecidas para o transporte de abelhas, e deixar as abelhas confinadas em local frio, com ventilação adequada da colméia. No final da tarde, ou início da manhã seguinte, forçar quatro a cinco enxames2, colocando-os no local da colméia ma-terna, e as colméias maternas onde se tenciona que elas fiquem permanentemente. O enxame trazido de longe pode agora ser sa-cudido sobre uma folha, na distância de um pé ou mais da col-méia e as abelhas serão borrifadas com água, para prevenir que elas levantem vôo. Com um recipiente retirar um punhado, sem ferir as abelhas, tantas quantas for possível, e levá-las para a boca de uma das colméias velhas, da qual o enxame foi retirado. Continuar a proceder assim, até que as abelhas tenham sido i-gualmente distribuídas, e se restar alguma sobre a folha, levá-las para a boca da colméia que recebeu menos3. Estas abelhas não possuindo, previamente, nenhuma moradia no apiário se reú-nem às diferentes colméias em que as demais foram colocadas e, assim, sem outro problema, sua colméia materna e os enxames forçados prosperarão igualmente.

Uma grande vantagem deste método sobre os demais é que ele assegura, de modo simples e efetivo, o número de abelhas necessárias para a colméia materna. As pessoas inexperientes, em vez de ficarem confusas por não saberem quantas abelhas e-las devem deixar nos enxames forçados, devem retirar deles, se puderem, todas as abelhas. Se o apicultor não conseguir um en-xame de longe, ele pode usar para este propósito, o primeiro en-xame natural que chega no apiário; retardando a produção de colônias artificiais até que os enxames naturais comecem a sair, cada um destes enxames pode ser usado para formar pelo menos

1 O processo poderá ser igualmente utilizado se a enxameação artificial for retar-dada até iniciar a enxameação natural. 2 Um habilidoso forçará todos em tempo igual ao normalmente despendido por um novato para forçar apenas um. Assim que a caixa de forçar estiver colocada sobre a colméia, ele retirará outra do seu suporte, e assim as demais, e ao tam-borilar ele passará de uma para outra, não perdendo tempo na operação total. Dez enxames artificiais, ou até mais, podem ser obtidos, desta forma, em menos de uma hora, antes do sol nascer ou depois do sol se por. 3 A rainha pode ser procurada, apanhada e introduzida numa das colméias que será identificada. Se ela entrar numa colméia vazia poderá ser facilmente captu-rada.

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quatro enxames artificiais. Pelo método recomendado pelo Dr. Donhoff, da Alemanha, o apicultor pode garantir que uma colô-nia, quando dividida pelo método acima mencionado, aceite a nova localização: "Ao entardecer, quando o próximo dia promete ser claro e ameno, force um enxame e o instale no local da col-méia materna. No próximo dia, quando estiver ameno, espalhe um pouco de mel entre as abelhas dentro da caixa, e em poucas horas elas enxamearão."1

As instruções fornecidas para a formação de colônias artifi-ciais, diferem, em alguns aspectos relevantes, das fornecidas pe-los outros escritores e são tão simples que qualquer um habitu-ado a manusear abelhas pode facilmente seguí-las. Elas permi-tem ao apicultor usar a colméia que desejar e não depender mais da enxameação natural para a multiplicação de seus enxames.

É óbvio, no entanto, que, para ter sucesso com a enxamea-ção artificial, se exige o conhecimento das leis que controlam a criação de abelhas. Aqueles, conseqüentemente, que desconhe-cem a organização da colméia de abelhas não conseguirãoaban-donar o antigo método de manejo; eles não estão preparados pa-ra as emergências com que podem se deparar a todo o momento. Um apicultor pode usar colméias comuns2 durante toda sua vida

1 Pode-se fazer que um enxame forçado aceite a nova localização da seguinte for-ma: prender sua rainha quando ele estiver sendo sacudido da colméia; quando as abelhas mostrarem que perceberam sua perda, confin-a-las em sua colméia, até que sua agitação tenha atingido o máximo. Depois abra a colméia e, assim que as abelhas começarem a levantar vôo, apresentar a elas a rainha (ver pág. 159). Quando as abelhas se amontoarem em volta dela elas podem ser tratadas como um enxame natural. Fazer isto com todo enxame forçado despenderá muito tem-po; mas será mais eficiente quando o enxame forçado deve ser dividido, como a-cima, em quatro ou cinco partes.

O Sr. P. J. Mahan, Filadélfia, me informou que ele teve sucesso por várias vezes em fazer uma colônia velha aceitar um novo local no apiário, batendo na colméia, depois de as abelhas serem fechadas, mesmo com o risco de ferir de leve alguns dos favos. Quando ela é aberta, as abelhas voarão em grande número, mas prati-camente todas retornarão para a colméia instalada no novo local. 2 "A oportunidade para observar os comportamentos da rainha em colméias co-muns é tão rara que muitos apicultores passaram suas vidas sem ter este prazer; o próprio Reaumur, mesmo com a ajuda de uma colméia envidraçada, reconhece que se passaram muitos anos antes de ele ter tido tal prazer." Bevan

Swammerdam, que escreveu um maravilhoso tratado sobre as abelhas, antes da criação da colméia envidraçada, se viu obrigado a despedaçar as colméias para fazer suas observações! Nos darmos conta dos valiosos resultados que estes grandes gênios conseguiram, com meios tão imperfeitos, comparados com as fa-cilidades que o mais novato agora dispõe, é uma verdadeira lição de humildade.

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e, a menos que ele consiga informações de outras fontes, conti-nuará ignorando alguns dos mais relevantes princípios da fisio-logia da abelha: enquanto todo apicultor esperto pode, com qua-dros móveis, numa única estação, verificar por ele mesmo as descobertas que foram feitas por muitos observadores, durante mais de duas centenas de anos.

Com a ajuda da colméia de quadros móveis, a enxameação artificial pode ser levada a cabo fácil e prontamente. Uma col-méia vazia, com seus quadros adequadamente arranjados, deve estar à mão para receber o novo enxame; antes de retirar a col-méia materna de seu suporte, deve-se soprar um pouco de fu-maça na sua entrada, a qual deve então ser fechada com os blo-cos móveis. Remover, agora, uma ou duas das lâminas que co-brem os furos do spare honey-board (Lâmina VIII, Fig. 21), e so-prar fumaça para dentro da colméia, até que as abelhas produ-zam um surdo zumbido, quando a spare honey borad pode ser solta com uma faca, e removida com segurança, tomando cuida-do de apoiá-la pelos cantos para não esmagar as abelhas que normalmente cobrem sua face. Não há necessidade de temer as abelhas, elas estão completamente desnorteadas pela súbita ex-posição à luz e deslocamento da colméia. Qualquer uma das "su-pers"1 grandes usadas em minhas colméias, ou qualquer outra caixa de dimensões apropriadas, pode agora ser colocada sobre as abelhas, para dentro da qual elas serão forçadas, na forma descrita na página 155. Um pouco mais de fumaça soprada na entrada da colméia, elimina a necessidade de mais batidas, e a-

Os sentimentos descritos a seguir, extraídos de Swammerdam, devem ser grava-dos no coração de todo aquele que desejar investigar o trabalho de Deus: "Gosta-ria que ninguém pensasse que eu disse isto por gostar de encontrar falhas" - ele estava criticando alguns desenhos e descrições incorretos - "meu único objetivo é obter a verdade e retratar corretamente a natureza. Espero que outros possam fazer as mesmas críticas, quando pertinentes, aos meus trabalhos; não duvido que eu tenha cometido muitos erros, no entanto eu quero, de coração, dizer, que não pretendo, neste tratado, enganar. *** O desejo de escrever é tão predominan-te, que os homens publicam livros cheios apenas de fantasias da sua mente e as-sim deturpam a Deus e seu trabalho. Que Deus me proíba de fazer isto. A verda-de, e o escrúpulo religioso da mente, deveriam sempre prevalecer ao descrever as coisas naturais; elas são a Bíblia dos milagres divinos. Se alguém escreve para enganar a si mesmo e aos outros, é bom que saiba que com o tempo tudo será revelado." 1 Este termo é usado pelos apicultores para identificar toda caixa colocada sobre a colméia principal inferior. Uma colméia vazia, semelhante à da Lâmina I, Fig. 1, ou uma colméia semelhante à da Lâmina II, Fig. 2 - se invertida - atenderá como caixa de forçar.

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celera a subida das abelhas1. Depois de elas terem subido, da colméia materna seguir as instruções que já foram minuciosa-mente descritas.

Quando o apicultor aprender como manusear com segurança os quadros móveis - em breve serão fornecidas instruções com-pletas de como agir - ele pode dispensar a caixa de forçar, e fazer seus enxames levantando os quadros da colméia materna e deles sacudindo as abelhas, através de um movimento brusco, sobre a folha, diretamente na frente da nova colméia. Assim que o qua-dro estiver livre das abelhas, ele pode ser devolvido para a col-méia materna. Se um ou dois quadros contendo cria, ovos e re-servas forem dados para o novo enxame, ele ficará mais bem provido e, talvez, não necessite de alimentação, se o clima for desfavorável. Ao remover os quadros, o apicultor pode procurar pela rainha e dar o quadro no qual ela se encontra para o enxa-me forçado, sem sacudir as abelhas. Se ele não enxergar a rai-nha sobre o favo, algumas vezes ele conseguirá encontrá-la, de-pois de um pouco de prática, quando ela for sacudida, junto com as abelhas, sobre a folha e estiver caminhando em direção da nova colméia. A rainha, muitas vezes, permanece sobre o favo que é sacudido para que as abelhas caiam. Assim que o número necessário de abelhas for transferido para a nova colméia, os cuidados já informados devem ser usados para obter abelhas a-derentes para a colméia materna.

Se for garantida uma população apropriada de abelhas para a colméia materna pelo método descrito na página 162, a col-méia do enxame forçado pode ser colocada no local antigo, e as abelhas da colméia materna sacudidas dos quadros sobre uma folha, colocada de tal forma que elas possam facilmente correr para a sua nova colméia.

Se os enxames forçados forem feitos um pouco antes da épo-ca em que ocorre a enxameação natural, algumas das colméias maternas conterão algumas princesas em amadurecimento que podem ser removidas, alguns dias antes de eclodirem, e introdu-zidas nos que ainda não iniciaram a construção de realeira.

Fazendo alguns enxames forçados, cerca de uma semana ou dez dias antes da data em que a maioria será feita, poderá existir uma abundância de rainhas operculadas, quase maduras, a

1 Poderá ser economizado tempo se preparando (pág. 162) para forçar vários en-xames de uma só vez.

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ponto de toda colméia materna ter uma. Se uma rainha opercu-lada for fornecida, com seu quadro a cada família que necessite de uma, será muito melhor; mas se não existirem quadros sufici-entes com rainhas operculadas, enquanto alguns contem duas ou mais, o apicultor pode proceder como segue:

Com um canivete afiado, remover cuidadosamente um peda-ço de favo, uma polegada quadrada (quadrado com 2,5cm de la-do) ou mais, que contenha a realeira; num dos favos da colméia, na qual a realeira será introduzida, cortar uma abertura com largura suficiente para receber e fixar o pedaço de favo com a re-aleira que será mantida em sua posição original. Se ele não ficar firme aplicar, com uma pena, um pouco de cera derretida, onde as bordas se encontram, e as abelhas em seguida o prendem como lhes for conveniente.

Se não for tomado muito cuidado na transferência da realei-ra, sua ocupante pode ser destruída, uma vez que seu corpo, an-tes de atingir a maturidade, é tão extraordinariamente sensível que a compressão mínima da realeira - especialmente junto da base, onde não existe casulo - geralmente é fatal. Por esta razão, deve-se evitar removê-la, antes de ela estar a três ou quatro dias da emergência. Uma realeira, quase madura, pode ser reconhe-cida por ter a cera da tampa removida, pelas abelhas, razão pela qual ela fica com coloração marrom.

Forçar a enxameação não deve ser efetuado quando o tempo estiver frio a ponto de congelar a cria; e nunca a não ser que a luminosidade permita, não só ao apicultor ver tudo distintamen-te, mas também para as abelhas, que levantarem vôo, poderem se orientar para a entrada da sua colméia. As abelhas normal-mente são mais irascíveis quando suas colméias são perturbadas depois de escurecer e, como elas não conseguem ver para onde voar, elas pousam sobre o apicultor, que pode ter mais certeza de ser ferroado. É raro executar algum trabalho noturno com a-belhas sem que o operador se arrependa da sua tolice. Se o clima não estiver muito frio, a melhor hora para a maioria das opera-ções, quando o risco de se aborrecer com as abelhas pilhadoras é menor, é no início da manhã, antes de as abelhas entrarem em atividade.

Para alguns dos meus leitores, pode parecer um pouco incrí-vel que as abelhas possam ser tratadas nas formas descritas sem ficarem altamente enfurecidas; até agora, no entanto, não é este o caso, pois em minhas operações muitas vezes não uso fumaça,

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nem água com açúcar, nem macacão, embora eu, de modo al-gum, recomende a omissão destas precauções. Enquanto o tími-do, se não protegido, está quase certo de ser ferroado, existem a-titudes e movimentos do operador corajoso e experto que parece, muitas vezes, golpeiam as abelhas com um terror repentino, a ponto de elas se tornarem totalmente submissas à sua vontade.

Enxames artificiais podem ser produzidos com segurança to-tal, mesmo ao meio dia, pois as milhares de abelhas que retor-nam com suas cargas nunca atacam e as de casa podem ser fa-cilmente pacificadas.

A proposta de remover a cobertura da colméia de quadros móveis e borrifar água com açúcar sobre as abelhas, antes de e-las tentarem levantar vôo, tem grandes vantagens. Se a colméia abrir na lateral, como a de Dzierzon, pode ser impossível fazer que a água doce escora por entre todos os favos e pode ser ne-cessário utilizar fumaça1 em quase todas as operações. O uso da fumaça faz, freqüentemente, a rainha, por segurança, abandonar os favos. Isto provoca, muitas vezes, atrazo na formação de en-xames artificiais pela remoção de quadros como também em ope-rações onde for desejável apanhar a rainha ou examiná-la sobre o favo.

Huber falou assim a respeito do efeito apaziguante produzido sobre as abelhas com uso de sua colméia de folhas: "Ao abrir a colméia, não há porque temer os ferrões, por causa de uma das propriedades mais singulares e valiosas apresentadas por minha construção, que é a de tornar as abelhas tratáveis. Eu atribuo sua tranqüilidade à forma como elas são repentinamente afeta-das pela entrada da luz; parece que elas se declaram antes me-drosas do que furiosas. Muitas se retiram e entram nos alvéolos, parece se esconderem." Huber cometeu, aqui, um erro que pro-vavelmente não teria cometido se tivesse usado seus próprios o-lhos. As abelhas ficam, na verdade, confusas pela súbita entrada da luz, e entram nos alvéolos, a menos que provocadas por um súbito abalo, ou pela respiração do operador, não, porém, "para se esconderem"; imaginando que sua doçura, exposta assim sem cerimônia, lhes será retirada elas se fartam a si mesmas, che-

1 Em algumas ocasiões, depois de usar fumaça duas a três vezes durante o dia, para abrir uma colméia na qual eu estava realizando experimentos, conclui que, no final, as astutas criaturas, em vez de se enxerem de mel, se apressavam em me atacar! Uma colônia nunca rejeita água doce e pode ser seguidamente presen-teada com ela.

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gando a quase rebentar, para salvar o que puderem. Elas sempre se apoderarão do conteúdo dos alvéolos abertos assim que os quadros forem removidos da colméia.

Não é a mera admissão súbita da luz, mas sua entrada desde um lado inesperado, que acalma a defensividade das abelhas. Parece que elas ficam, por alguns momentos, quase tão confusas quanto um homem pode ficar se, sem aviso prévio, o forro e te-lhado de sua casa forem subitamente arrancados de cima da sua cabeça. Antes de elas se recuperarem de seu assombro, todas se empenham em sugar1 o doce e sua surpresa é substituída por prazer; ou elas são saudadas com uma baforada de fumaça que, despertando-as para a necessidade de segurança dos seus tesou-ros, as induz a apanhar o que puderem. Na estação de trabalho, as abelhas próximas do topo estão empanturradas com mel; e as que chegam da parte inferior se deparam, em sua ameaçadora subida, ou com uma avalanche de néctar que, como "uma suave resposta", "acaba com sua fúria", mais efetivamente ou com uma fumaça inofensiva, que desperta seu temor mas não deixa cheiro desagradável para traz. Nenhum amante verdadeiro das abelhas deveria usar a repugnante fumaça de tabaco.

O máximo de cuidado deve ser tomado para conter, com á-gua doce ou fumaça, a primeira manifestação de fúria; como as abelhas comunicam suas sensações para as demais com uma rapidez quase mágica, a colônia como um todo saberá de imedia-to o prazer ou outras leves percepções sentidas por algumas, o que provocará, instantaneamente, a agitação coletiva graças ao zumbido agudo de fúria de uma única abelha. Depois de excita-das, será muito difícil acalmá-las e o infeliz operador, caso inex-periente, abandonará o intento muitas vezes em disparada.

Não se pode impressionar mais profundamente a um novato do que lhe mostrando que nada irrita mais as abelhas do que a respiração sobre elas e a agitação dos favos. Todo movimento de-ve ser pré-meditado e não tentar nada que possa perturbá-las. As abelhas se ressentem, seguidamente, de tudo que se interpu-ser em sua rota de vôo, mesmo um simples apontar de dedo, se

1 Se, quando a colméia é aberta pela primeira vez, for usado mel com água, em vez de água com açúcar ou fumaça, para borrifar as abelhas, o seu odor será re-almente capaz de atrair pilhadoras de outras colméias. Quando o fluxo de mel é abundante - e esta é a melhor época para forçar os enxames - as abelhas rara-mente são inclinadas a pilhar, se forem usadas as precauções apropriadas. Por vezes é difícil induzi-las a descobrir os favos de mel, mesmo quando expostos.

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lançando sobre ele e deixando para traz o seu ferrão. Um novato, ou uma pessoa com medo de ser ferroada, deverá, sem dúvida, proteger sua face e mãos.

Já foram fornecidas orientações (pág. 165), para remover a spare honey board da colméia. Assim que ela for removida, o a-picultor deve borrifar as abelhas com uma solução doce. Este borrifo deve sair do frasco num jato fino para não ensopar as a-belhas e sim cair sobre o topo dos quadros, bem como nos espa-ços vazios entre os favos. As abelhas aceitam o tratamento ofere-cido e começam a sugá-lo tão tranqüilamente como muitas gali-nhas comendo milho. Enquanto elas estão assim ocupadas, os quadros que as abelhas grudaram nos apoios, devem ser soltos suavemente com o formão; isto pode ser feito sem abalos mais sérios, e sem machucar ou irritar uma única abelha; os chanfros devem ser amplos o suficiente para permitir que os quadros se-jam empurrados de traz para frente e vice-versa. Se os chanfros tiverem largura suficiente apenas para receber as saliências dos quadros é necessário, ao soltar os quadros, deslocá-los lateral-mente, ou um contra o outro, lembrando que existe o risco de esmagar abelhas, ferir a cria, desfiguara quadros ou até matar a rainha.

Todos os quadros podem ser soltos para remoção em menos de um minuto1: neste tempo as abelhas borrifadas ter-se-ão en-chido ou, se nem todas tiverem, a informação de que foi forneci-do doce espalhará uma boa nova através do reino melífero. O a-picultor pode agora empurrar suavemente o terceiro quadro, de qualquer lado da colméia, um pouco contra o quarto quadro; em seguida o segundo quadro para tão próximo quanto possível do terceiro a fim de abrir espaço para levantar o último, sem esma-gar o favo ou machucar uma única abelha. Para removê-lo o api-cultor deve apanhá-lo pelas duas saliências que descansam nos apoios e levantar cuidadosamente, para não machucar nenhuma abelha por deixar o quadro tocar a lateral da colméia ou o qua-dro que estiver mais próximo. Se for intenção remover um qua-dro em particular, deve-se abrir espaço movendo, da mesma forma, os quadros de ambos os lados. Como as abelhas constro-em seus favos levemente ondulados, poderá ser difícil remover

1 Sem fumaça nem água doce, serão despendidos dez minutos para abrir e fechar um único favo da colméia do Huber e ainda assim, provavelmente, algumas abe-lhas serão esmagadas. A grande precaução, recomendada por Huber ao abrir sua colméia, mostra que ele próprio não sabia como evitar a irritação das abelhas.

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um quadro com segurança, sem abrir espaço desta maneira, pa-ra esta finalidade; se as barras de topo dos quadros não tiverem jogo suficiente sobre os chanfros e entre eles, os quadros não podem ser levantados da colméia sem esmagar favos e matar a-belhas. Ao manusear os quadros, ter cuidado para não inclinar pois os favos poderão quebrar por causa do seu peso e cair dos quadros.

Se forem examinados mais quadros, depois de erguido o mais externo, descansá-lo cuidadosamente pela extremidade, perto da colméia1, e o segundo poderá ser facilmente movido pa-ra o espaço vazio e levantado. Depois de examinar, colocar este no lugar do primeiro removido, da mesma forma examinar o ter-ceiro, e colocar no lugar do segundo e assim prosseguir até que todos tenham sido examinados. Se for intenção remover as abe-lhas, é possível sacudí-las sobre uma folha, como descrito ante-riormente. Se o primeiro favo que foi removido se ajustar, ele po-de ser colocado no lugar do último que foi retirado; se não se a-justar, e não for possível ajustá-lo por um leve desbaste, os qua-dros serão deslizados sobre os chanfros de volta para sua posi-ção original, quando então o primeiro favo pode retornar à sua posição original.

O operador inexperiente vendo que as abelhas construíram pequenos pedaços de favo entre as laterais dos quadros e as late-rais da colméia, ou grudaram levemente algumas partes dos fa-vos, pode imaginar que os quadros não podem ser removidos de modo algum. Estas pequenas uniões, no entanto, não oferecem nenhuma dificuldade prática para a remoção dos favos2. O obje-tivo a ser perseguido, é manter um único favo em cada quadro; e isto é conseguido pelo uso de guias triangulares de favo.

Se as abelhas estiverem dispostas a voar de seus favos, as-sim que eles forem retirados, em vez de ficarem pousadas neles

1 Se os quadros, assim que removidos, forem colocados numa colméia vazia, eles ficarão protegidos do frio e das pilhadoras. 2 Se não for providenciado espaço adicional para armazenar o excesso de mel que uma família forte, na sua ansiedade por acumular o máximo possível, acumula, serão construídos favos em todos os locais acessíveis. Os favos construídos entre o topo dos quadros e a tampa podem ser facilmente raspados e sua cera aprovei-tada. Se não for usada spare honey board, elas podem ligar a tampa aos quadros tão firmemente a ponto de se tornar muito difícil removê-la; toda vez que a tampa for removida as abelhas podem grudá-la mais firmemente, assim que, ao final, poderá ser quase impossível, ao retirá-la, não levantar os quadros esmagando as abelhas que se encontram entre eles.

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com notável tenacidade, será muito mais difícil manejá-los; mas se os seus favos, quando removidos, forem todos arranjados nu-ma seqüência contínua, as abelhas, em vez de os deixar, os de-fenderão com bravura contra a pilhagem de outras abelhas.

Ao devolver os quadros, deve-se tomar o cuidado para não esmagar abelhas entre eles e nos chanfros nos quais eles se a-poiam; os quadros devem ser colocados com tal suavidade que uma abelha, ao sentir a mais leve pressão, tenha a chance de se afastar antes de ser machucada. Ao fechar a colméia a tampa deve ser deslizada cuidadosamente, para que toda abelha que se encontra no caminho seja empurrada e não esmagada. O novato se sentirá mais confortável depois de treinar - usando uma col-méia vazia - as instruções para abrir e fechar as colméias e le-vantar os quadros, até adquirir confiança de ter entendido perfei-tamente. Se algumas abelhas estiverem onde elas possam ficar presas ao colocar a tampa, esta deve ser afastada um pouco, até que todas tenham voado para a entrada da colméia (Lâmina VII, Fig. 20).

Uma colônia artificial pode ser feita em cinco minutos desde a abertura da colméia, se a rainha for vista com a rapidez com que ela freqüentemente é, por um experiente. Quinze minutos é, em média, tempo suficiente para completar todo o trabalho. Em menos de uma semana, se o clima for ameno, um apicultor com uma centena de famílias, despendendo com elas algumas horas por dia, pode, sem assistente, concluir, facilmente, a atividade de enxameação de toda a estação.

Mas se a formação dos enxames artificiais for retardada, co-mo sempre pode acontecer (pág. ), até perto da época1 da en-xameação artificial, como pode o apicultor, a menos que esteja constantemente atento, não correr o risco de perder alguns dos seus melhores enxames? Se ele preferir dispensar inteiramente a enxameação natural, ele pode cortar as asas de suas rainhas fér-teis: (ver o capítulo sobre perda da rainha). Como uma rainha ve-lha só deixa a colméia com um novo enxame, o corte de suas a-sas2, não interfere em nada em sua utilidade ou sua ligação com as abelhas. Se, a despeito de sua incapacidade de voar, ela esti-

1 Será fácil - com a colméia de quadros móveis - determinar, por inspeção ocasio-nal, quando o período da enxameação natural está se aproximando. 2 As abelhas se comunicam entre si pela suas antenas e Huber provou que as ra-inhas privadas das antenas põem seus ovos sem cuidado e não tem condições de presidir a colônia.

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ver inclinada a emigrar, imaginando que ela o "consiga", ela "não encontra como", mas, sem ajuda, cai ao solo em vez de elegan-temente ganhar as alturas. Se as abelhas a encontrarem, elas se amontoam em sua volta e a rainha ser capturada, facilmente, pe-lo apicultor; se ela não for encontrada, as abelhas retornam para a colméia materna, para aguardar a maturidade de uma jovem princesa. Assim que for ouvido o piar da primeira princesa a e-mergir (pág. 121), o apicultor pode forçar um enxame, a menos que - tendo sido advertido de suas intenções - preferir deixar que elas enxameiem da forma natural. As princesas quase prontas para emergir, normalmente encontradas em tais famílias, podem ser usadas com vantagem no período de enxameação.

Como a rainha não consegue passar por uma abertura de 5-32ds de uma polegada 1, pela qual passa apenas uma operária carregada, se a entrada da colméia for reduzida até esta dimen-são, ela não terá condições de sair com o enxame (ver Lâmina III, Fig.s 11 e 12)

Este método de prevenção da enxameação2 exige uma grande

1 Huber não forneceu a abertura necessária para confinar uma rainha; mas ele fala em ajustar um tubo de vidro, pelo qual passa uma operária mas não para a rainha. A menor rainha que já vi não consegue passar pelos meus blocos. Embo-ra as operárias fiquem, inicialmente, levemente incomodadas com eles em pouco tempo elas se acostumam a eles e eles não as confundem por deixar a entrada em um novo lugar. Ar em abundância pode ser fornecido para as abelhas, quan-do os blocos são ajustados para confinar a rainha, pois a ventilação não depende desta entrada reduzida. 2 A saúde debilitada, durante os dois últimos verões, me impossibilitou de testar este método de enxameação em sua totalidade para que eu pudesse confiada-mente endossá-lo, exceto para propósitos temporários; assim tenho alguma dúvi-da que ele possa ser usado para prevenir a enxameação. Se for, ele será de gran-de valia para aqueles que temem abrir uma colméia com a finalidade de remover as realeiras ou cortar as asas da rainha. Assim que se ouvir o piar, a entrada se-rá restringida por cerca de uma semana, as abelhas permitirão que as jovens princesas se envolvam em combate mortal. Neste caso, os blocos devem ser usa-dos para prevenir a saída do segundo bem como do primeiro enxame. Se o sim-ples inverter de dois blocos pode prevenir toda enxameação, sem nenhuma con-seqüência desagradável para a colônia, isto irá ao encontro de muitos desejos de uma grande massa de apicultores.

A diferença entre conjeturas teóricas e resultados práticos é, freqüentemente, tão grande, que nada na linha da abelha, como em qualquer outra linha, poderia ser considerado como estabelecido até que, ao ser submetido a rigorosas demonstra-ções, conseguisse passar triunfantemente de uma simples região do cérebro para a realidade dos fatos. Uma teoria que se mostre plausível, como quase tudo, e muito bem demonstrada, quando colocada em teste, pode ficar comprometida por algumas dificuldades imprevistas a ponto de convencer imediatamente, até mes-mo o mais otimista, de que ela não tem valor prático. Nove entre dez podem fun-

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precisão de medidas, um desvio mínimo nas dimensões necessá-rias pode excluir a operária carregada ou permitir a passagem da rainha. Este método deve ser usado tão somente para confinar a rainha velha, pois princesas confinadas à colméia não serão fe-cundadas. Estes blocos, se presos firmemente, impedirão a en-trada de ratos nas colméias durante o Inverno. Quando usados para prevenir a enxameação, poderá ser necessário ajustá-los um pouco depois do nascer do sol e antes do por do sol, a fim de permitir que as abelhas removam todos os zangões que tenha morrido.

Alguns apicultores, ao ler estes vários processos de produção de enxames artificiais, devem, provavelmente, pensar que seria muito melhor dobrar as colônias transferindo metade dos favos e abelhas de uma colméia completa para uma colméia vazia; mas por razões já citadas (pág. 156), este método, aparentemente mais simples, pode ser prejudicial para as abelhas.

Tendo detalhado os métodos que podem ser usados, com maior vantagem, para duplicar o número de colméias numa es-tação, pela enxameação artificial, parece apropriado discutir a questão se será melhor fazê-lo numa taxa de crescimento maior ou menor do que a apontada.1

O apicultor que desejar obter mais mel em excesso numa es-tação, não pode, normalmente, no máximo, mais do que dobrar o número de suas colméias; nem mesmo tanto, a menos que todas sejam fortes, e a estação seja favorável. Se, em qualquer estação que não seja favorável, ele tentar um crescimento mais rápido, ele deve esperar não só nenhum excesso de mel, mas até com-prar comida para suas abelhas a fim de salvá-las da fome. As e-xigências de tempo, cuidados, habilidade e alimento no nosso clima incerto, para o crescimento rápido das colônias são tão

cionar como por encanto e, ainda assim, a décima pode estar tão ligada às outras nove que sua falha torna o sucesso das nove sem valor. 1 Assim que as pessoas perceberem que podem multiplicar suas colônias à von-tade, elas têm tendência a se exceder no assunto e correm o risco de perder suas abelhas. Apesar das repetidas recomendações de "apressar-se lentamente", al-guns multiplicaram tão rapidamente a ponto de arruinar suas colméias e trazer grande descrédito para minha colméia e sistema de manejo. Outros farão, prova-velmente, a mesma coisa; razão pela qual pode parecer que nada alem de uma lamentável experiência de insensatez, na apicultura como em outras ocupações, pode convencer os homens do perigo de "apressar-se para ficar rico". Se a despei-to de tudo que possa ser dito, persistir a inexperiência na multiplicação rápida das colméias, espera-se que estas pessoas tenham, pelo menos, a franqueza sufi-ciente para atribuir suas perdas a suas próprias tolices.

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grandes que nenhum apicultor, entre uma centena1, pode pode tornar a apicultura rentável; muitos que o tentam, devem estar quase seguros que, ao final da estação, se encontrarão, eles mesmos, de posse de colméias que foram manejadas para a mor-te.

Para esclarecer este assunto suponhamos uma colônia que enxameie. Aproximadamente quarenta libras (18kg) de mel serão normalmente usadas pelo novo enxame para construir os favos de sua colméia. Se a estação for favorável e o enxame do cedo for forte, as abelhas devem recolher néctar suficiente para construir e encher seus favos e um pouco mais. Se a colméia materna não enxamear novamente, ela recomporá seus membros imediata-mente e, não sendo necessário construir favo novo, terá condi-ções de armazenar uma reserva adicional respeitável nas caixas superiores. Se, no entanto, a estação for desfavorável, nem o en-xame primário nem a colméia materna podem, normalmente, re-colher mais do que o necessário para seu próprio uso; se a co-lheita de mel for realmente deficiente ambas exigirão alimenta-ção. O benefício do apicultor, em estações tão desastrosas, será o aumento de suas colméias.

Se a colméia materna estiver fraca na Primavera a primeira colheita de mel estará perdida e as abelhas não terão condições de recolher muito. Durante todo este tempo de acumulação es-cassa os pomares podem apresentar

"One boundless blush, one white empurpled shower of mingled blossoms;"

e dezenas de milhares de abelhas das colméias fortes podem estar engajadas todo o dia em sugar a doce fragrância, assim to-da a brisa que "suas odoríferas asas sopram" de suas moradas espalha

"Native perfumes, and whispers whence they stole Those balmy spoils."2

No momento em que uma colméia fraca é preparada - a des-peito de qualquer contra-indicação - para enxamear, o fluxo de néctar estará quase findo e a nova colônia, por não conseguir re-

1 Muitas das pessoas que lêem isto imaginarão, provavelmente, serem elas a úni-ca entre centenas. 2 O perfume da colméia, durante o auge do fluxo de néctar indica, normalmente, de que fonte as abelhas recolheram seus suprimentos.

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colher o suficiente para seu próprio uso, passará fome, a menos que alimentada. Apicultura, com colônias fracas na Primavera, exceto em estações e locais excepcionais, nada mais é do que "to-lice e tormento para o espírito".

Mostrei como se pode conseguir um bom lucro, numa esta-ção favorável, com colméia forte que tenha enxameado cedo e apenas uma vez. Se a colméia materna liberar um enxame se-cundário, a menos que libere cedo e a estação de mel seja boa, este enxame se provará, freqüentemente, sem valor se for mane-jado da forma normal. Ele normalmente perece no Inverno, se não morrer antes, e a colméia materna não só não recolherá mel em excesso - a menos que a alimentação tenha sido garantida antes da saída do primeiro enxame - mas, freqüentemente, pere-cerá também. Assim o novato que ficou tão satisfeito com o cres-cimento rápido de suas colônias, começa a nova estação com não mais do que tinha no ano anterior e com a perda do tempo des-pendido com suas abelhas.

Com a colméia de quadros móveis, a morte das abelhas pode ser evitada, e todas as colônias fracas tornadas fortes e vigoro-sas; mas sempre abandonando a idéia de obter uma única libra de mel em excesso. Favos contendo cria madura devem ser reti-rados da colméia materna e do enxame primário para reforçar os enxames fracos, e em vez de trabalharem para abarrotar seus fa-vos com mel, eles estarão constantemente atarefados em repor os favos que foram retirados e, finalmente, quando o fluxo de néctar terminar eles deverão ser alimentados para não perece-rem de forme.

Qualquer um, inteligente suficiente para criar abelhas, pode, a partir destas observações, entender perfeitamente porque as colônias não podem, em estações normais, serem multiplicadas rapidamente e ainda se conseguir grandes quantidades de mel em excesso. Até mesmo dobrar as colméias pode ser, freqüente-mente, um aumento muito rápido quando se deseja rendimento máximo de mel em excesso.

Gostaria de dissuadir, incisivamente, a todos, até mesmo o apicultor mais experiente, de nunca tentar mais do que triplicar suas colméias em um ano. É necessário outro livro, para forne-cer as instruções para a multiplicação rápida, suficientemente completo e explícito para o inexperiente; mesmo assim, a maioria que tentasse seguí-lo, poderia ter certeza, antes de tudo, de fra-casso total. A partir de dez enxames de abelhas fortes, em col-

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méias de quadros móveis, numa estação propícia, é possível dis-por, num local favorável, na chegada do Inverno, de uma centena de boas colônias; mas deve estar preparado para comprar cente-nas de libras de mel, despender praticamente todo o meu tempo no manejo das abelhas e buscar suporte na experiência de vários anos e o discernimento adquirido por numerosas e lamentáveis falhas.1 É preferível uma multiplicação certa em vez de rápida dos enxames. Uma simples colônia, dobrada anualmente, au-mentará, em dez anos, para 1024 colônias, e em vinte anos para mais de um milhão! Nesta velocidade, nosso país inteiro pode, em alguns anos, ficar saturado de abelhas; um aumento de um terço, anualmente, será suficientemente rápido. Esta velocidade de crescimento pode ser conseguida, mesmo se, no Outono, nos-sas colméias forem reduzidas (ver União de Famílias), ao número da Primavera; assim que, a longo prazo, tanto as colônias serão mantidas em condições de prosperidade como será assegurada produção máxima de mel.

Nunca hesitei em sacrificar algumas colônias, para averiguar um simples fato; de tal sorte que seria necessário um grande vo-lume para detalhar todos meus experimentos apenas sobre o te-ma da enxameação. O apicultor prático, no entanto, nunca deve-rá perder de vista a clara distinção entre um apiário manejado principalmente com propósito de observação e descobertas e um conduzido exclusivamente com o objetivo do lucro2. Qualquer a-picultor pode experimentar facilmente com minhas colméias; mas ele deverá fazê-lo, em primeiro lugar, apenas em pequena escala e caso o seu objetivo seja pecuniário, deverá seguir mi-nhas instruções, até ter certeza de ter descoberto outras que se-jam melhores. Estes cuidados devem ser tomados para evitar sé-rias perdas no uso de colméias que, por facilitarem todo tipo de experimento, podem conduzir o inexperiente para direção duvi-dosa e sem retorno financeiro. Os iniciantes, especialmente, de-vem seguir minhas instruções tão à risca quanto possível; embo-ra seja duvidoso que elas possam ser modificadas ou melhora-das, isto só poderá ser feito pelos experientes no manejo com as

1 Numa estação, fui chamado para casa depois que minhas colônias foram inten-samente multiplicadas, o fluxo de mel caiu muito repentinamente por causa de uma seca e eu verifiquei, na minha volta, que a maioria de minhas colméias esta-va perdida. As abelhas, não tendo sido alimentadas, foram para as padarias e morreram às centenas de milhares. 2 O Prof. Siebold diz, que Berlepsch lhe falou, que algumas de suas colméias "fo-ram muito prejudicadas pelos vários experimentos científicos".

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abelhas.

Não estou insinuando que cheguei tão perto da perfeição que nada de relevante sobrou para ser descoberto. Pelo contrário, fi-carei satisfeito se aqueles que tendo tempo e recursos experi-mentarem em grande escala com as colméias de quadros móveis; espero que todo apicultor experto que as usar, experimente, pelo menos, em pequena escala. Desta forma, podemos esperar que pontos da história natural das abelhas ainda envoltos em dúvi-das sejam, em breve, satisfatoriamente explicados.

O apicultor prático deve lembrar que quanto menos ele per-turbar as colméias que ele mantém para a produção de mel melhor será. Suas colméias não precisam ser abertas, e as abelhas nun-ca deveriam sofrer muita interferência, para elas não serem leva-das a sentir que mantem sobre seus estoques uma posse duvi-dosa; pois uma impressão deste tipo pode prejudicar, muitas ve-zes, o zelo pela acumulação.1 O objetivo de manter um controle sobre cada favo da colméia não deve levar o apicultor a tirar e co-locar constantemente os favos e sujeitar as abelhas a constantes aborrecimentos. A menos que ele esteja levando a cabo alguns experimentos, tais interferências serão quase tão tolas quanto a conduta de uma criança que diariamente escava as sementes que plantou para ver o quanto elas cresceram.

Tendo descrito como são retirados enxames forçados, tanto de colméias comuns como de colméias de quadros móveis, para que o apicultor possa aumentar o número de suas colméias nu-ma estação, mostrarei agora como ele pode conseguir a maior produção de mel, formando uma colônia nova a partir de duas colônias velhas.

Quando for a época de formar enxames artificiais, tamborile uma colméia forte - que chamaremos de A - para forçar a saída de todas as abelhas, e coloque o enxame forçado no suporte ori-ginal. Qualquer abelha que esteja no campo, quando isto for fei-to, se juntará a esta nova colônia. Remova para um novo suporte no apiário uma segunda colméia forte - que chamaremos de B - e coloque a A em seu lugar. Milhares de abelhas que pertenciam à

1 Estas observações se aplicam particularmente às colméias engajadas no arma-zenamento de mel em receptáculos que não sejam a colméia principal. As experi-ências de Dzierzon, bem como as minhas, mostram que abrir as colméias inter-rompe, normalmente, seu trabalho apenas por alguns minutos.

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B, ao retornar do campo1, entrarão na A, que assim terá abelhas suficientes para desenvolver a cria, criar uma nova rainha, e a-cumular, se o período for favorável, um grande estoque de mel.

Se a B fosse primeiro forçada e depois deslocada, ela teria sido (pág. 156) seriamente enfraquecida; mas como ela perde menos abelhas do que se tivesse enxameado e, além disso, man-tem sua rainha, muito em breve ela estará com quase a mesma força que tinha antes de ser deslocada2.

Este método de formação de colônias pode ser praticado, em qualquer dia agradável, desde o nascer do sol até o final da tar-de; se não existir abelha no campo para se juntar à colméia tam-borilada, ela pode ser fechada, até ser levada para um suporte de qualquer colméia forte que já começou a voar com vigor. De to-dos os métodos que eu delineei para executar a enxameação arti-ficial3, para qualquer tipo de colméia, este parece ser o mais simples, mais seguro e melhor. Ele, não só, consegue um au-mento razoável de colônias, mas mantem todas elas com alto vi-gor; e nas estações normais rende, em bons locais, maior excesso de mel do que se tivesse sido evitado todo o aumento do número de colônias. Se todo apicultor pudesse adotar este plano nosso país poderia ser, em breve, como a antiga Palestina, "uma terra

1 É quase divertido observar as ações destas abelhas ao retornarem para o seu local original. Se a colméia estranha for semelhante à sua em tamanho e aparên-cia externa, elas entram como se tudo estivesse certo, mas retornam imediata-mente numa agitação violenta, imaginando que por um erro inexplicável elas en-traram no lugar errado. Levantam vôo para corrigir seu erro e constatam, para sua crescente surpresa, que elas voaram para o local certo; novamente elas en-tram e novamente elas caem fora, num confuso atropelamento, até que elas, en-contrando uma rainha, ou os meios de criar uma, se conscientizam de que se a colméia estranha não é sua casa, parece ser, está onde deveria estar e é, em todo o caso, a única casa que elas podem possuir. Não há dúvida que muitas vezes e-las pensam que uma dura troca lhes foi imposta, mas normalmente elas são inte-ligentes o suficiente para fazer o melhor. Todas elas estarão muito desconcerta-das para disputar com outras abelhas que permaneceram na colméia quando o enxame foi forçado, as quais, por sua parte, lhes ofereceram uma calorosa recep-ção. 2 Será que é possível manter o enxame forçado no novo local através de uma sa-cudida vigorosa das abelhas para uma caixa vazia - ver nota na pág. 163 - e de-pois instalar ela num novo suporte, e permitir que as abelhas voem? Por segu-rança, a rainha deve ser confinada numa gaiola de rainha. 3 O apicultor tratando um enxame natural como foi instruído que o enxame for-çado deve ser tratado, pode conseguir aumentar uma colônia a partir de duas; de todos os métodos para forçar a enxameação natural, nas regiões onde o aumento rápido não é lucrativo, este é o melhor, desde que as colônias não estejam muito perto e as colméias usadas no processo sejam semelhantes em forma e cor.

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onde corre leite e mel".

Em todos os modos de aumento artificial do número de col-méias, até aqui fornecidos, a genitora ou colméia materna - como eu a chamo neste contexto - depois que o enxame forçado foi re-tirado, receberá uma realeira, ou criará uma nova rainha a partir da cria de operária. Pelo uso das colméias de quadros móveis a colméia materna pode receber de imediato uma rainha jovem e fér-til. Antes de mostrar como isto é feito, serão descritas as vanta-gens extraordinárias desta providência.

Acontece, algumas vezes, que a colméia materna, quando privada de sua rainha, morre por não ter tomado nenhuma pro-vidência para repor sua perda, ou por não ter tido sucesso na tentativa. Se ela criar diversas princesas, ela ficará reduzida pe-los enxames secundários; além disso, a jovem princesa correrá os riscos normais ao procurar os zangões. Quando tudo der cer-to, passar-se-ão duas a três semanas antes da postura do pri-meiro ovo na colméia materna; e, quando a cria deixada pela rai-nha velha tiver amadurecido, o número de abelhas cairá rapida-mente, antes que qualquer cria da nova rainha emerja, razão porque ela não tem muita chance de, durante a estação, ocupar toda a colméia.

Novamente; o sistema de manejo que não fornecer nenhuma rainha à colméia materna, expõe esta colméia à pilhagem se a forragem for escassa, pois a presença de uma mãe fértil incentiva a colôniia a uma resistência mais enérgica.

Se a colméia materna não receber uma rainha fértil ela não consegue, durante muito tempo, liberar outro enxame, sem que venha a ficar seriamente enfraquecida. A enxameação secundá-ria - como é bem conhecido - muitas vezes, prejudica muito a colméia materna, ainda que suas rainhas amadureçam rapida-mente; já a colméia materna deve começar sua rainha quase do ovo. Fornecendo uma rainha fértil e mantendo abelhas aderentes suficientes para desenvolver a cria, um enxame moderado pode ser levado adiante com segurança em dez ou doze dias, assim a colméia materna ficará em condições muito melhores do que se ela tivesse sido dividida em dois enxames naturais. Em estações e localidades favoráveis, este processo pode ser repetido quatro a cinco vezes, em intervalos de dez dias e, se nenhum favo for re-movido, a colméia materna ficará ainda bem suprida de cria e abelhas maduras. Realmente, a remoção criteriosa de abelhas, a

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intervalos apropriados1, deixa a colméia, muitas vezes, no final do Verão, melhor suprida de cria em amadurecimento do que colméias que não enxamearam; as últimas são - na expressão linguística de um antigo escritor - "waxed over fat"2. Tive colônias que, depois de divididas em quatro enxames da forma acima descrita, encherem suas colméias com mel de trigo mouro, alem de produzirem melgueiras adicionais.

Este método de crescimento artificial, que se parece com en-xameação natural, por não perturbar os favos da colméia mater-na, é não apenas superior à enxameação natural, por deixar uma rainha fértil, mas elimina quase totalmente o risco da enxamea-ção secundária; a rainha velha, quando entregue para o enxame forçado, raramente tenta liderar uma nova colônia (pág. 128); e a nova, que foi dada para a colméia materna, fica igualmente con-tente - a não ser em climas muito quentes - em ficar onde foi co-locada. Mesmo que seja permitido à rainha velha ficar na colméia materna, ela raramente partirá, se for colocado espaço suficiente para o armazenamento de mel em excesso; e não há diferença - para a prevenção da enxameação - onde a nova é colocada.3

1 Se uma colônia forte de abelhas, numa colméia de tamanho moderado, for exa-minada durante a época do fluxo de mel praticamente todos os alvéolos serão en-contrados cheios de cria, mel e pão de abelha. A intensa postura da rainha já passou - não como alguns imaginam porque sua fertilidade tenha diminuído, mas simplesmente porque faltou espaço para mais cria. A rainha desta colônia, ou de uma colméia contendo poucas abelhas aparenta, muitas vezes, ser tão es-belta quanto uma princesa, mas se ela dispuser de abelhas suficientes e lhe for dado favo vazio em seguida suas proporções se alargarão muito. (Pág. 47) 2 Columella informou que colméias fortes, deixadas por sua conta em estações muito produtivas, encherão seus favos de cria com mel, em vez de criar novas abelhas. Ele lembra aos inexperientes que, em vez de ficarem satisfeitos com este aparente ganho, fechem suas colméias todo terceiro dia e assim provoquem as abelhas a cuidar da cria! Esta medida dá à rainha a chance de depositar ovos nos alvéolos dos quais as abelhas emergiram, antes de eles serem enchidos com mel; e não existe nenhum plano melhor delineado para as colméias comuns.

Na colméia de quadros móveis, alguns dos quadros próximos das extremidades podem ser retirados e outros tantos quadros vazios podem ser colocados entre cada dois quadros centrais; assim a colméia será suprida com favos nos quais a rainha depositará ovos. Pode parecer que, enquanto o instinto das abelhas lhes ensina a criar todos os ovos depositados nos alvéolos, suas características ava-rentas muitas vezes - como na natureza humana - querem conseguir o melhor e assim não dão chance para a rainha depositar, incorrendo no risco de perecerem por quererem ficar mais ricas. 3 Freqüentemente sou informado que os enxames secundários são menos incli-nados do que os enxames primários a construir favo de zangão - suas rainhas ra-ramente põem muitos ovos de zangão na primeira estação. Se pudermos fazer que as novas colônias encham suas colméias quase completamente com favos de

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O apicultor pode dobrar o número de suas colméias numa estação, até mesmo mais facilmente desta forma do que pelo mé-todo descrito na página 162; e em estações e locais favoráveis, esta velocidade de crescimento renderá ainda uma grande pro-dução de mel.

Para os apicultores que desejarem um crescimento ainda mais rápido do número de suas colônias, fornecerei um método, que - depois de anos de experimentação - conclui ser o melhor; chamando sua atenção para os cuidados já citados, a fim de que, ao final da estação, eles não concluam que seus ganhos imaginá-rios foram somente grande investimento em experiência adquiri-da a alto preço. Se eles forem cautelosos e habilidosos em esta-ções e locais bons, eles podem, com segurança, aumentar três vezes o número de suas colônias e podem, possivelmente, com a-limentação abundante, aumentá-las cinco ou seis vezes, ou mesmo mais.

A proposta de enxameação artificial, descrita na página 180, quando combinada com o fornecimento de uma rainha jovem e fértil para a colméia materna, em vez de parar com o crescimento de uma para duas colméias, pode ser expandido para qualquer taxa de crescimento que se queira; ao mesmo tempo apresenta uma admirável peculiaridade, cada passo concluído é totalmente independente de todo que deve ser dado a seguir; e o processo pode ser parado a qualquer momento quando a forragem desa-parece, ou o apicultor decidir - por qualquer causa - não levá-lo adiante.

Se ele for usado para dobrar o número de colméias, executar o seguinte procedimento: introduzir uma rainha jovem e fértil em A (pág. 180) assim que ela for forçada e dez dias mais tarde for-çar um enxame da B, que chamarei de D. Colocar a D no suporte da B, e depois de remover a A para um novo suporte, colocar a B onde esteve a A, introduzindo uma rainha nova e fértil na B. Ca-so se deva formar outra colônia E, proceda da mesma maneira, forçando a A e tranpondo com a B; e assim continua pela trans-posição da A e B - forçando novas colônias alternativamente de cada uma - para fazer sucessivamente, em intervalos de cerca de dez dias, F, G, H, etc.; A e B sendo supridas com rainhas férteis toda vez que forem forçadas.

operárias, meramente fornecendo-lhes rainhas jovens, a apicultura terá dado ou-tro passo decisivo para o crescimento.

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Para tornar este processo mais inteligível, A e B representam as primeiras posições, no apiário, das colméias originais:

Colméias originais, A, B. Posição depois da primeira forçada, C, A, B. segunda C, B, D, A terceira C, A, D, E, B quarta C, B, D, E, F, A quinta C, A, D, E, F, G, B sexta C, B, D, E, F, G, H, A

Olhando esta tabela1, parece que as novas colônias, C, D, E, etc. permanecem sempre sem serem perturbadas nos suportes onde foram inicialmente instaladas.

Dzierzon mencionou o grande número de abelhas que po-dem, a intervalos, ser removido da colméia, se nela permanecer apenas uma rainha fértil e abelhas aderentes suficientes; e diz que já viu se perderem, num único dia, de uma colméia forte, por causa do vento2 ou tempestade súbita, um número de abelhas que seriam suficientes para fazer um respeitável enxame.

Este apicultor competente que reuniu a sagacidade de Huber com uma imensa experiência prática de manejo com abelhas, formou durante anos seus enxames artificiais principalmente removendo seus enxames forçados para um apiário distante. A-inda se este plano tem alguns méritos evidentes e deve ocupar duas pessoas - suficientemente afastadas - que concordam ma-nejar suas abelhas por interesse comum, é questionado por mui-tos apicultores por causa das despesas com o transporte das a-belhas. Desde o início meus planos para o crescimento artificial foram executados num apiário simples e transpareceu, a partir das recentes discussões no Annual Apiarian Convention (p. 20), que os apicultores alemães estão adotando, celeremente, o mes-mo método.

Ao fazer buracos na tampa interna das minhas colméias3 -

1 A tabela não tem a intenção de recomendar que as colônias sejam colocadas em linha, próximas umas das outras. A e B podem estar em qualquer lugar no apiá-rio, e C, D, E, etc. tão afastadas quanto for desejado. (Ver Cap. sobre Perda da Rainha.) 2 Se a forragem é realmente abundante, as abelhas ficam ansiosas por apanhá-la, razão porque em dias ventosos, alguns apicultores, prendem as abelhas nas suas colméias. 3 Estes buracos são semelhantes aos feitos nos spare honey board (Lâmina VIII, Fig. 21), e são fechados da mesma forma, quando não usados. Eles permitem que

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sem colocar os vidros - a enxameação artificial pode ser pratica-da de uma forma muito semelhante e ainda mais próxima da en-xameação natural do que qualquer outra até agora descrita. Cer-ca de uma semana ou dez dias antes de a enxameação artificial ser feita, colocar uma colméia vazia C, encima da colônia forte A - fazendo que a entrada da C fique em lado oposto à entrada da A - e não fechar os buracos no fundo da C, assim as abelhas po-derão passar da A para a C. Um número de abelhas jovens, quando saírem para o trabalho usarão a entrada superior, assim que quando a colônia for forçada da A, e a colméia materna for posta no lugar da C, ela terá o número de abelhas aderentes ne-cessárias: o enxame forçado estará na C, colocada no suporte no lugar da A, conterá, como deve, a maioria das abelhas maduras. Em poucos dias, a colméia superior pode ser descida para perto da outra e, gradualmente, removida para uma distância conveni-ente e sua entrada deixada para qualquer direção. O mesmo pro-cesso pode ser repetido, a intervalos, com a colméia materna, até que sejam formadas tantas colônias quantas for desejado1. Se o apicultor não desejar um crescimento tão rápido, ele pode retirar da colméia materna, ao forçá-la, dois ou três favos que estejam mais cheios de cria operculada, assim o enxame artificial terá re-crutas antes que sua cria nova amadureça.

Se a nova colônia for forçada pela remoção dos quadros (pág. 165), as abelhas podem ser sacudidas sobre uma folha direta-mente em frente da A, e deixar elas entrarem novamente; os fa-vos serão todos transferidos para a C, a menos que o apicultor deseje que alguns retornem para a colméia materna.

Com uma rainha fértil, uma nova colméia pode ser formada simplesmente revertendo a posição de A e C, quando as abelhas estiverem em pleno vôo e, passados alguns dias, se a C estiver mais fraca do que a A a posição das colônias pode ser revertida novamente: ou A e C podem ser giradas, pivotadas, sem colocar uma sobre a outra; ou o favo contendo a rainha pode ser deixado na A, e os outros transferidos para a C, quando as abelhas esti-verem em pleno vôo. Outros métodos ainda serão sugeridos para

as abelhas circulem pelas colméias empilhadas, uma encima da outra; e a col-méia superior pode ser usada como um local para armazenamento de mel exce-dente em pequenas caixas (Lâmina X, Fig. 23), em grandes ou pequenos quadros. 1 Eu, referindo-me à minha Revista, delineei este método no Verão de 1854, ao usar quadros em colméias que, à semelhança de Dzierzon, abriam nas duas ex-tremidades. De imediato constatei que tais colméias - mesmo com meus quadros - não traziam as facilidades apropriadas para o manejo das abelhas.

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um habilidoso.

Para estes que aprenderam a abrir as colméias e remover os favos, e usam apenas um apiário, esta forma de fazer enxames artificiais - que chamo de modo de empilhar - provavelmente se mostrará ser a melhor. Ele não confunde as abelhas, por lhe a-presentar uma nova entrada, ou uma colméia com cheiro estra-nho, e retem na colméia materna abelhas adultas suficientes pa-ra recolher água e atender a todo o trabalho externo. Na Conven-ção Apícola de 1857, que teve uma grande audiência, e onde a questão da enxameação artificial com um apiário foi intensamen-te discutida, Dzierzon recomendou um método semelhante a este utilizando suas colméias.

Quero agora mostrar como, com as colméias de quadros mó-veis, uma rainha jovem e fértil pode sempre ser mantida à mão, para ser introduzida na colméia materna forçada: cerca de três semanas antes de a A (pág. 180) ser forçada, tirar dela, tão ao fi-nal da tarde quanto a luz natural o permitir, um favo contendo ovos de operárias e abelhas que apenas iniciaram a roer seus opérculos e colocar ele, com as abelhas maduras que estejam sobre ele, numa colméia vazia. Se não houver abelhas aderentes suficientes para prevenir o resfriamento da cria durante a noite, mais abelhas de outro favo podem ser sacudidas para dentro da colméia. Se a preparação for feita tão tarde que as abelhas não consigam deixar a colméia, elas sairão pela manhã, mas então um número suficiente terá emergido para ocupar o lugar das que retornarem para a colméia materna. Um favo, do qual cerca de um quarto da cria tenha emergido, quase sempre terá ovos nos alvéolos vazios e, se tudo for favorável, as abelhas, em poucas horas, começarão normalmente a criar uma rainha1.

Se o favo usado para desta forma forçar uma colônia - que chamarei de núcleo - for removido numa hora do dia quando as abelhas podem retornar para a colméia materna, elas devem ser confinadas no núcleo, até que seja tarde para elas saírem; e se o número de abelhas, que emergiu dos alvéolos, não for grande, a entrada da colméia deve ser fechada, até cerca de uma hora an-tes do por do sol do próximo dia (ver pág. 161). A colméia con-tendo esta pequena colônia, deve ter ventilação apropriada e ser mantida à sombra - se for de paredes finas - proteger do calor in-

1 Já vi cerca de uma xícara de abelhas, confinadas em local escuro, começar, dentro de uma hora, a alargar alvéolos para criar uma rainha.

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tenso do sol; ela deve sempre ser bem suprida de mel e água1. Precauções adequadas devem ser tomadas para evitar a perda de sua princesa quando ela sair para o acasalamento (Ver Cap. so-bre Perda da Rainha.)

O melhor procedimento para formar um núcleo com colméia de quadros móveis será colocando a colméia vazia sobre a col-méia completa da forma já descrita (pág. 186): quando abelhas suficientes começam a usar a entrada superior um favo de cria com abelhas aderentes, pode ser transferido para ele e a ligação entre as duas colméias fechada. Se as abelhas estiverem relutan-tes a entrar na colméia superior, elas podem ser encorajadas a fazê-lo colocando mel num alimentador dentro desta colméia - mantendo a entrada fechada para prevenir as pilhadoras - e de-pois disso pode-se fazer elas passarem pela colméia superior. Em alguns dias este núcleo pode ser baixado e gradualmente remo-vido, outra colméia pode ser posta sobre a colméia materna.

Se tudo for favorável, este núcleo, quando a A é forçada, terá uma rainha fértil, que pode ser introduzida na A, quando as abe-lhas que retornam do campo mostrarem ter percerbido (pág. 158) estarem sem rainha. O favo pertencente ao núcleo, com todas as abelhas que estão sobre ele, pode então ser dado para a colônia artificial C. Ou, se o apicultor preferir, ele pode dar para a A sua própria rainha, e dar a jovem - com as precauções a seguir des-critas - para a C.

Se for intenção dobrar o número de colméias, um segundo núcleo deve ser formado, tomando, cerca de dez dias mais tarde um favo com cria da B e dando uma segunda rainha para uma segunda colônia artificial, D2.

Se for intenção multiplicar as colméias mais rapidamente a-inda, então apenas a rainha deve ser retirada do primeiro nú-cleo, assim que ela começar a botar e a colônia iniciará a criar outra. Se ela for removida antes de começar a botar ovos, o favo do núcleo - depois de sacudir dele todas as abelhas - deve retor-nar para a A ou B e substituído por outro que esteja bem supri-

1 Sempre que a posição da colônia for alterada, a ponto de interromper por al-guns dias o vôo das abelhas é recomendável supri-las com água em sua colméia, uma vez que sua falta é seguidamente fatal para a cria. 2 Os que apostarem inteiramente na enxameação artificial podem, muitas vezes, garantir rainhas férteis prendendo as rainhas jovens extras dos enxames secun-dários (pág. 122) e alojando elas, com algumas abelhas, em qualquer caixa pe-quena contendo um pedaço de favo de operária.

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do com ovos: se, a qualquer tempo, o número de abelhas no nú-cleo for muito pequeno, ele pode ser reforçado trocando o seu fa-vo por um que esteja repleto de cria nascente assim como quan-do ele foi formado (pág. 188). O mesmo processo deve ser adota-do com o segundo núcleo, e depois - a intervalos regulares - se-rão conseguidas rainhas suficientes dos dois, para multiplicar as colônias até onde desejado.

Para tornar este assunto um plano perfeito, suponhamos que C seja forçada em 1º de Junho, e D, E, F, etc., em intervalos de dez dias1. Então, como antes, C, A e B (pág. 185), represen-tam as posições das colônias em 1º de Junho, e as outras colu-nas, seus lugares em 10, 20, etc. Agora, I e II representam os núcleos - uso este nome quando falo em mais de um núcleo - e I1, II1 representam os núcleos quando está com sua primeira rai-nha; I2, II2, quando está com sua segunda rainha; I3, II3, quando cada um tem sua terceira rainha, e assim por diante, entenden-do-se sempre que I, II, sem os expoentes, indicam que os núcleos estão, no momento, criando suas rainhas. O primeiro núcleo se-rá formado em 10 de maio, e o segundo em 20 de maio.

10 de maio, I, 20 de junho, I2, II, 20 de maio I, II, 30 de junho, I, II2, 1º de junho, I1, II, 10 de julho, I3, II, 10 de junho, I, II1, 20 de julho, I, II3, etc., etc.

Pode ser desejável remover a rainha do núcleo antes que ela comece a botar ovos, para que sua colônia receba uma realeira operculada de outro núcleo, neste caso não se perderá tempo e será evitado muito aborrecimento.

O que segue, da pena do Rev. Mr. Kleine, um dos mais talen-tosos apicultores alemães, é interessante ser aqui colocado: - "Dzierzon sugeriu recentemente que, como Huber, introduzindo um pouco de geléia real em alvéolos contendo cria de operária se obtinha rainha e, assim, seria possível induzir as abelhas a cons-truir realeiras onde o apicultor preferisse tê-las, inserindo uma pequena porção de geléia real em alvéolos contendo larvas de o-perárias! Deixando por conta das próprias abelhas, elas segui-damente amontoam tanto as realeiras" - ver Lâmina XV - "que é difícil remover uma, sem fatalmente estragar outras; assim,

1 Ninguém deve imaginar que operações tão dependentes da estação, clima e tempo, possam ser conduzidas com a precisão matemática com que elas estão sendo colocadas nesta ilustração.

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quando uma destas realeiras for cortada, normalmente segue a destruição e remoção da larva da outra. Para evitar este tipo de perda, normalmente procedo como segue: ao selecionar um favo com cria não operculada, para criar rainha, sacudo ou escovo as abelhas, e recorto, se necessário, as realeiras vazias de sua bor-da. Em seguida apanho uma realeira não operculada - a qual normalmente contem excesso de geléia real - e removo dela uma parte da geléia real, com a ponta de uma faca ou pena e colocan-do-a no fundo de qualquer alvéolo de operária fico esperançoso que a larva ali existente seja criada como rainha; como estas rea-leiras estarão separadas e na borda do favo elas serão facil e se-guramente removidas. Este é outro notável avanço na prática a-pícola, pelo qual ficamos em dívida à sagacidade de Dzierzon." - Bienenzeitung, 1858, pág. 199. Traduzido por Mr. Wagner.

Se as realeiras em excesso forem cortadas (pág. 166), do nú-cleo I, antes que a primeira rainha amadureça, outros núcleos podem ser formados por um processo similar; realmente, com quadros móveis, pode ser criado qualquer número de rainhas e se ali mantidas elas podem ser facilimentusadas1 sempre que desejado.

Tanto o núcleo original I como o II, e os feitos a partir de su-as realeiras operculadas, podem ser formados trazendo de outro apiário numa caixa pequena a quantidade de abelhas aderentes que for desejado (pág. 162); e outras tantas podem retornar para o mesmo a fim de serem usadas com o mesmo propósito. O habi-lidoso poderá, também, apanhar abelhas aderentes, movendo um pouco2 a colméia materna (pág. 161) e de várias outras formas,

1 Dzierzon estima que uma rainha fértil deve custar, no período de enxameação, a metade do preço de um enxame novo. 2 Se as abelhas aderentes forem assim obtidas, e não existir um amontoado de abelhas no favo da cria, elas podem ficar tão insatisfeitas com a sensação de a-bandono a ponto de se recusarem a permanecer. Se elas aceitarem se submeter a este sistema de colonização forçada elas estarão, no entanto, muito agitadas ini-cialmente mas em seguida, se reúnem ao amontoado de abelhas sobre o favo; ca-so contrário, elas mui rapidamente abandonam a colméia, levando consigo tudo que depositaram no favo.

Sendo aceito que as abelhas podem criar uma rainha de qualquer ovo de operária ou larva jovem pode-se aceitar também que as operárias com qualquer idade são capazes ou estão dispostas a fazê-lo?

Huber fala de dois tipos de operárias: "Um deles é, em geral, destinado para a produção de cera e seu tamanho é consideravelmente alargado quando cheio de mel; o outro entrega imediatamente o que coletou para suas companheiras; seus abdomens não sofrem mudanças sensíveis, estas retem somente o mel necessário

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que ele mesmo descobrirá.

Pode-se fazer uma rainha suprir com cria várias colméias, enquanto estas forem mantidas engajadas continuamente na criação de rainhas reservas. Retire de duas colônias, 1 e 2, a in-tervalos de uma semana, cada uma das rainhas, usando estas

para sua própria subsistência. A função particular das abelhas deste tipo é de tomar conta das jovens, razão pela qual elas não têm a função de aprovisionar a colméia. Em oposição com as operárias produtoras de cera podemos chamá-las de abelhas pequenas ou nutrizes.

"Embora a diferença externa não seja considerável, esta distinção não é imaginá-ria. Observações anatômicas mostram que o estômago não é o mesmo: experi-mentos mostraram que uma das espécies não consegue atender plenamente to-das as funções compartilhadas pelas abelhas da colméia. Pintamos as abelhas de cada classe com diferentes cores para estudar sua conduta: estas não se permu-tavam. Noutro experimento, depois de fornecer à colméia, privada da rainha, cria e pólen, vimos as pequenas abelhas em seguida se ocuparem com a nutrição das larvas, enquanto as da classe de trabalhar com a cera negligenciavam-nas. As abelhas pequenas também produzem cera, mas em quantidade muito inferior à que é produzida pelas verdadeiras operárias da cera.

As declarações de Huber não foram comprovadas, talvez porque as abelhas que se negam a se amontoarem no favo de cria, para criar uma nova rainha, é porque lhes faltam algumas das condições necessárias para o sucesso. Pode ser que não exista nem operárias de cera suficientes para aumentar os alvéolos nem nutrizes para tomar conta das larvas.

Se Huber dispusesse das mesmas facilidades de observação que o Dr. Dönhoff (pág. 194) ele teria, provavelmente, chegado às mesmas conclusões.

Se alguém imaginar que os cuidadosos experimentos necessários para criar fatos com base sólida de demonstração, seja fácil, deixe-os tentar provar ou negar a verdade de qualquer uma destas conjecturas; eles provavelmente concluírão que a tarefa é mais difícil do que cobrir uma resma inteira de papel com afirmativas cuidadosas.

Será interessante apresentar um extrato do prefácio de Huber sobre o assunto. Depois de falar sobre sua cegueira, e elogiar o extraordinário gosto pela História Natural de seu assistente Burnens, "que nasceu com os talentos de um observa-dor", diz ele: "Cada um dos fatos que publiquei, temos observado vezes e mais ve-zes novamente, durante o período de oito anos que empregamos para fazer as ob-servações sobre as abelhas. É possível fazer uma idéia justa da paciência e habi-lidade com que Burnens tem conduzido os experimentos que vou descrever; ele tem observado muitas vezes algumas operárias de nossas colméias, as quais te-mos motivos para pensar serem férteis, pelo espaço de vinte e quatro horas, sem distração **** ele dizia que o cansaço e as dores eram nada, comparadas com a grande vontade que ele sentia de conhecer os resultados. Assim, então, se existir algum mérito em nossas descobertas, devo compartilhar a honraria com ele; te-nho imensa satisfação de render-lhe este ato de justiça pública".

E ainda, o homem que foi tão generoso a ponto de reconhecer os méritos de seu servente, foi, na visão de muitos, muito ordinário de tentou impor ao mundo, como fatos bem comprovados, verdades pouco mais prováveis do que as ficções de "Sinbad the Sailor".

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rainha para enxames artificiais. Assim que as realeiras na 1 esti-verem com idade suficiente para serem usadas, remova-as, e dê para a 1 uma rainha de outra colméia, 3. Quando as realeiras da 2 forem removidas, esta rainha pode ser retirada da 1 - onde ela deve ter posto em abundância - e dada para a 2. Nesta hora as realeiras da 3 estarão operculadas, podendo ser removidas, e a rainha introduzida na sua própria colméia. Ela terá completado um circuito, e suprido ovos para a 1 e a 2; depois de ter enchido sua própria colméia, ela pode ser enviada novamente para sua missão perambulante. Por este método, posso obter, a partir de algumas colméias, um grande número de rainhas.

Alguns dias depois que o núcleo é formado, ele deve ser e-xaminado e se realeiras não tiverem sido iniciadas, ou nelas não existirem larvas, as abelhas devem ser sacudidas do favo, e este trocado por outro.

As abelhas, algumas vezes, começam realeiras que, em al-guns dias, encontram-se desocupadas. Na segunda tentativa elas normalmente começam um número maior e raramente são mal sucedidas. Esta prática torna-as mais perfeitas? ou antes falta-vam algumas condições necessárias?

A seguinte comunicação valiosa, da pena do Dr. Dönhoff, pode jogar alguma luz sobre este assunto: - "Dziezon afirma, co-mo um fato, que as operárias se dedicam mais exclusivamente aos afazeres domésticos da colônia no primeiro período da vida; assumindo a execução das tarefas mais ativas de fora da colméia somente durante os últimos períodos de sua existência. As abe-lhas italianas me supriram de meios adequados para testar a precisão desta opinião.

"Em 18 de abril de 1855 introduzi uma rainha italiana numa colônia de abelhas comuns; no próximo 10 de maio emergiu a primeira operária de seu alvéolo. No dia seguinte, elas emergiram em grande número, uma vez que a colônia foi mantida em boas condições por uma alimentação regular e abundante. Eu fiz as seguintes observações:

"1. Em 10 de maio nasceram as primeiras operárias italia-nas; em 17 de maio elas apareceram pela primeira vez fora da colméia. No dia seguinte, e depois diariamente até o dia 29, elas apareciam por volta do meio dia, se entretendo na frente da col-méia sob os raios do sol. Elas, no entanto, claramente não saiam com o propósito de colher mel ou pólen, pois durante este perío-

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do de tempo nenhuma foi vista com bolotas; nenhuma foi vista pousando em qualquer flor do meu jardim; não encontrei mel nos estômagos das que apanhei e sacrifiquei para examinar. Até 29 de maio a coleta era feita exclusivamente pelas abelhas velhas originais da colméia, nesta data as abelhas italianas começaram a trabalhar também nesta ocupação - estavam então com 19 di-as de idade.

"2. Nos alimentadores espalhados pelo meu jardim e que es-tavam constantemente apinhados de abelhas não vi abelha itali-ana até o dia 27 de maio, dezessete dias depois de a primeira ter emergido do alvéolo.

"A partir de 10 de maio em diante, diariamente apresentava para as abelhas italianas, da colméia, um graveto que tinha sido mergulhado em mel. Nenhuma das mais jovens tentava sugar al-go dele; as mais velhas parecia que, ocasionalmente, sugavam um pouco, mas o abandonavam imediatamente e se afastavam. As abelhas comuns sempre sugavam-no avidamente, nunca o abandonando antes de terem sua vesícula melífera repleta. Até 25 de maio não vi nenhuma abelha italiana sugando avidamente o mel, como o faziam as abelhas comuns desde o início.

"Estas repetidas observações me forçaram a concluir que, durante as duas primeiras semanas de vida das operárias, não existe o impulso para coletar mel e pólen, ou pelo menos não es-tá desenvolvido; e que o desenvolvimento deste impulso ocorre lenta e gradualmente; inicialmente as abelhas jovens nem sequer tocam o mel que lhes é apresentado; alguns dias mais tarde elas apenas provam, e somente depois de mais um período de tempo elas o apanham avidamente. Passaram-se duas semanas antes que elas realmente sugassem mel e se passaram aproximada-mente três semanas antes que o impulso de coleta estivesse sufi-cientemente desenvolvido a ponto de impelir as abelhas a voarem para o campo à procura de mel e pólen nas flores.

"Fiz, em seguida, as seguintes observações sobre a ocupação doméstica das abelhas italianas:

"1. No dia 20 de maio, retirei todos os favos que havia na colméia e os devolvi depois de tê-los examinado. Ao inspecioná-los meia hora mais tarde, fiquei surpreso de ver que as bordas dos favos que tinham sido cortados para a remoção, estavam co-bertos por abelhas italianas exclusivamente. Examinando mais cuidadosamente, constatei que elas estavam ativamente engaja-

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das em grudar os favos às laterais da colméia. Quando as afastei com uma escova elas retornaram imediatamente com pressa im-petuosa para retomar sua atividade.

"2. Feitas as observações acima, inseri na colméia uma barra da qual o favo havia sido cortado, para me certificar que a re-construção do favo era executada pelas abelhas italianas. Reti-rei-a novamente algumas horas mais tarde, e constatei que ele estava coberto quase exclusivamente por operárias italianas, a-inda que a colônia, naquele instante, contivesse uma grande quantidade de abelhas comuns. Vi que elas estavam engajadas laboriosamente na construção do favo; elas prosseguiam no tra-balho incessantemente, enquanto eu segurava a barra em mi-nhas mãos1. Repeti este experimento vários dias sucessivamente e fiquei satisfeito ao ver que as abelhas engajadas nesta tarefa eram sempre, quase exclusivamente, da raça italiana. Muitas de-las tinham escamas de cera visivelmente projetadas entre os a-néis abdominais. Estas observações mostraram que nas primei-ras fases de sua existência o impulso para a construção de favo é muito mais intenso do que na idade avançada.

"3. Sempre que examinava a colônia durante as três primei-ras semanas depois que as abelhas italianas tinham emergido, encontrava os favos de cria cobertos principalmente por abelhas desta raça: por esta razão é provável que a cria2 seja atendida principalmente e assistida pelas abelhas mais jovens. As evidên-cias, no entanto, não são tão conclusivas como no caso da cons-trução de favo, visto que elas podem se congregar sobre os favos de cria por serem estes mais aquecidos do que os outros.

"Posso acrescentar outras observações interessantes. As fe-zes nos intestinos das jovens abelhas italianas eram viscosas e amarelas; e das abelhas comuns ou velhas eram fluidas e límpi-das, semelhante à da rainha. Isto é uma confirmação da opinião que, para a produção de cera e geléia real as abelhas necessitam de pólen; mas não precisam deste elemento para sua sobrevivên-

1 Tive uma rainha que continuava a por ovos no favo depois dele ter sido removi-do da colméia. 2 Tive, certa vez, uma colônia que, depois de ficar sem rainha por algum tempo, não apenas se negou a construir realeiras, mas até mesmo devorou os ovos que lhe eram fornecidos. Fatos semelhantes foram relatados por outros observadores. Quando uma colônia que se recusa a criar rainha receber um favo contendo abe-lhas em amadurecimento, estas inocentes órfãs trabalharão de imediato para re-por sua perda. As observações do Dr. Dönhoff confirmam estes fatos.

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cia." - B. Z. 19855, pág. 163. S. Wagner.

Se for intenção multiplicar as colônias rapidamente, nunca deixar os núcleos muito reduzidos em número de abelhas ou sem cria ou mel. Com estes cuidados, sempre que a rainha for dele retirada elas começam a repor sua perda mais normalmen-te.

Existe uma peculiaridade na característica das abelhas que é merecedora de profundo respeito. É a sua incansável energia e perseverança pois, em circunstâncias aparentemente desespera-doras, elas trabalham até a exaustão para recuperar suas perdas e superar o estado decadente. Enquanto elas tiverem uma rai-nha, ou perspectiva de criar uma, elas se empenham vigorosa-mente para sustar a ruína e nunca desistem até sua condição se tornar absolutamente desesperadora. Conheci uma colônia de abelhas que não conseguia sequer cobrir um pedaço de favo de quatro polegadas quadradas tentar criar uma rainha. Durante duas semanas inteiras, elas foram fiéis ao seu empreendimento desesperador; finalmente, quando estavam reduzidas a menos da metade do seu número original, a sua nova rainha emergiu, mas com asas tão imperfeitas que ela não conseguia voar. Apesar de mutilada como se encontrava, elas a tratavam com respeito qua-se igual como se ela fosse fértil. No decurso de mais uma semana permanecia na colméia uma escassa dúzia de operárias e alguns dias mais tarde a rainha se foi, e somente algumas desconsola-das e abandonadas permaneciam no favo.

Vergonha de um covarde de nossa raça, que, quando surpre-endido por uma calamidade, em vez de enfrentar nobremente as tormentosas águas da aflição se resigna de modo vil a si mesmo a um destino ignóbil e perece, quando deveria viver e triunfar! e duplamente vergonhosos os que, vivendo na terra do cristianis-mo "ficam abatidos em dias de adversidade" quando deveriam acreditar na palavra de Deus, deveriam enxergar com os olhos da fé sua "bow of promise" dispersando as nuvens da tempestade e ouvir sua voz amorosa convidando-os a acreditar Nele como o "Grande Libertador".

Na edição anterior deste trabalho, juntamente com outros métodos de enxameação artificial, foram fornecidas instruções muito completas para o aumento das colônias pelo fornecimento aos núcleos de um segundo favo com cria em amadurecimento, assim que sua rainha começa a botar ovos, e então, a intervalos apropriados, um terceiro e um quarto, até que eles estejam fortes

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o suficiente para tomar conta deles mesmos. Este modo de au-mentar é trabalhoso e exige habilidade e decisão que poucos possuem: é também peculiarmente propenso a provocar a pilha-gem entre as abelhas, pois exige que as colméias sejam abertas com freqüência, para remover os favos necessários nas diferentes etapas. Caso um grande número de núcleos deva ser reforçado simultaneamente o apicultor não conseguirá completar o proces-so artificial com uma operação simples e deverá se manter sem-pre à disposição, ou correr o risco de terminar a estação com co-lônias esfomeadas. Por estas e outras razões, prefiro os métodos de delineei, dispensando tantas aberturas e manuseios dos fa-vos. Se, no entanto, qualquer uma das novas colônias estiver fraca a ponto depassar necessidades, ela pode ser ajudada com favos das colméias fortes.

Qualquer que seja o método utilizado pelo apicultor, ele nunca deverá reduzir a força da colméia materna a ponto de comprome-ter a prolificidade de suas rainhas. Este princípio deveria ser pa-ra ele como "a lei dos Medas e Persas, que nada altera": uma rai-nha, com abundância de favos de operárias e abelhas, pode, numa única estação, tornar-se a genitora de um número de fa-mílias prósperas, se sua colônia, no início do período de enxa-meação, for dividida em três ou quatro partes, mas nenhuma de-las conseguirá normalmente estoques suficientes para sobreviver ao Inverno.

Se o apicultor estiver nas proximidades de casas de açúcar, confeitarias, ou outros lugares muito freqüentados pelas abelhas, ele verá suas colméias, tanto as velhas como as novas, tão des-povoadas por causa do seu empenho para conseguir ganhos de-sonestamente, a ponto de ficar em perigo de morte. Em tais situ-ações, todas as tentativas de crescimento rápido são totalmente intrutíferas.

Todos os tipos de operações artificiais são mais bem sucedi-dos quando a forragem para a abelha for abundante; quando ela for escassa elas se tornam um fracasso, mesmo se as colônias forem bem supridas de alimento.

Quando as abelhas não estão ocupadas na coleta de néctar, elas estão no ócio e podem ficar fracas, as quais serão quase cer-tamente pilhadas se abertas sem cuidado. Quando a forragem é escassa, as colméias deveriam ser abertas antes do sol nascer, ou depois do por do sol, ou quando poucas abelhas estivessem voando pelos campos; se for necessário abri-las em outros mo-

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mentos elas devem ser protegidas da importunação pelas outras colônias. O apicultor que não previne a pilhagem, enfraquece se-riamente o valor de suas colméias e impõe a si mesmo muito trabalho inútil e aborrecimento. Cuide para não perverter as abe-lhas tentando-as a pilharem umas às outras!

Num apiário onde as colméias são semelhantes em tamanho, forma e cor e estão próximas umas das outras, as operações não naturais serão, seguidamente, excessivamente perigosas, pois as abelhas serão continuamente levadas a entrar em colméias erra-das. Se as colméias devem ser mantidas próximas, ainda mais se as colméias são de mesma cor e formato, será melhor levar para um segundo apiário, seja o enxame forçado, seja a colméia ma-terna da qual ele será formado.

O apicultor já foi alertado sobre os cuidados necessários ao fornecer uma rainha estranha para as abelhas. Huber descreve assim o modo como uma nova rainha é normalmente recebida na colméia:

"Se outra rainha é fornecida a uma colméia antes que te-nham decorrido doze horas desde a remoção da que liderava a colméia, as abelhas a rodeiam, agarram e a mantem presa por tempo muito longo, num amontoado impenetrável, e ela nor-malmente morre ou por fome ou por falta de ar. Caso tenham se passado dezoito horas antes da introdução de uma rainha estra-nha, ela é tratada, inicialmente, da mesma forma, mas as abe-lhas deixam-na em seguida, como também o amontoado que a rodeia não é tão compacto; elas se dispersam gradualmente e a rainha é finalmente libertada; ela se desloca languidamente e, algumas vezes, morre dentro de alguns minutos. Algumas, no entanto, se salvam saudáveis depois do que lideram a colméia. Caso se passarem vinte e quatro horas antes da introdução da rainha estranha ela será bem recebida desde o momento da in-trodução.

"Reaumur afirma que se a rainha original é removida e outra introduzida esta nova será recebida perfeitamente desde o início. *** Ele induziu quatro a cinco centenas de abelhas a deixarem sua colméia e entrarem numa caixa de vidro contendo um peda-ço de favo. Inicialmente, elas ficaram em grande agitação, mas no instante que ele lhes apresentou uma nova rainha o tumulto cessou e a estranha foi tratada com todo o respeito.

"Não questiono a veracidade deste experimento, mas as abe-

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lhas de Reaumur estavam muito longe de sua condição natural a fim de permitir que ele tirasse alguma conclusão sobre os seus instintos e disposições. Ele próprio observou que a operosidade e a atividade das abelhas são afetadas quando em número muito reduzido. Tal experimento deveria ser conduzido em colméias populosas para se conseguir verdades conclusivas; a rainha es-tranha deveria ser introduzida imediatamente no lugar da origi-nal removida."

Parece que, pelo uso da palavra imediatamente, Huber estava cauteloso com o fato se a rainha estranha é introduzida na colô-nia antes de cessar a agitação (pág. 158), e antes que sejam ini-ciadas as realeiras ela será, normalmente, bem recebida. Se as abelhas da colônia são levadas a se encherem de mel, pelo tam-borilar, fumegar ou lhes fornecendo líquido doce e, muitas vezes, se forem transportadas para um novo local, elas aceitam pron-tamente qualquer rainha que se lhe ofereça, no lugar da sua própria.

As abelhas possuindo uma rainha fecundada relutam, fre-qüentemente, em aceitar uma não fecundada em seu lugar; sem dúvida, é preciso muito mais experiência para fornecer uma rai-nha estranha a uma colônia e ainda ter certeza de lhe garantir uma boa recepção. Em muitas ocasiões as operárias ferroaram a rainha estranha até a morte, enquanto eu a segurava entre meus dedos, a fim de removê-la caso ela não fosse bem-vinda. Para evi-tar acidentes será bom confinar a rainha - quando introduzida em colônia estranha - dentro do que os alemães chamam "gaiola de rainha", que pode ser fabricada fazendo um buraco num bloco e cobrindo-o com tela metálica, ou qualquer cobertura perfurada. As abelhas se familiarizam com a rainha aprisionada, colocando suas antenas através das aberturas e no dia seguinte ela pode lhes ser entregue com segurança. Rainhas inclinadas a voar para a floresta podem ser confinadas da mesma forma. Uma caixinha de papelão perfurado responde igualmente bem, ou mesmo uma caixa de fósforos.

Se a gaiola for colocada com suas pequenas aberturas sobre um dos furos da entre-tampa, ou colocada dentro da colméia, as abelhas sentir-se-ão como se a rainha estivesse em liberdade. Uma gaiola deste tipo será muito conveniente para qualquer con-finamento temporário da rainha.

A rainha deve ser apanhada suavemente com os dedos de entre as abelhas e se nenhuma abelha for esmagada não existe

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perigo de ser ferroado. Embora a rainha não ferroe, mesmo quando manuseada rudemente, poderá algumas vezes, quando confinada em espaço muito pequeno, morder a mão do operador podendo provocar um pequeno incômodo - suas mandíbulas, que são projetadas para roer a base da realeira, são mais largas e mais fortes do que a da abelha comum. Se for permitido que ela voe ela pode ser perdida, tentará entrar numa colméia estra-nha qualquer.

Como uma rainha fértil pode botar algumas centenas de o-vos por dia, não é estranho que ela fique exausta rapidamente, quando retirada de entre suas abelhas. "Ex nihilo nihil fit" - de nada, nada vem - suas árduas atividades de maternidade a com-pelem a ser uma grande consumidora de alimento. Ao retornar para as abelhas depois de um afastamento das abelhas de ape-nas quinze minutos, ela solicitará mel; se mantida longe por uma hora ou mais, ela deve ser alimentada pelo apicultor, ou ter al-gumas abelhas, cheias com mel, que a acompanhem para suprir suas necessidades. Uma que enviei pelo correio, numa gaiola de rainha, acompanhada de operárias bem alimentadas chegou com segurança no apiário do meu amigo no dia seguinte.

São necessárias grandes precauções não só ao introduzir uma rainha estranha numa colméia mas toda vez que se mistu-rar abelhas pertencentes a diferentes colônias. As abelhas que têm uma rainha fértil brigam, quase sempre, com as que têm uma não fecundada; esta é uma razão porque freqüentemente ocorre uma disputa furiosa, na qual milhares perecem, quando se tenta misturar enxames novos.

Parece que os membros de diferentes colônias reconhecem suas companheiras de colméia pelo odor e, se existirem centenas de colméias no apiário, qualquer uma detectará rapidamente uma abelha estranha; assim como toda mãe num grande reba-nho de ovelhas é capaz, pelo mesmo sentido, na escuridão da noite, distinguir sua própria cria de todas as outras. Parece, por esta razão, que as colônias podem ser misturadas com seguran-ça borrifando-as com água açucarada, perfumada com hortelã-pimenta ou outro odor forte, o que fará todas elas terem o mes-mo odor.

Há algumas estações atrás, descobri que as abelhas freqüen-temente reconhecem as estranhas pelas suas ações, mesmo quando elas têm o mesmo odor; uma abelha alarmado se volta com postura amedrontada o que, sem sombra de dúvida, revela

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que ela está consciente de ser uma intrusa. Se, por esta razão, as abelhas de uma colônia forem deixadas em seu próprio local, e as outras forem repentinamente introduzidas, as últimas, mes-mo quando ambas as colônias tiverem o mesmo odor, ficam tão amedrontadas que elas são identificadas como estranhas e são imediatamente mortas. Se, no entanto, ambas as colônias forem transportadas para uma nova posição e sacudidas juntas sobre uma folha, elas se misturarão pacificamente, desde que tenham o mesmo perfume.1

Se, quando duas colônias são misturadas, as abelhas da colméia na posição original não estiverem cheias de mel, elas freqüentemente atacam as outras, que estão carregadas, e rapi-damente as ferroam até a morte, a despeito de todas suas tenta-tivas de conseguir imunidade oferecendo seu mel. O Mr. Wm. W. Cary, de Coleraine, Massachusetts, que de longa data é um ob-servador cuidadoso dos hábitos das abelhas, une colônias com grande sucesso, alarmando as que estam no suporte original; assim que elas mostram, pelo seu comportamento, estarem submissas, ele introduz as demais. O alarme que as faz se en-cherem com mel (pág. 27), deixa-as em dúvida sobre o seu bem estar, por tempo suficiente para dar às outras uma boa chance.

Já foi afirmado não ser possível, por tratamento algum, por mais rude que seja, induzir a rainha a ferroar. A razão desta es-tranha relutância é óbvia, quando considerarmos que a preser-vação de sua vida é indispensável para a sobrevivência da colô-nia e que, embora a perda do seu ferrão possa ser fatal para ela

1 Substancialmente cheguei à mesma conclusão do que foi recomendado em 1778 por Thomas Wildman (pág. 230 da terceira edição de seu valioso trabalho sobre abelhas), que diz que as abelhas "se agruparão quando estiverem com me-do e em perigo, sem brigar, como estariam dispostas a fazer se abelhas estranhas entrassem em sua colméia para se apoderar do seu mel".

De todos os antigos escritores, parece que Wildman chegou mais perto dos méto-dos modernos para subjugar e manejar as abelhas. Vinte e cinco anos antes das investigações de Huber sobre a origem da cera, este cuidadoso observador co-mentou sobre as escamas de cera no abdômen das operárias; ele estava tão con-vencido que a cera era secretada a partir do mel, que ele recomendava alimentar os enxames novos, quando o tempo estivesse chuvoso, para que eles pudessem construir favo imediatamente para os ovos da rainha.

O Mr. Wagner me indica o "Glossarium Melliturgium de Orerbeck" - Bremen, 1765, pág. 89 - no qual a origem da cera é propalada, mais de vinte anos antes da data daquele trabalho - isto é 1745 - pelo Pastor de Hannover, chamado Her-man C. Hornbostel. Ele trouxe suas descobertas para o mundo no assim chama-do "Hamburgh Library" vol. 2, pág. 45; elas estão tão minuciosamente descritas a ponto de não deixar dúvidas de sua precisão.

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mesma, ele não teria mais valor para sua defesa, no caso de um ataque, do que a única espada de Washington ou de Wellington tinha para decidir uma grande batalha. Enquanto as abelhas comuns estão prontas a sair e sacrificar suas vidas à mínima provocação, a rainha penetra mais profundamente entre as mi-lhares de abelhas amontoadas, e nunca usará seu ferrão, exceto quando engajada em mortal combate com outra rainha. Quando duas rivais se encontram, elas se agarram imediatamente, com cada uma demonstrando o mais vingativo ódio. Porque, então, não são as duas freqüentemente destruídas? Nunca podemos deixar de admirar suficientemente a previdência tão simples, e ainda tão efetiva pela qual esta calamidade é evitada. A rainha nunca ferroa, a menos que sua vantagem seja tão clara que ela consiga curvar seu corpo por baixo do corpo da sua rival para lhe infligir um ferimento mortal, mas sem risco para si mesma - o momento em que a posição das duas combatentes é tal que nenhuma tem vantagem, mas ambas podem perecer, elas não só se recusam a ferroar, mas se desvencilham e suspendem o con-flito por um curto tempo!

As interessantes afirmações que seguem foram fornecidas para o New England Farmer (Outubro. 1855), pelo Hon. Simon Brown, Lieutenant-Governor of the Commonwealth de Massa-chusette, em 1855.

"Em 17 de julho último, colocamos na janela da sala de jan-tar um núcleo de observação do Sr. Langstroth, construído em vidro, de tal forma que todas as atividades das abelhas podiam ser observadas ampla e convenientemente. Nele foi colocado um favo com cerca de um pé quadrado (30 x 30cm2), contendo um pouco de cria, coberto de operárias e zangões, mas sem rainha. A colméia foi então observada cuidadosamente por uma moça da família, que nos relatou o que segue sobre suas atividades.

"´A primeira tarefa em que as abelhas se envolveram, foi ini-ciar realeiras e elas assim se mantiveram, energicamente, por dois dias. Ao final deste período, foi apanhada uma rainha de ou-tra colônia e introduzida entre elas, ato contínuo elas destruíram as realeiras que tinham construído, em menos da metade do tempo que foi necessário para construí-las e começaram, jun-tando pedaços, a completar e a reparar o favo que precisava de um canto. A rainha começou a botar imediatamente e encheu, rapidamente, os alvéolos desocupados, quando então ela foi no-vamente removida, e as abelhas uma vez mais começaram a

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construção de realeiras.

"´As abelhas jovens começaram, agora, a emergir, e em duas semanas a família tinha crescido a ponto de se tornar necessário iniciar os preparativos para enxamear. Elas construíram seis realeiras e em cerca de doze dias a primeira rainha emergiu. As-sim que ela emergiu, ela andou rapidamente e da forma mais e-nérgica possível sobre o favo e visitou as outras realeiras nas quais havia princesas embrionárias, aparentando fúria para des-truí-las. As operárias, no entanto, rodearam-na e evitaram tal ímpeto assassino. Mas durante dois dias ela esteve concentrada em seu propósito destrutivo e se mantinha em movimentação praticamente contínua para conseguí-lo. No décimo quarto dia a segunda rainha estava pronta para emergir, piando e fazendo vá-rios ruídos para chamar a atenção.

"´Aparentemente uma parte da colônia concluiu ser tempo de partir com a primeira princesa, mas por algum erro ela perma-neceu no núcleo quando o enxame partiu. A segunda princesa emergiu assim que as abelhas partiram e passaram a existir, a-gora, duas princesas emergidas na colméia! elas circulavam pelo favo, que estava agora praticamente vazio, assim era possível vê-las distintamente. Mas parece que, aparentemente, elas não ti-nham se percebido, enquanto as operárias estavam em estado de grande inquietação e comoção, parecendo impacientes esperando que uma fosse destruída. O modo que as operárias adotaram pa-ra consegui-lo foi claro e a sangue frio. Um círculo de abelhas manteve uma rainha estacionária, enquanto outro conduziu a segunda para junto da primeira, assim que as cabeças das duas rainhas praticamente se tocavam, as abelhas recuavam, deixan-do um campo aberto para as combatentes, no qual uma seria vi-toriosa e a outra morreria! O combate foi feroz e sanguinário. E-las se agarraram e, como lutadores expertos, se esforçavam para infligir um golpe fatal através de algum movimento repentino ou hábil. Mas, por alguns momentos, parecia que as partes estavam equilibradas; não era possível divisar vantagem para nenhum la-do. As abelhas permaneciam observando calmamente a terrível luta, como se elas próprias tivessem sido heróis em centenas de guerras. Mas a briga, como todas as outras, teve seu fim; uma sucumbiu na arena e foi imediatamente apanhada pelas operá-rias e levada para fora da colméia. Neste momento, as abelhas que partiram na forma de um enxame descobriram que sua princesa tinha se perdido e, ao invés de prosseguir se alojando, retornaram, mas não a tempo de testemunhar o combate fatal e

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a queda de sua pobre princesa que devia ter partido com elas à procura de uma futura casa.´"1

O apicultor já foi lembrado do valor de manter favos bons em suas colméias. Nas colméias estes favos são como capital de giro para um homem de negócios; enquanto eles puderem ser utiliza-dos nunca deveriam ser destruídos (pág. 60)2. Os que tiverem fartura de bons favos de operária deverão, inquestionavelmente, considerar ser uma vantagem utilizá-los no lugar de guias artifi-ciais (Lâmina I, Fig. 2,w)3. Os que usam as guias, precisam exa-minar o enxame dois ou três dias depois de ele ter sido alojado, quando, com um pequeno manejo, toda irregularidade nos favos pode ser facilmente corrigida. Alguns favos podem precisar uma pequena compressão para colocá-los na posição certa e outros deverão, até mesmo, serem recortados e presos em outros qua-dros; mas nenhum esforço deve ser poupado para certificar-se de que todos estão bem, antes de considerar o trabalho concluido pois reparar os defeitos mais tarde será muito mais trabalhoso. Se a colônia é pequena ela deve ser confinada, com uma partição móvel, ao espaço da colméia que contenha quadros que ela possa proteger - como também para o seu encorajamento, além de eco-nomizar calor animal e evitar a construção de favos irregulares. Varro, que foi famoso antes da era Cristã, diz (Livro III, Cap. xvii-i), que as abelhas ficam desanimadas quando colocadas em col-méias muito grandes.

Fornecendo-lhes cinco quadros com favo de operária, inter-calando-os com os quadros vazios, pode-se conseguir uma res-posta admirável no desenvolvimento de um enxame novo. Dois ou três dias depois que as abelhas tomaram posse da colméia, elas podem ser informadas, polidamente, que estes quadros com favos de operárias lhesforam fornecidos apenas para orientação,

1 "Introduzimos uma rainha numa colméia", diz Huber, "depois de pintar seu tó-rax, para distingui-la da rainha existente. Se formou um círculo tão compacto de abelhas em volta da estranha que, num único minuto, ela perdeu sua liberdade. Outras operárias, ao mesmo tempo, se reuniram em torno da rainha existente e restringiram seus movimentos. *** Elas retinham suas prisioneiras somente quando parecia que elas queriam se afastar uma da outra; e se uma, menos reti-da, se mostrava desejosa de se aproximar da rival, todas as abelhas que forma-vam o amontoado se afastavam, dando-lhe liberdade total para atacar; depois, se elas mostravam uma disposição para se afastar, as abelhas voltavam a retê-las." 2 O Mr. S. Wagner tem uma colônia por mais de 21 anos, cujas abelhas jovens parece terem o mesmo tamanho das outras do seu apiário. 3 Ver a explanação das Lâminas da Colméia, com a descrição dos vários estilos de quadros móveis.

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e os quadros com favos por elas construídos podem ser alterna-dos com quadros vazios. Cinco quadros podem ser, assim, utili-zados, sucessivamente, para vários enxames.

Como as guias artificiais aumentam o custo dos quadros e nelas não se pode confiar invariavelmente, o apicultor prático fa-rá de tudo, até onde possível, para dispensar o seu uso. Delineei um plano - descrito em outro lugar - para substituí-las e permitir ao iniciante levar suas abelhas, sem nenhum favo, a construir nos quadros com regularidade total.

Deve ser óbvio, a todo apicultor bem informado, que o controle perfeito sobre os favos da colméia é a alma do sistema de manejo pode ser modificado para atender as necessidades de todos que criam abelhas. Até mesmo o apicultor à moda antiga pode, com quadros móveis, acabar com seu trabalho exaustivo quase tão rapidamente quanto colocando-o numa mina de enxofre; preser-var assim o seu mel da fumaça desagradável, mantendo o mel em quadros dos quais ele pode cortar convenientemente, e pre-servar todo favo vazio para uso futuro (pág. 71).

Como, pode-se perguntar, aqueles que gostariam de criar abelhas mas temem ser ferroados, a ponto de se oporem total-mente, até mesmo, à enxameação natural, como podem tais pes-soas abrir colméias, levantar favos, sacudir ou escovar abelhas e realizar outras atividades que parecem semelhantes a desafiar um leão em seu refúgio? A verdade é que algumas pessoas são tão tímidas, ou sofrem tão terrivelmente quando ferroadas, que elas são totalmente desqualificadas para fazer qualquer coisa com as abelhas e não devem ter nenhuma sob seus cuidados, mas devem entregá-las aos cuidados de outros. Com as orienta-ções fornecidas neste tratado, praticamente todos, no entanto, usando proteção adequada, podem manejar abelhas com muito pouco risco. Acredito, em poucas palavras, que o risco de ser fer-roado é grandemente diminuído pelo uso das minhas colméias. No entanto é muito difícil, para aqueles que não as viram em u-so, acreditar que isso possa ser verdade.

O desconhecimento pela maioria dos apicultores de que se po-de conseguir facilmente um controle quase ilimitado sobre as abe-lhas, sempre foi visto pelo autor deste tratado como o maior obstá-culo para a introdução rápida da colméia de quadros móveis. Eles devem ter inventado dispositivos que, por estarem adaptados à sua ignorância, se provaram, inicialmente, muito mais lucrativos para eles, que apenas os conceberam, seja para a comunidade

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ou para eles mesmos, para satisfação do seu ego. O desconheci-mento conduziu à invenção de colméias custosas e complicadas1, e os mais bem informados conhecem toda a ingenuidade e des-pesa nelas esbanjada, que são tão desnecessárias quanto uma custosa máquina para erguer o pão e a manteiga para a boca e empurrá-lo goela abaixo de uma ativa e saudável criança.

O Rev. John Thorley, em seu "Female Monarchy", publicado em Londres, em 1744, parece ter sido o primeiro a introduzir a prática de anestesiar as abelhas com a fumaça narcótica do fun-go "puff ball" (Fungus pulverulentus), seco para manter o fogo a-ceso. O mesmo efeito é produzido empurrando um trapo satura-do de clorofórmio ou éter pela entrada da colméia e fechando-a hermeticamente para prevenir a saída dos vapores. As abelhas, em seguida, caem imóveis dos favos e se recuperam, novamente, depois de pequena exposição ao ar.

Alguns dos meus leitores podem supor que uma forma tão fácil de anestesiar as abelhas deve facilitar enormemente a re-

1 Tenho na minha frente um pequeno panfleto, publicado em Londres em 1851, escrito por W. A. Munn, Esq. O objetivo deste panfleto é descrever a construção da "Colméia de Barra e Quadro". O objeto desta invenção é levantar os quadros, um de cada vez, dentro de um estojo com laterais de vidro, de forma que eles pos-sam ser examinados sem risco de perturbar as abelhas. O inventor manifesta uma grande ingenuidade com esta colméia realmente custosa e complicada, o qual parece imaginar que a fumaça "deve ser prejudicial tanto para as abelhas quanto para sua cria". Além disso, se um pouco de fumaça for tão prejudicial, o apicultor pode fazer as abelhas se encherem de mel (pág. 27) usando água doce, ou tamborilando na colméia, depois de fechar sua entrada, quando então todos os favos poderão ser levantados com segurança.

A colméia de Huber, ou uma colméia de barras móveis, pode ser manejada com mais segurança do que qualquer outra que se proponha a elevar os quadros sem permitir que eles sejam retirados (pág. 150). Uma colméia simples, cuja configu-ração seja tal que mutile e irrite as abelhas, está mais para ser temida num apiá-rio do que milhares apropriadamente construídas; uma vez que elas fazem as a-belhas ver seu protetor como um inimigo.

Na pág. 15, falei sobre a colméia de barras, como tendo pelo menos cem anos de idade. A partir do que consta no "A Journey into Greece, de George Wheeler, Esq." de 1675-6, parece que ela era, naquele tempo, de uso comum por lá e, pro-vavelmente, já então era prática antiga; ele descreve como ela era usada para fa-zer enxames artificiais e retirar mel em excesso. Como os novos enxames eram feitos dividindo os favos entre duas colméias, e não é feita nenhuma menção se para a parte sem rainha era fornecida uma realeira - estes antigos observadores provavelmente estavam familiarizados com o fato de que elas podiam criar uma a partir de cria de operária. Huber diz: - "Monticelli, um Professor Napolitano, indi-ca que a enxameação artificial foi trazida da Favignana e que sua prática é tão antiga que até mesmo os nomes latinos são preservados pelos habitantes em seus procedimentos."

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moção dos favos; mas, embora valioso para os desconhecedores da regra máxima que uma abelha cheia de mel nunca se lança voluntariamente ao ataque, para os mais bem informados os narcóticos de qualquer espécie são, em geral, mais nocivos do que úteis. Abelhas vivas podem ser retiradas do caminho facil-mente; mas as anestesiadas, assim como um homem embriaga-do, são constantemente passíveis de serem mutiladas ou mortas.

Muitos apicultores – que não são mestres apícolas - desejam uma colméia que lhes forneça, mesmo sem nada conhecer e até mesmo sem cuidados, uma grande colheita de mel de suas abe-lhas. Eles são facilmente enfeitiçados pelos dispositivos mais su-perficiais e gastam seu dinheiro e destroem suas abelhas para encher a carteira de homens sem princípios. Nunca existirá um "caminho real" para uma apicultura rentável. Como todos os ra-mos da economia rural, ela exige dedicação e experiência; e os que estiverem cônscios da grande tendência em procrastinar e negligenciar, farão muito bem em deixar as abelhas sozinhas, a menos que eles esperem, pelo estudo de seu trabalho sistemáti-co, reformar maus hábitos que são quase incuráveis

Ao mesmo tempo que me sinto esperançoso, de modo cres-cente, que a colméia de quadros móveis1 será usada extensiva-mente pelos apicultores habilidosos, conheço muito bem as difi-culdades de uma introdução rápida de qualquer sistema de ma-nejo que esteja muito à frente do conhecimento atual; mesmo uma colméia perfeita (pág. 116) exigirá anos para abrir seu ca-minho até o uso geral. Foi tão só nos últimos anos que as mara-vilhosas descobertas de Huber - como os escritos de Bruce Sour-ces of the Nile - emergiram das nuvens do ridículo e da calúnia em que estiveram envolvidas durante muito tempo; e mesmo a-gora, ao descrever um décimo das maravilhas da colméia, ainda que tenham sido perfeitamente demonstradas, na percepção de muitos de nossos mais antigos apicultores, merece apenas ser taxada de loucura, de mentira ou de trapaça.

1 No dia em que planejei o quadro móvel, escrevi o que segue na minha Bee-Journal: - "O uso destes quadros darão, estou persuadido, um novo impulso para tornar mais fácil e lucrativo o manejo das abelhas; e tornarão a preparação de enxames artificiais uma operação mais fácil."

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CAPÍTULO XI

PPPEEERRRDDDAAA DDDAAA RRRAAAIIINNNHHHAAA

São fatos familiares a todo apicultor que uma rainha é fre-qüentemente perdida e que a sua colônia está perdida a menos que esta calamidade seja remediada a tempo,.

As rainhas morrem, algumas vezes, por doença ou idade a-vançada quando não existe cria para suprir a sua perda. Poucas, no entanto, perecem em tais circunstâncias; as abelhas, alerta-das para a aproximação do fim da rainha, constroem realeiras, ou as rainhas morrem tão subitamente que ainda existe cria jo-vem. As rainhas não só vivem mais tempo (pág. 58) do que as operárias, mas são normalmente as últimas a perecer em caso de fatalidade. A morte da rainha por idade avançada pode provocar, anualmente, a perda de um grande número de colônias, se a sua morte não ocorrer em circunstâncias favoráveis. Elas morrem, freqüentemente, quando sua força reprodutiva não está severa-mente afetada, e normalmente existem zangões disponíveis para fecundar suas sucessoras.1

1 Ao preparar minhas colméias para o Inverno encontrei - em 21 de outubro de 1856 - duas que tinham realeiras operculadas. Como os zangões não são mortos, em algumas colméias, até depois de primeiro de novembro, estas rainhas poderi-am ser fecundadas, se o clima não se tornasse muito frio. Ao examinar, nova-mente, em 21 de fevereiro, cada uma destas colméias tinha alguns zangões oper-culados e larvas, enquanto colméias fracas tinham muita cria. A seguir um extra-to da descrição que o Prof. Leidy fez destas rainhas: - "Seus ovários estavam cheios com ovos, eles mediam quatro quintos de linha de comprimento e um oi-tavo de linha de largura. Suas espermatecas estavam cheias com uma matéria mucosa e granular, e células epiteliais, e não continham um traço sequer de fila-mentos espermáticos". Enquanto os intestinos destas rainhas continham apenas um pouco de excremento líquido, o reto de uma operária, examinado na mesma hora, estava cheio com uma enorme quantidade de uma substância escura e re-pulsiva.

Estas colônias zanganeiras receberam rainhas de outras colméias que, quando abertas em abril, foi constatado terem criado rainhas em fevereiro. Uma rainha gerava operárias, a outra ovos de zangão, a primeira deve ter sido fecundada em março, provavelmente por alguma cria da rainha zanganeira. Não podem ser mantidas algumas rainhas zanganeiras, como vantagem, em grandes apiários?

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As princesas nascem, algumas vezes, com as asas tão imper-feitas que elas não conseguem voar (pág. 39); e elas ficam fre-qüentemente tão mutiladas em suas brigas com as outras, ou pelo tratamento rude que recebem quando deixam a realeira (pág. 121), que elas não conseguem deixar a colméia para serem fecundadas.

Precisamos descrever ainda em que circunstâncias é que a maioria das colônias fica sem rainha. Mais rainhas, cujas perdas as abelhas não conseguem repor, perecem quando deixam a col-méia para se encontrar com os zangões, do que de todas as outras formas. Depois da partida do enxame primário, a colônia mater-na e todos os enxames secundários têm princesas que precisam deixar a colônia para a fecundação; seu tamanho avantajado e vôo lento, fazem delas uma presa muito tentadora para os pássa-ros, outras são jogadas, por uma súbita rajada de vento, contra um objeto duro ou jogadas para dentro da água: com toda sua dignidade real, elas não estão livres dos infortúnios comuns aos mais humildes de sua raça.

A despeito de seus cuidados em marcar a posição e a aparên-cia de sua moradia (pág. 125), as jovens princesas cometem, fre-qüentemente, um erro fatal e são destruídas ao tentarem entrar em colméia errada. Isto explica o fato notório porque apicultores pouco informados, com colméias abandonadas e com risco de se desmantelarem, mas não possuindo duas semelhantes, são fre-qüentemente mais bem sucedidos do que aqueles cujas colméias são da melhor construção. Os primeiros - a menos que suas colméias estejam excessivamente congestionadas - perdem pou-cas rainhas, enquanto os últimos perdem-nas na exata propor-ção ao gosto e habilidade que os induz a fazer suas colméia de tamanho, forma e cor uniformes.

No Verão de 1854 eu aprendi, pela primeira vez, a extensão do risco de um apiário congestionado. Para proteger minhas colméias do calor e frio extremos, elas foram arranjadas, lado a lado, sobre uma trincheira, assim que, através de ventiladores instalados em seu fundo, elas podiam receber, no Verão, um ar mais frio e no Inverno um ar mais quente do que o ar ambiente. Com este arranjo - que falhou completamente em atender o seu propósito - muitas de minhas colméias ficaram sem rainha e, em seguida, me certifiquei das circunstâncias em que as princesas são normalmente perdidas.

Com grande uniformidade das colméias em tamanho, forma,

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cor e altura era quase impossível para uma jovem princesa ter certeza de estar retornando para sua colméia. A dificuldade au-mentava, pelo fato de que em frente da trincheira não existiam arbustos nem árvores e nenhuma colméia - com exceção das du-as das pontas, que não perderam suas rainhas - podia ter sua localização facilmente lembrada, graças à sua posição relativa a alguns objetos externos. A maioria das colméias assim posicio-nadas, que tinham rainhas jovens, ficou sem rainha, ainda que supridas de outras rainhas, novamente e novamente; até mesmo muitas operárias entravam constantemente em colméias próxi-mas da sua.

Se um viajante for levado, numa noite escura, para um hotel numa cidade estranha, e ao levantar pela manhã, encontrasse as ruas cheias de construções precisamente iguais ao seu hotel, só teria condições de retornar ao lugar apropriado se certificando previamente do seu número, ou contando as casas entre o hotel e a esquina. A facilidade da numeração, no entanto, não é forne-cida para a rainha; na natureza, nunca serão oferecidos à rainha uma dúzia ou mais de buracos de árvores ou outros locais fre-qüentados pelas abelhas, posicionados proximamente, precisa-mente iguais em tamanho, forma e cor, com suas entradas vol-tadas para o mesmo lado e exatamente à mesma altura em rela-ção ao solo.

Ao descrever para um amigo minhas observações sobre a perda das rainhas, ele me disse que no manejo das galinhas, ele cometeu um erro semelhante. Para economizar espaço e facilitar o acesso aos ninhos das galinhas, ele repartiu uma longa caixa numa dúzia ou mais de apartamentos separados. As galinhas, ao retornarem para seus ninhos, ficavam confusas por causa da similaridade das entradas, assim que, freqüentemente, uma cai-xa continha duas ou três pouco amáveis aspirantes às honras da maternidade, enquanto outras ficavam completamente abando-nadas. Muitos ovos eram quebrados, outros se estragavam e difi-cilmente chocavam em número suficiente para estabelecer uma mãe como a feliz galinha choca da família próspera. Se ele tives-se deixado suas galinhas seguirem os seus instintos, elas teriam espalhado seus ninhos e alegrado seus olhos com uma numero-sa descendência.

Pelo comprimento e largura de nossas mãos, os apicultores que sofrem pesadas perdas, por causa da proximidade e simila-ridade de suas colméias, desconhecedores da verdadeira causa

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de sua desgraça, imputam-nas à traça da cera ou outro dos mui-tos inimigos das abelhas. Judge Fishback, de Batavia, Ohio, me informou, no Outono de 1854, quando visitavamos seu grande apiário, que por muitos anos se protegeu da perda das jovens ra-inhas, pintando a frente das suas colméias com diferentes cores e posicionando as entradas para diferentes direções1. Todo api-cultor, cujas colméias estão arranjadas de tal forma que as jo-vens rainhas podem cometer erros, deve esperar pesadas perdas. Se ele colocar várias colméias, em circunstancias semelhantes às descritas, sobre um banco, ou nas prateleiras da casa das abe-lhas, ele nunca conseguirá manter um bom número sem renova-ção constante. Os enxames primários e as colméias que não en-xameiam ficarão bem por reterem suas rainhas férteis; muitos dos que enxameiam serão pilhados pelas outras abelhas, ou se tornarão vítimas da traça, ou desaparecerão gradualmente.

Se o apicultor preferir manter suas colônias próximas, por causa do espaço limitado ou outras razões, proponho um arranjo para mantê-las sem correr o risco de perder a jovem rainha: -

Se ele praticar a enxameação natural, ele deve remover a colméia materna, assim que ela enxamear, para uma nova posi-ção, dando-lhe dois a três quartos das abelhas do enxame, antes de elas entrarem na nova colméia, que será colocada no local primitivo. Estas abelhas por terem propensão para a enxamea-ção, permanecerão no lugar (pág. 156) das que subseqüentemen-te saírem.

Se for praticada a enxameação artificial, as entradas das colméias dos núcleos devem ser marcadas com um galho frondo-so, e, se possível, com a entrada orientada para diferentes dire-ções (pág. 189) das entradas das colméias vizinhas. As novas co-lônias devem ser formadas como instruído na página 186. Caso sejam usados dois apiários, os enxames artificiais podem ser fei-tos por qualquer um dos caminhos já descritos e as colônias que tem princesas para serem fecundadas levadas para o segundo apiário.

Algumas vezes as abelhas ficam excessivamente agitadas

1 John Mills, num trabalho publicado em Londres, em 1766, fornece (pág. 93) as seguintes instruções: "Não esqueça de pintar as entradas de suas colônias com diferentes cores, como vermelho, branco, azul, amarelo, etc., na forma de meia lua, ou quadrado, para que as abelhas identifiquem melhor sua própria colméia". Tais cuidados evitam que as colméias fiquem sem rainha, embora eles não sejam adotados para esta finalidade.

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quando a princesa sai para o vôo de fecundação a ponto de exibi-rem todos os sinais de enxameação. Parece que elas têm uma instintiva percepção do perigo que a espera, como se elas não quisessem que ela saísse. Eu as tenho visto rodeá-la e confiná-la, como tentando fazê-la desistir de sair. Se a rainha for perdida durante o "vôo de acasalamento", como dizem os alemães, o nú-mero de abelhas da colônia antiga diminuirá gradualmente; as abelhas do enxame secundário ou serão unidas a outra colônia ou desaparecerão rapidamente.

Seria interessante se pudéssemos aprender como as abelhas ficam informadas da perda de sua rainha. Quando ela é retirada das abelhas, sob circunstâncias que excitam toda a colônia, po-demos facilmente ver como elas percebem sua ausência; assim como uma mãe atenciosa, em tempo de perigo, é toda preocupa-ção para com suas crianças impotentes, assim as abelhas, quando alarmadas, sempre procuram primeiro ter certeza da se-gurança de sua rainha. Se, no entanto, a rainha for cuidadosa-mente removida pode passar um dia ou mais antes que elas per-cebam sua perda1. Como são as abelhas advertidas do ocorrido? Talvez uma zelosa abelha, ansiosa por abraçar sua mãe, faça uma busca cuidadosa por ela através da colméia. A notícia que ela não foi encontrada é espalhada e toda a família fica alarmada rapidamente. Em tais ocasiões, em vez de conversarem calma-mente, tocando-se com as antenas, é possível vê-las golpeando-se umas às outras violentamente e manifestando sua agonia e desapontamento pelas demonstrações mais comoventes.

Uma vez removi uma rainha de uma pequena colônia, as a-belha, procurando por ela, levantaram vôo e encheram o ar. Ape-sar de ela ter retornado em poucos minutos, dois dias mais tarde foram encontradas realeiras. A rainha estava ilesa e as realeiras desocupadas. Este trabalho foi iniciado por algumas que não a-creditaram nas demais, quando afirmaram que ela estava a sal-vo? ou por causa da apreensão de que ela poderia ser novamente perdida?

Todas as colônias cujas rainhas estão para serem fecunda-

1 "Durante dezoito horas, após a retirada da rainha, os trabalhos normais da colméia prosseguem tão regularmente como se ela estivesse presente; mas assim que sua perda é percebida tudo fica agitado e tumultuado - as abelhas se precipi-tam para lá e para cá sobre os favos, com um surdo sussurro, correm em multi-dões para fora da colméia, como se fossem enxamear, e em pouco tempo exibem todos os sintomas de privação e desespero." Bevan, pág. 24.

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das devem ser observadas, para o apicultor ficar informado a tempo de sua perda. Tais colônias, quando supridas com favo com cria apropriado, dificilmente abandonam a colméia, se a ra-inha for perdida. Uma colméia velha na qual não se consiga in-troduzir uma rainha ou fornecer os meios para ela criar uma, deve ser dessmantelada, e suas abelhas colocadas em outra co-lônia; um novo enxame sempre deve ser desmantelado a menos que a rainha prestes a amadurecer lhe seja fornecida (pág. 149). Se a nova colônia é grande, será melhor, em vez de desmantelar, dar-lhe uma rainha de uma colméia velha que possa facilmente criar outra. Se, no entanto, o apicultor usa colméias de quadros móveis, e adota o sistema de núcleos (pág. 188), ele sempre terá rainhas à mão para todas as emergências.

Huber demonstrou que as abelhas normalmente não trans-portam os ovos da rainha de um alvéolo para outro. Pude, no en-tanto, em várias ocasiões, vê-las carregando ovos de operárias para realeiras. O Mr. Wagner colocou algumas abelhas sem rai-nha, trazidas de longe, em favos vazios que estavam em seu só-tão por dois anos. Quando supridas com cria, elas criaram sua rainha nestes favos velhos! O Mr. Richard Colvin, de Baltimore, bem como outros amigos apicultores, me falaram de ocasiões quase tão intrigantes.

Tendo descrito os cuidados necessários para prevenir a per-da das rainhas, falta mostrar como o apicultor pode se certificar que a colméia está sem rainha e como ele pode remediar tal des-dita. Assim que as abelhas começarem a voar vivamente na Pri-mavera, a colméia que não estiver colhendo pólen1 laboriosamen-te, que não aceita farinha de centeio, que refuga água que lhe for dada em favo vazio, é quase certo não ter rainha, ou ter uma não fértil - a não ser que esteja prestes a ser destruída pelas traças, ou perecer de fome.

É certo que uma colméia está sem rainha se, depois de faze-rem seus primeiros vôos na Primavera, as abelhas, circulando, de uma forma inquiridora, para dentro e fora da colméia (pág. 67), mostrarem que uma grande calamidade caiu sobre elas. As

1 "O Mr. Randolph Peters, da Filadélfia, tinha uma colméia que ele constatara es-tar sem rainha, uma vez que as abelhas não coletaram pólen por 28 dias. Intro-duzi uma rainha na colméia, enquanto ele segurava um cronômetro em sua mão, e em 3,5 minutos após a introdução da rainha foi vista uma abelha entrando com pólen em suas pernas! Ambos ficamos observando a entrada por algum tempo e vimos muitas abelhas carregadas de pólen." - P. J. Mahan

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que chegam do campo, em vez de entrar na colméia com a pressa característica das abelhas que retornam, quando carregadas, pa-ra uma casa próspera, normalmente se demoram em volta da en-trada com uma aparência indolente e descontente, e a colônia permanece impaciente, até tarde do dia, quando as outras col-méias estão tranqüilas. Sua casa, como a de um homem que é detestável em suas relações domésticas, é um local melancólico, e elas entram com movimentos lentos e relutantes.

E aqui, se me for permitido endereçar uma palavra de alerta amigável, gostaria de dizer para todas as esposas - façam tudo que conseguirem para tornar a casa de seu marido um local a-traente. Quando afastado dela, faça seu coração pulsar com o pensamento do retorno para o seu aconchego; quando dela se aproximar, deixe seu semblante assumir involuntariamente uma expressão mais alegre, enquanto seus passos rápidos e alegres demonstrarem que ele sente não existir lugar semelhante à sua alegre casa onde sua escolhida esposa e companheira preside como sua alegre e honorável Rainha1. Se sua casa não é cheia de alegres encantos, tente toda a magia das palavras agradáveis e sorrisos, e a execução alegre dos afazeres domésticos, e explore até onde possível a eficácia do amor, fé e orações, antes que a-quelas palavras de terrível agonia,

"Anywhere, anywhere Out of the world!"

sejam extorquidas dos seus lábios desesperados, quando vo-cê reconhecer que não existe casa para você, até que você passe para aquela habitação que não foi feita por mãos humanas, ou habitada por corações humanos.

No entanto quando as abelhas começam seu trabalho na Primavera, elas normalmente fornecem evidências se tudo corre bem, ou se a desgraça se aproxima, se o seu primeiro vôo não for constatado, é difícil saber se existe ou não alguma dificuldade nas colméias comuns. Se as abelhas são deslocadas de entre os favos pela fumaça, a presença ou ausência de cria pode, muitas vezes, ser apurada. Se forem encontradas algumas abelhas im-perfeitas no fundo, ou na frente da entrada, isto mostra que a colméia contem uma rainha fértil.

1 "A décima e última espécie de mulher foi feita da abelha; e feliz é o homem que tomar esta mulher para sua esposa. Ela é cheia de virtude e prudência e é a me-lhor mulher que Júpiter pode conceder." - Spectator. No. 209.

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Recomendo veementemente que toda colméia de quadros móveis seja examinada, assim que as abelhas começarem o tra-balho na Primavera1. Os favos, com as abelhas aderentes, devem ser postos numa colméia limpa e a velha, depois de limpa de tu-do que possa prejudicar os delicados sentidos das abelhas, pode substituir outra colméia.

Ao fazer esta limpeza completa das colméias o apicultor sa-berá qual precisa de ajuda e qual pode ajudar as outras; toda que precisar de reparo pode ser consertada entes de colocada em uso novamente. Tais colméias, se ocasionalmente re-pintadas, permanecerão por gerações e se mostrarão mais baratas, por muito tempo, do que qualquer outro tipo.

Se durante o exame da Primavera, a colméia não tiver rai-nha, ela pode receber, se populosa, uma de outra colméia fraca. Se estiver pequena favos, com abelhas emergindo2, podem ser conseguidos em colônias fortes. Ou pode ser permutada de posi-ção com uma colméia forte, enquanto as abelhas estão ativamen-te buscando suprimento; ou abelhas trazidas de longe podem ser adicionadas a ela3. Se ela criar rainha que não puder ser fecun-dada oportunamente, ela pode morrer e mais favo com cria deve-rá ser dado a ela. As colméias menores devem ser preservadas até que apareçam os zangões, ocasião em que elas podem ser fei-

1 Gostaria de lembrar, aos que pensam "ser trabalho demais" examinar suas col-méias na Primavera, a prática dos antigos apicultores, como colocado por Colu-mella: - "As colméias devem ser abertas na Primavera, ou seja, todos os detritos que nela se acumularam durante o Inverno devem ser removidos. Aranhas que destroem os favos e as larvas, das quais surgem as traças, devem ser mortas. Quando a colméia estiver limpa, as abelhas se empenharão em trabalhar com mais diligência e resolução." Quanto antes os que consideram o cuidado adequa-do com suas abelhas como "ser trabalho demais" abandonarem a apicultura me-lhor será para eles mesmos e para suas infelizes abelhas. 2 Aquela classe de apicultores que supõe que todas estas operações são o "new fangled" invenções dos tempos modernos, ficarão surpresos ao saber que Colu-mella, 1800 anos atrás, recomendava reforçar as colméias fracas, cortando favos das colméias fortes, contendo operárias "que estão roendo os opérculos dos seus alvéolos". 3 Se uma colméia comum estiver, na Primavera, com número muito reduzido, ela pode ser reforçada pelas duas últimas maneiras, desde que ela tenha uma rainha saudável. Se não tiver rainha, e não for suficientemente forte para justificar que lhe seja dada uma de outra colméia fraca, as abelhas podem ser misturadas com outra colônia e a caixa, com seus favos, guardada para futuros enxames. Ela de-ve, no entanto, ser mantida longe das traças da cera e antes de ser novamente usada alguns dos seus favos centrais devem ser quebrados para ver se não estão infestados de larvas.

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tas tão fortes quanto desejado. As colméias sem rainha devem ser manejadas da mesma forma. Por este manejo, toda colméia sem rainha, embora fraca, que sobreviveu o Inverno, pode ser le-vada a ser rentável.

Deve-se manter vigilância sobre toda a colônia que não tem uma rainha fecundada; e quando sua rainha estiver com uma semana de vida ela deve ser examinada, e se ela está fértil, ela será encontrada pondo ovos em algum favo central. Se não for possível encontrar nem a rainha nem ovos, e não existir indica-ção certa de que ela foi perdida, a colméia deve ser examinada alguns dias mais tarde, uma vez que algumas rainhas são fe-cundadas com mais idade do que outras, e freqüentemente é di-fícil encontrar uma princesa, por causa de sua habilidade em se esconder entre as abelhas.

Se o apicultor pratica na enxameação artificial, ele pode cor-tar as asas das rainhas, assim que elas foram fecundadas1. Num grande apiário, onde muitos enxames podem aparecer simulta-neamente, isto diminuirá muito o trabalho e perplexidade do a-picultor. Delineei uma forma para fazer isto, a fim de conhecer a idade das rainhas: - com a tesoura, apanhe as asas, de um dos lados, da jovem rainha e corte cuidadosamente: quando a col-méia for examinada no próximo ano, corte uma das duas asas remanescentes, e a quarta no terceiro ano.

A fertilidade das rainhas normalmente decresce depois do segundo ano, e antes de elas morrerem, por idade avançada, o conteúdo de suas espermatecas fica exaurido, e elas passam a botar apenas ovos de zangões.2 A menos que as rainhas sejam extraordinariamente férteis, será seguro removê-las depois que elas entram no terceiro ano de vida.3

1 Virgílio fala sobre o corte das asas das rainhas para evitar que elas saiam com os enxames. John Mills (1766) cita o seguinte de um relatório publicado sobre as ovelhas da Espanha: - "O número de colméias manejados na Espanha é incrível. Estou quase desconcertado por saber que conheci um pároco que tinha cinco mil colméias. As abelhas sugavam todo o mel das flores aromáticas que adornavam e perfumavam dois terços do caminho das ovelhas. Este padre prendia, cautelosa-mente, as rainhas num pequeno apanha moscas de crepe e então cortavas suas asas. Ele me disse que nunca perdeu um enxame desde o dia de sua descoberta até o dia em que me viu, que foi, penso eu, cinco anos depois." - pág. 77. 2 Pösel diz, que a rainha que passou fome por vinte e quatro horas nunca recupe-ra sua costumeira fertilidade. Mostrarei, em outro lugar, que depois de recupera-da de um frio severo, as rainhas param de botar ovos de operárias. 3 "As rainhas diferem muito quanto ao grau de fertilidade. As melhores são as

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Uma rainha jovem, ou uma realeira operculada pode ser da-da para a colônia no segundo dia depois que a velha for removida - pois como as abelhas criarão a rainha a partir de ovos, a rainha que elas criarem poderá encontrar quase todos os alvéolos cheios com mel ou pão de abelha, e a população muito reduzida.

No início de outubro - quando alguma cria é encontrada em toda colméia saudável, e quando todas as colônias devem ser e-xaminadas, tendo em vista a aproximação do Inverno - se for en-contrada alguma sem rainha ela deverá ser unida a outra col-méia. Se, no entanto, a rainha velha for removida oportunamen-te, e as colméias que criam rainhas receberem cuidados apropri-ados, serão encontradas poucas colônias sem rainha no Outono. Nesta estação, ou assim que a forragem terminar, estas colméias podem ser identificadas pelas incessantes tentativas de pilhagem pelas outras colméias.

A negligência de uma colônia em expulsar seus zangões, quando eles estão sendo destruídos pelas outras colméias, é sempre um sinal de suspeita, e geralmente uma indicação que ela não tem rainha. Colméias saudáveis quase sempre eliminam os zangões, assim que a forragem se torna escassa. Nas proximi-dades da Filadélfia, em junho de 1858, ocorreram apenas alguns dias que não choveu sem chuva, e naquele mês os zangões foram destruídos na maioria das colméias. Quando o clima se tornou mais propício outros foram criados para tomar o seu lugar. Em estações em que a produção de mel é abundante e duradoura, vi que, ao norte de Massachusetts, os zangões eram mantidos até primeiro de novembro. Se as abelhas puderem colher mel e en-xamear durante todo o ano, os zangões provavelmente morrerão de morte natural.

A validade de evitar a super-produção de zangões foi corro-borada pela descoberta do Mr. P. J. Mahan, os zangões que dei-xam a colméia têm uma grande gota de mel em seus estômagos - enquanto os que retornam de suas excursões de prazer, tendo digerido sua janta, estão preparados para um novo consumo.1

que depositam seus ovos com regularidade uniforme, não deixando alvéolo vazio - a cria emerge ao mesmo tempo numa região do favo, que será novamente suprido com ovos: assim, a rainha não perde tempo procurando por alvéolos vazios." - Dzierzon. Na vida das abelhas, bem como nos afazeres humanos, os que são sis-temáticos normalmente atingem o máximo. 1 Aristóteles (História dos Animais, Livro IX., Cap. XI), fala dos favos grossos e ir-regulares construídos por algumas colméias e da super-abundância de zangões por elas produzidas. Ele cita, também, a destruição dos zangões quando a forra-

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"O zangão," diz o fantástico e velho Butler, "é uma abelha rude, sem ferrão, que despende seu tempo em glutonaria e inati-vidade. De qualquer forma a sua valentia, com seu boné avelu-dado, sua lateral avantajada, sua barriga cheia e sua voz surda, ainda assim é uma companhia indolente, vivendo do suor de ou-tras testas. Ele não trabalha de forma alguma, nem em casa nem fora, e gasta tanto quanto dois trabalhadores; você sempre en-contrará seu estômago com uma gota do mais puro néctar. No calor do dia ele voa para fora, para cima e em volta, e isto sem o mínimo ruído, como se fosse realizar uma grande ação; mas é apenas para o seu prazer, consumir, e então retornar para sua diversão."

Já foi dito (pág. 51), que os apicultores no tempo de Aristóte-les tinham o hábito de destruir o excesso de zangões. Eles os ex-cluíam da colméia - quando eles saiam para seu costumeiro pas-seio - pela redução da entrada com uma espécie de cesta de tra-balho. Butler recomenda uma armadilha semelhante, que ele chama de "drone-pot". Minhas colméias preparadas para prevenir a enxameação, servirão também para excluir os zangões. Ao es-curecer, ou no início da manhã - quando amontoados na entrada para se aquecerem - eles podem ser varridos para um recipiente com água e dados para as galinhas, que mui rapidamente a-prenderão a devorá-los. Para excluí-los das colméias que tem ra-inha não fecundada, a entrada deve ser ajustada para permitir sua passagem.

É interessante registrar o que fazem os zangões quando ex-cluídos das colméias. Por algum tempo eles procuram ansiosa-mente por uma entrada, ou tentam forçar seus corpos avantaja-dos através das estreitas passagens. Concluindo que isto é em vão eles solicitam mel das operárias e, quando fortalecidos, reno-vam seus esforços para serem admitidos, expressando, durante todo o tempo com sons melancólicos, seu profundo sentimento de tão cruel exclusão. O apicultor, no entanto, é surdo às suas súplicas; é melhor para ele que as colméias fiquem sem eles, e melhor para eles - se eles souberem disto - perecer pelas pró-prias mãos, do que passar fome ou serem assassinados pelas operárias sem sentimentos. Com as colméias de quadros móveis,

gem das abelhas diminui, e descreve suas excursões da seguinte forma: - "Os zangões, quando saem para o campo, sobem no ar em vôo circular, como para fa-zer grandes exercícios, e quando tiverem concluído, retornam para sua casa e se enchem de mel." Columella diz, que o tempo apropriado para colher o mel é quando os zangões são expulsos.

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piedade e lucro podem ser perfeitamente conciliados (pág. 51), removendo todo o excesso de favo de zangão da área de cria.1

No Verão de 1853, descobri que depois que a rainha foi libe-rada do cone de papel (pág. 159), as abelhas corriam à sua volta por um longo tempo, provando que elas reconheciam o seu odor característico. Este é o odor que as faz correrem curiosamente sobre nossas mãos depois de termos segurado uma rainha, como também sobre um ponto onde ela tenha circulado quando o en-xame pousou.

Este odor da rainha já era conhecido provavelmente no tem-po de Aristóteles, que diz: "Quando as abelhas enxameiam, se o rei (rainha) é perdido, dissemos que todas elas procuram por ele, e seguem-no pelo seu cheiro sagaz, até o encontrarem." Wild-mann diz: "O odor do seu corpo é tão atrativo para elas, que o lo-cal ou substância que ela tenha simplesmente tocado se torna atrativo para as abelhas, e as induz a seguir por todo o caminho que ela percorre."2

O apicultor inteligente perceberá imediatamente não apenas como a perda da rainha pode ser remediada com as colméias de quadros móveis, mas como toda operação, que com outras col-méias é efetuada com dificuldade, se for póssível ser realizada, nestas é executada com facilidade e sem erro. Nenhuma colméia, no entanto, consegue fazer que o igorante e o negligente tenham sucesso, a menos que ele viva numa região onde o clima é tão propício e as fontes melíferas tão abundantes que as abelhas prosperem a despeito do manejo errado e da negligência.

Estes que não têm disponibilidade de tempo ou disposição para manejar suas próprias abelhas devem, com minhas colméi-as, confiar o cuidado delas para pessoas competentes. A ocupa-ção do jardineiro parece naturalmente associada com a do api-cultor; os jardineiros práticos enxergarão o manejo das abelhas, pelos seus empregados, quase como uma parte lucrativa de sua profissão. Com pouco transtorno, eles podem fazer novas colô-nias, colher o mel em excesso, e com a aproximação do Inverno

1 Se um número de zangões for confinado numa pequena caixa, eles liberam um forte odor: Swammerdam supôs que a rainha era impregnada com este odor ("au-ra seminalis") dos zangões. 2 Antes de tomar conhecimento destes autores, eu supunha ter feito uma desco-berta original. O Mr. P. J. Mahan me informa que depois de manusear a rainha diversas vezes as abelhas pousaram em seus dedos, quando ele estava a uma mi-lha ou mais do apiário.

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preparar as abelhas para resistir aos seus rigores.

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CAPÍTULO XII

AAA TTTRRRAAAÇÇÇAAA DDDAAA CCCEEERRRAAA EEE OOOUUUTTTRRROOOSSS IIINNNIIIMMMIIIGGGOOOSSS DDDAAASSS AAABBBEEELLLHHHAAASSS ---

DDDOOOEEENNNÇÇÇAAASSS DDDAAASSS AAABBBEEELLLHHHAAASSS

A traça da cera1 (Tinea mellonella) é mencionada por Aristó-teles, Vergílio, Columella e outros autores antigos, como um dos mais terríveis inimigos das abelhas. Escritores atuais, pratica-mente sem exceção, têm se referido a ela como a praga de seus apiários; neste país a destruição pela traça tem sido tão devasta-dora, que a maioria dos criadores abandonaram a apicultura por desespero. A maioria dos planos delineados para combatê-la têm se mostrado infrutífera, e não foram muitos que ajudaram a a-tingir o objetivo.

Tendo estudado minuciosamente os seus hábitos, tenho condições de mostrar como, exatamente, podem os apicultores proteger suas colônias de serem destruídas pela sua invasão. O negligente conseguira uma colméia à "prova de traça" somente quando o preguiçoso encontrar um solo "livre de ervas dani-nhas". Antes de mostrar como evitar a traça descreverei breve-mente seus hábitos.

Swammerdam fala de duas espécies de traça de cera (em seu tempo era chamada de "lobo da abelha"), uma maior do que a outra. Linnaeus e Reaumur também descrevem dois tipos -Tinea cereana e Tinea mellonella. A maioria dos escritores supõem que a primeira é o macho e a última a fêmea da mesma espécie. A descrição que segue é um resumo do Relatório do Dr. Harris so-bre os Insetos de Massachusetts:

"Poucas Tineas são maiores ou se igualam a seu porte. No estado adulto é uma traça alada, ou mariposa, medindo, da ca-beça à ponta de suas asas fechadas, de cinco oitavos (16mm) a três quartos (19mm) de polegada de comprimento e suas asas

1 O autor utiliza o termo "bee-moth". N. T.

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abertas medem entre uma polegada e um décimo (28mm) a uma polegada a quatro décimos (36mm). As asas anteriores se fecham juntas niveladamente sobre as costas, com inclinação íngreme para as laterais, e são voltadas para cima na extremidade com alguma semelhança ao rabo de uma ave. A fêmea é maior do que o macho, e de cor mais escura. São formadas duas proles deste inseto ao longo do ano. Algumas traças aladas da primeira ni-nhada começam a aparecer pelo final de abril ou início de maio - mais cedo ou mais tarde, dependendo do clima e da estação. As da segunda ninhada são mais abundantes em agosto; mas al-gumas podem ser encontradas entre estes períodos, e até mais tarde."

Nenhum escritor que eu tenha conhecido apresentou uma descrição tão exata das diferenças entre os sexos, a ponto de eles serem facilmente identificados. As belas xilogravuras das traças, larvas e casulos, que apresento a meus leitores, foram feitas a partir de modelos naturais pelo Mr. M. M. Tidd, de Boston, Mas-sachusetts, e esculpidos pelo Mr. D. T. Smith, da mesma cidade. Um grande número de espécimes foi fornecido ao Mr. Tidd, e foi obtida uma grande precisão. Inicialmente ele observou que a lín-gua da fêmea se projeta parecendo um bico, enquanto a do ma-cho é muito curta.1

Enquanto alguns machos são maiores do que algumas fê-meas, e algumas fêmeas mais claras do que a média dos ma-chos, e ocasionalmente alguns machos tão escuros quanto as mais escuras fêmeas, a peculiaridade da língua da fêmea é tão marcante, que ela pode sempre ser identificada de imediato.

A língua da fêmea é bipartida, e a linha de separação é mos-

1 O Dr. Harris fala da língua da traça como "muito pequena, e dificilmente visí-vel". Isto só é verdade para a do macho.

Fêmea Macho

Fêmea

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trada na figura em que ela é apresentada como se estivesse dei-tada de costas. Tanto o macho como a fêmea, foram copiados cuidadosamente a partir de espécimes de tamanho e forma mé-dios.

Este esboço representa1 um macho menor do que o normal. Sua cor era tão escura que, a não ser pela língua, ele podia ser facilmente confundi-do com uma fêmea de espécie diferente e muito menor.2

Estes insetos raramente são vistos em vôo, a não ser partindo do seu esconderijo, em volta da colméia, para a escuridão. Em dias nublados, no entanto, a fêmea pode ser vista se empenhando, antes do por do sol, em penetrar nas colméias. "Caso sejam perturbadas durante o dia," diz o Dr. Harris, "elas abrem um pouco suas asas e saltam ou deslizam rapidamente para longe, assim que é muito difícil medi-las ou apanhá-las.3 Ao entardecer elas levantam vôo, quando as abelhas estão se reco-lhendo, e pairam em volta da colméia, até, tendo encontrado a entrada, penetrarem e depositarem seus ovos". "Se nos aproxi-marmos do apiário", diz Bevan, "observando sob a luz noturna do luar, as traças podem ser vistas voando ou andando em volta das colméias, espreitando uma oportunidade para entrar, en-quanto as abelhas que devem proteger a entrada dos intrusos,

1 Nesta figura estão apresentadas as pernas. Na posição sentada, elas ficam nor-malmente dissimuladas, como na figura anterior. Estes desenhos aparecem me-lhor na Lâmina XIII. 2 Como todos os espécimes fornecidos ao Mr. Tidd foram apanhados de duas colméias próximas, no final do Outono, é possível que observações em outras es-tações e em diferentes localidades, possam confirmar o ponto de vista dos que acreditam existirem duas espécies. O Mr. Tidd, na identificação dos sexos, verifi-cou que a fêmea, logo após ter sido presa com alfinete, expulsava o seu oviposi-tor, o qual opera com um movimento telescópico, e começava a tatear por alguma fresta na qual depositar seus ovos. Fendas feitas, com um pequeno canivete, na madeira na qual ela tinha sido presa, eram enchidas de imediato com ovos. Seu abdômen foi então recortado e o processo de postura de ovos continuou como an-tes, enquanto o resto do seu corpo se afastou livremente! O abdômen foi então dissecado, para expor os dutos dos ovários, e, mesmo nesta condição mutilada, ela expulsava seu ovipositor, procurando sempre, cuidadosamente, por fendas apropriadas nas quais depositar seus ovos! Repeti, com resultados semelhantes, estes experimentos, tão sugestivos sobre as curiosas especulações sobre a vonta-de do inseto. 3 Eles são surpreendentemente ágeis, tanto no andar como em vôo, comparati-vamente os movimentos das abelhas são muito lentos. "Elas são", diz Reaumur, "as crituras andantes mais rápidas que conheço."

Macho pequeno

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podem ser vistas agindo como sentinelas vigilantes, executando rondas contínuas em torno deste posto, estendendo suas ante-nas ao máximo, e movendo-as para a direita e para a esquerda alternadamente. Para desgraça da infeliz traça que fica a seu al-cance!" "É curioso," diz Huber, "observar as artimanhas usadas pela traça para tirar proveito da desvantagem das abelhas, que necessitam de mais luz para ver os objetos, e as precauções to-madas pelas últimas no reconhecimento e expulsão de um inimi-go tão perigoso."

Estas que não conseguem entrar na colméia, botam seus o-vos em fendas do lado de fora; e a pequena lagarta, semelhante a uma traça, que deles depois eclode, rasteja facilmente para den-tro da colméia pelas fendas, ou abre uma passagem por si mes-ma nas extremidades."1 - Dr. Harris.

Assim que a larva eclode, ela se encerra num casulo de seda branca que ela tece em volta de seu corpo; inicialmente é seme-lhante a uma mera linha, mas cresce gradualmente em tamanho e, durante seu crescimento, se alimenta dos alvéolos à sua volta, para cujo propósito precisa apenas expor sua cabeça e encontrar sua necessidade de suprimento. Ela devora seu alimento com grande avidez e, conseqüentemente, aumenta tanto de volume, que sua galeria rapidamente fica muito pequena e estreita, e a criatura é obrigada a se rastejar para diante e ao longo da galeri-a, bem como conseguir mais espaço como também buscar su-primento adicional de comida. Seu aumento de tamanho a expõe ao ataque de inimigos próximos, o cuidadoso inseto fortifica sua nova casa com resistência e espessura adicional, acrescentando aos filamentos de sua cobertura sedosa uma mistura de cera e

1 Se for usado um fundo móvel, é quase impossível evitar que a traça ponha seus ovos entre ele e as extremidades da colméia. A menor abertura lhe permite intro-duzir o seu ovipositor e colocar seus ovos de onde sua descendência encontrará uma entrada fácil para a colméia.

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de seus próprios excrementos, como barreira externa de sua no-va galeria1, cujo interior e repartições são recobertas com uma superfície lisa de seda branca, que permite movimentos ocasio-nais do inseto, sem prejudicar sua delicada textura. Ao executar estas operações o inseto se torna um obstáculo para as abelhas, e se torna gradualmente mais atacável à medida que avança em idade. Ele nunca, por esta razão, expõe qualquer parte a não ser sua cabeça e pescoço, ambos recobertos com sólido capacete, ou escama, impenetrável ao ferrão da abelha, como também é a composição das galerias que o rodeiam." - Bevan.

A traça é aqui mostrada em seu tamanho natural, e com todas as suas peculiaridades cuidadosamente representadas. A cabeça escamada é mostrada numa das larvas; enquanto

os três pares de pernas dianteiras, semelhantes a garras, e os cinco pares traseiros, que são apenas rebentos, estão claramente esboçados. O rabo é também equipado com dois destes rebentos. Os orifícios respiratórios podem ser vistos nas costas.

A cera é o principal alimento destas traças.2 Quando obriga-das a roubar seu suprimento dentro de uma colméia forte de a-belhas, elas, seguidamente, passam suficientemente bem para alcançar seu tamanho que elas atingem devastando à vontade todos os favos de uma colméia com população acanhada. Em cerca de três semanas, as larvas param de comer, e procuram um lugar conveniente para se enclausurar numa cobertura se-dosa. Nas colméias onde elas imperam sem serem perturbadas, praticamente todo o lugar atende a seus propósitos, e elas fre-qüentemente empilham seus casulos um sobre os outros, ou se unem umas às outras em longas filas. Algumas vezes elas ocu-pam favos vazios, assim que seus casulos se parecem com opér-culos das colônias com mel. Na Lâmina XIX, Fig. 56, o Mr. Tidd apresenta um desenho, preciso em tamanho e forma, de um e-xemplo curioso deste tipo. Os pontos pretos, lembrando grãos de

1 A representação da teia, ou da galeria de traças, foi copiada de Swammerdam. 2 "Larvas alimentadas exclusivamente com cera de abelha pura morrerão, pois a cera é uma substância não nitrogenada e não fornece o alimento exigido para o seu perfeito desenvolvimento." - Dönhoff.

Esta afirmação é confirmada pelo fato de que as larvas preferem os favos de cria, e que é mais provável que os favos de uma colméia velha sejam devorados do que os de uma colméia nova.

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pólvora, são os excrementos das larvas. Em colméias fortemente guardadas por abelhas saudáveis, muitas das larvas, enquanto espreitando em busca de um pequeno local escondido, são apa-nhadas pela nuca e tratadas com uma ordem de despejo imedia-to. Se a colméia for perfeitamente construída, ela atravessa um perigoso corredor polonês, ao passar, à procura de alguma fenda, pela multidão de suas enfurecidas inimigas. Seus movimentos, no entanto, são extremamente rápidos e repletos de espertos truques, tornando-as capazes de andar para trás e se dobrarem como uma panqueca. Se obrigadas a deixar a colméia, elas se a-lojam em baixo de alguma taboa ou fenda dissimulada, tecem seu casulo e esperam, pacientemente, pela sua transformação. Na maioria das colméias, elas encontram facilmente uma fenda pela qual penetrar, ou um pequeno espaço entre o fundo móvel e as extremidades da colméia. Elas podem passar através de fen-das muito apertadas, e assim que estiverem livres das abelhas, elas começam a aumentar sua habitação, roendo a madeira sóli-da. O tempo exigido por uma larva para se transformar em inseto alado varia com a temperatura à qual ela fica exposta, e a esta-ção do ano em que ela tece seu casulo.1 Eu as vi tecer e eclodir

1 Em novembro (1858), recolhi um grande número de casulos para observar du-rante o Inverno. De muitos deles as traças emergiram rapidamente. Em outros, as larvas se trasformaram lentamente em pupas ou crisálidas; enquanto em ou-tros, ainda, depois de expostas por mais de dois meses à temperatura do Verão, permaneceram no estado de larva. Algumas foram expostas durante seis sema-nas a temperatura uniforme acima de 80oF (27°C), e apenas uma passou para traça alada. Algumas, depois de retiradas de seus casulos por seis vezes, conse-guiram se envolver em novo invólucro.

O Dr. Dönhoff diz que, a larva fica imóvel em temperatura entre 38 e 40oF (3 a 4°C), e inteiramente entorpecida em temperaturas menores. Um bom número que ele deixou durante todo o Inverno em sua casa de Verão despertou na Primavera e passou pelas mudanças naturais. Parece que ele teve mais sucesso do que eu em fazê-las se desenvolverem no Inverno com calor artificial; mas isto pode ser creditado ao fato de ele ter experimentado com larvas que comeram com avidez o alimento que lhes foi fornecido, e não como eu fiz, com larvas que teceram seus casulos. São necessários mais experimentos, para determinar se o desenvolvi-mento retardado é peculiar às que atingem a maturidade no final do Outono, ou é causado por um contratempo repentino por causa do clima frio.

"Se, quando os termômetros atingiam 10oF (-12°C), eu dissecasse uma crisálida ela não se encontrava congelada, mas ficava congelada imediatamente. Isto mos-tra que em temperatura tão baixa a força vital é suficiente para resistir ao conge-lamento. Na colméia as crisálidas e as larvas, em diferentes estágios de desenvol-vimento, passam o Inverno em estdo de torpor, pelos cantos e frestas e entre os detritos do fundo. Em março ou abril elas despertam e as abelhas das colônias fortes começam as operações para desalojá-las." - Dönhoff.

Algumas larvas, que expus a temperaturas de 6oF (-21°C) abaixo de zero, enrije-

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em dez a onze dias; e elas tecem, seguidamente, tarde do Outo-no, a fim de não emergirem a não ser na próxima Primavera.

Os machos normalmente abandonam a colméia, mas a fê-mea procura nela entrar de todas as formas. Se a colméia estiver fraca e sem ânimo, ela deposita seus ovos1 entre os favos, ou os insere nos cantos ou fendas, ou entre os detritos de cera rejeita-da e pão de abelha no fundo, onde sua descendência pode se es-conder e se alimentar até ter condições de alcançar os favos.

Na Lâmina XX, Fig. 57, o Mr.Tidd delineou fielmente e o Mr. Smith gravou habilmente, a confusa massa preta de teia, casu-los, excrementos e favos perfurados, que podem ser encontrados em colméias onde as traças concluíram seu trabalho de destrui-ção.

A entrada da traça na colméia e a devastação levada a cabo por sua descendência, ilustram violentamente a destruição que o vício freqüentemente faz quando é permitido pilhar sem controle os preciosos tesouros do coração humano. Apenas alguns tenros ovos são postos pela insidiosa traça, dos quais nascem larvas aparentemente inocentes; mas lhes sendo permitido assumir o

ceram congeladas e nunca reviveram. Outras, depois de permanecer por 8 horas na temperatura de cerca de 12°F (-11°C), permaneceram, depois de despertar, por semanas em condição paralisada. 1 "Os ovos da traça da cera (ver Lâmina XIII, Fig. 44) são perfeitamente redondos, e muito pequenos, com o diâmetro medindo tão somente cerca de um oitavo de uma linha. Nos dutos do ovário, eles ficam arranjados lado a lado na forma de um rosário. Eles não se desenvolvem consecutivamente, como os da rainha, mas são encontrados nos dutos total e perfeitamente formados, alguns dias depois que a traça fêmea emerge do casulo. Ela os deposita, normalmente, em pequenas aglomerações sobre os favos. Se quisermos testemunhar a postura dos ovos, é necessário tão somente apanhar uma traça fêmea, com dois ou três dias de ida-de, com o polegar e o indicador, pela cabeça, - ela instantaneamente estende seu ovipositor, e os ovos podem ser vistos passarem distintamente através do duto semi-transparente (Ver Lâmina XIII, Fig. 46, C).

"No último Verão desenvolvi uma traça de cera numa pequena caixa. Ela teceu um casulo do qual emergiu um traça fêmea. Segurando-a pela cabeça, permiti que ela depositasse ovos num pedaço de favo. Três semanas mais tarde, examinei o favo, e encontrei alguma teia e duas larvas. Todos os ovos estavam enrugados e secos, com exceção de alguns que estavam perfurados, dos quais, suponho, as larvas emergiram. Este parece ser um caso verdadeiro de partenogênese na traça da cera" - Traduzido do Dr. Dörnhoff por S. Wagner.

Como entre centenas de espécimes fornecidos ao Mr. Tidd foram vistos poucos machos, conjeturei que os ovos destas fêmeas podiam eclodir sem serem fertili-zados, e providenciei para que o Dr. Joseph Leidy investigasse o assunto. Parece que, no entanto, neste assunto, nossos irmãos alemães estão mais adiantados.

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controle, a fragrância1 da casa do mel será rapidamente destruí-da, o burburinho de uma indústria feliz desaparece e tudo o que há de útil e belo será cruelmente destruído.

A abelha não é nativa no Novo Mundo e, quando trazida para cá, foi chamada pelos índios a mosca do homem branco.2 Long-fellow, em seu "Song of Hiawatha", ao descrever o advento dos europeus ao Novo Mundo, fez seu índio guerreiro dizer da abelha e do trevo branco: -

"Wheresie´er they more, before them Swarms the stinging fly, the Ahmo, Swarms the bee, the honey-maker; Wheresoe´er they tread, beneath them Springs a flower unknown among us, Springs the White Man´s Foot in Blossom."

Como as abelhas prosperaram por anos sem serem pertur-badas pela traça, parece provável que estas não foram trazidas com as primeiras colméias, mas muito mais tarde. Seja qual for a forma como elas foram introduzidas, elas se multiplicaram tan-to em nosso clima tão propício com verões quentes, que agora poucas áreas estão livres da sua destruição.

Cinqüenta anos atrás nossos mercados eram proporcional-mente melhor supridos com mel do que o são agora e era comum se ver grandes recipientes cheios com favos brancos como a ne-ve.

Muitos apicultores afirmam que países recentemente criados são mais favoráveis para as abelhas; um velho provérbio alemão diz assim:

1 O odor da traça e da larva é muito repulsivo. 2 É surpreendente o incontável número de enxames de abelhas que, em poucos anos, se espalhou até o longínquo oeste. Os índios consideram-na o arauto do homem branco, assim como o búfalo era do homem vermelho, e dizem que, à medida que a abelha avançava, os índios e os búfalos se retiravam.... Elas eram os arautos da civilização, precedendo-a constantemente à medida que ela avan-çava a partir das margens do Atlântico; alguns dos antigos colonizadores do oeste pretendem descobrir o ano em que as abelhas cruzaram pela primeira vez o Mis-sissipi. Atualmente elas enxameiam aos milhares nos bosques e florestas que margeiam e dividem as pradarias e se estendem ao longo dos fundos aluviais dos rios. Como se estas belas regiões correspondessem literalmente à descrição da terra prometida - ´uma terra onde corre o leite e o mel´; as ricas pastagens das pradarias, calcula-se, sustentam rebanhos de gado tão incontáveis quanto a a-reia da praia, enquanto as flores com as quais elas estão cobertas fornecem um verdadeiro paraíso para as abelhas que procuram néctar." - Washington Irving, Tour on the Prairies, Capítulo IX.

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Bells´ ding dong, And choral song, Deter the bee From industry: But hoot of owl, And ´wolf´s long howl, Incite to moil And steady toil."

Outros afirmam que nossas colônias são muito numerosas e que não há alimento suficiente. Será mostrado que nenhuma destas razões explica a mudança. Alguns atribuem toda a culpa à traça e outros, ainda, ao abandono da antiga forma de criar abelhas.

Não há dúvidas que a traça super abunda em muitas áreas com tal intensidade, que não se consegue nenhum benefício em manusear as abelhas da forma simples que uma vez era tão bem sucedida. Seguidamente apicultores antigos, depois de alojar seus enxames, nunca mais os inspecionavam até o Outono, quando todas as colônias que tivessem poucas abelhas, ou que estivessem leves demais para sobreviver ao Inverno, eram con-denadas para a vala de enxofre. Algumas das mais pesadas tam-bém eram mortas por causa da colheita do mel, e as muito me-lhores eram mantidas como colméias reservas.

Nos países recentemente criados, onde as ervas daninhas são praticamente desconhecidas, o fazendeiro que planta seu mi-lho e "o abandona a si próprio" pode, seguidamente conseguir uma colheita brilhante. Se com o passar do tempo, as plantas daninhas aumentando, ele continua arar e plantar pelo "antigo e maravilhoso método", ele achará graça apenas em se lamentar que as nocivas ervas daninhas fizeram seu milho "desaparecer". Com idêntica idiotice, muitos apicultores não entendem porque as formas de manejo que respondiam bem quando a traça era desconhecida ou rara, não conseguem ter sucesso atualmente.

Se as formas de manejo antigas tivessem sido rigidamente seguidas, a destruição pela traça, tão destrutiva como tem sido, talvez nunca teria sido tão grande quanto está sendo agora. O uso de colméias patenteadas tem contribuído para encher a terra com a peste voraz. Desde sua introdução, prevalece a noção qua-se universal que as colméias não devem ser, em nenhuma cir-cunstância, voluntariamente destruídas; ainda, milhares de co-lônias que, sob o sistema antigo, eram impiedosamente mortas são agora deixadas morrer lentamente de fome, enquanto outras

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milhares são tão fracas na Primavera que elas servem apenas para criar uma multidão de traças para serem a peste do apiário.

A verdade é que as colméias melhoradas, sem nenhum sis-tema de manejo melhorado, conseguiram, como um todo, mais prejuízo do que lucro. Em nenhum outro país elas foram mais extensamente utilizadas do que no nosso e em nenhum lugar a traça conseguiu ascendência tão vertiginosa. Exatamente na medida em que elas desencorajaram os apicultores a abandonar as antigas formas de "fazer crescer" seus enxames fracos no Ou-tono, na mesma medida elas extenderam a "ajuda e conforto" pa-ra a traça. Algumas delas devem, inquestionavelmente, ser ma-nejadas para, nos casos normais, proteger as abelhas da traça; mas nenhuma colméia que não permita um controle dos favos é confiável para todas as emergências. Assim como a maioria dos dispositivos complicados, concebidos por pessoas desconhecedo-ras dos primeiros princípios da apicultura, e as "iscas enganado-ras" dos trapaceiros que, para encher seus próprios bolsos, fica-riam felizes em matar todas as abelhas do mundo, eles não só não proporcionam mais segurança contra a traça do que a caixa colméia, mas são repletas de acessórios que não servem para nada a não ser para irritar as abelhas e multiplicar esconderijos para as traças e larvas. Quanto mais elas forem usadas, piores serão as condições das abelhas; assim como quanto mais o ho-mem usar a panacéia do charlatão mentiroso, mais se afastará da saúde.1

Enquanto se admitir abertamente que o antigo manejo de matar as abelhas encontrou, nas mãos dos ignorantes, o melhor sucesso estou persuadido que um sistema mais humano e claro pode se tornar muito mais rentável. O uso de quadros móveis permitindo, como eles permitem, reforçar as colméias fracas ou uni-las com outras, irá, acredito, no tempo apropriado, introdu-zir a era feliz quando o seguinte epitáfio, tomado do trabalho a-lemão, poderá ser apropriadamente colocado sobre toda a vala de enxofre de abelhas:2

1 Uma pessoa instruída me informou que pagou dez dólares para um professor "charlatão de abelha" para ter um segredo infalível para a proteção das abelhas contra a traça. Depois de sumir com o seu dinheiro, e ensinar que este segredo consistia em "manter sempre as colméias fortes", ele sentiu ter sido tão grossei-ramente iludido, como se, depois de pagar uma grande soma por um segredo in-falível de preservação da vida, tivesse conseguido a verdade banal que, para viver para sempre é preciso viver bem! 2 Matar as abelhas para retirar o seu mel era, sem dúvida, uma invenção da ida-

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AQUI DESCANSA,

MORTA PELO TRABALHO ÚTIL

UMA COLÔNIA DE

ABELHAS LABORIOSAS

IMPIEDOSAMENTE ASSASSINADA

POR SEU

INGRATO E IGNORANTE

PROPRIETÁRIO

Ao epitáfio devem ser acrescentados os versos de Thompson

"Ah, see, where robbed and murdered in that pit, Lies the still heaving hive! at evening snatched, Beneath the cloud of guilt-concealing night, And fixed o´er sulphur! while, not dreaming ill, The happy people, in their waxen cells, Sat tending public cares. Sudden, the dark, oppressive steam ascends, And, used to milder scents, the tender race, By thousands, tumble from their honied dome Into a gulf of blue sulphureous flame!"

A seguinte carta, datada de quando apareceu pela primeira vez a traça da cera em nosso país, do Dr. Jared P. Kirtland, de Cleveland, Ohio, largamente conhecido pelo seu interesse nos assuntos de horticultura e apicultura, é de grande interesse:

"Cleveland, 19 de Fevereiro de 1859.

"Prezado Senhor: - Até 1805, as abelhas prosperaram nos Estados Unidos. No início do século atual, a maioria dos fazen-deiros e mecânicos do estado de Connecticut criavam abelhas. Poucas contingências desfavoráveis, se alguma, interferiam com esta atividade; a forma simples de caixa colméia era normalmen-te empregada, por vezes, ocasionalmente, um hollow gum e, em poucas ocasiões, o skep de palha cônico serviam de espaço.

"As colônias fracas e as velhas de pouco valor eram, no Ou-

de negra quando a família humana tinha perdido - tanto na atividade apícola como em outras coisas - a habilidade dos antigos. No tempo de Aristóteles, Varro, Columella e Plínio, esta prática bárbara não existia. Os apicultores antigos só fa-ziam o que as abelhas esperavam, não matavam nenhuma colméia, apenas as que estavam frágeis e doentes.

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tono, destruídas pelo fogo na vala de enxofre. O mel assim obtido era suficientemente abundante para satisfazer a demanda; ain-da, naqueles dias caps, gavetas e caixas laterais, para as abelhas pilhadoras, não eram empregadas.

"Durante a Primavera de 1806, eu li um artigo, no Boston Patriot, descrevendo a mariposa e a larva e suas depredações, di-zendo que elas tinham aparecido recentemente nas vizinhanças da cidade. Alguns meses depois, um vizinho me informou que e-las estavam depredando extensivamente suas colônias; e dentro de dois anos, a partir daquela data, quatro quintos de todos os apiários, naquelas vizinhanças, foram abandonados.1

"Desde aquela época as sucessivas colméias patenteadas, cujos idealizadores desconheciam os hábitos das traças, se mos-traram seus auxiliares e os dois combinados quase acabaram com a abelha naquela região do país. Os esforços de alguns indi-víduos, acima da perseverança e ingenuidade usual, consegui-ram, ocasionalmente, sucesso limitado.

"No Verão de 1810, residi na comarca de Trumbull, Ohio. A traça não tinha chegado naquela região do país e a apicultura era extensivamente praticada com sucesso que nunca testemu-nhei em outro lugar. Os ricos fazendeiros alemães disputavam para exceder uns aos outros em número de colônias. Freqüen-temente tinham duzentas ou trezentas.

"Em 1818 visitei novamente aquela comarca e lá me instalei de forma permanente em 1823 e em ambos os períodos a ativi-dade ainda prosperava. Em agosto de 1828, ao visitar uma famí-

1 Judge Fishback de Batavia, Ohio, diz que a destruição pela traça, em seu apiá-rio, foi muito mais destrutiva na segunda estação depois de seu aparecimento do que em qualquer período subseqüente. Disso pode-se concluir, apenas por supo-sição, que inicialmente as abelhas não sabiam da sua natureza e não tomavam nenhuma precaução especial para evitar que elas entrassem em suas colméias. Na Europa, onde ela era muito bem conhecida por mais de dois mil anos, sua destruição nunca foi tão indiscriminada. Como tanto a larva como a traça tem odor peculiar as abelhas aprendem rapidamente a repeli-las de suas colméias, a traça tem cheiro muito semelhante ao da larva que devora os seus favos.

Que as abelhas podem aprender a se defender de novos inimigos, está provado pelos fatos relatados por Huber, elas reduzem a entrada com própolis para man-ter do lado de fora a grande traça de cabeça morta (Sphinx atropos), das quais uma única pode tragar uma colher de sopa de mel.

Um apicultor de Ohio, enviou-me algumas traças comedoras de mel, muito maio-res do que a traça da cera, que entraram em suas colméias e se encheram com mel.

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lia doente em Mercer Co., Pa., observei que um grande apiário estava sofrendo severamente do ataque da larva. O proprietário me informou que ela tinha aparecido pela primeira vez na esta-ção em curso. Durante o ano seguinte ela se espalhou por todo o norte de Ohio e no Inverno de 1831-2 ouvi, de membros do legis-lativo, que ela atingira todas as partes do nosso estado. Resulta-dos semelhantes se seguiram ao seu aparecimento aqui, assim como no estado da Nova Inglaterra.

"Até a introdução do seu sistema de quadros móveis, não ti-nha sido divisada nenhuma forma de sucesso para contra atacar os seus estragos. Estou feliz em lhe dizer que, com a ajuda de sua colméia, não tive a mínima dificuldade em conseguí-lo.

"Com grande respeito, o seu, etc.

"Rev. L. L. Langstroth.

"Jared P. Kirtland."

Quase todo buraco, durante vários anos, pode ser ocupado por abelhas bem sucedidas. Ver colméias com cavidades grandes e abertas, desconhecidas peor seus proprietários e não repara-das, convites provocadores para a traça, podem, à primeira vista, colocar em dúvida a conveniência de se tomar precauções. En-quanto famílias seguidamente prosperam em colméias favela ou-tras, em "Palácios de Abelha" custosos, são freqüentemente de-voradas pelas larvas - seus proprietários, com tudo o que há de novidade em seu apiário, não conseguem proteger as abelhas dos inimigos, ou explicar porque algumas colônias, assim como as crianças pobres, parece florescerem mesmo negligenciadas, en-quanto outras, como os descendentes dos ricos, são frágeis, apa-rentemente na mesma proporção dos cuidados que lhes é pres-tado.1

Quero agora explicar porque algumas famílias florescem a despeito das negligências enquanto outras, com todos os cuida-dos, são vítimas da traça e quero mostrar como, com colméias apropriadas e com precauções apropriadas, a traça pode deixar de incomodar seriamente as abelhas.

Os favos de uma colônia frágil que não tem condições de pro-

1 É muito comum escutar os apicultores dizerem que tiveram "sorte" ou "azar" com suas abelhas; e pelo modo como as abelhas são manejadas o sucesso ou fra-casso parece depender, freqüentemente, quase inteiramente do que é chamado "sorte".

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teger seus favos são, seguidamente, enchidos com ovos da traça e o proprietário, freqüentemente, percebe sua condição somente quando a ruína é completa. Mas o novato pode, agora, saber quando uma família, em colméia comum, esta seriamente1 infes-tada destas larvas que tudo devoram? O aspecto desencorajador das abelhas indica claramente que lá dentro existe um problema de alguma espécie, o fundo fica coberto com pedaços de pão de abelha misturado com excrementos de larvas que se parecem com grãos de pólvora.2

No início da Primavera, antes das famílias ficarem populo-sas, as abelhas devem ser conduzidas, com fumaça, para fora de seus favos, e os fundos limpos (pág. 221). Freqüentemente acon-tece, também, que nas colméias comuns, nada pode ser efetiva-mente feito, mesmo quando o apicultor estiver cônscio das pra-gas internas. Com os quadros móveis, no entanto, os favos, e to-das as partes da colméia, podem ser cuidadosamente limpos, e se a família está fraca ou sem rainha, os remédios apropriados podem ser facilmente aplicados. Se uma família frágil não puder ser reforçada para que consiga proteger todos os seus favos, os favos devem ser retirados até que as abelhas sejam suficiente-mente numerosas para deles cuidarem.

Se a traça da cera tiver uma constituição tal que exija ape-nas pequena quantidade de calor para o seu desenvolvimento to-tal, elas podem ficar excepcionalmente numerosas no início da Primavera e podem entrar facilmente nas colméias e depositar seus ovos onde lhes agradar: durante este período, não só não são mantidas guardas durante a noite, mas grande parte dos seus favos está praticamente desprotegida. Todo acontecimento na história da abelha, quando devidamente investigado, aponta com infalível certeza para a sabedoria Daquele que tudo fez!

Favos sem cria podem ser fumegados com gases da queima de enxofre para matar os ovos das larvas da traça. Se mantidos longe das abelhas, eles devem ser protegidos cuidadosamente, em local seco, da traça e examinados, ocasionalmente, para se-

1 Apicultores inexperientes, que imaginam que uma colônia está próxima da ruí-na quando eles encontram algumas traças, devem lembrar que quase toda famí-lia velha, ainda que forte e saudável, tem alguns destes inimigos espreitando seus pertences. 2 Quando na Primavera as abelhas preparam os alvéolos para a cria, o fundo fica coberto com pequenos pedaços de favo e pão de abelha; mas se não estiver mis-turado com excremento preto são prova de trabalho e não sinais de ruína.

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rem novamente fumegados se alguma larva for encontrada.

Na página 140 foram fornecidas instruções para evitar que as colméias comuns enxameiem tão freqüentemente a ponto de ficarem sem condições de proteger seus favos vazios. Se a enxa-meação excessiva não for evitada, nas colméias de quadros mó-veis, pelos métodos que foram tão exaustivamente descritos, al-guns dos favos da colméia materna podem ser dados para os en-xames secundários, em vez de permanecerem onde eles podem ser atacados pela traça.

A maior causa da destruição pela traça permanece ainda por ser descrita. Uma colônia abandonada sem rainha será inevita-velmente, a não ser que destruída, vítima da traça da cera. Ob-servando, num núcleo de observação, os comportamentos das abelhas propositadamente deixadas sem rainha, certifiquei-me que elas oferecem pouca ou nenhuma resistência à sua entrada e deixam que ela deposite seus ovos onde bem entender. As lar-vas, depois de eclodir, parece terem sua vida própria e se sentem mais em casa do que as desanimadas abelhas.1

Quão imprestáveis são, para uma colônia sem rainha, todas as armadilhas e outros dispositivos que, nos últimos anos, rece-beram tanta atenção. Toda passagem que deixa passar uma abe-lha é suficientemente grande para a traça, e se uma única fêmea entrar na colméia ela depositará ovos suficientes para destruí-la, ainda que forte. Numa estimativa pessimista, ela pode depositar, pelo menos, duzentos ovos na colméia, e a segunda geração será contada aos milhares, enquanto as da terceira excederão o mi-

1 O fato de que as famílias sem rainha não opõem nenhuma resistência efetiva às traças e às larvas - fato que uma vez pensei ter sido descoberto por mim - é de longa data conhecido dos alemães. O Mr. Wagner me informou "que os seus me-lhores tratados, por muitos anos, falam disto como um fato perfeitamente conhe-cido, a ponto de ser um axioma, se uma colônia for dominada pelas pilhadoras, o seu proprietário não tem o direito de reparar, como estaria, em todos os casos semelhantes, sem rainha, e teria sido, certamente, destruída pela traça.

Recentemente me chamou a atenção um artigo publicado no Ohio Cultivator de 1849, página 185, de Micajah T. Johnson, no qual, depois de detalhar alguns ex-perimentos, diz ele: - "Uma coisa é certa - se as abelhas, por qualquer motivo, perderem sua rainha, e não tiverem meios a seu alcance de criar outra, a traça e a larva se apoderam rapidamente da colméia. Acredito que nenhuma colméia é destruída pelas larvas enquanto uma eficiente rainha nela estiver presente".

A mim parece ter sido esta a primeira notícia publicada sobre este fato relevante por qualquer observador americano.

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lhão.1

Não só as abelhas de uma colméia desesperadamente sem rainha não fazem oposição efetiva à traça da cera, mas, pela sua condição de abandono, elas facilitam positivamente os seus ata-ques. Parece que as traças têm um conhecimento instintivo da condição das abelhas, e nenhuma artimanha humana poderá mantê-las do lado de fora. Ela passa por outras colônias até en-contrar uma sem rainha, como se estivesse cônscia de que ela encontrará melhores condições para desenvolvimento de sua cri-a; e assim as colônias mais fortes, depois de perder sua rainha, são freqüentemente devoradas pelas larvas, enquanto algumas pequenas, que estão ao lado, escapam ilesas.

É certo que uma colméia sem rainha raramente mantem guarda na entrada e não inunda o ar com o agradável e alegre burburinho de trabalho. A diferença entre o burburinho de uma colméia próspera e o ar de infeliz de uma em desespero é sufici-entemente óbvia até mesmo para nossos entorpecidos ouvidos; não pode ser diferente para o sentido aguçado de uma astuta traça mãe?

Sua infalível sagacidade lembra o instinto pelo qual os pás-saros espreitam o cadáver, um único doente dentro de uma ma-nada, pairando sobre sua cabeça com seu grasnido sombrio, ou observando, nas árvores circunvizinhas, o rebanho com pressá-gio de doença, olhando-os enquanto suas vidas se esvaem e esta-lando seus bicos sedentos por sangue, impacientes para lhes ar-rancar os olhos, recém vitrificados pela morte, e se banquetea-rem em suas carnes, ainda mornas pelo sangue da vida. Quão rapidamente será possível vê-los assim que um acidente fatal a-conteça a um animal, -

"Primeiro uma pinta e depois um abutre,"

céleres dos quatro cantos do céu, seu vôo voraz para sua ví-tima, quando um pouco antes nenhum podia ser visto.

As colméias comuns não só não fornecem nenhuma solução confiável para a perda da rainha, mas, em muito casos, seus proprietários não podem ter certeza se suas abelhas estão sem rainha até que sua destruição seja certa; chegando até, com cer-ta freqüência, depois de alguns anos de experiência, a não acre-

1 Este poder de crescimento rápido explicam os fatos relatados por Judge Fish-back e Dr. Kirtland que dizem respeito à rápida disseminação da traça.

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ditar que exista algo como uma abelha rainha! No capítulo sobre a Perda da Rainha, foram fornecidas instruções para proteger as colônias em colméias de quadros móveis da calamidade que, mais do que todas as outras - com exceção da necessidade por alimento1 - as expõem à destruição.

Quando uma colônia se torna desesperada por estar sem ra-inha, sua destruição é quase certa. Mesmo que as abelhas man-tenham seu zeloso desejo de coletar as reservas e se defenderem da traça, elas deverão, quase certamente, perecer (pág. 58), como uma carcaça deve se deteriorar, mesmo que não seja tomada de assalto por moscas imundas e larvas devoradoras. Ocasional-mente, depois da morte das abelhas, são encontradas grandes reservas em suas colméias. Tais acontecimentos, no entanto, uma vez não eram tão raros, agora são raros; a colméia sem mãe é muitas vezes assaltada pelas colméias fortes que, parecendo ter um conhecimento instintivo de sua orfandade, se apressam em se apoderar de seus recursos; ou, se escaparem da Scylla2 destes impiedosos saqueadores, escondidos pelo mais impiedoso Charybdis, a infame traça descobre sua penúria. A cada ano, multidões de colméias são privadas de suas rainha, muitas das quais são roubadas por outras abelhas ou saqueadas pela traça, ou tanto saqueadas quanto roubadas, enquanto os seus donos imputam todos os prejuízos a algo diferente de sua verdadeira causa.

O apicultor conhecedor dos hábitos da traça, que esteja constantemente se lamentando de sua destruição, parece quase tão iludido quanto o fazendeiro que depois de procurar diligen-temente por sua vaca perdida, encontrando-a quase devorada pelos vermes, denuncia estes devoradores de carniça como os grandes causadores de suas perdas.

A traça da cera é o único inseto conhecido que se alimenta da cera. Por milhares de anos ela se manteve graças ao trabalho da abelha e não existe razão para supor que um dia ela será ex-terminada. A missão da traça na natureza é aproveitar os frag-mentos da colméia sem rainha, ou numa cujos ocupantes te-nham morrido, que não servem para mais nada, para que nada

1 As colônias que estão passando fome ficam quase tão indiferentes aos ataques da traça como as que estão sem rainha. 2 Segundo Michaellis - Scylla = Cila: ninfa transformada em monstro que aterro-rizou Odisseu. N. T.

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seja perdido,.1

A partir destas observações, o apicultor procurará os meios nos quais acredita, para proteger suas colônias das traças. Sa-bendo que colônias fortes, que têm rainha fértil, podem tomar conta de toda a colméia, ele poderá fazer tudo que puder para manter as abelhas nestas condições. Assim elas farão mais para se defenderem a si mesmas do que se despendessem todo o seu tempo brigando com as traças.

É extremamente necessário, depois das observações acima, falar um pouco mais sobre os vários dispositivos, aos quais tan-tos recorrem, como uma salvaguarda contra a traça da cera. A idéia de que uma tela metálica na entrada, ao anoitecer e retira-da novamente pela manhã, possa excluir a traça, não convence os que as têm visto voando, em estação calma, muito antes de as abelhas pararem de trabalhar. Mesmo que elas possam ser ex-cluídas pelo uso deste dispositivo, ele exigirá, por parte dos que o usam, uma regularidade quase igual à dos corpos celestes.

Um dispositivo ingênuo tem sido proposto para dispensar uma supervisão disciplinada, a fim de controlar a entrada das colméias, algo como uma grande alavanca semelhante ao poleiro de galinha, assim elas serão fechadas regularmente, quando à noite, a tribo cacarejante vai para a cama, e aberta novamente quando ela voa do seu poleiro para saudar a alegre manhã. Meu Deus! Toda esta perícia para nada! Algumas galinhas podem es-tar sonolentas e gostariam de se retirar antes que as abelhas te-nham terminado seu trabalho, enquanto outras, por estarem do-entes ou com preguiça, não têm nenhuma propensão para sair cedo e ficam sentadas deprimidas em seu poleiro, muito depois que o animado sol pintou de púrpura o afogueado leste. Mesmo que este dispositivo pudesse excluir totalmente a traça não sal-varia uma colônia que tivesse perdido sua rainha. A verdade é, a

1 No tempo de Aristóteles e de Columella, a destruição pela traça era mantida baixa graças a um criterioso sistema de manejo. É seriamente questionável se o seu extermínio num apiário deva ser algo desejável, a menos que ela seja destruí-da em todos os outros lugares. As abelhas podem esquecer rapidamente tudo so-bre ela e se forem expostas novamente a seu ataque podem se seguir resultados semelhantes aos descritos na pág. 240; a menos que as abelhas saibam como se proteger, nenhum artifício humano poderá salvá-las, como pode ser claramente constatado em colméias sem rainha, onde elas não tomam conta dos seus favos. Aristóteles diz, "que as boas abelhas expulsam as traças e as larvas, mas outras, que por preguiça, abandonam seus favos, depois perecem". Suas abelhas ruins eram, sem dúvida, as que não tinham rainha fértil.

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maioria dos dispositivos nos quais fomos levados a confiar, são equivalentes à tranca colocada na porta do estábulo depois que o cavalo foi roubado; ou, tentar aquecer o cadáver com roupas quentes ou calor artificial.

Não estou dizendo que não existe meio de proteger as col-méias comuns da destruição pela traça da cera. Se os apicultores tiverem cuidado em instalar suas colméias onde as jovens rainhas não correm risco de serem perdidas (pág. 214), eles perderão pou-cas de suas colméias. O conhecimento destes fatos permite que o apicultor tenha sucesso no combate à traça, seja qual for a col-méia que ele usar. Sem dúvida, ele perderá muitas das colméias que ficaram sem rainha por outras causas que não a grande proximidade de suas colméias, as quais podem ser facilmente salvas nas colméias de quadros móveis; mas suas perdas não se-rão em escala tão grande a ponto de ficar completamente desa-nimado de criar abelhas.

O apicultor prudente, recordando que "prevenir é melhor que remediar", despenderá incansáveis esforços para destruir, tão cedo durante a estação quanto ele conseguir, as larvas e as tra-ças. A destruição de uma única larva será mais efetiva do que o massacre de centenas mais tarde.1 Nas colméias comuns as lar-vas são normalmente encontradas onde o ninho é apoiado no fundo. Tais colméias podem ser levantadas do fundo em ambas as extremidades com sarrafos de madeira, com cerca de três oi-tavos de polegada (1cm) de espessura, e colocado um pedaço de lã entre o fundo e parte traseira da colméia. A traça totalmente

1 Alguns, que não viram a destruição levantando os favos, não entendem como tantas abelhas jovens caem vítimas das traças se elas se escondem nos favos.

O Mr. M. Quinby, de St. Johnsville, New York, cujo tratado de bom senso sobre "Os Mistérios da Apicultura" que vale a pena conhecer, é de opinião que um gran-de número de abelhas imperfeitas que aparecem na colméia na Primavera, foram vítimas das larvas. Ele pensa que tais perdas numa única colméia são, seguida-mente, suficientes para fazer um enxame moderado de abelhas.

Esta estimativa não parece extravagante se levarmos em conta o número de alvé-olos de cria que são destruídos e o grande número de vazios que são feitos, se-guidamente, pelas abelhas retirando as teias e casulos da traça.

O Dr. Kirtland, num artigo no Ohio Farmer, Dez. 1857, em alusão ao tempo ante-rior ao aparecimento da traça da cera, diz: "Naqueles prósperos dias de criação de abelhas, os enxames seguidamente apareciam muito cedo e em maior número do que nos dias atuais. Não era ocorrência muito incomum um enxame da Pri-mavera encher uma colméia com reservas e cria jovem tão rapidamente a ponto de lhe ser possível, também, largar um enxame suficientemente cedo para este último conseguir acumular reservas para a Inverno."

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desenvolvida impedida de tecer o seu casulo neste local escondi-do e aquecido, será facilmente apanhada e tratada eficientemen-te. Providencie somente um buraco que seja facilmente acessível às larvas quando elas quiserem tecer seu casulo, e para você quando você as quiser capturar, e, como as abelhas em boas condições não permitem que elas teçam entre os favos, você con-segue apanhá-las facilmente na armadilha. Se a colméia perdeu sua rainha, e as traças tomaram conta dela destrua-a em vez de mantê-la como criadora de traça para infestar o seu apiário.

Na colméia de quadros móveis, são usados blocos com for-mato apropriado (Lâmina III, VI, Fig. 11, 17) tanto para apanhar as larvas em armadilhas como excluir as traças. O único lugar por onde elas podem entrar nas colméias é pela entrada e como pode ser mantida ventilação abundante, independente da entra-da, a entrada pode ser diminuída para atender a toda emergên-cia, e assim forçar a traça a passar por um espaço que, por ser continuamente restringido, é facilmente defendido pelas abelhas. Estas armadilhas são levemente levantadas, a fim de permitir que o calor e o aroma da colméia passe por debaixo através das pequenas aberturas, dentro das quais a traça pode entrar, mas que não permitem a sua passagem até a colméia. Em vez de for-çar caminho através das abelhas guardas, ela entrará através destas aberturas, que lembram as fendas comuns entre as col-méias comuns e seus fundos; e ali encontrando pedaços de favo e pão de abelha, nos quais sua cria possa prosperar, ela deposita seus ovos onde eles podem ser alcançados e destruídos. Tudo is-to, supondo que a colônia tem uma rainha saudável, e que as abelhas não têm mais favo do que elas podem proteger; se não existir guarda, ou até mesmo uma frágil resistência, ela penetra-rá no coração da cidadela para ali depositar suas sementes de destruição.

Estes blocos têm também encaixes que se comunicam com o interior das colméias, os quais são para a larva que está à esprei-ta, à procura de um ninho confortável, um ótimo lugar - tão quente e seguro - no qual, tecer sua teia e "esperar o seu tempo". Quando o apicultor inspecioná-los, concluirá que a traça foi ví-tima de sua própria astúcia.

Todos estes dispositivos, em vez de ajudar o cuidadoso api-cultor, lhe trarão maiores facilidades para prejudicar suas abe-lhas. As larvas não perturbadas tecerão em baixo dos blocos, e as traças botarão seus ovos; suas armadilhas lhes proporciona-

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rão uma ajuda mais efetiva. Se tais pessoas incorrigivelmente cuidadosas persistirem na tolice de criar abelhas, elas deveriam usar apenas blocos lisos, os quais, regulando a entrada das col-méias, ajudariam as abelhas a se defenderem de todos os inimi-gos que tudo fazem para entrar em seu castelo.1

Se as larvas conseguirem de alguma forma supremacia nu-ma colméia de quadros móveis, os quadros podem ser removidos (pág. 243), e as larvas destruídas. Se cuidados apropriados forem despendidos, tal operação raramente será necessária.2 Recipien-tes rasos com água doce, colocados nas colméias após o por do sol, seguidamente apanham muitas traças. Elas são tão aficio-nadas pelo doce, que eu as apanhei grudadas em pedaços de a-çúcar cristal molhado. Dizem que elas são destruídas por soro de leite e leite azedo.3

Quero concluir o que tenho a dizer sobre a traça da cera com um extrato do estudioso e muito conhecido entusiasta da apicul-tura, Henry K. Oliver, de Massachusetts:

"A destruição causada por todos os outros inimigos4 das abe-lhas é nada frente à destruição causada pela traça da cera. Elas são torpes, pequenas e insignificantes, de penugem cinza, uma raça pestilenta comedora de cera e mel e tratante destruidora de abelha, frustra todos os dispositivos que a ingenuidade imaginou para as capturar e destruir.

"Qualquer um ficaria muito satisfeito se conseguisse propor algum meio efetivo para ajudar as abelhas e seus amigos contra as invasões destes inimigos, cuja destruição desoladora é dita ser mais desesperadora do que as de qualquer outro inimigo.

"Aquele que conseguir ser bem sucedido na elaboração de

1 Na Lâmina V, Fig. 16, é mostrada uma pequena entrada na frente da colméia acima dos quadros. Se a entrada inferior estiver fechada, e as abelhas de uma co-lônia frágil puderem usar esta, ela será mantida aquecida pelo calor ascendente para a parte superior da colméia, e será guardada até mesmo nas noites frias. Este tipo de entrada pode, em muitos casos, apresentar uma grande proteção contra a traça. 2 É mais provável que os favos velhos sofram mais com as traças. Nas colméias de quadros móveis, nenhum quadro precisa ficar muito tempo na colméia a pon-to de seu valor ser diminuído. 3 Dispositivos para queimar as traças datam da época de Columella que reco-menda instalar perto das colméias, à noite, um recipiente de latão, com fogo, pa-ra destruir as traças que se encontram no apiário. 4 Report on Bees, do Essex County Agricultural Society, 1851.

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um meio para libertar o mundo das abelhas desta peste destruti-va e impiedosa, merecerá ser esplendidamente coroado 'Rei das abelhas', para sempre; ser ornado com uma grinalda sempre viva de flores melíferas em botão dos campos onde sopra uma doce brisa com abelhas murmurejando; ter o privilégio de usar, du-rante sua vida natural, 'velas da noite de sua cera thighs', (a me-lhor vela de cera, duas por libra!); receber uma doação anual, de todo o mestre apícola, dez libras do melhor mel de cada um; e para sua proteção contra todos os inimigos, trinta mil trabalha-dores, todos armados e equipados com os direitos das leis da Na-tureza. Quem se habilita a receber estas altas honrarias?"

Parece quase incrível que animais tão débeis como os ratos podem se aventurar a invadir uma colméia de abelhas; seguida-mente eles se esgueiram para o seu interior quando o frio obriga as abelhas a se retirarem da entrada. Conseguindo entrar, eles constroem um ninho cálido na sua confortável moradia, comem o mel e as abelhas que não oferecerem resistência, por estar muito frio, ocupam o local com seu mau cheiro e as abelhas, com a chegada do clima quente, abandonam, seguidamente, sua casa agora poluída. Com a aproximação do clima frio, as entra-das das colméias devem ser reduzidas para que os ratos não consigam entrar.1

Todo apicultor sabe, por experiência própria, que existem vá-rios pássaros que tem loucura por abelhas. Do King-bird (Tyran-nus musicapa), que as devora em grande quantidade, é dito - quando tem oportunidade - comer apenas os zangões; mas como ele captura abelhas nas flores - que nunca são freqüentadas por estes grandes e indolentes cavalheiros - as laboriosas operárias devem, seguidamente, ser vítima da sua esperteza fatal. Existem boas razões para suspeitar que estes glutões distinguem entre uma abelha vazia, que está à procura de alimento, e uma que, carregada retorna para sua casa perfumada, a qual deslizará - já adocicada - para dentro do seu estômago voraz.

Se - como nas fábulas - os pássaros entendessem a lingua-gem humana, poderia ser útil afixar, nas proximidades dos nos-sos apiários, as palavras do antigo poeta grego para a andorinha:

"Attic maiden, honey fed, Chirping warbler, bears´t away

1 Se, à medida que se torna mais frio, as abelhas forem obrigadas a usar apenas a entrada superior (pág. 250), será quase impossível para os ratos se instalarem na colméia.

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Thou the busy buzzing bee, To thy callow brood a prey?

Warbler, thou a warbler seize? Winged, one with lovely wings?

Guest thyself, by Summer brought, Yellow guests whom Summer brings?

Wilt not quickly let it drop? ´Tis not fair; indeed, ´tis wrong,

That the ceaseless warbler should Die by mouth of ceaseless song."

Nenhum apicultor jamais deveria, por causa de sua afeição pelas abelhas, incentivar a destruição dos pássaros. A menos que possamos sustar o hábito de destruir, a qualquer pretexto, nossos pássaros insetívoros muito em breve não só ficaremos privados de suas melodias aéreas entre os galhos frondosos, mas lamentaremos, mais e mais, o aumento dos insetos de cuja ação destruidora ninguém, a não ser estes pássaros, pode nos prote-ger. Que se deixe, estes que não apreciam a música feita por es-tes coristas alados dos céus, com exceção dos seus gritos agoni-zantes quando caem em frente de suas armas de boa pontaria ou perdem suas inocentes vidas em frente das insensíveis redes, que se afastem, tanto quanto possível, de suas propriedades cru-éis, todos os pequenos pássaros que eles não podem destruir, e eles, eventualmente, colherão os frutos de sua tolice, quando as mariposas tecerem suas teias destruidoras sobre suas árvores frondosas e os insetos de todos os tipos passarem o tempo ale-gremente em suas plantações destruídas.1

O sapo é um bem conhecido devorador de abelhas. Postado, ao anoitecer, em baixo da colméia ele arrasta para dentro de sua boca, com um golpe rápido de sua língua muitas das abelhas que retornam, quando elas caem, pesadamente carregadas, no chão; mas como ele também é um consumidor diligente de vários insetos prejudiciais, ele possui a mesma imunidade dos pássaros insetívoros.

1 "Os fazendeiros da Europa aprenderam por repetidas observações que, sem a ajuda dos pássaros considerados prejudiciais, o seu trabalho poderia ser destruí-do por uma raça de insetos mais destruidora, agora perdoam as transgressões destes pássaros, assim como perdoamos as dos gatos e cachorros. O respeito de-votado aos pássaros por qualquer povo, parece manter uma certa relação com a idade da nação. Assim, a veneração com que eles são tratados no Japão, onde a população é tão densa que os habitantes poderiam pensar que passariam fome se dividissem a produção dos seus campos com os pássaros, a menos que eles esti-vessem convencidos de sua utilidade." - Atlantic Monthly de 1859, pág. 325.

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Pode parecer surpreendente que pássaros e sapos possam engolir abelhas sem serem ferroados. Eles freqüentemente, no entanto, não se intrometem com qualquer uma, exceto com as que retornam carregadas para suas colméias, ou também com as que, por estarem longe de suas casas, não estão dispostas a re-vidar a um ataque. Como elas são engolidos, normalmente, sem serem esmagadas elas não expõem instintivamente seus ferrões e, antes que possam se recuperar da surpresa elas estão segu-ramente enterradas.

Os ursos são excessivamente vidrados em mel; e em países onde eles abundam, muitas precauções são necessárias para prevenir que eles destruam as colméias.

Naquele trabalho de bom senso, singular mas admirável, in-titulado, "The Femenine Monarchie, escrito sem experimentações, por Charles Butler; impresso no ano se 1609", temos uma diverti-da aventura, relatada pelo embaixador Moscovita em Roma:

"Um vizinho meu, disse que, procurando mel na floresta, es-corregou para dentro de um grande buraco de uma árvore e ali se afundou num lago de mel quase até o peito; onde - depois de ficar preso por dois dias, chamando e chorando em vão por aju-da, pois ninguém durante este tempo se aproximou daquele lu-gar solitário - ato contínuo, quando já não esperava por mais nada que salvasse sua vida, ele foi estranhamente resgatado por um grande urso que, andando naquela direção com o mesmo ob-jetivo que ele e sentindo o odor do mel, movido por seu empenho, subiu até o topo da árvore e, em seguida, começou a descer de volta com ele nas costas. O homem pensando consigo que o pior era a morte, da qual ele estava certo naquele momento, abraçou o urso fortemente com ambas as mãos em volta do lombo e, alem disto, deu um grito tão alto quanto pode. O urso ficou assim, re-pentinamente, assustado com as mãos e com o grito e fugiu a toda velocidade. O homem ficou e o urso se foi com toda força, até ficar fora de vista; e então foi possível, trotear para longe, mais por medo do que por estar machucado, abandonando o lambuzada pretensão numa alegre preocupação."

As formigas são tão destruidoras, em alguns locais, que é necessário colocar as colméias em suportes com as pernas mer-gulhadas em água.1 Minhas limitações me proíbem de falar das

1 Pequenas formigas fazem, seguidamente, seus ninhos nas colméias, a fim de se beneficiar do calor, sem molestar as abelhas nem serem por elas molestadas.

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vespas, hornets, millepedes (ou wood-lice), aranhas e outros ini-migos das abelhas. A melhor proteção que o apicultor pode pro-videnciar é manter suas colméias fortes e, a menos que as col-méias sejam guardadas por milhares de abelhas prontas a mor-rer em sua defesa, seus tesouros sempre poderão cair nas mãos de algum dos seus muitos inimigos, todos estes inimigos concor-dam num ponto, pelo menos - o mel roubado é muito mais doce do que a acumulação lenta com trabalho paciencioso.

Doenças das Abelhas

As abelhas estão sujeitas a poucas doenças que merecem um comentário especial. Os efeitos fatais da disenteria já foram mencionados (pág. 90). "A presença desta doença," diz Bevan, "é indicada pelo aparecimento de excrementos, os quais, em vez de serem amarelo avermelhado, exibem uma cor preta turva e tem um odor intoleravelmente desagradável. Também, por evacuarem no fundo e na entrada das colméias os quais as abelhas, em es-tado saudável, são particularmente cuidadosas em manter lim-pos."1

Várias hipótesees já foram lançadas para explicar as causas desta doença. Todos os apicultores concordam que a umidade nas colméias, especialmente se as abelhas ficam confinadas por muito tempo, provoca, com certeza seu aparecimento. Deve ser evitado alimentar as abelhas no final do Outono com mel líquido - elas não terão tempo de opercular e assim azedará por absorver umidade -; da mesma forma, evitar toda a perturbação desne-cessária das colônias no Inverno pois, por excitar as abelhas, provoca excessivo consumo de alimento. Colônias populosas bem supridas de mel, em colméias ventiladas o suficiente para man-ter os favos secos, raramente sofrem severamente desta doença.

A doença chamada pelos alemães "cria pútrida", é de todas a mais fatal (pág. 19) para as abelhas. A cria operculada morre no

1 Descobri um tipo de disenteria que restringe a sua destruição a algumas abe-lhas da colônia. As abelhas atacadas são inicialmente excessivamente irritáveis e ferroam sem serem provocadas. No estágio avançado desta complicação elas po-dem ser vistas, freqüentemente, no solo com tédio e sem vontade de voar, seus abdomens se encontram distendidos anormalmente, com uma substância amare-la desagradável. Não consegui identificar nem a causa nem a cura para esta do-ença.

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alvéolo e o mau cheiro de seu corpo em decomposição parece pa-ralisar as abelhas.1

Existem duas espécies de cria pútrida, uma das quais os a-lemães chamam a seca e a outra úmida ou fétida. A seca parece ser moderada em seus efeitos e não é contagiosa, a cria sim-plesmente morre e seca em algumas partes dos favos. Na úmida, a cria, em vez de secar, se decompõe e produz um cheiro fétido, o qual pode ser percebido a alguma distância da colméia.2

Na Primavera ou no Verão, quando o clima é agradável e a forragem abundante, os apicultores alemães recomendam o se-guinte remédio para a cria pútrida: - "Transferir as abelhas para qualquer colméia limpa, e mantê-las fechadas num local escuro sem alimento por vinte e quatro horas; preparar para elas uma colméia limpa, apropriadamente montada com favos de colônias saudáveis, transferir as abelhas para esta colméia e mantê-las confinadas por mais dois longos dias, alimentando-as com mel puro."

Meus leitores ficarão em dívida para com o Mr. Samuel Wag-ner pela tradução do modo como Dzierzon tratava a cria pútrida:

"Admito que não consigo fornecer nenhuma instrução pela qual uma doença da colméia possa ser curada de imediato. Ain-da mais, considero altamente improvável que uma colônia, na qual a doença fez progressos marcantes, possa ser curada por qualquer medicação. O material pútrido e infeccioso, já abun-dante nos alvéolos, deve ser, pelo menos, imediatamente removi-do - e isto parece ser, acima de tudo, impraticável. Contudo, o ganho será maior se pudermos neutralizar ou destruir o vírus nas próprias abelhas e, também, colher o mel infetado. Um ami-go apicultor me informou recentemente que, se este mel for dilu-

1 Dzierzon pensa que esta doença originou-se em seu apiário pela alimentação das abelhas com "mel americano" (mel oriundo das ilhas do oeste da Índia). Co-mo este mel normalmente não produz esta doença, provavelmente ele utilizou al-gum mel retirado de colônia que estava doente. Este mel sempre está contamina-do.

Mr. Quinby me informou que ele perdeu algo em torno de 100 colônias num ano por causa deste mal. Ela nunca apareceu em meus apiários e eu considero sua disseminação através de nossos apiários como a maior calamidade imaginável para a apicultura. 2 Como Aristóteles (História dos Animais, Livro IX. Cap. 40) fala da doença que é acompanhada por um odor desagradável da colméia existe razão para acreditar que a cria pútrida era comum a mais de dois mil anos atrás.

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ído com um pouco de água e depois fervido e escumado, ele pode ser usado com segurança para alimentar as abelhas. Mel suspei-to deve ser invariavelmente fervido e escumado antes de dar para as abelhas. Cloreto de cálcio tem se mostrado um eficiente desin-fetante para a colméia. Eu simplesmente deixo as colméias, que continham colônias doentes, expostas ao sol e ar durante duas estações, e as usei em seguida sem constatar o reaparecimento da doença.

De um modo geral, a doença deixou de ser agora um terror para mim. Ainda que minhas abelhas possam ser re-infectadas a partir de apiários vizinhos ou de outras fontes estranhas, não es-tou apreensivo que ela possa reduzir subitamente o número de minhas colônias, ou se espalhar rapidamente pelos meus apiá-rios, porque evitarei alimentar com mel estranho ou importado, mesmo que, num ano desfavorável, se torne necessário reduzir o número de minhas colméias para a metade ou para um quarto do total.

"Mas quando a doença aparecer em somente duas ou três das colônias e for descoberta de imediato (o que pode ser feito fa-cilmente em colméias de quadros móveis), ela pode ser detida e curada sem perda ou diminuição do lucro. Para prevenir que a doença se espalhe, não existe processo mais confiável e efetivo DO QUE PARAR A PRODUÇÃO DE CRIA, pois não existindo cria, nenhuma poderá perecer ou apodrecer. A doença fica privada tan-to de seu alimento quanto da sua vítima. A cria saudável amadu-recerá e ermegirá no tempo apropriado e a matéria pútrida, per-manecendo em alguns alvéolos, secará e será removida pelas o-perárias. Tudo isto será possível pela remoção, no tempo devido, da rainha de tais colônias. Se esta remoção se fizer necessária na Primavera ou início do Verão, uma boa quantidade de rainhas será obtida, graças ao que uma colônia artificial pode ser inicia-da, a qual certamente será saudável se as abelhas e a cria usa-da, forem apanhadas de colônias saudáveis. Se a remoção tiver de ser feita no final do Verão, a produção de cria pode ser parada de vez, e evitado o consumo desnecessário de mel. Assim, em qualquer dos casos, teremos vantagem na operação. Se tivermos um número de colônias maior do que o desejado para hibernar, é sensato retirar o mel das colônias sem rainha, imediatamente depois que toda a cria tenha emergido, uma vez que neste mo-mento normalmente elas têm a maior reserva. Se a doença não for a maligna cria pútrida, a colônia pode ser deixada sem per-turbação depois que ela criou uma nova rainha, e em muitos ca-

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sos estas colônias ficarão, subseqüentemente, livres da doença. Eu tenho constatado o fato singular que, se tanto as abelhas quanto os favos forem removidos da colméia infectada e ali forem colocadas abelhas saudáveis e favos limpos, estes ficarão rapi-damente infectados com cria pútrida; ao passo que, quando a ra-inha de uma colônia incipientemente infectada é removida, ou simplesmente confinada numa gaiola, e as operárias são ainda suficientemente numerosas para remover todas as impurezas, a colônia recuperará rapidamente as condições saudáveis. É como se as abelhas se acostumassem com o vírus que normalmente adere obstinadamente à colméia.

"A cria pútrida é, sem dúvida, uma doença exclusiva das lar-vas, e não das abelhas já emergidas ou da cria desenvolvida quase pronta para emergir. Ou seja, a causa da doença pode já existir no alimento fornecido para as larvas, e estar alojada no es-tômago das abelhas nutrizes, e estas últimas, ainda, elas pró-prias, podem não estar afetadas.

"Embora as colônias assim tratadas parece ficarem geral-mente livres da infecção durante a estação que segue, e a cria que nascer dos ovos de uma rainha que lhes tenha sido forneci-da em seqüência, ou de uma criada por elas mesmas, seja sau-dável, amadurecendo e emergindo no tempo apropriado, ainda assim, a doença, em muitos casos, re-aparece no próximo Verão. De fato, é possível que as abelhas a re-introduzam a partir de fontes estranhas, mas não é improvável, também, que a subs-tância infecciosa realmente permaneça latente na colméia. As abelhas normalmente não removem toda a matéria putrefata dos alvéolos, mas deixam pequenas porções permanecerem nos can-tos depois de ela ter secado, cobrindo-a simplesmente com um filme de cera ou própolis, da qual, subseqüentemente, quando as circunstâncias se tornam favoráveis para a sua ação, o vírus po-de externar sua influência maligna e provocar o re-aparecimento da doença. Assim, se eu não destruo estas colônias no Outono, e transfiro as abelhas para novas colméias ou outras colônias com favos limpos, invariavelmente eu as observo com desconfiança, como não confiáveis, e as mantenho sob vigilância rigorosa du-rante pelo menos um ano.

"Uso, também, estas colônias suspeitas, de preferência, para a produção de rainhas que servem para suprir as colônias sem rainha ou iniciar enxames artificiais - removendo sucessivamen-te as jovens rainhas assim que elas se mostrarem férteis ou

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quando eu tiver ocasião para utilizá-las. Desta forma, faço esta colônia fornecer três ou quatro - e ainda, algumas vezes inserin-do realeiras operculadas - até mesmo cinco ou seis jovens rai-nhas. Mas, nestas operações, retiro as abelhas e a cria para os enxames artificiais de colônias que estão indubitavelmente livres de doenças. Para este propósito, seleciono colônias fortes que te-nham uma rainha jovem e vigorosa, as quais são conseqüente-mente capazes de fornecer os suprimentos necessários sem di-minuição séria da população, quando a estação estiver totalmen-te favorável para a multiplicação das famílias. Em tais estações, colônias fortes, em boas condições, com uma rainha vigorosa no apogeu da vida, pode suprir facilmente cria e abelhas suficientes para quatro enxames." - Bienenzeitung, 1857, No.4.

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CAPÍTULO XIII

PPPIIILLLHHHAAAGGGEEEMMM EEE CCCOOOMMMOOO PPPRRREEEVVVEEENNNIIIRRR

As abelhas são tão propensas a roubar umas às outras que, a menos que sejam usadas grandes precauções, o apicultor per-derá, freqüentemente, algumas de suas colméias mais promisso-ras. A inatividade é para elas, assim como para os homens, a o-rigem do prejuízo. Elas são, no entanto, muito mais perdoáveis do que as indolentes patifarias das famílias humanas; razão por-que elas raramente tentam viver de açúcar roubado quando elas conseguem adquirir o suficiente pelo trabalho honesto.

Assim que elas conseguem deixar suas colméias na Primave-ra, se impulsionadas pelo horror da fome, elas começam a assal-tar as colméias mais fracas. Neste assunto, porém, a moral das nossas pequenas amigas parece estar tristemente errada; fre-qüentemente as colméias com os maiores estoques são - como alguns ricos opressores - as mais ansiosas por pilhar as escassas posses das outras.

Se as saqueadoras, que estão sempre de ronda, à procura de uma presa, atacam uma colônia forte e saudável, normalmente ficam satisfeitos em escapar com vida das defensoras resolutas. O apicultor, por conseguinte, que negligencia em alimentar as colônias necessitadas e assistir as fracas e sem rainha (pág. 122), deve contar com grandes perdas por causa das pilhadoras.

Algumas vezes é difícil para o novato discriminar entre mo-radoras honestas de uma colméia e pilhadoras que, muitas ve-zes, se misturam com as outras. Existe, no entanto, um ar de malandragem no comportamento da abelha pilhadora que, para os treinados, é tão característico como são os movimentos do ba-tedor de carteiras para um policial treinado. Seu jeito furtivo, nervoso, agitação criminosa, uma vez percebido, nunca engana. Ela não pousa, como uma trabalhadora que traz para casa o fru-to de seu trabalho honesto, despreocupadamente no alvado, nem

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enfrenta as guardas, pois sabe perfeitamente que, se apanhada por estas guardiãs fieis, sua vida pode correr grande risco. Se ela conseguir deslizar sem ser tocada por nenhuma das sentinelas, as que estão dentro da colméia - tendo certeza de que tudo está certo - permitem, normalmente, que ela se sirva.

As abelhas que se perdem do caminho e pousam em colméia errada, são identificadas imediatamente das malandras pilhado-ras. A malandra, quando capturada, se esforça por se desvenci-lhar de suas executoras, enquanto a infeliz desnorteada se retrai quanto puder, submetendo-se ao destino que suas captoras pos-sam indicar.

Estas abelhas desonestas são as "Jerry Sneaks"1 de sua pro-fissão e, depois de se portarem assim por algum tempo, perdem todo o gosto pela atividade honesta. Esgueirando-se constante-mente através de pequenos buracos e se enodoando com mel, sua pelagem assume uma aparência lisa e quase preta2, assim como o chapéu e vestuário do vadio desonesto adquirem um as-pecto "gasto". "A honestidade é tão boa diplomacia" entre as abe-lhas quanto entre os homens e, se a abelha ladra conhecesse a-penas os seus verdadeiros interesses, ela poderia trabalhar ale-gremente com segurança nos campos, em vez de arriscar sua vi-da provando o açúcar proibido.

É dito que as abelhas agem, ocasionalmente, como ladrões de estrada, emboscando a mamangava quando ela retorna para seu ninho com a vesícula melífera bem provida. Agarrando o ho-nesto indivíduo, elas fazem ele entender que elas querem o seu mel. Se elas o matarem, elas nunca conseguirão extrair o espólio do fundo do seu âmago; elas, então, batem nele e o importunam, da forma que lhes é mais conhecida, dizendo todo o tempo em seus ouvidos "Seu mel ou sua vida", até que ele esvazia seu es-paçoso receptáculo, quando elas então sugam o açúcar e o dei-xam.

As abelhas algumas vezes exageram em grande escala em suas depredações. Certificando-se da fraqueza de uma colônia vizinha, elas atacam às milhares, se engajam com ímpeto numa batalha intensa. É realizado um ataque furioso, e o solo, em

1 Segundo Michaelis "Jerry Sneaks" significa marica. N. T. 2 Dzierzon pensa que estas abelhas pretas, que Huber descreve como amarga-mente perseguidas pelas demais, nada mais são do que ladras. Aristóteles fala de "uma abelha preta que é chamada de ladra."

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frente da colméia assaltada, fica coberto com os corpos de incon-táveis vítimas. Algumas vezes as confusas invasoras são compe-lidas a bater em retirada; na maioria das vezes, no entanto, como nas disputas humanas - apenas comprovando uma barreira fra-ca para uma força superior - a fortaleza é bombardeada e o tra-balho de pilhagem começa em seguida. E ainda, apesar de tudo, as coisas não estão tão ruins como parecia no início, as abelhas dominadas, desistindo do conflito desigual, assistem as vitorio-sas saquearem sua colméia e são recompensadas por serem in-corporadas à nação triunfante. A pobre mãe, no entanto, perma-nece em sua colméia pilhada, algumas de suas crianças - fieis até o fim - ficam com ela para perecer a seu lado no meio das ru-ínas da sua uma vez feliz moradia.1

Se o apicultor não quiser ter suas abelhas tão desmoraliza-das pois seu valor será seriamente afetado, ele deve ser extre-mamente cuidadoso (pág. 199) prevenindo que elas pilhem umas às outras. Se as abelhas de uma colméia forte provarem apenas uma vez do açúcar proibido dificilmente elas hão de parar antes de terem testado a força de todas as colméias. Mesmo que todas as colônias tenham condições de se defenderem, muitas abelhas serão perdidas nestes conflitos e muito tempo será perdido; as abelhas, tanto as engajadas na pilhagem como as que resistirem a pilhagem das outras, perdem tanto a disposição quanto a habi-lidade para se engajar em trabalhos úteis.2

1 "As abelhas, assim como os homens, têm diferentes inclinações, assim que até mesmo a lealdade lhes falta algumas vezes. Numa ocasião, há não muito tempo, chegou a nosso conhecimento algo em que, provavelmente, poucos apicultores acreditarão. Trata-se de uma colméia que, tendo exaurido suas reservas muito cedo foi encontrada, ao ser examinada numa manhã, estar totalmente deserta. Os favos estavam vazios e o único sinal de vida era a pobre rainha sozinha, sem amigos, melancólica, lenta, andando sobre os alvéolos sem mel, um triste espetá-culo de decadência para a dignidade da abelha. Marius entre as ruínas de Carta-go, Napoleão em Fontainebleau - eram nada frente a isto." - London Quarterly Re-view. 2 Se o apicultor quiser proteger suas abelhas de comportamentos desonestos ele deve ser extremamente cuidadoso em todas as suas operações, não deixar favo com mel onde as abelhas estranhas possam encontrá-lo (ver nota pág. 172); pois, depois de testarem uma só vez do mel roubado elas hão de pairar à sua volta as-sim que o virem em atividade na colméia, todas prontas para lançar-se sobre ele e agarrar o que puderem do seu tesouro exposto.

Alguns apicultores questionam se a abelha que aprendeu uma vez a roubar re-tornará ao comportamento normal. Conheci o que significa um apiário ser tão se-riamente enfraquecido pelas abelhas que começaram logo no início da estação a pilharem umas às outras que o seu proprietário ficou seriamente tentado a dese-jar nunca ter visto uma única abelha.

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Mantendo os blocos móveis na entrada das minhas colméias bem próximos um do outro, quando uma colônia estiver fraca, se as pilhadoras tentarem se esgueirar para dentro, elas têm quase certeza de serem inspecionadas e levadas à morte; e se as pilha-doras são valentes o suficiente para forçar a entrada, o fundo in-clinado para frente, fornece uma vantagem evidente para as ocu-pantes da colméia. Se alguma conseguir entrar, ela encontrará centenas posicionadas em arranjo de batalha, e passará tão mal quanto um abandonado esperando que desabem as paredes de um forte bem sitiado, somente para não perecer entre milhares de enfurecidos inimigos.

Colocando estes blocos na entrada da colméia que parou de oferecer resistência efetiva a colônia já desanimada freqüente-mente recuperará a confiança e botará a correr as assaltantes.

Quando as abelhas estão engajadas ativamente na pilhagem, elas saem com o primeiro raio de luz e, freqüentemente, continu-am suas depredações até ficar tão tarde que elas não conseguem encontrar a entrada de sua colméia. Quando a pilhagem se tor-nou um hábito as abelhas ficam, algumas vezes, tão enfeitiçadas por ela a ponto de negligenciar sua própria cria!

A nuvem de pilhadoras chegando e saindo nunca poderá ser confundida com as trabalhadoras honestas trazendo, com vôo desajeitado, suas pesadas cargas para a colméia. Estas ousadas pilhadoras, quando entram na colméia, estão esfomeadas pare-cendo as vacas magras do Faraó, enquanto, ao sair, elas se mos-tram com aparência volumosa e, à semelhança dos conselheiros que jantaram às custas do erário público, se encontram estufada até onde possível.

Quando as pilhadoras dominaram uma colméia, as tentati-vas para subjugá-las - fechando a colméia ou movendo-a para um novo local - se apropriadamente realizada é, muitas vezes, muito mais desastroso do que permitir que elas terminem o seu trabalho. O ar se encherá rapidamente de abelhas vorazes as quais, sem conseguirem suportar o seu desapontamento, ataca-rão, com desespero furioso, algumas das colméias vizinhas. Des-ta forma, as colônias mais fortes ficam, algumas vezes, super for-tificadas ou milhares de abelhas se matam em disputa desespe-rada.

Quando o apicultor perceber que uma colônia está sendo pi-lhada, ele deve reduzir seu alvado e, se as pilhadoras persistirem

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em abrir caminho, ele deve fechar o alvado completamente. Em poucos minutos a colméia ficara preta com as gananciosas que não abandonarão até conseguirem penetrar na menor abertura. Antes de elas assaltarem uma colônia vizinha, elas devem ser borrifadas intensamente com água fria, o que as fará retornarem satisfeitas para suas colméias.

A menos que as abelhas que foram fechadas disponham de ar em abundância elas devem ser levadas para um local frio e escuro1. Na manhã do dia seguinte elas podem ser examinadas e, se necessário, unidas a outra colméia.

Existe um tipo de pilhagem que é feito de forma tão furtiva que, freqüentemente, não é percebido. As abelhas nele engajadas não entram em grande número, não se vê disputa, e as operárias da colméia pilhada parece continuarem com sua costumeira calma. A todo o momento, no entanto, abelhas estranhas estão carregando o mel com a mesma rapidez com que ele é recolhido2. Depois de observar uma destas colméias por alguns dias, ocor-reu-me, num entardecer, que ela deveria ter uma princesa que ainda não emergira, então resolvi lhe dar uma rainha fértil. Na manhã seguinte, levantando antes que as malandras estivessem em atividade, tive o prazer de ver elas serem recebidas tão calo-rosamente, que ficaram felizes em conseguir fazer uma rápida re-tirada.

Será que a mãe fértil não fornece para cada colméia (pág. 203) seu odor característico? E não poderia uma colméia sem es-te cheiro da rainha, ficar tão satisfeita (pág. 226) com o odor das outras abelhas, a ponto de permitir que as pilhadoras fizessem o

1 "Na Alemanha, quando as colônias em colméias comuns são pilhadas, elas são freqüentemente removidas para um local distante, ou colocadas num porão escu-ro. Uma colméia, de aparência semelhante é colocada em seu lugar, e folhas de losna e suco da mesma planta são colocados no fundo. As abelhas tem tal anti-patia para o cheiro desta planta, que as pilhadoras rapidamente abandonam o local, e a colônia assaltada pode ser trazida de volta.

"O Rev. Mr. Kleine diz que as pilhadoras podem ser repelidas colocando na col-méia algum odor intenso e poderoso não familiar. Ele consegue isto mais rapida-mente colocando nela, ao entardecer, uma pequena porção de almíscar e na ma-nhã seguinte as abelhas, se tiverem uma rainha saudável, enfrentarão corajosa-mente suas assaltantes. Estas ficam perdidas pelo odor não costumeiro e, se al-guma delas entrar na colméia e carregar algo do cobiçado prêmio, ao retornar pa-ra sua casa será morta por suas próprias familiares por causa do cheiro estra-nho. A pilhagem se encerra rapidamente." - S. Wagner. 2 Normalmente se verificará que a colméia que ficou super reforçada pelas pilha-doras não tem rainha, ou tem uma que está doente (pág. 244, nota).

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que bem entendessem com suas reservas? Como as abelhas es-tão raramente engajadas na criação de rainhas, exceto no perío-do de enxameação, quando o mel é tão abundante que elas não estão inclinadas a pilhar, isto pode, se minhas conjecturas esti-verem corretas, ser uma explicação para o inusitado deste tipo de pilhagem.

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CAPÍTULO XIV

IIINNNSSSTTTRRRUUUÇÇÇÕÕÕEEESSS PPPAAARRRAAA AAALLLIIIMMMEEENNNTTTAAARRR AAASSS AAABBBEEELLLHHHAAASSS

Poucos assuntos na apicultura prática são mais relevantes do que a alimentação das abelhas; no entanto nenhum tem sido manejado de modo mais grosseiro ou negligenciado. Desde que a vala de enxofre foi abandonada, milhares de colônias fracas pas-sam fome no Inverno, ou início da Primavera; seguidamente, quando um Verão desfavorável é seguido por um Inverno rigoro-so e Primavera tardia, muitas pessoas perdem a maioria de suas colméias e abandonam a apicultura por desgosto.

O apicultor prudente não deixará de alimentar na Primavera suas colônias necessitadas com a mesma dedicação com que pro-videncia uma mesa para si mesmo. Nesta estação, estimuladas pelo retorno do calor e intensamente engajadas no desenvolvi-mento da cria, as abelhas necessitam de um farto suprimento de alimento e muitas colméias populosas perecem, as quais poderi-am ter sido salvas com trabalho e custo insignificantes.1

"If e´er dark Autumn, with untimely storm, The honey´d harvest of the year deform; Or the chill blast from Eurus´ mildew wing, Blight the fair promise of returning Spring;

1 "Se a Primavera não for favorável para as abelhas, elas devem ser alimentadas, pois é o período em que, para alimentar as jovens, mais consomem mel. Tendo a-limentação em abundância nesta época, elas têm condições de produzir enxames mais cedo e mais fortes." - Wildman.

O apicultor cujas colméias podem morrer depois que a Primavera abre, se equi-para ao fazendeiro cujas vacas passam fome em seus estábulos; o que lhes nega a necessária ajuda, na época em que elas não conseguem colher o suprimento, lembram o mercador que queima seu navio caso tenha feito uma viagem desfavo-rável.

Columella fornece instruções minuciosas de como alimentar colméias necessita-das e cita, aprovando, as instruções de Hyginus - cujos escritos não mais existem - afirmando que este assunto deve ser o mais cuidadosamente ("diligentissima-mente") observado.

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Full many a hive, but late alert and gay, Droops in the lap of all-inspiring May." - Evans

Quando as abelhas voam pela primeira vez na Primavera, é bom alimentá-las um pouco, mesmo quando elas dispõem de re-servas abundantes, uma vez que um pequeno acréscimo em su-as reservas as encoraja a produzir cria. Muito cuidado, no entan-to, deve ser tomado para prevenir a pilhagem; a alimentação po-de ser suspensa assim que a forragem for abundante. Se uma colônia for super alimentada as abelhas encherão com mel seus favos de cria, interferindo com a produção de jovens e assim o mel que lhes foi dado é pior do que se fosse jogado fora.

Super alimentar as abelhas lembra, em seus resultados, as perniciosas influências sob as quais muitas crianças dos ricos são criadas. Mimadas e alimentadas em demasia a sua prosperi-dade se prova, seguidamente, apenas um legado de desgraça desmoralizante, pois, destituídas de dinheiro e caráter, elas des-cem, prematuramente, à sepultura da desonra.

O apicultor prudente cuidará da alimentação das abelhas - dar pouco para evitar um encorajamento - como uma desgraça a ser estimulada somente quando não pode ser evitada e preferirá, muito antes, que elas consigam seus suprimentos da maneira tão bem descritas por ele cujos escritos inimitáveis nos forne-cem, sobre quase todos os assuntos, felizes ilustrações:

"So work the honey bees, Creatures that, by a rule in Nature, teach The art of order to a peopled kingdom. They have a king and officers of sorts, Where come, like magistrates, correct at home, Others, like soldiers, armed in their stings, Make boot upon the Summer´s velvet buds; Which pillage they, with merry varch, bring home To the tent royal of their emperor, Who, busied in his majesty, surveys The singing masons building roofs of gold; The civil citizens kneading up the honey; The poor mechanic porters crowding in Their heavy burdens at his narrow gate; The sad-eyed justice, with his surly hum, Delivering o´er, to executors pale, The lazy, yawning drone."

Shakspeare Ato I, Cena 2 - Henry V.,

Se as colônias empobrecidas estiverem em colméias comuns

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elas podem ser alimentadas invertendo as colméias e derraman-do uma taça de chá cheia de mel entre os favos nos quais as abe-lhas estão amontoadas. Uma abelha mergulhada em doce, quan-do longe da colméia, é um espetáculo deplorável; mas o que lhes é dado desta forma não apresenta nenhum mal e elas se lambem umas às outras, com uma satisfação comparável com as crian-ças que chupam seus dedos quando se deliciam com doces. Quando as abelhas tiverem recolhido o que foi derramado em cima delas a colméia pode ser re-abastecida e a operação repeti-da a intervalos, tão freqüentes quanto necessário. Se a colméia for de quadros móveis, o alimento pode ser colocado num favo vazio e este inserido onde ele possa ser facilmente alcançado pe-las abelhas.

Se a colônia tiver poucas abelhas, sua população deve ser incrementada (pág. 221) antes de ser alimentada. Se ela tiver a-penas uma pequena quantidade de favos com cria, a menos que alimentada com moderação, ela encherá os favos com alimento em vez de cria. Se o apicultor desejar que as abelhas construam favos novos, a alimentação deve ser fornecida com regularidade para imitar um suprimento natural, ou elas o armazenarão em alvéolos já construídos.

Para reforçar as colônias através da alimentação, exige-se mais cuidado e critério do que para qualquer outro processo na apicultura e raramente será necessário para os que usam col-méias de quadros móveis. Ela só será bem sucedida quando tudo for feito com a finalidade de produção rápida de cria.

Quando o fluxo de néctar cessar, todas as colônias devem estar fortes em número; em períodos favoráveis, os recursos a-cumulados devem ser tais que, quando for feita uma equi-divisão, haja alimento suficiente para todas. Se algumas tiverem mais e outras menos do que elas precisam, uma divisão eqüitati-va pode ser conseguida normalmente em colméias de quadros móveis. Este procedimento de redistribuição pode facilmente destruir a sociedade humana, mas as abelhas assim ajudadas, não passarão inativas na próxima estação; nem as que foram destituídas de suas reservas limitarão sua colheita à sua neces-sidade.

No início de outubro - pela metade de setembro ao norte - se a forragem tiver terminado deverá ser fornecida, cuidadosamen-te, toda a alimentação necessária para a hibernação das abelhas. Se retardada para o final do período, as abelhas podem não ter

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tempo suficiente para opercular o mel, que, por absorver umida-de pode azedar e provocar (pág. 256) a disenteria. Tais colônias, por terem poucas abelhas para hibernar, devem ser unidas a ou-tras colméias.

No oeste da Índia o mel é, normalmente, o alimento líquido mais barato que se pode dar para as abelhas. Para remover suas impurezas e prevenir que azede ou cristalize nos alvéolos, deve-se adicionar um pouco de água e depois ferver por alguns minu-tos e esfriar; a espuma sobrenadante deve ser removida. Uma mistura de três libras de mel, duas de açúcar escuro e uma de água, preparada como acima descrito, foi usada por mim (pág. 257) por muitos anos, sem prejudicar minhas abelhas.

É desejável prosseguir com a alimentação tão rapidamente quanto possível1, pois a alimentação excita as abelhas e elas consomem mais alimento do que o fariam de outra maneira. Em minhas colméias, o alimentador pode ser colocado sobre um dos buracos da entre tampa, pelo qual o calor sobe. As abelhas po-dem apanhá-lo sem serem subresfriadas pelo clima frio, e o seu odor não atrairá as pilhadoras. Para fazer um alimentador barato e adequado (ver Lâmina XI, Fig. 26), pegar uma caixa qualquer de madeira que comporte pelo menos dois quartos; a cerca de duas polegadas de uma das extremidades fazer uma repartição, rebaixada, da parte superior, em meia polegada; abrir um buraco no fundo do pequeno compartimento, assim quando o alimenta-dor for colocado sobre qualquer buraco, as abelhas podem pas-sar por ele e ter acesso à divisão que contem o alimento. Os can-tos do compartimento de alimentação devem ser impermeabiliza-dos ao mel, aplicando uma mistura (pág. 78) de cera e breu; e se as laterais forem pintadas com a mesma mistura, a madeira não absorvendo mel se manterá doce2. A tampa deve ter uma parte em vidro, pelo qual será possível ver quando o alimentador ne-cessita ser suprido, e um orifício pelo qual o alimento póssa ser derramado, feito e fechado como os usados para permitir o aces-so das abelhas às melgueiras. Um pouco de palha limpa, cortada em pedaços pequenos para flutuar, à medida que as abelhas consomem o mel, prevenirá o seu afogamento3.

1 As colméias alimentadas, deslocadas para colméias vazias no final do Outono são, a menos que se lhes dê favos (pág. 71), raramente pagarão a despesa. 2 Embora o autor tenha usado a palavra "sweet" acredito que a intenção foi utili-zar "dry", seco. N. T. 3 Se esta caixa for coberta com algodão ou lã grossa, para reter o calor ascenden-

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A água é indispensável para as abelhas enquanto constroem favo e desenvolvem cria. Elas se aproveitam de qualquer dia a-meno do Inverno (ver Capítulo sobre Hibernação das Abelhas) para trazê-la para a colméia; no início da Primavera, podem ser vistas apanhando água ativamente nas bombas, drenos e outros lugares molhados. Mais tarde, elas sugam o sereno da grama e das folhas.

Todo apicultor zeloso cuidará para que suas abelhas estejam sempre bem supridas de água.1 Se ele não tiver nenhum ponto ensolarado onde elas possam obtê-la com segurança, ele fornece-rá uma tina rasa de madeira, ou recipientes cheios com flutua-dores ou palha, nos quais elas - protegidas dos ventos frios e a-quecidas pelos geniais raios do sol - podem beber sem risco de se afogarem.

Parece que as abelhas são tão aficionadas pelo sal, que elas pousam em nossas mãos para sugar a transpiração salgada. "No início do período de desenvolvimento da cria," diz o Dr. Bevan, "até início de maio, eu mantenho um suprimento constante de sal e água perto do meu apiário, e o vejo apinhado de abelhas desde o início da manhã até o final da tarde. Durante este perío-do, a quantidade que elas consomem é considerável, depois, po-rém, parece ficarem indiferentes a ele. A vivacidade que as abe-lhas demonstram pela água durante um período da estação, e a indiferença em outro, pode ser a responsável pelas opiniões o-postas manifestas sobre o assunto."

O Rev. Mr. Weigel, da Silésia, recomenda açúcar cristalizado natural como um substituto para o mel líquido. Se as abelhas ti-verem acesso a ele, desde que não estejam com frio, elas se a-montoam sobre ele e, sendo supridas com água, o consumirão gradualmente. Quatro libras de cande2 suprirão, é dito, a colônia

te, ela pode ser usada durante todo o Inverno como alimentador com mel ou com água.

Columella recomenda lã, encharcada em mel para alimentar as abelhas. Se o clima não for tão frio, um pires, tigela, ou recipiente de qualquer tipo cheio com palha se transforma num alimentador conveniente. 1 Um antigo apicultor grego diz, "que se o clima for tal que as abelhas não pude-rem voar, por apenas alguns dias, a cria poderá perecer por falta de água". 2 Preparação do cande para alimentar as abelhas: adicionar água ao açúcar e cla-rificar o xarope com ovos; adicionar cerca de uma colher de chá de creme de tár-taro para cerca de 20 libras de açúcar, e ferver até que a água tenha evaporado. Para saber quando está pronto, mergulhe seu dedo primeiro em água fria e de-pois no xarope. Se o que adere ficar quebradiço quando frio, ferveu o suficiente.

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cujas reservas de Inverno estejam escassas. É mais barato do que o alimento líquido e menos provável de azedar nos alvéolos.

Se as colméias comuns forem invertidas e os pedaços de cande colocados entre os favos onde as abelhas estão amontoa-das, elas podem se alimentar facilmente durante o mais frio In-verno. Nas minhas colméias, se a melgueira, ou tampa, for er-guida por sarrafos de madeira, em cerca de uma polegada e meia (4cm) acima dos quadros, o cande pode ser colocado bem acima do amontoado de abelhas e, assim, ele ficará acessível às abelhas durante o clima frio. Ele pode, também, ser colocado entre os fa-vos em posição vertical, entre as abelhas.1

O Mr. Wagner me relatou os seguintes fatos interessante, traduzidos por ele do Bienenzeitung:

" 'O uso de açúcar cristal para alimentar as abelhas´,diz o Rev. Mr. Kleine, ´traz ao apicultor uma segurança que ele não tinha antes. Mas, não devemos depositar muita esperança nele, ou tentar hibernar col-méias muito fracas, as quais um apicultor prudente uniria com uma colméia forte. Tenho usado açúcar cristal para alimentação pelos últi-mos cinco anos e fiz muitas experimentos com ele, os quais me confir-maram que ele não pode ser tão insistentemente recomendado, especi-almente depois de verões desfavoráveis. Colônias bem supridas de favos, e abundando em pólen, ainda que deficientes em mel, podem ser ali-mentadas com açúcar cristal com muito proveito, e devolverão esplendi-damente o serviço que se teve com elas.

" ´Açúcar cristal dissolvido em pequena quantidade de água, pode ser fornecido às abelhas com segurança no final do Outono, e até mes-mo no Inverno, se absolutamente necessário. Ele é preparado dissolven-do duas libras de açúcar cristal num quarto de água, e evaporado, por fervura, até cerca de dois gills2 da solução; depois escumado e filtrado numa peneira de cabelo. Três quartos desta solução, fornecida no Outo-no, manterão com segurança a colônia durante o Inverno, num local e estação normais. As abelhas o carregarão para os alvéolos dos favos como preferirem, onde ele engrossa rapidamente e é coberto com um fi-no filme, que evita azedar.

Colocar em pratos rasos, levemente engordurados e, quando frio, quebrar em pe-quenos pedaços de tamanho conveniente. Depois de ferver, pode-se adicionar bálsamo ao xarope, ou outro perfume que seja agradável para as abelhas. 1 Inserindo alguns pedaços de cande sob os quadros, uma pequena colônia pode ser alimentada em tempo ameno, sem tentar as pilhadoras com o odor do mel lí-quido. Se uma pequena quantidade de alimento líquido é necessária no Verão, tabletes de açúcar dissolvidos em água, por terem o mínimo de odor, são mais aconselhados. 2 "Gill": medida de líquido, 0,142 litros. N. T.

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" ´Açúcar de uva, usado para corrigir a acidez do vinho, é agora fa-bricado extensivamente a partir de amido de batata, em vários lugares do Reno, e tem sido muito recomendado como alimento das abelhas. Ele pode ser conseguido por preço menor do que o açúcar de cana e é me-lhor adaptado à constituição da abelha, uma vez que ele constitui a sa-carina do mel, e é chamado, freqüentemente, açúcar do mel.

" ´Ele pode ser fornecido diluído em água fervida, ou em seu estado bruto, úmido, como vem da fábrica. Na última condição, as abelhas o consomem lentamente e, como não ocorre o desperdício que acontece quando são alimentadas com açúcar cristal, eu penso ser o melhor ali-mento de Inverno.´

"O Rev. Mr. Sholz, da Silésia, recomenda o seguinte como substitu-to do açúcar cristal para alimentação das abelhas:

" ´Apanhar um pint1 de mel e quatro libras (2kg) de açúcar em pó; aquecer o mel, sem adicionar água, e misturar com o açúcar, amassan-do os dois até ficar pastoso. Quando bem misturados, cortar em fatias, ou conformar em bolo ou bolotas, enrolar em linho grosso e colocar so-bre os quadros. Fatias finas, protegidas por linho, podem ser empurra-das por baixo dos favos. A plasticidade da massa permite ao apicultor aplicar o alimento da maneira que ele desejar. As abelhas tem menos di-ficuldade em aproveitar este tipo de alimento do que se for empregado na forma de cande, e o desperdício será menor.´

"O Mr. Kleine coloca2 açúcar cristal, como alimento de Inverno para as abelhas, dentro dos alvéolos previamente molhados com água doce."

É impossível dizer quanto mel é necessário para uma colméia passar tranqüilamente o Inverno. Depende muito (ver capítulo sobre Hibernação das abelhas) de como elas estão hibernando, onde, se ao ar livre ou em abrigos especiais, se elas estão prote-gidas da agitação excessiva provocada pelas mudanças climáti-cas bruscas e violentas; como também da extensão do Inverno, que pode variar muito nas diferentes latitudes, e da precocidade da Primavera que se aproxima. Em alguns de nossos estados do norte, as abelhas, seguidamente, não colhem nada durante tem-po superior a seis meses, enquanto, no extremo sul, elas estão seguidamente privadas de suprimentos naturais por várias se-manas. Em todos os nossos estados do norte e centrais, se as colméias tiverem de hibernar ao ar livre, elas devem dispor de

1 Pint: medida de capacidade (Br. 0,568 litros, Am. 0,437 litros). N. T. 2 Açúcar em tabletes granulado é com certeza um bom alimento para as abelhas e, molhando os favos depois que ele tenha sido espalhado dentro deles, é fácil mantê-lo nos alvéolos. Nem açúcar nem cande será usado pelas abelhas a menos que elas disponham de água para dissolvê-lo.

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pelo menos vinte e cinco libras1 (12kg)de mel.

Todas as tentativas de obter lucro dom a venda de mel bara-to como alimento para as abelhas, tem-se mostrado, invariavel-mente, sem sucesso. A noção de que elas podem transformar tu-do que é doce, mesmo de baixa qualidade, num bom mel,2 à luz do mesmo princípio que as vacas secretam leite a partir de qual-quer alimento aceitável, e uma grande ilusão.

É verdade que elas conseguem fazer um favo branco de pra-ticamente todo líquido doce, pois sendo a cera uma secreção na-tural da abelha, pode ser feita de toda substância açucarada, as-sim como a gordura pode ser colocada entre as costelas de um boi por qualquer tipo de alimento nutritivo. Mas a qualidade do favo nada tem a ver com o seu conteúdo; e a tentativa de vender, como artigo de primeira, um mel inferior, armazenado em favo maravilhoso, é tão fraudulenta quanto oferecer por um bom mel, moedas que, embora puras no exterior, contenham um metal in-ferior em seu interior.

A qualidade do mel depende muito pouco, se depender, da secreção das abelhas; floração de maçã, trevo branco, trigo mou-ro e quase todas as outras variedades de mel, todas têm seu sa-bor peculiar.3

A evaporação4 da água é a única mudança bem caracteriza-

1 Em colméias de quadros móveis, a reserva pode ser facilmente quantificada por uma inspeção real. O peso das colméias nem sempre é um critério seguro, uma vez que colméias velhas são mais pesadas do que as novas, além de possuírem seguidamente super reservas de pão de abelha. 2 Quando as abelhas estão enchendo rapidamente seus favos, elas descarregam o conteúdo de suas vesículas melíferas assim que retornam dos campos. Não pode ser afirmado categoricamente que o mel não sofre mudança durante o pequeno tempo que ele permanece na vesícula melífera, mas que ele pode passar por ape-nas uma pequena mudança é evidente a partir do fato que alimentar as abelhas com diferentes tipos de mel ou xarope de açúcar pode ser facilmente itentificado, depois que elas o opercularam, como também antes de o opercularem.

A idade de ouro da apicultura, na qual as abelhas hão de transformar um açúcar inferior em produtos balsâmicos como se tivessem sido recolhidos no Hybla ou Hymettus, está tão longe da prosaica realidade como as visões do poeta, que diz -

"A golden hive, on a golden bank, Where golden bees, by alchemical prank, Gather gold instead of honey."

3 "Que as abelhas não secretam o mel mas o colhem é deduzido do fato que os a-picultores encontram os alvéolos cheios com mel (em enxames novos) no primeiro ou segundo dia." - Aristóteles. 4 Se uma colônia forte é colocada sobre uma balança, se verificará, durante o pi-

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da pela qual o mel passa desde o seu estado natural nos nectá-rios das florações, e as abelhas não têm nenhuma vontade de opercular até que ele tenha atingido uma consistência tal que não corra risco de azedar nos alvéolos.1

Mesmo que o mel barato possa ser "melhorado" pelas abelhas a fim de se tornar de melhor qualidade, ele custará para o produ-tor, considerando a quantidade consumida (pág. 71) na produção de cera, quase, se não mais, do que o preço de mercado do bran-co mel de trevo; e se ele alimentar suas abelhas depois que o su-primento natural tenha se exaurido, a colônia será prejudicada por encher os alvéolos da cria.2

O apicultor experiente muito se beneficiará da obrigação de prevenir que suas abelhas provem um doce proibido, e o inexpe-riente, se não for cauteloso, rapidamente aprenderá uma salutar lição. As abelhas preferem colher seus suprimentos dos nectários das flores e, seguindo seus instintos naturais, têm pouca dispo-sição para se intrometer em propriedades que não lhes pertence;

co da colheita do mel, aumentar algumas libras num dia agradável. Grande parte deste peso, no entanto, será perdido durante a noite pela evaporação do mel re-centemente colhido, cuja água corre, seguidamente, como um filete pelo fundo. O Rev. Levi Wheaton, North Falmouth, Massachussets, é de opinião que a ventila-ção ajuda muito as abelhas na evaporação da água do mel não operculado. A ventilação por fluxo ascendente que providenciei para minhas colméias pode, as-sim, contribuir para aumentar o rendimento em mel. 1 Aristóteles relata este fato, que uma vez pensei ser minha descoberta. As obser-vações deste admirável gênio sobre a criação de abelhas mostram que ele era sensível aos obstáculos que, desde muito, tanto tem perturbado os apicultores atuais. Depois de discutir este tópico, diz ele: "Todas as dúvidas a respeito deste assunto ainda não foram suficientemente esclarecidas; mas, se nunca o forem, então nos devemos depositar mais confiança em nossas observações do que em nosso raciocínio. A teoria, não obstante, só será merecedora de crédito quando confirmar os fatos observados." Estamos frente a um sistema indutivo tão bem guardado e tão bem expresso como nunca o foi por Bacon? 2 Esta é a minha receita para um maravilhoso mel líquido, o qual os mais críticos reconheceram ser um dos mais deliciosos produtos até então provado; Colocar duas libras do mais puro açúcar branco em água suficiente para dissolvê-lo; to-mar uma libra de mel claro de trevo filtrado - serve qualquer mel de bom sabor - adicionar ao xarope morno, agitar vigorosamente a mistura. Como o açúcar refi-nado cristalizado é puro e inodoro, uma libra de mel confere seu sabor para duas libras de açúcar, e a mistura estará livre do sabor forte que seguidamente o mel tem, e normalmente será bem aceito por aqueles que não podem comer o último sem sofrer algum mal. Pode-se adicionar qualquer outro sabor que se desejar.

Contudo não se poderá concretizar nenhum ganho ao induzir as abelhas a arma-zenar esta mistura nas caixas ou vidros, poderia ser opção para o amador, em períodos ruins, ou em locais onde o mel é escasso, para desta forma garantir um item alternativo para sua mesa.

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mas, se o seu incauto dono tentá-las com alimento líquido, espe-cialmente nos períodos em que elas nada conseguem das flora-ções, elas ficam tão enfeitiçadas com coleta tão fácil a ponto de perder toda a discrição, e morrerão aos milhares se o recipiente que contem o alimento não dispuser de flutuadores, nos quais elas podem pousar com segurança para se salvarem.

As moscas por não tencionarem se banquetear em flores, mas em substâncias nas quais elas podem facilmente se afogar, pousam cuidadosamente nas bordas de todo o recipiente que contenha líquido, e cautelosamente se ajudam a si mesmas; en-quanto a pobre abelha mergulhando de cabeça perece rapida-mente. A triste sorte de suas infelizes companheiras não evitará, sequer, que as outras que se aproximam da isca tentadora, pou-sem loucamente sobre os corpos das moribundas e das mortas, para compartilhar do mesmo triste fim! Ninguém consegue en-tender a extensão de sua obsessão, até que tenha visto uma con-feitaria assaltada por uma miríade de abelhas famintas. Vi mi-lhares sendo escumadas de xaropes no qual elas morreram; ou-tras milhares pousando em doce ainda fervente; o piso coberto e as janelas escurecidas pelas abelhas, algumas se rastejando, ou-tras voando e outras ainda tão completamente lambuzadas a ponto de não rastejar nem voar - sequer uma em dez ter condi-ções de levar para casa os espólios ilegalmente adquiridos e o ar ainda repleto com nova multidão de imprudentes recém-chegadas.

Uma vez guarneci as janelas e portas de uma confeitaria, nas proximidades do meu apiário, com tela metálica, depois que as abelhas começaram sua depredação. Sentindo-se excluídas, elas pousavam na tela aos milhares, praticamente guinchando com aflição por tentarem sem resultado forçar a passagem através da tela. Frustradas em todos os esforços, elas tentaram descer pela chaminé, impregnada com o odor doce, ainda que a maioria que entrava caia com as asas queimadas dentro do fogo, tornando-se necessário instalar, também, uma tela metálica sobre o topo da chaminé.1

Vi milhares de abelhas sendo destruídas em tais lugares, ou-tras milhares se debatendo no doce enganador e ainda outras milhares, todas ignorando o perigo, pairando cegamente e pou-

1 Os fabricantes de doces e xaropes concluirão ser muito interessante instalar tais proteções em suas propriedades; pois, se apenas uma abelha de entre cente-nas fugir com sua carga, as perdas serão consideráveis ao longo da estação.

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sando sobre elas, quantas vezes elas me lembraram da obsessão dos que se abandonam a um copo embriagador. Ainda que estas pessoas enxerguem as vítimas miseráveis de seu degradante ví-cio caírem à sua volta em sepultura prematura, elas ainda insis-tem loucamente, pisando, como se lá estivessem, sobre os corpos mortos, elas também cairão no mesmo abismo, e sua luz tam-bém será uma escuridão desesperada.

A avarenta abelha que, desprezando o lento processo de ex-trair néctar de "toda flor aberta", mergulha indiferentemente num doce tentador, terá muito tempo para lamentar sua loucu-ra. Mesmo que ela não pague com sua vida, ela retorna para ca-sa com uma aparência desanimada e marca lamentável, em con-traste evidente com o brilhante matiz e sons alegres com que su-as laboriosas companheiras retornam de sua alegre vida errante entre "as flores nectíferas em botão e campos docemente aroma-tizados."

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CAPÍTULO XV

OOO AAAPPPIIIÁÁÁRRRIIIOOO --- CCCOOOMMMPPPRRRAAA DDDEEE AAABBBEEELLLHHHAAASSS ---

TTTRRRAAANNNSSSFFFEEERRRÊÊÊNNNCCCIIIAAA DDDEEE AAABBBEEELLLHHHAAASSS DDDAAASSS CCCOOOLLLMMMÉÉÉIIIAAASSS CCCOOOMMMUUUNNNSSS PPPAAARRRAAA AAASSS CCCOOOLLLMMMÉÉÉIIIAAASSS

DDDEEE QQQUUUAAADDDRRROOOSSS MMMÓÓÓVVVEEEIIISSS

Um grande conhecimento dos recursos de mel neste país é extremamente necessário para os que desejam se engajar total-mente na apicultura. Enquanto, em alguns locais as abelhas a-cumulam grandes reservas, em outros, a apenas uma ou duas milhas de distância, elas conseguem render apenas um pequeno lucro.1

Onde quer que o apiário seja instalado, grandes cuidados devem ser tomados para proteger as abelhas dos ventos fortes.2 As colméias devem ser colocadas onde elas não sejam molesta-das pelos transeuntes ou pelo gado e nunca deveriam ficar muito próximas onde cavalos suados possam ficar ou transitar. Se ma-nejadas pelo método da enxameação, é muito desejável que elas fiquem facilmente visíveis da peça mais ocupada da residência ou, pelo menos, de onde o ruído da sua enxameação seja facil-mente ouvido.

Nos estados do norte e centrais, as colméias devem ficar vol-tadas para o sudeste, para as abelhas serem banhadas pelo sol quando ele é mais favorável para o seu bem estar. Usando meus suportes móveis (Lâmina V, Fig. 16) as colméias podem ser ori-

1 "Huber residia em Cour e, depois, em Vivai, onde suas abelhas sofriam por cau-sa da forragem escassa, tanto que ele só conseguia mantê-las pela alimentação, enquanto colméias que estavam a apenas duas milhas das dele, em tais casos, abasteciam suas colméias abundantemente." - Bevan. 2 Colocando um pedaço de musselina na taboa de pouso e nas partes salientes do suporte da colméia (Lâmina V Fig. 16), as abelhas, quando reduzem a velocidade de vôo, pousarão sobre o tecido - salvando-se de resvalarem ou serem sopradas para longe - e assim entrarão facilmente em sua colméia. Em situações de ventos fortes, milhares de abelhas (PÁG. 186) podem ser salvas.

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entadas para qualquer direção. A área ocupada pelo apiário pode ser gramada, aparada freqüentemente, e mantida livre de ervas daninhas. As colméias são, também, freqüentemente colocadas onde muitas abelhas morrem por caírem na sujeira, ou entre er-vas daninhas, ou grama alta, onde as aranhas e sapos encon-tram seus melhores locais para espreitar.

Apiários cobertos, de alto custo, trazem pouca ou nenhuma proteção contra os extremos de calor e frio, e aumentam em mui-to o risco de perder as rainhas.

No Verão, nenhum local é mais apropriado para as abelhas do que a sombra das árvores, se não for muito densa, ou seus galhos tão baixos a ponto de interferirem com o seu vôo. À medi-da que o clima se torna frio, elas podem ser transportadas para qualquer outro lugar favorável para o Inverno. Se as colônias fo-rem movimentadas na linha de vôo, e a pequena distância de ca-da vez, não ocorrerá perda de abelhas; mas, se deslocadas so-mente algumas jardas, todas de uma só vez, seguidamente mui-tas se perderão. Através de um processo gradual, as colméias num apiário podem, no Outono, serem reunidas num pequeno perímetro, assim que elas podem ser facilmente protegidas dos gélidos ventos do Inverno. Na Primavera, elas podem retornar gradualmente para sua posição antiga.1

Povoamento do apiário

Normalmente será melhor para o iniciante povoar o seu apiá-rio com enxames do ano corrente, evitando assim, até que ele es-teja preparado para novidades, as perplexidades que seguida-mente acompanham seja a enxameação natural seja artificial. Se forem comprados enxames novos, a menos que eles sejam gran-des e do cedo, eles serão apenas uma despesa. Se forem com-prados enxames velhos, estes deverão ser saudáveis e populosos. Para deslocar enxames depois que a estação de trabalho come-çou, eles devem ser levados para uma distância de pelo menos

1 Removendo as famílias mais fortes do apiário no primeiro dia, e as outras não tão fortes no próximo, e continuando o processo até que todas tenham sido re-movidas, eu troco o apiário de lugar com segurança, quando obrigado a mover minhas abelhas na estação de trabalho. Ao remover a última colméia, poucas a-belhas retornarão para o antigo lugar. A mudança, assim feita, reforça as famílias fracas.

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duas milhas (pág. 156).

Se nem todas as abelhas estiverem em casa quando a col-méia for deslocada, soprar um pouco de fumaça na entrada da colméia, para fazer que as abelhas que estão dentro da colméia se encham de mel, e evitar que elas saiam para o campo. Repetir este processo de tempos em tempos, e em cerca de meia hora to-das terão retornado. Se algumas estiverem amontoadas do lado de fora, elas podem ser deslocadas para dentro com fumaça.

As colméias comuns podem ser preparadas para a transporte pela inversão delas e colocando uma toalha de tecido grosso so-bre elas, ou sarrafos sobre uma tela metálica, e estas pregadas nas laterais da colméia.

Prender a colméia, de forma que ela não possa ser jogada, sobre uma cama de palha dentro de um veículo com molas e as-segurar-se, antes de partir, que é impossível as abelhas saírem. A posição invertida da colméia permitirá que as abelhas tenham o ar de que precisam, e evita que os favos sejam perdidos. Será quase impossível, em clima quente, deslocar uma colméia que contenha muitos favos novos.

Enxames novos podem ser levados para casa em qualquer caixa velha que permita ventilação abundante. Uma caixa de chá com tela metálica em cima, dos lados e no fundo é muito apro-priada. As abelhas podem ser fechadas nesta caixa assim que a-lojadas. Enxames novos exigem mais ar do que os antigos por es-tarem cheios de mel e em aglomeração muito apertada. Eles de-vem ser instalados em local frio e, se o clima estiver muito aba-fado, não devem ser removidos antes do anoitecer. Muitos enxa-mes são sufocados por não terem sido tomadas estas precau-ções. As abelhas podem ser sacudidas facilmente desta colméia temporária (pág. 139).

Quando as colméias de quadros móveis forem transportadas para alojar um enxame, deve-se colocar sobre os quadros dois sarrafos de madeira, com pequenos pedaços pregados para fica-rem entre os quadros a fim de mantê-los separados. A tampa, ou a melgueira, deve então será parafusada e, se os sarrafos forem de espessura apropriada, ficará um espaço de um oitavo de pole-gada (3mm) em volta da colméia, o qual, com as demais ventila-ções, fornecerá ar suficiente. Se uma família velha, em clima quente, deve ser movida para qualquer distância em tal colméia, será de bom alvitre instalar uma tela metálica em frente do alva-

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do, assim, as abelhas podem abandonar os favos (pág. 91) e ali se amontoarem. As colméias de quadros móveis devem ser posi-cionadas de tal forma que os quadros corram da frente para trás e não de lado para lado, no veículo. Minha colméia envidraçada nunca será enviada para apanhar enxames.

Pessoas inexperientes seguidamente pensarão ser econômico iniciar a apicultura em grande escala. Usando a colméia de qua-dros móveis, elas podem aumentar rapidamente o número de colméias depois de adquirirem habilidade e terem se convencido, de que não é só dinheiro que se consegue criando abelhas, mas que elas podem fazê-lo. Enquanto grandes lucros podem ser con-seguidos pelos apicultores cuidadosos e experientes, estes que não o forem podem estar seguros de verem seus gastos resulta-rem apenas em penosas perdas. Um apiário mal cuidado ou mal manejado é pior do que uma fazenda coberta de ervas daninhas ou exaurida pela lavoura ignorante; no caso da terra, um manejo prudente, pode torná-la fértil novamente, mas as abelhas, uma vez destruídas é perda total.

Transferência de Abelhas de Colméias Comuns para Colméias de Quadros Mó-

veis

Este processo pode ser facilmente realizado sempre que o clima estiver suficientemente ameno para as abelhas voarem.1 É realizado da seguinte forma: deslocar as abelhas para uma caixa de forçar (pág. 154), que é posta no local da antiga, e levar a colméia materna para algum lugar onde você não seja molestado por outras abelhas. Ter à mão ferramentas para despregar as la-terais da colméia; uma grande faca para cortar os favos; vasilha para o mel; uma taboa na qual deitar os favos; barbante de algo-dão ou cadarço, para amarrá-los nos quadros; e água para lavar as mãos, de tempos em tempos, do mel que se gruda. Tendo se-lecionado os favos a serem trabalhados, cortá-los, cuidadosa-mente, em grandes pedaços, para que se ajustem nos quadros, e permaneçam na sua posição natural até que as abelhas tenham tempo de prendê-los. Será bom enrolar o barbante ou cadarço,

1 Freqüentemente ele é feito no Inverno com o propósito de experimentação, re-movendo as abelhas para um recinto ameno.

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que depois será removido, em volta do sarrafo superior e inferior dos quadros, como segurança adicional. Pequenos pedaços de favo vazio podem ser colados com cera derretida ou resina (pág. 72).1

Quando a colméia estiver assim preparada, as abelhas po-dem ser colocadas dentro dela e confinadas, fornecendo-lhes á-gua, até que elas tenham tempo de montar as proteções contra as pilhadoras.

Quando o clima estiver frio, a transferência pode ser feita num recinto aquecido para prevenir que a cria se resfrie fatal-mente. Um apicultor experto pode completar toda a operação, fa-cilmente - desde deslocar as abelhas até retornar com elas para a nova colméia - em cerca de meia hora, e com perda de poucas abelhas seja velhas ou jovens. O melhor tempo para transferir as abelhas é cerca de dez dias depois que um enxame saiu ou tenha sido forçado da colméia velha. A cria estará operculada e pode ser exposta com segurança.

Até que a exequibilidade da transferência das abelhas para quadros móveis tenha sido exaustivamente testada, eu percebo ser irreconciliavelmente contrário a qualquer tentativa de desalo-já-las de sua habitação anterior. O processo, como tem sido con-duzido normalmente, tem resultado no cruel sacrifício de milha-res de famílias.

O Dr. Kirtland diz o seguinte dos resultados de transferir al-gumas colônias para colméias de quadros móveis: "Tinha três famílias transferidas para igual número de colméias do Sr. Langstroth. A primeira não enxameou durante dois anos e, há muito tempo, parou de mostrar atividade; as outras nunca en-xamearam. Todas as colméias estavam repletas de favos pretos e imundos, mel cristalizado, pão de abelha duro, e um acúmulo de casulos e larvas de traça. Em vinte e quatro horas, cada colônia

1 O Rev. Levi Wheaton prefere usar favos como guias, e prendê-los com uma es-treita lâmina de madeira curvada entre as laterais dos favos, de forma a pressio-nar contra a borda inferior dos quadros.

O Mr. Wm. W. Cary, ao transferir, usa tiras de três oitavos de polegada (1cm) de largura e um oitavo (3mm) de espessura, cortada de madeira flexível, e meia po-legada (13mm) mais comprida do que a altura dos quadros. Ele as prende aos pares, com barbante mantendo-as afastadas apenas o suficiente para passar pelo topo e fundo dos quadros. São necessários dois pares para cada quadro, e elas podem ser removidas depois que os favos forem firmemente presos pelas abelhas, o que será feito em dois ou três dias.

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se acomodou em sua nova moradia, e começou a trabalhar com atividade bem maior do que qualquer uma de minhas famílias velhas. ....... Agora não tenho colônia mais forte do que estas, que eu considerava de pouco valor até tomar conhecimento desta nova colméia." - Ohio Farmer, Dez. 12, 1857.

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CAPÍTULO XVI

MMMEEELLL

Que o mel é um produto vegetal, já era conhecido dos anti-gos judeus, sobre o qual um rabino pergunta: "Se nós não pode-mos comer abelhas, que são impuras, porque podemos comer mel?" ao que ele mesmo responde: "Porque as abelhas não fazem o mel, apenas o recolhem das plantas e flores."

As abelhas conseguem seguidamente substância açucarada do honey-dew1, que é encontrada nas folhas de muitas árvores, e algumas vezes é apenas um exudado de suas folhas, embora mais freqüentemente dos corpos de pequenos afídeos ou plant-lice.2

Messra, Kirby e Spence, em seu interessante trabalho sobre entomologia, forneceram uma descrição do honey-dew produzido pelos afídeos:

"A admiração pelas formigas e pelos afídeos é notória de longa data; aquelas serão encontradas sempre muito atarefadas nas árvores e plan-tas em que estes abundam; se forem examinadas mais de perto, desco-brir-se-á que o objetivo das formigas, em acompanhar desta forma os a-fídeos, é para conseguir o fluido açucarado que eles secretam, que pode muito bem ser chamado de seu leite. Este fluido, que é apenas levemen-te inferior ao mel em doçura, é liberado na forma de gotas límpidas pelo abdômen destes insetos, não somente através de passagens normais, mas também através de dois tubos setiformes localizados, um de cada lado, em cima dele. Sua tromba inserida na tenra casca é empregada, sem interrupção, para absorver o fluido, que, depois de passar por este órgão, se mantem descarregado continuamente. Se nenhuma formiga

1 Honey-dew, segundo Michaelis "substância doce secretada por plantas ou por afídios". 2 O abade Boissier de Sauvages, em 1672, descreveu completa e precisamente es-tas duas espécies de honey-dew. 'O primeiro tipo, diz ele, tem a mesma origem do maná na cinza e da árvore bordo, da Calábria e Briancon, onde ele corre abun-dante de suas folhas e troncos, e se torna espesso, forma em que normalmente é visto'. Eu recebi uma espécie de honey-dew da Califórnia, que é dito cair de árvo-res de carvalho na forma de estalactites de considerável dimensão.

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aparece, eles ejetam-no a certa distância, graças a um movimento do corpo que ocorre a intervalos regulares."

"O Mr. Knight observou certa vez uma chuva de honey-dew descen-do em inumeráveis pequenas gotas, próximo de um de seus carvalhos. Ele cortou um dos galhos, levou-o para dentro de casa, e, segurando-o frente a um facho de luz que entrava por uma pequena abertura, viu claramente os afídeos ejetando o fluido de seus corpos com força consi-derável, isto explicava porque eles eram encontrados freqüentemente em locais onde não podia chegar por mera ação da gravidade. As gotas que eram assim ejetadas, a menos que interceptadas pelas folhas circun-dantes, ou algum outro corpo que se interpunha, caiam no solo; os pon-tos podiam, seguidamente, ser vistos, por algum tempo, próximo e em volta da árvore, marcados pelo honey-dew, mesmo depois de lavados pe-la chuva. A força que estes insetos possuem para ejetar o fluido de seus corpos, parece ter sido sabiamente criada para possibilitar a limpeza durante o vôo e, sem dúvida, para preservar toda a família; pois, se api-nhando como fazem, eles ficariam rapidamente grudados uns aos outros e ficariam incapazes de se moverem. Olhando firmemente para um gru-po destes insetos (Aphides salicis) enquanto se alimentam na casca do salgueiro, o seu tamanho avantajado nos permite ver alguns deles eleva-rem seus corpos e expelirem uma substância transparente na forma de uma pequena chuva:

"'Nor scorn ye now, fond elves, the foliage sear, When the light aphids, arm´d with puny spear, Probe each emulgent vein, till bright below, Like falling stars, clear drops of nectar glow.' - Evans.

"O honey-dew aparece normalmente sobre as folhas como uma substância transparente viscosa, tão doce quanto mel, e por vezes na forma de glóbulos, e outras parecendo um xarope. Normalmente é mais abundante de meados de junho a meados de julho - algumas vezes tão tarde quanto setembro.

"É encontrado principalmente no carvalho (oak), no olmo (elm), no bordo (maple), no plátano (plane), no sicômoro (sycamore), no limão gale-go (lime), na aveleira (hazel) e na amora preta (blackberry); ocasional-mente também na cereja (cherry), groselha (currant) e em outras árvores frutíferas. Algumas vezes apenas uma espécie de árvore o produz por vez. O carvalho geralmente produz a maior quantidade. No período de sua maior abundância, o ruído alegre, zumbidor das abelhas pode ser ouvido de considerável distância, algumas vezes quase se igualando à sonoridade do zumbido de um enxame." - Bevan.

Em alguns períodos as abelhas recolhem grandes quantida-des deste honey-dew, mas ele normalmente abunda somente uma vez a cada três a quatro anos. O mel dele obtido, embora raramente de cor clara, é geralmente de boa qualidade.

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A qualidade do mel varia muito; alguns são amargos e outros prejudiciais quando recolhidos de flores venenosas. Um Mandin-go africano informou a uma senhora minha conhecida que seus compatriotas não comem mel não operculado antes que ele tenha sido fervido. Em alguns de nossos estados do sul, todo o mel não operculado é descartado. As propriedades nocivas do mel, reco-lhido de flores venenosas, parece que, na maioria das vezes, eva-poram (pág. 276) antes do mel ser operculado pelas abelhas. A fervura, no entanto, parece que as expele mais efetivamente, pois algumas pessoas não podem comer nem mesmo o melhor, quan-do cru, sem sofrerem. Quando o mel é retirado das abelhas, deve ser mantido onde fique a salvo de qualquer intruso, e não fique exposto a baixas temperaturas que provoquem sua cristalização nos alvéolos. As formigas pequenas vermelhas e as grandes pre-tas são extremamente aficionadas pelo mel, e carregam grandes quantidades se conseguirem alcançá-lo. Mel velho é mais insalu-bre do que o mel recentemente recolhido pelas abelhas.1

Para retirar o mel dos favos virgens, levar à fervura em vasi-lha limpa, quando frio, a cera sobrenada no topo, e o mel pode ser filtrado e colocado em vidros ou jarras, que deverá ser herme-ticamente fechado para evitar o contato com o ar. Se cristalizar, pode ser colocado em água fria que será fervida, quando o mel fi-cará tão maravilhoso como sempre. Os favos que contem pão de abelha devem ser mantidos separados dos outros, pois o mel de-les é de qualidade inferior.2

1 O que segue, extraído do trabalho do Sr. J. More, London, 1707, mostra o valor exagerado que os antigos escritores atribuíam aos produtos das abelhas:

"A cera natural é modificada pela destilação num óleo de virtudes maravilhosas: é antes uma medicina divina do que humana, pois, em feridas e doenças internas ela realiza milagres. A abelha ajuda a curar todas as tuas doenças e é o melhor pequeno amigo que o homem tem no mundo. ... O mel é de ação sutil, e assim penetra como óleo, se espalha facilmente pelas partes do corpo, libera obstru-ções, ilumina o coração e melhora o humor; limpa o corpo das sujeiras, cura os apáticos, e estimula o estômago; retira o que prejudica a clareza dos olhos, gera sangue bom, aumenta o calor interno, e prolonga a vida; evita a decomposição de tudo que nele é mergulhado, e é um medicamento soberano, tanto para doenças externas como para doenças internas; it helpeth the greif of the jaws, caroço que cresce dentro da boca, and the squinancy; é tomado contra mordida de co-bra e cachorro louco; é bom para quem comeu cogumelos, para quem ficar doen-te e contra excessos. Se fervido, é de digestão mais fácil e mais nutritivo. 2 Na Rússia e na Alemanha, muito é vendido pouco mel em favo. Os compradores destes países devem temer o mel de qualidade inferior do Oeste da Índia, o qual é vendido seguidamente em latas como um artigo superior, por preço duas a três vezes superior.

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Os favos vazios que não puderem ser usados em colméia ou melgueiras (pág. 71) serão colocados em água e fervidos, quando a cera pura flutuará no topo, e solidificará se derramada em á-gua fria. Se derretida novamente, e derramada em vasilha leve-mente engordurada, as impurezas irão para o fundo. Os favos que foram usados durante muito tempo na criação de abelhas que não se separam facilmente da cera, devem ser colocados num saco de lã grosseiro, com uma chapa de ferro em cima para mantê-lo no fundo, e fervido até que a cera suba ao topo do ta-cho. De favos muito velhos raramente se recupera a cera.

Enxames novos, a menos que muito grandes, não devem re-ceber melgueiras a não ser três a quatro dias depois de alojados. Famílias velhas podem receber bem no início do período. Se as colméias estão ao sol, e o clima está quente, deverá ser providen-ciada ventilação ampla1, enquanto as abelhas estão armazenan-do o mel.

O mel em excesso pode ser retirado de minhas colméias de várias maneiras:

1. A colméia pode ser tão grande que o mel pode ser retirado dos favos das laterais; e se estas laterais estiverem separadas do corpo principal da colméia por divisórias móveis permanentes, o mel nelas depositado será mais puro. As divisórias devem ser mantidas a cerca de um quarto de polegada do topo e do fundo, para permitir que as abelhas circulem livremente por elas.2

2. O mel em excesso pode ser armazenado em quadros grandes ou pe-quenos, colocados numa caixa superior ou ninho (ver Lâmina III, V e VII, Fig. 9, 16 e 20). Tais caixas3, quando cheias, podem, ser fumega-das levemente, para facilitar a remoção, e as abelhas serem delas ex-pulsas. O seu conteúdo pode ser vendido como um todo ou cada qua-dro em separado.

1 Minhas colméias permitem ventilação completa, assim que podem ser colocadas com segurança em qualquer lugar exceto em local abafado. 2 Uma colméia destas, contendo uma dúzia de quadros no compartimento central e seis em cada uma das laterais pode ser construída com baixo custo. Os com-partimentos laterais podem ser encaixados de forma a receberem quadros peque-nos dispostos perpendicularmente à colméia ou quadros grandes dispostos para-lelamente à colméia. 3 Em período favorável, eu retirei duas destas caixas, cada uma contendo acima de cinqüenta libras (25kg), de colméias que não enxamearam e, em locais bons, pode-se conseguir até mesmo retornos melhores. As caixas podem ser colocadas acima da colméia principal, e como as abelhas pdem alcançá-las sem serem obri-gadas a caminhar sobre os favos, o peso pouco usual não as irritará.

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Em todas as minhas colméias espaço adicional pode ser a-crescentado sempre que o local ou a estação o exigirem. O api-cultor experiente conhece bem que as abelhas fazem muito mais mel em grandes caixas do que em várias pequenas que juntas resultam na mesma capacidade. Em pequenas caixas, elas não conseguem manter tão bem o seu calor animal e sua força efetiva é, seguidamente, desperdiçada no pico da colheita de mel, quan-do o tempo é precioso em grau máximo.1

Não são necessários deslizadores metálicos para remover o mel em excesso das melgueiras. Soprando fumaça nelas, antes de serem removidas, a maioria das abelhas se recolherá para a colméia principal e, se removidas no início da manhã ou no final da tarde, e colocadas sobre uma lâmina presa à colméia, as abe-lhas, atraídas pelo zumbido de suas companheiras, a deixarão rapidamente, mas não antes de engolirem tudo o que puderem. Quando cheias, elas relutam muito em voar, e esta é a razão porque elas demoram tanto a deixar as caixas quando estas são retiradas das colméias. Quanto mais cedo as abelhas são afasta-das delas melhor, e deve ser tomado cuidado para protegê-las das pilhadoras, que podem carregar rapidamente o seu conteúdo de volta para suas colméias. Se algum quadro contiver cria, ele deve ser devolvido para as abelhas. Se a rainha estiver na caixa, muitas abelhas se negarão a deixá-la até que a rainha tenha re-tornado para a colméia.

3. Recipientes de vidro, de qualquer tamanho ou forma, são maravilhosos para o mel em excesso; eles podem ter dentro um pedaço de favo, e podem ser cobertos com algo quente se o clima estiver frio.2

4. Pode-se usar caixas pequenas para o mel em excesso, a mostrada na Lâmina X, Fig. 24, cujas dimensões estão na Explicação das Colméias,

1 Não tenho certeza se os apicultores foram alertados alguma vez sobre as perdas que eles podem sofrer obrigando as abelhas a armazenar mel em pequenos recep-táculos. O apicultor não pode vender mel armazenado em pequenos receptáculos, a não ser a um preço bem mais elevado do que o armazenado em caixas grandes. Com os quadros móveis, as objeções normais às caixas grandes são removidas, uma vez que o mel pode ser delas convenientemente retirado para venda ou pró-prio uso. 2 O mel armazenado em recipientes (tumblers) grandes o suficiente para receber um favo, podem ser colocados de forma elegante sobre a mesa. Enquanto os reci-pientes pequenos desperdiçam o tempo das abelhas, os alvéolos rasos, que de-vem ser feitos em grande número no recipiente cilíndrico, exigem o consumo de uma grande quantidade de tempo e material para sua cobertura e fundo compa-rado com os que comportam mais do que o dobro de mel.

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provavelmente serão as mais simples, mais baratas e melhores.1

Para remover o mel armazenado em pequenos receptáculos, passar uma faca fina ou espátula em baixo da caixa, para desfa-zer sua ligação com a colméia; então, antes de levantá-los para fazer que as abelhas os abandonem, soprar fumaça em baixo de-la, e, quando elas tiverem se amontoado, eles podem ser removi-dos com segurança, e o buraco da colméia será fechado ou co-berto com outra caixa. As poucas abelhas que permanecem no receptáculo retirado, rapidamente voarão para sua colméia. Os que forem muito tímidos, podem usar uma lâmina para evitar que qualquer abelha saia pelo buraco. No entanto, a fumaça será sempre preferida.

Enquanto os mais tímidos podem, com instruções apropria-das, remover o mel com segurança, até mesmo da colméia prin-cipal (pág. 169), uma criança com dez anos de idade pode apren-der a retirar as caixas pequenas ou os vidros.

1 Tal caixa, que pode ser fornecida com guias ou pedaços de favo, pode conter três favos para armazenamento, pesando juntos mais de quatro libras (2kg), e, retirando o vidro, pode ser cortado sem importunar os outros.

Se todas as juntas da caixa forem impermeabilizadas com uma mistura de cera e resina, será poupado muito trabalho das abelhas em vedá-las com própolis; e, quando a entrada for fechada e coberta com a mesma mistura, o mel pode ser transportado sem derramamento, mesmo que os favos se quebrem. As caixas contendo mel devem ser empacotadas cuidadosamente, e erguidas sem o mínimo impacto.

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CAPÍTULO XVII

FFFOOORRRRRRAAAGGGEEEMMM AAAPPPÍÍÍCCCOOOLLLAAA SSSUUUPPPEEERRR---PPPOOOVVVOOOAAAMMMEEENNNTTTOOO

Todo apicultor deve se inteirar cuidadosamente dos recursos nectíferos em suas vizinhanças. Minhas limitações me permitem mencionar somente algumas das mais valiosas plantas das quais as abelhas podem retirar seus suprimentos. Desde as descober-tas de Dzierzon sobre o uso que pode ser feito da farinha de cen-teio, florações prematuras, produzindo somente pólen, não são imprescindíveis.

Todas as variedade de salgueiro são ricas tanto em pão de abelha como em mel, e suas florações prematuras são para as abelha de um valor especial:

"First the gray willow´s glossy pearls they steal. Or rob the hazel of its golden meal, While the gay crocus and the violet blue, Yield to their flexile trunks ambrosial dew" - Evans

O bordo (Acer saccharinus) fornece grande quantidade de um delicioso mel e suas flores, pendendo em graciosas franjas, fica-rão vivas com as abelhas.

As árvores frutíferas, o damasqueiro, pessegueiro, amexeira, cerejeira e pereira são grandes favoritas; mas nenhuma fornece tanto mel quanto a macieira.

O dente de leão, cujas flores fornecem pólen e mel, quando a disponibilidade nas árvores frutíferas quase terminou, se encon-tra entre as espécies de plantas mais produtoras de mel.

A magnólia (Liriodendron), seguidamente chamada "poplar" e "madeira branca", é uma das árvores que mais produzem mel no mundo. Como suas flores ocorrem em sucessão, novos enxames, algumas vezes, encherão suas colméias apenas desta fonte. O

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mel, embora escuro1, é de sabor agradável. Esta árvore seguida-mente atinge altura acima de cem pés (30m), e sua rica folha-gem, com intensa floração verde e amarela, é a mais bela já vista.

A tília, ou bass-wood (Tília Americana) fornece uma abun-dância de mel claro de sabor delicioso e, como ela floresce quan-do tanto os enxames quanto as colméias maternas estão populo-sos, o clima firme, e outras forragens apícolas escassas, seu va-lor para o apicultor é muito grande2.

"Here their delicious task, the fervent bees In swarming millions tend: around, athwart, Through the soft air the busy nations fly, Cling to the bud, and with inserted tube, Suck its pure essence, its etherial soul." - THOMSON

Esta árvore majestosa, enfeitada, tão tarde na estação, com belas cachopas de flores perfumadas, recebe atenção como uma árvore de sombra ornamental. Por adornar nossos vilarejos e re-sidências de campo não são apenas bonitas para os olhos, mas também atrativas para as abelhas, as fontes melíferas do país devem, com o passar do tempo, serem grandemente aumenta-das.

É muito desejável que exista nas proximidades do apiário a alfarrobeira que renderá muito mel por ser particularmente pro-curada pelas abelhas. Plantações da afarrobeira e da tília Ameri-cana podem ser, em muitas regiões, valiosas até mesmo só pela madeira que produzem.

Colméias nas proximidades de grandes plantações de cebola para semente ficam pesadas rapidamente, o odor desgradável do mel recentemente colhido desaparece antes de ser operculado pelas abelhas.

De todas as fontes das quais as abelhas buscam suas reser-vas, o trevo branco é o mais valioso. Ele rende grande quantida-de de mel muito claro, e onde quer que ele abunde, as abelhas farão uma grande colheita. Em muitas regiões deste país, parece que ele é a maior esperança do apicultor. Seu florescimento nu-

1 O mel de Himettus, que foi muito apreciado desde os tempos mais antigos, é de cor dourada. O mel de cor clara sempre é o melhor. 2 Judge Fishback diz que praticamente todo o seu mel excesso é colhido da tília européia. Um correspondente do Bioenenzeitung, em Wiscosin, afirma que em 1853 várias de suas colméias aumentaram cem libras (50kg) em peso enquanto esta árvore estava florida.

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ma estação do ano quando o clima é normalmente seco e quente, faz as abelhas colherem o mel depois que o sol secou as flores do orvalho, e o opercularem quase de imediato. Este trevo deveria ser cultivado mais estensivamente do que é atualmente. O Hon. Frederick Holbrook, de Brattleboro, Vermont, um dos mais fa-mosos fazendeiros práticos e escritor sobre assuntos agrícolas da Nova Inglaterra, assim escreve sobre o seu valor:

"As sementes da red-top (Agrostis stoonifera major), trevo vermelho e trevo branco quando semeadas consorciadas produzem uma forragem cuja qualidade é sempre preciada pelos animais. Minha prática é, seme-ar toda área seca1, arenosa e pedregosa com esta mistura, o trevo ver-melho e branco fazem a safra do primeiro ano; no segundo, o trevo ver-melho começa a desaparecer, e a red-top toma seu lugar; e depois disto, a red-top e o trevo branco tomam conta, e produzem forragem muito boa para eqüinos e bovinos, gado leiteiro e cria, que eu tenho consegui-do produzir. A colheita por acre, comparada com capim de rebanho (thimothy) não é tão volumosa, mas, em peso e pela qualidade perdida durante o Inverno, é muito mais valioso."

Por muitos anos tentei em vão conseguir um cruzamento en-tre trevo vermelho e branco, que possuísse as propriedades de produção de néctar e de red-top, com as flores pequenas, nas quais as abelhas pudessem inserir sua probóscide. Tal varieda-de, originária da Suécia, foi importada pelo Mr. B. C. Rogers, da Filadélfia. Ele cresceu tão alto quanto o trevo vermelho, apresen-tou intensa floração no talo, parecendo-se com o branco pelo porte e, ao mesmo tempo que atendeu admiravelmente às abe-lhas, é dito que é preferrido pelo gado a qualquer outro tipo de capim. E conhecido pelo nome de Alsike, ou trevo branco Sueco.

O Mr. Wagner fala dele o que segue:

"A avaliação do valor do trevo branco sueco, apresentada em relató-rios de doze diferentes societades de agricultura no distrito de Dresden, são o resultado de experimentos cuidadosos, feitos em localidades que diferiam muito no tipo de solo e exposição. Vejamos os principais pon-tos:

"1. O trevo branco sueco não é tão vil ao clima frio e úmido quanto o trevo vermelho. 2. Em solos secos e arenosos a colheita não é tão certa e valiosa quanto a do trevo branco comum, mas é mais bem sucedido

1 O Mr. Wagner diz: "O rendimento em mel de várias plantas e árvores dependo não somente das características da estação, mas do tipo de solo nos quais elas estão plantadas. Planícies pantanosas são inferiores aos solos secos para pasta-gem apícola. Trevo branco que cresce neste último é visitado pelas abelhas, en-quanto o que cresce no anterior é negligenciado por elas."

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em solos mais argiloso e nestes supera a qualquer das outras espécies. 3. Em qualquer rotação ele pode seguir seguramente o trevo vermelho comum. 4. O rendimento por acre do primeiro corte não é inferior ao do trevo vermelho, e a segunda colheita anual, ou restolho, não é tão a-bundante. 5. Com propósito de ressemeadura não deve ser cortado an-tes que esteja em floração intensa. 6. Quando currado, ele é, à seme-lhança do feno, uma forragem de alto valor nutricional, e é preferida, pe-lo rebanho e gado leiteiro, à preparada com trevo vermelho. 7. O segun-do corte é seguido por um crescimento denso e excelente, fornecendo uma pastagem mais valiosa até memo no final da estação. 8. Ele tem al-to rendimento em sementes, facilmente debulhável por sova ou máqui-na, três ou quatro dias depois do corte. 9. O trevo branco sueco alimen-ta com muita vantagem depois que sua floração amadureceu totalmen-te; eqto o trevo vermelho, se tiver de ficar neste estágio, perderá uma porção considerável do seu valor nutritivo.

"E. Fürst, editor do Frauendorfer Blatter, diz que este trevo é supe-rior tanto em qualidade quanto em quantidade de produto, e é especi-almente valioso pela permanência da suculência do talo, mesmo quando a planta está em plena floração. Ele exige um solo menos fértil do que o trevo vermelho, e é menos passível de ser derrubado pela geada no In-verno. Ele também rende uma segunda colheita mais pesada do que o trevo branco comum."

A floração do trigo-mouro fornece, seguidamente, no final da estação, uma alimentação muito valiosa para abelha1.

O trigo-mouro é incerto2 na qualidade do mel produzido e, em algumas estações, dificilmente se vê uma abelha em grandes plantações dele. Os nossos melhores agriculturistas concordam que, na maioria dos solos, é uma colheita lucrativa, e todo apiá-rio deveria ter uma em suas proximidades3.

1 Este é colhido, normalmente, quando o clima está úmido, e em estações úmidas corre o risco de fermentar. O mel colhido com clima seco é normalmente de con-sistência viscosa. 2 A secreção do néctar pelas plantas, como o fluxo do açúcar do bordo, depende de diversas situações, muitas das quais escapam ao nosso cuidadoso exame. Em algumas estações o suco de sacarose abunda, enquanto em outras ele é tão defi-ciente que as abelhas dificilmente conseguem algum alimento de um campo branco de trevo. A mudança na secreção de néctar ocorre por vezes tão repenti-namente, que as abelhas podem, em poucas horas, passar da ociosidade para uma grande atividade. 3 Dzierzon diz: "O resto de grãos de trigo mouro que sobraram do Inverno podem ser semeados e assim uma forragem abundante pode ser garantida para as abe-lhas, no final da estação, e uma colheita recompensadora de grãos ser também armazenada. Esta planta, crescendo tão rapidamente e amadurecendo tão de-pressa, tão produtiva em estações favoráveis e tão bem adaptada para limpar a terra, certamente deveria receber mais atenção dos fazendeiros do que recebe e

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O cardo canadense produz um suprimento copioso de um mel muito puro, depois que o trevo branco começou a falhar. É interessante saber que ele é de grande valor para que os fazen-deiros permitam que ele cresça.

A framboesa fornece o mel mais delicioso. Em sabor é supe-rior ao do trevo branco, e o seu delicado favo quase derrete na boca. A beira das estradas, as bordas dos campos e a pastagem da maioria das "áreas montanhosas" da Nova Inglaterra abun-dam em framboesa vermelha silvestre e, em locais tão favoráveis, podem ser mantidas numerosas colônias de abelhas. Quando ela está em flor até mesmo o trevo branco é de baixo valor. Sua flo-ração murcha protege o mel da umidade e as abelhas podem trabalhar nelas quando o clima for tão úmido que elas nada con-seguem da floração aberta do trevo. Terras íngremes e rochosas, onde ela mais abunda, podem ser tão valiosas como quanto os terraços de vinhedos das áreas montanhosas da Europa.

O Dr. Bevan sugere o uso do tomilho para as beiradas dos cami-nhos dos jardins e canteiros de flores. Não se consegue fornecer materi-al suficiente, no entanto, para uma colônia forte com as poucas plantas que se consegue semear em volta da casa das abelhas. A abelha tem muito de andarilha para ter prazer em vasculhar os jardins1. A região silvestre do urze e tojo (Ulex europaeus), os muitos acres de campos de fei-jão e trigo-mouro, as avenidas de limão galego, as cercas vivas de flores e as planícies de trevo é que são os lugares por elas visitados e enchem seus favos. Para estes que quiserem conhecer seus hábitos, se torna ne-cessário um sítio de flores, e não sabemos de uma abelha que possa re-fugar o seguinte maravilhoso convite do Professor Smythe:

"'Thou cheerful Bee! Come, frely come, And travel round my woodbine bower; Delight me with thy wandering hum, And rouse me from my musing hour: Oh! Try nbo more those tedious fields; Come, taste the sweets my garden yields; The treasures of each blooming mine, The buds, the blossoms - all are thine! And, careless of this noontide heat, I´ll follow as thy ramble guides,

seu cultivo mais freqüente e mais geral aumentaria em muito os ganhos com a apicultura. Suas continuadas e freqüentemente renovadas florações produze néc-tar tão abundante, que uma colônia populosa pode facilmente coletar cincoenta libras (25kg) em duas semanas, se o clima for favorável." 1 Eu posso esperar que uma pequena área de pasto forneça alimento para um re-banho de gado, como as plantas do jardim fornecem provisão para as abelhas.

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To watch thee pause and chafe thy feet, And sweep them o'er thy downy sides; Then in a flower's Bell nestling lie, And all thy envied ardor ply! Then o'er the stem, though fair it trow, With touch rejecting, glance and go. O Nature kind! O laborere wise! That foam1st along the Summer's Ray, Glean'st every bliss thy life supplies, And meet'st prepared thy wintry day! Go, envied, go - with crowded Gates, The hive thy rich return awaits; Bear home thy store in triumph gay, And shame each idler of the day!'"

London Quarterly Review

Se existe um planta cuja única justificativa sejam as abelhas é o borago (Borago officinalis). Ele floresce continuamente desde Junho até as primeiras geadas e, à semelhança da framboesa, é visitado pelas abelhas mesmo com clima úmido. O seu mel é de qualidade superior e um acre pode sustentar muitas famílias.

O golden-rod (Solidago) fornece uma pastagem apícola tardia e valiosa, produzindo, em algumas regiões e estações, uma par-cela apreciável das reservas do Inverno. Algumas variedade que florescem cedo não tem valor para as abelhas; mas as que flores-cem em Setembro abundam em mel de qualidade superior.

As diversas espécies de áster, ornando, em muitas regiões, na lateral das rodovias e as bordas dos campos, são quase sem-pre tão valiosas para as abelhas quanto o golden-rod. Onde estas duas plantas abundam, as abelhas não precisam ser alimenta-das até que sua floração tenha passado, assim que colméias po-pulosas mas leves obtem delas, seguidamente, tudo do que irão precisar durante todo o Inverno.

O catálogo de plantas apícolas que segue, que pode ser fa-cilmente ampliado, foi retirado do Nut, um apicultor Inglês:

"Alder [amieiro]1, almond [amendoeira], althea frutex [altéia], alyssum [...], amaranthus [amaranto], apple [maçã], apricot [da-masqueiro], arbutus [arbuto], ash [...], aspargus [aspargo], aspin [alfazema], aster [aster], balm [erva cidreira], bean [feijão], beach [gavieiro], betony [betônica], blackberry [amora preta], borage [boragem], box [buxo], bramble [morácea], broom [giesteira], bu-

1 A lista contem o termo em inglês e [em português]. N.T.

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gloss (viper's) [língua de vaca], buckwheat [trigo mouro], burnet [sanguissorba], cabbage [repolho], cauliflower [couve-flor], celery [aipo], cherry [cereja], chestnut [castanheiro], chickweed [morrião dos passarinhos], clover [trevo], cole or colessed [...], coltsfoot [...], coriander [coentro], crocus [açafrão], crowfoot botão de ou-ro], crown imperial [coroa imperial], cucumber [pepino], currants [groselha], cyprus [cipreste], daffodil [narciso], dandelion [dente de leão], dogberry [cornisolo], elder [sabugueiro], elm [olmo], en-dive [endivia], fennel [erva doce], furze [tojo], golden-rod [...], goo-seberry [groselha espinhosa], gourd [fruto do cabaeiro], hawthorn [espinheiro], hazel [aveleira], heath [urze], holly [azevinho], holl-yhock (trumpet) [malva rosa], honeysuckle [madressilva], honey-wort (cerinthe) [...], hyacinth [jacinto], hyssop [hissopo], ivy [era], jonquil [junquilho], kidney bean [feijão comum], laurel [loureiro], laurustinus [...], lavender [alfazema], leek [alho porro], lemon [li-mão], lily (water) [lírio], lily (white) [lírio], lime [limão galego], lin-den (bass-wood) [tília], liquidamber [liquidambar], liriodendron [...], locust [alfarrobeira], lucerne [alfafa], mallow (marsh) [malva], marigold (French) [cravo de defunto], marigold (single) [cravo de defunto], maple [bordo], marjoram (sweet) [manjerona], mellilot [meliloto], melons [melão], mezereon [mezereão], mignionette [re-sedá], mustard [mostarda], nasturtium [nastúrcio], nectarine [nectarina], nettle (white) [urtiga], oak [carvalho], onion [cebola], orange [laranja], ozier [...], parsnip [pastinaca], pea [esvilha], pe-ach [pêssego], pear [pêra], pepermint [hortelã pimenta], plane [plátano], plum [ameixa], poplar [choupo], poppy [papoula], pri-mrose [prímula], privet [ligustro], radish [rabanete], ragweed [er-va de santiago], raspberry [framboesa], rosemary (wild) [alecrim], roses (single) [rosa], rud-beckiae [...], saffron [açafrão], sage [sál-via], saintfoin [...], St. John's wort [...], savory (winter) [segure-lha], snowdrop [galanto], snoberry [...], stock (single) [...], straw-berry [morango], sunflower [girassol], sycamore [plátano], squash [abóbora], tansy (wild) [tanásia], tare [ervilhaca], teasel [cardo], thistles [cardo], thyme (lemon) [tomilho], thyme (wild) [tomilho], trefoil [trifólio], turnip [nabo], vetch [ervilhaca], violet (single) [vio-leta], wallflower (single) [goivo], woad [isatis], willow-herb [sal-gueiro], willow tree [salgueiro], yellow weasel-snout [doninha]."

Nosso país não corre o risco de ficar su-per povoado com abelhas.

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Se a opinião seguidamente expressa do risco de super povo-amento estiver correta, a apicultura deve, neste país, ser sempre uma atividade insignificante.

É difícil conter o riso quando o proprietário de algumas col-méias, numa área onde mais de uma centena pode prosperar, culpa convictamente sua falta de sucesso ao fato de serem cria-das abelhas em demasia nas suas vizinhanças. Se, na Primave-ra, uma colônia de abelha estiver próspera e saudável, ela fará estoques abundantes, numa estação favorável, mesmo que cen-tenas igualmente fortes estejam nas suas imediações; enquanto, se ela estiver fraca, ela será de pouco ou nenhum valor, mesmo que esteja numa "terra onde corre leite e mel", e não haja ne-nhuma família a dezenas de milhas dela.

Assim como o grande Napoleão conseguiu suas grandes vitó-rias tendo uma força esmagadora no local certo e no tempo certo, assim o apicultor deve ter colônias fortes, quando os números podem se transformar na melhor razão. Se suas famílias se tor-nam forte somente quando elas nada conseguem fazer a não ser consumir o pouco mel colhido anteriormente, ele é como o fazen-deiro que deixa sua colheita estragar no solo, e depois emprega um bando de preguiçosos para comê-la longe de casa e do lar.

Provavelmente não existe uma milha quadrada em todo este país que esteja super povoada com abelhas, a menos que seja tão impróprio para a apicultura a ponto de se tornar desperdício total criá-las. Tal afirmativa parece ser precipitada, mas estou contente em poder confirmá-la com a carta do Sr. Wagner, mos-trando a experiência dos maiores criadores da Europa:

"Prezado Senhor: - Em resposta à sua colocação referente ao super povoamento de uma região, gostaria de dizer, que a opinião atual dos correspondentes do Bienenzeitung parece ser que ela não pode realmen-te ocorrer. Dzierzon diz que na prática, pelo menos, 'ela nunca ocorre'; e o Dr. Radlkofer, de Munique, Presidente da Segunda Convenção dos A-picultores, declara que suas apreensões sobre este assunto foram des-feitas pelas observações que ele teve oportunidade e ocasião de fazer quando em seu retorno para casa no término da Convenção. Tenho nu-merosos registros de apiários com grande proximidade, contando cada um com 200 a 300 colônias. Ehrenfels tinha mil colméias, em três locais diferentes, obviamente, mas tão próximos um do outro que ele podia vi-sitar todos no curso de meia hora: e diz ele que, em 1801, a produção líquida média de seus apiários foi de dois dólares por colméia. Na Rús-sia e Hungria, apiários com 2.000 a 5.000 colônias é dito não serem pouco freqüentes; e sabemos que 4.000 colméias seguidamente estão reunidas, no Outono, num único ponto nos urzais da Alemanha. Por es-

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ta razão, penso não precisarmos recear de que qualquer região de nosso país, tão caracterizado por uma vegetação natural e abundante e cultu-ra diversificada, venha a ficar superpovoada rapidamente, particular-mente, depois que a vantagem de se dispor de famílias populosas no iní-cio da Primavera for aceita. Uma semana ou dez dias de clima favorável nesta estação, quando a pastagem for abundante, permitirá a uma co-lônia forte reunir um grande suprimento para o ano, se o seu trabalho for adequadamente dirigido.

O Mr. Kaden, um dos mais antigos coolaboradores do Bienezeitung, na edição de Dezembro, 1852, falando sobre a mensagem do Dr. Radl-kofer, diz: ´Eu também concordo com a opinião que nenhuma região do país está super-povoado com abelhas, e que, qualquer que seja o núme-ro de colônias, todas podem conseguir sustento suficiente, se as terras circunvizinhas possuirem plantas produtoras de mel e vegetais na quantidade usual. Onde prevalecer pobreza total, a situação é diferente, sem dúvida, bem como rara´.

"O Décimo Quinto Encontro Anual dos Agriculturistas Alemães o-correu na cidade de Hanover, em 10 de setembro de 1852, e, em aquies-cência à sugestão da Convenção de Apicultores, foi instituída uma seção distinta devotada para a apicultura. O programa propôs dezesseis ques-tões para discussão, a quarta das quais foi a seguinte:

"´Pode uma região do país formada de prados, terras aráveis, poma-res e florestas ficar tão super povoado com abelhas que estas não mais consigam sustento adequado e, assim, não consigam um excesso re-compensador de seus produtos?´

"Esta questão foi debatida com vivacidade considerável. O Rev. Mr. Kleine - nove entre dez dos correspondentes do Bee Journal são clérigos - presidente da seção, expôs sua opinião que ´dificilmente é concebível que um país deste tipo possa vir a ser super povoado em abelhas.´ O Consultor Herwig e o Rev. Mr. Wilkens, pelo contrário, mantiveram que ´ele pode vir a ser super povoado.' Como réplica, o Assessor Heyne ob-servou que ´qualquer coisa que se suponha possível, como caso extre-mo, seria certo que, com relação ao reino de Hannover, não se poderia pensar nem mesmo remotamente que viessem a se instalar tantos apiá-rios; e que, conseqüentemente, a maior multiplicação possível de colô-nias pode ser tentada com segurança e incentivada. Ao mesmo tempo, ele recomendou uma distribuição apropriada dos apiários.´

"Eu poderia lhe fornecer, facilmente, mais matéria sobre este as-sunto e citar um número considerável de apiários em várias partes da Alemanha contendo de duzentos e cinqüenta a quinhentas colônias. Mas a questão pode ainda retornar, não ocupam estes apiários posições comparativamente isoladas? e a esta distância do cenário seria obvia-mente impossível fornecer uma resposta perfeitamente satisfatória.

"De acordo com as estatísticas do reino de Hanover, a produção

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anual de cera de abelha na província de Lunenberg é de 300.000 libras (150.000kg), metade da qual é exportada; admitindo que cada colméia produza uma libra de cera podemos supor que 300.000 colméias sejam anualmente destruídas pelo enxôfre na província; e, admitindo mais, tendo em vista as causalidades, influências locais, clima desfavorável, etc. que apenas a metade do número total de colônias existentes produ-za um enxame a cada ano seria necessário um total de pelo menos 600.000 colônias (141 por milha quadrada) para garantir os dados indi-cados nas tabelas. O número de colméias por milha quadrada, desta or-dem, neste país, são, eu suspeito, raros. É muito evidente que este país está longe de estar super povoado; nem é provável que algum dia o será.

"Um escritor Alemão alega que ´as abelhas de Lunenberg pagam to-dos os impostos dos seus proprietários e ainda deixam um excedente.´ A importância dada à apicultura se deve, em parte, ao fato notável que o povo de um distrito tão improdutivo, a ponto de ter sido chamado ´a A-rábia da Alemanha´, se encontra, quase sem exceção, em condições tranqüilas e confortáveis. Não se poderia obter resultados ainda mais favoráveis neste país com o uso de um sistema racional de manejo se beneficiando da ajuda da ciência, arte e experiência?

"Mas estou divagando. Meu objetivo era lhe fornecer um relato da apicultura como ela existe numa região inteira do país nas mãos da classe camponesa comum. Isto, pensei eu, deve ser mais satisfatório, e permite ter uma idéia melhor do que pode ser feito em grande escala, do que qualquer número de casos, que podem ser selecionados, de suces-sos maravilhosos mas isolados. - Atenciosamente,

Samuel Wagner.

Estou persuadido que, mesmo na parte mais pobre da Nova Inglaterra, são poucas as regiões onde não se consiga retornos tão expressivos como na província de Lunenberg, mesmo utili-zando o manejo à moda antiga. A interessante declaração que segue me foi fornecida pelo Mr. Wagner:

"´Quando um grande rebanho de ovelhas,´ diz Oettl, ´pasta numa área limitada, em breve haverá deficiência de pasto. Isto, porém, não pode ser dito das abelhas, uma vez que uma boa região para mel não será facilmente super-povoada por elas. Hoje, quando o ar está úmido e ameno, as plantas podem produzir uma superabundância de néctar; enquanto ontem, tendo sido frio e seco, poderia ter ocorrido falta total dele. Quando há suficiente calor e umidade o suco de sacarose das plantas encherá rapidamente os nectários e serão prontamente re-enchidos quando levado pelas abelhas. Em toda noite fria cessa o fluxo de mel e em todo dia claro e ameno a fonte reabre. As flores que se a-brem hoje devem ser visitadas enquanto abertas; pois se for permitido que murchem suas reservas serão perdidas. As mesmas observações se aplicam substancialmente para o caso do "honey dew". Por esta razão as

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abelhas não podem, como muitos supõem, coletar amanhã o que for deixado de ser colhido hoje, como as ovelhas podem pastar depois o que não precisam agora. Colônias fortes e grandes apiários estão em condi-ções de coletar grandes reservas quando a forragem fica repentinamente abundante, enquanto, pacienciosamente, com trabalho perseverante, elas podem ainda recolher o suficiente, e até um excesso, quando o su-primento for pequeno, mas mais regular e prolongado.´

"O mesmo apicultor competente, cuja regra sagrada em apicultura é manter apenas colônias fortes, diz que no espaço de vinte anos, desde que instalou seus apiários, não houve nenhuma estação na qual as abe-lhas não conseguissem suprimentos adequados para elas e até algum excesso. Algumas vezes, sem dúvida, ele ficou quase desesperado quan-do Abril, Maio e Junho foram continuamente frios e úmidos e improdu-tivos; mas em Julho suas colônias fortes encheram rapidamente seus depósitos e armazenaram algum tesouro para ele; em tais períodos, as colônias pequenas não conseguiram recolher sequer o suficiente para li-vrá-las da fome.

"O Mr. A. Braun afirma no Bienenzeitung, Setembro, 1854, que ele tem uma colméia enorme com favos contendo pelo menos 184.230 alvé-olos1 e instalada sobre uma balança cujo peso é verificado periodica-mente. Em 18 de maio ela aumentou 18 libras e meia. Em 18 de junho saiu um enxame pesando sete libras, e no dia seguinte ela ganhou mais seis libras em peso. Dez dias de pastagem abundante permitiram tal co-lônia obter um grande suprimento, enquanto cinco oportunidades i-gualmente favoráveis seriam de pouco proveito para uma colônia fraca.

"A ilha de Córsega pagava um tributo anual para Roma de 200.000 libras (100ton) de cera, o que pressupõe uma produção de duas a três milhões de libras (1000 a 1500 ton) de mel anualmente. A ilha tem 3790 milhas quadradas.

"De acordo com Oetl (pág. 389) a Boêmia possuía 160.000 colônias em 1853, dados obtidos de uma estimativa cuidadosa, e ele pensa que o país podia comportar facilmente quatro vezes este número. O reino pos-sui 20.200 milhas quadradas.

"Na província de Ática, na Grécia, possuindo quarenta e cinco mi-lhas quadradas e 20.000 habitantes, eram mantidas 20.000 colméias, cada uma produzindo, em média, trinta libras (15kg) de mel e duas li-bras (1kg) de cera.

"Na província de East Friesland, da Holanda, possuindo 1.200 mi-lhas quadradas, são mantidas, em média, 2.000 colônias por milha

1 Uma colméia deste tipo pode conter três bushels. Wildman diz que "um clérigo retirou uma colméia bem desenvolvida de abelhas de um tubo colocando o tubo com o fundo para cima depois de ter feito um buraco no fundo, e retirou do tubo quatrocentas e vinte libras (210kg) de mel."

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quadrada - (Heubel, Bienenzeitung, 1854, pág. 11).

"De acordo com um relatório oficial na Dinamarca existia, em 1838, 86.036 colônias de abelhas. O produto anual de mel era de cerca de 1.841.800 libras (920ton). Em 1855 a exportação de cera de abelha da-quele país país foi 118.379 libras (59ton).

"Em 1856, segundo informações oficiais, exisitiam 58.964 colônias de abelhas no reino de Wurtemberg.

"Em 1857, avaliou-se que a produção de mel e cera no reino da Áustria foi superior a sete milhões de dólares."

Sem dúvida que nestas regiões onde o mel é produzido em tão alta escala as culturas recebem muita atenção e, para seu próprio proveito, proporcionam pastagem abundante para as a-belhas.

Embora as abelhas voem à cata de alimento mais de três1 milhas (4,8km), ainda assim, se o alimento não estiver dentro de um círculo de cerca de duas milhas (3,2km) em qualquer dire-ção, elas terão condições de armazenar apenas pequeno excesso de mel2. Se a pastagem for abundante em distância inferior a um quarto de milha (400m) das colméias será muito melhor; contudo não existe maior vantagem em tê-la mais perto, a não ser que haja um grande suprimento pois as abelhas, quando deixam a colméia, raramente pousam nas flores próximas. O instinto de voar a certa distância parece ter se formado nelas para preveni-las de gastar tempo explorando flores que já foram despojadas de

1 "O Mr. Kanden, de Mayence, é de opinião que a faixa de vôo da abelha normal-mente não ultrapassa três milhas em todas as direções. Muitos anos atrás, um navio carregado com açúcar, ancorado em Mayence, foi visitado por abelhas da vizinhança que continuaram a ir e vir do navio até a noite. Uma manhã, quando as abelhas estavam em franca atividade, o navio partiu rio acima. Por um curto espaço de tempo as abelhas continuaram a voar tão intensamente quanto antes; mas gradualmente seu número diminuiu e, no espaço de hora e meia todas para-ram de seguir o navio, o qual tinha viajado mais de quatro milhas." - Bienenzei-tung, 1854, pág. 83. 2 Julgando a partir da movimentação das abelhas ao lado de um trem em movi-mento, pode-se estimar sua velocidade como sendo de cerca de trinta milhas por hora. Isto lhes permite chegar à extremidade da área de forrageamento em quatro minutos.

O Mr. Cotton viu um homem na Alemanha que movia todas suas colméias fortes assim que a estação de mel variava. ´Algumas vezes ele as levava para os pânta-nos, algumas vezes para os prados, algumas vezes para a floresta e algumas ve-zes para as montanhas. Na França - a mesma prática existia no Egito, nos tem-pos antigos - seguidamente eles colocavam centenas de colméias num bote, que descia o rio à noite e parava durante o dia.´" - London Quarterly Review.

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suas doçuras por apanhadoras anteriores.

Em todos os meus manejos tenho tentado evitar sempre que possível, todo trabalho das abelhas. Com o alvado adequadamen-te preparado e coberto, nos casos de tempo ventoso, com tecido de algodão (pág. 279), as abelhas terão condições de armazenar mais mel, mesmo que elas tenham de ir a distâncias considerá-veis, do que elas poderiam de pastagem mais próxima que esti-vessem à mão. Muitos apicultores negligenciam totalmente as possíveis providências que facilitam o trabalho de suas abelhas, eles as vêem como locomotivas em miniatura sempre acesas e capazes de uma quantidade indefinida de esforço. Uma abelha não pode exercer mais do que um certo esforço físico, e grande parte deste não deveria ser despendido enfrentando dificuldades das quais ela pode ser facilmente resguardada. Elas podem ser vistas, seguidamente, retornarem ofegantes de seu trabalho e tão exaustas a ponto de necessitarem descansar antes de entrar na colméia.

Já foram informadas as experiências de Dzierzon1 quanto ao

1 De forma alguma é fácil divisar uma regra para estimar os lucros da apicultura, seja olhando o número de colônias ou o número de milhas quadradas. O o me-lhor apicultor não é o que consegue as maiores produções por colméia, mas man-tem apenas uma ou duas colméias. Com manejo sensato e cuidadoso cem colô-nias podem produzir grandes lucros, ainda muito abaixo do que trezentas podem produzir no mesmo lugar e mesmo período com muito menos cuidado e atenção. O fazendeiro melhor sucedido não é o que consegue a produção mais extraordi-nária de uma simples varinha, mas aquele que garante cultura mais ampla de área extensa, bem cultivada. O sistema de enxameação pode ser de grande van-tagem em certas localidades a despeito de seu claro desperdício; enquanto em outras localidades ele pode, por causa do desperdício não desejado, resultar para o apicultor um negócio decididamente com prejuízo, uma vez que o sistema en-volve um grande gasto de mel para a produção e manutenção da cria que dificil-mente amadurece antes de ser jogada na vala de enxofre, deixando para o seu dono seguidamente uma quantidade menor de mel do que o enxame poderia ter produzido se a colheita tivesse sido feita três semanas depois de alojado.

Confinando a rainha de um enxame artificial, para prevenir que ela deposite ovos nos favos, a colônia acumulará, em curto espaço de tempo no período de produ-ção, maiores reservas de mel do que um outro cuja rainha é deixada em liberda-de, ainda que de mesma idade e igual população. Assim, também, uma colônia, que tenha uma rainha realmente prolífica poderá, até mesmo em estação favorá-vel, depositar muito menos mel, a menos que lhe seja dado amplo espaço, do que uma cuja rainha deposita menos ovos. Destes e de fatos semelhantes, que podem ser enumerados, é evidente que um grande número de particularidades devem ser consideradas quando se desejar estabelecer uma regra geral para estimar os lucros da apicultura." - Dzierzon.

Um apicultor à moda antiga deve conhecer muito bem os recursos de mel da sua região, para poder decidir a melhor época para colher o mel de suas abelhas. Se

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resultado econômico da apicultura. Com manejo adequado, po-de-se conseguir cinco dólares em mel, como média anual de cada colméia que for hibernada em boas condições. Eu coloco o preço das novas colônias frente ao gerenciamento do trabalho, custo das colméias e juros do capital investido.

Um homem disciplinado que, com minhas colméias, começar na apicultura em escala moderada1, aumentando o porte de suas operações à medida que sua habilidade e experiência aumentam, concluirá, em qualquer região onde o mel tem bom preço, que as estimativas acima são moderadas. Em locais favoráveis pode-se obter maiores lucros.

as abelhas estiverem congestionadas ele poderá concluir ser vantajoso remover e destruir suas rainhas, pelo menos três semanas antes de retirar o mel. Desta forma a produção de cria e o consumo de mel serão suspensos e os favos estarão em melhores condições para serem derretidos. 1 Os apicultores devem ser muito cautelosos ao investir em grande escala no novo sistema de manejo, só fazê-lo depois de ter certeza, não apenas que ele é bom, mas que eles podem fazer um bom uso dele. Existe contudo uma situação inter-mediária valiosa entre o conservadorismo estúpido que não tenta nada e a expe-rimentação precipitada, em escala extravagante, que é tão característica do povo americano.

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CAPÍTULO XVIII

AAAGGGRRREEESSSSSSIIIVVVIIIDDDAAADDDEEE DDDAAASSS AAABBBEEELLLHHHAAASSS RRREEEMMMÉÉÉDDDIIIOOO PPPAAARRRAAA SSSUUUAAA FFFEEERRRRRROOOAAADDDAAA

A docilidade das abelhas, quando adequadamente maneja-das, torna-as maravilhosamente sujeitas ao controle do homem. Quando cheias de mel, elas podem ser pegas aos punhados, e podem andar sobre a face, e pode-se esfregar suavemente seu dorso brilhante quando pousadas sobre nosso corpo; e todas as façanhas do famoso Wildman podem ser repetidas com seguran-ça pelos peritos, como, prendendo a rainha, fazê-las se amontoa-rem em volta do pescoço sem incorrer em nenhum risco de vida por causa da barba.

"Such was the spell, which round a Wildman´s arm, Twin´d in dark wreaths tha fascinated swarm; Bright o´er his breast the glittering legions led, Or with a living garland bound his head. His dextrous hand, with firm yet hurtless hold, Could seize the chief, known by her scales of gold, Prune´mind the wondering train her filmy wing, Or o´er her folds the silken fetter fling."

M. Lombard, um apicultor francês muito habilidoso, narra o seguinte fato interessante para mostrar como as abelhas são dó-ceis quando enxameando e como são facilmente manejadas pelos que têm tanto habilidade quanto confiança:

"Uma jovem menina, minha conhecida, muito temerosa das abe-lhas, ficou completamente curada de seu temor depois da seguinte ocor-rência: Tendo chegado um enxame vi a rainha pousar espontaneamente a pequena distância do apiário. Imediatamente chamei minha pequena amiga, pois desejava lhe mostrar a rainha; ela desejava vê-la mais de perto; assim, depois de fazê-la vestir as luvas, coloquei a rainha em su-as mãos. Ficamos em instantes rodeados por todas as abelhas do en-xame. Nesta emergência, incentivei a menina a permanecer calma, or-denando que permanecesse em silêncio e nada temesse e eu fiquei junto dela. Fiz ela estender sua mão direita, que segurava a rainha, e cobri sua cabeça e ombros com um lenço muito fino. O enxame em poucos instantes pousou na sua mão e nela se amontoou, como num galho de

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árvore. A pequena menina adorou, mais do que esperado, a nova sensa-ção e ficou tão livre de todo o temor, que me pediu para descobrir sua face. Os espectadores ficaram maravilhados com o interessante espetá-culo. Ato contínuo trouxe uma colméia e, sacudindo o enxame de sua mão, ele foi alojado com segurança e sem provocar nenhum ferimento."

O conhecimento prático dos princípios lançados neste Trata-do, tornará desnecessário, em qualquer circunstância, provocar a fúria de uma colônia de abelhas. Quando provocadas violenta-mente, pela abertura ou pela vibração violenta de sua colméia ou pela presença de cavalo suado ou qualquer animal agressivo, e-las se tornam vingativas terríveis e severas, e podem advir con-seqüências dolorosas. Assim como nossos animais domésticos podem, por causa de maus tratos, ficarem enfurecidos a ponto de se tornarem perigosos para nossas vidas, assim a mais pacífi-ca família de abelhas pode aprender muito depressa a atacar to-do ser vivo que se aproxime de seu domicílio.

Quando uma colônia de abelhas for tratada desajeitadamen-te elas rodearão o seu assaltante com ferocidade selvagem; e hão de ferroar se conseguirem esgueirar-se em suas roupas ou en-

Um Infeliz BEE-ING (abelhudo)

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contrar um simples ponto não protegido do seu corpo. Ele terá a mesma sorte do "Unfortunate Bee-ing", tão ridiculamente apre-sentado nos "Hood´s Comic Sketches".

Estes que tiverem muito a fazer com as abelhas, devem ves-tir a máscara, a menos que eles sejam imunes ao veneno do seu ferrão; pois, enquanto dezenas de centenas continuam sua ativi-dade sem atacar os que não as molestarem, algumas abelhas mal humoradas (pág. 256) estarão zumbindo em volta dos ouvi-dos determinadas a ferroar sem a mínima provocação. Mesmo estas, no entanto, mantém um toque de graça em meio ao seu desespero. Assim como o ranzinza cuja voz elevada traduz adver-tência pelo som que sai da língua, assim uma abelha com más intenções, por elevar o tom muito acima do pacífico dá um aviso claro que o perigo é iminente. Mesmo assim, se elas não forem provocadas à loucura elas raramente ferroarão, a menos que consigam cravar o seu ferrão na face de sua vítima e, se possível, perto do olho; pois, como toda a tribo possuidora de ferrão, tem uma percepção intuitiva de este ser o ponto mais vulnerável. Se a cabeça for baixada calmamente e a face coberta com as mãos, elas seguirão a pessoa, normalmente por muito tempo, entoando sua nota de guerra em seus ouvidos durante todo o tempo, se-guindo o furtivo indivíduo a fim de tentar atacar de relance a sua covarde face.

Cotton, citado por Butler, que, nestas observações, segue principalmente Columella diz:

"Ouçam as palavras de um antigo escritor: - ´Se você deseja ser bem quisto por suas abelhas, para que elas não o ferroem, deve evitar tudo a as possa irritar: não pode ser lascivo ou não asseado; elas abo-minam totalmente o impuro e relaxado (elas mesmas são muito puras e asseadas), não se aproxime delas mal cheiroso ou suado, ou tendo mau hálito, provocado seja pela injestão de alho-porro, cebola, alho ou asse-melhados ou por outra razão qualquer, o mau cheiro sempre é corrigido com um copo de cerveja; mas não deve ser tomado em excesso ou a ponto de embriagar; não se deve chegar bufando ou assoprando sobre elas nem se movimentar agitadamente junto delas, nem se defender vio-lentamente quando se sentir ameaçado, mas se mover lentamente com as mãos em frente da face, e afastá-las gentiluavemente; e por último, não se pode ser um estranho entre elas. Numa palavra, deve ser puro, limpo, gentil, calmo, sossegado e familiar; para que elas o amem, e o re-conheçam dentre os demais. Quando nada as irritar, pode-se caminhar com segurança entre elas; se você ficar parado em frente a elas num dia quente, será maravilhoso mas uma ou outra ficará lhe espreitando e po-

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derá se lançar sobre você.´"1

"Acima de tudo nunca assopre2 sobre elas; elas tentarão ferroá-lo, se você o fizer.

"Se você quiser apanhar algumas abelhas, faça uma bold sweep at them com sua mão, e se você as apanhar sem pressionar, elas não fer-roarão. Tenho apanhado três ou quatro de cada vez. Se você quiser fazer qualquer coisa com uma única abelha, apanhe-a, ´como se você a a-masse´, entre o polegar e o indicador, onde o rabo se une ao corpo, e ela não conseguirá feri-lo."

A pessoa que for atacada por abelhas enfurecidas, não deve fazer movimento de revide; pois, se apenas uma só for agredida, outras virão se vingar; se a oposição continuar, centenas e fi-nalmente milhares se juntarão. A parte atacada deve se abrigar imediatamente sob a proteção de uma construção ou, se não e-xistir nenhuma por perto, deve se esconder sob uma moita de arbustos e ficar deitada imóvel, com sua cabeça coberta, até as abelhas se irem. Se não existir arbusto nas redondezas, normal-mente elas desistem do ataque se a pessoa ficar deitada imóvel sobre o gramado, com sua face de frente para o solo.

Os que se alarmarem caso as abelhas entrem em sua casa, ou deles se aproximam no jardim ou nos campos, não sabem da realidade que as abelhas a certa distância de sua colméia nunca atacam espontaneamente. Mesmo sendo atacadas, elas procuram apenas escapar e nunca ferroar, a não ser que sejam machuca-das.

Se elas fossem provocadas tão facilmente longe de casa, co-mo quando convocadas a defender as suas sagradas redondezas, um décimo da alegre cambalhota que nossos animais domésticos aceitam, poderia trazer imediatamente quase um enxame de i-nimigas furiosas; não mais poderíamos perambular com segu-rança pelos verdes campos; e nenhum ceifeiro alegre poderia amolar ou utilizar sua foice pacificamente, a menos que protegi-do por vestimenta impernetrável a seus ferrões. A abelha, em vez

1 Muitas pessoas imaginam estarem seguras, se permanecerem a distância con-siderável das colméias, no entanto, as abelhas gostam de atacar aqueles cuja po-sição mais distante torna-os mais identificável por sua visão de longo alcance do que as pessoas que estão próximas das colméias. 2 Uma vez que as abelhas se ressentem do ar morno exalado lentamente pelos pulmões, eu constatei, que elas se afastam da corrente de ar frio soprado sobre elas pela boca do operador, quase tão prontamente quanto da fumaça. Antes de utilizar a fumaça eu usava freqüentemente um par de foles.

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de ser a amiga do homem, incitaria, como os animais selvagens, todos os esforços do homem para exterminá-la.

Que ninguém, no entanto, animado pelo contraste de condu-ta das abelhas quando em sua casa e quando fora dela, reserve todos os seus momentos de prazer para outros lugares que não o lar; pois em relação aos membros de sua própria família a abelha é toda amável e dedicada; enquanto, entre os humanos a mãe é seguidamente tratada pelas suas próprias crianças com desres-peito ou negligência, entre as abelhas ela é sempre atendida com reverência e afeição.

É verdade que qualquer membro da colônia que não conse-guir realizar sua parte do trabalho dividido é arrastado para fora da colméia por suas impiedosas companheiras. É, no entanto, uma lei necessária para a sua economia que aquelas que não podem trabalhar não poderão comer; nada existe na natureza da abelha que possa ser vantajoso o cuidado com os doentes, en-quanto os mais nobres traços de humanidade são manifestos pe-los cuidados incessantes dedicados aos fracos e desamparados

Huber demonstrou que as abelhas têm um sentido de olfato altamente aguçado e que odores desagradáveis excitam pronta-mente sua fúria1. Muito antes dele, Butler disse, "Seu olfato é excelente, assim que, quando elas voam mesmo alto no ar elas percebem imediatamente qualquer coisa que lhes seja agradável, mesmo que esteja encoberta." Elas têm aversão especial para to-dos aqueles cujos hábitos são pouco asseados2, e para com a-queles que ostentam perto delas um perfume levemente parecido

"Sabean odors From the spicy shores of Araby the blest."

Suor de cavalo é detestado pelas abelhas e, quando atacado por elas é, seguidamente, morto; pois em vez de fugir, como a

1 Perfumes fortes, embora agradáveis para nós, são desagradáveis para as abe-lhas. Aristóteles observa, que elas ferroarão tudo o que com eles estiver perfuma-do. Conheci pessoas desconhecedoras desta realidade serem tratadas severamen-te pelas abelhas. 2 Algumas pessoas, mesmo asseadas, são atacadas pelas abelhas assim que se aproximam das colméias. Foi relatado por um notável apicultor que, depois de um estado febril, nunca conseguiu se sair bem com as abelhas. Que elas podem perceber prontamente a diferença mínima de odor é evidente a partir do fato que qualquer número de colônias, alimentadas de um recipiente comum, são dóceis umas com as outras, mas elas atacam imediatamente a primeira abelha estranha que pousar no alimentador.

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maioria dos outros animais, ele escoiceia até tombar desfalecido. O apiário deve ser cercado para evitar que cavalos e gado moles-tem as abelhas.

O ferrão da abelha, em algumas pessoas, produz muita dor e até mesmo efeitos perigosos. Seguidamente verifico que, enquan-to aqueles cujo sistema não é sensível ao veneno, raramente são molestados pelas abelhas, parece que elas têm um prazer mali-cioso em ferroar aqueles nos quais o seu veneno produz os mais perniciosos efeitos. Algo na secreção destas pessoas deve provo-car o ataque e conduzir a conseqüências mais severas.

O odor do seu próprio veneno produz um efeito realmente ir-ritante sobre as abelhas. Uma pequena porção dele oferecido a elas num graveto provoca a sua fúria.1 "Se você for ferroado," diz o velho Butler, "ou qualquer outro em sua companhia - ainda que a abelha tenha atingido apenas sua roupa, especialmente em clima quente - o melhor que você pode fazer é se proteger tão rapidamente quanto possível, pois as outras abelhas, sentindo o forte odor do veneno, virão até você como uma chuva."

Se somente algumas das inúmeras curas, tão zelosamente apregoados, pudessem ocorrer haveria pouca razão para temer ser ferroado.

A primeira coisa a ser feita depois de ser ferroado é retirar o ferrão tão rapidamente quanto possível. O saco do veneno e todos os músculos que controlam o ferrão acompanham-no quando ar-rancado da abelha; e ele penetra mais e mais na pele, injetando continuamente mais e mais veneno no ferimento. Se retirado i-mediatamente, raramente terá conseqüências sérias. Depois que o ferrão é removido, tomar o máximo de cuidado para não fric-cionar o ferimentonem mesmo por esfregação mínima. Ainda que seja imensa a irritação e a disposição para friccionar o ferimento, nunca deve ser feito, pois com isto a circulação sanguínea será ativada, o veneno se espalhará rapidamente pela maior parte do sistema e pode seguir dor intensa e inchaço. Sob o mesmo prin-cípio, a fricção severa em picada do mosquito, mesmo depois de passados vários dias, pode voltar a inchar. Como a maioria dos remédios populares envolve friccionar, eles são piores do que na-da.

1 Quando as abelhas expõem o seu ferrão de forma ameaçadora, uma gota mi-núscula de veneno pode ser vista em sua ponta, alguma delas pode, ocasional-mente, ser arremessada no olho do apicultor e provocar irritação severa.

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Se a ferida for succionada com a boca, podem ocorrer conse-qüências desagradáveis; enquanto o veneno das cobras afeta a-penas o sistema circulatório e pode ser ingerido sem risco, o ve-neno da abelha age com grande poder sobre os órgãos da diges-tão. Seguidamente por causa dele surge forte dor de cabeça, co-mo todo que foi ferroado ou já provou o veneno conhece muito bem.1

O Mr. Wagner diz: "O suco dos bagos maduros da madressil-va vermelha (Lonicera caprifolium) é o melhor remédio que já usei para o ferrão das abelhas, vespas, hornets, etc. Os bagos ou o suco espremido podem ser conservados em garrafa bem fechada e manterão seu efeito por mais de um ano."

O suco leitoso da papoula branca é altamente recomendado. Um antigo escritor Alemão afirma que ele acalma instantanea-mente a dor e previne o inchaço.

Outros recomendam o suco do tabaco como uma panacéia suprema. Inquestionavelmente diversas pessoas sentiram alívio com cada um destes remédios e existe pouca razão para esperar que um remédio atenderá a todos, como também que a mesma doença possa sempre ser curada pelos mesmos medicamentos.

Pessoalmente concluí que água fria é o melhor remédio para ferrão de abelha. O veneno por ser muito volátil, dissolve-se ra-pidamente nela e o frio da água tem também grande tendência a diminuir a inflamação.

A folha da bananeira, esmagada e aplicada sobre o ferimen-to, é um bom substituto quando não se consegue água. Bevan recomenda o uso de infusão de raspas de chifre de veado e diz que, nos casos de inúmeras ferroadas, o seu uso interno é bené-fico.2

1 Um antigo escritor diz; "Se as abelhas, quando mortas, forem secadas a pó, e dadas seja para o homem ou para o animal, este medicamente trará seguidamen-te, imediato bem estar na mais penosa doença e removerá o bloqueio do corpo quando todos os outros meios falharam." Um chá feito despejando abelhas em água fervente foi prescrito, recentemente, por uma grande autoridade médica, para uma violenta estrangúria; o veneno da abelha, sob o nome de apis, é um grande remédio homeopático. 2 Pode trazer algum conforto para os novatos saber que o veneno produzirá cada vez menos efeito sobre seu sistema. Apicultores velhos, como Mithridates, parece que prosperaram com o próprio veneno. Quando fiquei interessado pelas abelhas pela primeira vez um ferrão era algo que amedrontava, a dor era seguidamente muito intensa e a inflamação do ferimento era tanta a ponto de obstruir meus

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Os apicultores tímidos e todos que sofrem muito com o ve-neno da abelha, devem se proteger com os equipamentos de pro-teção individual. A grande objeção a tais vestimentas, normal-mente feita, é que elas obstruem a visão clara, tão necessária em todas as operações, alem de reterem o calor e provocarem a transpiração, a ponto de se tornarem peculiarmente agressivas às abelhas. Prefiro o que chamo de máscara (Lâmina XI, Fig. 25) de construção inteiramente nova. É feita de tela metálica cuja abertura é suficientemente reduzida para impedir a passagem da abelha, mas grande suficiente para permitir a circulação livre do ar e possibilitar visão clara. A tela metálica pode ser costurada primeiro como um chapéu e ser grande suficiente para ficar so-bre a cabeça; sua parte superior pode ser de algodão e o mesmo tecido pode ser costurado em baixo de sua parte inferior. Se a parte superior for feita de algum tipo de couro servirá melhor pa-ra o mesmo propósito. Um pedaço de tela metálica com um pé de largura e dois pés e meio de comprimento, servirá muito bem pa-ra muitas pessoas. Com tal chapéu, abelhas irritadas não apre-sentam risco algum, e a capa pode ser enfiada sob o casaco, ou presa seguramente, capaz de desafiar todas as atacantes.

As mãos devem ser protegidas com luvas de borracha, atu-almente de uso comum. Estas luvas, ao mesmo tempo que im-penetráveis ao ferrão da abelha, não interferem com as ativida-des no apiário. No entanto, assim que o apicultor adquirir confi-ança e habilidade ele preferirá não usar nada alem da máscara, mesmo às custas de alguma ferroada em suas mãos. Se as mãos estiverem lambuzadas de mel, elas serão freqüentemente ferroa-

sentidos. Atualmente a dor normalmente é pequena e, se o ferrão for prontamen-te removido, não advem conseqüências desagradáveis mesmo que não utilize ne-nhum remédio. Huish fala de ter visto a careca do Bonner, um famoso apicultor prático, coberta de ferrões que pareciam não produzir nele nenhum efeito desa-gradável. O Rev. Mr. Kleine lembra aos iniciantes para se sujeitarem a ferroadas freqüentes, assegurando-lhes que, em duas sessões, o seu sistema se tornará a-costumado ao veneno!

Um antigo apicultor inglês recomenda, para a pessoa que tenha sido ferroada, apanhar tão rapidamente quanto possível outra abelha e fazê-la ferroar no mes-mo local. Até mesmo um discípulo entusiasta de Huber hesitaria a se aventurar a um remédio homeopático tão singular; mas como afirmado por este antigo escri-tor, tenho constatado por minha experiência é que quanto mais freqüentemente uma pessoa for ferroada menos ela sofrerá com o veneno, assim decidi tentar es-ta prescrição. Deixando o ferrão permanecer cravado até que ele tenha descarre-gado todo o veneno eu compelia outra abelha a aplicar seu ferrão, tão próximo quanto possível do mesmo local. Não usei remédio de espécie alguma, e tive a sa-tisfação, no meu ardor por novas descobertas, de não sofrer mais de dor e incha-ço do que em anos anteriores.

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das.

Luvas de lã não são recomendadas, pois tudo que seja rugo-so ou com pelo é extremamente irritante para as abelhas. Isto se deve provavelmente ao fato de, na natureza, ursos, raposas e ou-tros animais peludos serem seus principais inimigos. Assim que elas sentem o contato com algo rugoso ou peludo, elas lançam o seu ferrão.

Butler diz: "Elas usam seus ferrões contra tais objetos como se tivessem externamente gum excremento desagradável, como pêlo ou couro, cujo toque provoca o ferroar. Se elas pousam so-bre o cabelo da cabeça ou da barba, elas ferroarão se consegui-rem alcançar a pele. Quando elas estão ferozes, seu objetivo mais comum é a face, mas raramente ferroam as mãos nuas, não são peludas, a menos que muito perturbadas."

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CAPÍTULO XIX

AAABBBEEELLLHHHAAA IIITTTAAALLLIIIAAANNNAAA

Aristóteles fala de três diferentes espécies de abelha conhe-cidas em seu tempo. Ele descreve a melhor variedade como sen-do "µιχρα, στρογγυλη και ποιχιλη" - ou seja, pequena no tama-nho, arredondada na forma e de cor matizada.

Virgílio (Georgicon, lib. IV, 98) fala de duas espécies que prosperavam em seu tempo; a melhor das duas ele descreve as-sim:

Elucent aliae, et fulgore coruscant, Ardentes Auro, et paribus lita corpora guttis. Haec potior soboles; hinc coeli tempore certo Dulcia mella premes.

A melhor variedade, no entender dele, é caracterizada como matizada ou manchada e de uma bela cor dourada.

Recentemente a atenção dos apicultores foi chamada para esta variedade de abelha que, depois de mais de dois mil anos, permanece pura e distinta da espécie comum. A seguinte carta do Mr. Wagner mostra o valor dado a esta espécie, por alguns dos mais habilidosos e bem sucedidos apicultores da Europa:

"York, Pensilvânia, 5 de Agosto de 1856.

"Prezado Senhor: - A primeira referência que tivemos da abelha Ita-liana como uma raça ou variedade distinta é a fornecida pelo Capt. Bal-denstein no Bienenzeitung, 1848, pág. 26.1 Tendo permanecido na Itália, durante parte das guerras Napoleônicas, tomou conhecimento que as abelhas de Lombardo-Venetian distrito de Valtelin, nas vizinhanças do Lago Como, diferiam na cor da espécie comum e pareciam mais laborio-

1 O Rev. E. W. Gilman, de Bangor Maine, recentemente chamou minha atenção para o "Insectorum "Liguriae species novae aut rariores", de Spinola, onde parece que Spinola descreve minuciosamente todas as peculiaridades desta abelha que ele encontrou em Piedmont em 1805. Ele a identificou perfeitamente como a abe-lha descrita por Aristóteles e a chama de Ligurian Bee, nome agora amplamente adotado na Europa.

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sas. Com o fim da guerra ele se reformou do exército e retornou ao seu antigo castelo nos Alpes Rhaetian, na Suíça; para ocupar o seu tempo livre recorreu à apicultura que tinha sido o seu hobby favorito em anos anteriores. Estudando a história natural, hábitos e instintos destes in-setos lembrou o que tinha observado na Itália e resolveu conseguir uma colônia daquele país. Enviou dois homens para lá que compraram uma e a levaram, através das montanhas, à sua residência em setembro de 1843.

"Em maio de 1847 esta colônia, cuja rainha sempre produziu cria genuinamente Italiana, começou a mostrar sinais de fraqueza, mas re-pentinamente recuperou-se no mês seguinte; ficou evidente que ela substituiu sua rainha, a qual felizmente foi fecundada por zangão itali-ano, assim ela continuou a produzir cria genuína ou pura. Em 15 de maio de 1848, esta rainha saiu com um enxame e ele esperava que, co-mo tinha instalado a colméia materna num local isolado, sua sucessora fosse fecundada por zangão italiano. Mas agora ele ficou desapontado; ela produziu uma descendência bastarda enquanto a rainha emigrante produzia cria genuína, como antes. Desapontamentos semelhantes es-peravam por ele ano após ano; em junho de 1851 ele tinha somente uma colônia de raça pura.

"Os aspectos que ele considera perfeitamente definidos, a partir de suas observações da abelha italiana, são os seguintes: 1. A rainha, se saudável, mantem sua fertilidade por, pelo menos, três ou quatro anos. 2. A abelha italiana é mais laboriosa e a rainha mais prolífica do que a abelha comum; em anos muito desfavoráveis, enquanto outras colônias produzirem alguns enxames e pouco mel, sua colônia Italiana produziu três enxames, que enchiam suas colméias com favos e, juntamente com a colméia materna, armazenaram grandes estoques para o Inverno; a úl-tima produzindo, além disto, uma caixa bem cheia com mel. As três jo-vens colônias estavam entre as melhores do apiário. 3. As operárias não vivem mais do que um ano; as abelhas e a cria na colméia materna, quando o primeiro enxame e a rainha velha partiram, eram exclusiva-mente de descendência Italiana, pouco desta espécie permaneceu no Outono e nenhuma sobreviveu ao Inverno. 4. A jovem rainha é fecunda-da logo depois de instalada na colônia, e permanece fértil durante toda a vida. Se não fosse assim, a rainha genuína não continuaria a produzir cria pura durante estes sete anos consecutivos. 5. A rainha sai para en-contrar os zangões. Se não fosse assim, seria difícil acontecer que todas as jovens rainhas criadas nestes sete anos, com apenas uma exceção, fosse fecundada por zangões comuns e produzisse descendência bastar-da. 6. A rainha velha normalmente sai com o primeiro enxame, ou então não seria produzida, invariavelmente, cria genuinamente italiana pelo enxame, mas ocasionalmente, pelo menos, pela colméia materna, o que nunca aconteceu em todo este tempo.

"Estas observações e inferências levaram Dziezon - que tinha previ-amente se certificado que os alvéolos das abelhas italianas e comuns e-

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ram do mesmo tamanho - a se esforçar em conseguir a abelha italiana; com a ajuda da Austrian Agricultural Society em Viena,1 conseguiu, no final de fevereiro, 1853, uma colônia em Mira, perto de Veneza. No dia seguinte ele transferiu os favos e as abelhas para uma de suas colméias e, quando a estação abriu, colocou a colméia num suporte em seu apiá-rio e a parafusou firmemente, para que não fosse roubada. Ele não pro-vocou enxameação durante o Verão seguinte, mas retirou dela favos com operárias e cria de zangão, a intervalos regulares, suprindo seu es-paço com favo vazio. Desta forma, ele teve sucesso em criar cerca de cinqüenta rainhas, das quais cerca da metade foi fecundada por zangão italiano e produziram cria genuína. A outra metade produziu descen-dência bastarda. Assim ele continuou a multiplicar as rainhas pela re-novação da cria até que em 25 de junho a colméia materna e várias de suas colônias artificiais, repentinamente, mataram os seus zangões,. As abelhas da colônia original ainda trabalhavam com assiduidade, mas gradualmente ficaram menos diligentes até que o trigo mouro floresceu quando elas foram superadas por muitas colônias das abelhas comuns. Mas, como as abelhas jovens continuavam a aparecer ele se sentiu sa-tisfeito pois a colônia estava em condições saudáveis. Mais tarde, du-rante a estação, ele desparafusou a colméia se preparando para colocá-la no abrigo para hibernação; ao tentar levantá-la, verificou que prati-camente não tinha condições de a mover. Só agora ele descobriu porque ela ficou tão atrás das outras colônias em atividade. Tendo se libertado dos zangões mais cedo (como provavelmente é feito instintivamente na Itália) ela, como conseqüência de sua extraordinária atividade, encheu todos os alvéolos com mel num curto espaço de tempo e ficou desde en-tão condenada involuntariamente à ociosidade. Ela alcançou um peso que nenhuma de suas colônias atingou no Verão de 1846, quando a pastagem tinha sido abundante; enquanto no Verão de 1853 foi real-mente ordinária.2

1 Alguns dos governantes da Europa tiveram recentemente um grande interesse em disseminar entre sua população o conhecimento do sistema de apicultura de Dzierzon. A Prússia provê anualmente um número de pessoas de diferentes par-tes do Reino, com os meios para adquirir o conhecimento prático do seu sistema; o Governo da Bavária prescreveu instruções da teoria de Dzierzon nas práticas apícolas, como parte dos cursos regulares e nos seminários de estudos dos pro-fessores. 2 "Os seus experimentos com esta colônia fizeram ele manifestar, que as pertur-bações freqüentes não prejudicaram em nada a colméia. Até o meio do Verão, ele não só removeu favo com cria contendo cerca de 5000 alvéolos, a cada segundo dia, mas retirou, em várias ocasiões, favo depois de favo, várias vezes ao dia, para encontrar a rainha e mostrá-la aos seus amigos apicultores que o visitavam. Quando, como conseqüência de tais interrupções, a rainha se retirava para a ex-tremidade oposta da colméia, ele a encontrava, meia hora depois, no mesmo favo em que ela estava antes, engajada na postura de ovos. Tais perturbações, se os favos não forem quebrados, ou materialmente estragados, pensava ele, não trazi-am prejuízo; mas, pelo contrário, elas produziam com não baixa freqüência uma certa excitação entre as abelhas, o que as impelia a sair em grande número e

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"´A difusão geral desta espécie de abelha´, diz Dzierzon, ´foi um marco na apicultura da Alemanha, como o foi a introdução da minha colméia melhorada.1 Os lucros conseguidos pelos fazendeiros na alimen-tação da sua criação, dependem não só da atenção aos hábitos e neces-sidades dos animais mas principalmente da característica da sua linha-gem. Assim também com as abelhas. Nós encontramos diferenças mar-cantes na atividade, mesmo entre nossas abelhas comuns; mas a abelha Italiana as ultrapassa em todos os aspectos. A maior resistência para uma disfusão maior da apicultura,está no quase universal temor do fer-rão destes insetos. Muitos temem até mesmo a dor momentânea que ele inflige, ainda que não ocorra nenhuma outra conseqüência desagradá-vel; mas em algumas pessoas ele provoca inchaço e inflamação severa e prolongada. Isto desencoraja especialmente as mulheres a se engajarem nesta atividade. Tudo isto pode ser evitado pela introdução da abelha I-taliana que não é, de forma alguma, um inseto irascível.2 Ela ferroa tão somente quando for machucada, quando intencionalmente molestada ou quando atacada por abelhas pilhadoras; então se defenderá com des-temida coragem e seu vigor e agilidade são tão extraordinários que ela nunca é dominada, desde que a colônia esteja em condições normais. Colônias de abelhas comuns podem ser convertidas rapidamente em famílias Italianas, simplesmente pela remoção da rainha de cada uma, e passados dois a três dias, ou assim que as operárias estivessem consci-entes de estarem sem rainha, lhes for fornecida uma rainha Italiana. Desta forma temos condições de constatar o desaparecimento gradual da raça anterior, à medida que ela é substituída pela nova. Ao lado do aumento nos lucros derivados da apicultura esta espécie nos fornece também uma gratificação não pequena, a de estudar a natureza, hábitos e economia do inseto com grande vantagem, pois, com ela, os experi-mentos mais interessantes, investigações e observações podem ser feitos e assim serem esclarecidas as dúvidas e superadas as dificuldades re-manescentes.´

"Ele diz ainda: ´Tem sido questionado, até mesmo por apicultores

trabalhar com aplicação aumentada." - S. Wagner 1 Depois que o meu pedido de patente do quadro móvel foi despachado favorável, o Barão Von Berlepsck, de Seeback, Thuringia (ver. Pág. 126), inventou quadros com características similares. Carl T. E. Von Siebold, Professor de Zoologia e A-natomia Comparada, na Universidade de Munique, fala assim destes quadros: "Como a aderência lateral dos favos construídos a partir das barras" (ver págs. 15 e 16 deste Tratado), "freqüentemente tornam sua remoção difícil, Berlepsch ten-tou evitar este inconveniente de uma forma muito engenhosa, suspendendo em sua colméia, em vez de barras, um pequeno quadro quadrangular, cujo vazio as abelhas enchem com seus favos, os quais facilitam muito sua remoção e suspen-são, e se estes dispositivos forem incrementados na colméia de Dzierzon, onde nada mais resta para ser desejado." 2 Spinola fala da disposição mais pacífica desta abelha; e Columella, 1800 anos atrás, registra a mesma particularidade, descrevendo-a como "mitior moribus." Tanto a superior atividade como a docilidade são comentários da idade antiga.

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experientes e renomados, se a raça Italiana pode ser preservada em sua pureza, em países onde prevalece a espécie comum. Não há porque exis-tir inquietude por este motivo. A sua preservação pode ser acompanha-da, até mesmo se tivermos de confiar na enxameação natural, pois elas enxameiam mais cedo na estação do que a espécie comum, e também mais freqüentemente. A falta de sucesso do Capitão Baldenstein foi mais provavelmente resultado da falta de favo de zangão1 em suas colméias Italianas, cuja conseqüência foi a produção de somente alguns zangões.

"O principal aspecto a ser analisado em qualquer localidade onde são mantidas abelhas comuns é garantir a produção de zangões em número extraordinariamente grande; contudo, Dzierzon tem a impres-são que onde existem ambos os tipos de zangões em igual número as ra-inhas italianas normalmente encontram zangões italianos, tanto rainha como zangões são mais ativos e ágeis do que os do tipo comum. Além disso as asas tanto dos zangões como das rainhas são mais finas e mais delicadas do que as do tipo comum e os sons produzidos em vôo são claramente de mais alto tom. Assim, eles são capazes de distinguir mais fácilmente uns aos outros quando em vôo.2

"O Barão de Berlepsch, um dos apicultores mais entusiastas e habi-lidosos, em grande escala da Alemanha diz que ele pode, a partir de su-as experiências confirmar as afirmações de Dzierzon com relação à abe-lha Italiana, tendo encontrado,

1 Dzierzon se protege disso, fornecendo para uma colméia muito grande, que normalmente produz zangões em grande quantidade, uma rainha fértil muito ce-do na estação. Milhares de zangões aparecem imediatamente, e ele formava uma colônia artificial removendo a rainha com um número suficiente de operárias, e juntando cria de operária de outras colônias. Passados doze dias, ele escutava a jovem rainha ´teeting´ na colméia materna e, para sua surpresa, um grande en-xame saia dela no mesmo dia, embora o clima estivesse frio e nublado. Este en-xame aparecia repentinamente, sem indicação prévia de sua intenção, exatamen-te como fazem normalmente os enxames secundários. Em dia semelhante, diz Dzierzon, ele nunca viu sair um enxame primário das abelhas comuns. O clima estava tão frio, que algumas das abelhas ficaram congeladas antes do enxame se alojar. Como o enxame era normalmente grande ele o dividia em dois, uma vez que ele tinha condições de fornecer uma rainha adicional da colméia materna. Ambos prosperavam bem e cada uma das rainhas era fecundada por um zangão Italiano. A partir desta ocorrência ele concluiu que estas abelhas têm uma incli-nação instintiva de enxamear cedo. Nossa espécie comum tem se demorado mais para ´não enxamear com clima tão frio e nublado´." - S. Wagner 2 "Se, quando as princesas estiverem emergindo, as abelhas e os zangões saírem mais cedo do que o usual no início do dia, horas antes de os zangões comuns saí-rem, alimentando-os com mel diluído, a perpetuação da cria genuína será mais provavelmente garantida. Mas este objetivo será mais facilmente atingido, se fo-rem tomadas medidas para iniciar a criação de rainhas e zangões Italianos mais cedo na estação, antes que os zangões comuns apareçam; e novamente mais tar-de, depois que os últimos tiverem sido mortos. Isto pode ser feito facilmente com a colméia melhorada e com a aplicação de certos conhecimentos de apicultura." - S. Wagner.

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"1. A abelha Italiana é menos sensível ao frio do que a abelha co-mum. 2. Suas rainhas são mais prolíficas. 3. As colônias enxameiam mais cedo e mais freqüentemente, embora, sobre este assunto, ele tenha menos experiência do que Dzierzon. 4. Elas são menos inclinadas a fer-roar. Não só elas são menos inclinadas, mas raramente ferroam, embora elas o façam se intencionalmente incomodadas ou irritadas. 5. Elas são mais laboriosas. Sobre este assunto ele tem apenas uma experiência de Verão, mas todos os resultados e indicações confirmam as afirmações de Dzierzon, e deixam-no satisfeito pela superioridade deste tipo sob to-dos os pontos de vista. 6. Elas são menos dispostas a pilhar do que a abelha comum e são mais corajosas e ativas na própria defesa. Elas se empenham, de todas as formas para abrir seu caminho nas colônias das abelhas comuns, mas quando abelhas estranhas atacam suas colméias, elas lutam com grande ferocidade, e com incrível habilidade.1

" Belepsch obteve, na estação seguinte, de uma rainha Italiana que ele recebeu de Dzierzon, cento e trinta rainhas férteis, das quais cerca da metade produziu descendência Italiana pura.2

"Busch (Die Honig-biene, Gotha, 1855) descreve a abelha Italiana da seguinte forma: ´As operárias são lisas e brilhantes, e a cor dos seus a-néis abdominais é uma média entre o amarelo palha e o amarelo ocre profundo. Estes anéis têm um final preto estreito ou borda, assim que o amarelo (que pode ser chamado de couro colorido) constitui a base, e é marcado aparentemente com listras por este pequeno final preto, ou bordas. Isto é percebido mais distintamente quando um favo com cria, sobre o qual as abelhas estão densamente amontoadas, for tirado da colméia. Os zangões diferem das operárias por terem a metade superior dos seus anéis abdominais pretos e a metade inferior amarelo ocre, isto faz que o abdômen, quando visto de cima, pareça anulado. A rainha di-fere da espécie comum principalmente pelo maior brilho e luminosidade das cores.´

1 Spinola fala destas abelhas como "velociores motu" - mais velozes em seus mo-vimentos do que as abelhas comuns. 2 É um fato notável que a rainha Italiana, fecundada por zangão comum e uma rainha comum fecundada por um zangão Italiano não produz operárias de casta intermediária uniforme, ou híbridos; mas algumas das operárias criadas dos ovos de cada rainha serão puras Italianas, e outras puras da raça comum, e somente algumas delas, na verdade, serão aparentemente híbridas. Berlepsch teve tam-bém várias rainhas bastardas, que inicialmente produziram exclusivamente ope-rárias Italianas e, depois, exclusivamente, operárias comuns. Algumas destas ra-inhas produziram um total de três quartos de operárias Italianas; outras, operá-rias comuns na mesma proporção. Mais ainda, ele afirma que tinha uma bonita rainha Italiana bastarda laranja amarelada que não produziu uma única operária Italiana, mas apenas operárias comuns, cor sombreada mais clara. Os zangões, no entanto, produzidos pela rainha Italiana bastarda eram uniformes da raça Ita-liana e este fato, além de demonstrar a veracidade da teoria de Dziezon, garante a preservação e perpetuação da raça Italiana, em sua pureza, totalmente viável em qualquer país onde ela venha a ser introduzida." - S. Wagner.

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"Otto Radkofer, Jr., de Munique, numa comunicação ao Bienenzei-tung, diz que a colônia de abelhas Italianas, que ele transferiu em feve-reiro, começou a construir favos novos antes da metade de março, en-quanto as comuns não tinham começado, na data do seu comunicado (final de abril), a construir nenhum favo. ´Não só,´ diz Mr. Radlkofer, `as abelhas Italianas são distinguidas por um impulso para despertar mais cedo para a atividade e o trabalho, mas elas são também notáveis pelo diligente uso que elas fazem de toda flor aberta, visitando algumas para as quais as abelhas comuns raramente ou nunca olham. Elas têm tam-bém demonstrado sua agilidade superior na defesa; mais ainda, elas não toleram a presença de outras abelhas no favo sobre o qual foi espa-lhada farinha de uso comum. Por causa de todos estes aspectos, o louro de superioridade deve ser concedido para a abelha Italiana.´

"Foram encontradas consideráveis dificuldades, até mesmo pelos apicultores experientes, em induzir uma colônia de abelha comuns, pri-vadas de sua rainha, a aceitar uma rainha Italiana em seu lugar e ocor-reram muitas falhas envolvendo perda da rainha oferecida e causando grandes desapontamentos. O melhor caminho parece ser, remover a ra-inha vários dias antes da data em que se pretende fazer a substituição e destruir todas as realeiras embrionárias antes da introdução da rainha Italiana. Na hora de sua introdução os favos devem ser novamente exa-minados exaustivamente e qualquer realeira, que tiver sido iniciada, de-verá também ser destruída. A rainha Italiana deve ser colocada numa gaiola para sua proteção e uma pequena quantidade de mel puro de al-véolos abertos deve ser colocado na gaiola. A conduta das operárias mostrará rapidamente se e quando elas a receberão. O Mr. Lage reco-menda que a rainha italiana seja introduzida imediatamente depois que as abelhas da colônia sem rainha manifestarem indubitável consciência da perda que lhes aconteceu e antes que elas iniciem qualquer realeira ou se preparem para isto. Sinceramente, Samuel Wagner.

Rev. L. L. Langstroth."

O maior obstáculo para a rápida difusão desta variedade va-liosa tem sido a dificuldade experimentada pelos competentes a-picultores alemães em preservar a linhagem pura, até mesmo Berlepsch falhou totalmente em conseguí-lo. Com o auxílio da minha colméia não enxameadora, no entanto, esta dificuldade pode ser facilmente superada.

O apicultor que conseguir uma rainha Italiana na Primavera, deve introduzir, com as devidas precauções (pág. 200), numa co-lônia populosa, cuja colméia contenha uma boa quantidade de favo para zangão, tendo antes retirado a sua rainha. Quando os alvéolos de zangão estiverem cheios com cria fechada, um núcleo pode ser formado (pág. 189) com esta família, e os favos removi-dos substituídos por outros contendo operárias prontas para

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emergir. Mantendo desta forma a colméia materna sempre popu-losa, pode-se dela formar um grande número de núcleos. Exata-mente antes de a jovem rainha Italiana amadurecer, adaptar as colméias não enxameadoras (Lâmina II, V, Fig. 5, 17) que conte-nham zangões comuns, para assim prendê-los, enquanto será dada saída livre para as rainhas e para as operárias. Como ape-nas os zangões criados pela rainha Italiana tem liberdade de vôo, todas as jovens fêmeas serão fecundadas por eles. Assim que as rainhas dos núcleos estiverem férteis, elas podem ser dadas a várias famílias e destas, em pouco tempo, podem ser formados outros núcleos que criarão rainhas Italianas. Desta forma, um perito, tendo certeza de ter zangões Italianos até o final da esta-ção pode converter facilmente um apiário com mil ou mais col-méias para a nova variedade.

Para garantir o número de zangões necessários, parte da cria de zangão Italiano deve ser dada a alguns núcleos de forma que, no caso da colméia materna matar seus zangões, outras os terão disponíveis. Se o apicultor remover a rainha desta colônia antes dos zangões serem mortos, as abelhas tolerarão sua presença por mais tempo. O mesmo objetivo pode também ser conseguido com alimentação liberal assim que terminar a forragem natural (pág. 224).

Dzierzon concluiu que uma rainha que tenha sido resfriada por muito tempo, ao ser reanimada por aquecimento, depositou somente ovos de zangões, quando anteriormente ela depositava também ovos de fêmeas. Berlepsch resfriou três rainhas colo-cando elas por trinta e seis horas num recipiente com gelo1, duas delas nunca reviveram e a terceira depositou, como antes, milha-res de ovos, mas de todos eles emergiram apenas zangões. Por duas ocasiões o Mr. Mahan tentou, por minha sugestão, experi-mento semelhante e obteve resultados iguais. Parece que os api-cultores alemães não perceberam que por este processo de refri-geração podiam garantir tantos zangões Italianos quantos neces-sários. Tudo isto é necessário para converter, através deste mé-todo, uma ou mais rainhas dos núcleos em zanganeiras. Receber uma rainha muito tarde na estação pode assim se transformar num bom negócio.

Se o apicultor está nas proximidades de colméias, nas quais

1 Uma pequena exposição da rainha a gelo em pó e sal, terá o mesmo efeito. Os espermatozóides se tornam de alguma forma inoperantes depois de frio intenso.

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ele não pode aplicar a não enxameação, será necessário que ele procure outro local onde os zangões comuns não interfiram com este procedimento. A menos que a descendência seja mantida pura as vantagens propostas por esta introdução não podem ser asseguradas.

As rainhas Italianas podem ser enviadas com segurança nas minhas colméias para qualquer parte do país. Uma colméia para este propósito deve ser tal que contenha apenas um favo o qual deve ser velho e firmemente preso. Em tal colméia, adequada-mente aprovisionada, uma rainha Italiana pode ser introduzida com cerca de cem abelhas para lhe fazerem companhia e, se tive-rem ventilação suficiente e um pouco de água todo o dia, elas suportam vários dias. Se recebida numa estação não apropriada para a criação de rainhas, ela pode ser introduzida em alguma colônia forte e preservada para operações futuras.

É extremamente necessário dizer que uma espécie de abelha tão mais produtiva que a espécie comum e tão menos sensível ao frio será de grande valor a todas as áreas de nosso país.1 Sua docilidade superior pode torná-la meritória da mais alta conside-ração, mesmo que sob outros aspectos não tenha nenhum méri-to em particular. Sua introdução em nosso país, perfeitamente possível, iniciará uma nova era para a apicultura, e trará inte-resse para a atividade o que permitirá, em breve, rivalizar com qualquer parte do mundo na produção de mel.

1 Em 1856 foi feita uma tentativa pelo Mr. Wagner de importar abelhas Italianas; mas, infelizmente, as colônias pereceram durante a viagem. As primeiras abelhas Italianas a aportarem neste continente foram importadas no Outono de 1859 pelo Mr. Wagner e Mr. Richard Colvin, de Baltimore, do apiário de Dzierzon. O Mr. P. G. Mahan, da Filadélfia, trouxe na mesma época algumas colônias. Na Primavera de 1860, o Mr. S. B. Parson, de Flushing. L. I., importou um certo número de co-lônias da Itália. O Mr. William G. Rose, de New York, em 1861, também importou da Itália. O Mr. Colvin fez um número de importações do apiário do Dzierzon; e no Outono de 1863 e 1864 eu também importei rainhas do mesmo apiário. Esta variedade valiosa de abelhas está agora espalhada por quase toda a América do Norte.

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CAPÍTULO XX

TTTAAAMMMAAANNNHHHOOO,,, FFFOOORRRMMMAAA EEE MMMAAATTTEEERRRIIIAAALLL DDDAAASSS CCCOOOLLLMMMÉÉÉIIIAAASSS

NNNÚÚÚCCCLLLEEEOOO DDDEEE OOOBBBSSSEEERRRVVVAAAÇÇÇÃÃÃOOO

Não obstante os quase incontáveis experimentos que fizemos para determinar o melhor tamanho, forma e materiais para as colméias os mais competentes apicultores divergem sobre o as-sunto. Em muitas regiões de nosso país, é concordância quase generalizada que as colméias que comportam menos do que um bushel1 no compartimento principal não são rentáveis a longo prazo. Com referência, no entanto, ao tamanho, tanto o ninho como as melgueiras, depende muito da estação e do local e se as abelhas enxameiam ou não, assim que não se pode fornecer uma regra aplicável a todos os casos. Todo apicultor deve determinar estas questões se referindo aos recursos melíferos da sua região. Como minhas colméias permitem ampliação e contração sem que suas partes sejam destruídas ou alteradas, o tamanho, seja do ninho seja da melgueira, pode variar à vontade.

Sendo possível remover todo excesso, eu prefiro fazer o inte-rior de minhas colméias consideravelmente maior do que um bu-shel. Muitas colméias não contem um quarto das abelhas, favo e mel que, em estações boas, pode ser encontrado nas minhas colméias; enquanto seus donos ficam despontados ao abterem tão baixos lucros de suas abelhas. Um bom enxame de abelhas colocado, numa boa estação, numa colméia diminuta pode ser comparado a uma poderosa parelha de cavalos atrelados a uma pequena carroça, ou uma maravilhosa queda d´água perdida movendo uma insignificante roda d´água.

Uma colméia alta, proporcionalmente a suas outras dimen-sões, tem algumas vantagens óbvias; como as abelhas estão pre-paradas para levar suas reservas tão longe da entrada quanto possível, elas encherão suas partes superiores com mel, usando

1 Bushel: medida volumétrica equivalente a 36,7L. N. T.

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a parte inferior principalmente para a cria, livrando-se assim do risco de ficarem presas, no clima frio, entre favos vazios, quando elas ainda têm reserva de mel. Se o topo desta colméia, como as antigas parecidas com uma batedeira, é feito (segundo o esque-ma Polonês) consideravelmente menor do que o fundo, estarão melhor adaptadas para o clima frio, alem de ficarem melhor pro-tegerem dos ventos fortes. Tal colméia é deficiente na região do topo para armazenamento de mel em caixas, e nelas é impossível usar quadros1; mas, para aqueles que preferem criar abelhas da forma antiga2, uma destas formas, feita para conter não menos do que um bushel e meio, é decididamente a melhor.

Uma colméia longa da frente para trás e moderadamente baixa e estreita parece, como um todo, unir a maioria das vanta-gens. Tal colméia lembra uma alta deitada de lado e, ao mesmo tempo que fornece o espaço no topo para o mel em excesso, ela facilita enormemente o manuseio dos quadros, além de diminuir seu número e custo.3

A colméia comum de Dzierzon4 é comprida e baixa, mas, co-

1 Quanto mais altos os quadros, mais difícil é eles ficarem na vertical quando pendurados nos encaixes e maior a dificuldade de os manusear sem esmagar as abelhas ou quebrar os favos. 2 É instrutivo ver como o abandono da antiga forma prova a verdade, pelo menos na apicultura, da citação comum:

"Pouco conhecimento é perigoso."

Até mesmo uma melhoria tão simples como as caixas de topo, como usadas por muitos, destruirão eventualmente suas abelhas; pois, enquanto em anos favorá-veis tais caixas podem ser removidas com segurança em outros, o excesso de mel que elas contem, é a vida das abelhas. 3 O Mr. Quinby, de St. Johnsville, New York, chamou minha atenção para algu-mas famílias que ele comprou em caixas colméias deste formato, me informou que as abelhas hibernaram nelas quase tão bem quanto nas colméias altas, as abelhas se movem para o fundo para as suas reservas do clima frio, assim como nas colméias altas elas se movem para cima. Minha colméia, como inicialmente construída, tinha catorze polegadas e um oitavo (36cm) da frente para o fundo, dezoito polegadas e um oitavo (46cm) de lado a lado e nove polegadas (23cm) de altura, contendo doze quadros. Depois que o Mr. Quinby chamou minha atenção para a hibernação das abelhas na sua longa caixa colméia, construí uma que media vinte e quatro polegadas da frente para o fundo (60cm), doze polegadas (30cm) de lado a lado e dez polegadas (25cm) de altura contendo oito quadros. Desde então preferi fazer minhas colméias com dezoito polegadas e um oitavo (46cm) de frente a fundo, catorze polegadas e um oitavo (36cm) de lado a lado e dez polegadas (25cm) de altura. O Mr. Quinby prefere fazer meu quadro móvel mais comprido e mais alto. 4 Dzierzon construiu colméias para comportar duas, quatro e até mais colônias. Na Lâmina XXII, Fig.71 (o frontispício para a primeira edição do meu trabalho),

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mo os favos correm de lado a lado, em vez de da frente para o fundo, as abelhas, a menos que a colméia esteja especialmente bem protegida, passarão frio no Inverno. Como os apicultores a-lemães usam sarrafos em vez de quadros, pode ser desajeitado para eles remover favos muito longos de suas colméias.

As diversas opiniões a respeito dos melhores materiais para as colméias, tem sido tantas quanto sobre seu tamanho e forma adequados. Columella e Vergílio recomendam o tronco cavado da corticeira, nenhum outro material se adapta melhor apenas se puder ser adquirido por menor preço. Colméias de palha foram usadas por anos e são mais quentes no Inverno e frias no Verão. A dificuldade de as construir e manter a forma adequada para melhorar a apicultura, é uma desvantagem insuperável para o seu uso. Colméias feitas de madeira, atualmente, estão substitu-indo rapidamente as outras. A madeira mais leve e mais porosa, conduz menos calor e, conseqüentemente, a colméia é mais quente no Inverno e mais fria no Verão.1 Cedar (cedro), bass-wood (tília americana), poplar (álamo), tulip-tree (magnólia) e soft pine (pinheiro macio) fornecem bons materiais para as colméias. O apicultor deve ser orientado para escolher a madeira mais ba-rata seja qual for o tipo que ele consiga em suas vizinhanças.

A maior desvantagem de todos os tipos de colméias de ma-deira, é a facilidade com que conduzem o calor, tornando-as frias e úmidas no Inverno e, se expostas ao sol, tão quentes no Verão a ponto de seguidamente derreter os favos. As inconveniências do Inverno são grandemente diminuídas se as colméias forem bem pintadas e se não forem pintadas, elas não podem ser, nor-malmente expostas ao sol ou ao clima sem grandes danos.2

eu forneci uma imagem de uma colméia tripla. O pouco que pode ser economiza-do no custo inicial deste tipo de colméia parece-me ser mais do que é perdido pe-lo maior inconveniente em manuseá-la. 1 O Mr. Wagner me informa que Scholz, um apicultor alemão, recomenda colméi-as feitas de barro - nas quais podem ser usados quadros ou sarrafos - como as de construção mais baratas e excelentes para o Verão e Inverno. Tais estruturas, no entanto, não podem ser transportadas. Mas em muitos lugares do nosso país onde tanto as madeireiras como as serrarias são escassas, e onde as pessoas es-tão acostumadas a construir casas de barro, elas podem ser convenientes. O ma-terial é argila plástica misturada com serragem, fibra descartada, etc. 2 A ventilação farta, sempre possível em minhas colméias, permite aos apicultores dispensar a pintura, exceto nas uniões e telhados; se estiverem, durante o Verão, cobertas com palha, presas com sarrafo de forma que o ar possa circular sob e-las, elas podem ser colocadas seguramente ao sol, desde que não fiquem expos-tas a um calor sufocante.

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Para fazer os quadros móveis das colméias da melhor forma, os quadros devem ser cortados com serra circular, movida a va-por, água ou cavalo. Nas construções onde estas serras são usa-das, os quadros podem ser feitos de pequenas peças de madeira, seguidamente sem outro uso, exceto para o fogo, e podem ser empacotadas quase como uma caixa firme, ou numa colméia que depois servirá como padrão. Um quadro em tal caixa, apropria-damente pregado, serve de guia para os demais. As outras partes da colméia podem ser feitas facilmente e a baixo custo por qual-quer um que manuseie ferramentas, mas não podem ser feitas com lucro para serem enviadas, a menos onde a madeira for ba-rata e as partes empacotadas para serem montadas quando che-garem no destino.

Núcleo de Observação e Quadro Móvel

Cada favo destas colméias é preso a um quadro móvel e, co-mo os dois lados podem ser inspecionados, toda a beleza da col-méia pode ser exposta à luz do dia, bem como (pág. 23, 116) à luz de lâmpadas ou gás.

No núcleo de observação comum, os experimentos são con-duzidos somente cortando partes de favo; enquanto nestes, eles podem ser realizados pela remoção do quadro; se a colônia ficar reduzida em número, ela pode ser reforçada, em poucos minu-tos, fornecendo-lhe cria madura de outra colméia.1

Estes núcleos de observação podem ser construídos para a-comodar um enxame completo. Eu não recomendo, porém, uma colméia destas para propósitos normais, mas uma contendo a-penas um único quadro (Lâmina, IV., Fig. 14 e 15) que satisfaz a curiosidade, permite um controle fácil e exige apenas algumas abelhas que se retira de colméias mais produtivas.

Um núcleo de observação de sala com esta forma pode ser 1 Um escritor, descrevendo as diferentes colméias expostas na Feira Mundial de Londres, lamenta que ainda não tenha sido divisado nenhum método para permi-tir que as abelhas se amontoem no clima frio, num núcleo de observação, de for-ma a preservá-las vivas no Inverno, mesmo no clima moderado da Inglaterra. Com o uso dos quadros móveis esta dificuldade pode ser superada facilmente, uma vez que com a aproximação do clima frio, os quadros com abelhas podem ser colocados numa colméia adequada e retornar na Primavera à sua antiga mo-rada.

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convenientemente colocado em qualquer peça da casa - ficando o alvado do lado de fora, e o arranjo total de tal forma que as abe-lhas possam ser inspecionadas a qualquer hora do dia ou da noi-te, sem o mínimo risco de ser ferroado. Duas colméias destas podem ser colocadas em frente a uma janela, e montadas ou desmontadas em poucos minutos, sem cortar ou estragar as pa-redes da casa. Numa, a rainha pode sempre ser vista, e na outra, acompanhar o processo de criação de rainha a partir do ovo da operária. Estas colméias em miniatura podem ser povoadas da mesma forma como é formado um núcleo, ou nelas alojando um pequeno enxame secundário.

Um núcleo de observação se confirma uma fonte inesgotável de prazer e instrução; e os que vivem em cidades congestiona-das, gostarão muito dele, mesmo se condenados à pena do que o poeta descreveu com tanto sentimento como uma "eterna refei-ção de tijolo". As vivas asas destas ágeis coletoras os levarão ra-pidamente para mais alto e além "das chaminés fumarentas"; e elas trarão de volta para suas casas citadinas seu saque perfu-mado de muitas flores rústicas, "sem enrubescer", com total a-mabilidade. Seus agradáveis murmúrios podem despertar em al-guns a memória de grandes alegrias esquecidas, quando as cri-anças do país feliz ouviam sua música suave, enquanto olhando-as atentamente no antigo jardim doméstico, ou vagueando com elas entre os prados e montanhas, para apanhar as flores ainda alegres na "brisa da doce campina" ou sussurrando o precioso perfume da floresta doméstica!

"To me more dear, congenial to my heart, One native charm than all the gloss of art; Spontaneous joys, where nature has its play, The soul adopts and owns their first-born sway; Lightly they frolic o´er the vacant mind, Unenvied, inmolested, inconfined. But the long pomp, the midnight masquerade, With all the freaks of wanton wealth array´d, In these, ere triflers half their wish obtain, The toilsome pleasure sickens into pain; And e´en while fashion´s brightest arts decoy, The heart distrusting asks, if this be joy."

Goldsmith

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CAPÍTULO XXI

HHHIIIBBBEEERRRNNNAAANNNDDDOOO AAASSS AAABBBEEELLLHHHAAASSS

Assim que o clima frio chega as abelhas se amontoam com-pactamente em suas colméias para manter o calor. Elas nunca ficam dormentes, como as vespas e os hornets (pág. 110), e um termômetro colocado entre elas mostrará uma temperatura de Verão, mesmo quando o ar estiver muitos graus abaixo de zero. Quando o frio se torna intenso elas mantem um movimento trê-mulo incessante, com a finalidade de gerar calor por exercícios físicos; quando as da periferia do amontoado se resfriam elas são substituídas por outras.

Como todo esforço muscular exige alimento para suprir a energia consumida, quanto mais quietas se mantiverem as abe-lhas menos elas precisarão comer. Por esta razão é muito conve-niente preservá-las, tanto quanto possível, no Inverno, de cada grau, seja de calor ou de frio, que exija delas exercídios.

O modo habitual de as manter durante todo o Inverno em seu suporte de Verão é, nos climas frios, muito questionável. Nestas partes do país, no entanto, onde o frio é muitas vezes tão severo que as impede de voar, a intervalos freqüentes, de suas colméias, talvez, considerando tudo, não exista melhor forma. Em regiões favorecidas, as abelhas pouco se afastam de seu cli-ma nativo e suas necessidades podem ser facilmente satisfeitas, sem os efeitos nefastos que comumente resultam de as perturbar quando o clima esteja tão frio a ponto de as confinar inteiramen-te em suas colméias.

Se as colméias forem hibernadas a céu aberto, elas devem ser mantidas populosas e bem supridas de reservas, mesmo que para isto seja necessário reduzir o número de colônias para a metade, ou menos.1 O apicultor que tiver dez colméias fortes na

1 As pequenas colônias consomem proporcionalmente mais alimento do que as grandes, e seguidamente morrem pela incapacidade de gerar calor suficiente. As colméias não devem, no entanto, serem mantidas super povoadas, pois o seu

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Primavera, poderá, através de manejo criterioso com a colméia de quadros móveis, terminar a estação com um apiário maior do que aquele que começa com trinta, ou mais, colônias fracas.

Se duas ou mais colônias, que devem ser unidas no Outono, não estiverem perto o suficiente, suas colméias podem ser gra-dualmente aproximadas (pág. 280) e as abelhas podem então, com os devidos cuidados (pág. 203), serem colocadas numa úni-ca colméia.

Se os favos centrais da colméia não estiverem bem cheios de mel, eles devem ser trocados por outros que estejam, assim que, quando o frio compelir as abelhas a recuar dos favos externos, elas poderão se amontoar entre suas reservas. Se o favo mais cheio de mel não for de alvéolos de operária, deve ser desopercu-lado e colocado na parte superior, de onde as abelhas podem remover o mel e armazená-lo no centro da colméia. Nas regiões onde as abelhas colhem pouco mel no Outono, estas precauções de climas frios são especialmente necessárias, uma vez que, se-guidamente, quando o desenvolvimento da cria terminar os seus favos centrais estarão quase vazios.

Como as abelhas são nativas de clima quente, por instinto elas não colocam o mel onde ele ficará mais acessível durante o clima frio, mas simplesmente onde ele interferirá menos com o desenvolvimento da cria. Como também não o fazem, se, en-quanto o clima está quente, elas podem se comunicar facilmente através dos favos da colméia, assim elas podem ficar dependen-tes das passagens a serem feitas através deles, a fim de lhes permitir passar prontamente, durante o clima frio, de um para o outro lado.

O apicultor deve, no final do Outono, cortar com uma faca, um buraco com diâmetro de uma polegada no centro de cada fa-vo, a cerca de um terço do topo.1

grande calor interno pode gerar inquietação e causar disenteria por levar a um consumo desordenado de alimento (pág. 256). 1 Se estes buracos forem feitos antes de elas sentirem necessidade deles, elas fre-qüentemente os fecharão. O Mr. Wm. W. Cary (pág. 204) inventou um processo para fazer estes buracos sem remover os favos. Ele fez um buraco na lateral da colméia, o qual, quando não estiver em uso, é fechado com um tampão (Lâmina V, Fig. 16), através deste ele rosqueia um instrumento com a forma de um amos-trador de farinha ou manteiga (afiado na ponta), até ele alcançar o lado oposto da colméia. Por este processo de abrir a passagem de Inverno, poucas abelhas são machucadas. Como a rainha sempre foge do perigo, ela não corre risco de ser machucada. Existe solicitação de uma patente, ainda pendente, para este dispo-

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Grandes cuidados devem ser tomados para proteger as col-méias dos ventos penetrantes que no Inverno tão eficazmente e-xaurem o calor animal das abelhas; como a criatura humana, se protegida do vento, elas resistem a baixa temperatura muito me-lhor do que a uma corrente contínua de ar mais aquecido.1

Em algumas partes do oeste, onde as abelhas sofrem muito com os ventos frios, as colméias são protegidas, no Inverno, por feixes de palha, amarrados de modo a defendê-las tanto do frio como da umidade. Com um pouco de engenhosidade os fazendei-ros podem facilmente transformar as palhas descartáveis em al-go valioso para proteger suas abelhas.

Se as colônias forem hibernadas a céu aberto, a entrada de suas colméias deve ser grande o suficiente para permitir que as abelhas voem à vontade. Muitas, com certeza, se perderão, mas a maior parte destas está doente; e, mesmo que elas não estejam, é melhor perder algumas abelhas saudáveis do que correr o risco de perder, ou prejudicar enormemente, toda uma colônia pela excitação criada pelo seu confinamento quando o clima está a-meno o suficiente para animá-las a sair.2

Os melhores apicultores discordam ainda sobre a quantidade de ar que deve ser dada às abelhas no Inverno e se as colméias devem ter ventilação na parte superior ou não. Se as colméias não tiverem ventilação na parte superior, penso que então elas precisam tanto, ou até mesmo, mais ar do que no Verão. Se exis-tir ventilação superior, quanto menor a abertura inferior melhor, pois não se deseja uma forte corrente de ar passando através da

sitivo. Se a patente for concedida, o direito de seu uso estará livre para todos que possuírem o direito de usar a colméia de quadro móvel.

Recomendo insistentemente a todos que utilizam a minha colméia de fazer a pas-sagem de Inverno para suas abelhas. Como os quadros não tocam nem o topo, nem o fundo, nem as laterais da colméia, as abelhas têm assim extraordinária fa-cilidade de intercomunicação, assim elas não ficam dependentes de ser deixado qualquer buraco em seus favos. 1 O Inverno de 1855-6 será lembrado por muito tempo, não só pela excepcional temperatura e duração do frio, mas também pelos ventos extraordinários, que, seguidamente por dias consecutivos, sopraram como um tornado polar sobre a terra. Os apiários instalados em locais expostos foram, em muitas ocasiões, qua-se destruídos. 2 Se o sol estiver quente e o solo coberto com alguma neve, a luz pode cegar tanto as abelhas que elas cairão nesta neve fofa e morrerão imediatamente. Em tais o-casiões será melhor confiná-las em suas colméias. Se a neve estiver dura o sufi-ciente para sustentar a abelha saudável, seguidamente ela é perdida, a menos que tente voar com o sol brilhando de sua colméia colocada em local abrigado.

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colméia.

Em minhas colméias, todas as passagens inferiores podem ser fechadas hermeticamente com facilidade, e as abelhas circu-larão pela entrada de Inverno, que é feita no topo da colméia (Lâmina I, Fig. 1; Lâmina V, Fig. 17).1

Se as colméias tiverem uma caixa superior, como na lâmina III Fig. 9, os buracos no fundo devem ser deixados abertos, ou fechados apenas com tela metálica, assim a umidade, que de ou-tra forma condensaria ou congelaria nos favos e paredes internas da colméia, pode sair sem prejudicar as abelhas.

Se um ninho superior, como na Lâmina V, Fig. 16, for colo-cado sobre um em que as abelhas estão hibernando sua tampa deve ser elevada levemente para permitir a saída da umidade. Se for usado um ninho único, como na Lâmina I, Fig. 1, ou Lâmina V, Fig. 17, a mesma abertura deve ser deixada para a saída da umidade.2

Como os fatos observados são mais valiosos do que a teoria relatarei a essência de numerosas observações feitas por mim em Greenfield, Massachusetts, durante o Inverno de 1856-7, sobre a hibernação de abelhas a céu aberto:

9 de Janeiro de 1857 - Examinei um grande número de col-méias com passagens de Inverno em seus favos, e com os bura-cos do fundo abertos. O mês anterior foi extremamente frio e, por três dias antes da inspeção, o termômetro esteve durante a me-tade do tempo abaixo de zero (-18°C), e apenas uma vez acima de dez (-12°C), o vento soprava um quase contínuo gale3. Em ne-nhuma destas colméias encontrei gelo ou umidade, ou alguma abelha morta por ter ficado fora do amontoado de abelhas. Em temperatura abaixo de zero, elas podiam subir de seus favos ao

1 A entrada inferior pode ser fechada no Outono enquanto as abelhas ainda estão voando e elas prontamente se acostumarão com a superior. O Mr. Wheaton suge-re que se faça esta entrada superior pela parte de trás da colméia e no Outono se reverta a pilha, o suporte e tudo. Esta entrada é proposta meramente como tenta-tiva. 2 Pequenos sarrafos de madeira, com a espessura de um oitavo de polegada (3mm), podem ser colocados entre as laterais da colméia e a tampa e, quando a tampa estiver firmemente presa, a umidade pode sair pela frente e pela traseira da colméia, onde as aberturas estão protegidas pelas projeções da tampa, da ne-ve e da chuva. 3 Segundo Michaelis – Galé: vento com velocidade de 25 a 75 milhas por hora (40 a 120km/h). N. T.

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menor desconforto dentro de suas colméias, precipitando-se ra-pidamente através das passagens de Inverno e mostrando sua habilidade em alcançar qualquer de suas reservas.1 Em algumas colônias, nas quais não existia ventilação superior, as paredes interiores da colméia e muitos dos favos estavam cobertos de ge-lo.

14 de janeiro - Examinei cuidadosamente três colméias. A número 1, feita com madeira de espessura de sete oitavos de po-legada (22mm), estava sem o fundo, como pode ser visto pela remoção de (f) na Lâmina III, Fig. 9. Tinha uma boa família de abelhas e, embora o termômetro estivesse pela manhã 10,5° a-baixo de zero (-24°C), existia apenas algum vestígio de gelo na colméia. As abelhas estavam secas e animadas e os favos cen-trais continham ovos e cria aberta. A número 2 tinha uma famí-lia igualmente forte, numa colméia fina contendo dezoito qua-dros, dez dos quais (cinco de cada lado) não tinham favos. Esta colméia não tinha ventilação superior e estava com muito gelo. Os favos centrais tinham ovos e cria aberta. A número 3 estava melhor protegida por parede dupla, com o vão interno cheio de carvão, e todos os buracos do fundo estavam abertos. Ela tinha pouco gelo, como a número 1, e os seus favos centrais conti-nham ovos e alguma cria operculada. Embora ela tivesse uma família de abelhas melhor do que as demais parecia que ela ti-nha iniciado o desenvolvimento da cria apenas alguns dias an-tes.

30 de janeiro - Os registros de mais de cinqüenta anos dizem que este é o mês mais frio. Minhas colméias foram expostas a temperaturas de 30° abaixo de zero (-34°C), e por quarenta e oito horas soprou um forte gale, e o termômetro subiu apenas uma vez para 6° abaixo de zero (-21°C). A número 1 foi examinada no-vamente, as abelhas estavam em boas condições. O favo central estava praticamente cheio de cria fechada, quase madura; todos os favos estavam livres de mofo e o interior da colméia estava se-co. Numa colméia tão bem protegida como a número 3, mas sem ventilação superior, o vapor, ou respiração das abelhas, congelou lá dentro e derreteu por degelo repentino, tanto os favos como as

1 Num dia frio de novembro encontrei abelhas numa das colméias sem passagem de Inverno separadas do amontoado principal e tão frias que não tinham condi-ções de se mover; enquanto, com o termômetro marcando temperatura ambiente de vários graus abaixo de zero observei, repetidamente, em outras colméias, em um dos buracos feito no favo um amontoado de diferentes tamanhos pronto para correr ao menor desconforto de sua colméia.

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abelhas em condição triste.

Enquanto o vapor permanece congelado ele prejudica as abe-lhas tão somente por mantê-las longe de suas reservas das quais elas precisavam; mas, assim que ocorre o degelo, as colméias que não dispõem da ventilação superior correm risco de serem perdidas.1

O Mr. E. T. Sturtevant, de East Cleveland, Ohio, sobejamente reconhecido como um apicultor experiente, numa carta a mim endereçada, assim relata sua experiência sobre a hibernação das abelhas a céu aberto:

"Nenhum frio intenso dos que já tivemos neste clima, pode prejudi-car as abelhas, se a sua respiração puder sair, se elas permanecerem secas. Nunca perdi uma boa família que estivesse seca e tivesse mel em abundância.

"No Inverno de 1855-6 eu tinha vinte famílias postadas numa linha, todas, com exceção de uma, podiam ser consideradas em boas condi-ções para a hibernação - não muito herméticas em baixo nem muito a-bertas em cima. Uma se encontrava numa colméia suspensa vinte pole-gadas (50cm) acima do solo; e sem qualquer fundo. A câmara para mel em favo estava aberta para o norte; tinha oito buracos de uma polegada (2,5cm), todos abertos.

"Saí de casa em 12 de fevereiro, estando o clima muito frio, todas as colméias estavam soterradas pela neve fofa. Ao retornar no final do mês, examinei toda a fila e encontrei dezenove delas degeladas, mas lamenta-velmente molhadas e em estado miserável. Se eu pudesse recolhê-las para um recinto, longe do alcance do gelo, até elas ficarem secas elas poderiam ser salvas. Antes da manhã seguinte o clima mudou para um frio glacial, e todos os dezenove enxames morreram em seguida; en-quanto aquele que parecia tão abandonado, sobreviveu forte e saudável. Antes de adotar a ventilação superior eu perdia meus melhores enxames desta forma, a ponto de ficar desanimado."

Nas regiões mais frias do nosso país, se a ventilação superior for omitida, nenhuma proteção que possa ser dada para as abe-lhas, a céu aberto, evitará que elas fiquem molhadas e mofadas,

1 Em março de 1856, perdi algumas de minhas melhores colônias nas seguintes circunstâncias: O Inverno esteve intensamente frio e as colméias não tendo venti-lação superior ficaram cheias de gelo, em algumas ocasiões o gelo nas suas late-rais de vidro tinha quase um quarto de polegada (6mm) de espessura. Alguns di-as de clima ameno, nos quais o gelo começou a derreter, foram seguidos de tem-peratura abaixo de zero, acompanhado de vento furioso, em muitas das colméias as abelhas, que ainda estavam molhadas do degelo, foram congeladas juntas nu-ma massa quase sólida.

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mesmo que o gelo seja eliminado. Normalmente, quanto mais elas forem protegidas, maior será o risco de umidade. Uma colméia muito fina não pintada, para assim conseguir absorver pronta-mente o calor do sol, ficará com o interior seco muito mais pron-tamente do que uma pintada de branco, e sempre melhor prote-gida contra o frio. A primeira, como um sótão, sofrerá com a u-midade apenas por pouco tempo; enquanto a outra, como um porão, estará secando durante tanto tempo que prejudicará, se não destruir, as abelhas.

Muito tem sido dito na Alemanha, nos últimos anos, do peri-go de as abelhas que dispõe de ventilação superior, morrerem no Inverno por falta de água. O Mr. Wagner me forneceu uma tra-dução de um interessante artigo do Bienenzeitung, de Von Ber-lepsch e G. Eberhardt, cuja essência é o que segue:

"O Criador dotou a abelha de um instinto para armazenar mel e pó-len, os quais nem sempre estão disponíveis, mas não a água, que está sempre acessível em suas regiões nativas. Nas latitudes do norte, quan-do confinadas em sua colméia, seguidamente por meses a fio, elas con-seguem água de que precisam apenas das partículas de água existentes no mel, da umidade de sua respiração que condensa nas partes mais frias da colméia, ou da umidade do ar que entra na colméia.

"A energia vital da abelha está em seu ponto mínimo em novembro e dezembro. Se nesta época um frio anormal não forçar as abelhas a e-xercitarem seus músculos, elas permanecem quase imóveis, reinando na colméia um silêncio quase mortal; nós sabemos, por experimentos reais, que é consumido menos alimento do que em qualquer outro tem-po. Tendo parado o desenvolvimento da cria, as abelhas estando retidas pelo mau tempo não há necessidade de exercícios, e nunca tomamos conhecimento de elas padecerem por falta de água neste período. Assim que, porém, a rainha começar a botar ovos, o que ocorre em muitas co-lônias no início de janeiro, em outras pelo Natal, as operárias devem comer mais livremente tanto mel como pólen a fim de produzir geléia para as larvas e cera para o fechamento dos alvéolos. Muito mais água é necessária para estes propósitos do que quando elas coletam néctar fresco das flores; a necessidade por água começa a ser sentida por volta do meio de janeiro. Um sinal inquestionável da falta de água na colônia são os grânulos de mel cristalizado depositados no fundo da colméia. As necessitadas abelhas abriremo alvéolo após alvéolo com mel para conse-guir o que permanece não cristalizado e, quando este suprimento de á-gua falhar, elas atacam as larvas não operculadas e devoram os ovos, se algum já tiver sido depositado. Elas agora caem em desespero, se dis-persam pela colméia, se o frio não impedir, como fazem se estiverem sem rainha, e morrem entre as reservas de mel, a menos que o clima mais ameno lhes permita sair em busca de água, ou o apicultor a forne-cer na colméia, quando então a ordem novamente se restabelece.

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"Depois de um prolongado e severo Inverno, de cada seis abelhas que morrem, cinco morrem por falta de água, e não, como até hoje ad-mitido, pela penosa retenção das fezes. A disenteria é uma das conse-qüências diretas da falta de água, as abelhas, por causa da necessidade terrível de água, consomem mel de forma excessiva e ficam febris por circularem entre os favos.

"Em 11 de fevereiro, examinamos um certo número de colônias em cujos fundos foram encontradas partículas de mel cristalizado, verifica-mos que em todas elas, o mel operculado tinha sido aberto em vários pontos e que o desenvolvimento da cria tinha parado totalmente. As co-lônias às quais fornecemos água por termos descoberto que elas preci-savam, continham cria saudável em todos os estágios de desenvolvimen-to.

"Em março e abril o aumento rápido da quantidade de cria provo-cou um aumento na demanda por água; quando o termômetro ficou tão baixo quanto 45° (7°C), foi possível ver as abelhas carregando-a ao meio dia, mesmo em dias ventosos, ainda que muitas estivessem certas de morrerem de frio. Nestes meses, em 1856, durante um período prolon-gado de clima desfavorável fornecemos água para todas as nossas abe-lhas e elas permaneceram tranqüilas na colméia enquanto as dos outros apiários estavam voando ativas em busca de água. No início de maio nossas colméias estavam congestionadas de abelhas; enquanto as colô-nias de nossos vizinhos estavam em grande parte fracas.

"O consumo de água em março e abril numa colônia populosa é muito grande e, em 1856, cem famílias necessitavam de onze quartos de Berlin por semana para manter o desenvolvimento da cria ininterrupto. Na Primavera, quando as abelhas podem voar com segurança quase to-dos os dias, a necessidade por água não é sentida.

"A perda de abelhas por falta de água é conseqüência do clima e nenhum tipo de colméia, ou forma de hibernação, pode prover seguran-ça absolutamente eficiente contra ela. As colônias podem ser colocadas em longos pátios de colméias de tronco, ou em cavaletes altos, em mon-touros sem forma, em colméias limpas de palha, ou em colméias de Dzi-erzon bem revestidas; em madeira, ou palha, ou moradias de barro. Po-dem habitar buracos de árvores, ou fendas em rochas; elas podem per-manecer não protegidas em seus suportes de Verão; serem protegidas por coberturas de pinho ou paliçadas; ou serem mantidas em câmaras escuras ou cavernas - ainda assim pode ocorrer a falta de água, aqui e ali, mais cedo ou mais tarde, com mais ou menos prejuízo; por ser con-trário ao instinto natural da abelha morando em climas do norte ficar con-finada em sua moradia por meses.

"Se a água for regularmente fornecida para as abelhas, desde meta-de de janeiro até que a Primavera apareça (a não ser que o clima permi-ta que elas voem com segurança), elas nada sofrerão. Esta água pode ser colocada numa esponja no alimentador, diretamente sobre as abe-

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lhas e protegida por uma almofada de musgo. Cem ou mais colônias po-dem assim, sem perturbação, serem supridas rapidamente."

Que as abelhas não conseguem desenvolver cria sem água, é conhecido desde o tempo de Aristóteles. Buera, de Atenas (Cot-ton, pág. 104), com 80 anos de idade, disse em 1797: "As abe-lhas suprem diariamente as larvas com água; se as condições climáticas forem tais que impeçam as abelhas de buscarem água por alguns dias, as larvas poderão morrer. Estas abelhas mortas são removidas da colméia pelas operárias, se estas estiverem saudáveis e fortes. Caso contrário a família morre por causa das emanações pútridas." Repetidamente tenho tomado conhecimen-to de colônias que sofreram severas perdas, por falta de água; em minhas correspondências com apicultores, no último Inverno (1858-9),1 tenho chamado sua atenção para este ponto, e tenho visto minha consideração sobre o valor da água para as abelhas no Inverno ter ter contribuído muito. Mas ainda não consegui e-vidência satisfatória que alguma colônia, cujo mel não tenha cris-talizado tenha morrido por falta de água.

O Barão Von Berlepsch diz, que "a morte por esta causa o-corre mais raramente em regiões onde exista forragem para as abelhas no final do Outono do que naquelas, como a sua própria, onde ocasionalmente não existe pastagem apícola em julho e, normalmente, no início de agosto. Em tais regiões o mel se torna muito espesso no Inverno e, algumas vezes, totalmente cristali-zado2 antes da Primavera". Somos afortunados pois nas partes mais frias de nosso país a última forragem é normalmente abun-dante.

Berlepsch e Eberhardt não só condenam a ventilação na par-te superior, por privar as abelhas da umidade de que elas preci-sam, mas insistem que ela é, seguidamente, a ruína da família

1 Particularmente tenho dívida com o Mr. William W. Cary, Mr Richard Colvin, Rev. J. C. Bodwell, Mr. E. T. Sturtevant e Rev. Levi Wheaton, pelas observações cuidadosas feitas - durante o último Inverno, por sugestão minha - sobre a hi-bernação das abelhas. 2 Madame Vicat, em algumas observações sobre abelhas, publicadas em 1764 - ver Wildman, pág. 231 - fala de conclusões, "em 24 de março, quando o clima es-tava tão frio que as abelhas de suas outras colméias não voavam, havia muito mel cristalizado no fundo da colméia, e abelhas que pareciam estar morrendo. Um ruído singular era produzido na colméia, a intervalos, e nestas ocasiões inú-meras abelhas caiam nobre o mel cristalizado e morriam. As abelhas não tendo condições de engolir o mel cristalizado o retiravam dos favos pegando-o como se pudessem engolir."

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por causar um excesso de umidade entre as abelhas, embora e-las estejam realmente com falta de água. Dzierzon pensa que es-tes atentos observadores cometeram aqui um grande erro; até onde meus limites permitem, posso mostrar que suas objeções à ventilação na parte superior não concordam com os fatos, como observado neste país. Muito longe de ser verdade "que a colméia em que ocorre uma perceptível condensação de umidade precisa de água, e aquela em que não ocorre não precisa" - a umidade seguidamente condensa umedecendo favos e abelhas,1 mostran-do claramente que existe um excesso de água em vez de deficiên-cia. Os seguintes fatos, que me foram fornecidos pelo Rev. J., C., Bodwell, de Framingham, Massachusetts, são altamente signifi-cativos para o assunto. Suas colônias foram hibernadas num po-rão muito seco:

"Por volta do início do ano (1859) abri minha colméia de vidro de um único quadro, e encontrei uma colméia repleta de abelhas e aparen-temente saudáve, mas sem ovos nem cria.

"2 de fevereiro - Examinei a mesma colméia e encontrei cria fechada e aberta mas nada de ovos. Uma parte considerável da cria tinha morri-do, provavelmente por falta de água.

"Ao abrir outra colméia não tão repleta de abelhas encontrei o mesmo quadro, com exceção que menos cria tinha morrido. Favos secos em ambas e muitos alvéolos de mel abertos. Forneci água para todas e-las para sua evidente alegria e fechei a colméia de vidro no topo, para verificar a umidade, deixando as demais com ventilação na parte supe-rior.

"5 de fevereiro - Examinei ambas as colméias. Nenhum ovo na col-méia de vidro. As abelhas estavam ocupadas retirando cria morta. Na outra, ovos em quantidade moderada. Poucas larvas em ambas.

"11 de fevereiro - Abri a colméia de vidro e encontrei os alvéolos o-cupados em sua maioria com cria morta, abundância de ovos e larvas recém eclodidas. Descobri uma abertura entre a colméia e a tampa que possibilitava ventilação para cima e fechei-a.

"1° de março - Fiz uma verificação cuidadosa de ambas as colméias. Ovos, larvas e cria fechada em ambas. A colméia de vidro muito úmida, água depositada no topo dos quadros e, pelo menos, um gill2 no fundo; favos mofados e aspecto geral de desconforto. A outra, quase seca, tanto

1 Em clima muito frio, gelo e umidade podem superabundar na colméia, mas eles podem estar tão longe do amontoado a ponto de as abelhas não conseguirem al-cançá-los, até mesmo quando estão morrendo por falta de água. 2 Segundo Michaelis – Gill: medida para líquidos (0,l42L). N. T.

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a colméia quanto os favos. Examinei outras duas colméias de vidro com ventilação na parte superior encontrei-as secas. Todas foram tratadas precisamente da mesma forma, exceto que a colméia fechada em cima tinha menos água, pois as abelhas pareciam não querê-la - por não ma-nifestarem nenhum prazer ao recebê-la. Esta colméia não continha tan-tos ovos como as demais, apesar da família maior, e parecia em condi-ções gerais menos saudável."

Em todas as minhas colméias que tem tampa, as abelhas podem ser supridas facilmente com água, nestas que não tem, a água deve ser injetada por um canudo pela entrada de Inverno, ou derramada pelo telhado através de um pequeno buraco, fe-chado com um tarugo, tomando-se o cuidado de não dar em de-masia.1

Se as colônias estão populosas e bem supridas, tem ventila-ção superior, fácil comunicação entre os favos e água quando ne-cessária - a entrada da colméia protegida dos ventos penetrantes, elas têm todas as condições necessárias para hibernar com su-cesso a céu aberto.

A colônia de abelhas sofre muito se for perturbada quando o clima está tão frio que elas não conseguem voar. Muitas que ten-tam deixar o amontoado, morrem antes de conseguirem retornar a ele, e toda perturbação, por incitá-las a atividade desnecessá-ria, provoca aumento no consumo de alimento. Cerca de uma vez a cada seis meses, porém, recomenda-se limpar o fundo das colméias hibernadas a céu aberto das abelhas mortas e outros detritos. Onde são utilizados fundos permanentes, isto pode ser feito com um raspador (Lâmina XI, Fig. 30), fabricado de uma peça de ferro redondo, com cerca de dois pés (60cm) de compri-mento; este, quando aquecido, é dobrado em quatro polegadas

1 O Mr. Wheaton encontrou que elas podem ser supridas facilmente com água de uma esponja colocada sobre o buraco e coberta com um tumbler: "Se a água for adoçada elas sempre secarão a esponja; se não, elas darão pouca atenção a ela, a menos que impedidas de saírem em vôo."

O Mr. Wagner sugere que uma peça de cerâmica, presa em baixo do fundo, fará a água condensar sobre ela, onde as abelhas podem conseguí-la facilmente. O Mr. Cary, por sugestão minha, colocou uma placa de vidro sobre os quadros direta-mente sobre as abelhas e a água condensou sobre ela parecendo atender todas as suas necessidades. Ela pode ser elevada de forma que as abelhas possam pas-sar sob ela. Pode-se ver que com alguns dispositivos simples podemos, sem gran-des supervisões, suprir toda a água que uma colônia forte necessita no clima mais frio antes de o desenvolvimento da cria ter começado ativamente. Existe pouca dúvida que esta providência pode atender as abelhas que não hibernam a céu aberto.

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(10cm), e achatado na largura de um quarto de polegada (6mm), com ambas as bordas afiadas.1

As abelhas muito raramente se desfazem de suas fezes na colméia, a menos que estejam doentes ou muito perturbadas. Se o Inverno for excepcionalmente severo e elas não tiveram opor-tunidade para voar, seus abdomens, antes da Primavera, ficam seguidamente muito distendidos e elas ficam muito sujeitas a se perderem na neve se o clima, durante seu primeiro vôo, não for favorável. Depois de terem se desfeito de suas fezes elas não se aventuram de suas colméias com clima impróprio caso estejam bem supridas de água.

Tendo informado as necessárias precauções a serem toma-das para hibernar as abelhas a céu aberto, serão descritos os métodos para defendê-las das mudanças atmosféricas colocan-do-as em depósitos especiais.

Em algumas partes da Europa, é costume hibernar todas as colméias de uma vila numa adega ou porão comum. Diz Dzier-zon:

"Um porão seco é muito propício para hibernar abelhas, ainda que ele não seja totalmente seguro contra o gelo; a temperatura será muito mais amena e mais uniforme do que a céu aberto; as abelhas estarão mais seguras contra perturbações e estarão protegidas dos penetrantes ventos frios, que causam mais prejuízo do que o frio intenso quando o ar está calmo.

"A experiência universal ensina que quanto mais efetivamente as abelhas estiverem protegidas de perturbações e das variações da tempe-ratura melhor elas passarão o Inverno, menos elas consumirão suas re-servas e mais vigorosas e numerosas serão na Primavera. Eu construí um depósito especial para as minhas abelhas perto do meu apiário. É protegido do clima tanto externa como internamente e o espaço inter-mediário está cheio com feno ou casca de tanino, etc.; o piso interno é cavado até a profundidade de três a quatro pés (90 a 120cm), para ga-rantir uma temperatura mais moderada e constante. Quando minhas abelhas são colocadas neste depósito e a porta é fechada, a escuridão, temperatura uniforme e o repouso total usufruído pelas abelhas permite que elas passem o Inverno com segurança. Normalmente coloco ali mi-nhas colônias mais fracas e estas cujas colméias não foram feitas de

1 Se na parte de trás da colméia for feito um buraco para ventilação (Lâmina V, Fig. 16), todo detrito pode ser soprado com um par de foles. Deve ser usada mui-to pouca fumaça antes de limpar o fundo. Palladius, bem sucedido a cerca de dois mil anos atrás, diz que as abelhas não devem ser perturbadas no Inverno, a não ser para limpar suas colméias das abelhas mortas, etc.

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materiais mais quentes, elas sempre passam bem. Se esta estrutura for parcialmente subterrânea, deve ser escolhido um local realmente seco para construí-la."

O Mr Quinby, que foi provavelmente o maior apicultor dos Estados Unidos, hibernou suas abelhas durante muitos anos com grande sucesso, num recinto especialmente adaptado para este fim. Para se livrar da umidade, ele inverte as colméias co-muns, e remove a tábua que cobre os quadros.

O Mr. Wagner me forneceu a seguinte tradução de um artigo muito interessante do Bienenzeitung. O autor, o Rev. Mr. Scholtz, da Baixa Silésia, é sobejamente conhecido na Alemanha por sua habilidade em apicultura:

"De longa data os fazendeiros tem o hábito de colocar maçãs, toma-tes, nabos, etc, em covas, para preservá-los durante o Inverno. Eles são empilhadas na forma piramidal, sobre um leito de palha, que cobrem com seis a oito polegadas (15 a 20cm) de espessura com o mesmo mate-rial, igualmente espalhado como um telhado. E o todo é coberto, com a forma cônica, com uma camada de terra com doze polegadas (30cm) de espessura, retirada de valas que são feitas ao redor da cova. O acaba-mento apropriado é feito batendo esta terra fofa e alisando com as cos-tas da pá. Este modo de preservação, quando bem executado, mantem as frutas, tubérculos, raízes, etc., em melhores condições durante o cli-ma frio, do que seria possível conseguir em porões e cavernas.

"Estes fatos me sugeriram proteger as abelhas durante o Inverno de forma semelhante. É evidente, no entanto, que uma cova para abelhas exigiria várias modificações, para garantir ventilação adequada, para e-vitar o aumento excessivo da temperatura, e minimizar a acumulação de umidade; também um arranjo para averiguar e regular efetivamente a temperatura. Tudo isto, também, sem perturbar seriamente as abelhas depois que as colméias fossem depositadas nas covas.

"Para atingir estes objetivos deverá ser marcada uma área circular, suficientemente grande para o propósito desejado, na parte mais seca e elevada da propriedade ou outro local apropriado. A camada de solo contendo matéria vegetal sujeita a decomposição é, então, removida e na parte central do local, será cavado um fosso com três pés quadrados (1m2) e três pés de profundidade (1m) (ver Fig. 66), espalhando em volta a terra removida da cova e alisando e socando-a. Este fosso é projetado para servir como uma câmara de ar, como será minuciosamente expli-cado em seguida.

"Tendo preparado apropriadamente a área, serão cavadas quatro canaletas com uma polegada e meia (4cm) de largura e profundidade; cada uma se estendendo a partir do meio de cada um dos quatro lados da cova, até a lateral da periferia do área (Lâmina XXI, Fig. 66). Em cada

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uma destas canaletas será colocado um cano de chumbo com uma po-legada (2,5cm) de diâmetro, a fim de formar uma comunicação entre a cova e o ar exterior da cova quando terminada (Lâmina XXI, Fig. 66). Quando estes tubos forem cobertos com terra e o terreno novamente ni-velado, deverá ser colocado um estreito sarrafo de madeira para marcar a posição dos tubos, uma vez que eles não podem ser machucados nas operações subseqüentes.

"A área, incluindo a câmara de ar, será agora coberta com caibros de quatro polegadas, colocados radialmente a partir do centro, tão pró-ximo quanto possível em distâncias regulares, para servir como plata-forma na qual a camada mais inferior de colméias será colocada. Os caibros devem ser cortados em comprimentos diferentes e colocados ponta contra ponta, afastados de quatro polegadas (10cm), a fim de dei-xar interstícios para a circulação livre do ar, e quando necessário, uma vez que o espaço se alarga com a circunferência, peças adicionais serão colocadas, para que as colméias fiquem firmes e niveladas. As colméias serão colocadas em camadas sobre esta plataforma, assim que o con-junto, quando completo, terá a forma de uma pirâmide. Assim, a cama-da mais inferior consiste de quatro filas com quatro colméias; a segunda de três filas com três colméias; e a terceira, duas filas com duas colméi-as cada uma. A quarta, ou o ápice, no entanto, deve ser formado de du-as colméias, em vez de uma, por razões que a seguir aparecerão (Lâmina XXI, Fig. 68). O todo formará assim uma pirâmide de quatro lados, con-sistindo de trinta e uma colméiaos, que, se forem utilizadas as colméias duplas de Dzierzon, conterá sessenta e duas colônias, num espaço rela-tivamente pequeno. A estrutura oblonga (Lâmina XXI, Fig. 70), é cons-truída com princípios semelhantes, com a necessária variação na forma.

"Estas colméias, que são colocadas na plataforma diretamente so-bre a cova, ou câmara de ar, devem ser mantdas afastadas de seis pole-gadas (15cm), assim será formado um funil contínuo ou passagem dire-ta de ar no centro da câmara de ar para o ápice da pilha; e nas frentes opostas das duas colméias superiores será instalada uma espécie de chaminé (ver pág. 351), feita com quatro peças de madeira, com oito po-legadas (20cm) de largura e trinta polegadas (75cm) de comprimento, tendo uma cobertura móvel com inclinação adequada para evitar a en-trada da chuva. Serão feitos buracos nas laterais da chaminé, abaixo da cobertura, para permitir a saída do ar do interior da pilha. As demais colméias podem ser colocadas próximas, sempre será vantajoso que elas não se toquem umas às outras para não obstruir a circulação do ar no interior, pois é necessário que o apicultor tenha condições de regular a temperatura interna uniformemente. Não é requisito um arranjo das colméias com grande exatidão. É essencial somente que elas fiquem fir-mes e niveladas para formar uma pirâmide regular. Deve ser tomado cuidado de não começar colocando as colméias muito próximas da peri-feria da área; pois, entre a borda externa da camada inferior de colméi-as, e a boca exterior dos tubos de ventilação deve ser reservado espaço suficiente para a cobertura externa, ou capa da pilha (Lâmina XXI, Fig.

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69).

"Quando as colméias tiverem sido arranjadas da forma descrita, e a chaminé tiver sido colocada entre as duas superiores, a chaminé se co-municando com a câmara de ar, elas serão cobertas com tábuas corta-das em comprimento adequado e colocadas inclinadas lado a lado em volta dos lados da pirâmide. Sobre e contra estas taboas será depositada uma grossa camada de galhos ou palha velha e seca, formando uma co-bertura regular e densa, desde a base até o ápice. Esta cobertura será, por sua vez, coberta com uma camada de terra, com cinco a seis pole-gadas (12 a 15cm) de espessura, espalhada tão uniformemente quanto possível, começando em baixo e prosseguindo para cima até a chaminé, assim que esta, já estando firme no lugar pelas taboas, palhas e galhos é agora coberta com terra, cinco a seis polegadas (12 a 15cm) no topo. A terra para cobrir é retirada diretamente da base da pilha, em volta da qual uma canaleta com seis polegadas (15cm) de profundidade, e oito polegadas (20cm) de largura é agora cavada para expor as bocas dos tu-bos de ventilação na borda superior do lado interno da canaleta. Ao ca-var a canaleta, cuidar para não fechar ou machucar as bocas dos tubos, os quais devem, além disso, receber uma tampa perfurada para impedir a passagem dos ratos ou outros animais, e ainda permitir a passagem livre do ar. A canaleta servirá para receber e escoar a água da chuva ou da neve durante o Inverno; para torná-la mais perfeita, várias sarjetas ou sulcos devem ser feitos a partir dela. Se não for conseguida terra su-ficiente da canaleta para cobrir completamente a palha ou galhos, com pelo menos cinco polegadas (12cm) de espessura, a falta deve ser supri-da de outras fontes. A cobertura de terra deve ser alisada e nivelada com as costas da pá.

"Neste estado a pilha pode ser mantida até ocorrerem geadas fortes quando uma camada adicional de folhas ou galhos de pinus deve ser co-locada. Esta deve ter cinco ou seis polegadas (12 ou 15cm) de espessura e aplicada tão lisa quando possível, desde a base até o ápice, deixando expostos apenas quatro polegadas (10cm) da chaminé. Este material de-ve ser aplicado úmido, pois assim ele compactará mais firmemente e depois confinará melhor o calor. Quando terminado, ele deve ser bem borrifado com água e deixado congelar. Assim se forma uma estrutura bem compacta (Fig. 69 e 70). As bocas dos tubos de ventilação devem em seguida serem protegidas colocando um pedaço de madeira na frente de cada um; e as canaletas são então enchidas com palha jogada.

"Todo este trabalho deve ser realizado com cuidado, para perturbar o mínimo possível as abelhas. A cobertura de folhas ou galhos de pinus deve ser aplicada logo depois que o clima frio se instalou, pode ser adia-do até depois que as primeiras neves tenham caído e derretido e o clima mais severo de dezembro ou janeiro indique a necessidade de proteção adicional.

"Se um apicultor extensivo concluir ser necessário um monte de maiores dimensões, duas ou três covas, ou câmaras de ar, com seus tu-

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bos de ventilação e chaminés pertinentes podem ser usados (Lâmina XXI, Fig. 70).

"Em dias claros e amenos a taboa de proteção das bocas dos tubos de ventilação pode ser removida, assim o ar fresco pode entrar livremen-te na pilha, e carregar qualquer umidade que possa ter se formado no seu interior; como todo o interior está em comunicação direta com a câmara de ar, uma atmosfera seca e saudável se difundirá rapidamente pelo interior, graças à tiragem da chaminé. Por volta do final do dia as taboas de proteção devem ser recolocadas. Com o retorno do clima a-meno, ou término das severas e prolongadas geadas, as bocas dos tubos de ventilação devem ser descobertas e deixadas abertas, dia e noite, pa-ra evitar o desenvolvimento indesejável de calor no interior; mas com clima claro, não deixar que os raios de sol incidam diretamente nas bo-cas dos tubos. Se os buracos nas laterais da chaminé ficarem fechados pela neve, a obstrução deve ser removida, com um rastel ou outro equi-pamento conveniente. Quando o exterior da pilha estiver coberto de ne-ve, a boca de um dos tubos de ventilação deve ser mantido aberto, mesmo com clima frio, e todos eles quando o clima ficar moderado, pois a cobertura de neve provoca um grande aquecimento interno.

"Para verificar a temperatura interna, um termômetro preso a um longo cordão pode ser introduzido na câmara de ar através da chaminé, depois de removida sua cobertura. Isto pode ser feito freqüentemente a fim de servir como orientação para abrir ou fechar as bocas de ventila-ção dos tubos. A ventilação parece, no entanto, de acordo com os nume-rosos experimentos que fiz, contribuir menos para a saúde das abelhas do que manter os favos e interior das colméias livres da umidade e do mofo; e foi graças a este fato que eu adotei um arranjo particular para as minhas pilhas instaladas no apiário, quase sempre, para conseguir uma circulação adequada de ar puro e seco dentro delas.

Além de estas estruturas serem mais baratas elas são muito supe-riores, para o propósito desejado, do que as melhores pilhas ou porões acessíveis. Esta forma de hibernar as abelhas pode ser criticada por não permitir que as colméias sejam inspecionadas durante o Inverno, no en-tanto parece que estas inspeções são apenas desejáveis. Isto é verdade; mas, ao projetar minhas pilhas realmente não tinha qualquer referência sobre como os apicultores normalmente manejavam suas colônias du-rante o Inverno. Tais casos, de fato, me parecem ser antes, no mínimo, um desespero, uma vez que as colônias tratadas durante a estação, ra-ramente conseguirão fazer o seu dono encontrar o apiário pouco digno do nome. Eu prefiro deixar que minhas abelhas permaneçam não per-turbadas durante o clima frio, crente que, se elas se encontravam em boas condições no final do Outono, passarão o Inverno sem sofrerem e estarão com reserva adequada de mel até mesmo em abril. Disto estou mais certo, pois verifiquei que as abelhas conservadas nas pilhas rara-mente consomem a metade da quantidade de mel exigido por aquelas de hibernam a céu aberto, ou no apiário.

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"Para estabelecer uma comparação entre os diferentes modos de hi-bernação das abelhas, eu coloquei uma parte de minhas colônias numa pilha conforme a construção acima indicada, em 17 de novembro de 1856, e transferi as restantes para uma câmara escura bem protegida na minha residência. Fechei a entrada de algumas das últimas, mas lhes deixei ventilação através de uma grade ou passagem de ventilação na traseira de suas colméias. Das restantes, as entradas bem como as passagens de ventilação foram fechadas. Muitas das que foram coloca-das nas pilhas foram propositadamente escolhidas por terem apenas oi-to a dez libras (4 a 5kg) de mel cada uma, pois eu queria verificar se po-deriam sobreviver com tão pouca reserva de alimento. Coloquei, tam-bém, um enxame secundário tardio que tinha construído apenas poucos favos e que não continha mais do que quatro a cinco libras (2 a 2,5kg) de mel. Todas as demais tinham reservas amplas. Fechei a entrada e passagem de ventilação de uma colônia forte e coloquei algumas peças de favo vazio no fundo da colméia para testar se, caso a umidade fosse gerada por causa da falta de ventilação, formaria mofo nestes favos.

De 18 a 23 de novembro, o clima esteve ameno, e os tubos de venti-lação, porisso, foram todos mantidos abertos dia e noite. No dia 24 a pi-lha ficou coberta com neve, e eu fechei três dos tubos de ventilação. No dia 26 começou o degelo e o clima continuou muito moderado até o final do mês, o termômetro ficando em 33° (0°C) externo à pilha. Dois dos tu-bos foram mantidos abertos. De 1° a 3 de dezembro, caiu dez polegadas (25cm) de neve, com o termômetro oscilando entre 20 e 22° (-6 e -7°C); mantive apenas um tubo aberto. No dia 6 o clima amenizou; de 7 a 12 o termômetro ficou entre 54 a 66° (12 e 19°C), novamente abri todos os tubos e assim mantive até o final do mês, e até 5 de janeiro. No dia 6 o clima ficou frio e congelante, eu adicionei uma manta externa, ou cober-tura de folhas e galhos de pinheiro, fechando todos os tubos. O tempo frio continuou até 17 de janeiro. A partir de 18 até o fim do mês tivemos continuamente tempo bom, clima ameno, abri todos os tubos de ventila-ção. Em fevereiro o clima esteve particularmente ameno e bom e, de 18 a 21, o termômetro oscilou entre 76 e 78° (24 e 25°C). As abelhas dos meus vizinhos, que foram hibernadas a céu aberto, estavam, agora vo-ando vivamente todos os dias e muitas das colônias da minha câmara estavam tão quietas que eu fiquei compelido a removê-las do recinto de hibernação. Pensei assim com um pouco de relutância, pois tínhamos uma indicação de Primavera mais cedo. O tempo bom continuava, eu considerei errado manter as colônias confinadas por mais tempo nas pi-lhas, e abri em 27 de fevereiro abri a pilha para as retirar as colméias.

"Assim que a pilha foi exposta aos raios do sol do meio dia, o ter-mômetro indicava variação diária entre 76 e 78° (24 e 25°C) durante al-gum tempo, ainda, ao remover a manta externa encontrei a terra sob a manta ainda congelada, assim que ela teve de ser removida com cava-deira - uma prova satisfatória de que o interior da pilha não foi afetado pelas variações externas da temperatura. Fiquei extremamente ansioso para ver se a água da chuva ou da neve tinha penetrado a cobertura de

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palha, o que suspeitava ter acontecido, uma vez que não tinha experiên-cia prévia sobre o assunto. Para minha surpresa e satisfação, no entan-to, encontrei-a totalmente seca - mostrando de modo conclusivo que a cobertura de terra foi efetivamente suficiente para proteger da água da chuva e da neve e que a ampla e eficiente ventilação interna evitou a formação de umidade e mofo. Ao remover a palha, não percebi nenhum sinal de umidade sobre as tábuas; e quando, finalmente, estas últimas foram removidas, as colméias se apresentaram tão limpas e secas como quando lá foram colocadas no Outono.

"Ansioso agora por verificar a condição de suas ocupantes bati de leve nas colméias, mas, para meu desânimo, não ouvi resposta. Apanhei um sarrafo e bati cada vez mais forte, finalmente passei a soprar; ainda assim o interior permanecia mudo. Um senhor idoso, da cidade vizinha que desejava testemunhar, pareceu-me muito gratificado com meu de-sapontamento e consternação, uma vez que ele e seus vizinhos tinham criado abelhas por muitos anos, mas nunca tiveram tal idéia e nunca fi-zeram um experimento como o meu. Devo admitir que fiquei, por um momento, totalmente desconcertado ao verificar, como então supunha, todas as minhas previsões e avaliações assim repentinamente e efetiva-mente não serem confirmadas. Mas, resolvido a conhecer o pior, removi as colméias para o apiário, onde o sol brilhava e estava ameno; foi só abrir o alvado, para as abelhas saírem em massa para fora, zumbindo alegremente, para meu irrepreensível deleite e para o total desconforto do idoso senhor. Com gratificação especial constatei que as abelhas sai-am de sua prolongada prisão com os corpos tão débeis e delgados como estavam no Outono precedente, enquanto as que tinham sido hiberna-das na câmara escura manchavam suas colméias e todos os objetos cir-cunvizinhos com uma profusão de descargas fecais. Isto me levou a con-jeturar que estas colônias consumiram comparativamente pouco mel, o que foi comprovado ser verdade ao abrir as colméias e examinar a con-dição de suas reservas. Estas colônias que tinham apenas oito ou dez libras (4 ou 5kg) de mel no Outono ainda tinham alguma reserva rema-nescente e estavam saudáveis e fortes; enquanto o pobre e pequeno en-xame secundário tinha não só mantido seu número mas tinha uma grande parte de sua pequena reserva de mel ainda em estoque. Foram encontradas poucas abelhas mortas, estas morreram, provavelmente, por idade avançada. A perda de abelhas foi muito maior nas colônias que tinham sido hibernadas em casa e foi consumida mais do dobro da quantidade de mel por cada colônia; assim que uma grande economia pode ser conseguida com as pilhas, além de outras vantagens significa-tivas que este modo de hibernação de abelhas possue. Os favos de todas as colônias estavam limpos e livres de mofo e não pude perceber dife-rença neste particular entre as colméias que tiveram suas entradas e passagens de ventilação fechadas e aquelas em que estas últimas per-maneceram abertas, os pedaços de favo velho, também, permaneceram secos e livres de mofo. Consegui uma prova satisfatória que, onde a temperatura é moderada e uniforme, a condensação de umidade não

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ocorre por confinamento. Ainda, entre as várias conclusões, posso re-comendar a ventilação em todas as colméias; a experiência acima ensi-nou-me que as abelhas permanecerão mais tranqüilas durante o Inver-no nas colméias devidamente ventiladas do que em colméias fechadas. Um bom número de colônias depositadas em minha peça escura foi con-finada, propositadamente, sem ventilação. Três delas ficaram muito agi-tadas, consumiram uma quantidade desproporcional de seus estoques e muitas de suas abelhas morreram. Precisamente, estas três colônias, ainda que fortes e saudáveis na Primavera, eram as mais fracas de todo o lote, embora em tão boas condições como as outras quando removida do apiário no Outono. Não ocorreu nada semelhante nas colônias que tinham apenas ventilação parcial.

"Tendo assim, por estes diferentes experimentos sobre hibernação das abelhas, chegado a resultados certos e satisfatórios, daqui para frente não devo hibernar minhas colônias móveis a não ser em pilhas.

"Desde a publicação do meu modo de hibernação de abelhas em pi-lhas, foram feitas algumas críticas, que relatarei brevemente, antes de trazer os resultados da minha última experiência sobre o assunto.

"O custo da construção da pilha tem sido apontado como uma críti-ca a seu uso. No meu caso, o custo da mão de obra foi simplesmente o salário de um dia para dois homens que me auxiliaram a preparar a á-rea, carregar as colméias para lá e arranjar e fechar tudo. Os materiais usados, com exceção dos caibros, não custaram literalmente nada, uma vez que toda tábua velha serve e os galhos ou palha, folhas, etc., utiliza-dos, são sempre, de custo irrisório.

"Uma segunda crítica é que os ratos e camundongos serão induzi-dos a se reunirem e se abrigarem nas pilhas, se for usada palha. Sem-pre usei apenas palha velha, rigorosamente separada dos grãos e preferi usar junco sempre que facilmente encontrado. Até hoje não constatei a presença de ratos e camundongos.

"A fim de mostrar o quanto as pilhas são melhores para hibernar as abelhas, principalmente em colméias finas, relato que um dos meus vi-zinhos, cujas colméias são feitas de tábuas de uma polegada (2,5cm), que perdia invariavelmente muitas abelhas, freqüentemente todas as co-lônias, quando as hibernava como fazia usualmente no apiário aberto, foi induzido, por causa do meu sucesso, a colocar suas colméias em pi-lha no último Outono. Elas foram colocadas em 11 de novembro de 1857 e permaneceram sem serem perturbadas até 29 de março de 1858. Quando abertas, todas as colônias estavam em excelentes condições, fortes e totalmente livres de mofo e umidade. Nunca, em períodos ante-riores, ele teve tanto sucesso, como também nunca suas abelhas exigi-ram ou receberam tão pouca atenção dele. Ele era o próprio ´incrédulo Tomé´, quando me via arranjando minha primeira pilha, mas está agora totalmente convertido para o sistema e declara que ele não usará outro método no futuro, uma vez que parece impossível divisar um melhor.

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"Minhas próprias colônias permaneceram na pilha de 13 de novem-bro a 29 de março, 1858, e estavam perfeitamente vibrantes e saudáveis quando as abri. A terra sob a manta externa estava congelada, foi remo-vida com cavadeira, como no ano anterior, mostrando assim que as abe-lhas não foram afetadas pelo clima ameno que prevaleceu. Um longo confinamento não as prejudicou em nada, pois, repousando em tempe-ratura baixa e uniforme elas consumiram proporcionalmente pouco mel e não foram excitadas ou perturbadas durante todo o período. Estou a-gora totalmente convencido que as abelhas podem ficar confinadas des-ta maneira durante a maior parte do prolongado Inverno, não só sem nada sofrerem, mas com benefícios positivos, uma vez que elas ficam longe dos sempre perniciosos e freqüentemente perigosos efeitos da ex-posição às vicissitudes do tempo em nosso clima variável.

"Para simplificar a construção das pilhas, eu fiz a minha última mais comprida e mais baixa do que a que preparei no Outono anterior; assim pude aplicar sucessivas coberturas, ou mantas, mais fácil e con-venientemente. Dispensei, também, a chaminé e assim pude fechar o topo mais regular e perfeitamente, deitando sobre o topo taboas que fo-ram mantidas no lugar com pedras. Não vi desvantagem no fato de des-cartar a chaminé, pois os tubos de ventilação me permitiam regular a temperatura interna, e forneciam às abelhas ar fresco suficiente. Tam-bém alarguei a câmara de ar, fazendo-a com três pés (1m) de profundi-dade, como antes, com apenas trinta polegadas (76cm) de largura, e a alonguei para atingir todo o comprimento do diâmetro interior da pilha. Sob todos os outros aspectos a construção permaneceu a mesma."

Insisto que quando as colméias são hibernadas em depósitos especiais lhes deve ser dada ventilação pela parte superior. Se elas estiverem em porões ou quartos, a cobertura deve ser remo-vida completamente; se colocadas em pilhas, ela deve ser presa, como indicado na pág. 338, e deve-se permitir que o ar entre pe-la parte inferior da colméia.

É óbvio que quem desejar instalar grandes apiários, em qualquer das regiões do norte do nosso país, deverá hibernar su-as abelhas, pois elas não podem ser expostas às normais mu-danças climáticas. Só experimentos cuidadosos e continuados podem indicar precisamente qual a melhor forma. Estes não de-vem ser conduzidos de forma a trazerem muito risco.

Seguidamente se incorre em grandes perdas ao repor nos suportes de Verão as colméias que foram mantidas em depósitos especiais. A menos que o dia quando elas forem repostas seja muito favorável, muitas se perderão ao fazer o vôo para descar-regar as fezes. Em colméia de quadros móveis, este risco pode ser diminuído pela remoção da cobertura dos quadros e permi-

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tindo que o sol incida diretamente sobre as abelhas; isto fará e-las se aquecerem tão rapidamente que elas descarregarão suas fezes num curto espaço de tempo.1

Depois que as colméias estiverem nos seus suportes de Ve-rão,2 os cuidados já descritos devem ser tomados para fortalecer as colônias fracas ou empobrecidas (pág. 221).

1 O que segue é um extrato da minha revista:

"31 de janeiro de 1857. - Removi a cobertura expondo as abelhas a todo o calor do sol, o termômetro estando em 30° (-1°C) na sombra e a atmosfera calma. A colméia estava no lado ensolarado da casa, as abelhas voaram rapidamente e descarregaram suas fezes. Poucas se perderam na neve e quase todas que nela pousaram levantaram vôo sem ficarem congeladas. Mais abelhas foram perdidas de outras colméias que não foram abertas, uma vez que poucas que saíram con-seguiram retornar; enquanto, naquela em que a cobertura foi removida, as abe-lhas ao retornarem tinham condições de pousar entre suas companheiras aque-cidas." 2 Dzierzon lembra que se deve colocar as colméias em seus suportes anteriormen-te ocupados, pois muitas abelhas ainda lembram o velho lugar. O Mr. Quinby usa este momento para eqüalizar as colônias pois, pensa ele, "tendo elas hiber-nada em um recinto comum, seu odor é muito parecido de forma que elas se mis-turam sem muita briga".

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Fig. 71

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CAPÍTULO XXII

CCCAAALLLEEENNNDDDÁÁÁRRRIIIOOO DDDOOO AAAPPPIIICCCUUULLLTTTOOORRR AAAXXXIIIOOOMMMAAASSS DDDOOO AAAPPPIIICCCUUULLLTTTOOORRR

Este capítulo fornecerá ao apicultor inexperiente instruções sucintas para cada mês do ano1 e, através do índice alfabético, tudo o que é dito em cada tópico pode ser facilmente acessado.

JANEIRO - Nos locais de clima frio as abelhas estão agora, normalmente, em estado de repouso. Se as colônias foram ade-quadamente tratadas no Outono normalmente nada precisa ser feito que as possa excitar e que seria prejudicial. Em climas mui-to frios, no entanto, quando temperaturas críticas são de longa duração, será necessário, a menos que as colméias tenham ven-tilação pela parte superior (pág. 340), transportá-las para um re-cinto aquecido (pág. 341), para isolá-las do gelo, remover a umi-dade e permitir que as abelhas tenham acesso a suas reservas. Durante o mês de Janeiro existe, ocasionalmente, mesmo nas la-titudes muito frias, dias agradáveis em que as abelhas podem sair em vôo para descarregar as fezes; não as confine (pág. 337), mesmo que algumas sejam perdidas na neve. Neste mês limpar o fundo (pág. 347) mas perturbar as abelhas o mínimo possível. Atentar, também, para que elas tenham suprimento adequado de água (pág. 344), pois as famílias saudáveis já começam a desen-volver a cria (pág. 239).

FEVEREIRO - Durante este mês, algumas vezes, é mais frio do que em janeiro e então devem ser seguidas as instruções for-necidas para o mês anterior. Em estações medianas, no entanto, e em regiões quentes as abelhas começam a voar vividamente em fevereiro e, em alguns lugares, elas colhem pólen. O fundo deve ser novamente verificado, assim que as abelhas estiverem ativa-mente voando e se alguma colméia estiver desconfiadamente leve deve lhe ser fornecido açúcar cristal (pág. 272). As colônias fortes

1 Palladius, que escreveu sobre as abelhas a cerca de 2.000 anos, preparou suas anotações na forma de um calendário mensal.

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começam a desenvolver a cria consideravelmente, mas nada deve ser feito que provoque atividade prematura. Certificar-se de que as abelhas têm suprimento de água (pág. 344).

MARÇO - A inóspita região de Inverno continua nos nossos estados do norte e as instruções fornecidas para os dois meses anteriores aplicam-se também a este. Se ocorrer um dia agradá-vel, quando as abelhas tiverem condições de voar vivamente, a-proveite a oportunidade para remover a cobertura (pág. 361); limpe cuidadosamente a parte externa das colméias (pág. 221) e verifique a condição exata de cada colméia. Verificar se as abe-lhas têm água (pág. 344) e se estão bem supridas de farinha de centeio (pág. 84). Neste mês, as famílias fracas normalmente co-meçam a desenvolver a cria, enquanto as fortes aumentam-na rapidamente. Se o clima for favorável, as colônias que foram mantidas em recintos especiais de Inverno podem ser colocadas agora em seus suportes apropriados (pág. 361). Assim que o In-verno severo tenha acabado será necessário fechar toda ventila-ção superior.

ABRIL - Normalmente as abelhas começam a colher muito pólen neste mês e algumas vezes considerável quantidade de mel. Como a cria está agora amadurecendo rapidamente, existe um grande aumento na demanda de mel e grandes cuidados de-vem ser tomados para evitar que as abelhas passem necessidade de alimento. Se os suprimentos estão totalmente deficientes, a criação será verificada, talvez grande parte da cria não tenha morrido, ou a colônia inteira morrerá de fome. Se o clima for propício, pode ser iniciada a alimentação para promover um crescimento mais rápido da cria (pág. 268). As colônias fracas devem ser reforçadas (pág. 221) e, se o clima continuar frio por vários dias, as abelhas devem ser supridas com água (pág. 344) em suas colméias. Em abril, se não antes, as larvas da traça da cera começam a aparecer e devem ser cuidadosamente destruí-das (pág. 248).

MAIO - Como o clima vem ficando mais genial, o aumento de abelhas nas colônias é extremamente rápido e os zangões, se não apareceram antes, começam a sair das colméias. Em algumas localidades as abelhas colhem agora muito mel e, seguidamente, é recomendável lhes fornecer melgueiras adicionais;1 mas em al-

1 Caso sejam desejados enxames naturais, não se deve permitir que as abelhas ocupem muitas melgueiras.

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gumas estações e localidades, por causa de tempestades longas e frias, ou deficiência de forragem, as famílias não bem supridas de mel exaurem suas reservas e morrem a menos que alimenta-das. Em estações favoráveis os enxames são esperados neste mês, até mesmo nos estados do norte. Estes enxames de maio saem seguidamente próximo do término da floração das árvores frutíferas e, justamente, antes dos últimos suprimentos de forra-gem e, se o clima ficar repentinamente desfavorável, podem pas-sar fome, a menos que alimentados. Mesmo que não exista este risco, eles podem progredir tão pouco na construção de favo e desenvolvimento da cria, quando o alimento for escasso, a ponto de serem ultrapassados por enxames mais tardios. O apicultor deve ter colméias prontas para receber os enxames novos, por mais cedo de eles saiam ou sejam formados. Deve ser providen-ciado um suprimento razoável de rainhas se novas colônias fo-rem preparadas pelo método artificial (pág. 188).

JUNHO - Este é o mês da grande enxameação em todos os nossos estados do norte e centrais. Como as abelhas mantem al-tas temperaturas em suas colméias elas são tão dependentes do clima para progredir como as plantas e a maioria dos insetos o é. Tive enxames do cedo tanto no norte de Massachusetts como nas proximidades da Filadélfia.

Se o apiário não for cuidadosamente monitorado, o apicultor, depois de curta ausência, deve examinar os arbustos e árvores da vizinhança, em alguns dos quais ele seguidamente encontrará um enxame amontoado se preparando para partir em busca de uma nova morada.1

Assim que as melgueiras estiverem cheias2 e os alvéolos o-perculados elas devem ser removidas e outras vazias colocadas

1 "Como seguidamente é necessário saber de que colméia o enxame saiu, depois de ele ser alojado e removido para seu novo suporte, apanhar um punhado de abelhas deste enxame e jogá-las para o ar perto do apiário; elas retornarão ime-diatamente para a colméia materna, que poderá ser facilmente reconhecida, por-que elas estacionam na entrada e batem as asas como abelhas ventiladoras." - Dzierzon. Em minhas colméias, será fácil, pela ventilação traseira saber se a fa-mília está cheia a ponto de enxamear ou enxameou recentemente, até mesmo se não existir vidro para a observação. 2 O Mr. Quinby informou-me, que ele conseguiu fazer as abelhas encher duas camadas de pequenas caixas, colocando primeiro um conjunto na colméia; quando elas tinham enchido parcialmente esta, ele colocou o segundo conjunto em baixo do primeiro. Fazendo um buraco no topo, bem como no fundo da caixa (Lâmina XI, Fig. 24), isto pode ser feito facilmente.

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em seu lugar. Apicultores cuidadosos, seguidamente, perdem muito por negligenciarem em fazer isto na estação, condenando assim suas colônias a inatividade não desejada. O apicultor deve ter em mente que todos os enxames que saem no final deste mês devem ou ajudados, unidos ou devolvidos para suas colméias maternas. Com minhas colméias, a saída de tais enxames pode ser evitada removendo, na estação, o excesso de realeiras. Du-rante todo o período de enxameação, assim como durante todo o tempo em que rainhas estão sendo criadas, o apicultor deve ave-riguar oportunamente se a colméia que contem realeiras possui uma rainha fértil (pág. 218).

JULHO - Em algumas estações e distritos este é o grande mês da enxameação; enquanto em outros, abelhas saindo tão tarde, são de pouco valor. No norte de Massachusetts conheci enxames, aparecendo depois de quatro de julho, encher suas colméias e, alem disso, acumular grandes quantidades de mel em excesso. Neste mês toda a melgueira reserva deve ser removi-da das colméias, antes que a delicada brancura dos favos fique marcada pelo trânsito das abelhas ou a pureza do mel seja pre-judicada por um artigo inferior colhido mais tarde durante a es-tação.

As abelhas devem ter generosa disponibilidade de ar durante o clima extremamente quente, especialmente se elas estiverem em colméias não pintadas ou postadas ao sol.

AGOSTO - Na maioria das regiões existe apenas pouca forra-gem para as abelhas durante a última parte de julho e início de agosto e estando elas, por causa disto, dispostas a roubarem umas às outras deve se ter muito cuidado ao abrir as colméias. Em distritos onde o trigo mouro é altamente cultivado, as abe-lhas, algumas vezes, enxameiam quando ele floresce e, em algu-mas estações, são obtidos suprimentos extraordinários dele. Em 1856 tive um enxame do trigo mouro tão tarde quanto 16 de se-tembro!

Se algumas colméias estiverem tão cheias de mel a ponto de não ter mais espaço para desenvolver a cria alguns dos favos, agora, devem ser removidos (pág. 183). Se os opérculos dos alvé-olos forem removidos com uma faca bem afiada, os favos deita-dos numa vasilha, em algum recinto moderadamente aquecido, virados algumas vezes, a maior parte do mel drenará e eles po-dem retornar para as abelhas a fim de serem cheios novamente.

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O apicultor que em agosto tiver famílias sem rainha à mão deve esperar, como resultado de sua ignorância ou negligência, ter elas roubadas por outras colônias ou destruídas pela traça (pág. 246).

SETEMBRO - Seguidamente é um mês cheio de atividades com as abelhas. As flores do Outono florescem, as colônias que até então acumularam pouco mel ficaram pesadas e ainda pro-duzem um pouco para o seu dono. As abelhas relutam em traba-lhar nas caixas no final da estação, mesmo que suas reservas se-jam abundantes; mas se favos vazios forem inseridos no local dos cheios removidos elas os encherão com rapidez impressio-nante. Estes favos cheios podem, mais tarde, serem devolvidos se as abelhas, sem eles, não tiverem reservas suficientes.

Se os suprimentos do Outono não forem abundantes e as colméias estiverem muito leves para hibernar com segurança, então, nos estados do norte, a última parte deste mês é o tempo apropriado para alimentá-las. Já afirmei (pág. 274) que é impos-sível dizer quanto alimento uma colônia precisará para passar bem o Inverno; será, no entanto, muito inseguro confiar na au-sência de suprimento, pois mesmo que exista alimento suficiente ele nem sempre pode estar prontamente acessível para as abe-lhas. Grande precaução será também necessária para evitar a pi-lhagem; mas se não existirem colônias fracas, sem rainha ou de-pauperadas, as abelhas, a não ser que provocadas por manejo impróprio, raramente roubam umas às outras.

OUTUBRO - A forragem está agora praticamente exaurida na maioria dos locais e as colônias que estão muito leves devem no início do mês ser alimentadas, ou receber suprimento de mel de outras colméias. A condição exata de cada colméia deve agora ser conhecida, pelo menos e, se alguma estiver sem rainha, deve ser desfeita. Pequenas colônias devem ser unidas e todas as col-méias colocadas em condições adequadas para a hibernação. Al-guns favos cheios com mel devem ser colocados no centro da colméia e devem ser feitos buracos nos favos para facilitar a in-tercomunicação (pág. 337); se as colméias tiverem passagem de Inverno, as abelhas devem ser agora acostumadas a usá-la (pág. 338). No final do mês as colméias de vidro devem ser forradas entre a cobertura externa e o vidro com algodão descartável, musgo ou outro material isolante.

NOVEMBRO - Entendo que nos estados do norte todas as preparações necessárias para o Inverno foram concluídas no fi-

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nal do mês anterior. Se, porém, o apicultor não conseguiu exa-minar suas colméias ele deve, nos dias amenos de novembro, re-alizar todas as operações necessárias, exceto alimentar com mel líquido. A entrada das colméias deve agora ser protegida contra os ratos e é de bom alvitre pintar novamente os telhados. Se as colméias ficarem expostas ao sol, nenhuma cor é melhor do que o branco puro, mas se elas forem posicionadas na sombra das árvores (pág. 280), uma cor escura não lhes fará mal, durante o clima mais quente, enquanto no início da estação, antes do apa-recimento das folhas, por absorverem em vez de refletirem o ca-lor, se mostrarão altamente vantajosas para as abelhas.

Pelo final de novembro, nos nossos estados do norte, nor-malmente começa o Inverno e as colônias que tiverem de ser mantidas em depósitos especiais de Inverno, devem ser apropri-adamente recolhidas. Quanto mais tarde na estação melhor será para que as abelhas possam voar e se desfazer de suas fezes. O apicultor deve controlar a hora de recolher suas abelhas pela es-tação e pelo clima, tomando cuidado de não recolhê-las antes que o clima frio tenha se instalado, nem retirá-las do abrigo mui-to tarde. Se as colônias forem recolhidas muito cedo, e um perío-do quente aparecer após o primeiro frio, pode ser aconselhável recolocá-las em seus suportes de Verão.1

Assim que o clima congelante aparecer, as colônias que fica-rem a céu aberto devem receber ventilação pela parte superior (pág. 338).

DEZEMBRO - Nas regiões onde se recomenda recolher as colméias o lúgubre reino do Inverno está agora seguramente ins-talado e as orientações fornecidas para janeiro são, para a maio-ria dos locais, igualmente aplicáveis neste mês. Será bom, nas colméias que estão a céu aberto, remover as abelhas mortas e outros detritos do fundo; mas, nem neste mês nem em qualquer outra época isto deve ser tentado com as colméias recolhidas pa-ra local escuro e protegido. Tais colônias não devem, a não ser pela pressão de uma necessidade urgente, serem perturbadas em nada.

Recomendo ao apicultor inexperiente ler esta sinopse de ma-nejo mensal várias vezes e certificar-se que entendeu perfeita-mente e executou prontamente as tarefas apropriadas de cada

1 Se as abelhas forem hibernadas segundo a proposta do Mr. Scholtz, não será possível nem desejável re-instalar em seus suportes de Verão.

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mês, não esqueceu nada e nada foi adiado para um período mais conveniente; enquanto as abelhas não exigem grandes atenções, proporcionalmente aos lucros que elas geram, elas devem rece-bê-los no tempo apropriado e da forma correta. Estes que advoga-rem a sua inutilidade são, muitas vezes, dignos de repreensão como o fazendeiro que se nega a cuidar de sua mercadoria, ou colher sua produção, e depois acusa seus empregados como ten-do produzido escassos resultados frente ao grande investimento de capital e trabalho.

Axiomas do Apicultor

Existem alguns primeiros princípios na apicultura que devem ser familiares ao apicultor como as letras do alfabeto:

1. Abelhas cheias de mel nunca atacam espontaneamente.

2. As abelhas podem ser pacificadas induzindo-as a aceitar líquidos doces.

3. As abelhas, quando alarmadas pela fumaça ou pelo tam-borilar na colméia, se enchem de mel e perdem toda a disposição para ferroar, a menos que machucadas.

4. As abelhas não gostam de movimentos rápidos em volta de suas colméias, especialmente os que fizerem seus fa-vos vibrarem.

5. As abelhas não gostam do odor desagradável de animais suados e não aturam o ar da respiração do homem.

6. O apicultor normalmente consegue seus rendimentos de colméias que estejam fortes e saudáveis na Primavera.

7. Em regiões onde a forragem é abundante somente por curto período de tempo a maior colheita de mel será ga-rantida por aumento muito moderado das famílias.

8. Um pequeno aumento das colônias em qualquer época se provará, ao longo do tempo, ser a mais fácil, mais segura e mais barata forma de manejo das abelhas.

9. Colônias sem rainha, a menos que recebam uma, inevi-tavelmente desaparecerão ou serão destruídas pelas tra-ças ou pelas abelhas pilhadoras.

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10. A formação de novas colônias será restrita ao período em que as abelhas estão acumulando mel; se esta operação, ou qualquer outra, deva ser levada a cabo, quando a for-ragem é escassa devem ser tomados os maiores cuidados para evitar a pilhagem.

A essência dos ganhos em apicultura esta contida na Regra de Ouro de Oettl: MANTENHA SUAS COLMÉIAS FORTES (pág. 303). Se você não tiver sucesso para fazer isto quanto mais di-nheiro você investir nas abelhas maiores serão suas perdas, en-quanto, se suas colméias forem fortes, você mostrará que é um mestre apícola, bem como um apicultor e pode facilmente proje-tar generosos retornos de suas laboriosas trabalhadoras.

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EXPLICAÇÃO DAS LÂMINAS

LÂMINAS I. a XI. Inclusive. Mostram os vários estilos das Colméias de Quadros Móveis e os implementos utilizados no Apiário.

LÂMINA XII. FIGS. 31 e 32 – Rainha, ampliada e em tamanho natural. FIGS. 33 e 34 - Zangão, ampliado e em tamanho natural. FIGS. 35e 36 - Operária, ampliada e em tamanho natural. Estas ilustrações foram copiadas (com algumas alterações) de Bagster.

LÂMINA XIII. FIG. 37 - Placas de cera, muito ampliadas. FIG. 38 - Abdômen da Operária, aumentado e mostrando as placas de cera

exsudadas. FIG. 39 - Um alvéolo seccionado mostrando a posição normal do ovo. FIG. 40 - Larva de Abelha nos vários estágios de desenvolvimento. FIG. 41 - Secção de um Alvéolo, aumentado e mostrando a larva. FIG. 42 - Larva de Operária, totalmente desenvolvida e pronta para tecer o

Casulo. FIG. 43 - Ninfa de Operária. FIG. 49 - Realeira em tamanho natural. FIG. 50 - Corte de Realeira para mostrar uma princesa não eclodida. FIG. 44 - Ovo da Traça da Cera, em tamanho natural e ampliado. FIG. 45 - Larva da Traça da Cera totalmente desenvolvida. FIG. 46 - Traça da Cera fêmea. FIG. 59 - Traça da Cera fêmea com o ovipositor exposto e um ovo passando

por ele. FIG. 60 - Traça da Cera macho. FIG. 61 - Traça da Cera macho pequeno. FIG. 62 - Cabeça de um Vespão Mexicano, ampliada. FIG. 63 - Cabeça de Abelha ampliada. FIG. 64, 65 - Mandíbulas do Vespão e da Abelha, ampliadas. Algumas destas Ilustrações foram retiradas do Swammerdam, Reaumur e

Huber.

LÂMINA XIV. - A explicação desta lâmina, que representa os diferentes tipos de alvéolos do favo de abelha encontra-se no texto.

LÂMINA XV. - A explicação da FIG. 48, que representa o favo de Operária e Zangão em tamanho natural encontra-se no texto. FIG. 58 - Um grupo de realeiras, desenhado a partir de uma amostra encon-

trada em colméia do autor.

LÂMINA XVI. FIG. 51 - Probóscide da Operária muito ampliada. FIG. 63 - Mostra a proboscide presa à cabeça. FIG. 52 - Abdômen da abelha operária ampliado.

LÂMINA XVII. FIG. 58 - Ferrão da Operária muito ampliado. FIG. 54 - Vesícula melífera, Intestinos, Estômago e Reto de uma Abelha O-

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perária.

LÂMINA XVIII. - A explicação desta lâmina, que representa os Ovários (e partes adjacentes) da Rainha encontra-se no texto

LÂMINA XIX. - FIG. 56 - Casulos tecidos pelas Larvas da Traça da Cera.

LÂMINA XX. - FIG. 57 - Massa de Teia, Casulos e Excrementos deixados na Colméia destruída pelas Larvas da Traça da Cera.

LÂMINA XXI. - FIG. 66, 67, 68, 69 e 70 - Método Alemão de hibernação das Abelhas.

LÂMINA XXII. - A FIG. 71 é o Frontispício da Primeira edição.

LÂMINA XXIII. - Mostra como deve ser segurado o quadro quando retirado da Colméia de Quadros Móveis.

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LÂMINAS

LÂMINA I

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LÂMINA II

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LÂMINA III

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LÂMINA IV

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LÂMINA V

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LÂMINA VI

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LÂMINA VII

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LÂMINA VIII

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LÂMINA IX

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LÂMINA X

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LÂMINA XI

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LÂMINA XII

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LÂMINA XIII

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LÂMINA XIV

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LÂMINA XV

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LÂMINA XVI

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LÂMINA XVII

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LÂMINA XVIII

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LÂMINA XIX

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LÂMINA XX

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LÂMINA XXI

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LÂMINA XXII

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COLMÉIA E A ABELHA

Por L. L. LANGSTROTH

O Clássico Manual do Api-cultor

Este maravilhoso guia do Rev. L. L. Langstroth, “o pai da apicultura moderna” revolu-cionou a prática da apicultura. Publicado originalmente em 1853, o seu trabalho é o pri-meiro tratado descritivo do moderno manejo das abelhas – suas inovações permitiram que o povo se engajasse na apicul-tura, e deixasse de simples-mente carregar colméias e co-lher o mel. Este livro explica e ilustra técnicas já utilizadas a 150 anos – incluindo a inven-ção patenteada do autor, a colméia de quadros móveis, que rapi-damente se tornou de uso comum pelo mundo afora.

Com seu estilo amigável, não técnico, Langstroth trata de to-dos os aspectos da apicultura: fisiologia da abelha; doenças e i-nimigos das abelhas; o ciclo de vida da rainha, zangão e operá-ria; colméias; e o manejo das abelhas. Langstroth transmite uma contagiosa admiração e entusiasmo pela enxameação natural e artificial, pela produção de mel e cera e pelos melhores métodos para alimentar as abelhas e manter um apiário. O manual é rico em práticas e ensinamentos intrigantes conseguidos por anos de observações e experiências, incluindo “a docilidade das abelhas para com as pessoas”, “sua obsessão por líquidos doces” e “os cuidados com as abelhas para não ser ferroado”.

Esta versão do manual sempre popular de Langstroth é a quarta e última edição; ela incorpora as revisões do próprio autor e continua uma fonte incomparável para os apicultores

O autor na época em que escreveu o livro