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5012305-05.2012.4.04.7002 700006456711 .V1453 Avenida Pedro Basso, 920 - Bairro: Alto São Francisco - CEP: 85863756 - Fone: (45)3576-1162 - www.jfpr.jus.br - Email: [email protected] AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Nº 5012305-05.2012.4.04.7002/PR AUTOR: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: LUIZ CARLOS BAU ADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE RÉU: ADRYELLE CAROLYNNE NOGUEIRA LUETZ (SUCESSOR) ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIOR ADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO RÉU: PAULO BISKUP DE AQUINO ADVOGADO: JULMARA LUIZA HUBNER ZAMPIER RÉU: EDGAR APARECIDO DE SOUZA ADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE RÉU: MARCO ROBERTO SOUZA ADVOGADO: PAULO EDUARDO CALGARO ADVOGADO: MARIANA GARCIA MAIA RÉU: NABIL ASSAD BOU LTAIF ADVOGADO: PAULO EDUARDO CALGARO ADVOGADO: MARIANA GARCIA MAIA RÉU: ROGERIO FLEURY WATANABE ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIOR ADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGAL ADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR RÉU: GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA ADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR RÉU: MARIA DE LOURDES COSTA RODRIGUES MIRANDA ADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE RÉU: GLORIA DE MARIA PEREIRA DE SOUZA RODRIGUES ADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE RÉU: NILTON SANTOS GONCALVES ADVOGADO: JULMARA LUIZA HUBNER ZAMPIER RÉU: AILTON DE FREITAS BRAGA FILHO ADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRA ADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRA FILHO ADVOGADO: FLÁVIA CARNEIRO PEREIRA RÉU: JOSE CARLOS DE ABRANTES FERREIRA ADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR RÉU: ANGELICA NOGUEIRA LUETZ (SUCESSOR) ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIOR ADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO RÉU: OTAVIO LUIZ VILLA ADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRA ADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRA FILHO ADVOGADO: FLÁVIA CARNEIRO PEREIRA RÉU: ARLINDO ALVARES PADILHA JUNIOR ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIOR ADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGAL ADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR RÉU: MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 1ª Vara Federal de Foz do Iguaçu :: 700006456711 - eproc - :: https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprim... 1 de 104 10/07/2020 14:29

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Avenida Pedro Basso, 920 - Bairro: Alto São Francisco - CEP: 85863756 - Fone: (45)3576-1162 - www.jfpr.jus.br -Email: [email protected]

AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Nº 5012305-05.2012.4.04.7002/PR

AUTOR: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO

AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RÉU: LUIZ CARLOS BAUADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE

RÉU: ADRYELLE CAROLYNNE NOGUEIRA LUETZ (SUCESSOR)ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO

RÉU: PAULO BISKUP DE AQUINOADVOGADO: JULMARA LUIZA HUBNER ZAMPIER

RÉU: EDGAR APARECIDO DE SOUZAADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE

RÉU: MARCO ROBERTO SOUZAADVOGADO: PAULO EDUARDO CALGAROADVOGADO: MARIANA GARCIA MAIA

RÉU: NABIL ASSAD BOU LTAIFADVOGADO: PAULO EDUARDO CALGAROADVOGADO: MARIANA GARCIA MAIA

RÉU: ROGERIO FLEURY WATANABEADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGALADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR

RÉU: GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIAADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR

RÉU: MARIA DE LOURDES COSTA RODRIGUES MIRANDAADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE

RÉU: GLORIA DE MARIA PEREIRA DE SOUZA RODRIGUESADVOGADO: JOÃO CARLOS DALEFFE

RÉU: NILTON SANTOS GONCALVESADVOGADO: JULMARA LUIZA HUBNER ZAMPIER

RÉU: AILTON DE FREITAS BRAGA FILHOADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRAADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRA FILHOADVOGADO: FLÁVIA CARNEIRO PEREIRA

RÉU: JOSE CARLOS DE ABRANTES FERREIRAADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR

RÉU: ANGELICA NOGUEIRA LUETZ (SUCESSOR)ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO

RÉU: OTAVIO LUIZ VILLAADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRAADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRA FILHOADVOGADO: FLÁVIA CARNEIRO PEREIRA

RÉU: ARLINDO ALVARES PADILHA JUNIORADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGALADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR

RÉU: MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA

Poder JudiciárioJUSTIÇA FEDERAL

Seção Judiciária do Paraná1ª Vara Federal de Foz do Iguaçu

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ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGALADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR

RÉU: ADRYANN VICTOR NOGUEIRA LUETZ (SUCESSOR)ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO

RÉU: PAULO JAIR DE SOUZAADVOGADO: SERGIO BARROS DA SILVA

RÉU: FLAVIO LUIZ BARBOSAADVOGADO: VIVIANE COELHO DE SELLOS KNOERR

RÉU: MARCOS DE OLIVEIRA MIRANDAADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGALADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO

RÉU: GILBERTO LASSADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRAADVOGADO: JOEL GERALDO COIMBRA FILHOADVOGADO: FLÁVIA CARNEIRO PEREIRA

RÉU: NEWTON HIDENORI ISHIIADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTOADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGAL

RÉU: ADRIANO DA COSTA LUETZ (SUCESSÃO)ADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGALADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO

RÉU: JOSE ALVES MORATO NETOADVOGADO: CLEDY GONCALVES SOARES DOS SANTOSADVOGADO: MAURICIO DEFASSIADVOGADO: JOHNNY PASINADVOGADO: THAYNARA REGINA DE BARROS FRANZENADVOGADO: TALITA SOARES DOS SANTOS

RÉU: JULIA FERREIRA LUETZ (SUCESSOR)ADVOGADO: MARCOS GILBERTO DOS REIS

RÉU: OCIMAR ALVES DE MOURAADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGALADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO

RÉU: ANTONIO HENRIQUE SOARES MOURAO DE SOUZAADVOGADO: OSWALDO LOUREIRO DE MELLO JUNIORADVOGADO: VITOR HUGO NACHTYGALADVOGADO: VANESSA DAS NEVES PICOUTO

INTERESSADO: DELEGADO - UNIÃO - FAZENDA NACIONAL - LONDRINA

INTERESSADO: POLÍCIA FEDERAL/PR

INTERESSADO: DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL EM MARINGÁ - UNIÃO - FAZENDANACIONAL - MARINGÁ

INTERESSADO: DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DE FOZ DO IGUAÇU - UNIÃO - FAZENDA NACIONAL -FOZ DO IGUAÇU

SENTENÇA

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(... CONTINUAÇÃO DA SENTENÇA do Documento 700006199514)

2.3 MÉRITO

2.3.1 Mérito

A Lei 8.429/92, normatizando em nível infraconstitucional o § 4º do art. 37 daCF/88, dispôs que os agentes públicos, servidores ou não, que atentem contra a administraçãodireta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do DistritoFederal e dos Municípios, bem como as outras entidades mencionadas em seu artigo 1º erespectivo parágrafo único, estão sujeitos às penalidades nela previstas, cabendo ao MinistérioPúblico ou à pessoa jurídica interessada a propositura da ação correspondente (art. 17).

Note-se que a palavra "improbidade", em sentido ordinário, quer dizer falta deprobidade, mau caráter, desonestidade, maldade, perversidade.

No entanto, o "ato ímprobo", conforme delineado pelo legisladorinfraconstitucional, corresponde a qualquer ato que atente contra a administração pública,seja em sua dimensão moral ou material, inclusive podendo advir de comportamento culposodo agente, quando causa prejuízo ao erário (art. 10, caput), de modo que os atos deimprobidade não se confundem com atos contrários à moralidade administrativa, mas semanifestam numa relação de continente de conteúdo. Quer dizer: nem todo ato deimprobidade é imoral, mas todo ato imoral é ato de improbidade.

Essa é a doutrina de LEON FREJDA SZKLAROWSKI (in Crimes praticadospor funcionários contra a Administração Pública e improbidade administrativa. Jus Navigandi,Teresina, a. 4, n. 37, dez. 1999. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/357/crimes-praticados-por-funcionarios-contra-a-administracao-publica-e-improbidade-administrativa. Acesso em: 05.08.2019):

O ato de imoralidade, na opinião da melhor doutrina, afronta a honestidade, a boa fé, orespeito à igualdade, as normas de conduta aceitas pelos administrados, o dever de lealdade,a dignidade humana e outros postulados éticos e morais.

Já a improbidade traduz a má qualidade de uma administração, pela prática de atos queimplicam em enriquecimento ilícito do agente ou em prejuízo ao erário ou, ainda, emviolação aos princípios que orientam a administração pública.

Vale dizer todo ato contrário à moralidade administrativa é ato que corresponde àimprobidade, mas nem todo ato de improbidade administrativa compreende a violação damoralidade administrativa.

E, mais, desde que se comprove a ocorrência da lesão ao patrimônio público, por ação ouomissão dolosa ou culposa do agente ou do terceiro, dar-se-á o total ressarcimento do dano.Nada escapa.

São previstas três ordens de atos de improbidade na Lei nº 8.429/92: a) os queimportam em enriquecimento ilícito do agente; b) os que causam lesão ao patrimônio público;e c) os que atentam contra os princípios da administração pública.

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Os atos de improbidade que importam em enriquecimento ilícito do agente estãodisciplinados no artigo 9º, que prevê:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícitoauferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, enotadamente:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outravantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação oupresente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparadopor ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta oulocação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas noart. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta oulocação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior aovalor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material dequalquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadasno art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiroscontratados por essas entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar aexploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, deusura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazerdeclaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço,ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bensfornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou funçãopública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônioou à renda do agente público;

VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento parapessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por açãoou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verbapública de qualquer natureza;

X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, paraomitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valoresintegrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;

XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo

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patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

Por seu turno, os atos que causam prejuízo ao erário público estão previstos noartigo 10. verbis:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualqueração ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º destalei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular,de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervopatrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas,verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1ºdesta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de finseducativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer dasentidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais eregulamentares aplicáveis à espécie;

IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimôniode qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço porparte delas, por preço inferior ao de mercado;

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preçosuperior ao de mercado;

VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ouaceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legaisou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;

IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito àconservação do patrimônio público;

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir dequalquer forma para a sua aplicação irregular;

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquerdas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,empregados ou terceiros contratados por essas entidades.

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Já os atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios daadministração pública vêm descritos no artigo 11:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios daadministração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, naregra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que devapermanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

V - frustrar a licitude de concurso público;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectivadivulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço demercadoria, bem ou serviço.

Como se percebe pela redação do caput dos artigos 9º, 10 e 11 da Lei 8.429/92- constitui ato de improbidade administrativa ...,e notadamente: ...(grifei) -, o rol dos atos deimprobidade não é exaustivo (numerus clausus), mas meramente exemplificativo (numerusapertus).

Destarte, outros atos não relacionados nos incisos dos artigos 9º, 10 e 11 podemser enquadrados como de ímprobos, desde que lesivos à administração pública. Nesse sentidoa opinião de ALEXANDRE DE MORAES (in Constituição do Brasil interpretada elegislação constitucional. 3ª ed., São Paulo: Atlas, 2003, pp. 2.657, 2.660 e 2.661).

Ainda, cabe dizer que a imposição de penalidade ao agente ímprobo independeda existência de prejuízo ao patrimônio público, nos termos do artigo 21 da Lei de Regência.

A cada uma das espécies foram atribuídas penalidades próprias. Assim, nostermos do artigo 12 da Lei 8.429/82, independentemente das sanções penais, civis eadministrativas, previstas na legislação específica, o responsável por ato de improbidade estásujeito às seguintes cominações:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dosdireitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor doacréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoajurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores

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acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da funçãopública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de atéduas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receberbenefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da funçãopública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de atécem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com oPoder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ouindiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,pelo prazo de três anos.

2.3.2 Penas de caráter pessoal

A morte superveniente do agente repercute no julgamento perante este Juízo,em virtude do caráter personalíssimo das penas descritas na lei específica.

No caso, o falecimento do réu ADRIANO DA COSA LUETZ ensejou asubstituição processual.

Nesse passo, segundo a regra da intranscendência das sanções, não podem aspenalidades e as restrições de ordem jurídica superar a dimensão estritamente pessoal doinfrator, sob pena de violação desse preceito normativo, consoante entendimento jáconsolidado no STJ (AgRg no REsp 1.087.465-SC, Segunda Turma, DJe 16/9/2009) e noSTF (ACO 1.631-GO AgR, Tribunal Pleno, DJe 1º/7/2015; e ACO-MA 1.848 AgR, TribunalPleno, DJe 6/2/2015).

A esse respeito, dispõe o artigo 5º, XLV, da Constituição Federal de 1988:

Art.5º (...) XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação dereparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aossucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Ainda, nos termos do artigo 8º da Lei de Improbidade Administrativa:

Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecerilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da herança.

Pelo exposto, o óbito do infrator impõe o afastamento das sanções de cunhopersonalíssimo, cabendo aos sucessores apenas a responsabilização pelo ressarcimentode eventual dano causado ou enriquecimento ilícito comprovado até o limite do valorda herança.

Nesse sentido, cito os seguintes julgados:

PROCESSO CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA -FALECIMENTO DO RÉU (EX-PREFEITO) NO DECORRER DA DEMANDA - HABILITAÇÃO

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DA VIÚVA MEEIRA E DEMAIS HERDEIROS REQUERIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO -POSSIBILIDADE - ARTS. 1055 E SEGUINTES DO CPC - ART. 535 DO CPC.

(...)

2. A questão federal principal consiste em saber se é possível a habilitação dos herdeiros deréu, falecido no curso da ação civil pública, de improbidade movida pelo Ministério Público,exclusivamente para fins de se prosseguir na pretensão de ressarcimento ao erário.

3. Ao requerer a habilitação, não pretendeu o órgão ministerial imputar aos requerentescrimes de responsabilidade ou atos de improbidade administrativa, porquanto personalíssimaé a ação intentada.

4. Estão os herdeiros legitimados a figurar no pólo passivo da demanda, exclusivamente parao prosseguimento da pretensão de ressarcimento ao erário (art. 8°, Lei 8.429/1992). Recursoespecial improvido.

(STJ, RESP 200500407700, Rel. Humberto Martins, Segunda Turma, DJ DATA:19/11/2007, p.218). (gn)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. FALECIMENTO DO RÉU(EX-PREFEITO). LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESPÓLIO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.

(...)

II - Havendo indícios de que o réu (ex-prefeito) teria praticado e/ou se beneficiado com osalegados atos ímprobos, e ocorrendo o seu óbito, há de se reconhecer a legitimidade passivado espólio, requerida pelo Ministério Público, exclusivamente para fins de se prosseguir napretensão de ressarcimento do suposto dano causado ao erário (art. 8º da Lei 8.429/92). III -Nego provimento ao agravo de instrumento.

(TRF1, AG 200801000126564, Desembargador Federal Cândido Ribeiro, Terceira Turma,DJF1 DATA: 20/03/2009, p. 185).

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO IMPROBIDADEADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92. AUSÊNCIA DE PEDIDO DE RESSARCIMENTO.FALECIMENTO DO RÉU (EX-PREFEITO) NO DECORRER DA DEMANDA. HABILITAÇÃODOS HERDEIROS. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL.EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. ART. 267, IV, CPC.APELAÇÃO PREJUDICADA.

1. Tratando-se de ação de improbidade, em que as penas descritas na lei são de caráterpessoal, salvo a de ressarcimento ao erário, o falecimento do demandado enseja perdasuperveniente do interesse processual por falta de utilidade e necessidade do provimentojurisdicional, quando entre os pedidos não haja o de reparação de danos.

2. "Estão os herdeiros legitimados a figurar no pólo passivo da demanda, exclusivamentepara o prosseguimento da pretensão de ressarcimento ao erário" (art.8°, Lei 8.429/1992).(REsp 732777, MINISTRO HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJ 19/11/2007).

3. "A reparação do dano, de que trata o art. 8º da Lei 8.429/92, é transmissível aossucessores do agente que praticou quaisquer das condutas qualificadas como improbidadeadministrativa, nos limites do patrimônio transferido." (AC 1998.01.00.016268-0/DF,

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DESEMBARGADOR FEDERAL FAGUNDES DE DEUS, JUÍZA VERA CARLA CRUZ (CONV.),QUARTA TURMA, DJ p.183 de 06/03/2003).

4. Não havendo na exordial pedido de ressarcimento ao erário, não há possibilidade dehabilitação dos herdeiros do requerido falecido nas ações de improbidade administrativa,devendo, assim, ser extinto o processo sem resolução de mérito, com base no art. 267, IV, doCódigo de Processo Civil.

5. Processo extinto sem resolução de mérito. Apelação julgada prejudicada.

(TRF1, AC 200237000002869, Rel. Evaldo de Oliveira Fernandes, Terceira Turma, DJF1DATA: 08/04/2011, p.150). (gn)

Assim, em relação às penas de caráter pessoal, o falecimento do réu ensejaperda superveniente do interesse processual por falta de utilidade e necessidade doprovimento jurisdicional (art.485,VI c/c IX, CPC), uma vez que são intransmissíveis aossucessores, ressalvada a responsabilização pelo ressarcimento de eventual dano causado ouenriquecimento ilícito comprovado, nos termos da fundamentação supramencionada.

2.3.3 Cassação da pensão por morte

No que concerne à pensão por morte, esta não configura herança, uma vez quenão é transmitida aos sucessores, mas sim aos dependentes do de cujus, assim qualificadosnos termos de lei específica, conforme regime de previdência adotado.

Portanto, a pensão por morte é um benefício do dependente do segurado ativoou inativo, que surge com a ocorrência do evento morte.

O artigo 37, §4º, da Constituição Federal de 1988 dispõe:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dadapela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

(...)

§4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, aperda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na formae gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Por sua vez, o artigo 12 da Lei nº 8.429/92 estabelece as penalidades para o atode improbidade administrativa, quais sejam ressarcimento, perda da função pública,suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil, proibição de contratar com oPoder Público e proibição de recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas nalegislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintescominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a

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gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dosdireitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor doacréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoajurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valoresacrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da funçãopública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de atéduas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receberbenefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da funçãopública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de atécem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com oPoder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ouindiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,pelo prazo de três anos.

IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitospolíticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefíciofinanceiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensãodo dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

Como visto, a Lei de Improbidade Administrativa manteve a previsãoconstitucional de perda da função pública, mas nada mencionou acerca da cassação dobenefício de pensão por morte como consequência de sentença condenatória na ação deimprobidade administrativa, até porque o(s) segurado(s) contribuiu(íram) à previdênciadurante o período em que esteve em atividade, fazendo jus seus dependentes ao referidobenefício; do contrário, haveria direito à restituição das contribuições pagas pelo segurado,sob pena de enriquecimento ilícito da União.

Desse modo, repiso que não cabe condenação por cassação de pensão pormorte neste feito por ausência de previsão legal.

Estas são, em linhas gerais, as principais características da legislação aplicávelao caso.

Passo ao caso concreto.

A Lei n.° 8.429/92 explicita situações consideradas violadoras da "probidade".Tipifica as figuras do enriquecimento ilícito, do prejuízo ao erário e da infringência aosprincípios administrativos, como condutas tidas por atentatórias à probidade.

Afastadas as questões preliminares suscitadas pelos réus, tem-se que, em seu

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mérito, a presente ação versa sobre investigações levadas a cabo na operação policialdenominada "Sucuri", que teria desvendado a atividade delituosa de um grupo de pessoasdenominadas de intermediadores, que se valiam da estreita relação mantida com diversoscontrabandistas, bem assim com vários servidores públicos da Polícia Federal, da ReceitaFederal e da Polícia Rodoviária Federal, para agenciar a "venda" de facilidades à prática docontrabando e descaminho por meio da mais movimentada e importante porta de entrada doBrasil existente na Região Sul - a Ponte Internacional da Amizade, que liga as cidades de Fozdo Iguaçu/PR à Ciudad Del Este, no Paraguai.

Os artigos 125 e 126, da Lei nº 8.112/90, estatuem, e a própria redação doartigo 37, caput e §4º, da Constituição da República autorizam concluir, que as sanções civis,penais e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si, uma vez que aresponsabilidade administrativa do servidor apenas será afastada no caso de absolviçãocriminal que negue a existência do fato ou sua autoria.

É a própria dicção da lei (art. 12, Caput da Lei 8.429/92):

"Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas nalegislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintescominações...".

A Lei 8.112/90, em seu art. 125, também confirma a independência deinstâncias:

"As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes entresi".

Ressalte-se que o artigo 3º da Lei 8.429/92 prevê expressamente a possibilidadede terceiros estranhos aos quadros da Administração Pública figurarem no pólo passivo daação civil pública por improbidade administrativa:

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendoagente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficiesob qualquer forma direta ou indireta.

Há que se avaliar, então, se, com as condutas praticadas, os réus infringiram osartigos 9.°, caput e incisos I e X, art.10, caput, e inc. XII e artigo 11, caput e Inciso I e II, daLei 8.429/92.

2.3.5 Agentes Ímprobos - efetiva participação

Principio pela análise da prescindibilidade ou não da efetiva presença na PonteInternacional da Amizade dos dos agentes públicos, réus na presente ação, para aconsecução da "venda" de facilidades à prática do contrabando e descaminho.

O monitoramento telefônico judicialmente autorizado durante o período dasinvestigações descortinou não só a existência do esquema criminoso, como também o fato de

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que sua prática dependia da efetiva participação de determinados agentes públicos nomomento da internação das mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadas.

No mesmo sentido, pelo monitoramento telefônico dos réus, é possível concluirque a presença na Ponte da Amizade de agentes públicos probos, que não se submetiam aoesquema de corrupção, por vezes frustrava a ação daqueles que se corrompiam. Pelas provascolhidas por meio das interceptações telefônicas autorizadas judicialmente fica cristalinodiferenciar os "agentes corruptos" daqueles que não aceitavam participar do esquema.

A situação é tão manifesta que, em certos casos, pelos trechos dasinterceptações, é possível identificar o momento em que o (a) agente deixou de coibir aspráticas ilegais e passou a participar por meio da facilitação ao contrabando/descaminho,mediante recebimento de propina.

As escutas abaixo reproduzidas são provas de que não estando presentes osagentes públicos ímprobos frustrava o "trabalho":

TELEFONE NOME DO ALVO

4599776225 ALVO 11INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

@NEWTON X MNIDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

27/12/2002 07:42:19 27/12/2002 07:4J:37 00:01:18

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599776225 4591084409 4599776225

RESUMO DIÁLOGO

APF NEWTON: liga para MNI, diz que a Míriam (da Receita) vai estar fora das 11:00 às 13:00 horas.MNI diz que duas horas é muito pouco e que acha melhor deixar para depois das 19:00 horas.

APF NEWTON: Mas aí, eu não vou estar. Quem vai estar é o Júlio (APF), mas é tranqüilo.

MNI: Você não está no (plantão de) 24.APF NEWTON: É, mas o colega vai tirar para mim. Vai estar o ALVES, o JÚLIO e o TRAVASSOS.

MNI: Tá bom.APF NEWTON: Tchau.

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

@@ CARECA X JULIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

24/12/2002 10:55:03 24/12/2002 10:56:03 00:01:00

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 452642312 452642312

RESUMO DIÁLOGOJÚLIO x HNI ('CARECA'). HNI diz que tomaram vinte e um pneus de um conhecido no dia anterior epergunta se tem como recuperar. Júlio diz que não tem jeito, pois quem pegou foi a MIRIAM E O IVAN,da Receita. HNI diz que na quinta ou sexta vai ter trabalho. Júlio diz que conversou com o 'JAPONÊS'

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(APF NEWTON), e que ele perguntou pelo 'Careca'. Júlio diz que o 'Japonês' vai estar trabalhando nasexta. Diz, também, que na noite anterior (23.12.2002) teve que passar "mais ou menos no peito, sóacertei com a PF. O Valmor da Receita não queria conversa com ninguém, mas nós passamos namarra."

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

©NEWTON - HNI X JULIO - TIRO P/CIMADATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

23/12/2002 1J:4J:38 23/12/2002 1J:4J:56 00:00:18

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392

RESUMO

©NEWTON - HNI X JULIO - HNI DIZ QUE AVISE O PESSOAL QUE SE MÍRIAN FOR PRÁ PISTA,NÃO É PARA PARAR, POIS NEWTON DARÁ UM TIRO PRA CIMA.

DIÁLOGOJÚLIO: Avisa o pessoal que se aquela 'biscate' (MIRIAM, da Receita) for lá na pista, pra ligar a setapra encostar e não parar, porque o NEWTON (APF) disse que vai dar um tiro pra cima só.

HNI: Tá, falou.

TELEFONE NOME DO ALVO

4599750392 ALVO 4

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@ JULIO X NEIDE

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

27/12/2002 12:45:17 27/12/2002 12:45:46 00:00:29ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO

4599750392 4591149681 4599750392DIÁLOGO

Ouve-se apenas Júlio dizendo: "Deixar pra depois das 19:00 horas? Que é que você acha? Eu vouavisar então."

Em seguida liga para Neide.

JÚLIO: Vai ter que deixar pra depois das 19:00 horas... Manda voltar que ela (MIRIAM) está na pistae está estressada.

NEIDE: Tá.

TELEFONE NOME DO ALVO

4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

@ JULIO X NEIDE

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO28/12/2002 09:2J:05 28/12/2002 09:2J:47 00:00:42

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4591149681 4599750392

RESUMO

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DIÁLOGOJúlio avisa que a mulher (MIRIAM, da Receita) viajou. "Pode arrumar tudo que tiver lá, na altura dovidro, que nos vamos trabalhar."

TELEFONE NOME DO ALVO

4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

JÚLIO x NEIDE

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO15/01/2003 10:30:38 15/01/2003 10:30:55 00:00:17

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4591149681 4599750392

DIALOGO

Júlio liga para Neide e pede para ela segurar o carro na casinha, pois chegou o Delegado da Receitaaqui.

TELEFONE NOME DO ALVO

4599750392 ALVO 4

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@@JULIO X NEIDE

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

07/01/2003 11:52:09 07/01/2003 11:52:40 00:00:31ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO

4599750392 4591149681 4599750392DIÁLOGO

Júlio liga para Neide e avisa que dentro de meia hora "eles (provavelmente APFs) não vão pegar maisnúmero nenhum, porque a Miriam está chegando muito cedo."

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

@ NEIDE X JÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

2/1O/segunda-feira 14:21:16 2/1 O/segunda-feira 14:22:1000:00:54

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4591032294 4591032294

Neide liga e pergunta como é que tá aí e diz que tem gente passando já.Júlio diz que é mentira, pois agora é o pessoal da receita que não quer.

Júlio continua e diz que tá o Marco Roberto e o Watanabe doidinhos para trabalharem, mas o pessoalda receita não quer. Neide diz que os dois (Marco Roberto e Watanabe) são doidos mesmo. Adiante,Júlio diz que foi uma vez e o Batata já foi lá em cima 02 vezes. Neide fala que o Maranhão avisou pelorádio que já tá indo longe com a 387. Júlio diz que não tem nada acertado e que liga para ela assimque liberar.

Resta evidente que era dever dos intermediadores monitorar a presença,sobretudo na pista de entrada da Ponte Internacional da Amizade, de servidores públicos

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federais que não integravam ou compactuavam com o esquema criminoso, determinando,nesse caso, que os veículos "acertados" e carregados com mercadorias não deixassem oParaguai ou, caso já estivessem a caminho do Brasil, que retornassem à sua origem.

O grupo de intermediadores era supostamente formado pelos réus Júlio Cesarda Silva, Moisés Nacfur, Nelson Arnaldo Benites, vulgo "Batata" ou "Batatinha", João CorreiaVieira Filho, vulgo "Maranhão", Reginal Amorim, vulgo "Abacate", Jorge Pereira Brito, vulgo"Tesourinha", José Hedy Leme, vulgo "Rapadura" (processados e julgados na Ação Civil deImprobidade Administrativa nº 5012768-73.2014.404.7002) e Nabil Assad Bou Ltaif (réunos presentes autos).

Em síntese, esse grupo de réus intermediava a passagem, pela PonteInternacional da Amizade, de mercadorias contrabandeadas ou com valores superiores aospermitidos pela legislação fiscal aduaneira, mediante a cobrança de propinas em nome dosservidores públicos federais responsáveis pela repressão de tais condutas criminosas.

Pela prova colhida, por meio das interceptações telefônicas retro mencionadas,é evidente que, não estando presentes na Ponte Internacional da Amizade os agentes públicosímprobos, restava prejudicada a ação dos grupos de contrabandistas, intermediadores e dospróprios servidores públicos, réus nos presentes autos, envolvidos no esquema investigadopela ação penal denominada de "Operação Sucuri".

Da prova emprestada da ação penal, com autorização judicial, a testemunhaentão arrolada pelo Ministério Público Federal, Fernando Tavares da Silva, esclarece que aparticipação dos servidores públicos federais, bem como se eles estavam trabalhando naReceita Federal era verificada não somente pelas interceptações telefônicas, mas, também,considerando as análises dos livros e escalas, que eram confrontados com os fatos:

Em resposta aos doutores Aderbal Souto Gomes e Breno Fraga Brandão, defensores dosréus: Glória de fiaria, Luiz Carlos Baú, Walmor Bronzatti, Maria de Lourdes, Celso Fuhr,Edgar Aparecido de Souza, Francisco Robson Vidal Sampaio, a testemunha disse que sabiaque a pessoa estava trabalhando na Receita, porque na escala tem o dia que trabalha, tem aspessoas que estão trabalhando naquele dia e, posteriormente ao flagrante, durante a análisedo material, fizeram um levantamento, pegou os livros, as escalas e os fatos onde foramcitados o pessoal da Receita, então ele (APF Novaes) fez a confrontação. Asseverou que nãomexe e não tem conhecimento sobre o sistema "Projeto X".

Questionado por defensores dos réus, a testemunha Esdras Teixeira Falcão fezum breve relato sobre o tempo decorrido entre a informação de que os carros estavamdescendo com a efetiva passagem dos veículos pela PIA:

disse: que pelas oportunidades que teve de participar do trabalho de interceptação, variava otempo entre a informação de que já estavam descendo os carros e a efetiva passagem doscarros pela Ponte. Tinham vezes que as pessoas pediam para não passar, segurar por umtempo porque não estava dando naquele momento, não era propício, e mandavam aguardarpara ter um retorno posterior. Então não existia isso de demorar mais ou não, dependia dascondições propícias; que nas oportunidades em que haviam condições propícias para apassagem de mercadorias, já teve vezes em que deixavam para passar no outro dia, masacredita que na maioria das vezes, 90% das vezes, passavam a mercadoria no mesmo dia...

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Por sua vez, o Delegado Emmanuel Henrique Balduino de Oliveira, em seutestemunho, corroborou as palavras de Fernando Tavares da Silva e Esdras Teixeira Falcão eacrescentou que a preocupação maior nas interceptações foi identificar os alvos e investigaros indicativos que poderiam levar à presunção ou à afirmação de que determinado servidorpúblico estaria comprometido com a organização espúria:

que não sabe dizer o tipo de fiscalização que o plantão permanente fazia; que não sabe adiferença do plantão permanente e do setor de bagagem existentes na Ponte da Amizade noque diz respeito à Receita Federal; que as escalas de plantão foram um dos indicativos quelevaram à presunção ou à afirmação de que determinado agente estaria comprometido, masnão se preocupou em saber a diferença de plantão permanente e setor de bagagem porque sepreocupou em identificar os alvos, quais eram citados e quais mantinham contato direito comreferência à condutas criminosas. Identificaram também três modus operandi de passagemdas mercadorias. Mas não sabe como funcionava o plantão permanente ou o outro plantão;que as escalas dos agentes da Receita Federal eram fornecidas pelo delegado da ReceitaFederal, e houve uma orientação sua para checar os livros de registro da Receita Federal eda Polícia Federal para averiguar se a escala correspondia à realidade. Essa checagem foifeita pelo agente Novaes, e confiou no que ele disse, pois tem fé pública;

O Delegado responsável pela condução da "Operação Sucuri" esclareceu,ainda, sobre como era confeccionado o Diagrama de Elos da organização criminosa, com aalimentação dos dados até a geração do relatório:

que sobre o diagrama de elos de organização criminosa (6º volume), foi ele e os outrosagentes que alimentaram os dados, é só um questão de conhecer informática. Os dados vãochegando, e você vai alimentando com os dados cadastrais, com os dados da folha decontatos e alimentando um programa de computador que gera esse relatório

Assim, restou pormenorizada a forma utilizada para a identificação dos agentesímprobos, que tiveram efetiva participação nas consecuções dos ilícitos praticados mediante afacilitação do contrabando/descaminho.

Doravante, passo à análise da conduta individualizada de cada integrante dessegrupo denominado de "intermediadores".

2.3.6. Grupo de intermediadores

Nos termos da petição inicial, apresentada pelo Ministério Público Federal napresente Ação de Improbidade Administrativa, logo no início das interceptações telefônicasautorizadas judicialmente, já foi possível identificar a atuação dos intermediadores.

Já nos primeiros 15 dias de monitoramento telefônico visualizou-se que osdenunciados JOÃO VIEIRA FILHO (MARANHÃO), MOISÉS NACFUR, JULIO CÉSARDA SILVA, JOSÉ HEDY LEME (RAPADURA), NELSON ARNALDO BENITEZ(BATATA) e NABIL ASSAD BOU LTAIF, mantinham intensas conversações ao telefoneonde deixavam claro a venda de um "esquema de facilidades", consistente na intermediaçãode pagamentos em dinheiro para que servidores públicos deixassem de fiscalizar ou

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simulassem a fiscalização de determinados automóveis cujas placas eram previamentefornecidas pelos "adquirentes do esquema".

Na sequência do monitoramento telefônico é que foi possível identificar maispessoas integrantes do grupo de intermediadores.

2.3.6.1. NABIL ASSAD BOU LTAIF

A fim de evitar afronta ao Artigo 935, do Código Civil Brasileiro, sem descuidarda independência das instâncias civis e penais, impende verificar o decidido em relação aoréu no juízo criminal (autos nº 2003.70.02.001463-9 - Condenado - trânsito em julgado em02/08/2016 - evento 7 - OUT9):

Sentença parte 3.PDF (pg. 217)

(...) Destarte, tenho por plenamente comprovada a autoria dos delitos capitulados nos artigos317, §1º c/c 29, 333, parágrafo úníco e 318 c/c 29, todos do Código Penal, praticados naforma do artigo 70, do Código Penal, bem como do crime descrito no artigo 288, do mesmoCodex, em concurso material com os demais delitos, eis que inexiste dúvida de que o réuNABIL ASSAD BOU LTAIF participou intensamente do esquema criminoso, ajustando,oferecendo e cobrando os valores das propinas e promovendo a facilitação do contrabando,através da Ponte Internacional da Amizade, mantendo vínculo associativo permanente comoutros codenunciados, para a consecução das condutas delituosas. (...)

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

(...) e) Condenar NABIL ASSAD BOU LTAIF, JÚLIO CÉSAR DA SILVA, MOISÉS NACFUR,NELSON ARNALDO BENITES, JOÃO CORRÊA VIEIRA FILHO, REGINAL AMORIM eJORGE PEREIRA DE BRITO, já qualificados, nas penas cominadas aos delitos de corrupçãoativa qualificada, corrupção passiva qualificada e facilitação do contrabando na forma departicipação, praticados em concurso formal e em continuidade delitiva, tipificados nosartigos 333, parágrafo único, 317, § 1º c/c 29 e 318 c/c 29, combinados com os artigos 70 e71, todos do Código Penal, em concurso material com a formação de quadrilha ou bando,tipificado no art. 288 do Código Penal. (...)

Como na ação penal não se concluiu pela inexistência do fato ou autoria nasquestões que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Embora notificado (em 06/08/2008 - Evento 8 - MAND9, Página 31), o réuNABIL ASSAD BOU LTAIF deixou decorrer o prazo legal, não apresentou defesapreliminar, conforme mencionado na decisão que recebeu a petição inicial (Evento 8,DEC169, pg. 21).

Contudo, não há prejuízo à defesa, pois, citado em 07/07/2010 (Evento 8 -MAND182, Página 68), o réu NABIL ASSAD BOU LTAIF apresentou Contestação (Evento8 - CONTES/IMPUG208, Página 1), na qual suscitou questões preliminares e, no mérito,defende seja julgada improcedente a presente Ação Civil Pública de Improbidade

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Administrativa.

Admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada (Evento 396),produzida no processo criminal, com a concordância das partes (eventos 387 e 388) semprejuízo de análises de pedidos de oitivas de testemunhas requeridas de forma justificada.

Intimado (evento 656), o réu NABIL ASSAD BOU LTAIF indicou rol detestemunhas (evento 757), que foram parcialmente deferidas, nos moldes do item 4, dadecisão do evento 1015 - DESPADEC1.

Os diálogos em contatos telefônicos (Telefone 45 9976-2331) gravados, comautorização judicial, demonstraram a participação de NABIL ASSAD BOU LTAIF noesquema de contrabando e descaminho, com preponderância na intermediação entre oscontrabandistas e os servidores públicos envolvidos nos esquema de facilitação que imperavana Ponte Internacional da Amizade.

É fato que os integrantes da organização criminosa, que atuavam na fronteira doBrasil com o Paraguai, guardavam certa preocupação com servidores públicos que nãopactuavam com as ações espúrias por eles perpetradas.

O trecho gravado, obtido no diálogo mantido entre Nabil e Abacate, demonstraclaramente que o esquema criminoso enfrentava dificuldades em manter suas atividadesquando determinados servidores encontravam-se em serviço na fronteira, como no caso daconhecida "mulher da receita":

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIONABIL x ABACATEDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO18/12/2002 10:03:43 1 8/12/2002 10:04:15 00:00:32ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4599771754 4599762331DIÁLOGONabil diz que o cara (provavelmente o APF CONTI) não vai mexer com nada, pois está com medo damulher (da Receita). Ele diz: "O CONTI ficou gesticulando e eu casquei fora". Abacate diz que tambémfalou com o CONTI e ele disse que não queria nada. Nabil diz que CONTI disse que ele seguraria, mase a mulher? Abacate diz que já passaram uns cinqüenta carros e ninguém parou nada. Nabil diz que seele quiser correr o risco pode tentar passar e o orienta para que vigie a mulher e solte os carrosquando ela não estiver na pista.

O revelado "medo" do APF CONTI das consequências de um possível eiminente flagrante da colega de trabalho das "técnicas empregadas", demonstram claramenteciência dos envolvidos de que tais práticas eram ilegais.

A presença da tal "mulher da receita", escalada para o serviço na PIA, frustavaa ação dos criminosos, que chegavam a transferir as atividades para outros dias e horários,além de gerar verdadeiro desconforto entre os abrangidos pelo esquema vicioso:

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIONABIL x ABACATE

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DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO1/31/sexta-feira 7:56:48 1/31sexta-feira 7:57:56 00:01:08ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 91080311 4599762331DIALOGONABIL AVISA QUE A MULHER VEIO TRABALHAR HOJE O DIA TODO E TAMBÉM VAI TRABALHARAMANHÃ. COMENTAM QUE VÃO EMBORA. NABIL CHAMA ABACATE PARA IR NA CASA DO PRETOHOJE A TARDE PARA MEXER UNS TREM. DIZ QUE ONTEM ABACATE ENTREGOU ELE PARA OPRETO (A TURMA) ENTÃO HOJE É A VEZ DELE FALAR TUDO PARA O PRETO.

Havia também um referido "cara da Receita", que não pactuava com os moldesdo esquema e gerava receio para os membros da organização criminosa de serem reportadosem livro de alterações ocorridas nos turnos de trabalhos do servidores da Receita Federal:

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIONABIL X BATATADATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO10/01/2003 10:36:18 10/01/2003 10:37:01 00:00:43ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331Nabil liga para Batata.NABIL: Fala para o MOURA (APF) ficar na pista, junto com o cara (da Receita).BATATA: O cara (da Receita) está lá para dentro, o MOURA falou que não vai mais mexer com nadanão.Nabil: Por que, MOURA não conversou com ele?Batata: MOURA falou com ele e disse que não vai mais falar porra nenhuma não. (parece que APFMOURA e o funcionário da Receita não chegaram a um acordo)Nabil: Tem que tomar cuidado para ele não botar no livro essa porra aí.Batata: Tá bom, depois você vem para falar com ele.Nabil: Tá bom, tchau.

Perante os riscos oferecidos pelos servidores que não se submetiam aoesquema, a organização viu a necessidade de manter um certo conhecimento e controle dasescalas de trabalho dos órgãos que atuavam na repressão de atividades ilícitas na fronteira doBrasil com o Paraguai.

Notadamente, NABIL ASSAD BOU LTAIF valeu-se de relacionamento comservidores públicos para tomar conhecimento prévio das escalas de serviços e, em algunscasos, inclusive influenciar na definição das escalas em benefício da organização criminosa.

Interessa observar que Nabil era fonte de consulta de escala de trabalho para osservidores. É o que denota o trecho abaixo, quando o policial federal Rosemberg mantémcontato telefônico com Nabil, que diz que pedirá para o também Policial Federal Travassos,colocá-lo para trabalhar na segunda:

TELEFONE NOME DO ALVOALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOAPF ROSEMBERG x NABILDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO2/4/terça-feira 19:09:04 2/4/terça-feira 19:11:49 00:02:45ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4599777865 4599777865DIÁLOGOROSEMBERG diz que está de férias em Caxambu, e retornará sábado, as férias vão até dia 8.

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ROSEMBERG diz que teve um sonho meio doido e decidiu ligar para NABIL, pois de repente é umsinal.NABIL fala para Ele que ROSEMBERG vai trabalhar na segunda. NABIL diz que vai falar paraTRAVASSOS colocar ROSEMBERG na segunda.

É perceptível verdadeiro descontentamento por parte dos servidores, envolvidosna facilitação ao contrabando e descaminho, quando, em razão de alguma operação, ficavamde fora da escala de serviço na Ponte Internacional da Amizade:

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

©TRAVASSOS X NABIL - AMANHÃ CEDODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO17/12/2002 17:51:29 17/12/2002 17:53:05 00:01:36ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4599752763 4599752768DIÁLOGO(9975 2768 - pertencente ao APF JORGE LUIZ TRAVASSOS - liga para 9976 2331 -Nabil).NABIL: Fala BAIXINHO' (APF TRAVASSOS).TRAVASSOS: Fala "brima".Nabil: Tranqüilo? ... Tava sumido.TRAVASSOS: Tranqüilo. Tou voltando pra aí amanhã... Tava trabalhando na porra daquela operação -trabalhando um dia de 06:00 a meia-noite, noutro de meia-noite às 06:00... Te dei uma ligada prafalar que amanhã tou lá.Nabil: Que horas você vai estar lá?TRAVASSOS: Sete da manhã (18/12/2002).Nabil: Em cima?TRAVASSOS: Com certeza.Nabil: Beleza então- Amanhã nois dá um jeito na vida então. Amanha pode deixar que eu concerto aparada, O 'Japonês' tava enchendo o raio do saco. Amanhã nois muda tudo então. Falou então'Baixinho',TRAVASSOS: Falou, um abraço. E os meninos tudo bem?Nabil: Graças a Deus. O Márcio ta lá em Minas, fazendo teste... Estamos precisando ganhar umdinheiro pra ir lá também.

TRAVASSOS: Pois é, eu também cara, estou precisando...Nabil: Amanhã nois dá um jeito então, te espero lá, 'Baixinho'. Obrigado.

Voltar a ser escalado naquele local de trabalho era motivo para que servidorestomassem a iniciativa e informassem Nabil. Aparentemente, essa atitude era interpretadacomo uma espécie de "sinal verde", ou uma forma de oferecer a facilitação da passagem, sema devida fiscalização, de mercadorias contrabandeadas do Paraguai pela PIA, mediantepagamento de propina.

Abaixo mais uma demonstração do conhecimento e influência de Nabil nacomposição da escala de trabalho dos policias federais na Ponte Internacional da Amizade:

FONE ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@ NABIL X MOISÉS X APF ALVESDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO08.01.03 11:45:04 08.01.03 11:48:32 00:03:28TELEFONE ALVO TELEFONE INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4599735704 4599762331DIÁLOGONabil liga para o telefone de Alves número (45) 9973-5704 e conversa com a esposa de Moisés que,logo após, passa para Moisés. Moisés pergunta como é que tá aí meu filho. Nabil diz que tátranqüilidade total. Moisés pergunta se tá tudo parado aí. Nabil diz que tá meio devagar, mas tá bom,

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tá dando pra mexer. Adiante, Moisés passa o telefone para Alves. Nabil pergunta se tá vida dura tio.Alves brinca com Nabil dizendo se come camarão, se come ostra e etc. Adiante, Alves fala para Nabildos colegas da Polícia Federal que estão na praia em Santa Catarina. Nabil pergunta qual é o dia queele vai voltar. Alves diz que só volta semana que vem só. Nabil diz: "vem que nós tamos escalado aqui(PIA)". Alves pergunta: "aonde". Nabil diz: "aonde...aonde eu tou". Alves diz: "eu não quero, eu querotrabalhar na PTN". Nabil diz: "então tá bom, então eu vou lá mudar então". Alves diz: "Manda mudaressa porcaria". Alves pergunta para Nabil O dia que ele está escalado. Nabil diz que dia é no dia 17.Nabil continua e diz que é na outra semana. Alves diz que é domingo e comenta que falou pra ele(provavelmente Travassos ou Pamplona) que não queria Trabalhar no domingo. Nabil fala pra ele vimdomingo, pois domingo eles podem fazer alguma coisa. Adiante, despedem-se.

Além de conhecer as escalas de serviço, Nabil sabia quem eram os policiais quese submetiam aos "acertos" para a facilitação ao contrabando e descaminho na regiãofronteiriça:

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/ COMENTÁRIO@ Nabil x HNIDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO07.03.03 15:59.50 07.03.03 16.01.03 00:01:13ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331DIÁLOGOHNI liga para Nabil e pergunta para ele quem está lá em cima de chefia. Nabil pergunta lá em cima.HNI diz sim lá em cima onde eu passo. Nabil pergunta você tá onde não prevaricando o Cláudio nãoveio hoje aquele veado e ai vai furar o esquema dele dai eu não queria furar se tu soubesse quemestava lá daí eu ia lá. Sem saber quem está lá eu não vou. Nabil diz Paulé (APF Jair) está lá você podefalar com ele HNI (Baixinho) pergunta eu acho que o Cláudio acertou com ele ali né. Nabil diz eu nãoseí você pode chegar lá e acertar com ele ali. HNI diz então tá bom.......

FRANCISCO ROBSON VIDAL SAMPAIO, também conhecido como CHIQUINHO

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@@CHIQUINHOX NABILDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO08/01/2003 13:15:35 08/01/2003 13:19:28 0 0:00:53ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO

4599762331 455289227 455289227DIÁLOGOCH1QUINHO (provavelmente, funcionário da Receita) Liga para NABIL.Chiquinho diz que pegou o livro e saiu porque tinha gente estressada (evitando entrar em detalhes).Nabil diz que está subindo e combinam de se encontrar na esquina, na entrada da ponte.(aparentemente, irão se encontrar para tratar de algo relacionado ao livro que está com Chiquinho).

As interceptações telefônicas autorizadas judicialmente revelaram, ainda, queNabil intermediava os contatos entre contrabandistas e servidores corruptos, negociando osvalores da propina.

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIONABIL X BETODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO11/01/2003 11:18:16 11/01/2003 11:19:12 00:00:56ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4591045647 4599762331DIÁLOGO

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Nabil liga para Beto e pergunta se a mercadoria virá abaixo do vidro, Beto confirma. Nabil diz quefica por 350 (reais?). Beto pede que ele abaixe para 300. Nabil diz que não tem jeito, pois vai ter quepagar 250 a ‘eles’ (APF / Receita), mais 50 para PRF, e que vai sobrar 50 para ele (Nabil). Beto dizque vai ligar de volta.

Pelo que se extrai das interceptações telefônicas, autorizadas judicialmente, ficaevidente o pagamento de propina a servidores da Polícia Federal, Receita Federal e PolíciaRodoviária Federal em troca da facilitação ao contrabando e descaminho na PIA.

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOHNI x NABILDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO1/30/quinta-feira 15:11:32 1/30/quinta-feira 15:12:09 00:00:37ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4591146179 4591146179DIÁLOGOHNI DIZ QUE ELE (TALVEZ O APF) ESTÁ QUERENDO AUMENTAR, COBRAR 250. NABIL DIZ QUENÃO TEM NADA, SÓ TRÊS CAIXINHAS. HNI DIZ QUE VAI CONVERSAR COM ELE E DEPOIS LIGA.

Os valores cobrados pelos servidores corruptos e pagos pelos contrabandistas atítulo de propina eram negociados pelo intermediador Nabil Assad Bou Ltaif:

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@@BETO X NABILDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO11/01/2003 10:55:58 11/01/2003 10:56:48 00:00:50ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4591045647 4591045647Beto liga para Nabil e pergunta quanto vai sair passar uns vinte mil cds sem musica, mais umas dozecaixas de whiskey (diz que o whiskey é paraguaio e pede para que Nabil faça por um preço mais emconta). Nabil diz que vai verificar e pede a Beto que volte a ligar mais tarde.

O trecho abaixo evidencia a negociação de propina com o APF Travassos, ondeos preços são fixados de acordo com o tamanho do veículo:

TELEFONE 2002 12 17 22:45 45 9976 2331NABIL x HNINABIL combina com HNI de se encontrarem na manhã seguinte na ponte. Nabil diz que vai ser o'BAIXINHO' (APF TRAVASSOS). HNI pergunta se não vai ser o 'JAPA', Nabil diz que acha que ele saiu.Nabil diz que vai ficar em cima (provavelmente no lado brasileiro), e pede ao HNI ficar embaixo (ladoparaguaio controlando a saída). HNI pergunta se foi ele ('Baixinho') quem os chamou, Nabil respondeque foi. HNI pede para que Nabil diga ao 'Baixinho' que o que eles fizerem embaixo vai ser bem feito.Nabil diz que fez o acerto por 'dois o grande e um e meio o pequeno' (200,00 e 150,00, reais ?), ecobrar 'dois e cinqüenta, e dois' (250,00 e 200,00).

O excerto mostra os valores a serem cobrados dos contrabandistas,proporcionalmente ao tamanho do veículo. Destaca os valores a serem pagos para osservidores corruptos e revela a margem recebida pelos intermediadores.

Por outro lado, quando algum dos servidores corruptos necessitava de produtoscontrabandeados para uso próprio, recorria aos intermediadores para que providenciassem aremessa para o lado brasileiro da fronteira:

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TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@@ADRIANO X NABILDATA/HORA INICIAI DATA/HORA FINAI. DURAÇÃO07/12/2002 34:09:09 07/12/2002 14:10:16 00:01:07ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LTCAÇÀO4599762331 455233557 4599762331RESUMODIÁLOGOO número 523 3557 liga para Nabil (99762331)NABIL: Oi quem tá falando?Adriano Luetz(APF): Nabil, sou eu. "Papai".Nabil: Fala "filho".Adriano: Não vai pro lado de lá não?Nabil: O que é que cê tá precisando?Adriano: De uma caixa de quarenta.Nibil: Nois dá um jeito de pegar a bicicleta e ir lá busca, né. Aonde cê tá?Adriano: Eu tou em casa. Tou morando aqui no Jardim Elisa.Nabil: Fui lá agora. Trouxe duas 0.40.Adriano: De quem?Nabil: Do japonezinho, o KENJI.Adriano; Se eu soubesse...Nabil. Tou com medo de chegar lá e estar fechado-Adriano: Eu tou com a arma aqui, sem munição nenhuma.Nabil. Eu vou ver lá.Adriano: Então ta, tchau.

Há que se ressaltar o fato de que, nas ligações telefônicas acima transcritas, emque o réu NABIL ASSAD BOU LTAIF figura como interlocutor das conversas, ele semprefez uso do terminal de telefonia móvel de n° (45) 9976-2331, número que o próprio réuadmitiu ser de seu uso, por ocasião de sua oitiva perante o juízo criminal:

(...) O telefone que o senhor usava, qual era? I: Vinte e três, trinta e um. J: Todo a número. Ofixo e o móvel que o senhor usava. Qual era o telefone? I: Nove, nove. Sete meia, vinte etrês, trinta e um. J: Código quarenta e cinco? I: É. J: O senhor pode repetir? I: Nove, nove.Sete, meia, vinte e três, trinta e um. (...)

J- O seu telefone, então, que o senhor usava era o nove, nove, sete, meia, vinte e três, trintae um? I: Sim senhora. J: E algum outro telefone fixo, não? Telefone da sua casa, qual era? I:O telefone da minha casa, nunca usei. J. Como assim, o senhor nunca usou, o senhor nuncatelefonou do telefone da sua casa? I: Telefono, mas não... eu fico mais no Paraguai, só usoele à noite. J: E qual é o seu telefone de casa? I: cinco, dois, oito, oito, cinco, dezessete. J:Certo. (...)

Por outro lado, resta inafastável a conclusão de que o conteúdo dos diálogostravados são ostensivas provas das atividades ímprobas reiteradamente praticadas por esseréu, já que houve expressa referência à introdução de mercadorias em território nacional,acertos, valores, veículos, nome de servidores públicos que estavam trabalhando na escala deplantão na PIA, dentre outras.

Da prova emprestada deferida, depreende-se que, por ocasião do interrogatórioperante o Juízo criminal, o réu NABIL ASSAD BOU LTAIF negou genericamente que tenhapraticado qualquer dos crimes imputados na denúncia, mas confirmou que era proprietário eusuário do terminal telefônico de n° (45) 9976-2331, bem como confirmou o conteúdo de

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alguns diálogos travados e interceptados no período das investigações (Evento 462 -TERMO_TRANSC_DEP35, Página 4):

(...) J: Após breve relato da denúncia, perguntou a MM, Juíza Federal: O senhor temconhecimento da denúncia? Sabe por que esta sendo processado? I: Sim, eu recebi o... J- E osenhor praticou estes crimes imputados ou Não? I; Não senhora J. Não? I: Não. J: O senhornão ofereceu nem prometeu qualquer valor ou bem para os agentes públicos que atuavam naPonte Internacional da Amizade, para que deixassem de fiscalizar os veiculos que passavampor ali, vindos do Paraguai, com mercadorias ali adquiridas ou para que fiscalizassem demaneira diferente tais veículos, liberando-os sem que fossem autuadas? I: Não Senhora. J: Osenhor, alguma vez, ...hã... facilitou de qualquer forma, deixando, hã... auxiliando, osagentes públicos a deixar de fiscalizar as mercadorias ou auxiliando-os a fiscalizarem deforma fictícia, liberando a passagem dessas mercadorias adquiridas no Paraguai? I: NãoSenhora. J: O senhor se associou com os demais réus, agentes públicos ou não, para praticaressas ações, que configurariam, em tese, os crimes de corrupção ativa, facilitação aocontrabando? I: Não Senhora. J: Dos réus, quais o senhor conhece? E que relação o senhortem com eles? I: Os réus são?... J- Os réus. O senhor sabe quem são os réus? I: Não. (...)

Verifica-se que de outras vinte e duas partes integrantes do polo passivo darelação jurídica processual dos presentes autos, mais os dezesseis processados nos autos nº5012768-73.2014.4.04.7002, o réu NABIL ASSAD BOU LTAIF mantém relação profissional,de amizade ou parentesco, com os seguintes corréus (Evento 462 -TERMO_TRANSC_DEP35, Páginas 4/8):

(...) J: Júlio César da Silva. I: Quando eu tô indo trabalhar, de vez em quando eu encontrocom ele. J: Peço que o senhor fale mais próximo ao microfone, por favor. I: De vez emquando eu cruzo com ele na Ponte, quando tô indo pro Paraguai trabalhar. J: E que tipo derelação o senhor tem com ele? I: Relação de lá, nada, só amizade mesmo fora de lá, porqueminhas meninas são amigas das filhas dele. O senhor nunca falou com ele sobre trabalho? I-Não.

J: Moisés Nacfur, o senhor conhece? I: Eu conheço porque eu encontrei com ele na praia,esse ano, é, o ano passado. J: Sim, mas conheceu encontrando na praia, ou já conhecia eleantes? I; Não, eu conhecia ele antes aqui. J: Da onde? I: Ele trabalhava na políciaantigamente. J: E nesse, depois que ele saiu da polícia o senhor conhece ele... I: Conheço devista, só cumprimento de encontro... J: O senhor nunca tratou com ele sobre Trabalho, nuncafez nada...? I: Não, não.

J: Nelson Arnaldo Benites, o senhor conhece? I: Nelson? J: E também conhecido como oNelson Batata, Batata, ou Batatinha? I: Conheço dele passar lá no Paraguai, lá na galeria,ali. Conheço. Mas conhece, fala com ele, já falou com ele, qual é o tipo de relacionamento?I; Não, só cumprimento; tudo bom? Tudo... entendeu? ou um... só isso. Nunca tratou com elesobre trabalho? I: Não. Que eu me lembro, não. (...)

J: Reginal Amorim, também conhecido como "Abacate" I: Já, já cumprimentei ele, jáconversei com ele sim. J: E que tipo de relação o senhor tem com ele? Só de cumprimentá-lo?I: É, cumprimentar eu..., acho que negócio de futebol a conversa, não é? Que ele mexiacom...negócio de futebol lá no club, no, no bairro dele lá. Mais nada. J: Nunca tratou sobretrabalho com ele? I: Não, não, eu vejo ele lá no Paraguai lá nas galerias lá também, masnão... J- Como? I: No Paraguai. J: Não entendi. O senhor convivia no Paraguai, o quesignifica, eu não entendi? I: Hã? J: o que é conviver com ele no Paraguai, eu não entendi? I:Eu trabalho no Paraguai, J: Certo. I: E quando eu faço as vendas lá, eu vejo ele passandonas galerias. J: Na galeria na qual o senhor trabalha também? I: Ou na mesma que eu

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trabalho ou nas outras galerias, porque eu ando todas lá pra mim vender. (...)

J: Newton Hideroshi Ishii? I: Eu conheço por... J: Também conhecido como NewtonJaponês? I: E, eu conheço da Ponte, lá de passar. J: Como assim? I: Só de que eu passo proParaguai, eles tão lá embaixo, eu cumprimento e... J: Mas como é que o senhor sabe que eleé o Newton Japonês? O senhor já falou com ele? I: Hum? J: Como é que o senhor sabe queele é o Newton Japonês? I: Não, eu conheço porque meu compadre trabalha também napolícia. J: Quem é o senhor compadre? I: Rosemberg. Foi em... através do Rosemberg euconheço o pessoal todo. J: O senhor freqüenta festas com eles? I: Freqüento sim. (...)

J- Niltom Santos Gonçalves, também conhecido como Nilton Preto ou Lampião? I: Conheço.J: Da onde? I: Das festas que a gente faz, churrasco, pescaria que ele vai com a gente.

J: Jorge Luiz Travassos, também conhecido como Baixinho, o senhor conhece? I: Conheço.J: Da onde? I- Do Valmor. Do boteco do Valmor aqui, que de vez em quando a gente faz unspeixe junto... é, toma uma cervejinha lá no Valmor, de sexta-feira. (...)

J: Flávio Luiz Barbosa, também conhecido como Barbozinha? I: Conheço, J: Da onde? I:Pescaria. Do clube.

J: Paulo Jair de Souza, também conhecido como Paulé, conhece? T; Conheço da Ponte. J: DaPonte? I: E que a hora que eu to passando, eu paro, de vez em quando eles me pedemalguma coisa pra fazer, pra olhar o preço de alguma coisa pra eles no Paraguai, isso aí. J-Conhece? I: Conheço. Tem quinze anos. Doutora, que eu moro aqui, que eu passo prá lá... J:Certo, mas de qualquer forma, eu vou perguntar em relação o cada um dos réus, certo? I: Tábom.

J: Marcos de Oliveira Miranda? I: Conheço de lá também. Ah, o Miranda conheço a gentetem toda terça-feira a gente faz um churrasco, reúne para jogar sinuca, toda mundoconversar, conheço. J: Conhece lá da Ponte e desse, dessas reuniões que os senhores fazem?I: É. (...)

J: Júlio César Vieira Pereira, conhecido como Júlio Macarrão ou Macarrão? I: Conheço doValmor. J: Valmor, desculpa, quem é? I: Valmor é um boteco que a gente freqüenta aqui no...

J: José Alves Morato Neto? I- Conheço. J: Da onde? I: Esse freqüenta, né, com nós todaterça-feira, joga sinuca, campo.

J: Paulo Biskup de Aquino? T: Conheço por nome assim. J: E sabe que ele faz o quê? I: Eusei que ele trabalha no polícia.

J: Geraldo Rosemberg Augusto de Faria? I: Esse é meu compadre. Nós somos da mesmacidade, e a minha irmã estudou com ele, nós somos do mesmo bairro, eu vim com encontrarcom ele aqui, em oitenta e sete, por aí. J: José Fa... Pode falar. I: Eu sou padrinho da filhadele, sou padrinho de casamento dele, isso aí é... J: São amigos? I: É. Como irmão. (...)

J: Arlindo Alvares Padilha Júnior? I: Sim. J: Conhece da onde? I: Da Ponte também,inclusive eu comprei um bastão de perfume, que ele, como é que chama, cuba, que ele mepediu uma vez.

J: Rogério Fleuri Watanabe? T: Conheço, esse freqüenta também nas terças com a gente.

J: Adriano da Costa Luetz? I: Conheço. J: Da onde? I: Esse é da polícia também, mas antes,em noventa e dois, ele é cunhado dum colega da polícia. E eu conhecia ele bem antes da,

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disso aí. J: Qual colega do Palícia? I: É... fugiu da memória, ele não trabalha mais aqui. J:Mas o senhor mantém relação com ele, sai, vão junto nesse lugar onde o senhor falou ounão? I- Não, esse não. De vez em quando eu passo lá e ele me pede para fazer algum favor,comprar alguma coisa pra ele, isso aí.

J: Marcelo de Oliveira Miranda? I: De vez em quando ele vai lá com o irmão dele, oMiranda. J: Lá onde? I: Lá no churrasco que a gente faz. (...)

J: Luiz Carlos Baú? I: Conheço de pescarias. J: O que ele faz, o senhor sabe? I: Eletrabalha na Receita. J- Trabalha ande? I: Na Receita Federal. J: Sim. Mas em algum lugarespecífico? I: Olha eu cruzo com ele de vez em quando, quando eu tô voltando do Paraguaiou eu to indo pro Paraguai. (...)

J: Celso Fuhr. T- Conheço. J: Da ande? I: Da Ponte. J: Ele trabalha lá? I: Trabalha.

J- Francisco Robson Vidal Sampaio, também conhecido como Chiquinho? I- conheço. J: Daonde? I: Conheço da, ele trabalha na Ponte, quando nós fizemos um churrasco, um peixe,uma vez, e eu convidei ele. Fora disso aí, porque nós tava comentando aí com o pessoal umadia, ele diz que fazia um negócio, um peixe muito bom, aí pediu que quando eu fizesse, eupeguei e convidei ele uma vez. J: Certo.(...)

Em que pese as negativas, o réu não logrou infimar as declarações prestadasperante a autoridade policial, segundo as quais intermediava o contato com servidoresfederais que atuavam na fronteira (Evento 462 - TERMO_TRANSC_DEP35, Página 9):

(...) E desses réus, dessas pessoas que o senhor acabou de falar que alguns conhece ou não,o senhor tem algum tipo de relação comercial com eles? I: Não senhora. J: O senhor, perantea autoridade policial, disse que intermediava o contato entre Moisés, João Correia - vulgoMaranhão, Júlio César da Silva, Reginaldo Amorim, Nelson Arnaldo Benites e Edir Henrique- o Rapadura, com servidores da Receita Federal, Polícia Federal e Policia RodoviáriaFederal, devido a sua amizade com tais funcionários. O senhor confirma isso ou nega isso?I: Não, nego isso. (...)

J: Sim e depois o senhor não falou nada para a autoridade policial? Tudo o que a autoridadepolicial colocou no auto de... I: Não. Ele me perguntou se eu conhecia isso aí, aí eu disse quesim. (....)

J: Sim, mas eu pergunto com relação ao que o senhor disse para o advogado, então o senhorsó disse que conhecia essas pessoas da Ponte e o restante foi tudo invenção do delegado? I:Ó, eles colocaram isso tudo, né. J: Certo.

Na sequência, o réu NABIL ASSAD BOU LTAIF assumiu a relação, bem comoaduziu que chegava a comprar algumas mercadorias no Paraguai, inclusive munição calibre40, para entregar a alguns servidores públicos (Evento 462 - TERMO_TRANSC_DEP35,Página 10):

(...) E o senhor disse de vez em quando comprava algumas coisas pra algum dos policiais,eles faziam alguns pedidos? I: Sim. J: O que, por exemplo? I: Ó, eu comprava boneca,perfume, alguma coisa pra eles. J: O que mais? I: Eu comprei pro Luetz me pediu, um outrolá, uma caixa de bala, comprei um perfume, pra aquele que a senhora falou, não lembromais o nome dele. J: Certo. E pro Adriano da Costa Luetz, alguma vez o senhor já comproumunição pra ele? I: Comprei, sim senhora. J: E pro Kenji também? I: Também. E isso euentreguei pra eles na aduana mesmo. J: Ê com o Adriano da Costa Luetz, o senhor tinha

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algum outro contato a mais com ele? Só comprou essas munições, o que mais que o senhorcomprou pra ele? I: Eu não me lembro mais, eu só lembro das munições. J: Que tipo demunição o senhor comprou pro Adriano? I: Ah, doutora, eu... não lembro, eu comprei umacaixa de quarenta, me parece, que o Kenji pediu e ele também me pediu. (...)

É de se notar que NABIL ASSAD BOU LTAIF gozava de certa confiançaperante os servidores públicos corruptos que atuavam na facilitação do contrabando edescaminho na Ponte Internacional da Amizade (Evento 462 - TERMO_TRANSC_DEP35,Página 10):

(...) J: E tudo aquilo que os policiaiss pediam para o senhor buscar no Paraguai, o senhorbuscava, entregava pra eles na aduana? I: O que era uísque, perfume, essas coisas, eubuscava sim senhora. Porque pelo conhecimento que eu tinha, a confiança que eles tinham,pra eles não irem, eu tava indo toda hora, eu fazia isso pra eles. (...)

Não logrou o réu desconstituir, outrossim, o teor da interceptação telefônica daconversa por ele mantida com o APF Jorge Luiz Travassos, quando o servidor informa queestará de volta à escala na PIA e ambos afirmam que estavam "precisando ganhar umdinheiro" (Evento 462 - TERMO_TRANSC_DEP35, Página 12):

(...) J: E nesses dias o senhor não conversou nem com o Nelson Batata nem com o Abacate,avisando que o Travassos estaria lá no outro dia? I: Que eu me lembro, olha eu devo terligado, só que não me lembro. J: O senhor falou que o Travassos estaria lá no outro dia? I:Aham. J: E que era pra todos irem trabalhar? I: Não eles iam pro Paraguai. Todos euencontrava com eles no Paraguai, de vez em quando... J: E por que o senhor disse que oTravassos, ligou pra eles avisando que o Travassos estaria lá trabalhando? I: Não, nãoliguei pra eles avisando. J: Não fez nenhum comentário? I: Fiz o comentário, mas não ligueiavisando isso aí.(...)

Pelo depoimento pessoal de NABIL ASSAD BOU LTAIF restou esclarecido osignificado do que é pista de baixo e pista de cima, quando flagrado em conversa telefônicacom HNI (Evento 462 - TERMO_TRANSC_DEP35, Página 12/13):

(...) J: O Japa, quem era? Quando o senhor se referia "Japa"? I: Ah, tem um monte lá, Eunão... J: Era o Newton Japonês? I: Não. não. J: O que é, ali pela Ponte da Amizade, euconheço, mas vamos deixar esclarecido, quando o senhor disse que o senhor vai, ou quandoo senhor disse, se manifesta no geral, que o senhor vai ficar em cima e uma outra pessoa vaificar em baixo, o que isso significa? I: Eu dizendo isso? J: E, na Ponte, o senhor disse quetrabalha na Ponte, então o senhor sabe, eu sei o que é, eu quero que o senhor... I: Eutrabalho? J: Não, o senhor disse que trabalha no Paraguai? I: Hã? J: Vai e compra, traz, fazalguns favores pra algumas pessoas... I: Não. Isso, eu faço alguns. J: Isso faz, exatamente.Então o senhor trabalhando ali no meio, eu quero saber se o senhor sabe me dizer o que éficar em cima, o que é ficar em baixo, ali na Ponte das Amizade? I: Não, não sei dizer prasenhora. O senhor nunca falou isso? I: Não, falava, mas não lembro o que que é isso. J:Não, o senhor falava e não lembra? I: Tá, se alguém da o, o, Luetz pedia pra comprar e olhaeu tô em cima ou tô embaixo... J: O que significa isso? T: Que ele tá trabalhando na pista debaixo ou trabalhando na pista de cima. J: O que é pista de baixo e o que é pista de cima? I:Pista de cima é quem vem do Paraguai e pista de baixo é quem tá indo pro Paraguai. (...)

O relato do réu NABIL ASSAD BOU LTAIF confirma o receio de que osservidores corruptos tinham de serem flagrados, em atividades ou em contato que compessoas que sabidamente praticavam atividades ilícitas, por servidores que não estavam

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submissos à organização criminosa. No caso em comento, havia um referência a uma"conhecida mulher da receita" (Evento 462 - TERMO_TRANSC_DEP35, Página 12):

(...) J: Certo. O senhor conhece o APF Conti? I: Conheço da rua. Certo. E em algummomento, por alguma razão ele gesticulava pro senhor, ali na Ponte da Amizade? I: O Contitem um problema, ele é meio... meio... como fala? ... É, eu passei lá um dia lá e ele tava, euia mexer com ele, ele fez assim, eu fui embora, não, que ele tinha me pedido pra olhar opreço da bateria do carrinho do filho dele, eu não sei porque que ele fez assim, ele tinha ocarrinho do filho dele tava precisando de uma bateria, ele pediu que eu olhasse o preço dabateria pra ele. J: E o senhor comentou com o Abacate alguma coisa sobre isso? I: Falei proAbacate que ele tava meio nervoso, pelo jeito que ele me tratou, que ele fez assim. J: E osenhor confirma então que disse "o Conti ficou gesticulando e eu casquei fora"? I- Não, sóeu não parei lá. J: Mas o senhor disse isso pro Abacate ou não? I: Disse. J: Disse? I- Disse.J: E por que, só, por alguma razão? I: Só conversa. (...)

Da mesma forma, o depoente não convenceu com sua versão acerca doconhecimento privilegiado e da influência que exercia sobre a escala de trabalho de algunsservidores que trabalhavam na Ponte Internacional da Amizade (Evento 462 -TERMO_TRANSC_DEP35, Página 13):

(...) J: E com relação às escalas de plantão, o que o senhor tem a me dizer? O senhor fazia, osenhor participava da escolha dos servidores pra atuar na Ponte da Amizade, na PonteTancredo Neves? I: Não senhora. J: O senhor nunca fez nenhum contato por intermédio do...I: Não. Fiz um contato com meu compadre que tava viajando e me ligou... J: O seu compadreé o Rosemberg? I: O Rosemberg. Entendeu? E com, eu podia, ele talvez ia atrasar, que eletraba... ia tinha ligado lá que ele ia trabalhar no domingo e pediu que eu vesse, aí eu falei euvô ve com o Travassos se ele arruma alguém pra trocar de serviço com você pra você tirarnoutro dia, só isso. J: E com algum outro servidor também ou só com o seu compadre? I: Sócom o meu compadre. O Alves uma vez ligou pra mim na praia, perguntou onde ia trabalhar,e nós conversando outras coisas, outras pessoais, que saiu esse assunto do Alves, não tem,inclusive o Alves falou "não, eu quero trabalhar pra..." J: O senhor, então, tinha essaintimidade com o Travassos pra falar do plantão do Alves e do Rosemberg? I: Não senhora,eu conversei com, com o Travassos que era o pessoal, era o que tava no dia, foi isso que euia conversar com ele, mas nem precisou de conversar, só... J: Mas o Travassos tinha poderpara trocar a escala de plantão? I: Não sei, senhora, eu só perguntei a ele se ele podiaarrumar alguém pra fazer o serviço, pra trocar. J: O senhor só falava com o Travassos arespeito do plantão ou com alguma outra pessoa? I: Não falava com ninguém. Esse dia que omeu compadre pediu, me ligou, que eu perguntei a eles, ia perguntar a eles se tinha jeito. (...)

Quando questionado acerca de sua relação com um interlocutor chamado Betoe com Reginal Amorim (Abacate), em ligações interceptadas com autorização judicial, o réuNABIL ASSAD BOU LTAIF respondeu de forma evasiva e nada convincente (Evento 462 -TERMO_TRANSC_DEP35, Página 14 e 16):

(...) J: O senhor conhece Beto? I: Por nome, agora não me recordo. J: Nenhum Beto lheligava, o senhor nunca ligou pra um Beto? I: Pode ser que tenha ligado, eu não tô lembradomais. J: Ele chegou a lhe pedir quanto custava duzent, vinte mil CDs e doze caixas deuísque? I: Num tô lembrado mais J: O senhor nunca passou valores pro Beto? I: Num tolembrado. J: O senhor alguma vez pediu pro Abacate levar alguma mercadoria pro senhor?I:... J: Qualquer tipo de mercadoria? I: ... Olha, num tô, me recordo não. (...)

(...) J: Tem uma ligação no seu telefone nove, nove, sete, meia, vinte e três, trinta e um, do

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dia trinta e um de janeiro de dois mil e três, às sete horas e quarenta e oito minutos, na qualo senhor chamo o Abacate pra trabalhar e diz que a mulher não está no local. Que mulher éessa? I: Isso aí eu liguei pra encher o saco dele, porque eu tava indo pro Paraguai trabalhare ele não tinha, é, porque geralmente ele tá cedo lá pra i junto, então eu vô de carro ou eu vode moto, mas eu num... J: Que mulher é essa que o senhor diz "a mulher não está no local"?I: Não, eu só falei, por falar pra ele. Num lembro se... J: Não se referiu a mulher nenhuma,não era nenhuma funcionária? I: Não. J: E com o Nelson Batata, o senhor afirma que nãotem nenhuma relação comercial com eles? I: Comercial não, só... conversava de vez emquando com eles, mas não tem nada de relação comercial. (...)

Não prospera a alegação do réu NABIL ASSAD BOU LTAIF de queefetivamente não tinha acerto na ponte, haja vista que os conteúdos das conversasinterceptadas com autorização judicial revelam justamente o contrário:

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIONABIL X BETODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO11/01/2003 11:18:16 11/01/2003 11:19:12 00:00:56ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4591045647 4599762331DIÁLOGONabil liga para Beto e pergunta se a mercadoria virá abaixo do vidro, Beto confirma. Nabil diz quefica por 350 (reais?). Beto pede que ele abaixe para 300. Nabil diz que não tem jeito, pois vai ter quepagar 250 a ‘eles’ (APF / Receita), mais 50 para PRF, e que vai sobrar 50 para ele (Nabil). Beto dizque vai ligar de volta.

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOHNI x NABILDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO1/30/quinta-feira 15:11:32 1/30/quinta-feira 15:12:09 00:00:37ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4591146179 4591146179DIÁLOGOHNI DIZ QUE ELE (TALVEZ O APF) ESTÁ QUERENDO AUMENTAR, COBRAR 250. NABIL DIZ QUENÃO TEM NADA, SÓ TRÊS CAIXINHAS. HNI DIZ QUE VAI CONVERSAR COM ELE E DEPOIS LIGA.

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@@BETO X NABILDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO11/01/2003 10:55:58 11/01/2003 10:56:48 00:00:50ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4591045647 4591045647Beto liga para Nabil e pergunta quanto vai sair passar uns vinte mil cds sem musica, mais umas dozecaixas de whiskey (diz que o whiskey é paraguaio e pede para que Nabil faça por um preço mais emconta). Nabil diz que vai verificar e pede a Beto que volte a ligar mais tarde.

TELEFONE 2002 12 17 22:45 45 9976 2331NABIL x HNLNABIL combina com HNI de se encontrarem na manhã seguinte na ponte. Nabil diz que vai ser o'BAIXINHO' (APF TRAVASSOS). HNI pergunta se não vai ser o 'JAPA', Nabil diz que acha que ele saiu.Nabil diz que vai ficar em cima (provavelmente no lado brasileiro), a pede ao HNI ficar embaixo (ladoparaguaio controlando a saída). HNI pergunta se foi ele ('Baixinho') quem os chamou, Nabil responde

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que foi. HNI pede para que Nabil diga ao 'Baixinho' que o que eles fizerem embaixo vai ser bem feito.Nabil diz que fez o acerto por 'dois o grande e um e meio o pequeno' (200,00 e 150,00, reais ?), ecobrar 'dois e cinqüenta, e dois' (250,00 e 200,00).

Acerca dos vínculos que mantinha com outros codenunciados na ação penalcorrespondente, conforme depoimento pessoal transcrito na ação penal, ficou claro queNABIL ASSAD BOU LTAIF tinha relacionamentos de conhecimento e confiança doservidores públicos corruptos. Além de intermediar o contato entre os contrabandistas,NABIL mantinha uma estreita relação com os servidores públicos partes da organizaçãocriminosa, com os quais participava de encontros, tais como churrascos, pescarias, jogos desinucas, Boteco do Valmor e viagem à praia.

Outra prova contundente da intensa participação do réu NABIL ASSAD BOULTAIF no esquema espúrio está inserida no fluxograma de elos de ligações, elaborado apartir dos extratos telefônicos dos terminais utilizados pelos réus no período dasinvestigações, que revela a sua profunda e estreita ligação com diversos outros réus na açãocivil de improbidade, tais como Reginal Amorim, Jorge Luiz Travassos, Osmar Dias, JoséAlves Morato Neto, Adriano da Costa Luetz, Júlio César da Silva, Moisés Nacfur, GeraldoRosemberg Augusto Faria, Nelson Arnaldo Benites, entre outros, mediante numerososcontatos telefônicos (Evento 8 - ANEXO300, Páginas 91/94).

Os testemunhos do APF Augusto da Cruz Rodrigues e do DPF EmmanuelHenrique Balduino de Oliveira (responsável pela Operação Sucuri) deixam claro que NabilAssad Bou Ltaif tinha grande amizade com alguns policiais, era intermediador e o maiorarticulador da organização criminosa:

Augusto da Cruz Rodrigues

(...) Passou a relatar sobre cada um dos investigados: Nabil Assad Bou Ltaif eraintermediário, tinha grande amizade com alguns policiais, em específico, alguns delestambém réus nessa ação. Ele fazia os contatos das pessoas que queriam passar alguma coisae os policiais ou funcionários da Receita Federal; (...)

(...) Em outras oportunidades, mesmo antes dessa operação, via-se a figura presente doNabil, né, por toda a Ponte, constantemente.(...)

Emmanuel Henrique Balduino de Oliveira

(...) Questionado pelo Ministério Público Federal, disse: que Nabil é intermediador e o maior articulador da Organização Criminosa. Uma das características de algumasorganizações é que esses intermediadores às vezes não se impõem pela força ou pelaintimidação, mas sim pela sua facilidade de articulação e até, nesse caso, pelo grau deamizade e de relacionamento que ele tinha com os Agentes Públicos. Sua participação eraintensa e efetiva;(...)

As testemunhas de defesa não lograram, com seus testemunhos, desconstituir asprovas trazidas pelo Ministério Público Federal.

Reginal Amorim, no início, negou, mas entrou em contradição e, ao final,

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admitiu que tinha contato a tal ponto de obter o carro de Nabil Assad para ir num casamento:

(...) que conhece Nabil Assad de vista. Nunca conversou com ele, e nem trabalhou com ele(...)

(...) que não se recorda se Nabil o ligou dizendo que "o Conti teria feito alguns gestos paraele, para que não passasse pela Ponte Internacional da Amizade, porque alguma mulherestaria lá", não se recorda disso; que não se recorda se já falou "passar carros" antes (...)

(...) que não sabe o que significa "Requequé", desconhece que tenha falado isso; queconversou uma vez com Nabil. Foi na casa dele para pedir o carro dele emprestado, porquetinha que ir em um casamento, e ele o emprestou o carro dele. Foi a única [vez que falou comele], quando ligou para pedir o carro. Não se recorda quando foi o dia do casamento. Podetrazer pessoas para confirmar que realmente teve esse casamento, pode até trazer a meninaque casou. Esse foi o único contato por telefone que teve com Nabil; que não sabe o que éesse "requequé", citado na interceptação do dia 8 de janeiro, às 13 horas e 47 minutos, ondeele liga e pede para Nabil "tirar o requequé do guarda aí". Nabil diz que "ta" e que "vai falarcom Travassos no plantão" (...)

As explicações apresentadas por Jorge Luiz Travassos, que voltava para a escalana Ponte Internacional da Amizade, não foram suficientes para descaraterizar a relação quetinha com o réu Nabil Assad Bou Ltaif, que se compremeteu em "consertar a parada" paraos dois darem "um jeito na vida":

J:E o senhor falou com relação a essa operação que o senhor participou foi até que dia essaoperação, até o dia dezessete, ou o dia dezoito? I: Até o dia dezessete. J:Dia dezoito o senhoriniciava seu trabalho na ponte? I:Dia dezoito eu estava de folga. J:O senhor não trabalhou?I:Não. J:Nem no dia dezenove? I: Não me recordo. J:Tem uma ligação interceptada no diadezessete de dezembro às dezessete horas e cinqüenta e um minutos, na qual o senhor ligapro telefone do Nabil, 9976-2331, e os senhores conversam inclusive sobre essa operação daqual o senhor participou, e o senhor diz pra ele que ligou pra falar que amanhã estará lá. Aio Nabil pergunta que horas você vai estar lá e o senhor diz sete da manhã, que seria do diadezoito, então o senhor disse que estava de folga, não trabalhou no dia dezoito? I - Acreditoque não trabalhei dia dezoito. J:De qualquer forma a escala de plantão, vocês tem um livro,pode confirmar isso?I:Exatamente. J:Mas enfim, então o senhor não essa conversa tambémcom o Nabil, dizendo que no outro dia estaria lá trabalhando? I:Poderia ler. J:Segundo oresumo da polícia federal o senhor conversou justamente que estava trabalhando nessaoperação que o senhor acabou de me falar e que estaria ligando pro Nabil para falar queamanhã to lá, aí o Nabil pergunta que horas você vai estar lá e o senhor diz, sete da manhã,aí o Nabil diz em cima e o senhor diz, com certeza. Aí o Nabil diz, beleza então, amanhã nóisdá um jeito na vida então. Amanhã pode deixar que eu conserto a parada, o japonês tavaenchendo o raio do saco, amanhã nóis muda tudo então, falou então baixinho, aí o senhordisse "falou", um abraço, e os meninos tudo bem? Aí vocês falam do Márcio, não é Marcio onome dele, é Nasser né? LÊ Nasser. Eu liguei perguntando pelo menino porque ele tinhaquebrado o braço.(...)

Em relação a ligação interceptada no dia dezessete de dezembro às dezessetehoras e cinquenta e um minuto, contendo diálogo entre o réu e o intermediador Nabil, o APFTravassos tenta convencer de que as conversas que travou com Nabil foram para encomendarmercadorias do Paraguai. É no mínimo excêntrico que um policial federal, que atua na PonteInternacional da Amizade com a finalidade de coibir práticas ilícitas, julgue normalencomendar mercadorias estrangeiras para contrabandistas.

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Antonio Henrique Soares Mourão de Souza afirmou a constante presença doréu nas proximidades da PIA e testemunhou que Nabil Assad Bou Ltaif procurou o APFPamplona, responsável pela confecção das escalas de serviços da Polícia Federal:

Nabil Assad Boultaif? R: Conheço de vista. J: Em que circunstância? R: Certa feita, elepassando ali pela aduana, na pista de saída,.. J: O senhor se aproxime ao microfone. R: Poisnão. Certa feita, passando ali na pista de saída, esteve procurando ali pelo nosso chefe, doNFTI, que é o APF Pamplona. E, desde então, passei a conhecer ele através desse contato,dessa procura que ele fez ao nosso chefe. J: E ele costumava ficar ali nas proximidades daponte da amizade? R: Quando eu estava por perto, não. J: O senhor nunca viu? R: Não. J: Anão ser nessa circunstância dele... R: O via circulando por ali, mas quando eu estava porperto, próximo a minha pessoa. J: Não, não próximo a sua pessoa, próximo ao posto daamizade ali, o posto da Polícia Federal, na Ponte Internacional da Amizade. R: Poucas vezes,vi, porém, poucas vezes. J: E sempre que o senhor o via, ele estava falando com o colega,estava só passando? R: Estava só passando, parece que ele tem loja no Paraguai.

Contrariando as outras testemunha, que afirmaram que Nabil possuía loja noParaguai, Arlindo Alvares Padilha Junior identificou o réu como um Office-boy, que faziafavores para os policiais:

J: Nabil Assad Boultaif, o senhor conhece? I: conheço sim, senhora. J: Da onde? I: é aliatravés da Ponte, que ele era tipo um Office-boy, da mesma forma que tem um chiru quandoeu trabalhava da Delegacia chamam ele de chiru, que era um Office-boy da Delegacia. J: E oque que ele fazia? I: fazia favores pra gente, como pagamento, pra mim já fez pagamento daprestação do meu carro, já pedi ele pra compra uma cartucho de tinta, um desodorante Fa,se não me engano, essa marca aí, essas coisas.

Francisco Robson Vidal Sampaio considerou maldosa a interpretração dadapelo delegado de que a testemunha deixou seu posto de trabalho, de posse de um livro, parase encontrar com Nabil Assad Bou Ltaif, com o intuito de passar a escala de trabalho dosservidores da Receita Federal:

J: Certo. O senhor costumava passar informações acerca de plantões? Ou das ocorrências,para o...ocorridas na PIA, na Ponte da Amizade pro Nabil? R: Não senhora.(...) Existe umaligação interceptada no dia oito de janeiro, hamm, segundo a Polícia Federal, o Chiquinho,provalmente seria funcionário da Receita, liga pro Nabil. Aí Chiquinho diz que pegou o livroe saiu porque tinha gente estressada, evitando entrar em detalhes. Nabil diz que está subindoe combinam de se encontrar na esquina, na entrada da Ponte aparentemente, segundo aPolícia Federal, irão se encontrar para tratar algo relacionado ao livro que está comChiquinho. O senhor nega que tenha travado esse diálogo com o Nabil, ou travou e nãosignifica nada disso? R: Não doutora, eu não nego, sou eu que estou falando, agora... J:Certo, o que que é? O que que significa? R: Sim, posso explicar. A interpretação que foi dadapelo Doutor delegado é no mínimo maldosa. J: Hurum. R: Ele fala que provavelmente euestava passando a escala da Receita Federal para o Nabil. Tá lá: provavelmente passandodados da escala da Receita Federal.

Embora o réu tenha negado completamente a ilicitude do objetivo de Nabil aoconsultar tal livro, a audição do diálogo travado entre os dois não deixa dúvidas de se tratar deassunto muito suspeito, tanto que FRANCISCO chegou a dizer textualmente "eu tive queesperar um pouquinho" e "tinha gente cuidando", expressões que não se coadunam com umsimples empréstimo de um livro de legislação.

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Nabil ainda mantinha relação de amizade com José Alves Morato Neto (comquem pescava); Júlio César da Silva (com que pescava); Moisés Nacfur (com que estevejunto na praia); Geraldo Rosemberg Augusto Fari (compadre - padrinho da filha), sendo queos testemunhos de todos não foram suficientes a infirmar as acusações do Ministério PúblicoFederal veiculadas na petição inicial.

Em resumo, é posssível abstrair das declarações feitas pelo réu NABIL ASSADBOU LTAIF em sede do juízo criminal, que ele efetivamente trabalhava promovendointermediação para a introdução clandestina no território brasileiro de mercadoriascontrabandeadas e/ou descaminhadas provenientes e adquiridas por terceiros em Ciudad DelEste, Paraguai, mediante a utilização de um esquema de facilitação vendido pelos servidorespúblicos federais atuantes na Ponte Internacional da Amizade.

Assim, é possível concluir que o réu NABIL ASSAD BOU LTAIF, com o auxíliodos demais corréus servidores públicos e intermediadores/contrabandistas, efetivamentecometeu ato de improbidade administrativa, atentou contra os princípios da administraçãopública, por meio da intermediação para a introdução clandestina no território brasileiro demercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadas de origem estrangeira sem a devidacomprovação da regularidade fiscal, violando os deveres de honestidade, imparcialidade,legalidade, e lealdade ao Estado Brasileiro.

Questionado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réuNABIL ASSAD BOU LTAIF declarou que, à época dos fatos (03/2003), possuía uma rendaque variava entre R$ 1.675,00 (US$500,00) a R$ 2.345,00 (US$700,00), portanto, em médiaR$ 2.010,001, que utilizo como parâmetro para a fixação da multa civil a ser impingida aomencionado réu.

Ademais, é de se destacar que NABIL ASSAD BOU LTAIF era participanteassíduo da Organização, não somente sendo citado mas também sendo reconhecidocomo o próprio interlocutor de várias das ligações interceptadas, motivo pelo qual, nostermos da fundamentação, majoro a pena de multa civil em 40 vezes o saláriopercebido pelo réu na época.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OSPEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno NABIL ASSAD BOU LTAIF ao pagamento de multa civil no valor de40 (quarenta) vezes a média da renda autodeclarada, perfazendo um total de R$80.400,00 (oitenta mil e quatrocentos reais), válida para março de 2003.

O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

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2.3.7. Servidores da Polícia Federal

2.3.7.1. Adriano da Costa Luetz (Sucessão)

Em observância à propalada independência das instâncias civis e penais, bemcomo a fim de evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, considero necessárioconhecer o teor da decisão no juízo criminal em relação ao réu em questão (autos nº2003.70.02.004491-7, desmembrada da Ação Penal nº 2003.70.02.001463-9 - com trânsitoem julgado em 19/07/2013 - Extinta a Punibilidade):

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

(...)

e) Condenar NEWTON HIDENORIISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA, MARCOS DEOLIVEIRA MIRANDA, ROGÉRIO FLEURY WATANABE, ADRIANO DA COSTA LUETZ,JÚLIO CÉSAR VIEIRA PEREIRA, FLAVIO LUIZ BARBOSA, GERALDO ROSEMBERGAUGUSTO DE FARIA, ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA, ARLINDOALVARES PADILHA JÚNIOR, MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, NILTON SANTOSGONÇALVES, PAULO ROBERTO DAMBRÓZIO, JORGE LUIZ TRAVASSOS, PAULO JAIR DESOUZA. JOSÉ ALVES MORATO NETO, PAULO B1SKUP DE AQUINO e FRANCISCOROBSON VIDAL SAMPAIO, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes de corrupçãopassiva qualificada e facilitação contrabando c/ou descaminho, praticados em concursoformal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317. § 1°, e 318. combinados comos artigos 70 e 71, todos do Código Penal, cm concurso material (an. 69) com a formação dequadrilha ou bando, tipificado no artigo 288, do Código Penal.

(...)

Em decisão datada de 08/02/2017, foram expedidas a Fichas Individuais parafins de Execução Penal Provisória:

(...)

I. No despacho encartado nas fls. 9328-9330, o juízo titular desta Vara determinou aexpedição das Fichas Individuais e a distribuição dos Processos de Execução PenalProvisória em desfavor dos réus NEWTON HIDENORI ISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA eMARCOS DE OLIVEIRA MIRANDA, conforme determinado pelo Superior Tribunal de Justiça(fls. 9315-9327), ressalvando a anterior extinção da punibilidade do codenunciado Adrianoda Costa Luetz, em razão do seu falecimento, e a anterior absolvição com trânsito emjulgado do corréu Rogério Fleury Watanabe.

(...)

Como na ação penal não se concluiu pela inexistência do fato ou autoria nasquestões que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Notificado em 22/09/2008 (Evento 8, CARTA PR90, Página 8) o réuADRIANO DA COSTA LUETZ apresentou Defesa Preliminar (Evento 8 - PET114). Citadoem 21/08/2010 (Evento 8, CARTA PR225, Página 6), foi apresentada Contestação (Evento 8

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- CONTESTA231), na qual novamente suscitou questões preliminares, e, no mérito, defendeque seja reconhecido que os fatos narrados não constituem improbidade administrativa,restando de todo atípica a conduta e a imputação pretendidas, que importam naimprocedência dos pedidos da presente Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa.

Sobreveio notícia do óbito do réu Adriano da Costa Luetz (evento 8 -PET265), ocorrida no dia 29/01/2011. A tramitação desta Ação Civil Pública foi suspensa emface do falecimento do réu Adriano da Costa Luetz, na forma do art. 265, inciso I, doCPC/1973.

O Ministério Público Federal, no processo de Habilitação nº5004265-97.2013.404.7002, solicitou a inclusão dos herdeiros e pensionistas de ADRIANODA COSTA LUETZ (Pensionistas: Angelica Nogueira Luetz, Adryelle Carolynne NogueiraLuetz e Adryan Victor Nogueira Luetz; somente herdeira: Julia Ferreira Luetz) com afinalidade de cassação da pensão por morte instituída pelo falecido, além da condenação aoressarcimento ao herário.

Por meio da Sentença, prolatada nos autos de Habilitação nº5004265-97.2013.404.7002 /PR, foram homologadas as habilitações dos herdeirosAngélica Nogueira Luetz, Adryelle Carolynne Nogueira Luetz e Adryan Victor NogueiraLuetz e da Herdeira Julia Ferreira Luetz para sucederem o réu falecido Adriano da CostaLuetz. Quando habilitados os herdeiros (evento 317 - SENT1), voltou a tramitar o processoprincipal.

Em relação à responsabilização dos sucessores por lesão ao patrimônio públicoou enriquecimento ilícito, até o limite da herança transferida, nos termos do artigo 8º da Lei8.429/92, verbis:

Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecerilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da herança.

Sob outro vértice, na inicial da ação originária nº 2008.70.02.005988-8, emrelação a aplicação das penas, o Ministério Público Federal requereu:

(...) Vislumbra-se, portanto, além da perda dos direitos políticos dos réus ADRIANO DACOSTA LUETZ, [...], também impõe-se a decretação de perda das funções públicasexercidas, o ressarcimento integral do dano, se houver, bem como o pagamento de multacivil no valor de 100 (cem vezes) o valor da remuneração percebida no cargo em que ocupam(...)

Observa-se que no artigo 12, incisos I e II da Lei 8.429/92 está prevista adevolução dos acréscimos patrimoniais indevidos, bem como o ressarcimento do dano:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas nalegislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintescominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com agravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao

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patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezeso valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receberbenefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valoresacrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da funçãopública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de atéduas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receberbenefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

Ocorre que, no caso em apreço, tal quantificação dos valores acrescidosindevidamente revela-se como tarefa tormentosa, diante da dificuldade ou até daimpossibilidade de quantificar a lesão ao erário público e/ou o enriquecimento ilícitodos réus, dada a repetição de condutas, a quantidade de mercadorias descaminhadas, otempo de atuação do grupo criminoso, a não apreensão das cargas ilícitas, o tempo jádecorrido e os grandes valores envolvidos.

Portanto, a base para a fixação da pena revela-se mais adequada seguindo osparâmetros do inciso III do referido artigo, sanção mais objetiva e benéfica aos demandados:

(...)

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da funçãopública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil deaté cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com oPoder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ouindiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,pelo prazo de três anos.

Em que pese o robusto conjunto probatório acostado aos autos indicar, em tese,a prática de atos de improbidade administrativa perpetrados por ADRIANO DA COSTALUETZ, a pena de multa civil em substituição da perda dos bens ou valores acrescidosilicitamente ao patrimônio, bem como do ressarcimento integral do dano ao erário público,conforme parâmetros delineados no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92, não é transmissível aosucessores, uma vez que constitui pena de caráter pessoal, e, conforme demonstradoacima, sua aplicação é afastada.

No sentido de que a multa civil constitui pena de caráter pessoal, é ajurisprudência:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FALECIMENTO DO RÉU NO CURSO DA DEMANDA.AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL. EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DOMÉRITO. 1. A reparação do dano, tratado na Lei 8.429/92, é transmissível aos sucessoresdo agente que praticou quaisquer das condutas qualificadas como improbidadeadministrativa, nos limites do patrimônio transferido. 2. Nas Ações de Improbidade, em queas penas descritas na lei são de caráter pessoal, salvo a de ressarcimento ao erário, ofalecimento do réu enseja perda superveniente do interesse processual por falta de utilidade

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e necessidade do provimento jurisdicional, quando entre os pedidos não haja o de reparaçãode danos. 3. No caso em tela, o superveniente óbito afasta o interesse processual, haja vistaque a multa civil, aplicada ao réu, tem caráter pessoal, máxime quando aplicada em virtudede ato de improbidade por ofensa aos princípios da administração pública. 4. Processoextinto sem julgamento do mérito, nos termos do artigo 265, inciso VI, do Código deProcesso Civil. (TRF4, AC 5007807-14.2013.404.7200, QUARTA TURMA, Relator LUÍSALBERTO D'AZEVEDO AURVALLE, juntado aos autos em 02/12/2015) (Grifei)

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SANÇÕES. CONDENAÇÃOCUMULATIVA. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE EPROPORCIONALIDADE. MULTA CIVIL E RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO.NATUREZA DIVERSA. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a aplicação daspenalidades previstas no art. 12 da Lei n. 8.429/92 exige que o magistrado considere, nocaso concreto, "a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido peloagente". Assim, é necessária a análise da razoabilidade e proporcionalidade em relação àgravidade do ato de improbidade e à cominação das penalidades, as quais podem seraplicadas cumulativas ou não. 2. No caso dos autos, o Tribunal de origem, mantendo asentença de primeiro grau, condenou os recorrentes a perderem as funções públicas,suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil e vedação de contratarem com opoder público, com a efetiva consideração dos limites fixados na legislação e observânciados Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade. 3. A multa civil não se confunde com apenalidade de ressarcimento integral do dano, pois possui natureza jurídica diversa.Enquanto esta visa a recomposição do patrimônio público afetado, aquela tem caráterpunitivo do agente ímprobo. Agravo regimental improvido.(AgRg no REsp 1122984/PR, Rel.Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/10/2010, DJe09/11/2010) (grifei)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIAJURISPRUDENCIAL. DESCUMPRIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. VIOLAÇÃO DOART. 535 DO CPC. NÃO-CONFIGURAÇÃO. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.ELEMENTO SUBJETIVO. NECESSIDADE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES PREVISTAS NO ART. 12DA LEI 8.429/92. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE ERAZOABILIDADE. ALEGAÇÃO DE DUPLA PENALIDADE PELO MESMO FUNDAMENTO.INOCORRÊNCIA. MULTA CIVIL E RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO. NATUREZAJURÍDICA DIVERSA. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTECONHECIDO E, NESSA PARTE, DESPROVIDO. 1. É inviável a apreciação de recursoespecial fundado em divergência jurisprudencial quando o recorrente não demonstra osuposto dissídio pretoriano por meio: (a) da juntada de certidão ou de cópia autenticada doacórdão paradigma, ou, em sua falta, da declaração pelo advogado da autenticidade dessas;(b) da citação de repositório oficial, autorizado ou credenciado em que o acórdão divergentefoi publicado; (c) do cotejo analítico, com a transcrição dos trechos dos acórdãos em que sefunda a divergência, além da demonstração das circunstâncias que identificam ouassemelham os casos confrontados, não bastando, para tanto, a mera transcrição da ementae de trechos do voto condutor do acórdão paradigma.2. É pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que não viola oart. 535 do CPC, tampouco nega a prestação jurisdicional, o acórdão que adotafundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia, conforme ocorreu noacórdão em exame, não se podendo cogitar de sua nulidade.3. A interpretação do art. 5º da Lei 8.429/92 permite afirmar que o ressarcimento do danopor lesão ao patrimônio público exige a presença do elemento subjetivo, não sendo admitidaa responsabilidade objetiva em sede de improbidade administrativa.4. O Tribunal de origem analisou minuciosamente os fatos e provas contidos nos autos,reconhecendo a presença do elemento subjetivo e a configuração de ato de improbidadeadministrativa cometido pelos recorrentes. Assim, é manifesta a conclusão de que a reversão

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do entendimento exposto pela Corte a quo exigiria, necessariamente, o reexame de matériafático-probatória, o que é vedado em sede de recurso especial, nos termos da Súmula 7/STJ.5. O entendimento desta Corte Superior é no sentido de que a aplicação das penalidadesprevistas no art. 12 da Lei 8.429/92 exige que o magistrado considere, no caso concreto, "aextensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente" (conformeprevisão expressa contida no parágrafo único do referido artigo). Assim, é necessária aanálise da razoabilidade e proporcionalidade em relação à gravidade do ato de improbidadee à cominação das penalidades, as quais não devem ser aplicadas, indistintamente, demaneira cumulativa. 6. No caso dos autos, os recorrentes foram condenados na sentença aoressarcimento do dano causado ao erário, à suspensão dos direitos políticos, ao pagamentode multa civil e à proibição de contratar com o Poder Público e de receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, penalidades essas que foram mantidas pelo Tribunal deorigem, com a efetiva consideração dos limites fixados na legislação e dos princípiosreferidos. Ademais, não há falar em imposição de dupla sanção em face do mesmofundamento, porque a multa civil possui caráter punitivo contra aquele que praticou o atoímprobo e a sanção de ressarcimento integral do dano é dotada de manifesta naturezaindenizatória, pois visa a recomposição do prejuízo causado pelo ato de improbidadeadministrativa. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido.(REsp992.845/MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/06/2009,DJe 05/08/2009) (grifei)

Nesse aspecto, impende ressaltar o princípio da intranscendência disposto noartigo 5º, XLV da Constituição Federal, verbis:

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar odano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessorese contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

A perda da função pública, outra penalidade também prevista na Lei nº8.429/92, constitui, da mesma forma, uma penalidade de caráter pessoal, cuja análise, nocaso dos autos, restou prejudicada em virtude do óbito do agente público ADRIANO DACOSTA LUETZ e, conforme explicitado acima, não vislumbro possibilidade de análise dacassação da pensão por morte, por ausência de previsão legal.

Assim, diante da jurisprudência e da legislação supratranscita, restringindo-se acondenação apenas em relação à multa civil em substituição do ressarcimento ao erário e/ouenriquecimento ilícito, não se justifica o prosseguimento do feito em face do de cujusADRIANO DA COSTA LUETZ, bem como dos herdeiros ADRYELLE CAROLYNNENOGUEIRA LUETZ, ANGELICA NOGUEIRA LUETZ, ADRYANN VICTOR NOGUEIRALUETZ e JULIA FERREIRA LUETZ, pois o superveniente óbito do réu afastam o interesseprocessual por falta de utilidade e necessidade do provimento jurisdicional (art. 485,VI e IX,do CPC).

Posto isso, julgo extinto o feito, sem resolução do mérito, em relação aoréu ADRIANO DA COSTA LUETZ e seus sucessores ADRYELLE CAROLYNNENOGUEIRA LUETZ, ANGELICA NOGUEIRA LUETZ, ADRYANN VICTOR NOGUEIRALUETZ e JULIA FERREIRA LUETZ ante a perda superveniente do interesse processual porfalta de utilidade e necessidade do provimento jurisdicional, nos termos do artigo 485, VI e IXdo Código de Processo Civil.

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Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

2.3.7.2. Antonio Henrique Soares Mourão de Souza

Não se descuida da independência das instâncias civis e penais, contudo, a fimde evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, importa consignar que o juízocriminal, em exame minucioso das provas produzidas naquela esfera, entendeu estarconfigurada a tipicidade, ilicitude e culpabilidade, nos seguintes termos (autos nº2003.70.02.004489-9, desmembrada da Ação Penal nº 2003.70.02.001463-9 - com trânsitoem julgado em 19/07/2013 - Absolvido):

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

e) Condenar NEWTON HIDENORIISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA, MARCOS DEOLIVEIRA MIRANDA, ROGÉRIO FLEURY WATANABE, ADRIANO DA COSTA LUETZ,JÚLIO CÉSAR VIEIRA PEREIRA, FLAVIO LUIZ BARBOSA, GERALDO ROSEMBERGAUGUSTO DE FARIA, ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA,ARLINDO ALVARES PADILHA JÚNIOR, MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, NILTONSANTOS GONÇALVES, PAULO ROBERTO DAMBRÓZIO, JORGE LUIZ TRAVASSOS, PAULOJAIR DE SOUZA. JOSÉ ALVES MORATO NETO, PAULO B1SKUP DE AQUINO eFRANCISCO ROBSON VIDAL SAMPAIO, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes decorrupção passiva qualificada e facilitação contrabando c/ou descaminho, praticados emconcurso formal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317. § 1°, e 318.combinados com os artigos 70 e 71, todos do Código Penal, cm concurso material (an. 69)com a formação de quadrilha ou bando, tipificado no artigo 288, do Código Penal.

Em relação à ACR0004489-72.2003.404.7002/PR, assim se pronunciou a 8ªTurma do Tribunal Regional da 4ª Região, em decisão datada de 19/04/2013, que transitouem julgado em 19/07/2013:

(...)

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ªTurma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento àsapelações dos corréus ARLINDO ÁLVARES PADILHA JUNIOR, ANTÔNIO HENRIQUESOARES MOURÃO DE SOUZA e MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA para absolvê-losdas imputações que lhe foram feitas na denúncia, com base no artigo 386, inciso VII, doCódigo de Processo Penal, dar parcial provimento à apelação do corréu NILTON SANTOSGONÇALVES para afastar a incidência do §1º do artigo 317 do CP, desclassificando o delitode corrupção para a modalidade simples, reconhecer a consunção entre o delito decorrupção passiva e o de facilitação do contrabando e/ou descaminho, determinando que apersecução penal prossiga em relação a este último (artigo 318 do CP), afastar a valoraçãonegativa do vetor consequências do delito, diminuir a fração de acréscimo de penadecorrente do reconhecimento da continuidade delitiva, reduzindo, em razão disso, assanções aplicadas (corporal e de multa), determinar a substituição da sanção reclusivaaplicada por penas restritivas de direitos, conceder, de ofício, ordem de habeas corpus paraproclamar extinta a punibilidade de NILTON SANTOS GONÇALVES em relação ao delito dequadrilha ou bando e negar provimento à apelação do Ministério Público Federal, nostermos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do

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presente julgado.

(...)

Como a absolvição na ação penal refoge ao reconhecimento de inexistência dofato ou autoria nas questões (Incisos I e IV, do artigo 386, do Código de Processo Penal) queenvolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação de improbidade a elerelativa.

Preliminarmente, importa ressaltar que, na fase de produção de provas, o réuAntônio Henrique Soares Mourão de Souza alegou que as provas emprestadas deferidas peloJuízo não teriam sido juntadas integralmente pelo Ministério Público Federal e requereu aintimação do Órgão Ministerial para apresentar todos os documentos/arquivos faltantes(Evento 527 - PET1). Tal alegação foi afastada em sede da decisão do evento 531:

Ocorre que as testemunhas dos réus serão ouvidas por este Juízo, haja vista a discordânciaexpressa por parte de vários deles na utilização da prova emprestada do processo criminalneste particular. Assim, incumbia ao MPF tão somente a juntada dos depoimentos dastestemunhas de acusação (prova que interessa a ele próprio, autos da presente ação) e dosdepoimentos pessoais dos réus.

A defesa do réu Antônio Henrique Soares Mourão de Souza requereu aprodução de provas testemunhais, que foram deferidas (evento 1015), sendo que houvedesistência da oitiva de algumas das testemunhas por ela arrolada, conforme decisão doevento 2187.

Na petição do evento 2474, a defesa insiste em transferir ao Juízo a produçãode provas que ao réu compete, requerendo a expedição de ofício ao Juízo Criminal parajuntada de extratos telefônicos de que já possuía conhecimento pretérito, buscando suajuntada de prova documental a destempo. O Juízo reconheceu que a matéria encontrava-sepreclusa (evento 2483):

Em relação às supostas juntadas incompletas dos documentos emprestados da ação penal,esclareço que à parte autora incumbe o ônus de produzir as provas constitutivas do seudireito em conformidade com a legislação processual em vigor (CPC, art. 373, I). À parte récabe impugnar tais provas, em contestação, por meio de alegações precisas e mediante provada existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 373, II, doCPC). Contudo, tais direitos devem ser exercidos em momentos processuais adequados.

Indefiro as juntadas de extrato telefônico e mídias, que mostram-se inoportunas, por setratar de matéria preclusa.

Indefiro o pedido de reconsideração, por que, além de se tratar de matéria preclusa, não é omeio processual adequado para a reforma de decisão.

Em sede de alegações finais (evento 2549 - ALEGAÇÕES), insisteindevidamente a defesa na juntada extemporânea de documento.

Notificado (21/08/2008 - Evento 8, MAND26, Página 3), o réu ANTÔNIOHENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA apresentou defesa preliminar (Evento 8,

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PET114), cujos argumentos foram afastados por ocasião da prolação da decisão que recebeua petição inicial (Evento 8 - DEC169, Página 21).

Citado (em 13/07/2010 - Evento 8, MAND210, Página 10), o réu ANTÔNIOHENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA apresentou Contestação (Evento 8,CONTESTA231), na qual suscitou questões preliminares, e, no mérito defende seja julgadaimprocedente a presente Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa.

Admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada, produzida noprocesso criminal (Evento 396 - DESP1), requerida pelo Ministério Público Federal, bemcomo a prova testemunhal requerida pela defesa do réu ANTÔNIO HENRIQUE SOARESMOURÃO DE SOUZA (Evento 755).

Das interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Federal, com autorizaçãojudicial, foi possível extrair diálogos comprometedores.

No dia 08 de janeiro, os intermediadores Batata e Fábio conversam sobre anegociação que fariam com os APFS Mourão e Rosemberg, que estavam trabalhando na PIAnaquele momento. Batata pede a Fábio que avise os APFs que Miriam (agente da Receita quenão estava envolvida no esquema) também estava trabalhando na Ponte: fato que poderiaatrapalhar os "negócios".

TELEFONE NOME DO ALVO4599774198 ALVO6INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@BATATA X FÁBIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÅO08/01/2003 13:47:28 08/01/2003 13:48:31 00:01:03ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599774198 4591146923 4591146923RESUMODIÁLOGOBatata avisa ao Fábio que MOURÃO e o ROSEMBERG (APFS) estão trabalhando, "se quiserconversar com eles, conversa" (para acertar a passagem de mercadoria), mas avisa que a Miriam, daReceita, também está na ponte.

Já no dia 15 de janeiro de 2003, houve outro diálogo bastante revelador dasatividades ilícitas, mantido entre os réus OSMAR e JÚLIO, quando este convence aquele deque, no horário de trabalho de Mourão, às 06:00h do dia seguinte, o custo da propina seria deU$ 600,00 (seiscentos dólares), preço bem abaixo do cobrado por Moura e Luetz, queestavam de serviço naquele horário e cobrariam U$ 1.000,00 (mil dólares):

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 41NTERLOCUTORES/ COMENTÁRIOOSMAR x JÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO15/01/2003 10:14:14 15/01/2003 10:17:14 00:03:00ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÅO4599750392 4591043127 4591043127• DIÁLOGOOsmar liga e pergunta a Júlio como está os negócios. Júlio diz que está melhorando. Osmar perguntacomo é que está amanhã cedo. Júlio diz que de manhã, beleza. Osmar diz que tem um serviçinho que támeio parado, que é só aquela porra dos galãozinhos e o cara só dá 500 dólares pra nós, pra gente sevirar ai. Osmar diz que vai dá uns 500 kg por aí...uns 400 kg. Osmar pergunta se tem como nós acertar

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com...interrompido por Júlio. Júlio diz que eles vão ter que acertar direto com o APF, pois o Chiquinhonão tá mais aqui. Osmar pergunta: “não ta". Júlio diz que não tá e eles vão ter que morrer naquilomesmo, o pacu tá pagando 1000. Osmar diz que são aqueles galão e que tem que sair por menos,assim não dá pra ganhar nada. Júlio fala que pode dá uma cutucada, mas é o Moura e o Luetz que estáaqui...posso dá uma cutucada, mas não garanto se vão abaixar mais, mas eu converso com eles. Osmarfala que se tu conversar com eles... Eles está aí... Se tu conversar com eles e achar que eles eles nãocobram caro, a gente vai passar. Adiante, Júlio dá a idéia de passar às 06:00 da manhã. Osmarpergunta com quem. Júlio diz que é com o APF Mourão. Osmar pergunta se tem jeito. Júlio diz quetem, pois ele já passou 01(uma) hoje. Osmar pergunta se ele faz um preçinho mais correto. Júlio dizque vai conversar com ele e diz que vai chorar nos 500, mas na pior das hipóteses 600. Osmar diz quequinhentinho era bom, viu. Júlio diz que conversa com ele(Mourão), e fala que hoje já passou com asua carga de cdzinhos, e que pagou 200 dólares que é o normal, comentando, ainda, que Mourãofalou que amanhã é o último dia, inclusive Júlio diz que amanhã o mesmo tem mais 02 viagens.Júlio fala que tem que passar no máximo até 06:00h. Osmar diz que se ele marcar pra passar às05:0011 da manhã, O mesmo passa. Júlio fala que ele já pode carregar. Júlio pergunta se é a 747.Osmar fala que está pensando em ir com a dele porque ê pouca coisa. Júlio manda ele entrar ecarregar. Osmar diz que depois liga para Júlio, pois agora o mesmo está em Medianeira e o cara meligou e perguntou se o mesmo quer, aí o mesmo falou que queria, pois já que a coisa não tá boa, não sepode recusar nada. Júlio comenta que tentará fechar por 500 dólares.

Informações extraídas do diagrama de cruzamento entre os dados do autocircunstanciado e dados das escalas e livros de plantão da Polícia Federal, da Receita Federale da Polícia Rodoviária Federal dão conta de que em 16/01/2003, o plantão das 01h00 às07h00, foi dos APFs Mourão e Nilton.

É de se notar que as interceptações telefônicas que envolvem o réu ANTÔNIOHENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA vão além da referida e impugnada pela defesa:

TELEFONE NOME DO ALVO4599774198 ALVO 6INTERLOCUTORES/ COMENTÁRIONELSON BATATA X ABACATEDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÄO 2/3/segundæfeira11:36:17 2/3/Segunda—feira 11:37:53 00:01:36ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599774198 91080311 4599774198DIÁLOCOABACATE quer ver se passa com o pessoal da uma hora, o negócio do GERALDO . NELSON BATATAdiz que acha que não vai ter jeito não porque o é CLÁUDIO. ABACATE diz que é o CLÁUDIO e oMOURÃO. ABACATE diz que vai falar com Ele. ABACATE diz que vai descer na sala lá embaixo paraver quem tá, pois 0 MIRANDA ligou perguntando quem vai estar a noite. NELSON BATATA diz queacha que NILTON vem amanhã ou depois e já resolve. ABACATE diz que é quarta-feira que Ele(NILTON) vem.

Reginal Amorim (Abacate) fala sobre sua intenção de passar a mercadorianaquele horário, quando Nelson (Batata) afirma que com o Cláudio não tem jeito. Mesmoassim, Abacate insiste, pois a escala é do Cláudio e do Mourão. Esse fato revela a confiançados intermediadores de que com APF Mourão era certo que seria possível adquirir afacilitação ao contrabando/descaminho.

TELEFONE NOME DO ALVO4599777971 ALVO 5INTERLOCUTORESM COMENTÁRIO@ELIAS X HENRIQUE(RAPADURA)DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÁO2/4/terça—feira 16:11:54 2/4/terça-feira 16: 13:31 00:01 :37

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÄO4599777971 4591084299 4591084299Diálogo

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ELIAS LIGA PARA RAPADURA E FALA QUE O CATARINA FOI CONVERSAR COM RUI DA RECEITAFEDERAL E MOURÃO (AGENTE DE POLICIA FEDERAL) E ELES (RUI E MOURÄO) MANDARAMVIM. RAPADURA MANDA ELIAS CONVERSAR E CONFIRMAR COM O MOURÃO. ADIANTE.,NDR.

É de se notar que, estando em serviço o APF Mourão, era tido como aliadocerto na concretização da internalização irregular de mercadorias na fronteira.

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/ COMENTÁRIO@ Careca X júlioDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÄO05.03.03 17:59:31 05.03.03 18:00:27 00:00:56ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÀO4599750392 4591034403 4591034403DiálogoCareca liga e diz que viu o Newton e o Mourão lá, e pergunta se sete horas da noite quando baixa elevai se mandar. Júlio pergunta se é o Newton japonês. Careca diz que é. Júlio pergunta se ele (APFNewton) tá na pista de cima. Careca diz que ele (APF Newton) tá embaixo. Júlio diz que já que ele táembaixo, o mesmo vai sair às 19:OOh. Careca pergunta quem deve estar depois. Júlio diz que tá na BRe vai dar uma passada lá, dizendo que liga depois pra Careca. Adiante, despedem-se.

Os diálogos gravados, com autorização judicial, dos contatos telefônicos entreos intermediadores Nelson Arnaldo Benites (Batata), Osmar Dias, Júlio César da Silva,Reginal Amorim (Abacate), José Hedy Leme (Rapadura) e os HNI (Homens NãoIdentificados) conhecidos por careca, Elias e Fábio demonstram a participação de ANTÔNIOHENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA no esquema de facilitação decontrabando/descaminho de mercadorias estrangeiras, não havendo dúvidas da suaconsciente e volitiva associação ao esquema criminoso perpetrado em flagrante afronta aosprincípios das administração pública.

Por ocasião de seu interrogatório no Juizo Criminal, ficou clara a razão pelaqual o réu ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA não teve o própriodiálogo interceptado durante a Operação Sucuri. Ocorre que o réu declarou perante o Juízoque não era usuário efetivo de terminal móvel:

(...) J: Seu telefone celular qual é? R: Meu atual. J: Isso, que o senhor utilizava? R: Ele estádesligado. J: Desde quando? R: Já tem algum tempo. Desde o mês de outubro. J: E qual erao número? R: Eu não me recordo J: E estava desligado por alguma, não entendi, estavacancelado? R: 99630330, que foi objeto de minha investigação? J: Eu pergunto foi que osenhor utilizava? R: Eu desliguei o telefone celular em função dessa região, região de...,problemas de nível de telefones, então, eu sempre trocava os números dos telefones. J: Mas osenhor desligou, o senhor devolveu o telefone, eu nao entendi? R: Eu desliguei. J: Desligou oaparelho? R: Desliguei o aparelho. J: O senhor pode repetir o número, 99..? R: ...630330. J:E utilizava um outro telefone? R: Nao. J: Então, o senhor pagava pelo menos a assinatura,com relação...? R: Nao, não, meu cartão era sistema pronto. J: E nao gastava nada no cartãonem outro telefone? R: Eventualmente gastava o da minha mulher, mas eu não tinha o hábitode falar no telefone. J: Eo telefone fixo? R: É o 30277644. J: E o telefone da sua esposa qualera? R: 91146333. (...)

Das testemunhas arroladas pela defesa, houve desistência expressa da oitivade Mário Roberto Esteves de Lima Ribeiro (Evento 2187). Nada acrescentaram na defesa doréu por falta de conhecimento dos fatos ou por não ter trabalhado na Ponte Internacional da

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Amizade no período investigado: Dirceu Bertin (Evento 1855) e Egídio Davies (Evento 1634).

Luciano Canella Soares (Evento 1793) disse em sua oitiva "que em relação aosfatos concretos em apuração, nunca viu nada que pudesse testemunhar". Relatou queconhece o APF Mourão profissionalmente, "não sendo de seu conhecimento nada que odesabone nesta função, sendo certo que sempre atuou com retidão nos momentos em que atestemunha esteve presente".

A testemunha Luiz Carlos Gomes (Evento 1634) ateve-se em contar como adinâmica dos trabalhos e a atuação dos órgãos federais que prestavam serviço na Aduana daPonte Internacional da Amizade:

Questionado pela procuradora do réu Antônio Henrique Soares Mourão de Souza (Dra.Vanessa Picouto, OAB nº 34.728): disse que no ano de 2003 estava lotado na delegacia daReceita Federal, e que trabalhava como reforço na Ponte Internacional da Amizade; que, naépoca, trabalhavam na Ponte Internacional da Amizade a Receita Federal, Polícia Federal,Ministério da Agricultura e ANVISA; que o trabalho na Ponte Internacional da Amizade éfeito por escalas mensais feitas na delegacia, com a aprovação do chefe do local; que, naépoca, trabalhava em conjunto com policiais federais e fiscais do Ministério da Agricultura;não soube informar quantos plantonistas da Polícia Federal trabalhavam à época; que ocontingente era insuficiente, tanto que os servidores da delegacia eram mandados (para aPonte Internacional da Amizade) para reforço nas quartas-feiras e sábados, quando hámaior movimento; que o fluxo de turistas e veículos era muito grande na época; que aaduana era diferente em termos de movimento e de estrutura física comparado ao que é hojee que, naquela época, a estrutura física da aduana era deficiente; que o trabalho sempre foifeito por amostragem, dependendo dos fiscais (os critérios de abordagem), pois não havia umpadrão, devido o tipo de pessoas e veículos que transitam no local ser muito diverso; quenem todo fluxo de pessoas, na época e hoje, é fiscalizado; que nunca houve recursoshumanos e estrutura física compatível com o fluxo de pessoas; que trabalhou alguns dias como réu Antônio quando trabalhava como reforço na Ponte Internacional da Amizade; e quenunca soube que o réu Antônio ou outra pessoa "deixou passar" veículo com contrabando edescaminho.

O réu ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA, quandotrabalhava em escala de plantão na Aduana, infringia seus deveres funcionais e, mediantepagamento/recebimento de dinheiro, permitia a entrada no país de mercadorias estrangeirasprovenientes do Paraguai, com ilusão/burla do tributo devido, o que revela que praticava atosde improbidade administrativa.

Embora absolvido na esfera criminal, nos termos do artigo 386, Inciso VII, doCódigo de Processo Penal, verifica-se suficientes as provas de que o réu ANTÔNIOHENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA participou intensamente do esquema ilegal,promovendo a facilitação do contrabando, através da Ponte Internacional da Amizade,mantendo vínculo associativo estável com outros corréus, para a consecução das condutasdelituosas, em flagrante afronta aos princípios da administração pública.

Logo, não paira qualquer tipo de dúvida de que o réu ANTÔNIO HENRIQUESOARES MOURÃO DE SOUZA, com o auxílio dos demais corréus servidores públicos eintermediadores/contrabandistas, efetivamente cometeu ato de improbidade administrativa,atentou contra os princípios da administração pública, por meio da introdução clandestina no

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território brasileiro de mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadas de origemestrangeira sem a devida comprovação da regularidade fiscal, violando os deveres dehonestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade ao Estado Brasileiro.

Restando claro que as provas defensivas não se prestaram para afastar a higideze a contundência daquelas produzidas em desfavor do réu ANTÔNIO HENRIQUE SOARESMOURÃO DE SOUZA, de modo que resta evidenciada a sua responsabilidade pela afrontaaos princípios da administração pública, que representa uma das espécies previstas em Leipara configurar a improbidade administrativa.

Não descuido do fato de que, após condenação em primeira instância, o réuANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA teve a sentença reformada paraabsolvê-lo, com base no artigo 386, Inciso VII, Código de Processo Penal. Contudo, o motivode tal absolvição não é suficiente para afastar a prática de atos de Improbidade Administrativapelo Juízo Cível.

Questionado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réuANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA declarou que, à época dos fatos(03/2003), possuía uma renda que girava em torno de R$ 3.600,00, líquidos, que utilizo comoparâmetro para a fixação da multa civil a ser impingida ao mencionado réu.

Impõe-se também ao réu ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DESOUZA a pena de perda do cargo de Policial Federal. Isso porque a conduta por eleperpetrada foi de extrema gravidade, afrontando diretamente a dignidade da função públicapor ele exercida e os princípios da administração pública, sendo incompatível que o agente,após usar o aparato institucional da Polícia Federal para dar cobertura e facilitar ocontrabando/descaminho, prossiga atuando como agente policial.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OSPEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA à perda dafunção pública de Policial Federal, bem como ao pagamento de multa civil no valor de30 (trinta) vezes a média da renda autodeclarada, perfazendo um total de R$108.000,00 (cento e oito mil reais), válida para abril de 2003, nos termos dafundamentação.

O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

2.3.7.3. Arlindo Alvares Padilha Junior

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A fim de evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, sem descuidar daindependência das instâncias civis e penais, impende verificar o decidido em relação ao réuno juízo criminal (autos nº 2003.70.02.004489-9, desmembrada da Ação Penal nº2003.70.02.001463-9 - com trânsito em julgado em 19/07/2013 - Absolvido):

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

e) Condenar NEWTON HIDENORIISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA, MARCOS DEOLIVEIRA MIRANDA, ROGÉRIO FLEURY WATANABE, ADRIANO DA COSTA LUETZ,JÚLIO CÉSAR VIEIRA PEREIRA, FLAVIO LUIZ BARBOSA, GERALDO ROSEMBERGAUGUSTO DE FARIA, ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA, ARLINDOALVARES PADILHA JÚNIOR, MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, NILTON SANTOSGONÇALVES, PAULO ROBERTO DAMBRÓZIO, JORGE LUIZ TRAVASSOS, PAULO JAIR DESOUZA. JOSÉ ALVES MORATO NETO, PAULO B1SKUP DE AQUINO e FRANCISCOROBSON VIDAL SAMPAIO, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes de corrupçãopassiva qualificada e facilitação contrabando c/ou descaminho, praticados em concursoformal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317. § 1°, e 318. combinados comos artigos 70 e 71, todos do Código Penal, cm concurso material (an. 69) com a formação dequadrilha ou bando, tipificado no artigo 288, do Código Penal.

Em relação à ACR0004489-72.2003.404.7002/PR, assim se pronunciou a 8ªTurma do Tribunal Regional da 4ª Região, em decisão datada de 19/04/2013, que transitouem julgado em 19/07/2013:

(...)

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ªTurma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento àsapelações dos corréus ARLINDO ÁLVARES PADILHA JUNIOR, ANTÔNIO HENRIQUESOARES MOURÃO DE SOUZA e MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA para absolvê-los dasimputações que lhe foram feitas na denúncia, com base no artigo 386, inciso VII, do Códigode Processo Penal, dar parcial provimento à apelação do corréu NILTON SANTOSGONÇALVES para afastar a incidência do §1º do artigo 317 do CP, desclassificando o delitode corrupção para a modalidade simples, reconhecer a consunção entre o delito decorrupção passiva e o de facilitação do contrabando e/ou descaminho, determinando que apersecução penal prossiga em relação a este último (artigo 318 do CP), afastar a valoraçãonegativa do vetor consequências do delito, diminuir a fração de acréscimo de penadecorrente do reconhecimento da continuidade delitiva, reduzindo, em razão disso, assanções aplicadas (corporal e de multa), determinar a substituição da sanção reclusivaaplicada por penas restritivas de direitos, conceder, de ofício, ordem de habeas corpus paraproclamar extinta a punibilidade de NILTON SANTOS GONÇALVES em relação ao delito dequadrilha ou bando e negar provimento à apelação do Ministério Público Federal, nostermos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante dopresente julgado.

(...)

O réu Arlindo Álves Padilha Júnior foi absolvido das imputações em sede derecurso em segunda instância, com base no artigo 386, inciso VII do Código de ProcessoPenal. Porém, as decisões proferidas no âmbito criminal não vinculam necessariamente ojulgamento desta ação civil, por tratar-se de instâncias autonômas e independentes.

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Excepcionalmente, as únicas hipóteses de extensão objetiva dos efeitosmateriais da coisa julgada da sentença absolutória criminal que repercutem na instância civile/ou administrativa referem-se às hipóteses previstas nos incisos I e V do artigo 386 doCódigo de Processo Penal:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde quereconheça:

I - estar provada a inexistência do fato;

(...)

V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;

(...)

O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRORDINÁRIO. PROCESSO ADMINISTRATIVODISCIPLINAR. DEMISSÃO DE SERVIDOR. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS. REGULARIDADE DO PROCEDIMENTOADMINISTRATIVO. SÚMULAS 279 E 280/STF. PRECEDENTES. O Supremo TribunalFederal firmou o entendimento de que a aplicação de penalidade na instância administrativaé independente das esferas penal, cível e de improbidade administrativa. Caso em que aresolução da controvérsia demandaria a análise da legislação local e o reexame dos fatos eprovas constantes dos autos, o que é vedado em recurso extraordinário. Incidência dasSúmulas 279 e 280/STF. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF -RE: 736351 SC, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento: 12/11/2013,Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-243 DIVULG 10-12-2013 PUBLIC 11-12-2013)

(...) Nessas circunstâncias, o acórdão recorrido não merece reparos, uma vez que está emconsonância com a jurisprudência desta Corte: O Plenário do Supremo Tribunal Federal temreiterado a independência das instâncias penal e administrativa afirmando que aquela sórepercute nesta quando conclui pela inexistência do fato ou pela negativa de sua autoria.(MMSS 21.708, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 18.05.01, 22.438, rel. Min . Moreira Alves, DJ06.02.98, 22.477, rel. Min. Carlos Velloso, DJ 14.11.97, 21 .293, rel. Min. Octavio Gallotti,DJ 28.11.97). Segurança denegada. (MS 23188, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, TribunalPleno, DJ 19-12-2002) MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO DEMITIDOPOR ILÍCITO ADMINISTRATIVO. SIMULTANEIDADE DE PROCESSOS ADMINISTRATIVOE PENAL. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS. PRECEDENTES. Esta Corte temreconhecido a autonomia das instâncias penal e administrativa, ressalvando as hipóteses deinexistência material do fato, de negativa de sua autoria e de fundamento lançado nainstância administrativa referente a crime contra a administração pública. Precedentes: MSnº 21.029, CELSO DE MELLO, DJ de 23.09.94; MS nº 21.332, NÉRI DA SILVEIRA, DJ de07.05.93; e 21.294, SEPÚLVEDA PERTENCE, julgado em 23.10.91; e MS nº 22.076, Relatorpara o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA. Segurança denegada. (MS 21708, Relator(a) p/Acórdão: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, DJ 18-05-2001) RECURSOORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. (...) 2. INDEPENDÊNCIARELATIVA DAS ESFERAS PENAL E ADMINISTRATIVA. 3. INEXISTÊNCIA DE AMEAÇA ADIREITO DE LOCOMOÇÃO. (...) 2. É pacífica a jurisprudência deste Supremo Tribunal nosentido da independência relativa das esferas penal e administrativa, havendo repercussãoapenas em se tratando de absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou negativa deautoria. Precedentes. 3. Seja o ora Recorrente absolvido por insuficiência de provas ou por

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atipicidade da conduta, essas duas situações não repercutiriam na punição imposta na viaadministrativa. 4. Recorrente absolvido por insuficiência de provas. Pretensão de rever apunição imposta administrativamente. Inexistência de ameaça ao direito de locomoção. 5.Recurso ao qual se nega provimento. (RHC 116204, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA,Segunda Turma, DJe 02-05-2013) (...) (RMS 34041, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,julgado em 04/03/2016, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-044 DIVULG08/03/2016 PUBLIC 09/03/2016)

Como na ação penal não se concluiu pela inexistência do fato ou autoria nasquestões que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Citado em 13/07/2010 (Evento 8, MAND210, Página 1), o réu ARLINDOALVARES PADILHA JUNIOR apresentou Defesa Preliminar (Evento 8 - PET114). Foiapresentada Contestação (Evento 8 - CONTESTA231), na qual novamente suscitou questõespreliminares e, no mérito, defende que seja reconhecido que os fatos narrados não constituemimprobidade administrativa, restando de todo atípica a conduta e a imputação pretendidas queimportam na improcedência dos pedidos da presente Ação Civil Pública de ImprobidadeAdministrativa.

Foi admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada (Evento396), produzida no processo criminal, com a concordância das partes (eventos 387 e 388)sem prejuízo de análises de pedidos de oitivas de testemunhas requeridas de formajustificada.

Intimado, o réu indicou rol de testemunhas (evento 755) que foramparcialmente deferidas, nos moldes do item 5, da decisão do evento 1015 - DESPADEC1.

Das testemunhas arroladas, houve a desistência das oitivas de AlexandreMoreira Zsigmond (Evento 1657); Celso João Calori (Evento 1657); Luis Alves da Silva(Evento 1657); e Marina Nova Mello (Evento 2187).

Com relação à participação do réu em questão no esquema de contrabando edescaminho, os contatos telefônicos gravados (através de autorização judicial), além dofluxograma de ligações, confeccionado pela Polícia Federal, demonstram a efetivaparticipação de ARLINDO ALVARES PADILHA JUNIOR na organização criminosa,atuando como facilitador da passagem de mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadaspela Ponte da Amizade.

Acerca dos vínculos que mantinha com outros codenunciados na ação penalcorrespondente, conforme depoimento pessoal transcrito na ação penal, ficou claro quePadilha tinha relacionamentos de conhecimento e amizade com alguns dos intermediadorese demais servidores públicos corruptos, envolvidos no esquema de facilitação aocontrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que conhece Nabil Assad Boultaff através da Ponte, que ele era tipo um Office-boy, damesma forma que tem um chiru quando trabalhava da Delegacia, chamam ele de chiru, que

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era um Office-Boy da Delegacia; que ele [Nabil] fazia favores para eles, como pagamentos,e que para ele [Arlindo], ele já fez pagamento da prestação do seu carro, já pediu para ele[Nabil] comprar um cartucho de tinta, um desodorante, essas coisas;

Que conhece o Julio Cesar da Silva, ex funcionário da Receita Federal. O conhece da Ponte,e foram apresentados por um colega, mas não se recorda quem era o colega; que inclusive jápagou para ele [Julio] fazer um churrasco para duas famílias em sua casa;

Que conhece Moisés Nacfur, agente da Polícia Federal, já trabalhou com ele, conhecia ele,mas nunca foi na casa dele, nem ele na sua, só o conhecia de quando ele era policial federal;

Que conhece a maioria dos Policiais Federais e agentes da Receita Federal citados, mas sómantém uma relação de amizade com estes, sendo que só conhece a casa dos colegas Fla doBarbosa e de Conti, que mora perto de sua casa.

(...)

Outra prova contundente da intensa participação do réu no esquema espúrioestá inserida no fluxograma de elos de ligações, elaborado a partir dos extratos telefônicosdos terminais utilizados pelos réus no período das investigações, que revela a sua profunda eestreita ligação com diversos outros réus na ação civil de improbidade, tais como Júlio Césarda Silva, Nabil Assad Boultaff, Moisés Nacfur, Miranda, entre outros, mediante numerososcontatos telefônicos (Evento 8 - ANEXO300, Páginas 93/94).

Da prova emprestada deferida, depreende-se que, por ocasião do interrogatórioperante o Juízo criminal, o réu ARLINDO ALVARES PADILHA JUNIOR negougenericamente que tenha praticado qualquer dos crimes imputados na denúncia, masconfirmou que era proprietário e usuário dos terminais telefônicos de n°s (45) 9103-0016 e(45) 523-3126:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que o seu telefone celular é 91030016, e usa o fixo de sua casa que é 5233126;

(...)

Os diálogos gravados, com autorização judicial, de diversas ligações telefônicasentre integrantes da organização criminosa, bem como em conversas diretas com o réuArlindo são suficientes para comprovar seu envolvimento na facilitação docontrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade, bem como as práticas de atosde improbilidade administrativa.

Em diversos diálogos, a presença de Padilha na escala da Ponte da Amizade évista como positiva pelos integrantes da quadrilha, de forma que a sua figuração na escala erasinônimo de maior facilidade para a passagem das mercadorias, sem a devida fiscalização,mediante pagamento de propina:

TELEFONE NOME DO ALVO

4599777971 ALVO 5INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO

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@SirleiX RAPADURADATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

09/12/2002 15:52:00 09/12/2002 15:53:02 00:01:02

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599777971 4591083908 4591083908

RESUMO

DIÁLOGORAPADURA: Deixa eu te dar uma notícia boa. À noite, às 19:00 Horas, tá o CELSO e o EDGAR, daReceita, o ÁLVARO e o ABRANTES (APFs). 99% que dá role, viu... Agora de tarde o menino não quis –o BETO (Mosca, da Receita). Fui lá, tentei falar com ele. Me disse: 'Ó velho, gosto muito de você, souseu amigo, te ajudo em tudo que for preciso, mas não fala mais isso pra mim não'. Sirlei: Eu ia ligarpara o BAMBAM, conversar com ele, ia fazer uma coisa baixinha, Tem muito lá, tou passando aospouquinhos.

Rapadura: Tava tudo certinho com o Bambam, mas de repente veio essa zebra aí.

TELEFONE NOME DO ALVO

4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@FERNANDOx JÚLIO

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

25.02.03 22:42:17 25.02.03 22:44:09 00:01:52ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA UGAÇÃO

4599750392 4591088260 4591088260

DIÁLOGOJÚLIO diz que ontem deu um rock legal. Tava o PADILHA, tava o CHIQUINHO, e trabalharambem. FERNANDO diz que uma hora os caras disseram que não queriam nada. JÚLIO diz que na horaque chegou deu rock. JÚLIO diz que PADILHA avisou que terça para quarta e quarta para quinta nãodá, pois vai estar EMÍDIO. JÚLIO diz que PADILHA também lhe disse que as sete vai estar oCLÁUDIO, nem adiante vir.

Em outro diálogo, um dos intermediadores afirma que Padilha estava figurandona escala na Ponte da Amizade e que seria cobrado o valor de 200 (reais ou dólares) paraque não fossem fiscalizados os carros pequenos:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOOSMAR x JÚLIO

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

2/10/segunda-feira 8:45:20 2/1 O/segunda-feira 8:45:58 00:00:38ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO

4599750392 4591043127 4591043127

DIÁLOGOOSMAR quer saber como está a situação hoje. JÚLIO fala que se rolar vai ser 200 só carro pequeno,e quem está lá é o PADILHA (APF). Depois das 10 vai até lá para conversar.

São contundentes as provas que Padilha sabia e atuava de forma ativa noesquema criminoso, recebendo numeração de placas de veículos carregados de mercadorias,fazendo negociações dos valores das propinas e, inclusive, persuadindo demais servidores

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públicos atuantes na Ponte da Amizade a integrar o esquema criminoso, conforme demonstradiversas ligações:

TELEFONE NOME DO ALVO

4599778555 ALVO IINTERLOCUTORES/COMENTÁRIOHNI x JÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

10/12/2002 12:32:57 10/12/2002 12:33:25 00:00:28

ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599778555 4599750392 4599778555

DIÁLOGO

HNI diz que está na altura da Marinha (Paraguaia), liberando o último carro. Diz que em dez minutosdeve estar passando, pede para que Júlio passe a placa 034 para PADILHA (APF) e para o PRF.

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@HNI X JULIO

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

09/12/2002 11:09:37 09/12/2002 11:10:45 00:01:08ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO

4599750392 4591043127 4591043127

RESUMODIÁLOGO

HNI: - Nada, né?JÚLIO:- Nada.

HNI: - E depois?

Júlio: - Depois tem que ver se é o DAMBRÓZIO (APF) que vai estar lá - o BAMBAM. Se for o Bambam,e a mulher não ter chegado, aí é roque a tarde inteira.HNI: Se não, não.

Júlio: Não, de manhã sem chance. Não é pelo PADILHA não. O PADILHA (APF) conversou duasvezes com o pessoal. O pessoal não quer, não quer, não quer. É aquela turma que tava com Mirandana semana passada - não quiseram mesmo. O Padilha falou 'Júlio, vamos deixar quieto, porque aLurdinha ta aí, ta arrepiando... Não vamos mexer não, que não quero me incomodar’... 12:45 hs toulá embaixo, pra ver se é o Bambam que chega, se for é roque a tarde inteira.

TELEFONE NOME DO ALVO4599777971 ALVO 5

INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOJÚLIO x RAPADURA.

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

10/12/2002 12:07:30 10/12/2002 12:08:03 00:00:33ALVO IN1ERLOCUTOR ORIGEM DA IJGAÇÃO

4599777971

DIÁLOGO

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RAPADURA: Fala pro PADILHA ir lá pra pista. O Maranhão soltou as três dele. Fala pro Padilhaficar de olho.JÚLIO: Soltou?

Rapadura: Dá um alô pro Padilha ficar de olho.

Da análise das escalas, é possível perceber a correlação entre as datas dasreferidas interceptação e da efetiva presença de Padilha na Ponte da Amizade. Assim, nadaobsta reconhecer que os referidos diálogos correspondam à verdadeira atuação do referidoréu no esquema criminoso, nada havendo nos autos que comprove que seu nome estavasendo usado por terceiros sem seu conhecimento.

Questionado perante o juízo criminal, o réu não logrou êxito em apresentarmotivos contundentes acerca do conteúdo dessas interceptações, limitando-se à negá-las, ouapresentando respostas evasivas:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que nesse dia, quando houve interceptação telefônica às oito horas e quarenta e sete minutosentre o Julio e um homem não identificado, ele [Júlio] não lhe pediu nada, e não sabe porqual motivo Julio citou seu nome na ligação; que nunca conversou com o Julio sobre esseassunto, não tem explicação do porquê na interceptação telefônica ele [Júlio] afirma que "oPadilha é gente boa, mas que a Receita Federal não quer nada";

Que nunca conversou nem mesmo sugeriu aos outros colegas da Ponte da Amizade, agentesfederais ou não, para que facilitassem a passagem de mercadorias;

Que não sabe por que mencionaram seu nome na interceptação telefônica no dia dez dodoze de dois mil e dois, às doze horas e sete minutos, onde entre uma conversa entre"Rapadura" e o Julio, Rapadura diz para "falar pro Padilha ir lá pra pista", "O Maranhãosoltou as três dele", "fala pro Padilha ficar de olho";

Que o Júlio nunca lhe passou a placa zero três quatro, e que inclusive ele nunca lhe passouplaca nenhuma;

Que nunca cobrou duzentos reais por carro pequeno;

Que nunca ouviu e não sabe o que significa a expressão "dar um roque legal";

Que sobre a interceptação telefônica no dia vinte e quatro, vinte e cinco de fevereiro de doismil e três, às vinte e duas horas e quarenta e dois minutos (onde entre uma conversa entreFernando e Júlio, Júlio diz que "ontem deu um roque legal", que "tava o Padilha, tava oChiquinho, trabalharam bem", e Fernando diz que "uma hora os caras disseram que nãoqueriam nada", e Júlio diz que "na hora que chegou deu roque, e que Padilha avisou queterça para quarta e quarta para quinta não dá, pois vai estar Emídio, e que às sete vai estaro Cláudio, nem adianta vir"), afirma que já passou horários para os colegas pelo telefone, eque se a pessoa telefona perguntando por algum colega que não se encontra, passa o horárioem que a pessoa se encontra, que qualquer outro colega faz isso;

Que não sabe a que se atribui esse conjunto de provas produzidas pela Polícia Federal que oincriminam, que acha que estavam usando seu nome para proveito próprio;

Das testemunhas de defesa arroladas, Júlio Cesar Vieira Pereira (Evento 462 -

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Termotranscdep27), com relação a Padilha, limitou-se a dizer que o conhecia e que algumaspessoas o chamavam de "Álvares", outras de "Padilha":

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que conhece o Sr. Arlindo Álvares Padilha Júnior, e alguns o chamam de "Álvares",outros de "Padilha"(...)

Maria de Lourdes Costa Rodrigues Miranda (evento 462 - Termotranscdep33),da mesma forma, não apresentou nenhuma nova prova que favorecesse Padilha, somenteoferecendo respostas vagas e imprecisas às perguntas que lhe eram feitas:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que conhece o Sr. Arlindo Álvares Padilha Júnior, o "Álvares", e nunca viu ninguémchamá-lo de "Padilha";

Que conversa com o APF Padilha a respeito de qualquer assunto, e não se recorda a últimavez que falou com ele;

Que estavam "utilizando seu nome" na interceptação telefônica no dia dez de fevereiro(conversa entre "Júlio" e "Carlão", na qual Júlio fala que "é só pequeno", e Carlão diz que"quem vai passar é a Neide", e então Júlio diz que "de manhã é duzentos, sem tombar obanco, mas é a Lurdinha", e "que conversou com o Padilha, e ele foi conversar com ela, masela disse-lhe que 'como que não dá, se na semana foi trabalhado assim?");

Que não se lembra qual semana trabalhou com o APF Padilha, porque eles trabalham porsemana, mas acredita que trabalhou com ele dentro de dezembro, pra fevereiro trabalhou jácom o Álvaro;

Celso Silva Barros Junior (Evento 1657) limitou-se a esclarecer que havia umalimitação quanto à fiscalização efetuada pelos Servidores que atuavam na Ponte da Amizadeem razão do diminuto número de agentes disponíveis, o que não isenta ou justifica os atospraticados pelo réu em, consciente e voluntariamente, deixar de fiscalizar os veículos commercadorias contrabandeadas ou descaminhadas:

Questionado pela procuradora do réu Arlindo Alves Padilha Junior (Dra. Vanessa Picouto,OAB nº 34.728): disse que trabalhou na Ponte Internacional da Amizade em 2003, na épocada Operação Sucuri; que na Ponte Internacional da Amizade trabalhavam a Receita Federal,Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e às vezes o Ministério da Agricultura, sendo odepoente servidor da Receita Federal; que algumas pessoas trabalhavam em regime deescala e outras em regime fixo, não tendo conhecimento sobre a escala de trabalho da PolíciaFederal; que o movimento de pessoas na época era bem maior do que o atual; que aestrutura física da aduana foi modificada, sofrendo uma renovação; que a quantidade deservidores que trabalham na Ponte Internacional da Amizade é pequena e o volume defiscalização "é quase zero" pela quantidade de pessoas; que o contingente de pessoasdiminuiu em comparação à época; que, antes da reforma, a Polícia Federal tinha uma salamuito pequena ao lado da sala da Receita Federal na Ponte Internacional da Amizade, ondetinha uma cela e onde faziam a imigração; que a Polícia Federal, além de fazer a imigração,combatia alguns ilícitos fronteiriços; que, constitucionalmente, a Receita Federal temprecedência na investigação de descaminho e contrabando mas, na prática, Receita e PolíciaFederal fiscalizam; que, na época, todos os órgãos trabalhavam com quantitativo mínimo

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para o necessário na Ponte Internacional da Amizade, situação que perdura até os diasatuais; que era possível que se fizesse o combate ao contrabando e ao descaminho, mas deacordo com o efetivo que a Receita e Polícia Federal tinham; que não tem conhecimento daquantidade de policiais federais que faziam plantão; que não se recorda de lembrar de algumpolicial federal trabalhando na sala na Ponte Internacional da Amizade.

No mais, a testemunha Ruiverlano Pereira de Almeida (Evento 2200) limitou-sea atestar a boa conduta profissional do réu:

Questionado pela Dra. Vanessa das Neves Picouto (OAB - PR034728), disse: Que trabalhouem Foz do Iguaçu nos anos de 2002 e 2003. Que conheceu o Policial Federal Padilha, assimcomo outros. Que não teria nada desabonador acerca do Policial, que trabalhou apenasalgumas vezes com ele, por isso não se recorda de nenhum fato desabonador. Que nãosoube nada quanto à associação do Policial Padilha com pessoas que trasportavammercadorias do Paraguai para o Brasil, apenas soube posteriormente que alguns servidorespúblicos estavam respondendo por conta de tal prática.

É induvidosa a adesão do réu ARLINDO ALVARES PADILHA JUNIOR(indicado como "Álvares" ou "Padilha") ao esquema criminoso esmiuçado pela OperaçãoSucuri. Esse réu foi, por várias vezes, citado pelos demais partícipes do grupo delituoso,caracterizando os atos de improbidades por ele perpetrados, com flagrante afronta aosprincípios da administração pública.

Diante das numerosas provas colhidas, é possível concluir que o réu ARLINDOALVARES PADILHA JUNIOR tomou parte da organização criminosa, ajustando, cobrandoos valores das propinas, além de promovendo o aliciamento de demais servidores públicosatuantes na Ponte da Amizade ao esquema criminoso, facilitando o contrabando edescaminho na Ponte Internacional da Amizade, mantendo vínculo associativo estável comoutros corréus para a consecução de condutas contrárias aos princípios da administraçãopública, uma das formas prevista entre os atos que importam improbidade, conforme previstona Lei nº 8.429/1992.

Indagado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réuARLINDO ALVARES PADILHA JUNIOR declarou que, à época dos fatos (04/2003),possuía uma renda que girava em torno de R$ 5.000,00, que utilizo como parâmetro para afixação da multa civil a ser impingida ao mencionado réu.

Impõe-se, ainda, a pena de perda do cargo de Policial Federal. Isso porque aconduta por ele perpetrada foi de extrema gravidade, com afronta direta a dignidade dafunção pública por ele exercida, escondendo-se por de trás do aparato institucional voltado aocombate do crime na fronteira, para facilitar o contrabando/descaminho, o que impede que oagente, após tal fato, prossiga atuando como agente policial.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OSPEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno ARLINDO ALVARES PADILHA JUNIOR à perda da função pública dePolicial Federal, bem como ao pagamento de multa civil no valor de 30 (trinta) vezes amédia da renda autodeclarada, perfazendo um total de R$ 150.000,00 (cento ecinquenta mil reais), válida para março de 2003, nos termos da fundamentação.

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O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

2.3.7.4. Flávio Luiz Barbosa

Em observância à propalada independência das instâncias civis e penais, bemcomo a fim de evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, considero necessárioconhecer o teor da decisão no juízo criminal em relação ao réu em questão (autos nº2003.70.02.004490-5, desmembrada da Ação Penal nº 2003.70.02.001463-9 - com trânsitoem julgado em 22/10/2013 - Absolvido):

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

e) Condenar NEWTON HIDENORIISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA, MARCOS DEOLIVEIRA MIRANDA, ROGÉRIO FLEURY WATANABE, ADRIANO DA COSTA LUETZ,JÚLIO CÉSAR VIEIRA PEREIRA, FLAVIO LUIZ BARBOSA, GERALDO ROSEMBERGAUGUSTO DE FARIA, ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA, ARLINDOALVARES PADILHA JÚNIOR, MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, NILTON SANTOSGONÇALVES, PAULO ROBERTO DAMBRÓZIO, JORGE LUIZ TRAVASSOS, PAULO JAIR DESOUZA. JOSÉ ALVES MORATO NETO, PAULO B1SKUP DE AQUINO e FRANCISCOROBSON VIDAL SAMPAIO, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes de corrupçãopassiva qualificada e facilitação contrabando c/ou descaminho, praticados em concursoformal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317. § 1°, e 318. combinados comos artigos 70 e 71, todos do Código Penal, cm concurso material (an. 69) com a formação dequadrilha ou bando, tipificado no artigo 288, do Código Penal.

Em relação à 0004490-57.2003.404.7002/PR, assim se pronunciou a 8ª Turmado Tribunal Regional da 4ª Região, em decisão datada de 19/04/2013:

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ªTurma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento àsapelações de GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA, FLÁVIO LUIZ BARBOSA eJOSÉ CARLOS ABRANTES FERREIRA para absolvê-los das imputações que lhe foram feitasna denúncia, com fulcro no artigo 386, VII, do CPP, dar parcial provimento à apelação doscorréus para afastar a incidência do §1º do artigo 317 do CP, desclassificando o delito decorrupção para a modalidade simples; reconhecer a consunção entre o delito de corrupçãopassiva e o de facilitação ao contrabando e/ou descaminho, determinando que a persecuçãopenal prossiga em relação a este último (artigo 318 do CP), afastar, em relação aos oscorréus condenados, a valoração negativa do vetor consequências do delito, diminuir, paraos corréus, o acréscimo de pena decorrente do reconhecimento da continuidade delitiva,reduzindo, em razão disso, as sanções a eles aplicadas, determinar a substituição dassanções reclusivas aplicadas por penas restritivas de direitos, conceder, de ofício, ordem dehabeas corpus para proclamar extinta a punibilidade de JÚLIO CÉSAR VIEIRA em relaçãoao delito de quadrilha ou bando e negar provimento à apelação do Ministério PúblicoFederal, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte

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integrante do presente julgado.

Porém, como a absovição na ação penal refoge ao reconhecimento deinexistência do fato ou autoria nas questões (Incisos I e IV, do artigo 386, do Código deProcesso Penal) que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Notificado 06/08/2008 - Evento 8, MAND9, Página 6), o réu FLÁVIO LUIZBARBOSA não apresentou defesa preliminar.

Citado (14/06/2010-Evento 8, MAND182, Página 5), o réu FLÁVIO LUIZBARBOSA apresentou Contestação (Evento 8, CONTES190) na qual novamente suscitouquestões preliminares e, no mérito, defende que seja reconhecido que os fatos narrados nãoconstituem improbidade administrativa, restando de todo atípica a conduta e a imputaçãopretendidas que importam na improcedência dos pedidos da presente Ação Civil Pública deImprobidade Administrativa.

Intimado (Evento 635), conforme decisão judicial (Processo5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 531 e 625, DESP1, Página 5), o réu FLÁVIO LUIZBARBOSA apresentou rol de testemunhas.

Admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada, produzida noprocesso criminal (Processo 5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 396, DESP1, Página 4),requerida pelo Ministério Público Federal.

Transitou em julgado, em 22/10/2013, a decisão que confirmou o Acórdão doTribunal Regional Federal da 4ª Região (ACR0004490-57.2003.404.7002/PR), que absolveuo réu, com base no Artigo 386, VII CP , do Código Penal.

FLÁVIO LUIZ BARBOSA foi condenado pela primeira e segunda instância,nas conversas telefônicas interceptadas o acusado foi um dos que entravam em contatodiretamente com os intermediadores, buscando “negócios” que envolvessem o pagamentopara a passagem de mercadorias sem fiscalização na Ponte Internacional da Amizade.

Com relação à participação do réu em questão no esquema de contrabando edescaminho, os contatos telefônicos gravados (através de autorização judicial), além dofluxograma de ligações, confeccionado pela Polícia Federal, demonstram a efetivaparticipação de FLÁVIO LUIZ BARBOSA na organização criminosa, atuando comofacilitador da passagem de mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadas pela Ponte daAmizade.

Acerca dos vínculos que mantinha com outros codenunciados na ação penalcorrespondente, Barbosa negou genericamente que mantinha maiores relações de amizadecom os demais denunciados, mas afirmou:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que conhece Nabil Assad Boultaff através da Ponte, que ele era tipo um Office-boy, da

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mesma forma que tem um chiru quando trabalhava da Delegacia, chamam ele de chiru, queera um Office-Boy da Delegacia; que ele [Nabil] fazia favores para eles, como pagamentos,e que para ele [Arlindo], ele já fez pagamento da prestação do seu carro, já pediu para ele[Nabil] comprar um cartucho de tinta, um desodorante, essas coisas;

Que conhece o Julio Cesar da Silva, ex funcionário da Receita Federal. O conhece da Ponte,e foram apresentados por um colega, mas não se recorda quem era o colega; que inclusive jápagou para ele [Julio] fazer um churrasco para duas famílias em sua casa;

Que conhece Moisés Nacfur, agente da Polícia Federal, já trabalhou com ele, conhecia ele,mas nunca foi na casa dele, nem ele na sua, só o conhecia de quando ele era policial federal;

Que conhece a maioria dos Policiais Federais e agentes da Receita Federal citados, mas sómantém uma relação de amizade com estes, sendo que só conhece a casa dos colegas Fla doBarbosa e de Conti, que mora perto de sua casa.

(...)

Outra prova contundente da intensa participação do réu no esquema espúrioestá inserida no fluxograma de elos de ligações, elaborado a partir dos extratos telefônicosdos terminais utilizados pelos réus no período das investigações, que revela a sua profunda eestreita ligação com Nabil Assad Boultaff, mediante numerosos contatos telefônicos atravésde seu telefone celular autodeclarado perante o Juízo Criminal na ocasião do interrogatório(Evento 8 - ANEXO300, Páginas 90 e 93):

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que seu telefone celular é 9114-0504, e o fixo é 3027-4642;

(...)

Os diálogos em contatos telefônicos (Telefone 45 9114-0504) gravados, comautorização judicial, demonstraram a participação de FLÁVIO LUIS BARBOSA, maisconhecido como Barbosinha, agente da Polícia Federal, no esquema de contrabando edescaminho, com preponderância na facilitação da atividade ilícita que imperava na PonteInternacional da Amizade.

Apesar de não terem sido identificadas transcrições de interceptaçõestelefônicas com diálogos diretos do agente da Polícia Federal FLÁVIO LUIS BARBOSA comos intermediários, as citações, pelos demais participantes da organização criminosa, merecemser esclarecidas em cotejo com as demais provas exibidas nos autos.

O trecho gravado, obtido no diálogo mantido entre dois homens nãoidentificados revelam que, na manhã de 20/01/2003, o APF Barbosa (Barbosinha)encontrava-se de serviço na Ponte Internacional da Amizade, o que autorizava o interlocutora manter o contato pessoal direto no posto de trabalho da Aduane de entrada no Brasil:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOHNI1 x HNI2

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DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO20/01/2003 08:32:46 20/01/2003 08:33:17 00:00:31ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 455261897 455261897HNI e HNI2 se cumprimentam, e HNI pergunta se HNI2 está aí embaixo e como é que tá. HNI2 legal,cara. HNI pergunta se tem correria ou não. HNI2 diz: "tem ué". HNI pergunta quem é que está nopoder. HNI2 diz que é Barbosinha. HNI diz: "não, não. Você, o Júlio ou quem que é". HNI2 fala: "não,não, deve ser o Batata, não sei, vou falar direto lá em cima". Adiante, despedem-se.

Já no diálogo da manhã do dia 25/01/2003, entre Júlio e um homem nãoidentificado, depreende-se claramente que o valor recebido pelo APF FLÁVIO LUISBARBOSA (Barbosinha) era negociado diretamente por ele com os intermediários, e asdivergências de valores pagos causavam constrangimento de desacertos entre os envolvidos.Fica claro no trecho abaixo que Barbosinha (APF) recebeu tratamento diferenciado naquelaocasião:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOHNI1 x HNI2DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO20/01/2003 08:32:46 20/01/2003 08:33:17 00:00:31ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 455261897 455261897HNI e HNI2 se cumprimentam, e HNI pergunta se HNI2 está aí embaixo e como é que tá. HNI2 legal,cara. HNI pergunta se tem correria ou não. HNI2 diz: "tem ué". HNI pergunta quem é que está nopoder. HNI2 diz que é Barbosinha. HNI diz: "não, não. Você, o Júlio ou quem que é". HNI2 fala: "não,não, deve ser o Batata, não sei, vou falar direto lá em cima". Adiante, despedem-se.

É fato que essas divergências ocorridas nos "acertos" dos valores da propina,paga pelos intermediadores para os diversos servidores públicos corruptos, por vezes,redundava em manifestações de descontentamento em intensidade suficiente para causar"prejuízos" para a quadrilha. O trecho abaixo denota uma dessas situações:

FLÁVIO LUIS BARBOSA, mais conhecido como BARBOSINHA

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/ COMENTÁRIOOSMAR x JÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO27/01/2003 12:41:14 27/01/2003 12:42:34 00:01:20ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4591043127 4591043127DIÁLOGOOsmar liga para o Júlio e fala que derrubaram um carro aqui. Júlio pergunta quem. Osmar diz que foio Barbosinha. Júlio pergunta de quem foi. Osmar diz que foi da Lenir, pois mandaram 02 carros, 01passou e o outro ele (Barbosinha) pegou. Júlio pergunta se ele (Barbosinha) entregou para a Receita.Osmar diz que tá na mesa, pois ele tá botando tudo em cima da bancada. Júlio diz que ele(Barbosinha) não tá brincando não, pois viu o tanto de porrada que ele (Barbosinha) levou, ele(Barbosinha) não vai deixar barato, e nem nessa semana inteira ele não vai deixar barato. Osmar dizque tá beleza. Júlio manda ele ver se pode deixar pra mais tarde, lá para às 19:00h, pois vai estar oMiranda e o Watanabe... a ligação caiu.Obs: a placa do carro que foi pego ou é 533 ou 748, placas estas mencionadas nos diálogos entre oAbacate e o Nelson, descritos posteriormente.

O caráter social do serviço público consiste no exercício do poder estatal nelesinvestido, por meio do cargo público, para o cumprimento do interesse público. No caso emvoga, tal poder vinha sendo utilizado como forma de demonstração de força e persuasão

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para obtenção de benefícios particulares, em especial quando esse últimos se encontravamem risco.

Da ocasião de seu interrogatório, Barbosa limitou-se a negar genericamente osfatos a ele imputados, apresentando respostas evasivas quanto ao conteúdo das interceptaçõesa ele atribuídas, somente afirmando que sempre exerceu sua profissão com dedicação eidoneidade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que a prioridade de seu serviço na Ponte Internacional da Amizade era o atendimento àemigração, aos turistas, e eventualmente prestavam auxílio à Receita Federal nafiscalização, porém esta era uma competência da Receita;

Que estava de plantão no dia vinte de janeiro, mas que ninguém o fez nenhuma propostapara que facilitasse a passagem de mercadoria, e se o fizessem, teria prendido essa pessoano ato da proposta;

Que nunca combinou qualquer tipo de preço para passar mercadoria pela ponte, no caso dainterceptação, de cento e vinte, cento e trinta reais ou dólares, e que se alguém o tivesse feitoessa proposta, prenderia a pessoa;

Que não tem nenhum controle sobre o que falam sobre seu telefone, e que quando soubedessas situações, ficou indignado e revoltado com essas pessoas, que nem ao menos oconhece, citar seu nome

Que não conhece o Oscar nem o Júlio;

Que toda essa situação é por causa de uma denúncia que até agora considera como injusta,pois não tem nenhuma relação com essas pessoas, nunca teve proposta de nada, nuncarecebeu vantagem em razão de sua profissão;

(...)

Das testemunhas de defesa arroladas, Augusto da Cruz Rodrigues (evento 462 -Termotranscdep6) afirmou que Barbosa era um nome bastante citado pelos integrantes daquadrilha, e confirma a história de que houve um desentendimento de Barbosa na pista deentrada em razão de acerto de valores de proprina:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que Flávio Luiz Barbosa era um nome bastante citado pelos intermediários, apesar dospoucos contatos pessoais dele. Era citado pelos intermediários "Maranhão" e Nabil. Pelasinterceptações telefônicas, houve, inclusive, em meados de janeiro, informações sobre umdesentendimento grande entre Barbosa e o Moura ocorrido na pista de entrada da Ponte daAmizade, por conta de acertos de valores;

(...)

Esta mesma testemunha, em depoimento perante este juízo (Evento 1757)somente confirmou o testemunho dado no processo administrativo, e afirmou que não se

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recorda de todos os fatos específicos a ele relacionados:

Questionado pela procuradora do réu Paulo Jair de Souza (Dra. Dalva De Souza Abondanza,OAB nº 29.967), disse:

Que confirma o testemunho dado no processo administrativo disciplinar nº 003/2006 em queera indiciado o ora réu Paulo, cuja leitura foi feita pela procuradora, bem como suaassinatura constante dos documentos; que se passaram 13 anos dos fatos e é difícil selembrar, se reportanto ao que está declarado nos autos; que toda a investigação está nosautos, mas não se recorda de fatos específicos.

No que se refere à testemunha Celso Fuhr (evento 462 - Termotranscdep7),esta limitou-se a afirmar que conhecia Flávio Barbosa, confirmando seu apelido de"Barbosinha":

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que conhece o Sr. Flávio Luiz Barbosa, e entre eles o tratam como "Barbosinha", nuncaouviu o chamarem de "Barbosão";

(...)

A testemunha Emmanuel Henrique Balduino de Oliveira (evento 462 -Termotranscdep9), delegado responsável pelas investigações referentes à "Operação Sucuri",afirmou perante o juízo criminal que Barbosa participava efetiva e intensamente naOrganização, e que chegou a esta conclusão através do conjunto das provas juntadas aosautos:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse: (...) Que Flávio LuizBarbosa também tem participação efetiva e intensa na Organização Criminosa, junto com osdemais agentes;

(...)

Questionado pelo advogado Douglas, defensor do réu Flávio Luiz Barbosa, disse: que poderesponder porque a participação de Flávio Luiz Barbosa é intensa e efetiva desde que analisetodo o conteúdo probatório dos autos, o diagrama de ligação telefônica, o monitoramento, ascitações, a escala de plantão, e tudo o mais os leva a crer que ele tenha participação efetivae intensa na organização criminosa. Sem ter acesso a isso, não tem como indicar quais sãoos elementos de prova, mas ratifica todas as declarações prestadas perante a autoridadepolicial, e todas as afirmações constantes dos autos circunstanciados; que não teria comoindicar no momento, o que o levou a concluir no relatório final essa função determinada doAPF Barbosa, para isso, teria que ter acesso a todo o material probatório; (...) que em suaopinião, de cunho subjetivo, acha possível que uma pessoa que arriscou sua vida combatendocontrabandistas, pode também facilitar o contrabando.

Esdras Teixeira Falcão (Evento 462 - Termotranscdep10), no que tange a FlávioBarbosa, limitou-se a esclarecer que este era conhecido dentro da Organização Criminosa,mas que não se recordava, no momento da inquirição, das conversações que ele teve:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

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Que Flávio Luiz Barbosa era conhecido, mas não se recorda sobre conversação que ele teve;

(...)

Apesar de Fernando Tavares da Silva (Evento 462 - Termotranscdep11), um dospoliciais responsáveis pelas investigações do grupo criminoso, afirmar que não viupessoalmente o APF Flávio Luiz Barbosa recebendo vantagens ilícitas no exercício de suafunção, esclareceu que as interceptações referentes ao APF Barbosa confirmavam a suafiguração na escala e sua efetiva presença na Ponte da Amizade:

Em resposta ao Dr. Douglas, representante do réu Flávio Luiz Barbosa: esclareceu que nãoviu o APF Flávio Luiz Barbosa recebendo vantagem, algum tipo de vantagem ilícita, fazendouma fiscalização ficta em veículo suspeito ou dando cobertura para qualquer outro veículosuspeito. A testemunha disse que o Barbosa foi citado, o número de telefone batia com o delee a equipe olhava na escala, o pessoal de campo ia lá e via que ele estava lá.

Por fim, Miriam Mardegan (evento 1610), da mesma forma, não trouxe nenhumelemento capaz de enfraquecer o conjunto probatório referente a Barbosa, somenteesclarecendo como eram formuladas as escalas e afirmando que os recursos humanos naPonte da Amizade eram escassos.

Considerando as numerosas provas colhidas, é induvidosa a adesão do réuFlávio Luiz Barbosa (indicado como "Barbosa", "Barbosinha" ou "Barbosão") ao esquemacriminoso esmiuçado pela Operação Sucuri. Esse réu foi, por várias vezes, citado pelosdemais partícipes do grupo delituoso, caracterizando os atos de improbidades por eleperpetrados, com flagrante afronta aos princípios da administração pública.

É possível concluir que o réu tomou parte da organização criminosa, ajustando,cobrando os valores das propinas, facilitando o contrabando e descaminho na PonteInternacional da Amizade, mantendo vínculo associativo estável com outros corréus para aconsecução de condutas contrárias aos princípios da administração pública, uma das formasprevista entre os atos que importam improbidade, conforme previsto na Lei nº 8.429/1992.

Indagado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réuFLÁVIO LUIZ BARBOSA declarou que, à época dos fatos (04/2003), possuía uma rendaque girava entre R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentos reais) e R$ 5.000,00 (cinco mil reais),ou seja, uma média de R$ 4.900,00 (quatro mil e novecentos reais), que utilizo comoparâmetro para a fixação da multa civil a ser impingida ao mencionado réu.

Impõe-se, ainda, a pena de perda do cargo de Policial Federal. Isso porque aconduta por ele perpetrada foi de extrema gravidade, com afronta direta a dignidade dafunção pública por ele exercida, escondendo-se por de trás do aparato institucional voltado aocombate do crime na fronteira, para facilitar o contrabando/descaminho, o que impede que oagente, após tal fato, prossiga atuando como agente policial.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OSPEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno FLÁVIO LUIZ BARBOSA à perda da função pública de Policial

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Federal, bem como ao pagamento de multa civil no valor de 30 (trinta) vezes a média darenda autodeclarada, perfazendo um total de R$ 147.000,00 (cento e quarenta e sete milreais), válida para março de 2003, nos termos da fundamentação.

O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

2.3.7.5. Geraldo Rosemberg Augusto de Faria

Em observância à propalada independência das instâncias civis e penais, bemcomo a fim de evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, considero necessárioconhecer o teor da decisão no juízo criminal em relação ao réu em questão (autos nº2003.70.02.004490-5, desmembrada da Ação Penal nº 2003.70.02.001463-9 - com trânsitoem julgado em 22/10/2013 - Absolvido):

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

e) Condenar NEWTON HIDENORIISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA, MARCOS DEOLIVEIRA MIRANDA, ROGÉRIO FLEURY WATANABE, ADRIANO DA COSTA LUETZ,JÚLIO CÉSAR VIEIRA PEREIRA, FLAVIO LUIZ BARBOSA, GERALDO ROSEMBERGAUGUSTO DE FARIA, ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA, ARLINDOALVARES PADILHA JÚNIOR, MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, NILTON SANTOSGONÇALVES, PAULO ROBERTO DAMBRÓZIO, JORGE LUIZ TRAVASSOS, PAULO JAIR DESOUZA. JOSÉ ALVES MORATO NETO, PAULO B1SKUP DE AQUINO e FRANCISCOROBSON VIDAL SAMPAIO, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes de corrupçãopassiva qualificada e facilitação contrabando c/ou descaminho, praticados em concursoformal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317. § 1°, e 318. combinados comos artigos 70 e 71, todos do Código Penal, cm concurso material (an. 69) com a formação dequadrilha ou bando, tipificado no artigo 288, do Código Penal.

Em relação à 0004490-57.2003.404.7002/PR, assim se pronunciou a 8ª Turmado Tribunal Regional da 4ª Região, em decisão datada de 19/04/2013:

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ªTurma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento àsapelações de GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA, FLÁVIO LUIZ BARBOSAe JOSÉ CARLOS ABRANTES FERREIRA para absolvê-los das imputações que lhe foramfeitas na denúncia, com fulcro no artigo 386, VII, do CPP, dar parcial provimento à apelaçãodos corréus para afastar a incidência do §1º do artigo 317 do CP, desclassificando o delitode corrupção para a modalidade simples; reconhecer a consunção entre o delito decorrupção passiva e o de facilitação ao contrabando e/ou descaminho, determinando que apersecução penal prossiga em relação a este último (artigo 318 do CP), afastar, em relaçãoaos os corréus condenados, a valoração negativa do vetor consequências do delito, diminuir,para os corréus, o acréscimo de pena decorrente do reconhecimento da continuidade delitiva,reduzindo, em razão disso, as sanções a eles aplicadas, determinar a substituição das

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sanções reclusivas aplicadas por penas restritivas de direitos, conceder, de ofício, ordem dehabeas corpus para proclamar extinta a punibilidade de JÚLIO CÉSAR VIEIRA em relaçãoao delito de quadrilha ou bando e negar provimento à apelação do Ministério PúblicoFederal, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parteintegrante do presente julgado.

Porém, como a absovição na ação penal refoge ao reconhecimento deinexistência do fato ou autoria nas questões (Incisos I e IV, do artigo 386, do Código deProcesso Penal) que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Notificado (08/08/2008 - Evento 8, MAND15, Página 2), o réu GeraldoRosemberg Augusto de Faria não apresentou defesa preliminar.

Citado (15/06/2010-Evento 8, MAND182, Página 12), Geraldo RosembergAugusto de Faria apresentou Contestação (Evento 8, CONTESTA190) na qual novamentesuscitou questões preliminares, e, no mérito, defende que seja reconhecido que os fatosnarrados não constituem improbidade administrativa, restando de todo atípica a conduta e aimputação pretendidas, que importam na improcedência dos pedidos da presente Ação CivilPública de Improbidade Administrativa.

Intimado (Evento 638), conforme decisão judicial (Processo5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 531 e 625, DESP1, Página 5), o réu GeraldoRosemberg Augusto de Faria apresentou rol de testemunhas.

Admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada, produzida noprocesso criminal (Processo 5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 396, DESP1, Página 4),requerida pelo Ministério Público Federal.

O REsp nº 1.193.895/PR transitou em julgado no dia 30/08/2013, com ojulgamento em que a análise do mérito restou prejudicada, haja vista a prescrição dapretensão punitiva do réu Geraldo Rosemberg Augusto de Faria.

Com relação à participação do réu em questão no esquema de contrabando edescaminho, os contatos telefônicos gravados (através de autorização judicial), além dofluxograma de ligações, confeccionado pela Polícia Federal, demonstram a efetivaparticipação de GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA na organização criminosa,atuando como facilitador da passagem de mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadaspela Ponte da Amizade.

Acerca dos vínculos que mantinha com outros codenunciados na ação penalcorrespondente, conforme depoimento pessoal transcrito na ação penal, ficou claro quePadilha tinha relacionamentos de conhecimento e amizade com alguns dos intermediadorese demais servidores públicos corruptos, envolvidos no esquema de facilitação aocontrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

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Que conhece o Sr. Nabil Assad Boultaif, e ele é seu compadre. Ele é padrinho de sua filha.Em 1974, no segundo grau, estudou com a irmã de Nabil. Conhece a família dele da suacidade, de Minas Gerais, e quando veio para Foz do Iguaçu, o pai dele tinha loja noParaguai, então estreitaram os laços de amizade;

Que conheceu o Sr. Julio Cesar da Silva há muito tempo, quando chegou aqui, ele erafuncionário da Receita, mas não tem nenhuma relação de amizade com ele;

Que conhece o Sr. Moisés Nacfur, foi seu colega da Polícia Federal. Não sabe o que ele fazatualmente. Já o viu nas proximidades da Ponte da Amizade, mas não com frequência;

Que conhece o Sr. Reginal Amorin, também conhecido como "Abacate", da Ponte daAmizade. Ele foi carregador na Ponte, trabalhou lá. Não sabe o que ele faz atualmente, nãotem relacionamento com ele;

Que conhece todos os agentes da Polícia Federal citados, e tem mais amizade com o NiltonSantos Gonçalves, o "Nilton Preto", porque ambos são mineiros. Os outros, é mais na escalaque se encontram e conversam, não têm relação de amizade;

Que conhece o Sr. Gilberto Lass como Policial Rodoviário, não o conhece por nome, e atéquando se encontraram nessa situação, como os rodoviários usam quepe, e ele sem o quepe étotalmente diferente, não o reconheceu sem a roupa, sem a farda. Nunca conversou com ele.O mesmo em relação ao PRF Otávio Luiz Villa;

Que conhece o Sr. Ailton de Freitas Braga Filho, PRF, também conhecido como "Carioca".O conhece como "Ailton". Sabe que ele é carioca, e há quatro anos atrás, faziam academiana FitFoz, e uma vez ou outra encontrava com ele lá e o cumprimentava, trocava umapalavra, mas não tem relacionamento com ele;

Que conhece a maioria dos funcionários da Receita Federal citados, mas em função dotrabalho;

(...)

Outra prova contundente da intensa participação do réu no esquema espúrioestá inserida no fluxograma de elos de ligações, elaborado a partir dos extratos telefônicosdos terminais utilizados pelos réus no período das investigações, que revela a sua profunda eestreita ligação com diversos réus na ação civil de improbidade, com grande destaque à Nabil,com o qual efetuou numerosos contatos telefônicos (Evento 8 - ANEXO300, Páginas 90 a125), José Carlos de Abrantes Ferreira (Evento 8- ANEXO301, Página 25), entre outros.

No curso da Operação Sucuri, houve autorização judicial para a quebra dosigilo com a interceptação telefônica dos envolvidos nas atividades ilícitas na PonteInternacional da Amizade. Os diálogos referentes ao APF Rosemberg se mostramcomprometedores:

Para o intermediário Júlio, o fato de Rosemberg estar entre os agentes daPolícia Federal escalados para o serviço na Ponte Internacional da Amizade significavasossego para a prática de facilitação/contrabando/descaminho:

TELEFONE NOME DO ALVO45997S0392 ALVO 4

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INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOHNIXJÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO03/01/2003 10:56:23 03/01/2003 10:57:34 00:01:11ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4599763592 4599763592RESUMODIALOGOHNI liga para o Júlio e pergunta a situação na ponte. Júlio que estão o AQUINO e o ROSEMBERG(APFs) e que está tudo sossegado - acrescentando que HNI pode- descer (para passar mercadoria)que está tudo em paz.No período da manhã do dia 03.01.2003 - diversos números de placas são passados a Júlio.

Além disso, o envolvimento do APF GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DEFARIA nas atividades da quadrilha investigada na Operação Sucuri evidenciou-se quando, namanhã do dia 03/01/2003, Júlio recebeu diversas placas dos veículos que transportavam asmercadorias contrabandeadas e repassou aos servidores públicos corruptos para que seefetivasse a facilitação.

Observa-se, no trecho abaixo, a preocupação da quadrilha em monitorar quemeram os Policiais Federais que se encontravam em serviço na Ponte Internacional daAmizade:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@@MARIAXJÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO03/01/2003 14:07:31 03/01/2003 14:07:59 00:00:28ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4591147530 4591147530DIÁLOGOMaria liga para o Júlio e pergunta quem são os Policiais Federais que estão na ponte, Júlio diz quesão os mesmos (APFs AQUINO e ROSEMBERG) e que mudou só a Receita. Ela pergunta se podemandar os carros, ele responde que sim.

Depreende-se da interceptação telefônica autorizada judicialmente que, comono período da tarde, do mesmo dia, não houve mudança nos APFs escalados (Rosemberg eAquino), nas palavras de Júlio, estava autorizada a continuidade da prática delitiva com oenvio de mais carros carregados com mercadorias contrabandeadas.

Observa-se que havia uma certa disputa entre os intermediadores, como no casoem que Reginal Amorim (Abacate) reclama para o Nelson (Batata) da atuação dointermediador Júlio, bem como do valor da propina cobrada pelo APF Rosemberg:

TELEFONE NOME DO ALVO4599774198 ALVO 6INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@ ABACATE X NELSON

DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO03/01/2003 17:23:11 03/01/2003 17:24:05 00:00:54ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599774198 4591063901 4531063901RESUMO DIÁLOGOAbacate liga e pede pra batata pegar uma moto "pra você fazer a volta aqui com uma sacolinha preta,pega aí no japonês uma sacola ou qualquer coisa, e vem ali, fala com kimura ali, pra você tirar uns 02negócios aí, pra nós levar embora". Abacate continua e pede os 50 de volta porque vai sujar. Batata

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diz que tá bom. Abacate diz que o filho da puta do Júlio... pausa... aí qualquer coisa você fala queligou para o chiru... conversa inaudível... e Júlio mais o Rosemberg tava cobrando 250. Batata diz: "épra queimar nós, esse filho da puta". Adiante» NDR.

O grau de confiança estabelecido entre os membros da organização criminosaao longo do tempo ficou demonstrado no fragmento abaixo, onde o APF ROSEMBERG,contatado diretamente por Bocão, não se opôs ao fato de ter que receber o valor da propinasomente no dia seguinte:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO©JULIOxCARLÃODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO03/01/2003 18:08:22 03/01/2003 18:09:10 00:00:48ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 91022267 4599750392RESUMO DIÁLOGOJúlio liga e pergunta para Carlão se ele não vai descer aqui. Carlão pergunta quem tá falando. Júliose identifica. Carlão diz que o Bocão foi lá em cima e já falou com o Rosemberg que vai pagaramanhã, Júlio diz que então tá beleza. Adiante, despedem-se.

Ficou comprovado, por meio do diagrama de cruzamento de escala, que, no dia08 de janeiro de 2003, encontravam-se escalados no plantão das 13h00 às 19h00 o APFMourão na pista de entrada e o APF Rosemberg na saída, bem como a Auditora MIRIANMARDEGAN, que atuou como supervisora do Setor de bagagem:

TELEFONE NOME DO ALVO4599774198 ALVO 6INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO©BATATA X FÁBIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO08/01/2003 13:47:28 08/01/2003 13:47:31 00:01:03ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599774198 4591146923 4591146923RESUMO DIÁLOGOBatata avisa ao Fábio que MOURÃO e o ROSEMBERG (APFs) estão trabalhando, "se quiserconversar com eles, conversa" (para acertar a passagem de mercadoria), mas avisa que a Míriam, daReceiu, também está na ponte.

Interceptada com autorização judicial, a conversa entre o APF ROSEMBERG eNabil deixa claro que o intermediador tinha ingerência, inclusive, perante o responsável pelaconfecção das escalas (APF Travassos substituto do APF Pamplona), a ponto de interferir nomapeamento, de acordo com os interesses da quadrilha:

TELEFONE NOME DO ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORE5/COMENTÁRIOAPF ROSEMBERG x NABILDATA/HORA INICIAL DATA /HORA FINAL DURAÇÃO2/4/terça-feíra 19:09:04 2/4/terça-feira 19:11:49 00:02:45ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599762331 4599777865 4599777865DIÁLOGO

ROSEMBERG diz que está de férias em Caxambu, e retornará sábado, as férias vão até o dia 8.ROSEMBERG diz que teve um sonho meio doido e decidiu ligar para NABIL, pois de repente é umsinal. NABIL fala para Ele que ROSEMBERG vai trabalhar na segunda. NABIL diz que vai falar paraTRAVASSOS colocar ROSEMBERG na segunda.

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Da prova emprestada deferida, depreende-se que, por ocasião do interrogatórioperante o Juízo criminal, o réu GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA negougenericamente que tenha praticado qualquer dos crimes imputados na denúncia, masconfirmou que era proprietário e usuário dos terminais telefônicos de n°s (45) 9977-7865 e(45) 574-2140:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que tem conhecimento da denúncia e sabe porque está sendo processado; que não praticouesses crimes; que não solicitou, recebeu, ou aceitou promessa de valor ou vantagem indevidapara não fiscalizar os veículos provenientes do Paraguai com mercadorias lá adquiridas, oupara fiscalizá-las de modo fictício, liberando tais veículos; que não se associou com osdemais réus para praticar essas ações que, em tese, configurariam os crimes de corrupçãopassiva e facilitação de contrabando ou descaminho;

(...)

Que seu telefone celular é 045-99777865, e seu telefone fixo é 5742140;

(...)

Ademais, o réu não logrou êxito em apresentar motivos contundentes acerca doconteúdo dessas interceptações, limitando-se à negá-las, ou apresentando respostas evasivas:

Questionado pela Juíza Alessandra Günther Favaro, disse:

(...)

Que sobre a interceptação feita nesse dia três de janeiro de dois mil e três, às dez ecinquenta e seis minutos, (entre uma conversa entre Júlio e um homem não identificado: HNIliga para Júlio e pergunta sobre a situação da Ponte, Júlio diz que estão o Aquino e oRosemberg, e que está tudo sossegado, acrescentando que o HNI poderia descer para passarmercadorias que estaria tudo em paz - Segundo informação da Polícia Federal, no períododa manhã do dia três de janeiro de dois mil e três, diversos números de placas são passadosa Júlio) não tem explicação do porquê Júlio envolveu seu nome, citou seu nome para essapessoa não identificada, para que passasse mercadorias pela Ponte da Amizade;

Que viu essas citações que a juíza está se referindo, e não tem como explicar uma atitudedessas;

Que Júlio não o fez nenhuma proposta para que ele facilitasse a ultrapassagem de veículosna Ponte da Amizade, com mercadorias adquiridas no Paraguai.

Que sobre a interceptação telefônica do dia três de janeiro, às quatorze horas e sete minutos,(entre uma conversa entre Júlio e Maria: Maria liga para Júlio e pergunta quem são ospoliciais federais que estão na Ponte, Júlio diz que são os mesmos, que seria o Aquino eRosemberg, que mudou só a Receita, Maria pergunta se pode mandar os carros, e Júlioresponde que sim) acredita que essas pessoas usaram seu nome, para que outrasacreditassem que ele estava envolvido no esquema criminoso. E viu outra [interceptação] aí,em que eles usam seu nome, e ele nem estava de serviço. Não sabe o porquê desse jogodeles;

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Que sobre a interceptação do dia três de janeiro às dezessete horas e vinte e três minutos,(entre uma conversa entre "Abacate" e "Nelson Batata", estes comentam que ele [Rosemberg]estaria cobrando duzentos e cinquenta) não sabe o porquê deles envolverem seu nome nessacobrança;

Que sobre a interceptação do dia três de janeiro de dois mil e três, às dezoito horas e oitominutos,(entre uma conversa entre Júlio e "Carlão", estes comentam que o "Bocão" já haviafalado com ele [Rosemberg]) não se recorda se neste dia alguma pessoa se aproximou delepara falar algo, nem de nenhuma circunstância atípica, e que nesse dia, 99,9% (tirou esse0,1% com seu colega Aquino, que nem tempo tinham de conversar) conversou comestrangeiros, em função do número de estrangeiros entrando ali;

Que "Bocão" em nenhuma vez o ofereceu dinheiro para que facilitasse a passagem na Ponteda Amizade de veículos provenientes do Paraguai com mercadorias;

Que não conversava com Nabil acerca de troca de plantão;

Que nunca disse para Júlio para ele não subir até a Ponte da Amizade;

Que não sabe se alguém teria alguma razão para o envolver nesse suposto esquemacriminoso, e até queria saber, está até procurando essa razão para seu envolvimento, masnão sabe, e não tem inimigos;

Que seu nome foi usado, e a interpretação de quem ouviu e de quem participou dessasdegravações, as conclusões que eles chegaram, desconhece o motivo, não sabe o porquêdeles o envolveram nisso;

Que não se recorda de ter recebido uma ligação do telefone 045-99750367, e não sabe dequem é esse número [Juíza diz que segundo a Polícia Federal, esse número é utilizado porMarquinhos, que seria o Marco Aurélio da Silva Sganderla, ligado a Nabil, e Rosemberg dizque não conhece];

(...)

As testemunhas de defesa arroladas, da mesma forma, não trouxeram nenhumelemento que comprove que o réu não cometeu tais atos ímprobos. Augusto da CruzRodrigues (Evento 462 - Termotranscdep6) somente reforçou a convicção de que Rosembergefetivamente participava do esquema, e que este era grande amigo de Nabil (um dosprincipais atuantes da organização criminosa):

Questionado pela Juíza Alessandra Günther Favaro, disse:

(...)

Que Geraldo Rosemberg Augusto de Farias apesar de não se lembrar de ter escutadoconversas, sabe que participa do esquema, é amigo do Nabil;

(...)

Questionado pela Dra. Ariane Dias e Eliane D´ Ávila, defensoras de Nabil Assad Soltafi eJúlio César da Silva, disse: que as investigações iniciaram-se 4 dias antes de sua informação(05/12/2002), que era de conhecimento do dopoente e do Delegado Chefe da Delegacia. Atestemunha não tem conhecimento de nenhuma interceptação telefônica clandestina. Disse

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que os corréus Júlio César da Silva e Nabil Assad já haviam sido indiciados na PolíciaFederal por crimes de contrabando e que os dados de ambos se encontravam registrados naPolícia Federal. Respondeu que seus subordinados no Núcleo de Operações, os policiaisIkeda, Bernardo e Atila, não auxiliaram no monitoramento telefônico, durante asinvestigações. Declarou qu e o corréu Nabil Assad Boulltaif, por si próprio, consultouadvogados e a famílias sobre a possibilidade de fazer delação premiada. Disse que nãopresenciou os acusados Júlio César da Silva e Nabil Assad Boultaif oferecendo ouprometendo vantagem indevida a algum funcionário público. Considera que o posto daPolícia Federal na Ponte da Amizade ele é de atendimento ao público, não sendoexpressamente proibida a presença de pessoas do povo lá. Sabe que o acusado Nabil eRosemberg tem um relacionamento de amizade, parentesco. Sobre a existência deplanejamento operacional, a testemunha disse ter conhecimento relativo, somente da parte damissão que a ele caberia no dia da Operação, na hora que foi decidida para fazer e quemseria usado na operação. Porque estava em diligência da operação, não tem conhecimento deque o acusado Nabil foi o primeiro a ser conduzido até a Delegacia de polícia e que teriasido interrogado sem a presença de um defensor.

(...)

Esta mesma testemunha, em depoimento perante este juízo (Evento 1757)somente confirmou o testemunho dado no processo administrativo, e afirmou que não serecorda de todos os fatos específicos a ele relacionados:

(...) Questionado pela procuradora do réu Paulo Jair de Souza (Dra. Dalva De SouzaAbondanza, OAB nº 29.967): disse que confirma o testemunho dado no processoadministrativo disciplinar nº 003/2006 em que era indiciado o ora réu Paulo, cuja leitura foifeita pela procuradora, bem como sua assinatura constante dos documentos; que sepassaram 13 anos dos fatos e é difícil se lembrar, se reportanto ao que está declarado nosautos; que toda a investigação está nos autos, mas não se recorda de fatos específicos.

Questionado pela procuradora do réu Nilton Santos Gonçalves e Paulo Biskup de Aquino(Dra. Julmara Luiza Hubner, OAB nº 31.852): que foi um dos investigadores na OperaçãoSucuri; que trabalhou com o réu Paulo em fatos anteriores à Operação; que nunca viualguma conduta que desabonasse o réu Paulo quando trabalhou com ele; que na época era ochefe de inteligência da Polícia Federal; que recebu informações do envolvimento depoliciais federais em facilitação de contrabando e outros crimes da Ponte Internacional daAmizade; que procedeu a investigação em campo, da qual resultou a indicação de algunsnomes que seriam secretários dos policiais federais, e partir disso foi feita uma informaçãopolicial encaminhada ao delegado executivo na época, e iniciou-se a Operação; que conheceMiguel Esper Cury, mas não recorda se foi alvo da investigação da Operação Sucuri; quetinha acesso a todos os áudios da Operação Sucuri; que em dezembro e janeiro trabalhoumais ativamente na Operação, e posteriormente veio uma equipe de Brasília para continuara Operação, com a qual trabalhou em conjunto; que ratifica todas as informações prestadasjunto ao procedimento da Operação Sucuri (...)

Por sua vez, Celso Fuhr (Evento 462 - Termotranscdep7) limitou-se a afirmarque conhece Rosemberg e que este mantinha contato com Nabil, visto que é seu compadre:

Questionado pela Juíza Alessandra Günther Favaro, disse:

(...)

Que conhece o Sr. Nabil Assad Boutaf, do serviço onde ele trabalhava, foi apresentado a ele

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por um funcionário, colega da Polícia Federal, o Rosemberg, e não se lembra exatamente háquanto tempo; que no seu serviço no plantão permanente, raramente o via; que pelo quesabe, ele ou o irmão dele tem uma loja no Paraguai; que já o viu conversando no serviçocom o Rosemberg, que é compadre dele [Nabil], e foi nesse momento que o conheceu; que sóo viu conversando com o Rosemberg;

Que conhece o Sr. Geraldo Rosemberg Augusto de Faria, o "Rosemberg";

(...)

O Delegado Emmanuel Henrique Balduino de Oliveira (Evento 462 -Termotranscdep9), condutor das investigações da "Operação Sucuri", afirmou queRosemberg tinha participação efetiva e intensa na organização, e que este erarecorrentemente citado pelos integrantes da quadrilha como sendo um de seus operadores:

Questionado pela Juíza Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que Geraldo Rosemberg Augusto de Faria tinha participação efetiva e intensa naorganização, havendo diálogos travados entre o citado agente e intermediadores eatravessadores;

(...)

Questionado pelo advogado Raimundo Araújo Neto, defensor dos réus Júlio César VieiraPereira, José de Abrantes Ferreira, Geraldo Rosemberg e Marco Roberto de Souza, disse:

(...) Que sobre os critérios utilizados para considerar como efetiva e intensa a participaçãodo APF Rosemberg consta em um parágrafo, nas folhas 827: "Os agentes de Polícia FederalArlindo Álvares Padilha, Antônio Henrique de Soares Mourão, Flávio Luís Barbosa, UmbertoFonte Neto, Sidney Oliveira Novaes Júnior e Rogério Fleury Watanabe eram citados porintegrantes". No caso do Rosemberg, ele foi citado, então não foi baseado somente nas duasinterceptações citadas pelo advogado. Tem o cruzamento de ligação telefônica, análise domaterial apreendido, inquérito policial, depoimento do Nabil, e tudo mais que os levam acrer que ele tinha participação efetiva e intensa. Então, até dividiram em dois parágrafosessa conclusão, para ficar bem clara; que Rosemberg era citado, manteve contato. Não temcomo buscar os critérios objetivos agora, mas eles estão no primeiro parágrafo, dá parapegar as escalas de plantão, as escalas de serviço da Polícia Federal no momento em que eleera citado, para chegar a essas conclusões objetivas (...)

No depoimento de Esdras Teixeira Falcão (Evento 462 - Termotranscdep10),este limitou-se a dizer que não se recordava de Rosemberg:

Questionado pela Juíza Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que não se recorda de Marcos de Oliveira Miranda, José Carlos de Abrantes Ferreira,Júlio César Vieira Pereira, José Alves Morato Neto, Paulo Biscup de Aquino, GeraldoRosemberg Augusto de Faria, José Fernando de Coutínho, Arlindo Álvares Padilha Júnior,Rogério Fleury Watanabe, Adriano da Costa Litz, Marcelo de Oliveira Miranda, AntônioHenrique Soares Mourão de Souza, Humberto Conte Neto e Sidnei de Oliveira NovaesJúnior (...)

Fernando Tavares da Silva (Evento 462- Termotranscdep11), em resposta às

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questões formuladas pelo procurador do réu GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DEFARIA, somente limitou-se a afirmar que não sabia ou não se recordava da maioria dos fatosa ele questionados, ratificando seu depoimento prestado no auto de prisão em flagrante:

Dr. Raimundo Araújo Neto, defensor dos acusados: Júlio César Vieira Pereira, José Carlosde Abrantes Ferreira, Geraldo Rosemberg de Faria, Marco Roberto Souza. Em resposta atestemunha disse que, apesar de ter feitos algumas, não participou de todas as análises, queeram realizadas pela pessoa que fez a transcrição, a quem cabia verificar o grau deimportância da conversa. A testemunha não sabe dizer quem fez o monitoramento e a análiseda interceptação do dia 3 de janeiro de 2003 às 17 horas e 23 minutos. Informou que chegouem Foz do Iguaçu para trabalhar na operação em 13 de janeiro de 2003. A testemunharatifica seu depoimento prestado no auto de prisão em flagrante. O depoente disse que osdiagramas de elos dos envolvidos são partes integrantes do "Projeto X", mas que não saberesponder quem os elaborou, nem sabe quem foi o operador no caso dos autos. A testemunhanão se recorda se analisou ou consultou a escala da Ponte Internacional da Amizade, no dia27 de fevereiro de 2003. Esclarece que não sabe afirmar se foi ou não a testemunha queanalisou, só que não se lembra mais no momento quem foi que fez.

Por fim, Miriam Mardegan (evento 1610), da mesma forma, não trouxe nenhumelemento capaz de enfraquecer o conjunto probatório referente a Rosemberg, somenteesclarecendo como eram formuladas as escalas e afirmando que os recursos humanos naPonte da Amizade eram escassos.

Nenhuma das testemunhas trouxe aos autos prova que afastasse o juízo deculpabilidade do réu e, considerando todo o conjunto probatório existente, tenho comoinduvidosa a adesão do réu GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA (indicadocomo "Rosemberg") ao esquema criminoso esmiuçado pela Operação Sucuri. Esse réu foi,por várias vezes, citado pelos demais partícipes do grupo delituoso, caracterizando os atos deimprobidades por ele perpetrados, com flagrante afronta aos princípios da administraçãopública.

Diante das numerosas provas colhidas, é possível concluir que o réu GERALDOROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA tomou parte da organização criminosa, ajustando ecobrando os valores das propinas, facilitando o contrabando e descaminho na PonteInternacional da Amizade, mantendo vínculo associativo estável com outros corréus para aconsecução de condutas contrárias aos princípios da administração pública, uma das formasprevista entre os atos que importam improbidade, conforme previsto na Lei nº 8.429/1992.

Indagado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réuGERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA declarou que, à época dos fatos(04/2003), possuía uma renda que girava em torno de R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentosreais), que utilizo como parâmetro para a fixação da multa civil a ser impingida aomencionado réu.

Ademais, é de se destacar que GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DEFARIA era participante assíduo da Organização, não somente sendo citado mas tambémsendo reconhecido como o próprio interlocutor de ligações interceptadas, motivo peloqual, nos termos da fundamentação, majoro a pena de multa civil em 40 vezes osalário percebido pelo réu na época.

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Impõe-se, ainda, a pena de perda do cargo de Policial Federal. Isso porque aconduta por ele perpetrada foi de extrema gravidade, com afronta direta a dignidade dafunção pública por ele exercida, escondendo-se por de trás do aparato institucional voltado aocombate do crime na fronteira, para facilitar o contrabando/descaminho, o que impede que oagente, após tal fato, prossiga atuando como agente policial.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OSPEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA à perda da funçãopública de Policial Federal, bem como ao pagamento de multa civil no valor de 30(trinta) vezes a média da renda autodeclarada, perfazendo um total de R$ 1192.000,00 (centoe noventa e dois mil reais), válida para março de 2003, nos termos da fundamentação.

O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

2.3.7.6. José Alves Morato Neto

Em observância à propalada independência das instâncias civis e penais, bemcomo a fim de evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, considero necessárioconhecer o teor da decisão no juízo criminal em relação ao réu em questão (autos nº2003.70.02.004492-9, desmembrada da Ação Penal nº 2003.70.02.001463-9 - com trânsitoem julgado em 17/09/2018 - Extinta a punibilidade):

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

e) Condenar NEWTON HIDENORIISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA, MARCOS DEOLIVEIRA MIRANDA, ROGÉRIO FLEURY WATANABE, ADRIANO DA COSTA LUETZ,JÚLIO CÉSAR VIEIRA PEREIRA, FLAVIO LUIZ BARBOSA, GERALDO ROSEMBERGAUGUSTO DE FARIA, ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA, ARLINDOALVARES PADILHA JÚNIOR, MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, NILTON SANTOSGONÇALVES, PAULO ROBERTO DAMBRÓZIO, JORGE LUIZ TRAVASSOS, PAULO JAIR DESOUZA. JOSÉ ALVES MORATO NETO, PAULO B1SKUP DE AQUINO e FRANCISCOROBSON VIDAL SAMPAIO, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes de corrupçãopassiva qualificada e facilitação contrabando c/ou descaminho, praticados em concursoformal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317. § 1°, e 318. combinados comos artigos 70 e 71, todos do Código Penal, cm concurso material (an. 69) com a formação dequadrilha ou bando, tipificado no artigo 288, do Código Penal.

Em relação à 0004492-27.2003.404.7002/PR, assim se pronunciou a 8ª Turmado Tribunal Regional da 4ª Região, em decisão datada de 19/04/2013, transitada em08/12/2018:

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Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ªTurma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar parcial provimentoàs apelações dos corréus para afastar a incidência do §1º do artigo 317 do CP,desclassificando o delito de corrupção para a modalidade simples, reconhecer a consunçãoentre o delito de corrupção passiva e o de facilitação ao contrabando e/ou descaminho,determinando que a persecução penal prossiga em relação a este último (artigo 318 do CP),afastar, em relação a todos os corréus, a valoração negativa do vetor consequências dodelito e diminuir o acréscimo de pena decorrente do reconhecimento da continuidade delitiva,reduzindo, em razão disso, as sanções aplicadas aos mesmos (corporal e de multa),determinar a substituição das sanções reclusivas aplicadas por penas restritivas de direitospara os corréus PAULO BISKUP DE AQUINO e JOSÉ ALVES MORATO NETO, conceder,de ofício, ordem de habeas corpus para proclamar extinta a punibilidade dos corréus emrelação ao delito de quadrilha ou bando e negar provimento à apelação do MinistérioPúblico Federal, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parteintegrante do presente julgado.

Como na ação penal não se concluiu pela inexistência do fato ou autoria nasquestões que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Notificado (em 01/09/2008 - Evento 8 - CARTA PR52, Página 3), o réu JOSÉALVES MORATO NETO apresentou defesa preliminar (Evento 8, PET61), cujos argumentosforam afastados por ocasião da prolação da decisão que recebeu a petição inicial.

Citado (13/07/2010-Evento 8, CARTA PR205, Página 5), o réu JOSÉ ALVESMORATO NETO apresentou Contestação (Evento 8, CONTESTA213), na qual novamentesuscitou questões preliminares, e, no mérito, defende que seja reconhecido que os fatosnarrados não constituem improbidade administrativa, restando de todo atípica a conduta e aimputação pretendidas, que importam na improcedência dos pedidos da presente Ação CivilPública de Improbidade Administrativa.

Intimado (Evento 645), conforme decisão judicial (Processo5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 531 e 625, DESP1, Página 5), o réu ALVESMORATO NETO apresentou rol de testemunhas.

Admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada, produzida noprocesso criminal (Processo 5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 396, DESP1, Página 4),requerida pelo Ministério Público Federal.

Transitou em julgado em 10/12/2018 a decisão do Supremo Tribunal Federal,que não conheceu o ARExt nº 1.164.373. O Superior Tribunal de Justiça negou provimentoao REsp nº 1.480.168/PR e, com o trânsito em julgado em 17/09/2018, confirmou o Acórdãodo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (ACR0004492-27.2003.404.7002/PR), quereformou a Sentença para manter a condenação apenas para o crime tipificado no artigo 318,do Código Penal, substituindo as sanções reclusivas aplicadas por penas restritivas de direitos.

Com relação à participação do réu em questão no esquema de contrabando edescaminho, os contatos telefônicos gravados (através de autorização judicial), além dofluxograma de ligações, confeccionado pela Polícia Federal, demonstram a efetiva

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participação de JOSÉ ALVES MORATO NETO na organização criminosa, atuando comofacilitador da passagem de mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadas pela Ponte daAmizade.

Acerca dos vínculos que mantinha com outros codenunciados na ação penalcorrespondente, conforme depoimento pessoal transcrito na ação penal, ficou claro quePadilha tinha relacionamentos de conhecimento e amizade com alguns dos intermediadorese demais servidores públicos corruptos, envolvidos no esquema de facilitação aocontrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que conhece o Sr. Nabil Assad Bou Ltaif há um bom tempo. O conheceu ali de passagemna Ponte Internacional da Amizade, e era de seu conhecimento que algum tempo atrás elepossuía um comércio no Paraguai. Assim, as pessoas que trabalham lá frequentementecostumam ver as pessoas e passa a conhecê-las, passa a saber qual é a atividade dasmesmas e, depois, em um momento posterior, veio a ter um relacionamento com um colegada Polícia Federal, que tinha um relacionamento mais íntimo com o Nabil. O colegachama-se Rosemberg. Não sabe se Rosemberg é compadre de Nabil, mas eles são muitoamigos, bem relacionados, então, se cruzava com eles de vez em quando, encontrava-se emreuniões, algumas dessas reuniões eram efetuadas no Clube Cataratas de Caça e Pesca,onde vai de vez em quando. Vai à pesca também, de vez em quando, e cruza com a pessoa deNabil;

Que conhece o Sr. Moisés Nacfur muito bem, é um amigo pessoal, o conhece em função dequando chegou aqui. Ele trabalhava na Polícia Federal, é um ex-agente, e salvo engano foidemitido em 1995, e desde o momento em que chegaram aqui, mantém um relacionamento deamizade íntima. Além disso, o convidou para ser padrinho de seu último filho, que agora estácompletando 3 anos. Suas esposas se conhecem e se dão muito bem. Frequentam a casa umdo outro, e sua esposa inclusive ajudou, há pouco tempo atrás, a esposa de Moisés a colocaro serviço de telemensagem na casa dela, onde é o meio que ele sobrevive hoje, ele a esposasobrevivem hoje com esse telemensagem com entrega de cesta de café da manhã, flores,quando ela encomenda, e ele sai levando esse entrega. Esse é o tipo de relacionamento, umrelacionamento íntimo entre os dois e entre as suas famílias;

Que sobre o Sr. Nelson Arnaldo Benitez, também conhecido como "Nelson Batata","Batata" ou "Batatinha", conhece uma pessoa com esse nome "Batata" ali das imediaçõesda Ponte. Salvo engano, acha que a irmã dele ou a mãe dele tem uma lanchonete ali nacurva, na saída da fiscalização, na Aduana, onde eles vão fazer um lanche, de manháprincipalmente, tomar café e comer pastel e tal, e ele está sempre ali nas imediações.

Que a pessoa chamada por "Rapadura", não sabe o nome, mas essa pessoa constantementeestava ali na Ponte, e constantemente perturbando até o seu serviço, se fazendo passar poramigo: "Não, porque eu conheço o Zé Alves, que conheço fulano de tal, porque eu sou amigode fulano de tal...". Ele falava isso para as pessoas quando da fiscalização da ReceitaFederal. Isso acontecia tão seguidamente, que ele mesmo, pessoalmente, já chegou acolocá-lo para fora da Aduana;

Que em relação ao Sr. Reis Fernandes da Silva, também conhecido como "Fernando doPneu" ou Fernando, conhece uma pessoa que passa lá com o nome de Fernando, e sabeque ele trabalha no Paraguai, numa loja de pneus, vendendo pneus;

Que conhece o Sr. Reginaldo Amorim, também conhecido como "Abacate". Ele foi um

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ex-carregador da Ponte. Tem certeza que Abacate conhece outros policiais federais,inclusive parece que ele tem uma boa relação de amizade com o APF Miranda, mastambém devido ao fato de que ele trabalhou ali na Ponte por quase ou mais de dois ou trêsanos, não se recorda a época, mas ele era uma pessoa bem comunicativa, bem expansiva,conhecido dos agentes;

Que conhece todos esses agentes da Polícia Federal citados. Com exceção de Rosemberg,somente se relaciona com eles em função do trabalho, e também têm afinidades. Está aquihá 15 anos, lotado na mesma lotação, algumas pessoas são anteriores, outras posteriores, ede todos aí a afinidade é [...]. São afinidades em função do trabalho, mas se encontram devez em quando. Teve um aniversário, por exemplo, da filha do Miranda, e foi convidado àresidência dele. Encontram-se na Associação da Polícia Federal e até mesmo no clubeCataratas, uma vez por mês, não é frequente, mas se encontram lá para um torneio desinuca, um jantar, onde são convidados vários colegas, como o Watanabe, o Miranda, oPamplona, e o próprio Rodrigues já participou desse jantar, uma reunião social, onde sereúnem, cada um participa da compra da cerveja, e para a compra às vezes de um peixe,outras vezes de uma costela, assam e fazem um "torneiozinho" de sinuca, umaconfraternização;

Que conhece todos os agentes da Receita Federal citados, mas só mantém relação com elesem função do trabalho;

(...)

Confirmando a intensa e estreita relação de Alves com os demais réus, ofluxograma de elos de ligações, elaborado a partir dos extratos telefônicos dos terminaisutilizados pelos réus no período das investigações, revela seus numerosos contatostelefônicos, em especial com os intermediários Nabil e Moisés (Evento 8 - ANEXO300,Páginas 62 e 92)

A prova emprestada da ação penal, com autorização judicial, traz aos autos asinterceptações telefônicas (também autorizadas judicialmente) dos diálogos perpetrados pelosintegrante da organização criminosa que atuou na fronteira do Brasil com o Paraguai.

Durante as investigações, percebeu-se grande preocupação dos integrantes daquadrilha em driblar a presença de servidores que não aceitavam a submissão à organizaçãocriminosa que atuava na Ponte Internacional da Amizade. Assim, os integrantes monitoravamos horários de trabalho para escolher o melhor dia e horário para o transporte dasmercadorias contrabandeadas/descaminhadas.

Nesta interceptação do dia 27 de dezembro, verifica-se a preocupação do APFNewton em comunicar à mulher não identificada que "Mirian", auditora da Receita Federal,ficaria fora da PIA, das 11:00 às 13:00 horas daquele dia, como forma de indicar apossibilidade de aproveitar o momento para transportar mercadorias sem se submeter àfiscalização:

TELEFONE NOME DO ALVO4599776223 ALVO IIINTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@NEWTON X MNIDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO27/12/2002 07:42:19 27/12/2002 07:43:37 00:01:18

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ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599776223 4391084409 4599776225

RESUMO DIÁLOGOAPF NEWTON: liga para MNI, diz que a Míriam (da Receita) vai estar fora das 11:00 às 13:00 horas.MNI diz que duas horas é muito pouco e que acha melhor deixar para depois das 19:00 horas.APF NEWTON: Mas aí, eu não vou estar. Quem vai estar é o Júlio (APF), mas é tranqüilo.MNI: Você não está no (plantão de) 24.APF NEWTON: É, mas o colega vai tirar para mim. Vai estar o ALVES, o JÚLIO e o TRAVASSOS.MNI: Ta bom.APF NEWTON: Tchau.

O trecho retrocitado ainda indica que JOSÉ ALVES MORATO ALVES NETO (APF ALVES) também é parte integrante do esquema espúrio que se alastrou na Aduana daPonte Internacional da Amizade.

O fragmento seguinte denota o grau de intimidade do APF ALVES com Moisés,outro integrante da organização criminosa que atuou na fronteira, haja vista que foram juntospara a praia em Santa Catarina, de onde mantiveram contato telefônico com o intermediadorNabil:

FONE ALVO4599762331 ALVO 7INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@ NABIL X MOISÉS X APF ALVESDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO08.01.03 11:45:04 08.01.03 11:48:32 00:03:28TELEFONE ALVO TELEFONE INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO459976233I 4599755704 4599762331DIÁLOGONabil liga para o telefone de Alves número (45) 9975-5704 e conversa com a esposa de Moisés que,logo após, passa para Moisés. Moisés pergunta como é que tá aí meu filho. Nabil diz que tátranqüilidade Total. Moisés pergunta se tá tudo parado aí. Nabil diz que tá meio devagar, mas tá bom,tá dando pra mexer. Adiante, Moisés passa o telefone para Alves. Nabil pergunta se tá vida dura tio.Alves brinca com Nabil dizendo se come camarão, se come ostra e etc. Adiante, Alves fala para Nabildos colegas da Polícia Federal que estão na praia em Santa Catarina, nabil pergunta qual é o dia queele vai voltar. Alves diz que só volta semana que vem só. Nabil diz: "vem que nós tamos escalado aqui(PIA)". Alves pergunta: "aonde". Nabil diz: "aonde...aonde eu tou". Alves diz: "eu não quero, eu querotrabalhar na PTN". Nabil diz: "então tá bom, então eu vou lá mudar então". Alves diz: "Manda mudaressa porcaria". Alves pergunta para Nabil o dia que ele está escalado. Nabil diz que dia é no dia 17.Nabil continua e diz que é na outra semana. Alves diz que é domingo e comenta que falou pra ele(provavelmente Travassos ou Pamplona) que não queria trabalhar no domingo. Nabil fala pra ele vimdomingo, pois domingo eles podem fazer alguma coisa. Adiante, despedem-se.

Depreende-se, outra vez, que Nabil tinha pleno conhecimento das jornadas detrabalho dos Policiais Federais na Ponte Internacional da Amizade, bem como, pelaproximidade com os APFs Travassos e Pamplona, detinha faculdade de influenciar naconfecção ou solicitar alterações nas escalas de serviços, de acordo com o interesse daorganização criminosa.

No dia 28/01/2003, Moisés comprometeu-se a comparecer na madrugadaseguinte na PIA para "trabalhar":

TELEFONE NOME DO ALVO4599636878 ALVO 2INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOMOISÉS x SOMBRADATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

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1/28/terça-feira 21:16:05 1/28/terça-feira 21:17:09 00:01:04ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599636878 4591143306 4599636878DIÁLOGOS = Falou com Ele lá?M = Eu estou com Ele agora aqui. Se dé é de madrugada. Depende do pessoal da Receita estiver lá.Quatro e meia, cinco horas da manha Eu tô lá.S = Amanhã agente conversa lá.M = E é meia viu? Nós conversamos lá.

Em conversa telefônica do dia 29/01/2003, o APF Alves mostrou-se irritadoporque Moisés Nacfur, que intermediava o esquema de propina entre contrabandistas eServidores, teria combinado de "aparecer" durante a madrugada, mas não compareceu naAduana da Ponte Internacional da Amizade:

FONE ALVO4599636878 ALVO 2INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@Moisés x APF AlvesDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO29.01.03 16:24:00 29.01.03 16:26:18 00:02:18TELEFONE ALVO TELEFONE INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599636878 4599755704 4599636878Moisés liga e pergunta como é que foi a madruga. Alves diz que foi tranqüila e fala que Moisés ficoude aparecer e não apareceu porra. Moisés diz que não foi porque viu que não ia dá nada, e pergunta serendeu alguma coisa. Alves diz que nada, só o ...a ligação caiu.

Na mesma ligação, o APF ALVES e o intermediador Moisés demonstram certafrustração pelo fato de não terem conseguido colocar em práticas as atividades ilícitas quelhes renderiam algum dinheiro.

Questionado perante o juízo criminal, o réu credita o conteúdo destainterceptação à um encontro que teria marcado com duas mulheres, logo após o serviço:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que sobre a interceptação do dia 29 de janeiro de 2003, onde Moisés o liga e pergunta -"Como é que foi a madrugada", e Alves diz "Foi tranquilo" e que Moisés ficou de aparecer enão apareceu, aí Moisés diz que "não foi porque viu que não ia dar nada" e pergunta serendeu alguma coisa, então Alves diz que nada, só oi e a ligação cai - que o que não rendeufoi o que haviam marcado, um encontro, eles dois, ele havia conhecido duas pessoas e eleshaviam marcado um encontro para que fosse à Ponte da Amizade, no final de seu serviço,para saírem de lá com essas pessoas, que seriam duas mulheres. Ele não as conheceu,Moisés o iria apresentar uma delas, e sairiam de lá. Eles não iriam para o Paraguai, haviammarcado de ir para uma chácara de um amigo deles, o Ademir (...)

Tal explicação, porém, não convence, tendo em vista que o termo "rendeu"claramente se refere à transações ilícitas, de valor pecuniário. Além disso, é irrazoável pensarque o réu sairia para encontros logo após uma madrugada de serviço.

Da prova emprestada deferida, depreende-se que o réu JOSÉ ALVESMORATO NETO (Evento 462- Termotranscdep22) negou genericamente que tenhapraticado qualquer dos crimes imputados na denúncia, mas confirmou que era proprietário eusuário dos terminais telefônicos de n°s (45) 9975-5704 e (45) 523-3525:

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Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que tomou conhecimento da denúncia a partir do momento que foi notificado dela, emboranão concorde com ela. Não praticou esses crimes; que em nenhum momento solicitou emqualquer ocasião, qualquer valor ou vantagem indevida para não fiscalizar os veículosprovenientes do Paraguai, com mercadorias lá adquiridas, ou para os fiscalizar de modofictício, liberando tais veículos, e nem aceitou promessa de vantagem indevida para fazerisso; que em nenhum momento facilitou de qualquer forma, deixando de fiscalizar asmercadorias ou fiscalizando os veículos de forma fictícia, liberando a passagem demercadorias adquiridas no Paraguai; que não se se associou com os demais réus parapraticar essas ações que configurariam, em tese, os crimes de corrupção passiva efacilitação ao contrabando e descaminho;

Que seu telefone é 9975-5704, e o fixo de sua residência é 523-3525. Só utilizava esses doisnúmeros;

(...)

Ademais, o réu não logrou êxito em apresentar explicações contundentes acercado conteúdo dessas interceptações, limitando-se à negá-las, ou apresentando respostasevasivas, nada críveis:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que sobre a interceptação do dia 27 de dezembro de 2002, onde entre uma conversaentre Newton Ishii e uma mulher não identificada - Newton diz que "a Miriam da Receita vaiestar fora das 11 às 13", e a MNI diz que "duas horas é muito pouco e que é melhor deixarpara depois das 19", e Newton diz "mas aí eu não vou estar, quem vai estar é o APF Júlio,mas é tranquilo", e a MNI diz "você não está no plantão de 24 horas", aí Newton diz "é maso colega vai tirar para mim, vai estar o Alves, o Júlio e o Travassos" - que trabalhou com oAPF Júlio e o APF Travassos nesse dia, pois fazia parte da escala, e pode até acrescentarmais uma pessoa, era o Júlio, o Newton, o Travassos, o Alves e o Camargo, 5 pessoas queestavam trabalhando. Não sabe explicar o porquê dessa conversa. Não tem nenhumproblema com o APF Newton e nem com passagem de mercadoria, e desconhece sobre isso;

Que não falava com Moisés sobre trocas de plantão, até porque isso aí não é atinente nem aeles, quando tinha que comentar, quando havia a necessidade de uma troca de plantão, issoera objeto a se tratar com o seu superior hierárquico, no caso, o DPF Farias ou o APFPamplona, que era encarregado da escala para troca de serviço;

Que a ligação que consta nos autos com o Nabil, a transcrição que ali consta, nãocorresponde ao diálogo que travaram. Em momento algum pediu a Nabil para interferirnuma escala de serviço ou numa troca de serviço em relação à sua pessoa, até porque elenão tem essa ingerência, quem cuida de sua escala de serviço é seu Delegado Executivo, aqual é elaborada normalmente no final do mês, e só tomam conhecimento no dia 1º ou no dia2, no mais tardar. Eles não têm nenhuma ingerência sobre a escala; que nega que tenha ditono diálogo "manda mudar essa porcaria". Não disse isso, teceu um comentário com ele[Nabil]. Ele o ligou e estava de férias, na companhia de Moisés, e teceu com comentário comele de que havia pedido ao APF Pamplona para que não o colocasse no dia de serviço, 17 dejaneiro, uma sexta-feira, e teceu um comentário com ele onde falou "puxa, eu não queriatrabalhar dia 17 de janeiro", comentou e pediu para Pamplona que ele o colocasse paratrabalhar na segunda-feira, porque tem vários outros plantões que dobrou, que tirou serviçode gente que faltou, então queria mais esse final de semana para permanecer aqui, e faloupara Pamplona que não queria trabalhar;

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Que crê que possivelmente possa estar sendo perseguido, agora não tem outra explicação,não existe outra explicação e não tem nem palavras para dizer o tamanho do absurdo queestá sendo feito com sua pessoa;

Que a Polícia Federal chegou a essa conclusão de sua participação com uma interpretaçãoerrada.

As testemunhas de defesa ouvidas, da mesma forma, não trouxeram nenhumelemento que comprove que o réu não cometeu tais atos ímprobos:

Marcos Antonio Farias (Evento 462 - Termotranscdep31) nada disse a respeitoespecificamente de APF Alves. Porém, afirma que sempre existiram comentários a respeitoda corrupção por parte dos policiais federais na Ponte Internacional da Amizade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

Que os comentários que eram feitos a respeito da corrupção, facilitação de contrabando edescaminho por parte dos policiais, é uma coisa que ocorre durante muito tempo, e existemalguns fatos concretos, como a prisão de Marcos Roberto, a prisão do policial "Maranhão";

Afirma que o trabalho de fiscalização, envolvendo contrabando e descaminho é,prioritariamente, da Receita Federal, e que a Polícia poderia atuar quando há a suspeita dealgo. A alegação de que os policiais não poderiam ajudar na fiscalização porque ficavam otempo inteiro atuando no setor da migração, para a testemunha, é absurda, pois o fluxo nãoera tão grande a ponto de terem que ficar 24 horas dentro do posto:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que o trabalho prioritário ali é da Receita Federal, envolvendo contrabando edescaminho, e eles atuam de uma maneira secundária. Se houver alguma suspeita, algumacoisa que indique que está acontecendo alguma coisa, está querendo sonegar, passar demaneira oculta alguma coisa, a atuação da Polícia é legítima, caso contrário, atuar comofiscal da Receita Federal, acredita que não; (...)

(...) Que o gereciamento [do trabalho] em si era feito por quem estava ali, no dia-a-dia,poderia ser o policial Pamplona, mas essa informação de que não poderiam ir para a pistaou auxiliar a Receita Federal porque ficavam vinte e quatro horas recebendo turistas dentrodo posto, isso seria até um absurdo. Isso não chegou a seu conhecimento, mesmo porque, ofluxo é grande, mas não tão grande; (...)

Comenta sobre questões administrativas e operacionais da feitura das escalas,que eram muito flexíveis, e poderiam ser alteradas conforme sua disponibilidade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que durante todo o período de escala, houveram inúmeras situações em que policiais,por interesses próprios, particulares, pediam para fazer [trocar de escala], que se fossetrabalhar aqui ou acolá [no plantão ou na Ponte da Amizade], durante todo esse período.Alguns tinham problema de horário de escala: "Eu prefiro trabalhar assim, uma escala deseis horas", o outro, "Eu precisava, eu gostaria, estou cansado de alguma coisa, tal, gostariade trabalhar em outro lugar", e se houvesse a possibilidade, não haveria problema nenhumde se fazer essas alterações, nunca se colocou obstáculos a esse tipo de coisa, caso houvesse

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a possibilidade; (...)

Afirma a testemunha que houve um tumulto na Ponte da Amizade a partir domomento em que o delegado Mauro, da Receita Federal, começou a fazer filmagens nasimediações da Ponte, justamente porque havia uma indignação por parte da Receita Federalcom a atuação da Polícia Federal. Os servidores da Receita não queriam mais trabalhar naPonte da Amizade (apesar de haverem maus servidores da Receita, também haviam pessoasque trabalhavam de forma correta e que se indignavam ao observarem algumas situações),pois estavam inseguras:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que a atividade operacional básica é feita a partir dos núcleos de operações e docriou-se um certo tumulto na Ponte Internacional da Amizade com a presença do delegadoMauro, da Receita Federal, nas imediações da Ponte, fazendo filmagens, algumas coisas. Sóque tais tumultos, durante o período em que esteve, ocorreu em outras oportunidadestambém, houveram situações, por exemplo, quando da prisão do APF "Maranhão", SérgioRoberto, uma verdadeira corrida por parte dos policiais federais, na Ponte também, umapreocupação toda lá de [...], e foram mais ou menos semelhantes. O que ocorreu ali, e sepode perceber através das próprias interceptações, que houve por parte dos policiais umaverdadeira [...] a partir do momento em que houve essa atitude por parte do delegado Mauroque estava lá, resolveu filmar alguma coisa, porque servidores da Receita estavam meio queindignados com relação à atuação dos policiais, e ele esteve lá filmando algumas coisasenvolvendo essa própria conduta de vários veículos, que originou o nome da operação"Sucuri", que seriam as cobrinhas passando, tocando por cima, veículos por cima do servidorda Receita. Havia essa indignação por parte da Receita Federal. Então, isso que se percebeuno procedimento, que criou-se uma certa atitude por parte dos policiais, todos osatravessadores aqui que, de repente, se assustaram com a situação, que se intensificou maisainda no final, nos últimos dias da operação, até, coincidentemente, alguns colegas pedirampar a sair da Ponte da Amizade. Com relação à indignação da Receita Federal, isso oschegava através de informações, até o próprio delegado da Receita, Mauro, dizendo que osservidores da Receita não queriam mais trabalhar, por parte da devida situação que estavaocorrendo na Ponte da Amizade. Isso até foi uma das coisas anteriores, informações daReceita que até originaram essa própria operação, porque apesar de existirem mausservidores da Receita, também existiam aquelas pessoas que atuavam, trabalhavam, deforma correta e que se indignavam ao observarem algumas situações. De forma clara, só serecorda do nome do próprio Dr. Mauro, da Receita, dizendo que existia uma certa indignaçãopor parte [...] Mas isso durante todo o período que está aqui, sempre houveram comentários,que chegavam de maneira transversa, nesse sentido; (...)

A testemunha também esclarece sobre questões administrativas e operacionais arespeito da feitura das escalas que eram feitas pelo APF Pamplona. Afirma que a únicainfluência na sua elaboração era a dos próprios servidores, que pediam a alteração da escalapor questões pessoais. Não havia e não pode haver influência externa na escala:

Questionado pelos advogados Osvaldo Loureiro de Mello, Fernanda Plugner, Iracélia Gallide Souza, defensores dos réus Osmar Alves de Moura, Newton Hidenori Ishii, ArlindoPadilha, Marcos de Oliveira, Adriano da Costa Lits, RogérioWatanabe, Marcelo Oliveira Miranda, Antônio Henrique Mourão de Souza e Humberto ConteNeto, disse:

(...) Que a escala da Ponte da Amizade, durante esse período que estava ocorrendo a

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operação, era feita pelo APF Pamplona. A única influência [na elaboração da escala] seriado próprio servidor, em determinado momento, por alguma questão pessoal, ele mesmoalegando alguma coisa, porque a escala é muito flexível e dinâmica. Obviamente, aadministração achava por bem atender um anseio do servidor, se não houvesse prejuízo parao trabalho. Mas desconhece de pessoas de forma externa que poderiam influenciar naelaboração da escala, e isso não pode acontecer. Podem ver no procedimento, noprocedimento se teve a notícia de que algumas pessoas estavam alegando que isso poderiaestar ocorrendo, e isto não poderia acontecer sob hipótese nenhuma, mas se aconteceu ounão [não sabe dizer]. Ninguém nunca o pediu, em hipótese nenhuma, e se pedissem isso paraele, uma pessoa externa, era motivo até para ser preso; (...)

No mais, aduziu a testemunha que há um controle do número de atendimentosfeitos no serviço de migração, uma estatística feita através do número de tarjetas preenchidas,mas o serviço de digitação das tarjetas é feito de forma atrasada. Não sabe dizer o númeroexato de policiais que trabalhavam na Ponte da Amizade durante o período das investigações,mas pode dizer que o número ideal é de sete agentes por turno, incluindo a pista de entrada ede saída:

Questionado pelos advogados Osvaldo Loureiro de Mello, Fernanda Plugner, Iracélia Gallide Souza, defensores dos réus Osmar Alves de Moura, Newton Hidenori Ishii, ArlindoPadilha, Marcos de Oliveira, Adriano da Costa Lits, RogérioWatanabe, Marcelo Oliveira Miranda, Antônio Henrique Mourão de Souza e Humberto ConteNeto, disse:

(...) Que em relação ao controle do número de atendimentos feitos no serviço de migração, oque existe é o número de tarjetas que são preenchidas no dia-a-dia, existe uma estatística,mas de anos anteriores, porque não está atualizada. Essa quantidade de tarjetas que erampassadas deveriam ser lançadas no sistema. Isso fica registrado no Núcleo de PolíciaMarítima, pode se ter essa quantidade, apenas se pedindo lá. O que ocorre é que, devido àquantidade, ao volume de trabalho, que já vem com atraso de algum tempo, o serviço dedigitação das tarjetas está sendo feito de forma atrasada, por outras pessoas na Delegacia,mesmo; (...)

(...) Pode dizer que o ideal é no mínimo sete policiais no total, na Ponte da Amizade, porturno, incluindo a pista de entrada e de saída; (...)

(...) Que não sabe dizer quantos policiais atuavam na Ponte da Amizade de novembro de2002 a março de 2003. Isso é uma coisa variável, que poderia ser comprovada através dasescalas. Não tem condições de responder a isso em razão da dinâmica das escalas; que aprioridade na Ponte da Amizade são todos os trabalhos que a Polícia Federal exerce nolocal; que se houver uma pessoa para ser atendida na migração, e os servidores estiverem,obviamente, fiscalizando, na pista, ele tem que atender, é a necessidade momentânea. A únicacoisa que sempre enfatiza é a questão da segurança, a única prioridade que existe, em suaopinião, é a segurança do próprio servidor; (...)

Por sua vez, a testemunha José Roberto Paes (Evento 1717) disse que foi colegade Alves, e afirmou que a fiscalização na Ponte da Amizade era precária por conta dodiminuto número de agentes disponíveis. Alega também que haviam boatos de que pessoasutilizariam nomes dos funcionários públicos para obter vantagem, porém, nada trazendo designificativo com relação às provas existentes contra o réu em questão:

Questionado pela procuradora do réu José Alves Morato Neto (Dra. Cledy Gonçalves Soares

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Dos Santos, OAB nº 14.855): disse que se recorda da Operação Sucuri; que foi colega deserviço do réu; que provavelmente trabalhou com o réu na Ponte Internacional da Amizade;que o trabalho era feito por amostragem na Ponte Internacional da Amizade e que afiscalização era precária e faltavam funcionários; que no período noturno o trabalho eramais precário; que só ficavam um ou dois no plantão noturno e os demais [funcionários]ficavam na importação dos caminhões; que a abordagem dos veículos pequenos era feitapela Receita Federal e Polícia Federal; que Polícia Federal tinha liberdade em fazer aabordagem em veículos; que no período noturno ficavam poucos agentes da Polícia Federal,em torno de dois ou três; que trabalha há 34 anos na Receita Federal; que houve boatos depessoas usarem o nome dos funcionários, do depoente e de outros colegas, para obtervantagem.

O mesmo em relação a Laurentino Rotelok (Evento 1717), que somenteesclareceu questões operacionais a respeito da atuação da Polícia Federal na PonteInternacional da Amizade:

Questionado pela procuradora do réu José Alves Morato Neto (Dra. Cledy Gonçalves SoaresDos Santos, OAB nº 14.855): disse que trabalhou com o réu algumas vezes na PonteInternacional da Amizade há muitos anos atrás; que provavelmente trabalhou no períodonoturno de 2001 a 2003 na Ponte Internacional da Amizade; que na época passava pelaPonte Internacional da Amizade um volume desumano de mercadorias; que a prioridade daabordagem de mercadorias é da Receita Federal; que no período noturno uniam as duaspistas da Ponte Internacional da Amizade; que não se recorda quantos policiais federaisficavam na Ponte Internacional da Amizade no período noturno; que a quantidade depolicias, na época, era insuficiente; que a confecção das escalas da Receita Federal era feitapelo chefe Luciano, que indicava quem ia trabalhar em cada setor, e na Ponte Internacionalda Amizade o chefe da Ponte Internacional da Amizade indicava o local de trabalho[sub-postos de trabalho: parte interna, pista, ônibus ou pedestres]; que o funcionário nãoescolhia o local do posto de trabalho para o qual era escalado; que o carimbo do depoentefoi falsificado algumas vezes durante os trinta anos de trabalho; que já aconteceu doscontrabandistas usarem nomes dos servidores para obter vantagem, o que acontece até hoje.

Luiz Cassanego (Evento 1899), ouvido via Carta Precatória na Comarca deSanta Helena, nada trouxe de relevante aos autos, não se recordando da maioria dos fatos aele questionados:

Inquirido pelo Juiz Jorge Anastácio Kotzias Neto, disse:

Que era chefe da Receita Federal na Ponte da Amizade; que a Operação Sucuri investigou osfatos no setor de bagagens na PIA; que alguns dos citados são funcionários públicos, mas atestemunha não conhece a maioria dos nomes citados pelo Juízo; que estranhou ter sidoarrolado com testemunha de defesa desse pessoal; que não foi investigado na operação; quecontinua trabalhando na Receita Federal, no porto de Santa Helena; que nunca teve acessoao processo e não tem conhecimento do que exatamente foi investigado; que, na época,passava-se muita mercadoria [na Ponte Internacional da Amizade]; que a quantidade defuncionários era pequena; que não sabe dizer se as mercadorias que passavam eram pelafalta de fiscalização de maneira consciente; que lembra que na época da operação foichamado para depor como testemunha de defesa do réus, mas só conhecia alguns colegas detrabalho; que não se lembra dos fatos.

Por fim, Miriam Mardegan (evento 1610), da mesma forma, não trouxe nenhumelemento capaz de enfraquecer o conjunto probatório referente a Alves, somenteesclarecendo como eram formuladas as escalas e afirmando que os recursos humanos na

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Ponte da Amizade eram escassos.

Sendo assim, nenhuma das testemunhas trouxe aos autos prova que afastasse ojuízo de culpabilidade do réu e, considerando todo o conjunto probatório existente, tenhocomo induvidosa a adesão do réu JOSÉ ALVES MORATO NETO (indicado como "Alves")ao esquema criminoso esmiuçado pela Operação Sucuri. Esse réu foi, por várias vezes, citadopelos demais partícipes do grupo delituoso, caracterizando os atos de improbidades por eleperpetrados, com flagrante afronta aos princípios da administração pública.

Diante das numerosas provas colhidas, é possível concluir que o réu JOSÉALVES MORATO NETO tomou parte da organização criminosa, ajustando e cobrando osvalores das propinas, facilitando o contrabando e descaminho na Ponte Internacional daAmizade, mantendo vínculo associativo estável com outros corréus, para a consecução decondutas contrárias aos princípios da administração pública, uma das formas prevista entre osatos que importam improbidade, conforme previsto na Lei nº 8.429/1992.

Indagado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réudeclarou que, à época dos fatos (04/2003), possuía uma renda que girava em torno de R$4.500,00 e R$ 4.800,00, ou seja, uma média de R$ 4.650 (quatro mil seiscentos ecinquenta reais), que utilizo como parâmetro para a fixação da multa civil a ser impingidaao mencionado réu.

Ademais, é de se destacar que JOSÉ ALVES MORATO NETO era participanteassíduo da Organização, não somente sendo citado pelos contrabandistas mas tambémsendo reconhecido como o próprio interlocutor de ligações interceptadas, motivo peloqual majoro a pena de multa civil em 40 vezes o salário percebido pelo réu na época.

Impõe-se, ainda, a pena de perda do cargo de Policial Federal. Isso porque aconduta por ele perpetrada foi de extrema gravidade, com afronta direta a dignidade dafunção pública por ele exercida, escondendo-se por de trás do aparato institucional voltado aocombate do crime na fronteira, para facilitar o contrabando/descaminho, o que impede que oagente, após tal fato, prossiga atuando como agente policial.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OSPEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno JOSÉ ALVES MORATO NETO à perda da função pública de PolicialFederal, bem como ao pagamento de multa civil no valor de 40 (quarenta) vezes a médiada renda autodeclarada, perfazendo um total de R$ 186.000,00 (cento e oitenta e seis milreais), válida para março de 2003, nos termos da fundamentação.

O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

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2.3.7.7. Jose Carlos de Abrantes Ferreira

Em observância à propalada independência das instâncias civis e penais, bemcomo a fim de evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, considero necessárioconhecer o teor da decisão no juízo criminal em relação ao réu em questão (autos nº2003.70.02.004490-5, desmembrada da Ação Penal nº 2003.70.02.001463-9 - com trânsitoem julgado em 22/10/2013 - Absolvido):

d) Absolver JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRA, MARCO ROBERTO SOUSA,EDGAR APARECIDO DE SOUZA, MARIA DE LOURDES COSTA RODRIGUES MIRANDA,AILTON DE FREITAS BRAGA FILHO, GLÓRIA DE MARIA PEREIRA DE SOUZARODRIGUES, LUIZ CARLOS BAÚ, OTÁVIO LUIZ VILLA e GILBERTO LASS, jáqualificados, pela prática do delito descrito no artigo 288 do Código Penal, com fundamentono artigo 386, inciso IV, do Código de Processo Penal.

f) Condenar JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRA, MARCO ROBERTO SOUSA,EDGAR APARECIDO DE SOUZA, MARIA DE LOURDES COSTA RODRIGUES MIRANDA,AILTON DE FREITAS BRAGA FILHO, GLÓRIA DE MARIA PEREIRA DE SOUZARODRIGUES e LUIZ CARLOS BAÚ, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes decorrupção passiva qualificada e facilitação contrabando e/ou descaminho, praticados emconcurso formal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317, § 1º, e 318,combinados com os artigos 70 e 71, iodos do Código Penal.

Em relação à 0004490-57.2003.404.7002/PR, assim se pronunciou a 8ª Turmado Tribunal Regional da 4ª Região, em decisão datada de 19/04/2013:

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ªTurma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento àsapelações de GERALDO ROSEMBERG AUGUSTO DE FARIA, FLÁVIO LUIZ BARBOSA eJOSÉ CARLOS ABRANTES FERREIRA para absolvê-los das imputações que lhe foramfeitas na denúncia, com fulcro no artigo 386, VII, do CPP, dar parcial provimento à apelaçãodos corréus para afastar a incidência do §1º do artigo 317 do CP, desclassificando o delitode corrupção para a modalidade simples; reconhecer a consunção entre o delito decorrupção passiva e o de facilitação ao contrabando e/ou descaminho, determinando que apersecução penal prossiga em relação a este último (artigo 318 do CP), afastar, em relaçãoaos os corréus condenados, a valoração negativa do vetor consequências do delito, diminuir,para os corréus, o acréscimo de pena decorrente do reconhecimento da continuidade delitiva,reduzindo, em razão disso, as sanções a eles aplicadas, determinar a substituição dassanções reclusivas aplicadas por penas restritivas de direitos, conceder, de ofício, ordem dehabeas corpus para proclamar extinta a punibilidade de JÚLIO CÉSAR VIEIRA em relaçãoao delito de quadrilha ou bando e negar provimento à apelação do Ministério PúblicoFederal, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parteintegrante do presente julgado.

Como na ação penal não se conclui pela inexistência do fato ou autoria nasquestões que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Notificado (06/08/2008 - Evento 8, MAND15, Página 5), o réu JOSÉ CARLOSDE ABRANTES FERREIRA não apresentou defesa preliminar.

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Citado (22/06/2010- Evento 8, MAND182, Página 49), o réu JOSÉ CARLOSDE ABRANTES FERREIRA apresentou Contestação (Evento 8, CONTESTA190) na qualnovamente suscitou questões preliminares, e, no mérito, defende que seja reconhecido que osfatos narrados não constituem improbidade administrativa, restando de todo atípica a condutae a imputação pretendidas, que importam na improcedência dos pedidos da presente AçãoCivil Pública de Improbidade Administrativa.

Intimado (Evento 646), conforme decisão judicial (Processo5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 531 e 625, DESP1, Página 5), o réu JOSÉ CARLOSDE ABRANTES FERREIRA apresentou rol de testemunhas.

Admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada, produzida noprocesso criminal (Processo 5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 396, DESP1, Página 4),requerida pelo Ministério Público Federal.

O REsp nº 1.193.895/PR transitou em julgado no dia 30/08/2013, com ojulgamento em que a análise do mérito restou prejudicada, haja vista a prescrição dapretensão punitiva do réu JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRA.

Com relação à participação do réu em questão no esquema de contrabando edescaminho, os contatos telefônicos gravados (através de autorização judicial), além dofluxograma de ligações, confeccionado pela Polícia Federal, demonstram a efetivaparticipação de JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRA na organização criminosa,atuando como facilitador da passagem de mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadaspela Ponte da Amizade.

Acerca dos vínculos que mantinha com outros codenunciados na ação penalcorrespondente, conforme depoimento pessoal transcrito na ação penal, ficou claro quePadilha tinha relacionamentos de conhecimento e amizade com alguns dos intermediadorese demais servidores públicos corruptos, envolvidos no esquema de facilitação aocontrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

que conhece o Sr. Nabil Assad Bou Ltaif. Não sabe precisar desde quando, mas conhece eledo Iate Clube, de onde é sócio, e ele sempre está por ali. E também sempre o vê passando alipela Ponte. Não sabe o que ele faz no Paraguai, ou se ele trabalha no Paraguai, nunca operguntou sobre o que ele faz. Às vezes ele passa pela Ponte de moto e para ali. Geralmenteo vê na pista de saída, quando ele vai para o Paraguai. Não possui muita intimidade com ele.Pelo que sabe, ele tem um relacionamento [mais íntimo] com o Rosemberg, eles sãocompadres; que nessas vezes que o viu indo ou voltando do Paraguai, Nabil nunca paroupara conversar com ele, e não prestava muita atenção se ele estava conversando com algumoutro Policial Federal. Não o viu voltando do Paraguai, porque ele passa de moto, decapacete, então é difícil ver. Quando ele passava para o Paraguai, às vezes ele parava ali nasaída. E também era difícil ele [Abrantes] trabalhar na entrada. Quando Nabil parava, àsvezes ele parava, cumprimentava alguém e ia embora, mas não se atentava para saber sobreo que ele estava conversando; que nunca o viu passando com mercadorias, retornando doParaguai, e nunca o observou nas proximidades da pista de entrada;

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que conhece Moisés Nacfur porque ele inclusive fez academia com ele, na sua época, naépoca em que estavam em Brasília fazendo curso de polícia. Conhece ele que, desde o diaque ele foi exonerado da Polícia, ele estava batalhando para voltar, e inclusive não sabecomo vai ficar a situação dele.;

que conhece Paulo Roberto D'Ambrózio, também conhecido como "Bambam", ele é seucolega;

que conhece Newton Hidenori Ishii, em função de ser seu colega, e o chama de Newton; quechama Nilton Santos Gonçalves de "Nilton Preto", e nunca ouviu o chamarem de "Lampião";

Na Polícia Federal, disse conhecer o Moisés, que seria um ex policial federal; que nega terdito que conhece Maranhão, motoboy, o Abacate, o Batata e o Rapadura, da Ponte daAmizade, foi feita uma confusão, não conhece essas pesssoas;

que não conhece Sirley Aparecida Augusto de Abreu;

que não conhece José Hedy Leme, também conhecido como "Rapadura";

que conhece Jorge Pereira de Brito, também conhecido como "Tesourinha" ou "Tesoura", jáouviu falar dele. Umas vezes, estava precisando fazer uns serviços em sua casa, e ele mexecom serviços gerais, faz pintura, corta e grama e pinta telhado, e estava precisando dele.Além desse serviço, ele fez outros. O preço dele era bastante convidativo, e ele o foiapresentado como sendo de confiança, e foi daí que passou a conhecê-lo. Ele iria fazer umserviço ano passado para um pessoal, ia indicá-lo para fazer o serviço, mas ele não chegoua fazer. O último serviço que ele o fez, não se recorda bem, mas acha que foi em agosto. Elecortou grama, pintava parede, muro, e o preço dele era bacana. Quem o apresentou a Jorgefoi o pessoal que trabalha ali na Ponte mesmo, ele já tinha feito outro serviço para outropessoal, e o indicaram, mas não se recorda quem foi. Acha que ele já trabalhou na casa deoutras pessoas, mas não se recorda de quem. A referência dele era justamente essa, ele jáhavia trabalhado em outras casas, que ele era de confiança;

(...)

Outra prova contundente da intensa participação do réu no esquema espúrioestá inserida no fluxograma de elos de ligações, elaborado a partir dos extratos telefônicosdos terminais utilizados pelos réus no período das investigações, que revela a sua profunda eestreita ligação com diversos outros réus na ação civil de improbidade, tais como Júlio Césarda Silva, Nabil Assad Boultaff, Moisés Nacfur, Miranda, entre outros, mediante numerososcontatos telefônicos (Evento 8 - ANEXO300, Páginas 93/94).

Da prova emprestada deferida, depreende-se que, por ocasião do interrogatórioperante o Juízo criminal, o réu JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRA negougenericamente que tenha praticado qualquer dos crimes imputados na denúncia, masconfirmou que era proprietário e usuário do terminal telefônico de n° (45) 9975-1935:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

que possui seu telefone há muito tempo, ele é fixo, é assinatura, e o número é 9975-1935;

(...)

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Os diálogos gravados, com autorização judicial, de diversas ligações telefônicasentre integrantes da organização criminosa, bem como em conversas diretas com o réu JOSÉCARLOS DE ABRANTES FERREIRA são suficientes a comprovar seu envolvimento nafacilitação do contrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade, bem como aspráticas de atos de improbilidade administrativa.

Em diversos diálogos, a presença de JOSÉ CARLOS DE ABRANTESFERREIRA na escala da Ponte da Amizade é vista como positiva pelos integrantes daquadrilha, de forma que sua figuração na escala era sinônimo de maior facilidade para apassagem das mercadorias, sem a devida fiscalização, mediante pagamento de propina.

No fragmento abaixo da interceptação telefônica, balizada por ordem judicial,Rapadura (José Hedy Leme) deixa claro para sua interlocutora, a contrabandista Sirlei que,mais tarde, no turno em que trabalharia o APF Abrantes, era 99% de chance que seriapossível a passagem de mercadorias contrabandeadas, sem fiscalização:

TELEFONE NOME DO ALVO4599777971 ALVO 5INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@Sirlei X RAPADURADATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO09/12/2002 15:52:00 09/12/2002 15:53:02 00:01:02ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599777971 4591083908 4591083908RESUMO DIÁLOGORAPADURA: Deixa eu te dar uma notícia boa. A noite, às 19:00 horas, Tá o CELSO e o EDGAR, daReceita, o ÁLVARO e o ABRANTES (APFs). 99% que dá role, viu... Agora de tarde o menino não quis- o BETO (Mosca, da Receita). Fui lá, tentei falar com ele. Me disse: "Ó velho, gosto muito de você,sou seu amigo, te ajudo em tudo que for preciso, mas não fala mais isso pra mim não". Sirlei: Eu ialigar para o BAMBAM, conversar com ele, ia fazer uma coisa baixinha. Tem muito lá, tou passandoaos pouquinhos.Rapadura: Tava tudo certinho com o Bambam, mas de repente veio essa zebra aí.

Em seu depoimento pessoal, proveniente da prova emprestada da Ação Penal,Abrantes confirma que realmente estava de plantão no dia nove de dezembro de doismil e dois, às quinze horas e cinquenta e dois minutos, mas não convence ao sustentarque não sabe por que Rapadura e Sirlei citaram seu nome, de forma que pode se concluirnuma análise preliminar, de que ele estaria facilitando a passagem de mercadorias pela Ponteda Amizade.

Curiosamente, no início de seu depoimento pessoal o réu nega conhecer SirleyAparecida Augusto de Abreu e José Hedy Leme, também conhecido como "Rapadura",entretanto, posteriormente, afirma que ninguém lhe fez nenhuma proposta para facilitar apassagem de veículo pela Ponte da Amizade e que não viu nenhum dos dois aparecer por lá.

É possível notar que o intermediador Júlio percebeu e passou a se preocupar ealertar seus comparsas sobre a presença constante do APF Rodrigues nas imediações da PIA.Diante disso, o interlocutor indaga se à noite será possível passar com mercadorias e Júliogarante que com Abrantes "dá esquema e vai descer para combinar com ele":

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4

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INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOHNI X JÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO21/12/2002 13:38:59 21/12/2002 13:40:25 00:01:26ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LICAÇÃO4599750392DIÁLOGO... JÚLIO avisa: "O Palio branco, de Porto Alegre, Placa 7761 - com o RODRIGUES (APF) dentro - tárodando direto aqui." HNI pergunta se à noite vai ter esquema. Júlio avisa que ABRANTES vai entraràs 19:00 horas, e diz que com o Abrantes dá. Júlio diz que vai descer para conversar com o Abrantes.

O APF Abrantes, em seu depoimento pessoal, continua a apresentar respostasevasivas no sentido de que não conhece Júlio e desconhece a razão de eles terem envolvidoseu nome nisso, bem como de que não se recorda se estava de plantão no dia vinte e um dedezembro de dois mil e dois.

Sobre o trecho em que Tesourinha afirma que de noite vai estar o Abrantes(APF), que é beleza pura, o APF José Carlos de Abrantes Ferreira tergirversou sobre estarescalado no dia vinte e seis de dezembro de dois mil e dois e sobre sua relação com ointermediador:

TELEFONE NOME DO ALVO4599778555 ALVO 1INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOMARANHÃO X TESOURINHADATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

26/12/2002 13:34:13 26/12/2002 13:36:30 00:02:17ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599778555 4599778828 4599778555RESUMO DIÁLOGOMaranhão liga para Tesourinha e pergunta como é que está a ponte. Tesourinha responde que duranteo dia não vai dar, pois é a mulher que está. Ele diz que de noite vai estar o ABRANTES (APF), e que"depois das sete (19:00), beleza pura".

Embora, em seu depoimento pessoal, tenha declarado que, num primeiromomento, já ouviu falar de Tesourinha e logo adiante admitir que, indicado por colegar deserviços, o contratou para serviços gerais em sua casa, o réu JOSÉ CARLOS DEABRANTES FERREIRA prestou declarações evasivas e não se desincumbiu noconvencimento do seu real vínculo com Jorge Pereira de Brito, o Tesourinha.

Pelo trecho abaixo, depreende-se uma certa desconfiança em relação a posturado APF Abrantes que, pelo modus operandi da quadrilha, deveria ir para pista para simularuma vistoria do veículo irregular e, assim, dar respaldo à passagem do carregamento.Reclamam os interlocutores que nem sempre isso ocorria e que tinham que tomar cuidadopor que, às vezes, Abrantes mandava vir o carro e não ia para a pista:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO©NEIDE x JÚLIODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO17.02.03 9:02:01 17.02.03 9:06:02 00:04:01ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 455223203 455223203DIÁLOGOJÚLIO diz está em Guarapuava, indo para Foz. NEIDE diz que estava em São Alberto/Paraguai.

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JÚLIO diz que ligou no 6295 e não conseguiu fala com Ela. JÚLIO diz que ontem ligou para o irmão eEle falou que a coisa estava feia sábado por lá. NEIDE diz que MARANHÃO caiu feio com a 475 (n° deplaca de veículo) - 18 mil dólares. JÚLIO pergunta se a MARA caiu com o LAURENTINO. NEIDE dizque sim e que ouviu um boato que o Delegado andou dando uma olhada na fita e não tinha a DI dasnossas coisas, e parece que ele fugiu. NEIDE diz que assim ouviu os comentários e passou lá e não viuele não. NEIDE diz que cataram um monte de maconha com a turma do CLASSIR. NEIDE pergunta seeles moram no Conjunto Libra. JÚLIO diz que moram. NEIDE diz que soube que Eles escavam tudo nacasa do cunhado do MARANHÃOZINHO, quando de noite estourou umas bombas. Ontem acharammais um monte escondida nas beira da República Argentina, por isso que o negócio não tá bom. JÚLIOpergunta quem é que tá lá agora de manhã. NEIDE diz que ligou para BATATAINHA e não deu. NEIDEdiz que ouviu falar com o ABRANTES (APF), e sabe como é que ele segura né: Ele manda vir ecorre. JÚLIO confirma: ele corre, tem que tomar cuidado. NEIDE diz que prenderam o carro dela nahora que JÚLIO estava com ela, os SO foram lá no estacionamento pegar uma tal de SÔNIA que estavadedada. A SÔNIA começou a chorar e disse que o carro de NEIDE estava cheia. JÚLIO pergunta seprenderam. NEIDE diz que prenderam o IRMÃO e o carro dela, mas o irmão saiu no outro dia. NEIDEdiz que já era de noitinha - nunca viu ninguém sair tão rápido- de noitinha dormiu na Federal, desceupara o Cadeião de manhã, sete horas já estava na casa dele. Vai ver se sai o carro dela. Diz estavacom 5 mil CDs debaixo do banco. NEIDE diz que JÚLIO não foi culpado. JÚLIO diz que não queria dejeito nenhum.

De qualquer forma, a atitude de não ir para a pista pesa em desfavor do APFJosé Carlos de Abrantes Ferreira, pois, tendo conhecimento do ilícito iminente no local detrabalho sob sua responsabilidade, prevaricava nas atribuições que lhe incumbiam, facilitandoa passagem de mercadorias contrabandeadas/descaminhadas.

Em outro momento, ao mesmo tempo em que José Carlos de Abrantes Ferreiraafima que não conhece alguém chamado "China", admite que tem um "informante" com essenome:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que não conhece alguém chamado "China", mas tem um informante com esse nome,que o passou uma informação a respeito de um carro, e que salvo engano, deve ser essasituação aí. "China" o passou a informação, estava trabalhando até às treze horas da tarde,e na hora que ele passou a informação para ele, de um carro que possivelmente estavatrazendo uma mercadoria do Paraguai, estava com uma situação de um cara que estavadando problema e precisava ser revistado, na pista de entrada. E daí falou com ele [China],que passou a informação, e falou para ele "é pra derrubá né", aí ele falou "é pra derrubá";que o China que conhece é o dessa situação, esse que o passou a informação. Ele é uminformante e é Paraguaio. Outras vezes ele já tinha o dado umas informações que valeram apena. No ano passado, ele o deu uma informação, ele conhecia o pessoal da [...], eletrabalha do outro lado, tem acesso a esse tipo de informante, eles dão informação porprazer, para derrubar os concorrentes dele, e prendeu umas motos que a informação partiudele (...)

Esse fragmento denota parte da estratégia da quadrilha investigada na OperaçãoSucuri, onde outros contrabandistas que não se submetiam ao pagamento da propina pelafacilitação, eram delatados para que fossem fiscalizados e perdessem a mercadoriasinternalizada ilegalmente. Funcionava como uma "reserva de mercado" em que só tinha livrepassagem quem pagava por isso:

TELEFONE NOME DO ALVO4599751935 ALVO 8INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO@@CHINA x ABRANTESDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO

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17.02.03 12:40:27 17.02.03 12:41:18 00:00:51ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599751935 4591033492 4591033492DIÁLOGOC = Vai chegar aí uma besta creme, bege, besta, 971. Tá ouvindo?A = Tó.C = 971. Tá levando uns 30, 15 mil CDs virgem.A = Levando o que?C = Umas 30, 15 mil CDs virgens no bagageiro. Só. Não tem nada escondido, só CD virgem, nobagageiro. 971.A = Pra derrubar, né?C = É, pra derrubar...

Por outro lado, das testemunhas arroladas pela defesa, nenhuma trouxe aosautos informações que contivessem o condão de afastar o juízo de que o referido réucometeu tais atos ímprobos.

Augusto da Cruz Rodrigues (Evento 462 - Termotranscdep6), perante o juízocriminal, alegou que Abrantes participava do esquema, fazendo muito contato com alguns dosintegrantes da organização criminosa, por meio de ligações telefônicas:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que José Carlos de Abrantes Ferreira faz bastante contato com algumas pessoas ali, aténomes que talvez não figurem até como réus aqui, outras pessoas. Participa do esquematambém;

Questionado pelo doutor Raimundo Araújo Neto, defensor dos réus, Júlio César VieiraPereira, José de Abrantes Pereira, Geraldo Rosemberg e Marco Roberto de Souza, disse: quenão pode confirmar com exatidão se o Delegado Souza sabia da Operação Sucuri e que, sesabia, não foi o depoente que falou para ele. Relata que o telefone que termina com osnúmeros 7411, usado pela suposta quadrilha, era utilizado por Nilton, né, japonês, Moura,Watanabe, Marcos Roberto (não tem certeza). Disse que soube do diálogo entre Ademir eAbrantes, indicado pelo causídico, mas não fez a análise da interceptação, que coube aooutro policial. Indagado se teria presenciado os contatos dos policiais com os atravessadores,disse que o trabalho de campo foi efetuado pela equipe do doutor Emanuel. Esclarece quepresenciou do Nabil e alguns outros, mas não que naquele momento conseguisse detectarcrime. Que em relação ao APF Abrantes, os contatos eram realizados apenas por meio dasinterceptações telefônicas constante dos autos (...);

Essa mesma testemunha, perante este juízo (Evento 1717), nada disseespecificamente a respeito de Abrantes, e alegou que não se recordava de todos os fatosrelacionados à investigação, visto o tempo já decorrido, mas ratificou todas as informaçõesprestadas junto ao procedimento da Operação Sucuri.

Celso Fuhr (Evento 462 - Termotranscdep7) limitou-se a afirmar que conheceAbrantes e, sobre a interceptação onde a figuração dele e de Abrantes na escala é vista comouma "boa notícia" para os intermediadores, alega que seu nome foi "usado":

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que conhece o Sr. José Carlos de Abrantes Ferreira, o "Abrantes";

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(...) Que sobre a interceptação telefônica feita neste dia (9 de dezembro de 2002), ondemencionam seu nome ("Rapadura" diz: "deixa eu te dar uma boa notícia: à noite às 19 horas,está o Celso e o Edgar da Receita, o Álvaro e o Abrantes, 99% que dá role. Agora de tarde omenino não quis. O Beto, que seria um mosca da Receita. Fui lá, tentei falar com ele. Medisse: "ó velho, gosto muito de você sou seu amigo, te ajudo em tudo o que for preciso, masnão fala isso pra mim não". Aí a Sirlei disse que ia ligar para o Bambam, conversar com ele,ia fazer uma coisa baixinha." Adiante o "Rapadura" disse que estava tudo certinho com o"Bambam", mas de repente veio essa zebra), acredita que foi "vendido" nessa história, queseu nome foi usado porque há uns tempos atrás, não se recorda exatamente o ano [meadosde 90], a administração da Receita Federal, sabendo que existiam pessoas que faziam"caixinha", tornou pública uma gravação que era feita na entrada da cidade, onde todos osônibus tinham acesso, entravam pessoas dentro, os funcionários da Receita divulgando essafato e pedindo que não entrassem, não caíssem nesse golpe. Então, acredita que deve tercaído em uma história dessa; que nos últimos tempos, ano passado, não ouviu nenhumcomentário de que poderia existir algum esquema (...);

Emmanuel Henrique Balduino de Oliveira (Evento 462 - Termotranscdep9),delegado responsável pelas investigações da "Operação Sucuri", alegou que Abrantes teveparticipação efetiva e intensa na Organização. Esclareceu algumas questões operacionaisrelativas às investigações e às interceptações, e aduziu que a alegação de que a participaçãode Abrantes era efetiva e intensa encontrava-se baseada no conjunto probatórioconfeccionado pela Polícia Federal:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que José Carlos de Abrantes Ferreira foi citado algumas vezes, e tem comunicaçãodireta entre intermediários e atravessadores. Tem participação efetiva e intensa;

(...)

Questionado pelo advogado Raimundo Araújo Neto, defensor dos réus Júlio César VieiraPereira, José de Abrantes Ferreira, Geraldo Rosemberg e Marco Roberto de Souza, disse:que o critério utilizado para chegar à conclusão de que alguns integrantes do esquemacriminoso faziam contato direto (sem ser por telefone) com os intermediadores era pordedução, a partir do cruzamento das ligações telefônicas, o monitoramento telefônico é sóuma alavanca. Não participou do inquérito policial, não sabe o que foi levantado nele, nemas análises da busca e apreensão, pois não teve acesso à esse material, mas de formagenérica, colocam no procedimento criminal diverso a conduta genérica de cada integrante, ecabe ao Procurador da República individualizar as condutas, baseadas nas demais provasque existem nos autos, este é o critério. Como já frisou, está na escala de plantão, históricode ligações telefônicas, diagrama de ligações telefônicas, citação por um dosintermediadores, as informações fornecidas pelo APF Rodrigues e demais dados que constamnos autos; que o diagrama de elos é feito histórico e chamadas, é bem objetivo. É pedidopara a empresa o programa que faz o cruzamento de ligação, que gera o diagrama de elosautomaticamente. Quanto ao agente [que utilizou o telefone público] ter sido identificadocomo o Júlio César, como disse, teria que perguntar para o pessoal do monitoramento comosouberam que aquela voz era o Júlio César. Somente quem fez o monitoramento teriacondições de efetivamente responder a essa pergunta, pois é ele quem tem acesso ao dado deáudio e está acostumado. O APF Rodrigues, que auxilia, e outros APF's, poderiam auxiliarna identificação. Se foi citado o nome de alguém [em uma conversa], por exemplo, elesbuscam dados para identificar se esta pessoa é "fulano de tal"; que para responder como foichegado à conclusão de que era o réu Aílton de Freitas [que ligou de um telefone públicopara Júlio César], precisava saber se existe alguma conversa direta entre Júlio César e

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Aílton. Mas independente disso, nesse histórico de chamadas foi inserido um dado referente àuma ligação. Pode não ter havido interceptação neste caso, porque o histórico de chamadas émaior que o monitoramento telefônico. Essa ligação pode não ter sido interceptada, mas elafoi feita, e dá para ter acesso à data, hora e duração da ligação, para qualquer contestaçãoobjetiva ao caso [juíza esclarece que no momento em que o juízo defere a quebra de sigilo dequalquer comunicação telefônica, ela é estendida, abrange todos os dados dos telefones,inclusive dos que entram em contato com os telefones alvos nesse sentido]. Isso consta nosdados atuais, reversos e no número de contatos, tem uma página de contatos nos autos, queconsta Aílton como usuário desse terminal, por isso lançaram seu nome como sendo usuáriodesse terminal. Mas dá para checar a data, horário e dia da ligação através do histórico,para verificar que chamada foi essa, se ela está no contexto da interceptação telefônica ounão, é um critério objetivo. Estes gráficos na realidade representam os dados alimentados nosistema, das ligações interceptadas e todos aqueles cadastros dos telefones que entraram emcontato com o telefone alvo, de setembro a março; que sobre a inclusão do telefone 522-5001como sendo de propriedade de Júlio César Pereira [folhas 1.142 do Procedimento CriminalDiverso], o dado foi colhido de número de telefone, lista telefônica, escala de plantão, ouqualquer outro dado que seja obtido pelos agentes. Se porventura houver contestação, ocritério é objetivo, é pegar quem foi o usuário, terminal onde foi instalado e se foirequisitado. Isso não é o fim da interceptação. É pedido os históricos, e pedem para asempresas dizerem o endereço de instalação e onde estavam instalados, quem era o usuário eo proprietário do terminal, quem recebia a conta. Então, o agente vai checar a resposta dessainformação olhando todos os dados. Não pode ver, porque não sabe a resposta da Telefônica,mas se o agente tiver, já pode adiantar que "Este telefone aqui não estava instalado naresidência, e o cliente não utilizou"; que este telefone não foi interceptado, ele simplesmentefigura como contato, como se Júlio tivesse usado esse telefone. Então, na página "contatos"consta os números que porventura foram utilizados por qualquer investigado. Isso é inseridono sistema, que gera o relatório. Não quer dizer que esses telefones tenham sidomonitorados, quer dizer que ele pode ter sido usado para manter contato. Foi efetivamentechegado à essa conclusão, porque se isso está aqui [no relatório], é porque ele usou estetelefone para algum contato; que não foi quebrado o sigilo deste telefone, o sigilo quebradofoi o do telefone de Nabil e demais terminais, porque há cruzamento de dados. Aí surge ocontato aqui, que o agente coloca como se tivesse sido usado. Mas, como disse, tem queperguntar para o agente Júlio César Vieira, que está na página como contato utilizado porele, e é lançado no sistema como sendo utilizado. Mas o telefone fixo, especificamente, nãofoi quebrado o sigilo; que os responsáveis pelos comentários do serviço de inteligência daPolícia Federal são os agentes que fazem a interceptação, o Agente Fernando Tavares e oFernando Rodrigues, dependendo do período em que ele quer saber. O Rodrigues,porventura pode citar outros agentes que participaram da interceptação; que sobre aconversa interceptada no dia 15 de janeiro de 2003, às 11hrs37min, onde há um comentáriode que o APF Abrantes, durante o diálogo com "sua namorada Jéssica, o agente de políciafala que vai ao clube ver sua lancha, que vai viajar para conhecer umas praias", o agente[responsável por essa interceptação] quis frisar que o citado agente tem uma lancha, parauma possível investigação patrimonial, mas não sabe como ele chegou à conclusão de queestava conversando com a namorada, colega, amiga, etc, ele deve ter analisado todo odiálogo para chegar a este entendimento; que sobre a interceptação do dia 27 de fevereiro de2003, às 14hrs21min, onde "Ademir liga e diz que o Mané está chegando aí", e Abrantes diz"Ele trouxe a cerveja?" e Ademir diz "É", e consta uma observação dos policiais, que afirmaque Abrantes tenta ludibriar dizendo a frase "ele trouxe a cerveja", e na verdade estediálogo significa que o carro está próximo da aduana, e Admir está alertando Abrantes dachegada do carro que está sendo conduzido por "Mané", o que levou o agente a concluir quecerveja era um carro foram as ligações e investigações dos alvos que estavam sendoreeferidos. A lei de monitoramento telefônico, a lei de escuta ambiente, é clara ao dizer queos policiais vão fazer análise do material referido no diálogo entre os interlocutores notelefone, ou mesmo na escuta ambiente, então o policial estava fazendo o trabalho dele. Oadvogado pode contestar e fazer a prova contrária. O critério em que se basearam para

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chegar a essa conclusão não é seu, e sim do investigador; que sobre os critérios utilizadospara considerar como efetiva e intensa a participação do APF Rosemberg consta em umparágrafo, nas folhas 827: "Os agentes de Polícia Federal Arlindo Álvares Padilha, AntônioHenrique de Soares Mourão, Flávio Luís Barbosa, Umberto Fonte Neto, Sidney OliveiraNovaes Júnior e Rogério Fleury Watanabe eram citados por integrantes". No caso doRosemberg, ele foi citado, então não foi baseado somente nas duas interceptações citadaspelo advogado. Tem o cruzamento de ligação telefônica, análise do material apreendido,inquérito policial, depoimento do Nabil, e tudo mais que os levam a crer que ele tinhaparticipação efetiva e intensa. Então, até dividiram em dois parágrafos essa conclusão, paraficar bem clara; que Rosemberg era citado, manteve contato. Não tem como buscar oscritérios objetivos agora, mas eles estão no primeiro parágrafo, dá para pegar as escalas deplantão, as escalas de serviço da Polícia Federal no momento em que ele era citado, parachegar a essas conclusões objetivas; que não sabe como funciona a fiscalização da PolíciaFederal e da Receita Federal no Aeroporto, sabe que tem um posto da Receita Federal, epassa primeiro pelo posto da Polícia Federal. Conhece a fiscalização da Ponte da Amizade,somente. Quem tem competência na fiscalização numa zona primária é a Receita Federal (...)

Esdras Teixeira Falcão (Termotranscdep10), em seu depoimento perante o juízocriminal, limitou-se a afirmar que não se recordava de Abrantes:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que não se recorda de Marcos de Oliveira Miranda, José Carlos de Abrantes Ferreira,Júlio César Vieira Pereira, José Alves Morato Neto, Paulo Biscup de Aquino, GeraldoRosemberg Augusto de Faria, José Fernando de Coutínho, Arlindo Álvares Padilha Júnior,Rogério Fleury Watanabe, Adriano da Costa Litz, Marcelo de Oliveira Miranda, AntônioHenrique Soares Mourão de Souza, Humberto Conte Neto e Sidnei de Oliveira NovaesJúnior (...)

Fernando Tavares da Silva (Termotranscdep11), um dos policiais responsáveispelas investigações da Operação, informou que houveram poucos diálogos relacionados àAbrantes, não se recordando claramente. Na mesma ocasião, questionado pelo defensor doréu em questão, afirmou que não participou de todas as análises das interceptações, masratificou seu depoimento prestado no auto de prisão em flagrante:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Disse que do Marco Roberto Souza José Carlos de Abrantes Ferreira (Abrantes) forampoucos diálogos (não se recorda). Sobre o réu Júlio César Vieira Pereira (conhecido comoJúlio macarrão), praticamente não falava, às vezes era mencionado, citado, mas não falava.

(...)

Dr. Raimundo Araújo Neto, defensor dos acusados: Júlio César Vieira Pereira, José Carlosde Abrantes Ferreira, Geraldo Rosemberg de Faria, Marco Roberto Souza. Em resposta atestemunha disse que, apesar de ter feitos algumas, não participou de todas as análises, queeram realizadas pela pessoa que fez a transcrição, a quem cabia verificar o grau deimportância da conversa. A testemunha não sabe dizer que fez o monitoramento e a análiseda interceptação do dia 3 de janeiro de 2003 às 17 horas e 23 minutos. Informou que chegouem Foz do Iguaçu para trabalhar na operação em 13 de janeiro de 2003. A testemunharatifica seu depoimento prestado no auto de prisão em flagrante. O depoente disse que osdiagramas de elos dos envolvidos são partes integrantes do "Projeto X", mas que não saberesponder quem os elaborou, nem sabe quem foi o operador no caso dos autos. A testemunha

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não se recorda se analisou ou consultou a escala da Ponte Internacional da Amizade, no dia27 de fevereiro de 2003. Esclarece que não sabe afirmar se foi ou não a testemunha queanalisou, só que não se lembra mais no momento quem foi que fez (...)

Gilberto Carlos Pato Ribeiro (Evento 2194) nada disse a respeito de Abrantes,nem mesmo disse algo que pudesse afastar ou enfraquecer a validade das provas que recaemsobre os atos ímprobos do réu.

Por fim, Miriam Mardegan (evento 1610), da mesma forma, não trouxe nenhumelemento capaz de enfraquecer o conjunto probatório referente à Barbosa, somenteesclarecendo como eram formuladas as escalas e afirmando que os recursos humanos naPonte da Amizade eram escassos.

Nenhuma das testemunhas trouxe aos autos prova que afastasse o juízo deculpabilidade do réu e, considerando todo o conjunto probatório existente, tenho comoinduvidosa a adesão do réu JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRA (indicado como"Abrantes") ao esquema criminoso esmiuçado pela Operação Sucuri. Esse réu foi, por váriasvezes, citado pelos demais partícipes do grupo delituoso, caracterizando os atos deimprobidades por ele perpetrados, com flagrante afronta aos princípios da administraçãopública.

Diante das numerosas provas colhidas, é possível concluir que o réu JOSÉCARLOS DE ABRANTES FERREIRA tomou parte da organização criminosa, ajustando ecobrando os valores das propinas, facilitando o contrabando e descaminho na PonteInternacional da Amizade, mantendo vínculo associativo estável com outros corréus, para aconsecução de condutas contrárias aos princípios da administração pública, uma das formasprevista entre os atos que importam improbidade, conforme previsto na Lei nº 8.429/1992.

Indagado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réudeclarou que, à época dos fatos (05/2003), possuía uma renda que girava em torno de R$5.000,00 a R$ 5.300,00, ou seja, uma média de R$ 5.150,00 (cinco mil cento e cinquentareais), que utilizo como parâmetro para a fixação da multa civil a ser impingida aomencionado réu.

Ademais, é de se destacar que JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRAera participante assíduo da Organização, não somente sendo citado pelos contrabandistasmas também sendo reconhecido como o próprio interlocutor de ligações interceptadas,motivo pelo qual majoro a pena de multa civil em 40 vezes o salário percebido pelo réuna época.

Impõe-se, ainda, a pena de perda do cargo de Policial Federal. Isso porque aconduta por ele perpetrada foi de extrema gravidade, com afronta direta a dignidade dafunção pública por ele exercida, escondendo-se por de trás do aparato institucional voltado aocombate do crime na fronteira, para facilitar o contrabando/descaminho, o que impede que oagente, após tal fato, prossiga atuando como agente policial.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS

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PEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno JOSÉ CARLOS DE ABRANTES FERREIRA à perda da funçãopública de Policial Federal, bem como ao pagamento de multa civil no valor de 40(quarenta) vezes a média da renda autodeclarada, perfazendo um total de R$ 206.000,00(duzentos e seis mil reais), válida para março de 2003, nos termos da fundamentação.

O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

2.3.7.8. Marcelo de Oliveira Miranda

Em observância à propalada independência das instâncias civis e penais, bemcomo a fim de evitar afronta ao Art. 935, do Código Civil Brasileiro, considero necessárioconhecer o teor da decisão no juízo criminal em relação ao réu em questão (autos nº2003.70.02.004489-9, desmembrada da Ação Penal nº 2003.70.02.001463-9 - com trânsitoem julgado em 19/07/2018 - Absolvido):

Sentença parte 11.PDF (pg. 31)

e) Condenar NEWTON HIDENORIISHII, OCIMAR ALVES DE MOURA, MARCOS DEOLIVEIRA MIRANDA, ROGÉRIO FLEURY WATANABE, ADRIANO DA COSTA LUETZ,JÚLIO CÉSAR VIEIRA PEREIRA, FLAVIO LUIZ BARBOSA, GERALDO ROSEMBERGAUGUSTO DE FARIA, ANTÔNIO HENRIQUE SOARES MOURÃO DE SOUZA, ARLINDOALVARES PADILHA JÚNIOR, MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, NILTON SANTOSGONÇALVES, PAULO ROBERTO DAMBRÓZIO, JORGE LUIZ TRAVASSOS, PAULO JAIR DESOUZA. JOSÉ ALVES MORATO NETO, PAULO B1SKUP DE AQUINO e FRANCISCOROBSON VIDAL SAMPAIO, já qualificados, nas penas cominadas aos crimes de corrupçãopassiva qualificada e facilitação contrabando c/ou descaminho, praticados em concursoformal e em continuidade delitiva, tipificados nos artigos 317. § 1°, e 318. combinados comos artigos 70 e 71, todos do Código Penal, cm concurso material (an. 69) com a formação dequadrilha ou bando, tipificado no artigo 288, do Código Penal.

Em relação à ACR0004489-72.2003.404.7002/PR, assim se pronunciou a 8ªTurma do Tribunal Regional da 4ª Região, em decisão datada de 19/04/2013, que transitouem julgado em 19/07/2013:

(...)

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ªTurma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar provimento àsapelações dos corréus ARLINDO ÁLVARES PADILHA JUNIOR, ANTÔNIO HENRIQUESOARES MOURÃO DE SOUZA e MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA para absolvê-losdas imputações que lhe foram feitas na denúncia, com base no artigo 386, inciso VII, doCódigo de Processo Penal, dar parcial provimento à apelação do corréu NILTON SANTOS

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GONÇALVES para afastar a incidência do §1º do artigo 317 do CP, desclassificando o delitode corrupção para a modalidade simples, reconhecer a consunção entre o delito decorrupção passiva e o de facilitação do contrabando e/ou descaminho, determinando que apersecução penal prossiga em relação a este último (artigo 318 do CP), afastar a valoraçãonegativa do vetor consequências do delito, diminuir a fração de acréscimo de penadecorrente do reconhecimento da continuidade delitiva, reduzindo, em razão disso, assanções aplicadas (corporal e de multa), determinar a substituição da sanção reclusivaaplicada por penas restritivas de direitos, conceder, de ofício, ordem de habeas corpus paraproclamar extinta a punibilidade de NILTON SANTOS GONÇALVES em relação ao delito dequadrilha ou bando e negar provimento à apelação do Ministério Público Federal, nostermos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante dopresente julgado.

(...)

Como na ação penal não se concluiu pela inexistência do fato ou autoria nasquestões que envolvem o réu em análise, autorizado está o prosseguimento da ação deimprobidade a ele relativa.

Notificado (05/08/2008 - Evento 8, MAND9, Página 13), o réu MARCELOOLIVEIRA MIRANDA apresentou defesa preliminar (Evento 8, PET114 ), cujos argumentosforam afastados por ocasião da prolação da decisão que recebeu a petição inicial.

Citado (20/09/2010- Evento 8, CARTA PR225, Página 8), o réu MARCELOOLIVEIRA MIRANDA apresentou Contestação (Evento 8, CONTESTA231) na qualnovamente suscitou questões preliminares, e, no mérito, defende que seja reconhecido que osfatos narrados não constituem improbidade administrativa, restando de todo atípica a condutae a imputação pretendidas, que importam na improcedência dos pedidos da presente AçãoCivil Pública de Improbidade Administrativa.

Intimado (Evento 651), conforme decisão judicial (Processo5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 531 e 625, DESP1, Página 5), o réu MARCELOOLIVEIRA MIRANDA apresentou rol de testemunhas.

Admitida pelo juízo a utilização de prova testemunhal emprestada, produzida noprocesso criminal (Processo 5012305-05.2012.404.7002/PR, Evento 396, DESP1, Página 4),requerida pelo Ministério Público Federal.

Em sede de Apelação, Marcelo de Oliveira Miranda foi absolvido, nos termosdo artigo 386, Inciso VII, do Código Penal, com trânsito em julgado em 19/07/2013.

Com relação à participação do réu em questão no esquema de contrabando edescaminho, os contatos telefônicos gravados (através de autorização judicial), além dofluxograma de ligações, confeccionado pela Polícia Federal, demonstram a efetivaparticipação de MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA na organização criminosa, atuandocomo facilitador da passagem de mercadorias contrabandeadas e/ou descaminhadas pelaPonte da Amizade.

Acerca dos vínculos que mantinha com outros codenunciados na ação penal

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correspondente, conforme depoimento pessoal transcrito na ação penal, ficou claro queOLIVEIRA tinha relacionamentos de conhecimento e amizade com alguns dosintermediadores e demais servidores públicos corruptos, envolvidos no esquema de facilitaçãoao contrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

que conhece Nabil Assad Bou Ltaif das imediações da Ponte, e também porque ele conhecemuitos colegas, e ele é compadre de um dos colegas da Polícia Federal, o "Rosemberg". Nãosabe informar quais são as atividades dele, só sabe que ele fica nas imediações da Ponte epresta favores para diversos colegas;

que conhece Neide Botelho Martins de vista, porque ela trabalha com cota, e já o falaramesse nome e o apontaram: "é ela que é a Neide". Nunca a viu passando com mercadorias.Não sabe dizer se a viu na pista de entrada ou na pista de saída, provavelmente ela estavasaindo ou entrando. As pessoas que circulam ali pela Ponte, você vê a pessoa, mas nãoassocia o nome, e se recorda dessa senhora [Neide];

que conhece Júlio César da Silva de vista, por ele estar por ali, por passar, estar aliconversando com um ou com outro. Não sabe o que ele faz. Ele fica conversando com outraspessoas;

que conhece Nelson Arnaldo Benitez ali da Ponte. Não sabe o que ele faz, mas acredita queseja na questão de cotas, passar mercadorias. O viu nas imediações da Ponte, nem na pistade entrada e nem na de saída, mas mais pro lado da lanchonete, onde vai de vez em quandopara tomar um suco. Parece que a irmã ou a mãe dele [Nelson] tem um restaurantezinho emum trecho próximo à saída da Ponte. Não costuma ir no restaurante, mas ali tomar um suco,uma água, não no posto, mais ali próximo à saída da Ponte. Não sabe exatamente onde ficao restaurante dos familiares de Nelson Batata, só ouviu falar que a irmã ou a mãe dele temum restaurante ali que serve almoço. Nelson nunca o fez nenhum favor, como levar algumsuco, alguma marmita, mas não sabe dizer em relação à outros colegas;

que conhece Reginal Amorim, ele é amigo de seu irmão, e sabe também que ele trabalhouum período ali na Ponte, numa empresa contratada pela Receita, e prestava serviço decarregador, estivador, ali na Ponte, durante um período, mas quando chego e passou atrabalhar ali na Ponte, ele [Reginal] já não trabalhava mais nessa firma, porque essa firmafoi descredenciada e entrou outra. Não sabe dizer o que ele faz hoje. Já o viu algumas vezespassando para o Paraguai ou voltando, em circunstância de chegar ali na ponta da pista desaída, tomar um suco, e o encontrar ali... às vezes até dentro de um táxi, entrando no Brasil.Nunca o abordou, porque é raro fazer abordagem, primeiro porque faz muito tempo que nãotrabalha na pista de entrada, e segundo porque a prioridade da fiscalização é a Receita. (...)que nunca viu Reginal Amorim conversando com algum colega;

que não conhece Osmar Dias; que não frequenta nenhum clube, só a associação, quandoexiste algum evento com os colegas da polícia ou alguma festividade, aí vai algumas vezes,não todas;

(...)

Outra prova contundente da intensa participação do réu no esquema espúrioestá inserida no fluxograma de elos de ligações, elaborado a partir dos extratos telefônicosdos terminais utilizados pelos réus no período das investigações, que revela a sua profunda eestreita ligação com diversos outros réus na ação civil de improbidade, tais como Nabil Assad

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Boultaff, João Correia Vieira Filho, Nelson Arnaldo Benites (Batata), Reginal Amorim(Abacate), entre outros, mediante numerosos contatos telefônicos (Evento 8 - ANEXO301,Página 35).

Da prova emprestada deferida, depreende-se que, por ocasião do interrogatórioperante o Juízo criminal, o réu MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA negou genericamenteque tenha praticado qualquer dos crimes imputados na denúncia, mas confirmou que eraproprietário e usuário do terminal telefônico de n° (45) 9975-9427 e o fixo 529-7647:

Questionado pela Juíza Dra. Alessandra Günther Favaro, disse:

que seu telefone celular de assinatura, o pós-pago, é o 9975-9427, e o fixo é 529-7647. Nãousava nenhum outro telefone;

(...)

Os diálogos gravados, com autorização judicial, de diversas ligações telefônicasentre integrantes da organização criminosa, bem como em conversas diretas com o réuMARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA são suficientes para comprovar seu envolvimento nafacilitação do contrabando/descaminho na Ponte Internacional da Amizade, bem como aspráticas de atos de improbilidade administrativa.

Em diversos diálogos, a presença de MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA naescala da Ponte da Amizade é vista como positiva pelos integrantes da quadrilha, de formaque a sua figuração na escala era sinônimo de maior facilidade para a passagem dasmercadorias, sem a devida fiscalização, mediante pagamento de propina.

Fica evidente que o réu MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA (OLIVEIRA) éparte integrante do esquema espúrio que imperava na Aduana Brasileira da tríplice fronteiraquando Abacate diz para Nelson (Batata) que durante o dia ninguém pactuou com oesquema, mas que vai voltar as sete (19h), horário em que o APF OLIVEIRA e o Watanabeestarão trabalhando:

TELEFONE NOME DO ALVO4599774198 ALVO 6INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOABACATE x NELSON BATATADATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO2/3/segunda-feira 15:51:53 2/3/segunda-fcira 15:53:47 00:01:54ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599774198 455291755 455291755ABACATE diz que vai voltar as sete, pois ninguém quis nada de dia. ABACATE diz que o OLIVEIRA eo WATANABE vão estar de noite. ABACATE diz que o CLÁUDIO chegou louco com uma metralhadoradizendo que ia meter bala em quem subisse lá em cima. NELSON disse que CLÁUDIO lhe tinha faladoque ia subir com uma doze. ABACATE diz que falou para CLÁUDIO veio ver o negócio do telefone, aíEle disse que podia pegar pra você. CLÁUDIO teria dito que no horário dele ninguém iria passar. Aí,ABACATE disse que veio só trazer o dinheiro da MARINA. CLÁUDIO, segundo ABACATE teria dito quejá havia falado para os guardas lhe barrar. ABACATE disse que teria dito a CLÁUDIO que ia falarcoma MARINA e só iria passar a noite. ABACATE e NELSON BATATA comentam que CLÁUDIO ficoumaluco.

Fica claro que o transporte de mercadorias contrabandeadas/descaminhadas sóera possível quando se encontravam em serviço na Ponte Internacional da Amizade

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Servidores Federais que pactuavam com o esquema ilícito que agiam/deixavam de agirfacilitando a prática criminosa: que era o caso do APF Oliveira.

Após vazamento de informações acerca das investigações, que vinham sendofeitas na Operação Sucuri, muitos dos servidores públicos partícipes do esquema cessaram afacilitação. No dia 11/03/2003, as atividades criminosas dos contrabandistas, intermediadorese servidores públicos sofreram turbulências e prejuízos ocasionados pela apreensão de umveículo, que transportava mercadorias contrabandeadas/descaminhadas pela contrabandistaNeide.

TELEFONE NOME PO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOOsmar x JúlioPATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO11.03.03 12:52:54 11.03.03 12:53:44 00:00:50ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4591043127 4591043127DIÁLOGOOsmar liga e pergunta o que é que deu aí. Júlio diz que caiu um(carro) aqui. Osmar pergunta se é umabesta. Júlio diz que é pequeno, osmar pergunta se é da Neide. Júlio diz que é e comenta que é foisacanagem do SERJÃO da RECEITA FEDERAL ali. OSMAR PERGUNTA SE ELE NÃO TÁ NOESQUEMA. JÚLIO DIZ QUE TÁ TODO MUNDO NO ESQUEMA E QUE ELE (SERJÃO) PAROUPORQUE QUIS MESMO. Osmar pergunta e daí. Júlio diz que o que eles vão fazer agora, como é que agente vai brigar com ele, e fala que era o SERJÃO mesmo que tava relacionando, derrubou e tavarelacionando. Osmar diz que tem que começar a botar no rabo desses caras aí véi. Júlio chama Serjãode filho da puta. Osmar pergunta que então o negócio não tá seguro. Júlio diz que desse jeito ele nãovai mais mexer. Adiante, despedem-se.

A sequência de conversas gravadas com autorização judicial deixa claro que aapreensão daquele dia foi marcante para a quadrilha, pois servidores que até então estavamno esquema de contrabando/descaminho, passaram a derrubar (realizar as apreensões).

Andréa, filha da contrabandista Neide, revela que, no dia seguinte, completariaum mês desde a última vez que havia perdido mercadorias:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOAndréa (filha da Neide) x Júlio x NeideDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO11.03.03 12:58:28 11.03.03 13:00:08 00:01:40ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 455269794 455269794DIÁLOGOEm um momento da conversa, Andréa pergunta se Neide perdeu de novo. Neide diz que mais uma vez.Andréa dá glória a Deus e diz que amanhã vai fazer um mês que nós perdeu. Neide diz que o cara falouque já que é pra se foder, vai foder meio mundo agora, pegou a plaquinha, mandou vim e derrubou.Andréa pergunta quem é que foi. Neide diz que é um tal de SERJÃO. Andréa pergunta se é polícia.Neide diz que SERJAO é da Receita Federal. Neide diz que ele (Serjão) tava com a plaquinha pra nãopegar nossos carros e pegou. Adiante, NDR

Neide mostrou-se revoltada com alguns servidores públicos que estavam com arelação de placas para não fiscalizar e apreenderam os carros da contrabandistar, entre eles oAPF OLIVEIRA:

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4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIO©Neide xJúlioDATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO11/3/2003 15:27:28 11/3/2003 15:29:08 00:01:40ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 455223203 455223203DIÁLOGONeide liga e diz que Deus me livre "nós" tá querendo morrer aqui ainda. Júlio diz que nem fala. Neidediz que aquele cara, o OLIVEIRA, é um vagabundo. Júlio diz que tem que dar um susto nele. Neidediz que quando os moleques começa a contar o que aconteceu, a gente vê que ele é que foi o culpadode tudo, e que quando o Pinho funcionou o carro pra sair, ele queria prender o Pinho. Júlio diz que foiporque o SERJÃO falou que era duplicata o carro, por isso que ele ficou meio assim. Júlio chama umpalavrão. Adiante, diz que ele(SERJAO) manda "nós" vim e faz uma coisa dessa. Adiante, conversamsobre chácara e despedem-se.

Passada a fase de turbulência, a quadrilha voltou a se sentir à vontade para queo esquema voltasse a pleno vapor.

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOJÚLIO x CARLÃODATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO2/4/terça-feira 10:52:33 2/4/terça-feira 10:53:12 00:00:39ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 4591043127 4599750392DIÁLOGOJÚLIO diz que o pessoal da PF que está a 19 horas é tudo gente boa, aí pode rolar.

Em ligações sucessivas, Júlio primeiro elogia a atuação do "pessoal da PF" e emseguida revela à pessoa que está ao seu lado que irá embora, mas voltará, à noite, pois,supostamente a relação com a equipe de servidores de trabalho, entre eles, o APFOLIVEIRA era propícia para a prática dos ilícitos de contrabando/descaminho na PonteInternacional da Amizade:

TELEFONE NOME DO ALVO4599750392 ALVO 4INTERLOCUTORES/COMENTÁRIOJÚLIO x FILHA (CASA)DATA/HORA INICIAL DATA/HORA FINAL DURAÇÃO2/4/terça-feira 10:54:22 2/4/terça-feira 10:55:32 00:01:10ALVO INTERLOCUTOR ORIGEM DA LIGAÇÃO4599750392 5259904 4599750392DIÁLOGOJÚLIO enquanto aguarda sua filha chamar a mãe, comenta com pessoa ao seu lado que vai embora evolta a noite pois vai estar o WATANABE, o OLIVEIRA, LUCIANO e PERCI

Questionado perante o juízo criminal acerca de tais interceptações, o réu nãoconvence ao tentar esclarecer o conteúdo das mesmas, muitas vezes limitando-se a negar seuconteúdo, ou oferecendo respostas evasivas e nada críveis:

Questionado pela juíza Alessandra Günther Favaro, disse:

(...) Que sobre a interceptação do dia 03 de fevereiro de 2003, às 15 horas e 51 minutos,onde entre uma conversa entre Nelson "Batata" e "Abacate" (Abacate diz que "vai voltar às7, pois ninguém quis nada de dia" e diz que "Oliveira e o Watanabe vão estar de noite",depois faz um comentário com relação a um acontecimento envolvendo o APF Cláudio), não

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faz ideia do porquê eles disseram que vão voltar à noite, justamente porque ele o senhorWatanabe estariam trabalhando à noite (...);

(...) Que sobre o comentário feito por Júlio, no dia 4 de fevereiro de 2003, às 3 horas e 54minutos (Júlio, enquanto aguarda sua filha chamar a mãe, comenta com uma pessoa ao ladoque vai embora e volta à noite, pois "vai estar o Watanabe, o Oliveira, o Luciano e Perci"),disse que conhece o "Perci", que é da Receita, mas não se recorda da escala do pessoal daReceira, não sabe se nesses dias em que trabalhou [na Ponte], eles estavam junto com ele,no mesmo horário. Não tem nenhuma explicação do porquê Júlio ter feito esse comentário,e inclusive o delegado colocou essa interceptação para que ele ouvisse, e ele não entendeu,ouviu a gravação mas não conseguiu entender o contexto de tudo o que estava acontecendo,sabe que ele falava algo sobre compra, etc, depois entra o seu nome, e o de Watanabe, e aí(...);

(...) Que conhece Júlio de vista, da mesma forma de outros que transitam por ali. Júlionunca tentou qualquer aproximação com ele (...);

(...) Que sobre a interceptação do dia 11 de março de 2003, às 15h27m, onde entre umdiálogo entre Neide e Júlio (Neide liga e diz: "Que Deus me livre, nós tá querendo morreraqui ainda", e Júlio diz "quem nem fala". Neide diz que é aquele cara [cita o nome deMarcelo], o Oliveira, e Júlio diz que "tem que dar um susto nele". Aí Neide diz "quando osmoleques, começa acontar o que aconteceu a gente vê que ele que foi o culpado de tudo e quequando Dinho funcionou o carro para sair ele queria prender o Dinho", e Júlio diz que "foiporque o Serjão falou que era duplicata o carro, por isso que ele ficou meio assim". Adiantediz que Serjão "manda nós vim e faz uma coisa dessas" [seria o Serjão Oliveira]. Adianteconversam sobre chácara e se despedem), disse que não houve traição de sua parte, estavaali e cumpriu seu papel. Não faz a mínima ideia do que eles comentam por telefone. Édifícil dizer uma coisa ou outra, o fato é que realmente surgiu esse ocorrido, e foi feito dessaforma. Mas o que está acontecendo por trás no diálogo deles envolvendo outras pessoas,desconhece completamente (...);

A testemunha Gilberto Carlos Pato Ribeiro (Evento 2194) nada disse a respeitode Oliveira, nem mesmo disse algo que pudesse afastar ou enfraquecer a validade das provasque recaem sobre os atos ímprobos do réu.

Marcelo Sitta (Evento 1717), da mesma forma, nada trouxe de relevante aosautos acerca do referido réu, limitando-se a alegar como era a atuação da Polícia Federal eda Receita Federal na Ponte da Amizade, além de afirmar que não percebeu sinais de riquezaentre esses agentes públicos:

Questionado pela procuradora do réu Marcelo de Oliveira Miranda (Dra. Vanessa DasNeves Picouto, OAB nº 34.728): disse que provavelmente trabalhou na Ponte Internacionalda Amizade em 2002 a 2003 na Polícia Rodoviária Federal; que na época trabalhavam naPonte Internacional da Amizade a Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal, PolíciaFederal e às vezes a ANVISA; que a Polícia Rodoviária Federal trabalha na parte detrânsito; que a Polícia Federal trabalhava na questão de entrada de estrangeiros para oBrasil e vice versa [imigração]; que a Receita Federal trabalhava com o contrabando edescaminho [fiscalização de mercadorias]; que, na época, o fluxo de pessoas era muitogrande na Ponte Internacional da Amizade; que desconhece que o réu esteja envolvido emorganização criminosa para liberação de veículos na Ponte Internacional da Amizade; quenão percebeu sinal de riqueza dos funcionários que trabalhavam na Ponte Internacional daAmizade; que a Receita Federal não conseguia fiscalizar todo o fluxo de veículos vindos doParaguai na época, inclusive em razão do espaço físico; que o critério de abordagem dos

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veículos que seriam fiscalizados era feito por amostragem.

Em seu depoimento, Sérgio de Paula Santos (Evento 2402) comentou sobrequestões operacionais de sua atuação e da atuação da Policia Federal como um todo na PonteInternacional da Amizade, aduzindo que não havia um critério objetivo pré-estabelecido defiscalização a seguir. Esta testemunha afirma também que haviam acordos regularmente feitospelos contrabandistas para a passagem de mercadorias, sendo comum a venda da passagemde mercadorias destes com os servidores públicos:

Questionado pelo procurador do réu, Dr. Joel Geraldo Coimbra (OAB/PR nº 32.806), disse:(...) que não há critério objetivo de fiscalização, precisa-se identificar na pessoadeterminados elementos; [...] que sempre utilizava um único critério, o seu, que consistia emabordar um veículo e aplicar a este todo o procedimento necessário de fiscalização, e aoterminar, repetir o feito com o veículo seguinte; que não há um protocolo de fiscalização aseguir; que não houve treinamento para critério de abordagem; que os chefes dos postosgeralmente escolhiam e aplicavam os critérios próprios como meio de hierarquização, masque como não havia tais métodos em lei ele não os acolhia; [...] que certo dia o mesmohomem citado veio em sua direção e o cumprimentou novamente, porém dessa vez disse quenão havia ônibus com carregamentos irregulares, mas que no mesmo dia resolveu parar 2(dois) ônibus seguidos para ver o que aconteceria, e que ao abordar um deles, o motoristaperguntou se ele já não havia conversado com o rapaz (fazendo referência ao homem quehavia lhe cumprimentado), ou seja, que existiam acordos que eram regularmente feitos parapassagem de mercadorias; que a Receita Federal é um lugar perigoso para se trabalhar eque os contrabandistas sabem de detalhes e informações e todos que ali trabalham;[...] queera comum a venda de passagem de mercadorias com servidores;

Alegou também que conhecia MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA, atestando que não soube de nada que desabonasse sua conduta:

(...) que trabalhou com os Senhores EDGAR APARECIDO DE SOUZA, LUIZ CARLOS BAU,GLORIA DE MARIA PEREIRA DE SOUZA RODRIGUES, MARIA DE LOURDES COSTARODRIGUES MIRANDA; [...]; que conhece os agentes da Polícia Federal, Sr. MIRANDA eSr. OLIVEIRA e que não sabe de nada que desabone a conduta de ambos[...];

Willian Costa Campos (Evento 1717) disse que trabalhou na Ponte Internacionalda Amizade na época da ocorrência dos fatos, afirmando que o fluxo de pessoas e veículosera intenso, esclarecendo algumas questões operacionais e administrativas com referência àscompetências de cada órgão (Receita Federal e Polícia Federal) na fiscalização da Ponte daAmizade. Afirmou que não teve conhecimento de funcionários que participassem de umasuposta organização criminosa de facilitação ao contrabando e descaminho:

Questionado pela procuradora do réu Marcelo de Oliveira Miranda (Dra. Vanessa DasNeves Picouto, OAB nº 34.728): disse que trabalhou na Ponte Internacional da Amizade em2002 a 2003 na Polícia Rodoviária Federal; que na Ponte Internacional da Amizadetrabalhavam Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal, Polícia Federal, ANVISA eMinistério da Agricultura; que na época o fluxo pessoas e veículos era intenso; que na épocaas condições da "aduana velha" não eram boas para o trabalho, inclusive devido ao fluxo depessoas e de veículos; que na parte de cima sentido Paraguai-Brasil tinha [tinham os postosda] Receita Federal e Polícia Federal e Ministério da Agricultura e ANVISA e que mais prafrente, na parte de baixo, já na BR, ficava o posto da Polícia Rodoviária Federal; que aReceita Federal tinha a competência e fazia o combate ao contrabando e descaminho e,eventualmente, a Polícia Federal fazia esse controle; que a imigração era feita pela Polícia

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Federal; que à Polícia Rodoviária Federal competia o controle do trânsito na saída e daentrada [da Ponte Internacional da Amizade]; que, com relação ao serviço do depoente, aabordagem a veículos era feita por amostragem; que a estrutura física, na época, não tinhalocal adequado para parar os veículos até em razão da segurança dos funcionários; queatualmente a estrutura é melhor e mais segura do que na época; que não teve conhecimentode funcionários que participavam de organização criminosa para liberação de veículos comcontrabando e descaminho, e tampouco lhe pediram para "fazer vista grossa a algumveículo".

Sendo assim, nenhuma das testemunhas trouxe aos autos alguma prova queanulasse as provas que recaem no sentido de que MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDAcometeu atos ímprobos durante sua atuação na Ponte Internacional da Amizade. Astestemunhas de defesa limitam-se a afirmar o cenário "caótico" que vigorava na Ponte daAmizade na época dos fatos, o que não afasta o juízo de culpabilidade do réu, já que este,conscientemente e voluntariamente, deixou de fiscalizar os veículos previamente acordadosentre os intermediadores, utilizando-se de sua discricionariedade no exercício da função.

Destarte, tenho como induvidosa a adesão do réu MARCELO DE OLIVEIRAMIRANDA (indicado como "Oliveira") ao esquema criminoso esmiuçado pela OperaçãoSucuri. Esse réu foi, por várias vezes, citado pelos demais partícipes do grupo delituoso,caracterizando os atos de improbidades por ele perpetrados, com flagrante afronta aosprincípios da administração pública.

Diante das numerosas provas colhidas, é possível concluir que o réuMARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA tomou parte da organização criminosa, ajustando ecobrando os valores das propinas, facilitando o contrabando e descaminho na PonteInternacional da Amizade, mantendo vínculo associativo estável com outros corréus, para aconsecução de condutas contrárias aos princípios da administração pública, uma das formasprevista entre os atos que importam improbidade, conforme previsto na Lei nº 8.429/1992.

Indagado por ocasião de seu interrogatório perante o Juízo Criminal, o réudeclarou que, à época dos fatos (04/2003), possuía uma renda que girava em torno de R$4.400,00 (quatro mil e quatrocentos reais), que utilizo como parâmetro para a fixação damulta civil a ser impingida ao mencionado réu.

Impõe-se, ainda, a pena de perda do cargo de Policial Federal. Isso porque aconduta por ele perpetrada foi de extrema gravidade, com afronta direta a dignidade dafunção pública por ele exercida, escondendo-se por de trás do aparato institucional voltado aocombate do crime na fronteira, para facilitar o contrabando/descaminho, o que impede que oagente, após tal fato, prossiga atuando como agente policial.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OSPEDIDOS formulados pelo Ministério Público Federal, nos termos do artigo 487, inciso I, doCPC e condeno MARCELO DE OLIVEIRA MIRANDA à perda da função pública dePolicial Federal, bem como ao pagamento de multa civil no valor de 30 (trinta) vezes amédia da renda autodeclarada, perfazendo um total de R$ 132.000,00 (cento e trinta edois mil reais), válida para março de 2003, nos termos da fundamentação.

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O valor da condenação será atualizado monetariamente pelo INPC, desde oevento danoso, e sofrerá a incidência de juros moratórios, no patamar de 1% ao mês, tendopor termo inicial a presente data.

Sem condenação em custas e honorários, tendo em vista o disposto no artigo 18da Lei nº 7.347/85.

(... CONTINUA NA SENTENÇA 700006754039)

Documento eletrônico assinado por SERGIO LUIS RUIVO MARQUES, Juiz Federal na Titularidade Plena, na formado artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 700006456711v1453 e do código CRC777500db.

Informações adicionais da assinatura:Signatário (a): SERGIO LUIS RUIVO MARQUESData e Hora: 18/9/2019, às 14:27:28

1. Câmbio oficial de 31/03/2003: 3,35 (https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww4.bcb.gov.br%2Fpec%2Ftaxas%2Fport%2Fptaxnpesq.asp%3Fid%3Dtxcotacao)

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