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Page 1: PODER JUDICIÁRIO...Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005 115 ESCOLA DA MAGISTRATURA Juiz EDUARDO BENEDITO DE OLIVEIRA ZANELLA DIRETOR Juiz FLAVIO
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PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃOESCOLA DA MAGISTRATURA

CADERNO DE DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA DA EMATRA XV

ENCARTE DO BOLETIM INFORMATIVO N. 195 DO TRT DA 15ª REGIÃO

Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV - v.1 - n.4 - p. 113-156 - julho/agosto 2005

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Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005 115

ESCOLA DA MAGISTRATURA

Juiz EDUARDO BENEDITO DE OLIVEIRA ZANELLADIRETOR

Juiz FLAVIO ALLEGRETTI DE CAMPOS COOPERCOORDENADOR

CONSELHO CONSULTIVO E DE PROGRAMAS

Juíza VERA TERESA MARTINS CRESPORepresentante dos Juízes do Tribunal

Juiz JOSÉ OTÁVIO DE SOUZA FERREIRARepresentante dos Juízes Titulares de Vara do Trabalho

Juíza ALZENI APARECIDA DE OLIVEIRA FURLANRepresentante dos Juízes Substitutos

REPRESENTANTES DAS CIRCUNSCRIÇÕES

Juiz JOÃO ALBERTO ALVES MACHADO - Araçatuba

Juiz JOSÉ CARLOS ÁBILE - Bauru

Juíza THELMA HELENA MONTEIRO DE TOLEDO VIEIRA - Campinas

Juíza KATIA LIRIAM PASQUINI BRAIANI - Presidente Prudente

Juiz AMAURI VIEIRA BARBOSA - Ribeirão Preto

Juíza SCYNTHIA MARIA SISTI TRISTÃO - São José do Rio Preto

Juiz LÚCIO SALGADO DE OLIVEIRA - São José dos Campos

Juíza REGINA DIRCE GAGO DE FARIA MONEGATTO - Sorocaba

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116 Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005

© Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, 2005

OrganizaçãoServiço de Documentação e Publicações Técnicas:

Maria Inês Braga Pinheiro – Diretora

Laura Regina Salles Aranha

Marisa de Menezes de Assis Gomes

Jornalista responsávelJosé Francisco Turco – MTb/SP – 21.571

CapaMônica de Oliveira Jurgensen

Patrícia Izumi da Silva

Impressão e AcabamentoSetor de Gráfica do TRT da 15ª Região

Catalogação na Publicação (CIP) elaborada peloServiço de Documentação/TRT 15ª Região

Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV / Tribunal Regionaldo Trabalho da 15ª Região, Escola da Magistratura – Campinas/SP,v.1, n.1, jan./fev. (2005-)

Encarte do Boletim Informativo do TRT da 15ª Região

Periodicidade: Bimestral

1. Direito do Trabalho – Periódicos. 2. Processo Trabalhista. 3. JurisprudênciaTrabalhista. 4. Justiça do Trabalho – Brasil I. Tribunal Regional do Trabalho da 15ªRegião. Escola da Magistratura.

CDU - 34:331CDD - 344.01

_______________________________________________________

® Todos os direitos reservados:

Ematra XVRua Barão de Jaguara, 901 – 14º andar – Centro

13015-927 Campinas – SP

Telefone: (19) 3031-4183 - Fax: (19) 3236-0585

e-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

DOUTRINA

MAGISTRATURA: DEONTOLOGIA, FUNÇÃO E PODERES DO JUIZAlvaro Lazarini ________________________________________________________119

A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E AS RESPONSABILIDADES DO FORNECEDORE DO TOMADOR DOS SERVIÇOS - UM ENFOQUE MULTIDICIPLINARHenrique Macedo Hinz __________________________________________________125

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

TRT da 15ª Região _____________________________________________________133

EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

TRT da 15ª Região _____________________________________________________142Índice do Ementário ____________________________________________________155

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Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005 119

DOUTRINA

MAGISTRATURA: DEONTOLOGIA,FUNÇÃO E PODERES DO JUIZ

Alvaro Lazzarini (*)

1. Introdução

A magistratura, como conjunto de juízes que integramo Poder Judiciário, deve sujeitar-se ao que passaremos adenominar de “deontologia da magistratura”, com os seusideais e normas de conduta que devem orientar a ativida-de profissional desse segmento diferenciado da sociedadeconstituído por magistrados.

Estes, também conhecidos por juízes, nas suas im-portantes funções de distribuir a Justiça, inclusive quandoexercem os seus poderes, em verdade os exercem comodeveres para com a sociedade a que servem, isto é, paracom os seus jurisdicionados, buscando aplicar a lei con-forme os seus reais fins sociais a que ela se destina e issopara a realização do bem comum.

Nesse sentido, passaremos a desenvolver a temáticaque nos foi cometida pelo E. Instituto dos Advogados deSão Paulo, neste seu “I Curso Doutor João Batista deArruda Sampaio”, de preparação de candidatos paraingresso nas carreiras da Magistratura e do MinistérioPúblico.

2. Magistratura

A atividade profissional de distribuir a Justiça é, noBrasil, exercida só por magistrados, pertencentes aoPoder Judiciário. Magistrado, em direito, é o juiz concur-sado e vitalício, que exerce ou já exerceu a autoridadeadministrativa e a função de julgar, em 1ª e 2ª graus ouem grau especial de jurisdição, sujeito a normas específi-cas do Estatuto da Magistratura, representando, pois,diretamente o Poder Judiciário, do qual é membro. Dirí-amos que magistrado é, também, o juiz concursado que,na forma do seu estatuto, ainda não goza da garantia davitaliciedade. E, continuando, hoje se usam indiferente-mente os vocábulos magistrado e juiz, referentes às pes-soas que exercem as funções judicantes, embora nãosejam considerados sinônimos perfeitos, sendo conside-rado mais respeitoso o vocábulo magistrado que é ex-pressão mais genérica e pode, assim, ser utilizado paradesignar, inclusive, autoridades de outros poderes,como é o caso do Presidente da República, conhecidocomo o “Primeiro Magistrado da Nação”. Juiz, aocerto, constitui termo especifico à funçãojulgadora. (1)

Magistratura, bem por isso, é o conjunto de juízes detodos os graus que compõem o Poder Judiciário de cadapaís. A Magistratura, ainda, constitui sinônimo da careirados magistrados. Daí as expressões: magistratura federal,magistratura estadual, magistratura trabalhista e magis-tratura eleitoral, bem como, acrescentaremos, a magis-tratura militar, também conhecida de magistratura cas-trense. (2)

3. Deontologia

O vocábulo deontologia, ainda hoje, é consideradoum neologismo, introduzido por Jeremy Bentham, nanomenclatura filosófica. Esse filósofo e economista in-glês, com efeito, o adotou no título de uma de suas obras,aliás publicada postumamente no ano de 1834, ou seja, asua “Deontology or the Science of Morality”. E foi opróprio Jeremy Bentham que explicou o significado doseu neologismo, composto de duas palavras gregas: “de-

on”, que significa o que é conveniente, obrigatório, quedeve ser feito, o dever; e “logia”, ou seja, o conheci-mento metódico, sistemático e fundado em argumentos eprovas. (3)

Bem por isso, e desde logo deve ser anotado, a noçãode “moral particular” pressupõe as noções de deveres edireitos. Daí falar-se em “moral dos deveres” ou “deon-tologia” (Bentham) e “moral dos direitos” ou “diceolo-gia” (Dechambre). (4)

No Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano,consta que o vocábulo “deontologia” em inglês é “deon-

tology”, em francês é “déontologie” e, em alemão, é“deontologie”, sendo o termo criado por Jeremy Benthampara designar uma ciência do “conveniente”, isto é, umamoral fundada na tendência de seguir o prazer e a fugirda dor e que portanto “prescinda de todo apelo àconsciência, ao dever etc.” Em seguida, anota que: “Atarefa do deontólogo, diz Bentham, é a de ensinar aohomem como deva dirigir as suas emoções de modo quese subordinem, no que for possível, ao seu próprio bem-estar (“Deont.”, I, 2). Muito afastado desse uso é oproposto por Rosmini que entendeu por “deontológicas”as ciências normativas, isto é, as que indagam “qual deveser o ente, para que seja perfeito” (Psicol., Pref., § 19). Oápice das ciências deontológicas seria a ética ou diceosi-na (doutrina da justiça)”. (5)

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A “deontologia”, em verdade, é a ciência do que éjusto e conveniente que o homem faça, do valor a quevisa e do dever da norma que dirige o comportamentohumano, no que coincide a “deontologia” com a “ciênciada moralidade da ação humana” ou com a “ética”. (6)

Sabemos, todavia, que, como terminologia, poucossão os que identificam a “ética” com a “deontologia”.Preferem chamar de “deontologia” apenas a “ética” apli-cada e restrita a um setor específico do comportamentohumano, isto é, “o comportamento típico e característicoque apresenta o homem, quando exerce uma determinadaprofissão”. O substantivo “deontologia” vem, assim,invariavelmente acompanhado por um qualificativo, queindica de que profissão se trata: deontologia médica,

jurídica, jornalística etc., porque a deontologia é a ciên-cia que estabelece normas diretoras da atividade profissi-onal sob o signo da retidão moral ou da honestidade,sendo o bem a fazer e o mal a evitar no exercício daprofissão o objeto da “deontologia profissional”. (7)

Garantindo o princípio de que a vida profissional seenquadra nas normas morais, a deontologia profissional

elabora, sistematicamente quais são os ideais e as normasque devem orientar a atividade profissional. (8)

Quando se eleva a profissão ao “nível de missão”,tem-se a dimensão “deontológica”. O profissional não éconceituado apenas como técnico – capacitado para atuarna sua especialidade – mas, também, como alguém queatribui à sua ação “valores éticos, estéticos e metafísi-cos”. O técnico cultiva os valores úteis e os valores lógi-cos, podendo atingir nessa hierarquia axiológica umaforma de muita eficiência. O deontólogo, além dessesvalores, cultiva os valores hierarquicamente superiores, eatinge, além da eficiência, uma ressonância afetiva eespiritual, que se aproxima do heroísmo. O atuar deon-

tológico tem compromissos com a sociedade ou a insti-tuição ou grupo social, estabelecendo pontes mais exten-sas com a realidade humana, em geral, porque penetramais a fundo na tessitura dos fenômenos sociais. (9)

4. Deontologia da magistratura

Posto tudo isso podemos dizer que a magistratura su-jeita-se a um atuar deontológico, consubstanciado no quedenominamos ser uma verdadeira “deontologia da ma-gistratura”, ou seja, no nosso conceito, o conjunto deregras de conduta dos magistrados, necessárias ao plenodesempenho ético de sua atividade profissional, de modoa zelar não só pelo seu bom nome e reputação, comotambém da instituição a que serve, no seu múnus estatalde distribuir a Justiça na realização do bem comum.

Essas regras de conduta dos magistrados estão pre-vistas na legislação em geral ou, então, decorrem deregras da experiência.

Vejamos, por ora, as da legislação em geral, para, emoutro item, examinarmos as regras da experiência, comoensinadas por ilustres e experientes Magistrados.

A Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Com-plementar n. 35, de 14/03/79), p. ex., nos seus arts. 35 e36, indica, respectivamente, os deveres e as vedações, ouseja, os deveres ativos e os negativos referentes aos magistrados.

Nos termos do seu art. 35, o magistrado deve cumprire fazer cumprir, com independência, serenidade e exati-dão, as disposições legais e os atos de ofício, não exce-dendo injustificadamente os prazos para sentenciar oudespachar, determinando, ainda, as providências necessá-rias para que os atos processuais se realizem nos prazoslegais. Deve, também, tratar com urbanidade as partes, osmembros do Ministério Público, os advogados, as teste-munhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, atenden-do aos que o procurarem a qualquer momento, quando setrate de providências que reclame e possibilite solução deurgência. É dever, outrossim, o magistrado residir na sededa comarca, salvo autorização do órgão disciplinar a queestiver subordinado, comparecendo pontualmente à horade iniciar-se o expediente ou sessão, não se ausentandoinjustificadamente antes de seu término. Deve exercerassídua fiscalização sobre os subordinados, especial-mente no que se refere à cobrança de custas e emolu-mentos, embora não haja reclamação das partes. E, fi-nalmente, deve manter uma conduta irrepreensível – eressalte-se – na sua vida pública, como também na suavida particular.

Por sua vez o seu art. 36 veda ao magistrado exercero comércio ou participar de sociedade comercial, inclusi-ve de economia mista, exceto como acionista ou cotista,sendo-lhe, ainda, vedado exercer cargo de direção outécnico de sociedade civil, associação ou fundação, dequalquer natureza ou finalidade, salvo associação declasse, e sem remuneração, sendo-lhe, finalmente, vedado– e importante é a vedação legal – manifestar, por qual-quer meio de comunicação, opinião sobre processo pen-dente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreci-ativo sobre despacho, votos ou sentenças, de órgãosjudiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técni-cas ou no exercício do magistério.

O exercício do magistério e desempenho de funçãoadministrativa ou técnica em estabelecimento de ensino,também, sofre severas restrições que, de ordem constitu-cional (CF de 1969, art. 114, I), ensejam, até mesmo, apena de demissão ao magistrado que inobserve a vedaçãoconstitucional (Lei Orgânica da Magistratura Nacional,art. 26).

A bem da verdade a citada Lei Orgânica da Magis-tratura Nacional, prevista no parágrafo único do art. 112da CF de 1969, amplia as vedações constantes no art. 114da mesma CF, ou seja, a de exercer, ainda que em dispo-nibilidade, qualquer outra função, salvo um cargo domagistério superior, público ou particular, e nos casosprevistos na própria Constituição, vedando, ainda, aomagistrado receber, a qualquer título e sob qualquerpretexto, porcentagem ou custas nos processos sujeitos aseu despacho e julgamento, bem como exercer atividadepolítico-partidária.

Legislação estadual, também, pode dispor, supletiva-mente, a respeito dos deveres e das vedações referentesaos seus magistrados. No caso do Estado de São Paulo, p.ex., o seu Código Judiciário (Dec. Lei Complementar n.3, de 27/09/69) nos seus arts. 190 e 191, em linhas gerais,prevê o mesmo que, ao depois, veio a ser previsto nacitada Lei Orgânica da Magistratura Nacional, em 1979,a esse teor. E acrescentou ser dever específico do magis-

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trado o de usar toga durante o expediente, conforme omodelo aprovado pelo Tribunal de Justiça (para a 1ªinstância ainda não há modelo aprovado e nem verbaspara a confecção de togas, salvo a que se refere ao JuizPresidente de Tribunal de Júri). Dever específico, tam-bém, é o de presidir pessoalmente as audiências e atospara os quais a lei exige a sua presença, sendo-lhe vedadoexercer a função de árbitro ou juiz fora dos casos previs-tos em lei (clara referência a antigos magistrados queexerciam atividades de árbitros em Federações Esporti-vas ou de juízes de seus respectivos tribunais da categoriaesportiva).

Enfim, o magistrado, por dever de sua nobre missão,tudo deve fazer para evitar o que possa diminuir a confi-ança que a coletividade jurisdicionada tem o direito deter nos seus juízes, ou seja, a confiança do público naJustiça, da qual ele é membro.

Esses são os principais deveres e vedações legais quedizem respeito à atividade profissional da magistraturaem geral, sendo certo que a legislação processual emparticular traz outros tantos deveres e vedações, queconstituiriam um infindável elenco estudado especifica-damente no direito processual.

5. Deontologia da magistratura e as regrasda experiência

São úteis, neste estudo sobre a “deontologia da ma-gistratura”, as “regras da experiência”, como ditadas porilustres e experimentados Magistrados que ornaram eornam a magistratura.

Assim é que Valentim Alves da Silva, Desembargadordo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, hojeaposentado pelo limite de idade, e Professor de DireitoCivil da Faculdade de Direito da Pontifícia UniversidadeCatólica de Campinas, falando sobre “O juiz e a ética”,no Seminário sobre Ética Profissional, sob o patrocíniodo Instituto dos Advogados de São Paulo, ConselhoSeccional da Ordem dos Advogados do Brasil e Associa-ção dos Advogados de São Paulo, em 1981, afirmou quea conduta da luta judiciária exige de todos, em especialdo Juiz, muita compreensão, serenidade e boa vontade.Se esse for o espírito com que o Magistrado enfrentará asdificuldades do processo judicial, não haverá dúvidaalguma de que estaremos em face de um julgador hones-to, sóbrio, paciente, trabalhador, imparcial, justo amantedo direito, independente e defensor da liberdade, cumpri-dor dos Dez Mandamentos do Juiz, de autoria de JuanCarlos de Mendoza, citados por Ruy de AzevedoSodré. (10)

Também modelo de magistrado, o Des. Marcos No-gueira Garcez, como Presidente do E. TJSP, em03/04/87, discursando para novos juízes, teve oportuni-dade de ressaltar que, dentre os deveres de magistrados,avulta o da independência, “Independência que não seconfunde com a arrogância dos pretensiosos ou com aostentação vaidosa dos imaturos. Mas que se exerce coma simplicidade dos fortes e com a profunda convicção deque, em todas as situações que se nos apresentarem,haveremos de decidir exclusivamente de acordo comnossa consciência reta e bem formulada, com olhos pos-

tos no mandamento do Livro da Sabedoria: “Amai ajustiça vós que sois os juízes da terra” (Sab. 1.1). E invo-cando, como sábias, as palavras do eminente Des. Cláu-dio Américo de Miranda, Presidente do egrégio TJPE eProfessor da Pontifícia Universidade Católica daqueleEstado, transmitiu alguns de seus conselhos, como, p. ex.,“...o bom juiz há de ser o homem sensato, equilibrado,sereno, corajoso, educado, dotado de bons conhecimen-tos jurídicos, e de, pelo menos, razoável cultura geral,cônscio de suas responsabilidades, amante do trabalho eda família, cultor da língua pátria. O juiz não se despepelo fato de ser juiz, de sua condição humana. Mas elenão é um homem comum. O juiz há de proceder de acor-do com a ética própria de sua alta função. A ética dohomem comum é uma. Outra a ética do magistrado. Oque se permite ao mais alto dignitário da República pode,e, em certos casos, deve, vedar-se ao magistrado. O Pre-sidente pode ser político; o juiz jamais. O político podeser popular (isto até lhe é necessário), freqüentar qual-quer ambiente, trajar-se como bem lhe aprouver. O juiznão. O juiz deve ser cortês, cavalheiresco, fidalgo notrato, cuidadoso no falar, prudente no agir. Nunca vulgar.O magistrado há de ser visto pelo povo com respeito. E,ao homem vulgar, debochado, irreverente, desleixado notrajar e inconveniente no falar não se respeita. Claro quenão se pode exigir do juiz, que jamais use um traje es-portivo, ou que não se ponha na boca uma gota de álcool.Inadmissível é que o juiz compareça ao foro como seestivesse num estádio de futebol, ou que se entretenha emlibações alcoólicas em qualquer botequim de ponta derua. A bebida social é permitida a qualquer um; a embri-aguez não. Em um coquetel elegante, tomar um “drink”faz parte da conduta em sociedade. O que se condena é oexcesso. O juiz, na comunidade, é muito observado.Qualquer gesto seu é visto e interpretado; qualquer atitu-de sua é comentada. Ele há de ser, então, vigilante consi-go mesmo. Policiar-se a fim de não cair em descrédito eperder o respeito dos seus concidadãos”. (11)

Outra grande figura da magistratura paulista, o Des.Ney de Mello Almada, em palestra proferida em07/01/85 e não publicada, no Palácio da Justiça de SãoPaulo, dizia aos magistrados recém-empossados ser a“autocensura” um “mecanismo ético”, que nos permitepautar a nossa conduta com discrição, nem com espíritode fim de século, comedido ao extremo de alguém visi-velmente superado, mas nem com modernismo tal quedespersonalize o Juiz de sua própria autoridade moral. Eacrescentava: a aparência do homem reflete seu interior,reflete sua personalidade, sendo que, em alguns casos, atéo seu caráter, sugerindo, até mesmo, e com inegávelacerto, que o juiz deverá ser como a mulher de César, ouseja, não apenas honesta, mas parecer honesta. E não lhepassou despercebido algo de importante que é o com-portamento familiar do juiz. Disse, então, que a condiçãoconjugal é indevassável, ao certo. Um comportamento noplano familiar, porém, além de trazer paz subjetiva, atri-bui uma condição muito livre e desimpedida para apreci-ação dos problemas de família, que são complexos, quetêm muitas vinculações morais, que deixam, às vezes, osjuízes com o sacrifício de uma noite de sono. De modoque o cultivo de um bom relacionamento conjugal, de um

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bom relacionamento com os filhos, além de dar ao juizuma tranqüilidade interior, que vai transcender para ocampo de seu trabalho, facilitando alcance uma outraconseqüência, nem prevista, o apreço social, porque já sedisse, o juiz é o parâmetro do próprio grupo.

O Des. Antônio Carlos Alves Braga, também um dossímbolos da Magistratura de São Paulo, em palestra,agora, a Juízes Substitutos aprovados no 152º Concursode Ingresso na Magistratura de São Paulo, proferida nodia 26/06/86 e também não publicada, no Palácio daJustiça de São Paulo e tratando da “Conduta Pública eParticular do Juiz”, diagnosticou, de início, que “NessesBrasis que vi por aí – e são muitos – senti com tristeza,que o maior problema da Instituição é o elemento huma-no. As grandes mazelas do Judiciário encontram, nohomem, seu ponto mais alto: despreparo intelectual,caráter frágil, ausência de autoridade, vaidades inconti-das, personalidades deformadas, arbítrios exagerados,falta de berço sobretudo. Tudo isso, lamentavelmente, seescoa, lisamente, pelas comissões encarregadas da sele-ção de novos juízes. As comissões nem sempre têm con-dições de examinar a vida do candidato e o problema sósurge quando ele já é juiz, instalado dentro da Institui-ção”. Salienta, linhas após, que para o exercício de qual-quer profissão há de haver um contingente vocacional.Para a da magistratura, sustenta o Des. Antônio CarlosAlves Braga, o juiz deve desempenharas suas funçõescom toda a alma, para que o seu trabalho seja fecundo, sódevendo ser destinado à magistratura o que seja vocacio-nado, aquele que não queira confundir-se com funcioná-rio público, porque com tal agente público não se con-funde o juiz, membro do Poder Judiciário, o maisdemocrático dos Poderes do Estado. E, resumindo, dizser a magistratura reservada para uma elite à qual cabe afunção de liderança em todos os setores da vida pública,impedindo que o Poder seja fracionado entre incompe-tentes, demagogos, incapazes, amorais, aéticos, vaidosos,arbitrários, venais, despreparados, elite essa que não seconfunde com elitismo, porque, o magistrado, comoqualquer homem, pode vir de uma origem muito humilde,não precisando vir da alta sociedade, porque, a magis-tratura deve procurar recolher os melhores, os mais capa-zes, os mais habilitados.

Disso tudo não se apartou, também, o ilustre e expe-rimentado Juiz Ovídio Rocha Barros Sandoval, em pa-lestra aos Juízes Substitutos empossados, no Palácio daJustiça de São Paulo, em 21/05/87, igualmente cuidandoda “Conduta Pública e Particular do Juiz”. Em linhasgerais, transmitindo a sua longa e fecunda vivência naMagistratura do Estado de São Paulo, S. Exa. demons-trou que, para a prática da Justiça, o juiz deve ser umvocacionado, uma pessoa integral, em sentido de digni-dade, pois, de nada vale o respeito ao cargo de juiz dedireito sem o necessário tributo para quem o exerce. Daíporque se exige do juiz um comportamento reto, emtodos os sentidos. O juiz, em especial nas comarcas dointerior do Estado, é sempre o exemplo à comunidade.Bem por isso deve ser um bom chefe de família, um bompai, sob pena de ficar demonstrado publicamente que nãopossui autoridade moral para exigir de seus semelhanteso cumprimento de um dever. A conduta exigida do juiz é

superior àquela solicitada do homem médio, pela simplesrazão de que o magistrado se impõe a missão de julgarseus semelhantes, devendo ser lembrado que ninguém éobrigado a ser juiz. Porém, a partir do momento da acei-tação, a consciência reta da profissão exige a responsabi-lidade para entender um preceito de conduta que, emboranão necessitasse estar em lei, na Lei Orgânica da Magis-tratura Nacional, está expressa, ou seja, o dever do juizmanter conduta irrepreensível na vida pública e particular(art. 35, VIII). A vaidade, o carreirismo, a honestidadesão outros pontos abordados em tão significativa palestra,na qual S. Exa. também enfatiza que tudo isso, em abso-luto, não está a indicar o isolamento do juiz e de suafamília, porque, ao contrário, para bem viver, conhecer eentender o meio em que se vive, o juiz deve participar davida comunitária, apenas com a devida cautela, com adevida discrição e respeito a todos. Por fim, valendo-sede advertência do Des. Antônio Carlos Alves Braga,reafirma que a independência do juiz não quer dizertranscender autoridade e sim demonstrar que a autoridadeé um serviço e juiz independente é aquele que faz o quedeve (Juiz Ovídio Rocha Sandoval, palestra citada, nãopublicada).

Por fim, há de ser feita menção especial à palestra doilustre Juiz Sidnei Agostinho Beneti, hoje do egrégioTACrimSP, palestra essa aos Juízes Substitutos e deInvestidura Temporária aprovados no 148º Concurso deIngresso na Magistratura do Estado de São Paulo – 1983.Cuidou S. Exa. do tema “O juiz e o serviço judiciário”.(12) Foi ela enriquecida com primorosa apresentação doeminente Des. Bruno Afonso de André, hoje aposentadopor limite de idade e, à época, Corregedor-Geral da Justi-ça do Estado de São Paulo. Disse o eminente Desembar-gador, ao depois guindado à Presidência da mais AltaCorte de Justiça de São Paulo que o modo de operar dojuiz é de suma importância, exigindo sensível consciênciade serviço, que estará ausente dos que agirem como se aspartes estivessem à sua disposição. Em seguida, nessa suaapresentação ao trabalho do Juiz Sidnei Agostinho Bene-ti, no que referendamos para, sem transcrever nenhum deseus trechos, recomendar enfaticamente a sua leitura,afirma: “O Juiz Sidnei Beneti, cujo senso prático notóriolhe tem permitido enriquecer sua experiência, ofereceaqui aos colegas iniciantes um aprimorado roteiro para obom exercício das funções, numa linguagem que lheretrata a inteligência alerta e inquieta. O trabalho ajudaráaos que ainda não despertaram de todo para o que asofrida sociedade atual espera da Justiça”.

6. Poderes-deveres do juiz

E temos que voltar a enfocar a magistratura, agorasobre o prisma da função e poderes do juiz, título que nosfoi pedido explanar nesta oportunidade e que preferimosdizer “Poderes-deveres do juiz”. Preferimos assim rotularo estudo, porque, o juiz exerce a “função jurisdicional”toda impregnada de poderes para o seu perfeito exercício.Mas, como afirmaremos, o exercício desses poderesimplica verdadeiros deveres para o juiz. Daí sustentarmosque são “poderes-deveres do juiz” os que decorrem desuas altas funções jurisdicionais ou administrativas.

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A magistratura, com efeito, como estamos apreciando,é aqui entendida como a classe dos magistrados, daquelaspessoas investidas pela sociedade de poderes para gover-nar ou distribuir justiça. (13) Em sua essência a magis-tratura não é uma carreira: ela é, acima e antes de tudo,uma grande missão, (14) estando aí, a nosso ver, umaafirmação deontológica da magistratura, de alto signifi-cado, porque, encerra para o juiz a alta missão de bemservir à comunidade, missão essa que deve sobrepor-seaos anseios de um carreirismo degradante.

Essa grande missão do magistrado, em face de suanatureza, é dotada de uma imunidade quase total para oexercício das prerrogativas que lhe são inerentes, afirma-ção essa que tem sofrido mutações e que, para os especi-alistas, revela-se preocupante. (15)

No momento em que vivemos uma crise econômico-financeira grave, realmente, a Sociedade, como um todo,vê no Poder Judiciário, e na magistratura em particular,sua última esperança. Em razão disso o fortalecimento damagistratura como instituição – e a matéria relativa aospoderes do juiz constitui um dos seus aspectos funda-mentais – ganha excepcional importância e interesse. (16)

Mas, o sustentado e necessário fortalecimento da ma-gistratura não há de cingir-se tão-só a aspectos de ordemmaterial. Há de considerar, também, a necessidade de umfortalecimento ético da magistratura para pôr cobroàquilo que Antônio Carlos Alves Braga, com a sua auto-ridade, atestou ter visto nos muitos Brasis que viu pôr aí(infra n.5). A força de um juiz está na sua força moral.Bem por isso, e dissemos alhures, a independência de umjuiz independe de lei que estabeleça. Ele tem o dever deser independente, nos moldes vistos anteriormente.

O magistrado, é bem verdade, é um agente público doEstado. Mais precisamente é um agente político, na mo-derna concepção do Direito Administrativo. (17) Ele teme deve ter prerrogativas funcionais, que não se confun-dem com meros privilégios pessoais. As principais prer-rogativas, dada a função que lhe dá a dignidade constitu-cional, são, no Brasil de hoje, a vitaliciedade,inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. Elassão reconhecidas pelo Direito aos magistrados para quebem possam exercer seus deveres estatais, deveres essesdecorrentes de seus poderes, previstos no nosso ordena-mento jurídico vigente e com o objetivo de evitar o temorde uma responsabilização pelos padrões comuns ou, pelomenos, de uma represália pelo desagrado que a sua fun-ção jurisdicional possa causar aos poderosos domomento.

De notar que a Lei Orgânica da Magistratura Nacio-nal, no seu art. 33, relaciona como prerrogativas do ma-gistrado o ser ouvido como testemunha em dia, hora elocal previamente ajustados com a autoridade ou juiz deinstância igual ou inferior; não ser preso senão por ordemescrita do Tribunal ou do Órgão Especial competentepara o julgamento, salvo em flagrante de crime inafian-çável, caso em que a autoridade fará imediata comunica-ção e apresentação do magistrado ao Presidente do Tri-bunal a que esteja vinculado; ser recolhido a prisãoespecial, ou sala especial de Estado Maior, por ordem e àdisposição do Tribunal ou Órgão Especial competente,quando sujeito a prisão antes do julgamento final; não

estar sujeito a notificação ou a intimação para compare-cimento, salvo se expedida por autoridade judicial; eportar arma de defesa pessoal, certo que, quando, nocurso de investigação, houver indício da prática de crimepor parte de magistrado, a autoridade policial, civil oumilitar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ouÓrgão Especial competente para o julgamento, a fim deque prossiga na investigação.

Continuando com o tratamento deontológico queestamos procurando dar ao tema, mesmo que se possadizer que agora estamos examinando os direitos dosmagistrados e a moral que lhes diz respeito seria adiceologia (infra n.3), não é demais lembrar que o jácitado Código Judiciário do Estado de São Paulo, noseu art. 189, diz gozarem os magistrados, além dosconferidos aos servidores públicos em geral e nãoincompatíveis com o seu “status”, do direito de rece-ber o tratamento de “Excelência”.

Essas prerrogativas, esses direitos dos magistradossão o mínimo que o legislador brasileiro, constituinte eordinário, reconheceu como necessários para resguardaro exercício dos poderes que o Direito reconhece par queo juiz bem possa desempenhar a sua árdua e, às vezes,incompreendida missão, o seu múnus público que, alémda função de distribuir Justiça, que é precípua, encerratambém atividades tipicamente administrativas como osão as funções de corregedoria permanente ou de direçãode fórum, como ainda, em 2ª instância, as funções ecargos diretivos dos Tribunais, conforme os seus Regi-mentos Internos.

No exercício de sua função jurisdicional, o juiz contacom extensos poderes processuais, que não significamprivilégios ou vantagens outorgadas à pessoa do magis-trado, mas que se destinam à atuação da lei e à realizaçãoda Justiça, constituindo, isto sim, verdadeiras garantiasdos jurisdicionados e dos advogados, porque a prestaçãojurisdicional qualificada só é possível quando o Judiciá-rio e a Magistratura são fortes e prestigiados, conforme odiz o ínclito Juiz João Batista Lopes, também Professorda Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Ca-tólica de São Paulo, no seu aludido trabalho sobre “Ospoderes do juiz e o aprimoramento da prestação jurisdi-cional”, com o qual foi premiado no Concurso de Mono-grafias “Min. Rodrigues de Alkmin”, promovido, em1983, pela Associação Paulista de Magistrados(1º lugar). (18)

Esses poderes processuais do juiz, sendo garantiasdos jurisdicionados e dos advogados, em verdade, para ojuiz são deveres seus para com os seus jurisdicionados eos advogados, o que importa na vedação de que os juízesos renunciem, porque se assim entenderem de renunciaraos seus poderes, estarão desprotegendo o seu jurisdicio-nado, o advogado de seu jurisdicionado, impondo, assim,uma grave insegurança jurídica a todos os que dependamda sua função jurisdicional que, como focalizado, estácercada de um mínimo de prerrogativas conferidas pelolegislador ao juiz que a exerce.

No exercício de sua função administrativa, que lhe éatípica, como já dissemos, o juiz age como se Adminis-trador Público fosse. Por isso ele tem a seu favor todos ospoderes administrativos que o Direito, em especial o

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Direito Administrativo, reconhece para os administrado-res públicos (poder vinculado, poder discricionário,poder hierárquico, poder disciplinar, poder de polícia epoder regulamentar). É certo que o regulamentar é exclu-sivo de Chefe do Poder Executivo. Mas, o juiz não pres-cinde de seus princípios jurídicos quando deve elaboraratos administrativos normativos em especial aquelespeculiares do Poder Judiciário (Regimentos Internos dosTribunais, Resoluções, Assentos, Provimentos e outros).

Esses poderes administrativos que se reconhecepara o juiz, quando exerce a função administrativa,igualmente, são verdadeiros poderes-deveres. NoDireito Público generaliza-se a acepção peremptóriano sentido de que, onde se outorga poder, este deve sercompreendido como dever, dever para com a coletivi-dade administrada ou, no caso, a comunidade jurisdi-cionada. (19)

7. Conclusão

De todo o exposto podemos concluir que o juiz,além da sua natural função jurisdicional, exerce tam-bém funções administrativas de natureza correicional ediretiva na forma que as leis dispuserem.

Para tanto o Direito confere ao juiz poderes e prerroga-tivas funcionais que não podem ser confundidas com pri-vilégios pessoais, sendo, antes de tudo, verdadeiras garanti-as que se destinam aos próprios jurisdicionados e àquelesprofissionais que devem integrar a prestação jurisdicional.

Quando falamos em poderes do juiz, ao certo, es-tamos falando deveres do juiz para com os jurisdicio-nados e os profissionais que integram, de um modo oude outro, a prestação jurisdicional.

Bem por isso o juiz tem o dever de defender as su-as prerrogativas que estão legitimamente previstaspara que bem possa fazer atuar os seus poderes-deveres, como enunciado.

O juiz, portanto, deve atuar deontologicamente, con-forme o conjunto das regras de conduta dos magistrados,quer as previstas na legislação em geral, quer as decorrentesda experiência, necessárias ao exato e pleno desempenhoético de sua atividade profissional, zelando, assim, não sópelo seu bom nome e reputação, como também da institui-ção a que serve, o Poder Judiciário, no seu múnus estatal dedistribuir a Justiça na realização do bem comum, comosupremo fim do Estado de Direito.

Notas de Rodapé:

1. Décio Cretton, Enciclopédia Saraiva do Direito,Saraiva, verbete: “Magistrado”, v.51/36.

2. Idem, p.46.3. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, Fer-

nando Bastos de Ávila, S.J., Ministério da Educação eCultura, 1.ed., Rio, 1967, verbete: “Deontologia”,p.145.

4. Flamínio Fávero, Medicina Legal, 6.ed., v.3º/6,São Paulo, Livraria Martins ed.

5. Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia,trad. Coordenada e revista por Alfredo Bosi, 1.ed.portuguesa, São Paulo, Mestre Jou, 1970, verbete:“Deontologia”, p.224.

6. Fernando Bastos de Ávila, ob. cit.7. Idem, ibidem.8. Idem, ibidem.9. Sílvio de Macedo, Enciclopédia Saraiva do Di-

reito, verbete “Deontologia jurídica”, v.23/350, Sarai-va.

10. Valentim Alves da Silva, “O juiz e a ética”,Notícias Forenses, agosto/86, p.41.

11. Nogueira Garcez, “A posse dos novos juízes”,O Estado de São Paulo, 8/04/87, p.27.

12. Sidnei Agostinho Beneti, “O juiz e o serviçojudiciário”, “in” JTACrimSP 83/7 e ss., ed. Lex.

13. Valentim Alves da Silva, artigo cit.14. João Guzzo Filho, artigo “in” RT 504/474, São

Paulo, Ed. RT, e Valentim Alves da Silva, artigo cit.15. Volnei Ivo Carlin, “A responsabilidade Civil do

Estado resultante do exercício das funções jurisdicio-nais”, RT 557/18, São Paulo, Ed. RT.

16. João Batista Lopes, “Os poderes do juiz e oaprimoramento da prestação jurisdicional”, RePro

35/25, São Paulo, Ed. RT, ano IX, abril-junho/84.17. Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo

Brasileiro, 12.ed., São Paulo, ed. RT, 1986, pp.50-53.18. João Batista Lopes, artigo cit., RePro 35/63,

conclusões 2 e 4.19. Carlos Maximiliano, Hermenêutica e Aplica-

ção do Direito, 8.ed., Rio, Freitas Bastos, 1965, n.333,p.284.

(*) Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado

de São Paulo e atualmente Presidente do TRE/SP

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A TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA E ASRESPONSABILIDADES DO FORNECEDOR E DO

TOMADOR DOS SERVIÇOS - UM ENFOQUEMULTIDISCIPLINAR

Henrique Macedo Hinz1

Introdução

"Quando o direito ignora a realidade, a realidade

se vinga, ignorando o direito". Este aforismo de Henri

de Page é bastante oportuno quando se trata de anali-sar qualquer instituto de direito do trabalho. Este ramodo direito, ao tratar do trabalho nos moldes previstosnos artigos 2º e 3º da CLT, não deve se restringir ape-nas aos seus aspectos formais, mas principalmente terem vista a realidade que visa regular.

Da mesma forma como o bom profissional do di-reito tributário é necessariamente um bom conhecedorde contabilidade, o bom profissional do direito dotrabalho precisa ter bons conhecimentos sobre o “lo-cus” onde o trabalho é prestado e comprado. Se assimnão fizer, os raciocínios lógicos que fará partirão,provavelmente, de premissas falsas, levando fatal-mente a conclusões igualmente incorretas, se nãoinjustas.

Embora muito já se tenha dito e escrito a respeitoda terceirização trabalhista, é possível se verificar naspetições processuais, nos despachos e decisões judici-ais, nos trabalhos acadêmicos e mesmo na imprensaalguns pontos divergentes sobre o assunto.

Mesmo nas sentenças prolatadas em autos de re-clamações trabalhistas é muito comum assistirmos aesforços hercúleos dos juízes prolatores para lidar comeste mecanismo e, no mais das vezes, face à ausênciade uma legislação específica, elaborarem por meio deraciocínios analógicos, formas de responsabilizaçãodo tomador da mão-de-obra face à falência ou sim-plesmente desaparecimento do fornecedor damesma.(2).

A utilização deste instrumento de administração sótende a aumentar no meio empresarial, face à realida-de ali vivida, com imediatos reflexos na ordem jurídi-ca, visto que os conflitos de interesses neste camposão usuais. Nos arriscaremos a aqui abordar o tema deforma mais pragmática, numa visão interdisciplinar -tanto no âmbito jurídico quanto no econômico - paraassim lançar novos pontos de vista e levantar novosquestionamentos.

Como a seguir se verá neste ensaio, a terceirizaçãoé uma realidade presente, e tende a se generalizar cada

vez mais, gostem os operadores do direito - em espe-cial os do direito do trabalho - ou não. Assim, há de seconhecer as origens, os propósitos e as responsabili-dades desse modo de organização das empresas e deseus trabalhadores.

O trabalho humano e o local de seu exercício

É oportuno fazer, inicialmente, uma pequena di-gressão a respeito do local onde o trabalho é prestadopelo trabalhador à quem dele necessita, pois que rele-vante ao objeto do presente estudo.

Na passagem do feudalismo para o capitalismo otrabalho era prestado a domicílio, não só pelo traba-lhador mas provavelmente por todos da família quetivessem condições de o auxiliar. O produtor contrata-va as peças que já esperava vender, enquanto que aspessoas trabalhavam com o fito de garantir seu sus-tento. Não havia aí se instalado a noção do "quantomais melhor", mas prevalecia a do "isso me basta".

Quando a produção em massa se instala (3), e sedesenvolve o sistema de produção com a utilização demáquinas, surge a necessidade de se trazer todos ostrabalhadores para dentro de um mesmo local - a fá-brica - vez que ali a qualidade e o ritmo de seu traba-lho serão de forma bastante rígida controlados peloempregador (4).

Este modelo de organização do trabalho acaba porse tornar hegemônico no regime capitalista até iníciodos anos 80, quando surge o modelo de produção emrede, onde a produção dos vários itens componentesde um determinado produto é realizada por empresasdiferentes. E, nestes tempos de globalização, essamesma produção pode ser realizada em qualquer paísno mundo.

Ocorre que com o desenvolvimento do contratocomo instrumento jurídico de responsabilização doscontratantes e da informática como elemento quepossibilita o controle das atividades em qualquer lugardo planeta, os capitalistas descobriram que poderiamobter de terceiros produtos e serviços tão bons, oumesmo melhores, que aqueles que seriam produzidospor seus próprios empregados.

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Assim, liberando os empregados de trabalhar parao empregador, este deixa de assumir custos com opróprio local de trabalho, que envolve crescentesvalores decorrentes da valorização dos imóveis. E ocontrato celebrado com o fornecedor terceirizadogarante a qualidade e tempestividade da entrega doobjeto do contrato. Dito de outro modo, o contratojurídico e a informática permitem ao capitalista dis-pensar o trabalho que até então era realizado sob suavisão e controle, sendo que doravante este poderá serrealizado em qualquer local do planeta.

Mais que importante alteração com relação ao lo-

cal onde o trabalho é realizado, nos dias atuais cadavez menos se contrata o trabalho humano, e mais sebusca tão somente o seu resultado.

Causas da terceirização

Uma análise rápida das origens do direito do tra-balho nos mostra que o mesmo surge no início doséculo XX de forma mais ampla, sendo que os direitostrabalhistas mais se desenvolveram no período com-preendido entre o pós II Guerra e o fim dos anos 70.Foi aí que, no mundo ocidental capitalista, a economiaviveu seus "30 Anos Gloriosos", num círculo virtuosoque aliava o crescimento econômico com o incre-mento do Estado do Bem Estar Social, não só nospaíses centrais quanto nos da periferia. Aliás, não sãopoucos os autores que defendem a idéia de que osdireitos dos trabalhadores só se desenvolveram no pósguerra para fazer frente às promessas do comunismo,já instalado na extinta União Soviética desde 1917;desaparecendo a utopia do socialismo, desapareceu anecessidade de se "mimar" os trabalhadores, come-çando o ataque desenfreado às suas conquistas quaseque simultaneamente com a paradigmática queda doMuro de Berlim.

De qualquer forma, neste cenário econômico ca-racterizado por forte crescimento econômico (os cita-dos 30 Anos Gloriosos), e dentro de uma visão micro-econômica, as empresas não têm tanta preocupaçãocom relação aos seus custos, visto que estão maisinteressadas em ampliar seus mercados, dentro e forado país. Os lucros gerados por este aumento nas ven-das compensam eventuais perdas com custos desne-cessários. A organização do trabalho, nesta época, sefundava no padrão “fordista”, verticalizado, onde amaioria das atividades necessárias é realizada dentroda própria empresa (incluídas aí suas filiais ou empre-sas coligadas).

Quando na década de 70 ocorre a crise do petróleo(embora a crise econômica mundial não tenha sidocausada apenas pela subida dos preços desta “commo-ditty” pelos países produtores), a oportunidade deganho pela ampliação de mercados desaparece, e asempresas passam a ter de alterar seu modo de admi-nistração, tendo agora uma grande preocupação com

seus custos de fabricação e de funcionamento.Esta nova realidade administrativa fez com que as

empresas alterassem o modo de organização do tra-balho (5), pelo que adotaram o método “toyotista” deprodução, segundo o qual a verticalização da produçãopassou a ser substituída pela horizontalização damesma, criando uma rede de produtores e fornecedo-res.

Com este sistema, as empresas não mais precisari-am se preocupar tanto com os detalhes de produção desuas matérias primas ou itens utilizados nas suas li-nhas de produção, pois que esta preocupação seriatransferida ao seu fornecedor. Assim, por exemplo, aadministração de uma indústria não precisaria se preo-cupar com as variações de seus estoques, pois quepoderia comprar de seu fornecedor apenas aquilo queela necessitasse para o atendimento de seus pedidosem carteira. Ou seja, deixam de se preocupar com asoscilações da demanda. A redução - ou mesmo elimi-nação - de estoques reduz os custos com capital imo-bilizado.

Deve-se atentar para o fato de que a aquisição deinsumos junto a terceiros sempre existiu, mesmo àépoca do “fordismo”, afinal, não era comum que umaindústria automobilística, por exemplo, produzisse ospneus e os vidros utilizados em seus carros. O que sealterou foi que, dentro da nova técnica de administra-ção das empresas, a delegação a terceiros da respon-sabilidade pela produção de um ou mais itens necessá-rios ao seu funcionamento se tornou hegemônica,comum.

Neste sentido, estudiosos do setor automotivo de-monstram que nas indústrias mais avançadas a quasetotalidade da produção, atualmente, está delegada aterceiros, para não dizer a própria montagem, cabendoà montadora propriamente dita apenas os setores demarketing, projetos e financeiro.

Mas, diferentemente do que entendem muitos, aterceirização não visa a especialização ou qualificaçãodos bens ou produtos oferecidos - isso já é exigível emface do contrato celebrado entre comprador e fornece-dor! A vantagem da terceirização é que as oscilações

na demanda por produtos ou serviços não será maisarcada pelo tomador, mas sim por quem fornece, deforma terceirizada, os bens ou serviços.

O desenvolvimento de produtos é muito custoso,só sendo viável às grandes empresas, o que leva mui-tas a simplesmente copiar o que já se desenvolveu.Para fugir desta concorrência desleal as empresaslíderes estão sempre sucateando seus produtos, colo-cando outros novos no mercado, mais "sofisticados",tendo a propaganda comercial o papel de induzir aoconsumo destes mesmos bens.

Ou seja, a rapidez exigida para a colocação de umproduto no mercado e a curta vida útil do mesmodemanda dos produtores uma flexibilidade ímpar queo modelo anterior de organização do trabalho jamais

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poderia garantir. Assim, o capitalista pode agora,quando necessitar, comprar o quê e quanto quiser,enquanto isso lhe for interessante.

Resumindo, mais importante que a especialização(com conseqüente aumento de qualidade do produto)decorrente da produção em rede, ou horizontalizada,está o benefício para quem desse método se utiliza dealcançar uma flexibilidade de fornecimento, reduçãoou mesmo a supressão de estoques e eliminação degastos com o local de trabalho. A vantagem daí decor-rente está em que os valores que seriam imobilizadosem estoques e imóveis poderem ser usados no desen-volvimento de outros produtos, repasse de dividendosaos acionistas ou, principalmente, sua aplicação nomercado de capitais.

A terceirização de serviços

Todo o raciocínio que até aqui se apresentou comrelação à terceirização na produção pode ser usadopara a terceirização de serviços.

Dentro do propósito de apenas adquirir aquilo queem dado momento seja necessário, as empresas passa-ram a terceirizar, também, os serviços por elas utiliza-dos em suas atividades. Exemplos mais clássicos destatendência foram a contratação de empresas de forne-cimento de alimentação, de prestação de serviços desegurança e mesmo de assessoria jurídica. Nestescasos não foram raras as contratações dos próprios ex-empregados, agora na qualidade de empresários daárea de serviços.

Se para os tomadores dos serviços terceirizados avantagem deste mecanismo está em se livrarem eles daresponsabilidade da administração dos mesmos (já sefala há algum tempo em quarteirização - empresasque administram as empresas terceirizadas), para osfornecedores destes mesmos serviços a liberdade deescolha pode não ser tão ampla assim. Dito de outraforma, se para os que contratam os serviços terceiriza-dos há uma vantagem financeira (caso contrário não ofariam), a opção pelo fornecimento desses mesmosserviços pode não se fundar nesta mesma racionalida-de, mas sim na pura e simples necessidade, por abso-luta falta de alternativa.

Muitos estudiosos do direito se detêm nessa reali-dade para combater a terceirização, sem notar se tratarde uma nova e irrecusável realidade econômica. Pre-tender que todo o trabalho seja realizado dentro e soba responsabilidade e risco do tomador dos serviços épretender fazer girar ao contrário a roda da história.Nem se pode pretender que o retorno ao cenário eco-nômico vigente entre 1945 e 1970 faria desapareceresta tendência, vez que, certamente, os ganhos decor-rentes do aumento da produção seriam canalizadospara o mercado financeiro, jamais para arcar com oscustos da internalização de todo o espectro produtivo.

Já estamos, assim, há mais de 20 anos, dentro de

um processo de mudança de paradigmas, que traz emsi todas as dores sociais dele decorrentes. Os livros dehistória, aliás, nos mostram que as mesmas dificulda-des ocorreram com a substituição do sistema feudalpelo capitalista, e dentro deste com o desaparecimentodos artesãos para a hegemonia do trabalho assalariado.

Dentro dessa condição ideal, a terceirização nadatem de ilícito. Muito ao contrário, encontra ela seufundamento legal no art. 170, parágrafo único da CF e594 do CC!

Mas, lamentavelmente, sobretudo em nosso país, aterceirização de serviços tem sido instrumento para seburlar direitos dos trabalhadores, o que gera a imperi-osa necessidade de se diferenciar a terceirização lícita

da ilícita, bem como as hipóteses de responsabilização- ou não - do tomador dos serviços terceirizados.

Terceirização lícita e ilícita

Costuma a doutrina mais autorizada classificar aterceirização como sendo lícita ou ilícita, sendo quena primeira a terceirização se daria nas atividadesmeio, gerando a responsabilidade subsidiária do toma-dor por eventuais créditos do trabalhador não saldadospelo fornecedor dos serviços, e na segunda - a terceiri-zação ilícita, realizada nas atividades fim - tornarianulo o liame jurídico entre o trabalhador e o fornece-dor de seus serviços, gerando o vínculo empregatíciodiretamente entre o trabalhador e o tomador de seusserviços. É este o entendimento jurisprudencial crista-lizado no Enunciado n. 331 do C. TST.

Ocorre, porém, que na prática é muito difícil se di-ferenciar a atividade meio da atividade fim de umaempresa, a começar que o exercício de uma atividadeeconômica traz em si tantas atividades acessórias que,face à sua relevância, podem se confundir com a ativi-dade principal. Há ainda a questão de que, tendo ocontrato social a função de fixar o objeto da pessoajurídica, nem sempre será ele claro neste sentido.

Na maioria dos casos esta classificação chega a serimpossível. Para exemplificar podemos pensar namovimentação de cargas dentro de uma fábrica depneus: será a atividade do empilhadeirista uma ativi-dade meio (mas os pneus - ou qualquer outra mercado-ria - não circulam sozinhos dentro da empresa) ou fim(mas se trata de uma indústria de pneus, e não de umaempresa de prestação de serviços de movimentação decarga)?

Dada a impossibilidade de se limitar a terceirizaçãode serviços dentro de uma atividade econômica - o seuuso tende ao infinito - tem-se que o enquadramento deuma atividade como sendo meio ou fim é impossível, eainda que não o fosse, seria insuficiente para caracte-rizá-la como lícita ou ilícita, com as conseqüênciasjurídicas acima citadas e de todos já conhecidas.

Aliás, chama a atenção o fato de que o poder am-plo que se dá ao intérprete da norma para classificar

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uma terceirização como lícita ou ilícita, sem que omesmo tenha a mais simples noção fática do que setrata, tem levado a situações de extrema injustiça, eisque a terceirização de uma atividade meio pode serfraudulenta, e uma realizada na atividade fim não oser, partindo-se sempre do princípio (inviável) de queessa classificação seria possível.

Não se pode presumir que toda e qualquer terceiri-zação seja ilícita. Trata-se de negócio jurídico e, desdeque atendidos os requisitos legais de validade do con-trato celebrado, válida ela será, mormente em face dodisposto no art. 5º, XXVI da CF, que garante o atojurídico perfeito e os retro citados artigos 170, pará-grafo único da mesma Carta Maior e 594 do CCB.

Dentro do setor secundário da economia - atividadeindustrial - não se tem notícia de fraudes aos trabalha-dores em face de terceirização realizada pelos capita-listas (6). A questão está, justamente, na terceirizaçãorealizada no setor terciário - prestação de serviços - daeconomia, posto que envolve a contratação de trabalhohumano, e não de produtos, como é o caso da terceiri-zação no setor secundário. Doravante será consideradono presente trabalho a terceirização na prestação deserviços.

De forma bastante sintética, pode-se dizer que aterceirização ilícita ocorrerá quando o tomador, pre-tendendo reduzir custos e responsabilidades, contratartrabalhadores por empresa interposta (a “marchanda-ge” do direito francês).

Aqui duas observações são oportunas. Primeira, ofato de pretender reduzir custos não traz em si qual-quer ilegalidade, pelo contrário, faz parte do meca-nismo de funcionamento do mercado dentro de umregime capitalista de produção. Muitos doutrinadores,ao que parece preocupados em dar uma aparênciamenos materialista a este mecanismo de administra-ção, o justificam como sendo em busca de um aperfei-çoamento nos serviços a serem prestados. Salvo me-lhor juízo, não há como dizer que o serviço devigilância, limpeza, etc. possa ser melhor realizado poruma empresa terceirizada do que por funcionários daprópria tomadora. Muito ao contrário! Segundo, nãose pode crer que alguém, deliberadamente, vise apenase tão-somente prejudicar seus empregados, sem seimportar com os ganhos financeiros daí advindos. Ocontrário é o que se dá: em busca de ganhos financei-ros desconsideram-se os direitos dos trabalhadores.

Ocorre, porém, e em se pensando em atividadesespecíficas, como serviços jurídicos, assessorias eco-nômicas, serviços e projetos de engenharia, etc., estaespecialização efetivamente se faça presente. Mas aíter-se-á o trato com profissionais liberais que dificil-mente pretenderiam ser empregados da tomadora.Inobstante a inexistência de estatísticas a respeito, éfato que o grosso dos processos de terceirização - eonde mais ocorrem violações aos direitos dos traba-lhadores - se dá nas terceirizações de pouca especiali-

zação profissional dos trabalhadores.Feitas estas considerações, e retornando já para a

questão da terceirização ilícita, decorrente da interme-diação de mão-de-obra, a doutrina e a jurisprudênciajá solucionaram a questão, havendo, para tanto, previ-são legal específica: para a caracterização do vínculoempregatício diretamente com o tomador basta, narelação fática existente, o preenchimento dos cincorequisitos previstos nos artigos 2º e 3º da CLT, quaissejam: ser o trabalhador pessoa física (7), exercendoseus serviços com pessoalidade, subordinação, deforma não eventual e mediante remuneração; presentesestes requisitos em sua totalidade, o disposto no art. 9ºda CLT será o fundamento jurídico para a declaraçãode nulidade do contrato formal de prestação de servi-ços e declaração do vínculo empregatício entre o tra-balhador e o tomador.

Os casos de terceirização ilícita ocorrem comgrande freqüência com as pseudocooperativas deprestação de serviços, serviços de segurança e vigilân-cia, sendo que os tribunais trabalhistas têm sido bas-tante rígidos na responsabilização dos envolvidos, nãoraras vezes atingindo aspectos criminais.

A responsabilidade na terceirização lícita

A terceirização de serviços, como espécie de atojurídico que é, gera aos contratantes direitos e obriga-ções. Em especial aos tomadores dos serviços gera,também, responsabilidades.

Na terceirização lícita se verifica uma relação jurí-dica entre o trabalhador e a empresa que o contrata - afornecedora dos serviços - relação esta normalmentede natureza trabalhista. Há, ainda, a relação entre estaempresa fornecedora dos serviços e aquela que a con-trata - a tomadora dos serviços - relação esta de natu-reza comercial.

Na relação entre o trabalhador e a empresa forne-cedora de seus serviços se aplicam as normas heterô-nomas e autônomas que regem as relações empregatí-cias. Ou seja, enquanto empregadora, esta empresadeve se responsabilizar pelo cumprimento de todas assuas obrigações decorrentes da relação empregatíciahavida com o trabalhador.

No que se refere à relação entre a fornecedora e atomadora dos serviços, os direitos e obrigações daspartes contratantes decorrerão das disposições contra-tuais e das disposições legais aplicáveis à esta mesmarelação contratual.

Mas haverá alguma responsabilidade do tomadordos serviços para com o trabalhador, vez que entreeles não há uma relação contratual direta, mas inter-mediada pela fornecedora dos serviços?

É sabido que no direito pátrio não há regulamenta-ção jurídica específica sobre a terceirização. O que há,em verdade, são construções doutrinárias e jurispru-denciais sobre o assunto, vigendo, na atualidade, o

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Enunciado n. 331 do C. TST, que em seu item IVdispõe, “verbis”:

"O inadimplemento das obrigações traba-lhistas por parte do empregador, implica a res-ponsabilidade subsidiária do tomador dos ser-viços, quanto àquelas obrigações, inclusivequanto aos órgãos da administração direta, dasautarquias, das fundações públicas, das empre-sas públicas e das sociedades de economiamista, desde que hajam participado da relaçãoprocessual e constem também do título execu-tivo judicial."

Dado que, em face do disposto no art. 5º, II da CF,tal enunciado não gera qualquer obrigação direta, massinaliza o entendimento jurisprudencial dominante (8),é de se indagar qual seria o fundamento jurídico para aresponsabilização subsidiária do tomador dos serviçosem face de eventuais créditos do empregado não sal-dados pelo fornecedor dos serviços. E a resposta seencontra no art. 186 do CC, que dispõe: "Aquele que,por ação ou omissão voluntária, negligência ou im-prudência, violar direito e causar dano a outrem, aindaque exclusivamente moral, comete ato ilícito". E doato ilícito surge a obrigação de indenizar o ofendido,conforme disposição do art. 927 do mesmo CódigoCivil.

Mas aqui se deve retornar à questão inicialmenteposta: de onde surge a responsabilidade do tomador?Pratica ele ato ilícito ao celebrar um contrato de natu-reza comercial com a empresa fornecedora de servi-ços?

Mais ainda, a doutrina e a jurisprudência costu-mam fundar a responsabilidade nas culpas “in eligen-do” e “in vigilando” do tomador dos serviços, partin-do-se do pressuposto que agiu ele com culpa aocontratar a empresa fornecedora dos serviços queviolou os direitos dos trabalhadores (culpa “in eligen-do”) e por não fiscalizar o cumprimento das obriga-ções trabalhistas daquela para com estes (culpa “invigilando”). Contra estes argumentos, e mais especifi-camente contra a alegada culpa “in eligendo”, poderiaser considerado que, dentro de um regime capitalista,é óbvio que a tomadora irá contratar os serviços daempresa que oferecer melhores preços e condições,afinal, é esta a finalidade maior da terceirização, comoanteriormente já analisado. Nada há de ilegal na con-tratação de quem ofereça um determinado bem ouserviço nas melhores condições, dentro de um regimede concorrência, fato aliás comum em nosso dia-a-diaenquanto consumidores!

Contra a culpa “in vigilando” caberia o argumentosegundo o qual a tomadora dos serviços não tem com-petência fiscalizatória, não pode exigir da fornecedora,a qualquer tempo, a exibição de seus livros e registrosfiscais, pois que tal competência só é dada às autori-dades estatais. E se estas não constataram, em tempo,o descumprimento das obrigações da fornecedora paracom o trabalhador, como exigi-lo da tomadora? Como

então fundar a responsabilidade da tomadora em ele-mentos dos quais ela não pode se utilizar? Não seria,então, o Estado o efetivo responsável pelos atos dafornecedora?

Tais contradições são apenas aparentes, e não sesustentam à uma análise mais cuidadosa das relaçõeshavidas entre as partes.

Em primeiro lugar há de se considerar o aspectoteleológico do direito do trabalho, que tem em vista,sempre, a melhoria das condições de trabalho dostrabalhadores (CF, 7º, “in fine”).

Mas importa especialmente à questão ora posta odisposto no art. 421 do CC, segundo o qual: "A liber-dade de contratar será exercida em razão e nos limitesda função social do contrato" (grifo nosso).

Quer dizer, se dentro do aspecto organizacional desua empresa pode o tomador de serviços decidir, ounão, pela contratação de empresas de prestação deserviços para o desempenho de atividades que, deoutra forma, seriam de sua própria responsabilidade,deverá ele ter em mente não só o aspecto econômico aíenvolvido, mas também os aspectos sociais relaciona-dos a esta operação.

Neste sentido, é necessário se abordar novamenteos elementos que a doutrina e a jurisprudência utili-zam para a responsabilização do tomador pelos crédi-tos trabalhistas do trabalhador não saldados pela for-necedora de seus serviços, quais sejam, as culpas “ineligendo” e “in vigilando”.

No que se refere à primeira delas - culpa “in eli-gendo” - é interessante se retomar as considerações deordem microeconômicas, mais precisamente a questãodo acesso às informações. A capacidade e facilidadedo capitalista às informações necessárias ao desenvol-vimento de suas atividades (custos, encargos fiscais,preços praticados pela concorrência, etc.) são conside-radas como instrumentos de sua atuação. Quanto mai-or o acesso às informações relativas ao seu negócio,maior a possibilidade de o empresário ser bem sucedi-do em relação aos concorrentes que não tenham aces-so às mesmas.

E se, para contratarem, o tomador e o fornecedorpodem e devem lançar mão da busca do maior númerode informações acerca de seu futuro parceiro contra-tual, em relação aos trabalhadores tal não se dá. Naterceirização de serviços, sobretudo naquelas ondeocorrem os maiores casos de violação a direitos tra-balhistas, os empregados costumam ser de baixa quali-ficação e pouca instrução, o que, aliado ao seu grau denecessidade de obterem uma fonte de renda, tornainviável se esperar dos mesmos qualquer consideraçãodesta natureza a respeito de quem os contrata. Maisque isso, não se pode esperar dos trabalhadores umapreocupação quanto à higidez financeira de quem ospretende contratar, quando se sabe do grave quadro dedesemprego que assola nosso país.

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Pois bem, no que se refere à capacidade de obten-ção de informações, é indiscutível que o tomador deserviços terceirizados pode, e deveria, ser extrema-mente criterioso ao contratar uma empresa fornecedo-ra de serviços terceirizados. Não se trata apenas depesquisar perante as Juntas Comerciais os dados rela-tivos à fornecedora, ou mesmo os serviços de proteçãoao crédito ou banco de dados dos tribunais trabalhistassobre o número de demandas em que aquela figuracomo ré, mas, também, de considerações de ordemmatemático-financeira, quer dizer, analisar se os pre-ços cobrados pela empresa fornecedora de serviçossão suficientes para o pagamento dos salários dostrabalhadores que serão postos a seu serviço, acrescidodos encargos sociais e lucro desta!

Dito de outra forma, pode o tomador apurar, faceaos salários médios praticados no mercado aos traba-lhadores que exercem os serviços disponibilizadospela empresa fornecedora, se esta terá como arcar comos salários, encargos fiscais e previdenciários sobre omesmo incidentes, os encargos tributários decorrentesdo exercício da atividade da fornecedora, bem comosua eventual margem de lucro. Com estas considera-ções simples, de ordem mesmo matemática, saberá otomador se a empresa fornecedora de serviços terceiri-zados é cumpridora de suas obrigações frente aos seusempregados e o fisco, ou não.

Como se diz popularmente, ninguém faz milagre,ou quando a esmola é muita, o santo deve desconfiar.Desta forma, se as contas não fecharem, deverá otomador evitar a contratação, pois que ali se tem fortesindícios de violações a direitos de terceiros perpetra-dos pela fornecedora, com os quais a tomadora nãopode compactuar.

Assim, reside aí a eventual culpa “in eligendo” dotomador dos serviços terceirizados.

Por sua vez, e no que se refere à culpa “in vigilan-do” da tomadora, é de se ver que, em âmbito contratu-al, poderá ela verificar se os cálculos aproximadosprocedidos para a isenção de sua culpa “in eligendo”

estão se realizando na prática. Para tanto, é interes-sante que faça constar no contrato a ser celebrado coma fornecedora de serviços a obrigatoriedade de estafornecer mensalmente, sob condição de não paga-mento do preço acordado, a relação dos empregadosque lhe tenham prestado serviços, os cartões de pontoe recibos de pagamento de salários dos mesmos, alémdas guias de recolhimento de FGTS, INSS e demaisencargos e obrigações trabalhistas exigíveis daquela.

É importante neste ponto recordar que na maiorparte das vezes as condenações atribuídas às tomado-ras de serviços terceirizados é grande porque em audi-ência se deu a revelia da fornecedora dos serviços, enão tem a tomadora a possibilidade de comprovaçãode cumprimento de parte das obrigações por partedaquela.

Se a tomadora condiciona o pagamento pelos ser-

viços prestados à entrega em cópia simples destesdocumentos, e efetivamente tal ocorrendo, não sepoderá atribuir à mesma a culpa “in vigilando” decor-rente da relação contratual havida com a empresa deserviços terceirizados, sem, com isso, caracterizar-seexercício de funções estatais.

A terceirização trabalhista e a relação processual

Se tudo o que se expôs até aqui tem natureza de di-reito material, é de se analisar também quando nassituações de terceirização ocorrem conflitos de inte-resses que sejam submetidos ao Judiciário Trabalhista.

Neste aspecto será necessário, antes de mais nada,verificar se se trata de terceirização lícita ou ilícita, ouseja, se se discutirá a responsabilidade subsidiária dotomador ou, no caso da terceirização ilícita, o vínculoempregatício direto entre este e o trabalhador.

Assim, quando se constatar que, em verdade, o tra-balhador era empregado do tomador de seus serviços,eis que presentes os requisitos para a caracterizaçãodeste vínculo (subordinação, onerosidade, não eventu-alidade e, principalmente a pessoalidade), dever-se-ápostular a nulidade do contrato de trabalho entre otrabalhador e a empresa fornecedora de mão-de-obra,ante o disposto no art. 9º da CLT, e a declaração dovínculo empregatício entre o agora Reclamante e aReclamada-tomadora dos serviços. Poderá a fornece-dora de mão-de-obra (formal empregadora do traba-lhador) constar, também do pólo passivo do feito paraque não se alegue, posteriormente, cerceamento dedefesa, embora a discussão principal seja, efetiva-mente, entre o trabalhador e a tomadora, bem comopara que não surjam incidentes frente a eventual pedi-do de intervenção de terceiros a ser solicitado pelatomadora. O melhor, todavia, é que se apresentempedidos sucessivos, o primeiro postulado o vínculoempregatício diretamente com a tomadora; caso omesmo seja julgado improcedente, postula-se a con-denação da prestadora de serviços e a responsabilida-de subsidiária da tomadora.

Por sua vez, se não caracterizado o vínculo empre-gatício entre a tomadora e o trabalhador, eis que aterceirização foi lícita, deverão ambas as empresasfigurar no pólo passivo do feito, a fornecedora demão-de-obra como devedora principal e a tomadoracomo subsidiária. E como há a possibilidade de otrabalhador prestar serviços para vários tomadores,deverá se atentar para o arrolamento de todos os to-madores, especificando cuidadosamente o períodotrabalhado para cada um deles, vez que a eventualresponsabilidade subsidiária se restringirá ao períodoem que o Reclamante para cada uma trabalhou.

Expostos os fatos, deverá se postular, no rol de pe-didos, a condenação da Reclamada-fornecedora nopagamento das verbas postuladas e a responsabilidadesubsidiária da tomadora caso aquela se mostre

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inadimplente quanto aos direitos do Reclamante.Caso uma ou mais tomadoras negue o trabalho do

Reclamante no período citado na exordial, caberá aeste provar ter laborado para a mesma, caso contrárioserá da Reclamada o ônus de provar que todos osdireitos do Reclamante foram quitados à época em queo mesmo para ela trabalhou - daí a importância doquanto se disse a respeito da exigência contratual defornecimento pela fornecedora à tomadora dos docu-mentos comprobatórios.

É de se notar que, ante eventual alegação da toma-dora de total quitação dos direitos do Reclamante - oque transmitiria a este o ônus probatório - pode o juizdevolver o ônus probatório à Reclamada ante o dis-posto no art. 6º do CDC, aplicável subsidiariamente aoprocesso do trabalho ante a previsão do art. 769 daCLT.

Por sua vez, comprovado que o Reclamante traba-lhou para a tomadora no período declinado na petiçãoinicial, a responsabilidade subsidiária se restringe aeste período, não se podendo responsabilizá-la peloque venha a ocorrer na relação fornecedora-trabalhador após a rescisão contratual entre aquela e atomadora. Dito de outra forma, a responsabilidadesubsidiária da tomadora da mão-de-obra se restringeao período em que manteve relação contratual com afornecedora. Se algum empregado desta vier a serdispensado neste período, só haverá responsabilidadedaquela se o trabalhador tiver para ela trabalhado. Porsua vez, se após rescindido o contrato entre as empre-sas, vier a fornecedora algum tempo depois a falir, nãopoderá a tomadora ser responsabilizada pelas verbas

rescisórias dos trabalhadores, ainda que tenham tra-balhado para a tomadora, vez que neste momento nãotem ela qualquer responsabilidade para com a forne-cedora ou com o trabalhador.

Com relação à falência da fornecedora de serviçosterceirizados (terceirização lícita), tem-se que a res-ponsabilização da tomadora, de natureza subsidiáriadependerá da extinção do processo falimentar sem aquitação dos direitos do trabalhador, salvo se se tratarde fornecimento de trabalho temporário, regulado pelaLei n. 6.019/74, quando a responsabilidade da toma-dora será solidária com a fornecedora, ante o dispostono art. 16 da mesma. Discordamos, assim, dos quefazem aplicação analógica do referido artigo para oscasos em que a prestação de serviços não tem carátertemporário, mas por tempo indeterminado, por falta deprevisão legal específica.

No que diz respeito à contestação das rés, há de seatentar para a natureza do pedido formulado na inicial.Assim, se o autor considera que a terceirização foiilícita, e postula o reconhecimento do vínculo empre-gatício diretamente com a tomadora, deverá esta, a parde eventuais questões preliminares, de natureza pro-cessual, discutir o mérito do feito, ou seja, a inexistên-cia do vínculo empregatício pretendido, demonstrando

que não se encontram presentes um ou mais dos requi-sitos dos arts. 2º e 3º da CLT.

Mas se o autor entende lícita a terceirização, fa-zendo figurar no pólo passivo do feito ambas as em-presas envolvidas - fornecedora e tomadora da mão-de-obra - deverá a primeira discutir o mérito dos pedi-dos, impugnando-os se for o caso, ao passo que àsegunda caberá discutir a sua responsabilidade, prin-cipalmente com relação ao período em que o Recla-mante eventualmente tenha efetivamente trabalhadopara ela.

Em audiência deverá a tomadora, quando deman-dada na qualidade de subsidiariamente responsável,fazer provas quanto ao trabalho prestado pelo traba-lhador à ela, ainda que tenha havido a revelia da pri-meira Reclamada/fornecedora de serviços. Afinal, aconfissão ficta abrange tão-somente a empresa revel, enão aquela que se fizer presente e apresentar sua defe-sa. Note-se, neste ponto, que em possuindo a tomadoraos documentos relativos à relação entre fornecedora etrabalhador/Reclamante, poderá fazer prova da quita-ção de verbas eventualmente pagas, bem como fazerinstrução acerca das matérias fáticas cabíveis, dado queseu interesse processual repousa na possibilidade de se vercondenada por conta da revelia da fornecedora.

Por fim, a execução da empresa tomadora que nasentença trânsita teve a sua responsabilidade subsidiá-ria declarada só poderá ocorrer após a certidão deinexistência de bens executáveis da fornecedora dosserviços, pois que só aí inicia a sua responsabilidade.

Conclusão

Muitas das dificuldades encontradas atualmentepelos operadores do direito do trabalho se fundam naincapacidade dos mesmos compreenderem a novarealidade que este ramo jurídico visa regular. Buscamo uso de tipos jurídicos aos quais os fatos já não maisse subsumem.

A terceirização, enquanto modelo de organizaçãodo trabalho num regime capitalista de produção éfenômeno atual e irreversível, e sua utilização, que já égrande, tende certamente a aumentar, no Brasil e nomundo. Aliás, muito do que se diz acerca da globali-zação tem a ver, em parte, com o fenômeno de sedelegar a terceiros a realização de atividades queoutrora eram realizadas pela própria empresa "terceiri-zante".

Se de um lado a demanda por serviços terceiriza-dos é promovida por empresas médias e grandes queoptam por dispensar seus empregados para delegar aterceiros (quando não estes mesmos empregados,agora na qualidade de empresários) a realização desuas atividades, a oferta por serviços terceirizadosmuitas vezes é garantida pelo enorme número de tra-balhadores dispensados, criando um círculo nemsempre virtuoso.

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Levados os conflitos de interesses à arbitragemestatal, deverão os operadores jurídicos bem tipifica-rem a relação fática havida: verdadeira relação deemprego maquiada de terceirização, que levará a ca-racterização do vínculo empregatício entre o tomadore o trabalhador, ou típica situação de terceirização demão-de-obra, quando surgirá para o tomador a respon-sabilidade subsidiária pelos créditos devidos àqueleque lhe prestou serviços, não saldados pela fornecedo-ra destes mesmos serviços.

Na relação processual, dever-se-á atentar para otipo de tutela pretendida - declaração do vínculo em-pregatício diretamente entre tomador e trabalhador oucondenação da fornecedora de mão-de-obra peloscréditos de seu empregado, com responsabilidadesubsidiária da tomadora, a qual se restringirá ao perí-odo em que houve relação jurídica entre elas, e desdeque o empregado tenha prestado serviços para estatomadora.

Há de se ter em mente que a terceirização não é,“per si”, ilegal, como não se pode pretender que otomador ou fornecedor da mão-de-obra terceirizadaestará sempre visando prejudicar os trabalhadores.Trata-se de nova forma de organização empresarial,sendo que no mais das vezes o fornecedor da mão-de-obra é um ex-empregado que, dispensado, nada maistinha a oferecer ao mercado que seu trabalho, agoraorganizado numa empresa de trabalho terceirizado.

Verifica-se, assim, que é muito grande a responsa-bilidade do operador do direito no trato desta matéria,pois que o descuido na análise da situação fática quelhe for eventualmente apresentada poderá, com grandefacilidade, criar grandes injustiças ou mesmo inviabi-lizar o sustento de inúmeras famílias, num mundoonde o trabalho tende a ser cada vez menos necessá-rio.

Por seu lado, os que tomam serviços de mão-de-obra terceirizada devem ter em mente que o contrato aser celebrado não envolve apenas seus interesses e daempresa fornecedora, mas traz consigo o sustento demuitas pessoas, daí a noção que se deve ter de carátersocial do contrato. Se é lícito que busque sempre oincremento de seus ganhos, deverá atentar para que,para obtê-lo, outros não sejam prejudicados. E paratanto poderá lançar mão de instrumentos já hoje ple-namente acessíveis, sob pena de responder por even-tual inadimplência dos fornecedores de serviços.

E, para concluir, deverão os operadores do direitodo trabalho buscar compreender cada vez mais a reali-dade fática onde o trabalho se desenvolve, deixandode lado seus conceitos prévios, suas convicções e suasideologias, para entender o “modus operandi” vigente,para só então tipificá-lo como lícito ou ilícito, buscan-do a responsabilização no segundo caso, tudo paraque, mais que a mera aplicação do direito, se faça averdadeira Justiça.

Notas de Rodapé:

(1) Juiz do Trabalho Substituto do TRT da 15ª Re-gião. Mestre e Doutor em Direito das Relações Sociaispela PUC/SP. Doutorando em Economia Aplicada -UNICAMP. Professor-Doutor concursado do Depar-tamento de Teoria Econômica do Instituto de Econo-mia da UNICAMP. [email protected] ;

(2) Neste ponto chamamos a atenção para o pro-blema de muitos discursos em defesa do papel político

a ser exercido pelo juiz quando da prolação da senten-ça, visto que, no mais das vezes, essa atividade é maisrestrita do que se pretende. Afinal, a divisão de pode-res ainda se encontra vigente na CF. Mais que isso, aformação e forma de recrutamento desses agentesestatais não lhes possibilita, ou mesmo permite, que searvorem na atividade de legisladores por analogia,criando direitos ou responsabilidades não previstas emlei, mormente em se considerando o constitucionalprincípio da legalidade. É o que ocorre com muitasteses que pretendem fazer a aplicação analógica da Lein. 6.019/74 aos casos de terceirização lícita, com vis-tas a responsabilização solidária entre fornecedor etomador de mão-de-obra em face dos créditos dotrabalhador.

(3) Essa passagem é magistralmente apresentadapor Max Weber em seu "Ética Protestante e Espíritodo Capitalismo".

(4) Em seu filme "Tempos Modernos", CharlesChaplin demonstra como a linha de produção, commáquinas movidas a eletricidade, retiram do trabalha-dor a possibilidade de controlar seu ritmo de trabalho,agora deixado nas mãos do empregador.

(5) Entendida aqui não como aquele prestado porum trabalhador a um capitalista, mas sim como formade organizar as suas atividades.

(6) Para repetir o exemplo já dado anteriormente,seria aqui a hipótese de uma montadora de automóveisterceirizar o fornecimento de pneus, vidros ou mesmoo sistema de transmissão dos veículos por ela produzi-dos.

(7) O simples fato de o trabalhador prestar serviçosatravés de uma pessoa jurídica, ainda que seja elepróprio o titular da mesma, não descaracterizará ovínculo empregatício, desde que se verifique a fraude

no uso da mesma, aliada à presença dos demais requi-sitos.

(8) Não se pretende minimizar o papel de fonte dedireito das súmulas de jurisprudência, mas apenasconsiderar-se a necessidade de fundamentação jurídicaespecífica da responsabilidade subsidiária nos casosde terceirização em vista do Princípio da Legalidadeprevisto no citado art. 5º, II da CF.

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ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região

2ª SDI 88/04-PDI2AÇÃO RESCISÓRIAProcesso TRT 15ª Região 7-2002-000-15-00-0 AREAutor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO –PRT DA 15ª REGIÃO1º Réu: NOROPEL EMBALAGENS LTDA2º Réu: J. M.

AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, III, CPC. COLU-SÃO. INDÍCIOS DE SIMULAÇÃO DE RELAÇÃOEMPREGATÍCIA. PROVIMENTO INDUZIDO DARECLAMATÓRIA.- Extraindo-se do conjunto probatórioemergente dos autos que as partes do processo principaldele se valeram com o único propósito de burlar a lei,impõe-se a desconstituição da sentença nele proferida,decretando-se ainda em novo julgamento a extinção dareclamatória com fundamento no art. 129 do CPC.

Trata-se de ação rescisória proposta pelo MinistérioPúblico do Trabalho - Procuradoria Regional do Trabalhoda 15ª Região em face de Noropel Embalagens Ltda e deJ. M., com o objetivo de rescindir a decisão homologató-ria do acordo firmado nos autos da reclamação trabalhistan. 1.225/99-0, que tramita perante a VT de Penápolis, emcujo feito figuram os últimos, respectivamente, comoreclamada e reclamante.

O autor invoca os arts. 485, inciso III, e 487, incisoIII, alínea “b”, do CPC, e alega ter havido colusão entreas partes na reclamatória a fim de fraudar a lei.

Foi deferido pedido de providência liminar, suspen-dendo-se a execução correspondente (fl. 130).

Citados os réus, somente o segundo réu se defendeu,propugnando pela improcedência da rescisória (fls.155/167). Anexou documentos (fls. 168/185). A procura-ção veio a fl. 190.

Réplica do autor a fls. 194/199.Indeferida a solicitação de oitiva de testemunhas pelo

segundo réu, foi encerrada a instrução processual(fl. 222).

Parecer do MPT opinando pela procedência do pleitorescisório (fl. 224/225).

Em cumprimento ao despacho de fl. 222, foram aspartes intimadas para oferecimento de razões finais, decujo expediente se valeu apenas o autor (fl. 231/233).

É o breve relatório.

VOTOPresentes os requisitos de processamento da ação,

dela conheço.

O MPT, por intermédio da PRT da 15ª Região, ajuízaa presente ação rescisória perseguindo a desconstituiçãoda decisão que homologou da avença entabulada na re-clamatória referida acima, em cujo feito são partes Noro-pel Embalagens Ltda e J. M., alegando colusão entre estesa fim de alcançar objetivo defeso em lei. Pugna ainda, emsede de “judicium rescissorium”, pela decretação daextinção do processo sem julgamento do mérito comfulcro nos arts. 9º, CLT e 129, CPC.

Depreende-se dos autos que o segundo réu pleiteoupor meio da citada reclamação trabalhista a condenaçãodo primeiro réu no pagamento de verbas decorrentes darelação empregatícia que por quase dezessete anos manti-veram, requerendo, outrossim, a rescisão indireta dopacto laboral, bem como o registro deste em sua carteirade trabalho. Designada audiência inaugural, a ela compa-receram as partes, as quais, a fim de dar cabo do proces-so, conciliaram-se segundo os termos constantes da ata dasessão judicial encartada a fl. 62. A avença foi homolo-gada (fl.72).

Quitadas apenas quatro de um total de quarenta par-celas mensais, noticiou o obreiro, passado mais de umano da homologação do ajuste, o seu descumprimento,requerendo a citação da empresa ora ré para pagamentointegral da dívida acrescida de multa moratória. Diante dainércia empresarial, foi penhorada parte ideal do imóvelem que se encontra estabelecido o primeiro réu (fl. 86),sobre o qual pendem diversas outras apreensões judiciais(fls. 123/125).

Esse é o breve resumo dos fatos ocorridos na recla-matória.

Indubitável se mostra, ante os elementos que acompa-nham a petição inicial da rescisória, a colusão indicadapelo autor, revelando-se claro o intento dos réus em bur-lar a lei com prejuízo para terceiros. Destaca-se, ademais,a utilização do segundo réu como “testa de ferro” doprimeiro para transferência de patrimônio deste, resguar-dando-o de eventual responsabilização pelo inadimple-mento de obrigações por ele assumidas.

Várias são as circunstâncias apontando para omesmo lado, em harmonia com o incisivo depoimentode fls. 107/108, prestado pela ex-mulher do então recla-mante J. M.

Primeiro, veja-se que não houve resistência nenhumada reclamada, que se omitiu até mesmo com respeito àocorrência da prescrição qüinqüenal, muito expressiva nocaso por tratar-se de relação de emprego que teria perdu-rado por mais de quinze anos. Pelo contrário, aderiu areclamada, já na audiência inicial, apesar das dificuldadeseconômico-financeiras por que passava, ao gravoso ajuste

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de fls. 62/63, homologado a fl. 72, acordo em que sefixou cláusula penal de multa de 30% sobre o saldo deve-dor na hipótese de inadimplência.

Em segundo lugar, a invulgar tardança do obreiro noinsurgir-se contra o não cumprimento do avençado (fl.75), indicativa de que se cuidava de uma farsa apenas, aomesmo passo em que se dava ensejo a que o débito seavolumasse.

Em terceiro lugar, a relação de parentesco entre o re-clamante e os proprietários da empresa reclamada (v.documento da Junta Comercial, de fls. 65/67), aquelesobrinho destes, relação referida no citado depoimento defls. 107/108 e não impugnada em defesa. Relação estafacilitadora da ação fraudulenta, como é natural.

Fortes são, portanto, os indícios que levam à conclu-são da tentativa de burla à lei. E nesta hipótese, ante apeculiar dificuldade em comprovar expressamente oânimo fraudulento das partes, deve o julgador, vaticinaManoel Antonio Teixeira Filho, valer-se de indícios epresunções (em Ação Rescisória no Processo do Traba-lho, LTr, São Paulo, 1991, p. 94).

Os indícios, vestígios característicos “que têm naverdade a vantagem de serem acessíveis a nossa per-cepção e apreensão actuais, mas que em si mesmosseriam juridicamente insignificativos se nos não per-mitissem uma conclusão para aqueles factos cuja sub-sunção às hipóteses legais se trata e a que nós chama-mos ‘factos directamente relevantes’” (Karl Ehgisch,em Introdução ao Pensamento Jurídico, 5ª edição,Calouste Gulbenkian, Lisboa, p. 72), servem comomeio de prova voltado à formação do convencimentodo julgador acerca de fatos alegados.

Tecendo comentários a respeito de seu valor probató-rio, leciona Júlio Fabbrini: “Diante do sistema da livreconvicção do juiz, encampado pelo Código, a provaindiciária, também chamada circunstancial, tem o mesmovalor das provas diretas, como se atesta da Exposição deMotivos, em que se afirma não haver hierarquia de provaspor não existir necessariamente maior ou menor prestígiode uma com relação a qualquer outra (item VI). Assim,indícios múltiplos, concatenados e impregnados de ele-mentos positivos de credibilidade são suficientes para darbase a uma decisão condenatória, máxime quandoexcluem qualquer hipótese favorável ao acusado” – (emCódigo de Processo Penal Interpretado, 1991, Atlas, SãoPaulo, p. 303).

Nessa toada, por intermédio de prova indiciáriacalcada em elementos de convicção sobre a veracidadeda narrativa fática contida na petição inicial, tem-seque os co-réus desvirtuaram em conluio a finalidadedo processo mediante ardis engendrados com o propó-sito de obter a chancela de ato ilegal, aviltando adignidade da Justiça, e em detrimento de demais cre-dores trabalhistas, previdenciários e tributários, sendo,pois, forçoso reconhecer a procedência do pedidoexordial, rescindindo-se por conseguinte a decisãohomologatória do acordo firmado nos autos da recla-mação trabalhista n. 1.225/99-0 da VT de Penápolis.

Procedente o pedido de corte rescisório, cumpre apre-ciar o reclamo formulado em sede de “judicium rescisso-rium”, o qual se me afigura igualmente acertado.

Nos termos do art. 129 do CPC está o juiz autorizado,de ofício ou mediante provocação, a obstar que as partesse sirvam do processo para praticar ato com fim proibidoem lei, declarando sem efeito qualquer tentativa nessesentido.

Eis o magistério de Humberto Theodoro Júnior, emCurso de Direito Processual Civil: “Cabe ao juiz impedirque as partes utilizem o processo para, maliciosamente,obterem resultado contrário à ordem jurídica. Quandoconcluir o magistrado que as partes estão manejando arelação processual para praticar ato simulado ou conse-guir fim proibido por lei, deverá proferir sentença queobste aos objetivos das partes...” (Editora Forense, 2001,vol. 1, p. 597).

Assim, uma vez desconstituída a decisão que homolo-gou o ajuste firmado na reclamatória, determino a extin-ção desta, na forma do art. 267, incisos IV e VI do CPC.

Face à conclusão adotada, remetam-se cópias da pre-sente decisão aos Ministérios Públicos Federal e Estadual,para apuração de eventual ato delituoso e imputação deresponsabilidades, como entenderem de direito, na formado art. 40 do CPP, devendo igualmente ser oficiada aOAB/SP, a fim de que tome as medidas cabíveis em rela-ção à burla reconhecida.

Diante do exposto, julgo PROCEDENTE a presenterescisória, para desconstituir a decisão homologatória doacordo firmado nos autos da reclamação trabalhista n.1.225/99-0 da VT de Penápolis, decretando ainda a extin-ção desse processo, de acordo com o art. 267, incisos IVe VI do CPC. Custas, pelos réus em idêntica proporção,calculadas sobre o valor dado à causa. Expeçam-se osofícios determinados na fundamentação.

MARIA CECÍLIA FERNANDES ALVARES LEITEJuíza Relatora

DOE 16/04/2004, p. 3.

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8ª Câmara 31.919/05-PATRRECURSO ORDINÁRIOProcesso TRT 15ª Região 00663-2004-002-15-00-71ª Recorrente: TAKATA –PETRI S/A1ª Recorrente: J. R. T.Recorridos: OS MESMOSOrigem: 1ª VT DE JUNDIAÍ

ACIDENTE DO TRABALHO. PEDIDOS INDENI-ZATÓRIOS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA OBREIRA(EC N. 45/04 E SÚMULA N. 735 DO STF).- Compete àJustiça do Trabalho a apreciação de pedido indenizatóriopor dano patrimonial ou moral decorrente de acidentetípico, doença profissional e do trabalho. (EC n. 45/04 eSúmula n. 735 do STF). INDENIZAÇÕES DECOR-RENTES DE DOENÇA OU MOLÉSTIA DO TRABA-LHO PLEITEADAS CONTRA O EMPREGADOR.- Orequisito básico é a existência de incapacidade, pois éesta e não a moléstia em si que é indenizável. Exige-se, outrossim, a caracterização do nexo causal e exis-

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Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005 135

tência de dolo ou culpa do empregador. (Inteligência dosarts. 7º, XXVIII, da CF e 159 e 1.536 (atuais 186, 927 e950), do CC.

Inconformadas com a r. sentença de fls. 249/251, cujorelatório adoto, que, após decidir que a Justiça do Traba-lho é incompetente para deferir e arbitrar indenizaçãoconsistente em valor mensal por moléstia imputada àscondições laborativas, julgou procedente em parte ademanda para condenar a reclamada, em virtude da mes-ma enfermidade, ao pagamento de indenização por danomoral no valor equivalente a 100 salários mínimos, recor-rem ambas as partes.

A reclamada, depois de argüir a incompetência daJustiça Obreira também para arbitrar indenização pordano moral em acidente do trabalho, entendendo sertal matéria da alçada da Justiça Estadual, postula, nomérito, a improcedência, sustentando que a autora nãocomprovou, como lhe competia, a existência doalegado dano moral.

A demandante, por sua vez, afirma que a apreciaçãode pedido indenizatório consistente em prestação mensalé da competência desta Especializada, nos termos do art.114 da Magna Carta, e pleiteia, em face da conclusãopericial, que se condene a ex-empregadora ao pagamentotambém dessa modalidade de indenização.

Apenas o recurso da reclamante foi respondido (fls.266/268), decorrendo “in albis” o prazo para contra-razões ao apelo da reclamada (fl. 268v).

Sem remessa dos autos à douta Procuradoria (arts. 110e 112 do Regimento Interno).

É o relatório.

VOTO

Preenchidos os pressupostos de admissibilidade,conheço.

INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHOCabe observar, de início, que a presente ação foi ajui-

zada na Justiça Estadual, tendo tramitado, até a fase dejulgamento, perante a 3ª Vara Cível de Jundiaí, oportuni-dade em que o ilustre magistrado, invocando a Súmula n.736 do STF, deu-se por incompetente, em razão da maté-ria, para decidir o litígio, determinando a remessa dosautos à Justiça do Trabalho (fl. 239).

A competência é mesmo desta Especializada para aapreciação da lide como um todo, de sorte que a argüiçãoda reclamada improcede.

Não se pode ratificar, outrossim, pela mesma razão, oentendimento da digna magistrada, no sentido de que aindenização consistente em parcela mensal estaria inse-rida “na esfera cível” (fl. 250).

Com efeito, se a jurisprudência já havia se firmadoquanto à competência desta Especializada ante o teor dodisposto no art. 114 da Magna Carta, antes da alteraçãoque lhe foi conferida pela EC n. 45/04, após a referidaEmenda a questão foi sepultada de vez, com o acréscimodo inciso VI, que dispõe expressamente ser competente aJustiça do Trabalho para processar e julgar as ações de

indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes

da relação de trabalho.

INDENIZAÇÕES DE NATUREZA ACIDENTÁRIAA afirmação da r. sentença de que “a responsabilidade

é objetiva” (fl. 250, 4º parágrafo) não encontra, “datavenia”, respaldo na norma constitucional que rege amatéria.

Diz, com efeito, o art. 7º da Constituição da Repú-blica:

“ART. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos erurais, além de outros que visem à melhoria de sua condi-ção social:

(“omissis”)XXVIII - seguro contra acidentes do trabalho, a cargo

do empregador, sem excluir a indenização a que este estáobrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;” (grifei)

Assim, a indenização, calcada no direito comum,pleiteada em face do empregador e tendo por fundamentoocorrência de natureza infortunística, depende da existên-cia de dolo ou culpa, conforme claramente estabelece ocitado preceito.

Nem poderia ser de outra forma.É que as ocorrências na órbita da infortunística geram

duas espécies de responsabilidade: uma do INSS, de

natureza objetiva, e outra, só eventualmente configurada,do empregador, em que se exige a presença do elemento

subjetivo.Com efeito, ocorrendo um acidente ou a eclosão de

uma doença em virtude do trabalho, a vítima faz jus,em face do INSS e desde que apresente incapacidadede natureza permanente, total ou parcial, à aposenta-doria por invalidez, se estiver inutilizada para o exer-cício de toda e qualquer profissão, ou ao auxílio-acidente de 50%, quando as seqüelas apenas reduzamseu potencial laborativo. Nesses casos, regidos pelaLei n. 8.213/91, o INSS, independentemente de qual-

quer investigação acerca da culpabilidade pelo evento,deverá pagar o benefício adequado, desde que pre-sentes apenas os seguintes requisitos: a) o nexo causal

entre a lesão e o trabalho e b) a existência de incapacidade,

total ou parcial, de natureza permanente.Além da responsabilidade da autarquia previdenciária,

que é, como salientado, de natureza objetiva, o trabalhadorvitimado por um acidente típico ou por uma enfermidadecausada pelas condições laborativas poderá também terdireito à indenização de responsabilidade do empre-gador. Esta, porém, exige, conforme estabelece o preceitoconstitucional acima transcrito, a presença de dolo ou de

culpa do empregador, uma vez que, repita-se, a respon-

sabilidade objetiva decorrente do mesmo fato é exclusi-vamente do INSS.

Assim, sempre amparado pelo benefício da Lei n.8.213/91 compatível com o grau de incapacidadeapresentado, o trabalhador poderá fazer jus, igual-mente, à indenização a cargo do empregador, uma vezque comprove ter este agido, no mínimo, com culpa.

Caso o empregador tenha, como é mais comum,agido culposamente, expondo o empregado a risco, éjusto que suporte a reparação decorrente de sua con-duta, situação em que a vítima acabará recebendo, naverdade, pela soma do benefício pago pelo INSS epela indenização a cargo do patrão, mais do que

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ganhava trabalhando na hipótese de incapacidade totale permanente. E no caso de incapacidade parcial,somados o auxílio-acidente e a prestação mensal devi-da pelo empregador, acabará recebendo o equivalentea uma verdadeira aposentadoria, embora ainda apre-sente capacidade residual para o trabalho.

Forçoso concluir, nesse contexto, que a responsabili-

dade objetiva do empregador, defendida por alguns,

além de conflitar frontalmente com a norma constitucio-

nal que dele exige conduta dolosa ou culposa, ainda

oneraria, de forma indevida, o patrão solerte na proteção

de seus empregados, o que é injurídico.

Em suma, quando a indenização pleiteada em face do

empregador estiver lastreada em fato infortunístico, é

indispensável tenha o mesmo agido com dolo ou culpa,

sendo do autor o ônus da prova do elemento subjetivo

alegado no caso concreto.

As ações acidentárias típicas, movidas sempre contrao INSS, são, como é sabido, da competência da JustiçaEstadual por força da ressalva contida no art. 109, incisoI, da Constituição da República, enquanto as ações inde-nizatórias calcadas no direito comum, que tramitavampela mesma Justiça, passaram para a esfera desta Espe-cializada após a EC n. 45/04, que deu nova redação aoart. 114 da Lei Maior, questão já anteriormente analisada.

Na esfera infraconstitucional, por outro lado, a maté-ria que passou para a competência da Justiça Obreira éregida pelo Código Civil, aplicando-se na espécie o esta-tuto de 1916, em obediência ao princípio de que, noâmbito do direito material, são aplicáveis ao caso con-creto as normas vigentes à época do fato, uma vez que aautora deixou o emprego em 03/08/01 (fl. 11), antes,portanto, da entrada em vigor do atual diploma.

Diz o art. 159 do anterior Código Civil:“ART. 159 - Aquele que, por ação ou omissão volun-

tária, negligência, ou imperícia, violar direito, ou causarprejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.”

Considerando a espécie de dano que aqui se discute, anorma aplicável, no que concerne à indenização, é a doart. 1.539 do mesmo diploma, que reza:

“ART. 1.539 - Se da ofensa resultar defeito pelo qualo ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ouse lhe diminua o valor do trabalho, a indenização, alémdas despesas do tratamento e lucros cessantes até o fim daconvalescença, incluirá uma pensão correspondente àimportância do trabalho, para que se inabilitou, ou dadepreciação que ele sofreu.”

Vê-se, portanto, que, quando se trate de incapacidade

para o exercício da mesma atividade profissional ou

depreciação da capacidade para exercê-la, a indenização,desde que tais limitações resultem de ato ilícito de ou-

trem, só é cabível se presente a real deficiência laborati-

va em qualquer desses dois graus.

Vale dizer que, no caso de acidente laborativo ou demoléstia causada pelas condições de trabalho em virtude,por exemplo, da negligência do empregador, não basta,para o cabimento de reparação por dano moral oumaterial, este consistente em pensão paga mensalmente, aexistência da enfermidade e seu nexo com o trabalho,sendo indispensável a efetiva caracterização da inca-

pacidade para o labor.

Em outras palavras, o que comporta indenização

não é a moléstia em si, mas a incapacidade dela

decorrente, se houver.

Considerando, portanto, que a existência de inca-

pacidade é o requisito primeiro para o cabimento daindenização a cargo do empregador, deve ser o

inicialmente analisado.Se presente tal requisito, deve-se passar, sucessiva-

mente, à análise do nexo causal e, somente se este tam-bém estiver caracterizado, terá pertinência a aprecia-

ção do dolo ou da culpa do empregador.Somente se todos esses requisitos estiverem

presentes é que terá cabimento a reparação pleiteadapelo empregado.

INDENIZAÇÃO POR DANO MORALO excelente laudo pericial concluiu que a reclamante

padece de síndrome do túnel do carpo bilateral, que avistoria revelou ter nexo com as condições de trabalho(fl. 160), embora não tenha descartado a menopausacomo agravante do quadro clínico (fl. 181).

A enfermidade, no entanto, apesar de compatível comDORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Traba-lho), é muito pouco expressiva, tanto que os inúmerostestes clínicos realizados foram quase todos negativos eos poucos positivos foram bastante discretos (fl. 146).

Por isso mesmo, o perito, no que interessa à soluçãodo presente litígio, afirmou:

“Pelos achados clínicos observados quando do examemédico e pelos dados obtidos nos testes específicos aosdiagnósticos das lesões osteomusculares tendíneas, temoscomo confirmado o quadro da patologia diagnosticada,qual seja, Síndrome do Túnel do Carpo em ambos osmembros superiores, compatível com quadro de DistúrbioOsteomuscular Relacionado ao Trabalho, atualmente no

estadiamento clínico de Grau I, com sintomatologiafrustra e pouco significativa, que confirmam a inexistên-

cia de déficit funcional permanente junto aos membros

afetados, não havendo como justificar a incapacidade

laborativa, mesmo parcial e permanente, para o exercício

de suas atividades habituais e/ou quaisquer outras, poisde acordo com o próprio estadiamento da moléstia, oquadro clínico apresentado não interfere na produtivi-

dade.” (fl. 179 – os grifos e destaques em itálico são dooriginal e lá grafados em tinta vermelha).

Em suma, o laudo foi enfático no sentido de que ine-xiste qualquer incapacidade laborativa. E sem esta não

cabe nenhuma indenização, conforme estabelece a

norma legal aplicável à hipótese, acima transcrita.A reclamante, aliás, está em gozo de aposentadoria por

tempo de serviço desde 17/03/97 (NB 42/106.500.926-4),conforme registrou o perito (fl. 141), o que significa que, mes-mo em gozo do referido benefício, continuou em atividadeaté 03/08/01 (fl. 11), numa evidente demonstração deplena capacidade para o trabalho, que não foi reduzidapelo discreto grau da moléstia que a acomete.

Verifica-se, outrossim, que o longo prontuário médicoda reclamante, que ingressou na empresa nos idos de12/03/74 (fl. 11), integralmente transcrito no laudo, mos-tra que ela, em 27 anos de serviço, foi atendida em virtu-de de dores em segmentos do membro superior direito em

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Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005 137

26/07/90, 06/09/90 (fl. 151), 23/05/97 e 13/05/99(fl. 153). Essas poucas ocorrências, a última delas mais dedois anos antes do desligamento do emprego, confirmamque não há, consoante concluiu o perito, qualquer incapa-cidade de natureza permanente.

Ausente, portanto, o requisito fundamental para o ca-bimento de indenização, a deferida na origem a título dedano moral não pode ser confirmada.

Oportuno observar, a propósito, que o perito fez a se-guinte afirmação:

“De acordo com a Tabela da SUSEP, as seqüelasapresentadas junto ao Membro Superior Direito daAutora, em face das doenças diagnosticadas, cujoestadiamento clínico atual é de grau I, encontra-seavaliada no âmbito indenizatório, de acordo com oparágrafo 1, do item I do Anexo III, em grau mínimo,

indenizável no percentual de 17,50% (ou seja, 25% de70% que equivale a perda total do uso de um dosmembros superiores).” (fl. 179).

Essa avaliação, porém, é aplicável apenas na área deseguros, em que a seguradora, por receber um prêmiopara garantir a higidez plena do segurado, deve, de formaobjetiva, indenizar a própria doença em função de seugrau, que corresponde a um percentual que deve incidirsobre o valor correspondente à perda funcional de deter-minado órgão.

Aqui, a disciplina jurídica é outra, pois a responsabili-dade do empregador perante o empregado, além de de-pender da existência de culpa, só é cabível, segundo osdispositivos do Código Civil que regulam o ato ilícito e aforma de sua indenização, quando exista incapacidadelaborativa. E como esta não está presente no caso, a análi-se da culpa restou prejudicada.

INDENIZAÇÃO NA FORMA DE PRESTAÇÃOMENSAL

Essa espécie de indenização não chegou a ser aprecia-da pela r. sentença, que entendeu tratar-se, como já ante-riormente dito, de matéria da competência da JustiçaEstadual (fl. 250).

A questão, todavia, deve ser solucionada nesta Es-pecializada, conforme antes salientado, nada impedin-do que, apesar de não haver sido decidida na origem, oseja agora, tendo em vista o disposto no art. 515 e emseu parágrafo 1º do CPC, dispositivos de aplicaçãosubsidiária nesta Justiça:

“ART. 515 - A apelação devolverá ao tribunal oconhecimento da matéria impugnada.

PARÁGRAFO 1º - Serão, porém, objeto de apre-ciação e julgamento pelo tribunal todas as questõessuscitadas e discutidas no processo, ainda que a sen-tença não as tenha julgado por inteiro.”

Assim, o tema relativo à pensão mensal deve ser deci-dido nesta sede.

Todavia, o recurso da reclamante, que busca essamodalidade de reparação, não comporta acolhimentopelas mesmas razões apontadas na análise da indeni-zação por dano moral, ou seja, em virtude da ausênciade incapacidade.

Ante o exposto, decido conhecer de ambos os recur-sos; negar provimento ao da reclamante e prover o dareclamada para julgar improcedente a ação.

VERA TERESA MARTINS CRESPOJuíza Relatora

DOE 15/07/2005, p. 38.

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1ª Câmara 39.459/05-PATRREMESSA DE OFÍCIO E RECURSO ORDINÁRIOProcesso TRT 15ª Região 1803-2002-030-15-00-1Recorrente: MUNICÍPIO DE IPAUSSURecorrido: A. L. G. M.Origem: VT DE OURINHOS

MANDADO DE SEGURANÇA. RECEBIMENTOCOMO RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. POSSIBILI-DADE.- A decisão de primeira instância que recebe man-dado de segurança como reclamação trabalhista, obser-vando o princípio do contraditório com ampla defesa, emnada prejudica as partes, devendo ser convalidada, por-que possível a adequação ao tipo de procedimento legal,ordinário ou sumaríssimo, em virtude da aplicação dosprincípios da transcendência e da instrumentalidade (arts.249, §§ 1º e 2º, 244 e 154, todos do CPC). SERVIDORPÚBLICO. CONTRATAÇÃO SEM CONCURSO PÚ-BLICO. ESTABILIDADE.- O servidor público em exer-cício há pelo menos cinco anos continuados e que nãotinha sido admitido na forma regulada no art. 37, da CFde 1988, goza de estabilidade na forma do art. 19/ADCT,sendo que a contagem de seu tempo de serviço comotítulo, quando de sua submissão a concurso público, nãoviola os princípios da impessoalidade e da igualdade, facea admissão expressa deste procedimento pelo § 1º do art.19/ADCT.

RELATÓRIO

A reclamante impetrou ação de mandado de segurança compedido liminar perante o Juízo de Direito da Vara Distrital dacidade de Ipaussu/SP pretendendo a concessão da segurançapara reconhecer a nulidade do ato administrativo declarando anulidade da rescisão contratual, determinando-se a sua efetivareintegração ao cargo (emprego) público, com pagamento detodos os vencimentos devidos, desde a demissão, deduzindo-seos valores percebidos quando do exercício interino no cargo deSecretária Municipal, tudo conforme razões de fls. 2/7.

O Juízo de Direito da Vara Distrital de Ipaussu, entendendopresentes os requisitos de “fumus boni iuris” e “periculum inmora”, deferiu a liminar, até final decisão, determinando arequisição de informações à autoridade coatora (fl.20 e 20-v).

A autoridade dita coatora argüiu preliminar de incom-petência material, com as razões de fls. 24/29, instruindoa petição com votos de fls. 30/38, apresentando defesa,propugnando pela revogação da liminar e improcedênciada ação, com as razões de fls. 39/46.

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Relegou-se a apreciação da preliminar de incompe-tência para a época da prolação da sentença (fl. 63).

O D. Ministério Público Estadual emitiu parecer opi-nando pelo deferimento da inicial, concedendo-se a segu-rança pleiteada para reintegrar a reclamante ao cargo(emprego) anteriormente ocupado, tornando definitiva aliminar concedida (fls. 64/74).

A autoridade dita coatora impetrou recurso deagravo retido (fls. 76/78), o qual foi recebido, con-forme despacho de fl.79.

O juízo cível julgou procedente a ação, concedendo asegurança, reconhecendo a nulidade da portaria que dis-pensou a impetrante e determinou a sua reintegraçãodefinitiva no emprego (fls. 80/85).

Contra a r. sentença, o impetrado interpôs recurso deapelação reiterando pedido de apreciação do agravoretido e, no mérito, pretendendo a reforma da r. sentençapara julgar improcedente o “mandamus” (fls. 89/96).

O impetrante apresentou contra-razões, propugnandopela manutenção, “in totum”, da sentença prolatada (fls.98/101), tendo apelado, adesivamente, pretendendo acondenação da autoridade dita coatora no pagamento dehonorários advocatícios (fls. 102/104).

O recurso do impetrado foi recebido em ambos osefeitos, sendo recebido, também, o recurso da impetrante(fl. 105), remetendo-se ao órgão do D. Ministério PúblicoEstadual, que emitiu parecer no sentido de ser negadoprovimento ao recurso (fls. 104/106).

Concedeu-se vista dos autos ao Sr. Procurador-Geralde Justiça (fl. 117), sendo exarado o parecer de fls.118/119, no sentido de se negar provimento ao recurso.

O Egrégio Tribunal de Justiça, após verificados ospressupostos recursais (fl. 122), reconheceu a incompe-tência da Justiça Comum Estadual, determinando a re-messa dos autos a esta Justiça Especializada, mantendo aliminar deferida (fls. 126/130 e 133 e 136).

Recebidos os autos nesta Justiça Especializada, ojuízo “a quo” recebeu a ação como reclamação trabalhis-ta, designando audiência una para tentativa conciliatória eeventual produção de provas (fl. 138), sendo o municípiocitado para comparecer à audiência designada e apresen-tar sua contestação, sob pena de revelia e confissãoquanto à matéria de fato.

Em audiência, as propostas conciliatórias foram re-jeitadas, sendo deferida a juntada de petição e documen-tos, pela reclamante, com o objetivo de embasar as argu-mentações da inicial, além de procuração constituindonovo advogado, concedendo-se vista ao município, quenão se opôs à juntada, tendo este juntado contestação,esclarecendo tratar-se apenas da conversão das alegaçõesjá formuladas em sede de informação no mandado desegurança, em contestação trabalhista, juntando-se, ainda,procuração e preposição (fl. 147).

Concedeu-se vista da contestação à reclamante, a qualreiterou os termos da inicial.

As partes prescindiram da produção de provas, encer-rando-se a instrução processual, com razões finais remis-sivas, sendo julgada procedente a ação, conforme senten-ça de fls. 180/186.

Além da remessa oficial, o reclamado recorre contra ar. sentença, pretendendo a reforma do julgado para julgar

improcedente a ação, expendendo suas razões às fls.189/194.

Não houve contra-razões.O D. Ministério Público do Trabalho opinou pelo co-

nhecimento e desprovimento da remessa oficial e dorecurso ordinário (fls. 201/203).

É o breve relatório.

VOTO

1 – DA ADMISSIBILIDADEConheço da remessa necessária por imperativo le-

gal, bem como do recurso voluntário porque presentesos pressupostos objetivos e subjetivos deadmissibilidade.

2 – DA ADEQUAÇÃO DO PROCEDIMENTOO recebimento da ação de mandado de segurança

como reclamação trabalhista em nada prejudicou aspartes, pois, observado o princípio do contraditóriocom ampla defesa por parte do reclamado, devendo serconvalidada a decisão de primeira instância, pois,aplicáveis os princípios da transcendência e da instru-mentalidade: o primeiro, verdadeira viga mestra detoda a estrutura de moderação ou de impedimento dadeclaração de nulidade, uma vez que não existe nuli-dade sem prejuízo para a parte que a alega (arts. 794,da CLT, e 249, §§ 1º e 2º, do CPC), enquanto o segun-do encontra sede nos arts. 244 e 154, do CPC, consa-grando, ainda que implicitamente, o reconhecimentode que as formas processuais não são um fim em simesmas, mas, meros meios de atribuir legalidade ex-trínseca aos atos do procedimento, sendo válido o ato,quando, embora, a lei prescreva determinada forma,sem cominação de nulidade para o caso de inobser-vância, o ato praticado de modo diverso alcance amesma finalidade (Manoel Antonio Teixeira Filho,“in” Sistemas de Recursos Trabalhistas, Editora LTr,4.ed., 1991, p. 155-156).

Ante o exposto, mantenho a decisão de origem, querecebeu a ação de mandado de segurança como reclama-ção trabalhista, adotando-se o procedimento previsto naCLT, uma vez que, em sendo possível adaptar-se o tipo deprocedimento legal, não se indefere a petição inicial,conforme inteligência contida no art. 295, V, parte final,do CPC.

3 – DO MÉRITO

Tendo em vista a identidade de objetos, a remessa ofi-cial e o recurso voluntário da reclamada serão apreciadosconjuntamente.

A decisão do Tribunal de Contas não tem o condão deinvalidar os atos jurídicos que importaram na homolo-gação do concurso público e na nomeação da reclamantepara o exercício do emprego público, pois esta invalida-ção somente pode ser efetivada por ato do próprio enteadministrativo que praticou o ato, ou então, por sentençajudicial que declara a sua imprestabilidade jurídica e oretira do mundo do Direito, tratando-se, neste últimocaso, de ANULAÇÃO.

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Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005 139

Nesse sentido é o magistério de Diógenes Gaspa-rini, “in” Curso de Direito Administrativo, Ed. Sarai-va, 1993, 3.ed., p.105:

“A competência para promover a retirada do ordena-mento jurídico de um ato administrativo ilegal é tanto daAdministração Pública como do Poder Judiciário. Noprimeiro caso, diz-se invalidação. É efetivada por outroato administrativo. Destarte, há necessidade de um atoadministrativo que declare a invalidade e retire o atoassim declarado do ordenamento jurídico. A palavrainvalidação indica, por si só, a sede (administrativa) ondese dá a retirada do ato administrativo. Por essa razão apreferimos.

No segundo caso, diz-se anulação. É efetivada porsentença judicial que declara a sua imprestabilidade jurí-dica e o retira do mundo do Direito. A expressão anula-ção, por si só, esclarece a sede judicial onde ocorre aretirada do ato ilegal. Nada nos anima a dizer anulaçãopela Administração Pública como sinônimo de invalida-ção ou invalidação pelo Judiciário como sinônimo deanulação. Desse modo, são sujeitos ativos da invalidaçãoa Administração Pública, que age “sponte propria” ouprovocada, e o Poder Judiciário, que só atua sob provoca-ção. Dentro de cada um dos Poderes, diga-se, a compe-tência para invalidar é da autoridade indicada em lei.

Não cabe ao Legislativo invalidar atos administra-tivos, conforme já sentenciou o STF (RDA,112:196).Nem mesmo a competência que a CF outorgou a essePoder para sustar atos normativos que exorbitem dopoder regulamentar (art. 49, V) pode ser tida comoatribuição para declarar a invalidação de atos admi-nistrativos.”

Portanto, sendo o Tribunal de Contas um órgão au-xiliar do Poder Legislativo, nada tendo a ver com oPoder Judiciário, as decisões por ele proferidas nãotêm o efeito de, por si só, invalidar o ato administrati-vo acoimado de nulidade, pois para que este seja reti-rado do universo jurídico é imprescindível que haja ainvalidação pelo próprio órgão que o praticou ou aanulação por sentença judicial.

Vale lembrar que as decisões dos Tribunais de Contassão despidas de natureza jurisdicional, tendo jaez mera-mente administrativo.

J. Cretella Júnior entende que “nenhuma das tare-fas ou atividades do Tribunal de Contas configuraatividade jurisdicional, pois não se vê, no desempenhodessa Corte de Contas, nem autor, nem réu, nem pro-positura de ação, nem provocação para obter prestaçãojurisdicional, nem inércia inicial, nem existência deórgão integrante do Poder Judiciário, nem julgamentode crimes contra a administração. Ao contrário, asatividades do Tribunal de Contas, tipicamente adminis-trativas são...” (“Natureza das Decisões do Tribunal deContas”, “in” RDA 166/1 - grifos do original).

Hely Lopes Meirelles classifica as atribuições do Tri-bunal de Contas em opinativas, verificadoras, assessora-doras e jurisdicionais administrativas (Direito Adminis-trativo Brasileiro, 14.ed., 1989, p.662). Em nota derodapé (nota 1, p.662) estabelece a distinção entre “juris-dicional” e “judicial”, para afirmar que “somente o PoderJudiciário tem o monopólio da jurisdição ‘judicial’, isto é,

de dizer o direito com força de coisa julgada. É por issoque a jurisdição do Tribunal de Contas é meramenteadministrativa, estando suas decisões sujeitas à correçãodo Poder Judiciário, quando lesivas de direitoindividual,...” (grifos do original).

José Afonso da Silva, endossando a posição de Car-dona, entende “que o Tribunal de Contas é um órgãotécnico, não jurisdicional. Julgar contas ou da legalidadede atos para registros é manifestamente atribuição decaráter técnico” (Curso de Direito Constitucional Positi-vo, 5.ed., 1989, p. 632).

Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, após analisar ospontos de vista de Seabra Fagundes, Pontes de Miranda eCastro Nunes (este último considerava jurisdicional ojulgamento das contas, mas atividade administrativa ojulgamento da legalidade dos contratos, aposentadoriasetc.), deles dissente, pois “há de entender-se que, emambas as hipóteses, o Tribunal de Contas só possui fun-ção administrativa de acompanhar a execução orçamentá-ria e apreciar as contas dos responsáveis por dinheiros oubens públicos” (Princípios Gerais de Direito Administra-tivo, 1.ed., 1974, v. II, p. 171 - grifos nossos).

Respondendo ao argumento de que a apreciaçãopela Justiça Comum de fatos já apurados pelo Tribunalde Contas constituiria um “bis in idem”, salientaOswaldo Aranha Bandeira de Mello que: “Não se tratade rejulgamento pela Justiça Comum, porque o Tribu-nal de Contas é órgão administrativo e não judicante, esua denominação de Tribunal e a expressão julgarambas são equívocas. Na verdade, é um Conselho deContas e não as julga, sentenciando a respeito delas,mas apura da veracidade delas para dar quitação aointeressado, em tendo-as como prestadas, ou promovera condenação criminal e civil dele, em verificando oalcance. Apura fatos. Ora, apurar fatos não é julgar.”(Revista do Direito Administrativo, 185/66).

A CF de 1988 consagra, segundo pensamos, a natu-reza administrativa do Tribunal de Contas e de suasdecisões.

Ao tratar da fiscalização contábil, financeira e orça-mentária, seu art. 71, “caput”, estatui que “o controleexterno, a cargo do Congresso Nacional, será exercidocom o auxílio do Tribunal de Contas da União”. Essepreceito é reproduzido pelo art. 33 da Constituição Pau-lista de 1989, que, por força da regra do art. 75 da Cons-tituição da República, comete o controle externo à As-sembléia Legislativa “com o auxílio do Tribunal deContas do Estado”.

Não é admissível enquadrar os Tribunais de Contascomo órgãos do Poder Judiciário, quando a Constituição,expressamente, os define como órgãos auxiliares do Po-der Legislativo, disciplinando-os como tal em seçãoespecífica voltada para esse Poder (CF 88, Seção IX, doCapítulo I, do Título IV).

O Executivo, o Legislativo e o Judiciário são Pode-res independentes entre si, embora harmônicos (CF 88,art. 2º). Inconcebível que o Tribunal de Contas, queauxilia o Poder Legislativo no controle externo, possaestar integrado ao Poder Judiciário. Se fosse órgãodeste, haveria de ser independente e não auxiliardo Legislativo.

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140 Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005

O art. 92 da CF, em consonância com essas dispo-sições, define quais os órgãos do Poder Judiciário. Fá-lo em capítulo próprio (III) do mesmo Título IV. Nes-se elenco não figura o Tribunal de Contas da União.De igual conteúdo é a disposição do art. 54 da Cons-tituição Paulista de 1989, “ex vi” do preceituado peloart. 125 da CF.

Por tudo quanto exposto, conclui-se que o concursopúblico no qual a reclamante foi aprovada permanecesurtindo todos os efeitos jurídicos que lhe são inerentes,pois, o ato tornando sem efeito a nomeação da reclamantepara o emprego de Secretária Municipal, em decorrênciade concurso público anulado (fl. 9), não observou o devi-do processo legal administrativo, sendo perfeitamenteaplicável ao caso vertente a Súmula n. 20 do ExcelsoSTF, pois a reclamante foi nomeada no dia 08/08/95,quando ainda vigente a redação do art. 41 da Carta Mag-na, anterior à EC n. 19, de 04/06/98 (DOU 05/06/98), aqual estabelecia que, “São estáveis, após dois anos deefetivo exercício, os servidores nomeados em virtude deconcurso público”, não fazendo nenhuma distinção entreservidores estatutários e servidores celetistas, tanto que opróprio Colendo TST reconheceu que “o servidor públicoceletista da administração direta, autárquica ou fundacio-nal é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41da CF/1988”, conforme a Súmula n. 390 (Resoluçãon. 129/05, DJ 20/04/05).

Como se vê, quando editada a Portaria n. 323/98, de15/10/98, declarando sem efeito a nomeação da recla-mante para o cargo (emprego) de Secretária Municipal(fl. 9), a mesma já havia adquirido estabilidade no serviçopúblico, pois, admitida no dia 08/08/95, tendo completa-do os 2 (dois) anos no dia 08/08/97, portanto, antes daedição da EC n. 19/98, não tendo esta efeito retroativo, emuito menos o ato administrativo declarando sem efeito asua nomeação, sendo que, conforme ressaltou o D. Mi-nistério Público Estadual, “não há comprovação de que aservidora empossada favoreceu-se da nulidade invocadapelo Egrégio Tribunal de Contas, daí ser indispensável ocontraditório” (fl. 67, terceiro parágrafo).

O princípio do contraditório deveria ter sido observa-do, ainda mais considerando que a reclamante é terceirade boa-fé, sendo detentora de direito adquirido face àadministração (cf. Parecer do Ministério Público - fl. 68,segundo parágrafo), tanto que a reclamante já trabalhava

no município desde 29/09/80, na função de Auxiliar deEscritório (cf. ficha de registro de empregados – fls. 16 e48), concluindo-se que a mesma já era estável no serviço

público, nos termos do art. 19, “caput”, do ADCT, tendose submetido a concurso público contando-se o seu tempode serviço como título, conforme expressamente admite o

§ primeiro ao art. 19/ADCT, portanto, nem o Tribunal deContas e nem o Município poderiam ter anulado o con-curso da reclamante, com o argumento de que a contagemdo tempo de serviço como título constituía-se em irregu-laridade por inobservância do princípio constitucional daimpessoalidade (fls. 51/54).

A conclusão inarredável é que, mesmo que não seacolhessem os fundamentos exarados na primeirainstância, ainda assim, a reintegração da reclamante émedida que se impõe, pois o servidor público em

exercício há pelo menos cinco anos continuados e quenão tinha sido admitido na forma regulada no art. 37,da CF de 1988, goza de estabilidade na forma do art.19/ADCT, sendo que a contagem de seu tempo deserviço como título, quando de sua submissão a con-curso público, não viola os princípios da impessoali-dade e da igualdade, face a admissão expressa desteprocedimento pelo § 1º do art. 19/ADCT, já citado.

Assim, quer pelos fundamentos exarados no parecerdo D. Ministério Público Estadual (fls. 64/74), acolhidona r. sentença de fls. 80/85, ratificados no parecer de fls.107/113 e no parecer da 4ª Procuradoria de Justiça de fls.148/149, quer pelos fundamentos exarados na r. sentença(fls. 180/186), e, ainda, pelos fundamentos do D. Ministé-rio Público do Trabalho (fls. 201/203) e mais os funda-mentos acrescentados nestas razões, impõe-se manter a r.sentença que confirmou a liminar já concedida e conde-nou o município a reintegrar a reclamante ao empregoantes ocupado na administração pública municipal, nasmesmas bases contratuais vigentes ao tempo de seudesligamento.

POSTO ISTO, decido: CONHECER da remessa ne-cessária e do recurso ordinário interposto e, no mérito,NEGAR-LHES PROVIMENTO, nos termos da funda-mentação.

JOÃO BATISTA DA SILVAJuiz Relator

DOE 15/07/2005, p. 38.

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11ª Câmara 40.250/05-PATRRECURSO ORDINÁRIOProcesso TRT 15ª Região 2065-2004-001-15-00-6-RORecorrente: J. R. V.Recorrido: CONDOMÍNIO RESIDENCIAL DOUTORMARCONDES FILHOOrigem: 1ª VT DE CAMPINAS

Trata-se de recurso ordinário apresentado pelo autorem face da decisão que acolheu a prescrição total dodireito de ação. Apresenta preliminar de nulidade deprestação jurisdicional, afirmando que o MM. Juízo nãose pronunciou objetivamente sobre as teses das partes. Nomérito, assevera que o prazo de cinco anos de suspensãocontratual do aposentado por invalidez, invocado emsentença, não existe na legislação previdenciária, tornan-do insubsistente a prescrição total acolhida. Pede a refor-ma no sentido da concessão dos pedidos iniciais.

A reclamada respondeu em fls. 80/2.É o relatório.

VOTOEXAME PRELIMINAR

Recurso tempestivo (considerando que não houve ex-pediente em 08/12/04, embora não tenha sido certificadonos autos), com representação regular. O reclamante

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Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005 141

estava dispensado das custas processuais. Enseja conhe-cimento, porquanto presentes os pressupostos deadmissibilidade.

PRELIMINAR DE NULIDADE

Não há irregularidade alguma. O Juízo acolheu a ale-gação de prescrição total e extinguiu os pedidos comjulgamento de mérito, nos termos do art. 269 do CPC.Houve, portanto, o devido pronunciamento sobre todas asquestões apresentadas, não havendo se falar em negativade prestação jurisdicional.

PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO

A extinção dos títulos contratuais a partir da prescri-ção do direito de ação deve ser mantida, embora nãopelos fundamentos indicados na origem, “data venia”.

Isso porque a legislação previdenciária em vigor nãomais contempla a “efetivação” da aposentadoria porinvalidez a que alude o “caput” do art. 475 consolidado.Isso se percebe pela redação do art. 47, II, da Lei n.8.213/91, que aponta especificamente a hipótese de retor-

no à atividade do aposentado por invalidez após o prazo

de cinco anos. A extinção “automática” do contrato detrabalho oriunda da transformação da aposentadoria emdefinitiva não mais existe, em virtude da ausência legaldessa figura de “transformação”.

O C. TST já pacificou a interpretação dessa matéria,consoante sua Súmula n. 160, recentemente confirmada:

“APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. Cancelada a

aposentadoria por invalidez, mesmo após cinco anos, o

trabalhador terá direito de retornar ao emprego, faculta-

do, porém, ao empregador, indenizá-lo na forma da lei.

Ex-prejulgado n. 37.”

Incorreto, portanto, que se conte nestes autos o biênioprescricional a partir do qüinqüênio posterior à aposenta-doria, já que não houve a extinção do contrato.

E nem se diga que o reclamante “concordou” com aextinção do liame, como quer a ré. A ata de fl. 66indica que, realmente, as partes tencionavam a resili-ção contratual; mas não veio aos autos qualquer do-cumento demonstrando a formalização desse distrato(TRCT), ao passo que, se isso realmente tivesse ocor-rido, com certeza o autor já teria sacado o FGTS (sal-do de fl. 19).

Essa constatação, porém, não socorre o autor, pelomenos não de todo. É que, também diversamente doque esposado na origem, a suspensão do contrato detrabalho não importa na suspensão dos prazos pres-

cricionais, à míngua de legislação que preveja talhipótese. As causas suspensivas da prescrição estãorelacionadas nos arts. 197 a 200 do CC, nas quais,mesmo por analogia, não há espaço para inclusão dahipótese dos autos. Nota-se, pela leitura dos dispositi-vos civis referidos, que todas as causas aludem a umaimpossibilidade ou incapacidade do titular do direito

em promover sua defesa, ainda que por meio de repre-sentante legal ou convencional; claro, portanto, quenão é o caso do autor, o qual, embora incapacitadopara o trabalho, poderia perfeitamente propor açãoreivindicando as pretensões contratuais trabalhistas doperíodo anterior à jubilação.

Por esse fundamento, devem ser reconhecidas comoprescritas todas as pretensões salariais oriundas do con-trato de trabalho, já que sua “actio nata” ocorreu há maisde cinco anos da propositura da demanda, esta datada deoutubro/2004.

A única exceção ocorre quanto aos depósitos deFGTS, cuja prescrição, nos termos da Lei n. 8.036/90 eda Súmula n. 362 do C. TST, é de 30 anos.

Acolho em parte a alegação do recorrente, pelo ex-posto, para afastar a ocorrência de extinção contratuale admitir a discussão sobre o FGTS do período con-tratual, observando a prescrição trintenária. Mantenho,contudo, a extinção com julgamento de mérito dosdemais pedidos formulados, porquanto irremediavel-mente prescritos.

MÉRITO. DO FGTSA reclamada afirmou que os valores fundiários foram

corretamente recolhidos. Tratando-se de oposição de fatoextintivo da pretensão original, cabia-lhe a prova. A do-cumentação juntada, no entanto, é silente sobre os depó-sitos do período invocado na inicial, fl. 06, qual seja, oano de 1993 e o primeiro semestre de 1994.

Julgo procedente em parte o pedido da letra “i” defl. 07, para condenar a reclamada nos depósitos deFGTS do período de janeiro/1993 até junho/1994. Aimportância será apurada em liquidação de sentença erecolhida à conta vinculada do autor, em face da ine-xistência, nos autos, de motivo para o saque. Rejeito apretensão de multa de 40%, em virtude da não ocor-rência de rescisão imotivada.

Por ausentes os requisitos da Súmula n. 219 do C.TST, na medida em que o autor decidiu por contrataradvogado particular ao invés de obter assistência sindical,rejeito a pretensão de honorários advocatícios.

Com base em tais fundamentos, decido: conhecerdo recurso do reclamante e dar-lhe parcial provimento,para afastar a prescrição em relação ao pedido dediferenças de FGTS e, em mérito, reputar procedentetal pleito, condenando a reclamada no pagamento dosvalores fundiários do período de janeiro/1993 a ju-nho/1994, consoante se apurará em liquidação.

Arbitrado o valor da condenação em R$ 400,00,com custas de R$ 10,64 pela reclamada.

REGINA DIRCE GAGO DE FARIA MONEGATTOJuíza Relatora

DOE 26/08/2005, p. 66

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142 Caderno de Doutrina e Jurisprudência da Ematra XV, v.1, n.4, jul./ago. 2005

EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região

AÇÃO1. CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO DE RECURSOORDINÁRIO. CABIMENTO.- A ação cautelar é meioadequado para se obter efeito suspensivo de recursoordinário interposto contra antecipação da tuteladeferida na sentença que determinou a reintegraçãoimediata do trabalhador, independentemente de seutrânsito em julgado. REINTEGRAÇÃO DEFERI-DA EM TUTELA ANTECIPADA. IMPOSSIBILI-DADE.- Não se justifica antecipação da tutela paradeterminar a reintegração de empregado, à exceçãodas hipóteses previstas nos incisos IX e X do art.659 Consolidado (Inteligência da OJ n. 87 daSBDI-2 do C. TST). TRT/SP 15ª Região 431/05-000 -Ac. 7ª Câmara 28.121/05-PATR. Rel. Manuel SoaresFerreira Carradita. DOE 24/06/05, p. 45.

2. DE INDENIZAÇÃO. POR DANOS MORAIS E MA-TERIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRA-BALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABA-LHO.- A EC n. 45, de 08/12/04, que reformulou aredação do art. 114 da Carta Política de 1988, éclara ao fixar que compete à Justiça do Trabalhoprocessar e julgar as ações de indenização por danomoral ou patrimonial, decorrentes da relação detrabalho (inciso VI), donde conclui-se estar defini-tivamente sepultada a antiga divergência jurispru-dencial que assolava as nossas Cortes Superiores arespeito do critério preponderante de fixação dacompetência material, se assentado na naturezajurídica da causa de pedir ou na relação jurídicahavida entre os litigantes. A dicção do art. 109,inciso I, da Constituição da República, também nãoaltera a premissa retro adotada. Quando o textoconstitucional elenca dentre as causas expressa-mente excluídas da competência da Justiça Federalde primeiro grau as relativas a acidentes de trabalhoe as sujeitas à Justiça do Trabalho faz clara men-ção, no tocante às primeiras, àquelas ações aciden-tárias em que tomam parte, de um lado, o seguradoobrigatório da Previdência Social e, de outro, oórgão gestor dos benefícios, e não propriamente àsdemandas entre trabalhadores e tomadores de servi-ço que objetivam reparação mais ampla fundada emnorma de direito civil. Tal conclusão vem lastreadano fato de que a competência da Justiça Federal é,regra geral, fixada “ratione personae”, razão porqueas exceções estabelecidas seguem igual critério, ouseja, afastam as causas acidentárias em que tome

parte o INSS e as reclamações trabalhistas em quetomem parte a União, entidade autárquica ou em-presa pública federal. Recurso Ordinário a que sedá provimento. TRT/SP 15ª Região 387/03-026 - Ac.10ª Câmara 29.785/05-PATR. Rel. Marcos da Silva Pôrto.DOE 1º/07/05, p. 35.

3. MONITÓRIA. FAZENDA PÚBLICA. CABIMEN-TO.- O objetivo da Ação monitória é alcançar aformação do título executivo judicial de modo maiscélere do que na ação convencional. De sorte queestando a petição inicial da Ação monitória instruí-da com documentos comprobatórios da probabili-dade da existência do direito alegado do requerente(notas de empenho e recibos preenchidos pela mu-nicipalidade), não há incompatibilidade no proce-dimento para a formação do título executivo e suaexecução contra a Fazenda Pública, desde que ob-servadas as prerrogativas do ente público quantoaos Embargos e a garantia do duplo grau de jurisdi-ção se for o caso. É que no ordenamento jurídiconão há privilégio no procedimento monitório aFazenda Pública, além daqueles já estabelecidosaos entes públicos. Recurso não provido. TRT/SP15ª Região 2.374/01-030 - Ac. 5ª Câmara 28.437/05-PATR. Rel. Lorival Ferreira dos Santos. DOE 24/06/05,p. 29.

ACORDO COLETIVO1. LEGITIMIDADE. JORNADA DE OITO HORASPARA OS TURNOS ININTERRUPTOS DE REVE-ZAMENTO. PAGAMENTO DE ADICIONAL SO-BRE AS SÉTIMA E OITAVA HORAS DIÁRIAS.IMPROCEDÊNCIA.- Inequívoco nos autos que aempregadora firmou acordo coletivo com o sindi-cato representante da categoria obreira, instituindoo regime de trabalho de 6X2, no qual se laboramseis dias consecutivos e se descansam dois, emturnos ininterruptos de revezamento sem prejuízoda jornada de oito horas diárias realizada pelosempregados da empresa, restou evidente que houveconcessões mútuas nessa negociação, pois os em-pregados passaram a gozar de duas folgas sema-nais, o que, a rigor, retiraria o caráter de ininter-ruptividade dos turnos de revezamento. Em assimsendo, não há que se considerar a sétima e a oitavahoras trabalhadas como extras: legítima a negocia-ção coletiva, seja porque amparada pelo art. 7º,incisos VI, XIV e XXVI, da CF, seja porque ine-

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xistente notícia ou prova de qualquer vício de con-sentimento que desse ensejo a sua invalidação,incide o quanto estipulado pela OJ n. 169 da SDIdo C. TST. BENEFÍCIOS: VALE-TRANSPORTE EVALE-REFEIÇÃO PAGOS ANTECIPADAMENTE.DESCONTO EM FÉRIAS OU PERÍODOS DE AU-SÊNCIA. NÃO CABIMENTO DE IMPUGNAÇÃO.-Lícito o desconto de vale-transporte e vale-refeiçãopagos antecipadamente, nas hipóteses em que oobreiro afasta-se de suas atividades em decorrênciade férias ou por outros períodos de ausência. Man-tém-se. HORAS EXTRAS. CURSOS DE APERFEI-ÇOAMENTO CUSTEADOS PELA EMPREGADORA.ADESÃO E FREQÜÊNCIA OPTATIVAS. NÃO CA-RACTERIZAÇÃO DA SOBREJORNADA.- Cursos deadesão espontânea oferecidos pela empregadora,ainda que realizados fora do horário contratual, nãoensejam o pagamento das horas neles despendidascomo extraordinárias. Mantém-se. HORAS “IN ITI-NERE”. REGIÃO DE FÁCIL ACESSO DURANTE ASVINTE E QUATRO HORAS DO DIA. NÃO CABI-MENTO.- A par de o § segundo do art. 58 da CLT eos itens I e III da Súmula n. 90 do C. TST nãoprestigiarem o pagamento como horas de percursodo deslocamento e do fornecimento de transporteno perímetro urbano - ainda que no referido horárionão haja transporte coletivo público -, verifica-seque a empregadora se localiza próxima a hospitaluniversitário, que atende a número significativo depessoas durante as vinte e quatro horas do dia, oque permite supor que a localidade não seja dedifícil acesso. Ademais, não havendo provas sufici-entes da dificuldade de acesso ao local de trabalhoe da ausência de transporte público regular, de-monstra-se impossível a condenação. Mantém-se.INDENIZAÇÃO ADICIONAL. ART. 9° DAS LEIS NS.6.708/79 E 7.238/84.- Projetando-se o termo final docontrato de trabalho para além da data-base (com acontagem do prazo de 30 dias referente ao avisoprévio), é indevida a indenização adicional, por nãoverificada a hipótese prevista pelo art. 9° das Leisns. 6.708/79 e 7.238/84. INTERVALOS INTERJOR-NADAS (11 HORAS) E INTERSEMANAIS (35 HO-RAS). SUPRESSÃO. ALEGAÇÃO DESAMPARADADE QUALQUER DEMONSTRAÇÃO. INEXISTÊNCIADE DIREITO A DIFERENÇAS.- A imposição conde-natória decorrente da alegação de supressão dosintervalos interjornadas (11 horas) e intersemanais(35 horas) demanda a comprovação inequívoca dapropalada supressão. Não provadas nem demons-tradas eventuais diferenças a tais títulos, nada édevido quanto a referidas rubricas. Mantém-se.INTERVALO INTRAJORNADA. CONCESSÃO FRA-CIONADA. HIPÓTESE AUTORIZADA POR NORMACOLETIVA. LEGITIMIDADE DO PROCEDIMENTO.SÚMULA N. 22, DESTE TRT DA 15ª REGIÃO.- Ha-vendo prova da existência de acordo coletivo detrabalho firmado entre a empregadora e a entidade

sindical representativa da categoria do reclamante,prevendo como inferior a uma hora a duração dointervalo destinado à alimentação e descanso, éválido o procedimento da reclamada, de adotar suaconcessão fracionada. O legislador constituinte, aodeterminar o prestígio a ser dado aos acordos econvenções coletivas, objetivou facilitar o entendi-mento direto entre as partes, de tal forma a permitiro afastamento gradual do Estado das relações detrabalho. Em vista disso e diante do princípio doconglobamento, podem as partes, na negociação,estabelecer cláusulas aparentemente desfavoráveisaos empregados, conquanto nesse ajuste haja outrosbenefícios, nem sempre protegidos pelas normas jáexistentes, de forma a que o resultado geral daavença atenda a ambas as partes. Mantém-se.NULIDADE. IRREGULARIDADE NA REPRESEN-TAÇÃO PROCESSUAL E NA PREPOSIÇÃO. PRE-CLUSÃO. ALEGAÇÃO TARDIA E AUSÊNCIA DEPREJUÍZO.- A argüição lançada apenas em contra-razões, de vício insanável na representação proces-sual e na preposição, com a pretensão de que sereconheça a revelia e se apliquem os efeitos daconfissão, é inoportuna, eis que não serão declará-veis as nulidades sem que a parte as alegue na pri-meira oportunidade que tiver para se manifestar, esem que haja ocorrência de prejuízo; tal não ocor-rendo, o ato inquinado convalida-se. Além do que,a presença da advogada em audiência, devidamenteacompanhada do preposto, configura mandato tá-cito, de acordo com a Súmula n. 164 do C. TST.TRT/SP 15ª Região 1.105/01-094 - Ac. 12ª Câmara31.225/05-PATR. Rel. Olga Aida Joaquim Gomieri.DOE 08/07/05, p. 53.

ADJUDICAÇÃO1. DESONERAÇÃO DOS TRIBUTOS DO BEM IMÓ-VEL ADJUDICADO A PARTIR DA DATA DE ADJU-DICAÇÃO. POSSIBILIDADE.- Tanto na arremataçãoquanto na adjudicação de bem imóvel o créditotributário não se vincula ao imóvel e é possível adesoneração dos tributos, nos termos do art. 130,parágrafo único, do CTN, em virtude da preferênciaque gozam os créditos trabalhistas sobre os fiscais.TRT/SP 15ª Região 1.099/96-101 - Ac. 6ª Câmara26.531/05-PATR. Rel. Luiz Carlos de Araújo.DOE 10/06/05, p. 33.

AGRAVO1. DE PETIÇÃO. ARREMATAÇÃO PELO CREDOR-EXEQÜENTE. POSSIBILIDADE. NULIDADE INE-XISTENTE.- Mais do que o art. 690 do CPC nãoimpedir que o exeqüente arremate o bem em hastapública, seu § 2º expressamente autoriza sua parti-cipação, sem que o mesmo tenha que exibir o pre-ço, exceto na hipótese de o valor de seu crédito serinferior ao valor da arrematação, o que não é o caso

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dos autos, valendo ressaltar que se é possível aparticipação do credor como arrematante no Pro-cesso Civil, por muito mais razão é de se admitirsua participação no Processo do Trabalho, onde ocrédito decorre da inadimplência de verbas traba-lhistas, cuja natureza é alimentar. Agravo não pro-vido. TRT/SP 15ª Região 313/00-067 - Ac. 5ª Câmara30.790/05-PATR. Rel. Lorival Ferreira dos Santos.DOE 08/07/05, p. 26.

2. DE PETIÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO. PE-NHORA SOBRE NUMERÁRIO DE INSTITUIÇÃOBANCÁRIA QUE DESCUMPRIU ORDEM DE PE-NHORA “ON-LINE”. EFETIVAÇÃO NOS PRÓPRIOSAUTOS DA EXECUÇÃO EM QUE SE DEU O DES-CUMPRIMENTO DA ORDEM. POSSIBILIDADE.-Ante os termos do art. 14, inciso V e parágrafoúnico, do CPC, e dos arts. 312, 927 e 932, III, doCCB, é perfeitamente possível a penhora de nume-rário de instituição bancária que descumpre ordemde penhora “on-line”, pelo sistema BACEN JUD,nos próprios autos da execução em que se deu odescumprimento da ordem, quando constatada aocorrência de dolo ou culpa de prepostos da insti-tuição. E assim ocorrendo, não há se falar em vio-lação do art. 5º, LIV e LV, da CF, uma vez que, pormeio de embargos de terceiro, é assegurado à ins-tituição bancária o direito ao devido processo legal,ao contraditório e à ampla defesa. Agravo de peti-ção a que se nega provimento. TRT/SP 15ª Região560/04-062 - Ac. 5ª Câmara 28.250/05-PATR. Rel. JorgeLuiz Costa. DOE 24/06/05, p. 22.

3. DE PETIÇÃO. INCOMPATIBILIDADE ENTRE ACONDUTA DE QUITAR A EXECUÇÃO E DE EM-BARGAR. PRECLUSÃO LÓGICA.- Efetuado o depó-sito do montante da conta de liquidação para paga-mento do débito, uma vez que, constando no campopróprio da guia respectiva o código 02 que, nostermos do Provimento n. 2/03 da CGJT, destina-seao pagamento da execução, os embargos à execu-ção opostos não podem ser conhecidos, em face dapreclusão lógica, resultante da incompatibilidadeentre a conduta anterior (quitação da dívida) e aposterior (embargar a execução). E a decisão que,no caso, não conhece dos embargos não afronta odevido processo legal, que compreende o direito àampla defesa com observância do contraditório comos meios e recursos inerentes, porquanto sua ope-ratividade está disciplinada pela legislação infra-constitucional. Agravo conhecido e não provido.TRT/SP 15ª Região 1.046/97-100 - Ac. 3ª Câmara31.382/05-PATR. Rel. Samuel Corrêa Leite. DOE08/07/05, p. 20.

4. REGIMENTAL. EM DISSÍDIO COLETIVO. EX-TINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DO MÉRI-TO. NÃO DEMONSTRADO O CUMPRIMENTO DOSREQUISITOS LEGAIS.- Resulta na extinção do feitosem julgamento do mérito, quando instada a parte ademonstrar o cumprimento de todos os requisitos

legais, deixa de fazê-lo. Aplicação do art. 223,§§ 1º e 2º do Regimento Interno deste Regional.TRT/SP 15ª Região 2.186/04-000 - Ac. SDC 58/05-PADC. Rel. Laurival Ribeiro da Silva Filho.DOE 24/06/05, p. 5.

5. REGIMENTAL. EM RECLAMAÇÃO CORREICIO-NAL. INTEMPESTIVIDADE. NÃO CABIMENTO.IMPROVIMENTO.- A reclamação correicional deveser apresentada no prazo de cinco dias, a contar daciência do ato ou da omissão impugnados, indepen-dentemente da qualidade do interessado (art. 35,parágrafo único, RITRT/15ª Região). O interregnoregimental não se suspende, nem se interrompe, emvirtude de eventuais manifestações da parte noprocesso de origem, sequer por pedido de reconsi-deração endereçado diretamente à Autoridade Cor-rigenda. Ultrapassado o qüinqüídio sem a formula-ção do pedido correicional, é incabível a medida,em face da sua intempestividade. Agravo regimen-tal improvido. AGRAVO REGIMENTAL EM RE-CLAMAÇÃO CORREICIONAL. EXISTÊNCIA DERECURSO PROCESSUAL PRÓPRIO. NÃO CABI-MENTO. IMPROVIMENTO.- A reclamação correici-onal somente é cabível para corrigir erros, abusos eatos atentatórios à boa ordem processual, ação ouomissão que importe erro de procedimento (art. 35,RITRT/15ª Região). Vale dizer, não compete àCorregedoria intervir administrativamente paracorrigir eventuais erros de julgamento, mormentequando existe recurso processual próprio à disposi-ção da parte interessada. Agravo regimental impro-vido. TRT/SP 15ª Região 928/02-010 - Ac. TP 75/05-PPLJ. Rel. Luís Carlos Cândido Martins Sotero da Silva.DOE 15/07/05, p. 2.

ALTERAÇÃO CONTRATUAL1. ACÚMULO DE FUNÇÕES.- Conforme o art. 468 daCLT, é anulável a alteração contratual da qual resultem,direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado. No casode acúmulo de funções, isso importa que a onerosi-dade excessiva atribuída a uma das partes pelamodificação do pactuado deve ser eliminada, resta-belecendo-se o equilíbrio contratual mediante oretorno ao estado anterior à mudança - quandopossível - e atribuindo-se ao empregado o direito aorecebimento de compensação salarial nos moldesdo art. 460 da Consolidação. TRT/SP 15ª Região2.306/03-051 - Ac. 3ª Câmara 25.904/05-PATR.Rel. Ricardo Regis Laraia. DOE 10/06/05, p. 17.

APLICAÇÃO

1. DA TAXA SELIC (ART.406 DO NCC) ÀS DÍVIDASTRABALHISTAS.- Se as dívidas quirografárias comjuros não convencionados são atualizadas pelosjuros da taxa SELIC, segundo o art. 406 do CCvigente, as dívidas trabalhistas tuteladas com prefe-

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rência a todas as outras (art. 186, CTN e art. 83, I,LF) não podem se sujeitar a tratamento desigual,sendo tal preceito atraído pelo art. 8º, parágrafoúnico da CLT, com o que se revoga o art. 39, “ca-put”, da Lei n. 8.177/91, na parte que regula a atu-alização monetária, também chamada de juros emsentido amplo, sob pena de subversão dos princí-pios do Direito do Trabalho. TRT/SP 15ª Região1.318/04-067 - Ac. 8ª Câmara 29.482/05-PATR. Rel.Flavio Allegretti de Campos Cooper. DOE 1º/07/05, p. 26.

ARBITRAGEM1. O acordo coletivo noticiado é nulo de plenodireito, pois pretende aplicar ao Direito do Tra-balho disposições referentes à Lei n. 9.307 de1996 que instituiu a arbitragem como meio desolução de conflitos relativos a direitos patrimoni-ais disponíveis, conforme reza o art. 1º, que dis-põe: “As pessoas capazes de contratar poderãovaler-se da arbitragem para dirimir litígios relati-vos a direitos patrimoniais disponíveis”. Atravésdeste acordo, o reclamante participou do Tribunalde Arbitragem onde foi lavrado um termo de audi-ência de fls. 27, havendo conciliação entre aspartes referente às verbas trabalhistas rescisórias,momento em que o reclamante deu quitação docontrato de trabalho, bem como aduziu que nãoera credor de outras parcelas trabalhistas. É de seanalisar a instituição do referido “tribunal de ar-bitragem” e a arbitragem sobre questões traba-lhistas, porque a teor do artigo transcrito a arbi-tragem foi criada para dirimir questões de direitodisponíveis, o que contraria totalmente o arcabou-ço jurídico trabalhista, constituído sob a égide daindisponibilidade de direitos. É que o Direito doTrabalho se constitui em grande parte de preceitosde ordem pública, visando a limitação do princí-pio da autonomia da vontade, para estabelecer-seprincípios de justiça social. É constituído de re-gras cogentes, de ordem pública que não podemser relegadas à apreciação pura e simples de umtribunal de arbitragem, sem qualquer autoridadelegal para observá-las. Como muito bem doutrinouMário de La Cueva, citado por Arnaldo Sussekindem sua obra Instituições de Direito do Trabalho,vol. I, p. 198, quando se refere à observância dospreceitos trabalhistas independentemente da von-tade das partes interessadas e portanto o Direitodo Trabalho não seria “um mínimo de garantia,nem desempenharia sua função, se a observânciade seus preceitos dependesse da vontade de tra-balhadores e patrões, o que equivaleria a destruirseu conceito, como princípio de cuja aplicaçãoestá encarregado o Estado”. TRT/SP 15ª Região464/03-095 - Ac. 11ª Câmara 27.460/05-PATR.Rel. Keila Nogueira Silva. DOE 17/06/05, p. 37.

ARTIGO1. 384 DA CLT. AFRONTA AOS ARTS. 5º, I, E 7º,XXX, DA CF.- Não se justifica concessão de inter-valos diferenciados a homens e mulheres que, aofinal da jornada que será prorrogada, estão, ambos,igualmente cansados. Reconhecer-se esse direitotão-somente à trabalhadora, consistiria em imprimirodiosa distinção entre seres humanos submetidos aidênticas condições e limitação do mercado detrabalho da mulher. TRT/SP 15ª Região 2.529/02-044 -Ac. 4ª Câmara 32.238/05-PATR. Rel. Maria Inês Corrêade Cerqueira César Targa. DOE 15/07/05, p. 26.

AUSÊNCIA DE RÉPLICA

1. EFEITOS. NULIDADE PROCESSUAL. CERCEA-MENTO DE DEFESA. CONFIGURAÇÃO.- Os princí-pios do devido processo legal, do contraditório e daampla defesa, alçados ao “status” de garantia cons-titucional, não podem ser olvidados pelo Juiz. Aréplica sequer se constitui em figura indispensávelno Processo do Trabalho (inteligência do art. 848da CLT), de sorte que a ausência de manifestaçãosobre defesa ou documentos, por si só, não tem ocondão de conduzir à confissão, de modo a se con-siderar verdadeiras as alegações que deveriam serprovadas. Logo, não poderia ter sido o autor impe-dido de produzir prova oral em decorrência daausência de apresentação de réplica. Recurso Ordi-nário a que se dá provimento para, acolhendo apreliminar de nulidade processual, decretar a nuli-dade da sentença e determinar a baixa dos autos àorigem, a fim de que seja reaberta a instrução pro-cessual e facultada às partes a produção de prova.TRT/SP 15ª Região 561/04-075 - Ac. 10ª Câmara24.050/05-PATR. Rel. João Alberto Alves Machado.DOE 03/06/05, p. 100.

AVALIAÇÃO1. FÉ PÚBLICA DO OFICIAL DE JUSTIÇA E PROVATÉCNICA.- As avaliações estimadas pelos meiri-nhos nos autos de penhora gozam de presunçãorelativa, sujeita a impugnação por meios técnicos,apesar do costumeiro argumento, muitas vezesesposado para “encerrar” a discussão sobre avalia-ção de haveres judicialmente apreendidos, segundoo qual os zelosos oficiais de justiça gozam de fépública e, por isso, hipoteticamente, as avaliaçõesque fazem também espelhariam a verdade. Essaficção, no entanto, não os torna profissionais dosetor imobiliário. A fé pública que a lei outorga aosincansáveis meirinhos refere-se tão-somente à ver-dade das respectivas certidões. Esta fé pública gozade presunção “juris tantum”, como não pode serolvidado. Não se pode pretender, por óbvio, que o

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dever legal de atestar fielmente os fatos se trans-mude em domínio, pelos oficiais de justiça, deconhecimentos técnicos atinentes a outros ramos dosaber humano. Se isso fosse viável, os peritos judi-ciais seriam completamente prescindíveis, inclusiveos da área médica. Nas hipóteses em que haja dúvi-da razoável, deve prevalecer a prova técnica, mor-mente quando a avaliação do Sr. Oficial não refletira realidade do mercado. EDITAL. FALTA DE PU-BLICAÇÃO EM JORNAL LOCAL (CLT, ART. 888).NULIDADE.- O edital foi publicado no DOE, nãosuprindo integralmente, portanto, as exigênciascontidas no art. 888 da CLT, ante a ausência depublicação em jornal local. No caso dos autos, acidade em que se localiza a Vara do Trabalho temjornal de ampla circulação. Ora, é por demais sabi-do que o público não diretamente interessado ja-mais consulta o diário oficial. Ao revés, se o leilãofosse divulgado mediante jornal de ampla circula-ção naquela Cidade, um número muito maior depossíveis candidatos à arrematação teria conheci-mento da hasta pública. Tal equívoco acarretouinequívoco prejuízo à reclamada, pois implicou nofato de a praça designada não ter atraído licitantes,resultando “negativa”. Mas, o que realmente contaé a exigência legal, imperativa, verdadeiro preceitoimposto pelo legislador ao promulgar o art. 888consolidado, não facultando ao juiz mandar publi-car o edital em jornal local, mas tornando obrigató-rio esse requisito de validade. No magistério deNelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery,ao comentarem o art. 154 do CPC, “é válido o atorealizado no processo sem se revestir de formaespecial, a menos que a lei prescreva como deva serpraticado” (CPC Comentado, 6.ed., SP: Ed. RT,2002, p. 508). Inválido é, quando, ao ser praticadode outro modo, não vier a preencher a finalidadeessencial que é objeto do respectivo regramentolegal. Este é o caso dos autos, ensejando, dessarte,a nulidade do edital. VALOR DE MERCADO. VALI-DADE.- Agravo de petição a que se dá provimentopara determinar a reavaliação do imóvel penhorado,reconhecendo a validade do valor de mercado apu-rado no laudo técnico juntado pela reclamada.TRT/SP 15ª Região 1.509/01-013 - Ac. 7ª Câmara29.413/05-PATR. Rel. I. Renato Buratto. DOE1º/07/05, p. 24.

CÂMARA MUNICIPAL

1. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. AUSÊNCIA DECAPACIDADE PROCESSUAL.- A Câmara Municipalnão possui capacidade processual para figurar nopólo passivo de reclamações trabalhistas, porquenão detém personalidade jurídica própria (art. 41 doNCC). Na verdade, quem responde pelas ações

movidas pelos servidores municipais, tanto do Po-der Legislativo como do Poder Executivo, é o Mu-nicípio, ou seja, a Fazenda Pública Municipal que,a rigor do art. 12, inciso II, do CPC, é representadapelo Prefeito ou Procurador. CÂMARA MUNICIPAL.CARGO EM COMISSÃO. SALÁRIO SUPERIOR AOPAGO PELA MUNICIPALIDADE. REDUÇÃO. LE-GALIDADE.- Não é ilícita a redução, aos patamaresda tabela de remuneração dos servidores munici-pais, do salário de empregado ocupante de cargoem comissão criado irregularmente por resolução,caracterizando apenas revisão de ato irregular ante-riormente praticado pela Administração. A Admi-nistração Pública deve observar os princípios e asregras inseridas expressamente no art. 37, da CF,quanto à contratação e remuneração dos seus servi-dores, especialmente o princípio da legalidade,revelando-se ilegal o pagamento de salário emvalores não autorizados pela legislação municipal.TRT/SP 15ª Região 2.252/01-093 - Ac. 11ª Câmara24.903/05-PATR. Rel. Fany Fajerstein. DOE 03/06/05,p. 106.

CASA DE BINGO1. PARALISAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA.INADIMPLÊNCIA NA QUITAÇÃO DAS VERBASRESCISÓRIAS. “FACTUM PRINCIPIS”. CHAMA-MENTO DA UNIÃO À AUTORIA. DESCABIMEN-TO.- A pertinência da invocação do “factum princi-pis” se relaciona ao próprio mérito da pretensãodeduzida na reclamatória, não sendo, pois, suaargüição razão suficiente para trazer de imediato àlide a pessoa de direito público apontada comoresponsável pela paralisação dos trabalhos, proce-dendo-se ao chamamento somente quando restarcaracterizado o instituto. TRT/SP 15ª Região 687/04-113 - Ac. 11ª Câmara 30.392/05-PATR. Rel. Maria CecíliaFernandes Alvares Leite. DOE 1º/7/05, p. 45.

COLHEITA DA LARANJA

1. ALEGAÇÃO DA RECLAMADA DE CONTRATA-ÇÃO COM O PRODUTOR SOB A FORMA DE “FRU-TA POSTA”.- Prova oral que evidencia a contrataçãodo “gato” pelo comprador da Recda, que faz ospagamentos, visita os pomares e combina as condi-ções da colheita. Matéria-prima que somente éobtida com o labor dos colhedores, que ganhamR$0,40 pela caixa da laranja, sem qualquer outrodireito trabalhista. Fraude caracterizada na formado art. 9º da CLT. Incidência do disposto no inciso Ido Enunciado n. 331 do C. TST. Vínculo que sereconhece com a empresa produtora do suco delaranja. TRT/SP 15ª Região 930/04-037 - Ac. 12ª Câma-ra 32.899/05-PATR. Rel. Maria da Graça BonançaBarbosa. DOE 15/07/05, p. 53.

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CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO1. NATUREZA JURÍDICA DE EXECUÇÃO INVERTI-DA. REVELIA. PAGAMENTO DAS RESCISÓRIAS.EFICÁCIA. QUITAÇÃO DO EXTINTO CONTRATO.IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA.- Tem a ação deconsignação natureza de execução invertida; assim,seu objeto restringe-se ao pagamento da quantia ouda coisa devida (CPC, art. 890). Destarte, o con-teúdo declaratório da respectiva sentença de proce-dência não pode ir além do referido limite, quitaçãoda quantia ou da coisa devida. Isso, por óbvio, seaplica também na hipótese de revelia do consigna-do, importa realçar, pois a lei (CPC, art. 897) nãofaz distinção quanto aos fundamentos da alentadaprocedência da ação, valendo realçar que referidolimite, na seara trabalhista, encontra supedâneo noart. 477, da CLT, que prevê o pagamento rescisóriosem natureza de transação (CC, art. 840). TRT/SP15ª Região 337/03-095 - Ac. 10ª Câmara 29.725/05-PATR. Rel. Valdevir Roberto Zanardi. DOE 1º/07/05,p. 33.

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA1. INCIDÊNCIA.- A alteração perpetrada pela EC n.20/98, regulamentada pela Lei n. 10.035/00 nãoconferiu, ao INSS, poder para discutir ou questio-nar a distribuição das parcelas feitas pelas partes nocontexto do acordo. Feita a discriminação dos títu-los, não cabe ao INSS discutir essa atribuição,ainda mais quando guardam proporção com asverbas e os valores elencados na exordial, pois éapenas terceiro interessado e não participou darelação jurídica, sendo certo que a conciliação éprerrogativa exclusiva das partes envolvidas noconflito. Mesmo porque ainda não existia sentençanos autos e frente a controvérsia existente, as teses,tanto do autor como do réu, encontravam-se noplano de mera expectativa de direito, caracterizan-do a “res litigiosa” ou a “res dubia”, necessáriapara ser objeto de transação. Ademais, a fraude nãopode ficar no plano de mera alegação, devendo sercomprovada. TRT/SP 15ª Região 665/03-101 - Ac. 5ªCâmara 25.760/05-PATR. Rel. Ernesto da Luz PintoDória. DOE 10/06/05, p. 25.

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS1. FATO GERADOR. CORREÇÃO DO CRÉDITO.- Ofato gerador do crédito devido ao INSS é a sentençade liquidação, momento este a partir do qual deve serobservada a legislação previdenciária para os fins decorreção do crédito que lhe é devido. O § 4º do art.879 da CLT não outorga a esta Justiça do Trabalho acompetência para determinar a correção dos valoresdevidos ao INSS desde o momento em que este deve-ria ter sido saldado, na constância do contrato de tra-balho, mas, frise-se, apenas a partir da liquidação dasentença que reconhece ao reclamante direito de rece-ber verbas de natureza salarial. TRT/SP 15ª Região

1.724/00-026 - Ac. 10ª Câmara 32.681/05-PATR. Rel.Elency Pereira Neves. DOE 15/07/05, p. 46.

DANO MORAL1. AUSÊNCIA DE “ANIMUS CALUMNIANDI”,“ANIMUS DIFFAMANDI” OU “ANIMUS INJURIAN-DI”/“ANIMUS OFFENDENDI”. NÃO-CABIMENTODE INDENIZAÇÃO.- No tocante aos danos morais, ainteligência do parágrafo único do art. 927 do CC éno sentido de que existe obrigação objetiva de repa-ro apenas nos casos especificamente previstos emlei “ou quando a atividade normalmente desenvol-vida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,riscos para o direito de outrem”. Portanto, a culpa-bilidade deve ser alegada e provada nos demaiscasos, não cabendo indenização fora dessas cir-cunstâncias. TRT/SP 15ª Região 14/04-030 - Ac. 6ªCâmara 31.702/05-PATR. Rel. Ana Paula PellegrinaLockmann. DOE 08/07/05, p. 33.

2. DISACUSIA IRREVERSÍVEL. IMPOSSIBILIDADEDE CONCESSÃO. AUSÊNCIA DE NEXO CAUSALENTRE A MOLÉSTIA E O TRABALHO.- A não con-figuração do vínculo etiológico entre a moléstiaauditiva e as condições de trabalho, em face dascaracterísticas gráficas das perdas, embora ruidosoo ambiente laborativo, basta, por si só, para afastara indenização por dano moral, dispensados outrosfundamentos que também poderiam constituir óbiceà pretensão. TRT/SP 15ª Região 1.039/03-007 - Ac. 8ªCâmara 26.919/05-PATR. Rel. Vera Teresa Martins Cres-po. DOE 17/06/05, p. 26.

3. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRA-BALHO.- Comete dano moral o empregador quetrata seu empregado de maneira desrespeitosa,dirigindo-lhe graves ofensas pessoais, xingando-o eo submetendo a “castigos” quando do não imple-mento da venda ao cliente, como o retorno à resi-dência ou mesmo a ida até o estoque da empresa,impedindo o trabalhador de realizar novas vendas.Tratamento minimamente cordial é o que se exigedo empregador que, se não o cumpre, dá ensejo àrescisão indireta do contrato de trabalho, máximequando verificado o descumprimento de outrasregras contratuais. TRT/SP 15ª Região 17/04-032 - Ac.7ª Câmara 28.041/05-PATR. Rel. Andrea Guelfi Cunha.DOE 24/06/05, p. 42.

DEPÓSITO RECURSAL1. DESERÇÃO.- Não obstante improcedente a re-clamatória, a condenação da empresa em honorá-rios periciais, logo, valor pecuniário, obriga a quese efetive, para preenchimento de pressuposto ex-trínseco, o depósito recursal, nos moldes do incisoIX da IN n. 3/93, do C. TST, pena de o apelo serjulgado deserto. REINTEGRAÇÃO. DOENÇAOCUPACIONAL.- Não existindo nexo causal entre aenfermidade alegada e as atividades desenvolvidas

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no bojo da empresa, não há que se falar em doençado trabalho. Indevida, portanto, a reintegração.TRT/SP 15ª Região 177/01-085 - Ac. 8ª Câmara31.895/05-PATR. Rel. Vera Teresa Martins Crespo.DOE 15/07/05, p. 37.

DIREITO DO TRABALHO1. PRESCRIÇÃO. HERDEIRO MENOR. INCIDÊNCIADA REGRA CIVIL DE FORMA SUBSIDIÁRIA (ART. 8ºDA CLT). CAUSA IMPEDITIVA RECONHECIDA.- Ha-vendo herdeiro menor absolutamente incapaz, deve serreconhecida a causa impeditiva do curso da prescrição, naforma preconizada no art. 169, I, do CC/1916 (ou art.198, I, do CC vigente), quanto ao direito de ação parareivindicar os créditos trabalhistas deixados pelo “decujus” que, por ocasião da extinção do contrato, nãoestavam prescritos. A matéria não está regulada pelo textoconsolidado, sendo lícito ao julgador valer-se do direitocomum de forma subsidiária, conforme autoriza o art. 8º,parágrafo único, da CLT. Recurso ordinário a que se dáprovimento para afastar a prescrição nuclear decretada.TRT/SP 15ª Região 1.116/03-039 - Ac. 3ª Câmara28.650/05-PATR. Rel. Luiz José Dezena da Silva.DOE 24/06/05, p. 17.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO1. DESPICIENDOS. OPOSIÇÃO COM O FITO EX-CLUSIVO DE PREQUESTIONAMENTO. MANIFES-TAÇÃO DO COLEGIADO SOBRE OS DISPOSITIVOSDE LEI APONTADOS PELA PARTE.- O prequestio-namento, imprescindível à interposição de recursopara a instância superior, pressupõe a adoção detese explícita sobre o tema posto em análise - e nãomanifestação do Julgador sobre este ou aqueledispositivo legal. Assim, se tal já se deu na decisãoembargada, despicienda a oposição de embargos dedeclaração, pois já preenchido o pressuposto recur-sal. DISSENSO JURISPRUDENCIAL. NÃO CARAC-TERIZAÇÃO.- Resta caracterizado o dissenso juris-prudencial ensejador da admissibilidade doprosseguimento e do conhecimento do recurso derevista, nos termos da Súmula n. 296 do C. TST,quando comprovada a existência de teses distintasna interpretação de um mesmo dispositivo legal,embora idênticos os fatos que as ensejaram. TRT/SP15ª Região 979/03-126 - Ac. 12ª Câmara 30.269/05-PATR. Rel. Olga Aida Joaquim Gomieri.DOE 1º/07/05, p. 42.

EQUIPARAÇÃO SALARIAL1. IDENTIDADE DE FUNÇÕES.- O desempenho deatividades em máquinas distintas não autoriza o reconhe-cimento de equiparação salarial. Somente a identidadeabsoluta de funções, que no caso se verifica com a opera-ção de máquinas idênticas, possibilita a aferição do tra-balho de igual valor. TRT/SP 15ª Região 1.353/03-020 -Ac. 7ª Câmara 28.033/05-PATR. Rel. Fabio Grasselli.DOE 24/06/05, p. 42.

ESTABILIDADE PROVISÓRIA1. ACIDENTE DE TRABALHO. REQUISITOS.- Aestabilidade provisória prevista no art. 118, da Lei n.8.213/1991 está condicionada à implementação de doisrequisitos indispensáveis: ao afastamento do serviço porprazo superior a quinze dias e à percepção de auxílio-doença acidentário. A falta de comprovação do preen-chimento de tais pressupostos obsta o reconhecimento dagarantia de emprego pleiteada, a teor do entendimentoconsubstanciado na Súmula n. 378, do C. TST. Recursodo reclamante a que se nega provimento. TRT/SP 15ªRegião 1.025/04-115 - Ac. 10ª Câmara 27.083/05-PATR.Rel. Fernando da Silva Borges. DOE 17/6/05, p. 31.

ESTÁGIO1. PROFISSIONAL CONCOMITANTE À PRESTAÇÃOLABORAL. HORAS EXTRAS. INDEVIDO.- O art. 4°da Lei n. 6.494/77 salienta que o estágio não criavínculo empregatício de qualquer natureza, sendoimpossível, então, a busca de direitos amparadospela CLT. O art. 6° do Decreto n. 87.497/82 reforçatal orientação. O estágio profissional tem carátereminentemente pedagógico, propiciando ao estagiá-rio um complemento nos seus estudos escolares,com a participação em atividades direcionadas àprofissão pretendida. A pessoa jurídica, fornecedo-ra do tirocínio, seja ela pública ou privada, prestaum serviço social à comunidade, não podendo serapenada com qualquer ônus além daquele decor-rente do próprio estágio, nos termos do art. 4° dalei supramencionada, exceto quando caracterizada afraude. Portanto, não há qualquer empecilho - nãoservindo, também, de indício de ilegalidade - que oempregado, após o cumprimento da sua jornadadiária, realize estágio profissionalizante no próprioempregador, pois o maior e talvez único beneficia-do é o obreiro. Por outro lado, não existe qualquerapontamento legal que determine que o empregado,travestido de estagiário, realize os seus afazeresacadêmicos dentro da jornada da prestação laboral.Destarte, não comprovada qualquer fraude a res-peito do assunto em tela, indevido o pedido depagamento de horas extras. TRT/SP 15ª Região670/03-122 - Ac. 11ª Câmara 24.865/05-PATR.Rel. Flavio Nunes Campos. DOE 03/06/05, p. 105.

EXECUÇÃO

1. ARREMATAÇÃO. CREDOR LICITANTE.- Háque se distinguir a arrematação da adjudicação.Essa, ato do credor que opta pela satisfação do seudireito através da encampação ao seu patrimôniodos bens do devedor levados a hasta pública.Aquela, sugere a compra, por terceiros, dos bens dodevedor levados à praça, satisfazendo o direito docredor através do produto obtido com a venda da-queles bens. O credor/exeqüente encontra respaldo

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legal para adjudicar os bens apreendidos pelo valorda avaliação, em primeira praça, ou sendo estanegativa e seguindo-se o leilão, preferirá sobre osdemais licitantes pelo valor do maior lanço - (art.888, §§1º e 3º, CLT e art. 24 da Lei n. 6.830/80).Entender-se possível a arrematação requerida peloexeqüente mediante valor inferior ao da avaliação,afronta princípio específico do processo de execu-ção que trata do proceder-se de maneira menosgravosa ao devedor (art. 620 do CPC), vez que aexecução forçada pelas vias judiciais do devidoprocesso legal guarda por fim a satisfação do di-reito do credor, com a completa prestação da tutelajurisdicional, sem, no entanto, promover a dizima-ção patrimonial do devedor. Equivocado, pois, odeferimento da arrematação pelo autor do bem nomontante de seu crédito exeqüendo, devendo amesma ser anulada. TRT/SP 15ª Região 1.611/87-042 - Ac. 11ª Câmara 30.229/05-PATR.Rel. Maria Cecília Fernandes Alvares Leite.DOE 1º/07/05, p. 41.

2. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADEJURÍDICA. VALIDADE DA CITAÇÃO DIRIGIDA ÀEMPRESA.- Quando, em virtude do redireciona-mento posterior do processo, decorrente da aplica-ção do princípio da desconsideração da personali-dade jurídica, a execução tiver que recair sobre osbens de um dos sócios (responsáveis secundários),não há a necessidade de nova citação para conti-nuidade da execução. Inteligência dos arts. 592, II,e 568, do CPC. TRT/SP 15ª Região 159/94-043 - Ac.11ª Câmara 24.850/05-PATR. Rel. Flavio Nunes Campos.DOE 03/06/05, p. 104.

3. FRAUDE.- Não caracteriza fraude à execução aalienação de bens antes do ajuizamento da açãotrabalhista. TRT/SP 15ª Região 1.134/96-020 - Ac. 2ªCâmara 24.245/05-PATR. Rel. Eduardo Benedito deOliveira Zanella. DOE 03/6/05, p. 63.

“FACTUM PRINCIPIS”

1. EXPLORAÇÃO DE JOGOS DE BINGO. MP N.168/04. NÃO OCORRÊNCIA.- Conquanto ditato-rial, inoportuna e desprovida de urgência a MP n.168/04 - circunstâncias essas reconhecidas pelopróprio Senado Federal, ao determinar seu arqui-vamento - quando de sua edição já havia impedi-mento legal para a prática de jogos de bingo (Lei n.9.981/00), de forma a ser previsível eventual encer-ramento dessas atividades, risco esse inerente aopróprio conceito de empregador (art. 2º da CLT),acentuado, no caso, pela própria atividade exercida,não se podendo falar na hipótese de “factum prin-cipis”. TRT/SP 15ª Região 1.244/04-002 - Ac. 10ªCâmara 32.688/05-PATR. Rel. Elency PereiraNeves. DOE 15/07/05, p. 46.

HOMOLOGAÇÃO1. DE ACORDO. RECUSADA PELO JUIZ. POSSIBI-LIDADE.- Pode e deve o juiz recusar a homologa-ção de acordo, ainda que, ratificado por ambas aspartes em Juízo, quando se convencer da existênciade lide simulada e, com maior razão, quando cons-tatar que, além disso, há manifesto prejuízo para oreclamante. Recurso ao qual se nega provimento.TRT/SP 15ª Região 970/04-110 - Ac. 7ª Câmara30.610/05-PATR. Rel. Manuel Soares Ferreira Carradita.DOE 08/07/05, p. 41.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS1. JUSTIÇA DO TRABALHO. RELAÇÃO DE EM-PREGO. CABIMENTO.- O entendimento de que noprocesso do trabalho não há condenação em hono-rários advocatícios trata-se de posicionamento quefere preceitos constitucionais e não se sustentadiante dos preceitos jurídicos que lhe dizem res-peito, ainda mais diante das alterações legislativasimpostas pelas Leis ns. 10.288/01, 10.537/02 e pelonovo CC, além de contrariar os mais rudimentaresprincípios da lógica e os ideais do movimento deacesso à justiça. TRT/SP 15ª Região 537/99-049 - Ac.6ª Câmara 28.945/05-PATR. Rel. Jorge Luiz Souto Maior.DOE 24/06/05, p. 35.

2. NECESSIDADE DO REEXAME DA MATÉRIA EMDECORRÊNCIA DO NOVO CC.- Fere os princípioselementares de direito concluir que o empregadorque descumpre obrigações civis esteja obrigado aresponder por “perdas e danos, mais juros e atuali-zação monetária segundo índices oficiais regular-mente estabelecidos, e honorários de advogado”(art. 389 do novo CC), mas desobrigado de pagaros honorários sobre as dívidas trabalhistas de natu-reza alimentar. Aliás, com a ampliação da compe-tência da Justiça do Trabalho, a situação ficou, coma devida vênia, incoerente: caso um abonado repre-sentante comercial autônomo saia vencedor naJustiça do Trabalho, receberá honorários advocatí-cios; todavia, se um hipossuficiente empregadovencer a reclamação trabalhista, nada receberá a taltítulo. O Judiciário Trabalhista não pode sacra-mentar tal tratamento flagrantemente desigual,especialmente se levarmos em conta que o trabalhoé um direito social. Impõe-se, assim, com a máximavênia, o reexame do Enunciados ns. 219 e 329 doC. TST. TRT/SP 15ª Região 2.040/03-096 - Ac. 6ª Câ-mara 27.715/05-PATR. Rel. Samuel Hugo Lima.DOE 17/06/05, p. 20.

HONORÁRIOS DE ADVOGADO1. NA JUSTIÇA DO TRABALHO. ART. 404 DOATUAL CC. REVOGAÇÃO DO ART. 20 DO CPC EDISPOSITIVOS DA LEI N. 5.584/70 (INTELIGÊNCIA

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DO ART. 2º, § 2º DA LICC).- Os honorários, na atualsistemática legal, não decorrem mais da sucumbên-cia, mas sim do inadimplemento da obrigação,constituindo-se reparação por perdas e danos, pre-viamente estabelecida em Lei, juntamente com acorreção do débito, os juros de mora e as custas doprocesso. Interpretação que vai de encontro aoprincípio maior de justiça, já que o trabalhador nãoterá mais que subtrair de seu crédito alimentar, ovalor dos honorários advocatícios. Recurso da Re-clamada a que se dá parcial provimento, apenaspara limitar o valor da verba, ao limite fixado paratanto pela OAB, a fim de que sejam também obser-vados, quanto a tal aspecto, os termos da Lei.TRT/SP 15ª Região 230/04-119 - Ac. 12ª Câmara32.905/05-PATR. Rel. Maria da Graça Bonança Barbosa.DOE 15/07/05, p. 53.

INDENIZAÇÃO

1. POR DANO MORAL. PRAZO PARA PROPOSITU-RA DA AÇÃO. RESPONSABILIDADE DA EMPRESAPOR ATO DE SEU CONTADOR EM ENTREVISTA ÀIMPRENSA.- O prazo para o empregado pleitear, deseu ex-empregador, indenização por dano moralnão é decadencial, mas prescricional, ainda que ofato esteja relacionado a declarações publicadas emJornal. É da empregadora a responsabilidade pelareparação civil decorrente de declarações prestadaspor seu contador, em entrevista à Imprensa. TRT/SP

15ª Região 239/04-033 - Ac. 2ª Câmara 26.586/05-PATR.Rel. Thelma Helena Monteiro de Toledo Vieira.DOE 17/06/05, p. 8.

INTERVALO

1. INTRAJORNADA. DURAÇÃO. CONFORMIDADECOM A CARGA HORÁRIA EFETIVA.- O art. 71 daCLT determina o descanso na proporção mínima deuma hora em razão de “qualquer trabalho contínuoque exceda de seis horas diárias”, e não conforme ajornada prevista em lei ou contrato. Assim, sendo ajornada efetiva superior àquele limite, o repousodeve durar o previsto no “caput” de tal artigo.TRT/SP 15ª Região 270/02-014 - Ac. 3ª Câmara31.307/05-PATR. Rel. Ricardo Regis Laraia.DOE 08/07/05, p. 17.

2. INTRAJORNADA. REDUÇÃO EM NORMA COLE-TIVA.- Não tem direito de invocar cláusula coletivaque prevê redução do intervalo para refeição edescanso a empresa que submete o trabalhador àprorrogação habitual da jornada. TRT/SP 15ª Região1.382/02-021 - Ac. 2ª Câmara 32.428/05-PATR.Rel. Thelma Helena Monteiro de Toledo Vieira.DOE 15/07/05, p. 15.

JUROS1. DE MORA. CONTRIBUIÇÕES PREVIDEN-CIÁRIAS. FATO GERADOR.- Indevidos juros emulta de mora para cálculo das importâncias devi-das ao INSS quando o montante devido for apuradoem liquidação de sentença, posto que conformevem decidindo a majoritária corrente jurisprudenci-al, com base na lei, o fato gerador das contribuiçõesprevidenciárias é o pagamento dos salários. Inteli-gência do art. 11 da Lei n. 8.212/91. JUROS. DEPÓ-SITO PARA GARANTIA DA EXECUÇÃO. PERCEN-TUAL. APLICAÇÃO DA NORMA TRABALHISTA.-Infere-se da Lei n. 8.177/91, art. 39, que os juros demora incidem sobre o capital atualizado, desde ainterposição da reclamação até o efetivo pagamentoda condenação, uma vez que quanto ao final doperíodo de apuração a lei não fez qualquer ressalvaou diferenciação; o que torna imperioso se concluirque este (final do período de apuração) é idênticoao da correção monetária. Padece de legalidade oentendimento de que uma vez feito o depósito judi-cial em estabelecimento bancário encerrou-se acontagem dos juros de mora pelos critérios aplicá-veis à sua remuneração pelo vértice das normastrabalhistas e que corretos seriam aqueles remune-rados pelos índices financeiros dos bancos. TRT/SP15ª Região 2.151/98-029 - Ac. 6ª Câmara 26.466/05-PATR. Rel. Carlos Augusto Escanfella.DOE 10/06/05, p. 31.

2. DE MORA.TAXA SELIC. ART. 406, DO CC. LEI N.8.177/91. JUROS DE 1% AO MÊS, SIMPLES E “PRORATA”. PREVALÊNCIA DA ÚLTIMA.- Relativamenteaos juros de mora, em que pese ser tentadora a teseadotada na origem, a qual defende a incidência dataxa SELIC respaldada na previsão do art. 406, doCC, não se vislumbra, “data venia”, como manteresse entendimento. Isto porque, lei geral a desnu-dada no Código Civil, sucumbe ela à especial tra-duzida na Lei n. 8.177/91, diante do conteúdo do §2º, do art. 2º, da LICC, maximizando, ainda, emfavor da última, a mera supletividade daquela (CLT,art. 8º, parágrafo único). TRT/SP 15ª Região 704/04-067 - Ac. 10ª Câmara 32.642/05-PATR. Rel. ValdevirRoberto Zanardi. DOE 15/07/05, p. 44.

JUSTIÇA GRATUITA1. DEPÓSITO RECURSAL. NÃO EXTENSÃO.- Aindaquando se admita a possibilidade de conferir-se obenefício da justiça gratuita a empregador pessoafísica, sua extensão não abarcará o depósito judi-cial, já que este não é taxa judiciária, mas préviagarantia da futura execução. Recurso não conheci-do, por deserto. TRT/SP 15ª Região 1.775/03-003 - Ac.4ª Câmara 27.409/05-PATR. Rel. Manoel Carlos ToledoFilho. DOE 17/06/05, p. 18.

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LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ1. ALTERAÇÃO DA VERDADE DE FATO INCON-TROVERSO. ARTS. 17 E 18 DO CPC. MULTA. IN-DENIZAÇÃO.- Reputa-se como litigante de má-féreclamada que alega em recurso fatos que colidemfrontalmente inclusive com depoimento de teste-munha por ela trazida. Assim agindo, contribui parao afogamento da máquina judiciária, com o clarointuito de procrastinar o andamento do feito e indu-zir o Judiciário ao erro, sendo portanto devida amulta de 1% sobre o valor da causa atualizado. Talmulta é devida mesmo que, em outro tópico recur-sal, obtenha provimento parcial, pois o tipo pre-visto pelo legislador é a alteração de fatos incon-troversos, independentemente do resultado dademanda. Além disso, ao recorrer de tópicos que oreclamante já poderia ter executado definitivamen-te, causa prejuízos ao adversário, que deve serindenizado em quantia não superior a 20% sobre ovalor da causa atualizado. TRT/SP 15ª Região 159/04-092 - Ac. 6ª Câmara 26.410/05-PATR. Rel. Samuel HugoLima. DOE 10/06/05, p. 30.

2. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA DO ADVOGADO.IMPOSSIBILIDADE.- Na dicção do art. 133 da CF, oadvogado é indispensável à administração da justi-ça. Por sua vez, o art. 6º da Lei n. 8.906/94 é taxa-tivo no sentido de que não há hierarquia nem su-bordinação entre advogados, magistrados emembros do Ministério Público. Outrossim, não sepode olvidar que partes da relação jurídica proces-sual são o autor, o réu e o interveniente, não o ad-vogado que os representa. Tanto é assim, que o art.16 do CPC é incisivo: “Responde por perdas edanos aquele que pleitear de má-fé como autor, réuou interveniente” e, por via de conseqüência, res-sente-se de amparo jurídico a condenação solidáriado advogado nos autos da reclamatória trabalhista.Isto porque a referida condenação somente seriapossível em ação própria e desde que comprovada-mente estivesse coligado com o seu cliente paraefeito de lesar a parte contrária, consoante o pará-grafo único do art. 32 da Lei n. 8.906/94, sob penade violação dos princípios constitucionais do di-reito à ampla defesa e do contraditório. Recursoconhecido e parcialmente provido. TRT/SP 15ªRegião 334/03-113 - Ac. 3ª Câmara 25.980/05-PATR.Rel. Samuel Corrêa Leite. DOE 10/06/05, p. 20.

LITISPENDÊNCIA1. AÇÃO INTERPOSTA POR SINDICATO, NA QUA-LIDADE DE SUBSTITUTO PROCESSUAL.- A de-manda interposta pelo Sindicato, na qualidade desubstituto processual, obstaculiza que os membrosda sua categoria profissional, na qualidade desubstituídos, possam a postular individualmenteigual pedido. Ocorre aí a figura da litispendência -

art. 301, V, §§ 1º e 3º, do CPC - porque configura-da a tríplice identidade - pedido, causa de pedir epartes, já que o Sindicato está perseguindo direitoinerente ao próprio trabalhador. TRT/SP 15ª Região286/04-128 - Ac. 6ª Câmara 28.902/05-PATR. Rel. AnaMaria de Vasconcellos. DOE 24/06/05, p. 34.

MÉDICO1. DO TRABALHO. VÍNCULO EMPREGATÍCIONEGADO.- Médico do trabalho que presta serviçosespecializados em medicina do trabalho à empresacujo grau de risco da atividade não se enquadra noQuadro II, da NR-4, pode ser contratado para pres-tação de serviço autônomo, não gerando vínculoempregatício o fato de haver estipulação de horáriopara atendimento do pessoal; mormente possuindoampla liberdade no agendamento dos atendimentosmédicos, inclusive podendo ser substituído poroutro profissional da área por ele mesmo indicado.Ausentes os requisitos da subordinação jurídica eda pessoalidade, além do “animus contrahendi”.Não há que se falar em relação de emprego. Sen-tença mantida. TRT/SP 15ª Região 510/03-016 - Ac. 11ªCâmara 29.102/05-PATR. Rel. Edison dos Santos Pele-grini. DOE 24/06/05, p. 55.

MUDANÇA DE REGIME1. VALIDADE.- É nula a alteração de regime cele-tista para regime não celetista, se esta alteração nãodecorre de lei e, sim, de simples Resolução da Ad-ministração. A autonomia que possui a Universida-de não alcança a possibilidade de criar para si oregime de pessoal que lhe interessa. TRT/SP 15ªRegião 745/04-025 - Ac. 12ª Câmara 31.240/05-PATR.Rel. José Pitas. DOE 08/07/05, p. 53.

MULTA1. ART. 652, “D”, DA CLT. IMPERTINENTE.- Não háque se falar em aplicação da multa mencionada naalínea “d”, do art. 652, da CLT, uma vez que decaráter administrativo e, ainda, porque tal preceitonão outorga ao Juiz o poder de legislar quando e aquantas seria aplicável a penalidade. A incidência eimputação de tal multa só se mostra viável quandoem face de outra regra expressa que venha a comi-nar punição legal por determinado ato ilícito. En-tendimento diverso iria de encontro ao princípio dareserva legal, que deve sempre ser prestigiado.TRT/SP 15ª Região 708/02-069 - Ac. 6ª Câmara25.019/05-PATR. Rel. Ana Maria de Vasconcellos.DOE 03/06/05, p. 77.

NULIDADE1. CERCEAMENTO DE PROVAS. PROVA EMPRES-TADA COMPULSÓRIA. DEVIDO PROCESSO

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LEGAL.- A despeito da utilização de prova em-prestada, no processo do trabalho, ser amplamenteadmissível, sobretudo de forma convencionada, porceleridade e economia processual; também é possí-vel sem a concordância de uma das partes, quandoesta tenha participação na produção probatóriaemprestada, ocorrente quando a parte está assistidapelo mesmo patrono, ou depôs na qualidade detestemunha, mormente em se tratando do mesmojuízo instrutor e sentenciante. Entrementes, a liber-dade conferida ao juiz do trabalho pelo art. 765 daCLT, na busca da verdade real, não deve malferir odireito do autor de produzir prova oral específicaao caso concreto, sobretudo sendo questão fáticacontroversa, não se pode impor à parte o procedi-mento probatório coligido em outro feito, pois aindividualidade do processo há de ser preservada.O fato de haver precedentes em relação à mesmaempresa, não enseja vinculação do julgador, nota-damente em se tratando de questões fáticas suscep-tíveis de revisão. Emerge manifesto prejuízo pro-cessual ao reclamante, na medida em que não foraoportunizada a produção probatória requerida,decidindo-se em desfavor daquele que tinha o ônusda prova, violando o princípio do devido processolegal (art. 5°, LV, da CF/88), atraindo a incidênciado disposto no art. 794 da CLT c/c art. 248 do CPC.TRT/SP 15ª Região 2.488/03-017 - Ac. 11ª Câmara32.887/05-PATR. Rel. Edison dos Santos Pelegrini. DOE15/07/05, p. 52.

PREÇO VIL1. EXECUÇÃO TRABALHISTA.- Por atritar com aceleridade que deve presidir a mesma, o conceitode preço vil deve, quando menos, sofrer interpreta-ção restritiva, não podendo como tal ser considera-do o correspondente a 30% da avaliação. TRT/SP15ª Região 1.026/98-067 - Ac. 1ª Câmara 30.921/05-PATR. Rel. Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani.DOE 08/07/05, p. 10.

PRESCRIÇÃO1. DA EXECUÇÃO TRABALHISTA / PRESCRIÇÃOINTERCORRENTE.- A prescrição intercorrentesomente se verifica no curso da execução traba-lhista quando a paralisação superior a dois anos forde responsabilidade exclusiva do credor. Ainda queo entendimento jurisprudencial sedimentado naSúmula n. 114 do C. TST seja no sentido de ser elainaplicável na Justiça do Trabalho, foi expressa-mente contemplada pelo legislador, no § 1º do art.884 da CLT, ao dispor que a matéria de defesa serárestrita às alegações de cumprimento da decisão oudo acordo, quitação ou p r e s c r i ç ã o da d í v i d a,eis que o dispositivo somente pode referir-se àprescrição intercorrente, uma vez que a ordinária

apenas pode ser argüida na fase de conhecimento -inadmissível que é a modificação ou inovação dasentença exeqüenda, na fase de liquidação do jul-gado -, “ex vi” do § 1º do art. 879 da CLT. TRT/SP15ª Região 993/96-091 - Ac. 6ª Câmara 31.691/05-PATR.Rel. Ana Paula Pellegrina Lockmann. DOE 08/7/05, p. 33.

2. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATE-RIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABA-LHO. ART. 7º, XXIX, DA CF.- A prescrição aplicávelaos casos de indenização por danos morais e mate-riais decorrentes de acidentes de trabalho, indepen-dentemente de qual ramo do Judiciário seja o com-petente para apreciá-los, é a prevista no incisoXXIX, do art. 7º, da Constituição da República,uma vez que mencionado dispositivo trata, generi-camente, da prescrição de todos os “créditos resul-tantes das relações de trabalho”, dentre os quais,por óbvio, encontram-se os oriundos de responsa-bilidade civil do empregador. E tal conclusão seagiganta ainda mais, pelo fato de que é no mesmoart. 7º que se acha também previsto o “seguro con-tra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,sem excluir a indenização a que este está obrigado,quando incorrer em dolo ou culpa” (incisoXXVIII). Prescrição reconhecida. TRT/SP 15ª Região309/05-016 - Ac. 6ª Câmara 31.745/05-PATR. Rel. Desig.Jorge Luiz Costa. DOE 08/07/05, p. 35.

3. PARA PROPOSITURA DA AÇÃO DE CUMPRI-MENTO. “DIES A QUO” A PARTIR DO TRÂNSITOEM JULGADO DA SENTENÇA NORMATIVA.- Comose pode observar, o direito de propor ação de cum-primento antes do trânsito em julgado da sentençanormativa, trata-se de uma faculdade do exeqüentee não de uma obrigação, correndo ele o risco denão usufruir da norma coletiva em caso de suaeventual reversão em grau de recurso para o C.TST. Todavia, a prescrição não pode ocorrer a par-tir deste momento, pois contraria a lógica jurídicapermitir-se a sua ocorrência antes mesmo do trân-sito em julgado da sentença normativa. Logo, o teorda hoje Súmula n. 246, do C. TST, segundo a qual“é dispensável o trânsito em julgado da sentençanormativa para a propositura da ação de cumpri-mento”, deve ser entendida como faculdade doexeqüente. Sobre o tema, deve prevalecer a hojeSúmula n. 350, do C. TST . TRT/SP 15ª Região81/05-103 - Ac. 6ª Câmara 28.979/05-PATR. Rel. LuizCarlos de Araújo. DOE 24/06/05, p. 37.

PROCESSO DO TRABALHO1. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONFERIDA EMSENTENÇA. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE DOPROCESSO. AÇÃO CAUTELAR. EFEITO SUSPEN-SIVO A RECURSO ORDINÁRIO. COMPLEMENTA-ÇÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA. BENEFÍCIO PREVIS-TO EM NORMA COLETIVA. PRAZO DE VIGÊNCIAEXPIRADO. ULTRATIVIDADE.- O instituto da ante-

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cipação de tutela tem em mira garantir a efetividadedo processo, conclusão esta discernível pela conju-gação dos arts. 273 e 461, § 3º, ambos do CPC.Deve-se dar à parte aquilo que ela realmente temdireito, afastando, ao máximo, a substituição doefetivo bem da vida perseguido pela indenizaçãocorrespondente (perdas e danos). O argumento deque as vantagens previstas em norma coletiva nãose incorporam definitivamente ao contrato de tra-balho soçobra diante da aplicação analógica doentendimento jurisprudencial reunido em torno daOJ n. 41 da SBDI-1/TST. Se o empregado já vinhapercebendo a complementação do auxílio-doença, oseu direito não perece somente pelo fato de ter seesvaído o prazo de vigência do instrumento norma-tivo que a contemplava. A supressão é inadmissí-vel, ante o fenômeno da ultratividade que se inserenaquele comando normativo. Ação cautelar que sejulga improcedente, diante da ausência do “fumusboni juris” e do “periculum in mora”. TRT/SP 15ªRegião 2.314/04-000 - Ac. 5ª Câmara 30.688/05-PATR.Rel. Luiz José Dezena da Silva. DOE 08/07/05, p. 22.

2. EXECUÇÃO. PENHORA. CONTA-SALÁRIO ECONTA-POUPANÇA INTEGRADA. IMPENHORABI-LIDADE.- Os créditos de natureza salarial deposita-dos diretamente em conta-salário e transferidos aconta-poupança integrada não têm alterada a natu-reza da parcela, remanescendo impenhoráveis emconformidade com o art. 649, IV, CPC, impondo-seo desbloqueio dos valores. Agravo de Petição pro-vido. TRT/SP 15ª Região 1.390/93-009 - Ac. 3ª Câmara27.710/05-PATR. Rel. Luciane Storel da Silva.DOE 17/06/05, p. 12.

PROVA TESTEMUNHAL1. CERCEAMENTO PROBATÓRIO. ÔNUS DA PRO-VA.- Não obstante o Magistrado tenha o poder-dever de indeferir as provas inúteis ao deslinde dacontrovérsia, não se pode obstaculizar o direito daparte de ouvir suas testemunhas para efeito decomprovar sua tese, particularmente quando seu é oencargo probatório. Configurado está o cercea-mento de defesa, com afronta ao art. 5º, inciso LV,da CF. TRT/SP 15ª Região 898/03-077 - Ac. 5ª Câmara25.820/05-PATR. Rel. Helena Rosa Mônaco da Silva LinsCoelho. DOE 10/06/05, p. 27.

RECURSO1. DE MULTA. SISTEMA DE RECURSOS TRABA-LHISTAS. INEXISTÊNCIA.- O “Recurso de Multa”não está previsto no sistema de recursos trabalhis-tas, constatando-se ainda que inexiste a devidaadequação da medida processual adotada com adecisão impugnada pela parte. Agravo regimentalnão provido. TRT/SP 15ª Região 1.684/00-075 - Ac. TP70/05-PPLJ. Rel. Antônio Miguel Pereira.DOE 15/07/05, p. 2.

2. ORDINÁRIO. CONDENAÇÃO SUBSIDIÁRIA.AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO DEPÓSITORECURSAL. HIPÓTESE DE IMPOSSIBILIDADE.-Com base na melhor técnica processual aplicada aoart. 899 da CLT, a isenção do depósito recursal parao caso de uma empresa recorrer é possível desdeque a outra reclamada-recorrente não venha a re-querer, em seu recurso, a exclusão da lide por ile-gitimidade de parte. Essa é uma hipótese em que agarantia de um recurso não aproveita a outro.TRT/SP 15ª Região 301/04-123 - Ac. 9ª Câmara25.509/05-PATR. Rel. Gerson Lacerda Pistori. DOE10/06/05, p. 45.

REINTEGRAÇÃO1. TUTELA ANTECIPADA. PREOCUPAÇÃO COM APARTILHA ENTRE AUTOR E RÉU DOS ÔNUS ECONSEQÜÊNCIAS DE POSSÍVEL DEMORA NAENTREGA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.- Areintegração de empregado, concedida via anteci-pação de tutela, salvo situações especiais, atende apreocupação hodierna de eminentes processualistas,no sentido de partilhar entre autor e réu os ônus eas conseqüências de possível demora na entrega daprestação jurisdicional, os quais, não fosse assim,pesariam apenas sobre aquele que propõe umaação, o que, como dito, hoje já não se aceita mais,além do que, relevante o recordar as horríveis con-seqüências que ruptura de um vínculo empregatíciosempre e invariavelmente trazem ao trabalhador eque não podem ser vistas e/ou limitadas a umarotina na vida de uma empresa. INTERPRETAÇÃOGRAMATICAL. PALAVRA. SUA RELEVÂNCIA.- Apalavra é o início e a base de qualquer interpreta-ção, pelo que não pode, em momento algum, ter seuvalor diminuído, embora não seja único. TRT/SP 15ªRegião 2.348/04-000 - Ac. 1ª SDI 334/05-PDI1. Rel.Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani.DOE 03/06/05, p. 53.

RESPONSABILIDADE1. O SÓCIO OU DO ASSOCIADO. CC, ART. 1.032.-Na forma do art. 1.032 do CC, a responsabilidadedo sócio subsiste até dois (2) anos da averbação naJunta Comercial ou no Cartório Civil da resoluçãode sua saída, que, ante o princípio da despersonali-zação da Pessoa Jurídica, responde, objetivamente,perante a Sociedade com fins lucrativos ou, subje-tivamente, perante a Sociedade Civil, equiparável aEmpregador, na forma do § 1º, do art. 2º, da CLT.TRT/SP 15ª Região 1.206/97-049 - Ac. 12ª Câmara29.120/05-PATR. Rel. José Pitas. DOE 24/06/05, p. 56.

2. SOLIDÁRIA. ENTE PÚBLICO. INTERVENÇÃO.- Oente público que, por meio de intervenção,

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desapropria bens, assumindo direitos e obrigaçõesda empregadora, responde solidariamente pelosdébitos trabalhistas por ela devidos, em decorrênciados arts. 10 e 448 da CLT. TRT/SP 15ª Região 631/03-041 - Ac. 2ª Câmara 24.232/05-PATR. Rel. EduardoBenedito de Oliveira Zanella. DOE 03/06/05, p. 62.

RETIFICAÇÃO1. NA CTPS, DE OFÍCIO PELO JUIZ, NÃO CONFI-GURANDO JULGAMENTO “EXTRA PETITA”.- Veri-ficada nos autos irregularidade na anotação daCTPS quanto à função exercida e deferido o pleitode diferença salarial conseqüente, não extrapola oslimites da lide, a retificação de ofício pelo Juiz, ematuação administrativa processual, mesmo sem talpedido, a teor do art. 39, § 2º, da CLT, quandodirimida a controvérsia acerca da função. TRT/SP15ª Região 967/03-001 - Ac. 8ª Câmara 1.062/05-PATR.Rel. Flavio Allegretti de Campos Cooper. DOE10/06/05, p. 5.

SAFRA

1. PLANTIO, CAPINA E ACEIROS. PRAZO DETER-MINADO. VALIDADE DO AJUSTE.- A capina decana-de-açúcar, o corte de mudas, o plantio e a“confecção de aceiros” também dependem de vari-ações estacionais da atividade agrária, autorizandoa contratação pela modalidade prevista no parágra-fo único, do art. 14, Lei n. 5.889/73, até porque são“tarefas normalmente executadas no período com-preendido entre o preparo do solo para o cultivo e acolheita” (parágrafo único do art. 19 do Decreto n.73.626/74). INTERVALO. TRABALHO RURAL. ART.71 DA CLT. INAPLICABILIDADE.- A norma especí-fica afasta a incidência de qualquer outra de carátergeral. Como o art. 5º, da Lei n. 5.889/73, regulouintegralmente o intervalo para refeição e descansono trabalho rural, o disposto no art. 71 e §§ da CLT

não se aplica aos rurícolas. TRT/SP 15ª Região2.219/04-011 - Ac. 4ª Câmara 24.763/05-PATR. Rel.Paulo de Tarso Salomão. DOE 03/06/05, p. 72.

SEGURO-DESEMPREGO1. HABILITAÇÃO. INDENIZAÇÃO. CONVERSÃO.IMPOSSIBILIDADE.- A habilitação ao seguro-desemprego pode ser feita mediante a simples“apresentação da sentença judicial transitada emjulgado, acórdão ou certidão judicial, onde consteos dados do trabalhador, da empresa e se o motivoda demissão foi sem justa causa” (artigo 4º, incisoIV, da Resolução CODEFAT n. 252, de 04/10/00),de modo que a conversão da obrigação de entregade guias em indenização substitutiva do seguro-desemprego não pode mais ser autorizada. Nesseparticular, a Súmula n. 389 do C. TST está supera-da pela alteração das normas que regem o benefícioem questão. TRT/SP 15ª Região 262/04-005 - Ac. 4ªCâmara 27.387/05-PATR. Rel. Paulo de Tarso Salomão.DOE 17/06/05, p. 17.

SERVIDOR PÚBLICO1. MUNICIPAL. REGIME DA CLT. 'SEXTA-PARTE'.DEVIDA.- Norma municipal que faça distinçõesacerca do termo 'servidor público' apenas em razãodo regime jurídico adotado não detém eficáciajurídica, em virtude de sua total inadequação com oprincípio da isonomia consagrado no 'caput' do art.5º da CF de 1988, além da disposição expressa noart. 129, agora da Constituição Bandeirante. Assimsendo e tendo completado 20 anos de prestação deserviços públicos, pode (e deve) servidor públicomunicipal regido pela CLT fazer jus à incorporaçãoda verba intitulada 'sexta-parte' aos seus venci-mentos, desde que tal direito também esteja pre-visto em Lei do referido Município. TRT/SP 15ªRegião 439/04-125 - Ac. 9ª Câmara 25.426/05-PATR.Rel. Gerson Lacerda Pistori. DOE 10/06/05, p. 43.

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Índice do Ementário de Jurisprudência

AÇÃO- Cautelar. Efeito suspensivo de recurso ordinário.Cabimento............................................................................142- De indenização. Por danos morais e materiais decor-rentes de acidente de trabalho. Competência da Justiçado Trabalho..........................................................................142- Monitória. Fazenda pública. Cabimento..........................142ACORDO COLETIVO- Legitimidade. Jornada de oito horas para os turnosininterruptos de revezamento. Pagamento de adicionalsobre as sétima e oitava horas diárias. Improcedência ......142

ADJUDICAÇÃO- Desoneração dos tributos do bem imóvel adjudicado apartir da data de adjudicação. Possibilidade ......................143

AGRAVO- De petição. Arrematação pelo credor-exeqüente. Possi-bilidade. Nulidade inexistente.............................................143- De petição. Embargos de terceiro. Penhora sobre nume-rário de instituição bancária que descumpriu ordem depenhora “on line”. Efetivação nos próprios autos da exe-cução em que se deu o descumprimento da ordem.Possibilidade........................................................................144- De petição. Incompatibilidade entre a conduta de quitara execução e de embargar. Preclusão lógica ......................144- Regimental. Em dissídio coletivo. Extinção do feitosem julgamento do mérito. Não demonstrado o cumpri-mento dos requisitos legais .................................................144- Regimental em reclamação correicional. Existência derecurso processual próprio. Não cabimento. Improvimento...144- Regimental. Em reclamação correicional. Intempestivi-dade. Não cabimento. Improvimento .................................144

ALTERAÇÃO CONTRATUAL- Acúmulo de funções..........................................................144

APLICAÇÃO- Da taxa SELIC (art. 406 do NCC) às dívidas trabalhistas ....144

ARBITRAGEM ...........................................................145

ARTIGO- 384 da CLT. Afronta aos arts. 5º, I, e 7º, XXX, da CF .......145

AUSÊNCIA DE RÉPLICA- Efeitos. Nulidade processual. Cerceamento de defesa.Configuração .......................................................................145

AVALIAÇÃO- Fé pública do oficial de justiça e prova técnica ...............145

BENEFÍCIOS- Vale-transporte e vale-refeição pagos antecipadamente.Desconto em férias ou períodos de ausência. Não cabi-mento de impugnação .........................................................143

CÂMARA MUNICIPAL- Cargo em comissão. Salário superior ao pago pela mu-nicipalidade. Redução. Legalidade.....................................146- Reclamação trabalhista. Ausência de capacidadeprocessual.............................................................................146

CASA DE BINGO- Paralisação da atividade econômica. Inadimplência naquitação das verbas rescisórias. “Factum principis”.Chamamento da União à autoria. Descabimento ..............146

COLHEITA DA LARANJA- Alegação da reclamada de contratação com o produtorsob a forma de “fruta posta”...............................................146

CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO- Natureza jurídica de execução invertida. Revelia. Pa-gamento das rescisórias. Eficácia. Quitação do extintocontrato. Impossibilidade jurídica......................................147

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA- Incidência..........................................................................147

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS- Fato gerador. Correção do crédito ...................................147

DANO MORAL- Ausência de “animus calumniandi”, “animus diffaman-di” ou “animus injuriandi”/ “animus offendendi”. Não-cabimento de indenização...................................................147- Disacusia irreversível. Impossibilidade de concessão.Ausência de nexo causal entre a moléstia e o trabalho......147- Rescisão indireta do contrato de trabalho........................147

DEPÓSITO RECURSAL- Deserção............................................................................147

DIREITO DO TRABALHO- Prescrição. Herdeiro menor. Incidência da regra civilde forma subsidiária (art. 8º da CLT). Causa impeditivareconhecida..........................................................................148

DISSENSO JURISPRUDENCIAL- Não caracterização............................................................148

EDITAL- Falta de publicação em jornal local (CLT, art. 888).Nulidade ..............................................................................146

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO- Despiciendos. Oposição com o fito exclusivo de pre-questionamento. Manifestação do colegiado sobre osdispositivos de lei apontados pela parte.............................148

EQUIPARAÇÃO SALARIAL- Identidade de funções.......................................................148

ESTABILIDADE PROVISÓRIA- Acidente de trabalho. Requisitos .....................................148

ESTÁGIO- Profissional concomitante à prestação laboral. Horasextras. Indevido...................................................................148

EXECUÇÃO- Arrematação. Credor licitante ..........................................148- Desconsideração da personalidade jurídica. Validadeda citação dirigida à empresa .............................................149- Fraude................................................................................149

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“FACTUM PRINCIPIS”- Exploração de jogos de bingo. MP n. 168/04. Nãoocorrência............................................................................149

HOMOLOGAÇÃO.- De acordo. Recusada pelo Juiz. Possibilidade. ...............149

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS- Justiça do trabalho. Relação de emprego. Cabimento. ...149- Necessidade do reexame da matéria em decorrência donovo CC ..............................................................................149

HONORÁRIOS DE ADVOGADO- Na Justiça do Trabalho. Art. 404 do atual CC. Revoga-ção do art. 20 do CPC e dispositivos da Lei n. 5.584/70(Inteligência do art. 2º, parágrafo 2º da LICC)..................149

HORAS- Extras. Cursos de aperfeiçoamento custeados pela em-pregadora. Adesão e freqüência optativas. Não caracteri-zação da sobrejornada ........................................................143- “In itinere”. Região de fácil acesso durante as vinte equatro horas do dia. Não cabimento ..................................143

INDENIZAÇÃO- Adicional. Art. 9° das Leis ns. 6.708/79 e 7.238/84.......143- Por dano moral. Prazo para propositura da ação. Res-ponsabilidade da empresa por ato de seu contador ementrevista à imprensa...........................................................150

INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL- Palavra. Sua relevância.....................................................153

INTERVALO- Intrajornada. Concessão fracionada. Hipótese autoriza-da por norma coletiva. Legitimidade do procedimento.Súmula n. 22, deste TRT da 15ª Região............................143- Intrajornada. Duração. Conformidade com a cargahorária efetiva......................................................................150- Intrajornada. Redução em norma coletiva.......................150- Trabalho rural. Art. 71 da CLT. Inaplicabilidade ...........154

INTERVALOS- Interjornadas (11 horas) e intersemanais (35 horas).Supressão. Alegação desamparada de qualquer demons-tração. Inexistência de direito a diferenças........................143

JUROS- De mora. Contribuições previdenciárias. Fato gerador .......150

- De mora. Taxa SELIC. Art. 406, do CC. Lei n.8.177/91. Juros de 1% ao mês, simples e “pro rata”. Pre-valência da última ...............................................................150

- Depósito para garantia da execução. Percentual. Apli-cação da norma trabalhista .................................................150

JUSTIÇA GRATUITA- Depósito recursal não extensão........................................150

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ- Alteração da verdade de fato incontroverso. Arts. 17 e18 do CPC. Multa. Indenização .........................................151

- Condenação solidária do advogado. Impossibilidade.....151

LITISPENDÊNCIA- Ação interposta por sindicato, na qualidade de substi-tuto processual.....................................................................151

MÉDICO- Do trabalho. Vínculo empregatício negado .....................151

MUDANÇA DE REGIME- Validade.............................................................................151

MULTA- Art. 652, “d”, da CLT. Impertinente ................................151

NULIDADE- Cerceamento de provas. Prova emprestada compulsó-ria. Devido processo legal...................................................151- Irregularidade na representação processual e na prepo-sição. Preclusão. Alegação tardia e ausência de prejuízo.143

PREÇO VIL- Execução trabalhista .........................................................152

PRESCRIÇÃO- Da execução trabalhista / prescrição intercorrente ..........152- Indenização por danos morais e materiais decorrentesde acidente de trabalho. Art. 7º, XXIX, da CF ..................152- Para propositura da ação de cumprimento. “Dies a quo”a partir do trânsito em julgado da sentença normativa ......152

PROCESSO DO TRABALHO- Antecipação de tutela conferida em sentença. Princípioda efetividade do processo. Ação cautelar. Efeito sus-pensivo a recurso ordinário. Complementação de auxí-lio-doença. Benefício previsto em norma coletiva. Prazode vigência expirado. Ultratividade....................................152- Execução. Penhora. Conta-salário e conta-poupançaintegrada. Impenhorabilidade .............................................153

PROVA TESTEMUNHAL- Cerceamento probatório. Ônus da prova .........................153

RECURSO- De multa. Sistema de recursos trabalhistas. Inexistência......153- Ordinário. Condenação subsidiária. Ausência de reco-lhimento do depósito recursal. Hipótese de impossi-bilidade.................................................................................153

REINTEGRAÇÃO- Deferida em tutela antecipada.Impossibilidade...............142- Doença ocupacional..........................................................147- Tutela antecipada. Preocupação com a partilha entreautor e réu dos ônus e conseqüências de possível demorana entrega da prestação jurisdicional..................................153

RESPONSABILIDADE- Do sócio ou do associado. CC, art. 1.032........................153- Solidária. Ente público. Intervenção ................................153

RETIFICAÇÃO- Na CTPS, de ofício pelo juiz, não configurando julga-mento “extra petita”.............................................................154

SAFRA- Plantio, capina e aceiros. Prazo determinado. Validadedo ajuste ...............................................................................154

SEGURO-DESEMPREGO- Habilitação. Indenização. Conversão. Impossibilidade.......154

SERVIDOR PÚBLICO- Municipal. Regime da CLT. 'Sexta-parte'. Devida..........154

VALOR DE MERCADO- Validade.............................................................................146