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POBREZA: conceitos, medidas, políticas sociais. O conceito de “habitus” e a pobreza intergeracional

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POBREZA: conceitos, medidas, políticas sociais. O conceito de

“habitus” e a pobreza intergeracional

1.1-Discuta os conceitos de pobreza e desigualdade

e caracterize a pobreza na população brasileira

Desigualdade diz respeito à distância econômica, social e

política entre os membros de uma sociedade. Pode ser

medida pela distância entre o maior e o menor salários

em um país, pelo acesso à terra e estrutura fundiária ou

pelo número de membros de um determinado grupo

social em certas posições valorizadas.

Construção historicamente determinada os padrões

sobre o que é pobreza podem variar com o tempo e o

lugar.

Ex: América Latina usa pobreza absoluta= privação

de necessidades; Europa Ocidental usa pobreza

relativa= ter um padrão de vida socialmente aceitável,

mas situar-se na periferia do estado de bem-estar.

SILVA (2009), define pobreza em dois aspectos:

a) pobreza absoluta, relacionada ao não atendimento das

necessidades mínimas para reprodução biológica; e

b) pobreza relativa que diz respeito à estrutura e à evolução

do rendimento médio de um determinado país a

concepção de pobreza relativa se fundamenta na ideia de

desigualdade de renda e de privação relativa em relação ao

modo de vida dominante em determinado contexto.

Na pobreza relativa adota-se uma perspectiva que se refere

às condições objetivas (e não subjetivas) de privação que

afetam pessoas quando comparadas com outros membros

da sociedade.

Sonia ROCHA

Pobres são os indivíduos cuja renda familiar per capita é inferior ao valor necessário para atender a todas as necessidades básicas (alimentação, habitação, transporte, saúde, lazer, educação, etc.).

Indigentes são os indivíduos cuja renda familiar per capita é inferior ao valor necessário para atender às necessidades básicas de alimentação.

IPEA (2010a) relaciona pobreza com renda define como pobreza absoluta o rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal

Introduz o conceito de pobreza extrema - rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto do salário mínimo mensal.

Outros conceitos:

Pobreza crônica ou pobreza estrutural provém de um déficit estrutural de capital (físico, humano, social, etc).

Pobreza transitória, temporária ou conjuntural resulta de choques(doenças temporárias, desemprego) que excedem as capacidades de enfrentamento das famílias, ou de flutuações na renda, que não refletem adequadamente o padrão de vida.

Conceito de pobreza multidimensionala concepção monetária está associada ao conceito de privação.

América Latina,anos 1980 passou-se a medir a pobreza com base na intersecção entre os resultados obtidos com a NBI (necessidades básicas insatisfeitas)e o custo das necessidades básicas (critério da renda)

• Nesse enfoque bidimensional os pobres podem ser classificados nos seguintes grupos:

1)pobres crônicos:são o núcleo da pobreza uma vez que não possuem renda mínima para o consumo e não satisfazem suas necessidades básicas;

2)pobres recentes: satisfazem suas necessidades básicas mas tem uma renda abaixo da linha da pobreza, de modo que a redução de renda não expressa uma deterioração imediata no atendimento de suas necessidades básicas;

3)pobres inerciais: tem renda suficiente para adquirir bens e serviços básicos, mas não conseguiram melhorar certas condições do seu padrão de vida. Essas famílias ou pessoas tem certas necessidades trazidas do seu passado, enraizadas no seu estilo de vida.

Brasil: (Paes de Barros et al. 2000) “o principal determinante dos elevados níveis de pobreza é a estrutura de desigualdade na distribuição de renda e das oportunidades de inclusão social”

duas décadas de estabilidade da pobreza entre 2978 e 1998, o número de pobres e indigentes pouco mudou 33%de pobres e 14% de indigentes o crescimento econômico não era suficiente para reduzir a pobreza no Brasil.

caráter estrutural: os pobres em risco de exclusão não são temporários, nem minoria

extensão da pobreza e da miséria no Brasil (Cepal 2007)

- 2001: 37,5% pobres (13,2% indigentes)

- 2006: 33,3% pobres (9% indigentes)

Pobreza na população brasileira.

Pobreza na população brasileira.

Parte da pobreza é rural, localizada sobretudo nos estados do Nordeste e em zonas agrícolas deprimidas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e outras regiões, e constituída por pessoas que não conseguem produzir para o mercado, sobrevivendo, no máximo, em uma economia de subsistência extremamente precária.

Em sua maioria, no entanto, a pobreza é urbana, localizada na periferia das grandes cidades, e constituída por pessoas em grande parte originárias do campo, que não se integraram ao mercado de trabalho formal ou cuja integração ao mercado de consumo não tem correspondência com o mercado de trabalho.

Quanto à cor 60% dos pobres no Brasil são constituídos por

negros.

70% das pessoas consideradas indigentes são negros.

De um modo geral, 50% das pessoas negras ou pardas são

pobres, enquanto que apenas 25% dos brancos apresentam a

mesma condição social.

PNAD, 2011: O perfil dos desocupados com 15 anos de idade

ou mais de idade mostra que mais da metade dos desocupados

era de mulheres, 35,1% nunca trabalharam, mais de um terço

(33,9%) era de jovens entre 18 e 24 anos de idade; 57,6% pretos

ou pardos e 53,6% com ensino médio incompleto.

Pobreza na população brasileira.

1.2-Quais as diferentes formas utilizadas, no presente,

para a mensuração da pobreza e suas respectivas

limitações?

Sergei Soares (IPEA, 2009, p.7)nem sequer

instituições de pesquisa oficiais, como o IPEA ou o

IBGE contam com metodologias de mensuração de

pobreza usadas por todos ou quase todos os seus

pesquisadores.

Compêndio sobre Melhores Práticas em Medição de

Pobreza, elaborado por especialistas sob os auspícios

da Comissão Estatística da ONU “a estimação da

linha absoluta de pobreza requer a tomada de

decisões sobre vários aspectos, que podem levar a

diferentes procedimentos operacionais que afetarão a

comparabilidade dos resultados” (Expert Group on

Poverty Statistics (2006), p. 147)

O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade .

consiste em um número entre 0 e 1, sendo zero a

completa igualdade (no caso do rendimento, por

exemplo, toda a população recebe o mesmo salário) e 1

corresponde à completa desigualdade (onde uma

pessoa recebe todo o rendimento e as demais nada

recebem).

Ocorre que o Coeficiente de Gini não revela muito

quando é aplicado em sociedades pouco diferenciadas

(em generalizada situação de pobreza ou de riqueza).

O índice de Gini é o coeficiente expresso em pontos

percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado por 100).

Linha de pobreza monetária

BRASIL:

Linha de pobreza= renda familiar per capita de meio salário mínimo.

Linha de Indigência= renda familiar per capita de um quarto do salário mínimo referido às necessidades calóricas, usado no BPC

IPEA pobreza absoluta = rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal e pobreza extrema = rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto do salário mínimo mensal. Indigência = extrema pobreza

Banco Mundial e ONU: extrema pobreza =menos de US$1,25 por dia

Mensuração da pobreza pelo critério multidimensional

Pobreza multidimensional é mais que um baixo padrão

de renda, expressa privação de capacidades, pelas

dificuldades de acesso aos direitos básicos e pela

negação da cidadania.

Pobreza MultidimensionalÉ uma medida de pobreza

aguda, que reflete a privação em ativos humanos

(educação, saúde e nível de vida).

Não é um agregado de outros indicadores, mas se

baseia em microdados de pesquisas domiciliares. Esse

indicador multidimensional tende a produzir maiores

taxas de pobreza extrema que a medida de 1,25 diários

dolares per capita do Banco Mundial (PPC) nos países

com menor PIB per capita

Há pequenas variações entre os critérios e indicadores

doBanco Mundial e do PNUD

Indicador Critério

Frequência

escolar das

crianças

Se alguma criança em idade escolar (7-17 anos) não está

matriculada na escola

Anos de

escolaridade

Se nenhum dos membros da família tem pelo menos 8 anos de

estudo

Saneamento

básico

Se o domicílio não tem acesso à rede de esgoto ou fossa séptica

Acesso à água Se o domicílio não tem acesso à água encanada fornecida pela rede

geral de abastecimento, poço ou nascente

Eletricidade Se o domicílio não tem acesso à eletricidade

Habitação Se o domicílio não foi construído com material de alvenaria (tijolos,

pedras, etc.)

Ativos Se a família não possui pelo menos 2 de 3 bens:

(a)refrigerador/freezer; (b)telefone fixo/celular; (c)fogão que utilize

combustível limpo (elétrico ou a gás)

LIMITAÇÕES:

Abordagens monetárias são menos importantes

em países com baixa renda per capita, população

mais rural e economia de mercado menos

desenvolvida nesses casos a mais indicada é a

abordagem das privações.

Nas sociedades com maior população urbana e

economia de mercado, as abordagens monetárias parecem as mais indicadas.

1.3-Discuta o que é “linha de pobreza” e os

conceitos correlatos e como esse conceito é

utilizado pelas políticas públicas no Brasil.

Linha de pobreza é a expressão utilizada para

descrever o nível de renda (mensal ou anula) que define

se uma pessoa ou uma família possui ou não as

condições ou recursos necessários para viver.

A linha de pobreza é, geralmente, medida em

termos per capita, mas pode ser calculada tomando

como referência famílias ou domicílios. Os critérios

para o estabelecimento das linhas de pobreza variam, e

a sua definição tem uma série de implicações.

Se for usado o conceito de pobreza absoluta, para

definir a linha de pobreza o ideal é recorrer à abordagem

tradicional das necessidades calóricas mínimas? Ou

esse seria um método ultrapassado e inadequado para

países onde a fome deixou de ser um problema

crônico(Sonia Rocha)?

Se for mantido esse enfoque que ainda tem muito

respaldo internacional, como estabelecer as

necessidades calóricas mínimas face às diferenças de

idade, sexo, atividade?

E como definir a cesta de alimentos (Banco Mundial,

Cepal) que garanta o acesso à quantidade mínima de

calorias requeridas, para então calcular seu valor e a

linha monetária resultante?

Se for usado o conceito de pobreza multidimensional,

quais são as dimensões relevantes para configurar a

situação de pobreza?

Dentro de cada uma dessas dimensões, quais

indicadores de necessidades básicas devem ser

incluídos? Qual o critério para definir se cada uma das

necessidades foi ou não foi atendida? E qual a

importância relativa (peso) de cada indicador na

definição de quem são os pobres?

Nas políticas públicas é possível combinar os dois tipos

de linha de pobreza, porém os estudos mostram que as

linhas monetárias são mais objetivas e mais facilmente

aplicáveis, embora menos completas.

No Brasil predomina, nas políticas sociais, a utilização

das linhas de pobreza monetárias e a estratégia mais

promissora para lidar com a pobreza tem sido a de

cobrir o hiato de renda, isto é, a diferença entre os

valores da renda da população situada na linha da

extrema pobreza e a linha da pobreza.

Esta foi a estratégia adotada, por exemplo, no Plano

Brasil sem Miséria

1.4-Caracterize as principais políticas públicas de combate à pobreza no

Brasil nos últimos 10 anos.

COMBATE À POBREZAImportantes avanços no Brasil

1- estabelecimento da proteção social independentemente da

contribuição

2-correspondência entre o piso previdenciário e o salário mínimo, isto é,

a definição de que o valor pago a título de aposentadoria não poderia ser

menor do que o salário mínimo, inclusive para os trabalhadores rurais,

pescadores e garimpeiros que não haviam previamente contribuído.

3-Para os que não contribuíram à Previdência Social, que não são

trabalhadores rurais, pescadores ou garimpeiros e que integram

família de baixa renda, o sistema de proteção social brasileiro

assegura, como um direito, um benefício, também de valor igual ao

salário mínimo que toma o nome de Benefício de Prestação

Continuada (BPC) e é destinado a pessoas com 65 anos ou mais, que

apresentam renda média mensal familiar inferior a 25% do salário

mínimo vigente.

O Programa Bolsa Família disciplinado pela Lei nº 10.836, de 2004 e

regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 2004, realiza ações de

transferência de renda com condicionalidades, via unificação dos

procedimentos de gestão e execução das ações de transferência

de renda do governo federal, especialmente as do “Programa

Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação” (Bolsa Escola),

de 2001; do “Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à

Saúde” (Bolsa Alimentação), de 2001; do “Programa Auxílio-Gás”,

de 2002; e do “Cadastramento Único do Governo Federal”, de 2001

(substituído pelo CadÚnico em 2007); e do “Programa Nacional de

Acesso à Alimentação” (PNAA), de 2003 (art. 1º da Lei 10.836).

Iniciado em 2003, hoje o Bolsa Familia tem cadastrados no

CadUnico cerca de74 milhões de pessoas, correspondendo a mais

de 14 milhões de famílias. Seu gasto em 2014 atingiu 27,8 bilhões

de reais

Arranjo institucional do PBF

Os municípios se encarregam de identificar e cadastrar as famílias que

cumprem os requisitos de elegibilidade e de lançar seus dados no

CadÚnico.

Com base nesses dados, o MDS seleciona, de forma automatizada, as

famílias que serão incluídas no Programa.

Os benefícios são pagos, mensalmente, por meio de cartão magnético

bancário fornecido pela Caixa Econômica Federal, que é o agente

operador do Bolsa Família.

A concessão dos benefícios depende do cumprimento, no que couber,

de condicionalidades na área da saúde, educação e trabalho infantil.

São responsáveis pelo acompanhamento e fiscalização do

cumprimento das condicionalidades o Ministério da Saúde, o MEC e o

MDS, nos âmbitos de suas atuações, podendo ser auxiliados pelos entes

federativos (art. 28).

O controle e a participação social do Programa devem ser realizados,

nos municípios e estados, por instância de controle paritária formalmente

constituída para esse fim ou por conselho ou instância anteriormente

existente (art. 29).

O Plano Brasil Sem Miséria disciplinado pelo decreto7.492, de 2011,

visa superar a situação de extrema pobreza em todo o território

nacional, por meio da integração interfederativa e articulação

intersetorial de políticas, programas e ações (art. 1º do Decreto 7.492).

Seus eixos de atuação são:

a garantia de renda, pelo PBF;

o acesso a serviços públicos (SUAS, Saúde, Educação e outros);

a inclusão produtiva.

O MDS indica que o Plano Brasil Sem Miséria teve como foco de

atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita

inferior a R$ 70 mensais. Informação disponível em:

<http://www.mds.gov.br/ bolsafamilia>..

1.5-Discuta o que vem a ser “habitus” e como relacioná-

la ao conceito de “pobreza intergeracional”.

“Habitus” modo de ser de um indivíduo, resultante da sua aprendizagem social, que em certa medida, condiciona suas atitudes, comportamentos, gostos e escolhas. Pierre Bourdieu“...o produto de um trabalho social de nominação e de inculcação, ao término do qual uma identidade social instituída por uma dessas 'linhas de demarcação mística', conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo social desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um “habitus”, lei social incorporada“.

Pobreza fenômeno multidimensional, não é só renda, embora possa ser medida pela renda, envolve inclusive percepções quanto ao exercício de direitos.

Pobreza Intergeracional conceito associado ao de “pobreza crônica” pela permanente impossibilidade de satisfazer necessidades básicas a família fica presa em um círculo vicioso, que tende a se reproduzir de pais para filhos.

Reforça-se pelo “habitus” incorporação da pobreza como natural, nos modos de pensar, sentir e agir.

Ruptura da Pobreza Intergeracional oportunidades de inclusão social acesso a direitos e às oportunidades de trabalho e renda.

Essa é a lógica que preside a atual política de combate à pobreza no Brasil, através de quatro políticas de desenvolvimento social:

PBF – Programa Bolsa Familia

SUAS - Sistema Unico de Assistência Social

SISAN – Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

Plano Brasil Sem Miséria

• Estudo Técnico SAGI/MDS No. 18 - Pobreza multidimensional: série histórica 2001 a 2013 e caracterização dos diferentes perfis.

Equipe Técnica responsável

• Alexander Cambraia N. Vaz

• Paulo de Martino Jannuzzi