plano de gestÃo florestal da mata do desterro€¦ · a mata do desterro apresenta um...

46
1 PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO I. IDENTIFICAÇÃO: Mata do Desterro / Revisão 00 – Fevereiro de 2009 II. DURAÇÃO: 2009-2026 III. DATA DA PRÓXIMA REVISÃO: 2014 IV. ENTIDADE RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO E REVISÃO: Município de Seia Largo Dr. Borges Pires 6270-494 Seia Tel: 238 310 240 Fax: 238 310 242 V. ELABORAÇÃO E ACOMPANHAMENTO: Gabinete Técnico Florestal/Centro de Interpretação da Serra da Estrela Artur Filipe Fernandes da Costa (Lic. Eng.Florestal)

Upload: others

Post on 31-Oct-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

1

PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO

I. IDENTIFICAÇÃO:

Mata do Desterro / Revisão 00 – Fevereiro de 2009

II. DURAÇÃO: 2009-2026

III. DATA DA PRÓXIMA REVISÃO: 2014

IV. ENTIDADE RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO E REVISÃO:

Município de Seia

Largo Dr. Borges Pires

6270-494 Seia

Tel: 238 310 240

Fax: 238 310 242

V. ELABORAÇÃO E ACOMPANHAMENTO:

Gabinete Técnico Florestal/Centro de Interpretação da Serra da Estrela

Artur Filipe Fernandes da Costa (Lic. Eng.Florestal)

Page 2: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

2

ÍNDICE I - INTRODUÇÃO.......................................................................................................................3 II - IDENTIFICAÇÃO DO PROPRIETÁRIO E DA PROPRIEDADE ...............................4 III - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO.................................................5 3.1. APRESENTAÇÃO DA ÁREA A INCLUIR NO PLANO DE GESTÃO .................5 3.2. AVALIAÇÃO GERAL DOS RECURSOS E DAS SUAS POTENCIALIDADES 6 3.2.1. Geologia e geomorfologia ................................................................................6 3.2.2. Clima ........................................................................................................................6 3.2.3. Solos.........................................................................................................................7 3.2.4. Caracterização bioclimatológica ....................................................................7 3.2.5. Caracterização biogeográfica..........................................................................8 3.2.6. Flora e vegetação ..............................................................................................10 3.2.7. Fauna .....................................................................................................................12 3.2.8. Figuras de Protecção........................................................................................12 3.2.9. Sensibilidade aos incêndios (D. L. 57/81)...............................................14

3.4. OCUPAÇÃO DO SOLO ..............................................................................................15 3.5. UNIDADES DE GESTÃO FLORESTAL ..................................................................16 3.5.1. Divisão da superfície florestal em Unidades de Gestão Florestal...16 3.5.2. Modelos de gestão da Mata do Desterro..................................................17 3.5.3. Avaliação qualitativa ........................................................................................25 3.5.4. Medidas urgentes para o tratamento e defesa dos povoamentos.26 3.5.5. Avaliação quantitativa .....................................................................................26

3.6. DESCRIÇÃO DO USO MÚLTIPLO .........................................................................27 3.7. ACESSIBILIDADE.......................................................................................................27 3.9. CARACTERIZAÇÃO SOCIAL ...................................................................................29 3.10. INFRA-ESTRUTURAS DE PROTECÇÃO CONTRA INCÊNDIOS .................29

Page 3: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

3

I - INTRODUÇÃO

Nas cotas mais baixas da serra da Estrela, compreendidas, aproximadamente, entre os 300

e 1000 metros, as condições climáticas amenas e favoráveis, a maior fertilidade dos solos e

a relativa abundância de água proveniente da montanha conduziram a uma elevada

presença e influência humana. O estabelecimento de agregados populacionais, a construção

de estradas e outras infra-estruturas, a transformação dos habitats naturais em zonas de

produção agrícola e silvícola conduziram à substituição dos ecossistemas naturais por áreas

de cultivo e produção florestal, sobretudo monoculturas de pinheiro-bravo (Pinus pinaster).

Assistiu-se, assim, a um empobrecimento da flora e fauna naturais e a um desaparecimento

quase completo dos bosques originais característicos.

Com o intuito de valorizar o património ambiental da serra da Estrela, o Município de Seia

estabeleceu em 2006 um protocolo com a EDP – Energias de Portugal, S.A., no qual esta

empresa cede ao Município de Seia uma área com 136 hectares (ver anexo I), florestada

essencialmente com pinheiros-bravos e eucaliptos (Eucaliptus globulus), que actualmente,

em resultado dos sucessivos incêndios, apresenta manchas significativas de giestais e

acácias (Acacia dealbata e Acacia melanoxylon) (ver anexo II). Esta área, situada nas

freguesias de São Romão e Seia, na margem direita do rio Alva, fica sob a gestão do

Município por um prazo inicial de 20 anos, renovável automaticamente por períodos

sucessivos de cinco anos.

A Mata é servida por uma rede de caminhos florestais relativamente bem conservada e

inclui três edifícios de apoio ao aproveitamento hidroeléctrico, nomeadamente, uma casa de

habitação, um armazém de materiais e máquinas e uma serração.

No âmbito da parceria estabelecida entre a EDP - Energias de Portugal, S.A. e o Município

de Seia pretende-se implementar na Mata do Desterro um projecto de gestão dos

ecossistemas naturais e semi-naturais, baseado em práticas florestais e agrícolas

sustentáveis, que promova a restauração do coberto vegetal natural, a conservação da

biodiversidade e em simultâneo permita uma utilização educativa, científica e turística.

Deste modo, o plano de gestão florestal prevê uma utilização agro-silvo-pastoril como

componente essencial da sua utilização e tem como objectivos a desenvolver:

a) Restaurar o coberto vegetal natural;

b) Identificar e respeitar valores geológicos e ecológicos;

c) Assegurar que são consideradas as questões ambientais, sociais, e paisagísticas;

d) Compatibilizar a actividade agro-silvo-pastoril com as actividades educativas e

turísticas; e

e) Demonstrar um modelo de gestão inovador.

Page 4: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

4

II - IDENTIFICAÇÃO DO PROPRIETÁRIO E DA PROPRIEDADE

Natureza da Propriedade: privada em regime de comodato

Superfície total: 136 hectares

Distrito: Guarda

Concelho: Seia

Freguesias: São Romão e Seia

Proprietários:

EDP - Energias de Portugal, S.A.

Nº de Propriedades: 1

Page 5: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

5

III - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

3.1. APRESENTAÇÃO DA ÁREA A INCLUIR NO PLANO DE GESTÃO Localização geográfica

A Mata do Desterro, está situada nas freguesias de S. Romão e Seia, concelho de Seia,

distrito da Guarda, sendo delimitada a norte pela cumeada definida pelos afloramentos da

Cabeça da Velha e Cabeço dos Corvos, a sul pelo rio Alva e ribeira do Vale Verde, a poente

acompanha de próximo o estradão que serve a Cabeça da Velha/Senhor do Calvário e a

nascente confina com o lugar do Vale Verde.

Na área da Mata do Desterro existe uma rede de percursos pedestres temáticos sinalizados

com painéis interpretativos, numa extensão total de 16 quilómetros. Cada percurso é

dotado de paineis com informação sobre valores naturais e culturais.

É um dos objectivos de gestão a instalação de infraestruturas de apoio ao recreio,

nomeadamente, um parque de merendas a construir numa antiga área agrícola.

Para a área deste Plano de Gestão Florestal (PGF) o Plano Director Municipal (PDM) não

apresenta nenhuma condicionante, estando o espaço classificado como Reserva Ecológica

Nacional (REN) (ver anexo III).

Superfície Total: 136 hectares

Número de Propriedades: 1

Número de Proprietários Abrangidos pelo Plano de Gestão: 1

Teor da Inscrição Matricial das Parcelas Abrangidas pelo Plano de Gestão

Parcela Nome do prédio Freguesia Nº Artigo Área (ha)

1 Mata do Desterro Seia/São Romão 3136 136

2 Prédio urbano São Romão 1373 0.0180

Page 6: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

6

3.2. AVALIAÇÃO GERAL DOS RECURSOS E DAS SUAS POTENCIALIDADES

3.2.1. Geologia e geomorfologia

A Mata do Desterro localiza-se numa região acidentada, situada no flanco ocidental da serra

da Estrela numa encosta exposta a sul, a uma altitude compreendida entre os 790 e os

1061 metros. Do ponto de vista topográfico, a área abrangida pela Mata compreende três

unidades distintas: a cumeada, a norte; a vertente, exposta a sul; e o vale, no limite sul. A

cumeada é uma zona de relevos mais ou menos suaves, onde são frequentes afloramentos

e blocos graníticos de grandes dimensões. Esta superfície encontra-se a uma altitude

superior a 900 metros, alcançando 1061 metros no vértice geográfico Cabeço dos Corvos. A

vertente caracteriza-se por possuir um declive pronunciado, em geral superior a 30%,

sobretudo no sector nascente. Por último, o vale de traçado rectilíneo, mais ou menos

encaixado, é atravessado pelo Alva, numa direcção NE-SW, sendo o rio o principal agente

modelador da paisagem.

Em termos geológicos distinguem-se três tipos de formações litológicas principais: os xistos

de composição essencialmente quartzo-micácea, com uma idade entre 650 e 500 milhões

de anos, afloram na metade poente; os granitos, de idade estimada em cerca de 320 a 290

milhões de anos, caracterizam-se por apresentar uma textura grosseira, grandes cristais de

feldspato, e predominância de biotite em relação à moscovite; e, depósitos fluviais de

origem recente e espessura reduzida, constituídos essencialmente por areias e calhaus

rolados, resultantes da fragmentação de rochas graníticas e xistos.

Declive: médio a elevado (de 5% a 35%)

Altitude mínima: 790 m

Altitude máxima: 1061 m

3.2.2. Clima

Precipitação Média Anual: 1200 a 1400 mm

Precipitação Média Anual (dias no ano): 75 a 100 dias

Temperatura Média Anual: 12 a 15ºC

Geada: 40 a 60 dias ano

Humidade Relativa (às 9h00 T.M.G.): 70 a 75%

Evapotranspiração Real: 600 a 700 mm

Insolação Média Anual: 2300 a 2500 horas/ano

Radiação Solar: 145 150 Kcal/cm-2

Escoamento Médio Anual: 600 a 800 mm

Page 7: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

7

3.2.3. Solos

Litologia

Formações litológicas:

Xistos e grauvaques

Granitos biotíticos, grão grosseiro e porfiróides

Depósitos sedimentares fluviais (aluviões)

Pedologia

Tipo de Solos: Cambissolos húmicos associados a cambissolos dístricos (rochas

eruptivas).

Unidade pedológica: Cambissolos

(Fonte: Atlas do Ambiente Digital – Instituto do Ambiente)

Características dos solos da propriedade

Pedregosidade: média

Profundidade do solo: média

Afloramentos rochosos: frequentes

3.2.4. Caracterização bioclimatológica

A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante

submediterrânea, de ombroclima húmido a hiper-húmido.

A bioclimatologia é uma ciência ecológica, relativamente recente, que estuda as relações

entre o clima e a distribuição dos seres vivos na Terra. O seu objectivo é determinar a

relação entre certos valores numéricos de temperatura e precipitação e as áreas de

distribuição geográfica de espécies e comunidades vegetais (Rivas-Martinez et al., 1999).

Como consequência directa da elevada correlação entre bioclima e vegetação surge a

possibilidade de, para qualquer ponto da Terra, prever o tipo de vegetação que aí ocorre a

partir de dados bioclimáticos ou, alternadamente, produzir uma caracterização bioclimática

a partir da vegetação desse local (Rivas-Martinez et al., 2001).

A abordagem da cartografia bioclimática a partir de uma aproximação climática é muito

comum em trabalhos realizados a nível da conservação, nomeadamente, quando as áreas

sujeitas a intervenção estão muito alteradas. Assim, nestes casos a caracterização

bioclimática é definida, directamente, através de parâmetros climáticos ou através de

índices bioclimáticos que combinam de forma variada parâmetros de temperatura,

Page 8: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

8

humidade, insolação, entre outros, e por vezes, a altitude e a latitude (Mesquita et al.,

1995).

A caracterização bioclimática da área de intervenção teve por base o trabalho Dados sobre a

vegetação da Serra da Estrela (sector Estrelense), de Rivas-Martinez et al. (2000).

A análise de dados termopluviométricos e diagramas ombrotérmicos, permite verificar que a

área onde se insere a Mata apresenta um macrobioclima temperado, representado pelo

subtipo oceânico variante submediterrâneo, de ombroclima húmido a hiper-húmido,

verificando-se a existência de um período seco estival pouco pronunciado, de duração

inferior ou igual a 2 meses, conhecido por período de xericidade estival, com precipitações

(mm) inferiores ao dobro da temperatura (ºC), e que alterna com períodos em que os

valores da precipitação são mais regulares.

Andares bioclimáticos

A Mata do Desterro distribui-se pelos andares bioclimáticos Mesotemperado nas zonas de

baixa e média altitude, e nas zonas de maior altitude, correspondentes à cumeada insere-se

já no Supratemperado Inferior de ombroclima húmido a hiper-húmido.

Neste contexto, compreende-se a ocorrência de forma espontânea de carvalho-alvarinho

(Quercus robur), resultado da regeneração natural. Os bosques de Carvalho-alvarinho

constituiriam a vegetação arbórea potencial e dominante deste território caso não tivesse

havido intervenção nos últimos séculos. Por outro lado, nos solos mais húmidos, ao longo

do rio Alva dominam os salgueiros (Salix sp.) e os amieiros (Alnus glutinosa).

A presença de alguns elementos perenifólios como o sobreiro (Quercus suber), o

medronheiro (Arbutus unedo) e a gilbardeira (Ruscus aculeatus) revela, no entanto, alguma

influência mediterrânea, sobretudo a cotas altitudinais inferiores. Assim, o sobreiro, espécie

termófila mas de carácter mais higrófilo, apresenta como área de ocorrência preferencial

zonas com maior humidade edáfica no sopé da encosta.

3.2.5. Caracterização biogeográfica

A Biogeografia é um ramo da Geografia que estuda a distribuição dos seres vivos na Terra,

podendo um território ser caracterizado pelo conjunto de espécies de flora e fauna, e ainda

a forma como as várias comunidades se organizam.

Page 9: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

9

O estudo detalhado da distribuição geográfica das plantas (Fitogeografia), fornece um

critério objectivo para a avaliação de áreas em que se pretende restaurar a vegetação

natural.

Segundo a classificação proposta por Costa et al. (1999) na - Biogeografia de Portugal

Continental - a Mata do Desterro situa-se em territórios biogeográficos na transição entre

duas Províncias, a Gaditano-Onubo-Algarviense e a Carpetano-Ibérico-Leonesa, na zona de

contacto entre o subsector Beirense-Litoral da primeira província e o sector Estrelense da

segunda, pelo que apresenta características comuns às duas unidades biogeográficas (Costa

et al., 1999).

Estudos mais recentes colocam os núcleos residuais de Q. robur dos vales do Alva e Paiva

no Sector Beirense-Litoral e na província Gaditano-Onubo-Algarviense, Desta forma os

domínios de Q. robur da vertente oeste da serra da Estrela (Seia e Gouveia) deveriam ser

integrados numa nova associação, a Viburno tini-Quercetum roboris (Costa et al., 2004).

O subsector Beirense-Litoral é, essencialmente, silicioso, e estende-se desde as areias e

arenitos litorais de Leiria até à ria de Aveiro e penetra pelo vale do Mondego até à encosta

Noroeste da serra da Estrela. No Parque Natural da Serra da Estrela, encontra-se

posicionado nos andares Mesotemperado e Mesomediterrânico de ombroclima sub-húmido a

húmido (Costa et al., 1998).

O sector Estrelense deverá corresponder aos pisos Supra e Orotemperados (acima dos 700-

900 m, consoante a exposição) cuja vegetação potencial corresponde, nas cotas mais

baixas, à associação Holco-Quercetum pyrenaicae.

A vegetação climácica das cotas médias e baixas da Mata do Desterro é constituída pelos

carvalhais de Q. robur, enquadráveis na classe Querco-Fagetea, ordem Quercetalia roboris,

e aliança Quercion-pyrenaicae que deverão pertencer à associação Viburno tini-Quercetum

roboris, e que ocorrem em pequenos núcleos residuais.

Esta série de vegetação Beirense-Litoral, Termo-mesotemperada e Mesomediterrânea,

húmida, de natureza acidófila e de carácter oceânico, corresponde a bosques climatófilos

caducifólios.

Na Mata do Desterro ocorre entre os 800 e os 950 m de altitude em substratos de natureza

xistenta e granítica e corresponde a carvalhais não orófilos de carvalho-alvarinho, por vezes

acompanhado pelo carvalho-negral (Q. pyrenaica), característicos de áreas de média

altitude e enriquecidos por elementos termófilos como o medronheiro, a gilbardeira e o

sobreiro.

A primeira etapa de substituição da formação anterior encontra-se representada pelas

comunidades da Ulici europaei-Cytision striati Cantabroatlânticas, Beirenses e Estrelenses,

oceânicas, que circundam ou substituem estes bosques acidófilos de folhosas. Estes giestais

Page 10: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

10

dominados por Cytisus striatus e pela presença de urze-branca (Erica arborea) e codeço

(Adenocarpus complicatus), são mais tarde pontualmente substituídos por matagais de

medronheiro, subseriais dos carvalhais termófilos, em solos pouco profundos das encostas.

As cotas mais elevadas da Mata acima dos 950 m, incluem-se no piso Supratemperado

Inferior e, por conseguinte, no sector Estrelense. Encontram-se dominadas por

comunidades de giesta-branca (C. multiflorus), à qual se associam o sargaço (Halimium

alyssoides) e a giesteira-das-serras (C. striatus). Estruturalmente é uma comunidade de

altura média a alta e com elevado grau de cobertura e que deverá pertencer à associação

Lavandulo sampaionae-Cytisetum multiflori. É uma associação Estrelense e Beirense

Supratemperada Inferior submediterrânica identificável por C. multiflorus e C. striatus.

Aparentemente, constitui uma etapa de substituição dos bosques de carvalho-negral da

associação Holco mollis-Quercetum pyrenaicae.

Reino: Holártico

Região: Mediterrânica

Província: Ibero-Atlântica

Subprovíncia: Carpetano Leonesa

Sector: Estrelense

Província: Gaditano Onubo-Algarviense

Sector: Divisório Português

Subsector: Beirense-Litoral

3.2.6. Flora e vegetação

As principais formações vegetais presentes na Mata do Desterro incluem as comunidades

ripícolas, os matos e as áreas florestais.

As linhas de água a montante possuem leitos fluviais encaixados e pedregosos e margens

rochosas, observando-se aí galerias ribeirinhas dominadas por salgueiros (Salix atrocinerea

e S. salvifolia). A jusante, nos solos aluviais periodicamente inundados, mas bem drenados,

onde predominam os amieiros ocorrem, ainda, o padreiro (Acer pseudoplatanus) e outras

lenhosas e herbáceas características de meios húmidos.

Os matos de giesteira-das-serras, giesteira-das-sebes (C. grandiflorus) e giesta-branca

constituem a vegetação arbustiva dominante na Mata do Desterro, formando comunidades

arbustivas altas e densas, pouco diversas em espécies herbáceas. Do seu elenco florístico

fazem parte a urze-branca, a urze-vermelha (E. australis) e o tojo-arnal (Ulex europaeus).

Page 11: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

11

No sector poente, desde as cumeadas até ao sopé da vertente, a paisagem é dominada por

pinheiro-bravo e bosquetes de castanheiro (Castanea sativa) entrecortados, ao longo das

pequenas linhas de água, por vidoeiro (Bétula alba) e cerejeira-brava (Prunus avium).

Ocorrem também alguns pequenos núcleos de carvalho-alvarinho e carvalho-negral. No

estrato arbustivo das formações de castanheiro destaca-se a presença do medronheiro que

se associa a alguns sobreiros, ao pilriteiro (Crataegus monogyna), ao azevinho (Ilex

aquifollium), à gilbardeira e à madressilva (Lonicera periclymenum).

Séries de vegetação presentes

Vegetação climácica (800-950 m de altitude):

Classe: Querco-fagetea

Ordem: Quercetalia-roboris

Aliança: Quercion-pyrenaicae

Associação: Viburno tini-Quercetum roboris

Comunidades Arbustivas de Substituição (800-950 m de altitude):

Classe: Cytisetea Scopario-Striati

Ordem: Cytisetalia scopario-striati

Aliança: Uici europaei-Cytision striati

Vegetação climácica (acima dos 950 m de altitude):

Classe: Querco-fagetea

Ordem: Quercetalia-roboris

Aliança: Quercion-pyrenaicae

Associação: Holco mollis-Quercetum pyrenaicae

Comunidades Arbustivas de Substituição (acima dos 950 m de altitude):

Classe: Cytisetea Scopario-Striati

Ordem: Cytisetalia scopario-striati

Aliança: Uici europaei-Cytision striati

Associação: Lavandulo sampaioanae-Cytisetum multiflori

Page 12: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

12

3.2.7. Fauna

A Mata do Desterro alberga uma fauna abundante e diversificada, que resulta da

heterogeneidade de habitats existentes numa área extensa e onde a intervenção humana é

reduzida.

Nos mamíferos, excluindo os morcegos, estão identificadas 21 espécies: seis de

insectívoros; seis de roedores; um lagomorfo; um artiodáctilo; e sete de carnívoros. Esta

diversidade representa cerca de metade do total de espécies de mamíferos que ocorrem na

serra da Estrela. Das várias espécies presentes destacam-se o gato-bravo (Felis silvestris) e

a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), classificados com o estatuto de conservação

Ameaçado, em Portugal. Outra espécie de especial interesse é a lontra (Lutra lutra) que

encontra no rio Alva óptimas condições de ocorrência.

As aves são o grupo mais abundante e diversificado, ocorrendo na Mata, de forma regular,

mais de 80 espécies, das quais cerca de 50 nidificam na Mata do Desterro e áreas

envolventes. Destacam-se pelo estatuto de conservação menos favorável o tartaranhão-

caçador (Circus pygargus), a ógea (Falco subbuteo) e o noitibó-cinzento (Caprimulgus

europaeus).

Os anfíbios e os répteis apresentam uma menor diversidade, observando-se na Mata do

Desterro 19 das 27 espécies que existem na serra da Estrela. De entre as espécies

presentes salientam-se o tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai) e a rã-ibérica (Rana

ibérica), endemismos ibéricos. A fauna de répteis inclui seis espécies de sáurios e seis

serpentes, de entre os quais se destacam o sardão (Lacerta lepida), o maior lagarto

europeu, e a víbora-cornuda (Vipera latastei), que apresenta o estatuto de Ameaçada, que

se pode observar nas zonas mais pedregosas e expostas, sempre em densidades baixas. O

grupo dos peixes é o que apresenta menor diversidade, estando a sua ocorrência restrita às

águas do rio Alva.

Quanto à fauna de invertebrados, insuficientemente estudada, a Mata reúne um número de

espécies muito elevado onde se inclui a borboleta Euphydryas aurinia, que consta do Anexo

II, da Directiva Habitats, vários insectos endémicos do Noroeste da Península Ibérica, como

o gafanhoto Eumigus ayresi, a lacrainha Chelidura bolivari e o coleóptero Physomeloe

corallifer.

3.2.8. Figuras de Protecção

A área abrangida pela Mata do Desterro encontra-se classificada, na sua totalidade, como

Parque Natural da Serra da Estrela (D.R. nº 557/76) e inserida no Sítio de Interesse

Page 13: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

13

Comunitário – Serra da Estrela – (PTCON0014) no âmbito do Plano Sectorial da Rede

Natura 2000 (Resolução de Conselho de Ministros nº 76/00 de 5 de Julho).

A Mata inclui ainda um número significativo de habitats e espécies de fauna e flora,

considerados de importância comunitária, incluídos nos anexos das directivas Habitats e

Aves, que de seguida se referem:

Habitats

Florestas aluviais de Alnus glutinosa - Anexo I, Directiva Habitats

Florestas-galerias de Salix alba- Anexo I, Directiva Habitats

Flora

Narcissus bulbocodium – Anexo iV, Directiva Habitats

Narcissus triandrus – Anexo IV, Directiva Habitats

Ruscus aculeatus – Anexo V, Directiva Habitats

Fauna

Insectos

Euphydryas aurinia – Anexo II, Directiva Habitats

Anfíbios

Triturus marmoratus – Anexo IV, Directiva Habitats

Alytes obstetricans – Anexo IV, Directiva Habitats

Rana iberica – Anexo IV, Directiva Habitats

Rana perezi – Anexo V, Directiva Habitats

Répteis

Lacerta schreiberi – Anexos II e IV, Directiva Habitats

Podarcis hispanica – Anexo IV, Directiva Habitats

Coluber hippocrepis – Anexo IV, Directiva Habitats

Aves

Pernis apivorus – Anexo I, Directiva Aves

Milvus migrans – Anexo I, Directiva Aves

Circus pygargus – Anexo I, Directiva Aves

Page 14: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

14

Hieraaetus pennatus – Anexo I, Directiva Aves

Caprimulgus europaeus – Anexo I, Directiva Aves

Lullula arborea – Anexo I, Directiva Aves

Anthus campestris – Anexo I, Directiva Aves

Sylvia undata – Anexo I, Directiva Aves

Emberiza hortulana – Anexo I, Directiva Aves

Mamíferos

Galemys pyrenaicus – Anexos II e IV, Directiva Habitats

Lutra lutra – Anexos II e IV, Directiva Habitats

Genetta genetta – Anexo V, Directiva Habitats

Herpestes ichneumon – Anexo V, Directiva Habitats

Felis silvestris – Anexo IV, Directiva Habitats

A fauna de quirópteros (morcegos) da Mata do Desterro é desconhecida.

Porém, considerando a diversidade do grupo no Parque Natural da Serra da

Estrela, suspeita-se da ocorrência de um número significativo de espécies,

muitas das quais terão um estatuto de conservação Ameaçado.

3.2.9. Sensibilidade aos incêndios (D. L. 57/81)

A Mata, pelo seu relevo acidentado e elevada carga combustível, constitui um local de risco

de incêndio elevado, tendo sido classificada no Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra

Incêndios (PMDFCI) como zona muito sensível a incêndios (Zona IV). Assim, e devido às

altas temperaturas que se atingem na região e à carga vegetal presente em alguns locais,

foram já adoptadas medidas com o objectivo de diminuir a probabilidade de deflagração de

fogos florestais e prevenir os seus danos, nomeadamente:

• a área da Mata é abrangida pela Rede Nacional de Postos de Vigia e integra o Dispositivo

Municipal de Vigilância Contra Incêndios (ver anexo IV);

• a abertura de um aceiro que integra a rede primária de defesa da floresta contra

incêndios do concelho de Seia (ver anexo V);

• a manutenção de uma rede de caminhos que permita uma intervenção rápida e eficaz

(ver anexo V);

• a existência, na área da Mata, de um ponto de água para abastecimento de meios de

combate a incêndios que integra a rede municipal de pontos de água, referenciado no

PMDFCI. (ver anexo VI)

Page 15: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

15

3.4. OCUPAÇÃO DO SOLO

Na área da Mata do Desterro as principais classes de ocupação do solo incluem:

povoamentos de pinheiro-bravo; povoamentos de castanheiro; manchas de eucalipto e

acácia; matos de giestas, áreas agrícolas abandonadas e vegetação ribeirinha. (ver tabela

I).

Tabela I: classes de ocupação do solo na Mata do Desterro

Classe Subclasse Descrição Área (Ha)

Pinus pinaster

Povoamentos de P. pinaster de idade

superior a 20 anos; estrato arbustivo

pouco desenvolvido. (PPA)

Pinhal

Pinus pinaster

Povoamentos densos de P. pinaster, de

idade inferior a 20 anos, subcoberto

desenvolvido, que inclui a regeneração

de Quercus sp. e Arbutus unedo. (PPB)

47,951

Bosque

de

folhosas

Castanea sativa

Povoamentos de C. sativa, explorados no

passado em regime de talhadia, com

subcoberto denso, que acompanha as

linhas de água de terceira ordem da

vertente. (PF)

Área

florestal

Bosque

misto

Quercus suber,

Q. robur, P.

pinaster e

Eucalyptus

globulus

Povoamento misto com subcoberto

muito desenvolvido e denso, que ocupa

as cotas mais baixas e de menor declive

da mata na margem direita do rio Alva.

(PM)

Matos de

vertente

Giestais de

Cytisus striatus e

C. grandiflorus

Em zonas de declive elevado do sector

nascente da mata, dominam matos

densos e muito desenvolvidos de Cytisus

striatus e C. grandiflorus. (MV)

34,575

Matos

Matos de

cumeada

Giestais de

Cytisus

multiflorus

Na cumeada, no sector nascente da

mata, ocorrem giestais pouco

desenvolvidos intercalados com áreas de

prados. (MC)

12,448

Área

agrícola

Campos agrícolas abandonados que

incluem socalcos e lameiros. Na Quinta

da Serra existem, ainda, uma ruína de

uma casa agrícola, um açude e um

sistema de levadas para rega. (AG)

2,153

Zonas

ribeirinhas

Salgueirais de

Salix salvifolia e

S. atrocinerea e

amiais (Alnus

glutinosa)

Galeria ripícola que se desenvolve ao

longo do rio Alva e do seu principal

afluente (linha de água de segunda

ordem) dentro da área da mata. (ZR)

2,290

Page 16: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

16

3.5. UNIDADES DE GESTÃO FLORESTAL

3.5.1. Divisão da superfície florestal em Unidades de Gestão Florestal

O plano de gestão da mata do Desterro enquadra-se na sub-região homogénea Estrela,

cujas funções principais estabelecidas pelo Plano Regional do Ordenamento Florestal da

Beira Interior Norte (PROF/BIN) são o recreio e a valorização da paisagem, a protecção do

solo e a conservação dos habitats, espécies de fauna e flora e geomorfologia. Dada a

fisiografia do terreno, com áreas com elevadas pendentes, a sua localização em zona

protegida (PNSE) e sítio Rede Natura 2000, definiram-se para a mata as funções de

conservação e protecção, bem como, o fomento de turismo de natureza.

Para tal identificaram-se unidades de gestão de fácil implantação e com objectivos bem

definidos tendo o seu estabelecimento seguido os seguintes critérios:

• Homogeneidade de potencial ambiental;

• Partilha de objectivos; e

• Limites estáveis definidos com base em elementos físicos de fácil identificação no

terreno como caminhos, aceiros e linhas de água.

Com base nestes princípios foram definidas seis unidades de gestão florestal, que abrangem áreas

que têm como objectivos principais: a regeneração do coberto vegetal natural, a promoção de

práticas silvícolas de protecção do solo, a adequação do espaço florestal a actividades turísticas, a

reabilitação agrícola e apícola e a conservação da natureza (Tabela II e anexo VII).

Tabela II. Unidades de gestão

Unidade de gestão Parcela Área

(ha)

32,800 1.1_PN

12,470 1.2_PV

Povoamento

de Pinus

pinaster

Zona de

regeneração 1_UGF_PP

2,681 1.3_ZF

Reconversão gradual da área de pinhal em

bosque de folhosas e protecção da

regeneração natural de folhosas. Controlo

de invasoras.

Fomento da biodiversidade e protecção do

solo.

28,691

2.1_PM Povoamento

misto

Zona de

regeneração 2_UGF_PM

3,455 2.2_ZF

Fomento da biodiversidade. Regeneração do

bosque natural e controle de invasoras

(Acacia sp. e Eucalyptus globulus.).

Protecção de fauna e flora.

Zona de

conservação

3_UGF_M

C 12,448

Fomento da biodiversidade; aproveitamento

da vegetação herbácea para pastoreio.

Protecção de fauna, nomeadamente de

passeriformes de montanha e rapinas

diurnas.

Matos

Zona de

regeneração

4_UGF_M

V 34,575

Regeneração natural do bosque de folhosas;

controlo de invasoras; protecção do solo.

Page 17: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

17

Área agrícola Zona de

reabilitação 5_UGF_AG 2.153

Recuperação dos sistemas agrícolas

tradicionais, incluindo açude, levadas e

socalcos e casa agrícola. Fomento da

actividade agrícola: pastoreio e fenagem.

Zonas

ribeirinhas

Zona de

conversão/re

generação

6_UGF_ZR 3,040

Recuperação da galeria ripícola:

beneficiação e manutenção da vegetação

ribeirinha e controlo de invasoras. Protecção

das margens. Fomento da biodiversidade e

protecção de flora e fauna.

Nota: 1.1_PN: pinhal novo; 1.2_PV: pinhal velho; 1.3_ZF: zona de folhosas; 2.1_PM: povoamento

misto; 2.2_ZF: zona de folhosas.

3.5.2. Modelos de gestão da Mata do Desterro

3.5.2.1) 1_UGF_PP: Povoamento de pinheiro-bravo Com uma área de 47,951 hectares, esta unidade corresponde a povoamentos de pinheiro-

bravo que se encontram em duas fases de desenvolvimento, novedio e bastio.

Preconiza-se a exploração desta unidade numa vertente ambiental através da condução

adequada e reconversão do povoamento, prevendo-se a realização de desbastes e o

controlo selectivo da vegetação arbustiva, salvaguardando a regeneração natural das

folhosas e a protecção do solo.

Esta unidade apresenta potencial de exploração micológica, pelo que se propõe a gestão

controlada deste recurso de modo a torná-lo sustentável. A emissão de licenças, o

estabelecimento de um manual de boas práticas para a recolha de macrofungos e a

definição de quotas de recolha são medidas a implementar.

Dadas as diferentes fases de desenvolvimento da vegetação nesta unidade, optou-se pela

divisão em três sub-unidades. São elas:

3.5.2.1.1.) 1.1_PV: As manchas localizadas mais a poente (bastio) apresentam uma idade

superior a 20 anos, um bom desenvolvimento e conformação. Principalmente nas orlas, este

pinhal encontra-se atacado pela processionária (Thaumetopoea pityocampa), o que provoca

o seu enfraquecimento.

A regeneração de carvalho-alvarinho e castanheiro que se verifica nesta sub-unidade deve

ser protegida e conduzida. Assim, o corte selectivo e gradual do pinheiro-bravo permitirá a

reconversão natural por aquelas espécies.

3.5.2.1.2.) 1.2_PN: A mancha correspondente à fase de novedio apresenta povoamentos

com elevada densidade distribuídos por vários núcleos com relativa continuidade. Estima-se

uma idade média inferior a 20 anos e uma diferença pouco significativa de idades entre

eles.

Page 18: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

18

A elevada densidade destes povoamentos sugere que após a plantação, as operações de

condução do povoamento como os desbastes, a limpeza e a gestão da vegetação

espontânea não se realizaram.

Estas manchas apresentam também ataques de processionária, particularmente nas orlas,

que tendem a enfraquecer as árvores tornando-as mais susceptíveis ao ataque de insectos

perfuradores.

A regeneração de carvalho-alvarinho e castanheiro que se verifica nesta sub-unidade deve

ser protegida e conduzida. Assim, o corte selectivo e gradual do pinheiro-bravo permitirá a

reconversão natural por aquelas espécies.

3.5.2.1.3.) 1.3_ZF: Nesta sub-unidade, com menor densidade de pinheiro-bravo é visível

regeneração abundante de carvalho-alvarinho, castanheiro, medronheiro e outras espécies

arbustivas, que deve ser protegida e conduzida. Assim, o corte selectivo e gradual do

pinheiro-bravo permitirá o restabelecimento natural destas espécies.

Todas estas acções têm como objectivo principal a reconversão da paisagem numa vertente

que permitirá o desenvolvimento de actividades no âmbito da conservação e do fomento da

biodiversidade.

As operações culturais estabelecidas para esta unidade de gestão terão a seguinte

calendarização:

• Desbaste (povoamentos na fase de novedio):

Esta operação realizar-se-á com o objectivo de eliminar as árvores de qualidade inferior

e proporcionar melhores condições de desenvolvimento às árvores seleccionadas.

• Gestão da vegetação espontânea (povoamentos na fase de novedio)

Esta operação efectuar-se-á sempre que o desenvolvimento dos matos o exija, de modo

a diminuir o risco potencial de incêndio florestal. Deve ser realizada preferencialmente

através da eliminação localizada junto à árvore, ou de uma forma parcial, em manchas,

antes que o estrato arbustivo entre em contacto com a base da copa. Estes trabalhos

devem ser efectuados manualmente com recurso a motorroçadora. A intervenção deve

ser mínima de forma a se proteger o solo e a fomentar a diversidade.

• Eliminação e controlo das mimosas (a partir de 2009)

Operação a efectuar através de descasque ou extracção de anel, em período favorável

ao crescimento da espécie para os indivíduos de maior porte, ou através de arranque

para os de menor porte.

• Limpeza do povoamento (povoamentos na fase de bastio, a partir de 2009)

Esta intervenção tem como objectivos a redução da densidade do povoamento, permitir

a regeneração natural das folhosas e assegurar a distribuição mais equilibrada dos

Page 19: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

19

pinheiros, o que se reflectirá no aumento da diversidade de flora e fauna. De uma

forma selectiva retirar-se-ão os pinheiros-bravos mortos, doentes e de pior qualidade

(conformação deficiente, com ramos muito grossos ou sem dominância apical).

• Gestão da vegetação espontânea (povoamentos na fase de bastio, a partir

de 2009)

Controlo selectivo da vegetação arbustiva de modo a reduzir o risco potencial de

incêndio. Esta operação deve ser realizada preferencialmente através da eliminação

localizada junto à árvore, ou de uma forma parcial, em manchas, antes que o estrato

arbustivo entre em contacto com a base da copa. Estes trabalhos deverão ser

efectuados manualmente, com recurso a motorroçadora, de modo a permitir a

regeneração natural das folhosas e de espécies de flora com valor conservacionista.

• 1º desbaste (povoamentos na fase de bastio, a partir 2009)

Corte das árvores próximas e em concorrência directa com o objectivo de criar clareiras

que proporcionem melhores condições, de forma a permitir a regeneração mais rápida

de folhosas.

• Plantação e sementeira de folhosas ao alcovacho (a partir de 2009)

Esta operação recorre a sementes e árvores propagadas a partir de material seminal

proveniente da mata.

• 2º desbaste (povoamentos na fase de bastio, de 2014 a 2019)

Operação a realizar segundo o critério definido no 1º desbaste. Estes trabalhos

permitirão alargar gradualmente a área onde a regeneração é facilitada sem que o solo

seja desprotegido.

• Gestão da vegetação espontânea

Intervenção que tem o objectivo diminuir o risco de propagação do fogo, por eliminação

de matos de uma forma muito localizada em redor dos exemplares seleccionados, ou de

uma forma parcial, em manchas, antes que o estrato arbustivo entre em contacto com a

base da copa. A sua execução deverá ser efectuada manualmente com recurso a

motorroçadora de modo a permitir a regeneração natural das folhosas e a manutenção

de espécies de flora com valor conservacionista, entre outras.

• 3º desbaste (povoamentos na fase de bastio 2024/2026)

Esta intervenção prevê a selecção de árvores que exibam as melhores condições de

crescimento, e assim diminuir gradualmente a área de pinhal, de acordo com as

condições e objectivos dos desbastes anteriores. Esta operação deverá efectuar-se de

acordo com as condições adoptadas nesses.

Page 20: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

20

O corte final será realizado de forma gradual e selectiva, por manchas, atendendo

sempre à protecção da regeneração espontânea das folhosas e do solo.

3.5.2.2) 2_UGF_PM: Povoamento misto Esta unidade, com uma área de 32,146 hectares, ocupa as cotas de menores altitudes e

declive do sector poente da mata, e corresponde a um povoamento misto de pinheiro-bravo

e algumas folhosas e espécies invasoras.

Esta unidade apresenta, também, potencial de exploração micológica, pelo que se propõe a

gestão controlada deste recurso de modo a torná-lo sustentável. A emissão de licenças, o

estabelecimento de um manual de boas práticas para a recolha de macrofungos e a

definição de quotas de recolha são medidas a implementar. A exploração apícola encontra

nesta área da mata o seu maior potencial e deve assim, ser fomentada.

Uma vez que esta unidade apresenta características pouco uniformes, optou-se por dividi-la

em duas subunidades. São elas:

3.5.2.2.1.) 2.1_PM: Nesta sub-unidade a espécie com maior representatividade é o

pinheiro-bravo, que constitui um pinhal relativamente denso, que se encontra em duas

fases de desenvolvimento, novedio e bastio. Ocorrem, ainda, núcleos de mimosa (Acacia

dealbata), austrália (Acacia melanoxylon) e eucalipto (Eucalyptus globulus) de grande

porte. Os primeiros encontram-se em nítida expansão sobretudo ao longo de linhas de água

e na proximidade da rede viária da mata. Os segundos, com baixa regeneração, encontram-

se, geralmente, situados junto ao rio Alva ou, mais pontualmente, a cotas mais elevadas.

O pinhal encontra-se infestado por processionária, particularmente nas orlas, o que provoca

o enfraquecimento das árvores, aumentando a susceptibilidade ao ataque de insectos

perfuradores.

3.5.2.2.2.) 2.2_ZF: Nesta sub-unidade ocorrem núcleos de carvalho-alvarinho, manchas de

castanheiro e indivíduos dispersos de sobreiro, espécie protegida pelo D.L. 169/2001, que

estabelece as medidas de protecção a esta espécie. Verifica-se, ainda, a regeneração de

carvalho-alvarinho, sobreiro e medronheiro.

Preconiza-se a exploração do pinhal de uma forma compatível com a sua reconversão em

bosque de folhosas. Neste contexto, aproveitar-se-á a regeneração natural do sobreiro, do

medronheiro, do carvalho-alvarinho e do castanheiro de modo a fomentar a biodiversidade

e proteger o solo e os recursos hídricos. Pretende-se, ainda, controlar a dispersão das

espécies exóticas, através de duas formas de acção: descasque ou extracção de anel nas

árvores de maior porte, ou arranque nas de pequeno porte. Este controlo tem como

objectivos minimizar o alastramento das espécies invasoras que, não sendo travado,

levarão à perda de diversidade biológica, bem como, ao empobrecimento paisagístico que

Page 21: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

21

limitarão as acções de divulgação ambiental e fomento do turismo de natureza que se

pretendem realizar na Mata do Desterro.

As operações culturais preconizadas para esta unidade de gestão terão a seguinte

calendarização:

• Corte gradual do pinhal (a partir de 2009)

Esta intervenção tem como objectivos a redução da densidade do povoamento, permitir

a célere regeneração natural das folhosas e assegurar a distribuição mais equilibrada

dos pinheiros, o que se reflectirá no aumento da diversidade de flora e fauna. De uma

forma selectiva retirar-se-ão as árvores mortas, doentes e de pior qualidade.

• Limpeza do povoamento (a partir de 2009)

Esta intervenção tem como objectivos a redução da densidade destes povoamentos e

permitir de uma forma mais célere a regeneração natural das folhosas.

• Eliminação de eucaliptos (2009/2010)

Esta intervenção tem como objectivo a eliminação de eucaliptos, através de corte e

arranque de raízes. Com esta acção pretende-se travar o alastramento desta espécie

que, uma vez dominante, empobrece a mata aos níveis biológico e paisagístico.

• Eliminação e controlo das mimosas (a partir de 2009)

Esta intervenção será efectuada através de descasque ou extracção de anel, em período

favorável ao crescimento da espécie, para os indivíduos de maior porte e, por de

arranque para os de menor porte. Após novas rebentações ou regeneração dever-se-á

providenciar o arranque imediato. Com esta acção pretende-se travar o alastramento

desta espécie que, uma vez dominante, empobrece a mata aos níveis biológico e

paisagístico.

• Gestão da vegetação espontânea (a partir de 2009)

O objectivo desta intervenção é diminuir o risco de propagação do fogo, através da

eliminação pontual de matos junto à árvore, ou de uma forma parcial, em manchas,

antes que o estrato arbustivo contacte a base da copa. A sua execução deverá ser

manual, com recurso a motorroçadora, de modo a permitir a regeneração natural das

folhosas e de espécies de flora com valor conservacionista, entre outras.

• Aproveitamento e condução da regeneração espontânea (a partir de 2009)

No âmbito desta intervenção prevê-se a condução da regeneração espontânea de

carvalho-alvarinho, castanheiro, medronheiro e sobreiro.

• Plantação e sementeira de folhosas ao alcovacho (a partir de 2009)

Page 22: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

22

Com recurso a sementes e a árvores propagadas a partir de material seminal

proveniente da mata.

3.5.2.3) 3_UGF_MC: Matos de cumeada

Os matos ou matagais são a vegetação subarbustiva e arbustiva dominante nas áreas de

cumeada e nas vertentes de maior declive do sector nascente da Mata do Desterro. Esta

unidade, com uma área 12,448 hectares, poderá constituir uma comunidade estável, que

ocupa solos pouco evoluídos, permitindo a sua protecção e a regularização hídrica.

Numa tentativa de fomento da biodiversidade na Mata do Desterro preconiza-se a

manutenção das áreas de matos na cumeada do sector nascente como zona de

conservação, através da manutenção e incremento de uma forma controlada da actividade

pastoril extensiva de percurso. Esta actividade impedirá que os matos evoluam para

formações arbustivas altas subseriais da etapa florestal, favorecendo assim a instalação de

comunidades em mosaico ricas em espécies pioneiras de prados. Estes habitats constituem

assim, locais de protecção e alimentação para a fauna, da qual se destacam passeriformes

de montanha e rapinas diurnas, algumas das quais incluídas no Anexo I da Directiva Aves.

Simultaneamente, os matos mais baixos e com um menor grau de cobertura, ao ocuparem

solos pouco profundos, pobres em nutrientes e, muitas vezes pedregosos contribuem para

minimizar os impactos da erosão. A existência de clareiras concorre também, para o

incremento da diversidade florística, ao proporcionar nichos para plantas herbáceas,

algumas das quais raras e com elevado interesse de protecção. As clareiras que ocorrem

entre estes matos constituem, ainda, descontinuidades na paisagem que reduzem a

propagação de incêndios. Assim, a manutenção da área de matos desta unidade de gestão

prevê o fomento do pastoreio extensivo de percurso. Para tal será necessário definir o

encabeçamento adequado.

Nesta unidade prevêem-se, ainda, acções de controlo de espécies invasoras de forma a

travar o seu alastramento e evitar perdas de diversidade e empobrecimento paisagístico.

3.5.2.4) 4_UGF_MV: matos de vertente Esta área da mata, com 34,575 hectares, corresponde às zonas de vertente com declive

mais pronunciado do sector nascente. Actualmente, encontra-se maioritariamente ocupada

por giestais e observa-se abundante regeneração de pinheiro-bravo numa fase de

desenvolvimento de nascedio e também alguma regeneração de folhosas. Ocorrem, ainda,

alguns núcleos de mimosa que estão em expansão.

O actual coberto vegetal deste sector da mata dominado pela giesta-branca e giesteira-das-

serras tende a colonizar solos abandonados pela actividade agrícola e florestal constituindo

uma etapa progressiva que antecede o carvalhal.

Page 23: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

23

O objectivo preconizado para esta unidade é a regeneração natural do bosque de carvalho-

alvarinho e carvalho-negral, o que permitirá a restauração dos carvalhais climácicos. Estes

carvalhais cumprem funções relevantes e imprescindíveis a nível da conservação dos

recursos ambientais. Desempenham um papel essencial na conservação e melhoria dos

solos, na regulação do ciclo hidrológico, do clima, constituindo, o habitat natural de muitas

espécies de fauna e flora. Proporcionam, ainda, recursos lenhosos, micológicos e apícolas e

asseguram a qualidade da paisagem, base para actividades de recreio e lazer, contribuindo

para a sustentabilidade das economias locais.

Pretende-se, assim, que esta unidade da mata evolua de uma forma o mais natural possível

e que funcione ao mesmo tempo como área piloto em que se possa acompanhar e

monitorizar a dinâmica natural das comunidades. Nesse sentido, preconizam-se

intervenções com recurso mínimo a maquinaria de forma a minimizar os impactos sobre o

solo, evitar o agravamento da erosão e salvaguardar a regeneração natural. Assim, propõe-

se:

• Corte do pinhal em fase de nascedio (a realizar em 2009/2010)

Esta intervenção tem por objectivo promover a regeneração das folhosas,

nomeadamente, de carvalhos e castanheiros.

• Corte e limpeza de matos (a partir de 2009)

Propõe-se a criação de pequenas clareiras, de forma a criar zonas de descontinuidade,

que acelerem a regeneração de folhosas.

• Sementeiras de bolotas ao alcovacho (a partir de 2009)

Esta intervenção prevê a utilização de sementes recolhidas na Mata, e deverá ser

efectuada ao alcovacho para proteger o solo.

• Eliminação e controlo das mimosas (a partir de 2009)

Esta intervenção será efectuada através de descasque ou extracção de anel, em período

favorável ao crescimento da espécie, para os indivíduos de maior porte e, por arranque

para os de menor porte. Após novas rebentações ou regeneração dever-se-á

providenciar o arranque imediato.

3.5.2.5) 5_UGF_AG: área agrícola

Esta unidade de gestão, com 2,153 hectares, abrange as principais zonas agrícolas da Mata,

localizadas nas cotas inferiores do sector nascente da Mata, a Quinta da Serra, e no Casal,

junto ao rio Alva. Estas áreas, incluindo socalcos e lameiros, encontram-se abandonadas e

Page 24: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

24

invadidas por matos, herbáceas altas e fetos, sendo o objectivo para esta unidade a sua

recuperação.

Estes terrenos caracterizam-se por apresentarem declives acentuados e solos pouco

profundos, o que exige que a preparação do terreno seja realizada com o mínimo impacto

possível de modo a minimizar a erosão e a perda de estrutura do solo.

A recuperação dos lameiros, prados semi-naturais para pastagem do gado, reveste-se de

extrema importância no contexto da valorização da paisagem, da conservação da

biodiversidade, e da promoção das actividades agro-silvo-pastoris tradicionais de montanha.

Assim, a restauração das áreas de pastagem exige um conjunto de técnicas e operações

culturais sem as quais dificilmente a intervenção será bem sucedida, pelo que se prevêem

os seguintes trabalhos:

• Desmatação (Fevereiro/Março 2010)

Esta intervenção prevê a utilização de grades de discos para corte e incorporação da

vegetação no solo. Posteriormente, deve ser executado um fogo controlado de baixa

intensidade e uma nova gradagem para destruição de raízes e preparação do terreno.

Antes da sementeira, caso o solo não se encontre suficientemente compactado, deve-se

proceder a uma rolagem.

• Gradagem (Maio/Junho 2010), no sentido contrário (cruzada).

• Sementeira de forragem anual - (Setembro Outubro 2010).

A sementeira deve ser efectuada a lanço, devendo as sementes ficar enterradas a

pequena profundidade (até 2,5 cm), sendo para tal necessário efectuada uma ligeira

passagem com grade de dentes curtos, seguida por passagem de um rolo.

• Pastoreio intensivo (Abril, Maio e Junho 2011) e eliminação de possíveis

infestantes.

• Gradagem e sementeira de forragem mais exigente (Outubro 2011) seguida

de pastoreio intensivo.

• Sementeira da pastagem definitiva (Março 2012).

A sementeira deve ser efectuada a lanço, devendo as sementes ficar enterradas a

pequena profundidade (até 2,5 cm), sendo para tal necessário efectuar uma ligeira

passagem com grade de dentes curtos, seguida por passagem de um rolo.

Page 25: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

25

Além da restauração dos prados pretende-se recuperar os sistemas de rega existentes,

através da recuperação do açude e canais, de modo a permitir um fluxo de água

contínuo, minimizando as perdas. Pretende-se, ainda, fazer a recuperação de todos os

sistemas de socalcos agrícolas e da casa situada na Quinta da Serra.

3.5.2.6) 6_UGF_ZR: zonas ribeirinhas Esta unidade de gestão, ocupa uma área de cerca de 3,040 hectares, e abrange um sector

que acompanha as margens do rio Alva e do seu afluente principal.

As galerias ripícolas desempenham um conjunto de funções essenciais à manutenção dos

habitats, assegurando uma elevada biodiversidade. Constituem suporte físico, recurso

alimentar, abrigo e local de reprodução e nidificação para numerosas espécies de fauna

tanto aquáticas como terrestres, funcionando como corredor ecológico para espécies que

utilizam estes meios como vias de dispersão e migração. São, ainda, descontinuidades

naturais contra a progressão dos incêndios e o seu papel de valorização estética da

paisagem não pode ser negligenciado.

Esta unidade da Mata do Desterro tem como objectivos principais a conservação e

regeneração da vegetação natural, formada por salgueiros e amieiros. Neste sentido,

propõem-se as seguintes intervenções:

• Limpeza das margens (a partir de 2009)

Esta intervenção tem como objectivo retirar o material lenhoso que esteja a obstruir o

leito.

• Eliminação e controlo das mimosas (a partir 2009)

Esta intervenção será efectuada através de descasque ou extracção de anel, em período

favorável ao crescimento da espécie, para os indivíduos de maior porte e de arranque

para os de menor porte. Após novas rebentações ou regeneração dever-se-á

providenciar o arranque imediato.

• Corte selectivo de matos (a partir de 2009)

Esta intervenção visa promover a regeneração de galerias ripícolas (habitat prioritário da

Rede Natura 2000) compostas por salgueiros (Salix sp.), amieiros (Alnus glutinosa) e

azevinhos (Ilex aquifolioum, D.L. 423/89 de 4 de Dezembro), entre outras espécies.

3.5.3. Avaliação qualitativa

Estado Sanitário: Ataques de processionária nos povoamentos de pinheiro-bravo das

unidades 1_UGF_PP e 2_UGF_PM.

Page 26: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

26

Estado vegetativo: Apesar dos ataques a generalidade do pinhal apresenta um bom vigor,

com copas bem conformadas e folhas de coloração verde-escura, sem sinais evidentes de

deficiências nutricionais.

3.5.4. Medidas urgentes para o tratamento e defesa dos povoamentos

Necessidades de limpeza: Necessidade de desbaste: Necessidade de desramação: Necessidade de cortes sanitários:

3.5.5. Avaliação quantitativa

1_UGF_PP

1.1_PN Densidade média do povoamento

Número de árvores por ha: 1950 árvores Área basal média por ha (G): 2,463 metros quadrados Diâmetro médio (dg): 0,467 metros

Alturas

Altura média: 18 metros Altura dominante: 18 metros

1.2_PV Densidade média do povoamento

Número de árvores por ha: 1050 árvores Área basal média por ha (G): 0,433 metros quadrados

Baixa Média Alta 3_UGF_MC

5_UGF_AG; 6_UGF_ZR; 4_UGF_MV

1_UGF_PP; 2_UGF_PM

Baixa Média Alta … … 1_UGF_PP

2_UGF_PM

Baixa Média Alta … … 1_UGF_PP

Baixa Média Alta … 1_UGF_PP

2_UGF_PM …

Page 27: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

27

Diâmetro médio (dg): 0,665 metros Alturas

Altura média: 14 metros Altura dominante: 14 metros

3.6. DESCRIÇÃO DO USO MÚLTIPLO

Apicultura

Número de colmeias: 30 (apicultor particular) Plantas aromáticas: distribuídas pela área total da mata

Área plantada: 0 m2

Recursos micológicos Área para exploração: 75 ha Espécies a explorar: Boletus edulis, Lactarius deliciosus, Tricholoma equestre, Tricholoma portentosum, Hydnum repandum e Sarcodon imbricatum. Produção média: não avaliada

Silvopastorícia ou Pastoreio

Área em regime silvopastoril: 14 ha Espécies em pastoreio: Ovelha bordaleira serra da Estrela e cabra-serrana Número total de cabeças: definida pela capacidade de carga

Pesca desportiva

Espécies piscícolas: Truta-de-rio (Salmo trutta) Reserva: inexistente

Cinegética

Reserva: a zona de caça associativa (Processo nº4751-DGRF) abrange, parcialmente, a área da Mata do Desterro, sendo o restante território abrangido pelo regime livre. Principais espécies cinegéticas presentes: coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) e perdiz (Alectoris rufa)

Utilização pública

Área de recreio e lazer: percursos pedestres (ver Anexo VIII) Tipo de equipamento e Estruturas presentes: sinalização de percursos e painéis informativos e interpretativos

3.7. ACESSIBILIDADE

A Mata do Desterro possui uma boa acessibilidade sendo servida pela EN 339, que liga Seia

à Covilhã, e atravessa a região a apenas 500 metros do limite norte da propriedade, e pela

EM 513, a partir do lugar da Senhora do Desterro, na freguesia de São Romão. A Mata é

servida, ainda, por vários caminhos florestais não asfaltados, que apresentam na sua

generalidade um mau estado de conservação.

Page 28: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

28

3.8 REDES VIÁRIA E DIVISIONAL

A rede viária é composta por caminhos florestais e estradões, servindo os caminhos para

dar passagem, a todo o tipo de veículos, enquanto que os estradões, de acesso restrito,

têm como principal função servir de apoio às operações na mata, a utilização recreativa e

turística e de compartimentação florestal. (ver tabela II e anexo V)

A rede viária, com uma extensão total de cerca de 17 quilómetros, apresenta, em geral, um

estado de conservação que se classifica de razoável a mau. Como intervenções mais

urgentes consideram-se a reposição de pavimento nos percursos mais degradados, limpeza

e desobstrução de valetas e aquedutos e a construção de novos aquedutos.

A rede divisional integra a rede primária de defesa da floresta contra incêndios do concelho

de Seia, e faixas de protecção à passagem das linhas de alta e média tensão das centrais

hidroeléctricas do Sabugueiro e Desterro. A manutenção da faixa corta-fogos prevê a

manutenção de vegetação arbórea com baixa densidade, e inclui a desramação e limpeza

de matos com trituração. A limpeza das faixas de protecção das linhas de distribuição de

energia prevê acções de gestão de combustível que deverão ser efectuadas na faixa

correspondente à projecção vertical aos cabos condutores exteriores, acrescida de uma

faixa de largura não inferior a 10 ou sete metros para cada um dos lados, consoante se

trate de linhas de alta ou média tensão.

A rede divisional é composta por uma faixa de protecção contra incêndios, que integra a

rede primária de defesa da floresta contra incêndios do concelho de Seia, e por faixas de

protecção à passagem das linhas de alta e média tensão das centrais hidroeléctricas do

Sabugueiro e Desterro.

Tabela III: Rede viária e divisional

Classe Tipologia Extensão

(m) Área (Ha)

Caminhos florestais 1218 0.85 Rede viária

Estradões 15862 11.1

Aceiros/faixa de protecção 2553 12.76

Alta tensão 769 1.64 Rede

divisional Faixa de protecção das linhas

de energia Média

tensão 589 0.81

Page 29: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

29

3.9. CARACTERIZAÇÃO SOCIAL

Até ao meados do século XX a área actualmente ocupada pela Mata do Desterro foi utilizada

no quadro de sistemas agrícolas e pecuários típicos da região onde se insere,

nomeadamente a cultura do centeio em regime de pousio, a produção de feno e a

actividade silvo-pastoril tradicional. A partir da década de cinquenta, a área foi convertida

em extensos povoamentos de pinheiro-bravo, explorados numa vertente essencialmente

económica, contribuindo para o êxodo rural. Desde os anos 80, a ocorrência frequente de

incêndios florestais conduziu a uma degradação do potencial produtivo da mata e ao

desenvolvimento de vastas áreas de matos.

3.10. INFRA-ESTRUTURAS DE PROTECÇÃO CONTRA INCÊNDIOS Rede divisional

Aceiros: 2553 metros Faixas de protecção a linhas eléctricas: 2,45 ha

Número de postos de vigia: 0 Percursos de vigilância: ver anexo III Pontos de água

Número: 1 Dimensão média: 10.000 m2

Page 30: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

30

ANEXOS

Page 31: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

31

ANEXO I

Page 32: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

32

Page 33: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

33

ANEXO II

Page 34: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

34

Page 35: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

35

ANEXO III

Page 36: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

36

Page 37: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

37

ANEXO IV

Page 38: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

38

Page 39: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

39

ANEXO V

Page 40: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

40

Page 41: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

41

ANEXO VI

Page 42: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

42

Page 43: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

43

ANEXO VII

Page 44: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

44

Page 45: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

45

ANEXO VIII

Page 46: PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DA MATA DO DESTERRO€¦ · A Mata do Desterro apresenta um macrobioclima Temperado, subtipo oceânico variante submediterrânea, de ombroclima húmido

46