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¹ Graduando em administração do Centro Universitário UNIBH – e-mail: [email protected] ² Professora orientadora. Doutora em Tratamento da Informação Espacial – e-mail: [email protected] PLANEJAMENTO LOGÍSTICO COMO DIFERENCIAL NA ESTRATÉGIA DAS ORGANIZAÇÕES: ESTUDO DE CASO EM UM CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE Vinícius Silva Lima¹ Carolina dos Santos Nunan² RESUMO Este artigo apresenta um estudo acadêmico que aborda o planejamento logístico como diferencial na estratégia das organizações. Realizou-se um estudo de caso em um Centro Universitário de Belo Horizonte com o objetivo de analisar seu atual processo de planejamento logístico para a oferta das disciplinas. Dentro do que concerne ao Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (GCS), avaliou-se todo o processo logístico do Centro Universitário. Para tanto, utilizou-se a combinação das pesquisas qualitativa e quantitativa, para obtenção de uma análise mais limpa e detalhada dos dados. Essa pesquisa conta com observação direta intensiva, utilizando-se da técnica de observação participante, com a presença in loco do pesquisador. Os resultados apontam que o processo logístico influencia diretamente, em diferentes aspectos, a eficiência operacional das Instituições de Ensino Superior (IES). O processo de previsão de demanda é fundamental para as IES, tendo em vista a necessidade de prever e projetar a captação e evasão de alunos para os períodos futuros. As IES podem utilizar do planejamento logístico como diferencial competitivo, para obtenção de ganhos significativos de desempenho, qualidade, marca e capital. PALAVRAS-CHAVE: Cadeia de Suprimento. Planejamento Logístico. Previsão de Demanda. Diferencial Competitivo. 1. INTRODUÇÃO Na era da informação, também conhecida como era digital ou era tecnológica, vive- se um momento de muitas transformações em curtos espaços de tempo. O fluxo de informações é tão grande que o trabalho de filtrar somente as informações relevantes, para um real ganho de conhecimento, se torna um desafio na vida dos profissionais e das empresas.

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¹ Graduando em administração do Centro Universitário UNIBH – e-mail: [email protected] ² Professora orientadora. Doutora em Tratamento da Informação Espacial – e-mail: [email protected]

PLANEJAMENTO LOGÍSTICO COMO DIFERENCIAL NA ESTRATÉG IA DAS ORGANIZAÇÕES: ESTUDO DE CASO EM UM CENTRO UNIVERSIT ÁRIO DE

BELO HORIZONTE

Vinícius Silva Lima¹ Carolina dos Santos Nunan²

RESUMO

Este artigo apresenta um estudo acadêmico que aborda o planejamento logístico como diferencial na estratégia das organizações. Realizou-se um estudo de caso em um Centro Universitário de Belo Horizonte com o objetivo de analisar seu atual processo de planejamento logístico para a oferta das disciplinas. Dentro do que concerne ao Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (GCS), avaliou-se todo o processo logístico do Centro Universitário. Para tanto, utilizou-se a combinação das pesquisas qualitativa e quantitativa, para obtenção de uma análise mais limpa e detalhada dos dados. Essa pesquisa conta com observação direta intensiva, utilizando-se da técnica de observação participante, com a presença in loco do pesquisador. Os resultados apontam que o processo logístico influencia diretamente, em diferentes aspectos, a eficiência operacional das Instituições de Ensino Superior (IES). O processo de previsão de demanda é fundamental para as IES, tendo em vista a necessidade de prever e projetar a captação e evasão de alunos para os períodos futuros. As IES podem utilizar do planejamento logístico como diferencial competitivo, para obtenção de ganhos significativos de desempenho, qualidade, marca e capital.

PALAVRAS-CHAVE: Cadeia de Suprimento. Planejamento Logístico. Previsão de

Demanda. Diferencial Competitivo.

1. INTRODUÇÃO

Na era da informação, também conhecida como era digital ou era tecnológica, vive-

se um momento de muitas transformações em curtos espaços de tempo. O fluxo de

informações é tão grande que o trabalho de filtrar somente as informações

relevantes, para um real ganho de conhecimento, se torna um desafio na vida dos

profissionais e das empresas.

2

Peter Drucker (1993, p. 72, traduzido pelo autor), escritor de trabalhos sobre gestão

do conhecimento, considerado como o pai da administração moderna, relata em

uma de suas obras que “os grandes ganhos de produtividade, daqui para frente,

advirão das melhorias na gestão do conhecimento”. Essa visão de futuro apresenta

a tendência de valorização do conhecimento e do aprendizado contínuo. Com isso,

nota-se a oportunidade de crescimento e expansão de Instituições de Ensino

Superior (IES) em todo país.

De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2012), nos

últimos vinte anos o Brasil assistiu a um notório processo de crescimento em sua

rede de ensino superior. No começo da década de 90, no século passado,

somavam-se 1.540.080 estudantes matriculados no ensino superior no Brasil. Esse

número saltou para 2.694.245 estudantes em 2000 e para 6.379.299 em 2011, ou

seja, percebe-se um crescimento de demanda de aproximadamente 236,77% na

última década.

O aumento da demanda no ensino superior brasileiro nas últimas décadas também

se deve ao fato de que a formação acadêmica e a comprovação dos diversos

saberes são pontos essenciais considerados em uma contratação. Segundo

informações da Catho (2011), empresa especializada em recrutamentos online, a

experiência técnica e a formação acadêmica são os itens mais avaliados pelas

organizações em um processo seletivo.

Percebe-se nas organizações a busca constante pela melhoria de seus processos,

alvejando a otimização dos recursos, o aumento da eficiência operacional e a

maximização de capital. Para isso as IES vêm agindo como grandes impulsores do

desenvolvimento profissional e intelectual ampliando, em âmbito acadêmico, o

número de profissionais qualificados e especializados nas mais variadas áreas do

conhecimento.

Com isso, percebe-se que a necessidade do aprendizado ininterrupto para obtenção

de sucesso no mundo corporativo e a exigência de titulação na grande maioria das

organizações, aliadas aos diversos facilitadores de ingresso no ensino superior

3

(como bolsas de estudo e planos de financiamento estudantil), trouxeram a

oportunidade do surgimento, crescimento e expansão de IES em todo país.

A grande quantidade de IES que buscam vantagens mercadológicas e diferenciais

competitivos no município de Belo Horizonte, fez-se refletir sobre a otimização dos

recursos como forma de aumento da eficiência operacional, visando

consequentemente a melhoria dos processos e a diferenciação do serviço. Diante

desse contexto, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: Como o processo

logístico de uma Instituição de Ensino Superior pode influenciar sua eficiência

operacional?

Em busca de tal resposta, tornou-se necessário identificar os principais processos

logísticos envolvidos no planejamento tático de oferta das disciplinas e estudar os

ganhos operacionais com o aprimoramento desses processos na Instituição.

Segundo Chiavenato (2000), a vantagem competitiva ocorre quando a organização

desenvolve e explora capacidades diferentes das que existem na concorrência.

Logo, o aperfeiçoamento dos processos logísticos pode configurar, dentro do

segmento educacional, uma grande vantagem competitiva.

Neste trabalho propõe-se como objetivo geral analisar o atual processo de

planejamento logístico para oferta das disciplinas de graduação em um Centro

Universitário de Belo Horizonte e, como objetivos específicos, propõe-se identificar o

processo, suas fases e envolvidos; analisar cada fase, apontando os pontos críticos;

analisar os parâmetros financeiros de rentabilidade de cada curso; apontar e

analisar os principais fatores externos que incidem nesse processo; propor melhoria.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 LOGÍSTICA EMPRESARIAL

A logística empresarial representa todas as atividades que se relacionam com o

fluxo e transformação de mercadorias, desde a extração da matéria prima até o

consumidor final. Em uma de suas obras, Ballou (2006, p. 27) define logística

4

empresarial como “o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo

eficiente e eficaz de mercadorias, serviços e das informações relativas desde o

ponto de origem até o ponto de consumo com o propósito de atender às exigências

dos clientes”.

Por contemplar a noção de que o fluxo de mercadorias deve ser acompanhado

desde a etapa em que se coleta a matéria prima até a chegada do produto acabado

ao consumidor final, trata-se de uma excelente definição. Nessa mesma obra, Ballou

(2006) deixa claro que a logística também lida, além de produtos e bens materiais,

com o fluxo de serviços, uma área com crescentes oportunidades de

aperfeiçoamento.

Essa definição sugere que a logística é, igualmente, um processo. Isso significa que

a logística inclui todas as atividades de grande relevância para a disponibilização de

bens e serviços aos consumidores, no tempo e local em que estes desejarem

adquirí-los. Bowersox (2013) reitera esse pensamento ao afirmar que a logística é

um processo que conecta os participantes de uma cadeia de suprimentos em

operações integradas.

2.2 CADEIA DE SUPRIMENTOS

Ballou (2006) define muito bem o Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (GCS),

conhecido em inglês como Supply Chain Management (SCM). Segundo este, a

cadeia de suprimentos inclui todas as etapas relacionadas com o fluxo e

transformação de mercadorias, desde o estágio da matéria prima (extração) até o

usuário final, bem como os respectivos fluxos de informação. Em uma cadeia de

suprimentos os materiais e as informações seguem em uma via de mão dupla, pois

fluem tanto para baixo quanto para cima.

Já o GCS, por Ballou (2006), é conceituado como a interação dessas atividades,

mediante relacionamentos aperfeiçoados na cadeia de suprimentos, com o objetivo

de alcançar uma vantagem competitiva sustentável.

Segundo Bowersox (2013), na era da informação, a realidade de conectividade e

interação de negócios continua a impulsionar uma nova ordem de relacionamentos

5

que se denomina gestão da cadeia de suprimentos. Ele afirma que os

administradores estão, cada vez mais, em busca de melhorias das práticas

tradicionais de marketing, manufatura (produção), compra e logística. Essa

constante busca por melhorias reforça a ideia de Ballou (2006), de que o GCS faz

parte da realidade das atuais organizações como forma de vantagem competitiva.

As atividades a serem gerenciadas pertencentes à logística empresarial podem

variar de acordo com a empresa, dependendo, entre outros fatores, da atividade fim

da empresa, da estrutura organizacional, do segmento em que atua ou do mercado

em que está inserida. De todo modo, Ballou (2006, p. 31) apresenta os típicos

componentes de um sistema logístico, sendo eles:

Serviços ao cliente, previsão de demanda, comunicações de distribuição, controle de estoque, manuseio de materiais, processamento de pedidos, peças de reposição e serviços de suporte, escolha de locais para fábrica e armazenagem (análise de localização), embalagem, manuseio de produtos devolvidos, reciclagem de sucata, tráfego e transporte, armazenagem e estocagem.

Apesar de sofrerem variações de acordo com as especificidades de cada

organização, a figura 1 organiza essas atividades, ou componentes, pela mais

provável ordem de concretização no canal de suprimentos.

Figura 1: Atividades logísticas na cadeia de suprimentos imediata da empresa.

Fonte: (BALLOU, 2006, p.31)

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Para conhecimento da importância da logística e da cadeia de suprimentos, Ballou

(2006, p. 33) retrata:

A logística trata de criação de valor – valor para os clientes e fornecedores da empresa, e valor para todos aqueles que têm nela interesses diretos. O valor da logística é manifestado primariamente em termos de tempo e lugar. Produtos e serviços não têm valor a menos que estejam em poder dos clientes quando (tempo) e onde (lugar) eles pretendem consumi-los. Por exemplo, os bares que servem bebidas e lanches nos estádios de esportes não terão valor algum para os consumidores, a menos que sejam de fácil acesso por esse público, nos eventos esportivos e artísticos, e contem com estoques correspondentes à demanda característica dessas ocasiões. A coa administração logística interpreta cada atividade na cadeia de suprimentos como o contribuinte do processo de agregação de valor.

Verifica-se que um bom gerenciamento da cadeia de suprimentos incide diretamente

na percepção de valor para o cliente e, com isso, pode se considerado um grande

diferencial mercadológico perante as organizações concorrentes.

2.3 PLANEJAMENTO LOGÍSTICO

Segundo Ballou (2006), o planejamento logístico tem por objetivo desenvolver

estratégias que possam resolver os problemas de quatro áreas de destaque que

são: i) o nível de serviços oferecido aos clientes; ii) localização das instalações de

centros de distribuição; iii) decisões de níveis de estoque e; iv) decisões de

transportes que devem ser utilizados no desenvolvimento de todo o processo.

No processo de construção de um planejamento logístico deve-se ficar evidente que

nem tudo que foi planejado caminhará perfeitamente todo o tempo. Wright et al.

(2000) afirmam que, quando implementada a estratégia, no desenvolver das

atividades, periodicamente serão necessárias modificações à medida que as

condições ambientais ou organizacionais sofrerem alterações, sendo estas, muitas

vezes, difíceis de serem previstas.

Os trade-offs podem ser caracterizados como “incompatibilidade entre dois ou mais

critérios, ou seja, as situações em que a melhoria de um critério poderá implicar

impacto negativo em outro” (PAIVA CARVALHO; FENSTERSEIFER, 2004, p. 55).

Ou seja, essa expressão define uma situação em que há conflito de escolha em uma

tomada de decisão. Em âmbito organizacional, se caracteriza por uma medida que

visa a resolução de determinado problema, porém acarreta outro.

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2.4 GESTÃO DE SERVIÇOS

Para Bowersox; Closs (2001), o objetivo central da logística é o de atingir um nível

de serviço ao cliente pelo menor custo total possível, que busque oferecer

capacidades logísticas alternativas com ênfase na flexibilidade, na agilidade, no

controle operacional e no compromisso de atingir um alto nível de desempenho que

implique na excelência do serviço. Wood et al. (1999, traduzido por mim) descrevem

que o serviço ao cliente é o conjunto de atividades desenvolvidas pela empresa na

busca da satisfação dos clientes, proporcionando ao mesmo tempo, uma percepção

de que a empresa pode ser um ótimo parceiro comercial.

Para Gaither; Frazier (2001, p. 489):

Administrar a qualidade das operações de prestação de serviços é tão importante quanto administrar a qualidade das operações de produção. Assim nas organizações prestadoras de serviços, não é importante apenas a qualidade dos serviços e produtos fornecidos, mas também a qualidade da forma como os serviços são prestados.

As organizações prestadoras de serviço como um todo devem tratar do

planejamento logístico com o mesmo engajamento que as indústrias e empresas de

transporte o tratam.

Para Gaither; Frazier (2001), a necessidade por padrões de melhor qualidade

aumenta à medida que a consciência e a percepção da qualidade também

aumentem. Um elemento importante para monitorar a qualidade é a aplicação de

questionários ou entrevistas aos clientes visando determinar a percepção dos

clientes quanto ao serviço recebido.

2.5 GESTÃO DE DEMANDA

De acordo com Campos (2001), gerir a demanda de uma empresa é uma das

atividades mais difíceis e possui um papel de grande relevância na cadeia produtiva.

O resultado das decisões sobre a demanda influencia diretamente os outros

processos da empresa. Por exemplo, um aumento da demanda pode diminuir o nível

dos estoques, impactando no aumento de produção e da capacidade. O aumento da

produção pode exigir mais serviços de transporte, trazendo maior necessidade de

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gerenciamento como um todo. Por outro lado, se a demanda diminui pode-se

aproveitar o momento para ajustar a carteira de pedidos, treinar as equipes ou

programar uma manutenção nas linhas de produção. Aproveitando-se, portanto, este

período de baixa no mercado. Isso tudo depende certamente do adequado

planejamento de médio e longo prazo.

Campos (2001, p. 1) afirma que, como a demanda é incerta, “planejar em função

destas incertezas é quase uma arte”. Porém não é apenas talento de que os

gestores de demanda necessitam. São necessárias técnicas e ferramentas que

permitam análises e decisões.

Ao criar uma referência para previsão, podem-se utilizar modelos estatísticos que

irão considerar o comportamento de cada linha de produto, em cada região ao longo

do tempo.

As previsões de demanda são fundamentais para auxiliar na determinação dos

recursos necessários para uma empresa. Em tempos de abertura de mercados,

essa atividade torna-se estratégica. Os mercados que podem ser acessados pela

empresa, assim como a concorrência, mudam continuamente, exigindo novas

previsões de demanda em períodos mais curtos.

Para obter e confirmar uma demanda futura, facilitando a programação de recursos

e garantindo o ganho de uma oportunidade de mercado, faz-se necessário a

utilização de métodos matemáticos quantitativos causais e temporais, como:

Regressão linear e análise de correlação; Médias móveis; Suavização exponencial

simples; Suavização exponencial com ajuste de tendência; Método sazonal

multiplicativo.

Estes métodos são aplicados de acordo com a realidade de demanda de cada

empresa, com o ambiente em que ela está inserida, por meio da análise de dados

históricos.

Há várias técnicas para se trabalhar a previsão. De acordo com Shingo (1996),

essas técnicas podem ser classificadas em três grupos:

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• Projeção: admite-se que o futuro virá de uma repetição do passado ou que as

vendas evoluirão com o passar do tempo. Esta é uma técnica de natureza

essencialmente quantitativa;

• Explicação: procura relacionar as vendas do passado com outras variáveis,

cuja evolução é conhecida ou previsível. Basicamente, aplicações de técnicas

de regressão e correlação;

• Predileção: profissionais experientes e conhecedores de fatores influentes

nas vendas e no mercado estabelecem a evolução das vendas futuras.

2.6 MÉTODOS DE GESTÃO DE DEMANDA

Forecast é uma expressão americana muito utilizada no GCS, que em sua tradução

significa previsão, onde os gestores procuram estabelecer um sistema de previsão

de futuros eventos. Conforme Destro (2011), a atividade de previsão de demanda

tem se tornado fundamental em todas as organizações, devido às substanciais

mudanças no ambiente econômico em decorrência da volatilidade e velocidade

característica no mercado atual.

Destro (2011) afirma que em um ambiente em que o ciclo de vida de determinados

produtos está cada vez mais curto, a competição é cada vez mais intensa e as

exigências dos clientes e consumidores cada vez maiores, surge a necessidade de

estabelecer uma previsão de demanda com considerável grau de sofisticação.

Em uma visão holística, os sistemas de previsão de demanda têm o propósito de

oferecer aos gestores da cadeia de suprimento um apoio para a compreensão do

comportamento da demanda de seus clientes. Destro (2011) afirma que estes

sistemas podem ser usados na tomada de decisão sobre o estabelecimento de

preços para produtos, no planejamento de capacidade e na a inserção de um novo

produto no mercado. Segundo Ballou (2001), o padrão das demandas pode ser

classificado como:

• Regular: a análise temporal da demanda mostra que esta pode ser

decomposta em componentes de tendência, sazonais e aleatórios;

• Intermitente: de característica irregular, também conhecida por nebulosa.

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O sistema de classificação de métodos propostos depende das características da

demanda. Ou seja, não existe um modelo de previsão melhor do que o outro; deve-

se considerar que cada modelo pode ser mais adequado dependendo do seu

objetivo e dos dados históricos da organização.

Bowersox; Closs (2001) e Ballou (2001) categorizam as técnicas de previsão

seguindo a linha definida por Chambers; Mullick; Smith (1974, traduzido por mim),

que estabeleceram uma classificação metodológica para previsão em: Métodos

Qualitativos, Análises de Séries Temporais e Modelos Causais.

Ballou (2001) deixa claro que os métodos qualitativos são aqueles que utilizam o

julgamento, a intuição, as pesquisas ou técnicas comparativas para produzir

estimativas quantitativas a respeito do futuro. Neumann (2010) explica que

abordagens qualitativas servem para transformar o conhecimento tácito de

especialistas em números de previsão. A base deste método é a opinião de

profissionais especializados na determinada área de atuação, sendo de grande

relevância quando não há dados para formular uma previsão coerente.

Com relação aos especialistas, espera-se que esses profissionais sejam respeitados

em suas áreas e que estejam fortemente inteirados e atualizados a respeito do atual

mercado, para que forneçam estimativas aproximadas da realidade. Para Destro

(2011), uma previsão baseada somente em análises qualitativas requer um alto grau

de imparcialidade, experiência, sensibilidade para possíveis mudanças políticas e

intuição extremamente aguçada. Alguns exemplos de métodos qualitativos são

mostrados a seguir na tabela 1.

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Tabela 1: Exemplos de métodos qualitativos.

Fonte: (BALLOU, 2001, p. 62)

Já a abordagem estatística define que dados, através de uma análise histórica, são

a base para a previsão da demanda. Este método analisa a demanda histórica de

determinados produtos ou serviços, o que exige desta abordagem uma massa de

dados consistente e confiável. Quando o padrão de demanda é caracterizado como

regular, modelos estatísticos têm um maior grau de precisão.

Porém, basear a demanda somente em dados estatísticos nos privaria da vantagem

de poder contar com a sensibilidade de especialistas para a análise da influência de

fatores externos. Apesar de ter simpatia pela utilização deste método, Armstrong

(2002, traduzido por mim) alerta para o fato de que um dos motivos para erros na

previsão ocorre quando as estimativas consideram fontes de dados com grau de

incerteza considerável. Armstrong (2002, traduzido por mim) afirma, contudo, que se

existem dados estatísticos suficientes, são preferíveis os métodos quantitativos, pois

em geral são mais precisos que os métodos qualitativos. Alguns exemplos de

métodos de projeção histórica são mostrados abaixo na tabela 2.

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Tabela 2: Exemplos de projeção histórica de demanda.

Fonte: (BALLOU, 2001, p. 57)

Bowersox; Closs (2001) explicam que no dimensionamento da demanda pelo

método causal, é feita uma previsão por regressão para estimar as quantidades

vendidas para cada produto com base em outras variáveis independentes.

Bowersox; Closs (2001) citam como exemplo a venda de café durante eventos

esportivos estadunidenses em estádios, quando o consumo da bebida quente

durante partidas de futebol americano ocorre em função da variação de temperatura.

Ballou (2001) comenta que modelos causais podem vir nas seguintes formas:

• Estatístico: regressão e modelos Econométricos;

• Descritivo: modelos de entrada e saída, ciclos de vida e simulação por

computador.

Bowersox; Closs (2001) afirmam que, embora não seja necessário haver uma

relação de causa e efeito entre a venda de um produto e a variável independente,

ainda que seja encontrado um alto grau de correlação, as previsões

comprovadamente mais confiáveis são baseadas em relações causais. Ballou

(2001) demonstra mais pessimismo com a técnica, comentando que relações

verdadeiramente causais são difíceis de ser encontradas, e quando o são, verifica-

se que a correlação geralmente é baixa.

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Para a previsão de demanda, a inserção de novos produtos é um grande desafio.

Segundo Neumann (2010), as incertezas associadas à demanda (produto

desconhecido) e à oferta (processo desconhecido) de um novo produto contribuem

para uma elevada taxa de ruptura na cadeia de suprimentos. Neumann (2010)

apresenta como opções de abordagem para determinação da previsão de demanda

de novos produtos: análise qualitativa, previsão por analogia, modelos de difusão,

modelos de preferência, diagramas causais e técnicas de pensamento sistêmico,

modelos de simulação e mercados teste.

O método de Analogia Histórica, conforme detalhado por Ballou (2001), prevê uma

análise comparativa da introdução e crescimento de produtos similares, baseando a

previsão na observação de padrões de similaridade.

3. METODOLOGIA

3.1 ESTUDO DE CASO

Segundo Gil (2002) o estudo de caso é uma modalidade de pesquisa amplamente

utilizada nas ciências biomédicas e sociais. Consiste no estudo profundo e exaustivo

de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado

conhecimento, tarefa considerada praticamente impossível mediante outros

delineamentos já considerados. Gil (2002) afirma que o estudo de caso é o método

mais adequado para investigação de fenômenos dentro de seus contextos reais,

onde o limite entre os fenômenos e os contextos não estão claramente evidentes.

Este estudo de caso utiliza-se do tipo de pesquisa quali-quanti, que concilia métodos

quantitativos e qualitativos, e visa reforçar a análise do fenômeno estudado.

3.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Para embasamento cientifico, essa pesquisa se respalda em livros, sítios

eletrônicos, artigos e periódicos sobre: Logística Empresarial, Cadeia de

Suprimentos, Planejamento Logístico, Gestão de Serviços e Gestão de Demanda.

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3.3 COLETA DE DADOS

A coleta de dados, realizada nesse estudo de caso, se dividiu em duas etapas. Na

primeira etapa, realizou-se entrevistas com os gestores responsáveis pela previsão

de demanda, utilizando-se de um roteiro semi-estruturado com os seguintes temas:

pontos críticos da previsão de demanda; fatores externos que incidem na previsão

de demanda; parâmetros de desempenho de oferta das turmas. A primeira etapa foi

realizada no segundo semestre de 2015, durante o mês de agosto, onde a entrevista

teve duração de 25 minutos.

Na segunda etapa avaliou-se a percepção dos 5 colaboradores que lideram as

equipes operacionais, sobre a relação entre planejamento logístico e gestão de

serviços. Essa etapa consistiu na aplicação um questionário fechado, no segundo

semestre de 2015, durante o mês de setembro, onde os dados foram tabulados e

analisados através de planilha Excel.

Pelas etapas supracitadas, esse estudo de caso utiliza da combinação das

pesquisas qualitativa e quantitativa, para obtenção de uma análise mais limpa e

detalhada dos dados.

3.4 TRIANGULAÇÃO DE DADOS

Em função da complexidade e fragmentação crescentes da realidade, tem-se

buscado elaborar novas estratégias metodológicas com o intuito de possibilitar uma

compreensão mais abrangente e detalhada dos fenômenos estudados. Segundo

Fielding; Schreier (2001, traduzido por mim); Flick (2005), a triangulação de dados

consiste em articular métodos quantitativos e qualitativos de modo a reforçar a

análise do fenômeno estudado.

Conforme Souza; Zioni (2003), a estratégia metodológica de triangulação dos dados

coletados permite, concomitantemente, uma maior validade dos dados e uma

inserção mais aprofundada dos pesquisadores no contexto de onde emergem os

fatos, as falas e as ações dos sujeitos.

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3.5 OBSERVAÇÃO DIRETA INTENSIVA

Este estudo de caso conta com a observação direta intensiva, utilizando-se da

técnica de observação participante, com a presença in loco do pesquisador, que

utiliza os sentidos para obtenção de determinados aspectos da realidade. Segundo

Marconi; Lacatos (2003), a observação direta intensiva não consiste somente em ver

e ouvir, mas também em examinar os fatos e fenômenos estudados.

4. DADOS E ANÁLISE DA PESQUISA

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

O Centro Universitário pesquisado é, pelo 3º ano, o Melhor Centro Universitário

privado de Minas e, pelo 4º ano consecutivo, o Melhor Centro Universitário privado

de Belo Horizonte; de acordo com a avaliação do IGC (Índice Geral de Cursos)

divulgado pelo Ministério da Educação (INEP/MEC) em dez/2014 - o principal

indicador nacional de qualidade do ensino superior no Brasil.

O Centro Universitário pesquisado conta com 12 unidades localizadas em pontos

estratégicos nas cidades de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Divinópolis e Sete

Lagoas, com a oferta de cursos, presenciais e a distância, de Bacharelado,

Licenciatura, Graduação Tecnológica, Pós-Graduação, além de cursos técnicos

oferecidos por meio do Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico

e Emprego, do Governo Federal. As unidades contam com espaços acadêmicos

modernos, laboratórios para atividade prática, áreas de relacionamento e localização

privilegiada.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES

O respondente do Apêndice 1 é o gestor responsável pela previsão de demanda do

centro universitário, que assessora a reitoria da IES e tem participação ativa nas

operações estratégicas.

16

O grupo de respondentes do questionário, conforme Apêndice 2, é composto pelos 5

líderes das equipes operacionais do centro universitário estudado, formado por

pessoas de diferentes gêneros, formações e faixas etárias.

4.3 ANÁLISE DA ENTREVISTA COM O GESTOR

4.3.1 ATUAL CENÁRIO POLÍTICO-ECONÔMICO

O respondente ressalta o atual momento político-econômico que afeta fortemente,

de maneira negativa, a captação de alunos e a expansão das IES em todo território

nacional. A burocratização, por parte do Governo Federal, da contratação e

renovação do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), junto à crise econômica

(que tira a capacidade de pagamento de grande parte de seu público alvo), dificulta

o acesso de muitas pessoas ao ensino superior. Pode-se analisar que a atual

conjuntura econômica vivida pelo país é um fator externo que impacta

negativamente na demanda de todas as IES que atuam no Brasil.

4.3.2 ESTRATÉGIAS ATUAIS

Para enfrentar essa tendência de diminuição de demanda, a Instituição pesquisada

buscou a criação de novos produtos educacionais e de financiamento para atrair

esse público que vinha se perdendo.

O Produto X é um programa de financiamento estudantil que permite que os alunos

ingressantes paguem metade do valor das mensalidades enquanto estudam, e a

outra metade depois que se formarem. Já o Produto Y consiste na oferta de cursos

100% online e cursos semipresenciais, aumentando o portfólio e a abrangência da

IES. A oferta desses novos produtos surge de uma necessidade de aumento de

captação, identificada através de seu processo de previsão de demanda.

4.3.3 PREVISÃO DE DEMANDA

Conforme informações do respondente, os fatores externos são mais considerados

na previsão de demanda da IES do que os fatores internos. Como princípio da

previsão de demanda, a Instituição faz uso basicamente de pesquisas de mercado

para identificar o índice de procura dos diversos cursos e identificar também

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oportunidades e ameaças relacionadas à inclusão de novos cursos, produtos e à

abertura de novas unidades. Esse processo é ilustrado no Fluxograma 1, que

apresenta as etapas da previsão de demanda adotada pela organização estudada.

Fluxograma 1: Etapas da previsão de demanda adotada pela Instituição.

Não

Sim

Fonte: Pesquisa (2015)

Reitoria: Analisa a viabilidade de oferta dos cursos e disciplinas.

Núcleo Acadêmico: Analisar turmas atuais, histórico de demanda e determinar índices de evasão.

Produto tem perspectiva de sucesso?

Análise de Rentabilidade: Procura pelo produto Poder de compra do público alvo Praça Sazonalidade Payback Margem de lucro (DRE) Diferencial Competitivo

Núcleo de Inteligência: Realiza pesquisas de mercado para identificar oportunidades, ameaças e tendências; além de mensurar as oscilações demanda no segmento educacional.

Diretoria do Instituto: Determinar disciplinas a ofertar.

Coordenação de cursos: Estruturar/revisar plano pedagógico de curso, matriz curricular e corpo docente.

Portfólio de oferta de turmas/disciplinas fica disponível para planejamento de operação das demais áreas.

Fim

Descartado

18

Dentro do processo de previsão de demanda a procura pelos cursos é considerada

sazonal e o número de alunos previstos para os próximos períodos são projetados a

partir de uma série histórica de demanda. Pode-se observar que a IES aguarda o

resultado do processo de previsão de demanda, para depois traçar medidas internas

e planos de ação que conduzam ao cumprimento dessa previsão.

4.3.4 PROGRAMAÇÃO DE TURMAS

Durante a entrevista o respondente cita o processo de confecção de horário que, por

considerar diversas variáveis, é caracterizado como um grande desafio logístico. Se

esse processo não for bem planejado e executado, inevitavelmente a Instituição não

conseguiria otimizar seus recursos e perderia em produtividade.

4.3.5 DIFERENCIAL COMPETITIVO

O principal diferencial competitivo da organização, apontado pelo respondente, é a

valorização do corpo docente, no qual a Instituição toma como base para a

manutenção da qualidade acadêmica. Com isso percebe-se uma nítida preocupação

com a assertividade na previsão de demanda, que impacta diretamente no número

de turmas, e, por sua vez, na carga horária assumida pelos professores.

4.3.6 PRINCIPAIS DESAFIOS E REFLEXOS

Caso o processo de previsão de demanda seja falho, a carga horária indicada para

os professores pode ser insuficiente, o que resultaria em possíveis desligamentos ou

resilições (reduções parciais dos contratos de trabalho). Essa situação imprevista

causaria desconforto, insatisfação e insegurança por parte dos professores, o que

iria à contramão do diferencial competitivo apontado pela IES.

4.4 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS

Durante o mês de setembro de 2015 foram aplicados questionários, conforme o

apêndice 2, a todos os líderes das equipes operacionais do campus X: Biblioteca;

Central de Atendimento ao Aluno; Manutenção e Serviços; Núcleo de Suporte à

Informática; Portaria e Limpeza. A análise desse questionário teve como objetivo

19

avaliar a percepção dos líderes sobre o gerenciamento do processo logístico na

organização.

A partir da análise dos questionários, pôde-se constatar que apenas uma das 5

equipes operacionais do Centro Universitário é composta de 10 à 15 colaboradores,

desta forma as demais equipes possuem menos de 10 colaboradores. Mesmo se

tratando de uma organização de grande porte, a unidade de negócio do campus X é

composta por pequenas equipes operacionais. Esse formato das equipes facilita o

controle operacional e a padronização dos serviços, conduzindo a um alto nível de

desempenho que implica na excelência do serviço, ilustrando a teoria de Gaither;

Fraizer (2001).

Conforme apresentado no Gráfico 1, o número de alunos matriculados incide

diretamente sobre a demanda de 60% das equipes operacionais do Centro

Universitário. Nas demais equipes o número de alunos matriculados incide na

maioria das vezes sobre suas demandas, mas não sempre. Da mesma forma,

constatou-se que o número de alunos matriculados incide diretamente sobre a

quantidade de colaboradores de 60% das equipes operacionais avaliadas. Nas

demais equipes o número de alunos matriculados incide, na maioria das vezes,

sobre a quantidade de colaboradores que as compõe.

Com isso, percebe-se que aspectos relacionados à uma demanda (alunos

matriculados) influencia diretamente os outros processos da organização. Ou seja, a

demanda de alunos matriculados impacta no gerenciamento de estoques, nas

instalações, nas capacidades e no número de colaboradores que integram as

equipes. Esse resultado caracteriza os conceitos apresentados por Campos (2001),

sobre gestão de demanda.

20

Gráfico 1: Impacto da demanda sobre as equipes.

Fonte: Pesquisa (2015)

Quatro dos 5 líderes avaliados reconhecem como “muito alta” a importância de uma

previsão de demanda assertiva nas atividades relacionadas à sua equipe, enquanto

um dos líderes reconhece como “alta”.

Percebe-se que esta questão é essencial para o bom funcionamento das áreas, uma

vez que não houve nenhuma resposta que demonstre irrelevância sobre isto.

Os líderes foram unânimes em avaliar que um bom gerenciamento do processo

logístico pode ser encarado como um diferencial competitivo nas organizações,

demonstrando que o gerenciamento da cadeia de suprimentos deve ser tratado

como uma das atividades chave de empresas desse segmento.

Quatro dos 5 líderes afirmam que uma previsão de demanda assertiva impacta

diretamente na qualidade dos serviços prestados por sua equipe. Já um dos líderes

afirma que, na maioria das vezes, mas não sempre, essa questão é considerada

verdadeira em sua área.

Com isso é notável a preocupação dos gestores em relação ao GCS, que faz parte

do cotidiano das equipes operacionais e é utilizado como diferencial competitivo

perante as demais organizações de mesmo seguimento.

Conforme ilustrado no Gráfico 2, os respondentes se mostraram divididos em

relação ao fator que está mais relacionado à previsão de demanda e ao

Gerenciamento da Cadeia de Suprimento em sua equipe. Como o GCS é um

processo que busca gerenciar estrategicamente diferentes fluxos (de bens, serviços,

Sim

Na maioria das vezes sim

21

finanças e informações), é natural que cada área, considerando suas

especificidades, associe um elemento distinto a um processo tão abrangente.

Gráfico 2: Fatores relacionados à previsão de demanda.

Fonte: Pesquisa (2015)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÃO

As Instituições de Ensino Superior devem estar preparadas para as rápidas

mudanças político-econômicas e novas medidas educacionais chanceladas pelo

Governo Federal e pelo Ministério da Educação. Pela atual conjuntura econômica

vivida pelo país, a volatilidade e a velocidade dos mercados que tangem o segmento

educacional se tornam ainda mais evidentes. Esse tipo de situação ilustra a

importância do Forecast, onde as organizações devem se proteger das ameaças

externas através de um processo de previsão de demanda bem estruturado.

A displicência em relação ao GCS, com ênfase na previsão de demanda, pode

resultar em perdas significativas de desempenho, qualidade, marca e capital. Dessa

forma, entende-se que o processo de previsão de demanda é fundamental para as

Instituições de Ensino Superior, tendo em vista a necessidade de prever e projetar a

captação e evasão de alunos para os períodos futuros.

Caso haja alguma falha no processo de previsão de demanda da IES, pode-se

chegar a um ponto crítico que é a insatisfação do corpo docente, o qual é visto como

20%

20%

40%

20%

Número de colaboradores Quantidade de insumos / materiais

Qualidade do serviço Eficiência dos processos

22

principal diferencial competitivo da organização. Com isso, nota-se a importância de

tal atividade dentro da cadeia de suprimentos.

O GCS pode e deve ser encarado como um diferencial competitivo no segmento

Educacional, pois através de um processo logístico bem estruturado, planejado e

executado, as organizações tendem a atingir um alto nível de serviço pelo menor

custo total possível; o que ilustra a teoria de Bowersox; Closs (2001) sobre gestão

de serviços. Pode-se afirmar que o planejamento logístico deve ser tratado como

uma das atividades chave de organizações desse segmento.

A partir da pesquisa realizada conclui-se que o processo logístico de uma Instituição

de Ensino Superior influencia sua eficiência operacional em diferentes aspectos,

como: na otimização de suas instalações; na assertividade da compra de

materiais/insumos; na precisão da quantidade ideal de colaboradores necessários;

na eficiência das atividades e processos; no conforto, satisfação e segurança do

corpo docente; e, principalmente, na qualidade do serviço prestado.

Conclui-se também que a IES abordada no estudo de caso possui um processo de

previsão de demanda bem detalhado, estruturado e assertivo, o que resulta em uma

boa projeção futura. Contudo, este contexto é sempre vulnerável às variáveis

externas do ambiente, como alterações de padrões de demanda do cliente final e

políticas de financiamento público para estudantes. Com isso, sugere-se que o

Centro Universitário avaliado esteja sempre em constante monitoramento e inclua

neste processo – como método qualitativo – a técnica de previsão de consumo de

predileção, em que profissionais experientes e conhecedores, em relação a fatores

inerentes ao mercado, estabeleçam uma estimativa de demanda futura (tanto para

os cursos já existentes, quanto para os novos cursos que serão inseridos em seu

portfólio). Conforme a teoria de Shingo (1996), tal inclusão aumentará a precisão de

suas previsões de demanda futuras.

23

6. REFERÊNCIAS

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Practitioners. Editora: Springer, 2002.

BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos : planejamento,

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Empresarial. Bookman, 2006.

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BRASIL. Ministério da Educação. Relação de oferta-demanda de cursos . 2012.

Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=

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CAMPOS, N. et al. Gestão da demanda. TM de C (org.). Porto Alegre: ABRH, 2001.

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Disponível em: <http://www.catho.com.br/carreira-sucesso/dicas-emprego/os-itens-

mais-avaliados-pelos-selecionadores-na-hora-da-contratacao> Acesso em 15 de

maio de 2015.

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24

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Qualitative and Quantitative Research Methods”, em Forum Qualitative

Sozialforschung/Forum: Qualitative Social Research (revista on-line), 2: 1 (54

parágrafos). Disponível em: <http://qualitative-research.net/fqs/fqs-eng.htm>

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ed. São Paulo: Pioneira, 2001.

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2002.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5.

ed. São Paulo: Atlas, 2003.

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Revista Mundo Logística, mar-abr 2010.

PAIVA, Ely Laureano; CARVALHO, L.; FENSTERSEIFER, Jaime Evaldo. Estratégia

de produção e de operações. Porto Alegre: Bokman, 2004.

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melhorias contínuas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

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WRIGHT, Peter. et al. Administração Estratégica . São Paulo: Atlas, 2000.

25

APÊNDICE 1

Transcrição da Entrevista – Etapa 1

1) Quais são os principais fatores internos e externos considerados na previsão

de demanda da IES?

“Basicamente são fatores externos, que é a própria capacidade do mercado. Na

hora de estipularmos a demanda, nós fazemos uma pesquisa de mercado para

sabermos onde cabe a entrada de novos cursos ou a abertura de novas unidades.

Nós levamos mais em consideração o fator externo do que o fator interno

propriamente dito.”

2) Qual o número mínimo de alunos em uma turma, para que esta seja

considerada rentável para a Instituição?

“Cada curso tem uma DRE (Demonstração do Resultado do Exercício), então esse

número mínimo de alunos depende basicamente de quanto cobraremos na

mensalidade e qual é o custo que teremos com aquele curso. Então na verdade

esse número mínimo oscila de curso para curso e depende também de como nós

vamos nos posicionar mercadologicamente. Podemos, por exemplo, ter um

posicionamento mais agressivo, diminuindo o valor da mensalidade, mas com isso

precisaríamos de mais alunos em sala pra obter aquela margem de lucro esperada;

ou podemos trabalhar com um número menor de alunos em sala de aula, desde que

aumentemos o ticket médio pago por cada aluno do Centro Universitário.

Então isso vai depender da região, do portfólio e do número de concorrentes.

O número médio de alunos para começarmos um curso (levando em consideração a

evasão e desconsiderando os fatores externos e o posicionamento do mercado),

para um curso começar do zero, sem nada de apoio, ou seja, sem junção de turmas,

precisaríamos por volta de 36 alunos (tanto pras engenharias quanto pra

arquitetura).”

3) Quais foram as últimas medidas políticas e socioeconômicas que afetaram

diretamente a demanda das Instituições de Ensino Superior?

26

“O principal fator que afetou a demanda das IES foi a limitação das bolsas de

Financiamento Estudantil por parte do governo. É fácil fazer uma pesquisa e

comprovar essa redução que aconteceu.

A acessibilidade ao Ensino Superior reduziu drasticamente com o corte nesse

programa de financiamento. Paralelo a isso, para potencializar a crise na demanda

educacional, temos a própria crise econômica. Com a crise econômica o individuo

perdeu a capacidade de pagamento, além da capacidade de pagamento ele perdeu

também a oportunidade de financiamento pelo FIES, então isso afetou muito a

demanda das Instituições de Ensino Superior.”

4) Quais as ações mercadológicas tomadas, por parte do Centro Universitário,

para ampliação do acesso ao ensino superior?

“Desenvolver, criar e buscar sistemas de financiamento (em parceria ou sistemas de

financiamento próprio). O principal produto para suprir a necessidade de

financiamento foi o Produto X. Estamos em busca de novos produtos para substituir

ou suprir esse acesso que era realizado através do FIES.”

5) Qual o principal gargalo no processo de alocação professor / aluno /

instalação física?

“Nós trabalhamos com previsão de demanda, então nós temos, por exemplo, a base

de alunos 2015-2 e estamos projetando a de 2016-1. Em cima da base de alunos

2015-2 nós temos uma meta em que consideramos a série histórica de evasão

(quantos alunos nós vamos perder e quantos alunos nós vamos formar). Nós temos

uma estimativa de captação através de vestibular, destrancamento e retorno.

Com essas informações nós temos uma expectativa de receita e uma expectativa de

número de turmas. Com isso, nós fazemos o planejamento de espaço. O

planejamento de espaço consiste em casar os espaços existentes com a

disponibilidade dos professores, levando em consideração o número de turmas que

serão ofertadas naquele determinado semestre.

27

Nós temos uma equipe que trabalha exclusivamente na confecção do horário, então

o horário de aula é o produto final, aquilo que fica lá no quadro de horários do aluno

(Geometria Analítica no primeiro horário, Física Aplicada no segundo, Algoritmos na

terça-feira no segundo horário, etc.). O que antecede isso tudo é casar as demandas

com as necessidades. Existe um software chamado Urânia, onde cadastramos todos

os ambientes, suas capacidades, a disponibilidade dos professores, quantas horas

cada disciplina irá utilizar e as especificidades de cada curso.

Esse software considera choque de horário; deslocamento, disponibilidade e

interjonada docente; disponibilidade e capacidade dos ambientes, dentre outros

fatores, através de um algoritmo que tenta compatibilizar isso tudo para

conseguirmos a máxima otimização dos recursos.”

6) Qual o diferencial competitivo do Centro Universitário?

“O nosso posicionamento é qualidade acadêmica, nós não temos um

posicionamento agressivo por preço, nós não estamos concorrendo com as IES de

“povão”. Não somos uma IES de nicho (como uma Dom Cabral, especializada em

uma área). Então nós estamos com o posicionamento de qualidade acadêmica,

tanto é que os nossos indicadores apresentam conceito preliminar de curso com

notas 4 e 5, o que nos leva ao posto de melhor centro universitário de Minas Gerais.

Então o nosso diferencial é a qualidade acadêmica, formando o melhor profissional

para atuar no mercado.”

7) Considerando o ciclo de vida dos cursos ofertados, como a Instituição

gerencia esta instabilidade na oferta de produtos / serviços?

“A oferta de determinadas áreas é sazonal, então a cada época observa-se uma

determinada área em evidencia. Nós sabemos que se determinada área, por

exemplo, hoje, não está em evidencia, com queda significativa em sua demanda,

ainda sim existe a certeza que aquela demanda voltará (por considerarmos o ciclo

sazonal). Nós tentamos sempre manter os cursos básicos no portfólio em oferta,

independente da demanda, por acreditar que temos essa demanda sazonal. De todo

28

modo nós tentamos antecipadamente prever os acontecimentos significativos no

mercado para determinar a oferta dos cursos.”

8) Como é feita a previsão de demanda hoje? Há um processo estruturado,

planejado e compartilhado internamente?

“Nós temos no Grupo hoje um setor de inteligência. Esse setor de inteligência realiza

a pesquisa de mercado e, com base nas informações que são coletadas, nós

iniciamos nosso processo de previsão. Então podemos afirmar que o nosso

processo de previsão é fundamentado nas pesquisas mercadológicas.”

9) Diante várias interferências externas, de oscilação de demanda, mudança de

perfil do público alvo, novos incentivos internos para formação de turma,

dentre fatores, o que a Instituição realiza (busca) para manutenção da

qualidade de seu serviço?

“A qualidade acadêmica primeiramente vem de um projeto pedagógico de curso,

renovado constantemente, que é a base de todos os cursos ofertados. Buscamos

também investimento em laboratórios, o nosso parque tecnológico é considerado

como um dos grandes investimentos da IES.

Contudo, o principal fator para mantermos a qualidade é a valorização do corpo

docente (a valorização de nossos professores), que conta com um processo

treinamento contínuo. Investimos no treinamento desses professores através de

simpósios, oficinas, palestras, etc.

Esse é o nosso principal diferencial: o professor. Pois ele quem está em sala de

aula. Além, claro, das práticas educacionais inovadoras. Sempre investimos em

novas práticas educacionais.”

10) Hoje com a nova tendência que se vê no mercado educacional sobre o

ensino a distância, a Instituição também tem tentado adquirir uma fatia desse

mercado de EAD?

29

“Sim. Nós recebemos o credenciamento do MEC e lançamos vários cursos

recentemente. Então já operamos com o Ensino a Distância e estamos com 5 cursos

sendo ofertados nessa modalidade.

Agora para 2016-1, com a campanha do vestibular, nós estamos ampliando o

portfólio dos cursos 100% EAD e estamos também lançando cursos

semipresenciais, onde o aluno terá durante alguns dias da semana aulas presenciais

e o restante das aulas acontecerão a distância. “Então para o próximo semestre nós

passamos a ofertar essa nova modalidade de ensino à distância.”

30

APÊNDICE 2

Questionário – Etapa 2

Prezado respondente, este questionário tem por objetivo a coleta de dados para

uma pesquisa acadêmica sobre Planejamento Logístico. Pesquisa esta que se

destina a um trabalho de conclusão de curso de Administração do Centro

Universitário de Belo Horizonte (UNIBH).

1) Sua equipe é composta por quantos colaboradores?

A - Menos de 10; B - De 10 à 15; C - De 16 à 20; D - De 21 à 25; E - Mais do que 25.

2) O número de alunos matriculados na Instituição incide diretamente sobre a demanda de sua equipe?

A - Não; B - Na maioria das vezes não; C - Algumas vezes sim, outras não; D - Na maioria das vezes sim; E - Sim.

3) O número de alunos matriculados na Instituição incide diretamente sobre a quantidade de colaboradores que integram sua equipe?

A - Não; B - Na maioria das vezes não; C - Algumas vezes sim, outras não; D - Na maioria das vezes sim; E - Sim.

4) Na sua percepção, qual a importância de uma previsão de demanda assertiva nas atividades relacionadas à sua equipe?

A - Muito Baixa; B - Baixa; C – Média; D – Alta; E - Muito Alta.

5) Na sua percepção, uma boa gestão do processo logístico pode ser encarada como um diferencial competitivo nas organizações?

A - Não; B - Na maioria das vezes não; C - Algumas vezes sim, outras não; D - Na maioria das vezes sim; E - Sim.

6) Na sua percepção, uma previsão de demanda assertiva impacta diretamente na qualidade dos serviços prestados por sua equipe?

A - Não; B - Na maioria das vezes não; C - Algumas vezes sim, outras não; D - Na maioria das vezes sim; E – Sim.

7) Dos fatores abaixo, em relação à sua equipe, qual está mais voltado à previsão de demanda e ao Gerenciamento da Cadeira de Suprimento como um todo?

A - Número de colaboradores; B - Quantidade de insumos / materiais; C - Qualidade do serviço; D - Eficiência dos processos; E - Eficácia dos resultados.