planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na brasil júnior

112
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DE UM MODELO NA BRASIL JÚNIOR DIEGO CALEGARI FELDHAUS FLORIANÓPOLIS 2009

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Page 1: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DE UM

MODELO NA BRASIL JÚNIOR

DIEGO CALEGARI FELDHAUS

FLORIANÓPOLIS

2009

Page 2: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

DIEGO CALEGARI FELDHAUS

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DE UM

MODELO NA BRASIL JÚNIOR

Trabalho de conclusão de estágio, apresentado à

disciplina Estágio Supervisionado – CAD 5236, como

requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do

Curso de Graduação em Administração, do Centro

Sócio-Econômico, da Universidade Federal de Santa

Catarina.

Orientador: Maurício Fernandes Pereira, Dr.

FLORIANÓPOLIS

2009

Page 3: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

DIEGO CALEGARI FELDHAUS

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DE UM

MODELO NA BRASIL JÚNIOR

Este Trabalho de Conclusão de Estágio foi julgado adequado e aprovado pela Coordenadoria

de Estágios do Departamento de Ciências da Administração da Universidade Federal de Santa

Catarina, e pela banca examinadora, a qual atribuiu a nota 10,0 ao acadêmico Diego Calegari

Feldhaus, em 23/11/2009.

___________________________________________

Prof. Rudimar Antunes da Rocha, Dr.

Coordenador de Estágios

Apresentada à Banca Examinadora integrada pelos professores:

__________________________________________

Prof. Maurício Fernandes Pereira, Dr.

Orientador

__________________________________________

Altamiro Damian Préve, Dr.

_________________________________________

Jordan Pauleski Juliani, Dr.

Page 4: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

Dedico este trabalho a todos aqueles que um dia

pensaram em desistir, mas não o fizeram

Page 5: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

AGRADECIMENTOS

Agradeço às pessoas, instituições e entidades abaixo nomeadas que de algum modo

colaboraram para a realização deste trabalho:

Deus, pelo presente da vida;

A minha família, em especial minha mãe, Sandra;

A Ação Júnior, porta de entrada para algumas das mais importantes experiências da

minha vida;

A Brasil Júnior, para a qual espero ser este estudo de alguma forma útil;

Ao Movimento Empresa Júnior, suas instituições e pessoas, por me proporcionar

amigos e ensinamentos dos quais sempre me lembrarei;

Ao meu orientador e grande apoiador do MEJ, professor Maurício Fernandes Pereira;

A alguns professores que foram muito importantes na minha formação como

graduando: Luis Moretto Neto, Marcelo Menezes Reis e Alexandre Marino Costa;

A Universidade Federal de Santa Catarina;

Todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que eu me tornasse uma

pessoa melhor.

Page 6: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

“A maior recompensa para o trabalho de uma

pessoa não é o que ela recebe por ele, mas o que

ela se torna através dele."

(John Ruskin)

Page 7: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

RESUMO

FELDHAUS, Diego Calegari. Planejamento estratégico em rede: criação e aplicação de um

modelo na Brasil Júnior. 2009. 112f. Trabalho de Conclusão de Estágio (Graduação em

Administração). Curso de Administração. Universidade Federal de Santa Catarina,

Florianópolis, 2009.

Novas formas de organização, em especial as redes organizacionais, impulsionadas

pela evolução das tecnologias de informação, têm mudado o paradigma social e econômico e

elevado os níveis de competitividade. Para sobreviverem frente a um ambiente cada vez mais

complexo e dinâmico, é imperativo que sejam direcionadas por estratégias coerentes com sua

estrutura horizontalizada. O presente estudo caracteriza-se como aplicado, qualitativo,

descritivo, pesquisa-ação, tendo como objeto de estudo a Brasil Júnior – Confederação

Nacional de Empresas Juniores e como sujeitos os membros liderança da organização. O

problema norteador da pesquisa foi: como deve ser desenvolvido e implementado o processo

de Planejamento Estratégico na Brasil Júnior, considerando sua característica de rede

interorganizacional? A Brasil Júnior, como organização sem finalidade econômica,

constituída em uma rede horizontal com abrangência nacional, prescindi de um instrumento

de tomada de decisão estratégica que considere os diversos atores a ela vinculada. Para

responder ao problema postulado, a pesquisa contou com o uso das seguintes técnicas de

coleta e análise de dados: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, o levantamento, o

fórum virtual e os seminários. O referencial teórico foi construído em dois pilares: (i)

estratégia e planejamento e (ii) redes organizacionais, baseando-se principalmente nos estudos

de Mintzberg, Steiner, Oliveira, Balestrim, Vargas, Cândido e Peci. O estudo dividiu-se em

três principais partes: (i) considerações preliminares, onde a organização foi enquadrada como

rede e foram analisadas as implicações dessa condição sobre o processo de planejamento

estratégico; (ii) construção do modelo, onde foi desenvolvida a estrutura e etapas do novo

processo de formulação e controle das estratégias, considerando o referencial teórico-empírico

e as considerações preliminares; e (iii) aplicação do modelo, onde foram executadas as etapas

junto à coalizão dominante formal e informal. Como principais resultados da pesquisa, podem

ser citados o entendimento dos objetivos da rede, vínculos e papéis estabelecidos e a

influência desses elementos na formulação das estratégicas, a criação de um novo conjunto de

referenciais estratégicos, tanto na dimensão compartilhada (para todos os atores da rede)

quanto organizacional (para a Brasil Júnior), desdobrados em um mapa de objetivos

estratégicos e suportados por um sistema de controle do desempenho estratégico.

Palavras-chave: redes; planejamento estratégico; empresa júnior.

Page 8: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

ABSTRACT

FELDHAUS, Diego Calegari. Strategic planning in network: creation and application of a

model in Brasil Júnior. 112f. Monograph (Graduation Degree in Management). Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.

New forms of organization, specially the networked organizations, driven by the

evolution of the information technology, have been changing the social and economic

paradigm and increasing the competition levels. To survive in a more complex and dynamic

environment, it is imperative that they are directed by strategies coherent with its horizontal

structure. The present research is characterized as applied, qualitative, descriptive, action-

research, having as object of study Brasil Júnior and as subjects the members of the leadership

of the organization. The problem that guided the research was: how must the Strategic

Planning process of Brasil Júnior should be developed and implemented, considering its

characteristic as an interorganization network? Brasil Júnior, an organization without

economic purposes, formed in a horizontal network, needs an instrument of strategic decision-

making that considers the many players connected to it. To answer the given problem, the

research used gathering and analysis techniques, such as: literature research, document

research, virtual forum, interviews and seminars. The theoretical reference was built on two

pillars: (i) strategy and planning and (ii) network organizations, based mainly in the studies of

Mintzberg, Steiner, Oliveira, Balestrim, Vargas, Cânido and Peci. The study was divided in

three parts: (i) preliminary considerations, where the organization was framed as a network

and were analyzed the effects of this condition over the strategic planning process; (ii)

construction of the model, where the structure and stages of the new strategy formulation and

control process were developed, considering the theoretical references and preliminary

considerations; (iii) application of the model, where the stages were fulfilled with the

participation of the formal and informal dominant coalition. The mains results of the research

was the understanding of the objectives of the network, bonds and roles established and the

effect of these elements on the strategy formulation, the creation of a new set of strategic

references, both in the shared dimension (for all the players in the network) and organization

dimension (for Brasil Júnior), deployed in a map of strategic objectives and supported by a

strategic performance control system.

Keywords: network; strategic planning; junior enterprises.

Page 9: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Perspectivas genéricas sobre estratégia ................................................................... 21

Figura 2 – Estratégias deliberadas e emergentes ...................................................................... 23

Figura 3 – O ambiente total da organização ............................................................................. 30

Figura 4 – Efeito das oportunidades e ameaças sobre a expectativa histórica ......................... 32

Figura 5 – Malha de variáveis macroambientais ...................................................................... 32

Figura 6 – Pirâmide de statements ............................................................................................ 39

Figura 7 – Tensão criativa ........................................................................................................ 43

Figura 8 – Ciclo de crescimento e equilíbrio do entusiasmo com a visão................................ 44

Figura 9 – O mapa estratégico pelo Balanced Score Card....................................................... 48

Figura 10 – Mapa de orientação conceitual .............................................................................. 54

Figura 11 – Fatores de influência para a organização em rede ................................................ 56

Figura 12 – Modelo básico de redes ......................................................................................... 57

Figura 13 – Estrutura organizacional da Brasil Júnior ............................................................. 66

Figura 14 – Ciclos Estratégicos da Brasil Júnior ...................................................................... 69

Figura 15 – Posição da Brasil Júnior no mapa conceitual ........................................................ 72

Figura 16 – Modelo conceitual de formulação das estratégias para a Brasil Júnior ................ 77

Figura 17 – Ambiente total da Rede Brasil Júnior ................................................................... 80

Figura 18 – Perspectivas e pesos do SMD EJs ......................................................................... 85

Figura 19 – Relação de atuação estratégica Brasil Júnior → federações →

empresas juniores ..................................................................................................................... 93

Figura 20 – Mapa estratégico da Brasil Júnior ......................................................................... 95

Figura 21 – Ficha de registro do indicador estratégico “R$ Captados” .................................. 97

Figura 22 – Processo cíclico de estabelecimento de metas, feedback e controle ..................... 99

Page 10: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Graus de relevância dos segmentos ambientais ................................................ 30

QUADRO 2 – Públicos externos relevantes da organização ................................................... 36

QUADRO 3 – Vínculos entre os atores da Rede Brasil Júnior ................................................ 73

QUADRO 4 – Análise de stakeholders .................................................................................... 83

QUADRO 5 – Categorias e atributos da análise interna da Brasil Júnior ................................ 87

QUADRO 6– Cronograma de atividades para estabelecimento das metas diretas .................. 98

QUADRO 7 – Cronograma de atividades para estabelecimento das metas compartilhadas . 100

Page 11: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14

1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 16

1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 17

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA................................................................ 18

2.1 ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO................................................................................ 18

2.1.1 Conceito de estratégia ...................................................................................................... 18

2.1.2 Conceito de planejamento estratégico. ............................................................................ 24

2.1.3 Análise ambiental ............................................................................................................ 28

2.1.3.1 Análise do macroambiente e do ambiente operacional ............................................... 31

2.1.3.2 Análise do ambiente interno ......................................................................................... 37

2.1.4 Ideologia e estratégia ....................................................................................................... 37

2.1.4.1 Missão ........................................................................................................................... 38

2.1.4.2 Visão ............................................................................................................................. 42

2.1.4.3 Valores .......................................................................................................................... 44

2.1.5 Fixação de objetivos estratégicos .................................................................................... 46

2.1.6 Controle do desempenho estratégico ............................................................................... 49

2.2 REDES ORGANIZACIONAIS ......................................................................................... 52

2.2.1 Conceito de rede organizacional...................................................................................... 52

2.2.2 Arquitetura e administração estratégica de redes ............................................................ 56

3 METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................... 59

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................. 59

3.2 OBJETO E SUJEITOS ....................................................................................................... 60

3.3 COLETA E ANÁLISE DE DADOS .................................................................................. 61

3.4 LIMITAÇÕES .................................................................................................................... 62

4 DESCRIÇÃO, ANÁLISE E IMPLEMENTAÇÃO DO

Page 12: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE NA BRASIL JÚNIOR ....................... 63

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO PESQUISADA ................................... 63

4.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: ANÁLISE PRELIMINAR ................. 69

4.2.1 Análise do enquadramento da Brasil Júnior como rede interoganizacional ................... 71

4.2.1.1 Abrangência da rede e objetivos .................................................................................. 71

4.2.2.1 Natureza dos vínculos estabelecidos e papéis dos atores ........................................... 71

4.2.2 Análise do processo decisório e relações de poder na Brasil Júnior ............................... 74

4.2.3 Análise da perspectiva da coalizão dominante formal sobre a estratégia em rede .......... 75

4.2.4 Implicações das análises preliminares sobre o processo de planejamento estratégico.... 75

4.3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: CONSTRUÇÃO DO MODELO ........ 77

4.4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: APLICAÇÃO DO MODELO ............ 79

4.4.1 Finalidade social compartilhada ...................................................................................... 79

4.4.2 Visão compartilhada ........................................................................................................ 79

4.4.3 Análise ambiental em rede .............................................................................................. 79

4.4.3.1 Análise do macroambiente ........................................................................................... 80

4.4.3.2 Análise do ambiente operacional ................................................................................. 82

4.4.3.3 Análise do ambiente interno ......................................................................................... 84

4.4.4 Diretrizes compartilhas – empresas juniores ................................................................... 88

4.4.5 Diretrizes compartilhadas – federações ........................................................................... 88

4.4.6 Missão da Brasil Júnior ................................................................................................... 89

4.4.7 Visão da Brasil Júnior ..................................................................................................... 90

4.4.8 Valores da Brasil Júnior .................................................................................................. 90

4.4.9 Diretrizes estratégicas ...................................................................................................... 91

4.4.10 Objetivos estratégicos .................................................................................................... 92

4.4.10.1 Objetivos externos ...................................................................................................... 93

4.4.10.2 Objetivos internos ....................................................................................................... 94

4.4.11 Controle do desempenho estratégico ............................................................................. 94

4.4.11.1 Indicadores estratégicos ............................................................................................. 96

4.4.11.2 Estabelecimento de metas ........................................................................................... 97

4.4.11.3 Processo de controle ................................................................................................ 100

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 103

5.1 RECOMENDAÇÕES ....................................................................................................... 104

Page 13: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 107

APÊNDICE A ....................................................................................................................... 112

Page 14: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

14

1 INTRODUÇÃO

O ambiente das organizações está mudando rapidamente, caracterizado cada vez mais

pela turbulência, incerteza e competição acirrada. O modelo fordista de empresa hierárquica,

integrada verticalmente, que figurou como dominante na teoria e prática da administração por

maior parte do século XX, mostrou-se insuficiente para atender às novas demandas geradas

pelas mudanças econômicas, tecnológicas e institucionais, abrindo margem para novas formas

de organização (PECI, 1999).

A transversalidade e interdisciplinaridade da disciplina acadêmica soerguem-se na

forma de metáforas e novas aplicações para os conhecimentos adquiridos entre as diversas

ciências. Princípios encontrados nos mais variados campos científicos são aplicados à

administração, complementando-a e gerando novos enfoques para a mesma, em um processo

interativo de construção do saber.

Neste sentido as organizações, impulsionadas por teorias inovadoras da organização

como um sistema aberto, que existe em um ambiente mais amplo do qual depende para sua

sobrevivência, têm gerado novos padrões de competição, tornando os clientes mais exigentes

e a concorrência mais acirrada. Simples eficiência operacional não será mais suficiente para

garantir uma posição sustentável neste contexto, que exige novas formas de pensar e agir

(MORGAN, 1996; PORTER, 2002).

Devido a essa mudança, a economia tem redescoberto a pequena empresa e a difusão

do empreendedorismo nos sistemas locais. O aumento no grau de variedade (personalização)

e variabilidade (flexibilidade) dos produtos, dos processos e das relações, que seguem a

evolução da demanda orientada às necessidades intangíveis expandiu o espaço potencial às

pequenas e médias organizações, desverticalizando a produção, rompendo as cadeias

integradas de origem fordista e criando um novo fenômeno: a organização em rede

(CASAROTTO FILHO; PIRES, 1999).

A metáfora da rede, aplicada historicamente às ciências sociais (em especial, a

Antropologia e a Psicologia), tem “invadido” o campo da Administração em decorrência da

necessidade de se entender essas novas formas de competição empresarial. Esse novo

paradigma, alicerçado nas teorias sistêmicas, concebe qualquer organização como uma rede

de atores que interagem com finalidades comuns ou mutuamente complementares. Ampliando

o conceito, observa-se que as próprias organizações se tornam atores em redes

interorganizacionais agrupadas em torno da necessidade de sobreviver e prosperar, capazes de

igualar as vantagens da grande empresa verticalizada (eficiência operacional, escala

Page 15: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

15

produtiva, poder de influência sobre fornecedores e clientes) e superá-la mantendo aquelas

vantagens características das pequenas e médias empresas (adaptabilidade, flexibilidade,

agilidade).

Mas não é somente no meio empresarial que a organização em rede está presente. A

administração centralizada e burocrática que por décadas a fio sufocou administradores

públicos em todo o mundo agora começa a ruir, dada sua incapacidade de atender as

necessidades da população. Schön (apud. RAMOS, 1989) reconhece a necessidade de superar

o conservadorismo na gestão pública, e sugere que o caminho para transformar o governo em

um sistema de aprendizado é descentralizar a tomada de decisão e administrá-lo como uma

rede.

O conceito de rede também tem permeado profundamente a gestão de organizações

não-governamentais em todo o mundo. Grandes organizações de ativismo ambiental, como o

Greenpeace, e organizações de desenvolvimento local, como o Oásis Santa Catarina, têm se

organizado desta maneira, de modo a atender as necessidades dos seus públicos-alvo. As

vantagens de uma atuação em rede, para estas instituições, se relacionam ao aumento da sua

capacidade de mobilizar recursos e pessoas para desenvolver projetos e ações que vão

contribuir para o cumprimento da sua missão.

As empresas juniores são organizações sem finalidade econômica, formadas e geridas

por graduandos de instituições de ensino superior que prestam serviços para micro e pequenas

empresas. Como um movimento que foi iniciado há mais de 40 anos, que tem se disseminado

pelo mundo como uma maneira eficaz de formar profissionais diferenciados pelo perfil

empreendedor e experiência prática, o Movimento Empresa Júnior – MEJ – cresceu e se

desenvolveu, ganhando destaque nos espaços universitários.

No Brasil, o Movimento Empresa Júnior existe a mais de 20 anos, sendo o país com o

maior número de empresas juniores do mundo. Com a finalidade de serem representadas

perante a sociedade, elas se organizam em federações estaduais e, mais recentemente, na

confederação nacional. Integradas por meio destas organizações, as empresas juniores trocam

experiências, metodologias e práticas de gestão em um ambiente de rede colaborativa.

A Brasil Júnior é a confederação nacional de empresas juniores e, como tal, tem por

missão representar e potencializar o Movimento Empresa Júnior no país. Representante de um

contingente de mais de 23.000 universitários, a Brasil Júnior tem a responsabilidade de zelar

pelos seus interesses perante os diversos atores da sociedade e potencializar seu

desenvolvimento e crescimento por meio de estratégias que considerem a dimensão

interorganizacional na qual as empresas juniores estão inseridas.

Page 16: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

16

Contudo, a teoria administrativa tradicional não é suficiente para a gestão das redes

interorganizacionais; é intra-organizacional e se baseia nas atividades de planificação,

organização, liderança por meio de hierarquias e cadeias de controle rigidamente definidas. A

administração de redes exige uma a tomada de decisão democrática, alicerçada em ajuste

mútuo, respeito, confiança e propósitos compartilhados.

É neste contexto que a presente pesquisa se insere. A Brasil Júnior, como parte da rede

de organizações a ela associadas, sujeita a uma série de influências ambientais positivas e

negativas, deve ser orientada estrategicamente por um planejamento que considere seu papel

como principal coordenadora desta rede. Assim, definiu-se como problema para a presente

pesquisa: como deve ser desenvolvido e implementado o processo de Planejamento

Estratégico da Brasil Júnior, levando em conta sua característica de rede

interorganizacional?

1.1 OBJETIVOS

A fim de que a pesquisa tenha êxito na busca pela resposta sobre o problema

formulado, é necessário que haja o detalhamento claro dos seus objetivos gerais e específicos.

Este estudo tem como objetivo geral:

Desenvolver e implementar novo processo de formulação e controle das estratégias na

Brasil Júnior, considerando sua característica de rede interorganizacional.

O objetivo geral deve ser desdobrado em objetivos específicos, que permitam seu

atendimento, apresentados a seguir:

a) Identificar os elementos teórico-empíricos relevantes para a formulação de estratégias

em redes interorganizacionais;

b) Caracterizar a Brasil Júnior, organização estudada, sob a perspectiva de rede;

c) Analisar o atual processo de formulação e controle das estratégias;

d) Desenvolver um novo processo de formulação e controle das estratégias;

e) Implementar um novo processo de formulação e controle das estratégias.

Page 17: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

17

1.2 JUSTIFICATIVA

A despeito da crescente relevância do tema “empreendedorismo” nas grades

curriculares dos cursos de ensino superior (em especial os de Administração), o ensino formal

apenas apresenta aos alunos ferramentas gerenciais, mas não é capaz de ensiná-lo a utilizar na

prática gerencial, haja vista que esta só é aprendida com experiências práticas reais

(PEREIRA; ARAÚJO; WOLF, 2008).

As empresas juniores são excelente forma de proporcionar ao jovem estudante

universitário este tipo de experiência real, promovendo a verdadeira integração entre a

academia e a realidade do mercado. Os alunos que fazem parte de uma empresa júnior têm a

oportunidade de transpor a sala de aula em projetos vinculados a necessidades de clientes

reais, onde desenvolvem uma série de competências fundamentais para sua futura atuação

como profissionais éticos e comprometidos com o progresso do país.

Somente no Brasil, estima-se que hoje sejam em torno de 1.000 empresas juniores e

mais de 23.000 empresários juniores (BRASIL JÚNIOR, 2008), um número expressivo de

alunos que vivem esta experiência. Para que este contingente se desenvolva cada vez mais,

em quantidade e qualidade, é imperativo o pleno funcionamento de suas instâncias

representativas, em especial, a Brasil Júnior, fato que só se torna realidade a partir do

momento que elas são dirigidas estrategicamente em um processo integrado.

A pesquisa é viável, pois o pesquisador, como membro da Diretoria Executiva da

organização, tem livre acesso a todas as informações necessárias. A pesquisa-ação foi

escolhida como a mais oportuna, uma vez que o Planejamento Estratégico está inserido no

conjunto de trabalhos propostos para o período vigente e seu cronograma foi devidamente

acordado com todas as partes envolvidas, em especial a liderança da organização.

A pesquisa é original, uma vez que a Brasil Júnior é a única confederação brasileira de

empresas juniores e nenhum estudo de intervenção (no qual a pesquisa-ação se classifica) foi

realizado sobre ela desde sua fundação, em 2003. Também a integração dos conceitos de

redes organizacionais e planejamento estratégico é pouco explorada no Brasil, sendo que a

base de dados Scielo não acusa sequer um artigo com ambos termos, o que denota como um

campo de estudo e aplicação científica a ser desenvolvido frente às novas tendências que

estão remodelando a maneira de administrar as organizações.

Page 18: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA

Neste capítulo apresenta-se uma revisão da literatura sobre o tema estudado, onde se

pretende aprofundar os conhecimentos teóricos, tomar ciência de diversas posições sobre o

tema e confrontar o pensamento de autores diferentes para que se estabeleça a base teórica

desta pesquisa. A fundamentação teórico-empírica está fundamentada em dois pilares: (i)

estratégia e planejamento; e (ii) redes organizacionais.

2.1. ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO

2.1.1 Conceito de estratégia

Qualquer pesquisador, quando se aventurando sobre o tema “estratégia”, enfrenta a

heterogeneidade de definições sobre o próprio conceito de estratégia, quase tão numerosa

quanto o número de autores da área (NICOLAU, 2001). As diferentes abordagens têm visões

próprias e comumente conflitantes sobre o processo da estratégia e seus elementos

constituintes, fazendo-se necessária uma breve revisão sobre a literatura vigente na área.

A questão básica é: o que é estratégia? O Novo Dicionário Aurélio traz como uma das

definições “a arte de aplicar os meios disponíveis com vista à consecução de objetivos

específicos” (FERREIRA et. al., 2004 p. 835). Contudo, esta se faz demasiado genérica e não

responde, com suficiente precisão, quando feita dentro do contexto multifacetado das

organizações contemporâneas. Steiner (1979) admite que a maioria dos escritores na área de

estratégia tem suas próprias definições para os termos utilizados no arcabouço da

administração estratégica, que variam grandemente em relação ao seu nível de abstração,

substância e aceitação geral.

Pascale (apud. GAJ, 1993), define a estratégia como algo que é utilizado para

selecionar oportunidades em função de pedidos a serem atendidos e produtos a serem

oferecidos, ao mesmo tempo em que auxiliar a realização de decisões sobre investimento de

recursos com a finalidade de atingir objetivos identificados. Para o autor, a estratégia provê

foco e pode ser aplicada a vários contextos organizacionais (grandes e pequenas organizações,

às sem fins econômicos e às governamentais).

Para Oliveira (1993), a estratégia é um caminho, maneira ou ação estabelecida para

alcançar os desafios e objetivos da organização. Seu conceito básico está relacionado à

ligação da organização com seu ambiente e à otimização desta ligação, por meio da utilização

Page 19: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

19

adequada de recursos físicos, financeiros e humanos. Como a organização utiliza seus pontos

fortes e fracos para minimizar as ameaças e maximizar as oportunidades existentes determina

a eficácia de uma estratégia organizacional.

Ansoff (1977) considera que o estudo sobre estratégia (e a publicação de numerosos

estudos relacionados ao tema) resultou no desenvolvimento de uma definição refinada. Para

ele, a estratégia (i) fornece um conceito amplo do campo de atuação da empresa, (ii) apresenta

diretrizes específicas de acordo com as quais a empresa possa orientar sua busca e (iii)

complementa os objetivos estratégicos com regras de decisão que orientem o processo de

escolha da empresa às oportunidades mais atraentes.

Estratégia também já foi definida por autor desconhecido como a situação em que “a

munição acaba, mas continua-se atirando, para que o inimigo não descubra que a munição

acabou” (ANSOFF, 1977, p. 87). Assim, estratégia pode ser interpretada como uma manobra

com o objetivo ludibriar seus oponentes para manutenção ou melhoria do status quo da

organização no ambiente competitivo, mesmo quando esta não está em uma posição

favorável.

Michael Porter, um dos principais gurus da literatura em negócios, considera a

estratégia a escolha de uma posição competitiva defensável única, com vistas a retornos sobre

o investimento maiores do que a média do setor de atuação da empresa. Para ele, a eficiência

operacional não é suficiente; as organizações estrategicamente bem-sucedidas agrupam

melhor seu conjunto de atividades de modo a gerar vantagem competitiva distinta. (PORTER,

2002).

Mintzberg Ahlstrand e Lampel (2000) classificam a estratégia em cinco diferentes

categorias, pelas quais o leitor pode começar a entender melhor as divergências existentes na

literatura sobre o assunto:

a) Estratégia é um plano. A estratégia é um guia ou curso de ação para o futuro, um

caminho para ir de um lugar a outro. Sua construção é um exercício analítico,

metódico, seqüencialmente estabelecido com vistas à produção de planos formais e

explícitos, que vão servir de referência para a tomada de decisão no curto e longo

prazo.

b) Estratégia é um padrão. A estratégia é consistência em comportamento ao longo do

tempo. Sua construção é um exercício incremental, que considera o aprendizado tácito

dos estrategistas na realização de padrões relativamente consistentes, pelo qual a

organização atinge seus objetivos.

Page 20: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

20

c) Estratégia é uma posição. A estratégia é a localização de determinados produtos em

certos mercados, ou, como coloca Porter (1996, apud. MINTZBERG et. al. 2000 p.

19), “a estratégia é a criação de uma posição única e valiosa, envolvendo um conjunto

de atividades”.

d) Estratégia é uma perspectiva. A estratégia é uma maneira fundamental de uma

organização fazer as coisas, uma concepção cognitiva ou abstrata de seu modo

particular de ser. É um conjunto de elementos epistemológicos de definem o modo

como seus participantes interpretam a realidade organizacional (RAMOS, 1989).

e) Estratégia é um truque. A estratégia é uma manobra efetuada para enganar um

oponente ou concorrente, de modo a desencorajá-lo ou induzi-lo a ações que irão

prejudicá-lo.

A idéia de estratégia apresentada pelos autores denota um conceito misto, que pode ser

combinado em diferentes maneiras, de acordo com o contexto e a interpretação. Contudo,

duas idéias subjacentes são de destacada relevância para os fins da presente pesquisa: a de

estratégias deliberadas e a de estratégias emergentes.

As estratégias deliberadas são aquelas em que o processo de decisão estratégica é

objetivo, tem vistas a resultados definidos explicitamente (muito comumente, de modo

formal, conforme sugere Steiner) e amplamente compreendidos. O tratamento da estratégia

como um processo planejado dá ênfase a esta maneira particular de formulação estratégica,

onde os “planejadores” analisam o ambiente, verificam os pontos fortes e fracos, formulam a

estratégia e a disponibilizam para implementação (SERRA, 2008).

As estratégias emergentes ocorrem quando um padrão realizado não era

expressamente pretendido. As ações são tomadas de maneira experimental, ao longo de um

período de tempo no qual se pode observar consistência de comportamento. Os recursos são

alocados de maneira convergente para um padrão estratégico compreendido ex-post-facto.

Neste caso as estratégias não podem ser consideradas formuladas, mas sim formadas, pois não

advêm de decisão formalmente deliberada. Esta distinção de termos que Mintzberg (2004) faz

é importante para o entendimento da origem das estratégias.

Whittington (2002) apresenta quatro abordagens genéricas de estratégia, que se

diferenciam fundamentalmente em duas dimensões: os resultados da estratégia e os processos

pelo qual elas são criadas. Essas diferenças são demonstradas na Figura 1.

Page 21: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

21

Figura 1 - Perspectivas genéricas sobre estratégia.

Fonte: Adaptado de WHITTINGTON, 2002.

O eixo vertical mede o grau em que a estratégia produz resultados de maximização de

lucros (ou, de forma mais abrangente, resultados de única direção) ou deles se desvia para

permitir outras possibilidades. O eixo horizontal reflete os processos pelo qual a estratégia é

criada, em consonância com o conceito de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel sobre a estratégia

como um plano (deliberada) e como padrão (emergente). Assim, os dois eixos refletem

respostas diferentes para duas questões essenciais: para que serve a estratégia e como ela é

desenvolvida.

Para a abordagem clássica, a estratégia é um processo racional de cálculos e análises

deliberadas, com o objetivo de maximizar a vantagem no longo prazo. Ao empregar técnicas

apropriadas, os gestores são dotados da capacidade de prever minuciosamente as variáveis do

ambiente externo e interno, com vistas à consecução de uma estratégia ótima. As decisões

são, na medida do possível, planejadas e tomadas objetivamente. Planejamento é uma palavra

fundamental para proponentes desta abordagem, como Igor Ansoff (1977) e George Steiner

(1979).

Já os evolucionistas afirmam que os gestores se iludem ao acreditar que podem, por

meio de técnicas de análise e decisão “objetiva”, controlar as variáveis ambientais que

influenciam a organização. Para estes autores, o sucesso não será garantido pelo

planejamento; apenas as organizações com ampla capacidade de adaptação poderão

sobreviver. Portanto, de acordo com o ponto de vista evolucionário, é o mercado quem dita as

Page 22: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

22

“regras do jogo”, cabendo aos gestores apenas estarem aptos a se adaptarem obedientemente

às mesmas, com objetivo único de sobrevivência (comumente associado, nas empresas, a

maximização de lucros). Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) apontam que esta perspectiva

traz associada a idéia de contingência e promove, no longo prazo, o que Meyer e Rowan

(1977, apud. MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000) chamam de isomorfismo

organizacional.

Na abordagem nomeada processual, a incerteza também é considerada fator

preponderante nas relações empresa-ambiente, porém de forma diferente. Enquanto para a

escola ambiental (onde se encaixam os evolucionários), existem condições de adaptação

ótimas (total e plena adequação às imposições ambientais), os processualistas acreditam mais

em um processo incremental e continuado de aprendizagem organizacional. A articulação

lógica dos recursos internos, integrada ao aprendizado tácito sedimentado sobre os acertos e

erros decorridos da aplicação das práticas gerenciais, leva a um padrão estratégico

compreensível (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Nesta situação, considera-

se a organização um sistema coletivo, onde as necessidades e conhecimentos de cada

indivíduo ou coalizão influenciam sua capacidade de obter resultados como um todo, sendo a

estratégia bem-sucedida aquela que possibilita uma retroalimentação lógica para melhorias

incrementais, considerando as informações obtidas por meios formais e informais (QUINN,

apud. MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).

Por fim, na perspectiva sistêmica, a crença na capacidade de concepção deliberada de

estratégias e planos é resgatada, porém de modo diferente que na perspectiva clássica. Ela

propõe que os objetivos e práticas da estratégia devem depender do sistema social específico

no qual a organização está inserida, e que métodos prescritivos de planejamento estratégico

são problemáticos quando aplicados sem adequar-lhes às necessidades e expectativas da

organização. Assim, afirma Whittington (2002) que os estrategistas podem fugir das regras de

cálculo racional apresentadas nos livros, não por que são inválidas per se, mas por que podem

ser inválidas, dependendo de sua estrutura, sistemas e cultura. Também a ênfase unilateral no

lucro, em sua máxima obtenção deve ser descartada, visto que a organização pode buscar

trade-offs para geração de resultados de satisfação de funcionários, clientes, fornecedores e da

sociedade em geral (AKTOUF, 1996).

Apesar da classificação de Whittington, é importante ressaltar que nenhuma estratégia

pode ser puramente deliberada assim como poucas são puramente emergentes. Segundo

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 18), “uma significa aprendizado zero, enquanto a

outra significa controle zero”. As estratégias na vida real precisam combinar as duas de

Page 23: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

23

alguma forma, caso contrário serão, em um extremo, excessivamente plásticas e

incompatíveis com as variáveis não-controladas pela organização, e em outro, mero caos

desordenado. A Figura 2 mostra a dinâmica integrativa das estratégias pretendidas e

realizadas.

Figura 2 – Estratégias deliberadas e emergentes.

Fonte: MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000.

Por fim, Quinn (1999) define a estratégia como padrão ou plano que integra as

principais metas, políticas e ações de uma organização em um todo coerente. Segundo o autor,

uma estratégia bem-formulada ajuda a ordenar e alocar recursos de uma organização em uma

postura singular, com base nas suas competências e deficiências internas e mudanças no

ambiente.

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) consideram que a estratégia tem sempre uma

dupla relação de benefício e prejuízo, que pode ser ilustrada pela associação da empresa com

um navio e seus membros os tripulantes:

1. A estratégia fixa a direção.

Vantagem: a estratégia provê direção, auxiliando com que a organização navegue com

maior segurança pelo seu ambiente. À imagem de um navio, ela coloca um destino

para que a organização não se veja perdida em um mar de possibilidades.

Page 24: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

24

Desvantagem: a estratégia pode constituir um conjunto de antolhos que oculta riscos e

perigos. Navegar em uma direção fixa em águas desconhecidas é a melhor maneira de

colidir com um iceberg.

2. A estratégia focaliza esforços.

Vantagem: a estratégia permite que os esforços sejam coordenados em um foco. Sem

ela, as pessoas puxam em direções diferentes e sobrevém o caos, como um navio onde

o capitão pensa que o barco está indo para um lugar, o timoneiro para outro e os

remadores para outro.

Desvantagem: pode-se perder a visão periférica para abrir outras possibilidades. Uma

tripulação pode estar tão acostumada a seguir uma rota de navegação que perde a

capacidade de pensar em novos caminhos, mais rápidos e menos onerosos.

3. A estratégia define a organização.

Vantagem: a estratégia provê significado às pessoas da organização, uma forma

conveniente de se compreender o que essencialmente ela faz e como ela se diferencia

das demais, como uma tripulação que ostenta orgulhosamente a bandeira do seu navio

e cada indivíduo tem papéis bem definidos.

Desvantagem: ao se definir em excesso a organização, incorre-se no risco de

estereotipá-la, perdendo a complexidade do sistema. Os tripulantes não mais se

perguntam o porquê estão fazendo o que fazem e se há outras formas (que melhor

atendem aos objetivos dos mesmos).

Assim, a estratégia demonstra uma relação dual que deve ser considerada quando da

realização de um processo estruturado para formular estratégias, entre os quais está o

planejamento estratégico.

2.1.2. Conceito de planejamento estratégico

Antes de se proceder a definição de planejamento estratégico, se faz necessário

conceituar “planejamento” de maneira suficientemente plural. Muitos autores escreveram

sobre planejamento, sendo esta uma das principais atribuições do administrador, em qualquer

época. Fayol, considerado um dos pais da ciência da Administração, foi quem disse que

planejar é “perscrutar o futuro e traçar o programa de ação” (1978, p. 17), lançando assim

uma das pedras angulares da teoria administrativa.

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25

Stoner e Freeman (1999) consideram que planejar é pensar antecipadamente em seus

objetivos e ações, orientado por método ou lógica, e não e palpites. Além disso, os planos são

linhas-mestres pelas quais (i) a organização obtém e aplica os recursos necessários ao alcance

dos seus objetivos; (ii) os membros da organização realizam atividades consistentes com os

objetivos escolhidos; e (iii) o progresso em direção aos objetivos é monitorado e medido, de

modo que se possam ser tomadas medidas corretivas caso ele não seja satisfatório.

De início, Mintzberg conceitua o planejamento em cinco estágios distintos, com o

intuito de delinear sua definição formal (do que o planejamento deveria ser), sob uma

perspectiva conceitual evolutiva, para posteriormente passar a uma definição operacional (do

que o planejamento realmente é):

1. Planejamento é pensar no futuro. O ato de simplesmente levar o futuro em

consideração é planejamento (BOLAN, 1974; SAWYER, 1983; apud

MINTZBERG, 2004). Esta definição, contudo, é demasiado abrangente, pois quase

toda atividade organizacional, de curto ou longo prazo, leva em conta o futuro.

2. Planejamento é controlar o futuro. O planejamento vai além de pensar no futuro; é

o ato de agir sobre ele com o intuito de controlá-lo (WEICK, 1979; ACKOFF, 1970;

apud MINTZBERG 2004). Ainda assim, esta definição se coloca de maneira muito

abrangente, pois quase toda atividade administrativa visa exercer controle sobre o

futuro. É preciso uma definição que diga como será exercido este controle.

3. Planejamento é tomada de decisão. Planejamento é fundamentalmente optar,

determinar medidas conscientes com vistas à consecução de objetivos e metas

(GOETZ, 1949; KOONTZ, 1958; GLUECK, 1980; apud MINTZBERG, 2004).

Novamente, a definição não atende a requisitos de classificação suficientemente

limitados para se diferenciar o planejamento de qualquer outra atividade

administrativa, pois, na medida em que toda decisão é um compromisso com a ação,

e este compromisso é premeditado com uma expectativa futura em relação aos

resultados da ação, planejar se torna sinônimo de administrar.

4. Planejamento é tomada de decisão integrada. O planejamento se torna necessário

quando a condição futura que se deseja envolve um conjunto de decisões

interdependentes, integradas em um todo significativo e complexo (ACKOFF, 1970;

GUNSTEREN, 1976; apud MINTZBERG, 2004). O conceito aqui já começa a se

tornar mais próximo do conceito de estratégia, pois essa também se figura

comumente como um conjunto de decisões importantes que estão inter-relacionadas

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26

e divisam o futuro da organização. Contudo, o que diferencia a estratégia do

planejamento, aqui como foi postulado, é que para o último estas decisões devem

estar firmemente conectadas em um processo lógico, que resulte em lotes ou blocos

de decisões tomadas de tempos em tempos (MINTZBERG, 2004). Ainda assim, esta

definição de estratégia é incompleta, pois, segundo Mintzberg, líderes visionários

também podem integrar decisões em processos muitas vezes intuitivos e informais,

que dificilmente se caracterizariam como planejamento.

5. Planejamento é um processo formal para produzir um resultado articulado, na

forma de um sistema integrado de decisões. Acima de tudo, o planejamento é

definido assim por ser formal, sistemático. Esta formalização toda forma por três

elementos básicos: (i) racionalizar, (ii) decompor, (iii) articular os processos pelos

quais as decisões são tomadas e integradas nas organizações.

Nos anos 1960, as palavras “planejamento de longo prazo” e, posteriormente, outras

como “planejamento corporativo”, “planejamento formal” “planejamento total” foram

utilizadas para designar o que é hoje conhecido como planejamento estratégico (STEINER,

1979). Para Steiner (1979), o planejamento se caracteriza como estratégico quando visto sob

quatro pontos de vista:

1. Futuridade das decisões presentes. A essência do planejamento estratégico formal

está em identificar sistematicamente oportunidades e ameaças que residem no futuro,

que, em combinação com outros dados provê as bases para a organização tomar

decisões presentes para explorar as oportunidades existentes e evitar as ameaças.

2. Processo. Planejamento estratégico é um processo continuado que começa com o

estabelecimento das metas organizacionais, definição das estratégias e políticas para

atingi-los e desenvolve planos para assegurar que a estratégia seja implementada. É,

de acordo com o autor, “sistemático no sentido de que é organizado e conduzido com

base em uma ordem compreensível” (p. 14).

3. Filosofia. Planejamento estratégico é mais um processo de pensamento, um exercício

intelectual do que um conjunto prescrito de processos, procedimentos, estruturas ou

técnicas. Para os melhores resultados serem obtidos, gerentes e staff devem acreditar

que o planejamento estratégico vale a pena e vale a pena fazê-lo da melhor forma

possível.

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27

4. Estrutura. Planejamento estratégico liga três principais tipos de plano: planos

estratégicos, programas de médio prazo e orçamentos e planos operacionais de curto

prazo. É, portanto, uma maneira sistemática e mais formalizada de ligar os diversos

planos e decisões correntes.

Para os adeptos do planejamento estratégicos, aqui representados por Steiner, os

planos devem ser objetivos, factuais, lógicos e realistas ao máximo. Entretanto Mintzberg

(2004) afirma que este tipo de racionalização formal é muitas vezes contraproducente quando

aplicado ao processo de criação estratégica, podendo colocar os gestores em uma armadilha

de excesso de formalização. O autor aponta quatro motivos para se planejar, bem como critica

cada um deles:

1. Deve-se planejar para coordenar atividades. O planejamento (supostamente)

assegura que todas as atividades da organização estarão integradas sob referenciais

comuns de direção, coordenadas sinergicamente para obtenção de desempenho

elevado. Embora realmente contribua para isso, o planejamento não é, segundo

Mintzberg, a única forma de fazê-lo. A comunicação informal, o compartilhamento de

valores e idéias comuns ou mesmo a supervisão direta de um líder podem substituí-lo

em muitos contextos.

2. Deve-se planejar para que o futuro seja levado em consideração. A preocupação

com os problemas da rotina levam aos gerentes a perderem a capacidade de

considerar as implicações futuras das ações presentes, no longo prazo. Ainda assim,

mesmo criaturas com processos cognitivos drasticamente limitados (como os

esquilos, quando se preparam para o inverno) têm capacidade de levar em conta o

futuro, não sendo, portanto, esta uma característica exclusiva ao planejamento.

3. Deve-se planejar para ser “racional”. A formalização do processo de formulação

estratégica por meio do planejamento é, de acordo com os planejadores, uma forma

superior de pensamento administrativo. A análise sistemática é capaz de integrar os

diversos conhecimentos e perspectivas necessárias à concepção de uma estratégia

eficaz. Wildavsky (apud. MINTZBERG, 2004) considera que este é muito mais um

esforço de auto-afirmação empreendido pelos defensores do planejamento, que,

associando-o com a “razão” objetiva, tornam-no símbolo de uma maneira mais

inteligente de gestão.

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28

4. Deve-se planejar para controlar. O planejamento se torna instrumento de controle,

pois por meio dele é possível designar as responsabilidades de cada indivíduo ao

longo da cadeia hierárquica, e controlar seus resultados de maneira integrada em um

todo coerente. Contudo, quando aplicado desta forma, o uso do planejamento se

estende aos próprios responsáveis pela formulação de estratégias, sendo as atividades

de formulação estratégica devidamente controladas para a obtenção de um produto

(plano) que seja eficiente e eficaz.

Entretanto, Mintzberg não invalida o planejamento estratégico. Juntamente com

Ahlstrand e Lampel (2000), afirma que a administração estratégica é um processo que

mobiliza a mudança estratégica (quando ela é necessária) e estabiliza a nova direção de uma

maneira contextual. Ou seja, “o processo de geração de estratégia pode ser de concepção

conceitual ou planejamento formal, análise sistemática ou visão estratégica, aprendizado

cooperativo ou politicagem competitiva, focalizando cognição individual, socialização

coletiva ou simples resposta às forças ambientais” (p. 224; grifo meu); a escolha entre as

abordagens possíveis (entre as quais está o planejamento) deve ser feita configurada com

relação ao momento que a organização vive. Os executivos devem visualizar o processo com

uma perspectiva integrada, e utilizar de cada uma das abordagens aquilo que convêm,

podendo o planejamento estratégico adotar elementos de aprendizado, cognição, visão

empreendedora etc.

2.1.3 Análise ambiental

A relevância da análise ambiental para melhor definir estratégias organizacionais

começou a despertar a atenção dos estudiosos por volta da metade de século XX. Nessa época

as pressões ambientais começaram a mostrar sua implicância decisiva sobre o desempenho

das organizações, levando à construção de elaborados processos de avaliação e planejamento

organizacional (CORDIOLI, 2008).

Segundo Gaj (1993), o diagnóstico é necessário para que se decida qual ação

empreender; se for inadequado, a ação empreendida será ineficaz, pois estará vinculada a

prioridades incorretas e os recursos empregados trarão retornos inúteis quanto à satisfação das

verdadeiras necessidades organizacionais. Vasconcellos Filho reforça quando afirma que “o

sucesso da formulação e implementação de planos estratégicos é condicionado, em grande

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29

parte, ao conhecimento da realidade ambiental na qual a organização está inserida” (1982, p.

80).

Assim, pode-se entender a análise ambiental como um processo sistematizado que

objetiva: (i) mapear; (ii) classificar; e (iii) analisar as variáveis situadas no ambiente total.

Este ambiente total pode ser separado em três segmentos ambientais (os dois primeiros

relacionados com o ambiente externo à organização e o último com seu ambiente interno)

(VASCONCELLOS FILHO, 1982):

1) Macroambiente: onde se encontram as variáveis de nível macro, tais como

econômicas, sociais, culturais, demográficas, políticas, tecnológicas, legais e

ecológicas. É um campo em que a maioria das organizações tem pouca ou nenhuma

influência direta (STONER; FREEMAN, 1999)

2) Ambiente operacional: composto por públicos relevantes externos com as quais a

organização mantém algum tipo de relacionamento. Os públicos relevantes (ou partes

interessadas) são pessoas, grupos de pessoas, entidades, empresas e órgãos

governamentais que mantêm um processo de intercâmbio com a organização, através

de relacionamentos diversos (consumo, fornecimento, financiamento, apoio,

antagonismo etc.). É onde a organização exerce ação indireta (STONER; FREEMAN,

1999).

3) Ambiente interno: formado por públicos relevantes internos e pela oferta expandida

da organização (VACONCELLOS FILHO, 1982). É onde a organização exerce ação

direta (STONER, FREEMAN, 1999).

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30

Figura 3 – O ambiente total da organização.

Fonte: adaptado de VASCONCELLOS FILHO, 1982.

É importante que sejam mapeadas e selecionadas as variáveis ambientais realmente

pertinentes à organização, a fim de que os produtos da análise sejam coerentes e úteis ao

processo de formulação das estratégias. Características como tamanho, autonomia e âmbito de

atuação irão estabelecer o grau de relevância das variáveis de cada segmento ambiental,

conforme apresentado no Quadro 1:

Graus de relevância → Elevado Médio Reduzido

Organizações ↓

Empresa

multinacional

Macro, Operacional e

Interno - -

Grande empresa Macro, Operacional e

Interno - -

Média empresa Operacional e Interno Macro

Pequena empresa Operacional e Interno - Macro

Micro empresa Operacional e Interno - Macro

QUADRO 1 - Graus de relevância dos segmentos ambientais

Fonte: Vasconcellos Filho, 1982, p. 82.

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31

2.1.3.1 Análise do macroambiente e do ambiente operacional

O ambiente externo da organização não é um conjunto uniforme, estável e

disciplinado, mas sim um todo extremamente dinâmico em que atua constantemente grande

quantidade de forças, de variadas dimensões e naturezas, em diferentes direções, e que muda

constantemente pelo fato de cada uma destas forças interferir, influenciar e interagir com as

demais forças no ambiente (OLIVEIRA, 1993).

No ambiente externo estão contidos o Macroambiente e o Ambiente Operacional, onde

serão consideradas as variáveis externas sobre as quais a organização tem pouco ou nenhum

controle, podendo, no melhor dos casos, exercer certo grau de influência sobre seu impacto e

implicação no sucesso do negócio. Tradicionalmente, estas variáveis têm sido divididas em

dois tipos, conforme apresenta Oliveira (1993):

Oportunidades: estão relacionadas às variáveis externas não controláveis que

fornecem uma condição favorável à organização com relação ao seu ambiente.

Ameaças: estão relacionadas às variáveis externas não controláveis que podem criar

condições desfavoráveis para a organização.

Assim, o sucesso estratégico está diretamente relacionado com a

capitalização/maximização das oportunidades e eliminação/minimização das ameaças

(OLIVEIRA, 1993). Ansoff (1982) explica o efeito das oportunidades e ameaças sobre o

crescimento de um negócio por meio da Figura 4: a linha central indica uma extrapolação da

experiência passada que se projeta para o futuro. As outras duas curvas (ameaças e

oportunidade) representam desvios estratégicos significativos decorridos de uma

descontinuidade do passado. Para ele, é possível antecipar-se aos fatos, evitando

descontinuidades negativas e promovendo as positivas, em acordo com Oliveira.

As descontinuidades negativas são tratadas como “surpresas estratégicas” (p. 155) e

uma empresa pode se preparar para as mesmas de duas maneiras: (i) desenvolver uma

capacidade de gerenciar crises eficazmente ou (ii) minimizar a probabilidade da ocorrência de

surpresas estratégicas, por meio da análise ambiental acurada e periódica. Ansoff atribui a este

segundo processo a competência de antecipação, creditando eficácia os processos formais de

previsão.

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32

Figura 4 – Efeito das oportunidades e ameaças sobre a expectativa histórica.

Fonte: ANSOFF, 1982.

Segundo Vasconcellos Filho (1982), o grau de inter-relacionamento entre as variáveis

de nível macro é notável, havendo necessidade de se considerar a malha de variáveis como

um todo quando realizando sua análise, conforme está ilustrado na Figura 5. O autor ainda

aponta alguns exemplos de aspectos mais importantes a serem considerados em cada uma das

subcategorias ambientais, apresentados abaixo:

Figura 5 – Malha de variáveis macroambientais.

Fonte: VASCONCELLOS FILHO, 1982.

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1- Variáveis Econômicas

a) Crescimento do PNB

b) Balanço de pagamentos

c) Reservas cambiais

d) Balanço comercial

e) Taxa de inflação

f) Taxas de juros

g) Estabilidade monetária

h) Mercado de capitais

i) Arrecadação (impostos federais, estaduais e municipais)

j) Distribuição de renda

2 – Variáveis Sociais

a) Estrutura sócio-econômica

b) Estrutura sindical

c) Estrutura política

3 – Variáveis Culturais

a) Índice de alfabetização

b) Níveis de escolaridade

c) Características da orientação educacional: tendências

d) Estrutura institucional do sistema educacional: tendências

e) Veículos de comunicação

4 – Variáveis Demográficas

a) Densidade populacional

b) Mobilidade da população (interna)

c) Índice de natalidade

d) índice de mortalidade

e) Taxa de crescimento demográfico = (c - d)

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f) Taxa de crescimento populacional = [ (c – d) + imigração – emigração]

g) Composição e distribuição da população segundo sexo, idade e estrutura familiar

5 – Variáveis políticas

Fatores de Poder

a) Partidos políticos

b) Sindicatos

c) Instituições religiosas

d) Forças armadas

e) Associações de classe

f) Empresas multinacionais

g) Empresas estatais

h) Ministérios

i) Secretarias de Estado

j) Poder legislativo

k) Poder judiciário

l) Poder executivo

Estrutura de poder

a) Regime de governo

b) Importância relativa dos fatores de poder

c) Tipo de relacionamentos entre fatores

d) Tipos de participação de fatores

Resultantes da Dinâmica da estrutura de Poder

a) Política monetária

b) Política tributária

c) Política de distribuição de renda

d) Política de relações externas

e) Legislação

f) Política de estatização

g ) Política de segurança nacional

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6 – Variáveis Tecnológicas

a) Capacidade para aquisição de novas tecnologias

b) Proteção de patentes

c) Ritmo de mudanças tecnológicas

d) Orçamento de pesquisa e desenvolvimento

e) Transferência de tecnologia

7 – Variáveis Legais

a) Legislação tributária

b) Legislação trabalhista

c) Legislação comercial

8 – Variáveis Ecológicas

a) índice de poluição sonora

b) índice de poluição atmosférica

c) índice de poluição hidrológica

d) Índice de poluição visual

e) Legislação sobre o uso do solo e meio ambiente

Conforme citado, o ambiente operacional é composto por públicos relevantes externos.

Vaconsellos Filho (1982) sugere que seja seguida uma seqüência de três etapas na análise do

ambiente operacional:

a) Mapear aos públicos relevantes externos em seus respectivos segmentos.

Ex: Consumidores

Fornecedores

Distribuidores

Governo

Sindicatos

Associações de classe

Veículos de comunicação

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36

Concorrentes

Comunidade etc.

b) Identificar os tipos de relacionamento mantidos nos dois sentidos:

Organização Públicos relevantes externos e Públicos relevantes externos

organização

Ex: consumo, fornecimento, consumeirismo, orientação, controle, normatização,

antagonismo, apoio etc.

c) Identificar os objetos do relacionamento, ou seja, o que é utilizado no intercâmbio

entre a organização e seus públicos relevantes externos.

Ex: produtos e serviços, assistência técnica, defesa do consumidor etc.

As informações dos itens (a), (b) e (c) devem ser agrupados da maneira que é indicada

no Quadro 2.

Públi-

cos Segmentos

Relacionamentos

Organização

→Parte

Objeto do

relacionamento

Parte

→Organiza-

ção

Objeto do

relacionamento

CO

NS

UM

IDO

R Final

Fornecimento

Orientação

Produtos e

serviços

Educação do

consumidor

Consumo

Consumeirismo

Produtos e serviços

Defesa do

consumidor

Industrial Fornecimento

Orientação

Produtos e

serviços

Assistência

técnica

Consumo

Orientação

Produtos e serviços

Especificações

técincas

QUADRO 2 – Públicos externos relevantes da organização.

Fonte: VASCONCELLOS FILHO, 1982, p. 87.

A análise do ambiente operacional permite à organização entender a proposta de valor

a ser criada para os diversos públicos relevantes externos, o que irá determinar seu sucesso

estratégico.

Page 37: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

37

2.1.3.2 Análise do ambiente interno

Segundo Oliveira (1993), o objetivo da análise interna deve ser verificar os pontos

fortes, fracos e neutros da organização. Vasconcellos Filho (1982) sugere que seja composta

por dois conjuntos de variáveis: públicos relevantes internos e oferta expandida da

organização. Para os públicos relevantes internos, o autor sugere as mesmas etapas e

procedimentos utilizados para a análise do ambiente operacional, diferindo desta apenas

quanto ao tipo de público visado.

O segundo conjunto de variáveis ambientais interno é a oferta expandida da

organização. Elas são variáveis controláveis, semi-controláveis ou incontroláveis, de

elementos básicos que compõe o marketing mix da organização, e que podem ser expandidos

sob a ótica objetiva e subjetiva. A oferta expandida representa, portanto, os aspectos de

desempenho relativos àquilo que a organização faz para gerar valor aos seus públicos

relevantes externos e internos.

Stevenson (1982) apresenta um método de identificação de pontos fortes e fracos que

contempla cinco categorias: (i) organização; (ii) recursos humanos; (iii) marketing; (iv)

tecnologia; e (v) finanças. Estas variáveis referem-se aos processos internos necessários à

aumentar o “poder de fogo” (oferta expandida) da organização, e devem ser examinados

sistematicamente para buscar oportunidades de melhoria.

2.1.4 Ideologia e estratégia

Organizações eficazes, com ampla capacidade de aprendizado, possuem com conjunto

de “idéias governantes”, que direcionam o comportamento, estabelecem uma direção e

provém propósito à organização (SENGE, 2008, p. 251). Seu desenvolvimento é parte de uma

atividade mais ampla, onde são estabelecidos o estado de futuro (visão), propósito (missão) e

premissas de comportamento (valores essenciais). Essas idéias governantes respondem à três

perguntas consideradas pelo autor críticas: “O quê?” (ou “Onde?”), “Por quê?” e “Como?”,

sendo:

A visão resposta a “O quê?” – o retrato do futuro que queremos criar e/ou atingir. É

o ponto direcional para onde a organização irá direcionar seus esforços.

A missão é a resposta a “Por quê?” – o motivo pelo qual a organização existe,

motivo este transcendente às necessidades específicas de uma única parte interessada

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38

(comumente acionistas, nas empresas). A missão deve traduzir a posição singular da

organização no mundo.

Os valores essenciais são a resposta a “Como?” – como queremos atuar, em

consonância com nossa missão, em direção à realização da nossa visão. São

premissas de comportamento que auxiliam a organização no êxito das suas

estratégias.

Embora possa parecer um exercício demasiado abstrato, a definição das idéias

governantes é uma das tarefas mais importantes para a alta gerência, pois é sobre elas que

objetivos, táticas e planos mais detalhados podem ser formulados com coerência (STEINER,

1979). Para cada um dos três principais grupos de idéias governantes definidos por Senge,

será apresentada a relação com a formulação das estratégias e com a gestão estratégia em si.

2.1.4.1 Missão

Segundo Steiner (1979), os propósitos básicos organizacionais são as bases para a rede

de objetivos de qualquer negócio. O que é incluído ou excluído, como os objetivos são

organizados e como eles se relacionam variam de organização para organização, bem como

de tempos em tempos em uma mesma organização. O autor sugere visualizar esta rede de

objetivos como uma pirâmide (Figura 6), onde os objetivos e metas de curto prazo (situados

na base) derivam em um processo cascata dos propósitos fundamentais (situados no topo).

Na lógica de pirâmide postulada por Steiner, o número de afirmações (statements)

tende a aumentar na medida em que a base se alarga. Assim, afirmações sobre propósitos

fundamentais são comumente poucas, sumarizadas em uma única declaração clara e

abrangente. Já o grau de abrangência (ou, poder-se-ia dizer, abstração) tende a ser tornar

maior quanto mais próximo do topo da pirâmide, em uma relação inversa ao número de

statements. Objetivos e metas de curto prazo são geralmente numerosos e concretos,

comumente mensuráveis para avaliação objetiva do desempenho no negócio. Steiner enfatiza

os benefícios da formalização das idéias governantes, em especial a missão empresarial.

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39

Figura 6 – Pirâmide de statements.

Fonte: STEINER, 1982.

Contida no segmento dos “credos ou filosofias”, está a missão. Para Steiner, a missão

“identifica o design, objetivo ou crença subjacente de uma companhia (1979, p. 155). Embora

muitas vezes formulada para finalidades publicitárias, a elaboração da declaração de missão,

quando levada a sério pela gerência, pode ser muito significativa. Ela representa a pedra

angular da organização, aquilo que define o que ela realmente é.

Para Oliveira (1993), a missão é resumidamente a razão de ser da organização. Por

meio dela, procura-se definir seu “negócio”, por que ela existe, ou ainda em que atividade

deverá se concentrar, hoje e no futuro. Também é uma forma de traduzir determinado sistema

de valores em termos de áreas básicas de atuação, considerando as tradições e filosofias da

organização e provoca, entre outros efeitos: (i) a definição das áreas de atuação prioritárias

onde devem ser aplicados os recursos disponíveis; (ii) o consenso de que os esforços e

recursos dirigidos a alvos estabelecidos no horizonte da missão serão bem-sucedidos.

A missão, de acordo com os autores supracitados, pode ser expressa em diferentes

níveis de abstração. Oliveira (1993) fornece uma ilustração pertinente sobre essa questão: uma

empresa fabricante de minicomputadores tem como missão “vender minicomputadores a

empresas”, enquanto outra, concorrente direta atuando no mesmo ramo, a definiu sua missão

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40

em termos de “atender as necessidades das empresas na facilitação do seu processo

decisório”. Verifica-se que, a despeito e estarem em um mesmo ramo e produzirem o mesmo

produto, a segunda empresa vai muito além dos aspectos operacionais e mercadológicos,

qualificando a natureza dos seus propósitos fundamentais.

Independente do quão abstratas ou concretas são as premissas a partir da qual a missão

é construída, é importante que ela satisfaça alguns critérios caso se espere que contribua ao

processo de formulação estratégica (OLIVEIRA, 1993, p. 111):

Suficientemente empreendedora para que exerça impacto sobre o comportamento

organizacional;

Mais focalizada no sentido de satisfazer as necessidades do cliente, do que nas

características do produto fabricado;

Capaz de refletir as competências essenciais da empresa;

Compreensível a todos os que devem agir em acordo com ela.

Para Steiner (1979), a declaração da missão, além de prover orientações gerais para o

planejamento estratégico, tem relevância específica na formulação de programas estratégicos

e a natureza do negócio. As declarações de missão:

Determinam a arena competitiva em qual o negócio opera;

Determinam como os recursos serão alocados para diferentes demandas;

Determinam o tamanho da empresa;

Tornam muito mais fácil o processo de identificação de oportunidades e ameaças que

devem ser abordadas no planejamento estratégico;

Abrem novas oportunidades, bem como ameaças, quando modificadas;

Previnem as pessoas de “saírem dos eixos” trabalhando em estratégias e planos que

podem ser considerados completamente inapropriados pela alta gerência.

Vasconsellos Filho e Pagnoncelli (2001) corroboram com Steiner sobre a importância

estratégica de se ter uma missão explícita, e destaca alguns benefícios que a empresa pode

obter:

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41

1. Missão orienta a “partida”. A missão pode ser um excelente suporte para uma

organização em fase de nascimento, na qual a identidade institucional ainda está

sendo formada.

2. Missão evita a armadilha do sucesso. A missão ajuda aos gestores a evitar a

arrogância que o sucesso cria e, comumente, é responsável por miná-lo, por meio de

sua constante revisão e incorporação das mudanças no status quo.

3. Missão funciona como um farol alto. Sem uma clara declaração de missão as ações

de curto prazo podem comprometer os interesses de longo prazo. A missão funciona

como um guia de referência ao longo do tempo.

4. Missão atrai, motiva e retém talentos. A missão dá significado à organização e,

conseqüentemente, aumenta a moral daqueles que dela participam. Uma imagem

pictórica que traduz esta característica da missão é a de dois marceneiros: um trabalha

em obra ordinária (e assim a considera) e o outro trabalha na construção de um carro

alegórico para o desfile de Carnaval: o primeiro vê o serviço como ignóbil, não mais

que um simples meio de providência, enquanto o segundo vê no seu trabalho uma

realização pessoal, alicerçada em um feito de proporções coletivas.

5. Missão orienta a formulação de objetivos. A missão se faz uma espécie de

invólucro no qual os demais objetivos estarão inseridos. Os resultados, que são

objetivos, devem ser a tradução quantitativa e qualitativa do cumprimento da missão

da empresa.

6. A missão ajuda a aumentar a produtividade. A missão, mais do que drásticos

processo de reengenharia e reestruturação, ajuda no aumento da produtividade, pois

promove sinergia e coerência de esforços.

Ainda Boseman, Phatak e Schellenberger (1986, p. 7), afirmam que a definição da

missão de uma organização é importante, pois “estabelece as fronteiras para sua operação e

previne a organização de divisar quaisquer outros campos de empreendimento”. Ela provê

foco e direcionamento, a partir da qual os recursos críticos serão desdobrados e alocados.

Sobre a forma pela qual a missão deve ser definida, ainda, Pagnoncelli e Vasconsellos

Filho (2001) sugerem que sejam feitas quatro perguntas básicas:

1) O que a empresa faz?

2) Como ela faz?

3) Onde ela faz?

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4) Com qual responsabilidade (ou finalidade) social ela faz?

Por fim, Steiner (1979) afirma que embora se torne sujeira a interpretações errôneas

quando colocada em palavras escritas em um papel, a missão deve ser escrita em organizações

de grande porte, onde a comunicação estratégica é predominantemente explícita. A redação da

missão ajuda a cristalizar seu foco, desde que não se incorra ao erro de estabelecer

declarações em excesso. A disseminação efetiva da missão, para Steiner, depende de sua

clareza e grau de abstração, em torno do qual será estabelecido consenso e comprometimento.

2.1.4.2 Visão

Segundo Senge (2008), existem dois níveis de visão: visão pessoal e visão

compartilhada. Embora o enfoque, no que se refere à formulação das estratégias, esteja na

visão compartilhada (ou dita “organizacional”), ambas estão intimamente relacionadas, pois a

visão pessoal é combustível essencial para a formação de visões genuinamente

compartilhadas.

Para o autor, a visão pessoal vem de dentro e a maioria das pessoas tem pouca noção

da verdadeira visão (ou mesmo está ausente nas mesmas uma visão pessoal orientadora de

comportamento). Muitas pessoas confundem metas e objetivos com visão pessoal que,

segundo o autor, se diferenciam, pois a última está relacionada com os desejos intrínsecos

mais intensos, não apenas metas secundárias. O exercício da pergunta “Por quê?” aqui é

fundamental, de maneira a se evitar que o foco esteja nos meios disfarçados de fins.

Não se pode entender a idéia de visão pessoal sem passar pela idéia de propósito. O

propósito está presente quando se está em função de um trabalho ou atividade pela qual se

tem genuíno interesse. Contudo, o propósito não é visão, pois o primeiro é abstrato e o

segundo é concreto. Segundo George Bernard Shaw (1950, apud SENGE 2008, p. 176), a

visão pessoal é gratificante quando as pessoas reconhecem nela a possibilidade de ser usado

para “um propósito que nós mesmos reconhecemos como superior”. Assim, expressa um

interesse genuíno que tem valor pelos seus fins próprios, intrínseco; não é um simples veículo

para ocupar uma posição melhor em termos relativos.

Existem, contudo, hiatos entre a visão e o status quo. Enquanto as pessoas com baixo

nível de domínio pessoal encaram a distância entre o estado atual e os objetivos como um

contra-estímulo à sua busca, os indivíduos excepcionais tornam a mesma uma fonte de tensão

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43

criativa. A tensão criativa é aquilo que impulsiona a pessoa rumo a sua visão pessoal,

fornecendo perseverança e paciência, conforme pictoricamente representada na Figura 7.

Figura 7 – Tensão criativa.

Fonte: SENGE, 2008.

A visão compartilhada, ainda segundo Senge (2008), é a resposta à pergunta: “O que

queremos criar?”. Trata-se da imagem assumida por um grupo ou organização e que se

caracteriza por sua força geradora de cooperação e conectividade entre os indivíduos que

partilham da mesma. O poder das visões compartilhadas resulta de interesses comuns e, mais

importante, resulta do “desejo de [as pessoas] se sentir conectadas a um empreendimento

importante” (p. 234). Sua presença é essencial para a organização que aprende, pois fornece o

foco e a energia necessárias para a aprendizagem.

Embora seja um conceito amplamente conhecido na literatura sobre planejamento

estratégico, o estabelecimento de uma visão empresarial raramente tem as características

apontadas por Senge. Muito comumente é estabelecida por uma pessoa ou grupo que redige a

“declaração de visão”, assistido por consultores especializados para ser imposta para a

organização (SENGE, 2008). Nas organizações que tencionam criar visões compartilhadas é

estimulado que seus integrantes cultivem visões pessoais, pois estas são requisitos

indispensáveis para que haja uma visão genuinamente compartilhada.

Assim, a disseminação de uma visão resulta de um processo de reforço de crescimento

da clareza, do entusiasmo, da comunicação e do comprometimento. “À medida que as pessoas

falam nela, a visão fica mais clara” (SENGE, 2008, p. 254). Rapidamente ela começa a se

disseminar em uma espiral auto-reforçadora, onde a comunicação e os sucessos iniciais em

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44

sua busca geram mais compromisso com seu conteúdo. As visões compartilhadas são

colocadas em risco quando há o envolvimento de um número maior de pessoas e as visões

pessoais conflitantes entram em choque; não havendo efetivo gerenciamento do atrito

resultante desta interação, a visão compartilhada enfraquece e a tensão criativa diminui. Senge

coloca sobre os ombros da liderança a responsabilidade de coordenar esforços para a efetiva

retroalimentação da visão compartilhada com o intuito de adaptar-lhe ao todo organizacional,

mantendo assim o ciclo positivo de reforço. Como o próprio autor assinala, “esta é a arte da

liderança visionária – construir visões compartilhadas a partir de visões pessoais”. A Figura 8

apresenta o ciclo de reforço típico da renovação e fortalecimento da visão compartilhada.

Figura 8 – Ciclo de crescimento e equilíbrio do entusiasmo com a visão.

Fonte: SENGE, 2008.

2.1.4.3 Valores

Organizações desenvolvem, ao longo de sua existência, um rico sistema de valores e

crenças, compartilhados pelos seus membros, que a distinguem de outras organizações.

Muitas vezes referido como “estilo”, “cultura” ou “caráter”, este sistema é algo que é

intangível, mas ao mesmo tempo real, que tem como principal característica seu potencial

unificador. Liga o indivíduo à organização, gerando um “espírito de solidariedade”, um

“sentimento de propósito”, com efeito, uma plena integração entre as metas individuais e

empresariais capaz de gerar sinergia (MINTZBERG, 2001).

A criação de uma identidade organizacional, de acordo com Mintzberg (2001), está

nas organizações recém-nascidas muito relacionada a uma liderança missionária, que postula

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45

as premissas de comportamento e obtém sua adesão por meio da ação carismática. Mintzberg

ainda afirma que, embora as pessoas tragam seus próprios conjuntos de crenças e valores, não

há dúvida que a cultura da organização terá influência sobre seu comportamento, dependendo

do grau de identificação que a pessoa tiver com o sistema de valores estabelecido. Esta

identificação pode ocorrer de várias maneiras, entre as quais:

Normalmente, quando o novo membro é naturalmente atraído pelo sistema de crenças

da organização.

Selecionada, quando a admissão e progressão hierárquica do indivíduo está

intimamente relacionada com o grau de lealdade que ele exibe às crenças

estabelecidas.

Evocada, quando a organização usa processos informais de socialização e formais de

doutrinação para reforçar comprometimentos naturais ou selecionados para seu

sistema de crenças.

Calculada, quando os indivíduos aceitam sistematicamente as crenças não por que se

identificam com ela ou se encaixam nelas, nem por que sofreram processo de

socialização ou doutrinação, mas por que é conveniente identificar-se com ela, para

fins de promoção ou outros benefícios percebidos.

A criação de uma ideologia organizacional é um procedimento que, a despeito de seu

caráter subjetivo e geralmente informal, tem sido amplamente buscada no processo formal de

planejamento estratégico. Pagnocelli e Vasconcellos Filho (1001) destacam a importância da

presença dos valores (ou princípios, na terminologia dos autores) nas organizações preparadas

para enfrentar os desafios do Século XXI, e apresentam alguns benefícios de sua formulação

explicita:

1. Os valores geram diferencial competitivo. Os valores promovem competitividade,

definido alicerces sobre os quais a organização deve atuar no atendimento às suas

partes interessadas internas e externas.

2. Os valores balizam o processo decisório. Os valores são norteadores das decisões

tomadas, pois fornecerem um referencial comum a todos os indivíduos, aplicável nas

mais diversas situações enfrentadas pela organização.

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3. Os valores orientam o comportamento. Os valores fornecem os alicerces sobre os

quais os propósitos, relacionamentos e forma de agir das pessoas serão moldados.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que fornecem consistência, os valores tornam a

organização mais flexível, pois as pessoas necessitam menos de procedimento formais

de autorização e controle.

4. Os valores balizam as estratégias. Os valores limitam o escopo de estratégias

àquelas adequadas ao sistema de crenças do grupo ou organização como um cosmos

social.

2.2.5 Fixação de objetivos estratégicos

As organizações têm finalidades próprias, cujo comportamento orienta-se para a

consecução de propósitos ou objetivos identificáveis. Segundo Ansoff, quando explicitados

dentro de uma empresa, os objetivos passam a ser “instrumentos de múltiplas finalidades na

avaliação de desempenhos, no controle, na coordenação...” (1977, p. 25). Neste caso, por

objetivo Ansoff refere-se àqueles relativos à empresa como um todo, caracterizando-os como

estratégicos.

Oliveira afirma que “os objetivos podem ser conceituados como o estado, situação ou

resultado futuro que o executivo pretende atingir” e que “o termo objetivo relaciona-se com

tudo o que implica a obtenção de um fim ou resultado final” (1993, p. 136). Para ele, os

objetivos devem ser, sempre que possível, claros, entendidos e escritos, bem como

mensuráveis em medidas quantitativas passíveis de avaliação sistemática.

Boseman, Phatak e Schellenberger (1986) corroboram com Ansoff e Oliveira, ao

considerar objetivos estratégicos aquilo que traduz em termos específicos os resultados que

devem ser obtidos pela organização para que ela possa cumprir sua missão, em dado período.

Segundo os autores, independente se está se referindo aos objetivos estratégicos totais ou os

muito mais estreitos objetivos funcionais das subunidades de uma organização, todos os

objetivos devem ter certas características essenciais para serem eficazes:

Objetivos devem encerrar certa “distância”. Um objetivo que é facilmente atingido não é

desafiador ao indivíduo e, portanto, não é tão motivador como aquele em que se encerra certa

dificuldade para obter. Um objetivo deve ser grande o suficiente para gerar tensão

organizacional para seu cumprimento.

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Objetivos devem ser atingíveis. Embora a tensão deva ser gerada pela busca de todo e

qualquer objetivo, um objetivo que está mais distante do que a capacidade de alcance da

organização é inútil para criar tensão criativa, pois gera desmotivação por parte dos

indivíduos responsáveis por obtê-lo.

Objetivos devem ser mensuráveis. Quando mensurados, os objetivos podem ser utilizados

para determinar o grau sobre o qual resultados esperados foram obtidos. Deste modo, se

tornam úteis para avaliar o desempenho da organização, departamento ou colaborador

individualmente.

Objetivos devem ser temporizados. Estabelecer o quadro de referência temporal no qual os

resultados esperados devem ser obtidos permite que a quantificação de recursos e pessoas

necessárias para o seu devido cumprimento. Também permite a avaliação do progresso no

cumprimento de metas, em relação ao seu prazo estabelecido, facilitando a adoção de medidas

corretivas.

Objetivos devem ser mutuamente consistentes. Se os objetivos não forem consistentes

entre si, as ações definidas para seu cumprimento serão igualmente inconsistentes. Por

exemplo, se o departamento de produção busca reduzir o custo de produção unitária pela

simplificação dos componentes do produto, existirá inconsistência enquanto o departamento

de marketing buscar aumento nas vendas totais por meio da oferta de produtos

personalizados, gerando ineficiência e ineficácia organizacional.

Objetivos de curto prazo devem ser derivados de e consistentes com objetivos de longo

prazo. Objetivos estratégicos são resultados almejados em função da missão e visão

organizacionais. Para os autores, objetivos de curto prazo são alvos de desempenho, com

referência temporal de até um ano, que quando cumpridos contribuem para a consecução de

estratégias de longo prazo.

Schendel e Hofer (apud. MINTZBERG 2004) afirmam que existem dois tipos de

modelos diferentes de formulação de estratégias: aqueles que separam a definição de

objetivos e estratégias e aqueles que as combinam. Segundo eles, os escritores que defendem

a primeira forma são, muito freqüentemente, adeptos daquilo que Mintzberg, Ahlstrand e

Lampel chamam de “escola do planejamento” (2000, p. 44). Contudo, há poucas evidências

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48

na literatura que sustentem a diferenciação clara entre estratégias e objetivos nos diversos

níveis organizacionais (corporativo, de negócio e funcional). O que, de acordo com alguns

autores é dito como objetivo, para outros é estratégia, e a ligação entre as diferentes

estratégias e objetivos é fragilizada pela falta de um arcabouço epistemológico que unifique

os diversos conceitos (MINTZBERG, 2004). Quinn (1999) coloca a estratégia como a

integração dos objetivos, políticas e ações da organização, provendo uma concepção mais

ampliada de estratégia.

Para Kaplan e Norton (2003), uma etapa fundamental na implantação do sistema de

gestão estratégica pelo Balanced Scorecard é esclarecer e traduzir a visão e a estratégia em

objetivos estratégicos, devidamente relacionados em sistemas de causa-e-efeito que permitam

a compreensão da estratégia como um processo integrado, da base organizacional (que no

modelo dos autores é apresentada como a perspectiva de “Aprendizado e Crescimento”) até o

topo (que, em uma empresa com finalidade econômica, será representada pela perspectiva

“Financeira”), passando pelas perspectivas operacional (“Processos Internos”) e de mercado

(“Clientes”). Assim, os autores buscam promover uma visão mais operacional da estratégica,

alinhando os diversos fatores que a compõe de maneira articulada em um mapa estratégico de

clara compreensão (2004), conforme pode ser observado na Figura 9.

Figura 9 – O mapa estratégico pelo Balanced Score Card.

Fonte: adaptado de KAPLAN, NORTON, 2004.

Contudo, nem todas as organizações têm finalidades últimas econômicas, e a literatura

em gestão estratégica historicamente surgiu e foi predominantemente trabalhada sob a égide

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da perspectiva empresarial. Drucker (apud ANSOFF, 1977) foi pioneiro nesta questão, ao

colocar que os objetivos últimos das empresas deve se relacionar com sua sobrevivência, o

que pode significar, no curto prazo, metas menos audaciosas de desempenho estritamente

financeiro.

Os processos pelo qual os objetivos são estabelecidos são diversos. Eles podem ser

impostos de cima pela alta administração, resultantes de uma síntese de baixo para cima,

fixados por meio de negociação entre as diversas partes interessadas (caracterizado mais

como um processo, então, político) (ANSOFF, 1977; MINTZBERG, 2004). O importante é

que reflitam as metas organizacionais como um todo, atendendo aos interesses das principais

partes interessadas.

Mintzberg (2004) questiona a validade dos objetivos como mecanismos de motivação,

pois fundamentado nos postulados da ciência comportamental, afirma que as pessoas

precisam estar envolvidas na fixação de objetivos próprios para que haja vínculo de

compromisso com seu cumprimento, enquanto tradicionalmente, nas organizações adeptas do

planejamento estratégico, a definição dos objetivos tem sido tratada como um processo top-

down.

Por fim, Quinn (1999) afirma que as estratégias eficientes têm objetivos claros,

decisivos e diretos. A compreensão dos objetivos estratégicos globais por todos os membros

da organização é imperativa, independente se estão alicerçados em metas quantificadas ou

não, pois promove coesão tática (independente das mudanças mais freqüentes nos objetivos

operacionais de curto prazo).

Para fins da presente pesquisa, considerar-se-á como objetivo estratégico a declaração

qualitativa de um conjunto de resultados globais a serem alcançados pela organização, sendo

passíveis, sempre que possível, de avaliação objetiva (quantitativa).

2.2.6 Controle do desempenho estratégico

Para Ensslin e Dutra (2008, p. 198) avaliar o desempenho organizacional consiste em

“atribuir valor àquilo que uma organização considera relevante, ante a seus objetivos

estratégicos, caracterizando em que nível de desempenho ela própria se encontra, com vistas à

promoção de ações de melhoria”. É, ainda, instrumento necessário para a tomada de decisão

inteligente e transparente, pois ajuda a compreender: (i) o que é importante e o que não é; (ii)

quanto falta para alcançar as metas e o benchmarking; (iii) se são e quais são as mudanças

necessárias para alcançar as metas.

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Dutra (apud ENSSLIN; DUTRA 2008) afirma que a eficácia de um método de

avaliação de desempenho pode ser avaliada pelo atendimento, em maior ou menor

intensidade, das seguintes dimensões:

a) Grau de personalização - visa identificar o quanto o método é particularizado, ou seja,

é capaz de atender às necessidades específicas de uma organização em particular;

b) Grau de ambigüidade – visa identificar se o método apresenta ambigüidade, ou seja, a

possibilidade de mais de uma forma de interpretação dos resultados obtidos,

denotando baixo grau de clareza e compreensibilidade;

c) Grau de priorização – visa identificar se o método enfatiza ou desconsidera certas

medidas de desempenho em detrimento de outras, ignorando ou dando importância

excessiva a algum indicador ou aspecto específico;

d) Grau de flexibilidade – visa identificar o grau de flexibilidade para atender qualquer

tipo de organização, de forma macro ou micro, levando-se em conta sua estrutura

organizacional;

e) Grau de geração de conhecimento – visa identificar o quanto o método promove

conscientização, envolvimento e responsabilidade dos indivíduos direta ou

indiretamente envolvidos;

f) Grau de geração de aperfeiçoamento – visa identificar se o método permite o

aperfeiçoamento efetivo do desempenho organizacional, em decorrência de

identificação de oportunidades de melhoria que possam orientar as estratégias

organizacionais.

Em conformidade com o aspecto “grau de ambigüidade” postulado acima, Moreira

(apud ENSSLIN; DUTRA, 2008) considera que gerenciar estratégias sem indicadores de

desempenho significa não ter certeza quanto ao cumprimento do que foi planejado e que a

existência de um sistema de mensuração do desempenho estratégico é fundamental para a

sobrevivência de qualquer empresa no contexto contemporâneo. Os indicadores tornam

possível a efetiva avaliação do desempenho estratégico.

Desde a Revolução Industrial até meados de 1970, os indicadores utilizados para

medir o desempenho estratégico das organizações foram de natureza predominantemente

financeira. Retorno Sobre o Investimento (ROI), orçamento operacional e fluxo de caixa

descontado se tornaram as medidas-padrão, pela qual todo o sistema de controle empresarial

tradicional era baseado. Contudo, críticas levantadas ao longo das últimas décadas na

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literatura em gestão apontam que o uso excessivo de medidas financeiras – mesmo naquelas

organizações ditas de finalidade econômica – gera uma ênfase desequilibrada em soluções de

curto prazo, geralmente tangíveis e que agregam pouco valor real ao negócio (KAPLAN;

NORTON, 2003; ENSSLIN; DUTRA, 2008).

Para Kaplan e Norton (2003), um bom sistema de gestão estratégica não deve ser

composto apenas por indicadores resultantes (indicadores de fatos, ou outcomes), mas

também por vetores de desempenho (indicadores de tendência, ou drivers). Estes se

diferenciam pela sua característica de causa-e-efeito: os indicadores resultantes refletem

situações ex-post-facto (“após o fato”), efetivadas as causas que lhe deram origem. Os

indicadores financeiros são, em sua grande maioria, desta categoria, pois são reflexos de

outras condições de desempenho (satisfação e fidelização dos clientes, produtividade na

planta, índice de falhas entre outros). Já os vetores de desempenho são indicadores que

permitem uma avaliação estratégica em nível mais inicial, tornando possível seu

gerenciamento.

A Fundação Nacional da Qualidade (2008) recomenda que os indicadores, sejam eles

drivers ou outcomes, atendam aos seguintes requisitos:

• Relevância – medição decorrente de meta de partida estabelecida por parte interessada

ou vinculação com nova estratégia formulada;

• Acessibilidade – facilidade de realização da medição no sistema de informação;

• Objetividade – capacidade de demonstrar objetivamente resultado de eficiência,

eficácia, satisfação ou insatisfação; e

• Comparabilidade – possibilidade de se comparar externamente os resultados para

avaliar níveis alcançados e/ou apoiar o estabelecimento de metas.

Nem sempre, porém, os objetivos traçados são facilmente quantificados. As medidas

financeiras e operacionais são comumente mensuradas com facilidade, pois refletem aspectos

tangíveis do negócio da organização. Já medidas relativas a aspectos não tangíveis (satisfação

de clientes e colaboradores, nível de competência da força de trabalho, imagem entre outros)

necessitam de um tratamento diferenciado, pois sua mensuração não é evidente. Ainda assim,

com algum esforço é geralmente possível utilizar indicadores substitutos à avaliação

subjetiva. Um exemplo: a direção de uma empresa estabelece que “aumentar a moral de nosso

pessoal” é um dos seus objetivos estratégicos; embora não possa ser quantificado

objetivamente por medidas de desempenho diretamente relacionadas, o objetivo pode ser

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avaliado por meio medidas alternativas como rotatividade e nível de absenteísmo. Assim,

consegue-se avaliar a o desempenho estratégico mesmo naqueles aspectos considerados

tradicionalmente como “subjetivos” (BOSEMAN; PHATAK; SCHELLENBERGER, 1986).

Keeney e Raiffa (1993) corroboram sobre a dificuldade de estabelecer medidas

quantitativas para avaliar o desempenho, mas abordam a solução de maneira diferente. Eles

sugerem que sejam levantadas as medidas subjetivas de desempenho dos decisores, a partir

das quais se pode construir indicadores com escalas qualitativas (cenários), para

posteriormente atribuir-lhes atributos quantitativos que auxiliem em sua avaliação. Este

processo permite avaliar potenciais trade-offs de desempenho estratégico entre os diversos

objetivos, e facilita a priorização dos aspectos considerados críticos pelos tomadores de

decisão.

Steiner (1979) afirma que não se podem estabelecer medidas sobre tudo, portanto cabe

aos gerentes selecionar os aspectos que querem monitorar continuamente. Ele recomenda que

os gerentes tenham em mente a lei de Pareto (que afirma que em um grupo de elementos os

mais importantes são uma pequena porção do total). Assim, uma empresa pode descobrir que

5 por cento dos seus funcionários são responsáveis por 90 por cento do índice de absenteísmo,

ou que 80 por cento da sua receita advém de 5 por cento de seus clientes. É importante levar

esta constatação em conta quando for desenvolver um sistema de mensuração e seu método de

interpretação e avaliação.

Infelizmente muitos objetivos não podem ser quantificados, nem há medidas

substitutas para fazê-los mensuráveis. Neste caso, Boseman, Phatak e Schellenberger (1986)

sugerem que eles sejam postulados apenas qualitativamente, pois forçar demais no sentido da

avaliação quantitativa pode fazer com que os gerentes escolham abandonar objetivos

importantes simplesmente por não poderem quantificá-los.

2.2. REDES ORGANIZACIONAIS

2.2.1 Conceito de redes organizacionais

O fordismo, como modo de produção e gestão, prevaleceu pela maior parte do século

XX, determinando o período capitalista, no qual o conhecimento codificado e a habilidade

podiam ser transferidos e utilizados para organizar operações de complexos e grandes

negócios, baseados em capital. A empresa hierárquica, caracterizada das relações diretas de

autoridade, alicerçada por um pesado instrumental burocrático, marcou esse período (PECI,

Page 53: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

53

1999). À imagem de uma máquina, este tipo de concepção parte da premissa de que todo o

conhecimento pode ser explicitado formalmente e que o modelo de organização ideal é

racional, eficientemente montada como vistas à otimização dos processos (MORGAN, 1996).

No entanto, a crise econômica dos anos setenta sinalizou o esgotamento do sistema de

produção em série e da capacidade da organização-máquina atender às novas demandas do

ambiente. Segundo Castells (1996, apud PECI, 1999), o consumidor começou a demandar

produtos com maior qualidade e quantidade, os mercados se diversificaram, o ritmo de

mudanças tecnológicas cresceu muito e o sistema de produção em série se mostrou rígido e

custoso para as características da nova economia. A concepção da organização como um

sistema, formulado a partir da teoria geral dos sistemas postulada por von Bertalanffy (1973),

gerou novas formas empresariais, caracterizadas pela flexibilidade e a capacidade de inovar.

Algumas destas formas receberam a nomeação de pós-fordistas, por superarem os limites da

mecanização e da rígida burocracia.

Esta mudança, no meio empresarial, denota uma mudança no contexto ambiental como

um todo, afetando todo o tipo de organizações e sistemas sociais, formais ou informais.

Segundo Emery e Trist (apud. PECI, 1999), esta nova textura ambiental se caracteriza pela

existência de grande variância, contínua mudança associada com a inovação e um alto grau de

incerteza. A turbulência é conseqüência da complexidade e do caráter multifacetado das

interconexões causais, que passam muitas vezes desapercebidas pelos gerentes. Os autores

ressaltam a necessidade para que a empresa desenvolva funções situadas fora dos limites

organizacionais, e destacam a importância da tomada lateral de decisões.

Neste contexto, surgem com vigor as organizações em rede. Em um sentido

etimológico, o termo “rede” é derivado do latim (rete, retis) que significa um conjunto

entrelaçado de fios, cordas, cordéis, arames, com aberturas regulares fixadas por malhas e

nós, formando uma espécie de tecido com diversas finalidades (WIKIPEDIA, 2009). No

plano técnico-operacional, o termo "rede" denota comumente a idéia de fluxo ou circulação

como as redes de comunicação, de transportes, de água e esgoto e de telecomunicações

(CÂNDIDO; ABREU, 2000).

A origem e aplicações do conceito de redes não são novas; elas vêm sendo aplicadas

sistematicamente por várias áreas de conhecimento, especialmente as ciências sociais, entre as

quais a Antropologia e Psicologia (enfoque mais relacionado às diversas formas de interação e

relacionamento de pessoas/pessoas, pessoas/grupos e grupos/grupos sociais num dado

contexto social, assim como, qual o papel social representado pelas pessoas dentro dos grupos

sociais que convivem), até as ciências naturais, como a Biologia (padrões de relacionamento

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54

dos seres em um ecossistema, comportamento de moléculas quando submetidas a

determinadas condições físicas e químicas) e a Medicina Neural (para estudar a ligação dos

neurônios e a influência destas ligações sobre os padrões cognitivos das pessoas)

(CÂNDIDO; ABREU, 2000).

Para Marcon e Moinet (apud. FERREIRA et. al., 2008, p. 6) no campo de estudos das

ciências sociais, o termo rede designa um “conjunto de pessoas ou organizações interligadas

direta ou indiretamente” Partindo desta premissa, qualquer organização pode ser entendida e

analisada como uma rede de múltiplas relações (NOHRIA, 1992). O ambiente operacional de

uma organização também pode ser entendido como uma rede interorganizacional, que é

composta por fornecedores, distribuidores, agências reguladoras e outras organizações. A análise

dos elementos constitutivos deste grupo de organizações sob a perspectiva de rede auxilia ao

pesquisador na compreensão das suas relações (PECI, 1999).

Balestrin e Vargas (2004) apresentam um mapa de orientação conceitual (Figura 10), a

partir do qual as diversas redes interorganizacionais podem ser amplamente classificadas da

seguinte forma:

Figura 10 – Mapa de orientação conceitual.

Fonte: BALESTRIN; VARGAS, 2004.

Redes verticais: a dimensão da hierarquia. Caracterizam-se pelo alto grau de

hierarquização, onde as relações estabelecidas assemelham-se àquelas de matriz/filial

(onde a matriz detém a maior parte do controle administrativo/judicial). É bastante

Page 55: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

55

utilizada por grandes redes de distribuição com ampla dispersão geográfica

(FERREIRA et. al., 2008).

Redes horizontais: a dimensão da cooperação. As redes de cooperação

interorganizacional são construídas por grupos de organizações que mantêm sua

independência, mas optam por cooperar em atividades específicas onde possam obter

valor superior. As relações são estabelecidas de forma flexível, e o grau de

formalização se adapta para atender às mesmas. Em termos de estratégia em rede, a

cooperação nesta forma gera um rico ambiente de aprendizado, onde mesmo

concorrentes em um nicho de atividade podem se tornar parceiros em outro (SILVA,

1994).

Redes formais: a dimensão contratual. As redes podem ser regidas por meio de

termos contratuais, que formalizam por escrito os objetivos comuns, as necessidades

mútuas, a divisão de riscos e as formas de controle (SILVA, 1994). Redes como os

consórcios de exportação, as joint-ventures e as franquias são exemplos de redes

fortemente formalizadas (FERREIRA et. al., 2008).

Redes informais: a dimensão da conivência. As redes de conivência permitem o

encontro informal entre diversos atores que partilham de uma preocupação comum.

Estes encontros objetivam a troca de experiências e informações de maneira

espontânea e não obrigatória, podendo muitas vezes resultar na criação de um clima de

cooperação propício para trocas mais freqüentes e estruturadas (FERREIRA et. al.,

2008)

Partindo do conceito das redes horizontais, pode-se dizer que uma estrutura em rede é

aquela em que seus integrantes se ligam horizontalmente com todos os demais, formando um

conjunto que se assemelha a uma malha de múltiplos fios, que podem se espalhar sem que

nenhum dos seus nós seja considerado principal ou representante dos demais. Assim, no

trabalho em rede não há um “chefe”, mas sim um grupo ou equipe trabalhando com vistas à

consecução de um objetivo, por meio de uma vontade coletiva (FERNANDES, 2004). Nelas,

a tomada de decisão centralizada e o comando autoritário dão lugar à tomada de decisão

participativa e democrática, ao ajustamento mútuo e à cooperação. Portanto, uma organização

interessada a constituir-se em rede ou participar ativamente de uma deve estar disposta a

abandonar as formas tradicionais de gestão unilateral (AMARAL, apud. FERNANDES,

2004).

Page 56: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

56

O ritmo da mudança e o grau de complexidade são cada vez maiores. Nem a

organização-máquina nem a simples organização pequena irão sobreviver no ambiente

competitivo do século XXI: a primeira não tem capacidade de se adaptar com velocidade

suficiente para acompanhar os ritmos da mudança; a segunda não atinge os níveis de

eficiência e escala exigidos pelo mercado. É a capacidade de combinar equilibradamente

flexibilidade e eficiência que dá a vantagem competitiva às redes.

Figura 11 – Fatores de influência para a organização em rede.

Fonte: adaptado de CÂNDIDO, 2004.

2.2.2 Arquitetura e administração estratégica das redes horizontais

A projeção, construção e/ou interpretação de uma rede interorganizacional exigem que

uma série de questões complexas seja solucionada. Cândido (2004) sugere como primeiro

passo a identificação das características dessas redes, incluindo atores, a natureza das relações

e as funções da rede. A partir daí, deve-se definir todas as variáveis que poderão propiciar

influências diretas e indiretas na rede. Moura (apud CÂNDIDO, 2004) aponta os principais

aspectos a serem considerados na definição de uma arquitetura organizacional para redes,

entre os quais:

Abrangência da rede: indica a pluralidade dos atores envolvidos, grau de importância e

participação relativa de cada um deles;

Funções: define criteriosamente e em minúcias os papéis desempenhados por cada um

dos atores envolvidos;

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57

Natureza dos vínculos: envolve a presença de relações de cooperação, os conflitos, às

políticas de negociação e de troca;

Ainda, segundo o autor, há de se considerar que em uma rede as organizações

envolvidas têm identidade própria que deve ser preservada. O arranjo resulta de relações

mútuas de cooperação que, quando contratualizadas formalmente, não podem ser alvo de

alterações unilaterais.

Para Hakanson (apud. CÂNDIDO, ABREU, 2000), o conceito de redes inter-

organizacionais é abrangente: duas ou mais organizações envolvidas em relacionamentos de

longo prazo, tendo como principal objetivo dinamizar os diversos processos organizacionais

para o alcance da competitividade. As redes podem apresentar uma grande variedade de

configurações, retratando as especificidades e os objetivos envolvidos. O autor propõe um

modelo básico de redes, destacando três classes básicas de variáveis (atores, atividades e

recursos), onde a estrutura da rede vai depender das inter-relações estabelecidas entre elas

(veja a Figura 12).

Figura 12 – Modelo básico de redes.

Fonte: HAKANSON, apud. CÂNDIDO, 2000.

Atores. Os atores realizam as atividades e controlam os recursos, podendo ser

identificados em diferentes níveis de agregação: no nível de indivíduos, de departamentos e

das organizações. O autor destaca três dimensões relevantes para a análise da atuação dos

atores nas redes: 1) que atividades realizam ou controlam; 2) que recursos controlam e 3) que

conhecimentos possuem sobre as atividades, recursos e outros atores na rede.

Page 58: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

58

Atividades. As atividades são divididas em duas categorias: as atividades de

transformação, que resultam da atuação direta de um ator utilizando seus recursos (intra-

organizacional), e as atividades de transação, que ligam as atividades de transformação e os

atores entre si, formando a rede (inter-organizacional).

Recursos. Recursos são divididos em financeiros, fixos e humanos, e são utilizados

pelos atores tanto para as atividades de transformação quanto para as de transação.

A administração das redes organizacionais difere da administração das organizações

burocraticamente constituídas. Nessas o enfoque é intra-organizacional e baseada nas

atividades de planificação, organização, liderança por meio de hierarquias e cadeias de

controle rigidamente definidas, enquanto naquelas prevalece a tomada de decisão

democrática, e a coordenação é alcançada pela atividade da própria rede (AGRANOFF &

McGUIRE, apud. PECI, 1999). Para Peci (1999), as novas formas organizacionais em rede

demandam e tornam possível o estabelecimento de uma reciprocidade generalizada entre os

diversos membros da rede. Segundo ela, “reputação, confiança, conspiração tácita e uma

relativa ausência do comportamento calculativo, devem dirigir este sistema de troca” (p. 11).

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59

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa científica é um conjunto de ações, propostas para encontrar a solução para

um problema, que utiliza de procedimentos racionais e sistemáticos em seu desenvolvimento.

A pesquisa é realizada quando se tem um problema e não se tem informações para solucioná-

lo (SILVA; MENEZES 2001).

Na presente pesquisa, a metodologia inclui a caracterização da pesquisa, a

identificação do objeto de estudo e sujeitos, a escolha e a utilização das técnicas de coleta e

análise de dados e por fim, apresentam-se as limitações.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Toda classificação se faz mediante a adoção de algum critério. Nesta seção apresenta-

se a caracterização da presente pesquisa em relação aos critérios: natureza, objetivos,

abordagem e procedimentos.

A presente pesquisa é de natureza aplicada, pois tem como objetivo gerar

conhecimentos para uma aplicação prática localizada, dirigida à solução de um problema

específico.

Quantos aos seus objetivos, a pesquisa se caracteriza como exploratória e descritiva.

Exploratória, pois parece não haver estudos que se proponham a desenvolver o processo de

formulação de estratégias em redes interorganizacionais no Brasil; e descritiva, uma vez que

tem como propósito primordial a descrição das características de determinada população ou

fenômeno. Aborda quatro aspectos: descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos

atuais, objetivando seu funcionamento no presente.

Quanto a abordagem, optou-se pela pesquisa qualitativa, onde o ambiente natural é a

principal fonte de dados e o pesquisador é o principal “instrumento”. É necessário contato

direto e muitas vezes longo entre o pesquisador e o ambiente de pesquisa, sendo esta uma

característica que justifica a escolha por este tipo de pesquisa, dado o problema postulado.

Quanto aos procedimentos adotados, podemos definir a pesquisa como uma pesquisa

bibliográfica, pesquisa documental, levantamento e pesquisa-ação.

A pesquisa bibliográfica diz respeito ao conjunto de conhecimentos humanos

necessários para a devida compreensão dos aspectos teóricos necessários à execução de

qualquer pesquisa aplicada. É o ato de ler, selecionar, fichar, organizar e arquivas tópicos de

Page 60: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

60

interesse para a pesquisa em pauta. Ainda pode-se dizer que a pesquisa bibliográfica é a base

para as demais pesquisas, e é uma constante na vida do pesquisador (FACHIN, 1993).

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. O que as

diferencia essencialmente é a natureza das fontes; enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza

das contribuições de diversos autores sobre o assunto em foco (contribuições estas geralmente

disponíveis em meios públicos e de amplo acesso, como bibliotecas e livrarias), a pesquisa

documental se vale de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico.

O levantamento se faz essencial quando se realizando uma pesquisa-ação, pois permite

conhecimento direto da realidade por meio da interrogação direta das pessoas cujo

comportamento se deseja conhecer, tornando a pesquisa mais livre de inferência calcada no

subjetivismo do pesquisador.

Michel Thiollent (1997) define a pesquisa-ação como um processo integrado de

pesquisa e ação onde os atores implicados participam, junto com os pesquisadores, para

chegarem a uma resolução do problema proposto, experimentando soluções em um ambiente

real. Este procedimento em especial foi adotado pela grande proximidade do pesquisados com

o problema proposto, como elemento participante da estrutura formal da organização estudada

e o compromisso de todos os atores com a melhoria e mudança.

3.2 OBJETO DE ESTUDO E SUJEITOS

A pesquisa foi realizada na Brasil Júnior, no período de Março a Outubro de 2009. A

Brasil Júnior é a Confederação Brasileira de Empresas Juniores, fundada em 2003 para

representar e potencializar o Movimento Empresa Júnior.

Quando o universo da pesquisa é numeroso e geograficamente espaçado, no caso da

Brasil Júnior são mais de 3.000 pessoas distribuídas em 11 estados do Brasil, é recomendável

a seleção de uma amostra (GIL, 1999). Como o tipo de investigação foi a pesquisa-ação, a

seleção da amostra se fundamentou em critérios qualitativos, e não quantitativos. Desta forma,

a amostra foi intencional para tornar a pesquisa mais rica frente aos seus objetivos,

selecionando-se assim as pessoas pertencentes à coalizão dominante da Brasil Júnior, ou seja,

Conselheiros Administrativos e Diretores Executivos da Brasil Júnior.

A equipe toda era composta por aproximadamente 30 pessoas, todos aqueles com

poder suficiente para decidir ou influenciar fortemente os rumos estratégicos da organização.

Essas pessoas foram os sujeitos da pesquisa.

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61

3.3 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

As técnicas de coleta de dados foram as seguintes: pesquisa bibliográfica, análise

documental, entrevistas semi-estruturadas, discussões por fórum virtual e seminários.

A pesquisa bibliográfica foi utilizada para estudar e explorar o material ligado

principalmente ao processo de planejamento estratégico e à constituição de redes

organizacionais, através da coleta de dados secundários em livros e revistas especializadas,

com o principal objetivo de fundamentar a análise posteriormente realizada.

A pesquisa e análise documental teve duas principais fontes: (i) documentos da

organização ou sobre a organização, em especial aqueles relacionados ao planejamento

estratégico: atas, relatórios, planilhas, apresentações, enfim, todo e qualquer material que

possa auxiliar na melhor compreensão da história e dos acontecimentos da organização no que

se refere ao planejamento estratégico; (ii) internet, para coleta de dados referentes as variáveis

ambientais selecionadas como relevantes ao processo de planejamento estratégico a ser

implantado.

A entrevista semi-estruturada tem como característica a utilização de questionamentos

básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Este

tipo de entrevista foi realizado com mais ou menos 20 pessoas da coalizão dominante formal,

para identificar sua percepção sobre alguns aspectos considerados críticos ao planejamento

estratégico, acerca da missão, visão e principais gargalos do Movimento Empresa Júnior.

As discussões por meio de fórum virtual foram utilizadas para levantar e discutir a

perspectiva dos participantes sobre a delimitação dos papéis das federações e confederação na

rede interorganizacional. Foram recurso importante para minimizar custos com o reuniões

presenciais, uma vez que a coalizão dominante da Brasil Júnior está espalhada por vários

estados brasileiros.

Os seminários foram o método de coleta de dados mais importante da pesquisa, pois

permitiu reunir toda a coalizão dominante da organização para definir as direções estratégicas,

a partir do conjunto de informações coletadas por meio dos métodos acima apresentados.

Participaram destes aproximadamente 30 pessoas da coalizão dominante

A análise dos dados em pesquisa qualitativa significa trabalhar todo o material obtido

ao longo da pesquisa, ou seja, os dados da pesquisa documental, os relatos das entrevistas, e

as conclusões das discussões do fórum e dos seminários, confrontando-os com a pesquisa

bibliográfica.

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62

3.4 LIMITES DA PESQUISA

A pesquisa está limitada a assuntos inerentes ao processo de planejamento estratégico

e sua extensão abrange não só a organização estudada, Brasil Júnior, mas também as

organizações a ela conectadas em rede, federações e empresas juniores, de modo

complementar. Portanto, não é objeto deste estudo dar respostas a todas as organizações sem

fins econômicos, nem mesmo a todas as organizações constituídas em rede em busca de criar

seus processos de planejamento estratégico.

Outra limitação de relaciona ao escopo de planejamento estratégico. Devido ao tempo

disponível, os resultados da pesquisa restringem-se apenas ao processo de formulação e

desenvolvimento de um sistema controle do desempenho de estratégias, não abordando em

nenhuma forma sua implementação tática por meio de planos de ação.

Page 63: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

63

4 DESCRIÇÃO, ANÁLISE E IMPLEMENTAÇÃO DO PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO EM REDE NA BRASIL JÚNIOR

Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos pela realização da pesquisa,

frente aos objetivos para ela definidos e fundamentação teórico-empírica adotada, por meio

dos procedimentos metodológicos descritos. O capítulo inclui a caracterização da organização

pesquisada, para melhor compreensão do leitor sobre o contexto no qual o estudop foi

desenvolvido.

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO PESQUISADA

Empresa júnior é uma associação civil, sem fins econômicos, vinculada e reconhecida

por uma instituição de ensino superior, constituída e gerida por alunos de graduação, que

objetiva a realização de consultorias nas suas áreas de atuação com foco nas micro e pequenas

empresas, sob a orientação de professores e profissionais especializados que contribuam para

o desenvolvimento do país. Por ser uma associação civil sem fins econômicos, toda a receita

proveniente de seus projetos e serviços deve ser reinvestida na própria organização, não sendo

permitido que os lucros sejam divididos entre seus membros associados ou estes sejam

remunerados pelo trabalho realizado (BRASIL JÚNIOR, 2009).

A Brasil Júnior – Confederação Brasileira de Empresas Juniores, é o órgão máximo de

representação das empresas juniores brasileiras. Sua missão é “representar o Movimento

Empresa Júnior nacional e potencializá-lo como agente de educação empresarial e gerador de

negócios”, ou seja, existem dois principais direcionadores de sua ação: (i) representação,

cabendo a Brasil Júnior dialogar em nome das empresas juniores com os diversos atores da

sociedade que têm influência sobre as mesmas (especialmente governo, órgãos de

representação de classe e associações de organizações privadas, em âmbito nacional); (ii)

desenvolvimento, criando projetos e empreendendo ações que vão potencializar as ações das

empresas juniores como formadoras de profissionais diferenciados e prestadoras de serviços a

micro e pequenas empresas.

Criada no XII Encontro Nacional de Empresas Juniores, realizado em Salvador em

2003, a Brasil Júnior era uma antiga idéia do movimento empresa júnior brasileiro.

Inicialmente houve uma tentativa de unir as federações estaduais em 97, mas, segundo

Martines (2008) os recursos escassos e as limitações de comunicação naquela época não

permitiram a criação de um órgão nacional. No entanto, naquela época criou-se a Rede Brasil

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64

Júnior, que era uma lista de e-mails aberta a qualquer empresário júnior do país, ponto a partir

do qual a idéia da Brasil Júnior foi se estruturando, até culminar na criação da confederação.

Hoje, a Brasil Júnior é uma rede composta por 136 empresas juniores, organizadas em

11 federações associadas (representando dez estados e o Distrito Federal). Cabe ressaltar que

nem todas as empresas juniores são associadas a uma federação (e, conseqüentemente,

confederadas a Brasil Júnior), pois estas possuem processos de federação nos quais é exigida

uma série de requisitos, baseados nas determinações do Selo Brasil Júnior (certificação de

empresas juniores que estão em conformidade com as diretrizes do Conceito Nacional de

Empresas Juniores, legalmente constituídas, juridicamente adequadas e possuem estrutura

mínima de gestão). Ainda assim, as empresas juniores não federadas não deixam de ser

público das federações, como clientes potenciais para a rede.

A partir desta breve introdução ao item, apresenta-se com maior clareza as

organizações que fazem parte da Brasil Júnior, como rede:

Empresas juniores confederadas. São empresas juniores confederadas aquelas que estão

associadas a uma federação confederada a Brasil Júnior. Essas empresas juniores passam por

um processo de auditoria onde é solicitado o cumprimento de uma série de requisitos,

oriundos do Selo Brasil Júnior. Essas empresas juniores estão alinhadas com os princípios

gerais do Movimento Empresa Júnior e possuem a estrutura mínima de gestão necessária ao

seu funcionamento.

Federações confederadas. As federações representam as empresas juniores em seus estados,

sendo constituídas pela congregação de pelo menos cinco empresas juniores. Sua estrutura de

governança se assemelha muito à da Brasil Júnior, com Conselho Administrativo (composto

por pelo menos um representante por empresa júnior associada) e Diretoria Executiva. As

principais competências das federações, denominadas “funções”, são: (i) fomento e orientação

de novas empresas juniores; (ii) suporte e alinhamento das suas ações; (iii) integração dos

seus esforços e competências; (iv) regulamentação das suas atividades; e (v) representação na

sociedade.

Existem também as organizações que, embora façam parte do Movimento Empresa

Júnior, não estão direta e formalmente vinculadas a Brasil Júnior. São elas:

Page 65: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

65

Empresa juniores não confederadas. São empresas juniores que não fazem parte de uma

federação confederada a Brasil Júnior. Hoje representam a grande maioria das empresas

juniores do país, em decorrência de quatro principais fatores: (i) não possuem os requisitos

mínimos de gestão solicitados pelo Selo Brasil Júnior; (ii) não estão de acordo com o

Conceito Nacional de Empresa Júnior (que pode ser em decorrência de remunerarem seus

membros, partilharem lucros, serem dirigidas por profissionais formados etc.); (iii) não

possuem interesse em se associarem à federação do seu estado; ou (iv) estão localizadas em

estado onde ainda não existe federação confederada à Brasil Júnior.

Federações não confederadas. São federações constituídas que não estão associadas a Brasil

Júnior, geralmente devido ao fato de serem novas e ainda não cumprirem os requisitos

solicitados pelo processo de confederação de federações. A Brasil Júnior busca auxiliá-las por

meio de um programa chamado “Federação Aspirante”.

Núcleos de empresas juniores. Outras formas de organização das empresas juniores são

denominadas núcleos. Os núcleos têm esfera de atuação delimitada, principalmente (mas não

exclusivamente) por instituição de ensino, e geralmente atuam em algumas das funções das

federações, porém apenas com foco na delimitação definida. Um exemplo é o núcleo de

empresas juniores da Universidade Estadual de São Paulo, que tem como propósitos

aproximar as empresas juniores da UNESP (integração), bem como representá-las perante

entidades e órgãos da mesma (representação) (NEJUNESP, 2009). Os núcleos não têm

relacionamento formal com a Brasil Júnior ou com as federações, não sendo considerados

partes constitutivas das mesmas (embora possam trabalhar em parceria ou de maneira

alinhada). As empresas juniores podem estar associadas a eles de acordo com critérios

próprios de qualificação, relativos a cada núcleo.

A estrutura de funcionamento e governança da Brasil Júnior, de acordo com seu

estatuto e regimento interno, segue assim de maneira resumida:

Assembléia geral: órgão soberano da confederação, reunido anualmente durante o

Encontro Nacional de Empresas Juniores (ENEJ), para deliberações de grande

relevância e impacto sobre o Movimento Empresa Júnior nacional. Constituem a

assembléia geral cada uma das empresas juniores confederadas, representadas pelo seu

Presidente ou outra pessoa com autoridade legal.

Page 66: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

66

Conselho Administrativo: órgão deliberativo e consultivo responsável por acompanhar

os atos da administração executiva e zelar pelos interesses das diversas partes

interessadas da confederação, em especial as empresas juniores confederadas. É

composto por cada uma das federações associadas a Brasil Júnior, representadas pelo

seu Presidente Executivo e Presidente de Conselho Administrativo.

Diretoria Executiva: órgão executivo responsável por executar as diretrizes fixadas

pelo Conselho Administrativo e prestar-lhe contas do desempenho. Fazem parte da

Diretoria Executiva as federações eleitas aos respectivos cargos, representadas por

candidato (pessoa física) indicado na eleição, e os membros da equipe executiva

selecionados pelos mesmos.

Conselho Fiscal: órgão fiscalizador dos atos da administração, responsável por prover

informações relevantes à tomada de decisão do Conselho Administrativo,

especialmente no que se refere à questões contábeis e jurídicas.

A estrutura organizacional da Brasil Júnior pode ser visualizada na Figura 13. Os

Coordenadores e Assessores constituem o núcleo operacional da organização, e são

designados pelos Diretores eleitos de acordo com as qualificações necessárias a cada função.

As funções de cada Diretoria, em termos gerais, são:

Figura 13 – Estrutura organizacional da Brasil Júnior.

Fonte: documentos da organização.

Page 67: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

67

Presidência

1. Elaborar juntamente com os Conselheiros Administrativos e demais Diretores, o

Planejamento Estratégico da confederação e controlar sua implementação junto à

Diretoria Executiva;

2. Coordenar, integrar e avaliar os trabalhos realizados pela Diretoria Executiva e

repassar o desempenho dos programas, projetos e processos ao Conselho

Administrativo;

3. Estabelecer parcerias com organizações do poder público e privado, com vistas a obter

recursos financeiros, apoio à gestão ou demais benefícios;

4. Coordenar a ação de representação da Brasil Júnior no exterior, por meio do Programa

Embaixadores;

5. Representar a Brasil Júnior externamente, participando de eventos do Movimento

Empresa Júnior e de organizações pertinentes;

6. Promover o alinhamento dos Planejamentos Estratégicos das Federações com os

objetivos definidos pela Confederação;

Administrativo-financeira

1. Administrar os recursos financeiros e patrimoniais da Brasil Júnior, garantindo a

implementação de mecanismos de transparência financeira e contábil perante;

2. Administrar as questões jurídicas da confederação, em especial mudanças na

documentação jurídica (estatuto, regimento interno entre outros) e contratos;

3. Liderar a regulamentação do Movimento Empresa Júnior em nível nacional, por meio

dos Diretores Administrativos das federações;

4. Estruturar e implementar a gestão do conhecimento e da informação eficiente, por

meio de tecnologias da informação e programas de retenção de conhecimento.

Comunicação

1. Divulgar o Movimento Empresa Júnior em canais de comunicação de abrangência

nacional, de maneira a obter reconhecimento das diversas partes interessadas externas

sobre sua atuação na sociedade;

Page 68: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

68

2. Gerenciar as ferramentas de comunicação com os empresários e empresas juniores e

demais partes interessadas, como fórum, site, e-mail entre outros;

3. Garantir alinhamento de conceito no Movimento Empresa Júnior, por meio da

divulgação efetiva dos seus princípios norteadores nos eventos regionais de empresa

júnior e demais ferramentas de comunicação;

4. Desenvolver identidade visual e institucional da confederação.

Desenvolvimento

1. Analisar o desempenho das federações e empresas juniores por meio de programas

específicos para isso;

2. Levantar e analisar informações relevantes sobre o Movimento Empresa Júnior,

relacionados às empresas e empresários juniores;

3. Auxiliar as federações no seu desenvolvimento para geração de valor às empresas

juniores.

Como a organização é geograficamente distribuída por onze estados do país, a

comunicação depende do uso de tecnologia. As principais formas de comunicação utilizadas

pela organização são:

• Reuniões presenciais (físicas): realizadas quatro vezes ao ano pela Diretoria Executiva

e duas vezes ao ano pelo Conselho Administrativo. É onde são discutidos assuntos

mais complexos e de importância estratégica.

• Reuniões virtuais: realizadas quinzenalmente pela Diretoria Executiva e

bimestralmente pelo Conselho Administrativo. São discutidos assuntos importantes,

contudo de relevância estratégica limitada.

• Fórum virtual: de uso continuado, é onde são discutidos assuntos que exigem uma

deliberação direta com pouca construção de opinião coletiva, devido ao seu caráter

estático. Eventualmente é utilizado para discussões mais complexas.

• E-mail: envio de informações e arquivos virtuais importantes, bem como deliberações

que exigem grande agilidade.

Caracterizada a organização, pode-se passar para a análise e discussão dos resultados

obtidos mediante a realização da pesquisa.

Page 69: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

69

4.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: ANÁLISE PRELIMINAR

A Brasil Júnior, em 2006, definiu durante o planejamento estratégico um referencial

estratégico nomeado “Ciclos Estratégicos” (Figura 14). Esse referencial epistemológico

ajudou a liderança vigente tanto compreender o desenvolvimento que a organização vinha

tendo até então como projetar seu posicionamento estratégico futuro. Cada Ciclo tinha três

anos de duração e era caracterizado por um tema:

Gestão (2004-2006): estruturação e consolidação dos processos principais,

desenvolvimento de capacidade de gestão estratégica e sustentabilidade de ativos

(humanos, financeiros e materiais);

MEJ (2007-2009): alinhamento do Movimento Empresa Júnior, por meio de sua

efetiva regulamentação, e obtenção de reconhecimento da confederação como

instituição legítima na representação de seus interesses perante a sociedade;

Sociedade (2010-2012): fortalecimento da marca Empresa Júnior perante os diversos

atores da sociedade, em especial, Governo, Instituições de Ensino Superior, Micro e

Pequenas Empresas e Mídia.

Figura 14 – Ciclos Estratégicos da Brasil Júnior.

Fonte: documentos da organização.

A intenção de se construir um novo processo de planejamento estratégico surgiu a

partir de dois fatores: a própria mudança de foco estratégico prevista para o período de 2010-

2012, de MEJ para Sociedade, e a insatisfação do autor, como liderança executiva da

Page 70: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

70

organização, com o processo então vigente. Essa insatisfação se baseava em dois principais

aspectos: (i) era evidente que a Brasil Júnior não tinha ainda concluído o tema MEJ e que não

estava preparada para focar seus esforços na representação externa do movimento perante a

sociedade, sob o risco de fracassar estrategicamente na manutenção e melhoria dos bons

resultados obtidos ao longo dos últimos anos; e (ii) não havia uma consideração consciente

para o fato de que a Brasil Júnior é parte (e representante) de uma rede de organizações, e que

seu propósito de potencializar o desempenho de todos os atores nela presentes não estava

sendo cumprido em plenitude muito devido a forma de se pensar e agir na organização,

isolada em um ostracismo gerencial de ações não integradas com os demais atores a ela

vinculados.

Assim, oportunidade encontrou intenção, e foi iniciada a sistematização de um

processo de planejamento estratégico que pudesse sanar os aspectos geradores de insatisfação.

Uma equipe de Planejamento Estratégico foi montada, com o intuito de prover apoio

operacional (na realização das análises necessárias) e gerencial (na condução do processo).

Foram selecionados os empresários juniores Julia R. B. Muniz Barreto (EJEP – FEJESC);

Andressa Lagonegro (Paulista Jr – FEJESP), Bruno Espírito Santo (EJEP – FEJESC);

Fernando Ligório Silveira (Ação Júnior – FEJESC); Vinícius Muraro da Silva (Motriz –

FEJESP).

A equipe de início percebeu a necessidade de realizar uma análise preliminar à

construção do novo processo de planejamento estratégico, para entender melhor o contexto e

desenvolver uma proposta de modelo de formulação e controle de estratégias coerente com a

condição de rede interorganizacional na qual a Brasil Júnior está inserida. Essa análise foi

desenvolvida em quatro pontos:

1) Do seu enquadramento como rede interorganizacional;

2) Do processo decisório e relações de poder na organização;

3) Da perspectiva da coalizão dominante sobre a estratégia vigente;

4) Das implicações dos pontos supracitados no processo de planejamento estratégico.

Segue a descrição detalhada da análise realizada sobre esses quatro pontos

selecionados.

Page 71: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

71

4.2.1 Análise do enquadramento da Brasil Júnior como rede interoganizacional

A proposta da pesquisa é de relacionar o processo de planejamento estratégico na

organização com a condição natural da mesma como parte de uma rede de organizações

integradas sob finalidades comuns. Assim, primeiramente buscou-se enquadrar a Brasil Júnior

como uma rede, de acordo com os referenciais teóricos e discussões pelo fórum virtual

juntamente da coalizão dominante formal.

4.2.1.1 Abrangência da rede e objetivos

A Rede Brasil Júnior abrange as empresas juniores confederadas, federações

confederadas e a Brasil Júnior. Sendo as empresas juniores a principal unidade constituinte da

rede, e as federações e confederação instâncias criadas para atender as suas necessidades, os

objetivos da Rede Brasil Júnior estão principalmente vinculadas ao melhor atendimento dos

seguintes objetivos:

• Garantia da qualidade mínima das empresas juniores confederadas;

• Suporte às atividades das empresas juniores confederadas;

• Representação das empresas juniores confederadas perante a sociedade;

• Facilitação de transação de conhecimentos, metodologias e práticas de gestão, bem

como realização de projetos em comum;

• Fomento e suporte à criação e confederação de novas empresas juniores.

Estes objetivos foram postulados pelo autor de acordo com sua percepção empírica

como liderança executiva da organização.

4.2.2.1 Natureza dos vínculos estabelecidos e papéis dos atores

Utilizando o mapa conceitual proposto por Balestrim e Vargas (2004), classificou-se a

Brasil Júnior sob duas dimensões, com base na perspectiva do autor: (i) do grau de

horizontalidade de rede e (ii) do grau de formalização. A colocação da Brasil Júnior no mapa

conceitual pode ser observada pela Figura 15:

Page 72: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

72

Figura 15: posição da Brasil Júnior no mapa conceitual.

Fonte: elaborado pelo autor.

A Rede Brasil Júnior é horizontal. A forma de organização da Rede Brasil Júnior reconhece

a independência enquanto apóia a interdependência. A Brasil Júnior não tem poder

autocrático formal sobre as ações das federações, e estas não têm poder similar sobre as

empresas juniores. Todos têm o mesmo nível de responsabilidade na realização dos objetivos

da rede, ainda que com papéis diferentes. As únicas relações de poder estabelecidas na rede

seguem os princípios abaixo elencados:

1) O poder formal exercido no sentido confederação → federações → empresas

juniores tem um caráter exclusivamente normativo, ou seja, no sentido de regras que

são estabelecidas para que haja melhor cumprimento dos objetivos de todos os atores

envolvidos;

2) Essas regras são estabelecidas por meio de processo democrático, onde todos têm

direito de participação equivalente, independente de aspectos externos ao

concernimento da rede e de seus propósitos, criando uma dinâmica de poder auto-

ajustada;

3) A não adesão às normas estabelecidas por meio dessa dinâmica de poder implica,

geralmente, na desvinculação da empresa júnior ou federação da rede, sem

conseqüências à sua autonomia como organização independente.

Page 73: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

73

A Rede Brasil Júnior é semi-formalizada. A formalização da rede ocorre principalmente

com relação a condições de participação, que podem ir da exigência de requisitos

qualificatórios para entrada (cumprimento dos critérios do processo de federação) ou de

continuidade (participação obrigatória nas reuniões do Conselho Administrativo da federação,

pagamento de anuidade), dependendo de cada federação. Contudo, no que se refere à maneira

de operação da rede em si, ela é informal, desburocratizada e espontânea, havendo fluxos de

informação em diversos sentidos e interações não controladas.

A natureza dos vínculos estabelecidos entre os diversos atores, envolvendo a presença

de relações de cooperação, os conflitos, às políticas de negociação e de troca, deve ser

compreendida para que a rede seja administrada com eficácia. A análise dos vínculos

estabelecidos está apresentada no Quadro 3.

ATORES Empresa júnior Federação Brasil Júnior

Empresa

júnior

• Competição (quando

atuando no mesmo

mercado)

• Cooperação (troca de

conhecimentos, realização

de projetos em conjunto)

• Cooperação (participação

em programas)

• Fornecimento de recursos

(humanos e financeiros)

• Submissão (regras de

associação)

• Cooperação

(participação em

programas)

Federação

• Suporte (programas de

desenvolvimento direto)

• Coordenação

• Cooperação (troca de

conhecimentos, realização

de projetos em conjunto)

• Cooperação

(fornecimento de

recursos humanos)

• Submissão (regras de

associação)

Brasil

Júnior

• Suporte (programas de

desenvolvimento indireto)

• Suporte

• Coordenação --

QUADRO 3 – Vínculos entre os atores da Rede Brasil Júnior.

Fonte: elaborado pelo autor.

É interessante ressaltar que a relação de competição coexiste com a relação de

cooperação, gerando o que muitos autores chamam de coopetição (SILVA, 1994;

BRANDENBURGER; NALEBUFF, 1996). Algumas empresas juniores que disputam em um

mesmo mercado de atuação realizam visitas umas às outras, para conhecer e trocar práticas de

gestão que vão auxiliar na melhoria dos serviços prestados e processos de apoio. Um exemplo

evidente deste fenômeno é a existência do Núcleo São Paulo, que reúne as nove maiores

empresas juniores ligadas aos cursos de ciências econômicas, contábeis e administração da

cidade de São Paulo e tem por objetivo de realizar o intercâmbio de experiências e

Page 74: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

74

conhecimentos entre as participantes, visando desenvolvê-las e criar cooperação entre elas

(FEA JR, 2009).

Embora esse fenômeno seja comum em redes de empresas no ambiente da

hipercompetitição, ele é potencializado no Movimento Empresa Júnior, em decorrência de

dois principais fatores: (i) as empresas juniores não têm finalidade econômica; (ii) o mercado

das empresas juniores é amplo e a atratividade (em um composto de custo, qualidade e

escopo) dos serviços é alta, havendo demanda maior do que a oferta disponível para muitas

delas. Assim, existe amplo potencial para cooperação entre os diversos atores na rede.

Destaca-se no Quadro 3 a coordenação, como elemento presente na relação Brasil

Júnior → federações → empresas juniores. Esta coordenação segue o princípio da

administração em rede horizontal, onde a autoridade hierárquica top-down inexiste, sendo o

trabalho das federações alinhar e influenciar o comportamento das empresas juniores para o

melhor benefício de todas, e o da Brasil Júnior fazer o mesmo com as federações. Esta relação

tem implicações estratégicas que serão abordadas posteriormente neste trabalho.

4.2.2 Análise do processo decisório e relações de poder na Brasil Júnior

Conforme apresentado na caracterização da organização, a Brasil Júnior tem como

principais órgãos de decisão a Assembléia Geral, o Conselho Administrativo e a Diretoria

Executiva.

A Assembléia Geral, composta por um representante por empresa júnior confederada,

é acionada somente para deliberações de grande abrangência, que impactam diretamente na

atuação de cada uma das empresas juniores confederadas. Geralmente são relacionadas com a

normatização de regras de participação ou permanência na rede, não sendo, portanto, decisões

para o direcionamento estratégico da Brasil Júnior.

O Conselho Administrativo é o principal órgão deliberativo da Brasil Júnior. Todas as

principais decisões relativas à estratégia da Brasil Júnior são tomadas pelo Conselho

Administrativo, por meio de reuniões presenciais semestrais ou fórum virtual. Por este

motivo, considerou-se os membros do Conselho Administrativo a coalizão dominante formal

da organização. É importante lembrar que os Conselheiros Administrativos são eleitos pelas

empresas juniores confederadas de cada estado, provendo legitimidade do mesmo para

representá-las na maioria das decisões.

A Diretoria Executiva é responsável pela implementação das diretrizes fixadas pelo

Conselho Administrativo. Contudo, a Diretoria também é quem propõe os principais assuntos

Page 75: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

75

que serão discutidos pelo Conselho Administrativo, e influencia as decisões do mesmo com

sugestões, propostas e apresentação de dados. Assim, podem ser seus integrantes classificados

como coalizão dominante informal.

Assim, a maioria das decisões estratégicas é tomada pelo Conselho Administrativo,

por meio das propostas trazidas pela Diretoria Executiva. Essa relação de poder entre coalizão

dominante formal e informal é importante para o processo de planejamento estratégico e, se

não for considerada, pode levar todo o processo à bancarrota (PEREIRA, 2002).

4.2.3 Análise da perspectiva da coalizão dominante formal sobre a estratégia em rede

O sucesso das redes está intimamente com a existência de propósitos compartilhados

explícitos, democraticamente estabelecidos e amplamente conhecidos. Com a finalidade de

identificar o grau de alinhamento da coalizão dominante formal da Brasil Júnior em relação a

estes aspectos, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com aproximadamente 20

integrantes da mesma, durante os meses de Maio, Abril e Junho. Foi utilizado questionário de

perguntas previamente selecionadas (APÊNDICE A), mas não se restringiu às mesmas

durante a entrevista.

Os resultados da análise, aqui sintetizados, permitiram à equipe do Planejamento

Estratégico concluir que: (i) não havia homogeneidade quanto ao propósito fundamental do

Movimento Empresa Júnior, como uma rede integrada; (ii) não havia homogeneidade quanto

ao cenário futuro visualizado para o Movimento Empresa Júnior, como uma rede integrada.

4.2.4 Implicações das análises preliminares sobre o processo de planejamento estratégico

Conforme apontado, o planejamento estratégico então vigente na Brasil Júnior não

contemplava missão, visão, objetivos e metas que se relacionavam com sua condição de

organização em rede, responsável por coordená-la por meio de mecanismos de cooperação.

Ainda, atas de seminários de planejamento estratégico de 2006 revelam que uma pequena

parcela da coalizão dominante (formal e informal) participou ativamente do processo de

construção do mesmo.

Para tratar do planejamento estratégico em rede, é importante resgatar o que significa

administrar em rede. Para Oliveri (apud. FERNANDES, 2004), as redes são “estruturas

flexíveis e estabelecidas horizontalmente, as dinâmicas de trabalho das redes supõem atuações

Page 76: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

76

colaborativas e se sustentam pela vontade e afinidade de seus integrantes, caracterizando-se

como um significativo recurso organizacional para a estruturação social".

A primeira característica apontada por diversos autores quando tratando da gestão de

redes interorganizacionais é a necessidade de existirem propósitos e expectativas

compartilhadas (PECI, 1999; OLIVEIRA, 2004; CÂNDIDO; ABREU, 2000). Estes

propósitos podem tomar diversas formas: objetivos de desempenho operacional (como

redução de custos com compras), objetivos de expansão do negócio (como maior abrangência

de atuação geográfica e portfólio de produtos integrado) ou mesmo finalidade social

compartilhada, bastante característico nas organizações do terceiro setor (OLIVEIRA, 2004).

Assim em consonância com a teoria de “idéias governantes” de Senge (2008), a

formação de “redes que aprendem” também depende de propósitos comuns com os quais os

diversos atores participantes possam se identificar genuinamente, criando um clima de

abertura, confiança e relativa ausência de pensamento calculativo, considerados por Peci

(1999) como demandas fundamentais para o sucesso da rede.

A segunda característica é sobre os mecanismos de coordenação utilizados e o grau de

centralização de poder. Por existir uma organização responsável por representar as empresas

juniores em nível nacional (no caso, a Brasil Júnior), a Rede Brasil Júnior poder-se-ia

considerar uma rede tutelada, segundo o conceito de Inosoja (apud. OLIVEIRA, 2004).

Contudo, conforme já explicado, as empresas juniores não dependem das federações ou da

Brasil Júnior, nem são obrigadas a elas estarem associadas, mas o fazem pelos benefícios

atrelados. A função de coordenação é exercida indiretamente, por meio da disseminação dos

propósitos compartilhados e estabelecimento de metas em comum.

A partir do referencial teórico e das análises preliminares apresentadas, foi possível

proceder à construção de um novo modelo de planejamento estratégico. Este modelo se

fundamenta nas seguintes idéias:

1. A rede deve ser orientada para uma finalidade social compartilhada;

2. As estratégias de cada um dos atores da rede devem estar alinhadas com uma visão de

futuro compartilhada;

3. As estratégias de cada um dos atores da rede devem considerar algumas diretrizes

compartilhadas para aquele grupo de atores;

4. As estratégias das federações devem considerar as diretrizes para as empresas

juniores;

Page 77: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

77

5. As estratégias da Brasil Júnior devem considerar as diretrizes para as empresas

juniores e federações.

Este modelo conceitual, portanto, preconiza alinhamento de propósitos e interesses,

em um todo que potencialize os objetivos gerais da rede como foco no seu cliente-alvo final:

as empresas juniores, e pode ser visualizado de acordo com a Figura 16.

Figura 16 – Modelo conceitual de formulação das estratégias para a Brasil Júnior.

Fonte: elaborado pelo autor.

4.3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: CONSTRUÇÃO DO MODELO

A partir do modelo conceitual desenvolvido, partiu-se para a criação de um modelo

operacional para formulação e controle das estratégias. O processo estabelecido seguiu as

seguintes etapas:

Page 78: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

78

DIMENSÃO COMPARTILHADA

1) Finalidade social compartilhada

2) Visão compartilhada

3) Análise ambiental da rede

3.1) Análise do macroambiente

3.2) Análise do ambiente operacional

3.3) Análise do ambiente interno

4) Diretrizes compartilhadas (Ejs)

5) Diretrizes compartilhadas (Federaçòes)

DIMENSÃO BRASIL JÚNIOR (ORGANIZACIONAL)

6) Missão

7) Visão

8) Valores

9) Diretrizes estratégicas

10) Objetivos estratégicos

10.1) Externos

10.2) Internos

11) Controle do desempenho estratégico

11.1) Indicadores estratégicos

11.2) Estabelecimento de metas

11.3) Processo de controle

As etapas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10.1 foram realizadas durante o Seminário de

Planejamento Estratégico, nos dias 9 a 12 de Outubro, juntamente com a coalizão dominante

formal e informal, por meio de discussões conduzidas pelo autor. As etapas 10.2 e 11.1 foram

desenvolvidas pela equipe de Planejamento Estratégico e seus resultados foram validados pela

coalizão dominante formal e informal por meio do fórum virtual. Devido às limitações de

tempo, as etapas 11.2 e 11.3 não foram executadas; apenas foram feitas recomendações sobre

seu modo de aplicação.

As etapas 1 e 2 tiveram como inputs os relatórios da análise de perspectiva realizados

com a coalizão dominante formal durante os meses de Maio a Junho. As etapas 3.1 e 3.3

tiveram como inputs relatórios preparados pela equipe de Planejamento estratégico com base

em informações obtidas da internet e de documentos da organização.

Page 79: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

79

A seguir, apresentam-se os conceitos definidos a partir do referencial teórico-empírico

e utilizados em cada uma das etapas, bem como os resultados provenientes delas.

4.4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM REDE: APLICAÇÃO DO MODELO

4.4.1 Finalidade social compartilhada

A finalidade social de uma organização (ou rede interorganizacional) é aquilo que, em

última instância, define o porquê da sua existência. Na pirâmide de statements concebida por

Steiner (1979) é o equivalente aos “propósitos sócio-econômicos básicos”; para Pagnocelli e

Vasconcellos Filho (2001) é elemento constituinte indispensável para a declaração de missão.

A finalidade social compartilhada para a Rede Brasil Júnior ficou assim definida:

“Formar, por meio da vivência empresarial, empreendedores comprometidos e capazes de

transformar o Brasil”

4.4.2 Visão compartilhada

A visão compartilhada em nível interorganizacional deve traduzir o estado futuro que

os atores da rede, como um todo, desejam atingir independente do seu papel específico na

rede. Não necessita de um horizonte temporal, pois trata-se de uma imagem assumida pelos

atores da rede que se caracteriza por sua força geradora de cooperação e conectividade entre

os indivíduos que partilham da mesma, conforme o conceito de Senge (2008). É

predominantemente conceitual.

A visão compartilhada interorganizacional para a Rede Brasil Júnior ficou assim

definida:

“Ser um movimento reconhecido pelos diversos atores da sociedade por contribuir para o

desenvolvimento do país por meio da formação de profissionais diferenciados”

4.4.3 Análise ambiental em rede

A análise ambiental é um processo sistematizado que objetiva: (i) mapear; (ii)

classificar; e (iii) analisar as variáveis situadas no ambiente total. Este ambiente total pode ser

Page 80: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

80

separado em três segmentos ambientais: macroambiente, ambiente operacional e ambiente

interno (VASCONCELLOS FILHO, 1982).

Ao realizar a análise ambiental sob o enquadramento de rede, preferiu-se considerar o

conjunto de atores formalmente associados à Rede Brasil Júnior como ambiente interno. Os

públicos selecionados para comporem a análise operacional foram àqueles de relevância

destacada para o pleno funcionamento da rede como um todo. As variáveis do macroambiente

são aquelas que não se pode exercer influência direta. A Figura 17 demonstra os ambientes,

variáveis e atores relacionados.

Figura 17 - Ambiente total da Rede Brasil Júnior.

Fonte: elaborado pelo autor.

4.4.3.1 Análise do macroambiente

Vasconcellos Filho (1982) é contraditório em sua proposta para análise

macroambiental. Por um lado, diz que devem ser mapeadas e selecionadas as varáveis

ambientais realmente pertinentes à organização; por outro, recomenda que a malha de

variáveis do macroambiente seja considerada como um todo, devido ao alto grau de inter-

relacionamento. Ainda, aponta como principais variáveis do macroambiente 73 itens

Page 81: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

81

agrupados em 8 categorias, o que torna evidentemente impraticável a avaliação de todos estes

itens de forma inteligível e integrada.

Por isso, procedeu-se a escolha das variáveis ambientais pertinentes no

macroambiente. A equipe de Planejamento Estratégico julgou relevante estudar variáveis

econômicas relacionadas a micro e pequenas empresas (mercado-alvo principal das empresas

juniores, responsável por 87% dos projetos realizados pelas mesmas em 2007), variáveis

políticas relacionadas ao governo (especialmente as referentes ao ensino superior, ambiente

onde as empresas juniores são constituídas e fisicamente instaladas) e variáveis sociais

referentes aos perfil dos estudantes de cursos de graduação. As fontes de dados incluíram

relatórios do SEBRAE, INEP e Ministério da Educação.

Desta análise foi gerado um relatório, utilizado para embasamento dos membros da

coalizão dominante formal e informal para as discussões ocorridas no Seminário de

Planejamento Estratégico. Os resultados são demasiados extensos para reprodução integral,

sendo aqui apresentadas apenas as principais conclusões, oportunidades e ameaças

identificadas.

Micro e pequenas empresas

Correspondem a 99% do contingente de empresas do Brasil, além de serem

responsáveis pela empregabilidade de 67% dos brasileiros e responsáveis por 20% do Produto

Interno Bruto (PIB). Mais de 50% delas encerram suas atividades em até quatro anos, e

apenas 14% dos empresários deste segmento possuem formação superior, o que

conseqüentemente gera uma oportunidade de mercado as empresas que vendem conhecimento

(como as empresas juniores). Ainda, 49% dos pequenos empresários acreditam que o

principal fator de sucesso das micro e pequenas empresas decorre do conhecimento de

mercado.

Conclusão geral: ambiente altamente favorável às empresas juniores, por

preencherem uma lacuna fundamental disponibilizando serviços de apoio à gestão com custos

acessíveis. Ainda, pode-se observar que a estrutura de representação do segmento se

assemelha em muito ao da Rede Brasil Júnior, havendo possibilidade de parcerias com

organizações como COMICRO.

Page 82: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

82

Ensino superior

A distribuição de empresas juniores entre as regiões brasileiras não segue a mesma

proporção da distribuição de IES nessas regiões; por exemplo, a região Norte tem 7,1% do

total de Universidades do Brasil e apenas 0,3% de empresas juniores presentes na mesma

região. Ainda, embora 92,5% das faculdades sejam de Instituições de Ensino Superior

privadas, apenas 9,12% das empresas juniores estão vinculadas a instituições deste tipo.

Desde 1995, o governo brasileiro tem intensificado os esforços com vistas à avaliação dos

cursos de graduação. A condição sócio-econômica da média dos empresários juniores é bem

superior à da média dos alunos de graduação.

Conclusão geral: há ampla margem de expansão para o Movimento Empresa Júnior,

principalmente na região Norte e entre instituições de ensino superior de direito privado. A

classificação da empresa júnior como item de agregação de valor na avaliação dos cursos de

graduação é uma oportunidade para aumentar o apoio oferecido pelas instituições de ensino

de todos os tipos (públicos ou privados) às mesmas. A condição de trabalho voluntário das

empresas juniores é uma ameaça à sua expansão, uma vez que elimina a possibilidade para

muitos alunos sem condições de cursarem em uma escola de ensino superior sem uma

atividade remunerada.

4.4.3.2 Análise do ambiente operacional

A análise do ambiente operacional ocorreu durante o Seminário de Planejamento

Estratégico. Primeiramente os participantes selecionaram os principais stakeholders da Rede

Brasil Júnior. Após isso, procedeu-se a análise sobre os mesmos em dois aspectos: (i) de qual

o reconhecimento buscado pela Rede Brasil Júnior e (ii) qual o benefício associado a esse

reconhecimento. Os resultados são apresentados nos Quadro 4.

Page 83: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

83

QUADRO 4 – Análise de stakeholders.

Fonte: elaborado pelo autor.

Finalizada a análise de cada um dos stakeholders, esses foram segmentados em dois

grandes grupos, a fim de servir como input para a definição das Diretrizes Compartilhadas

(etapas 4 e 5), Diretrizes estratégicas (etapa 9) e Objetivos Externos (10.1):

Grupo A (Instituições de Ensino Superior, Poder Público e Entidades de Classe): esses

stakeholders são chaves, na medida em que seu reconhecimento forma na regulamentação do

Movimento no Brasil (um dos principais gargalos atuais para seu progresso). Os principais

Page 84: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

84

benefícios desse reconhecimento são a garantia de perenidade do movimento e sua

conformidade ao Conceito Nacional de Empresas Juniores.

Grupo B (Micro e Pequenas Empresas e Médias e Grandes Empresas): esses

stakeholders se caracterizam por terem interesse nos benefícios diretos de associação com a

rede. Com relação às MPEs, os benefícios auferidos são a geração de negócios para as

empresas juniores, em troca de serviços de consultoria e projetos técnicos de qualidade. Já

pelas MGEs, o reconhecimento gera financiamento das atividades das federações e Brasil

Júnior, credibilidade institucional perante demais stakeholders, aumento na geração de

resultados por meio de transferência de conhecimento e suporte à gestão, em troca de

fornecimento de jovens profissionais diferenciados.

4.4.3.3 Análise do ambiente interno

A análise do ambiente interno se dividiu em três tópicos: (i) empresas juniores; (ii)

federações; (iii) Brasil Júnior. Nela buscou-se identificar os principais pontos fracos e fortes

generalizados em cada um desses grupos de atores da rede, a fim de servir como input para a

definição das Diretrizes Compartilhadas (etapas 4 e 5), Macro-Objetivos (etapa 9), Objetivos

Externos (10.1) e Internos (10.2).

Empresas juniores

Para a análise no nível das empresas juniores a principal fonte de dados utilizada foi o

resultado geral Sistema de Mensuração de Desempenho de Empresas Juniores – SMD EJs –

referente ao período de Julho e Dezembro de 2008.

O SMD EJs foi desenvolvido em 2008 pela Diretoria de Desenvolvimento da Brasil

Júnior para avaliar o desempenho das empresas juniores confederadas nas seguintes

perspectivas: Estratégica, Mercado, MEJ, Financeira, Pessoas, Sociedade e Projetos. Em

conjunto, são 19 indicadores que avaliam o nível de desempenho dos processos e resultados

referentes a cada uma destas perspectivas e que, traduzidos em uma pontuação, fornecem um

panorama de desempenho geral da empresa júnior avaliada (conforme os pesos definidos na

Figura 18).

Page 85: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

85

Figura 18 - Perspectivas e pesos do SMD EJs.

Fonte: documentos da organização.

Pontos fortes:

• Ampla participação no Movimento Empresa Júnior;

• Parcerias estabelecidas com organizações externas;

• Práticas de responsabilidade sócio-ambiental fortemente difundidas.

Pontos fracos:

• Dificuldade de manter conformidade com as exigências jurídicas mínimas;

• Falta de orientação para resultados;

• Baixo conhecimento sobre o mercado e atuação passiva perante o mesmo;

• Excesso de técnicas e recursos empregados na gestão interna.

Federações

A análise das federações por meio do Sistema de Mensuração do Desempenho de

Federações – SMD Federações. O SMD Federações igualmente foi desenvolvido em 2008

pela Diretoria de Desenvolvimento e tem como objetivo avaliar o desempenho das federações

no cumprimento das suas cinco funções e na sua gestão interna. Ele avalia tanto o

desempenho dos resultados obtidos quanto os processos gerenciais associados aos mesmos,

por meio de indicadores qualitativos e quantitativos, que são traduzidos em medidas

quantitativas equivalentes. Com os resultados da coleta referente a 2009, chegou-se às

seguintes conclusões:

Page 86: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

86

Pontos fortes:

Integração: são realizados eventos periódicos que promovem a troca de informações e

integração das empresas juniores. Existe cooperação e repasse de conhecimento entre as

empresas juniores federadas, muitas vezes contribuindo para o desenvolvimento das demais

empresas juniores do estado.

Pontos médios:

Gestão interna: poucas federações têm seus processos críticos mapeados; não há melhoria

contínua dos processos; as práticas são alinhadas a estratégia, mas não são inter-relacionadas.

Representação: as federações possuem parcerias que contribuem para o desenvolvimento das

empresas juniores, bem como formas de interação com os stakeholders. Entretanto estas

práticas não são continuadas.

Pontos fracos:

Fomento e orientação: as federações apenas orientam os alunos que as procuram, e nem

todas acompanham o desenvolvimento inicial. Não existem práticas estruturadas e contínuas

de incentivo a abertura de EJs.

Suporte e alinhamento: são identificadas as necessidades específicas das empresas juniores e

em muitas federações consegue-se definir os pontos a serem melhorados. Contudo, os

objetivos estratégicos não são disseminados de forma clara e não há um alinhamento em torno

deles.

Regulamentação: o processo de federação possui critérios definidos e os requisitos do Selo

Brasil Júnior são obrigatórios. Nenhuma federação, com exceção de uma, agrega mais do que

40% das empresas juniores totais do estado.

Page 87: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

87

Brasil Júnior

Pelo escopo reduzido em relação aos demais níveis de análise interna da rede, a análise

interna da Brasil Júnior levou em conta aspectos mais específicos da gestão, estrutura,

processos e cultura da mesma. A análise foi estruturada sobre os seguintes pontos, com base

no modelo proposto por Stevenson (1982):

Categoria geral Atributos incluídos

Organização

Estrutura organizacional

Interesse e habilitação da cúpula

Procedimentos-padrão de operação

Sistema de controle

Sistema de planejamento

Recursos humanos

Atitude dos membros da força de trabalho

Capacitação técnica

Experiência

Número de pessoas na força de trabalho

Finanças

Porte financeiro

Grau de independência financeira

Sustentabilidade

QUADRO 5 – Categorias e atributos da análise interna da Brasil Júnior.

Fonte: elaborado pelo autor.

Pontos fortes:

• Coalizão dominante formal integrada e consciente do seu papel da organização;

• Diretoria Executiva qualificada para conduzir as equipes;

• Clima de cooperação e apoio;

• Reputação/atratividade perante empresários juniores (futuros membros em potencial).

Pontos fracos:

• Estrutura organizacional inchada e excessivamente departamentalizada no núcleo

operacional;

• Comunicação interna lenta e com muitos ruídos;

• Falta de um processo estruturado de seleção e desenvolvimento de pessoas;

Page 88: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

88

• Baixo grau de consolidação dos projetos em processos;

• Baixo grau de refinamento sobre as práticas de gestão;

• Insuficiência de recursos físicos e financeiros.

4.4.4 Diretrizes compartilhas – empresas juniores

As diretrizes compartilhadas são desafios que deverão direcionar as metas e ações dos

grupos de atores participantes na rede. São insumos a serem utilizados na formulação das

estratégias destas organizações, bem como sinalizadoras daquilo que deve ser monitorado

pela Brasil Júnior para que se garanta excelência nos resultados atingidos para a rede como

um todo.

As diretrizes compartilhadas para as empresas juniores foram definidas durante o

Seminário de Planejamento Estratégico com base nos pontos fortes e pontos fracos mapeados

na etapa 3.3 e na análise de stakeholders efetuada na etapa 3.2. As diretrizes compartilhadas

no nível das empresas juniores foram:

1. Estar em conformidade com os critérios mínimos de qualidade do Selo Brasil Júnior;

2. Ter foco em resultados e buscar excelência nos serviços;

3. Aumentar o conhecimento sobre o mercado e ter ações proativas frente ao mesmo;

4. Obter reconhecimento da Universidade e participar na elaboração de suas políticas.

4.4.5 Diretrizes compartilhadas – federações

No nível das federações, as diretrizes compartilhadas refletem desafios que deverão

direcionar as metas e ações das mesmas em direção às necessidades das empresas juniores e

da rede como um todo. Elas foram definidas durante o Seminário de Planejamento Estratégico

com base nos pontos fortes e fracos mapeados na etapa 3.3, na análise de stakeholders

efetuada na etapa 3.2 e nas diretrizes compartilhadas para as empresas juniores estabelecidas

na etapa 4.4.3. As diretrizes compartilhadas no nível das federações foram:

1. Expandir a rede de empresas juniores federadas nos estados

2. Aumentar a visibilidade do MEJ perante a mídia e demais partes relevantes

3. Promover alinhamento e obter legitimidade do MEJ regional

Page 89: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

89

4. Criar sentimento de paixão pelo Movimento e reconhecimento de suas instâncias

representativas (federações e confederação)

Finalizada a definição de diretrizes compartilhadas, passou-se às etapas referentes à

dimensão organizacional do planejamento estratégico.

4.4.6 Missão da Brasil Júnior

A missão é a pedra angular da organização, aquilo que define o que ela realmente é.

Deve traduzir determinado sistema de valores em termos de áreas básicas de atuação,

considerando as tradições e filosofias. Sua declaração deve satisfazer alguns critérios para que

contribua efetivamente ao processo de formulação estratégica (OLIVEIRA, 1993, p. 111):

Suficientemente empreendedora para que exerça impacto sobre o comportamento

organizacional;

Mais focalizada no sentido de satisfazer as necessidades do cliente, do que nas

características do produto ou serviço;

Capaz de refletir as competências essenciais da empresa;

Compreensível a todos os que devem agir em acordo com ela.

Para que atenda a estes requisitos, a missão pode ser definida em termos que responda

as quatro perguntas básicas elencadas:

5) O que a organização faz?

6) Como ela faz?

7) Onde ela faz?

8) Com qual responsabilidade (ou finalidade) social ela faz?

A definição da missão ocorreu a partir das discussões efetuadas no Seminário de

Planejamento Estratégico, com base na finalidade social compartilhada definida na etapa 1, na

visão compartilhada definida na etapa 2 e nas análises efetuadas na etapa 3. A declaração de

missão construída foi:

Page 90: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

90

“Representar o MEJ brasileiro e potencializá-lo como agente de formação de

empreendedores capazes de transformar o país”

Também foi acordado com a coalizão dominante formal que a missão deve estar,

sempre que possível, acompanhada de um texto que a explique, para que seja plenamente

compreendida.

4.4.7 Visão da Brasil Júnior

A visão é um estado de futuro almejado pela organização, que cria um hiato em

relação ao status quo e gera tensão criativa nos indivíduos e grupos da mesma. Deve

combinar aspiração (possibilidade objetiva de ser alcançada) e inspiração (representar um

desafio que motiva as pessoas responsáveis pelo seu cumprimento), servindo como uma

bússola que provê senso de direção no longo prazo.

No âmbito da Brasil Júnior, a visão tem um horizonte temporal definido (três anos) e

pode ser entendida como um quadro que representa propósitos globais enquadrados nesta

referência temporal. Foi definida a partir das discussões realizadas durante o Seminário de

Planejamento Estratégico, com base na visão interorganizacional compartilhada definida na

etapa 2:

“Fortalecer a marca Empresa Júnior, por meio da sua regulamentação e ampla divulgação

para a Sociedade”

4.4.8 Valores da Brasil Júnior

Os valores da organização refletem um sistema de crenças compartilhadas pelos seus

membros que a distingue de outras organizações. Este sistema é algo que é intangível, mas ao

mesmo tempo real, que tem como principal característica seu potencial unificador. Liga o

indivíduo à organização, gerando um “sentimento de propósito”, com efeito, uma plena

integração entre as metas individuais e empresariais capaz de gerar sinergia.

Quando claramente definidos e compreendidos, os valores ajudam a organização a agir

rapidamente na ocorrência de situações não esperadas. Contrariamente, quando mal

compreendidos ou inexistentes, prevalecem os valores individuais, exigindo da organização

Page 91: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

91

rígidos sistemas de controle formal para garantir que os propósitos organizacionais sejam

zelados. Cria-se espaço para disputas de poder, jogos de interesse e desarticulação de ações.

Os valores organizacionais da Brasil Júnior foram definidos a partir das discussões

realizadas durante o Seminário de Planejamento Estratégico, e tiveram como base a missão

estabelecida na etapa 6 e a percepção da coalizão dominante. A declaração de valores definida

foi:

Compromisso com resultados. Buscamos gerar valor para nossas partes interessadas e nos

comprometemos com a superação das suas expectativas, de forma perene.

Sinergia. Somos unidos por visões compartilhadas e trabalhamos em cooperação, para fazer

com que o conjunto de nossas forças seja maior que a soma de suas partes.

Postura empreendedora. Para formar empreendedores, é necessário que sejamos

empreendedores. Inconformismo, visão para oportunidades, pensamento inovador e

capacidade de empreender são características que nos definem.

Transparência. Somos transparentes em todas as nossas ações, acertadas ou erradas. Temos

plena consciência que um futuro melhor se faz com ética e compromisso com a verdade.

Orgulho de ser MEJ. Somos apaixonados pelo nosso trabalho e trabalhamos pelo que nos

apaixona. Nosso orgulho de ser júnior é o que nos faz “gigantes pela própria natureza”.

4.4.9 Diretrizes estratégicas

Assim como foram definidas diretrizes a serem compartilhadas pelas empresas

juniores e federações, também foram definidas diretrizes estratégicas para a Brasil Júnior,

utilizando o mesmo conceito: desafios que deverão direcionar as metas e ações da

confederação para atender as necessidades das empresas juniores e federações, considerando

o contexto ambiental total.

As diretrizes estratégicas da Brasil Júnior foram definidas a partir das discussões

realizadas durante o Seminário de Planejamento Estratégico, tendo como insumos as análises

ambientais (etapa 3), as diretrizes estratégicas definidas para as empresas juniores (etapa 4) e

Page 92: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

92

para as federações (etapa 5), a missão (etapa 6) e visão (etapa 7). As diretrizes estratégicas

definidas foram:

1. Fortalecer a marcar EJ na sociedade

2. Regulamentar o Movimento Empresa Júnior nacional

3. Ampliar a rede de atuação (federações e Ejs associadas) da confederação

4. Promover alinhamento e obter legitimidade do MEJ nacional

A partir das diretrizes estratégicas, partiu-se para o estabelecimento de objetivos

estratégicos.

4.4.10 Objetivos estratégicos

Os objetivos estratégicos são declarações qualitativas dos resultados globais a serem

alcançados pela organização. Devem traduzir a missão e a visão em termos mais operacionais,

de modo que as pessoas compreendam com clareza a relação entre as suas atividades e os

resultados finais esperados pela organização, promovendo coesão tática nos diversos níveis

hierárquicos. Para que sejam eficientes direcionadores de ação nos mais diversos níveis, os

objetivos devem ser, sempre que possível:

• Claramente postulados;

• Facilmente compreendidos;

• Exeqüíveis;

• Mensuráveis;

• Mutuamente consistentes.

Para facilitar a compreensão dos objetivos estratégicos, Kaplan e Norton (2003)

sugerem que seja construído um mapa estratégico. Para os autores, os mapas estratégicos

ajudam as organizações a ver sua estratégia de maneira coesa, integrada e sistemática. Além

de simples compreensão, ainda constroem os alicerces do sistema gerencial para a

implementação eficiente e eficaz.

Na Brasil Júnior, buscou-se diferenciar os objetivos em dois principais tipos: externos

(aqueles vinculados diretamente com as diretrizes estratégicas estabelecidas a partir da visão e

da missão) e internos (relativos a processos, estrutura e pessoas da organização, que servem

Page 93: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

93

como base para o cumprimento dos objetivos externos). Ainda, um objetivo pode ser

desdobrado em sub-objetivos que traduzem os resultados esperados sobre o mesmo. Seguem

os procedimentos e resultados:

4.4.10.1 Objetivos externos

Os objetivos externos foram definidos a partir das discussões realizadas no Seminário

de Planejamento Estratégico. Estão mais relacionadas às necessidades das federações,

empresas juniores e demais partes interessadas, e foram estabelecidos com base na análise

ambiental (etapa 3), missão (etapa 6), visão (etapa 7), valores (etapa 8) e (principalmente)

diretrizes estratégicas (etapa 9). Considerando-se que a proposta de planejamento estratégico

contempla não somente as ações relacionadas ao trabalho direto da Brasil Júnior, mas também

as ações desempenhadas pelas federações junto às empresas juniores, os objetivos externos

foram classificados em dois tipos: diretos (aqueles cujos resultados advêm de esforços

empreendidos diretamente pela equipe executiva da Brasil Júnior, utilizando recursos

próprios) e compartilhados (aqueles cujos resultados advêm de esforços empreendidos pelas

federações e empresas juniores, apenas monitorados pela Brasil Júnior em relação às metas

estabelecidas).

Figura 19 – Relação de atuação estratégica Brasil Júnior → federações → empresas juniores.

Fonte: elaborado pelo autor.

A relação de objetivos externos pode ser observada na Figura 20.

Page 94: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

94

4.4.10.2 Objetivos internos

Os objetivos internos foram definidos pela equipe de Planejamento Estratégico, com

base nos objetivos externos devidos durante a etapa 10.1 e com base na análise de ambiente

interno da etapa 3.3 e validados pela coalizão dominante formal por meio do fórum virtual.

Eles traduzem requisitos de desempenho referentes aos processos, pessoas, estrutura e

recursos da Brasil Júnior, a fim de que os objetivos externos sejam atingidos. A relação de

objetivos internos pode ser observada na Figura 20.

Page 95: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

95

Figura 20 – Mapa estratégico da Brasil Júnior.

Fonte: elaborado pelo autor.

Page 96: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

96

4.4.11 Controle do desempenho estratégico

O sistema de controle provê informações úteis para a tomada de decisão em nível

estratégico, tático e operacional. Essas informações indicam, a partir de medições de

resultados tomadas ao longo do tempo, o nível de desempenho (êxito, performance, sucesso)

que a organização tem em realizar o que foi planejado (FUNDAÇÃO NACIONAL DA

QUALIDADE, 2008).

Avaliar o desempenho organizacional consiste em atribuir valor àquilo que a

organização considera relevante, em relação aos seus objetivos estratégicos, caracterizando

em que nível ela própria se encontra, com vistas à promoção de ações de melhoria. Na Brasil

Júnior, buscou-se desenvolver um sistema de avaliação e controle do desempenho com o qual

pudesse: (i) mensurar os resultados a partir dos objetivos postulados; (ii) estabelecer metas

para os objetivos diretos; (iii) estabelecer com as federações metas para os objetivos

compartilhados, de modo democrático e participativo; (iv) controlar o nível de desempenho

em relação às metas estabelecidas.

4.4.11.1 Indicadores estratégicos

A definição de indicadores de desempenho para a avaliação da implementação das

estratégias propicia elementos para o gerenciamento do seu progresso com base em fatos. Os

indicadores foram desdobrados diretamente dos objetivos, sendo que cada um dos objetivos

postulados possui ao menos um indicador para avaliar o nível de desempenho em relação ao

seu cumprimento.

A Fundação Nacional da Qualidade (2008) recomenda que os indicadores atendam aos

seguintes requisitos: (i) relevância, (ii) acessibilidade, (iii) objetividade e (iv)

comparabilidade. A relevância é pré-requisito indispensável, garantida pela vinculação

explícita de cada um dos indicadores aos objetivos estabelecidos. A acessibilidade foi

garantida pela utilização de indicadores cujas fontes advêm de sistemas gerenciais da própria

organização ou levantamentos feitos pela mesma junto as empresas juniores e federações. A

objetividade foi buscada sempre que possível; quando não se pôde chegar a indicadores

quantitativos diretos, utilizou-se medidas indiretas, conforme recomendam Boseman, Phatak e

Schellenberger (1986). Quando nem mesmo as medidas quantitativas indiretas foram

possíveis, as metas foram postuladas qualitativamente, de modo claro e compreensível.

Devido à característica peculiar da Brasil Júnior, como única confederação brasileira de

Page 97: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

97

empresas juniores, e à inexistência de referenciais comparativos para a maioria dos resultados

estratégicos relacionados ao seu negócio de atuação, não foi utilizado o critério de

comparabilidade na escolha dos indicadores. Posteriormente podem ser estudadas

possibilidades de comparação com confederações européias de empresas juniores, como a

CNJE (França) e BSDU (Alemanha).

Os indicadores estratégicos foram definidos pela Equipe de Planejamento Estratégico,

com base nos objetivos estratégicos definidos na etapa 10, e validados pela coalizão

dominante por meio do fórum virtual. A ficha de registro do indicador indica o objetivo ao

qual está vinculado, sua fórmula, seu processo de coleta e fontes de dados, as dificuldades

associadas à coleta e ações para superá-las, periodicidade de análise, responsável pela coleta,

monitoramente e cumprimento das metas estabelecidas, conforme pode ser observado na

Figura 21.

Figura 21 – Ficha de registro do indicador estratégico “R$ Captados”.

Fonte: elaborado pelo autor.

4.4.11.2 Estabelecimento de metas

Tradicionalmente, o termo “meta” é utilizado para designar a quantificação, com

prazos definidos, dos objetivos estabelecidos, cujo cumprimento exige esforço, ou seja,

alteração do status quo (OLIVEIRA, 1993). As metas devem estar relacionadas aos

indicadores de desempenho construídos para avaliar o cumprimento dos objetivos e serem

estabelecidas sobre informações factuais e coerentes, como desempenho histórico,

Page 98: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

98

desempenho de concorrentes, oportunidades e ameaças. Também, sua qualidade como

instrumento de motivação está intimamente relacionada com os seguintes fatores:

• As metas devem ser desafiadoras. Seu cumprimento exige esforço e tensão criativa por

todas as pessoas, equipes e áreas responsáveis pelo seu cumprimento;

• As metas devem ser exeqüíveis. Seu cumprimento deve ser percebido como

possibilidade real pelos membros da organização, caso contrário perdem crédito como

instrumentos de motivação;

• As metas devem refletir prioridades. O nível de exigência estabelecido para cada uma

das metas deve estar alinhado com as prioridades estratégicas escolhidas pelos

tomadores de decisão;

• As metas devem dirigir recursos. As metas auxiliam a alocação de recursos eficiente,

em consideração com as prioridades estratégicas definidas.

Devido à limitação da pesquisa, apresentadas no capítulo 3, não foram efetivamente

estabelecidas metas sobre os objetivos estratégicos, nas dimensões compartilhada e

organizacional. Apresenta-se apenas a proposta de processo de estabelecimento de metas, a

ser executado nos meses de Novembro de 2009 a Fevereiro de 2010.

Metas sobre os objetivos diretos: as metas sobre os objetivos diretos serão estabelecidas de

acordo com o cronograma visualizado abaixo:

Atividade Início Fim

Proposta inicial de metas elaborada pela equipe do

Planejamento Estratégico junto à Diretoria Executiva. Esta

proposta terá como base as discussões realizadas durante o

Seminário de Planejamento Estratégico, e será efetuado em

reuniões virtuais com a Diretoria Executiva.

01/11/2009 13/11/2009

Discussão das metas com o Conselho Administrativo pelo

fórum virtual. 15/11/2009 20/11/2009

Aprovação final das metas pelo Conselho Administrativo,

em reunião virtual a ser realizada juntamente à equipe do

Planejamento Estratégico

23/11/2009

QUADRO 6– Cronograma de atividades para estabelecimento das metas diretas.

Fonte: elaborado pelo autor.

Page 99: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

99

Espera-se que, assim, possam balizar a elaboração dos planos táticos a serem

realizados pela equipe executiva da Brasil Júnior durante o ano 2010.

Metas sobre os objetivos compartilhados: para os objetivos classificados como

compartilhados, foi necessária a concepção de um processo alinhado com o enquadramento

da Brasil Júnior como coordenadora direta do trabalho das federações, em respeito à sua

independência. Deste modo, preconcebe-se que seja democrático e não imposto em qualquer

direção, mas sim negociado entre os diversos atores envolvidos.

Conforme pode ser observado no Quadro 3, a função de coordenação da Brasil Júnior

se aplica às federações, e estas têm função de coordenação em relação às empresas juniores.

Assim, a proposta é que as metas relacionadas às federações sejam negociadas com a Brasil

Júnior, e as metas relacionadas às empresas juniores sejam negociadas com as federações,

conforme pode ser visualizado na Figura 22:

Figura 22: Processo cíclico de estabelecimento de metas, feedback e controle.

Fonte: elaborado pelo autor.

Segundo Bazerman e Neale (1998), negociar racionalmente significa chegar ao melhor

acordo, e não aceitar um acordo qualquer. Não pode ser tratado como um processo unilateral,

onde uma das partes define os termos e resultados e a outra simplesmente aceita. Na

administração de redes interorganizacionais, a habilidade de negociação é uma competência

Page 100: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

100

fundamental, pois substitui a tomada de decisão autocrática característica dos sistemas

clássicos cheios de linhas de comando e autoridade.

Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampbel (2000), a formulação de estratégia pode ser um

processo de negociação entre indivíduos, grupos e coalizões. O planejamento estratégico não

é isento de valor ou interesse, especialmente quando desenvolvido em rede, onde os diversos

autores mantêm sua independência ao mesmo tempo em que se conectam de forma

colaborativa. Para os autores a política, entendida como um meio pelos quais as relações de

poder são mediadas, “pode assegurar que todos os lados de uma questão sejam plenamente

debatidas, ao passo que outros sistemas de influência podem promover somente um” (2000, p.

181). Neste caso, a questão em foco são as metas compartilhadas (fins legítimos) com as quais

as federações e empresas juniores vão se comprometer, em um processo negociado.

Assim, propõe-se que as metas sejam estabelecidas anualmente, de acordo com o

seguinte cronograma:

Atividade Início Fim

Com base nas informações obtidas pelo SMD Federações, a

equipe de Planejamento Estratégico cria uma proposta de

metas para cada uma das federações, sobre os objetivos

compartilhados.

01/11/2009 13/11/2009

Equipe de Planejamento Estratégico faz uma reunião com as

lideranças de cada uma das federações (membros da coalizão

dominante formal) a fim de identificar sua predisposição em

atingir as metas propostas. Recomendações são postas a

consenso e discussão.

16/11/2009 27/11/2009

Lideranças das federações levam para a revisão anual do

planejamento estratégico das suas federações as

recomendações discutidas com a equipe de Planejamento

Estratégico e consolidam as metas ajustadas.

30/11/2009 28/02/2010

As metas de cada uma das federações são agregadas em um

todo, que será gerenciado pela Diretoria Executiva da Brasil

Júnior.

01/03/2010

` QUADRO 7 – Cronograma de atividades para estabelecimento das metas compartilhadas.

Fonte: elaborado pelo autor.

Page 101: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

101

4.4.11.3 Processo de controle

Construídos os indicadores estratégicos e estabelecidas metas sobre os mesmos, cabe

aos gestores responsáveis pelo planejamento estratégico controlar o desempenho em relação

às metas estabelecidas. Controle refere-se ao processo gerencial de garantir que o desempenho

realizado se iguale ou supere ao desempenho planejado (STONER; FREEMAN, 1999). Um

sistema de controle eficaz deve permitir que:

• Se determine se o desempenho está de acordo com as metas;

• Sejam identificadas necessidade de ações corretivas durante o caminho;

• A mudança seja enfrentada;

• Criar ciclos de evolução maiores e mais rápidos, identificando oportunidades e

melhoria na qualidade dos processos e produtos.

Ainda, recomenda-se que seja utilizada a lei de Pareto (que afirma que em um grupo

de elementos os mais importantes são uma pequena porção do total), focando uma análise

mais aprofundada sobre aqueles poucos aspectos que, se melhorados, vão gerar substanciais

saltos de desempenho.

O processo de controle da Brasil Júnior foi proposto pela equipe de Planejamento

Estratégico com base na estrutura e cultura da organização, a partir da percepção do autor

(como liderança executiva no corpo diretivo). Ainda, considera o enquadramento em rede

desenvolvido e as relações de poder mapeadas nas etapas preliminares à construção do

modelo.

Processo de controle de metas diretas:

Responsabilidade: Presidente.

Mecanismo de controle: painel de indicadores estratégicos.

Processo de análise: a partir das informações levantadas por meio do painel de indicadores

estratégicos, o Presidente fará uma reunião virtual trimestral com a Diretoria Executiva, onde

serão discutidos os resultados obtidos até então e levantadas ações corretivas ou preventivas

para que as metas sejam cumpridas.

Principais outputs: decisões sobre ações corretivas ou preventivas.

Page 102: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

102

Processo de controle de metas compartilhadas:

Responsabilidade: Comissão de Gestão Estratégica (composta por Presidente, Presidente do

Conselho Administrativo e Diretor de Desenvolvimento).

Mecanismo de controle: SMD Federações.

Processo de análise: a partir das informações levantadas por meio do SMD Federações, a

Comissão fará uma reunião virtual semestral com cada uma das lideranças das federações

para discutir os resultados parciais obtidos e levantar ações corretivas e preventivas para que

as metas sejam cumpridas. Essa dinâmica de feedback e controle pode ser visualizada na

Figura 22.

Principais outputs: recomendações de ações corretivas ou preventivas.

É importante também que o resultados de todas as análise sejam disponibilizadas a

toda a coalizão dominante, respeitando o valor “transparência” e aumentando o grau de

compartilhamento de objetivos. Com estas medidas de controle propostas, espera-se que haja

efetivo acompanhamento do desempenho e garantir do cumprimento das metas estabelecidas

anualmente.

Page 103: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

103

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As novas formas organizacionais, impulsionadas pelos avanços tecnológicos nas áreas

de comunicação e informação, têm criado um novo paradigma social e econômico. A era da

competição baseada no conhecimento, preconizada por Peter Drucker, já começa a ser tornar

parte do passado, abrindo espaço para uma nova era: a do relacionamento.

O conhecimento, dentro desse novo paradigma, não deixa de ser recurso

indispensável; contudo perde o caráter diferencial e passa a ser elementar, devido ao acesso

facilitado às mais variadas fontes de informação. É a capacidade de articular esses

conhecimentos de maneira integrada com outras pessoas e organizações, em redes auto-

ajustadas por princípios de cooperação e reciprocidade, que vai criar o diferencial no século

XXI.

As novas formas organizacionais exigem igualmente novas formas de administrá-las.

Comando, hierarquia, poder formal saem gradativamente de cena para dar espaço ao diálogo,

à negociação e ao ajuste mútuo. Os administradores de redes horizontais têm o papel de

repensar os princípios da administração clássica, para formularem estratégias que vão

alavancar o potencial de sinergia e gerar novos níveis de desempenho inter e

intraorganizacional.

Neste contexto, a presente pesquisa foi desenvolvida conforme o objetivo geral

postulado, se propondo a desenvolver e implementar um novo processo de formulação e

controle das estratégias para uma coordenadora de rede horizontal de organizações do terceiro

setor, a Brasil Júnior, durante os meses de Março a Outubro de 2009. O planejamento

estratégico, já existente desde 2006 na Brasil Júnior, era considerado uma ferramenta

gerencial fundamental pela liderança da organização, contudo não adequada à sua

característica de rede. Com a finalidade de responder ao objetivo geral, considerações sobre

objetivos específicos desdobrados a partir do mesmo são aqui apresentadas.

A pesquisa fundamentou-se em elementos teóricos e empíricos, partindo

especialmente do pensamento de autores proeminentes na temática estratégia, como George

Steiner, Henry Mintzberg, James Brian Quinn (no cenário internacional), Djalma Pinho

Rebouças de Oliveira e Vasconcellos Filho (no cenário brasileiro) e na temática de redes

organizacionais, como Nitin Nohria, Alsones Balestrim, Lilian Maria Vargas e Alketa Peci.

A Brasil Júnior é a confederação brasileira de empresas juniores, criada em Agosto de

2003 para representar e potencializar o Movimento Empresa Júnior no país. Constituída por

uma rede de federações estaduais e empresas juniores confederadas, a Rede Brasil Júnior

Page 104: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

104

demonstrou fortes conexões laterais, permitindo aos atores fácil transposição de fronteiras na

busca de informações com outros atores participantes. Caracterizada como coordenadora

desta rede, a Brasil Júnior possui processo decisório democrático e participativo, envolvendo

diretamente as lideranças de cada uma das federações indiretamente as lideranças de cada

uma das empresas juniores.

A análise do sistema de formulação e controle de estratégias então implementado

demonstrou que este estava desalinhado com os requisitos necessários para a apropriada

administração da Brasil Júnior. Não considerava sua característica de rede organizacional,

nem buscava produzir estratégias integradas com as dos demais atores, gerando um

ostracismo gerencial limitador de resultados.

A partir da análise do planejamento estratégico vigente e do enquadramento

desenvolvido sob a ótica de rede, foi desenvolvido um novo modelo de planejamento

estratégico, organizado em duas dimensões (ou macro-etapas): (i) compartilhada, onde se

buscou desenvolver os referenciais comuns a todos os atores da rede em função de seus

objetivos gerais; e (ii) organizacional, onde se desenvolveu efetivamente o planejamento

estratégico da Brasil Júnior.

Uma vez aplicado o modelo gerou os referenciais comuns aos atores da rede e o

planejamento estratégico da Brasil Júnior em si (com missão, visão, valores, diretrizes,

objetivos, indicadores e método de controle) tendo como base análises ambientais e

levantamento de perspectiva estratégica com a coalizão dominante formal. O processo foi

realizado por meio de seminários onde toda a coalizão dominante formal e informal

participou, de modo democrático e explícito.

Por fim, pode-se concluir que o objetivo geral foi atendido, visto o cumprimento de

todos os objetivos específicos a ele vinculados. O novo processo de formulação e controle das

estratégias foi desenvolvido e implementado, considerando a realidade da Brasil Júnior como

integrante de uma rede interoganizacional horizontalizada.

5.1 RECOMENDAÇÕES

As próprias limitações da pesquisa, devido ao seu cronograma de aplicação, implicam

a elaboração de algumas recomendações, principalmente relacionadas ao processo de revisão

e redesenho do processo de planejamento estratégico e das estratégias produzidas a partir do

mesmo, bem como da influência dos resultados obtidos sobre os demais atores da Rede Brasil

Júnior.

Page 105: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

105

As estratégias não são estáticas. Segundo Quinn (1999), as estratégias podem ser

encaradas como afirmações a priori para orientar providências ou resultados a posteriori de

um comportamento decisório real. Dentro da relação das estratégias pretendidas e realizadas

apresentadas por Mintzberg, Ahlstrand e Lampbel (2000), o planejamento estratégico é um

instrumento gerencial que busca aproximar as estratégias realizadas das pretendidas, por meio

da consideração sistemática dos elementos concernentes à sua formulação. Embora o

planejamento estratégico formal enfatize a abordagem da estratégia como um processo

deliberado, consciente e estruturado, podem ser incorporados elementos que permitam aos

gestores introduzir a flexibilidade necessária para enfrentar as mudanças ambientais.

Deste modo, consideram-se válidas algumas das críticas ao planejamento estratégico,

feitas principalmente por Mintzberg (2004). Quando levado a termos similares ao proposto

por autores como Ansoff (1977) e Steiner (1979), com extensas listas de verificação

encadeadas em dezenas de procedimentos formais, o planejamento estratégico pode se tornar

realmente contraproducente à formulação da estratégia.

Durante a construção do modelo de formulação e controle das estratégias na Brasil

Júnior, buscou-se introduzir elementos de outras escolas de pensamento sobre a estratégia:

“idéias governantes” (escola empreendedora ou visionária), análise sistemática, (escola de

posicionamento), adaptação ao ambiente (escola ambiental), negociação de metas (escola do

poder), levantamento de perspectiva da liderança (escola cognitiva), tudo isso em um

processo dinâmico configurado de acordo com o contexto da organização (escola da

configuração). Ainda assim, a linha-mestre adotada para o desenvolvimento do processo foi a

da escola do planejamento.

Para atender às demandas ambientais, bem como utilizar ao máximo a capacidade de

aprendizado individual e coletivo da organização, como parte de uma rede em que pode

aproveitar os conhecimentos dos demais atores nela participantes, faz-se algumas

recomendações ainda incipientes sobre o processo de revisão da estratégia formal para

adequar-lhe às estratégias emergentes que provavelmente surgirão com a execução

(característica predominante na escola do aprendizado).

Para Oliveira (1993), as revisões do planejamento estratégico podem ser ocasionais

(quando os responsáveis pela tomada de decisão estratégica julgarem que as mudanças no

ambiente externo ou interno invalidam as premissas do planejamento estratégico) ou

periódicas (requerem um sistema mais acurado de acompanhamento da realidade). A

exclusividade na segunda maneira denota uma visão centrada na concepção da estratégia

como um processo exclusivamente deliberado e na crença na estabilidade do ambiente.

Page 106: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

106

Mintzberg (2004) é enfático na sua crítica contra esse tipo de pensamento, e ilustra com um

exemplo: todo o processo de planejamento estratégico de uma empresa é calculado em etapas

firmemente conectadas, para produzir as estratégias o dia 14 de Julho; contudo, o que ocorre

quanto um concorrente inicia uma nova manobra competitiva no dia 15? Essa problemática

está relacionada à dualidade própria do processo de formulação de estratégias: embora o

processo de geração de estratégias possa se dispor a mudar a direção na qual a organização

está indo, as estratégias resultantes estabilizam essa direção (MINTZBERG; AHLSTRAND;

LAMPBEL, 2000).

A revisão ocasional é, como o próprio nome indica, condicionada por uma ocasião,

não necessariamente esperada pela organização. Assim, torna-se difícil elaborar

recomendações específicas sobre um processo para identificar o momento da revisão não-

planejada, mas pode-se dizer que é imperativa a existência de alguns elementos como: a

atenção continuada às oportunidades e ameaças do ambiente, a utilização do conhecimento

tácito dos membros em todos os níveis hierárquicos para a construção de planos de ação, a

socialização deste conhecimento tácito entre os membros de diferentes áreas para a criação de

novas competências, a difusão dos referenciais estratégicos (missão, visão, valores e

objetivos) e a tomada de decisão democrática.

Para a revisão periódica, recomenda-se que se criem espaços consistentes de confronto

de idéias, analise-se sistematicamente o ambiente total, criem-se novas formas de coleta e

análise das informações deste ambiente, utilizem-se os resultados do desempenho obtido

sobre os objetivos estabelecidos, busque manter o envolvimento ativo da coalizão dominante

formal e informal e consolide o modelo de desenvolvimento de metas negociadas

democraticamente.

Ainda, dada as limitações do estudo, sugere-se que sejam feitas pesquisas

complementares a fim de analisar a influência da difusão dos referenciais estratégicos

compartilhados para a formulação de estratégicas específicas das empresas juniores e

federações confederadas, de modo a compreender a real validade do estudo em sua aplicação

interorganizacional.

A construção do saber científico se dá pela contestação do status quo. A qualidade da

pesquisa científica pode se medir tanto pelos resultados práticos gerados quanto pela sua

capacidade de abrir caminho para novos estudos. Assim estima-se que esta pesquisa tenha

cumprido um importante papel acadêmico de instigar futuros estudos a abordar o tema de

planejamento estratégico em redes horizontais e utilizar o Movimento Empresa Júnior como

objeto de estudo.

Page 107: Planejamento estratégico em rede criação e aplicação de um modelo na Brasil Júnior

107

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APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semi-estruturada.

Roteiro de Entrevista para Análise de Perspectiva Estratégica – Conselheiros

Diretoria de Presidência

Coordenação: Planejamento Estratégico

Projeto: Reformulação Estratégica

Objetivo geral

Avaliar a perspectiva dos Conselheiros da Brasil Júnior sobre o futuro do MEJ e sua atuação

na sociedade.

Roteiro de entrevista

Avaliação quanto à missão do MEJ

- Para você, qual é o propósito de existência do Movimento Empresa Júnior?

Avaliação quanto ao futuro do MEJ

- Como você acredita que o MEJ deveria estar nos próximos 3 anos? E nos próximos 10

anos?

- Você considera que nossa estratégia atual, como Confederação, está levando a este

caminho? O que poderia ser mais bem direcionado?