planejamento de canteiro de obras e gestão de processos

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Recomendaes Tcnicas HABITAREVolume 3

Planejamento de Canteiros de Obra e Gesto de Processos

Tarcisio Abreu Saurin Carlos Torres FormosoPorto Alegre 2006

2006, Recomendaes Tcnicas HABITARE Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo - ANTAC Av. Osvaldo Aranha, 99 - 3 andar - Centro 90035-190 - Porto Alegre - RS Telefone (51) 3316-4084 Fax (51) 3316-4054 http://www.antac.org.br/ Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Presidente Odilon Antonio Marcuzzo do Canto Diretoria de Inovao para o Desenvolvimento Econmico e Social Eliane de Britto Bahruth Diretoria de Administrao e Finana Fernando de Nielander Ribeiro Diretoria de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico Carlos Alberto Arago Carvalho Filho Grupo Coordenador Programa HABITARE Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Caixa Econmica Federal - CAIXA Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - CNPq Ministrio da Cincia e Tecnologia - MCT Ministrio das Cidades Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo - ANTAC Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SEBRAE Comit Brasileiro da Construo Civil da Associao Brasileira de Normas Tcnicas COBRACON/ABNT Cmara Brasileira da Indstria da Construo CBIC Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional ANPUR Apoio Financeiro Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Caixa Econmica Federal - CAIXA

Editores da Srie Recomendaes Tcnicas HABITARE Roberto Lamberts - UFSC Carlos Sartor - FINEP Equipe Programa HABITARE Ana Maria de Souza Angela Mazzini Silva Apoio Institucional Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Autores do Volume 3 Tarcisio Abreu Saurin Carlos Torres Formoso Texto da capa Arley Reis Reviso Fabrcio Borges Cambraia Projeto grfico Regina lvares Editorao eletrnica Amanda Vivan Imagens da capa Blackred, Yali Shi e Carmen Martinez Bans Imagens do sumrio Blackred, Christine Gonsalves, Bulent Ince e Yali Shi Fotolitos, impresso e distribuio Prolivros Ltda. www.prolivros.com.br

Catalogao na Publicao (CIP). Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo (ANTAC).

P7121

Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos / Tarcisio Abreu Saurin [e] Carlos Torres Formoso. Porto Alegre : ANTAC, 2006. (Recomendaes Tcnicas HABITARE, v. 3) 112 p. ISBN 85-89478-17-3 1. Canteiro de obras. 2. Gesto de processos. I. Saurin, Tarcsio Abreu. II. Formoso, Carlos Torres. III Srie. CDU - 728.222

Sumrio

Lista de figuras e quadros ___________________________________________ 4 Apresentao _______________________________________________________ 6 1. Consideraes iniciais _____________________________________________ 11 2. Conceitos bsicos _________________________________________________ 15 2.1. Definio de planejamento de canteiros __________________________________ 15 2.2. Objetivos do planejamento de canteiros __________________________________ 16 2.3. Tipos de Canteiros _____________________________________________________ 17 3 O Processo de Planejamento de Canteiros de Obra __________________ 21 3.1 Diagnstico de canteiros de obra _________________________________________ 21 3.1.1 Lista de verificao __________________________________________________ 22 3.1.2 Elaborao de croquis do layout do canteiro ___________________________ 26 3.1.3 Registro fotogrfico __________________________________________________ 28 3.2 Padronizao ___________________________________________________________ 29 3.2.1 Benefcios da padronizao ___________________________________________ 29 3.2.2 Etapas da padronizao ______________________________________________ 32 3.3 Planejamento do canteiro ____________________________________________ 36 3.4 Programa de manuteno da organizao do canteiro ___________________ 42 4 Diretrizes para o Planejamento de Canteiros de Obra ________________ 49 4.1 Tipologia das instalaes provisrias _____________________________________ 49 4.1.1 Sistema tradicional racionalizado __________________________________________ 49 4.1.2 Containers ________________________________________________________________ 51 4.1.3 Exemplos de estratgias para implantao das instalaes provisrias ________ 53 4.2 Instalaes provisrias: reas de vivncia e de apoio _______________________ 55 4.2.1 Refeitrio ________________________________________________________________ 55 4.2.2 rea de lazer ______________________________________________________________ 57 4.2.3 Vestirio __________________________________________________________________ 58 4.2.4 Banheiros _________________________________________________________________ 61 4.2.5 Almoxarifado _____________________________________________________________ 63 4.2.6 Escritrio da obra _________________________________________________________ 66 4.2.7 Guarita do vigia e portaria _________________________________________________ 67 4.2.8 Planto de vendas _________________________________________________________ 68 4.3 Instalaes provisrias: acessos obra e tapumes __________________________ 69 4.4 Movimentao e armazenamento de materiais _____________________________ 73 4.4.1 Dimensionamento das instalaes __________________________________________ 73 4.4.2 Definio do layout das reas de armazenamento ___________________________ 75 4.4.3 Posto de produo de argamassa e concreto ________________________________ 77 4.4.4 Vias de circulao _________________________________________________________ 79 4.4.5 Disposio do entulho _____________________________________________________ 81

82 4.4.7 Armazenamento de blocos e tijolos ________________________________________ 84 4.4.8 Armazenamento de ao e armaduras _______________________________________ 86 4.4.9 Armazenamento de tubos de PVC __________________________________________ 88 4.5 Elevador de carga ______________________________________________________ 89 4.5.1 Localizao _______________________________________________________________ 89 4.5.2 Principais instalaes de segurana _________________________________________ 92 4.6 Elevador de passageiros ________________________________________________ 974.4.6 Armazenamento de cimento e agregados ___________________________________

5 Consideraes finais _______________________________________________ 99 Referncias bibliogrficas ____________________________________________ 100 Anexos _____________________________________________________________ 103

Lista de figuras e quadros FigurasFigura 3.1 Exemplo de requisitos definidos no checklist Figura 3.2 Resultados da aplicao do checklist em 40 canteiros no Rio Grande do Sul Figura 3.3 Exemplo de checklist para pr-dimensionamento das instalaes do canteiro Figura 3.4 Exemplo de cronograma de layout Figura 3.5 Exemplo de checklist para avaliao da limpeza do canteiro Figura 3.6 Exemplo de quadro de apresentao de resultados do Programa 5S cuja compreenso relativamente difcil Figura 3.7 Exemplo de quadro de apresentao de resultados do Programa 5S de fcil compreenso Figura 4.1 Containers empilhados, substituindo os barracos de chapas de compensado Figura 4.2 Evoluo dos custos de diferentes alternativas de implantao de instalaes provisrias Figura 4.3 Exemplo de fechamento e mesas para refeitrios em canteiros Figura 4.4 Exemplo de rea de lazer Figura 4.5 Quadro de controle de retirada e entrega de ferramentas Figura 4.6 Acesso coberto para entrada de pessoas na obra Figura 4.7 Descarga de agregados atravs de abertura na laje do subsolo Figura 4.8 Quadro indicador de traos Figura 4.9 Rampa para dosagem com carrinho dosador Figura 4.10 Improvisao nas vias de circulao de equipamentos Figura 4.11 Descarga de entulho com tubo coletor e disposio em caamba basculante Figura 4.12 Contenes laterais e lona de cobertura em baia de agregados Figura 4.13 Carrinhos porta-blocos

Figura 4.14 Exemplo de proteo em pontas verticais de ferragens Figura 4.15 Exemplo de proteo em pontas horizontais de ferragens Figura 4.16 Sentido de acesso das cargas na base da torre do guincho Figura 4.17 Exemplo de elevador de carga - cobertura, porta e contenes laterais Figura 4.18 Cancela de acesso plataforma do elevador Figura 4.19 Tubofone - junto ao guincheiro Figura 4.20 Tubofone - acesso nos pavimentos

QuadrosQuadro 2.1 Tipos de canteiro, adaptado de Illingworth (1993) Quadro 3.2 Exemplo de programao das etapas de padronizao de canteiros

Apresentao

Esta publicao um dos produtos do projeto intitulado Gesto da Qualidade na Construo Civil: estratgias e melhorias de processos em empresas de pequeno porte financiado pelo Programa de Tecnologia da Habitao (HABITARE), que coordenado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Este projeto foi desenvolvido pelo grupo de pesquisa em Gesto e Economia da Construo do Ncleo Orientado para a Inovao da Construo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NORIE/UFRGS). O objetivo geral do projeto consistiu em desenvolver um conjunto de mtodos e tcnicas adequados para a gesto da Qualidade, adequados s peculiaridades das empresas de construo civil, particularmente quelas de pequeno porte, visando elevao dos nveis de qualidade e produtividade do setor da Construo. O projeto foi desenvolvido em um perodo de 4 anos (de dezembro de 1996 a novembro de 2000), contando com a parceira 12 empresas do setor e apoio institucional dos Sindicatos da Indstria da Construo do Rio Grande do Sul (SINDUSCON-RS) e de Santa Maria (SINDUSCON-Santa Maria). Estiveram ainda envolvidos na realizao deste projeto um grupo de 35 professores e pesquisadores, entre doutores, mestres, especialistas e alunos dos cursos de graduao em engenharia civil e arquitetura. No mbito deste projeto, foram publicados 57 artigos em congressos e peridicos nacionais e internacionais, 12 dissertaes de mestrado e 4 teses de doutorado. O projeto foi dividido em 5 subprojetos, escolhidos com base nos principais problemas relacionados gesto da qualidade enfrentados por empresas da construo: (a) Subprojeto 1: Sistema de indicadores de qualidade produtividade e competitividade do setor da construo; (b) Subprojeto 2: Gesto da

qualidade na etapa de projeto; (c) Subprojeto 3: Formulao e implementao de estratgias de produo; (d) Subprojeto 4: Planejamento de canteiros de obras e gesto de processos; e (e) Subprojeto 5: Proposta de interveno no sistema de planejamento da produo de empresas da construo. Esta publicao resultado do Subprojeto 4: Planejamento de canteiros de obras e gesto de processos, publicada em sua verso preliminar em 2001. Esta pesquisa teve um importante papel de consolidao de uma linha pesquisa no NORIE voltada gesto de fluxos fsicos em canteiros de obras, que tem grande impacto na reduo de perdas de materiais. A ferramenta de avaliao de canteiros proposta neste trabalho tem sido amplamente utilizada em outros trabalhos de pesquisa e tambm por iniciativas de melhoria de processos em empresas do setor. A atualizao da publicao, realizada em 2005, buscou principalmente atualizar parte de seu contedo, tendo em vista as novas pesquisas desenvolvidas pelo NORIE/UFRGS, considerando as mudanas nos requisitos da norma NR 18.

12Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Consideraes iniciais

cursos, apresentando, em geral, desempenho inferior indstria de transformao. Um dos principais reflexos desta situao so os altos ndices de perdas de materiais, conforme constatado em estudos como os realizados por Soibelman (1993) e Pinto (1989). A mo-de-obra da construo com freqncia citada como a responsvel por este quadro de baixo desempenho, sendo comum rotular-se os operrios de displicentes ou incapazes. Entretanto, os operrios, muitas vezes, no sabem o que devem executar e no dispem dos adequados instrumentos e materiais de trabalho, ou mesmo de um local em boas condies para executar seus servios (HANDA, 1988). Assim, uma atitude simplista culpar a mo-de-obra pela ineficincia da construo, existindo diversos estudos que apontam a ausncia ou insuficincia de planejamento como uma das principais causas desta situao. O planejamento do canteiro, em particular, tem sido um dos aspectos mais negligenciados na indstria da construo, sendo que as decises13Consideraes iniciais

A

indstria da construo civil, em especial o subsetor edificaes, freqentemente citada como exemplo de setor atrasado, com baixos ndices de produtividade e elevados desperdcios de re-

so tomadas medida em que os problemas surgem no decorrer da execuo (HANDA, 1988). Em conseqncia, os canteiros de obras muitas vezes deixam a desejar em termos de organizao e segurana, fazendo com que, longe de criarem uma imagem positiva das empresas no mercado, recomendem distncia aos clientes. Apesar de as vantagens operacionais e econmicas de um eficiente planejamento de canteiro serem mais bvias em empreendimentos de maior porte e complexidade (RAD, 1983), ponto pacfico que um estudo criterioso do layout e da logstica do canteiro deve estar entre as primeiras aes para que sejam bem aproveitados todos os recursos materiais e humanos empregados na obra, qualquer que seja seu porte (SKOYLES; SKOYLES, 1987; TOMMELEIN, 1992; MATHEUS, 1993;

SOILBELMAN, 1993; SANTOS, 1995). Embora seja reconhecido que o planejamento do canteiro desempenha um papel fundamental na eficincia das operaes, cumprimento de prazos, custos e qualidade da construo, os gerentes geralmente aprendem a realizar tal atividade somente atravs da tentativa e erro, ao longo de muitos anos de trabalho (TOMMELEIN, 1992). Rad (1983) tambm concluiu que raramente existe um mtodo definido para o planejamento do canteiro, observando, em pesquisas junto a gerentes de obra, que os planos eram elaborados com base na experincia, no senso comum e na adaptao de projetos passados para as situaes atuais. Considerando a necessidade de que o planejamento de canteiro siga procedimentos estruturados, o presente trabalho apresenta um mtodo14Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

para o planejamento de canteiros de obra, incluindo diretrizes para a execuo de cada uma das etapas do processo de planejamento. O mtodo e as diretrizes de planejamento propostas, assim como a sua fundamentao terica encontram-se mais detalhadas na dissertao de mestrado de Saurin (1997).

15Consideraes iniciais

2.1 - Definio de planejamento de canteiros 2.2 - Objetivos do planejamento de canteiros 2.3 - Tipos de canteiros

16Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Conceitos bsicos

2.1 Definio de planejamento de canteiros

O

planejamento de um canteiro de obras pode ser definido como o planejamento do layout e da logstica das suas instalaes provisrias, instalaes de segurana e sistema de mo-

vimentao e armazenamento de materiais. O planejamento do layout envolve a definio do arranjo fsico de trabalhadores, materiais, equipamentos, reas de trabalho e de estocagem (FRANKENFELD, 1990). De outra parte, o planejamento logstico estabelece as condies de infra-estrutura para o desenvolvimento do processo produtivo, estabelecendo, por exemplo, as condies de armazenamento e transporte de cada material, a tipologia das instalaes provisrias, o mobilirio dos escritrios ou as instalaes de segurana de uma serra circular. De acordo com a definio adotada, considera-se que o planejamento de assuntos de segurana no trabalho no relacionados s protees fsicas, tais como o treinamento da mo-de-obra ou as anlises de riscos, no fazem parte da atividade planejamento de canteiro. Tal definio deve-se a complexidade e as particularidades do planejamento da segurana.17Conceitos bsicos

2.2 Objetivos do planejamento de canteiros O processo de planejamento do canteiro visa a obter a melhor utilizao do espao fsico disponvel, de forma a possibilitar que homens e mquinas trabalhem com segurana e eficincia, principalmente atravs da minimizao das movimentaes de materiais, componentes e mo-de-obra. Tommelein (1992) dividiu os mltiplos objetivos que um bom planejamento de canteiro deve atingir em duas categorias principais: (a) objetivos de alto nvel: promover operaes eficientes e seguras e manter alta a motivao dos empregados. No que diz respeito motivao dos operrios destaca-se a necessidade de fornecer boas condies ambientais de trabalho, tanto em termos de conforto como de segurana do trabalho. Ainda dentre os objetivos de alto nvel, pode ser acrescentada definio de Tommelein (1992) o cuidado com o aspecto visual do canteiro, que inclui a limpeza e impacto positivo perante funcionrios e clientes. No seria exagero afirmar que um cliente, na dvida entre dois apartamentos (de obras diferentes) que o satisfaam plenamente, decida comprar aquele do canteiro mais organizado, uma vez que este pode induzir uma maior confiana em relao a qualidade da obra; (b) objetivos de baixo nvel: minimizar distncias de transporte, minimizar tempos de movimentao de pessoal e materiais, minimizar manuseios de materiais e evitar obstrues ao movimento de materiais e equipamentos.18Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

2.3 Tipos de canteiro De acordo com Illingworth (1993), os canteiros de obra podem ser enquadrados dentro de um dos trs seguintes tipos: restritos, amplos e longos e estreitos. No Quadro 2.1 caracterizado cada um destes tipos.

Quadro 2.1 - Tipos de canteiro, adaptado de Illingworth (1993)

O primeiro tipo de canteiro (restrito) o mais freqente nas reas urbanas das cidades, especialmente nas reas centrais. Devido ao elevado custo dos terrenos nessas reas, as edificaes tendem a ocupar uma19Conceitos bsicos

alta percentagem do terreno em busca de maximizar sua rentabilidade. Em decorrncia disto, Illingworth (1993) afirma que os canteiros restritos so os que exigem mais cuidados no planejamento, devendo-se seguir uma abordagem criteriosa para tal tarefa. Illingworth (1993) destaca duas regras fundamentais que sempre devem ser seguidas no planejamento de canteiros restritos: (a) sempre atacar primeiro a fronteira mais difcil; (b) criar espaos utilizveis no nvel do trreo to cedo quanto possvel. A primeira regra recomenda que a obra inicie a partir da divisa mais problemtica do canteiro. O principal objetivo evitar que se tenha de fazer servios em tal divisa nas fases posteriores da execuo, quando a construo de outras partes da edificao dificulta o acesso a este local. Os motivos que podem determinar a criticalidade de uma divisa so vrios, tais como a existncia de um muro de arrimo, vegetao de grande porte ou um desnvel acentuado. A segunda regra aplica-se especialmente a obras nas quais o subsolo ocupa quase a totalidade do terreno, dificultando, na fase inicial da construo, a existncia de um layout permanente. Exige-se, assim, a concluso, to cedo quanto possvel, de espaos utilizveis ao nvel do trreo, os quais possam ser aproveitados para locao de instalaes provisrias20Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

e de armazenamento, com a finalidade de facilitar os acessos de veculos e pessoas, alm de propiciar um carter de longo prazo de existncia para as referidas instalaes.

21Conceitos bsicos

3.1 - Diagnstico de canteiros de obra 3.2 - Padronizao 3.3 - Planejamento do canteiro 3.4 - Programa de manuteno da organizao do canteiro

22Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

O processo de planejamento de canteiros de obra

O(a) (b) (c) (d)

planejamento do canteiro deve ser encarado como um processo gerencial como qualquer outro, incluindo etapas de coleta de dados e avaliao do planejamento. sob essa tica que foi

elaborado o mtodo apresentado nesse trabalho, o qual considera a existncia de quatro etapas para o planejamento de canteiros: Diagnstico de canteiros de obra existentes; Padronizao das instalaes e dos procedimentos de planejamento; Planejamento do canteiro de obras propriamente dito; Manuteno da organizao dos canteiros, baseando-se na aplica-

o dos princpios dos programas 5S. Nas prximas sees so apresentados os procedimentos de implantao, os benefcios e as interfaces entre as etapas.

3.1 Diagnstico de canteiros de obra O diagnstico dos canteiros de obra existentes deve ser a primeira atividade executada em um programa de melhorias, uma vez que so gerados subsdios para a realizao das etapas de padronizao e planejamento.23O processo de planejamento de canteiros de obras

O mtodo de diagnstico proposto consiste da aplicao conjunta de trs ferramentas: uma lista de verificao (checklist), elaborao de croqui do layout e registro fotogrfico.3.1.1 Lista de verificao

A lista de verificao a mais abrangente dentre as ferramentas, permitindo uma ampla anlise qualitativa do canteiro, no mbito da logstica e do layout, segundo os seus trs principais aspectos: instalaes provisrias, segurana no trabalho e sistema de movimentao e armazenamento de materiais. Cada um desses trs grupos envolve diversos elementos do canteiro. Um elemento do canteiro definido como qualquer aspecto da logstica no mbito dos trs grupos que merea ateno no planejamento, tais como, por exemplo, refeitrio, elevador de carga ou armazenamento de cimento. Todos os elementos devem satisfazer certos requisitos ou padres mnimos de qualidade para o desempenho satisfatrio de suas funes. Os requisitos de qualidade de cada elemento foram definidos a partir da consulta vrias fontes: normas sobre armazenamento de materiais (ABNT, 1992) e segurana (SEGURANA..., 2003), um inventrio de melhorias de qualidade e produtividade na construo civil (SCARDOELLI et al., 1994), um manual sobre segurana em canteiros (ROUSSELET; FALCO, 1988), alm de requisitos definidos a partir de sugestes de profissionais com experincia na rea e daqueles decorrentes de noes bsicas de layout e logstica. Os requisitos foram definidos da forma mais objetiva possvel, tentando-se, assim, possibilitar a verificao visual da sua existncia ou no, dispensando medies, consultas a outras pessoas ou a projetos da obra. Exemplificando o que foi exposto, so mostrados na Figura 3.1 dois dos24Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

requisitos de qualidade que a lista estabelece para o elemento elevador de carga. A lista completa encontra-se no anexo A.

Figura 3.1 - Exemplo de requisitos definidos no checklist

Embora a lista destine-se a uma anlise qualitativa dos canteiros, o resultado dela pode ser expresso quantitativamente atravs de uma nota. possvel atribuir uma nota para o canteiro como um todo e uma nota para cada grupo, sendo que a nota global do canteiro a mdia aritmtica das notas dos grupos. A existncia de notas fornece parmetros para a comparao entre diferentes canteiros e propicia a formao de valores para benchmarking. O sistema de pontuao adotado estabelece que cada requisito de qualidade, de qualquer elemento, possui valor igual a 1 ponto. O item recebe o ponto caso esteja assinalada a opo sim. Existe uma tabela na lista de verificao, ao final de cada grupo, onde devem ser anotados os pontos obtidos (PO), os pontos possveis (PP) e a nota do grupo, a qual a relao entre PO e PP. Os pontos obtidos corresponde ao total de itens com avaliao positiva, enquanto os pontos possveis ao total de itens com avaliao25O processo de planejamento de canteiros de obras

positiva ou negativa. Para os fins de atribuio da nota so desconsiderados os itens marcados com no se aplica. Quanto nota global do canteiro, calcula-se a mesma fazendo a mdia aritmtica das notas dos trs grupos. Embora esta nota possa ser calculada, seu significado para a anlise do desempenho do canteiro secundrio, se comparado ao significado das notas dos grupos. As notas dos grupos so mais teis por agregarem somente o desempenho de elementos do canteiro semelhantes, devendo, por isso, serem priorizadas na comparao entre diferentes canteiros. Qualquer empresa que utilizar a lista como uma ferramenta de controle, pode estabelecer o seu prprio sistema de pontuao, baseando-se na realidade de seus canteiros e nas suas prioridades estratgicas. Entretanto, se a empresa deseja comparar-se com o desempenho de um concorrente ou com a mdia do setor, necessrio optar por um sistema comum de pontuao. neste contexto que se insere a ferramenta proposta, pretendendo-se que a mesma seja utilizada na comparao de diferentes obras e empresas. Especialmente no grupo segurana, o nmero de requisitos no aplicveis pode variar significativamente conforme a fase da obra e o tipo de transporte vertical utilizado (por exemplo, grua ou guincho), podendo distorcer, de certa forma, a comparao entre diferentes obras. A visita ao canteiro para aplicao da lista deve ser feita sem pressa, visto o extenso rol de itens (128) e a ateno requerida para a correta compreenso do contedo da lista e seu preenchimento. Contudo, tais exigncias no impedem que a aplicao demande pouco tempo, variando com o porte da obra e com a experincia do aplicador no uso da ferramenta. A partir de estudos realizados, pode-se estimar o tempo para aplicao da lista em torno26Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

de uma hora para edificaes de porte mdio (quatro a oito pavimentos). Caso o aplicador no seja funcionrio da empresa ou no trabalhe na obra em questo, imprescindvel que, na ocasio da visita ou com antecedncia, explique-se ao mestre-de-obras ou engenheiro da obra os objetivos do levantamento e os procedimentos para a coleta de dados. A Figura 3.2 apresenta as notas mdias resultantes da aplicao da lista em um grupo de quarenta canteiros de obra, situados em sete cidades do Rio Grande do Sul. O clculo das notas obedeceu aos critrios explicados anteriormente.

Figura 3.2 - Resultados da aplicao do checklist em 40 canteiros no Rio Grande do Sul

Os canteiros analisados pertencem a vinte e oito empresas construtoras de pequeno porte envolvidas h alguns anos na implantao de aes de melhorias, seja atravs de parcerias com universidades, SEBRAE, certificao com base nas normas da srie ISO 9000, consultorias ou mesmo de forma autnoma. Com base nestas caractersticas, pode-se considerar que as empresas destacam-se positivamente no setor em termos de avanos gerenciais e tecnolgicos, representando exemplos das melhores prticas no Rio Grande do Sul.27O processo de planejamento de canteiros de obras

Dos quarenta canteiros onde se aplicou o checklist, vinte so da Regio Metropolitana de Porto Alegre, incluindo, alm desta, as cidades de Canoas, Novo Hamburgo e So Leopoldo, e vinte so de cidades do interior do Rio Grande do Sul, dividindo-se entre Santa Maria, Passo Fundo e Santa Rosa. Deve ser enfatizado que a amostra de canteiros no estatisticamente representativa dos canteiros de obra das cidades analisadas. Os canteiros so todos de obras de edificaes de mltiplos pavimentos, residenciais ou comerciais, podendo ser considerados restritos em sua maioria, conforme a classificao apresentada na seo 2.3.3.1.2 Elaborao de croquis do layout do canteiro

A anlise da(s) planta(s) de layout til para a identificao de problemas relacionados ao arranjo fsico propriamente dito, permitindo observar, por exemplo, a localizao equivocada de alguma instalao ou o excesso de cruzamentos de fluxo em determinada rea. A necessidade desta ferramenta surge do fato de que a grande maioria dos canteiros no possui uma planta de layout, situao que acaba obrigando a elaborao de um croqui na prpria obra, durante a visita de diagnstico. Considerando essa necessidade, so apresentadas a seguir algumas diretrizes para a elaborao de croquis do layout do canteiro. Tais diretrizes tambm so aplicveis elaborao das plantas de layout. Inicialmente, recomenda-se desenhar croquis de todos os pavimentos necessrios perfeita compreenso do layout (subsolo, trreo e pavimento tipo, por exemplo). Sugere-se utilizar folha A4 e consultar o projeto arquitetnico, disponvel na prprio escritrio da obra. Nos canteiros convencionais, uma aproximao da escala 1:200 ser suficiente, no sendo,28Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

porm, necessria muita rigidez na transferncia de escala. Nos croquis, devem constar no mnimo os seguintes itens: (a) definio aproximada do permetro dos pavimentos, diferenciando reas fechadas e abertas; (b) localizao de pilares e outras estruturas que interfiram na circulao de materiais ou pessoas; (c) portes de entrada no canteiro (pessoas e veculos) e acesso coberto para clientes; (d) localizao de rvores que restrinjam ou interfiram na circulao de materiais ou pessoas, inclusive na calada; (e) localizao das instalaes provisrias (banheiros, escritrio, refeitrio, etc.), inclusive planto de vendas; (f) todos os locais de armazenamento de materiais, inclusive depsito de entulho; (g) localizao da calha ou tubo para remoo de entulho; (h) localizao da betoneira, grua, guincho e guincheiro, incluindo a especificao do(s) lado(s) pelo(s) qual(is) se fazem as cargas no guincho; (i) localizao do elevador de passageiros; (j) localizao das centrais de carpintaria e ao; (l) pontos de iamento de frmas e armaduras; (m) localizao de passarelas, rampas e/ou escadas provisrias com indicao aproximada do desnvel; e (n) linhas de fluxo principais.29O processo de planejamento de canteiros de obras

3.1.3 Registro fotogrfico

Na apresentao dos resultados do diagnstico interessante incluir registros visuais da situao encontrada, podendo ser utilizadas tanto filmagens quanto fotografias. Uma vez no canteiro, comum que o observador fique em dvida sobre o que fotografar e, em conseqncia, deixe de registrar importantes problemas que acabam passando desapercebidos. Para evitar este problema, foi elaborada uma listagem dos principais pontos do canteiro que devem ser fotografados, escolhidos com base na sua importncia logstica e pelo fato de serem tradicionais focos de problemas. A listagem composta por treze itens: (a) armazenamento de areia; (b) armazenamento de tijolos; (c) armazenamento de cimento; (d) entulho (em depsito ou no); (e) condies do terreno por onde circulam caminhes; (f) refeitrio, vestirios e banheiros com as respectivas instalaes; (g) detalhamento do sistema construtivo das instalaes provisrias; (h) fechamento de poos de elevadores; (i) corrimos provisrios de escadas; (j) sistema de fixao das trelias das bandejas salva-vidas na edificao; (l) acesso ao guincho nos pavimentos; (m) proteo contra quedas no permetro dos pavimentos; e (n) sistema de drenagem.30Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Na reunio de apresentao dos resultados do diagnstico as fotografias podem desempenhar um importante papel como instrumento de apoio argumentao, visto que se constituem em um registro indiscutvel da realidade observada. O relatrio pode incluir ao lado de cada fotografia de uma situao negativa, uma outra fotografia, a qual mostre um exemplo de soluo para a deficincia encontrada. Se possvel, os exemplos positivos devem ser de outras obras da empresa, indicando a fcil disponibilizao das solues.

3.2 Padronizao Em meio s diversas estratgias gerenciais cujo uso se disseminou no movimento pela qualidade total, a padronizao destaca-se como uma das mais importantes e mais eficientes, podendo trazer uma srie de benefcios empresa, facilitando as atividades de planejamento, controle e execuo. Contudo, a padronizao no uma estratgia a ser utilizada indiscriminadamente em qualquer situao, fazendo-se necessrio um estudo criterioso da sua real necessidade e profundidade de implantao. Assim, empresas que trabalham com diversos tipos de obras, em diferentes regies, devem avaliar quais so os servios e procedimentos comuns passveis de padronizao, adotando-se padres somente para estes.3.2.1 Benefcios da padronizao

Pode haver variaes significativas nas instalaes de canteiro, conforme o tipo de obra. Um prdio de apartamentos, um conjunto habitacional, uma estrada, uma usina hidroeltrica ou uma planta industrial, podem apresentar canteiros to distintos quanto as tecnologias empregadas. Deste modo, a padronizao deve ser encarada como uma estratgia a considerar em mai31O processo de planejamento de canteiros de obras

or ou menor grau, sendo mais recomendada para empresas que constroem obras com tipologia e tecnologia semelhantes, como o caso da grande maioria das construtoras e incorporadoras de edificaes. Conforme Maia et al. (1994), dentre os principais critrios para determinar os processos a serem padronizados na construo de edifcios devem estar a sua importncia em termos de custo e o grau de repetio. A padronizao das instalaes de canteiro fortemente justificada e recomendada pelo segundo critrio (repetio), pois qualquer obra, independentemente do porte ou tecnologia, necessita de tais instalaes. Para empresas que constroem obras com caractersticas semelhantes, a repetio assume um carter ainda mais forte, existindo a possibilidade das instalaes de canteiro serem praticamente idnticas em todas as obras, respeitadas as particularidades intrnsecas ao layout de cada canteiro. Especificamente no que diz respeito s instalaes de canteiro, a padronizao pode trazer os seguintes benefcios: (a) diminuio das perdas de materiais, como decorrncia do reaproveitamento, da melhor qualidade e da utilizao mnima de componentes nas instalaes (somente o especificado pelo padro, nada mais); (b) facilidade para o planejamento do layout dos novos canteiros, pois muitos dos padres so dados necessrios realizao da atividade; (c) contribuio para a formao de uma imagem da empresa no mercado, lembrando que a qualidade do padro o fator que determina se esta imagem positiva ou negativa; (d) conformidade com os requisitos da NR-18 (SEGURANA..., 2003), evitando multas e prevenindo acidentes; (e) possibilidade de elaborao de um modelo bsico de PCMAT32Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

(Programa de Condies e Meio Ambiente de Trabalho) a partir dos padres estabelecidos. Desta forma o PCMAT refletir a realidade da empresa, ao contrrio do que aconteceria se a elaborao do mesmo no considerasse as reais prticas (padres) da empresa; (f) estabelecimento da base, a partir da qual o processo de introduo de melhorias nos canteiros implantado. Apesar destes benefcios potenciais, so poucas as empresas que possuem seus canteiros padronizados. Durante o j citado diagnstico junto quarenta canteiros no Rio Grande do Sul foi constatado o pouco uso da padronizao, tendo sido observadas as seguintes prticas: (a) as melhorias existentes em um canteiro no eram estendidas aos demais, ainda que tratassem de instalaes simples, como o uso de dosadores de gua ou depsitos para entulho; (b) a improvisao e a falta de uma estratgia definida acerca da tipologia das instalaes provisrias era visvel, no existindo nenhum documento que registrasse o sistema utilizado pela empresa. Deste modo, detectava-se o uso, dentro da mesma empresa, de diferentes sistemas em chapas de compensado, ou o uso no criterioso de instalaes em alvenaria e compensado; (c) as instalaes de segurana tambm eram improvisadas, salientando-se itens como os corrimos provisrios de escadas, proteo no poo do elevador e andaimes. Algumas dessas instalaes, como os guarda-corpos do poo do elevador, eram indevidamente retiradas pelos operrios para uso em outros locais da obra, o que em parte devia-se ao carter precrio das mesmas.33O processo de planejamento de canteiros de obras

3.2.2 Etapas da padronizao

A padronizao dos canteiros pode ser normalmente realizada em um perodo que varia de dois trs meses, incluindo quatro etapas: diagnstico, reunies do grupo de padronizao, elaborao do manual de padres e elaborao do plano de implantao e controle. O diagnstico deve envolver, de preferncia, todas as obras da empresa, podendo ser realizado atravs da aplicao do mtodo apresentado no item 2.1 deste trabalho. Tendo em vista a padronizao, o diagnstico deve atingir os seguintes objetivos: (a) identificar padres j existentes e padres novos que necessitaro ser elaborados; (b) identificar as deficincias mais freqentes e graves nos canteiros, as quais podero ter seus respectivos novos padres priorizados para implantao; (c) justificar a necessidade do trabalho de padronizao e demonstrar a importncia do planejamento do canteiro, a partir do relato dos problemas detectados. No fechamento da etapa deve ser feita uma reunio, contando com a presena de mestres, engenheiros de obra e diretores, sendo apresentadas e discutidas as concluses do diagnstico, alm de sugeridas solues para os problemas encontrados. Nesta reunio tambm devem ser definidos os participantes do grupo de padronizao e quais instalaes sero padronizadas. Este grupo no deve ter um nmero excessivo de participantes (seis pessoas um bom limite mximo), devendo envolver engenheiros, mestres-de-obras e tcnicos em segurana. fundamental que um ou mais dos componentes34Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

do grupo detenha poder de deciso dentro da empresa, de forma que, com base nos recursos e necessidades da empresa, seja dada agilidade s decises, facilitando o processo de implantao do padro estabelecido. Desde a primeira reunio de padronizao, j devem ser definidos um coordenador e um responsvel pela redao preliminar dos padres estabelecidos, os quais devero tambm elaborar o manual de padronizao no seu formato final. Ao coordenador do grupo caber conduzir as reunies a partir de uma listagem dos itens a serem discutidos. O quadro 3.2 apresenta um exemplo de programao das reunies de padronizao, incluindo uma sugesto de itens a serem abordados. As reunies geralmente tm durao entre uma hora e uma hora e trinta minutos, recomendando-se que estas sejam realizadas semanalmente. A definio dos padres deve considerar basicamente quatro fatores: (a) a capacitao tcnica e financeira da empresa, de modo a se planejar padres viveis de implantao; (b) a estratgia de produo (mesmo que esta s exista de forma implcita), de modo que os padres sejam coerentes com as prioridades e objetivos estratgicos da empresa. Por exemplo, se a empresa visa reduzir custos com transporte de materiais pode ser interessante padronizar o uso de pallets no transporte de blocos e cimento; (c) benchmarks, os quais sero teis para a elaborao de padres novos e reviso dos j existentes; (d) os requisitos da NR-18, para padronizao das instalaes de segurana e reas de vivncia.35O processo de planejamento de canteiros de obras

Quadro 3.2 - Exemplo de programao das etapas de padronizao de canteiros

Em relao elaborao do manual, os padres devem ser concebidos se assumindo que os mesmos tm carter evolutivo, isto , eles podem e devem ser alterados quando for vivel implantar uma soluo mais eficiente que a atual. Como decorrncia das inevitveis alteraes, no recomendvel elaborar um manual nico com todos os padres, sendo mais interessante desagreg-los em diversos manuais particulares. Uma sugesto agrupar os padres em nove manuais, conforme a proposta apresentada a seguir:36Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

(a) sistema construtivo das instalaes provisrias; (b) instalaes provisrias - acessos obra: tapumes, placa da empresa, porto para pessoas, porto para veculos, acesso coberto; (c) instalaes provisrias - reas de vivncia e de apoio: planto de vendas, guarita do vigia, escritrio, almoxarifado, refeitrio, vestirio e instalaes sanitrias; (d) segurana na obra - protees contra quedas de altura: escadas, escadas de mo, poos de elevadores, proteo contra queda na periferia dos pavimentos, aberturas no piso, bandejas salva-vidas, andaimes suspensos, elevador de passageiros; (e) segurana na obra - elevador de carga; (f) segurana na obra - instalaes complementares: sinalizao de segurana, EPIs e uniforme, caixa de capacetes para visitantes, instalaes eltricas, proteo contra incndio, serra circular; (g) movimentao e armazenamento de materiais: vias de circulao, entulho, produo de argamassa e concreto, armazenamentos de cimento, agregados, blocos, ao e tubos de PVC; (h) planejamento de layout: envolve diretrizes para dimensionamento e locao das instalaes de canteiro; e (i) manuteno da organizao dos canteiros: programa 5S. A redao dos padres deve ser em linguagem simples e objetiva, priorizando-se a colocao de figuras. Tambm deve ser observada a necessidade de padronizao da prpria documentao, ou seja, de seus cabealhos, rodaps, caracteres alfanumricos e capas. Caso a empresa j possua certificao com base nas normas da srie ISO 9000, ou deseje obt-la, os37O processo de planejamento de canteiros de obras

padres dos canteiros devem observar a hierarquia e formato da documentao da qualidade da empresa Uma alternativa simples para a redao dos padres consiste na redao dos mesmos sob a forma de checklists, os quais apenas referenciam as pginas do manual nas quais podem ser encontradas as figuras necessrias sua interpretao. Aps o trmino da elaborao dos manuais se faz necessrio estabelecer um plano de implantao e controle dos padres. Tal plano pode ser elaborado atravs da tcnica do 5W2H (o que?, quem?, quando?, onde?, por que?, como?, quanto custa?), respondendo cada uma das sete questes para os padres considerados prioritrios. Alm do plano de ao, outras medidas podem ser adotadas para facilitar a disseminao, implantao e controle dos padres: (a) realizao de reunies de treinamento com mestres, engenheiros e encarregados no participantes do grupo de padronizao. Tais reunies tm o objetivo de divulgar o plano de implantao, evidenciar sua importncia e explicar o contedo dos manuais, esclarecendo inclusive aspectos tcnicos de cada padro; (b) avaliar periodicamente a aplicao dos padres em todas as obras da empresa. Esta tarefa pode ser feita utilizando-se checklists correspondentes aos padres de cada manual; e (c) alterar os manuais sempre que algum padro for modificado.3.3 Planejamento do canteiro

O planejamento de canteiro deve ser realizado atravs de um procedimento sistematizado, compreendendo cinco etapas bsicas:38Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

(a) anlise preliminar: esta etapa envolve a coleta e a anlise de dados, sendo fundamental para a execuo qualificada e gil das demais etapas. A no realizao completa e antecipada da anlise preliminar pode provocar interrupes e atrasos durante as etapas posteriores, visto que faltaro as informaes necessrias para a tomada de decises. As empresas que possuem suas instalaes de canteiro padronizadas realizaro com maior facilidade esta etapa, uma vez que boa parte das informaes requeridas esto prontamente disponveis. As principais informaes que devem ser coletadas nessa etapa so as seguintes: Programa de necessidades do canteiro: devem ser listadas todas as instalaes de canteiro que devero ser locadas, estimando-se a rea aproximada necessria para cada uma delas. Para tanto, recomenda-se o uso de um checklist como o apresentado na Figura 3.3. Informaes sobre o terreno e o entorno da obra: devem estar disponveis informaes tais como a localizao de rvores na calada e dentro do terreno, pr-existncia de rede de esgoto, passagem de rede alta tenso em frente ao prdio, desnveis do terreno, rua de trnsito menos intenso caso o terreno seja de esquina, etc. Mesmo que estas informaes estejam representadas nas plantas dos vrios projetos, recomendvel a conferncia in loco; Definies tcnicas da obra: devem estar definidas as principais tecnologias construtivas adotadas, a fim de que se possa ter claro quais sero os espaos necessrios para a circulao, estocagem de materiais e reas de produo. So exemplos de definies desta natureza o tipo de estrutura (concreto usinado, pr-moldados, estrutura de ao, etc.), tipo de argamassa (ensacada, pr-misturada ou feita na obra), tipo de bloco de alvenaria ou tipo de revestimento de fachadas;39O processo de planejamento de canteiros de obras

Figura 3.3 - Exemplo de programao das etapas de padronizao de canteiros 40Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Cronograma de mo-de-obra: deve ser estimado o nmero de operrios no canteiro para trs fases bsicas do layout, ou seja, para a etapa inicial da obra a etapa de pico mximo de pessoal e a etapa final ou de desmobilizao do canteiro; Cronograma fsico da obra: a elaborao do cronograma de layout requer a consulta ao cronograma fsico da obra, uma vez que normal a existncia de interferncias entre ambos. Embora o cronograma fsico original possa sofrer pequenas alteraes para viabilizar um layout mais eficiente, deve-se, na medida do possvel, procurar tirar proveito da programao estabelecida sem alter-la. Entretanto so comuns situaes que exigem, por exemplo, o retardamento da execuo de trechos de paredes, rampas ou lajes para viabilizar a implantao do canteiro. Alm destas anlises de atrasos ou adiantamento de servios, o estudo do cronograma fsico permite a coleta de outras informaes importantes para o estudo do layout, como, por exemplo, a verificao da possibilidade de que certos materiais no venham a ser estocados simultaneamente a outros (blocos e areia, por exemplo), o prazo de liberao de reas da obra passveis de uso por instalaes de canteiro, prazo de incio da alvenaria (para reservar rea de estocagem de blocos), etc.; Consulta ao oramento: com base no levantamento dos quantitativos de materiais e no cronograma fsico, podem ser estimadas as reas mximas de estoque para os principais materiais. (b) arranjo fsico geral: a etapa de definio do arranjo fsico geral, tambm denominado de macro-layout, envolve o estabelecimento do local em que cada rea do canteiro (instalao ou grupo de instalaes) ir situar-se, devendo ser estudado o posicionamento relativo41O processo de planejamento de canteiros de obras

entre as diversas reas. Nesta etapa, por exemplo, define-se de forma aproximada, a localizao das reas de vivncia, reas de apoio e rea do posto de produo de argamassa; (c) arranjo fsico detalhado: envolve o detalhamento do arranjo fsico geral, ou a definio do micro-layout, no qual estabelecida a localizao de cada equipamento ou instalao dentro de cada rea do canteiro. Nesta etapa define-se, por exemplo, a localizao de cada instalao dentro das reas de vivncia, ou seja, as posies relativas entre vestirio, refeitrio e banheiro, com as respectivas posies de portas e janelas; (d) detalhamento das instalaes: definido o arranjo fsico do canteiro, faz-se necessrio planejar a infra-estrutura necessria ao funcionamento das instalaes. Desta forma, com base nos padres da empresa, devem ser estabelecidos, por exemplo, a quantidade e tipos de mesas e cadeiras nos refeitrios, quantidades e tipos de armrios nos vestirios, tcnicas de armazenamento de cada material, tipo de pavimentao das vias de circulao de materiais e pessoas, local e forma de fixao das plataformas de proteo, etc.; (e) cronograma de implantao: este cronograma deve apresentar graficamente o seqenciamento das fases de layout, alm de explicitar as fases ou eventos da execuo da obra (concretagem de uma laje, por exemplo) que determinam uma alterao no layout. O cronograma de implantao pode estar inserido no plano de longo prazo de produo, sendo til para a divulgao do planejamento, para a programao da alocao de recursos aos trabalhos de implantao do canteiro, e, ainda, para o acompanhamento da implantao, facilitando a identifi42Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

cao e anlise de eventuais atrasos. A figura 3.4 abaixo apresenta um exemplo de cronograma de layout.

Figura 3.4 - Exemplo de cronograma de layout

O layout j deve ser estudado a partir do momento em que estiver disponvel o anteprojeto arquitetnico do edifcio. Contudo, nessa etapa ainda no h necessidade de dimensionar e locar com preciso as instalaes. A considerao do layout j nesta etapa tem como principal objetivo permitir que, na medida do possvel, o projeto arquitetnico e os projetos complementares possam considerar as necessidades do projeto do canteiro de obras. Tal prtica tende a evitar que o projeto do canteiro seja, como ocorre muitas vezes, uma mera conseqncia das restries impostas pelos projetos executivos. Obviamente que as interferncias do canteiro nos outros projetos no iro implicar em mudanas radicais na concepo inicial dos projetos. Em43O processo de planejamento de canteiros de obras

bora as mudanas devam se limitar a intervenes de pequeno impacto, elas podem ser fundamentais para a viabilizao de um layout eficiente. Dentre os assuntos que podem ser objeto de interveno podem ser citadas a largura ou o dimensionamento de uma rampa para passagem de caminhes ou a execuo de um detalhe na fachada para viabilizar a colocao de uma grua. O planejamento do canteiro deve preferencialmente ser coordenado pelo gerente tcnico da obra. Alm deste, fundamental a participao do mestre-de-obras e de representantes dos empreiteiros envolvidos. Caso o estudo seja feito ainda durante a etapa de anteprojeto, deve ser elaborada uma planta de anteprojeto do canteiro para ser encaminhada a todos os projetistas, a fim de que todos verifiquem a existncia de eventuais interferncias com seus projetos.

3.4 Programa de manuteno da organizao do canteiro comum que exista entre os profissionais da construo civil a percepo de que canteiros de obra so locais destinados a serem sujos e desorganizados, caractersticas determinadas pela natureza do processo produtivo e pela baixa qualificao da mo-de-obra. Os diagnsticos realizados junto aos quarenta canteiros de obra, confirmaram que, na maior parte destas obras, a desorganizao dos canteiros realmente confirma esta percepo. Entretanto, algumas obras mostraram-se significativamente superiores s demais em termos de limpeza e organizao. A causa identificada para essa melhor situao foi a existncia, nestas empresas, de programas de envolvimento dos funcionrios gesto do canteiro. Tais programas, atravs de treinamento, colocao de metas, avaliao de desempenho e premiaes, conscientizavam e estimulavam os trabalhadores a manter a obra limpa e organizada.44Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Estes programas tm como base os princpios dos programas 5S, os quais visam a criar nas organizaes um ambiente propcio a implantao de programas de qualidade, atravs do desenvolvimento de cinco prticas ou sensos nos indivduos: descarte (seiri), ordem (seiton), limpeza (seiso), asseio (seiketsu) e disciplina (shitsuke) (OSADA, 1992). A primeira prtica, o descarte, tem como princpio identificar materiais ou objetos que so desnecessrios no local de trabalho e encaminh-los ao descarte, retirando-os do canteiro de obras. Alm de liberar reas do canteiro, o descarte pode resultar em benefcios financeiros atravs da venda dos materiais. A segunda prtica, a organizao, visa a estabelecer lugares certos para todos os objetos, diminuindo o tempo de busca pelos mesmos. A implementao da prtica pode se dar atravs de comunicao visual e padronizao. A definio de lugares certos para cada documento no escritrio, o etiquetamento de prateleiras de materiais no almoxarifado ou o uso de uma cor diferente nos capacetes dos visitantes, so exemplos de prticas adotadas. A terceira prtica, a limpeza, visa a, alm de tornar mais agradvel o ambiente de trabalho, melhorar a imagem da empresa perante clientes e funcionrios e facilitar a manuteno dos equipamentos e ferramentas. Um local mais limpo mais transparente, permitindo a identificao visual de problemas e facilitando o acesso aos equipamentos. A quarta prtica, o asseio, tem como objetivos conscientizar os trabalhadores acerca da importncia de manter a higiene individual, assim como de manter condies ambientais satisfatrias de trabalho, tais como os nveis de rudo, iluminao e de temperatura. A ltima prtica, a da disciplina, visa a desenvolver a responsabilidade individual e a iniciativa dos trabalhadores, podendo ser desenvolvida atra45O processo de planejamento de canteiros de obras

vs do treinamento. Esta prtica pode ser medida, por exemplo, atravs dos nveis de utilizao dos equipamentos de proteo individual (EPI). Diversas empresas de construo tm implantado programas de manuteno da organizao dos canteiros com base nestes princpios, porm em muitos casos sem a utilizao do termo 5S ( comum o programa SOL segurana, organizao e limpeza) e sem um estudo mais aprofundado de suas recomendaes de implantao, o que tem limitado sua eficincia. Tratando especificamente da aplicao do programa 5S organizao dos canteiros, sugerem-se as seguintes diretrizes para implantao: (a) definir critrios objetivos de avaliao: devem ser listados os itens do canteiro a serem avaliados e estabelecidos os critrios de avaliao para cada item. Na avaliao da limpeza do canteiro, por exemplo, poderia ser utilizado um checklist semelhante ao apresentado na Figura 3.5. Deve ser observado que os critrios de avaliao devem ser alterados na medida em que j estiverem incorporados rotina do canteiro, sendo substitudos por critrios novos ou mais exigentes.

Figura 3.5 - Exemplo de checklist para avaliao da limpeza do canteiro 46Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Considerando que os resultados da avaliao de diferentes itens devem ser expressos sob uma unidade comum de medida, a nota atribuda ao item limpeza com base na aplicao do checklist pode ser enquadrada em faixas de desempenho, representadas por cores, conforme o exemplo abaixo: nota de 0 5 = faixa vermelha nota de 5,1 8,0 = faixa amarela nota de 8,1 10,0 = faixa verde Da mesma forma que neste exemplo, qualquer outro critrio de avaliao poderia ter seu resultado adaptado s faixas apresentadas. O item de avaliao reclamaes de vizinhos, por exemplo, poderia ter critrios estabelecendo que, em uma dada semana, situaria-se na faixa verde caso no houvesse reclamao, situaria-se na faixa amarela caso houvesse uma reclamao e na faixa vermelha caso houvesse mais de uma. (b) estabelecer avaliadores e periodicidade de avaliao: a avaliao no deve ser feita unicamente por algum diretamente interessado no seu resultado, tal como o mestre, os operrios ou o engenheiro da obra. Assim, recomendvel que alm da participao de membros internos obra, exista tambm um avaliador externo, representado, por exemplo, por outro engenheiro da empresa ou um consultor. Quanto periodicidade de avaliao, a prtica mais comum a avaliao semanal, podendo ou no ter dia e horrio pr-fixados. O fato de no haver um dia preestabelecido normalmente vantajoso, uma vez que evita a organizao circunstancial do canteiro. (c) estabelecer sistema de premiao: devem ser tomados alguns cuidados na definio da premiao, uma vez que a mesma constitui importante fator de motivao dos funcionrios envolvidos no progra47O processo de planejamento de canteiros de obras

ma. Inicialmente, deve-se estabelecer se a premiao (e no a avaliao) ser individual ou coletiva. Recomenda-se que a definio da premiao seja feita em conjunto com os trabalhadores, podendo ser alterada no decorrer do tempo. Outro assunto importante o estabelecimento do patamar de desempenho necessrio para receber a premiao. Nesse sentido, sugere-se a definio de um limite mnimo de desempenho, acima do qual todas as obras da empresa sero premiadas, mesmo que alguma obra se sobressaia sobre as demais. Um sistema de concorrncia entre obras poderia ser utilizado paralelamente a este, dando um prmio adicional para a melhor obra. Contudo, o uso exclusivo do sistema de concorrncia no recomendvel, j que poderia ocorrer favorecimento de obras com determinadas caractersticas ou fases de execuo mais fceis de serem gerenciadas. (d) forma de expressar os resultados: os itens e critrios de avaliao, assim como os resultados da mesma, devem ser expressos no canteiro da forma mais transparente e objetiva possvel, de modo que todos os trabalhadores possam compreender seu significado. As Figuras 3.6 e 3.7 apresentam dois exemplos de quadros com resultados de avaliao de canteiros. O quadro da Figura 3.6 apresenta os resultados atravs de notas e grficos de barras, enquanto que o quadro da Figura 3.7, de mais fcil compreenso, apresenta os resultados atravs de faixas de desempenhos, representadas por cartes coloridos.

48Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Figura 3.6 - Exemplo de quadro de apresentao de resultados do Programa 5S cuja compreenso relativamente difcil

Figura 3.7 - Exemplo de quadro de apresentao de resultados do Programa 5S de fcil compreenso

49O processo de planejamento de canteiros de obras

4.1 - Tipologia das instalaes provisrias 4.2 - Instalaes provisrias: reas de vivncia e de apoio 4.3 - Instalaes provisrias: acessos obra e tapumes 4.4 - Movimentao e armazenamento de materiais 4.5 - Elevador de carga 4.6 - Elevador de passageiros

50Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

4.1 Tipologia das instalaes provisrias

E

mbora na maior parte dos canteiros predominem os barracos em chapas de compensado, existem diversas possibilidades para a escolha da tipologia das instalaes provisrias, cada uma com

suas vantagens e desvantagens. Seja qual for o sistema utilizado, devem ser considerados os seguintes critrios: custos de aquisio, custos de implantao, custos de manuteno, reaproveitamento, durabilidade, facilidade de montagem e desmontagem, isolamento trmico e impacto visual. A importncia de cada critrio varivel conforme as necessidades da obra. Nesta seo so apresentados dois sistemas: um sistema racionalizado em chapas de compensado e o sistema de containers. Na seo 3.1.3 so discutidos exemplos de combinaes possveis entre os dois sistemas. Alm das opes discutidas, outra alternativa so as instalaes em alvenaria, mais interessantes quando as instalaes provisrias podem tornar-se permanentes aps o final da obra.4.1.1 Sistema tradicional racionalizado

O sistema tradicional racionalizado representa um aperfeioamento dos barracos em chapa de compensado comumente utilizados, de forma a51Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

aumentar o seu reaproveitamento e facilitar a sua montagem e desmontagem. O sistema racionalizado constitui-se de mdulos de chapa de compensado resinado, com espessura mnima de 14 mm, ligados entre si por qualquer dispositivo que facilite a montagem e a desmontagem, tais como parafusos, dobradias ou encaixes. Os seguintes requisitos devem ser considerados na concepo do sistema: (a) Proteger as paredes do banheiro contra a umidade (requisito da NR-18), revestindo-as, por exemplo, com chapa galvanizada ou pintura impermevel. Com o mesmo objetivo, recomendvel que o piso dos banheiros seja feito em contrapiso cimentado, e no em madeira; (b) Prever mdulos especiais para portas e janelas. As janelas preferencialmente devem ser basculantes, garantindo iluminao natural instalao; (c) Fazer a cobertura dos barracos com telhas de zinco, as quais so mais resistentes ao impacto de materiais se comparadas s telhas de fibrocimento. Alm de usar telhas de zinco, pode ser necessria a colocao de uma proteo adicional sobre os barracos, como, por exemplo, uma tela suspensa de arame de pequena abertura; (d) Pintar os mdulos nas duas faces, assim como selar os topos das chapas de compensado, contribuindo para o aumento da durabilidade da madeira. (e) Prever opo de montagem em dois pavimentos, j que esta ser uma alternativa bastante til em canteiros restritos. Um problema que pode surgir ao planejar-se um sistema com dois pavimentos a interferncia com a plataforma principal de proteo. Nesse caso, uma solu52Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

o que tem sido aceita pela fiscalizao o deslocamento da plataforma para a laje imediatamente superior, somente no trecho em que existe interferncia. O mesmo sistema descrito poderia tambm ser feito com chapas metlicas galvanizadas, tomando-se o cuidado adicional, neste caso, de acrescentar algum tipo de isolamento trmico s paredes, como por exemplo, placas de isopor acopladas as mesmas. Deve-se estar atento ainda, para o fato de que o sistema apresentado pode ser aproveitado tambm em reas cobertas. Nesse caso, os nicos componentes do sistema a serem usados so os mdulos de parede.4.1.2 Containers

A utilizao de containers na construo uma prtica habitual em pases desenvolvidos e uma alternativa adotada h algum tempo, por exemplo, em obras de montagem industrial e grandes empreendimentos. Embora atualmente venha ocorrendo uma disseminao do uso de containers em obras de edificaes residenciais e comerciais, essa opo ainda pode ser considerada minoritria se comparada aos barracos em madeira. Apesar de existir a opo de compra de container com isolamento trmico, o custo desta opo faz com que ela raramente seja utilizada, ocasionando a principal reclamao dos operrios em relao ao sistema: as temperaturas internas so muito altas nos dias mais quentes. Tendo em vista a minimizao do problema, algumas medidas simples podem ser adotadas: pintura externa em cor branca, execuo de telhado sobre o container e, conforme a NR-18, uma ventilao natural de, no mnimo, 15% da rea do piso, composta por, no mnimo, duas aberturas.53Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

Alm dos requisitos de ventilao, a NR-18 tem outras exigncias importantes em relao aos containers: (a) a estrutura dos containers deve ser aterrada eletricamente, prevenindo contra a possibilidade de choques eltricos; (b) containers originalmente usados no transporte e/ou acondicionamento de cargas devem ter um atestado de salubridade relativo a riscos qumicos, biolgicos e radioativos, com o nome e CNPJ da empresa responsvel pela adaptao. Em que pese o relativo alto custo de aquisio e as dificuldades para manter um bom nvel de conforto trmico, os containers apresentam diversas vantagens, tais como a rapidez no processo de montagem e desmontagem, reaproveitamento total da estrutura e a possibilidade de diversos arranjos internos. As dimenses usuais dos containers encontrados no mercado so 2,4 m x 6,0 m e 2,4 m x 12,0 m, ambos com altura de 2,60 m. Existem diversos fornecedores no mercado (aluguel e venda), havendo opes de entrega do container j montado ou somente de entrega de seus componentes para montagem na obra. Em caso de empilhamento de unidades (Figura 4.1), deve-se priorizar a colocao de depsitos de materiais no mdulo trreo, tendo em vista a facilidade de acesso.

Figura 4.1 - Containers empilhados, substituindo os barracos de chapas de compensado

54Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

4.1.3 Exemplos de estratgias para implantao das instalaes provisrias

Nesta seo so comparados os custos de trs opes de implantao das instalaes provisrias, tendo sido adotados os seguintes parmetros de referncia: a obra tem durao de doze meses; o pico mximo ser de vinte e cinco operrios; a vida til das chapas de compensado pintadas igual a 3 anos; os barracos so de dois pavimentos, executados conforme a descrio do item anterior, com piso cimentado; considera-se que todos os materiais foram adquiridos novos para esta obra; no ser considerada a depreciao dos equipamentos; tanto os barracos quanto os containers devem abrigar banheiros, vestirio, escritrio, almoxarifado e refeitrio; o custo de entrega ou retirada do container de 12 x 2,40 m na obra de R$ 250,00; e o custo da chapa de compensado de 14 mm de R$ 16,00 e o custo de aquisio do container de R$ 3.000,00. As opes consideradas foram as seguintes: (a) Opo A: esta opo considera a aquisio de dois containers de dimenses 12 x 2,40 m (rea de 57,6 m2), os quais substituiro totalmente os barracos em chapas de compensado, abrigando todas as instalaes durante todo o perodo de execuo da obra. O custo desta opo, incluindo a entrega e retirada do container do canteiro, fica em torno de R$ 6.500,00. (b) Opo B: a opo B considera a utilizao do sistema racionalizado em chapas de compensado, em rea equivalente aos dois containers55Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

da opo A, abrigando todo o pessoal da obra durante o perodo de execuo. O custo da opo B, incluindo custos com mo-de-obra para montagem e desmontagem dos barracos, ficaria em torno de R$ 3.700,00. (c) Opo C: a opo C considera que ser alugado um container de dimenses 12 x 2,40 m nas fases inicial e final (3 meses de aluguel, a R$ 500;00/ms) da obra, locando as instalaes em reas construdas do prdio no restante do perodo. Aproximando os valores, o custo da opo C fica em torno de R$ 3.200,00. Considerando somente a primeira obra, o custo da opo A 76% superior ao das opes B e C. Esta ltima opo a mais barata, tendo custo 13,5% inferior ao da opo B. A Figura 4.2 abaixo mostra o incremento de custos de cada opo ao longo de 4 anos, admitindo que neste perodo a construtora executou 4 obras semelhantes utilizada no exemplo. Observa-se que na segunda e na terceira obra (ou no segundo e no terceiro ano) a opo B teria o custo mais baixo, enquanto que a partir da quarta obra a opo A assumiria esta posio. Ainda que a anlise seja simplificada, desconsiderando os custos financeiros, a tendncia observada que a opo de uso exclusivo dos containers revele-se a mais vantajosa economicamente no mdio e longo prazo.

Figura 4.2 - Evoluo dos custos de diferentes alternativas de implantao de instalaes provisrias 56Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

4.2 Instalaes provisrias: reas de vivncia e de apoio De acordo com a definio da NR-18 (SEGURANA..., 2003), as reas de vivncia (refeitrio, vestirio, rea de lazer, alojamentos e banheiros) so reas destinadas a suprir as necessidades bsicas humanas de alimentao, higiene, descanso, lazer e convivncia, devendo ficar fisicamente separadas das reas laborais. Esta norma tambm exige, tendo em vista as condies de higiene e salubridade, que estas reas no sejam localizadas em subsolos ou pores de edificaes. J as reas de apoio (almoxarifado, escritrio, guarita ou portaria e planto de vendas) compreendem aquelas instalaes que desempenham funes de apoio produo, abrigando funcionrio(s) durante a maior parte ou durante todo o perodo da jornada diria de trabalho, ao contrrio do que ocorre nas reas de vivncia, as quais s so ocupadas em horrios especficos. Nas prximas sees so apresentadas diretrizes para o planejamento do layout e da logstica de cada uma das instalaes que compem as reas de vivncia e de apoio de um canteiro.4.2.1 Refeitrio

Considerando a inexistncia de norma que estabelea um critrio para dimensionamento de refeitrio, sugere-se o uso do parmetro 0,8 m2/pessoa. Este valor tem por base a experincia de diferentes empresas, considerando que os refeitrios dimensionados atravs dele demonstraram possuir rea suficiente para abrigar todos os funcionrios previstos, no se detectando reclamaes. Existem duas exigncias bsicas para definir a localizao do refeitrio. A primeira, comum as demais reas de vivncia, a proibio de sua localizao em subsolos ou pores (NR-18). A segunda exigncia a57Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

inexistncia de ligao direta com as instalaes sanitrias, ou seja, no possuir portas ou janelas em comum com tais instalaes. A segunda exigncia no implica necessariamente em posicionar o refeitrio afastado dos banheiros, visto que a proximidade desejvel para facilitar a utilizao dos lavatrios destes. Considerando que o refeitrio uma instalao que abriga muitas pessoas simultaneamente, alm de conter aquecedores de refeies, indispensvel que o mesmo possua uma boa ventilao. Dentre os vrios modos de ventilar naturalmente a instalao, alguns dos mais utilizados tm sido a execuo de uma das paredes somente at meia-altura ou o fechamento lateral somente atravs de tela de arame ou nilon (Figura 4.3), o que uma soluo inadequada em regies de clima frio. Contudo, seja qual for o tipo de fechamento, importante que o mesmo isole a instalao das reas de produo e circulao, evitando a penetrao de pequenos animais e contribuindo para a manuteno da limpeza do local. Apesar de ser uma instalao exigida pela NR-18, algumas empresas no colocam refeitrio nos canteiros e outras os mantm em condies precrias, alegando a pouca utilizao por parte dos funcionrios. A justificativa comum a de que os trabalhadores no gostam de comer nos refeitrios, pelo fato de terem vergonha de sua marmita e de seus hbitos mesa, preferindo fazer as refeies em locais diversos, sozinhos ou em pequenos grupos. preciso lembrar ainda que devido natureza autoritria das relaes de trabalho no setor e ao baixo grau de organizao e evoluo social de grande parte dos trabalhadores, melhorias no refeitrio e no canteiro de modo geral, dificilmente sero exigidas pelos operrios. Desse modo, cabe empresa dotar o canteiro de boas condies ambientais, alm de incentivar e cobrar o uso e manuteno das instalaes.58Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

Alguns exemplos de aes que podem ser realizadas para facilitar a assimilao do refeitrio por parte dos operrios so listadas abaixo: (a) colocao de mesas e cadeiras separadas (tipo bar, por exemplo) de modo a favorecer que os trabalhadores agrupem-se segundo suas afinidades pessoais; (b) fornecimento de refeies prontas; (c) colocao de televiso; (c) atendimento aos requisitos da NR-18 como, por exemplo, lixeira com tampa, fornecimento de gua potvel por meio de bebedouro ou dispositivo semelhante, mesas com tampos lisos e lavveis e aquecedor de refeies.

Figura 4.3 - Exemplo de fechamento e mesas para refeitrios em canteiros

4.2.2 rea de lazer

A rea de lazer pode ser implementada de vrias formas, sendo recomendvel uma consulta prvia aos trabalhadores acerca de suas preferncias. Contudo, as caractersticas do canteiro podem restringir ou ampliar a gama59Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

de opes. Em caso de um canteiro amplo, por exemplo, possvel ter-se um campo de futebol ou mesmo uma situao pouco comum, tal como um espao para cultivo de uma horta. Em canteiros restritos a opo mais vivel a utilizao do prprio refeitrio como rea de lazer, status que pode ser caracterizado pela colocao de uma televiso ou jogos, tais como pingue-pongue e damas. Embora a NR18 (SEGURANA..., 2003) s exija a existncia de rea de lazer se o canteiro tiver trabalhadores alojados, a existncia de tais reas, mesmo quando a exigncia no aplicvel, pode se revelar uma iniciativa com bons resultados, contribuindo para o aumento da satisfao dos trabalhadores (ver Figura 4.4).

Figura 4.4 - Exemplo de rea de lazer

4.2.3 Vestirio

A NR-24 (SEGURANA..., 2003), que apresenta requisitos referentes as condies sanitrias e de conforto nos locais de trabalho, estabelece um parmetro de 1,5 m2/pessoa para dimensionamento de vestirios. Entretanto, este critrio difcil de ser cumprido em canteiros restritos, fato compro60Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

vado em um levantamento realizado junto a quatorze canteiros de Porto Alegre (RS), nos quais obteve-se um valor mdio de 1,0 m2/pessoa. O vestirio deve estar localizado ao lado dos banheiros e o mais prximo possvel do porto de entrada e sada dos trabalhadores no canteiro. O requisito de proximidade com o porto de acesso de pessoal parte do pressuposto de que os EPI bsicos, comuns a todos os trabalhadores (capacetes e botinas), sejam guardados no vestirio. Visto que esta instalao o primeiro local no qual os operrios dirigem-se ao chegar na obra e o ltimo local ocupado antes que os mesmos deixem a obra no final do expediente, desta forma assegura-se que apenas o percurso vestirio-porto seja realizado sem o uso de capacete e botina. Tendo em vista a segurana, tambm recomendvel criar-se uma ligao coberta entre o vestirio e o porto. Uma prtica comum, orientada por problemas de furto, a colocao de acessos independentes para vestirios e banheiros. Com o objetivo de evitar que funcionrios, ao ir no banheiro em horrio de expediente violem armrios de colegas, algumas empresas nunca colocam vestirios e banheiros no mesmo ambiente ou com acessos comuns. Esse arranjo exige que, em algumas ocasies, o operrio tenha de percorrer trajetos ao ar livre para ir de uma instalao a outra, comprometendo sua privacidade e expondo-se s intempries. Neste sentido, algumas empresas optam pela colocao somente de chuveiros no mesmo ambiente dos vestirios ou pela implantao de arranjos fsicos que garantam privacidade e proteo no trajeto entre as instalaes. Complementando os requisitos j discutidos, so sugeridas, a seguir, outras medidas para o planejamento dos vestirios: (a) colocao de telhas translcidas como cobertura (NR-24), melhorando assim a iluminao interna da instalao (o mesmo vale para as demais instalaes provisrias);61Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

(b) caso existam armrios junto s paredes, deslocar as janelas para cima, aumentando sua largura para compensar a reduo de altura; (c) utilizar cabides de plstico ou de madeira, e no de pregos, os quais danificam as roupas penduradas; (d) utilizar armrios individuais (NR-18), de preferncia metlicos. Apesar do preo relativo alto, o reaproveitamento e a melhor higiene tornam os armrios metlicos vantajosos em comparao a armrios feitos de compensado; (e) identificar externamente, por um nmero, cada armrio; (f) dotar os armrios de dispositivo para cadeado (NR-18), mas definir que a aquisio e colocao do cadeado de responsabilidade de cada funcionrio; (g) definir que o capacete de cada funcionrio deve ser guardado na sua respectiva prateleira no armrio; (h) disponibilizar bancos de madeira, com largura mnima de 30 cm (NR-18). Uma questo geralmente mal resolvida nos vestirios o local para colocao das botinas, as quais por questes de higiene no so colocadas dentro dos armrios. Possveis solues podem ser a construo de sapateiras, divididas em compartimentos com a mesma numerao dos armrios, ou a execuo de uma divisria horizontal dentro dos armrios, reservando um espao isolado para as botinas. Uma prtica comum que evita este problema, porm no recomendada por desgastar adicionalmente o calado, o trabalhador usar a botina como calado normal, utilizando a mesma no trajeto casa-trabalho.62Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

4.2.4 Banheiros

A NR-18 apresenta critrios para o dimensionamento das instalaes hidrossanitrias, estabelecendo as seguintes propores e dimenses mnimas: (a) 1 lavatrio, 1 vaso sanitrio e 1 mictrio para cada grupo de 20 trabalhadores ou frao; (b) 1 chuveiro para cada grupo de 10 trabalhadores ou frao; (c) o local destinado ao vaso sanitrio deve ter rea mnima de 1,0 m2; (d) a rea mnima destinada aos chuveiros deve ter 0,80 m2; (e) nos mictrios tipo calha, cada segmento de 0,60 m deve corresponder a um mictrio tipo cuba. Estes critrios devem ser interpretados como requisitos mnimos, recomendando-se adotar, especialmente para os chuveiros, um menor nmero de trabalhadores por aparelho. Tal recomendao decorre do fato de que os chuveiros geralmente representam um ponto crtico dos banheiros no horrio de fim do expediente, isto , so as instalaes mais procuradas e, ao mesmo tempo, aquela em que os usurios consomem mais tempo, o que origina a formao de filas caso no existam aparelhos em nmero suficiente. Embora a norma no se refira ao assunto, sugere-se que no se incluam nos seus critrios os banheiros volantes (vaso sanitrio ou mictrio) colocados ao longo dos pavimentos. A justificativa para tal recomendao baseia-se no fato de que os banheiros volantes, por sua localizao dispersa e significativa distncia do vestirio, no podem ser utilizados no momento de maior exigncia, representado pelo horrio de sada do pessoal, conforme j citado. Um eventual banheiro exclusivo para o pessoal da administrao da obra (engenheiro, mestre, estagirios e clientes) tambm no deve ser includo nos critrios da NR-18.63Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

Conforme mencionado no item 3.2.3, os banheiros devem estar localizados prximos do vestirio, situando-se ao seu lado ou no mesmo ambiente. Caso os banheiros sejam uma instalao vizinha, deve-se prever acessos que permitam ao trabalhador deslocar-se de uma pea para a outra sem a perda da privacidade. Existem vrias configuraes arquitetnicas que resolvem este problema. Deve-se tambm observar na localizao dos banheiros a possibilidade de aproveitamento de uma eventual rede de esgoto pr-existente no canteiro e a j comentada proibio de ligao direta com o refeitrio. Em obras com grande desenvolvimento horizontal podem ser colocados banheiros volantes em locais prximos aos postos de trabalho, com o objetivo de diminuir deslocamentos improdutivos durante o horrio de trabalho. A NR-18 (SEGURANA..., 2003) estabelece 150 m como distncia limite para deslocamento dos postos de trabalho at as instalaes sanitrias, podendo-se interpretar que essa distncia corresponde a deslocamentos horizontais e verticais. Em obras verticais os banheiros volantes tambm so importantes, uma vez que diminuem tempos improdutivos. recomendvel que estes banheiros possuam ao menos um mictrio e estejam localizados em uma rea do pavimento tipo que permita ao tubo de queda provisrio atingir o trreo em local prximo ao coletor dos esgotos dos banheiros. Em relao disposio ao longo dos andares, uma boa prtica colocar um banheiro volante a cada trs pavimentos (HINZE, 1997). A seguir so listadas algumas exigncias da NR-18 (SEGURANA..., 2003) e apresentadas sugestes que podem ser teis no planejamento das instalaes hidrossanitrias:64Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

(a) deve existir recipiente com tampa para depsito de papis usados junto ao lavatrio e junto ao vaso sanitrio (NR-18); (b) colocar saboneteira com detergente (tipo rodoviria) em cada lavatrio; (c) colocar naftalina ou outro tipo de desinfetante nos mictrios; (d) tanto o piso quanto as paredes adjacentes aos chuveiros devem ser de material que resista gua e possibilite a desinfeco (NR-18). Logo, caso as paredes sejam de chapas de compensado, as mesmas devem receber um revestimento protetor, usualmente feito com chapa galvanizada ou pintura impermeabilizante; (e) deve existir em cada chuveiro um estrado, um cabide de madeira e uma saboneteira (NR-18).4.2.5 Almoxarifado

O principal fator a considerar no dimensionamento do almoxarifado o porte da obra e o nvel de estoques da mesma, o qual determina o volume de materiais e equipamentos que necessitam ser estocados. O tipo de material estocado tambm uma considerao importante. No caso da estocagem de tubos de PVC, por exemplo, necessrio que ao menos uma das dimenses da instalao tenha, no mnimo, 6,0 m de comprimento. Deve-se observar que o volume estocado varivel ao longo da execuo da obra, de modo que, em relao fase inicial da obra, pode haver necessidade de ampliar a rea disponvel nas fases seguintes em duas ou mais vezes. Em um estudo de caso realizado, esta variao dimensional ficou bastante evidente: o almoxarifado inicial ocupou uma rea de apenas65Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

3,6 m2, sendo a mesma posteriormente ampliada para 30 m2. Em seis obras de porte semelhante (prdios de seis a nove pavimentos com rea construda mdia de aproximadamente 1600 m2) a rea mdia do almoxarifado, para a situao mais desfavorvel ao longo da execuo, foi de 27 m2. O almoxarifado abriga as funes de armazenamento e controle de materiais e ferramentas, devendo situar-se idealmente, prximo a trs outros locais do canteiro, de acordo com a seguinte ordem de prioridades: ponto de descarga de caminhes, elevador de carga e escritrio. A necessidade de proximidade com o ponto de descarga de caminhes e com o elevador de carga evidente. No primeiro caso, a justificativa o fato de que muitos materiais so descarregados e armazenados diretamente no almoxarifado. No segundo caso, considera-se que vrios destes materiais devem ser, no momento oportuno, transportados at o seu local de uso nos pavimentos superiores, usualmente atravs do elevador. J a proximidade com o escritrio desejvel devido aos freqentes contatos entre o mestrede-obras e o almoxarife, facilitando-se, assim, a comunicao entre ambos. Caso exista almoxarife, a configurao interna do almoxarifado deve ser tal que a instalao seja dividida em dois ambientes: um para armazenamento de materiais e ferramentas (com armrios e etiquetas de identificao), e outro para sala do almoxarife, com janela de expediente, atravs da qual so feitas as requisies e entregas. Ainda importante lembrar que no almoxarifado (ou no escritrio) deve ser colocado um estojo com materiais para primeiros socorros. Nos canteiros onde existem subempreiteiros de menor porte no vinculados ao empreiteiro principal da obra (os de instalaes hidrulica e eltrica, por exemplo), freqentemente esses subempreiteiros utilizam uma66Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

mesma dependncia para as funes de vestirio e almoxarifado. Embora no seja recomendvel, alguns subempreiteiros resistem ao abandono dessa prtica, justificando-se na preocupao em zelar pelas suas ferramentas e pelo pouco entrosamento com os demais operrios da obra. Uma desvantagem dessa situao o fato de que muitas vezes difcil locar este vestirio-almoxarifado extra prximo do ponto de descarga de caminhes, do elevador de carga e das instalaes sanitrias da obra, sendo necessrio estabelecer prioridades. Devido ao volume relativamente pequeno de materiais e ferramentas, que geralmente so guardados nestes almoxarifados, e com o objetivo de otimizar o uso das instalaes hidrossanitrias, recomenda-se priorizar a locao destes subempreiteiros em posio prxima aos banheiros. Outro aspecto negativo o fato de que a situao d margem para que outros subempreiteiros de menor porte tambm passem a exigir instalaes privativas, criando dificuldades de layout semelhantes s citadas. Em relao ao controle de retirada e entrega de ferramentas, uma boa medida a implantao de uma sistemtica formal de registro e cobrana diria das ferramentas entregues aos trabalhadores. A operacionalizao desta prtica pode ser feita por meio de quadros semelhantes aos da Figura 4.5.

Figura 4.5 - Quadro de controle de retirada e entrega de ferramentas

67Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

Neste sistema cada funcionrio da obra identificado por um nmero e cada ferramenta representada por uma ficha de cartolina. Sempre que um funcionrio retirar uma ferramenta, a ficha correspondente pendurada sobre o seu nmero no quadro. Ao final do dia o mestre-de-obras pode fiscalizar a devoluo e limpeza das ferramentas. Para o controle de entrada e sada de materiais, a tcnica mais simples a utilizao de planilhas de controle de estoque, as quais devem conter campos tais como fornecedor, especificao do material, local de uso, saldo, datas de entrega e retirada e responsvel pela retirada.4.2.6 Escritrio da obra

O dimensionamento desta instalao funo do nmero de pessoas que trabalham no local e das dimenses dos equipamentos utilizados (armrios, mesas, cadeiras, computadores, etc.), variveis estas que so dependentes dos padres de cada empresa. Dimenses usuais de escritrios so 3,30 m x 3,30 m ou 3,30 m x 2,20 m. O escritrio tem a funo de proporcionar um espao de trabalho isolado para que o mestre-de-obras e o engenheiro (somando-se a tcnicos e estagirios, eventualmente) desempenhem parte de suas atividades. Alm disso, uma funo complementar servir como local de arquivo da documentao tcnica da obra que deve estar disponvel no canteiro, incluindo projetos, cronograma, licenas da prefeitura, etc. Em relao sua localizao, requer-se, alm da proximidade com o almoxarifado, uma posio nas imediaes do porto de entrada de pessoas, a qual torne o escritrio ponto de passagem obrigatria no caminho percorrido por clientes e visitantes ao entrar no canteiro. Tambm interessante que esta instalao esteja posicionada em local que permita que do seu inte68Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

rior tenha-se uma viso global do canteiro, de modo que o mestre e/ou engenheiro possam realizar, ao mesmo tempo, atividades no escritrio e acompanhar visualmente os principais servios em execuo. No escritrio a necessidade de uma boa iluminao faz-se mais presente do que nas demais instalaes, devido natureza das atividades desenvolvidas, as quais exigem boas condies visuais para a elaborao de desenhos, trabalhos em computador e leitura de plantas e documentos diversos. No que diz respeito organizao do escritrio, a principal preocupao deve ser quanto ao arquivamento dos documentos da obra. Este arquivamento comumente feito de duas formas: (a) atravs da utilizao de arquivos metlicos, no qual os diversos documentos so separados por pastas, todas identificadas por etiquetas; (b) atravs da utilizao de caixas tipo arquivo morto, tambm identificadas por etiquetas. As duas opes requerem que inicialmente seja feita uma listagem de todos os documentos a serem armazenados, adotando-se uma numerao para cada caixa ou pasta. Uma folha com esta listagem pode ser fixada nas paredes do escritrio. Outras medidas eficazes para a organizao do escritrio so a colocao de um mural para a fixao de plantas, cronogramas e avisos, alm de um chaveiro o qual contenha todas as chaves das instalaes da obra e dos apartamentos, devidamente identificadas por etiquetas.4.2.7 Guarita do vigia e portaria

A existncia de uma portaria formal, com um funcionrio trabalhando exclusivamente como porteiro, s justificvel em obras de grande porte nas quais h um grande fluxo dirio de pessoas e veculos. Nestas obras a porta69Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

ria geralmente aproveitada para abrigar o vigia, visto que este trabalhar somente no turno da noite. Neste caso, esta guarita-portaria deve observar dois requisitos de localizao, muitas vezes difceis de serem cumpridos simultaneamente. O primeiro requisito decorre da funo de controle de entrada e sada de pessoas e caminhes, exigindo uma localizao junto ao porto de entrada de pessoas e, se possvel, tambm prxima ao porto de entrada de caminhes. O segundo requisito decorre das atividades do vigia, exigindo que da instalao seja possvel ter uma viso global do canteiro, especialmente das divisas e do almoxarifado. J em obras de pequeno porte mais freqente existir apenas um vigia, o qual, se possuir residncia fora da obra, no requer uma dependncia especfica. Entretanto, em alguns casos pode acontecer a contratao de um vigia que reside na prpria obra, no raramente com a famlia. Nestes casos exige-se, j no estudo de layout, a alocao de um espao para a sua residncia, considerando a necessidade de fornecimento de gua e luz. Normalmente as dimenses de 2,20 m x 3,30 m ou 3,30 m x 3,30 m so suficientes.4.2.8 Planto de vendas

Atualmente comum que as obras possuam um planto de vendas, geralmente posicionado na divisa frontal do terreno e ocupando um espao substancial. Apesar de ser evidente a necessidade de integrao do planto de vendas ao projeto de layout, esta recomendao com freqncia negligenciada. Na maioria dos casos a construo do planto feita com bastante antecedncia em relao ao incio da obra, sem avaliar as implicaes de sua localizao sobre o layout geral do canteiro.70Planejamento de canteiros de obra e gesto de processos

4.3 Instalaes provisrias: acessos obra e tapumes Embora parea um requisito bvio, nem todos os canteiros possuem um porto para entrada de pessoas exclusivo, fazendo com que as pessoas tenham que entrar pelo mesmo porto de acesso de veculos. A localizao do porto de pessoas deve ser estudada em conjunto com o estudo do(s) trajeto(s) que visitantes e funcionrios devem fazer ao entrar e sair da obra. Qualquer que seja a localizao do porto, se recomenda que o mesmo atenda aos seguintes requisitos: (a) possua uma inscrio que o identifique, como, por exemplo, entrada de pessoas; (b) possua uma inscrio com o nmero do terreno; (c) possua uma fechadura ou puxador que facilite a abertura e o fechamento; (d) na placa de tapume ao lado do porto, ou na prpria placa do porto, recomendvel a colocao de uma caixa de correio, a qual tem dimenses usuais de 20 cm (largura) x 30 cm (profundidade) x 20 cm (altura); (e) possua uma campainha, que pode tocar, por exemplo, na zona de servio do pavimento trreo, em local prximo ao guincho e a betoneira, e no almoxarifado. Quando existirem recursos para tanto, a campainha pode ser substituda por um porteiro eletrnico. Para manter o porto permanentemente fechado pode ser utilizada uma fechadura de tranca automtica acoplada a um sistema de molas, de forma que a simples batida do porto ser suficiente para fech-lo.71Diretrizes para o planejamento de canteiros de obra

Ao entrar na obra normal que o visitante, ou mesmo os funcionrios, no saibam ao certo qual caminho percorrer para chegar at as escadas de acesso aos pavimentos superiores ou s reas de vivncia. Isto pode induzir tomada de caminhos inseguros ou mais longos, sendo uma demonstrao de descaso com o planejamento do canteiro. Para evitar este tipo de situao, uma boa medida a construo de um acesso coberto para entrada de pessoas, delimitado lateralmente. Este acesso deve ser uma passagem obrigatria para entrada e sada de pessoas na obra. Deve comear no porto de pessoas e estender-se at uma rea coberta, desenvolvendo trajeto que desvie das reas de produo e estoque de materiais, privilegiando, por outro lado, a passagem junto as reas de vivncia e escritrio, terminando em local prximo as escadas do prdio. Alm da funo de segurana, o acesso pode ser aproveitado para fixao de cartazes relacionados ao marketing do empreendimento, e tambm com setas indicativas de locais da obra e com instrues sobre procedimentos de segurana. A Figura 4.6 ilustra as dimenses e a configurao do acesso.

Figura 4.6 - Acesso coberto para entrada de pessoas na obra

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