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O DESTINO DOS DEZ 1 PITTACUS LORE

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Por anos, a Garde tem lutado contra os Mogadorianos em segredo. Agora tudo isso mudou. A invasão começou. John está na linha de frente da batalha em Nova York. E logo quando a sorte parecia estar contra ele, seu melhor amigo - um humano - inexplicavelmente desenvolve um legado - e Sam pode não ser o único. Enquanto a dupla tenta rastrear Cinco e Nove em meio ao caos, eles encontram outro adolescente que pode exercer habilidades, que uma vez foram feitas somente para a Garde. Se ele é um amigo ou inimigo, no entanto, ainda deverá ser descoberto. Enquanto isso, Seis, Marina e Adam estão presos no México. Eles tiveram acesso ao Santuário e foram capazes de despertar o poder escondido nele, mas sua batalha anterior os deixou sem qualquer forma de conseguir encontrar os outros. Os Mogs estão retornando em pleno vigor e será necessário um milagre para escapar deles. A Garde está no limite, lutando nesta guerra em muitas linhas de frente. A única chance que eles têm, é acabar com o líder de u

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PITTACUS LORE

TRADUÇÃO DE:

JOHN DC

GUILHERME GUIMARÃES

FELLIPE FERNANDES

ALLIE FREITAG

JÚNIOR ROSA PIRES

SAMUEL LIRA

REVISADO POR:

JÚLIA CORNETTI

VIVIAN LOPES

TÍTULO ORIGINAL: THE FATE OF TEN

2015 – PITTACUS LORE

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PITTACUS LORE

OOOOS LEGADOS DE LORIENS LEGADOS DE LORIENS LEGADOS DE LORIENS LEGADOS DE LORIEN

PITTACUS LOREPITTACUS LOREPITTACUS LOREPITTACUS LORE

LivrosLivrosLivrosLivros

Eu sou o número Quatro

O Poder dos Seis

A Ascensão dos Nove

A Queda dos Cinco

A Vingança dos Sete

O Destino dos Dez

EEEE----booksbooksbooksbooks

Os arquivos perdidos #1: Os arquivos perdidos #1: Os arquivos perdidos #1: Os arquivos perdidos #1: Os legados da Seis

Os arquivos perdidos #2:Os arquivos perdidos #2:Os arquivos perdidos #2:Os arquivos perdidos #2: Os legados do Nove

Os arquivos perdidos #3:Os arquivos perdidos #3:Os arquivos perdidos #3:Os arquivos perdidos #3: Os legados dos Mortos

Os arquivos perdidos #4:Os arquivos perdidos #4:Os arquivos perdidos #4:Os arquivos perdidos #4: A busca por Sam

Os arquivos perdidos #5:Os arquivos perdidos #5:Os arquivos perdidos #5:Os arquivos perdidos #5: Os esquecidos

Os arquivos perdidos #6:Os arquivos perdidos #6:Os arquivos perdidos #6:Os arquivos perdidos #6: Os últimos dias de Lorien

Os arquivos perdidos #7:Os arquivos perdidos #7:Os arquivos perdidos #7:Os arquivos perdidos #7: Os legados do Cinco

Os arquivos perdidos #8:Os arquivos perdidos #8:Os arquivos perdidos #8:Os arquivos perdidos #8: Retorno a Paradise

Os arquivos perdidos #9:Os arquivos perdidos #9:Os arquivos perdidos #9:Os arquivos perdidos #9: A traição de Cinco

Os aOs aOs aOs arquivos perdidosrquivos perdidosrquivos perdidosrquivos perdidos #10:#10:#10:#10: A Fuga

Os arquivos perdidos #11:Os arquivos perdidos #11:Os arquivos perdidos #11:Os arquivos perdidos #11: A Navegadora

Os arquivos perdidos #12:Os arquivos perdidos #12:Os arquivos perdidos #12:Os arquivos perdidos #12: A Guard

Os arquivos perdidos #Os arquivos perdidos #Os arquivos perdidos #Os arquivos perdidos #13: 13: 13: 13: Renascimento dos LegadosRenascimento dos LegadosRenascimento dos LegadosRenascimento dos Legados

Extra: a origem do número oitoExtra: a origem do número oitoExtra: a origem do número oitoExtra: a origem do número oito

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os eventos neste livro são reais.

nomes e lugares foram modificados,

para proteger os lorienos, que

continuam escondidos,

outras civilizações existem.

e algumas querem destruir vocês.

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PRÓLOGO ................................ 09

CAPÍTULO UM ............................ 16

CAPÍTULO DOIS .......................... 30

CAPÍTULO TRÊS .......................... 41

CAPÍTULO QUATRO ........................ 54

CAPÍTULO CINCO ......................... 63

CAPÍTULO SEIS .......................... 74

CAPÍTULO SETE .......................... 81

CAPÍTULO OITO .......................... 93

CAPÍTULO NOVE .......................... 105

CAPÍTULO DEZ ........................... 120

CAPÍTULO ONZE .......................... 130

CAPÍTULO DOZE .......................... 138

CAPÍTULO TREZE ......................... 150

CAPÍTULO CATORZE ....................... 167

CAPÍTULO QUINZE ........................ 185

CAPÍTULO DEZESSEIS ..................... 197

CAPÍTULO DEZESSETE ..................... 211

CAPÍTULO DEZOITO ....................... 225

CAPÍTULO DEZENOVE ...................... 244

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CAPÍTULO VINTE ........................ 254

CAPÍTULO VINTE E UM ................... 279

CAPÍTULO VINTE E DOIS ................. 286

CAPÍTULO VINTE E TRÊS ................. 302

CAPÍTULO VINTE E QUATRO ............... 314

CAPÍTULO VINTE E CINCO ................ 326

DIVULGAÇÃO DA SÉRIE ........................DIVULGAÇÃO DA SÉRIE ........................DIVULGAÇÃO DA SÉRIE ........................DIVULGAÇÃO DA SÉRIE ........................ 329

A FUGA .................................. A FUGA .................................. A FUGA .................................. A FUGA .................................. 335

A NAVEGANTE ............................. A NAVEGANTE ............................. A NAVEGANTE ............................. A NAVEGANTE ............................. 343

A GUARDIÃ .........................A GUARDIÃ .........................A GUARDIÃ .........................A GUARDIÃ ............................... ...... ...... ...... 354

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Este é o dia pelo qual treinávamos. O dia que todos nós temíamos. Este é o dia pelo qual treinávamos. O dia que todos nós temíamos. Este é o dia pelo qual treinávamos. O dia que todos nós temíamos. Este é o dia pelo qual treinávamos. O dia que todos nós temíamos.

Passamos anos lutando contra os Mogadorianos em segredo, sem nunca Passamos anos lutando contra os Mogadorianos em segredo, sem nunca Passamos anos lutando contra os Mogadorianos em segredo, sem nunca Passamos anos lutando contra os Mogadorianos em segredo, sem nunca

deixar o mundo saber a verdade sobre a guerra. Mas agora tudo isso deixar o mundo saber a verdade sobre a guerra. Mas agora tudo isso deixar o mundo saber a verdade sobre a guerra. Mas agora tudo isso deixar o mundo saber a verdade sobre a guerra. Mas agora tudo isso

mudou.mudou.mudou.mudou.

As naves deles invadiram a As naves deles invadiram a As naves deles invadiram a As naves deles invadiram a Terra. Se não encontrarmos uma maneira de Terra. Se não encontrarmos uma maneira de Terra. Se não encontrarmos uma maneira de Terra. Se não encontrarmos uma maneira de

detêdetêdetêdetê----los agora, a humanidade poderá sofrer o mesmo destino do nosso los agora, a humanidade poderá sofrer o mesmo destino do nosso los agora, a humanidade poderá sofrer o mesmo destino do nosso los agora, a humanidade poderá sofrer o mesmo destino do nosso

povo aniquilado.povo aniquilado.povo aniquilado.povo aniquilado.

Gostaria de estar com John, na linha de frente da batalha em Nova Gostaria de estar com John, na linha de frente da batalha em Nova Gostaria de estar com John, na linha de frente da batalha em Nova Gostaria de estar com John, na linha de frente da batalha em Nova

Iorque, mas estou esperando Iorque, mas estou esperando Iorque, mas estou esperando Iorque, mas estou esperando –––– orando orando orando orando –––– para que a chave da nosspara que a chave da nosspara que a chave da nosspara que a chave da nossa a a a

sobrevivência esteja no Santuário. Este é o local no qual os Anciãos sobrevivência esteja no Santuário. Este é o local no qual os Anciãos sobrevivência esteja no Santuário. Este é o local no qual os Anciãos sobrevivência esteja no Santuário. Este é o local no qual os Anciãos

sempre esperaram que fôssemos quando crescêssemos. Este foi o plano sempre esperaram que fôssemos quando crescêssemos. Este foi o plano sempre esperaram que fôssemos quando crescêssemos. Este foi o plano sempre esperaram que fôssemos quando crescêssemos. Este foi o plano

deles para nós. Lá jaz um poder que foi escondido debaixo da Terra por deles para nós. Lá jaz um poder que foi escondido debaixo da Terra por deles para nós. Lá jaz um poder que foi escondido debaixo da Terra por deles para nós. Lá jaz um poder que foi escondido debaixo da Terra por

gerações. gerações. gerações. gerações.

Um poder que pode salvar o mundo. OUm poder que pode salvar o mundo. OUm poder que pode salvar o mundo. OUm poder que pode salvar o mundo. Ou destruíu destruíu destruíu destruí----lo.lo.lo.lo.

E agora, nós o acordamos. E agora, nós o acordamos. E agora, nós o acordamos. E agora, nós o acordamos.

Eles mataram a Número Um na Malásia.Eles mataram a Número Um na Malásia.Eles mataram a Número Um na Malásia.Eles mataram a Número Um na Malásia.

A Número Dois, na Inglaterra.A Número Dois, na Inglaterra.A Número Dois, na Inglaterra.A Número Dois, na Inglaterra.

Pegaram o Número Três no Quênia,Pegaram o Número Três no Quênia,Pegaram o Número Três no Quênia,Pegaram o Número Três no Quênia,

e o Número Oito, na Flórida.e o Número Oito, na Flórida.e o Número Oito, na Flórida.e o Número Oito, na Flórida.

Eu sou a Número Seis Eu sou a Número Seis Eu sou a Número Seis Eu sou a Número Seis –––– mas nossos números não importam mais.mas nossos números não importam mais.mas nossos números não importam mais.mas nossos números não importam mais.

Porque agora não somos Porque agora não somos Porque agora não somos Porque agora não somos os únicos com Legados.os únicos com Legados.os únicos com Legados.os únicos com Legados.

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a porta da frente começa a tremer. sempre fez isso toda vez que o portão de metal é fechado com força, acontece desde que eles mudaram para o apartamento em Harlem três anos atrás. Entre a entrada principal e os finos papéis de parede, eles sempre estão cientes das idas e vindas de todos que moram no prédio. Eles colocam a televisão no mudo para ouvir melhor, uma garota de quinze anos de idade e um velho homem de cinquenta e sete, filha e padrasto que raramente olham um para o outro, mas que colocaram as diferenças de lado para assistir à invasão aligenígena. O homem passou quase toda a tarde murmurando orações em espanhol, enquanto a garota assistiu à cobertura das notícias em um silêncio receoso. Tudo parece como um filme para ela, parece tão irreal que o medo ainda não despertara nela. A garota se pergunta se o bonito homem loiro que tentou lutar contra os monstros está morto. O homem se pergunta se a mãe da garota, uma garçonete de um pequeno restaurante no centro, sobreviveu ao ataque inicial. O homem coloca a TV no mudo para que possam ouvir melhor o que acontece do lado de fora. Um de seus vizinhos sobe correndo as escadas, gritando durante todo o percurso. “— Eles estão no quarteirão! Estão no quarteirão!”

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O homem range os dentes em descrença. “— O garoto está perdendo. Aquelas bestas pálidas não vão se incomodar com Harlem. Estamos seguros aqui”, ele assegura à garota. Ele aumenta o volume. A garota não tem muita certeza sobre o que ele disse. Ela vai até a porta e espia o lado de fora. O hall do lado de fora está escuro e vazio. Assim como no quarteirão atrás do dela, onde a repórter parece literalmente um farrapo. Ela está suja e com manchas no rosto, sujeira por todo seu cabelo loiro. Há uma mancha de sangue seco em sua boca em vez de um batom. A repórter parece mal estar conseguindo entender tudo. “— Reiterando, o bombeamento inicial parece ter sido afunilado” – a repórter diz tremendo, o homem escutando com atenção. “— Os... os... os Mogadorianos, eles tomaram as ruas em massa e parecem estar, ah, fazendo prisioneiros, embora temos visto algumas coisas mais violentas à... à... menor provocação...” A repórter soluça. Atrás dela, há centenas de alienígenas pálidos com uniformes pretos marchando pelas ruas. Alguns deles vem em direção à câmera, olhando fixamente para a lente com seus olhos negros. “— Jesus Cristo” – diz o homem. “— Novamente, reiterando, estamos sendo, ah, estamos sendo permitidos a continuar a transmissão. Eles... eles... os invasores, eles parecem querer nos ter aqui...” Lá em baixo, o portão chacoalha novamente. Há um guincho de metal rasgando e um estrondo alto. Alguém não tinha a chave. Alguém precisou derrubar o portão completamente. “— São eles!” – a garota diz. “— Fique calada!” – responde o homem. Ele abaixa o volume da TV mais uma vez. “— Quero dizer, fique em silêncio. Droga”.

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Eles ouvem passos pesados subindo as escadas. A garota se afasta da porta quando ela ouve outra porta sendo derrubada. Os vizinhos deles dos andares debaixo começam a gritar. “— Vá se esconder”, o homem diz à garota. “— Vá logo”. O homem segura com firmeza um taco de baseball que ele retirou do closet quando a primeira nave alienígena apareceu no céu. Ele se aproxima da porta oscilante, e se posiciona em um dos lados dela, encostado na parede. Eles podem ouvir barulhos vindos do hall. Com um barulho alto, ouvem a porta de seu vizinho ser arrancada das dobradiças, palavras duras em um inglês arrastado, gritando, e finalmente, um som parecido com um relâmpago comprimido atingindo o chão. Eles viram as armas dos alienígenas na televisão, olharam abismados para os raios azuis de energia crepitante que eles atiravam. Os passos diminuem, e então param em frente à porta que ainda oscila. Os olhos do homem estão arregalados, suas mãos segurando firme o taco de baseball. Ele percebe que a garota ainda não se moveu. Ela está congelada. “— Acorde, idiota!” – ele diz. “— Vá agora!” Ele gesticula para a janela da sala de estar. Está aberta, a escada de incêndio esperando do lado de fora. A garota odeia quando o homem a chama de idiota. Mesmo assim, pela primeira vez que ela se lembra, a garota faz o que seu padrasto manda. Ela sobe na janela e a pula como fez diversas outras vezes nesse mesmo apartamento. A garota sabe que ela não deveria ir sozinha. Seu padrasto deveria fugir também. Ela dá a volta na escada de incêndio para chamá-lo, e então de repente ela está olhando para dentro do apartamento quando a porta da frente deles é arrancada. Os alienígenas são bem mais feios pessoalmente que na televisão. A alteridade deles congela a garota onde ela está. Ela olha fixamente para a pele pálida do primeiro que passa pela porta, depois para seus

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olhos negros que não piscam, sem contar para as tatuagens bizarras. Há quatro alienígenas no total, todos armados. É o primeiro que vê a garota na escada de incêndio. Ele para no vão da porta, sua arma esquisita apontada para ela. “— Se renda ou morra” – o alienígena diz. Um segundo depois, o padrasto da garota acerta o alienígena no rosto com seu taco. Foi um golpe forte – o homem ganhava a vida como mecânico, seus antebraços tinha uma espessura grande ganhada com as doze horas de trabalho diárias. O taco cavou no rosto do alienígena, e a criatura imediatamente se transformou em cinzas. Antes que o padrasto da garota pudesse colocar o taco de volta sobre o ombro, o outro alienígena atira em seu peito. O homem é jogado para trás dentro do apartamento, sua camisa pegando fogo. Ele cai sobre a mesa de centro e rola, acabando de cara com a janela, onde ele trava seu olhar com a garota. “— Corra! – o padrasto dela de alguma forma encontra forças para gritar. “— Corra, droga!” A garota começa a descer a escada de incêndio. Quando ela chega em baixo, ela ouve tiros vindos do seu apartamento. Ela tenta não pensar sobre o significado daquilo. Uma das criaturas coloca sua cara pálida na janela e mira sua arma na direção da garota. Ela se solta da escada, caindo no beco que se encontrava abaixo, bem na hora em que o ar ao seu redor crepita. Os pelos de seus braços se arrepiam e a garota conclui que há eletricidade passando pelo metal da escada de incêndio. Mas ela não se machucou. O alienígena errou. A garota pula sobre algumas sacolas de lixo e corre para a boca do beco, espiando pelo canto para observar a rua na qual ela cresceu. Há um hidrante jorrando água para cima, o que lembra a garota as festas de verão do quarteirão. Ela vê um caminhão do correio caído, sua carreta cheia de fumaça, como se fosse explodir a qualquer instante.

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Mais abaixo no quarteirão, estacionada no meio da rua, a garota vê a pequena nave dos alienígenas, uma das muitas que ela e seu padrasto viram sair da nave maior que ainda flutua sobre a ilha de Manhattan. Eles passam esse vídeo várias vezes nas notícias, assim como o vídeo do garoto loiro. John Smith. Esse é seu nome. Assim foi como a narradora do vídeo o chamou. Onde ele está agora? – a garota se pergunta. Provavelmente não está salvando as pessoas em Harlem, disso ela tem certeza. A garota sabe que ela tem que se salvar. Ela está prestes a começar a corre quando ela avista outro grupo de alienígenas saindo de um prédio do outro lado da rua. Eles têm uma dúzia de humanos com eles, alguns rostos familiares da vizinhança, duas crianças que ela reconhece. Eles forçam as pessoas a se ajoelharem na rua e apontam as armas para elas. Um grande monstro alienígena anda ao lado da linha formada pelas pessoas, clicando um pequeno objeto em sua mão, como um guarda do lado de fora de uma casa noturna. A garota não tem certeza se quer ver o que acontece depois. Ela ouve metal guinchando atrás dela. Então, ela se vira e vê um dos alienígenas que estava em seu apartamento descendo pela escada de incêndio. Ela corre. A garota é rápida e ela conhece essas ruas. O metrô está a apenas alguns quarteirões de distância. Uma vez, em um desafio, a garota desceu na plataforma e se aventurou pelos tuneis. Os ratos e a escuridão não a assustaram nem um pouco em comparação a esses alienígenas. É para lá que ela vai. Ela pode se esconder lá, até mesmo seguir para o centro, para tentar encontrar sua mãe. A garota não sabe como vai contar para sua mãe sobre seu padrasto. Ela mesma ainda não acredita. Ela continua a esperar que tudo não passa de um sonho.

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A garota corre pelas ruas quando três alienígenas ficam em seu caminho. Seu instinto faz ela tentar voltar, mas seu tornozelo se vira e ela perde o equilíbrio. Ela cai, batendo com força na calçada. Um dos alienígenas solta um grunhido baixo – e a garota percebe que ele está rindo dela. “— Se renda ou morra”, ele diz, e a garota sabe que isso não é uma escolha. Os alienígenas já têm suas armas erguidas e apontadas, os dedos quase apertando os gatilhos. Se renda e morra. Eles vão matá-la de qualquer jeito, não importando o que ela faça. A garota tem certeza disso. A garota levanta as mãos para se defender. É um reflexo. Ela sabe que não vai ajudar em nada contra as armas. Mas ajuda. As armas dos alienígenas voam para cima, fugindo das mãos deles. Elas voam vinte metros de distância para trás deles. Eles olham para a garota, paralisados e incertos. Ela também não entende o que acabou de acontecer. Mas ela consegue sentir alguma coisa diferente dentro dela. Algo novo. É como se ela pudesse controlar qualquer objeto no quarteirão. Tudo o que ela precisa fazer é puxar e empurrar. A garota não tem certeza de como ela sabe disso. Parece natural. Um dos alienígenas carrega outra arma e a garota move sua mão da direita para a esquerda. Ele voa pela rua e cai sobre o para-brisa de um carro estacionado. Os outros dois trocam olhares e começam a se afastar. “— Quem está rindo agora?” – a garota pergunta, levantando. “— Garde”. – um deles responde num sussurro. A garota não sabe o que isso significa. O jeito que ele falou parece ser um xingamento. Isso faz a garota sorrir. Ela gosta de ver que essas coisas que estão pela sua vizinhança estão com medo dela agora. Ela pode lutar contra eles.

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Ela vai matá-los. A garota levanta as mãos para o alto e o resultado é um dos alienígenas sendo levantado do chão. A garota abaixa suas mãos com a mesma rapidez que as levantou, jogando o alienígena em cima do seu companheiro. Ela repete isso até ambos se tornarem cinzas. Quando isso acontece, a garota olha para suas mãos. Ela não sabe de onde esse poder vem. Ela não sabe o que isso significa. Mas ela vai usá-lo.

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NÓS PASSAMOS PELA ASA QUEBRADA DE UM AVIÃO DE COMBATE explodido, o pedaço de metal jogado no meio da rua de uma cidade como uma barbatana de tubarão. Quanto tempo se passou desde que vimos os jatos fazendo barulhos no céu, uma formação clara indo para o centro da cidade e a Anúbis? Parece que foi há dias, mas deve ter sido apenas há algumas horas. Algumas das pessoas que estão com nós – os sobreviventes – eles gritaram e aplaudiram quando viram os jatos, como quando a maré começa a subir. Eu sabia o que aconteceria. Fiquei em silêncio. Apenas alguns minutos depois, podemos ouvir as explosões enquanto a Anúbis destruía esses jatos no céu, estilhaçando as peças militares mais sofisticadas da Terra por toda a ilha de Manhattan. Eles não mandaram mais nem um jato desde então. Quantas mortes até agora? Centenas. Milhares. Talvez mais. E é tudo minha culpa. Porque eu não pude matar Setrákus Ra quando tive a chance.

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— À sua esquerda! – um homem grita de algum lugar atrás de mim. Eu viro minha cabeça, carrego uma bola de fogo instantaneamente, e incinero um Mogadoriano enquanto ele virava a esquina. Eu, Sam, e uma dúzia de sobreviventes que fomos juntando pelo caminho - mal conseguimos dar passos largos. Estamos na parte sul de Manhattan agora. Fugimos para cá. Lutamos até chegarmos aqui. Quarteirão por quarteirão. Tentando aumentar a distância entre nós e o centro da cidade, onde os Mogadorianos estão em maior quantidade, onde vimos pela última vez a Anúbis. Estou exausto. Eu tropeço. Eu mal consigo sentir meus pés, eles estão cansados. Acho que estou prestes a desmoronar. Um braço gira em torno do meu ombro e me estabiliza. — John? – Sam pergunta, preocupado. Ele está me segurando. Parece que sua voz está vindo de dentro de um túnel. Eu tento respondê-lo, mas as palavras não vêm. Sam vira a cabeça e fala com um dos sobreviventes. — Precisamos sair das ruas por algum tempo. Ele precisa descansar. A próxima coisa que eu lembro, é estar encostado contra a parede do hall de entrada de um prédio residencial. Eu devo der desmaiado por alguns minutos. Eu tento me fortalecer, descansar. Preciso continuar lutando. Mas eu não consigo – meu corpo se recusa a ser punido novamente. Eu deixo meu corpo se deslizar contra a parede para que eu então sente no chão. O carpete está coberto de poeira e vidro quebrado que deve ter sido explodido de fora para dentro. Há mais ou menos vinte e cinco de nós juntos aqui. Isso foi tudo que conseguimos salvar. Todos sujos e manchados de sangue, alguns machucados, todos cansados. Quantos ferimentos eu curei hoje? Foi fácil, no começo. Depois de um tempo, então, eu pude sentir meu Legado de cura drenar minha própria energia. Eu devo ter atingido meu limite.

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Eu me lembro das pessoas não pelo nome, mas pelo estado em que eu as encontrei ou pelo o que eu curei. Braço-quebrado e preso-embaixo-do-carro parecem preocupados, com medo. Uma mulher, a Pulou-da-janela, coloca sua mão em meus ombros. Eu assinto para ela dizendo que estou bem e ela parece aliviada. Bem na minha frente, Sam conversa com um policial sem uniforme que parece ter uns cinquenta anos. Ele tem sangue seco por toda parte em um lado do rosto de um corte no topo da cabeça que eu curei. Eu esqueci o nome dele ou onde o encontramos. As vozes deles parecem distantes, como se fossem o eco vindo de um túnel de um quilômetro de distância. Eu tenho que me focar para entender o que eles dizem, e mesmo isso me toma um esforço colossal. Minha cabeça parece estar envolta a algodão. — Ouvi no rádio que temos um ponto de apoio na ponte do Brooklyn – o policial diz. — DPNY, Guarda Nacional, exército... caramba, todo mundo. Eles estão guardando a ponte. Evacuando os sobreviventes de lá. É apenas há alguns bairros de distância e eles dizem que os Mogs estão concentrados no norte da cidade. Nós podemos conseguir. — Então vocês devem ir – Sam responde. — Partam agora que a costa está limpa, antes que mais uma das patrulhas deles apareçam. — Vocês deveriam vir conosco, garotos. — Não podemos – Sam diz. — Um dos nossos amigos ainda está lá fora. Temos que encontrá-lo. Nove. É quem precisamos encontrar. A última vez que o vimos, ele estava lutando com Cinco em frente às Nações Unidas. Através das Nações Unidas. Temos que encontrá-lo antes de deixarmos Nova Iorque. Temos que encontrá-lo e salvar o tanto de pessoas que pudermos. Meus sentidos estão começando a voltar, mas ainda estou demasiado exausto para me mover. Eu abro minha boca para falar, mas tudo o que eu consigo é um gemido.

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— Ele está no limite – diz o policial, e sei que ele fala de mim. — Vocês dois já fizeram o suficiente. Venham conosco agora, enquanto podem. — Ele vai ficar bem – Sam diz. A dúvida em sua voz me faz ranger os dentes e focar. Eu preciso me esforçar, levantar e continuar lutando. — Ele desmaiou. — Ele só precisa descansar por alguns minutos. — Eu estou bem – eu murmuro, mas não acho que eles me ouviram. — Você vai acabar sendo morto se ficar, garoto – o policial fala para Sam. — Vocês não podem continuar com isso. Há muito deles contra vocês dois. Deixe isso para o exército, ou... Ele para. Nós sabemos que o exército já fez sua tentativa. Manhattan está perdida. — Iremos sair daqui o mais rápido que pudermos – Sam responde. — Você aí em baixo consegue me ouvir? – o policial está falando comigo agora. Usando o mesmo tom na voz que Henri costumava usar. Eu me pergunto se ele tem filhos em algum lugar. — Não há mais nada que você possa fazer aqui. Você nos trouxe até aqui, deixe-nos fazer o resto. Nós iremos carregá-lo até a ponte, se for preciso. Todos os sobreviventes da sala assentem, murmurando em concordância. Sam olha para mim, suas sobrancelhas erguidas em questionamento. Seu rosto está sujo com poeira e cinzas. Ele parece exausto e fraco, como se mal conseguisse se manter em pé. Uma arma Mogadoriana está pendurada em sua cintura presa por um fio de eletricidade cortado, e é como se o corpo todo dele estivesse pendido para aquela direção, o peso extra ameaçando derrubá-lo. Eu me forço a levantar. Meus músculos estão cansados e quase inúteis. Estou tentando mostrar para o policial e para os outros que eu ainda tenho forças dentro de mim, mas eu posso dizer pelo modo que eles estão me olhando que estão com pena, que eu não pareço muito promissor. Eu mal consigo impedir minhas pernas de tremerem. Por um momento, parece que eu vou desmoronar no chão. Mas então, alguma

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coisa acontece – eu sinto como se uma força tivesse me levantado e começado a me carregar, suportando um pouco do meu peso, endireitando minhas costas e esticando meus ombros. Eu não sei como eu estou fazendo isso, onde estou encontrando força, é quase sobrenatural. Não, na verdade não é sobrenatural. É o Sam. Telecinese. Sam está se concentrando em mim, tentando fazer parecer que ainda há um pouco de força dentro de mim. — Vamos ficar – eu digo, finalmente, minha voz rouca. — Há mais pessoas para serem salvas. O policial move a cabeça em questionamento. Atrás dele, uma garota que eu vagamente me lembro de tê-la salvo de cair de uma escada de incêndio começa a chorar. Não tenho certeza do motivo. Sam continua completamente focado em mim, com uma expressão de esforço no rosto, gotas de suor formando em sua têmpora. — Mantenham-se em segurança – eu digo para os sobreviventes. — Então, ajudem quem vocês puderem. Este é o planeta de vocês. Vamos todos salvá-lo juntos. O policial dá alguns passos até mim para apertar minha mão. — Não iremos esquecer de você, John Smith – ele diz. — Todos nós. Devemos nossas vidas à você. — Mande todos eles para o inferno – alguém diz. E então de uma vez todos os outros do grupo dos sobreviventes estão se despedindo e agradecendo. Eu junto meus dentes no que espero ser um sorriso. A verdade é que, estou muito cansado para isso. O policial – ele é o líder agora, ele irá mantê-los seguro – ele garante com que todos fiquem quietos e sejam rápidos, e então os lidera para fora do hall do prédio residencial e os guia em direção à ponte do Brooklyn. Assim que ficamos sozinhos, Sam me solta da força telecinética que ele usava para me manter ereto e eu caio para trás, me encostando na parede novamente, lutando para manter meus pés sob meu corpo. Ele

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está sem fôlego e suando pelo esforço que fez para me manter daquele jeito. Ele não é lorieno e não teve treinamento adequado, mas de algum jeito ele desenvolveu um Legado e começou a usá-lo da melhor maneira que conseguiu. Considerando nossa situação, ele não teve escolha de aprender a usá-lo no caminho para cá. Sam com Legados – se as coisas não estivem tão caóticas e desesperadoras, eu estaria mais animado. Eu não tenho certeza de como nem porque isso aconteceu com ele, mas o mais novo poder de Sam é na verdade uma das únicas coisas que ganhamos desde que chegamos à Nova Iorque. — Obrigado – eu digo, as palavras saem com mais facilidade agora. — Sem problemas – ele responde. — Você é o símbolo da resistência da Terra agora; não podemos deixá-lo caído por aí. Eu tento me desencostar da parede, mas minhas pernas ainda não estão prontas para suportar todo meu peso. Seria mais fácil se eu apenas me arrastasse para a porta do apartamento. — Olhe para mim. Não sou o símbolo de nada – eu resmungo. — Pare – ele diz. — Você está exausto. Sam coloca seu braço em volta de mim, me ajudando. Ele está se arrastando também, então eu tento não jogar tanto peso em cima dele. Estivemos no inferno nas últimas horas. As peles das minhas mãos estão formigando pelo tanto que tive que usar meu Lúmen, jogando bolas de fogo de pelotão em pelotão de Mogadorianos. Eu espero que não tenha danificado nenhum nervo permanentemente ou coisa do tipo. O pensamento de acender meu Lúmen agora quase faz com que meus joelhos cedam. — Resistência – eu digo amargamente. — Resistência é o que acontece depois de você perder uma guerra, Sam. — Você sabe o que eu quis dizer – ele responde. Eu posso dizer pelo tom de sua voz trêmula que é um esforço para Sam parecer otimista depois de tudo o que vimos hoje. Pelo menos ele está tentando. — A

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maioria dessas pessoas sabiam quem você era. Eles disseram que havia um vídeo seu ou coisa do tipo no noticiário. E tudo o que aconteceu na NU – você basicamente desmascarou Setrákus Ra em frente de uma audiência internacional. Todo mundo sabe que você tem lutado contra os Mogadorianos. Que você tentou impedir isto. — Então eles sabem que eu falhei. A porta para o apartamento do primeiro andar está entreaberta. Eu a empurro e depois Sam a fecha e a tranca atrás de nós. Eu tento encontrar o interruptor de luz mais próximo, surpreso por ver que ainda há eletricidade aqui. A eletricidade só está presente em alguns pontos da cidade. Eu acho que esse bairro ainda não foi atingido com força. Eu apago as luzes rapidamente – na nossa atual situação, não queremos atrair atenção de nenhuma patrulha Mogadoriana que possam estar nos arredores. Enquanto eu tropeço até o colchão mais próximo, Sam está fechando as cortinas do apartamento. O apartamento é pequeno, de um cômodo só. Há uma pequena cozinha apertada separada da sala de estar por um balcão de granito, um pequeno closet e um pequeno banheiro. Quem quer que viva aqui definitivamente deixou tudo com pressa, há roupas espalhadas pelo chão, uma tigela de cereal virada de ponta cabeça e um quadro de fotos quebrado perto da porta, que parece que foi pisado. Na foto, um casal de uns vinte anos cada posa em frente de uma praia tropical, um pequeno macaco no ombro do rapaz. Essas pessoas tinham uma vida normal. Mesmo se eles conseguiram sair de Manhattan e estiverem em segurança, isso acabou agora. A Terra nunca mais será a mesma. Eu costumava imaginar um lugar calmo como esse para Sarah e eu, uma vez que os Mogadorianos forem derrotados. Não um apartamento apertado na cidade de Nova Iorque, mas algo simples e calmo. Há uma explosão distante, os Mogs destruindo alguma coisa na parte norte da cidade. Eu percebo o quão ingênua os sonhos de vidas após guerra são. Nada nunca mais será normal despois disso.

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Sarah. Espero que ela esteja bem. Era o rosto dela que eu chamava em meus pensamentos nas partes mais difíceis da nossa batalha pelos bairros de Manhattan. Continue lutando e você irá vê-la novamente, era o que eu ficava repetindo para mim mesmo. Eu queria poder falar com ela. Eu preciso falar com ela. Não apenas com Sarah, mas com Seis também – eu preciso entrar em contato com os outros, tentar descobrir o que Sarah conseguiu com Mark James e seu misterioso contato, e para saber o que Seis, Marina e Adam fizeram no México. Isso tem de ter alguma ligação com Sam ter de repente desenvolvido um Legado. E se ele não for o único? Eu preciso saber o que aconteceu fora da cidade de Nova Iorque, mas meu telefone via satélite foi destruído quando eu caí no Lago Oeste e o celular pré-pago está sem sinal de internet. Até agora, somos apenas eu e Sam. Sobrevivendo. Na cozinha, Sam abre a geladeira. Ele para e olha para mim. — É errado pegarmos a comida dessas pessoas? – ele pergunta. — Tenho certeza de que eles não irão se importar – eu respondo. Eu fecho meus olhos pelo que parece ser um segundo, mas deve ter sido mais, e quando os abro há um pedaço de pão perto do meu nariz. Com uma mão esticada teatricamente como em uma HQ, Sam telecinematicamente flutua um sanduíche de pasta de amendoim, um prato de plástico e uma colher em frente do meu rosto. Mesmo me sentindo fraco, eu não posso evitar sorrir com seu esforço. — Me desculpe, não foi minha intenção acertá-lo com o sanduíche – Sam diz enquanto eu pego a comida do ar. — Ainda estou me acostumando com isso, obviamente. — Não se preocupe. É fácil puxar e empurrar com telecinese. A precisão é a parte mais difícil de se aprender. — Sem brincadeiras – ele diz. — Você está se saindo incrivelmente bem para quem desenvolveu telecinese há apenas quatro horas, cara.

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Sam se senta no colchão perto de mim com seu sanduíche. — Ajuda se eu imaginar que eu tenho, tipo, mãos invisíveis. Isso faz sentido? Eu penso como foi quando eu treinei minha própria telecinese com Henri. Parece que foi há tanto tempo. — Eu costumava visualizar o que quer que eu fosse mover, e então desejava que acontecesse. – eu digo a Sam. — Começamos com coisas pequenas. Henri costumava jogar bolas de baseball contra mim no quintal, e então eu praticava tentando segurá-las com minha mente. — Ah, bem, eu não acho que brincar de batedor é uma opção para mim nesse momento – Sam diz. — Eu vou encontrar outras maneiras de praticar. Sam flutua seu sanduíche do seu colo. Ele inicialmente o aproxima da boca para morde-lo, mas ele erra a altura depois de alguns segundos de concentração. — Nada mal – eu digo. — É mais fácil quando não estou pensando sobre isso. — Como quando estávamos lutando pelas nossas vidas, por exemplo? — Sim – Sam diz, movendo a cabeça assentindo. — Vamos falar sobre como isso aconteceu comigo John? Ou por que aconteceu? Ou ... Eu não sei. O que isso significa? — Os Garde desenvolvem seus Legados na adolescência – eu digo, dando de ombros. — Talvez você seja apenas um cara atrasado. — Amigo, você esqueceu que não sou lorieno? — Muito menos Adam, mas ele tem Legados – eu digo. — É, o pai bruto dele o conectou com uma Garde morta e... Eu levanto uma mão e interrompo Sam. — Tudo o que quero dizer é que nada está definido. Acho que os Legados não funcionam da forma que meu povo presumia – eu pauso por um momento para pensar. — O que aconteceu com você tem algo a ver com o que Seis e os outros fizeram no Santuário. — Seis fez isso... – Sam diz.

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— Eles foram para lá para encontrar Lorien na Terra, e eu acho que eles conseguiram. E então, talvez Lorien escolheu você. Sem nem perceber, eu já devorei meu sanduíche de pasta de amendoim. Meu estômago ronca. Eu me sinto um pouco melhor, minha força começando a ser restaurada. — Bem, é uma honra – Sam diz, olhando para suas mãos e pensando sobre tudo. Ou, tá mais pra tipo, pensando em Seis. — Uma honra aterrorizante. — Você se saiu bem lá fora. Eu não poderia ter salvo todas aquelas pessoas sem você – eu digo, dando palmadinhas nas costas de Sam. — A verdade é que, eu não sei que infernos está acontecendo. Eu não sei como, nem porquê você de repente desenvolveu um Legado. Estou apenas feliz por ter acontecido. Estou feliz por ainda ter um fiapo de esperança na nossa situação de morte e destruição. Sam fica de pé, limpando sua roupa dos farelos das calças. — É, esse sou eu, a grande esperança da humanidade, atualmente morrendo por outro sanduíche. Quer outro? — Eu posso fazê-lo – eu digo a Sam, mas quando eu me inclino para levantar, eu sou imediatamente empurrado de volta para o colchão. — Vai com calma – Sam diz, fingindo não estar cansado como eu estou. — Eu cuido dos sanduíches. — Vamos ficar aqui por apenas mais alguns minutos – eu digo, sonolento. — Então vamos procurar Nove. Eu fecho os olhos, ouvindo Sam fazendo os lanches na cozinha, tentando espalhar a pasta de amendoim telecinematicamente com a faca. Nos fundos, sempre de fundo agora, eu posso ouvir o barulho de lutas em algum lugar de Manhattan. Sam está certo – somos a resistência. Deveríamos estar lá fora resistindo. Se eu puder apenas descansar por alguns minutos... Eu não abro meus olhos até Sam balançar meus ombros. Imediatamente, eu posso dizer que eu dormi. A luz no apartamento

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mudou, dá para ver as luzes das ruas acesas, um brilho amarelo atravessando as cortinas. Um prato com sanduíches me espera num sofá próximo a mim. Estou tentado a ir lá e devorar todos. Parece que tudo dentro de mim está a nível animal agora – sono, fome, raiva. — Por quanto tempo eu apaguei? – eu pergunto a Sam, me sentindo um pouco melhor fisicamente mas também culpado por dormir enquanto há pessoas morrendo por toda Nova Iorque. — Mais ou menos uma hora – ele diz. — Eu iria deixá-lo descansar, mas... Em explicação, Sam gesticula para trás, em direção a uma pequena tela de televisão que está fixada em uma das paredes do quarto. O noticiário local na verdade está transmitindo ao vivo. Sam deixou a televisão no mudo e a imagem ocasionalmente some e volta com a estática, mas há – a cidade de Nova Iorque em chamas. Imagens granuladas mostram uma iminente Anúbis atravessando o céu, suas armas laterais bombardeando o terraço dos arranha-céus mais altos até não sobrar nada além de destroços e poeira. — Eu nem lembrei de verificar se ela estaria funcionando até alguns minutos atrás – ele diz. — Eu pensei que os Mogs teriam destruídos os prédios das emissoras, você sabe, por motivos de guerra. Eu não esqueci o que Setrákus Ra me disse quando eu estava pendurado na sua nave sobre o Lago Oeste. Ele quer que eu assista a Terra cair. Lembrando agora, àquela visão de Washington D.C., que eu compartilhei com Ella, eu me lembro que a cidade parecia bem destruída, mas não fora completamente arrasada. E havia sobreviventes para servi-lo. Eu acho que estou começando a entender. — Não é um acidente – eu digo para Sam, pensando alto. — Ele deve querer que os humanos sejam capazes de ver a destruição que ele está causando. Não foi como em Lorien onde sua frota apenas exterminou todo mundo. Foi por isso que ele tentou montar aquele show nas Nações Unidas, é por isso que ele criou aquela droga sombria de ProMog, para

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tentar ter a Terra sob seu controle pacificamente. Ele planeja viver aqui depois de tudo. E se não houver ninguém para adorá-lo igual aos Mogadorianos, ele pelo menos quer que os humanos sobreviventes o temam. — Bom, a parte de todos o temerem está funcionando – Sam diz. Na tela, o noticiário mudou para uma cena ao vivo de uma âncora em sua mesa. O prédio da emissora desse canal provavelmente foi danificado de alguma forma durante a batalha porque parece que eles mal conseguem se manter no ar. Apenas metade das luzes do estúdio estão acesas e a câmera está vesga, a imagem não está na resolução e tamanho que deveria estar. Ela fala diretamente para a câmera durante alguns segundos, apresentando a próxima imagem. A âncora desaparece, substituída por um vídeo tremido feito por um celular. No meio de um cruzamento importante, uma figura obscura gira e gira, como um lançador de discos Olímpicos se aquecendo. Com exceção de que esse cara não está segurando um disco. Com uma força sobre-humana ele está girando outra pessoa pelo tornozelo. Depois de uma dúzia de giros, o cara solta o corpo da outra pessoa, arremessando-o em direção à janela frontal de um cinema nas proximidades. O vídeo continua centrado no lançador, que levantando os ombros, grita o que parece ser um xingamento. É Nove. — Sam! Aumenta o volume! Enquanto Sam tateia em busca do controle remoto, quem quer que tenha filmado Nove corre para trás de um carro para se proteger. É desorientador, mas o cameraman consegue continuar gravando com uma das mãos erguidas por cima do carro. Um grupo de soldados Mogadorianos apareceu no cruzamento, atirando em Nove. Eu assisto enquanto ele dança estupidamente para desviar dos tiros, usando telecinese para arremessar um carro na direção deles.

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— ... novamente, esse vídeo foi gravado na Union Square há alguns momentos – a voz trêmula da âncora diz enquanto Sam aumenta o volume. — Nós sabemos que esse garoto super poderoso, hum, é possivelmente um adolescente alienígena que estava nas Nações Unidas junto com o outro jovem identificado como John Smith. Nós o vemos aqui empenhado em um combate contra os Mogadorianos, fazendo coisas humanamente impossíveis... — Eles sabem meu nome – eu digo, quase em silêncio. — Olhe – Sam diz, tocando meu braço. A câmera está mostrando novamente o cinema, quando uma forma corpulenta lentamente se levanta da janela estilhaçada. Eu não tenho uma boa visão dela, mas eu imediatamente sei exatamente quem Nove estava arremessando. Ele voa do cinema para o céu, derruba alguns Mogs que ainda estão no cruzamento, e então mergulha violentamente em direção à Nove. — Cinco – Sam diz. A câmera não consegue acompanhar Cinco e Nove enquanto eles se chocam contra a grama de um pequeno parque nas proximidades, arrancando grandes pedaços de terra do chão. — Eles estão se matando – eu digo. — Temos que ir até lá. — Um segundo garoto extraterrestre está lutando com o primeiro, pelo menos quando eles não estão lutando contra os invasores..., - a âncora diz, parecendo perplexa. — Nós não sabemos o motivo. Não temos muitas respostas até agora, eu receio. Apenas... fique em segurança, Nova Iorque. Operações de evacuação estão acontecendo caso você tenha uma rota segura para a ponte do Brooklyn. Se você está próximo à batalha, mantenha-se dentro de casa e— Eu pego o controle remoto da mão de Sam e desligo a TV. Ele me observa enquanto eu levanto, para garantir que estou bem. Meus músculos gritam em protesto e eu fico tonto por alguns segundos, mas eu posso aguentar. Eu tenho que aguentar. Nunca a expressão “lute

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como se não houvesse amanhã” fez tanto sentido. Se eu for fazer isso da maneira certa – se vamos salvar a Terra de Setrákus Ra e dos Mogadorianos, então o primeiro passo é encontrar Nove e sobreviver à Nova Iorque. — Ela disse Union Square – eu digo. — É pra lá que vamos.

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o mundo não mudou. pelo menos, nada que eu tenha percebido. O ar da floresta está úmido e pegajoso, uma mudança bem-vinda do clima frio das profundezas subterrâneas do Santuário. Eu tenho que proteger meus olhos assim que emergimos para o sol da tarde, passando um de cada vez através de uma passagem estreita em forma de arco que apareceu no templo Maia. — Eles não poderiam ter nos deixado vir por aqui? – eu resmungo, estralando minhas costas e olhando para as centenas de degraus de calcário pelos quais subimos mais cedo. Assim que chegamos ao topo de Calakmul, nossos pingentes ativaram algum tipo de portal lórico que nos teleporto para dentro do Santuário escondido debaixo de uma estrutura centenária construída pelos humanos. Nós nos encontramos em uma sala de outro mundo obviamente criada pelos Anciãos em uma de suas visitas à Terra. Eu acho que o sigilo era uma prioridade maior que fácil acesso. De qualquer forma, a saída não foi uma escalada e não envolveu teleportes

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desorientados – apenas uma escada espiral empoeirada de uns cem metros que nos deixou tontos e uma simples porta, e é claro, que não estava lá quando entramos pela primeira vez. Adam sai do Santuário atrás de mim, seus olhos semicerrados. — E agora? – ele pergunta. — Eu não sei – eu digo, olhando para o céu escuro. — Eu meio que esperava que o Santuário iria responder essa pergunta. — Eu... eu ainda estou incerto sobre o que vimos lá. Ou sobre o que realizamos – Adam diz, hesitando. Ele tira alguns fios dos cabelos negros do rosto enquanto me observa. — Somos dois – eu respondo. A verdade seja dita, eu nem tenho certeza sobre o tanto de tempo que passamos debaixo da terra. Você perde a noção do tempo quando está em uma conversa profunda com um ser de outro mundo feito de energia lórica pura. Nós juntamos a maior quantidade de peças das nossas heranças lóricas que conseguimos poupar – basicamente, usamos tudo o que não era arma. Uma vez dentro do Santuário, nós jogamos todas aquelas pedras desconhecidas e bugigangas dentro de um poço secreto que estava bem conectado com uma dormente fonte de energia de loralite. Eu acho que foi o suficiente para despertar a Entidade, a personificação da própria Lorien. Nós conversamos. É, isso aconteceu. Mas a Entidade praticamente falou com enigmas e, no fim da nossa conversa, a coisa virou uma supernova, sua energia inundando o Santuário e vazando para o mundo. Assim como Adam, eu não tenho certeza do que aconteceu. Eu esperava emergir do Santuário e encontrar... alguma coisa. Talvez jatos de energia lórica através dos céus, ou esses mesmos jatos incinerando o Mogadoriano mais próximo que não tenha o nome Adam? Talvez mais poder para os meus Legados, me colocando em um nível que eu seria capaz de criar uma tempestade tão grande o suficiente para destruir todos os nossos inimigos? Seria muita sorte.

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Até onde eu sei, a frota Mogadoriana ainda está entrando na Terra. John, Sam, Nove e os outros podem estar correndo contra as linhas de frente agora, e eu não tenho certeza se fizemos alguma coisa para ajudá-los. Marina é a última a passar pela porta do templo. Ela se abraça, seus olhos cheios de lágrimas, piscando contra a luz do sol. Antes da fonte de energia explodir para o mundo, de alguma forma ela conseguiu ressuscitá-lo, mesmo que tenha sido por alguns minutos. Tempo suficiente para Marina se despedir. Mesmo agora, já começando a suar por causa da umidade da selva, eu tenho calafrios quando penso no retorno de Oito, inundado pela energia de loralite, sorrindo mais uma vez. Foi o tipo daqueles momentos maravilhosos que eu evitei durante o passar dos anos – isto é guerra, e as pessoas vão morrer. Amigos vão morrer. Eu cheguei ao ponto de aceitar a dor. Então o choque é menor quando algo de fato acontece. Foi reconfortante rever Oito, melhor ainda foi se despedir. Eu não consigo imaginar pelo que Marina está passando. Ela o amava e agora ele se foi. Mais uma vez. Marina para e olha de volta para o templo, quase como se ela quisesse voltar. Perto de mim, Adam pigarreia. — Ela vai ficar bem? – ele me pergunta, com a voz baixa. Marina se fechou comigo uma vez antes, na Flórida, depois de Cinco ter nos traído. Depois dele ter matado Oito. Mas isso não é a mesma coisa – ela não está irradiando um campo frio constante e não parece que vai estrangular o primeiro que se aproximar. Quando ela se volta para nós, sua expressão é quase serena. Ela está se lembrando, gravando aquele momento com Oito na memória e se preparando para o que está por vir. Eu sorrio enquanto Marina pisca os olhos e passa a mão sobre o rosto. — Eu posso te ouvir – ela responde Adam. — Estou bem. — Ótimo – Adam responde, desviando o olhar timidamente. — Eu só queria dizer, sobre o que aconteceu lá, uh, que eu... Adam para, eu e Marina olhando para ele com expectativa. Sendo um Mog, ainda acho que ele se sente desconfortável em falar dessas coisas

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como nós. Eu sei que ele ficou maravilhado com a energia lórica do Santuário, mas também posso dizer que ele se sentiu deslocado, como se não valesse o suficiente parece estar na presença da Entidade. Quando a pausa de Adam se prolonga, eu dou uma batidinha nas costas dele. — Vamos deixar essa conversa pra viagem, ok? Adam parece aliviado enquanto andamos de volta para o Escumador, a nave pousada ao lado de outra dúzia de naves mogadorianas na pista de pouso mais próxima. O acampamento mogadoriano em frente do templo é exatamente do jeito que deixamos – uma bagunça. Os Mogadorianos que estavam tentando entrar no Santuário desmataram a área em círculo ao redor do templo, chegando o mais perto do templo que a energia do escudo do Santuário permitiu. E só após atravessarmos a videira que cresceu demais sobre a terra chamuscada diretamente em frente do templo do acampamento Mogadoriano que percebo que o campo de força se foi. A barreira mortal que protegeu o Santuário por anos não existe mais. — O campo de força deve ter sido desativado enquanto estávamos lá dentro – eu digo. — Talvez ele não precise mais ser protegido agora – Adam sugere. — Ou talvez a Entidade desviou seu poder para outro lugar – Marina responde. Ela pausa por um momento, pensando. — Quando eu beijei Oito... eu senti. Por um breve momento, eu fiz parte da energia da Entidade. Ela estava se espalhando para todos os lugares através da Terra. Para onde quer que a energia lórica foi, está espalhada. Talvez ela não possa ativar suas defesas aqui. Adam lança um olhar para mim, e eu deveria ser capaz de explicar o que Marina disse. — O que você quer dizer com “se espalhou pela Terra”? – eu pergunto. — Eu não sei como explicar de uma forma mais clara – Marina diz, olhando para o templo, agora metade em sobra com a luz do sol poente. — Foi como se eu fosse igual a Lorien. E estávamos em todos os lugares.

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— Interessante – Adam diz, observando o templo e então olhando para o chão abaixo de seus pés, com uma mistura de cuidado e temor. — Para onde você acha que foi? Seus Legados estão...? — Eu não me sinto nada diferente – eu digo. — Eu também não – Marina diz. — Mas alguma coisa mudou. Lorien está por aí agora. Na Terra. Não é definitivamente o resultado que eu estava esperando, mas Marina parece ter tanta certeza sobre isso. Eu não quero ser a chuva e estragar a festa dela. — Eu acho que veremos se alguma coisa mudou quando voltarmos para a civilização. Talvez a Entidade esteja lá chutando alguns traseiros. Marina olha para o templo. — Deveríamos deixá-lo assim? Sem proteção? — O que sobrou para ser protegido? – Adam pergunta. — Ainda há um pouco da, uh, da entidade aqui – Marina responde. — Mesmo agora, eu acho que o Santuário ainda é uma maneira de... eu não sei, ao certo. Entrar em contato com Lorien? — Não temos outra escolha – eu digo. — Os outros vão precisar de nós. — Espere um segundo – Adam diz, olhando em volta. — Onde está Areal? Com tudo que aconteceu dentro do Santuário, eu esqueci completamente sobre o Chimaera que deixamos do lado de fora para ficar de guarda. Não há sinal do lobo em lugar algum. — Poderia ele ter ido mata adentro atrás daquela mulher Mog? – Marina pergunta. — Phiri Dun-Ra – Adam responde, nomeando a trueborn que sobreviveu ao nosso ataque. — Ele não iria atrás dela sozinho desse jeito. — Talvez a luz do Santuário o tenha assustado – eu sugiro. Adam franze a testa, então põe as duas mãos ao lado da boca. — Areal! Venha, Areal! Ele e Marina começam a procurar por qualquer sinal do Chimaera. Eu subo no Escumador para ter uma visão melhor dos arredores do lugar.

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Daqui de cima, algo chama minha atenção. Uma silhueta cinza se contorcendo debaixo de um tronco podre perto da entrada da floresta. — O que é aquilo? – eu grito, apontando para lá. Adam corre em direção, com Marina logo atrás. Um momento depois, Adam carrega a pequena forma em minha direção, com uma expressão preocupada. — É o Areal – Adam diz. — Quer dizer, eu acho que é. Adam segura um pássaro cinza em suas mãos. Está vivo, mas seu corpo está duro e contorcido, como se tivesse sofrido um ataque de choque elétrico e nunca se recuperado dos espasmos. Suas asas se sobressaem em ângulos estranhos e seu bico está meio aberto, congelado. Embora isso não seja nada parecido com o lobo poderosos que deixamos para trás há algum tempo, há uma qualidade que eu imediatamente reconheço. É Areal, com certeza. Ele parece mal, seus olhos de pássaro pretos olham ao redor freneticamente. Ele está vivo, sua mente está funcionando, mas seu corpo não está respondendo. — Que diabos aconteceu com ele? – eu pergunto. — Eu não sei – Adam diz, e por um momento eu acho que vejo lágrimas em seus olhos. Ele se acalma. — Ele parece... ele parece como os outros Chimaera antes de eu resgatá-los da Ilha da Ameixa. Eles foram usados em experimentos. — Está tudo bem Areal, está tudo bem – Marina sussurra. Ela gentilmente amacia as penas da cabeça, tentando acalmá-lo. Ela usa seu Legado para curar a maioria dos ferimentos que o cobrem, mas o Legado não liberta Areal da paralisia. — Não podemos fazer mais nada por ele aqui – eu digo. Eu me sinto mal, mas nós precisamos continuar. — Se aquela Mog fez isso com ele, ela já foi há tempos. Vamos apenas voltar e nos encontrar com os outros. Talvez eles tenham ideias sobre o que podemos fazer. Adam traz Areal abordo do Escumador e o enrola em um lençol. Ele tenta fazer o Chimaera paralisado se sentir o mais confortável que ele pode antes de se sentar atrás dos controles da nave. Eu quero entrar em contato com John, descobrir o que está acontecendo fora da selva mexicana. Eu retiro o telefone de satélite do

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meu bolso e me sento numa cadeira perto de Adam. Enquanto ele começa a ligar a nave, eu ligo para o John. O telefone toca sem parar. Depois de um minuto, Marina se inclina para frente e olha para mim. — O quão preocupadas devemos ficar por ele não estar atendendo? – ela pergunta. — A quantidade normal de preocupação – eu respondo. Eu não posso evitar olhar para meu tornozelo. Sem novas cicatrizes – como se não tivéssemos sentido a dor dilacerante. — Pelo menos sabemos que eles ainda estão vivos. — Alguma coisa está errada – Adam diz. — Não podemos saber – eu respondo rapidamente. — Não é porque ele não atende o celular uma vez que possa significar que— — Não. Eu quero dizer, com a nave. Quando eu afasto o celular da minha orelha, eu posso ouvir o som estranho que o motor do Escumador está emitindo. As luzes do painel na minha frente piscam erraticamente. — Eu pensei que você sabia como fazer essa coisa funcionar – eu digo. Adam franze as sobrancelhas, então bruscamente desliga os botões no painel, desligando a nave. Abaixo de nós, o motor range e faz um barulho estridente, como se algo estivesse muito errado. — Eu sei como funcionar essa coisa, Seis – ele diz. — Não é erro meu. — Desculpe – eu respondo, observando enquanto ele espera o motor desligar por completo para religar a nave. O motor – tecnologia mogadoriana que deveria ter um silêncio mortal – mais uma vez range e faz barulhos estranhos. — Talvez devêssemos tentar algo além de ligar e desligar. — Primeiro Areal, agora isso. Não faz sentido – Adam murmura. — Os eletrônicos ainda funcionam. Bem, tudo com exceção do diagnóstico automático, que é exatamente o que nos diria o que há de errado com o motor. Eu me levanto e aperto o botão que abre o painel. Uma doma de vidro se parte sobre nós.

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— Vamos dar uma olhada – eu digo. Todos saímos do Escumador. Adam pula para inspecionar a parte de baixo da nave, mas eu fico na parte de cima do capô, perto do painel. Eu me pego olhando para o Santuário, a construção de calcário antiga que agora nada mais é do que uma sombra. Marina está perto de mim, observando silenciosamente. — Você acha que iremos vencer? – eu pergunto a ela, sem tempo de evitar a pergunta. Eu não tenho nem certeza se quero uma resposta. Marina não diz nada por algum tempo. Depois, ela põe sua cabeça em meus ombros. — Eu acho que estamos mais perto de vencer hoje do que estivemos ontem – ela diz. — Eu queria poder ter certeza que ter vindo aqui valeu a pena – eu digo, apertando o telefone satélite, desejando que ele toque. — Você precisa ter fé – Marina responde. — Estou lhe dizendo, Seis, a Entidade fez alguma coisa... Eu tento acreditar nas palavras de Marina, mas tudo que eu consigo pensar são os aspectos práticos. Eu me pergunto se a inundação da energia lórica do Santuário foi o que acabou com nossa nave, em primeiro lugar. Ou talvez tenha uma explicação mais simples. — Ei, gente? – Adam chama debaixo da nave. — Eu acho que vocês deveriam ver isso. Eu desço para a parte de baixo do Escumador, Marina logo atrás de mim. Nós encontramos Adam encravado entre as escoras metálicas do trem de pouso, um painel dobrado de baixo do ventre blindado da nave no chão a seus pés. — Esse é o nosso problema? – eu pergunto. — Isso já era – Adam explica, chutando a peça desalojada. — E olham para isso... Adam gesticula para que eu me aproxime, então eu sigo até estar ao seu lado, tento uma visão íntima dos motores da nossa nave. O motor do Escumador poderia provavelmente caber dentro do capô de uma caminhonete, porém é mais complicado do que qualquer coisa já

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construída na Terra. Invés de pistões ou engrenagens, o motor é composto de uma série de esferas sobrepostas. Elas giram com pouca frequência enquanto Adam as empurras inutilmente contra a ponta dos cabos expostos que seguem mais profundamente para baixo da nave. — Veja, os sistemas elétricos estão intactos – Adam diz, sacudindo os cabos. — É por isso que ainda tempos um pouco de energia. Mas só isso não é o suficiente para fazer com que a propulsão antigravidade funcione. Esses rotores centrífugos aqui? – ele olha para as esferas sobrepostas. — São elas que nos tiram do chão. A coisa é que, elas também estão intactas. — Então você está me dizendo que o Escumador deveria estar funcionando? – eu pergunto, enquanto olho para os motores. — Deveria – Adam diz, mas então ele gesticula para um ponto vazio entre os rotores e os fios. — Com exceção disso, está vendo? — Eu não tenho ideia do que diabos estou olhando, cara – eu digo. — Está quebrada? — Há um conduíte faltando – ele explica. — É ele que transfere a energia gerada pelos motores para o resto da nave. — E você está me dizendo que ele não caiu da nave. — Obviamente que não. Eu dou alguns passos para longe dos motores do Escumador e observo os arredores perto das árvores em busca de qualquer movimento. Nós já matamos todos os Mogs que estavam tentando entrar no Santuário. Todos, com exceção de uma. — Phiri Dun-Ra – eu digo, lembrando que ela ainda está por aí. Estávamos tão focados em entrar no Santuário para nos incomodarmos com ela antes, e agora... — Ela nos sabotou – Adam diz, chegando a mesma conclusão que eu. Phiri Dun-Ra fez uma encenação até que boa com Adam quando chegamos, e estava preste a fritar o rosto dele no campo de força do Santuário antes de atacarmos. Ele ainda parece bem assustado com isso. — Ela tirou Areal do caminho e então veio até aqui. Deveríamos tê-la matado.

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— Ainda dá tempo – eu digo, franzindo a testa. Eu não vejo nada nas árvores, mas isso não significa que Phiri Dun-Ra não está lá nos observando. — Não poderíamos substituir essa parte com uma de outra nave? – Marina pergunta, gesticulando para mais ou menos a dúzia de outras naves Mogadorianas espalhadas pelo local. Adam grunhe e sai do Escumador. Ele segue até a nave mais próxima, sua mão esquerda segurando um canhão mogadoriano que ele pegou de um dos soldados que matamos. — Eu aposto que essas naves têm peças e painéis que são exatamente como os nossos – Adam murmura. — Pelo menos espero que ela tenha machucado as mãos. Eu me lembro das mãos enfaixadas de Phiri Dun-Ra, queimadas por terem entrado em contato com o campo de força do Santuário. Nós deveríamos ter imaginado isso e não ter deixado ninguém vivo. Mesmo antes de Adam chegar perto da nave, eu tenho um mal pressentimento. Adam se abaixa embaixo da nave, examinando-a. Ele suspira e olha para mim antes de gentilmente dar uma cotovelada no casco da nave sob ele. O painel do motor cai como nunca havia tido nada em cima dele. — Ela está brincando com a gente – ele diz, sua voz num tom baixo, porém grave. — Ela poderia ter atirado em nós quando saímos do Santuário. Porém, ela quer nos manter aqui. — Ela sabe que não pode nos vencer sozinha – eu digo, levantando meu tom de voz um pouquinho, pensando que talvez Phiri Dun-Ra possa morder a isca e sair do esconderijo. — Ela removeu essas partes, certo? – Marina pergunta. — Ela não as destruiu? — Não, parece que ela apenas as pegou – Adam responde. — Provavelmente não quer ser responsável por destruir um monte de naves além de já ter perdido seu esquadrão. Com tudo, nos manter aqui por tempo suficiente até o reforço chegar para nos capturar e nos matar provavelmente vai dá-la um passe VIP até o seu Amado Líder.

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— Ninguém vai ser capturado nem morto – eu digo. — Com exceção de Phiri Dun-Ra. — Há outra maneira de fazer com que nossa nave decole? – Marina pergunta à Adam. — Você poderia... eu não sei? Improvisar alguma coisa? Adam coça sua nuca, olhando para as outras naves. — Eu suponho que seja possível – ele diz. — Depende do que podemos conseguir juntar. Eu posso tentar, mas eu não sou um mecânico. — Isso é um começo – eu digo, olhando para o céu para ver quanto da luz do dia ainda nos resta. Não muito. — Ou, podemos entrar naquela floresta, caçar Phiri Dun-Ra e recuperar nossa peça. Adam assente. — Eu prefiro esse plano. Eu olho para Marina. — E você? Eu nem tenho que perguntar. O suor em meu braço formiga – ela está irradiando a aura gelada. — Vamos caçar – Marina diz.

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sob as condições ideais, a caminhada até a Union Square deveria demorar cerca de quarenta minutos. É a apenas dois quilômetros daqui. Mas estas são de longe as condições ideais. Sam e eu estamos voltando pelos mesmos quarteirões os quais passamos a tarde lutando contra os Mogs. Indo de volta para o local onde a presença Mogadoriana é mais forte. Com sorte, Nove e Cinco ainda não terão se matado quando chegarmos lá. Vamos precisar deles se quisermos ter um pouco de esperança sobre vencer essa guerra. De ambos. Sam e eu seguimos pelas sombras. Alguns bairros ainda têm eletricidade, então os postes das ruas estão acesos, brilhando como se fosse um fim de tarde qualquer numa cidade grande, como se as ruas não estivessem cheias de carros virados de ponta cabeça e rachaduras no pavimento. Nós evitamos esses bairros, pois sabemos que será mais fácil para os Mogadorianos nos encontrarem. Nós passamos por onde deveria ter sido a Cidade Chinesa. Parece que um tornado atingiu aqui. As calçadas estão intransitáveis em um dos

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lados, um bairro inteiro com prédios que desmoronaram. Há centenas de peixes mortos no meio da rua. Temos abrir caminho cuidadosamente através dos obstáculos. No meio do caminho até à UN, ainda havia pessoas perto destes bairros. O DPNY estava tentando conseguir uma evacuação organizada, mas a maioria das pessoas estavam fugindo desesperadamente, apenas tentando ficar à frente dos esquadrões Mogadorianos que pareciam ter a mesma probabilidade de assassinar as pessoas ou levá-las como prisioneiras. Todos estavam em pânico e em estado de choque frente à sua terrível realidade. Sam e eu recolhemos os retardatários, aqueles que não conseguiram fugir a tempo, ou aqueles grupos que foram separados pelas patrulhas Mogadorianas. Havia muito deles. Agora, depois de dez quarteirões, não vimos mais nenhuma alma viva. Talvez a maioria das pessoas na parte baixa de Manhattan conseguiram fugir para a Ponte do Brooklyn – isso se os Mogs não estiverem atacando lá nesse momento. De qualquer forma, eu descobri de que as pessoas que conseguiram sobreviver até o fim do dia são espertas o suficiente para passar a noite escondidas. Enquanto seguimos para o próximo quarteirão desolado, Sam e eu contornamos cuidadosamente uma ambulância abandonada, onde eu escuto sussurros vindos de um beco próximo. Eu coloco minha mão nos braços de Sam e, quando paramos de andar, o barulho cessa. Eu posso dizer que estávamos sendo observados. — O que foi? – Sam pergunta, com a voz num tom baixo. — Há alguém lá. Sam semicerra os olhos para a escuridão. — Vamos continuar, - ele diz depois de alguns segundos. — Eles não querem nossa ajuda. É difícil para mim deixar alguém para trás. Mas Sam tem razão – quem quer que esteja lá está perfeitamente bem escondido, e nós estaríamos colocando-os em um perigo maior se os levássemos conosco.

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Cinco minutos depois, nós viramos uma esquina e vemos nossa primeira patrulha Mogadoriana da noite. Os Mogs estão no lado oposto do quarteirão, então temos um espaço seguro para observá-los. Há doze soldados, todos carregando canhões. Sobre eles, um Escumador está zumbindo, varrendo a rua com um holofote de luz preso na parte debaixo da nave. A patrulha se move metodicamente pelo quarteirão, um grupo de quatro soldados periodicamente se separando dos outros para entrar nos apartamentos escuros dos prédios. Eu os observo nessa rotina por duas vezes, e em ambas eu suspiro aliviado quando os soldados retornam sem prisioneiros. O que aconteceria se os Mogs encontrassem um humano em algum destes prédios e o arrastasse aos berros pela rua? Eu não poderia deixar isso acontecer, certo? Eu teria que lutar. E o que aconteceria depois que Sam e eu seguíssemos nosso caminho? Eles são predadores. Se os deixarmos vivos, eventualmente encontrarão sua presa. Enquanto estou considerando isso, Sam me cutuca, apontando para um beco próximo que irá nos ajudar a evitar os Mogs. — Vamos, - ele diz quase em silêncio. — antes que eles cheguem perto demais. Eu fico enraizado no lugar, considerando nossa sorte. Há apenas doze deles, mais a nave. Eu já lutei com grupos maiores antes e ganhei. Porém, ainda estou cansado da tarde que passamos batalhando sem intervalos, mas teríamos o elemento surpresa do nosso lado. Eu poderia derrubar o Escumador antes mesmo deles perceberem que estavam sob ataque, e o resto iria cair facilmente. — Nós podemos contra eles. — John, está maluco? – Sam pergunta, segurando meu ombro. — Não podemos lutar contra cada Mogadoriano que está em Nova Iorque.

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— Mas podemos lutar contra esses aqui – eu respondo. — Estou me sentindo melhor agora e se alguma coisa der errado, eu posso nos curar depois. — Presumindo que não iremos, você sabe, levar um tiro na cara e morrer. De batalha em batalha, nos curar logo depois—por quanto tempo acha que pode fazer isso? — Eu não sei. — Há muito deles. Temos que escolher nossas batalhas. — Você está certo – eu admito de má vontade. Nós seguimos em direção do beco, pulamos uma cerca de metal e emergimos no quarteirão vizinho, deixando a patrulha Mogadoriana com sua caçada. Logicamente, eu sei que Sam está certo. Eu não deveria estar gastando meu tempo com uma dúzia de Mogs enquanto há uma guerra maior para ser vencida. Depois de um dia exaustivo, eu deveria estar conservando minhas forças. Eu sei que tudo isso é verdade. Mesmo assim, eu não posso evitar me sentir um covarde por evitar as batalhas. Sam aponta para uma placa da Primeira Rua e Segunda Avenida. — Ruas numeradas. Estamos chegando mais perto. — Eles estavam lutando perto da Rua Quatorze, mas isso foi há pelo menos uma hora. Pela forma que estava acontecendo, eles podem ter ido para qualquer direção a partir de lá. — Então vamos manter nossos ouvidos abertos para explosões e xingamentos criativos – Sam sugere. Nós apenas andamos alguns quarteirões acima antes de encontrarmos nossa segunda patrulha de Mogs da noite. Sam e eu se escondemos atrás de um caminhão de entregas, carrinhos abandonados com pães recentemente tostados. Eu movo minha cabeça em direção à frente do caminhão, para observar. Mais uma vez, há doze soldados com um Escumador ajudando-os. Porém, esse grupo se comporta diferente do último. A nave está flutuando, estabilizada, com seu holofote direcionado para uma janela estilhaçada de um banco. Todos os Mogs

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do lado de fora têm seus canhões apontados para o prédio. Alguma coisa os assustou. Eu reconto as cabeças pálidas que estão olhando para a luz do holofote. Onze. Apenas onze onde definitivamente havia doze. Será que algum deles virou cinzas sem que eu notasse? — Vamos – Sam diz, cautelosamente, provavelmente pensando que eu estou querendo arrumar briga mais uma vez. — Deveríamos ir enquanto eles estão distraídos. — Espere um pouco – eu digo. — Algo está acontecendo aqui. Enquanto os outros dão cobertura, dois Mogs seguem em direção ao banco. Eles estão indo devagar, com as armas apontadas, procurando por alguma coisa além da luz do Escumador. Quando eles alcançam o limiar do banco, ambos Mogs têm suas armas arrancadas das mãos e jogadas para longe. O esquadrão inteiro pausa, congelados, frisados por esse acontecimento. É telecinese. Alguém acabou de desarmar os Mogs com um Legado. Eu olho com surpresa para Sam. — Nove ou Cinco – eu digo. — Eles estão encurralados. Voltando para a realidade, o resto dos Mogs abrem fogo sobre a escuridão do banco. Os dois soldados desarmados são levantados do chão, mais uma vez por telecinese, e usados como escudo. Eles se desintegram em cinzas na enxurrada de tiros do seu esquadrão. Então uma mesa sai voando de dentro do banco. Dois Mogs são atingidos pela mobilha, e os outros correm para procurar abrigo. Enquanto isso, o Escumador é manuseado para mais perto da rua, suas armas sendo ativadas, ansiosas para um tiro em direção ao interior do banco. — Eu fico com a nave, você com os soldados – eu digo. — Então vamos – Sam diz, assentindo. — Eu só espero que não seja o Cinco encurralado lá. Eu salto de trás da caminhonete e corro em direção à ação, acendendo meu Lúmen enquanto eu sigo. As terminações nervosas de minhas mãos

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parecem estar fritas. Eu posso realmente sentir o calor do meu próprio Lúmen, como se eu estivesse passando minha mão sobre a chama de uma vela. A dor é suportável, claramente um efeito colateral pelo fato do esforço excessivo de hoje. Eu aguento firme, rapidamente lançando uma bola de fogo no Escumador. Meu primeiro ataque explode o holofote, escurecendo a rua. A nave perde o controle assim que descarrega sua arma no banco, com a explosão mais forte criando rachaduras na parede de tijolos do prédio. Com a arma principal distraída, eu espero ver Nove sair de dentro do banco e se juntar à luta. Ninguém aparece. Talvez o Garde que esteja lá dentro está ferido. Depois de um longo dia lutando entre si e contra os Mogs, eles provavelmente estão mais desgastados do que eu. Eu ouço um chiado de eletricidade atrás de mim – Sam está usando sua arma – e observo enquanto os dois Mogs mais próximos são explodidos em cinzas. Nos vendo chegando por trás, um dos Mogs tenta se abaixar atrás de um carro estacionado. Sam o arranca da proteção com sua nova telecinese e acaba com ele. Um dos outros Mogs grita uma explosão de palavras irritantes em Mogadoriano para um comunicador. Provavelmente está pedido reforço pelo rádio. Entregando nossa localização – isso não é bom. Eu subo em cima do teto de um SUV estacionado convenientemente abaixo do Escumador. No meu caminho, eu arremesso uma bola de fogo no Mogadoriano que está com o comunicador. Ele é engolido pelas chamas e logo não é nada mais do que um monte de cinzas envolta de engrenagens derretidas. Mesmo assim, o dano está feito. Eles sabem que estamos aqui. Precisamos sair daqui depressa. Eu salto do teto do SUV, criando uma enorme cavidade no metal com minha força. Ao mesmo tempo, eu acerto o Escumador com um soco telecinético. Eu não tenho o poder para derrubar a nave, mas eu a acerto com força suficiente, de modo que um dos lados da nave em forma de

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um pires se inclina para baixo, na minha direção. Eu subo direto em cima da coisa, dois pilotos Mogadorianos me encarando em estado de choque. Há algumas semanas atrás, teria sido bom ver dois Mogs com medo. Eu até teria dito alguma coisa engraçada, pegando emprestado algumas do livro de piadas do Nove antes de matá-los. Mas agora – depois do terror que eles desencadearam em Nova Iorque – eu não perco meu fôlego. Eu arranco a porta da cabine, soltando-a de suas dobradiças e arremessando-a para a noite. Os Mogs tentam se soltar dos cintos em seus assentos, tateando por seus canhões. Antes que eles possam fazer qualquer coisa, eu libero um exaustor, que solta um fogo branco muito quente. O Escumador imediatamente começa a ficar fora do controle. Eu pulo da nave, caindo com força na calçada abaixo, minhas pernas cansadas mal conseguindo me suportar. O Escumador se choca contra uma loja do outro lado da rua e explode, fumaça preta ascendendo para fora da janela quebrada da loja. Sam corre até mim, sua arma apontada para o chão. O resto da área está limpa em relação aos Mogs. Por enquanto. — Derrubamos doze, e tipo, ainda falta uns cem mil – Sam diz secamente. — Um deles conseguiu se comunicar com os outros. Precisamos ir – eu digo a Sam, mas enquanto eu falo, eu sinto a mesma luz da outra nave acima de nós mais uma vez. A adrenalina da batalha se foi, minha fadiga voltou. Eu tenho que me apoiar nos ombros de Sam por um minuto, para que eu possa me orientar. — Ninguém saiu do banco – Sam diz. — Eu não acho que Nove está lá. A menos que ele esteja ferido, está tudo muito quieto. — Cinco – eu resmungo, me movendo cautelosamente em direção à entrada explodida do banco. Eu não tenho certeza se posso aguentar uma briga com ele agora. Minha única esperança é que Nove fez um bom trabalho com ele.

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— Lá – Sam diz, apontando para a entrada escura. Alguém está se movimentando aqui. Quem quer que seja, parece ter se escondido atrás de um sofá durante a batalha toda. — Ei, está tudo limpo aqui – eu falo em direção ao banco, rangendo meus dentes enquanto eu ilumino o interior com meu Lúmen. — Nove? Cinco? Não é alguém da Garde que cautelosamente dá um passo em direção ao meu raio de luz. É uma garota. Ela provavelmente tem a nossa idade, alguns centímetros menores que eu, com um corpo magro de velocista. Seu cabelo está amarrado para trás em tranças. Suas roupas estão roçadas devido ou a batalha ou ao caos geral, mas além disso ela parece ilesa. Pendurada atrás do ombro esquerdo da garota, há uma mochila que parece pesada. Ela olha de Sam para mim com olhos castanhos arregalados, eventualmente focando na luz brilhante da palma da minha mão. — Você é ele – a garota diz, dando um passo à frente. — Você é o garoto da TV. Agora que a garota está perto o suficiente para vê-la, eu apago meu Lúmen. Não quero iluminar nossa localização para os reforços Mogadorianos que estão a caminho. — Eu sou John – eu digo a ela. — John Smith. É, eu sei – a garota diz, assentindo exageradamente. — Eu sou Daniela. Você realmente acabou com aqueles alienígenas infernais. — Ahn, obrigado. — Havia alguém lá dentro com você? – Sam interrompe, esticando seu pescoço para olhá-la. — Um cara com raivoso problemático que tem hábito de tirar a camisa? Um caolho bruto? Daniela vira sua cabeça para Sam, franzindo as sobrancelhas. — Não. O quê? Por quê?

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— Pensamos que havíamos visto alguém atacar aqueles Mogs com telecinese – eu digo, olhando para Daniela mais uma vez, sentindo igualmente curiosidade e cuidado. Já fomos enganados por aliados potenciais antes. — Você quer dizer isso? – Daniela estica sua mão e um dos canhões que antes pertenceu a um dos Mogs mortos flutua até ela. Ela o leva e o apoia até o ombro que não está apoiando a mochila. — Uh-huh. Isso é novo para mim. — Eu não sou o único – Sam diz, olhando para mim com os olhos arregalados. Minha mente está trabalhando com as possibilidades tão rápido que eu estou mudo. Eu posso não ter entendido o motivo, mas Sam desenvolver Legados fez sentido para mim até certo ponto. Ele passou tanto tempo com nós da Garde, fez tanto para nos ajudar – se qualquer humano fosse desenvolver Legados, teria de ser ele. As horas desde que a invasão começou foram tão loucas que eu realmente não tive tempo para pensar mais sobre isso. Não precisei, na verdade. Sam com Legados pareceu tão lógico. Quando eu imaginei outros humanos ao lado de Sam desenvolvendo Legados, eu estava pensando nas pessoas que conhecemos, pessoas que nos ajudaram. Eu pensei em Sarah, na maior parte do tempo. Definitivamente não em uma garota aleatória. Essa garota, porém, Daniela, ter desenvolvido um Legado significa algo muito maior do que eu imaginei que havia acontecido. Quem é ela? Por que ela desenvolveu Legados? Há quantos mais iguais a ela por aí? Enquanto isso, Daniela está olhando para nós com aquele olhar novamente. — Então, hum, posso perguntar por que você me escolheu? — Te escolhi? — É, para me tornar uma mutante – Daniela explica. — Eu não podia fazer essa droga até hoje quando você e os caras pálidos- — Mogadorianos – corrige Sam.

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— Eu não podia mover as coisas com a mente até você e os Moga-dork-ians aparecerem – Daniela termina. — O que há, cara? Nenhuma das outras pessoas que eu vi por aí tinha poderes. Sam pigarreia e levanta sua mão, mas Daniela o ignora. Ela está no meio de uma encenação agora. — Eu sou radioativa? O que mais posso fazer? Você tem essas luzes brilhantes que acendem na sua mão. Eu vou ser capaz de fazer isso também? Por que eu? Responda a última primeiro. — Eu... - eu coço a minha nuca, oprimido. — Não tenho a menor ideia porque aconteceu com você. — Oh – Daniela franze a testa, olhando para o chão. — John, não deveríamos ir? Eu assinto quando Sam me lembra do pendente reforço Mogadoriano. Já estamos aqui parados e conversando por muito tempo. Diante de mim – e bem na minha frente, no caso – está... o que exatamente? Novos membros da Garde? Humanos. Não se parece com nada do que já contemplei. Eu preciso me concentrar e raciocinar sobre o novo status rapidamente, porque se houver mais humanos Garde por aí, eles vão precisar de ajuda. E com todos os Cêpans mortos... Bom, assim resta nós. Os Lorienos. Primeiramente, eu tenho que ter certeza de que Daniela vai ficar conosco. Eu preciso de tempo para falar com ela, para tentar descobrir o que exatamente desencadeou o seu Legado. — Não é seguro aqui, você deveria vir conosco – eu digo a ela. Daniela olha em volta, para a destruição que nos rodeia. — Será seguro onde quer que você esteja indo? — Não. Óbvio que não. — O que John quer dizer é que esse bairro em particular vai estar cheio de Mogadorianos a qualquer minuto – Sam explica. Ele começa a se afastar do banco, tentando ser um exemplo. Daniela não o segue, então eu também não.

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— Seu companheiro está nervoso – Daniela observa. — Meu nome é Sam. — Você é um cara nervoso, Sam – Daniela responde, com uma mão na cintura. Ela começou a me olhar novamente, dos pés à cabeça. — Se mais daqueles alienígenas aparecerem, por que você não simplesmente explode o traseiro deles? — Eu... – eu me vejo reciclando a lógica do escolha-sua-batalha que me fez arrepiar todo quando Sam a usou comigo. — Há muito deles para continuarmos lutando. Você pode não perceber e nem sentir agora porque acabou de começar a usá-los, mas nosso Legados não têm uma fonte ilimitada. Você pode abusar, ficar cansada, e então não seremos bons para ninguém. — Conselho bom – Daniela diz. Ela continua enraizada no lugar. — Que pena que você não pôde responder nenhuma das minhas perguntas. — Olhe, eu não sei o motivo pelo qual você desenvolveu Legados, mas é um acontecimento incrível. Uma coisa boa. Talvez seja seu destino. Você pode nos ajudar a vencer esta guerra. Daniela bufa. — Sério cara? Eu não estou lutando em guerra alguma, John Smith de Marte. Estou tentando sobreviver aqui fora. Isso é a América, mano. O Exército vai cuidar do traseiro pálido desses alienígenas. Eles vão cuidar de tudo e pronto. Eu balanço minha cabeça em descrença. Realmente não há tempo para explicar para Daniela tudo o que ela precisa saber sobre os Mogadorianos – sobre a tecnologia superior deles, suas infiltrações no governo da Terra, sua fonte inesgotável de soldados vatborns e monstros. Eu nunca tive que explicar essas coisas para os outros membros da Garde. Nós sempre soubemos disso, fomos criados entendendo nossa missão na Terra. Mas Daniela e os outros novos membros da Garde que podem estar andando desorientadamente por aí... e se eles não estiverem prontos para lutar? Ou não quiserem?

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Uma explosão sacode o chão abaixo de nós. Ela emana de alguns quarteirões de distância, mas ainda assim é poderosa o suficiente para disparar o alarme dos carros e ranger meus dentes. Uma cortina fina de fumaça mais escura que o céu noturno aparece em nosso campo de visão do norte. Parece que um prédio acabou de desmoronar. — Falando sério – Sam diz. — Alguma coisa está vindo em nossa direção. Outra explosão, mais perto, confirma as suspeitas de Sam. Eu me viro desesperadamente para Daniela. — Podemos ajudar uns aos outros. Temos que fazer isso, ou não iremos sobreviver – eu digo, pensando não apenas em nós três, mas nos outros humanos e lorienos. — Estamos procurando nosso amigo. Assim que o encontrarmos, vamos sair de Manhattan. Ouvimos que o governo estabeleceu uma zona segura perto da Ponte do Brooklyn. Seguiremos para lá e— Daniela acaba com meu plano, parando na minha frente. Seu tom de voz aumentou, e eu sinto sua telecinese contra meu peito, como se fosse o seu dedo indicador. — Meu padrasto foi torrado por uma daquelas escórias pálidas e agora eu estou procurando pela minha mãe, garoto extraterrestre. Ela trabalhava aqui perto. Você está dizendo que eu deveria largar tudo e me juntar ao seu exército de duas pessoas, correr pela minha cidade que serviu de cenário e foi explodida? Você está dizendo que o amigo que está procurando é mais importante do que minha mãe? Mais uma explosão. Só que ainda mais perto. Eu não tenho ideia do que dizer para Daniela. Que sim, salvar a Terra é mais importante do que salvar a mãe dela? É esse o meu discurso de recrutamento? Eu teria ouvido isso se alguém me dissesse com relação a Henri ou Sarah? — Ah meu Deus – Sam diz, desesperado. — Podemos pelo menos concordar em correr na mesma direção?

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E é então que o reforço Mogadoriano chega. Não é apenas um esquadrão de Escumadores ou soldados que vieram nos matar. É a Anúbis.

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a nave de guerra massiva, maior que um porta-aviões se torna visível no céu noturno quando ainda está mais ou menos a cinco quarteirões de distância. Ela se arrasta devagar através da fumaça árida que causou com seus recentes bombardeamentos. Sam e eu conseguimos nos manter à frente da Anúbis mais cedo durante a tarde, lutando pelo caminho rumo ao sul enquanto ela lentamente rondava o céu para o oeste. Mas agora, aqui está ela, assombrando a avenida, na direção da Union Square. Eu cerro meus punhos. Setrákus Ra e Ella estão a bordo da Anúbis. Se eu apenas conseguisse chegar lá, talvez eu pudesse lutar pelo caminho até chegar ao Líder Mogadoriano. Talvez eu pudesse matá-lo desta vez. Sam para do meu lado. — No que quer que esteja pensando, é uma má ideia. Precisamos correr, John. Como se fosse para pontuar a declaração de Sam, uma bola escaldante de energia elétrica se forma no cano de um enorme canhão montado no casco da Anúbis. É como uma miniatura do sol se formando dentro do cano, e por um momento ela ilumina os bairros com uma cor azul

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fantasmagórico. Então, com um som como o de mil canhões Mogadorianos sendo utilizados de uma vez, a energia irrompe de dentro do canhão, cortando através da fachada de um prédio comercial próximo, a estrutura de vinte andares quase desmoronando imediatamente. Uma onda de poeira cai sobre a rua em nossa direção. Tossindo, nós três cobrimos os olhos para protegê-los. A poeira talvez nos dê cobertura, mas isso não importa muito quando a nave de guerra tem um canhão que pode demolir prédios inteiros de uma única vez. A Anúbis arrasta-se pesadamente, se aproximando, já se preparando para mais um tiro. Eu não tenho certeza se Setrákus Ra está mirando em pontos de calor dentro dos edifícios ou se ele está apenas destruindo as coisas aleatoriamente, esperando nos atingir. Não importa. A Anúbis é como uma força da natureza e está vindo em nossa direção. — Pro inferno com isso – eu ouço Daniela dizer, e então ela começa a se afastar. Sam a segue, então eu também, nós três recuando pelo mesmo caminho que eu e Sam percorremos para chegar aqui. Teremos de encontrar outra maneira de rastrear o Nove. Se ele ainda estiver nessa área, eu espero que ele consiga fugir desse bombardeamento. — Você sabe onde está indo? – Sam grita para Daniela. — O quê? Vocês estão me seguindo agora? — Você conhece a cidade, não é? Outro prédio explode atrás de nós. A poeira é mais fina desta vez, nos asfixiando, e minhas costas está sendo bombardeada com pequenos pedaços de gesso e cimento. As explosões estão muito próximas. Talvez não seremos capazes de escapar da próxima. — Precisamos sair da rua! – eu grito. — Por aqui! – Daniela grita, enganchando uma curva à esquerda que momentaneamente nos leva para fora do dilúvio de detritos dos edifícios que desmoronaram no fim da avenida.

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Quando Daniela vira, algo se perde pelo zíper quebrado de sua mochila. Por um curto segundo, meus olhos rastreiam uma nota de cem dólares enquanto ela flutua através do ar e é rapidamente engolida pela nuvem de poeira de detritos. Estranho o que você percebe quando está correndo para salvar sua vida. Espere aí. O que exatamente ela estava fazendo naquele banco quando os Mogs a encurralaram? Não há tempo para perguntar. Outra explosão atinge a área, essa definitivamente muito próxima e forte o suficiente para derrubar Sam. Eu o ajudo a levantar e nós cambaleamos para frente, ambos cobertos de poeira pegajosa e asfixiante provida dos prédios destruídos. Embora Daniela esteja apenas a alguns metros à frente, ela é visível apenas como uma silhueta. — Estou aqui! – ela grita para nós. Eu tento iluminar o caminho com meu Lúmen, mas não tem um efeito bom nos fragmentos dos prédios destruídos. Eu não tenho ideia para onde Daniela está nos levando, não até o chão desaparecer debaixo dos meus pés e eu me ver caindo num buraco no chão. — Oof! – Sam deixa escapar quando ele cai no chão de concreto perto de mim. Daniela está de pé a alguns metros à frente. Minhas mãos e joelhos estão raspados devido a aterrisagem, além disso estou ileso. Eu olho por cima do ombro, vendo uma escada escura que rapidamente está coberta com detritos que vêm de cima. Estamos em uma estação de metrô. — Um aviso teria caído bem – eu digo para Daniela. — Você disse, “para fora das ruas” – ela responde. — Estamos fora das ruas. — Você está bem? – eu pergunto a Sam, ajudando-o a se levantar. Ele assente, recuperando o fôlego. A estação de metrô começa a vibrar. As catracas de metal começam a chacoalhar e mais poeira cai do teto. Mesmo as paredes sendo de

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concreto, eu posso ouvir o rugido poderoso dos motores da nave de guerra. A Anúbis deve estar agora bem acima de nós. Uma luz elétrica azul chove dentro da estação vindo de fora. — Vão! – eu grito, empurrando Sam, Daniela já está pulando a catraca. — Para dentro dos túneis! O canhão descarrega com um som agudo. Mesmo protegido por camadas de concreto, eu me arrepio com a eletricidade, meu corpo formigando até os ossos. A estação treme e, sobre nós, um edifício deixa escapar um grunhido agudo, quando suas colunas de metal se entortam e desmoronam. Eu me viro e corro, pulando as catracas depois de Sam e Daniela. Eu olho pelo ombro enquanto o teto começa a ceder, primeiro selando a passagem da escadaria pela qual acabamos de passar, e depois se espalhando em frente, para dentro da estação. Ela não vai aguentar por muito tempo. — Corram! – eu grito de novo, torcendo para ser ouvindo sobre os rangidos da arquitetura. No meio da escuridão do túnel da estação nós arrancamos. Eu acendo meu Lúmen para que possamos ver, minha luz reluzindo nas partes de metal em ambos lados. Eu percebo um movimento do meu lado e me demora alguns segundos para perceber que há uma horda de ratos correndo ao nosso lado, também fugindo do desmoronamento. Em algum lugar aqui em baixo, um cano deve ter estourado, pois estou correndo com água nos tornozelos. Com minha audição aguçada, eu ouço as pedras que nos envolvem grunhindo e rasgando. O que quer que a Anúbis destruiu na rua, causou maior dano para a fundação da cidade. Eu olho rapidamente para o teto bem a tempo de ver uma rachadura se espalhar através do concreto, rompendo rapidamente as paredes cobertas de mofo. É como se estivéssemos tentando desviar dos danos estruturais. Não podemos ganhar essa corrida. O túnel irá desabar.

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Estou prestes a gritar em aviso quando o túnel se rompe acima de Daniela. Ela apenas tem tempo de olhar para cima e gritar enquanto um pedaço desalojado de concreto desaba em sua direção. Eu coloco toda a força em minha telecinese e empurro o concreto para cima. Eu impeço. Eu consegui segurar o pedaço de concreto poucos centímetros acima da cabeça de Daniela. Eu faço tanto esforço para segurar o peso massivo sob a cabeça dela que eu caio de joelhos. Eu sinto as veias em meu pescoço latejarem, suor fresco escorrendo em minhas costas. É como carregar um tremendo peso quando você já está totalmente exausto. E enquanto isso, novas pedaços estão se soltando rapidamente da parte quebrada do teto. É física – o peso tem de ir para algum lugar. E esse lugar vai ser bem acima de nós. Eu posso aguentar. Não por muito tempo. Eu sinto o sangue na minha boca e percebo que estou mordendo meus lábios. Eu mal consigo gritar para os outros por ajuda. Se eu mudar um pouco que seja o foco da minha telecinese, o peso vai ser muito maior. Por sorte, Sam percebe o que está acontecendo. — Temos que segurar o teto! – ele grita para Daniela. — Temos que ajudá-lo! Sam para perto de mim e joga suas mãos para cima. Eu sinto a força de sua telecinese se juntar à minha e isso alivia um pouco da pressão. Agora sou capaz de ficar em pé novamente. Pelo canto do olho, eu vejo Daniela hesitar. A verdade é que, se ela correr agora, comigo e com Sam suportando o túnel, ela provavelmente conseguirá sair ilesa. Estaríamos ferrados, mas ela conseguiria se salvar. Mas ela não corre. Ela para do meu outro lado e começa a ajudar. O concreto no teto grunhe e mais rachaduras aparecem nas paredes do túnel. É um equilíbrio delicado – nossas telecineses apenas forçam o peso da pedra de concreto quebrado mudar-se para outro lugar. Não importa o que fizermos, eventualmente, esse túnel vai desmoronar.

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Peso suficiente foi tirado de cima de mim, então eu sou capaz de falar novamente. Eu ignoro a sensação agoniante nos meus músculos, o peso caindo sobre meus ombros. Sam e Daniela estão segurando, esperando por instruções. — Andem... recuem – eu consigo grunhir. — Vamos recuar... lentamente. De ombro a ombro, nos três marchamos lentamente para trás no túnel. Nós mantemos a pressão telecinética diretamente acima de nós, gradualmente a soltando das seções em que já passamos com segurança. Logo após, elas tremem e desabam. Em certo momento, vejo dois carros caindo dentro do túnel, rapidamente engolidos pelos outros detritos. A rua acima de nós está se partindo, porém nós três conseguimos segurá-la. — Por quanto tempo? – Sam pergunta por entre os dentes. — Não sei – eu respondo. — Continue. — Merda – Daniela repete seguidamente, sua voz quase num sussurro. Eu posso ver seus braços tremendo. Sam e ela são calouros, não estão acostumados com telecinese. Eu nunca suportei esse peso antes, e eu certamente não iria nem chegar perto de conseguir no meu primeiro dia com Legados. Eu posso sentir a força deles se esvaindo, começando a se esgotar. Eles apenas precisam aguentar por mais alguns metros. Se eles não conseguirem, estamos mortos. — Nós vamos conseguir – eu murmuro. — Continuem! Eu posso sentir a estação de metrô gradualmente afundar sob meus pés. Quando mais longe alcançamos, mais resistente o teto acima de nós fica. Passo a passo, a contrapressão telecinética que precisamos exercer diminui, até finalmente chegarmos a uma seção onde o teto está estável. — Podem soltar – eu digo. — Tudo bem, já podem soltar. Juntos, nós três soltamos o teto. Há uns dez metros de distância, o último pedaço do teto que estávamos segurando desmorona no túnel,

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bloqueando o caminho por onde viemos. Sobre nós, o túnel range e se estabiliza. Nós três caímos na água suja do chão do túnel. Eu sinto literalmente que um peso foi retirado de cima dos meus ombros. Eu ouço alguém vomitando próximo a mim e vejo que é Daniela. Eu tento me levantar para ajudá-la, mas meu corpo não coopera. Eu caio de cara na água. Um segundo depois, as mãos de Sam estão embaixo dos meus braços, me levantando. Seu rosto está pálido e tenso, como se ele não tivesse mais força. — Ah cara, ele está morrendo? – Daniela pergunta para Sam. — Não importa o tanto do teto que estávamos segurando, ele provavelmente estava suportando quatro vezes mais – Sam responde. — Me ajude com ele. Daniela desliza para baixo do meu outro braço. Ela e Sam me levantam e me arrastam túnel adentro. — Ele acabou de salvar minha vida – Daniela diz, ainda sem fôlego. — É, ele meio que faz isso direto – Sam vira o rosto, e sussurra no meu ouvido. — John? Pode me ouvir? Você já pode apagar as luzes. Podemos seguir no escuro por enquanto. Só então que eu percebo que ainda estou iluminando o túnel com meu Lúmen. Por causa da fumaça, ainda estou instintivamente mantendo as luzes acesas. Tenho de me esforçar para conseguir apagar meu Lúmen, para não lutar contra minha própria exaustão, permitir ser carregado. Eu apago. Confio em Sam. E então eu já não sinto mais as mãos de Sam e Daniela ao meu redor. Eu não posso sentir meus pés sendo arrastados através da fina poça de água nos túneis da estação de metrô. Todas as minhas dores e cansaço se foram até eu estar flutuando calmamente através da escuridão. A voz de uma garota interrompe meu descanso. — John...

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Uma mão fria segura na minha. É delicada e pequena, frágil, mas aperta com força suficiente para me trazer de volta aos sentidos. — Abra os olhos, John. Eu faço o que ela diz e me encontro deitado numa mesa de operações numa sala austera, várias máquinas de aparência cirúrgicas arrumadas e espalhadas ao meu redor. Próximo à minha cabeça há uma máquina que se parece muito com um aspirador de pó – um tubo de sucção com um bisturi em forma de dente de tubarão e sua extremidade anexada a um barril cheio de uma substância preta viscosa. O líquido flutuando dentro da máquina me lembra daquela coisa que eu limpei das veias do secretário de defesa. Apenas olhar para ela faz minha pele formigar. É inerentemente antinatural e Mogadoriano. Isso não está certo. Onde estou? Fomos capturados enquanto eu estava inconsciente? Eu não consigo sentir meus braços nem minhas pernas. E ainda, estranhamente, eu não estou em pânico. Por alguma razão, eu não me sinto em nenhum estado de perigo real. Eu já tive esse tipo de experiência fora-do-corpo antes. Estou num sonho, eu percebo. Mas ele não é meu. Alguém está controlando isto. Com algum esforço, eu consigo virar minha cabeça para a esquerda. Não há nada diferente nessa direção, com exceção de mais equipamentos de aparência bizarra – uma mistura equipamentos médicos de metal inoxidável e máquinas complexas, como aquelas que encontramos em Ashwood Estates. Na parede mais distante, embora, há uma janela. Um observatório, na verdade. Estamos no ar, o céu escuro do lado de fora, iluminado apenas pelo fogo na cidade abaixo. Estou abordo da Anúbis, flutuando sobre a cidade de Nova Iorque. Prestando atenção em cada detalhe, eu viro minha cabeça para a direita. Um grupo de Mogadorianos vestidos com aventais de laboratório e usando luvas esterilizadas se amontoam ao redor de uma

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mesa de metal exatamente como a que eu estou. Há um pequeno corpo na mesa. Um dos Mogs segura um tubo de outro barril com aquele líquido, no processo de injetá-lo no esterno de uma jovem garota, deitada na mesa. Ella. Ela não chora quando a lâmina da mangueira perfura seu peito. Estou inativo para fazer qualquer coisa enquanto a gosma preta Mogadoriana é lentamente injetada dentro dela. Eu quero gritar. Antes que eu possa, Ella vira sua cabeça e trava um olhar comigo. — John – ela diz, sua voz totalmente calma apesar da cirurgia macabra que está sendo feita nela. — Se levante. Não temos muito tempo.

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— nós podemos fazer isso, mas primeiro precisamos entender como a Phiri Dun-Ra pensa - Adam sussurra. — Você que é o expert na psicologia Mogadoriana - eu respondo, observandAdam enquanto ele usa um galho quebrado para desenhar um quadrado na poeira do chão. — Esclareça-nos. Nós três nos agachamos perto do Escumador sem vida na faixa de terra que os Mogs usavam como pista de pouso. Está escuro agora, mas os Mogs tinham um monte de lanternas elétricas portáteis para realizar as rondas ao redor do Santuário. Eu acho que a Phiri não teve a ideia de roubar as baterias, então pelo menos nós temos luz. Também há alguns projetores de luz posicionados no perímetro do templo, mas não os ligamos. Não precisamos facilitar a espionagem sobre nós para ela. A mata ao nosso redor soa mais alta agora que o sol se pôs, o coar do canto dos pássaros foram trocados por som estridente de bilhões de mosquitos. Eu bato no meu pescoço onde deles estava tentando me morder. — Não há dúvida para mim que ela está lá fora, nos observando - Adam diz. — Todos os soldados da classe dela foram treinados para vigiar.

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— É, nós sabemos - eu digo, o olhando torto na escuridão. — Vocês estiveram nos seguindo durante toda a nossa vida, lembra? - Adam continua, me ignorando. — Ela provavelmente é capaz de ficar três dias sem dormir. E ela não vai ficar no mesmo lugar, ela vai estar sempre em movimento. Não vai haver um acampamento ou nada assim para achar. Se nós formos atrás dela, ela vai mudar de lugar, estando um passo a nossa frente. Ela tem bastante mata para se esconder. Dito isso, o instinto dela será ficar por perto. Ela quer manter o controle sobre nós. Marina faz cara feia para Adam, observando ele desenhar alguns rabiscos na poeira envolta do quadrado. Então eu percebo que ele está desenhando o Santuário e a mata ao seu redor. — Então nós temos que tirá-la de lá. - Marina diz. — Você sabe um bom jeito de fazer isso? – eu pergunto. — Nós damos a ela uma coisa que nenhum Mog consegue resistir. - Adam responde, e desenha um "M" na parte oeste da mata. Então, ele olha parMarina. — Um Garde vulnerável. Imediatamente, eu sinto o ar ao nosso redor ficar mais frio. Marina vai para frente, chegando perto de Adam, olhando-o ameaçadoramente. — Eu pareço vulnerável pra você, Adam? — Com certeza não. Nós só queremos que você pareça assim. — Uma armadilha - eu digo, tentando pensar. — Marina, relaxa. Marina me dá um olhar bravo, mas eu sinto a sua aura de gelo desaparecer. — Então, - Adam continua. — Primeiro, nós nos separamos. — Nos separar? - Marina repete. — Você está brincando?! — Essa é sempre a pior ideia. - eu digo. — Nós podemos ir lá e caçar ela - diz Marina. — Seis pode ficar invisível. Ela não vai ter chance. — Isso poderia levar a noite toda – Adam responde. — Ou mais. — E esse não é exatamente um bom plano nessa merda de mata - eu recordo Marina, me lembrando da nossa jornada nos Everglades. — Nós nos separamos porque é burrice - Adam explica. — Nós fazemos

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parecer que nós estamos tentando encontrar ela, como se estivéssemos tentando poupar tempo. Phiri vai ver isso como uma oportunidade... Adam desenha três linhas saindo do templo, indo para mata. — Seis, você vai para leste, eu vou para o sul, Marina, você vai para oeste. - Adam olha para mim. — Quando você contar duzentos passos na mata, você fica invisível. Ela não vai estar te observando até esse ponto. — O que te faz acreditar que ela não vai me atacar? - eu pergunto. — Eu posso ser vulnerável. Marina bufa. Adam balança a cabeça. — Ela vai ir atrás daquela que possuí o Legado de cura primeiro. Tenho certeza disso. — Porque seria isso que você faria? - Marina pergunta. Adam encontra o seus olhos. — Sim. Marina e eu trocamos um olhar. Pelo menos Adam está sendo direto sobre como ele nos caçaria. Eu estou feliz que ele está no nosso lado. — Eu acho que isso faz sentido. – Marina diz, examinando os desenhos na terra. De repente ela olha para Adam. — Espera. Você está dizendo que os Mogs sabem que eu posso curar? — Claro - ele responde. — Qualquer Legado que eles observam nos arquivos se tornam parte de um dossiê. E todos os Mogs o estudam. É como a segunda lição favorita deles depois do Grande Livro. — Legal - eu digo. Marina considera isso. — Eles não devem saber sobre a minha visão noturna. É uma coisa que eles nunca viram - Adam olha para ela, tirando os olhos do plano. — Você tem visão noturna? Marina assente. — Se você está certo e Phiri me atacar mesmo, eu provavelmente a virei vindo. — É - Adam responde. — É, isso é um bônus. — Então o que eu faço depois que ficar invisível? - eu pergunto. — Você me acha, nós ficamos invisíveis, e então nós viramos e seguimos Marina. Para estar lá quando Phiri atacar. — E se ela atacar antes de vocês chegarem lá? Adam sorri. — Eu acho que você tenta não matá-la até nós pegarmos

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os conduítes de volta. — Você acha que ela anda com eles por aí? - Marina pergunta. — Com sorte, ela deve estar carregando consigo - ele responde. — E se ela não estiver? — Eu... - Adam olha de Marina para mim, tentando interpretar a nossa reação. — Há maneiras de fazer as pessoas falarem. Mesmo Mogadorianos. — Nós não torturamos - Marina enfatiza. Mesmo depois de tudo que ela já passou, mesmo depois de perder o Oito, ela ainda tem compaixão. Ela olha para mim, por ajuda. — Certo, Seis? — Nós vamos descobrir na hora - eu respondo, não quero tomar uma decisão agora. — Primeiro, vamos pegar essa vadia. Nós três fazemos um grande encenação para nos separarmos, cada um de nós carregando uma lanterna. Enquanto entro, vou atravessando videiras grossas e galhos que parecem garras na densa mata, focando minha audição o máximo que eu consigo. Eu torço para que talvez eu tropece em Phiri, encurtando todo esse plano dAdam armou, mas não tenho sorte. Eu só tenho sucesso em ampliar sons incessantes da mata. A minha esquerda, alguma coisa escura e com um grito denso avisa que há movimento no seu território. Há tanto movimentos e barulhos aqui, Adam estava certo, seria praticamente impossível de rastrear Phiri Dun-Ra. Eu empurro um arbusto para o lado com muito mais força do que o necessário. Ele volta e bate no meu ombro. Eu rango meus dentes e me pergunto se eu poderia simplesmente invocar um furacão aqui nessa estúpida floresta e pegar a Phiri Dun-Ra. Um Mog. Nós estamos aqui atrás de uma estúpida Mogadoriana. Isso deve ser exatamente o que a Phiri queria, nos tirar do jogo quanto sabe se lá o que está acontecendo em Nova Iorque. Uma invasão de auto nível poderia estar a caminho. Eu imagino o John e o Nove tentando lutar com hordas de Mogadorianos, o Sam correndo para sobreviver, o mundo todo sendo engolido por chamas. É. Precisamos nos apressar. Depois de nos separarmos indo para a floresta, nós ligamos as luzes ao

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redor do perímetro do Santuário para que fossemos capazes de achar o caminho de volta. Assim que eu estou longe o suficiente, onde mal posso ver as luzes pelas árvores, eu fico invisível. Só para o caso da Phiri Dun-Ra estar me observando ao invés de Marina, e uso a minha telecinese para flutuar minha lanterna à minha frente. Eu espero alguns minutos para ver se alguém escondido nas sombras vai perseguir a minha lanterna fantasmagórica e, quando ninguém aparece, eu penduro a lanterna em um galho e a deixo para trás. Eu estou bem com a minha invisibilidade, tendo desenvolvido um bom senso de avisos depois de anos de prática. Ainda, não é fácil caminhar sem luz. Pelo menos eu adquiri experiência na Flórida. Eu vou devagar, olhando bem por onde piso, me esquivando por baixo dos arbustos. Em um ponto, eu tenho o cuidado de passar por cima de uma cascavel, a cobra nem se mexe enquanto eu passo. Depois de um tempo, eu vejo a lanterna dAdam iluminando a mata. Está se movendo devagar de propósito, me esperando. Ele não me escuta chegar perto. Quando eu coloco a minha mão na dele, um segundo antes de torná-lo invisível, eu escuto ele prender a respiração e os seus ombros ficarem tensos. — Te assustei? - eu sussurro para ele. Eu tiro a lanterna da sua outra mão e com a telecinese, faço a mesma coisa que fiz antes com a minha. — Me surpreendeu, só isso - ele responde baixo. — Vamos. Nós começamos a ir na mesma direção de Marina. Eu não vou muito rápido no começo, mas Adam tem um bom equilíbrio e parece estar indo bem. A sua mão está surpreendente fria e seca ao contrário do ar húmido da floresta, ele está estável com toda essa situação que não parece estranha para ele. Eu não consigo conter uma pequena risada. — O quê? - ele pergunta, sua voz é um sussurro na escuridão. — É que nunca imaginei que chegaria a um ponto de estar de mãos dadas com um Mogadoriano - eu respondo. — Nós somos aliados - Adam responde. — É pela missão. — É, obrigada por esclarecer isso. Ainda assim, não é estranho para você?

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Adam para. — Na verdade não. Ele não diz mais nada. Eu lembro de uma coisa que ele disse enquanto estávamos voando para o Santuário. — Quem eu lembro a você? - eu pergunto a ele enquanto subimos com cuidado com um tronco caído. — O quê? — No Escumador, você disse que eu te lembrava alguém. — Você quer falar disso agora? - ele sussurra de volta. — Eu estou curiosa - eu respondo, mantendo um olho a procura do brilho da lanterna dMarina. Nós ainda não o vimos. Adam fica quieto por tempo suficiente que me faz pensar que não acabou de falar, como se o seu silêncio fosse uma repreensão por não ficar na missão. Eu estou prestes a dizer a ele que eu sou completamente capaz de rastrear um Mogadoriano enquanto conversamos, quando ele finalmente me responde. — Número Um - ele diz. — Ela é quem você me lembra. — Um? A Garde que você pegou o Legado? A sua mão fica tensa na minha, como se ele tivesse que se controlar de não arrancar a sua mão da minha. — Ela me deu o Legado dela - ele diz. — Eu não peguei nada. — Então tá - eu repondo. — Desculpe. Má escolha de palavras. Eu não sabia que você a tivesse conhecido. — Nós tivemos um... relacionamento complicado. — Tipo, você estava liderando os Mogs que a perguiram ou algo assim? Ele suspira. — Não. Depois que ela foi morta, a consciência da Um foi implantada junto ao meu cérebro. Por um tempo, basicamente, nós dividimos um corpo. Eu acho que é por isso que eu não estou preocupado em segurar a sua mão ou qualquer outra coisa juvenil que posso estar te deixando inconfortável pelo últimos cinco minutos. Eu já fui muito, muito próximo a um Garde antes. Agora sou eu que caio em silêncio. Eu nunca conheci a Número Um. Ela permanece um completo mistério para mim, mais como um conceito. A Um sem sorte. A primeira a morrer. A primeira a ser morta. E mesmo

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assim Adam tem todo um conhecimento dela. É estranho pensar que um Mogadoriano já se preocupou bem mais com a Número Um do que eu durante toda minha vida. Não só isso, parece que ele realmente se importa com ela. Nossa conversa fica cada vez mais estranha. — Lá está ela - ele sussurra, acabando com qualquer conversa estranha quando vemos a lanterna dMarina. — Bom - Adam diz, parecendo alíviado. — Agora nós a seguimos e esperamos pela Phiri Dun-Ra para cair na arm... Adam é interrompido por um tiro crepitante azul de um canhão, exatamente na lanterna dMarina. Mesmo com o barulho da floresta, eu consigo escutar o grito dMarina. — Merda! Vai! Eu solto a mão de Adam e corro através da mata usando a minha telecinese para desviar os galhos emaranhados e dos densos arbustos. Eu tenho certeza de que eu levei alguns arranhões pelo caminho, mas isso não importa. As criaturas fazem barulho ao meu redor com pânico enquanto eu passo por seus territórios. Eu estou a uma distância dAdam correndo atrás de mim, tendo como vantagem pelo caminho que eu estou limpando. Logo a frente, eu posso dizer que a lanterna dMarina caiu no chão pelo jeito que ela lança raios de luz curvados nas árvores retorcidas. Correndo com toda a minha capacidade, leva menos de um minuto para abrir meu caminho pela mata. Eu entro na pequena clareira onde a lanterna dMarina está no chão, no exato momento de ver Marina levando sua mão sobre a queimadura de um tiro de canhão em seu outro braço. Ela me vê enquanto cura a sua carne empolada. — O plano funcionou - Marina diz casualmente. — Você está machucada. - eu respondo. — Isso? Ela teve sorte. Eu respiro alíviada, então olho para o lado de Marina, onde Phiri Dun-Ra nos encara de joelhos. Há uma tira de sangue fresco escorrendo através de suas tatuagens Mogadorianas, com as tranças puxadas para trás, provavelmente foi assim que Marina venceu a luta. Suas mãos e

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tornozelos estão presos pelo que eu noto serem algemas de gelo. Parece que Marina está ficando muito boa com seu Legado. Adam chega à clareira alguns segundos depois de mim. O olhar de Phiri Dun-Ra fica com mais ódio quando ele aparece. — Você pegou ela. - Adam diz, e Marina concorda, até sorrindo um pouco. — Você está bem? — Estou bem - Marina responde. — Agora o que faremos com ela? — Vocês deveriam me matar. - Phiri aumenta a sua voz, cuspindo no chão na sua frente. — A visão de ver um trueborn cooperando com o lixo lórico ofende os meus olhos, eu não desejo mais viver. — Oi para você também, Phiri. - Adam diz, revirando os olhos. — O que você fez na minha Chimaera? Os olhos da Phiri Dun-Ra clareiam. — Um pequeno truque que aprendi na Ilha de Ameixa dos cientistas com a frequência de um canhão. O seu animal de estimação morreu? Eu não tive tempo de checar o corpo dele. — Ele sobreviveu. Que azar o seu. — Nós não vamos te matar - eu começo a dizer, mas Phiri se joga no chão, me interrompendo. — Porque vocês são uns covardes. - ela grune. — Você quer me reabilitar como esse ai? Fazer de mim outro animal de estimação Mogadoriana? Isso não vai acontecer. — Você não me deixou terminar - eu digo, me aproximando dela. — Nós não vamos te matar ainda. — Você a revistou? - Adam pergunta Marina. — Ela estava carregando só o canhão - Marina responde. A única coisa que Phiri carrega agora é sua armadura Mogadoriana. Mas não há espaço sequer onde ela possa ter escondido peças de naves. — Onde estão os conduítes? - eu pergunto a ela. — Noss devolva e eu farei a sua morte ser rápida. Marina me lança um olhar rápido, com a sua sobrancelha levantada. Eu não quis responder à essas questões antes, o que nós fazemos com um Mogadoriano capturado e quão longe nós vamos para conseguir o que precisamos? Tortura. O pensamento me da ânsia de vômito,

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especialmente lembrando do tempo em que eu era umas das pessoas a serem mantidas e torturadas. Eu sinto como se estivesse cruzando uma linha, como se fosse algo que eles fariam. É diferente do que matar eles em batalha, quando eles estão lutando de volta e tentando nos matar também. Phiri Dun-Ra nos ajuda mais sendo nossa prisioneira. Mas um Mog prisioneiro não nos ajuda e nós precisamos sair da merda dessa floresta. Eu sei que nós não deveríamos baixar ao nível deles , mas a nossa situação é de desespero. Quão longe isso vai nos levar? Eu me pergunto. — Morra devegar, escória Loriena - Phiri diz para mim. Então, ela não vai fazer isso do jeito fácil. Antes que eu decidisse o que fazer, Adam passa por mim e dá um tapa no rosto da Phiri com a parte de trás da sua mão. Ela resmunga e cambaleia para o lado. Phiri está atordoada, eu percebo. Ela não esperava por isso. Talvez ela estivesse contando com a ideia de que eu e Marina não tivéssemos estômago para tortura. Adam por outro lado... — Você esqueceu com quem você está lidando, Phiri Dun-Ra. - Adam diz com os dentes cerrados. Ele se ajoelha na frente dela e a agarra pela gola da camisa, levantando-a. — Você acha que só porque eu passei algum tempo com a Garde que eu esqueci as nossas técnicas? Você sabe quem era o meu pai. Para o maior desapontamento dele, as minhas maiores marcas eram sempre nas áreas de pós-combate. Mas mesmo assim... o General arrumou jeitos de mudar o meu treinamento. Interrogatórios. Anatomia. Imagine como o treinamento que ele arrumou era rigoroso. E eu me lembro muito bem. Adam passa uma de suas mãos pela cabeça de Phiri, enterrando o seu dedão em um espaço atrás da sua orelha. Ela grita, as suas pernas falham. Marina da um passo na direção dos dois Mogs, me dando outro olhar. Eu engulo com força e balanço a minha cabeça, a fazendo parar. Eu vou deixar o jogo seguir. Para onde ele for. — Eu posso não compartilhar da sua ideologia, Phiri Dun-Ra. - Adam diz, aumentando a sua voz para ser ouvido mesmo com os seus gritos. — Mas eu compartilho da biologia. Eu sei onde estão os seus nervos, onde dói mais. E eu vou gastar o resto da noite te cortando em pedacinhos até

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você implorar para ser desintegrada. Adam liberta Phiri da dor, deixando a cair no chão sujo de novo. Ela está ofegante, se esforçando para conseguir respirar fundo. — Ou você pode nos contar onde você escondeu os conduítes - Adam fala calmamente. — Agora. — Eu nunca vou— Phiri é interrompida, vacilando quandAdam levanta. Ele de repente perdeu interesse nela. Ele viu a mesma coisa que eu. O jeito que os olhos da Phiri olharam para um arbusto bem fechado na beirada da clareira. Adam vai até lá, enquanto ela se remexe na sujeira tentando manter os olhos nele. Em uma rápida inspeçãAdam enfia a sua mão dentro do arbusto e tira uma pequena mochila de tecido. Phiri deve ter escondido ela lá antes de atacar Marina. — Ha-ha! - ele diz, balançando a mochila. Dentro, peças de metal fazem barulho. — Obrigada pela sua ajuda. Marina e eu nos olhamos aliviadas, mesmo com Phiri usando da sua última chance de sarcasmo. — Isso não importa traidor - ela diz. — Nada para você importa mais! Isso me faz prestar atenção. Eu dou a Phiri um não-gentil chute nas costas para fazê-la rolar e olhar para mim. — O que isso significa? - eu pergunto a ela. — O que você está dizendo? — A guerra já veio e já foi - Phiri responde, rindo de mim. — A Terra já é nossa. Meu estômago se revira, mas eu não deixo isso transparecer. Nós temos que sair do México e ver por nós mesmos. — As peças estão intactas? - eu pergunto aAdam. — Ela está mentindo pra você, Seis. É o que ela faz - ele afirma para mim, talvez notando o tremor de nervoso na minha voz. Ele pega a mochila e se agacha para abri-la. — O que nós devemos fazer com ela? - Marina pergunta. Ela foca em Phiri Dun-Ra por um segundo, reforçando o gelo das suas algemas que começaram a derreter.

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Eu estou pensando na resposta quando Adam geme, forçando o zíper que parece estar preso em alguma coisa. Quando o zíper solta, alguma coisa dentro da mochila dá um clique, como se começasse uma contagem. — Cuidado! - Adam grita, quando ele joga a mochila para longe dele. Tudo acontece muito rápido. Eu vejo o chão tremer na frente da mochila de tecido e percebo que Adam está usando o seu Legado sísmico para tentar nos proteger. Com um flash laranja de luz e força, a bomba dentro da mochila detona bem na frente dele. Uma montanha de pó e folhas mortas voam através da clareira. Eu sou jogada no chão. Eu posso sentir um dor na minha perna, um pedaço de metal, provavelmente um pedaço da nave, cravado na minha coxa. Acima do barulho dos meus ouvidos eu posso ouvir Phiri rindo histéricamente.

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um grande peso cai sobre minha perna, cravando os estilhaços ainda mais fundos na minha coxa. É a Phiri Dun-Ra. Ela tem novos ferimentos em seu rosto e braços, o resultado de sua própria bomba improvisada. Seus pulsos e tornozelos ainda estão presos nas algemas de gelo, mas isso não a impede de se jogar em cima de mim. Eu ainda estou atordoada pela bomba, então não reajo tão rápido como eu deveria. Phiri dá uma cabeçada no meu peito e se contorce em cima do meu corpo. — Agora vocês morrem lixos lóricos - ela diz de uma forma maníaca, ainda histérica por sua armadilha com a bomba ter funcionado. Eu não estou certa de qual é plano dela, talvez de me morder até a morte ou me sufocar com o seu peso, mas eu não estou tão mal para deixar alguma dessas coisas acontecerem. Com um rápido movimento de telecinese, eu arranco Phiri Dun-Ra de cima de mim. Ela cai na sujeira, rolando por cima de alguns estilhaços da bomba. Ela tenta levantar, gritando de frustação quando não consegue. Ela fica quieta quando eu chuto a sua cara o mais forte que eu consigo. Phiri bate no chão inconsciente. — Fique comigo! É a voz dMarina que me traz de volta ao mundo depois da raiva que

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estava sentindo ou eu provavelmente mataria Phiri agora mesmo. Eu viro para trás para ver ela inclinada sobre o corpo de Adam. — Ele está...? Eu cruzo a clareira, esquecendo que tenho um ferro de seis centímetros cravado em minha coxa. Eu ignoro a dor. Adam está bem pior que eu. Eu entro no pequeno buraco que Adam foi capaz de fazer antes de a bomba explodir. Ele absorveu uma boa parte dos estilhaços, mas não tudo. A bomba, mesmo assim, praticamente explodiu na frente dele, sofrendo a maior parte do impacto. Ele está de bruços agora, Marina se inclinando sobre ele, e eu fico com pena dele. O peito dele está aberto, como se alguém tivesse cavado um buraco lá. Ele deveria ter saído logo da frente em fez de ficar como um escudo humano. Mog idiota, tentando ser um herói. Mas de algum jeito, ele ainda está consciente. Ele não consegue falar, todo o esforço que ele consegue fazer é para respirar. Os seus olhos estão arregalados e assustados enquanto ele sangra muito, com a respiração entrecortada. As suas mãos, encharcadas de sangue, em punho. — Eu posso fazer isso, eu posso fazer isso... – Marina repete para si mesma, não hesitando nem por um momento em colocar as suas mãos nos ferimentos de Adam. Olhando melhor, eu percebo com essa situação deve ser tristemente familiar para ela. Como se fosse o Oito de novo. A respiração dele fica cada vez pior, eu observo a pele dele ao lado se unir enquanto Marina o toca. E então alguma coisa estranha acontece, há uma crepitação e um chiado começa, como se começasse a pegar fogo, e um pouco do peito de Adam começa a faiscar antes de se desintegrar como quando um Mogadoriano morre. Marina leva um susto, tirando as suas mãos dele. — Que droga foi essa? – eu pergunto. — Eu não sei! – Marina grita. — Alguma coisa está lutando comigo, Seis. Eu estou com medo de estar machucando ele. No momento que a cura de Marina para, o ferimento ainda aberto de Adam volta a sangrar. Ele está ficando pálido. Mais que o normal. A mão dele raspa pelo chão e encontra a de Marina.

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— Não... argh, não pare... - Adam tenta murmurar, e enquanto ele tenta eu consigo ver que há sangue preto dentro da sua boca. — Não importa o que aconteça... não pare. Se recompondo, Marina coloca as suas mãos sobre os ferimentos de Adam. Ela fecha os seus olhos e se concentra, uma gota de suor surge ao lado de uma mancha de terra no seu rosto. Eu já vi Marina curar ferimentos muitas vezes, mas não um ferimento que requereu tanto esforço dela quanto este. O corpo de Adam aos poucos começa a se curar, até uma nova parte do seu corpo faiscar e se desintegrar, como se houvesse uma bomba dentro dele. Quando isso acaba, porém, o resto cura normalmente. Leva alguns minutos, mas Marina finalmente termina de ‘fechar’ Adam. Ela cai sentada no chão, respirando como se tivesse terminado uma maratona, e as suas mãos tremem. Adam continua deitado, passando os seus dedos pela pele do seu abdômen que há alguns minutos não estava lá. Finalmente, ele levanta um pouco e se apoia no seu cotovelo e olha para Marina. — Obrigado – ele diz, olhando-a nos olhos, com o seu rosto em uma mistura de assombro e gratidão. — Não há de quê. – Marina responde, tentando normalizar a sua respiração. — Hum, Marina... Você se importa? – eu mostro o pedaço de metal preso na minha perna. Marina geme pelo esforço, mas concorda, se mexendo, ficando de joelhos na minha frente. — Você quer que eu arranque ou...? Antes que ela possa terminar, eu arranco o pedaço de estilhaço da minha coxa. Um novo ponto de sangramento faz um filete de sangue escorrer pela minha perna. A dor é forte, mas Marina logo esfria o local antes de usar seu Legado de cura em mim. Comparando com o de Adam, isso não leva tempo algum. Quando ela termina, Marina olha imediatamente para Adam. — O que foi aquilo quando eu estava curando você? Por que foi tão difícil? — Eu... Eu não sei, exatamente. – Adam responde, olhando para longe.

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— Você começou a se desintegrar um pouco. – eu digo. — Como se estivesse morrendo. — Eu estava morrendo - Adam diz. — Mas isso não deveria acontecer comigo. Só os soldados vatborn que vocês já viram, que se transformam em cinzas, porque eles são feitos completamente da biologia experimental de Setrákus Ra. Alguns trueborn, como eu, recebem modificações que podem causar a desintegração quando eles morrem. Eu não recebi nada disso, eu acho. Pelo menos... — Não que você saiba. – eu termino o seu pensamento. — Exatamente. – ele responde, olhando para baixo como se de repente não confiasse mais em seu próprio corpo. — Eu estive em coma por três anos. É possível que o meu pai tenha feito algo a mim. Eu não sei o quê. — O que quer que fosse, acho que o meu Legado tirou de você – Marina diz. — Assim espero – Adam responde. Nós três caímos em silêncio. Com as emergências médicas acabadas, só agora notamos como estamos ferrados. Eu caminho pelo chão chamuscado onde a bomba da Phiri Dun-Ra explodiu, jogando pedaços esfarrapados da mochila e pedaços disformes de metal. A mochila provavelmente estava cheia de conduíte, mas eu não acho nada que pareça levemente inteiro. Nós estamos completamente presos aqui. Quando eu me viro, vejo que Adam se levantou e está olhando para o corpo inconsciente de Phiri. — Nós deveríamos matá-la – ele diz friamente. — Não há nenhuma razão para a deixarmos viva. — Nós não fazemos isso - Marina responde, com a voz gentil. — Ela não pode nos machucar enquanto está amarrada. Adam abre a boca para responder, mas parece pensar duas vezes. Marina acabou de salvar sua vida, então eu acho que ele sente que deveria escutar ela. Eu, na realidade estou concordando com os dois, Phiri Dun-Ra não é nada além de problemas, e mantê-la presa é só para ela nos ferrar de novo. Mas matá-la inconsciente parece errado.

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— Nós vamos esperar ela acordar pelo menos – eu digo de forma diplomática. — Para então decidirmos o que fazer com ela. Os outros concordam em silêncio, carrancudos. Nós voltamos ao Santuário. Eu uso a telecinese para flutuar o corpo inconsciente da Phiri com a gente. Quando voltamos, Marina mantém a algema de gelo em Phiri até chegarmos e prendermos com segurança a Mogadoriana com cabos de fio, e a mantemos dentro de uma das naves quebradas. Nesse momento, tenho certeza de que ela está se fingindo de morta. Deixe-a. Marina está certa, ela não pode nos machucar enquanto estiver presa, e se ela se libertar, eu vou fazer o desejo de Adam se tornar realidade. Eu não sei mais o que fazer, então eu tento o telefone via satélite. Ainda não tivemos resposta de John. Isso me faz pensar que a Phiri Dun-Ra pode estar falando a verdade sobre a guerra já ter começado. Eu não tenho nenhuma nova cicatriz, significando que John e Nove ainda estão bem vivos, mas isso não significa que as coisas não estão feias em Nova Iorque. — Adam, nós podemos entrar no sistema de comunicação de uma das naves? – eu pergunto. — Eu quero saber o que está acontecendo. — Com certeza. – ele responde feliz com a oportunidade de fazer alguma coisa. Nós três subimos abordo do nosso Escumador, Adam senta no banco do piloto. Ele consegue ligar o sistema elétrico da nave, as luzes ligam e alguma no Escumador grunhe de esforço. Adam começa tentar captar sinal, pegando nada além de estática. — Eu só preciso achar a frequência certa – ele diz. Eu concordo. — Está bem. Não é como se eu tivesse algo mais para fazer. Ao meu lado, Marina olha para o Santuário pela janela do Escumador. Já que deixamos as luzes do perímetro ligadas, o Santuário inteiro está iluminado, o antigo calcário praticamente brilhando. — Não perca as esperanças, Seis. – Marina fala baixinho. — Nós vamos dar um jeito. Quando Adam liga o rádio de novo a estática dá lugar ao uma voz Mogadoriana brutal. O Mog está falando roboticamente, de um jeito sem

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sentido, como se tivesse lendo uma lista. Claro que eu não consigo entender nada que ele está falando. Eu cutuco Adam. — Você vai traduzir? — Eu... – Adam encara o rádio como se estivesse possuído, como se não soubesse o que dizer. Eu percebo que ele não quer me contar o que eles estão dizendo. — Muito ruim? – eu pergunto, mantendo o mesmo nível da minha voz. — Só me conte o quão ruim está. Adam pigarreia e com a voz trêmula começa a traduzir. — Moscou, resistência moderada. Cairo, sem resistência. Tóquio, sem resistência. Londres, resistência moderada. Nova Déli, resistência moderada. Washington D.C., sem resistência. Beijing, alta resistência, Código de protocolo ativado... — O que é isso? – eu o interrompo, perdendo a paciência com o grunhido. — O plano de ataque deles? — Eles são relatórios, Seis – Adam diz, levantando a voz. — As naves de guerras estão mandando os seus relatórios de como invasão está prosseguindo. Cada uma dessas cidades tem uma nave enorme de guerra fazendo uma ocupação, e elas não são as únicas... — Está acontecendo? – Marina pergunta. — Eu pensei que nós tínhamos mais tempo. — A frota está na Terra. – Adam responde com o seu rosto branco. — O que ele quis dizer com protocolo ativado? – eu pergunto. — Você disse que era em Beijing. — Protocolo de proteção é o jeito de Setrákus Ra de manter a Terra colaborando para ocupação. Se eles estão em Beijing, isso significa que eles vão destruir a cidade – Adam diz. — Usando isso como uma mensagem para as outras cidades que possam causar problemas. — Meu Deus... – Marina sussurra. — Uma nave de guerra pode destruir uma cidade em horas – Adam continua. — Se eles... Ele para, porque algo que estão dizendo no rádio chama a sua atenção. Ele engole em seco, aumentando o volume.

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Eu balanço o seu ombro. — O que é? O que você escutou? — Nova Iorque... – ele começa a falar, e belisca a ponta do seu nariz. – Nova Iorque, resistência com ajuda de Garde... — É a gente! É o John! Adam balança a cabeça, terminando a tradução. — Resistência com ajuda da Garde superada. Invasão bem sucedida. — O que isso significa? – Marina pergunta. — Isso significa que eles venceram – Adam responde friamente. — Eles conquistaram a cidade de Nova Iorque. Eles venceram. A frase se repete na minha mente. Eles estão conquistando a Terra e nós estamos presos aqui. Já que não tenho um alvo melhor, eu soco o painel de controle onde um zumbido alto começa. Faíscas saem do lixo que sobrou e Adam sai da cadeira de piloto, assustado. Marina se levanta e tenta colocar os seus braços a minha volta, mas eu a empurro. — Seis! – ela grita atrás de mim quando eu pulo fora da cabine do piloto. — Ainda não está acabado! Eu paro em cima da nossa nave sentindo a raiva queimar dentro de mim, mas sem tem nenhum lugar para canalizá-la. Eu olho para o Santuário, cheio de luz. Esse lugar deveria ser a nossa salvação. Nossa viagem até aqui não mudou nada, eu penso. Quase nos matou e agora nós estamos fora da guerra. Quantas pessoas estão morrendo porque nós não estamos lá ajudando o John a salvar Nova Iorque? Eu sinto um olhar nas minhas costas. Alguém está me observando. Eu me viro, e o meu olhar vai da estrada para as outras naves. Phiri Dun-Ra está acordada, amarada exatamente no lugar onde nós a deixamos. Ela sorri para mim.

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quando ella fala, um choque passa por mim. de repente, eu posso me mover novamente. Salto da mesa de operações e tento empurrar os médicos mogadorianos em torno de Ella. Minhas mãos passam por eles, como se fossem fantasmas. Eles estão congelados no espaço agora, imóveis, como se fossem a reprodução de um vídeo em minha frente. Tenho que me lembrar de que tudo isso está acontecendo em minha cabeça, ou na cabeça de Ella, ou talvez em algum lugar entre elas. Em nossos sonhos. — Não se preocupe com eles - Ella diz. Ela se senta, passando através da máquina de fluidos atada a seu peito, e então pelos Mogs enquanto ela pula da mesa para o chão. — Eu não posso nem mesmo sentir o que eles estão fazendo comigo. — Ella . . . - Eu nem sei por onde começar. Me desculpe por deixá-la ser sequestrada em Chicago, desculpe por não tê-la salvo em Nova Iorque . . . Ela me abraça, seu pequeno rosto pressionando meu peito. Ao menos isso parece real.

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— Está tudo bem, John - ela diz. Sua voz é quase serena, como a de alguém que aceitou seu destino. — Não é sua culpa. Há a Ella que estou a abraçando e uma congelada no tempo, ainda presa à mesa de operações sob as máquinas Mogadorianas cercada por inimigos. Não posso deixar de olhar atrás da Ella em meus braços e notar os terríveis resultados de seu aprisionamento pelos Mogadorianos. Ela parece pálida e drenada, uma faixa cinza corre por seus cabelos acobreados. Há veias pretas visíveis sob a pele dela. Um calafrio percorre por mim e me forço a desviar o olhar, apertando Ella um pouco mais. O abraço acaba e Ella e olha para mim. Essa versão dela quase se parece com a que me lembro – de olhos arregalados e inocente - porém há cansaço neles, e um tipo de sabedoria fatigada, e isso não estava ali da última vez que a vi. Não consigo imaginar pelo o que ela vem passando. — O que eles estão fazendo com você? - pergunto, minha voz sai calma. — Setrákus Ra chama isso de seu presente - Ella diz, seus lábios se curvam em desgosto. Ela olha sobre seu ombro, vendo a si mesmo sendo uma cobaia, e abraça seu corpo. — Não estou certa sobre de onde vem o material que ele está colocando em mim. É a mesma porcaria genética que ele usa para criar os guerreiros nascidos artificialmente. É o mesmo que ele costumava usar para melhorar alguns humanos - você sabe sobre isso? Eu assinto, pensando no secretário de defesa Sanderson e sua resistência cancerosa que senti em seu corpo quando o curei. — Ele está fazendo isso com você. Sua própria... - continuo hesitando em dizer essa parte em voz alta. — Sua própria carne e sangue. Ella concorda tristemente. — Pela segunda vez. Me lembro de como Ella parecia durante a batalha nas Nações Unidas.

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— Ele fez isso com você antes da grande aparição pública - digo juntando as peças. — Drogou você, assim você não poderia arruinar o momento dele. — Aquilo foi uma punição por tentar escapar com Cinco. O presente... faz com que seja difícil pra mim me focar, pelo menos quando estou acordada. Não estou certa de como, mas ele usa isso para me controlar. Isso pode estar relacionado com um dos Legados dele. Eu tentei descobrir tudo o que ele pode fazer, John, eu tentei pará-lo, mas... Os ombros de Ella caem. Coloco minha mão gentilmente na parte de trás do pescoço dela. — Você fez tudo o que pôde - digo a ela. Ela bufa. — Uh-huh. Dou uma longa olhada na máquina a que Ella está presa, tentando memorizar os detalhes. Talvez se conseguíssemos nos contatar novamente com Adam, ele pode dar uma luz sobre como exatamente funciona essa coisa. — Ele não está controlando você agora - digo, gesticulando em direção à câmara de operações Mogadoriana congelada no tempo. — Você está fazendo isso. Você continua lutando contra ele. — Eu tenho sido capaz de esconder que sou uma telepata - Ella responde, endireitando-se um pouco. — Sempre que ele me fere, eu me escondo em minha mente. Eu pratico. Meus Legados estão ficando mais fortes. Eu pude sentir vocês lá em baixo de dentro da Anúbis. Sou capaz de puxar você para meu, um . . . meu sonho? O que quer que seja isso. — Como em Chicago - penso a respeito, tentando entender isso. — Porém, você precisou me tocar daquela vez. — Não mais. Acho que estou ficando mais forte. Dou um aperto no ombro de Ella. Este deveria ser um momento de orgulho, ela se tornando quem ela realmente é, aprendendo a controlar um Legado tão poderoso enquanto ela ainda é tão jovem. Mas nossa situação é muito medonha para qualquer comemoração de verdade.

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Olho através da área médica na direção da porta, então de volta para Ella. — Pode me mostrar as coisas por aqui? - pergunto. — Isso é ao menos possível? Ella me dirige um sorriso trêmulo. — Você quer um tour? — Poderia ser útil saber como a nave é. Para quando viermos aqui e resgatarmos você. Ella solta uma risada desconsolada, olhando para longe de mim. Espero que isso não tenha sido ela desistindo da esperança. A probabilidade pode parecer ruim agora, mas eu não vou deixá-la ser o animal de estimação de Setrákus Ra para sempre. Vou encontrar uma maneira. Antes que eu possa dizer isso, Ella assente — Eu posso te mostrar a nave. Eu estive por toda ela. Se eu tiver visto, estará aqui - Ella diz dando um tapinha em sua têmpora. Andamos para fora da estação médica e entramos num corredor. Todas as paredes são de metal inoxidável de um vermelho brilhante, um lugar frio e econômico. Ella me conduz através da Anúbis, me mostrando o deck de observação, a sala de controle, o quartel, todos esses lugares completamente vazios. Tento associar cada detalhe na memória, assim posso desenhar um mapa quando acordar. — Onde estão todos os Mogs? - pergunto a ela. — A maioria deles está na cidade lá em baixo. A Anúbis tem apenas uma equipe fantasma agora. — Bom saber. Nos fundos da nave, paramos em frente a uma janela de vidro que mostra o interior de outro de laboratório. Dentro, o chão é completamente tomado por um tanque de um líquido preto e viscoso. Há duas passarelas se cruzando sobre o tanque, cada uma equipada com uma variedade de painéis de controle, equipamento de monitoramento, e como se já não fosse esquisito, canhões de uso industrial montados.

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Crescendo para fora do líquido numa forma alongada que lembra vagamente um ovo, exceto por ser roxo escuro e com veias negras palpitantes. Eu pressiono minha mão no vidro do laboratório e me viro para Ella. — O que diabos é este lugar? — Eu não sei - ela responde. — Ele não me deixa entrar aqui, Mas... Ella franze a testa e parece se esforçar um instante. Dentro do laboratório, figuras se manifestam de repente. Meia dúzia de Mogs usando máscaras de gás estão nas passarelas, operando silenciosamente as maquinas. De pé entre eles está o próprio Setrákus Ra. Vê-lo ali me faz avançar contra o vidro. Tenho que resistir à tentação de atacá-lo, me lembrando de que isso não é exatamente real. — Isso é... isso é uma memória? - pergunto a Ella. — Algo que eu vi, sim - ela responde. — Eu acho— não sei. Isso pode ser importante. Enquanto assistimos, Setrákus Ra tira os colares lóricos roubados do pescoço. Ele os segura em suas espessas mãos por um momento, considerando as joias de Loralite azul. Ele possui vários deles — três dos Garde que ele matou na Terra e o resto provavelmente tirado de Gardes que ele capturou em um ponto ou outro. Ele parece um tanto nostálgico por um momento enquanto observa seus troféus. Então, ele os joga dentro do tanque. Quatro pequenas bocas se abrem no ovo e sugam para dentro os colares, sufocando seu brilho. — O que foi isso? - pergunto a Ella, sentindo como se eu estivesse doente, mesmo em sonho. — Quando isso aconteceu? O que ele está fazendo? O olhar fixo de Setrákus Ra se volta de repente em nossa direção e ele grita alguma coisa. Um segundo depois, ele e o resto dos Mogs desaparecem no ar rarefeito.

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— Isso foi quando ele me pegou espiando - Ella explica, mordendo o lábio. — Não sei o que ele estava fazendo, John. Me desculpe. Tudo é um pouco... vago. Continuamos andando. Eventualmente, Ella me leva até a área de lançamento. O lugar é enorme com o teto alto, preenchido com filas e linhas de Escumadores. É daqui que os esquadrões de Mogs zarparam para aterrorizar Nova Iorque. — Eles estão sempre chegando e saindo por aqui - Ella diz, acenando em direção as grandes portas de metal no fim do hangar. — Talvez vocês sejam capazes de entrar por ali, se elas estiverem abertas. Foi por onde Cinco e eu tentamos escapar. Faço uma nota sobre as portas do hangar. Temos apenas que pensar numa maneira de fazer com que os Mogs as abram. Seria muito fácil entrar a bordo se tivéssemos alguém que pudesse voar. — Sobre Cinco... - digo, hesitando, sem saber o quanto Ella ouviu. — Você sabe o que ele fez? Ella morde seus lábios, olhando para o chão. — Ele assassinou Oito. — Mas ele também tentou ajudar você a escapar - digo, sentindo-a longe. Ele está...? — Você está tentando descobrir o quão mal ele é? — Estou procurando por ele neste momento. Estou tentando entender, se quando encontrá-lo, devo matá-lo. Ella faz uma careta e se afasta de mim, olhando um ponto do chão que está afundado. Presumo que tenha sido quando ela e Cinco tentaram escapar. — Ele está confuso - ela diz depois de um momento. — Eu não sei... não sei o que ele irá fazer. Não confie nele, John. Mas não o mate. Me lembro da última vez que Ella me trouxe para um desses sonhos, de volta quando começou a manifestar seus Legados que estavam fora de controle. Foi em Chicago. Naquela ocasião, ela não me trouxe para sua localização. Na verdade, estivemos presos numa visão do futuro,

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assistindo Setrákus Ra tomar posse em Washington num mundo em que Mogadorianos venceram a guerra. — Não sabemos o que ele faz, então? - pergunto, meus punhos se fecham como reflexo. — Você me mostrou isso. Cinco retornando para Setrákus Ra. Ele trabalha para o inimigo. Ele capturou Seis e Sam... Me calo, não quero ir mais fundo nessa memória da qual testemunhei a execução de meus amigos. Não quero lembrar da profecia que diz que estamos condenados a perder. Ella balança a cabeça. Ela abre a boca, e de repente percebo que há alguma coisa grande que ela não está me contando. — Esse futuro não existe mais, John - ela diz depois de uma longa pausa. — Minhas visões... não são como os pesadelos de Setrákus Ra que eu costumava contar a vocês. E não são profecias. Não estamos presos a elas, como Oito pensava. Eles são premonições. Possibilidades. — Como sabe disso? Ella pensa por um momento. — Não tenho certeza. Como você sabe como criar bolas de fogo? Você apenas faz. Isso é instintivo. Dou um passo na direção dela. — Então aquela visão de D.C., em que todos estão mortos e você estava...? — Eu não posso vê-la mais. Alguma coisa no presente mudou o que vai acontecer. — Se isso é um Legado como o meu Lúmen... - meus olhos se arregalam enquanto considero as possibilidades. — Você pode controlar as visões agora? Pode olhar no futuro quando quiser? Ella levanta as sobrancelhas, como se não estivesse certa sobre come descrever o que ela vê. — Não posso controlar isso exatamente. As visões... elas não são confiáveis. Eu não sei se isso é culpa minha, porque ainda estou aprendendo ou se é porque o futuro é instável. De qualquer forma, tenho gasto muito tempo olhando nele... Agora sei porque Ella parece tão exausta mesmo em um sonho, porque ela de repente está tão sábia mesmo com sua idade. Ela

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mencionou antes o quanto tempo gastou se escondendo na segurança de sua mente. Me pergunto quanto desse tempo foi gasto lutando com visões do futuro. Deve ter sido agonizante examinar todas essas possibilidades. — Pelo que você esteve procurando? - pergunto a ela. Ella hesita, evitando meus olhos. — Eu queria... eu queria ver se tinha um futuro em que eu morro. — Ella, não - digo, minha voz falha. Cinco me contou sobre o feitiço lórico que Setrákus Ra usou em si mesmo e em Ella, um que os liga, então teremos que matá-la para alcançá-lo. — Vamos pensar num meio de quebrar o feitiço. Deve haver uma fraqueza. Ella balança a cabeça, não acreditando em mim. Ou talvez ela já saiba que estou errado. — Não estou me colocando antes do mundo inteiro, John. Eu queria ver um futuro em que Setrákus Ra está morto, não importa as consequências. Agora ela olha diretamente, com fogo em seus olhos. — Queria ver um futuro em que alguém tenha estômago para fazer o que precisa ser feito. Engulo em seco. Não tenho certeza se eu realmente quero saber os detalhes das visões de Ella, mas não consigo parar de me perguntar. — O que... o que você viu? — Muitas coisas - Ella diz, se acalmando. Ela adquire um olhar distante enquanto tenta explicar como o futuro é. — As visões começam como possibilidades embaçadas. Existem milhões delas, eu acho. Algumas delas são mais sólidas que outras — essas são as que consigo ver. As que parecem... não sei. Prováveis? Mas mesmo assim não são garantidas. Você se lembra do futuro que vimos em Chicago. Aquilo pareceu real, impossível de fugir, claro como o dia. Isso se foi completamente agora. O futuro mudou muito. E continua mudando.

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Minha cabeça dói. Me sinto meio maluco ouvindo Ella. Precisamos de um Cêpan, alguém que pudesse ajudá-la a controlar esses Legados mentais antes que a deixem louca. Ao menos evitamos o futuro que testemunhei. Mas o trocamos pelo quê? — Ella, você viu sua morte? Ela hesita, e um nó de medo se forma em meu estômago. — Sim - ela diz. Ela treme eu percebo que é por prender um soluço. Me agacho na frente dela e coloco minhas mãos em seus ombros. — Não vai acontecer - insisto com a voz o mais firme que consigo. — Vamos mudar o futuro. — Mas nós vencemos, John. Ella segura minhas mãos. Lágrimas escorrem livremente por suas bochechas. Então percebo algo, o modo como ela olha para mim, o modo como ela aperta minhas mãos. Ella não está sentindo pena por si. Ela está sentindo pena por mim. — Isso vai ferir muito você, John - ela diz, sua voz fraquejando. — Você terá que ser forte. — Sou eu? - não acredito. — Eu sou aquele que—? Não consigo nem mesmo terminar a pergunta. Afasto minhas mãos de Ella. Eu nunca a machucaria, nem mesmo se isso significasse terminar esta guerra. — Tem que haver outro jeito - digo. — Use seu Legado e encontre um futuro melhor para nós. Ella balança a cabeça. — Você não entende— Num piscar de olhos, Ella está mudada. Se parece com a garota presa na mesa de cirurgia, uma gosma preta rasteja por baixo de sua pele. Ela se esforça para se concentrar em mim. O hangar a nossa volta se torna enevoado e começa a se esvair. — Ella? O que está acontecendo?

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— A Anúbis está se movendo para fora do alcance - ela diz, estreitando seus olhos, tentando fortalecer nossa conexão telepática. — Eu vou perder você. Rápido! Há mais uma coisa que você tem que ver! Ella agarra minha mão e então estamos correndo na direção da entrada do hangar. Damos um passo na direção dele e— Sujeira se esmaga debaixo dos meus pés. Quentes raios de sol batem em minha nuca, o ar pesado e úmido. É desorientador ser teletransportado de repente do ambiente estéril da Anúbis para o calor da selva, o verde vívido por todos os lados, pássaros tropicas gorjeando. Estou de pé no que parece ser uma pista de pouso feita no meio da selva. Latarias pretas e blindadas de vários Escumadores Mogadorianos refletem o brilhante sol da tarde. Meus olhos são atraídos para a pirâmide de pedra a apenas alguns metros da pista de aterrissagem, todos os equipamentos dos Mogs parecem posicionados a uma distância segura da estrutura antiga. Reconheço instintivamente o templo, mesmo nunca tendo o visto antes. Talvez seja minha imaginação, mas é como se alguma coisa enterrada por séculos na arquitetura maia estivesse me chamando. Me sinto seguro aqui. — Este é o Santuário - digo, minha voz sai calma e reverente. — É - Ella diz, e percebo que ela também está admirando o templo. — Seis, Marina e Adam... - pauso, percebendo que Ella nunca encontrou nosso aliado Mogadoriano. — Adam é— — Eu sei quem ele é - Ella diz, seu tom não parece surpreso. — Nos encontraremos em breve. — Okay, bem, eles estavam bem aqui - continuo, olhando em volta à procura de sinais de nossos amigos. — Eles provavelmente estão voltando agora. Você vai me mostrar o que eles fizeram para dar Legados aos humanos? — Isso não é o passado ou o presente, John. Estamos no futuro. Um que posso ver bem, bem claramente.

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Eu devia ter sabido, pois o Sol está no céu. Me viro para encarar Ella, sentindo que ela não me trouxe aqui para me dar boas notícias. — Por que está me mostrando isso? — Por causa daquilo. Ella aponta para o céu a norte do Santuário. Ali, como uma nuvem de tempestade atravessando o céu que outrora era azul e sem nuvens, está a Anúbis, flutuando lentamente em direção ao templo. Minhas pernas se amolecem, reflexos para correr se escondem depois de sobreviver por pouco ao bombardeio em Nova Iorque. Me forço a ficar e assistir a aproximação da nave de guerra. — Quando? - pergunto a Ella. — Quando isso vai acontecer? Antes que Ella possa responder, sua forma se contorce, se tornando novamente pálida e com as veias negras. O cenário pisca, a selva de súbito se transforma na sala de operações da Anúbis e também o que parece ser o interior de um vagão de metrô — todos os três lugares existindo simultaneamente, como três fotografias transparentes uma sobreposta a outra. Por um segundo, é impossível me focar em qualquer detalhe particular, misturando tudo até o ponto que me sinto fora da realidade. Mas então Ella solta um grito, de frustração ou dor, ou talvez ambos, e a floresta e o Santuário solidificam novamente. — Você está se distanciando - digo, assistindo círculos negros se formarem ao redor de seus olhos. — Estamos muito longe um do outro. — Não se preocupe comigo - ela responde apressadamente. — Não importa. Aqui é para onde estamos indo agora, John. A Anúbis está indo para o Santuário neste exato momento. — Então Setrákus Ra estará lá... — Ele chegará ao pôr do sol - Ella diz. — Ele parou em West Virginia para reunir reforços depois de deixar tantos soldados para trás em Nova Iorque, e depois... Ella acena na direção da Anúbis. Está perto agora, a longa sombra da nave de guerra caindo sobre às pedras do Santuário.

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— O que ele quer? — Ele quer o que está lá dentro! - Ella grita. E mesmo assim, mesmo com a voz mais alta, ela começa a soar distante. — Acho que é o que ele sempre quis! Eles abriram as portas do Santuário! Ele não está protegido mais! — O que —? Ela me corta, agarrando meu braço. — John, ouça! Seis, e os outros, você tem que alertá-los! Diga a eles— As mãos de Ella me atravessam. Eu vejo tudo novamente — o Santuário e a Anúbis, Ella se contorce na mesa de operações, o vagão do metrô escurecido — e então todas as cores se misturam, nada sólido para me segurar. Ella grita alguma coisa para mim, mas ela está muito longe. As palavras não me alcançam. Então, escuridão.

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acordo com as costas duras estalando no banco de plástico, minhas pernas balançando na extremidade. Sei que estou de volta ao meu corpo, não mais no mundo dos sonhos de Ella por causa das intensas dores que passam por todos os meus músculos. Estou deitado de lado, encarando as costas de bancos amarelos e laranjas do metrô. Eu nunca estive em um desses vagões, mas vi filmes e programas de TV o bastante para reconhecê-los imediatamente. Na parede acima de minha cabeça há um pôster dizendo: “SE VOCÊ VER ALGUMA COISA, DIGA ALGUMA COISA”. Com um gemido, me levanto com um cotovelo. Sam está deitado a dois bancos de mim com a cabeça apoiada na janela, roncando baixo. Do lado de fora da janela, posso ver apenas a escuridão. Esse trem está parado em algum lugar do subterrâneo, dentro de um túnel. Os passageiros devem ter abandonado mais cedo durante o ataque. O vagão está morto, parado e sem energia, os painéis que controlam as luzes completamente escuros. E ainda assim, há luz vindo de algum lugar.

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Me sento e olho ao redor, e imediatamente percebo celulares espalhados pelo corredor do vagão. Com os aplicativos de iluminação ligados, os telefones funcionam como velas carregadas por bateria. No banco à minha frente, acordada e observando, Daniela está sentada. Seus pés estão apoiados na bolsa que ela trouxe do banco, então presumo que esteja cheia de dinheiro roubado. — Você está vivo - ela diz, mantendo sua voz baixa para não acordar Sam. Faço o mesmo, ainda que com seu ronco ele poderia passar por outro bombardeio da Anúbis sem acordar. — Por quanto tempo eu dormi? - pergunto. — Já é de manhã de acordo com os celulares - Daniela responde. — Umas seis horas, eu acho. Já é de manhã. Balanço a cabeça. Uma noite inteira perdida. Não pudemos encontrar Nove e Cinco, e quem sabe por qual parte de Nova Iorque eles andaram lutando até agora. Para tornar as coisas piores, eu sei para onde Setrákus Ra e a Anúbis estão indo - diretamente para a última localização conhecida do resto da Garde. Por causa da perda de contato com Ella no último instante, não tenho certeza do que fazer com a informação, mesmo se eu conseguisse contato com Seis e os outros. Eles deveriam estar se preparando para voltar para o Santuário? Ou Ella queria que eu os mantivesse o mais longe possível? Preciso me mover, fazer algo produtivo. Mas meu corpo ainda não está cem por cento e Sam está apagado. — Ainda estamos no metrô? - pergunto a Daniela, já sabendo a resposta, mas querendo ter controle sobre a situação antes de fazer qualquer decisão. — Sim. Obviamente. Nós arrastamos você até aqui quando desmaiou. — Quando desmaiei - repito com uma careta. — Desmaiei de cansaço. — Não foi só você. De qualquer forma, estávamos todos exaustos depois daquele túnel - Daniela continua, talvez sentindo meu aborrecimento. — Eu caí no sono logo que chegamos aqui.

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Daniela dá uma olhadela em Sam, um sorriso abatido em seu rosto. — Seu amigo Sam ia ficar de guarda, mas acho que não deu muito certo. Não foi um bom negócio. Não quando ninguém está procurando por nós aqui em baixo. — Ainda não, pelo menos - respondo, pensando nos Mogadorianos na superfície e desejando saber como a ocupação de Nova Iorque está progredindo. Um dos telefones pisca. Daniela se agacha sobre ele, apertando alguns botões, mas a bateria acaba. — Pessoas dormiram na frente da loja por essas coisas - ela diz, segurando o celular descarregado para que eu o inspecione. — Mas tudo foi por água abaixo, no final das contas... várias pessoas largam tudo e correm. O que isso faz você pensar da humanidade, menino alienígena? — Que elas têm melhores prioridades - respondo, dando novamente uma olhada para a bolsa cheia de dinheiro. — Pois é. Eu acho - Daniela diz, então arremessa o celular para a extremidade oposta do vagão, onde ele bate no chão e quebra em vários pedaços. Mesmo com o som do celular sendo despedaçado, Sam continua dormindo. — Isso é surpreendentemente bom - Daniela me diz, sorrindo em minha direção. — Você deveria tentar. — Onde conseguiu todos esses telefones? - pergunto a Daniela, observando-a de perto enquanto ela se senta. Eu ainda não sei o que fazer com ela. Ela é uma humana com Legados, o que nós nem ao menos temos uma palavra para descrevê-la. Mas ela parece pensar que toda a situação é apensa uma grande piada. Não posso dizer se ela está desequilibrada como Cinco ou se escondendo atrás de um massivo mecanismo de defesa. Ela mencionou antes que os Mogs mataram seu padrasto e que sua mãe está desaparecida. Eu sei como é isso - perder pessoas, não saber o que está havendo com quem amamos. Eu poderia dizer isso a ela, exceto que não acho que Daniela é do tipo

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que se abre facilmente. Gostaria que Seis estivesse aqui. Tenho a sensação de que elas se dariam bem. — Eu acordei primeiro - ela diz gesticulando para o trem. — Passei por todos os vagões. As pessoas largaram um monte de porcaria para trás. — De volta ao banco, alguém por acaso retirou todo o dinheiro que ficou para trás também? - pergunto, apontando com meu queixo para a bolsa. — Oh, sim, isso - Daniela diz, olhando para o lado com se fingindo culpada, mas sendo incapaz de manter o sorriso no rosto. — Estava me perguntando se você tinha notado. — Eu notei. — A coisa é mais pesada do que você pensa - ela diz, cutucando a bolsa com o tênis. Esfrego a mão no rosto, tentando entender como eu deveria abordar isso. Não é como se eu nunca tivesse roubado antes. Eu sempre fiz isso em caso de necessidade, mas nunca fiz isso justo no meio de uma invasão em escala total. — Estranho você ter tempo de roubar um banco enquanto deveria estar procurando sua mãe. — Primeiro de tudo, eu não roubei isso. Quero dizer, tecnicamente não. Havia uns caras se escondendo dos Mogs no banco. Eles estavam roubando. Eu acabei dando cobertura lá. Eles explodiram, e então vocês apareceram. Eu pensei, para que desperdiçar uma bela bolsa com está? Eu a censuro, balançando a cabeça. Eu não faço ideia se o que Daniela está me contando é verdade. Eu não estou certo se sequer importa como ela conseguiu o dinheiro. Estou mais preocupado em descobrir se esta nova Garde é alguém que podemos confiar. Alguém que pode nos apoiar. — Segundo - ela continua, inclinando-se em minha direção, — minha mãe iria ficar irritada se ela descobrisse que desperdicei uma oportunidade como essa.

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Ela tenta manter sua voz calma, mas um tremor a abala quando ela menciona a mãe. Talvez essa atitude seja apenas fachada, uma maneira de lidar com o fato de seu mundo ter virado de cabeça para baixo nas últimas vinte quatro horas. Eu entendo isso. Minha expressão deve parecer compreensiva, penso, ou talvez ela apenas percebeu sua voz falhando, porque Daniela aumenta a voz, mais efervescente do que antes. Me ocorre que da mesma forma que estou tentando entendê-la, ela está tentando me entender. — Terceiro, eu não assinei nada para ganhar esses super poderes que você nem sabe porque eu tenho. E eu tenho a maldita certeza de que não me alistei para lutar na sua guerra alienígena. Nem minha família. — Você acha que tem uma folha de alistamento passando por aí? - pergunto rispidamente, tentando e falhando em evitar que meu temperamento se inflame. — Ninguém pediu por isso. Os Lorienos, meu povo, nós não pedimos para que os Mogs destruíssem nosso planeta natal. Isso aconteceu de qualquer forma. Daniela levanta suas mães defensivamente. — Tudo bem, então você sabe como é isso. Tudo o que estou dizendo é que você não deveria estar julgando como eu escolho usufruir da minha invasão alienígena. Droga, é uma loucura. — Eu era muito jovem para revidar quando atacaram Lorien - digo a ela. — Mas você... — Ah droga, lá vem. O discurso de recrutamento. Daniela começa a fazer uma interpretação, sua voz se torna aguda de repente, suas palavras anunciadas teatralmente. — Olhe pela sua janela - ela recita. — Os Mogadorianos estão aqui. A Garde vai combatê-los. Você vai lutar pela Terra? Balanço minha cabeça, confuso. — O que é isso? — É do seu vídeo, cara. Toda aquela coisa de apoio à Garde. Eles passaram isso nas notícias. Balanço a cabeça. — Eu nem sei sobre o que você está falando.

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Daniela estuda meu rosto por um momento, e finalmente parece satisfeita com minha perplexidade. — Huh. Realmente não. Acho que você provavelmente não andou vendo muita TV. Eu? Eu estava assistindo quando as primeiras naves começaram a aparecer. É como se de repente estivéssemos vivenciando todos aqueles filmes de invasões alienígenas. Foi bem legal até que, bem... Daniela balança a mão, abrangendo não apenas nossa situação, de nos esconder no subterrâneo, mas a destruição na cidade inteira quem ambos presenciamos. Percebo que suas mãos tremem um pouco. Ela rapidamente disfarça isso, dobrando seus braços com força sobre o peito. — Sam e eu ajudamos um grupo de pessoas a sair de Manhattan ontem - digo a ela. — Me perguntei como muitos deles sabiam meu nome, mas estava muito caótico para descobrir. Isso estava nas notícias? Eles me mostraram lutando nas Nações Unidas? Daniela confirma. — Eles mostraram um pouco disso. Exceto quando um cara parecendo o George Clooney deformado se transformou em um monstro alienígena, aí as pessoas realmente começaram a surtar e todas as câmeras a tremer. Você estava bombando nas notícias antes disso. Inclino minha cabeça, sem entender nada. — O que você quer dizer? — Tinha aquilo, tipo, um vídeo no YouTube. Foi postado num estúpido site de conspiração primeiro— — Espere... por acaso era ‘Eles Estão Entre Nós’? Daniela dá de ombros. — ‘Nerds Estão Entre Nós,’ eu não tenho certeza. Começava com uma imagem da Terra que eles com certeza tiraram do Google e uma garota narrando tipo: “— Este é o nosso planeta, mas não estamos sozinhos na galáxia, blah blah blah”. Ela estava tentando fazer parecer como todos aqueles documentários profissionais sobre a natureza ou alguma coisa assim, mas posso dizer que ela é da nossa idade. Por que você está fazendo essa cara estúpida?

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Enquanto Daniela falava, não pude evitar que um sorriso idiota surgisse em meu rosto. Tentei manter minha expressão neutra enquanto me inclino para frente. — O que mais aconteceu? — Então, eles mostraram algumas fotos dos Mogadorianos e disseram que eles vieram para escravizar a humanidade. Esses alienígenas pálidos pareciam com pessoas com maquiagem de monstros ou qualquer coisa do tipo. Ninguém teria levado aquela porcaria a sério se, você sabe, não houvesse toneladas de OVNIs ameaçando a cidade. E então ela começou a falar de você. Tinha um vídeo de você pulando para fora de uma casa em chamas que não parecia possível, e depois tinha cenas de você curando o rosto queimado de um agente do FBI e... bem, estava meio trêmulo, mas os efeitos especiais foram muito bem feitos se fosse falso. — O que... o que ela fala sobre mim? Daniela sorri, olhando pra mim. — Ela disse que seu nome é John Smith. Que você é um Garde. Que você foi enviado para nosso planeta para lutar contra esses alienígenas. E que agora, você precisa de nossa ajuda. Isso era sobre o que Daniela estava falando antes. Sua péssima interpretação deve se referir a Sarah. Encosto as costas no banco, pensando sobre o vídeo que Sarah e Mark fizeram, a contribuição deles nos bastidores. Mesmo que ela esteja zombando, o vídeo parece ter causado uma impressão em Daniela. Ela o decorou. Droga, os sobreviventes que trouxemos pela rua com certeza viram o vídeo. Eles confiaram em mim. Estavam prontos para ficar e lutar. Mas era muito tarde para isso? Faço uma careta involuntariamente, pensando alto. — Passei minha vida inteira me escondendo dos Mogadorianos que estavam nos caçando na Terra. Ficando mais forte. Treinando. A guerra estava sendo lutada em segredo. Estávamos começando a reunir aliados, além de

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estar conseguindo descobrir as coisas. Me pergunto, se tivéssemos ido a público antes, quantas vidas teríamos salvo se Nova Iorque estivesse pronta para um ataque como este? — Nah - Daniela diz, descartando essa ideia com um aceno de mão. — Ninguém teria acreditado nesta porcaria há uma semana. Não sem a CNN gritando sobre naves espaciais sobrevoando Nova Iorque. Quero dizer, você precisava de toda a luta na UN para que pudessem acreditar. Caso contrário, as pessoas do noticiário estariam debatendo se isso era uma farsa, ou uma publicidade para a divulgação de algum filme ou coisa do tipo. Eu vi uma mulher na TV dizendo que você era um anjo. Bem engraçado. Rio secamente, não estando muito com vontade. — É. Hilário. Percebo que Daniela está tentando me confortar à sua maneira. Eu nunca vou saber o que teria acontecido se tivéssemos gastado os últimos meses tentando tornar pública nossa guerra com os Mogadorianos. Haviam humanos de cargos importantes envolvidos com o ProMog e isso faria com que qualquer tentativa de expô-los se tornasse extremamente difícil, se não impossível. Eu sei de tudo isso, logicamente. E ainda assim eu não posso deixar de sentir que a colossal perda de vidas foi culpa minha. Eu devia ter feito mais. — Quantos anos você tem mesmo? - Daniela pergunta. — Dezesseis - digo a ela. — Ah - Daniela assente, como se ela já soubesse disso. — Você é como a garota narrou no vídeo. Você tem toda essa sabedoria por trás da idade, isso é verdade. E parece que já passou por muita coisa. Mas dando uma olhada mais de perto... - ela se perde, estalando sua língua enquanto pensa. — Você deveria estar terminando o ensino médio. Não salvando o mundo. Não posso deixar o que aconteceu em Nova Iorque me enterrar sob a culpa. Eu tenho que ter certeza de que nada desse tipo vai acontecer

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novamente. Preciso encontrar meus amigos e descobrir como matar Setrákus Ra, de uma vez por todas. Ergo meus ombros e sorrio para Daniela, dando de ombros com indiferença. — Alguém precisava fazê-lo. Daniela devolve o sorriso por um segundo, então surpreende a si mesma e desvia o olhar. Por um segundo, ali, pensei que ela talvez tivesse se voluntariado para se juntar a luta. Não posso obrigá-la a ficar conosco depois de sairmos do metrô. Eu apenas tenho que acreditar que ela, e os outros humanos lá fora, desenvolveram Legados por algum motivo. — Precisamos nos mover - digo. Balanço os ombros de Sam e ele bufa quando acorda. Seus olhos ficam turvos por um momento, se ajustando lentamente a luz azulada do vagão de metrô. — Então aquilo não foi um pesadelo - ele suspira, levantando lentamente e estalando as costas. Seu olhar vai em direção a Daniela. — Você resolveu passar um tempo conosco, huh? Daniela encolhe os ombros, como se a pergunta a tivesse envergonhado. — Você mencionou ter tirado algumas pessoas de Nova Iorque... - ela diz para mim. — Isso. O exército protegeu a ponte do Brooklyn. Eles estavam evacuando as pessoas por lá. Pelo menos, eles estavam até ontem à noite. — Eu gostaria de ir lá - Daniela responde, se colocando de pé. Ela endireita sua blusa coberta de poeira e sangue seco. — Talvez ver se minha mãe chegou até lá. — Tudo bem - digo. Não quero obrigá-la a se unir a nós. Se isso acontecer, ela é que deve fazer essa decisão. Isso não significa que não devemos passar um tempo juntos por enquanto. — Nós devemos seguir nessa direção também.

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Sam esfrega os olhos, ainda umedecendo sua boca. — Você acha que Nove e Cinco batalharam todo o caminho até o ponto de evacuação? — Duvido - respondo. — Mas Nove já é grandinho, pode se virar sozinho por mais algum tempo. As prioridades mudaram. Eu realmente preciso entrar em contato com Seis. Se ainda existir telefones funcionando acho que estarão no ponto de evacuação. Me viro para Daniela. — Pode nos mostrar o caminho para fora daqui? Daniela assente. — Só tem um jeito de ir já que os caminhos para a superfície desabaram. Seguimos os trilhos até algumas estações, e então devemos chegar próximo à ponte. — Espere. Como as prioridades mudaram enquanto eu estava dormindo? - Sam pergunta. Conto a Sam como Ella me alcançou telepaticamente de sua prisão na Anúbis, explicando que Setrákus Ra está indo para o Santuário. Daniela ouve, seus olhos bem abertos e focados em mim, sua boca ligeiramente aberta. Quando termino de descrever minha jornada dos sonhos, sobre profecias e locais Lóricos ameaçados, ela balança a cabeça em total mistificação. — Minha vida ficou tão estranha - ela diz, andando na direção da saída do vagão. — Ei - Sam a chama de volta. — Você se esqueceu da bolsa! Daniela olha por cima dos ombros. Então, ela olha pra mim. Não sei se ela quer permissão ou se está me desafiando a pará-la. Quando não falo nada, ela se vira e levanta a bolsa pesada com um grunhido — Use sua telecinese - digo casualmente. — É bom para praticar. Daniela olha para mim por um momento, depois concorda e sorri. Ela se concentra e flutua a bolsa a sua frente. — O que tem aí? - Sam pergunta. — Meus fundos para faculdade - ela responde. Sam olha para mim. Eu apenas dou de ombros.

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Quando Daniela alcança o fim do vagão, ela levita a bolsa para o lado e abre a porta de metal com um barulho estridente. Ela dá um passo para o corredor que liga o próximo vagão. Sam e eu a seguimos alguns passos atrás. — Whoa, whoa - Daniela diz, suas palavras não são direcionadas para nós. Sua bolsa dispara de volta para o vagão que estávamos, Sam e eu pulamos para for a do caminho. Daniela desliza a bolsa para debaixo do banco com telecinese, como se estivesse tentando escondê-la. Um segundo depois, ela volta alguns passos pela porta, suas mãos levantadas em rendição. Imediatamente meus músculos tencionam. Pensei que estivéssemos salvos aqui em baixo nos túneis. Mas não estamos sozinhos. Um cano de metralhadora com uma lanterna acoplada está apontada a alguns centímetros do rosto de Daniela. Uma forma escura, coberta de equipamentos e armadura, está entrando com cuidado em nosso vagão levando Daniela a recuar. Tarde demais, percebo feixes de lanterna no vagão seguinte — cerca de dúzias deles, talvez mais. Um segundo feixe atinge meus olhos, e um segundo homem está armado entrando em nosso vagão. Sem pensar nisso, ativo meu Lúmen, fogo deslizando através de meus punhos. — Espere - Sam avisa. — Não são Mogs. Eu ouço um clique de armas engatilhadas, provavelmente em resposta a minha bola de fogo. O corredor do vagão é estreito, Daniela está no caminho e a luz em meu rosto faz com que seja difícil enxergar. Definitivamente não são condições ideais. Eu provavelmente seria capaz de desarmá-los com minha telecinese, mas eu não quero arriscar criar uma explosão automática assim tão perto. Melhor esperar e ver o que vai acontecer. Deixo meu Lúmen se apagar, e no mesmo momento o soldado da frente abaixa a luz da lanterna de sua arma para o chão. Ele está usando um capacete, farda e óculos de visão noturna

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Apesar disso, posso te dizer que ele é apenas alguns anos mais velho que eu. — Você é ele - o soldado diz, com um leve temor em sua voz. — John Smith. Eu ainda não estou acostumado com essa coisa de ser reconhecido, então levo um momento para responder. — Isso mesmo. O soldado pega o walkie-talkie em seu sinto e fala nele. — Pegamos ele - ele diz, sem tirar os olhos de mim. Daniela vem em direção a Sam e a mim, olhando para nós e para os soldados, dos quais estão entrando mais em nosso vagão, ventilando o lugar, vasculhando tudo. — Amigos seus? — Não tenho certeza - respondo calmamente. — Às vezes o governo gosta da gente, outras nem tanto - Sam explica. — Ótimo - Daniela responde. — Por um segundo, achei que eles estivessem aqui para me prender. O walkie-talkie do soldado ganha vida, uma familiar voz de mulher ecoa pelo vagão. — Peça a eles com educação, mas os traga aqui - a mulher comanda. O soldado pigarreia desconfortavelmente, olhando para nós. — Por favor venha conosco - ele diz. — A Agente Walker gostaria de dar uma palavrinha.

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os soldados nos pressionaram até os túneis do metrô para longe da estação mais próxima e, finalmente até a luz do dia. Eles estão constantemente na nossa cola, um escudo humano, nos tratando como o Serviço Secreto trata o presidente. Eu me deixo ficar mais próximo deles, sabendo que eu posso facilmente atravessá-los com um empurrão ao primeiro sinal de problemas. Nós não encontramos nenhuma patrulha Mogadoriana no caminho de volta aos seus Humvees blindados, e rapidamente nós estamos ecoando pelas ruas preenchidas com pedaços dos prédios, os destroços, o resultado do bombardeamento feito pela Anubis ontem à noite. Nós alcançamos a Ponte do Brooklyn rapidamente e sem incidentes. No lado de Manhattan, o exército preparou uma barreira fortemente armada. Soldados empacotando metralhadoras observam as ruas de trás de um bloco de sacos de areia. Atrás deles, três linhas de tanques estão estacionadas, seis do outro lado da ponte, suas torres armadas e apontadas para o céu. Helicópteros carregados com mais misseis patrulham o céu e alguns botes bem recheado estão preparados no rio.

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Se os Mogadorianos tentarem tomar o Brooklyn, eles definitivamente encontrarão alguma resistência. — Você teve que lutar com muito deles? - eu pergunto ao soldado que está dirigindo nosso Humvee enquanto nós passamos pela barreira segura e começamos a diminuir a velocidade devido ao engarrafamento na ponte. — Nenhum. Senhor - ele responde. — Os hostis ficaram em Manhattan até agora. Aquela grande nave voou bem acima de nós essa manhã e não nos comprometeu. Você me diz, eles não querem nenhum pedaço de nossos soldados. — Senhor - Daniela repete, levantando uma sobrancelha para mim e rindo. — Eles estão preservando Manhattan - eu digo, inclinando para trás e franzindo a testa, sem entender porque os Mogs não atacaram. — É como se Setrákus Ra estivesse mandando uma mensagem - Sam diz calmamente. — Olha o que eu posso fazer. — Se eles vierem até nós, nós estaremos preparados - o soldado diz, se intrometendo. Olhando pela janela, eu descubro atiradores escondidos nas estruturas da ponte, vigiando o lado Manhattan da ponte através de seus binóculos. Eu troco um olhar de dúvida com Sam. Eu quero acreditar nessa demonstração de força do exército, mas eu vi o tipo de destruição que os Mog são capazes de fazer. O único motivo pelo qual o Brooklyn ainda está de pé é porque Setrákus Ra permitiu. O soldado estaciona nosso Humvee no meio de um quarteirão da cidade que foi convertido em uma área de preparação para os militares. Existem tendas nas proximidades, mais Humvees e muitos soldados com olhares inquietantes e com armas. Também tem uma longa fila de civis, muito deles sujos e com lesões superficiais, agarrando seus bens escassos à medida que esperam em uma linha de abatimento. Na frente

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da fila, alguns voluntários com pranchetas anotam as informações das pessoas exaustas, antes de direcioná-las até os ônibus das cidades comandadas. Nossa escolta me nota observando o lento processo de refugiados. — Os voluntários estão tentando manter o controle dos sem teto - o soldado explica. — Então estamos evacuando eles para Long Island, Nova Jersey, qualquer lugar. Levando eles para longe da luta até nós conseguirmos recuperar Nova York. O soldado mede Sam e Daniela de cima abaixo, então olha para mim de novo. De repente me ocorre que esse cara está esperando que eu lhe dê ordens. — Você quer que evacuemos esses dois? - o soldado pergunta, referindo se aos meus companheiros. — Eles estão comigo - eu digo a ele, e ele acena com a cabeça, aceitando sem questionar. Daniela observa os voluntários checarem um casal idoso e ajudá-los a subir no ônibus. — Eles têm uma lista os algo que eu possa checar? Eu estou... procurando por alguém. O soldado encolhe o ombro como se essa não fosse sua área de conhecimento. — Claro, você poderia perguntar. Daniela vira para mim. — Eu estou indo--- — Vá - eu digo, acenando. — Eu espero que você a encontre. Daniela sorri para Sam, então para mim, e começa a se afastar. — Hum, sobre aquela coisa toda de salvar o mundo... - ela diz, hesitando. — Quando você estiver preparada, venha e me procure - eu digo a ela. — Você está assumindo que em algum momento eu irei estar preparada - Daniela responde. Ela ainda não mencionou sua mochila de dinheiro roubado, desde que ela foi deixada para trás no metrô. — Sim, eu estou.

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Daniela demora por mais um segundo, olhos fixados com os meus. Então, acena para ela mesma, se vira e corre em direção aos voluntários. Sam olha para mim como se eu fosse louco. — Você está a deixando ir? Uma das únicas... - Sam olha de relance para o soldado que ainda está pacientemente esperando próximo a nós, sem ter certeza de quanto ele deveria dizer. — E não posso forçá-la a se juntar a nós, Sam - eu respondo. — Mas o que aconteceu a ela---o que aconteceu com você... tem que ter uma razão. Eu tenho fé que isso não vai ser para nada. — A barraca da Agente Walker está nessa direção, senhor - o soldado diz, acenando para eu e Sam seguir. — Os celulares ainda estão funcionando? - eu pergunto a ele enquanto nós atravessamos o congestionado acampamento. — Eu preciso fazer uma ligação. É importante. — Métodos tradicionais ainda não estão funcionando, senhor. Os inimigos se atentaram a isso. No entanto, nós provavelmente temos alguma coisa que você possa usar no centro de comunicação - o soldado diz, apontando para uma tenda próxima com muita atividade. — Todavia, eu devo levá-los diretamente à Agente Walker. Se você permitir. — Se eu permitir? — Nós fomos brevemente informados de seu histórico de... dificuldades com as autoridades - o soldado diz, timidamente examinando a alça de seu rifle. — Foi-nos dito para não entrar em combate ou forçar vocês a fazer qualquer coisa. Os parâmetros da missão são limitados a apenas gentilmente cutucar. Eu balanço minha cabeça desacreditando. Não foi há muito tempo que eu fui considerado um inimigo dos Estados Unidos. Agora, eu estou sendo tratado como um estrangeiro digno pelo exército.

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— Tudo bem - eu digo, decidindo não fazer a vida difícil para nossa escolta. — Aponte-me a direção da Agente Walker e então ajude meu amigo Sam a colocar suas mãos em um telefone via satélite. Momentos depois, eu ando ao lado do píer de concreto observando o East River e Manhattan. O ar está fresco e gelado, no entanto ainda está tingido com um irritante cheiro de queimado que sopra de Manhattan. Daqui, eu tenho uma visão clara da destruição que os Mogadorianos impuseram na cidade. Pilares de fumaça negra sobem no brilhante céu azul, o fogo que ainda queima. Existem lacunas no horizonte da cidade, espaços onde eu sei que edifícios deviam estar, simplesmente apagados pelas poderosas armas de energia da Anúbis. Ocasionalmente, eu posso fazer um rasante entrelaçando entre os edifícios, os Mogs patrulhando as ruas. A Agente Walker está sozinha na grade, observando a cidade. — Como você me encontrou? - eu pergunto como um modo de cumprimento, enquanto eu me aproximo. A agente do FBI no qual uma vez tentou me prender, agora sorri para mim. — Alguns sobreviventes mencionaram ter visto você - Walker responde. — Nós enviamos times para fora da área geral. Começamos a procurar onde a principal nave de guerra estava despejando artilharia pesada. — Boa ideia - eu respondo. — Estou feliz por você estar vivo - ela diz bruscamente. O cabelo ruivo e grisalho da Walker está puxado para trás em rabo de cavalo. Ela parece exausta, olheiras pesadas abaixo de seus olhos. Em algum momento ela trocou seu habitual casaco e terninho por um colete Kevlar, provavelmente emprestado do grande contingente do exército que está garantindo a segurança desta área. Seu braço esquerdo está em uma tipoia, e há uma bandagem feita às pressas em sua testa. — Você quer que eu te cure? - eu pergunto.

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Em resposta, Walker dá uma olhada em volta. Nós dois estamos sozinhos no momento, em um pequeno parque escondido embaixo da ponte de Brooklyn. Ou melhor, tão sozinhos quanto conseguimos ficar em um lugar que basicamente se tornou um campo para refugiados do dia para a noite. O gramado montanhoso atrás de nós está cheio de tendas improvisadas, onde feridos e assustados Nova Iorquinos se apertam. Eu acho que essas são as pessoas que recusaram serem evacuadas pela Cruz vermelha, ou talvez estivessem muito feridas para fazer esta viagem. Há tendas espalhadas pelo arredor do bloco, e eu tenho certeza que há pessoas agachadas nos chiques apartamentos construídos à beira do rio nas proximidades. Intercalados através dos sobreviventes, mantendo a ordem e cuidando dos feridos, estão os soldados, policias e alguns médicos, apenas uma pequena parte da força de milhares que eu vi reunidos perto da ponte. É essencialmente um caos organizado. — Esses seus poderes, eles têm limites? - Walker pergunta, olhando como uma mulher deixada na grama do parque que teve um braço severamente queimado tratado por um médico apressado. — Sim, eu os sobrecarreguei ontem - eu respondo, coçando a parte de trás do meu pescoço. — Por que você pergunta? — Porque por mais que eu aprecie a oferta, nós temos milhares de feridos aqui, John, com mais chegando a cada hora. Você quer gastar todo o seu tempo remendando as pessoas? Eu encaro as filas das pessoas no parque, muitas delas descansando em nada mais do que a grama. A maioria delas está me observando. Eu ainda não estou confortável com isso, ser a face da Garde. Eu me viro de volta para a Walker. — Eu poderia - eu digo. — Isso salvaria algumas vidas. Walker balança sua cabeça me olha. — Os mais feridos estão na tenda de classificação. Nós podemos dar uma passada por lá depois, se você

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quiser fazer toda essa coisa de Mãe Teresa. Mas eu e você sabemos que há maneiras melhores de gastar o seu tempo. Eu não respondo, e não levo a questão adiante. Walker geme e caminha ao longo dos canais, indo em direção a uma coleção de tendas do exército levantadas nas proximidades de uma praça. Eu dou outra rápida olhada em volta do parque. Atravessando a ponte, as coisas parecem bem seguras. No entanto, de volta onde eu estava, está uma absoluta loucura. Pessoas feridas, soldados, policiais militares - eu nem sei por onde começar. — Então, você é a responsável aqui? - eu pergunto a Walker, tentando me orientar. Ela bufa. — Você está brincando, certo? Há generais cinco estrelas na cena planejando operações de contra-ataque. A CIA e a NSA estão aqui, coordenando com pessoas de Washington, tentando fazer sentindo com todas as informações que estão sendo recebidas de todo o mundo. Eles tiveram o presidente em vídeo conferencia mais cedo nesta tarde, por mais espirituoso que o Serviço Secreto seja. Eu sou apenas uma agente do FBI, não muito em comando. — Ok, se este é o caso, por que eles me trouxeram até você, Walker? Por que nós estamos conversando? Walker para e vira para mim, com suas mãos nos quadris. — Por causa de nossa história, nossa relação— — É disso que você está chamando? — Eu fui nomeada sua ligação, John. Seu ponto de contato. Qualquer coisa que você nos contar sobre os Mogadorianos, suas táticas, esta invasão - isso vai ser dito através de mim. Da mesma forma, qualquer requisição que você poderá fazer para as forças armadas dos Estados Unidos. Eu deixo escapar uma risada aguda e sem graça. Eu me pergunto onde estão os generais. Procuro pelas tendas próximas procurando por algum que aparece mais importante do que os outros.

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— Sem ofensa, Walker, mas eu não preciso de você como um meio comunicação. — Não é você quem decide - ela responde, resumindo sua caminhada pelo píer. — Você tem que entender que as pessoas em comando, o presidente, seus generais, o que sobrou de seu gabinete - eles não eram do ProMog. Quando os Mogs fizeram contato, nós quase tivemos um glorificado golpe em nossas mãos com as escórias do ProMog defendendo a rendição. Por sorte com o Sanderson fora da jogada— — Espera aí. O que aconteceu com ele? - eu pergunto. Eu perdi o sinal do secretário da defesa durante a batalha com Setrákus Ra. — Ele não resistiu - Walker responde tristemente. — Eu tinha pessoas suficientes em Washington para se livrar da maioria das maçãs podres. Aquelas que nós sabíamos, pelo menos. — Então você está dizendo que a maioria dos ProMog se foram e que nós fomos deixados com... — Um governo fraturado que foi mantido totalmente nas sombras. Essa invasão, a ideia de aliens de outro planeta nos atacando, é tudo novo para eles. Eles aceitam que você está lutando do nosso lado. Mas você ainda é um extraterreste. — Eles não acreditam em mim - eu digo, incapaz de manter a amargura da minha voz. — A maioria deles nem mesmo acreditam mais um no outro. E de qualquer forma, você não deveria confiar neles - Walker responde empaticamente. — Os membros ProMog conhecidos foram todos presos, mortos ou se esconderam. Mas isso não significa que pegamos todos eles. Eu dou uma olhada para Walker, revirando meus olhos. — Então melhor para mim continuar com o diabo que eu conheço, né? Ela abre os braços, obviamente não esperando que realmente eu a abrace. — Isso mesmo!

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— Tudo bem, aqui está meu primeiro pedido: contato - eu digo. — A Anúbis – essa é a nave de guerra que deixou Nova Iorque essa manhã - está carregando Setrákus Ra e está indo para o México— — Ah, bom - Walker interrompe. — Eles vão gostar disso. Uma ameaça a menos para os céus do EUA. — Eles precisam enviar jatos, lutadores, drones, o que quer que eles tiverem - eu digo. — A nave está indo em direção de um lugar de grande poder, um lugar Lórico. Eu não tenho certeza do que Setrákus Ra quer lá, mas eu sei que é ruim se ele conseguir. Nós temos que levar a luta até ele. A expressão da Walker fica mais sombria quanto mais eu falo. Eu já posso dizer que eu não vou gostar do que ela tem a me dizer. Ela me leva para fora do píer, atravessando algum emaranhado de grama e para em frente de uma tenda de lona ligeiramente isolada das outras. — Um ataque direto não vai acontecer - ela responde. — Por que diabos não? — Meu quartel General - ela diz, empurrando a abertura da aba de entrada. — Vamos falar lá dentro. Dentro da tenda da Walker está uma cama não usada, uma mesa bagunçada e um laptop. Tem um mapa da cidade de Nova York com linhas vermelhas cruzando ela - se eu tivesse que adivinhar, eu apostaria que as linhas vermelhas representam o caminho que a Anúbis fez durante o ataque de ontem. Walker puxa um segundo mapa debaixo do mapa de Nova Iorque, este é do mundo inteiro. Há alguns sinistros X pretos desenhados sobre várias das principais cidades - Nova Iorque, Washington, Los Angeles e lugares mais distantes como Londres, Moscou, e Beijing. Há mais de vinte cidades marcadas neste mapa. Walker bate seus dedos no papel. — Essa é a situação, John - ela diz. — Cada marca é uma das naves de guerra. Você sabe como derrubar uma dessas coisas? Eu balanço minha cabeça. — Ainda não, mas eu ainda não tentei.

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— A força aérea tentou ontem, e não deu muito certo. Eu franzo a testa. — Eu os vi voando. Eu sei que eles não conseguiram. — Eles tiveram algum sucesso contra as menores naves, mas elas nem se comparam com a Anúbis. A força aérea estava considerando outro ataque quando os chineses tentaram. — O que isso significa? — Algumas horas depois do ataque em Nova Iorque, eles ficaram com os dedos no gatilho. Provavelmente estavam preocupados que eles fossem os próximos a serem atacados. Eles lançaram tudo o que puderam com exceção de uma bomba nuclear na nave que estava sobre Beijing. — E? — Vítimas em dezenas de milhares - Walker responde. — A nave de guerra ainda está no ar. Elas estão protegidas de alguma forma. Os cientistas chineses dizem que é um tipo de campo eletromagnético. Eles ficaram cansados de lançarem jatos contra esse campo, então eles tentaram lançar paraquedas com uma pequena força diretamente na nave de guerra. Aqueles caras não sobreviveram ao contato com o campo. Eu estou lembrado do campo de força em volta da base Mogadoriana de West Virginia. O choque que eu recebi ao tocar foi o suficiente para me nocautear e me deixar doente por dias. — Eu já atravessei o campo de força deles antes - eu digo a ela. — Literalmente. — Como você o derrubou? — Nunca consegui. Walker me dá um olhar inexpressivo. — E aqui estava eu tendo um pouco de esperança. Eu olho de volta para o mapa e balanço minha cabeça. Todo o X preto me parece uma batalha que eu não sei como vencer.

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— Vinte e cinco cidades sob ataque. Você tem alguma notícia boa, Agent Walker? — É isso - ela diz. — Essa é a boa notícia. Eu levanto uma sobrancelha para ela. — Alguns lugares, como Londres e Moscou, enviaram tropas para lutar contra os Mogs. Mas não houve resposta como aqui ou em Beijing. Nenhum bombardeio, nenhum monstro furioso. É como se os Mogs estivessem pegando leve com eles. E também há alguns lugares como Paris e Tóquio que não levantaram nenhum dedo se quer. Essas cidades não estão atualmente sob ataque. As naves de guerra e as naves de escolta estão controlando o espaço aéreo, mas além disso não há nenhum Mog em terra firme. E então, esta manhã, aquela nave de guerra voou bem em cima de nós, como se não fossemos nada. Isso fez algumas pessoas pensarem que talvez eles não querem lutar. Talvez tudo isso seja um grande mal intendido com os extraterrestres, que nós não deveríamos ter atacados eles primeiro. — Nós não atacamos - eu digo. — Eu sei disso, mas em volta do mundo, o que nós vimos— — Setrákus Ra está enviando uma mensagem - eu digo. — Mesmo sabendo que ele tem a vantagem, ele não quer uma batalha demorada. Ele quer intimidar a humanidade à submissão. Ele quer que nós desistamos. Walker acena e anda até seu laptop. Ela coloca uma série de senhas, o que não é uma tarefa fácil considerando que ela tecla com uma mão, antes que finalmente ela abre um vídeo encriptado. — Você está mais certo do que você imagina - Walker diz. — Não está claro como ele conseguiu acesso, mas esse vídeo apareceu nos canais de segurança da caixa particular do presidente. Outros líderes do mundo que nós conversamos reportaram ter recebido a mesma coisa. Walker aperta o botão “reproduzir” e um vídeo de qualidade HD com a imagem do rosto de Setrákus Ra aparece na tela. Meu sangue começa

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a gelar ao ver sua pele pálida e vazios olhos pretos, no sinal da cicatriz roxa escura que rodea seu pescoço, no sinal de seu convencido sorriso para a câmera. É exatamente o mesmo sorriso que tinha um pouco antes de me arremessar no East River. Setrákus Ra está sentado em uma cadeira ornamental de comandante na Anúbis - eu me lembro de tê-la visto quando Ella me mostrou a nave. Sob seu ombro, a cidade de Nova Iorque é visível através de uma grande janela do chão ao teto. O sol está nascendo, a cidade ainda está em chamas. Não há dúvidas em minha mente que ele escolheu essa cena de fundo de propósito. — Respeitáveis líderes da Terra - Setrákus Ra começa, essas palavras educadas emitidas em um áspero estrondo. — Eu oro para que essa mensagem os encontre com uma cabeça aberta depois do infeliz evento em Nova Iorque e Beijing. Foi com uma grande relutância, e somente depois de uma tentativa de assassinato pelos alienígenas terroristas, que eu usei uma fração da força Mogadoriana disponível contra suas pessoas. — A propósito, vocês são os alienígenas terroristas - Walker diz. — É, eu percebi isso. Setrákus Ra continua. — Tirando essas circunstâncias lamentáveis, minha oferta para acolher a humanidade e mostrá-la que o Progresso Mogadoriano vale a pena ainda está de pé. Eu não sou nada se não perdoar. Enquanto minhas forças irão continuar a manter a cidade de Nova Iorque e Beijing como um lembrete do que acontece quando bestas imprudentes mordem uma mão gentil que as guia, as outras cidades onde minhas naves de guerra estão posicionadas não tem o que temer. Assumindo, isto é, que meus generais recebam incondicional rendição destes governos nas próximas quarenta e oito horas. Minha cabeça se vira para Walker. — Eles não estão realmente acreditando nessa merda, não é? Ela aponta para a tela. — Tem mais.

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— Adicionalmente, - Setrákus Ra entoa — eu acredito que o governo dos Estados Unidos está abrigando os terroristas Lóricos conhecidos como Garde. Continuar a ajudar essas almas retorcidas será considerado um ato de guerra. Eles deverão ser entregues a mim no tempo de rendição, no interesse de evitar o custoso e doloroso processo de retirá-los a força. E também é de meu entendimento que alguns humanos têm sofrido de uma mutação nas mãos da Garde onde eles vão manifestar alguns tipos de habilidades sobrenaturais. Estes humanos devem ser entregues a mim para tratamento. — O que ele quer dizer com mutações? - Walker me pergunta. — Mais besteira? Eu não respondo. Em vez disso, eu me afasto do laptop enquanto Setrákus Ra ainda está falando, meu olhar deslocando na direção da Agent Walker. — Vocês têm quarenta e oito horas para se render, ou eu não vou ter escolha senão libertar sua humanidade de sua liderança estúpida e liberar suas cidades pela força... O vídeo para e Walker vira o rosto para mim. Quando o faz, eu já tinha preparado uma pequena bola de fogo, pairando sobe a palma da minha mão. — Oh, Jesus Cristo, John - ela grunhe, saindo de perto do calor. — É esse o motivo de você me trazer aqui? - eu retruco com ela, me afastando. Eu estou meio esperando um grupo de soldados entrarem explodindo para tentarem me conter, então eu mantenho um olho na saída da tenda enquanto eu me movo em direção a ela. — Meus amigos estão seguros? — Você acha que eu mostrei isso para você como um prelúdio de uma emboscada? Fique calmo. Você está seguro. Eu encaro Walker por mais alguns segundos. Nesse ponto, eu não tenho muita opção a não ser acreditar nela, especialmente considerando a alternativa de lutar um exército para sair daqui. Se o governo quer me

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entregar para Setrákus Ra como um gesto de boa vontade, isso provavelmente ainda não aconteceu. Eu extingo minha bola de fogo e encaro Walker. — Então, isso é verdade? - Walker pressiona. — O que Setrákus Ra disse sobre os humanos manifestando habilidades sobrenaturais? Ele quis dizer que os humanos estão obtendo Legados? — Eu... Eu não tenho certeza o quanto devo compartilhar com Walker. Ela me diz que estou seguro, mas não tem muito tempo que ela estava me caçando através do país. Embora ela alegue que o ProMog foi levado para as escuras, ainda há humanos por aí trabalhando contra nós. Droga, ela acabou de me dizer para não acreditar no governo. E se tiver novos Garde em todo o mundo, e se algum liquidado como o Secretário de Defesa Sanderson chegar até eles antes de nós? E eu poderia revelar Sam e Daniela para Walker? Eu não posso dizer nada para ela. Não até eu ter descoberto primeiro. — Eu não sei o que diabos ele está falando, Walker - eu digo depois de um momento. — Ele vai dizer qualquer coisa para conseguir o que ele quer. Eu acho que ela pode dizer que eu escondendo algo dela. — Eu sei que é difícil em aceitar considerando nossa história, mas eu estou do seu lado agora - Walker diz. — Por ora, assim como os Estados Unidos.” — Por ora? O que isso significa? — Isso significa, que ninguém vai se render para o alienígena maníaco que acabou de explodir Nova Iorque. Mas se ele começar a colocar fogo em mais cidades e nós não tivermos descoberto uma maneira de contra atacar? As coisas podem mudar John. Por isso que seu pedido por uma operação militar no México não vai acontecer. Primeiro, é um propósito perdido contra as naves de guerra. E segundo, de acordo com os fatos ocorridos, o mais sábio é não ajudarmos você abertamente por ora.

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— Eles estão protegendo suas apostas - eu digo incapaz de manter um sorriso no meu rosto. — No caso deles decidirem em se render. — Palavra do presidente que todas as opções estão abertas. — Desistir não é uma opção. Eu já vi— Eu me contenho para não usar referências das visões do futuro de Ella, profecias de Legados poderosos não vai fazer muito peso para a super prática Walker. — Não vai acabar bem para a humanidade. — Sim, você e eu sabemos disso, John. Mas quando Setrákus Ra começar a matar civis e tudo que ele quiser em troca é você e os outros Garde? Esse é um plano de ação que o presidente vai ser forçado a considerar. E dou as costas, abrindo a aba da tenda para olhar para fora, me perguntando onde Sam está com o telefone via satélite. Eu também quero esconder meu rosto da Walker, sentindo que um ataque de pânico está chegando. Eu não sei o que fazer. Se o prazo de Setrákus Ra passar e ele começar a bombardear outra cidade, eu devo simplesmente deixar acontecer? Eu devo me entregar? Neste meio tempo, o que eu faço para impedir o ataque dele no Santuário? E sobre Nove e Cinco, que ainda estão desaparecidos? É muita coisa para lidar. — John? Devagar, eu encaro Walker, garantindo que minha expressão é neutra. Mesmo assim ela deve detectar algo, porque ela atravessa a tenda e fica em minha frente. Ela agarra meu ombro com seu braço bom, e eu estou tão surpreso por ter deixado isso acontecer. Há medo nos olhos de Walker, misturado com um tipo de determinação suicida. Eu já vi aquele olhar antes usado pelos meus amigos, pouco antes deles se jogarem em uma batalha contra o impossível. — Você precisa me dizer como fazer isso - Walker diz para mim, sua voz baixa e trêmula. — Me diga como vencer essa guerra em menos de quarenta e oito horas.

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— como está indo? Adam pula quando eu coloco minha mão em seu ombro e me inclino para checar seu progresso. Ele está curvado sobre uma bancada onde os Mogs aprimoravam suas armas antes das tentativas infrutíferas de destruir o campo de força do Santuário. Adam varreu toda a porcaria Mogadoriana que estava atravancando a bancada para o chão e as substituiu com uma variedade de peças mecânicas. As peças variadas vieram dos Escumadores desativados que estavam juntando poeira no campo de pouso, algumas das entranhas dos motores, outras de trás do painel de instrumentos touch-screen. Entre as partes da nave estão várias outras coisas, de todos os tamanhos – a bateria de uma das lâmpadas de halogênio, um canhão Mogadoriano quebrado e a caixa de um notebook. Todas essas coisas foram dobradas, torcidas ou marteladas por Adam enquanto ele tenta substituir os conduíte destruídos da nossa nave usando partes diversas. — Como parece que está indo? – ele responde, sombriamente colocando no chão maçarico que ele estava prestes a acender. — Eu não

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sou um engenheiro, Seis. Isso é estritamente tentativa e erro. Até agora, cem por cento de erro. O sol está agora subindo sobre as copas das árvores da selva para queimar a pista de pouso, nenhum adiamento do calor pegajoso lá fora. Adam já tem toda sua camisa suada, sua pele pálida em sua nuca ficando rosada. Eu tiro minha mão de seu ombro até ele suspirar e virar seu rosto para mim. Seus olhos negros estão secos e um pouco selvagens, círculos cinzas se formando ao redor deles. — Você não dormiu – eu digo, sabendo isso de fato. Ele trabalhou durante a noite toda, suas marteladas e xingamentos interrompendo as espasmódicas horas de descanso que eu consegui enquanto dormia enrolada na cabine do Escumador. Os únicos intervalos que ele fez foi para checar Areal, que ainda não se livrou do estado de paralisia. — Talvez eu não saiba muito sobre a biologia Mogadoriana, mas eu tenho certeza de que vocês precisam dormir. Adam tira um pouco de cabelo dos seus olhos, tentando focar em mim. — Sim, Seis, nós dormimos. Quando é conveniente. — Você vai acabar ultrapassando seus limites e ficar exausto, e então será bom em quê? – eu pergunto. Adam franze a testa. — Nas mesmas coisas que eu sou bom agora – ele diz, olhando para a coleção de diversas partes em sua frente. — Eu entendo você, Seis. Estou bem. Deixe-me continuar trabalhando. Para falar a verdade, estou orgulhosa por Adam ser devoto em seu serviço. Ao mesmo tempo que não quer ver ele se machucando, nós desesperadamente precisamos sair do México. Ainda não há uma palavra do John. Estou com medo de estarmos perdendo a guerra. — Pelo menos coma algo – eu digo a ele, agarrando uma banana verde que eu acabei de pegar de uma bananeira próxima e empurrando nas mãos de Adam. Ele considera a banana por alguns momentos. Eu posso realmente ouvir o estômago de Adam roncar enquanto ele começa a descascá-la. Comida não foi uma coisa que pensamos em trazer – nós não sabíamos o que esperar quando viéssemos para o Santuário, mas definitivamente não

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estávamos planejando ficar por aqui. Não trouxemos os suprimentos necessários para uma estadia longa. — Sabe, Nove tinha uma daquelas pedras em sua Arca que, se você as chupasse, elas lhe dariam todos os nutrientes de uma refeição – eu digo a Adam, descascando uma banana. — Meio grotesco, especialmente depois que você começa a pensar sobre onde eles estiveram e quantas vezes Nove provavelmente a reusou. Mas agora, eu realmente queria que não tivéssemos jogado aquilo dentro do poço do Santuário. Adam sorri, olhando para o templo. — Talvez você devesse voltar e pedir com jeitinho. Eu tenho certeza que aquela coisa-energética não quer as pedras cuspidas por Nove. — Talvez eu devesse pedir um novo motor já que estarei lá. — Não doeria - Adam responde, e engole o resto de sua banana com pressa. — Eu vou tirar a gente daqui, Seis. Não se preocupe. Eu deixo uma segunda banana na mesa e deixo Adam voltar ao trabalho. Eu atravesso a pista de pouso em direção onde Marina está sentada com as pernas cruzadas na grama, encarando o Santuário. Eu não tenho certeza se ela está meditando ou rezando ou alguma coisa assim, mas ela estava naquele lugar quando eu acordei esta manhã e ainda não se moveu desde aquela hora que eu saí caçando por comida na selva. Eu gostaria de pensar que foi por acidente minha rota até Marina me levar para a haste do Escumador onde Phiri-Dun-Ra está amarrada, mas eu sei que não. Nós a amarramos no meio do campo e todos temos mantido os olhos nela. Eu quero que a Mogadoriana diga alguma coisa, para me dar um motivo. Ela não desaponta. — Ele vai falhar, você sabe. — Você disse alguma coisa? – eu pergunto, parando e me virando devagar para encará-la. Eu ouvi Phiri Dun-Ra perfeitamente. Nossa prisioneira Mogadoriana sorri cruelmente para mim, seus dentes tortos com sangue seco. Seu olho direito está inchado. Eu fiz isso nela ontem à noite. Depois de ouvir sobre a invasão Mogadoriana, eu fiquei muito cansada rapidamente com sua incessante gargalhada. Então, eu a acertei. Não foi meu momento mais orgulhoso, socando um Mogadoriano

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amarrado, mas isso me fez sentir bem. Na verdade, eu provavelmente teria feito mais se Marina não tivesse me arrastado para longe dela. Enquanto eu encaro Phiri Dun-Ra, seu olho bom se estreita em diversão. Eu cerro os punhos de novo. Eu quero bater em algo. Tudo que preciso é de um motivo. — Você me ouviu, garotinha - ela responde, balançando o queixo na direção de Adam. Phiri Dun-Ra fala alto o suficiente que eu tenho certeza que ele pode ouvir também. — Adamus Sutekh vai falhar, como ele sempre falha. Você sabe, eu conheço ele há muito mais tempo que você. Eu sei o eterno desapontamento que ele foi para seu pai. Para o nosso povo. Não é à toa que ele se tornou um traidor. Eu olho sobe os meus ombros para Adam. Ele está fingindo não ouvir Phiri Dun-Ra, mas suas mãos pararam de trabalhar e seus ombros enrijeceram. — Você quer ser nocauteada de novo? – eu pergunto para Phiri Dun-Ra, dando um passo em direção a ela. Ela olha pensativa por um momento, então ele continua. — No entanto, hmm... acabei de me lembrar de algo. Eu me lembro de ouvir as proezas do jovem técnico Adamus. Ele era algo como um prodígio em máquinas para um jovem trueborn. É estranho então ele não ser capaz de arrumar uma dessas naves, especialmente com todos esses equipamentos ao seu dispor. Eu olho novamente para Adam. Ele está virado agora, uma expressão confusa em sua cara, encarando Phiri Dun-Ra. — Eu me pergunto se ele está enrolando de propósito - Phiri Dun-Ra diz. — Talvez, agora que o Progresso Mogadoriano foi provado inevitável, ele pensa que manter vocês aqui vai dar a ele algum favor com nosso Adorado Líder, para que então ele volte rastejando de volta para seu povo de verdade... Ou talvez ele simplesmente seja muito covarde para encarar as batalhas perdidas que estão por vir.

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Adam passa por mim como um borrão. Ele agacha em frente à Phiri Dun-Ra e puxa sua cabeça para trás. Ela tenta morder ele, mas Adam é mais rápido. — A morte está chegando para você, Adamus Sutekh! Para todos vocês! – ela dá um jeito de gritar, antes de Adam enfiar um pedaço de pano em sua boca. Depois, ele rasga um pedaço grande de fita e enrola em toda a face de Phiri Dun-Ra. Sua respiração agora vem em rajadas furiosas pelo seu nariz, a Mogadoriana olhando venenosamente para Adam. Sobre a grama em frente ao Santuário, Marina tem resistido em assistir a cena, uma pequena careta em seu rosto. Adam fica em cima de Phiri Dun-Ra, seus dentes aparentes, linhas escuras criando em seu rosto. É um olhar assassino, um no qual eu vi no rosto de vários Mogadorianos, usualmente logo antes de tentarem me matar. — Adam... - eu digo advertindo-o. Adam se vira para me encarar, tentando se controlar. Ele respira fundo. — Tudo o que ela disse é mentira, Seis. - ele diz. — Tudo. — Eu sei disso – eu respondo. — Nós devíamos tê-la amordaçado antes. Adam grunhe e retorna para sua bancada, seus olhos desanimados enquanto ele passa por mim. Phiri Dun-Ra definitivamente sabe como tirar ele do controle. Como tirar todos nós. Bom, exceto Marina. Eu sei que ela está tentando criar uma barreira entre ela e o nosso grupo, mas isso não vai funcionar. O quão estúpido ela pensa que eu sou? Eu sempre vou acreditar na palavra de um Mogadoriano que foi permitido atravessar o campo de força do Santuário do que de um que tentou nos explodir com uma granada. Com o fim da discussão, Marina senta na grama de frente para o Santuário. Eu me junto a ela, observando as brilhantes aves coloridas voarem enquanto brincam em volta do templo antigo. — Você teria o teria parado, se ele tentasse matá-la? – Marina me pergunta depois de um momento.

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Eu encolho os ombros. — Ela é uma Mogadoriana - eu respondo. — Uma das piores que eu já conheci. E isso quer dizer alguma coisa. — No calor da batalha é uma coisa - Marina diz. — Mas quando ela está amarrada... Ela não é como os guerreiros que nós tanto enfrentamos. Ela é como Adam, uma trueborn. Quando eu usei minha cura nele, evitando que ele desintegrasse, eu pude... Eu pude sentir a vida lá, não tão diferente do que a nossa. Eu temo no que nós podemos nos tornar com a continuidade dessa guerra. Talvez eu esteja muito cansada, e eu definitivamente estou além de estressada com nossa situação atual, mas essa coisa moral de Marina está começando a encher o saco. Quando eu respondo, tem mais ignorância na minha voz do que eu gostaria. — E então? Você é pacifista agora? Há alguns dias atrás, você arrancou o olho do Cinco com um ataque de gelo - eu a lembro. — Ele é muito mais parecido conosco do que Phiri Dun-Ra é, e eles dois estão em apuros. — Sim, eu fiz isso - Marina responde, passando suas mãos sobre as pontas afiadas da grama. — Eu me arrependo disso. Ou, na verdade, eu me arrependo do pouco arrependida que estou. Você entende o que quero dizer, Seis? Nós temos que tomar cuidado para não nos tornarmos eles. — Cinco mereceu - eu respondo, amolecendo um pouco minha voz. — Talvez - Marina admite, e finalmente olha para mim. — Eu me pergunto o que será de nós quando tudo isso acabar, Seis. Com o que nós seremos parecidos? — Se ainda tiver restado alguma coisa de nós, - eu respondo. — Grande “se”, nesse momento. Marina sorri tristemente. Ela vira seu olhar de volta para o Santuário. — Eu fui dentro do templo mais cedo nessa manhã, antes do nascer do sol - ela diz. — Eu voltei para o poço, de onde a energia Lórica veio. Eu estudo Marina. Enquanto eu estava dormindo, ele estava descendo aquelas escadas tortas de volta para a câmara subterrânea do Santuário. O poço de pedra de onde a Entidade veio, os mapas brilhantes do

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universo nas paredes. Eu gostaria que nós tivéssemos obtido mais respostas daquele lugar. — Achou algo útil? Ela balança o ombro. — Ainda está lá. A Entidade. Eu posso senti-la, se espalhando de dentro do Santuário, no entanto eu não sei por qual motivo. Eu ainda posso ver o brilho, lá no fundo do poço. Mas... — Você estava esperando por algum conselho? Marina acena e sorri baixinho. — Eu tinha esperança que ela poderia nos guiar. Dizer-nos o que fazer a partir de agora. Eu não estou surpresa que a Entidade está vivendo dentro do Santuário, aparentemente a fonte de nosso poder, não colocou a cabeça para fora para outra visita com Marina. Quando nós encontramos a entidade pela primeira vez, ele parecia como se estivesse incomodada conosco, feliz por ter sido acordada, com certeza, mas sem nenhuma pressa em nos ajudar a ganhar essa guerra contra os Mogadorianos. Eu me lembro de algo que ela disse durante nossa conversa, que ela concede seus dons sobre uma espécie, que ela não julga ou toma lados, nem mesmo para sua própria defesa. Eu acho que nós já tivemos toda ajuda da entidade que nós vamos ter. Eu guardo esse pensamento para mim, não querendo desencorajar Marina ou abalar sua fé, no qual parece ser a única coisa que está mantendo-a sã. Mesmo se isso a guie a algumas questões éticas mórbidas que eu francamente não me vejo pensando. — Eu fiquei sentada aqui fora rezando por nossa situação - Marina continua. — Eu suponho que seja idiota esperar por algum tipo de sinal. No entanto, eu não sei o que mais fazer comigo mesma. Antes que eu consiga responder, um zumbido estridente soa atrás de nós. No início, eu penso que é só a última tentativa de Adam em criar um novo tubo. O barulho está muito perto. Está vindo praticamente de cima de nós. Marina está sorrindo para mim, com seus olhos arregalados e animados. Meu coração começa a bater mais rápido enquanto eu percebo o que está acontecendo. Talvez a oração de Marina realmente tenha funcionado. — Seis? Você não vai atender?

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As coisas têm sido irritantemente silenciosas por tanto tempo, que eu devo ter esquecido como o toque de um telefone via satélite soa. Eu me levanto em um pulo, arrancando o telefone para fora da minha calça. Marina permanece comigo, inclinando sua cabeça mais próximo para poder ouvir, e Adam corre para se juntar a nós. Eu posso sentir Phiri Dun-Ra nos observando, mas eu a ignoro. — John? Há uma explosão estática enquanto o telefone via satélite estabelece a conexão, uma voz familiar saindo através dos gritos da interferência. — Seis? É o Sam! Um largo sorriso se forma no meu rosto. Eu posso sentir o alívio na voz de Sam por eu ter atendido ao telefone. — Sam! - minha própria voz trava um pouco. Eu espero que ele não tenha percebido isso. Na verdade, eu não me importo. Marin a agarra meu braço, sorrindo mais largamente. — Você está bem? – eu pergunto para Sam, as palavras saindo metade como questão e metade como exclamação. — Eu estou bem! – ele grita. — E John? — John também. Nós estamos em um acampamento militar no Brooklyn. Eles nos emprestaram um par de telefones via satélite e John está falando com Sarah no outro telefone. Eu ronco e não posso evitar revirar meus olhos um pouco. — É claro que ele está. — Onde vocês estão, gente? Está todo mundo bem? - Sam pergunta. — As coisas ficaram loucas. — Todo mundo está bem, mas... Antes que eu consiga contar ao Sam sobre nossa situação, ele interrompe. — Alguma coisa aconteceu ai embaixo, Seis? Enquanto vocês estavam no Santuário? Como, por um exemplo, vocês apertaram um botão para Legados ou alguma coisa? — Não tinha nenhum botão - eu digo, trocando um olhar com Marina. — Nós conhecemos, eu não sei...

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— A própria Lorien - Marina diz. — Nós conhecemos uma Entidade - eu digo a Sam. — Ela diz algumas coisas enigmáticas, nos agradeceu por tê-la acordada e então, hum... — Se espalhou pela Terra – Marina termina para mim. — Ah, oi Marina – Sam diz distraidamente. — Escuta, eu acho que essa Entidade de vocês pode ter, hum, se espalhado em mim. — Que diabos isso significa, Sam? — Eu desenvolvi Legados – Sam responde. Há uma forte mistura de animação e orgulho em sua voz que é impossível eu não imaginar Sam estufando um pouco o peito, parecendo como se ele tivesse feito algo de bom depois de ter beijado pela primeira vez. — Bem, só telecinese. Que é sempre o primeiro, certo? — Você desenvolveu um Legados?! – eu exclamo, olhando com os olhos arregalados para os outros. As mãos de Marina apertam meu braço, e ele se vira para ver o Santuário. Nesse meio tempo, a expressão de Adam se torna pensativa enquanto ele olha para suas próprias mãos, talvez se questionando o que este desenvolvimento quer dizer sobre seus próprios Legados. — E eu não sou o único - Sam continua. — Nós conhecemos outra garota em Nova Iorque que por acaso também desenvolveu Legados. Quem sabe quantos novos Gardes há pelo mundo afora? Eu balanço minha cabeça, tentando digerir toda essa informação. Eu me percebo encarando o Santuário também, pensando sobre Entidade escondida com ele. — Funcionou - eu digo em voz baixa. — Realmente funcionou. Marina me encara, lágrimas em seus olhos. — Nós estamos em casa, Seis – ela diz. — Nós trouxemos Lorien para cá. Nós mudamos o mundo. Tudo isso soa incrível, mas eu ainda não estou preparada para celebrar. Nós ainda estamos presos no México. A guerra não acabou de repente. — Aquela Entidade não te deu uma lista de novos Garde, deu? – Sam pergunta. — Algum jeito de nós encontrá-los? — Nenhuma lista - eu respondo. — Eu não posso dizer com certeza, mas julgando pela minha conversa com a Entidade, tudo parece ser

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bastante por acaso. O que está acontecendo ai? – eu pergunto ao Sam, desviando a conversa para as batalhas que nós perdemos. — Nós ouvimos sobre o ataque em Nova Iorque... — Está mal, Seis - Sam diz, rastejando sua voz. — Manhattan está, tipo, pegando fogo. Nós não sabemos onde Nove está; ele ainda está lá em algum lugar. Onde vocês estão? Nós realmente poderíamos usar sua ajuda. Eu percebo que eu ainda não terminei de contar ao Sam sobre nossa situação atual. — Tinha Mogs de guarda no Santuário – eu digo a ele. — Nós pegamos todos eles, exceto um. Enquanto nós estávamos dentro do templo, ela destruiu todas as naves. Nós estamos presos aqui. Você acha que vocês conseguiriam que um novo amigo militar de vocês mandasse um jato? Nós precisamos que ser resgatados. — Espere, vocês ainda estão no México? No Santuário? Eu não gosto do medo na voz do Sam. Alguma coisa não está certa. — O que está errado Sam? — Vocês precisam sair daí - Sam diz. — Setrákus Ra e sua fodástica nave gigante está indo direto na direção de vocês.

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alguns minutos depois da agente Walker me dizer que tenho quarenta e oito horas para vencer uma guerra, uma dupla de soldados vestidos em uma armadura completa e um cidadão de meia idade estão carregando um tablet chegam à sua barraca. Eles querem entregar algum tipo de mensagem importante relacionada a gravação que o cidadão fez em seu aparelho durante a manhã. Eu não estou prestando muita atenção – meus ouvidos estão zunindo, coração batendo forte. Eu posso sentir que os recém-chegados estão me olhando, como se eu fosse o caminho entre uma celebridade e um unicórnio. Isso não ajuda no meu pressentimento de que as paredes da barraca estão se fechando lentamente. Eu acho que talvez eu possa estar sob um ataque de pânico. A Agente Walker dá uma olhada para mim e levanta sua mão, impedindo que os soldados falem qualquer coisa. — Vamos dar uma volta, cavalheiros – ela diz. — Preciso de ar fresco. Walker leva os três homens para fora de sua barraca e os segue, parando na saída. Ela olha para mim, fazendo uma careta como se

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estivesse com dor. Eu sei que ela provavelmente quer dizer alguma coisa confortante ou encorajadora, e eu também sei que a Agente Walker simplesmente não faz esse tipo. — Tire alguns minutos – ela diz gentilmente, e essa provavelmente é a maior empatia que eu vi por parte dela. — Estou bem – eu digo bruscamente, embora eu não me sinta bem. Na maior parte. Estou enraizado no mesmo lugar e lutando para manter minha respiração estável. — Claro, eu sei disso – ela diz. — Apenas – eu não sei, você passou por momentos difíceis nas últimas vinte e quatro horas. Tome um ar fresco. Estarei de volta dentro de alguns minutos. Assim que ela sai, eu imediatamente desmorono na cadeira em frente do notebook. Eu não deveria estar descansando. Há muita coisa para ser feita. Embora meu corpo não esteja cooperando. Essa sensação não é como a exaustão pela qual eu estava passando ontem – é algo diferente. Minhas mãos tremem, e eu posso ouvir meus batimentos cardíacos no meu peito. Eles me lembram do barulho das explosões que ocorreram ontem – dos gritos, dos mortos. Correndo pela minha vida, passando por corpos de pessoas que eu não fui bom o suficiente para salvar. E ainda há mais para vir. A menos que eu possa fazer o impossível. Eu sinto como se eu fosse vomitar. Preciso de algo para focar, alguma coisa para me tirar desse pavor, então eu ligo o notebook de Walker. Eu sei o que estou esperando encontrar, o que eu preciso ouvir. Junto com o vídeo que ela me mostrou da ameaça de Setrákus Ra, Walker tem alguns outros arquivos abertos em seu computador. Eu não estou tão surpreso pelo fato de encontrar o vídeo que eu quero lá, já aberto. LUTE PELA TERRA – APOIE OS LORIENOS.

Eu aumento o volume e clico no botão “reproduzir”. — “Esse é o nosso planeta, porém não estamos sozinhos”.

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Daniela estava certa: Sarah realmente parece que está tentando parecer mais velha e mais profissional do que ela realmente é, como uma âncora ou uma documentária. Isso me faz sorrir, de qualquer forma. Eu fecho os olhos e escuto a voz dela. Eu não preciso necessariamente compreender as palavras – embora é definitivamente bom ouvir a voz de sua namorada descrevendo você como um herói para a raça humana. Ouvir a voz da Sarah começa a tranquilizar meus nervos, mas também cria um sentimento que eu estive muito preocupado em sentir durante os últimos dias. Eu imagino nós, de volta a Paradise, inocentes, ficando juntos no meu quarto enquanto Henri estava fazendo compras... Eu não tenho certeza de quantas vezes eu assisti o vídeo antes de Sam entrar na barraca de Walker. Ele pigarreia para chamar minha atenção e segura um celular via satélite em cada mão. — Missão cumprida – ele diz. Ele inclina sua cabeça para ver a tela do notebook. — O que você está assistindo? — O... hum..., o vídeo que a Sarah fez – eu respondo, me sentindo envergonhado. Claro, Sam não sabe que eu acabei de ver uma dúzia de vezes, que eu estou ouvindo a voz da minha namorada para tentar sair desse estado emocional. Eu levanto rapidamente e tento parecer tão firme quanto sou descrito no vídeo. — É incrível? – Sam pergunta, se aproximando. Ele deixa um dos telefones na mesa, perto de mim. — É... – eu paro, não tendo certeza sobre o que dizer do vídeo. — É bem sentimental, na verdade. Mas, agora, é uma das melhores coisas do mundo também. Sam assente e dá um tapinha no meu ombro, entendendo. — Por que você não liga para ela? — Sarah? — É. Eu vou ligar parSeis e ver como está a Equipe do Santuário – ele diz, parecendo ansioso. — Descobrir onde eles estão. Talvez eles nem conseguiram voltar para Ashwood Estates. Vou atualizá-los sobre o que

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está acontecendo conosco e iremos combinar um local de encontro. Eu provavelmente deveria ligar para meu pai também. Deixar ele saber que estou vivo. Eu percebo que Sam está olhando para mim da mesma maneira que Walker estava, como se eu de repente fosse frágil. Eu assinto e começo a andar, mas Sam põe a mão em meu ombro. — Sério, cara – ele diz. — Ligue para sua namorada. Ela deve estar morrendo de preocupação. Eu deixo Sam me colocar de volta na cadeira. — Tudo bem – eu digo. — Mas se qualquer coisa aconteceu com Seis e os outros, ou se você não conseguir falar com eles— — Você será o primeiro a saber – Sam diz enquanto ele segue para a saída. — Eu vou deixar você a sós antes da próxima crise. Assim que Sam se foi, eu coloco minhas mãos sobre meus cabelos e as deixo lá, apertando minha cabeça, como se estivesse literalmente tentando juntar as coisas. Depois de um momento de recomposição, eu alcanço o celular que Sam me trouxe e digito o número que eu memorizei. Sarah atende no terceiro toque, sem fôlego e cheia de esperanças. — John? — Você não tem ideia do quanto eu precisava ouvir sua voz – eu respondo, olhando para o notebook da Walker e finalmente fechando-o. Eu aperto o telefone na minha orelha, fecho meus olhos e imagino Sarah sentada ao meu lado. — Eu estava tão preocupada John. Eu vi – nós vimos o que aconteceu em Nova Iorque. Eu mordo a lateral interna da minha bochecha. A imagem de Sarah que estava em minha mente é substituída por um dos prédios se desmoronando em razão do bombeamento causado pela Anúbis. — Foi – eu não sei o que dizer sobre isso – eu digo. — Eu me sinto com sorte por ter escapado.

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Eu não menciono a culpa que eu estou sentido, ou como foi difícil para mim continuar. Eu não quero que Sarah saiba isso. Eu quero ser o herói que ela descreveu no vídeo. Sarah não diz nada por alguns segundos, mas eu posso ouvi-la respirando, instável e devagar, como se ela estivesse tentando impedir que as emoções explodam. Quando ela finalmente fala, sua voz é silenciosa, num sussurro desesperado, vindo de muito longe. — Foi horrível, John. Todas aquelas pobres pessoas. Eles estão morrendo, o mundo está basicamente acabando, e tudo – tudo no que eu conseguia pensar era o que poderia ter acontecido com você, o motivo pelo qual você não entrava em contato. Eu não – eu não tenho um feitiço no meu tornozelo para me manter atualizada. Eu não sabia se... Eu percebo que Sarah está aliviada por ouvir minha voz daquele jeito, aquela forma de quando você está a noites sem dormir por estar preocupado com alguém. Eu me lembro como me senti quando os Mogadorianos a tinham pego, como foi sentir que uma parte de mim estava faltando. Eu também me lembro o quão simples as coisas eram até então – evitar os Mogs, salvar Sarah, quando não havia milhões de vidas pesando na balança. É louco pensar que eu considerava aquilo como uma crise. — Meu telefone foi destruído, por isso não entrei em contato antes. Nós conseguimos chegar ao Brooklyn, onde o exército se estabilizou. Estou bem – eu reasseguro ela, sabendo que de certa forma estou tentando me convencer disso também. — Eu me senti como um fantasma nesses últimos dias – Sarah diz em silêncio. — Mark e eu, nós passamos muito tempo na internet, trabalhando em projetos para ajudar, você sabe, conseguir seguidores. E nós finalmente conhecemos GUARD em carne e osso, o que – meu Deus John, tenho tanta coisa para contar. Mas primeiro eu preciso que você saiba que durante todo esse tempo, eu sinto como se eu apenas estivesse agindo com emoções. Como se eu estivesse fora do meu corpo. Porque

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tudo o que eu pude pensar era em você acabar explodido junto com essas pessoas em Nova Iorque. Eu deveria perguntar a Sarah sobre a identidade do misterioso hacker com quem ela e Mark estiveram trabalhando. Eu deveria saber os detalhes do que ela e Mark estiveram fazendo. Eu sei que deviera. Com exceção desse momento, onde tudo o que eu quero pensar é em como eu senti sua falta. — Eu sei que parte do motivo pelo qual você foi se encontrar com Mark era porque você não queria ser uma distração – eu digo, tentando parecer mais sério do que desesperado. — Não ser capaz de falar com você, de ver você, de te tocar – isso talvez foi a maior distração no final das contas. Você tem ajudado tanto, mas... — Eu também sinto sua falta – Sarah responde, e eu posso dizer que quando ela fala ela tenta encontrar um motivo, ser dura como ela foi quando eu a deixei na rodoviária de Baltimore. — Nós fizemos a escolha certa, John. É melhor assim. — Foi uma escolha estúpida – eu respondo. — John... — Eu não sei porque eu deixei você me convencer a isso – eu continuo. — Nós nunca devíamos ter nos separado. Depois de tudo o que aconteceu em Nova Iorque, tudo o que eu tive que ver— Eu fico sem fôlego por um momento enquanto eu me lembro das explosões, da destruição, dos feridos e dos mortos. Eu percebo que estou tremendo novamente, e definitivamente não é de cansaço. Eu sinto como se eu tivesse atingido meu limite, como se tivesse mais brutalidade em meu cérebro do que ele pode suportar. Eu tento focar em Sarah e em conseguir falar, tentando não parecer desesperado. — Eu preciso de você do meu lado, Sarah – eu consigo terminar. — Eu sinto que estas são as últimas batalhas que teremos que enfrentar até o fim de nossas vidas. Depois de Nova Iorque, eu – eu vi o quão

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rapidamente a vida pode nos ser tirada. Eu não quero que estejamos separados se algo acontecer, se esse for o fim. Sarah expira fundo. Quando ela fala, sua voz é firme. — Esse não é o fim, John. Eu percebo como eu devo ter parecido para ela. Fraco e com medo, não como o super-herói alienígena que ela descreveu no vídeo. Estou envergonhado pela forma que agi. Sozinho pela primeira vez desde Nova Iorque, sem conflitos constantes para me distrair, com as coisas finalmente calmas para que eu possa pensar – o resultado é eu desmoronando no telefone com minha namorada. Estivemos em más situações antes, lutamos algumas batalhas brutais e vimos amigos morrerem. Mas, até agora, eu nunca me senti sem esperança. Quando fico em silêncio por alguns minutos, Sarah continua, sua voz num tom gentil. — Eu não posso imaginar o que foi para você estar em Nova Iorque durante... aquilo. Eu não posso imaginar pelo o que você está passando... — Foi minha culpa o que aconteceu – eu digo a ela em silêncio, olhando para saída da barraca caso alguém lá fora possa ouvir. — Eu poderia ter matado Setrákus Ra nas Nações Unidas. Eu tive tempo para me preparar para essa invasão. E eu falhei. — Ah, John. Você não pode se culpar pelo que ocorreu em Nova Iorque – Sarah responde, com um tom de voz insistente. — Você não é responsável pelos assassinatos brutais daquele alienígena psicopata, tá bom? Você estava tentando impedi-lo. — Mas não impedi. — É, mas nenhuma outra pessoa o impediu também. Então ou todos nós somos culpados, ou talvez a culpa é do Mogadoriano cruel e podemos deixar assim. Sua culpa não vai trazer ninguém de volta, John. Mas você pode vingá-los. Você pode impedir Setrákus Ra de repetir o que ele fez. Eu rio amargamente. — É isso. Eu não sei como impedi-lo.

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— Iremos encontrar algum jeito – Sarah responde, e ela certamente quase me convence. — Vamos fazer isso juntos. Todos nós. Eu esfrego minhas mãos em meu rosto, tentando me estabilizar. Sarah está me dizendo exatamente o que eu precisava ouvir. Como sempre, eu sei que ela está certa, pelo menos logicamente. Mas isso não retira a culpa que sinto em minhas entranhas, ou talvez faz o futuro parecer menos sobrecarregado. — Eles olham para mim como se eu fosse um herói – eu digo, zombando. — Eu ando por este acampamento de soldados, de sobreviventes, e todos me olham como se eu fosse algum tipo de super-homem. Eles não sabem— — Eu acho que o vídeo realmente funcionou – Sarah diz, tentando melhorar meu humor. — Eles olham para você dessa forma porque você é um herói, John. Eu mexo minha cabeça. — Eles não sabem que eu não tenho ideia do que estou fazendo. Eu não sei como lutar numa batalha nessa escala. Nove está desaparecido. Ella foi raptada e está basicamente sendo torturada, eu não sei porque Seis e os outros estão demorando tanto para voltar do Santuário, mas quando eles voltarem talvez teremos que regressar para lá de qualquer jeito, porque é para lá que Setrákus Ra está indo. Enquanto isso, há vinte e cinco naves sobre vinte e cinco cidades diferentes. Eu não sei como lidar com isso, Sarah. — Bem – Sarah responde, sua voz calma, como se eu não tivesse acabado de jogar uma pilha de problemas sobre ela. — É uma boa coisa você ter amigos. Agora vamos tratar uma coisa de cada vez. Deixa-me lhe contar sobre GUARD.

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sarah me conta tudo sobre o tempo que passou com Mark, e eu realmente não consigo acredita no que ela me conta sobre GUARD. Depois de todos esses anos, é incrível. Eu tento manter a calma em minha voz, esconder essas notícias incríveis da Agente Walker e de seus amigos do governo, pelo menos por enquanto. Depois que Sarah me atualizou, eu digo a ela tudo o que aconteceu comigo, e sobre tudo o que estamos enfrentando. Ela não vacila. Ela me diz que podemos fazer isso. Ela me diz que podemos vencer. Ela me faz acreditar. Quando eu finalmente saio da barraca da Agente Walker, não estou mais tremendo. Desabafar com Sarah, ouvir sua voz, lembrar do motivo pelo qual estou lutando – tudo isso foi o suficiente para me fazer levantar, seguir em frente, pronto para voltar à batalha. Eu ainda não tenho todas as respostas, mas agora não tenho mais medo de enfrentar as perguntas. Do lado de fora da barraca, Sam ainda está no telefone. Ele está andando de um lado para o outro, gesticulando enfaticamente com sua mão livre.

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— Seis, isso é loucura – ele insiste. Obviamente, Seis está viva e muito bem. E é claro que Sam já está tentando fazê-la desistir de alguma loucura. — Você não viu o tamanho dessa coisa. Ela destruiu todos os prédios da cidade como se eles fossem feitos de papel. Sam me vê, então arregala os olhos como se Seis estivesse dizendo algo louco em resposta. — John está aqui – Sam diz para o telefone. — Talvez ele consiga por alguma razão dentro de você. Sam me entrega o celular. — Eles estão bem? – eu pergunto para Sam, aceitando o celular. — Estão. Eles libertaram o espírito de Lorien na Terra, o que provavelmente é a resposta para o desenvolvimento do meu Legado, mas agora eles estão presos no México, e Seis está falando na possibilidade de lutar contra a Anúbis quando ela aparecer no Santuário – Sam diz quase sem fôlego. Eu o encaro, tentando absorver tudo o que ele me disse enquanto levo o telefone até minha orelha. — John? Sam? – é a voz familiar de Seis, parecendo irritada. — Alguém fale comigo. — Ei, Seis – eu digo. — Bom ouvir sua voz. — Bom ouvir a sua também – ela responde, um pouco alto. — Quer que eu lhe atualize com detalhes? Ou devemos ir direto ao ponto onde você tenta me convencer a não lutar contra Setrákus Ra e sua nave de guerra? Eu não consigo evitar sorrir quando a ouço explodindo. Depois falar com Sarah, e agora com Seis, as coisas não parecem tão pesadas como pareciam. Nós definitivamente vamos lutar, e pelo menos não estou nessa sozinho. — Eu quero que você me atualize – eu digo Seis. — Mas primeiro, eu realmente preciso falar com Adam. — Oh – Seis responde, parecendo surpresa. — Claro. Espere um segundo.

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Sam me encara com um olhar, como se eu definitivamente deveria ter dito primeiro Seis e os outros para fugirem do Santuário. Eu não tenho certeza se essa é a coisa certa no momento. Nós sabemos que Setrákus Ra está indo para lá, mas ele não sabe que sabemos disso. Isso nos dá uma vantagem rara. Ella me mostrou o Santuário em sua visão. Ela me disse para avisar Seis e os outros. Talvez seja lá que ocorrerá a batalha final contra Setrákus Ra. Se esse foro caso, pelo menos ela será trava no meio do nada. Pessoas inocentes não estarão em perigo. Adam atende o telefone, parecendo cansado. — Como posso ajudar? — Suas naves – digo, a nave dos Mogs, elas são protegidas com um campo de força. Me diga como destruí-los. Adam bufa. — Está brincando, certo? — Eu preciso dar alguma coisa para o governo – eu digo a Adam. — Setrákus Ra demandou uma linha de morte para os seus redentores e se eles não descobrirem uma forma de derrotar a frota, eles não vão nos ajudar. — John, aquelas naves foram projetadas antes da invasão de Lorien – Adam responde. — Os escudos foram feitos para sustentar ataques de um planeta repleto de Garde. Não há arma na Terra menor que uma bomba nuclear que poderia ao menos potencialmente quebrar o escudo, e tentar fazer isso sob uma cidade populosa seria catastrófico – Adam para, e eu posso ouvir o barulho do chão. Ele está andando em direção a alguma coisa. — Entretanto... — O quê? Eu aceito qualquer coisa que puder me dar, Adam. — Talvez força bruta não seja a resposta. Estou olhando para uma pista de pouso cheia de Escumadores – ele diz. — Me ocorreu que há mais ou menos cem desses ligados a cada nave de guerra. Elas servem como escolta e transportam esquadrões de tropas terrestres. Elas vêm e vão da nave de guerra de vez em quando, o que significa abaixar o escudo da maior impraticável. Então, os Escumadores foram equipados com um

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gerador de campo eletromagnético que os “escondem” do campo de força da nave de guerra, permitindo-os que passem através dele ilesos. Eu deveria ter pensado nisso. Agora que Adam me disse isso, eu percebo que eu vi essa tecnologia em prática na base da montanha de West Virginia. Quando Setrákus Ra chegou na Terra pela primeira vez, sua nave se moveu através do campo de força da base como se ele não estivesse lá. Quando eu tentei caçá-lo, o campo de força praticamente me fritou. — Seria possível despojar essa tecnologia dos Escumadores e transferi-la para algo diferente? – eu pergunto a Adam. — Como, por exemplo, em um jato do exército? Adam considera isso. — Possivelmente, sim. Porém enquanto ele não estivesse mais preocupado com o escudo, ainda estaria na mira dos canhões. Eu me lembro do que Ella me mostrou durante o sonho que compartilhamos – o observatório por onde ela e Cinco tentaram escapar. Talvez possamos usar a tecnologia dos Mogadorianos contra eles mesmos. — Nós poderíamos, tipo, colocar dez pessoas dentro de um Escumador desses, certo? – eu pergunto, considerando um novo plano de ataque. — Doze, mais dois pilotos – Adam responde rapidamente. — Você está considerando um ataque menos óbvio. — Estou. Se pudéssemos embarcar em uma das naves de guerra, de quantas pessoas você acha que precisaríamos para conquistá-la? Agora há um pouco de animação na voz de Adam. — Isso depende de quantas dessas pessoas têm Legados. Eu já mencionei, John, que quando eu era pequeno eu sonhava em poder pilotar essas naves de guerra?

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Eu sorrio ao ouvir isso. — Talvez você acaba de ganhar essa chance, Adam. Obrigado pelas informações. Você poderia por Seis de volta na linha? Adam se despede e entrega o celular de volta para Seis. — Você acha que deveríamos tentar embarcar na Anúbis? – Seis me pergunta. — Sam estava até agora me encorajando para que eu e os outros fugíssemos correndo para longe daquela coisa o mais rápido possível. — Eu não tenho certeza do que devemos fazer ainda, mas eu quero conhecer nossas opções – eu respondo. Eu olho para Sam e não evito franzir a testa. Ele não vai gostar do que eu vou dizer agora. — Aguente firme Seis, a ajuda está a caminho.

Pouco tempo depois, Sam e eu estamos andando pelo píer, procurando pela Agente Walker. Onde quer que ela tenha ido com aqueles dois agentes e o cidadão, está demorando mais do que esperávamos. Logo à frente, há uma grande presença militar no deck de concreto bem no meio do East River. Quando nós chegamos, um pequeno grupo de soldados estão trabalhando duro puxando alguns caiaques vazios da água para que os navios militares possam ter espaço para atracar. Esse lugar não foi exatamente projetado para batalhas. Durante as últimas vinte e quatro horas, isto se transformou em uma área de preparação, com um bando de destroieres flutuantes ameaçadoramente na estreita hidrovia, apontando suas armas para os vestígios de fumaça do centro de Manhattan. — Como Malcolm está? – eu pergunto a Sam. Ele fez uma curta ligação para seu pai depois de termos terminado a ligação com Seis. — Mais aliviado por estarmos vivos. E muito animado sobre meu novo... talento – Sam responde, olhando ao redor para ter certeza de que

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não há ninguém ouvindo. — Ele e os agentes do FBI que Walker deixou para trás foram escoltados pelo governo durante a evacuação de Washington. Eu acho que ele está sendo tratado como VIP. Eles o tem no mesmo complexo no subsolo em que está o presidente. — Talvez ele pudesse falar bem de nós. — Eu disse a ele – Sam diz. — Agora, ele me disse que eles acham que ele é algum cientista louco especializado em alienígenas com um bando de bichos de estimação. — Os Chimaerae. — Meu pai acha que será melhor se eles se passarem por animais comuns por enquanto. Eu sei que decidimos confiar no pequeno grupo rebelde da Agente Walker, mas há mais pessoas do que eles em Washington. Alguns cientistas que estão lá, bem, meu pai acha que eles podem estar um pouco curiosos sobre a biologia alienígena. Eu penso sobre como Adam resgatou os Chimaerae dos experimentos Mogadorianos. Mesmo eu querendo acreditar que os agentes norte-americanos são melhores que isso, eu não consigo. — Isso é inteligente – eu respondo. — Mantê-los longe de serem dissecados ou coisa do tipo até precisarmos deles. No meio tempo, eles podem tomar conta de seu pai. — Sim... – Sam para. Eu posso dizer que ele preferiria estar falando de outra coisa, principalmente porque ele está inquieto desde que desligamos o telefone com Seis. — John, eu ainda não consigo acreditar que você disse para eles ficarem lá. Estou planejando ligar para Seis novamente assim que eu descobri o quanto posso contar com Walker e o governo. Até lá então, eles vão continuar no Santuário. Eles ainda têm algum tempo antes de Setrákus Ra chegar lá. — Você realmente acha que Seis teria voltado se eu pedisse a ela? – eu respondo. — Eu não quero colocá-los em perigo também, Sam, mas...

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— John, qual é. A Anúbis quase nos matou ontem! Éramos como formigas contra aquela coisa. Nem isso. Qual a nossa chance? — Ella me disse que Setrákus Ra quer o que está dentro do Santuário, o que estou presumindo ser a Entidade Lórica que Seis nos contou. Não podemos simplesmente deixá-lo ir lá sem nos manifestarmos. Não é nada bom permiti-lo a pegar o que quer. — Mas como iremos enfrentá-lo? Qual a vantagem deles ficarem por lá? – Sam pergunta, aumentando seu tom de voz. — Eles mal podem feri-lo. Não sem— — Estou ciente da nossa situação, Sam – eu retruco, perdendo a paciência. — Nós vamos encontrar uma maneira de ir até lá para ajudá-los, ok? Ella me mostrou – ela me mostrou o Santuário, ela me disse para alertar Seis e os outros e ela também me disse que podemos vencer. Que ela encontrou uma maneira. Tudo começa lá. Eu oculto as partes em que Ella me disse que haverá sacrifícios onde ela implicitamente disse que eu posso ser aquele que irá matá-la. Eu vou fazer de tudo para que eu possa mudar essa parte de sua profecia. Eu sei que Sam está me pressionando porque ele está preocupado com os outros e com Seis em particular. Eu também estou preocupado com eles. Mas também confio em Seis para manter a cabeça erguida e tomar suas próprias decisões. Antes que Sam possa retrucar, eu avisto a Agente Walker em nossa frente e começo a andar. Os agentes do FBI estão rodeados de alguns oficiais militares de alto escalão. Eu tenho que abrir meu caminho entre a multidão de soldados para me aproximar. Eu recebo alguns olhares descontentes no começo, como se eu fosse um cidadão normal que acabou de sobreviver a um desastre natural. Quando eles começam a perceber que meu sou, um caminho se abre rapidamente. Eu não estou mais surpreso por esse tratamento, e eu tento não me sentir desconfortável com isso. Um dos soldados até me saluda, embora seu companheiro o cutuque com seu cotovelo e role os olhos.

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Walker me vê chegando e sai do amontado de militares. Eu noto que eles perceberam minha presença, mas parece que Walker estava certa sobre os oficiais de alto escalão querendo evitar contato direto com os perigosos rebeldes de Lorien. Eles se movem e se reagrupam mais à frente no píer, muitos dos soldados indo com eles. Assim que estão lá, eles começam a apontar para o East River e trocam palavras. Alguma coisa sobre a água está definitivamente os alertando. Eu começo a amplificar minha audição para tentar ouvir se estão falando algo importante, mas Walker já está na minha frente tagarelando. — Bom, você está aqui. Eu já estava voltando para buscar você – Walker diz. Ela está segurando o tablet que pertence ao cidadão que chegou à sua barraca mais cedo, embora o cara não está em nenhum lugar visível agora. Walker deve ter recrutado seu tablet e o mandado de volta para casa. — Eu sei qual é a fraqueza dos escudos das naves de guerra. Eu sei como podemos derrotá-los – eu digo a Walker, indo direto ao assunto. Suas sobrancelhas se erguem. — Droga, John. Isso foi rápido. Isso é definitivamente algo que os caras do exército vão estar interessados em ouvir. — Ótimo – eu olho para os oficiais que estão amontoados do outro lado do píer. — Eu preciso chegar ao México, Walker. Estou falando dentro de umas duas horas. Haverá uma batalha lá que eu não posso perder. Eu preciso de qualquer apoio que eles puderem me conceder. — Há algum tipo de “caso contrário” que você irá jogar pra cima de mim? – Walker pergunta, sua expressão mudando. — Eu farei o que eu puder, mas eu já lhe disse sobre a posição militar. Isso vem direto do comandante chefe. — É, bem, diga a eles sobre a parte que eles podem derrotar os escudos? Eles estão indo para o México. Então é melhor que eles se virem e me deem uma droga de jato para me levar até lá.

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Walker levanta sua mão, me dizendo que ela já me entendeu. — Tudo bem, tudo bem. Eu farei meu melhor. Mas temos outra droga de assunto para lidar antes de viajarmos para a sua zona lórica segura ou qualquer inferno que seja esse. — Whoa – Sam diz. Ele está perto da borda olhando para a água. — Eles têm um submarino lá em baixo. — Têm – Walker responde. — Antes de você ir para qualquer lugar John, preciso que dê uma olhada nisso. Ela se aproxima de mim e clica no botão “reproduzir” do tablet, iniciando um vídeo. É uma gravação trêmula desta manhã, onde a Anúbis deixa Manhattan e desliza sobre a ponte do Brooklyn. A câmera está oscilante e o áudio está destorcido com gritos e soldados gritando ordens um para o outro. Eventualmente, a nave de guerra sinistra se perde na vista. — O que eu deveria estar procurando, Walker? — Foi isso que eu disse. Eu também não encontrei nada da primeira vez – Walker responde, reproduzindo novamente a gravação. — Aparentemente, os milhares de oficiais altamente treinados não perceberam que isso aconteceu em tempo real também. Observe o rio agora. Sam se inclina perto de nós, observando o vídeo. — Alguma coisa caiu da nave – ele diz terminantemente, apontando para tela. Ele está certo. Um pequeno objeto redondo do tamanho da nave pérola de Setrákus Ra cai da barriga da nave de guerra. Ela atinge o East River com um grande respingo e imediatamente se afunda, longe de vista. — Já havia visto algo assim antes? – Walker pergunta. Eu mexo minha cabeça. — Eu nunca havia visto nenhuma nave desse tipo até a Anúbis atacar Nova Iorque. Walker suspira. — Então ainda estamos no escuro.

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— Eles estão mandando este submarino lá para baixo para procurar o que quer que seja aquilo? – Sam pergunta. Walker assente. — O rio tem apenas cem metros de profundidade, mas eles não querem arriscar mandar mergulhadores para o caso de ser uma armadilha ou algum tipo de arma. — O que mais possivelmente poderia ser? – eu pergunto a Walker, colocando minhas mãos na minha cintura e me virando em direção ao rio. Adicionando este misterioso objeto à longa lista de coisas com que eu tenho que me preocupar. — Os oficiais de alto escalão estão com esperanças de que foi um acidente, que algo caiu da nave de guerra que possivelmente poderíamos estudar ou usar contra os Mogadorianos, ter um melhor entendimento sobre contra quem estamos lutando. — Setrákus Ra não faz nada por acidente. — Então você está me dizendo que não deveríamos mandar ninguém lá? – Walker pergunta, com uma das sobrancelhas erguidas. — Você não está curioso, John? Antes que eu possa responder, ouço um guincho de pneus no fim do píer. Um dos jipes do exército se aproxima em alta velocidade e o freio teve que ser acionado com força quando chega perto dos soldados amontoados ao redor. A motorista retira seu capacete, revelando um cabelo negro suado. Ela abre a porta traseira e o outro soltado dá a volta no carro para ajudá-la a retirar um terceiro soldado do carro. Ele parece ferido, embora eu não consiga dizer a gravidade dessa distância. Outros militares se aproximam, para tentar ajudar os outros. — Onde eles estão? – a mulher grita. — Onde estão os alienígenas? Cadê aquela vadia do FBI? Um nó se forma em minha garganta. Setrákus Ra colocou uma caçadora para mim e o resto da Garde. Talvez esses soldados decidiram que chegou a hora de me levar. De qualquer jeito, eu dou um passo à frente. Eu não vou me esconder. Os soldados agrupados no fim do píer

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estão apontando em minha direção, de qualquer forma. Não há para onde ir. Eu olho sobre meu ombro e vejo os oficiais de alto escalão, os coronéis e generais e qualquer outra droga de classificação que eles usam, todos se viraram para olhar essa cena desenrolar. Eles não parecem tão interessados em intervirem caso isso se torne perigoso. Ou talvez, eu esteja sendo paranoico. Talvez percebendo que eu fiquei tenso, Walker põe sua mão em meu braço. — Deixe-me cuidar disso – ela diz. — Nem sabemos do que se trata – eu digo, dando um passo à frente para encontrar os soldados. — Ele está todo ferrado – Sam diz, olhando o soldado agora sendo carregado pelo motorista e sua parceira com um olhar assustado. A parte da frente do uniforme está encharcada de sangue. Ele está meramente consciente e tem de ser segurado pelos outros. O soldado que o está segurando não parece machucado, mas ainda assim ele parece estar demasiado cansado. Em estado de choque. Apenas a motorista parece estar bem, e ela está olhando furiosamente para a Agente Walker. — O que aconteceu, soldado? – Walker pergunta enquanto o trio para a alguns passos em nossa frente. Eu posso ver que o sobrenome bordado na camisa da motorista é Schaffer. — Estávamos fazendo o que você mandou. Procurando por ele e seus amigos – Schaffer responde, gesticulando com seu queixo em minha direção. Então havia outras unidades na cidade além daquelas que nos retirou da estação do metrô. — Pensamos ter encontrado um sobrevivente, mas fomos atacados. — Os Mogadorianos fizeram isso? – eu pergunto, dando um passo em direção ao soldado ferido. A frente de sua camisa está rasgada assim como o colete a prova de balas que ele usa por baixo. Isso aconteceu quando ele estava tentando me encontrar. — Segure-o firme. Deixe-me curá-lo.

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Com Schaffer e o outro soldado segurando o seu parceiro ferido, eu começo cuidadosamente a desabotoar sua camisa e retirar seu colete a prova de balas. Enquanto isso, Schaffer olha para mim. — Você não está entendendo – Schaffer bufa. — Encontramos um garoto, parecia que ele era feito de metal. Pensei que ele era uma das suas aberrações Garde, então falamos para ele que iriamos trazê-lo até você. Ele veio para cima de nós com uma espada. Ele voou para cima de nós. Se moveu mais rápido do que qualquer coisa deveria se mover. Nos desarmou, e fez aquilo com o Roosevelt. Eu engulo seco. Apenas agora eu percebo que o soldado não foi apenas ferido com a espada. Há uma mensagem cravada nele.

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— Onde ele está? – eu pergunto, com um tom de voz frio. — Ele nos mandou para cá para avisá-lo – Schaffer responde. — Ele disse que vai estar na Estátua da Liberdade ao pôr-do-sol. Quer que você se encontre com ele. — Havia mais alguém com ele? – Sam pergunta. — Um garoto grande, de cabelos negros. Inconsciente – Schaffer responde. Ela se vira para mim. — Ele disse para dizer a você o que vai acontecer se você não ir. Eu não sei que droga isso deveria significar – ele disse para você encontrá-lo ao pôr-do-sol ou ele vai te dar uma nova cicatriz.

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nós estamos no limite do gramado em frente ao Santuário, lado a lado, de costas para o templo. Juntos, olhamos para o horizonte, para o norte. É dessa direção que a nave do Setrákus Ra virá. Nós temos até o anoitecer. Nós três somos a última linha de defesa. O dia ficou ainda mais quente. Pelo menos me faz fingir que o suor escorrendo nas minhas costa é do calor. Eu aponto em direção da linha das ávores. — Os Mogs nos fizeram um favor cortando a mata - eu digo enquanto me esforço para caucular a distância. — Nós veremos a nave chegando a pelo menos a cinco quilômetros de distância. — Eles também vão nos ver - Adam responde, com uma voz sombria. — Eu não sei, Seis. Isso parece loucura. Eu estava esperando Adam dizer algo assim. Eu soube pelo olhar dele quando eu estava falando com o John e o Sam que ele não estava com a gente na luta com Setrákus Ra e a sua nave de guerra. — Setrákus Ra não pode entrar no Santuário - Marina diz, antes que eu

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possa responder. — Esse é um local Lórico. Um lugar sagrado. Ele não pode contaminá-lo. O que quer que ele queira, nós devemos detê-lo. Eu olho de relance de Marina para Adam, e encolho os ombros para o Mogadoriano. — Você a ouviu. Adam nega com a cabeça, frustado. — Olhe, eu entendo que este local é especial para você, mas não vale a pena trocar nossas vidas por ele. — Eu discordo - Marina responde, grossamente. Ela com certeza já decidiu. De jeito nenhum ela vai deixar o Santuário agora, não depois do que aconteceu aqui. — Nós fizemos o que tinhamos que fazer aqui - Adam argumenta. — Alguns humanos têm Legados agora. Não há nada que o Setrákus Ra possa fazer para mudar isso. Ele está atrasado. — Nós não temos certeza - eu respondo, olhando de relance para o Santuário por cima do meu ombro. — Se ele entrar lá ele poderia... Eu não sei. Reverter o que fizemos, talvez. Ou alguma coisa para machucar a Entidade. Adam bufa. — Ele controlou o planeta natal de vocês por pelo menos uma década, e ele nunca foi capaz de tirar os Legados de vocês. Não permanentemente. — Porque Lorien estava aqui! - Marina enfartiza. — Ela estava se escondendo aqui e agora ele a achou. Nós não podemos deixá-lo tocar na Entidade. As consequências podem ser catastróficas. Adam balança as suas mãos. — Você não está escutando a razão! Eu olho para o estacionamento desordenado da naves e Escumadores desativados. Claro que os meus olhos acham o caminho para Phiri Dun-Ra. Ainda amordaçada e amarrada à roda de suporte, ela está se esforçando para sentar direito, provavelmente tentando escutar a nossa conversa. Eu posso dizer pelo rosto dela, pelas dobras na volta da fita adesiva que ela está sorrindo para mim. Eu me lembro do que ela disse hoje cedo, quando ela estava tentando me convencer que Adam estava trabalhando secretamente para nós capturar. — Você não acha que podemos ganhar, então você está com medo de lutar - eu digo abruptamente, me arrependendo das palavras segundos

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depois que elas saem da minha boca. Adam me olha espantado, então segue o meu olhar até Phiri. Ele deve ter feito a conexão do meu argumento com o discurso dela mais cedo. Ele nega com a cabeça desgostoso, e dá uns passos para longe de mim. Marina me cutuca, e cochicha. — Seis... — Desculpe, Adam - eu rapidamente digo. — Sério. Isso foi golpe baixo. — Não, você está certa, Seis - Adam responde secamente, encolhendo os ombros. — Eu sou um covarde porque eu não quero morrer hoje. Eu sou um covarde porque, quando era menino, eu assisti pelo deck de uma das naves de guerra o seu planeta ser dilacerado. Eu sou um covarde porque eu acho que nós deveriamos achar um jeito melhor. Um jeito mais esperto de vencer isso. — Certo, Adam - eu digo, sentindo um aperto no meu peito pela menção da destruição de Lorien. — Nós te ouvimos. — Eu posso não ser esperta - Marina diz. — Mas isso é o certo. Adam fala com um tom ácido. — No caso, qual de nós vai fazer? — Fazer o quê? - eu pergunto. — Matar a Ella - ele responde. — Nós todos ouvimos o que o John disse. Setrákus Ra fez o seu próprio tipo de feitiço Lórico. Vocês não podem machucar ele sem machucar Ella. Eu nem conheci a garota e já posso afirmar que eu não vou matá-la. Então me contem, qual de você duas vai matar a sua amiga? — Ninguém - eu digo, não olhando em seus olhos. — Nós vamos descubrir um jeito de parar Setrákus Ra sem machucá-la. Adam olha para o sol, como se tivesse tentando descobrir quanto tempo ainda temos de luz do sol. — Ótimo - Adam diz. — Fantástico. Nossos recursos são naves quebradas e qualquer merda que nós conseguirmos achar na mata. Me conte como nós vamos parar Setrákus Ra nessa situação, Seis. — John disse que os reforços estão vindo, o exército... — Ele disse que iria tentar - Adam praticamente grita comigo. — Olhe, eu confio no John, mas ele está a milhares de quilômetros daqui. A ajuda

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está a milhares de quilômetros. Aqui? Só tem a gente. Só nós estamos aqui. — Ajuda está bem atrás de nós - Marina diz. Sua voz ainda está calma, mas há uma tensão nela. O que Adam vem dizendo a irritou. — O Santuário vai nos dar um meio de lutar. Adam leva alguns segundos antes de revirar os olhos. — Um milagre. É isso que vocês duas estão esperando? Um milagre! Entendi que você acordou aquela coisa, e eu sei que ela deixou você falar... com o seu amigo pela última vez. Mas isso é tudo que ela vai fazer, está bem? Ela não vai mais nos ajudar. Não acredita em mim? Talvez você pudesse perguntar para alguns Lorienos o quanto a Entidade os ajudou durante a invasão Mogadoriana. Se eles não estivessem todos mortos. O ar ao redor de mim fica gelado. Primeiro, é muito bom no calor dessa floresta arrogante, até eu perceber que é Marina fumegando de raiva do seu próprio jeito. Ela dá um passo na direção de Adam, com os punhos cerrados, com toda a irmã-serena-do-Santuário abandonada. — Não fale sobre o que você não sabe, seu monstro! - ela grita, apontando seu dedo para ele. Uma estalactite de gelo se forma na ponta do seu dedo e cai na terra em frente ao pé de Adam. Imediatamente começa a derreter. Adam dá um passo de surpresa pra trás, encarando Marina. — Já chega! - eu digo, parando no meio dos dois. — Isso não está levando a gente a lugar algum. Da área de pouso, Phiri Dun-Ra faz uma série de barulhos abafados. Eu percebo que ela está rindo de nós. Eu a ignoro, me viro e levo Marina pelos ombros para longe. A pele dele está gelada quando a toco. — Mesmo eu amando o ar condicionado agora, você precisa sair daqui por um minuto - eu digo. Marina me dá um olhar de descrença, como se ela não conseguisse acreditar que eu estou do lado de Adam, contra ela. Eu balanço a minha cabeça levemente e levanto as minhas sobrancelhas, dizendo a ela que não é por isso. Eu suspira, passa a mão pelos cabelos e caminha em direção ao Santuário.

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Eu me para observar Adam. Primeiro, ele não me olha de volta. Ele está ocupado demais olhando para a estalactite que Marina criou contra ele, se transformar em água. — Sorte sua que ela não arrancou seu olho fora - eu digo brincando. — Eu sei - ele diz, finalmente olhando para mim. — Seis, olhe, desculpa. Eu não deveria ter trazido Lorien à tona. Esse não é... Aquele não é... não é meu lugar. — Pode apostar seu traseiro que não - eu digo, dando um passo na sua direção. — Está tudo bem, você está pirando um pouco. Vou relevar isso. Mas, é, não fale sobre as nossas famílias mortas e sobre o nosso planeta massacrado, okay? Porque sério, eu quis te dar um soco na cara. Adam concorda. — Entendido. — Eu ainda não tenho certeza do que fazer - eu respondo, abaixando ainda mais a minha voz e chegando mais perto. — Me permita deixar isso bem claro pra você, Adam. Eu não tenho intenção nenhuma em morrer hoje. Você acha que eu não sei das nossas desvantagens? Cara, eu não preciso de uma explicação. Mas você não concertou magicamente um daqueles Escumadores enquanto eu não estava olhando, não é? Ele faz careta para mim. — Você sabe que não, Seis. — Então nós estamos presos aqui até os reforços chegarem. E se nós estamos presos aqui, nós vamos lutar. Você entendeu? — Nós poderíamos fugir - Adam responde, apontando para a mata. — Nós não precisamos de um Escumador para escapar. — Olhando por esse lado, a mata nunca vai deixar de ser uma opção - Eu admito a ele. — Se a Anúbis chegar aqui, e as coisas derem errado, nós fugimos. — Nós vamos? - Adam pergunta, desviando seu olhar de mim para Marina. — Todos nós? Eu viro a minha cabeça para sutilmente olhar Marina. Pelas suas costas dá para ver que ela ainda está respirando fundo, se acalmando. Ela está encarando o Santuário de novo, como ela vem fazendo o dia todo. Marina desenvolveu quase como uma devoção religiosa pelo velho templo. Eu entendo o porquê, a nossa expêriencia com a Entidade foi bem pesada,

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talvez mais para uma garota que foi criada no meio de um monte de freiras. Sem mencionar que o garoto que ela amava foi enterrado aqui. O Santuário se tornou um símbolo religioso e um túmulo para ela. — Eu vou arrastá-la daqui se for preciso - eu respondo Adam, falando sério. Adam parece satisfeito com a resposta. O olhar frenético que ele tinha quando estava nos repreendendo se foi, substituido pelo de Mogadoriano calculista. Eu nunca pensei que ficaria feliz de ver isso no rosto de alguém. — Eu posso começar retirando o campo de força disfarçado para o John e tentar arrumar o Escumador, mas nenhuma dessas coisas vai nos ajudar a defender esse lugar ou sobreviver a um ataque da Anúbis - ele me olha, com as sobrancelhas erguidas. — Então, qual o nosso plano para não morrer? Boa pergunta. Eu olho em volta. O aspecto de tudo isso ainda é algo que eu estou pensando. Como nós podemos parar Setrákus Ra de fazer seja lá o que ele quer com o Santuário? Como nós podemos machucar ele sem ferir Ella? De novo, meu olhar volta à Phiri Dun-Ra. Ela não está mais rindo de nós, ao invés disso está nos observando como um falcão. Eu penso em suas mãos, ainda amarradas à roda atrás dela, e do jeito que está machucada, no seu estado sujo e coberta de queimaduras sofridas pelo campo de força do Santuário. Os Mogs passaram anos aqui, tentando forçar sua entrada no Santuário em favor do seu Amado Líder. O ruim é que não vimos nenhum fuzível ou painél de controle dentro do templo para ligar o campo de força novamente. — Pelo menos nós sabemos onde ele está indo - eu digo alto, ainda pensando. — Se Setrákus Ra quer entrar no Santuário, ele tem que descer da sua nave fodástica. Isso nos dá uma chance. — Uma chance para fazer o quê? – Adam pergunta. — Não podemos machucar Setrákus Ra sem ferir Ella, o que significa que não podemos realmente impedi-lo de entrar no Santuário. Mas se ele tem Ella e o Santuário, bem, talvez nós possamos tirar algum proveito disso.

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Adam logo se liga. — Você está pensando...?

— Você mesmo mencionou que sempre quis pilotar uma dessas naves de guerra. O que quer que Setrákus Ra queria do Santuário, ele não vai conseguir levá-lo a lugar nenhum - eu digo, sentido um plano tomar forma. — Porque nós vamos resgatar a Ella e roubar sua nave.

A nossa preparação começa praticamente em silêncio, uma tensão ainda está no ar entre Marina e Adam. Nós começamos indo ao equipamenrto que os Mogadorianos deixaram para trás. Há engradados empilhados em uma das maiores tendas, um arsenal variado de armas e ferramentas que os Mogs trouxeram aqui só para ser quebrado pelo campo de força do Santuário. Há uma artilharia enorme de canhões, mas o resto parece que foi feito aqui na Terra. Há pilhas de de armas com estampas do Exército dos Estados Unidos, equipamentos de mineração da Austrália e o que Adam me conta ser EMPs experimentais da China. Adam já havia repassado todas essas coisas mais cedo, enquanto ele estava procurando por peças espalhadas para consertar o Escumador, então ele sabe como está organizado. — Nós queremos explosivos - eu digo a ele. — O que eles tinham? Cuidadosamente, Adam move algumas coisas antes de abrir uma caixa com substâncias que lembram argila. — Explosivos plásticos - ele diz. — C-4, eu acho. — Você sabe como funciona essas coisas? — Um pouco. - Adam responde, e começa e colocar os objetos ao lado gentilmente. Ao lado do C-4, há também alguns fios e cilindros que eu presumo serem detonadores. Depois de uma rápida procura, Adam sorri e segura um pequeno bloco de papel. — Há instruções. — Perfeito - Marina murmura. — Quantas bombas ao total? - eu pergunto. Adam faz uma conta rápida. — Doze. Mas eu posso dividi-las, tornar elas menores se você quiser. Quanto menor a bomba, menor a explosão.

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Mas nós só temos doze detonadores, então as menores precisariam ser ligados juntas. Antes de responder Adam, eu coloco a minha cabeça do lado de fora da tenda e faço uma conta rápida dos Escumadores estacionados na pista de pouso. Dezesseis delas, incluindo a que Adam vem trabalhando e a que a Phiri Dun-Ra está amarrada. — Nós estariamos bem com doze - eu digo a Adam. Não exploda você mesmo, okay? — Eu vou fazer o meu melhor. — Ótimo. Vem Marina. Eu pego um saco de pano vazio da tenda de suprimentos dos Mogs antes de ir ao estacionamentos das naves. Marina me segue de perto. — O que você pretende explodir exatamente, Seis? - ela pergunta. — Espere aí - eu digo, me aproximando do Escumador onde Phiri Dun-Ra está retida. Ela observa minha aproximação, com os olhos cheios de raiva, sem sorrir através da fita adesiva. Eu acho que ela sabe o que vai acontecer. Ela luta um pouco contra as amarras, mas sem conseguir me impedir de colocar o saco de pano na sua cabeça. — Cansada de olhar para ela? - Marina pergunta. — Sim, isso. E eu não quero que ela veja o que nós vamos aprontar – eu levo Marina longe da prisioneira, para outros Escumadores. — Nós vamos explodir essas naves. Eu acho que Setrákus Ra não virá sozinho, ele vai trazer mais Mogs com ele. Nós não precisamos estar no campo de batalha para mantê-los longe do Santuário, mas nós podemos com certeza explodi-los quando eles chegarem perto. Graças a Phiri Dun-Ra, nenhuma dos Escumadores está em condições de se mover sozinhos. Um por um, Marina e eu usamos nossa telecinese para empurrar as naves para as posições. Com nós duas trabalhando juntas, o peso não é tão grande, até as rodas começarem a funcionar. Nós colocamos os Escumadores a vinte e sete metros um do outro em um semi-circulo na frente da entrada do Santuário. As naves acabam praticamente na mesma linha do campo de força. Agora que nós movemos os Escumadores, há um grande espaço para

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pouso. — Vamos torcer para que Setrákus Ra estacione a sua nave idiota no lugar mais óbvio possível - eu digo, apontando com o meu dedo através do ar para a área de pouso na entrada do Santuário. — Há só um jeito de entrar no Santuário, então as pessoas vão ter que passar pelas naves, que é onde nós vamos esconder as bombas. — Que vai eliminar pelo menos a primeira leva de Mogs - Marina diz. — Sim, e com sorte nós vamos pegá-los de supresa e confundi-los, procurando por um ataque, então Adam e eu vamos por trás deles e vamos entrar na Anúbis. Marina faz careta para mim. — Espera. Onde estou em tudo isso? Antes que eu possa responder, Adam surge do armamento dos Mogadorianos com uma mochila de pano cheia de explosivos. Ele dá uma olhada no que fizemos até agora e assente com a cabeça, aprovando. Então, ele caminha até nós, coloca a mochila no chão e entrega um gande controle remoto. — Olhe isso - Adam diz. — Eu acho que os Mogs estavam tentando usar uma sequência de explosivos para tentar tirar o campo de força, talvez pensando que várias exploções em lugares diferentes poderiam acabar com ele. Ele me entrega o controle remoto. É uma linha com vinte interruptores, cada um com uma luz verde e vermelha correspondendo. Vinte lâmpadas vermelhas estão ligadas. Adam se aproxima de mim, explicando como o aparelho funciona. — Todos os detonadores têm controles automáticos - ele diz, e faz um movimento à esquerda. A pequena luz acima do interruptor muda de vermelho para verde. — Eu acabei de armar uma bomba. Eu olho de relance para a mochila de pano nos meus pés, cheia de explosivos, e então olho de volta para o controle. Há um pequeno pino de metal que você precisa guiar o interruptor ao redor para ele para que chegue ao seu terceiro nível, provavelmente para evitar que o dedo de alguém escorregue. Ainda assim, eu estou um pouco nervosa sobre essa demonstração. — Hm, entendido... — Segurança primeiro - Adam coloca o pino de volta na posição

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original, a luz vermelha voltando a ligar. — Se você tivesse colocado o botão todo para cima, os detonadores pegariam o sinal e a bomba iria detonar. Eu concordo com a cabeça, então entrego o controle para Marina. — Você entendeu tudo? — Sim, mas... – ela enruga a testa ao receber o controle. — Você perguntou onde estaria em tudo isso - eu digo. — Você vai se esconder na mata, controlando a defesa do Santuário. Marina pensa por um momento, sorrindo um pouco. — Isso vai ser um pazer. Adam segue em direção às naves, colocando uma caixa pequena em cada Escumador. Os Mogadorianos podem notar elas, claro, mas não antes que sejá tarde demais. Enquanto isso, Marina e eu manobramos os últimas dois Escumadores, depois dos que já estão prontos para explodir. Estes nós posicionamos do outro lado do Santuário, os dois na borda da mata. — Nós podemos criar uma linha de fogo cruzado aqui - eu digo, abrindo a cabine do piloto de um dos Escumadores. — Se sua telecinese for forte o sufuciente para controlar... — Vai ter que ser - Marina responde. Adam vem até nós e liga o sistema de armas de um dos Escumadores e explica para Marina quais botões ela teria que pressionar para disparar os canhões. Marina passa um bom tempo estudando os controles, memorizando-os, guardando a imagem deles em sua mente. Então, ela caminha devagar para longe de nós e dos Escumadores, entrando na floresta, indo longe o suficiente das explosões, mas perto suficiente para ter uma visão clara da batalha. Vai ser desse esconderijo que ela vai defender o Santuário. Marina se concentra. Ela lança uma mão ao ar na direção do Escumador. — Ugh - ela diz depois de um momento, enrrugando o seu nariz. — Eu não sei, Seis. É muito dificil usar a minha telecinese em algo que eu não posso ver. Nós tentamos uma técnica diferente. Adam e eu andamos pela borda

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da floresta, colocando canhões Mogadorianso em arbustos e árvores. Nós os camuflamos com galhos e folhas, o suficiente para que os Mogs não notem, mas não muito escondidos para que Marina consiga vê-los. Do seu esconderijo, ela testa cada um deles, apertando o gatilho com telecinese, e atirando na clareira na frente do Santuário. — Bom – eu digo. — Você nem precisa acertar ninguém, Marina. Você só precisa fazer eles pensarem que o ataque está vindo de todos os lados. Agora que terminamos, há dois Escumadores no caminho: o que nós viemos para cá e o que Adam vem tentando consertar, e aquele que Phiri Dun-Ra está amarrada. Eu estou satisfeita com o nosso resultado até aqui. Eu me sinto bem de estar fazendo alguma coisa, pelo menos. — Isso é bom, Seis - Marina diz, com os braços cruzados, olhando para as naves dos Mogs paradas como guardas na porta do Santuário. —Perfeito se Setrákus Ra mandar os seus soldados. Mas o que faremos se ele estiver na linha de frente? Machucar ele significa machucar Ella. Nós não podemos ariscar. — Você está certa - eu respondo. — Nós teremos que encontrar uma maneira de pelo menos atrasá-lo. Eu começo a ir em direção ao Santuário e finjo que não noto quando Adam passa por trás de mim, tocando gentilmente o cotovelo de Marina. Com a minha audição aprimorada, é praticamente impossível não escutar nada. — Me desculpe por antes - Adam diz baixinho. — Eu estava transtornado. — Está tudo bem - Marina responde com gentileza. — Eu não deveria ter te chamado de monstro. Mas saiu. Eu não pensei aquilo. Adam da uma risada, se precavendo. — Não, você sabe, eu venho me perguntando por muitos anos se... se essa não é uma boa palavra para nós. Marina faz um barulho, como se fosse dizer algo a mais, mas Adam a interrompe. — Está certo, desculpe de novo, por tudo. Eu sei o que é perder alguém que você gosta. Eu não deveria... Eu não vou ser tão estúpido sobre

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querer deixar esse lugar de novo. Eu entendi o porque ele é tão importante. O que significa. — Obrigada, Adam. Eu me viro, fingindo que não escutei a conversa inteira deles. Nós estamos em frente ao que costumava ser a porta escondida do Santuário. É uma porta estreita de pedra que leva a uma escada por um caminho longo à uma câmara abaixo do templo. — Então - eu digo, com as mãos nos meus quadris. — Como nós atrasamos o Mogadoriano mais poderoso do universo sem machucar ele, enquanto ao mesmo tempo, nós roubamos a sua nave em baixo do seu nariz? Adam levanta a sua mão. — Eu tenho uma pergunta. Eu posso vê-lo pensando. — Manda. — Todo esse plano é baseado em uma chance: Setrákus sair pela porta da nave, Setrákus mandando tropas de soldados, Marina distraindo eles com algumas bombas e armas fantasmas - eu abro a minha boca para responder, com medo dele pirar de novo, mas Adam continua falando. — É a nossa melhor opção. Eu concordo com você. Mas, supondo que funcione, supondo que nós consigamos roubar a Anúbis enquanto Setrákus Ra fica aqui embaixo. E então o que? O que nós faremos a seguir? Ainda não poderemos matá-lo. — Mas ele não vai poder nos matar também - eu respondo. Mesmo sabendo que não é a estratégia brilhante que Adam estava esperando, honestamente eu não pensei tão à frente. Eu estou mais focada na nossa sobrevivência. — Talvez nós possamos negociar - Marina sugere. — Ella ou o Santuário... — Tirando a parte que ele fervorosamente iria querer o oposto, ele não tem honra - Adam diz. — Não vai haver nenhuma negociação. — Isso é um beco sem saída - eu digo. — E isso é melhor que perder, certo? Adam considera as minhas palavras, cavando um buraco com o seu calcanhar.

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— Está certo - Adam diz. — Então eu sugiro que cavemos um buraco. — Um buraco? — Uma cova - Adam continua. — Na frente da porta. Uma bem grande. Então, nós cobrimos e deixamos Setrákus Ra cair dentro. Eu empurro o meu dedo do pé no chão. Graças a sombra do Santuário e as plantas crescendo perto, a terra está fofa e umida, não como na pista de pouso com terra batida e bem dura. Com todos os nossos Legados, o estoque de armas dos Mogs, um monte de C-4, e agora nós estamos falando de cavar um buraco. — Bem, ele é exatamente o tipo de idiota que não olha por onde anda, especialmente se ele estiver ostentando a vontade de entrar no Santuário. — Essa é a ideia - Adam responde. — E quando ele tiver lá embaixo, eu cubro o topo com gelo do meu esconderijo - Marina diz, entrando na ideia. — Isso pelo menos poderia atrasá-lo. — É, pelo menos seria hilário ver ele cair em um buraco - eu acrescento, otimista. — Vai ter que ser um buraco enorme - Adam diz, coçando o queixo, pensativo. — Ele pode mudar de tamanho. — O bom é que temos Legados para ajudar a cavar - eu respondo. — Mesmo que nos dê apenas alguns minutos, podem ser eles o sufuciente para que possamos entrar a bordo da Anúbis. — Mais uma coisa, e você pode não gostar da ideia - Adam diz para Marina, antes de gesticular para a porta do Santuário. — Mas talvez nós poderiamos derrubá-la. Seria mais um obstáculo no caminho de Setrákus Ra. É uma boa ideia, mas olho para Marina antes de dizer alguma coisa. Ela pensa sobre isso por um momento e então dá de ombros. — São só pedras - ela diz. — O importante é proteger o que está dentro. — Eu devo pegar mais C-4? - Adam pergunta. — Eu acho que dou conta - eu respondo, já chamando o meu Legado e fazendo uma pequena tempestade. O ar fica pesado enquanto coloco junto algumas nuvens escuras acima da nossa cabeça, um pequeno

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tamborilar de chuva caindo delas. Com um movimento descendente da minha mão, quatro raios de luz cortam para baixo em um ângulo que a Mãe Natureza não poderia esperar duplicar. O arco em volta porta do Santuário explode em calcário decrépito, desmoronando, fechando a passagem com a explosão. Eu dou um passo à frente e dou uma olhada no meu trabalho. A porta de entrada está agora cheia de rochas, com algumas paredes do interior que com certeza cairam também. Isso não vai manter nenhum exército de Mogs longe para sempre e Setrákus Ra vai com certeza ser capaz de tirar as pedras do caminho com a sua telecinise. Ainda assim, é melhor do que nada. Enquanto isso, com um olhar pensativo no rosto, Marina mede a distância do arredor da entrada do Santuário com passos, contando-os. Quando ela acaba de andar um quadrado quase perfeito na frente da entrada, Marina olha para mim. — Mais ou menos nove metros de cada lado, né? - ela me pergunta. — Para a cova. — Eu acho que vai ser o suficiente. — Me deixe tentar uma coisa - Marina diz, e então começa a se concentrar. Ela caminha no lugar onde vai ser o buraco, com as mãos no alto enquanto caminha. Uma parede de gelo começa a se formar, embora a beirada não faz contato com o chão. — Me ajude a segurá-lo no lugar, por favor? - Marina pede, me olhando por cima do ombro. Eu não estou muito certa no que isso vai dar, mas eu ajudo. Usando a minha telecinese, eu seguro o gelo crescente de Marina. Eu noto que o gelo começa a ficar mais grosso em cima e estreito em baixo, letalmente afiado nas bordas, quase como uma guilhotina. Ela anda exatamente nos mesmos lugares que andou segundos atrás, desta vez regenerando o gelo enquanto percorre. Depois de alguns minutos, Marina criou um cubo de gelo oco, que mete nove por nove metros grosseiramente. O gelo flutua acima do chão, pingando água, e Marina continua usando o seu Legado

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para impedi-lo de derreter. — O que acontce agora? - Adam pergunta observando tudo. — Nós erguemos ele - Marina diz, se referindo a nós duas. — E então o empurramos para baixo com toda a força que conseguirmos reunir. Pronta, Seis? Eu faço como ela instruiu, usando a minha telecinese para levitar a escultura de gelo de Marina, a mais ou menos seis metros do chão. — Pronta? - ela pergunta, me olhando. — Agora! Juntas, nós jogamos o gelo no chão. Há um baque quando as beiradas afiadas entram no chão, seguido pelo som de vidro quebrando e com o gelo logo se espalhando. Apesar de tudo, o gelo não entrou muito no chão além de mais ou menos um metro. Marina parece feliz com o resultado. — Ok, ok! Espere um segundo. Ela corre ao redor da caixa de gelo. Há quatro paredes incorporadas ao chão, e ela começa a reforçar o gelo, espessando-o e deixando-o mais forte quando ela toca. Quando as rachaduras no gelo são seladas e os pedaços quebrados preenchidos, Marina se ajoelha em um dos cantos e coloca as suas mãos sobre o gelo, o mais próximo do chão quanto ela consegue. — Ok, eu não tenho certeza se essa parte vai realmente funcionar - ela diz. — Lá vai. Marina fecha os seus olhos e se concentra. Adam e eu trocamos um olhar, ambos bem confusos. Ainda assim, nós ficamos quietos pelo que parece ser mais que cinco minutos, assistindo Marina usar o seu Legado. Eu quero colocar a minha testa no gelo, mas eu acho que isso pode estragar o que quer que seja que ela esteja fazendo. — Eu acho que consegui - Marina diz finalmente, levantando e rolando o seu pescoço. — Seis, vamos levantar o gelo de novo. — Agora você quer ele fora do chão? - eu pergunto. Marina concorda animada. — Rápido! Antes que derreta demais. Então, nós nos concentramos no cubo de novo. Ele parece mais pesado que antes e enquanto nós o erguemos, eu percebo o porquê. Marina uniu o gelo embaixo do chão, conectando as quatro paredes em um cubo.

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Quando nós o levantamos, ele vem com um som de rasgo e trituração, com restos da raízes da grama junto. O cubo de gelo flutua com a nossa telecinese e, dentro, há mais de um metro de terra presa. — Gentilmente agora - Marina diz, enquanto nós transportamos o gelo e a terra para fora do caminho. — Eu reforcei bastante o gelo, mas ainda pode quebrar. — Brilhante - Adam diz, sorrindo para o monte flutuante. — Nós não teremos que cobrir o topo com, tipo, grandes galhos e ramos. Depois que escavarmos, nós poderemos colocar o cubo de volta no topo. Vai parecer normal quando Setrákus Ra passar por ele, mas você deve ser capaz de derrubá-lo com a sua telecinese de longe. Marina concorda. — Era nisso que eu estava pensando. Baixamos o gelo com cuidado no chão com um baque suave. Sem Marina constantemente o aumentando com o seu Legado, o gelo começa a derreter. As bordas da nossa cova ficam um pouco enlamaçadas, mas seca rápidamente, considerando o calor. Adam vai um pouco à frente e se ajoelha em frente a cova no chão. — Minha vez - ele diz. Ele coloca as suas mão na terra e um segundo depois eu já posso sentir as vibrações fluindo dele. As ondas sísmicas são focadas principalmente em sua frente, mas seu controle não é muito preciso. Por um momento eu me sinto um pouco enjoada com graças as ondas do solo embaixo dos meus pés, mas logo me recomponho. O chão na frente de Adam começa a se soltar e as camadas do solo começam a se quebrar em pedaços consideráveis. Adam olha por cima do ombro para mim. — Como está? Eu uso a minha telecinese para levantar uma quantidade considerável de terra e pedras para cima da cova, e em seguida, os jogo na selva. Vai ser mais fácil cavar agora que Adam está quebrando as camadas de terra, mas ainda vai ser um saco. Dou um aceno com a cabeça para ele. — É um bom começo - eu digo a ele. Ele se levanta. — Eu vou procurar por... uma pá. Adam mal pode terminar o seu pensamento, quando de repente seus

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olhos então presos no céu atrás de nós. Eu me viro, ouvindo um som mecânico. Não. Não pode ser. É muito cedo. Nós não estamos prontos. — Seis? – Marina pergunta. — O que é aquilo? É uma nave. Prata e elegante, sem os ângulos estranhos e armas como nas outras naves Mogadorianas. Não é nada parecido com qualquer coisa que eu já tenha visto, mas também é estranhamente familiar. A nave está vindo rapido, e bem na nossa direção.

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— escolteiros? – marina me pergunta. posso sentir seu Legado voltando à tona, para se precisarmos lutar. — Não é uma nave Mogadoriana – Adam diz, dando um passo ao meu lado. — Não - eu respondo, já percebendo. Eu coloco a minha mão no braço de Marina. — Está tudo bem. Você não... você não reconhece? — Eu... – Marina para enquanto olha direito para a nave que se aproxima. Ela voa por cima das árvores e roda sem esforço no ar, diminuindo a sua velocidade logo acima da nova área de pouso dos Mogs. Embora esteja um pouco amassada e arranhada, até com um pouco de ferrugem nas bordas, a nave ainda brilha e reluz, seus painéis blindados, feitos com materiais que não são encontrados nesse mundo. A nave paira no ar por um momento, o sol brilhando, reluzindo nas janelas coloridas da cabine do piloto, e em seguida, pousa suavemente. — É uma das nossas - eu digo. — Como a nave que nos trouxe para cá. Para a Terra, eu quero dizer. — Como isso é possível? - Adam responde, perguntando.

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— Esses são os nossos reforços? - Marina pergunta, sem tirar os olhos da nave. — O John comentou alguma coisa? — Ele disse que estava enviando a Sarah, Mark e mais alguma coisa... - eu respondo um pouco atordoada. — Alguma coisa que nós tínhamos que ver para crer. Quem poderia estar pilotando uma nave Loriena? De onde ela veio? Eu dou um passo para frente. A rampa de metal começa a descer da parte de trás da nave e eu fico tensa. Eu tenho uma memória obscura que vem à tona, de uma rampa como aquela na minha infância, com Katarina ao meu lado, explosões e gritos ao fundo. Aqui estamos nós de novo, no meio da segunda invasão Mogadoriana, e mais uma vez há uma nave Lórica na minha frente. Só que dessa vez, eu não sei se eu deveria estar correndo na sua direção ou para longe. Mesmo que o John já tenha me dito que a ajuda estava chegando eu não consigo afastar a sensação que isso pode ser uma armadilha. A paranoia vem me acompanhando até aqui, não há razões para ignorá-la agora. — Preparem-se para qualquer coisa - eu digo aos outros. — Nós não sabemos o que vai sair de lá. E então um beagle muito familiar desce a rampa correndo. Bernie Kosar, com a língua para fora da boca, pula em mim primeiro, com as suas patas dianteiras apoiadas nas minhas pernas. A sua calda é um borrão quando ele cumprimenta Marina, logo em seguida. E depois ainda salta em Adam. Eu ouço um som estranho, mas logo noto que é o riso de um Mogadoriano. Quando olho de volta para nave, Sarah Hart está parada no topo da rampa, com os seus braços abertos em saudação e com um sorriso. — Oi pessoal - Sarah diz casualmente. — Olhem o que nós encontramos. Marina solta uma gargalhada de surpresa e logo sai correndo, encontrando a Sarah na ponta da rampa, já a envolvendo em um abraço. Já faz um tempo que eu não vi Sarah, ela já tinha ido para a sua missão secreta de se encontrar com o ex-namorado quando eu e Marina voltamos

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da Flórida. Ela está com o cabelo para trás, preso em um rabo de cavalo apertado, mas o seu sorriso é brilhante mesmo com alguns riscos sob os olhos, e percebo que são avermelhados quando eu chego mais perto. Há também alguns arranhões e contusões que nem o seu sorriso consegue esconder. Sim, ela está feliz em nos ver, mas também está cansada, estressada e um pouco abatida. Independente disso, ela parece melhor do que nós, sujos depois de alguns dias na selva, queimados do sol e exaustos. — Você está aqui - eu digo a Sarah, abraçando ela também. Na verdade eu estou um pouco distraída. Eu ainda não consigo tirar os olhos da nave. — É bom ver você, Seis - Sarah responde, me abraçando apesar do suor e do pó. — John disse que vocês poderiam precisar de alguma ajuda e de uma maneira para sair daqui. Então, nós trouxemos os dois. Quem é exatamente esse 'nós' se torna aparente um segundo depois. O Mark James que sai da nave atrás da Sarah é muito diferente daquele cara que lutou um pouco ao meu lado em Paradise. Ele está aposentou toda aquela coisa de cabelo-com-gel de jogador. O cabelo escuro dele está mais comprido e desgrenhado. Eu acho que ele perdeu um pouco de peso, seus músculos estão maiores do que eu me lembro. Ele está com um olhar cansado no seu rosto e está com os olhos bem fechados, o que sugere que ele não está acostumado com tanto sol. — Whoa, merda - Mark diz, parando na metade da rampa. — Você tem um deles atrás de você. — Esse é Adam - responde Sarah. — Eu pensei que tinha lhe contado sobre ele. — É, eu acho que você contou – Mark diz, fazendo sombra nos seus olhos enquanto ele encara Adam. — É apenas assustador ver um deles, você sabe, andando normal por aí. Desculpe, mano - acrescenta Mark, acenando para Adam. — Está tudo bem - Adam responde diplomaticamente. Ela aponta por cima do seu ombro para onde a Phiri Dun-Ra esta encapuzada e presa no Escumador. — Eu não sou o único Mog aqui, como você pode ver. Mas eu sou o mais amigável.

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— Notável - Mark responde. Sarah começa a fazer as apresentações necessárias. Eu interrompo ela antes que possa realmente começar. — Desculpa, mas onde vocês conseguiram essa nave? - eu pergunto, passando por ela e subindo na rampa. — Sim, sobre isso... – Sarah responde, apontando para frente, como se eu devesse continuar explorando. — ...você provavelmente vai querer falar com ela. — Quem? Sarah me dá um olhar de que eu deveria simplesmente parar de fazer perguntas e ir, então eu faço isso. Troco um olhar com Marina, que levanta as sobrancelhas também. Só alguns passos adentro, e eu já estou no maior déjà vu. Estamos na área dos passageiros. É um espaço aberto, completamente desprovido de qualquer mobilha. As paredes emitem uma luz suave indicando que a nave ainda está ligada. Eu tenho uma vaga memória de estar alinhada ao lado de outro Garde, e os nossos Cêpans nos empurrando para os exercícios de aeróbica e algum treinamento de artes marciais. Eu vou caminhando até a parede mais próxima e passo os meus dedos pela superfície. O material de plástico responde, brilhando mais, por onde os meus dedos passaram. As paredes são como uma grande tela touch-screen. Eu puxo um comando da minha memória, rapidamente desenhando um símbolo Lórico na parede. O símbolo pisca uma vez para mostrar que ele foi aceito, e em seguida, um barulho e então uma porta se abre e duas dúzias de camas surgem. Marina dá um passo para trás quando a porta se abre exatamente onde ela estava. — Seis, essa é... ? — É a nossa nave - eu digo. — A mesma que nos trouxe para Terra. — Eu sempre achei que ela tinha sido destruída ou... - Marina para e sacode a sua cabeça com espanto. Ela passa os seus dedos na parede oposta, colocando outro comando. A parede inteira se transforma em uma tela gigante de alta-definição com a imagem de um beagle feliz perseguindo uma bola de tênis.

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— “Em português, cachorro” - diz uma voz gravada com um sotaque lórico bem perceptivo. — “Cachorro. O cachorro corre. En español, perro. El perro corre...” Curso de idiomas da Terra. Quantas vezes nós tivemos que ficar sentados vendo esse vídeo enquanto voávamos para o nosso novo planeta? Eu tinha esquecido isso, mas todo o tédio da minha infância volta de uma vez só. Todo um ano claustrofóbico passado aqui, assistindo um cachorro correr em um campo verde. — Oof, desliga – eu peço para Marina. — Você não quer ver o que o cão faz a seguir? – ela pergunta com um sorriso. Ela passa a sua mão pela parede e o programa para. Eu vou até uma das camas e me agacho ao lado dela. Os lençóis cheiram mofo e estão um pouco gordurosos. Eles provavelmente ficaram guardados por mais de uma década. Eu empurro para o lado os cobertores e o colchão, inspecionando a armação. — Ah, olhe isso - eu digo. Marina se inclina sobre o meu ombro. Lá, esculpida na armação de metal da cama, por uma garota entediada, está o número seis. — Vândala! - Marina sorri. O zumbido mecânico diminui até o silencio e as paredes touch-screen piscam e desligam. Alguém acabou de desligar a nave. — Do jeito que você deixou, né? Marina e eu nos viramos na direção da voz e acabamos por encontrar uma mulher que lentamente emerge da cabine do piloto. Minha primeira reação é de que ela é linda de tirar o fôlego. A sua pele é de um tom escuro de marrom, suas maçãs do rosto altas e pronunciadas, cabelo escuro e curto. Ainda que ela esteja vestida com um macacão de mecânico com manchas de graxa, a mulher parece que pertence a uma capa de revista de moda. Eu rapidamente percebo que ela não é puramente impressionante apenas na aparência. É uma qualidade indiferente que a maioria das pessoas da Terra não seriam capazes de perceber o que eu percebo imediatamente. Essa mulher é Loriena.

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Ela parece quase nervosa por ver eu e Marina. Deve ser por isso que ela levou tanto tempo para desligar a nave. Mesmo agora, ela continua na porta da cabine, tão incerta sobre nós quanto estamos com ela. Há um nervosismo nela, como se a qualquer momento ela fosse voltar para cabine do piloto e trancar a porta. Eu posso dizer que ela está tentando mentalizar algo para dizer. — Vocês devem ser Seis e Sete - ela diz depois de um momento de não conseguirmos nada além de olhares atônicos. — Você... você pode me chamar de Marina. — Pode deixar, Marina - a mulher diz com um sorriso gentil. — Quem é você? - eu pergunto, finalmente encontrando minha voz. — Meu nome é Lexa - a mulher responde. — Eu estive ajudando o seu amigo Mark através do apelido GUARD. — Você é uma das nossas Cêpans? Lexa finalmente sai da porta e se senta em uma das camas. Marina e eu sentamos na sua frente. — Não, eu não sou uma Cêpan. O meu irmão era um Garde, mas ele não passou do treinamento da Academia de Defesa de Lorien. Eu estava matriculada lá também, como uma estudante de engenharia, quando ele... quando ele morreu. Depois disso eu meio que, ah, caí fora da Grade. O quanto você conseguisse em Lorien. Eu não me encaixava exatamente nas regras. Eu trabalhava muito com computadores, as vezes fora da legalidade. Eu não era ninguém especial, basicamente. — Mas você acabou aqui – Marina diz, com a sua cabeça inclinada. — Sim, eu fui contratada para reformar uma nave antiga para um museu... Esse detalhe dá um clique na minha mente. — Você veio na segunda nave para Terra - eu digo. — Sim. Eu vim para cá com o Crayton e a minha amiga Zophie. Vocês já sabem disso provavelmente, mas nós não fazíamos parte do plano dos Anciãos. Nós conseguimos escapar de Lorien graças a Crayton, bem, porque ele trabalhava para o pai de Ella, e porque nós tínhamos acesso a essa velha nave. O pai da Ella, ele sabia o que estava por vir. Então ele me

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contratou para concertar a nave. Eu nem sabia realmente como pilotar. Eu tive que aprender, bem... durante o voo. Eu sorrio para piada de mau gosto de Lexa, mas a minha mente está correndo. Há mais de nós. Talvez os Lorienos não estejam mesmo extintos. Eu deveria estar animada com isso, mas em vez disso eu fico desconfiada. Eu provavelmente só estou sendo paranoica depois do que aconteceu com o Cinco. Ainda assim, eu penso no Crayton e em como ele criou a Ella enquanto secretamente estava procurando o resto da Garde. Ele nunca mencionou que veio com mais duas Lorienas. Meus olhos se estreitam. — Crayton nunca nos contou sobre vocês - eu digo, tentando não parecer tanto uma acusação. Crayton escondeu muitas coisas de nós, afinal. Como a verdadeira origem da Ella, que só descobrimos depois que ele morreu. — Eu acho que não - responde Lexa, franzindo a testa. — A sua única preocupação era em manter a Ella viva. Nós concordamos em não manter contato um com o outro. Era mais seguro para todos se mantivéssemos distância. Vocês sabem como são os Mogs. Eles não podem torturar por informação se você na verdade não sabe de nada. — E a sua amiga? Zophie? Onde ela está? Lexa balança a cabeça. — Ela não conseguiu. Seu irmão era o piloto dessa nave. Da nave de vocês. Zophie veio para procurar por ele, e na verdade ela pensou que tinha encontrado ele pela internet, mas... Marina fica pálida. — Mogs. Lexa concorda tristemente. — Depois disso, eu estava sozinha. — Você não estava sozinha, afinal - eu digo. — Nós estávamos lá fora. Muitos de nós - droga, todos nós perdemos os nossos Cêpans. Alguns muito rápido. Nós poderíamos precisar de uma orientação. Por que você esperou tanto tempo? Por que não tentou nos encontrar? — Você sabe o porquê, Seis. Pelas mesmas razões que o seu Cêpan não tentou achar os outros. Era muito perigoso tentar fazer contato. Tudo na internet poderia significa a sua exposição. Eu fiz o que pude de longe. Eu canalizei dinheiro e informações de grupos que estavam trabalhando para

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expor os Mogadorianos. Eu comecei um website chamado "Alienígenas Anônimos”, para espalhar as informações e tentar expor o que eles estavam fazendo com o ProMog. Foi assim que eu encontrei o Mark. Eu penso como deve ter sido para ela, uma estranha em um planeta estranho, sem ninguém para confiar. Na verdade, eu não preciso imaginar pelo que ela passou. Eu vivi isso. Eu sabia do perigo e eu nunca parei de procurar os outros. Eu não consigo disfarçar a amargura na minha voz. — Perigoso para nós ou para você? — Para todos nós, Seis - Lexa responde. Eu noto que as minhas palavras a atingiram. — Eu sei que isso não é nem uma fração da responsabilidade que os Anciãos colocaram em vocês nove mas... Eu não pedi por isso também. Eu consegui um trabalho em um museu e a próxima coisa que eu sei é que eu estou voando em uma nave antiga para um planeta em um sistema solar completamente diferente com os últimos da Garde vivos como carga. Eu perdi meu irmão, a minha melhor amiga, a minha vida toda. Ela respira fundo. Marina e eu ficamos em silêncio. — Eu disse a mim mesma que eu estava ajudando o suficiente de longe. Então, eu fiz o que eu pude à distância. Eu apaguei todas as informações que eu encontrei de vocês online. Eu tentei deixar vocês invisíveis, não só para o mundo, mas para mim. Talvez fosse covardia. Ou vergonha. Eu não sei. Eu sabia que lá no fundo que eu deveria estar fazendo mais. Eu sempre tive a intenção de conseguir a nave, e então contatar vocês, uma vez que tivessem idade suficiente e uma vez que eu... — Você está aqui agora - Marina diz gentilmente. — Isso que importa. — Eu não podia mais ficar escondida. Eu já tinha fugido de um planeta durante uma invasão. Eu decidi que era hora de parar de fugir. Isso me atinge como um tapa. De um jeito, depois de passar anos se escondendo dos Mogadorianos, todos nós decidimos que já era hora de parar de fugir. Eu só espero que não seja muito tarde. — Estaria tudo bem se eu lhe desse um abraço agora? - Marina pede para Lexa. A piloto é pega de surpresa, mas ela concorda. Marina a envolve em

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um grande abraço, enterrando o seu rosto no ombro da mulher. Lexa me vê observando e me dá um sorriso quase envergonhado antes de fechar os olhos e se deixar ser abraçada. Ela suspira, e talvez eu esteja imaginando isso, mas parece que um peso invisível saiu dos seus ombros. Eu não me junto a elas. Abraço em grupo não é bem para mim. — Obrigada por vir - eu digo depois de um momento. — Bem-vinda ao Santuário. Com isso eu levo as duas para fora da nave. Eu dou uma última olhada na área dos passageiros da nave antes de enterrar o resto das memórias da fuga de Lorien. Eu não sou mais uma criança. Essa invasão vai ser diferente. Lá fora, Adam e Mark parecem estar no meio de uma discussão. Sarah fica a alguns passos de distância deles, mais perto da nave, obviamente esperando por nós. Ela levanta as suas sobrancelhas em questionamento quando me vê e eu suspiro em resposta. — Loucura quem você trouxe para o México - eu digo tentando ignorar o choque e a mistura de sentimentos de encontrar a Lexa. Juntos, nós caminhamos até o Mark e Adam. Mark já com suor marcando sua camiseta, e parece que ele está tendo um problema em entender alguma coisa. — Um buraco - ele diz, sem rodeios. — Vocês vão matar o Setrákus Ra com um buraco no chão. Adam suspira, apontando para as seções de artilharia escondidas na mata. — Você está realmente preso na parte do buraco do plano. Nós temos armas escondidas, bombas... — Mas para o Setrákus Ra vocês têm um buraco. — Eu percebo que é baixa-tecnologia, mas as nossas opções estão realmente limitadas - Adam responde. — E nós não estamos tentando matá-lo. Essa não é nem uma possibilidade considerando que qualquer coisa que fizermos será revertido na Ella. Nós só queremos atrasá-lo e comprar algum tempo para nós. — Tempo para o quê? - Mark pergunta. Adam olha de relance para mim. — Para resgatar a Ella, roubar a Anúbis

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de Setrákus Ra embaixo do seu nariz ou os dois. — Por que nós simplesmente não vamos embora? - Mark pergunta, já querendo voltar para a nave Loriena recém-chegada. — Entendi que todas essas armadilhas podem ser uma boa ideia quando vocês estavam, bem, presos aqui. Mas agora nós podemos ir. — Essa não é uma opção - Marina responde. — O Santuário deve ser defendido a todo custo. — A todo custo? - Mark repete, olhando de novo para nave, e então de novo para o templo. — Que diabos têm de tão especial sobre esse lugar? Eu percebo que a Lexa está estranhamente quieta durante a discussão. Os seus olhos estão presos no Santuário, seu rosto pálido, com um olhar parecido com o de Marina, quando ela fica com aquele jeito, com os traços de reverenciação. Lexa deve ter percebido que estava sendo observada, porque balança a sua cabeça abruptamente e encontra o meu olhar. — Esse lugar... - Ela procura pelas palavras corretas. — Há alguma coisa especial sobre ele. — É um lugar lórico - Marina responde. — O lugar de Lorien agora, na verdade. A fonte dos nossos Legados está lá dentro. — Nós acabamos de selar a entrada ou nós daríamos a vocês um tour - eu falo. — Nós poderíamos até apresentar à vocês a criatura que vive lá dentro. Bem legal para uma Entidade feita de pura energia Lórica. Lexa me lança um rápido sorriso antes de responder. — Eu posso sentir... o que quer que seja lá dentro. Eu posso senti-la nos meus ossos. Eu entendo o porquê você quer proteger esse lugar. — Obrigada - Marina responde. — Dito isso... - e agora Lexa olha na minha direção. — Tenha em mente que a minha nave, nossa nave, está pronta. Se vocês precisarem. Já derrubou uma das naves deles antes. Eu aceno sutilmente e troco um rápido olhar com Adam. Marina pode não querer admitir que nós precisamos de um, mas nós tínhamos uma estratégia de fuga da qualquer maneira, e essa é muito melhor do que correr na selva. — Cara, o que quer que esteja lá dentro, é como se estivesse no

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comando dos Legados? - Mark pergunta, olhando para o Santuário com as mãos no quadril. — Nós achamos que sim. - eu respondo. — Então foi isso que decidiu que o nerd do Sam Goode deveria desenvolver super poderes e que eu... – então ele para, fazendo careta. — ...merda. Eu deveria ter sido mais legal no colégio. Eu tento não rir. John deve ter contado a Sarah e Mark sobre os humanos desenvolvendo Legados graças a nossa brincadeira no Santuário. Eu não sei como a Entidade decide quem deve desenvolver Legados, mas eu realmente não espero que seja caras como o Mark, mesmo que ele esteja arriscando a sua bunda por nós pelos últimos meses. Sarah por outro lado... — E você? - eu digo, olhando para ela. Sarah encolhe os ombros e olha para suas mãos, como se esperasse que raios de luz surgissem delas a qualquer momento. — Nada ainda - ela diz franzindo a testa. — Ainda sou só uma humana normal. Sarah tenta agir normal, mas eu posso ver que isso está a incomodando. Depois de tudo que ela já fez por nós, pelo John em particular, isso me parece um enorme descuido por parte da Entidade não dar Legados a ela, escolhendo outros humanos para desenvolvê-los. — Pelo o que John nos contou, Sam descobriu que ele tinha Legados quando um píken estava quase caindo em cima deles - eu digo. — Talvez você só não esteve em uma situação onde eles pudessem se desenvolver. — Sim - Marina diz, entrando na conversa. — Falando por experiência, os Legados têm o hábito de só se manifestarem quando você precisar deles. — Oh, ótimo - Mark diz. — Então, se nós ficarmos por aí encarando a morte, talvez haja uma chance de pelo menos morrermos com super poderes. — Sim. Talvez. - eu o respondo. — Ou talvez a Entidade não escolheu ninguém – Adam diz. — Talvez seja aleatório.

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— Diz o Mogadoriano com Legados - reponde Mark. — Seja como for, está bom - Sarah diz, claramente tentando mudar de assunto. — Eu não estou contando que isso aconteça. Então, tanto faz. Mas isso não significa que eu não posso ajudar de outras formas. Eu acabei de falar com o John antes de pousarmos. — Ele está a caminho? – pergunto. — Ele deveria estar trazendo as grandes armas com ele. — Eu não sei se isso vai acontecer - Sarah responde, com uma carranca que só pode significar uma má notícia. — O governo não está exatamente cooperando. Tipo, eles querem lutar, mas não querem perder. — Que merda significa isso? — Que eles estão sendo uns vadios - Mark explica. — Eles não querem se jogar em uma luta contra o Setrákus Ra a menos que eles saibam que vão vencer. Então, eles vão nos apoiar, mas eles não vão lutar com ele. Ainda não, de qualquer maneira. — Patético - eu digo. Sarah olha para Adam. — John ainda quer que você consiga aqueles aparelhos dos Escumadores. — Assim ele pode transformar essa tecnologia para o exército que não vai nos ajudar? - Adam pergunta, com uma sobrancelha levantada. — Basicamente. — Eu já cuidei disso. Eu tirei delas antes de colocar os explosivos nas naves - Adam responde, olhando para mim. — Se vamos ou não entregá-los? Isso nós decidimos depois. — Por que diabos nós vamos entregar se ele não vão nos ajudar a lutar? - pergunto a Sarah. Todo esse acordo parece terrivelmente com o que a Agente Walker nos descreveu de volta em Ashwood Estates. ProMog. Mesmo agora, com as grandes cidades praticamente como crateras fumegantes, o governo ainda está jogando e tentando ser legal com os alienígenas recém chegados. — Por diplomacia? - Sarah responde, encolhendo os ombros como se a situação estivesse fora do seu controle. A qual obviamente está. Como normalmente, nós estamos sozinhos. — John acha que eles podem nos

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ajudar, uma vez que eles verem um modo de vencer os Mogs. — Quando ele vai chegar aqui? - Marina pergunta. O rosto da Sarah fica triste. — Mais más notícias. Cinco está com Nove de refém em Nova Iorque. Eu ouço estalos de gelo nos punhos de Marina. — O quê? — Sim, não é bom - Sarah responde. — John e Sam estão tentando achá-lo e impedi-lo antes de... bem, o que quer que seja que aquele psicopata está planejando. — Eu deveria tê-lo matado – murmura Marina. Eu lanço um olhar rápido pra ela. Ela tem sido tão pacifica enquanto nós estivemos no Santuário, tão parecida com a antiga Marina, toda da não-violência e serena. À primeira menção do Cinco, e a sua 'escuridão' vem à tona. Sarah continua, sem escutar Marina. — Uma vez que eles tenham resolvido isso, John estará a caminho, mas... Eu olho para a linha de árvores da selva. O sol já está começando a baixar. — Ele não vai chegar a tempo - eu digo, sentindo um nó em meu estômago. — Vai ser só a gente. — Ele vai tentar - Sarah insiste, e eu tenho certeza de que ela está esperando o seu namorado aparecer no horizonte como se fosse um herói, ele e Sam apoiados com as forças armadas dos Estados Unidos. Eu não me iludo com isso. — Nós precisamos voltar ao trabalho - eu digo. — Tudo precisa estar pronto. — Ou nós poderíamos ir embora - Mark diz, levantando as mãos. Quando ele recebe um olhar feio de Marina, ele recua. — Está certo, está certo. Mostre-me onde eu tenho que cavar. Nós começamos a trabalhar. Primeiramente, Adam coloca o corpo retorcido de Areal na nave da Lexa. A Chimaera parece um pouco melhor agora, como se a tensão estivesse saindo dos seus músculos, mas ele ainda não consegue mudar de forma e não está nem perto pronto para um combate. Ele vai ter que ficar observando tudo de longe.

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Lexa quer ver os dispositivos que nós retiramos dos Escumadores, então Adam e eu mostramos a ela onde os empilhamos na tenda da munição. Cada um é uma solida caixa de mais ou menos o tamanho de um laptop. — Eles estavam atrás dos controles de pilotagem dos Escumadores - Adam diz, manuseando a porta de trás de um dos dispositivos, cheia de cabos. — Eu tentei mantê-los o mais intacto possível. Nós os colocamos em uma mochila de pano e levamos para a nave da Lexa, prontos para serem entregues para os nossos amigos generosos no governo, que, no trato vai estar nos dando um bando de nada. Com certeza, isso presumindo que consigamos sair do México vivos. — Vai funcionar? - eu pergunto a ela. — Eu acho que sim - Lexa responde. Ela tira a borracha de um cabo e, em seguida, conecta o fio exposto na porta de alimentação do dispositivo de camuflagem. — Eu acho que não vamos ter certeza até tentarmos passar pelo campo de força deles. Indo em direção de uma nave de guerra em uma nave lórica remodelada que pode ou não passar pelo campo de força impenetrável que há a sua volta. Essa é uma situação que eu não estava à procura. — Se não funcionar... — Nós poderíamos explodir. - ela diz, antes que eu possa terminar. — Não vamos apressar isso, ok? Enquanto Adam e Lexa continuam arrumando o dispositivo no sistema da nave lórica, o resto de nós vai trabalhar na cova em à frente entrada do Santuário. Adam conseguiu algumas pás que estavam enterradas nos equipamentos dos Mogadorianos, aparentemente eles desistiram de tentar cavar a sua entrada para o Santuário há muito tempo. Mark parece um pouco feliz demais em tirar a camisa e começa a jogar pás de terra sobre o seu ombro. Bernie Kosar se junta à ele alegremente, e a Chimaera se transforma em uma toupeira larga. Com os seus três dedos-garras, Bernie Kosar faz chover sujeira para fora da cova. Parece que ele está tendo uma explosão de energia. Mark, por outro lado, não dura muito tempo entusiasmado.

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O calor da selva logo toma controle. — Isso é uma merda! - eu escuto ele reclamar várias vezes para Sarah, enxugando o suor da sua testa. — Espere até os Mogs aparecerem e começarem a atirar na gente. - Sarah responde. — Você vai ficar desejando que tivesse mais trabalho manual. Logo em seguida chegamos a uma camada de terra que é muito dura para que consigamos cavar com a pá. É muito mais fácil quando Adam vem e faz uma explosão sísmica para acabar com essas rochas, e então Marina e eu usamos a nossa telecinese para tirar as grandes rochas da cova e esconder a terra e as pedras na selva.

Eventualmente, nós temos um buraco cavado. Agora que nós terminamos, Marina e eu usamos cuidadosamente a nossa telecinese para levantar o nosso cubo depois de remover as sujeiras, e colocamos de volta no lugar. Ele está suspenso sobre a nossa cova, muito precariamente, mas parece muito natural para quem não sabe a diferença. Eu tenho certeza que ele vai ceder fácil, quando o Setrákus Ra cair dentro do buraco de nove metros, para que ele não seja capaz de pular para fora. Com sorte, dentre essa e as outras armadilhas, nós conseguiremos distraí-lo para conseguir entrar a bordo da Anúbis. De volta à forma de beagle, Bernie Kosar fareja a borda escondida da cova, abanando o rabo. Ele parece aprovar. — O que agora? - Mark pergunta, tirando o pó das mãos. — Nós vamos colocar alguns arcos de disparo automático escondidos ou algo assim? — Eu não vi nenhum tipo de arco espalhados por aí - Adam responde, coçando o queixo. — Mas nós podíamos fazer algumas lanças com os galhos das árvores. Como você está em talhar? Ou Adam realmente não conseguiu perceber que Mark estava sendo sarcástico com ele ou realmente gosta de fazer armadilhas. — É, vamos deixar assim mesmo. - Mark responde, se afastando.

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Sarah e companhia, na verdade, tiveram a grande ideia de trazer alguns suprimentos. Todo mundo faz uma pausa, passando garrafas de água e comida. Todos nós fazemos um bom trabalho fingindo que não estamos assustados pelo inferno que está por vir. Eu paro um pouco longe de todo o resto da nossa gangue, comendo o meu sanduíche e pensando sobre a nave lórica parada na pista de pouso. Alguma coisa está me incomodando, mas eu não consigo descobrir o quê. É como se tivesse uma voz baixinha gritando um aviso no fundo da minha mente e eu não consigo entender o que está dizendo. Vendo-me presa em encarar a nave, Lexa se aproxima. — Você acha que vai funcionar? - ela me pergunta, inclinando a sua cabeça para as nossas armadilhas. — Você está me perguntando se nós vamos vencer essa batalha de hoje graças a um grande buraco e algumas armas escondidas na mata? - eu balanço a minha cabeça solenemente. — De jeito nenhum. Mas talvez nós consigamos estragar os planos do Setrákus Ra de alguma forma. — Eu sei que isso provavelmente não significa muito vindo de mim - Lexa começa hesitante, claramente desconfortável. — Mas você é uma ótima líder, Seis. Você está mantendo todos juntos. A sua Cêpan ficaria orgulhosa. Diabos, todos de Lorien ficariam orgulhosos da luta em que vocês estão se metendo. Eu posso ver que a Lexa não se refere só por hoje, ela se refere a todo o tempo na Terra, sobrevivendo contra os Mogadorianos. Eu a observo pelo canto do olho. Eu reconheço uma qualidade semelhante nela. Ela é uma sobrevivente. Eu me pergunto se é nela que eu vou me transformar se essa guerra durar muito tempo; uma pessoa que evita fazer ligações com os outros, porque já sofreu muito. Talvez eu já seja assim. — Sim - eu respondo sem jeito. — Obrigada. Lexa parece satisfeita com essa breve troca. Ela provavelmente me entende assim como eu entendo ela, e eu não quero um momento meloso. Com uma das mãos, ela aponta para selva, para oeste. — Quando estávamos pousando aqui, eu vi uma pequena clareira a alguns quilômetros daqui. Eu vou colocar a nave lá, longe do Santuário.

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Vou levá-la sob o dossel para que eles não sejam capazes de ver. — Bem pensado - eu respondo. — Não quero que o Setrákus Ra saiba que estamos aqui. — Sim. Há uma boa chance de que ele pense que vocês fugiram. — Elemento surpresa é praticamente a única coisa boa que temos. — Às vezes é tudo que é preciso - Lexa responde, e então me deixa, caminhando em direção a nave. Nossa nave, ela disse. Eu observo ela ir. Ainda há uma vozinha gritando na minha cabeça, mais alta agora, mas ainda não consigo entender. Eu não sei o que está tentando me dizer. — Seis? Você ouviu isso? É Marina, caminhando na minha direção com uma mão pressionada na sua têmpora como se alguma coisa estivesse lhe dando uma enxaqueca. — Ouvi o quê? - eu pergunto a ela. — É como... é como uma voz - ela diz. — Oh, Deus, talvez eu que esteja ficando louca. E é quando eu percebo que o que está me incomodando não é a voz da minha consciência ou um alerta mental se descontrolando. É literalmente uma voz na minha mente. Uma que não me pertence e está desesperadamente tentando ser ouvida. — Você não está louca. Eu ouvi também. Eu foco no zumbido estridente e, no mesmo momento, a voz se torna perfeitamente clara, mas ainda distante, como se viesse através de um túnel. “Seis! Marina! Seis! Marina! Vocês podem me ouvir?” Marina e eu nos encaramos. Essa voz telepática pertence à Ella. John mencionou que os seus Legados ficaram mais aprimorados, mas sua telepatia deve estar seriamente forte para que ela seja capaz de transmitir a essa distância para mim e Marina. A cada segundo que passa a sua voz fica mais clara na minha cabeça. Isso só pode significar que ela está chegando mais perto. — Ella! - eu digo em voz alta, não acostumada a utilizar a comunicação telepática. — Onde você está? O que está acont...?

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Ela me interrompe telepaticamente com um grito. “O que vocês estão fazendo aí? Eu avisei o John! Ele deveria ter avisado vocês”. — Ele nos avisou - Marina diz. — Nós estamos aqui para tentar ajudar você. E para proteger o Santuário. “NÃO! Não, não, não, não!” - Ella soa um pouco perturbada e definitivamente em pânico. “Ele deveria ter avisado vocês.” — Nos avisar sobre o quê? - eu pergunto. “Avisar para fugir!” - Ella grita. “Vocês precisam correr!” ” CORRAM OU VÃO MORRER!”

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marina e eu nos fitamos, ambas congeladas. Essa é a parte ruim sobre profecias de morte entregues por chat de grupos telepáticos. Não fica claro a quem ela se destina. Ella está falando sobre mim? Marina? Nós duas? Todos aqui? Droga, eu não acredito que o futuro está escrito numa pedra. Não acredito em destino. Não vamos fugir agora. Não sem antes tentar executar nosso plano. Depois de um momento de incerteza, vejo uma chama de determinação nos olhos de Marina. — Não vou fugir - ela diz. — Nem eu - respondo, já lamentando esses últimos segundos que gastamos paradas. — Vai! Coloque os outros em posição! Marina corre na direção de Sarah e dos outros. Disparo na direção oposta, atravessando a pista de pouso tentando chegar à Lexa. Ela ouve minha aproximação e se vira no topo da rampa, com uma sobrancelha levantada para mim. — Ele está adiantado - digo a ela. — Merda.

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— Voe baixo, assim eles não poderão vê-la. Eu não tenho certeza de quão perto eles estão. “PERTO!” - Ella grita em meu cérebro. Eu recuo com a altura. — Você sabe que eu tenho algumas armas nessa coisa, certo? - Lexa pergunta, apontando seu dedão para a nave. — Eu posso ajudar a acabar com eles. — Não. Esse é nosso único plano de fuga. Não podemos arriscar que a nave seja danificada. — Você que sabe, Seis - Lexa responde. — Vou esconder essa coisa e voltar para cá. — Não - eu digo, balançando minha cabeça. — Não volte. Não podemos arriscar perder nosso piloto também. Estacione e esconda a nave, e então espere. Se as coisas estiverem ruins aqui, eu quero que esteja pronta para nos tirar daqui. Talvez precisemos correr. — Tudo certo - Lexa diz, se mantendo fria. Ela ruma para a selva ao sul, onde as pedras quebradas das construções antigas ainda estão visíveis. — Vou estar a um quilômetro e meio, Seis. Em linha reta daqui. Mark tem um rádio conectado ao painel se precisar entrar em contato. — Entendido. — Boa sorte - Lexa responde. O que ela realmente quis dizer é sobreviva. Lexa coloca a nave no ar e voa baixo o bastante que até as copas das árvores encostam na nave. Assim que ela está fora de visão, olho para o horizonte - ainda sem sinal da Anúbis - e então corro na direção da floresta do lado oriental do Santuário. É onde os outros estão reunidos, um bom lugar para se esconder - há uma abundância de densa folhagem e um tronco tombado que podemos usar para nos proteger. Dali, podemos ver a frente do templo e a porta lateral. É o lugar perfeito para ativar nossas armadilhas. Podemos ver também a Anúbis chegando quando for a hora, o que deve estar perto agora. — Ella? - parece estrando dizer seu nome alto, mas não consigo digerir toda essa coisa de conversa-dentro-da-minha-cabeça. Gostaria de saber

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se Marina ainda está ligada à conversa telepática. — Que diabos? Você disse a John ao nascer do Sol! “Setrákus Ra não parou para reunir reforços. Ele está muito . . . animado para chegar aqui”. Bem, essas são boas notícias, pelo menos. Setrákus Ra não reabasteceu suas tropas depois de deixar Nova Iorque. Isso significa que não teremos que lidar com tantos. Mesmo assim, eu estou mais do que um pouco assustada com a primeira notícia de Ella. — O que você quis dizer antes? Quem vai morrer? “Eu . . . eu não sei. Foi uma visão. Não muito clara. Mas eu vi sangue. Muito sangue. E eu não valho a pena, Seis! Vocês podem sair agora, escapar e...” Percebo que Ella está escondendo alguma coisa, não está sendo totalmente honesta sobre o que sabe. John me disse que os Legados dela foram amplificados, mas essa clarividência dela não é a prova das falhas. Não pretendo mudar nosso plano baseado na visão do futuro que ainda possamos ser capazes de mudar. — Vamos ficar - digo firmemente, esperando que ela possa detectar a determinação em minha mente. — Vamos tirar você dessa nave. Está me ouvindo? “Sim”. — Poderíamos usar sua ajuda. Quão perto você está? O que você está vendo? “Cinco minutos, Seis. Estamos a cinco minutos”. Cinco minutos. Porcaria. — O que ele está mandando contra nós? “Ele está indo pessoalmente. Cem guerreiros prontos para ir. E eu vou estar lá também. Não poderei ajudar você, Seis. Não posso . . . meu corpo não funciona mais” Cem. Isso é muito. Podemos lidar com eles. Pelo menos se conseguirmos acertar muitos deles quando explodirmos os Escumadores. — Deve ter alguma coisa que possamos fazer, Ella. Apenas me diga como ajudar você.

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“Você não pode” - a voz dela retorna, triste e resignada. “Não se preocupe comigo. Faça o que precisa ser feito”. Adam se junta a mim e corre na direção da borda da floresta onde os outros já estão escondidos. Em vez de ir imediatamente para nosso esconderijo, ele toma um desvio para o Escumador que nós voamos até aqui e pega a espada Mogadoriana que pertenceu ao seu pai. A espada parece pesada presa às costas de Adam, mas ele acompanha meu ritmo. — Quase esqueci isso - ele diz, quando me pega olhando para a espada. — Não existe uma expressão popular sobre trazer uma faca à um tiroteio? - pergunto. Ele dá de ombros. — Você nunca sabe quando uma coisa grande e afiada pode ser útil. Nós deslizamos até o lugar onde nosso grupo está abrigado, atrás de uma árvore caída. Adam se vira e observa o céu, sua boca apertada em linha, braços cruzados. Mark está segurando o detonador para as bombas que Adam lhe mostrou como usar mais cedo. Com Mark atuando como nosso especialista em demolições, Marina está livre para focar em atirar telecinesicamente os canhões que escondemos na floresta. Sarah está de pé perto deles, com um canhão numa mão, a outra pressionada na têmpora, pálida e com a testa franzida. — Eu não aceito isso - Marina diz quando deslizo perto dela. Percebo que ela está tendo uma conversa com Ella também. — Aceitar o quê? - Mark pergunta, confuso. Sarah silencia ele com um "shh". Dando outra olhada nela, percebo que Sarah também está conectada ao canal telepático de Ella. Ela sabe que a morte pode estar chegando. — Nós vamos roubar a nave dele bem debaixo dele. Vamos resgatar você - Digo essas coisas alto, com ferro em minha voz, sabendo que Ella pode me ouvir. “Me desculpem. Isso não vai acontecer” - Ella diz telepaticamente. Posso dizer pelo modo que os olhos de Marina se enchem de lágrimas que ela pode ouvir também. Sarah cobre a boca e engole em seco, olhando pra mim interrogativamente.

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— Merda - digo. — Não se atreva a desistir da esperança - Marina praticamente grita para o espaço vazio à sua frente. — Ella? está me ouvindo? Ella não responde. Ainda posso senti-la lá, quase como cócegas ao fundo de minha mente. Sei que ela está ouvindo. Só não está nos respondendo mais. — Não me importo com o que ela diz ou quantos Mogs teremos que lutar contra - digo para Marina agora. — Se fizermos alguma coisa hoje, será tirar Ella de perto de Setrákus Ra. Nos apossar dela e levá-la de volta a nave de Lexa. — Concordo - Marina diz. — Talvez isso funcione - Sarah completa, parece que o espanto deixou seu rosto, e no lugar surge uma expressão pensativa. Como Marina e eu, ela não está recuando diante da ameaça de morte. — Quero dizer, não tinha alguma coisa com o velho feitiço Lórico de vocês que se quebrava quando se juntassem? — Isso - respondo. E daí? — Então, talvez a versão bagunçada de Setrákus Ra funcione de forma contrária - Sarah explica. — Talvez seja por isso que ele leva Ella para onde quer que ele vá. Ele tem que mantê-la perto para que isso funcione. — Faz sentido para mim - Mark diz, dando de ombros. — Não que eu seja, tipo, um especialista nessa porcaria. Definitivamente isso é uma possibilidade que vale a pena ser testada, especialmente desde que planejamos o resgate de Ella de qualquer forma. Me viro para Adam. O plano nós dois ficarmos invisíveis e entrar na Anúbis enquanto os outros criavam uma distração. — O que você acha? Ir para a nave de guerra ou para Ella? — Vocês que decidem - ele responde. — Você talvez tenha que estar debaixo do nariz dele para chegar a Ella - Sarah diz. — O que quer dizer que ele pode retirar temporariamente sua invisibilidade - Marina continua.

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— Droga - digo, minha mente trabalhando. — Tudo bem. Talvez possamos separá-los quando ativarmos nossas armadilhas. Se vermos uma oportunidade, vamos para Ella. Caso contrário, nós mantemos o plano de tomar a Anúbis - aponto para o sul. — Há algumas velhas construções em pedra naquela direção. Se forem para o sul de lá, é onde Lexa escondeu nossa nave. Se as coisas ficarem ruins aqui, se os Mogs descobrirem suas posições, eu quero que vocês três vão para lá. — E deixar vocês para trás? - Marina pergunta. — Estaremos invisíveis, pelo menos - respondo, olhando dela para Sarah. — Apenas fiquem vivos. Isso é o importante agora. Sarah concorda sombriamente e Marina se afasta, olhando na direção do Santuário. Mesmo depois do aviso de Ella, duvido que ela tenha qualquer intenção de recuar. Antes que eu possa dizer mais qualquer coisa, Adam segura meu abraço e aponta na direção da pista de pouso. — Droga! Seis, esquecemos da nossa amiga. Olho para onde Adam aponta e vejo Phiri Dun-Ra se contorcendo selvagemente contra a corrente. Na correria de ficar em posição, me esqueci completamente de nossa prisioneira Mogadoriana. Mesmo com ela encapuzada, Phiri Dun-Ra deve ter ouvido a comoção e sabe que estamos distraídos. Ela vai enlouquecer em seu estado de aprisionamento, fazendo qualquer coisa para se soltar. Nós amarramos ela a um suporte de pneus de forma bem firme, então não acho que ela vá se libertar. Mesmo assim, provavelmente não é uma boa ideia deixá-la ali quando a Anúbis aparecer. — Setrákus Ra vai perceber alguma coisa se ver ela - Adam diz, lendo minha mente. Mark levanta seu canhão e olha na mira, o cano da arma apontado na direção de Phiri Dun-Ra. — Querem que eu dê um jeito nela? Acho que consigo fazer o disparo. Marina coloca a mão no canhão e faz com que ele o abaixe. — Se quiséssemos executá-la, Mark, você não acha que já não teríamos feito isso?

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Adam me lança um olhar, como se talvez não fosse uma má ideia finalmente dar a Phiri Dun-Ra nossa misericórdia. Ele está tentando matá-la o dia todo. E eu posso entender o porquê. — Deveria tê-la preso no poço - Sarah diz com pesar. — Temos que deixá-la fora de vista - digo. Alcanço-a com minha telecinese e libero Phiri Dun-Ra de sua prisão. Isso me leva alguns segundos - com Marina atirando com os canhões escondidos, tal tarefa não é fácil a essa distância. Phiri Dun-Ra deve pensar que ela está fazendo isso sozinha. Ela tira o capuz e a mordaça, em seguida fica de pé, tropeçando, surpresa pelas cordas terem se rompido. A trueborn esfrega os pulsos por um momento, olhando ao redor e então corre para a floresta do lado oposto ao nosso. Ela está indo na direção de onde escondemos alguns canhões dos Mogs. — Seis? - Marina pergunta, com um tom de aviso em sua voz. — Você sabe o que está fazendo? Eu sei. Antes que Phiri Dun-Ra possa ir muito longe, uso as cordas que a prendiam e com minha telecinese e prendo em seus pés. Ela cai feio com o rosto no chão. Então eu a arrasto em nossa direção, poeira e sujeira se elevam no ar quando ela arranha o chão, tentando escapar. Seus gritos de frustração são altos o bastante para assustar alguns pássaros nas árvores mais próximas. — Precisamos silenciar ela - Adam diz. — Marina, puxe-a - respondo. Enquanto Marina assume meu lugar com sua telecinese, eu foco nas nuvens vagando no céu do anoitecer. Eu não quero criar uma tempestade propriamente dita - não com a Anúbis e Setrákus Ra tão perto. Felizmente, não precisei de uma. Há uma nuvem escura com carga o bastante para gerar um pequeno raio. Eu mando este arco em Phiri Dun-Ra, acertando-a em cheio. Acho que há uma chance disso matá-la, mas eu não tenho muito tempo para me preocupar com isso. A Mogadoriana espasma quando a eletricidade passa por ela, então para de resistir a telecinese de Marina. Ela não desintegra, então acho que ainda está viva.

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Quando Marina arrasta Phiri Dun-Ra para a linha das árvores, Adam agarra ela por baixo dos braços e a puxa o resto do caminho. Ele empurra ela para de trás do tronco que estamos nos escondendo e começa a prender novamente seus pulsos e tornozelos. — Então, vocês fazem prisioneiros agora? - Mark pergunta. — Ela pode vir a ser útil - respondo, dando de ombros. — Não podemos continuar arrastando ela por aí - Adam diz assim que termina de apertar os nós. — Vamos deixá-la aqui. Ela mencionou amar selvas, certo? - digo, com um sorriso no rosto. Temos coisas maiores para nos preocupar do que o destino de Phiri Dun-Ra. — Não vamos azarar nossa chance de sobrevivência por fazer muitos planos - Mark diz. Antes que qualquer um possa responder, a selva ao nosso redor se torna estranhamente calma. Estava tão acostumada com o incessante som dos pássaros que é absolutamente chocante quando ele some. Até mesmo o som dos insetos se reduz até desaparecer. Através da clareira que os Mogs fizeram ao redor do Santuário, ao norte, uma revoada inteira de pássaros voa das árvores e se dispersa. A Anúbis está aqui. Eu estendo minhas mãos e braços. — Segurem - digo a todos. — Vou nos manter invisíveis até estarmos prontos para atacar. Marina segura uma de minhas mãos e Sarah a outra. Mark, com o detonador pronto, segura meu ombro. Adam é o último. Ele me dá um aceno de cabeça, provavelmente se lembrando de quando eu disse a ele como é estranho foi ficar de mãos dadas com um Mogadoriano. Até que tudo isso acabe, nós dois estaremos ligados nos quadris. Aceno de volta, por cima do ombro, e ele se aperta ao lado de Marina, suas mãos em meu braço. Apenas Bernie Kosar não se aproxima de mim. Em vez disso, nosso Chimæra se transforma num tucano e voa para uma árvore próxima. É um pouco engraçado, nós cinco amontoados dessa forma. É quase como se estivéssemos posando para uma foto.

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Deixo-nos invisíveis no exato momento em que a Anúbis plana em nosso campo de visão. A nave de guerra é ainda maior do que eu imaginei. Toda ela é feita de placas de metal cinzento sobrepostas que chegam parecer uma báscula. Tem o formato daqueles insetos egípcios –escaravelhos - exceto pelas toneladas de armas, o maciço canhão que se projeta de frente da nave particularmente na direção dos meus olhos. — Deus - Sarah sussurra. — Puta merda - Mark diz, um pouco alto. Sua mão aperta meu ombro. Enquanto a Anúbis se arrasta pesadamente para cada vez mais perto, a clareira inteira e o Santuário são tragados por sua sombra. — Com calma agora - digo, tentando não surtar. — Fiquem quietos e por perto. Eles não podem nos ver. A nave enorme para, e então fica pairando sobre o acampamento dos Mogs. Mesmo considerando a larga faixa de floresta que os Mogs desmataram, a nave de guerra ainda é tão grande que não há espaço para ela aterrissar. Adam deve ter percebido que a Anúbis pairando sobre o campo de batalha meio que ferrou com nossos planos. — Teremos que encontrar um jeito de subir até lá. — Se ele aterrissar alguma tropa, nós podemos acabar com eles e voar com um dos Escumadores deles até lá em cima - respondo. É exatamente a tática que John e os militares ausentes dos EUA querem usar contra as naves de guerra dos Mogs, então quem melhor do que nós para sermos as cobaias? — O que ele está fazendo? - Sarah pergunta. — Pelo que eles estão esperando? Ella parou de transmitir telepaticamente para nós há alguns minutos, e agora me pergunto se é apenas minha imaginação que posso sentir sua presença ao fundo de minha mente. Se ela ainda está lá, se ela pode me ouvir, poderíamos definitivamente usar sua ajuda. — Ella? - pergunto, me sentindo estúpida dizendo seu nome alto dessa forma. — Pode me ouvir? O que está acontecendo aí em cima? Não obtenho resposta.

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— Marina? Sarah? Ela está...? — Nada, Seis - Sarah responde, uma voz sem corpo falando sobre outra. — Acho que ela se foi - Marina continua. Mas então acontece. Um sussurro ao fundo de minha mente. A voz de Ella, desamparada e sem esperança. “Vocês deveriam ter fugido”. No ar sobre nós, um zumbido começa a emanar da Anúbis. É notável porque ao contrário a nave é incrivelmente silenciosa. Começa devagar, mas aumenta rapidamente. Logo depois, meus dentes estão vibrando devido ao ruído. Eu observo o casco inferior da nave, esperando ver soldados de Setrákus Ra descendo em Escumadores, mas o céu está claro. — Que diabos é aquilo? - pergunto, com esperança de que Adam irá me responder. — Está... está se energizando - Adam responde. Sua voz está trêmula e eu sinto sua mão afrouxar em meu braço, como se estivesse atordoado e se esqueceu de que precisa segurar em mim para se manter invisível. — Energizando o quê? - pergunto. — A arma principal - ele responde. — O canhão. Posso vê-lo. O buraco negro do cano do canhão começa a brilhar quando a energia começa a se acumular ali. O zumbido se torna mais alto conforme o canhão é preenchido de pura energia, como os pequenos canhões Mogadorianos se carregando. Em segundos, o Santuário e a floresta ao redor dele estão banhados por uma luz azulada. Eu sinto vontade de cobrir meus olhos, mas Marina e Sarah estão segurando minhas mãos com força. — Isso é mal - Mark diz. — Muito mal. — Adam? - Grito para que ele me ouça devido ao som de carregamento da arma. — Quão poderosa é aquela coisa? Como um grupo, todos nós recuamos. Eu mal consigo saber onde cada um está para manter a invisibilidade. — Precisamos nos mover - Adam responde, o temor sumiu de sua voz, substituído pelo terror. — Precisamos recuar!

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Todos recuam, deixando apenas Phiri Dun-Ra escondida atrás do tronco caído. Marina resiste ao meu puxão. Ela não está se movendo. — Marina! - grito. — Vamos! — Falamos que não iríamos fugir! - ela grita de volta. — Mas—! O zumbido atinge uma intensidade enorme e a energia absorvida na nave é descarregada com um som ensurdecedor. Um sólido arco de eletricidade do tamanho de dez mil raios cortando o ar desce na direção do Santuário, acertando-o, as pedras antigas brilhando em um vermelho quente. O tiro do canhão atravessa o templo do topo à base, como se não fosse nada. Eu tenho apenas um momento para perceber o Santuário, ainda de pé, mas partido ao meio. Posso ver luz através da parede que antes era sólida. Um segundo depois a energia condensada do canhão se expande para fora em uma onda de luz ofuscante. O Santuário explode. — NÃO! - Marina grita. Nós estragamos tudo. Setrákus Ra não veio até aqui para entrar o Santuário. Ele veio para destruí-lo. Eu não tenho tempo para pensar no que isso significa ou no que acontece depois. Adam me puxa para trás e vamos cambaleando para a selva, no momento em que o templo começa a ruir ao nosso redor. Perco o punho de Marina e ela se torna visível novamente. A mão de Mark solta meus ombros e ele reaparece também. Apenas Sarah e Adam ainda se seguram em mim. Marina, na verdade, corre para frente como se fosse capaz de lutar contra a nave. — Pare! - grito. — Marina! Pare! Mark reage rapidamente, seus reflexos de jogador ressurgindo naturalmente. Ele se joga contra ela, envolve seus braços ao redor da cintura de Marina e a derruba. — Saí de cima de mim! - Marina grita para Mark. Ela empurra ele para longe, impressões digitais congeladas se formam em seu peito.

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Então, mais alguma coisa explode. Um dos Escumadores que armamos com C-4. Deve ter sido atingido diretamente por uma parte do Santuário e disparado a bomba. Estilhaços voam ao nosso redor, pedaços de metal retorcido chiam quando rasgam as folhas das árvores. Mark perde a respiração e tropeça. Há um pedaço irregular de vidro do painel do Escumador sobressaindo de seu peito. — Mark! - Sarah grita, se soltando de mim e correndo na direção dele. Marina vê o ferimento de Mark e suspire. Ela se volta para o Santuário e cai de joelhos ao lado dele, arrancando o pedaço de vidro e imediatamente começando a curá-lo. Ramos de árvores se quebram acima da minha cabeça e eu olho para cima a tempo de ver um pedaço do tamanho de um taco de baseball de calcário cair em minha direção. Em reflexo, eu uso minha telecinese para pegá-lo e jogá-lo para o lado. Eu não consigo pegar o próximo. Me acerta no topo da cabeça. Antes de eu perceber o que aconteceu, alguma coisa pegajosa e quente cobre um lado do meu rosto. Adam me segura em seus braços enquanto eu caio de joelhos. Estamos ambos invisíveis agora. Devo ter perdido minha concentração. Eu tento por força em minhas pernas, para focar na minha invisibilidade, mas não consigo fazer nenhuma das duas coisas. Minha cabeça gira e eu sinto gosto de sangue. — Me ajuda! - Adam grita para Marina. — Seis está ferida! Tento me manter consciente, mas é difícil. O mundo está ficando escuro, como se tudo o que tivéssemos lutado se acabasse em chamas. Ella nos avisou de que poderia haver morte. Me sentindo quase desconectada do meu corpo, eu me pergunto se é a hora. Enquanto perco a consciência, ouço a voz de Ella em minha cabeça. “Me desculpem” - ela diz.

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eu não tenho tempo para essa porcaria.

Cinco quer me encontrar ao pôr-do-sol na Estátua da Liberdade. Isso soa como um plano de um super vilão. Ele está mantendo Nove como refém e planeja matá-lo se eu não aparecer. Eu não sei o que ele quer de mim. Nas Nações Unidas me pareceu que ele estava tentando nos ajudar apesar de seu jeito psicótico. Ao menos, ele evitou que eu machucasse Ella involuntariamente. Claro, ele possivelmente não sabe que estou contra o tempo aqui, que cada minuto desperdiçado em seus joguinhos é um minuto não gasto ajudando Sarah, Seis e os outros. Se ele soubesse, ele iria se importar? Mandei Sarah e Mark para o México com a recém-descoberta loriena, hacker e piloto, que mal posso esperar para conhecer. Eu os mandei para lá porque eles são literalmente a única ajuda que eu pude arranjar para Seis e o resto da Garde que estão à espera da luta principal. Pelo menos eles podem escapar agora. Eles não estão encurralados. Seis e Sarah são espertas o bastante para evitar perdas e sair de lá. Isso é o que continuo dizendo a mim mesmo.

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Faço um rápido cálculo mental. Mesmo se a Agente Walker pudesse, de alguma forma, convencer os militares a me emprestar seus caças mais rápidos, eu ainda não seria capaz de chegar ao México antes de Setrákus Ra. Não mais. Isso não quer dizer que não vou tentar. — Pode pelo menos me conseguir um barco? - pergunto a Walker. Tendo deixado o caos das docas para trás, estamos novamente na barraca da agente do FBI. — Para levá-lo à Estátua da Liberdade? - Walker assente com a cabeça. — Sim, posso conseguir isso. — Mas tem que ser agora - respondo. — Eu preciso agora. — Cinco disse ao pôr-do-sol. Isso é quase daqui a uma hora - Sam acrescenta sombriamente. Sei que ele está fazendo os mesmos cálculos que eu. Ele sabe que não chegaremos a tempo ao Santuário. Não a menos que deixemos Nove à mercê do destino que Cinco têm reservado para ele, e nenhum de nós deseja seguir por esse caminho. — Não vou esperar. Não estamos no tempo de Cinco. Ele provavelmente está sentado agora preparando uma armadilha ou coisa parecida. O que quer que seja o que ele faz. Vamos mais cedo. Se ele não estiver lá, então esperaremos pelo bastardo. — Boa ideia - Sam diz concordando. — Vamos fazer isso. — Faça isso - digo a Walker, e caminho para fora da barraca. Daqui, no Brooklyn Bridge Park, podemos ver a Ilha da Liberdade. O contorno verde da famosa estátua é visível contra o céu enevoado. Não levará muito tempo para chegarmos lá. Dessa distância não posso discernir nenhum detalhe. Não posso dizer se Cinco está lá ou se preparou alguma armadilha para nós. Isso não importa na verdade. O que nós encontrarmos, vamos enfrentar de cabeça erguida. Sam me segue para fora. — O que vamos fazer? - ele me pergunta. — Quero dizer, com Cinco. — O que precisarmos - respondo.

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Ele fica em silêncio e cruza seus braços, também olhando para a estátua sobre a água. — Você sabe, eu sempre quis ver a Estátua da Liberdade - é tudo que ele consegue pensar em dizer. Dentro da barraca, posso ouvir Walker gritando em seu walkie-talkie. Eventualmente, ela nos consegue uma lancha da guarda costeira. O barco não tem artilharia como aqueles da marinha que avistei no porto, mas isso nos levará rápido à Ilha da Liberdade. Walker também chama agentes de sua confiança, integrando a equipe com três caras que conheço da força tarefa anti-ProMog que nos ajudou a ir atrás do secretário de defesa. Acho que eles foram os únicos que sobreviveram a batalha com Setrákus Ra nas Nações Unidas. Um deles é o cara que eu curei durante o primeiro conflito em Midtown, aquele em que Sarah postou o vídeo por toda internet. Ele quase parece envergonhado quando aperta minha mão. — Agente Murray - ele introduz a si mesmo. — Nunca tive a chance de agradecer. Pelo outro dia. — Não se preocupe com isso - digo a ele, então me viro para Agente Walker. — Não precisamos de apoio. Apenas do barco. — Me desculpe, John. Não posso deixar vocês dois ir lá sozinhos. Vocês são de interesse do governo agora. Bufo. — Oh, somos? — Você é. Não vou perder tempo discutindo sobre isso. Eles podem ir se quiserem. Vou na direção das docas, Sam ao meu lado, e Walker e seus agentes se espalham ao nosso redor como guarda costas. Como sempre, recebo olhares dos soldados no caminho. Alguns deles parecem querer ajudar, mas tenho certeza que estão sob ordens para não se envolverem conosco. Agente Walker e o que restou do seu grupo de agentes ProMog é toda a ajuda que o governo está disposto a nos conceder nesse

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momento. Ao menos eles melhoraram suas armas, tendo os agentes trocado suas pistolas habituais por pesados rifles de assalto. — Hey! John Smith de Marte! Espere! Me viro a tempo de ver Daniela espremer seu corpo desengonçado por um grupo de soldados e trotar em nossa direção. Os agentes que nos rodeiam erguem imediatamente seus rifles e, vendo isso, Daniela derrapa até parar há alguns metros com as mãos para cima. Ela olha os agentes do FBI com um sorriso arrogante no rosto. — Está tudo bem, acalmem-se - digo a Walker e seu grupo, apontando para Daniela. — Ela é uma de nós. Walker levanta uma sobrancelha. — Você quer dizer...? — Uma Garde humana - digo, mantendo minha voz baixa. — Uma das pessoas que Setrákus Ra quer junto dele. Walker avalia Daniela. — Ótimo - ela diz secamente. Daniela apenas amplia seu sorriso. — Vocês rapazes estão indo em uma aventura o algo assim? Posso ir? Franzo a testa um pouco pela forma que ela está levando tudo isso, e, troco um olhar com Sam. — Você encontrou sua mãe? - Sam pergunta a ela, e o sorriso de Daniela falha por um instante. — Ela não está aqui, e ela nunca deu entrada na Cruz Vermelha - Daniela responde, encolhendo os ombros como se não fosse nada. Mesmo que ela esteja tentando manter o tom de voz normal, sua voz está trêmula e posso dizer que ela espera o pior. — Provavelmente ela saiu da cidade de outro jeito. Tenho certeza de que ela está bem. — Sim, com certeza - Sam responde, forçando um sorriso. — Estamos a caminho de confrontar um Garde trapaceiro - digo a ela abruptamente. Walker me lança um olhar, mas não tenho motivos para mentir. Todas as cartas na mesa. — Whoa. Existem trapaceiros, tipo, da sua espécie?

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Penso sobre Cinco e como ele se virou contra nós e penso em Setrákus Ra e as incontáveis coisas horríveis que ele fez. Ele costumava ser um Garde também, talvez algo maior que isso, se pudermos acreditar na carta de Crayton para Ella. Então, olho para Daniela e considero ela e os outros humanos com Legados que ainda não encontramos. Eles irão lutar pelo bem? Ou alguns deles irão se voltar para Setrákus Ra como Cinco fez? — Somos pessoas, como quaisquer outras - digo a ela. — Exceto pelos poderes incríveis - Sam acrescenta. — Como qualquer um – continuo, — podemos nos tornar maus sem a devida orientação. Daniela está novamente com um sorriso travesso no rosto. É quase irritante, mas estou começando a perceber que é apenas um mecanismo de defesa. Quando ela se sente desconfortável, ela tenta com todas as forças devolver o favor. — Beleza. Entendi. Você vai ser meu guia, John Smith? Meu sensei? — Nós os chamamos de Cêpan, na verdade. Nossos treinadores. Mas eles se foram. Agora, aprendemos as coisas por nós mesmos. Agente Walker pigarreia. Acho que ela quer que eu me livre de Daniela, mas não estou recusando ajuda. De jeito nenhum. — Pode vir conosco - digo. — Mas você deve saber de uma coisa: o cara que estamos atrás é extremamente perigoso. — Desequilibrado - Sam acrescenta. — Ele já matou um de nós – continuo, — e eu não acho que ele vá hesitar em fazer isso novamente. Quando acabarmos com ele, nossa amiga Agente Walker aqui vai nos conseguir um avião de alguma maneira, e vamos achar um jeito de matar o Mogadoriano no controle antes que a invasão dele prossiga. — Você está tentando me assustar? - Daniela pergunta com suas mãos nos quadris.

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— Só quero que saiba no que está se metendo - respondo. — Durante o caminho, posso tentar te ajudar com sua telecinese. Talvez descobrir o que mais você pode fazer. Mas você tem que dar seu melhor... Daniela olha por cima de seu ombro. Percebo que, mais do que qualquer coisa, ela quer sair daqui. Ela quer se manter ocupada e evitar confrontar a real possibilidade dela ter perdido toda sua família durante o ataque a Nova York. — Estou dentro - ela diz. — Vamos salvar a porcaria do mundo. Sam sorri e não posso fazer nada a não ser dar um pequeno sorriso também, especialmente quando percebo a Agente Walker revirando os olhos. Com Daniela incorporada ao nosso pequeno grupo de agentes secretos, continuamos seguindo para o píer. — Ei - Sam diz para Daniela, mantendo o tom de voz baixo. — Só para você saber, os Mogs estavam mantendo prisioneiros em Nova York. Eles não estavam, tipo, matando tudo que se movesse. — É eu sei, eu os vi fazendo isso na minha vizinhança - Daniela responde. — E daí? — E daí, que só porque ela não está aqui não quer dizer que sua mãe... você sabe... — Sei. Obrigada - Daniela diz isso rispidamente, mas eu acho que ela realmente quis dizer isso. O barco da guarda costeira está pronto e esperando por nós, um capitão fumante vestido em um uniforme amarrotado está preparado para nos levar aonde quer que precisemos ir. Deixo Walker falando com ele e alguns minutos depois já saímos, saltando sobre as ondas. Do outro lado da água, posso ver as luzes brilhantes de New Jersey, helicópteros surgem e desaparecem de nossa visão. Parece que os militares criaram um perímetro ali também, realmente querem ter certeza que os Mogadorianos fiquem contidos em Manhattan. Olho na direção da cidade e encontro o lugar assustadoramente calmo. Ainda há Mogs lá, tenho certeza, patrulhando

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as ruas e talvez criando uma fortaleza. Espero que muitos dos moradores tenham conseguido atravessar a ponte e, se não, espero que Sam tenha razão sobre os Mogs estarem os mantendo prisioneiros ao invés de estarem matando-os. Isso significa que eles ainda podem ser salvos. Quando a Ilha da Liberdade fica maior a nossa frente, Daniela me cutuca nas costelas. — Está indo encontrar esse cara na Estátua da Liberdade? - ela pergunta. — Aham. — Cara, isso é uma porcaria para turistas. Rapidamente, atracamos as docas da Ilha da Liberdade. Meia dúzia de barcos estão flutuando ali, vazios, um deles com marcas de queimaduras em uma das laterais. Todo o lugar está deserto; ninguém está visitando a Estátua da Liberdade durante a invasão. É quase pacífico aqui. Enquanto saímos do barco, tento dar uma boa olhada no terreno. Me forço a pensar como Cinco, me perguntando onde seria o melhor lugar para uma emboscada. Tenho que inclinar minha cabeça para cima para ver a estátua. Nos aproximamos dela pelo lado em que ela segura o livro. A tocha banhada de ouro brilha no que resta da luz do dia. A grande senhora verde está sentada no topo de um enorme pedestal de granito que por sua vez fica sobre uma base de pedra ainda maior que toma quase metade da ilha. Para à direita, há um pequeno parque que parece intacto. Ele não estará escondido no parque — não é assim que Cinco trabalha. O capitão do barco fica para trás, mas o resto de nós caminha pela doca na direção da estátua. Penso na primeira vez que encontrei Cinco, como ele pegou um monumento de um monstro assustador no bosque para se revelar. Acho que o cara tem alguma coisa com marcos históricos. Ou talvez aquela estátua suja de madeira era uma pista, sobre o monstro escondido dentro de Cinco. Se este é o caso, me pergunto o

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que a escolha da Estátua da Liberdade significa. Provavelmente nada, penso, me lembrando que Cinco é um completo maluco. Ao meu lado, Daniela abafa uma risada. — Sabe, na verdade eu nunca estive aqui mesmo vivendo nesta cidade minha vida inteira. — Né, é como uma viagem de campo - Sam diz. — Uma viagem de campo que no final um maluco feito de aço sólido tenta te esfaquear até a morte. — Ninguém vai ser esfaqueado até a morte - digo. Quando entramos no plaza que se estende ao redor da base da estátua, mantenho meu olhar centrado no pedestal superior. Decidi que é o lugar em que Cinco provavelmente estará. Ele pode voar, então seria fácil para ele alcançar aquela área, e isso permitiria que ele ficasse de olho em nossa chegada. Apesar disso não vejo nenhum movimento lá em cima. Talvez ele não esteja aqui ainda. Ou talvez ele esteja se escondendo dentro da estátua. Ergo ainda mais me pescoço, tentando vislumbrar algo dentro da coroa da estátua, mas é impossível. Teremos que ir dentro da estátua para ter certeza de que está vazia. — Olha - Sam diz, baixando a voz. — Bem ali. Viro minha cabeça para esquerda, na direção do gramado perfeitamente esculpido que se estende a partir da fundação da estátua. Há um movimento. Uma forma brilhante se levanta lentamente da grama e dá passos vacilantes em nossa direção. Eu estava olhando para o lugar errado. — Vocês estão adiantados - Cinco chama. — Excelente. Dizer que Cinco parece acabado seria um elogio. Suas roupas parecem ter passado por um triturador — rasgadas, manchadas de sangue e cobertas de sujeira e cinzas. Sua pele é um aço prateado, fazendo-me pensar que ele está pronto para lutar, mesmo que pareça que ele mal pode se manter em pé. Seus traços parecem inchados e fora de lugar apesar de seu revestimento metálico, seu nariz está torto, e há entalhes visíveis na lateral de sua cabeça raspada. Ele está curvado, um braço

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balançando inutilmente ao se lado. Em seu outro braço há uma braçadeira com sua lâmina retrátil. A luz do entardecer reflete em sua pele. Imediatamente, Walker e seu time flanqueia Cinco. Eles têm suas armas apontadas para ele. Daniela vai para o lado oposto, ficando um passo atrás de mim. — Uh, vocês deveriam ter descrito o cara trapaceiro melhor - ela diz. Cinco dá uma olhada nos agentes de Walker e zomba. Mesmo que ele pareça desgastado, ter um conjunto de armas apontadas para ele parece reacender seu temperamento intenso. Seu único olho se ajusta abrindo mais e ele se endireita. — Não me faça rir com essa porcaria - Cinco diz para Walker, então se vira na direção do Agente Murray enquanto o homem aponta sua arma. — Sou a prova de balas, otário. Vamos, eu te desafio. Há algo estranho na voz de Cinco. Soa metálica e estridente, quase como se ele estivesse tendo problemas para respirar. Os agentes são inteligentes o bastante para não ficarem tão perto. Eu sei o quão rápido Cinco é. Se ele quisesse ir até um deles, ele seria capaz de chegar lá em um ou dois segundos com seu vôo. Eu caminho sobre a grama, esperando atrair a atenção para mim antes que ele faça qualquer coisa maluca. Sam fica logo ao meu lado, Daniela a alguns passos atrás. É quando percebo uma forma grumosa perto de Cinco. É uma daquelas lonas azuis de construção envolvendo o que é obviamente um corpo, tudo isso bem apertado por fortes vigas industriais. Isso tem que ser o Nove. — Me entregue ele - digo para Cinco, sem perder tempo. Cinco olha para baixo, para o corpo, quase como se tivesse esquecido que ele estava ali. — Claro, John - Cinco responde. Cinco se curva e segura as vigas. Ele retira o corpo de Nove com uma careta. Ele está machucado e cansado, e posso dizer que este show está

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o drenando mais do ele imaginou. Com um grunhido animal, Cinco lança o corpo através dos metros que nos separam. Seguro Nove no ar com minha telecinese e o desço gentilmente para o chão. Imediatamente, arranco as correntes e desenrolo a lona. Nove está deitado inconsciente na grama a minha frente. Suas roupas estão nas mesmas péssimas condições que as de Cinco, e seus machucados igualmente grotescos. Há queimaduras de tiros em seus braços e peito, uma de suas mãos está quebrada como se alguma coisa a tivesse esmagado, e há um péssimo corte em sua cabeça. Esta é a última coisa que me preocupa. Sangue empapa o cabelo negro de Nove — muito mesmo — e seus olhos não se abrem quando eu bato gentilmente em suas bochechas. Sam coloca a mão em meu ombro. — Ele está...? — Oh, ele está bem - Cinco grunhe, respondendo à pergunta que Sam me fez. — Eu tive que bater com força nele para nocauteá-lo. Você provavelmente vai querer trabalhar com isso primeiro, doutor. Coloco minhas mãos na lateral da cabeça de Nove, mas paro antes de começar a curá-lo. Isso vai requerer minha concentração, o que significa que não poderei ficar de olho em Cinco. Olho para ele. — Você vai tentar alguma coisa estúpida? Cinco levanta as mãos para cima, com as palmas abertas, mesmo que um dos braços não vai tão alto quanto o outro. Então, ele cai para trás sentado. — Não se preocupe, John. Não vou machucar nenhum dos seus pequenos amigos. Ao mesmo tempo, seu olho passa por minha equipe, observando cada um deles. O olhar de Cinco se demora em Daniela. — Você não é policial - ele diz. — Qual é a sua? — Não fale comigo, esquisito - ela responde. — Não perca seu tempo respondendo - Sam diz calmamente.

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Cinco bufa e balança a cabeça, mais admirado que nunca. Ele arranca um punhado de grama a sua frente, rasga e o joga fora com um suspiro. — Vamos logo com isso, John. Eu não tenho o dia todo. Ainda estou desconfiado de que é um tipo de armadilha, mas não posso adiar a cura de Nove por muito tempo. Pressiono minha mão na lateral da cabeça dele e deixo minha energia de cura fluir para ele. Primeiro o corte em sua cabeça se fecha. Esse é apenas o dano superficial. Intuitivamente, posso sentir mais profundo, traumas mais sérios afetando Nove. Seu crânio está fraturado e seu cérebro está inchado. Foco meu Legado ali, porém estou cauteloso para não usar mais energia do que preciso. O cérebro é uma coisa delicada e eu não quero piorar a situação de Nove mais do que era antes de ter sido esmagado. Ele talvez continue a ter uma concussão quando eu terminar, mas pelo menos o dano mais sério será revertido. Isso leva alguns minutos de apenas concentração em Nove. Estou vagamente consciente do silêncio e da tensão ao meu redor. Quando termino, tiro minhas mãos de sua cabeça. As outras lesões podem esperar até que não estejamos na presença de um lunático. — Nove? Nove, acorde - digo, chacoalhando ele. Depois de um momento, os olhos de Nove se abrem. Seu corpo tenciona e seus olhos dardejam no entorno descontroladamente. É como se ele estivesse esperando ser atacado novamente. Quando ele reconhece Sam e a mim, ele se acalma e sua expressão se torna sonhadora. Ele segura meu braço. — Johnny! Eu peguei o filho da puta. Acertei ele em cheio - ele murmura. — Pegou quem? - pergunto, e não obtenho resposta. A cabeça de Nove já está pendendo para longe de mim. Eu posso e curei suas lesões, mas eu não posso evitar sua exaustão depois de lutar pelas últimas vinte quatro horas direto. Ele está inconsciente. Nós provavelmente teremos

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que carregá-lo. Levanto meu olhar de Nove para ver Cinco ainda sentado na grama, nos assistindo. Vendo que Nove está fora de perigo, Cinco começa devagar, uma salva de palmas sarcástica. — Bravo, John. Sempre o herói - ele diz. — E quanto a mim? — E quanto a você? - digo com os dentes cerrados. — Não, na verdade, eu gostaria de uma resposta quanto a essa questão também - Walker diz, sua arma ainda apontada para Cinco. — Ele atacou nossos soldados e ajudou os Mogadorianos. Ele é basicamente um criminoso de guerra. Você quer apenas deixá-lo aqui? — Vocês têm um tipo de prisão espacial super secreta para caras metálicos do mal? - Daniela sussurra para mim. — Pro inferno com ele - Sam diz. Ele é o único que entendeu que temos coisas mais importantes para lidar. Ele acena com desdém para Cinco e se inclina para Nove tentando ajudá-lo. — Vamos lá, John. Temos que dar o fora daqui. Estou indo ajudar Sam quando Cinco fala novamente. — É isso? - ele pergunta, soando quase carrancudo. — Vocês vão apenas me deixar ir? Me endireito e o encaro. — O que diabos você quer, Cinco? Você sabe quanto tempo nós já desperdiçamos com seu teatro estúpido? - gesticulo na direção de Manhattan, plumas de fumaça ainda subindo para o ar ali. — Você não é nossa prioridade agora, cara. Você percebeu que estamos em guerra, né? Você não esteve tão longe para perder seus velhos amigos Mogs matando milhares de pessoas, esteve? Cinco olha na direção da cidade, contemplando a destruição ali. Seu lábio inferior se projeta pra fora. — Eles não eram meus amigos - ele diz calmamente. — Uma porcaria que não eram - respondo. — É uma pena que só tenha percebido isso agora. Eles usaram você, Cinco, e agora eles não te querem mais. E nem nós. Você tem sorte de eu não ter vindo terminar o que o Nove começou.

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Meu temperamento incendeia quando me lembro de todas as bobagens que Cinco tem feito no pouco tempo que o conheço. Como consequência de minhas palavras, dou um passo na direção dele. Sam coloca uma mão em meu ombro. — Não - ele diz. — Apenas vamos embora. Concordo, sabendo que Sam está certo. Eu ainda tenho algumas balas para atirar. Eu preciso retirar essas coisas do meu peito. — Eu acho que você pode ficar sozinho agora - digo a Cinco. — Isso é tipo o que você sempre quis, não é? Então, vai, corre de volta para sua ilha tropical e se esconda, ou qualquer coisa que queira fazer. Apenas saia do nosso caminho e pare de desperdiçar nosso tempo. Cinco olha para baixo para a grama a sua frente. — Você não tinha que vir - ele diz com amargura. Isso na verdade me faz rir. A insanidade pura desse cara. — Você nos fez vir aqui. Disse que mataria Nove se não viéssemos. A testa de Cinco faz um click metálico quando ele bate nela tentando se lembrar de algo. — Não foi o que eu disse para esses perdedores do exército quando eles me acharam - ele diz. — Eu disse a eles que você iria ganha uma nova cicatriz. — Por que você ainda está falando com ele? - Sam pergunta, sua voz se elevando um pouco desnorteada. Ele se inclina em direção ao corpo de Nove, passa o braço dele sobre seu ombro e grunhe enquanto tenta levantá-lo. O olho de Cinco captura o meu. Ele está focado em mim, ignorando totalmente todos os outros. Eu sei que ele está me atraindo para alguma coisa, eu só não sei o que é. Sam está certo sobre não gastarmos tempo aqui, mas eu não posso evitar. — Do que você está falando? - pergunto a ele de má vontade, sabendo que é exatamente o que ele quer. Em resposta, Cinco tira a camisa.

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Essa simples ação parece tomar muito esforço, como se fosse difícil para Cinco levantar os braços. A camisa rasga em alguma coisa quando Cinco a puxa pela cabeça e ele uiva. Depois de alguns minutos olhando para seu peito, banhado em metal como o resto dele, percebo que há algo errado. Cinco tem uma peça de metal saindo de seu esterno. Parece com um poste de uma placa de trânsito. Ele se vira de lado fracamente e então posso ver a outra extremidade irregular atravessando suas costas. Cada extremidade termina com apenas algumas polegadas, e ambas torcidas e deformadas como se Cinco as tivesse encurtado com suas mãos. Está atravessando ele diretamente, pelo que vejo, deve ter atingido um dos pulmões de Cinco e parte de sua espinha. O poste de metal pode até mesmo estar passando por seu coração. — Eu já estava na minha forma de metal quando ele me atravessou com isso. E mesmo assim, isso não o parou - Cinco explica, sibilando suas palavras um pouco. Ele olha para Nove com algo perto de admiração. — Meus instintos me tomaram. Usei minha Externa de uma forma que nunca tinha usado antes, fiz o metal se tornar parte de mim. Eu posso sentir o gelado dele dentro de mim, Quatro. É esquisito. Cinco parece quase casual sobre isso. Tento me aproximar um passo na direção dele e ele sorri. — Estou cansado e não posso manter minha Externa para sempre - Cinco diz. — Então eu quis que isso estivesse em suas mãos. Você é o cara bom, John. O racional. E você sempre esteve logo na minha frente na ordem, me mantendo vivo todos esses anos, me conhecendo ou não. Então o que vai ser? Dou mais um passo cauteloso na direção dele. — Cinco... — Viver ou morrer? - Cinco pergunta, e então, sem aviso, ele desliga sua Externa, voltando ao estado normal.

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cinco se engasga quando ele respira. uma bolha de sangue é cuspida de sua boca. Sua pele, não mais envolta pela camada de ferro, se torna pálida rapidamente. Seu olho remanescente se arregala e, nesse momento antes que eu veja seu olho revirar para trás, eu vejo medo ali. Talvez Cinco pensou que ele queria isso. Mas agora, encarando a morte cara a cara, ele está assustado. Cinco cai de costas na grama, lutando para manter a respiração em dolorosos suspiros. Dez segundos. Empalado por uma placa de trânsito, essa é a quantidade de tempo que eu diria que Cinco tem de vida. Ele nos traiu. Ele disse aos Mogs onde eles poderiam nos encontrar, fez a cobertura de Nove ser explodida. Por causa de Cinco, Setrákus Ra foi capaz de raptar Ella, e o pai de Sam foi quase morto. Ele assassinou Oito. Com aquela lâmina em forma de agulha que mesmo agora rasga pedaços do chão enquanto Cinco tem espasmos na grama. Cinco executou um de seu próprio povo. Ele merece isso. Mas eu não sou como ele. Eu não posso apenas observá-lo morrer.

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— Maldito seja você, Cinco - eu digo, rangendo os dentes enquanto corro em frente e deslizo até ele. Eu pressiono minhas duas mãos sob o peito dele e uso meu Legado de cura, colocando energia suficiente nele para pelo menos estancar alguns dos sangramentos internos, ganhando tempo para curar os ferimentos mais graves. Cinco volta um pouco em si, seu olho bom encontra o meu, e acho que peguei o canto da boca dele revirado em um pequeno sorriso. Então, ele desmaia novamente de dor e choque. Eu preciso tirar essa estaca para fora dele. Obviamente eu não li um monte de artigos médicos, mas eu tenho certeza de que se eu remover a placa, vou piorar a situação de Cinco por dentro. No entanto, eu devo estar curando ele ao mesmo tempo que o poste de metal é removido, esperando que minimize o dano. Eu arrasto o corpo mole de Cinco e o sento, apoiando-o em mim. Então eu aceno para Sam. — Eu preciso que você use sua telecinese para retirar o metal dele - digo a Sam rapidamente. — Desse jeito eu posso me concentrar na cura. — Eu... – Sam hesita. Ele olha para Cinco, mortalmente ferido, e engole seco. — Melhor não, John. — O que você quer dizer com isso? — Eu quero dizer que não acho que você deva salvá-lo – Sam responde, sua voz mais firme agora. Ele olha sob seus ombros, onde está o corpo inconsciente de Nove. — Nove, uh ... eu acho que Nove estava certo da maneira como ele lidou com isso. Minha mão está na nunca de Cinco. Eu posso sentir sua pulsação ficando mais lenta. Eu o estabilizo, mas não vai durar muito. Ele está enfraquecendo. Eu não tenho certeza se vai funcionar se eu tentar usar minha telecinese ao mesmo tempo em que uso meu Legado de cura. — Ele está morrendo, Sam. — Eu sei.

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— Isso já foi muito longe - eu digo. — Nós não vamos matar uns aos outros, não mais. Ajude-me a salvá-lo Sam. — Não - Sam responde balançando sua cabeça. — Ele é muito... olha, eu não vou impedi-lo. Eu sei que eu não conseguiria mesmo se eu tentasse. Mas também não vou ajuda-lo. Eu não vou ajudar ele. — Que merda! Eu ajudo – Daniela diz, empurrando Sam e se ajoelhando no chão próximo a mim. Eu encaro Sam por mais um segundo. Eu entendo o porquê dele estar recusando ajudar, eu realmente entendo. Eu tenho certeza que Nove não estaria vibrando com meu auxilio se ele estivesse consciente. Mas mesmo assim, eu estou desapontado. Eu volto minha atenção para Daniela. Ela está encarando o estado de Cinco, como se fosse a coisa mais louca que ela já viu. Ela coloca uma das mãos em direção onde o metal desapareceu no peito de Cinco, mas não consegue se convencer de tocá-lo. — Por quê? – eu pergunto para ela. — Você não conhece Cinco e o que ele fez. Por que você...? Daniela me corta com um encolher de ombros. — Porque você pediu. Vamos fazer isso ou não? — Vamos sim - eu digo, ajeitando minhas mãos nos dois lados da ferida de Cinco. — Empurre. Gentilmente. Eu vou curar ele enquanto isso. Daniela estreita os olhos para o pedaço de metal, suas mãos pairando a alguns centímetros de distância do peito de Cinco. Eu me pergunto se ela tem controle sobre isso. Se ela exercer muita força telecinética, ela poderia acabar arrancando o poste de metal para fora de Cinco e eu não sei se conseguiria curar suas entranhas machucadas rápido o suficiente. Nós temos que ir devagar e constantemente, ou arriscamos que Cinco sangre até a morte. Devagar, Daniela começa a empurrar o metal. A respiração de Cinco acelera quando ela faz o processo, e ele começa a se torcer, no entanto

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seus olhos permanecem fechados. Ela mantém o foco e tem um controle melhor do que eu imaginei. Eu pressiono minhas mãos no peito de Cinco, uma em cada lado do ferimento, e deixo minha energia de cura fluir dentro dele. — Que nojo, que nojo, que nojo – Daniela murmura enquanto respira. Eu continuo enviando minha energia para dentro de Cinco, sentindo suas lesões sendo emendadas, mas também sentindo meu Legado sendo contrariado pelo metal ainda dentro de seu corpo. Isso até eu ouvir um baque molhado no chão e perceber que Daniela conseguiu empurrar o poste para fora dele. Assim que isso acontece, eu amplifico meu poder, curando seu pulmão e sua coluna. Quando eu acabo, Cinco respira mais fácil. Ele ainda está inconsciente e pela primeira vez que eu posso me lembrar, ele parece quase sereno. Graças a mim ele vai sobreviver. Agora que o momento passou, eu não tenho certeza como me sinto sobre isso. — Droga cara – Daniela diz. — Nós devíamos ser cirurgiões ou algo assim. — Eu espero que a gente não se arrependa disso – Sam diz em voz baixa. — Nós não vamos – eu digo, olhando para Sam. — Eu fiz isso. Ele é minha responsabilidade agora. Com isso em mente, e considerando que ele ainda está desmaiado, eu rapidamente retiro a pulseira com a lâmina do antebraço de Cinco e a lanço na grama aos pés de Sam. Ele pega e cuidadosamente examina o mecanismo, e então aperta o botão para retrair a lâmina. Ele enfia a arma no bolso de trás de seu jeans. Eu me lembro que mesmo sem sua lâmina, Cinco não está totalmente desarmado. Eu abro suas duas mãos procurando pela bola de borracha e pela esfera de metal que ele carrega para acionar seu Externa. Ele não está segurando elas, então eu começo a revistá-lo. Quando elas não

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aparecem em seus bolsos, eu sei que só há um lugar onde elas possam estar. Encolhendo-me, eu retiro a gaze amarela que cobre o olho ruim de Cinco. Encravadas na cavidade vazia estão a esfera brilhante e sua parceira de borracha. Não parece ser confortável ter essas duas coisas dentro da sua cabeça. Essa é a vida que eu salvei - um cara que vê perder um olho como uma oportunidade para mais um armazenamento eficiente. Eu uso minha telecinese para colher as duas esferas para fora da cavidade do olho de Cinco e colocá-las na grama. Ele geme, mas não acorda. — Isso é desagradável – Daniela diz. — Não brinca - eu respondo. Eu olho para a Agente Walker. Ela tem observado toda a cena em silêncio. Eu sei que ela provavelmente está do lado do Sam e pensa que eu deveria ter deixado Cinco morrer. É por isso que sei que eu fiz a coisa certa. — Me traga alguma coisa para eu amarrá-lo – eu digo para Walker. Tendo acabado de me ver retirar os tesouros da cavidade do olho de Cinco, demora um momento para Walker reagir à minha solicitação. Ela leva a mão para trás dela, destrava suas algemas e as joga para mim. Eu as pego e imediatamente lanço-as de volta. — Você sabe que é uma terrível ideia, certo? Ele se transforma em qualquer coisa que ele toque, Walker. Consiga-me uma corda ou algo assim. — Eu sou uma agente do FBI John. Eu não carrego cordas por aí comigo. — Verifique o barco – eu digo, balançando minha cabeça. Irritada por eu estar dando ordens à ela em frente de outros agentes, Walker manda o Agente Murray se mover para checar se há alguma corda no barco da guarda costeira. — Você é sensível, Johnny.

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Eu me viro para ver Nove recuperando a consciência. Ele está se levantando, com seu antebraço apoiado em seus joelhos, sua cabeça curvada um pouco como se ela ainda estivesse incomodando ele. Ele olha de mim para Cinco e de volta, balançando sua cabeça. — Você sabe o quão difícil foi enfiar esse poste nele? – Nove suspira. Eu caminho e me agacho na frente dele. — Você está bravo? Nove dá de ombros, parecendo estranhamente zen. — Tanto faz cara. Eu mato ele de novo depois. — Eu realmente desejo que você não faça isso. Nove revira seus olhos. — Claro, claro. Tudo bem cara. Eu entendi que você é contra a pena de morte e toda essa bosta. Pelo menos ele implorou para você salvar a vida dele? Eu teria gostado de ver isso. — Ele não implorou – eu digo a Nove. — Na verdade eu acho que ele queria morrer. — Doente – Nove responde. — Eu não quis dar a ele o que ele queria. — Uh-huh. Eu sei que normalmente nós perdemos quando os caras maus consegue o que querem John. Mas, cara, eu acho que essa tinha sido uma vitória. — Eu discordo. Nove revira seus olhos, então olha em direção de Cinco. — Nós nunca poderemos confiar nele. Você sabe disso, certo? — Eu sei disso. — E se chegar a este ponto, eu não vou hesitar em fazer de novo. Você não vai conseguir me impedir. — Você ainda vai estar com uma concussão - eu digo para ele com um sorriso, desviando o mau-humor. Eu gesticulo para seu peito e seus braços, ainda cobertos de arranhões e queimaduras, e sua mão quebrada. — Você quer que eu termine de curar isso?

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Nove assente. — A menos que você só trabalhe com assassinos agora. – ele responde. Enquanto eu curo Nove, Daniela se aproxima e se apresenta. Ela recebe aquele sorriso usual do grande idiota. Nós o atualizamos rapidamente com tudo que aconteceu enquanto ele estava brigando do outro lado da cidade com Cinco. Quando eu termino, Nove se vira para olhar para a água à para a cidade em chamas e além dela. — Nós devíamos ter feito mais – ele diz em voz baixa, balançando seus braços e suas pernas, esticando seus músculos. — Nós devíamos ter pego ele quando tivemos a chance. — Eu sei - eu respondo. — Isso é tudo o que eu tenho pensado. — Nós teremos mais chances. - Nove diz, e então bate suas mãos e se vira para a Agent Walker. — Então, você vai nos levar para o México ou o que, senhora? Walker levanta uma sobrancelha para Nove. Então, Agent Murray retorna, com os braços cheios de cordas grossas que ele deve ter pego no barco. Ela passa a corda para as minhas mãos e eu continuo, amarrando o ainda inconsciente Cinco, juntando seus pulsos e seus tornozelos o mais forte possível. Eu vislumbro sua cicatriz. Tão parecida com a minha, nos identificando como parte do mesmo povo extinto. Como Cinco chegou a este ponto? E o que aconteceu depois? — O que nós vamos fazer com ele? – Sam pergunta, lendo minha mente. — Prisão – eu respondo. Apenas percebendo que é isso que eu quero no momento que eu digo. — Só porque eu salvei a vida dele não significa que não haverá justiça. Nós precisamos de uma sala almofadada para ele, uma onde ele não possa tocar nada remotamente duro. — Isso pode ser arranjado – Walker diz. Ela faz essa oferta rapidamente. Isso me faz pensar se ela e o governo já prepararam lugares como esse para nós, prisões capazes de nos

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segurar, impedindo de usarmos nossos Legados. Talvez isso fosse algo em que o ProMog estivesse trabalhando. — Arranje isso depois de você descobrir como nos levar até o México - eu digo para ela. — Nós não vamos mais esperar, Walker. — O que isso significa? — Isso significa que se o presidente ou os generais ou quem diabos está a cargo lá, não nos colocar em um jato nos próximos dez minutos, nós vamos simplesmente pegar um. Walker bufa para isso. — Vocês não conseguem pilotar um jato. — Aposto que alguém vai se voluntariar quando eu começar a esmurrar caras – Nove diz, dando um passo à frente para cobrir minha jogada. Agente Murray retira o rádio de seu cinto e oferece para Walker. — Apenas faça a ligação, Karen - ele suspira. Walker dá um olhar gelado para Murray e pega seu próprio telefone via satélite e caminha alguns passos para longe de nós. Apesar de nossa história, eu estou convencido que Walker realmente quer nos ajudar. É o resto do governo que não está convencido que nós somos uma boa aposta para vencer esta guerra. Ela está fazendo tudo que pode com relação à isso. Porém, nossa janela para ser de alguma ajuda para Seis, Sarah e os outros está ficando cada vez mais fechada. Eu não posso mais ficar aqui esperando que essas pessoas vão nos ajudar com a nossa luta. Nós vamos salvá-los, eles queiram ou não. Isso é tudo. — Vocês não vão realmente atacar o exército agora, vão? – Daniela pergunta, mantendo sua voz baixa para que os agentes não possam ouvir. — Droga, eu mal consigo me levantar. – Nove responde em voz baixa. — Ainda assim, nós precisamos chegar lá – Sam diz, e eu sei que ele está pensando em Seis tanto quanto eu estou pensando em Sarah. — Se ela não nos ajudar, o que nós vamos fazer?

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Nove olha para mim. — Você realmente vai proceder com isso, não vai? — Sim - eu digo. — Se eles não nos ajudarem, nós vamos obrigá-los. Daniela assobia pelos dentes. — Isso é intenso cara. Eu olho para Walker. Ela está mantendo sua voz baixa, mas está fazendo vários gestos empáticos com as mãos. — Ela sabe o que está em jogo. Walker vai proceder com isso. Enquanto eu digo isso, eu pego meu telefone via satélite. Eu deveria ligar para Sarah e Seis, ver onde elas estão e garantir que elas não vão tentar lidar com Setrákus Ra sozinhas. Antes que eu aperte o botão de discar, há um estranho e alto som vindo da água. Nós todos viramos em direção bem a tempo de ver um grande cilindro voar para fora do rio. O cilindro voa alto no ar, jatos de água sendo atirados enquanto ele gira em direção das docas próximas. A coisa é grande - grande o suficiente que quando aterrissa, com um rangido de metal amassando, tijolos se explodem para fora com o impacto. Eu vejo o capitão de nosso barco mergulhando na água para evitar os destroços voando. Este é o submarino que nós vimos no porto mais cedo. — O quê... como isso é possível? – Sam exclama. Alguma coisa jogou o submarino para fora da água. Nós corremos em direção às docas para checar por sobreviventes, no entanto não parece nada bom. A metade de trás do barco está amassada como uma lata de alumínio esmagada e há trincheiras irregulares arranhadas no lado dos painéis. Nós podemos ver através das paredes enquanto nos aproximamos – o barco definitivamente está inundado. Fios soltos dos sistemas elétricos fritos cospem faíscas quando nós aproximamos. — Cuidado – eu digo. — Não se aproximem muito. — O que diabos poderia ter feito isso? – Nove pergunta, suas mãos abraçadas em seus joelhos enquanto ele respira.

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Como que em resposta, o capitão do nosso barco grita. Um minuto depois ele está pisando na água e esperando por nós para dizer-lhe que está tudo limpo, e no próximo há uma sombra negra crescendo abaixo dele. Ele é sugado sob as ondas com um grito agudo e engolido inteiramente pela besta que sobe lentamente das profundezas do rio Hudson. Nós todos damos um passo para trás, um depois outro. Dois dos agentes correm na direção oposta, horrorizados pelo tamanho da criatura diante de nós. A água flui para fora da pele do monstro, no qual é translúcida a ponto de podermos ver o sangue preto sendo bombeado entre suas veias fortemente marcadas. Ele não tem cabelo, não tem pescoço e é corcunda. Presas curvadas se projetam a partir de sua mandíbula inferior e torna impossível para a coisa fechar completamente a boca, um fluxo constante de baba amarelado é derramado. Brânquias do tamanho de hélices de helicóptero têm espasmos enquanto o monstro tem o seu primeiro sopro de ar. Ele está de quatro, as patas traseiras inclinadas, as dianteiras mais parecem como braços grossos de um gorila, e é quase tão alto como a Estátua da Liberdade. A atitude de garota durona deixa Daniela rapidamente. Ela grita e Nove tem que tapar sua boca com a suas mãos. Eu não a culpo. O monstro é terrível e eu lutei com muitas criaturas dos Mogadorianas antes. — Droga - Sam sussurra. — É uma droga de tarrasque. Minha cabeça se vira para Sam desacreditando. — Você já viu um desses antes? — Não, eu... eu... - ele gagueja. — É um monstro de um jogo. — Nerd – Nove murmura. Daniela tira as mãos de Nove de sua boca, se recompondo o suficiente para me encarar. — Você não me disse que eles tinham uma... uma droga de Mogassauro!!

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Deve ter sido isso o que Setrákus Ra jogou na água quando a Anúbis foi embora nessa manhã. Um último presente para a dizimada cidade de Nova Iorque. Um lembrete para a presença militar de quem realmente está no comando. Eu deixo meu Lúmen sair de minhas mãos. Eu vou ter que gerar muito fogo se eu quiser fazer alguma marca nessa besta. — Eu sei que você consegue ver essa coisa! – Walker grita em seu telefone, provavelmente estourando o tímpano daquele que estava tendo uma conversa silenciosa com ela minutos atrás. — Suporte aéreo! Tragam-me a porcaria de um suporte aéreo! O Mogassauro inclina sua cara plana em direção do céu. As membranas viscosas que eu considero serem narinas começam a se contorcer. Então ele abre seus olhos, cada um branco e leitoso, dispostos em um padrão de diamante na testa ampla da besta. É difícil distinguir a esta distância, mas eu poderia jurar que vi um vislumbre de azul cobalto em cada um desses olhos. No centro de cada olho, onde a pupila estaria, eu posso definitivamente ver uma onda de energia azulada queimando na criatura. A cor, a energia. Isso me lembra dos pingentes. Poderia isso ser resultado do que Setrákus Ra estava fazendo quando eu o avistei dentro da Anúbis? Mas o que isso significa? Além de ser tão grande quanto um prédio, o que esse monstro pode fazer que os outros que enfrentamos não podem? Os pingentes roubados estão dando mais energia para ele de alguma forma? Ou eles estão fazendo algo totalmente diferente? Ainda de pé ao largo da costa, o Mogassauro balança sua cabeça e olha diretamente para nós. — Merda - Nove diz, dando um passo para trás. — Ele está vindo na nossa direção? — Agora! – Walker grita no telefone, recuando também. - É uma porcaria de um gigante! — Eu acho que ele pode nos sentir – eu digo. — Eu acho que Setrákus Ra deixou isso aqui para nos caçar.

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— Tudo bem – Daniela responde. — Eu tenho que ir. Como em resposta, o Mogassauro solta um rugido em nossa direção, pulverizando névoa do rio com seu hálito de peixe podre em cima de nós. Então, ele levanta um dos braços da frente para fora da lama do rio e deixa-o cair nas docas. Vigas de madeira explodem em estilhaços e as passarelas de concreto se afundam, dois dos barcos são empurrados debaixo d'água como brinquedos. Está vindo por aqui. Eu lanço uma bola de fogo no Mogassauro. Rapidamente, eu percebo que é muito pequena para fazer qualquer dano. A bola de fogo chia e deixa uma marca de queimadura na pele do monstro, mas ele nem percebe. — Corram! – eu grito. — Espalhem-se! Usem a estátua como cobertura. Nove, Daniela, Walker e Murray, todos correm de volta em direção da grama e da estátua. Mas Sam fica parado no lugar, mesmo quando o Mogassauro dá outro passo estrondoso em nossa direção. — Sam! Vamos lá! – eu grito, agarrando ele pelo braço. — John? Você sente isso? Eu fico olhando para Sam. Ambos os olhos estão diferentes, preenchidos com uma crepitante energia. Eles parecem quase como duas TVs fora de sintonia, exceto que a luz dos olhos de Sam é brilhantemente azul. — Sam? Que diab...? Antes que eu consiga terminar minha pergunta, Sam tem espasmos e desmaia. Eu dou um jeito de pegar ele e tento arrastá-lo para trás. Daniela e Nove veem isso acontecer e param no meio do caminho. — Johnny, o que há de errado com ele? - Nove grita. — Pegue ele e corra! – Daniela adiciona. Boom! Outra explosão atrás de nós. O Mogassauro tirou todos seus membros para fora da água, praticamente esmagando a doca inteira

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abaixo dele. O submarino está preso como um espinho na palma da sua mão da frente, e a besta é temporariamente distraída, se balançando para soltá-lo. Eu não sei o há de errado com Sam, mas eu não acho que o animal gigantesco atrás de nós é a causa. Sua aflição é alguma coisa totalmente diferente. — Ele desmaiou! – eu grito para nove. — Ele... Eu sou cortado quando ambos Daniela e Nove começam a ter espasmos, seus olhos se enchendo com a mesma luz azul. Eles caem no chão, ao mesmo tempo, em colapso, um em cima do outro. — Não! Então isso acontece comigo. Um tentáculo de uma vívida luz azul sobe do chão na minha frente. Por alguma razão, eu não estou com medo. É quase como se eu reconhecesse esta estranha formação de energia. Eu posso sentir que ela corre por dentro da terra, e eu também posso sentir que, se a Agente Walker ou o Mogassauro ou alguém sem Legados olhassem onde eu estou olhando agora, eles não veriam nada, além do espaço vazio. Isto é só para mim. Essa é minha conexão. Minha conexão com Lorien. Mais rápido do que meus olhos podem acompanhar, o tentáculo de luz se atrela à minha testa. Agora, eu tenho certeza que meus olhos estão mostrando energia elétrica azul como os outros fizeram antes de desmaiar. Eu sinto isso acontecer. Eu estou deixando meu corpo. Eu reconheço essa sensação. É exatamente igual quando Ella me coloca em suas visões. — Ella? – eu digo, no entanto eu tenho certeza que essas palavras não saíram de minha boca. Eu tenho certeza que meu corpo ainda está nas docas, não tão longe do maior monstro que já vi em toda minha vida.

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“Oi John” - Ella responde dentro de minha cabeça. Quando ela responde, eu posso ouvir ela dizer outras palavras também, como se ela estivesse mantendo cem conversas ao mesmo tempo. Eu não penso em perguntar como isso aconteceu. Era para Ella estar a milhares de quilômetros de distância com Setrákus Ra ou, esperançosamente no processo de ser resgatada por Seis. Ela não é assim tão poderosa. Seus poderes não funcionam desta maneira. Eu não penso em nada disso. Eu estou mais focado em meu corpo físico, sem mencionar Nove, Sam e Daniela. Qualquer coisa que Ella esteja fazendo conosco, ela não poderia ter escolhido um momento pior. — O que diabos está acontecendo? Você vai acabar nos matando! A qualquer momento, eu espero escutar a trituração dos meus ossos quando o Mogassauro pisar em mim. Isso não acontece. Em vez disso, formas começam a se formar na frente dos meus olhos obscuros, formas indistintas, como um projetor de filme que está fora de foco. “Não se preocupe” - diz Ella, e novamente há aquele eco de outras vozes. “Isso só vai levar um segundo”.

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há quanto tempo estou nocauteada? não pode ser mais de dois minutos até eu ser acordada por alfinetadas geladas ao longo da lateral do meu rosto É Marina, usando seu Legado de cura em mim. Minha cabeça está em seu colo. Eu recebo uma estranha sensação em meu cabelo quando o couro cabeludo de lá cresce novamente, o corte que ganhei graças à pedra rapidamente sendo curado. Marina tem a outra mão sobre minha boca, e eu acho que é para o caso de eu acordar gritando. Eu arregalo meus olhos para ela para mostrá-la que estou de volta e ela retira sua mão. Seu rosto está coberto com poeira chamuscada vindas do templo recém explodido. Há lágrimas escorrendo através das bochechas de Marina. — Ele o destruiu, Seis – ela sussurra. — Ele destruiu tudo. Eu me sento para avaliar nossa situação. Ainda estamos na extremidade da floresta, escondidos atrás do tronco caído da árvore, e agora com um monte de pedaços desalojados de calcário. Há lacunas entre as árvores acima de nós, feitas pelos pedaços destruídos de pedra do Santuário. Por sorte, ninguém mais parece estar ferido, ou Marina já terminou de curá-los.

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Marina fica perto de mim enquanto eu me arrasto para frente em direção aos outros. Mark e Adam estão de bruços, lado a lado, exatamente à direita do cachorro caído. Eles estão com seus canhões apontados e usam um bloco de calcário para cobertura. Eu percebo que há manchas de sangue seco na camisa de Mark e me lembro que ele retirou um pedaço de estilhaço do seu peito bem antes de eu ser nocauteada. Eu toco o braço dele. — Você está bem? Ele lança um olhar de agradecimento à Marina. — Estou bem. Embora eu realmente não queira criar o hábito de fazer aquilo. E você? — Mesma coisa. Sarah está à direita de BK, espiando por trás dele. Phiri Dun-Ra foi arrastada para perto dela. Ela não foi atingida por nenhum dos destroços que caíram em nossa área, o que realmente parece injusto. A Mogadoriana ainda está inconsciente ou, mais provável, se fingindo de morta. Eu tenho certeza de conferir suas amarras antes de me deslizar para perto de Sarah. Ela me olha – imóvel, com um olhar furtivo. Me lembra muito a expressão de coragem de John, para falar a verdade. Aquela onde ele está se borrando mas quer continuar a lutar de qualquer jeito. — O que nós vamos fazer, Seis? – Sarah pergunta. — Ficarmos dentro da distância entre nossas mãos para o caso de precisarmos ficar invisíveis novamente – eu digo, não apenas para Sarah, mas para todos. — Ainda temos um plano. Mark bufa com isso, e suas mãos tremem um pouco sobre o cano da arma. O detonador dos nossos explosivos jaz no chão próximo à ele. — Não há mais Santuário para protegermos – Marina diz desoladamente. — Nós ainda podemos pegar a Anúbis – eu respondo. — E ainda temos que resgatar Ella. — Cara, eu não vejo droga nenhuma daqui de trás – Mark adiciona. Eu me torno invisível para que eu possa espiar por trás da nossa cobertura sem correr o risco de ser vista. Eu tenho uma visão melhor do campo do que Mark e Adam podem ver do ponto deles lá atrás. A poeira levantada pelo ataque da Anúbis ainda está se estabilizando na clareira,

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entre isso e o pôr-do-sol, a área inteira está embaçada num tom dourado. Três pequenas nuvens de fumaça escura ondulam pelo ar – vindas dos Escumadores-bombas que foram explodidos quando a Anúbis descarregou sua fúria. Entretanto, embora alguns deles estejam virados de ponta cabeça e outros arremessados para longe, eu ainda vejo vários de nossos Escumadores prontos para serem explodidos. Então talvez sejamos capazes de salvar uma de nossas armadilhas contra os Mogadorianos. Mas o buraco em que nos empenhamos tanto para cavar já era. Ou, mais exatamente, se transformou em um buraco maior ainda. O terreno onde o Santuário ficou por séculos é agora uma cratera fumegante. Está com mais ou menos sessenta metros de profundidade com pedaços insistentes de pedra das paredes ainda enraizados no chão e apenas agora os pequenos incêndios causados pelo tiro do canhão da Anúbis estão desaparecendo na terra chamuscada. Aquele campo de força estava posicionado tão precisamente que algo como isso nunca iria acontecer. Nós conseguimos entrar no Santuário e esse é o resultado. Destruição total. A menos que... Ainda invisível, eu subo no tronco quebrado para que eu possa ver a cratera de um ângulo melhor. Sarah hesita pelo barulho que faço e aponta seu canhão em minha direção. — Relaxa, sou eu – eu sussurro rapidamente. — Estou tentando ter uma visão melhor de qualquer coisa. — O que você vê? – Marina pergunta. Eu vejo um brilho azul-dourado emanar bem do centro da cratera. Eu vejo a superfície das pedras do poço onde nós jogamos nossas heranças, o lugar de onde a Entidade surgiu. Eu desço do tronco e me torno visível novamente. Eu quero que Marina veja a esperança no meu rosto, porque ela é bem real. — O poço ainda está lá – eu digo a ela. — Ele não o explodiu, ou quem sabe não conseguiu. A Entidade está bem. — Sério? – Marina responde, passando suas mãos pelo rosto.

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— Sério – eu digo. — Ainda temos um deus extraterrestre para proteger. — Essa coisa deveria estar nos protegendo – Mark resmunga. — E se, por acaso, ele não estivesse tentando explodi-lo? – Sarah pergunta. — Se o objetivo dele, no final, era tipo, capturar a Entidade? E se ele tivesse que tirar o templo do caminho para isso? — Merda – eu digo, porque essa teoria faz muito sentido. — Eles estão descendo – Adam sibila. A Anúbis lentamente se move para baixo. Mesmo com o templo destruído, a nave de guerra massiva ainda é grande demais para ser estacionada na clareira. Mesmo assim, a nave de guerra flutua até ficar bem acima do centro da cratera. Engrenagens rangem quando duas portas extensas de metal se estendem para fora dos lados da Anúbis, com uma dupla de portas de metais se abrindo nos topos. De lá, vários Mogadorianos começam a sair da nave. Eles parecem ser os casuais soldados vatborn, todos eles vestidos em uma armadura preta carregando armas. Os Mogs deixam a nave com uma velocidade eficiente e começam a assegurar a área. Estamos em número desvantagem em pelo menos dez pra um, e não vai demorar muito até que eles descubram nossa posição ou encontrem as bombas que anexamos aos Escumadores. —Temos que atacar agora! – eu sussurro para os outros. Eu me movo e alcanço Adam. — Vamos ficar invisíveis e cercá-los. Vocês detonam as bombas para distraí-los. Marina, ainda há alguma arma que montamos em posição? Marina estreita os olhos em concentração, então assente. — Algumas. Eu vou fazê-las funcionar. Mark deixa de lado seu canhão e pega o detonador, armando os explosivos. Três quartos das luzes não acendem, indicando que nós perdemos essas bombas durante o ataque da Anúbis. — Armadas – Mark diz. — Se lembrem, se a coisa ficar feia, corram para a nave de Lexa – eu os relembro.

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Adam, saindo de trás do tronco quebrado, estala seus dedos para chamar nossa atenção. — Lá – ele diz, sombriamente. — Lá estão ambos. Setrákus Ra entra no campo de visão, no topo da rampa. Ele está tão intimidante quanto eu me lembro – quase quatro metros de altura, pálido, com aquela cicatriz roxa e grossa no seu pescoço que é visível mesmo a esta distância. Ele está vestido em algum tipo de armadura Mogadoriana extravagante, feita com a mesma liga obsidiana das suas marionetes, com exceção de dois acessórios pontudos que ele anexou à armadura na parte dos ombros, que se prendem a uma longa capa de couro que se arrasta pelo chão enquanto ele caminha. Cada parte dele parece fazer jus ao vilão intergaláctico que é, e ele parece estar saboreando isso. Ele está de mãos dadas com Ella, seus dedos pequenos entrelaçados gentilmente pelos dedos blindados dele. Marina suspira quando ela a vê. Eu não tenho certeza se eu iria reconhecê-la se ela não estivesse gritando em minha cabeça há apenas alguns minutos. Ela parece menor e mais magra, como se a vida tivesse sido sugada para fora dela. Não, isso não está nada certo. Eu percebo que ela não parece necessariamente doente. Ela parece Mogadoriana. Os olhos de Ella estão vazios e sua cabeça pende, fazendo com que seu queixo encoste em seu peito. Ela não parece nem mesmo ciente do que está acontecendo ao seu redor. Seus movimentos são robóticos e atordoados. Ela segue Setrákus Ra através da rampa com total submissão. Os Mogs que estão vasculhando a área param de fazer o que estão fazendo para observar seu ditador e sua herdeira descerem da Anúbis, todos eles fazendo uma saudação com a mão no peito. Setrákus Ra para na metade do caminho. Ele olha para a mata ao redor, procurando por nós. — Eu sei que vocês estão por aí! – Setrákus Ra grita, sua voz se espalhando através da mata. — Estou orgulhoso! Eu quero que vocês vejam o que vai acontecer agora! – Setrákus Ra berra sobre o ombro, em direção à Anúbis. — Abaixem-no!

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Em resposta a seu comando, um alçapão se abre na parte de baixo da nave de guerra. Lentamente, uma larga peça telescópica sai da Anúbis. É como um pedaço de cano com escoras de apoio e andaimes construídos em torno dele. As laterais do cano estão cobertas com circuitos complicados e medidores. Há mais do que apenas tecnologia Mogadoriana no dispositivo de Setrákus Ra, que desce lentamente. Gravado nas laterais metálicas entre todos os componentes eletrônicos há gravuras estranhas que me fazem lembrar dos símbolos marcados em nossos tornozelos. Porém, eu não posso ter cem por cento de certeza sobre isso, mas parece que essas gravuras foram feitas em Loralite. O que quer que este dispositivo seja, parece mais ser uma junção hibrida lórico-mogadoriana quanto Setrákus Ra.

— Eu não gosto da aparência daquilo – eu digo, silenciosamente. — Nem eu – Sarah responde. — Nós deveríamos explodi-la – Mark sugere. — Qualquer que seja a intenção dele com aquele aparelho, nós não podemos permiti-lo – Marina concorda. — Tudo bem. Então vamos destruir o brinquedo dele, resgatar Ella e então ou pegar a Anúbis ou voltar para Lexa – eu digo. — Você faz com que pareça tão fácil – Adam diz. Mesmo não podendo nos ver, Setrákus Ra ainda está fazendo seu discurso retórico. — Por séculos eu trabalhei para atrelar o poder de Lorien, para utilizá-lo de maneiras mais eficientes do que da intenção da natureza. Agora, finalmente... Blá, blá, blá. Rapidamente, eu meço a distância entre Ella e o Escumador-bomba ativado mais próximo. Bem longe. Eu não acho que ela estará dentro do raio da explosão. Enquanto Setrákus Ra continua, eu olho para os outros. — Eu já ouvi o suficiente. E quanto a vocês? Todos assentem. Eles estão prontos.

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— Fiquem abaixados – eu digo, relembrando de como Mark foi atingido facilmente há alguns minutos. Todos se protegem. É agora. — Ative – eu digo para Mark. Com os dedos voando sobre o controle, Mark aperta os botões detonadores. Como presumido, alguns dos Escumadores que ligamos aos explosivos foram desconectados quando a Anúbis bombardeou o Santuário. E também, outros haviam sido explodidos com o impacto. Então não tivemos a explosão gigante que teríamos se todos os nossos Escumadores-bombas tivessem sido explodidos ao mesmo tempo, como planejado ordinariamente. Mas ainda assim é loucamente eficiente. Os Mogs estão ocupados demais prestando atenção respeitosamente ao último discurso pomposo estúpido de Setrákus Ra para perceber o que está acontecendo. Cinco Escumadores espalhados ao redor da cratera explodem em nuvens brancas de fogo. Eu posso sentir o calor daqui e tenho que proteger meus olhos. Pelo menos trinta Mogs são desintegrados imediatamente, seus corpos completamente engolidos pelas chamas. Mais deles morrem quando as partes dos Escumadores começam a voar para todas as direções. Eu observo um soldado ser cortado ao meio quando uma parte do para-brisa de uma das naves o atravessa verticalmente e outro sendo esmagado por uma coluna em chamas. A melhor parte é o pânico. Os Mogs não sabem o que os atingiu e então eles começam a atirar em direção às naves explodidas, incertos de onde a verdadeira ameaça está se escondendo. Pelo menos mais alguns morrem com tiros vindos dos outros soldados. E então Marina e eu usamos nossa telecinese para ativar alguns dos canhões que escondemos na selva, confundindo os Mogs ainda mais. Uma roda retorcida atinge a rampa bem à frente de Setrákus Ra e Ella. Talvez foi uma atitude um pouco imprudente explodir aquelas naves – eu acho que Setrákus Ra teve que parar aquela roda com sua telecinese para

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que ela não os acertasse. Porém, é bom saber que ele não quer vê-la machucada tanto quanto nós. Eu sorrio. Setrákus Ra realmente parece surpreso com o nosso contra-ataque. Seu discurso foi arruinado, o líder Mogadoriano rapidamente anda até o fim da rampa, arrastando Ella com ele. — Encontrem-nos! – ele grita enquanto ele começa a descer pelas bordas inclinadas da cratera, em direção ao poço. — Matem-nos! — Vamos agora! – eu grito, não muito alto para não entregar nossa posição graças aos sons explosivos vindos dos Escumadores recém-explodidos, mas o suficiente para que todos os meus aliados ouçam. Agora é a hora de fazer-ou-morrer. Eu agarro a mão de Adam e nos tornamos invisíveis. Eu lidero, nos levando fazendo um arco largo ao redor dos Mogs que eventualmente nos levará para perto da cratera e do aparelho de Setrákus Ra. Marina continua com a distração, usando as armas escondidas em diferentes localidades para manter os Mogs confusos. Eu memorizei os locais onde escondemos as armas, então sou capaz de evitar o tiro cruzado. Pelo menos, eu consigo evitar por mais ou menos vinte metros. Então, o azar me atinge. Um dos Mogs, de costas para as explosões dos Escumadores, tropeça em nossa direção, atirando incontrolavelmente. Eu mergulho para desviar dos tiros, e Adam também. Mas fazemos isso em direções opostas. Simplesmente assim, Adam aparece novamente no mundo visível. — Merda – ele diz, pegando seu próprio canhão e atingindo o Mog mais próximo. — Lá! – grita um dos outros soldados. Suficiente para o estilo-guerrilha. Vendo Adam em perigo, Bernie Kosar é o primeiro a se atirar na batalha. Em um segundo ele é um tucano, inocentemente voando em direção ao grupo mais próximo de Mogs, e em um piscar de olhos ele se transforma em um leão enorme, cortando e abrindo caminho em meio aos inimigos. Muito dos Mogadorianos ainda estão confusos com a explosão e não perceberam Adam ainda, então Bernie Kosar facilmente acaba com eles.

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Ele está mais rápido e mais feroz do que da última vez que eu o vi lutar, com mais raiva, talvez, e eu me lembro de que ele quase morreu em Chicago. Sempre quando um dos Mogs consegue tê-lo em mira, BK se transforma em um animal menor – como um inseto ou um pássaro – fazendo-se ser um alvo impossível. Então, quando ele está em uma posição favorável para matar, Bernie Kosar se transforma de volta na sua forma de predador. As transições são perfeitas, é quase lindo. Nosso Chimaera de estimação ficou realmente muito bom em matar Mogadorianos. E nós também. Um par de Mogs à esquerda conseguem se reunir o suficiente para atingir Adam. Eles são rapidamente desintegrados por um tiro vindo de nosso grupo. Esses devem ser Sarah e Mark, e eles não param de atirar mesmo depois desses dois primeiros virarem cinzas. Há muitos soldados pegos na terra deserta do que costumava ser nossa pista de pouso. Tudo agora é um espaço vazio e sem cobertura. Eu vejo Sarah matar rapidamente dois soldados com sucesso. Marina sai correndo da floresta em direção à Adam e então eles se juntam à briga. Alguns dos Mogs estão tentando se recompor e se reagrupar, mas outros os veem chegando. Eles se agrupam e miram. Rapidamente o ar se enche com sons de tiros vindos de todas as direções. A média é de mais ou menos vinte pra um. Nada mau. Adam lidera, saltando para frente com grandes passos, cada pisada no chão emanando ondas sísmicas que ondulam sob os pés dos Mogadorianos. Quando o chão treme, fica quase impossível para os Mogs manterem uma mira certa. Alguns deles acabam se trombando com outros, tiros ziguezagueando em todas as direções. Uma onda sísmica em particular resulta em um barulho alto quando o chão se divide em dois, com meia dúzia de Mogs caindo dentro da nova cratera. Acho que conseguimos nosso buraco, afinal de contas. Marina está mais devagar, porém igualmente mortal. Ela segue em direção dos Mogadorianos com ambas mãos abertas para os lados em forma de concha. Pedações afiados de gelo se formam acima de sua mão

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e, quando eles crescem até o tamanho de uma bola de baseball, Marina os lança telecinematicamente em direção aos Mogs. Gritando e perdendo o equilíbrio graças à uma das ondas sísmicas de Adam, um dos Mogs segue na direção de Marina com um punhal. Ela mal olha para ele enquanto levanta suas mãos em um gesto de pare, congelando-o no rosto rapidamente. Ela abre caminho entre os Mogs, cortando-os com gelo, seguindo em direção da cratera e de Setrákus Ra. Do outro lado do campo de batalha, Setrákus Ra conseguiu chegar no fundo da cratera e no poço Lórico. Ella está em pé ao lado, indiferente e parecendo um zumbi, sua cabeça pendendo de um lado para o outro. Ela observa enquanto Setrákus Ra manuseia o instrumento sinistro que está atracado à Anúbis. Ele posiciona o cilindro para que então fique a apenas alguns metros acima do poço. Então, Setrákus dá alguns passos para trás e levanta suas mãos como um maestro, telepaticamente manuseando os botões complicados e mostradores embutidos nos lados do tubo. Com um zumbido, eu posso ouvir daqui que a coisa está começando a ganhar vida. Isso não pode ser bom. — Nós temos que impedi-lo! – Marina grita. Eu sei que suas palavras são intencionadas para mim, mas eu não respondo. Ainda invisível, eu não quero entregar minha posição. Eu queria poder usar meu Legado climático e lançar um raio em Setrákus Ra. A Anúbis está encobrindo muito o céu. Invés disso, eu pego um canhão Mogadoriano abandonado. Ultimamente, eu passei muito tempo manuseando grupos de pessoas invisíveis através de selvas que eu quase tinha me esquecido de como é libertador estar sozinha e invisível. Livre e mortal. Eu deslizo facilmente pelos grupos de Mogadorianos. É quase como uma dança, com exceção de que eles não sabem que somos parceiros. Enquanto sigo, levanto meu canhão invisível e puxo o gatilho, atirando de perto, apenas headshots. Tudo isso enquanto me aproximo da cratera e de Setrákus Ra. A única coisa que me expõe é o brilho de luz que o

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canhão faz, e isso geralmente é rapidamente ocultado pelas explosões de cinzas Mogadorianas. Eu matei mais de dez Mogs em segundos. Eu paro por um momento e olho para trás, para ter certeza de que Sarah e Mark estão seguros na floresta. Com certeza, eles ainda estão atirando. Bernie Kosar também se mantém assim, impedindo que qualquer Mog se aproxime dos humanos. Eu percebo que BK deve estar sob ordens estritas do John para manter Sarah em segurança. Isso é bom. Os Mogs já estão começando a se dissipar. Alguns, de fato, estão retornando para a Anúbis, enquanto outros formaram um grupo no perímetro ao redor da cratera para proteger o Amado Líder deles. Setrákus Ra não parece estar tão preocupado com isso. Ele está completamente focado enquanto opera aquela máquina. Enquanto eu luto pelo meu caminho até a cratera, o tubo começa a emitir um chiado. Eu posso sentir a atmosfera ao nosso redor mudar – pedras aleatórias começam a levitar do chão, e eu sinto rapidamente a força da gravidade me puxando na direção da cratera. Completamente ligado, o aparelho de Setrákus Ra está começando a sugar tudo nos arredores. Eu vejo Ella, ainda parada indiferente na cratera, telepaticamente em silêncio, seu cabelo sendo puxado na direção do cilindro. O próprio poço começa a tremer, seus tijolos sendo levitados e içados em direção da máquina de sucção antes de serem repelidos por um campo de força que provavelmente é similar ao que protege a Anúbis. O aparelho de Setrákus Ra não está interessado nos detritos do chão; ele está os filtrando, criando um mini tornado de sujeira e pedra. E então acontece. Com um grito ululante como centenas de chaleiras de chá explodindo, a luz azul cobalto da energia Lórica explode do chão e é sugada pelo cilindro. Toda a área e é iluminada pelo brilho azul que até faz com que alguns dos Mogs olhem com dúvida ao redor. Não é natural a forma com que a energia ondula ao sair do chão, primeiramente de forma selvagem e incontrolável, mas rapidamente é pega e canalizada pelo que eu percebo ser um oleoduto, que transfere a energia Lórica para

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dentro da Anúbis. Eu achei o brilho da Entidade confortante e sereno lá no Santuário, mas agora – o ar estrala com a eletricidade, as luzes irritam meus olhos e o barulho... É como se a própria energia estivesse gritando. Ela está sofrendo. — Sim! Sim! – Setrákus Ra grita de alegria, como um cientista louco, suas mãos erguidas em direção do seu aparelho de sucção. Marina enlouquece. Ela perde a noção do cuidado quando se joga na direção da cratera. Duas estalactites grossas e afiadas se manifestam sobre suas mãos como duas espadas, e ela as usa para empalar três Mogadorianos que estavam em seu caminho, dançando entre aqueles que estavam protegendo a cratera. Então, ela desliza para dentro do buraco, na direção de Setrákus Ra e Ella. Ela vai querer matá-lo sozinha. Eu fiz isso uma vez – não deu muito certo. Eu corro para alcançá-la. Há outros Mogs ao redor da borda da cratera ao lado daqueles que Marina acabou de desintegrar e todos eles a tem como alvo. Ela está distraída, se tornando um alvo fácil. Mas para mim, ainda invisível, são os Mogs que se tornaram alvos fáceis. Eu corro atrás deles em um arco ao redor da borda da cratera, desintegrando cada um deles o mais rápido que posso. Antes que eu possa matá-lo, um deles consegue desviar do tiro que acaba acertando uma das pernas de Marina. Eu acho que ela nem percebeu. De fato, Marina nem percebe Setrákus Ra. Ou não se importa. Ela ataca o oleoduto diretamente, bombardeando-o com bolas pontiagudas de gelo. Enquanto essas são engolidas pelo mini tornado de detritos ou refletidas pelo campo de força da máquina, Marina segue em frente. Ela vai acabar quebrando a coisa com as próprias mãos se for preciso. Setrákus Ra a agarra pelo pescoço. Ele se move mais rápido do que qualquer criatura do tamanho dele tenha direito. Enquanto eu corro para dentro da cratera, ainda invisível, Setrákus Ra levanta Marina pelo pescoço, fazendo com que seus pés fiquem fora do chão. Ela tenta chutá-lo, mas ele a mantém numa distância segura. — Olá, garotinha – Setrákus Ra diz, seu tom de voz feliz e vitorioso. — Veio assistir ao espetáculo?

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Marina cerra os punhos. Ela obviamente não pode respirar. Eu não sei se vou conseguir chegar a tempo. De trás dele, uma onda de rochas e sujeira acerta Setrákus Ra nas panturrilhas. Ele está surpreso e acaba soltando Marina enquanto ele cai para frente e instintivamente se apoia com as mãos. Marina consegue rolar para longe enquanto as pernas de Setrákus Ra são enterradas por uma rocha. Ella balança para frente, como se suas próprias pernas tivessem sido atingidas, mas ela não chora e sua expressão vaga não muda. Foi Adam que fez o salvamento, derrapando pelo caminho em direção à cratera do lado oposto ao meu. Há marcas de tiros em seus ombros e um longo corte na lateral do seu rosto onde algum Mog o cortou com um punhal, mas ele ainda parece pronto para lutar. Eu acabo chegando no fundo da cratera próximo à Ella. É quando acontece – pop – bem assim, e estou visível novamente, não por minha escolha. Setrákus Ra deve estar usando sua habilidade de cancelar Legados temporariamente. Marina está de joelhos a alguns metros dele, segurando sua garganta e tossindo. Enquanto isso, o líder Mogadoriano está tendo um péssimo momento enquanto tenta se desalojar da pedra. Pelo menos Adam conseguiu enterrá-lo até os joelhos antes de nossos Legados serem cancelados. Eu aproveito a oportunidade para agarrar Ella pelos ombros. Bem de perto, ela está mais distante do que eu esperava. Suas bochechas estão ocas, seu rosto magro, e há teias de veias escuras correndo por baixo de sua pele. Seu olhar é distante e ela não reage quando eu a chacoalho. O brilho da energia Lórica – ainda sendo sugada pelo oleoduto – está refletida em seus olhos. Ela está olhando fixamente para lá. — Ella! Vamos! Vamos tirar você daqui! Não há reação visível, mas sua voz finalmente retorna à minha cabeça. “Seis. É lindo, não é?” Ela está perdida. Droga – eu vou ter que arrastá-la daqui como havíamos planejado. — Seis! – Marina grita, sua voz rouca. — Temos que desligar aquela coisa!

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Eu olho para a máquina, e então para a Anúbis. Não há o que dizer sobre o que Setrákus Ra irá fazer com a energia Lórica que ele está capturando, mas obviamente não pode ser nada bom. Eu me pergunto se ele será capaz de cancelar nossos Legados permanentemente se ele sugar energia o suficiente da Entidade. — Você sabe como pará-la? – eu pergunto para Ella, novamente recebendo nada de seu rosto inexpressivo. Essa resposta demora um momento. “Sim”. — Como?! Nos diga como! Ela não responde. Com um bufo de indignação, Setrákus Ra puxa uma das pernas para fora da prisão de pedra. Assim que ele o faz, Adam o alcança. Privado de seu Legado assim como nós, o jovem Mogadoriano agarra a espada de seu pai. A espada é grande demais para ele e suas mãos tremem quando ele a segura. Mesmo assim, ele põe a ponta da espada no pescoço de Setrákus Ra. — Pare – Adam comanda. — Seu tempo acabou, velhote. Desligue sua máquina ou eu vou matá-lo. A expressão de Setrákus Ra não muda, mesmo tendo uma espada apontada contra aquela cicatriz roxa dele. Ele ri. — Adamus Sutekh – ele exclama. — Eu estava esperando uma chance para nos conhecermos. — Feche a matraca – Adam alerta. — Faça o que eu mandei. — Desligar a máquina? – Setrákus Ra sorri. Ele consegue ficar em pé. Adam tem que se esticar para manter a espada pressionada contra o pescoço dele. — Mas é a minha maior realização. Eu alcancei a própria Lorien e agora ela está sob meu comando. Não mais teremos que acolher a arbitrariedade do destino. Nós podemos forjar nossos próprios Legados. Você dentre todas as pessoas deveria apreciar isso. — Pare de tagarelar. — Você não deveria estar me ameaçando, garotinho. Você deveria estar me agradecendo – Setrákus Ra continua, limpando os detritos de suas pernas. — Esse Legado que você usou com tanta precisão foi lhe dado graças aos resultados da minha pesquisa, entende? A máquina que

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o Dr. Anu plugou em você foi alimentada com Loralite pura, o que havia sobrado daquelas que eu minei de Lorien há tanto tempo. Com o corpo de uma Garde que carregava a faísca necessária de Lorien, bem... a transferência se tornou possível. Você é o resultado glorioso da minha pesquisa, Adamus Sutekh. Do meu controle sobre Lorien. E hoje, você pode me ajudar a pavimentar um caminho para outros iguais a você. — Não – Adam diz, sua voz quase inaudível sobre o rugir da energia sendo sugada para dentro da Anúbis. — Não o quê? – Setrákus Ra pergunta. — O que você achou, garoto? Que seus Legados vieram de outro lugar? Que essa mente oca da natureza havia lhe escolhido? Foi ciência, Adamus. Ciência, eu e seu pai. Nós o escolhemos. — Meu pai está morto! – Adam grita, pressionando com mais força a espada contra o pescoço de Setrákus Ra. Perto de mim, Ella tosse. Uma bolha de sangue surge em sua garganta. — Adam, tenha cuidado! – eu grito, dando um passo na direção dele. Marina está de pé também, olhando incerta do oleoduto para os dois Mogadorianos. Eles nos ignoram. — Hmm – Setrákus Ra responde. — Eu não havia ouvido— — Eu o matei – Adam continua, gritando. — Com essa espada! Da mesma forma que vou matar você! Por um momento, Setrákus Ra parece genuinamente ter sido pego de surpresa. Então, ele levanta uma das mãos e arranca a espada da mão de Adam. — Você sabe o que vai acontecer se você tentar – Setrákus Ra diz, e em demonstração, ele aperta com força a espada. Eu viro e vejo o corpo de Ella se inclinar de dor enquanto um longo corte se abre através de sua palma, sangue chovendo na terra. Ela dá alguns passos para frente, em direção ao poço, se segurando. — Eu não me importo. Durante toda minha vida, eu fui treinado para matá-los – Adam diz dentre os dentes. — E você nunca pôde fazer, não é? – Setrákus retruca, rindo do blefe de Adam. — Eu li os relatórios de seu pai, garoto. Eu sei tudo sobre você.

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Ainda segurando a espada em uma as mãos, Setrákus Ra se aproxima de Adam, ficando mais alto que o jovem Mogadoriano. O corpo todo de Adam treme, mas eu não sei se é de medo ou raiva. Eu me aproximo deles, embora eu não saiba o que fazer. Atrás de mim, eu ouço Ella arrastando os pés. Em seu estado de transe, ela tropeçou até o poço Lórico e o pilar de energia. — Ella! – eu sussurro. — Fique parada! — Eu nunca quis matar para você porque eu nunca acreditei nas suas paranoias! – Adam resmunga. — Mas se fazer isso significa acabar com você—, os olhos de Adam seguem em direção à Ella. Então eu percebo – seu olhar está confirmando. Ele não está blefando, não mais. — Eu posso viver com isso – ele diz, friamente. — Eu posso viver com isso se você morrer também. Tudo acontece muito rápido. Adam empurra a lâmina contra a mão de Setrákus Ra, a borda não causando danos na palma, e a ponta apontada para o pescoço. Setrákus Ra parece surpreso, mas ele reage rápido – ele é rápido, mais do que Adam esperava. Setrákus Ra se abaixa para a esquerda, a lâmina deslizando em seu pescoço, porém sem fazer dano algum. Pelo menos não nele. Eu viro minha cabeça para ver um corte se formar na lateral do pescoço de Ella. Sangue começa a escorrer pelos seus ombros, mas ela não expressa reação. De fato, ela nem parece ter percebido. Ela está totalmente focada na energia corrente, seus pequenos pés na ponta dos dedos. Antes que Adam possa estabilizar a espada para dar outro golpe, Setrákus Ra esmurra seu punho no rosto dele. Ele está vestindo luvas de metal e eu posso ouvir os ossos do rosto de Adam quebrarem com o impacto. Ele derruba a espada e cambaleia para trás. Setrákus está prestes a atingi-lo novamente quando Marina entra na briga e o tira do caminho. Quando ambos estão no chão, eu tenho a chance de dar um passo à frente e me por entre eles e Setrákus Ra. Enquanto eu me aproximo, Setrákus pega a espada de Adam, girando-a em um arco lento ao seu lado. Ele sorri para mim.

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— Olá, Seis – ele diz, e corta o ar à sua frente com a espada. — Está pronta para que isso tudo acabe? Eu não respondo. Conversar apenas dá vantagem à ele, deixando-o entrar em nossos psicológicos. Invés disso, eu grito sobre meu ombro para Marina. — Recua! – eu digo. — Vá para longe o suficiente para poder curá-lo. Pelo canto do meu olho, eu posso ver Marina arrastando Adam. Ele está inconsciente, e eu não tenho nem certeza se Marina quer curá-lo depois do que ele acabou de dizer. Ela definitivamente não quer me deixar para trás, ou recuar enquanto a máquina de Setrákus Ra ainda está sugando a energia. — Vá! Eu cuido disso! – eu insisto, olhando para Setrákus Ra, me movimentando. Eu apenas tenho que atrasá-lo, ficar viva até – até o quê? Até quando vamos continuar com isso? Ella estava certa. Ficar aqui significava morte. O sorriso de Setrákus Ra não desaparece. Ele sabe que estamos encurralados. Ele investe contra mim, atacando com a espada. Eu dou um pulo para trás e sinto a ponta da espada passar bem em frente ao meu abdômen. O chão pedregoso abaixo de mim treme e eu quase perco o equilíbrio. Atrás de mim, Marina conseguiu arrastar Adam até onde a cratera começa a subir. Ela parou lá e começou a gritar. — Ella! Que diabos—? Ambos Setrákus Ra e eu nos viramos em direção ao poço, onde Ella subiu na borda. Ela está a apenas alguns centímetros da onda de energia Lórica. Seu cabelo voa em todas as direções, quase como uma aréola. Faíscas elétricas aparecem ao redor dela, e o sangue escuro de suas veias se tornam uma sombra roxa na luz azul vivida. A pele de seu rosto e de suas mãos começam a ondular como se ela estivesse em um túnel de vento, e pequenos detritos a atingem. Ela ignora tudo isso. Imediatamente, Setrákus Ra se esquece de mim. Ele dá um largo passo em direção à Ella. — Desça daí! – ele grita. — O que você...? Ella se vira em nossa direção, seus olhos em Setrákus Ra. Eles não estão mais dispersos. Por um breve momento, eu posso ver a velha Ella ali. A

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garotinha tímida que eu conheci na Espanha e que se tornou uma lutadora corajosa. Sua voz é baixa, porém de alguma forma amplificada pela energia que flui atrás dela. — Você não vai vencer, avô – ela diz. — Adeus. E então Ella cai para trás dentro da energia Lórica fluente. Setrákus Ra grita e corre para frente, mas ele está atrasado. Há quase um flash de luz que nos cega. O corpo de Ella, basicamente uma silhueta do meu ponto de vista, flutua no meio do ar, pega entre o poço Lórico e a máquina de Setrákus Ra. Por um momento, seu corpo se contorce, arqueando dolorosamente. Então, uma nova onda energia surge do poço, o que é demais para a máquina de Setrákus Ra suportar. Os circuitos nas laterais explodem em chuvas de faíscas e a Loralite derrete em um mar de explosões brancas e quentes. Enquanto isso, o corpo de Ella parece desintegrar - eu ainda posso vê-lo lá, pego pela energia, mas eu também posso ver através dele, como se cada partícula do corpo dela tivesse se separado. Um momento depois, o corpo de Ella é cuspido para fora da energia. Ela é jogada como uma boneca de pano para a lateral da cratera. Então, o brilho da energia Lórica se dissipa e se retraí para baixo da terra, enquanto o oleoduto de Setrákus Ra emana um craque metálico e desmorona, com pedaços retorcidos de metal enterrando o poço Lórico. Setrákus Ra encara sua máquina destruída em descrença. É a primeira vez que eu vejo o velho bastardo totalmente perdido. Marina se move imediatamente. Ela deixa o corpo de Adam para trás e mergulha em direção à Ella. Seus Legados ainda não estão funcionando, então quando Marina pressiona suas mãos contra o corpo de Ella, eu sei que nada vai acontecer. É tarde demais, de qualquer forma. Eu não preciso ver as lágrimas escorrendo através do rosto da Marina para compreender. Ella está morta. Setrákus Ra encara o corpo da neta, uma expressão desolada em seu rosto. Enquanto ele faz isso, eu pego o maior pedaço de rocha que eu consigo encontrar. E então eu a jogo, atingindo a parte de trás da cabeça de Setrákus Ra.

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Um corte se abre. Ele sangra. O feitiço Mogadoriano foi quebrado. Meu ataque o traz de volta à realidade. Ele ruge, se vira para me encarar e levanta sua espada enorme sobre sua cabeça. Ele está prestes a descê-la em minha direção quando seus olhos – normalmente cavidades pretas e vazias – se enchem com o brilho azul da energia Lórica. A espada cai de suas mãos e Setrákus Ra, o líder dos Mogadorianos, assassino do meu povo, destruidor de mundos – desmaia aos meus pés. Estou paralisada. Eu me viro para procurar por Marina, mas encontro-a desmaiada também. Que diabos está acontecendo? Ella. O brilho da energia Lórica emana dela. Está sendo cuspido de seus olhos, boca, orelhas – de todos os lados, da mesma forma quando a Entidade reanimou o corpo de Oito. A partir de um de seus dedos, um raio de energia Lórica é lançado em minha direção. Me acerta bem no meio da testa. Eu caio de joelhos, me sentindo inconsciente. Eu olho para Ella... ou que quer que ela seja agora. Há outras explosões de energia saindo de seu corpo, como se fossem estrelas cadentes, saindo da cratera e indo... para onde? Eu não sei. Eu não sei o que está acontecendo com ela, com a Entidade ou com ambas. Eu só sei que é minha chance. — Não agora! – eu grito, lutando contra o sono gentil que a energia Lórica está tentando me forçar a aceitar. — Ella! Lorien! Parem! – eu digo. — Eu... eu posso matá-lo! Mas então eu desmaio. Eu sou arrastada para o mesmo sono artificial para o qual foram Setrákus Ra e Marina. O que eu vejo a seguir, o que todos nós vemos, é onde tudo começou.

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então assim que é como estar morta.

Eu flutuo sobre meu corpo e mal me reconheço. Meu avô – ele começou a me transformar em um monstro, assim como ele. A garota quebrada lá embaixo está tão pálida e sem vida, que mal consigo acreditar que sou eu. Ou que era eu. Marina põe suas mãos sobre meu corpo, tentando me trazer de voltar, mesmo sabendo que seus Legados foram desativados. É triste vê-la distraída assim. Eu não quero voltar para aquele corpo. É um alívio estar fora dele. Não há mais a dor e pela primeira vez em dias eu posso realmente pensar. Na verdade, é meio estranho que eu possa pensar considerando que agora eu estou, você sabe... morta. Eu acho que a vida após a morte é assim. Abaixo de mim, os outros – Marina, Seis e Setrákus Ra – todos se movem em câmera lenta. Eu posso ver muita coisa. Cada partícula do templo destruído que ainda flutua no ar é visível para mim. As

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gotas de suor na nuca do meu avô também são visíveis para mim. A energia lórica pulsante está dentro de todos eles, até mesmo de Setrákus Ra, e isso também é visível para mim. Como eu posso ver tudo isso? Eu apenas queria quebrar o domínio que Setrákus Ra tinha sobre mim, destruir seu feitiço Mogadoriano nojento para que ele não pudesse mais me manter como refém. Eu queria ajudar meus amigos. Alguma coisa me disse que a melhor forma de fazer isso era me jogar dentro daquele redemoinho de energia. Eu sabia que iria morrer e estava quase bem com isso. Estou feliz de não ser apenas escuridão e vermes. Qualquer que seja o próximo estágio, eu espero que não seja vendo as pessoas que eu amo lutarem até a morte em câmera lenta. Ella. A voz vem de todos os lugares ao meu redor. Não apenas uma, mas várias vozes. Milhares delas. Ainda assim, desse coro eu consigo reconhecer algumas. Crayton. Adelina. Oito. Eles estão me chamando. Você tem trabalho para fazer. Eu caio em direção ao chão e meu corpo. Por um momento, estou cheia de pânico. Eu vou voltar para dentro do meu velho corpo mais uma vez para ser a marionete do meu avô? Mas então, de repente, um sentimento de calma cai sobre mim, como se eu tivesse sido enrolada em uma toalha aquecida. Nada pode me machucar, não agora. Eu deveria me chocar contra o chão. Invés disso, eu continuo caindo. Eu passo através dos detritos e das pedras, e logo estou submersa em total escuridão. Não mais parece que estou caindo. Sinto como se estivesse flutuando no espaço – sem gravidade, sem

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peso, apenas uma levitação pacifica sem fim. Eu perco a noção de qual direção é pra cima, qual é para baixo, ou qual leva até meus amigos, meu corpo. Mas isso não parece importante agora. Eu deveria estar enlouquecendo. Mas de algum jeito, eu sei que estou segura. Lentamente, a luz começa a brilhar ao meu redor. Milhares de pontos azuis brilhantes flutuam ao meu redor, como a poeira flutua através dos raios de sol. É como a energia lórica na qual eu mergulhei. As partículas se expandem e se contraem, me lembrando de pulmões. Algumas vezes elas se misturam em formas vagas, então rapidamente se rompem. De alguma forma, eu tenho a sensação de que estou sendo observada. Há uma rede de energia abaixo de mim e eu não sinto mais como se estivesse flutuando ou caindo. É mais como se eu estivesse sendo segurada, envolta a duas mãos gigantes. Eu me sinto relaxada e confortável, como se eu pudesse descansar aqui para sempre. É tão diferente dos últimos dias infernais pelos quais eu passei, onde exercendo o mínimo da minha vontade me causava dores pelo corpo todo. Parte de mim quer desligar minha mente e deixar o que quer que seja que esteja acontecendo e me esticar aqui. Mas outra parte de mim sabe que meus amigos ainda estão lutando no mundo horrível em que vivem. Eu tenho que tentar ajudar. — Olá? – eu chamo, testando minha fala. Eu ouço minha voz, embora não pareça que eu tenha uma boca, pulmões ou sequer um corpo. É como a sensação de quando estou tendo uma conversa telepática, como se de alguma forma alguns de meus pensamentos

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estejam mais altos do que os outros e esses são os que eu projeto para as outras pessoas. Olá, Ella – uma voz responde. As bolhas de energia flutuando na minha frente pulsam em sincronia com a voz. Estranhamente, eu me sinto completamente confortável por ter uma conversa com um bando de bolhas flutuantes de neon. — Estou morta? – eu pergunto. — Isso é tipo, o paraíso ou coisa assim? Eu sinto cócegas agradáveis onde minha pele deveria estar. Eu acho que é assim que se sente quando essa coisa ri. Não, isso aqui não é o céu, criança. E sua morte é apenas uma condição temporária. Quando a hora chegar, eu vou restaurá-la para sua forma física. — Oh – eu pauso. — E se eu não quiser voltar? Você vai querer. “Não tenha tanta certeza, camarada” – eu penso, mas não digo. — Então... estamos onde? O que é isso? Você abandonou seu corpo e usou seus dons telepáticos para se abrigar em minha mente. Você misturou sua consciência com a minha. Você ao menos sabia que era capaz de fazer isso, criança? — Hm..., não. Eu não achei que saberia. Foi uma coisa perigosa de se fazer, jovem Ella. Minha mente é vasta e se estende através de todos os lugares e por todo o tempo desde que eu existo. Estou bloqueando você desse conhecimento, para que não a sobrecarregue.

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Eu acho que é por isso que eu me sinto tão aconchegada nessa total escuridão, sem corpo e envolta pela energia lórica. Porque a Entidade Lórica está tomando conta de mim. — Obrigado por isso – eu respondo. De nada. Me ocorre que eu provavelmente deveria estar perguntando algumas coisas importantes. Não é todo dia que você acaba dividindo sua mente com uma energia como essa. — O que exatamente é você, afinal de contas? Eu sou eu. Eu sou a fonte. — Uh-huh. Mas como eu deveria chamá-la? Há uma pequena pausa antes da voz me responder. Os pontos de energia nunca param de esvoaçar na minha frente. Eu tenho sido chamada de muitas coisas. Uma vez, eu fui Lorien. Agora, eu sou a Terra. Seus amigos me chamaram de Entidade. Então, era isso que estava escondido dentro do Santuário, era o que Setrákus Ra queria. Marina e os outros devem ter conversado com ela antes do seu esconderijo ter explodido pelos ares. Embora, A Entidade... isso parece tão formal, alienígena e frio. Não é esse o sentimento que estou sentindo agora. — Eu vou chamá-la de Legado – eu decido. Como desejar, criança. Legado parece tão calma. Foi apenas há alguns minutos que a Anúbis estava sugando-a do chão através daquela engenhoca mecânica gigante. — Meu avô machucou você quando ele a puxou da Terra? – eu pergunto.

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Ele não pode me machucar, ele pode apenas me modificar. Uma vez modificada, eu não serei mais eu, e então a experiência da dor não irá pertencer à mim. — Ok – eu respondo, não entendo nada disso. — Você está, tipo, presa abordo da Anúbis agora? Apenas uma pequena parte de mim, criança. Eu existo em vários lugares. Seu avô tentou me capturar antes, mas eu sou maior do que ele pensa. Venha. Vou lhe mostrar. Antes que eu possa perguntar, “ir onde?”, uma onda da energia lórica me varre para longe. Não estou mais flutuando na escuridão pacifica. Invés disso, estou dentro da própria Terra. É como uma daquelas seções onde você pode ver as diferentes camadas da crosta terrestre – as placas tectônicas, os ossos dos dinossauros, lava derretida quente perto do núcleo do planeta. Eu posso visualizar tudo isso. Eu me sinto nanica em comparação a tudo. Correndo através de cada camada da Terra, ligada ao próprio núcleo, há agora veias brilhantes de loralite. A energia é fraca em alguns pontos, forte em outros, mas não há lugar no planeta que não esteja perto do seu gentil brilho. — Nossa – eu digo. — Você realmente se fez sentir em casa. Sim, Legado responde. Isso não é tudo. Nós subimos. Mais uma vez, o campo de batalha aprece abaixo de mim. Meus amigos e Setrákus Ra ainda estão se movendo como se eles estivessem presos em melaços. Seis está no processo de levantar uma rocha, com a esperança de acertar meu avô com ela. No peito de Seis, bem perto de seu coração, há uma brasa da energia lórica. Marina e Adam também a possuem. Até Setrákus Ra

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tem uma fagulha de Lorien dentro dele, embora a dele parece estar parcialmente envolta de algum tipo de substância preta. Ele se corrompeu de formas que eu não consigo entender. O pensamento faz com que eu olhe em direção à Anúbis. Há, situada na barriga da nave, um latejante fulgor de loralite. Não é nada comparado ao que eu acabei de ver no subsolo, mas ainda assim... — O que ele vai fazer com aquilo? – eu pergunto a Legado. — Quero dizer, com você? Eu vou lhe mostrar. Primeiro, você precisa juntar os outros. Eu decidi que todos eles devem ver o motivo deles lutarem. . — Que outros? Todos eles. Eu irei ajudá-la. Sem avisar, minha mente começa a se esticar. É como se eu estivesse usando minha telepatia, tateando por mentes familiares, com exceção de que meu poder foi aumentado. Na verdade não parece tão bom, como se meu cérebro estivesse sendo puxado em todas as direções por um magnetismo muito forte. — O que.... o que você está fazendo? Estou aumentando suas habilidades, criança. Pode ser um pouco desconfortável no começo. Peço desculpas. — O que eu devo fazer? Junte todos aqueles que eu marquei. Pode ser loucura, mas na verdade eu sei o que isso significa. Quando eu uso minha telepatia, eu posso realmente sentir todas as pessoas que foram tocadas por Legado na Terra. Eu miro em direção ao núcleo azul pulsante em Marina, pego-o com minha mão telepática e a puxo. É como quando eu era capaz de levar John para

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dentro das minhas visões, com exceção de que agora é muito mais fácil. Eu vou em direção ao Adam também, trazendo-os para o aconchego da consciência de Legado. Então, eu hesito. — E ele? – eu pergunto, olhando para meu avô. Até ele. Devem ser todos. Me sentindo um pouco enjoada por ter que entrar em contato telepaticamente com aquele cérebro retorcido e seu coração lórico estragado, eu puxo Setrákus Ra para cá. Eu tento absorver Seis agora, mas sua consciência luta contra a minha. Distantemente, estou ciente de seu corpo físico gritando alguma coisa. — O que ela está dizendo? – eu pergunto a Legado. Ela não compreende ainda que eu não interfiro, Legado intona. Todos vão ver, ou ninguém verá. Nenhuma vantagem será admitida. Eu não sei o que Legado quer dizer e eu não tenho tempo para pensar nisso porque logo que a consciência de Seis abre caminho para a minha, nós estamos nos espalhando mais além. O mundo inteiro se abre diante de mim. Centenas de pequenos pontos de loralite são mostrados nos continentes. Esses são os novos Garde, os humanos que recentemente desenvolveram poderes. Legado os quer também. Eu os alcanço com minha mente, capturando-os um por um. Um garoto em Londres que encara uma nave de guerra Mogadoriana com suas mãos se abrindo e fechando enquanto ele tenta decidir o que fazer. O asfalto da rua se quebra e se rompe a cada movimento, pego pela telecinese descontrolada do garoto. Uma garota no Japão que há apenas alguns dias estava confinada à uma cadeira de rodas. Agora, ela se encontra andando através do

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pequeno apartamento de seus mais numa velocidade que ela não achava ser possível. Um garoto numa vila remota da Nigéria, onde eles não foram atingidos de verdade pela invasão ainda. Seus pais estão chorando enquanto ele flutua sobre eles, emanando um brilho angélico. Eu pego todos com minha mente. Onde quer que Legado esteja nos levando, eles estão vindo. Alguns deles estão assustados. Ok, muito deles estão assustados. Seus Legados foram uma coisa, mas agora isso – uma repentina experiência telepática? Eu entendo que isso é um pouco demais. Eu falo com eles. Os conforto. Eu sinto que minha mente está forte o suficiente para que eu consiga manter múltiplas conversas de uma vez enquanto ainda estou recolhendo as pessoas com meu voo telepático. Eu asseguro a eles que irão ficar bem. Que isso é como um sonho. Eu não digo a eles que eu não tenho ideia do que estou fazendo. Então eu chego a Nova Iorque. Eu pego Sam primeiro, mais porque estou tão animada por ele ter sido contemplado com Legados, e eu só quero lhe dar um abraço. O Cinco ferrado, o Nove maravilhoso que eu também quero muito dar um abraço, uma garota nova – todos eles são acolhidos pelo meu abraço telepático. E então eu pego John. Eu tive mais experiências usando minha telepatia nele do que em qualquer outro; deveria ser fácil. Mas como Seis, ele luta contra mim. John quer lutar. Ou, bem, ele não quer ser pisado. Eu não posso dizer que culpo ele. — Aquilo irá nocauteá-lo? – eu pergunto. — Ele vai, tipo, ser devorado?

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Não. Tudo isso vai passar num piscar de olhos. — Não se preocupe John – eu digo triunfantemente. — Só vai levar um segundo. Eu puxo a consciência de John também. Pronto. Toda a Garde da Terra. Todos os seus batimentos lóricos pulsando, puxados para minha vasta consciência. — Então, agora o que acontece? – eu pergunto a Legado. Observe.

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eu estou em outro lugar. um lugar que é ao mesmo

tempo estranho e familiar para mim. Eu flutuo pelo ar, capaz de ver toda a cena que acontece ao meu redor, mas incapaz de agir. Eu posso sentir as centenas de mentes que estão juntas comigo. Isso é o que Legado quer nos mostrar. É uma noite quente de verão. Duas luas brancas vividas pairam no céu escuro sem nuvens, uma no norte e uma no sul. Isso significa que é um momento especial para meu povo. Duas semanas do ano em que as luas estão desse jeito e durante essas duas semanas os lorienos iriam celebrar. É onde estamos. Lorien. Eu sei isso porque Legado sabe disso. O que eu não sei é o quão distante voltamos no tempo. Estamos numa praia, a areia tingida de laranja oscilando pela luz de uma dúzia de fogueiras. Há pessoas por toda parte, comendo e sorrindo, bebendo e dançando. Uma banda toca música como nada

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que eu tenha ouvido na Terra antes. Meu olhar para em uma jovem garota com uma juba de cabelo ruivo encaracolado enquanto ela dança no ritmo da música, suas mãos acima da cabeça, não se importando com o mundo ao seu redor. Seu vestido reflete a luz e se distorce, pego ocasionalmente pela brisa quente do oceano. Na praia, um pouco distante da festa, dois garotos adolescentes estão sentados na areia, num intervalo da festa. Um é alto para sua idade com escuros cabelos curtos e características nítidas. O outro, menor porém mais bonito do que o primeiro, tem cabelo loiro sujo e desgrenhado e um queixo quadrado. O loiro está vestido com uma folgada camisa branca para fora das calças e casual. Seu amigo está vestido mais formalmente, com uma camisa vermelho-escuro, passada e perfeita, as mangas meticulosamente enroladas para cima. Ambos, mas o maior em particular, parecem super interessados na garota que está dançando. — Você deveria ir lá – o loiro diz, cutucando seu amigo. — Ela gosta de você. Todo mundo sabe. O garoto de cabelos escuros franze a testa, passando uma mão sobre a areia. — E daí? Por que eu faria isso? — Uh, porque você está olhando ela dançar? Eu posso pensar em vários motivos, cara. — Ela não é Garde. Ela não é como nós. Não seríamos capazes... – o garoto de cabelos escuros balança a cabeça, melancolicamente. — Nossos mundos são muito diferentes. — Ela não parece se importar por não ser Garde – o garoto loiro retruca. — Ela está se divertindo de qualquer forma. Você é o único que está impedindo isto.

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— Por que nós temos Legados enquanto ela não tem? Não parece ser justo, que alguns devem ficar presos sendo tão... normais – o garoto de cabelos escuros se vira para seu amigo, com um olhar sério em seu rosto. — Você já pensou sobre isso? Em resposta, o garoto loiro abre a palma de sua mão. Nela, uma pequena bola de fogo ganha vida e rapidamente toma a forma de uma garota dançando. — Não – ele diz, sorrindo. O garoto de cabelos escuros se concentra por um momento e então a pequena dançarina de fogo explode, deixando de existir. O garoto loiro ergue as sobrancelhas. — Pare – ele reclama. — Você sabe que eu odeio quando você faz isso. O garoto de cabelos escuros sorri se desculpando com seu amigo e traz de volta os Legados dele. — Legado estúpido – ele diz, balançando a cabeça. — Qual a vantagem de algo que apenas funciona contra outros Garde? O garoto loiro gesticula em direção da dançarina. — Vê? Você é perfeito para Celwe. Ela não tem nenhum Legado, e você tem o mais ridículo deles. O outro ri e dá um soco levemente no ombro de seu amigo. — Você sempre sabe dizer as coisas certas. — Isso é verdade – o loiro responde, sorrindo. — Você poderia aprender muito comigo. Eu não tenho os olhos da forma tradicional aqui, mas a visão parecer piscar. Em um segundo, os garotos sentados na praia aparecem na forma dos homens que irão se tornar. O garoto loiro é

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lindo, atlético, com olhos bonitos – e eu não estou prestando nem um pouco de atenção nele. Invés disso, minha atenção se volta à bruta forma que está sentada ao lado dele, mortalmente pálida, com uma cicatriz nojenta em torno do pescoço. Setrákus Ra. Essa cena deve ter acontecido centenas de anos atrás. Talvez milhares. É antes de Setrákus Ra ter se juntado aos Mogadorianos, antes dele se tornar um monstro. Um segundo depois, e eles são jovens novamente. O garoto loiro dá um tapinha nas costas do jovem Setrákus Ra enquanto eles continuam a observar a garota que dança. Estou chocada com a normalidade de sua aparência, um garoto jovem sentado numa praia, olhando melancolicamente para a garota que ele gosta. Onde tudo isso deu errado?

A visão se desmancha, se juntando sem problemas à outra. Meu avô e seu amigo estão em um grande salão abobado, um mapa de Lorien estampado em loralite brilhante através do teto. Eles não são mais garotos, estão mais para jovens adultos. Quanto anos mais tarde estamos? Pode ser décadas pela forma que contamos os anos em Lorien. Se fossem humanos, eu acho que eles estariam com mais ou menos vinte anos, mas quem sabem o que isso traduziria para a idade lórica. Eles estão parados em frente de uma enorme mesa redonda que cresce diretamente do chão, como se fosse feita a

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partir de uma árvore que ninguém se importou em cortar. Cravada no centro da mesa há o símbolo lórico para “unidade”. Eu sei disso porque Legado sabe. Ao redor da mesa há dez cadeiras, todas elas ocupadas com sérios olhares lóricos, com exceção de duas, que estão vazias. Cadeiras como as de um grande teatro cercam a mesa redonda por toda a circunferência. Está lotado hoje, todas as fileiras em suas capacidades máximas, Garde apertados de cotovelo a cotovelo. Isso, eu percebo, é a câmara dos Anciãos. É onde os Anciãos se juntam na presença da Garde para tomar grandes decisões. A cena toda me lembra das reuniões do senado que eu vi na Terra, com exceção da loralite brilhante. Atualmente, todos os olhares estão sob o Ancião magro com longos cabelos brancos e olhos gentis. Apesar dos cabelos brancos, ele não parece mais velho que meu avô. Mas o seu jeito projeta uma aura de superioridade. Ele é Lóridas. Ele é um Aeternus, como eu, o que significa que ele pode parecer muito mais jovem do que ele realmente é. Todo mundo ouve respeitavelmente enquanto ele começa a falar. — Estamos reunidos aqui hoje em honra do nosso caído – Lóridas diz, sua voz se espalhando pela câmara inteira. — Nossa última tentativa de melhorar nossa relação diplomática com os Mogadorianos foi rejeitada. Violentamente. Parece que os Mogadorianos apenas aceitaram nossa delegação em seu planeta para que eles pudessem assassiná-los. Durante a batalha, nossos Garde foram capazes de paralisar suas capacidades interestelares, o que irá mantê-los confinados em seu planeta por algum tempo. Nós ainda acreditamos que há aquele dentre os Mogadorianos que valorizam a

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paz sobre a guerra, mas a sociedade deles deve chegar a essa conclusão sozinha. Nós Anciãos vimos que futuros envolvimentos com Mogadore serão prejudiciais para ambas espécies. Portanto, todo e qualquer contato com Mogadore está proibido até nova ordem. Lóridas pausa por um momento. Ele olha para as duas cadeiras vazias ao redor da mesa e uma expressão muda as linhas de seu rosto. De repente ele parece muito, muito mais velho. — Nós perdemos muitos irmãos e irmãs durante esta última batalha, incluindo dois Anciãos – Lóridas continua. — Seus nomes, que há muito tempo foram escolhidos para se tornarem Anciãos, eram Zaniff e Banshevus. Eles serviram com lealdade para com este conselho por muitas décadas, pastorando nosso povo através dos tempos de guerra e dos tempos de paz. Vamos refletir sobre eles nos próximos dias. Entretanto, as cadeiras de Setrákus Ra e do nosso líder, Pittacus Lore, não devem permanecer vazias. Nós seguimos em frente, como os lorienos sempre fazem, e conhecemos que não sofremos apenas perdas em Mogadore. Também fizemos heróis. Deem um passo à frente, vocês dois. Quando Lóridas comanda, meu avô e seu amigo dão um passo à frente, em direção à mesa. O garoto loiro se permite um sorriso e assente para todas as pessoas amontoadas na câmara. Por outro lado, meu avô, alto e magro como será centenas de anos depois, parece dificilmente estar ciente do que está acontecendo. Ele parece assustado. — As ações rápidas de vocês, com seus Legados fortes e poderosos salvaram muitas vidas em Mogadore – Lóridas diz. — Nós, os

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Anciãos, temos visto há tempos o potencial de vocês e sabemos bem as grandes coisas que vocês realizaram para com o nosso povo. Portanto, é nesse dia que nós oferecemos esses dois lugares vazios e damos boas-vindas a vocês como Anciãos Lóricos, para servirem e protegerem Lorien, seu povo e a paz. Vocês aceitam esses postos sagrados e juram colocarem as necessidades de seu povo acima de quaisquer outras? O homem loiro assente com a cabeça, conhecendo sua parte na cerimônia. — Eu aceito – ele diz. Meu avô, perdido em seus pensamentos, não diz nada. Depois de um momento de um estranho silêncio, seu amigo o cutuca. — Sim – Setrákus Ra diz, assentindo também. — Eu aceito.

Anos depois, o homem loiro corre pelo corredor de uma casa modesta. Cacos de vidro se desmancham em baixo de seus pés. O lugar está um lixo. Mesas estão viradas, quadros de fotos foram derrubados das paredes, vasos de vidros estilhaçados em milhões de pedaços. — Celwe? – ele grita. — Você está bem? — Aqui – uma voz trêmula de mulher responde. Ele corre através da porta dupla de bambu para dentro de um quarto iluminado, a linda praia de antes agora visível pelas janelas abertas. Esse quarto está tão bagunçado como o resto da casa. A cama está virada de cabeça para baixo por completo, as prateleiras de livros foram derrubas e seu conteúdo espalhado, e até mesmo as tábuas de

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madeira do chão estão desiguais. É como se alguém tivesse tido um ataque de raiva telecinético aqui. Olhando pela janela está a mulher de cabelos ruivos encaracolados que há muitos anos atrás dançava pela noite na praia. Celwe. Abraçando a si mesma, ela não se vira quando o homem entra no quarto. — Eu o conheci bem ali fora – Celwe diz, gesticulando para a praia. — Ele era tão tímido. Sempre no seu próprio mundo. Ainda fico surpresa, algumas vezes, por ele ter tido coragem de se casar comigo. — O que aconteceu aqui? – ele pergunta enquanto se aproxima devagar. — Nós tivemos uma discussão, Pittacus. — Você e Setrákus? Celwe bufa e se vira para encará-lo. O amigo de infância do meu avô, o homem que deve ter se tornado o próximo Pittacus Lore. Seus olhos estão vermelhos por ter chorado, porém ela parece ilesa. — Ah, não o chame assim. Esse título não trouxe nada além de problemas. — É quem ele é agora – Pittacus responde seriamente. — É uma grande honra. Ela semicerra os olhos. — Foi difícil o suficiente estar casada com um Garde. Nós costumávamos conversar sobre ter filhos, sabe. Agora, depois dessa viagem à Mogadore, depois de ter se tornado um Ancião... eu mal o vejo. Quando consigo, tudo o que ele fala envolve aquele projeto, aquela obsessão dele. Pittacus inclina a cabeça. — Que projeto?

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Celwe engole seco, talvez percebendo que ela disse demais. Ela se afasta da janela e vai em direção à cama. Ela começa a empurrar o estrado de madeira para longe do colchão para que ela possa desvirar a cama, mas invés disso pensar melhor, olhando para Pittacus. — Me ajuda, por favor? Pittacus usa sua telecinese para desvirar acama, arrumando o colchão ao mesmo tempo. Seu olhar nunca se desviou de Celwe. — Tão fácil para você – ela murmura enquanto se senta na cama recém arrumada. Pittacus se senta próximo à ela. — No que Setrákus está trabalhando? Ela respira fundo. — É uma escavação. Nas montanhas. Eu não deveria – eu não sei exatamente como explicar. O que ele faz lá... ele diz que faz por mim, Pittacus. Como um presente. Celwe diminui o tom de voz. Há lágrimas em seus olhos. — Mas eu não quero. — Eu não entendi – Pittacus responde. — Você deveria ver por si mesmo – ela diz. — Não diga... não diga a ele que eu te disse. — Você está com medo dele? – Pittacus pergunta, sua voz baixa. — Ele te machucou? — Ele não me machucou. E eu só estou assustada pelo que ele pode se tornar. Celwe alcança as mãos de Pittacus e as aperta. — Apenas faça com que ele venha para casa, Pittacus. Por favor. Faça-o ver a razão e traga meu marido de volta para mim. — Eu trarei.

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Pittacus segue pelo céu, voando através das nuvens. Ele mergulha na direção de uma cadeia de montanhas e, em seguida, dispara para baixo em um abismo profundo, como uma versão maior do Grand Canyon. Enquanto ele desce, paredes em cor de arenito salpicadas de Loralite estão por todo lado, e então Pittacus nota um conjunto maquinário complexo e um gerador maciço abaixo dele. Alguém tem cavado profundamente, como se o abismo já não fosse profundo o suficiente. O olhar de Pittacus muda, como o meu, para a peça do topo da máquina no centro do perímetro da escavação. Vigas retorcidas de aço aumentadas com circuitos piscantes e símbolos de Loralite – se parece com uma versão maior e menos refinada do canalizador que Setrákus Ra desembarcou da Anúbis. Então é isso que Legado quis dizer quando disse que Setrákus Ra já tinha tentado o coletar antes. Aqui é o início de tudo, séculos atrás. O início do mergulho do meu avô na loucura. Quando Pittacus pousa, um jovem lorieno em um avental de laboratório vai até ele para cumprimentá-lo. Sua pele é estranhamente pálida para um lorieno e ele se move de uma maneira análoga a um robô, como se seus membros não estivessem mais em sincronia com seu cérebro. Pittacus parece ter se surpreendido pela aparência do jovem, mas isso não o tira do foco. — Onde está Setrákus? – ele pergunta.

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— Ele está no Libertador – o jovem lórico diz, apontando para o canalizador. — Ele está esperando sua visita, Ancião Lore? — Isso não importa – Pittacus responde, e marcha até o então chamado Libertador. O lorieno pálido sai de seu caminho, porém Pittacus hesita. Ele se volta para o jovem. — O que ele tem feito aqui? O que ele fez com você? — Eu... – o jovem hesita, como se ele não pudesse falar. Mas então, ele segura as mãos, se concentra e levita um punhado de rochas com sua telecinese. Parece um tremendo esforço para ele. Pittacus inclina a cabeça, surpreso. — Você é Garde? Por que eu não o conheço? — Aí é que está – o garoto responde. — Eu não sou Garde. Não sou ninguém. Durante sua fraca demonstração telecinética, veias escuras começam a pulsar na testa do jovem lórico. Pittacus nota isso e se aproxima para tocar o rosto do jovem. O jovem recua. — É... é um trabalho em progresso – o garoto pálido diz. — Eu não tive minha dose hoje. — Dose – Pittacus sussurra sob sua respiração, mas então anda propositalmente em direção à máquina Libertador. Ele passa por vários outros assistentes pelo caminho, todos eles igualmente com a pele pálida e assustadora. Eu posso sentir a raiva crescendo dentro dele, ou talvez seja minha própria raiva, ou talvez seja ambas. Estamos testemunhando algo legitimamente corrupto. O Libertador está ligado. Ele emite o mesmo som agudo de moagem que o canalizador que Setrákus Ra desembarcou da Anúbis. Há protuberâncias de Loralite despejadas ao redor do perímetro de

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escavação, como se os assistentes tivessem arrancado essas rochas da terra para chegarem ao que está abaixo dela. Energia lórica é puxada do chão e transferida para dentro de containers de vidro em forma de pílulas enormes. Uma vez nos containers, a energia é processada – ela é eletrocutada por ondas de alta frequência e misturadas com explosões de gases químicos em temperatura subzero, até que toda a energia de alguma forma se solidifique. Então, ela é agitada por um rolete envolto com pontas afiadas antes de passar por uma série de filtros. O resultado é a gosma preta com que Setrákus Ra é capaz de encher um tubo de ensaio. Ele está no meio desse procedimento quando Pittacus vai sobre ele. — Setrákus! Meu avô olha e sorri. Ele está orgulhoso. Há veias escuras correndo debaixo de sua pele, também, e seu cabelo preto começou a cair. Surpreendentemente, ele está animado por ver Pittacus e deixa de lado seu trabalho torcido para cumprimentá-lo. — Velho amigo – Setrákus Ra diz, se aproximando com os braços abertos. — Quanto tempo? Se eu perdi outra reunião do conselho dos Anciãos, diga a Lóridas que eu sinto muito, mas— Como forma de cumprimento, Pittacus agarra a gola da camisa de Setrákus Ra e o empurra, pressionando-o contra uma das vigas de aço do Libertador. Embora ele seja menor que Setrákus, ele consegue pegar o homem grande de surpresa. — O que é isso, Setrákus? O que você fez? — O que você quer dizer? Me solte, Pittacus.

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Pittacus põe as mãos em suas têmporas. Eu realmente desejaria que ele não colocasse. Ele respira fundo, solta Setrákus e dá um passo para trás. — Você está minando Lorien – Pittacus diz, claramente tentando juntar as peças em sua cabeça olhando para o perímetro de escavação. — Você... o que você fez com essas pessoas? — Com os voluntários? Eu os ajudei. Pittacus balança a cabeça. — Isso é errado, Setrákus. Isso parece... parece que você contaminou nosso mundo. Setrákus ri. — Ah, não seja dramático. Isso assusta você apenas porque você não compreende. — Me explique, então! – Pittacus grita, e uma pequena chama irrompe nos cantos de seus olhos. — Por onde começar... – Setrákus diz, passando a mão em sua cabeça. — Nós estávamos juntos em Mogadore. Você viu o ódio que os Mogs têm por nós. A selvageria. Qual benefício poderia algum dia prover daquele lugar? — Irá levar tempo – Pittacus diz. — Um dia, os Mogadorianos vão escolher a paz. Lóridas acredita nisso, então eu também. — Mas e se eles não escolherem? Eles não estão colocando em risco apenas nosso modo de vida, mas sim toda a galáxia. Por que devemos contê-los e esperar uma melhora na mentalidade deles quando podemos simplesmente acelerar sua evolução? E se os Mogadorianos que escolheremos, aqueles que vemos como aliados pacíficos – e se pudéssemos dar Legados à eles? Transformá-los em Garde? Líderes dentre o povo deles, capazes de extinguir a guerreira

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e a periculosidade? Nós poderíamos mudar o destino de uma espécie inteira, Pittacus. — Não somos deuses – Pittacus responde. — Quem disse? Um momento de silêncio se passa. Pittacus dá um passo para trás de seu velho amigo. — É tudo o que eu pensava desde que retornamos de Mogadore – Setrákus continua. — Não apenas os Mogadorianos. Nós também. Todos nós. Os Lorienos. Por que existem os Garde e os Cêpan? Nós temos paz, sim, mas a que preço? Um sistema de linhagem onde nossos líderes são decididos dentre os quais foram ou não sortudos o suficiente para ter nascido com Legados? Nós Anciãos sentamos ao redor de uma mesa que se lê “unidade”, mas como somos iguais? — É como Lorien deseja— Setrákus ri amargamente. — Natureza, destino, sorte. Somos mais do que esses conceitos imaturos, Pittacus. Nós controlamos Lorien, não ao contrário. Você, eu, todos – nós poderíamos escolher nosso próprio destino, nossos próprios Legados. Minha esposa, ela poderia— — Celwe ficaria indignada com isso e você sabe – Pittacus diz. — Ela está preocupada com você. — Você... você falou com ela? — Sim. E eu vi a bagunça que você fez em sua casa. As sobrancelhas de Setrákus Ra se levantam, boquiaberto, quase como se ele tivesse sido atingido por um tapa. Eu meio que espero que ele comece a gritar com Pittacus no tom arrogante que ele usava com frequência comigo enquanto eu estava abordo da Anúbis.

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Eu posso ver a arrogância que eu conheço bem em sua expressão, mas também algo a mais. Ele não foi longe o suficiente ainda. Competindo com os delírios de meu avô de grandeza há uma pequena dose de vergonha. — Eu... eu perdi o controle – Setrákus Ra diz após um momento. — Você perdeu um monte de coisas e irá perder mais se não parar com isso – Pittacus responde. — Talvez nosso mundo não seja perfeito. Talvez podemos fazer mais, Setrákus. Mas isso... isso não é a resposta. Você não está ajudando ninguém. Você está adoentando-os e torturando a mãe natureza do nosso mundo. Setrákus mexe a cabeça. — Não. Não estou... isso é progresso, Pittacus. Algumas vezes, o progresso precisa ser doloroso. A expressão de Pittacus se torna sólida. Ele se vira em direção ao Libertador e observa o fluxo constante de energia lórica sendo sugada de graça do núcleo do planeta. Ele toma sua decisão rapidamente. Fogo toma conta de suas mãos e braços; — Vá para casa e para Celwe, Setrákus. Tente esquecer essa loucura. Eu vou... limpar o que você fez aqui. Por um momento, Setrákus parece considerar isto. Eu torço por ele, de verdade. Eu gostaria que ele percebesse que Pittacus está certo, desse as costas para sua máquina e voltasse para minha avó. Mas eu já sei como tudo isso irá acabar. A expressão de meu avô se torna obscura e as chamas intensas crescentes de Pittacus estão de repente extintas. — Eu não posso permitir que faça isso – ele diz.

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A Câmara dos Anciãos está vazia agora, exceto por Pittacus e Lóridas. O Garde mais jovem se afunda em sua cadeira alta, com o rosto machucado e nós nos dedos. O Garde mais velho fica do outro lado da mesa, inclinando-se sobre um objeto brilhante, trabalhando no que quer que seja com suas mãos nodosas. — Eu não concordo com a decisão deles – Pittacus diz. — Nossa decisão – Lóridas o corrige, gentilmente. — Você tinha um voto. Todos os outros nove tinham. — Execução foi longe demais. Ele não merece isso. — Ele era seu amigo – Lóridas responde. — Mas ele não é mais aquele homem. Seus experimentos poderiam ter corrompido todas as nossas formas de vida. Eles pervertiam tudo o que é puro sobre Lorien. Não pode ser permitido a continuar. Ele deve ser removido inteiramente. Apagado de nossa história. Até mesmo o seu assento de Ancião não deve ser preenchido, ele também o danificou. Sua malignidade não pode ser autorizada a formar raízes e se espalhar. — Eu ouvi tudo isso quando fomos convocados, Lóridas. — Se te tedia, então por que ainda está aqui? Pittacus expira profundamente. Ele olha para suas mãos. — Nós crescemos juntos. Você nos nomeou Anciãos juntos. Nós... – sua voz está trêmula e ele para e se acalma. — Eu quero ser aquele que irá fazer. Lóridas prende um olhar com Pittacus. Satisfeito que o jovem homem está sério, ele assente. — Pensei que gostaria.

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Lóridas usa seu Aeternus, suas expressões lentamente mudando até que ele parece bem mais jovem. Pittacus observa com uma sobrancelha levantada. — Ele tirou seus Legados na última vez que você o viu – Lóridas diz. — Conseguiu fazê-lo recuar. — Não vai acontecer novamente – Pittacus responde, sua voz aumentando. — Me mostre. Pittacus foca em Lóridas. Um momento depois, a pele no rosto de Lóridas se torna flácida e enrugada, seus fios de cabelo retrocedem drasticamente e seu corpo definha dentro de seu traje cerimonial. Ele parece muito mais velho do que antes e eu rapidamente percebo que essa é sua verdadeira aparência. De alguma forma, Pittacus acabou de retirar o Legado dele. — Ótimo – Lóridas diz, sua voz ríspida. — Agora devolva ao velho homem sua dignidade. Com um aceno de mão, Pittacus restaura os Legados de Lóridas. O Ancião muda de forma novamente, ainda velho, porém não tão desconsertadamente. — Quantos Legados você dominou com seu Ximic, Ancião Lore? Pittacus coça sua nuca, parecendo modesto. — Com o Dreynen, setenta e quatro. Nunca me incomodei em aprendê-lo antes. Jamais pensei que iria usá-lo. Dreynen, esse é meu Legado, um dos poucos que eu compartilho com meu avô, o que nos permite retirar temporariamente os Legados alheios com o toque ou carregando projéteis.

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— Impressionante – Lóridas responde, voltando sua atenção para o objeto espalhado na mesa a sua frente. — Ximic é o nosso Legado mais raro, Pittacus. A habilidade de copiar e dominar qualquer Legado que você observar. Não é um dom que se usa de qualquer jeito. — Meu Cêpan costumava me dar lições sobre isso – Pittacus responde. — Eu entendi a responsabilidade que vem com o poder. Eu tento viver minha vida com isso em mente. — Sim, e nós tivemos sorte que esse Legado escolheu você e não outra pessoa. Imagine, Pittacus, se seu amigo Setrákus encontrasse uma maneira de duplicar esse Legado. Torná-lo dele. Ou dá-lo para quem ele escolher. Pittacus range os dentes. — Eu não vou permitir que isso aconteça. Lóridas segura o objeto cujo qual ele esteve trabalhando. Parece uma corda, com exceção de que o material trançado não se parece com nada que eu já vi na Terra. É grosso e forte, com mais ou menos seis metros de tamanho, com uma ponta enrolada em um laço complexo. A parte do laço da corda foi moldada e endurecida, com uma ponta afiada. Lóridas demonstra apertando laço, e quando ele o faz, a borda letal faz o som do movimento de uma espada. Pittacus observa. — Um pouco antigo, não acha? — Já faz séculos e você é jovem, mas é assim que punimos a traição. Algumas vezes, os meios antigos são os melhores. É feito a partir da árvore Voron, uma planta quase tão rara quanto você. Os ferimentos causados pela Voron não podem ser curados por Legados – Lóridas

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gesticula para Pittacus. — Venha. Deixe-me pegar seu Dreynen emprestado. Pittacus dá a volta na mesa e põe suas mãos nos ombros de Lóridas. Eu não consigo ver o que acontece, mas posso perceber – Legado pode perceber – que Pittacus usa um Legado de transferência igual ao de Nove, permitindo com que Lóridas use seu Dreynen. Lóridas se concentra no laço. Ele começa a emitir um fulgor carmesim fraco, exatamente como quando eu carrego um objeto com meu Legado. — Você terá isso carregado com Dreynen agora, para o caso dele retirar seus Legados antes que você possa retirar os dele – Lóridas explica, balançando cautelosamente a ponta afiada do laço. — Encoste isso nele e— — Eu sei como funciona – Pittacus interrompe. — Será rápido, Pittacus. Pittacus pega a corda de Lóridas, tomando cuidado para não tocar no laço carregado. Ele aperta a corda com firmeza, sua expressão determinada. — Eu sei o que devo fazer, Lóridas. E nós – aqueles que estão assistindo do futuro – sabemos que ele ferrou com tudo.

Setrákus rasteja através do chão do Canyon, com manchas de sujeira e cinzas, seu rosto e cabeça cobertos de pequenos cortes. Nos fundos, um grupo de Garde comandando o lançamento todos os tipos de

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elementos diferentes no Libertador. A máquina cospe nuvens enormes de fumaça preta quando começa a desmoronar. Os corpos dos assistentes dele estão amontoados no chão. Entretanto, eles não foram mortos pelos Garde. Não, alguma coisa sinistra e escura vaza pelos poros deles até na morte. — Não sou eu que enlouqueci... – Setrákus diz, cuspindo sangue na terra enquanto ele se arrasta para longe do seu perímetro de escavação. Ele não olha para trás quando sua máquina explode, embora uma expressão parecida com dor física se espalha através de seu rosto. — O resto de vocês, de todos vocês – vocês que estão errados. Vocês não compreendem o progresso. Pittacus segue logo atrás de Setrákus. O laço balança em suas mãos. Seu queixo forte está estabilizado e determinado, mas seus olhos estão brilhantes. — Por favor, Setrákus. Pare de falar. Setrákus sabe que ele não pode escapar, então ele para de rastejar. Ele rola e fica de costas para o chão, e olha para cima, em direção do Pittacus. — Como eu posso estar errado, Pittacus? – Setrákus pergunta, sem fôlego. — A própria Lorien me deu o poder de dominar outros Garde, de retirar temporariamente os Legados deles. Esse é a forma do planeta dizer que ele me quer no controle. Pittacus balança a cabeça e para em frente de seu amigo. — Ouça a si mesmo. Primeiro você rebaixa a forma com que Lorien distribui aleatoriamente os Legados, e agora você prega que seus Legados são o destino. Eu não sei qual pensamento eu acho mais perturbador.

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— Nós poderíamos reinar juntos, Pittacus – Setrákus implora. — Por favor. Você é como um irmão para mim! Pittacus engole seco. Com sua telecinese, ele laça a corda ao redor do pescoço de Setrákus. Ele se abaixa em direção ao seu amigo Ancião, sua mão sobre nó espesso da corda que vai apertar o laço. — Você foi longe demais – Pittacus diz. — Sinto muito, Setrákus. Mas o que você fez... Pittacus começa a apertar o laço. Ele deveria fazer isso rapidamente, mas ele não pode acelerar isso, não ainda. A parte afiada encosta no pescoço de Setrákus. Meu avô suspira em dor, porém ainda não reagiu. De repente há um olhar de sabedoria nele, de renúncia. Setrákus se inclina para trás. A ponta afiada perfura ainda mais sua pele. Ele olha para o céu. — Haverá duas luas hoje à noite – ele diz. — Eles irão dançar na praia como costumávamos fazer, Pittacus. Sangue escurece o chão abaixo de meu avô. Ele começa a chorar, então ele fecha os olhos para esconder as lágrimas. Pittacus não consegue continuar. Ele retira o laço do pescoço de Setrákus, o joga para o lado e se levanta. Entretanto, ele não olha nos olhos de Setrákus. Invés disso, ele segue em direção do Libertador e da área de pesquisa de Setrákus, observando o lugar inteiro enquanto ele é queimado. Ele acredita com seu coração que isso significa o fim. Ele ainda vê seu velho amigo ali, jazendo no chão. Ele não conhece o monstro no qual ele irá se tornar. O Libertador é extenso. Ninguém nota quando Pittacus usa sua telecinese para arrastar um dos corpos dos assistentes mortos de Setrákus em direção à eles. Enquanto Setrákus observa, com os olhos

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arregalados, Pittacus usa seu Lúmen para queimar o corpo até que ele fique chamuscado e irreconhecível. Quando termina, Pittacus desvia o olhar. — Você está morto – Pittacus diz. — Saia daqui. Nunca retorne. Talvez algum dia, você poderá encontrar uma forma de restaurar o dano que causou, aqui e dentro de você. Até esse dia chegar... adeus, Setrákus. Pittacus leva o corpo queimado com ele e deixa Setrákus lá no chão. Ele fica perfeitamente parado, deixando o sangue escorrer do ferimento em forma de círculo causado pela ponta afiada da corda em seu pescoço pálido. Eventualmente, ele limpa as lágrimas dos olhos. Então, Setrákus sorri.

Nós demoramos no Canyon enquanto os anos passam. As cinzas da batalha foram sopradas para longe, as marcas do fogo desaparecendo com a luz do sol. Os restos da máquina de Setrákus Ra erodiram, engolidas pela poeira vermelha e pelo vento que sopra através das montanhas. Todo ano, quando há duas luas no céu, Pittacus Lore retorna para cá. Ele olha para os destroços do Libertador e considera o que ele fez. O que ele quase fez. Ou o que não fez. Quantos anos se passaram assim? É difícil dizer. Pittacus nunca envelhece graças a seu Aeternus.

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E então, um dia, enquanto Pittacus estava parado no mesmo lugar onde ele deveria ter matado meu avô, uma nave insectóide horrível corta o céu pelo pôr-do-sol e voa para baixo em sua direção. Parece com uma versão mais antiga dos Escumadores Mogadorianos que eu vi tantas vezes. Enquanto a nave pousa em sua frente, Pittacus acende chamas em uma das mãos, enquanto a outra está envolta a uma bola de gelo afiada. A porta da nave se abre e Celwe aparece. Ao contrário de Pittacus, ela envelheceu. Seu antigo cabelo encaracolado agora está cinza, seu rosto enrugado. Pittacus arregala os olhos quando a vê. — Olá, Pittacus – ela diz, colocando para trás os fios de cabelo. — Você não envelheceu um dia. — Celwe – Pittacus respira, sem palavras. Ele a pega em seus braços, ela retribui o abraço que dura por um longo momento. Eventualmente, Pittacus fala. — Eu nunca pesei que a veria de novo. Quando Setrákus Ra... quando ele... eu não esperava que você fosse para o exílio com ele, Celwe. — Eu fui criada da forma que nós Lorienos amamos para sempre – Celwe responde, sem frieza. Pittacus levanta ceticamente uma sobrancelha, porém não diz nada. Invés disso, ele olha para trás de Celwe, em direção ao modelo obsoleto do Escumador. — Essa nave. Ele é...? — Mogadoriana – Celwe responde simplesmente. — É lá que ele tem se escondido durante todos esses anos? Onde você tem vivido? Celwe assente. — Que lugar melhor do que um onde os Garde estão proibidos de irem?

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Pittacus balança a cabeça. — Ele deveria voltar. Já faz décadas. Os Anciãos apagaram ele da história, seu nome foi esquecido por todos, com exceção de nós. Eu realmente acredito que depois de todos esses anos os crimes dele podem ser perdoados. — Mas os crimes dele nunca pararam, Pittacus. E então ele nota. As veias negras pelo pescoço de Celwe. Pittacus dá um passo para trás, sua expressão enrijecendo. — Por que você retornou agora, Celwe? Em resposta, Celwe se volta para o Escumador. — Venha até aqui – ela diz e, um momento depois, uma tímida garota, com não mais de três anos, desce pela entrada da nave. Ela tem os cabelos encaracolados de Celwe e as feições de Setrákus Ra, e então de repente eu me lembro da carta de Crayton. Setrákus Ra pode me chamar de sua neta, mas na verdade eu sou sua bisneta. Não há como negar agora – não apenas porque Legado sabe, mas porque eu me reconheço nela – essa criança que vai crescer e dar à luz a Raylan, meu pai. — Essa é Parrwyn – Celwe diz. — Minha filha. Pittacus encara a criança. — Ela é linda Celwe. Mas... – ele olha para o rosto velho em sua frente. — Me desculpe, mas como isso é possível? — Eu sei que estou velha para ser mãe – Celwe responde, com um olhar distante. — A fertilidade é a especialidade de Setrákus Ra agora. Fertilidade e genética, para ajudar a elevar os Mogadorianos. Eles o chamam de Amado Líder – ela ri disso, balançando a cabeça. — Mesmo assim ele não queria ver sua filha crescer no meio deles. Então aqui estamos.

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Parrwyn dá um passo apreensivo, se escondendo atrás das pernas de sua mãe. Pittacus Lore se agacha, gesticula suas mãos sobre as pedras sem vida do Canyon e faz com que uma única flor azul floresça do arenito. Ele a pega e entrega para Parrwyn. A garota sorri. — Eu vou cuidar da sua proteção aqui – Pittacus diz para Celwe, não olhando para ela mas sim para a filha. — Você pode viver uma vida normal. Mantê-la salvo. Não conte a ela sobre... sobre ele. Celwe assente. — Ele vai voltar um dia, Pittacus. Você sabe disso, certo? Com exceção de que não vai ser como você imagina. Ele não virá procurando perdão. Pittacus toca sua garganta, passando uma mão no local onde a cicatriz de Setrákus Ra está. — Eu estarei pronto para ele – Pittacus diz. Ele não estava.

A visão acaba e a escuridão retorna. Há explosões da energia Lórica ao meu redor. Mais uma vez, estou flutuando no espaço aconchegante que é o Legado. — O que agora? – eu pergunto. — Por que você nos mostrou? Para que vocês soubessem – a voz responde gentilmente. E sabendo, agora irão conhecer. — Quem irá conhecer? Todos.

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eu acordo em uma biblioteca, com o rosto em um carpete macio, cercado em todos os lados por cadeiras confortáveis. “Acordar” provavelmente não é o termo certo, na verdade. Tudo tem uma imprecisão nas pontas, inclusive meu próprio corpo. Eu posso dizer que ainda estou no estado de sonho que Ella criou, com exceção de que não estou mais no modo telespectador. Eu posso me mover e interagir com a sala, mesmo sabendo que eu não sei que diabos eu deveria fazer agora. Eu me levanto e olho em volta. A iluminação aqui é jovial e as paredes estão cobertas com estantes e livros de couro, todos os títulos nas lombadas escritos em Lórico. Normalmente esse seria o tipo de lugar que eu não me importaria em explorar, exceto que de volta ao mundo real há um Mogassauro vindo na minha direção e na dos meus amigos. Ella me assegurou de que ficaríamos bem. Porém isso não significa que eu estou contente em me sentar em uma biblioteca astral esperando para ver o que acontece em seguida.

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— Cara, alguém dá um lencinho umedecido para aquele frutinha do Pittacus Lore. Eu me viro e encontro Nove parado no meio da sala onde não havia nada além de um espaço vazio minutos atrás. Ele assente para mim. — Do que você está falando? — Você viu aquilo também, né? A história da vida de Setrákus Ra? Eu assinto. — Aham, eu vi também. Nove me olha como se eu fosse um idiota. — O cara deveria ter matado Setrákus Ra quando teve a chance invés de ficar todo sentimental na situação. Qual é. — Não sei – eu respondo, em silêncio. — Não é fácil ter a vida de alguém em suas mãos. Ele não tinha como saber o que aconteceria. Nove bufa. — Que seja. Eu estava gritando para ele matar aquele pateta, mas ele não ouvia. Obrigado por nada, Pittacus. Para falar a verdade, eu não estou preparado para processar a visão, especialmente com os comentários de Nove. Eu queria poder reproduzir novamente para que eu pudesse ter tempo de examinar minuciosamente meu planeta natal da forma que era séculos atrás. Mais do que nunca, eu queria poder ver mais Pittacus Lore usando aquele Legado Ximic. Nós ouvimos sobre histórias de quão poderosos ele era, sobre como ele tinha todos os Legados. Eu acho que foi assim que ele fez. Vendo-o usar o Ximic me fez pensar sobre quando eu desenvolvi meu Legado de cura. Aconteceu durante uma situação desesperadora: apenas quando eu tentava salvar a vida de Sarah o Legado se manifestou. E se não fosse um Legado de cura que se manifestou, afinal de contas? E se fosse meu Ximic se manifestando quando eu realmente precisei e eu apenas não fui capaz de descobrir como usá-lo para nada mais além de cura desde então? Eu balanço minha cabeça. É bobeira esperar algo assim. Eu não posso querer melhorar meus Legados da mesma forma que Nove não pode

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desejar mudar o passado. Temos que vencer esta guerra com o que nos foi dado. — O que foi feito está feito – eu digo para Nove, franzindo a testa. — O que importa é que paramos Setrákus Ra. Essa era a nossa missão. — Aham. Eu também gostaria de evitar ser engolido por aquele monstrengo gigante lá em Nova Iorque – Nove diz, olhando em volta. Ele não parece estar enlouquecendo por estar no estado de sonho. Ele segue o fluxo. — Ugh, livros. Você acha que algum desses livros fala sobre como matar aquele Godzilla? Eu olho em volta também, mas não para os livros. Estou procurando por uma saída. Essa sala não parece ter qualquer tipo de porta. Estamos presos aqui. Ella, a Entidade Lórica, quem quer esteja no comando disso – eles não terminaram conosco ainda. — Acho que estamos em algum tipo de sala de espera psíquica – eu digo a Nove. — Não tenho certeza para quê. — Legal – Nove responde, se jogando em uma das cadeiras. — Talvez eles vão nos mostrar outro filme. — O que você acha que aconteceu com Sam e Daniela? Eu os vi desmaiando ao mesmo tempo que nós. — Não faço a menor ideia – Nove diz. — Você deveria pensar que nós acabaríamos no mesmo lugar. — Por quê? – Nove pergunta. — Você acha que há lógica em qualquer operação alucinatória compartilhada telepaticamente? — Não – eu admito. — Acho que não. — Então, você acha que Ella está fazendo tudo isso, certo? Estou captando uma total Ella vibe. — Sim – eu digo, assentindo em consentimento. Nove está certo. Eu não tenho certeza de como estamos na projeção psíquica de Ella, eu apenas sei. É intuição. Nove assobia. — Droga, cara. A garota teve um melhoramento monstro. Eu meio que sinto que estamos ficando frouxos. Eu quero

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poder copiar alguns Legados como seu irmão Pittacus. Ou pelo menos arrumar aquela corda com a ponta afiada Eu suspiro e balanço minha cabeça, um pouco envergonhado por ouvir Nove dizer em voz alta o que eu estava pensando. Eu mudo de assunto. — Precisamos encontrar uma maneira de sair daqui. Nove me olha com uma expressão engraçada, então eu me viro e sigo em direção a uma das estantes de livros. Eu começo a puxar os livros das prateleiras, pensando que talvez eu vou abrir algum tipo de passagem secreta. Nada acontece e Nove ri de mim. — Não deveríamos estar sentados por aí – eu digo, olhando para ele. — Cara, o que mais podemos fazer? Você sabe o tanto que eu tentei matar o jovem Setrákus Ra enquanto estávamos assistindo aquela projeção? Muitas vezes – Nove soca uma de suas mãos na palma da outra, e então se arrepia. — Mas, sabe, eu não tinha nem braços e nem pernas. Não podemos fazer nada agora. Então vamos apenas relaxar. Eu estive lutando por dias e mesmo nessa cadeira, tipo, que é um fragmento da minha imaginação, me sinto confortável para caramba. Eu desisto de puxar os livros da parede e volto para o centro da sala. Ignorando Nove, eu inclino minha cabeça e grito para o teto. — Ella? Você pode me ouvir? — Você parece estupidamente idiota agora – Nove diz. — Eu não sei porque você ainda está sentado aí – eu digo, encarando ele. — Agora não é hora para relaxar. — Agora é a hora perfeita para relaxar – Nove responde, olhando para um relógio de pulso imaginário. — Vamos voltar para quase sermos mortos assim que Ella nos mostrar a droga da profecia maluca que ela teve. — Eu concordo com Nove. Eu me viro para a voz e encontro Cinco parado em pé a alguns metros de distância, recentemente manifestado em nossa pequena sala. Ele morde seus lábios e se dá de ombros para mim, como se ele não estivesse

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feliz em nos ver também. Mesmo nesse mundo dos sonhos, Cinco ainda está caolho. Pelo menos o local está coberto com um tapa-olho normal invés daquela gaze suja que ele ostenta no mundo real. — Que diabos você está fazendo aq—? Há um grito de guerra gutural atrás de mim e então Nove passa por mim num borrão. Ele ergue os ombros e segue com as mãos esticadas em direção ao pescoço de Cinco. Por alguma razão, Cinco não esperava ser atacado à primeira vista e mal tem tempo de se proteger antes que Nove o alcance. Exceto que, desta vez Nove não o acerta. Ele passa direto através de Cinco e acaba com sua cara no meio de uma pilha de livros que eu retirei das prateleiras. — Filho da mãe! – Nove grunhe. — Huh – Cinco diz, olhando para seu peito, que com certeza parece sólido o suficiente para ser atingido. — Não pode haver violência por aqui. Todos voltamos nossos olhares para perto da parede dos fundos, onde um vão de porta acabou de se manifestar. No meio dele há um homem de meia idade com um corpo modulado, seu cabelo castanho ficando branco nas pontas. Ele parece exatamente da mesma forma que eu me lembro. — Henri?! – eu exclamo. Ao mesmo tempo, Nove grita: — Sandor?! Que diabos? Cinco não diz nada. Ele simplesmente olha para o homem no vão da porta, seus lábios curvados em um sorriso sarcástico. Nove e eu trocamos um olhar rápido. Nos leva apenas alguns segundos para perceber que estamos vendo pessoas diferentes. Se realmente é Ella quem está controlando essa terra dos sonhos, ela deve ter puxado alguém de nosso subconsciente com o qual nos sentimos confortáveis. Exceto que, na realidade não parece ter funcionado com Cinco. Ele mantém os punhos serrados, como se fosse se atirar para

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frente a qualquer momento. E não posso evitar sorrir ao ver Henri, mesmo sabendo que esse momento é passageiro. — Você é... você é real? – eu pergunto, me sentindo idiota por fazer essa pergunta. — Eu sou tão real quanto uma memória, John – Henri responde. Quando ele fala, eu vejo um pequeno brilho dentro de sua boca, a mesma energia que Setrákus Ra estava minando de Lorien. É similar à descrição que Seis fez do seu breve encontro em grupo com a reencarnação de Oito. Eu não acho mais que seja apenas Ella controlando essa projeção telepática. Ela está tendo ajuda de alguma coisa superpoderosa. — Me desculpe por ter explodido a cobertura – Nove diz. Ele pausa para uma resposta, e então diz: — Sim, tudo foi totalmente culpa do Cinco, você tem razão. Eu olho primeiro para Nove, e depois para cinco, que ainda não disse nada, porém parece estar ouvindo intensamente, e finalmente me volto para Henri. Nós não podemos ver ou ouvir o visitante do outro, apenas o nosso. — O que você...? – estou prestes a perguntar a Henri o que ele faz aqui, mas eu penso melhor. Ele estar aqui faz tanto sentido quanto qualquer outra coisa. Há perguntas muito mais importantes que precisam ser respondidas. — O que estamos fazendo aqui? — Vocês estão aqui para encontrar os outros – Henri responde, e então se virar e anda em direção ao vão da porta que não estava lá segundos atrás. Ele gesticula para seguirmos. — Que outros? — Todos eles – Henri diz, e então sorri para mim da mesma forma frustrante que ele costumava fazer. — Lembre-se, John. Você terá apenas uma chance para passar uma boa primeira impressão. Melhor aproveitá-la. Eu não sei do que ele está falando, mas eu o sigo de mesmo assim. Ele é meu Cêpan, afinal. Mesmo manifestado nesse estado de sonho maluco, ele ainda parece real. Eu confio nele. Nove segue para a porta

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também, seguindo a versão de Sandor que não posso ver, conversando sobre o Chicago Bulls. Cinco invejosamente segue a alguns passos atrás, ainda em silêncio. Quando eu chego perto dele, Henri coloca as mãos em meus ombros. Ele abaixa sua voz, mesmo sabendo que os outros não podem ouvi-lo, como se ele estivesse me contando um segredo. — Comece com aqueles que você sentiu, John. Eles serão mais fáceis. Se lembre de como era. Visualize. Eu encaro Henri, incerto da doideira que ele está falando. Em resposta ao meu olhar, ele sorri daquela maneira novamente. Me dando as dicas, me fazendo pensar sozinho nos detalhes. À moda Henri. Eu sei que isso me faz mais forte e mais inteligente durante a caminhada, mas mesmo assim isso me irrita. — Eu não entendi o que você quis dizer para mim – eu digo. Henri dá palmadinhas nos meus ombros, e então começa a descer para o hall. — Você irá entender.

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estou me sentindo um pouco tonta, devido em grande parte pelo fato de que estou sendo guiada por um longo corredor por Katarina, minha falecida Cêpan. Marina e Adam estão alguns passos atrás de mim. Não tivemos muito para conversar quando “acordamos” em uma biblioteca extravagante. Todos estavam espantados pelo que acabamos de ver ou em choque da terrível batalha da qual fomos transportados. De toda maneira não demorou muito até que Katarina viesse nos chamar. Exceto, que eu acredito que os outros não estão vendo Katarina. Marina se dirigiu a pessoa nos guiando como Adelina e Adam está propositalmente falando baixo então não posso ouvir o que ele está dizendo. Ambos estão tendo seus próprios diálogos. É como se estivéssemos juntos; mas cada um em uma sintonia diferente. A expressão de Adam é de culpa desde que acordamos aqui. Mas agora ele se posicionou um pouco a frete de Marina, ficando mais próximo da pessoa que eu vejo como Katarina. Marina e eu trocamos um olhar, ambas querendo escutar o que eles estão conversando. Nos aproximamos de Adam.

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— Eu fiz a coisa certa? - ele pergunta a quem quer que seja que a Entidade-Ella se mostra para ele. Eu não ouço a resposta que ele recebe. O que quer que a Entidade diz a ele, tudo que Adam faz é sacudir sua cabeça. — Isso não muda o que eu tentei fazer, Um. Ah! Eu sei o que ele está perguntando. Adam tentou matar Ella bem antes...ok, antes de ela basicamente se matar. Eu também tenho minha parcela de culpa, já que eu definitivamente não tentei impedi-lo. Eu estava disposta deixar todo episódio de lado, como algo que aconteceu no calor da batalha. Aparentemente Adam não consegue fazer isso. Nem Marina. Ele agarra o cotovelo de Adam o virando para poder confrontá-lo. Se tratando de Marina eu sei que essa raiva vem se acumulando por um tempo já. — O que você estava pensando?! - ela pergunta. Eu quase acreditei que Marina começaria a irradiar sua aura de gelo. Mas imagino que isso não aconteça aqui neste lugar dentro da mente de Ella. Mesmo assim seu olhar mortal conseguiu o efeito desejado. — Eu sei... - Adam respondeu com a cabeça baixa. — Eu perdi o controle. — Você poderia ter matado Ella - Marina rebate. — Você teria matado! — Mas ele não matou... - eu digo tentando manter a paz. Ambos me ignoram. — Eu não espero que você entenda isso – Adam diz, sua voz suave. — Eu nunca, eu nunca realmente encontrei Setrákus Ra antes. Mas passei toda a minha vida em sua sombra, sob seu polegar, um prisioneiro de suas palavras. Quando eu tive a chance de matá-lo, de me libertar... Eu simplesmente não pude evitar. — Você acha que nós não queremos matá-lo? - Marina pergunta, incrédula. — Ele tem nos caçado durante toda nossa vida. Mas nós sabíamos que Ella teria morrido primeiro, então nós... nós nos controlamos.

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— Eu sei - Adam responde, nem mesmo tentando se defender. — E naquele mesmo momento me tornei o que sempre odiei. Eu vou ter que viver com isso, Marina. Sinto muito aconteceu. Marina passa a mão pelo cabelo, não sabendo como responder a isso. — Eu apenas... eu simplesmente não posso acreditar que ela se foi - diz Marina depois de um momento. Eu não posso acreditar que ela se matou. — Eu não acho que Ella se foi - eu digo a Marina, passando as mãos nas paredes azuis no profundo de mármore do corredor que nos rodeia. — Eu acho que ela tem algo a ver com a nossa situação atual, sabia? Eu vi muitos relâmpagos Lóricos saírem do corpo de Ella antes desmaiarmos. Marina sorri apertado, olhando para mim agora, em vez de Adam. — Espero que você tenha razão, Seis. — O encanto foi quebrado. Eu testei-o antes de virmos aqui - eu lhes digo, lembrando com muita satisfação como me senti ao rachar a cabeça de Setrákus Ra com uma rocha. Marina aperta a ponta de seu nariz. É muito para se absorver, passar do combate com Setrákus Ra a vê-lo como um Lorieno normal e depois a isso. — Ele...? Ele poderia estar matando gente agora? — Não, ele sofreu o mesmo efeito do que quer que Ella tenha feito com a gente, também. Mesmo assim devemos criar um plano, porque eu tenho pressentimento de quem uma vez que esta pequena viagem ao passado acabe, vamos estar de volta na merda. Adam franze a testa, parecendo envergonhado. — Eu estou mal. Acho que ele quebrou toda a minha cara. — Eu vou te curar - diz Marina secamente. — Eu estava prestes a fazê-lo de qualquer maneira. — Bom, bom - eu digo. — E então vocês podem me ajudar a matar Setrákus Ra. Adam e Marina olham para mim. — O quê? - pergunto. — Vocês acham que teremos uma chance melhor? As tropas dele fugiram e ele está machucado, são três contra um...

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— Não temos nossos Legados - diz Marina. — Ele os drenou. Eu vou ter que arrastar Adam para fora da cratera apenas para curá-lo. Adam balança a cabeça, me estudando. Posso dizer que ele não tem certeza se estou sendo louca ou se ele pensa que é um bom plano. De qualquer maneira, eu noto a admiração em seu olhar. — Não vai ser um três contra um de imediato, Seis. Vai ser um contra um. — Eu não me importo. Eu não vou desperdiçar essa chance - lhes digo. Eu olho ao redor, desejando que eu pudesse descobrir um jeito de sair daqui. — Assim que isto finalmente acabar, eu vou matar ele. Marina esquece sua raiva com Adam tempo suficiente para trocar um olhar rápido. Eu acho que posso soar um pouco louca. Durante essa discussão nós paramos de andar pelo corredor. Katarina, ou quem ou o que quer que seja que tomou sua forma, percebe nosso atraso e para, pigarreando com impaciência. — Nós não temos muito tempo – ela diz no mesmo tom severo que costumava usar quando eu realmente a incomodava. — Vamos lá. Nós começamos a andar novamente. Marina chega perto de mim, se encosta em meu ombro. — Vamos apenas ter cuidado, tudo bem, Seis? - ela diz baixinho. — O Santuário... talvez Ella... já perdemos muito hoje. Eu assinto com a cabeça, sem responder. Marina foi quem quis ficar para trás e proteger o Santuário de Setrákus Ra em primeiro lugar. Mas agora que temos uma chance real para matá-lo, ela está ficando com pé frio. Eventualmente, o corredor se abre para uma sala abobadada com uma grande mesa circular que cresce diretamente para fora do chão. Katarina fica de lado para nos deixar entrar e quando eu me viro para olhar para ela, ela desapareceu. A sala é uma réplica exata da Câmara dos Anciãos da visão que todos nós compartilhamos. A única diferença é o mapa brilhante desenhado no teto. Em vez de Lorien, ele retrata a Terra. Existem pontos brilhantes no mapa em lugares como Nevada, Stonehenge e Índia - as localizações das

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pedras de Loralite. O local está vazio, mas um dos nove lugares ao redor da mesa já está preenchido. Lexa parece muito desconfortável sentada em uma das cadeiras de espaldar alto. Ela tamborila os dedos sobre a mesa, obviamente, não sabendo o que deveria estar fazendo. Ela parece aliviada quando entramos no quarto. — Eu não acho que eu deveria estar aqui - diz Lexa, se levantando para nos cumprimentar — Eu sinto o mesmo - Adam responde, olhando para o e enorme símbolo Lórico no centro da mesa. — Eu não sou uma Garde. Eu nunca sequer visto uma dessas reuniões até essa coisa visão. Vocês viram também, certo? Todos acenamos a cabeça. — Se você está aqui, é por uma razão - diz Marina. Lexa olha para mim. — Eu ouvi as explosões da selva. Como o combate está indo? Adam toca o rosto, onde Setrákus Ra o acertou, em seguida, vai em direção a um dos lugares vazios. Tento descobrir a melhor maneira de dizer Lexa sobre a nossa situação atual. — Estamos sobrevivendo - eu digo. — Nós empurramos os Mogs de volta e eu acho que nós temos uma chance real de matar Setrákus Ra. Se sairmos daqui. Lexa acena com a cabeça em aprovação. — Claro que sim - diz. — Mesmo assim, estou mantendo os motores quentes. Em caso de necessidade de fuga. — Podemos muito bem precisar - Marina diz, me dando um olhar. — Você foi a que queria ficar e lutar em primeiro lugar, Marina. Agora nós temos que terminar isso. — Mas você não entende, Seis? O conhecimento é o que precisávamos. Nós sabemos o que Setrákus Ra quer e nós sabemos como pará-lo. O encanto foi quebrado. Ella destruiu seu aparelho para que ele não possa sugar mais da entidade. Apenas estar aqui – Marina gesticula mostrando a sala. — Isto é uma vitória. Adam está ferido, Ella está ... não sabemos, e

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estou convencida de que Sarah, Mark e Bernie Kosar não serão capazes de nos dar cobertura para sempre. Talvez nos retirar seja o mais sábio a fazer. Ella nos disse que deveríamos correr. Correr ou... — Oh, agora você concorda com ela - eu respondo, balançando a cabeça. — Olha, eu não sei o que você aprendeu com essa visão, mas se eu aprendi uma coisa é que Pittacus Lore deveria tido a coragem de matar Setrákus Ra quando ele teve a chance. — Boom. Está vendo, Johnny? Seis concorda comigo! John e Nove entram na sala a partir de uma passagem lateral. Apesar de tudo, eu não posso deixar de sorrir quando os vejo. O sorriso vacila rapidamente, porém, quando Cinco marcha atrás deles. Marina fica tensa imediatamente e dá um passo em direção a ele, mas John coloca-se entre eles, arregalando os olhos como se dissesse “agora não é o momento para isso”. Eu coloco a mão no braço de Marina para mantê-la calma. Para seu crédito, Cinco parece perceber que ele é uma presença muito indesejável. Ele permanece na lateral da sala, evitando o contato visual. John e Nove correm para nós e todos nos abraçamos. Rapidamente os apresentamos a Lexa, que John já tinha ouvido falar através de Sarah. — Então, vocês estão no meio de um combate com Setrákus Ra e nós estamos prestes a ser engolido por um Mogassauro gigante - Nove diz, cruzando os braços. — Timing perfeito para essa merda, hein? — Como está Sarah? - John me pergunta. — Ela está bem - digo-lhe, deixando de fora a parte em que eu realmente não a vi nos últimos minutos. Não há nenhuma razão para preocupá-lo. Sua namorada pode cuidar de si mesma. — Ela se tornou uma excelente atiradora. John sorri e parece aliviado. — E Sam? - pergunto. John balança a cabeça. — Eu não sei. Ele tem Legados e eu o vi desmaiar antes de mim. Ele definitivamente foi puxado para o chat telepático de Ella. Eu não tenho certeza de onde ele acabou, no entanto. — Ele estará aqui em um segundo. Todos nós reconhecemos a voz. Ella aparece do nada, sentada na mesma cadeira que Loridas ocupou na visão. Seus olhos estão

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transbordando com energia Lórica. Suas mãos descansam sobre a mesa e em sua frente faíscas de energia se propagam por toda parte. O cabelo dela flutua para fora de sua cabeça, como se ela fosse cercada por eletricidade estática. Todos nós olhamos para ela, em um silêncio e espanto. — Ella...? - Marina é a primeira a falar. Ela dá um passo em direção a Ella. — Você está bem? Ella dá um leve sorriso, mesmo sem nunca olhar em nossa direção. Seus olhos mantem o foco sobre o espaço vazio à sua frente. Seu comportamento me faz lembrar da Entidade. É como se elas compartilhassem o mesmo corpo. — Eu estou bem - Ella responde. Há uma qualidade musical a sua voz, como se ela não fosse a única pessoa falando, há trechos de outras conversas também. — No entanto, eu não posso manter isso por muito mais tempo. Temos que começar. Não se assustem com o que vai acontecer a seguir. — Se assustar com o quê? - John pergunta. Em resposta, Setrákus Ra aparece na cadeira ao lado de Ella, vestindo a mesma armadura ornamentada de quando atacou o Santuário. Todos nós recuamos. O líder Mogadoriano parece não nos notar, no entanto. Ele não pode, por conta de sua cabeça que está sendo coberta por um capuz preto. Correntes feitas de Loralite azul de incandescentes são enrolados em torno de seu peito e ombros, o mantendo preso à cadeira, apesar se seus esforços para se libertar. — Que diabos? - Nove pergunta, dando um passo em direção à Setrákus Ra. — Por que ele está aqui? - eu pergunto à Ella. — Eu tive que trazer todos que foram tocados por Legado - Ella responde. — Era tudo ou nada. — Legado...? Você quer dizer...? — A Entidade - ela responde. — Eu dei-lhe um nome. Ela não parece se importar. Marina ri. Isso me faz sorrir também. Parece que a velha Ella está lá.

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— É este Legado vai sair e se apresentar? - Nove pergunta. — Eu quero dizer oi e pedir novos poderes. — Ela está aqui, Nove - Ella responde, e eu acho que eu vejo um canto de sua boca ser curvar em um sorriso. — Está em mim. Nesta sala. Em tudo que nos rodeia. — Oh, ok - Nove responde. — Ele pode nos ouvir? - John pergunta, olhando para Setrákus Ra. — Não, mas ele sabe que algo está acontecendo - diz Ella. — Ele está lutando contra mim. Tentando se libertar. Eu não sei quanto tempo eu posso segurá-lo. É melhor fazer o que estamos aqui para fazer. — Para que estamos aqui? - pergunto. — Todo mundo, sentem-se - Ella responde. Eu olho em volta para ver se alguém acha que isso é uma loucura como eu. John e Marina imediatamente puxam para cadeiras e se sentam, com Lexa e Adam rapidamente se juntando a eles. Nove chama minha atenção, dá piscadinha, um sorriso metido e dá de ombros como que dizendo “foda-se”. Ele se senta ao lado de John e eu me espremo entre Marina e Ella. Isso deixa apenas um assento, o próximo a Setrákus Ra. Ninguém estava ansioso para se sentar lá. A contragosto, Cinco caminha da borda da sala e senta-se ao lado de seu antigo mestre. Parece que ele preferiria estar em qualquer outro lugar agora e evita fazer contato visual com qualquer um de nós. — Perfeito - Nove zomba. Enquanto todo mundo se senta, eu me inclino e sussurro para Ella. Eu não posso manter minha mente fora do confronto iminente com Setrákus Ra. — Ella, você disse para correr ou morrer - começo, realmente não sei como abordar e esclarecer uma profecia minha amiga cheia de energia e talvez morta. —Isso é... essas ainda são nossas únicas opções? Se eu lutar Setrákus Ra qualquer um de nós pode morrer...? Veias se destacam na testa de Ella. — Seis, eu não posso. Eu não posso te dizer o que fazer. É tudo... é tudo muito incerto. — E agora? - John pergunta a Ella, interrompendo nossa conversa.

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Ela demora um momento para responder. Há tensão em seu rosto. Ela está muito concentrada em alguma coisa. — Agora, eu vou trazer os outros. — Que outros? - John pergunta. Em resposta, há um de ruído súbito à nossa volta. De repente, parece que estamos no meio de uma festa lotada. Isso porque a galeria circundante a mesa dos Anciãos agora está completamente cheia de pessoas. Eles são todos da nossa idade, alguns talvez mais jovem e, à primeira vista parecem vir de todo o mundo. Muitos deles conversam animadamente entre si, alguns se apresentam, outros discutem a visão que acabamos de ver, analisam os detalhes da história Setrákus e Pittacus. Outros sentam sozinhos, parecendo nervosos ou com medo. Um menino bronzeado com cabelo escuro e um colar de contas não para de chorar em suas mãos, mesmo sendo consolado por um par de meninas loiras que parecem pertencer a um comercial de chocolate quente. A forma como eles estão agindo, é como se tivessem sentados aqui o tempo todo e nós é que fomos transportados para o palco neste instante. Eu acho que, pela sua perspectiva, isso é exatamente o que aconteceu. Sam se senta na primeira fila, e uma menina com olhar ranzinza com uma confusão de tranças está sentada ao lado dele. Ele olha diretamente para mim, sorri e sussurra um cumprimento. Em seguida, a comoção realmente começa. — Olhe! - grita uma menina japonesa, e levo um segundo para perceber que ela está apontando para nós. Um murmúrio percorre a multidão quando todos nos notam sentados ao redor da mesa. No início, todos falam ao mesmo tempo, nos metralhando com perguntas que eu não posso nem distinguir. Lentamente, a sala fica quietas. Um silêncio respeitoso eventualmente cai. Estes são o Gardes humanos. Eu só posso imaginar como totalmente insana essa coisa toda pode parecer para eles.

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Então, eu percebo, que eles estão esperando por nós para explicar a situação. Eu olho em volta nossa mesa. Ella ainda está completamente distante e apática. Ao lado dela, Setrákus Ra se debate e luta. Adam e Cinco parecem que estão prestes a se esconder debaixo da mesa. Mesmo Marina está corando e parecendo desconfortável. Ao contrário dos outros, Nove sorri e acena para o maior de pessoas da multidão que pode. — E aí? - ele diz. Algumas pessoas na plateia riem silenciosamente. Obviamente, um de nós precisa dizer algo mais inteligente do que isso. John se levanta, sua cadeira raspando alto contra o chão de mármore. — É o cara do YouTube - eu ouço alguém sussurrar, e do outro lado da sala, alguém diz: — É o John Smith. John olha para todos os diferentes rostos, tentando não aparecer encabulado. Eu vejo Sam piscar para ele com um polegar para cima. John respira profundamente, então hesita. Ele se vira para Ella. — Todos falam português? — Eu estou traduzindo - Ella responde simplesmente, com os olhos brilhando intensamente. Eu não sei quando ela aprendeu a fazer isso. Eu não vou perguntar, e, aparentemente, nem John. — Oi - John diz, erguendo a mão. Algumas pessoas na multidão murmuram saudações de volta. — John Smith é meu nome. Nós somos o que sobrou do Lorien. John caminha ao redor da mesa. Ele acaba a direito ao lado Setrákus Ra. — Eu acho que vocês provavelmente viram o que vimos, certo? Bem, essa história termina com Setrákus Ra aqui voltando para o nosso planeta, Lorien, e massacrando todos seus habitantes. Todos, exceto nós. Ele permite a informação seja absorvida antes de continuar. — Se você não tem certeza do que isso tem a ver com você, bem, talvez você tenha notado todas as naves espaciais nos jornais? Setrákus Ra está aqui. Ele vai fazer com a Terra o que ele fez com Lorien. A menos que possamos detê-lo.

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John tenta fazer contato visual com o maior número de pessoas na plateia possível. Ele está realmente fazendo essa coisa toda de líder muito bem. — Eu não quero dizer nós, como uh, apenas meus amigos aqui sentados ao redor da mesa - John continua. — Quero dizer nós, todos nesta sala. Isso faz com os jovens na plateia comecem a murmurar. O garoto havaiano que estava chorando pelo menos parou de soluçar tempo suficiente para ouvir, mas agora eu vejo seus olhos a procura de uma saída. — Eu sei que isso parece loucura. Também provavelmente não parece justo - John continua. — Há alguns dias atrás, vocês estavam levando uma vida normal. Agora, sem aviso, existem alienígenas em seu planeta e vocês podem mover objetos com suas mentes. Certo? Eu quero dizer... há alguém aqui que não possui telecinese ainda? Algumas mãos se levantam, incluindo o menino chorão. — Oh, wow - diz John. — Então, vocês devem estar muito confusos. Experimentem quando vocês saírem daqui. Apenas, uh... visualizem algo em sua casa se movendo através do ar. Realmente se concentrem nisso. Vai funcionar, eu prometo. Você vai surpreender-se e provavelmente assustar seus pais. - John pensa por um momento. — Alguém já desenvolveu quaisquer outros poderes, além de telecinese? Nós os chamamos de Legados. Alguém mais...? Um indivíduo em uma das filas do meio se levanta. Ele é robusto de cabelos castanhos e me faz lembrar de um bicho de pelúcia. Quando ele fala que é com um leve sotaque alemão. — Meu nome é Bertrand - diz, nervosamente olhando ao redor. — A minha família e eu, somos apicultores. Ontem, eu notei, hum, as abelhas... eles falaram comigo. Eu pensei que eu estava ficando louco, mas o enxame vai para onde eu lhes digo para ir, então... — Que nerd - Nove sussurra para mim. — Apicultor. John bate palmas. — Isso é incrível, Bertrand. Isso é, foi muito rápido para desenvolver um Legado. Eu prometo o resto de vocês vai recebê-los também, e não serão todos que vão poder falar com insetos. Nós

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podemos treiná-los e ensinar como usá-los. Temos pessoas que sabem, pessoas com experiência... - então, John olha em volta da mesa. Acho todos vamos nos tornar Cêpan agora. — De qualquer maneira, há uma razão para vocês estarem recebendo esses Legados, especialmente agora. No caso de vocês não terem percebido ainda... é porque vocês supostamente devem nos ajudar-nos a defender a Terra. Isso realmente fez a multidão falar. Algumas pessoas realmente aplaudiram como se tivessem prontos para lutar, mas principalmente murmuraram duvidoso, conversando entre si. — John... - Ella diz, cerrando os dentes. — Rápido, por favor. Eu olho para Setrákus Ra. Suas tentativas de fuga estão cada vez mais brutais. John levanta ambas as mãos pedindo silêncio. — Eu não vou mentir e dizer que o que eu estou dizendo para vocês fazerem não é perigoso. Definitivamente é. Eu estou pedindo para vocês deixarem suas vidas para trás, para deixarem suas famílias para trás e se juntarem a nós em uma luta que começou em uma galáxia inteiramente diferente. Algo sobre a forma como John diz que tudo isso me faz pensar que ele praticou antes. Percebo que ele olha para a menina sentada ao lado de Sam. Ela sorri de volta. — Eu, obviamente, não posso obrigar você se juntarem a nós. Em poucos minutos, vocês vão acordar desse pequeno encontro para onde vocês estavam antes. Onde é seguro, eu espero. E talvez aqueles de nós que lutarem, talvez os exércitos do mundo, todos nós... talvez isso seja suficiente. Talvez possamos combater os Mogadorianos e salvar a Terra. Mas se falharmos, mesmo se você ficar à margem para esta batalha... eles virão atrás de você. Então, eu estou pedindo a todos vocês, mesmo que vocês não me conheçam, mesmo que nós tenhamos abalado suas vidas. Ajude-nos a salvar o mundo. — Claro que sim - Nove diz, batendo palmas para John. — Vocês ouviram, novatos. Deixem de ser covardes e se juntem à essa maldita guerra

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O silêncio respeitoso que tinha sido mantido durante o discurso de John se quebra quando Nove abre a boca, como se estivéssemos em uma conferência de imprensa de repente. Há perguntas gritadas de todas as direções. — Isso é um Mogadoriano na mesa? — Voltem para a sua galáxia, aberrações! — Como posso sair quebrando coisas com minha telecinese? — Eu quero ir para casa! — Como podemos pará-los? — O que há com o seu tapa-olho, mano? — Aquele cara assustador pode nos ver? — Por que eles querem nos matar? E, em seguida, elevando-se acima da cacofonia, um rapaz magro com um corte Mohawk no estilo de algum punk aposentado levanta-se de sua cadeira e pisa com força. Eu acho que a robustez de suas botas de combate foi trazido para este mundo de sonhos, porque o som é alto o suficiente fazer todos se calarem. — Você todos estão na América, certo, companheiro? - o punk, pergunta a John, falando com um sotaque português forte. — Digamos que eu queria me juntar à luta e dar uma surra nestes babacas. Como o que eu vou chegar até você? Caso vocês não tenham notado, não há voos transatlânticos devido a essas malditas naves espaciais de guerra. John esfrega a parte de trás do seu pescoço, incerto. — Eu... As mãos de Ella estão tensas sobre a mesa. — Eu posso responder a isso - diz ela, sua voz melodiosa e, definitivamente não Ella. Esta é Legado falando através dela. Acima de nós, pontos de luz no mapa do mundo começa a brilhar. Todo mundo vira a sua atenção para o teto. Lembro-me dos mais brilhantes como os locais das pedras Loralite que usamos para nós teleportar, mas há mais luzes, tomando forma em todo o globo. — Estes são os locais que contém pedras Loralite - Ella diz. — Os mais brilhantes existem neste planeta há muito tempo. Os outros só agora estão

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começando a crescer como meu vínculo com a Terra. Logo, eles virão à tona. Marina interrompe. — Nós precisamos... - ela hesita. — Precisávamos de um Legado de teletransporte para usar aquelas pedras antes. — Não mais. Não agora que eu acordei - Legado entoa via Ella. — A Loralite está em sintonia com os seus Legados. Quando vocês estiverem perto, vocês vão sentir a sua força. Tudo que vocês precisam fazer é tocar uma delas e imaginar a localização de outra pedra. A Loralite fará o resto. — Aquilo é Stonehenge? - um britânico pergunta, focando os olhos no mapa. — Tudo bem então. Isso é possível fazer. — Uh, eu acho que uma delas é na Somália - diz alguém. — Haverá mais mudanças em seu ambiente - Ella continua, mas para de repente, sacudindo violentamente. Suas mãos estão apertando a mesa e realmente derretendo a madeira, faíscas silvando dela. Quando ela fala novamente é com sua própria voz, não com a de Legado. — Ele está se soltando! - Ella grita. As correntes incandescentes segurando Setrákus Ra à sua cadeira se partem. Os elos quebrados voam para o outro lado da mesa que passem através de nós sem causar danos. Ella deve ter perdido seu poder telepático de mudo sobre Setrákus Ra. Ele não está mais isolado do resto de nós. Em um movimento fluido, o ex-líder Ancião e atual dos Mogadorianos se levanta, sua cadeira tomba atrás dele, e lança fora seu capuz. Pessoas na galeria começam gritar e a se levantar de suas poltronas, mesmo que não tenham para onde fugir. Primeiro, Setrákus Ra põe a mão no ombro de Ella. A luz em seus olhos aumenta, mas ela não se move. Mantendo seu foco. Não obtendo uma reação de sua neta, ele se vira para olhar para o Garde mais próximo. No caso Cinco. Setrákus Ra sorri. — Olá garoto. Gostaria de ser o primeiro a ajoelhar perante mim? Cinco recua em terror, afastando-se da mesa. Os Gardes estão se levantando agora. Eu estou pronta para atacar, mas, ao meu lado, Nove não parece muito preocupado.

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— Ele não pode fazer nada aqui - Nove diz me diz. — Descobri isso quando eu tentei chutar o traseiro do Cinco. Setrákus Ra muda o foco de seu olhar para os Gardes humanos na plateia. Eu sei o que ele está fazendo. Ele está memorizando rostos. — Ele pode fazer alguma coisa - eu digo. — Não deixe que ele os ver, Ella! Tire-nos daqui! — Eu não sei o que disseram a vocês! - Setrákus Ra fala para a plateia. — Eu lhe asseguro, é tolice. Se você viu o que eu vi, então você sabe como o Lorieno tentou me assassinar pelo crime de curiosidade. Venham! Jurem fidelidade ao seu Amado Líder e eu vou mostrar-lhes como realmente aproveitar seus poderes. Ninguém na multidão corre para jurar fidelidade ao Mogadoriano psicótico, mas muitos deles parecem justificadamente aterrorizados. — Estou liberando vocês - diz Ella. — Vai acontecer rapidamente. Estejam prontos. E, em seguida, a luz em seus olhos escurece. Ela cai. Espero que não seja a última vez que eu possa falar com ela. — Seis... - é John. Ele está em pé ao meu lado. — Nós estaremos em contato em breve. Traga todos de volta em segurança. — Então ele e Nove somem de repente da existência. O mapa no teto começa a sumir. A sala começa a ficar escura. A visão está terminando. Muitos dos novos Gardes já desapareceram, retornando ao mundo real. Sam e que a menina ao lado dele já se foram. Restam alguns do lado esquerdo da galeria ainda, e Setrákus Ra foca neles. — Eu vi os seus rostos! - Setrákus Ra grita para os seres humanos, ignorando totalmente o resto de nós. — Eu vou caçá-los! Vou matar vocês! Eu irei— Bem, eu não vou deixar isso continuar. Eu pulo em cima da mesa, e fico frente a frete com Setrákus Ra. Ele pára seu discurso, seus olhos negros e vazios olhando diretamente nos meus. Eu salto de pé.

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— Ei, filho da puta - eu digo. — Quando nós acordamos, eu vou matar você. — Vamos ver - Setrákus Ra responde. Eu sinto que começa a acontecer. Meu corpo aqui torna-se transparente. Os detalhes do salão se tornam nebulosos. Eu posso sentir o cheiro da fumaça dos incêndios ao redor do Santuário, posso sentir a poeira na minha pele. Eu precisa me mover rapidamente. Estou forçando meus músculos a funcionarem assim possível. — Vamos! - Grito. — VAMOS LÁ! É hora de acabar com isso.

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acontece rápido. da mesma forma que o mundo dos sonhos parecia real, não fez jus ao peso físico de realmente ter um corpo. Jogada sem rodeios para o lugar onde eu pertenço, todas as sensações me atingem outra vez. O calor do fogo, a poeira asfixiante, meus músculos doloridos. Meus joelhos se enfraquecem com todo o impacto. Eu estava inconsciente por um tempo e como resultado meu corpo ficou mole. Eu não consigo impedir que eu acabe caindo no chão. Eu caio bem em cima de Setrákus Ra enquanto ele cambaleia, também. O grande bastardo está tão desorientado quanto eu. Eu ouço um barulho nos meus pés e percebo que Setrákus Ra perdeu a espada do pai do Adam. Com um gripo, eu empurro ele para longe com toda a força que consigo encontrar. Eu lanço minhas mãos sobre as placas metálicas sobrepostas de sua armadura. Vamos lá, Seis. Vamos! Eu encontro meu equilíbrio novamente antes de Setrákus Ra. Isso me dá apenas um ou dois segundos de vantagem, mas é tudo o que eu preciso. Eu cambalhoto para frente, agarro a espada de Adam e a giro em

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direção à cabeça de Setrákus Ra no mento em que fico em equilibrada sobre meus pés. No último segundo, Setrákus Ra levanta seu antebraço. A espada se choca contra sua armadura com um grunhido metálico. Sangue escuro espirra para fora quando eu puxo a espada de volta. Eu espero pelo menos ter rasgado seu braço, mas a armadura é forte demais e eu apenas fiz um corte. Mesmo assim, os olhos de Setrákus Ra se arregalam – eu acho que ele sabe o quão perto eu cheguei. Ainda assim, ele força um sorriso, reganhando equilíbrio, e olhando fixamente para mim. — Muito devagar, garota – ele grunhe. — Agora vamos ver se consegue fazer de fato o que prometeu. Eu ranjo meus dentes em resposta e avanço com toda minha força de vontade. Setrákus Ra facilmente desvia a espada para o lado com um de seus punhos, desta vez, conseguindo evitar a ponta da espada, e então me dá um chute no estômago. Imediatamente perco o fôlego e caio de joelhos, depois desmorono no chão. Eu rolo para o lado imediatamente para desviar de sua pisada, que provavelmente teria enterrado minha cabeça na terra. A espada me acerta por baixo enquanto eu rolo, fazendo-a cortar minha coxa. Eu nunca treinei realmente com espadas antes, nunca havia visto a utilidade. Definitivamente eu desejaria ter visto agora. Sem meus Legados, é a única arma que eu tenho contra Setrákus Ra. Ele definitivamente é mais forte que eu, e também mais rápido. Eu estou começando a achar que deveria ter ouvido Marina. Falando em Marina, enquanto eu volto a ficar de pé a alguns metros de Setrákus Ra, eu olho ao redor para localizá-la. E lá está ela – arrastando o inconsciente corpo de Adam para a lateral da cratera. Enquanto eu observo, tiros são disparados no chão ao redor dela e ela é obrigada a se esconder atrás de uma pilha de pedras de calcário bem no topo da cratera. Da direção dos tiros, parece que os Mogs conseguiram se reagrupar ao redor da entrada da Anúbis. A nave de guerra massiva ainda paira sobre nós, a parte de baixo de metal se transformou agora em nosso céu.

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Eu recuo enquanto Setrákus Ra vem em minha direção, desviando de vários socos massivos de seus punhos e da armadura. Quando eu desvio de seus golpes, ele usa sua telecinese para lançar pequenos pedaços de detritos em mim. Eu os desvio com minha espada, minhas mãos suando no cabo. — Onde está sua coragem agora, criança? – ele pergunta. — Por que está fugindo? Vou deixar ele pensar que estou recuando. Quero dizer, eu estou recuando. Mas não significa que seja tudo o que eu estou fazendo. Meu real objetivo é levar Setrákus Ra para mais longe possível do lado da cratera onde está Marina. Uma vez que ela fique fora do raio do Legado de Setrákus Ra e consiga curar Adam com sucesso, talvez poderemos virar a luta. Enquanto eu desvio de mais uma pedra, eu vejo Marina colocar a cabeça de Adam no colo e pressionar suas mãos no rosto dele. Seus Legados devem estar funcionando! Agora eu só preciso manter a brincadeira de gato-e-rato até— Oof. Meu calcanhar se choca contra alguma coisa e eu caio para trás. Minha aterrisagem é amortecida por alguma coisa macia e me leva alguns segundos para perceber que tropecei no corpo de Ella. Ela está pálida, completamente imóvel, e há uma trilha daquela gosma escura coagulada saindo de suas narinas. Ela ainda parece bem morta. Eu não tenho tempo para checar o pulso. Setrákus Ra está parado bem na minha frente. Ele, na verdade, para. O corpo de Ella o prendeu a atenção. Eu não sou boa em ler as expressões daquele rosto enrugado e daqueles olhos pretos, mas se eu tivesse que adivinhar o que Setrákus Ra está sentido é algum tipo de mistura louca de remorso e desapontamento. Ele se preocupava com sua neta da maneira mais grosseira possível, querendo transformá-la em um monstro assim como ele. Eu quero que isso o devore por dentro para ele saber o quão ele falhou. — Ela odiava tudo sobre você – eu digo, e então levanto a espada e aponto para a virilha de Setrákus Ra.

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Setrákus tenta desviar. A lâmina se arrasta sobre a armadura que ele está vestindo, mas então eu tenho sorte. A ponta da espada segue pela lateral, descendo através da armadura, e encontra uma abertura perto da parte de cima da coxa, se encravando por lá. Setrákus Ra ruge em dor enquanto eu o talho, aquele sangue escuro e viscoso espirrando de sua perna. — Sua vadiazinha! – ele grita. Em resposta, eu pego um punhado de terra e lanço contra os olhos dele. Enquanto isso, já estou de pé, me adiantando novamente, procurando por mais aberturas em sua armadura. Essas partes estão sempre perto de suas juntas para permitir sua flexibilidade – seus cotovelos, joelhos, e claro, sua cabeça e seu pescoço cicatrizado. É onde eu tenho que acertar. — Isso já foi longe demais! – ele grita, e eu não acho que ele se referiu apenas à essa luta de agora. Nos caçar durante anos frustrou o velhote, e agora estamos tentando arruinar seu plano de invasão meticulosamente calculado. Ele está perdendo a paciência. Eu posso usar disso. Faz com ele lute estupidamente. Setrákus Ra ruge. No espaço de alguns segundos, ele se transforma de um mamute de três metros de altura para um gigante de cinco metros que completamente me deixa em desvantagem. A coisa é que, sua armadura cresce proporcionalmente à ele, e isso faz com que aquelas aberturas nas juntas pareçam alvos maiores. Agora, a única coisa que tenho que evitar é ser pisada para a morte. Nada demais. Eu não posso mais correr dele. Ele pode cobrir muito espaço desse tamanho. Eu me viro para encará-lo, enquanto ele se prepara para dar um golpe. Meu plano é conseguir desviar, talvez correr sobre suas pernas e cortar a parte de trás de seus joelhos. Os punhos de Setrákus Ra são do tamanho de blocos de concreto. E eles caem na minha direção. Eu não tenho certeza se vou conseguir desviar. Eu não preciso. No último segundo, Setrákus Ra recua a mão e a leva em direção ao seu rosto, rugindo de dor. Um leão com uma cabeça de

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águia, com garras afiadas e asas com penas maravilhosas acaba de levantar voo e atingi-lo. Um hipogrifo. Um hipogrifo acabou de se juntar à mim. Bernie Kosar. Deus abençoe BK. Setrákus Ra se vira para encarar o Chimaera, que de fato é quase alguém do mesmo tamanho que ele. Bernie ruge e atinge Setrákus Ra com suas garras. Mesmo sendo forte, Setrákus também é. Ele pega as garras de BK com uma das mãos, e então o empurra para frente, contendendo-o. Bernie Kosar grita, obviamente de dor. Com um uivo feroz, como um de animal como BK se não mais, Setrákus Ra tenta atingir o pescoço do Chimaera. Eu não deixo isso acontecer. Com toda minha força, eu apunhalo a espada na parte de trás dos joelhos de Setrákus Ra. O corta facilmente, e ele ruge de dor, perde a força contra BK e tropeça para frente. A espada é arrancada de minhas mãos. Ele chuta para trás e embora eu tento desviar, sua bota gigante me atinge. Eu posso sentir costelas se quebrando como resultado. — Pegue-o, BK! – eu grito enquanto eu caio com força no chão. Bernie Kosar está prestes a decalcar* quando um suspiro agudo chama nossa atenção. Ella se senta. Ela respira fundo novamente, como se fosse dolorido tal ato. Seus olhos estão quase como antes, com exceção de que ainda há vestígios da energia Lórica nos cantos. Aquela gosma preta continua saindo de suas narinas e ela acaba cuspindo um pouco da gosma também. Setrákus Ra arranca a espada da parte de trás de seu joelho como se fosse um espinho. A espada parece comicamente pequena em sua mão gigante. Ele a arremessa em direção à Bernie, redirecionando com sua telecinese. BK consegue desviar da espada no último segundo, mas a espada ainda assim consegue fazer um corte nele. Ele está ferido e sua poderosa forma de hipogrifo começa a se reverter para sua forma normal. Bernie Kosar balança sua cabeça para frente e para trás, rugindo, lutando para manter sua forma e continuar na luta.

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— Minha neta! – Setrákus Ra berra, sua voz parecendo um trovão graças à sua forma gigante. Ele segue em direção à Ella. Ele realmente parece aliviado. — Estou indo até você. Em resposta, Ella vomita mais da gosma preta. Ela está sem condição para agir. Entretanto, o que quer que seja a porcaria que Setrákus Ra injetou nela, com certeza parece que seu corpo está rejeitando-a agora. Eu não posso deixar ele tomar posse dela novamente. — Bernie Kosar! – eu grito. — Tire-a daqui! A Chimaera ferida me olha com seus olhos de águia, mas não hesita. Ele chega até Ella bem antes de Setrákus Ra, e gentilmente a pega com suas garras e então voa em direção à floresta. — Não! – Setrákus Ra grita. — Ela é minha! Setrákus Ra não para. Ele lança sua telecinese contra Bernie Kosar, conseguindo diminuir a velocidade do Chimaera. Setrákus quase a captura quando uma estalactite do tamanho de um martelo voa para baixo da borda da cratera, atingindo a lateral do rosto de Setrákus Ra e arrancando um pedaço da sua orelha. Marina. Ela está de pé na bora da cratera, já desenvolvendo outro projétil de estalactite para lançar contra Setrákus Ra. Ao seu lado, Adam se levanta. Ele pisa no chão com força e uma onda de energia sísmica desce pela cratera, trazendo consigo pedaços de detritos e partes das naves explodidas. Se eu já não estivesse no chão, a onda sísmica teria me derrubado. Setrákus Ra, que já tem as pernas machucadas, cai com força no chão. Talvez seja apenas minha imaginação, mas eu acho que ele grita quando ele atinge o chão. Nós acabamos com a concentração dele o suficiente que ele está lutando para manter todos os seus Legados. Eu tento usar minha telecinese para lançar alguns detritos contra ele, mas eu ainda estou perto demais. Tiros de canhões saem da Anúbis tendo como alvos Marina e Adam, mas é respondida por tiros de Mark e Sarah enquanto ambos correm pela borda da cratera. Entre os tiros deles e as rochas partidas do Santuário, nós, na verdade, inadvertidamente conseguimos tirar toda a atenção de Setrákus Ra e a pouca força que lhe restava.

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Com um vislumbre, eu vejo que Mark está sangrando graças a um corte em sua testa e Sarah tem marcas bem feias de tiros em uma das mãos. Fora isso, eles parecem bem. Eles parecem melhor, de fato, do que Setrákus Ra. Ele está com o rosto machucado, faltando um pedaço da orelha, e com as pernas feridas. Ele luta para ficar de joelhos. Nós o pegamos. Nós realmente o pegamos. Marina lança outra estalactite em direção à Setrákus Ra. Ele levanta um dos punhos e a estilhaça no ar. — Eu não vou morrer nas mãos de crianças – ele murmura. Mas sabe de uma coisa? Ele não soa com tanta certeza. Demasiado machucada e tonta, eu me forço a ficar de pé novamente para correr na direção oposta do lado da cratera onde Marina e Adam estão. Se nós ficarmos separados então não há como Setrákus Ra conseguir manter todos dentro do raio do seu Legado de cancelamento. Nós podemos bombardeá-lo à distância. Mark e Sarah me veem se aproximando, embora eles ainda estão trocando tiros com os Mogs. Eles pararam de correr pela borda da cratera a mais ou menos metade da distância entre minha posição, da Marina e do Adam. Eu vejo que eles trocam algumas palavras, e então Sarah se vira para minha direção e Mark segue na direção dos outros. — Você parece estar precisando de uma mãozinha! – Sarah diz, dando alguns passos para dentro da cratera para me ajudar a subir o resto. — Obrigado. Você está bem? — Aguentando – ela responde. Eu posso dizer que ela está tentando não olhar para os ferimentos em suas mãos. Eu tenho uma visão muito melhor da nossa situação daqui de cima. A quantidade de Mogs que ainda estão mantendo posição em frente à Anúbis é supreendentemente pequena. Os outros devem ter matado muito deles enquanto eu estava lutando com Setrákus Ra. Mesmo enquanto eu observo, Mark transforma um deles em cinzas com um tiro certeiro. Há apenas alguns sobrando. Setrákus Ra não tem mais reforços.

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Mesmo assim, ele não vai ceder facilmente. O lorde Mogadoriano, ainda em seu tamanho gigante, segue pela cratera em direção à posição de Marina e Adam. Com suas pernas feridas, ele tem que usar as mãos para conseguir subir. Espertos, os outros não deixam ele se aproximar. Adam continua mandando ondas sísmicas consecutivas que fazem com que Setrákus Ra cambaleie para trás. Enquanto isso, Marina se alterna entre congelar o chão abaixo dele e lançar pedaços de estalactites. Setrákus Ra consegue absorver a maioria deles com sua armadura, mas não é o suficiente. Ele não está mais falando bobeiras. Invés disso, o líder Mogadoriano parece estar desesperado. — Você me dá cobertura? – eu peço à Sarah. — Claro que sim. Eu assinto e grito através da cratera para Marina e Adam. — É agora! Joguem tudo o que tiverem contra ele! Eu percebo o chão tremer enquanto Adam continua a criar terremotos e Marina dobra a quantidade de estalactites que está lançando. Sarah e Mark continuam a atirar nos Mogs que estão perto da Anúbis, matando alguns e mantendo outros à distância. Eu levanto, me concentrando no clima acima, e começo a conjurar a maior tempestade que consigo criar. A atmosfera ao nosso redor fica pesada e úmida enquanto eu puxo as nuvens para baixo, mesmo com elas estando acima da Anúbis. Logo, logo, a nave estará envolta de um nevoeiro espesso. — Whoa! – eu ouço Sarah dizer. Não é todo dia que você vê nuvens de tempestades se juntando tão perto do chão. Antes que eu possa continuar, eu ouço um som metálico estridente. Setrákus Ra desistiu de tentar subir até a borda da cratera para alcançar Marina e Adam. Ele está superconfiante e sedento por sangue antes. Agora, ele está sendo esperto. Com sua telecinese, ele rasga o que sobrou do oleoduto. A peça maquinaria massiva flutua no ar por um segundo antes dele lançá-la contra os outros. — Cuidado! – Mark berra. Ele e Adam se jogam para um lado, Marina para o outro. O oleoduto se esbarra contra o chão entre eles. Nenhum deles é atingido, mas sem nenhum deles atingindo ele com Legados,

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Setrákus Ra consegue começar a escalar a cratera, seus passos enormes diminuindo a distância com mais rapidez. É minha vez de mantê-lo aqui embaixo. Eu viro minhas mãos no ar, conduzindo o clima. Aumento a velocidade, do vento, que leva consigo detritos e rochas. Meu rosto é atingido por pequenas pedras e meus olhos são inundados por areia. Eu continuo. Estou criando um tornado, bem acima de Setrákus Ra. — Morra, seu filho da—! Minhas costas explodem em dor. Um tiro, bem no meio. Eu caio para frente, com minhas mãos apoiadas nos joelhos, quase caindo para dentro da cratera. Minha concentração é tirada de mim, o vendo imediatamente começando a se dissipar. — Seis! – Sarah geme. Ela me segura pela cintura e juntas nós rolamos para trás de uma pilha de borrachas, quase sendo atingidas por mais tiros. Os tiros não vieram da Anúbis, entretanto. Vieram da floresta. — Proteger o Amado Líder! – berra Phiri Dun-Ra enquanto ela entra no campo de visão, atirando. Ela lidera um pequeno contingente de soldados Mogadorianos. Eles devem ter se escondido dentro da floresta, encontrado e libertado a trueborn e seguiram para nossa direção. Vendo reforços, os Mogs perto da Anúbis se reagrupam. De repente, somos pegas estamos no meio de um tiroteio. Sarah tenta atirar de volta, mas a tempestade de tiros é muito intensa. Ela se abaixa próxima à mim. — Seis, o que faremos? Eu espio bem a tempo de ver Setrákus Ra alcançar o topo da cratera. Ele está com a espada de Adam novamente, usando-a como uma bengala. Marina está bem à sua frente. — Marina! Saia daí! – eu grito. Ela não pode me ouvir. Eu vejo a próxima cena em minha mente. Marina joga suas mãos para frente, esperando que pedaços de estalactites voam em direção à Setrákus Ra. Nada acontece. Seus Legados foram cancelados temporariamente. Setrákus Ra levanta suas mãos no ar, e embora ela lute, Marina é levantada do chão. Ele a tem com sua telecinese.

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— Ah Deus – Sarah diz. — Ah não. Setrákus Ra a joga no chão com força. A levanta. A joga no chão com força mais uma vez. Eu observo enquanto o corpo de Marina é usado como marionete. Cada vez, ele a levanta a mais ou menos dez metros de altura, e então a choca contra o chão com muita força. De novo e de novo. É Mark quem salva ela. Ele desvia do oleoduto estraçalhado e atira contra Setrákus Ra, atingindo-o na lateral do rosto, aumentando o buraco onde, antigamente, a orelha costumava estar. O Mogadoriano berra de dor, e então devolve o tiro lançando o corpo de Marina em direção à Mark. Eles colidam e ambos caem com força no chão. Mark ainda está se movendo, entretanto. Ele envolve Marina em seus braços e tenta levantá-la. Mesmo a essa distância, ela parece estilhaçada. Eu não senti nenhuma nova cicatriz se formar em meu tornozelo. Não ainda. Ela está viva. Adam corre em direção à Mark e, juntos, eles levantam o corpo de Marina. Desviando dos tiros, eles conseguem recuar para dentro da floresta. Phiri Dun-Ra e os outros Mogs alcançaram Setrákus Ra. Eles o cercam por todos os lados, embora ele esteja recusando a ajuda, violentamente esmagando o crânio de um Mogadoriano que foi ousado demais ao tocá-lo. Eles o escoltam pela rampa. Ele quase está dentro da Anúbis. — Droga, não – eu sussurro, me forçando a ficar de pé a pesar da dor dilacerante nas minhas costas. — Seis! – Sarah me agarra. — Pare! Acabou! Eu não aceito isso. Estávamos tão perto. Droga. Ele não pode fugir dessa maneira. Eu ainda posso matá-lo. Ainda podemos ganhar. Eu me levanto e jogo minhas mãos para o ar, fazendo com que o ar ganhe velocidade novamente. Pedaços do Santuário, metais retorcidos dos Escumadores explodidos, pedaços pontudos de vidro – tudo isso está aglomerado, girando dentro de um funil mortal. Phiri e seus Mogs atiram

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e mim. Eu sinto um tiro atingir minha coxa, outro no ombro. Mas isso não me para. — Isso é suicídio! – Sarah grita para mim. Ela está do meu lado, retrucando os tiros. — Se afaste! – eu digo. — Corra para a floresta. — Eu não vou te abandonar! – ela responde, mais uma vez tentando me agarrar. Eu a empurro. Setrákus Ra chega no topo da rampa. Eu grito e empurro em direção à ele com toda minha força, combinando meu Legado climático com uma explosão selvagem telecinética, jogando tudo que foi aglomerado pela minha ventania em Setrákus Ra. Dois dos Mogs sobreviventes se tornam cinzas imediatamente, esmagados pelo meu bombardeio de detritos. Phiri Dun-Ra recua, protegendo o rosto. Mas, na porta de entrada para a Anúbis, Setrákus Ra está continua parado. Ele se vira para mim, pedras e estilhaços sendo refletidos por sua armadura, e empurra de volta. Sua própria explosão telecinética contra a minha. Objetos voam em todas as direções. Pelo canto do meu olho, eu vejo o canhão de Sarah ser arrancado de suas mãos. O para brisa de um Escumador desalojado corta o chão ao lado de mim como uma lâmina de guilhotina. Sou atingida – de novo e de novo - por coisas que eu não posso nem identificar. Ainda assim, continuo em estável, meus pés afundando na terra. Eu continuo empurrando. Então acontece. Um poste de metal com um símbolo de Loralite cravado nele, um pedaço da máquina destroçada de Setrákus Ra, voa através doar. O fim é nítido. Serrilhado. Acerta diretamente o peito de Setrákus Ra. Eu o observo tombar, tropeçar para trás com o impacto. Eu posso ouvir Phiri Dun-Ra gritar. A força de sua telecinese desaparece. Eu sinto ele enfraquecer. Eu consegui. Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Eu consegui.

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Phiri Dun-Ra e os outros arrastam Setrákus Ra para dentro da Anúbis. A porta se abaixa com força atrás deles. A rampa se retrai. Eu caio de joelhos. Ele está morto. Ele tem que estar morto. Tem que ter valido a pena. Sarah envolve seus braços em mim. — Levante, Seis – ela diz, sua voz está tensa. Ela tosse, perde o fôlego. Ela está ferida. Ambas estamos. — Temos que ir! Eu coloco minha mão na cabeça de Sarah e nos torno invisíveis. Assim, não preciso ver o sangue. Muito sangue. Sangue demais. Espero que valeu a pena.

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fiz um monte de promessas na câmara dos anciãos. Eu disse àqueles novos Garde que eu os lideraria, que nós iriamos ajudá-los a treinar, que juntos poderíamos salvar o mundo deles. Foi bem incrível, vê-los todos lá. Mesmo, com alguns deles assustados, outros confusos, e até alguns que pareciam estar enfurecidos por terem sido arrastados para isso. Mas a maioria dos outros... eles pareciam preparados. Nervosos, sim, mas preparados e querendo levantar e se juntar à luta. Agora, para manter aquelas promessas, eu preciso apenas sobreviver à um Mogassauro seriamente enlouquecido. No segundo após eu estar de volta ao meu corpo, eu sinto o bafo quente da besta enquanto ela ruge. E está bem atrás de nós. Eu ainda tenho um braço ao redor de Sam quando eu o segurei depois que nós brevemente desmaiamos. Ele está consciente de novo, então nos esbarramos um no outro mas conseguimos correr.

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— Belo discurso - Sam grita para mim. — Nós vamos morrer agora? — Nem fodendo - eu respondo. A reunião dos Garde não é a única coisa que mexeu comigo no sonho de Ella do espaço. Eu ainda estou me contendo em ver Pittacus Lore em ação. Ximic, foi disso que Loridas chamou o Legado imitador de Pittacus. E então teve meu rápido encontro com Henri. Visualize, ele disse. Visualize e se lembre. A Agente Walker para de gritar no seu celular via satélite para nos encarar. Ela parece tão confusa em nos ver em pé como ela deve ter ficado quando nós desmaiamos alguns segundos atrás. — Que diabos está acontecendo? - ela grita. — Não se preocupe com isso! Consiga cobertura para o seu pessoal! - eu grito, balançando meus braços. — Como nós devemos lutar contra essa coisa? - Sam pergunta, olhando sobre seus ombros. — Eu não sei - eu respondo sombriamente. — Nós batemos muito nele - Nove grita. Walker e a maioria dos agentes usam a estátua da Liberdade como cobertura. Eu não estou certo de quão bem isto fará, considerando que o Mogassauro é quase tão grande quanto a estátua. Um dos agentes, não lembro o seu nome, entra em absoluto pânico enquanto o monstro se inclina. Ele se move como um gorila, colocando o peso nos seus punhos, as garras dos seus pés levantam pedaços de cimento enquanto caminha. Para nossa sorte, o monstro recém-nascido ainda está se acostumando a andar. Entretanto isto não salva o agente caído. Eu tentei puxar ele com a minha telecinese, mas não fui suficientemente rápido. O Mogassauro trouxe um dos seus punhos pra baixo e esmagou o coitado. Eu acho que o monstro nem sentiu. Seus olhos, cada um deles é pontilhado com o que eu acho que seja um colar Lórico roubado, estão focados em nós.

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É apenas uma questão de tempo até que ele nos pegue. De repente eu me pego pensando na primeira noite que conheci Seis, em Paradise. Foi também a primeira noite que eu matei um píken, entretanto ele não era nem de longe tão grande quanto esse monstro. Seis usou a sua invisibilidade para nos tirar de muitos problemas naquela noite. Eu me lembro o jeito que ela segurou minha mão. Eu lembro do efeito estonteante de ver através do meu próprio corpo. Lembre. Visualize. — John? - Sam grita enquanto corremos. — JOHN? — Que foi? - eu grito de volta virando a cabeça. — Você... - ele está me olhando e quase tropeça nos próprios pés. — Você acabou de desaparecer. Eu não desapareci, eu percebo. Eu me tornei invisível. — Puta merda, eu consigo... - eu grito. — Consegue o quê? - Nove pergunta. Eu não respondo. Minha mente corre. Eu acabei de usar o Legado de invisibilidade de Seis, mesmo que brevemente. E só num pensamento, como lembrar um nome que você tinha esquecido. Eu podia nos tornar invisíveis. Nós podíamos escapar. Mas isso significaria abandonar Walker e seus amigos. Todo esse poder, bem na ponta dos meus dedos, mas sempre fora de alcance. E agora? O que eu posso fazer com isso? Eu preciso de tempo para praticar, para descobrir como funciona, para treinar. Qual Legado eu posso trazer nos próximos minutos que irá nos ajudar a derrotar esse monstro? Agente Walker e seu grupo descarregam as armas no monstro. As balas foram engolidas pela dura pele da coisa, não mais efetivo que minha bola de fogo anteriormente. Nada além de um grupo de moscas para o Mogassauro. Ele ignorou os agentes completamente, está vindo para nós. — Vamos lá! – eu grito. — Tragam ele para a grama!

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Nós vamos ter mais espaço para lutar lá, considerando o quão desajeitado o monstro aparenta, é provavelmente melhor continuarmos nos movendo. Esperançosamente, eu consigo pensar em algo enquanto ele nos persegue. — Ah cara, eu não me sinto em forma - Daniela diz. Normalmente uma graciosa e rápida corredora, Daniela tropeça nos próprios pés e cai no gramado enquanto corremos. Eu a segura pelo braço e arrasto ela comigo. — Algo aconteceu comigo naquela merda de visão. Minha cabeça está explodindo. Pedaços de cimento voam do último passo do Mogassauro e acertam meus ombros. — Eu vou tentar algo, Johnny! - Nove diz, e se separa do resto de nós. — Faça a sua coisa - eu digo, confiando que Nove não vai acabar morto. Nove corre para a ponta da praça, onde tem uma coluna de binóculos de metal presos ao chão, aquelas coisas são para turistas admirarem a vista de Manhattan. Ele arranca dois do chão, segurando um em cada mão como tacos. Então ele os carrega em direção ao monstro. Sua super velocidade entra em ação e ele é um borrão atravessando a praça. Eu poderia usar isso. Eu tento focar no Nove, imagino como os músculos dele trabalham, como ele cria velocidade com seu Legado. Mas nada acontece. A gigantesca criatura, na verdade, parece confusa quando Nove corre em sua direção. A coisa hesita, tentando decidir se parte pra cima de Nove ou continua perseguindo o resto de nós. Então, talvez raciocinando em seu pequeno cérebro para ficar parado, o Mogassauro solta um grito de “estou indo” na direção de Nove. Levanta uma das suas gigantes mãos, preparando para esmagar Nove assim que ele estiver perto o suficiente. — Ele sabe o que está fazendo? - Sam pergunta. — Ele alguma vez soube? - eu respondo.

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Nós atingimos o final do campo atrás da estátua da Liberdade. Naquele ponto Daniela levanta e cai de joelhos, incapaz de seguir adiante. — Ah cara, minha cabeça vai explodir - ela reclama. Ela se agacha e massageia os olhos com os punhos. — O que há de errado com ela? - Sam me pergunta. — Eu não sei! Nossos olhos se encontram e nós dois percebemos algo ao mesmo tempo. Juntos, Sam e eu viramos em direção de Daniela. — Ela está desenvolvendo um novo Legado! - Sam diz. Eu me abaixo perto dela. — O que quer que esteja acontecendo com você Daniela, deixe acontecer! Solte tudo e... - eu sou interrompido assim que o Mogassauro ataca Nove. O impacto é gigante. A besta deixa um buraco de dois metros no formato de uma mão no concreto da praça. Primeiro eu penso que de maneira nenhuma Nove pode ter sobrevivido a isso. Mas então eu vejo ele usando seu legado antigravidade para correr pelo antebraço do Mogassauro. O monstro ruge enraivecido e ataca Nove com sua outra mão. Nove corre pela parte de dentro do antebraço da criatura no momento certo escapando do impacto. Ele é rápido e está preso ao Mogassauro, se movendo cava vez mais acima do braço como um inseto irritante. Eu não tenho certeza sobre o que ele vai fazer quando chegar até a cabeça do monstro. Se eu tivesse que apostar, diria que Nove também não sabe. — John! - alguém grita atrás de mim. — John! Me solte! Eu me viro para ver Cinco lutando através da grama de joelhos. Nós deixamos ele lá todo amarrado com as cordas que pegamos do barco da guarda costeira. Ele não tem a sua espada ou sua bolinha para transformar a pele em metal, então Cinco no momento é inofensivo como ele sempre vai ser. — Ah, de jeito nenhum - Sam diz, olhando para Cinco.

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— Eu sei o que é aquela coisa - Cinco diz, olhando para nós. Ele se senta de joelhos, suas mãos atadas a sua frente e me olha. — Eu sei como matá-la. Eu posso te ajudar. — Me conte - eu digo. — Setrákus Ra chama isto de Caçador - Cinco diz rapidamente. — Ele estava criando isto enquanto eu ainda estava abordo da nave Anúbis. Ele tem pingentes lóricos nos olhos e pode usá-los para sentir a localização de qualquer Garde. Não há fuga, nós temos que matá-lo. Enquanto Cinco fala, Nove alcança a ponta do ombro do Caçador. A besta desiste de tentar esmagá-lo. Agora ele gira a cabeça e tenta engolir Nove inteiro. Nove responde batendo com a ponta quebrada de uma das barras de ferro na boca do monstro. A criatura gira a cabeça e grita. Perto de mim, Daniela resmunga. Sam ajoelha perto dela e acaricia suas costas. — Vamos lá, faça o que John disse - Sam tenta, mas a única resposta de Daniela é um resmungo. Ele olha para mim. — Nós precisamos descobrir algo! Se algum de vocês tem um novo superpoder foda agora é hora de usá-los! — Ele precisa ir para os olhos, John - Cinco insiste, ignorando tudo menos a mim. — Me solte. Eu posso te ajudar. — Por que diabos devo confiar em você? - eu pergunto. A expressão de Cinco é sombria. Eu vejo ele forçando suas amarras, testando-as. Ele me olha e eu posso ver que ele está fazendo um esforço imenso para controlar a sua raiva. — Porque eu poderia me libertar disso se eu realmente quisesse - Cinco me responde. — Mas eu não vou. Você salvou a minha vida, John, e não importa o que você pensa. Eu não sou como ele. Eu sei exatamente sobre o que Cinco está falando. Setrákus Ra e Pittacus Lore. Misericórdia seguida de traição. — Eu quero ajudar - Cinco grita. — Me deixe ajudar.

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— Dane-se - Sam diz, fazendo a decisão por mim. Ele pega a lâmina de punho de Cinco, a estende e destrói as amarras dele. — Todos a bordo. Eu olho novamente para o monstro. Nove bate com o resto da sua barra de ferro na lateral do pescoço do monstro diversas vezes. Eu posso ver um pouco de sangue preto espirrar, mas ele definitivamente não está fazendo muito dano ao monstro. Então o Mogassauro o ataca novamente. Desta vez ele acerta uma parte de Nove e ele é forçado a recuar para as costas do monstro. Acima dos gritos do Caçador, eu escuto o som familiar do motor de helicópteros. Um par de rápidos Black Hawks acaba de sair da ponte do Brooklyn e estão a caminho. Então a agente Walker não é totalmente inútil no fim das contas. — Você pode me devolver? - Cinco pede a Sam, esticando a mão para a sua arma. — Não - eu digo, me colocando entre eles. — Você disse que podia ajudar. Vá ajudar. Cinco suspira. — Certo. Vou fazer do jeito difícil - ele flutua um pouco acima do chão e me olha. — Vamos lá John. Me incendeie. — O quê? — Me incendeie! - ele grita. Eu não preciso de motivos para machucar Cinco. Eu acendo meu Lúmen e lanço uma pequena bola de fogo nele. Ele a deixa acertá-lo e imediatamente sua pele está coberta em chamas. — Obrigado - ele diz, e sai voando na direção do Caçador, nosso próprio míssil em chamas. Eu me agacho próximo a Daniela e pressiono minhas mãos contra a cabeça dela. Eu deixo meu Legado de cura fluir, esperando que isto irá ajudar ela com a dor. Não é realmente meu Legado de cura sabe? É Ximic, e a cura é o único Legado que eu sou realmente bom em copiar. Não

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ajuda Daniela, mas algo acontece quando a energia flui entre nós. De repente, eu percebo exatamente o que está acontecendo dentro dela. Eu posso sentir também. Uma pressão atrás dos olhos. Um peso grande que parece estar tentando atravessar minha face. “ — Está me destruindo! - Daniela grita. — Agh, eu sei! Eu também sinto! - eu respondo, segurando os lados da minha cabeça como se meu crânio pudesse se quebrar ao meio. Enquanto isso, Cinco, que é pura velocidade e calor, voa direto dentro de um dos olhos do Caçador. Há um som doentio e o monstro grita mais alto do que nunca. Um momento depois, um buraco explode na nuca do monstro e Cinco sai por ele. Ele segura algo, que deve ser um dos pingentes Lóricos. — Puta merda - Sam diz. — Isso foi nojento, mas funcionou. O Caçador acabou de receber um homem bala através do seu cérebro. Eu aposto que ele sente algo bem parecido com o que eu e Daniela sentimos agora. Ele não cai morto como eu esperava. Ao contrário, ele está apenas mais nervoso. Ele se joga na direção de Cinco, que desvia rapidamente. Ainda agarrado à besta mas agora tendo a noção de como realmente machucá-la, Nove começa a subir em direção ao olho restante. E então os Black Hawks chegam. Eles bombardeiam o Caçador com uns misseis que apenas irritam o monstro. Embora eu aprecie a ajuda, as armas deles não vão machucar está coisa. Tem uma boa chance de que aqueles pilotos acabem apenas sendo mortos ou acertem Cinco e Nove por acidente. O Caçador destrói tudo ao redor, esmagando o resto da praça e quase derruba um dos helicópteros com as costas da mão. Isso faz com que seja extremamente difícil para que Cinco consiga atacar novamente os olhos da criatura. Quando o Caçador inclina a cabeça e ruge, o vento do bafo é suficientemente poderoso para tirar Nove do rosto do monstro.

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Ele voa para longe do Caçador e despenca centenas de metros para o chão. Eu tento o segurar com a minha telecinese, mas estou muito longe e minha cabeça está doendo tanto que não consigo me concentrar. Cinco desce rapidamente, o fogo se extinguiu. Ao invés de atacar novamente, Cinco pega Nove no ar pelo pulso. Ele o coloca gentilmente no chão. Em resposta a isso, Nove o soca bem no meio do rosto. Porque é isso que ele faz. Os pilotos dos helicópteros estão indo para um novo ataque. Cinco e Nove estão bem na cola do Caçador. O ataque vai começar em um segundo. — Se vocês vão fazer algo, agora é a hora! - Sam grita. Eu não sei o que fazer. Eu consigo sentir o Legado que eu copiei de Daniela crescendo dentro de mim, mas eu não tenho ideia do que ele faz ou como usá-lo. Eu estou falhando aqui. Tudo que eu consegui foi uma dor de cabeça gigantesca. Tem que haver mais que isso. Com um choro angustiado, Daniela levanta rapidamente. Ela empurra nós dois ao mesmo tempo e grita: — Eu tenho que deixar sair! Daniela abre os olhos e solta um raio de energia prata que atinge o Caçador. No começo, ela está completamente fora de controle, mas o raio de energia que parece dolorosamente grande e que pode destruir a cabeça dela, atinge o corpo todo do monstro. Mas depois de alguns segundos, Daniela assume o controle. O raio fica mais fino e mais preciso. O resultado é melhor do que eu poderia ter imaginado. O Caçador dá um grito confuso, olha para baixo e vê o seu corpo gigantesco se transformando em uma estátua de pedra. Assim que eu vejo Daniela fazendo, eu percebo que consigo fazer também. Eu me foco no peso atrás dos meus olhos, como uma pedra começando a descer uma colina, e eu a empurro. Minha visão fica cinza enquanto o raio sai pelos meus olhos. É difícil no começo, eu tenho que controlar meus olhos, então não é fácil ser preciso, mas eu pego o jeito rapidamente. Daniela

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também. Logo nos estamos pintando faixas cinzas no corpo todo do monstro confuso. O Caçador tenta correr em frente para pegar Nove e Cinco, mas suas pernas não estão mais funcionando. Elas são pedaços sólidos de rocha. Está acabado alguns segundos depois. Parado ao lado da estátua da Liberdade existe uma tumba cinza dá mais formidável criação Mogadoriana que eu já vi, e vai estar aqui para sempre, congelada em uma máscara de confusão e raiva. Cinco e Nove encaram a coisa, confusos o bastante para não brigarem um com o outro. Os helicópteros circulam ao redor da criatura, obviamente vendo que a besta não é mais uma ameaça. — Minha nossa - Daniela responde, e se inclina em mim para se apoiar. — Aquilo não foi nem um pouco gostoso de fazer. Eu massageio meu rosto. — Não brinca! — Aquilo foi incrível! - Sam grita. — Você é como uma Medusa. — Esse não vai ser meu nome de super-herói - Daniela responde nervosa. — Ugh. — E você é como... como... - Sam está muito excitado para conseguir falar. — Como Pittacus - eu termino por ele. — Puta merda, sim! Isso é gigante. Você percebe o quão importante isso é? — É grande. — Você está, tipo, roubando os holofotes do meu novo Legado -Daniela resmunga. Eu balanço minha cabeça e gargalho, na verdade me sentindo aliviado pela primeira vez em dias. Nove anda até o monumento do monstro, com as mãos nos quadris, e bate na pedra. Enquanto ele faz isso, Cinco volta para o resto de nós. Eu noto que ele pendurou o pingente lórico que arrancou do monstro ao redor do seu pescoço. Eu fico imaginando se este é o seu pingente original que ele entregou ou foi tomado por

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Setrákus Ra, ou se pertence a um dos Garde mortos. Eu não pressiono o assunto agora. Ele estende as mãos. — Bem, eu tentei - ele diz. — Você pode me amarrar de novo se quiser. Eu troco um rápido olhar com Sam. Eu sei que Cinco acabou de nos ajudar, eu sei que ele disse que poderia ter quebrado aquelas amarras se ele precisasse, mas eu me sinto mais confortável com ele amarrado. Ele é um descontrolado e um assassino. Eu não sei se algum dia serei capaz de confiar nele. Enquanto eu pego as cordas que Sam cortou há alguns minutos atrás, a Agente Walker e seu time sobrevivente andam em nossa direção. Ela está em seu telefone via satélite no meio de uma animada discussão. Enquanto ela não está prestando atenção, agente Murray sorri para nós e mostra os dois dedos polegares em um sinal de agradecimento. Os helicópteros pousam a uma distância em um dos pequenos espaços que não foram demolidos pelo Caçador. Eu acho que eles vieram para nos levar de volta ao acampamento militar. Eu tenho que descobrir o que aconteceu com os outros Garde. Eu não tenho nenhuma cicatriz nova na minha perna, o que significa que a batalha foi ganha, ou que ainda está acontecendo. Eu preciso chegar até eles, até Setrákus Ra, e colocar esse novo Legado em uso. Bem, pelo menos o que eu aprendi a usar dele. — Sim, senhor - Agente Walker diz ao telefone, então o segura longe do rosto, piscando em choque como se ela não conseguisse acreditar no que está acontecendo. Ela parece mais surpresa pela conversa do que pela estátua gigante de monstro que eu e Daniela acabamos de fazer. Ela segura a boca do telefone e o estende pra mim. — John, hm... o presidente quer falar com você. Ela assente com a cabeça. — Ele aparentemente... é ... mudou sua opinião em total suporte aos Lorienos. Ele quer você em Washington imediatamente para discutir a estratégia.

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Eu deixo as cordas com Nove. Ele está todo feliz por ser ele quem irá amarrar Cinco. — Me salvar de cair não nos deixa quites – eu ouço ele murmurar para Cinco. — Não, não deixa - Cinco responde. Eu os ignoro por agora. Eu estou prestes a falar com o Presidente. Eu balanço a cabeça, encarando Walker. — Isto é algum tipo de pegadinha não é? — Não - Walker diz, balançando o telefone pra mim. — Ele é de verdade. Soa incrivelmente louco, aparentemente, sua filha mais velha acabou de experimentar algum tipo de... visão? Onde você deu um discurso? Sam não consegue segurar a risada. — Não pode ser. Walker olha para nós. — Eu perdi alguma coisa? — Não - eu digo sorrindo e pegando o telefone. — Eu te explico depois. Antes que Walker possa me entregar o telefone, meu próprio telefone começa a vibrar no meu bolso. Somente duas pessoas no mundo tem aquele número - Sarah e Seis. A luta com Setrákus Ra deve ter acabado se elas estão me ligando. Caramba, talvez elas até tenham matado aquele velho puto. — Desculpa - eu digo a Walker, pegando meu próprio telefone. Ela me olha como se eu fosse louco. — Diga para o Presidente esperar, eu tenho que atender isso. Eu atendo o telefone e imediatamente meu bom humor evapora. Eu ouço barulhos, explosões a distância e muitos gritos. Eu acho que é Mark e ele parece completamente louco, gritando para alguém acordar. Minha barriga dá um nó. E então Sarah começa a falar. — John... - sua voz parece trêmula, fraca. — Escute, eu não tenho muito tempo...

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— segurem firme! – lexa grita sobre seus ombros do assento do piloto, e a nave balança violentamente para o lado. Tiros de canhões passam através do ar do lado de fora, quase nos atingindo. Ela faz outra manobra evasiva e nos joga com força para à direita. A Anúbis está nos caçando, descarregando a energia de seu canhão toda vez que ela tem qualquer coisa na mira. Ainda assim, eu tenho fé que Lexa vai nos tirar dessa, vivos. Nossa nave é menor, mais rápida, e ela é uma excelente droga de piloto. — O que está havendo aí atrás, Seis? – ela grita, suor escorrendo pelo seu rosto enquanto ela nos leva para baixo, mais adentro da floresta, usando as árvores como cobertura. — Seis? Fale comigo, Seis! Do outro lado do corredor, Ella está sentada com as costas apoiada na parede, seus joelhos dobrados, encostando-os no peito. Ela se abraça e oscila para frente e para trás, chorando. Seu rosto está manchado com aquele lixo oleoso, mas pelo menos ele parou de fluir para fora dela. Ainda há o crepitar ocasional da energia Lórica ao redor de sua cabeça. — Eu o avisei – ela sussurra para si mesma, de novo e de novo. — Eu avisei todos vocês que isso iria acontecer.

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Marina jaz num sobretudo nos fundos da nave, inconsciente e muito mal, seu corpo amarrado no chão para não ser arremessada durante mais uma manobra evasiva. Eu não quero nem pensar em quantos dos seus ossos estão quebrados, ou se ela vai acordar outra vez. Isso não impede Mark, desesperado e choroso, de chacoalhá-la violentamente pelos ombros. — Acorde! – ele grita na frente dela. — Maldita seja você que tem o Legado da cura! Você tem que acordar e curá-la! Adam se joga sobre ele. O Mogadoriano empurra Mark com força contra a parede e pressiona seu antebraço direito contra o pescoço dele. Mark luta em resposta, então Adam continua pressionando até ele parar. — Pare! Você pode matá-la, chacoalhando-a desse jeito! – Adam rosna. — Eu preciso—, Mark implora. Adam chacoalha a cabeça dele com força. — Não há nada que possa fazer – ele diz, tentando não parecer tão frio. Mark pressiona sua testa contra a do Adam e grita: — Nós nunca deveríamos ter vindo aqui! Todo o caos não parece incomodar Sarah. Ela olha para mim e ri, em paz. Ela está mais pálida que nunca. Um segundo atrás, eu lhe entreguei meu telefone via satélite para que ela pudesse ligar para John. — John... escute, eu não tenho muito tempo – ela diz, sua voz baixa e fraca. Minhas mãos estão cobertas com sangue de Sarah. Estou fazendo meu melhor para parar o sangramento, mas o ferimento é muito grande. Eu mal sei exatamente o que a acertou, havia tantos objetos voando através do ar. Alguma coisa grande e pontuda. A atingiu bem na lateral, acima do quadril e saiu pelo outro lado. Acertou grande parte de sua cintura. Eu fui atingida por alguns tiros durante aquela luta contra Setrákus Ra, mas eu vou conseguir. Sem Marina, Sarah não tem chance. Ela me arrastou para longe da pista de pouso onde eu ainda estava paralisada. Eu não sei como ela o fez, sangrando tanto. Adrenalina? Sua

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força se esvaiu quando chegamos na floresta. Eu tive que carregá-la pelo resto do caminho até a nave de Lexa. O chão está coberto com o sangue dela. Assim como minhas roupas. Está por espalhado por ambas as minhas mãos. Isso aconteceu por minha culpa. Porque ela não me deixaria enfrentar Setrákus Ra sozinha. Garota estúpida. Ela provavelmente salvou minha vida. — Por favor, John, não fale, apenas escute... – Sarah diz. — Você precisa saber, que desde o primeiro momento que eu o vi em Paradise High, eu sabia que iriamos nos apaixonar. E eu nunca me arrependi de um segundo sequer. Nem mesmo agora. Eu te amo com todo meu coração, John. E sempre amarei. Tudo... tudo valeu a pena. A nave se inclina com força para a esquerda. Mesmo se eu matasse Setrákus Ra lá, não impediria de sermos caçados pela Anúbis. Como eu vou explicar isso para John? Como eu vou viver com isso? Deveria ter sido eu. — Eu queria... eu queria poder ter visto você mais uma única vez – Sarah diz baixinho, lágrimas caindo de seus olhos. — Talvez eu ainda vá ver. Eu estarei esperando por você, John, onde quer que seja. Talvez será... será como Lorien. Ou Paradise. Bernie Kosar jaz perto de Sarah. Ele choraminga e lambe o rosto dela. Isso a faz sorrir um pouco. — BK está aqui – ela diz para John, parecendo cada vez mais distante. — Ele disse oi. Sarah suspira. Tosse. Sangue escorre pelas laterais de sua boca, vindo de dentro dela. Eu vejo-a tentando lutar. Ela está se esforçando para ficar. — Me prometa, John... me prometa que você vai continuar lutando. Me prometa que vai ganhar. Não desista por nada, meu amor. Por favor, apenas se lembre, eu te amo John. Eu sempre... Sarah para de falar. Sua boca se move por mais alguns segundos, mas nenhum som sai, e então ela para. Eu mantenho uma das mãos contra seu estômago e continuo com a outra atrás de seu pescoço, mesmo já sabendo. Ela se foi.

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DESESPERADO PARA MAIS?

LEIA A SEGUIR O PRIMEIRO CAPÍTULO DOS

SPIN-OFFS:

* a fuga

* a navegante

* a guardiã

PRÓXIMO LANÇAMENTO E

TRADUÇÃO:

eu sou o neu sou o neu sou o neu sou o número quatro úmero quatro úmero quatro úmero quatro ----

os arquivos perdidos os arquivos perdidos os arquivos perdidos os arquivos perdidos ----

renascimento dos legadosrenascimento dos legadosrenascimento dos legadosrenascimento dos legados

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VOCÊ É UM IDIOTA, MARK JAMES.

Este é o pensamento que grita na minha mente a cada cento e cinquenta quilômetros mais ou menos na estrada, quando eu tenho um breve momento de dúvida. Ou talvez seja um momento de clareza? Na verdade eu não sei qual. Mas quando eu encaro os fatos – que eu roubei um laptop de um agente do FBI, deixei alguns aliens do mal bravos e que eu estou agora dirigindo através do país, a fim de tentar achar a minha ex-namorada Sarah, que está saindo com um bom alien – tenho quase certeza. Eu sou um idiota. Ou estou louco. Ou os dois. Tanto faz, está muito tarde para voltar a ser quem eu era antes dos aliens explodirem a minha escola e tomar conta da minha cidade. Não faz muito tempo eu era um cara fodástico na escola de Paradise, com um futuro brilhante a minha frente. Agora eu sou um cara que está sendo procurado pelos agentes do governo e ETs maus que vieram do planeta cara de tubarão. Eu tomo um energético e esmago a lata com o meu punho, a jogando no chão do banco do passageiro, onde ela acha um lar com um bando de

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suas irmãs vazias. Eu estou na estrada a dezenove horas, e eu ainda não completei uma noite inteira de sono. As únicas coisas que me fazem continuar é a mistura de adrenalina, a preocupação pela Sarah e que tomei energético suficiente para matar um elefante. Só um relance no espelho retrovisor já me informa que estou com sono muito atrasado, meus olhos estão vermelhos e com olheiras, mas eu não tenho tempo para resolver isso facilmente. Sarah está em Dulce – ou pelo menos é isso que dizia no e-mail que eu li no laptop que roubei do FBI. Antes de eu tentar acessar um arquivo chamado “ProMog”, e de todo o computador desligar. Agora o computador nem sequer liga. Só está jogado no chão do carro, envolto pela minha jaqueta. Eu tento não pensar sobre o que o FBI ou os Mogs podem estar fazendo com Sarah. Com muito esforço eu consigo envolver a minha mente com os fatos sobre o FBI – ou pelo menos os agentes de Paradise – estarem trabalhando para os aliens. Instantaneamente eu foco no fato que eu estou indo salvá-la... em algum lugar. Depois de mais algumas horas de estradas vazias na minha jornada de 2400 quilômetros em um dia, de Ohio para o Novo México, eu vou estar lá para salvá-la. Eu. Sozinho. Contra um bando de aliens pálidos e provavelmente o FBI, NSA e os Iluminatis ou tanto faz. Meu telefone vibra – um pré-pago que eu comprei em uma parada de caminhões uma hora depois de sair de Paradise. O som lembra-me que eu não estou tecnicamente sozinho nesta missão para salvar Sarah. Há alguém me ajudando. Ele é a única pessoa que tem esse número. Eu olho a mensagem.

GUARD: Está chegando perto do NM?

Eu olho para cima para ver uma placa do lado da estrada me dizendo que estou na Rodovia 17 do Estado do Colorado que vai se tornar a Rodovia

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17 do Estado do Novo México em 16 quilômetros. GUARD tem estado estranhamente bom em adivinhar onde eu estou na estrada. Eu mando uma mensagem para ele dizendo que eu estou a 10 minutos de NM. Logo depois da mensagem ter sido enviada, meu celular vibra novamente. GUARD: Posto de combustível perto da fronteira do NM. À direita.

Pare lá. Eu tenho algumas coisas para você.

Meu cérebro praticamente explode quando eu leio isso. Eu realmente vou estar cara-a-cara com o GUARD: a cabeça de um website de conspiração terrorista, Eles Estão Entre Nós, um extraordinário hacker e meio que meu único amigo agora que a Sarah se foi. Mesmo que eu nunca tenha conhecido ele. Mesmo que eu nunca nem tenha falado com ele por telefone, porque ele é obcecado com sua própria privacidade como é pelos Mogadorianos e Lorienos. Okay, então talvez nós não sejamos amigos exatamente. Eu acho que somos mais como parceiros com toda essa merda de aliens. Ele é o cérebro dos computadores, e eu sou o cara forte que está indo salvar a garota e descobrir um jeito de não deixar o que aconteceu em Paradise acontecer em qualquer outro lugar novamente. A ideia de estar frente-a-frente com o GUARD envia energia aos meus pensamentos, começo a imaginar nós puxando alguns caras maus como nos filmes de ação, enquanto invadimos a base alienígena em Dulce. Libertando qualquer um que esteja sendo refém dos Mogs em uma montagem de explosões. Então meu coração começa a bater mais rápido, e eu lembro que essa é a vida real, não importa quão estranho tudo isso pareça. Eu penso sobre o Mog enorme que eu vi enquanto eu estava agindo como um espião na delegacia de Paradise. Ele tinha olhos pretos gigantes, como de um

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zagueiro profissional. Ele tinha facilmente 90 quilos a mais que eu e provavelmente foi treinado com todos os tipos de armas Mogadorianas. Então eu penso de novo em todas aquelas merdas dos Mogs que nós tivemos que encarar na escola. Quer dizer, eu pude lutar para sair de toda aquela confusão e protegi a Sarah no processo, mas a ideia de lutar de novo contra esses caras me faz querer dar meia volta e ir para casa. Eu aumento o volume do rádio e digo a mim mesmo que isso tudo vai dar certo. Eu vou ficar bem. Eu vou salvar a Sarah. GUARD e eu vamos fazer isso juntos. Ele sabe o que fazer.

São 2 horas da manhã quando eu cruzo a fronteira do Colorado para o Novo México. Claro, há um posto de gasolina velho na primeira saída. A essa hora da noite ele parece deserto. Só quando eu entro no posto que eu penso se eu estou em perigo por alguma razão. Mas isso é impossível. Eu tenho sido super cuidadoso, e Deus sabe que GUARD não ia estragar tudo para si mesmo quando ele estiver voando por baixo do radar do FBI. Assim mesmo, me sinto ansioso. Eu culpo essa minha paranoia pela falta de sono. Eu estaciono em uma das bombas, porque este é o único lugar iluminado, com luzes industriais zunindo. Ficar embaixo da luz faz com que tudo pareça ainda mais escuro, então eu ilumino tudo com os faróis duas vezes, mais para dar uma olhada no local e mais porque eu já vi filmes suficientes sobre gangs e encontros secretos para saber que isso algumas vezes é um sinal. Ninguém aparece, então eu saio do carro e começo a abastecer, quando eu termino, olho em volta a procura de algum movimento. Eu estou com cinco galões quando uma figura surge da escuridão do outro lado do posto.

— GUARD? – eu chamo.

A figura não responde, o que não é exatamente um bom sinal.

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Eu de repente percebo que queria ter alguma arma invés do meu braço de lançar - um passe perfeito não vai me proteger se este cara for um Mog. Meu coração bate tão alto que eu estou achando que a outra pessoa consegue escutar mesmo com as luzes barulhentas. Aperto meus dedos ao redor da bomba. Se as coisas derem errado, talvez eu possa derrubar o cara com a mangueira o fazendo perder o equilíbrio talvez por tempo suficiente para fugir. Felizmente, eu tive sorte. É obvio quando a pessoa para na luz que ela não é um Mog. Primeiro, eu nunca soube se há mulheres Mogs. Segundo, ela é magra, ao contrário de qualquer Mog que eu já vi. Ela também não parece como uma agente do FBI. Ela tem um capacete de uma moto que deixa só o seu rosto exposto. Entre isso e a jaqueta de couro com encaixe perfeito, eu estou supondo que ela está com uma moto escondida do outro lado do posto de gasolina. Eu não posso ficar muito aliviado, porque ela parece que está chateada enquanto se aproxima. É quando eu percebo que há uma caixa embaixo de um dos seus braços. Eu mantenho a minha mão na bomba. Eu não percebo que ela é mais alta que eu, até ela estar a alguns metros de distância. Eu não acho que eu já tenha conhecido uma garota que tenha me feito sentir tão pequeno. Na verdade, ela não é realmente uma garota. Eu acho que ela tem uns trinta anos, mas a baixa qualidade da luz e o capacete é difícil dizer exatamente.

— Hum – eu murmuro, eu não sei bem o que dizer. — Eu não tenho certeza...

— Jolly Roger? – ela pergunta.

Eu levo um segundo para responder, porque nunca ninguém me chamou assim na vida real. Eu não acho que já tenha dito isso em voz alta. Tecnicamente eu sou JOLLYROGER182, pelo menos quando eu estou no blog Eles Estão Entre Nós.

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— Sim? – eu respondo, como se fosse uma pergunta. Eu ainda estou tentando entender na minha mente tudo o que está acontecendo, quando ela empurra a caixa no meu peito.

— Assine aqui – ela diz, segurando uma caneta com uma mão e

apontando para uma folha de papel na parte superior da caixa com a outra mão. Eu assino onde ela disse, apenas a meio caminho de registrar o serviço de correio listado no topo da página. Com certeza o pacote foi destinado para Jolly Roger. Isso só pode ser o jeito que o GUARD arrumou de manter meu nome real fora da equação, o que é esperto, eu acho. Ainda assim, não posso deixar de ficar chateado por ele ter enviado um mensageiro em vez de vir pessoalmente. Eu pensei que eu ia finalmente encontrar o GUARD. Eu pensei que nós

íamos formar um time. A mulher mantém seus olhos focados em mim. Sem piscar. A intensidade do seu olhar me assusta um pouco, me mantendo longe do pensamento de que GUARD não está aqui. Ela pega a página que eu assinei do pacote de volta, mas continua me encarando, como se os olhos castanhos dela tentassem ler a minha mente. Finalmente ela fala.

— Você deveria cair fora da estrada e dormir um pouco – a voz dela é

séria, mais como um comando do que uma sugestão. — Você está uma merda. E então ela caminha de volta para escuridão. Eu entro correndo na caminhonete, rasgando a caixa. Eu empurro todas as coisas que eu não reconheço: equipamentos de computador, mapas, engenhocas eletrônicas. Tem um Smartphone na caixa, junto com uma

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pilha de dinheiro, pelo menos, uma grandiosa quantia. Há até mesmo um saco preto acolchoado - que eu acho que devo levar tudo isso dentro dele. O que está acontecendo? De repente a tela do telefone ganha vida, ligando. Depois de alguns segundos, uma mensagem surge.

GUARD: Pensei que você poderia precisar de alguns suprimentos. As

instruções estão no telefone. Cuidado: eles vão se auto excluir depois que você lê-las. Boa sorte. -G

GUARD enviou-me suprimentos e coisas necessárias. Não tem nenhum endereço de onde foi enviada a caixa. Eu saio da cabine da caminhonete, mas já é tarde demais – eu já consigo ouvir o ronco da moto dos correios desaparecendo em algum lugar na estrada. A bomba de gasolina estala. Eu estou colocando tudo de volta na caixa quando percebo um item no fundo dela. Eu pego: um cilindro de metal de cerca de meia polegada de largura e quatro centímetros de altura coberto de marcas estranhas que eu nunca vi antes. Perto do topo há algo como se fosse um botão. Há um bilhete preso que está escrito “não me aperte”. De repente eu estou com medo de estar segurando uma bomba. Olhando para trás e para a possível arma e a pilha de dinheiro, uma grande questão está mais alto do que todas as outras que estão passando pela minha cabeça: Quem diabos é GUARD?

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SOU ACORDADA POR BATIDAS QUE ECOAM PELO MEU APARTAMENTO. Há gritos lá fora na rua em algum lugar. Um único pensamento berra na minha mente: Eles estão aqui. Meus instintos de sobrevivência se manifestam. Eu pulo da cama e começo a empurrar alguma coisa particularmente fora de vista, escondendo blocos de anotações e aparelhos de armazenamento eletrônicos cheios de arquivos roubados em gavetas e compartimentos secretos que eu embuti na minha mobilha. Meu coração está acelerado, mas eu me movo com calma, metodicamente, me concentrando na minha tarefa. Eu sempre trabalhei melhor sob pressão. É uma habilidade que se torna útil quando você faz o que eu faço. Estou debruçada sobre meu computador principal quando, algumas notas de uma guitarra ou de um filtro sintetizador vem lá de fora, seguindo pelo barulho de aplausos de uma multidão. É somente agora que meu cérebro começa logicamente a avaliar o que está

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acontecendo. Eu pauso para absorver a situação, meus dedos flutuando sobre o teclado, prontos para retirar um driver cheio de dados incriminadores. Não há mais nenhuma batida ou coisa do tipo. Não há nenhum oficial do Conselho de Defesa de Lorien arrombando minha porta. Apenas um pouco de música e o barulho das pessoas... rindo? E então eu me lembro que é o dia da comemoração do Quartermoon. A música para. Eu pauso e escuto por alguns segundos antes de fechar os meus dedos no meu punho e me rastejar até uma das pequenas janelas localizadas perto do teto do meu apartamento. Eu subo numa cadeira e puxo a cortina preta só um pouco para que eu possa espiar lá fora. Do outro lado da rua, Eilon Park está lotado de pessoas, sua localização na periferia da cidade o faz ser o lugar perfeito para aqueles das áreas rurais se reunirem em celebração. Um caleidoscópio de luz pisca sobre a multidão dançante, pintando-os em cores de neon. Em algum lugar um palco deve ter sido montado. Há mais dois bangues poderosos que mais uma vez chacoalham meu apartamento – uma bateria, reconheci desta vez – antes da banda começar a tocar uma música mais pesada para a alegria de todos no parque. Parte de mim se sente estúpida por ter se assustado com uma bateria, mas principalmente estou com raiva. Não porque meu sono foi interrompido – está escuro lá fora, o que quer dizer que já estava na hora de eu acordar, de qualquer forma – mas porque o governo sancionou este tipo de celebração apenas para mais uma das várias maneiras dos Anciãos manterem os Lorienos subornados. Eles criam festas que duram a noite toda e erguem monumentos chamativos e disparos de luz que eles chamam de Heralds, e nós deveríamos

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agradecê-los – para reconhecer esses eventos como sinais de que tudo está bem em Lorien. De que tudo está perfeito. Mas não está. Meu pé dá um passo para trás em direção do chão gelado. Meu coração ainda está acelerado no meu peito, e eu tento me acalmar respirando fundo e esticando meus músculos. As pontas dos meus dedos encostam o teto enquanto eu me alongo. Nas ruas da Capital – nas raras ocasiões que eu estou em público durante o dia – eu sou mais alta que a maioria da população, especialmente perto de outras mulheres. Apesar da minha altura eu raramente me sinto claustrofóbica no meu apartamento, que é apenas um grande cômodo. Se alguma vez eu me senti apertada, eu poderia apenas fazer uma limpeza, já que a maioria das superfícies estão com pilhas enormes de livros e eletrônicos em vários estágios de reparação e modificação. Eu visto as calças e uma camisa antes de retornar para meu computador. Minha adrenalina ainda está pelo corpo. Melhor começar a gastar essa energia. — Fale comigo – eu digo, me conectando ao meu terminal. — O que você tem para Lexa hoje? Eu abro alguns dos programas coletores de dados que eu projetei e encontro um tesouro cheio de mensagens interceptadas, alertas e informações. O tipo mais útil de moeda: informação. Há algumas semanas atrás a Rede, que controla e monitora basicamente todas as comunicações e funções municipais da Capital, começou a ter um mal funcionamento em várias localidades pelo meu bairro. Normalmente a Rede é impossível de ser invadida – mesmo por uma pessoa habilidosa como eu – mas quando meus próprios scanners me alertaram sobre esse problema, eu vi a oportunidade. Uma chance para eu coletar comunicações confidenciais – para mostrar ao povo de Lorien que há corrupção em nosso governo e

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segredos que os Anciãos e os oficiais de alto escalão escondem de nós. Eu fui capaz de invadir uma estação de reparo da Rede antes dos Munis chegarem para concertá-la. Eu fiz o trabalho para eles – adicionando um pouco do meu próprio equipamento no sistema. Desde então, a Rede “impenetrável” tem sido minha. E eu estive estocando todo tipo de dado. Era para isso ser uma grande e feliz utopia. Pelo menos é isso que os Anciãos – e, portanto, todos os que acham que eles são onipotentes e onipresentes – querem que pensemos. Para que Lorien seja “perfeita”, todos de nós temos que tolerar certos tipos de regras. Nós somos divididos em categorias, o que torna fácil para nós a classificação e o controle. Garde e Cêpan. Se você tem Legados, você é um soldado. Se você não tem, você é um Mentor ou Munis ou um burocrata. É dito que você tem que seguir certos passos, e se você não o fizer – se alguma coisa acontecer que mandar sua vida para fora do destino traçado – ou se você questionar o sistema vocalmente, então o resto dos Lorienos não tem nada a ver com você. Se você não trabalhar em um papel esperado, você é uma falha. Você é diferente, o que não é uma coisa boa. Você também deve trabalhar ativamente contra o resto do planeta. Outorgar, é exatamente isso que eu faço. Não por causa da anarquia mas pela liberdade. O que a maioria das pessoas não sabe – ou escolhem não saber - é que há alguns de nós que não concordam com a maneira que as coisas andam. Nós percebemos que, enquanto isso pode parecer um modelo de sociedade, o custo é o nosso livre arbítrio. Alguns de nós perdemos demais para Lorien. Eu perdi demais. E eu quero ver isso mudar. Precisamos de uma reforma. Precisamos de uma revolução.

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O som da celebração do outro lado da rua está tão alto que meu apartamento se torna uma câmara de ecos de gritos e música eletrônica. Eu tento me concentrar enquanto eu trabalho pelas várias comunicações que meus programas interceptaram durante o dia. A maioria deles é inofensiva – ordens para os Munis, notas das escolas sobre estudantes ausentes, estatísticas de tráfego. Estou mais interessada nos arquivos criptografados. Esses são os que importam. Você pode dizer muito sobre a pessoa baseando-se nas palavras que eles não querem que você leia. Eu descobri vários petiscos interessantes – traições conjugais, parceiros de negócios enganados, professores escrúpulos na Academia de Defesa de Lorien. Há muitas pessoas que me pagariam bem por essas informações. Ou para impedi-las de ir ao público. Eu sei disso porque, nas horas de desespero, essas informações me mantiveram alimentada e pagaram meu aluguel. O que eu realmente estou procurando agora é alguma que possa expor a corrupção no Conselho de Defesa de Lorien ou nos Anciãos - alguma coisa que irá forçar as pessoas de Lorien a dar uma boa olhada na maneira que o governo está sendo regido. Eu sei que deve estar lá. Eu apenas não encontrei nada hediondo ainda. Mas eu vou. Eu tenho que ter fé nisso. É o objetivo que me mantém nisso, que me faz levantar da cama. Além disso, eu não estou fazendo isso só para mim mesma. Estou fazendo também para a memória dele. Estou fazendo isso pelo meu irmão. Meu apartamento balança. Uma pequena quantidade de poeira se desprende do teto. Há alguns fogos de artificio potentes sendo disparados em algum lugar da cidade. Eles realmente estão levando essa celebração a sério esse ano. Um alerta me diz que meu software de descriptografia está tendo problemas na decodificação de uma mensagem que acabou de ser

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interceptada de um canal de comunicação que eu não sabia que existia. Estou surpresa que meus programas de monitoramento captaram isto. Ou eu estou ficando muito boa a interceptar a Capital ou os oficias estão ficando muito relaxados. Qualquer que seja o caso, uma mensagem criptografada é transmitida em um canal oculto como se fosse destinada a carregar algo importante. Eu aciono um segundo software de descriptografia, e um monte de símbolos e letras ininteligíveis começam a formar palavras lentamente. Enquanto ele processa, eu tento descobrir quem mandou essa mensagem e o destinatário. A primeira é um busto, o que me manda de volta para o computador e um endereço que eu não reconheço, embora eu conecte para que eu possa rastreá-lo mais tarde. Eu tenho mais sorte com os receptores. Parece que foi transmitido para apenas nove IPs de banda larga – todas pertencentes a pessoas cujos nomes eu não sei. Não é um problema. Eu faço uma rápida pesquisa no banco de dados do CDL que contém o registro de todos os cidadãos – um banco de dados que poderia realmente usar firewalls melhores – e com certeza, os nomes tem uma grande coisa em comum: todos são Cêpans Mentores. Curioso. Por que nove Cêpans Mentores iriam ser contatados via mensagens criptografadas durante a celebração do Quartermoon, uma noite em que a maioria das pessoas tentam fingir que elas não se preocupam com o mundo? Gostaria de saber se é uma questão que lhes dizem respeito, ou aos seus Garde – quais os riscos desnecessários que envolvem aqueles dotados de Legados podem correr agora. Eu volto para o programa de descriptografia. Ainda está trabalhando, mas eu posso captar algumas palavras. “Rastro aéreo”. “Garde”. “Lóridas”.

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Meu corpo inteiro estremece. Lóridas. Isso tem alguma coisa a ver com os Anciãos. Eu tenho tentando rastrear mais informações sobre a localização atual deles desde que eu interceptei uma mensagem da Rede alguns dias atrás mencionando que eles estavam fora do planeta. Por que? O que eles estão planejando? Eu sorrio enquanto me inclino para trás, colocando minhas mãos atrás da minha cabeça e esfregando elas na minha nuca. Independentemente do conteúdo da mensagem, alguma coisa como isso – algo direto dos Anciãos – definitivamente será valiosa. As pessoas ficarão obcecadas por detalhes da vida dos Anciãos. Eu posso ter acabado de interceptar a lista de compra de Pittacus Lore, e eu aposto que eu poderia vende-la por créditos suficientes para pagar meu aluguel do mês. Há um barulho do outro lado do cômodo. Meu identificador modificado – que parece mais com bracelete de prata agora que eu integrei um sistema de comunicação nele – vibra na mesa. O nome Zophie aparece na superfície. Eu não respondo mas coloco rapidamente o bracelete no meu pulso, me perguntando o porquê ela está me contatando. Provavelmente para mais uma apresentação no museu, eu suponho. Zophie é veio de um lugar que os outros chamariam de “boa família”, o que significa, na verdade, que eles são ricos e que gastam muito dinheiro com caridade e coisas do tipo. Estávamos na ADL ao mesmo tempo, amigáveis mas não amigas. Ela estava sempre junto com outras estudantes, mas eu preferi a solidão, e desde então, antes de tudo mudar e eu sair da Rede. Mais tarde – anos depois do incidente – nós nos encontramos novamente no Kabarak nos Territórios Longínquos, onde eu estava reconfigurando uma rede de computadores. Naquela época ela estava dirigindo o

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Departamento de Estudos do Outro mundo no Museu de Exploração de Lorien. Foi ela quem me trouxe de volta para a Capital para trabalhar num projeto de restauração no museu, remodelando os sistemas internos de uma nave antiga movida a combustível fóssil. Foi um dinheiro bom – suficiente para atualizar a maioria dos meus equipamentos, o que inevitavelmente me trouxe para onde estou agora. Mas não temos nos falado desde o último dia no museu, e isso foi há alguns anos atrás. Talvez foi um engano. Talvez ela só esteja com bastante ampolas e queria desejar um Feliz Quartermoon para todos os seus contatos. O som da multidão está crescendo do outro lado da rua. Eu continuo a tentar ignorar eles enquanto eu abro a lata de energético e me sento na frente do computador novamente. Mais da mensagem foi decodificada, mas ainda não faz sentido algum. Alguma coisa sobre a profecia se tornando real e o fim de Lorien e.... — Evacuação? – eu murmuro para mim mesma. Meu identificador vibra. É Zophie novamente. Eu suspiro e estou prestes a responder quando eu percebo que a música da celebração parou. A multidão ainda está barulhenta, mas seus gritos estão abafados. Eles não estão mais gritando de alegria ou celebrando, mas é um grito de medo e alerta. Que diabos está acontecendo lá fora? Eu corro para a janela e puxo a cortina. Eu posso ver apenas um pedaço do céu. Está vermelho. Há uma onda nos gritos de pânico vindos do parque, mas pelo motivo da janela estar no porão, as pessoas que passam correndo pela calçada bloqueiam minha visão. Meu apartamento chacoalha novamente, com mais violência desta vez. Eu vejo a luz segundos antes de eu perceber o que é. Fogo. Fogo vindo na minha direção em

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uma onda enorme, engolindo todos que estão no seu caminho: homens, mulheres, crianças. Eu consigo dar alguns passos para trás longe da janela antes do vidro quebrar e metade do teto cair ao meu redor.

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EM LORIEN, EU MOREI NA CASA DO MEU AVÔ NA PERIFERIA

da cidade, em um dormitório na academia de defesa, em um porão de um apartamento no térreo em frente ao Eilon Park – até mesmo no Kabarak nos Territórios Longínquos por alguns anos depois que meu irmão morreu, quando eu estava feliz por estar perdida e desconectada da Capital e de tudo que era relacionado à ela. Nenhum desses lugares existem agora, depois que os Mogadorianos destruíram meu planeta. Agora tenho apenas a Terra, um mundo no qual não sou apenas uma estranha, mas também uma das últimas do meu povo. Eu estou nesse planeta há quase dois anos, mas eu não tenho certeza se algum dia será como um lar. Quase senti isso enquanto estava em uma cabine alugada no norte de Nova Iorque por um curto período de tempo há alguns meses. Graças aos Mogs, esse lar também já não existe mais. Parece que todos os meus lares eventualmente foram destruídos. A morte tende a me seguir onde quer que eu vá, levando aqueles com

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quem mais me preocupo na maioria das vezes. Então uma das minhas prioridades é ficar sozinha, longe dos outros. Foi assim que eu acabei comprando um pequeno pedaço de terra isolado no qual eu nunca pisei, no Alabama. Está anoitecendo quando eu vejo a propriedade com meus próprios olhos pela primeira vez, estacionando na frente do grande portão de aço forjado que leva para uma trilha cercada por árvores. O Nome rancho Yellowhammer está escrito em letras enferrujadas em forma de arco no topo. O portão parece imponente, mas é principalmente ornamental. Sendo uma medida de segurança, é ridículo. Não há nem um cadeado nele. A cerca no outro lado também está em péssimo estado, consistindo em algumas listras de arame farpado: uma barreira que não irá manter ninguém longe com exceção dos animais. Eu me pergunto se os fazendeiros que são donos se sentiam realmente seguros com essas linhas brutas de metais. Possivelmente, eu suponho. Mas então, eles provavelmente nunca imaginaram que os inimigos deles viriam pelo céu invés de virem pela estrada sinuosa que leva ao Rancho. Eu sei disso melhor que ninguém. Ainda assim, o portão e a cerca não são completamente inúteis. Eles me serão úteis quando eu instalar as câmeras de segurança no perímetro. Talvez algumas armas operadas remotamente, também, apenas para o caso dos Mogadorianos conseguirem me encontrar aqui. Com um pequeno empurrão, o portão de aço forjado se abre, rangendo nas dobradiças velhas. Eu volto para dentro do meu SUV e dirijo sobre a guarda do gado. A sede da fazenda está localizada um pouco após a trilha e está praticamente escondida pelas árvores e colinas. É feita de grossas vigas de madeira. Eu ignoro a garagem na lateral e dirijo pela grama, em direção à varanda. O gramado está

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amarelado e está na altura dos canos das minhas botas pretas quando eu piso no chão. Eu ando por volta da casa uma vez, conhecendo o local, mantendo meus olhos atentos para qualquer coisa que me pareça fora do normal ou que possa representar especialmente problemas na segurança gritantes. Não há nada de errado pelo que posso ver por enquanto em qualquer direção além de mais arame farpado e campos vazios e um velho celeiro nos fundos. Pelo menos se esse lugar acabar explodindo também, ninguém irá se ferir além de mim. Eu piso no degrau da escada quebrada da varanda e ando até a porta de madeira, onde há um grande envelope preso por um pequeno pedaço de fita adesiva. Eu o puxo e retiro um maço de papel que provam que agora eu sou a dona legítima de Yellowhammer. Nenhum desses documentos têm meu nome neles – eu não disse a ninguém meu verdadeiro nome, Lexa, desde que eu descobri que os Mogadorianos estavam na Terra caçando os Lorienos. Não que isso significaria alguma coisa para um Mog se ele o ouvisse – eu não sou Pittacus ou nem um dos outros Anciãos. Mas eu sou cuidadosa. O Rancho Yellowhammer é agora, tecnicamente, propriedade de uma corporação que eu criei, subsidiaria de uma outra organização que eu inventei, todos os documentos levando a outras informações de uma maneira que nunca poderia ser traçado uma pista de volta para mim. Recentemente, eu comecei a juntar identidades. Eu fui dezenas de pessoas nas últimas semanas, algumas vezes na vida real e outras na vida virtual. Eu fui Julie quando eu comprei o SUV preto na Pensilvânia. Eu peguei o IP emprestado de um homem chamado Phil quando tentei invadir a intranet da CIA. Eu acho que fui Lindsey quando comprei todas as armas de fogo em Kentucky e Patti quando adquiri todos os meus equipamentos eletrônicos no Tennessee.

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Eu pego esses nomes de garçonetes, capas de revistas e de conversas ouvidas por acaso, mudando de identidades diariamente, algumas vezes de hora em hora. Organizar informações e dados sempre foi um dos meus pontos fortes, e eu mudo de identidade para identidade sem vacilar, gravando Julie, Lindsey e Patti na memória para o caso de eu precisar usá-las mais alguma vez novamente. As pessoas de quem eu compro as coisas nas lojas de penhores e de computadores nunca suspeitam eu não ser que eu digo que sou. Ou se eles suspeitam, eles não dizem nada. É incrível como poucas perguntas são feitas quando você diz que vai pagar à vista e em dinheiro. E, graças aos firewalls da internet razoavelmente primitiva e aos sistemas de segurança usados pelos bancos desse planeta, dinheiro é uma coisa que vem fácil quando você é uma pessoa que se dá bem com os uns e zeros, como eu. Nas últimas semanas, eu peguei minúsculas quantidades de moeda de várias contas de bancos do mundo todo. Dinheiro é uma das poucas coisas que eu tenho em abundância. Dinheiro, perguntas e raiva. Eu abro mais o envelope, e um molho de chaves cai sobre minhas mãos. Não foi fácil encontrar esse rancho. Eu sabia que precisava de um lugar longe das áreas populosas, ou mesmo da cidade mais próxima, se possível. Lugares remotos que eram fáceis de localizar, mas me demorou algum tempo até que eu encontrasse alguém que quisesse fazer negócio o mais rápido possível, e sem me ver pessoalmente. Tudo o que precisei fazer foi juntar algum dinheiro e forjar algumas assinaturas, e de repente eu sou a dona de um pedacinho desse planeta. Eu dou outra olhada na varanda, e não posso evitar pensar como Zophie teria gostado deste lugar. Ela passou muitas noites na varanda velha cabine em Nova Iorque com uma xícara de chá, olhando para

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nada em particular. Provavelmente pensando em seu irmão, Janus. Quando ainda tínhamos esperanças de ele estar vivo. Sinto uma dor superficial no meu peito. É um sentimento que já estou familiarizada, a dor que vem quando penso em Zophie, em Janus ou no meu irmão, Zane, que estão em minhas memórias. Não importa o tanto que eu tento não pensar nisso e mantê-los enterrados nas minhas memórias, eles sempre conseguem me encontrar novamente. Eu lembro a mim mesma que não é tristeza que eu deveria estar sentindo, e sim raiva. Disso, pelo menos, eu posso tirar proveito. Era o que me motivava em Lorien quando eu queria nada além de derrubar os Anciãos e extirpar nossa sociedade. Agora, a raiva contra os Mogadorianos é o que me motiva na maior parte do tempo. Um desejo forte de vingança no nome de cada um que eu perdi. Mas para fazer os Mogs sofrerem, eu tenho que trabalhar. Então eu engulo seco, balanço minha cabeça algumas vezes e destranco a porta da frente. Interiormente, a casa está empoeirada, toda a mobilha está coberta com lençóis brancos. O crânio com chifres de um animal grande está pendurado sobre a lareira. O porque as pessoas da Terra escolhem decorar suas habitações com esqueletos de animais, não faço ideia. Matar por esporte era um crime impensável em Lorien, mas baseando-me em algumas histórias apavorantes que eu ouvi em lojas de caça durante minhas viagens por aqui, eu cheguei à conclusão que isso não é incomum na Terra. Eu posso imaginar qual seria a reação de Crayton se ele estivesse aqui comigo, conhecendo o afeto que ele tem pelos Chimaerae. Há uma batida mais forte no meu peito quando penso onde ele deve estar agora. Será que ele e Ella estão a salvo? Quanto será que ela cresceu desde a última vez que a vi?

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Novamente eu tento me livrar desses pensamentos e continuo seguindo em frente. Eu puxo um dos lençóis brancos de uma mesa e o jogo sob o crânio do animal, escondendo-o. Então eu vou explorar os outros cômodos. A geladeira na cozinha tem um congelador grande, o que significa que minhas visitas à cidade para compras não serão frequentes. O closet pode servir para guardar minhas armas. Eu deixo a mobilha que está dispersa nos quartos cobertas e vou para o escritório que fica no fim do único corredor que passa pelo meio da casa. Será aqui onde vou passar a maior parte do meu tempo – o santuário na minha mais nova base de operações. Eu começo a descarregar o SUV. Até recentemente eu viajava sem nada, mais porque os Mogs destruíram quase tudo o que eu tinha nesse planeta enquanto eu estava procurando pela Garde. Por algumas semanas eu viajei através dos Estados Unidos desarmada, uma estrangeira num mundo que não é meu. Eu pensei em procurar o resto do meu povo: a Garde e os Cêpans que vieram na outra nave. De acordo com Janus, eles se espalharam. Foi isso o que ele disse antes de ser executado pelos Mogadorianos na frente de uma câmera em um vídeo que recebi. As evidências que eu descobri online parecem bater com essa informação. Eu encontrei pistas deles aqui e ali: fotos de um homem velho e um garoto pequeno com uma Arca lórica tentando viajar para outro continente, relatos de homens tatuados caçando uma criança no Canadá. Eu não tenho certeza do motivo pelo qual eles se espalharam, mas na maioria das vezes eles cobriram seus rastros muito bem, ficando fora de vista.

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Eu acho que os Cêpans são competentes, na maioria das vezes. Há um grande jogo acontecendo aqui, mas eu não consigo descobrir qual. Por que os Mogs estão caçando as crianças? O que há de tão especial nelas? Por que gastar recursos para destruir os últimos lorienos? Estas são questões que eu tento responder, enquanto faço o que posso para ajudar a manter a Garde escondida. Se eu vejo algo na internet que me parece relacionado à eles, eu tento enterrar a informação e desaparecer com ela. Mas minhas mudanças tornam isso uma tarefa mais difícil. É por isso que estou aqui em Yellowhammer. É uma base de operações para uma guerra que próxima. Porque, se os Mogs estão aqui na Terra, é provavelmente uma questão de tempo até que eles façam aqui o que fizeram com meu planeta. A maioria das caixas que tenho estão com equipamentos eletrônicos que eu comprei durante as minhas viagens através deste país. Assim que tudo está empilhado no escritório, eu começo a juntar tudo, desmontando-os e montando-os de uma maneira mais eficiente, adicionando sistemas que vão incorporar ao mais sofisticado notebook que eu criei no Egito usando alguns itens lóricos. O notebook personalizado é bom, mas a máquina que estou montando irá me dar mais poder de processamento e armazenamento. O trabalho é tedioso, mas eu mantenho o foco. A noite cai e então o sol nasce. Eu pauso algumas vezes para beber água ou para esticar minhas pernas. Quando minha cabeça começa a latejar por me concentrar tanto, eu dou uma pausa e vou para fora, procurando lugares onde eu possa colocar câmeras de segurança quando o computador estiver funcionando – alguma coisa mais substancial que arame farpado. Esse lugar vai precisar de muita coisa, mas no final quando estiver tudo pronto este será uma fortaleza de conhecimento e poder. Eu planejo coletar cada informação que eu puder sobre os Mogs.

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Aqueles bastardos que destruíram meu planeta, que assassinaram minha amiga, vão pagar. Eu vou descobrir o que eles querem e vou ajudar os outros lorienos a derrotá-los. De alguma forma, de algum jeito. Eu abro as portas quase enferrujadas do celeiro nos fundos. Elas rangem como se não tivessem sido abertas por um longo período de tempo. A luz passa por um pequeno lugar sem telhado, iluminando alguns fardos de feno e um conjunto de ferramentas penduradas na parede. O lugar não é grande coisa – de fato, parece que com apenas um empurrão tudo desmoronaria - mas isso irá servir para algo. Com sorte, logo eu terei uma nave aqui. Aquela que trouxe os Gardes escolhidos e seus Cêpans para este planeta – talvez a última nave lórica que restou no universo. Porque qualquer que seja o motivo pelo qual a Garde está aqui, eles vão precisar de toda ajuda que receberem. Eles estão sendo caçados. Nós estamos sendo caçados. E quando eles dominarem seus Legados e decidirem que é hora de atacar os Mogadorianos, eles irão precisar da nave. Droga, eu mesma vou pilotá-los contra os Mogs.