piquete 124 anos

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Excelentíssimo senhor Fernando Motta, digníssimo Presidente da Câmara Municipal de Piquete, e excelentíssima senhora Teca Gouvêa, digníssima Prefeita Municipal, em nome de quem saúdo todas as autoridades presentes a esta Sessão Solene. Caríssimos visitantes e piquetenses – por nascimento, adoção ou merecimento. Não me é fácil estar aqui, pois não me agrada estar em evidência. Sinto-me honrado, porém, em poder estar em posição que já foi ocupada, por exemplo, pela professora Abigayl Lea e por José Palmyro Masiero, que considero modelos de piquetenses. 15 de junho é uma data da qual participei por vários anos como aluno da Escola de 1º e 2º graus da Fábrica Presidente Vargas, dirigida pelo professor Leopoldo Marcondes de Moura Netto. São-me gratas e muito vivas as lembranças daqueles dias frios, com um ambiente diferente não sei por que razão, em que deveríamos estar ainda mais cedo em frente ao prédio da escola, uniformizados ou trajados de acordo com o tema, preparados para o desfile cívico em homenagem ao aniversário de Piquete. Ao ausentar-me de Piquete para estudar, essa tradição foi-me ficando distante. Já não havia mais o compromisso do desfile, muito menos o foguetório e a tradicional Corporação Musical Piquetense pra me acordarem às 6 horas da manhã. Ficaram esmaecidos, assim, aqueles momentos. Quando passei a colaborar com a Fundação Christiano Rosa – já se vão quase 17 anos –, aquela brasinha reacendeu. Conhecer a História de Piquete, seus personagens, evidenciar os sentimentos de comunidade, de cidadania e de civismo deram forças ao meu amor por Piquete, até então carente de sustância. É por isso, acredito, por ter aprendido a amar Piquete, a valorizá-lo como minha terra natal, como base de minhas raízes e tradições, que estou aqui, em posição que todos os cidadãos piquetenses merecem, a convite da Câmara Municipal. A comemoração do aniversário de emancipação político-administrativa do município é um evento primordial para os piquetenses. Nessa ocasião, rememoram-se personagens e fatos que permitiram o surgimento de nossa cidade, além da gostosa sensação de pertencimento a uma localidade. Recentemente, quando começava a escrever para este momento, recebi uma mensagem, via rede social, vinda de Arlete Monteiro, uma piquetense que ama e divulga Piquete, e conhece minha admiração pelo mestre do expressionismo holandês, Vincent Willem van Gogh.

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Discurso proferido pelo colaborador da Fundação Christiano Rosa, Laurentino Gonçalves Dias Jr, na Sessão Solene da Câmara Municipal de Piquete em comemoração ao 124º aniversário de emancipação político-administrativa de Piquete, realizada aos 13 de junho de 2015, no Salão de Atividades “Luiz Vieira Soares”.

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Page 1: Piquete 124 Anos

Excelentíssimo senhor Fernando Motta, digníssimo Presidente da Câmara Municipal de

Piquete, e excelentíssima senhora Teca Gouvêa, digníssima Prefeita Municipal, em nome de quem

saúdo todas as autoridades presentes a esta Sessão Solene.

Caríssimos visitantes e piquetenses – por nascimento, adoção ou merecimento.

Não me é fácil estar aqui, pois não me agrada estar em evidência. Sinto-me honrado, porém, em

poder estar em posição que já foi ocupada, por exemplo, pela professora Abigayl Lea e por José Palmyro

Masiero, que considero modelos de piquetenses.

15 de junho é uma data da qual participei por vários anos como aluno da Escola de 1º e 2º graus da

Fábrica Presidente Vargas, dirigida pelo professor Leopoldo Marcondes de Moura Netto. São-me gratas e

muito vivas as lembranças daqueles dias frios, com um ambiente diferente não sei por que razão, em que

deveríamos estar ainda mais cedo em frente ao prédio da escola, uniformizados ou trajados de acordo com

o tema, preparados para o desfile cívico em homenagem ao aniversário de Piquete.

Ao ausentar-me de Piquete para estudar, essa tradição foi-me ficando distante. Já não havia mais o

compromisso do desfile, muito menos o foguetório e a tradicional Corporação Musical Piquetense pra me

acordarem às 6 horas da manhã. Ficaram esmaecidos, assim, aqueles momentos.

Quando passei a colaborar com a Fundação Christiano Rosa – já se vão quase 17 anos –, aquela

brasinha reacendeu. Conhecer a História de Piquete, seus personagens, evidenciar os sentimentos de

comunidade, de cidadania e de civismo deram forças ao meu amor por Piquete, até então carente de

sustância. É por isso, acredito, por ter aprendido a amar Piquete, a valorizá-lo como minha terra natal, como

base de minhas raízes e tradições, que estou aqui, em posição que todos os cidadãos piquetenses merecem,

a convite da Câmara Municipal.

A comemoração do aniversário de emancipação político-administrativa do município é um evento

primordial para os piquetenses. Nessa ocasião, rememoram-se personagens e fatos que permitiram o

surgimento de nossa cidade, além da gostosa sensação de pertencimento a uma localidade.

Recentemente, quando começava a escrever para este momento, recebi uma mensagem, via rede

social, vinda de Arlete Monteiro, uma piquetense que ama e divulga Piquete, e conhece minha admiração

pelo mestre do expressionismo holandês, Vincent Willem van Gogh.

Page 2: Piquete 124 Anos

Dizia assim a mensagem:

“Vincent van Gogh pintava sempre as árvores tão grandes, que elas iam além das estrelas. As estrelas

eram pequenas, o Sol e a Lua eram pequenos, e as árvores eram imensas... Alguém perguntou a ele: você é

maluco? Por que pintar árvores tão grandes? A estrela mais longínqua fica a milhões e milhões de anos-luz

e as suas árvores vão sempre além das estrelas! Que maluquice é essa?

Van Gogh teria sorrido e dito: Eu sei! Mas sei de

outra coisa também, da qual você não se dá conta: as

árvores são os anseios da terra de transcender as estrelas.

Eu estou pintando os anseios, não as árvores. Estou mais

preocupado com a fonte, não com o objetivo. É irrelevante

se elas alcançam as estrelas ou não. Eu pertenço à terra,

sou parte desta terra e compreendo o anseio dela. Esse é o

anseio da terra expresso através das árvores — ir além das

estrelas”.

Não tenho certeza da autenticidade da passagem. Mas não importa... A estória me fascinou, primeiro

porque tudo que se relaciona a Van Gogh me fascina. Segundo, porque representa muito bem o tema que eu

já havia definido desenvolver para esta noite: piquetenses que tornaram melhor nossa Piquete, que são parte

dela e compreendem os anseios da população, que pertencem, efetivamente, a este torrão, não apenas por

aqui terem nascido, mas por paixão. Neste 2015, em que Piquete comemora seus 124 anos, busquei o nome

de um autêntico piquetense... E poucos traduzem tão bem essas características como Carlos Vieira Soares,

que teria completado 100 anos no último 22 de maio.

“Seu” Carlos Vieira tinha amor desmedido por Piquete. Contador de histórias, bem-humorado e

irreverente, conseguia cativar e incentivar os jovens a se interessarem pela história de nosso município. A

Serra da Mantiqueira e o Pico dos Marins, símbolos extraoficiais de nossa cidade, eram sua grande paixão.

Seu maior desejo era ver Piquete superar suas dificuldades, crescer e se desenvolver. Carlos Vieira é

sinônimo de um piquetense que, multiplicado, resultaria, certamente, numa Piquete mais culta, mais humana

– uma Piquete melhor.

Piquete comemora 124 anos. Foram vários os prefeitos e os vereadores que passaram pela Prefeitura

e Câmara municipais. Acredito eu que a comemoração do aniversário de emancipação política deva, sempre,

ser mote de uma retrospectiva, de uma avaliação, especialmente por parte dos ocupantes dos poderes

constituídos do município. Escolhi citar Carlos Vieira Soares porque ele lutou por Piquete e sua história, como

cidadão comum ou como político. Sua participação na vida de nossa cidade foi efetiva, teve resultados

práticos. Como cidadão, foi por meio dele que foi criado, em 1973, um museu, montado com doação de mais

de duzentos itens coletados entre os moradores da cidade. Foi por meio do cidadão Carlos Vieira, também,

que foram fundadas a Banda dos Ex-alunos, a Corporação Musical Piquetense e a Lira da Juventude

Piquetense. Com dois livros publicados, legou às gerações futuras parte de seu dom para a escrita. Seus

textos são cadenciados pela leveza, fluidez das palavras e sensibilidade para a tradição e os costumes da

cidade. Um parêntesis: orgulho-me de ter digitado os textos e diagramado seu último trabalho,

“Rememorando”, publicado pela Fundação Christiano Rosa. Esses e outros muitos foram atos cidadãos que

influenciaram a vida e os costumes de nossa pequena Piquete.

Carlos Vieira foi também vereador. Como político, exerceu a política partidária séria e compromissada

com ideologias. Merecia, sem dúvida, ser chamado político no sentido louvável do termo. E é de homens

políticos como ele que Piquete e o Brasil precisam. É de pessoas que entendam os anseios de nossa terra e

consigam concretizá-los que carecemos. Aqui neste Salão – que, por sinal leva o nome do ex-prefeito

municipal Luiz Vieira Soares, irmão de “seu” Carlos –, quantos de nós, político-partidários ou não, podemos

Page 3: Piquete 124 Anos

dizer que nos empenhamos para o progresso de Piquete? Quantos de nós podemos dizer que buscamos

engrandecer Piquete desinteressadamente, buscando o bem comunitário?

Há, sem dúvida, outros nomes que poderiam ser citados aqui, tão importantes para nossa cidade

quanto “seu” Carlos Vieira. Destaquei-o em função da proximidade de seu centenário de nascimento e porque

julguei oportuna sua lembrança como inspiração para cada um de nós.

Piquete carece de apoio, meus amigos. Piquete carece de muita coisa...

Mas Piquete também tem muito a oferecer. Para isso, no entanto, há que se buscar oportunidades!

Além disso, temos que nos unir! Temos que somar!

O lugar comum diz que o Brasil é uma nação jovem. Mais jovem ainda, nossa democracia. Piquete é,

portanto, uma cidade jovem – tem muito o que aprender. Se levarmos em conta que ficou órfã há cerca de

quatro décadas, quando cessaram os benefícios proporcionados pela Fábrica Presidente Vargas, e teve que

aprender “a se virar sozinha”, fica ainda mais evidente sua carência de conhecimento e de práticas

administrativa e democrática. Sabemos que há muitos prodígios mundo a fora. Por que não Piquete?

Crescimento, progresso, qualidade de vida, porém, chegarão ao nosso município somente se ele estiver

preparado. Para tanto, é preciso trabalho sério, honesto e competente de nossos poderes Executivo e

Legislativo. Um trabalho conjunto e com o indispensável apoio da população.

Vivemos tempos turbulentos. Como tirar proveito deste período?

Afirmo, em diversas oportunidades, que Piquete é um laboratório para as questões nacionais. Em

escala experimental, as mazelas que atordoam o país afligem também os piquetenses. A solução onde

estaria? Assim como em nível Brasil, a harmonia entre as funções do Executivo e do Legislativo bastaria,

indubitavelmente, para equacionar e solucionar grande parte dos problemas. Executivo e Legislativo têm

funções diferentes e diferenciá-las é o primeiro e essencial passo para se alcançar essa harmonia. O segundo,

não menos importante, é esclarecer a população sobre essas diferenças. A perenidade e o sucesso de uma

administração dependem desses passos iniciais aos quais devem se seguir o trabalho sério, honesto e

competente a que me referi há pouco. No mais, é a lida diária embasada em conhecimento, políticas públicas

responsáveis e continuidade de ações.

Como disse no início deste “discurso”, por experiência própria concluí que, para amarmos Piquete é

preciso aprender Piquete, isto é, conhecer sua História. Então, senhor Presidente, peço-lhe licença para,

abusando da honra que me foi dada, sugerir que nossa Câmara proponha uma legislação que regulamente

Page 4: Piquete 124 Anos

o ensino da História local nas escolas municipais. Estou certo de que há os que poderão colaborar com a

elaboração das diretrizes que regulamentariam tal Lei, incluindo aí a capacitação de nossos professores.

Ouso prever como resultados futuros a melhoria no aspecto físico da cidade, além, sem dúvida, da formação

de piquetenses mais comprometidos com nossa cidade, que colaborarão com o progresso desejado.

Bem... Reafirmo meu agradecimento pelo convite para estar aqui hoje expressando meu amor por

Piquete, meu respeito pelos símbolos e autoridades municipais e minha felicidade de poder participar das

comemorações de mais um aniversário de minha cidade natal.

Para finalizar, proponho-lhes ler trecho de um texto intitulado “Agradecer e Louvar”. O texto, adaptei-

o para dedicá-lo à vida de cada um de nós e à cidade de Piquete:

Agradecer e louvar

Chego para agradecer e louvar.

Louvar o ventre que me gerou.

Louvar a terra que me viu nascer e crescer.

Louvar a água de minha terra, o chão que me sustenta, a ferramenta do cada-dia.

Agradecer pelas nuvens que logo são chuva, serenizam os sentidos, ensinam a vida a reviver.

Agradecer pelos amigos que fiz, que mantêm a coragem de gostar de mim, apesar de mim.

Agradecer pela alegria das crianças, pelos sabiás que brincam em meus quintais, reais ou não.

Agradecer a cada folha, a toda raiz, às pedras majestosas e também às pequeninas.

Agradecer pelo sol que raia o dia, e pela lua, que, como o Deus menino, espraia a luz e vira os sonhos

dos piquetenses de pernas pro ar.

Agradecer o azul-mantiqueira desta serra de histórias tantas, do ouro, dos descaminhos, dos pousos,

dos ranchos, das Vilas...

Enfim, agradecer por ter o que agradecer.

Salve, 15 de Junho! Salve, Piquete!

Discurso proferido por Laurentino Gonçalves Dias Jr na Sessão Solene da Câmara Municipal de

Piquete em comemoração ao 124º aniversário de emancipação político-administrativa de Piquete,

realizada aos 13 de junho de 2015, no Salão de Atividades “Luiz Vieira Soares”.