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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 1 INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASIL Rua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - Website: www.ipni.org.br - E-mail: [email protected] 13416-901 Piracicaba-SP, Brasil Silvia Regina Stipp 1 Luis Ignácio Prochnow 2 Desenvolver e promover informações científicas sobre o manejo responsável dos nutrientes de plantas para o benefício da família humana MISSÃO MISSÃO MISSÃO MISSÃO MISSÃO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N 0 124 DEZEMBRO/2008 Veja também neste número: Manejo conservacionista e reciclagem de nutrientes em cana-de-açúcar .............................. 8 Leguminosas adubos verdes em área de renovação de canavial ....................................... 14 Sistema Internacional de Unidades - SI ............ 19 IPNI em Destaque ................................................ 23 Divulgando a Pesquisa ....................................... 24 Painel Agronômico ............................................. 25 Cursos, Simpósios e outros eventos .................. 26 Publicações Recentes ......................................... 27 Ponto de Vista ..................................................... 28 Abreviações: AOAC = Association of Official Analytical Chemists, DEU = crotonilidene diuréia, EA = eficiência agronômica, EUNF = eficiência de uso de N dos fertilizantes, GEE = gases de efeito estufa, IBDU = isobutilideno diuréia, SA = sulfato de amônio, M.O. = matéria orgânica, N = nitrogênio, NA = nitrato de amônio, NBPT = tiofosfato de N-n-butiltriamida, PPD = fenil-fosforodiamidato, UF = ureaformaldeído. A escassez de matéria-prima para produção de fertili- zantes e o forte aumento nos preços dos insumos têm levado os países em desenvolvimento a buscar alternativas para aumentar a eficiência dos nutrientes. Por outro lado, a degradação do ambiente e as exigências do mercado obri- gam os países desenvolvidos a racionalizar a aplicação destes insumos. Em ambos os casos, a solução é maximizar a eficiência do uso dos nutrientes. Os fertilizantes são fundamentais para alavancar a produ- ção de alimentos no mundo e o Brasil ocupa a quarta colocação entre os maiores consumidores desses insumos, embora com parti- cipação de apenas 2 % na produção mundial. Considerando-se que aproximadamente 75 % dos fertilizan- tes nitrogenados utilizados no Brasil são importados, torna-se ain- da mais necessária a maximização da eficiência de seu uso. Com este enfoque, o GAPE – Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão, o IPNI Brasil e a Honeywell Brasil promoveram, em 23 de setembro último, o Workshop Maximização da eficiência e minimização dos impactos ambientais da adubação nitrogenada, permitindo ampla discussão das alterações relacionadas à utiliza- ção do nitrogênio (N) na agricultura frente à elevação dos preços dos fertilizantes e a preocupação com a sustentabilidade ambiental. Com a palestra Eficiência agronômica e acidificação do solo por fontes diversas de nitrogênio, Dr. Norman Chien, pes- quisador aposentado do IFDC, Estados Unidos (email: nchien@ comcast.net), lembrou que, entre os fertilizantes nitrogenados mais comuns – sulfato de amônio (SA), uréia e nitrato de amônio (NA) – o mais utilizado no mundo é a uréia, porque é mais concentrada (46 % N) e apresenta menor custo por unidade de nutriente, o que favorece também o menor custo de transporte. Mas, para ser utiliza- da pelas plantas a uréia deve sofrer transformação (hidrólise) e, neste processo, o N pode ser perdido por volatilização na forma de NH 3 , quando aplicado principalmente na superfície do solo. Já o SA e o NA, em condições de solos ácidos e neutros, não sofrem perdas por volatilização de NH 3 , podendo estas ocorrer em solos calcários. Estudos conduzidos com milho e trigo em rotação, em três diferentes solos, em casa de vegetação, durante três anos, comprovaram que os três fertilizantes apresentam a mesma eficiên- 1 Engenheira Agrônoma, M.S., IPNI Brasil; e-mail: [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo, Doutor, diretor do IPNI Brasil; e-mail: [email protected] MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOS MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOS MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOS MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOS MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA IMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA IMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA IMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA IMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA

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Page 1: Jornal 124 gráfica.p65

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 1

INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASILRua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - Website: www.ipni.org.br - E-mail: [email protected]

13416-901 Piracicaba-SP, Brasil

Silvia Regina Stipp1

Luis Ignácio Prochnow2

Desenvolver e promover informações científicas sobre omanejo responsável dos nutrientes de plantas para obenefício da família humana

MISSÃOMISSÃOMISSÃOMISSÃOMISSÃO

INFORMAÇÕESAGRONÔMICAS

N0 124 DEZEMBRO/2008

Veja também neste número:

Manejo conservacionista e reciclagem denutrientes em cana-de-açúcar.............................. 8Leguminosas adubos verdes em área derenovação de canavial ....................................... 14Sistema Internacional de Unidades - SI ............ 19IPNI em Destaque ................................................ 23Divulgando a Pesquisa ....................................... 24Painel Agronômico ............................................. 25Cursos, Simpósios e outros eventos .................. 26Publicações Recentes ......................................... 27Ponto de Vista ..................................................... 28

Abreviações: AOAC = Association of Official Analytical Chemists, DEU = crotonilidene diuréia, EA = eficiência agronômica, EUNF = eficiência de usode N dos fertilizantes, GEE = gases de efeito estufa, IBDU = isobutilideno diuréia, SA = sulfato de amônio, M.O. = matéria orgânica, N = nitrogênio, NA =nitrato de amônio, NBPT = tiofosfato de N-n-butiltriamida, PPD = fenil-fosforodiamidato, UF = ureaformaldeído.

Aescassez de matéria-prima para produção de fertili-zantes e o forte aumento nos preços dos insumostêm levado os países em desenvolvimento a buscar

alternativas para aumentar a eficiência dos nutrientes. Por outrolado, a degradação do ambiente e as exigências do mercado obri-gam os países desenvolvidos a racionalizar a aplicação destesinsumos. Em ambos os casos, a solução é maximizar a eficiência douso dos nutrientes.

Os fertilizantes são fundamentais para alavancar a produ-ção de alimentos no mundo e o Brasil ocupa a quarta colocaçãoentre os maiores consumidores desses insumos, embora com parti-cipação de apenas 2 % na produção mundial.

Considerando-se que aproximadamente 75 % dos fertilizan-tes nitrogenados utilizados no Brasil são importados, torna-se ain-da mais necessária a maximização da eficiência de seu uso.

Com este enfoque, o GAPE – Grupo de Apoio à Pesquisa eExtensão, o IPNI Brasil e a Honeywell Brasil promoveram, em 23 desetembro último, o Workshop Maximização da eficiência eminimização dos impactos ambientais da adubação nitrogenada,permitindo ampla discussão das alterações relacionadas à utiliza-ção do nitrogênio (N) na agricultura frente à elevação dos preçosdos fertilizantes e a preocupação com a sustentabilidade ambiental.

Com a palestra Eficiência agronômica e acidificação dosolo por fontes diversas de nitrogênio, Dr. Norman Chien, pes-quisador aposentado do IFDC, Estados Unidos (email: [email protected]), lembrou que, entre os fertilizantes nitrogenados maiscomuns – sulfato de amônio (SA), uréia e nitrato de amônio (NA) –o mais utilizado no mundo é a uréia, porque é mais concentrada

(46 % N) e apresenta menor custo por unidade de nutriente, o quefavorece também o menor custo de transporte. Mas, para ser utiliza-da pelas plantas a uréia deve sofrer transformação (hidrólise) e,neste processo, o N pode ser perdido por volatilização na forma deNH3, quando aplicado principalmente na superfície do solo. Já o SAe o NA, em condições de solos ácidos e neutros, não sofrem perdaspor volatilização de NH3, podendo estas ocorrer em solos calcários.

Estudos conduzidos com milho e trigo em rotação, emtrês diferentes solos, em casa de vegetação, durante três anos,comprovaram que os três fertilizantes apresentam a mesma eficiên-

1 Engenheira Agrônoma, M.S., IPNI Brasil; e-mail: [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor, diretor do IPNI Brasil; e-mail: [email protected]

MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOSMAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOSMAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOSMAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOSMAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOSIMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADAIMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADAIMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADAIMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADAIMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA

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2 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

cia agronômica quando incorporados ao solo. Quanto à acidificaçãodo solo, o SA induziu maior acidificação através da nitrificação,comparado à uréia e ao NA, enquanto estes últimos apresentaramcomportamento semelhante.

Observou-se que com o aumento da dose acumulada de Naplicado houve redução do pH nos solos após cada cultivoseqüencial, e esta acidificação variou de acordo com a capacidadede tamponamento do solo, sendo maior no solo mais argiloso (Fi-gura 1).

O foco das pesquisas com adubo nitrogenado no Brasil estárelacionado a doses para diversas culturas, modos de aplicação,épocas de aplicação, fontes de N e uso do N em diferentes sistemasde produção, especialmente no sistema plantio direto.

A uréia é o fertilizante nitrogenado com maior potencial deperda de NH3 por volatilização, principalmente quando aplicada emsuperfície, tanto em solo nu como em solo coberto por resíduosvegetais. Quando a uréia é aplicada sobre resíduos culturais avolatilização de NH3 tende a ser maior em relação às ocorridas emsolo nu, mesmo após chuva ou irrigação, que normalmente incor-poram o N-adubo ao solo. No entanto, a magnitude dessas perdaspode variar com temperatura ambiente, regime de chuvas, localiza-ção do fertilizante, forma de aplicação (a lanço ou em faixa) e local deaplicação (superfície e cobertura do solo), chegando a atingir valo-res da ordem de 50 % do total aplicado. Outros fertilizantes comer-ciais como sulfato de amônio e nitrato de amônio não resultam emperdas por volatilização, mesmo se aplicados em superfície. Contu-do, a aplicação de uran (50 % de N-amídico) pode resultar em per-das por volatilização, porém, inferior se comparada a uma mesmadose de N-uréia.

Entre as alternativas de manejo propostas para reduzir oumesmo eliminar as perdas de N por volatilização da amônia está aincorporação da uréia ao solo, a 0,05-0,10 m de profundidade. Po-rém, esta tarefa não é muito fácil de ser realizada atualmente, nascondições brasileiras, devido à presença de resíduos vegetais so-bre o solo na grande maioria das culturas, como ocorre nas culturasperenes manejadas com mato, nas culturas anuais em plantio diretoe na cana-de-açúcar sem queima de palha. Ademais, a operação deincorporação requer máquinas com maior potência e é mais demora-da, aumentando os custos, além de, às vezes, não ser muito eficien-te na cobertura dos sulcos, podendo facilitar as perdas de N porvolatilização.

Para o estudo do balanço de N existem dois métodos geraisde avaliação. Um deles é o método da diferença, ou indireto, queenvolve o balanço de N total nos agrossistemas, monitorando asentradas e saídas. O outro método é o do traçador isotópico, emque uma fonte nitrogenada marcada com 15N (fertilizante, matériaorgânica) é adicionada ao sistema, efetuando-se o seu balanço peloprincípio da diluição isotópica. Quando o interesse é realizar o ba-lanço de N em compostos minerais ou orgânicos, incorporados aoagrossistema, a única alternativa é o emprego do método do traçadorisotópico (15N).

Na avaliação do aproveitamento do N-fertilizante realizadaem culturas de interesse econômico como arroz, cana-de-açúcar,feijão, milho, soja, trigo, citros e espécies forrageiras, observou-se que, na maioria das pesquisas, independentemente da cultura,o aproveitamento foi de 50 % ou menos, permanecendo no solo,para efeito residual, 30 % ou menos do N-fertilizante. Várias possi-bilidades têm sido levantadas para justificar esses resultados,como:

• Volatilização de NH3, especialmente de fontes amídicas-amoniacais;

• Lixiviação de NO3 para fora da zona de exploração dasraízes no solo, e

• Desnitrificação, que pode ocorrer em solos com drena-gem deficiente ou em sistemas agrícolas (plantio direto, pasta-gens e em “cana-crua”) em que há elevada disponibilidade decarbono e anaerobiose, gerando condições favoráveis à reduçãodissimilatória do nitrato.

Por outro lado, recentemente tem sido aventada a possibi-lidade de perdas de NH3 pela folhagem das plantas, especialmente

Figura 1. Efeito da dose acumulada de N no pH de solo argiloso (Sharkey),em rotação milho-trigo durante três anos.

Nota-se pela Tabela 1 que a necessidade relativa de calcáriopara neutralizar a acidez induzida pelo SA foi 1,4 a 2,3 vezes maiorque a necessária para neutralizar a acidez provocada pela uréia epelo NA, sendo estes valores próximos ao valor teórico predito(2,0) e menores que o adotado pela Association of Official Analy-tical Chemists-AOAC (3,0).

Com o tema Pesquisas agronômicas no Brasil relaciona-das a fertilizantes nitrogenados: situação atual, perspectivas enecessidades, Dr. Paulo Trivelin, do CENA/USP, Piracicaba, SP(email: [email protected]), e Dr. Heitor Cantarella, do IAC, Cam-pinas, SP (email: [email protected]), mostraram que o estu-do da dinâmica do nitrogênio (N) nos ecossistemas agrícolas não éuma tarefa simples, tendo em vista que o aproveitamento pelasplantas do N oriundo dos fertilizantes geralmente é reduzido devi-do à complexidade do comportamento do elemento no sistema solo-planta-atmosfera. A grande preocupação com o N diz respeito àsvárias rotas de perdas as quais está sujeito, com implicação não sóna diminuição da eficiência de uso do fertilizante, como também napoluição do ambiente.

Tabela 1. Necessidade relativa de calcário em três diferentes solos após oquarto e o quinto cultivos.

Necessidade relativa de calcário

SA2/Uréia SA/NA2 Média

Sharkey 1,58 1,59 1,59Decatur 2,12 1,92 2,02Greenville 2,30 2,23 2,26

1 Conteúdo de argila: Sharkey = 64 %, Decatur = 33 %, Greenville = 17 %.2 SA = sulfato de amônio, NA = nitrato de amônio.

Solo1

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reabsorção do N-fertilizante volatilizado do solo é da ordem de 50 %,o que minimiza os resultados de perdas de NH3 nessas condições.

A adubação nitrogenada deve ser realizada visando obtermaior recuperação do N-fertilizante no sistema solo-planta e mantera sustentabilidade dos ecossistemas agrícolas. A melhoria da efi-ciência de uso de N é desejável para aumentar a produtividade,reduzir os custos de produção e manter a qualidade ambiental.

Em estudos que visam avaliar a eficiência de uso do N dosadubos pelas culturas são empregados índices, como:

a) Eficiência agronômica do N aplicado:EA = (PN – P0)/DN

em que:PN e P0 = produtividade agrícola nos tratamentos adubado com Ne testemunha, respectivamente;DN = dose de N considerada.

b) Recuperação aparente do N aplicado:RA = (NN – N0)/DN

em que:NN e N0 = N extraído pela cultura nos tratamentos adubado com Ne testemunha, respectivamente;DN = dose de N considerada.

Porém, índices como esses somente são de valor relativo ede utilidade quando se pretende comparar, por exemplo, fontes deN, modos de aplicação e localização de adubos nitrogenados. Es-ses índices não conseguem avaliar o real aproveitamento do N dosadubos pelas culturas, ou seja, quanto do N-fertilizante é absorvi-do e assimilado pelos vegetais.

O real aproveitamento pelas culturas do N de adubos so-mente pode ser avaliado com o uso da técnica isotópica com 15N,como já exemplificado anteriormente. Resultados de estudos de-senvolvidos no país, nos quais foram utilizadas doses crescentesde N (15N) nas culturas de trigo (Figura 4), cana-de-açúcar (Ta-bela 2) e milho, demonstraram que os índices EA e RA decrescemexponencialmente com o aumento das doses de N, obedecendo àlei dos rendimentos decrescentes, a qual informa que com o aumentoda dose de N os aumentos na produtividade são menores e, portan-to, menores as eficiências obtidas.

na pós-antese, que reduz a quantidade assimilada de N-fertilizan-te pelas plantas durante seu crescimento.

Avaliações de perdas de N-NH3 por volatilização de fertili-zantes aplicados ao solo podem ser feitas com coletor semi-abertoestático (Figura 2), calibrado pela técnica isotópica de 15N, paraexpressar perdas reais, em condições de campo.

As perdas de N-fertilizante por lixiviação, em profundida-des aquém da explorada pelo sistema radicular das culturas, foramavaliadas com diferentes técnicas associadas à do traçador 15N,como: em lisímetro, em campo, usando extratores de solução desolo associados a medidas de fluxo de água no solo, ou por meiode medidas das concentrações de 15N-fertilizante no N-total dosolo. Estudos dessa natureza foram realizados, como exemplo, emculturas de cana-de-açúcar, milho e feijão. Evidenciou-se que, nascondições brasileiras, em solos pobres em N, com culturas apre-sentando sistema radicular vigoroso e com aplicação de doses deN entre 50 e 150 kg ha-1, a lixiviação de N-fertilizante é menor que10 % da dose aplicada. Além disso, o NO3 lixiviado, em grande parteoriundo do N-nativo do solo, possivelmente não atinge o lençolfreático, que pode estar a profundidades de 10 a 15 m em condiçõesde terras altas.

Recentemente, avaliações da absorção do 15NH3 volatilizadoda uréia aplicada abaixo da copa de culturas perenes como café,pastagem de capim Tanzânia e laranjeira (Figura 3) mostraram que a

Figura 3. Estudo de avaliação da reabsorção de NH3 por plantas de laranjeira.Fonte: BOARETTO et al. (2008).

Figura 2. Coletores semi-abertos estáticos para quantificar a volatilizaçãode NH3 de fertilizantes nitrogenados.

Fonte: LARA-CABEZAS e TRIVELIN (1990).

Tabela 2. Recuperação do N-nitrato de amônio (15N) por soqueira decana-de-açúcar (SP81-3250, 3º corte) com doses crescentes deN (aplicação em faixa sobre a palhada ao lado da linha de cana).

Recuperação do N-NA (15N)

Planta toda Solo Solo-planta

(kg ha-1) (kg ha-1) (%) (kg ha-1) (%) (kg ha-1) (%)35 5,2 28,3 6,2 33,8 11,4 62,170 8,9 24,6 12,7 35,6 21,6 60,2

105 15,4 28,1 18,8 34,2 34,2 62,3140 21,0 28,7 25,7 38,0 46,7 66,7175 32,0 34,9 26,8 29,3 58,8 64,2

Dose deN-NA

Dados de Spolidório (1999) exemplificam este fato. Nota-sena Tabela 3 e na Figura 4 que a dose de N de máxima produtividadefoi de 95 kg ha-1. Nesta dose, o N fornecido na adubação nitro-genada passa a compensar o N exportado pelos grãos de trigo,com balanço positivo de N no agrossistema, desde que sejammantidos os resíduos culturais após a colheita. Contudo, o balan-ço positivo de N obtido na dose de máxima produtividade não

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compensa, totalmente, as perdas de N no sistema solo-planta,como as que ocorrem por volatilização de NH3 do solo e tambémas que normalmente ocorrem na parte aérea das plantas, assimcomo por desnitrificação e lixiviação. Neste caso, o sistema solo-planta fica empobrecido em N.

Portanto, a dose de N de máxima produtividade está maispróxima da dose de sustentabilidade do N no agrossistema. Casosejam consideradas todas as perdas do elemento do sistema, a dosede sustentabilidade de N deve ser tal que compense essas perdasalém daquela representada pela exportação pela cultura. Esse con-ceito é importante, especialmente em agrossistemas em que a fixa-ção biológica do N2 atmosférico não contribui com ganhos apre-ciáveis de N.

Por outro lado, pode-se questionar o fato de os custos dosadubos nitrogenados não atenderem ao critério de sustentabilidadeeconômica em anos agrícolas de crise, como ocorre neste ano cor-rente. A resposta a esse questionamento é que deve-se focar asustentabilidade do agrossistema não somente em um ano ou safraagrícola, mas por qüinqüênios e décadas.

Várias modificações têm sido feitas em fertilizantes contendouréia com a finalidade de reduzir as perdas por volatilização e aumen-tar a eficiência de uso, controlando ou retardando a quebra da uréiapara dar maior tempo para sua incorporação ao solo, através da chu-va, irrigação ou via mecânica. Essas incluem a produção de fertilizan-tes de liberação lenta ou com solubilidade controlada e os fertilizan-tes estabilizados, que contém aditivos ou inibidores da urease.

Tabela 3. Balanço do N da adubação com uréia em trigo de inverno irrigado.

N total1 NPPF2 NPPS3

PA – grãos4 Grãos PA PA – grãos Grãos PA PA – grãos Grãos PA

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -0 17 66 83 0 0 0 17 66 83 - 66

30 25 83 108 4 18 22 20 65 85 - 5360 33 94 127 9 34 43 23 60 83 - 3490 38 108 146 16 53 69 22 55 77 - 18

120 43 115 158 19 64 83 24 51 75 + 5

1 N-total = nitrogênio na parte aérea do trigo.2 NPPF = nitrogênio na parte aérea do trigo proveniente do fertilizante.3 NPPS = nitrogênio na parte aérea do trigo proveniente de outras fontes (N-solo + N-outras fontes).4 PA = parte aérea (grãos, colmos e folhas); PA – grãos = colmos e folhas.Fonte: Adaptada de SPOLIDÓRIO (1999).

Dose de N Balanço de N

Figura 4. Produtividade de grãos de trigo e eficiência agronômica (EA) em função de doses de N-uréia.Fonte: Adaptada de SPOLIDÓRIO (1999).

Os fertilizantes de liberação lenta – ureaformaldeído (UF)(38 % N), isobutilidene diuréia (IBDU - 31 % N), crotonilidene diuréia(CDU - 32 % N) – têm baixa solubilidade em água, fornecem osnutrientes gradualmente às plantas, por um período determinado,acompanhando a necessidade das plantas, e são pouco suscetí-veis a perdas, minimizando os riscos de poluição ambiental. Podemser encapsulados, recobertos ou insolúveis.

Os fertilizantes de solubilidade controlada englobam osrecobertos com ceras (como a uréia recoberta com enxofre) e ospolímeros (Osmocote, Meister, Nutricote, etc.) com permeabilidadecontrolada. Existem vários produtos comerciais com solubilidadecontrolada comercializados no mundo mas, devido ao elevado pre-ço – três a dez vezes o custo dos fertilizantes convencionais – sãoutilizados em nichos de mercado de culturas de alto valor agregadoe não conseguem competir com os adubos convencionais.

Centenas de compostos, orgânicos e inorgânicos, têm sidotestados como inibidores da urease. Os produtos mais efetivos têmsido os análogos à uréia, tais como os fosforodiamidatos e fosfo-rotriamidatos, pois têm mostrado forte ação inibidora em concen-trações muito baixas. Entre os produtos dessa família, os que apre-sentaram melhores resultados foram o PPD (fenil-fosforodiamidato)e, principalmente, o NBPT (tiofosfato de N-n-butiltriamida).

Em estudo com cana-de-açúcar colhida sem despalha a fogona região de Piracicaba, Barth et al. (2006) observaram perdas deNH3 de cerca de 24 % do N aplicado como uréia e de 10 % do Naplicado como uréia + NBPT – uma redução das perdas de mais de

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50 % com o uso do inibidor. Esses resultados são compatíveis comos apresentados por Cantarella et al. (2007), na Tabela 4.

Estudos desenvolvidos no Brasil e no exterior mostram queo NBPT não é capaz de controlar completamente as perdas de NH3que acontecem quando a uréia é aplicada na superfície de solos,tendo em vista que a ação do NBPT depende de condições am-bientais e das características físico-químicas do solo. No entanto, oinibidor pode retardar a hidrólise da uréia e reduzir significativa-mente as perdas de NH3 dependendo das condições climáticas,nem sempre previsíveis. O período de máxima volatilização de NH3após a aplicação da uréia ocorre em curto espaço de tempo (dois atrês dias, no verão úmido) e o pico de volatilização é mais intenso doque o que acontece com a uréia tratada com o inibidor. Nesse últimocaso, a hidrólise é mais lenta, favorecendo a difusão do fertilizantepara o interior do solo e reações com o solo da NH3 produzida. Alémdisso, a elevação do pH ao redor do grânulo de fertilizante não é tãorápida devido à hidrólise mais lenta. Porém, em períodos secos, aausência de um processo de incorporação do fertilizante ao solo,depois que o efeito inibidor diminui, faz com que diminua a eficiên-cia do NBPT para controlar as perdas de NH3 e, conseqüentemente,aumentar o aproveitamento pelas culturas do N aplicado.

É pouco provável que a uréia venha a ser substituída poroutro fertilizante em curto prazo, se é que o será no futuro. Assim, oNBPT, embora venha apresentando eficiência apenas relativa parareduzir o principal problema associado ao emprego da uréia, é umaalternativa que não pode ser desconsiderada. A economicidade douso deste composto dependerá dos preços relativos da uréia com ode outras fontes não sujeitas a perdas por volatilização de NH3 emsolos ácidos, do preço da uréia tratada com o inibidor e das condi-ções de uso, que podem favorecer em diferentes graus a eficiênciado uso do inibidor.

O conhecimento atual a respeito do balanço do N de ferti-lizantes em agrossistemas aponta para algumas linhas prioritáriasde pesquisa. Uma delas relaciona-se às perdas foliares de N (NH3e N2O) que ocorrem por todo o ciclo de crescimento e especial-mente na pós-antese em espécies de interesse econômico. Outrarefere-se às perdas que ocorrem no solo na forma de óxido denitrogênio, principalmente em sistemas conservacionistas (plan-tio direto, cana crua e pastagens), devendo ser avaliadas nãosomente as formas nitrogenadas perdidas para a atmosfera, mastambém aquelas arrastadas em profundidade pela água de perco-lação, assim como as retidas em microporos nos agregados dosolo. Nesses estudos deverão ser mais bem avaliadas as condi-

ções que favorecem as perdas, suas intensidades e as alternativasde manejo para mitigá-las.

No que concerne à necessidade de pesquisas com adubosnitrogenados no Brasil, sugere-se a busca de fontes comerciaisalternativas às já existentes, que apresentem eficiência agronômicacomparável ou até maior à das fontes atualmente usadas, assimcomo estudos com misturas de resíduos e subprodutos da agroin-dústria com fertilizantes nitrogenados que contribuam para a redu-ção do custo da adubação nitrogenada mas que mantenham o ren-dimento agrícola. Considerando-se que a fonte nitrogenada maisusada mundialmente ainda é a uréia, sugerem-se mais estudos demanejo com a uréia comum e estudos em condições variadas com auréia de liberação controlada e estabilizada, ou misturada com ou-tras fontes nitrogenadas. Em culturas que permitem a utilização debactérias promotoras de crescimento, é importante a realização depesquisas que empreguem esses microrganismos relacionados àadubação nitrogenada, uma vez que estudos prévios mostraramque essa associação pode diminuir o emprego de doses de N-ferti-lizante, mantendo-se a produtividade da cultura.

Dr. Snyder, responsável pelo Programa Nitrogênio do IPNI,Estados Unidos (email: [email protected]), abordou A influênciados fertilizantes nitrogenados no ambiente. Disse que o N é umelemento essencial à sobrevivência de toda a vida no planeta e que40% da população mundial deve sua existência aos alimentos pro-duzidos com o uso de fertilizantes nitrogenados.

Porém, alterações antrópicas no ciclo do N têm causadogrande variedade de problemas ambientais, com reflexo na saúdehumana, relacionados a eutrofização dos recursos hídricos (inclu-indo hipoxia nas águas costeiras); contaminação subterrânea pornitrato; gases de efeito estufa e mudanças climáticas; emissões deamônia, formação de partículas e perda de biodiversidade (insetos,plantas, anfíbios, etc.).

Em todo o mundo, as águas costeiras estão sendo afeta-das pela hipoxia, condição na qual os níveis de oxigênio dissolvi-do são demasiado baixos para sustentar a vida marinha. A hipoxiaocorre como resultado do excesso de nutrientes na água, fenôme-no conhecido como eutrofização, provocado pela contaminaçãoindustrial e acúmulo de fosfatos e nitratos liberados na água pordescarga. Este acúmulo de materiais orgânicos provoca uma pro-liferação excessiva de algas, que, ao entrarem em decomposição,levam à deterioração da qualidade da água, matando, assim, pei-xes, crustáceos e destruindo o conjunto de organismos vegetais eanimais que vivem no fundo dos mares.

Tabela 4. Perdas de N por volatilização de NH3 medidas em ensaios de campo conduzidos no Brasil com cana-de-açúcar colhida sem despalha a fogo.

Perdas de NH3 das fontes1

SA ou NA UR UR-NBPT

- - - - - - - - (% do N aplicado) - - - - - - - - - - (%)Araras Nov Chuvoso 0,1 11,2 7,2 36Iracemápolis Set Seco 0,2 25,4 15,2 40Araraquara Out Seco 0,2 25,1 21,3 15Pirassununga Dez Chuvoso 0,1 7,2 1,6 78Araras II Ago Seco 0,4 16,4 13,4 18Jaboticabal Nov Muito chuvoso 0,1 1,1 0,8 -Ribeirão Preto Jun Seco 0,3 15,2 11,2 26

1 SA = sulfato de amônio, NA = nitrato de amônio, UR = uréia, NBPT = tiofosfato de N-n-butiltriamida.Fonte: CANTARELLA et al. (2007), dados não publicados.

Local Mês de aplicação Condições climáticas Redução de perdasprevalentes pelo NBPT

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6 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

Nos Estados Unidos, uma importante área afetada pela hipoxiaé o Golfo do México. O centro deste problema é a agricultura do Cen-tro-Oeste dos Estados Unidos. O Rio Mississippi e seus afluentescarregam os nutrientes retirados dos solos para as águas do Golfo doMéxico. Esta Bacia representa cerca de 80 % da produção de grãos eoleaginosas e inclui 80-85 % do mercado de fertilizantes do país.

Para reduzir o tamanho da zona hipóxica e melhorar aqualidade da água nesta região, autoridades americanas federais eestaduais iniciaram um Plano de Ação em 2008, utilizando uma du-pla estratégia: reduzir a descarga de N e P total em pelo menos 45%.As metas estabelecidas para esse plano de ação envolvem a melhoriada qualidade das águas costeiras, a qualidade da água dentro dabacia do rio Mississippi e a qualidade de vida da população quevive dentro dessa bacia.

Atribui-se que 54 % das descargas de fontes nitrogenadasnão pontuais nas águas do Golfo estão relacionadas a fertilizantes,embora não se possa quantificar exatamente as perdas totais de N eP que ocorrem todos os anos, principalmente na primavera.

O manejo inadequado de dose, fonte, época de aplicação elocalização do fertilizante nitrogenado e a ausência de um balançoadequado com outros nutrientes podem intensificar as perdas de Npor lixiviação e a emissão de N2O para a atmosfera. Quando o N éaplicado acima da dose adequada econômica, ou quando o N dis-ponível no solo (especialmente na forma de NO3

-) excede a absor-ção pela cultura, aumenta-se o risco de emissões de N2O.

Estudo do balanço do N no sistema, conduzido nos EstadosUnidos, comprovou que, atualmente, as quantidades de N removi-das pelas culturas são maiores que as quantidades aplicadas, ha-vendo, pois, tendência de diminuição dos excessos de descarga deN nos rios. Isso significa que o N tem sido utilizado de forma maiseficiente que no passado.

Em relação ao P, observou-se que as quantidades removi-das pelas culturas são maiores que as aplicadas. Esta remoção aci-ma da reposição é motivo de preocupação, pois, além de exaurir osolo e conduzir à diminuição da produção, a falta do elemento podecomprometer a eficiência de uso do N. A Figura 5 mostra a inter-relação do P e do N na cultura de milho.

Observa-se que o suprimento adequado de P (187 kg ha-1)aumentou a produtividade em 40 %, sem alterar de forma significa-tiva a quantidade de N aplicada (Figura 5A). Além disso, observou-se que nas parcelas em que foram utilizadas doses recomendadasde P a quantidade de nitrato residual no solo era muito menor (Figu-ra 5B). Nota-se, assim, que o equilíbrio entre esses dois nutrientesno sistema agrícola é importante tanto sob o ponto de vista agronô-mico como ambiental.

É necessária maior vigilância por parte dos agricultores nosentido de melhorar a eficiência de uso dos nutrientes e reduzir asperdas nos campos. Estima-se que a eficiência de uso de N para aprodução de cereais seja de 30 a 35 %.

As melhores práticas de manejo de fertilizantes (MPMs) eas práticas relacionadas de conservação do solo e cultivo específi-co tendem a elevar a recuperação do N aplicado nas culturas, alémde aumentar a produtividade e reduzir o risco das emissões de ga-ses de efeito estufa (GEE). Estas incluem: uso de fonte apropriadade N em dose adequada, época de aplicação e localização corretas;regulagem adequada dos equipamentos; manejo dos resíduos cul-turais; uso adequado de inibidores da conversão de N (urease,nitrificação) e de fontes mais eficientes; manejo conservacionista,como uso de culturas de cobertura e plantio direto, entre outras.

Porém, é preciso avançar, ainda, nos seguintes pontos:

• Melhor compreensão do balanço nutricional inadequadoque limita a produção de alimentos e que pode prejudicar o ambiente;

• Pesquisa e educação mais centrada para identificar as me-lhores respostas agronômicas visando otimizar o manejo da fertili-dade do solo e da nutrição de plantas e avaliar os impactos ambientaisassociados (lixiviação, escoamento superficial, emissões de GEE,manutenção/melhoria do C no solo a longo prazo);

• Cooperação e apoio financeiro entre as empresas priva-das, governamentais e os setores ambientais.

Dr. Godofredo Cesar Vitti ([email protected]) e Dr. Arnal-do Rodella ([email protected]), da ESALQ/USP, Piracicaba, SP,trataram dos Aspectos práticos da adubação nitrogenada nacana-de-açúcar.

Dr. Rodella apresentou as reações químicas sofridas pelo Nno solo e em fertilizantes, as quais influenciam sua disponibilidadee eficiência no aproveitamento pelas plantas. Através destas rea-ções explicou porque ocorrem e como podem ser minimizadas asperdas por volatilização de N na forma de amônia gasosa.

Dr. Vitti explicou que a demanda de fertilizantes N-P2O5-K2Ono Brasil está direcionada às culturas de exportação, sendo que acana-de-açúcar ocupa a segunda posição no consumo desses nu-trientes – 244 kg ha-1 – depois do cafeeiro. Porém, o N ainda é umnutriente subutilizado no país, com déficit de quase 1 milhão detoneladas, mesmo considerando todo o N da soja e do feijão comoproveniente da fixação biológica.

A produção de álcool sustenta a expansão da cana-de-açúcar no país e a tendência de aumento, na safra 2007/2008, é de28 % na área cultivada de cana-de-açúcar, 50 % na demanda internade etanol e 73 % na exportação.

Figura 5. Influência do fósforo na eficiência (A) e recuperação (B) do N nacultura do milho. Resultados de 30 anos de pesquisa em Kansas.

Fonte: SCHLEGEL et al. (1996).

A

B

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Dados recentes de pesquisa mostram que existe uma gamaenorme de variação na extração de N pelas diversas variedades decana-de-açúcar no Brasil, variando de 100 a 200 kg ha-1 de N para aprodução de 100 t ha-1 de colmos. Do N extraído, 18 % a 64 % sãoexportados pelos colmos, dependendo da variedade. Consideran-do estes dados de extração e exportação pelos colmos, o que seadota hoje como regra geral para a adubação da cana-planta é oseguinte: a cana-planta, por ser um tolete, encerra naturalmenteuma reserva de 15 a 20 kg ha-1 de N. Por isso, na adubação da cana-planta utilizam-se baixas doses de N. Além disso, a cana promove afixação livre e biológica do N na rizosfera em associação com cincobactérias, entre elas Beijerinckia sp., Gluconacetobacter sp. eAzospirillum sp., que permitem a fixação de N, em condições de pHno solo de 5,5 a 6,5.

Estima-se que da extração total de N realizada pelos colmose folhas – 143 kg ha-1 de N –, para uma produção de 100 t ha-1 decolmos, cerca de 100 kg de N venham da fixação do N do ar. Assim,a complementação normal para a cana-planta é de 40 a 60 kg ha-1

de N. A dose menor (40 kg ha-1) é indicada para áreas novas, deexpansão, que tem N natural da pastagem degradada, e para solosmais arenosos, que retêm menos N. A dose maior (60 kg ha-1) éindicada para áreas de reforma e para solos mais argilosos, quetêm mais reserva devido à maior CTC.

Na adubação da cana-soca, que não é beneficiada pelasimbiose, é necessário aplicar altas quantidades de N. Adota-se adose de 1 kg de N para cada tonelada de cana queimada, observan-do-se a relação N/K2O de 1/1,3 (solo mais pobre em K) a 1/1,5 (solomais rico em K) e 1,2 kg de N por tonelada de cana crua, observan-do-se a relação N/K2O de 1/0,8 a 1/1,0 (Tabela 5).

• Imobilização dos ânions (N, P e S) no interior da palhada;• Mineralização dos nutrientes minerais catiônicos (K, Ca e

Mg), principalmente do K, devolvendo para o sistema solo cerca de50 kg ha-1 de K; e

• Aumento evidente da atividade microbiana, principalmenteda urease, responsável pelas perdas de NH3 da uréia por volatilização.

Tendo em vista esses fatores, no sistema de colheita decana crua recomenda-se aumentar a dose de N em 30 % (1,3 kg de Npara cada tonelada de colmos) para repor as perdas de N porvolatilização, que podem chegar a mais de 70 %.

Medidas para diminuir as perdas por volatilização incluementerrio superficial da uréia, uso de inibidores da urease e uso deuréia misturada a sulfato de amônio (por exemplo, na formulação32-00-00-12, resultante da mistura eqüitativa dessas duas fontes). AFigura 6 mostra que a mistura de uréia com sulfato de amônio (20-00-20 AS + U) na adubação de cafeeiro resultou em menores perdas porvolatilização de N-NH3 e a substituição de 42 % do N da uréia porsulfato de amônio na fórmula 20-00-20 reduziu as perdas de N-NH3em 65 % e 67 % na primeira e segunda avaliação, respectivamente.

Figura 6. Volatilização de N-NH3 de diferentes formulados na adubaçãonitrogenada e seu efeito no crescimento do cafeeiro. Dose de N =85 kg ha-1.

Fonte: ROSA et al. (2004).

Tabela 5. Adubação mineral da cana-soca em função da expectativa deprodutividade.

Produtividade esperada N K2O

(t ha-1) - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - -

65-80 80 10081-100 100 130> 100 120 160

Fonte: VITTI e MAZZA (2002).

A mudança do sistema de colheita de cana com préviadespalha à fogo para cana crua colhida mecanicamente é um pro-cesso irreversível no sistema agrícola e, embora essa mudançarepresente vantagens tanto para a conservação do solo como paraa manutenção da umidade e reciclagem de nutrientes, implica emmaior dificuldade para a aplicação dos fertilizantes, devido à necessi-dade de incorporá-los durante o cultivo. Esta dificuldade na incor-poração do adubo nitrogenado é preocupante, haja visto que auréia é o fertilizante mais utilizado, ampliando os riscos de perdaspor volatilização, comparada às demais fontes.

Os fatores que afetam a volatilização da amônia são: alca-linidade (pH > 7); temperatura elevada; baixa capacidade de reten-ção de NH4

+ (baixa CTC do solo); aplicação de altas doses de uréia;presença de cobertura vegetal; compactação do solo e acúmulode água.

No sistema de colheita crua, observa-se:• Altas relações C/N, C/P e C/S indicando baixa mineralização

da matéria orgânica da palha, mesmo após um ano de corte;

Fontes adicionais de N a partir da amônia incluem:• Fontes tradicionais: nitrofosfatos, nitrato de amônio, nitra-

to de sódio, sulfato de amônio, uréia, aquamônia, soluções com N,fosfatos de amônio.

• Misturas de fontes: uréia (50 %) + sulfato de amônio (50 %),32-00-00-12; nitrato de amônio (75 %) + sulfato de amônio (25 %),24-00-00-06; nitrato de amônio (50 %) + sulfato de amônio (50 %),16-00-00-12; e uréia + S elementar (10 a 30 % S).

• Fertilizantes de liberação lenta e controlada: produtos dacondensação de uréia e aldeídos; revestimentos/cápsulas; super-grânulos de uréia e outros (tabletes, bastões, etc.).

A torta de filtro e a vinhaça, subprodutos da produção deaçúcar, vêm sendo largamente utilizadas por unidades produtoras,aplicadas aos canaviais por ocasião do plantio, e mesmo em soqueiras,com o objetivo de melhorar as condições de desenvolvimento dacultura. Dentre os benefícios que a aplicação da torta de filtro podetrazer d estaca-se o fornecimento de matéria orgânica e de nutrientes(N = 1,5 % em base seca). A torta pode ser utilizada in natura, con-dicionada ou enriquecida, em qualquer época do ano.

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8 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

MANEJO CONSERVACIONISTA E RECICLAGEM DE NUTRIENTES EMMANEJO CONSERVACIONISTA E RECICLAGEM DE NUTRIENTES EMMANEJO CONSERVACIONISTA E RECICLAGEM DE NUTRIENTES EMMANEJO CONSERVACIONISTA E RECICLAGEM DE NUTRIENTES EMMANEJO CONSERVACIONISTA E RECICLAGEM DE NUTRIENTES EMCANA-DE-AÇÚCAR TENDO EM VISTA A COLHEITA MECÂNICACANA-DE-AÇÚCAR TENDO EM VISTA A COLHEITA MECÂNICACANA-DE-AÇÚCAR TENDO EM VISTA A COLHEITA MECÂNICACANA-DE-AÇÚCAR TENDO EM VISTA A COLHEITA MECÂNICACANA-DE-AÇÚCAR TENDO EM VISTA A COLHEITA MECÂNICA

Raffaella Rossetto1

Fábio L. F. Dias1

André C. Vitti1

1 Pesquisador(a) Científico(a) APTA, Programa Cana-de-Açúcar/IAC, Pólo Regional Piracicaba, SP, email: [email protected] Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Solos e Recursos Ambientais, Campinas, SP, email: [email protected] Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Cana-de-Açúcar, Ribeirão Preto, SP, email: [email protected]

Oconceito de solo sau-dável (soil health)tem sido difundido

entre os agricultores que cultivamcana-de-açúcar na Austrália e na Áfri-ca do Sul. Baseia-se em vários indica-dores, como nível de carbono e de ma-téria orgânica, uso de fertilizantes porunidade de cana produzida, manejodos resíduos, controle de perdas porrunoff ou lixiviação de íons e molécu-las de defensivos e de fertilizantes emelhoria do habitat para fauna, mi-crorganismos e crescimento das plantas.

Na Austrália, um projeto conhecido como BSI – BetterSugarcane Initiative – mostra que os produtores estão comprome-tidos com a produção de cana-de-açúcar de maneira sustentávelconsiderando as questões ambientais, sociais e econômicas. Esteprojeto procura desenvolver padrões e práticas para os sistemassustentáveis de produção de cana-de-açúcar (QUIRK et al., 2007).Uma grande vantagem deste país, em relação ao Brasil, é que aextensão rural e a pesquisa caminham juntas.

No Brasil, poucas são as iniciativas nesse sentido, emboraesteja crescendo no setor canavieiro a conscientização pela bus-ca da sustentabilidade no tripé econômico, social e ambiental.

As práticas conservacionistas e de baixo impacto ambientalestão sendo valorizadas na cultura da cana-de-açúcar não apenaspela maior consciência ambiental, mas também pelo alto custo dosinsumos agrícolas. O setor sempre buscou eficiência e, atualmente,a racionalização do uso de fertilizantes e o uso de insumos alterna-tivos têm sido prioritários no manejo da cultura.

MANEJO DA CANA-DE-AÇÚCAR NAMANEJO DA CANA-DE-AÇÚCAR NAMANEJO DA CANA-DE-AÇÚCAR NAMANEJO DA CANA-DE-AÇÚCAR NAMANEJO DA CANA-DE-AÇÚCAR NADÉCADA PASSADA E NA ATUALDÉCADA PASSADA E NA ATUALDÉCADA PASSADA E NA ATUALDÉCADA PASSADA E NA ATUALDÉCADA PASSADA E NA ATUAL

Na agricultura tradicional, o cultivo da cana-de-açúcar ini-cia-se com o preparo do solo, que consiste no revolvimento dascamadas superficiais para o controle das plantas daninhas e a que-bra da compactação, melhorando as condições físicas para o cres-cimento das raízes e o armazenamento de água. O preparo do solotambém visa incorporar corretivos, como calcário e gesso, ou ferti-lizantes minerais e orgânicos e, assim, proporcionar boas condi-ções para o desenvolvimento da cultura. Ocorre que o revolvimentodo solo aumenta a aeração e, com isso, há incentivo ao desenvolvi-

mento de muitas comunidades mi-crobianas e de pequenos animais queparticipam da degradação da matériaorgânica (M.O.) presente no solo. AM.O. é metabolizada pelos organis-mos organotróficos com o objetivode produzir energia. Neste processo,pode ser convertida em CO2 e H2Opela respiração (oxidação) ou ser fer-mentada em outro composto mais oxi-dado. No metabolismo oxidativo to-dos os átomos de C são convertidos aCO2, que retorna à atmosfera para re-

começar o ciclo, ao passo que na fermentação somente parte docarbono do composto orgânico inicial retorna para a atmosfera.

A conversão de uma área de mata natural em área agrícola,independentemente da cultura, especialmente com as operações tra-dicionais de cultivo (aração, gradagem), resulta em declínio da con-centração de M.O. no solo (LAL, 2002). Além das perdas de matériaorgânica ocorrem também perdas de CO2 para a atmosfera – efeitoambiental muito indesejado devido ao agravamento do efeito estufa.

A principal diferença entre o sistema de produção de cana-de-açúcar adotado atualmente e o sistema empregado no passado é,sem dúvida, a manutenção da palhada no solo, que antes era quei-mada para facilitar a colheita. A palha modificou significativamenteo manejo nutricional da cana-de-açúcar, representando o marcodivisor entre o canavial do passado e o canavial do futuro. Atual-mente, procura-se também diminuir as operações de preparo do solo,quando em sistema de cultivo mínimo, mas, devido à mecanização eao caráter semi-perene da cultura, em muitas situações o preparo ea incorporação de corretivos ainda é uma prática necessária.

Ao longo dos anos, a adubação também foi intensificada. Aadubação adequada aumentou a produtividade da cultura, reduziua queda de produtividade entre os cortes e, assim, contribuiu paraa maior longevidade do canavial.

Outra diferença no manejo atual da cultura diz respeito àmecanização intensiva nas operações de colheita e plantio da cana-de-açúcar. A mecanização proporcionou algumas vantagens, comomaior fluxo de abastecimento da indústria e possibilidade de colhei-ta da cana crua, mas a compactação do solo tornou-se uma daspreocupações na busca da sustentabilidade.

O manejo da cana-de-açúcar no sistema tradicional, em mui-tos países, caracteriza-se pelo preparo intensivo do solo, uso inten-sivo de fertilizantes e queima da palhada.

Heitor Cantarella2

Marcos G. A. Landell3

Abreviações: BSI = Better Sugarcane Initiative; C = carbono, Ca = cálcio, H = hidrogênio, K = potássio, Mg = magnésio, M.O. = matéria orgânica,N = nitrogênio, NBPT = tiofosfato de N-n-butiltriamida, O = oxigênio, P = fósforo, S = enxofre, Si = silício.

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No Brasil, sempre houve um diferencial representado pelouso dos resíduos torta de filtro e vinhaça. O potencial de reci-clagem de nutrientes contidos nesses resíduos é provavelmenteuma das explicações para a manutenção da produtividade obser-vada ao longo dos anos nos campos cultivados com cana-de-açúcar no Brasil, em comparação à de outros países. Assim, acana-de-açúcar cultivada há mais de 25 anos em um mesmo solo(Latossolo coeso na região dos Tabuleiros costeiros de Alagoas)não mostrou decréscimo no teor de M.O. quando comparado a umsolo de mata nativa. Já o cultivo por apenas dois anos mostroudecréscimo dos teores de C total e de M.O. e também da estabilida-de dos agregados, indicando que a agricultura promove distúrbiosno solo, principalmente nas fases iniciais de sua implantação (SIL-VA et al., 2007). Ao longo dos anos, entretanto, com adições repre-sentadas pelos resíduos orgânicos, raízes e restos culturais, o Corgânico perdido inicialmente, devido ao preparo do solo, pode serparcialmente ou totalmente recuperado, colaborando para manter aprodutividade e a fertilidade desses solos.

Mesmo após décadas de colheitas em um mesmo solo, a de-gradação relacionada às perdas de M.O. do solo não tem resultadoem perdas de produtividade da cana-de-açúcar; ao contrário, mesmoem áreas cultivadas por muitos anos a produtividade tem aumentadosignificativamente. Uma explicação para o fato é a adoção de tecno-logias de manejo, desenvolvidas ao longo dos anos, específicaspara as condições regionais, como a melhoria no preparo do solo,na mecanização das operações agrícolas, no desenvolvimento devariedades superiores e, principalmente, no uso dos resíduos agrí-colas, os quais proporcionam importante reciclagem de nutrientes.

Uma explicação para o fato é a adoção de tecnologias demanejo, desenvolvidas ao longo dos anos, específicas para as con-dições regionais, como a melhoria no preparo do solo, na mecaniza-ção das operações agrícolas, no desenvolvimento de variedadessuperiores e, principalmente, no uso dos resíduos agrícolas, osquais proporcionam importante reciclagem de nutrientes.

MUDANÇAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃOMUDANÇAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃOMUDANÇAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃOMUDANÇAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃOMUDANÇAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Várias mudanças foram introduzidas no sistema de produ-ção da cana-de-açúcar ao longo do tempo. Do ponto de vistanutricional, a principal delas foi a manutenção da palhada no solo.Mas outras foram também muito importantes e dizem respeito àintrodução de novas variedades e suas especificidades quanto aoambiente de produção e necessidade de manejo.

1. Variedades e potencial de extração e exportação1. Variedades e potencial de extração e exportação1. Variedades e potencial de extração e exportação1. Variedades e potencial de extração e exportação1. Variedades e potencial de extração e exportaçãoAs variedades de cana-de-açúcar atuais (por exemplo,

RB 867515, CTC9, CTC2, RB 855536, RB 855156, SP80-3280,IACSP93-6006, IAC87-3396), obtidas recentemente nos programasde melhoramento, diferem quanto à capacidade de extração de nu-trientes do solo em relação às antigas variedades (por exemplo,NA56-79, SP70-1143, SP71-6163, IAC64-257, SP71-1406, RB72454,SP79-1011) utilizadas para os experimentos de calibração da reco-mendação de adubação. Essas variedades são mais produtivas emuitas têm maior potencial para extrair nutrientes do solo. Notrabalho de Oliveira (2008), com variedades cultivadas em ambien-te irrigado, no nordeste brasileiro, a extração média foi de 180, 25,311, 232 e 85 kg ha-1 de N, P, K, Ca e Mg, respectivamente (Figura 1),e a exportação, que quantifica os nutrientes contidos nos colmos,foi, em média, de 52 %, 59 %, 59 %, 83 % e 74 % do total extraído deN, P, K, Ca e Mg, respectivamente. Além dos nutrientes que ficaramnas pontas e folhas que formam a palhada, e que ano após ano

Figura 1 . Extração e exportação de nutrientes em diferentes variedades decana-de-açúcar.

Fonte: OLIVEIRA (2008).

compõem um estoque de nutrientes, a quase totalidade dos nutrien-tes exportados retorna ao campo na forma de resíduos (torta defiltro, vinhaça, cinzas, fuligem, lodo e águas residuárias), uma vezque o açúcar e o álcool – produtos finais da cadeia produtiva –nada mais são que C, H e O.

2. Definição do ambiente de produção2. Definição do ambiente de produção2. Definição do ambiente de produção2. Definição do ambiente de produção2. Definição do ambiente de produçãoO primeiro ponto relevante a ser observado na definição do

ambiente de produção é o zoneamento agroecológico da cultura.Os ambientes considerados aptos para cana-de-açúcar são defini-dos não apenas em função das condições químicas e mineralógicas,mas também de outros atributos do solo como condições físico-hídricas, morfológicas e de manejo.

Alguns fatores do ambiente pouco favoráveis são: baixaquantidade de água disponível, compactação elevada, baixa CTC ebaixos valores de saturação por bases na profundidade de 0-0,50 m,saturação por Al3+ relativamente alta na profundidade de 0,20-0,50 m e salinização intensa.

Fatores de manejo que tornam o ambiente de produção maisfavorável, proporcionando aumento médio de 10 % a 15 % na produti-vidade, são: irrigação; uso de calagem, gessagem e fosfatagem; práti-cas de conservação do solo e rotação de culturas; adições de M.O. enutrientes através da manutenção da palhada e uso de fertilizantes e deresíduos como torta de filtro, vinhaça, cinzas e outros.

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10 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

3 .3 .3 .3 .3 . Estratégias de manejo de nutrientesEstratégias de manejo de nutrientesEstratégias de manejo de nutrientesEstratégias de manejo de nutrientesEstratégias de manejo de nutrientespara a sustentabilidade da culturapara a sustentabilidade da culturapara a sustentabilidade da culturapara a sustentabilidade da culturapara a sustentabilidade da cultura

O manejo de nutrientes no modelo atual busca a agriculturasustentável. Para a cultura da cana-de-açúcar o manejo deve englo-bar três estratégias principais: aumento do sistema radicular e dalongevidade do canavial; aumento da matéria orgânica e da reci-clagem de nutrientes; melhoria da eficiência e dos custos da aduba-ção e redução de perdas.

3.1 .3.1 .3.1 .3.1 .3.1 . Aumento do sistema radicular e daAumento do sistema radicular e daAumento do sistema radicular e daAumento do sistema radicular e daAumento do sistema radicular e dalongevidadelongevidadelongevidadelongevidadelongevidade do canavial do canavial do canavial do canavial do canavial

Para melhorar o enraizamento da planta, várias práticas sãoempregadas, as quais se iniciam com o preparo do solo, que deveestar descompactado e em condições de permitir um bom armaze-namento de água.

Esta é uma estapa em que a pesquisa precisa avançar. Embo-ra seja altamente desejado que as operações agrícolas promovam omínimo movimento do solo, sabe-se que o preparo profundo podeser muito vantajoso para a cana-de-açúcar. Uma opção a ser desen-volvida é a “canteirização” do canavial. Neste caso, o cultivo míni-mo é acompanhado do preparo do solo em canteiros. Esta técnicaconsiste em preparar, corrigir e adubar o terreno somente sobre aslinhas onde serão implantados os canaviais, mantendo as entreli-nhas sem reforma, como um local para o tráfego das máquinas,visando diminuir a compactação causada pela pressão exercida pelospneus das colhedoras na linha da cana, dos veículos de transbordoe até mesmo pela presença dos trabalhadores no campo. Com estatécnica a cana pode também ser plantada em linha dupla, comespaçamento mais largo, de 1,8 m. Carr et al. (2008) relatam ganhosde produtividade na mudança do sistema de preparo do solo tradi-cional. Além disso, os agricultores dessa região estão substituindoos fertilizantes, como uréia e cloreto de potássio, por nitrato decálcio e nitrato de amônio, sulfato de amônio e sulfato de potássioem doses menores, por acreditarem que essas fontes são menosprejudiciais ao solo1. A Tabela 1 apresenta as doses de nutrientesutilizadas no sistema tradicional e no sistema de cultivo mínimoem canteiros na Austrália. Os solos têm, em geral, teores de P va-riando de médio a alto. A produtividade da cana, que nos anos 1997a 2001 não ultrapassava 70 t ha-1, desde 2002 esteve sempre acimade 80 t ha-1, mesmo reduzindo-se as doses de nutrientes. Ressalta-se que as baixas produtividades daquele período foram causadastambém pelo ataque de pragas e doenças, para as quais a varieda-de plantada não apresentava tolerância.

O aprofundamento do sistema radicular é uma das principaisestratégias para o aumento da produtividade da cana-de-açúcar e,para tal, práticas como gessagem e calagem – principalmente a calagemprofunda (0,45 m de profundidade, incorporada com aiveca) se o soloapresentar teor de Ca muito baixo ou teor de Al muito alto, na camadade 0,25-0,50 m – proporcionam garantias de retorno na produção.

Outro nutriente indispensável é o P que, entre outras fun-ções, promove o crescimento das raízes. Muito embora aprática da fosfatagem possa ser proibitiva em termos eco-nômicos, tendo em vista a alta dos fertilizantes, deve-selembrar que seu retorno pode, ainda assim, ser compensador.

Novas tecnologias que garantem boa brotação elongevidade à cultura deverão ser adotadas nos próximosanos, como o uso de biorreguladores e de ácidos húmicos efúlvicos para aumentar o enraizamento da planta. Por con-

terem aminoácidos e precursores de hormônios vegetais, esses pro-dutos apresentam efeito estimulador do crescimento das raízes.Nesse sentido, também os micronutrientes, a exemplo do boro, sãoeficientes no desenvolvimento do sistema radicular.

3.2.3.2.3.2.3.2.3.2. Aumento da matéria orgânica e daAumento da matéria orgânica e daAumento da matéria orgânica e daAumento da matéria orgânica e daAumento da matéria orgânica e dareciclagem de nutrientesreciclagem de nutrientesreciclagem de nutrientesreciclagem de nutrientesreciclagem de nutrientes

Para esta estratégia, o setor dispõe de várias alternativas,como manutenção da palhada, rotação com adubos verdes ou outrasculturas nas áreas de reforma do canavial e manejo dos resíduos daindústria (torta de filtro, vinhaça, bagaço e outros compostos).

A palhada deixada sobre a superfície tem muitas vantagens,quais sejam: aumenta a proteção do solo contra a erosão; diminui oimpacto direto da gota de chuva sobre a superfície do solo e oescorrimento superficial; reduz a amplitude térmica nas camadassuperficiais do solo; aumenta a atividade biológica; aumenta astaxas de infiltração de água no solo; reduz a evaporação; controlaparcialmente o mato; recicla nutrientes (principalmente N, P, K, Ca,Mg, S, Si e também micronutrientes); aumenta os teores de M.O.;melhora a capacidade de retenção de água; melhora o enraizamentosuperficial e reduz a compactação devida à mecanização.

Alguns impactos negativos da permanência da palhada so-bre o canavial são: riscos de incêndio; dificuldades para execuçãode operações de cultivo; retardamento ou falha na brotação, princi-palmente em zonas mais frias, e aumento de algumas pragas (porexemplo, cigarrinha).

Anualmente, são deixadas em média entre 5 e 12 t ha-1 depalhada sobre o solo (em base seca). Os nutrientes da palha nemsempre são transferidos rapidamente para a cana, pois isto depen-de da taxa de mineralização da matéria orgânica. Oliveira et al. (1999)estimam que a palhada adicione anualmente, através da reciclagem,pequenas quantidades de N, P, Mg e S, quantidades médias de Cae quantidades muito significativas de K (Tabela 2).

Considerando-se os principais resíduos da cadeia sucroal-cooleira – palhada, torta e vinhaça –, pode-se estimar o potencial dereciclagem de nutrientes (Tabela 3) tomando-se como base toda a

1 Esta prática é anterior à recente alta dos fertilizantes.

Tabela 2 . Quantidades de nutrientes fornecidos pela palhada de cana-de-açúcar.

Reciclagem de nutrientes N P K Ca Mg S

Palha (kg ha-1 ano-1) 54,7 4,4 76 54,9 25,5 15Taxa de mineralização (% ano-1) 20 60 85 50 50 60Total por ano (kg ha-1) 10,9 2,6 64,6 27,5 12,8 9

Fonte: OLIVEIRA et al. (1999).

Tabela 1. Estratégias de manejo de nutrientes em sistema de cultivo tradi-cional e cultivo mínimo com canteiros na Austrália.

Cana-planta Cana-soca

Convencional Canteiros Convencional Canteiros

- - - - - - - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - -Nitrogênio 105 42 171 94Fósforo 39 - - -Potássio 56 36 77 80Enxofre 18 22 - 48

Fonte: CARR et al. (2008).

Nutriente

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área de produção, estimada em 6,9 milhões de hectares, sem quei-ma. Na Tabela 3 estão estimadas as quantidades de N, P2O5 e K2Oeconomizadas e que podem potencialmente ser adicionadas ao soloatravés dos resíduos. Deve-se salientar que o N e o P estão conti-dos em moléculas orgânicas e só estarão prontamente disponíveispara a cultura depois de mineralizados.

Nota-se, portanto, que a cadeia produtiva da cana-de-açú-car tem importante diferencial frente às outras culturas, representa-do pelo grande potencial de reciclagem de nutrientes e economia defertilizantes.

3.3.3.3.3.3.3.3.3.3. Melhoria da eficiência e dos custosMelhoria da eficiência e dos custosMelhoria da eficiência e dos custosMelhoria da eficiência e dos custosMelhoria da eficiência e dos custosda adubação e redução de perdasda adubação e redução de perdasda adubação e redução de perdasda adubação e redução de perdasda adubação e redução de perdas

A adubação e a nutrição da cana-de-açúcar são pontosestratégicos na eficiência de produção, com alto grau de espe-cificidade e complexidade. Muitos detalhes sobre alguns aspec-tos mais atuais estão descritos em Rossetto et al. (2008b) e em Luze Vitti (2008).

• Adubação da cana-plantaAdubação da cana-plantaAdubação da cana-plantaAdubação da cana-plantaAdubação da cana-plantaA principal época de plantio da cana-de-açúcar na região Cen-

tro-Sul ainda é o verão, quando temperaturas quentes e alta pluviosi-dade aumentam a mineralização da matéria orgânica e o solo contribuiefetivamente no fornecimento de nutrientes, principalmente de N.Na adubação da cana-planta, quando se faz a rotação na área comleguminosas, como soja e amendoim, ou adubos verdes, como crotaláriae mucuna, a adubação nitrogenada pode ser totalmente suprimida.

A rápida decomposição dos adubos verdes faz com que ademanda de N pela cana-planta possa ser atendida, conforme estu-do realizado por Ambrosano et al. (2005) com adubos marcadoscom 15N. Esse trabalho mostrou que a cana-planta acumulou até ofinal do ciclo (18 meses após o plantio) quantidades de N semelhan-tes, provenientes tanto do fertilizante mineral quanto do aduboverde. No entanto, a recuperação de N do adubo verde foi cerca de10 %, e do N mineral 30 %, como mostra a Tabela 4.

Na adubação fosfatada da cana-planta, uma boa opção é ouso da torta de filtro aplicada no sulco, complementada com umafonte de fósforo. Em função do alto custo dos fertilizantes solúveis,fontes fosfatadas mais econômicas, a exemplo do termofosfato oudos fosfatos reativos, seriam mais indicadas. Sabe-se que os radi-cais orgânicos presentes na matéria orgânica, no caso torta de fil-tro, podem ocupar sítios de fixação de P, reduzindo, assim, a fixaçãodo P solúvel do fertilizante e melhorando a eficiência da adubaçãofosfatada.

A Figura 2 ilustra a comparação entre as médias de produtivi-dade de colmos de cana-de-açúcar obtidas em experimento no qual adose de P2O5 foi fixada em 150 kg ha-1, variando-se as quantidades detorta de filtro e de termofosfato de tal forma que aumentando-se adose de termofosfato diminui-se a dose de torta de filtro. Verifica-se que a dose de 300 kg ha-1 de termofosfato + 10 t ha-1 de torta(base seca) promoveu a mesma produtividade que seria obtidacom 14,3 t ha-1 de torta. Ou seja, 300 kg ha-1 de termofosfato podemsubstituir cerca de 4,3 t ha-1 de torta de filtro seca, o que corres-ponde a cerca de 10 t ha-1 de torta úmida. Esta parcela, que pode-

Tabela 3. Nutrientes reciclados anualmente pela agroindústria sucroalcooleira.

Nutrientes Nutrientes retornados

N P2O5 K2O N P2O5 K2O

- - - - - (% no resíduo seco) - - - - - - - - - - - - - - - - (t ano-1) - - - - - - - - - - -Torta de filtro1 1,4 1,94 0,39 2,34 milhões t torta seca ano-1 32 800 45 400 9 130Palha2 0,46 0,11 0,57 34,5 milhões t palha seca ano-1 158 700 37 950 196 650

- - - - - (g m-3 de vinhaça) - - - - - -

Vinhaça3 375 60 2.035 270 bilhões L ano-1 101 250 16 200 549 450Total 292 750 99 550 755 230

1 Supondo que a área de produção no Brasil seja de 6,9 milhões de hectares e 475 milhões de toneladas de cana, sendo 223 milhões utilizadas paraprodução de açúcar que geraria 35 kg de torta por tonelada de cana moída; torta com 70 % de umidade.

2 Geração de 5 t ha-1 de palhada seca, considerando 100 % da área de cana do Brasil como não queimada.3 Produção de álcool: 20,8 bilhões de L; geração de vinhaça: 13 L/L de álcool produzido.

Resíduos Volume de resíduos

Tabela 4. Nitrogênio na planta proveniente de fonte marcada (NPPF %), quantidade de nitrogênio na planta proveniente de fonte marcada (QNPPF) erecuperação do nitrogênio (R) em função do nitrogênio aplicado 18 meses após o plantio.

Tratamentos Aporte de N1 NPPF QNPPF R

(kg ha-1) (%) (kg ha-1) (%)

Sem adubo verde e com N mineral* 70 (M) 10,5 a2 24,0 a 34,4 aCom adubo verde* e com N mineral 196 (AV) + 70 (M) 7,0 a 19,3 a 9,8 bCom adubo verde* e sem N mineral 196 (AV) 8,2 a 17,3 a 8,8 bCom adubo verde e com N mineral* 196 (AV) + 70 (M) 10,3 a 21,1 a 30,1 a

1 N total aplicado do adubo verde (AV) = 196 kg ha-1 e do fertilizante (M) = 70 kg ha-1.2 Médias seguidas de letras distintas na vertical em cada época de amostragem diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05).* Fonte de N marcada com 15N.Fonte: Adaptada de AMBROSANO et al. (2005).

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Figura 2. Produtividade de colmos em diferentes doses de termofosfato etorta de filtro (T1 = 14,3 t ha-1 de torta seca; T2 = 10 t ha-1 detorta seca e T3 = 7,7 t ha-1 de torta seca).

Fonte: ROSSETTO et al. (2008a).

ria ser substituída, representa cerca de um terço da dose de tortade filtro normalmente aplicada nos plantios convencionais decana-de-açúcar, que é de 30 a 35 t ha-1.

Outro ponto que se discute é o parcelamento da adubaçãopotássica. Muito embora uma nova operação acarrete custos ex-tras, o parcelamento da adubação potássica poderia ser realizadadurante a operação de “quebra lombo” (nivelamento da entrelinhana hora do preparo do solo).

Os resultados de Lana et al. (2004) evidenciam a vantagemdo parcelamento da adubação potássica (Figura 3).

Figura 3. Produtividade da cana-de-açúcar em função do parcelamentoda adubação potássica. Legenda: 120 + 0 = 120 kg ha-1 K2Oaplicados totalmente no sulco de plantio; 90 + 30 = 90 kg ha-1

no sulco e 30 kg ha-1 em cobertura; 60 + 60 = 60 kg ha-1 no sulco+ 60 kg ha-1 em cobertura; 30 + 90 = 30 kg ha-1 no sulco +90 kg ha-1 em cobertura; 0 + 120 = 0 kg ha-1 no sulco + 120 kg ha-1

em cobertura. A cobertura ocorreu aos seis meses após o plantio.Fonte: Elaborada com dados de LANA et al. (2004).

trientes no solo. Com relação ao N, a liberação deste nutriente pelapalhada é lenta. A palha precisa ser mineralizada e parte do N estácontido em frações de difícil mineralização. A Figura 4 apresenta asquantidades de N fornecidas pela palhada do ano anterior, quandodepositada no solo e fornecida para a soqueira de cana-de-açúcar.Verifica-se que apenas 3 % do N da palhada foram fornecidos paraa cana-de-açúcar após 1 ano de safra. Isto indica que não se podecontar com o N da palhada a curto prazo. Ao contrário, pela altarelação C/N da palhada, é muito provável que o N aplicado sejaimobilizado pelos microrganismos para que o carbono contido namatéria orgânica possa ser utilizado como fonte de energia.

Figura 4. Nitrogênio na parte aérea proveniente da palhada (NPPP). N napalhada = 62 kg ha-1, 3º corte.

Fonte: VITTI (2003).

A operação de cultivo e incorporação do adubo nas soqueirasde cana tornou-se mais difícil na presença da palhada, exigindo modi-ficações nos implementos e maior potência dos tratores. Por outrolado, a palha adicionada ano a ano diminuiu a compactação da entre-linha e, em muitos casos, reduziu a necessidade de cultivo, e, sendoassim, o adubo passou a ser aplicado apenas na superfície do solo.

A palhada também interfere na escolha do adubo nitro-genado a ser utilizado. A aplicação da uréia sobre a palhada, semincorporação, pode incorrer em perdas de N por volatilização, umavez que a palhada tem urease, a enzima que promove a quebra dauréia. Nesse sentido, Cantarella et al. (2007) mostraram a eficiênciado inibidor da urease (NBPT) na diminuição parcial das perdas de Npor volatilização quando este foi aplicado junto à uréia sobre apalhada de soqueiras de cana-de-açúcar.

Como a palhada adiciona nutrientes anualmente às soqueiras,o Grupo de Adubação e Nutrição de Cana-de-açúcar da APTA-IACrealizou 15 experimentos em diversas regiões do Estado de São Pau-lo, variando os ambientes de produção, visando estudar diferentesdoses de N e de K aplicadas sobre a palhada. As fontes utilizadasforam o nitrato de amônio e o cloreto de potássio. Houve respostaao N na maioria dos experimentos. A Figura 5 apresenta as médias deprodutividade dos 15 experimentos em relação às doses de N. Verifi-ca-se que a dose que origina a maior produtividade está próxima de130 kg ha-1 de N. Entretanto, o aumento de produtividade obtido nointervalo de 80 a 130 kg ha-1 de N foi muito pequeno – cerca de apenas2 t de colmos –, o que não pagaria o aumento da dose do adubo. Poresta razão, embora os experimentos estejam indicando que em con-dições de palhada deve-se trabalhar com doses próximas a 120 ou130 kg ha-1 de N, principalmente se as soqueiras estiverem em am-bientes de produção superiores, economicamente é possível que sejamais interessante manter as doses próximas a 100 kg ha-1 de N.

• Adubação da cana-socaAdubação da cana-socaAdubação da cana-socaAdubação da cana-socaAdubação da cana-socaNa adubação da cana-soca deve-se considerar que a palhada

depositada ano após ano contribui para formar um estoque de nu-

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Figura 5. Produtividade da cana-de-açúcar em resposta às doses de N em15 experimentos realizados pela equipe da APTA-IAC (TesteF significativo a 1% de probabilidade).

Com relação à adubação potássica, embora 10 locais apre-sentassem baixos teores de K no solo (abaixo de 2 mmolc 100 cm-3)na camada de 0-0,20 m, a resposta à adubação potássica ocorreuem sete experimentos, sendo que, mesmo assim, o aumento deprodutividade foi baixo. A Figura 6 apresenta as produtividadesda cana-de-açúcar em resposta às doses de K obtidas como médiados 15 experimentos. Embora o modelo indique a dose de 177 kg ha-1

de K2O como a dose que acarretaria o maior aumento de produtivi-dade, verifica-se também neste caso que acima de 70 kg ha-1 de K2Oos aumentos de produtividade não passam de 1 tonelada. Para aadubação potássica há um claro indicativo que as doses da aduba-ção potássica das soqueiras poderão ser realmente diminuídas nosambientes com presença de palhada. De fato, o K da palhada, pornão estar ligado às moléculas orgânicas, permanece na forma iônicano tecido vegetal, não depende da mineralização da matéria orgâni-ca para ser liberado e rapidamente é transferido para a solução dosolo. Assim, a palhada pode contribuir com 50 a 70 kg ha-1 de K2Oanualmente.

reciclados ao longo dos anos. Este aporte interfere na recomenda-ção tradicional de adubação empregada para a cana queimada. Comrelação ao N, a mineralização da matéria orgânica é lenta e um esto-que do elemento é formado no solo, cujo retorno é lento. Para com-pensar a alta relação C/N e a possível imobilização de N pelos mi-crorganismos, a recomendação é que sejam adicionados 20 % a maisde N, sendo a dose média recomendada próxima de 120 kg ha-1 de N,ou cerca de 1,2 ou 1,3 kg de N por tonelada de cana a ser produzida.

Quanto ao potássio, a reciclagem deste elemento na palhadae a rápida transferência deste nutriente para a solução do solo per-mitem que sejam debitados entre 30 e 40 kg de K2O na recomenda-ção tradicional de adubação que existe para a cana queimada. Adose média fica próxima a 70 kg ha-1 de K2O.

O manejo conservacionista que garante a reciclagem de nu-trientes deve se concentrar nos seguintes pontos:

• Restituição e manutenção da fertilidade do solo com o uso decorretivos – calagem, gessagem e fosfatagem, quando necessárias;

• Adição de matéria orgânica sempre que possível, pois, alémde fornecer nutrientes, melhora as características físicas e o arma-zenamento de água;

• Otimização do uso de resíduos – vinhaça, torta, cinzas,compostos –, complementando a necessidade de nutrientes comfertilizantes minerais;

• Manutenção da palhada sobre o solo;• Otimização da eficiência das adubações, evitando perdas;• Conservação do solo e utilização da rotação de culturas na

reforma do canavial.

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Figura 6. Produtividade da cana-de-açúcar em resposta às doses de K2Oem 15 experimentos realizados pela equipe da APTA-IAC (TesteF significativo a 1% de probabilidade).

CONCLUSÕESCONCLUSÕESCONCLUSÕESCONCLUSÕESCONCLUSÕESA colheita mecânica deixa sobre o solo grande quantidade

de palhada, que representa significativo estoque de nutrientes

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14 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

Tabela 1. Área cultivada, produção e produtividade de cana-de-açúcar e produções deaçúcar e álcool no Estado de São Paulo.

Produção Produçãode açúcar de álcool

(1 000 ha) (1 000 t) (t ha-1) (1 000 t) (milhões L)1998/1999 2 270 199 314 87,8 11 226 9 0821999/2000 2 351 194 234 82,6 12 435 8 5612000/2001 2 115 148 256 70,1 9 050 6 4972001/2002 2 202 176 574 80,2 11 532 7 3442002/2003 2 400 190 628 79,4 13 204 7 9182003/2004 2 458 207 573 84,5 14 209 9 0542004/2005 2 617 229 769 87,8 15 490 9 5582005/2006 2 857 242 829 85,0 15 869 10 338

Fonte: Adaptada de UNICA (2007).

Safra Área Produção Produtividade

Figura 2. Evolução da área colhida de cana-de-açúcar no Brasil nas regiõesCentro-Sul, Norte-Nordeste e no Estado de São Paulo.

Fonte: UNICA (2007).

Hipólito Assunção Antonio Mascarenhas1,3

Elaine Bahia Wutke2,3

Roberto Tetsuo Tanaka2,3

1 Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Científico voluntário; autor correspondente; email: [email protected] Engenheiro(a) Agrônomo(a), Pesquisador(a) Científico(a).3 Instituto Agronômico – IAC; Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Grãos e Fibras-Leguminosas; Av. Barão de Itapura, nº 1481,caixa postal 28, CEP 13020-432, Campinas, SP.

4 Pólo Regional do Centro-Leste, APTA Regional, Av. Bandeirantes, 2419; caixa postal 271, CEP 14001-970, Ribeirão Preto, SP.

LEGUMINOSAS ADUBOS VERDES EM ÁREAS DE RENOVAÇÃOLEGUMINOSAS ADUBOS VERDES EM ÁREAS DE RENOVAÇÃOLEGUMINOSAS ADUBOS VERDES EM ÁREAS DE RENOVAÇÃOLEGUMINOSAS ADUBOS VERDES EM ÁREAS DE RENOVAÇÃOLEGUMINOSAS ADUBOS VERDES EM ÁREAS DE RENOVAÇÃODE CANAVIAL NO ESTADO DE SÃO PAULODE CANAVIAL NO ESTADO DE SÃO PAULODE CANAVIAL NO ESTADO DE SÃO PAULODE CANAVIAL NO ESTADO DE SÃO PAULODE CANAVIAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

OBrasil destaca-se no cenário mundial como o maiorprodutor de cana-de-açúcar, além de pioneiro naimplantação de etanol na sua matriz energética. Nos

últimos dez anos houve um crescimento contínuo tanto da área culti-vada quanto da produção e produtividade da cultura.

A cultura gera açúcar, álcool anidro (aditivo para a gasolina)e álcool hidratado para os mercados interno e externo. Segundoprevisões da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), aprodução de etanol suplantará a produção de açúcar em futuropróximo, passando de 53 %, em 2006-2007, para 60 %, em 2010/11(Figura 1).

Luciana Aparecida Carlini-Garcia2,3

Denizart Bolonhezi2,4

Figura 1. Expansão da produção de açúcar e álcool de cana-de-açúcar noBrasil.

Fonte: UNICA (2007).

No Brasil, no período de 1977 a 2006, a área decultivo de cana-de-açúcar na região Norte-Nordestefoi mantida, porém, houve grande aumento na área daregião Centro-Sul e no Estado de São Paulo (Figura 2).Essa expansão já é motivo de atenção especial da co-munidade internacional, particularmente em relação aosimpactos ambientais advindos da expansão (BOLO-NHEZI e MONTEZUMA, 2008).

A atual área de renovação de canaviais no paísé estimada em 1 milhão de hectares – cerca de 15 % daárea total (BOLONHEZI, 2007a; LANDELL, 2008), mascom estímulo ao aumento devido à ampliação do con-sumo de biocombustíveis, tendo em vista tanto o aspec-to ambiental, em razão da crescente consciência ecoló-gica mundial, como econômico (SODRÉ, 2008).

Nos últimos anos, a expansão da cultura canavieira no Esta-do de São Paulo é bastante evidente (Tabela 1, Figura 2). NesseEstado são cultivados cerca de 3,8 milhões de hectares, correspon-dendo a mais da metade dos 7 milhões de hectares cultivados noBrasil, predominantemente no sistema convencional de preparo do

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 15

solo. Na região de Ribeirão Preto, SP, o sistema de plantio diretona renovação dos canaviais tem sido cada vez mais adotado(LANDELL, 2008; BOLONHEZI e MONTEZUMA, 2008). Nas no-vas regiões produtoras, o aumento das áreas em plantio direto deve-se, sobretudo, à drástica redução de oferta de mão-de-obra e aoscustos de implantação. Convém salientar que o plantio direto so-mente é uma solução de produção agrícola sustentável se estiverassociado a esquemas de rotação de culturas em que estejam inclu-ídas plantas de cobertura (BOLONHEZI, 2007b).

A incorporação de novas áreas no Estado de São Paulo estásendo particularmente constatada em solos de reduzida fertilidade,principalmente em regiões de pastagens e até integradas à agro-pecuária. Evidencia-se, assim, não ser necessária a ocupação ouaté mesmo a devastação de florestas na Amazônia ou no Pantanal,devido à possibilidade de cultivo da cana em muitas áreas disponí-veis, já desbravadas e de reduzida fertilidade no país (LANDELL,2008; SODRÉ, 2008).

Com a atual ampliação da área cultivada com a cana-de-açúcar, sobretudo para produção de etanol, especula-se tambémsobre a possibilidade da produção de soja, amendoim e feijão tan-to na reforma quanto na soqueira da cana, contribuindo, assim,para um aumento adicional da produção nacional de alimentos(BOLONHEZI e LANDELL, informação pessoal; SODRÉ, 2008).Na região de Ribeirão Preto, SP, por exemplo, apesar da concentra-ção de muitos canaviais para atendimento de grande número deunidades industriais, registra-se produção significativa de soja,amendoim e girassol (LANDELL, 2008).

Cabe ressaltar, entretanto, a opinião cautelosa de alguns ou-tros estudiosos sobre a necessidade de mais discussão científicapara o entendimento adequado dos impactos econômicos, energéticos,ambientais e também sociais do atual sistema de produção de cana-de-açúcar (JANK, FEA-USP; citado em SODRÉ, 2008), bem como so-bre a redução de área para produção de grãos alimentícios no Estado.

A produtividade atual da cana está próxima de 90 t ha-1,principalmente no Estado de São Paulo e nos Estados adjacentes,nos quais se constata um aumento de três para seis no número decortes por plantio, sendo muito significativo do ponto de vista dasustentabilidade econômica (LANDELL, 2008). Assim, é funda-mental a preocupação constante com a recuperação ou a manu-tenção da fertilidade dos solos para obtenção de rendimentoseconômicos, tanto de açúcar quanto de energia renovável a partirda cana. Uma das práticas agrícolas recomendadas há pelo menoscinco décadas para tal finalidade é a adubação verde, sobretudocom a utilização de leguminosas, por ocasião da reforma do cana-vial, após o quarto ou o quinto corte e antes doplantio da cana-de-açúcar de ano-e-meio, para es-tabelecimento de cobertura vegetal do solo quan-do em pousio. Nessas condições, podem ser obti-dos alguns benefícios em função das coberturasvegetais vivas e mortas estabelecidas, incorpora-das ou não ao solo, como salientados por Miyasaka(1984), tais como:

• Proteção e conservação dos solos;• Fixação de nitrogênio do ar atmosférico pe-

las leguminosas devido à simbiose estabelecida nosnódulos radiculares com bactérias Bradyrhizobium(Figura 3);

• Mais retenção de água devido à melhoriada capacidade de infiltração e do armazenamento emenor evaporação;

• Mobilização e liberação de nutrientes minerais da matériaorgânica;

• Aumento da capacidade de troca de cátions;• Redução da amplitude diária da temperatura na camada

superficial do solo; e• Controle da população de nematóides, particularmente da-

queles formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita),predominantes no Estado de São Paulo, sobretudo com a inclusãodas leguminosas crotalárias (Crotalaria spp.) e mucuna preta(Mucuna aterrima) nas sucessões das culturas.

A primeira experimentação para avaliação de espécies deadubos verdes em lavoura de cana-de-açúcar foi desenvolvida porSousa, em 1953, que constatou a produção de grande quantidadede massa verde pela crotalária juncea. Posteriormente, vários auto-res obtiveram resultados muito satisfatórios em estudos sobre oassunto (Tabela 2). Estes foram relatados em recente publicação,que engloba a revisão de literatura dos últimos 50 anos, compro-vando a eficiência da utilização de leguminosas adubos verdes tan-to no aumento do rendimento da cana-de-açúcar quanto no manejodas plantas daninhas, em semeaduras a lanço ou, sobretudo, emlinha, tanto em semeadura convencional quanto direta, de outubroa meados de novembro (WUTKE e ARÉVALO, 2006). Em média,tem-se obtido aumentos de 26 t ha-1 na produção de colmos dacana-planta com o pré-cultivo de uma leguminosa, como soja, amen-doim, mucuna preta e crotalária juncea (MASCARENHAS et al.,1994; WUTKE e ARÉVALO, 2006; BOLONHEZI, 2007a; BOLO-NHEZI e MONTEZUMA, 2008).

Figura 3. (A) Nódulos radiculares fixadores de nitrogênio em raízes de soja e (B) detalhe dointerior dos nódulos.

Crédito das fotos: Dirceu Gassen.

A B

A ciclagem de nutrientes no solo, realizada pelas legu-minosas, pode ocorrer em quantidades bastante expressivas, parti-cularmente a de N, fixado em quantidades variáveis, com destaquepara crotalária juncea e mucuna preta, com valores respectivos de234 kg ha-1 e 215 kg ha-1 (Tabela 3). Cabe destacar a específicacontribuição do pré-cultivo de leguminosas, antecedendo a cana,na preservação ambiental, considerando-se que com o fornecimen-to desse N pode-se reduzir parcialmente ou até eliminar totalmentea adubação nitrogenada mineral na cultura da cana. Em conseqüên-cia, pode-se reduzir ainda a poluição do solo e da água por adubosminerais nitrogenados e obter ganhos econômicos a longo prazo.

Na escolha das leguminosas, especificamente para aduba-ção verde ou para cobertura do solo na reforma do canavial, devemser considerados alguns aspectos importantes da planta, taiscomo: pouca ou nenhuma interferência nas culturas e nas ativi-dades agropecuárias principais na propriedade, custo, adaptação

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16 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

Tabela 2. Fitomassa verde de leguminosas, número de colmos e rendimentos de cana-de-açúcar e de açúcar, em dois cortes, após sucessão com adubosverdes.

RendimentoCana Açúcar

(t ha-1) (1 000) (%)1 (t ha-1) (%)1 (t ha-1) (%)1

Crotalaria juncea 54,2 - - - - - - SOUSA (1953)23,5 - - 72,7 9 11,2 8 CARDOSO (1956)

- - - 89,8 201 10,8 200 WUTKE e ALVAREZ (1968)41,4 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)19,5 80,5 17 147,0 23 17,0 23 MASCARENHAS et al. (1994)2

22,5 79,3 24 169,0 39 19,5 39 MASCARENHAS et al. (1994)3

22,5 95,4 - - - - - CACERES e ALCARDE (1995)4

C. paulina 37,1 - - - - - - SOUSA (1953)49,1 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)

C. spectabilis 16,3 - - - - - - SOUSA (1953)21,8 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)

Feijão-de-porco6 30,2 - - - - - - SOUSA (1953)17,4 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)

Guandu 33,4 - - - - - - SOUSA (1953)9,3 - - 69,1 3 10,9 5 CARDOSO (1956)

28,5 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)16,5 91,7 - - - - - CACERES e ALCARDE (1995)4

Labelabe7 39,6 - - - - - - SOUSA (1953)10,0 - - 70,7 22 - - CARDOSO (1956)28,0 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)14,5 90,8 - - - - - CACERES e ALCARDE (1995)4

Mucuna anã8 35,6 - - - - - - SOUSA (1953)16,1 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)

Mucuna preta9 31,8 - - - - - - SOUSA (1953)10,1 - - 67,1 0,5 10,4 0 CARDOSO (1956)39,3 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)22,7 81,0 18 148,0 23 16,9 23 MASCARENHAS et al. (1994)2

23,7 80,5 26 162,0 33 18,6 33 MASCARENHAS et al. (1994)3

15,1 89,1 - - - - - CACERES e ALCARDE (1995)4

Soja 14,8 - - - - - - SOUSA (1953)10,7 - - - - - - COOPERSUCAR (1983)2,25 72,0 5 127,0 6 14,7 7 MASCARENHAS et al. (1994)2

2,35 79,3 24 154,0 26 17,7 26 MASCARENHAS et al. (1994)3

1Aumento percentual em relação à testemunha - pousio; 2 Com leguminosas por um ano; 3 Com leguminosas por dois anos; 4Média de três cortes; 5 Grãos.6Canavalia ensiformis; 7Dolichos lab lab; 8Mucuna deeringiana; 9Mucuna aterrima.Fonte: COOPERSUCAR (1983); WUTKE e ARÉVALO (2006).

Espécie deleguminosa

Massaverde Referência

Númerode colmos

climática local, disponibilidade de sementes no mercado, produtivi-dade em massa verde ou seca e facilidade de manejo.

Em São Paulo, onde são cultivados em torno de 4 milhões dehectares de canaviais, cerca de 600 a 650 mil hectares podem seranualmente cultivados com outras culturas produtoras de grãos,principalmente soja e amendoim, utilizando-se cultivares de ciclocurto, além de adubos verdes, para incorporação ou não ao solo.No plantio da cana iniciado em janeiro, no entanto, não é possível aassociação nessas áreas e, em muitas das vezes, a soja, por exem-plo, é semeada e incorporada sem colheita dos grãos (LANDELL,2008). Nos últimos dez anos, neste Estado, tem sido viabilizado osistema de plantio direto da soja na renovação da cana colhida

mecanicamente e crua (BOLONHEZI e MONTEZUMA, 2008). Re-centemente, estão sendo estudadas diversas opções de culturasde rotação, como soja transgênica, amendoim, girassol, crotaláriajuncea e mucuna cinza, combinadas a três sistemas de manejo dosolo antes do plantio da cana: convencional, cultivo mínimo e plan-tio direto, além de cultivo de feijão na soqueira da cana (BOLO-NHEZI, 2007b).

Na literatura consultada, os resultados mais expressivosna produtividade de cana são freqüentemente aqueles obtidosapós o cultivo da crotalária juncea, que apresenta crescimentomais rápido e maior produção de massa verde no período de culti-vo. A mucuna preta, também mencionada como opção adequada,

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 17

Tabela 3. Quantidade de macronutrientes na matéria seca de espécies leguminosas em área de renovação de canavial. Centro de Tecnologia Coopersucar,Piracicaba, SP.

Leguminosas N P2O5 K2O CaO MgO S

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -Crotalaria juncea 234 35 76 78 90 46Crotalaria paulina 187 31 76 133 102 54Crotalaria spectabilis 91 17 44 112 35 7Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) 75 15 45 119 27 7Guandu (Cajanus cajan) 172 27 74 104 41 27Lablabe (Dolichos lab lab) 102 22 48 127 34 26Mucuna anã (Mucuna deeringiana) 91 17 49 86 20 7Mucuna preta (Mucuna aterrima) 215 37 102 133 52 31Soja (Glycine max), cultivar IAS-5 38 13 33 61 23 9

Fonte: COOPERSUCAR (1983).

é planta de hábito de crescimento trepador, o que pode ser uminconveniente na colheita mecanizada da cana. Além disso, suassementes são duras e precisam de tratamento térmico (água quen-te), por curto período de tempo, para aumento do seu podergerminativo. Quanto à soja, devem ser escolhidos cultivares comciclo semi-precoce e precoce, devido ao curto período disponibi-lizado na reforma do canavial.

O retorno em produção de cana-de-açúcar em sucessão àsoja é normalmente menor quando comparado àquele após crotaláriajuncea ou mucuna preta, pois a produtividade de fitomassa dessasleguminosas é maior em relação à da soja. Entretanto, é economica-mente mais vantajosa a utilização eventual da soja em áreas derenovação de canavial devido à possibilidade de obtenção de ren-da extra com os grãos, sobretudo se o preço de mercado da legu-minosa for compensatório, seja para o atendimento de demandasnos setores de alimentação humana e animal, seja para o setor debioenergia. Atualmente, o custo estimado em cerca de R$ 3 000,00na implantação de um hectare de cana pode ser reduzido pela pro-dução de grãos de soja. Em muitas situações, além de benefíciosagronômicos e econômicos, até com exclusão do controle químicode plantas infestantes, fato bastante representativo na redução doscustos dos tratamentos (MASCARENHAS et al., 1994), é possívela amortização de até 70 % do custo de implantação com os cultivosassociados, considerando que a acidez do solo já estaria corrigida(LANDELL, 2008; BOLONHEZI e MONTEZUMA, 2008).

Quanto às leguminosas, deve ser considerada a facilidadede manejo da fitomassa produzida (Figura 4). Em relação aos méto-dos mecânicos, e especificamente no sistema plantio direto e paraplantas de crescimento ereto, devem ser preferidos equipamentoscomo o rolo-faca, com os quais se tem o mínimo possível de tritura-ção da fitomassa e mais tempo para a decomposição dos resíduos.Para compensação do custo de produção quanto à quantidade defitomassa produzida, o manejo de plantas de crotalária juncea, porexemplo, deve ser realizado após 90 dias, por meio de rolo-faca oupelo sistema “pára-choque”, em que se faz o tombamento das plan-tas da leguminosa mais a sulcação e a adubação para a cana em umaúnica operação (LUZ et al., 2005; BOLONHEZI, 2007a). Por outrolado, para espécies com hábitos de crescimento rasteiro e de portebaixo, é importante que se conheça sua suscetibilidade aos desse-cantes. Em geral, as mucunas são facilmente dessecadas e o feijão-de-porco é relativamente tolerante a esse tipo de herbicida (BOLO-NHEZI, 2007a).

Figura 4. (A) Manejo de plantas de crotalária juncea e de (B) mucunapreta e (C) plantio da cana-de-açúcar após semeadura da crota-lária. Piracicaba, SP, 1994.

Crédito das fotos: Afonso Peche Filho.

A

B

C

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18 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

Além disso, a redução da quantidade de matéria orgânica nosolo está relacionada à emissão de gases – principalmente CO2,CH4, N2O – para a atmosfera, com conseqüente contribuição para oaumento do aquecimento global (CERRI et al., 2007).

Um fator fundamental no processo de seqüestro de carbonopelas plantas é a quantidade de N depositada no solo, pois, quandodiminuída, há pouca absorção de CO2 pela planta, cujo crescimentoestá diretamente relacionado a esse composto (CERRI, 2007). E,como enfatizado anteriormente, as leguminosas são espécies reco-nhecidamente fixadoras de CO2, além de adequadas opções comocobertura do solo.

Dessa maneira, no contexto da utilização de possíveis meca-nismos naturais para seqüestro do carbono e colaboração namitigação do aquecimento, pode ser considerada a possível contri-buição dos cultivos associados de leguminosas adubos verdes emsucessão à cana-de-açúcar, em áreas de reforma de canavial, princi-palmente em sistema de plantio direto, prevendo-se o aporte dematéria orgânica e de resíduos benéficos ao solo, além dos efeitospositivos na produtividade das culturas. Deve-se considerar, ain-da, o benefício da colheita mecânica da cana-de-açúcar sem queima(cana crua), com a qual se objetiva a sustentabilidade ambiental eeconômica (BOLONHEZI, 2007b) – processo cuja tendência éirreversível e crescente, com deposição anual considerável de até20 t ha-1 de palha de cana (LANDELL, 2008).

Diante do exposto, é tecnicamente recomendável o cultivode leguminosas adubos verdes na reforma do canavial, durante operíodo chuvoso compreendido entre setembro/outubro e janeiro/fevereiro, sem perda de ano agrícola, tanto para produção defitomassa quanto para produção de grãos, em plantio convencionalou direto. Com sua utilização é possível obter geração de rendaextra com os grãos, redução do uso de herbicidas, controle denematóides formadores de galhas e, também, colaboração adicionalpara a redução da contaminação do ambiente. Nesta situação, des-tacam-se as leguminosas: Crotalaria juncea, mucuna-preta (Mucunaaterrima), guandu (Cajanus cajan) e Crotalaria spectabilis, paraprodução de fitomassa, e soja (Glycine max) e amendoim (Arachyshypogaea) para a produção de grãos.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

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CERRI, C. E. P.; SPAVOREK, G.; BERNOUX, M.; EASTERLING, W.E.; MELILLO, J. M.; CERRI, C. C. Agricultura tropical e aquecimen-to global: impactos e opções de mitigação. Scientia Agricola, Pira-cicaba, v. 64, n. 1, p. 83-89, 2007 (Revisão).

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FAOSTAT/FAO. Statistics Division 2007. Disponível em: <http://faostat. fao.org/site/567/DesktopDefault.aspx?PageID=567>. Aces-so em: 19 dez. 2007.

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WUTKE, E. B.; ARÉVALO, R. A. Adubação verde com leguminosasno rendimento da cana-de-açúcar e no manejo de plantas infes-tantes. Campinas: Instituto Agronômico, 2006. 28 p. (Série Tecno-lógica APTA, Boletim Técnico IAC, 198).

No uso de crotalárias em renovação de cana, a gradagemainda é o método mais utilizado para incorporar as sementes dis-tribuídas a lanço, resultando em elevado custo (R$ 250,00 porhectare, base 2007) e impossibilitando a manutenção da palhadada cana crua. Nessa situação, o uso de correntão com distorcedorpode ser uma alternativa viável para incorporação das sementesda leguminosa quando não se tem semeadora adequada disponí-vel ou, ainda, quando são utilizadas misturas de espécies (BOLO-NHEZI, 2007a).

Embora sejam comprovados os inúmeros benefícios da uti-lização de adubos verdes, sobretudo na reforma do canavial, aindahá pouca disponibilidade de sementes de espécies de leguminosasno mercado. Atualmente, muitos agricultores ainda utilizam comosementes os grãos colhidos na propriedade, sem cuidados especí-ficos com a manutenção das purezas genética e varietal ou com aqualidade fisiológica ou sanitária das mesmas.

Considerando o oportuno momento de discussão mundialem relação às mudanças climáticas globais resultantes do aumen-to da concentração atmosférica dos gases de efeito estufa, caberessaltar que, de acordo com o IPCC (2001), cerca de 20 % dasemissões desses gases são procedentes de atividades agrícolas,sobretudo daquelas em que se tem utilização excessiva de combus-tíveis fósseis.

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 19

SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)11111

Víctor Hugo Alvarez V.2

Gustavo Adolfo Moysés Alvarez3

1 Extraído do livro Grandezas, Dimensões, Unidades (SI) e Constantes Utilizadas em Química e Fertilidade do Solo, de autoria dos autores deste artigo.2 Professor Titular do Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. Bolsista 1C do CNPq, email: [email protected] Professor do Centro Universitário UNIRADIAL, São Paulo, SP.

Autilização de dife-rentes sistemas deunidades dificultou

a comercialização de produtos e atroca de conhecimentos entre aspessoas de diferentes regiões ou dediferentes povos.

Na tentativa de resolver esses problemas, a AssembléiaLegislativa (1791-1792), após a Revolução Francesa (1789), e o Go-verno da Primeira República da França (1792-1804) solicitaram àAcademia Francesa de Ciência que criasse um sistema único demedidas, tendo como base uma constante natural, que pudesse serreproduzido com exatidão em qualquer lugar e em qualquer tempo.Desse esforço surgiu a definição de metro, unidade primordial parao Sistema Métrico Decimal e para os sistemas CGS e MKSA, e oatualmente oficial Sistema Internacional de Unidades (SI).

O sistema métrico decimal adotou, inicialmente, três unida-des de medida: o metro, o litro e o quilograma. O sistema CGS acei-tou outra dimensão – o tempo – pelo que passou a ter como unida-des básicas o centímetro, o grama e o segundo. Já no sistema MKSA,as unidades básicas foram modificadas para metro, quilograma,segundo e ampère. As siglas CGS e MKSA se referem à primeiraletra das unidades-padrão adotadas.

O desenvolvimento técnico-científico da humanidade, ace-lerado pela revolução industrial, passou a exigir maior número demedidas, cada vez mais exatas e reprodutíveis. Por isto, o sistemamétrico decimal e suas diferentes aproximações e aperfeiçoamentosforam substituídos pelo SI – sistema aprovado em 1960, em Paris,pela 11a Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), por meioda resolução nº 12, pelo Bureau International des Poids et Mesures(BIPM), adotado pelo Brasil em 1962 e ratificado em 12 de outubrode 1988 pela Resolução nº 11 do Conselho Nacional de Metrologia,Normatização e Qualidade Industrial, tornando-se de uso obrigató-rio e exclusivo em todo o território nacional: “Adotam-se no Brasil,obrigatória e exclusivamente, as unidades de medidas baseadas noSistema Internacional de Unidades (SI), aprovadas nas CGPM”(INMETRO, 2007a). Desde 1967, para o INMETRO, o SI é, porforça da lei, o único sistema de unidades legal no Brasil para todasas atividades e relações humanas, especialmente as comerciais. Istoimplica que toda publicação, todo documento ou propagandadevam trazer informações utilizando exclusivamente o SI. A Socie-dade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), no XXIV CongressoBrasileiro de Ciência do Solo, em 1993, em Goiânia, GO, adotou eoficializou o uso do SI nos seus eventos e publicações.

“Adotam-se no Brasil, obrigatória e exclusivamente,as unidades de medidas baseadas no SistemaInternacional de Unidades (SI), aprovadas nas

Conferências Gerais de Pesos e Medidas”Resolução nº 11, em 12 de outubro de 1988

INMETRO

No SI foram escolhidas setegrandezas, que podem ser definidasindependentemente entre si, de acor-do com um fenômeno físico, comgrande rigor e acurácia, denomina-das de grandezas de base. Para es-tas grandezas foram fixadas, pela

CGPM, as sete respectivas unidades de base, sendo as duas pri-meiras – o metro e o quilograma – aprovadas em 1889, na 1a CGPM,na forma dos protótipos internacionais.

As demais grandezas são designadas como grandezas deri-vadas, ou seja, como variáveis ou produto das grandezas de base.O conjunto de unidades assim obtido caracteriza um sistema deunidades, como o SI.

Uma grandeza de base caracteriza-se por possuir uma úni-ca dimensão (Quadro 1), entre as quais estão a massa e a quanti-dade de matéria, de grande interesse na Química e na Fertilidadedo Solo.

Em 19 de março de 1791, a Academia de Ciências da Françapropôs o sistema decimal para pesos, medidas e moedas, e para aunidade de comprimento recomendou-se que esta se relacionassecom um quarto do meridiano terrestre. Posteriormente, em 30 demarço de 1791, decidiu-se que o metro (do grego metron = medida),unidade de comprimento, fosse 1/10 000 000 do quadrante do meri-diano terrestre (distância do Pólo Norte ao Equador), medido emParis. Conseqüência prática e fundamental para a humanidade epara o conhecimento científico moderno foi a introdução do con-ceito de metro.

Quadro 1. As sete grandezas, dimensões e unidades de base do SistemaInternacional de Unidades.

Grandeza Dimensão Unidade SI Símbolo

Comprimento L metro mMassa M quilograma kgTempo T segundo sCorrente elétrica I ampère ATemperatura termodinâmica θ kelvin KQuantidade de matéria N mol molIntensidade luminosa J candela cd

Fonte: BRASIL (2002); BIPM (2006); FRANCO GARCÍA (2007).

Abreviações: BIPM = Bureau International des Poids et Mesures; CGS = centímetro, grama e segundo; CGPM = Conferência Geral de Pesos eMedidas; CIPM = Comitê Internacional de Pesos e Medidas; INMETRO = Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial; MKSA =metro, quilograma, segundo e ampère; SB = soma de bases; SBCS = Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; SI = Sistema Internacional.

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20 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

Considerando-se que o comprimento do quadrante domeridiano poderia variar de acordo com o lugar de sua medição ecom os erros de medida, decidiu-se padronizar o comprimento dometro na forma de um protótipo constituído por uma barra de ligaplatina-irídio (10 % de irídio). Protótipo sancionado pelo BIPM du-rante a 1a Conférence Général de Poids et Mesures (CGPM) de 1889e conservado no Bureau International des Poids et Mesures, emSévres, França.

Em 1960, com base na comparação entre o comprimento dometro padrão e o comprimento de onda, no vácuo, da energia ra-diante correspondente à transição do elétron entre os níveis 2p10 e5d5 do átomo de 86Kr, a 11ª CGPM substituiu a definição de metropadrão (1889) como sendo 1 650 763,73 vezes o comprimento deonda da emissão de fótons vermelho-alaranjados de átomos de 86Kr(FRANCO GARCÍA, 2007).

Para aumentar a exatidão da medida do comprimento dometro padrão e também facilitar a sua aferição, a 17a CGPM, em1983, substituiu novamente a definição de metro como sendo ocomprimento do trajeto da luz, no vácuo, durante o intervalo detempo de 1/299 792 458 s.

O metro é a unidade primordial da qual derivam os diferentessistemas de unidades posteriormente aceitos, e constitui o funda-mento para a definição das grandezas, dimensões e unidades debase, como as que formam o SI (Quadro 1), pois as outras unidadesderivam ou relacionam-se diretamente com o metro, exceto o kelvin,para temperatura termodinâmica.

Do metro derivam-se o m2, o m3, o cm e o cm3, o que deuorigem ao conceito de grama (g), em razão de que a massa volumétricada água pura, à pressão atmosférica normal (101,325 kN/m2) e àtemperatura de 4,44 ºC (massa volumétrica máxima da água) é iguala 1,0000 g/cm3. Então, por convenção, tem-se que 1,0000 cm3 deágua nessas condições tem a massa de 1,0000 g.

Com o uso do cm, do g e do s surgiu o sistema de unidadeCGS, no qual a quantidade de matéria [g ou equivalente (Eq) oumol] das amostras analisadas é expressa em g ou cm3 ou mL deamostras, de acordo com seu estado físico (sólido, líquido ou gaso-so) ou a forma de sua medição (massa ou volume). É bom lembrardeste detalhe porque, em analogia, no SI a quantidade de matéria(kg ou mol) é expressa em kg ou dm3 ou L de amostra.

A unidade que mede a quantidade de matéria – quantité dematière – é o mol (mol). Utiliza-se quando se determina na matériauma substância formada por uma única entidade química ou física.Indica o número de indivíduos ou entidades da substância (partí-culas, elétrons, íons, átomos, moléculas). Em fertilidade do solo,especialmente, mede o número de cargas negativas nas superfíciesde micelas ou de outras superfícies do complexo de troca, o númerode cargas positivas dos íons de determinado cátion ou a soma decargas positivas de um conjunto de cátions – soma de bases (SB).

O conceito de mol está intimamente ligado ao número deAvogadro. O mol é a quantidade de matéria de uma substância ousistema que contém tantas (número) entidades elementares quantosão os átomos contidos em exatamente 12 g de 12C (BRASIL, 2002;BIPM, 2006). Nesta definição, entende-se que se refere a átomosde 12C não unidos, em repouso e em seu estado elementar. Estenúmero é o número de Avogadro e corresponde aproximadamentea 6,022 141 79 x 1023. Por extensão, o número de Avogadro pode serdefinido como o número de entidades elementares em um mol.

Ao se utilizar a unidade mol, deve-se especificar qual aentidade elementar em questão. Por isso, quando se determina naanálise de solo o teor de Mg trocável (íons Mg2+) deve-se expres-sar o resultado em molc (mols de carga). O atraso da SBCS na

oficialização do SI foi em razão do uso, em análise de formastrocáveis, da unidade meq/100 cm3, pois o Eq foi banido do SI enão havia na literatura conceito e unidade para sua substituição,até surgir o molc.

Quando tecidos vegetais são analisados, não se deve ex-pressar o teor de um nutriente, por exemplo, em mol de átomos, poisnão se tem uma entidade, uma única forma do elemento, mas sim umconjunto numeroso, com teores diferentes de muitas substânciasque incluem o nutriente. Por isso, na análise de matéria seca detecidos vegetais, a quantidade do nutriente deve ser indicada emforma de massa (dag/kg ou g/kg).

A unidade mol, como medida de quantidade de uma subs-tância, foi ratificada pela 14ª CGPM, em 1971 (BRASIL, 2002).

Para evitar a utilização de números nas unidades, recomen-da-se o uso de prefixos. Os prefixos oficializados no SI foramadotados na 11ª CGPM em 1960 e acrescentados nas 12ª (1964),15ª (1979) e 19ª CGPM (1991) para expressar magnitudes de múlti-plos ou submúltiplos decimais das unidades de base e das deriva-das (BRASIL, 2002; BIPM, 2006). Para múltiplos e submúltiplosutilizam-se nomes e símbolos específicos (Quadro 2).

A partir das unidades de base tem-se as unidades deriva-das, que acompanham algebricamente as mesmas relações das gran-dezas derivadas. Elas são deduções diretas ou indiretas das unida-des de base por meio de definições que relacionam entre si as gran-dezas a serem medidas, formam expressões algébricas que utilizamos símbolos de multiplicação e de divisão (Quadro 3) e que podemser utilizadas, sem restrições, com qualquer prefixo de múltiplo ousubmúltiplo.

O SI tem outras unidades derivadas, mas com nomes e sím-bolos especiais (Quadro 4).

Além das unidades derivadas têm-se as unidades não per-tencentes ao SI, mas aceitas para uso conjunto com o SI (Quadro 5).

Em 1969, o Comitê Internacional de Pesos e Medidas (CIPM)reconheceu e aceitou que certas unidades que não pertencem aoSI, mas que são de ampla aceitação e conhecimento público, de-sempenham função muito importante na vida diária e, portanto,deveriam ser mantidas, sem restrição de prazo, para uso conjuntocom as unidades do SI.

O litro (L) corresponde a 1 dm3 de gás, líquido ou sólido,sendo que se prefere o seu uso para líquidos. Na origem do sistema

Quadro 2. Prefixos utilizados no Sistema Internacional de Unidades.

Múltiplo Submúltiplo

Fator Nome Símbolo Fator Nome Símbolo

1024 yotta Y 10-1 deci d1021 zetta Z 10-2 centi c1018 exa E 10-3 mili m1015 peta P 10-6 micro μ1012 tera T 10-9 nano n109 giga G 10-12 pico p106 mega M 10-15 femto f103 quilo k 10-18 atto a102 hecto h 10-21 zepto z101 deca da 10-24 yocto y

Fonte: BIPM (2006).

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 21

Quadro 3. Exemplo de unidades derivadas utilizadas pelo Sistema Inter-nacional de Unidades.

Grandeza Nome* Símbolo

Área metro(s) quadrado(s) m2

Volume metro(s) cúbico(s) m3

Velocidade metro(s) por segundo m s-1

Aceleração metro(s) por segundo por segundo m s-2

Massa volumétrica** quilograma(s) por metro cúbico kg m-3

Superfície específica metro(s) quadrado(s) por quilograma m2 kg-1

Volume específico metro(s) cúbico(s) por quilograma m3 kg-1

Vazão metro(s) cúbico(s) por segundo m3 s-1

Fluxo metro(s) cúbico(s) por metro m3 m-2 s-1

quadrado segundo

* (s) usado para plural.** Esta unidade está em contradição com as unidades básicas, de acordocom a forma de medida das amostras, que no SI são: kg, dm3 e L. Portanto,a unidade deveria ser kg dm-3.

métrico, 1 L deveria ser exatamente a massa de 1 dm3 de H2O a4,44 °C (kg). Entretanto, ao serem realizadas novas medições, foiencontrado para 1 kg o valor de 1,000 028 dm3. Por isso, em 1964, a12ª CGPM redefiniu o valor de 1 L como sendo igual a 1 dm3.

Também foram aceitas, sem restrição de prazo, para uso como SI, unidades que possuem relação com as unidades SI e cujosvalores são obtidos experimentalmente, como elétron-volt (eV), uni-dade de massa atômica (u) ou Dalton (Da).

Contudo, existem certas unidades de medida (Quadro 6) que,em virtude da popularidade em vários países e em certos campos deconhecimento, continuam a ser utilizadas, temporariamente, em con-junto com as unidades SI, até que seu emprego não seja mais neces-sário. Entretanto, segundo o CIPM, estas unidades não devem maisser adotadas por aqueles que já utilizam algum sistema de medidas.

A grande maioria das medidas e das análises é realizada emrochas, solos, sedimentos, plantas e soluções, sendo que a quanti-

Quadro 5. Unidades aceitas para uso com o Sistema Internacional deUnidades, sem restrição de prazo.

Unidade

Nome1 Símbolo

Volume litro(s) l ou L 1 dm3

Massa tonelada(s) t MgÂngulo plano volta(s) 2 π rad

grau(s) º (π/180) radminuto(s) ` (π/10 800) radsegundo(s) ” (π/648 000) rad

Velocidade angular Rotação(ões) por minuto rpm (π/30) rad s-1

Tempo minuto(s) min 60 shora(s) h 3 600 sdia(s) d 86 400 s

1 (s) usado para plural.Fonte: Brasil (2002); BIPM (2006); Franco García (2007); INMETRO(2007b).

Grandeza Relação

Quadro 4. Principais unidades derivadas, com nomes e símbolos especiais, utilizadas pelo Sistema Internacional de Unidades.

Unidade Expressão equivalente

Nome* Símbolo Em outras Unidades SI Em unidades SI básicas

Freqüência hertz Hz s-1

Atividade de um radionuclídeo becquerel(s) Bq s-1

Atividade catalítica catal(s) kat mol s-1

Força newton(s) N m kg s-2

Pressão pascal(s) Pa N m-2 m-1 kg s-2

Energia, trabalho, quantidade de calor joule(s) J N m m2 kg s-2

Potencia, fluxo de energia watt(s) W J s-1 m2 kg s-3

Carga elétrica (quantidade de eletricidade) coulomb(s) C A sPotencial elétrico, tensão, força eletromotriz volt(s) V W A-1 m2 kg s-3 A-1

Resistência elétrica ohm(s) Ω V A-1 m2 kg s-3 A-2

Condutância elétrica siemens S Ω-1 = A V-1 m-2 kg-1 s3 A2

Capacitância elétrica farad(s) F C V-1 m-2 kg-1 s4 A2

Fluxo magnético weber(s) Wb V s m2 kg s-2 A-1

Fluxo luminoso lúmen(s) lm cd sr cd m2 m-2

Iluminamento lux lx lm m-2 cd m-2

Indução magnética tesla(s) T Wb m-2 kg s-2 A-1

Indutância henry(s) H Wb A-1 m2 kg s-2 A-2

Temperatura Celsius grau(s) Celsius ºC K

* (s) usado para plural.Fonte: Brasil (2002); BIPM (2006); Franco García (2007); INMETRO (2007b).

Grandeza

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22 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

dade de matéria é expressa na grandeza de base massa, com unida-de de base kg, ou com grandeza derivada volume, de dimensão L³,e unidade m³ ou dm³.

Fazendo-se uma analogia com o sistema CGS, no qual a ma-téria em estudo era indicada em g, cm³ ou ml, as unidades quepassaram a substituí-las, no SI, são kg, dm³ e L, e seu uso dependedo estado da matéria em análise, ou seja, se sólido, kg ou dm³, segás, dm3, se líquido, L. Para matéria sólida, kg, quando a amostra émedida em massa, e dm³, quando medida em volume.

Massa é grandeza, medida de substância, composto oumatéria definida. Portanto, a massa não é seca, nem fresca, e muitomenos viva (biomassa) ou morta (necromassa) ou metálica (meta-lomassa).

O Bureau International des Poids et Mesures (BIPM), nasConferências Gerais de Pesos e Medidas, além de definir grande-zas, dimensões e unidades, aprovou uma série de normas para ouso adequado do SI. Algumas delas são:

• No SI, os nomes das unidades são acrescidas de um squando no plural, salvo as que terminam em s, x ou z.

• Os símbolos representativos das grandezas (variáveis) de-vem ser indicados por letras do alfabeto latino ou grego, impressasem tipo itálico.

• As dimensões devem ser apresentadas por caracteres dotipo romano vertical.

• Para harmonizar o valor numérico com as unidades, es-tas devem ser precedidas (sem espaço) pelo prefixo que permitaindicar os valores numéricos entre 0,1 e 999. Isto é consideradopara a unidade do numerador. Para a unidade do denominadordeve-se utilizar a que indique a grandeza unitária da amostra:para campo (experimentos, levantamentos), usualmente utiliza-se hectare (ha); em análises de laboratório, para amostras medi-das em massa, utiliza-se kg (unidade de base para massa) e paramanter concordância com kg, recomenda-se para medidas deamostra em volume, de sólido ou de gás, o dm3 e, para volume delíquidos, o L.

• Deve-se ter muito cuidado com o uso de prefixos porque,junto à unidade de base, eles passam a sofrer as operações algébri-cas indicadas. Por exemplo: hm2 = (100 m)2 = 10 000 m2.

• À escolha dos autores, as unidades podem ser escritas nasseguintes formas: kg/kg ou kg kg-1.

• Deve-se deixar sempre um espaço entre o valor numérico eo símbolo da unidade. Isto é válido para todas as unidades, inclusi-ve para % e oC.

• Na apresentação de valores numéricos não se deve utilizar,em conjunto, dígitos e letras. Por exemplo, a expressão da superfíciecultivada de 800 milhões de hectares deve ser apresentada como800 000 000 de hectares, ou 800 000 000 ha, ou melhor, 800 Mha.

• Na notação numérica deve-se deixar um espaço entre gru-pos de três dígitos tanto à esquerda como à direita da vírgulautilizada para separar as decimais. Em números com quatro deci-mais pode-se ou não omitir o espaço no extremo à esquerda ou àdireita. Por exemplo: 2008; 1 325; 12 500; 160 012,12; 10 215,143 63;18,149 652 2347; 2 450,133 3467.

Quando, por exemplo, o pesquisador diz que a camada desolo foi amostrada de 0,000 a 0,025 m, observa-se que:

• Não se cumpre a recomendação de que o valor fique entre0,1 e 999.

• Desconhece-se a existência e a importância de c (centi),pois é mais simples e coloquial indicar de 0,0 a 2,5 cm.

• Não se cumpre com a responsabilidade social de divulgarcom todas as potencialidades o sistema de unidades, que deve serde uso comum por parte de toda a população.

Quando o autor diz que a produção de milho foi de 6 Mg ha-1

fica a pergunta: Por que não utilizar t ha-1, se t é a unidade aceitapara uso com o SI, sem restrição de prazo, e ha é a unidade tempo-rariamente aceita para uso com o SI? Para ser purista do uso do SIdeve-se utilizar Mg hm-2. Mas, pode-se imaginar alguém solicitan-do no comércio a venda de 5 Mg de areia de construção?

Por compromisso com os leitores e em respeito às resolu-ções de organismos nacionais, temos a responsabilidade de enten-der a informação da literatura, expressa em sistemas de unidadesexógenas e/ou ultrapassadas, e transmiti-las no SI.

Além disso, temos a responsabilidade de integrar a comuni-dade científica com a sociedade civil por intermédio do uso de lin-guagem simples e direta de acordo com o SI, colaborando para asua divulgação.

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

BIPM. Bureau Internacional des Poids et Mesures. Nom-SI units acceptedfor use with the SI, and units based on fundamental constants. Últi-ma modificação: 11/01/2007. Disponível em: <http://www.bipm.org/en/si/si_brochure/chapter4/table8.html>. Acesso em: 19/01/2007.

BIPM. Bureau Internacional des Poids et Mesures. Sistema Internacio-nal de Unidades – SI. Resumo da publicação do BIPM. Atualizado em:Fev. 2006. Disponível em: <http://www.bipm.org/en/si>. Acesso em: 11/02/2007.

BRASIL, N. I. Sistema internacional de unidades: grandezas físicas efísico-químicas; recomendação das normas ISO para terminologia e símbo-los. Rio de Janeiro: Editora Interciência Ltda., 2002. 125 p.

FRANCO GARCÍA, A. Sistema internacional de unidades. Disponí-vel em: <http://www.sc.ehu.es/sbweb/fisica/unidades/unidades/unidades.html>. Acesso em: 29/01/2007.

INMETRO. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e QualidadeIndustrial. Metrologia Legal. Resolução nº 11, de 12 de outubro de1988. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/metlegal/resolucao11.asp>.Acesso em: 6/01/2007a.

INMETRO. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e QualidadeIndustrial. Unidades legais de medida: o sistema internacional de unida-des–SI. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/unidLegaisMed.asp>. Acesso em: 16/01/2007b.

Quadro 6. Unidades temporariamente aceitas com o Sistema Internacio-nal de Unidades.

UnidadeNome Símbolo

Comprimento angstrom(s)1 Å 10-10 mÁrea are(s) a 10 m × 10 m = 100 m2

Área hectare(s) ha 104 m2 = hm2

Pressão bar(s) bar 1,0 x 105 Pa = 100 kPaPressão mm de mercúrio mmHg 133,322 PaAtividade curie(s) Ci 3,7 x 1010 Bq = 37 GBq

1 (s) para o plural.Fonte: BRASIL (2002); BIPM (2006, 2007).

Grandeza Relação com SI

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 23

EM DESTAQUE EM DESTAQUE EM DESTAQUE EM DESTAQUE EM DESTAQUE

Durante a Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo, Nutri-ção de Plantas e Microbiologia do Solo (FERTBIO 2008) ocorridano mês de setembro, em Londrina, PR, Dr. Luís Ignácio Prochnow,Diretor do Programa IPNI Brasil, fez uma apresentação sobreDesenvolvimentos recentes na produção e utilização de fertili-zantes fosfatados para melhorar a eficiência e minimizar os im-pactos ambientais. A apresentação ocorreu durante o Simpósiosobre Eficiência Agronômica de Fertilizantes. Também participaramdeste evento Dr. Heitor Cantarella, IAC, com palestra sobre Fertili-zantes nitrogenados, e Dr. Norman Chien, IFDC, Cientista Sênior(aposentado), com palestra sobre Fertilizantes contendo enxofre(S) e, ainda, sobre Aspectos do cádmio como contaminante em

fertilizantes. Os pesquisadores enfatizaram a recente evolução naprodução e uso de fertilizantes. As três apresentações serão publi-cadas como revisão bibliográfica em periódico internacional, o queserá de ajuda aos interessados em novas tecnologias relacionadasà produção e utilização destes fertilizantes e também aos aspectosdo cádmio nestes materiais.

O Programa IPNI Brasil contou com um estande no Con-gresso. “Foi uma grande oportunidade de mostrar nosso trabalhono Brasil e também em nível mundial”, disse Dr. Prochnow. Muitoscontatos foram estabelecidos e muitas publicações foram adquiri-das pelos estudantes e pelo público em geral, participantes dosdiferentes simpósios no evento.

Dr. Prochnow durante apresentação na FERTBIO 2008.

IPNI BRASIL NA REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO, NUTRIÇÃO DE PLANTASIPNI BRASIL NA REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO, NUTRIÇÃO DE PLANTASIPNI BRASIL NA REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO, NUTRIÇÃO DE PLANTASIPNI BRASIL NA REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO, NUTRIÇÃO DE PLANTASIPNI BRASIL NA REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO, NUTRIÇÃO DE PLANTASE MICROBIOLOGIA DO SOLOE MICROBIOLOGIA DO SOLOE MICROBIOLOGIA DO SOLOE MICROBIOLOGIA DO SOLOE MICROBIOLOGIA DO SOLO (FERTBIO 2008) (FERTBIO 2008) (FERTBIO 2008) (FERTBIO 2008) (FERTBIO 2008)

Estande do IPNI na FERTBIO 2008.

SIMPÓSIO DO IPNI BRASILSIMPÓSIO DO IPNI BRASILSIMPÓSIO DO IPNI BRASILSIMPÓSIO DO IPNI BRASILSIMPÓSIO DO IPNI BRASIL

No período de 28 a 30 de setembro de 2009 o IPNI Brasilestará realizando o Simpósio sobre Boas Práticas para Uso Eficien-te de Fertilizantes – BPFs, na Escola Superior de Agricultura Luizde Queiroz, em Piracicaba, SP. O evento contemplará tópicos daprodução agrícola sustentável relacionados às práticas para usoeficiente de insumos e manejo das culturas que são consideradasambientalmente adequadas, socialmente benéficas e economica-mente viáveis.

IPNI IPNI IPNI IPNI IPNI BRASIL EM CONGRESSO NO PERUBRASIL EM CONGRESSO NO PERUBRASIL EM CONGRESSO NO PERUBRASIL EM CONGRESSO NO PERUBRASIL EM CONGRESSO NO PERU

Dr. Luís Ignácio Prochnow, Diretor do Programa IPNI Brasil,foi convidado a participar do Congresso Peruano de Ciência doSolo ocorrido no período de 17 a 21 de novembro em Tarapoto,Peru, onde teve a oportunidade de ministrar duas palestras duranteo evento: (1) Avaliação e Controle da Fertilidade do Solo comÊnfase na Resina de Troca Iônica, e (2) Fertilizantes Fosfatados:Produção e Uso.

DR. CLIFF SNYDER NO BRASILDR. CLIFF SNYDER NO BRASILDR. CLIFF SNYDER NO BRASILDR. CLIFF SNYDER NO BRASILDR. CLIFF SNYDER NO BRASIL

Dr. Cliff Snyder, Diretor doPrograma de Nitrogênio do IPNI,Estados Unidos, participou doSimpósio técnico Maximização daEficiência e Minimização dos Im-pactos Ambientais da AdubaçãoNitrogenada, ocorrido em 23 de Se-tembro, na ESALQ, Piracicaba, SP,organizado por GAPE, ESALQ/USP, FEALQ e IPNI Brasil.

Dr. Snyder discorreu sobreos aspectos relacionados aos impactos ambientais de fontes de Nnos Estados Unidos, mas relevantes para outras partes do mun-do. Além de sua palestra, outras apresentações destacaram a efi-ciência das fontes de N para as culturas no Brasil.

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24 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

3. EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE FOSFATO NATURALREATIVO NA CULTURA DA SOJA

OLIVEIRA JUNIOR, A. de; PROCHNOW, L. I.; KLEPKER, D.Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 43, n. 5, p. 623-631, 2008.(http://www.scielo.br/pdf/pab/v43n5/a10v43n5.pdf)

O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência agronômicarelativa de uma fonte de fósforo na cultura de soja [Glycine max (L.)Merrill.]. O superfosfato triplo foi a fonte-padrão e o fosfato naturalreativo Arad foi a fonte testada, ambos aplicados em diferentesdoses, em área total ou no sulco de semeadura. Em outubro de 2004,o experimento foi instalado em Balsas, MA, em Latossolo Verme-lho-Amarelo distrófico, textura argilosa e baixa disponibilidade defósforo, conduzido com soja cultivar BRS Sambaíba por três safras(2004/2005 a 2006/2007); a terceira safra foi conduzida sob efeitoresidual das aplicações anteriores.

De forma geral, não foram observadas diferenças quantoà localização da fonte-padrão, ao passo que a localização dofosfato natural reativo Arad reduziu significativamente a efi-ciência. Quando aplicado a lanço, nos dois primeiros cultivos, ofosfato natural reativo Arad resultou em aproximadamente 76 %de eficiência agronômica relativa, o que demonstra média viabi-lidade agronômica. Sob efeito residual, a aplicação localizada dosuperfosfato triplo resultou em resposta semelhante à verificadacom a aplicação anual desta fonte; entretanto, o aumento na efi-ciência agronômica relativa foi mais acentuado quando ambas asfontes foram aplicadas a lanço.

DIVULGANDO A PESQUISA

1. ADUBAÇÃO NITROGENADA SUPLEMENTAR TARDIAEM SOJA CULTIVADA EM LATOSSOLOS DO CERRADO

MENDES, I. de C.; REIS JUNIOR, F. B. dos; HUNGRIA, M.;SOUSA, D. M. G. de; CAMPO, R. J. Pesquisa AgropecuáriaBrasileira, v. 43, n. 8, p. 1053-1060, 2008. (http://www.scielo.br/pdf/pab/v43n8/v43n8a15.pdf)

O objetivo deste trabalho foi avaliar se a adubação nitro-genada, nos estádios de pré-florescimento (R1) e início do enchi-mento de grãos (R5) interfere na produtividade e na nodulação dasoja. O estudo foi realizado por sete anos em Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso e por quatro anos em Latossolo Vermelho argi-loso, ambos com populações estabelecidas de Bradyrhizobium.Foram conduzidos 15 ensaios, em plantio direto ou convencio-nal, com os seguintes tratamentos: inoculação-padrão (IP) comB. japonicum; IP + 200 kg ha-1 de N (uréia) parcelados em 50% nasemeadura e 50% em R1; IP + 50 kg ha-1 de N (nitrato de amônio) emR1; IP + 50 kg ha-1 de N (sulfato de amônio) em R1; IP + 50 kg ha-1 deN (nitrato de amônio) em R5; e IP + 50 kg ha-1 de N (sulfato deamônio) em R5.

A aplicação de 200 kg ha-1 de N prejudicou a nodulação. Emapenas dois ensaios houve resposta à aplicação de N, no entanto,sem retorno econômico ao produtor. A adubação nitrogenada tar-dia, no cultivo da soja com inoculação, em latossolos do Cerrado,não se justifica economicamente, em nenhum dos sistemas de cul-tivo avaliados, independentemente da fonte de N utilizada.

2. YIELD PHYSIOLOGY OF DRY BEAN

FAGERIA, N. K.; SANTOS, A. B. Journal of Plant Nutrition,v. 31, p. 983-1004, 2008.

Dry bean (Phaseolus vulgaris L.) is an important food le-gume for the world population. However, its average yield is lowworldwide. The main reasons for low yield are biotic and abioticstresses. Maximum economic yield of a crop can be achieved withappropriate balance between plant and environmental factorsduring crop growth cycle. Adopting appropriate managementpractices in favor of high yields can modify some of these factors.Hence, knowledge of yield physiology of dry bean is importantfor understanding yield formation components during crop growthand development and consequently improving yield. Dry beangrowth cycle is divided into vegetative and reproductive growthstages. During vegetative stage, development of roots, trifoliate,node, and branches take place. Main features of reproductivegrowth stage are flowering, pod and grain formation. Importantplant traits associated with yield are root and shoot dry matteryield, pod number, 100 grain weight, leaf area index, grain harvestindex, and nitrogen harvest index. These plant traits are geneticallycontrolled and also influenced by soil and plant managementpractices. Higher yield is possible only when there is an adequatebalance among various physiological processes or yield components.

The objective of this review is to discuss growth anddevelopment of bean plant including yield formation process ortraits during crop growth cycle and importance of these yieldcomponents in determining yield.

4. DINÂMICA DO POTÁSSIO NOS RESÍDUOS VEGETAIS DEPLANTAS DE COBERTURA NO CERRADO

TORRES, J. L. R.; PEREIRA, M. G. Revista Brasileira de Ciênciado Solo, v. 32, n. 4, p. 1609-1618, 2008. (http://www.scielo.br/pdf/rbcs/v32n4/a25v32n4.pdf)

A produção de biomassa, a manutenção dos resíduos vege-tais sobre o solo e sua posterior decomposição são fatores de gran-de importância no estudo da ciclagem de nutrientes. Este estudo foidesenvolvido na área experimental do CEFET-Uberaba, MG, ondeforam avaliados oito tipos de coberturas vegetais: milheto(Pennisetum americanum sin. tiphoydes), braquiária (Brachiariabrizantha), sorgo-forrageiro (Sorghum bicolor L. Moench), guandu[Cajanus cajan (L.) Mill sp.], crotalária (Crotalarea juncea), aveia-preta (Avena strigosa Schreb), pousio e área em preparo conven-cional de solo (testemunha) em área de Cerrado, na região do Triân-gulo Mineiro. Avaliaram-se a fitomassa seca (FS), a decomposiçãodos resíduos em bolsas de decomposição e a liberação de K. Utili-zou-se um modelo matemático para descrever a decomposição dosresíduos e a liberação de K e calcularam-se a constante de decom-posição (k) e o tempo de meia-vida (T½).

O milheto, o sorgo e a crotalária foram as coberturas queapresentaram maiores produções de matéria seca. O maior acúmulode K ocorreu em gramíneas e a maior liberação de K ocorreu nomilheto, aveia, braquiária e crotalária nos primeiros 42 dias apósmanejo, nos dois períodos avaliados. A braquiária apresentou omenor T½ vida e a maior taxa de liberação de K.

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008 25

PAINEL AGRONÔMICO

DEDINI FAZ A USINA DO FUTURODEDINI FAZ A USINA DO FUTURODEDINI FAZ A USINA DO FUTURODEDINI FAZ A USINA DO FUTURODEDINI FAZ A USINA DO FUTURO

Para que o álcool extraído da cana ganhe os mercados inter-nacionais, todo o setor terá de exercitar, a cada dia, procedimentosmais sustentáveis e socialmente corretos. Nesse sentido, a usina dofuturo, totalmente sustentável, será uma exigência do mercado exter-no. O que talvez não se saiba é que essa grande máquina já existe eestá disponível para quem quiser pagar cerca de U$ 150 milhões porela. Ou seja, o mesmo custo de uma usina padrão. Pelo menos é o quegarante o vice-presidente da Dedini, maior empresa do mundo nosetor, José Carlos Olivério. Ele apresentou, em outubro último, umanova geração de usinas, totalmente voltadas para a redução de gas-tos e incremento de novos produtos.

Para uma usina de tamanho padrão, capaz de processar12 mil toneladas ao dia, eram necessários 720 milhões de litros deágua por mês. Hoje, a usina do futuro exporta para a sua própriautilização em outras áreas industriais cerca de 108 milhões de litrosde água por mês. "Sem necessitar retirar uma gota do abastecimen-to", diz Olivério. Ele explica que logo após ser descarregada, antesde ser moída, a cana passava por um processo de limpeza, a chama-da expurga. Nesse ponto eram utilizados 1 800 litros de água parafazer todo o trabalho. "Hoje conseguimos fazer a expurga usandooutros métodos, eliminando a captação de água inicial", explicaOlivério. O segundo passo, de acordo com o executivo, foi identi-ficar onde seria possível reter sobras de água que evaporavam dosistema. "E essa foi a melhor estratégia, porque conseguimosreaproveitar cerca de 300 litros de água por tonelada de cana,implementando novas etapas de produção", avalia.

Segundo explica o vice-presidente da Dedini, não seria sus-tentável implantar um novo patamar para o uso da água e esquecerde outras questões ligadas ao ambiente. No horizonte, portanto,dois problemas a serem solucionados: o que fazer com a vinhaça ecom as cinzas das caldeiras. A solução encontrada foi agregar valorao que era considerado praticamente um lixo industrial.

"Com o reaproveitamento da água a vinhaça ficou desidra-tada e concentrada", diz. Misturada com as cinzas formaram umfertilizante patenteado de 'Biofom'. "Com isso, a usina do futuroproduz quatro bioprodutos: bioetanol, bioenergia, biofertilizantes ebiodiesel", comenta. "No intervalo das lavouras de cana é costumeplantar soja e toda colheita é trocada nas tradings por óleo", expli-ca. Como o biodiesel é uma mistura de óleo com etanol, as novasusinas nascem preparadas para fabricar todos esses produtos. "Eainda tem gente que diz que a atividade não é sustentável", ponde-ra o executivo. (Dinheiro Rural, n. 46, 2008)

PROSPECÇÃO DE SAFRA VAI AUXILIAR O PRODUTORPROSPECÇÃO DE SAFRA VAI AUXILIAR O PRODUTORPROSPECÇÃO DE SAFRA VAI AUXILIAR O PRODUTORPROSPECÇÃO DE SAFRA VAI AUXILIAR O PRODUTORPROSPECÇÃO DE SAFRA VAI AUXILIAR O PRODUTOR

O produtor brasileiro já pode contar com informaçõesespecializadas e seguras para acompanhar o movimento dos merca-dos de grãos, leite e mandioca na safra atual. A Conab publicou nainternet (www.conab.gov.br) a prospecção para a safra 2008/09, quetraz análises de cada um desses produtos frente às oscilações dosmercados internos e externos.

O estudo, segundo o diretor de Logística e Gestão Empresa-rial da Estatal, Silvio Porto, mostra, por exemplo, que o produtornacional pode ser parcialmente compensado com a alta atual dodólar, em vista das perdas dos preços das commodities e da eleva-

SEM MILHO TRANSGÊNICO HÁ PERDA DESEM MILHO TRANSGÊNICO HÁ PERDA DESEM MILHO TRANSGÊNICO HÁ PERDA DESEM MILHO TRANSGÊNICO HÁ PERDA DESEM MILHO TRANSGÊNICO HÁ PERDA DER$ 180 MILHÕESR$ 180 MILHÕESR$ 180 MILHÕESR$ 180 MILHÕESR$ 180 MILHÕES

Os produtores de Mato Grosso deixam de ganhar anual-mente cerca de R$ 180 milhões por não utilizar a variedade transgênicade milho. O levantamento é da Associação Brasileira dos Produto-res de Sementes e Mudas (Abrasem). A Abrasem estima que MatoGrosso deixa de ganhar R$ 100,00 para cada hectare cultivado como uso da biotecnologia na cultura do milho e, conseqüentemente,menor utilização de agrotóxicos nas lavouras. Em todo o país, asperdas são estimadas em cerca de R$ 400 milhões por safra, consi-derando a participação de 50% da área plantada com o auxílio datransgenia. De acordo com estudos da Abrasem, o plantio detransgênicos, só em 2005, teria possibilitado a redução de emissãode mais de 9 milhões de toneladas de gases causadores do efeitoestufa, o que equivale à retirada de circulação de mais 4 milhões decarros por ano. “Além desses benefícios ao meio ambiente, conse-guiremos reduzir os custos de produção e melhorar a competiti-vidade do nosso produto no mercado externo”, frisa o gerente téc-nico da Aprosoja, Neri Ribas.

Segundo ele, Mato Grosso planta atualmente 1,8 milhão dehectares de milho por ano. Deste total, 1,3 milhão são de milhosafrinha. Ribas acredita que com a aprovação da transgenia para acultura do milho, os produtores terão mais uma opção para diver-sificar a sua atividade econômica e melhorar a renda. (http://www.iac.sp.gov.br/Centros/Graos_Fibras/Noticias/milhotrans.htm)

BIOGÁS DE ARROZBIOGÁS DE ARROZBIOGÁS DE ARROZBIOGÁS DE ARROZBIOGÁS DE ARROZ

Pesquisadores chineses da Universidade de TecnologiaQuímica, de Pequim, criaram um método ambiental e economica-mente eficiente de produção de biogás a partir da palha do arroz, umrejeito agrícola que causa poluição atmosférica ao ser queimado. Ospesquisadores descobriram uma forma de quebrar a celulose pre-sente na biomassa, algo que os métodos até então existentes nãofaziam com eficiência. Liderado pelo engenheiro ambiental Li Xiujin,o grupo superou esse problema submetendo a palha a um tratamen-to com uma pequena quantidade de uma solução alcalina contendo6% de hidróxido de sódio. Com isso, conseguiram elevar considera-velmente a degradação da palha em reatores de digestão anaeróbica,sem a presença de oxigênio. A pesquisa abre caminho para a China– maior produtor mundial de arroz, com sobra de 230 milhões detoneladas de palha do cereal – tornar-se um dos líderes mundiais nosetor de biocombustíveis, embora para isso ainda sejam necessári-os elevados investimentos em instalações industriais. (PesquisaFapesp, n. 149, julho 2008)

ção dos insumos agrícolas utilizados no início de safra. As informa-ções podem ajudar também no planejamento de plantio de algumasculturas que começam agora.

Para o coordenador do estudo e superintendente de Gestãoda Oferta, Carlos Eduardo Tavares, o trabalho é uma fonte de infor-mação que possibilitará o desenvolvimento de cenários por partede produtores, industriais e agentes da cadeia do agronegócio.“Fizemos uma análise da evolução dos preços, da produção nacio-nal e internacional e de outras avaliações sobre a evolução do mer-cado para cada produto”, explica.

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CURSOS, SIMPÓSIOS E OUTROS EVENTOS

2. CURSO A DISTÂNCIA DE ESPECIALIZAÇÃO EMAGRONEGÓCIO DA SOJA

Local: Pavilhão de Economia e Sociologia, ESALQ/USP,Piracicaba, SP

Data: JANEIRO/2009Informações: PECEGE - ESALQ/USP

Fone: (19) 3434-1333Website: www.pecege.esalq.usp.brE-mail: [email protected]

4. DIA DE CAMPO DE ARROZ 2009

Local: Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dosAgronegócios do Vale do Paraíba, Rodovia Presiden-te Dutra (BR 116) km 97,5, Pindamonhangaba, SP

Data: 12/FEVEREIRO/2009Informações: Instituto Agronômico

Fone: (19) 3231-5422Website: www.iac.sp.gov.br

3. X SIMPÓSIO DA CULTURA DO FEIJÃO IRRIGADO

Local: Anfiteatro de Engenharia, ESALQ, Piracicaba, SPData: 3 a 5/FEVEREIRO/2009Informações: FEALQ - Maria Eugênia

Fone: (19) 3417-6604Email: [email protected]

1. WORKSHOP SOBRE FEIJÃO GUANDU NAAGRICULTURA FAMILIAR

Local: Auditório da Embrapa Semi-Árido, Petrolina, PEData: 09/JANEIRO/2009Informações: Dr. Francisco Pinheiro de Araújo/Dr. Guedes

Fone: (87) 3862-1711Website: www.cpatsa.embrapa.brE-mail: [email protected]

EVENTO DO IPNI EM 2009EVENTO DO IPNI EM 2009EVENTO DO IPNI EM 2009EVENTO DO IPNI EM 2009EVENTO DO IPNI EM 2009 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

SIMPÓSIO SOBRE BOAS PRÁTICAS PARA O USO EFICIENTESIMPÓSIO SOBRE BOAS PRÁTICAS PARA O USO EFICIENTESIMPÓSIO SOBRE BOAS PRÁTICAS PARA O USO EFICIENTESIMPÓSIO SOBRE BOAS PRÁTICAS PARA O USO EFICIENTESIMPÓSIO SOBRE BOAS PRÁTICAS PARA O USO EFICIENTEDE FERTILIZANTES (BPFs)DE FERTILIZANTES (BPFs)DE FERTILIZANTES (BPFs)DE FERTILIZANTES (BPFs)DE FERTILIZANTES (BPFs)

Local: Piracicaba, SPData: 28 a 30/SETEMBRO/2009Informações: IPNI BrasilFone: (19) 3433-3254

Website: www.ipni.org.brEmail: [email protected]

Painéis:

1. BPFs: aspectos gerais e situação mundial

2. Manejo de nutrientes relacionado às BPFs

3. Manejo das culturas relacionado às BPFs

OUTROS EVENTOSOUTROS EVENTOSOUTROS EVENTOSOUTROS EVENTOSOUTROS EVENTOS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

8. XVI INTERNATIONAL PLANT NUTRITIONCOLLOQUIUM - XVI IPNC 2009

Local: Sacramento Convention Center, California, EUAData: 26-30/AGOSTO/2009Informações:Dr. Patrick Brown

Website: ipnc.ucdavis.eduEmail: [email protected]

7. 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA (V CBSOJA) MERCOSOJA 2009

Local: Goiânia, GOData: 19 a 22/MAIO/ 2009Informações: F&B Eventos e Comunicação

Email: [email protected]: www.cbsoja.com.br

6. VIII CURSO A DISTÂNCIA: TÓPICOS DA CULTURADA CANA-DE-AÇÚCAR

Local: Internet e aulas presenciais em Ribeirão Preto, SPData: Início: 16/MARÇO/2009 a 15/JUNHO/2009Informações: Instituto Agronômico de Campinas

Website: www.iac.brEmail: [email protected]

5. CURSO EXTENSIVO DE PRODUÇÃO DE ÁGUA E DERECUPERAÇÃO E PRESERVAÇÃO DE NASCENTESPARA O SETOR SUCROALCOOLEIRO

Local: Campinas, SPInício: 16 a 19/FEVEREIRO/2009Informações: Instituto Agronômico de Campinas/FundAg

Fone: (19) 3231-5422Website: www.infobibos.com/nascentescana

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PUBLICAÇÕES RECENTES

4. PEDOLOGIA APLICADA - 3a edição

Autor: João Bertoldo de Oliveira; 2008.Conteúdo: Fatores e processos de formação do solo; o solo;

atributos diagnósticos; outros atributos; horizontesdiagnósticos; horizontes diagnósticos de superfície;interpretação de mapas pedológicos para fins não-agrícolas; classes de solos do Brasil e suas princi-pais implicações agrícolas e não-agrícolas; sistemabrasileiro de classificação de solos.

Preço: R$ 60,00Número de páginas: 592Pedidos: FEALQ

Email: [email protected]: www.fealq.org.br

1. FERTILIZING FOR HIGH YIELD AND QUALITY:TROPICAL FRUITS OF BRAZIL(IPI. Bulletin 18)

Editor: A. E. Johnston; 2007.Conteúdo: O livro aborda o cultivo, a nutrição mineral e a aduba-

ção de 11 frutíferas perenes tropicais: acerola, bana-na, caju, citros, coco, goiaba, manga, papaia, maracu-já, abacaxi e graviola. Embora grande parte da infor-mação seja proveniente do Brasil, um dos principaisprodutores mundiais de frutas tropicais, também exis-tem referências cruzadas de outros sistemas de pro-dução em climas tropicais. Cada capítulo contém umbreve panorama da geografia da área onde a fruta écultivada, as características do clima e do solo e asrecomendações para a preparação e melhoria do solo.A função de cada nutriente para cada fruto é discuti-da, bem como é dada uma descrição dos sintomasvisíveis causados por sua deficiência. Os autores des-tacam as diversas práticas de fertilização para as vá-rias fases de desenvolvimento da planta, do viveiro àprodução, com especial atenção para a irrigação (in-cluindo a fertirrigação).

Preço: US$ 14,00 (Idioma: inglês)Número de páginas: 233Pedidos: International Potash Institute - IPI

Website: www.ipipotash.org/publications/detail.php?i=245

3. MICROBIOTA DO SOLO E QUALIDADE AMBIENTAL

Autores: Silveira, A. P. D.; Freitas, S. S.; 2007/2008.Conteúdo: Rizobactérias promotoras do crescimento de plantas;

a microbiota do solo na agricultura orgânica e manejodas culturas; micorrizas arbusculares em plantas tro-picais: café, mandioca e cana-de-açúcar; micorrizasarbusculares em plantas frutíferas tropicais; a rizos-fera e seus efeitos na comunidade microbiana e nanutrição de plantas; bactérias diazotróficas associa-das a plantas não-leguminosas; biologia moleculardo desenvolvimento de micorrizas arbusculares; em-prego de técnicas moleculares na taxonomia e em es-tudos sobre ecologia e diversidade de fungosmicorrízicos arbusculares; biologia molecular da fixa-ção biológica do nitrogênio; diversidade e taxonomiade rizóbios; quantificação microbiana da qualidadedo solo; micorrizas arbusculares e metais pesados;interações microbianas e controle de fitopatógenosna rizosfera; microbiota do solo como indicadora dapoluição do solo e do ambiente; uso de resíduos naagricultura e qualidade ambiental; indicadores micro-biológicos e padrões de qualidade da água.

Número de páginas: 317Endereço para aquisição gratuita na website: www.iac.sp.gov.br/BTonline/Publiconline.asp (e-book)

2. ADUBAÇÃO NITROGENADA DE HORTALIÇAS – Princípiose práticas com o tomateiro

Autores: Paulo Cezar Rezende Fontes, Charles Araujo; 2007.Conteúdo: Este livro aborda os principais aspectos relacionados

com o manejo preciso da adubação, bem como trazinformações e bibliografia que possibilitam práticasmais eficientes de manejo do fertilizante nitrogenadonas culturas. Quando necessário, foram mescladasinformações básicas e aplicadas, alicerçadas na ex-periência dos autores e em dados de literatura recen-te. São 16 capítulos, que enfocam, por exemplo, nitro-gênio no solo e na planta, quantidade adequada a seraplicada no solo, conteúdo de nitrogênio disponível,modelos matemáticos, estado nutricional nitroge-nado, características agronômicas da planta, freqüên-cia de aplicação e eficiência de uso de fertilizantenitrogenado, bem como metodologias para determi-nar o teor de nitrato no solo e o estado nutricionalnitrogenado da planta, utilizando-se o clorofilômetroportátil (SPAD). Trata-se, portanto, de um guia indis-pensável a extensionistas, estudantes, produtores edemais profissionais envolvidos com tomada de de-cisão no manejo de adubação nitrogenada de cultu-ras, especialmente do tomateiro.

Número de páginas: 148Preço: R$ 20,00Pedidos: Editora UFV

Webmail: www.livraria.ufv.br

5. NOVO MANUAL DE OLERICULTURA – Agrotecnologia mo-derna na produção e comercialização de hortaliças

Autores: Fernando Antonio Reis Filgueira; 2008.Conteúdo: O livro enfoca a olericultura comercial tal como prati-

cada nas condições agroecologicas e agrotecnoló-gicas do Centro-Sul, faixa abrangida pelos paralelosde 15 e 24o de latitude Sul. Também poderá ser utiliza-do em outras regiões brasileiras, efetuando-se as ne-cessárias adaptações. O texto é objetivo e pragmáti-co, visando menos ao aspecto científico e mais aoenfoque técnico dos assuntos abordados.

Número de páginas: 421Preço: R$ 89,10Pedidos: Editora UFV

Webmail: www.livraria.ufv.br

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28 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 124 – DEZEMBRO/2008

• Agrium Inc.• Arab Fertilizer Association• Arab Potash Company• Belarusian Potash Company• Bunge Fertilizantes S.A.• Canadian Fertilizer Institute• CF Industries Holding, Inc.

• Incitec Pivot• International Fertilizer Industry Association• International Potash Institute• Intrepid Mining, LLC.• K+S KALI GmbH• Mosaic Company• Office Chérifien des Phosphates Group

MEMBROS DO IPNI

INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTERua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center - sala 701 - Fone/Fax: (19) 3433-3254

Endereço Postal: Caixa Postal 400 - CEP 13400-970 - Piracicaba (SP) - Brasil

LUÍS IGNÁCIO PROCHNOW - Diretor, Engo Agro, Doutor em AgronomiaE-mail: [email protected] Website: www.ipni.org.br

Ponto de Vista

• PotashCorp• Saskferco• Simplot• Sinofert Holdings Limited• SQM• Terra Industries, Inc.• The Fertilizer Institute• Uralkali

ImpressoEspecial

1.74.18.0217-0 - DR/SPI

IPNI

DEVOLUÇÃO

CORREIOS

Oano de 2008 foi instável em vários aspectos, in-cluindo aqueles relacionados à agricultura. Os pre-ços dos insumos e dos produtos agrícolas oscila-

ram significativamente e houve atenção inusitada da mídia para adiscussão acerca da produção de alimentos versus produção debiocombustíveis, e ainda para a escassez de alimentos no mundo.Com o início, e continuação, da crise financeira mundial ao longodo último trimestre do ano, as atenções se voltaram para os aspec-tos econômicos, em detrimento das questões agrícolas. Os preçosdos produtos em geral diminuíram e o problema da segurança ali-mentar foi praticamente esquecido.

É preciso observar, no entanto, que, embora boas safrasmundiais tenham sido obtidas nos últimos dois anos, o estoque degrãos continua baixo, sendo, inclusive, o menor dos últimos 45 anos,atendendo apenas 16% da necessidade mundial anual. Os comen-tários e a ênfase somente na crise financeira mundial não solucio-nam absolutamente a questão da segurança alimentar. Questões dotipo: (1) como vamos conseguir dobrar a produção de alimentosnos próximos 50 anos sem danificar o solo ou o ambiente em geral?e (2) como vamos preservar ou aumentar a fertilidade dos nossossolos diante da tendência de aumento dos custos e da escassez denutrientes? continuam a merecer a atenção de todos os que sepreocupam com o futuro de forma responsável.

A necessidade por nutrientes das plantas independe dequalquer crise financeira. O homem necessita de alimentos, fibrae, mais recentemente, de biocombustíveis, os quais dependem

CRISE FINANCEIRA E SEGURANÇA ALIMENTARCRISE FINANCEIRA E SEGURANÇA ALIMENTARCRISE FINANCEIRA E SEGURANÇA ALIMENTARCRISE FINANCEIRA E SEGURANÇA ALIMENTARCRISE FINANCEIRA E SEGURANÇA ALIMENTAR

das plantas que, por sua vez, necessitam de nutrientes. O IPNItem o compromisso de, independentemente de outros aspectos,lutar para que os nutrientes das plantas sejam fornecidos e utili-zados de forma adequada. E isto é feito de forma constante, poisconsideramos que se trata de condição básica para a produçãonecessária de alimentos, em ambiente sustentável, em um mundocom população crescente e cada vez mais ansiosa por um nível devida adequado. Fazemos isto independente de crises diversas.Fazemos isto no sentido de colaborar para que a segurança ali-mentar seja assegurada e não seja assunto de destaque negati-vo da imprensa no futuro. As nossas atividades de pesquisa eos nossos programas educacionais são permanentes. Enquantoa questão da segurança alimentar desapareceu de jornais e re-vistas e da visão do público em geral, ela continua a ser um dosfocos principais do IPNI em cada um dos programas das diver-sas regiões do mundo onde tem a oportunidade de atuar. Esta éa nossa missão.

Em consonância com este assunto, nós, do IPNI Brasil,temos duas expectativas principais em 2009. A primeira, específica eprofissional, é de um ano de grandes avanços no manejo adequadodos nutrientes das plantas sob os aspectos agronômicos e am-bientais. Neste sentido, estaremos, inclusive, entre outras ativida-des, organizando um simpósio e um livro no segundo semestre. Asegunda, geral, é de grande torcida e desejo para muita felicidade epaz aos nossos leitores. Que o ano de 2009 venha acompanhado detudo de bom para todas as pessoas de bem.

Luís Ignácio Prochnow

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