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ANO 6 NÚMERO 73 AGOSTO DE 2018 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO EXPEDIENTE Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 www.pucminas.br/Paginas/conjuntura-economica.aspx | [email protected] 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS No início do ano, ao tomar a decisão de enviar as tropas do exército para o Rio de Janeiro, o governo Temer começou seu processo de limpar as gavetas numa clara demonstração de que não se poderia esperar nada de importante por parte dele em todas as áreas nas quais atua, sobretudo na econômica. A falta de políticas de governo, falta de credibilidade popular, frequentes acusações de conduta antiética da cúpula governante associadas à greve dos caminhoneiros no final do primeiro semestre do ano, só poderia terminar num resultado pouco animador em relação ao desempenho da economia brasileira. O desempenho econômico observado até o primeiro semestre de 2018 tem frustrado a expectativa de uma taxa de crescimento necessária à geração de empregos, salários e rendas, oriundas do trabalho que, além de minimizar o grave problema do desemprego, abriria perspectivas de melhorias nas finanças públicas através da arrecadação tributária originária diretamente das atividades econômicas. Após um período de desaceleração e até recessão as economias emergentes apresentam, a partir de 2017, um processo de recuperação, com exceção da índia, que sofreu impacto negativo da reforma monetária implementada pelo governo, mas que se recupera em 2018. f 2 - DESEMPENHO DO PIB NO SEGUNDO TRIMESTRE DE 2018 . Flávio Riani Pela metodologia de apuração de crescimento do PIB existem quatro formas tradicionais de se mensurar o seu desempenho. As mais “relevantes” referem-se às apurações do trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior e do acumulado do ano em relação ao mesmo período do ano anterior. O gráfico 1 destaca o crescimento do PIB no Brasil do trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior. Pela trajetória destacada no referido gráfico percebe-se o fraco desempenho ocorrido ao longo do tempo, sobretudo nos períodos após o primeiro trimestre de 2015. O resultado do terceiro trimestre de 2018 comparado ao trimestre imediatamente anterior apresentou uma taxa próxima a zero e numa trajetória decrescente de períodos anteriores também já com resultados frustrantes.

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ANO 6 – NÚMERO 73 – AGOSTO DE 2018 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO

– EXPEDIENTE – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 www.pucminas.br/Paginas/conjuntura-economica.aspx | [email protected]

1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS No início do ano, ao tomar a decisão de enviar as tropas do exército para o Rio de Janeiro, o governo Temer começou seu processo de limpar as gavetas numa clara demonstração de que não se poderia esperar nada de importante por parte dele em todas as áreas nas quais atua, sobretudo na econômica. A falta de políticas de governo, falta de credibilidade popular, frequentes acusações de conduta antiética da cúpula governante associadas à greve dos caminhoneiros no final do primeiro semestre do ano, só poderia terminar num resultado pouco animador em relação ao desempenho da economia brasileira. O desempenho econômico observado até o primeiro semestre de 2018 tem frustrado a expectativa de uma taxa de crescimento necessária à geração de empregos, salários e rendas, oriundas do trabalho que, além de minimizar o grave problema do desemprego, abriria perspectivas de melhorias nas finanças públicas através da arrecadação tributária originária diretamente das atividades econômicas. Após um período de desaceleração e até recessão as economias emergentes apresentam, a partir de 2017, um processo de recuperação, com exceção da índia, que sofreu impacto negativo da reforma monetária implementada pelo governo, mas que se recupera em 2018.

f

2 - DESEMPENHO DO PIB NO SEGUNDO TRIMESTRE DE 2018

. Flávio Riani

Pela metodologia de apuração de crescimento do PIB existem quatro formas tradicionais de se mensurar o seu desempenho. As mais “relevantes” referem-se às apurações do trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior e do acumulado do ano em relação ao mesmo período do ano anterior. O gráfico 1 destaca o crescimento do PIB no Brasil do trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior. Pela trajetória destacada no referido gráfico percebe-se o fraco desempenho ocorrido ao longo do tempo, sobretudo nos períodos após o primeiro trimestre de 2015.

O resultado do terceiro trimestre de 2018 comparado ao trimestre imediatamente anterior apresentou uma taxa próxima a zero e numa trajetória decrescente de períodos anteriores também já com resultados frustrantes.

Gráfico 1

Fonte: IBGE Os dados relativos ao acumulado do ano em relação ao mesmo período do ano anterior estão destacados no gráfico 2. Os resultados apresentados mostram, nos casos dos 4ºs trimestres, o percentual anual apurado no período. Diferentemente dos dados anteriores, as informações destacadas nesse gráfico apresentam variações com taxas mais elevadas tanto nos períodos de crescimento quanto de queda. Vale destacar as informações dos últimos dados acumulados até junho de 2018 que, quando comparadas ao do mesmo período do ano anterior, revelam um crescimento de 1,1% também bem abaixo das expectativas. Tal fato gerou um desânimo ainda maior nos agentes econômicos na medida em que, com esse resultado, diminuiu a possibilidade de se atingir níveis de crescimento superiores a 2,5% para 2018 , como era esperado pelos analistas econômicos no início do ano. Gráfico 2

As taxas de crescimento do PIB brasileiro nos últimos 5 trimestres pelas diversas metodologias de cálculos estão expostas na tabela 1.

Tabela 1 - Taxas de crescimento real do PIB - Brasil

Os valores que compõem a tabela 1 mostram resultados um pouco melhores e crescentes nos trimestres em destaque. Porém, revelam também a dificuldade que o país vem enfrentando para alcançar maiores taxas de crescimento compatíveis com a demanda que o país tem, sobretudo no combate ao alto nível de desemprego. 3 - PIB BRASILEIRO PELA ÓTICA DA DEMANDA Dados referentes ao crescimento do PIB do Brasil em 2018, pela ótica da demanda, apurados no 2º trimestre de 2018 estão apresentados na tabela 2 .

Tabela 1 - Taxa de Crescimento do PIB

Brasil - Ótica da Demanda

Segmentos 2º Trimestre 2018 Acum.2018

1º Trimestre 2018 Acum.2017

Consumo das Famílias 0,1 2,3

Consumo do Governo 0,5 -0,3

Formação Bruta de Capital Fixo -1,8 3,6

Exportações -5,5 1,3

Importações -2,1 7,3

Fonte: IBGE

Períodos

As taxas das variações referem-se aos dois métodos de apuração: um do trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior e o outro pelo valor acumulado nos dois primeiros trimestres de 2018 em relação ao mesmo período do ano anterior. As taxas correspondentes aos valores acumulados mostram que dois segmentos importantes, Formação Bruta de Capital Fixo e as Importações podem gerar algum efeito positivo nos períodos posteriores. Isto porque com os investimentos feitos no país pode-se esperar alguma repercussão positiva em termos da elevação da produção, porém num patamar ainda muito baixo. Fato similar pode acontecer com a elevação das importações, naqueles itens referentes à aquisição de bens de capital.

2,3

-0,3

3,6

1,3

7,3

-1012345678

Consumo dasFamílias

Consumo doGoverno

FormaçãoBruta de

Capital Fixo

Exportações Importações

Gráfico 3 - PIB - Ótica da DemandaBrasil 2º Trimestre 2018

Vale verificar que o consumo do governo apresentou queda no período. Tal fato evidencia as dificuldades financeiras por ele enfrentadas que, na tentativa de diminuir o déficit público, vem reduzindo despesas em áreas estratégicas que demandam atuação mais forte do governo que são a saúde, educação, segurança, etc. 4 - PIB PELA ÓTICA DA OFERTA A apuração das taxas de variação no PIB, pela ótica da oferta, relativas ao segundo trimestre de 2018 estão apresentadas na tabela 3. Também nessa tabela os dados referem-se a variações ocorridas no trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior e no acumulado no ano de 2018 nos dois primeiros trimestres em relação ao mesmo período no ano anterior.

Tabela 3 - Taxa de Crescimento do PIB

Brasil - Ótica da Oferta

Segmentos 2º Trimestre 2018 Acum.2018

1º Trimestre 2018 Acum.2017

Agropecuária 0 -1,6

Indústria -0,6 1,4

Serviços 0,3 1,4

Fonte: IBGE

Períodos

A agropecuária, seguindo sua sazonalidade, apresenta nesse ano, até o primeiro semestre, taxa negativa de 1,6%. Por outro lado, a indústria e o setor de serviços apresentaram no mesmo período taxas de crescimento iguais de 1,4%, apesar de terem tido no trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior uma taxa negativa no caso da indústria (-0,6) e um crescimento de apenas 0,3% no caso dos serviços. Tais resultados explicam o baixo desempenho da economia brasileira no que se refere à geração de produtos e rendas, capazes de reduzirem o nível de desemprego no país e de gerar renda que dinamize as relações econômicas através do consumo de bens e serviços.

-2-1,5

-1-0,5

00,5

11,5

2

Agropecuária Indústria Serviços

Gráfico 4 - PIB Ótica da OfertaBrasil - 2º Trimestre de 2018

Fontre: IBGE

3 - A ECONOMIA DOS EMERGENTES

Prof. Ricardo F. Rabelo

Após um período de desaceleração e até recessão as economias emergentes apresentam, a partir de 2017, um processo de recuperação, com exceção da índia, que sofreu impacto negativo da reforma monetária implementada pelo governo, mas que se recupera em 2018. A seguir apresentamos uma síntese desse processo.

3.1 - DESEMPENHO DA ECONOMIA CHINESA –EM 2017-18

A economia chinesa cresceu 6,9% em 2017, dando sinais de uma conjuntura mais favorável. Essa é a primeira vez desde 2010 que o crescimento da economia chinesa, acelera em relação ao ano anterior. A expansão da economia chinesa em 2017 pode ser explicada pelo crescimento do setor de infraestrutura, investimentos no mercado imobiliário e a ampliação do crédito ao consumo, que permitiu estimular a economia. O governo realizou uma grande redução dos investimentos na indústria, adotou medidas de austeridade viabilizando o pagamento das dívidas públicas e privadas do país - que ultrapassam 250% do PIB – e fez restrições ao setor imobiliário para evitar que seus preços subissem demais nas grandes cidades.

Gráfico 5

Desempenho Recente da Economia

Chinesa

Fonte: FMI

Devido à campanha contra a poluição, o governo determinou a redução das atividades industriais ou mesmo o fim do funcionamento de empresas do norte do país para tentar melhorar a qualidade do ar na China. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 6,7% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, um pouco abaixo dos 6,8% do primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês) do governo chinês. Para o primeiro semestre de 2018, o PIB avançou 6,8% em relação ao mesmo período de 2017. O PIB cresceu 1,8% quando comparado o segundo trimestre deste ano com o trimestre imediatamente anterior. Os indícios de uma desaceleração vêm se repetindo nos últimos meses, com a redução dos investimentos em indústrias e infraestrutura. Grande parte da redução foi atribuída à iniciativa do governo conter o crédito, o que dificultou a obtenção de recursos de parte das empresas.

Uma crescente guerra comercial com os Estados Unidos é uma ameaça à redução ainda maior dd crescimento nos próximos meses. Isso fez com que o Governo da China mudasse a orientação da política econômica para o estímulo à expansão da economia. 3.2 - RÚSSIA – O FIM DA RECESSÃO EM 2017

A economia russa voltou apresentar crescimento em 2017, após dois anos de recessão, mas a expansão ficou abaixo da meta do governo, segundo dados da agência oficial de estatísticas. O Produto Interno Bruto (PIB) subiu 1,5% em 2017, após recuar 2,8% em 2015 e 0,2% em 2016. O governo esperava um crescimento de 2%. Entretanto, o final de 2017 foi caracterizado por uma desaceleração, especialmente na produção industrial. A expansão de 2017 significa o fim da recessão de 2015 e 2016, que foi provocada por uma queda nos preços do petróleo em 2014, bem como por sanções internacionais impostas devido ao conflito entre Rússia e União Européia na Ucrânia. O crescimento de 2017 é restrito em comparação com o crescimento de mais de 7% – devido ao aumento dos preços do petróleo -- no período de 2000 a 2008.

3.3 -PIB DA RÚSSIA NO 1º TRIMESTRE DE 2018,: A RECUPERAÇÃO

O Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia cresceu 1,3% no primeiro trimestre de 2018 em relação a igual período do ano passado, segundo dados da agência oficial de estatísticas do país - a Rosstat. O resultado ficou abaixo das previsões que apontavam alta de 1,8% no período. Os dados mostram, no entanto, que a economia russa está se recuperando da desaceleração vista no último trimestre de 2017, quando seu PIB teve expansão anual de 0,9%.

Gráfico 6

Fonte: FMI

3.4 - ÍNDIA EM 2017: A DESACELERAÇÃO

O governo neoliberal de Narendra Modi decretou há três meses que deixavam de ter valor legal as notas de 500 e 1.000 rúpias (6,5 – 13 euros, 7 – 14 dólares), que eram os de maior valor e que representavam 86% do dinheiro líquido em circulação. Essa medida que foi criticada por muitos economistas, tinha como objetivo lutar contra a evasão fiscal e reduzir a informalidade do setor bancário. Outro resultado imediato foi o pânico bancário, o que provocou uma crise de liquidez, e uma forte desaceleração do nível de consumo no país. Em suas últimas previsões, o Fundo Monetário internacional (FMI) diminuiu em um ponto percentual sua previsão de crescimento para Índia em 2016-17 para 6,6%, contra 7,6% previsto anteriormente. A previsão do Governo Indiano é de que a economia cresça 6,5% . A desaceleração deste ano é atribuída, além das medidas monetárias do governo, a uma queda nos setores de agricultura e indústria.

3.5 - ÍNDIA EM 2018: VOLTA DO CRESCIMENTO

O Produto Interno Bruto (PIB) da Índia cresceu 7,7% no trimestre até março de

2018, na comparação com igual período do ano anterior, de acordo com dados oficiais. O resultado foi puxado pela maior força dos setores de construção e de serviços, o que fez o PIB superar a previsão de alta de 7,4%. No último trimestre de 2017, o crescimento havia sido de 7,0% na comparação anual. O novo resultado aponta para uma aceleração na economia indiana. No ano fiscal até março, o avanço foi de 6,7%. O fortalecimento dos indicadores mais recentes sugere que já se dissiparam os efeitos negativos da reforma monetária do governo do premiê Narendra Modi e também a implementação de um novo imposto sobre bens e serviços, em julho.