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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING PROJETO DE GRADUAÇÃO INTERNACIONAL PLANO MONOGRAFICO ALINE RUSSO CARNEIRO BORGES JULIA GONZAGA CLEMENTE MARINA FAJARDO MARMO DIPLOMACIA CULTURAL E ANO DO BRASIL NA FRANÇA São Paulo 2012-2

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

PROJETO DE GRADUAÇÃO INTERNACIONAL

PLANO MONOGRAFICO

ALINE RUSSO CARNEIRO BORGES

JULIA GONZAGA CLEMENTE

MARINA FAJARDO MARMO

DIPLOMACIA CULTURAL E ANO DO BRASIL NA FRANÇA

São Paulo

2012-2

ALINE RUSSO CARNEIRO BORGES

JULIA GONZAGA CLEMENTE

MARINA FAJARDO MARMO

DIPLOMACIA CULTURAL E ANO DO BRASIL NA FRANÇA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito para

obtenção do título de Bacharel de

Relações Internacionais com Ênfase em

Marketing e Negócios pela Escola

Superior de Propaganda e Marketing –

ESPM.

Professor Orientador: Geraldo Campos

São Paulo

2012

Diplomacia cultural e ano do Brasil na França / Aline Russo Carneiro Borges,

Marina Fajardo Marmo, Julia Gonzaga Clemente. - 2012

100 p. : color.

Trabalho de Conclusão de Curso (bacharelado) - Escola Superior de Propaganda e

Marketing, São Paulo, SP, 2012

Relações Internacionais – Projeto de Graduação Internacional (PGI)

Orientador: Geraldo Campos

1. Cultura 2. Soft power 3. Diplomacia cultural 4. Ano do Brasil na França. I.

Título. II. Borges, Aline Russo Carneiro. III. Marmo, Marina Fajardo. IV.

Clemente, Julia Gonzaga. V. Campos, Geraldo. VI. Escola Superior de Propaganda

e Marketing.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 1

2 CULTURA E IDENTIDADE CULTURAL............................................. 3

2.1 A NOÇÃO DE CULTURA....................................................................... 3

2.2 IDENTIDADE CULTURAL..................................................................... 11

2.3 O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO .................................................. 15

3 SOFT POWER E HARD POWER ............................................................. 19

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DE PODER..................................................... 19

3.2 HARD POWER e SOFT POWER NA VISAO DE JOSEPH NYE.......... 20

3. 3 CULTURA COMO SOFT POWER......................................................... 26

4 DIPLOMACIA CULTURAL..................................................................... 27

4.1 DEFINIÇÕES............................................................................................. 27

4.2 O ESTADO E A DIPLOMACIA CULTURAL......................................... 29

4.3 A EXPERIÊNCIA FRANCESA................................................................. 32

4.4 O PODER DA DIPLOMACIA CULTURAL............................................. 37

5 DIPLOMACIA CULTURAL NO CONTEXTO BRASILEIRO............. 43

5.1 O ANO DO BRASIL NA FRANÇA........................................................... 52

6 CONCLUSÃO............................................................................................... 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 68

APÊNDICES.............................................................................................. 75

APÊNDICE A.................................................................................................... 75

ANEXOS ................................................................................................... 86

ANEXO A.......................................................................................................... 86

ANEXO B.......................................................................................................... 87

RESUMO

Este projeto monográfico de graduação Internacional tem como principal objetivo

discutir o uso da diplomacia cultural pelo Estado brasileiro como forma de Soft power. O

trabalho se propõe a discutir teoricamente os conceitos de Cultura, Identidade Cultural,

Diplomacia e Soft power, para em seguida, realizar um estudo de caso, sobre o Ano do Brasil

na França, 2005. Serão investigadas as ferramentas usadas pelo Estado brasileiro para a

realização do evento e os impactos na relação entre os dois países. A monografia visa,

principalmente analisar formas pelas quais a cultura pode ser usada como uma forma de

disseminação de poder e promoção da imagem de um país perante outro.

Palavras-chave: Cultura, Soft power, Diplomacia Cultural, Ano do Brasil na França.

ABSTRACT

This monographic project for under graduation in International Affairs has as its main

objective to discuss the use of cultural diplomacy by Brazil as a form of Soft power. The

paper aims to discuss theoretically the concepts of Culture, Cultural Identity, Diplomacy and

Soft power, to then conduct a case study on the Year of Brazil in France, 2005. The tools used

by the Brazilian state to the event and the impacts on the relationship between the two

countries will be investigated. This monographic project is principally examining ways in

which culture can be used as a means of dissemination of power and promotion of the image

of a country to another.

Keywords: Culture, Soft power, Cultural Diplomacy, Year of Brazil in France.

1

1 INTRODUÇÃO

Tendo em vista as diferentes formas de representação da cultura brasileira, este

Projeto de Graduação Internacional visa estudar especificamente as representações artísticas

que estiveram presentes no ano do Brasil na França como meio de transmitir uma mensagem

àqueles que, em contato com a arte, passam cada um à sua maneira a compreender não só a

obra, como a situação vivenciada neste país e com isso são capazes de moldar sua imagem

deste imenso e diverso território nacional, rico em paisagens naturais, danças, festas

populares, culinária, artesanato, línguas e povos. Assim, a questão-problema a ser

desenvolvida ao longo desta monografia é “Qual o papel do Estado brasileiro na promoção da

diplomacia cultural no Ano do Brasil na França?”

Neste trabalho de conclusão de curso, o estudo da diplomacia cultural não irá

abordar a discussão sobre a identidade brasileira, somente o estudo desta forma de diplomacia

no campo das Relações Internacionais, excluindo assim, a discussão sobre a brasilidade e seus

principais representantes.

A escolha do tema de estudo deste trabalho se mostra atual no debate sobre as

formas de condução de poder adotadas pelos Estados modernos, no qual a diplomacia cultural

aparece como uma importante ferramenta na consolidação da imagem de um país e de suas

relações com outros Estados. Neste sentido, o conceito de soft power aparece como apelo

cultural e ideológico de um país, utilizando a atração como meio de atingir os resultados

desejados. Se um país pode tornar a sua posição atraente aos olhos dos outros e fortalecer as

instituições internacionais que incentivem outros Estados a definir os seus interesses, de

maneira compatível, ele pode não precisar gastar tanto em tradicionais recursos econômicos

ou militares. Posto isso, utilizaremos o estudo de caso do Ano do Brasil na França para

analisar as aplicações da diplomacia cultural de ambos os países neste cenário, o qual irá

ilustrar a discussão sobre o poder da cultura na atualidade.

O ano do Brasil na França foi escolhido como estudo de caso para este projeto,

pois, além de ter sido um evento de grande porte, mobilizando mais de dois milhões de

franceses, teve importância significativa no âmbito cultural, acadêmico e econômico para os

dois países, aprofundando as relações bilaterais. Além disso, com base neste evento é possível

também realizar comparações com o ano da França no Brasil, ajudando qualitativamente a

medir os resultados deste soft power brasileiro.

Este projeto de monografia irá estudar a cultura como uma das formas de

disseminação de poder, analisando a capacidade de um país influenciar nas relações

2

internacionais e ainda, intensificar suas trocas comerciais, através da influência e sedução da

cultura, como artes plásticas, filmes, música e moda, por exemplo.

Neste trabalho realizamos a coleta de dados através de pesquisa bibliográfica:

artigos, livros, sítios eletrônicos e teses acadêmicas. Vale ressaltar que a principal fonte de

informação, o site oficial do evento, estava fora do ar, o que prejudicou a pesquisa. Além

disso, entrevistamos o ex-embaixador do Brasil na França, Sérgio Amaral, que participou da

organização do Ano do Brasil na França, o que nos permitiu ter uma visão mais próxima e

aprofundada sobre o tema.

Em relação aos principais conceitos estudados neste projeto, pode-se destacar:

diplomacia cultural, soft power , cultura e identidade. Isto permitiu uma reflexão do grupo em

relação ao tema abordado, assim como uma melhor compreensão das estratégias de ambos os

governos na execução deste evento. Este texto faz o diálogo entre campos teóricos distintos:

social, antropológico e das Relações Internacionais, o que permitiu uma maior amplitude de

visões sobre o tema, assim como uma discussão teórica mais rica, sem se prender a apenas

uma corrente teórica.

Este trabalho está dividido em 5 capítulos. O primeiro abordará os conceitos

teóricos da cultura e identidade cultural, traçando uma linha do tempo destes termos, que se

inicia com o pré-romantismo até os pós-modernos. Dando sequência aos termos chave para a

compreensão do tema, o segundo capítulo visa apresentar o conceito de poder, destacando

especialmente o soft power, assim como sua distinção do hard power. O terceiro capítulo

introduzirá o conceito de diplomacia para, em seguida, dar enfoque a diplomacia cultural e

como esta se tornou uma importante ferramenta para os países em sua inserção no cenário

internacional. O último capítulo fala sobre diplomacia cultural no governo brasileiro, no qual

apresenta as principais instituições governamentais envolvidas na difusão cultural e seus

discursos sobre o tema. Além disso, o capítulo traz o estudo de caso do Ano do Brasil na

França.

Vale ressaltar que o comércio internacional de bens culturais movimenta cerca de

dois trilhões de dólares por ano, o que mostra o quanto este campo é valioso tanto para o

governo, como para as empresas, convergindo na importância da diplomacia cultural. Sendo

assim, como o Brasil pode se beneficiar neste cenário?

3

2 CULTURA E IDENTIDADE CULTURAL

2.1 A NOÇÃO DE CULTURA

A cultura adquire parte do seu significado moderno como um modo de vida

característico a partir do idealismo alemão, constituindo um ataque consciente contra o

universalismo do Iluminismo. Neste contexto, o crítico e filósofo Johann Gottfried von

Herder aparece como uma importante figura do movimento Sturm und Drang1 (Tempestade e

Ímpeto) no século XVIII. Com suas inovações na filosofia da história e cultura, ele provou ser

um precursor do movimento romântico alemão, ao tratar a ideia de nação como uma entidade

essencialmente étnica ou cultural.

Herder escreve em 1774 em sua obra Sobre a filosofia da história para a

educação da humanidade que o caráter inato de cada grupo nacional foi fundamentalmente

determinado pelo seu ambiente natural, clima e geografia física de forma a moldar o estilo de

vida, hábitos de trabalho, atitudes e tendências criativas de um povo. Acima de tudo, ele

enfatizou a importância da linguagem, que se acredita ser a encarnação das tradições

distintivas e memórias históricas de um povo. Cada nação, assim, possui um Volksgeist

(literalmente, o "espírito da nação"), que se revela em canções, mitos e lendas, e fornece a

uma nação sua fonte de criatividade e o povo, por meio de sua cultura particular, poderia

expressar, cada um de sua forma individual, um feito da humanidade. O nacionalismo de

Herder, portanto, equivalia a uma forma de culturalismo, enfatizando uma conscientização e

valorização das tradições nacionais e memórias coletivas em vez de uma busca abertamente

política para um Estado (HERDER apud CUCHE, 1999).

A implicação do culturalismo de Herder é que as nações são entidades "naturais"

ou orgânicas, que podem ser rastreadas de volta aos tempos antigos e, por isso mesmo,

continuam a existir enquanto a sociedade humana sobrevive.

Do naturalismo da concepção nacionalista de Herder à critica pós-moderna do

conceito de nação, é possível notar a evolução do termo e como a cultura é relacionada à estas

diferentes fases, sendo marcante na percepção de pertencimento à uma sociedade.

Segundo Herder (1774 apud EAGLETON, 2000), a cultura não significa uma

narrativa grandiosa e unilinear da humanidade em seu todo, mas uma diversidade de formas

1 Sturm und Drang (tempestade e ímpeto) foi um movimento literário romântico alemão, que ocorreu no período

entre 1760 a 1780.

4

de vida específicas, cada uma com suas leis evolutivas próprias e peculiares. Herder faz uma

associação explícita do combate entre a Europa e suas colônias, que, segundo ele, resulta em

opor o eurocentrismo de uma cultura como civilização universal ao brado daqueles de outras

partes do mundo que lutaram e morreram em prol de sua honra (EAGLETON, 2000).

Herder (1774 apud EAGLETON, 2000, p. 24), escreve: “O que certa nação julga

indispensável para o círculo de seus pensamentos nunca entrou na mente de uma outra, e por

outra ainda foi julgado ultrajante.” A ideia de cultura como um modo de vida característico é

retomada como plataforma política no contexto de libertação colonial, em que as colônias

subjugadas eram vistas como “exóticas” por não seguirem os moldes de seus colonizadores.

No século XX, o exotismo, já discutido na obra de Herder no século XVIII, ressurge nos

aspectos primitivistas do modernismo, a partir do crescimento da moderna antropologia

cultural. Em caráter pós-moderno, o exotismo assenta-se na romantização da cultura popular,

que toma o lugar que antes era ocupado pelas culturas “primitivas” (EAGLETON, 2000).

Contrapondo a ideia das sociedades em resistências anticoloniais apresentada

acima, a teoria evolucionista de Tylor sobre as sociedades avançadas e primitivas sofrerá

críticas nos séculos seguintes, sendo vista como um sistema de hierarquia para classificar as

diversas sociedades humanas, que supostamente funcionariam de modo linear, dado seu

argumento de que todas as sociedades deveriam superar as mesmas etapas que foram traçadas

pelas sociedades ocidentais a fim de ser tornarem avançadas (TYLOR, 1871).

Edward Tylor (1832-1917), diferentemente de Herder, foi menos influenciado

pelo conceito de Kultur germânico, que se refere a toda grande produção do espírito humano,

e utilizou também a noção de civilization presente no Iluminismo francês para sintetizar

ambos os termos (Kultur e Civilization) no vocábulo inglês Culture, que “tomado em seu

amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,

moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como

membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871, p.1). Esta concepção universalista caracteriza a

cultura por sua dimensão coletiva, sendo algo adquirido e independente da hereditariedade

biológica, sendo a expressão da totalidade da vida social do homem.

Tylor criou a teoria antropológica do evolucionismo cultural, um estudo de

antropologia com base nas teorias evolucionistas de Charles Darwin, que afirma que todas as

sociedades seguem as mesmas etapas previsíveis e padrões de desenvolvimento. O autor é

principalmente conhecido por duas obras: Cultura primitiva: Pesquisas para o

Desenvolvimento da Mitologia, Filosofia, Religião, Arte e Personalizado (1871) e

Antropologia: Uma Introdução ao Estudo do Homem e da Civilização (1881). O livro

5

Cultura Primitiva ofereceu a primeira definição antropológica de cultura, que foi crucial no

desenvolvimento da ideia da antropologia como ciência. Tylor também é conhecido pela sua

análise das culturas primitivas, o desenvolvimento de teorias sobre crenças animistas

primitivas, e sua noção de sobrevivência, que ele usou para mostrar como as práticas culturais

do presente são muitas vezes devido às superstições primitivas há muito descartadas.

Tylor (1871), em sua definição de cultura, argumenta que o homem é um ser

predominantemente cultural e graças à cultura, ele é capaz de superar suas limitações

orgânicas e sobreviver aos desafios da vida ao longo do tempo. Neste sentido, a cultura é vista

como meio de adaptação do homem aos diferentes ambientes e tem como característica ser

um processo acumulativo. O homem recebe conhecimentos e experiências que são fruto de

outras gerações que o antecederam e que não são uma ação isolada e sim, um esforço

resultante de uma comunidade.

Em seu livro Primitive Culture, o autor argumenta como as artes, costumes e

ideias são moldadas entre nós pelas ações combinadas de muitos indivíduos, das quais o

motivo e efeito muitas vezes vêm distintamente dentro de nossa visão. A história de uma

invenção, uma opinião, uma cerimônia, é uma história de sugestão e modificação,

encorajamento e oposição, ganho pessoal e prejuízo, e os indivíduos envolvidos agem cada

um segundo sua própria motivação, conforme determinado pelo seu caráter e circunstâncias.

Neste livro, ele estabeleceu a ideia de que a mente humana e as capacidades eram as mesmas

em todas as culturas do mundo, não importa em quais diferentes estágios de sua evolução que

se encontram.

O trabalho de Tylor se verá presente posteriormente nos estudos do crítico galês

Raymond Williams (1921-1988), ao conter a noção proposta de que a cultura evolui do estado

menos complexo ao mais complexo ao longo do tempo, sendo algo dinâmico e não uma série

de objetos de valor fixo e universal. Williams foi um dos pensadores mais importantes da

segunda metade do século XX e uma figura importante na renovação da tradição socialista

marxista. Sua obra é relevante para a compreensão da complexidade da noção de cultura e da

sociedade, dando um contributo decisivo para o desenvolvimento de estudos culturais na Grã-

Bretanha, Europa e Estados Unidos. Em seu livro “Keywords”, ele dá enfoque à forma como

as transformações culturais se registaram como mudanças nos significados de palavras,

fazendo um remapeamento de alguns dos principais pontos de transformação da cultura

inglesa. Em seu livro “Marxismo e Literatura”, Raymond Williams procura criticar e

desenvolver tanto o marxismo e a teoria literária, em simultâneo, rever dogmas

inquestionáveis da teoria cultural marxista e conceitos problemáticos da teoria literária para

6

avançar uma nova teoria que fosse capaz de lidar com os problemas teóricos em ambos os

campos. A essa nova teoria ele dá o nome de materialismo cultural: uma teoria das

especificidades de material cultural e produção literária dentro do materialismo histórico.

Ele indica o uso da palavra cultura em dois sentidos: para significar um modo de

vida - os significados comuns; para significar as artes e aprendizagem - os processos especiais

de descoberta e esforço criativo. Alguns autores reservam o termo para um ou outro desses

sentidos, porém Williams (1993) insiste em ambos e no significado de sua conjunção e afirma

que a cultura é comum, em cada sociedade e em cada mente, argumentando:

uma palavra que havia indicado, numa sociedade mais autoconfiante, um processo

de instrução, tornou-se, no século XIX, o foco de uma reação profundamente

significativa contra uma sociedade lutando com o sofrimento de uma mudança

radical e dolorosa. (WILLIAMS,1993, p.60)

O autor faz essa narrativa em sua obra Culture and society 1780-1950 , publicada

em 1958, na qual esforça-se para unir vários significados de cultura que cada vez mais estão

se separando: cultura (no sentido das artes) define uma qualidade de vida refinada (cultura

como civilidade) cuja realização na cultura (no sentido de vida social) como um todo é a

tarefa da mudança política, unindo assim o aspecto estético e o antropológico.

Não há, porém, um consenso no que diz respeito ao conceito de cultura no meio

antropológico. Roger Kessing, antropólogo, em seu artigo “Theories of Culture” (1974),

define cultura de acordo com duas correntes. Na primeira corrente, a cultura é entendida como

sistema adaptativo, formada por padrões de comportamento socialmente transmitidos que são

necessários para a adaptação dos indivíduos ao modo de vida de suas comunidades

(tecnologias, modo de organização econômica, padrões de agrupamento social, organização

política, crenças, práticas religiosas, etc.).

A segunda corrente utiliza três abordagens para cultura: a primeira que a define

como um sistema cognitivo, a qual “consiste de tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou

acreditar para operar de maneira aceitável dentro da sociedade”; a segunda abordagem usa a

definição de cultura como “um sistema simbólico que é a criação acumulativa da mente

humana, que gera elaborações culturais nos domínios do mito, arte, parentesco e linguagem”;

a terceira abordagem considera a cultura como um “sistema de símbolos e significados que

são partilhados por uma sociedade, incluindo regras sobre as relações humanas e modos de

comportamento”. Esta terceira abordagem feita por Kessing está mais relacionada ao conceito

liberal, que não se limita apenas a extensão intelectual do conhecimento, ao invés disso,

propõe parâmetros que são comuns tanto às elites intelectuais dos países desenvolvidos

quanto para as sociedades classificadas como primitivas.

7

Neste trabalho, será utilizada a perspectiva construtivista de cultura, que é

diferente das visões até então apresentadas. É possível notar a divergência entre as ideias de

Herder, Tylor e Williams, em que o primeiro defende a singularidade de cada povo enquanto

Tylor e Williams, cada um a sua maneira, ilustram a universalidade da vida em sociedade,

sendo marcados pela visão evolucionista e materialista do termo cultura respectivamente.

Após apresentar o conceito de cultura nos campos da antropologia e estudos

literários sociais, é importante destacar como o conceito aparece nas teorias das Relações

Internacionais, com enfoque sobre a teoria construtivista. O construtivismo aborda a visão de

que o comportamento do Estado é moldado pelas crenças, identidades e normas sociais das

elites. Indivíduos em coletividades forjam, moldam e mudam a cultura por meio de ideias e

práticas. Estados e interesses nacionais são o resultado das identidades sociais desses

protagonistas. Assim como os realistas e os institucionalistas liberais, os construtivistas

consideram o poder importante. Porém, enquanto os primeiros só veem o poder em termos

materiais (militar, econômico, político), os construtivistas também veem o poder em termos

discursivos – o poder das ideias, da cultura e da linguagem. A contribuição singular dos

construtivistas pode perfeitamente ser a elucidação das fontes de poder em ideais e mostrar

como as ideias moldam as identidades. Este conceito de identidade se relaciona diretamente

com a diplomacia cultural e o poder do Estado de utilizar a cultura como forma de influência,

ilustrado no estudo de caso do Ano do Brasil na França e na visão de Nye sobre soft power.

O produto da interação dos seres humanos com o ambiente que os cerca traduz o

“universo simbólico”, que é capaz de prover sentido às experiências humanas e forma a

linguagem dos integrantes de uma determinada sociedade em certo período da história. No

que tange ao sistema internacional, os construtivistas entendem que ele é socialmente

construído, não podendo tratar valores, ideias e a cultura como variáveis endógenas. A

interação contínua dos atores neste sistema contribui para a constituição de novas formas de

identidade e cultura, tendo este movimento se intensificado e diversificado a partir do século

XX com novas formas de comunicação entre os atores. O construtivismo nega a visão de que

identidade é uma essência fixa ou um dado objetivo e defende que as identidades são

construções plásticas, fluídas e dinâmicas, fruto da fricção de culturas que formam novas

experiências. Sendo assim, o construtivismo traz em sua definição de cultura a contraposição

do que era defendido pelos românticos alemães e dos autores do início da antropologia, como

Herder e Tylor, o que mostra que o conceito de cultura foi evoluindo com o passar dos anos e

caminhando para outras direções.

8

Alexander Wendt, um dos principais teóricos do construtivismo nas Relações

Internacionais, afirma que os Estados são os atores principais do sistema internacional e uma

parcela do que são é socialmente construída no nível do sistema, ao passo que também existe

parte das identidades e dos interesses que é exógena, compondo a individualidade. A

identidade é o que os atores são, ao passo que interesses representam aquilo que os atores

querem, mas os interesses pressupõem a existência de identidade (WENDT, 1999, p. 231).

Para Wendt, o poder é constituído principalmente por ideias e contextos culturais.

Neste sentido, a definição de um sistema de conflito ou de paz não depende da anarquia e do

poder, mas sim da cultura compartilhada criada por meio de práticas sociais discursivas. Deste

modo,

os Estados não estão condenados a preocuparem-se constantemente com o seu poder

relativo e à atração da conflitualidade, devido à sua situação anárquica. Eles podem

agir para alterar a cultura intersubjetiva que constitui o sistema, consolidando ao

longo do tempo as ideias não egoístas imprescindíveis a uma paz prolongada

(COPELAND, 2006: 2).

As identidades são construídas pela ação humana e por um conjunto de ideias, que

forma uma cultura, a qual desempenha o papel de fator dinâmico de ação, formação e

transformação que enquadra e altera as relações sociais. Neste sentido, a cultura integra a

equação de poder como fator decisivo, contrapondo o poder formal advindo das instituições.

Este jogo de poder é visto tanto no plano interno, como no plano internacional. O debate

construtivista de cultura aborda também o conceito de ideias, força motriz do processo

cultural, que engloba o conjunto de convicções, crenças, opiniões, interesses, motivos, que

quando utilizadas pelo ser humano em plano individual ou coletivo, determinam o seu modo

de agir.

Goldstein e Keohane (1993) afirmam que as ideias influenciam a política uma vez

que se enraízam sob a forma de crenças e opiniões firmadas como princípios ou motrizes de

ação. Essas ideias funcionam como roteiros, guias, diretrizes para orientar os agentes (ou dar-

lhes mais segurança) quanto aos objetivos do agir, tendo nelas uma forma de interpretar o

passado, explicar a situação presente e projetar o futuro. A articulação entre o plano das

ideias, formador do campo cultural, com o da ação, estruturador do exercício do poder, mede

as relações pessoais ou sociais sempre que estas afetam o cotidiano de cada um, seja ele

individuo, grupo ou comunidade. Para estes autores, o conjunto de ideias usuais serve como

um mapa de decisões, preenchendo o campo cultural como referências identificadoras para os

indivíduos e suas comunidades, percorrendo uma via de dois sentidos, em que o agente

racional humano serve o conjunto de realidade histórica e vice versa.

9

Como dito anteriormente, de acordo com o construtivismo, as identidades não são

essências, entidades ou dados objetivos, mas sim construções plásticas e fluídas, sendo

observada na construção de espaços que promovam o contato e fricção das culturas, iniciando

novas experiências. Esta visão das nações está presente na obra de Benedict Anderson,

cientista político americano. Anderson (2008) argumentou que a identidade nacional é “uma

comunidade imaginada”. Sendo assim, as nações modernas são todas “híbridos culturais”.

Para Anderson (2008), as nações modernas têm suas origens culturais em alguns eventos

históricos da modernidade: na mudança na concepção de tempo, no declínio das comunidades

religiosas e dos impérios dinásticos, no desenvolvimento da cultura impressa de massa (livros,

jornais). Nas palavras do próprio autor, uma nação é uma comunidade imaginada pelos

seguintes motivos:

[...] proponho a seguinte definição de nação: uma comunidade política imaginada –

e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo,

soberana.Ela é imaginada porque mesmo os membros da mais minúscula das

nações jamais conhecerão, encontrarão ou nem sequer ouvirão falar da maioria de

seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão

entre eles (2008, p.30).

[...] ela é imaginada como uma comunidade porque, independentemente da

desigualdade e da exploração efetivas que possam existir dentro dela, a nação

sempre é concebida como uma profunda camaradagem horizontal (2008, p.32-34).

Este autor defende que as identidades são discursos construídos, imaginados, o

que não os caracteriza como narrativas irreais. Com base nessa definição, a realização do Ano

do Brasil na França e as ações de diplomacia cultural caracterizam uma forma de produção

discursiva. Ou seja, a visão de Brasil apresentada neste evento não pode ser caracterizada a

partir da distinção entre representações falsas ou reais, mas da construção de diferentes

discursos que estão articulados a distintas questões de poder, já que a cultura integra a

equação de poder como fator decisivo, sendo vista como uma forma de contrapoder ou poder

paralelo.

Ao dissertar sobre o caráter real ou irreal destas comunidades imaginadas,

Benedict Anderson afirma: “As comunidades se distinguem não por sua

falsidade/autenticidade, mas pela forma em que são imaginadas” (ANDERSON, 2008, p.33).

Sendo assim, a identidade nacional pode adotar como base a língua, o passado, a raça, os

hábitos e comportamentos do povo, fato este que irá diferir de cada país, grupo ou classe que

delineou uma proposta de identidade que se transformou no tempo e no espaço.

Canclini (2003) define em sua obra “Globalização Imaginada” o papel da cultura

no mundo globalizado atual:

10

o cultural abrange o conjunto de processos mediante os quais representamos e

instituímos imaginariamente o social, concebemos e administramos as relações com

os outros, ou seja, as diferenças, ordenamos sua dispersão e sua incomensurabilidade

por meio de uma delimitação que flutua entre a ordem que possibilita o

funcionamento da sociedade (local ou global) e os atores que a abrem ao possível.

(CANCLINI, 2003, p.57-58)

O conceito de globalização imaginada de Canclini recai sobre um ponto chave do

caráter opressivo ou libertador do processo de globalização que é proporcionar, ou não, a

imaginação sobre várias identidades, flexíveis, modulares, por vezes superpostas, e ao mesmo

tempo permitir que as identidades ou as culturas dos outros povos sejam vistas como

legítimas e combináveis, não somente como ameaçadoras e competitivas. Este antropólogo

argentino, a partir de diversos estudos e análises de diferentes situações, dissemina a ideia de

que cultura e identidade não são apenas patrimônios a serem mantidos e compartilhados entre

os membros de uma sociedade. Para ele, as mudanças constantes e a intensa troca de

experiências colaboram para a formação e construção de identidades (CANCLINI, 2003).

Sendo assim, enquanto Anderson (2008) afirma que as nações são comunidades

imaginadas e Canclini (2003) ressalta que a globalização gera novos cenários, é possível

relacionar ambos os conceitos, ao sugerir que a globalização impacta as formas pelas quais as

pessoas imaginam as coisas.

Seguindo esta linha de comparação e aplicando-se ao estudo de caso analisado, a

vontade de um país de se mostrar cuidadosamente no cenário Internacional, globalizado, vem

da possibilidade de criar uma imagem positiva que passará a caracterizar tal país,

influenciando a opinião de outras culturas.

Destacado novamente no decorrer deste estudo, em discurso para o Ano do Brasil

na França, o Ministro Gilberto Gil afirmara:

Ao longo deste ano, queremos propor aos franceses uma imagem significativa da

variedade e intensidade da Cultura Brasileira, sem qualquer filtro ou mediações a

fim de evitar quaisquer simulacros e distorções (GIL, 2005).

Sendo assim, torna-se clara as intenções de imagem que o governo brasileiro

buscava passar aos franceses, e também a toda a comunidade internacional, de um Brasil

verdadeiro, apresentado pelo seu próprio povo. Porém é preciso ter análise crítica ao acreditar

que a seleção de uma imagem não implica em qualquer tipo de filtro ou mediação.

Em suma, este capítulo abordou as diferentes dimensões do conceito de cultura,

que pode ser visto como um conflito político, um fator de diferenciação e união e como um

aspecto relacional. Este é um conceito de extrema importância para as ciências sociais. Em

seus primeiros usos, a ideia de cultura teve uma marcante característica trazida pelo

11

essencialismo e pelo “mito das origens”, que contribuíram para o avanço epistemológico do

termo. Com isso, foi possível que viesse à tona a dimensão relacional de todas as culturas.

Porém o conceito não se resume apenas à situação relacional e engloba um significado em si

mesmo. A cultura também pode ser em um diferente grau motivo de conflitos entre

sociedades. No entanto, o estudo do termo não deve ser restrito às lutas sociais. Os elementos

de uma cultura tem valor significativo para a distinção social e diferenciação étnica

envolvendo o compartilhamento de elementos comuns como a língua, artes, festas, literatura.

(CUCHE,1999). Tais questões serão abordadas no próximo tópico.

2.2 IDENTIDADE CULTURAL

A identidade cultural é um sistema de representação das relações entre indivíduos

e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião,

as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de

construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço. Contudo, ao

longo de muitos anos, este termo não foi adequadamente contextualizado no campo das

ciências sociais.

Com o aparecimento da sociedade moderna que, muitos teóricos preocuparam-se

em demonstrar a grande ameaça que a evolução de transformações tecnológicas e econômicas

oferecia a certos grupos sociais, por conta da fragmentação das velhas identidades que

serviam como base sólida dos indivíduos e o surgimento de novas identidades, não mais

baseadas em tradição, nação, estado, território e sim mediadas pela globalização de estilos,

lugares, viagens, mídia. O indivíduo passa a sofrer de deslocamento, não estando mais preso a

um local ou cultura, o que desperta a questão de como ele irá lidar com a sua identidade e

como ela é afetada pelo processo de globalização (BAUMAN, 2012).

As culturas nacionais, que formavam um dos principais fatores da identidade

cultural, estavam embasadas na veneração do passado e dos símbolos que representavam e

mantinham a experiência de gerações. Porém, a crescente complexidade das sociedades

trouxe a percepção de que este núcleo interior não era de fato independente e sim formado

pela relação com outros, que lhe mostravam valores e sentidos, símbolos do ambiente em que

estavam inseridos. A identidade não era algo pré-moldado e sim construído na interação entre

o individuo e a sociedade que o cerca.

12

As culturas estão se desintegrando e se homogeneizando, ou estão resistentes às

mudanças advindas da globalização, lutando para manter suas tradições tão bem conservadas

anteriormente? Surge o dilema de como o individuo manterá o seu senso de pertencimento e

identidade nacional, pois o que antes era considerada único e tradicional de sua cultura pode

não mais existir. As nações também se fragmentam, pois grande parte delas foi fruto de

culturas separadas que foram unificadas por meio da força e conquista de outros povos.

No século XX, o conceito clássico de identidade foi dissolvido e reposicionado

por conta dos avanços dos meios de comunicação, o que fez com que perdesse a sua eficácia

nos dias atuais. Apesar das manifestações culturais ainda serem feitas como forma de

expressar as tradições da nação (música, literatura e artes plásticas, entre outras) como

imaginário do povo, surgem cada vez mais fortes as expressões cosmopolitas e virtuais,

libertas de um território ou nação, adotando uma nova percepção sob o meio artístico. As

barreiras culturais são redimensionadas para absorver novas formas de expressão, identidade,

alterando também o modo como as pessoas convivem entre si em lugares comuns e o senso de

pertencer a grupos que possuam interesses convergentes, como música, compras, esportes,

entre outros. Estas barreiras podem caracterizar-se como embasamento sociológico da

perspectiva construtivista.

As contribuições da antropologia são importantes para enriquecer as teorias das

Relações Internacionais, que defende a relevância da identidade como conceito e que as

identidades mudam como resultado do comportamento cooperativo e aprendizado, retomando

o conceito já abordado de identidade relacional.

Neste sentido, é interessante apresentar a discussão sobre o conceito de identidade

étnica2 feita por Stuart Hall, que tem como ênfase em seus trabalhos as questões de

hegemonia no campos dos estudos culturais, a partir de uma visão pós-gramsciana. Em seu

livro “A identidade cultural na pós-modernidade”, Stuart Hall (2006) apresenta três

concepções para o conceito de identidade: sujeito do Iluminismo, sujeito sociológico e sujeito

pós-moderno:

2 O estudo comparativo da etnicidade repousa no fundamento criado pelo antropólogo norueguês Fredrik Barth

(1969) em sua introdução bem conhecida a uma coleção de estudos de caso etnográficos. De acordo com Barth

(1969), a identidade é uma construção que se baseia na relação de oposição entre um grupo e os outros grupos

com os quais está em contato. Para Barth, o fenômeno da identidade deve ser compreendido por meio da ordem

das relações entre os grupos sociais, sendo um modo de categorização utilizado pelos grupos para organizar suas

trocas. A identidade é resultado das interações entre os grupos e os procedimentos de diferenciação que eles

utilizam em sua relações. É importante ressaltar que a identidade se constrói e se reconstrói de maneira constante

nos intercâmbios sociais. Este dinamismo é oposto a concepção de identidade como um atributo original e

permanente que não permite evolução. A identidade está sempre acompanhada da alteridade, visto que a relação

de identificar e diferenciar são dialéticas.

13

O sujeito do Iluminismo se baseava na concepção do indivíduo totalmente centrado,

unificado, dotado das capacidades de razão, consciência e de ação, cujo “centro”

consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia

e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo -

contínuo ou “idêntico” a ele - ao longo da existência do indivíduo. O centro

essencial do eu era a identidade de uma pessoa. O conceito de sujeito sociológico

refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este

núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na

relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os

valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava. A

identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem

um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado

num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que

esses mundos oferecem (HALL, 2006).

Hall (2006) introduz a noção do sujeito pós-moderno por meio do fato que os

indivíduos projetam a si mesmos nas identidades culturais, enquanto também internalizam

seus significados e valores, o que os torna “parte de si mesmos” e colabora para que os

sentimentos subjetivos se alinhem com os lugares objetivos ocupados por eles no mundo

social e cultural. Porém, é exatamente essa concepção que está mudando na atualidade. Como

relata Hall (1987):

O sujeito, previamente vivido como tendo identidade unificada e estável, está se

tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades,

algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. Esse processo produz o sujeito pós-

moderno, contextualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou

permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada

continuamente em relação as formas pelas quais somos representados ou

interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1987).

De acordo com Hall (1990), não há mais um “eu” coerente, que unifique todas as

identidades, e sim, o dinamismo de assumir identidades diferentes em diferentes momentos.

Ao contrário de uma identidade única e completa, há uma multiplicidade cambiante de

identidades possíveis, com cada uma das quais o sujeito pode se identificar, pelo menos por

um certo período, devido a multiplicação dos sistemas de significações e representação

cultural, que se torna uma traço marcante da pós-modernidade. Sendo assim, a identidade

apresenta de um lado o núcleo essencial que a distingue um grupo do outro, e, do outro, ela é

fruto de uma inserção de diferentes elementos, de discursos políticos e culturais e de histórias

particulares.

Houve uma verdadeira explosão discursiva nos anos recentes em torno do

conceito de identidade, conforme observado por Stuart Hall na introdução de um volume de

estudos publicados em 1996. Neste cenário, Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, está

presente como uma das principais figuras do pensamento social contemporâneo. Seu trabalho

abrange as questões de ética, cultura e política na atualidade, em suas análises sobre a

14

modernidade, pós-modernidade e modernidade líquida. Bauman discorre sobre a identidade

como uma construção permanente e uma narrativa no mundo contemporâneo.

De acordo com Bauman (2002), em nossos tempos de "modernidade líquida",

quando não apenas os canais individuais na sociedade, mas os locais a que os indivíduos

podem ter acesso e em que podem desejar alcançar estão se dissolvendo rápido e dificilmente

podem servir como alvos para projetos de vida. A ideia de identidade não sinalizaria um

núcleo “estável do eu, desdobrando-se desde o início ao fim através de todas as vicissitudes

da história, sem mudança (BAUMAN, 2002:30).”

O atual estágio cultural apresenta como marcante característica a independência

parcial ou total da produção e distribuição dos produtos culturais em relação às comunidades

institucionalizadas. De acordo com Bauman (2012):

A maioria dos padrões culturais atinge o domínio da vida cotidiana a partir de fora

da comunidade, e a maior parte deles detém um poder de persuasão muito superior a

qualquer coisa que os padrões nativos possam sonhar em reunir e afirmar. Eles

também viajam a uma velocidade inacessível ao movimento corporal, o que os

coloca a uma distância segura da negociação face a face ao estilo da ágora; sua

chegada, como regra, pega os destinatários de surpresa, e a duração da visita é muito

curta para permitir o teste dialógico (BAUMAN, 2012, p. 68).

Este novo estágio não implica o desaparecimento final das identidades culturais,

porém indica que houve uma mudança tanto no conceito de identidade como na dispersão de

padrões e produtos culturais, em comparação com suas versões na imagem ortodoxa da

cultura. De acordo com Bauman (2012), a nova “realidade” da cultura abrange mobilidade,

desarraigamento e disponibilidade/acessibilidade global dos padrões e produtos culturais; bem

como identidades culturais distintas, que são frutos de uma vasta cadeia de “processos

secundários” de escolha, retenção e recombinação seletivas. Desta forma, a visão de Bauman

sobre o conceito da identidade no mundo atual está em contraposição a uma ideia de “cultura”

como algo estático, permanente (BAUMAN, 2012).

As visões sobre a fragmentação e fluidez das identidades são uma crítica pós-

moderna que aparecem nos trabalhos de Hall, Bauman e Canclini, entre outros, ao apontarem

as mudanças que aconteceram e estão acontecendo nas nações, as quais permitem um fluxo

constante de informações e trocas culturais entre os indivíduos, contribuindo para que as

identidades sejam moldadas constantemente, não apresentando desta forma uma característica

estática. Os elementos sociológicos de Bauman e Hall e antropológicos de Canclini e Barth

serviram de base teórica do construtivismo na concepção de identidade.

15

2.3 O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO

Nesse contexto, é interessante apresentar também o conceito de representação,

que está diretamente relacionado com a noção de identidade, por ser uma forma de atribuição

de sentido, de produção de significado. A representação é uma das práticas centrais que

produzem cultura. Agora, a linguagem é o meio privilegiado em que nós damos sentido às

coisas, em que o significado é produzido e trocado. Significados só podem ser compartilhados

através de nosso acesso comum à linguagem. Assim, a linguagem é central para o significado

da cultura e sempre foi considerado como um repositório principal de valores e significados

culturais. A linguagem é capaz de fazer isso porque ela opera como um sistema

representacional. Na linguagem, usamos os sinais e símbolos - sejam eles sons, palavras

escritas, imagens produzidas eletronicamente, notas musicais, até mesmo objetos, para

representar para outras pessoas os nossos conceitos, ideias e sentimentos. A representação

através da linguagem é, portanto, central para os processos pelos quais o significado é

produzido e trocado entre os membros de uma cultura. Como define Hall (1990):

[...] a representação é um sistema linguístico e cultural: arbitrário, indeterminado e

estreitamente ligado a relações de poder. A representação expressa-se por meio de

uma pintura, de uma fotografia, de uma filme, de um texto, de uma expressão oral.

A identidade e a diferença são estreitamente dependentes da representação e é por

meio da representação, assim compreendida, que a identidade e a diferença

adquirem sentido. É por meio da representação, que por assim dizer, a identidade e a

diferença passam a existir (HALL, 1990).

A combinação entre a identidade e a diferença e os sistemas de poder é feita

através da representação, aquele que detém o poder de representar também é capaz de definir

e determinar a identidade. O questionamento da identidade e da diferença está diretamente

relacionado com a discussão dos sistemas de representação que lhe servem como suporte e

sustentação. No cerne da crítica da identidade e da diferença está inserida a crítica de suas

formas de representação. Uma ideia importante sobre a representação é a aceitação de um

grau de relativismo cultural entre uma cultura e outra, certa falta de equivalência, e daí a

necessidade de tradução, quando nos afastamos da mentalidade ou universo conceitual de uma

cultura ou de outra. (HALL, 1990).

No objeto de estudo deste trabalho, o Estado é um dos atores que possui o poder

de representar o Brasil no Ano do Brasil na França, fazendo parte da escolha daqueles que

representaram o país no evento, sendo esta ação de diplomacia cultural uma forma de definir e

determinar identidades construídas da nação brasileira. O Estado contou também com a

importante participação das empresas privadas e públicas como forma de patrocínio dos

16

projetos, tendo como grande atrativo a visibilidade proporcionada pelo Ano do Brasil. Da

quantia aproximada de 18 milhões de reais de patrocínios, cerca de 10 milhões de reais

vieram de empresas estatais e o restante da iniciativa privativa, como exemplo o grupo Pão de

Açúcar, Embraer, Acesita, Banco Safra, Gerdau, Natura, Federal Capitalização, Companhia

Brasileira de Metalurgia e Mineração, Thyssenkrupp do Brasil, Vale do Rio Doce, Mineração

Brasileira Reunida e Banco Itaú, entre outras.

Sendo assim, não só o Estado, que através da escolha dos Comissários e de parte

dos projetos a ser apresentado pôde estabelecer um filtro daquilo que seria mostrado, e

portanto visto como a "cara do Brasil", mas também as empresas privadas que patrocinaram,

conforme lhes convinha, as manifestações através da Lei Rouanet, são juntos, detentores do

poder de representar e portanto têm papel relevante na determinação da identidade brasileira

que seria passada à comunidade internacional. Desta forma, torna-se difícil excluir por

completo o peso do mercado, que influencia as decisões onde o patrocínio se faz necessário.

O Estado, nesse contexto, pode adotar duas formas distintivas de disseminação do

conhecimento e das representações culturais: a visão arbórea e a rizomática3. Para Gallo

(1977), a metáfora tradicional do conhecimento é arbórea:

ele é tomado como uma grande árvore, cujas extensas raízes devem estar fincadas

em solo firme (as premissas verdadeiras), com um tronco sólido que se ramifica em

galhos e mais galhos, estendendo-se assim pelos mais diversos aspectos da

realidade. Embora seja uma metáfora botânica, o paradigma arborescente representa

uma concepção mecânica do conhecimento e da realidade, reproduzindo a

fragmentação cartesiana do saber, resultado das concepções científicas modernas

(GALLO, 1997, p.122)

O método rizomático, por outro lado, remete a multiplicidade, sendo regido por

seis princípios básicos:

·Princípio da conexão: qualquer ponto de um sistema pode ser/estar conectado a

qualquer outro;

·Princípio da heterogeneidade: dado que qualquer conexão é possível, o rizoma

rege-se pela heterogeneidade;

· Princípio da multiplicidade: o rizoma é sempre multiplicidade que não pode ser

reduzido à unidade;

·Princípio de ruptura a-significante: o rizoma não pressupõe qualquer processo de

significação, de hierarquização. Embora seja estratificado por linhas, sendo assim

territorializado, organizado, etc., está sempre sujeito às linhas de fuga que apontam

para novas e insuspeitas direções;

·Princípio de cartografia: o rizoma pode ser mapeado, cartografado, e tal cartografia

mostra-nos que ele possui entradas múltiplas;

·Princípio de decalcomania: os mapas podem, no entanto, ser copiados,

reproduzidos; colocar uma cópia sobre o mapa nem sempre garante, porém, uma

sobreposição perfeita (GALLO, 1997, p.126).

3 Os conceitos de rizoma e multiplicidade são retirados da obra Capitalisme et Schizophrénie de Gilles Deleuze

(1980).

17

De acordo com Gallo (1997), o rizoma tem como proposto uma multiplicidade de

conexões, aproximações e cortes, rompendo com a hierarquia fortemente presente na visão

arbórea, permitindo movimentações transversais do conhecimento, ao criar novos espaços de

construção e circulação do conhecimento, no qual não haverá uma estrutura básica

hierárquica. Esta distinção entre o modelo rizomático e o arbóreo é pós-construtivista. O

Brasil tem como característica de conhecimento o modelo rizomático, o que é resultado da

distribuição de poder e autoridade no corpo social.

A adoção de um curriculum histórico unificado com a intenção de preservar o

“patrimônio nacional comum” exigiu a supressão de diversas memórias coletivas que eram

cultivadas em comunidade. De acordo com Bauman, tradições, costumes, festas, rituais

comunais foram substituídos por um calendário uniformizado de festividades nacionais e por

uma lista oficial de “costumes nacionais”; ou arrancados da administração comunal e em

seguida adaptados e dotados de significados nacionais novos e globais (BAUMAN, 2011).

Com este ideal em mente, as políticas culturais tinham a concepção de conservar e administrar

o patrimônio histórico acumulado em territórios definidos, nação/etnia/região ou cidade. Ao

Estado cabia o papel de decidir o que merecia ser preservado e ensinado em instituições de

ensino e desenvolvimento cultural.

Como prioridade do Estado-nação na conquista de seu domínio real ou pretendido

estava a construção da nação por meio do desenvolvimento e aquisição de uma visão

supralocal, supraclassista e supraétnica da “consciência nacional”, que deveria ser um esforço

conjunto e prolongado da população. Assim, deveriam ser combatidas e derrotadas as

tentativas de nações concorrentes em se apropriar e assimilar as mesmas histórias, línguas e

culturas locais. A elite educada, titulada como os “líderes espirituais da nação” ou como “os

guardiões do patrimônio nacional”, foi posta no núcleo do processo de “acumulação primitiva

de autoridade” no Estado moderno (BAUMAN, 2011).

Ao possuir um referencial cultural, é iniciada a produção de formas tangíveis de

disseminação da cultura: objetos, símbolos e tecnologias que representam esse conteúdo.

Nesse contexto, as representações culturais ligam-se aos fatores mais objetivos, sendo

responsáveis pelo constituição de processos mais abrangentes de agregação de interesses e

criação de identidades no cerne de ações sociais de diversas naturezas (BOURDIEU apud

FURTADO, 1997:123). Desta forma, as representações culturais de determinada sociedade

seriam meios de expressar como os processos históricos de transformação social mundial

foram recebidos e trabalhados dentro de tal sociedade, seus impactos e resultados. O conjunto

de representações serviria para exemplificar a forma como a sociedade se percebe nas

18

relações com os objetos que a afetam, se revelando de forma simbólica por meio de seus atos,

costumes e instituições.

19

3 SOFT POWER E HARD POWER

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DE PODER

Retomando o conceito de representação do tópico anterior, a noção de Gramsci

(1978) para o conceito era que determinados grupos sociais lutam de muitas maneiras

diferentes, inclusive ideologicamente, para ganhar o consentimento dos outros grupos e

alcançar uma espécie de ascendência tanto em pensamento e prática sobre elas. Esta forma de

poder Gramsci chamou de hegemonia. A hegemonia nunca é permanente e não é redutível à

hegemonia dos interesses econômicos ou a um simples modelo de classe da sociedade.

Neste mesmo debate, Foucalt aparece no trabalho de Hall sobre representação.

Apesar de o conceito de ideologia para Foucault apresentar semelhanças com a noção de

hegemonia do italiano Antonio Gramsci, o francês introduziu duas noções radicalmente

novas. Em primeiro lugar, a de que o conhecimento é sempre uma forma de poder, pois por

meio do poder consegue assumir autoridade e a capacidade de tornar-se verdadeiro. Sendo

assim, o Estado pode fazer uso do conhecimento em seu discurso de representação, de modo a

influenciar a seu favor indivíduos e outros Estados. Em segundo lugar, Foucault desenvolve

uma concepção totalmente nova de poder. Ele argumenta que os indivíduos tendem a pensar

de poder, como sempre, irradiando em uma única direção - de cima para baixo - e vindo de

uma fonte específica soberana- o Estado, a classe dominante e assim por diante. Para Foucault

(1980), no entanto, o poder não funciona sob a forma de uma cadeia – e sim, circula. Nunca é

monopolizado por um único centro. Ele está implantado e é exercido através de uma

“organização em rede” (FOUCAULT, 1980, p. 98).

Para analisar o poder na visão de Foucault, inicialmente é necessário compreender

a forma como o autor enxerga o objeto de estudo, por meio de análises das existentes relações

de poder. Embasa-se para essa decisão o argumento de que não existe „o Poder‟ como

decorrente de fatores externos, e atesta-se a existência de formas ou práticas de poder, que

sofrem alterações no contexto em que ocorrem. Sendo assim, ao afirmar a não existência de

um detentor de poder, Foucault desloca sua análise de poder para além do Estado, instituindo-

se nas diversas estruturas sociais.

De forma a „localizar‟ as relações de poder dentro da sociedade, o autor atesta a

existência de micro-poderes entre as estruturas que se relacionam, conjuntamente, com o

Estado – estrutura mais geral de poder. A estratégia de analisar o poder „capilarizado‟ busca

entender o exercício de poder em instâncias locais e regionais – onde ele se organiza,

20

corporifica e mune-se de instrumentos (FOUCAULT, 2009) – passando de uma tradicional

análise descendente para uma análise ascendente. (DANNER, 2009) Vale ressaltar, que essa

abordagem, mais uma vez, nega o poder como algo obtido por uma parte e, principalmente,

nega a detenção do poder pelo Estado.

Assim, para comprovar a existência de tais estruturas na sociedade, Foucault

apresenta instituições que, ao longo da formação das sociedades, não só estiveram fora do

espectro de poder estatal – exercendo diversas relações de poderes com outras partes – como

também influenciaram a própria racionalidade deste Estado.

Digamos assim: não apenas o Estado, na modernidade, foi o centro de controle e de

formação da sociabilidade; instituições como a escola, as ciências, a fábrica, o

quartel, o hospício, etc., também foram fundamentais (basta citar o caso da escola

enquanto uma das instituições centrais da modernidade e de nosso tempo) no que diz

respeito à formação das massas, no que diz respeito à legitimação da racionalidade

capitalista. (DANNER, 2009)

Em suma, Foucault estabelece o poder como uma estratégia e/ou uma tática,

disseminado por toda a sociedade. Porém, ressalta-se a preocupação do autor em explicitar

que não nega a importância do Estado nesse emaranhado de práticas – uma vez que este é

responsável por basear as ligações políticas e sociais entre essas instituições. (DANNER,

2009).

Portanto, ao negar o poder como um objeto a ser negociado e detido e ao atribuir

as relações de poder aos mais diversos níveis da sociedade – da ciência às artes, Foucault cria

bases para que seja possível repensar as definições convencionais de poder no cenário

internacional. Porém, essa relação abre caminho, principalmente, para analisar como as outras

esferas citadas podem fazê-lo, não somente estes Estados enquanto unidades.

3.2 HARD POWER e SOFT POWER NA VISÃO DE JOSEPH NYE

Normalmente, o poder é definido de uma maneira genérica como a possessão de

capacidades ou recursos que podem influenciar fatores externos. Alguém que tem autoridade,

riqueza ou uma personalidade atrativa é chamado de “poderoso”. Nas relações internacionais,

com uma segunda definição, um país é considerado poderoso quando tem uma população

relativamente grande, assim como o território, recursos naturais e ainda poder militar e

econômico, bem como estabilidade social (NYE, 2011).

21

Mas quando as pessoas medem o poder de acordo com os recursos de um país,

conforme citado acima, normalmente, cria-se um paradoxo, levando-se em conta que às vezes

quem possui muitos recursos, nem sempre recebe o retorno esperado. Converter recursos em

poder, no sentido de receber respeito em troca, requer uma boa estratégia e liderança. (NYE,

2011).

Medir poder em termos de recursos existentes, é uma forma imperfeita de medi-

lo. É igualmente importante compreender quais recursos oferecem a melhor base para o poder

em um contexto particular. Petróleo não foi um recurso importante de poder até a era

industrial ou, por exemplo, o urânio até a era nuclear. Os recursos de poder não podem ser

julgados sem ter conhecimento sobre o contexto em que está inserido. Em algumas situações,

aqueles que detêm maior poder de força, ou riquezas, não são necessariamente os mais

poderosos. É nesse contexto que Joseph Nye introduziu o termo “soft power”. Um dos mais

importantes intelectuais dos Estados Unidos, Joseph Nye, foi o fundador ao lado de Robert

Keohane, da teoria liberal das relações internacionais, ajudando na criação de conceitos como

interdependência e, pioneiro na teoria do soft power. Atualmente, é professor na Universidade

de Harvard (onde também já foi reitor), e membro da Coalizão de Orientadores para o Projeto

de Segurança Nacional. De acordo com Nye, (2004):

O conceito básico de poder é a habilidade de influenciar outros a fazer o que você

quer. Há três maneiras de se fazer isto: uma delas é ameaçá-los com galhos; a

segunda é comprá-los com cenouras; e a terceira é atrai-los ou cooperar com eles

para que queiram o mesmo que você. Se você conseguir atrai-los a querer o que

você quer, te custará muito menos cenouras e galhos (NYE,2004).

A guerra e o uso da força sempre tiveram muita influência e importância na

história humana. Normalmente, a história política é frequentemente contada como histórias

de guerra e de conquistas. No entanto, o poder coercitivo duro é geralmente acompanhado de

algum soft power. Dificilmente um ser humano irá conseguir grandes proezas no que diz

respeito a domínios, agindo sozinho. Por isso, ao atrair seguidores e conseguir as condições

necessárias para utilizar o hard power em grande escala, este líder está usando também o soft

power, uma vez que terá que influenciar outros a segui-lo. Para compreender o poder militar,

é necessário entender não apenas a natureza humana, mas também a estrutura da política

internacional. Não há maior autoridade do que os próprios Estados, por isso, o poder militar é

visto como um recurso de autoajuda, auxiliando em sua autoridade e principalmente,

segurança. O poder militar vai muito além de um desejo de dominação e ganância, é

principalmente um recurso de defesa, uma vez que não se pode confiar em outros Estados. Em

condições anárquicas, quanto mais desconfiança entre os países existe, maior se torna a

22

importância do poder militar, uma vez que apresenta importantes recursos de defesa. (NYE,

2011).

Conforme dito anteriormente, o poder militar sempre teve uma grande

importância para a história, sendo marcado pela presença de diversas guerras, sendo, ainda

hoje um dos principais poderes. De acordo com o realismo clássico de Maquiavel, ou ainda o

realismo estrutural moderno:

os recursos militares que proporcionam a capacidade para prevalecer na guerra são

convencionalmente retratados como a forma mais importante de poder nos assuntos

globais”. (NYE, 2011, pág. 52).

Sabe-se que o poder militar e econômico normalmente fazem com que os outros

se influenciem e até mudem de lado. Hard power pode ocorrer através de chantagem ou

ameaças. Mas às vezes, é possível conseguir o que se espera ou que se deseja, sem ameaças

ou pagamentos. O modo indireto de conseguir o que se deseja é o que é chamado de “segunda

face do poder”. Um país pode conseguir o que deseja no mundo da política, devido ao fato de

outros países o respeitarem e admirarem seus valores e apoiarem o exemplo, e não por serem

obrigados. Esse tipo de poder, o brando, funciona através da influência e cooperação, ao invés

da coerção. (NYE, 2011). Soft power consiste na habilidade de moldar as preferências nos

outros. Por isso, este poder se torna não apenas uma liderança pelo exemplo, mas também

uma força para atrair outros para fazer o que se quer. Utilizando os países como exemplo, isto

poderia ser visto através de uma política amigável e atrativa, visando atrair objetivos em

comum. (NYE, 2011).

Vale destacar ainda que soft power não é o mesmo que influência. Influência pode

também implicar nas ameaças e pagamentos do hard power. Já o soft power é mais do que a

persuasão e habilidade de mover pessoas pelo argumento, embora esta seja uma parte

importante deste poder. É também a habilidade de atrair. Em palavras simples, soft power é a

habilidade de atração, é possuir os recursos para atrair outros. (NYE, 2011).

O soft power é um conceito que tem sido bastante utilizado de uma maneira muito

ampla, especialmente se referindo a qualquer outro poder que não o militar, o que significa

uma conotação inadequada ao termo. Além disso, muitos intelectuais o interpretam como uma

alternativa oposta à política de hard power, fazendo referência a uma posição ética. No

entanto, o soft power, assim como qualquer outra forma de poder, pode ser usado de diversas

formas, visando ações positivas ou negativas para a sociedade, não retratando, portanto,

necessariamente uma posição ética. Um exemplo disso é o fato de líderes políticos como

23

Hitler e Stálin, por exemplo, também terem utilizado este tipo de poder, o qual não possui um

conteúdo ético inerente (NYE, 2011).

Ao contrário do que pensam os céticos, as habilidades de atração como forma de

poder, já existiam na história humana, mesmo antes de serem conceitualizadas nas relações

entre grupos políticos, gerando efeitos reais. Vale ressaltar que até mesmo os realistas

tradicionais acreditam neste conceito. Ao contrário dos neorrealistas que definem poder a

partir de recursos mensuráveis e tangíveis, realistas tradicionais como por exemplo E. H. Carr

(1939) descreveram o poder em três categorias, sendo elas: poder militar, poder econômico e

poder sobre a opinião. Apesar de não usarem o mesmo conceito, a terceira categoria de poder,

está bem próxima da ideia de soft power. O conceito de soft power é, por isso, muito mais

descritivo do que normativo. Ele não é uma forma de idealismo ou liberalismo, é apenas,

assim como outros, uma forma de poder que visa atingir os objetivos esperados. (NYE, 2011).

Vale ressaltar que o soft power não é apenas destinado aos Estados, é também um

poder fluido, destinado a corporações, instituições, ONGs e até mesmo aos indivíduos. No

entanto, ao contrário do que possa parecer, este tipo de poder é muito mais difícil de ser

utilizado, pois, ao contrário do hard power, o alvo tem muito mais controle sobre os

resultados. Além disso, normalmente os resultados são vistos apenas em um longo prazo,

deixando a maioria de seus atores sem um retorno imediato de seus investimentos.

As principais “armas” do soft power não estão em total controle do governo. Isso

acontece, pois quando se trata deste tipo de poder, as principais ferramentas para sua

incorporação são a cultura e os valores dentro da sociedade civil, ou seja, por mais que o

governo tente controlar 100%, uma parcela disso está nas mãos da sociedade, cabendo ao

governo controlar a política, mas não estes aspectos. Assim, por mais que esta forma branda

de poder possa parecer de mais fácil utilização, é na verdade mais complexa e intangível.

(NYE, 2011).

Assim como os outros poderes, há situações em que este tipo de poder não exerce

uma influência muito grande, no entanto, é incorreto afirmar que mesmo assim esta não é uma

forma de poder. De acordo com a situação e o contexto, este poder, assim como os outros,

exerce uma influência maior ou menor sobre determinado alvo. No caso da Coréia do Norte,

por exemplo, é difícil imaginar que o soft power resolveria a disputa sobre as armas nucleares,

podendo, porém, auxiliar determinadas decisões.

Da mesma forma, em um contexto de interesses estruturais de um governo, como

por exemplo, através da promoção da democracia, o soft power se mostraria mais adequado, e

ainda superior ao duro, especialmente em um século de informação global, com a difusão de

24

poder para atores não estatais, tornando sua importância ainda maior. (NYE, 2011).Se é

possível fazer com que um país ou uma pessoa desejem aquilo que você deseja, então não é

preciso realizar chantagens ou pagamentos. O soft power é uma das partes mais importantes

da política democrática uma vez que a democracia implica em um consenso entre as partes,

sendo necessário o poder de persuasão e argumentação. A habilidade de estabelecer

preferências tende a ser associada com recursos intangíveis, como uma personalidade atrativa,

cultura, valores políticos e instituições e políticas vistas como legítimas ou com autoridade

moral. Se um líder representa valores que os outros querem seguir, custará menos para ser

líder. No entanto, como já visto anteriormente, nem sempre o soft power é utilizado de uma

maneira positiva ou para o bem, como é o caso de líderes como Hitler e Stálin ou do uso que

os Estados Unidos fazem de Hollywood para legitimar suas intervenções militares (NYE,

2011).

Assim, os dois tipos de poder podem ser relacionados, porque os dois possuem o

propósito de afetar o comportamento de outros. A distinção entre eles, no entanto, se dá na

natureza do comportamento e tangibilidade dos recursos. O poder de comando – a habilidade

de mudar o que os outros querem – pode implicar em coerção ou chantagem. Já o poder de

cooperação – a habilidade de moldar o que os outros querem – pode implicar na atratividade

de uma cultura e seus valores. Enquanto um tende a ser associado pelo comportamento de

cooperação, o outro é conhecido pelo comando. (NYE, 2011).

Nos últimos anos, diversas transformações no mundo, alteraram drasticamente as

condições em que o soft power é projetado, tornando-se por isso, cada vez mais relevante para

um país. Entre elas, podem ser citadas principalmente a revolução da informação e ainda a

globalização, responsáveis por aproximar o mundo e diminuir distâncias. Com o tempo, a

tecnologia se espalhou para muitos países e populações do mundo. Assim, a revolução da

informação criou comunidades virtuais e ainda redes de relacionamento ao redor do mundo, e

além das fronteiras nacionais. Por isso, empresas multinacionais e atores não governamentais

começaram a ter um papel mais importante na sociedade, uma vez que através do soft power,

conseguiram atrair pessoas além de suas fronteiras. Neste cenário, a liderança política se

tornou em parte uma competição por atratividade, legitimidade e ainda credibilidade, uma vez

que estava situada na era da informação e disseminação de ideias. A habilidade de espalhar e

compartilhar informações se tornou um importante recurso de atração e especialmente, de

poder. Por isso, não apenas o hard power trazia retornos para um país. Historicamente,

mesmo o hard power sendo o poder mais utilizado, através das forças, tecnologia militar,

capacidade econômica de um país e ainda tamanho da população, entre outras, eventos como

25

a Guerra do Vietnã, por exemplo, demonstraram que muitas vezes, utilizar apenas este tipo de

poder, não era o suficiente, como sentiram os Estados Unidos. (NYE, 2011).

Por isso, na era global da informação, o papel do soft power frente ao hard power

cresceu ainda mais. Isso ocorreu devido a diversos fatores, como por exemplo, os diversos

canais de comunicação existentes, a disseminação de ideias e culturas, prevalecendo sobre as

normas globais e ainda a credibilidade associada a valores e políticas. No entanto, vale

ressaltar que os recursos de soft power são difíceis de controlar e mensurar pois atuam

indiretamente nos efeitos de aceitação de uma população, uma vez que moldam o próprio

ambiente da política. (NYE, 2011).

Desta forma, na era do conhecimento, a informação se torna poder e atualmente, a

maior parte da população mundial tem acesso a esse tipo de poder. O resultado disso é uma

explosão de informações que gera um paradoxo, uma vez que ao mesmo tempo em que as

pessoas estão cobertas de diferentes tipos de informação, não possuem recursos suficientes

para saber distinguir o que é relevante e o que não é. (NYE, 2011).

Por isso, apesar de historicamente o poder político estar sempre com aqueles que

possuem maior poder militar ou econômico, sob as novas condições da revolução da

informação e da globalização, o soft power se tornou tão relevante quanto estes outros

poderes. Em entrevista com Joanne Meyers em 2004, Joseph Nye descreve o contexto de

poder no século XXI:

Eu usaria a metáfora de uma pirâmide tridimensional: no topo, os Estados Unidos

são a única superpotência, e é improvável que nós vejamos um balanço no poder

militar pelas próximas décadas. Mas se você for para o meio, nas relações

econômicas entre os países, já existe uma balança de poder. Os Estados Unidos não

conseguem um acordo ou soluções antitrustes se a União Europeia atuar

coletivamente, e sem esse balanço e acordo, não é possível atingir o resultado

esperado. Por isso, nesta camada intermediária não é comum chamar as relações

econômicas internacionais de “Império Americano”. Mas se você for para a última

camada no que diz respeito a problemas entre fronteiras fora do controle de

governos, doenças contagiosas ou ainda terrorismo, ninguém está no comando. O

poder está igualmente divido e distribuído. O único jeito de lidar com esse tipo de

questões é através da cooperação entre os Estados. Por isso, nesta etapa da pirâmide

não se pode afirmar que existe uma hegemonia americana (NYE,2004).

De acordo com esta afirmação, é possível compreender que em muitos casos

possuir o hard power, não é o bastante. Especialmente, em meio a revolução da informação,

muitas questões vindas da parte baixa da pirâmide não conseguem uma resolução com o

poder militar, do alto. Por isso, se torna cada vez mais importante possuir outras formas de

poder,(NYE, 2011).

26

3.3 CULTURA COMO SOFT POWER

Nye considera que diplomacia cultural é o melhor exemplo do assim chamado soft

power. Para ele, a atratividade de uma determinada cultura, os ideais políticos e a substância

da política de um determinado país podem ser um substituto para as formas tradicionais de

poder (medidas militares, sanções econômicas).

Os teóricos da diplomacia cultural argumentam que hoje, mais do que nunca, a

cultura tem um papel vital a desempenhar nas relações internacionais. Isto deriva de valores

mais amplos, conectivos e humanos que a cultura tem: a cultura é o meio pelo qual chegamos

a compreender os outros. O intercâmbio cultural nos dá a oportunidade de apreciar pontos de

semelhança e, onde há diferenças, entender as motivações e da humanidade que lhes estão

subjacentes. Como a política de identidade exerce uma influência crescente nas trocas

nacionais e internacionais, estes atributos fazem da cultura um fórum crítico para a

negociação e um meio de troca na busca de soluções compartilhadas. O contato cultural

proporciona um fórum para uma política de construção de relacionamento extraoficial: ele

mantém abertos canais de negociação com países onde as ligações políticas estão em perigo, e

ajuda a recalibrar relações para a mudança dos tempos com potências emergentes como a

Índia e a China no cenário atual.

A diplomacia cultural também ganhou em importância com a mudança do mundo

a partir da bipolaridade da Guerra Fria para as incertezas do presente mundo multipolar.

A aproximação dos povos ocorre em sua forma mais rica e diversificada em

termos simbólicos por meio das manifestações culturais e é por essa razão que o debate

cultural tem sido cada vez mais valorizado pelos Estados. Nada parece ter mais a capacidade

de convencer – e isso é de relevante importância na mediação cultural de conflitos – do que a

cultura, que vai muito além de argumentos políticos ou econômicos. Como afirma o

diplomata brasileiro Edgar Teles Ribeiro, o poder político, a pujança econômica e a

superioridade militar intimidam, ao passo que a cultura seduz (RIBEIRO, 1989, p.26).

A cultura é um dos principais determinantes de como as pessoas percebem uns

aos outros e negociam suas diferenças. Oportunidades de contato global e troca estão se

proliferando como nunca antes, e por causa desses contatos, a própria cultura está mudando.

Não podemos mais pensar em culturas relativamente estáticas se apresentando umas às outras

para a compreensão e avaliação. Em vez disso, as culturas estão se encontrando, misturando e

transformando.

27

4 DIPLOMACIA CULTURAL

4.1 DEFINIÇÕES

Em um primeiro momento, é importante definir o significado do termo

“diplomacia”, que segundo Antonio Houaiss, é “ciência, arte e prática das relações

internacionais entre Estados”, ou ainda, “a condução dos negócios estrangeiros de uma nação,

seja diretamente por seus governantes, seja por seus representantes acreditados em outro país

ou órgão internacional”. O termo diplomacia pública foi definido pelo então Reitor Edmund

A. Gullion da Fletcher School of Law and Diplomacy, em 1965:

“Public diplomacy” deals with the influence of public attitudes on the formation and

execution of foreign policies. It encompasses dimensions of international relations

beyond traditional diplomacy; the cultivation by governments of public opinion in

other countries; the interaction of private groups and interests in one country with

those of another; the reporting of foreign affairs and its impact on policy;

communication between those whose job is communication, as between diplomats

and foreign correspondents; and the processes of intercultural communications

(GULLION, apud CULL, 2006, p. 1).

É importante destacar que há a distinção entre a diplomacia pública tradicional e a

nova diplomacia pública. A diplomacia pública tradicional seria o ato dos governos ao

falarem com o público no exterior, contemplando as iniciativas de informar, influenciar e

envolver os públicos em função dos objetivos nacionais e políticas externas, na qual a

definição de Fletcher se associa (SNOW, 2009, p. 6). Com relação a nova diplomacia pública,

Melissen (2005) argumenta que se trata de uma forma de diplomacia aberta que visa

influenciar a opinião pública em sociedades externas com ou sem o aval de seus governos, na

qual se insere a formação explícita de grupos não-oficiais dentro da esfera doméstica de um

Estado alvo, exemplos disso são os grupos da sociedade civil, os indivíduos influentes e

outras organizações não-governamentais.

Após a discussão dos conceitos de cultura, identidade e poder, é necessário aliá-

los a discussão sobre a diplomacia. A Diplomacia cultural, instrumento especifico de

utilização da cultura de um Estado em apoio das suas metas de política externa ou da

diplomacia, é frequentemente vista nos dias atuais como um subconjunto da prática de

diplomacia pública, a comunicação de um governo com o público estrangeiro, a fim de

influenciar e construir uma imagem positiva. No entanto, a diplomacia cultural tem o

potencial de contribuir mais efetivamente para os objetivos de política externa, para a

diplomacia, e para os objetivos dos governos nacionais.

28

Ao apresentar uma imagem nacional no exterior, a diplomacia cultural pode

superar a suspeita da audiência sobre as mensagens oficiais e serve para dar substância à

reputação nacional. Internamente, pode contribuir para a coesão social nacional, em especial

quando dirigida à grupos étnicos minoritários. A diplomacia cultural contribui para a "coesão

social", sendo um processo que auxilia a construção de valores comunitários compartilhados,

dando às pessoas um sentido de identidade e continuidade dentro das comunidades. Esta visão

dialoga com o conceito da identidade cultural apresentado no capítulo anterior, destacando as

interações dos grupos por meio das relações diplomáticas culturais que possuem como campo

potencial as infinitas diferenças culturais. A coesão social refere-se ao nível em que uma

sociedade é coerente, unida, e funcional, proporcionando um ambiente no qual seus cidadãos

possam se desenvolver, ou seja, esconde as diferenças internas a uma nação.

O cientista político norte-americano Dr. Milton C. Cummings oferece uma

definição da diplomacia cultural como:

a troca de ideias, informações, valores, sistemas, tradições, crenças e outros aspectos

da cultura, com a intenção de promover a compreensão mútua que também pode ser

mais uma via de mão única do que uma troca de duas vias, como quando uma nação

concentra os seus esforços para promover a língua nacional, explicando as suas

políticas e pontos de vista, ou "contar a sua história" para o resto do mundo

(CUMMINGS, 2003, p.1).

Podendo ser realizada por Estados, atores individuais ou instituições e grupos não

governamentais, a Diplomacia Cultural é mais facilmente descrita como o início ou a

facilitação do intercâmbio de ideias, valores, tradições e outros aspectos da cultura ou

identidade, muitas vezes promovendo os interesses nacionais, com o objetivo-fim de

melhorar as relações entre culturas díspares (INSTITUTO DE DIPLOMACIA CULTURAL,

2012).

Não mais relegada para a periferia da disciplina de Relações Internacionais, a

diplomacia cultural hoje é um campo inovador de pesquisa e se estabeleceu, com sucesso,

como ferramenta prática de disseminação de ideias e aspectos culturais e ao alcançar os

objetivos culturais, ela facilita, por via indireta, a realização de objetivos políticos, comerciais,

econômicos e quaisquer outros que a política externa do país se proponha. Embora o termo

"diplomacia cultural" só tenha sido recentemente criado, as práticas descritas pelo conceito

podem ser vistas ao longo da história e têm existido há séculos. Exploradores, viajantes,

comerciantes, professores e artistas podem ser considerados todos os exemplos vivos de

embaixadores informais ou primeiros diplomatas culturais (INSTITUTO DE DIPLOMACIA

CULTURAL, 2012).

29

4.2 O ESTADO E A DIPLOMACIA CULTURAL

Os fatores culturais têm sido cada vez mais importantes na determinação da

política externa dos Estados – junto aos físicos (posição geográfica, recursos naturais e

demografia) e estruturais (natureza e forma das instituições políticas e econômicas). Podem

ser descritos como fatores culturais “a cultura propriamente dita, a ideologia, as mentalidades

coletivas, a opinião pública, a personalidade dos responsáveis políticos e a estrutura de suas

percepções” (BRAILLARD E DJALILI, 1988, p.68). O sistema de valores compreendido pela

cultura serve como um poderoso aliado da política externa dos Estados, que pode gerar tanto a

aproximação como o conflito entre eles e auxilia o Estado em sua luta por influência e

prestígio no cenário internacional.

As Relações Internacionais se modificam e se ampliam a todo vapor no mundo de

hoje, com a fragmentação do sistema internacional e aumento das esferas e distribuição de

poder, criou-se uma demanda constante de intercâmbio econômico e cultural.

Esta análise considera que as trocas culturais internacionais não são um fenômeno

recente, mas sim uma ferramenta de poder contemporânea. Como relata o diplomata Edgar

Ribeiro (2007):

A maior parte das grandes culturas se formou por empréstimo de outras culturas, ou

por troca. A influência dos grandes filósofos, artistas e estadistas sempre atravessou

fronteiras. A Atenas de Péricles, a Universidade Medieval, as artes, obras literárias e

revoluções no campo do pensamento do século XIX constituem alguns dos

exemplos desse universalismo (RIBEIRO, 2007, p. 22).

Na verdade, qualquer pessoa que interage com diferentes culturas, (no passado ou

atualmente), facilita uma forma de intercâmbio cultural, que pode ocorrer em áreas como arte,

esportes, literatura, música, ciência, negócios e economia e além. Através da interação dos

povos, a troca de idioma, religião, ideias, artes e estruturas sociais têm melhorado

constantemente as relações entre grupos divergentes, retomando o conceito da dimensão

relacional da identidade, construída a partir dos contatos e trocas entre os indivíduos

(INSTITUTO DE DIPLOMACIA CULTURAL, 2012).

O Estado, porém, exerce papel importante em assegurar e mesmo facilitar a

aproximação internacional e o fluxo de ideias, mesmo que seja esta, uma característica natural

do homem. Principalmente no mundo contemporâneo, a rapidez dos meios de comunicação se

tornou uma importante ferramenta de disseminação de informação e mesmo, de diplomacia.

Sendo assim, procura-se, através do meio cultural, projetar os valores do Estado em questão.

A multipolaridade do mundo, e a consequente interdependência, tornaram comuns muitas das

30

questões e problemas de cada país, havendo assim, a transformação de questões nacionais em

questões internacionais. Buscando, principalmente, ressonância internacional, os Estados se

utilizam das relações culturais para atingir indivíduos, promover sua cultura e alcançar

objetivos políticos, econômicos ou comerciais (RIBEIRO, 2007).

O papel do Estado tem se modificado com a globalização que permeia as relações

culturais e internacionais. Antes detentor do monopólio e controle de informações, hoje o

Estado perdeu este poder diante do grande fluxo permitido pelo acesso horizontal da

sociedade às redes de comunicação, dificultando a diplomacia cultural praticada por este ator.

As relações culturais internacionais passam a deixar de ser prioritariamente reguladas pelos

Estados para passar a pertencer aos indivíduos e comunidades, tornando este um marco de

nossa época contemporânea. Este poder assumido pelos indivíduos e comunidades é difícil de

ser mensurado e extrapola o controle do Estado, retomando o conceito já visto de soft power.

De todo modo, os Estados continuam a desempenhar um papel primordial ao assegurar e

facilitar estes fluxos de trocas que os homens estabelecem entre si. Os Estados, cada vez mais,

estão em busca de alcançar vantagens com este canais espontâneos de comunicação para

conferir uma dimensão cultural às relações diplomáticas que mantêm entre si. Valendo-se

destas avenidas naturalmente abertas pelos homens, os Estados multiplicam suas interligações

culturais, e por meio delas, circulam ideias, impõem produtos e negociam alianças.

A importância das trocas culturais se dá pela capacidade de influência que

exercem: o cinema, as artes plásticas, a música, a publicidade, entre outros, são importantes

meios de disseminação da cultura de uma nação, podendo também, alterar costumes e hábitos

daqueles que atinge (RIBEIRO, 2007).

Para Edward Carr (2001, p.172-88), as ideologias também aparecem como forma

de poder político das nações, juntamente ao poder econômico e militar. Porém, as ideias só

ganham eficácia política quando defendidas pelo poder político nacional, o qual as agrupa ao

poder econômico e militar. Ele define em sua análise outra dimensão para o fator cultural:

o fato de a propaganda nacional, em toda parte, se disfarçar tão astutamente em

ideologias de caráter aparentemente internacional prova a existência de um estoque

internacional de ideias comuns, por mais limitado ou franco que seja, ao qual pode

se apelar e de uma crença em que estas ideias comuns se colocam, de algum modo,

numa escala de valores, acima dos interesses nacionais. Esse estoque de ideias

comuns é o que entendemos por moral internacional (ibid, p.188).

Diferente de Edward Carr, Jans Morgenthau utiliza o termo cultura ao invés de

ideologia, defendendo que o “imperialismo cultural” é mais sutil e efetivo do que o

“imperialismo militar” e o “econômico”, pois busca “o controle das mentes dos homens

enquanto ferramenta necessária para a modificação das relações de poder entre duas nações” e

31

“a substituição de uma cultura por outra” (1992, p.83-4). Mesmo dando relevância a força da

cultura como antiga forma de imperialismo, Morgenthau não acredita no papel da UNESCO

na busca da cooperação internacional e da paz, pois “o problema da comunidade mundial é

moral e politico, e não intelectual e estético” (ibid., p.596). Vale notar, portanto, como os

autores realistas enxergam o tema da cultura nas teorias de Relações Internacionais.

A diplomacia cultural tem sido praticada há bastante tempo por países

desenvolvidos como França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, o que ilustra sua

importância na construção da imagem do próprio país e ferramenta de poder e disseminação

da cultura local, tendo sido incorporada ao universo da política externa. O panorama destes

países mostra a participação intensa das chancelarias nas decisões relacionadas às políticas

culturais e a partir do término da Segunda Guerra Mundial, essa participação se tornou

constante, independente das flutuações políticas que possam ter passado os governos em

questão, bem como os investimentos realizados no setor cultural (RIBEIRO, 2007).

Os governos dos países em desenvolvimento, em consequência de sua

independência tardia e consolidação posterior do Estado-nação, têm notado a importância

deste mecanismo. A diplomacia cultural é uma prática diplomática dos governos -

principalmente os governos individuais, mas também grupos de governos como a União

Europeia, e governo subnacionais. A este respeito, o argumento de Fox (1999) - que o termo

diplomacia cultural implica o envolvimento do governo a qualquer nível com o objetivo de

projetar a imagem do país no exterior - é persuasivo. A diplomacia Cultural é realizada em

apoio às metas de política externa de um governo ou de sua diplomacia, ou ambos, porém isto

não significa que sua ação esteja limitada somente a práticas instrumentalizadas, como

apresentado no início do capítulo. Devido à sua ligação à política externa ou a diplomacia, a

diplomacia cultural geralmente envolve direta ou indiretamente o Ministério das Relações

Exteriores (FOX, 1999).

Tradicionalmente, os governos têm dito que se comprometem com a diplomacia

cultural para atingir fins idealistas - para desenvolver a compreensão mútua, combater o

etnocentrismo e os estereótipos, e evitar conflitos. Estes objetivos idealistas frequentemente

incluem a ideia de um relacionamento de dois sentidos, baseado na troca mútua, embora na

prática, a diplomacia cultural tende a não ser tão recíproca quanto os seus praticantes desejam

que ela seja (BOUND, K.; BRIGGS, R.; HOLDEN, J.; JONES, S., 2007).

Os objetivos funcionais da diplomacia cultural também incluem o avanço do

comércio, interesses políticos, diplomáticos e econômicos, o desenvolvimento de relações

bilaterais em todas as áreas, incluindo o comércio, elementos econômicos, políticos, culturais

32

e diplomáticos, a conexão com grupos no exterior que são importantes para o praticante da

diplomacia cultural (como diásporas), e auxiliando a manter relações bilaterais em tempos de

tensão. A diplomacia cultural também pode alavancar os interesses de outros países, não

apenas os interesses do país que está realizando a diplomacia (BOUND, K.; BRIGGS, R.;

HOLDEN, J.; JONES, S., 2007).

A diplomacia cultural quando realizada por meio de uma entidade independente é

mais suscetível a incorporar aspectos da cultura de um Estado opostos, ou críticos, à um

governo, suas políticas ou ao seu desempenho. O British Council é um exemplo bem

conhecido deste tipo de diplomacia, priorizando à sua independência e dando menos valor à

contribuição para os grandes objetivos de política externa do governo do Reino Unido. O

British Council consegue ter uma relação mais próxima com a diplomacia do Reino Unido e

as suas missões diplomáticas, sem perder sua independência (BOUND, K.; BRIGGS, R.;

HOLDEN, J.; JONES, S., 2007).

Criado em 1934, o British Council é um órgão de grande importância na difusão

da cultura e valores britânicos pelo mundo. Focando na cooperação cultural entre países e no

apoio a instituições britânicas pelo globo, o volume de negócios total realizado pelo órgão em

2010-11 foi de £ 693.000.000 (BRITISH COUNCIL, 2012), demonstrando que a ligação

entre projeção cultural e sucesso comercial e diplomático. Dentre as suas principais atuações,

exemplificando o papel da diplomacia cultural, o British Council exerceu função importante,

dentro da Europa, nos anos 1950, com a criação da Comissão de Relações Soviéticas (Soviet

Relations Committee), para desenvolver as relações culturais entre o Reino Unido e a União

Soviética no período da Guerra Fria. Essa instituição privada com apoio público possibilita a

manutenção de uma continuidade e imparcialidade em relação às políticas do Estado

britânico, seja no ensino de inglês, seja na doação de livros e treinamento de pessoal,

passando a ser uma marca da diplomacia cultural inglesa, dando ênfase na educação da língua

inglesa como segunda língua estrangeira e na promoção da excelência da formação acadêmica

inglesa (BRITISH COUNCIL, 2012).

4.3 A EXPERIÊNCIA FRANCESA

Também pioneira neste setor, a França vem desenvolvendo sua política cultural

desde 1909, quando foi criado um órgão para controlar as ações culturais do país no exterior:

a Oficina de Escolas e Obras francesas no estrangeiro. Atualmente, a coordenação deste setor

33

fica a cargo da Direção Geral de Cooperação Internacional e Desenvolvimento, que controla

os Ministérios interessados e as iniciativas públicas e privadas. São importantes atuantes, a

Associação Francesa de Ação Artística, Aliança Francesa, Rádio França Internacional,

Edufrance (MINISTÈRE DES AFFAIRES ÉTRANGÈRES, 2007).

Quando Raymond Aron (1984, p.58 e 101) diz que o fator cultural é utilizado com

frequência como meio de potência, ele utiliza a França como exemplo. Ele elenca os

diplomatas e os intelectuais, “os soldados da paz”, como os grandes atores dessa política. Os

diplomatas, para Aron, buscam sempre atrair aliados ou reduzir o número de inimigos,

enquanto os intelectuais são os construtores de ligações mais profundas, motivados pela

defesa da grandiosidade e da glória francesa (ARON, 1984). Esta ideia se aproxima com os

conceitos pré-românticos alemães apresentados anteriormente de Herder em sua concepção da

luta colonialista das potências mundiais.

A França é vista por vários autores como pioneira na instrumentalização de sua

cultura nacional a serviço da política externa. A política linguística do país remonta aos

tempos da monarquia com os subsídios de Luís XIII (1601- 1643) e Luís XIV (1638-1715)

oferecidos às entidades religiosas para promover a cultura e a língua em suas missões pelo

mundo e mais recentemente no suporte que é oferecido à Aliança Francesa desde sua criação

em 1883 (RIBEIRO, 1989). Este pioneirismo marca a promoção da língua do país no exterior

sem que estivesse vinculada ao colonialismo no final do século XIX.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) francês foi criado em 1910,

constituindo uma divisão para a promoção da língua e cultura francesas no exterior. De

acordo com Telles Ribeiro (1989, p. 54), após a Primeira Guerra Mundial, 36% do orçamento

do MNE estava direcionada a este fim e em 1987 alcançou a marca de 50%. Segundo a

Embaixada da França em Brasília (2012):

A França dispõe de 144 estabelecimentos culturais franceses no exterior, instalados

em 90 países, e de uma rede de 283 Alianças Francesas. A política de promoção da

língua francesa atinge 110 milhões de estudantes em 130 países e conta com um

corpo docente de 850.000 professores. A Agência para o Ensino do Francês no

Exterior coordena as atividades dos 252 estabelecimentos escolares franceses no

mundo. (AMBAFRANCE, 2012)

O governo francês realizou transformações na diplomacia cultural do país,

modificando o modelo francês, que estava em crise desde o início do século XXI, tendo como

objetivo principal a irradiação cultural da França. Mais de um século atrás, o país crente nas

virtudes do diálogo e dos intercâmbios culturais e no valor da diversidade e solidariedade,

estabeleceu uma vasta rede cultural no exterior formada por institutos, centros culturais e

34

alianças francesas. Mesmo com as mudanças que aconteceram durante o século XX, esta

ampla e diversificada rede se manteve atuante e congruente com as necessidades da

diplomacia cultural do país. Porém, na primeira década do século XXI, o modelo passou a

apresentar dificuldades em continuar atingindo as suas metas. Neste momento, a França

deveria incrementar seu poder e influência internacional por meio do estímulo do expertise

internacional nas áreas tecnológicas, gerenciais, administrativas e culturais.

A crise revelou um esgotamento do modelo tradicional de diplomacia cultural e a

necessidade de modernizá-la. Para combater uma ausência de estratégia e perda de sentido e

identidade, a França decidiu adotar alterações em seu modelo no campo cultural, dando maior

participação do Ministério da Cultura em estabelecer a nova estratégia internacional,

rompendo barreira de atuação somente no meio nacional, desconectado da rede de instituições

culturais no exterior.

Um das iniciativas do governo francês foi o programa das temporadas culturais

estrangeiras, adotado em 1985 com o Ano da Índia, e em especial a partir da década de 90

quando este passou a fazer parte do cotidiano da política de intercâmbio cultural francês. Foi

abandonada a política com foco na difusão da língua em benefício de uma nova voltada para o

diálogo das culturas, cooperação cultural, para o reconhecimento da interdependência das

culturas, para a necessidade de uma verdadeira reciprocidade e atenção às demandas

expressas por seus parceiros. O recebimento das culturas estrangeiras pôde ser concretizado

com as temporadas culturais. De acordo com Ruy Pacheco de Azevedo Amaral (2008, p.29),

o princípio das temporadas culturais baseia-se sobre alguns pilares:

Apóia-se na crença de que promover culturas estrangeiras na França, não

apenas facilitando o acesso mas prevendo meios de apoio, é compromisso

que deve ser perseguido em nome da luta em defesa da diversidade cultural e

fator importante para criar nos países concernidos clima propício à difusão

da cultura francesa. Funda-se, também, no princípio de que organizar

manifestações culturais concebidas com base na reciprocidade –mediante a

qual o apoio humano e financeiro de um dado país na organização de uma

grande manifestação francesa, em seu território, tenha como contrapartida o

compromisso francês de semelhante engajamento na realização de uma

temporada voltada para sua cultura, na França – promove substancial

redução de custos, ao propiciar seu compartilhamento com instituições

locais, e a otimização da eficiência, ao envolver em sua organização equipes

inseridas na vida cultural do país onde se desenrola a manifestação e,

portanto, melhor habilitadas a auscultar seus anseios e a medir os riscos

implícitos em qualquer iniciativa cultural. Baseia-se, igualmente, na ideia de

que difusão cultural eficiente é difusão cultural visível, e que, com meios

financeiros limitados, somente se pode obter visibilidade mediante

concentração de eventos concomitantes e das sinergias decorrentes.

Fundamenta-se, finalmente, na constatação de que grande visibilidade é

indispensável para atrair os meios empresariais e outras fontes de patrocínio.

35

Com o sucesso da ideia inicial de apresentar culturas estrangeiras na França, com

objetivo de fomentar o intercâmbio entre operadores culturais e despertar nos países

convidados o interesse pela cultura francesa e ambiente receptivo para integrá-la, este

instrumento passou a ser utilizado de maneira crescente pela França em suas relações

externas, como exemplo do Ano da França no Brasil em 2009, onde foi possível notar as

mudanças na diplomacia cultural francesa. Antes, o Estado era o responsável exclusivo da

cultura, tanto no âmbito nacional como internacional por meio do Ministério da Cultura, o que

atualmente não funciona desta forma. Com a criação da FranceCultures e do CampusFrance,

dando incentivo à cultura, ensino superior e o mecenato de empresas francesas, a diplomacia

cultural se transformou por meio de novas formas de disseminar a cultura francesa no exterior

e o aumento do número de funcionários e de empresas francesas e dos países sede nos

programas.

A França deseja com esse projeto retomar a proeminência cultural desfrutada no

decorrer do século XX. A CultureFrance ajuda a aumentar o número das escolas, alianças,

centros e institutos franceses, além de cumprir com as novas atribuições dadas pela sociedade

francesa. Entre seus papéis destacam-se: acompanhar a criação cultural francesa além das

fronteiras, dialogar com as culturas do mundo e desenvolver as expertises e redes culturais e

de cooperação no exterior (CULTUREFRANCE, 2010).

É possível afirmar que a França é um país altamente consagrado no que tange a

difusão cultural internacional e que um dos que mais dedicam esforços humanos e financeiros

para esta atividade, além do tema ser constantemente tema de discussão. Jacques Rigaud

(1938, p. 34) comenta o assunto: “A dimensão cultural de nossa presença no mundo não é

elemento secundário ou decorativo, mas o fator essencial, substancial. Sem ela, a França se

apresenta mutilada.” Rigaud (1980, p.24), ex-ministro da Cultura francês, fez uma proposta de

política de difusão cultural francesa que se baseava em nove objetivos, que foram

incorporados ao passar dos anos à ação da França e servem para a discussão de qualquer

política cultural internacional:

1) divulgar a imagem de um país de alta tecnologia e cultura humanística, detentor

de uma concepção pacífica e não dominadora das relações internacionais;

2) propor o exemplo de uma nação que assume plenamente as exigências de seu

desenvolvimento, mas permanece fiel à sua própria personalidade;

3) estimular os agentes culturais franceses a se colocar em posição de diálogo e

intercâmbio com o exterior;

4) dar, dentro desse espírito de intercâmbio, prioridade à expressão do pensamento

francês, sob todas as suas formas e em todas as áreas. A promoção da língua, por si

só altamente desejável, não deve limitar as outras formas de expressão do

pensamento francês;

5) contribuir para o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo, num espírito de

autêntica cooperação;

36

6) assegurar o dinamismo da presença francesa, sem se deixar levar por modelos

antiquados, levando em conta as particularidades dos outros países;

7) estabelecer um vínculo entre a presença cultural no exterior e a capacidade de

acolher manifestações de outros países, dentro de uma concepção da França como

ponto de encontro mundial;

8) permitir aos franceses no exterior uma participação efetiva na vida cultural

francesa;

9) levando em conta a vocação mundial da França, nas suas dimensões política,

econômica e cultural, assegurar uma presença cultural nas diferentes regiões e países

do mundo.

Estes objetivos ainda se mostram atuais na atuação francesa de diplomacia

cultural, a qual deseja projeta uma imagem da França de país moderno e criativo, que não está

preso a seu passado glorioso. A diplomacia cultural francesa teve dificuldade em se adaptar às

grandes mudanças que aconteceram no âmbito das relações internacionais desde o final do

século XX. Já não possui o domínio no mundo de distribuir a sua língua, seus códigos e

estilos. O Estado foi obrigado a reduzir significativamente o orçamento destinado à cultura

devido ao cenário de crise econômica com desemprego, dívida externa, entre outros. Diante

deste novo ambiente, foi necessário redesenhar a diplomacia cultural do país. A parceria com

empresas privadas foi intensificada respeitando o modelo “público-privado”. Os papéis foram

redistribuídos e ganharam destaque os interesses franceses nos países hóspedes, a

contribuição de associações profissionais, as ONGs, e no plano multilateral assumiu uma

liderança, juntamente com o Canadá, para promover a aprovação da Convenção sobre

diversidade cultural (MONTIEL, 2009).

O Brasil também teve que ajustar a sua diplomacia cultural ao novo cenário

internacional, visto ao aumento da inserção do país no ambiente externo aliado ao

desenvolvimento econômico. Ao buscar uma inserção externa mais proativa, o país precisou

multiplicar o número de mecanismos que contribuem para o atingimento das metas da política

externa. A grande mudança ocorreu com a estabilização da democracia no país, após o

autoritarismo durante as ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e dos governos militares

(1964-1985), o qual se reflete nas intervenções realizadas no campo cultural e que tinham

como objetivo instrumentalizar a cultura, ou seja, domesticar seu caráter critico, submetendo

aos interesses autoritários, aproveitando-se como fator de legitimação das ditaduras e como

meio de conformação de um imaginário de nacionalidade. A busca por superar as três

principais dificuldades enfrentadas pelo Ministério da Cultura e que por consequência

impactavam as ações do MRE, que eram o autoritarismo, a ausência e a instabilidade,

contribuíram para reformulação das políticas culturais a partir do governo Fernando Henrique

Cardoso. O processo observado de promoção comercial contribuiu para a abertura e

37

universalização da diplomacia brasileira, a qual passou a dar maior destaque e distribuir maior

investimento às ações de cunho cultural, porém este campo ainda apresenta uma atuação

modesta quando comparado a crescente importância que o Brasil passou a desempenhar no

cenário regional e internacional.

O ano do Brasil na França é uma demonstração da iniciativa francesa na

modernização de sua diplomacia cultura, tendo este exemplo de realização do ano do país sido

incorporado como instrumento de diplomacia cultural, o qual é percebido por posteriores

realização como o ano do Brasil em Portugal em 2012. Este evento fez parte do âmbito do

programa de temporadas culturais estrangeiras, desenvolvido pelo Governo francês desde

1985, tendo contado com a disposição do governo em copatrocionar a realização do mesmo,

atitude esta que reflete o amadurecimento no Brasil quanto ao importante papel

desempenhado pela difusão cultural como ferramenta valiosa para expandir a presença do país

no ambiente internacional.

4.4 O PODER DA DIPLOMACIA CULTURAL

O papel do “soft power” como uma forma de diplomacia cultural torna-se

significativo, traduzindo uma nova configuração do sistema internacional que pode

influenciar a importância deste tipo de diplomacia , que pode ganhar relevância em cenários

opostos como o atual mundo globalizado e no mundo bipolar característico da Guerra Fria

(URSS e EUA). Nesta base, a diplomacia cultural não é secundária para a diplomacia política

ou econômica, mas funciona como um componente intrínseco e necessário do mesmo.

Não obstante, a diplomacia pública incorpora um conjunto mais amplo de

atividades que a diplomacia cultural, principalmente aqueles meios governamentais e

atividades de relações públicas destinadas a um público estrangeiro, a fim de explicar um

curso de ação, ou apresentar um caso. É claro que é possível, com base em uma definição

suficientemente ampla de cultura, incluir informações do governo, mídia e relações públicas

no âmbito da diplomacia cultural, mas a sua ligação com aspectos da cultura de um Estado

pode ser razoavelmente considerada como demasiado tênue para constituir diplomacia

cultural.

Tal como a imagem tornou-se um aspecto importante da diplomacia pública, ela

também ganhou importância na diplomacia cultural. Nos últimos anos tem havido uma maior

38

ênfase no uso de diplomacia cultural para apresentar uma imagem nacional do Estado: não

apenas mostrando aspectos da face cultural de um estado para o mundo, ou, como Mitchell

coloca, “desfraldando as realizações culturais de uma nação”, mas uma apresentação mais

articulada, trabalhada e estratégica da imagem nacional, ou seja, uma imagem “editada”. A

nova ênfase sobre a imagem nacional no conceito de diplomacia cultural não só incide sobre a

diferença cultural e a vitalidade de um Estado, mas muitas vezes também sob seus resultados

econômicos e tecnológicos, o que se relaciona com a ideia de poder de representação

disfrutada pelos Estados. (MITCHELL, 1986).

A maior ênfase da diplomacia cultural na imagem nacional, particularmente

mostrando a moderna face econômica de um país, reflete o impacto da globalização sobre a

maneira pela qual os países se engajam internacionalmente. Os países devem competir - ou

pelo menos sentem como se devessem - para atrair os investimentos estrangeiros e imigrantes

qualificados, turistas, estudantes e outros. Os países passaram a acreditar que suas chances de

competir com sucesso são reforçadas por mostrar a sua imagem nacional para aqueles que

investem, visitam ou estudam, e esta apresentação no exterior de uma imagem nacional é

agora frequentemente administrada pelos governos no âmbito de uma marca nacional. Porém

também pode ser interessante aos países mostrar a pobreza para atrair ajuda humanitária

internacional (ANHOLT, 2008).

A diplomacia cultural aparentemente pode fornecer um poderoso conjunto de

benefícios para um governo e um país. Ela pode aprimorar o perfil de um Estado, antecipar os

interesses fundamentais, conectar com o público de massa e elite, e da diáspora, fornecer

poderosas oportunidades para as minorias raciais, grupos religiosos e grupos linguísticos para

mostrar sua cultura, e pode beneficiar os alunos e outros que estudam no exterior. Ela tem o

potencial para se tornar uma ferramenta mais valiosa para os estados no futuro, e um

componente mais valorizado e significativo da prática de diplomacia pública. Se a

contribuição da diplomacia cultural para a política externa de um governo e sua diplomacia

deve ser plenamente realizada, no entanto, os governos precisam entender melhor as

possibilidades desta prática, fornecer mais fundos, e pensar sobre a melhor de aplicá-la

(MELISSEN, 2005).

O potencial da diplomacia cultural baseia-se em sua intersecção com a cultura

nacional, valores nacionais, a identidade nacional. A cultura pode mostrar a personalidade de

um Estado de uma forma que se conecta com as pessoas e beneficia tanto o praticante como o

receptor. A imagem nacional apresentada no exterior por meio da diplomacia cultural não

precisa ser um conjunto de fatos e números, ou postais, ou batidas musicais, ou um slogan de

39

promoção turística. O poder de uma apresentação cultural, ou um filme, ou uma bolsa de

estudos4 não deve ser subestimado. Em um mundo moderno em que as mensagens dos

Estados divulgadas por meio da diplomacia pública às vezes são vistas com suspeita, e os

valores declarados e ideias de Estado frequentemente apresentam pouca semelhança com as

ações de política externa do Estado, e a diplomacia cultural pode ajudar a superar a lacuna

(MELISSEN, 2005).

Para todo Estado, ser reconhecido como legítimo pelos outros Estados é vital. Esta

legitimação vem de uma série de fatores, inclusive do mandato da população nacional para

conduzir relacionamentos dentro da arena internacional. A fim de fazer isso com sucesso, um

Estado deve ter uma noção do que ele deseja retratar para o mundo exterior, e o que ele deseja

ganhar com a interação. Na época pré-moderna e moderna, as relações entre os Estados foram

construídas por encontrar um terreno comum e estabeleciam relacionamentos de longo prazo.

Em épocas de guerra vividas pelos Estados, eram firmadas alianças duradoras com objetivo

de conquistar a vitória perante outras nações. Nos últimos anos pós-Guerra Fria, isso mudou e

metas mais curtas estão sendo procuradas pelas nações para cumprir os propósitos

econômicos. O cenário internacional se tornou multipolarizado, com diferentes centros de

poder e as nações têm se unido umas às outras para atingimento de objetivos específicos, não

sendo necessária mais a fidelidade à um só Estado ou bloco em diferentes tópicos, como era

visto na era bipolar. Os Estados se aliam em atividades econômicas, políticas e sociais, podem

transitar em diferente grupos de representação e acordos internacionais.

Uma das coisas que um Estado deve ser capaz de fazer se for para ser considerado

como tal é ter a autoridade e a capacidade de conduzir as relações internacionais com outros

Estados (EVANS, 1998, p. 512). Em geral, porque os outros atributos de soberania (uma

população permanente, um território definido, um governo capaz de manter um controle

efetivo sobre seu território) podem ser facilmente realizadas por Estados em diferentes graus,

a capacidade de interagir com outros Estados e ser reconhecido por eles como um ator

legítimo é um dos fatores mais importantes para ser visto como um Estado (EVANS, 1998, pp

4 Retrato disso na diplomacia cultural brasileira é o programa Ciências sem Fronteiras: um programa que busca

promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da

competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de esforço

conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por

meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de

Ensino Tecnológico do MEC. O projeto prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para promover

intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a finalidade de

manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. Além disso, busca

atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores

brasileiros nas áreas prioritárias definidas no Programa, bem como criar oportunidade para que pesquisadores de

empresas recebam treinamento especializado no exterior (CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS, 2012).

40

512-13). Isto dá grande importância para a diplomacia como ferramenta para os Estados

atingirem seus objetivos e cumprirem suas obrigações. A diplomacia cultural é uma parte

importante dessa diplomacia, pois permite que os estados apresentem sua cultura

internacionalmente e a utilizem para construir e manter relacionamentos que serão de valor.

Ao estabelecer a legitimidade tanto no âmbito nacional e internacional (apoio

público para o governo, bem como o apoio da comunidade internacional) com o objetivo final

de reduzir os riscos globais e aumentar a segurança, uma estratégia multi-nível, tendo ciência

de que estes níveis não são estáticos, definida como um conceito explicativo da superposição

de diferentes jurisdições políticas (Hooghe and Marks 2001) é uma necessidade absoluta. No

caso brasileiro, por exemplo, o país lida com cinco níveis distintos para estabelecimento e

conciliação entre a política interna e externa do governo: global, hemisférico, regional (ou

seja, a América Latina), "sul-regional" (ou seja a América do Sul) e sub-regional (ou seja, o

Mercosul). Apesar de sua importância vital, o uso de diplomacia cultural para enfrentar os

riscos globais permanece largamente subutilizado. Em muitos aspectos, a aplicação de

práticas de diplomacia cultural pode complementar as outras formas mais tradicionais de

aumentar a segurança (medidas militares ou o acesso maior à inteligência).

O mundo pós- moderno é caracterizado pelas migrações em massa e movimentos

e reivindicações concorrentes à lealdade nacional. Uma vasta gama de etnias e raças agora

com mais frequência se esforça para viver junta sob uma identidade comum, mantendo a sua

particularidade cultural e linguística. Em tais circunstâncias, todas as ferramentas possíveis

para ajudar a causa da coesão e inclusão social, e do reconhecimento da diversidade cultural,

devem ser usadas. A diplomacia cultural pode fazer isso: os cidadãos de um estado podem se

orgulhar do reconhecimento conferido ao Estado por meio de realizações culturais

internacionais, conquistas de todos os membros da sociedade (MELISSEN, 2006).

Sobre o soft Power, é necessário reconhecer que o nível em que a diplomacia

cultural é praticado pode ter uma influência sobre sua qualidade e integridade. Os governos

nacionais através de suas ações têm o potencial para marginalizar algumas culturas na

realização de diplomacia cultural em nome dos cidadãos nacionais, o que remete às próprias

definições de cultura previamente discutidas neste trabalho. Além disso, as decisões que se

seguem a partir de diplomacia cultural são muitas vezes responsabilidade de um indivíduo ou

de uma elite limitada cujos valores e crenças entram em jogo durante o processo de decisão. A

participação da sociedade civil, dos setores interessados, seria uma forma de lidar com estas

limitações, permitindo uma desconcentração do poder de atuação da diplomacia cultural de

alguns atores.

41

Devido ao trabalho cultural constituir uma solução de longo prazo, difusa e de

difícil mensuração para um problema urgente em uma época de soluções rápidas, o conceito

de diplomacia cultural - mais amplamente definido como a propagação da cultura e os ideais

de mundo - tende a receber pouca atenção. Além disso, a maior parte do conteúdo cultural é

transmitido pelo setor privado de filmes, gravação e indústrias de radiodifusão, funcionando

para além da esfera dos objetivos da política oficial, ilustrando que a diplomacia cultural não

se limita apenas à ação do Estado. No entanto, qualquer política significativa de diplomacia

cultural deve levar em conta o impacto considerável de setor privado de produtos culturais -

como filmes, música e televisão - sobre os sentimentos internacionais em direção ao país.

Desta forma, há o risco da diplomacia cultural envolver interesses econômicos das indústrias

culturais, influenciando a imagem que será transmitida no cenário internacional.

No caso do Ano do Brasil na França, não houve um favorecimento das indústrias,

a ideia central do evento foi a divulgação do Brasil sob o aspecto da diversidade. Vale lembrar

que, por conta da amplitude do evento, as empresas privadas que patrocinaram por meio da

Lei Rouanet atingiram uma valiosa exposição de sua marca, visto que os projetos escolhidos

pelas mesmas foram aqueles que preenchiam seus objetivos de imagem e que iriam contribuir

indiretamente para movimentação econômica, com a venda de produtos e novos negócios

advindos da parceria entre Brasil e França. O interesse econômico surge como uma

consequência do sucesso do evento, que posteriormente irá beneficiar as empresas que dele

participaram.

Os patrocínios empresariais se voltaram mais facilmente para as exposições do

que para outros tipos de manifestações culturais. De um total de 16 milhões e 500 mil reais

necessários para realizar 104 projetos, 13 milhões e 500 mil foram provenientes de

patrocínios, mais de 80% do total (ANO DO BRASIL NA FRANÇA, 2005). As exposições

ganharam destaque devido a maior antecedência de organização, permitindo maior tempo de

captação de recursos, além do material de divulgação e subprodutos são mais atrativos ao

público, como catálogos, além da oportunidade de se realizarem eventos especiais para os

convidados antes ou depois da inauguração. O Ministério da Cultura foi responsável pelo

financiamento da parte brasileira do evento, sendo a contribuição financeira do Itamaraty para

as manifestações culturais apenas simbólicas.

Ao analisar o financiamento do Ano do Brasil na França, percebe-se que é viável

a atração de importantes patrocínios empresariais para financiar manifestações culturais no

exterior. Para isso, é essencial o cumprimento de duas condições, que são: garantir

visibilidade e repercussão na imprensa e a percepção dos meios empresariais de que a ação é

42

prioritária para o Governo. No que se trata da difusão cultural internacional, em decorrência

da distância entre o público consumidor e o local onde se realizam as manifestações, o

patrocínio torna-se uma operação de marketing fora do comum.

Enquanto muitos lamentam o declínio dos eventos patrocinados pelo Estado de

intercâmbio artístico, a globalização e a mudança na tecnologia de comunicações pode ter

mudado de maneira irreversível o panorama da diplomacia cultural, e podem explicar o

crescente domínio do setor privado nesta área. A velocidade e facilidade de comunicação

global, bem como o desenvolvimento político, talvez tenham feito as pessoas mais céticas em

relação a uma comunicação patrocinada pelo Estado, porque as pessoas não são mais

dependentes de governos para obter informações. Enfrentamos uma situação em que a

mudança no equilíbrio entre as mensagens patrocinadas pelo Estado e trocas de informações

privadas estão tendo um efeito sem precedentes em programas culturais.

43

5 DIPLOMACIA CULTURAL NO CONTEXTO BRASILEIRO

O Brasil vive um momento de prosperidade econômica e estabilidade, com alta

perspectiva de crescimento para se tornar uma das cinco maiores potências do mundo. O país

tem recebido grande volume de investimento estrangeiro e é uma aposta para as empresas

tendo em vista seu potencial mercado consumidor. Contudo, não é possível limitar a visão das

relações internacionais do país aos aspectos político-econômicos. O campo da diplomacia

cultural apresenta uma ótima oportunidade de desenvolver o diálogo com as culturas de outros

países, fortalecendo o processo de integração e troca de conhecimento entre as sociedades.

Cultivar o aspecto cultural de sua nação e promovê-lo junto aos países de todo o continente é

uma forma de construir vínculos de cooperação e confianças entre seus povos, o que será

benéfico também para as relações comerciais (CAMPOS, 2007).

Ao ampliar o sentido dos objetivos de uma política externa, a cultura auxilia a

compreensão das diferenças culturais que permeiam o mosaico internacional. Respeitar e

entender a diversidade cultural são habilidades essenciais para lidar com a relação cultural

internacional e não é raro governos perceberem que isso constitui uma das funções essenciais

da diplomacia, como relata um representante do corpo diplomático brasileiro:

a diplomacia cultural pode desempenhar papel de considerável utilidade, trazendo

uma contribuição decisiva para a consecução de todas as metas de nossa política

externa. O trabalho cultural preenche uma função aglutinadora, que nenhum outro

componente de nosso instrumental diplomático, tomado isoladamente ou em

conjunto, poderia preencher (RIBEIRO, 2011, p.46).

Esta visão de diplomacia cultural tem se apresentado nos discursos políticos,

como na citação do Presidente Lula na abertura da 4ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul em

2003:

A cultura é, sem dúvida, um elo imprescindível de aproximação humana e espiritual.

Nenhum processo de integração pode prescindir do engajamento da população. Para

caminharmos de mãos dadas [na região], é preciso que nos conheçamos melhor. As

artes são as mais belas janelas sobre a alma do ser humano e o seu contexto social. É

pela mistura única de razão e emoção que a arte elimina as barreiras e as defesas.

(...) Não podemos nos esquecer (...) da dimensão econômica do evento artístico. O

comércio internacional de bens culturais movimenta hoje cerca de US$ 2 trilhões

por ano. Mas é um comércio desigual. Segundo a UNESCO, um grupo de cinco

países é responsável por mais de 50% do intercâmbio internacional de bens

culturais. Não esqueçamos que a cultura é também atividade econômica, geradora de

emprego e riqueza (REPERTÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA: POSIÇÕES DO

BRASIL, Instituto de Diplomacia Cultural, 2007).

A cultura e a produção cultural também são propulsores para geração de renda e

emprego, inclusão social, de cidadania, de crescimento individual e coletivo, e de inserção

soberana no processo de globalização. Desta forma, elas devem estar presentes no cenário de

44

negociações econômicas e políticas, visto que seu impacto ocorre tanto no ambiente interno

dos países como nas relações internacionais. O Brasil não está isolado no campo cultural, já

que compartilha com outros países costumes, valores e tradições, que contribuem para

aproximá-lo de outros povos, vizinhos ou não, o que pode servir para a promoção da cultura

em conjunto, fortalecendo as relações multilaterais.

Ao estudar o conceito de diplomacia cultural no que tange ao governo brasileiro, é

necessário analisar os principais órgãos envolvidos na disseminação da cultura brasileira

frente a outras nações, utilizando-a como ferramenta estratégica para os objetivos de política

externa do país.

Voltando um pouco no tempo, destaca-se a política cultural do governo Getúlio

Vargas que, a partir da década de 1930, cria estruturas para assumir este papel, como o

Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1937. Na visão de Miceli

(2001, p. 359), foi:

[...] um capítulo da história intelectual e institucional da geração modernista, um

passo decisivo da intervenção governamental no âmbito da cultura e o lance

acertado de um regime autoritário empenhado em construir uma “identidade

nacional” iluminista no trópico dependente.

Na época do regime militar, foram criados a Embrafilme, em 1969, o

Departamento de Assuntos Culturais (DAC), em 1972 e o Programa de Ação Cultural (PAC),

em 1973, como forma de incentivo a cultura. Em 1975, uma série de iniciativas foi posta em

prática pelo governo, como o Plano Nacional de Cultura (PNC), que posteriormente iriam

contribuir para a criação do Ministério da Cultura (MinC) e da Fundação Nacional de Artes

(Funarte). Esta última, criada em 1975, é responsável, no âmbito do Governo Federal, pelo

desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança

e ao circo. Os principais objetivos da instituição, vinculada ao Ministério da Cultura, são o

incentivo à produção e à capacitação de artistas, o desenvolvimento da pesquisa, a

preservação da memória e a formação de público para as artes no Brasil (FUNARTE, 2012).

Para cumprir essa missão, a Funarte concede bolsas e prêmios, mantém programas de

circulação de artistas e bens culturais, promove oficinas, publica livros, recupera e

disponibiliza acervos, provê consultoria técnica e apoia eventos culturais em todos os estados

brasileiros e no exterior. Além de manter espaços culturais no Rio de Janeiro, São Paulo,

Minas Gerais e Distrito Federal, a Funarte disponibiliza parte de seu acervo gratuitamente na

internet.

A política externa de Getúlio Vargas tinha como objetivo acelerar o

desenvolvimento da indústria nacional, utilizando de jogo duplo com os Estados Unidos e

45

Alemanha na Segunda Guerra Mundial para conseguir os benefícios econômicos. Os

americanos confiaram na necessidade estratégica do Brasil e concederam o sonhado apoio

econômico em troca do apoio do Brasil aos aliados. Na década de 1960, o Brasil defendeu

uma política externa independente, com atuação caracterizada como “neutralismo

estratégico”, tendo sucesso com Jânio Quadros, porém depois foi uma das causas da

desestabilização do governo Jango. João Goulart não conseguiu manejar uma vitoriosa

política externa independente com as pressões norte-americanas e da direita nacional. Desta

forma, a política externa de seu governo foi uma das razões que levaram ao golpe militar.

A política desenvolvimentista do governo militar, com exceção do mandato de

Castello Branco, tentou inserir o país de maneira competitiva no mercado internacional, além

de incentivar o crescimento da indústria nacional. Em oposição ao que era praticado

internamente na política com a violência e conservadorismo, no âmbito externo a diplomacia

brasileira conseguiu desenvolver contatos abrangentes.

Tendo em vista os últimos anos da década de 80, a política externa brasileira

estava limitada em sua atuação por princípios constitucionais que embasavam as relações

internacionais, como independência nacional, prevalência dos direitos humanos,

autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, da

solução pacífica de controvérsias, do repúdio ao terrorismo e racismo, da cooperação entre os

povos para o progresso da humanidade e da concessão do asilo político (BRASIL,1988).

Sendo assim, a redefinição de sua estratégia de política externa ajudará o país a aumentar a

sua influência política e estratégia no cenário internacional, que contribuirão para que o Brasil

seja visto como um país democrático, competitivo e estável economicamente.

A redemocratização do Estado brasileiro trouxe um novo conceito de ação

cultural, promovendo uma abertura progressiva à participação da população. O fim do milagre

econômico e a crise estrutural nos anos 80, baseada na desvalorização monetária e

instabilidade econômica, promoveram o estabelecimento de planos de desenvolvimento

alternativos ao tradicional.

Tal ambiente foi crucial para que em 15 de Março de 1985, o então Presidente

José Sarney criasse o Ministério da Cultura que até então era ligado ao Ministério da

Educação, que foi rebaixado a Secretaria no governo de Fernando Collor de Mello, voltou a

sua configuração original somente em 1992, no governo de Itamar Franco. Na época

compreendida entre 1985 e 1994, anterior à posse do presidente Fernando Henrique Cardoso,

a pasta da cultura teve seu trabalho afetado pelas diversas alterações no âmbito federal. O

reconhecimento da cultura como objeto essencial e insubstituível na construção da identidade

46

nacional foi ganhando destaque, sendo uma fonte geradora de empregos e renda para a

economia do país. Sendo assim, o MinC consolida-se como “instituição de fomento e

estímulo ao desenvolvimento cultural no país” e torna-se um dever do Estado tratar a cultura

como um investimento.

A implementação da Lei de Incentivo à Cultura (Lei n˚ 8.313 de 23 de dezembro

de 1991), também conhecida por Lei Rouanet, durante a presidência de Fernando Collor,

criou um “mercado de patrocínios” que estimulou o aparecimento de setores interessados em

investir na cultura, sendo recebida na época como a única forma de avanço do setor cultural

brasileiro, após o rebaixamento do ministério à Secretaria, ligada à Presidência da República

(MINC, 2012). Como conseqüência à implementação da Lei, foi possível depreender dois

tipos de reação dos setores envolvidos: 1˚) um aumento maciço dos investimentos para a

cultura e a integração de setores antes distantes da lógica cultural – como o caso da cultura

popular, por exemplo; 2˚) o crescimento do mecenato privado, onde as estratégias

publicitárias teriam lugar de destaque na destinação de verbas em detrimento à função social

de promoção da cultura brasileira. (MOISÉS, 1998).

O método utilizado pela lei Rouanet permitiu que os investimentos feitos pelos

patrocinadores em âmbito cultural fossem 100% abatidos de impostos, o que significa que o

capital investido pela empresa compõem inteiramente de dinheiro público que seria fruto de

impostos e gera para a empresa um retorno de marketing. Isto resulta na aplicação de recursos

públicos a partir da mente do investidor do setor privado, o que veio a ser a política cultural

vigente na gestão do Ministério da Cultura por Weffort e é objeto de criticas por parte de

artistas e produtores culturais até os dias de hoje. De acordo com o mecanismo de incentivos

fiscais da Lei n° 8.313/1991 (Lei Rouanet):

O proponente apresenta uma proposta cultural ao Ministério da Cultura (MinC) e,

caso seja aprovada, é autorizado a captar recursos junto a pessoas físicas pagadoras

de Imposto de Renda (IR) ou empresas tributadas com base no lucro real visando à

execução do projeto. Os incentivadores que apoiarem o projeto poderão ter o total

ou parte do valor desembolsado deduzido do imposto devido, dentro dos percentuais

permitidos pela legislação tributária. Para empresas, até 4% do imposto devido; para

pessoas físicas, até 6% do imposto devido. A dedução concorre com outros

incentivos fiscais federais, sem, contudo, estabelecer limites específicos, o que

poderá ser aplicado em sua totalidade no incentivo à cultura. A opção é do

contribuinte.

Além dos incentivos fiscais, a Lei Rouanet instituiu o Programa Nacional de

Apoio à Cultura (PRONAC), que canaliza recursos para o desenvolvimento do setor cultural,

com as finalidades de: estimular a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais

(CDs, DVDs, espetáculos musicais, teatrais, de dança, filmes e outras produções na área

47

Audiovisual, exposições, livros nas áreas de Ciências Humanas, Artes, jornais, revistas,

cursos e oficinas na área cultural, etc.); proteger e conservar o patrimônio histórico e artístico;

estimular a difusão da cultura brasileira e a diversidade regional e étnico-cultural, entre outras

(MINC, 2012). O PRONAC funciona por meio dos seguintes mecanismos de apoio:

- Fundo Nacional de Cultura (FNC) – Com os recursos do FNC o Ministério da

Cultura pode realizar uma série de ações, tais como: concessão de prêmios; apoio

para a realização de intercâmbios culturais e outros programas divulgados por edital;

apoio para propostas que não se enquadram em programas específicos, mas que têm

afinidade com as políticas públicas e relevância para o contexto onde irão se realizar

(demanda espontânea), entre outras.

- Incentivos fiscais – por meio deste mecanismo, titulares de iniciativas que não se

enquadram nos programas do Ministério da Cultura e nas políticas públicas traçadas

em determinado período, mas que têm consistência e relevância para competir no

mercado, podem buscar apoio junto a pessoas físicas pagadoras de Imposto de

Renda (IR) e empresas tributadas com base no lucro real, que por sua vez terão

benefícios fiscais sobre o valor incentivado;

- Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) – mecanismo até o momento

não implementado; consiste na comunhão de recursos destinados à aplicação em

propostas culturais de cunho comercial, com participação dos investidores nos

eventuais lucros (MINC, 2O12).

De acordo com os dados do Ministério da Cultura, ainda é pequeno o volume de

recursos de incentivos fiscais destinados à cultura quando comparado à países como França,

Inglaterra e Estados Unidos– cerca de 1,5% de todo o incentivo fiscal federal. Em 2003, foi

direcionado à renúncia fiscal para a cultura o valor de R$ 135 milhões. Em 2011, esse valor

alcançou R$ 1,35 bilhão, um aumento de 1.000% em oito anos. Nesse período (2003-2011),

foram alocados 5,9 bilhões de reais para a Lei Rouanet, a qual exerce um importante papel

para a divisão de recursos necessários para a execução de eventos culturais, como por

exemplo os anos do Brasil no exterior. No caso do Ano do Brasil na França, por exemplo, de

acordo com o relatório de gestão do Comissariado brasileiro, o custo da temporada cultural foi

de R$ 58.912.863,12, dos quais, R$ 41.039.720,18 provenientes de verbas orçamentárias do

Ministério da Cultura e R$ 17.883.142,94, de patrocínio, sendo R$ 9.161.142,00 ao amparo

da Lei Rouanet (MINC, 2012).

Frente ao contexto internacional do pós-Guerra Fria com suas polaridades

indefinidas, o governo Itamar Franco traçou a política externa brasileira com o objetivo de

restaurar a credibilidade perdida durante o governo Fernando Collor de Mello, incentivando

práticas que se relacionavam aos princípios constitucionais de democracia, direitos e garantias

fundamentais, estando aberto a novos temas da agenda internacional ao lutar pela democracia,

desenvolvimento e paz (ABDENUR, 1995).

Os altos e baixos com relação ao incentivo à cultura repercutiram

significativamente no Brasil, tanto durante o governo de Getúlio Vargas na década de 1930

48

até alcançar novos rumos nos anos 90 com a abertura de novas instituições. Estas mudanças

aconteceram principalmente durante o mandato de oito anos do Ministro da Cultura,

Francisco Weffort, o qual implantou as alterações da Lei Rouanet, em maio de 1995, sob a

presidência de Fernando Henrique. (MINISTÉRIO DA CULTURA. DOCUMENTOS

OFICIAIS, 1995).

Com o aumento da credibilidade e respeito à atuação do Brasil no ambiente

externo, tornou-se imprescindível a inserção na economia global, tendo essa ideia sido

defendida pela política externa dos governos de Fernando Henrique Cardoso, facilitada pela

estabilidade monetária e abertura do mercado, tornando o país mais competitivo no cenário

interno e externo. Esta ação foi pautada pelas políticas neoliberais adotadas pelo governo

como prioridade em desenvolver o país economicamente, liberalizando o comércio,

substituição monetária, desnacionalização e privatização de empresas públicas e

investimentos estrangeiros. (CARDOSO, 2001).

O então Ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Palmeira Lampreia resume

as finalidades e objetivos desse paradigma diplomático adotado pelo presidente Fernando

Henrique Cardoso:

Em uma ofensiva diplomática sem precedentes na história brasileira, o presidente da

República assumiu pessoalmente a execução da política externa através de uma ativa

diplomacia presidencial, desenhada para elevar o perfil externo brasileiro e para

levar aos nossos parceiros a imagem, o discurso e as oportunidades de comércio,

investimentos e cooperação que identificaram o Brasil do Plano Real [...] As visitas

oferecem a oportunidade de apresentar os avanços brasileiros a públicos seletos de

empresários, formadores de opinião, políticos e representantes do meio acadêmico, e

de fazer o marketing de oportunidades de investimentos no Brasil (LAMPREIA

apud DANESE, p. 38, 1999).

Em 1999, ocorreram transformações no Ministério da Cultura, com ampliação de

seus recursos e reorganização de sua estrutura, promovida pela Medida Provisória 813, de 1º

de janeiro de 1995, transformada na Lei 9.649, de 27 de maio de 1998. Em 2003, o Presidente

da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aprovou a reestruturação do Ministério da Cultura,

por meio do Decreto 4.805, de 12 de agosto, que se mantém até os dias atuais. Neste ano de

2003, o Ministério lançou programas como o Mais Cultura, o Cultura Viva, o Vale Cultura e

o Cinema Perto de Você com o objetivo de ampliar o acesso aos bens culturais (MINC, 2012).

Em 2002, a mudança no governo com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva

insere uma nova ordem na política externa brasileira, que tem como objetivo a retomada de

antigos parceiros e o estabelecimento de novas parcerias por meio de um posicionamento

mais estratégico internacional. Como exemplo, a parceria histórica entre Brasil e França é

restabelecida, com o intuito de promover os interesses de ambos países na arena internacional,

49

em tomadas de decisões conjuntas sobre assuntos estratégicos (fome, comércio e

desenvolvimento), além de ter ganhado um incentivo maior no campo da diplomacia cultural

por meio dos eventos que ocorreram durante o mandato de Lula, com destaque para os anos

2005 e 2009, Ano do Brasil na França e Ano da França no Brasil, respectivamente. Estes

acontecimentos marcaram não só o desejo brasileiro de aproximação, como também do

governo francês no Brasil como importante aliado no âmbito internacional.

A política externa de Lula buscava instaurar mudança, buscando aproximar-se

estrategicamente dos países em desenvolvimento e emergentes e alcançar suas prioridades por

diferentes meios tradicionais – diplomacia tradicional do Itamaraty, diplomacia presidencial e

por uma forma pouco usual denominada de:

diplomacia partidária, feita de alianças privilegiadas com aliados progressistas e

esquerdistas do período oposicionista anterior, quais sejam, os partidos de orientação

socialista e marxista (…) e os movimentos sociais, cuja agenda política e foco de

atuação estão obviamente mais próximos daqueles do Fórum Social Mundial do que

do Fórum Econômico Mundial, de Davos”(ALMEIDA, 2007).

Desta forma, o governo Lula orientou a política externa brasileira com a ajuda de

Marco Aurélio Garcia, Assessor da Presidência para Assuntos Internacionais – membro

fundador do Partido dos Trabalhadores-, junto ao MRE. Como argumenta Amorim (2004):

a ação diplomática do Governo Lula é concebida como instrumento de apoio ao

projeto de desenvolvimento social e econômico do país, possuindo também, uma

dimensão humanista, que se projeta na promoção da cooperação internacional para o

desenvolvimento e para a paz. Está profundamente enraizada nos interesses e

esperanças do povo brasileiro. É nacional, sem deixar de ser internacional

(AMORIM, 2004).

São ações que “requerem uma aproximação entre os povos e sociedades, por meio

da arte, da cultura, da multiplicação da oportunidade de contato, baseada na vocação para o

diálogo (do governo Lula) com os mais diversos atores do cenário internacional” (AMORIM,

2004).

Um traço marcante da política externa nos dois mandatos do governo Lula foi a

presença da cultura como elemento de desenvolvimento nacional, entrelaçada nos objetivos

de inserção internacional do país. Sendo assim, o Ministério da Cultura uniu forças com o

Ministério das Relações Exteriores para adotar uma estratégia política fundada pelas relações

culturais internacionais com destaque para a Diplomacia Cultural. Desfrutando de uma maior

abertura para a cultura brasileira no campo internacional, o Ministério das Relações Exteriores

inicia uma estratégia embasada na diplomacia cultural, colocando a cultura como meio de

estreitar os laços em busca de uma maior projeção externa do Brasil, valorizando os símbolos

culturais do país, promovendo eventos artísticos e culturais em embaixadas e centros culturais

50

brasileiros ao redor do mundo. O Ministério da Cultura sob a gestão do ex-ministro Gilberto

Gil durante os seis anos (2002-2008), nome de influência na música nacional e força

internacional, teve como preocupação comparecer ativamente em eventos de divulgação do

Brasil no exterior e nestas oportunidades defendeu não somente a promoção da cultura

brasileira, mas que esta significava também a defesa da diversidade cultural, lutando contra as

diásporas do mundo afetado pela globalização.

Alfredo Maney, secretário do Ministério da Cultura, elenca as prioridades da

política cultural durante a gestão dos ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira, tendo participado

diretamente da mesma. O autor destaca dez tópicos fundamentais deste período em seu artigo:

1) a adoção de um conceito ampliado de cultura de modo a encará-la como ponto

estratégico para o desenvolvimento do país; 2) a incorporação da cultura como

direito fundamental e necessidade básica tão importante quanto outras áreas, como

saúde e educação; 3) o imperativo de considerar a promoção da diversidade

concomitantemente à política universalista, possibilitando maior visibilidade a

grupos que lutam para se afirmar simbolicamente e mitigando preconceitos; 4) a

valorização das culturas tradicionais, como a indígena e a africana, por exemplo; 5)

o estabelecimento de diretrizes para uma economia da cultura por meio da ativação,

estímulo e fomento das cadeias criativas, intelectuais e produtivas e da ampliação do

mercado consumidor; 6) a modernização da legislação do direito autoral; 7) a

modernização da política de fomento à cultura por meio do aperfeiçoamento da lei

Rouanet e de seleções públicas para a transferência de recursos; 8) o incentivo ao

protagonismo social e o apoio a periferias e comunidades em todo o país, princípio

que encontra no Programa Cultura Viva e nos Pontos de Cultura sua principal

expressão; 9) a renovação da compreensão do papel do Estado em relação à cultura;

10) a viabilização de orçamento público adequado para a consecução dos objetivos

evidenciados nas nove ações anteriores (MANEY, 2010).

Após ser comandado pelo ministro Gilberto Gil, depois pelo ministro Juca

Ferreira no governo Lula, atualmente o Ministério da Cultura é dirigido pela Marta Suplicy, a

qual tomou posse no dia 13 de Setembro de 2012 em substituição a Ana Maria Buarque de

Hollanda, que ocupava o cargo desde Janeiro de 2011 na presidência de Dilma Roussef. A

gestão de Ana de Hollanda deu indícios desde o princípio que seguiria passos opostos aos

seus antecessores, Gilberto Gil e Juca Ferreira, que defendiam a flexibilização da lei de

direitos autorais e da manutenção de políticas de cultural digital. Em suas ações, mostrou que

não compartilhava da visão anterior de promoção da cultura livre e circulação de ideias, em

especial no espaço digital.

Marta Suplicy deve seguir um meio termo entre a gestão de sua antecessora e a

gestão do Ministério no governo Lula, sobretudo na área de direito autoral e cultura digital.

Em seu discurso de posse, a nova ministra destaca a importância da cultura brasileira e de sua

projeção no cenário internacional:

O ministério não faz cultura. Ele proporciona espaços e autonomia para que a

cultura se produza. Não se pode pautar pelo mercado. Ao mesmo tempo nossos

51

artistas têm que viver da sua arte. Devemos incentivar nossa participação

internacional, esse será nosso outro desafio (MINC, 2012).

Já o Ministério das Relações Exteriores aparece como importante ator na

condução da política cultural em cenário internacional e elenca o papel da diplomacia cultural

para o Brasil:

As relações culturais no campo internacional objetivam proporcionar maior

compreensão e aproximação entre os povos. No campo da diplomacia, a cultura

constitui uma maneira de criar um ambiente propício ao entendimento por meio do

intercâmbio de ideias, experiências e patrimônios. No caso do Brasil, busca-se

promover a imagem de uma sociedade com diversidade de etnias, inclusiva,

tolerante e em constante processo de renovação. Apresenta-se o que torna a cultura

brasileira única, mas, ao mesmo tempo, revelam-se as afinidades que a une a outros

povos. Esse processo de conhecimento mútuo estimula a compreensão da imagem

do Brasil no exterior e gera familiaridade com a realidade do país (MRE, 2012).

As palavras do Ministério das Relações Exteriores têm ligação direta com o que

aconteceu no evento Ano do Brasil na França, estudo de caso apresentado no último capítulo

deste trabalho de conclusão de curso. Com o estabelecimento de relações no campo da

cultura, o Brasil aumentou sua aproximação com a França, que não se limitou, porém, apenas

a este campo específico, como veremos mais a diante, mas sim, provocou acima de tudo, uma

pré-disposição favorável para decisões futuras. Neste caso, foi através da realização dos

eventos culturais que tornou-se possível mostrar em ambiente estrangeiro a imagem que o

Brasil procurava passar: uma sociedade com diversidade de etnias, inclusiva, tolerante e em

constante processo de renovação.

Neste contexto, o Departamento Cultural do Itamaraty desempenha um importante

papel na diplomacia brasileira, abrangendo uma variada gama de funções com intuito de

aproximação do Brasil com outras nações. Resumidamente, tem como função apoiar a

divulgação da cultura brasileira no exterior, e em particular, da língua portuguesa falada no

Brasil. Além disso, trata do relacionamento do país com as instituições multilaterais de

natureza cultural. Estas ocupações são colocadas em prática pelas cinco Divisões do

Departamento: Divisão de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP), Divisão de Operações de

Difusão Cultural (DODC), Divisão de Acordos e Assuntos Multilaterais (DAMC), Divisão de

Temas Educacionais (DCE), Divisão de Promoção do Audiovisual (DAV) e Coordenação de

Divulgação (DIVULG) (ITAMARATY, 2012).

Cabe ao Departamento Cultural, através de suas Divisões, negociar acordos,

desempenhar suas atividades como organização e estabelecer contatos para realização de

eventos culturais. No início de cada ano, é examinada e definida uma programação de

iniciativas no exterior baseada nas sugestões dos Postos, a qual considera entre outros fatores,

52

as prioridades da política externa brasileira. É também função do Departamento apoiar

eventos realizados no Brasil, como festivais e bienais. (ITAMARATY, 2012).

Em cenário bilateral, o Departamento Cultural negocia, nas comissões mistas

periódicas, os programas de trabalho para implementação dos acordos culturais existentes.

Além disso, é feito o acompanhamento e a orientação da rede de Institutos Culturais e Centros

de Estudos Brasileiros no exterior e o repasse dos recursos necessários às atividades de

divulgação cultural.

Os Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores, no âmbito das relações

internacionais, têm atuado em conjunto em benefício da Convenção da UNESCO sobre

Diversidade Cultural, por meio da qual as nações assumiram uma lista de compromissos para

a promoção e proteção da diversidade cultural. Desta forma, de acordo com discursos oficial,

é peça-chave a adoção e fortalecimento dos mecanismos de política cultural no nível das

relações internacionais. De acordo com o Governo brasileiro, proteger e promover as

expressões culturais em sua diversidade é direito legítimo dos cidadãos, da sociedade civil e

dos estados nacionais (MINC, 2012).

Sendo assim, é relevante destacar a participação do Brasil na UNESCO. Como

exemplo desta missão dos países que colaboraram culturalmente entre si, a Declaração de

Viena na IV Cúpula ALC-EU relata:

Reconhecemos [os Chefes de Estado e de Governo da União Europeia e da América

Latina e Caribe] a importância da diversidade cultural enquanto fator de

desenvolvimento, crescimentos e estabilidade, conforme exemplificados pela

aprovação, em outubro de 2005, da Convenção da UNESCO para a Proteção e

Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. Apoiamos a sua rápida

ratificação e implementação. Reconhecemos que a cooperação cultural é essencial

para fomentar o diálogo intercultural e a compreensão mútua. Reafirmamos, além

disso, a nossa convicção de que as atividades e indústrias culturais desempenham

um papel importante na defesa, desenvolvimento e promoção da diversidade

cultural. Comprometemo-nos a procurar meios que permitam reforçar tanto a

cooperação União Europeia-América Latina e Caribe como a cooperação intra-ALC

e os intercâmbios de conhecimentos e boas práticas neste domínio, além de

incrementar a cooperação entre a UE e a ALC no quadro da UNESCO

(DECLARAÇÃO DE VIENA IV CÚPULA ALC-UE. 2006).

De acordo com o sítio eletrônico oficial da UNESCO (Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), esta tem como propósito contribuir para a paz

e para a segurança, promovendo colaboração entre as nações através da educação, da ciência e

da cultura, para fortalecer o respeito universal pela justiça, pelo estado de direito, e pelos

direitos humanos e liberdades fundamentais, que são afirmados para os povos do mundo pela

Carta das Nações Unidas, sem distinção de raça, sexo, idioma ou religião (CONSTITUIÇÃO

53

DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A

CULTURA,1945). Para realizar este propósito, a Organização deverá:

(a) Colaborar no trabalho de fazer avançar o conhecimento e o entendimento mútuos

entre os povos, através de todos os meios de comunicação de massa, e com esse

objetivo recomendar aqueles acordos internacionais que possam ser necessários para

promover o livre fluxo de ideias, através da palavra e da imagem;

(b) Oferecer impulso renovado à educação popular e disseminação da cultura:

colaborando com os Membros, mediante solicitação deles, no desenvolvimento de

atividades educacionais; Instituindo a colaboração entre as nações para fazer avançar

o ideal da igualdade de oportunidades educacionais, sem levar em consideração raça,

sexo ou quaisquer distinções, de natureza econômica ou social; sugerindo os

métodos educacionais mais adequados à preparação das crianças do mundo para as

responsabilidades da liberdade;

(c) Manter, expandir e difundir o conhecimento: garantindo a conservação e a

proteção do legado mundial de livros, obras de arte e monumentos de história e de

ciência, recomendando as convenções internacionais necessárias às nações

envolvidas; estimulando a cooperação entre as nações em todos os ramos de

atividade intelectual, incluindo o intercâmbio internacional de pessoas ativas nos

campos da educação, da ciência e da cultura, além do intercâmbio de publicações,

objetos de interesse artístico e científico, bem como outros materiais de informação;

desencadeando métodos de cooperação internacional calculados para dar aos povos

de todos os países acesso a material impresso e publicado, produzido por qualquer

um deles.

3. Com vistas à preservação da independência, da integridade e da diversidade

frutífera das culturas e dos sistemas educacionais dos Estados Membros da

Organização, fica a ela vedada a intervenção nas questões essencialmente restritas à

jurisdição interna desses Estados. (CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA,1945).

De acordo com a Constituição da UNESCO, “… a incompreensão mútua entre

nações tem estado sempre, no decorrer da história, na origem da suspeita e da desconfiança

entre os povos, por meio das quais seus desacordos acabam, com demasiada frequência, em

guerras.” Apesar de terem sido escritas há mais de 60 anos, essas palavras conservaram sua

pertinência, porque a necessidade de compreensão mútua é incontestável e continua sendo

atual.

A Representação da UNESCO no Brasil foi estabelecida em 19 de junho de 1964

e se tornou Escritório Nacional no âmbito do Cluster Mercosul + Chile desde a nova

estratégia de descentralização implementada pela sede da UNESCO. Em Brasília, o escritório

da UNESCO iniciou suas atividades em 1972 (UNESCO, 2012).

Por muitas décadas, a colaboração foi estreita e produtiva, mas somente em 1992,

sob a base da Declaração Mundial sobre Educação para Todos, elaborada e aprovada por

ocasião da Conferência Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990), a

UNESCO assinou um acordo de cooperação amplo com o Ministério da Educação do Brasil.

Em 1993, com base no Acordo Geral de 1981 (Acordo de Cooperação Técnica em Matéria

Educacional Científica Cultural entre o Governo da República Federativa do Brasil e a

54

UNESCO), foi assinado o primeiro plano de trabalho com o MEC, como mecanismo auxiliar

à decisão do Governo de elaborar o Plano Decenal de Educação para Todos.

A partir de meados da década de 90, o escritório brasileiro fortaleceu sua ação por

todo o país, colocando sua competência técnica a serviço de inúmeros projetos e iniciativas no

âmbito das cinco áreas temáticas da Organização, a saber: educação, ciências naturais,

ciências sociais, cultura, comunicação e informação. Aos poucos, as atividades da

Representação foram se ampliando, multiplicando-se as articulações e convênios de

cooperação técnica, tanto com o governo como com a sociedade civil. A importância dessas

ações resultou no fato de o Escritório da UNESCO em Brasília (UBO) ter-se tornado um de

seus principais escritórios no mundo. Em 2007 foi ratificada no Brasil a Convenção sobre a

Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, aprovada em 2005, a qual

contribui para o trabalho da UNESCO no país, envolvendo as relações comerciais presentes

nos serviços culturais e bens culturais, que servem como mapa para o trabalho da Organização

em prol da diversidade cultural, buscando maior diálogo e pluralismo entre as culturas e

diversos credos e nas políticas culturais.

Neste campo, o Itamaraty colabora na divulgação da arte brasileira no exterior.

Exemplos deste trabalho são as galerias e centros culturais que são criados a partir de

iniciativas de Postos, estabelecendo-se como importantes espaços de manifestações culturais

locais. Como definido pelo próprio Itamaraty, o esforço é pela realização de eventos de alta

qualidade que promovam a integração da cultura brasileira às demais culturas e realidades

existentes. O incentivo à promoção internacional das artes plásticas brasileiras busca alcançar

cada vez mais reconhecimento não apenas limitado ao meio artístico, mas de todos que podem

participar, de alguma forma, dessas atividades culturais (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES

EXTERIORES, 2012).

Entre 2003 e 2010, a Divisão de Operações de Difusão Cultural (DODC) do

Ministério das Relações Exteriores teve atuação significativa na difusão da cultural brasileira

no âmbito externo, além de servir como meio de aproximação cultural e fortalecimento das

relações diplomáticas mantidas pelo governo brasileiro junto aos demais países. Em

seguimento a política cultural estabelecida pelo governo, a diplomacia cultural destaca como

prioridade a atuação na América do Sul e África. A França não constava na prioridade de

atuação do governo brasileiro, tendo este aproveitado a oportunidade dada pelo governo

francês em participar em conjunto na organização do Ano do Brasil na França, contribuindo

positivamente para a imagem do país no cenário internacional. Nesse contexto, o papel da

DODC é:

55

a) identificar e promover iniciativas que possam difundir a produção artística

nacional e divulgar aspectos pouco conhecidos da diversidade cultural brasileira no

exterior; e

b) apoiar programações culturais tradicionais em curso nos diferentes países com os

quais o Brasil mantém relações diplomáticas (MRE, 2012).

Como ferramentas para exercer a divulgação da cultura brasileira no exterior, a

Divisão possui o Programa de Difusão Cultural (PDC), Acordos culturais e instrumentos

jurídicos, que irão desdobrar-se em reuniões das Comissões Mistas Culturais (Comistas) para

formulação de proposta de políticas públicas que promovam a troca cultural entre os países. O

grande número de Postos no exterior permite ampla atuação para as operações da DODC. O

Ano do Brasil da França foi um exemplo de realização da DODC, por meio da parceria com o

Comissariado do Ano do Brasil na França, com o Ministério da Cultura e com a Embaixada

do Brasil na França, com destaque especial para as atividades que ofereceu na saison

francesa, no Espaço Brasil, no “Carreau du Temple”.

O Ministério das Relações Exteriores define os eventos culturais no exterior e

seus objetivos como:

Os eventos culturais no exterior representam as diretrizes de política externa no

âmbito das relações culturais, tanto em nível bilateral quanto multilateral.

Manifestam-se por meio da negociação de acordos e da difusão de informações

sobre a arte e a cultura brasileiras no plano internacional. Os objetivos são:

I – promover e difundir, no exterior, a cultura brasileira em seus mais diversos

aspectos, em especial nas áreas de artes visuais, artes cênicas, música, literatura,

dança, capoeira, gastronomia, fotografia, arquitetura e design.

II – organizar e supervisionar, em coordenação com os postos no exterior, as suas

respectivas programações culturais (Programas de Difusão Cultural – PDC), bem

como as iniciativas de difusão cultural da Secretaria de Estado;

III – administrar a alocação dos recursos financeiros recebidos para as atividades de

difusão e promoção cultural;

IV – coordenar-se com o Ministério da Cultura, outros órgãos ou instituições

públicas e privadas, como também com a comunidade cultural e artística para a

promoção da cultura brasileira no exterior;

V – preparar a participação brasileira nas Comissões Mistas Culturais, previstas em

Acordos Culturais existentes entre o Brasil e outros países, em coordenação com as

unidades interessadas da Secretaria de Estado, órgãos públicos e privados; e

VI – coordenar a elaboração de Acordos Culturais bilaterais e de Programas

Executivos Culturais com países com os quais o Brasil mantém Acordos Culturais,

bem como acompanhar a sua implementação (MRE, 2012).

O apoio da DODC é feito através de concessão de passagens aéreas, pagamento

de cachês, hospedagem, organização, recepções, divulgação, montagem de mostra, edição de

livros e CDs, entre outros. Além do suporte financeiro, a DODC atende os artistas e grupos de

divulgação da cultura brasileira e apoia o Ministério da Cultura e seus órgãos, além de

contribuir para o estabelecimento da política cultural brasileira no exterior (MRE, 2012).

Os eventos culturais promovidos pela DODC têm atraído diferentes públicos

como formadores de opinião, governo local, imprensa, artistas e moradores em geral,

56

resultado de maior interesse pela cultura do Brasil, bem como o número destes eventos tem

aumentado e diversificado sua atuação em diferentes localidades, o que contribui para que

cada vez mais cresça a difusão da rica cultura deste país.

5.1 O ANO DO BRASIL NA FRANÇA

Conforme visto no decorrer deste trabalho, a utilização da cultura como recurso de

auxílio para ações diplomáticas e estratégicas de Estados na criação, ou estreitamento das

relações bilaterais com outros Estados, vem sendo largamente utilizada. Pioneira na utilização

deste recurso, a França é hoje um dos países com maior número de centros culturais, escolas

de língua e liceus, espalhados pelo mundo. Desta maneira, foi escolhido como estudo de caso,

para ilustrar a discussão presente, a relação bilateral, entre Brasil e França, estabelecida

através do evento: O Ano do Brasil na França. A partir da descrição e análise de tal evento,

busca-se perceber a utilização de ações diplomáticas brasileiras no campo da cultura e o uso

de ferramentas de soft power na relação direta com a França.

Para início da análise do evento ocorrido no ano de 2005, não cabe a ingenuidade

de acreditar que a França teve seu primeiro contato com a “verdadeira” cultura brasileira neste

ano e passou, a partir daí, a conhecer o Brasil. Vale lembrar que a cultura brasileira vem há

muitos anos participando, mesmo que de maneira sucinta, das atividades culturais francesas, e

mais do que isto, deixando influenciar-se por tal. Basta recordar o importante movimento

modernista, que incorporou de maneira direta e assimilou, as vanguardas europeias, para a

partir daí surgirem movimentos de característica brasileira como a Antropofagia e o

movimento Pau Brasil, que culminaram na semana de Arte Moderna de 1922. Além disto,

Tarsila do Amaral, Chico Buarque, Oswald de Andrade, Emiliano Di Cavalcanti, Cândido

Portinari, Heitor Villa-Lobos, Lygia Clark, Oscar Niemeyer são apenas alguns dos

importantes artistas brasileiros que viveram em Paris, tendo levado um pouco do Brasil e

trazido um pouco da França a terras nacionais.

Como descrito acima, o Ano do Brasil na França aconteceu durante todo o ano

de 2005, com início oficial, em Paris, no dia 18 de janeiro. Tendo como eixo principal a

questão da diversidade cultural brasileira, o evento, que aconteceu entre os meses de março e

dezembro, não ocorreu apenas em Paris, mas sim espalhado por toda a França. Caracterizado

como a maior manifestação brasileira ocorrida no exterior até então, uma das razões para sua

escolha como estudo de caso, o evento que teve cerca de 400 projetos culturais, entre dança,

57

Teatro, Artes Plásticas, cinema, música (de erudita a popular) e outras atividades culturais,

como seminários e discussões que abrangeram desde temas culturais até políticos e

econômicos, surgiu como uma iniciativa do governo francês. Apesar de ter representado uma

importante oportunidade para que o Brasil se mostrasse culturalmente a França e também ao

mundo, o evento cultural faz parte de um programa de origem francesa, o que provoca a

reflexão de que, através deste, a França também buscou aspectos positivos em uma

aproximação com o país.

Para marcar o inicio oficial, no início de 2005, o então Ministro da Cultura do

Brasil, Gilberto Gil, se reuniu com dois ministros franceses, Michel Barnier, Ministro das

Relações Exteriores, e Renaud Donnedieu , Ministro da Cultura, para a abertura do evento, no

Palais des Affaires Etrangères (Palácio das Relações Exteriores) (MINISTÉRIO DA

CULTURA, 2005).

O projeto faz parte do programa Saisons Culturelles Étrangères en France,

que desde 1985 homenageia diferentes países: a cada ano, um país é convidado a

levar sua produção cultural a todas as regiões francesas. Até o momento, o governo

francês já tinha recebido eventos de 18 países, entre eles: Índia, Argélia, Tunísia,

Japão, Egito e China (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2005).

Apesar do convite francês, o evento contou com organização de ambas as

nações. No Brasil, a organização foi orquestrada, principalmente, pelo Ministério da Cultura e

pelo Ministério das Relações Exteriores. Na França, pelo Ministério dos Negócios

Estrangeiros, Associação Francesa de Ação Artística (AFAA) 5, e pelo Ministério da Cultura e

da Comunicação. Para elaborar a parte conceitual dos eventos que compuseram o Ano

Cultural, foi criado um comissariado, liderado, no lado brasileiro, por André Hadar Midani,

importante figura da indústria fonográfica brasileira, convocado diretamente pelo ministro

Gilberto Gil e no lado Francês, por Jean Gautier. Através da escolha dos comissários, foi-se

desenhando a linha de conduta que o Ano do Brasil na França seguiria, afinal, Esta comissão

mista era responsável por selecionar e organizar os projetos, que fariam parte do calendário

oficial. A parte de promoção foi feita pelos franceses e a sua principal ferramenta foi o site

elaborado para o evento, desativado atualmente (AMARAL, 2012 e MINISTÉRIO DA

CULTURA, 2005).

5 Association française d'action artistique (AFAA) é parte do Instituto Francês. O Instituto Francês é o

operador da Ação Cultural fora da França. Foi criado pela Lei de 27 de Julho de 2010 relativa a ação externa do

Estado e seu decreto de aplicação de 30 de dezembro de 2010. Sob a tutela do Ministério dos Negócios

Estrangeiros, este órgão é responsável, no âmbito da política e diretrizes estabelecidas pelo Estado, por trazer

uma ambição renovada para a diplomacia de influência. Deve contribuir para reforçar o diálogo da França com

culturas estrangeiras e atender à demanda da França em um processo de parceria escuta e abertura. Presidido por

Xavier Darcos, do Instituto Francês substitui o Culturesfrance associação de caráter público, com fins industrial

e comercial.

58

Segundo o diplomata Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio e um dos organizadores do evento como integrante do Itamaraty, em entrevista

concedida aos autores:

A organização do evento era feita, principalmente, pelos 2 comissários, responsáveis

por dar aos projetos, o carimbo da parte oficial – daquilo que os dois governos iriam

se envolver de forma direta. Fora do calendário oficial, foram realizados eventos

paralelos que contavam com um apoio (não financeiro) da organização do evento.

Os eventos seguiam desde esportes até cultura, questões indígenas, exposições de

arte, seminários e feiras comerciais. Podemos dividir estes projetos em 3 grupos:

1) Dos mais de 500 eventos propostos, cerca de 300 integraram a programação

oficial, e destes, todos receberam o carimbo “labilisé” da organização oficial do

Evento, cedido pelos 2 comissários. Isto significa, que foram aqueles que os 2

governos se responsabilizaram pela execução.

2) Eventos que recebiam algum tipo de apoio informal, sem lei e sem compromisso

do governo. Não faziam parte da programação oficial.

3) salve-se quem puder.... sem apoio nenhum, eram as manifestações espontâneas

que surgiram por toda a França.

Ao aplicar e receber o carimbo – o projeto ganhava condições mais favoráveis para

se beneficiar da Lei Rouanet, e assim buscar o apoio das empresas, com o slogan:

“este projeto foi aprovado para fazer parte do Ano do Brasil na França (AMARAL,

2012).

Os governos do Brasil e da França também foram grandes financiadores do

evento, não se responsabilizando porém, pelos custos de todos os projetos envolvidos. Os

projetos que não fossem financiados pelos dois governos, eram financiados, em sua maioria,

por órgãos ou empresas brasileiras ou pelos próprios grupos artísticos, sempre estabelecendo

parcerias com instituições locais. O Governo brasileiro financiou inteiramente alguns dos

projetos, considerados como projetos do Governo, como foi o caso da exposição do artista

plástico Amilcar de Castro e também o pavilhão Brasileiro construído especialmente para o

Ano Cultural. Estes projetos representavam o que o Governo apoiava 100% e gostaria que

fizessem parte do calendário oficial, como propostas do Governo. Grandes empresas

brasileiras, como a Vale e a Petrobrás, foram as principais fontes de subsídios, tendo como

retorno a dedução de seu Imposto do Renda, através da Lei Rouanet, anteriormente

explicitada, que serve de mecanismo governamental para o patrocínio de projetos culturais

pelas empresas por meio de incentivo fiscal, tendo sido bastante utilizado nos últimos anos, ao

aliar tanto a exposição da imagem da empresa em um evento/mostra cultural, como também

beneficiando os interesses financeiros com o bom uso dos impostos em prol de uma causa

maior de divulgação da cultura brasileira (FIGUEIREIDO, 2010).

A ação estratégica do governo brasileiro, de participar de um evento cultural de

grande porte na França, como uma maneira de difundir a imagem do Brasil no exterior,

envolvendo a comunidade local de brasileiros e buscando estreitar as relações entre os dois

países fica clara no artigo escrito para o jornal O Estado de S.Paulo pelo Embaixador Rubens

59

Barbosa, que esteve na França em outubro de 2005, surpreso com a repercussão do Ano do

Brasil:

Num mundo globalizado e de comunicação imediata, é regra do jogo a competição

em todos os campos – econômico, financeiro, por espaço na mídia, no mundo das

artes e por aí a fora. Em recente passagem por Paris pude constatar como uma ação

planejada conjuntamente pelos Governos da França e do Brasil pode ampliar e

diversificar a percepção dos franceses sobre nosso país. Trata-se do Ano do Brasil

na França. (...) A presença cultural do Brasil numa cidade irradiadora de informação

como Paris e visitada por um enorme número de turistas de todas as nacionalidades

mostra como é possível querendo e sendo criativo ajudar a projetar nosso país como

um parceiro moderno, dinâmico, e não apenas o país do carnaval.

Declarações como esta mostram o grande interesse do Brasil em participar de um

evento como este para mostrar a imagem desejada aos franceses e a toda comunidade

internacional, tomando cuidado para que não seja passada uma imagem “incorreta” do país.

Mesmo assim, não se esconde a importância dada ao impacto do evento, presente ainda no

mesmo discurso do Ministro:

Um outro aspecto importante é o impacto que essas relações bilaterais podem

produzir em vários níveis, (…) sobre a expressão artística, o comércio de bens e

serviços, o turismo e a política (GIL, 2005).

Do outro lado, a França não deixou de concordar e afirmar que o evento estreitaria

os laços políticos e diplomáticos (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2005).

Com o objetivo maior de mostrar a diversidade cultural brasileira, foram

apresentados diferentes aspectos da nossa cultura, desde o samba e a capoeira, até a música

clássica e a arte contemporânea. Simultaneamente, eram apresentadas e discutidas questões

importantes da nossa economia, política e aspectos sociais. Segundo Sergio Amaral (2012), o

Governo brasileiro preocupou-se em não levar apenas cultura de elite, mostrando também a

produção popular. Buscou-se, acima de tudo, mostrar não apenas à França, mas também ao

mundo, a riqueza de inovação cultural que o Brasil possui, e principalmente, seu pluralismo –

um país de pluralidade religiosa, étnica e cultural em que impera a boa convivência e em que

há uma interpenetração. Mostrar o Brasil em sua diversidade. Ao mesmo tempo havia

manifestações que passavam a imagem de um Brasil moderno, como era o caso das feiras de

tecnologia e exposições de arte contemporânea. Também segundo Amaral:

Cada país tem a preocupação de se mostrar no exterior, as nações colonizadoras

devido a sua própria história, já são conhecidas por todos, mas as nações que foram

colonizadas querem se mostrar ao mundo. Fazer com que as pessoas saibam de sua

cultura, gastronomia, queiram conhecer o país, esta é a forma de estabelecer relações

que não se baseiem apenas no poder econômico e político – a cultura traz uma

espécie de persuasão, de entendimento e de admiração (AMARAL, 2012).

60

Sendo assim, torna-se clara a importância dada pelo Governo brasileiro, aos

impactos e respostas advindas de ações como estas. Através da intensificação das

manifestações culturais de um país no exterior, este pode estabelecer relações de diferentes

naturezas com outras culturas, o que pode implicar em aproximações tanto econômicas, como

sociais.

Divididas, pelos comissários, em três grupos, ou três fases, as manifestações

culturais eram agrupadas seguindo características temáticas, com os títulos: Raízes do Brasil,

focando mais nas raízes indígenas e na natureza brasileira, Verdade Tropical, que deu

destaque à música, e por último, a fase Galáxias, que mostrou a produção contemporânea e

também jovem do país.

Em Raízes do Brasil, foi homenageado o reconhecido historiador Sérgio Buarque

de Holanda, cuja obra homônima descreve o processo de formação da cultura brasileira,

passando por aspectos históricos importantes, como a colonização portuguesa, até as origens

indígenas e influências africanas no país. Sendo a fase de abertura da programação, é

relevante observar a Mostra de abertura: Le Brésil Indien, no Drapper Musée; que apresentou

a história das influências indígenas em nossa cultura, até a atualidade, marcando não só o

início do evento, mas também o início do Brasil. Diversas apresentações musicais

aconteceram, principalmente, mas não só, na Cité de La Musique, mostrando desde a música

regional brasileira, bem como a música popular e contemporânea. Um exemplo foi a

exposição Músicas Brasileiras: os Ritmos do Brasil, que aconteceu entre os meses de março e

junho, no Musée de La Cité de La Musique, e procurou contar um pouco da história musical

do país (FIGUEIREDO, 2010).

A importância da música como linguagem presente no país desde os primórdios,

fica em evidência nesta fase e exemplifica um setor cultural brasileiro muito explorado

internacionalmente.

Os espetáculos, que também atraem norte-americanos, são, no mais das vezes,

organizados por brasileiros e representam momentos únicos para galvanizar a

imaginação dos migrantes sob o mesmo guarda-chuva simbólico-cultural, a musica,

que os une verdadeiramente, naquelas horas, como uma comunidade que, em co-

presença, pode se ver, se tocar, se conhecer... De fato, os músicos brasileiros em

turnê pelo exterior são uma das maiores fontes de manutenção e reprodução da

identidade brasileira (RIBEIRO, 1999, p.50).

A fase que se segue, Verdade Tropical, homenageou o intérprete e compositor

brasileiro, Caetano Veloso, tendo como ponto de partida seu livro autobiográfico homônimo.

Apesar do título, esta fase não se limitou a dar enfoque ao Tropicalismo, importante

movimento de ruptura, ocorrido entre as décadas de 1960 e 1970 e encabeçado,

61

principalmente, pelos cantores e compositores Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, mas

sim, caracterizou-se pelas manifestações de rua, espalhadas por diversas cidades francesas.

Atendo-se à questão da liberdade de expressão artística e diversidade cultural brasileira. Para

tornar mais clara a relação que se buscou estabelecer entre a visão do livro Verdade Tropical e

este grupo de manifestações culturais, segue trecho escrito na contra capa da obra de Caetano:

Do Fundo escuro do coração solar do hemisfério sul, de dentro da mistura de raças

que não assegura nem degradação nem utopia genética, das entranhas imundas (e, no

entanto, saneadoras) da internacionalizante indústria do entretenimento, da ilha

Brasil pairando eternamente a meio milímetro do chão real da América, do centro do

nevoeiro da língua portuguesa, saem estas palavras que, embora se saibam de fato

despretensiosas, são de testemunho e interrogação sobre o sentido das relações entre

os grupos humanos, os indivíduos e as formas artísticas, e também das transações

comerciais e das forças políticas, em suma, sobre o gosto da vida neste final de

século (VELOSO, 1997).

Os eventos de Verdade Tropical possibilitaram que um grande número de pessoas

tivesse seu caminho intercedido por manifestações culturais que mostravam um Brasil

diversificado, e culturalmente rico. Ali foram apresentadas manifestações de caráter livre e

popular, como o carnaval, concertos e teatros a céu aberto, levando à França, um pouco das

manifestações de rua que acontecem no Brasil (TROPICALIA, 2007).

A atração Samba Parade, merece destaque por, além de ter representado a

manifestação brasileira de rua mais conhecida Internacionalmente, o Carnaval, ter também

sido itinerante, transitando por cinco diferentes regiões da França, atraindo um grande

público, e apresentando desde o samba em si, até atividades esportivas e gastronômicas

(FIGUEIREDO, 2010).

No que diz respeito às Artes Plásticas, vale dar destaque a exposição individual da

artista Tarsila do Amaral, apresentada, pela primeira vez na França, em quase 100 anos. O

evento que aconteceu, originalmente, no ano de 1926, ganhou tamanha importância na época

por ter caracterizado o lançamento da artista brasileira no cenário Internacional e também, o

motivo pelo qual Tarsila não participou da semana de Arte Moderna de 1922 no Brasil,

momento que mudou, para sempre, a história artística do país. Com curadoria de Paulo

Herkenhoff, Tarsila do Amaral: O Nascimento do Modernismo no Brasil exibiu cerca de 50

obras, entre pinturas, estudos, documentos que marcaram a trajetória da artista no país, assim

como, obras de artistas por ela influenciados. Apresentando os traços do modernismo,

movimento surgido na Europa, em sua versão brasileira, repleto de cores e formas, a

exposição acaba por exemplificar a inserção do Brasil no cenário Internacional através das

artes, ainda na década de 1920 (FIGUEIREDO, 2010).

62

A Terceira e última fase foi chamada de Galáxias, fazendo referência ao livro de

Haroldo de Campos, importante poeta concretista brasileiro, e tendo como centro temático, o

continuo desenvolvimento do Brasil, e a sua inserção no cenário e Mercado mundial. Assim,

foram apresentadas, principalmente, manifestações de caráter contemporâneo, como danças,

artes visuais e teatro. Um destaque foi o artista plástico brasileiro, Hernesto Neto, bastante

reconhecido internacionalmente, com diversas exposições realizadas na Europa e Estados

Unidos, que criou uma de suas instalações, em tecidos, “Leviathan Thot”, dentro do

Pantheón, um dos principais edifícios da capital francesa. Produzida especialmente para a

ocasião, mas apresentada posteriormente, em 2006, a obra demonstra a qualidade e

singularidade da arte contemporânea brasileira e a conquista de espaço que as nossas

representações ganharam após 2005. O artista baiano, Merepe, também ganhou destaque, por

apresentar obras com fortes características da cultura de seu Estado, exemplificando a

diversidade e riqueza da cultura e produção brasileira (BBC BRASIL, 2006).

Além dos já descritos eventos culturais, foram também apresentados eventos de

caráter comercial, como foi o caso dos encontros de empresários da indústria criativa. Um

exemplo, foi a Semana do Rio de Janeiro, entre 6 a 12 de junho, promovida pela Firjan e pelo

Sebrae, para promover a indústria e comércio do país. Cerca de 150 empresários dos setores

de turismo, moda, tecnologia, audiovisual, entre outros estavam presentes no evento com

amostras de produtos e serviços. Ainda nas conhecidas Galeries Lafayette e no Printemps,

foram introduzidos diversos produtos brasileiros, muitos passaram a fazer parte do portfólio

de mercadorias destes centros comerciais, até os dias de hoje. Ações como estas deixam claro

o uso da Diplomacia Cultural em conjunto com a Diplomacia Econômica para aproximar

outros setores dos dois países (Jornal do Brasil RJ, Leneide Duarte, 2005 e AMARAL, 2012).

Quando questionado sobre os impactos de tal evento cultural em áreas diferentes,

Sérgio Amaral comenta:

Esta parte cultural é muito boa para o comércio. Se é oferecido um jantar onde

serve-se caipirinha, após este jantar as pessoas podem passar a comprar cachaça. O

que fizemos muito, inclusive foi iniciativa minha, foi o Ano Cultural do Brasil na

França, na Galeries Lafayette e no Printemps , com amostras de produtos brasileiros,

desfiles de moda e apresentações musicais, como o show do cantor Seu Jorge. A

moda brasileira entra no Lafayette via Ano cultural do Brasil na França

(AMARAL,2012).

A cerimônia de encerramento aconteceu no Brasil, em São Paulo, em

dezembro de 2005. Marcada por números expressivos: 161 cidades francesas receberam os

mais de 1900 artistas brasileiros, parte dos 430 eventos oficiais. Aconteceram, ao todo 224

63

exposições, mais de 850 espetáculos musicais e de dança, 31 mostras de cinema e 83 eventos

de literatura e discussões (FOLHA ONLINE, 2006).

Um ponto interessante a ser destacado foi o grande envolvimento da sociedade

civil brasileira, que demonstrou o real interesse do público em participar e apresentar projetos,

ou mesmo, criar projetos espontâneos que seriam realizados paralelamente. Segundo a

organização do evento, o envolvimento maior foi o da comunidade de brasileiros que vive na

França, uma preocupação dos Governos desde o início. Este tipo de iniciativa ajudou a

enriquecer a oferta de atrações em solo francês e mostrou a receptividade desta comunidade

de brasileiros, ajudando a fortalecer a idéia de um país onde impera o pluralismo cultural

(AMARAL, 2012).

Ainda sobre esta questão, Sérgio Amaral comenta:

No momento em que a diplomacia não é mais apenas uma área privativa dos

funcionários diplomáticos, ficando apenas entre os governos e intermediada pelos

diplomatas, mas sim, foi se abrindo, hoje as relações entre os Estados não são mais

apenas entre o “soldado e o diplomata” (um para fazer a paz e o outro para fazer a

Guerra). Existem hoje milhares de atores no jogo internacional, é preciso

comunicar-se com a sociedade também. Na medida em que surge uma necessidade

de falar coma sociedade, o Governo tem que se estruturar e criar instrumentos que

permitam este diálogo, pois a opinião publica – nacional e internacional – conta

muito. É a partir daí que a questão cultural se transformou em um instrumento

importante da diplomacia pública. Este é o papel principal de tudo isto que se faz:

promover uma determinada Imagem do país, o que se torna muito importante no

jogo internacional (AMARAL, 2012).

A partir das palavras do diplomata, torna-se fácil entender a importância do

grande envolvimento da sociedade civil, o que exemplifica a sua aceitação e também o

sucesso do evento. Através da disseminação da imagem desejada, um país procura ganhar

espaço no cenário Internacional e acima de tudo, conquistar respeito, confiança e força,

perante os demais atores.

Os resultados desta iniciativa são difíceis de mensurar, mais difícil ainda dizer se

houve retorno financeiro direto, porém números comprovam o sucesso e importância do

acordo cultural que gerou o Ano do Brasil na França. O público total do evento, na França, foi

estimado em 15 milhões de pessoas, divididos entre uma media de 7.979.556 visitantes

frequentaram as exposições, 6.100.000 estiveram presentes em eventos multidisciplinares e

mais de 442 mil pessoas nas apresentações musicais, segundo números oficiais. Estima-se que

a mídia francesa destacou o Ano do Brasil na França em mais de 15 mil artigos impressos, 35

revistas com tiragem superior a 8 milhões de exemplares, mais de 80 programas de Televisão

e 66 programas de rádio (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2005)

64

Partindo de uma história de boas relações entre Brasil e França e resultando no

aprofundamento dos laços, Sergio Amaral observa:

O Ano do Brasil na França, gerou frutos positivos, mas é impossível medir

quantitativamente estes eventos culturais, porém, eles ficam no imaginário das

pessoas. A cultura é de extrema importância pois cria uma proximidade e uma

familiaridade entre países, o que influencia nas relações políticas e econômicas. Um

exemplo foi a recente escolha do Brasil pelos aviões franceses, advinda não apenas

de interesses econômicos, mas também de uma pré-disposição favorável

(AMARAL, 2012).

Sendo assim, fica clara a ação diplomática cultural do Governo brasileiro ao

aceitar o convite para participar da Saison Culturel francesa. Além disto, demonstra a crença

de que uma ação de Diplomacia Cultural possa influenciar indiretamente uma relação

comercial entre dois países, trazendo, através da cultura, frutos econômicos. Apesar da

dificuldade em mensurar os resultados, impactos em diferentes áreas puderam ser percebidos.

Sobretudo, cumprindo seus objetivos maiores, o governo brasileiro empenhou-se em passar

uma imagem estratégica do país. Seguindo os maiores objetivos do governo vigente ao aceitar

participar de tal evento, procurou-se mostrar ao mundo, acima de tudo, uma imagem de um

país que se destaca no cenário global, por suas características únicas. Segundo as palavras do

ex-embaixador:

Lembrem-se que nós estávamos em meio a um Governo Lula, e o Ministro da

Cultura era o Gilberto Gil. A politica cultural do Brasil, normalmente quer cobrir os

déficits (até alguns anos atrás os déficits estavam na imagem de um país simpático,

atraente, futebol, samba, praia, mulheres de biquíni, mas não um país sério.) A ideia

então, sempre foi mostrar ao mundo, um Brasil sério, do avanço tecnológico, de uma

arte de boa qualidade. Porém com o Governo Lula, e o Gil, eles fizeram um outra

opção de imagem a ser passada: mostrar o Brasil tal como ele é – a diversidade

brasileira. A preocupação não se focou no déficit de seriedade, mas sim inteiramente

na questão da diversidade, o Brasil como um país onde as pessoas vivem bem entre

segmentos muito diferentes. O objetivo é mostrar um país, que em meio a um

período mundial que vive corroído por conflitos, por seitas e guerras, vive em paz, e

possui diferentes comunidades que convivem muito bem. Um país de atrações

incríveis, que as pessoas ficam curiosas a conhecer, como por exemplo a Amazônia.

Este foi o objetivo: mostrar o Brasil na sua diversidade, na sua riqueza cultural, na

sua capacidade de inovação (AMARAL, 2012).

Esta mudança na imagem que o Brasil deseja passar à comunidade

Internacional, deixa clara não apenas as diferenças entre o governo vigente na época e o

anterior, mas também as conquistas já alcançadas na inserção do país como um importante

player no cenário mundial e os objetivos de imagem para complementar aquilo que já se

conquistou.

O Brasil não foi o único beneficiado de tal iniciativa, a França tem na Cultura

um ponto importante da sua formação externa, além de sua tradição no setor. Através da

realização das Saisons Culturelles, o país promove um diálogo interessante e intenso entre as

65

culturas e abre as suas portas para receber grandes exposições e outras manifestações, não só

criando um ambiente de intensas trocas culturais, mas também criando atrações adicionais que

enriquecem sua oferta cultural e atraem mais pessoas ao país (AMARAL, 2012)

Através deste instrumento da Diplomacia Cultural, a França mostra sua

cultura ao mundo, objetivando, assim, a criação de uma imagem de simpatia,

proximidade e afetividade, sobretudo para países que têm, como o Brasil, uma forte

tradição de laços culturais com o país. A presença francesa no Brasil data desde o

século XVI, com a chegada de Dom João VI e sua missão cultural repleta de

pintores portugueses e Franceses. Mais recentemente, a Universidade de São Paulo,

foi fundada com grande influência de uma missão francesa no país, sendo assim, o

Ano do Brasil na França relembra e aprofunda estes laços históricos, além de

promover, em conjunto, a cultura de ambos os países. (AMARAL, 2012)

Este relato ilustra a ideia do evento em mostrar ao mundo o Brasil do avanço

tecnológico, em passar uma imagem “séria” do país, para que não fosse visto apenas como o

país da festa, samba e futebol.

66

6 CONCLUSÃO

Este trabalho de conclusão de curso buscou sensibilizar o leitor sobre a relevância

de ações de Diplomacia Cultural para as relações de um país com outros no cenário

internacional, aproximando ou afastando Estados e influenciando nas decisões políticas e

econômicas. Através de ações culturais, um Estado pode incrementar suas ferramentas de

poder, tornando possível pensar soluções diferenciadas para a conquista de espaço no cenário

mundial.

Partindo da ideia de que as nações modernas são híbridos culturais e que portanto,

desenvolvem uma cultura própria que pode ser difundida pelo mundo, ações como o Ano do

Brasil na França desempenham um papel fundamental na construção da imagem de um país,

influenciando a maneira como este é visto por todos no jogo de poder internacional. Através

da construção de um discurso, estrategicamente pensado, são transmitidos ao mundo, os

ideais de um país e seu posicionamento frente a questões comuns.

Aliadas as ferramentas de hard power, o soft power, e neste caso o “soft power

cultural”, tornou-se uma importante maneira de posicionamento de um país, principalmente

do Brasil, que pode assim distanciar-se das comparações de força “física” e militar.

Cada país tem a preocupação de se mostrar no exterior e tornar-se familiar às

nações que os interessam, criando vantagens para si, e fazem isto aproveitando-se das

características culturais comuns ou da unicidade de cada um. No momento em que a

diplomacia não é mais uma área reservada apenas aos governos e encabeçada por diplomatas,

mas aberta para a comunicação com a sociedade, como mostrou a análise de caso, a questão

cultural tornou-se um instrumento importante para a diplomacia pública.

Se indivíduos em coletividades forjam, moldam e mudam a cultura por meio de

ideias e práticas, os impactos de uma ação como o Ano do Brasil na França são de fato

imensuráveis, afinal a cultura oferece uma característica única de aproximar as pessoas pela

semelhança ou pela curiosidade da diferença, exercendo um poder sutil de influência no

campo das ideias que transborda para respostas concretas em todos os campos de decisão, seja

pela criação de uma pré-disposição favorável, ou seja por despertar afinidades. Através de

ferramentas de Soft Power, uma nação procura controlar a imagem a ser passada, de maneira a

atingir seus objetivos em todos os campos: econômico, politico e social.

O poder exercido em termos discursivos, assim como pregam os construtivistas,

nasce e ganha força através da união de um povo em torno de suas características comuns e

67

da maneira escolhida por este, ou por seus governantes, para transpassá-las ao mundo,

fortalecendo a sua identidade e sua unicidade.

Os governos precisam entender melhor as possibilidades desta prática, fornecer

mais fundos, e pensar sobre uma maior participação e “democratização” dos instrumentos de

diplomacia cultural, buscando assim possibilidades para substituir as clássicas maneiras de

conquista de poder.

Neste cenário encontra-se um embate entre o público e o privado. Ao mesmo

tempo em que o Estado patrocina eventos e manifestações culturais, convive com um

crescente domínio do setor privado nesta área, beneficiado pela revolução da informação. A

comunicação não depende mais apenas do patrocínio do Estado, o que impacta as mensagens

recebidas pela sociedade civil, tendo um efeito direto sobre os programas culturais. Porém o

Estado também conta com o apoio do poder privado no patrocínio de seus eventos culturais,

como ocorrido no Ano do Brasil na França. O Estado não perdeu o seu poder de

representação, porém na era moderna necessitou aprender em como partilhá-lo com outros

atores.

O uso da diplomacia cultural é importante para a construção da imagem do país,

o que tem sido utilizado pelo Estado brasileiro em sua estratégia de moldar um discurso sobre

o Brasil, disseminando não apenas a diversidade deste rico país, como também destacando a

sua seriedade no que tange o desenvolvimento econômico e tecnológico, sendo este um

aspecto marcante no debate realizado sobre o Ano do Brasil na França.

Além disso, o Estado também se preocupa em apresentar uma face cultural

“editada” do Brasil, o que se reflete na escolha dos artistas e projetos que formaram o evento

do Ano do Brasil na França, fazendo parte assim da estratégia de política cultural do governo.

Pode-se concluir, portanto, que a realização do ano do Brasil na França

comprovou que a apresentação da cultura brasileira, mostrada de forma diversificada, em sua

enorme quantidade de etnias e complexidades, por meio de diversos tipos de manifestações

culturais de alta qualidade e que atraíram grande público ao evento, trouxe assim, visibilidade,

despertando um inesperado interesse da população, assim como da mídia, mesmo em um país

com alto grau de exigência como a França. Assim, ficou nítida a capacidade do Brasil de

alcançar novos e ainda mais altos patamares de grau de interesse e conhecimento do país.

68

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APÊNDICE A - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTACOM PROFISSIONAL

ENTREVISTA COM SÉRGIO AMARAL

PERGUNTAS ELABORADAS PELOS AUTORES:

1. A França vem realizando há algum tempo, “anos de países” dentro do seu

território. Em 2005 foi a vez do Brasil. Da onde surgiu o convite? Foi uma idéia do governo

francês ou o projeto já começou com uma parceria?

2. Quando começou a ser realizado o projeto para o Ano do Brasil na França?

3. Quem foram os principais envolvidos?

4. Como se deu o financiamento para o evento? A França teve algum papel neste

ponto?

5. Como funcionava o apoio dos órgãos públicos e particulares? Havia dedução

de Imposto de renda? As empresas escolhiam quais artistas gostariam de apoiar?

6. O Evento foi dividido em três fases: Verdade Tropical, Galáxias e Raízes do

Brasil. Como se deu esta divisão?

7. Quem fez a proposta destas 3 linhas?

8. Os artistas podiam “aplicar” seus projetos para que fossem parte do Ano do

Brasil na França. Através de um processo de edital aberto, correto? Qual foi o critério para a

seleção dos artistas? Todos artistas passaram por um processo de seleção ou existiram artistas

convidados? O mesmo aconteceu nos casos dos curadores, como Paulo Herkenhoff

9. Quem criou a concepção artística do evento?

10. Quem selecionou e convidou estes artistas/midias?

11. Os artistas tinham liberdade total para criar sua obra ou havia algum tema?

12. Houve uma preocupação quanto ao equilíbrio de linguagens?

13. Como foi divulgado isto?

14. Qual foi o critério para o corte dos projetos não participantes?

15. Alguns projetos não selecionados para o calendário oficial fizeram parte de

um evento paralelo. Houve algum apoio dos organizadores do evento, ou foi algo realmente a

parte?

16. Qual o envolvimento com a Sociedade Civil? Houve um diálogo? As pessoas

podiam dar opiniões na seleção dos projetos?

76

17. Há uma grande comunidade de brasileiros na França. Isto foi uma

preocupação?

18. Podemos dizer que o Ano do Brasil na França foi um exemplo de

Diplomacia Cultural?

19. Todos os envolvidos tinham clareza desta característica? (reformular esta

pergunta...)

20. Do ponto de vista da Diplomacia Cultural, como o Sr classifica os resultados?

21. A mídia francesa teve um importante papel na divulgação do evento. Como

foi a divulgação da mídia brasielira?

22. Houve retorno financeiro?

23. Como o próprio Ministro da Cultura na época, Gilberto Gil, disse, o objetivo

maior era mostrar a diversidade cultural e a modernidade brasileira. O Sr. Acredita que o

Ano do Brasil na França modificou a imagem do Brasil para os franceses, de maneira geral?

24. Muitos dos resultados são impossíveis de mensurar. Quais resultados são

possíveis de medir?

25. Quais foram as principais diferenças entre o Ano do Brasil na França e o Ano

da França no Brasil?

ENTREVISTA

Sérgio Amaral: Qual é o tema de vocês?

Julia Clemente: Diplomacia Cultural e Soft power, usando como estudo de caso o

Ano do Brasil na França.

S.A: E o conceito de Diplomacia Cultural e de Soft power é a mesma coisa?

(risada). Ok, vamos começar.

Julia Clemente: A França vem realizando ha algum tempo, “anos de países”

dentro do seu território, as chamadas Saisons Culturelles . Em 2005 foi a vez do Brasil. Da

onde surgiu o convite? Foi uma ideia do governo francês ou o projeto já começou com uma

parceria?

Sérgio Amaral: A ideia foi da França, que tem na Cultura um ponto importante da

sua formação externa, uma grande tradição do país em matéria de cultura. Por exemplo, eles

criaram o site do programa, foi uma sugestão deles e criado por eles.

77

Primeiro de tudo, podemos dizer que existiram alguns objetivos e proveitos para a

França. Em primeiro lugar, ao receber grandes exposições culturais de países que têm uma

relevância cultural, a França está criando atrações adicionais para o turismo. Assim, é criado

um conjunto de atrações adicionais que enriquecem a oferta cultural da França para os seus

turistas. Em segundo lugar, a França tem na cultura, um aspecto muito importante da sua

diplomacia e da sua projeção cultural.

Tem também o ano cultural da França no exterior, então é este um instrumento

importante de ação diplomática cultural, e uma maneira de mostrar a França.

Através destes projetos, busca-se não apenas mostrar a cultura francesa, mas sim,

criar uma imagem de simpatia, de afetividade, sobretudo para países que têm, como nós, uma

tradição muito forte de laços culturais com a França.

A presença francesa no Brasil começa desde o século XVI, com os Corsários”.

Com o tempo ela vai se tornando cada vez mais, de um lado, uma presença econômica e

comercial, e de outro uma presença cultural: Dom João VI, quando veio para ca trouxe uma

missão cultural que gerou muitas das pinturas dos períodos coloniais, que em grande parte,

eram de autoria de pintores franceses.

Mais recentemente, a Universidade de São Paulo, foi criada por uma missão

francesa, ou com a participação deles.

A França já tem, com o Brasil, uma relação cultural histórica. O Ano do Brasil na

França e também o Ano da França no Brasil, relembra e aprofunda estes laços. Isto conta

muito.

Um país que o Brasil, hoje, tem uma boa vontade, uma simpatia, é a França. Toda

esta história de boas relações e este aprofundamento dos laços, que se deu a a partir do Evento

Ano do Brasil na França, gerou frutos positivos, mas é impossível medir quantitativamente

estes eventos culturais, porém, eles ficam no imaginário das pessoas. A cultura é de extrema

importância pois cria uma proximidade e uma familiaridade entre países, o que influencia nas

relações políticas e econômicas. Por exemplo, a escolha do Brasil pelos aviões franceses, no

ano passado. Não há uma ligação direta entre as ações, mas podemos enxergar uma

predisposição favorável.

Ao realizar o nosso ano cultural, nós também estamos buscando nos mostrar ao

mundo, afinal a França é um grande espaço cultural internacional. Tivemos vários

personagens da nossa história cultural com uma forte influência francesa, como por exemplo,

Heitor Villa Lobos, e muitos pintores estudaram na França. Então nós nos mostrarmos neste

78

espaço, é muito importante para a Imagem do Brasil. Busca-se passar uma imagem de

simpatia, de cultura, de realizações.

Este intercâmbio cultural ocorre cotidianamente, mas o Ano Cultural é uma

grande concentração: um choque cultural!

A cobertura da mídia francesa foi impressionante, e em sua maioria foi mídia

gratuita. Emissões de TV as mais prestigiosas da França, cobriram o evento e fizeram

matérias inteiras, não apenas sobre o Ano, mas também sobre o Brasil, assim como os rádios

e jornais, revistas de turismos. Foi uma presença maciça.

Julia Clemente: Esta incrível resposta da mídia francesa foi uma característica

específica do Ano do Brasil, ou isto acontece todos os anos?

Sérgio Amaral: Depende do país, mas com certeza há um interesse especial no

Brasil. Nos casos dos anos do Marrocos ou da Bulgária, não houve tanta resposta. No nosso

caso o que houve foi uma participação muito intensa, pois os franceses conhecem e gostam do

Brasil, e principalmente porque há uma grande comunidade de brasileiros vivendo na França.

Mais de 500 eventos previstos, não apenas organizados pelo governo brasileiro,

ou pelo ministério da Cultura francês, mas também centenas de eventos espontâneos –

organizados principalmente pelas comunidades de brasileiros nas cidades francesas. Houve

uma participação maciça da comunidade franco-brasileira, os organizadores do evento

apoiavam (não financeiramente) estes eventos paralelos espontâneos. O Ano do Brasil na

França chamou muita atenção devido a proximidade entre os 2 países – muitos franceses

conhecem o Brasil, a música brasileira é muito conhecida na França, assim como a literatura -

Jorge Amado foi muito traduzido para o Francês – e acima de tudo, o Brasil tem uma

singularidade, é um país diferente que por isto, desperta interesse. Houve uma certa vontade

de participação, nos fazemos parte do universo de interesses deles, e vice-versa. Pasteur já era

amigo de Dom Pedro II.

Não sei se vocês se lembram, mas a primeira ida de um índio brasileiro à Europa

foi para Rouen, no centro norte da França, então para o evento, os organizadores quiseram

levar um grupo de índios para o evento: Caiapós, que se apresentaram na rua, em Nancy.

Houveram vários pontos de contato entre o Brasil e a França que foram

rememorados, revalorizados, mostrando como esta comunhão entre França e Brasil vem de

muito tempo. As convergências politicas e os interesses econômicos, no Brasil há empresas

francesas a mais de cem anos....

Durante o Ano Cultural há algumas coisas que a França tem interesse em mostrar,

como foi o caso da exposição do Levi-Strauss, que aconteceu no Grand Palais (ou Louvre), o

79

maior antropólogo francês - criou o estruturalismo - buscaram coisas do antropólogo aqui no

Brasil.

Fizemos a exposição sobre a Amazônia, patrocinada pelos Estados Amazônicos.

No inicio é uma espécie de colheita, você vai colhendo aquilo que faz sentido....

Aliás, houveram as grandes exposições, patrocinadas pelos 2 governos, como foi

o caso da exposição do Krajberg, artista que está diretamente ligado a questão ambiental –

levada muito a sério na França. E muitas vezes com contribuição financeira da grandes

empresas brasileiras e francesas.

As grandes exposições foram os carros chefes do evento, mas aconteceram

também as exposições de médio porte, muitas vezes promovidas pelos Estados. Houveram

grandes empresas ou entidades ligadas a França que quiseram fazer coisas lá, tudo isto foi

juntado pelos 2 governos, através dos comissários: um Francês e um brasileiro, que

selecionavam os projetos.

Organizaram as exposições, os 2 comissários com ajuda das embaixadas. A parte

de promoção foi feita pelos franceses e a sua principal ferramenta foi o site, hoje fora do ar,

que era dividido por setores.

Quem selecionou o comissário brasileiro foi o ministro da Cultura, Gilberto Gil.

Os gastos eram compartilhados entre os dois governos e haviam muitos

patrocínios, mas o projeto em si era muito caro devido ao tamanho das exposições.

Todo mundo queria participar, a prefeitura de Paris resolveu fazer uma praia

brasileira a beira do Sena (Paris Plage), que depois virou um hábito e existe até hoje no verão

europeu.

Como eu disse, a organização do evento era feita, principalmente, pelos 2

comissários, que eram responsáveis por dar o carimbo da parte oficial – daquilo que os dois

governos vão se envolver. Fora do calendário oficial, foram realizados eventos paralelos que

contavam com um apoio (não financeiro) da organização do evento.

Havia eventos desde esporte, até cultura, índios, exposições de artes, seminários,

etc. Havia 3 grupos:

1) Dos mais de 500 eventos, cerca de 300 integraram a programação oficial e

destes, todos receberam o carimbo “labilisé”, da organização oficial do Evento, cedido pelos 2

comissários. Isto quer dizer que foram aqueles que os 2 governos se responsabilizaram pela

execução.

2) eventos que recebiam algum tipo de apoio informal, sem lei e sem

compromisso do governo. Não faziam parte da programação oficial.

80

3) salve-se quem puder.... sem apoio nenhum, manifestações espontâneas!

Você poderia aplicar apenas para ter o carimbo – dava condições mais favoráveis

para se beneficiar da Lei Rouanet, ter o apoio das empresas. “este projeto foi a provado para

fazer parte do Ano do Brasil na França”

O governo bancou alguns projetos, tidos como projetos Do Governo, por exemplo

a exposição do artista Amilcar de Castro, que foi quase inteiramente financiado pelo governo

e mais algumas empresas que entraram junto.

O que foi apresentado no Pavilhão do Brasil foi inteiramente financiado pelo

Governo brasileiro, assim como a construção do próprio pavilhão.

J: Havia algum objetivo específico ao selecionar os artistas que iriam participar?

Do ponto de vista da diplomacia cultural...

S.A: A maior preocupação do governo, e do Gil, foi que o evento não trouxesse

apenas cultura de elite, mas que também mostrasse o Brasil “tal como ele é”, e também o seu

lado de cultura popular. Tiveram algumas exposições de artesanatos populares de boa

qualidade. Tentou-se mostrar a riqueza de inovação cultural que o Brasil tem. De uma

sociedade que tem o Pluralismo Cultural: um país de uma pluralidade religiosa, étnica e

cultural. Mostrar o Brasil na sua diversidade. Uma das coisas importantes que o governo quis

mostrar era justamente esta pluralidade, a boa convivência entre etnias tão diferentes –cada

um trazendo sua contribuição cultural. Ao mesmo tempo, havia algumas manifestações que

focavam em mostrar o Brasil moderno. Por exemplo, feiras de tecnologia, artistas de

vanguarda e exposições de artistas recentes.

Cada país tem uma atividade cultural permanente, o Brasil promove o ensino de

português em outros países e já realizou projetos mais avançados em matéria de diplomacia

cultural. Por exemplo, tínhamos um programa de ensino de português na TV na argentina, que

foi muito bem sucedido.

Cada país tem a preocupação de se mostrar no exterior, as nações colonizadoras

devido a sua própria história, já são conhecidas por todos, mas as nações que foram

colonizadas querem se mostrar ao mundo. Fazer com que as pessoas saibam de sua cultura,

gastronomia, queiram conhecer o país, esta é a forma de estabelecer relações que não se

baseiem apenas no poder econômico e político – a cultura traz uma espécie de persuasão, de

entendimento e de admiração.

Estes eventos culturais são parte da atividade normal de uma embaixada, porém,

em um evento como o Ano do Brasil na França, isto é feito de maneira intensa, com grandes

investimentos dos 2 países, tanto recursos, quanto gente, para se mostrarem reciprocamente.

81

A Diplomacia pública é uma realidade ha muito tempo, começa no inicio da

Guerra Fria, quando os Estados Unidos viram que eles tinham que mostrar ao mundo a sua

realidade como um componente importante do conflito latente que havia entre a União

Soviética e os Estados Unidos. A criação da UCI americana, hoje desativado, que era um

serviço de informação dos Estados Unidos, que distribui coisas para estudantes, escolas etc. ..

No momento em que a diplomacia não é mais apenas uma área privativa dos

funcionários diplomáticos, ficando apenas entre os governos e intermediada pelos diplomatas,

mas sim, foi se abrindo, hoje as relações entre os Estados não são mais apenas entre o

“soldado e o diplomata” (um para fazer a paz e o outro para fazer a Guerra). Existem hoje

milhares de atores no jogo internacional, é preciso comunicar-se com a sociedade também.

Na medida em que surge uma necessidade de falar com a sociedade, o Governo tem que se

estruturar e criar instrumentos que permitam este diálogo, pois a opinião publica, nacional e

internacional, conta muito. É a partir daí que a questão cultural se transformou em um

instrumento importante da diplomacia pública. Este é o papel principal de tudo isto que se faz:

promover uma determinada Imagem do país, o que se torna muito importante no jogo

internacional.

Por exemplo a China, há alguns anos atrás, possuía uma má imagem de produtor

de produtos de qualidade. Se você tivesse a opção de escolher entre um Marca-Passos Suíço e

um da Nigéria, obviamente o primeiro seria o escolhido. Os Suíços criaram a imagem da

precisão.

O que a diplomacia pública e seu instrumento cultural buscam mostrar são certas

facetas da Imagem do país que não são bem percebidas no exterior e que são importantes para

a Imagem do país.

J: Qual era a Imagem que o Brasil queria passar, como o Ano do Brasil na

França?

S.A: Lembrem-se que nós estávamos em meio a um Governo Lula, e o Ministro

da Cultura era o Gilberto Gil. A politica cultural do Brasil, normalmente quer cobrir os

déficits (até alguns anos atrás os déficits estavam na imagem de um país simpático, atraente,

futebol, samba, praia, mulheres de biquíni, mas não um país sério.) A ideia então, sempre foi

mostrar ao mundo, um Brasil sério, do avanço tecnológico, de uma arte de boa qualidade.

Porém com o Governo Lula, e o Gil, eles fizeram uma outra opção de imagem a ser passada:

mostrar o Brasil tal como ele é, a diversidade brasileira. A preocupação não se focou no

déficit de seriedade, mas sim inteiramente na questão da diversidade, o Brasil como um país

onde as pessoas vivem bem entre segmentos muito diferentes. O objetivo é mostrar um país,

82

que em meio a um período mundial que vive corroído por conflitos, por seitas e guerras, vive

em paz, e possui diferentes comunidades que convivem muito bem. Um país de atrações

incríveis, que as pessoas ficam curiosas em conhecer, como por exemplo a Amazônia. Este foi

o objetivo: mostrar o Brasil na sua diversidade, na sua riqueza cultural, na sua capacidade de

inovação.

J: O senhor acha que houve uma mudança na Imagem do Brasil, no que diz

respeito em como as pessoas passaram a enxergar o país?

Neste ponto cometemos um erro , que foi não ter feito um pesquisa antes e depois.

Sem esta, não é realmente possível medir. Mas eu não tenho dúvidas que sim, até hoje ao

conversar com franceses é possível perceber que eles guardam uma lembrança de um Ano

Cultural, durante 8 meses ininterruptamente apresentando coisas.

J: Me lembro do Ano da França no Brasil, e a impressão que deu foi de uma

importância muito menor, tanto na dimensão dos eventos, quanto na cobertura da mídia.

S.A: Aqui não houve o engajamento que teve na França. Na França teve um

engajamento muito grande e uma cobertura da mídia muito grande. A razão: o Brasil é muito

diferente. É o oposto da Europa, que tem uma sólida tradição cultural, acadêmica, escolar,

científica. E nós temos uma capacidade de atrair pelo calor da relação humana. Os europeus

são educados, mas nós somos espontaneamente calorosos, gentis, atenciosos. Isto cativa o

europeu, afinal nós temos o que eles não têm. Ao mesmo tempo que nós admiramos o

europeu porque eles têm o que nós não temos.

Julia: Houve uma preocupação quanto ao equilíbrio de linguagens?

S.A: Não podíamos dizer previamente se iria ter 30% de uma linguagem, 20% de

outra, etc. O que ia aparecendo e era bom poderia ser incluído. Mas houve algumas opções,

focando em mostrar o que o Brasil tem de melhor, opções como por exemplo, de levar uma

grande exposição antropológica (esta escolha foi francesa), uma grande exposição de Barroco,

entre outras. As coisas se impunham e tentava-se mostrar aquilo que o Brasil é bom. Um

exemplo são os intérpretes de música clássica, houve algumas apresentações, mas não

focamos nisto afinal, a França possui os maiores intérpretes, porque escolheríamos apresentar

algo que eles já são muito bons?

Temos que apresentar aquilo que nós somos bons. Por isto, não houve uma

procura deliberada pelo equilíbrio de setores.

Julia: Qual foi o critério para o corte dos projetos não participantes?

S.A: Qualidade. A capacidade de expressar o que era visto como aquilo que

queríamos mostrar ao mundo: a imagem de uma sociedade de pluralidade cultural, religiosa e

83

étnica, em que impera a boa convivência e em que há uma interpenetração . O Brasil como

um país de tolerância, diferente de muitos cenários que vemos hoje em dia pelo mundo.

Mostra-se também a riqueza cultural muito grande, uma diversidade ambiental muito grande

(foi mostrada a Amazônia, jantares de gastronomia amazônica).

Foi um evento que atingiu diferentes segmentos da sociedade francesa – desde

eventos entre as duas academias, com umas sessão solene. Foi um momento de encontro de

vários segmentos da sociedade francesa com vários segmentos da sociedade brasileira.

J: A Concepção artística do evento foi criada pelos dois governos em parceria?

S.A: Pelos curadores de cada exposição.

J: O Evento foi dividido em três fases: Verdade Tropical, Galáxias e Raízes do

Brasil. Como se deu esta divisão?

S.A: Os comissários que criaram.

J: Qual o envolvimento com a Sociedade Civil? Houve um diálogo? As pessoas

podiam dar opiniões na seleção dos projetos?

S.A: Na França, enorme. Principalmente porque demos a oportunidade para que

quem quisesse apresentar projetos, apresentasse. Se o projeto era bom, ele ganhava o selo e

fazia parte das obras selecionadas, as outras iniciativas eram apoiadas na medida do possível.

O diálogo com a Sociedade foi enorme: houve muita gente envolvida, fazendo,

discutindo e apresentando.

J: Tanto aqui, quanto lá?

S.A: Aqui menos. Estavam envolvidos aqueles que foram selecionados aqui, o

resto da Sociedade pouco se envolveu. A Mídia brasileira soltou algumas reportagens, nós

incentivamos, mas o que levamos para a França não era algo novo aqui, as exposições

apresentadas lá, muitas foram vistas também no Brasil.

O objetivo todo era na França.

J: Sobre as empresas que mais apoiaram, existiram empresas brasileiras e

Francesas, correto? Quem eram estas empresas, em sua maioria empresas de grande porte?

S.A: Sim, empresas muito grandes, como por exemplo a Petrobras, que se

beneficiaram, todas, da Lei Rouanet.

Evidentemente, que as empresas brasileiras tinham mais interesse em apresentar

na França e as empresas francesas tinham mais interesse de apresentar no Brasil. Escolhiam o

lugar em que a exposição e a visibilidade rendia frutos para elas.

J: Então, o apoio veio tanto de órgãos Públicos, quanto particulares?

S.A: O governo, e suas estatais (na área de comunicação) e as empresas privadas.

84

J: As empresas escolhiam, livremente, quais projetos iriam apoiar, ou havia algum

direcionamento?

S.A: Sim, as empresas escolhiam as exposições que preenchiam, mais de perto, os

seus objetivos de Imagem. Mas, eventualmente, o Governo pedia um apoio específico, e as

empresas o faziam.

J: Há uma grande comunidade de brasileiros na França. Isto foi uma preocupação?

S.A: Sim, no sentido de apoia-los no que eles queriam fazer, tanto quanto

possível. A mobilização desta comunidade foi enorme, desde o restaurante de comunidade

brasileira em Nice que resolveu promover um festival, até carnavais de rua e pessoas usando

camisas de futebol pelas ruas – manifestações espontâneas que foram muito interessantes.

J: Quando começou a ser realizado o projeto para o Ano do Brasil na França?

S.A: A preparação teve início cerca de anos antes, era preciso escolher os

comissários, buscar o engajamento de grandes instituições como o Pompidou, o Grand Palais,

o Jardim de Plantes, etc.

Não foi tudo levado do Brasil, o Louvre, por exemplo, fez uma exposição de sua

coleção de pintores da época colonial, com curadoria brasileira, buscou também quadros na

Holanda, de pintores que retrataram o Brasil.

Aconteceram muitos grandes eventos, cada um com sua organização e suas

especificidades.

J: Muitos dos resultados são impossíveis de mensurar. Quais resultados são

possíveis de medir?

S.A: Em primeiro lugar a sua exposição na mídia – tivemos um número

impressionante de cobertura gratuita de mídia.

Você mede a quantidade de eventos que você tem em 10 anos e comprara com a

quantidade de eventos que aconteceram em 1 ano, e você qual o impacto que tem. Ter 50

exposições importantes no país, é uma questão importante.

Impossível medir os resultados econômicos diretos, pode-se dizer que após alguns

anos tornam-se visíveis alguns resultados, como por exemplo, setores que antes não

exportavam começaram a exportar, mas é difícil dizer que tenha sido este um resultado direto

do Ano do Brasil na França.

Esta exposição gera resultados que não são mensuráveis a curto prazo, mas que a

médio prazo, têm um impacto. Não é fácil de mensurar.

J: E quanto ao retorno financeiro, houve algum que podemos medir?

S.A: Impossível dizer se houve retorno financeiro....

85

Esta parte cultural é muito boa para o comércio. Se é oferecido um jantar onde

serve-se caipirinha, após este jantar as pessoas podem passar a comprar cachaça. O que

fizemos muito, inclusive foi iniciativa minha, foi o Ano Cultural do Brasil na França, na

Galeries Lafayette e no Printemps , com amostras de produtos brasileiros, desfiles de moda e

apresentações musicais (Seu Jorge). A moda brasileira entra no Lafayette via Ano cultural do

Brasil na França.

Comissários: Brasil - André Haidar Midani - considerado um dos nomes mais

importantes da indústria fonográfica brasileira dos anos 60 aos 90 e França.

86

ANEXO A - CURRÍCULO SERGIO SILVA DO AMARAL (ENTREVISTADO)

O Embaixador Sergio Amaral nasceu em São Paulo em 1944. Formou-se em

Direito pela Universidade de São Paulo e, poucos anos depois, obteve diploma de pós-

graduação em Ciência Política (DESS) pela Universidade de Paris I – Panthéon Sorbonne, sob

a direção do Professor Maurice Duverger. Como diplomata serviu em Paris, Bonn,

Washington e Genebra. Foi Embaixador do Brasil em Londres e em Paris, onde também

representou o Brasil junto à OCDE. Foi professor assistente de Relações Internacionais da

Universidade de Brasília.

Foi designado para chefiar a delegação para negociação da dívida externa

brasileira junto ao Comitê Assessor dos Bancos e o Clube de Paris. Nesta capacidade

concluiu, em 1988, um conjunto de acordos de reestruturação no valor de 80 bilhões de

dólares. Foi Governador alterno junto ao FMI e o Banco Mundial. Foi ainda o representante

alterno junto ao GATT por ocasião das negociações da Rodada Uruguai.

O Embaixador Sergio Amaral exerceu altas funções no Governo brasileiro, tais

como Secretário para Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Secretário Executivo

do Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia. Durante o Governo Fernando Henrique

Cardoso, foi Ministro de Estado duas vezes. Primeiro, como Secretário de Comunicação

Social e porta-voz do Presidente. Em seguida, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior. e Desenvolvimento. Nessa ocasião exerceu a Presidência do Conselho de

Ministros para o Comércio Exterior (CAMEX) e do Conselho do Banco Nacional do

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Atualmente, Sergio Amaral é sócio diretor da SSA Consultoria Internacional,

Sócio Conselheiro de Felsberg e Associados, Diretor da FAAP e Conselheiro da Fiesp. É

membro do Conselho Diretor da WWF e do conselho de algumas empresas, entre os quais o

Conselho Internacional da Total, uma das maiores empresas de petróleo.

Fala seis idiomas (português, francês, inglês, espanhol, alemão e italiano) e tem

diversos artigos e ensaios publicados no Brasil e no exterior.

87

ANEXO B - PROGRAMAÇÃO OFICIAL DO “ANO DO BRASIL NA FRANÇA/2005

Exposição Patrimonial Projeto Local-França Data do Evento

As Artes dos Índios do

Brasil: o Desejo da

Beleza

Grand Palais, Paris 22-março a 27-

junho/2005

Herança Africana Musée Dapper, Paris setembro/2005 a

fevereiro/2006

Frans Post e o Brasil do

Século XVII

Chapelle do Musée du

Louvre, Paris

28-setembro/2005 a 01-

janeiro/2006

O Brasil na Época

Romântica

Musée de La Vie

Romantique, Paris

25-junho a 27-

novembro/2005

Amazônia Brasil Palais de la Découverte,

Paris

18-abril a 14-

agosto/2005

Origem e Originalidade

da Arte Brasileira –

Coleção Beatriz e Mário

Pimenta Camargo

Musée de Beaux Arts,

Rouen

01-março a 29-

maio/2005

Sant'Ana Maestra –

Coleção Ângela

Gutierrez

Palais Lascaris, Nice 15-junho a 15-

outubro/2005

Músicas Brasileiras: os

Ritmos do Brasil

Musée de La Cité de La

Musique, Paris

17-março a 26-

junho/2005

O Brasil Brasileiro Museu de Art Naïf, Nice 25-junho a 30-

outubro/2005

Arte Plumária da

Amazônia

Musée de Histoire

Naturel et de

Etnographie, Lille

1-setembro a 31-

dezembro 2005

Tarsila do Amaral Musée Fernand Léger,

Biot

01-setembro a 30-

dezembro/2005

Da Terra à Terra Fondation Bernardaud,

Limoges

25-junho a 30-

setembro/2005

Cícero Dias Maison de L'Amérique

Latine, Paris

01-abril a 31-julho/2005

O Universo da Literatura

de Cordel

Bibliotèque de Alcazar,

Marseille

07-setembro a 30-

novembro/2005

Relação entre Medicina

Francesa e Brasileira

Musée de La Santé des

Armées, Val de Grâce –

Paris

19-novembro a 10-

dezembro/2005

Tristes Trópicos: Um

Outro Olhar -Diário de

Luiz de Castro Faria

Maison Auguste Comte,

Paris

01-setembro a 30-

dezembro/2005

O Popular no Barroco e

o Barroco no Popular

Musée de Chambéry Junho a setembro/2005

Amazonas, Amazônia Musée de Histoire

Naturel, Dijon

1-junho a 31 - dezembro

Sonhos da Amazônia Abbaye, Daoulas 1 -maio a 31- dezembro

88

Santos Dumont Musée de l'air et de

l'Espace, Le Bourget –

Paris

junho/2005

Victor Brecheret Salon d'Automne, Paris Outubro/2005

Villegagnon e o sonho

da França na Antártica

Provins

As embarcações do

Maranhão

Musée de La Marine,

Paris

Antônio Bandeira Ambassade du Brésil,

Paris

30-setembro a 13-

novembro/2005

O Brasil em selos Musée de La Poste, Paris 15 - junho a 30 - agosto

Arte Contemporânea

Projeto Local-França Data do Evento

Frans Krajcberg Parc de Bagatelle, Paris Maio a outubro/2005

25 Anos de Obra-

Acontecimento de Lygia

Clark

Musée des Beaux Arts,

Nantes

21-março a 30-

abril/2005

Iberê Camargo: Diante da Pintura Musée des Beaux

Arts, Bordeaux

Março a

maio/2005

Concretismo e Neoconcretismo

Espace de L'Art

Concret, Mouans

Sartoux

16-março a 19-

junho/2005

Imagens do Inconsciente Musée Halle de St

Pierre, Paris

15-setembro/2005

a 28-

fevereiro/2006

Ernesto Neto

Chapelle Saint

Louis de la

Salpêtrière, Paris

01-setembro a 30-

outubro/2005

Tunga

École Nationale

des Beaux Arts,

Paris

18-setembro/2005

O Corpo Onde Não Há

Espace

Topographie de

l'Art, Paris

22-setembro a 24-

outubro/2005

Espaço Urbano – Natureza Intrínseca

Espace

Topographie de

l'Art, Paris

03-novembro a 05-

dezembro/2005

Monica Nador Rio Loco,

Toulouse

Je Ne Suis Pas d'Ici / Júlio Villani

Maison de

L'Amérique

Latine, Paris

Setembro a

dezembro/2005

Jovem Gravura Brasileira

Cité Internationale

des Arts et Galerie

Michelle Broutta,

Paris

Maio a junho/2005

Eduardo Srur e outros Artistas

FRAC,

Bourgogne

Lorraine

89

Ernesto Neto Domaine de

Kerguéhennec

Artur Barrio FRAC, Paca

"O Sena" ENSBA, Paris

Artur Barrio Palais de Tokyo,

Paris

Wagner Morales Pavillon du Palais

de Tokyo, Paris

Maurício Dias e Walter Riedweg Villa Arson, Nice

Carmela Gross e outros artistas Passage de Retz,

Paris

Jac Leirner, Marcelo Cidade e

Rubens Mano

Grand Café, Saint

Nazaire

Rosangela Rennô

Euro RSCG/

Festival

d'Automne

Arthur Luiz Piza Galerie Jeanne

Bucher, Paris

Lygia Pape CAPC, Bordeaux junho/2005

Falsos Movimentos

Centre d'Art

Contemporaine,

Metz

Junho a

outubro/2005

Luciano Figueiredo

Musée

Departamental,

Gap

13-março a 18-

setembro/2005

Regina de Paula Centre d'Art

Passarele, Brest

Maurício Dias e Walter Riedweg Plateau/ Festival

d'Automne, Paris

Fotografia

Projeto Local-França Data do Evento

A Fotografia Brasileira do século

XIX

Musée d'Orsay,

Paris Maio a julho/2005

Pierre Verger Hôtel de Sully,

Paris Setembro/2005

Marc Ferrez Musée

Carnavalet, Paris

01-outubro/2005 a

15- janeiro/2006

O Brasil de Salgado

Galerie Photo

Richelieu e

Bibliotèque

Nationale de

France, Paris

20-setembro/2005

a 15- janeiro/2006

Miguel Rio Branco

Maison

Européenne de la

Photo, Paris

27-setembro a 27-

novembro/2005

Cid Collection

Maison

Européenne de la

Photo, Paris

27-setembro a 27-

novembro/2005

90

Mata Atlântica Parc de Bagatelle,

Paris

Julho a

outurbro/2005

Brasil Místico Abbaye,

Fontevraud

Maio a

setembro/2005

Imagem do Negro

Maison de la

Photographie,

Lille

Encontro Intenacional da Fotografia Arles

Festival Outsiders

Maison

Européenne de la

Photographie,

Paris

“O Cruzeiro”

Musée de

Nicéphore

Niepce, Chalons

Festival de Videoformas Clermond –

Ferrand

Eder Santos e Lucas Bambozzi :

Imagems Passagens Annecy

Transphotographique Lille 01 a 30-

novembro/2005

“Olhares do morro” - Vincent

Rosenblatt Arles e Paris Julho/2005

Floresta Atlântica de Carlos Renato

Fernandes Printemps, Paris

Visto para a Imagem Perpignan

Nação Caiapó - Regina Santos Pontoise 15-junho a 15-

julho/2005

Arquitetura

Projeto Local-França Data do Evento

Le Corbusier no Rio 1928 - 1936 Fondation Le

Corbusier, Paris Novembro/2005

Favelidade Metro, Paris

Os Moradores Construtores de São

Paulo/Coloco

Le Lieu Unique,

Nantes

Relação França Brasil-Docomomo

Institut Français

de Arquitecture,

Paris

21-junho a 10-

julho/2005

Herança e Modernidade da

Arquitetura Brasileira

Institut Français

de Arquitecture,

Paris

21-junho a 10-

julho/2005

Lina Bo Bardi Pavillon de

Arsenal , Paris

Caminho de Papel - Sergio Cesar

Centre Culturel

Franco- Brésilien,

Paris

Zanine

Morrinho Couvent de

91

Recollets, Paris

Burle Marx Chaumont

“Brasilia” Maison du Brésil,

Paris

Dança

Projeto Local-França Data do Evento

Quatour e Zona Branca

1) Scène Natinale

de Martigues; 2)

Châteauvallon; 3)

Maison de La

Danse, Lyon

1) 26 e 27-maio; 2)

09 a 11- junho; 3)

21 a 24-junho

Ritual Cotidiano/ grupo Clara Scotch

Marseille; Aix en

Provence; Le

Mans; Lyon;

Lille; Grasse;

Paris

17 a 20 de maio /

24 de maio

(existem datas a

serem fixadas para

os meses de

novembro e

dezembro)

Tempo de Verão/ Márcia Milhazes

1) Maison de La

Danse; 2) Théatre

du Muselet –

Scène Nationale

de Châlon en

Champagne; 3)

Centre Nationale

de La Danse,

Lyon; Danse à

Aix, Aix en

Provence; Scène

Nationale de Gap,

Gap; Centre

Culturel l'Espal,

Mans;

L'Apostrophe

Scène Nationale

de Cergy

Pontoise; Espace

Jean Legendre,

Théatre de

Compiègne

1) 17 a 20 de

maio; 2) 24 de

maio-2005; 3)

Datas ainda não

definidas para

novembro e

dezembro/2005

Like an Idiot/ Cristina Moura

Saint Nazaire,

Aubusson;

Malakoff/ Paris

07-novembro a 07-

dezembro/2005

Grupo Corpo

Théatre de

Champs Elysées,

Paris; Maison de

La Danse, Lyon

Abril/2005

Coreografia “Que reste-t-il de nos

amours?” - Como se não coubesse no

Maison de La

Danse, Lyon;

28 de fevereiro a

29 de março e

92

peito/ Association à Fleur de Peau Scène Nationale

d'Angoulême,

Angoulême;

Théatre de La

Madeleine,

Troyes; Théatre

Aragon Triolet,

Orly; Théatre Le

Vanves, Vanves;

Théatre Firmin

Gémier, Antony;

Théatre du Lierre,

Paris

novembro/2005

(existem datas a

serem fixadas para

o 2o semestre)

Mildred Mildred + Criações

Individuais de Frederico Paredes &

Gustavo Ciríaco

Gap; Paris;

Châlons-en-

Champagne;

Compiègne; St

Nazaire;

Marseille; Dijon;

Malakoff

07 a 27-

novembro/2005

Bruno Beltrão

Petit-Quevilly;

Armentières; Aix

en Provence; Gap;

Dieppe; Paris;

Marseille; Grasse;

Auxerre;

Strasbourg; St

Michel sur Orge;

Mauperas; Reims

31-março a 24-

maio/2005

Lia Rodrigues Companhia de Dança

CND – Festival

d'Automne;

Maison de La

Danse, Lyon;

Marne La Vallée;

Danse à Lille,

Lille; Grenoble;

Rampe; Aix

Novembro e

dezembro/2005

Groisman

La Passarelle,

Gap; Marseille;

Cergy Pontoise

Novembro e

dezembro/2005

Dos à deux

Théatre Simone

Signoret,

Conflans-Ste-

Honorine

01 a 05-abril/2005

A Dança das Máscaras Amazônicas

Musée Quai

Branly; Festival

Montpellier,

Montpellier

21 a 25-julho/2005

Samwaad - Ivaldo Bertazzo Ile de France setembro/2005

93

Design

Projeto Local-França Data do Evento

Made in Brazil

Galerie VIA -

Valorisation de

l'Innovation dans

l'Ameubleument,

Paris

Março/2005

Artes Cênicas

Projeto Local-França Data do Evento

Turnê 2005 – Enrique Diaz

La Rose des

Vents, Villeneuve

d'Asq; La Filature,

Milhouse; Ferme

du Buisson,

Festival

d'Automne;

Théatre de la Cité

Internationale,

Festival

d'Automne;

Théatre du

Merlan, Marseille;

Le Maillon,

Strasbourg

01-maio a 20-

dezembro/2005

Hysteria

Scène Nationale,

Arles; La

Passarelle/Scène

Nationale, Gap;

Théatre Les

Ateliers, Lyon;

Théatre

d'Auxerre,

Auxerre; Théatre

Jean Lurçat/Scène

Nationale,

Aubusson; La

Rose des Vents/

Scène Nationale,

Villeuneuve

d'Asq; Théatre

71/Scène

Nationale,

Malakoff; Théatre

de Roman,

Roman; Théatre

Maxime

Gorki/Scène

Nationale, Petit

Quevilly

21 de abril a 10 de

junho

94

Mue

Festival

d'Avignon,

Avignon

13 a 28 de julho

Criação em Torno de Paulo Autran

Théatre National

de l'Odéon-

Europe, Paris

Os Sertões de Euclides da Cunha Cartoucherie,

Paris

Circo "O Sol Também" Fevereiro a

setembro/2005

Circo Paradiso

Música Clássica

Projeto Local-França Data do Evento

Concertos d'Accentus na França

Auditório do

Louvre, Paris;

Orne; Rouen

12 e 14-outubro;

18- setembro/2005

Jovens Intérpretes no Auditório do

Louvre

Auditório do

Louvre, Paris

12-setembro; 12 e

13-outubro; 04-

novembro

Mês Nacional do Barroco

Turnê em mais de

20 cidades

francesas

Novembro e

dezembro/2005

Programação do Festival d'Ile de

France

Festival d'Ile de

France, Paris

4 de setembro a 18

de outubro

Concertos de Nelson Freire

1) Arsenal de

Metz, Metz; 2)

Jacobins,

Toulouse; 3)

Châtelet, Paris;

1) 13-

dezembro/2005; 2)

23 e 24-

setembro/2005; 3)

31- janeiro e final

de dezembro/2005

Opéra “Condor” Grand Théatre,

Dijon

02 e 04-

dezembro/2005

Concertos de Música Barroca do

século XVIII na Igreja Val de Grace

Igreja de Val de

Grâce, Val de

Grâce

08 e 09-

dezembro/2005

Conjunto Calliope

Mês Nacional do

Barroco, diversas

cidades

11-novembro a 07-

dezembro/2005

Trilogia do carnaval - Marcel Bratke

Festival Saint

Dennis, Saint

Dennis

Junho e julho/2005

Concerto da Orquestra Nacional do

País de la Loire com Isaac

Karabtchevsky

Parque Expos de

La Beaurjoie,

Nantes

28 e 29-

junho/2005

Música Popular

Projeto Local-França Data do Evento

Participação no MIDEM 2005

Local de

Realização do

MIDEM 2005

Janeiro/2005

95

Carnaval promenade Paris e ruas da

Côte d'Azur Junho-2005

Tropicália Europa La Villete, Paris 10 a 17-julho/2005

Encontro da Cultura Franco-

Brasileira Chatou junho/2005

Oquestra Nacional d'Ile de France e

conjunto de jovens coristas no Zénith

Música na Maratona de Paris Paris 10-abril/2005

Música Popular Brasileira no Cité de

La Musique

Cité de La

Musique, Paris

19 a 29-

março/2005

Fiesta des Suds /Festa do Sul Marseilles 13 a 30 de outubro

38o Rugiantes Satellite Canbaret 24 de novembro a

4 de dezembro

Africolor Seine, Saint-Denis 3 a 18 de

dezembro

Jazz à Vienne Vienne 30 de junho a 14

de julho

Transmusicales Rennes 5 a 7 de dezembro

Printemps de Bourges Bourges 19 a 24 de abril

Vieilles Charrues Carhaix 23 a 25 de julho

Musiques Metisses Angouême 2 a 5 de junho

Banlieues Bleues Seine, Saint-Denis 11 de março a 16

de abril

Brésil Grand Écran La Villete, Paris 14 a 17 de julho

Nuits Atypiques Langon 5 a 7 de agosto

Rio Loco Toulouse 17 a 21 de junho

Brasil pop na Opéra de Paris 16o Festival Paris

Quartier d'été

14-julho a 15-

agosto/2005

Nuits de Fourvière Lyon 8 de junho a 6 de

agosto

Festival Saint Denis Saint Denis 20 de junho a 14

de julho

Eurockéennes Belfort 1 a 3 de julho

Francofolies La Rochelle 12 a 17 de julho

Paris Quartier d'Eté Paris 14 de julho a 15 de

agosto

Festival de l'Imaginaire

Elektronica – Scopitone Nantes 03 a 06-

junho/2005

Val Latina Pléneuf Val

André 05 a 07-maio/2005

Concerto à Bercy Paris

Lenine InCité Paris

Festival do Choro Ile de France

Oficinas e representações da

associação "Yakajouer" Perpignan

Eventos no Espaço Jemmapes Paris Ao longo do ano

2005, com maior

96

concentração de

eventos no mês de

maio/2005

Maestro Uirapuru

Festival Rio Loco;

Friche de la Belle

de Mai/ Marseille;

Foire de Nancy;

ABI de Daoulas

17 a 21 junho; 09 a

12-junho; 26-maio

a 07-junho; junho-

2005

Colóquios

Projeto Local-França Data do Evento

Brasil-Brasis: Fórum Franco-

Brasileiro da Sociedade Civil

Conseil

Economique et

Social de France,

Paris

11 a 17-julho/2005

Diversidade Cultural

Bibliotèque

Nationale de

France, Paris

13 a 16-

outubro/2005

A Cidade no Brasil dos Séculos

XVIII e XIX – Nascimento e

Renascimento

Espace Nouveau

Monde/

Université de La

Rochelle, La

Rochelle

16 a 18-

junho/2005

Meio Ambiente, Segurança e

Soberania na Amazônia

Maison de

L'Amérique

Latine, Paris

05 a 07-

outubro/2005

Brasil: Grande Potência Sorbonne, Paris Julho-2005

Imprensa e Midia no Brasil Maison de La

Radio, Paris 3 e 4-maio/2005

Brasil: Diversidade como Identidade Institut des Études

Politiques, Paris 01-abril/2005

Ciclo de conferências sobre o

imaginário brasileiro na literatura

francesa

Maison de

L'Amerique

Latine, Paris

Colóquio econômico MEDEF e CCIP,

Paris

I Congresso Internacional de

Literatura de Cordel

Maison des

Sciences de

l'Homme et de la

Societé, Poitiers

Setembro/2005

Brasil Místico

Maison de

L'Amérique

Latine, Paris

Bienal Franco-Brasileira em Torno

da Transformação do Corpo

O Esporte no Brasil Paris

Espaces atlantiques à l'époque de

l'esclavage../Espaços atlânticos na

época da escravatura

Nantes

Passeurs en sciences sociales Paris

97

Debate Fome Zero e Projeto Vigário

Geral Marseille

Agricultura Familiar-CIRAD

Salon de

l'Agriculture,

Paris

Ensino de línguas: a porta para a

cultura Paris

Semana da TV Brasileira

Institut Nationel

de l'Audiovisuel,

Paris/ Festival de

la TV, Reims

Forum sobre democracia

participativa Paris

Brasil em Cergy Cergy

Literatura

Projeto Local-França

Brésilivre

Espace FNAC,

Paris/Lyon/

Toulouse/

Bordeaux; L'autre

Livre, Paris

Março, maio,

outubro e

novembro/2005

Festival do livro da Juventude Montreuil

O Brasil na Casa dos Escritores e

Tradutores Saint Nazaire

Lançamento Revista Europa Paris

Paris Bibliotecas Paris

"As lindas Latinas" Lyon, Marseilles e

outras

Festival “Etonnants Voyageurs”

/Festival"Estranhos Viajantes" Saint Malo

Exposição Literária Itinerante Vichy

Cafés Literários

Cinema e Audiovisual

Projeto Local-França Data do Evento

Festival de cinema sobre 3 cidades

brasileiras (Rio, São Paulo e Brasilia)

Forum das

Imagens, Paris junho/2005

Ciclo de filmes sobre mestissagem e

diversidade cultural BNF, Paris Outubro/2005

Jangada: Festival do Cinema

Brasileiro L Arlequin, Paris Abril/2005

Jangada : Circulação de filmes na

França

diversas salas de

cinema alternativo diversos meses

Festival La Cita Biarritz 26 setembro a 2

outubro/2005

Comissão França-América Latina Bordeaux

Festival "Teatro no cinema" Bobigny 16 março a 1 abril

de 2005

Viva Brasil Bibliot que junho/2005

98

Publique

d Information no

Centre Georges

Pompidou

Bem Te Vi em Paris

17a edição dos Encontros do Cinema

da América Latina Toulouse Março/2005

Festival de filmes estrangeiros sobre

o Brasil

Cinemateca de

Toulouse junho/2005

Paris Cinema diversas salas em

Paris Julho/2005

Festival dos Três Continentes Nantes Novembro/2005

Festival de Cannes Cannes junho/2005

Festival de documentários Paris junho/2005

Apresentação de filmes brasileiros no

Instituto Lumière Lyon Abril/2005

Festival Silhouette (curta metragens

ao ar livre)

Parc des Buttes

Chaumont, Paris Agosto/2005

Outros

Projeto Local-França Data do Evento

Espaço Brasil Carreau du

Temple, Paris

10-junho a 25-

setembro/2005

Brasil Antropofágico - Sampaca Marseille 30 maio a 13-

junho/2005

Programação do Festival de l'Epau

Festival de L'Epau

(L'Abbaye de

l'Epau e Le Centre

Culturel de

l'Espal)

Maio a

novembro/2005

Texto e Documento para a classe

produzido pelo SCEREN

DVD sobre o Brasil produzido por

SCEREN

Manger le Brésil École de La Main

d'Or

Cor quo vado Notre Dame, Paris

Cerimônia de Lavagem das

Escadarias da Igreja da Madeleine

Église de

Madeleine/Paris,

Marseille, Biarritz

15-maio a 15-

junho/2005

Cerimônia de Lavagem das

Escadarias da Igreja do Sagrado

Coração

Église Sacré

Coeur

Evénements à Grenoble Grenoble 30-maio a 22-

junho/2005

Prêmio Escolar para um Concurso de

Educação Nacional

Cisne Branco (Turnê por diversos

portos da França)

99

Apolônio de Carvalho Musée Jean

Moulin

Le Vivat Armentières

Música (15 a 29-

novembro/2005);

Dança (22-

novembro/2005);

Artes Plásticas

(novembro/2005).

Festival de l'Oh Val de Marne

Cycle de

Conférences (08 a

24- maio/2005);

Congrès des

collégiens (21-

abril/2005);

Exposição

Sebastião Salgado

(maio-

junho/2005);

outras exposições

(maio-2005);

apresentações

musicais de Belém

(19 a 24-

maio/2005); dança

(19 a 24-

maio/2005); artes

cênicas (08 a 24-

maio/2005).

Evento Gastronômico no Plaza

Athénée Plaza Athénée

Evento Gastronômico do Grupo

Accor

Hotels/Groupe

Accor

Eventos na FNAC Réseau des Fnac

en France

A partir de 22-

março/2005

Traços da Bahia de Coustiou

Champigny sur

Marne, Lannion,

Magny les

Hameaux

Eventos na Guianas Guyane

Eventos no Futuroscope Futuroscope,

Poitiers

Fevereiro a

dezembro/2005

Paris Praia Paris Verão/20005

Corrida Transatlântica 6,5 La

Rochelle-Bahia La Rochelle

Corrida Transatlântica Le Havre-

Bahia Le Havre

Legenda/outros

Projetos sob a responsabilidade da

Coordenadora Mequita

100

Projetos sob a responsabilidade da

Coordenadora Elisa Leonel

Projeto sob a responsabilidade da

Coordenadora Daiana

Locais e/ou datas a definir

Fonte: MINC, 2012.