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Edição 28 Ano 04 JANEIRO 2018 EDIÇÃO MENSAL Editorial Pág. 02 Que venha 2018! Com muita luta e resistência popular! PÃO, TRABALHO, TERRA E MORADIA Contribuição ao debate para a unidade das forças populares

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Edição 28

Ano 04

JANEIRO 2018EDIÇÃO MENSAL

EditorialPág. 02

Que venha 2018!Com muita luta e resistência popular!

PÃO, TRABALHO,TERRA E MORADIAContribuição ao debate paraa unidade das forças populares

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EJaneiro 2018 - Ano 04

Conselho Editorial: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmílson Costa, Roberto Arrais

Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.

Diagramação: Mauricio Souza.

cia, fará um governo diferente. É pura ilusão, pois, mesmo ameaçado de ser impedido de se candidatar pela seletiva e golpista Justiça brasileira, Lula se movi-menta na direção de retomar alianças com setores conservadores e reacionári-os, continua dialogando com o mercado financeiro e mantém a lógica apassiva-dora na organização dos trabalhadores. Nessa conjuntura, as forças revolucionárias e classistas têm a tarefa imediata de organizar uma grande mobi-lização nacional para barrar a contrarre-forma da Previdência em fevereiro de 2018. E devem seguir na perspectiva da reorganização do movimento operário e popular, a partir das bases, com a reto-mada dos sindicatos para o campo clas-sista, das entidades estudantis para o campo da luta, intensificação do trabalho de organização nos bairros a partir das reivindicações específicas dos morado-res. É urgente a formação de uma ampla frente de lutas, capaz de construir um programa mínimo unitário de resis-tência e combate firme aos retrocessos impostos pelo capital, sem conciliação. O PCB apresenta uma proposta de pro-grama alternativo para o Brasil, como contribuição à unidade das forças popu-lares para derrotar o projeto burguês e inaugurar o processo de transição no rumo do Poder Popular.

ataques da burguesia e do imperialismo, dentre as quais merecem destaque as greves gerais na França e na Grécia, os processos eleitorais na Venezuela, que paralisaram a ação da direita, e a massiva e unitária mobilização dos trabalhadores argentinos contra a reforma da previdên-cia. No Brasil, foram muitos os retrocessos políticos e sociais comanda-dos pelo governo golpista de Temer. Como resultado da aprovação da con-trarreforma trabalhista e da generaliza-ção das terceirizações, empresas anunci-am demissões em massa, retiram direitos e rebaixam salários. O país perdeu mais de 12 mil vagas formais de emprego em novembro de 2017 e viu crescer o desemprego. Novas contratações ocor-reram graças à abertura de vagas para trabalho intermitente e empregos tempo-rários no comércio (novos e piores empregos). Apesar do alto índice de rejei-ção, o governo Temer não cai porque é funcional ao capital enquanto radicaliza a agenda neoliberal que toda a classe dominante deseja. Ao mesmo tempo, os aparatos sindicais e das principais orga-nizações de massas continuam sob hege-monia das forças pertencentes ao campo democrático e popular, muito mais inte-ressadas nas eleições de 2018 do que com o movimento das ruas. Tentam criar a ilusão de que, se Lula voltar à presidên-

O ano de 2017, marcado pelas comemorações dos 100 anos da Revolu-ção Socialista na Rússia, foi atravessado por muitas lutas em defesa dos direitos dos trabalhadores em todo o mundo. Em resposta à crise sistêmica do capitalis-mo, a burguesia e seus governos de plan-tão pisaram fundo no acelerador para promover ataques às legislações sociais e trabalhistas, buscando desvalorizar a força de trabalho para manter seus lucros. Parece ter chegado ao fim o ciclo de governos de conciliação nacional liderados pela socialdemocracia. A bur-guesia não quer mais terceirizar o poder e garante a vigência de governos “puro sangue”, conquistados por meio de elei-ções dominadas pela força do capital ou através de golpes políticos centrados nas ações dos parlamentos, da mídia e da justiça burguesas, reforçadas pelo uso de medidas repressivas, sempre que neces-sário. Além disso, cresceram as mani-festações de direita, com avanço das posições abertamente fascistas. O impe-rialismo, liderado pelo governo dos EUA, seguiu provocando ameaças a povos e nações, como no caso da decla-ração de Trump sobre Jerusalém, que incentiva o terrorismo de Estado promo-vido por Israel contra o povo palestino. Por outro lado, houve intensas manifestações populares em reação aos

O Poder Popular, um jornal a serviço das lutas populares e da Revolução Socialista.

Colaboradores desta Edição: Coordenação Nacional da Unidade Classista, Eduardo Serra, Jones Manoel,

Juliano Baltazar (UJC-SP), Larissa Gouveia, Wladimir Nunes Pinheiro, Yuri Vasconcellos, UJC de Santa Catarina.

Com muita luta e resistência popular!QUE VENHA 2018!

EDITORIAL

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ampla participação dos comunistas do PCB, combatiam o aumento de preço dos produtos essenciais ao consumo dos trabalhadores e travavam um verdadeiro cabo de guerra com as classes dominan-tes. Foi um movimento de fundamental importância na organização e politiza-ção dos trabalhadores em sua época his-tórica. É necessário nesse momento voltar a fortalecer as ações dos trabalha-dores e movimentos populares contra o aumento do custo de vida. Organizar ações pelo congelamento imediato do preço dos alugueis, escolas, planos de saúde, transporte, energia elétrica, água etc. e combater a aumento do preço de alimentos e produtos do vestuário. Estruturar essa luta, além de fundamen-tal para a sobrevivência de nossa classe, é pedagógica: mostra aos trabalhadores que, tanto no âmbito da produção como no consumo, os grandes grupos capita-listas, aqueles que realmente controlam o comércio e a produção do país, só que-rer lucrar às custas do sangue e suor de nosso povo.

Em dezembro de 2017, a Petro-bras anunciou mais um aumento no preço do gás liquefeito de petróleo, o gás de uso doméstico. Foi o sexto aumento seguido no ano, completando um reajus-te acumulado de 67,8%! O preço médio do botijão de gás de 13 kg – o gás de uso doméstico – em muitas regiões ultrapas-sa o valor de oitenta reais. O custo dos alugueis, planos de saúde, escolas, trans-porte, energia, água, alimentação e ves-tuário sofre com um processo constante de alta. Combinada a alta do custo de vida com o desemprego de mais de 16 milhões de trabalhadores e uma baixa real dos salários, o resultado é desastro-so: crescimento da miséria e da fome e regressões civilizacionais, como milha-res de famílias voltando a cozinhar a lenha, porque têm de escolher: ou com-pram o gás ou a comida. A situação real da classe traba-lhadora brasileira desmente categorica-mente as mentiras propagandas pelos monopólios de mídia. Toda semana a mídia busca algum indicador econômico para provar uma suposta recuperação da economia. A moda do momento é mos-

trar altas irrisórias do PIB (produto inter-no bruto) no trimestre como sinal de melhora. O fato de o desemprego estar em alta, o poder de compra dos salários destruído, a estrutura produtiva deterio-rada, a fome, miséria e desigualdade crescendo e vivermos uma recessão econômica – uma das maiores da histó-ria brasileira – são um mero detalhe para a mídia. Evidentemente, não são todos que vão mal com a crise. A classe domi-nante brasileira está muito feliz com a situação do país. Enquanto a vida de milhões é destruída, bancos, multinacio-nais, empreiteiras, grandes fazendas etc. anunciam lucros recordes. O Banco Itaú, por exemplo, já teve mais de 10 bilhões de lucro no ano de 2017. Nos anos 60 e 80 do século pas-sado, no período imediatamente anterior ao golpe de 1964 e no momento posteri-or, em que a ditadura já agonizava, a classe trabalhadora protagonizou impor-tantes movimentos de luta contra o aumento do custo de vida. Os chamados movimentos contra a carestia, com

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O aumento do custo de vida ea situação da classe trabalhadora

ECONOMIA

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outros, estão seriamente ameaçados. Com o discurso de que os direitos con-quistados são “privilégios”, a burguesia e os governos tentam colocar trabalha-dores do setor privado contra trabalha-dores do setor público, visando impedir a unidade da classe na resistência aos ataques do capital. Por sua vez, os servidores públi-cos estaduais estão convivendo com a dramática situação de atrasos e parcela-mento de salários, aposentados sem receber, ataques aos planos de carreira, não pagamento de 13º e perda de outros direitos, tornando insuportáveis as con-dições de vida. Este processo é parte do chamado Ajuste Fiscal e dos acordos de dívidas estaduais com a União, projetos arquitetados nacionalmente para des-montar os serviços públicos. Com isso, a população vai perdendo na prática o direito a serviços como educação, saúde, segurança e moradia, sendo obrigada cada vez mais a pagar por eles. Somente a retomada das lutas no ano de 2018, acumulando para uma greve geral de verdade, poderá reverter o quadro atual de tamanho retrocesso.

mínima de 65 anos é o ponto central da proposta. As diferenças regionais de um país continental como o Brasil fazem com que a expectativa média de vida da população não chegue à idade mínima da aposentadoria, o que torna ainda mais perversa a proposta de mudança. Sob o mentiroso discurso de “rombo na previdência”, o governo, empresários e mídia investem contra os trabalhadores buscando criar disputas intraclasse, especialmente contra os servidores públicos. Já foi mais do que demonstrado que a previdência não é deficitária, e os maiores responsáveis pelo “rombo” são as empresas que devem bilhões ao INSS.

Ataques ao serviço público Os ataques ao serviço público e aos servidores federais, estaduais e muni-cipais têm sido muito recorrentes nos últimos anos. A necessidade de expansão do capital e a incessante busca por mer-cantilizar a vida fazem com que os servi-ços públicos – direitos sociais – sejam transformados em diferentes formas de lucratividade. Sendo assim, conquistas de direitos no serviço público ao longo da história, tais como estabilidade, plano de carreira, garantias remuneratórias e

As conquistas obtidas pela clas-se trabalhadora brasileira, através de muitas lutas, no âmbito da assistência social, saúde pública e Previdência Social, consagradas na Constituição de 1988, vêm sendo sistematicamente ata-cadas nas últimas décadas. Praticamente todos os governos, desde FHC, impuse-ram ataques à Previdência Social, em especial ao sistema de aposentadoria. Em 2003, o então presidente Lula (PT), utilizando métodos como o Mensalão, impôs uma contrarreforma que acabou com a integralidade e a paridade entre ativos e aposentados, rompendo qual-quer vínculo do trabalhador com sua categoria após a aposentadoria, impon-do perdas de direitos. Em 2012, o Governo Dilma (PT) atacou o Regime Próprio de Previ-dência Social específico de Servidores Público Federais (SPF), ao criar um fundo de pensão complementar (priva-do) - Funpresp -, estabelecendo que o teto de aposentadoria dos SPF será o teto do Regime Geral. Independentemente de quanto for a contribuição do servidor por toda sua vida, o valor da pensão é limitado ao teto do INSS. A intenção dos governos é jogar para a iniciativa priva-da e a especulação do mercado financei-ro os direitos de aposentadoria e pensão dos trabalhadores e trabalhadoras. O capítulo atual da destruição da previdência social pública é a PEC 287/16, encaminhada ao Congresso Nacional pelo Governo Temer. Desde o início da tramitação da PEC, a pressão da classe trabalhadora, através das mobi-lizações nacionais, fez com que o gover-no modificasse várias vezes o projeto inicial, mas ele continua extremamente prejudicial à população brasileira. Entre as diversas nuances danosas que a Reforma da Previdência apresenta ao trabalhador — como o achatamento dos benefícios e o cerceamento de aposenta-dorias — a definição de uma idade

UNIDADE CLASSISTA

Os ataques à aposentadoria e aos serviçospúblicos: objetivo é privatizar

ACESSE:unidadeclassista.org.br

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contratações, além dos períodos de desem-prego e das frequentes transições entre ativi-dade e inatividade econômica. É usado como argumento para defesa da PEC 287 a tendência internacional de equiparação das idades mínimas de apo-sentadoria entre os gêneros, mas, nos países europeus, onde isso mais ocorreu, os níveis de desigualdades no mercado de trabalho são menores, pois, tratam-se de países centrais na economia mundial. Esses países também têm ampla rede pública de amparo aos ido-sos, mulheres e crianças, e não podem ser usados como parâmetro para basear a estru-tura previdencial brasileira, onde as iniciati-vas do governo brasileiro nessa esfera são praticamente inexistentes.

É prioridade das organizações populares e dos movimentos sociais promover uma grande mobilização nacional para bar-rar a contrarreforma da Previdência!

que contribuir durante 49 anos e estar dentro da sala de aula até os 70 anos de idade ou mais, a depender de quando iniciou a carrei-ra. Essa situação, absurda por si só, não leva em conta o intenso desgaste físico e psicoló-gico da atividade do magistério para crianças e adolescentes, as condições de trabalho, a rotatividade enfrentada por essas profissio-nais, as dificuldades de ingressar na área da educação e a tripla jornada, já que a profes-sora, além das aulas, tem as atividades extra-classe e executa afazeres domésticos em casa. Quanto às trabalhadoras domésti-cas, a proposta de aumentar de 15 para 25 anos a exigência mínima de contribuições previdenciárias reduzirá ainda mais a pro-porção das que conseguem se aposentar. Hoje, essas trabalhadoras enfrentam grandes obstáculos para atingir 15 anos de contribui-ção em função dos altos níveis de rotativida-de, de informalidade e de ilegalidade nas

A contrarreforma da Previdência encaminhada ao Congresso pelo governo golpista de Temer (PEC 287) vai provocar um impacto desastroso na vida das mulheres trabalhadoras: Caso sejam aprovadas as novas regras, a aposentadoria por tempo de contri-buição será extinta, e a idade mínima para as mulheres se aposentarem passará a ser de 65 anos, igual à dos homens, tanto na área urba-na como na rural, no serviço público, na educação básica ou nas demais ocupação. O tempo mínimo de contribuição também será alterado, passando de 180 meses (15 anos), para 300 meses (25 anos). A PEC 287 não reconhece as desi-gualdades de gênero que ainda caracterizam o mercado de trabalho, as relações familiares e políticas públicas no país. Simplesmente ignora a sobrecarga existente sobre os ombros das mulheres em relação à jornada de trabalho e o trabalho doméstico, ainda naturalizado como algo determinante femi-nino. Além de apresentar alterações profun-das nos valores e nas regras de acesso às pensões por morte e ao BPC (Benefício de Prestação Continuada, que é o benefício da Assistência Social), a proposta proíbe, como regra geral, o acúmulo de benefícios. Em todas essas situações, as mulheres são o público majoritário. Se a PEC for aprovada, as trabalha-doras rurais e as professoras da educação básica serão afetadas duplamente ou de forma cumulativa, isto é, serão afetadas por serem mulheres e por estarem em segmentos que perderão condições especiais de acesso à aposentadoria. No caso das trabalhadoras rurais, a idade mínima para a aposentadoria, com a PEC, se elevaria do atual limite de 55 anos para os 65 propostos. Todos sabemos que, no trabalho rural, ingressa-se na ativida-de econômica muito cedo, normalmente antes dos 14 anos. Serão também penalizadas as pro-fessoras da educação básica, que represen-tam 80% da categoria, atualmente composta por 2,2 milhões de docentes, sendo 75,6% vinculados à rede pública de ensino, segundo o Censo Escolar de 2016. A professora terá

As mulheres na mira daReforma da Previdência

DIREITOS DAS MULHERES

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analisar todo o processo de constituição da dívida, com a suspensão do pagamen-to dos juros. • Criação emergencial das Frentes de Trabalho Urbana e Rural para reduzir o desemprego. • Congelamento dos preços dos bens de primeira necessidade e das tarifas de luz, gás, água, telefone e transporte público. • Criação de uma rede de restaurantes e mercados populares nos bairros, a preço de custo.• Congelamento do preço dos aluguéis por um ano para todas as residências urbanas e rurais, expropriação de mora-dias ociosas e construção de moradias por meio das frentes de trabalho. • Transporte gratuito para os desempre-gados e suas famílias, estudantes e os componentes das frentes de trabalho.• Abono salarial para os que ganham salário mínimo, inclusive Bolsa Família, aposentados e seguro desemprego. • Política de garantia do emprego, com o fim de todas as demissões imotivadas, garantia de estabilidade no emprego e fim das terceirizações• Revogação da Lei de Responsabilidade

O Partido Comunista Brasileiro (PCB), presente nas lutas da classe tra-balhadora contra os ataques desferidos pelo governo Temer, a serviço dos inte-resses do grande capital e contando com a subserviência do Parlamento, do Judi-ciário e da grande mídia, apresenta sua contribuição para a unidade de ação das forças revolucionárias e classistas, no rumo do Poder Popular e do Socialismo. Nesse sentido, elaboramos alguns apontamentos iniciais de um programa de emergência e de um progra-ma de transição para um novo Brasil, com vistas a um debate franco e fraterno entre todos os setores comprometidos com as transformações sociais e políti-cas em nosso país.

Programa de emergência

• Revogação de todos os atos do governo Temer, julgamento de todos envolvidos com a corrupção e, caso condenados, prisão e confisco de seus bens para ressarcir a União e os Estados.• Moratória e auditoria da dívida interna e criação de uma comissão especial para

Fiscal, da DRU (Desvinculação das Receitas da União); fim das desonera-ções e renúncias fiscais. • Plano de desenvolvimento industrial, tecnológico e agropecuário, com incen-tivo especial à micro, pequena e média empresa e à agricultura familiar.• Reforma agrária, com desapropriação de todos os latifúndios improdutivos, regularização dos assentamentos e titu-lação das terras indígenas, quilombolas e ribeirinhas. • Redução ou isenção da tributação sobre o consumo de bens e produtos de primei-ra necessidade; política de impostos progressivos e taxação das grandes for-tunas. • Isenção da cobrança do imposto de renda para todos os trabalhadores que ganham até 5 mil reais e criação de uma nova tabela do imposto de renda, dentro do princípio de que quem ganha mais paga mais, quem ganha menos paga menos e quem não ganha nada não paga nada. • Nova política de comunicações, com revisão das concessões, quebra dos monopólios midiáticos e obrigatorieda-

POLÍTICA

PÃO, TRABALHO, TERRA E MORADIADerrotar o projeto da burguesia e construir aalternativa popular. Contribuição ao debate

para a unidade das forças populares

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mercantilização da cultura e das artes. • Respeito à autodeterminação dos povos e a seu direito de resistência frente à opressão e à dominação imperialista. • Solidariedade internacionalista e forta-lecimento dos vínculos econômicos, sociais e culturais entre os povos.

Medidas econômicas

• Estatização e controle público das ins-tituições financeiras, dos oligopólios, das empresas estratégicas e dos meios de produção essenciais à vida.• Nova política industrial e tecnológica com vistas a modernizar o parque indus-trial brasileiro, desenvolver ou criar setores de ponta, especialmente nas tec-nologias da informação, eletro-eletrônica, robótica, biotecnologia, enge-nharia genética e nanotecnologia.• Controle cambial e cancelamento do montante da dívida interna formada através do aumento dos juros e da ciran-da financeira.• Monopólio estatal do comércio exteri-or, de forma a garantir a soberania nacio-nal e evitar as manipulações do mercado por parte dos agentes privados nacionais e internacionais.• Reforma agrária sob controle dos tra-balhadores, com desapropriação de lati-fúndios, fazendas com trabalho escravo e que não cumprem função social; nova política agrícola sustentável ecologica-mente; produção de alimentos saudáve-is; formação de cooperativas agropecuá-rias.• Programa de recuperação do poder de compra dos salários, discutido com os sindicatos, de forma a resgatar o valor do salário estipulado pelo Dieese. Redução da jornada de trabalho para 35 horas sem redução do salário. • Rede de transporte público e gratuito nos grandes centros urbanos, com modernização da frota de ônibus, ampli-ação das linhas de trens, do metrô e de veículos leves sobre trilhos para as gran-des metrópoles, bem como uma rede ferroviária e hidroviária para o transpor-te de produtos industrializados e merca-dorias em geral.• Banco dos Trabalhadores para contro-lar os fundos patrimoniais e previdenciá-rios, garantindo justiça social.• Reforma urbana, com desapropriação dos terrenos vazios para a construção de habitações populares, praças, parques e

de de espaço na grade das televisões e rádios para os partidos políticos, movi-mentos sociais e populares.• Combate a todas as formas de opressão, como o racismo, o preconceito étnico, religioso e a violência e o preconceito contra os LGTBs.

Programa de transição para um novo Brasil

Medidas políticas • Convocação de uma Assembleia Cons-tituinte Popular, com a metade eleita pelo movimento operário e popular da cidade e do campo e a outra metade pelo voto universal.• Estímulo à criação das instâncias do poder popular, com formação dos Con-selhos Populares eleitos em todos os locais de trabalho, moradia, estudo, lazer e cultura.• Abertura do Parlamento aos movimen-tos sociais e garantia de realização de plebiscitos e referendos sobre temas relevantes de interesse nacional. • Parlamento unicameral, com represen-tatividade de acordo com o contingente da população dos Estados; extinção do Senado. Garantia de revogação dos man-datos por parte da população.• Nova Lei das Comunicações, com fim dos monopólios, revisão das concessões e nova política de mídias digitais. Cria-ção de uma poderosa rede pública de comunicação social e ampla liberdade para que partidos e organizações popula-res desenvolvam livremente seus meios de informação.• Abertura imediata de todos os arquivos da ditadura, com rigorosa punição aos torturadores e seus mandantes.• Nova política militar, com democrati-zação da formação nas Forças Armadas, modernização dos equipamentos milita-res e retomada do programa nuclear brasileiro, com o objetivo de garantir a soberania nacional contra agressões de qualquer tipo.• Nova política de segurança pública, fim da Polícia Militar e sua transformação em polícia civil, com a formação voltada para a proteção da vida, do convívio social pacífico e do patrimônio público. • Política cultural de incentivo às mani-festações populares, buscando romper com os interesses dominantes dos oligo-pólios nacionais e internacionais e da

locais de lazer, acompanhada da planta-ção de árvores nas grandes cidades.• Estatização do sistema privado de saú-de, incluindo rede assistencial (hospita-is, serviços ambulatoriais, de apoio diag-nóstico e terapêutico), setores de pesqui-sa e de produção de fármacos, imunobio-lógicos, hemoderivados e de insumos e indústrias de material médico-hospitalar e de equipamentos.• Organizar o Sistema de Saúde a partir da atenção primária à saúde, evoluindo até os níveis de maior complexidade, conjugando ações de promoção, preven-ção, cura e reabilitação. Ampliação da rede assistencial, com construção de unidades básica de saúde e hospitais nos bairros populares. Criação de Conselhos Populares de Saúde para controle do Sistema de Saúde em todos os níveis.• Estatização do sistema de ensino nacio-nal, especialmente das universidades privadas e escolas particulares e nova regulação para as entidades confessiona-is, com ampla reforma que possibilite a criação de uma escola de qualidade para todos. Campanha nacional para a erradi-cação do analfabetismo no prazo de dois anos, utilizando métodos vitoriosos em Cuba, Venezuela e Bolívia. • Monopólio estatal do petróleo, da pro-dução e distribuição de energia elétrica, com reestatização plena da Petrobrás e todas as empresas que foram privatiza-das; extinção das agências reguladoras e anulação dos contratos de risco, leilões e parcerias público-privadas.• Previdência social pública e universal, com teto de 60 anos para homens e 55 para as mulheres; recuperação das per-das salariais e aumento real dos proven-tos e pensões, restabelecendo o princípio amplo da seguridade social.• Política sustentável de meio ambiente, com garantia de demarcação e manuten-ção das terras indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Defesa da Amazônia, dos aquíferos em território nacional e do Aquífero Guarani; defesa da biodiversi-dade, dos recursos naturais brasileiros e revitalização do Rio São Francisco como forma de garantir a transposição de suas águas. Leia o Programa na íntegra em https://pcb.org.br/portal2/17373/17373 COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)

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está na base da pirâmide social, carre-gando a tripla discriminação de gênero, raça e classe. A ela foi negado o direito a educação, a saúde, a liberdade, o estigma de promiscuidade, e a submissão aos cargos subalternizados socialmente. O racismo está enraizado na formação do país em todas as suas esferas. “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da socieda-de se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâ-mide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo”, disse Angela Davis. Mas, para que a mudança revolucionária acon-teça de fato, é preciso promover a luta conjunta. Apesar de o sistema dividir as mulheres e homens pelo gênero no movi-mento negro organizado, nos fragmentar pela cor nos movimentos feministas, algo nos une: fazemos parte da mesma classe trabalhadora. A luta da mulher negra é a luta da classe trabalhadora, para que um dia possamos alcançar uma sociedade total-mente sem desigualdades, sem classes sociais, onde o trabalho não seja explo-ração e onde homens e mulheres cons-truam relações mais humanas e saudáve-is, sem opressões.

forma de divisão do trabalho e a figura do verdadeiro pai, que se torna proprie-tário da força de trabalho, dos meios de produção e dos escravos. Depois da família sindiásmica, surge a família monogâmica, que preci-sou se consolidar por causa da concen-tração de bens nas mãos do homem e da necessidade de transmitir essas riquezas hereditariamente para os filhos. A mulher foi relegada ao espaço domésti-co, privado, a monogamia só era válida para ela, e o homem passou a ser o patri-arca, dono da família e da propriedade, assumindo o poder político, econômico e social. Em todas as sociedades com divisão de classes, essa condição de opressão da mulher pelo homem predo-mina em diferentes graus. O processo de acumulação primitiva do capital foi em grande parte sustentado pelo sistema de exploração escravista com o lucro obti-do pelo comércio internacional de escra-vizados nas colônias. O alicerce ideoló-gico do sistema foi a ideia da inferioriza-ção do povo escravizado. Essa é a história da sociedade brasileira. No quadro atual, a pirâmide social é composta de baixo para cima: mulher negra, homem negro, mulher branca, homem branco. A mulher negra

Ao contrário do que muitos, erroneamente, já afirmaram, o patriarca-do não foi criado pelo sistema capitalis-ta, mas ele é base da criação da proprie-dade privada e do Estado e esta é a base para a sociedade dividida em classes. Na obra ''A Origem da família da Propriedade Privada e do Estado'', Engels analisou o desenvolvimento humano nas sociedades primitivas. Ini-cialmente, nas sociedades primitivas, as relações carnais permeavam uma pro-miscuidade que tolerava relações sexua-is entre pessoas de diferentes gerações, sem relações de matrimônio ou descen-dência organizada em parentesco. A linhagem materna era única, pois não dava para saber quem eram os pais dos frutos gerados entre si na comunidade. Tudo pertencia ao coletivo, não havia acúmulo de bens. Com o passar do tempo e do desenvolvimento desses grupos, surgi-ram proibições em relação ao casamen-to, e as uniões grupais foram substituídas pela família sindiásmica, um tipo de família matriarcal segundo o qual o vín-culo conjugal dissolve-se facilmente (a infidelidade e/ou o divórcio são tolera-dos), e os filhos continuam a pertencer à mãe. Nesse estágio já existem a divisão sexual do trabalho como a primeira

COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO

A mulher negra ea luta pelo fimda sociedade declasses

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Orgânico pelo Estado em virtude, sobre-tudo, da proximidade com as atividades degradantes promovidas pelas usinas de cana-de-açúcar – inviabilizando, assim, a agregação de valor a sua produção. A luta do Catu, em defesa dos direitos e contra os avanços predatórios das usinas de cana-de-açúcar, é também a luta de outros povos indígenas. A mesma Vale Verde foi responsável pelo crime cometido contra o Povo Indígena Potiguara da Aldeia Sagi/Trabanda (mu-nicípio de Baía Formosa/RN), quando, em junho de 2017, destruiu toda uma área de roçado daquelas famílias tradici-onais. As lideranças indígenas já bus-caram apoio dos órgãos do Estado, mas até o momento nenhuma medida efetiva foi concretamente tomada para coibir o desmatamento, o avanço das usinas de cana-de-açúcar e mesmo as ameaças e perseguições a estas lideranças. Todo esse cenário demonstra a continuidade da velha política de violên-cia contra os povos indígenas e o saque dos seus territórios tradicionais. A Alde-ia Catu resiste e luta pela demarcação do seu Território e pela preservação de sua mata, cuja importância é enorme para sua reprodução física e cultural.

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) expressa sua solidariedade e cerra fileiras na resistência e na luta junto ao Povo Indígena do Catu!Pela Imediata Demarcação do Terri-tório Indígena do Catu!Pela retirada das usinas da área indí-gena!Por políticas públicas que proíbam o desmatamento, com punição para os responsáveis!Pelo Poder Popular e o Socialismo.

monocultivo da cana. Além de invadi-rem o Território Indígena, destroem uma área de mata nativa que inclusive, faz parte de uma Área de Proteção Ambien-tal (APA), denominada Piquiri-Una. As duas usinas ameaçam cons-tantemente a viabilidade da vida dos indígenas, uma vez que, além de terem ocupado suas terras, buscam sempre aumentar a área de produção no interior da Aldeia. A cada ciclo da safra de cana-de-açúcar os maquinários das usinas derrubam cerca de 10 a 30 metros de mata adentro com a finalidade de aumentar a área de plantação do próxi-mo ciclo. O monocultivo de cana e a utili-zação de agrotóxicos por parte das usi-nas Vale Verde e Estivas interrompem o processo natural de reciclagem dos nutrientes, empobrecendo o solo e dimi-nuindo sua produtividade. Comprome-tem a biodiversidade e acarretam a dimi-nuição da quantidade de animais silves-tres. Além disso, contaminam o solo, o Rio Catu e todo o roçado da Aldeia Indí-gena. Muito embora os indígenas se dediquem a uma plantação de policultu-ra sem o uso de agrotóxicos, em confor-midade com uma agricultura orgânica, ainda assim não conseguem o Selo de

O PCB do Rio Grande do Norte denuncia publicamente os crimes come-tidos por usinas de cana de açúcar contra o Povo Indígena Potiguara da Aldeia Catu, cujo Território está localizado nos municípios de Canguaretama e Goiani-nha, no Estado do Rio Grande do Norte. Conta com uma população de mais de 700 indígenas, mantendo os seus costu-mes e tradições. Embora continuem exercendo a prática da caça e da pesca, a principal atividade econômica é a agri-cultura familiar, tendo destaque a coleta da mangaba e o plantio da batata – cuja atividade dá origem a uma tradicional festividade: a Festa da Batata. Os indígenas do Catu possuem uma rica história de resistência contra a violência, o preconceito e a omissão do Estado em assegurar os seus direitos. Lutam pela demarcação do seu Territó-rio Indígena, bem como por políticas públicas que respeitem suas especifici-dades e garantam o acesso do seu povo aos direitos sociais, como educação, saúde, entre outros. A não demarcação da Terra Indí-gena do Catu acaba por fazer com que o espaço onde vivem seja espremido por duas usinas de cana de açúcar (usina Vale Verde e usina Estivas), que agridem o Território Indígena avançando com o

POVOS INDÍGENAS

AÇÃO CRIMINOSA DE USINAS CONTRAO POVO INDÍGENA DO CATU (RN).

DEMARCAÇÃO JÁ!

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Janeiro 2018 - Ano 04

Não existe neutralidade na justiça:o Judiciário contra os trabalhadores

SOCIEDADE

reforma agrária por não estar cumprindo sua função social. Pois bem, desde 1988 até hoje, apenas uma fazenda foi desa-propriada tendo como argumentação a Função Social da Propriedade. Os juí-zes, na quase totalidade dos casos, atuam como defensores intransigentes da pro-priedade privada, protegendo grandes empresários e autorizando, sem qual-quer pudor ou pena, o uso da polícia militar e seu Batalhão de Choque contra sem-terra, sem-teto, indígenas e traba-lhadores – o caso de Pinheirinhos (SP) é um exemplo famoso do funcionamento do Judiciário. Na atual conjuntura, o Judiciá-rio atua como uma arma das classes dominantes na ofensiva contra os direi-tos, salários, condições de vida dos tra-balhadores e serviços públicos. Especi-almente quando considerou constitucio-nal a PEC da MORTE, que congela por vinte anos o investimento em saúde e educação, a contrarreforma trabalhista, a terceirização irrestrita e todos os ataques operados pelo Governo Temer com a cumplicidade do Congresso Nacional. Gilmar Mendes, ministro do STF, é o máximo exemplo do quanto é uma lenda a ideologia do juiz neutro: ele atua des-caradamente como um membro do PSDB e fiel servidor das pautas contra os trabalhadores. Não cabe aos trabalhadores depositar qualquer confiança no Judiciá-rio como salvador ou solução para qual-quer problema do país. Esse poder não vai acabar, por exemplo, com a corrup-ção. Todos os poderes da república bur-guesa, o Estado dos ricos, estão podres! Os trabalhadores só podem confiar na força de suas organizações – sindicatos, associações, movimentos sociais etc. – para combater os ataques em curso e construir o poder popular, criando uma justiça que realmente sirva aos interes-ses populares.

como o juiz seria imparcial se a própria lei era parcial? Basta olhar para o atual Con-gresso Nacional brasileiro: uma grande quadrilha (com algumas poucas exce-ções) de deputados e senadores aprovan-do leis conforme o interesse das classes dominantes e contra os trabalhadores, destruindo conquistas históricas, como os direitos trabalhistas e os sistemas públicos de saúde e educação. Portanto, se a lei é parcial e atua no interesse dos grupos dominantes, como sua aplicação será neutra? Além disso, juízes, promotores e desembargadores, em sua maioria, são provenientes das camadas médias altas, recebem uma formação universitária conservadora e, com seus supersalários e privilégios, se identificam com os inte-resses da classe dominante. Quando a lei favorece a popula-ção mais pobre, em decorrência da luta de classes, a Justiça mostra de que lado está. A Constituição Brasileira de 1988 garante a Função Social da Propriedade. Segundo a lei, se uma grande fazenda estiver improdutiva por anos, pode ser desapropriada e suas terras destinadas à

A Internacional Comunista, hino dos trabalhadores do mundo, diz em sua letra que “crime de rico a lei cobre / o Estado esmaga o oprimido / não há direito para o pobre / ao rico tudo é permitido”. Os comunistas sempre denunciaram que não existe lei, juiz ou justiça neutra, isto é, uma justiça que julga todos por igual, interpretando a lei de forma técnica, sem interferência de condição de classe, raça, gênero ou ideo-logia política. O Judiciário é parte do Estado burguês, um dos seus componen-tes fundamentais e, como um poder capi-talista, é estruturado para servir e prote-ger os interesses das classes dominantes – banqueiros, industriais, latifundiários, monopólios internacionais, grupos de mídia e demais. Karl Marx, ainda na juventude, ironizava os professores burgueses que acreditavam no juiz neutro e apartidário. Segundo o discurso oficial da imprensa, dos políticos e partidos da ordem e do meio jurídico, o juiz deve julgar apenas de acordo com a lei, interpretando-a fielmente, sem qualquer influência social ou política na sua decisão. Marx disse que essa ideia era estúpida, afinal,

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2015. A crise econômica provocou o endi-vidamento das famílias, e a queda na trans-ferência de recursos públicos para os tuba-rões tornou programas como o FIES pouco interessantes para seus negócios. A taxa de lucro dos capitalistas da educação caiu como um raio. A consequência imediata é a ampliação do processo de fusões, como no caso da Estácio, que já está temperada e no ponto para ser devorada pelo Grupo Kroton, aguardando um cenário propício em que o Cade seja pressionado a aceitar a fusão. Como líder do setor, a Kroton empurra os demais concorrentes a realizar as necessárias “reorganizações” (eufemis-mo para demissões em massa). Com a economia brasileira estagnada, os empre-sários do ensino se aproveitam das novas leis trabalhistas para reduzir as despesas com a força de trabalho, demitindo profes-sores mais antigos (e mais caros) para contratar profissionais mais baratos e colocar ensino à distância (EAD) onde for possível. É urgente reverter essa lógica perversa na educação, lutando pela criação de uma nova universidade, popular e a serviço da população em geral e não do mercado capitalista. Somente nessas con-dições teremos uma educação voltada para os problemas reais da população, em que o objetivo maior será a produção de conhe-cimento e não de lucro.

/ FIAM-FAAM iniciou, em julho de 2017, seu processo de “reestruturação” demitin-do 220 professores e mudando a grade curricular de forma autoritária, sem qual-quer diálogo com os estudantes. A Laureate é também um grande conglomerado educacional, que forma o “grupo dos 8”, detentor de 27,8% do mer-cado de educação superior no Brasil, segundo o censo de 2014. Fazem parte deste grupo empresas de capital aberto (Anhanguera, Anima, Estácio, Kroton e Ser), dois grupos internacionais (DeVry e Laureate) e a Universidade Paulista (Unip), que, embora não seja um conglo-merado, também controla instituições de ensino. Tais oligopólios tiveram grande crescimento no período petista, principal-mente no primeiro mandato do governo Dilma, no qual o porcentual de universitá-rios desses grupos passou de 12,8% para 27,8% do total. No mesmo período, a transferência de dinheiro dos cofres públi-cos para o G8 saltou de R$ 880,3 milhões por ano para R$ 13,7 bilhões, alta de 1.456%. Porém, o ponto mais alto é tam-bém o início de sua queda. Entre 2014 e 2016, as universidades particulares acu-mularam uma queda de aquisição de alu-nos em cursos presenciais de 10,1%, assim como, pela primeira vez em 25 anos, o ensino superior privado teve uma diminui-ção de 16,5 mil estudantes em relação a

Poucas semanas após a reforma trabalhista passar a valer, já era possível identificar nas mídias alternativas diversas notícias denunciando as consequências deste processo para os trabalhadores de diferentes áreas, como na saúde, no comércio e na educação. Em especial, a demissão em massa de professores do ensino superior privado tomou conta das manchetes da mídia no final de 2017. Ganhou maior repercussão a ação desen-cadeada pela Universidade Estácio de Sá, que demitiu 1.200 docentes, comunicando ter promovido “uma reorganização em sua base de docentes”. Na verdade, trata-se de medidas para economizar recursos com o pagamento de salários aos professores, seguindo o receituário da Kroton Educaci-onal, maior empresa privada do mundo no ramo da educação, que vem adquirindo, no Brasil, diversas instituições privadas, dentre elas a própria Estácio. Mas a Estácio não foi a única a começar um processo de demissões na esteira na contrarreforma trabalhista. A Universidade Metodista (Grande ABC, SP) anunciou a demissão de 60 professo-res. Mantidos pelo grupo estadunidense Laureate, o Centro Universitário IBMR (RJ) também demitiu dezenas de docentes, ao passo que a Universidade Anhembi Morumbi mandou embora 150 professo-res. O clima já era tenso nesta universidade desde que o Complexo Educacional FMU

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UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA

Ensino Superior Privado: monopólio, lucros e demissões em massa

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A declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconhecendo Jerusalém como capital de Israel e indicando que vai deslocar para aquela cidade a embaixada dos EUA naquele país, provocou intensa rejeição por parte de organizações, personalidades e governos em todo o mundo. Nas cidades palestinas e na maioria dos países muçulmanos, grandes manifestações de rua repudiaram a medida, aumentando sobremaneira o clima de tensão na região. A decisão de Trump viola resoluções da ONU, inclusive uma resolução-chave de 1980 que exigia que o status final da cidade de Jerusalém deveria ser estabelecido no contexto de negociações de paz apontando para a solução do conflito de longo prazo entre Israel e o povo palestino. Os palestinos querem que o setor árabe / leste de Jerusalém seja a capital de um novo Estado Palestino independente. Israel declarou que o conjunto da cidade de Jerusalém é sua capital nacional. A situação se complica ainda pelo fato de que alguns dos locais mais sagrados do Islã, do Judaísmo e do Cristianismo se encontram em Jerusalém. Há cem anos, em novembro de 1917, a Declaração Balfour, emitida pelo império britânico, prometia aos judeus a posse da Palestina, dando suporte “legal” ao terrorismo dos grupos sionistas que logo iniciaram as atrocidades e assassinatos contra o povo palestino, roubando suas terras e promovendo a limpeza étnica. Em 1948, a ONU aprovou a criação do Estado de Israel nas terras da Palestina, sem consultar o povo que lá vivia. Desde então, a ocupação sionista em larga escala impulsionou ainda mais sua campanha de terror, assassinatos, prisões, confisco de residências e roubo de terras contra o povo palestino, com total apoio das grandes potências do mundo ocidental, em particular do imperialismo estadunidense. De lá para cá, os palestinos vivem um verdadeiro inferno lidando com as atrocidades diárias cometidas pelo exército de Israel, que pratica uma política de expansão da colonização judaica através do confisco ou destruição de aldeias e bairros inteiros, concomitante ao sequestro, prisões e torturas de jovens e crianças. Aviões israelenses lançam bombas e matam a população de Gaza, extremamente sacrificada pelo embargo econômico, por fome, miséria, doenças e frio, apesar (e por causa) da recente descoberta de petróleo e gás em seu litoral. O Partido Comunista dos EUA denunciou os objetivos táticos de Trump, que pretende, com tal declaração, unir os elementos mais extremistas na política americana, incluindo os setores mais reacionários da direitista Cristandade Evangélica e da ultradireitista comunidade judaica ortodoxa nos Estados Unidos, assim como grupos intolerantes anti-Islã e anti-árabes. Estes são os grupos a quem Trump deve sua eleição para presidente, e ele tem demonstrado que está se movendo para retribuir o favor. Trump reforça o imperialismo belicoso de Israel contra o povo palestino, atrai para si o repúdio e o ódio de grande parte da comunidade internacional e induz à solução de confronto direto para os conflitos envolvendo a questão da nação palestina e seu território. Como prova disso, as forças de ocupação israelenses promoveram centenas de prisões e feriram milhares de palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada, no transcurso dos enfrentamentos produzidos por causa da declaração do presidente dos EUA. É hora de manifestar todo o repúdio a essa ação e de pressionar os governos a criticar e aumentar o cerco aos EUA, país que representa o polo mais forte do imperialismo e do sistema de estados que dá suporte às grandes empresas capitalistas internacionais.

ABAIXO O IMPERIALISMO! SIONISTAS, TIREM AS MÃOS DE JERUSALÉM! VIVA A LUTA DO POVO PALESTINO!

INTERNACIONAL

Repúdio mundialà declaração de

Trump sobreJerusalém