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PESCA ARTESANAL NO LAGO DE ITAIPU (PR): ENTRE CRISES E
PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS.
Graziele Ferreira Mestre em geografia - Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Francisco Beltrão.
1. INTRODUÇÃO
O artigo1 faz parte da pesquisa de mestrado sobre a Comunidade de Pescadores
Artesanais no Lago de Itaipu, concluída em 2014, pela Unioeste Francisco Beltrão-PR,
configura-se pela continuidade das análises da realidade pesqueira no Lago de Itaipu.
Tem por objetivo analisar a associação entre a crise econômica e a problemática
ambiental da pesca artesanal. Partiu-se da hipótese que os problemas ambientais e de
gestão dos recursos pesqueiros impactam negativamente a produção e a renda auferida
pelas famílias pescadoras artesanais, forçando o recurso ao exercício de outras atividades
remuneradas em paralelo à pesca (pluriatividade) ou o seu abandono.
Metodologicamente o artigo está pautado, em um estudo de caso no município de
São Miguel do Iguaçu, localizado no Oeste do Paraná, na Colônia de Pescadores Z11,
onde foram entrevistados pescadores artesanais, atravessadores de pescado,
representantes do poder público, organizações dos pescadores, instituições e entidades
ambientalistas da sociedade civil e lideranças comunitárias.
Para melhor entender essa associação entre a crise econômica do setor e as
questões ligadas ao meio ambiente, optou-se em descrever a região de estudo e
caracterizar a pesca artesanal, que ocorreu a partir do processo de formação do Lago de
Itaipu, em 1982, constituído por uma área de 1.350 km² (Ver figura 1), configurou-se uma
nova realidade territorial, do que antes eram áreas agrícolas; agora é um lago aproveitado
para a pesca artesanal de várias comunidades no seu entorno2.
1 Este escrito constitui-se num desdobramento de pesquisas desenvolvidas após a finalização da Dissertação
de Mestrado intitulada: Comunidade de Pescadores Artesanais no Lago de Itaipu - Conflitos territoriais na
Colônia Z11 de São Miguel do Iguaçu/PR. 2 São 8 colônias e 2 associações: Colônia de Pescadores Profissionais Z12-Foz do Iguaçu; Colônia de
Pescadores Profissionais Itaipulandiense - Itaipulândia; Colônia de Pescadores Profissionais Nossa Senhora
dos Navegantes-Santa Helena; Colônia de Pescadores Profissionais São Francisco-Entre Rios do Oeste;
Colônia de Pescadores Profissionais Z15- Marechal Cândido Rondon; Colônia de Pescadores Profissionais
Z13-Guaíra; Colônia de Pescadores Profissionais de Santa Terezinha de Itaipu; Associação Bragadense de
Pescadores- Pato Bragado; Associação dos pescadores Artesanais de Guaíra (AGUA)-Guaíra.
Figura 1: Localização da Área em Estudo - Reservatório do Lago de Itaipu
Base Cartográfica: IBGE (2003). Elaboração REOLON, Cleverson A. Organizado por:
FERREIRA, Graziele.
Em seguida, privilegia-se a análise dos problemas ambientais que vem
impactando a pesca artesanal, o desrespeito à capacidade de suporte dos ecossistemas,
que impactam a viabilidade socioeconômica da pesca. Merece destaque ainda o conflito
entre pesca artesanal e pesca industrial (aquicultura de tanques-rede3), onde a pesca
extrativista praticada no Lago tenta sobreviver nesse território.
3São estruturas retangulares que flutuam na água e confinam peixes em seu interior. Esse equipamento é
constituído basicamente por flutuadores (galões, bombonas, isopor, etc.) que sustentam submersos na água
arames galvanizados ou redes. São distribuído pela Itaipu.
Por fim, abordam-se as transformações das estratégias de reprodução das famílias
pescadoras, que incorporam atividades extra-pesca para complementar a renda familiar.
Enquanto os pescadores mais idosos normalmente alternam pesca e outras atividades
remuneradas, seus filhos tendem a abandonar a atividade pesqueira.
2. A CONFIGURAÇÃO PESQUEIRA DA COLÔNIA Z11 E SEUS PROBLEMAS.
A construção da Hidrelétrica de Itaipu e seu reservatório artificial, reconfigurou a região
oeste paranaense e suas relações socioeconômicas, comprometendo 101.093 hectares do
território. As águas do lago inundaram áreas urbanas e rurais, resultando na expulsão de 44 mil
famílias. Ribeiro (2006, p. 72), comenta que:
Em média, os municípios atingidos pelas águas de Itaipu sofreram uma queda
de 8,5% em sua renda tributária, mas alguns foram mais duramente castigados:
Foz do Iguaçu, 31,2%; São Miguel do Iguaçu, 21%; Santa Helena, 26%.
Antes do alagamento a agricultura era a principal atividade de subsistência da região,
devido à fertilidade do solo e por se tratar de uma região ribeirinha. Como a construção da
Hidrelétrica proporcionou um movimento migratório, muitas pessoas que viviam no campo
perderam suas terras em virtude do alagamento, vieram para as cidades ou migraram para as mais
diversas regiões. Houve um processo de atração populacional, principalmente para Foz do Iguaçu,
onde grandes contingentes populacionais se direcionaram ao município para trabalhar na
construção da hidrelétrica.
Com essa nova realidade muitos foram aqueles que viram a pesca extrativista e artesanal
como uma alternativa de trabalho e optaram por ela para sobreviver, não apenas na forma de
subsistência, mas como uma profissão. Sobre isso, Machado (2002, p. 6) declara que:
Esses trabalhadores que, antes do alagamento, eram um número reduzido
multiplicam-se. De acordo com relatos de pescadores, cerca de 50 a 60 pessoas
viviam informalmente da pesca, em Santa Helena, sendo que entre 1985 e1992
esse número chegou a cerca de 480 pescadores. A categoria de pescadores
passou a ser formada principalmente por indivíduos indenizados que não
quiseram ir embora de seu município, por outros aos quais o dinheiro recebido
não foi suficiente para uma mudança de vida, ou ainda, em alguns casos, por
indivíduos que receberam suas indenizações, muito tempo depois de ter suas
terras alagadas.
O pescador IF4 de São Miguel do Iguaçu atesta essas informações:
Meu pai foi indenizado pela Itaipu; ficou por aí um tempo, depois foi para o
Paraguai (...) Eu tive família aqui e fiquei morando aqui, perto das terras
alagadas. Aí pensei em virar pescador... tá meio difícil, mas sou pescador
também além de plantá o que tenho (IF Entrevista, 2013)
Como a formação do Lago de Itaipu alterou significativamente a realidade da paisagem
geográfica, as comunidades pesqueiras passaram a ser constituídas a partir de 1982, em busca da
representatividade política de uma nova profissão emergente. A Colônia Z 13 de Guaíra já existia
antes da formação do Lago, para os pescadores do Rio Paraná. Assim com incentivo da Itaipu ao
uso do lago para pesca extrativa e posteriormente para a criação de peixe, 950 pescadores se
cadastraram como profissionais com RGP5, existindo ainda os pescadores esporádicos,
juntamente com outros sujeitos (pescadores amadores, sem RGP).
Constatou-se por meio das observações e entrevistas que a atividade pesqueira assume
importância econômica à medida que um contingente significativo de trabalhadores tem
na pesca e nas atividades ligadas ao setor sua principal ou secundária fonte de renda.
Porém é evidente a fragilidade dessa pesca extrativista artesanal, que tenta
sobreviver no Lago de Itaipu, pois os esforços estão centrados na aquicultura. Mesmo
frente às investidas da Itaipu pela produção de peixe (aquicultura), que revela um novo
foco de modernização na pesca e, talvez, uma violência simbólica contra os pescadores e
seu modo de vida, estes tentam manter os traços tradicionais da pesca e as relações
intergrupo. Ficou explícito em muitas entrevistas e relatos, que os pescadores preferiam
pescar, extrair do Lago seu sustento, porém pela instabilidade do estoque é preciso criar
meios para sobreviver como os tanques-rede. A foto a seguir mostra esses tanques-rede
no lago, e o pescador trabalhando na atividade.
Figura 2: Tanques-rede no Lago de Itaipu
4 Sigla das inicias do nome do pescador entrevistado em 01-06-2013. 5 Registro geral de Pesca é fornecido pelo Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.
Verifica-se que esta prática é incentivada pela Itaipu, para suprir a falta de recursos
pesqueiros, resultante abertura das comportas da usina e consequente rebaixamento das
águas do Lago de Itaipu, para a produção de energia elétrica, bem como a pesca
predatória, durante a piracema que é praticada por alguns indivíduos, principalmente por
amadores, não pelos pescadores artesanais.
Constatou-se por meio das observações e entrevistas que o trabalho da pesca
artesanal exige uma dedicação para além do rio ou lago, pois precisam realizar a limpeza,
armazenagem, comercialização do pescado, além da busca de iscas, a fabricação e o
conserto das redes e espinhéis. O pescador artesanal da colônia Z11, tem motivos de
orgulho da sua profissão, seja pelo domínio de técnicas específicas de trabalho, seja pela
interação peculiar com o meio ambiente natural, porém, ressente-se da falta de
valorização desses aspectos e pela falta de apoio por muitas autoridades:
“Eu gostaria que as autoridades olhassem o pescador como pessoas capazes de preservar
o meio, trabalhar na atividade da pesca e levar o sustento para a família. Valorizar assim
os direitos do pescador6.”
Alguns pescadores afirmam que a sua profissão tornou-se uma opção gratificante
de trabalho e outros afirmam que ela é uma forma alternativa de “ganhar a vida”. Assim,
a atividade da pesca é, para alguns, a única alternativa de trabalho e, por conseguinte, a
única garantia de sobrevivência familiar; para outros, é resultado não apenas das
adversidades sofridas durante a vida da família, mas uma escolha por um modo de vida.
6 Entrevista cedida pelo pescador HL em 29/5/2013.
Existem ainda aqueles pescadores que estão desestimulados com a atividade de
pesca e que pretendem abandoná-la, mas o principal motivo levantado foi a escassez do
pescado visto como uma crise ambiental.
Segundo o mais atual relatório da Itaipu/UEM (2011), a porcentagem de
pescadores que se dedicaram exclusivamente à pesca foi 17,5%. Esse tanto foi
acentuadamente inferior ao registrado no ano de 2008 (45,8%). Em 2005, este contingente
era de 53,0%, em 2004 de 55,1%, em 2003 de 57,0% e em 2002 de 64,0%. Assim,
verifica-se uma redução na dedicação exclusiva à pesca.
Conforme o relatório, essa redução está ligada à diversificação das atividades
dos pescadores, com o envolvimento em atividades que pouco interferem na pesca, como
a criação de abelhas, a criação de peixes em tanques-rede e atividades relacionadas à
agricultura familiar. Os pescadores da Colônia Z11 relataram, porém, que o fator
predominante dessa diminuição da exclusividade da pesca é a diminuição do pescado,
sendo impossível sobreviver apenas da pesca. Essa diversidade de atividade pode ser
verificada na figura a seguir:
Figura 3: Gráfico das Principais Atividades Desenvolvidas pelos Pescadores em 2009
Fonte: ITAIPU/UEM (2012, p. 37).
Percebe-se que a pluriatividade é uma constante entre os pescadores da Colônia
Z11, pois como a pesca exclusiva não possibilita a garantia de sobrevivência para a
maioria dos pescadores, é preciso desenvolver outras atividades. Foi possível identificar,
pelos relatos e pela observação a campo, outras atividades sendo desenvolvidas por
pescadores, como: pedreiro, diaristas no campo ou nas vilas, apicultor, produtor de leite
e produtor de fumo e mandioca.
Figura 4: Fotos de Plantio de Fumo e de Mandioca
Fonte: Pesquisa de Campo maio de 2012.
Essa prática da pluriatividade possibilita a sobrevivência em uma atividade com
muitos problemas ambientais e crises de produção, porém, percebeu-se que, para muitos
pescadores, reconhecer que conciliam outras atividades de ganho com a pesca não era
uma situação facilmente admitida. Essa atitude é compreensível, pois essa condição pode
ser reconhecida como uma descaracterização da profissão de pescador, sob pena de perder
a carteira de profissional e o direito de pescar. Obviamente, porém, essa pluriatividade
não deveria descaracterizá-los como pescadores, mas sim como alternativa de
manutenção.
Segundo Kuhn e Germani (2009), a pesca artesanal desenvolve-se articulando
atividades em terra e também em água. Alguns estudos fazem uma diferenciação entre
pescador-lavrador e pescador artesanal (DIEGUES, 1983, 2004), porém, para efeitos
deste trabalho, considera-se pescador artesanal mesmo aquele que articula pesca e
agricultura, uma prática comum na comunidade.
A pesca é compreendida não só como uma atividade de busca de peixe, mas
como uma construção de relações sociais e ambientais, relações essas marcadas por
identidade, mas também por conflitos e contradições, a pesca no Lago de Itaipu não se
constitui numa atividade de tradição secular. Ao contrário, constitui-se por uma tradição
pesqueira recente, mas repleta de particularidades e de aspectos importantes a serem
estudados ainda.
Outro aspecto importante a ser ponderado, se refere a crise que se configura
recentemente na pesca da Colônia Z11, que se desenvolve principalmente na escassez de
peixe (estoque natural) e nos circuitos de comercialização fragilizados. O abandono do
poder público municipal, por não fornecer o SIM (Sistema de Inspeção Municipal), acaba
impossibilitando o consumo na merenda escolar e a venda no comércio local de forma
regularizada. Embora o município tenha um frigorífico de peixes, não existe convênio
com pescadores. O descaso dos gestores políticos públicos como prefeito e vereadores no
município é notável.
Resta aos pescadores lutar unidos com a Colônia, pelas melhorias necessárias
para garantir seu modo de vida e estruturar um circuito de extração e produção pesqueira
satisfatório, aliando a isso outras formas de atividades, que vão garantindo sua
permanência e resistência.
Ressalta-se que o principal desafio, caracterizado como problema ambiental da
comunidade pesqueira, consiste em delimitar o acesso aos espaços e aos recursos diante
de um ambiente imprevisível, pois, com o fechamento das comportas da Usina de Itaipu,
para o aumento da produção de energia elétrica, ocasiona o rebaixamento do lago, o que
na época da desova (ou piracema, entre os meses novembro a fevereiro) provoca a queda
do estoque pesqueiro porque dificulta a desova como mencionado anteriormente.
A Itaipu, devido essa escassez de peixes, vem incentivando o cultivo de peixes em
tanque-rede, através do programa “Mais peixe em nossas Águas”, cujo objetivo seria
proporcionar uma fonte de renda aos pescadores e suas famílias de forma sustentável e
tornar as águas do lago grandes produtoras de peixe.
Porém, muitos pescadores relataram que ao adotar essa prática de criação de
peixes, ficaram impossibilitados de praticar a pesca extrativista, pois exigia muito tempo
e dedicação. Além disso, foi um projeto imposto aos pescadores, sem saberem ao menos
se daria certo, que gerou muita despesa e pouco lucro.
Outra questão emblemática bem atual, se refere extinção do Ministério da Pesca
e sua incorporação ao Ministério da Agricultura em outubro de 2015, causando aos
pescadores sentimento de instabilidade e fraqueza do setor. Segundo o presidente da
Colônia Z11, muitos pescadores não renovaram mais seu RGP, e estão desistindo da
atividade. Fica evidente a fragilidade de políticas públicas para a pesca artesanal, que
tenta sobreviver no Lago de Itaipu, que demonstra seus esforços centrados na aquicultura.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que na Colônia Z11 a dificuldade enfrentada pelos pescadores
artesanais em sobreviver e extrair o pescado, este insuficiente, mas ao mesmo tempo, a
maioria dos pescadores rejeitam o incentivo da Itaipu em relação à aquicultura,
ressaltando o estilo de vida preferida, da pesca artesanal.
Quanto a criação de peixe em tanques-rede, projeto incentivado pela Itaipu visa a
produção em quantidade, porém os pescadores, em sua maioria, preferem extrair o
pescado mantendo seu modo de vida, não criar o pescado, mas, pela falta de estoque
natural no reservatório e pela necessidade econômica, alguns acabam realizando a
atividade.
Os esforços na atividade da aquicultura revelam o preconceito existente em torno
da pesca artesanal. Desconsidera-se o seu papel cultural, de baixo impacto ao ambiente
natural e sua importância econômica no que diz respeito à soberania e segurança
alimentar, já que grande parte da produção artesanal é comercializada/consumida na
escala local/regional.
Desconsiderando tais questões, o Estado e a iniciativa privada alavancam a
formulação de políticas e investimentos na atividade aquícola, levantando um falacioso
discurso ideológico que consiste na integração do pescador artesanal com a aquicultura.
Entretanto, aquicultura, definitivamente, não é política para pesca artesanal.
Historicamente, para os pescadores artesanais, as águas são um espaço de uso comum,
apropriado por saberes construídos ao longo dos anos e das gerações. Assim, portanto, na
lógica da pesca artesanal, não podem existir cercas, embora existam territórios
construídos a partir do conhecimento do espaço do lago.
Tudo isso ficou explicitado nas falas dos pescadores do Lago quando
questionados sobre a prática da aquicultura:
“Pra falar a verdade, menina, a gente prefere pescar o peixe no lago, sem ter que criar ele
no tanque, sem ter que ir todo dia pegar o barco e ir até o tanque tratá ele. E ainda a gente
gasta tempo e gasta trato para o peixe comê, quando o lago tem comida. Mas fazê o quê!?
É muito melhor armar rede, revistar ela, só que a gente acaba fazendo isso por que não
tem muita opção, o peixe é pouco. E a Itaipu insiste na criação de peixe, que é melhor pra
gente ter mais dinheiro, mas a gente gasta com isso também.”7
Além de tudo isso, a falta de investimentos e incentivos governamentais no setor
artesanal, a extinção do Ministério da pesca e incorporação ao Ministério da Agricultura
em outubro de 2015 desestimulou os pescadores e muitos deixaram de regularizar sua
situação, fazer ou renovar a RGP.
Um dos graves problemas ambientais da pesca artesanal no lago de Itaipu, se
refere a falta de estoque natural de peixe, além da questão da rede de comercialização
deste produto, que em geral é realizada com a presença de intermediários e que se
apropriam da renda dos pescadores artesanais.
Nessa direção, os impactos ambientais e as deficiências na gestão dos recursos
aquáticos acabam afetando a produção pesqueira, ampliando as oscilações e reduzindo o
volume total. Além de diminuir a renda auferida com a atividade, aumenta a incerteza da
obtenção de pescado.
Para enfrentar esses problemas, as famílias de pescadores artesanais têm
diversificado suas estratégias de reprodução social, fenômeno também conhecido como
pluriatividade.
A incorporação de atividades extra-pesca pode ser desenvolvida por integrantes
da família: a) que atuam exclusivamente fora da pesca; ou b) que atuam tanto na pesca
como fora dela. Nas famílias pescadoras entrevistadas, a atuação exclusivamente fora da
pesca ocorre principalmente entre os filhos de pescadores e estão associadas,
normalmente, ao abandono da atividade. Já para as mulheres que realizam trabalho
contínuo fora da pesca, as mesmas continuam a desempenhar atividades ligadas à
7 Entrevista cedida pelo pescador AH em 1º/5/2013.
dinâmica da família pescadora, como o auxílio no preparo das redes, beneficiamento do
pescado, cuidados com a alimentação e com a casa etc.
Assim, as atividades extra-pesca têm assumido grande importância na composição
da renda das famílias pescadoras. Merecem destaque ainda as rendas previdenciárias, o
autoconsumo de pescado e de produtos agrícolas, bem como a política de seguro defeso.
Através dessa política, o Estado paga um salário mínimo mensal durante quatro meses
para que o pescador artesanal deixe de capturar determinadas espécies.
Confirma-se assim a hipótese de pesquisa de que a crise na economia pesqueira
tem como importantes causas os problemas de gestão dos recursos pesqueiros e os
impactos ambientais, forçando o recurso à pluriatividade.
Com o propósito de evitar ou retardar o abandono da pesca, integrantes das
famílias de pescadores artesanais passam a atuar em outras atividades para complementar
a renda. Quando essa é desempenhada pelos filhos, o fenômeno normalmente está
associado ao abandono da atividade. Já quando é realizada pelos chefes de famílias
assume um caráter temporário e de alternatividade, impedindo ou retardando a sua saída
da atividade.
Destaca-se, deste modo, a importância social e acadêmica de estudos mais
aprofundados sobre as comunidades pesqueiras, de modo a entender as dinâmicas sociais
e territoriais existentes.
4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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