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1 PENSAR A EDUCAÇÃO. PORTUGAL 2015 PENSAR O ENSINO SUPERIOR. QUE FUTURO? Ensino Superior Português: entre o caminho feito e onde queremos chegar Nas últimas décadas, assistiu-se em Portugal a uma evolução positiva do crescimento da frequência escolar, em todos os níveis de ensino e em particular no ensino superior. Como consequência deste investimento na Educação, o nível das qualificações da população portuguesa deu um salto importante no último meio século. Portugal mudou muito nos últimos 50 anos no que toca à Educação! Portugal mudou muito, e para melhor, apesar de se assistir de momento a uma crise de identidade do sistema, a que não será estranho um crescimento não planeado do sector durante décadas e a “descaracterização” do ensino superior binário, situação agravada pela política de austeridade actual que concorre para uma concorrência por financiamentos entre as diversas instituições. A universidade invadiu o campo de acção do ensino superior politécnico disputando, com ele, alunos e patrocínios e disponibilizando ofertas formativas de cariz fortemente profissionalizante. As relações entre os subsistemas, que se quer sejam de cooperação e complementaridade são abaladas por uma lógica de competição e de demarcação do terreno. A valorização crescente da investigação aplicada e a transferência de conhecimento e de tecnologia faz perigar a missão do ensino superior e da universidade, pela sua subalternização face às necessidades da economia.

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1

PENSAR A EDUCAÇÃO.

PORTUGAL 2015

PENSAR O ENSINO SUPERIOR. QUE FUTURO?

Ensino Superior Português: entre o caminho feito e onde queremos chegar

Nas últimas décadas, assistiu-se em Portugal a uma evolução positiva do

crescimento da frequência escolar, em todos os níveis de ensino e em particular no

ensino superior. Como consequência deste investimento na Educação, o nível das

qualificações da população portuguesa deu um salto importante no último meio século.

Portugal mudou muito nos últimos 50 anos no que toca à Educação!

Portugal mudou muito, e para melhor, apesar de se assistir de momento a uma

crise de identidade do sistema, a que não será estranho um crescimento não planeado

do sector durante décadas e a “descaracterização” do ensino superior binário, situação

agravada pela política de austeridade actual que concorre para uma concorrência por

financiamentos entre as diversas instituições. A universidade invadiu o campo de acção

do ensino superior politécnico disputando, com ele, alunos e patrocínios e

disponibilizando ofertas formativas de cariz fortemente profissionalizante. As relações

entre os subsistemas, que se quer sejam de cooperação e complementaridade são

abaladas por uma lógica de competição e de demarcação do terreno.

A valorização crescente da investigação aplicada e a transferência de

conhecimento e de tecnologia faz perigar a missão do ensino superior e da universidade,

pela sua subalternização face às necessidades da economia.

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Apesar deste sentimento de crise identitária e de todas as dificuldades com que

as instituições de ensino superior se confrontam, nomeadamente financeiras,

portadoras de efeitos negativos no crescimento, desenvolvimento, rede e qualidade do

sistema de ensino superior, não se pode deixar de salientar os aspectos positivos que se

concretizaram ao longo das últimas décadas, num processo evolutivo do qual devemos

congratularmo-nos.

De seguida dá-se conta dessa evolução utilizando as taxas de escolarização por

nível de ensino cujo crescimento revela o esforço que o país realizou no sentido de

combater o défice de qualificações que a sua mão-de-obra apresenta quando

comparada com a de outros países desenvolvidos.

Consequência dessa necessidade de aumentar a frequência da escola e da luta

contra o “deficit” de qualificações, foi concretizado um investimento significativo, com

a aplicação de recursos avultados e que no ensino superior foi partilhado, pelos

estudantes e suas famílias. Desse investimento apresenta-se também, de seguida,

lançando mão de dados relativos ao contributo do Estado e das famílias para o

financiamento do sector.

Simultaneamente a este crescimento do ensino superior, coloca-se a questão da

inserção profissional dos diplomados e que justifica a apresentação dos dados

disponíveis sobre a empregabilidade dos diversos cursos/áreas de formação, sendo que

a própria noção de “empregabilidade”, deveria ser discutida dada a sua fortíssima

ligação a um modo funcionalista de ver a educação e que pode levar a educação a

assumir o papel subalterno na relação educação-economia.

Nas universidades e institutos politécnicos públicos, o nível de financiamento

público tem vindo a diminuir de forma expressiva, levando a que Portugal apresente no

contexto europeu e internacional um nível de privatização acentuado, com a parte do

financiamento público a representar cerca de 69% no ano de 2010, tendência essa que

se estará a acentuar nos últimos anos. Serão apresentados alguns dados relevantes

sobre a evolução orçamental ao longo das últimas décadas e reflectido sobre as novas

tendências de diversificação das fontes de financiamento.

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1 . Os níveis de qualificações da população portuguesa

Portugal chegou aos anos de 1970 com um atraso significativo em educação,

quando comparado com a maioria dos países europeus. Com a Revolução Democrático

do 25 de Abril de 1974 inicia-se um período de mudança em todos os sectores do país,

nomeadamente na educação que tem de recuperar de muitas décadas de abandono e

de desinvestimento.

Assim, quando entramos na década de setenta (1971), Portugal apresentava uma

taxa real de escolarização de apenas 2,8% no ensino pré-primário, de 83,7% no 1.º ciclo

(4 anos), de 22,0% no 2.º ciclo (de 6 anos) e de 14,7% no 3.º ciclo (9 anos). No ensino

secundário apenas se registava uma taxa de escolarização de 4,3%.

Passados 40, verifica-se que houve uma verdadeira revolução na frequência

escolar tendo a situação mudado profundamente. Em 2011, a taxa real de escolarização

do 1.º, 2.º e 3.º ciclo tinha atingido níveis muito elevados, na ordem dos 85,7%, quase

abrangendo a totalidade dos jovens daquela idade escolar. No ensino secundário deu-

se um salto de uma taxa de 4,3% em 1971 para 72,5% em 2011, o que é notável.

Quadro 1 – Taxa real de escolarização entre 1961 a 2011 (Taxa %)

Educação

Pré-Escolar

Ensino Básico Ensino

Secundário 1.º Ciclo 2.º Ciclo 3.º Ciclo

1961 0,9 80,4 7,5 6,1 1,3

1971 2,8 83,7 22,0 14,7 4,3

1981 17,8 100,0 41,1 26,2 12,4

1991 47,1 100,0 71,7 58,3 31,0

2001 74,8 100,0 87,0 86,8 62,5

2010 83,9 100,0 93,8 89,5 71,4

2011 85,7 99,1 95,4 92,1 72,5

Fonte: PORDATA; a partir de dados da DGEEC/MEC; INE.

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Este progresso na frequência da escola nos diversos níveis é flagrante quando

observamos o número de alunos inscritos em cada subsistema de ensino. Em 1970, o

número de alunos a frequentar o ensino secundário era cerca de 27.000 estudantes e

no ensino superior não chegavam aos 50.000 estudantes. Em 2011, apesar de a taxa de

escolarização real do ensino secundário se ficar pelos 72,5% (ainda longe do nível de

100% previsto com a escolaridade de 12 anos), o número de alunos era já de cerca de

441.000 estudantes e no superior de 396.000 estudantes.

Quadro 2 – Evolução do número de alunos matriculados por subsistema

Fonte: Elaborado a partir de PORDATA; a partir de dados da DGEEC/MEC; INE.; Nos anos 1960 a

1981, in A situação Social em Portugal, 1960-1995, A. Barreto (org.).

Esta abertura e democratização do acesso à educação contou sobretudo com a

participação da escola pública, mas não exclusivamente. Efectivamente, ao nível do

ensino básico e secundário existem no país, tradicionalmente, instituições privadas de

ensino. Ao nível do ensino secundário e do ensino superior em 2010 cerca de um quarto

dos alunos estavam inscritos no ensino privado. No caso do ensino secundário o peso

do sector privado subiu entre 1998 e 2010 de 13,4% para 23,6%.

Todavia, tal não ocorreu, até 1986, com o ensino superior. Até esta data, todas as

instituições de ensino superior eram públicas e, apenas, de ensino universitário. Para

  Pré-Escolar Básico Secundário Total Não

Superior

Variação

%Superior Total Global

Variação

%

1961 6.528 1.066.471 13.116 1.086.115 24.149 1.110.264

1970 15.153 1.316.279 27.028 1.358.460 25,1% 49.461 1.407.921 26,8%

1975 42.490 1.466.815 67.853 1.577.158 16,1% 70.912 1.648.070 17,1%

1981 100.178 1.574.568 176.084 1.850.830 17,4% 83.754 1.934.584 17,4%

1986 128.089 1.639.405 221.951 1.989.445 7,5% 106.216 2.095.661 8,3%

1991 171.552 1.484.256 347.911 2.003.719 0,7% 186.780 2.190.499 4,5%

1996 191.023 1.339.749 477.221 2.007.993 0,2% 313.795 2.321.788 6,0%

2001 235.610 1.223.151 413.748 1.872.509 -6,7% 387.703 2.260.212 -2,7%

2006 262.002 1.145.234 347.400 1.754.636 -6,3% 367.312 2.121.948 -6,1%

2010 274.387 1.256.462 483.982 2.014.831 14,8% 383.627 2.398.458 13,0%

2011 276.125 1.206.716 440.895 1.923.736 -4,5% 396.269 2.320.005 -3,3%

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além das universidades públicas apenas existia o ensino concordatário que não tinha, à

data, o estatuto de ensino superior.

Com a democratização iniciada em 1974, e como forma de resposta à procura

explosiva de educação superior, foram criadas novas instituições públicas universitárias

bem como quinze institutos superiores politécnicos, iniciando-se o ensino superior dual

em Portugal.

Para além destas novas instituições, este subsistema de ensino foi aberto à

iniciativa privada, de que decorreu o aparecimento de um número extraordinariamente

significativo de universidades e institutos politécnicos superiores privados em cuja

oferta predominavam, inicialmente, os “cursos de papel e lápis” e/ou ofertas também

disponibilizadas pelo subsistema público. Esta situação tem vindo a exigir formas de

regulação entre os dois subsistemas no sentido da construção de uma oferta que

corresponda às exigências sociais, com o encerramento de cursos concorrenciais e/ou

com número reduzido de candidatos.

Em termos de peso do ensino superior privado no total do ensino superior, após

um “crescimento explosivo” nos finais da década de 1980 e na década de 1990, tem-se

vindo a verificar uma quebra da participação privada no ensino superior, tendo

diminuído de 34,5% em 1998 para 23,4% em 2010, a que não será estranho,

simultaneamente, a designada “questão demográfica”, a capacidade instalada no

ensino superior público, a falta de diversidade da oferta educativa dos dois subsistemas,

com um ensino superior privado que basicamente repete a oferta pública e a crise

económica e financeira por que o país está passando.

No contexto internacional europeu e dos países da OCDE, o peso do sistema

privado no subsistema do ensino secundário português é relativamente elevado

(23,6%), quando comparado com o que ocorre na Alemanha (7,3%), Itália (11%) e até

mesmo nos Estados Unidos da América (8,4%). Também ao nível do subsistema do

ensino superior, o peso do sector privado é relativamente elevado em Portugal. Veja-se

os dados do quadro 3.

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Quadro 3 – Alunos matriculados por subsistema

nalguns países da OCDE e da UE (%)

Fonte: Elaborado a partir de PORDATA. Fonte de Dados: Eurostat / UNESCO-UIS / OCDE /

Entidades Nacionais - Recolha de Dados UOE

Analisando de forma mais detalhada a distribuição dos estudantes inscritos no

ensino superior, constata-se que a presença do ensino privado não se faz de forma

homogénea nas diversas áreas de educação e formação e que essa composição se tem

vindo a alterar nas últimas décadas. Em 1995/96, o ensino privado representava 37% do

ensino superior e 64% dos estudantes inscritos no ensino privado estavam concentrados

na área das “Ciências Sociais, Comércio e Direito”. Ao mesmo tempo, nesse mesmo ano

o ensino privado concentrava 59% dos estudantes inscritos nessa área e o ensino público

41%. Este figurino mudou muito. Em 2011/12 o peso do ensino privado já só representa

20% do sistema no que toca aos alunos inscritos. Por sua vez, os estudantes da área

“Ciências Sociais, Comércio e Direito” diminuíram o seu peso no total dos estudantes do

Proporção - %

Territórios

Anos 1998 2010 1998 2010 1998 2010 1998 2010 1998 2010 1998 2010

UE27 - União Europeia (27 Países) 100,0 x 77,0 x 22,6 x 100,0 x 73,4 x 26,6 x

DE - Alemanha 100,0 100,0 93,7 92,7 6,3 7,3 100,0 100,0 94,5 87,5 5,5 12,5

AT - Áustria 100,0 100,0 90,4 89,3 9,6 10,7 100,0 100,0 94,3 83,7 5,7 16,3

DK - Dinamarca 100,0 100,0 98,3 98,0 1,7 2,0 100,0 100,0 99,9 98,2 0,1 1,8

ES - Espanha 100,0 100,0 77,2 78,0 22,8 22,0 100,0 100,0 89,1 85,2 10,9 14,8

FR - França 100,0 100,0 69,8 68,4 30,2 31,6 100,0 100,0 87,0 80,3 13,0 19,7

GR - Grécia 100,0 100,0 94,5 95,5 5,5 4,5 100,0 100,0 100,0 100,0 - -

IE - Irlanda 100,0 100,0 99,1 98,5 0,9 1,5 100,0 100,0 94,5 95,5 5,5 4,5

IT - Itália 100,0 100,0 91,2 89,0 5,4 11,0 100,0 100,0 87,2 91,5 12,8 8,5

NL - Países Baixos 100,0 100,0 7,3 100,0 92,7 - 100,0 100,0 32,2 100,0 67,8 -

PT - Portugal 100,0 100,0 86,6 76,4 13,4 23,6 100,0 100,0 65,5 76,6 34,5 23,4

UK - Reino Unido 100,0 100,0 39,6 54,0 60,4 46,0 100,0 100,0 - - 100,0 100,0

CZ - República Checa 100,0 100,0 87,5 85,6 12,5 14,4 100,0 100,0 95,8 84,8 4,2 15,2

SE - Suécia 100,0 100,0 98,4 84,3 1,6 15,7 100,0 100,0 94,3 91,3 5,7 8,7

IS - Islândia 100,0 100,0 93,9 79,1 6,1 20,9 100,0 100,0 95,5 80,3 4,5 19,7

NO - Noruega 100,0 100,0 90,3 88,4 9,7 11,6 100,0 100,0 89,4 85,8 10,6 14,2

US - Estados Unidos da América 100,0 100,0 90,7 91,6 9,3 8,4 100,0 100,0 73,8 72,5 26,2 27,5

JP - Japão 100,0 100,0 66,9 69,0 29,7 31,0 100,0 100,0 21,2 21,4 78,8 78,6

Subsistema de ensino

Ensino Superior

Total Público Privado

Ensino Secundário

Subsistema de ensino

Total Público Privado

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ensino privado (passou dos 64% para 41%), ao mesmo tempo que a área da “Saúde e

Proteção Social” cresceu de forma significativa, representando em 2011/12 cerca de

21% dos estudantes do privado (quando era de 6%).

Quadro 4 – Inscritos no ensino superior por área de educação e formação

– 1995/96 a 2011/12

Fonte: Elaborado a partir do Inquérito ao Registo de Alunos Inscritos e Diplomados do Ensino

Superior, DGEEC/MEC

Desta forma, o Ensino Superior passou a abranger todas as regiões do país, envolve

instituições públicas e privadas, constituindo um complexo sistema e rede de

instituições. Com o crescimento e diversidade do sistema, houve simultaneamente um

aumento do número de docentes e uma grande pressão para a sua qualificação, com o

Área de educação e formação Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total

Educação 23 686 6 653 30 339 36 529 14 599 51 128 19 449 6 804 26 253 15 388 6 986 22 374

Artes e Humanidades 20 046 8 558 28 604 26 022 8 994 35 016 25 378 6 427 31 805 31 170 6 600 37 770

Ciências Sociais, Comércio e Direito 51 898 73 541 125 439 71 936 55 107 127 043 79 366 36 566 115 932 90 963 32 506 123 469

Ciências, Matemática e Informática 21 600 6 960 28 560 26 785 5 951 32 736 23 725 3 429 27 154 27 081 2 137 29 218

Engenharia, Ind. Transf. e Construção 50 791 8 308 59 099 66 976 11 934 78 910 70 924 10 044 80 968 80 280 7 581 87 861

Agricultura 8 974 74 9 048 10 614 20 10 634 6 634 433 7 067 6 851 732 7 583

Saúde e Proteção Social 14 501 6 844 21 345 22 022 12 163 34 185 35 092 23 651 58 743 45 628 16 824 62 452

Serviços 7 278 3 703 10 981 12 646 5 405 18 051 15 970 4 679 20 649 19 851 6 383 26 234

Desconhecido ou não especificado - - - 376 376

Total 198 774 114 641 313 415 273 530 114 173 387 703 276 538 92 033 368 571 317 588 79 749 397 337

Peso% 63% 37% 100% 71% 29% 100% 75% 25% 100% 80% 20% 100%

Área de educação e formação Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total

Educação 78% 22% 100% 71% 29% 100% 74% 26% 100% 69% 31% 100%

Artes e Humanidades 70% 30% 100% 74% 26% 100% 80% 20% 100% 83% 17% 100%

Ciências Sociais, Comércio e Direito 41% 59% 100% 57% 43% 100% 68% 32% 100% 74% 26% 100%

Ciências, Matemática e Informática 76% 24% 100% 82% 18% 100% 87% 13% 100% 93% 7% 100%

Engenharia, Ind. Transf. e Construção 86% 14% 100% 85% 15% 100% 88% 12% 100% 91% 9% 100%

Agricultura 99% 1% 100% 100% 0% 100% 94% 6% 100% 90% 10% 100%

Saúde e Proteção Social 68% 32% 100% 64% 36% 100% 60% 40% 100% 73% 27% 100%

Serviços 66% 34% 100% 70% 30% 100% 77% 23% 100% 76% 24% 100%

Desconhecido ou não especificado

Total 63% 37% 100% 71% 29% 100% 75% 25% 100% 80% 20% 100%

Área de educação e formação Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total

Educação 12% 6% 10% 13% 13% 13% 7% 7% 7% 5% 9% 6%

Artes e Humanidades 10% 7% 9% 10% 8% 9% 9% 7% 9% 10% 8% 10%

Ciências Sociais, Comércio e Direito 26% 64% 40% 26% 48% 33% 29% 40% 31% 29% 41% 31%

Ciências, Matemática e Informática 11% 6% 9% 10% 5% 8% 9% 4% 7% 9% 3% 7%

Engenharia, Ind. Transf. e Construção 26% 7% 19% 24% 10% 20% 26% 11% 22% 25% 10% 22%

Agricultura 5% 0% 3% 4% 0% 3% 2% 0% 2% 2% 1% 2%

Saúde e Proteção Social 7% 6% 7% 8% 11% 9% 13% 26% 16% 14% 21% 16%

Serviços 4% 3% 4% 5% 5% 5% 6% 5% 6% 6% 8% 7%

Desconhecido ou não especificado

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

1995/96 2000/01 2005/06 2011/12

1995/96 2000/01 2005/06 2011/12

1995/96 2000/01 2005/06 2011/12

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apoio dos fundos comunitários (PRODP 1 e PRODEP 2). A título de exemplo apresenta-

se a estrutura de qualificações das universidades públicas entre 1993 a 2003:

Figura 1 – Pessoal docente das universidades públicas portuguesas por grau

académico entre 1993 e 2003

Fonte: Cerdeira (2014). Elaborado a partir de ficheiros pessoais de trabalho da DGES e PRODEP 2.

A pressão no crescimento dos efectivos é bem patente quando se observa o

número dos docentes no ensino superior público, com as universidades a crescerem na

ordem dos 24% e os institutos politécnicos de 186% entre 1990 e 2001. Veja-se o quadro

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1993 1996 1999 2001 2002 2003

Com Grau de Doutor Com Grau de Mestre Licenciados

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Quadro 5 – Pessoal docente do ensino superior público de 1990 a 2001

Fonte: Cerdeira (2014). Elaborado a partir de ficheiros pessoais de trabalho da DGES e PRODEP 2.

Em 2012/2013 existiam no ensino público 25.528 docentes (universidades 15.563

e institutos politécnicos 9.965) e a evolução de qualificação do pessoal docente foi

expressiva. No ensino universitário público passou-se de uma situação, no início da

década de 1990, em que o peso dos docentes com grau de doutor apenas representava

42% do total para um valor de 71% de doutores em 2012/2013.

Um aspeto a ter em conta é o que se prende com a idade dos docentes. Para o

conjunto do ensino superior, em 2011/2012 verificava-se que o grupo mais numeroso é

o que se situa entre 40-59 anos com 58% e que apenas 33% dos docentes estavam

abaixo dos 40 anos.

Pessoal Docente 1990 1995 1999 2001

Var %

2001/1990

Ensino Universtário 10.285 12.198 14.064 12.706 24%

Ensino Politécnico 2.589 3.644 5.742 7.411 186%

Total 12.874 15.842 19.806 20.117 56%

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Quadro 6 – Docentes do ensino superior em 2011/2012 por idade

Fonte: Cerdeira (2014). Elaborado a partir de DGEEC/MEC

A subida da frequência do ensino superior, que passa de uma taxa bruta de

escolarização de 10,9% em 1981 para 53,8% em 2010, concretiza um elevado esforço de

qualificação com a obtenção de graus académicos de nível superior por um número cada

vez maior de indivíduos. Entre 1994 e 2010 o número de diplomados que saíram das

instituições de ensino superior mais do que duplicou. Os diplomados do subsistema

público cresceram 114% e os do privado 45%. Em 1995/96, os diplomados do ensino

público representavam 63% e os do privado 37%. Em 2011/2012, o subsistema público

subiu o seu peso para 78% e o peso do privado desceu para 22%, como se torna visível

na figura 2 e no quadro 7.

< 30 30 - 39 40 - 49 50 - 59 >= 60 Total

Universitário 712 3 332 5 467 4 591 1 436 15 538

Politécnico 745 3 487 3 544 2 082 453 10 311

Total Público 1 457 6 819 9 011 6 673 1 889 25 849

Universitário 4,6% 21,4% 35,2% 29,5% 9,2% 100,0%

Politécnico 7,2% 33,8% 34,4% 20,2% 4,4% 100,0%

Total Público 5,6% 26,4% 34,9% 25,8% 7,3% 100,0%

< 30 30 - 39 40 - 49 50 - 59 >= 60 Total

Universitário 342 2 003 2 343 1 370 972 7 030

Politécnico 291 1 340 1 398 787 383 4 199

Total Privado 633 3 343 3 741 2 157 1 355 11 229

Universitário 4,9% 28,5% 33,3% 19,5% 13,8% 100,0%

Politécnico 6,9% 31,9% 33,3% 18,7% 9,1% 100,0%

Total Privado 5,6% 29,8% 33,3% 19,2% 12,1% 100,0%

Total Global 2 090 10 162 12 752 8 830 3 244 37 078

Total Global 5,6% 27,4% 34,4% 23,8% 8,7% 100,0%

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Figura 2 – Diplomados do ensino superior por tipo de ensino

– 1995/1996 a 2011/2012

Fonte: Elaborado a partir do Inquérito ao Registo de Alunos Inscritos e Diplomados do Ensino

Superior, DGEEC/MEC

Dos cerca de 81.000 diplomados em 2009/2010, verifica-se que 29% obtiveram

formação na área das Ciências Sociais e Direito, 20% % na área da Saúde e Protecção

Social, logo seguido pelos diplomados da área da Engenharia e Indústrias

Transformadoras (19%). Podemos observar que nos anos analisados, se registou uma

diminuição do peso da área da Educação, que em 1995/96 representava 16% dos

diplomados e que em 2011 já só significava 8%. Em sentido inverso, assinala-se a

explosão dos diplomados da área da Saúde, que em 1995/96 apenas representavam

10% (4.015 diplomados) e em 2009/10 representavam 20 % dos diplomados (16.591

diplomados).

0

10 000

20 000

30 000

40 000

50 000

60 000

70 000

80 000

90 000

100 000

Público Privado

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Quadro 7 – Diplomados no ensino superior: total e por área de educação e formação

entre 1995/1996 a 2009/2010

Fonte: Elaborado a partir de DGEEC/MEC - DIMAS/RAIDES

Apesar da expressiva evolução da frequência escolar, o nível de qualificações da

população portuguesa é ainda muito baixo. Se considerarmos o período entre 1998 e

2012, vemos que há uma tendência muito positiva quer no que toca à diminuição da

Área de educação e formação Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total

Educação 4 517 1 629 6 146 7 312 4 742 12 054 6 365 2 574 8 939 4 745 2 056 6 801

Artes e Humanidades 2 776 1 492 4 268 3 138 1 721 4 859 4 731 1 463 6 194 5 132 1 523 6 655

Ciências Sociais, Comércio e Direito 6 735 8 566 15 301 9 453 10 024 19 477 13 792 7 173 20 965 15 718 7 884 23 602

Ciências, Matemática e Informática 2 017 603 2 620 2 613 811 3 424 3 687 708 4 395 5 004 474 5 478

Engenharia, Ind. Transf. e Construção 3 970 642 4 612 5 779 1 364 7 143 8 898 1 320 10 218 13 258 1 875 15 133

Agricultura 844 8 852 1 387 2 1 389 1 189 39 1 228 1 376 86 1 462

Saúde e Protecção Social 2 907 1 108 4 015 7 013 3 179 10 192 8 627 7 037 15 664 10 712 5 879 16 591

Serviços 892 510 1 402 1 922 680 2 602 3 380 1 078 4 458 4 220 1 315 5 535

Total 24 658 14 558 39 216 38 617 22 523 61 140 50 669 21 392 72 061 60 165 21 092 81 257

Peso% 63% 37% 100% 63% 37% 100% 70% 30% 100% 74% 26% 100%

Área de educação e formação Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total

Educação 65% 35% 100% 65% 35% 100% 76% 24% 100% 77% 23% 100%

Artes e Humanidades 44% 56% 100% 49% 51% 100% 66% 34% 100% 67% 33% 100%

Ciências Sociais, Comércio e Direito 77% 23% 100% 76% 24% 100% 84% 16% 100% 91% 9% 100%

Ciências, Matemática e Informática 86% 14% 100% 81% 19% 100% 87% 13% 100% 88% 12% 100%

Engenharia, Ind. Transf. e Construção 99% 1% 100% 100% 0% 100% 97% 3% 100% 94% 6% 100%

Agricultura 72% 28% 100% 69% 31% 100% 55% 45% 100% 65% 35% 100%

Saúde e Protecção Social 64% 36% 100% 74% 26% 100% 76% 24% 100% 76% 24% 100%

Serviços 63% 37% 100% 63% 37% 100% 70% 30% 100% 74% 26% 100%

Total 63% 37% 100% 63% 37% 100% 70% 30% 100% 74% 26% 100%

Área de educação e formação Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total Público Privado Total

Educação 18% 11% 16% 19% 21% 20% 13% 12% 12% 8% 10% 8%

Artes e Humanidades 11% 10% 11% 8% 8% 8% 9% 7% 9% 9% 7% 8%

Ciências Sociais, Comércio e Direito 27% 59% 39% 24% 45% 32% 27% 34% 29% 26% 37% 29%

Ciências, Matemática e Informática 8% 4% 7% 7% 4% 6% 7% 3% 6% 8% 2% 7%

Engenharia, Ind. Transf. e Construção 16% 4% 12% 15% 6% 12% 18% 6% 14% 22% 9% 19%

Agricultura 3% 0% 2% 4% 0% 2% 2% 0% 2% 2% 0% 2%

Saúde e Proteção Social 12% 8% 10% 18% 14% 17% 17% 33% 22% 18% 28% 20%

Serviços 4% 4% 4% 5% 3% 4% 7% 5% 6% 7% 6% 7%

Desconhecido ou não especificado

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

1995/96 2000/01 2005/06 2009/10

1995/96 2000/01 2005/06 2009/10

1995/96 2000/01 2005/06 2009/10

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população sem qualquer nível de escolaridade, que diminuiu 44%, ao mesmo tempo que

a população que conseguiu completar o ensino secundário cresceu mais de 82%

(passaram de 877 100 para 1.603.600). No caso da população com o grau superior

passou-se de 521.100 para cerca de 1.302.700, com um acréscimo de 150%. No entanto,

mesmo em 2012, cerca de 68% da população portuguesa com mais de 15 anos

apresentava qualificações iguais ou abaixo do 3.º ciclo, como se vê no quadro 8.

Quadro 8 – População residente com 15 a 64 anos e 65 e mais anos: por nível

de escolaridade completo mais elevado Indivíduo (Milhares pessoas)

Fonte: Elaborado a partir da PORDATA; INE- Inquérito ao Emprego.

Apesar deste percurso francamente positivo e de grande dinamismo na

frequência da escola lato senso, não se pode ignorar o ainda pesado deficit de

1998 2001 2006 2012

Variação

% 2012 e

1998

Peso%

1998

Peso %

2012

Sem Nível de escolaridade completo 1598,8 1497,6 1142,7 889,3 -44,4% 18,9% 9,9%

15-64 Anos 690,2 572,1 323,3 230,7 -66,6% 8,2% 2,6%

+ 65 Anos 908,6 925,5 819,4 658,6 -27,5% 10,8% 7,3%

1.º ciclo 2892,4 2853,4 2711 2244,8 -22,4% 34,3% 24,9%

15-64 Anos 2372,5 2264,4 1965,9 1323,6 -44,2% 28,1% 14,7%

+ 65 Anos 519,9 589,0 745,1 921,2 77,2% 6,2% 10,2%

2.º ciclo 1365,1 1416,4 1418,3 1123,8 -17,7% 16,2% 12,5%

15-64 Anos 1316,6 1371,3 1357,4 1057,0 -19,7% 15,6% 11,7%

+ 65 Anos 48,5 45,1 60,9 66,8 37,7% 0,6% 0,7%

3. ciclo 1190,4 1282,2 1523,3 1847,4 55,2% 14,1% 20,5%

15-64 Anos 1142,3 1223,3 1439,6 1701,0 48,9% 13,5% 18,9%

+ 65 Anos 48,1 58,9 83,7 146,4 204,4% 0,6% 1,6%

Ensino Secundário e Pós-Secundário 877,1 1013,7 1249,2 1603,6 82,8% 10,4% 17,8%

15-64 Anos 849,5 978,2 1196,8 1540,9 81,4% 10,1% 17,1%

+ 65 Anos 27,6 35,5 52,4 62,7 127,2% 0,3% 0,7%

Superior 521,1 590,3 901 1302,7 150,0% 6,2% 14,5%

15-64 Anos 483,9 550,0 832,9 1185,3 144,9% 5,7% 13,2%

+ 65 Anos 37,2 40,3 68,1 117,4 215,6% 0,4% 1,3%

Total 8444,9 8653,6 8945,5 9011,6 6,7% 100,0% 100,0%

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qualificações de que o nosso país padece, sobretudo ao nível da população que pelo

menos conseguiu terminar o ensino secundário.

No contexto internacional, sobretudo europeu e da OCDE, o peso da população

que obteve o grau secundário é muito elevado. Assim, em 2011 a União Europeia (a 27

países) apresentava um valor de 73,4% de população que pelo menos tinha concluído o

grau secundário. Em Portugal, apesar do progresso efectuado entre 1992 e 2011,

passando de 19,9% para 35%, ainda se encontra muito longe do valor médio da EU e

mesmo longe de países como a Espanha (54%), a Grécia (55%) ou a Itália (56%), como

se pode constatar pelos dados da figura 3.

Figura 3 – População entre os 25 e os 64 anos que completou pelo menos o

ensino secundário (ISCED 3) (%)

Fonte: Elaborado a partir da PORDATA; Fonte de Dados: Eurostat / Institutos Nacionais de

Estatística - Inquérito ao Emprego.

Deve-se registar aqui uma séria preocupação em relação aos dados mais

recentes da procura do ensino superior português, onde se verifica uma diminuição

acentuada de candidatos, com o número dos candidatos à 1.ª Fase do Acesso em 2008

a ser de 52.148 e em 2013 de apenas 40.875 (-24%), como se verifica pela figura 4.

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0

MT - Malta

PT - Portugal

ES - Espanha

IT - Itália

GR - Grécia

UE27

DE - Alemanha

LV - Letónia

EE - Estónia

PL - Polónia

SK - Eslováquia

CZ - República Checa

LT - Lituânia

19,9

24,0

32,6

36,6

79,9

31,5

35,0

53,8

56,0

54,5

73,4

86,3

87,7

88,9

89,1

91,3

92,3

92,9

2011 1992

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Figura 4 – Evolução de Candidatos à 1.ª Fase de Acesso ao Ensino Superior entre

1977 e 2013

Fonte: Cerdeira (2014). Elaborado a partir de dados da DGES.

Esta tendência de diminuição da procura do ensino superior é também visível a

partir dos dados relativos aos alunos inscritos pela 1.ª vez no 1º ano, onde a diminuição

é também significativa (-6,2%), com particular decréscimo no ensino superior privado,

que se contrai em 37%, ao mesmo tempo que no público há uma manutenção (+1,2%),

ainda que com assimetrias entre o ensino universitário (+5,8%) e o ensino politécnico (-

6,1%) ao qual se exigem iguais níveis de qualidade mas não se oferecem iguais

oportunidades de desenvolvimento (veja-se, apenas a título de exemplo, a posição dos

politécnicos relativamente aos doutoramentos e à actividade de investigação).

12.8

2913

.537 17

.200

17.2

2317

.222

15.9

4925

.126

24.4

4123

.273

24.4

5225

.035 29

.206

51.7

7958

.867

55.3

42 59.1

6658

.431

66.8

7180

.576

68.7

9854

.950

54.4

1450

.431

52.5

9647

.550

48.7

5943

.776

44.0

9639

.193

40.8

6052

.148

53.4

5152

.812

52.1

7846

.642

45.0

9340

.785

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Candidatos ao Ensino Superior Público - 1.ª Fase

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Quadro 9 – Alunos Inscritos no Ensino Superior 1.ª vez 1.º Ano

Fonte: DGEMEC

Interessa, também, salientar que a economia portuguesa até aos finais desta

última década, conseguiu de alguma maneira absorver o crescimento de diplomados

com o grau superior. O quadro 10, onde se regista a taxa de desemprego dos indivíduos

com menos de 40 e 30 anos, de acordo com o nível habitacional conseguido, é disso

testemunha.

Subsistema de ensino 1995/96 2000/01 2008/09 c) 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13Var.2008-

2013

Ensino Superior Público 47 450 65 929 87 988 94 400 102 895 94 481 89 067 1,2%

Universitário d) 29 377 39 229 54 243 59 611 65 012 60 899 57 396 5,8%

Politécnico e) 18 073 26 700 33 745 34 789 37 883 33 582 31 671 -6,1%

Ensino Superior Privado 33 633 27 320 27 384 27 914 28 613 22 095 17 182 -37,3%

Universitário d) 23 578 16 577 18 811 19 209 19 497 15 214 12 416 -34,0%

Politécnico e) 10 055 10 743 8 573 8 705 9 116 6 881 4 766 -44,4%

Subtotal (Ensino Superior) 81 083 93 249 115 372 122 314 131 508 116 576 106 249 -7,9%

Ensino Superior Público - - 3 293 3 492 4 588 4 331 4 510

Universitário d) - - 193 302 364 192 199

Politécnico e) - - 3 100 3 190 4 224 4 139 4 311

Ensino Superior Privado - - 633 929 955 885 1 150

Universitário d) - - 541 732 774 787 1 019

Politécnico e) - - 92 197 181 98 131

Subtotal (CET) - - 3 926 4 421 5 543 5 216 5 660

TOTAL 81 083 93 249 119 298 126 735 137 051 121 792 111 909 -6,2%Fonte: Inquérito ao Registo de Alunos Inscritos e Diplomados do Ensino Superior, DGEEC/MEC, 20 de dezembro de 2013

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Quadro 10 – Taxa de desemprego dos indivíduos com menos de 40 e 30 anos,

segundo as habilitações escolares (%)

Fonte: Elaborado a partir de INE, IE (in Cardoso et alii, 2012)

De acordo com Cerdeira, Cabrito, Patrocínio (2013), o desemprego dos

indivíduos com idade inferior a 40 anos e sobretudo inferior a 30 anos aumentou no

período em análise. Apesar das oscilações anuais, a tendência registada é a de elevação

da taxa de desemprego dos indivíduos sem estudos superiores e diminuição daquela

taxa, para os indivíduos com estudos superiores. O mercado mantém a tendência do

século passado de premiar os estudos superiores, numa clara “obediência” às premissas

da Teoria do Capital Humano (Schultz, 1961, 1963; Becker, 1964).

Sendo múltiplas as áreas de educação e de formação, é natural que nem todas

tenham o mesmo comportamento face ao mercado de trabalho. Isto é, tendo em

atenção as “necessidades” do mercado é possível que o mercado “trate” de forma

diferente os diplomados de cada área, explicando as diferenças detectáveis na

percentagem de diplomados empregados de cada área científica. O diploma mais não é,

AnoCom Ensino

Superior

Sem Ensino

SuperiorTotal

Com Ensino

Superior

Sem Ensino

SuperiorTotal

2002 6,42 6,65 6,63 9,33 8,48 8,59

2003 7,7 8,47 8,36 12,72 10,39 10,72

2004 7,31 8,57 8,37 11,78 10,91 11,04

2005 8,74 9,77 9,61 13,35 12,48 12,62

2006 8,95 9,67 9,55 13,58 12,71 12,85

2007 10,59 10,12 10,2 15,47 12,62 13,13

2008 9,31 9,5 9,46 14,59 12,1 12,6

2009 8,21 12,65 11,77 11,57 15,5 14,71

2010 8,75 14,44 13,23 13,36 17,36 16,53

Taxa de Desemprego - Individuos com

menos de 40 anos

Taxa de Desemprego - Individuos com menos

de 30 anos

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como refere Collins (1979), do que um crédito de que os diplomados dispõem para

negociar a sua entrada no mercado de trabalho. Observe-se os dados do Quadro 11 que

testemunham, bem, o tratamento desigual de cada área de estudos por parte do

mercado em Portugal, na última década e que parece dar razão àqueles que afirmam a

existência de algumas formações divorciadas das “reais necessidades do mercado”.

Quadro 11 – Taxa de desemprego dos indivíduos com menos de 40 anos, segundo as áreas de educação e formação (em %)

Área de educação e formação

2004 2006 2008 2010 Média

(2004-2010)

Formação de professores/formadores e ciências da educação

7,62 10,67 6,98 7,34 9,05

Artes e Humanidades 8,82 11,83 14,22 11,51 12,44

Línguas e literaturas estrangeiras 10,09 12,43 17,46 3,94 11,33

C. Sociais, comércio e direito 8,38 7,73 9,19 10,18 9,00

Ciências da vida 8,31 11,66 15,82 8,90 11,06

Ciências físicas 14,80 15,01 6,35 6,38 10,83

Matemática e estatística 14,78 7,74 3,78 2,94 7,28

Ciências informáticas 3,40 6,02 2,83 5,60 3,39

Informática na óptica do utilizador 7,42 8,36 12,08 6,09 7,01

Engenharia, indústrias transformadoras e construção

4,58 7,29 7,35 7,80 7,68

Agricultura, silvicultura, pescas e ciências veterinárias

6,48 2,21 5,37 11,81 7,64

Saúde e protecção social 3,13 6,52 9,23 7,32 6,40

Serviços 5,17 15,11 7,09 13,77 10,90

Grande grupo: Ciências, matemática e informática

8,28 19,21 0,00 0,00 3,54

Ignorado 0,00 11,68 5,78 12,25 8,72

Total 7,31 8,95 9,31 8,75 8,86

Fonte: INE, IE (in Cardoso et alii, 2012) - adaptado

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Da análise dos valores do Quadro 11 pode concluir-se que as taxas de

desemprego dos indivíduos com idades até 40 anos de algumas das áreas de formação

apresentam, em média, valores elevados, substancialmente superiores à taxa média

total. Assim acontece com as áreas de Formação de Professores/Formadores e Ciências

da Educação, Artes e Humanidades, Ciências Sociais, Comércio e Direito, Ciências da

Vida, Ciências Físicas e Serviços. De registar que as mais elevadas taxas de desemprego

sejam as relativas formações cujos diplomados procuram, habitualmente, funções

ligadas à profissão docente (professores de línguas, de artes, de biologia, de física). No

extremo oposto, destacam-se as formações de relacionadas com informática,

matemática e estatística, facto a que não será estranho o desenvolvimento do TIC.

Contudo, a situação económica de Portugal agravou-se profundamente e

actualmente a taxa de desemprego no país atingiu no 1.º trimestre de 2013 o valor de

17,7%. (INE, Estatísticas do Emprego, 1.º trimestre de 2013), com repercussões

evidentes nos mais jovens (em 2012 para os jovens com menos de 25 anos ascendia a

37,7%) e também na população com o grau superior (em 2012 era de 11,9%). Todavia,

para os anos de 2011 (taxa de desemprego total de 12,7%; com grau superior de 9,2%)

e 2012 (taxa de desemprego total de 15,7%; com grau superior de 11,9%), continuou a

verificar-se que a taxa de desemprego da população com grau superior atingiu valores

inferiores à da população total.

Ainda no que respeita ao emprego dos diplomados, vale a pena afirmar que

informações obtidas em htpp\\:www.infocursos.mec.pt para o período 2007-2013

mostram que alguns cursos evidenciam valores de desemprego dos diplomados

extremamente baixos, corroborando estudos anteriores, como os cursos relacionados

com informática e ciências computacionais, matemática, medicina, ciências da saúde,

enquanto outros, como educação, ciências da comunicação, arquitectura, publicidade,

evidenciam níveis de desemprego dos seus diplomados superiores à média nacional.

De registar, ainda, que o próprio “mercado institucional” parece surgir

segmentado, verificando-se níveis diferentes de desemprego de diplomados com o

mesmo tipo de formação mas oriundos de diferentes instituições de ensino superior,

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encontrando-se a procura dos diplomados do ensino politécnico no fim da tabela,

contraditando, afinal, aquilo que deveria conferir identidade ao sistema de ensino

superior: a diversidade oriunda, nomeadamente, da natureza binária da oferta.

A situação descrita, e que ocorre não apenas no nosso país, justifica os apelos de

uma “aproximação” do ensino superior ao mercado, no sentido de tornar as formações

adquiridas “empregáveis” bem como a necessidade de uma “avaliação permanente”

desse curso.

Independentemente da posição de cada um face à relação educação/mercado,

torna-se imprescindível discutir e decidir sobre qual o figurino a marcar a relação entre

o ensino superior, universitário e politécnico e as empresas, o mercado, a economia, no

sentido de garantir que a educação cumpra os seus objectivos maiores, entre outros os

de formar cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, responsáveis por si próprios

e pelos outros, conhecedores do meio em que vivem, curiosos sobre processos e

resultados, solidários e actuantes e, obviamente, bons profissionais que agem de acordo

com os mais elementares e imperativos códigos de ética.

Por outro lado, avaliar os cursos, se podem estar em constante estado de

avaliação – afinal tudo é avaliável – é absolutamente necessário decidir-se para que

serve essa avaliação e avalia-se à luz de quê. Que indicadores devem utilizar-se? Com

que objectivos? Quem os estabelece? Com que legitimidade? Para que servem?

Esta propalada “necessidade” de empregabilidade e de certificação dos

diplomas/cursos, bem como a real necessidade de a educação servir as populações,

exigem uma reflexão aprofundada sobre o sentido do ensino superior: a quem se

destina? Que modalidades? Para que serve? Qual o sentido e valor social da

diferenciação universitário/politécnico? Como conciliar convergência com diversidade e

competitividade com cooperação? Como conferir valor económico ao conhecimento

que se produz e, simultaneamente, impedir que o seu valor se circunscreva ao valor de

mercado, mercantilizando-o? Qual o grau de autonomia que a diversidade requer? Qual

o seu lugar numa sociedade e economia do conhecimento? Como conjugar a formação

para a cidadania com a formação profissional? Como articular “mercado” com “servir a

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sociedade”? Como garantir a universalidade da formação superior, tornando-a numa

experiência democrática do dia-a-dia? Como oferecer ensino superior privado sem ferir

os direitos à educação de todos os jovens? Como o financiar?

2. Os recursos afectos à educação e ao ensino superior público

O acentuado crescimento da educação e do ensino superior levou também a um

crescimento em flecha das necessidades orçamentais para este subsector da Educação.

Seguindo os dados da execução orçamental relativa a todo o sector da Educação

(incluindo todos os subsectores de ensino) vemos que os recursos cresceram de uma

forma muito significativa, apesar da tendência decrescente percebida nos últimos anos.

Ainda que sejam valores que estão a preços correntes, pode-se ver a dimensão dessa

evolução no quadro seguinte:

Quadro 12 – Despesas do Estado em Educação

Fonte: Elaborado a partir da PORDATA; Fonte de Dados: DGO/MF - Relatório/publicação "Conta

Geral do Estado". Nota: os valores de 2011 e 2012 na 1.ª coluna e o de 2012 na 2.ª coluna são

provisórios.

Anos

Despesas de Estado

em Educação em %

do PIB

Despesas de Estado

em Educação

(Euro - Milhões) Variação %

Despesas de

Estado em

Educação per

Capita (Euro) Variação %

1972 1,4% 22,3 2,60 €

1980 3,2% 258,5 1059% 26,50 € 919%

1990 3,8% 2091,0 709% 209,40 € 690%

2000 4,9% 6202,6 197% 602,80 € 188%

2005 4,7% 7316,1 18% 696,60 € 16%

2010 5,0% 8559,2 17% 809,50 € 16%

2011 4,6% 7878,5 -8% 746,20 € -8%

2012 4,0% 6623,2 -16%

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Desde a década de 1970 e de 1980 que a despesa de Educação sobe

significativamente, passando de 1,4% do PIB em 1972 para cerca de 5% no ano de 2010.

A partir dessa data e mercê dos significativos cortes que nos últimos anos este sector

sofreu esse peso deverá ser de apenas nos 4% do PIB em 2012.

No que toca ao subsistema do ensino superior, as instituições públicas

portuguesas dependiam fortemente do Orçamento de Estado até aos anos de 1990,

representando este a maioria das receitas das universidades e dos institutos

politécnicos. Contudo, a evolução receitas próprias das instituições de ensino superior

tem registado um significativo crescimento.

No contexto internacional, a evolução portuguesa no que diz respeito à

diminuição do financiamento público das instituições de ensino superior público

destaca-se de forma bem evidente. Se considerarmos os dados do relatório da OCDE

(2013, Education at Glance), vemos que Portugal passou, em menos de uma década e

meia, de um financiamento público com um peso de mais de 95% para 69,0% no ano de

2010, situando-se na média da OCDE (média da 68,4%) e muito inferior à média da EU

(76,4%). A variação negativa do financiamento público das instituições públicas de

ensino superior é, de facto, impressionante.

Quadro 13 – Peso % do Financiamento Público no Ensino Superior Público

Fonte: OCDE, Education at a Glance, 2013

1995 2000 2005 2008 2009 2010 Var

OECD Média 78,9 77,4 70,4 69,4 70,4 68,4 -10,5

EU21 Média 86,3 85,5 81,5 77,7 78,3 76,4 -9,9

Portugal 96,5 92,5 68,1 62,1 70,9 69,0 -27,5

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No que toca ao modelo de financiamento do ensino superior público, Portugal

tem tido um percurso mais próximo do modelo anglo-saxónico, com a introdução de

propinas e com a diminuição progressiva do financiamento público, do que do modelo

seguido na Europa continental, onde a parte do financiamento privado nas instituições

de ensino superior públicas é bem menos notório.

Esta rápida privatização do financiamento das instituições de ensino superior

públicas, iniciada em 1992 com o estabelecimento de propinas actualizáveis neste

sector de ensino, deve-se em particular à alteração no valor das propinas introduzido

pela Lei n.º 37/2003 e, também, devido à progressiva diminuição do financiamento do

Orçamento de Estado. As receitas geradas pelas propinas dos estudantes tornaram-se

uma fatia assinalável dos recursos das instituições públicas. Apresenta-se de seguida a

evolução do valor nominal das propinas fixado entre 1993 e 2014.

Figura 45 – Evolução do valor das propinas no ensino superior público

entre 1993/1994 e 2014/2015

Fonte: Cerdeira (2014).

35

9 €

39

1 €

40

9 €

6 €

46

4 €

47

5 €

48

7 €

50

2 €

52

4 €

55

4 €

58

5 €

61

8 €

63

1 €

63

1 €

63

1 €

63

1 €

39

9 €

41

9 €

43

9 €

6 €

28

3 €

294 €

30

6 €

31

8 €

33

4 €

34

8 €

85

2 €

88

0 €

90

1 €

92

0 €

94

9 €

97

2 €

99

7 €

98

7 €

1.0

00

1.0

37

1.0

66

1.0

68

0 €

200 €

400 €

600 €

800 €

1.000 €

1.200 €

Mínima Máxima

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É importante registar que os estudantes, para além das propinas, têm de suportar

outros custos: os custos de educação, que para além das propinas, incluem ainda os

valores da taxa de matrícula, livros e outros materiais, equipamento (computadores,

microscópios, etc.), visitas de estudo; e os custos de vida dos estudantes, que incluem

as despesas com o alojamento, despesas de telefone e telemóvel, despesas de

alimentação, despesas médicas, custos de transporte e outras despesas pessoais,

conforme é internacionalmente aceite (Estebe Oroval e Tomás Moltó, 1984; Johnstone,

1986, 2007). Veja-se a figura seguinte que assinala os custos totais (custos de educação

e de vida) para três momentos – 1994/95, 2004/05 e 2010/2011, obtidos a partir das

respostas a 3 questionários aplicados a 3 amostras representativas dos estudantes do

ensino superior (Cabrito, 2002; Cerdeira; 2009; Cerdeira et al., 2012).

Figura 6 – Evolução dos Custos de Educação e Custos de Vida no Ensino Superior

Público em 1994/95, 2005/05 e 2010/11

Fonte: (1994/95) Cabrito; (2004/05) Cerdeira; 2010/11 (Cerdeira, Cabrito, Patrocínio, Machado & Brites);

* Em 1994/1995 os dados são relativos apenas ao ensino universitário público.

0 €

1.000 €

2.000 €

3.000 €

4.000 €

5.000 €

6.000 €

1994/1995 * 2004/2005 2010/2011

677 €1.138 € 1.241 €

3.334 €

4.172 €4.600 €

Custos de Educação Custos de Vida

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Enquanto as receitas cobradas através das propinas tem vindo sempre a crescer,

a dotação orçamental para as universidades e institutos politécnicos públicos tem

descido de forma muito acentuada. Ainda que seja difícil comparar valores, dado que ao

longo dos últimos anos foram introduzidos fenómenos que não existiam em anos

anteriores (por exemplo, o pagamento por parte das IES como entidades patronais a

partir de 2007 para a Caixa Geral de Aposentações, ou a anulação do pagamento de

subsidio de férias e Natal, ou cortes salariais na função pública a partir de 2011, etc.), a

diminuição nos últimos 5 anos é expressiva. No quadro 14 podemos observar a

comparação da dotação inscrita no processo de preparação do Orçamento de Estado

entre os anos de 2005 a 2013.

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Quadro 14 – Evolução do Orçamento de Estado Inscrito entre 2005 a 2013 –

Calculatória da Preparação do Orçamento Inscrito (sem as unidades especiais)

Fonte: Cerdeira (2013).Quadro elaborado a partir dos dados dos ficheiros de preparação do

orçamento das universidades e institutos politécnicos.

Se consideramos que estes dados estão a preços nominais, vemos que há uma

diminuição acentuada de recursos. Em 2005, o orçamento por aluno financiado às

instituições de ensino superior público cifrava-se nos 3.694 euros. Em 2013, a

considerar-se o valor do orçamento para o ensino superior no Relatório do Orçamento

de 2013 (DGO, Outubro 2012) encontramos um valor de apenas 3.060 Euros por aluno.

Unid: Euros

UNIVERSIDADES INSTITTUTOS

POLITÉCNICOS +

ESC. NÃO

INTEGRADAS

RESERVA POR

DISTRIBUIR

TOTAL -

EDUCAÇÃO

Var % Ano Nº ALUNOS

INSCRITOS

(ENSINO

PÚBLICO)

ORÇAMENTO

POR ALUNO

Orçamento Inscrito 2005

711.453.090 € 310.155.285 € 1.021.608.375 €

2005/2006276 538

3.694 €

Orçamento Inscrito 2006

710.850.949 € 312.196.086 € 1.023.047.035 € 0,1%

2006/2007277.234

3.690 €

Orçamento Inscrito 2007

668.849.959 € 291.150.041 € 960.000.000 € -6,2%

2007/2008288.692

3.325 €

Orçamento Inscrito 2008

673.652.520 € 293.647.481 € 3.300.000 € 970.600.001 € 1,1%

2008/2009287.587

3.375 €

Orçamento Inscrito 2009

706.460.955 € 304.461.386 € 13.750.000 € 1.024.672.341 € 5,6%

2009/2010299.072

3.426 €

Orçamento Inscrito 2010

(aproximado) 820.021.472 € 361.996.954 € 16.111.756 € 1.198.130.182 € 16,9%

2010/2011314.032

3.815 €

Orçamento Inscrito 2011 c/ Redução

Salarial+Protec 758.207.510 € 335.487.681 € 1.093.695.191 € -8,7%314 032

3.483 €

Orçamento Corrigido 2012 (usado na

preparação de 2013) passou a incluir

SAS 590.113.176 € 269.163.029 € 859.276.205 € -21,4%314 032

2.736 €

Orçamento 2013 (comunicado SEES

em Agosto 2012) 580.690.281 € 260.614.269 € 841.304.550 € -2,1%314 032

2.679 €

Orçamento 2013 Ajustado (Relatório

do Orçamento 2003-Out 2012) 971.800.000 €314 032

3.095 €

Variação entre 2005 e 2013 (com tecto

de Agosto 2012) -18%

Var % 2013 e 2005

14% -27%

Variação entre 2005 e 2013 (com tecto

Relatório de 2013 Outubro) -5%

Var % 2013 e 2005

-16%

2011/2012 e

2012/2013 (não

divulgado) =hip de

ser igual a 10/11

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27

Outro aspecto importante para perspectivar a acessibilidade do ensino superior

é o apoio social concedido para ajudar os estudantes e as famílias a suportar os custos

do ensino superior. Esse apoio pode ser dado através de bolsas, empréstimos e apoios

indirectos (refeições e residências, a preços subsidiados etc). Ora o que aconteceu é que

o apoio social tem nestes anos de profunda crise e diminuição do rendimento das

famílias vindo a diminuir. Essa forte diminuição é bem ilustrada pelos seguintes dados:

• Baixou em 8% o número de bolseiros apoiados de 73 500 para 67 900 (73

493 em 2008 para 67 850 em 2011; - 5,3% no público e - 20% no privado);

• Baixou 14% o valor da dotação orçamental para o pagamento de bolsas de

estudo entre 2008 e 2012 (passou de no total de 138,8 para 120 milhões de

euros= -14%; no OE de 75 milhões para 44 milhões = -50%; e Fundos

Comunitários +5%)

• Baixou em -44% a dotação para os apoios indirectos (SAS), passando de 161

milhões em 2008 para 90 milhões em 2011 (passa o OE de 88,5 para 37,7 milhões

de Euros = - 53%; RP de 71 para 53 milhões = - 35 milhões)

Neste contexto de forte desinvestimento e de diminuição dos recursos para as

instituições de ensino superior, não surpreende que o Relatório do Fundo Monetário

Internacional (FMI, Portugal, Rethinking the State – Selected Expenditure Reform

Options. Janeiro 2013), quando analisava este subsistema, pouco mais conseguiu dizer

do que propor a subida do valor das propinas e não fala em introduzir cortes (FMI, 2013,

p.63). O relatório tem apenas 2 parágrafos (pontos 68 e 77) para analisar o Ensino

Superior, concluindo de forma muito linear que o aumento de propinas é a solução mais

conveniente e que essa subida deve atender sobretudo à procura e ao valor de mercado

dos cursos, numa clara posição de defesa das políticas de austeridade.

Na realidade, a situação a que se chegou é de tal forma “austera”, que

implicitamente o FMI reconhece naquele relatório que será praticamente impossível

diminuir o financiamento público. De resto, os técnicos do FMI reconhecem que

Portugal tem de continuar a expandir o seu Ensino Superior.

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3. A diversificação das fontes de financiamento, mecenato e autonomia

universitária

Perante esta situação de carência financeira, as IES públicas são obrigadas a

procurar novas fontes de financiamento para além das propinas, tornando-se

indispensável identificar os mecanismos a que recorrem as IES para angariar fundos, e

que se poderão enquadrar nomeadamente no mecenato, em contratos de investigação,

em contratos com empresas, em aluguer de espaços e de equipamentos, em doações,

entre outros (Jonhstone, 2002, 2004b), acompanhando o que Barr sublinha quando, a

nível europeu e mundial (Barr, 2005, p. 1), refere que “o ensino superior enfrenta

problemas em todo o mundo: as universidades estão subfinanciadas, o que coloca

questões a nível da qualidade; o apoio aos estudantes não é adequado; a proporção de

estudantes de contextos desfavorecidos é lamentavelmente pequena e o financiamento

das universidades em muitos países é regressiva, uma vez que o dinheiro provém dos

impostos cobrados a todos mas os principais beneficiários são os oriundos de contextos

favorecidos”.

Todavia, em Portugal, não existem ainda muitos estudos nesta área, o que torna

difícil a análise e definição de políticas de diversificação de financiamento e torna-se

mais pertinente ao recordar o alerta de Johnstone (1998), quando destaca que a procura

de financiamento pelas universidades dá uma orientação mercantil que influencia a

tomada de decisões, conduzindo a uma situação onde as forças que influenciam o

ensino superior provirão daqueles que pagam, o que terá como resultado provável que

as instituições públicas se alinhem cada vez mais com as instituições privadas, facto que

tornará o ensino superior mais elitista e, portanto, cada vez menos democrático e

equitativo.

Naturalmente, esta procura de financiamento externo, procura de

financiamento no mercado deverá ser acompanhada de uma vigilância sobre as próprias

instituições, no sentido de perceber e averiguar se as novas fontes de financiamento

exigem algum tipo de contrapartida por parte das IES e, a ser assim, se estas

contrapartidas poderão influenciar ou condicionar a missão, a autonomia e a tomada de

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29

decisão das IES pois o mecanismo de financiamento é condicionado pelos objectivos da

fonte e os fundos entregues dependem das expectativas em relação à instituição e o

cumprimento de determinadas funções pelo sistema educativo constitui o elemento

justificador do financiamento em si (Cabrito, 1999).

Assim, o processo de financiamento, dado que visa o cumprimento de

determinados objectivos estabelecidos previamente, pode influenciar decisivamente o

funcionamento da instituição alvo do financiamento (Cabrito, 1999) ou, como refere

Cerdeira (1997: p. 159) “o grau de autonomia das universidades está fortemente

relacionado com a composição do respectivo financiamento. Quando a origem dos

fundos e das receitas se concentra em poucas ou numa só entidade, a independência da

Escola fica indiscutivelmente limitada (…) [o esmagador contributo do Estado no

financiamento do ensino superior em Portugal tem] forçosamente, consequências no

tipo de gestão que é praticado pelas universidades. Esta circunstância induz um

funcionamento do tipo predominantemente conservador e administrativo, em vez da

gestão moderna e flexível desejada pela generalidade dos universitários e,

provavelmente, também pela própria tutela e pela sociedade”.

Contudo, nas últimas décadas e sobretudo após a publicação da Lei n.º Lei nº

37/2003, de 22 de Agosto, (Lei Bases do Financiamento do Ensino Superior), com a

possibilidade de as instituições poderem fixar o valor das propinas entre um valor

mínimo (salário mínimo nacional acrescido de 30%) e um máximo (valor fixado em 1941

actualizado pela taxa de inflação), ao mesmo tempo que os recursos provenientes do

Orçamento de Estado progressivamente diminuíam, empurrou as instituições para a

subida do valor e afixação no valor máximo.

Esta mudança, com a diminuição do peso dos recursos públicos, pode ser

perspectivada com os dados da evolução decrescente do peso do financiamento público

na despesa das instituições de ensino superior e da diversificação das fontes de

financiamento. No gráfico seguinte, apresenta-se a origem das receitas arrecadas pelas

universidades e institutos politécnicos públicos por fonte de financiamento – receitas

de orçamento de estado, receitas de propinas e outras receitas próprias excluindo as

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propinas – desde 2003 a 2012, com a componente das receitas das propinas e outras

receitas a ganhar um peso cada vez mais expressivo e a componente do orçamento de

estado a decrescer.

Figura 7 – Receitas arrecadadas por fonte de financiamento

Fonte: Cerdeira (2013), elaborada a partir de dados de DGPGF/MEC. Nota em 2010 e 2011 as

receitas das propinas e outras receitas não incluem U-Aveiro, U. Porto e ISCTE

De registar que em Portugal, e face à situação financeira que vivenciam, as IES já

praticam a diversificação de fontes de financiamento, nomeadamente no que toca à

captação de receitas para o financiamento de investigação e ciência. De facto, a Lei n.º

26/2004 de 8/7 aprovou o Estatuto do Mecenato Científico e procedeu à nona alteração

do Decreto-Lei nº 74/99, de 16/3 que define o Estatuto do Mecenato. A definição de

donativo mantém-se e no artigo 2º são definidas as modalidades do mecenato científico,

a saber: a) o mecenato de projecto de investigação – contributo de uma pessoa singular

ou colectiva, destinado a apoiar o desenvolvimento de um projecto de investigação

0

200.000.000

400.000.000

600.000.000

800.000.000

1.000.000.000

1.200.000.000

1.400.000.000

1.600.000.000

1.800.000.000

2.000.000.000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009* 2010** 2011*** 2012

OE PROPINAS O.RECEITAS SEM PROPINAS

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científica, desde que no quadro de uma instituição legalmente reconhecida pelo

Ministério da Ciência e do Ensino Superior; b) mecenato de equipamento científico –

contributo destinado a apoiar a aquisição de instalações e/ou de equipamento científico

ou a realização de obras de conservação em instalações destinadas à investigação; c)

mecenato de recursos humanos – a cedência de investigadores e ou especialistas de

uma entidade a outra, para o desenvolvimento, em exclusividade, de um projecto de

investigação ou demonstração; d) mecenato para a divulgação científica – o contributo

de uma pessoa singular ou colectiva, destinado a apoiar actividades de divulgação

científica, incluindo a realização de grandes eventos científicos, como feiras, congressos

e exposições; e) Mecenato de inovação ou aplicação industrial – o contributo destinado

a apoiar a demonstração, em ambiente industrial, de resultados de investigação e

desenvolvimento tecnológico, desde que tal demonstração assuma carácter inovador.

São consideradas entidades beneficiárias, as destinatárias destes donativos,

independentemente da sua natureza jurídica e cuja actividade consista

predominantemente na realização de actividades científicas, considerando-se como tal:

a) Fundações, associações e institutos públicos ou privados; b) Instituições de ensino

superior, bibliotecas, mediatecas e centros de documentação; c) Laboratórios do

Estado, laboratórios associados, unidades de investigação e desenvolvimento, centros

de transferência e centros tecnológicos.

O artigo 4º caracteriza os mecenas como as pessoas singulares ou colectivas

que concedam donativos às entidades referidas, não se enquadrando nesta definição:

a) Os titulares de cargos de direcção ou administração da entidade beneficiária; b) As

pessoas, singulares ou colectivas, relativamente às quais a entidade beneficiária seja

economicamente dependente, considerando-se como tal a titularidade de mais de 50%

do capital da entidade beneficiária, excepção feita aos membros fundadores das

entidades beneficiárias.

Ainda neste documento legal, no Capítulo III, artigo 12º, fica estabelecida a

criação da Rede Nacional do Mecenato Científico — MECEN.PT – destinada a promover

e divulgar o mecenato científico, da qual fazem parte todas as entidades mecenas às

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32

quais seja atribuído o certificado Ciência 2010 e as entidades beneficiárias, podendo,

ainda, integrar a Rede todos os interessados na promoção do mecenato científico. Esta

Rede assenta numa base de dados de livre acesso, contendo informação sobre as acções

de mecenato científico já realizadas e em curso, sobre os mecenas e beneficiários, sem

prejuízo do cumprimento do desejo de anonimato que pode ser expresso junto da

entidade acreditadora, no momento do reconhecimento, caso em que a entidade será

apenas tida em conta para efeitos estatísticos.

4. E o que se passa com a investigação?

Pensar a Educação Superior sem qualquer apontamento sobre a investigação

seria uma falha grave dado que, sabemos, uma grande parte da investigação que se faz

em Portugal ainda é nas universidades e, basicamente, por professores universitários

que, por inerência das funções e da missão da universidade são, simultaneamente,

investigadores.

A aposta na investigação, ciência e na formação avançada redundou numa

alteração significativa no que toca ao no que toca à capacidade de diplomação a nível

de doutoramentos no país. Como se depreende do quadro 15, na última década (2000-

2009) o número dos que concluíram o grau de doutor (11.967 doutorados) excedeu em

mais de 69% o que tinha ocorrido nos últimos 30 anos anteriores (de 1970 a 1999 apenas

7067 doutorados). Assinala-se ainda o crescimento do peso das mulheres que nos anos

de 1970-1979 apenas representavam 20% dos graduados e que no período de 2000-

2009 já se aproximavam da paridade (49%).

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33

Quadro 15 – Doutorados por sexo e ano de obtenção do grau

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência / Ministério da Educação e

Ciência; elaborado a partir dos Sumários estatísticos do Inquérito aos Doutorados 2009 (CDH09).

Por outro lado, há outra mudança assinalável em relação a idade em que os

doutorados obtêm o grau. Até ao final de década de 90 do século XX não se registava

casos de obtenção do grau de doutor em idade inferior aos 35 anos e muito raros os que

o conseguiam até aos 44 anos e a partir dos anos de 2000 essa situação muda de forma

acentuada. Veja o quadro 16.

Quadro 16 – Doutorados por idade de obtenção do grau

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência / Ministério da Educação e Ciência;

elaborado a partir dos Sumários estatísticos do Inquérito aos Doutorados 2009 (CDH09).

De assinalar, ainda, que não só se aumentou a capacidade de qualificação do país

no que concerne à obtenção do grau de doutor, como as áreas científicas em que o grau

é obtido denota uma evolução apreciável. Veja-se na figura 8 e no que respeita ao ano

HPeso%

MPeso% Total (H M)

1970-1979283 80% 69 20% 351

1980-19891.164 67% 583 33% 1.747

1990-19993.133 63% 1.835 37% 4.968

2000-20096.146 51% 5.822 49% 11.967

Total 10.725 56% 8.309 44% 19.034

< 35 ANOS 35-44 ANOS 45-54 ANOS 55-64 ANOS 65-69 ANOS Total

1970-1979 0 0 1 194 156 351

1980-1989 0 0 259 1283 204 1747

1990-1999 0 701 3018 1113 136 4968

2000-2009 2.354 5.616 3.102 819 77 11967

Total 2.354 6.317 6.380 3.409 574 19.034

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34

de 2009, que as ciências exactas e naturais foram as áreas que registaram o maior peso

(33%), seguidas das ciências de engenharia e tecnologia (23%) e depois as ciências

sociais (20%).

Figura 8 – Doutorados por domínio científico e tecnológico do doutoramento

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência / Ministério da Educação e Ciência;

elaborada a partir Sumários estatísticos do Inquérito aos Doutorados 2009 (CDH09).

Nesse contexto, deixa-se nesta reflexão um breve apontamento sobre a

investigação em Portugal, não tanto sobre o número de investigadores, áreas de

investigação, etc., mas no que respeita ao objectivo deste grupo de trabalho: o

financiamento.

Nestas circunstâncias, observe-se a Figura 9 que nos informa sobre a evolução

das dotações orçamentais para a I&D no período 1986-2014.

3.317; 17%

2.945; 16%

4.319; 23%

1.777; 9%

633; 3%

3.841; 20%

2.201; 12%

Ciências exactas

Ciências naturais

Ciências da engenharia

e tecnologias

Ciências médicas e da

saúde

Ciências agrárias

Ciências sociais

Humanidades

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35

Figura 9- Dotações orçamentais para I&D (1986-2014)

Notas:

* Taxa de câmbio ESCUDO/EURO = 200,482; r valor revisto; p valor provisório

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência / Ministério da Educação e Ciência

Os dados da figura testemunham políticas educativas e de investigação que se

aproximam do que se pode observar nas questões da educação genericamente

considerada: um esforço orçamental muito grande desde finais da década de 1980 aos

anos iniciais do presente século, a que se segue um período de estagnação e mesmo de

decréscimo das dotações orçamentais nos últimos anos, acompanhando uma política de

austeridade visível na vida portuguesa em geral.

Todavia, e apesar da actual política de austeridade que se vem repercutindo de

forma negativa no ensino superior e na investigação, é importante salientar o enorme

esforço que o país desenvolveu com a investigação ao longo do período,

particularmente na primeira década deste século, a que não será estranho a política de

investigação do ministro Mariano Gago.

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

1.800

2.000

1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008r 2010r 2012 2014p

Dotações Orçamentais para I&D (1986-2014) Dotações para I&D - Preços Correntes

Mil

es d

e E

uro

s

Anos

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O menor esforço do Estado nas actividades de I&D acontece exactamente a

partir de 2009-2010, período em que a desresponsabilização do Estado relativamente à

educação se tornou mais notório. Esta menor assumpção por parte do estado das

despesas em investigação e desenvolvimento são notórias quando se analisa o peso

destas despesas quer no OE quer no PIB, peso esse que se caracteriza, exactamente, por

uma tendência para de decrescimento do esforço do país nestas actividades. Observem-

se os quadros 17 e 18 que são bem elucidativos da actual política de contenção de

despesas com a educação superior e a investigação.

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Quadro 17 – Dotações orçamentais para I&D

(Unidade: milhões euros; Preços Correntes)

* PIB Fonte: Instituto Nacional de Estatística para os anos 2012 e 2013 (dados atualizados em 11

de março de 2014) e previsão do Banco de Portugal para o ano de 2014 (informação

disponibilizada em 26 de Março de 2014 com uma previsão de crescimento do PIB em 1,2% para

o ano 2014); ** OE Fonte: Estimativa da Despesa da Administração Central: 2012, Relatório do

OE 2013 pag. 253; 2013 e 2014, Relatório OE 2014 pag.205 revisto; p provisório

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência / Ministério da Educação e Ciência

.

2012 2013 2014p

I&D 1 555 1 579 1 626

Dotações Orçamentais para Ciência 1 599 1 687 1 725

I&D/Dotações Orçamentais para Ciência 97% 94% 94%

PIB* 165 108 165 854 167 844

I&D/PIB 0,94% 0,95% 0,97%

Dotações Orçamentais para Ciência/PIB 0,97% 1,02% 1,03%

OE** 55 985 60 087 58 290

I&D/OE 2,78% 2,63% 2,79%

Dotações Orçamentais para Ciência/OE 2,86% 2,81% 2,96%

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Quadro 18 - Dotações Orçamentais Iniciais aprovadas afetas a programas de Ciência

e Ensino Superior

(Unidade: Euros; Preços Correntes)

* PIB Fonte: Instituto Nacional de Estatística para os anos 2012 e 2013 (dados atualizados em 11 de

março de 2014) e previsão do Banco de Portugal para o ano de 2014 (informação disponibilizada em

26 de Março de 2014 com uma previsão de crescimento do PIB em 1,2% para o ano 2014).

** OE Fonte: Estimativa da Despesa da Administração Central: 2012, Relatório do OE 2013 pag. 253;

2013 e 2014, Relatório OE 2014 pag.205

R revisto; p provisório

Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência / Ministério da Educação e Ciência

2012 2013 2014p

Taxa de

Variação (%)

12/13

Taxa de

Variação

(%)13/14

LABORATÓRIOS do ESTADO 194 719 593 192 201 426 158 998 205 -1,3 -17,3

Serviços Centrais da administração direta e

organismos da administração indireta do MEC 377 327 294 472 224 942 439 660 242 25,1 -6,9

FUNDOS DO ENSINO SUPERIOR 615 523 131 634 356 334 650 273 796 3,1 2,5

OUTROS EXECUTORES DE I&D 411 691 795 388 229 752 476 498 567 -5,7 22,7

TOTAL 1 599 261 812 1 687 012 454 1 725 430 810 5,5 2,3

PIB(*) 165 107 500 000 165 853 700 000 167 843 900 000 0,5 1,2

Dotações Orçamentais para Ciência/PIB 0,97% 1,02% 1,03%

TOTAL DO OE(**) 55 985 300 000 60 087 100 000 58 289 700 000 7,3 -3,0

Dotações Orçamentais para Ciência/OE 2,86% 2,81% 2,96%

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39

5. Algumas notas finais: Que futuro queremos construir?

Em síntese e quando olhamos para o que foi a caminhada de Portugal nestes

últimos 50 anos, no que toca à Educação e Ensino Superior, podemos afirmar que muito

se andou para aqui chegar!

Em princípios dos anos de 1970 o nosso país era um país profundamente

atrasado com níveis elevados de analfabetismo e com um pequeníssimo sector de

ensino secundário e de ensino superior e com taxas de escolarização que nos

envergonhavam no contexto europeu e ocidental. A qualificação da população activa

portuguesa fez um percurso muito assinalável.

Esse forte investimento na qualificação da população portuguesa implicou

também a afectação de um conjunto vasto de recursos, tendo-se progressivamente

aumentado a parte do Produto Interno Bruto (PIB) aplicado neste sector.

No que toca ao Ensino Superior, esse crescimento foi conseguido de forma

expressiva com o co-financiamento dos estudantes e das suas famílias, representando

actualmente as receitas geradas pelas propinas uma fatia relevante da despesa das

instituições de ensino superior, ao mesmo tempo nos últimos anos, se constata uma

diminuição importante da componente do Orçamento de Estado.

A proposta apresentada recentemente por instâncias internacionais de aumento

do valor das propinas e que, até ao momento, não foi (ainda) adoptada pelo Governo,

pode constituir um perigoso processo tendente a acentuar a elitização no acesso ao

ensino superior e que deve merecer ponderação sobre as consequências que tal decisão

pode representar para a acessibilidade. A austeridade a que o país tem sido sujeito tem

conduzido a que muitos estudantes e as suas famílias tenham dificuldade em pagar as

propinas e os restantes custos. O risco de dispararem as desistências é grande,

agravando o risco da falta de sustentabilidade do próprio sistema do ensino superior.

Devemos ter em conta que Portugal apresenta um nível de privatização do

financiamento das instituições de ensino superior público dos mais elevados a nível

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europeu e do grupo de países da OCDE. O investimento na Educação e, em particular no

Ensino Superior, é essencial para o desenvolvimento do nosso país.

Os cortes orçamentais efectuados nos últimos anos de 2011 e 2012 são de tal

envergadura (-23% da despesa do sector global da Educação, representando pelo menos

um corte de 1.936 milhões de euros), que colocam em perigo o futuro da Educação e

consequentemente de Portugal poder, de forma sustentada e sustentável, encarar os

desafios do desenvolvimento e da melhoria das condições sociais e económicas da sua

população.

Concluindo

Que Fazer para que o Ensino Superior tenha Futuro?

1. Aumentar as qualificações da população Portuguesa, e possibilitar que as

gerações mais velhas venham a adquirir qualificações, dada a situação altamente

desfavorável do nosso país. Portugal, está entre os cinco países da OCDE com a

maior proporção de adultos (25-64 anos) sem um diploma secundário (65%, em

contraste com a média de 25% OCDE) e entre os três países da OCDE com a

menor proporção de adultos (25-64 anos) com ensino superior (17%, em

contraste com a média de 32% OCDE).

2. Manter e melhorar o nível de escolarização do Ensino Superior: não temos

alunos, nem diplomados do Ensino Superior a mais!

3. Reivindicar para o Ensino Superior recursos financeiros que lhe permitam

cumprir estas funções e promover um compromisso da sociedade e das forças

políticas para a fixação de uma percentagem da riqueza criada no país para este

subsector da Educação (por ex. 1,5% do PIB, que se situa perto da média da EU).

Desde 2007 conhece apenas a austeridade.

4. Perceber que uma nova subida das propinas não é “solução”. O co-

financiamento dos estudantes e das famílias já é dos mais altos da Europa e da

OCDE.

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5. Promover a afectação dos recursos através de Contratos-Programa, com a

fixação de objectivos para as IES, e o orçamento ser plurianual, como já hoje

ocorre em muitos países da EU. Precisamos de ter Contratos-Programa, com

uma fórmula de cálculo para o estabelecimento do tecto orçamental.

6. Voltar a ter mecanismos e indicadores para um exercício efectivo, e respeitado,

da autonomia de gestão das IES (limites globais de pessoal docente, pessoal

investigador e pessoal não docente; autonomia para as IES gerirem dentro desses

limites). Impõe-se recuperar, pelo menos, os mecanismos que já existiram!

7. Aumentar o apoio social e rever a forma de cálculo das bolsas de estudo,

actualizando os limites do rendimento do agregado familiar e fazendo com que o

valor da bolsa cobra os custos dos estudantes, ou pelo menos uma parte

significativa.

8. Impedir que a Reorganização da Rede do Ensino Superior seja desenhada, e

decidida, em gabinete. A Reorganização tem que partir das Universidades e

Institutos Politécnicos, não excluindo à partida modalidades de fusão, e haverá

que atender a uma distribuição geográfica equilibrada, não acelerando a

desertificação do Interior e Regiões Autónomas. A Reorganização não deverá

partir, todavia, apenas das instituições de ensino superior. A rede neuronal,

geradora da inteligência que todos desejamos, obriga articular políticas

institucionais em matéria de emprego-educação adequadas, de modo sustentado

e prospectivo, participando num modelo de desenvolvimento cada vez mais

apoiado em factores dinâmicos de competitividade, a saber: capital humano, rede

de instituições, públicas e privadas, de ciência, de tecnologia, de cultura, do

sector empresarial e social; e onde o estado cumpra a sua função de regulador,

garante de qualidade, potenciador da equidade entre as instituições e os

estudantes, promotor do diálogo, árbitro na competição (des)leal, produtor de

consensos e convergências.

Obviamente, e porque o que se pretende está enquadrado num contexto sócio-histórico,

interessa colocar um conjunto de inquietações e questões que se prendem com os aspectos

importantes para prospectivar o Futuro do Ensino Superior em Portugal, a saber:

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Objectivos a atingir

Desenvolvimento e aquisição de conhecimento científico e de

metodologias de investigação

Formação profissional nas respectivas áreas, incluindo a vertente

deontológica

Desenvolvimento da investigação ao serviço da sociedade.

Experiência democrática e de inserção social

E que nos obrigam a reflectir nas melhores respostas para as

Questões a enfrentar

Relação entre ensino público e privado: complementaridade e/ou

competição? Que regras para essa competição? Qual o lugar do

ensino privado na oferta educativa e na sua relação com o mercado?

Reorganização da Rede de Instituições de Ensino Superior:

universitário e politécnico? Qual o campo de acção de cada tipo de

instituição? Como tornar justo e equitativo um sistema dual, seja no

que respeita à relação entre os respectivos diplomados e o mercado,

seja na autonomia e liberdade de criação de cada instituição,

enquadrada num contexto sociogeográfico específico?

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Avaliação e acreditação dos cursos: quem avalia? Com que critérios

e objectivos? A quem presta contas a agência independente de

avaliação? Como assegurar a objectividade, honestidade e

transparência dos processos de avaliação e acreditação de cursos?

Financiamento do ensino público: qual o papel do Estado, dos

estudantes, das empresas e dos mecenas no financiamento do ensino

superior público? Que benesses para patrocinadores/mecenas das

instituições de ensino superior? Que efeitos/consequências na

autonomia das instituições?

Relação ensino superior/empresas: complementaridade e

subsidiariedade; troca; local de estágio e de aprendizagem diária;

financiamento.

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