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Ana Sofia Carrilho Faculdade de Direito de Lisboa Página 1 DIREITO PENAL II Apontamentos Teoria da Infracção Nota: estes apontamentos estão feitos, essencialmente, com base nas aulas práticas leccionadas pela Prof. Dra. Helena Morão, materiais por ela fornecidos e complementados com o Manual da professora Maria Fernanda Palma e professor Figueiredo Dias. Abreviaturas: FD Prof. Figueiredo Dias FP Prof. Maria Fernanda Palma HM Prof. Helena Morão TC Prof. Taipa de Carvalho O CRIME É UM FACTO TÍPICO, ILÍCITO, CULPOSO E PUNÍVEL ACÇÃO FD: defende que o momento da acção não é relevante e consequentemente, este problema deverá tratar-se na tipicidade. FP: interessa discutir o momento da acção de forma autónoma, antes de discutir a tipicidade. Se a acção não for penalmente relevante nem sequer pode ser tipificada. - Para verificar se a acção é penalmente relevante tem que se ter em conta que tenha havido um COMPORTAMENTO HUMANO E VOLUNTÁRIO . CATEGORIAS DE COMPORTAMENTOS (voluntários ≠ não voluntários) Actos praticados sob coacção: só se considera que o comportamento seja involuntário quando haja coacção física. Quando existe coacção moral, há voluntariedade de comportamento, embora a vontade esteja condicionada, ou seja, nos casos de coacção psicológica/moral é necessário fazer uma análise mais detalhada e avançar nas etapas de análise. Acções passionais: são claramente actos voluntários, é verdade que a lei atenua as penas neste tipo de crimes, mas não deixam de ser comportamentos voluntários (ex: A mata B por ciúmes) Acções praticadas em estado de inconsciência: verifica-se nos casos de embriaguez letárgica (o chamado coma alcoólico, quando o embriagado já não tem controlo nenhum sobre si por estar literalmente inconsciente), sonambulismo, hipnose, perdas de consciência, ataques de epilepsia. (análise mais detalhada em seguida) Excluem-se pensamentos, vontades (coisas interiores), porque estes por si só não colocam em perigo bens jurídicos. Humano porque o Dto Penal foi pensado para os homens e não para animais ou acontecimentos naturais. Existe intenção de praticar o comportamento, e o agente tinha a possibilidade de adoptar ou não aquela conduta (fundamenta-se no p. da culpa e no p. da necessidade da pena).

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Aulas de Direito Penal II, FDL

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  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 1

    DIREITO PENAL II Apontamentos

    Teoria da Infraco Nota: estes apontamentos esto feitos, essencialmente, com base nas aulas prticas leccionadas pela Prof. Dra. Helena

    Moro, materiais por ela fornecidos e complementados com o Manual da professora Maria Fernanda Palma e professor

    Figueiredo Dias.

    Abreviaturas:

    FD Prof. Figueiredo Dias

    FP Prof. Maria Fernanda Palma

    HM Prof. Helena Moro

    TC Prof. Taipa de Carvalho

    O CRIME UM FACTO TPICO, ILCITO, CULPOSO E PUNVEL

    ACO

    FD: defende que o momento da aco no relevante e consequentemente, este problema

    dever tratar-se na tipicidade.

    FP: interessa discutir o momento da aco de forma autnoma, antes de discutir a tipicidade. Se

    a aco no for penalmente relevante nem sequer pode ser tipificada.

    - Para verificar se a aco penalmente relevante tem que se ter em conta que tenha

    havido um COMPORTAMENTO HUMANO E VOLUNTRIO.

    CATEGORIAS DE COMPORTAMENTOS (voluntrios no voluntrios)

    Actos praticados sob coaco: s se considera que o comportamento seja involuntrio

    quando haja coaco fsica. Quando existe coaco moral, h voluntariedade de

    comportamento, embora a vontade esteja condicionada, ou seja, nos casos de coaco

    psicolgica/moral necessrio fazer uma anlise mais detalhada e avanar nas etapas de

    anlise.

    Aces passionais: so claramente actos voluntrios, verdade que a lei atenua as

    penas neste tipo de crimes, mas no deixam de ser comportamentos voluntrios (ex: A

    mata B por cimes)

    Aces praticadas em estado de inconscincia: verifica-se nos casos de embriaguez

    letrgica (o chamado coma alcolico, quando o embriagado j no tem controlo nenhum

    sobre si por estar literalmente inconsciente), sonambulismo, hipnose, perdas de

    conscincia, ataques de epilepsia. (anlise mais detalhada em seguida)

    Excluem-se pensamentos,

    vontades (coisas

    interiores), porque estes

    por si s no colocam em

    perigo bens jurdicos.

    Humano porque o Dto Penal

    foi pensado para os homens

    e no para animais ou

    acontecimentos naturais.

    Existe inteno de praticar o

    comportamento, e o agente

    tinha a possibilidade de adoptar

    ou no aquela conduta

    (fundamenta-se no p. da culpa e

    no p. da necessidade da pena).

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 2

    Aco ou omisso livre da causa: exemplo do motorista que no respeita as horas de

    descanso e adormece causando um acidente. Embora esteja num estado de

    inconscincia aquando do acidente, esse estado de inconscincia -lhe imputvel por

    no respeitar o perodo de descanso.

    SONMBULISMO

    Maioria doutrinria: aponta a sonambulismo como sendo um acto involuntrio.

    FP: defende que em certos casos pode haver voluntariedade.

    HIPNOSE

    ROXIN: defende que h voluntariedade (justificada pela barreira do carcter) pois s as

    pessoas capazes de adoptar certo comportamento em estado de conscincia que conseguiro

    faz-lo sob hipnose.

    HM: diz haver sempre aco e voluntariedade, pois est provado cientificamente que os

    comportamentos dos agentes sob hipnose nada mais so do reflexos do seu carcter.

    FP: defende que no h voluntariedade.

    ACTOS REFLEXOS: so involuntrios e incontrolveis. o sistema

    nervoso perifrico que controla o movimento, a aco.

    AUTOMATISMOS: so aces que praticamos habitualmente mas

    inconscientemente (ex: conduzir, andar, escrever, etc.). Aqui o

    movimento, aco, controlado pelo sistema nervoso central.

    ROXIN: pega no elemento biolgico para criar um critrio normativo. Segundo ele, o

    automatismo a manifestao da personalidade de cada agente e, sendo assim, o

    comportamento penalmente relevante. (ex: est um grupo de turistas no castelo de S. Jorge, h uma derrocada e A

    ao cair agarra o B que acaba por cair tambm. Para Roxin esta uma manifestao da personalidade do A) HM concorda.

    JACOBS: critica bastante a viso de Roxin. Jacobs um preventista de preveno geral. Pode

    haver aces instintivas que possam no ser um comportamento penalmente relevante. Para o

    autor o agente pode no ter tempo de reagir da forma que lhe exigida pelo direito. Tem que se

    fazer uma anlise, caso a caso, verificando se o agente teve tempo de conhecer o perigo e se

    teve tempo para se motivar pela norma.

    FP: aplica o critrio da previsibilidade, em relao ao contexto que desencadeia o automatismo.

    Se o contexto for previsvel o sujeito deve estar preparado para o facto, sendo assim o seu

    comportamento penalmente relevante. (ex. de imprevisibilidade: existncia de uma cratera numa autoestrada)

    TIPICIDADE - OMISSO

    Existem omisses puras e omisses impuras. Entre elas h um concurso aparente de normas

    por subsidiariedade, porque o desvalor (omisso) comum a ambas as normas.

    - as omisses impuras advm do art.10 CP, sendo uma tcnica de tipicidade indirecta.

    FD e FP dizem mesmo que sem esta norma no existiriam omisses impuras.

    Actos

    Inconscientes

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 3

    - as omisses puras esto previstas na parte especial do CP.

    POSIO/DEVER DE GARANTE

    Antigamente, aplicavam-se as teorias formais, em que a posio de garante derivava:

    da lei

    do contrato

    ou da ingerncia.

    Actualmente, aplicam-se as teorias materiais/funcionais, que apoiam a convico de posio

    de garante na relao de dependncia entre o garante e o garantido. Estas teorias dividem-se em:

    Dever de proteco do bem jurdico (garante de proteco):

    o Relaes de proteco familiar ou anlogas

    o Comunidade de risco

    o Assuno voluntria e efectiva do bem jurdico

    Deveres de vigilncia de fontes de perigo:

    o Por parte dos prprios proprietrios da fonte de perigo

    o Ingerncia (ex: quem atropela tem de salvar)

    o Fontes de perigo humanas (crianas, subordinados)

    Omisses impuras Omisses puras

    Norma principal (art.10 CP) Norma subsidiria (parte especial do CP)

    Art.10 CP + Parte Especial (activa) Parte Especial (omissiva)

    Posio de garante ________________________________

    Crimes de resultado Crimes de mera inactividade

    Imputao objectiva entre o resultado

    e a omisso

    ________________________________

    Para alm das teorias formais, FD j defendia o

    monoplio de meios de salvamento com justificao

    da posio de garante.

    FD continua a defender a figura do

    monoplio de meios de

    salvamento e inclui-a nos deveres

    de vigilncia, mas por maioria de

    razo faria mais sentido que esta

    figura estivesse configurada nos

    deveres de proteco.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 4

    Comunidade de Risco: FP diz que deve haver um dever de auto-responsabilizao prvia. O

    agente tem de se auto-vincular a ser garante do bem jurdico, pois tem que efectivar algum

    comportamento de onde se pode extrair que ele assumiu essa responsabilidade. (ex. C instrutor de escalada, e D contrata o C. Sendo C instrutor e aceitando dar aulas a D, est a auto-vincular-se a proteger os bens jurdico de D que

    esto susceptveis de ser lesados pela actividade)

    Monoplio de meios de salvamento:

    FD: critrio da solidariedade do individuo. Justifica-se apenas quanto aos bens

    jurdicos mais relevantes (vida, integridade fsica, etc.), desde que no implique um grande

    custo para o agente que tem posio de garante.

    FP: defende que deva haver na mesma uma auto-vinculao proteco do bem

    jurdico. Tem de haver um vontade prvia que justifica a responsabilizao. ! A prof. FP defende o critrio da auto-vinculao a todos os deveres de proteco. !

    Ingerncia: fundamenta-se no princpio da liberdade e da igualdade. Se a ingerncia uma

    posio de garante, ento porque que est prevista no art. 200/2 CP?

    FD + TC: no estado de necessidade h posio de garante.

    FP: a ingerncia no tem que ser ilcita.

    TC: na legtima defesa a questo da ingerncia no se coloca porque o ingerente o

    agressor.

    HM: defende que o art.200/2 no tem aplicabilidade porque h sempre a hiptese de

    o agente poder ser responsabilizado por tentativa.

    IMPUTABILIDADE OBJECTIVA

    TEORIA DO RISCO: necessrio que o agente tenha criado, aumentado ou no diminudo

    (este ltimo, quanto misso) um risco.

    1 fase EX ANTE : momento em que o agente actue, aplica-se um juzo de

    previsibilidade subjectiva e considera-se se a situao/comportamento costuma ser

    perigosa ou no. O risco tem que ser proibido. o momento em que vemos se h

    desvalor objectivo da aco.

    2 fase EX POST : concretizao do risco no resultado. Se apenas existir desvalor

    da aco e no do resultado, o agente apenas poder ser punido por tentativa. Tem de

    haver sempre desvalor do resultado.

    Diminuio do risco

    ROXIN: havendo diminuio do risco para o bem jurdico devido conduta do agente, este no

    pode ser penalmente responsvel. Havendo diminuio do risco j no h desvalor da aco.

    PAULO SOUSA MENDES: critica Roxin porque este verifica a diminuio do risco na fase ex

    ante, enquanto que Paulo Sousa Mendes apenas o faz na fase ex post, pois na fase ex ante no

    deixa de haver um risco proibido.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 5

    CONCRETIZAO DO RISCO PROIBIDO CAUSALIDADE

    aqui que a teoria do risco se afasta da teoria da causalidade adequada. H que saber

    quando h risco proibido e permitido.

    Actividades arriscadas, mas permitidas, reguladas por um corpo de regras:

    Conduzir uma actividade arriscada, mas permitida, logo, se o condutor respeitar as

    regras de trnsito estar no mbito do risco permitido.

    Caso das cirurgias, se se verificar o caso previsto no art.150/1 CP h risco permitido.

    As leses provocadas em competies desportivas, que implicam uma certa violncia,

    so justificadas se a violncia resultar do mbito das regras do jogo.

    - QUANDO NO H REGRAS tem que se fazer uma interpretao do caso de acordo com o

    conceito material de crime. (ex: A compra uma viagem a B na companhia area que tem mais percentagem de acidentes de aviao, e o avio acaba mesmo por cair, no se poder imputar objectivamente o resultado, porque no h uma verdadeira

    concretizao do risco no resultado)

    Nos crimes por aco, a teoria do risco exige sempre um nexo de causalidade

    (concretizao do risco no resultado). Relaciona-se com a lgica do p. da culpa, ou seja,

    que haja uma alternativa causal. A teoria do risco assenta numa causalidade cientfico-

    natural.

    As omisses assentam num juzo hipottico.

    CAUSALIDADE ALTERNATIVA: quando h concurso de causas reais, em que estas

    concorrem no resultado, mas que qualquer uma delas por si s produziria o resultado. O

    resultado objectivamente imputvel a ambos.

    CAUSALIDADE CUMULATIVA: cada uma das causas so insuficientes por si s para gerar

    o resultado, mas cumulativamente acabam por produzir o resultado. Os agentes so punidos por

    tentativa impossvel.

    INDUBIO PRO REO: quando no se consegue concluir qual o agente que concretizou o

    resultado, punem-se os agentes apenas por tentativa.

    A causalidade cumulativa coloca problemas teoria do risco, quando

    a outra causa se podia prever e devia adoptar-se um certo

    comportamento.

    A doutrina costuma resolver estes casos pelo p. da confiana,

    pois o agente que cumpre as regras poder confiar que os demais

    tambm vo cumprir.

    FD: isto tem limites, porque se for claro que o outro agente no vai

    cumprir no se pode invocar o princpio da confiana.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 6

    ESFERA DE PROTECO DA NORMA

    Em casos de omisso na esfera de proteco da norma: p.e. o mdico que recusa prestar

    os deveres de assistncia mdica a um paciente que entra nas urgncias quando ele est

    de servio.

    o As omisses no tm relevncia na causalidade cientifico-natural, fazendo-se

    neste casos um juzo hipottico (10/1 CP), s a possibilidade de evitar o

    resultado que torna o resultado imputvel ao agente.

    No caso do mdico, se ele no assiste por estar a atender um outro paciente, o resultado

    no lhe imputvel, no entanto, se ele no assiste porque decide ir ver a bola naquele

    momento o resultado j lhe imputvel porque uma conduta diferente da sua parte

    poderia te evitado o resultado.

    - No entanto, nem todos os casos nos permitem ter a certeza se o resultado era ou no evitvel:

    ROXIN: defende que no preciso demonstrar que a aco devida seja manifestamente

    necessria. Basta demonstrar que a aco teria diminudo o risco no resultado.

    FERNANDA PALMA: diz que s podemos imputar objectivamente o resultado a omisses se

    se provar que ela tinha evitado, com segurana e certeza, o resultado.

    Argumentos contra ROXIN: legalidade, igualdade (no se pode interpretar requisitos,

    como o caso do indubiu pro reu, de maneira diferente na aco e na omisso) e culpa

    (no h certezas, logo, no ser correcto censurar sem saber se h necessidade).

    Nem todas as omisses ilcitas interrompem o nexo de causalidade

    o Ex: se o A atropela o B e foge, e passado uns minutos passa o C pelo local e

    nada faz em relao a B (omisso de auxlio), sendo uma omisso pura no faz

    sentido que esta interrompa o nexo de causalidade de um crime de resultado.

    COMPORTAMENTO LCITO ALTERNATIVO

    Causa virtual: irrelevante. Corresponde normalmente a um facto de terceiro ou a um

    acontecimento natural. um raciocnio que se baseia num acontecimento que existiu mesmo.

    Comportamento lcito alternativo: relevante. um comportamento que o agente tenha tido,

    o que nunca chegou a existir foi o comportamento que o agente deveria ter tido e no teve.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 7

    IMPUTAO SUBJECTIVA

    - A tipicidade subjectiva constituda pelo DOLO e pela NEGLIGNCIA.

    O DOLO tem dois elementos:

    Cognitivo (representao)

    Volitivo (vontade)

    TIPOS DE DOLO:

    Dolo directo: caracteriza-se pela vontade livre e consciente do agente; o agente age

    daquela maneira porque quer, aquela a sua inteno. (art.14/1 CP)

    Dolo necessrio: o agente assume a consequncia necessria realizao da sua

    conduta. (art.14/2 CP)

    Dolo eventual: ocorre quando o agente, mesmo no querendo efectivamente o resultado,

    assume o risco de o produzir. (14/3 CP)

    Os casos de NEGLIGNCIA esto previstos no CP, logo, se no houver nenhum caso previsto,

    nem se prossegue anlise do art.15 CP (ex: homicdio por negligncia).

    ERRO

    Erro ignorncia: ignora-se o facto de, p.e., ser uma coisa alheia. Neste erro no h

    dolo, logo, s nestas situaes se aplica a 1 parte do art. 16/1 CP.

    Erro suposio: supem-se que o elemento se verifica, mas afinal de contas no se

    verifica. Segue o regime da tentativa impossvel (art.23/3).

    ABERRATIO ICTUS

    Aqui no h erro ignorncia, nem erro suposio, h apenas uma falha na execuo.

    Limites das aberratio ictus: o limite da Aberratio ictus acaba quando h dolo em relao a

    mais do que uma pessoas.

    Casos em que no h presena do objecto: p.e. A envia uma bomba pelo correio a B,

    mas por engano a bomba acaba na caixa de correio de C e este que morre com a

    exploso. a aberratio no resolve de maneira eficaz estes casos, porque neste caso o

    agente no poderia ser punido por tentativa em relao a B, porque nem chega a invadir

    a esfera jurdica deste.

    o FP: resolve este caso atravs do erro sobre a identidade da pessoa ou sobre o

    objecto. No h razo para excluir o dolo, logo, esta ser a melhor opo.

    DOLO ALTERNATIVO

    H dolo alternativo quando o agente quer atingir um ou outro objecto, mas ele apenas

    quer atingir um deles, no os dois.

    FP: faz uma dupla valorao do dolo, violando o p. da culpa, visto que defende haver

    concurso efectivo ideal de crime consumado e de tentativa.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 8

    SILVA DIAS: (relativo ao caso 6, em que h um cavalo e um cavaleiro e h dolo

    alternativo em relao a ambos) mesmo que o agente acerte no cavalo e no no cavaleiro, este

    dever ser punido pelo crime mais grave que a tentativa de homicdio.

    ERRO SOBRE O PROCESSO CAUSAL

    O agente atinge exactamente o objecto que queria mas de maneira diferente daquela que

    tinha planeado.

    FP: diz que o agente quando coloca em perigo um bem jurdico, deve prever que esse

    bem possa ser lesado de outras maneiras supervenientes.

    ROXIN: h casos em que o erro sobre o processo causal releva ( como o caso do caso

    7, em que o agente empurra a vtima de uma ponte para que esta morra afogada, mas no entanto,

    esta morre porque cai em cima de um barco que ia a passar). O prof. d um exemplo em que o

    erro sobre o processo causal releva: caso em que o A d a B um medicamento com o intuito de o

    deixar infrtil, mas no entanto o medicamento no gera infertilidade a B, mas sim cegueira.

    Neste caso h um concurso efectivo ideal, uma tentativa ofensa da integridade fsica e uma

    ofensa integridade fsica dolosa consumada.

    DOLUS GENERALIS

    Existem momentos autnomos e pluralidade de aces.

    FINALISTAS: pune-se o agente por um nico crime consumado.

    WELZEL: teoria da aco final desde que o agente tenha planificado logo a segunda

    aco (para encobrir a primeira), s dever ser punido por um nico crime consumado por haver

    unidade de aco, caso contrrio no punido por um nico crime consumado, mas sim por

    vrios crimes. FP concorda.

    A actualidade caracterstica do dolo !

    o WELZEL: no caso do marido que quer matar a mulher dali a 15 minutos, mas

    enquanto carrega a arma a mulher entra na sala, a arma cai no cho e dispara

    acabando por matar a mulher. Aqui haver negligncia, no h dolo, porque

    naquele momento (actualidade) no havia vontade de matar.

    DOLO EVENTUAL

    FD: basta ver se h um srio risco para o bem jurdico.

    FP: ver se h sobrevalorizao dos interesses do agente em relao ao bem jurdico da

    vtima.

    Nota: Estas duas opinies podem ser ambas conjugadas, para uma resoluo menos duvidosa , nestes casos de dolo eventual.

    CAUSAS DE JUSTIFICAO - ILICITUDE

    TIPICIDADE: verifica-se se h desvalor da aco e do resultado.

    ILICITUDE: verifica-se se o agente actuou ou no com um direito que justifica o seu

    comportamento.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 9

    ARTIGO 31./1 CP existem causas de excluso da ilicitude; causas de justificao que

    excluem a responsabilidade penal.

    possvel aplicar a ANALOGIA s causas de justificao?

    SIM, por fora do princpio da legalidade, visto que as causas de justificao

    excluem a responsabilidade penal do agente e isto traduz-se numa utilizao de analogia

    favorvel.

    CAUSAS DE JUSTIFICAO QUE NO ESTO EXPRESSAMENTE PREVISTAS NA

    LEI (SUPRA-LEGAIS)

    DIREITO DE NECESSIDADE DEFENSIVO: o pressuposto base do direito de necessidade a

    existncia de um crime actual. Neste caso, do direito de necessidade defensivo, permite-se lesar

    bens jurdicos do mesmo nvel, desde que verificado o pressuposto da actualidade.

    Ex: B, sonmbulo, levanta-se durante a noite com uma arma na mo e dirige-se ao

    quarto de A com essa arma. A assusta-se e temendo pela sua vida acaba por matar o B com uma

    pancada na cabea feita com o candeeiro que se encontrava na sua banca de cabeceira ( aqui h uma razo de necessidade defensiva, porque A no tinha outra maneira de se defender daquele ataque iminente por parte de B que se

    encontrava num estado de inconscincia).

    LEGTIMA DEFESA PREVENTIVA: em Portugal, apenas a prof. FP defende esta tese. Na

    legtima defesa preventiva prescinde-se do pressuposto da actualidade, mas aqui nunca se

    podem lesar bens jurdicos fundamentais do agressor.

    UNIDADE DO SISTEMA

    H causas de justificao quer no Direito Civil, quer no Direito Penal, embora com

    alguns pressupostos diferente. No entanto, um comportamento que no seja justificado no

    Direito Civil tambm no pode ser justificado no Direito Penal, e vice-versa. uma questo de

    unidade do sistema, tal como nos refere o art.31. CP.

    LEGTIMA DEFESA

    Pressupostos:

    - ACTUALIDADE:

    FD ofensa em curso ou iminente.

    FP + TC afere-se pelo art.22./2 CP, tendo de se encaixar em alguma das alneas.

    - PROPORCIONALIDADE:

    FD defende que a legtima defesa se rege por limites tico-sociais, e no pelo

    pressuposto da proporcionalidade.

    o Caso em que o agressor inimputvel (desprovido de culpa) e nos casos de

    simples provocao.

    o Situaes de crassa desproporcionalidade (em causa, bens jurdicos de valor

    diferente).

    o Agressores em relao aos quais haja posio de garante.

    o Agentes de segurana pblica nunca exercem um direito de legtima defesa.

    Casos em que FD diz

    no se poder recorrer

    legtima defesa

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 10

    FP + TC defendem a existncia de uma proporcionalidade qualitativa: decorre do

    princpio da dignidade da pessoa humana, que se subdivide nos princpios da

    insusceptibilidade da agresso e da igualdade de proteco de bens jurdicos. S se pode

    lesar bens fundamentais do agressor para defender bens da mesma ordem de valor.

    Nota importante: na legtima defesa actua-se SEMPRE contra o AGRESSOR, no contra

    terceiro (se no, nem seria um caso de legtima defesa, pois s h necessidade de defesa em

    relao ao agressor).

    O QUE ACONTECE QUANDO UM AGENTE PENSA ESTAR A ACTUAR EM

    LEGTIMA DEFESA E NO O EST, PORQUE A AGRESSO DE QUE ALVO

    LCITA?

    Este um caso em que o agente est erro sobre os pressupostos da legtima defesa, por

    achar que est a ser alvo de uma agresso ilcita quando ela de facto lcita. A sede legal deste

    erro est no art.16./2 CP.

    Teoria dos elementos negativos do tipo: defende que o erro recai sobre o tipo,

    excluindo o dolo tipo, o que faz com que o agente apenas possa vir a ser punido por

    negligncia.

    Welzel: diz que no faz sentido haver excluso do dolo, porque matar uma mosca no

    a mesma coisa que matar uma pessoa, quanto muito exclui-se a culpa, no o dolo. Esta

    teoria completamente afastada pelo art.16./2 CP.

    Artigo 16./2 CP: aproxima-se da teoria dos elementos negativos do tipo, mas difere

    desta porque esta exclui o dolo do tipo e o 16./2 exclui o dolo da culpa.

    FD o dolo da culpa exclui-se porque apesar de o agente actuar

    dolosamente, tipicamente ele no atinge o grau de culpa que

    normalmente se verifica nestes casos de dolo.

    S se os elementos objectivos estiverem verificados que se verifica uma causa de

    excluso da ilicitude. Caso no se verifiquem estes elementos objectivos, h um caso de erro do

    16./2 CP.

    CUMULAO DE ERRO COM EXCESSO ( FP + TC )

    Caso em que no h excesso: se o A tem 1,90m, pesa 120kg e agride o B que tem 1,50m e pesa

    50 kg, no h excesso se o B se defender da agresso do A com uma navalha.

    Existe excesso consciente e inconsciente.

    No h erro sobre a

    necessidade do meio (aplica-se

    analogicamente o art.33. CP)

    H erro sobre a necessidade do

    meio (art. 16/2 e 3 CP). Ex: o A no escuro pensa que B, que o vai atacar, tem um

    grande caparro, mas afinal ele um

    lingrinhas, mas o A defende-se com um

    golpe de navalha.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 11

    Razes censurveis: art. 33./1 CP

    Razes incensurveis: art.33./2 CP (FP 33./2 + 16./3)

    FP aplica-se analogicamente o art.33. CP nos casos de excesso extensivo (ou seja que

    prescinde j da actualidade) e nos casos de proporcionalidade qualitativa.

    CONFLITO DE DEVERES (motivaes)

    Casos em que h um impossibilidade fctica de ser exigvel a realizao simultnea de dois

    deveres de igual valor. Como o prprio Direito no pode dar a indicao ao agente sobre qual o

    dever que deve cumprir, a deciso caber no espao de livre deciso do agente. A nica

    exigncia que o Direito faz que o agente cumpra um dos deveres em conflito, no podendo

    optar por no cumprir nenhum.

    Exemplos:

    1. Tenho duas pessoas na mesma situao de morte iminente, escolho salvar o meu amigo

    e no o desconhecido.

    2. Ambos na mesma situao, decido salvar um francs em vez de um muulmano porque

    sou racista.

    No por a motivao ser racista que eu vou conseguir salvar os dois, pois eu

    s posso salvar um. Quando as pessoas esto ao mesmo nvel eu sou livre de

    fazer a escolha que quiser para salvar uma delas, porque s uma pode ser salva e

    h um conflito de deveres MOTIVAES LCITAS.

    3. Um mdico salva a vida de um idoso em vez da vida de uma criana (ambas so vidas

    humanas, e ambas valem o mesmo).

    4. H um incndio numa casa onde est uma pessoa e na casa ao lado h outro incndio

    onde esto cinco pessoas, o bombeiro decide salvar a casa onde estava apenas uma

    pessoa (cinco vidas no valem mais do que uma, valem o mesmo).

    5. H dois pacientes vtimas do mesmo acidente, no entanto, h um que chega primeiro ao

    hospital e ligado nica mquina disponvel, o outro chega cinco minutos depois,

    igualmente em estado grave. Pode o mdico abdicar do tratamento do primeiro para

    salvar o segundo, ligando a mquina a este?

    H conflito de deveres de aco e de omisso. O mdico tem o dever de no

    interferir no processo de salvamento. Se ele desligar a mquina do primeiro

    paciente est a praticar um homicdio por aco, se no ligar o segundo paciente

    mquina est a cometer um homicdio por omisso. A jurisprudncia tem

    defendido que prevalece o dever de omitir, no podendo o mdico desligar a

    mquina do primeiro para salvar o segundo.

    CAUSAS DE JUSTIFICAO ELEMENTO COGNITIVO/SUBJECTIVO

    necessrio que o agente saiba que vai ser vtima de um crime, a falta de

    conhecimento/conscincia afasta a legtima defesa.

    No art. 32. No est presente nenhum elemento subjectivo, no entanto, considera-se

    que est implcito nas causas de justificao e na caracterizao da aco.

    Se este elemento faltar o facto (a defesa) ilcito. Artigo 38./4 CP : regula-se a falta de

    elemento subjectivo atravs da aplicao analgica deste artigo.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 12

    Os estados de inconscincia (embriaguez, efeito de drogas, etc.) no justificam a

    utilizao da legtima defesa como causa de excluso da ilicitude.

    PARTICIPAO NA AUTO-COLOCAO EM RISCO / HETERO-COLOCAO

    EM RISCO CONSENTIDA

    O Cdigo Penal no prev casos de auto-leses, sendo estas normalmente atpicas

    (salvo o caso do art. 135. CP). Se estas so normalmente atpicas, a hetero-colocao em risco

    consentida tambm o ser, desde que se tenha perfeita noo dos riscos que se corre. Aqui no

    h consentimento, h apenas uma sujeio ao risco.

    Ex: A vai conduzir em contra mo para a ponte Vasco da Gama e B vai com ele.

    CULPA

    Causas de excluso em sentido amplo:

    Imputabilidade

    Conscincia da ilicitude

    Causas de excluso em sentido estrito:

    Estado de necessidade desculpante

    Excesso de legtima defesa no censurvel

    Excluso do dolo da culpa

    FP: o fundamento da culpa a vontade, defende uma ideia de culpa pela vontade porque o

    agente culpado por fazer a escolha da aco.

    FD: adopta o critrio da culpa pela personalidade. A culpa no s aquilo que fazemos,

    aquilo que somos.

    Critrios de censurabilidade

    FP: tende s particularidades do caso concreto. As emoes no so apenas foras que nos

    condicionam, pois podem ser educadas. As prprias emoes exprimem valores , logo estas

    podem ser valoradas positivamente ou negativamente. Tem de se analisar a estrutura emocional

    do agente. Importa a qualidade tica da emoo.

    Admite a aplicao analgica de causas de excluso da culpa. P.e. me que tem dois

    filhos a morrer nos seus braos, mas esta no consegue escolher nenhum dos dois ento

    deixa que ambos morram CONFLITO DE DEVERES DESCULPANTE no fundo no seria

    justo no desculpar o acto desta me, porque ela cometeu uma aco que acaba por ter relevncia para o Direito que foi a igualdade

    (direito reconhecido constitucionalmente) entre os dois filhos, no se exige a uma me que tenha de escolher entre um dos filhos.

    o Caso Kimura: caso de uma me japonesa que vivia nos EUA com a sua famlia,

    e aps saber que o marido a traa tentou suicidar-se com os dois filhos, s que

    ela sobreviveu e os dois filhos morreram. A verdade que Kimura s falava

    japons e s tinha convivncia com pessoas da sua cultura, e visto que na sua

    cultura a infidelidade do marido significava que a mulher falhara e reproduzia-

    se numa vergonha, sendo que no Japo em que os filhos so vistos como uma

    extenso da me, esta me matou os filhos para os salvaguardar da vergonha

    que iria provir. (este caso gera alguma controvrsia, porque coloca-se em causa

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 13

    at que ponto a cultura do agente, sendo que este vivia nos EUA, poderia

    predominar).

    FD: critrio do homem mdio, do homem fiel ao Direito, o que este faria em determinada

    situao.

    FALTA DE CONSINCIA DA ILICITUDE - Art 17 Art. 16/1, 2 parte

    Quando existe falta de conscincia da ilicitude necessrio saber qual o artigo a aplicar.

    Enquanto o art16/1, 2 parte fala de uma conscincia razoavelmente indispensvel, por

    interpretao a contrario o art. 17 fala de uma conscincia razoavelmente dispensvel.

    FD: h crimes que so axiologicamente relevantes, ou seja que todo o homem mdio sabe que

    crime (ex: homicdio, furto, ofensa integridade fsica, corrupo).

    Por isso o artigo 17 aplica-se quando se tratem de comportamentos axiologicamente

    relevantes.

    Exemplo:

    A comea a trabalhar numa empresa como secretria, passados 15 dias, A entra na sala

    de reunies para distribuir os cafs que lhe ho sido pedidos e houve algo sobre o lanamento de

    uma OPA. A quando chega a casa e pergunta ao seu filho, dono de uma empresa, o que era uma

    OPA, visto que ela tinha ouvido que a empresa na qual trabalha iria lanar uma. O filho de A

    no perdeu tempo e mandou investir. A acabou por dar informao privilegiada a um investidor

    sem se aperceber.

    FD: aqui basta o dolo para que a pessoa se possa confrontar com o facto do seu

    comportamento ser lcito ou ilcito. Diz que neste caso o comportamento no axiologicamente

    relevante, mas axiologicamente neutral, por isso no um caso do 17, mas sim um caso do

    16/1, 2 parte, porque o agente no tinha que saber desta proibio. O conceito de dolo no s

    o conhecimento dos elementos do tipo de crime, mas tambm ter conhecimento das proibies.

    Pelo art. 16/1, 2 parte (comportamento axiologicamente neutral) exclui-se o dolo

    (tipo) e pode ser-se punido por negligncia caso esta esteja prevista.

    Pelo art. 17 (comportamento axiologicamente relevante) pode ser-se punido por crime

    doloso.

    JOS ANTNIO VELOSO: o campo de aplicao do art. 16/1, 2 parte no deve caber nos

    casos dos agentes de sector (aquele que exerce uma actividade num sector de uma forma estvel

    e tem um maior de ver de informao).

    FP: concretiza a ideia do prof. Jos Antnio Veloso, recorrendo ao caso concreto, pois a ideia

    do professor, em certos casos, poderia ter dificuldade de aplicao, como o caso da secretria

    que trabalha no sector h 15 dias.

    Para os sectores, existem trs critrios:

    Experincia profissional

    Evidncia das normas violadas

    Perigosidade da conduta do agente

    Nota: pela ideia dos critrios dos sectores, a secretria, a ser punida, seria punida por

    negligncia, por fora do art. 16/1, 2 parte.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 14

    A ilicitude um acto praticado contrrio ao Direito, logo, a conscincia da ilicitude

    verifica-se quando o agente sabe que est a praticar um comportamento contrrio ao

    Direito.

    Censurabilidade no art. 17 - FD: critrio da rectitude da conscincia errnea, ou seja, ele est

    em erro, mas a sua aco recta. Trs requisitos:

    Incriminao controversa, esto em jogo dois valores jurdicos, em que a ordem jurdica

    deu prevalncia a um quando podia dar a outro (ex: aborto)

    necessrio que o agente realize o outro valor.

    necessrio que o agente actue motivado pela razo do comportamento.

    LIBERDADE DE CONSCINCIA

    FD: a liberdade de conscincia nuca permite excluir a tipicidade e a ilicitude penal.

    Um facto praticado pela nossa prpria liberdade de conscincia pode ser tpico?

    o P.e. as injrias ao PR, se considerarmos que cabe dentro do nosso direito

    poltica, sim, mas se no, no ser tpico nem ilicitude, porque est na nossa

    esfera de liberdade de conscincia.

    FACTO DE CONSCINCIA: facto praticado ao abrigo da liberdade de conscincia,

    constitucionalmente protegida. Nestes casos h excluso da tipicidade e da ilicitude.

    CRIME DE CONVICO: o facto praticado encontra-se j fora do mbito da liberdade de

    conscincia. Estes factos so j tpicos e ilcitos.

    Deciso de conscincia

    AUGUSTO SILVA DIAS assenta a sua teoria sobre a deciso de conscincia no imperativo

    categrico de Kant, na ideia de universalidade, traduzindo-se a deciso de conscincia no

    comportamento que o agente adopta no campo da sua liberdade de conscincia que no ofende

    outrem.

    EXEMPLOS:

    1. O agente chamado para ir tropa, fazer o servio obrigatrio, mas ele pacifista,

    enquanto tal deveria ter-se pronunciado a cerca disso no prazo fixado, mas no o fez.

    No entanto, o agente no compareceu, mas no poderia ser punido por desero, porque

    o seu comportamento universalizvel, se ningum fizer servio militar no h guerra.

    Havendo alternativas para exercer a objeco de conscincia, que era o caso,

    assegura-se a liberdade de conscincia.

    2. Pai e me apresentam-se com o filho doente no hospital, que precisa ser operado e

    levar uma transfuso de sangue, visto que os pais so testemunhas de Jeov no

    autorizaram a transfuso. Podiam os pais ser punidos por homicdio? No, porque o

    mdico no deixa de operar uma criana s porque os pais no autorizam, h vrios

    meios para suprir a falta de autorizao.

    3. Marido e mulher esto em casa, a mulher sente-se mal e precisa necessariamente de

    uma transfuso de sangue, mas visto que ela era Jeov, o marido respeitou a suas

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 15

    crenas e no a levou ao hospital, acabando a mulher por morrer. Pode o marido ser

    punido por homicdio por omisso? No. O tratamento mdico s legtimo quando o

    paciente quer. O paciente tem o direito de no ser tratado, Costa Andrade, entre outros,

    diz mesmo que nestes casos o mdico deixa de ter posio de garante. Se o mdico

    tratar sem autorizao, comete um crime (156).

    4. A mulher precisa de levar uma transfuso de sangue, mas como o marido Jeov,

    no a leva ao hospital. Aqui existe um crime por convico. AUGUSTO SILVA DIAS

    recorre desculpa por haver violao do p. da dignidade da pessoa humana. FD aplica

    tudo ao art.17 (faz mais sentido a ideia de A. S. DIAS).

    EXEMPLO/ESQUEMA: A, casado com B, tem por hbito embriagar-se quando v os jogos

    de futebol da sua equipa favorita, mas A embriaga-se sempre de forma extrema, de forma a ficar

    inimputvel, e nesse estado costuma fazer vrias besteiras inclusive bater na sua mulher, B.

    Ontem era a grande final do campeonato, a equipa favorita de A estava a jogar e A decidiu que

    no ia beber para evitar bater na mulher, que coitadinha no merecia. Mas a sua equipa estava a

    jogar to mal que o A teve de afogar as suas mgoas no lcool e voltou a bater na mulher

    quando chegou a casa.

    H crime de ofensa integridade fsica imputvel a A?

    H uma aco penalmente relevante.

    Tipicidade objectiva: h desvalor da aco e concretizao do risco no resultado.

    Tipicidade subjectiva: h dolo eventual.

    Causas de justificao: no existem.

    Culpa: o art.20/4 permite considerar imputvel um inimputvel, no entanto, s nos

    casos de dolo directo (FP) ou ainda de dolo necessrio (FD, mas no faz muito sentido).

    Deste artigo nunca deriva o dolo eventual, isso unnime, logo o agente seria

    considerado inimputvel, no podendo ser punido pelo crime de ofensa integridade

    fsica (art. 20/1 + 143).

    Pode responder pelo crime de embriaguez (295)?

    Aco penalmente relevante

    Tip. Obj: verificada

    Tip. Subj: verificada

    Causa de justificao: no existem.

    Culpa: existe culpa, porque no crime de embriaguez ele j imputvel.

    PUNIBILIDADE

    TENTATIVA

    A tentativa assenta no critrio da ingerncia e verificada na perspectiva ex ante. H

    tentativa (actos de execuo) quando o agente interfere na esfera jurdica de outrem.

    A tentativa verifica-se quando comea a ilicitude, neste limiar que pode haver

    flagrante delito.

    ROXIN: defende que h dois critrios cumulativos da tentativa: a ingerncia e uma estrita

    conexo temporal entre o acto e a tentativa (no far muito sentido, porque h casos em que no

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 16

    h conexo temporal entre o acto e a tentativa e, no entanto, faz todo o sentido punir o crime

    tentado)

    FP: basta o critrio da ingerncia.

    ACTOS PREPARATRIOS: no so punveis (salvo disposio em contrrio), porque no

    chega a haver uma interferncia na esfera jurdica de terceiro.

    ACTOS DE EXECUO: so punveis porque j existe uma interferncia na esfera jurdica

    de terceiro.

    ARTIGO 22/2

    Alnea a) serve para crimes de forma vinculada (p.e. roubo, assenta sempre na

    subtraco de patrimnio alheio; furto; burla) aqui a tentativa pode estar acabada ou

    inacabada.

    Alnea b) serve para os crimes de forma livre, que podem ser praticados de qualquer

    forma (p.e. homicdio, ofensa integridade fsica) aqui a tentativa est sempre

    acabada.

    Alnea c) sempre cumulativa com as alneas a) ou b), quando aplicvel, e a

    chamada tentativa inacabada.

    Tentativa impossvel

    verificada ex post. Pode verificar-se uma tentativa impossvel por inexistncia do objecto ou

    tentativa impossvel por ineptido do meio.

    Art. 23/3 aplica-se o critrio do observador mdio (para verificar o pressuposto do

    manifestamente impossvel).

    Nota: na matria da tentativa, nos casos prticos, quanto tipicidade objectiva, o resultado no

    se imputa ao agente, verifica-se ex ante se h actos de execuo (art.22/2). Na tipicidade

    subjectiva ter em ateno que no h tentativas negligentes, a tentativa sempre dolosa

    (qualquer tipo de dolo).

    Punibilidade da tentativa (art.23/1 e 2 CP)

    Salvo os casos em que a lei prev expressamente o crime tentado (p.e. tentativa de furto

    art.203/2), a tentativa s punvel se o respectivo crime consumado tiver uma pena

    superior a trs anos (p.e. a tentativa de homicdio punvel porque a pena prevista,

    sendo de oito a dezasseis anos, superior a trs anos art. 131).

    O n 2 do artigo 23 prev a moldura penal da tentativa, que se traduz numa atenuao

    da pena aplicvel ao crime consumado, nos moldes do artigo 73 CP.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 17

    DESISTNCIA

    A desistncia tem como efeito o afastamento da punibilidade do facto tentado.

    Voluntariedade da desistncia

    Para se verificar a voluntariedade da desistncia temos de recorrer a critrios objectivos

    (para uma mais simples compreenso do problema, no ser incorrecto aplicar o critrio do

    homem mdio). voluntria a desistncia que decorre da vontade, motivao, domnio

    psicolgico do agente. involuntria quando o agente abandona a execuo ou impede o

    resultado em virtude do receio.

    EXEMPLOS: A prepara-se para matar B, mas entretanto passa um gato preto e visto que

    A extremamente supersticioso, acaba por ir embora A prepara-se para matar B, mas

    entretanto v um polcia a aproximar-se e vai-se embora.

    No caso do gato, as condies objectivas so as mesma, com gato ou sem gato ( a

    superstio um critrio subjectivo que no releva para afectar a voluntariedade da desistncia),

    por isso parte-se do pressuposto que o agente decidiu desistir voluntariamente neste caso a

    desistncia afasta a punibilidade da tentativa.

    No caso do polcia, as condies objectivas no so claramente as mesmas com ou sem

    polcia, ser bvio que a motivao para a desistncia, do ponto de vista do homem mdio,

    tenha sido o aparecimento do polcia e no por sua prpria vontade neste caso a desistncia,

    por ser considerada involuntria, no afasta a punibilidade da tentativa.

    ROXIN: cria a figura da tentativa fracassada e diz que esta aquela que no admite

    desistncia (ex: A quer violar uma mulher bonita e v a B de longe agarrando-a para a violar, no entanto, quando a encosta parede percebe que B uma mulher feia e vai-se embora aqui a desistncia no deixa impune o facto

    praticado por A).

    Desistncia de tentativas inacabadas (art. 22/2, c) CP)

    Nos casos em que o agente ainda no criou todas as condies indispensveis

    consumao do facto, a desistncia d-se por omisso (art.24/1 desistir de prosseguir na

    execuo de um crime).

    Desistncia de tentativas acabadas (art. 22/2, a) e b)

    Nos casos em que o agente j criou todas as condies para a consumao do facto,

    tornando-se necessrio que haja da sua parte uma interveno activa destinada a impedir a

    consumao da realizao em curso.

    24/1 (impedir a consumao): aqui no interessa como que o agente evita a

    consumao, o que interessa que a no verificao da consumao se deva a um

    comportamento activo do agente com o intuito de a impedir. No entanto, se por um

    motivo que o agente no controla, a consumao tenha sido evitado no pelo agente,

    mas por outra causa, este no ser punido desde que se tenha esforado seriamente para

    evitar a consumao (art.24/2).

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 18

    24/1 (impedir a verificao do resultado no compreendido no tipo de crime): esta

    uma situao em que j existe consumao, mas apenas uma consumao material, no

    formal, ou seja, s possvel haver desistncia quando no se tenha ainda verificado o

    resultado atpico. Para que o agente no seja punido por tentativa tem de evitar a

    verificao do resultado atpico ou mesmo que esse resultado no se tenha verificado

    por conduta de terceiro, basta que o agente se tenha esforado seriamente para evitar o

    resultado. Exemplo: A abandona um beb numa floresta. A praticou o crime de exposio ou abandono (art.138 CP), este um crime de perigo concreto. Ou seja, o resultado atpico aqui seria a ofensa integridade fsica ou a morte,

    visto que a exposio ou abandono do beb acabaria por lesar a criana de alguma das maneiras. A ofensa integridade

    fsica ou a morte da criana no so factos tpicos do crime de exposio ou abandono, mas a consumao desse crime

    pode levar aos resultados atpicos anteriormente referidos. Ou seja, se A voltasse para buscar o beb e ele tivesse perfeito

    de sade, a desistncia afastava a punio da tentativa por evitar o resultado atpico, no entanto se o beb estivesse j

    doente, A poderia ser punida por tentativa. Nestes casos aplica-se tambm o n2 do art.24, mesmo que o beb tenha sido

    salvo por terceiro, bastava que A tivesse feito um srio esforo para o salvar.

    Desistncia parcial

    Exemplo: A quando tenta a realizao de um furto qualificado, traz consigo uma arma

    (art 204, f) CP), no entanto decide no a usar deitando-a fora, levando a cabo apenas o furto

    intencionado. A doutrina dominante tem considerado que esta desistncia relevante.

    Desistncia nos crimes agravados pelo resultado

    Exemplo: B decide praticar um roubo com uma arma de fogo que se prope a usar

    unicamente em caso de resistncia para assustar a vtima, disparando para o ar ou para o cho.

    No entanto, quando a vtima resiste, por negligncia, o B atinge a vtima matando-a. Face a este

    acontecimento, o B desiste do furto. A maioria doutrinria atribui relevncia a esta desistncia

    visto que existe claramente voluntariedade ( ROXIN).

    COMPARTICIPAO

    Nota: a comparticipao verifica-se na imputao objectiva e no na punibilidade. Ver resolues de exames para perceber melhor

    o esquema de resoluo dos casos.

    AUTORIA E PARTICIPAO (art.26 CP)

    Autores: so a figura central do acontecimento criminoso (do ilcito tpico).

    Cmplices: constituem figuras secundrias, sendo meros auxiliares do autor. No

    realizam o tipo de ilcito, mas participam de um tipo de ilcito realizado por outrem (o autor).

    Instigador: aquele que incita outrem prtica do facto.

    AUTORIA

    ROXIN, concepo do domnio do facto: o autor quem domina o facto, quem de

    senhor, dele que depende a realizao tpica do facto. Esta concepo limita-se aos delitos

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 19

    dolosos gerais. Autoria imediata (domnio da aco); autoria mediata (domnio da vontade):

    co-autoria (domnio funcional do facto).

    o Autoria imediata: quem executar o facto, por si mesmo. aquele que

    exercita o facto pelas suas prprias mos, aquele que tem o domnio da aco.

    o Autoria mediata: quem executar o facto () por intermdio de outrem.

    Nesta figura existe sempre um homem-de-trs e um homem-da-frente. o

    homem-de-trs, que o autor mediato. O princpio do domnio do facto, quando

    aplicado autoria mediata exige que todo o acontecimento seja obra do

    homem-de-trs, s assim se pode qualificar o homem da frente como

    instrumento. Traduz-se no domnio (da vontade) que o homem-de-trs tem

    sobre o homem-da-frente, domnio esse que exerce atravs de coaco ou erro.

    Desta figura excluem-se os casos em que o homem-da-frente executa o facto de

    forma culposa e dolosa, sem coaco ou erro.

    EXECUO DO FACTO EM CO-AUTORIA

    3 alternativa do art. 26/1: quem () tomar parte directa na execuo do facto, por

    acordo ou conjuntamente com outro ou outros

    Concepo dos actos de execuo: para que os agentes sejam considerados co-autores, tm de

    praticar pelo menos um acto de execuo (art.22/CP).

    ROXIN, domnio do facto funcional: cada co-autor tem uma funo para determinado facto,

    existe uma distribuio de funes, mas a sua funo aquela que se ele no prestar o facto

    dificilmente se concretiza.

    Punio: cada co-autor punido na moldura penal prevista para o facto decidido e executado

    conjuntamente, tal como se o houvesse cometido sozinho.

    CUMPLICIDADE ( = participao)

    Segundo a lei portuguesa, a nica forma de participao a cumplicidade. A

    cumplicidade afigura-se acessria do facto ilcito-tipico.

    O fundamento da punio da cumplicidade reside no contributo que o comportamento

    do cmplice oferece para a realizao pelo autor de um facto ilcito-tipico.

    Quanto ao momento temporal da cumplicidade, ele reportar-se- fase de preparao

    do facto principal. A cumplicidade s pode contribuir para a realizao do facto pelo autor

    enquanto aquele no tiver sido ainda completamente realizado, visto que, a cumplicidade ex

    post facto no existe. Pode discutir-se se esta consumao se refere consumao formal ou

    material; quanto a este assunto a jurisprudncia alem tem considerado que a cumplicidade em

    princpio possvel at ao trmino material do facto, contra ROXIN que defende que a

    cumplicidade como tal no existe para alm da consumao tpica.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 20

    S existe cumplicidade quando o cmplice presta auxlio doloso a um facto doloso. A

    cumplicidade deve ser admitida mesmo nos casos em que o cmplice no conhea exactamente

    as circunstncias concretas em que se vai desenvolver o ilcito penal (p.e. quem entrega uma

    arma a outrem para cometer um assalto, deve ser considerado cmplice, ainda que no tenha

    informaes sobre o lugar, a forma ou o tempo em que vai decorrer o assalto).

    Auxilio material vs auxilio moral

    A prtica do facto do autor no tem de ficar na dependncia do contributo do cmplice

    (sendo esta a principal diferena entre a cumplicidade e a co-autoria). Coloca-se a questo de

    saber se h cumplicidade quando o auxlio se traduz numa prestao material que no vem a ser

    utilizada pelo autor (p.e. A d as chaves da loja a B, para este a furtar, no entanto, B encontra a

    porta aberta e no utiliza a chave), nestes casos ser correcto dizer que basta que o acto de

    cumplicidade aumente as hipteses de realizao tpica por parte do autor.

    O auxlio moral traduz-se no auxlio psquico, no favorecimento ou fortalecimento do

    autor na sua deciso. So exemplos de auxlio moral: aconselhamento tcnico, transmisso de

    informaes sobre hbitos e horrios da vtima, sobre utilizao de instrumentos ou sobre

    alarmes ou outras instalaes de segurana.

    Punio do cmplice: a pena do cmplice determinada em funo da pena aplicvel ao autor

    do facto, especialmente atenuada (segundo os ditames dos artigos 72 e 73 CP)

    Cumplicidade e tentativa

    Cumplicidade na tentativa: se existiu cumplicidade, mas o facto do autor se ficou pela

    tentativa punvel, esta cumplicidade tambm punvel, embora de forma duplamente atenuada

    de forma especial em funo da cumplicidade (art.27/2) e em funo da tentativa (art.23/2).

    Ter em ateno porque poder haver nestes casos uma desistncia relevante que afasta a

    punibilidade.

    Cumplicidade falhada: casos em que algum tenta prestar auxlio prtica de um facto ilcito-

    tipico por outrem e, esse outrem, recusa o auxilio ou no se decide pelo facto. Esta

    cumplicidade no punvel porque o auxlio acaba por no se verificar e no pode falar-se em

    cumplicidade sem auxilio.

    INSTIGAO

    Artigo 26 - ()quem, dolosamente, determinar outra pessoa prtica do facto,

    desde que haja execuo ou comeo da execuo.

    Apesar de o instigador ser um mero participante e actuar numa fase que se distancia da

    fase da execuo, sem exercer qualquer domnio do facto, h factores criminolgicos que

    determinam que a instigao tem a mesma necessidade da pena que a autoria, visto que, o

    instigador acaba por criar o risco proibido que d inicio execuo criminosa por parte do

    instigado, criado assim um risco mediato de ataque ao bem jurdico.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 21

    Instigao em cadeia

    Existe, normalmente, trs intervenientes: o homem-de-trs, o intermedirio e o instigado

    (autor principal).

    No casos de mera intermediao, o autor material ser o homem-de-trs, visto que o

    intermedirio se limita a exteriorizar o desvalor da aco instigadora. O homem-de-trs

    acaba por realizar uma instigao (indirecta) do facto principal e o intermedirio

    considerado cmplice material na instigao. Isto verifica-se independentemente do

    intermedirio passar a mensagem ao destinatrio, ou no.

    o Quando no haja individualizao do destinatrio por parte do homem-de-trs,

    ele pode ser escolhido pelo intermedirio, segundo critrios objectivos dados

    pelo homem-de-trs. No entanto, se o intermedirio tem a iniciativa de

    contactar um terceiro para praticar o facto, o homem-de-trs fica de fora,

    assumindo o intermedirio o papel de instigador.

    Nos casos de contributo autnomo do intermedirio:

    o Causalidade psquica alternativa: o autor principal realiza o facto, determinado

    quer pelo homem-de-trs, quer pelo intermedirio, cabendo ao instigado decidir

    que informao usar para praticar o facto. Nestes casos o homem-de-trs deve

    ser considerado instigador indirecto e o intermedirio instigador directo.

    o Causalidade psquica cumulativa: casos em que o autor principal realiza o facto,

    determinado quer pelo homem-de-trs, quer pelo intermedirio, no

    preenchendo, isoladamente, nenhum dos contributos em cadeia para o desvalor

    do resultado, podendo aqui o homem-de-trs e o intermedirio, apenas serem

    considerados cmplices morais (art.27/1).

    Caso do intermedirio de boa f: irrelevante que o intermedirio aja de boa ou m

    f, visto que o que releva a entrega da mensagem ao instigado, independentemente da

    boa f do intermedirio, logo, o homem-de-trs, nestes casos, continua a assumir o

    papel de instigador (indirecto) do facto principal.

    AUTORIA E PARTICIPAO NO CRIME CONTRATADO

    CASO: A decide matar B e, para esse efeito, contacta com C, propondo-lhe a realizao do

    facto, a troco do pagamento de uma certa quantia. A proposta acompanhada de um plano de

    execuo e encobrimento bastante minucioso traado pelo prprio A, que abrange data, hora,

    local, modo de execuo, arma a utilizar, elementos de identificao e localizao da vtima, e

    ainda a simulao do mbil do crime. C afirma a sua aceitao, mas entrega todos os elementos

    de que dispe entidades policiais e no realiza o facto.

    A autoria mediata, traduz-se em quem executar o facto, por si ou por intermdio de

    outrem; a instigao consiste em quem, dolosamente, determinar outra pessoa

    prtica do facto, desde que haja execuo ou comeo da execuo.

  • Ana Sofia Carrilho

    Faculdade de Direito de Lisboa Pgina 22

    Soluo da instigao

    Se considerarmos o A como instigador, este dever ser absolvido do crime de tentativa

    de homicdio, por no se ter verificado qualquer execuo ou comeo de execuo do autor

    material C. Realmente o A tentou instigar o C prtica do facto, no termos da 4 proposio do

    artigo 26, mas a mera tentativa de instigao no punida entre ns. Nem a contratao, nem o

    recebimento do pagamento podem ser considerados actos de execuo do instigado, por falta de

    proximidade, quer temporal quer espacial, com a esfera de proteco da vtima. Mesmo

    existindo intermedirios de instigao em cadeia, estes devero ficar igualmente impunes. Nota:

    esta soluo parece a mais correcta.

    Soluo da autoria mediata

    De acordo com esta orientao o A seria um autor mediato com pleno domnio do facto.

    Esta tese assenta essencialmente na motivao pessoal do executor. Para CONCEIO

    VALDGUA, a subordinao voluntria do autor material deciso do homem-de-trs ser

    uma forma de domnio do facto que fundamenta a autoria mediata. No entanto, no nosso caso

    demonstra-se que a realizao do facto no se encontra na mo do contratante, visto que o

    aliciado pode mudar de ideias e deixar de ser sensvel ao aliciamento.