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 A286c AHMAD, Nidal Khalil

Caderno de Direito Penal II Dom Alberto / Nidal Khalil Ahmad.  – Santa Cruz do Sul: Faculdade Dom Alberto, 2010.

Inclui bibliografia.

1. Direito  – Teoria 2. Direito Penal II  – Teoria I. AHMAD, Nidal Khalil II.Faculdade Dom Alberto III. Coordenação de Direito IV. Título

CDU 340.12(072)

Catalogação na publicação: Roberto Carlos Cardoso  – Bibliotecário CRB10 010/10 

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APRESENTAÇÃO

O Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto teve sua semente

lançada no ano de 2002. Iniciamos nossa caminhada acadêmica em 2006,após a construção de um projeto sustentado nos valores da qualidade,

seriedade e acessibilidade. E são estes valores, que prezam pelo acesso livre

a todos os cidadãos, tratam com seriedade todos processos, atividades e

ações que envolvem o serviço educacional e viabilizam a qualidade acadêmica

e pedagógica que geram efetivo aprendizado que permitem consolidar um

projeto de curso de Direito.

Cinco anos se passaram e um ciclo se encerra. A fase de

crescimento, de amadurecimento e de consolidação alcança seu ápice com a

formatura de nossa primeira turma, com a conclusão do primeiro movimentocompleto do projeto pedagógico.

Entendemos ser este o momento de não apenas celebrar, mas de

devolver, sob a forma de publicação, o produto do trabalho intelectual,

pedagógico e instrutivo desenvolvido por nossos professores durante este

período. Este material servirá de guia e de apoio para o estudo atento e sério,

para a organização da pesquisa e para o contato inicial de qualidade com as

disciplinas que estruturam o curso de Direito.

Felicitamos a todos os nossos professores que com competêncianos brindam com os Cadernos Dom Alberto , veículo de publicação oficial da

produção didático-pedagógica do corpo docente da Faculdade Dom Alberto.

Lucas Aurélio Jost Assis

Diretor Geral

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PREFÁCIO

Toda ação humana está condicionada a uma estrutura própria, a

uma natureza específica que a descreve, a explica e ao mesmo tempo aconstitui. Mais ainda, toda ação humana é aquela praticada por um indivíduo,

no limite de sua identidade e, preponderantemente, no exercício de sua

consciência. Outra característica da ação humana é sua estrutura formal

permanente. Existe um agente titular da ação (aquele que inicia, que executa a

ação), um caminho (a ação propriamente dita), um resultado (a finalidade da

ação praticada) e um destinatário (aquele que recebe os efeitos da ação

praticada). Existem ações humanas que, ao serem executadas, geram um

resultado e este resultado é observado exclusivamente na esfera do próprio

indivíduo que agiu. Ou seja, nas ações internas, titular e destinatário da ação

são a mesma pessoa. O conhecimento, por excelência, é uma ação interna.

Como bem descreve Olavo de Carvalho, somente a consciência individual do

agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido

de testemunha externa que o ato de conhecer . Por outro lado, existem ações

humanas que, uma vez executadas, atingem potencialmente a esfera de

outrem, isto é, os resultados serão observados em pessoas distintas daquele

que agiu. Titular e destinatário da ação são distintos.

Qualquer ação, desde o ato de estudar, de conhecer, de sentir medo

ou alegria, temor ou abandono, satisfação ou decepção, até os atos detrabalhar, comprar, vender, rezar ou votar são sempre ações humanas e com

tal estão sujeitas à estrutura acima identificada. Não é acidental que a

linguagem humana, e toda a sua gramática, destinem aos verbos a função de

indicar a ação. Sempre que existir uma ação, teremos como identificar seu

titular, sua natureza, seus fins e seus destinatários.

Consciente disto, o médico e psicólogo Viktor E. Frankl, que no

curso de uma carreira brilhante (trocava correspondências com o Dr. Freud

desde os seus dezessete anos e deste recebia elogios em diversas

publicações) desenvolvia técnicas de compreensão da ação humana e,consequentemente, mecanismos e instrumentos de diagnóstico e cura para os

eventuais problemas detectados, destacou-se como um dos principais

estudiosos da sanidade humana, do equilíbrio físico-mental e da medicina

como ciência do homem em sua dimensão integral, não apenas físico-corporal.

Com o advento da Segunda Grande Guerra, Viktor Frankl e toda a sua família

foram capturados e aprisionados em campos de concentração do regime

nacional-socialista de Hitler. Durante anos sofreu todos os flagelos que eram

ininterruptamente aplicados em campos de concentração espalhados por todo

território ocupado. Foi neste ambiente, sob estas circunstâncias, em que a vidasente sua fragilidade extrema e enxerga seus limites com uma claridade única,

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que Frankl consegue, ao olhar seu semelhante, identificar aquilo que nos faz

diferentes, que nos faz livres.

Durante todo o período de confinamento em campos de

concentração (inclusive Auschwitz) Frankl observou que os indivíduos

confinados respondiam aos castigos, às privações, de forma distinta. Alguns,perante a menor restrição, desmoronavam interiormente, perdiam o controle,

sucumbiam frente à dura realidade e não conseguiam suportar a dificuldade da

vida. Outros, porém, experimentando a mesma realidade externa dos castigos

e das privações, reagiam de forma absolutamente contrária. Mantinham-se

íntegros em sua estrutura interna, entregavam-se como que em sacrifício,

esperavam e precisavam viver, resistiam e mantinham a vida.

Observando isto, Frankl percebe que a diferença entre o primeiro

tipo de indivíduo, aquele que não suporta a dureza de seu ambiente, e o

segundo tipo, que se mantém interiormente forte, que supera a dureza do

ambiente, está no fato de que os primeiros já não têm razão para viver, nada

os toca, desistiram. Ou segundos, por sua vez, trazem consigo uma vontade de

viver que os mantêm acima do sofrimento, trazem consigo um sentido para sua

vida. Ao atribuir um sentido para sua vida, o indivíduo supera-se a si mesmo,

transcende sua própria existência, conquista sua autonomia, torna-se livre.

Ao sair do campo de concentração, com o fim do regime nacional-

socialista, Frankl, imediatamente e sob a forma de reconstrução narrativa de

sua experiência, publica um livreto com o título Em busca de sentido: umpsicólogo no campo de concentração, descrevendo sua vida e a de seus

companheiros, identificando uma constante que permitiu que não apenas ele,

mas muitos outros, suportassem o terror dos campos de concentração sem

sucumbir ou desistir, todos eles tinham um sentido para a vida.

Neste mesmo momento, Frankl apresenta os fundamentos daquilo

que viria a se tornar a terceira escola de Viena, a Análise Existencial, a

psicologia clínica de maior êxito até hoje aplicada. Nenhum método ou teoria foi

capaz de conseguir o número de resultados positivos atingidos pela psicologia

de Frankl, pela análise que apresenta ao indivíduo a estrutura própria de suaação e que consegue com isto explicitar a necessidade constitutiva do sentido

(da finalidade) para toda e qualquer ação humana.

Sentido de vida é aquilo que somente o indivíduo pode fazer e

ninguém mais. Aquilo que se não for feito pelo indivíduo não será feito sob

hipótese alguma. Aquilo que somente a consciência de cada indivíduo

conhece. Aquilo que a realidade de cada um apresenta e exige uma tomada de

decisão.

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Não existe nenhuma educação se não for para ensinar a superar-se

a si mesmo, a transcender-se, a descobrir o sentido da vida. Tudo o mais é

morno, é sem luz, é, literalmente, desumano.

Educar é, pois, descobrir o sentido, vivê-lo, aceitá-lo, executá-lo.

Educar não é treinar habilidades, não é condicionar comportamentos, não éalcançar técnicas, não é impor uma profissão. Educar é ensinar a viver, a não

desistir, a descobrir o sentido e, descobrindo-o, realizá-lo. Numa palavra,

educar é ensinar a ser livre.

O Direito é um dos caminhos que o ser humano desenvolve para

garantir esta liberdade. Que os Cadernos Dom Alberto   sejam veículos de

expressão desta prática diária do corpo docente, que fazem da vida um

exemplo e do exemplo sua maior lição.

Felicitações são devidas a Faculdade Dom Alberto, pelo apoio napublicação e pela adoção desta metodologia séria e de qualidade.

Cumprimentos festivos aos professores, autores deste belo trabalho.

Homenagens aos leitores, estudantes desta arte da Justiça, o Direito.

.

Luiz Vergilio Dalla-RosaCoordenador Titular do Curso de Direito

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Sumário

Apresentação.........................................................................................................

Prefácio..................................................................................................................

Plano de Ensino.....................................................................................................

Aula 1

Conceito de Crime.................................................................................................

Aula 2

Conceito Material..................................................................................................

Aula 3

Da Relação de Causalidade..................................................................................

Aula 4

Teoria da Tipicidade..............................................................................................

Aula 5 

Teoria do Crime Doloso........................................................................................

Aula 6

Modalidades de Culpa..........................................................................................

Aula 7 

Da Tentativa.........................................................................................................

Aula 8

Arrependimento Posterior....................................................................................

Aula 9

Erro de Tipo.........................................................................................................

Aula 10

Erro Provocado por Terceiro................................................................................

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes,comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 

Centro de Ensino Superior Dom Alberto

Plano de Ensino

Identificação

Curso: Direito  Disciplina: Direito Penal II 

Carga Horária (horas): 60 Créditos: 4  Semestre: 3º 

Ementa

A Conduta. Ação: teoria causalista, finalista e social da ação. Ausência de conduta. Sujeitos. Omissão.Relação de causalidade. Tipo e Tipicidade. Dolo e Culpa. Antijuridicidade. Causas de Justificação.Culpabilidade. Teoria normativa pura. Excludente de Culpabilidade. Erro de Tipo e Erro de Proibição. CrimeConsumado e Crime Tentado. Avaliação da Disciplina. 

Objetivos

Geral: Proporcionar ao aluno a compreensão de cada um dos elementos que compõem o conceito de crime e ascausas que excluem o delito, capacitando-o, com isso, a estabelecer um juízo crítico e a relacionar oconteúdo teórico a casos práticos.

Específicos:A)  Fazer com que o aluno compreenda os elementos que envolvem o crime, por meio do estudopormenorizado da tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade.B) Propiciar ao aluno identificar as causas que excluem o crime, para, ao final, ter capacidade para aplicar ateoria apreendida a casos concretos;C) Demonstrar as circunstâncias que envolvem os crimes dolosos e culposos; C) Proporcionar ao alunoconhecimentos acerca do caminho do crime, desde a fase da ideação até a execução, sem olvidar ashipóteses que envolvem a tentativa do delito, a desistência voluntária, o arrependimento eficaz e o crime

impossível;D) Por fim, trazer subsídios para que o aluno possa identificar as hipóteses de erro de tipo e erro deproibição. 

Inter-relação da Disciplina

Horizontal: Direito Constitucional.

Vertical:  Direito Penal I, III e IV; Processo Penal, Medicina Legal, Direito Administrativo, Direito CivilV(Família), Direito Constitucional.

Competências Gerais

- Elaboração de textos com informações sobre o Direito Penal, pesquisando a legislação, doutrina e

 jurisprudência.- Análise, aplicabilidade e a interpretação da lei penal conforme o entendimento da doutrina e jurisprudência- Compreensão das normas e princípios gerais previstos na Parte Geral do Código Penal Brasileiro.- Interpretação jurídica da aplicação do Direito Penal de modo crítico.- Utilização com desenvoltura de expressões técnicas na interpretação dos institutos jurídicos do DireitoPenal.- Desenvolvimento de formas judiciais e extrajudiciais de prevenção e solução de conflitos.- Compreensão crítica da função social do Direito Penal.- Conduta ética no julgamento e tomada de decisões.- Busca de soluções harmônicas para as demandas que envolvem o Direito Penal.

Competências Específicas

Interpretação de textos legais, doutrinários e jurisprudenciais.Utilização de expressões técnicas na interpretação dos institutos jurídicos do Direito Penal.

Habilidades Gerais

- Elaborar textos com informações sobre o Direito Penal, pesquisando a legislação, doutrina e

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes,comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 

 jurisprudência.- Analisar a aplicabilidade e a interpretação da lei penal conforme o entendimento da doutrina e jurisprudência- Compreender as normas e princípios gerais previstos na Parte Geral do Código Penal Brasileiro.- Conhecer as fontes do Direito Penal para aplicá-las convenientemente.- Interpretação jurídica da aplicação do Direito Penal de modo crítico.- Utilizar com desenvoltura expressões técnicas na interpretação dos institutos jurídicos do Direito Penal.- Desenvolver formas judiciais e extrajudiciais de prevenção e solução de conflitos.

- Compreender criticamente a função social do Direito Penal.- Estimular ações reflexivas, críticas e éticas no julgamento e tomada de decisões.- Equacionar problemas e buscar soluções harmônicas para as demandas que envolvem o Direito Penal.

Habilidades Específicas

Interpretar textos legais, doutrinários e jurisprudenciais sobre o Direito Penal, de forma crítica.Utilizar expressões técnicas na interpretação dos institutos jurídicos do Direito Penal.Compreender criticamente a função social do Direito Penal.Manusear de maneira eficaz o Código Penal.Contextualizar o Direito Penal em relação a outras disciplinas.

Conteúdo Programático

PROGRAMA

1.1) CONCEITO DE CRIME (breve revisão); 1.2) DO FATO TÍPICO: 1.2.1) Conceito; 1.2.2) Elementos dofato típico; 1.3) CONDUTA: 1.3.1) Conceito, características e elementos, 1.3.2) Teorias da conduta (ou daação): a) Teoria naturalista ou causal da ação, b) Teoria social da ação, c) Teoria finalista da ação; 1.3.3)Ausência de conduta.

2.1) SUJEITOS DA AÇÃO. 2.1.1) Sujeito ativo. 2.1.2) sujeito passivo

2.2) A OMISSÃO E SUAS FORMAS: 2.2.1) Considerações gerais – conceito; 2.2.2) Teorias da omissão.2.2.3) Crimes omissivos próprios; 2.2.4) Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão; 2.2.5)Dever jurídico de impedir o resultado – hipóteses: a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ouvigilância; b) De outra forma assumir a responsabilidade de impedir o resultado; c) Com o comportamento

anterior, criar o risco da ocorrência do resultado; 2.3) RESULTADO: 2.3.1) Conceito; 2.3.2) Teorias:Resultado jurídico e resultado naturalístico; 2.3.3) Crimes materiais, crimes formais e crimes de meraconduta; 2.3.4) Crimes instantâneos e crimes permanentes; 2.3.5) Há crimes sem resultado?

3.1) DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE: 3.1.1) Introdução; 3.1.2) Teoria da Equivalência dos AntecedentesCausais (ou da Conditio sine quo non); 3.1.3) Aplicação da Teoria da Equivalência dos Antecedentes; 3.1.4)Limitações do Alcance da Teoria da Equivalência dos Antecedentes: a) causas (concausas) absolutamenteindependentes; b) causas relativamente independentes; c) superveniência de causa relativamenteindependente; 3.2) DA CAUSALIDADE POR OMISSÃO; 3.3) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

4.1) TEORIA DA TIPICIDADE: 4.1.1) Noção Introdutória; 4.1.2) O tipo legal e o fato concreto; 4.1.3)Evolução histórica da tipicidade: fases: a) Primeira fase: Independência; b) Segunda fase: caráter indiciárioda antijuridicidade; c) Terceira fase: “ratio essendi” da antijuridicidade; d) Diretriz dominante; e) Tipicidade eantijuridicidade. 4.2) TEORIA DO TIPO: 4.2.1) Conceito e importância do tipo; 4.2.2) Tipicidade – Da

adequação típica: formas; 4.2.3) Funções do tipo penal; 4.2.4) Elementos do Tipo: a) Elementos objetivos;b) Elementos normativos; c) Elementos subjetivos

5.1) DO TIPO DO CRIME DOLOSO: 5.1.1) Conceito de Dolo; 5.1.2) Teorias do Dolo: a) Teoria da Vontade;b) Teoria da representação; c) Teoria do assentimento. 5.1.3) Elementos do dolo. 5.1.4) Espécies de dolo:a) Dolo Direto e Indireto (ou dolo eventual); b) dolo de dano e de perigo; c) dolo genérico e específico; d)dolo normativo e dolo natural; e) dolo geral (erro sucessivo). 5.2) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL.5.3) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

6.1) DO TIPO DO CRIME CULPOSO: 6.1.1) Conceito; 6.1.2) Elementos do fato típico culposo; 6.1.3)Modalidades de culpa: a) Imprudência; b) Negligência; c) Imperícia. 6.1.4) Espécies de Culpa: a) Culpaconsciente; b) Culpa inconsciente; c) Culpa própria e culpa imprópria; 6.1.5) Dolo eventual e culpaconsciente; 6.1.6) Concorrência e compensação de culpas. 6.2) DO CRIME PRETERDOLOSO: 6.2.1)Crimes preterdolosos ou preterintencionais; 6.2.2) Nexo Subjetivo e Normativo

7.1) DO CRIME CONSUMADO: 7.1.1) Conceito; 7.1.2) Crime exaurido; 7.1.3) A consumação nas váriasespécies de crimes; 7.1.4) O “Iter Criminis”; 7.1.5) Atos preparatórios e executórios: distinção. 7.2) DATENTATIVA: 7.2.1) conceito; 7.2.2) Natureza jurídica; 7.2.3) Elementos; 7.2.4) Formas de tentativa: a)Perfeita; b) Imperfeita. 6.2.5) Aplicação da pena. 6.2.6) Infrações que não admitem tentativa. 7.3)DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. 7.4) ARREPENDIMENTO EFICAZ. 7.5) ARREPENDIMENTO POSTERIOR.

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes,comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 

7.6) CRIME IMPOSSÍVEL

8.1) DA ANTIJURIDICIDADE: 8.1.1) Conceito e terminologia; 8.1.2) Antijuridicidade formal e material; 8.1.3)Causas de exclusão da antijuridicidade ou causas de justificação: a) Introdução; b) Elementos objetivos esubjetivos das causas de justificação; c) causas supralegais de exclusão da antijuridicidade; d) Excesso nascausas de justificação. 8.2) DO ESTADO DE NECESSIDADE: 8.2.1) Considerações Gerais; 8.2.2) Conceitoe natureza jurídica; 8.2.3) Estado de necessidade “justificante” e estado de necessidade “exculpante”; 8.2.4)Requisitos: a) Perigo atual; b) não-provocação voluntária do perigo; c) inevitabilidade do perigo por outro

meio; d) inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado; e) ameaça a direito próprio ou alheio; f) elementosubjetivo: finalidade de salvar o bem do perigo; g) inexistência do dever legal de enfrentar o perigo. 8.2.5)causa de diminuição de pena. 8.2.6) formas de estado de necessidade. 8.2.7) Exemplos. 8.2.8) Excesso

9.1) DA LEGÍTIMA DEFESA: 9.1.1) Considerações gerais; 9.1.2) Fundamento e natureza jurídica; 9.1.3)Conceito e requisitos; a) agressão injusta, atual ou iminente; b) direito próprio ou alheio; c) repulsa com osmeios necessários; d) moderação na repulsa necessária; e) elemento subjetivo da legítima defesa. 9.1.4)Legítima defesa real, putativa, sucessiva e recíproca. 9.1.5) legítima defesa e estado de necessidade. 9.1.6)Ofendículos. 9.2) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL E EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO.9.2.1) Estrito cumprimento de dever legal. 9.2.2) Exercício regular do direito. 9.2.3) Intervenções médicas ecirúrgicas. 9.2.4) violência esportiva. 9.2.5) consentimento do ofendido10.1) DA CULPABILIDADE: 10.1.1) Considerações introdutórias. 10.1.2) conceito de culpabilidade. 10.1.3)culpabilidade como predicado do crime ou pressuposto da pena? 10.1.4) Responsabilidade penal objetiva.10.2) TEORIAS DA CULPABILIDADE. 10.2.1) Teoria psicológica da culpabilidade. 10.2.2) Teoria.

11.1) CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE. 11.1.1) Introdução. 11.1.2) Elenco. 11.1.3) Ainexigibilidade de conduta diversa como causa supralegal de exclusão da culpabilidade. 11.2) DA COAÇÃOMORAL IRRESISTÍVEL. 11.2.1) Conceito e espécies de coação. 11.2.2) Espécie de coação prevista no art.22, 1ª parte, do CP. 11.2.3) Responsabilidade do coator. 11.3) DA OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA: 11.3.1)Conceito e espécies de ordem de superior hierárquico; 11.3.2) Obediência hierárquica como causa deexclusão de culpabilidade; 11.3.3) Responsabilidade do superior hierárquico; 11.3.4) Tratamento daobediência hierárquica no Código Penal Militar. 11.4) DA INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTALOU DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO: 11.4.1) Introdução; 11.4.2) Critérios de aferição dainimputabilidade; 11.4.3) Requisitos normativos da inimputabilidade; 11.4.4) Doença mental oudesenvolvimento mental incompleto ou retardado; 11.4.5) Diminuição da capacidade de entendimento e devontade – capacidade diminuída; 11.4.6) Menoridade penal 

12.1) EMOÇÃO E A PAIXÃO. 12.2) DA INIMPUTABILIDADE POR EMBRIAGUEZ E SUBSTÂNCIASANÁLOGAS: 12.2.1) Conceito, fases e espécies de embriaguez; 12.2.2) Formas ou modalidades deembriaguez; a) Embriaguez não acidental: voluntária ou culposa; b) Embriaguez acidental: caso fortuito ouforça maior; c) Embriaguez preordenada; d) Embriaguez habitual e patológica. 12.3) “Actio Libera incausa”. 12.4) Caso Fortuito e Força maior. 12.5) ERRO DE PROIBIÇÃO: 12.5.1) Inescusabilidade deIgnorância da lei; 12.5.2) Conceito de erro de proibição; 12.5.3) Modalidades de erro de proibição: a) Errode proibição direto. b) Erro mandamental. c) erro de proibição indireto. 12.5.4) Formas de erro de proibição  13.1) ERRO DE TIPO: 13.1.1) Conceito. 13.1.2) Erro de tipo e delito putativo por erro de tipo. 13.1.3)Formas. 13.1.4) Erro de tipo essencial. 13.1.5) Efeitos do Erro de tipo essencial. 13.1.6) Erro de tipopermissivo. 13.2) DESCRIMINANTES PUTATIVAS. 13.3) ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO. 13.4)ERRO ACIDENTAL: 13.4.1) conceito. 13.4.2) Erro sobre objeto (“error in objecto”). 13.4.3) Erro sobre apessoa (“error in persona”). 13.4.4) Erro na execução (“aberratio ictus”). 13.4.5) Resultado diverso dopretendido (“Aberratio criminis”)

Estratégias de Ensino e Aprendizagem (metodologias de sala de aula)

O planejamento do trabalho em sala de aula é à base da construção do processo de ensino eaprendizagem. Planejando a ação, o professor tem a possibilidade de saber exatamente qual o ponto departida e o de chegada para cada tema abordado em seu curso.

Um planejamento não é um esquema de trabalho rígido, inflexível. Pelo contrário, devem-se levar em contaas situações inesperadas que vão ocorrendo e adaptar ou modificar o que se havia inicialmente previsto, deacordo com suas observações de classe e necessidades dos alunos.

Há metas que devem ser estabelecidas e alcançadas, sendo necessário que o professor disponha de um fiocondutor para a ação que vai desenvolver e de uma previsão para os resultados dessa ação.

Avaliação do Processo de Ensino e AprendizagemA avaliação do processo de ensino e aprendizagem deve ser realizada de forma contínua, cumulativa esistemática com o objetivo de diagnosticar a situação da aprendizagem de cada aluno, em relação àprogramação curricular. Funções básicas: informar sobre o domínio da aprendizagem, indicar os efeitos dametodologia utilizada, revelar conseqüências da atuação docente, informar sobre a adequabilidade de

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes,comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 

currículos e programas, realizar feedback  dos objetivos e planejamentos elaborados, etc.Para cada avaliação o professor determinará a(s) formas de avaliação podendo ser de duas formas:1ª – uma prova com peso 10,0 (dez) ou uma prova de peso 8,0 e um trabalho de peso 2,02ª – uma prova com peso 10,0 (dez) ou uma prova de peso 8,0 e um trabalho de peso 2,0  

Avaliação Somativa

A aferição do rendimento escolar de cada disciplina é feita através de notas inteiras de zero a dez,

permitindo-se a fração de 5 décimos.O aproveitamento escolar é avaliado pelo acompanhamento contínuo do aluno e dos resultados por eleobtidos nas provas, trabalhos, exercícios escolares e outros, e caso necessário, nas provas substitutivas.Dentre os trabalhos escolares de aplicação, há pelo menos uma avaliação escrita em cada disciplina nobimestre.O professor pode submeter os alunos a diversas formas de avaliações, tais como: projetos, seminários,pesquisas bibliográficas e de campo, relatórios, cujos resultados podem culminar com atribuição de umanota representativa de cada avaliação bimestral.Em qualquer disciplina, os alunos que obtiverem média semestral de aprovação igual ou superior a sete(7,0) e freqüência igual ou superior a setenta e cinco por cento (75%) são considerados aprovados.Após cada semestre, e nos termos do calendário escolar, o aluno poderá requerer junto à Secretaria-Geral,no prazo fixado e a título de recuperação, a realização de uma prova substitutiva, por disciplina, a fim desubstituir uma das médias mensais anteriores, ou a que não tenha sido avaliado, e no qual obtiverem como

média final de aprovação igual ou superior a cinco (5,0). 

Sistema de Acompanhamento para a Recuperação da Aprendizagem

Serão utilizados como Sistema de Acompanhamento e Nivelamento da turma os Plantões Tira-Dúvidas quesão realizados sempre antes de iniciar a disciplina, das 18h00min às 18h50min, na sala de aula. 

Recursos Necessários

HumanosProfessor.

FísicosLaboratórios, visitas técnicas, etc. 

Materiais

Recursos Multimídia.

Bibliografia

Básica 

BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2002.GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. Artigos 1º a 120 do código penal. 10.ed. Rio deJaneiro: Impetus, 2008. v.1.ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. São Paulo:RT, 2002.BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – parte geral. Volume I. São Paulo: Saraiva.PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal brasileiro: parte geral. Vol. 1. Ed. São Paulo: RT, 2008. 

Complementar 

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,2006.JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. Volume I. São Paulo: Saraiva.MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal. Volume I – parte geral. São Paulo: Atlas.FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal. Rio de Janeiro: Forense.GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal: Parte Geral – introdução. São Paulo: RT.

Legislação:NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva.DELMANTO, Celso. Código Penal Anotado. Rio de Janeiro: Renovar.

FRANCO, Alberto Silva et alli. Código Penal e sua interpretação jurisprudencial. São Paulo: RT, 1998

Periódicos

Revista de Estudos Criminais. Editora NOTADEZ.

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes,comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 

Revista do IBCCRIM. Editora Revista dos Tribunais.Revista da AJURIS

Sites para Consulta

www.cfj.jus.brwww.tj.rs.gov.brwww.trf4.gov.brwww.senado.gov.br

www.stf.gov.brwww.stj.gov.brwww.ihj.org.brwww.oab-rs.org.br

Outras Informações

Endereço eletrônico de acesso à página do PHL para consulta ao acervo da biblioteca:http://192.168.1.201/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl.xis&cipar=phl8.cip&lang=por

Cronograma de Atividades

Aula Consolidação Avaliação Conteúdo Procedimentos Recursos

1.1) CONCEITO DE CRIME (breve revisão); 1.2) DO FATO

TÍPICO: 1.2.1) Conceito; 1.2.2) Elementos do fato típico; 1.3)CONDUTA: 1.3.1) Conceito, características e elementos,1.3.2) Teorias da conduta (ou da ação): a) Teoria naturalistaou causal da ação, b) Teoria social da ação, c) Teoria finalistada ação; 1.3.3) Ausência de conduta. 

AE Aulaexpositiva

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2.1) SUJEITOS DA AÇÃO. 2.1.1) Sujeito ativo. 2.1.2) sujeitopassivo2.2) A OMISSÃO E SUAS FORMAS: 2.2.1)Considerações gerais – conceito; 2.2.2) Teorias da omissão.2.2.3) Crimes omissivos próprios; 2.2.4) Crimes omissivosimpróprios ou comissivos por omissão; 2.2.5) Dever jurídicode impedir o resultado – hipóteses: a) Ter por lei obrigação decuidado, proteção ou vigilância; b) De outra forma assumir aresponsabilidade de impedir o resultado; c) Com ocomportamento anterior, criar o risco da ocorrência doresultado; 2.3) RESULTADO: 2.3.1) Conceito; 2.3.2) Teorias:Resultado jurídico e resultado naturalístico; 2.3.3) Crimes

materiais, crimes formais e crimes de mera conduta; 2.3.4)Crimes instantâneos e crimes permanentes; 2.3.5) Há crimessem resultado?

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3.1) DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE: 3.1.1) Introdução;3.1.2) Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais (ouda Conditio sine quo non); 3.1.3) Aplicação da Teoria daEquivalência dos Antecedentes; 3.1.4) Limitações do Alcanceda Teoria da Equivalência dos Antecedentes: a) causas(concausas) absolutamente independentes; b) causasrelativamente independentes; c) superveniência de causarelativamente independente; 3.2) DA CAUSALIDADE POROMISSÃO; 3.3) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

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4.1) TEORIA DA TIPICIDADE: 4.1.1) Noção Introdutória;4.1.2) O tipo legal e o fato concreto; 4.1.3) Evolução históricada tipicidade: fases: a) Primeira fase: Independência; b)Segunda fase: caráter indiciário da antijuridicidade; c)

Terceira fase: “ratio essendi” da antijuridicidade; d) Diretrizdominante; e) Tipicidade e antijuridicidade. 4.2) TEORIA DOTIPO: 4.2.1) Conceito e importância do tipo; 4.2.2) Tipicidade

 – Da adequação típica: formas; 4.2.3) Funções do tipo penal;4.2.4) Elementos do Tipo: a) Elementos objetivos; b)Elementos normativos; c) Elementos subjetivos.

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5.1) DO TIPO DO CRIME DOLOSO: 5.1.1) Conceito de Dolo;5.1.2) Teorias do Dolo: a) Teoria da Vontade; b) Teoria darepresentação; c) Teoria do assentimento. 5.1.3) Elementosdo dolo. 5.1.4) Espécies de dolo: a) Dolo Direto e Indireto (oudolo eventual); b) dolo de dano e de perigo; c) dolo genérico eespecífico; d) dolo normativo e dolo natural; e) dolo geral (errosucessivo). 5.2) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL. 5.3)PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

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6.1) DO TIPO DO CRIME CULPOSO: 6.1.1) Conceito; 6.1.2)Elementos do fato típico culposo; 6.1.3) Modalidades deculpa: a) Imprudência; b) Negligência; c) Imperícia. 6.1.4)Espécies de Culpa: a) Culpa consciente; b) Culpainconsciente; c) Culpa própria e culpa imprópria; 6.1.5) Doloeventual e culpa consciente; 6.1.6) Concorrência ecompensação de culpas. 6.2) DO CRIME PRETERDOLOSO:

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes,comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 

6.2.1) Crimes preterdolosos ou preterintencionais; 6.2.2) NexoSubjetivo e Normativo

1

7.1) DO CRIME CONSUMADO: 7.1.1) Conceito; 7.1.2) Crimeexaurido; 7.1.3) A consumação nas várias espécies decrimes; 7.1.4) O “Iter Criminis”; 7.1.5) Atos preparatórios eexecutórios: distinção. 7.2) DA TENTATIVA: 7.2.1) conceito;7.2.2) Natureza jurídica; 7.2.3) Elementos; 7.2.4) Formas detentativa: a) Perfeita; b) Imperfeita. 6.2.5) Aplicação da pena.6.2.6) Infrações que não admitem tentativa. 7.3)DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. 7.4) ARREPENDIMENTO

EFICAZ. 7.5) ARREPENDIMENTO POSTERIOR. 7.6) CRIMEIMPOSSÍVEL

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1

8.1) DA ANTIJURIDICIDADE: 8.1.1) Conceito e terminologia;8.1.2) Antijuridicidade formal e material; 8.1.3) Causas deexclusão da antijuridicidade ou causas de justificação: a)Introdução; b) Elementos objetivos e subjetivos das causasde justificação; c) causas supralegais de exclusão daantijuridicidade; d) Excesso nas causas de justificação. 8.2)DO ESTADO DE NECESSIDADE: 8.2.1) ConsideraçõesGerais; 8.2.2) Conceito e natureza jurídica; 8.2.3) Estado denecessidade “justificante” e estado de necessidade“exculpante”; 8.2.4) Requisitos: a) Perigo atual; b) não-provocação voluntária do perigo; c) inevitabilidade do perigopor outro meio; d) inexigibilidade do sacrifício do bemameaçado; e) ameaça a direito próprio ou alheio; f) elementosubjetivo: finalidade de salvar o bem do perigo; g) inexistência

do dever legal de enfrentar o perigo. 8.2.5) causa dediminuição de pena. 8.2.6) formas de estado de necessidade.8.2.7) Exemplos. 8.2.8) Excesso

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9.1) DA LEGÍTIMA DEFESA: 9.1.1) Considerações gerais;9.1.2) Fundamento e natureza jurídica; 9.1.3) Conceito erequisitos; a) agressão injusta, atual ou iminente; b) direitopróprio ou alheio; c) repulsa com os meios necessários; d)moderação na repulsa necessária; e) elemento subjetivo dalegítima defesa. 9.1.4) Legítima defesa real, putativa,sucessiva e recíproca. 9.1.5) legítima defesa e estado denecessidade. 9.1.6) Ofendículos. 9.2) ESTRITOCUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL E EXERCÍCIOREGULAR DO DIREITO. 9.2.1) Estrito cumprimento de deverlegal. 9.2.2) Exercício regular do direito. 9.2.3) Intervençõesmédicas e cirúrgicas. 9.2.4) violência esportiva. 9.2.5)consentimento do ofendido

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10.1) DA CULPABILIDADE: 10.1.1) Consideraçõesintrodutórias. 10.1.2) conceito de culpabilidade. 10.1.3)culpabilidade como predicado do crime ou pressuposto dapena? 10.1.4) Responsabilidade penal objetiva. 10.2)TEORIAS DA CULPABILIDADE. 10.2.1) Teoria psicológica daculpabilidade. 10.2.2) Teoria psicológica-normativa daculpabilidade. 10.2.3) teoria normativa pura da culpabilidade.a) definição e fundamento. b) elementos da culpabilidade.10.2.4) Teoria limitada da culpabilidade. 10.3)IMPUTABILIDADE: 10.3.1) conceito. 10.3.2) imputabilidade eresponsabilidade. 10.3.3) fundamento da imputabilidade.10.3.4) causas de exclusão da imputabilidade. 10.4)POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE: 10.4.1)Introdução. 10.4.2) teoria extrema do dolo. 10.4.3) teorialimitada do dolo. 10.4.4) teoria extrema da culpabilidade.10.4.5) teoria limitada da culpabilidade. : 10.5) DAEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA: 10.5.1)Introdução; 10.5.2) Teoria da circunstância concomitante;10.5.3) Efeito da exigibilidade de conduta diversa

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10ª

11.1) CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE. 11.1.1)Introdução. 11.1.2) Elenco. 11.1.3) A inexigibilidade deconduta diversa como causa supralegal de exclusão daculpabilidade. 11.2) DA COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL.11.2.1) Conceito e espécies de coação. 11.2.2) Espécie decoação prevista no art. 22, 1ª parte, do CP. 11.2.3)Responsabilidade do coator. 11.3) DA OBEDIÊNCIAHIERÁRQUICA: 11.3.1) Conceito e espécies de ordem desuperior hierárquico; 11.3.2) Obediência hierárquica comocausa de exclusão de culpabilidade; 11.3.3)Responsabilidade do superior hierárquico; 11.3.4) Tratamentoda obediência hierárquica no Código Penal Militar. 11.4) DAINIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL OUDESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO: 11.4.1)Introdução; 11.4.2) Critérios de aferição da inimputabilidade;11.4.3) Requisitos normativos da inimputabilidade; 11.4.4)Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ouretardado; 11.4.5) Diminuição da capacidade deentendimento e de vontade – capacidade diminuída; 11.4.6)Menoridade penal

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes,comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. 

11ª

12.1) EMOÇÃO E A PAIXÃO. 12.2) DA INIMPUTABILIDADEPOR EMBRIAGUEZ E SUBSTÂNCIAS ANÁLOGAS: 12.2.1)Conceito, fases e espécies de embriaguez; 12.2.2) Formas oumodalidades de embriaguez; a) Embriaguez não acidental:voluntária ou culposa; b) Embriaguez acidental: caso fortuitoou força maior; c) Embriaguez preordenada; d) Embriaguezhabitual e patológica. 12.3) “Actio Libera in causa”. 12.4)Caso Fortuito e Força maior. 12.5) ERRO DE PROIBIÇÃO:12.5.1) Inescusabilidade de Ignorância da lei; 12.5.2)Conceito de erro de proibição; 12.5.3) Modalidades de erro de

proibição: a) Erro de proibição direto. b) Erro mandamental. c)erro de proibição indireto. 12.5.4) Formas de erro de proibição

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12ª

13.1) ERRO DE TIPO: 13.1.1) Conceito. 13.1.2) Erro de tipo edelito putativo por erro de tipo. 13.1.3) Formas. 13.1.4) Errode tipo essencial. 13.1.5) Efeitos do Erro de tipo essencial.13.1.6) Erro de tipo permissivo. 13.2) DESCRIMINANTESPUTATIVAS. 13.3) ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO.13.4) ERRO ACIDENTAL: 13.4.1) conceito. 13.4.2) Erro sobreobjeto (“error in objecto”). 13.4.3) Erro sobre a pessoa (“errorin persona”). 13.4.4) Erro na execução (“aberratio ictus”).13.4.5) Resultado diverso do pretendido (“Aberratio criminis”)

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13ª

2

2

3

LegendaCódigo Descrição Código Descrição Código Descrição

AE Aula expositiva QG Quadro verde e giz LB Laboratório de informáticaTG Trabalho em grupo RE Retroprojetor PS Projetor de slidesTI Trabalho individual VI Videocassete AP ApostilaSE Seminário DS Data Show OU OutrosPA Palestra FC Flipchart

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 Aula 1 – 08.08.2008

1. CONCEITO DE CRIME

 A) CONCEITO MATERIAL

- reserva legal

- Sob o ponto de vista material, o conceito de crime visa aos bens jurídicos

protegidos pela lei penal. Dessa forma, crime nada mais é do que a violação de um

bem penalmente protegido.

- Ex. João mata Pedro: comete fato previsto como crime e ofende bem penalmente

protegido (vida). LD e EN. Ex. inimp.

B) CONCEITO ANALÍTICO

-Trata-se de uma conduta típica, antijurídica e culpável.

- Portanto, para que haja crime é preciso, em primeiro lugar, um conduta humana

positiva ou negativa (ação ou omissão) descrita na norma penal como crime.

Isto é o FATO TÍPICO.

- Ex: “A” esfaqueia “B”, matando-o.

Homicídio simples 

Art 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos

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- furto

- incesto

- Não basta, porém, que o fato seja típico para que exista crime. É preciso que seja

contrário ao direito, ANTIJURÍDICO.

- Ex: LD. Fato típico, mas não antijurídico.

- É, pois, a antijuridicidade o segundo requisito do crime. Por meio do juízo de valor

sobre ela é que se saberá se o fato é ou não contrário ao ordenamento jurídico.

 Verificada a ilicitude do comportamento, teremos os dois requisitos do crime: fato

típico e antijuridicidade.

- Não basta, porém, seja o fato típico e antijurídico. Exige-se, ainda, que o agente

seja CULPÁVEL.

- Ex: homicídio - (doente mental). Fato típico, antijurídico, mas não culpável.

- Vale dizer: crime é uma ação ou omissão ajustada a um modelo legal de conduta

proibida (tipicidade), contrária ao direito (antijuridicidade)  e sujeita a um juízo

de reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, desde que existam

imputabilidade, consciência potencial de ilicitude e exigibilidade e possibilidade de

agir conforme o direito (culpabilidade).

- Damásio, Mirabete, Delmanto, entre outros, conceituam o crime como sendo um

fato típico e antijurídico, sendo a culpabilidade pressuposto de aplicação da pena.

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1.2) DO FATO TÍPICO

1.2.1) Conceito

- É o fato que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato que se

enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contidos na lei penal.

Homicídio simples 

Art 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos

Furto 

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

1.2.2) Elementos do fato típico

- Para a integração do fato típico deve haver um comportamento humano. A ação ou

omissão humana (conduta), porém, não é suficiente, sendo necessário um

resultado.

- Entre a conduta e o resultado se exige uma relação de causalidade. Ex. “A” desfere

facadas em “B”, que, transportado para um hospital, vem a falecer.  Surge, assim,

outro elemento do fato típico: a relação de causalidade ou nexo de

causalidade.

- Por último, para que seja um fato típico, é necessário que os demais elementos

estejam descritos como crime. É a própria tipicidade.

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- Ex: “A” mata “B” com tiros de revólver.....

Homicídio simples 

Art 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos

- Portanto, os elementos do fato típico são:

a) a conduta

b) o resultado

c) o nexo de causalidade

d) a tipicidade

- Faltando um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir umindiferente penal. É um fato atípico.

1.3) CONDUTA

1.3.1) CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS

 A) Conceito

- CONDUTA é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada

finalidade.

B) Características:

a) A conduta se refere ao comportamento do homem, não dos animais irracionais.

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b) Só as condutas corporais externas constituem ações. O Direito Penal não se ocupa

da atividade puramente psíquica.

c) A conduta humana só tem importância para o Direito Penal quando voluntária.

d) O comportamento consiste num movimento ou abstenção de movimento corporal.

C) Os elementos são:

a) um ato de vontade, dirigido a uma finalidade;

- Este elemento abrange: a) O objetivo pretendido pelo sujeito; b) os meios usados

na execução; c) as conseqüências secundárias da prática.

b) atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo exterior (manifestação da

vontade por meio de um fazer ou não fazer).

- conduta x ato.

1.3.2) TEORIAS DA CONDUTA (OU DA AÇÃO)

 A) Teoria naturalista ou causal da ação

- Esta teoria conceitua a conduta como um comportamento humano voluntário no

mundo exterior, consistente num fazer ou não fazer, sendo estranha a qualquer

valoração.

- É denominada naturalista porque incorpora as leis da natureza no Direito Penal.

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- Séc. XIX até meados XX– Von List.

- Não importa se o agente quis (dolo) ou se teve culpa na causação do crime. A

configuração da conduta típica depende apenas de o agente causar fisicamente

(naturalisticamente) um resultado previsto em lei como crime.

- Logo, só interessa duas coisas: saber quem foi o causador do resultado e se talresultado estava definido em lei como crime.

- Nessa teoria a conduta é concebida como um simples comportamento, sem

apreciação sobre a sua ilicitude ou reprovabilidade.

- Ex: suicida pula carro

- Em outras palavras, a ação era tomada como pura realização da vontade no mundo

exterior, não importando o conteúdo dessa vontade (dolo e culpa).

- Esta teoria sofreu severas críticas.

- De acordo com o moderno Direito Penal, o centro de interesse não é o efeito

 jurídico produzido pelo resultado, mas sim a natureza do comportamentoreprovável. Diante disso, cai por terra a teoria naturalista da ação, uma vez que se

importa somente com o aspecto causal da questão, sendo equivocado distinguir a

conduta em duas partes: processo causal exterior e conteúdo subjetivo da vontade,

pois, como vimos, a ação ou omissão humana consciente é dirigida a

determinada finalidade.

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B) Teoria social da ação

- Para essa teoria, ação é a realização de um resultado sociamente relevante,

questionado pelos requisitos do Direito e não pelas leis da natureza.

- Diante disso, ação nada mais é que a causação de um resultado, não importando

qual. O conteúdo da vontade, em que se perquire qual o resultado visado peloagente, não pertence à ação, mas à culpabilidade.

- A teoria social da ação também recebeu críticas.

- Primeiro, porque se a ação é a causação de um resultado socialmente relevante,

como se define a conduta nos crimes de mero comportamento?

- Segundo, porque a teoria social, assim como a causal, deu muita importância ao

desvalor do resultado, quando o que importa é o desvalor da conduta.

- Hom. Dol. = Hom. Culp.

C) TEORIA FINALISTA DA AÇÃO

- Opondo-se ao conceito causal de ação, e especialmente à insustentável separação

entre a vontade e seu conteúdo, Welzel elaborou a teoria finalista da ação.

- Para a teoria finalista, a ação é uma atividade final humana. É, portanto, um

acontecimento finalista, e não somente causal.

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- A finalidade ou atividade finalista da ação, segundo esta teoria, baseia-se em que o

homem, consciente dos efeitos causais do acontecimento, pode prever as

conseqüências de sua conduta, propondo, dessa forma, objetivos de distinta índole.

- Conhecendo a teoria da causa e efeito, tem condições de dirigir sua atividade no

sentido de produzir determinados efeitos. A causalidade, pelo contrário, não se

encontra ordenada dessa maneira. Ela é cega, enquanto a finalidade é vidente.

- # hom. e raio mortal. suicida

- A doutrina finalista da ação não se preocupa apenas com o conteúdo da vontade, o

dolo, que consiste na vontade de concretizar as características objetivas do tipo

penal, mas também com a culpa.

- O Direito não deseja apenas que o homem não realize condutas dolosas, mas,

também, que imprima em todas as suas atividades uma direção finalista capaz de

impedir que produzam resultados lesivos.

- As ações que, produzindo um resultado causal, são devidas à inobservância do

mínimo de direção finalista no sentido de impedir a produção de tal conseqüência,

ingressam no rol dos delitos culposos.

- Em conseqüência, o dolo é retirado da culpabilidade, constituindo-se elemento

subjetivo do tipo, integrando a conduta, primeiro elemento do fato típico.

- Quanto à culpa, a conduta descrita no tipo (“se o homicídio é culposo”) está

integrada pela inobservância do dever de diligência na vida de relação. Quem tem

habilidade para realizar uma conduta “adequadamente”, deve executá-la

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 “adequadamente”. Aquele que não possui tal habilidade, deve abster-se de realizar o

comportamento desejado. “Com o comportamento adequado que assim se

estabelece, deve ser comparado o efetivo comportamento do agente, para verificar-

se se ele é típico no sentido de um crime culposo: toda ação que não corresponder a

tal comportamento adequado é típica no sentido do crime culposo”.

1.3.3) AUSÊNCIA DE CONDUTA

- Se a vontade constitui elemento da conduta, é evidente que esta não ocorre

quando o ato é involuntário.

- Para a caracterização da conduta, sob qualquer prisma, é indispensável a existência

do binômio vontade e consciência.

-  VONTADE  é o querer ativo, apto a levar o ser humano a praticar um ato,

livremente. O ato voluntário deve ser espontâneo, isto é, proceder de uma tendência

própria e interior à vontade; se não, é coagido e forçado.

- CONSCIÊNCIA  é a possibilidade que o ser humano possui de separar o mundo

que o cerca dos próprios atos, realizando um julgamento moral das suas atitudes.

Significa ter noção clara da diferença existente entre realidade e ficção.

- Há ausência de ação, segundo a doutrina dominante, em três grupos de caso:

a) Coação física irresistível (“vis absoluta”)

- Ocorre quando o sujeito pratica o movimento em conseqüência de força corporal

exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age

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voluntariamente. Neste caso, o agente é mero instrumento realizador da vontade do

coator.

- Ex. segurar pulso – faca (leg.).

- Ass. Doc.

- enfermeiro

- Diversa é a situação, contudo, se se tratar de coação moral.

- Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou intimidação,

feita através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do

fato criminoso. O coagido poderá optar.

- No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é culpável, emface da inexigibilidade de conduta diversa.

- Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não se há

falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte (causa de exclusão

da culpabilidade).

Coação irresistível e obediência hierárquica

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, nãomanifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

Ex. gerente

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b) Movimentos reflexos

- São atos reflexos, puramente somáticos, aqueles em que o movimento corpóreo ou

sua ausência é determinado por estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso.

- Nestes casos, o estímulo exterior é recebido pelos centros sensores, que o

transmitem diretamente aos centros motores, sem intervenção da vontade, comoocorre, por exemplo, em um ataque epilético (ex...).

- Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras,

secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano (ex.

tosse, espirro, etc.).

- No contexto dos movimentos reflexos, é preciso distinguir tais movimentos dasações semi-automáticas, pois estas são penalmente relevantes, uma vez que

resultam de um processo de formação da vontade, originalmente existente, que se

concentrou no subconsciente através da prática.

- Nestes casos, o ato pode ser controlado pela atenção, o que basta para que seja

considerado conduta tipicamente relevante.

- Ex. vespa – motorista picado

- rodear – conduta semi-automática

- De outro lado, os movimentos reflexos não se confundem com os atos em curto-

circuito.

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- Os atos em curto-circuito são as reações primitivas do ser humano, nas quais existe

um estímulo externo, não registrando totalmente a presença de uma personalidade

desenvolvida, surgindo, à superfície, de improviso, ações momentâneas e impulsivas

ou mecanismos anímicos profundos, bem como reações explosivas.

- Ex. reações explosivas que se seguem ao encarceramento, estados de embriaguez

patológica, estados crepusculares afetivos. Nestes casos, existe vontade, ainda quede maneira fugaz. Há um querer, ainda que primitivo, razão pela qual não se exclui a

conduta.

c) Estados de inconsciência

- Consciência “é o resultado da atividade das funções mentais. Não se trata de uma

faculdade do psiquismo humano, mas do resultado do funcionamento de todas elas”.

- Quando essas funções mentais não funcionam adequadamente se diz que há estado

de inconsciência, que é incompatível com a vontade, e sem vontade não há ação.

- A doutrina tem catalogado como exemplos de estados de inconsciência a hipnose, o

sonambulismo a narcolepsia.

- O sonambulismo é a doença de quem age ou fala durante o sono, tornando seus

sentidos obtusos. Trata-se de um sono patológico, quando o enfermo nem percebe

estar dormindo, embora mantenha a sua atividade locomotora.

- Ex. vaso

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- A hipnose é um estado mental semelhante ao sono, provocado artificialmente por

alguém, levando o hipnotizado a agir como se fosse um autômato, obedecendo

ordens e comandos.

- A narcolepsia  é outra doença que provoca acessos repentinos de sono,

transportando o enfermo a um estado de irrealidade, permitindo-lhe, no entanto,

continuar a ter movimentos e relações com o meio ambiente.

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 Aula 2

 A) CONCEITO MATERIAL

- Sob o ponto de vista material, o conceito de crime visa aos bens jurídicos

protegidos pela lei penal. Dessa forma, crime nada mais é do que a violação de um

bem penalmente protegido.

B) CONCEITO ANALÍTICO

-Trata-se de um fato típico, antijurídico e culpável.

1.2) DO FATO TÍPICO

1.2.1) Conceito

- É o fato que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato que se

enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contidos na lei penal.

1.2.2) Elementos do fato típico

a) a conduta

b) o resultado

c) o nexo de causalidade

d) a tipicidade

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- Faltando um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um

indiferente penal. É um fato atípico.

1.3) CONDUTA

 A) Conceito

- CONDUTA é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada

finalidade.

B) Características:

a) A conduta se refere ao comportamento do homem, não dos animais irracionais.

b) Só as condutas corporais externas constituem ações. O Direito Penal não se ocupa

da atividade puramente psíquica.

c) A conduta humana só tem importância para o Direito Penal quando voluntária.

d) O comportamento consiste num movimento ou abstenção de movimento corporal.

C) Os elementos são:

a) um ato de vontade, dirigido a uma finalidade;

- Este elemento abrange: a) O objetivo pretendido pelo sujeito; b) os meios usados

na execução; c) as conseqüências secundárias da prática

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b) atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo exterior (manifestação da

vontade por meio de um fazer ou não fazer).

- conduta x ato.

1.3.2) TEORIAS DA CONDUTA (OU DA AÇÃO)

 A) Teoria naturalista ou causal da ação

- Esta teoria conceitua a conduta como um comportamento humano voluntário no

mundo exterior, consistente num fazer ou não fazer, sendo estranha a qualquer

valoração.

B) Teoria social da ação

- Para essa teoria, ação é a realização de um resultado sociamente relevante,

questionado pelos requisitos do Direito e não pelas leis da natureza.

C) TEORIA FINALISTA DA AÇÃO

- Para a teoria finalista, a ação é uma atividade final humana. É, portanto, umacontecimento finalista, e não somente causal.

1.3.3) AUSÊNCIA DE CONDUTA

- Para a caracterização da conduta, sob qualquer prisma, é indispensável a existência

do binômio vontade e consciência.

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- Há ausência de ação, segundo a doutrina dominante, em três grupos de caso:

a) Coação física irresistível (“vis absoluta”)

b) Movimentos reflexos

- No contexto dos movimentos reflexos, é preciso distinguir tais movimentos dasações semi-automáticas.

c) Estados de inconsciência

- A doutrina tem catalogado como exemplos de estados de inconsciência a hipnose, o

sonambulismo a narcolepsia.

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2.1) SUJEITOS DO CRIME

2.1.1) SUJEITO ATIVO

- É a pessoa que pratica a conduta descrita pelo tipo penal. É quem pratica o fato

descrito na norma penal incriminadora.

- O CP e o CPP empregam várias denominações para expressar o sujeito ativo do

delito.

- No direito material usa o legislador a expressão “agente” nos arts. 14, II; 15; 18, I

e II; 19; 20, § 3º; 21, parágrafo único; 23, caput   e parágrafo único; 26, caput   e

parágrafo único, etc.

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

Tentativa 

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontadedo agente.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz 

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que oresultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime doloso 

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

Crime culposo 

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II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ouimperícia.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previstocomo crime, senão quando o pratica dolosamente.

- Na fase do inquérito policial recebe o sujeito ativo a denominação de “indiciado”. É

o que se vê nos arts. 5, § 1º, “b”; 6º, V, VIII e IX; 10, caput e seu § 3º; 14; 15 e 21

do CPP.

Art. 5o  Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: § 1o  O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível: b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou depresunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,

ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executara ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. 

- Durante o processo recebe o nome de acusado, denunciado ou réu. Usam as

expressões acusado ou réu os arts. 185; 260; 261, do CPP, etc.

Art. 185. O acusado  que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,

será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.

Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer

outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua

presença.

- O que já sofreu sentença condenatória é chamado sentenciado, preso, condenado,

recluso e detento.

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- Sob o ponto de vista biopsíquico, recebe o nome de criminoso ou delinqüente.

- Só o homem possui capacidade para delinqüir. Animais e coisas não podem ser

sujeitos ativos do crime, pois lhe falta o elemento vontade.

 A) PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO DO CRIME

- Várias teorias se propuseram à solução da questão envolvendo a possibilidade de a

pessoa jurídica ser sujeito ativo de crime. Dentre elas, são apontadas a teoria da

ficção e a teoria da realidade.

I) TEORIA DA FICÇÃO:

- Para esta corrente, a pessoa jurídica tem existência fictícia, irreal ou de puraabstração, carecendo de vontade.

- Falta-lhe consciência, vontade e finalidade, requisitos imprescindíveis para a

configuração do fato típico, bem como imputabilidade e possibilidade de

conhecimento do injusto, necessários para a culpabilidade, de maneira que não há

como admitir que seja capaz de delinqüir e de responder por seus atos.

- Portanto, amparada no brocardo romano societas delinquere non potest  (a pessoa

 jurídica não pode cometer delitos), tem como principais argumentos:

a) ausência de consciência, vontade e finalidade:

- conduta = consciência + vontade

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b) ausência de culpabilidade:

- entender e querer

c) ausência de capacidade de pena (princípio da personalidade da pena):

- a pena deve recair sobre o autor do delito e não sobre todos os membros dacorporação.

d) ausência de justificativa para a imposição da pena

- prevenção e retribuição.

e) A Constituição Federal não autoriza expressamente a responsabilidade penal da pessoa jurídica, e os dispositivos porventura citados – arts. 173, § 5º, e 225, § 3º -

são meramente declaratórios.

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividadeeconômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacionalou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica,estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos

atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum dopovo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever dedefendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão osinfratores, PESSOAS FÍSICAS OU JURÍDICAS, A SANÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS,independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

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II) TEORIA DA REALIDADE OU DA PERSONALIDADE REAL

- É também chamada teoria organicista.

- Para essa teoria, a pessoa jurídica é um ser real, um verdadeiro organismo, tendo

vontade que não é, simplesmente, a soma das vontades dos associados, nem o

querer dos administradores.

- Assim, pode a pessoa jurídica delinqüir, pois é uma realidade, que tem vontade e

capacidade de deliberação, devendo-se, então, reconhecer-lhe a capacidade criminal.

- A CF/88 se filiou à segunda posição, tendo disposto, em seu artigo 225, § 3º, que

“as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas  ,independentemente da obrigação de reparar os danos causados” .

- Os argumentos para a responsabilidade da pessoa jurídica são:

a) a pessoa jurídica pode ser responsável pelos seus atos, devendo o juízo

de culpabilidade ser adaptado às suas características:

- Exigibilidade conduta diversa.

b) a pena não ultrapassa a pessoa da empresa, o que tem havido é uma

confusão entre a pena e suas conseqüências indiretas sobre terceiros:

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- Considerando que é dever do Estado proteger o bem jurídico, bem como que há

necessidade de o Direito Penal modernizar-se, acompanhando as novas formas de

criminalidade, nossa CF, em seus arts. 225, § 3º, e 173, § 5º, previu a

responsabilização da pessoa jurídica em todas as esferas do direito por atos

cometidos contra a ordem econômica e financeira e contra o meio ambiente.

- Se foi vontade do constituinte e do legislador proteger bens jurídicos relevantes,tais como o meio ambiente e a ordem econômica, contra agressões praticadas por

entidades coletivas, não há como negar tal possibilidade.

- Art. 3º da Lei 9.605/98

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o

disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal

ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. 

EMENTA:  EMBARGOS INFRINGENTES. CRIME  AMBIENTAL.RESPONSABLIZAÇÃO PENAL DA PESSOA  JURÍDICA. ART. 60 DA LEI Nº9.605/98. 1. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, § 3º, determinaexpressamente que a pessoa  jurídica  está sujeita às sanções penais quandopraticar condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Da mesma forma, preceituao art. 3º da Lei nº 9.605/98, assim não aceitar a responsabilização da pessoa jurídica é negar cumprimento à Carta Magna e à lei. 2. A conduta dos agentes deinstalar e fazer funcionar serviço potencialmente poluidor, para implantação de

loteamento irregular, sem licença dos órgãos competentes e em desacordo com asnormas pertinentes, caracteriza plenamente o delito previsto no art. 60 da Lei nº9.605/98. 3. Embargos Infringentes rejeitados. (Embargos Infringentes Nº70013592357, Segundo Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS,Relator: José Eugênio Tedesco, Julgado em 10/03/2006) 

EMENTA:  APELAÇÃO. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE.RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA DETERMINADA PELACONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, EM SEU ART. 225, § 3º. Preliminar deilegitimidade passiva afastada. LIXO HOSPITALAR. Armazenamento de substâncias

tóxicas, perigosas e nocivas à saúde humana e ao meio ambiente, em desacordo

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com as exigências legais. Delito previsto no art. 56, caput, da Lei nº 9.605/98configurado. Resíduos de serviços de saúde deixados em contato com o solo,queimando em local freqüentado por pessoas e animais, em desacordo com alegislação, gerando gases poluentes. Incidência do art. 54, § 2º, inciso V do mesmodiploma legal. Condenação mantida. Apelo improvido. Unânime. (Apelação Crime Nº70015164676, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: AristidesPedroso de Albuquerque Neto, Julgado em 08/06/2006)- Wambass Transportes Ltda. – ME, foi condenada, por incursa no art. 54, § 2º,

inciso V, da Lei n° 9.605/98, à pena de multa fixada em 150 dias-multa, à razão de

1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos, e suspensão dos serviços da

empresa de recolhimento de resíduos de serviços hospitalares pelo prazo de 02 anos

e 04 meses. Para o delito previsto no art. 56, caput , da referida lei, foi aplicada à

pena de suspensão dos serviços da empresa. Reconhecido o concurso formal, a

empresa ré restou condenada à suspensão dos serviços de recolhimento de

resíduos de serviços hospitalares pelo prazo de 02 anos, 08 meses e 20 dias,

remanescendo a multa fixada (fls. 364/382). 

PENAL. CRIME  AMBIENTAL. RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA.POSSIBILIDADE. DELITO DO ART. 60 DA LEI Nº 9.605/1998. PRESCRIÇÃO DAPRETENSÃO PUNITIVA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. RECURSO PREJUDICADO. 1."Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica  em crimes ambientais desdeque haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa  física que atua em seunome ou em seu benefício, uma vez que não se pode compreender a responsabilização doente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivopróprio." (REsp nº 889.528/SC, Relator o Ministro Felix Fischer, DJU de 18/6/2007)2. Sendo de 6 meses de detenção a pena máxima cominada ao crime previsto no art. 60da Lei nº 9.605/1998, com relação à empresa Castilho Prestação de Serviços Ltda,constata-se que já decorreram mais de dois anos desde a data do fato incriminado sem

que fosse recebida a inicial acusatória, e, quanto a Luis Vanderlei de Castilhos, otranscurso de mais de dois anos desde o recebimento da denúncia, operando-se, emambos os casos, a prescrição da pretensão punitiva, nos termos do art. 109, inciso VI, doCódigo Penal, uma vez que não ocorreu qualquer causa interruptiva desde então. 3.Recurso especial parcialmente provido. (RECURSO ESPECIAL 2006/0089145-1, SuperiorTribunal de Justiça, Sexta Turma, Rel. Min. Paulo Galotti, julgado em 08.04.2008).

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2.1.2) SUJEITO PASSIVO

 A) Conceito

- É o titular do bem jurídico protegido pelo tipo penal incriminador, que foi violado.

B) ESPÉCIES

- aspecto formal – suj. passivo pela simples violação da norma penal.

- aspecto material – suj passivo que sofre a lesão a um bem penalmente tutelado.

- Existem duas espécies de sujeito passivo:

a) Sujeito passivo constante, geral ou formal: Sempre o Estado.- desob.

b) Sujeito passivo eventual, particular ou material: é o titular do interesse

penalmente protegido.

C) A QUESTÃO DO INCAPAZ, DA PESSOA JURÍDICA, DO MORTO, DO FETO E

DOS ANIMAIS

- O incapaz pode ser sujeito passivo do delito, porque é titular de direito, como a

vida, a integridade física etc.

Infanticídio 

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logoapós:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

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Abandono intelectual 

Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

- A pessoa jurídica  pode ser sujeito passivo, desde que, por óbvio, a descrição

típica não pressuponha uma pessoa física (homicídio).

-  A pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo de calúnia e injúria, pois não

pode ser sujeito ativo do crime (o que a calúnia pressupõe) nem possui honra

subjetiva (objeto jurídico da injúria), podendo ser vítima de difamação em face

de possuir, inegavelmente, reputação, boa fama (honra objetiva).

Calúnia 

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

- De ver-se, contudo, que a pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia em

relação aos delitos ambientais, diante da possibilidade da responsabilidade penal

da pessoa jurídica.

Injúria 

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Difamação 

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

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- O homem morto  não pode ser sujeito passivo, pois não é titular de direitos,

podendo ser objeto material do delito.

Calúnia 

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Destruição, subtração ou ocultação de cadáver 

Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Vilipêndio a cadáver 

Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

- O homem pode ser sujeito passivo mesmo antes de nascer, pois feto pode ser

sujeito passivo, pois tem direito à vida, sendo esta protegida pela punição do

aborto.

- Os animais podem ser objeto material do delito, mas não sujeitos passivos. Emcaso de lesão a animais ou coisas, os sujeitos passivos são os proprietários (furto,

dano).

- Não é possível o sujeito ativo ser ao mesmo tempo sujeito passivo de

algum crime em face da sua própria conduta. Ex. no auto-aborto (CP, art. 124),

a gestante é sujeito ativo; o feto, o passivo. Ela não é também sujeito passivo do

crime porque não se pune a autolesão.

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Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de um a três anos.

Estelionato 

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo oumantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro 

V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde,ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor deseguro;

- Entretanto, é possível haver, no mesmo crime, uma pessoa que seja tanto sujeito

ativo quanto passivo, como ocorre na rixa.

Rixa 

Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:

Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.

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2.2) DA OMISSÃO E SUAS FORMAS

2.2.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS – CONCEITO

- Ao lado da ação, a omissão aparece como uma forma independente de conduta

humana, suscetível de ser regida pela vontade dirigida para um fim.

- Configura-se crime omissivo quando o agente não faz o que pode e deve fazer, que

lhe é juridicamente ordenado (não faz o que a norma mandamental impõe).

2.2.2) TEORIAS DA OMISSÃO

 A) Naturalística

- Para esta teoria, a omissão é um fenômeno causal, que pode ser claramente

percebido no mundo dos fatos, já que, em vez de ser considerada uma

inatividade (não fazer), caracteriza-se como verdadeira espécie de ação. Constitui,

portanto, um “fazer”, ou seja, um comportamento positivo: quem se omite faz

alguma coisa.

- Se a omissão é considerada como ação, então tem relevância causal, ou seja,aquele que omite também dá causa ao resultado e por ele deve responder.

- Esta teoria recebeu críticas, em face do erro de supor que a modificação do mundo

exterior (resultado) é provocada também pelo comportamento omissivo.

- De fato, a omissão não interfere dentro do processo causal, pois quem se omite não

faz absolutamente nada, e por conseguinte, não pode causar coisa alguma. Em

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outras palavras, dentro da lei da causa e efeito, a inatividade não pode ser

provocadora de nenhum resultado.

Ex: pedestre presenciar atropel.

Omissão de socorro 

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criançaabandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente

perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal denatureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

B) Normativa

- É a teoria adotada pelo Código Penal.

- Para a teoria normativa, a omissão é um nada, logo, não pode causar coisa alguma.

Quem se omite nada faz, portanto, nada causa. Assim, o omitente não deve

responder pelo resultado, pois não o provocou.

- Excepcionalmente, embora não se possa estabelecer nexo causal entre omissão e

resultado, essa teoria admite que aquele que se omitiu seja responsabilizado pela

ocorrência. Para tanto, há necessidade de que esteja presente o chamado

 “dever jurídico de agir” .

- Daí o nome da teoria normativa: para que a omissão tenha relevância causal (por

presunção legal), há necessidade de uma norma impondo, na hipótese

concreta, o dever jurídico de agir. Só aí pode-se falar em responsabilização do

omitente pelo resultado.

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- Assim, a omissão, por si mesma, não tem relevância jurídica. O que lhe dá esse

atributo é a norma, que impõe um determinado comportamento. A omissão surge

para o direito quando se constata que a conduta exigida pela norma não foi

realizada pelo sujeito, que deixou de observar o dever jurídico de agir. Art. 13, §

2º.

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhedeu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

(...)

Relevância da omissão

2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar oresultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

2.2.3) CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS

- São os que se perfazem com a simples conduta negativa do sujeito,

independentemente da produção de qualquer conseqüência posterior. A

norma que os contém, ao invés de uma mandamento negativo (não furtarás, p. ex.),

determina um comportamento positivo.

- Então, o crime consiste em o sujeito amoldar a sua conduta à descrição legal por

ter deixado de observar o mandamento proibitivo determinado pela norma. Ele não

cumpre o dever de agir contido implicitamente na norma incriminadora.

- Ex.

Omissão de socorro 

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Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criançaabandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminenteperigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal denatureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

- Nos crimes omissivos basta a abstenção, é suficiente a desobediência ao dever de

agir para que o delito se consume. A OBRIGAÇÃO DO AGENTE É DE AGIR E NÃO

DE EVITAR O RESULTADO. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão

será irrelevante para a consumação do crime, podendo apenas configurar uma

majorante ou uma qualificadora.

- Ex:

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança

abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminenteperigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal denatureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

- Os crimes omissivos próprios são obrigatoriamente previstos em tipos penais

específicos, em obediência ao princípio da reserva legal, dos quais são exemplos

típicos os previstos nos arts. 135, 244, 257 (“ocultar”), 269, 299 (“omitir”), 305, 319e 356 (“deixar”).

Abandono material 

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta)anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensãoalimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrerdescendente ou ascendente, gravemente enfermo:

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Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior saláriomínimo vigente no País.

Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento 

Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outrodesastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate aoperigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Omissão de notificação de doença 

Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação écompulsória:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Prevaricação 

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contradisposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

2.2.4) CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO

- Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a obrigação de

agir, mas a OBRIGAÇÃO DE AGIR PARA EVITAR UM RESULTADO, isto é, deve

agir com a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimescomissivos por omissão há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de

resultado.

- Esses sujeitos que têm a obrigação de agir para evitar um resultado são chamados

de garantidores, que devem prevenir, ajudar, instruir, defender e proteger o bem

tutelado ameaçado. São a garantia de que um resultado lesivo não ocorrerá, pondo

em risco ou lesando um interesse tutelado pelo Direito.

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- O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o agente assume a

condição de garantidor.

- De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é

preciso que tenha o dever jurídico de impedir o resultado, previsto no

artigo 13, § 2º:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhedeu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

(...)

Relevância da omissão

2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar oresultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

 A) PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS DO CRIME OMISSIVO

I) Poder agir:

- O poder agir é um pressuposto básico de todo comportamento humano. Tambémna omissão, evidentemente, é necessário que o sujeito tenha a possibilidade física de

agir, para que se possa afirmar que não agiu voluntariamente.

- dever de agir + poder agir.

- coação.

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II) Evitabilidade do resultado:

- Ainda que o omitente tivesse a possibilidade de agir, fazendo-se um juízo hipotético

de eliminação, imaginando-se que a conduta devida foi realizada, é preciso verificar

se o resultado teria ocorrido ou não.

- Se a realização da conduta devida impede o resultado, considera-se a sua omissãocausa desse resultado. No entanto, se a realização da conduta devida não tivesse

impedido a ocorrência do resultado, que, a despeito da ação do agente, ainda assim

se verificasse, deve-se concluir que a omissão não deu “causa” a tal resultado.

III) Dever de impedir o resultado

- Mas, se o agente podia agir e se o resultado desapareceria com a conduta omitida,ainda assim não se pode imputar o resultado ao sujeito que se absteve. É necessária

uma terceira condição, ou seja, é preciso que o sujeito tivesse o dever de

evitar o resultado, isto é, o especial dever de evitá-lo ou, em outros termos, que

ele fosse garantidor da sua não-ocorrência.

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2.2.5) FONTES ORIGINÁRIAS DA POSIÇÃO DE GARANTIDOR

- O Código Penal, ao regular a figura do garantidor, determina que o dever de agir,

para evitar o resultado, incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado,

proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o

resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do

resultado (art. 13, § 2º).

Relação de causalidade 

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhedeu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Relevância da omissão 

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente DEVIA E PODIA AGIR para evitaro resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

- É um dever legal, decorrente de lei, aliás, o próprio texto legal o diz. Dever esse

que aparece numa série de situações, como, por exemplo, o dever de assistência que

se devem mutuamente os cônjuges, que devem os pais aos filhos, etc..

- Nesses casos, se o sujeito, em virtude de sua abstenção, descumprindo o dever de

agir, não obstruir o processo causal que se desenrola diante dele (não buscar evitar o

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resultado), digamos assim, é considerado, pelo Direito Penal, como se o tivesse

causado.

- Ex1: mãe – inanição

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

I - dirigir-lhes a criação e educação;

II - tê-los em sua companhia e guarda;

III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhesobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essaidade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade econdição.

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

I - fidelidade recíproca;

II - vida em comum, no domicílio conjugal;

III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

V - respeito e consideração mútuos.

- mãe – resíduos e mucosidades (infanticídio ou homicídio)

- esposa

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

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I - fidelidade recíproca;

II - vida em comum, no domicílio conjugal;

III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

V - respeito e consideração mútuos.

b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

- A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor

pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O

importante é que o sujeito se coloque em posição de garante da não-

ocorrência do resultado, haja contrato ou não, como nas hipóteses em que

voluntariamente assume encargo sem mandato ou função tutelar.

- Ex. vizinha – filho

- médico de plantão

- médico plantonista – inimigo

- enfermeira – gestante c/ dificuldade de retenção do nascituro

Aborto provocado por terceiro 

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de três a dez anos.

- engenheiro - defeito

- Portanto, nesta segunda hipótese, a obrigação de atuar provém de contrato

celebrado pelo omitente, no qual aceitara o dever, ou do exercício de sua

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atividade profissional, independentemente desta lastrear-se ou não em relação

funcional de natureza pública.

c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

- Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo

para bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o

risco, fica obrigado a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano

ou lesão.

- Não importa que o tenha feito voluntariamente ou involuntariamente, dolosa ouculposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de

risco ou agravou uma situação já existente.

- Ex. exímio nadador

- remédio – criança

- gerente – fecha banco

- companheiros – cigarro – feno- pescaria - lama

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2.3) RESULTADO

2.3.1) CONCEITO

- - É também utilizada a expressão “evento”.

- É a modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humanovoluntário.

- Ex. No caso do homicídio, temos o comportamento (ação de desferir facadas) e a

modificação do mundo exterior, que constitui o resultado (morte da vítima).

- o resultado pode apresentar-se sob diversas formas: Pode ser físico  (como a

destruição de um objeto no crime de dano - art. 163 -); fisiológico (como a mortede um homem no homicídio – art. 121 -); ou psicológico (como a percepção de

uma expressão ofensiva por parte de uma pessoa na injúria e na difamação (arts.

140 e 139).

2.3.2) TEORIAS: RESULTADO NATURALÍSTICO E RESULTADO JURÍDICO

 A) Resultado Naturalístico

- Segundo a concepção naturalística, resultado é a modificação do mundo

externo causada por um comportamento humano.

......

......

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- Ex. homicídio – dano

- lesão corporal

- furto

B) Resultado Jurídico

- De acordo com a concepção jurídica ou normativa, o resultado da conduta é alesão ou perigo de lesão de um interesse protegido pela norma penal.

- De fato, há ações que não necessitam, obrigatoriamente, da produção de qualquer

conseqüência no mundo realístico, podendo, pois, ser perfeitamente compreendidos

sem a verificação de qualquer efeito, exaurindo-se, dessa maneira, em si mesmas, no

próprio comportamento.

- São ações dotadas de autonomia, independência e auto-suficiência. Assim, diante

de uma ação desta natureza, sua simples realização ensejará plena adequação

típica ao fato praticado, que se realizará, em toda sua inteireza, quer se verifique

ou não qualquer conseqüência.

- Ex.

- Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízoarbitral:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Quadrilha ou bando 

Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometercrimes:

Pena - reclusão, de um a três anos.

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Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

Violação de domicílio 

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressaou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

- Dessarte, fala-se em resultado jurídico como sendo a ofensa ao bem jurídicopenalmente tutelado ou como a conseqüência produzida pela ação no plano do

ordenamento jurídico.

- Esse resultado constitui parte integrante de toda e qualquer figura típica, inclusive

da pertinente aos delitos cujo elemento nuclear (ação), por sua própria índole, não

pressupõe a produção imprescindível de qualquer efeito exterior.

2.3.3) HÁ CRIME SEM RESULTADO?

- De acordo com os naturalistas há crime sem resultado.

- Afirmam que o resultado não se confunde com a ofensa ao interesse tutelado pela

norma, há delitos em que o comportamento do sujeito não produz uma modificação

no mundo externo, como os de mera conduta, nos quais o tipo só faz referência aocomportamento, não descrevendo qualquer efeito da ação.

- Assim, todo crime produz lesão ou perigo de lesão de um bem jurídico, mas há

alguns que não possuem resultado.

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- Para os partidários da teoria do resultado jurídico, todo crime possui resultado,

mesmo os de mera conduta, havendo nestes uma coincidência temporal e espacial

entre a ação e o evento.

- É que a lei penal, ao incriminar determinado comportamento anti-social, sempre

visa a proteger e preservar algum bem, qualquer que seja a espécie do delito que

inscreva em seu rol incriminador.

Ex.

Homicídio simples 

Art 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Dois resultados:- Resultado jurídico: ofensa ao bem protegido

- resultado naturalístico: morte

Dano 

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

- Resultado jurídico: dano ao patrimônio alheio.- Resultado naturalístico: próprio dano.

Falso testemunho ou falsa perícia 

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízoarbitral:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

- Só resultado jurídico: ofensa à administração da justiça.

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- Em suma, não há crime sem resultado jurídico. Porém, delitos há que não

apresentam o naturalístico, unicamente o tendo aqueles cuja ação, por sua própria

índole, não possa ser entendida sem a produção de conseqüência que lhe é inerente,

no plano fenomênico.

2.3.4) CRIMES MATERIAIS, CRIMES FORMAIS E CRIMES DE MERACONDUTA

 A) Crimes materiais

- Materiais são os crimes de resultado naturalístico, tipológico. Vale dizer: são aqueles

que, em sua estruturação, compreendem e pressupõem conduta e evento,

exsurgindo este como exteriorização necessária daquela.

- O tipo menciona a conduta e o resultado, exigindo a sua produção para

consumação.

Ex. Hom., infant...

B) Crimes Formais

- No crime formal o tipo menciona o comportamento e o resultado, mas não exige

a sua produção para a consumação.

- Em se tratando de delito formal, a própria estrutura típica que o consagrou tornou

irrelevante a verificação do resultado colimado, pois a impaciência legislativa

antecipou a tipicidade – e assim a antecipação do crime – à efetivação da simples

ação incriminada.

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- Exs:

Extorsão 

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obterpara si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazeralguma coisa:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-sea pena de um terço até metade.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

Quadrilha ou bando 

Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometercrimes:

Pena - reclusão, de um a três anos.

Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

Concussão 

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ouantes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Corrupção ativa 

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo apraticar, omitir ou retardar ato de ofício:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, ofuncionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

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Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízoarbitral:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

C) Crimes de mera conduta:

- No crime de mera conduta o legislador só descreve o comportamento  do

agente. São crimes sem resultado naturalístico.

- Nos crimes de mera conduta a intenção do sujeito se esgota e exaure na

própria ação,  não havendo de buscar ou procurar, conseqüentemente, qualquer

modificação exterior peculiar como decorrência do comportamento. A vontade do

agente, nestes crimes, adstringe-se e fica limitada unicamente à ação: não vai além.

- Assim, se examinarmos os ilícitos insculpidos nos artigos 150 (violação de

domicílio), 304 (uso de documento falso) e 330 (desobediência) todos do Código

Penal, constataremos que os crimes se aperfeiçoam e consumam com a simples ação

incriminada, não perseguindo o agente qualquer efeito peculiar com seu

comportamento. Qualquer conseqüência intentada com a conduta despontará causal

e acidental.

Violação de domicílio 

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressaou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Uso de documento falso 

Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts.

297 a 302:

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Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

Desobediência 

Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:

Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

2.3.5) CRIMES INSTANTÂNEOS E CRIMES PERMANENTES

 A) Crimes instantâneos

- Denominam-se instantâneos os crimes quando a plenitude de sua tipicidade ou

consumação de pronto se verifica, assim que no fato se agregue seu último

elemento descritivo ou constitutivo, sem que projete seus efeitos de consumação ao

longo do tempo.

- Ex. art. 121

b) Crimes permanentes

- Permanentes são os delitos nos quais, atingindo o bem jurídico pelo comportamento

delituoso do sujeito ativo, verifica-se a projeção desse estado de lesão ao direito no

decorrer do tempo, protraindo o crime seu momento consumativo, que, dessa forma,

persiste, persevera e permanece após a ação e integração da figura típica.

- Seqüestro e cárcere privado 

Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:

Pena - reclusão, de um a três anos.

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 Aula 3 – 22.08.2008

3.1) DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputávela quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultadonão teria ocorrido.

Superveniência de causa independente

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputaçãoquando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se aquem os praticou.

Relevância da omissão:

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agirpara evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

3.1.1) INTRODUÇÃO

- O terceiro elemento do fato típico é o nexo de causalidade entre o comportamento

humano e a modificação do mundo exterior (resultado). Cuida-se de estabelecer

quando o resultado é imputável ao sujeito, sem atinência à ilicitude do fato ou àreprovação social que ele mereça (culpabilidade).

- Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo

ou liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime.

- O que deve ser considerado, agora, é qual ação e resultado permitem a incidência

do nexo de causalidade.

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- Nesse sentido, a relação causal somente pode estabelecer-se, em primeiro lugar,

com relação ao comportamento humano que, como conduta, denote importância e

relevância para o Direito Penal.

- Inexiste ação relevante ao Direito Penal se ela não se compuser com os

pressupostos da vontade + atuação.

-   Verificada a existência de ação, que reúna a qualificação típica, insta perquirir-

se do resultado a que deve ser vinculada e associada.

- E, neste sentido, é evidente que a ação estabelece nexo causal com o resultado

naturalístico.

- De fato, não existe relação de causalidade nos crimes formais e de mera conduta,chamados de mera atividade, uma vez que prescindem da produção de qualquer

resultado no plano fenomênico para a sua configuração jurídica.

- Assim, em verdade, a relação de causalidade somente tem real importância no

cenário de crimes materiais, isto é, aqueles que necessariamente relacionam a

conduta a um resultado concreto, previsto no tipo.

- Constatada a existência de ação típica e do efeito que deve figurar como seu

resultado naturalístico, imperioso é que se cuide, ato contínuo, de estabelecer o nexo

causal entre ambos, verificando-se se a conseqüência exteriorizada no plano fático

proveio mesmo da conduta realizada ou se, por qualquer razão, houve a interferência

de circunstância que as desvinculasse e separasse.

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3.1.2) TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA

- Para esta teoria, um determinado evento somente será produto da ação humana

quando esta tiver sido apta e idônea a gerar o resultado.

- Em outras palavras, ainda que contribuindo de qualquer modo para a produção do

resultado, um fato pode não ser considerado sua causa quando, isoladamente, nãotiver idoneidade para tanto. São necessários, portanto: contribuição efetiva e

idoneidade individual mínima.

- Considera-se que somente pode ser causa a conduta que, isoladamente, tenha

probabilidade mínima para provocar o resultado. Se entre o comportamento do

agente e o evento houver uma relação estatisticamente improvável, aquele não será

considerado causa deste.

3.1.3) TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS

-  Em relação ao nexo de causalidade, o CP adotou a teoria da equivalência dos

antecedentes causais. Reza o artigo 13, caput , 2ª parte, que é considerada causa a

ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputávela quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual oresultado não teria ocorrido.

- Atribui relevância causal a todos os antecedentes do resultado, considerando que

nenhum elemento, de que depende a sua produção, pode ser excluído da linha de

desdobramento causal.

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- Para esta teoria, toda e qualquer conduta que, de algum modo, ainda que

minimamente, tiver contribuído para a produção do resultado deve ser considerada

sua causa.

- Todas as causas concorrentes para o resultado se põem no mesmo nível de

importância, equivalendo-se no seu valor. Basta, dessarte, que a ação seja uma das

condições, entre todas, sem a qual o resultado não teria ocorrido.

- Para se saber se uma ação é causa do resultado basta, mentalmente, excluí-la da

série causal. Se com sua exclusão o resultado teria deixado de ocorrer, é causa. É o

denominado procedimento hipotético de eliminação de Thyrén, segundo o

qual a mente humana julga que um fenômeno é condição de outro toda vez que,

suprimindo-o mentalmente, resulta impossível conceber o segundo fenômeno.

- Ex. suponha-se que “A” tenha matado “B”. A conduta típica do homicídio possui

uma série de fatos, alguns antecedentes, dentre os quais podem ocorrer os

seguintes: 1º) produção do revólver pela indústria; 2º) aquisição da arma pelo

comerciante; 3º) compra do revólver pelo agente; 4º) refeição tomada pelo

homicida; 5º) emboscada; 6º) disparo de projeteis na vítima; 7º) resultado morte.

Dentro dessa cadeia de fatos, excluindo-se os fatos sob números 1º a 3º, 5º e 6º, o

resultado não teria ocorrido. Logo, são considerados causa. Excluindo-se o fato sob onúmero 4º (refeição), ainda assim o evento teria acontecido. Logo, a refeição tomada

pelo sujeito não é considerada causa.

- Em outras palavras, se suprimirmos mentalmente a ação e o resultado permanecer,

será porque este ocorreria ainda que não tivesse sido realizada a conduta. Dessa

forma, não haverá relação de causalidade no episódio, atribuindo-se ao delinqüente a

simples responsabilidade penal pelos atos anteriores em razão da ocorrência de

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causa absolutamente independente, ou seja, de condição com plena autonomia no

contexto.

- Ao contrário, se supusermos a inexistência da ação e fizermos a sua supressão nos

domínios mentais, desaparecendo em conseqüência o resultado, haverá nexo de

causalidade, sendo feita a imputação. Isso porque sem a conduta inexistiria o evento,

de sorte que, entre ambos, há vínculo ou liame de causa e efeito.

- Este procedimento hipotético de eliminação precisa ser bem compreendido. O

importante é fixar que excluído determinado acontecimento o resultado não teria

ocorrido “COMO OCORREU”.

- Diante da teoria da equivalência dos antecedentes, uma pergunta se impõe: não

poderia haver uma responsabilização muito ampla, à medida que são alcançadostodos os fatos anteriores ao crime? Os pais não poderiam responder pelos crimes

praticados pelo filho? Afinal, sem aqueles, este não existiria e, não existindo, jamais

poderia ter praticado o crime. Nessa linha de raciocínio, não se chegaria a uma

regressão em infinito?

- Por isso, procurou-se limitar o alcance dessa teoria, utilizando-se outros institutos,

como, por exemplo, a localização do dolo e da culpa no tipo penal, as concausasabsolutamente independentes, além da superveniência de causas relativamente

independentes.

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3.1.4) APLICAÇÃO DA TEORIA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES

CAUSAIS

- É evidente que, determinando o art. 13 que o resultado, de que depende a

existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa, a relação de

causalidade só tem aplicação aos tipos de crimes que exigem a produção do

resultado. Desse modo:

a)  nos crimes omissivos próprios: não há nexo causal, pois inexiste resultado

naturalístico;

b)  nos crimes de mera conduta: pelo mesmo motivo, não há nexo causal;

c)  nos crimes formais: o nexo causal não importa para o Direito Penal, já que o

resultado naturalístico é irrelevante para a consumação típica;

d)  nos crimes materiais: há nexo de causalidade, em face da existência doresultado naturalístico;

e)  nos crimes omissivos impróprios: não há nexo causal físico, pois a omissão é

um nada e o nada não causa coisa nenhuma. Entretanto, para fins de

responsabilização penal, por uma ficção jurídica, a lei considera existir um elo entre o

omitente e o resultado naturalístico sempre que estiver presente o dever de agir, de

modo que, havendo dolo ou culpa, responderá pelo evento.

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3.1.5) LIMITAÇÕES DO ALCANCE DA TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS

 ANTECEDENTES CAUSAIS

 A) LOCALIZAÇÃO DO DOLO E DA CULPA NO TIPO PENAL

- Com a consagração da teoria finalista da ação, situando o dolo ou, quando for o

caso, a culpa, no tipo penal, já se estabelece um primeiro limite à teoria daequivalência dos antecedentes.

- Pode ser que uma pessoa dê causa a um resultado, mas sem agir com dolo ou

culpa. Todavia, não é possível imputar a ela a pratica do delito, porquanto é

imprescindível a consideração da causalidade subjetiva; é necessária a presença do

dolo ou da culpa, caso contrário haveria o que se denomina regressus ad infinitum :

seriam responsáveis pelo resultado todos quantos houvessem física ou materialmenteconcorrido para o evento; no homicídio, por ex., seriam responsabilizados também o

comerciante que vendeu a arma, o industrial que a fabricou, o mineiro que extraiu o

minério, etc, o que é inconciliável com os propósitos do Direito Penal.

3.1.6) ESPÉCIES DE CAUSAS

- Causa é toda condição que atua paralelamente à conduta, interferindo no processo

causal.

- As causas podem ser classificadas, basicamente, em duas espécies:

a) dependentes;

b) independentes.

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- CAUSA DEPENDENTE: É aquela que, originando-se da conduta, insere-se na linha

normal de desdobramento causal da conduta.

- A causa dependente, por óbvio, não exclui o nexo causal, ao contrário, integra-o

como parte fundamental, de modo que a conduta estará indissoluvelmente ligada ao

resultado naturalístico.

- CAUSA INDEPENDENTE: É aquela que refoge ao desdobramento causal da

conduta, produzindo, por si só, o resultado. Seu surgimento não é uma decorrência

esperada, lógica, natural do fato anterior, mas, ao contrário, um fenômeno

totalmente inusitado, imprevisível.

- Essa causa subdivide-se em absoluta e relativamente independente, conforme se

origine ou não da conduta. Há, portanto, duas subespécies de causas independentes,as quais têm um ponto em comum e um traço distintivo, a saber:

a) causa absolutamente independente: não se origina da conduta  e comporta-

se como se por si só tivesse produzido o resultado, não sendo uma decorrência

normal e esperada. Não tem, portanto, nenhuma relação com a conduta;

b) causa relativamente independente: origina-se da conduta   e comporta-secomo se por si só tivesse produzido o resultado, não sendo decorrência normal e

esperada. Tem relação com a conduta apenas porque dela se originou, mas é

independente, uma vez que atua como se por si só tivesse produzido o resultado.

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3.1.7) CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES

 A) CONCEITO

- São aquelas que têm origem totalmente diversa da conduta. O advérbio de

intensidade “absolutamente” serve para designar que a causa não partiu da conduta,

mas de fonte totalmente distinta.

- Além disso, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si

sós produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da

conduta.

B) ESPÉCIES DE CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES

a) Preexistentes

- Existem antes de a conduta ser praticada e atuam independentemente de seu

cometimento, de maneira que com ou sem a ação o resultado ocorreria do mesmo

modo.

- Ex: “A” desfecha um tiro de revólver em “B”, que vem a falecer pouco depois, nãoem conseqüência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno.

b) Concomitantes

- São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o

resultado independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente

no instante em que a ação é realizada.

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Ex: “A” fere “B” no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente  por

força de um ataque cardíaco.

c) Supervenientes

- São causas que atuam após a conduta.

- Ex: “A” ministra veneno na alimentação de “B” que, quando está tomando a

refeição, vem a falecer em conseqüência de um desabamento.

C) CONSEQÜÊNCIAS DAS CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES

- Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o problema

é resolvido pelo caput  do art. 13: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta.

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputávela quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultadonão teria ocorrido.

- Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do

agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos

praticados antes de sua produção.

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3.1.8) CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES

 A) CONCEITO

- Causa relativamente independente é a que, funcionando em face da conduta

anterior, conduz-se como se por si só tivesse produzido o resultado.

- Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando

dentro da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas

relativamente independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada

pelo agente.

B) ESPÉCIES DE CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES

a) Preexistentes

- São as que atuam antes da conduta.

- Ex: “A” desfere um golpe de faca na vítima, que é hemofílica e vem a morrer em

face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado fisiológico. No caso, o

golpe isoladamente seria insuficiente para produzir o resultado fatal, de modo que ahemofilia atuou de forma independente, produzindo por si só o resultado.

- O processo patológico, contudo, só foi detonado a partir da conduta, razão pela

qual sua independência é apenas relativa. Como se trata de causa que já existia

antes da agressão, denomina-se preexistente.

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b) Concomitantes

- São as causas que atuam exatamente no instante em que a ação é realizada.

- Ex: “A” atira na vítima, que, assustada, sofre um ataque cardíaco e morre. O tiro

provocou o susto e, indiretamente, a morte. A causa do óbito foi a parada cardíaca e

não a hemorragia traumática provocada pelo disparo.

c) Supervenientes

- São as causas que ocorrem depois da conduta praticada pelo agente.

- Ex. A vítima de um atentado é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo,

por esse motivo, a falecer. A causa é independente, porque a morte foi provocadapelo acidente e não pelo atentado, mas essa independência é relativa, já que, se não

fosse o ataque, a vítima não estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo

atuado posteriormente à conduta, denomina-se causa superveniente.

C) CONSEQÜÊNCIA DAS CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES

- Aplicando-se o critério da eliminação hipotética, pode-se afirmar que nenhumacausa relativamente independente tem o condão de romper o nexo causal.

-  No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo causal, o

agente responderá pelo resultado, a menos que não tenha concorrido para ele com

dolo ou culpa.

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- Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico-naturalístico, a

lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, que excepcionou a regra geral, manda

desconsiderá-lo, não respondendo o agente jamais pelo resultado, mas tão-somente

pelos fatos anteriores.

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhedeu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Superveniência de causa independente

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

- Portanto, as causas preexistentes e concomitantes, quando relativamente

independentes, não excluem o resultado. A causa superveniente, quando

absolutamente independente, faz com que a ação anterior não seja conditio sine qua

non   do resultado, por ilação do próprio art. 13, caput. Quando relativamenteindependente, sendo que, por si só, produziu o resultado, exclui a imputação,

respondendo o agente pela prática dos atos anteriores (art. 13, § 1º).

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3.1.9) SUPERVENIÊNCIA DA CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE

Relação de causalidade 

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhedeu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Superveniência de causa independente

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,

por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

- O legislador brasileiro, restringindo a aplicação da teoria da conditio sine quo non ,

abriu-lhe uma exceção no § 1º do artigo 13 do CP.

-  Causa superveniente relativamente independente é que, inicialmente, refoge

ao desdobramento normal dos fatos, colocando-se ao largo de sua homogeneidade

seqüencial.

-  Embora se possa estabelecer uma conexão entre a conduta primitiva e o

resultado final, a segunda causa, a causa superveniente, é de tal ordem que

determina a ocorrência do resultado, como se tivesse agido sozinha, pela

anormalidade, pelo inusitado, pela imprevisibilidade da sua ocorrência.

- Quando estamos, portanto, diante de uma causa superveniente, e que queremosverificar se a conduta anterior é causa ou não, devemos partir, obrigatoriamente, do

 juízo hipotético de eliminação: excluímos mentalmente a conduta anterior e

verificamos se o resultado teria ocorrido. Se a resposta for não, podemos afirmar que

há uma conexão causal entre a conduta anterior e o resultado.

- Mas, em se tratando da ocorrência de causa superveniente, teremos de suspeitar da

possibilidade de tratar-se de causa superveniente, nos termos do § 1º do art. 13. Por

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isso, temos de formular uma segunda pergunta: essa causa superveniente se insere

no fulcro aberto pela conduta anterior, somando-se a ela para a produção do

resultado ou não? Se a resposta for afirmativa, não excluirá o nexo de causalidade da

conduta anterior, porque a causa posterior simplesmente somou-se à conduta

anterior na produção do resultado.

- Ao contrário, se respondermos que não, isto é, que a causa superveniente causouisoladamente o evento, estaríamos resolvendo a situação com base no § 1º do art.

13, afastando a relação de causalidade da conduta anterior. Nesse caso, o autor da

conduta anterior responderá pelos atos praticados que, em si mesmos, constituírem

crimes, segundo seu elemento subjetivo.

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

- A expressão “por si só” não significa que a segunda causa (a superveniente) seja

independente da primeira (no mundo fático é decorrente dela), mas que o evento

ocorreu de maneira independente do fato do agente.

- O melhor critério para definir esta expressão é o que considera autônoma a causa

superveniente quando esta não se encontra “na linha de desdobramento físico” da

conduta anterior. A causa superveniente que por si só produz o resultado é a que

forma um novo processo causal, que se substitui ao primeiro, não estando em

 “posição de homogeneidade” com o comportamento do agente.

-  Se a causa superveniente seguir, dentro do desdobramento, uma linha

racional, lógica e coerente, colocando-se em uniformidade com a seqüência dos

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fatos, não constituirá ela uma causa relativamente independente, mantendo, por

conseguinte, a causalidade anteriormente verificada.

- Se, ao reverso, a causa superveniente romper com o equilíbrio, harmonia e

uniformidade dentro da cadeia sucessiva dos fatos, surgindo no contexto com

conotação insólita, inusitada e fora do propósito, encerrando verdadeira aberração na

seqüência, um desvio da normalidade que venha a ensejar a perplexidade, imperiososerá reconhecer-se sua independência relativa e, consequentemente, operar-se a

exclusão do nexo causal.

- Ex. Se Nacélio atinge Astolfo com disparos de revólver, ferindo-o, insofismável é

que a prestação de socorro por circunstantes assume-se como fato sucessivo

consentâneo com o antecedente. Desse modo, se Astolfo é colocado em uma

ambulância e transportado ao hospital, levado ao centro cirúrgico, onde éanestesiado e operado, morrendo, todavia, na fase da convalescença, em

conseqüência de incêndio ou desabamento ocorrido na ala do hospital em que se

encontra internado, irrefragável é que, se não tivesse Nacélio disparado contra

 Astolfo, não estaria este no hospital e, consequentemente, não morreria no

desabamento ou incêndio.

- Dessa maneira, pelo processo de eliminação de Thyren e por força do princípio daconditio sine qua non , há clamorosa e manifesta causalidade. Esta contudo, será

excluída, separando-se a ação do resultado, porque o desabamento ou incêndio do

hospital constituem condições estranhas e aberrantes ao desenvolvimento natural dos

fatos. Assim, Nacélio seria responsabilizado somente pelo remanescente típico, isto é,

por aquilo que houvesse realizado de penalmente relevante até a superveniência da

causa relativamente independente (desabamento ou incêndio), ou seja, pela mera

tentativa de homicídio.

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3.1.10) COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS E INFECÇÃO HOSPITALAR

-  Se a causa superveniente está na linha do desdobramento físico ou anátomo-

patológico da ação, o resultado é atribuído ao agente. Trata-se de causa dependente.

Não rompem, portanto, o nexo causal, e o agente responderá pelo resultado se o

tiver causado por dolo ou culpa.

- Tratando-se, contudo, de causa inesperada e inusitada, fato que somente as

peculiaridades de cada caso concreto podem ditar, ficará rompido o nexo causal,

passando a concausa a ser considerada superveniente relativamente independente.

3.2) TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

- A teoria da imputação objetiva, em síntese, exige, para que alguém sejapenalmente responsabilizado por conduta que desenvolveu, a criação ou incremento

de um perigo juridicamente intolerável e não permitido ao bem jurídico protegido,

bem como a concretização desse em perigo típico.

- Embora a conduta tenha provocado um risco do qual resultou a lesão ao bem

 jurídico, tal risco não será de nenhuma relevância para o direito, quando for

considerado tolerado ou permitido. Somente quando o agente, com seucomportamento, criar um risco fora do que a coletividade espera, aceita e se dispõe a

tolerar, haverá fato típico. O nexo de causalidade entre a conduta e o resultado

naturalístico, embora possa existir em uma avaliação meramente física, não será

considerado pelo direito penal como juridicamente relevante, por não ter criado uma

situação de risco proibido.

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- Tecendo críticas a esta teoria, alguns doutrinadores afirmam que relativamente aos

crimes culposos, se o agente se mantém dentro do risco permitido, não há imputação

objetiva simplesmente porque não existe, em tal caso, culpa, já que o autor, atuando

dentro do risco sociamente tolerado, não infringe, assim, o dever objetivo de

cuidado, de sorte que não é necessário, para tanto, apelar à imputação objetiva.

- No tocante aos delitos dolosos, em muitos casos, o que a imputação objetivaoferece é um método de afastamento da punição daqueles que, realmente, já não

seriam punidos por qualquer outra teoria.

3.3) DA RELEVÂNCIA CAUSAL NA OMISSÃO

- Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente éimputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual oresultado não teria ocorrido.

(...)

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podiaagir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

- Na doutrina predomina o entendimento de que na omissão não existe causalidade,

considerada sob o aspecto naturalístico, pois, sob o ponto de vista científico, natural

e lógico, “do nada não pode vir nada”. A doutrina observa inexistir uma relação de

causalidade física entre a omissão e o resultado, uma vez que carecendo a

inatividade de eficácia ativa, vigora o princípio de que do nada, nada surge.

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- Por isso, não se fala em nexo causal objetivo nos crimes omissivos.

- De fato, é incorreta a afirmação de que a omissão produziu o resultado, visto que

no plano físico existem apenas ações. A estrutura da conduta omissiva é

essencialmente normativa, não naturalística. A causalidade não é formulada em face

de uma relação entre a omissão e o resultado, mas entre este e a conduta que o

sujeito estava juridicamente obrigado a realizar e omitia. Ele responde peloresultado não porque causou o resultado com a omissão, mas porque não o

impediu realizando a conduta a que estava obrigado.

- O CP, no artigo 13, § 2º, regulamentando a relação de causalidade normativa nos

delitos comissivos por omissão (ou omissivos impróprios) e, assim, adotando a teoria

da omissão normativa, determina:

Art. 13 –

(...)

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podiaagir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

- Dessa forma, nos delitos omissivos impróprios só responde pelo resultado quem

tinha o dever jurídico de agir, impedindo-o pela ação esperada.

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 Aula 4 – 29.08.2008

4.1) TEORIA DA TIPICIDADE

4.1.1)  INTRODUÇÃO

- O direito de punir poderia ser arbitrário. Todavia, em relação às condutas humanas,

ou o Estado as considera indiferentes sob o ponto de vista jurídico-penal, ou as

determina, quando necessárias; ou as tutela, quando benéficas; ou as impede,

quando prejudiciais.

- Inúmeros são os fatos da vida social que, por lesar ou colocar em perigo interesses

 jurídicos relevantes ensejam a aplicação da sanção penal. Para isso, o legislador

descreve as condutas consideradas nocivas à ordem jurídica. Essa definição legal daconduta proibida pela ordem jurídico-penal, sem qualquer elemento valorativo, é a

tipicidade.

- Portanto, tipicidade, num conceito preliminar, é a correspondência entre o fato

praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal

incriminadora.

4.1.2)  FASES DA TIPICIDADE

 A) FASE DA INDENPENDÊNCIA DO TIPO

- O tipo é completamente desvinculado da ilicitude, tendo mera função descritiva,

sem nenhum conteúdo valorativo. Sua finalidade é definir os delitos. Adequado o fato

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à norma incriminadora, passa-se a uma segunda fase: saber se o sujeito agiu ou não

acobertado por uma das excludentes de ilicitude. Após, verifica-se a existência da

reprovabilidade da conduta.

- O exame da tipicidade era meramente formal. A morte provocada por força maior

era um acontecimento típico (homicídio – matar alguém), embora o agente não fosse

responsabilizado por ele.

B) FASE DO CARÁTER INDICIÁRIO DA ANTIJURIDICIDADE

- Sendo a tipicidade a ratio cognoscendi   da antijuridicidade, basta que o fato se

amolde à norma penal incriminadora para que resulte um indício de ilicitude, que

pode ser afastado quando presente uma causa de justificação como a legítima

defesa, o estado de necessidade, etc.

- Ex: suponha-se que o sujeito ofenda a integridade física de alguém. Desde logo o

fato se ajusta à descrição legal do crime de lesão corporal (art. 129 do CP). A

adequação do fato ao tipo faz surgir o indício de que a conduta é antijurídica.

Todavia, poderá o sujeito provar que agiu acobertado por uma causa de exclusão da

ilicitude o que desfaz o indício.

- Pode-se sintetizar essa teoria com a seguinte expressão: todo fato típico também

será ilícito, a não ser que esteja presente alguma causa de exclusão da ilicitude.

C) FASE DO TIPO LEGAL COMO ESSÊNCIA DA ILICITUDE (“RATIO ESSENDI  

DA ILICITUDE)

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- Essa teoria parte do pressuposto de que não se pode dividir a tipicidade e a ilicitude

em dois momentos distintos, embora seus conceitos não se confundam. É que o fato

típico é antinormativo, enquanto as causas justificadoras descrevem comportamento

normativos. Dessa constatação resulta que, separando a tipicidade e ilicitude em dois

momentos distintos, surgiria a híbrida figura do fato antinormativo-normativo.

- Ex. alguém que comete um homicídio em legítima defesa terá praticado um fatoproibido (matar alguém) e, ao mesmo tempo, permitido (em legítima defesa), se tipo

e ilicitude fossem separados.

- A teoria de Mezger foi alvo de muitas críticas, pois não permite uma exata

separação entre a tipicidade e a antijuridicidade. Em face dela, todas as condutas

típicas seriam antijurídicas.

4.1.3)  DIRETRIZ DOMINANTE

- A diretriz dominante é a segunda. A tipicidade não é a ratio essendi   da

antijuridicidade, mas seu indício (ratio cognoscendi ). Praticado um fato típico,

presume-se também antijurídico, até prova em contrário: o tipo legal indica a

antijuridicidade.

- É inegável a vantagem da segunda corrente, na medida em que o juiz, embora

sabendo que tudo ocorre a um só instante, desenvolverá, em diferentes etapas de

seu raciocínio, primeiro a verificação da tipicidade, para só então analisar a ilicitude.

- Quanto à crítica que se faz à teoria do caráter indiciário, no sentido de que ela faz

uma presunção de que todo fato típico é criminoso, ressalta-se que sua

antinormatividade não é definitiva, mas provisória. Desse modo, se estiver presente

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alguma causa de justificação, todo o fato será normativo (permitido). Assim, matar

alguém em legítima defesa não é um fato antinormativo-normativo, mas normativo.

- Finalmente, nosso Código Penal separou em tipos bem distintos os crimes, que

estão nos tipos incriminadores, e as causas de exclusão da ilicitude, que estão nos

tipos permissivos (arts. 23, I a III, 24 e parágrafos e 25). Se a própria lei os coloca

em tipos distintos, não pode o intérprete junta-los em um só (pelo menos à luz donosso ordenamento penal).

4.1.4) ADEQUAÇÃO TÍPICA

- É o enquadramento da conduta ao tipo legal. Ao contrário do que fazem alguns

autores, não há utilidade em diferenciar a tipicidade da adequação típica, como se

fossem conceitos antagônicos. Aquela é conseqüência desta, e ambas dependem dacorrespondência objetiva entre fato e tipo e da ocorrência de dolo ou culpa.

 A) ADEQUAÇÃO TÍPICA DE SUBORDINAÇÃO IMEDIATA:

- Ocorre quando há uma correspondência integral, direta e perfeita entre conduta e

tipo legal.

- Ex: “A” desfere 18 golpes de picareta contra a cabeça de “B”, produzindo-lhe, em

conseqüência, a morte. Entre essa conduta e o tipo legal do homicídio (art. 121) há

uma perfeita correspondência, e o fato enquadra-se diretamente no modelo

descritivo (“A” dolosamente matou alguém, conduta descrita pelo art. 121, caput , do

CP).

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B) ADEQUAÇÃO TÍPICA DE SUBORDINAÇÃO MEDIATA

- Ocorre quando, cotejados o tipo e a conduta, não se verifica entre eles perfeita

correspondência, sendo necessário o recurso a uma outra norma que promova a

extensão do tipo até alcançar a conduta. Não existe correspondência entre o fato

humano doloso ou culposo e qualquer descrição contida em tipo incriminador.

- Ex: “A”, querendo matar “B”, descarrega contra este sua arma de fogo, não o

acertando por erro na pontaria. Comparada essa conduta com o tipo do homicídio,

verifica-se que inexiste correspondência, pois o modelo descreve “matar alguém”, e a

conduta não produziu nenhuma morte.

- No caso, ocorreu tentativa, e a adequação da conduta ao tipo jamais será imediata,

pois sem a consumação não haverá realização integral da figura típica.

- A fim de evitar-se que o fato se torne atípico e com isso garanta-se a impunidade

do agente, torna-se necessário recorrer a uma norma que promova a ampliação do

tipo até alcançar o fato. Essa norma funcionaria como uma ponte, evitando que o

fato ficasse sem enquadramento típico. É conhecida por norma de extensão ou

ampliação da figura típica.

- A norma da tentativa (art. 14, II, CP) é, portanto, uma norma de extensão, por

meio da qual resulta a adequação típica mediata ou indireta do fato tentado à norma

que se pretendia violar.

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4.1.5) TIPICIDADE E ANTIJURIDICIDADE

- Em tese, todo fato típico é antijurídico. Só não o é quando provado que o sujeito

realizou a conduta acobertado por uma causa de exclusão da antijuridicidade,

prevista no art. 23 do CP. Então, o fato é típico, mas não é antijurídico.

- Ao contrário, o fato pode ser antijurídico e não típico. É o que acontece com o presoque foge da prisão sem empregar violência contra a pessoa. A conduta é ilícita, pois

em face do  jus punitionis   o condenado tem a obrigação de não impedir o

cumprimento da sanctio júris . Todavia, essa antijuridicidade não interessa ao Direito

Penal porque não está concretizada em nenhum tipo.

4.2) TEORIA DO TIPO

4.2.1) CONCEITO

- Tipo é o conjunto dos elementos descritivos do crime contidos na lei penal. Varia

segundo o crime considerado. Assim, tomando, p. ex., o crime do art. 155 do CP, o

tipo do furto é o conjunto dos elementos da conduta punível definido pela lei:

 “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”.

4.2.2) ESTRUTURA DO TIPO PENAL

- O tipo penal vem estruturado da seguinte forma:

a) Título ou “nomen júris”

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- É a rubrica dada pelo legislador ao delito (ao lado do tipo penal incriminador, o

legislador confere à conduta e ao evento produzido um nome, como o homicídio

simples é a rubrica do modelo de comportamento “matar alguém”.

b) Preceito primário

- É a descrição da conduta proibida, quando se refere ao tipo incriminador, ou a daconduta permitida, referindo-se ao tipo penal permissivo.

- Ex: o preceito primário do tipo incriminador do art. 121 do CP é “matar alguém”; o

preceito primário do tipo permissivo do art. 25 do CP, sob a rubrica “legítima defesa”,

é “repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou de terceiro, usando

moderadamente os meios necessários”.

c) Preceito secundário

- É a parte sancionadora, que ocorre somente nos tipos incriminadores,

estabelecendo a sanção penal.

- Ex: no crime de homicídio simples, o preceito secundário é “reclusão, de 06 a 20

anos”.

4.6.3) FUNÇÕES DO TIPO PENAL

- De um modo geral, atribuem-se, genericamente, duas funções fundamentais ao tipo

penal:

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a) Função indiciária

- O tipo circunscreve e delimita a conduta penalmente ilícita. A circunstância de uma

ação ser típica indica que, provavelmente, será também antijurídica.

- A realização do tipo já antecipa que, provavelmente, também há um infringência do

Direito, embora esse indício não integre a proibição.

b) Função de garantia

- O tipo legal é um dos postulados básicos do princípio da reserva legal. Na medida

em que a Constituição Federal consagra expressamente o princípio de que “não há

crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” (art. 5º,XXXIX), fica outorgada à lei a relevante tarefa de definir, isto é, de descrever os

crimes.

- De fato, não cabe à lei penal proibir genericamente os delitos, senão descrevê-los

de forma detalhada, delimitando, em termos precisos, o que o ordenamento entende

por fato criminoso.

- Todo o cidadão, antes de realizar um fato, deve ter a possibilidade de saber se sua

ação é ou não punível. Em verdade, o tipo cumpre, além da função fundamentadora

do injusto, também uma função limitadora do âmbito penalmente relevante. Assim,

tudo o que não corresponder a um determinado tipo de injusto será penalmente

irrelevante.

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4.6.4) ESPÉCIES DE TIPO

 A) Permissivos ou justificadores

- São tipos penais que não descrevem fatos criminosos, mas hipóteses em que estes

podem ser praticados. Por essa razão, denominam-se permissivos. São tipos que

permitem a prática de condutas descritas como criminosas.

- São os que descrevem as causas de exclusão da ilicitude (art. 23 CP), também

conhecidas como causas de justificação, como é o caso da legítima defesa, que se

encontra no art. 25 do CP.

B) Incriminadores

- São os tipos que descrevem as condutas proibidas. Todo fato enquadrável em tipo

incriminador, em princípio, será ilícito, salvo se também se enquadrar em algum tipo

permissivo (causas de justificação).

4.6.5) ELEMENTOS DO TIPO

 A) ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO

- São os que se referem à materialidade da infração penal, no que concerne á forma

de execução, tempo, lugar, etc. são também chamados descritivos.

- Ex. Nos arts. 150, § 1º, e 155, § 1º, o tipo faz referência ao tempo de execução do

crime (“noite” e repouso noturno”).

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- Nos arts, 150, § 1º e 233, temos referência ao lugar de execução do crime (“lugar

ermo”, “lugar público”).

Violação de domicílio 

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressaou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego deviolência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:

Furto 

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

Ato obsceno 

Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

B) ELEMENTOS NORMATIVOS DO TIPO

- Ao contrário dos descritivos, seu significado não se extrai da mera observação,

sendo imprescindível um juízo de valoração jurídica, social, cultural, histórica, política,religiosa, bem como de qualquer outro campo de conhecimento humano.

- Os elementos normativos do tipo podem apresentar-se sob a forma de franca

referência ao injusto (“indevidamente”, “sem justa causa”, “sem as formalidades

legais”), sob a forma de termos jurídicos (“documento”, “função pública”,

 “funcionário”) ou extrajurídicos (“mulher honesta”, “dignidade”, “decoro”, “saúde”,

 “moléstia”).

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- Ex:

Violação de correspondência 

Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Sonegação ou destruição de correspondência 

§ 1º - Na mesma pena incorre:

I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todoou em parte, a sonega ou destrói;

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contradisposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Divulgação de segredo 

Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou decorrespondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzirdano a outrem:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Violação do segredo profissional 

Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia 

Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quemde direito, desde que o fato resulte prejuízo:

Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.

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Injúria 

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Falsificação de documento público 

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento públicoverdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Peculato 

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio oualheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Furto 

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

C) ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO

- Os elementos subjetivos do tipo são os que pertencem ao campo psíquico-

espiritual e ao mundo da representação do autor. Encontram-se, antes de tudo, nosdenominados “delitos de intenção”, em que uma representação especial do resultado

ou do fim deve ser acrescentada à ação típica executiva como tendência interna

transcendente; assim, por exemplo, a intenção de se apropriar do ladrão ou

assaltante; a intenção de enriquecimento do estelionatário, etc.

Perigo de contágio venéreo 

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Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio demoléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:

Exposição ou abandono de recém-nascido 

Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Furto 

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Roubo 

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ouviolência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade deresistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ouoculte:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Concussão 

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ouantes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Excesso de exação 

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saberindevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:

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Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

Prevaricação 

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contradisposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

- Quando o tipo exigir elemento subjetivo, faltando a finalidade especial ao agente, a

conduta será atípica por falta de correspondência entre o comportamento e a norma

penal. Frise-se que o dolo é elemento da conduta e não do tipo.

4.6.6) OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DO TIPO PENAL

 A) TIPO FECHADO E ABERTO

- O tipo fechado  é constituído somente de elementos descritivos, que não

dependem do trabalho de complementação do intérprete, para que sejam

compreendidos,

- Ex: art.. 121, matar alguém. Os dois elementos são puramente descritivos, sem

qualquer valoração a exigir do intérprete conceitos que vão além do vernáculo.

- O tipo aberto é aquele que contém elementos normativos ou subjetivos, de modo

que dependem da interpretação de quem os conhece, para que adquiram um sentido

e tenham aplicação.

- Ex: art. 233, “praticar ato obsceno”. O tipo exige que se faça um juízo valorativo

acerca do termo obsceno, que não é meramente descritivo, mas normativo.

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- Normalmente, os tipos culposos são abertos, embora exista exceção (art. 180, §

3°).

B) TIPO BÁSICO (OU FUNDAMENTAL) E TIPO DERIVADO

- O tipo fundamental é o que nos oferece a imagem mais simples de uma espécie

de delito. É o tipo que se localiza no caput de um artigo e contém os componentes

essenciais do crimes, sem os quais este desaparece (atipicidade absoluta) ou se

transforma em outro (atipicidade relativa).

- Ex: O delito de homicídio (art. 121). São seus elementos constitutivos: a) sujeito

ativo (pessoa humana); b) conduta (ação ou omissão); c) dolo (voluntariedade

consciente da ação); d) sujeito passivo (pessoa humana); e) resultado (evento

morte); f) nexo de causalidade. Se retirarmos qualquer um desses elementos, o

delito de homicídio desaparecerá.

- Os tipos derivados são os que se formam a partir do tipo fundamental, medianteo destaque de circunstâncias que o agravam ou atenuam. Se a agravação consistir

em um dos novos limites abstratos de pena, como no caso do art. 121, § 2º, do CP,

em que a pena passa a ser de 12 a 30 anos, tem-se o tipo qualificado.

- se consistir em um aumento em determinado percentual, como 1/3 e ou 2/3, ocorre

a chamada causa de aumento (art. 155, § 1º); no caso da atenuação, surge o tipo

privilegiado (art. 121, § 1º).

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C) TIPO SIMPLES E TIPO MISTO

- O tipo simples é composto de uma única conduta punível – via de regra, há um só

verbo no tipo (ex. art. 184, violar direito autoral).

- O tipo misto é constituído de mais de uma conduta punível – como regra, há maisde um verbo no tipo, dividindo-se em tipo misto alternativo, quando a prática de uma

ou várias das condutas previstas no tipo levam à punição por um só delito.

- Ex: art. 271, corromper ou poluir água potável. Tanto faz que o agente corrompa

(adultere) ou suje (polua) a água potável ou faça as duas condutas, pois haverá um

só delito.

Corrupção ou poluição de água potável 

Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópriapara consumo ou nociva à saúde:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos.

- A outra forma do tipo misto é o cumulativo, quando a prática de mais de uma

conduta, prevista no tipo, indica a realização de mais de um crime, punidos em

concurso material.

- Ex: escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa;

impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente

ato ou objeto de culto religioso). Nesse caso, se o agente escarnecer de alguém,

impedir cerimônia religiosa ou vilipendiar objeto de culto religioso, deve responder

por três delitos.

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Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo 

Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa;impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto deculto religioso:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

D) TIPO CONGRUENTE E TIPO INCONGRUENTE

- O tipo congruente é o tipo penal que espelha a coincidência entre a face objetiva

e o lado subjetivo.

- Ex: no caso do homicídio, quando o agente extermina a vida da vítima preenche o

tipo objetivo – matar alguém – ao mesmo tempo em que perfaz, plenamente, o tipo

subjetivo – vontade de matar alguém).

- O tipo incongruente é o tipo penal que permite a inadequação do lado objetivo,

nele previsto, com o que subjetivamente almeja o agente, embora se considere

consumado o delito.

- Ex. na extorsão mediante seqüestro, o tipo prevê o seqüestro de pessoa, com o fim

de obter vantagem, como condição ou preço do resgate, demonstrando que afinalidade do agente é patrimonial. Entretanto, ainda que somente o seqüestro se

realize, bastando haver o intuito de obter resgate, está consumado o crime. Há

incongruência entre o desejado pelo agente e o efetivamente alcançado.

Extorsão 

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obterpara si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer

alguma coisa:

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Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

D) TIPO CONGLOBANTE

- De acordo com esta teoria, o fato típico pressupõe que a conduta esteja proibida

pelo ordenamento jurídico como um todo, globalmente considerado.

- Assim, quando algum ramo do direito, civil, trabalhista, administrativo, processual

ou qualquer outro, permitir o comportamento, o fato será considerado atípico. O

direito é um só e deve ser considerado como um todo, um bloco monolítico, não

importando sua esfera (a ordem é conglobante).

- Capez entende que a teoria da tipicidade conglobante cria confusão, uma vez que,

embora não seja seu intuito, acaba por tangenciar as causas de exclusão da ilicitude,

deslocando para o tipo causas como o exercício regular de direito e o estrito

cumprimento do dever legal, que são hipóteses de condutas autorizadas pelo

ordenamento jurídico.

- Embora concordando que a tipicidade formal (ou legal) não é suficiente, pode-se

substituir com vantagem a tipicidade conglobante pela exigência de que o fato típico,

além da correspondência à descrição legal, tenha conteúdo do crime, fazendo-se

incidir os princípios constitucionais do Direito Penal, a fim de dar conteúdo material

ao tipo penal.

- Deste modo, se a lesão for insignificante, se não houver lesão ao bem jurídico, se

não existir alteridade na ofensa, se não for traída a confiança social depositada no

agente, se a atuação punitiva do Estado não for desproporcional ou excessivamente

interventiva, dentre outros, o fato será materialmente atípico, sem precisar recorrer à

tipicidade conglobante.

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 Aula 5 – 12.09.2008

5. TEORIA DO CRIME DOLOSO

Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime doloso

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

(...)

5.1) CONCEITO DE DOLO

- DOLO é a vontade consciente de praticar a conduta típica.

- É a consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal,

ou, na expressão de Welzel, “dolo, em sentido técnico penal, é somente a vontade de

ação orientada à realização do tipo de um delito”.

5.2) CARACTERÍSTICAS DO DOLO

 A) Abrangência:

- O dolo deve envolver todos os elementos objetivos do tipo.

B) Atualidade

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- O dolo deve estar presente no momento da ação, não existindo dolo subseqüente,

nem dolo anterior.

C) Possibilidade de Influenciar o resultado:

- É indispensável que a vontade do agente seja capaz de produzir o evento típico.

- Na lição de Welzel, “a vontade impotente não é um dolo relevante de um ponto de

vista jurídico penal”.

5.3) TEORIAS DO DOLO

- Há três teorias a respeito do dolo:

a) Teoria da vontade

- O dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.

- Portanto, para os partidários dessa teoria, o dolo exige os seguintes requisitos:

a) quem realiza o ato deve conhecer os atos e sua significação;b) o autor deve estar disposto a produzir o resultado.

b) Teoria da representação

- Para a teoria da representação, dolo é a previsão do resultado. É suficiente que o

resultado seja previsto pelo sujeito.

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c) Teoria do Assentimento (ou Consentimento)

- Para essa teoria, dolo é o assentimento do resultado, isto é, a previsão do resultado

como a aceitação dos riscos de produzi-lo. Não basta, portanto, representar; é

preciso aceitar como indiferente a produção do resultado.

- O Nosso CP, ao contrário do que alguns afirmam, adotou duas teorias: a teoria davontade, em relação ao dolo direto, e a teoria do consentimento, em relação ao dolo

eventual.

5.4) ELEMENTOS DO DOLO

a) Elemento cognitivo ou intelectual

- Para a configuração do dolo exige-se a consciência   daquilo que se pretende

praticar. Essa consciência deve ser atual, isto é, deve estar presente no momento da

ação, quando ela está sendo realizada.

b) Elemento volitivo (vontade)

- A vontade, incondicionada, deve abranger a ação ou omissão (conduta), o resultado

e o nexo causal. A vontade pressupõe a previsão, isto é, a representação, na medida

em que é impossível querer algo conscientemente senão aquilo que se previu ou

representou na nossa mente, pelo menos, parcialmente.

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5.5) ESPÉCIES DE DOLO

 A) DOLO DIRETO

- No dolo direto o agente quer o resultado representado como fim de sua ação. A

vontade do agente é dirigida à realização do fato típico.

- Ex: o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se

projeta de forma direta no resultado morte.

B) DOLO EVENTUAL

- Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto

é, admite e aceita o risco de produzi-lo.

- O agente não quer o resultado, pois se assim fosse haveria dolo direto. Ele antevê o

resultado e age. A vontade não se dirige ao resultado (o agente não quer o evento,

mas sim à conduta, prevendo que esta pode produzir o resultado). Percebe que é

possível causar o resultado e, não obstante, realiza o comportamento. Entre desistir

da conduta e causar o resultado, prefere que este se produza.

- Sobre o dolo eventual, o Código Penal adota a teoria positiva do

consentimento, segundo a qual o sujeito não leva em conta em conta a

possibilidade do evento previsto, agindo e assumindo o risco de sua produção.

- Dessa maneira, enquanto o dolo direto se respalda em embasa na teoria da

vontade, tem o dolo eventual base na teoria do assentimento.

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- Ex: age com dolo eventual aquele que, agredindo mulher grávida, ciente porém de

seu adiantado estado gravídico e gestacional, vem a causar-lhe o aborto,

aquiescendo, no ato de hostilidade física, com a interrupção da gravidez e

conseqüente morte do feto.

B.1) Dolo eventual nos crimes de trânsito

- Tem sido posição majoritária na jurisprudência considerar a atuação do agente em

determinados delitos cometidos no trânsito não mais como culpa consciente, e sim

como dolo eventual.

- Ex: agente que alcoolizado, em velocidade incompatível, age com “consciência do

perigo concreto” e assume o risco de produzir o resultado. Age com dolo eventual.

C) Dolo Genérico

- É a vontade de realizar conduta sem um fim especial, ou seja, a mera vontade de

praticar o núcleo da ação típica (o verbo do tipo), sem qualquer finalidade específica.

- Ex: no tipo de homicídio, basta a simples vontade de matar alguém para que a ação

seja típica, pois não é exigida nenhuma finalidade especial do agente (o tipo não temelemento subjetivo).

D) Dolo Específico

- É a vontade de praticar um fato e produzir um fim especial (específico).

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- Ex: no crime de extorsão mediante seqüestro, não basta a simples vontade de

seqüestrar a vítima, sendo também necessária a sua finalidade especial de obter,

para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço de resgate,

porque esse fim específico é exigido pelo tipo do art. 159 do CP, de maneira que,

ausente, não se torna possível proceder à adequação típica.

E) Dolo natural

- É o dolo concebido como um elemento puramente psicológico, desprovido de

qualquer juízo de valor. Trata-se de um simples querer, independentemente de o

objeto da vontade ser lícito ou ilícito, certo ou errado.

- Dessa forma, qualquer vontade é considerada dolo, tanto a de beber água, andar,

estudar, quanto a de praticar um crime.

F) Dolo normativo

- O dolo normativo não é um simples querer, mas um querer algo errado, ilícito.

Deixa de ser um elemento puramente psicológico (um simples querer), para ser um

fenômeno normativo, que exige juízo de valoração (um querer algo errado).

G) Dolo de dano

- No dolo o sujeito quer o dano ou assume o risco de produzi-lo (dolo direto ou

eventual).

- Ex: Assim, no homicídio pretende o agente atingir e eliminar a vida da vítima,

causando-lhe êxito letal.

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H) Dolo de perigo

- No dolo de perigo o agente não quer o dano nem assume o risco de produzi-lo,

desejando ou assumido o risco de produzir um resultado de perigo (o perigo constitui

resultado). Ele quer ou assume o risco de expor o bem jurídico a perigo de dano

(dolo de perigo direto e dolo eventual de perigo).

- Ex: O art. 130 do CP define o crime de “perigo de contágio venéreo”. Neste crime,

levando-se em contra a expressão “de que sabe”, o sujeito deve agir com o dolo de

perigo, isto é, ele quer ou assume o risco de produzir o perigo de dano (dano é o

contágio). Ele não quer o contágio, pois, se assim fosse, haveria dolo de dano,

hipótese prevista no § 1º (“se a intenção do agente transmitir a moléstia”). Apenas

deseja ou assume o risco de submeter a vítima ao perigo de ser contaminada.

- Os delitos previstos na lei de armas (Lei 10.826/03).

PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 10, DA LEI Nº 9.437/97. PORTE ILEGAL

DE ARMA. AUSÊNCIA DE PERIGO CONCRETO. IRRELEVÂNCIA PARA A

CONFIGURAÇÃO DO DELITO. Para a configuração do delito tipificado no

art. 10, caput, da Lei nº 9.437/97 (ATUAL 10.826/03), é suficiente o porte

de arma de fogo sem autorização ou em desacordo com determinação legal

ou regulamentar, sendo despicienda a demonstração de efetivo perigo para

a coletividade (Precedente do STJ). Recurso provido. (REsp. 666869/RS,

Quinta Turma, Superior Tribunal de Justiça, Rel. Min. Felix Fischer, julgado

em 24.05.2005). (acréscimo nosso).

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I) Dolo Geral (erro sucessivo)

- Não se confunde com o chamado dolo genérico.

- Ocorre quando o agente, com a intenção de praticar determinado crime, realiza

uma conduta capaz de produzir o resultado e, logo depois, na crença de que o

evento se produziu, empreende nova ação, sendo que esta causa o resultado.

- Ex: um perverso genro, logo após envenenar sua sogra, acreditando-a morta, joga-

a, o que supunha ser um cadáver, nas profundezas de um rio. A vítima, no entanto,

ainda se encontrava viva, ao contrário do que imaginava o autor, vindo, por

conseguinte, a morrer afogada.

5.6) DOLO NOS CRIMES COMISSIVOS POR OMISSÃO (OMISSIVOSIMPRÓPRIOS)

- Não há crime comissivo por omissão sem que exista o especial dever jurídico de

impedir o dano ou perigo ao bem jurídico tutelado, e nos delitos comissivos por

omissão dolosa é também indispensável haja a vontade de omitir a ação devida, ou,

em outras palavras, os pressupostos de fato que configuram a situação de garante do

agente devem ser abrangidos pelo dolo, e o sujeito ativo precisa ter a consciência deque está naquela posição.

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5.7) CAUSAS EXCLUDENTES DE TIPICIDADE

- Há causas expressamente previstas nas normas penais que excluem a tipicidade,

chamadas excludentes legais.

- Ex: art. 17 (crime impossível); art. 146 (intervenção médico-cirúrgica e

impedimento de suicídio)

Crime impossível

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absolutaimpropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Constrangimento ilegal 

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver

reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou afazer o que ela não manda:

(...)

§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:

II - a coação exercida para impedir suicídio.

- Por outro lado, existem as excludentes supralegais, que afastam a tipicidade,

embora não estejam expressamente previstas no Código Penal, como ocorre com a

adequação social e a insignificância.

5.8) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL

- Com relação à adequação social, pode-se sustentar que uma conduta aceita e

aprovada consensualmente pela sociedade, ainda que não se constitua em causa de

 justificação, pode ser entendida como não lesiva ao bem jurídico tutelado.

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EMENTA:  CASA DE PROSTITUIÇÃO. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO.

ATIPICIDADE. Os delitos de `casa de prostituição¿ e de `favorecimento da

prostituição¿, este quando não envolve menores, são condutas atípicas por força da

adequação  social. À sociedade civil é reconhecida a prerrogativa de

descriminalização do tipo penal configurado pelo legislador. A eficácia da norma

penal nos casos de casa de prostituição mostra-se prejudicada em razão do

anacronismo histórico, ou seja, a manutenção da penalização em nada contribuí para

o fortalecimento do Estado Democrático de Direito, e somente resulta num

tratamento hipócrita diante da prostituição institucionalizada com rótulos como

´acompanhantes´, ´massagistas´, motéis, etc, que, ainda que extremamente

publicizada, não sofre qualquer reprimenda do poder estatal, em razão de tal

conduta, já há muito, tolerada, com grande sofisticação, e divulgada diariamente

pelos meios de comunicação, não é crime, bem assim não será as de origem mais

modesta. Recurso improvido. (Apelação Crime Nº 70023513120, Quinta Câmara

Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Aramis Nassif, Julgado em 07/05/2008) 

- No entanto, o princípio da adequação social não se aplica quando há envolvimento

de menores.

EMENTA:  APELAÇÃO CRIME. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO E

MANUTENÇÃO DE CASA DE PROSTITUIÇÃO. CONDENAÇÃO MANTIDA. 1.

MÉRITO CONDENATÓRIO. Prova oral a demonstrar que a ré induziu adolescentede 14 anos de idade à prática da prostituição, bem como mantinha sob sua

administração local destinado à prostituição com intuito de lucro. 2.

INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO  SOCIAL. No caso em

concreto, em razão do envolvimento de menores no local destinado à prostituição

mostra-se inviável o reconhecimento do princípio da adequação social. Por certo, o

envolvimento de menores em casas de prostituição acentua o grau de

reprovabilidade da conduta típica, e impõe ao Estado uma postura de enfrentamento

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rigorosa e menos complacente. (Apelação Crime Nº 70012483657, Oitava Câmara

Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia de Fátima Cerveira, Julgado em

30/05/2007) 

5.9) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (CRIME DE BAGATELA)

- Muitas vezes, condutas que coincidem com o tipo, do ponto de vista formal, nãoapresentam a menor relevância material. São condutas de pouco ou escasso

significado lesivo, de forma que, nesses casos, tem aplicação o princípio da

insignificância, pelo qual se permite excluir, de pronto, a tipicidade formal, porque, na

realidade, o bem jurídico chegou a ser agravado e, portanto, não há injusto a ser

desconsiderado.

- Ex: furto de produtos de higiene pessoal avaliados em R$ 2,65. Tentar subtrair umacaixinha de ovos. Subtrair apenas uma lata de sardinha, ou, ainda, na subtração, em

supermercado, de simples escova de dentes o de um pano de prato, balas, doces,

bombons ou pequenos enfeites de natal.

- Para se admitir o princípio da insignificância, além da irrelevância da ação do

agente, é preciso que o valor da coisa subtraída seja irrisório.

EMENTA: APELAÇÃO-CRIME ¿ FURTO ¿ REJEIÇÃO DA DENÚNCIA ¿DECISÃO PRECIPITADA - APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DAINSIGNIFICÂNCIA E DA BAGATELA. Se a prova produzida em

 juízo, em especial a oitiva de testemunha que não foi ouvida na polícia, tem potencialidade para demonstrar a ocorrência ou nãoda infração, precipitada está a decisão do magistrado que rejeitoua denúncia. Outrossim, não há se falar em delito de bagatela, vezque o valor do bem subtraído (cheque no valor de R$ 50,00) não

 pode ser considerado ínfimo e o emprego do princípio da

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insignificância deve ser aplicado cum grano salis, sob pena debanalização. Apelo provido. (APELAÇÃO CRIME Nº 70006996920,OITAVA CÂMARA CRIMINAL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS,RELATOR: MARCO ANTÔNIO RIBEIRO DE OLIVEIRA, JULGADO EM12/11/2003)

5.10) TEORIA DO CRIME CULPOSO

Art. 18 - Diz-se o crime:

(...)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,negligência ou imperícia.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido porfato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.

5.10.1) CONCEITO

- É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo,

lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível, que

podia ser evitado.

5.10.2) ESTRUTURA DO TIPO, ILICITUDE E CULPABILIDADE

-   A culpa é o elemento normativo da conduta.

- O legislador limita-se a prever genericamente a ocorrência da culpa, sem defini-la.

Com isso, para a adequação típica será necessário mais do que simples

correspondência entre conduta e descrição típica. Torna-se imprescindível que se

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proceda a um juízo de valor sobre a conduta do agente no caso concreto,

comparando-a com a que um homem de prudência média teria na mesma situação.

- Ex: homicídio culposo (art. 121, § 3º). Para resolver a questão da tipicidade do fato,

não é suficiente o processo de adequação típica, uma vez que o tipo culposo não é

precisamente definido em face da diversidade imensa das formas de conduta. O juiz,

então, tem de estabelecer um critério para considerar típica a conduta: “toda açãoque, com um resultado suscetível de constituir o fato delituoso, não apresenta

características do ‘cuidado a observar-se nas relações com os demais’, é ação típica

do crime culposo”.

- É a denominada previsibilidade objetiva: é de se exigir a diligência necessária

objetiva quando o resultado produzido era previsível para um homem

comum, nas circunstâncias em que o sujeito realizou a conduta. O cuidadonecessário deve ser objetivamente previsível. É típica a conduta que deixou

de observar o cuidado necessário objetivamente previsível.

5.10.3) ELEMENTOS DA CULPA

a) Conduta humana voluntária

- O fato se inicia com a realização voluntária de uma conduta de fazer ou não fazer.

O agente não pretende praticar um crime nem quer expor interesses jurídicos de

terceiros a perigo de dano. Falta, porém, com o dever de cuidado exigido pela

norma.

b) Resultado involuntário

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- É imprescindível que o evento lesivo jamais tenha sido desejado ou acolhido pelo

agente.

c) Nexo de causalidade

- Somente a ligação, através da previsibilidade, entre a conduta do agente e o

resultado danoso pode constituir o nexo de causalidade no crime culposo, já que oagente não deseja a produção do evento lesivo.

- Desta sorte, se é eliminado in mente  o comportamento do sujeito ativo que tenha

corporificado sua imprudência, negligência ou imperícia e verifica-se a persistência do

resultado, indubitável será a constatação da inexistência de causalidade, elidindo,

portanto, a configuração jurídica do delito de índole culposa.

d) Tipicidade

- Deve haver atenção a este ponto, porquanto o crime culposo precisa estar

expressamente previsto no tipo penal. Ex: não existe menção, no art. 155 do CP, à

culpa, de forma que não há “furto culposo”.

e) Previsibilidade objetiva

- É a possibilidade de prever o resultado lesivo, inerente a qualquer ser humano

normal. Ausente a previsibilidade, afastada estará a culpa, pois não se exige da

pessoa uma atenção extraordinária e fora do razoável.

- Previsibilidade é a possibilidade de ser antevisto o resultado, nas condições em que

o sujeito se encontrava.

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- Suponha-se que o agente dirija veículo na contramão de direção. Há a possibilidade

de serem antevistas a vinda de outro veículo em sentido contrário, em sua mão de

direção, e a ocorrência de um acidente com vítima? O resultado (lesão ou morte da

vítima) era perfeitamente previsível.

- Objeta-se que a previsibilidade é ilimitada, pelo que haveria culpa em todos os

casos de produção de resultados involuntários. Assim, quando se dirige automóvel éprevisível a ocorrência de acidentes. Então, em qualquer acidente automobilístico, p.

ex., o sujeito seria culpável.

- De ver-se, porém, que nem tudo pode ser previsto. O legislador exige que o sujeito

preveja o que normalmente pode acontecer, não que preveja o extraordinário, o

excepcional (ex: “atrás de um bola sempre vem uma criança”).

- A previsibilidade deve ser examinada em face das circunstâncias concretas em que

o sujeito se colocou. Ela não se projeta para um futuro remoto. Se tomo um carro e

viajo para local distante, sei que posso sofrer um acidente. Não é esta previsibilidade

de que se trata. Trata-se de uma previsibilidade presente, atual, nas circunstâncias

do momento da realização da conduta.

- Sendo, portanto, imprevisível o resultado não haverá delito algum, pois se trataráde mero acaso, do caso fortuito, que constituem exatamente a negação da culpa.

- O melhor critério para verificar a previsibilidade é o critério objetivo-subjetivo, ou

seja, verifica-se, no caso concreto, se a média da sociedade teria condições de prever

o resultado, através da diligência e da perspicácia comum, passando-se em seguida à

análise do grau de visão do agente do delito, vale dizer, verifica-se a capacidade

pessoal que o autor tinha para evitar o resultado.

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f) Ausência de previsão

- É necessário que o sujeito não tenha previsto o resultado. Se o previu, não estamos

no terreno da culpa, mas do dolo. O resultado era previsível, mas não foi previsto

pelo sujeito. Daí falar-se que a culpa é a imprevisão do previsível.

g) Inobservância do cuidado objetivo

- Ocorre quando o agente deixa de seguir as regras básicas de atenção e cautela,

exigíveis de todos que vivem em sociedade. Essas regras gerais de cuidado derivam

da proibição de ações de risco que vão além daquilo que a comunidade juridicamente

organizada está disposta a tolerar.

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 Aula 6 – 19.09.2008

OBS: A PARTE QUE TRATA DA TEORIA DO CRIME CULPOSO ATÉ

ELEMENTOS DA CULPA ITENS “A” a “G” foi disponibilizada na

aula anterior (12.09.09).

6.1) MODALIDADES DE CULPA

a) Imprudência

- É a prática de um fato perigoso. Ex. dirigir em alta velocidade em via movimentada.

B) Negligência

- É a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. Ex. deixar

arma de fogo ao alcance de uma criança.

c) Imperícia

- É a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Consiste na incapacidade

ou falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister. Ex.

médico que deixa de tomar as cautelas devidas de assepsia em uma sala de cirurgia,

demonstrando sua nítida inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca

a morte do paciente.

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6.2) DISTINÇÃO ENTRE IMPERÍCIA E ERRO PROFISSIONAL

- A imperícia não se confunde com erro profissional. É o caso de um médico adotar

determinada técnica ao executar uma intervenção cirúrgica em face de escusável erro

de diagnóstico.

- O erro profissional é um acidente escusável, justificável e, de regra, imprevisível,que não depende do uso correto e oportuno dos conhecimentos e regras da ciência.

Esse tipo acidente não decorre da má aplicação de regras e princípios recomendados

pela ciência.

6.3) ESPÉCIES DE CULPA

a) Culpa inconsciente

- é a culpa por excelência, isto é, a culpa sem previsão do resultado. O resultado não

é previsto pelo agente, embora previsível. É a culpa comum, que se manifesta pela

imprudência, negligência ou imperícia.

- Na culpa inconsciente, apesar da presença da previsibilidade, não há previsão por

descuido, desatenção ou simples desinteresse. A culpa inconsciente caracteriza-sepela ausência absoluta de nexo psicológico entre o autor e o resultado de sua ação.

b) Culpa Consciente

- Na culpa consciente o resultado é previsto pelo sujeito, que espera levianamente

que não ocorra ou que possa evitá-lo, confiando na sua atuação para impedir o

resultado. É a chamada culpa com previsão.

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c) Culpa própria

- É a comum, em que o resultado não é previsto, embora seja previsível. Nela o

agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo.

d) Culpa imprópria

- Na culpa imprópria, também denominada culpa por extensão, assimilação ou

equiparação, o resultado é previsto e querido pelo agente, que labora em erro de tipo

inescusável ou vencível.

- É a denominada culpa com previsão. Ocorre quando o agente deseja atingir

determinado resultado, embora o faça porque está envolvido pelo erro (falsa

percepção da realidade) inescusável (não há justificativa para a conduta, pois, commaior prudência, teria sido evitada).

- São casos de culpa imprópria os previstos nos arts. 20, § 1º, 2ª parte, e 23,

parágrafo único, parte final.

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite apunição por crime culposo, se previsto em lei.

Descriminantes putativas 

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõesituação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erroderiva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

(...)

Excesso punível

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Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excessodoloso ou culposo.

- Ex. sujeito vítima de vários furtos. Certa noite, arma-se com um revólver e se coloca

em prontidão, à espera do ladrão. Vendo um vulto no pátio, levianamente

(imprudentemente, negligentemente) pensa ser o ladrão. Acreditando estar agindo

em legítima defesa de sua propriedade, atira na direção do vulto, matando a vítima.

Prova-se, posteriormente, que não se tratava do ladrão contumaz, mas do vigia darua. O agente responde por homicídio culposo. Note-se que o resultado (morte da

vítima) foi querido. O agente, porém, realizou a conduta por erro de tipo, pois as

circunstâncias indicavam que o vulto era do ladrão. Trata-se de erro de tipo vencível

ou inescusável, pois se o agente fosse mais diligente teria evitado o resultado.

Enquanto o erro de tipo escusável exclui o dolo e a culpa, o inescusável afasta o dolo,

subsistindo a culpa. Por isso, o sujeito responde por homicídio culposo, aplicando-se

o disposto no art. 20, § 1º.

e) Culpa mediata ou indireta

- Ocorre quando o agente produz indiretamente um resultado a título de culpa.

- Ex: um motorista se encontra parado no acostamento de uma rodovia

movimentada, quando é abordado por um assaltante. Assustado, foge para o meioda pista e acaba sendo atropelado e morto. O agente responde não apenas pelo

roubo, que diretamente realizou com dolo, mas também pela morte da vítima,

provocada indiretamente por sua atuação culposa (era previsível a fuga em direção à

estrada). Importante notar que, para a configuração dessa modalidade de culpa, será

imprescindível que o resultado esteja na linha de desdobramento causal da conduta,

ou seja, no âmbito do risco provocado, e, além disso, que possa ser atribuído ao

autor mediante culpa.

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6.4) DIFERENÇA ENTRE CULPA CONSCIENTE E DOLO EVENTUAL

- A culpa consciente se diferencia do dolo eventual. Neste, o agente tolera a

produção do resultado, o evento lhe é indiferente, tanto faz que ocorra ou não. Ele

assume o risco de produzi-lo. Na culpa consciente, ao contrário, o agente não quer o

resultado, não assume o risco nem lhe é tolerável ou indiferente. O evento lhe é

representado (previsto), mas confia em sua não-produção.

6.5) CONCORRÊNCIA DE CULPAS

- Há concorrência de culpas quando dois indivíduos, um ignorando a participação do

outro, concorrem, culposamente, para a produção de um fato definido como crime.

6.6) COMPENSAÇÃO DE CULPAS

- A compensação de culpas, que existe no Direito Privado, é incabível em matéria

penal.

- Desse modo, a imprudência do pedestre que cruza a via pública em local

inadequado não afasta a do motorista que, trafegando na contramão, vem aatropelá-lo.

6.7) CULPA NOS DELITOS OMISSIVOS IMPRÓPRIOS

- É possível a ocorrência de crimes omissivos impróprios culposos. É o caso da babá

que, por negligência, descumpre o dever contratual de cuidado e vigilância do bebê e

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não impede que este morra afogado na piscina da casa. Responderá por homicídio

culposo por omissão.

6.8) EXCEPCIONALIDADE DO CRIME CULPOSO

- Nos termos do art. 18, parágrafo único, do CP, “salvo os casos expressos em lei,

ninguém poderá ser punido por fato previsto como crime, senão quando o praticadolosamente”.

- Qual o critério para saber quando um crime admite a modalidade culposa? Diante

de um caso concreto, em que o sujeito agiu culposamente, como se deve fazer para

verificar se o fato é previsto como crime culposo?

- Basta analisar a norma penal incriminadora. Quando o Código admite a modalidadeculposa, há referência expressa à culpa. Quando o Código, descrevendo um crime,

silencia a respeito da culpa, é porque não concebe a modalidade culposa, só admite a

dolosa.

6.9) CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO

Agravação pelo resultado

Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agenteque o houver causado ao menos culposamente.

 A) Conceito

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- É aquele em que o legislador, após descrever uma conduta típica, com todos os

seus elementos, acrescenta-lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um

agravamento da sanção penal.

- É o delito que possui um fato-base, definido e sancionado como crime, embora

tenha, ainda, um evento que o qualifica, aumentando-lhe a pena, em razão da sua

gravidade objetiva, bem como existindo entre eles um nexo de ordem física esubjetiva.

- Para que se corporifique o crime qualificado pelo resultado, imperioso é que

proceda o sujeito ativo com dolo no evento essencial ao delito e, no mínimo, com

culpa – em face da previsibilidade – no resultado circunstancial ou acidental

subseqüente.

- Ex: a ofensa à integridade corporal de outrem, por si só, já configura o crime

previsto no art. 129, caput, do CP, mas, se o resultado final caracterizar uma lesão

grave ou gravíssima, essa conseqüência servirá para agravar a sanção penal, fazendo

com que o agente responda por delito mais intenso.

b) Espécies de crimes qualificados pelo resultado

b.1) Dolo na conduta antecedente e dolo na subseqüente

- Nesse caso, tem-se uma conduta dolosa e um resultado agravador também doloso.

O agente quer produzir tanto a conduta como o resultado agravador.

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- Ex: marido que espanca a mulher até atingir seu intento, provocando-lhe

deformidade permanente (art. 129, § 2º, IV).

- Na hipótese, há dolo no comportamento antecedente e na produção do resultado

agravador, pois o autor não quis apenas produzir ofensa à integridade corporal da

ofendida, mas obter o resultado “deformidade permanente” (dolo no antecedente e

dolo no conseqüente).

b.2) Culpa na conduta antecedente e culpa na conseqüente

- O agente pratica uma conduta culposamente e, além desse resultado culposo,

acabada produzindo outros, também a título de culpa.

- Ex: No crime de incêndio culposo, por exemplo, considerado fato antecedente, se,além do incêndio, vier a ocorrer alguma morte, também por culpa, o homicídio

culposo funcionará como resultado agravador (fato subseqüente). É a hipótese

prevista no art. 258, parte final, do CP, que prevê crime de incêndio culposo

qualificado pelo resultado morte.

b.3) Culpa no antecedente e dolo no conseqüente

- O agente, após produzir um resultado por imprudência, negligência ou imperícia,

realiza uma conduta dolosa agravadora.

- Ex: é o caso do motorista que, após atropelar um pedestre, ferindo-o, foge,

omitindo-lhe socorro (art. 303, parágrafo único, CTB). Houve um comportamento

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anterior culposo, ao qual sucedeu uma conduta dolosa, que agravou o crime (culpa

no antecedente e dolo no conseqüente).

6.10) CRIME PRETERDOLOSO

- CRIME PRETERDOLOSO é aquele em que a conduta produz um resultado mais

grave que o pretendido pelo sujeito. Há dolo na conduta antecedente e culpa naconseqüente.

- No crime preterdoloso, o agente que praticar um crime, mas acaba excedendo-se e

produzindo culposamente um resultado mais gravoso do que o desejado. É o caso da

lesão corporal seguida de morte, na qual o agente quer ferir, mas acaba matando

(art. 129, § 3º).

6.11) DA CONSUMAÇÃO

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

 A) CONCEITO

- Determina o artigo 14, I, do CP que o crime se diz consumado “quando nele se

reúnem todos os elementos de sua definição legal”.

- É o tipo penal integralmente realizado, ou seja, quando o fato praticado pelo

agente se enquadra no tipo abstrato.

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B) DIFERENÇA ENTRE CRIME CONSUMADO E EXAURIDO

- O crime exaurido é aquele no qual o agente, após atingir o resultado consumativo,

continua a agredir o bem jurídico, procura dar-lhe uma nova destinação ou tenta tirar

novo proveito, fazendo com que sua conduta continue a produzir efeitos no mundo

concreto, mesmo após a realização integral do tipo.

C) A CONSUMAÇÃO NAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CRIMES

a) NOS CRIMES MATERIAIS: o momento consumativo é o da produção do

resultado naturalístico. Ex. consuma-se o homicídio com a morte da vítima. No

aborto, o momento consumativo ocorre com a morte do feto.

b) NOS CRIMES DE MERA CONDUTA: o tipo não faz menção ao evento, razão

pela qual a consumação se dá com a simples ação ou omissão delituosa. Ex.

na violação de domicílio a consumação se dá com a simples entrada.

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressaou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

(...)

c) NOS CRIMES FORMAIS: a consumação ocorre com a simples atividade,

independentemente da produção do resultado descrito no tipo.

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- Ex. art. 154 (violação de segredo profissional), atinge-se o momento consumativo

com a simples revelação do segredo, independentemente da efetiva produção do

dano a outrem.

Violação do segredo profissional 

Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

d) NOS CRIMES PERMANENTES: A consumação se protrai no tempo desde o

instante em que se reúnem os seus elementos até que cesse o comportamento do

agente.

- Ex. art. 148 – cárcere privado – o momento consumativo (privação ou restrição da

liberdade de locomoção da vítima) perdura até que o ofendido recupere a sua

liberdade.

Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:

Pena - reclusão, de um a três anos.

e) Crimes habituais: A consumação somente existirá quando houver reiteração de

atos, com habitualidade, já que cada um deles, isoladamente, constitui um

indiferente penal.

6.12) ITER CRIMINIS

- Iter criminis  é o conjunto de fases pelas quais passa o delito. É o caminho do crime.

Compõe-se das seguintes etapas:

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a)   cogitação

b)  atos preparatórios  

c)  execução  

d)  consumação  

a) Cogitação

- É o momento da ideação do delito, ou seja, quando o agente tem a idéia de

praticar o crime.

- A cogitação não constitui fato punível.

- No entanto, há casos em que já constitui delito o desígnio ou propósito de vir a

cometê-lo, como sucede com a conspiração, a incitação ao crime (art. 286), o bandoou quadrilha (art. 288), em que há o propósito delituoso, ou a intenção revelada de

vir a praticá-lo.

Incitação ao crime 

Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:

Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

Quadrilha ou bando 

Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometercrimes:

Pena - reclusão, de um a três anos.

Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

b) Atos preparatórios

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- É a fase de exteriorização da idéia do crime, através de atos, que começam a

materializar a perseguição ao alvo idealizado.

- Os atos preparatórios também não são puníveis, salvo quando o legislador os

define como atos executórios de outro delito autônomo. Nesses casos, o sujeito

pratica crime não porque realizou atos preparatórios do crime que pretendia cometerno futuro, mas sim porque praticou atos executórios de outro delito.

•  Ex. aquele que, desejando cometer uma falsidade, fabrica aparelho próprio para

isso, responde pelo crime do art. 291 (petrechos para falsificação de moeda. É

punido não porque realizou ato preparatório (a fabricação do instrumento) da

falsidade futura, mas porque realizou a conduta descrita no dispositivo citado.

Petrechos para falsificação de moeda 

Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardarmaquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação demoeda:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

c) Execução

- É a fase da realização da conduta designada pelo núcleo da figura típica,

constituída, como regra, de atos idôneos para chegar ao resultado, mas também

daqueles que representarem atos imediatamente anteriores a estes, desde

que se tenha certeza do plano concreto do autor.

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- Ex. comprar um revólver para matar a vítima é apenas a preparação do crime de

homicídio, embora dar tiros do ofendido signifique atos idôneos para chegar ao

núcleo da figura típica “matar”.

d) Consumação

- É o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo penal.

6.13) DISTINÇÃO ENTRE ATOS PREPARATÓRIOS E ATOS EXECUTÓRIOS

- A diferença entre atos preparatórios e de execução, segundo a doutrina, baseia-se

em dois critérios:

a)  Critério material: há ato executório quando a conduta do agente ataca o bem jurídico.

b)  Critério formal: existe ato de execução quando o comportamento do agente dá

início à realização do tipo. O começo da execução é marcado pelo início da realização

do tipo, ou seja, quando se inicia a realização da conduta núcleo do tipo: matar,

ofender, subtrair, etc. É o adotado pelo Código Penal.

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 Aula 7

OBS: O MATERIAL QUE TRATA DA CONSUMAÇÃO ATÉ DISTINÇÃO ENTRE

 ATOS PREPARATÓRIOS E ATOS EXECUTÓRIOS JÁ FOI DISPONIBILIZADO

NA AULA PASSADA (19.09.2008).

7.1) DA TENTATIVA

Art. 14 - Diz-se o crime:

(...)

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontadedo agente.

Pena de tentativa 

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a penacorrespondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

 A) CONCEITO

- TENTATIVA é a execução iniciada de um crime, que não se consuma por

circunstâncias alheias à vontade do agente.

B) NATUREZA JURÍDICA

-  A tentativa constitui ampliação temporal da figura típica. Trata-se de um

dos casos de adequação típica de subordinação mediata (o outro está no concurso de

agente).

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7.2) ELEMENTOS DA TENTATIVA

- São elementos da tentativa:

- início da execução do crime; e

- não-consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente.

a) Início da execução do crime

- Que vem a ser início de execução? Há, basicamente, duas teorias acerca do

assunto: Subjetiva e objetiva.

a.1) Teoria Subjetiva

- Seu enfoque não é a descrição da conduta típica, mas o momento interno do autor,

uma vez que não importa mais verificar se os atos executados pelo agente

correspondem a uma realização parcial do tipo, mas sim examiná-los em função do

ponto de vista subjetivo do respectivo autor.

- Foi criticada pela doutrina.

a.2) Teoria Objetiva

- Para esta teoria, exige-se a existência de uma ação que penetre na fase executória

do crime. Uma atividade que se dirija no sentido da realização de um tipo penal.

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- Trata-se da teoria adotada pelo CP. Ainda assim, dentro da teoria objetiva, a

doutrina se divide em várias correntes.

I) Teoria objetivo-formal

- Preconiza que o ato executório é aquele que constitui uma parte real do fato

incriminado pela lei, ou seja, os atos executórios são os que fazem parte do verbonuclear do tipo.

- É a teoria que sustenta serem atos executórios apenas os idôneos e unívocos para

atingir o resultado típico.

- Critica-se a adoção desta teoria, pois estreitaria sobremaneira a esfera da incidência

da tentativa, deixando esta de abarcar diversos atos reprováveis e passíveis desancionamento, os quais constituiriam meros atos preparatórios impuníveis.

II) Teoria Objetivo-material

- Para esta teoria os autos executórios não são apenas os que realizam o núcleo do

tipo ou atacam o bem jurídico, mas também aqueles imediatamente anteriores ao

início da ação típica, valendo-se o juiz do critério de terceiro observador.

III) Teoria Objetivo-individual

- Defende que os atos executórios não são apenas os que dão início à ação típica,

atacando o bem jurídico, mas também os praticados imediatamente antes, desde que

se tenha prova do plano concreto do autor.

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- A diferença entre esta teoria e a anterior é que não se necessita do terceiro

observador; ao contrário, deve-se buscar prova do plano concreto do agente, sem

avaliação exterior.

- Para Nucci e Damásio, a teoria objetivo-individual é a mais correta.

b) Não-consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade doagente

- As circunstâncias estranhas ao elemento subjetivo do agente podem atuar de forma

diversa. Podem obstar o autor de prosseguir na realização da conduta atuando em

certo sentido psicofísico, deixando incompleto o fato não somente objetiva, mas

também subjetivamente, ou impedem seja completado o tipo por serem

absolutamente alheia à sua vontade, não obstante tenha realizado “todo onecessário” para a produção do resultado.

- Na primeira hipótese, os atos de execução, embora iniciados, ficaram incompletos;

na segunda, a fase de execução ocorreu normalmente, mas o resultado não se

verificou.

7.3) FORMAS DE TENTATIVA: IMPERFEITA E PERFEITA

a) TENTATIVA IMPERFEITA:

- Ocorre quando o processo executório é interrompido por circunstâncias alheias à

vontade do agente.

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- O agente não exauri toda a sua potencialidade lesiva, isto é, não chega a

praticar todos os atos de execução necessários à produção do resultado, por

circunstâncias alheias à sua vontade.

b) TENTATIVA PERFEITA OU ACABADA (CRIME FALHO)

- ocorre quando a fase de execução é integralmente realizada pelo agente, maso resultado não se verifica por circunstâncias alheias à sua vontade.

- O agente realiza tudo o que acha necessário para produzir o resultado,

mas ele não ocorre.

c) TENTATIVA BRANCA OU INCRUENTA

- A vítima não é atingida, nem vem a sofrer ferimentos.

D) TENTATIVA CRUENTA

- A vítima é atingida, vindo a lesionar-se.

7.4) ELEMENTO SUBJETIVO

- O texto do artigo 14, II, demonstra que é a vontade do agente que fornece o

elemento subjetivo final para a configuração da tentativa, pois é ela que especifica a

figura típica a que se encontram ligados os atos executórios.

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- A tentativa não possui dolo próprio, especial, isto é, diferente daquele que informa

o elemento subjetivo do crime consumado. O dolo da tentativa é o mesmo do crime

consumado. Aquele que furta age com o mesmo dolo daquele que tenta furtar.

7.5) INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM A TENTATIVA

a) Crimes culposos

- Os crimes culposos não admitem tentativa.

- Na tentativa, o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado, mas este

não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade.

- Assim, no crime culposo, há evento sem intenção de provocá-lo; na tentativa,

intenção sem resultado. Daí ser impossível tentativa em crime culposo.

b) crimes preterdolosos

- É incompreensível a tentativa de crime preterdoloso, uma vez que neste o resultado

vai além do que o agente desejou e naquele ele não atinge o evento pretendido.

- Sendo o resultado agravado punido a título de culpa, excluída fica a hipótese de

crime tentado.

c) as contravenções (art. 4º LCP);

d) os crimes omissivos próprios

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- Pois ou o agente deixa de realizar a conduta, e o delito se consuma, ou a realiza, e

não se pode falar em crime.

e) Os crimes unissubsistentes

- pois se realizam por único ato.

f) Os crimes habituais

- Pois não possuem iter, como no descrito no art. 230 (rufianismo);

- De fato, o que caracteriza estes crimes é a prática reiterada de certos atos que,

isoladamente, constituem um indiferente penal. Conclusão: ou há reiteração e o

crime consumou-se ou não há reiteração e não há crime.

g) Os crimes permanentes de forma exclusivamente omissiva.

- Ex. cárcere privado praticado por quem não liberta aquele que está em seu poder.

O crime permanente que possui uma fase inicial comissiva admite tentativa.

h) Os crimes de atentado

- Pois é inconcebível tentativa de tentativa.

- Ex: art. 352. A lei pune a tentativa como delito consumado.

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7.6) TENTATIVA E DOLO EVENTUAL

- É perfeitamente possível a coexistência da tentativa com dolo eventual, embora seja

de difícil comprovação no caso concreto.

- Se o agente aquiesce no advento do resultado específico do crime, previsto como

possível, é claro que este entra na órbita de sua volição, logo, se, por circunstânciasfortuitas, tal resultado não ocorre, é inegável que o agente deve responder por

tentativa.

7.7) CRITÉRIO PARA REDUÇÃO DA PENA

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Tentativa 

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontadedo agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a penacorrespondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

- Duas teorias procuram explicar a punibilidade da tentativa: a) a teoria subjetiva; b)

a teoria objetiva.

a) Teoria subjetiva

- A teoria subjetiva fundamenta a punibilidade da tentativa na vontade do autor

contrária ao Direito.

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- Por isso, segundo essa teoria, a pena da tentativa deve ser a mesma do crime

consumado. Desde que a vontade criminosa manifeste-se nos atos de execução do

fato punível, a punibilidade estará justificada.

- Assim, aquele que pratica uma tentativa branca de homicídio (que não produz

ferimentos) deve ter a mesma sanção do homicídio consumado.

b) Teoria Objetiva

- Para esta teoria, não se pune a intenção, mas o efetivo percurso objetivo do iter

criminis .

- O nosso CP adotou a doutrina objetiva. É o que se contém no art. 14, parágrafo

único: pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado,diminuída de 1/3 a 2/3.

- Quanto mais o sujeito se aproxima da consumação menor deve ser a diminuição da

pena (um terço); quanto menos ele se aproxima da consumação, maior deve ser a

atenuação (dois terços).

- A expressão “salvo disposição em contrário” significa que há casos em que atentativa é punida com a mesma pena do crime consumado, sem a diminuição legal.

- Ex: art. 352 do CP.

Evasão mediante violência contra a pessoa 

Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida desegurança detentiva, usando de violência contra a pessoa:

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Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.

7.8) DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ouimpede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

- Trata-se da desistência no prosseguimento dos atos executórios do crime, feita de

modo voluntário, respondendo o agente somente pelo que já praticou.

- A desistência voluntária consiste numa abstenção de atividade: o sujeito cessa o

seu comportamento delituoso. Ex: ladrão, dentro da residência da vítima e

prestes a subtrair-lhe valores, desiste de consumar o furto e se retira.

- A desistência voluntária só é possível na tentativa imperfeita, porquanto na

perfeita o agente já esgotou toda a atividade executória. Na tentativa perfeita poderá

ocorrer o arrependimento eficaz.

7.9) ARREPENDIMENTO EFICAZ

 A) CONCEITO

- Trata-se da desistência que ocorre entre o término dos atos executórios e a

consumação.

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- O agente, nesse caso,  já fez tudo o que podia para atingir o resultado, mas

resolve interferir para evitar a sua consumação.

- Assim, o arrependimento eficaz verifica-se quando o agente ultimou a fase

executiva do delito e, desejando evitar o resultado, atua para impedi-lo.

- Em conseqüência, só é possível na tentativa perfeita ou crime falho nosdelitos materiais ou causais.

B) EFICÁCIA DO ARREPENDIMENTO

- Exige o artigo 15 que o arrependimento do agente seja realmente eficaz, ou seja,

capaz de impedir o resultado. Não se aplica o benefício previsto neste artigo caso o

autor dos atos executórios, embora arrependido, não consiga evitar que o resultadose produza, por qualquer causa.

7.10) NATUREZA JURÍDICA DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E

 ARREPENDIMENTO EFICAZ

- O entendimento dominante, no entanto, é no sentido de que a  desistência

voluntária e o arrependimento eficaz são causas de exclusão da tipicidade(da tentativa), porquanto se o crime não atinge a consumação por força da

vontade do agente, não há que se falar em causa “alheia” à vontade, afastando-se,

assim, a norma de extensão.

- Ex: se estava tentando matar “A” e desiste, já tendo alvejado a vítima, responderá

unicamente pelas lesões corporais causadas.

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- No caso, não responde por tentativa, uma vez que a norma penal considera atípico

o processo executivo em relação ao crime que pretendia inicialmente praticar.

7.11) VOLUNTARIEDADE

- Segundo se depreende do art. 15, tanto a desistência voluntária quanto o

arrependimento eficaz precisam ser voluntários para a produção de efeitos jurídicos.

- Não se exige que o abandono da empreitada criminosa seja espontâneo, bastando a

voluntariedade. Isso significa que a renúncia pode não ser espontânea, mas assim

mesmo aproveita ao agente.

7.12) CONSEQÜÊNCIA

- Diz a última parte do artigo 15 que, não obstante a desistência voluntária e o

arrependimento eficaz, o agente responde pelos atos já praticados. Desta forma,

retiram a tipicidade dos atos somente com referência ao crime cuja execução o

agente iniciou. É o que se denomina TENTATIVA QUALIFICADA.

- É evidente que só responde pelos atos praticados quando relevantes para o Direito

Penal. Assim, se o ladrão, dentro da casa da vítima, desiste de consumar o furto,responde por violação de domicílio (art. 150). Se desiste de consumar o homicídio,

responde por lesão corporal (art. 129) se antes ferira a vítima.

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 Aula 8 – 17.10.2008

OBS: O MATERIAL QUE TRATA DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E

 ARREPENDIMENTO EFICAZ JÁ FOI DISPONIBILIZADO NA AULA PASSADA

(26.09.2008).

8.1) ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Arrependimento posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, porato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

 A) CONCEITO

- Trata-se da reparação do dano causado ou da restituição da coisa subtraída nos

delitos cometidos sem violência ou grave ameaça, desde que por ato voluntário do

agente, até o recebimento da denúncia ou da queixa.

B) NATUREZA JURÍDICA

- É causa obrigatória de redução de pena, pois o artigo 16 é imperativo: “a pena será

reduzida”.

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C) REQUISITOS

a) Crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa

- A lei só se refere à violência dolosa, podendo a diminuição ser aplicada aos crimes

culposos em que há violência, tais como homicídio e lesão corporal culposa.

b) Reparação do dano ou restituição da coisa

- Deve ser sempre integral, a não ser que a vítima ou seus herdeiros aceitem parte,

renunciando ao restante.

- Trata-se de restituição por parte do sujeito ativo do delito. De modo que a simplesapreensão do bem pela autoridade policial não satisfaz a condição legal.

c) Voluntariedade do agente

- A reparação ou restituição por conselho ou sugestão de terceiro não impede a

diminuição, uma vez que o ato, embora não espontâneo, foi voluntário (aceitou o

conselho ou sugestão porque quis).

- Da mesma forma, é admissível o benefício no caso de ressarcimento feito por

parente ou terceiro, desde que autorizado pelo agente, por tratar-se de causa

objetiva de redução obrigatória da pena, a qual não exige que o ato indenizatório

seja pessoalmente realizado pelo sujeito.

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d) Até o recebimento da denúncia ou queixa

- Se for posterior, é circunstância atenuante genérica (art. 65, III, b)

D) COMUNICABILIDADE A CO-AUTORES E PARTÍCIPES

- Tratando-se de causa objetiva de diminuição de pena, o arrependimento posteriornão se restringe à esfera pessoal de quem o realiza, tanto que extingue a obrigação

para todos. Estende-se, portanto, aos co-autores e partícipes condenados pelo

mesmo fato. Damásio e Capez

E) DIFERENÇAS ENTRE ARREPENDIMENTO POSTERIOR E EFICAZ

1ª) O arrependimento eficaz aplica-se também aos crimes cometidos com violênciaou grave ameaça (agente descarrega a arma na vítima e depois se arrepende, a

socorre e evita sua morte); o posterior só incide sobre crimes cometidos sem

violência ou grave ameaça.

2º) O arrependimento eficaz faz com que o agente não responda pelo resultado

visado, mas somente pelos atos até então praticados; o posterior é uma simples

causa de diminuição de pena, prevista na Parte Geral do CP, que permite a reduçãoda pena 1/3 a 2/3.

3º) O arrependimento eficaz é anterior à consumação, enquanto o posterior, o nome

 já diz, pressupõe a produção do resultado.

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8.2) CRIME IMPOSSÍVEL (quase-crime, tentativa inidôena ou

inacabada)

Crime impossível

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absolutaimpropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

 A) CONCEITO

- é a tentativa não punível, porque o agente se vale de meios absolutamente

ineficazes ou volta-se contra objetos absolutamente impróprios, tornando impossível

a consumação do crime.

B) NATUREZA JURÍDICA

- É uma causa de exclusão da tipicidade

- Não se trata de causa de isenção de pena, como parece sugerir a redação do art.

17 do CP, mas de causa geradora de atipicidade, pois não se concebe queira o tipo

incriminador descrever como crime uma ação impossível de se realizar.

C) HIPÓTESES DE CRIME IMPOSSÍVEL

- Em determinados casos, após a prática do fato, verifica-se que o agente nunca

poderia consumar o crime, quer pela ineficácia absoluta do meio empregado, quer

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pela absoluta impropriedade do objeto material (pessoa ou coisa sobre que recai a

conduta).

- Assim, há dois casos de crime impossível:

C.1) DELITO IMPOSSÍVEL POR INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO

- ocorre quando o meio empregado pelo agente, pela sua própria natureza, é

absolutamente incapaz de produzir o resultado.

- EX. o agente querendo matar a vítima mediante veneno, ministra açúcar na

alimentação, supondo ser arsênico.

- Ex. pretender atirar na vítima com arma descarregada.

- Obs: a ineficácia do meio, quando relativa, leva à tentativa e não ao crime

impossível.

- Há ineficácia relativa do meio quando, não obstante eficaz à produção do resultado,

este não ocorre por circunstâncias acidentais. É o caso do agente que pretende

desfechar um tiro de revólver contra a vítima, mas a arma nega fogo.

- Ex: uma porção de açúcar é ineficaz para matar uma pessoa normal, mas apta a

eliminar um diabético.

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C.2) DELITO IMPOSSÍVEL POR IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO

MATERIAL

- Ocorre quando inexiste o objeto material sobre o qual deveria recair a conduta,

ou quando, pela sua situação ou condição, torna impossível a produção do

resultado visado pelo agente.

- A pessoa ou a coisa sobre que recai a conduta é absolutamente inidônea para a

produção de algum resultado lesivo.

- Ex: “A”, pensando que seu desafeto está a dormir, desfere punhaladas, vindo a

provar-se que já estava morto;

- Obs: a impropriedade não pode ser relativa, pois nesse caso haverá tentativa.

- Há impropriedade relativa do objeto quando: a) uma condição acidental do próprio

objeto material neutraliza a eficiência do meio usado pelo agente; b) presente o

objeto na fase inicial da conduta, vem a ausentar-se no instante do ataque: Ex: a

cigarreira da vítima desvia o projétil; o agente dispara tiros de revólver no leito da

vítima, que dele saíra segundos antes.

- Portanto, para que ocorra o crime impossível, é preciso que a ineficácia do meio e a

impropriedade do objeto sejam absolutos. Se forem relativas, haverá tentativa. É a

aplicação da TEORIA OBJETIVA TEMPERADA.

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D) CRITÉRIO DE AFERIÇÃO DA IDONEIDADE

- A aferição da idoneidade deve ser feita no momento em que se realiza a ação ou

omissão delituosa:

a) se concretamente os meios ou o objeto eram inidôneos para a consecução do

resultado já antes de se iniciar a ação executória, o crime é impossível;

b) se os meios ou o objeto tornam-se inidôneos concomitantemente ou após o início

da execução, tipifica-se uma tentativa do crime que se pretendia cometer, porque, no

momento em que o agente praticou o crime, este tinha possibilidade de consumar-se.

- Nos dois casos não há tentativa por ausência de tipicidade.

E) TEORIAS RELATIVAS À PUNIBILIDADE OU NÃO DO CRIME IMPOSSÍVEL

E.1) SINTOMÁTICA

- O critério decisivo é a periculosidade do agente. É preciso que a conduta seja

indício de sua temibilidade criminal. Se o agente demonstrou periculosidade, deve ser

punido.

E.2) SUBJETIVA

- O fator que decide a questão é a intenção do delinqüente, pois existe inidoneidade

em qualquer tentativa, uma vez que o agente não produz o evento. Assim, o autor de

um crime impossível deve sofrer a mesma pena cominada à tentativa.

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- Não é aceita porque confunde a tentativa com a consumação do delito.

E.3) OBJETIVA

- O agente não é punido porque objetivamente não houve perigo para a coletividade.

- A imputação de um fato possui elementos objetivo e subjetivo, e sem aconcorrência do primeiro não há falar-se em tentativa.

- O elemento objetivo é o perigo para os bens penalmente tutelados. É um perigo

que deve ser objetivo e real, advindo desta circunstância o conceito de inidoneidade.

Se a conduta não possui idoneidade para lesar o bem jurídico, não constitui tentativa.

- Pode ser objetiva pura ou objetiva temperada.

I – OBJETIVA PURA

- não há tentativa em qualquer caso, seja inidoneidade absoluta, seja relativa. A

tentativa é uma parte do delito consumado e, assim, não se pode apresentar no caso

de a conduta ser incapaz, desde o início, de conduzir à finalidade da consumação.

- Seja absoluta, seja relativa a inidoneidade, inexiste objeto jurídico em perigo de

lesão, não havendo conduta punível

II – OBJETIVA TEMPERADA

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- Nessa modalidade de flagrante, não há interferência na vontade do autor, por essa

razão não existe a figura do agente provocador, sendo o fato típico e ilícito e a prisão

perfeitamente válida.

I) FURTO SOB VIGILÂNCIA

- Trata-se de hipótese extremamente polêmica, suscitando correntes que apóiam a

ocorrência de crime impossível, enquanto outras a rejeitam.

- Para Nucci, há duas possibilidades nesse caso.

- Quando o agente se encontra em supermercado, por exemplo, vigiado em todos os

corredores por câmaras, bem como por seguranças que o acompanham o tempotodo, sem perdê-lo de vista, não é razoável defender a hipótese de que, ao chegar à

saída do estabelecimento, seja detido em flagrante por tentativa de furto. Qual seria

a viabilidade de consumação se foi acompanhado o tempo todo por funcionários do

supermercado? Nenhuma. Logo, é crime impossível.

- Entretanto, caso o agente, ainda que visualizado por alguma câmara furtando, não

seja acompanhado o tempo todo, propiciando que os seguranças o percam de vista,é possível cuidar de tentativa de furto, pois, no caso concreto, havia viabilidade para

a consumação do furto.

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 Aula 9 – 24.10.2008

OBS: O MATERIAL QUE TRATA DO CRIME IMPOSSÍVEL JÁ FOI

DISPONIBILIZADO NA AULA PASSADA

9.1) ERRO DE TIPO

Erro sobre elementos do tipo

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

(...)

9.1.A) CONCEITO

- A figura típica (ou tipo legal) é composta de elementos específicos ou elementares.

Em outras palavras, os “elementos constitutivos do tipo” tratam de cada componente

que constitui o modelo legal de conduta proibida.

- Ex. No crime de lesão corporal temos os seguintes elementos: ofender +

integridade corporal + saúde + outrem. O engano sobre qualquer desses elementos

pode levar ao erro de tipo.

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

- Portanto, erro do tipo é o que incide sobre as elementares ou circunstâncias da

figura típica, sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação ou dados

secundários da norma penal incriminadora.

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- Ex. o sujeito dispara um tiro de revólver no que supõe ser um animal bravo, vindo a

matar um homem. A falsa percepção da realidade incidiu sobre uma elementar do

crime de homicídio  “matar alguém”.  A falsa percepção da realidade incidiu sobre

um elemento do crime de homicídio.

- Há, na verdade, uma falsa percepção da realidade pelo sujeito, que, se a

conhecesse (se soubesse que se tratava de um homem), não realizaria a conduta.

- O erro de tipo pode recair sobre uma circunstância qualificadora.

- Ex. No crime de lesão corporal seguida de aborto, o sujeito não responde por este

crime se desconhecia o estado de gravidez da vítima. É que neste caso ele supõe

inexistente uma circunstância do crime (o estado de gravidez da vítima), subsistindo

o tipo fundamental doloso (lesão corporal leve).

- Por último, pode recair sobre os pressupostos de fato de uma excludente da

ilicitude, como por exemplo, a legítima defesa putativa, em que o sujeito, diante

das circunstâncias de fato, supõe a existência de uma agressão injusta.

- O erro de tipo sempre exclui o dolo, seja invencível ou vencível, podendo, no

entanto, dependendo do caso concreto, levar à punição por crime culposo, seprevisto em lei.

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9.1.B) EXEMPLOS DE ERRO DE TIPO

a) Erro incidente sobre situação de fato descrita como elementar do tipo

incriminador

- O agente pega uma caneta alheia, supondo-a de sua propriedade. Seu erro não

incidiu sobre nenhuma regra legal, mas sobre uma situação concreta, de fato, isto é,um dado da realidade.

- A equivocada apreciação da situação de fato (pensou que a caneta alheia fosse sua)

fez com que imaginasse estar pegando um bem próprio, e não um objeto

pertencente a terceiro.

- Por essa razão, o erro, quando incidente sobre situação de fato definida comoelemento de tipo incriminador, exclui o dolo, impedindo o sujeito de saber que está

cometendo o crime.

b) Erro incidente sobre a relação jurídica descrita como elementar de tipo

incriminador

- O agente casa-se com mulher já casada, supondo ser ela solteira, viúva udivorciada. Operou-se um equívoco sobre o estado civil da nubente, ou seja, sobre a

sua situação jurídica. Essa situação, por sua vez, encontra-se descrita como

elementar do tipo da bigamia.

- O casamento anterior válido é elementar do subtipo do crime de bigamia previsto

no art. 235, § 1º.

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- Assim, a confusão sobre esse dado da realidade impediu o agente de ter

conhecimento de um elemento imprescindível para a existência do crime, excluindo

sua consciência, e, conseqüentemente, sua vontade de realizar a conduta típica.

c) Erro incidente sobre situação de fato descrita como elementar de tipo

permissivo

- Tipo permissivo é aquele que permite a realização de um fato típico, sem configurar

infração penal. Trata-se das causas de exclusão da ilicitude, e, por essa razão, são

chamados também de tipos justificadores ou excludentes.

- Sempre que o equívoco incidir sobre uma situação descrita como elementar de um

tipo permissivo, ou seja, como exigência para a existência de uma causa de exclusãoda ilicitude, estaremos diante de um erro de tipo.

- Ex: A vítima enfia a mão no bolso para tirar um lenço, e o agente, supondo que ela

vai sacar uma arma, imagina-se em legítima defesa. No caso, o erro sobre o dado da

realidade fez com que o sujeito imaginasse a presença de um elemento

imprescindível para a excludente, qual seja, o requisito da agressão iminente.

d) Erro incidente sobre circunstância de tipo incriminador

- Em outro exemplo, se o ladrão deseja furtar um bem de grande valor (um relógio

de ouro), mas, por engano, leva um de valor ínfimo (relógio de lata pintado), seu

erro incide sobre situação concreta descrita como circunstância privilegiadora do tipo

de furto (furto de pequeno valor ou privilegiado).

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- No caso, não há que se falar em exclusão do dolo, porque o equívoco não incidiu

sobre dado essencial à existência do crime, mas sobre mera circunstância

privilegiadora, que apenas diminui a sanção penal.

- O dolo, nesse caso, subsiste, ficando eliminada apenas a circunstância.

9.1.C) ERRO DE TIPO E DELITO PUTATIVO POR ERRO DE TIPO

- No erro de tipo, o agente não sabe que está cometendo um crime, mas acaba por

praticá-lo.

- No delito putativo por erro de tipo, o sujeito quer praticar um crime, mas, em face

do erro, desconhece que está cometendo um irrelevante penal. Delito putativo é o

delito erroneamente suposto, imaginário, que só existe na mente do agente.

- Ex: mulher que, pretendendo praticar um aborto em face de supor encontrar-se em

estado de gravidez, ingere substância abortiva. A inexistência da gravidez (erro de

tipo) enseja o cometimento de um indiferente penal. A realidade do crime só existe

na mente da agente.

9.1.D) FORMAS DE ERRO DE TIPO

- O erro de tipo pode ser:

- a) essencial; e

- b) acidental

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9.1.E) ERRO DE TIPO ESSENCIAL

- É o erro que incide sobre as elementares e circunstâncias do tipo.

- Daí no nome erro essencial: incide sobre situação de tal importância para o tipo

que, se o erro não existisse, o agente não teria cometido o crime, ou, pelo menos,

não naquelas circunstâncias.

- Portanto, há erro de tipo essencial quando a falsa percepção da realidade impede o

sujeito de compreender a natureza criminosa do fato.

- o erro de tipo essencial se subdivide em: INVENCÍVEL OU VENCÍVEL

 A) INVENCÍVEL (OU ESCUSÁVEL)

- Ocorre quando não pode ser evitado pela normal diligência . Qualquer pessoa,

empregando a diligência ordinária exigida pelo ordenamento jurídico, nas condições

em que se viu o sujeito, incidiria em erro.

- Ex. o agente se embrenha em mata virgem e fechada, distante de qualquer centro

urbano, com a intenção de caçar capivara. Pelas tantas, vislumbra um vulto semovimentando pela intensa vegetação. Supondo ser um animal, efetua um disparo.

 Atinge o alvo e constata, para sua surpresa, que abateu não um animal, mas um ser

humano que, por coincidência, também caçava por ali.

- O erro de tipo essencial invencível exclui o dolo e a culpa, pois o sujeito não

age dolosa ou culposamente.

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B)  ERRO VENCÍVEL (OU INESCUSÁVEL)  

- ocorre quando pode ser evitado pela diligência ordinária , resultando de imprudência

ou negligência. Qualquer pessoa, empregando a prudência normal exigida pela

ordem jurídica, não cometeria o erro em que incidiu o sujeito.

- É o erro evitável, indesculpável ou inescusável (cuidado: vencível = inescusável):poderia ter sido evitado se o agente empregasse mediana prudência.

- Ex. Suponha-se que o agente vá caçar em mata próxima a zona urbana, onde

costumam passar pessoas, e efetua um disparo de arma de fogo contra um vulto

pensando ser um animal, atingindo, na verdade, uma pessoa que passava pelo local,

matando-a. No caso, não obstante ter se verificado o erro de tipo, o erro, pelas

circunstâncias, não era plenamente justificável, porquanto o agente agiu comimprudência, sem o devido cuidado objetivo, devendo responder por homicídio

culposo.

- o erro de tipo essencial vencível  exclui o dolo, mas não a culpa, desde que

previsto em lei o crime culposo.

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9.1.G) EFEITOS DO ERRO DE TIPO ESSENCIAL

Erro sobre elementos do tipo

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

a) Em relação ao erro invencível

- O erro invencível exclui o dolo e a culpa.

- Como sem dolo e culpa não existe conduta (teoria finalista) e sem ela não há fato

típico, o erro de tipo essencial invencível (inevitável), recaindo sobre uma elementar,

leva à atipicidade do fato e à exclusão do crime.

- No exemplo do caçador que atira no amigo supondo tratar-se de animal bravio,

tratando-se de erro de tipo essencial invencível, não responde por crime de homicídio

doloso ou culposo. Provando-se que qualquer pessoa, nas condições em que se viu

envolvido, teria a mesma suposição, qual seja, que se tratava de animal bravio, há

exclusão do dolo e da culpa, aplicando-se o disposto no art. 20, caput, 1ª parte.

b) Em relação ao erro vencível

- O erro vencível, recaindo sobre elementar, exclui o dolo, pois todo erro essencial o

exclui, mas não a culpa. Se o erro poderia ter sido evitado com um mínimo de

cuidado, não se pode dizer que o agente não se houve com culpa.

- Ex: o sujeito vê sobre a mesa uma carteira. Acreditando ter recuperado o objeto

perdido, subtrai-o para si. Não houve, contudo, nenhuma intenção de praticar o

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furto, pois, se o agente não sabia que a coisa era alheia, como é que poderia ter

querido subtrai-lo de alguém? Exclui-se, portanto, o dolo. Não restou configurado o

furto doloso.

- Por outro lado, embora tivesse havido culpa, já que a carteira subtraída era

totalmente diferente, como o tipo do art. 155 do CP não abriga a modalidade culposa

(o furto culposo é fato atípico), não há que se falar na ocorrência de crime.

- Assim, é irrelevante indagar se o erro foi vencível ou invencível, pois de nada

adianta vislumbrar a existência de culpa nesse caso.l

- Já no homicídio, em que é prevista a forma culposa, torna-se necessário indagar

sobre a natureza do erro essencial, pois, se ele for vencível, o agente responderá por

crime culposo.

- Suponhamos naquele exemplo do caçador que o artista estivesse sem fantasia,

sendo o erro produto da miopia do atirador. Nesse caso, estaria configurado o

homicídio culposo.

- Portanto, no exemplo do caçador que atira no amigo supondo tratar-se de animal

bravio, podem ocorrer duas hipóteses:

- tratando-se de erro de tipo essencial invencível, não responde por crime de

homicídio doloso ou culposo. Provando-se que qualquer pessoa, nas condições em

que se viu envolvido, teria a mesma suposição, qual seja, que se tratava de animal

bravio, há exclusão do dolo e da culpa, aplicando-se o disposto no art. 20, caput, 1ª

parte.

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- Tratando-se de erro de tipo essencial vencível, não responde por crime de

homicídio doloso, mas sim por crime de homicídio culposo. Provando-se que qualquer

pessoa, nas condições em que o caçador se viu envolvido, empregando a diligência

ordinária exigida pela ordem jurídica, não incidiria em erro, isto é, não faria a leviana

suposição de tratar-se de animal bravio, há exclusão do dolo, mas não da culpa.

- É que neste caso o erro resultou de desatenção, leviandade, negligência do sujeito,pelo que deve responder pelo fato culposo, nos termos do art. 20, caput, 2ª parte.

- Explicando em outros termos:

- A figura típica é composta de elementos específicos ou elementares. A par das

elementares, às vezes o legislador acrescenta ao tipo determinadas circunstâncias

que aumentam a pena. É o que ocorre na lesão corporal qualificada pelo aborto (art.

129, § 2º, V).

- O erro de tipo pode incidir sobre esses elementos (elementares e circunstâncias

qualificadoras). Quando isso ocorre, tratando-se de erro essencial invencível, há

exclusão do dolo e da culpa.

- Ex: suponha-se que o agente, ao retirar-se da residência do vizinho, em vez de

apanhar o chapéu próprio, apanhe o alheio. Não responde por crime de furto. É queo erro incidiu sobre uma elementar do crime, qual seja, a que se refere à qualidade

de ser alheia a coisa móvel. Ele supôs que fosse própria; supôs a inexistência da

elementar alheia do fato cometido. O erro pode também incidir sobre uma

circunstância.

- No crime de lesão corporal seguida de aborto, por esta qualificadora não responde

o agente se desconhecia o estado de gravidez da vítima. É que neste caso ele supõe

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inexistente uma circunstância do crime (o estado de gravidez da vítima), subsistindo

o tipo fundamental doloso.

- No que se refere ao erro quanto à condição integrante do tipo, tratando-se de

elementar, não há exclusão da culpa quando deriva da espécie vencível, respondendo

por crime culposo se prevista a forma culposa para o fato praticado. É o exemplo do

caçador que levianamente atira num vulto, vindo a matar o companheiro. Háexclusão do dolo, mas não da culpa, respondendo por homicídio culposo. Só há

exclusão do dolo e da culpa quando se trata de erro invencível.

- às vezes, o erro quanto à condição integrante do tipo opera desclassificação para

outro delito. Ex: o sujeito injuria um funcionário público no exercício da função,

desconhecendo a qualidade pessoal da vítima (insciente de que se trata de

funcionário público). Não responde por desacato (art. 331), subsistindo a punição deinjúria (art. 140).

- O erro de tipo também pode recair sobre circunstância agravante genérica. Ex: o

sujeito pratica lesão corporal contra a vítima, desconhecendo que ela se encontra

doente. Não incide a circunstância qualificativa do art. 61, II, h, (3ª figura).

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9.2) DESCRIMINANTES PUTATIVAS

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

Descriminantes putativas

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelascircunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há

isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

 A) CONCEITO

- É a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela não

existe na realidade, mas o sujeito pensa que sim, porque está errado. Só existe,

portanto, na mente, na imaginação do agente. Por essa razão, é também conhecida

como descriminante imaginária ou erroneamente suposta.

- Logo, é possível que o sujeito, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias

do caso concreto, suponha encontrar-se em estado de necessidade, legítima defesa,

estrito cumprimento do dever legal ou em exercício regular do direito. Quando isso

ocorre, aplica-se o disposto no art. 20, § 1º, 1ª parte. Surgem as denominadas

eximentes putativas ou causas putativas de exclusão da antijuridicidade. Resultam da

combinação do art. 20, § 1º, 1ª parte, com os incisos do art. 23 (com remissão aos

arts. 24 e 25, que conceituam, respectivamente, o estado de necessidade e a legítima

defesa).

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B) ESPÉCIES

B.1) DESCRIMINANTE PUTATIVA POR ERRO DE TIPO

- É um erro de tipo essencial incidente sobre elementares de um tipo permissivo. Os

tipos permissivos são aqueles que permitem a realização de condutas inicialmente

proibidas. Compreendem os que descrevem as causas de exclusão da ilicitude, outipos descriminantes. São espécies de tipo permissivo: legítima defesa, estado de

necessidade, exercício regular do direito e estrito cumprimento do dever legal.

- Os tipos permissivos, do mesmo modo que os incriminadores (que descrevem

crimes), são também compostos por elementos que, na verdade, são os seus

requisitos. Assim, por exemplo, a legítima defesa possui os seguintes elementos:

agressão injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, moderação na repulsae emprego dos meios necessários.

- Ocorrerá um erro de tipo permissivo quando o agente, erroneamente, imaginar uma

situação de fato totalmente diversa da realidade, em que estão presentes os

requisitos de uma causa de justificação.

- Daí a conclusão de que a descriminante putativa por erro de tipo é uma espécie deerro de tipo essencial. As conseqüências estão expostas no art. 20, § 1º, do CP, que,

por engano, fala genericamente em descriminantes putativas, quando, na verdade,

deveria especificar que só está tratando de uma de suas espécies: a descriminante

putativa por erro de tipo.

- Os efeitos são os mesmos do erro de tipo, já que a descriminante putativa por erro

de tipo não é outra coisa senão erro de tipo essencial incidente sobre tipo permissivo.

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- Assim, se o erro for evitável, o agente responde por crime culposo, já que o dolo

será excluído, da mesma forma como sucede com o erro de tipo propriamente dito;

se o erro for inevitável, excluir-se-ão o dolo e a culpa e não haverá crime.

- Cuidando-se de erro invencível, há exclusão do dolo e culpa. Tratando-se de erro

vencível, responde o sujeito por crime culposo, se prevista a modalidade culposa.

Provando-se que o sujeito não foi diligente no verificar as circunstâncias do fato,responde por crime de homicídio culposo (art. 20, § 1º).

B.2) DESCRIMINANTE PUTATIVA POR ERRO DE PROIBIÇÃO

- O agente tem perfeita noção de tudo o que está ocorrendo. Não há qualquer

engano acerca da realidade. Não há erro sobre a situação de fato. Ele supõe que estádiante da causa que exclui o crime, porque avalia equivocadamente a nora: pensa

que esta permite, quando, na verdade, ela proíbe; imagina que age certo, quando

está errado; supõe que o injusto é justo.

- O sujeito imagina estar em legítima defesa, estado de necessidade etc., porque

supõe estar autorizado e legitimado pela norma a agir em determinada situação.

- Ex: uma pessoa de idade avançada recebe um violento tapa em seu rosto, desferido

por um jovem atrevido. O idoso tem perfeita noção do que está acontecendo, sabe

que seu agressor está desarmado e que o ataque cessou. Não existe, portanto,

qualquer equívoco sobre a realidade concreta. Nessa situação, no entanto, imagina-

se equivocadamente autorizado pelo ordenamento jurídico a matar aquele que o

humilhou, atuando, assim, em legítima defesa de sua honra.

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- Ocorre aqui uma descriminante (a legítima defesa é causa de exclusão da ilicitude)

putativa (imaginária, já que não existe no mundo real) por erro de proibição (pensou

que a conduta proibida fosse permitida). No exemplo dado, a descriminante, no caso

a legítima defesa, foi putativa, pois só existe na mente do homicida, que imaginou

que a lei lhe tivesse permitido matar. Essa equivocada suposição foi provocada por

erro de proibição, isto, por erro sobre a ilicitude da conduta praticada.

- Exemplo de erro quanto aos limites da excludente da ilicitude: O sujeito supõe, por

erro, que o oficial de justiça está se excedendo na penhora de seus bens e, mediante

violência, impede parte da diligência.

- Ex2. é possível que o agente, conhecedor da excludente da legítima defesa, supõe

poder defender a sua honra, matando o amante da mulher. Trata-se de um flagrante

excesso, portanto um erro nos limites impostos pela excludente.

- As conseqüências dessa descriminante putativa encontram-se no art. 21 do CP e

são as mesmas do erro de proibição direto ou propriamente dito.

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciênciada ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.

- O dolo não pode ser excluído, porque o engano incide sobre a culpabilidade e não

sobre a conduta (por isso, erro de proibição). Se o erro for inevitável, o agente terá

cometido um crime doloso, mas não responderá por ele; se evitável, responderá pelo

crime doloso com pena diminuída de 1/6 a 1/3.

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C) CONSEQÜÊNCIAS

- Nosso CP, tendo adotado a teoria limitada da culpabilidade, disciplina o tema

da seguinte forma:

- Quando o erro incide sobre os pressupostos de fato da excludente, trata-

se de erro de tipo , aplicando-se o disposto no art. 20, § 1º.

- Se invencível, há exclusão do dolo e da culpa. Exemplos acima.

- se vencível, fica excluído o dolo, podendo o sujeito responder por crime culposo.

(matar o vigia pensando ser o ladrão).

- Quando, entretanto, o erro do sujeito recai sobre os limites legais(normativos) da causa de justificação, aplicam-se os princípios do erro de

proibição: se inevitável, há exclusão da culpabilidade; se evitável, não se

exclui a culpabilidade, subsiste o crime doloso atenuando-se a pena (art.

21).

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 Aula 10 – 31.10.2008

10.1) ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO

Erro sobre elementos do tipo 

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a

punição por crime culposo, se previsto em lei.

Erro determinado por terceiro

§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

- Existe o erro provocado quando o sujeito a ele é induzido por conduta de terceiro. A

provocação pode ser dolosa ou culposa.

- A posição do terceiro provocador é a seguinte:

- Responde pelo crime a título de dolo ou culpa, de acordo com o elemento subjetivo

do induzimento.

- A posição do provocado é a seguinte:

- a) Tratando-se de erro invencível, não responde pelo crime cometido, que a título

de dolo, quer de culpa.

- b) tratando-se de provocação de erro vencível, não responde pelo crime a título de

dolo, subsistindo a modalidade culposa, se prevista na lei penal incriminadora.

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10.2) ERRO DE TIPO ACIDENTAL

- Incide sobre dados irrelevantes da conduta típica. Não impede o sujeito de

compreender o caráter ilícito de seu comportamento. Mesmo que não existisse, ainda

assim a conduta seria antijurídica.

- São casos de erro acidental:

a)  erro sobre o objeto

b)  erro sobre pessoa

c)  erro na execução (aberratio ictus)

d)  resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)

10.2.A) ERRO SOBRE OBJETO

- Há erro sobre objeto quando o sujeito supõe que sua conduta recai sobre

determinada coisa, sendo que, na realidade, ela incide sobre outra.

- É o caso do sujeito subtrair farinha pensando ser açúcar. O erro é

irrelevante, pois a tutela penal abrange a posse e a propriedade de qualquer coisa,

pelo que o agente responde por furto.

10.2.B) ERRO SOBRE PESSOA

Art. 20 

Erro sobre a pessoa 

§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não seconsideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o

agente queria praticar o crime.

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10.2.C) ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus)

Erro na execução

Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente,ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, respondecomo se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º doart. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendiaofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

 A) CONCEITO

- Aberratio ictus  significa aberração no ataque ou desvio do golpe. Ocorre quando o

sujeito, pretendendo atingir uma pessoa, vem a ofender outra.

- Tratando-se de erro acidental, a aberratio ictus  não exclui a tipicidade do

fato. Aplica-se somente ao crime doloso.

- Há duas formas de aberratio ictus :

a)  aberratio ictus com unidade simples (com resultado único: morte ou lesão

corporal);

b)  aberratio ictus com unidade complexa (com resultado duplo).

B) ABERRATIO ICTUS COM UNIDADE SIMPLES

- O CP vê na aberratio ictus   com unidade de resultado um só delito  (tentado ou

consumado). Podem ocorrer duas hipóteses:

I) a vítima efetiva (não visada) sofre lesão corporal: o agente responde por

tentativa de homicídio (como se a vítima virtual tivesse sofrido a lesão).

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- A lesão corporal culposa sofrida pela vítima efetiva fica absorvida pela tentativa de

homicídio.

II) a vítima efetiva morre: na realidade haveria uma tentativa de homicídio 

contra a vítima virtual e um homicídio contra a vítima efetiva. No entanto, o CP vê

uma unidade de crime, um só crime de homicídio doloso  (como se o agente

tivesse matado a vítima virtual). É o que determina o art. 73: “ Quando, por acidenteou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que

 pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime

contra aquela ...”

- Nos dois casos, de acordo com o que preceitua o art. 73, 1ª parte, in fine, deve ser

atendido ao disposto no art. 20, § 3º, 2ª parte. Exs:

a) O agente pretende matar Pedro, que se encontra ao lado de seu pai (do agente).

 Atira e vem a matar o próprio pai. Sobre o fato não incide a agravante genérica da

relação de parentesco (art. 61, II, “e”, 1ª figura).

b) O agente pretende matar o próprio pai, que se acha conversando com Pedro,

estranho. Atira e mata o terceiro. Sobre o fato incide a circunstância agravante.

C) ABERRATIO ICTUS COM RESULTADO DUPLO

- Ocorre quando o agente atinge a vítima virtual e terceira pessoa. Aplica-se a

2ª parte do art. 73: “(...) No caso de ser também atingida a pessoa que o agente

pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código”.

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- Neste caso, a solução dada pelo CP se justifica pela unidade de atividade criminosa,

incidindo a regra do concurso formal de crimes. 

- Ex. Suponha-se que o agente, pretendendo matar Antônio, venha também a atingir

Pedro. Podem ocorrer vários casos:

a)  O agente mata Antônio e Pedro:  na realidade, haveria um crime dehomicídio doloso em relação a Antônio e um homicídio culposo  em relação a

Pedro. O agente responde por um crime de homicídio doloso  (pena mais grave

que a imposta ao homicídio culposo) aumentada a pena de 1/6 até metade.

b)  O agente mata Antônio e fere Pedro: na realidade, há 02 crimes: um

homicídio doloso em relação a Antônio e uma lesão corporal culposa em relação a

Pedro. Solução: responde por um crime de homicídio doloso (pena mais grave)aumentada de 1/6 até metade.

c) O agente fere Antônio e Pedro: haveria tentativa de homicídio contra Antônio e

uma lesão corporal culposa em relação a Pedro. Solução: responde por tentativa

de homicídio, aumentando a pena de 1/6 até metade.

d) o agente mata Pedro e fere Antônio: na realidade, há dois crimes: homicídioculposo contra Pedro e tentativa de homicídio contra Antônio. COMO O AGENTE

MATOU PEDRO (VÍTIMA EFETIVA), É COMO SE TIVESSE MATADO ANTÔNIO

(VÍTIMA VIRTUAL).  Aplica-se a regra do concurso formal: pena de

HOMICÍDIO acrescida de 1/6 até metade.

- De observar que o art. 73, 2ª parte, quando trata da duplicidade de resultado,

manda aplicar o disposto no art. 70, que, em sua 2ª parte, reza o seguinte: “As

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penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os

crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos”.

- É possível que o agente (nos exemplos dados) tenha previsto (e aceito) a morte do

terceiro (Pedro). Então, não há aplicação de uma pena com o acréscimo legal.

Embora o concurso permaneça formal, aplica-se quanto a pena regra do concurso

material, isto é, as penas devem ser somadas (cumulo material).

- Ocorre que, tendo previsto o resultado, aceitando e admitindo a sua produção, não

se pode falar em culpa em relação ao terceiro, mas sim em dolo eventual (ele

assumiu o risco de produzir o resultado morte do terceiro). Diante disso, deve

responder por dois crimes.

- 1º) o agente mata Antônio e Pedro: responde por dois crimes dolosos de homicídio(dolo direto em relação a Antônio; dolo eventual em relação a Pedro).

- 2º) o agente mata Antônio e fere Pedro: responde por um crime de homicídio

doloso consumado (contra Antônio) e por uma tentativa de homicídio (contra Pedro);

- 3º) O agente fere Antônio e Pedro: responde por duas tentativas de homicídio;

- 4º) o agente fere Antônio e mata Pedro: responde por um crime de homicídio

doloso consumado (contra Pedro) e por uma tentativa de homicídio.

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10.2.D) RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO (aberratio criminis)

Resultado diverso do pretendido 

Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime,sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto comocrime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

 A) CONCEITO

- Significa desvio do crime.

- O agente quer atingir um bem jurídico, mas, por erro na execução, acerta bem

diverso. Aqui, não se trata de atingir uma pessoa em vez de outra, mas de cometer

um crime no lugar de outro.

- Ex: o agente joga uma pedra contra uma vidraça e acaba acertando uma pessoa,

em vez do vidro.

B) ESPÉCIES

- Enquanto na aberratio ictus, se o agente quer ofender “A” e vem a atingir “B”,

responde como se tivesse atingido o primeiro, na aberratio criminis a solução édiferente, pois o Código manda que o resultado diverso do pretendido seja punido a

título de culpa. Podem ocorrer vários casos.

1º) Com unidade simples ou resultado único:

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- só atinge o bem jurídico diverso do pretendido. Ou seja, o agente quer atingir uma

coisa e atinge uma pessoa. Responde pelo resultado produzido a título de culpa

(homicídio ou lesão corporal culposos).

- o agente pretende atingir uma pessoa e atinge uma coisa. Não responde por crime

de dano culposo, uma vez que o CP não prevê a modalidade culposa. Pode responder

por tentativa de homicídio ou tentativa de lesão corporal, conforme o elementosubjetivo.

- Portanto, a conseqüência é a seguinte: responde só pelo resultado produzido e,

mesmo assim, se previsto como crime doloso.

2º) Com unidade complexa ou resultado duplo:

- O agente quer atingir uma coisa, vindo a ofender esta e uma pessoa. Responde por

dois crimes: dano (art. 163) e homicídio ou lesão corporal culposa em concurso

formal (concurso entre crime doloso e culposo). Aplica-se a pena do crime mais grave

com o acréscimo de 1/6 até metade.

10.3) ERRO DE PROIBIÇÃO

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciênciada ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.

 A) INESCUSABILIDADE DA IGNORÂNCIA DA LEI

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- De acordo com o art. 3º da LICC, “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando

que não a conhece”.

- A ignorância formal da lei não exclui a culpabilidade, podendo funcionar como

atenuante genérica (art. 65, II). A falta de conhecimento da ilicitude, isto é, falta de

conhecimento da regra de proibição, pode levar à exclusão da culpabilidade, se

inevitável, ou reduzir o juízo de censurabilidade, se evitável.

B) CONCEITO

- Se o sujeito não tem possibilidade de saber que o fato é proibido, sendo

inevitável o desconhecimento da proibição, a culpabilidade fica afastada.

- Surge o erro de proibição: O erro de proibição é o erro que incide sobre ailicitude do fato. O sujeito, diante do erro, supõe lícito o fato por ele cometido. Ele

sabe o que faz, mas supõe inexistir a regra de proibição.

- EX: um soldado, perdido de seu pelotão, sem saber que a paz foi celebrada, mata

um inimigo, acreditando ainda estar em guerra. Trata-se de um erro quanto à

ilicitude do fato, uma vez que, durante o período de guerra, é lícito eliminar o

inimigo.

C) DISTINÇÃO ENTRE ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO

- No erro de tipo, o agente tem uma visão distorcida da realidade, não vislumbrando

na situação que se lhe apresenta a existência de fatos descritos no tipo como

elementares ou circunstâncias.

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- No erro de proibição, ao contrário, há uma perfeita noção acerca de tudo o que se

está passando. O sujeito conhece toda a situação fática, sem que haja distorção da

realidade. - Há, por conseguinte, uma perfeita compreensão da situação de fato e

uma errada apreciação sobre a injustiça do que faz. Nesse aspecto reside sua

principal distinção com o erro de tipo.

- O erro de proibição exclui a consciência da ilicitude, pois impede o agente de saberque faz algo injusto, enquanto o erro de tipo impede-o de saber que realiza um fato

típico. O erro de tipo exclui o dolo e, quando inescusável, a culpa; o de proibição

pode ser causa de exclusão da culpabilidade.

D) FORMAS DE ERRO DE PROIBIÇÃO

- O erro de proibição pode ser: Escusável ou Inescusável.

D.1) ESCUSÁVEL OU INEVITÁVEL:

- quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado,

valendo-se o ser humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de

exclusão da culpabilidade.

- Ex. um jornal de grande circulação, por engano, divulga que o novo CP foi

aprovado, trazendo como excludente de ilicitude a eutanásia. Um leitor apressa a

morte de um parente, crendo agir sob o manto da causa de justificação inexistente.

Trata-se de erro escusável.

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D.2) INESCUSÁVEL OU EVITÁVEL:

- trata-se de erro sobre a ilicitude do fato que não se justifica, pois, se

tivesse havido um mínimo de empenho em se informar, o agente poderia ter tido

conhecimento da realidade.

- Ex. abstendo-se do seu dever de se manter informado, o agente deixa de tomarconhecimento de uma lei, divulgada na imprensa, que transforma em crime

determinada conduta. Praticando o ilícito, não há exclusão da culpabilidade, embora

haja redução da pena, variando de um 1/6 a 1/3.

E) MODALIDADES DE ERRO DE PROIBIÇÃO

- O erro sobre a ilicitude do comportamento pode apresentar-se sob trêsmodalidades: erro de proibição direto, erro de mandamento e erro de proibição

indireto (erro de permissão).

E.1) ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO (ERRO E IGNORÂNCIA DE DIREITO)

a) conceito

-  A ignorância pressupõe ausência absoluta de conhecimento a respeito de

determinada matéria. O erro implica conhecimento acerca de certa matéria, que se

supõe verdadeiro quando é falso. Na primeira, não há conhecimento; no segundo, há

conhecimento falso.

- No erro de proibição direto, o agente engana-se a respeito da norma proibitiva.

Portanto, o crime que pratica é de ação, comissivo, porque ou desconhece a norma

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proibitiva, ou a conhece mal. É indiferente, porque tanto o erro como a ignorância da

norma, para todos os efeitos, são “erro”.

b) Erro de direito penal e erro de direito extrapenal

- É possível que a lei penal faça remissão a uma lei extrapenal. Neste caso, a norma

extrapenal se impregna de conteúdo penal, transforma-se em lei penal e, então,trata-se de erro de direito, aplicando-se o art. 21 do CP.

- É possível, porém, que o erro sobre a matéria extrapenal não seja propriamente de

direito, mas erro de tipo. Então, há exclusão da tipicidade por erro de tipo (o dolo é

excluído), aplicando-se o que dispõe o art. 20, caput, 1ª parte. Ex: constitui delito o

fato de “contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause

a nulidade absoluta” (art. 237 CP).

c) Erro de direito e delito putativo por erro de direito

- Há delito putativo por erro de direito quando o sujeito supõe estar praticando um

crime mas não há norma incriminadora definindo o fato. Ele supõe que o Direito pune

o fato, quando se trata de um indiferente penal (fato atípico).

E.2) ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO

- Essa modalidade de erro é denominada de erro de permissão, porque o autor não

crê que o fato seja lícito simplesmente, senão que desconhece a ilicitude, no caso

concreto, em razão da suposição errônea da existência de uma proposição

permissiva.

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- Ex: o sujeito pensa que pode corrigir corporalmente o injuriador.

- Com relação às descriminantes putativas, no erro de proibição, aplica-se o art. 21

do CP. Ocorre quando o erro do sujeito decorre da má apreciação dos limites de uma

causa excludente da ilicitude. Ex: o sujeito se defende do carrasco, supondo injusta a

condenação (legítima defesa putativa por erro de proibição, recaindo sobre a injustiça

da agressão). Se inevitável, há exclusão da culpabilidade (art. 21, caput, 2ª parte);se evitável, não fica excluída a culpabilidade, respondendo o sujeito por crime doloso

com a pena diminuída (parte final).

10.4) DA ANTIJURIDICIDADE

Exclusão de ilicitude

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Excesso punível

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderápelo excesso doloso ou culposo.

 A) CONCEITO

- É a contrariedade de uma conduta com o direito, causando lesão a um bem

 juridicamente protegido.

- É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou

omissão típicas tornam-se ilícitas.

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B) ESPÉCIES

a) Antijuridicidade formal

- É a mera contrariedade do fato ao ordenamento legal (ilícito), sem qualquer

preocupação quanto à efetiva perniciosidade social da conduta. O fato é consideradoilícito porque não estão presentes as causas de justificação, pouco importando se a

coletividade reputa-o reprovável.

b) Antijuridicidade material

- É a lesão produzida pelo comportamento humano que fere o interesse jurídico

protegido, isto é, além da contradição da conduta praticada com a previsão danorma, é necessário que o bem jurídico protegido sofra a ofensa ou a ameaça

potencializada pelo comportamento desajustado.

c) Antijuridicidade Subjetiva

- o fato só é lícito se o agente tiver capacidade de avaliar seu caráter criminoso, não

bastando que objetivamente a conduta esteja descoberta por causa de justificação(para essa teoria, o inimputável não comete fato ilícito).

d) Antijuridicidade objetiva

- Independe da capacidade de avaliação do agente. Basta que, no plano concreto, o

fato típico não esteja amparado por causa de exclusão.

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C) CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE

C.1) Introdução

- São causas de exclusão da antijuricidade, previstas no artigo 23 do CP:

a) Estado de necessidade;b) legítima defesa;

c) estrito cumprimento do dever legal

d) exercício regular de direito.

C.2) Requisitos Objetivos e Subjetivos de Justificação

- A conduta, para justificar a exclusão da ilicitude, deve revestir-se dos requisitosobjetivos e subjetivos.

- Assim, não é suficiente que o fato apresente os dados objetivos da causa

excludente da antijuricidade. É necessário que o sujeito conheça a situação

 justificante.

- Ex: Se, por exemplo, dão-se objetivamente os pressupostos do estado denecessidade de um aborto, porém o autor não os conhece ou não persegue este fim

de salvação, o fato será um aborto contrário ao direito por falta dos elementos

subjetivos de justificação.

- Ex2: o particular que detém o vizinho em flagrante delito atua justificadamente,

ainda que se aproveite para satisfazer um desejo de vingança.

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- A ausência do elemento objetivo ou subjetivo no fato praticado leva à ilicitude da

conduta. Essa incongruência pode operar-se de duas maneiras:

1ª) o sujeito satisfaz a tipicidade objetiva permissiva, mas não satisfaz a parte

subjetiva (falta intenção de defender-se, p. ex.)

2ª) O sujeito satisfaz a finalidade justificante, mas estão ausentes as elementaresobjetivas do tipo permissivo.

- Nos dois casos, ausentes as elementares do tipo permissivo, a conduta torna-se

antijurídica. No primeiro, o sujeito responde por crime consumado; no segundo,

ocorre uma descriminante putativa (erro de proibição).

C.3) CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE

- O enunciado prende-se ao problema de existirem causas de justificação não

previstas na legislação penal. Há causas justificativas fora das mencionadas no art.

23 do CP.

- No tocante às normas penais incriminadoras vige o princípio da reserva legal: não

há crime sem lei que o defina. Essa proibição, porém, não se estende às normaspenais não incriminadoras (permissivas).

- O art. 23, que menciona as causas de exclusão da ilicitude, não contém disposição

penal incriminadora. Assim, a lacuna de previsão legislativa pode ser suprida pelos

processos de auto-integração da lei penal.

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C.4) CONSENTIMENTO DO OFENDIDO

- O consentimento do ofendido trata-se de uma causa supralegal e limitada de

exclusão da antijuridicidade, permitindo que o titular de um bem ou interesse

protegido, considerado disponível, concorde, livremente, com a sua perda.

- O consentimento do ofendido pode funcionar como:

a) causa excludente da tipicidade;

b) causa excludente da antijuridicidade

- Quando a figura típica contém o dissentimento  do ofendido como elemento

específico, o consenso funciona como causa de exclusão da tipicidade.

- Ex. No crime do art. 150 (invasão de domicílio), se o titular do bem jurídico

consente na entrada do agente, o fato por este cometido é atípico, i.e., não se

amolda à definição legal.

- Quando a figura típica não contém o dissentimento  do ofendido como

elementar, tratando-se de pessoa capaz e disponível o bem jurídico, o consentimento

funciona como causa de exclusão da antijuridicidade.

- Ex. não há crime de dano quando o titular do bem consente que seja danificada.

- Nesses casos para que o consentimento do ofendido tenha eficácia, há a

necessidade de requisitos:

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a)  que o bem jurídico seja disponível: tratando-se de bem jurídico

indisponível o fato é ilícito.

b)  que o ofendido seja capaz de consentir: é necessário que a vontade

expressa por quem já atingiu a capacidade penal, aos 18 anos de idade, não eivada

de qualquer causa que lhe retire o caráter de validade (doença mental, erro, dolo ou

violência).

c) que a manifestação do ofendido seja livre, sem coação, fraude ou outro vício de

vontade;

d) que o fato típico se limite e se identifique com o consentimento do ofendido.

D) EXCESSO NAS CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO

- Há excesso nas causas de antijuridicidade quando o sujeito, encontrando-se

inicialmente em estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito e

estrito cumprimento do dever legal, ultrapassa os limites da justificativa.

- No excesso doloso o sujeito tem consciência, após ter agido licitamente, da

desnecessidade de sua conduta.

- Excesso culposo, não intencional, é o derivado de erro, em que o autor, em face da

falsa percepção da realidade motivada pelas circunstâncias da situação concreta ou

pelos requisitos normativos da causa de justificação, não tem consciência da

desnecessidade da continuidade da conduta. Na primeira fase ele age licitamente; na

segunda, por causa do erro, passa a conduzir-se ilicitamente.

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- Adotada pelo CP a teoria limitada da culpabilidade, é necessário distinguir:

- a) se o excesso não intencional deriva de erro sobre os pressupostos fáticos da

causa de justificação, cuida-se de erro de tipo (art. 20, § 1º). Se escusável, ficam

afastados dolo e culpa, aplicando0se o § 1º, 1ª parte; se inescusável, surge o

excesso culposo, respondendo o sujeito por delito culposo, nos termos do art. 23, §

único, parte final, c/c o art. 20, § 1º, 2ª parte.

- b) se, entretanto, o excesso não intencional deriva de erro sobre os limites

i d d j ifi ã d d ibi ã ( 21) S

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