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DIREITO PENAL 24 Os Crimes Contra o Sistema Tributário, Cambial e Aduaneiro Os Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e Contra as Relações de Consumo (Lei 8.137/90) Crimes Praticados por Particulares Crimes de Falsidade (Crimes Materiais): Os crimes do art. 1º tratam basicamente de crimes d e falso, o nde o ag ente pratica falsid ade ideológica (prestando declaração falsa, por exemplo), falsidade material (falsifica nota fiscal, por exemplo), ou faz uso de documento falso. Mas é necessário lembrar, sempre será necessária a supressão ou redução do tributo para a configuração do delito tributário.  Art. 1° - Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição  social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:  I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; A falsidade ideológica prevista neste inciso I deverá ter ligação direta com a supressão ou redução do tributo. Se o falso foi irrelevante para a vantagem tributária, não se configurará este delito, embora  possa ser identificado crime do Código Penal.  II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; Este tipo penal do inciso II está praticamente contido no inciso I. A falta de técnica legislativa, como dupla previsão para a mesma conduta, dificulta a eleição do tipo a ser narrado na denúncia. A expressão “documento ou livro exigido pela lei fiscal” é norma penal em branco, que carece de complementação pela legislação específica.  III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; www.concursosjuridicos.com.br pág. 1  Copyright 2003 – Todos os direitos reservados à CMP Editora e Livraria Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila por qualquer processo eletrônico ou mecânico.

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DIREITO PENAL

24 

Os Crimes Contra o

Sistema Tributário,

Cambial e Aduaneiro

Os Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e

Contra as Relações de Consumo (Lei 8.137/90) 

Crimes Praticados por Particulares

Crimes de Falsidade (Crimes Materiais):Os crimes do art. 1º tratam basicamente de crimes de falso, onde o agente pratica falsidade

ideológica (prestando declaração falsa, por exemplo), falsidade material (falsifica nota fiscal, por 

exemplo), ou faz uso de documento falso. Mas é necessário lembrar, sempre será necessária asupressão ou redução do tributo para a configuração do delito tributário.

  Art. 1° - Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição

 social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

 I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

A falsidade ideológica prevista neste inciso I deverá ter ligação direta com a supressão ou redução do

tributo. Se o falso foi irrelevante para a vantagem tributária, não se configurará este delito, embora

 possa ser identificado crime do Código Penal.

  II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação dequalquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;

Este tipo penal do inciso II está praticamente contido no inciso I. A falta de técnica legislativa, como

dupla previsão para a mesma conduta, dificulta a eleição do tipo a ser narrado na denúncia. A

expressão “documento ou livro exigido pela lei fiscal” é norma penal em branco, que carece de

complementação pela legislação específica.

 III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento

relativo à operação tributável;

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Trata-se da falsificação de nota fiscal com finalidade de suprimir ou reduzir o tributo, se não houver a

fraude fiscal, o crime será o do art. 172 do Código Penal (“emitir fatura, duplicata ou nota de venda

que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado”).

 IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ouinexato;

A expressão “ou deva saber”, contida neste inciso IV, se refere ao dolo eventual, já que não está

 prevista expressamente a modalidade culposa e, “salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser 

 punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente” (art. 18, § único, do CP).

V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativaa venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordocom a legislação.

O dispositivo do inciso V se refere à omissão ou negativa de fornecimento da nota fiscal ao

comprador ou consumidor do serviço. Também aqui é necessário o dano ao Fisco. Mas, advirta-se

que, para aqueles que admitem a tentativa antes do vencimento do prazo de pagamento do tributo, a

simples omissão já caracteriza a tentativa.

Trata-se de norma penal em branco, cuja integração depende de outras regras jurídicas de cunho

tributário.

 Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

 Parágrafo único - A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que  poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da

dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V.

(Vide art. 34 da Lei número 9.249, de 26.12.1995 que extingue a punibilidade dos crimes definidos

nesta lei, quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social antes dorecebimento da denúncia).

Delitos Formais:Os delitos do art. 2º são formais e, por isso, não admitem a forma tentada.

 Art. 2° - Constitui crime da mesma natureza:

  I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;

A conduta prevista é praticamente a mesma do inciso I do artigo anterior. Porém o crime deste artigo

é formal e não exige o resultado. Quando não ocorre o resultado, e o agente teve o fim de eximir-setotal ou parcialmente do pagamento (dolo específico), aplica-se este inciso.

 II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado oucobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;

Este inciso prevê o crime do que recebe tributo do contribuinte de fato, como no caso do ICMS, e

não efetua o pagamento. Boa parte da doutrina taxa o dispositivo de inconstitucional, pois estaria

 promovendo prisão por dívida fora dos dois casos permitidos na Constituição.

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 III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem

 sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;

Redigido de forma enigmática, o tipo deste inciso incrimina as condutas de desvio de incentivo fiscal

em benefício do operador da instituição financeira ou do próprio contribuinte. O desvio pode ser total

ou parcial.

  IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas deimposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;

Os núcleos “deixar de aplicar” e “aplicar em desacordo” encerram situações muito semelhantes. No

 primeiro caso, o delito é omissivo e incrimina a conduta daquele que não investe o incentivo fiscal

estipulado em lei. Incide na segunda figura o que aplica incorretamente. Não existe a previsão da

forma culposa.

V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo daobrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.

Trata-se de tipo penal criado para fazer frente aos novos tempos, onde a informática praticamente

dominou a contabilidade e os registros de administração de empresas.

 Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Crimes Praticados por Funcionários Públicos

Este artigo prevê os crimes fiscais praticados por funcionários públicos. Os delitos tipificados no

Código Penal passam a ter aplicação apenas subsidiária.

São crimes próprios, onde somente poderá figurar como sujeito ativo o funcionário público ou

assemelhado. Mas a co-autoria e a participação do particular (extraneus) são perfeitamente possíveis,

 já que a condição de funcionário é elementar do tipo.

 Art. 3° - Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei

número 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Código Penal (Título XI, Capítulo I):

Extravio de Documento:

 I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razãoda função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou

inexato de tributo ou contribuição social;

Há grande similitude do disposto neste inciso com o crime do art. 314 do Código Penal, que é

aplicável subsidiariamente quando a conduta não acarretou pagamento indevido ou inexato.

Corrupção:

 II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da  função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar 

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 promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-

los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Trata-se de delito formal, onde o legislador reuniu em um único tipo os delitos de concussão e

corrupção passiva previstos nos arts. 316, caput e 317, caput, do Código Penal. Assim, o delito se

consuma no exato instante da exigência, da solicitação, do recebimento ou da aceitação da promessa

indevida. Não se admite a tentativa.

 Não existe previsão da chamada corrupção passiva qualificada (art. 317, § 1.º, do CP), que ocorre

quando se deixa de cobrar ou lançar tributo, que configura mero exaurimento do crime. Tal fato pode

apenas influir na fixação da pena. Mas o tipo exige o especial fim, o dolo específico, ou elemento

subjetivo do injusto, de agir naquele sentido; para que o tributo não seja lançado ou cobrado.

Também não há previsão da corrupção ativa tributária, e, assim sendo, o corruptor continua

respondendo pelo delito previsto no Código Penal (art. 333).

Exigir é impor, forçar. Solicitar é pedir. Receber é aceitar, tomar para si a vantagem. Aceitar 

  promessa é concordar com a oferta. A exigência, a solicitação e o recebimento podem ser diretos(pelo próprio funcionário) ou indiretos (terceira pessoa).

Advocacia Administrativa:

  III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária,valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Com exceção da troca da expressão “administração pública” por “administração fazendária”, a

redação do inciso III é exatamente a mesma do art. 321 do Código Penal, que trata da advocacia

administrativa. Se o patrocínio for junto à administração fazendária, o delito será este especial. Aqui

a pena é muito mais severa.

Patrocinar tem sentido de advogar, defender. O patrocínio pode ser direto ou indireto (por interposta

 pessoa). Embora seja crime próprio do funcionário, pode ocorrer concurso com o particular.

Este tipo especial abrange tanto o patrocínio do interesse legítimo como o ilegítimo, já que não há

  previsão semelhante ao parágrafo único do art. 321 do Código Penal, que aumenta a pena se o

interesse for ilegítimo.

As Multas

 Art. 8° - Nos crimes definidos nos artigos 1.° a 3.° desta lei, a pena de multa será fixada entre 10

(dez) e 360 (trezentos e sessenta) dias multa, conforme seja necessário e suficiente para reprovaçãoe prevenção do crime.

  Parágrafo único - O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a 14 (quatorze) nem superior a 200 (duzentos) Bônus do Tesouro Nacional - BTN.

 Art. 9° - A pena de detenção ou reclusão poderá ser convertida em multa de valor equivalente a: I - 200.000 (duzentos mil) até 5.000.000 (cinco milhões) de BTN, nos crimes definidos no art. 4°;

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  Art. 10 - Caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação econômica do réu, verifique a

insuficiência ou excessiva onerosidade das penas pecuniárias previstas nesta lei, poderá diminuí-lasaté a 10ª (décima) parte ou elevá-las ao décuplo.

Disposições Gerais Art. 11 - Quem, de qualquer modo, inclusive por meio de pessoa jurídica, concorre para os crimes

definidos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida de sua culpabilidade.

 Parágrafo único - Quando a venda ao consumidor for efetuada por sistema de entrega ao consumoou por intermédio de distribuidor ou revendedor, seja em regime de concessão comercial ou outroem que o preço ao consumidor é estabelecido ou sugerido pelo fabricante ou concedente, o ato por este praticado não alcança o distribuidor ou revendedor.

 Art. 12 - São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as penas previstasnos artigos 1.°, 2.° e 4.° a 7.°:

 I - ocasionar grave dano à coletividade;

 II - ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas funções;

 III - ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais àvida ou à saúde.

 Art. 15 - Os crimes previstos nesta lei são de ação penal pública, aplicando-se-lhes o disposto noart. 100 do Decreto-Lei número 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.

 Art. 16 - Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes descritosnesta Lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando otempo, o lugar e os elementos de convicção.

 Parágrafo único - Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a

trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (Parágrafo acrescido pela Lei 

número 9.080, de 19.07.1995) 

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Bibliografia

• Resumo de Direito Tributário

Maximilianus Cláudio Américo Führer  

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