pedro carnieli junior caracterizaÇÃo genÉtica do vÍrus …

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Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS DA RAIVA ISOLADOS DE BOVINOS E EQÜÍNOS NO PERÍODO DE 1997-2002 EM ÁREA EPIDÊMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria do Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde, para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública Orientador: Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky São Paulo 2009

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Page 1: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Pedro Carnieli Junior

CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS DA RAIVA ISOLADOS DE

BOVINOS E EQÜÍNOS NO PERÍODO DE 1997-2002 EM ÁREA

EPIDÊMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Coordenadoria do Controle de Doenças da

Secretaria de Estado de Saúde, para a obtenção do Título

de Doutor em Ciências

Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública

Orientador: Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky

São Paulo

2009

Page 2: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Pedro Carnieli Junior

CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS DA RAIVA ISOLADOS DE

BOVINOS E EQÜÍNOS NO PERÍODO DE 1997-2002 EM ÁREA

EPIDÊMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Coordenadoria do Controle de Doenças da

Secretaria de Estado de Saúde, para a obtenção do Título

de Doutor em Ciências

Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública

Orientador: Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky

São Paulo

2009

Page 3: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Folha de Avaliação

Nome do autor: Carnieli Jr, Pedro

Título: Caracterização genética do vírus da raiva isolados de bovinos e

eqüínos no período de 1997-2002 em uma área epidêmica do Estado de

São Paulo, Brasil

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da

Coordenadoria do Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde,

para a obtenção do Título de Doutor em Ciências

Data: 19 de dezembro de 2009

Banca Examinadora

Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky (Orientador)

Prof. Dr. Luis Fernando de Macedo Brígido – PPG – CCD (Memória)

Prof. Dr. Edson Durigon – USP

Profa. Dra. Silvana Regina Favoretto – IP – USP

rof. Dr. Fumio Homa Ito – USP (Memória)

Page 4: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …
Page 5: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

DEDICATÓRIA

_____________________________________________________________

Page 6: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Aos meus pais Pedro e Leontina (in memoriam)

Page 7: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Às minhas filhas Candida e Carolina e às minhas netas Sofia

e Alice

Page 8: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

À minha orientadora Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares

Timenetsky

Page 9: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Agradecimentos

Agradeço ao Intituto Pasteur, em nome da sua Diretora Neide Yumie

Takaoka, por oferecer todas as condições necessárias para o

desenvolvimento desta Tese.

Aos colegas Profa. Dra. Juliana Galera Castilho, Willian de Oliveira Fahl e

Nazle Mendonça Collaço Véras pela participação no desenvolvimento deste

trabalho.

Aos colegas Pesquisadores da Biologia Molecular Carla Isabel Macedo,

Rafael de Novaes Oliveira, Ekaterina Durymanova Ono e Keila Iamamoto

Nogi.

Agradeço ao Prof. Dr. Murilo Gomes por ceder diversas imagens utilizadas

neste trabalho.

Ao Prof. Dr. Wilson Uieda e ao Dr. João José de Freitas Ferrari por cederem

imagens fotográficas relacionadas ao Desmodus rotundus.

Ao Dr. Nilton Fidalgo Perez por permitir utilizar dados epidemiológicos

gerados durante sua Dissertação de Mestrado.

À Pesquisadora Científica Karin Corrêa Scheffer Ferreira pela orientação na

dissertação referente ao Desmodus rotundus.

À Pesquisadora Graciane Maria Medeiros Caporale por disponibilizar a

imagem comprobatória do peso molecular da Nucleoproteína.

A todos os funcionários do Instituto Pasteur, que de forma direta ou indireta

me auxiliaram.

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação que participaram da minha

formação científica.

Page 10: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Resumo

A história biogeográfica da raiva pode ser reconstruída utilizando dados

moleculares. Este trabalho descreve a caracterização do Vírus da Raiva

(RABV) que circula na população do morcego hematófago Desmodus

rotundus em uma área epidêmica do Estado de São Paulo e que é

transmitido para herbívoros de interesse econômico como, por exemplo, os

bovinos e eqüínos. Os genes N e G dos vírus foram seqüenciados e as

árvores filogenéticas geradas são topologicamente concordantes. Três

agrupamentos filogenéticos (clusters) foram identificados na área epidêmica

e foram designados como RD1, RD2 e RD3. Os resultados mostram que a

origem dos clusters RD1 e RD2 são diferentes e que a epidemia da área

RD3 é o resultado da expansão da área RD2. As seqüências genéticas dos

dois genes analisados neste estudo foram comparadas entre si e com

seqüências obtidas no GenBank apresentando alta identidade (> 98%),

mantidas no tempo e espaço. Os resultados sugerem que as linhagens do

RABV que circulam em D. rotundus na costa atlântica da América do Sul são

altamente conservadas.

Palavras-chave: Lyssavirus; Vírus da raiva; Quirópteros; Bovinos;

Epidemiologia molecular; Filogenia.

Page 11: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Abstract

The biogeographical history of rabies can be reconstructed using molecular

data. This work describes the genetic characterization of the Rabies virus

lineages that circulates in the Desmodus rotundus (vampire bat) population in

an epidemic area and is transmitted to herbivorous livestock. The N and G

genes of this virus were sequenced, and the phylogenetic trees generated

were topologically concordant. Three genetic clusters were identified in the

epidemic area and were designated RD1, RD2 and RD3. The results show

that the origins of the epidemic in areas RD1 and RD2 were different and that

the epizootic in area RD3 was the result of expansion of that in area RD2.

The two genes analyzed are conserved, and their identities, which are

greater than 98%, were maintained over time and space. The genetic

sequences in this study were compared with others retrieved from GenBank,

and the high identity of the N and G genes was also shown to be maintained

over time and space. The results suggest that the D. rotundus lineages of the

Rabies virus from the Atlantic coast of South America are highly conserved.

Key words: Lyssavirus; Rabies Virus; Chiropters; Bovines; Molecular

epidemiology; Phylogeny.

Page 12: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Abreviaturas e Símbolos

A= adenina

aa= amino ácido

AcN= anticorpo neutralizante

AgV= variante antigênica

CD44= glicoproteína de superfície celular, envolvida com a interação entre

as células e sua migração

CD99= glicoproteína de superfície celular, envolvida com a migração de

leucócitos, transporte de proteínas através de membranas, interação com o

citoesqueleto, entre outros

CG= Complexo de Golgi

C-terminal= região carboxi-terminal das proteínas

Da= Dalton

ERA= amostras fixa Evelyn-Rokitnicki-Albelseth

ECTO= ectodominio extra-celular de G

ED= endodominio intra-celular de G

G= glicoproteína G

G= guanosina

Gs= forma solúvel de G

HEP-Flury= amostras fixa High Egg Passage-Flury

ICTV= International Committee on Taxonomy of Viruses

kDa= quilo Dalton

L= proteína RNA polimerase RNA dependente L

Le= promotor líder (”leader”)

M= proteína matriz M

MAb= anticorpo monoclonal

mRNA= RNA mensageiro

N= nucleoproteína N

nAChR= receptor nicotínico de acetilcolina

NCAM= molécula de adesão de neurônios

nm= nanômetro

nt= nucleotídeo(s)

Page 13: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

N-terminal= região amino-terminal das proteínas

OPAS/OMS= Organização Panamericana de Saúde/Organização Mundial

de Saúde

ORF= “open reading frame”

P= fosfoproteína P

p75NTR= receptor de neurotrofina de baixa afinidade

pH= potencial hidrogeniônico

poli (U)= códon de parada (sitio de poliadenilação)

PV= Pasteur Virus

RABV= Vírus da Raiva

RE= retículo endoplasmático

RNA-Le= RNA líder

RNP= ribonucleocapsídeo

SNC= Sistema Nervoso Central

SP= peptídeo sinal de G

SVS/MS= Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde do

Brasil

Tc= Linfócitos T cititóxicos CD8+

Th= Linfócitos T auxiliares CD4+

TM= domínio trans-membrana de G

Tr= promotor “trailer”

U= uracila

VSV= Vírus da Estomatite Vesicular

WHO= World Health Organization

Page 14: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Lista de Tabelas

01 Espécies reconhecidas e espécies propostas do Gênero Lyssavirus,

Família Rhabdoviridae. (Childs e Real, 2007).....................................

31

02 Número de casos de raiva, por espécie animal na Europa no

período 1990-2008. O número de casos de raiva em raposas e

raccoon-dog são mostrados separadamente, mas pertencem ao

grupo de silvestres Fonte: Rabies Bulletin Europe.............................

62

03 Número de casos de raiva em cães e gatos na Europa. 1990-2003.

Fonte: Rabies Bulletin Europe..........................................

63

04 Número de casos de raiva em alguns países europeus com

diferentes “status” de vigilância epidemiológica (1977-2008). Fonte:

Rabies Bulletin Europe........................................................................

63

05 Histórico dos últimos 10 anos mostrando o número de casos de

raiva humana por país da América Latina. Fonte:

http://sirvera.panaftosa.org.br..............................................................

69

06 Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva em

animais e sua distribuição. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br.......

69

07 Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva em

bovinos. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br....................................

70

08 Número de casos de raiva por espécie no Brasil no ano de 2009.

Dados parciais até 23 de julho. Fonte: SVS/MS..................................

81

09 Ocorrência de raiva em herbívoros, confirmação pela rede de

laboratórios de diagnóstico do Estado de São Paulo. Fonte: Peres,

2009.....................................................................................................

97

10 Número de morcegos Desmodus rotundus capturados e tratados

com Warfarina e refúgios trabalhados no Estado de São Paulo,

1997–2007. Fonte: Peres, 2009.........................................................

99

11 Número de herbívoros existentes e herbívoros vacinados, na área

de vacinação obrigatória da raiva, no Estado de São Paulo, 2001–

2006. Fonte: Peres, 2009....................................................................

100

12 Números de casos de raiva no Estado de São Paulo em relação aos

mapas Kernel da Figuras 29 e 30, no período 1997-2003. Fonte:

Gomes, 2008.......................................................................................

106

Page 15: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

13 Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do gene N. A

Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras, ano

e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur,

as espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos

a que pertencem..................................................................................

110

14 Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do gene G. A

Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras, ano

e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur,

as espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos

a que pertencem..................................................................................

113

15 Número de herbívoros positivos para a raiva nas áreas RD1, RD2 e

RD3 e o total de herbívoros positivos no Estado de São Paulo no

período de 1996-2003; B- Distribuição cronológica de bovinos e

eqüinos positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e RD3 que

tiveram o gene N tipificado no estudo; C- Distribuição cronológica

de bovinos e eqüinos positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e

RD3 que tiveram o gene G tipificado no estudo. Fonte: Comissão

Estadual de Controle da Raiva

(www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao)...............

117

16 Números de acesso do GenBank de seqüências utilizadas para

gerar a seqüência consenso do gene N RABV AgV3 (A) e para o

gene G (B) e, também, utilizadas nas análises filogenéticas. A

Tabela mostra as espécies das quais o RABV foi isolado, o Estado

de origem, o ano de isolamento e as referências bibliográficas

relacionadas às seqüências................................................................

118

17 Nomenclatura, abreviatura, símbolos e polaridade dos 20

aminoácidos traduzidos a partir do código genético. Fonte: Lodish et

al. (2005)..............................................................................................

135

Page 16: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Lista de Figuras

01 Esquema da composição estrutural do Vírus da Raiva. Fonte:

www.sciencephoto.com.br.............................................................

33

02 Micrografias do RABV corados negativamente. A- x70000, B-

x40000 e C- x200000, respectivamente e aproximadamente.......

34

03 Representação esquemática da organização genômica das

amostras fixas PV e ERA do RABV proposto por Tordo et al.

(1986) (acima) e a representação esquemática da organização

genômica da amostras fixa HEP-Flury (abaixo) do RABV

proposto por Morimoto, Ohkubo, Kawai, (1989), mostrando a

integração da região não-codificante G-L dentro do gene que

codifica para a glicoproteína do vírus. Fonte: Morimoto, Ohkubo,

Kawai, (1989)................................................................................

37

04 Reação de imunofluorescência positiva para a pesquisa do

antígeno rábico em impressões de tecido nervoso de animal

infectado. Observar Corpúsculos de Negri (estruturas circulares)

Fonte: Instituto Pasteur (www.pasteur.saude.sp.gov.br)...............

45

05 Micrografia eletrônica corada negativamente de Corpúsculo de

Negri (estrutura central circular). Observar partículas do RABV

ao redor do Corpúsculo de Negri. X64000. Fonte:

www.news.bbc/diseases/img/rabies..............................................

46

06 Representação esquemática do ciclo de replicação do vírus da

raiva, evidenciando-se os processos de ligação, entrada,

replicação, maturação e saída de novas partículas virais

infectantes. Fonte: Piere (2003)....................................................

48

07 Eletroforese em gel de poliacrilamida mostrando o peso

molecular da nucleoproteína N do RABV. PM= peso molecular,

MC= meio de cultura, LC= lisado celular e RNPs=

nucleoproteína N com 57KDa. Imagem cedida por Caporale,

GMM..............................................................................................

49

08 Mapa da Europa mostrando os 703 casos de raiva em bovinos

nos diferentes países no ano de 2008. Os casos de raiva são

indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies Bulletin

Europe...........................................................................................

64

Page 17: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

09 Mapa da Europa mostrando os 5106 casos de raiva em raposas

(Vulpes vulpes) nos diferentes países no ano de 2008. Os casos

de raiva são indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies

Bulletin Europe............................................................................. 64

10 Distribuição de casos de raiva nas Américas, 2006. Fonte:

http://sirvera.panaftosa.org.br........................................................ 70

11 Casos de raiva em cães no Brasil no ano de 2008. Fonte:

SVS/MS......................................................................................... 74

12 Casos de raiva em bovinos no Brasil no ano de 2008. Fonte:

SVS/MS......................................................................................... 75

13 Casos de raiva em equinos no Brasil no ano de 2008. Fonte:

SVS/MS......................................................................................... 75

14 Casos em animais e humanos no Brasil, 2008. Fonte: SVS/MS.. 77

15 Série histórica de casos de raiva em humanos por Estados do

Brasil, 1986-2008. Fonte: SVS/MS ...............................................

78

16 Série histórica de animais transmissores de casos de raiva

humana no Brasil, 1986-2007. Fonte: SVS/MS.............................

79

17 Imagens de diferentes fenótipos de Desmodus rotundus. As

duas imagens superiores mostram a pelagem castanha, comum

e, abaixo, alaranjada e albina, raras. Fotos: W. Uieda..................

86

18 Imagens de abrigos artificiais de Desmodus rotundus. Fotos:

J.J. Ferrari..................................................................................... 89

19 Imagens de abrigo artificial (mina abandonada) de Desmodus

rotundus e outros morcegos. Foto: J.J. Ferrari............................. 90

20 Imagem de cavalo sendo atacado pelo Desmodus rotundus.

Observar morcego e ferimento causado pela espoliação no

pescoço do cavalo. Foto: J.J. Ferrari............................................

91

21 Detalhe da Figura 20 (cavalo sendo atacado pelo Desmodus

rotundus). Observar morcego e ferimento causado pela

espoliação no pescoço do cavalo. Foto: J.J. Ferrari.....................

92

22 Mapa mostrando os Departamentos de Saúde do Estado de

São Paulo. Fonte: www.saude.sp.gov.br/content/geral.................

97

Page 18: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

23 Mapa do Estado de São Paulo (SP), Sudeste, Brasil, e as áreas

epidêmicas RD1, RD2 e RD3. A localização da capital do

Estado, cidade de São Paulo, e a região endêmica estão

indicadas no mapa. A localização do Estado de São Paulo é

mostrada em cinza no mapa do Brasil no canto direito da

Figura. Os Estados brasileiros Mato Grosso (MT) e Mato Grosso

do Sul (MS), da região Centro-Oeste, Estado de Tocantins (TO),

na região Norte, além de Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro

(RJ), os quais como São Paulo, situam-se na região Sudeste,

são também mostrados na Figura. Abaixo, o mapa do Brasil

mostrando o relevo do país e ao lado, o Estado de São Paulo

mostrando seu relevo em maiores detalhes. Fonte: Miranda

(2009)............................................................................................

98

24 Gráficos e tabelas com os números de bovinos e eqüinos

positivos para a raiva no Estado de São Paulo (imagem

superior), como também nas áreas RD1, RD2 e RD3 (imagem

inferior) Fonte:

(www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao).........

100

25 Aspectos do relevo do Estado de São Paulo (imagem superior)

e divisão geomorfológica paulista (imagem inferior). Imagens

geradas a partir de dados provenientes do SRTM (“Shuttle

Radar Topography Mission”). Fonte: Gomes, 2008......................

102

26 Pluviosidade média anual do Estado de São Paulo (imagem

superior) e temperatura média anual do Estado de São Paulo

(imagem inferior). Imagens geradas a partir de dados

provenientes do SRTM (“Shuttle Radar Topography Mission”).

Fonte: Gomes, 2008......................................................................

103

27 Mapa parcial da América do Sul mostrando seu relevo.

Observar a área destacada com um retângulo em preto que

delimita, aproximadamente, a área da epidemia 1997-2002

estudada. Fonte: www.geografiaparatodos.com.br.......................

104

28 Posicionamento dos principais rios e represas existentes nas

áreas RD1, RD2 e RD3. Fonte: Gomes, 2008..............................

104

29 Mapas Kernel para cada ano da série histórica 1992-2003

sobrepostos à divisão geomorfológica paulista. Os “valores

“baixos e altos” são relativos ao número de casos de raiva

diagnosticados no ano analisado. Fonte: Gomes, 2008...............

105

Page 19: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

30 Função Kernel elaborado com a somatória dos diagnósticos

laboratorialmente positivos de raiva bovina (1992-2003) nas

áreas RD1, RD2 e RD3. O epicentro da Figura, em vermelho, se

refere à área RD2 analisada neste trabalho. Os valores relativos

“baixos e altos” referem-se ao número de casos de raiva

diagnosticados no período 1992-2003. Fonte: Gomes, 2008.......

106

31 Função Kernel da cobertura vegetal das áreas RD1, RD2 e RD3

no ano de 1997. Observar os dois focos de raiva (círculos

brancos e pretos) na área RD1. Comparar com a Figura 29, ano

de 1997 Fonte: Gomes, 2008........................................................

107

32 Transições (x s) e transversões (∆ v) versus gráfico de

divergência das seqüências genéticas do Gene G da

glicoproteina (A) e do Gene N da nucleoproteína (B)...................

121

33 Árvore filogenética do gene N do RABV, gerada pelo método de

Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de

referência AgV3 RABV e linhagens do gene N AgV3 RABV

isoladas de bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A

seqüência de referência Duvenhage foi utilizada como outgroup.

Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética

representam os valores de bootstrap. As linhagens numeradas

são descritas na Tabela 13...........................................................

123

34 Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo

método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo

seqüências do Estado do Rio de Janeiro, Vale do Paraíba (SP)

e linhagens representativas da epidemia 1997-2002. Os

números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética

representam os valores de bootstrap............................................

126

35 Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo

método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo

seqüências de linhagens representativas da epidemia 1997-

2002 (caixa alta) e dos anos de 2007 e 2008 (caixa baixa)

isoladas na mesma área epizoótica. Os números próximos aos

nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de

bootstrap........................................................................................

127

Page 20: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

36 Árvore filogenética do gene G do RABV, gerada pelo método de

Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de

referência AgV3 RABV e linhagens do gene G AgV3 RABV

isoladas de bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A

seqüência de referência Duvenhage foi utilizada como outgroup.

Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética

representam os valores de bootstrap............................................

128

37 Média da distância genética entre as linhagens RABV AgV3

isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intra-

população) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como

também entre o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intra-

população) baseado no gene N da nucleoproteína. B.

Diversidade do gene N entre as linhagens RABV AgV3 isoladas

em bovinos no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C.

Divergência do gene N entre as linhagens do RABV AgV3

isoladas no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001 e a

linhagem da amostra fixa PV e entre as linhagens do Consenso

Brasileiro RABV AgV3...................................................................

130

38 A. Média da distância genética entre as linhagens RABV AgV3

isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intra-

população) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como

também entre o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intra-

população) baseado no gene G da glicoproteina. B. Diversidade

do gene G entre as linhagens RABV AgV3 isoladas em bovinos

no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C. Divergência do

gene G entre as linhagens do RABV AgV3 isoladas no Estado

de São Paulo entre 1997 a 2001 e a linhagem da amostra fixa

PV e entre as linhagens do Consenso Brasileiro RABV

AgV3..............................................................................................

131

39 Entropia do gene N (acima) e da nucleoproteína N (abaixo). H=

Grau de entropia (incerteza) e x= número de seqüências

analisadas.....................................................................................

136

40 Entropia do gene G (acima) e da glicoproteína G (abaixo). H=

Grau de entropia (incerteza) e x= número de seqüências

analisadas.....................................................................................

137

Page 21: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

41 Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e

deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da N da

nucleoproteína das linhagens do RABV AgV3 estudada. Os

amino ácidos das colunas em tom cinza são aqueles

encontrados em todas as linhagens e, portanto, são assinaturas

genéticas. A seqüência Consenso BR está em vermelho. O

nome das seqüências da área RD1 é mostrado em cor verde e

os amino ácidos que caracterizam estas seqüências, as

assinaturas da área RD1, estão circundados também em verde.

A numeração da primeira linha da figura se refere ao número da

posição do amino ácido em relação à amostra fixa Pasteur

Virus..............................................................................................

195

42 Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e

deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da

Glicoproteína G das linhagens do RABV AgV3 estudadas. Os

amino ácidos das colunas em tom cinza são aqueles

encontrados em todas as linhagens e, portanto, são assinaturas

genéticas. A seqüência Consenso BR está em vermelho. A

numeração da primeira linha da figura se refere ao número da

posição do amino ácido em relação à amostra fixa Pasteur

Virus..............................................................................................

198

Page 22: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

Índice

1.Introdução......................................................................................... 25

1.1.A Raiva............................................................................................ 25

1.2.História da Raiva............................................................................. 25

1.3.Classificação do RABV.................................................................... 29

1.4.O RABV.......................................................................................... 32

1.4.1.Morfologia do RABV..................................................................... 32

1.4.2.Organização genômica do RABV................................................. 34

1.4.3.Transcrição e Tradução do RABV................................................ 37

1.4.3.1.Os transcritos mRNA do RABV................................................. 38

1.4.4.Replicação do RABV................................................................... 39

1.4.5.Variação genotípica do RABV..................................................... 40

1.4.6.O ciclo de infecção do RABV...................................................... 42

1.4.6.1.Morfogênese e gemação do RABV........................................... 44

1.4.7.As proteínas e os genes do RABV............................................... 47

1.4.7.1.A Nucleoproteína N................................................................... 47

1.4.7.2.O gene N................................................................................... 50

1.4.7.3.A Glicoproteína G...................................................................... 50

1.4.7.4.O gene G................................................................................... 53

1.4.7.5.A Fosfoproteína P..................................................................... 53

1.4.7.6.Proteína matriz M...................................................................... 54

1.4.7.7.RNA polimerase-RNA-dependente L........................................ 55

1.4.8.O RABV e a patogenia da raiva.................................................. 57

1.5.A Epidemiologia da Raiva............................................................... 59

Page 23: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

1.5.1.A raiva na na África...................................................................... 59

1.5.2.A raiva na Ásia............................................................................. 60

1.5.3.A raiva na Europa......................................................................... 60

1.5.4.A raiva na América do Norte........................................................ 65

1.5.5.A raiva na América Central e do Sul............................................ 67

1.5.5.1.As variantes antigênicas e genéticas do RABV na América

Latina espanhola...................................................................................

72

1.5.6.A raiva no Brasil........................................................................... 74

1.5.6.1.As variantes antigênicas e genéticas do RABV no Brasil......... 82

1.5.7.O Desmodus rotundus e a raiva em bovinos............................... 85

1.5.7.1.A biologia do Desmodus rotundus............................................. 85

1.5.8.A dinâmica da raiva em bovinos................................................... 93

1.5.9.A epidemia de raiva 1997-2002 no Estado de São Paulo............ 95

2.Objetivos........................................................................................... 108

3.Material e Métodos.......................................................................... 109

3.1.Amostras........................................................................................ 109

3.2.Transcrição reversa seguida da Reação em cadeia pela

polimerase (RT-PCR) e Seqüenciamento do DNA............................... 112

3.3.Análise filogenética......................................................................... 114

3.4.Seqüências de consenso............................................................... 115

3.5.Análise de Distância Genética........................................................ 116

3.6.Análise de polimorfismos................................................................ 116

3.7.Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G.......................... 116

4.Resultados....................................................................................... 120

4.1. RT-PCR e Seqüênciamento........................................................... 120

4.2. Análise Filogenética....................................................................... 120

Page 24: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

4.3.Análise de Distância Genética........................................................ 129

4.4.Análise do Polimorfismo dos genes N e G..................................... 129

4.5.Análise das Regiões com Atividade Biológica da Nucleoproteína

N e da Glicoproteína G.......................................................................... 133

4.6.Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G.......................... 135

5.Discussão.......................................................................................... 138

6.Conclusões.................................................................................... 160

Referências....................................................................................... 161

Anexos............................................................................................... 188

Seqüências putativas da nucleoproteína N e da glicoproteína G do

RABV..................................................................................................... 188

Protocolos das Reações de Material e Métodos...................................

199

Page 25: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

25

1.Introdução

1.1.A Raiva

A raiva é uma doença infecciosa aguda e progressiva do sistema

nervoso central (SNC) de mamíferos, causada pelo Vírus da Raiva (RABV).

O vírus é presente na saliva de animais infectados e, assim, a transmissão

ocorre, em geral, através de mordedura (Acha e Szyfres, 2003).

A doença é um grave problema de saúde pública, apesar de ser uma

doença que pode ser prevenida por meio de vacina (Briggs e Hanlon, 2007).

A Organização Mundial da Saúde (OMS), estima a morte de 55.000 pessoas

por ano, principalmente na Ásia e na África, onde se calcula haver,

aproximadamente, 31000 casos/ano e 24000 casos/ano, respectivamente

(WHO, 2005). A raiva é a décima primeira causa de morte humana entre as

doenças infecciosas (WHO, 2000). A doença mata mais pessoas que febre

amarela, dengue e encefalite japonesa, pois uma pessoa morre de raiva a

cada 15 minutos e, no mesmo intervalo de tempo, outras 300 são expostas

ao vírus (Rupprecht, Hanlon, Hemachuda, 2002).

A importância da raiva para a saúde pública não se limita apenas ao

número de casos, mas também pela alta letalidade, que alcança 100% dos

enfermos. Também é necessário considerar o caráter econômico da doença

(WHO, 2005), pois aproximadamente dez milhões de pessoas/ano são

submetidas à profilaxia pós-exposição (Plotkin, 2000; Rupprecht, Hanlon,

Hemachuda, 2002).

Além dos problemas anteriormente citados, é necessário o contínuo

desenvolvimento de procedimentos diagnósticos e análises epidemiológicas.

Em humanos, doenças infecciosas como tétano, malária cerebral, doenças

causadas por rickettsias, febre tifóide e outras não infecciosas, como a

síndrome de Guillain-Barré, intoxicação por produtos químicos e

encefalomielite alérgica vacinal, se confundem com a raiva (Hemachudha,

Laothamatas, Ruprecht, 2002). Em animais de interesse econômico, como o

gado, as meningoencefalites, principalmente virais, como a pseudo-raiva, a

rinotraqueíte infecciosa e a febre catarral maligna, também são confundidas

clinicamente com a raiva (Heuschele, 1987).

1.2.História da Raiva

A raiva é bem documentada, pois é uma das doenças mais antigas

conhecidas pelo homem. Foi sempre motivo de temor para a população

devido às peculiaridades de sua transmissão, das manifestações clínicas no

Page 26: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

26

doente e o curso invariavelmente fatal, comprovando-se tal fato na extensa e

interessante história da raiva registrada na literatura (Steele e Fernandez,

1991).

A palavra raiva deriva do latim “Rabies”, e significa “fúria e delírio”. Do

sânscrito a palavra “Rabhas” significa “loucura e demência” (Steele e

Fernandez, 1991). Os gregos a chamavam de “Lyssa” ou “Lyta”, que

também significam loucura (Wilkinson, 2002).

No código de “Eshnunna”, escrito cerca de 2.000 anos a.C. na

Mesopotâmia, foram registrados os primeiros relatos de morte humana

devido a mordeduras por cães raivosos (Wilkinson, 2002). Era considerada

por povos Assírios, Egípcios e Caldeus como uma doença de origem

religiosa, enquanto que Chineses e Hindus acreditavam que o desequilíbrio

entre os quatro elementos que constituíam o corpo humano favorecia o

aparecimento da doença (Barata, 1985).

Há várias citações sobre a doença na mitologia grega e nela

encontramos os deuses Aristeu, que era invocado na proteção contra este

mal e Artemis, que era cultuado como a divindade com poderes para sua

cura (Barata, 1985).

Homero, em A Ilíada, relacionava problemas da saúde humana e

canina com o aparecimento da estrela “Sirius”, a estrela do cão na

constelação de “Orion”, que surge no firmamento da região do Mediterrâneo

no mês de Agosto. Ainda hoje persiste a crença popular que relaciona o mês

de Agosto como o “mês do cachorro louco” (Schneider e Santos-Burgoa,

1994).

Demócritus, em 500 a.C., foi o primeiro a descrever o quadro clínico

da raiva canina e Aristóteles, no século IV a.C., escreveu no livro História

Natural dos Animais que os cães com raiva ficavam irritados e os animais

mordidos por aqueles cães também adquiriam raiva. Aristóteles, no entanto,

acreditava que o ser humano não era acometido pela raiva animal. O filósofo

Plínio não concordava com esta afirmação e dizia que a raiva animal

também poderia ser transmitida aos humanos (Villasenõr, 1974; Baer, 2007).

Vários autores da antigüidade, como Xenofontes, Virgílio, Horácio e

Ovídio, relataram em suas obras aspectos sobre a raiva, como a importância

do cão na transmissão da doença ao homem, e a infectividade da saliva dos

cães raivosos. Naquela época, acreditava-se que havia um “veneno”, em

latim “virus”, na saliva dos animais com raiva que era o responsável pela

doença (Wilkinson, 2002).

Celsius, no século I d.C., estudou vários aspectos da raiva,

enfatizando a importância da saliva dos animais com raiva na transmissão

Page 27: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

27

da doença ao homem. Considerou que outros animais como gatos,

macacos, além do cão, poderiam transmitir a doença. Quanto aos cuidados

com os ferimentos causados por animais com raiva, recomendava o uso de

ventosas para a sucção do veneno inoculado e, posteriormente, a

cauterização das feridas com substâncias cáusticas corrosivas ou ferro em

brasa. Celsius explicava ainda que (para combater a hidrofobia) ”quando a

doença aparece, o único remédio é colocar o doente inesperadamente

dentro de um tanque, fazendo com que ele possa beber água,

desaparecendo ao mesmo tempo a sede e o medo da água”. Estes

procedimentos foram usados até o fim do século XIX (Dean, Baer,

Thompson, 1963).

Só no ano de 900 d.C. a raiva silvestre foi descrita na Europa, quando

um urso com raiva saiu de um bosque, perto do porto de Lyon, na França, e

atacou vinte lenhadores que tentaram matá-lo a pauladas. Em conseqüência

das mordeduras seis lenhadores desenvolveram raiva e foram mortos por

sufocamento, que era um dos procedimentos com que “piedosamente” se

resolviam os casos de raiva humana naquela época (Bravo, 1978).

A primeira grande epidemia descrita da doença data de 1271, quando

lobos com raiva invadiram cidades e vilarejos da França, atacando o

rebanho e as pessoas. Sabe-se que 30 pessoas morreram devido aos

ataques. Em 1500, a Espanha foi assolada pela raiva canina. Em 1604,

espalha-se por Paris e por toda a Europa Central. Na Inglaterra, o

reconhecimento da doença se deu em 1735 (Wilkinson, 2002) e no século

XIX, a doença volta a ganhar grandes proporções na Europa, principalmente

na França, Inglaterra e Alemanha (Baer, Belli, Fishbein, 1990).

Nas Américas, a primeira referencia feita a raiva foi escrita em 1514

pelo capitão Fernandez de Oviedo, durante a conquista espanhola da

península mexicana de Yucatan. Fernandez de Oviedo relacionou a raiva

com a morte de vários soldados, após estes serem mordidos por morcegos

(primeira e única descrição da raiva transmitida por morcegos até o século

XX) e, ao mesmo tempo, ficou intrigado pelo desconhecimento dos nativos

em relação à doença em cães, comum no Velho Mundo (Baer, 2007).

Apesar dos conhecimentos sobre a raiva se avolumarem, crenças

supersticiosas e mágicas eram mantidas para explicá-la. Isto favoreceu a

adoção de condutas exóticas e sem nenhum embasamento científico, e que

muitas vezes submetiam o doente a um sofrimento adicional inútil. Estes

fatos levaram a comunidade científica do século XVII a posicionar-se frente a

esta situação, e em declaração feita a 10 de junho de 1671, em reunião na

Sorbonne, foram condenadas todas as práticas supersticiosas para o

tratamento da raiva (Steele e Fernandez, 1991).

Page 28: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

28

Em 1804, na Alemanha, Zinke fez a primeira abordagem científica,

inoculando saliva de cães com raiva em cães sadios, induzindo-os a contrair

a raiva. Zinke pincelou saliva de um animal com raiva na pata ferida de outro

cachorro e observou que, após 17 dias, em média, começaram os sintomas

da doença e, no vigésimo dia o animal tinha a raiva de forma aparente. Nos

seus ensinamentos sobre a doença, Zinke alertou para o cuidado de não ser

contaminado pela saliva de pessoas com raiva, como também ao tocar com

as mãos desprotegidas objetos que estiveram em contacto com a boca dos

doentes (Baer et al., 1990).

Galtier, em 1879, inoculando extrato de tecido nervoso de coelhos

com raiva em cabras e carneiros, visando induzir proteção imunológica em

animais de laboratório, exerceu influência sobre Louis Pasteur nas suas

pesquisas com a raiva (Wilkinson, 2002).

Em 1881, Pasteur publica seu primeiro estudo sobre a raiva,

concluindo que “o sistema nervoso central, especialmente o bulbo, é

particularmente ativo no desenvolvimento da doença”. Provou, ainda, que a

fonte da doença não era somente a saliva, pois reproduziu a doença em

animais através de injeções de material coletado do SNC e fluido espinhal.

Posteriormente, Pasteur e col. cultivaram o vírus, inoculando-o

sucessivamente em animais, observando que o período de incubação, antes

variável, encurtava e se estabilizava. Esta nova amostra viral, obtida

experimentalmente, foi chamada de “atenuada”. Desta adaptação do vírus

da raiva originou-se o vírus “fixo”, cuja virulência é constante e reprodutível

para a espécie na qual foi adaptado, ao contrário do vírus “de rua”, isolado

de animais infectados naturalmente (Baer, 2007).

Pasteur, em 1884, utilizando medulas de coelhos, inoculadas com

vírus “fixos” e dessecadas com potassa (NaOH) a 22 °C, inoculou durante

nove dias, intracerebralmente, o macerado deste material em cães, e estes

não adquiriram raiva. Posteriormente, observou que animais inoculados

diariamente com este material, por via subcutânea, também se tornavam

imunes. A partir dessas observações Pasteur produziu a primeira vacina

para a raiva (Baer, 2007).

Pasteur e col. tinham todos os resultados muitos bem estabelecidos e

favoráveis para começar a testar as vacinas em humanos, mas Pasteur

declara, em carta escrita ao então Imperador brasileiro Dom Pedro II, datada

de 22 de setembro de 1884, “Nada ousei até aqui no homem, apesar de

minha confiança nos resultados e das numerosas oportunidades que tive

depois de meu último comunicado à Academia de Ciências. Mas, apesar de

ter múltiplos exemplos de profilaxia de raiva em cães, parece que minha

mão tremeria quando fosse passá-la à espécie humana”. Mais adiante, na

Page 29: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

29

mesma carta, Pasteur faz uma insinuação de que “se fosse imperador de um

grande país (no caso o Brasil), obrigaria condenados à morte a serem alvo

de experimentação das vacinas”. Em troca, se a vacina funcionasse, o

condenado ganharia a liberdade. Dom Pedro II, muito elegantemente e em

carta resposta a Pasteur, negou a proposta do amigo, dizendo que, no

Brasil, a pena de morte nunca chegava a se concretizar e que nenhum

condenado arriscaria entrar em um experimento que pudesse o levar a

morte. E diz, ainda, que se Pasteur quisesse, poderia vir ao Brasil para

realizar pesquisas com vacinação da febre amarela, que era um problema

muito maior no país (Vieira e Hossne, 1998).

Nesse tempo, chega até Pasteur o garoto Joseph Meister, de nove

anos, que havia sido mordido severamente por um cachorro com raiva. O

menino foi examinado por médicos que consideraram inevitável o

aparecimento da doença. Motivado pelas suplicas da mãe de Joseph,

Pasteur decidiu usar o método que havia sido um sucesso em cachorros no

tratamento do garoto. Assim foi feito e, após 60 horas dos ferimentos, foi

inoculado na criança metade do volume de uma seringa de medula de um

coelho infectado com o RABV, preservado por 15 dias. Após essa primeira

injeção, seguiram-se mais 13 inoculações diárias, e a doença não se

manifestou (Wilkinson, 2002).

Em 1886, Pasteur registrou os resultados do tratamento de mais 350

casos, conseguindo estabelecer a profilaxia da raiva, faltando apenas um

centro para a vacinação contra a doença (Wilkinson, 2002).

A Academia de Ciências de Paris propõe uma comissão para

executar a proposta de Pasteur e, assim, foi criado o primeiro Instituto

Pasteur na França. Dez anos depois havia vários Institutos Pasteur por todo

o mundo, se responsabilizando pela pesquisa e tratamento da raiva. No final

de 1886, mais de 2000 pessoas estavam sendo tratadas e a mortalidade da

doença diminuía (Wilkinson, 2002). A partir de então teve início uma nova

etapa na história da raiva, tornando viável e seguro o tratamento de

indivíduos expostos ao RABV.

1.3.Classificação do RABV

O RABV, como outros vírus da Ordem Mononegavirales (Fauquet et

al., 2007), possuem genoma constituído de RNA fita simples, não-

segmentado e com sentido negativo (-ssRNA). Outros representantes desta

Ordem de vírus são, por exemplo, os vírus Ebola (Filoviridade) e os vírus do

sarampo (Paramyxoviridae).

Page 30: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

30

O RABV pertence à Família Rhabdoviridade, uma das quatro Famílias

da Ordem Mononegavirales. A família Rhabdoviridae (do grego “rhabdos”,

que significa “roda”) possui cinco Gêneros:

1. Cytorhabdovirus: infectam plantas e são transmitidos por artrópodes.

2. Nucleorhabdovirus: infectam plantas.

3. Vesiculovirus: infectam mamíferos, peixes e insetos.

4. Ephemerovirus: infectam mamíferos e são transmitidos por insetos

hematófagos.

5. Lyssavirus: infectam mamíferos.

O RABV pertence ao Gênero Lyssavirus, que possui sete espécies,

também designadas por Genótipos. A Tabela 01 sumariza as espécies

reconhecidas e as espécies propostas do Gênero Lyssavirus.

O RABV é o vírus protótipo do Gênero Lyssavirus, designado como

genótipo 1 e é o único do Gênero que causa a raiva. Os genótipos 2 até 7

são chamados de vírus aparentados ao RABV (“rabies-like”) (Fauquet et al.,

2007). Os genótipos 2 até 7 apresentam sintomatologia clínica semelhante e

algumas vezes indistinguível da raiva clássica e, por isto, todos os membros

do Gênero Lyssavirus são atualmente citados como causadores de

lissaviroses (Hanlon et al., 2005).

A classificação inicial do Gênero Lyssavirus utilizava o termo sorotipo,

devido às suas características antigênicas, identificadas por meio de estudos

de reações cruzadas com soros. Em 1994, especialistas em raiva

propuseram a denominação de "genótipos" em substituição aos "sorotipos",

até então utilizados para designar os diferentes membros do gênero

Lyssavirus (Gould et al., 2005). Portanto os genótipos 1 a 4 podem também

ser designados por sorotipos 1 a 4, respectivamente.

Badrane et al. (2001a), estudando a homologia genética dos sete

membros do Gênero Lyssavirus os agrupou em dois grupos distintos. O

primeiro grupo, designado por Filogrupo I, é composto pelos genótipos 1, 4,

5, 6 e 7, enquanto que o Filogrupo II, é composto pelos genótipos 2 e 3.

Novos Lyssavirus, isolados recentemente na Rússia e Ásia Central,

ainda estão em estudo, mas muitos estudiosos já os consideram novas

espécies do Gênero (Kusmin et al., 2003; Kusmin et al., 2008).

Page 31: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

31

Tabela 01: Espécies reconhecidas e espécies propostas do Gênero

Lyssavirus, Família Rhabdoviridae. (Childs e Real, 2007).

Espécie

Sorotipo/Genótipo/

Abreviação ICTV a

Espécies relacionadas

na manutenção Distribuição

Mortes

humanas

anual

Referência

Rabies Virus (ST 1/GT 1)

RABV

Cães, carnívoros silvestres,

morcegos

Mundial, com exceção da

Austrália, Antarctica e países

designados como “rabies-free”

(Japão e os da Grã-Bretanha)

~55000 Shope, 1982

Lagos bat (ST 2/GT 2) LBV

Morcegos -

Megachiroptera; Eidolon

helvum, Micropterus

pusillus, Epomophourus

wahlbergi

África: República Africana,

Etiópia, Nigéria, Senegal,

África do Sul

Não descrito

Bougler e

Porterfield,

1958.

Mokola (ST 3/GT 3) MOKV

Shrew - Insectivora;

Crocidura spp; Rodentia;

Lopyhromys sikapusi

África: Cameron Central,

República Africana, Etiópia,

Nigéria, África do Sul,

Zimbábue

Ocasional Shope et al.,

1970.

Duvenhage (ST 4/G 4)

DUVV

Morcegos -

Microchiroptera;

Miniopterus schreibersii,

Nycteris gambiensis, N.

hebaica

África: África do Sul, Guiné,

Zimbábue Ocasional

Meredith,

Rossouw e Van

Pragg.,1971.

European bat Lyssavirus 1

(GT 5) EBLV- 1

Morcegos -

Microchiroptera; Myotis

dasycneme, M. daubentonii

Europa Ocasional Bourhy, Kissi

eTordo, 1993.

European bat Lyssavirus 2

(GT 6) EBLV-2

Morcegos - Microhiroptera;

Eptesicus serotinus Europa Ocasional

Bourhy, Kissi e

Tordo, 1993.

Australian bat Lyssavirus

(GT 7) ABLV

Morcegos -

Megachiroptera; Pteropus

alecto, P. scapulatus

Austrália, 1996; possivelmente

e ocasionalmente Sudeste do

continente asiático

Ocasional Speare et al.,

1997.

Aravan virus b ARAV

Morcegos - Microhiroptera;

Myotis blythi Quirquistão, 1991 Não descrito Arai et al., 2003.

Khujand vírus b KHUV

Morcegos - Microhiroptera;

Myotis mystacinus Tajiquistão, 2001 Não descrito

Kuzmin et al.,

2003.

Irkut virus b

IRKV Morcegos -Microhiroptera;

Murina leucogaster Sibéria Oriental, 2002 Não descrito

Kuzmin et al.,

2003.

West Caucasian bat virus b

WCBV

Morcegos - Microhiroptera;

Miniopterus schreibersi Montanhas do Cáucaso, 2003 Não descrito Botvinkin, 2003.

a- ICTV=International Committee on Taxonomy of Viruses (Fauquet et al., 2007). b- Novos Lyssavirus ainda não classificados

(WHO, 2004).

Page 32: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

32

1.4.O RABV

1.4.1.Morfologia do RABV

O RABV é baciliforme, com 100 a 250 nanômetros (nm) de

comprimento e 75 nm de diâmetro, em média, com uma extremidade

semicircular e a outra plana (Sokol, 1975). Possui envoltório externo

(envelope) formado por lipídios da célula hospedeira, com espículas de 5 a

10 nm de comprimento, cerca de 3 nm de espessura, distanciadas em 5 nm,

formadas por trímeros da glicoproteína G (G) (Gaudin et al., 1992). Madore

e England (1977) calcularam haver 450 espículas de G triméricas por virion

(partícula viral). No envelope também são encontradas algumas proteínas da

célula hospedeira, como por exemplo, calnexin, proteínas do citoesqueleto e

os receptores glicoprotéicos CD44 e CD99 (Gupta et al., 2000). A

constituição do envelope é semelhante ao da membrana celular da célula

infectada pelo vírus e, normalmente, são detectados fosfolipídios, lipídeos

neutros e gligolípideos (Wunner, 1991). Abaixo do envelope encontra-se

uma camada matriz formada por proteínas matriz M (M), que une o envelope

do vírus à ribonucleoproteína (RNP) interna. A RNP é helicoidal, possuindo

30 a 35 giros, com 50 nm de espessura por 170 nm de comprimento, em

média, e é composta pelo RNA genômico de fita simples, sentido negativo,

não segmentado, associado às proteínas RNA polimerase RNA dependente

L, fosfoproteína P, nucleoproteína N, além de proteínas M. Formando a RNP

há, aproximadamente, 1800 moléculas de N, 950 de P e 30 a 60 L. Devido a

presença de L a transcrição e a replicação são autônomas e independentes

da célula hospedeira (Wunner, 2002; Van Regenmortel et al., 2000) (Figura

1, Figura 2).

O peso seco do virion é composto por 67–74 % de proteínas; 2-3 %

de RNA; 3 % de carboidratos e 15-25 % de lipídios, sendo que deste

percentual 55-60 % é fosfolipídio e 35-40 % glicolipídio. O RABV tem peso

molecular entre 500 a 700 x 106 Da, densidade em CsCl de 1,19 a

1,20 g/cm3 e densidade em sucrose de 1,17 a 1,19 g/cm3. A infectividade do

vírus é estável entre pH 5,0 e pH 10,0 e é rapidamente inativado a 50°C; por

irradiação ultravioleta ou raio-X; exposição a solventes lipídicos ou agentes

oxidantes (Gaudin et al., 1992).

Page 33: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

33

Envelope

Ribonucleocapsídeo

Legenda

Figura 1: Esquema da composição estrutural do Vírus da Raiva.

Fonte: www.sciencephoto.com.br.

Page 34: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

34

Fonte: www.utmb.edu/images/Rabies_virus.jpg

Fonte: www.ncbi.nlm.nih.gov/Rabies_virus_fox.jpe

Fonte: www.cdc.gov/kidsrabies/images/rabvir1.gif

Figura 2: Micrografias do RABV corados negativamente. A- x70000,

B- x40000 e C- x200000, respectivamente e aproximadamente.

1.4.2.Organização genômica do RABV

O genoma do RABV, na amostra fixa Pasteur Virus (PV), contém

11932 nucleotídeos (nt). O RNA genômico é linear e policistrônico, com

sentido negativo, codificando do extremo 3’ (região amino-terminal) para 5’

(carboxi-terminal), com o final 5’ trifosfatado e não poliadenilado. Possui

C

B

A

Page 35: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

35

cinco genes dispostos nesta ordem: gene da nucleoproteína N (1350 nt),

gene da fosfoproteína P (M1ou NS) (891 nt), gene da proteína matriz M (M2)

(606 nt), gene da glicoproteína G (1572 nt) e gene da RNA polimerase RNA

dependente L (6426 nt). Possui 5 ORF (“open reading frame”),

transcrevendo as proteínas estruturais com as mesmas designações dos

seus respectivos genes (Tordo et al., 1986).

Um promotor multifuncional, designado por ”leader” (Le), que atua de

forma “cis-acting” (inserido e atuando no genoma), para polimerização, é

reconhecido pela transcriptase (somente L) ou pelo complexo polimerase (L

mais P). O promotor Le se situa na extremidade 3’ e transcreve um pequeno

mRNA, o RNA líder (RNA-Le), não traduzido, com 58 nt de comprimento,

correspondente ao trecho de nt do extremo 3’ do genoma precedendo o

gene N. O RNA-Le não é poli (U), ou seja, poliadenilado, e indiretamente,

controla a mudança (“switch”) da transcrição para a replicação do genoma

do vírus. A mudança do modo de transcrição para replicação pode estar

associado à capsidização destes RNA-Le por N (Yang et al., 1998, 1999).

Além destas funções, o RNA-Le parece funcionar como um

sinalizador para que a N se ligue ao RNA genômico (Yang et al., 1998). Há

evidências que os aa 298 a 352 de N, região altamente conservada, parece

ser o sitio de ligação para a região compreendida entre os nt 20 a 30 do

RNA-Le (Kouznetzoff, Buckle e Tordo, 1998).

No extremo 5', no final do genoma, há uma seqüência de 69 nt,

designado por “trailer” (Tr), que é o promotor para a síntese do antigenoma,

de sentido positivo, necessário para a replicação do genoma com sentido

negativo (Tordo e Kouknetzoff, 1993; Conzelmann e Schnell, 1994; Whelan

e Wertz, 1999).

As regiões Le e Tr são ricas em resíduos uracila (U) e adenina (A)

entre os nt 7 a 40, em todos os Lyssavirus. As áreas entre os nt 10 e 20 das

regiões Le e Tr, possuem uma perfeita complementaridade quando

comparadas, indicando ser uma área com iguais funções durante a

transcrição e replicação (Tordo e Kouknetzoff, 1993). Essas áreas podem

corresponder ao sinal de reconhecimento do complexo polimerase L na

transcrição e na replicação. Também existe uma perfeita complementaridade

entre os 11 primeiros nt das extremidades 3’ e 5’. Esta complementaridade é

encontrada em todos os vírus RNA não segmentados de sentido negativo e

pode representar a conservação de sinais entre o genoma e o antigenoma,

sinalização esta fundamental para a replicação (Tordo, 1996). Como o

extremo 3’ do genoma possui um promotor para a acomodação de L, o

antigenoma também necessita o ter para a replicação (Finke e Conzelmann,

Page 36: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

36

1997). Assim, a conservação das extremidades 3' e 5', do genoma (e

antigenoma) são fundamentais para a transcrição e replicação (Wunner,

2002).

Os sinais genômicos internos de início e parada da transcrição do

RABV flanqueiam os genes. São compostos por nove nt de uma seqüência

de consenso entre os Rhabdoviridae (Tordo, 1996). No final de cada gene

há uma seqüência poli (U) (códon de parada) que poliadenila as regiões

finais dos mRNA, de sentido positivo. Nos genes M e G de algumas

amostras do RABV há códons de terminação alternativa, pois existem dois

códons de parada em cada um dos genes (Tordo e Poch, 1988).

As seqüências intergênicas do genoma variam em composição e

tamanho e, em alguns casos, a região 5’ do mRNA transcrito se sobrepõe à

região 3’ do gene seguinte. A região entre os genes N e P tem os nt GA; a

região entre os genes P e M tem GUCCG; a região entre os genes M e G

tem GAUAA e a região intergênica entre os genes G e L [chamada psi (Ψ)

ou G-L] tem, em média, 423 nt (Tordo, 1996; Finke, Cox e Conzelmann,

2000).

A região intergênica G-L, a mais extensa, possui 423 nt na amostra

fixa PV (Tordo et al., 1986). Esta região é um dos alvos para o estudo da

evolução molecular do RABV, pois é susceptível a mutações, mesmo

quando livre de pressões seletivas e, assim, é pouco conservada

(Sacramento, Bourhy e Tordo, 1991). Segundo Tordo et al. (1986), esta

região representa um gene remanescente, um pseudogene, uma vez que é

longa o suficiente para sintetizar um peptídeo e apresenta os sinais clássicos

de início e parada de transcrição do vírus. No entanto, até a presente data

não há registro de isolamento de nenhuma proteína derivada desta região.

Em outros Rhabdoviridae, como os Vesiculovirus, nesta região há um sexto

gene (Tordo, 1996).

Morimoto, Ohkubo e Kawai (1989), estudando as amostras fixas HEP-

Flury (High Egg Passage-Flury) e ERA (Evelyn-Rokitnicki-Albelseth),

encontraram uma organização genômica diferente na região G-L daquela

descrita por Tordo et al. (1986). Os autores demonstraram que a amostra

HEP-Flury não apresenta o sinal de parada de transcrição (poli A) entre a

extremidade 5’ do gene G e a 3’ da região não-codificante G-L,

considerando, portanto, que esta região esteja integrada ao gene G,

podendo ser transcrita como parte deste gene. Na amostra ERA, verificaram

a mesma organização genômica de PV sugerida por Tordo et al. (1986),

porém mostraram, através do isolamento de glicoproteínas de tamanhos

diferentes, que a transcrição do gene da glicoproteína pode terminar em dois

Page 37: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

37

pontos distintos: na posição +10 a partir da extremidade 5’ do gene ou na

extremidade 5' da região G-L (sinal de poliadenilação).

Resumindo e em relação ao gene G, no genoma das amostras

vacinais PV e ERA, há dois sinais de poliadenilação (ou códon de parada),

enquanto que em outras amostras vacinais há somente um. O primeiro

códon de parada das amostras vacinais PV e ERA são localizados no final

do gene G, enquanto que o segundo se localiza no final da região

intergênica G-L (Figura 3).

Figura 3: Representação esquemática da organização genômica das

amostras fixas PV e ERA do RABV proposto por Tordo et al. (1986) (acima)

e a representação esquemática da organização genômica da amostras fixa

HEP-Flury (abaixo) do RABV proposto por Morimoto, Ohkubo, Kawai (1989),

mostrando a integração da região não-codificante G-L dentro do gene que

codifica para a glicoproteína do vírus. Fonte: Morimoto, Ohkubo, Kawai

(1989).

1.4.3.Transcrição e Tradução do RABV

A transcrição inicia-se pela extremidade 3’ do genoma e segue

formando os cinco tipos de mRNA com “cap” (adição de metil-guanosina) na

região 5’ e poliadenilados na região 3’. A transcrição é iniciada no momento

em que L reconhece o sinal “cis acting” Le. Primeiramente é transcrito o

RNA-Le, sem “cap” ou poliadenilado, relativo à região Le, que não é

traduzido. O transcrito Le interage com os promotores (“start codon”)

situados no início de cada gene, permitindo que a transcrição dos mesmos

ocorra. A interação de Le com os promotores é necessária para que L “se

apóie” em Le e inicie a transcrição (Yang et al., 1999).

Page 38: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

38

1.4.3.1.Os transcritos mRNA do RABV

Os transcritos mRNA possuem sentido positivo e são

monocistrônicos. A seqüência invariável 3'-UUGU-5' do genoma (5'-AACA-3'

em cada transcrito complementar ao genoma) identifica o sinal de inicio da

transcrição (“start codon”). Durante a síntese dos mRNA nascentes L

adiciona ao nt final 5’ uma metilguanosina (5'-m7Gppp) (“cap”) (Testa,

Chanda, Banerjee, 1980). No RABV, a seqüência 3'-AC(U)7-8-5', na região

final 5' de cada gene (“upstream” em relação as seqüências intergênicas), é

a região-sinal de parada (códon de parada) para a poliadenilação dos mRNA

(5'-UGAAAAAAA-3' no final 3' de cada mRNA complementar). O último

mRNA é a ORF do gene G mais a seqüência intergênica G-L (em algumas

amostras, como discutido anteriormente). Quando L opera no modo de

transcrição, ao alcançar a região com 7 ou 8 uracilas no genoma, ela pára e,

repetidamente, copia esta área. Este processo gera a cauda poli-A (com

mais de 200 'A's) no final 3' do mRNA. O novo mRNA é liberado e a

transcriptase, após “saltar” a próxima região intergênica e reconhecer o

próximo “start codon” já ligado à Le, inicia a transcrição do mRNA do

próximo gene (Tordo e Kouknetzoff, 1993; Gould et al., 1998).

A produção dos cinco diferentes mRNA não é igual em número.

Ocorre um gradiente decrescente na produção dos mRNA (e das proteínas

traduzidas) nesta ordem: N > P > M > G > L. O que determina esta

molaridade decrescente dos produtos gênicos é a progressão seqüencial de

L. Nem todas L que transcreveram o gene anterior iniciam a transcrição do

próximo. O tamanho da região intergênica G-L (423 nt, em média) causa

uma grave diminuição na transcrição do gene L (Finke, Cox, Conzelmann,

2000). Portanto, a localização de um gene influencia diretamente sua taxa

de transcrição, indicando que o controle da expressão gênica está

relacionado com a localização do gene no genoma (Banerjee e Barik, 1992).

Pensa-se que L dissocia-se do genoma após a leitura de cada sinal

de parada, antes de reconhecer o próximo sinal de início do gene seguinte.

Como as regiões intergênicas, não transcritas, são muito curtas (dois ou

cinco nt e com exceção da região G-L), o grande complexo polimerase tem

dificuldade em unir-se ao próximo sinal de início. Este mecanismo explicaria

o grande número de produtos do primeiro gene e pouquíssimos do último

(1800 e 60 respectiva e aproximadamente) (Banerjee e Barik, 1992; Finke,

Cox, Conzelmann, 2000). Esta característica não é restrita ao RABV, pois

está presente em todos os representantes da Ordem Mononegavirales, onde

os genes das proteínas estruturais se posicionam na região 3`, enquanto o

gene da polimerase, necessária em pequenas concentrações, se encontra

na posição 5` (Tordo et al., 1992).

Page 39: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

39

A tradução dos cinco mRNA (ver item 1.4.6. O ciclo de infecção do RABV)

inicia-se com o códon de iniciação AUG (metionina) na região 5' e termina

na posição 3', com os códons de parada: UAA ou UGA (Wunner, 2002).

1.4.4.Replicação do RABV

A replicação do genoma ocorre após a tradução, com a formação de

vários RNAs intermediários com sentido positivo, os antigenomas, que são

moldes para a síntese do RNA genômico de sentido negativo (Tordo, 1996;

Wunner et al., 2002).

Os antigenomas são sintetizados no sentido positivo e de modo

policistrônico, pois L deixa de reconhecer os sinais de início e parada dos

genes. Logo que o antigenoma e o genoma são produzidos eles são

recobertos (capsidados) por proteína N. Tanto o genoma quanto o

antigenoma, para serem funcionais, devem estar revestidos por proteína N

e, portanto, a replicação é dependente da síntese desta proteína (Banerjee e

Barik, 1992; Tordo e Kouknetzoff, 1993).

O início da síntese do antigenoma e, posteriormente, o genoma, é

produto de alguns eventos.

Inicialmente ocorre a cobertura dos RNA-Le pelas proteínas N recém-

produzidas, inativando-as. Este fenômeno impede que L inicie a transcrição

dos mRNA monocistrônicos de cada um dos genes, pois a união de L aos

promotores de transcrição é dependente da presença de RNA-Le (Yang et

al., 1998, 1999).

Outro evento necessário para que ocorra a replicação do genoma do

RABV é a união de proteína N ao RNA genômico. Assim que N recém

produzida se une ao RNA genômico L não reconheçe os sinais de início e

parada, respeitados na transcrição. Enquanto a quantidade de proteína N

unida ao genoma for pequena, L reconhece os sinais de poliadenilação

(“stop códon”), se solta do RNA genômico e reconhece os sinais de início

dos genes seguintes, produzindo novos mRNA. Portanto, havendo

quantidade suficiente de N sobre o RNA genômico, os sinais internos não

são respeitados e a polimerase segue a leitura do genoma ininterruptamente

(Wertz, Davis e Patton, 1987; Banerjee e Barik, 1992).

Nas fases iniciais da infecção, como a presença de N ainda é

pequena, a replicação viral é praticamente inexistente, no entanto, após a

síntese de grandes quantidades de N, inicia-se a replicação do genoma do

RABV. Assim, N é a responsável pela mudança (“switch”) entre transcrição e

Page 40: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

40

replicação (Tordo, 1996; Wertz, Davis, Patton, 1987; Banerjee e Barik,

1992). Como resultado, ocorre à transcrição do RNA genômico com sentido

positivo, o antigenoma, que servirá de molde para a produção do genoma

com sentido negativo do RABV (Wunner, 2007).

1.4.5.Variação genotípica do RABV

Como outros vírus RNA, o RABV apresenta pouca fidelidade durante

a replicação pela falta de reparo (“proofreading”) e correção dos erros após a

replicação. Isto ocorre porque L não tem atividade exonucleásica, que retira

nt adicionados incorretamente. Isto causa a incorporação de mutações e,

portanto, inicia a formação de distintos genomas de mesma origem que o

ambiente selecionará (Kissi et al., 1999).

Apesar deste aumento progressivo de variação genotípica, uma

linhagem do RABV pode evoluir e expressar mutações características que

determinam fenótipos que são expressos nas relações vírus-hospedeiro

(Morimoto et al., 1998).

As mutações no RABV ocorrem com freqüência média de 10-4 - 10-5/nt

por ciclo de replicação, alterando a freqüência genômica da população viral.

Assim, as novas linhagens do vírus que incorporam novas mutações, na

tentativa de se adaptarem, são selecionadas. Este fenômeno forma

subpopulações designadas como “quasispecies” (Tsimring, Levine, Kessler,

1996). As diferenças encontradas entre amostras de vírus de diversas

regiões, em diferentes momentos, podem ser analisadas através deste

modelo genético (Morimoto et al., 1998; Kissi et al., 1999).

O ambiente de um vírus RNA é fechado, porém possui componentes

que afetam sua adaptação. Áreas do citoplasma das células infectadas,

individualidade dos hospedeiros e o próprio ambiente ecológico habitado

pelo hospedeiro, modulam a resposta adaptativa dos vírus RNA (Domingo e

Holland, 1997).

Populações com altas taxas de mutações, como os vírus RNA,

possuem uma significante proporção de mutantes deletérios. Além disto,

mutações individuais podem ser perdidas por deriva genética e também por

estrangulamento populacional (“bottlenecks”), permitindo que características

de alta ou baixa adaptação ambiental possam se tornar prevalentes no

hospedeiro (Clarke et al., 1993).

A baixa taxa de mutação de um genoma diminui a possibilidade de

variações adaptativas selecionáveis (Muller, 1964). Em grandes populações,

Page 41: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

41

como as de vírus, uma mutação benéfica pode ocorrer durante o

crescimento populacional. Assim, a probabilidade de características com

grande valor adaptativo ser transferida para um novo hospedeiro é alta

(Clarke et al., 1993).

A falta de diferenciação de variações ambientais induz competição

entre os componentes de uma dada população (Hardin, 1960), porém as

altas taxas de mutações dos vírus RNA podem causar coexistência de varias

linhagens geneticamente distintas. A coexistência é possível porque elas

utilizam o ambiente de forma diferente e em taxas diferentes, diretamente

proporcionais ao tamanho de cada linhagem (Miralles et al., 1999).

Nas linhagens de vírus, as mutações com alto valor adaptativo

tendem a se fixar no conjunto delas quando estão agrupadas. Os vírus se

adaptam pelo aparecimento e fixação de mutações com alto valor adaptativo

(Clarke et al., 1993). Esta situação tem limites. Havendo aumento na

adaptação das linhagens mais elas crescem, chegando a um ponto que o

ambiente cria resistência, como por exemplo, pela falta de matéria prima (nt

e aa), espaço, morte prematura da célula, ativação de sistemas SOS do

metabolismo celular, entre outros (Miralles et al., 1999).

A diversidade e abundância de nt e aa são fatores que afetam

sobremaneira a sobrevivência das linhagens dos vírus. Os sinais de início e

parada de transcrição são pontos conservados, onde as taxas de mutações

são pequenas. Alterações nestas áreas alteram a produção dos ácidos

nucléicos (e cosequentemente proteínas), fazendo com que ocorra a

abundância de certos nt ou aa e a falta de outros. A ocorrência de mutações

que favoreçam a replicação de uma linhagem de vírus, com seqüência

nucleotídica diferenciada, determina o maior uso de certos nt ou aa, levando-

os à escassez, enquanto há a abundância de outros. Inserções sinônimas

podem produzir o mesmo efeito, como também a presença de partículas

defectivas (Bracho, Moya, Barrio, 1998).

O conceito de “quasispecies” (Eigen e Schuster, 1977) afirma que o

alvo da seleção ambiental não é um simples genótipo, mas um conjunto de

genótipos mutantes distribuídos ao redor do mais freqüente. Ou seja,

“quasispecies” é uma classe de mutantes dentro das probabilidades de

mutações. A classe de uma “quasispecies” que replicar mais rapidamente

será selecionada positivamente. Assim, a seqüência individual não é

selecionável e sim o conjunto de “quasispecies”.

Dentro do ponto de vista da genética de populações os vírus são

variadas populações mutantes dispersas, e não um conjunto proveniente de

uma seqüência selvagem original, como as “quasispecies” (Eigen, 1996).

Page 42: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

42

Para a genética populacional, as populações de vírus possuem uma extrema

variabilidade genética. Estas populações são derivadas de “replicons”,

originados através de mutações, e selecionados de forma simples através de

adaptações ambientais. A genética de população não se baseia no indivíduo

ou nos conjuntos de indivíduos, e sim em um grupo semelhante com

variação genética (Miralles, Moya, Elena, 1997).

Os autores que moldaram o conceito “quasispecies” afirmam que a

genética de populações é uma boa teoria para populações de reprodução

sexuada, onde mutação é um evento raro e a seleção de genótipos é a

principal força atuante, gerando populações homogêneas, pois adiciona e

fixa possíveis variações neutras por deriva genética (Felsenstein, 1971;

Haigh, 1978).

Miralles, Moya, Elena (1997), analisando e comparando os dois

modelos de estudo, genética de população e “quasispecies”, concluem que

um pesquisador deve e pode optar pelo modelo o qual estiver mais

familiarizado, pois os resultados da análise, principalmente em relação aos

vírus RNA, serão os mesmos.

1.4.6.O ciclo de infecção do RABV

Os eventos no ciclo de replicação do RABV, na célula hospedeira, são

semelhantes aos de muitos outros vírus, ou seja: adsorção, penetração,

transcrição, tradução, replicação, maturação e liberação por brotamento

(gemação) (Fauquet et al., 2007). Todas as fases intracelulares ocorrem no

citoplasma celular, motivo pelo qual o genoma do vírus possui o gene L. No

que diz respeito aos genes estruturais do vírus estes apresentam diferentes

funções, de acordo com o estágio da infecção (Wunner, 2007).

O vírus liga-se a receptores celulares (proteínas de membrana) por

meio das espículas, formadas por trímeros da glicoproteína G encontradas

sobre a superfície do envelope do vírus (Lafon, 2005).

A adsorção não é dependente de temperatura, mas de pH, sendo o

pH 6,3 o mais favorável, pois este pH determina pequenas mudanças

conformacionais em G. As espículas, em pH ácido, mudam de conformação,

tornando-se mais compridas e irregulares. Esta mudança é reversível e, de

novo em pH 7, retomam a sua conformação original. Portanto, a

conformação de G é dependente de pH (Gaudin et al., 1995).

O reconhecimento dos receptores celulares depende da topografia

das espículas. O sítio antigênico III, que possui o aa arginina na posição

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43

333, que determina a neurovirulência do RABV, é preservado na

configuração ácida (Gaudin et al., 1995).

Em relação ao neurotropismo, é provável que o vírus reconheça

receptores de membrana, como o receptor nicotínico de acetilcolina (nAChR)

encontrado nas junções neuromusculares, os prováveis locais de entrada do

vírus no Sistema Nervoso (SN) (Lentz et al., 1982). Lentz et al., (1984)

verificaram uma grande semelhança estrutural entre os aa 189 a 214 de G

com a neurotoxina extraída de serpentes venenosas, um forte ligante do

nAChR. Porém nem todas as células susceptíveis a infecção pelo RABV

possuem nAChR (Lafay et al., 1991). Há indícios que componentes das

membranas celulares com fosfolípidios e glicolípidios estimulam o

neurotropismo do RABV. Em neurônios e fibroblastos, componentes de

membrana como o ácido siálico e gangliosídeos, podem estar envolvidos

(Lentz et al., 1986). Outros dois receptores descritos como importantes para

a entrada do vírus na célula hospedeira são a molécula de adesão de

neurônios CD56 (“neural cell adhesion molecule”) (NCAM) (Thoulouze et al.,

1998) e o receptor de neurotrofina de baixa afinidade (“low-affinity

neurotrophin receptor”) (p75NTR) (Tuffereau et al., 1998).

Após o RABV se ligar ao receptor celular ocorre a invasão da célula

hospedeira, normalmente pela fusão do envelope com a membrana celular

(Superti, Derer, Tsiang, 1984). A penetração do vírus é dependente de

temperatura, sendo 37°C o ponto ótimo. A endocitose (pinocitose) é a

hipótese aceita para explicar a entrada do vírus na célula. Cada uma das

vesículas endocíticas incorpora vários (dois até cinco) virions (Tsiang, 1993;

Gaudin et al., 1993).

No interior da célula ocorre a decapdização do virion, ou seja, a

liberação da ribonucleoproteína (RNP) no citoplasma. O baixo pH interno do

vacúolo digestivo, formado pela união do endossomo mais lisossomo celular,

faz com que a membrana do vacúolo una-se à membrana do envelope do

vírus. Esta união membranosa aumenta a pressão interna do virion, ejetando

a RNP diretamente no citoplasma. Desta forma, o genoma não é lesado pelo

suco digestivo dos lisossomos e também pelas nucleases e proteases

celulares, pois são protegidos pelo próprio endossomo (Gosztonyi, 1994;

Wunner, 2007).

Uma vez a RNP livre no citoplasma, ela desespiraliza para que a

transcrição e a replicação possam ocorrer (Iseni et al., 1998). Nesta

situação, imediatamente se inicia a transcrição dos cinco mRNA, sua

tradução e, logo em seguida e concomitantemente, a replicação (Marsh e

Helenius, 1989; Whitt et al., 1991; Gaudin et al., 1992).

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44

A transcrição é realizada pelo complexo polimerase, L mais a proteína

P que age como cofator. Este complexo age sobre os sinais de início (“start

códon”) produzindo os cinco mRNA monocistrônicos (Flamand e Delagneau,

1978). Em cada junção intergênica o complexo polimerase pausa e uma

estimada porcentagem deles (20% a 30%) se dissociam e,

conseqüentemente, há uma atenuação da transcrição em direção a região 5’

(“downstream”) (Finke, Cox, Conzelmann, 2000).

Todas as proteínas virais são transcritas e traduzidas

simultaneamente. As proteínas N, P, M e L são traduzidas nos ribossomos

livres do citoplasma, enquanto que G o é nos ribossomos ligados a

membrana do retículo endoplasmático rugoso (ergastoplasma) (RER)

(Gaudin et al., 1992).

Após a síntese de G, esta é transportada para o lúmen do RER, onde

é iniciado seu processamento. No interior do RER, pontes dissulfídicas são

adicionadas em G, além das dobras realizadas por enzimas e “chaperones”

celulares. Além disto, o monômero de G sofre modificações e é glicosilada.

Alguns dos seus aa asparagina são glicosilados pelo processo N-glycan

(oligossacarídeos ligados a cadeia lateral do aa asparagina). Em seguida, o

pós-processamento dos monômeros de G é finalizado no complexo de Golgi

(CG), onde G são agrupadas, três a três, formando os trímeros das

espículas do vírus. São as espículas que possuem atividade biológica

(Shakin-Eshleman et al., 1992; Whitt et al., 1991; Gaudin et al., 1992;

Gaudin, 1997a).

Após a transcrição das proteínas, principalmente N, a replicação se

torna o evento dominante (Finke e Conzelmann, 1997).

1.4.6.1.Morfogênese e gemação do RABV

Havendo suficiente número das cinco diferentes proteínas e, também,

RNA genômico, ocorre a montagem do vírus (morfogênese).

Concomitantemente à formação da RNP (a união de N, P e L ao RNA), as

proteínas M e G se deslocam em direção a membrana celular para que, em

seguida, ocorra a gemação do virion (Wunner, 2007). Estes eventos ocorrem

enquanto a célula se mantém metabolicamente competente. A morfogênese

viral está associada à formação de uma matriz intracitoplasmática,

conhecida como corpúsculos de Negri ou de inclusão, que antecede a

formação dos novos virions (Matsumoto, 1962). Lahaye et al. (2009)

obtiveram evidências que o corpúsculo de Negri pode ser o local de

replicação e transcrição do RABV (Figura 4 e Figura 5).

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45

No citoplasma da célula infectada, as proteínas N e P recém-

formadas formam complexos homólogos (N-N ou P-P) ou heterólogos (N-P)

(Gigant et al., 2000). Em seguida, ocorre a associação de P com N, na

proporção de 2N para 1P. A razão 2N:1P é encontrada nos virions (Mavrakis

et al., 2003). Supõe-se que esta razão permita a capsidização específica dos

genomas dos vírus RNA negativos, e não de outros RNA celulares (Banerjee

e Barik, 1992). Liu et al. (2004), acreditam que P impede a fosforilação

imediata de N, determinando que esta se ligue mais fortemente ao RNA do

RABV, além de impedir a capsidização de RNA celular. A seguir ocorre a

capsidização do RNA, ou seja, a cobertura do genoma do RABV pelas

proteínas N e P e, conseqüentemente, a formação da RNP.

Figura 4: Reação de imunofluorescência positiva para a pesquisa de

antígeno rábico em impressões de tecido nervoso de animal infectado.

Observar corpúsculos de inclusão (estruturas circulares) Fonte: Instituto

Pasteur (www.pasteur.saude.sp.gov.br).

Page 46: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

46

Figura 5: Micrografia eletrônica corada negativamente de Corpúsculo

de Negri (estrutura central circular). Observar partículas do RABV ao redor

do Corpúsculo de Negri. X64000. Fonte: www.news.bbc/diseases/img/rabies.

Pouco se conhece do modo pelo qual L se liga ao RNA. Do estudo de

outros vírus RNA negativos, acredita-se que P auxilie L a se ligar no RNA

(Buchholz et al., 1994). Estudos recentes com o RABV descrevem estruturas

em forma de anel que parecem definir as relações bioquímicas e biofísicas

para a montagem da RNP. Porém, a função dos aa ou dos “motifs” destes

anéis necessitam ser elucidados (Albertini et al., 2006).

Proteínas M são multifuncionais e seguem dois caminhos. Uma parte

se une a RNP, condensando-a, fazendo cessar a transcrição e replicação,

além de dar o formato característico do RABV (Finke, Mueller-Waldeck,

Conzelmann, 2003) e, também, inicia o “enovelamento” da RNP, conferindo-

lhe o formato de “mola” que caracteriza a disposição helicoidal da RNP

(Batista, Franco, Roehe, 2007).

Outra parte se une a membrana da célula hospedeira, preparando-a

para a liberação dos virions. Outra função atribuída a M é a supressão de L

durante o processo de gemação do virion (Ito et al., 1996).

A proteína M é reconhecida tanto por G como também pelas proteínas

P e N. A presença de M na membrana celular desencadeia a migração da

RNP em direção as regiões da membrana onde se encontra G, e são nestas

regiões que ocorre a gemação do virion pelas vias normais de secreção

celular (Mebatsion, Weiland, Conzelmann, 1999).

Page 47: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

47

Nos estágios finais da morfogênese a pressão exercida pela RNP,

nos locais onde G e M estão presentes, faz com que ocorra o revestimento

do virion pela membrana da célula hospedeira, formando desta forma o

envelope do RABV e, finalmente, liberando novas partículas infectantes

(Gaudin et al., 1993) (Figura 6).

Todas as atividades, diretas e indiretas, relacionadas anteriormente

tornam a proteína M de fundamental importância na morfogênese do vírus

(Wunner, 2002). Porém, G também tem um papel crítico na liberação e

biogênese do RABV. Primeiramente, esta proteína agrega-se em regiões

basolaterais da membrana celular, direcionada, provavelmente, por enzimas

presentes no citoesqueleto celular. O domínio citoplasmático de G, com

carga negativa, parece dirigir a reunião da RNP, revestida por M, à

membrana celular (Gaudin et al., 1992; Gaudin et al., 1993).

Durante o ciclo de vida do RABV no interior da célula ocorre a

inibição, mesmo que pequena, da síntese de RNA, DNA e proteínas

celulares. Os dois principais fatores destas inibições, provavelmente, são os

RNA-Le, formados no início da transcrição, e a proteína M do vírus, pois

ambos são encontrados no núcleo das células infectadas e, provavelmente,

devem ter alguma ação sobre a expressão gênica celular (Remenick, Kenny,

McGowan, 1988).

Após a saída dos virions das células hospedeiras, em direção aos

espaços intercelulares, eles podem infectar outras células vizinhas, mesmo

na presença de anticorpos neutralizantes (AcN). Porém, se a distância for

maior a presença de AcN inativa o virion, bloqueando sua união aos

receptores celulares (Dietzschold et al., 1985). In vivo e no SN o RABV é

infectante mesmo a distâncias consideráveis (Kucera et al., 1985).

1.4.7.As proteínas e os genes do RABV

1.4.7.1.A Nucleoproteína N

A nucleoproteína N possui 450 aa e é muito conservada durante o

processo evolutivo do RABV (Ertl et al., 1989). A conservação genética de N

ao longo do tempo ocorre, provavelmente, pelos seguintes fatos: interage

com o RNA capsidando-o; é a mais abundante proteína do capsídeo;

protege o genoma contra nucleases celulares; regula a replicação; modula a

transcrição e interage com a fosfoproteína P durante a replicação e tradução

(Wunner, 2002). A proteína N também é a mais conservada

Page 48: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

48

antigenicamente, e por estas razões é a mais utilizada em diagnósticos e

estudos das relações evolutivas e epidemiológicas (Tordo e Kouknetzoff,

1993) (Figura 7).

Figura 6: Representação esquemática do ciclo de replicação do vírus

da raiva, evidenciando-se os processos de ligação, entrada, replicação,

maturação e saída de novas partículas virais infectantes. Fonte: Piere

(2003).

A interação da nucleoproteína N com o RNA genômico ocorre no

trecho compreendido entre os aa 298-352 (Kouznetzoff, Buckle, Tordo,

1998). Uma N é encontrada a cada nove nt do RNA (Iseni et al., 1998; Luo et

al., 2007). Acredita-se que após o genoma RNA do RABV ser capsidado por

N, este sofre alterações estruturais que permitem a fosforilação da sua

serina 389 (Kawai et al., 1999). Esta fosforilação de N é necessária para a

ação da polimerase L durante a transcrição e replicação (Wu et al., 2002),

como também para a interação de N com P na RNP (Toriumi e Kawai,

Receptor

Viral

RNA -

Citoplasma

Síntese de

glicoproteína

Replicação

M, N e L

Montagem do

capsideo

Fusão

Brotamento

Endocitose

Fusão

Transcrição

Núcleo

G

Page 49: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

49

2004). A interação de P com N ocorre próximo a serina 389 fosforilada

(Albertini et al., 2006; Luo et al., 2007).

Há um grande interesse na função imunológica de N. Epítopos para

células B e T foram mapeados e encontrados nesta proteína em todos

Lyssavirus (Lafon e Wiktor, 1985; Ertl et al., 1989). Também possui três

epítopos antigênicos lineares no sítio antigênico I (aa 358-367) e mais três

epítopos antigênicos lineares no sitio IV (em duas regiões: aa 359-366 e aa

375-383) (Goto et al., 2000). Os epítopos encontrados entre os aa 359-366

fazem parte dos sítios antigênicos I e IV e refletem diferentes estados

conformacionais de N. Os epítopos encontrados entre os sítios I e IV

também são conservados em todos Lyssavirus. Epítopos dependentes de

conformação também formam os sítios antigênicos II e III (Goto et al., 2000;

Wunner, 2002).

A proteína N é o principal antígeno para células T auxiliares CD4+

(Th). Vários epítopos para células Th foram localizados entre os aa 404-418

(Ertl et al., 1989). Esta proteína não induz a produção de AcN, porém induz o

aumento da produção de AcN dirigidos à G (Fu et al., 1991). Os epítopos de

N são imunodominantes, pois após ser inoculada perifericamente em

diversas espécies animais, infectadas com amostras do RABV “de rua” e

selvagens, os protegeu (Dietzschold et al., 1987). Esta proteína é o antígeno

alvo das células Th em diferentes variantes antigênicas do RABV e, também,

entre os diferentes genótipos do gênero Lyssavirus (Lafon et al., 1992).

A nucleoproteína N, associada ao RNP, é considerada um super-

antígeno, pois potencializa a ativação periférica de linfócitos sanguíneos na

utilização de várias vacinas humanas. Também estimula a produção de

células T Vβ8 CD4+ e liga-se a antígeno MHC classe II, expressos nas

superfícies das células (Lafon et al., 1992).

Eletroforese – concentração de nucleoproteínas (N)

N

PM MC LC RNPs

101Kda

56Kda

Figura 7: Eletroforese em gel de poliacrilamida mostrando o peso

molecular da nucleoproteína N do RABV. PM= peso molecular, MC= meio de

cultura, LC= lisado celular e RNPs= nucleoproteína N com 57KDa. Imagem

cedida por Caporale, GMM.

Page 50: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

50

1.4.7.2.O gene N

O gene N possui 1350 nt na amostra vacinal PV e, apesar de ser

conservado, há uma relativa variação entre as amostras estudadas (Kuzmin

et al., 2005).

A escolha do gene N como alvo para amplificação através de RT-PCR

ocorre por dois aspectos principais: a) é a região gênica do RABV mais

conservada (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995); b) o gene situa-se no extremo 3’ do

genoma, e assim sua transcrição é favorecida, pois ocorre perda de

eficiência da transcrição na direção 5’ do genoma (“downstream”) (Finke,

Cox, Conzelmann, 2000). Principalmente por estas razões o gene N é muito

utilizado nos estudos das relações filogenéticas do vírus (Kissi, Tordo,

Bourhy, 1995; Holmes et al., 2002).

Kissi, Tordo, Bourhy (1995) estudando o polimorfismo genético do

gene N, em amostras de RABV obtidas de vários continentes, demonstraram

que a região central do gene é conservada e seus extremos são pouco

conservados. Há baixa similaridade entre os nt 99-405 e 1080-1278. A

menor similaridade encontrada situa-se entre os nt 30-300, enquanto que há

grande similaridade entre os nt 500-900, ocorrendo maior similaridade entre

os nt 750-850. A porcentagem mínima de similaridade nucleotídica foi de

83.3% nt, e 92.2 % em relação aos aa que formam a proteína N, portanto

muitas mutações sinônimas são encontradas.

Provavelmente não há seleção dominante no gene N, e sim seleção

estabilizadora. Esta seleção atua estabilizando o fenótipo ótimo no ambiente,

mas pode ocorrer acúmulo de mutações neutras em populações de vírus

separadas geograficamente. Este fato pode ocasionar divergências

genotípicas, pois não há acúmulo de mutações não sinônimas (Holmes et

al., 2002).

1.4.7.3.A Glicoproteína G

A Glicoproteína G é a única proteína do RABV capaz de induzir a

formação e reagir com os AcN produzidos pelo hospedeiro do vírus. Esta

glicoproteína tem 524 aa, deduzidos da clonagem de genes G de várias

amostras do RABV, possuindo a mesma equivalência em nt no mRNA que a

traduz. Pós-processada no RER, G contém 505 aa, pois ocorre uma

clivagem retirando 19 aa da região N-terminal ainda no RER (Benmansour et

al., 1992). A função deste segmento de G, com 19 aa, é dirigir a proteína

Page 51: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

51

recém-traduzida em direção ao RER para que possa ser processada. Este

fragmento de G recebe o nome de peptídeo sinal (SP) (Gaudin et al., 1992).

Pós-processada G é dividida em três regiões (domínios). O

ectodominio (ED), externo ao vírus e com 439 aa (1 a 439) da região N-

terminal, o domínio transmembrana (TM), com 22 aa (440 a 461) e o

endodomínio (ENDO), com 44 aa (462 a 505) da região C-terminal e situado

no interior do vírus (Wunner, 2007).

Em células infectadas ocorre a produção de duas formas de G. Uma

delas é semelhante à encontrada no envelope do RABV (pós-processada),

que forma as espículas do vírus, com 505 aa. A outra, designada como a

forma solúvel de G (Gs), possui com 447 aa, referente ao domínio externo

ED e somente é encontrada no citoplasma celular. O gene G possui

terminação alternativa, determinando a formação de G com os dois

tamanhos descritos (Tordo, 1996).

O domínio TM é conservado, provavelmente por estar imerso no

envelope do vírus, formado pela membrana plasmática dos diferentes

hospedeiros. Esta conservação pode representar uma adaptação das

linhagens do RABV adquirida durante o processo evolutivo vírus/hospedeiro

(Wunner, 2007). O domínio TM é “ancorado” na membrana celular e no

envelope do vírus pelo segmento de aa 439 a 461 após a palmitilação de G

(Gaudin et al., 1992). O processo de palmitilação ocorre durante o

processamento de G no RER. Neste processo é adicionado um ácido

palmítico no aa cisteina 461, que determina a “ancoragem”, pois estabiliza o

domínio TM de G no envelope do vírus (Gaudin et al., 1991). O sítio de

palmitilação na cisteina 461 é conservado em todos Lyssavirus. Este sitio,

provavelmente, também influencia no processo de gemação, pois este sítio

também interage com a proteína matriz M (Wunner, 2007).

O domínio ENDO é o mais conservado, pois a identidade protéica

aferida em linhagens do RABV isoladas em diferentes continentes

permanece grande (Benmansour et al., 1992). A conservação deste domínio

é justificada pelo fato de ENDO estar no interior do virion e ser a área de G

responsável pela migração da RNP em direção a membrana celular,

direcionada pelo citoesqueleto celular (veja morfogênese) (Wunner, 2007).

O domínio extracelular ED de G é o menos conservado,

provavelmente pela pressão seletiva exercida pelo ambiente externo nesta

área do vírus. A região ED é a mais imunogênica, estimulando tanto

linfócitos B quanto linfócitos Th e T citotóxicos (Tc) (Dietzschold et al., 1990;

Kawai e Morimoto, 1994).

Page 52: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

52

A glicosilação de G no RER ocorre pela adição de oligossacarídeos

no aa asparagina (N) no sequon (seqüência) NXS/T (S/T= serina ou

treonina), onde X é qualquer aa diferente de prolina (P). A glicosilação é

importante para a expressão e função de G, ou seja, determina suas

atividades biológicas, como, por exemplo, estabilidade e antigenicidade

(Shakin-Eshleman et al., 1992). Até o momento, três potenciais sítios de

glicosilação foram encontrados nas linhagens do RABV. Estes sítios estão

posicionados nos aa 26 (sequon NNS) (Carnieli et al., 2009), aa 37 (sequon

NLS) e aa 319 (sequon NKT) (Wunner, 2007).

O aa alanina (A) 319 é conservado em todos Lyssavirus e é essencial

para o correto e completo dobramento (“folding”) de G recém-processada,

necessário para o subseqüente transporte à superfície celular (Bourhy, Kissi,

Tordo, 1993; Wojczyk et al., 2005).

A região entre os aa 189-214 de G interage o com receptor celular

nAChR, o receptor celular preferencial do RABV em muitos tipos de células

(Tsiang et al., 1986), enquanto que a região entre os aa 318-352 é,

provavelmente, o sitio de ligação que reconhece e interage com o receptor

celular p75NTR em neurônios (Lanvegin e Tuffereau, 2002).

Acredita-se que o domínio protéico de G relacionado à interação da

membrana do endossomo com os lisossomos, no interior da célula infectada

e para que ocorra a ejeção da RNP do RABV no citoplasma, se situa entre

os aa 102 e 179 (Gaudin, 1997b; Kankanamge et al., 2003).

Apesar de não se saber o motivo, as cisteinas (C) de G são

conservadas no RABV, como também o é em todos os outros Lyssavirus

(Badrane e Tordo, 2001).

O aa arginina (R) ou lisina (K), na posição 333, desencadeiam a

neurovirulência do RABV, principalmente pelo fato de permitir que ocorra o

transporte das RNP através dos axônios e sinapses dos neurônios (Lafon,

2005).

Epítopos estimuladores de linfócitos B e T (Th e Tc) foram localizados

em G (Celis et al., 1988). Oito sítios antigênicos (I-VI, “a” e G1) foram

mapeados em ENDO. Os sítios antigênicos I, III, VI e “a” situam-se entre os

aa 231, 330-338, 264 e 342, respectivamente. O sitio II é descontínuo e

localizado entre os aa 34-42 e 198-200. Os sítios VI e G1 são lineares ou

conformacionais (Wunner, 2007).

Page 53: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

53

Para uma melhor análise da glicoproteína G é necessário sua

cristalização, que até hoje é difícil, pela existência de dobras estruturais e

que são perdidas durante o processo de cristalização (Wunner, 2002).

É provável que as variações de aa nas proteínas G permitam

adaptações a novos hospedeiros e possibilitem a emergência de novos

Lyssavirus no ambiente (Badrane et al., 2001).

1.4.7.4.O gene G

O gene G é de grande interesse para os estudos filogenéticos do

RABV. Os principais motivos destes estudos são: importância na resposta

imunológica; relação entre hospedeiros suscetíveis e patogênese da raiva

(Badrane et al., 2001).

Foram detectadas regiões de elevada diversidade no gene G. As

regiões com elevada diversidade relacionam-se com o reconhecimento de

receptores neuronais e estimulação do sistema imune. Estas características

podem facilitar a disseminação do vírus dentro de uma mesma espécie ou,

ainda, entre espécies diferentes, o que pode alterar a epidemiologia da

infecção (Benmansour et al., 1992; Morimoto et al., 1998; Badrane e Tordo,

2001). A razão de substituições sinônimas e não sinônimas no gene G é

maior que 01, sugerindo seleção positiva neste gene (Badrane et al., 2001).

1.4.7.5.A Fosfoproteína P

A fosfoproteína P é formada por 297 aa, é multifuncional e é a menos

conservada entre as outras proteínas do RABV (Wu et al., 2007).

Existem duas formas de P, uma menor (37 kDa) e outra maior (40

kDa), devido a existência de dois códons de início (“start” códon) (AUG) em

“frame” no mRNA (Toriumi e Kawai, 2004). Esta proteína é fosforilada na

região N-terminal por quinases celulares, que podem ser encontradas nos

virions do RABV (Gupta et al., 2000).

Dois domínios protéicos de P interagem com N. Um encontrado na

região C-terminal (entre os aa 267 e 297) e, outro, na região N-terminal

(entre os aa 69 e 177) (Chenik et al., 1994). Depois que P se liga ao RNP

em formação (RNA mais N) ela auxilia a ligação de L ao RNP. A interação

de P com L ocorrem nos seus primeiros 19 aa (Chenik et al., 1998; Gerard et

al., 2009).

Page 54: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

54

Interagindo com N, a proteína P regula a ação da polimerase L na

replicação e transcrição. É um “chaperone”, pois é uma proteína que age em

ligações não covalentes de outras moléculas durante a formação ou quebra

das suas estruturas, mas não está presente no substrato ao término da sua

ação. Atua sobre N recém sintetizadas, impedindo sua polimerização ou sua

união com RNA que não seja o do RABV (Mavrakis et al., 2003), como

também direciona a capsidização do RNA por N (Gigant et al., 2000).

Como subunidade de L, P tem um papel duplo, pois é um co-fator

não-catalítico, necessário para a transcrição dos genes e, também, para a

replicação do genoma, estabilizando L e posicionando o complexo

polimerase (L mais P) sobre o molde (“template”) RNA (Fu et al., 1994).

Outras interações que envolvem P estão relacionadas ao tropismo do

RABV, a propagação do vírus célula a célula e a inibição da resposta imune

inata que interfere ou cessa a replicação dos vírus (Wunner, 2007).

A proteína citoplasmática LC8 (“dynein light chain”), envolvida no

transporte intracelular de organelas, interage fortemente com o domínio de P

localizado entre os aa 138 e 172 (Raux, Flamand, Blondel, 2000; Gerard et

al., 2009). A proteína LC8 parece estar envolvida com o transporte do RABV

através dos neurônios, pois ela faz parte do complexo miosina V. Nos

neurônios do cérebro, o complexo miosina V é a estrutura que forma os

microtúbulos relacionados com o complexo actina das vesículas do RE

(Jacob et al., 2000). Assim, o transporte da RNP ao longo dos dendritos em

direção ao próximo neurônio, pode ser mediado pelo complexo P-dineina

LC8, transportando a RNP pelo sistema de microtúbulos da célula (Ceccaldi,

Gillet, Tsiang, 1989).

A proteína P também é responsável por inibir o fator de ativação IRF-

3, que é necessário para o início da resposta imune pelo interferon (IFN),

portanto, P é necessária para inibir a resposta do INF nas células infectadas

pelo RABV (Wunner, 2007).

1.4.7.6.Proteína matriz M

A proteína M é a menor do RABV e contém 202 aa (24 kDa)

(Conzelmann, Cox, Schneider, 1990). Há duas forma de M, uma menor, com

23 kDa (25-30% do total no virion) e outra maior, com 24 kDa (70-75% do

total nos virions) (Ameyama et al., 2003).

Aproximadamente 1200-1500 proteínas M se ligam ao RNP,

condensando-a e formando o arcabouço do virion. O tropismo da RNP pela

Page 55: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

55

membrana celular é determinado por esta proteína, possibilitando sua

gemação (Mebatsion, Weiland, Conzelmann, 1999). Um “motif” rico em

prolina (PPPY ou PY) (P= prolina; Y= tirosina), localizado nos aa 35-38, na

região N-terminal altamente conservada, parece estar associado à gemação

(Harty et al., 1999, 2001). O “motif” PY é similar em outras proteínas

relacionadas à função de M em diferentes vírus (Wills et al., 1994). Apesar

da presença de M ligada na RNP ser responsável pela gemação do vírus, a

interação desta proteína com G, presente nas membranas celulares,

estimula fortemente o processo (Mebatsion, Weiland, Conzelmann, 1999).

1.4.7.7.RNA polimerase-RNA-dependente L

Na amostra vacinal PV, a polimerase L possui 2142 aa e o gene L

ocupa, aproximadamente, 54% do genoma do RABV (Wunner, 2007).

A polimerase L é o componente catalítico do complexo polimerase

que, juntamente com o cofator P, é responsável pela maioria das atividades

enzimáticas que ocorrem tanto na transcrição quanto na replicação do

genoma do RABV. Muitas das atividades deste complexo advêm de estudos

com o Vírus da Estomatite Vesicular (VSV), o vírus protótipo da Família

Rhabdoviridae. Além das atividades enzimáticas necessárias para a

transcrição e replicação, L é responsável pelas modificações co-

transcricionais dos mRNA, como por exemplo: 5'-capping, metilação e 3'-

poliadenilação (Banerjee e Chattopadhyay, 1990).

Muitos pesquisadores dos vírus RNA com sentido negativo auxiliaram

a determinar áreas do gene L com o objetivo de localizar seqüencias

genéticas do gene responsáveis pelas atividades enzimáticas da polimerase

L (Tordo et al., 1986; Barik et al., 1990; Poch et al., 1990).

Uma das principais características de L é a existência de

agrupamentos de aa conservados em blocos ao longo da proteína e

nomeados com os números romanos I até VI (Poch et al., 1990). Nestes seis

blocos alguns aa formam domínios conservados, enquanto outros não o são

(Tordo e Poch, 1988; Banerjee e Chattopadhyay, 1990; Poch et al., 1990).

No bloco III, por exemplo, o domínio catalítico, entre os aa 530 e

1177, possui quatro “motifs” (A, B, C e D), e representa a região com o maior

grau de conservação (Tordo e Poch, 1988; Poch et al, 1989). Estes “motifs”,

que são considerados os módulos polimerase de L, mantém o mesmo

arranjo linear e localização nas RNA polimerase e nas DNA polimerase

(Barik et al., 1990; Delarue et al., 1990; Poch et al., 1990).

Page 56: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

56

Entre as seqüências conservadas dos quatro “motifs” A, B, C e D, a

seqüência GDN (glicina, ácido aspártico e asparagina), no “motif” C, é muito

conservada em todos os vírus RNA com sentido negativo e não

segmentados, sugerindo ser uma função catalítica da atividade polimerase

(Poch et al., 1989). Não só a seqüência GDN, mas também alguns aa

específicos, “downstream” da seqüência GDN, são fundamentais pela

manutenção da atividade polimerase que polimeriza nt (Schnell e

Conzelmann, 1995).

Duas outras seqüências, entre os aa 754 a 778 e 1332 a 1351, na

polimerase L do VSV, foram definidos como sítios de consenso para a

ligação e utilização de Trifosfato de Adenosina (ATP), similar as encontradas

nas quinases celulares, isto é, as fosfotransferases, pois catalisam a

transferência de um grupo fosfato do ATP alterando moléculas orgânicas

(Barik et al., 1990; Canter, Jackson, Perrault, 1993). Três atividades

essenciais realizadas por L necessitam de utilização do ATP: 1- a atividade

transcricional requer ligação com o substrato ribonucleosídeo-trifosfato; 2-

poliadenilação e, 3- a atividade quinase para a fosforilação de P necessária

para a ativação da transcrição (Sánchez e Banergee, 1985; Banerjee e

Chattopadhyay, 1990).

Outras funções da polimerase L, que necessariamente devem existir,

incluem: mRNA “capping” (adição de 7-metilguanosina (m7G) no final 5’,

metilação (adição de grupo metila no RNA) e poliadenilação (formação da

cauda poli-A) (Schnell e Conzelmann, 1995).

Qanungo et al. (2004) propuseram uma nova abordagem para a

atividade da polimerase L durante a transcrição e a replicação. A RNA

polimerase L, segundo os autores, existe em duas configurações, uma

designada por replicase e a outra por transcriptase e ambas são complexos

multienzimáticos (holoenzimas). A replicase, relacionada à replicação, é

formada pelas proteínas L, P e N, enquanto que a transcriptase, relacionada

à transcrição, é formada pelas proteínas L, P e mais três moléculas

celulares. Estas moléculas são: “translation elongation factor 1α”, o

chaperone “heat-shock protein 60” e o “mRNA-cap guanylyltransferase”. A

transcriptase sintetiza os cinco mRNA “capped” e monocistrônicos,

transcritos a partir dos cinco genes do RABV. A replicase, por sua vez, inicia

a sua atividade no primeiro nt da região 3’ do genoma. A replicase e a

transcriptase reconhecem códons de iniciação (“start códon”) diferentes.

Enquanto a transcriptase reconhece a seqüência-sinal de consenso dos

Mononegavirales, para “cap”, inclusa no códon de iniciação, a replicase não

o reconhece (reconhece a seqüência de nt da extremidade 3’ do genoma).

Estas descobertas realizadas por Qanungo et al. (2004), abrem novas

Page 57: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

57

perspectivas para a compreensão efetiva dos processos de transcrição e

replicação dos Mononegavirales, entre eles o RABV, até hoje pouco

compreendidas.

1.4.8.O RABV e a patogenia da raiva

Dietzschold et al. (2009), escreveram uma revisão sobre a patogenia da

raiva e a sintetizaram em cinco tópicos principais, que apresentamos a

seguir.

1. RAIVA E A BIOLOGIA DO RABV

a) A raiva é uma encefalomielite aguda causada pelo RABV.

b) O RABV pode infectar quase todos os mamíferos, inclusive o homem.

c) Cães, morcegos e carnívoros silvestres são os reservatórios naturais

do RABV.

d) O RABV é um vírus RNA de sentido negativo que pertence à família

Rhabdoviridae.

e) Neuroinvasividade, neurotropismo e neurovirulência são as principais

características do RABV.

f) O RABV é, normalmente, transmitido por mordidas de mamíferos em

um sitio periférico do SNC.

g) Após entrar em axônios terminais o vírus é transportado em direção

retrógrada ao SNC.

h) RABV de “rua” (selvagens) e outros adaptados a culturas celulares

(atenuados) diferem significativamente uns dos outros em relação a

sua capacidade de invadir o SNC.

i) Considerando que as linhagens de RABV adaptados às culturas

celulares têm (ou não) capacidade limitada de invadir o SNC a partir

de um local periférico, RABV de “rua” são altamente neuroinvasivos.

2. FATORES QUE DETERMINAM A VIRULÊNCIA DO RABV.

a) Os principais fatores que determinam a virulência do RABV são:

captação pela célula hospedeira, propagação célula-a-célula, sua taxa

de replicação e expressão de glicoproteína G.

Page 58: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

58

b) A patogenicidade correlaciona diretamente com a cinética de

absorção e propagação do vírus, mas inversamente com a taxa de

replicação viral e do nível de expressão da glicoproteína G.

3. ELEMENTOS DO VÍRUS QUE CONTROLAM A PATOGENICIDADE

DE RABV.

a) A patogenicidade do RABV é uma característica multigênica,

envolvendo diferentes proteínas do RABV, além de outros elementos

celulares.

b) A glicoproteína G é o principal determinante da patogenia da raiva.

c) A glicoproteína G facilita a rápida entrada do vírus na célula e sua

rápida propagação trans-sináptica e, também, regula a taxa de

replicação do vírus em conjunto com outros elementos virais.

4. O PAPEL DA APOPTOSE NA PATOGENIA DA RAIVA.

a) A patogenicidade do RABV se correlaciona inversamente com a sua

capacidade de induzir apoptose neuronal.

b) Existe uma correlação direta entre o nível de expressão da

glicoproteína G com o da apoptose.

c) Em contraste com a patogenicidade de RABV atenuado, o vírus de

“rua” expressa níveis muito limitados da proteína G e não induzem

apoptose ou necrose.

5. O PAPEL DE FATORES DE INDUÇÃO DA CÉLULA HOSPEDEIRA

NA PATOGÊNESE DA RAIVA.

a) A infecção com uma linhagem não patogênica do RABV causa mais

fortemente a ativação das vias de síntese de fatores nucleares (NF)-

κB (fator nuclear kappa B) do que a infecção com RABV patogênicos.

b) O NF-κB é um fator de transcrição e é envolvido com a resposta

celular a estímulos e desempenha papel fundamental na regulação da

resposta imune.

c) A forte ativação de genes relacionados com as vias NF-κB

desencadeia uma forte resposta imune que, provavelmente, limita a

replicação de linhagens de RABV não patogênico no sítio primário de

infecção e, eventualmente, eliminam a infecção.

d) A fraca ativação de genes relacionados com as vias NF-κB pelas

linhagens patogênicas induz uma resposta imune mais fraca e,

conseqüentemente, pode permitir a propagação do vírus no SNC.

Page 59: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

59

1.5.A Epidemiologia da Raiva

O RABV é mantido em diferentes ciclos epidemiológicos envolvendo

diversas espécies de mamíferos, principalmente das Ordens Carnivora e

Chiroptera. As espécies de hospedeiros do RABV são distribuídas

geograficamente de acordo com suas histórias naturais. Assim, as variantes

e linhagens do RABV circulam ao longo de um determinado território, o que

permite suas identificações, pois elas estão adaptadas e são mantidas pelas

diferentes espécies animais distribuídas regionalmente. Esta distribuição

pode ser alterada se ocorrer a transmissão do vírus de um hospedeiro

primário para um secundário (“spillover”) e, se esta nova população

infectada mantiver a infecção ao longo do tempo, a área de distribuição do

vírus é alterada, podendo ser ampliada (Childs e Real, 2007).

A partir do exposto acima é conveniente analisar a epidemiologia da

raiva regionalmente e, portanto, a seção Epidemiologia da Raiva deste

trabalho, está subdividida em relação às grandes regiões geográficas, isto é,

os continentes.

1.5.1.A raiva na África

O cão (Canis familiares) é o principal reservatório do RABV no

continente africano, é o responsável por milhares de casos de raiva humana

e um sério problema para os mamíferos silvestres. Em 2005, foram

confirmados 28823 casos de raiva humana; 17937 casos na área rural e

5886 casos na área urbana (WHO, 2005).

Além do imenso problema da raiva humana, os cães são

responsáveis pela transmissão do vírus aos animais silvestres. Um caso

extremo é a contaminação de canídeos raros, como o lobo etíope (Canis

simensis) e o cão-silvestre-africano (Lycaon pictus). A infecção nas

pequenas e raras populações destes animais atingiu tal ponto que se

acredita ser irreversível seu processo de extinção. Em algumas populações

de chacais (Canis adustus e C. mesomelas) e raposas (Otocyon megalotis)

o RABV típico de cão circula endemicamente (WHO, 2005). Além dos

canídeos silvestres africanos são relatados esporadicamente casos de raiva

em leões, leopardos, camelos, hipopótamos, girafas, primatas e muitas

outras espécies de mamíferos terrestres (Hanlon, Niezgoda, Rupprecht,

2007).

Page 60: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

60

1.5.2.A raiva na Ásia

Como na África, o cão é o principal reservatório do RABV na Ásia,

com exceção da Rússia asiática, onde o principal reservatório do vírus é a

raposa vermelha. Pouco é conhecido de espécies silvestres com raiva neste

continente, mesmo que casos esporádicos sejam relatados. Entretanto, a

raiva humana transmitida por cães é o grande problema. Em 2005 foram

relatados 30828 casos, assim distribuídos: Índia com 19259 casos (1058 na

área urbana e 18201 na rural), China com 2581 casos (1324 na área urbana

e 1257 na rural) e nos outros países asiáticos 8988 (853 na área urbana e

8135 na rural) (WHO, 2005).

1.5.3.A raiva na Europa

A Europa possui uma excelente documentação histórica sobre a raiva.

Este histórico, inserido dentro da própria História do continente, demonstra

que o controle desta zoonose é diretamente ligado às condições políticas e

econômicas de uma região (WHO, 2005).

A raiva canina na Europa é conhecida desde a Antiguidade, mas por

volta de 1940, teve suas características epidemiológicas alteradas. Desde

esta época a raiva é mantida pela raposa vermelha (Vulpes vulpes), em

contraste com o início do século XX, quando os cães (Canis familiaris) eram

os principais transmissores do RABV. Portanto, ocorreu a mudança do ciclo

urbano, típico do início do século XX, para o ciclo silvestre, predominante até

hoje (Baer, 2007).

Em um período mais recente, outra população de hospedeiros

primários foi determinada, os “raccoon-dogs” (Nyctereutes procyonoides),

sendo hoje a segunda espécie em importância para a raiva no continente

europeu. Esta espécie foi introduzida na Europa a partir da Rússia Oriental,

no continente asiático, para a produção de casacos de pele (WHO, 2005).

Várias outras espécies de animais silvestres são diagnosticadas com

raiva no continente europeu; são casos esporádicos e sem importância

epidemiológica. Os casos, provavelmente, são infecções que ocorrem

durante o relacionamento ecológico presa-predador, principalmente

envolvendo raposas (Kusmin et al., 2004).

Na Europa, quatro espécies são reconhecidamente capazes de

manter seu próprio ciclo epidemiológico: a raposa vermelha, o cão, a raposa

ártica (Alopex lagopus) e os “raccoon-dogs”. Outra espécie silvestre que

gera preocupações em algumas áreas (como a Ucrânia) é o lobo (Canis

Page 61: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

61

lupus), principalmente por já ter sido um eficiente vetor do RABV. Os casos

de raiva envolvendo esta espécie haviam diminuído, juntamente com os

cães, e agora alguns focos reapareceram (Bourhy et al., 1999).

A Turquia é o único país europeu onde o cão mantém o ciclo

epidemiológico local, pois raramente é diagnosticado raiva em animais

silvestres. Em uma região entre a Ucrânia e a Federação Russa são

encontrados cães e raposas com raiva, mas cada uma das espécies é

infectada com amostras de vírus típicas de suas espécies (Rabies Bulletin

Europe, 2009).

Existem poucos dados que certifiquem a raposa do ártico como

reservatório do RABV no continente europeu (diferentemente do Alasca).

Pesquisadores russos afirmam que ao norte da Federação Russa existem

focos de raiva mantidos por esta espécie (Botvinkin et al., 2006).

A análise filogenética do RABV que circula na Europa mostra que

existem distintos filogrupos do RABV associados a determinadas áreas

geográficas separadas por barreiras geográficas; os rios Vístula e Danúbio e

as montanhas da Boêmia e Cárpatos. Quatro áreas geográficas podem ser

observadas com distintos filogrupos do RABV e são designados por WE

(Europa Ocidental), CE (Europa Central), EE (Europa Oriental) e NEE (Norte

Oriental – Polônia, Estônia, Lituânia e Finlândia). Na região NEE é onde se

encontra o filogrupo mais divergente filogeneticamente e é característico das

raposas do ártico. O grande filogrupo Vulpes vulpes é encontrado nas quatro

áreas geográficas. Os filogrupos Vulpes vulpes e “raccoon-dog” são típicos

da área geográfica NEE (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995; Bourhy et al., 1999;

Badrane et al., 2001).

Atualmente a estratégia para o controle da raiva, na grande maioria

dos países europeus, é a vacinação parenteral para cães e gatos e

vacinação oral de raposas por meio de iscas imunogênicas (um polímero de

extratos vegetais e animais revestindo uma cápsula com Glicoproteína).

Com este esquema vacinal a raiva canina e vulpina desapareceu da Europa

ocidental, com exceção da Turquia Européia e da região Europa Oriental

(Rabies Bulletin Europe, 2009).

A Tabela 2 sumariza a epidemiologia da raiva na Europa.

Page 62: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

62

Tabela 2: Número de casos de raiva, por espécie animal na Europa

no período 1990-2008. O número de casos de raiva em raposas e raccoon-

dog são mostrados separadamente, mas pertencem ao grupo de silvestres

Fonte: Rabies Bulletin Europe.

Ano Silvestres Cães e gatos Humanos Raposas Raccoon-

dogs Total

1990 15484 5503 22 12833 148 21049

1991 12269 4194 27 10637 226 16505

1992 8346 2705 15 7318 302 11080

1993 6976 2381 10 6197 290 9385

1994 6644 2160 11 5966 183 8823

1995 5843 2274 16 5294 162 8140

1996 5379 2677 15 4814 181 8087

1997 3413 1626 18 3019 176 5082

1998 3901 2313 4 3380 264 6250

1999 4227 2318 5 3630 345 6592

2000 5837 2276 9 4896 622 8155

2001 6847 3537 12 5724 683 10435

2002 6052 3967 7 4795 874 10051

2003 7093 3952 6 5460 1163 11085

2004 3243 2150 13 2521 500 5453

2005 5806 3980 13 4379 1009 9831

2006 6174 3003 2 4352 1399 9215

2007 5230 4378 9 4537 364 9643

2008 5707 3953 14 5106 359 9707

A primeira observação relevante na Tabela 2 é a relação animais

silvestres/domésticos, mostrando a importância do ciclo silvestre e da raiva

vulpina na Europa. É possível também observar o decréscimo da raiva

vulpina, a partir de 1990, quando o protocolo de imunização por meio de

iscas foi estabelecido. O aumento no número geral de casos de raiva

observado a partir de 2001 ocorreu devido à constante integração de vários

países do Leste Europeu na Comunidade Européia. A segunda observação

importante é o aumento de casos entre “raccoon-dogs”, a partir de 1990 e

até 2005 e, atualmente, os dados indicam que o número de casos está

estabilizado. Os casos envolvendo “raccoon-dogs” ocorrem, principalmente,

na Polônia e Estados Bálticos, e isto pode refletir a densidade populacional

da espécie nestas regiões.

Ainda hoje a raiva continua um problema de saúde pública e animal

em algumas regiões européias. A análise espacial de casos mostra

agrupamentos nos Estados Bálticos, Federação Russa, Estados Balcânicos

Page 63: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

63

e Polônia. As diferenças encontradas dentro destas áreas refletem diferentes

“status” de estudo e de vigilância epidemiológica. A partir de 2005 a Europa

Oriental também adotou o uso de vacinação oral e, em um futuro próximo

será possível avaliar esta nova situação da região no controle da raiva

(Rabies Bulletin Europe, 2009).

Os casos de raiva em cães e gatos podem ser observados na Tabela

3.

Tabela 3: Número de casos de raiva em cães e gatos na Europa.

1990-2003. Fonte: Rabies Bulletin Europe.

Ano Cães Gatos Gado Ovinos/Caprinos

1990 1282 1182 2014 2014 1991 1099 847 1348 1348 1992 780 622 919 919 1993 736 593 760 760 1994 609 572 752 752 1995 605 589 890 890 1996 905 593 890 890 1997 602 419 521 521 1998 777 577 774 111 1999 781 519 787 94 2000 779 593 783 52 2001 1012 1134 1211 89 2002 1099 1037 1520 216 2003 1437 1202 1098 90 2004 739 699 592 54 2005 1378 1230 1134 123 2006 1105 950 793 79 2007 1415 1421 1304 129 2008 1694 1343 703 100

Tabela 4: Número de casos de raiva em alguns países europeus com

diferentes “status” de vigilância epidemiológica (1977-2008). Fonte: Rabies

Bulletin Europe.

1977 1981 1986 1991 1996 2000 2008

França 1668 2341 2465 2166 20 5 3

Alemanha 6738 7327 6830 3599 153 192 1

Polônia 1287 449 1087 2287 2526 2211 26

Russia - 170 0 1387 1785 1239 3353

Espanha 6 1 10 8 1 7 2

Itália 97 367 29 4 1 0 9

Hungria 736 1002 1264 881 1357 514 7

Áustria 3058 779 1387 2460 14 2 0

Turquia 1205 2260 1266 428 125 297 301

Portugal 0 0 0 0 0 0 0

Estônia 0 13 1 209 99 129 3

Page 64: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

64

Figura 8: Mapa da Europa mostrando os 703 casos de raiva em

bovinos nos diferentes países no ano de 2008. Os casos de raiva são

indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies Bulletin Europe.

Figura 9: Mapa da Europa mostrando os 5106 casos de raiva em

raposas (Vulpes vulpes) nos diferentes países no ano de 2008. Os casos de

raiva são indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies Bulletin Europe.

Page 65: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

65

1.5.4.A raiva na América do Norte

No Canadá, a raiva tem sido um problema persistente desde 1940,

quando surtos de raiva em raposas moveram-se do Sul do Ártico (Alasca)

para as províncias canadenses. A epidemia tornou-se estável na população

de raposas vermelhas (Vulpes vulpes) no Sul de Ontário. A raiva também se

estendeu do sul do Ártico para a população de coiotes (Canis latrans) em

Alberta e se fixou no Sul de Ontário. Poucos anos mais tarde, as províncias

das pradarias foram invadidas por uma epidemia em cangambás (Mephitis

mephitis) (Nadin-Davis, Casey, Wandeler, 1993).

Em 1999, o primeiro caso de raiva causado pela linhagem do RABV

associado a “raccoons” (Procyon lotor) foi diagnosticado em “raccoons” em

Ontário, na divisa com Nova York. No período de 2000 a 2003, 120 casos de

raiva foram diagnosticados nesta espécie animal (Nadin-Davis et al., 1999).

Recentemente e no mesmo país, os casos de animais silvestres com

raiva foram identificados com maior freqüência em cangambás (gêneros

Mephitis, Spilogale e Putorius) (40,6%) e morcegos (35,3%). No Canadá,

morcegos “big brown” (Eptesicus fuscus) é a espécie de morcego mais

comumente diagnosticada, seguindo-se várias espécies de Myotis, “silver-

haired bat “ (Lasionycteris noctivagans) e membros do gênero Lasiurus,

especialmente L. cinereus e L. borealis (Nunan et al., 2002).

Poucos casos de raiva ocorrem em cães e gatos, pois são vacinados

periodicamente, mas centenas de casos em herbívoros de criação

(principalmente bovinos) são diagnosticados. Estes casos de raiva são em

sua maioria transmitidos pelos animais silvestres terrestres (Nunan et al.,

2002).

Nos Estados Unidos da América (EUA), atualmente, espécies

silvestres de animais são responsáveis por 93 % dos casos de raiva

diagnosticados neste país, enquanto que espécies domésticas foram

responsáveis por 7%. A maior parte destes casos domésticos ocorre em

bovinos, mas um número significante é diagnosticado em gatos (Krebs,

Wheeling, Childs, 2003).

A maioria dos casos de raiva relatados em animais silvestres nos EUA

ocorre em “raccoons” (Procyon lotor), cangambás (gêneros Mephitis,

Spilogale e Putorius), raposas (gêneros Vulpes, Urocyon e Alopex) e uma

diversidade de espécies de quirópteros, sobretudo insetívoros. Estes são

grupos de animais com distribuição e importância nacionais e são

Page 66: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

66

considerados como hospedeiros primários de variantes específicas do RABV

(Krebs et al., 2003).

“Raccoons” e cangambás (skunks) são espécies sinantrópicas que

vêm merecendo destaque na epidemiologia da raiva nos EUA. Desde 1981,

uma epidemia de raiva em “raccoons” espalhou-se pelo leste dos EUA, com

um aumento concomitante da freqüência de raiva em cangambás. A raiva

em “raccoons” afeta todos os Estados costeiros do Leste, em uma área

estimada de um milhão de quilômetros quadrado. Em 2005 foram

diagnosticados mais de seis mil casos nestes animais. Já a raiva em

cangambás afeta uma área de mais de 3,5 milhões de quilômetros

quadrados e mais de mil casos/ano são diagnosticados (Rupprecht, Hanlon,

Hemachudha, 2002; Hanlon, Niezgoda, Rupprecht, 2007).

No Sul do Estado do Texas e em Porto Rico (país associado aos

EUA), coiotes (Canis latrans) e mangustos (Herpestes javanicus),

respectivamente, são espécies silvestres de carnívoros de importância na

manutenção regional da raiva. No Alasca, raposas vermelhas (Vulpes

vulpes) e raposas do ártico (Alopex lagopus) são espécies implicadas na

manutenção do RABV e, em menor grau, nos Estados de Nova York,

Vermont, New Hampshire e Maine (Krebs et al., 2003; Kelly e Sleeman,

2003).

Outros mamíferos carnívoros, ainda que menos encontrados como

positivos para a raiva nos EUA, podem ser fontes de infecção para cães e

gatos e humanos, como, por exemplo, lobos (Canis lupus), linces (Lynx

rufus) e coiotes (Canis latrans) (Kelly e Sleeman, 2003).

A raiva em quirópteros é largamente distribuída nos EUA, com casos

relatados nos 48 Estados contíguos e relacionados a 17,2% de todos os

casos de raiva em animais em 2001. Os morcegos “big brown bat”

(Eptesicus fuscus), foi a espécie mais freqüentemente detectada com o

RABV, com 47,1% dos casos, seguido por Tadarida brasiliensis (28,3%),

Lasiurus cinereus (5,5%), Lasiurus borealis (4,3%), Myotis lucifugus (3,7),

Lasionycteris noctivagans (3%), Myotis yumanenis (1,7%), Pipistrellus

hesperus (1,7%) e Pipistrellus subflavus (1,2%); espécies não identificadas

do gênero Myotis (3.0%) e outras espécies (< 3,5%) foram responsáveis

pelos casos restantes (Rupprecht, Hanlon, Hemachudha, 2002).

Através de análises filogenéticas aliadas à vigilância epidemiológica e

a um eficiente trabalho de zoologia, diversas linhagens do RABV puderam

ser associadas a espécies de animais silvestres e a regiões específicas. Por

exemplo, em relação ao morcego Epitesicus fuscus, há duas linhagens de

RABV exclusivas desta espécie, uma que ocorre em populações do

Page 67: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

67

Sudoeste e outra em populações do Leste e do Norte dos EUA. Em

cangambás, são encontradas duas linhagens do RABV, uma associada aos

Estados do Centro-Norte e outra aos Estados do Centro-Sul (Rupprecht,

Hanlon, Hemachudha, 2002).

No México, a raiva humana foi reduzida na ultima década. Em 1960,

foram relatadas 60 mortes humanas envolvendo transmissão por cães,

contrastando com somente um caso em 2003. Essa redução é conseqüência

de um decréscimo significativo de raiva em cães, de 8706 casos em 1990

para 261 casos em 2003, resultado de uma massiva campanha de

vacinação em cães. Quanto aos casos de raiva em animais de criação a

situação é semelhante a do Brasil. Centenas de casos transmitidos pelo D.

rotundus são diagnosticados em bovinos e eqüinos (Mattos et al., 1999).

A raiva no México é caracterizada pelo envolvimento da vida

selvagem que mantém ciclos estáveis de transmissão em áreas geográficas

particulares. A maioria dos casos ocorre em cangambás (gêneros Spilogale

e Conepatus) e raposas (gênero Urocyon). Estes grupos de animais são

considerados hospedeiros primários do RABV. Uma variante antigênica, a

AgV7, foi isolada primeiramente no México de duas raposas cinzas (Urocyon

cineroargenteus), o reservatório natural dessa variante. Essa mesma

variante foi também isolada em linces (Felis rufus) e coiotes (Canis latrans).

Variantes isoladas de linces foram isoladas em raposas cinza do Arizona,

nos EUA, indicando uma ampla distribuição dessa variante (Vellasco-Villa et

al., 2005).

A análise de amostras de morcegos hematófagos D. rotundus mostra

que existem no mínimo duas variantes antigênicas, AgV3 e AgV11, na

população deste animal no México. Em relação aos morcegos frugívoros,

existem duas variantes do RABV, AgV4 e AgV9, estabelecidas na população

de Tadarida brasiliensis mexicana (Vellasco-Villa et al., 2002, 2006).

1.5.5.A raiva na América Central e do Sul

A epidemiologia da raiva nos países da América Latina é muito

semelhante. Segundo a Organização Pan-americana de Saúde/Organização

Mundial de Saúde (SIRVERA, 2009), ainda hoje, o cão é o principal

transmissor da raiva humana, mas pelo aumento do controle da raiva canina

os morcegos hematófagos D. rotundus estão se tornando o principal

transmissor (Scheneider et al., 2009). Além deste fato, D. rotundus é o

principal transmissor da raiva aos herbívoros (silvestres e de interesse

econômico), infectando milhares de animais anualmente.

Page 68: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

68

A importância do D. rotundus na América Latina se deve ao fato deste

mamífero ser encontrado somente nesta região, do sul do México ao norte

da Argentina. Como a população de D. rotundus não é passível de uma

campanha de vacinação em massa, apesar de alguns estudos preliminares

se desenvolverem nesta direção (Sétien et al, 1998; Almeida et al., 2008),

esta importância epidemiológica, provavelmente, será mantida.

Atualmente, além do cão e de D. rotundus, um número cada vez

maior de morcegos insetívoros, de várias espécies, são diagnosticados com

raiva (Kotait et al., 2007), porém, atualmente não está totalmente

estabelecida a importância destas espécies na epidemiologia da raiva

humana e animal.

Quanto aos animais silvestres, na América Latina e com exceção dos

morcegos, somente após o atual estágio do controle da raiva canina é que

estão sendo definitivamente estudados (Carnieli et al., 2009).

A seguir são apresentadas e comentadas algumas tabelas obtidas a

partir do endereço eletrônico do Sistema Regional de Vigilância da Raiva

nas Américas (SIRVERA, 2009). Após a apresentação das tabelas é

apresentado um levantamento dos principais trabalhos relacionados aos

estudos das tipificações antigênicas e genéticas de isolados do RABV na

América Latina. Finalizando, dados da epidemiologia da raiva do Brasil e dos

estudos antigênicos e genéticos de isolados do país são também

apresentados.

Na Tabela 5 são apresentados os 517 casos de raiva humana no

continente americano, entre 1999-2008. Em 1999 ocorreram 71 casos e em

2008 quatro casos. Este decréscimo está diretamente ligado ao sucesso no

controle da raiva canina. O maior número de casos observados no Brasil, na

Tabela 5, é ligado a sua extensão territorial, número de habitantes e,

conseqüentemente, maior número de cães. Nos anos de 2004 e 2005, no

Brasil, ocorreram respectivamente 30 e 44 casos e no Peru, em 2007, 24

casos. Praticamente a totalidade destes casos foi transmitida por D.

rotundus em áreas da Região Amazônica, onde alguns agrupamentos

humanos são constantemente agredidos por estes morcegos.

A Tabela 6 apresenta o número de casos de raiva em animais

infectados pelo RABV e diagnosticados laboratorialmente nas Américas, no

período de 1999-2008. Os números referem-se às diferentes regiões

nomeadas pela OPAS/OMS e os países que as compõe estão descritos na

Tabela 7.

Page 69: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

69

Tabela 5: Histórico dos últimos 10 anos mostrando o número de casos

de raiva humana por país da América Latina. Fonte:

http://sirvera.panaftosa.org.br

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Bolívia 10 9 7 2 2 4 9 4 2 ...

Colômbia 3 1 0 0 1 14 3 2 3 0

Equador 5 3 3 0 0 0 2 0 0 0

Peru 9 4 2 1 2 8 8 3 24 0

Venezuela 2 1 1 0 2 5 0 1 1 0

Paraguai 4 1 0 5 0 1 0 0 0 0

Brasil 25 26 22 10 17 30 44 9 1 1

El Salvador 0 1 4 6 5 3 1 2 2 1

Guatemala 2 6 1 0 0 0 1 1 1 2

Honduras 0 1 0 0 0 0 0 0 0 ...

Nicaragua 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Panamá 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0

México 9 4 7 3 1 0 8 1 4 0

Cuba 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0

Haiti 3 1 9 5 3 5 1 11 5 ...

Porto Rico 0 0 0 0 1 0 ... ... ... ...

Rep. Dominicana 0 0 0 2 1 1 0 1 0 0

Guiana 0 0 1 ... ... 0 0 0 ... ...

Canadá 0 1 0 0 1 0 0 0 ... ...

Estados Unidos 0 5 1 3 2 8 1 3 ... ...

´´´´ Sem informação

Tabela 6: Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva em animais e sua distribuição. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

A. do Norte 7.492 7.949 7.779 8.223 7.414 7.090 6.664 7.169 0 0

Canadá 500 665 441 343 264 254 248 229 0 0

EUA 6.992 7.284 7.338 7.880 7.150 6.836 6.416 6.940 0 0

A. Latina 6.644 6.135 4.880 3.895 4.476 4.384 4.255 3.556 2.748 1.340

Am. Central 406 278 336 273 410 314 248 329 189 131

Área Andina 719 784 854 571 529 846 1.322 1.117 600 154

Brasil 4.059 3.910 2.830 2.233 2.530 2.354 1.638 1.367 1.255 596

Caribe Latino 374 331 299 315 270 240 120 146 157 245

Cone Sul 600 272 257 213 319 184 241 316 259 89

México 486 560 304 290 418 446 686 281 288 125

Caribe 35 88 46 5 1 76 1 0 0 0

Total 14.171 14.172 12.705 12.123 11.891 11.550 10.920 10.725 2.748 1.340

Page 70: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

70

É importante comentar que a maioria absoluta dos casos apresentados

na Tabela 6 e relativos à América do Norte refere-se a animais silvestres. Os

números de casos apresentados pelo Brasil e México, em sua maioria

absoluta, são casos de cães infectados. Neste ponto é necessário alertar

que os dados contabilizados pela OPS/OMS e relativos à América Latina

possuem sub-notificações e, em relação a alguns países, são altas

(SIRVERA, 2009).

A Tabela 7 apresenta os casos de bovinos com raiva, diagnosticados e

notificados. Como esperado, estes animais são os mais acometidos pela

raiva devido ao seu maior número e, conseqüentemente, exposição ao

ataque de D. rotundus, com exceção da América do Norte.

Tabela 7: Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva

em bovinos. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br.

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

América Latina 3225 3327 2322 1869 2465 2591 2012 1689 1549 727

Área Andina 140 169 197 251 247 249 255 294 270 125

Bolívia 41 36 35 59 80 55 44 60 26 ...

Colômbia 0 22 54 47 63 65 82 95 84 82

Equador 20 14 22 16 7 10 17 5 22 21

Peru 49 97 86 110 86 102 106 127 120 4

Venezuela 30 0 0 19 11 17 6 7 18 18

Cone Sul 126 129 136 92 66 68 89 192 153 40

Argentina 31 32 25 13 3 12 10 136 51 ...

Chile 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Paraguai 95 97 111 79 63 56 79 56 76 14

Uruguai 0 0 0 0 0 0 0 0 26 26

Brasil 2628 2660 1759 1321 1816 1863 1127 961 864 433

América Central 209 79 72 41 49 37 52 58 33 30

Belice 6 0 1 ... 2 6 6 1 ... ...

Costa Rica 2 0 2 ... 4 6 5 2 1 0

El Salvador 5 7 13 19 5 21 29 34 18 3

Guatemala 3 7 3 11 10 0 7 5 11 15

Honduras 6 3 9 0 0 1 1 0 0 ...

Nicarágua 3 2 3 2 1 1 0 6 0 0

Panamá 184 60 41 9 27 2 4 10 3 12

México 108 271 148 154 275 363 479 181 227 94

Caribe Latino 14 19 10 10 12 11 10 3 2 5

Cuba 7 14 5 6 9 5 5 1 1 3

Haití 1 1 0 0 0 0 0 0 0 ...

Porto Rico 0 1 2 1 0 2 ... ... ... ...

República Dominicana 6 3 3 3 3 4 5 2 1 2

Caribe 34 88 46 5 1 76 1 0 0 0

Anguila 0 ... ... ... 0 0 ... ... ... ...

Antigua e Barbuda 0 ... ... ... 0 0 ... ... ... ...

Antilhas Holandesas 0 ... ... ... ... 0 0 0 ... ...

Aruba 0 ... 0 ... ... 0 0 0 ... ...

Page 71: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

71

Bahamas ... ... ... ... 0 ... ... ... ... ...

Barbados ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ...

Dominica ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ...

Granada ... ... ... ... 0 0 0 0 ... ...

Guadalupe ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Guiana 30 49 45 ... ... 76 0 0 ... ...

Guiana Francesa ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ilhas Caiman ... 0 ... ... ... ... ... ... ... ...

Ilhas Turks e Caicos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ilhas Virgens ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Jamaica ... 0 ... 0 0 0 0 ... ... ...

Martinica ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Montserrat 0 ... ... ... 0 0 0 ... ... ...

Santa Lucia ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ...

S.Vicente e Granadinas ... ... ... ... 0 0 0 ... ...

St. Kitts e Nevis ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ...

Suriname ... 15 0 5 0 0 0 0 ... ...

Trinidad e Tobago 4 24 1 0 1 0 1 0 ... ...

América do Norte 174 118 102 127 108 130 109 108 0 0

Bermuda ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Canadá 39 36 22 12 10 15 16 26 ... ...

Estados Unidos 135 82 80 115 98 115 93 82 ... ...

Total 3433 3533 2470 2001 2574 2797 2122 1797 1549 727

Figura 10: Gráfico de distribuição de casos de raiva nas Américas,

2006. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br.

A Figura 10 mostra graficamente a distribuição da raiva nas diferentes

regiões e relativos aos diferentes grupos de animais (silvestres, ADIE= de

importância econômica e de companhia) e resume o escrito anteriormente.

Este gráfico se refere aos dados de 2006, isto porque os dados relativos ao

ano de 2008 da América do Norte não foram disponibilizados para a

OPAS/OIE. Porém, comparando os gráficos de distribuição dos anos de

Page 72: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

72

2006 e 2008 (não apresentado) é observado uma variação mínima no

aumento de casos de silvestres e um menor número de casos em animais

de companhia.

1.5.5.1.As variantes antigênicas e genéticas do RABV na América

Latina espanhola

Para dar inicio a esta seção é necessário esclarecer que, apesar do

termo “variante” ser utilizado indistintamente por vários autores para

tipificação antigênica e genética, aqui será utilizado o termo “variante”

exclusivamente para tipificação antigênica, enquanto que para tipificação

genética será usado o termo “linhagem”, que melhor caracteriza os

agrupamentos genéticos do RABV de uma mesma variante antigênica

(AgV), como expresso em Velasco-Villa et al. (2008).

Antes de se fazer uma análise das tipificações antigênicas e genéticas

realizadas na América Latina, também é necessário informar que as

tipificações antigênicas realizadas nas Américas se baseiam em um painel

de anticorpos monoclonais produzido pelo Center of Disease Control (CDC)

e distribuído pela OPAS/OMS. Quanto à tipificação genética, infelizmente,

não há regras seguidas pelos pesquisadores do RABV. O número de

nucleotídeos seqüenciados pode variar de uma centena a mais de um milhar

e, também, as áreas seqüenciadas são muito variáveis. Uma única

característica destes seqüenciamentos é que, felizmente, grande parte deles

utiliza como alvo o gene N do RABV.

Na Colômbia, a caracterização genética determinou oito linhagens, três

delas são associadas a cães e pertencem a variante antigênica AgV1. Outra

linhagem genética é composta pelas variantes antigênicas AgV3, associada

a D. rotundus. Duas linhagens genéticas são associadas a AgV4, típica do

morcego insetívoro colonial Tadarida brasiliensis. Duas outras linhagens

genéticas, composta por morcegos insetívoros solitários, não puderam ser

tipificadas pelo painel de MAbs distribuído pela OPAS/OMS, fato comum

entre morcegos insetívoros (Paez et al., 2007). Em relação aos canídeos

silvestres na Colômbia, Paez et al. (2005) tipificaram geneticamente e

antigenicamente raposas cinzas (Urocyon cinereoargentatus) como AgV2,

típica de cão.

Na Bolívia, a tipificação genética e antigênica do RABV identificou

quatro variantes antigênicas: AgV1 e 2, típicas de cão, e AgV3 e 5, típicas de

D. rotundus. A identificação genética foi concordante com a antigênica,

Page 73: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

73

demonstrando haver três agrupamentos genéticos do RABV no país (Favi et

al., 2003).

No Chile, de Mattos et al. (2000), caracterizaram o morcego insetívoro

Tadarida brasiliensis como o hospedeiro do RABV mais importante na

epidemiologia da raiva no país. Em 1996, no mesmo país, ocorreu um caso

de raiva em humano, fato que não ocorria desde 1972. A análise desta

amostra humana caracterizou o RABV isolado como linhagem genética e

variante antigênica AgV4, de T. brasiliensis (Favi et al., 2002). Yung, Favi,

Fernándes (2002) tipificaram geneticamente e antigenicamente isolados do

RABV e identificaram as variantes AgV3 (D. rotundus), AgV4 (T. brasiliensis)

e AgV6, típica do morcego insetívoro Lasiurus cinereus. Neste estudo, as

tipificações genéticas e antigênicas foram concordantes. Recentemente,

Favi et al, (2008) fizeram um estudo retrospectivo com isolados do RABV,

também no Chile, e identificaram as variantes antigênicas AgV1, AgV3,

AgV4 e AgV6. Além de reconfirmarem a importância de T. brasiliensis na

epidemiologia da raiva no Chile também reconfirmaram que alguns isolados

não puderam ser tipificados com o painel de MAbs distribuído pela

OPAS/OMS.

Na Venezuela, de Mattos et al. (1996) identificaram antigenicamente as

variantes AgV1, 3 e 5. A tipificação genética destas variantes foi concordante

com as genéticas.

Delpietro et al. (1997), na Argentina, tipificaram isolados do RABV e

descreveram três variantes antigênicas, AgV2, 3 e 4, além de outras não

determinadas e pertencentes a morcegos insetívoros. No mesmo, país

Cisterna et al. (2005) tipificaram genética e antigenicamente isolados do

vírus e identificaram as variantes antigênicas AgV 2, 3, 4 e 6, concordantes

com a tipificação genética.

Finalizando o estudo das tipificações genéticas e antigênicas na

América Latina (com exceção do Brasil), é necessário escrever sobre a

variante do RABV isolada em mangustos (Herpestes auropunctatus),

encontrados em várias ilhas do Caribe, como por exemplo, Cuba e

República Dominicana. Estes animais foram importados da Índia, no início

do século XX, para o combate de cobras peçonhentas encontradas em

grande número nos canaviais destas ilhas. Além de causar sérios distúrbios

ambientais, devido à falta de predadores naturais, a população de

mangustos cresceu demasiadamente e mostrou ser altamente susceptível

ao RABV e, com o tempo, iniciou uma epidemia de raiva, com uma variante

típica, provavelmente, originada de “raccons”. Hoje, os mangustos são os

Page 74: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

74

transmissores do RABV mais importante desta região americana (Blanton et

al., 2006).

1.5.6.A raiva no Brasil

Em 2004, o Brasil gastou US$28 milhões (dólares americanos) na

prevenção da raiva (Childs e Real, 2007). Este valor se refere aos gastos

com vacinas para humanos e cães e gatos, imunoglobulinas, diagnósticos

laboratoriais, treinamento de pessoal envolvido com a campanha anual de

vacinação de cães e gatos, médicos e veterinários.

A seguir, são apresentadas e comentadas algumas imagens e tabelas

da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil

(SVS/MS), que resumem a situação da raiva no Brasil. Posteriormente, são

apresentados dados relativos aos estudos antigênicos e genéticos dos

principais vetores e hospedeiros do RABV do Brasil.

Figura 11: Casos de raiva em cães no Brasil no ano de 2008. Fonte:

SVS/MS.

Page 75: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

75

Figura 12: Casos de raiva em bovinos no Brasil no ano de 2008. Fonte:

SVS/MS.

Figura 13: Casos de raiva em equinos no Brasil no ano de 2008. Fonte:

SVS/MS.

Analisando a Figura 11 é observado que a raiva canina, hoje, é um

problema das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde as campanhas

anuais de vacinação de cães e gatos não atingiram uma situação

Page 76: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

76

satisfatória. O foco no Estado do Mato Grosso do Sul é de origem boliviana.

É importante salientar que as campanhas anuais de vacinação de cães e

gatos na Região Sul do Brasil, a partir da década de 1990, por decisões de

autoridades estaduais, não é realizada. Schneider et al. (1996), analisando

os casos de raiva canina no Brasil e no período 1980-1990, citam um

decréscimo de 90% de casos, determinados pela vacinação anual de cães e

gatos que, naquela década, atingiu mais de nove milhões de animais/ano.

Em 2007, a mesma campanha, que teve uma cobertura vacinal de 94% da

população estimada de cães e gatos, vacinou 23.256.155 de cães e gatos

(SVS/MS).

O decréscimo da raiva canina é uma grande conquista e para que se

possa compreender o fato alguns trabalhos são citados. da Silva et al.

(2004), analisaram 1984 amostras de cães do Noroeste do Estado de São

Paulo, no período 1993-1997, sendo que 351 foram diagnosticados

positivamente. Queiroz et al. (2009), descreveram a situação da raiva no

período de 1993-2007, também na região Noroeste do Estado de São Paulo,

onde foram diagnosticadas 10579 amostras de animais provenientes de 42

municípios. Do total, 4,9% (518) foram positivas para a raiva, assim

distribuídas: 67% cães (346), 16% bovinos (84) e 9% morcegos (50). Para

que se possa ter uma idéia da dimensão da campanha anual de vacinação

contra a raiva de cães e gatos do Brasil, a análise dos números publicados

por Andrade et al. (2008) também é esclarecedora. Os autores estimaram a

população canina na região de Araçatuba, no Noroeste do Estado de São

Paulo, para cada 10 habitantes, em 1,7 (ano de 1994); 2,0 (ano de 1999) e

1,8 (ano de 2004).

Da análise das Figuras 12 e 13 (Casos de raiva em bovinos no Brasil

no ano de 2008 e Casos de raiva em equinos no Brasil no ano de 2008) fica

nítido que a raiva em animais de importância econômica, transmitida pelo D.

rotundus, é disseminado por todo o Brasil. O pequeno número de casos na

Região Norte do país é diretamente relacionado à vigilância epidemiológica

nesta região, ainda de difícil acesso e baixa densidade demográfica.

A Figura 14, que mostra os Casos de raiva em humanos e animais no

Brasil, no ano de 2008, reafirma o escrito anteriormente, porém são

necessários dois comentários. O maior número de casos de raiva em

morcegos não-hematófagos, no Estado de São Paulo, se deve a vigilância

epidemiológica ativa em relação a estes animais no Estado. Quanto aos

casos de raiva em primatas e canídeos silvestres, exclusivamente na Região

Nordeste, será discutido em maiores detalhes no tópico relativo as

tipificações antigênicas e genéticas do RABV no Brasil.

Page 77: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

77

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78

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79

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80

Em relação aos casos de raiva em morcegos não-hematófagos no

Estado de São Paulo, três trabalhos citam dados que demonstram o

conhecimeto epidemiológico atual. Albas et al. (2005) descreveram o

diagnóstico do RABV efetuado em 4950 amostras animais, entre 1996 e

2003, na região oeste do Estado de São Paulo e, do total, 74 foram

positivas, 58 destas amostras (78.4%) são de morcegos não hematófagos e

16 (21.6%) de bovinos, animal costumeiramente infectado pelo D. rotundus.

Scheffer et al. (2007), que identificaram morfologicamente as espécies de

animais infectados pelo RABV, descreveram o resultado do diagnóstico de

4395 amostras de morcegos, no período de abril de 2002 a novembro de

2003, de diversas regiões do mesmo Estado, e a positividade alcançou 1,9%

(84 casos). Deste valor, não houve a descrição de casos em D. rotundus,

apesar de 10 Gêneros de morcegos serem descritos, predominantemente

insetívoros. Cunha et al. (2006), entre 1997 e 2002, diagnosticaram para a

raiva 7393 morcegos do norte e noroeste do Estado de São Paulo. Entre

todos, 1,3% foram positivos para a raiva, que também foram identificados

morfologicamente, constatando que os animais eram predominantemente

insetívoros, mas alguns frugívoros também o foram.

A análise da Figura 15 (Série histórica de casos de raiva em humanos

por Estado no Brasil, 1986-2008) permite que se afirme que, ano após ano,

a situação da raiva no Brasil tem melhorado. Quanto aos anos de 2004 e

2005, quando houve um aumento surpreendente nos casos de raiva

humana, é necessário esclerecer que os casos ocorreram em áreas da

Amazônia, nos Estados do Pará e Maranhão e foram transmitidos por D.

rotundus. Este tipo de surto, que ocorre esporádicamente, é basicamente

relacionado a deficiência dos serviços de saúde locais e fatores sócio-

culturais.

A Figura 16, que mostra a Série histórica de animais transmissores de

raiva humana no Brasil, 1986-2007, complementa a Tabela 15, comentada

anteriormente. Contudo, é notável o decréscimo no número de casos

relacionados a cães e gatos e aos casos onde o transmissor foi

indeterminado (ignorado). O decréscimo no números de “ignorados” se deve

basicamente a melhora da vigilância epidemiológica e a disponibilidade de

métodos moleculares para a identificação do vírus.

Para complementar a análise é apresentada a Tabela 8, que mostra o

número de casos de raiva por espécie no Brasil no ano de 2009 (dados

parciais até 23 de julho).

Page 81: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

81

Para finalizar este tópico, sobre a epidemiologia da raiva no Brasil, é

fundamental citar alguns dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do

Ministério da Saúde do Brasil (SVS/MS).

Em 1998 foram diagnosticados 1746 casos em cães e em 2006, 67

casos. Esta redução é produto do Programa Nacional para o Controle da

Raiva em Cães e gatos. Entre 1986 e 2006, um total de 758 casos de raiva

humana foi diagnosticado. Os cães foram responsáveis por 524 destes

casos (69.1%), gatos por 30 (4%), morcegos por 130 (17.1%), primatas não-

humanos por 14 (1.9%) e canídeos silvestres por 13 (1.7%).

A efetiva vigilância epidemiológica relacionada a animais silvestres

aumentou por volta do ano de 2000, e hoje, se encontra em ascensão (Kotait

et al., 2007). Utilizando dados da Secretaria de Vigilância em Saúde do

Ministério da Saúde do Brasil (SVS/MS) é possível comprovar a plenitude da

vigilância epidemiológica dirigida aos animais silvestres. O número de

ataques de animais silvestres a humanos notificados em 1999 e 2005 foram,

respectivamente, 35 e 16334. Nos mesmos anos os morcegos foram

responsáveis, respectivamente, por 29 e 11811 ataques, primatas não-

humanos por 05 e 3360 e canídeos silvestres e outras espécies de menor

importância epidemiológica, como gambás e guaxinins, 01 e 1163 ataques,

respectivamente. É importante salientar que associada à vigilância

epidemiológica o esforço governamental direcionado a educação foi de

grande importância.

Tabela 8: Número de casos de raiva por espécie no Brasil no ano de

2009. Dados parciais até 23 de julho. Fonte: SVS/MS.

Espécie Número de casos

Cão 6

Gato 1

Bovino 362

Eqüino 40

Morcego hematófago 12

Morcego não-hematófago 61

Primata não humano 0

Canídeos silvestres 5

Outros animais 9

Humano 1

Total no Brasil 497

Page 82: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

82

1.5.6.1.As variantes antigênicas e linhagens genéticas do RABV no

Brasil

A primeira tipificação antigênica do RABV no Brasil foi publicada em

2001 (Favoretto et al., 2001) e é a única tipificação antigênica e genética de

isolados do RABV de primatas no mundo. Supõe-se que o reservatório desta

linhagem do RABV é o sagüi de tufo branco (Callithrix jacchus). Apesar de

poucos casos conhecidos e relatados, os isolados são todos da região

Nordeste do país, a maioria deles do Estado do Ceará. Esta variante

antigênica não possui relação com outros reservatórios e não havia sido

prevista durante a produção do painel de MAbs distribuído pela OPAS e, por

isto, não possui, ainda hoje, uma nomenclatura oficial estabelecida.

Favoretto et al., (2002) tipificaram 330 isolados do vírus de várias

espécies e foram estabelecidas as quatro variantes antigênicas circulantes

no Brasil: AgV2 (cão), AgV3 (D. rotundus), AgV4 (Tadarida brasiliensis) e

AgV6 (Lasiurus cinereus). Além destas quatro variantes, outra variante

antigênica, AgV5 (morcego hematófago da Venezuela), também foi

identificada, porém não é comumente encontrada no país. Além das quatro

variantes acima mencionadas, outros seis perfis antigênicos não

determinados foram descritos. Os herbívoros de interesse econômico

(bovinos, eqüinos, ovinos, etc.), foram tipificados como AgV3.

No oeste do Estado de São Paulo, foram tipificados antigenicamente

isolados do RABV de morcegos não hematófagos e foram detectadas,

circulando na população dos animais as variantes antigênicas AgV3 e AgV4,

típicas de D. rotundus e T. brasilensis, respectivamente (Albas et al., 2009).

Em Portel e Viseu, cidades do Estado do Pará, 21 pessoas morreram

de raiva em 2004. As amostras isoladas em humanos, coletadas após o

falecimento das vítimas, foram tipificadas antigenicamente e geneticamente

como AgV3, típica de D. rotundus (da Rosa et al., 2006).

Schaefer et al. (2005), utilizando um painel de MAbs produzidos no

Estado do Rio Grande do Sul e, portanto, não aquele distribuído pela OPAS

e regularmente utilizado nas Américas, tipificaram antigenicamente isolados

do RABV de várias espécies animais de várias regiões do Brasil. Os autores

descreveram dois agrupamentos principais, cães e D. rotundus, que foi

concordante com a tipificação genética também descrita no trabalho. Ao

analisar os morcegos insetívoros os autores descreveram “espécie-

especificidade”, pois houve a formação de agrupamentos por espécie.

A caracterização genética do RABV no Brasil e em todos os outros

países, se faz, principalmente, pelo seqüenciamento do gene N, mas um

Page 83: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

83

número expressivo de trabalhos analisaram o gene G e, secundariamente, a

região intergênica G-L. Quanto ao tamanho das seqüências geradas é

variável, alguns autores utilizam os genes inteiros, outros, pequenas regiões,

tanto da região amino-terminal como, também, da carboxi-terminal.

O primeiro trabalho publicado relacionado à tipificação genética do

RABV no Brasil foi o de Ito et al. (2001), onde os autores seqüenciaram 203

nt do gene N e determinaram as duas principais linhagens do vírus no país,

cães e D. rotundus. Os autores também descreveram que a identidade

genética dos isolados de cães utilizados no trabalho foi maior que 99%,

enquanto que em D. rotundus maior que 96,6%. A partir deste trabalho

pioneiro, a caracterização genética do RABV mostrou a real diversidade do

vírus no país e outros se seguiram, mas uma clara dicotomia foi

estabelecida, o estudo genético do RABV isolado em canídeos e em

morcegos, com exceção ao de Favoretto et al. (2001), discutido durante as

citações relacionadas as tipificações antigênicas, no qual os autores

descrevem o RABV isolado do primata sagüi de tufo branco (Callithrix

jacchus).

Quanto aos canídeos, os trabalhos de Carnieli et al. (2006, 2008,

2009), que estudaram toda a região codante dos genes N e G e parte da

região intergênica G-L do RABV, estabeleceram um novo biotipo

(reservatório) da raiva na região Nordeste do Brasil, o cachorro do mato

Cerdocyon thous. Os autores identificaram linhagens regionais do vírus que

circulam em C. thous e em cães e identificaram geneticamente o hospedeiro

pela análise de DNA mitocondrial. Além do citado anteriormente, os autores

sugeriram que as linhagens do RABV circulam entre C. thous e cães,

podendo ser transmitidas entre os dois animais sem perder suas identidades

genéticas, pois mantém as assinaturas genéticas (marcadores genéticos)

das linhagens do vírus, que são específicas para as duas espécies de

canídeos.

No mesmo contexto, os trabalhos de Bernardi et al. (2005), Sato et al.

(2006) e Kobayashi et al. (2007), que estudaram geneticamente o RABV de

várias espécies de animais das regiões Norte e Nordeste do Brasil, também

estudaram canídeos silvestres do Estado da Paraíba, porém os identificaram

como Pseudalopex vetulus (raposinha do campo).

Schaefer et al. (2005) e Favoretto et al. (2006), que também estudaram

geneticamente o RABV isolado de várias espécies de animais, citam o

canídeo silvestre C. thous como aquele encontrado na região Nordeste do

Brasil.

Page 84: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

84

Dos trabalhos citados nos dois parágrafos anteriores e relacionados a

canídeos, suas análises de maneira global indicam que o RABV isolado de

canídeos possui uma identidade média divergente das linhagens de D.

rotundus, calculada em 10%. Porém, entre as linhagens do RABV isoladas

de canídeos há uma evidente regionalização. No caso dos cães, esta

divergência, provavelmente, é determinada pelo deslocamento humano e

seus cães e gatos (Carnieli et al., 2008).

A tipificação genética do RABV isolado de morcegos iniciada por Ito et

al. (2001) se diversificou para outras espécies de quirópteros, além do D.

rotundus. Kobayashi et al. (2005), analisando amostras do RABV isoladas de

espécies frugívoras, insetívoras e de D. rotundus, relataram linhagens

associadas a morcegos Artibeus spp (frugívoro), D. rotundus e morcegos

insetívoros, sugerindo haver linhagens espécies-específicas. Kobayashi et

al. (2007), continuando a pesquisa anterior, obteve uma linhagem associada

aos morcegos insetívoros do Gênero Lasiurus. Oliveira (2009), em estudo

com diferentes espécies de morcegos, relatou diferentes linhagens do RABV

associadas a diferentes espécies de morcegos insetívoros, sugerindo haver,

linhagens espécies-específicas e Gênero-específicas.

O estudo das linhagens do RABV que infectam os animais de interesse

econômico são, em sua maioria absoluta, transmitidas pelo D. rotundus.

Apesar do grande número de animais de interesse econômico infectados

pelo RABV ser diagnosticado é pequeno o número de D. rotundus

encontrados infectados. Por este motivo o estudo das linhagens do RABV

que circulam entre estes morcegos são estudadas indiretamente, isto é, pelo

uso de isolados do vírus de bovinos e eqüinos.

Romijn et al. (2003), analisando parcialmente o gene N do RABV

isolados de bovinos no Estado do Rio de Janeiro, obteve agrupamentos

regionais do vírus. Bordignon et al. (2005), no Estado de Santa Catarina e

também analisando parcialmente o gene N do RABV, obteve um

agrupamento de linhagens típicas do Estado de Santa Catarina. Sato et al.

(2006), analisando 599 nt do gene G de isolados do RABV de várias

espécies dos Estados do Maranhão, Pará e Tocantins, identificaram

linhagens do vírus associadas a canídeos e D.rotundus. Kobayashi et al.

(2006), analisando parcialmente o gene N do RABV isolados de bovinos, de

vários Estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, sugerem a existência

de linhagens regionais formadas pelo isolamento geográfico determinado por

montanhas e rios. Kobayashi et al. (2008), continuando o trabalho anterior,

agora com 593 isolados do RABV de um maior número de Estados e

seqüenciando 202 nt do gene N, descreveram 24 linhagens regionais do

vírus, originadas por isolamento geográfico.

Page 85: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

85

1.5.7.O Desmodus rotundus e a raiva em bovinos

A raiva bovina é um problema econômico e de saúde pública e

veterinária. Germano et al. (1992), associa o aumento populacional de

bovinos, ao longo da história, com o aumento da população do transmissor

do RABV para esta espécie, o morcego hematófago Desmodus rotundus

(Figura 17). Sendo assim, o estudo deste morcego é de fundamental

importância para a compreensão da raiva em bovinos e, também, em outros

herbívoros da América Latina.

Carini (1911) foi o primeiro a associar a raiva em herbívoros aos

morcegos, pesquisando a morte de, aproximadamente, 5000 animais no

Estado de Santa Catarina. Além deste fato, é importante salientar que Carini

foi o primeiro a associar a raiva a morcegos e, por isto foi severamente

combatido em sua época. Carneiro e Freitas Lima (1927) descreveram a

mesma situação no Estado do Paraná, mas a aceitação de que os morcegos

são também transmissores da raiva somente ocorreu na década de 1930

com a publicação de estudos semelhantes aos de Carini, na Ilha de Trinidad

(Pawan, 1936).

1.5.7.1.A biologia do Desmodus rotundus

D. rotundus é um quiróptero excepcionalmente ágil e furtivo na

natureza e é considerado um dos morcegos mais evoluídos em relação ao

Sistema Nervoso (Bhatnagar, 2007).

A Ordem Chiroptera é dividida em duas subordens, Megachiroptera e

Microchiroptera. Entre os microquirópteros existem 17 famílias e, no Brasil,

existem nove famílias desta subordem. Os morcegos hematófagos, como o

D. rotundus, pertencem à família Phyllostomidae, subfamília Desmodontinae

da subordem Microchiroptera (Reis et al., 2007).

A subfamília Desmodontinae é composta por três espécies e possuem

o hábito alimentar hematófago (Gardner, 1977) Entre as três espécies de

hábito hematófago D. rotundus é a espécie de maior ocorrência e é muito

estudada por ser associada à transmissão do RABV aos herbívoros na

América Latina. Esta espécie alimenta-se preferencialmente de sangue de

mamíferos (Taddei, 1983). Diphylla ecaudata é considerada a segunda

espécie em importância, seguida por Diaemus youngi, e ambas possuem

preferência por sangue de aves (Uieda, 1992).

Page 86: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

86

Figura 17: Imagens de diferentes fenótipos de Desmodus rotundus. As

duas imagens superiores mostram a pelagem castanha, comum e, abaixo,

alaranjada e albina, raras. Fotos: W. Uieda.

Como todas as espécies da subfamília Desmodontinae, D.rotundus não

possui cauda, apresenta redução do apêndice nasal e da dentição, com

incisivos e caninos extremamente afiados (Greenhall, 1988). Sua coloração,

geralmente, é pardo-ferruginoso na parte dorsal do corpo e cinza claro na

parte ventral. O comprimento total varia de 69 a 90 mm; antebraço de 52 a

63 mm. Seu peso varia entre 25 e 40 gramas, sendo que as fêmeas são

maiores que os machos (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983).

D. rotundus ocorrem desde Sonora, Nuevo León e Tamaulipas, no

México, Ilha Margarita, na Venezuela, Trinidad, Bolívia, norte do Chile,

Brasil, Paraguai, Uruguai até o norte da Argentina (Peracchi et al., 2006).

Esta espécie não tolera climas frios, não ocorrendo em locais que possuam

temperatura média inferior a 10ºC no mês mais frio do ano (Greenhall,

Joermann, Schmidt, 1983).

D. rotundus não hibernam, porém o consumo alimentar e a atividade

muscular aumentam quando ficam expostos a baixas temperaturas (Wimsatt

e Guerriere, 1962). Estes morcegos têm capacidade termo regulatória

imprevisível, quando a temperatura ambiental diminui, a temperatura

corporal é normalmente mantida entre 33 e 37ºC pelo aumento da atividade

motora. Se a temperatura corporal chegar a 20ºC os D. rotundus não são

capazes de se aquecerem novamente (Wimsatt e Guerriere, 1962). São

Page 87: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

87

também muito sensíveis a altas temperaturas, pois quando expostos entre

37 e 38ºC podem morrer (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983).

D. rotundus são noctívagos, normalmente se abrigam em refúgios

escuros e úmidos (Taddei, 1983), vivem em colônias com aproximadamente

10 a 200 indivíduos, refugiando-se em locais de difícil acesso; utilizam

muitos tipos de abrigos e podem dividir esse espaço com outras espécies de

morcegos (Arellano-Sota, 1988; Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983). Suas

colônias geralmente são pequenas, porém já foram registradas

aglomerações com até 2000 morcegos (Wilkinson, 1988). As colônias,

geralmente, ocorrem em regiões de serra com muitas cavernas, onde o

serviço de vigilância e controle da agricultura tem dificuldade de acesso aos

seus abrigos (Uieda, 1996).

Os abrigos são muito importantes para esses animais, pois são locais

onde passam a maior parte do seu ciclo de vida. Nesses locais ocorre

repouso, interações sociais e reprodutivas, de proteção contra predadores e

más condições ambientais, como chuva e vento (Uieda, 1996).

Há uma grande variedade de tipos de abrigos que são utilizados pelo

D. rotundus. Originalmente são encontrados, principalmente, em cavernas,

matacões (afloramento de grandes pedras), oco de árvores, entre outros de

origem natural. Todavia, abrigos artificiais como túneis, bueiros, casas

abandonadas, cisternas, minas abandonadas, entre outros, podem

perfeitamente albergar colônias (Gonçalves et al., 1996) (Figuras 18 e 19).

Como comumente encontrado em mamíferos gregários, os D. rotundus

apresentam uma estrutura social caracterizada por hierarquia de

dominância, baseada na formação de um harém, onde um macho dominante

protege um grupo de fêmeas e seus filhotes. O macho dominante fica no alto

do abrigo, rodeado pelas fêmeas, e os outros machos ficam em localizações

periféricas na própria colônia ou são expulsos dos abrigos quando atingem a

idade entre 12 e 18 meses. Os filhotes machos e solteiros podem

permanecer próximos do harém à espera de uma oportunidade para

ocuparem o posto de dominância ou sair à procura de outros locais para

constituir o seu próprio harém ou, ainda, formar agrupamentos de machos,

geralmente a uma distância mínima de 3 km daquela de onde nasceram

(Wilkinson, 1988; Bredt et al., 1998).

O tempo de gestação da espécie é de sete meses e os nascimentos,

em geral, estão concentrados na estação chuvosa (Lord, 1992). As fêmeas

possuem maior fidelidade aos abrigos e aos membros da colônia as quais

pertencem (Gomes, Uieda, Latorre, 2005). Tal fidelidade pode ser

exemplificada pelos comportamentos de limpeza mútua e regurgitação

Page 88: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

88

recíproca de alimento entre as fêmeas e entre mães e filhotes (Wilkinson,

1988).

O macho dominante, além de possuir maior acesso às fêmeas, também

se alimenta em localidades mais próximas do abrigo, já os machos

periféricos percorrem grandes distâncias para se alimentarem, podendo

desta forma sobrepor a sua área de alimentação com as de outras colônias

(Wilkinson, 1988).

Os morcegos hematófagos, normalmente, se alimentam em uma área

de 5 a 8 km ao redor dos abrigos diurnos (Crespo et. al., 1961). Em

condições ambientais favoráveis, sua atividade alimentar pode se iniciar por

volta de uma a duas horas após o pôr-do-sol e terminar por volta de uma

hora antes do alvorecer (Uieda, 1992). No verão, contudo, foi verificado que

os morcegos deixam os abrigos após as 21 horas e no inverno após as 22

horas (Villa, 1966). Isto confirma que estes morcegos só saem para se

alimentar quando a escuridão é completa, podendo fazer um vôo preliminar

para checar a luz da lua (Crespo et. al., 1961).

Comportamentos agonísticos, inserção de novos indivíduos nas

colônias, limpeza mútua, troca de regurgitado, deslocamentos dos indivíduos

entre abrigos e reorganização de colônias podem ser considerados, entre

outros eventos, como a base da transmissão e da dinâmica da raiva entre

morcegos que, certamente, reflete na dinâmica da enfermidade em bovinos

(Lord, 1992; Gomes, Uieda, Latorre, 2005).

Geralmente, um conjunto de colônias é composto por uma colônia

principal, na qual está o maior número de indivíduos, e ao seu redor há as

denominadas colônias satélites e/ou agrupamentos de machos que ainda

não formaram seu harém (Wilkinson, 1988). Os morcegos desse conjunto de

abrigos/colônias transitam entre si segundo seus comportamentos de

interação, possibilitando que o RABV seja transmitido de forma intra-

específica e, conseqüentemente, aos bovinos atacados por morcegos

infectados (Wilkinson, 1988). Outros motivos podem incrementar o

deslocamento de morcegos entre abrigos, como a divisão do clima em

épocas chuvosas e secas, a inundação de abrigos e seca extrema (Taddei

et al., 1991). Segundo Flores-Crespo e Arellano-Sota (1991), a espécie D.

rotundus usualmente utiliza um território de ação de aproximadamente 10 a

20 km2.

Page 89: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

89

Figura 18: Imagens de abrigos artificiais de Desmodus rotundus.

Fotos: J.J. Ferrari.

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90

Figura 19: Imagens de abrigo artificial (mina abandonada) de

Desmodus rotundus e outros morcegos. Foto: J.J. Ferrari.

Estudos da atividade de morcegos hematófagos em currais indicam

que o período no qual os morcegos se alimentam, está relacionado à

ausência de luar (Crespo et. al., 1972).

Antes de se alimentar, D. rotundus faz um “vôo de reconhecimento” ao

redor do animal em locais abertos (Greenhall, Schmidit, López-Forment,

1971). Acredita-se que esses vôos sejam um comportamento de

ambientação, no qual os morcegos examinam e escolhem suas presas

(Sazima, 1978).

A aproximação do D. rotundus às suas presas pode ser feita de duas

maneiras: pouso direto no corpo da presa ou pelo chão (Uieda, 1996). A

reação dos animais à aproximação dos morcegos geralmente ocorre quando

estes pousam em seu corpo, movimentando a cabeça, cauda e a

musculatura da pele (Greenhall, Schmidit, López-Forment, 1971). Durante a

aproximação da presa, os D. rotundus ficam cautelosos a qualquer reação

da vítima. A qualquer sinal de perigo ele se afasta do local até que o perigo

cesse ou abandona este animal e sai à procura de outra presa mais

acessível (Uieda, 1996). Após a aproximação, os morcegos escolhem um

local apropriado para morder sua presa (Figuras 20 e 21). D. rotundus pode

gastar cerca de 40 minutos para escolher um local no corpo para morder

(Greenhall, 1972).

Page 91: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

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Figura 20: Cavalo sendo atacado pelo Desmodus rotundus. Observar

morcego e ferimento causado pela espoliação no pescoço do cavalo. Foto:

J.J. Ferrari.

Page 92: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

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Figura 21: Detalhe da Figura 20 (cavalo sendo atacado pelo

Desmodus rotundus). Observar morcego e ferimento causado pela

espoliação no pescoço do cavalo. Foto: J.J. Ferrari.

Ao alimentar-se, D. rotundus prefere extremidades do corpo, tais como

orelhas, pescoço, região anal, vulva, mamilos, focinho e cauda, entre outros.

A presa é perfurada com os dentes incisivos afiados deixando um ferimento

característico. Sua saliva possui enzimas que evitam a coagulação do

sangue e dois canais, um de cada lado da língua, lhes permitem sugar o

sangue (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983).

Um morcego pode ingerir entre 15 e 25 mL de sangue em uma presa e

um animal pode ser visitado por vários morcegos na mesma noite

(Constantine, 1979). O tempo necessário para a alimentação dos morcegos

hematófagos depende das reações da vítima durante a refeição, geralmente

D. rotundus gasta em torno de 30 minutos, podendo eventualmente chegar à

uma hora (Uieda, 1996).

Enquanto o morcego se alimenta foi observado eliminação de urina,

que pode ser uma forma de esvaziar mais rapidamente o estômago,

possibilitando maior consumo de alimento ou maior facilidade em alçar vôo

durante a alimentação, se for necessário (Uieda, 1996).

Page 93: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

93

Após a alimentação o morcego hematófago pode usar um abrigo

noturno ou temporário que serve como local de descanso e ambientação.

Esses abrigos estão situados próximos às fontes de alimento e podem ser

casas de máquina, estábulo, paiol, porão ou mesmo vegetação próxima

(Sazima, 1978).

D. rotundus podem reabrir ferimentos feitos em noites anteriores, pois a

reabertura é feita em poucos minutos, o que diminui seu tempo a eventuais

riscos que podem ocorrer durante sua alimentação, como coices ou

mordidas (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983).

Pelo fato de ter o hábito alimentar exclusivamente hematófago, D.

rotundus é um potencial transmissor do vírus da raiva e os prejuízos

causados pela raiva em herbívoros transmitida por este morcego são

notáveis (Mayen, 2003).

Ainda, um aumento surpreendente no número de casos de raiva

humana, transmitidos por D. rotundus ocorreu no Brasil nesta última década.

Entre os anos de 2004 e 2005, dezenas de pessoas contraíram raiva

transmitida por estes animais na Região Amazônica brasileira (da Rosa et

al., 2006) e outros relatos similares de raiva humana na Região Amazônica

já haviam sido documentados (Warner et al., 1999). Na América Latina, do

ponto de vista epidemiológico, D. rotundus constituem o principal

reservatório silvestre do RABV, mas outros quirópteros não hematófagos

também têm papel na transmissão do vírus (Favi et al., 2002).

1.5.8.A dinâmica da raiva em bovinos

No Estado de São Paulo, na década de 1980, houve uma epidemia,

estudada por Taddei et al. (1991), que se propagou a uma velocidade média

de 20 km/mês pelas principais bacias hidrográficas paulistas, como as dos

rios Tietê, Ribeira, do Peixe, entre outras. Os mesmos pesquisadores

também sugerem que áreas montanhosas, com presença de floresta, alto

índice pluviométrico e com presença de criação bovina de subsistência,

possuem maior probabilidade de ocorrência da doença, pois estas

características ecológicas são apropriadas para o D. rotundus.

Taddei et al. (1991), no Estado de São Paulo, sugerem que o inverno

seco determina o deslocamento do D. rotundus para locais mais úmidos,

como ao longo de bacias hidrográficas, desencadeando surtos de raiva.

Page 94: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

94

Lord (1988) sugere que as características ecológicas, topográficas e

geológicas de uma área determinam a distribuição dos abrigos de D.

rotundus e, conseqüentemente a epidemia de raiva nas diferentes regiões.

Gomes, Uieda e Latorre (2005) relacionam a existência de D. rotundus

com a sua fonte de alimento, o gado, fazendo com que as epidemias em

bovinos se propaguem difusamente e não ao longo de bacias hidrográficas,

como sugerido por Taddei et al. (1991).

Aspectos relacionados à raiva, ao D. rotundus, aos ecossistemas

pecuários e, também, aspectos relacionados ao clima, relevo e tipo de

manejo dos animais, devem ser considerados na análise da raiva bovina

(Gomes, 2008).

Delpietro, Marchevsky e Simonetti (1992), na Argentina, sugerem que

D. rotundus tem preferência por ecossistemas pecuários aos naturais. Desta

forma, o animal demonstra preferência ao alimento do que ao seu próprio

ambiente natural.

O Estado de São Paulo possui diferentes regiões em relação à criação

de bovinos. A região do Vale do Paraíba possui gado de corte, mas é

predominantemente leiteira; o Vale do Ribeira apresenta pecuária de

subsistência; nas regiões noroeste e norte, apesar de apresentarem gado de

corte e leite, o de corte é predominante; e o oeste paulista continua sendo a

principal área de produção de carne do Estado (Gomes, 2008). Esta

regionalização é importante de ser analisada, pois, em teoria, quanto maior

for a relação comercial homem-animal, como no oeste paulista, maiores

serão os cuidados profiláticos. Um dos motivos da presença da raiva em

bovinos em certas áreas é a deficiências de cuidados de controle e profilaxia

da raiva (Brass, 1994).

Taddei et al. (1991) consideram que as diferenças entre o leste e o

oeste da pecuária paulista favorecem o aumento da raiva na região leste,

que possui criação de gado de subsistência e de caráter familiar, além de

áreas montanhosas com trechos de floresta natural e índice pluviométrico

mais elevados que a região oeste.

Havendo aumento da população de morcegos há o aumento

concomitante de raiva entre eles e, assim, há aumento da probabilidade de

transmissão da doença aos bovinos. Devido ao constante deslocamento do

D. rotundus, as epidemias de raiva se caracterizam pelo seu deslocamento e

sazonalidade (Brass, 1994).

Page 95: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

95

1.5.9.A epidemia de raiva 1997-2002 no Estado de São Paulo

Estima-se que milhares de casos de raiva ocorram anualmente em

bovinos e eqüinos no Brasil, apesar de não haver concordância quanto a

estes números. Em 2007, SIRVERA (2008) cita 1255 casos diagnosticados

laboratorialmente, enquanto que SVS/MS (2008) cita 905 casos.

O RABV transmitido por D. rotundus faz dos grandes rebanhos de

bovinos suas vítimas preferenciais. Os milhões de bovinos no Brasil,

calculados, aproximadamante, em 200 milhões (IBGE, 2008), passivamente

fazem parte do ciclo silvestre da raiva como hospedeiros terminais. Apesar

dos bovinos serem hospedeiros terminais, um caso de raiva humana

transmitida por bovino é documentado (Ferreira, 2007). Ainda, mesmo que

até o momento não haja documentação da transmissão do RABV entre

bovinos ou outros herbívoros de criação, esta possibilidade existe,

principalmente pelo contacto oral (saliva contaminada) entre mucosas, como

descrito em Kudus (Tragelaphus strepsiceros) na África (Mansfield et al.,

2006). Recentemente foi descrito o mesmo tipo de transmissão entre

cangambás (skunks) (www.rabiescontrol.net) (2009).

Se, o gado é a fonte de alimento preferencial para D. rotundus (Del

Pietro e Russo, 1996; Romijn et al., 2003) e permitem o aumento

populacional destes morcegos (Uieda , 1996), pode-se afirmar que, de forma

indireta, auxiliam a manutenção do RABV no ciclo silvestre. Os herbívoros

de criação, principalmente bovinos, desencadeando o aumento da

população de D. rotundus, permitem que o RABV circule no ciclo silvestre de

forma facilitada, possibilitando o início de epidemias.

É possível sugerir que os bovinos atuam como indicadores ecológicos

da raiva no meio silvestre, isto porque o número de D. rotundus identificados

com raiva é pequeno em relação ao número dos casos da doença

identificados entre herbívoros de criação. Em 2007, o Ministério da Saúde do

Brasil (SVS/MS) identificou 905 casos de raiva em bovinos, 104 em eqüinos

e somente 27 em D. rotundus.

No Brasil, Kotait et al. (2007) citam 36 espécies de morcegos não-

hematófagos diagnosticados com raiva, principalmente insetívoros. No

período 2005-2007 o Laboratório do Instituto Pasteur do Estado de São

Paulo, Brasil, analisou 10472 morcegos e entre estes foram identificados

10123 não-hematófagos e 349 hematófagos. O RABV foi identificado em

173 morcegos não-hematófagos, enquanto que somente dois D. rotundus

foram identificados positivamente. A importância da raiva entre os

*Dados cedidos pela Seção de Diagnóstico do Instituto Pasteur, São Paulo, Brasil.

Page 96: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

96

herbívoros de criação transmitida pelos morcegos não-hematófagos ainda

hoje é desconhecida.

O Estado de São Paulo (SP) localiza-se na Região Sudeste do Brasil,

possui 248898 Km2, cerca de 2,91% do território brasileiro e possui mais de

40 milhões de habitantes. É o Estado do Brasil mais industrializado e é

responsável por aproximadamente 30% do seu PIB. Sua capital é São Paulo

e junto com as cidades periféricas formam uma metrópole, a Grande São

Paulo, com cerca de 18 milhões de habitantes (IBGE, 2008). O Estado

possui uma região endêmica de raiva bovina na sua região Leste, no Vale do

Paraíba (Taddei et al., 1991). Esta região endêmica em SP se estende pelos

Estados brasileiros de Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ), vizinhos de

SP.

Entre os anos de 1997 e 2002 houve uma epidemia de raiva no

Estado de São Paulo envolvendo bovinos e eqüinos (Tabela 9). Naquela

ocasião, o Estado era oficialmente dividido pela Secretaria de Saúde em 25

Diretorias Regionais (DIR). A epidemia foi inicialmente detectada na DIR-3

(Mogi das Cruzes), vizinha à região endêmica de São Paulo, posteriormente

notificada na DIR-12 (Campinas) e em seguida na DIR-20 (São João da Boa

Vista).

Devido à nova reestruturação da Secretaria de Saúde do Estado de

São Paulo (decreto DOE nº51433 de 28 de dezembro de 2006), as antigas

Diretorias Regionais de Saúde (DIR) foram substituídas pelos

Departamentos de Saúde. Assim sendo, as antigas DIR-3 (Mogi das

Cruzes), DIR-12 (Campinas) e DIR-20 (São João da Boa Vista) tem, hoje,

suas áreas de abrangência equivalentes aos Departamentos de Saúde I

(Grande São Paulo), VII (Campinas) e XIV (São João da Boa Vista),

respectivamente (Figura 22).

Deste ponto em diante as DIR 3, 12 e 20, citadas anteriormente,

serão designadas por RD1, RD2 e RD3, respectivamente, e a epidemia

estudada por “epidemia 1997-2002” (Figura 23).

Page 97: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

97

Figura 22: Departamentos de Saúde do Estado de São Paulo. Fonte:

www.saude.sp.gov.br/content/geral_estrutura_regionais_de_saude.mmp.

Tabela 9: Ocorrência de raiva em herbívoros, confirmação pela rede

de laboratórios de diagnóstico do Estado de São Paulo. Fonte: Peres, 2009.

Espécie/Ano 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Total

Bovina 149 188 431 624 413 148 89 50 55 56 40 2.243

Bubalina 0 1 3 0 0 1 1 1 0 0 1 8

Eqüina 23 35 103 260 130 86 42 27 11 12 11 740

Muar 0 0 1 6 3 2 5 2 0 0 0 19

Asinina 1 0 1 1 0 3 1 0 0 0 0 7

Ovina 2 1 1 8 5 1 0 0 0 0 0 18

Caprina 1 0 2 0 1 0 1 1 0 0 0 6

Total 176 225 542 899 552 241 139 81 66 68 51 3041

Page 98: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

98

MG

RJ

TO

MS

MT

470 Km

N Região 1

Região 2

Região 3

São Paulo - Capital

Região endêmica

Figura 23: Mapa do Estado de São Paulo (SP), Sudeste, Brasil, e as

áreas epidêmicas RD1, RD2 e RD3. A localização da capital do Estado,

cidade de São Paulo, e a região endêmica estão indicadas no mapa. A

localização do Estado de São Paulo é mostrada em cinza no mapa do Brasil

no canto direito da Figura. Os Estados brasileiros Mato Grosso (MT) e Mato

Grosso do Sul (MS), da região Centro-Oeste, Estado de Tocantins (TO), na

região Norte, além de Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ), os quais

como São Paulo, situam-se na região Sudeste, são também mostrados na

Figura. Abaixo, o mapa do Brasil mostrando o relevo do país e ao lado, o

mapa do Estado de São Paulo e seu relevo em maiores detalhes. Fonte:

Miranda (2009).

Em 2002, os órgãos oficiais ligados à pecuária instituíram vacinação

obrigatória na área epidemica e endêmica, além de realizarem o controle

populacional de D. rotundus à base de Warfarina, já iniciado anteriormente,

fazendo cessar a epidemia (Tabelas 10 e 11). Detalhes deste controle,

além de abrangentes dados epidemiológicos relativos à raiva em

herbívoros no Estado de São Paulo no período de 1997-2007, são

Page 99: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

99

encontrados em Peres (2009). É importante esclarecer que em todo o

Estado de São Paulo, como em todo o Brasil, casos de raiva em bovinos e

outros herbívoros de criação, foram diagnosticados antes e após os anos

da epidemia 1997-2002. Também é apresentada a Figura 24, gerada a

partir de dados da Comissão Estadual de Controle da Raiva, que mostram

o número total de bovinos e eqüinos positivos para a raiva no Estado de

São Paulo, no período de 1996 a 2003 e o número total de herbívoros

positivos para a raiva no Estado de São Paulo, no período de 1996 a 2003,

além dos números de animais positivos nas áreas RD1, RD2 e RD3.

Tabela 10: Número de morcegos Desmodus rotundus capturados e

tratados com Warfarina e refúgios trabalhados no Estado de São Paulo,

1997–2007. Fonte: Peres, 2009

Ano Hematófagos capturados e

tratados com Warfarina Refúgios trabalhados

1997 sem informação sem informação

1998 sem informação sem informação

1999 3.951 1.421

2000 5.217 892

2001 6.367 1.803

2002 16.071 2.438

2003 11.687 sem informação

2004 9.371 sem informação

2005 6.417 sem informação

2006 12.919 sem informação

2007 10.117 6.554

TOTAL 82.117

A epidemia 1997-2002 ocorreu em uma área montanhosa,

densamente povoada e com um índice econômico privilegiado dentro do

Brasil. As três áreas estudadas, áreas RD1, RD2 e RD3, possuem altitudes

médias entre 800 e 1600 metros, temperaturas médias anuais de 18°C,

pluviosidade média anual superior a 1300 mm e, portanto, com condições

ecológicas propícias para D. rotundus (Wilkinson, 1988). Atualmente, a

vegetação original do Estado encontra-se alterada, pois foi o maior produtor

de café durante os séculos XIX e XX. Poucas áreas da Mata Atlântica,

situada nas regiões serranas de difícil acesso, a leste do Estado,

encontram-se parcialmente conservadas, mas sujeitas a grande

especulação imobiliária. Partes das áreas epidemicas estudadas situam-se

nestas regiões serranas (Figuras 25, 26 e 27).

Page 100: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

100

Tabela 11: Número de herbívoros existentes e herbívoros vacinados,

na área de vacinação obrigatória da raiva, no Estado de São Paulo, 2001–

2006. Fonte: Peres, 2009.

Ano Herbívoros existentes Herbívoros vacinados

2001 2.921.893 2.740.887

2002 3.214.133 3.090.793

2003 3.461.303 3.413.369

2004 3.625.938 3.568.119

2005 2.870.286 2.830.852

2006 2.944.762 2.915.819

Figura 24: Gráficos e tabelas com os números de bovinos e eqüinos

positivos para a raiva no Estado de São Paulo (imagem superior), como

também nas áreas RD1, RD2 e RD3 (imagem inferior) Fonte:

(www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao).

1996 1997 1998 1999 2000 2002 2003

Bovino 78 149 189 434 623 148 90

Eqüino 12 24 35 106 238 92 48

RD 1 RD 2 RD 3 Estado de São

Paulo

1996 6 5 1 90

1997 82 5 6 173

1998 34 49 7 224

1999 31 349 56 540

2000 44 469 227 861

2001 19 259 277 625

2002 - - - 240

2003 - - - 138

Page 101: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

101

Atualmente, grande número de pesquisadores da raiva sugere que,

além da presença de montanhas, os rios e represas também são fatores que

determinam a diversificação genética do RABV (Carnieli et al., 2009). A

Figura 28 mostra a posição dos principais rios e represas das áreas RD1,

RD2 e RD3.

Outro trabalho recente, com metodologia inédita e dados

abrangentes, que estudou a raiva em bovinos no Estado de São Paulo, no

período entre 1992 e 2003, é o de Gomes (2008). O autor, utilizando uma

abordagem ecológica, estudou os padrões espaciais da raiva bovina e seus

determinantes, partindo da premissa que a paisagem físico-territorial e o

ambiente pecuário do Estado, que se transformam ao longo do tempo,

influenciam a expansão da raiva. O autor sugere que a análise dos tipos de

uso e classes de cobertura da terra permite a identificação de fatores

relacionados à epidemia e de sua progressão pelo território, no espaço e no

tempo. A epidemia ou as epidemias de raiva em herbívoros, segundo o

autor, progrediram principalmente pelos Vales do Paraíba e Ribeira, do

sentido da divisa de Minas Gerais até o eixo entre os municípios de São

Paulo e Campinas e depressão periférica (ver Figura 25).

As Figuras 29 e 30, cedidas gentilmente por Gomes, permitem uma

melhor caracterização e visualização da epidemia 1997-2002. Porém, para

que possamos interpretar corretamente estas figuras, se faz necessário

analisar os dados presentes na Tabela 12, que mostra os números de casos

de raiva no Estado de São Paulo em relação aos mapas Kernel da Figuras

29 e 30, no período 1997-2003. A Figura 31 mostra a função Kernel da

cobertura vegetal das áreas RD1, RD2 e RD3 no ano de 1997.

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102

0 m 2700 m

Divisão Geomorfológica

Planalto Atlântico e Província Costeira

Cuestas Basálticas

Depressão Periférica

Planalto Ocidental

Figura 25: Aspectos do relevo do Estado de São Paulo (imagem

superior) e divisão geomorfológica paulista (imagem inferior). Imagens

geradas a partir de dados provenientes do SRTM (“Shuttle Radar

Topography Mission”). Fonte: Gomes, 2008.

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103

1100 mm 3850 mm

11°C 25°C

Figura 26: Pluviosidade média anual do Estado de São Paulo

(imagem superior) e temperatura média anual do Estado de São Paulo

(imagem inferior). Imagens geradas a partir de dados provenientes do SRTM

(“Shuttle Radar Topography Mission”). Fonte: Gomes, 2008.

Page 104: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

104

Figura 27: Mapa parcial da América do Sul mostrando seu relevo.

Observar a área destacada com um retângulo em preto que delimita,

aproximadamente, a área da epidemia 1997-2002 estudada. Fonte:

www.geografiaparatodos.com.br.

Figura 28: Posicionamento dos principais rios e represas existentes

nas áreas RD1, RD2 e RD3. Fonte: Gomes, 2008.

Page 105: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

105

1997 1998

1999 2000

2001 2002

2003

Baixo Alto

Figura 29: Mapas Kernel para cada ano da série histórica 1992-2003

sobrepostos à divisão geomorfológica paulista. Os “valores “baixos e altos”

são relativos ao número de casos de raiva diagnosticados no ano analisado.

Fonte: Gomes, 2008.

Page 106: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

106

BAIXA ALTA

Figura 30: Função Kernel elaborado com a somatória dos

diagnósticos laboratorialmente positivos de raiva bovina (1992-2003) nas

áreas RD1, RD2 e RD3. O epicentro da Figura, em vermelho, se refere à

área RD2 analisada neste trabalho. Os valores relativos “baixos e altos”

referem-se ao número de casos de raiva diagnosticados no período 1992-

2003. Fonte: Gomes, 2008.

Tabela 12: Números de casos de raiva no Estado de São Paulo em

relação aos mapas Kernel da Figuras 29 e 30, no período 1997-2003. Fonte:

Gomes, 2008.

Ano Nº de casos

Valor Baixo

(azul-verde)

Valor Médio

(amarelo)

Valor Alto

(laranja-vermelho)

1997 1 a 10 11 a 25 26 a 57

1998 1 a 5 6 a 15 15 a 25

1999 10 a 30 31 a 60 61 a 91

2000 1 a 30 31 a 50 51 a 84

2001 1 a 15 16 a 35 38 a 41

2002 1 a 10 11 a 25 26 a 29

2003 1 a 5 6 a 12 13 a 17

Page 107: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

107

Figura 31: Função Kernel da cobertura vegetal das áreas RD1, RD2 e

RD3 no ano de 1997. Observar os dois focos de raiva (círculos brancos e

pretos) na área RD1. Comparar com a Figura 29, ano de 1997 Fonte:

Gomes, 2008.

Vegetação rasteira

Floresta tropical

Reflorestamento

Corpos de água e rios de maior ordem

Urbana

Lavoura

Cana-de-açúcar

Outros

Page 108: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

108

2.Objetivos

1. Caracterizar geneticamente as linhagens AgV3 do RABV

isoladas durante a epidemia de raiva em bovinos e equinos de

1997-2002 no Estado de São Paulo, seqüenciando toda a

região codante do gene N e parcialmente o gene G.

2. Associar os dados filogenéticos a dados epidemiológicos.

3. Comparar a identidade genética entre as linhagens AgV3

tipificadas e, também, as comparar com linhagens AgV3 de

outras áreas geográficas do Brasil para sugerir um modelo de

expansão da epidemia 1997-2002.

Page 109: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

109

3. Material e Métodos

3.1. Amostras

Para o estudo dos genes N da nucleoproteína N e G da glicoproteína

das linhagens do RABV, típicas de D. rotundus e designadas como Variante

3 (AgV3), isoladas de bovinos (Bos taurus) e eqüinos (Equus caballus)

durante a epidemia 1997-2002, um total de 144 amostras de cérebro

positivas para a raiva foram utilizadas (bovinos n= 130 e eqüinos n= 14).

Entre as 144 amostras de cérebro utilizadas para o estudo do gene N foram

utilizadas 62 delas para o estudo do gene G (bovinos n= 57 e eqüinos n= 5).

As amostras foram coletadas entre janeiro de 1997 e dezembro de 2001 na

área da epidemia 1997-2002, em diferentes cidades do Estado de São

Paulo, Brasil, (áreas RD1, RD2 e RD3) (Tabelas 13, 14 e 15). Como controle

positivo para as reações dos métodos utilizados foi utilizado a amostra fixa

do RABV CVS-31 (Challenger Virus Standard). Todas as amostras utilizadas

foram cedidas pelo Instituto Pasteur, São Paulo, Brasil, e, portanto, já

diagnosticadas positivamente para a raiva por imunofluorescência direta e

isolamento do vírus em camundongos albinos suiços inoculados

intracerebralmente. A identificação das amostras é a mesma utilizada pelo

Instituto Pasteur.

A escolha das amostras utilizadas foi realizada aleatoriamente em

grupos mensais para contemplar todos os meses dos anos da epidemia

estudada. Foi evitado o acúmulo de amostras de uma única cidade e, neste

caso, a amostra sorteada de uma cidade com número excessivo de

amostras não foi adicionada ao grupo sorteado e, em seguida, foi realizado

novo sorteio. Seqüências genéticas, de vários Estados brasileiros,

recuperadas do GenBank foram utilizadas para a comparação e avaliação

das seqüências genéticas geradas neste trabalho (Tabela 16). As

abreviações dos nomes dos Estados brasileiros e citados no texto se

referem aos estados de Goiás (GO) e Mato Grosso (MT), na Região Centro-

Oeste do Brasil; Tocantins (TO) na região Norte; e os Estados de São Paulo

(SP), Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ) na Região Sudeste. Além das

seqüências apresentadas na Tabela 16 também foram utilizadas as

seqüências recuperadas do GenBank M13215 e DQ42212 referentes as

amostras fixas PV e CVS, respectivamente.

Page 110: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

110

Tabela 13: Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do

gene N. A Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras,

ano e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur, as

espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos a que

pertencem descritos em Resultados..

N° N° GeneBank Ano Cidade Amostra Espécie Subclados e Grupos

1 FJ649104 1999 Bragança Paulista IP5708 Bovino RD2 2 FJ649137 2000 Bragança Paulista IP4545 Bovino RD2 3 FJ649102 1999 Vargem IP5369 Bovino RD2 4 FJ649109 2000 Bragança Paulista IP196 Bovino RD2 5 FJ649143 2000 Pinhalzinho IP5151 Bovino RD2 6 FJ649087 1999 Piracaia IP3602 Bovino RD2 7 FJ649116 2000 Vargem IP788 Bovino RD2 8 FJ649106 2000 Bragança Paulista IP150 Bovino RD2 9 FJ649120 2000 Nazaré Paulista IP1292 Bovino RD2

10 FJ649073 1998 Bragança Paulista IP5114 Bovino RD2 11 FJ649177 1999 Vargem IP2787 Equino RD2 12 FJ649099 1999 Bragança Paulista IP4705 Bovino RD2 13 FJ649093 1999 Socorro IP4067 Bovino RD2 14 FJ649128 2000 Bragança Paulista IP2685 Bovino RD2 15 FJ649160 2001 Morungaba IP272 Bovino RD2 16 FJ649146 2000 Bragança Paulista IP5347 Bovino RD2 17 FJ649154 2000 Bragança Paulista IP6867 Bovino RD2 18 FJ649153 2000 Bragança Paulista IP6866 Bovino RD2 19 FJ649134 2000 Pinhalzinho IP3141 Bovino RD2 20 FJ649098 1999 Joanópolis IP4680 Bovino RD2 21 FJ649178 1999 Vargem IP5767 Equino RD2 22 FJ649129 2000 Bragança Paulista IP2731 Bovino RD2 23 FJ649119 2000 Tuiuti IP1283 Bovino RD2 24 FJ649180 2000 Vargem IP555 Equino RD2 25 FJ649091 1999 Bragança Paulista IP4023 Bovino RD2 26 FJ649092 1999 Piracaia IP4026 Bovino RD2 27 FJ649107 2000 Bragança Paulista IP153 Bovino RD2 28 FJ649114 2000 Piracaia IP776 Bovino RD2 29 FJ649101 1999 Nazaré Paulista IP5367 Bovino RD2 30 FJ649122 2000 Pedra Bela IP1559 Bovino RD2 31 FJ649124 2000 Atibaia IP1958 Bovino RD2 32 FJ649152 2000 Itatiba IP6261 Bovino RD2 33 FJ649140 2000 Vargem IP4631 Bovino RD2 34 FJ649168 2001 Valinhos IP5458 Bovino RD2 35 FJ649069 1998 Joanópolis IP4307 Bovino RD2 36 FJ649082 1999 Extrema IP2417 Bovino RD2 37 FJ649063 1998 Cambuí IP1495 Bovino RD2 38 FJ649071 1998 Joanópolis IP4849 Bovino RD2 39 FJ649076 1999 Piracaia IP1328 Bovino RD2 40 FJ649130 2000 Atibaia IP2824 Bovino RD2 41 FJ649135 2000 Morungaba IP3251 Bovino RD2 42 FJ649150 2000 Morungaba IP6093 Bovino RD2 43 FJ649125 2000 Bom Jesus dos Perdões IP1959 Bovino RD2 44 FJ649078 1999 Piracaia IP1929 Bovino RD2 45 FJ649176 1998 Piracaia IP4568 Equino RD2 46 FJ649136 2000 Nazaré Paulista IP3299 Bovino RD2 47 FJ649105 2000 Atibaia IP81 Bovino RD2 48 FJ649132 2000 Jarinu IP2983 Bovino RD2 49 FJ649112 2000 Atibaia IP568 Bovino RD2 50 FJ649080 1999 Joanópolis IP2193 Bovino RD2 51 FJ649085 1999 Joanópolis IP2566 Bovino RD2 52 FJ649162 2001 Amparo IP1064 Bovino RD2 53 FJ649167 2001 Campinas IP1501 Bovino RD2 54 FJ649123 2000 Bom Jesus dos Perdões IP1947 Bovino RD2 55 FJ649182 2000 Sta. Izabel IP1333 Equino RD2

Page 111: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

111

56 FJ649147 2000 Bragança Paulista IP5402 Bovino RD2 57 FJ649170 2001 Espírito Sto. do Pinhal IP7518 Bovino RD2 58 FJ649108 2000 Bueno Brandão IP178 Bovino RD2 59 FJ649117 2000 Bueno Brandão IP889 Bovino RD2 60 FJ649149 2000 Bueno Brandão IP5572 Bovino RD2 61 FJ649175 1998 Socorro IP4850 Equino RD2 62 FJ649088 1999 Socorro IP3780 Bovino RD2 63 FJ649142 2000 Lindóia IP4998 Bovino RD2 64 FJ649084 1999 Águas de Lindóia IP2552 Bovino RD2 65 FJ649138 2000 Socorro IP4553 Bovino RD2 66 FJ649095 1999 Pedra Bela IP4124 Bovino RD2 67 FJ649077 1999 Socorro IP1797 Bovino RD2 68 FJ649083 1999 Socorro IP2541 Bovino RD2 69 FJ649089 1999 Socorro IP3951 Bovino RD2 70 FJ649094 1999 Socorro IP4114 Bovino RD2 71 FJ649097 1999 Socorro IP4672 Bovino RD2 72 FJ649131 2000 Lindóia IP2885 Bovino RD2 73 FJ649179 2000 Monte Sião IP210 Equino RD2 74 FJ649113 2000 Monte Sião IP756 Bovino RD2 75 FJ649111 2000 Pedra bela IP312 Bovino RD2 76 FJ649121 2000 Bueno Brandão IP1471 Bovino RD2 77 FJ649183 2000 Vargem IP1948 Equino RD2 78 FJ649164 2001 Pedra Bela IP1395 Bovino RD2 79 FJ649067 1998 Socorro IP2956 Bovino RD2 80 FJ649096 1999 Pedra Bela IP4533 Bovino RD2 81 FJ649141 2000 Monte Sião IP4812 Bovino RD2 82 FJ649103 1999 Socorro IP5599 Bovino RD2 83 FJ649133 2000 Monte Alegre do Sul IP2986 Bovino RD2 84 FJ649118 2000 Socorro IP1040 Bovino RD2 85 FJ649126 2000 Lindóia IP2617 Bovino RD2 86 FJ649068 1998 Socorro IP3826 Bovino RD2 87 FJ649156 2000 Caconde IP7018 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

88 FJ649159 2001 Caconde IP159 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

89 FJ649172 2001 Mococa IP7792 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

90 FJ649100 1999 Vargem IP4750 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

91 FJ649166 2001 Jarinu IP1500 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

92 FJ649157 2001 Itapira IP40 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

93 FJ649165 2001 Monte Sião IP1433 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

94 FJ649161 2001 S. Sebastião da Grama IP910 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

95 FJ649186 2001 Itatiba IP4693 Equino Grupo “Novas” RD2/RD3

96 FJ649144 2000 Pedra Bela IP5285 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

97 FJ649171 2001 Atibaia IP7590 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

98 FJ649127 2000 Amparo IP2626 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

99 FJ649158 2001 Campinas IP142 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

100 FJ649169 2001 Itatiba IP7343 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

101 FJ649181 2000 Vargem IP655 Equino Grupo “Novas” RD2/RD3

102 FJ649163 2001 Ibiraci IP1195 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

103 FJ649185 2001 Itatiba IP1422 Equino Grupo “Novas” RD2/RD3

104 FJ649148 2000 Pedra Bela IP5475 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

105 FJ649145 2000 Caconde IP5301 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

106 FJ649155 2000 Caconde IP7016 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

107 FJ649151 2000 Tapiratiba IP6195 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

108 FJ649081 1999 Caconde IP2394 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

109 FJ649090 1999 Caconde IP3966 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

110 FJ649115 2000 Caconde IP778 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

111 FJ649110 2000 S. Sebastião da Grama IP232 Bovino Grupo “Novas” RD2/RD3

112 FJ649049 1997 Mogi das Cruzes IP1284 Bovino RD1 113 FJ649047 1997 Salesópolis IP719 Bovino RD1 114 FJ649055 1997 Salesópolis IP3044 Bovino RD1 115 FJ649086 1999 Arujá IP2690 Bovino RD1 116 FJ649174 1997 Caçapava IP870 Equino RD1 117 FJ649056 1997 Guararema IP3919 Bovino RD1 118 FJ649173 1997 Biritiba Mirim IP455 Equino RD1 119 FJ649053 1997 Mogi das cruzes IP2439 Bovino RD1

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112

120 FJ649045 1997 Salesópolis IP426 Bovino RD1 121 FJ649048 1997 Salesópolis IP988 Bovino RD1 122 FJ649052 1997 Santa Branca IP2166 Bovino RD1 123 FJ649057 1997 Suzano IP4030 Bovino RD1 124 FJ649070 1998 Salesópolis IP4375 Bovino RD1 125 FJ649061 1998 Salesópolis IP815 Bovino RD1 126 FJ649058 1998 Suzano IP144 Bovino RD1 127 FJ649184 2000 Aruja IP2821 Equino RD1 128 FJ649139 2000 Aruja IP4597 Bovino RD1 129 FJ649051 1997 Salesópolis IP2127 Bovino RD1 130 FJ649054 1997 Salesópolis IP3011 Ovino RD1 131 FJ649060 1998 Mogi das Cruzes IP366 Bovino RD1 132 FJ649050 1997 Salesópolis IP1286 Bovino RD1 133 FJ649062 1998 Jaguariúna IP1192 Bovino RD1 134 FJ649064 1998 Santa Izabel IP2028 Bovino RD1 135 FJ649043 1997 Morungaba IP214 Bovino “Antigas” 136 FJ649044 1997 Morungaba IP248 Bovino “Antigas” 137 FJ649065 1998 Socorro IP2119 Bovino “Antigas” 138 FJ649079 1999 Socorro IP1989 Bovino “Antigas” 139 FJ649059 1998 Caconde IP272 Bovino “Antigas” 140 FJ649075 1998 Cajuru IP5331 Bovino “Antigas” 141 FJ649074 1998 Pontal IP5300 Bovino “Antigas” 142 FJ649046 1997 Jaboticabal IP633 Bovino “Antigas” 143 FJ649066 1998 Socorro IP2478 Bovino “Antigas” 144 FJ649072 1998 S. João Boa Vista IP4992 Bovino “Antigas”

3.2. Transcrição reversa seguida da Reação em cadeia pela polimerase

(RT-PCR) e Seqüenciamento do DNA

O RNA total das amostras de cérebro foi extraído com Trizol®

(Invitrogen) de acordo com as instruções do fabricante. O RT-PCR foi

realizado como descrito previamente por Carnieli, Ventura, Durigon (2006),

com pequenas modificações. Dois amplicons foram produzidos por RT-PCR

usando dois conjuntos de iniciadores (primers), um conjunto de primers para

o gene N [senso-21G (A T G T A A C A C C T C T A C A A T G) e antisenso-

304 (T T G A C G A A G A T C T T G C T C A T)] (Orciari et al., 2001) e

outro conjunto para o gene G [senso-GA (C G C T G C A T T T T R T C A R

A G T) e antisenso-GB (G G A G G G C A C C A T T T G G T M T C)] (Sato

et al., 2004). O amplicon produzido pelo par de primers 2IG/304, com 1393

nucleotídeos (nt) de extensão, corresponde ao trecho entre os nt 89 e 1482

do gene N do genoma da amostra fixa PV (Pasteur Virus). O amplicon

produzido pelo par de primers GA/GB, com 917 nt de extensão, corresponde

ao trecho entre os nt 3222 e 4139 do gene G do genoma da amostra fixa PV.

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113

Tabela 14: Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do

gene G. A Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras,

ano e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur, as

espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos a que

pertencem descritos em Resultados.

N° Nº GenBank Ano Cidade Amostra Espécie Subclados e Grupo

1 FJ648981 1997 Salesópolis IP719 Bovino Subclado RD1 2 FJ648982 1997 Salesópolis IP988 Bovino Subclado RD1 3 FJ648986 1998 Salesópolis IP815 Bovino Subclado RD1 4 FJ648993 1998 Salesópolis IP4375 Bovino Subclado RD1 5 FJ648984 1998 Suzano IP144 Bovino Subclado RD1 6 FJ649002 1999 Arujá IP2690 Bovino Subclado RD1 7 FJ648985 1998 Mogi das Cruzes IP366 Bovino Subclado RD1 8 FJ649009 2000 Bragança Paulista IP153 Bovino RD2 9 FJ649027 2000 Bragança Paulista IP5402 Bovino RD2

10 FJ649028 2000 Bragança Paulista IP6867 Bovino RD2 11 FJ649019 2000 Bragança Paulista IP2685 Bovino RD2 12 FJ649021 2000 Nazaré Paulista IP3299 Bovino RD2 13 FJ649024 2000 Vargem IP4631 Bovino RD2 14 FJ649026 2000 Bragança Paulista IP5347 Bovino RD2 15 FJ649032 2001 Campinas IP142 Bovino RD2 16 FJ649034 2001 Amparo IP1064 Bovino RD2 17 FJ648984 1998 Joanópolis IP4849 Bovino RD2 18 FJ648998 1999 Piracaia IP1929 Bovino RD2 19 FJ649004 1999 Joanópolis IP3960 Bovino RD2 20 FJ649023 2000 Socorro IP4553 Bovino RD2 21 FJ649020 2000 Pinhalzinho IP3141 Bovino RD2 22 FJ649025 2000 Pedra Bela IP5285 Bovino RD2 23 FJ649013 2000 Piracaia IP776 Bovino RD2 24 FJ649018 2000 Bom Jesus dos Perdões IP1947 Bovino RD2 25 FJ649010 2000 Bragança Paulista IP196 Bovino RD2 26 FJ649022 2000 Bragança Paulista IP4545 Bovino RD2 27 FJ649011 2000 Pedra Bela IP312 Bovino RD2 28 FJ649035 2001 Campinas IP1501 Bovino RD2 29 FJ649033 2001 Morungaba IP272 Bovino RD2 30 FJ649031 2001 Itapira IP40 Bovino RD2 31 FJ649008 2000 Atibaia IP81 Bovino RD2 32 FJ649015 2000 Vargem IP788 Bovino RD2 33 FJ649012 2000 Monte Sião IP756 Bovino RD2 34 FJ648992 1998 Joanópolis IP4307 Bovino RD2 35 FJ648996 1998 Bragança Paulista IP5114 Bovino RD2 36 FJ648997 1999 Piracaia IP1328 Bovino RD2 37 FJ649000 1999 Joanópolis IP2193 Bovino RD2 38 FJ649005 1999 Piracaia IP4026 Bovino RD2 39 FJ649006 1999 Pedra Bela IP4533 Bovino RD2 40 FJ648991 1998 Socorro IP3826 Bovino RD2 41 FJ648983 1997 Socorro IP3044 Bovino RD2 42 FJ649042 2001 Itatiba IP4693 Equino RD2 43 FJ649038 1998 Piracaia IP4568 Equino RD2 44 FJ649040 2000 Monte Sião IP210 Equino RD2 45 FJ649041 2000 Vargem IP555 Equino RD2 46 FJ649039 1999 Vargem IP5767 Equino RD2 47 FJ649003 1999 Socorro IP3951 Bovino RD2 48 FJ649007 1999 Nazaré Paulista IP5367 Bovino RD2 49 FJ649017 2000 Bueno Brandão IP1471 Bovino RD2 50 FJ649016 2000 Socorro IP1040 Bovino RD2 51 FJ649036 2001 Espírito Sto. Pinhal IP7518 Bovino RD3 52 FJ649029 2000 Caconde IP7016 Bovino RD3 53 FJ649037 2001 Mococa IP7792 Bovino RD3 54 FJ649014 2000 Caconde IP778 Bovino RD3 55 FJ649030 2000 Caconde IP7018 Bovino RD3

Page 114: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

114

56 FJ649001 1999 Caconde IP2394 Bovino RD3 57 FJ648989 1998 Socorro IP2119 Bovino Subclado “Antigas” 58 FJ648987 1998 Taquaritinga IP1192 Bovino Subclado “Antigas” 59 FJ648999 1999 Socorro IP1989 Bovino Subclado “Antigas” 60 FJ648990 1998 Socorro IP2478 Bovino Subclado “Antigas” 61 FJ648995 1998 S. João da Boa Vista IP4992 Bovino Subclado “Antigas” 62 FJ648980 1997 Morungaba IP248 Bovino Subclado “Antigas” 63 FJ648988 1998 Araçatuba IP1411 Bovino Subclado “Antigas”

Os dois amplicons N e G obtidos e amplificados separadamente por

RT-PCR foram purificados com GFX PCR DNA e Gel Band Purification Kit

(Amersham BiosciencesTM) e submetidos a reação de seqüenciamento

utilizando os conjuntos de primers senso e antisenso 2IG/304 e GA/GB,

sendo a seguir submetidos a reação de seqüenciamento utilizando BigDye

Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit (Amersham BiosciencesTM) de acordo

com as instruções do fabricante. O seqüenciamento foi realizado em

seqüenciador automatizado Applied Biosystems 3130 DNA automated

sequencer. Após a edição das seqüências dos genes N e G, uma seqüência

final com 1320 nt, correspondente aos amino ácidos (aa) 10 a 450 da

nucleoproteína N e, outra com 800 nt, correspondente aos 19 aa do

peptídeo-sinal e aa 01 a 269 da região N-terminal do endodomínio da

glicoproteina G do RABV, foram obtidos.

3.3. Análise filogenética

Foram analisadas, separadamente, duas regiões genômicas do RABV

isolado de bovinos e eqüinos: o gene N e o gene G. As seqüências do RABV

foram alinhadas juntamente com outras recuperadas do GenBank utilizando

o software Clustal W (Thompson et al., 1994). Posteriormente foram

editadas manualmente de acordo com suas respectivas regiões codantes e

utilizando o software BioEdit (Hall, 1999).

A taxa de saturação de substituição nucleotídica foi estimada

utilizando o software DAMBE (Xia and Xie, 2001), quantificando o número de

transições e transversões versus um gráfico de divergência, para avaliar o

sinal filogenético. Seqüências genéticas são ditas saturadas quando a

similaridade entre elas pode ser somente resultado de probabilidade e não

de homologia. Comparando o número de transições e transversões

Transições são mutações nas quais uma pirimidina é trocada por outra pirimidina ou uma purina é

trocada por outra purina. Transversão são mutações nas quais uma pirimidina é trocada por uma purina ou vice-

versa.

Page 115: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

115

versus a distância genética, para cada posição de nucleotídeos ao longo de

uma seqüência genética, as transições e transversões devem aumentar

linearmente com a distância genética, porém, as transições sempre devem

ser maiores que as transversões (Salemi and Vandamme, 2003).

A análise filogenética Neighbor-joining (NJ) foi realizada por meio do

software PAUP*4.0b10 (Swofford et al.,1996) utilizando o modelo de

substituição selecionado pelo software Modeltest 3.6 (Posada and Krandall,

1998). A confiabilidade das árvores filogenéticas NJ foi avaliada pela análise

de 1000 repetições de bootstrap. As árvores filogenéticas foram construídas

utilizando o software TreeView 1.4 (Page, 1996).

3.4. Seqüências de consenso

Foi gerada uma seqüência de consenso do gene N do RABV

utilizando linhagens genéticas RABV AgV3 do Brasil a partir de seqüências

recuperadas do GenBank e com os seguintes números de acesso

(accession number): AB083802, AB083803, AB083804, AB083805,

AB083806, AB083807, AB083808, AB083809, AB083810, AB083811,

AB083812, AB083813, AB083814, AB083815, AB083816, AB083817,

AB083818, AB117970, AB117971, AB117972, AB201803, AB201804,

AB201805, AB201810, AB201817, AB201819, AB201820, AB297633,

AB297634 e AB297636. As 30 linhagens do RABV AgV3 recuperadas do

GenBank para gerar a seqüência consenso do gene N foram isoladas em

herbívoros de criação (12 linhagens), D. rotundus (11 linhagens), morcegos

frugívoros (3 linhagens), morcegos insetívoros (duas linhagens) e duas em

espécies desconhecidas; nos Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso,

Tocantins e Rio de Janeiro, no período de 1989 a 2001. Também foi gerada

uma seqüência de consenso do gene G do RABV utilizando linhagens

genéticas RABV AgV3 do Brasil a partir de seqüências recuperadas do

GenBank e com os seguintes números de acesso (accession number):

AB247423, AB247426, AB247427, AB247429, AB110663, AB110666,

AB110667, AB110668, AB110669, AB110662 e AB110664. As 11 linhagens

do RABV AgV3 recuperadas do Gen Bank para gerar a seqüência consenso

do gene G foram isoladas em bovinos (5 linhagens), D. rotundus (5

linhagens) e uma linhagem em eqüinos, nos Estados de São Paulo, Goiás,

Mato Grosso, Tocantins e Rio de Janeiro, no período de 1989 a 2001. As

seqüências consenso foram obtidas utilizando o software BioEdit (Hall, 1999)

e foram geradas incluindo o nt mais freqüente em cada posição das

seqüências que deram origem a seqüência consenso. O limiar de freqüência

para a inclusão de um dado nt em cada posição do genoma foi estipulado

Page 116: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

116

em 51%. “Gaps” (lacunas) nas seqüências foram considerados como um

quinto tipo de nt.

3.5. Análise de Distância Genética

A Distância Genética das seqüências dos genes N e G aqui geradas,

das linhagens RABV AgV3, foram estimadas de forma global (análise global)

e por ano de isolamento (análise cronológica). A média da Distância

Genética de cada um dos grupos filogenéticos formados durante as análises

e, também, entre os grupos formados, além do desvio padrão das médias,

foram obtidos utilizando o software Mega versão 4.0 (Tamura et al., 2007).

As Distâncias Genéticas foram estimadas pelo modelo maximum composite

likelihood, incluindo o modelo de distribuição Gamma (α), de acordo com o

cálculo realizado pelo software Modeltest 3.06 (Posada and Krandall, 1998).

O desvio padrão das médias foi estimado utilizando 1000 repetições de

bootstrap.

3.6. Análise de polimorfismos

As seqüências de aa da nucleoproteína N e da glicoproteina G do

RABV AgV3, das linhagens aqui estudadas, foram deduzidas utilizando-se o

software BioEdit e a presença de polimorfismo foi avaliada de acordo com a

seqüência da amostra fixa PV e dos consensos brasileiros N e G.

3.7. Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G

Foi utilizado o software BioEdit (Hall, 1999) para calcular a Entropia

(grau de incerteza) dos genes N e G e da nucleoproteína N e da

glicoproteína G para se obter a visão panorâmica das áreas conservadas e

não conservadas dos genes e proteínas deduzidos a partir das seqüências

genéticas estudadas.

Page 117: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

117

Tabela 15: A- Número de herbívoros positivos para a raiva nas áreas

RD1, RD2 e RD3 e o total de herbívoros positivos no Estado de São Paulo

no período de 1996-2003; B- Distribuição cronológica de bovinos e eqüinos

positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e RD3 que tiveram o gene N

tipificado no estudo; C- Distribuição cronológica de bovinos e eqüinos

positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e RD3 que tiveram o gene G

tipificado no estudo. As amostras de Minas Gerais foram enviadas e

diagnosticadas no Instituto Pasteur e são provenientes de cidades vizinhas

das áreas RD2 e RD3. Fonte: Comissão Estadual de Controle da Raiva

(www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao).

A

Número total de

amostras positivas 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

RD 1 6 82 34 31 44 19 - -

RD 2 5 5 49 349 469 259 - -

RD 3 1 6 7 56 227 277 - -

Est. de São Paulo 90 173 224 540 861 625 240 138

B

Área/ano 1997 1998 1999 2000 2001 Total

RD1 14 6 1 3 0 24

RD2 3 10 28 49 13 103

RD3 0 4 2 6 5 17

Total 17 20 31 58 18 144

Eqüinos= 14 Amostras de Minas Gerais= 10

C

Área/ano 1997 1998 1999 2000 2001 Total

RD1 3 4 0 0 0 7

RD2 1 7 10 22 6 46

RD3 0 3 1 3 2 9

Total 4 14 11 25 8 62

Eqüinos= 5 Amostras de Minas Gerais=3

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118

Tabela 16: Números de acesso do GenBank de seqüências utilizadas

para gerar a seqüência consenso do gene N RABV AgV3 (A) e para o gene

G (B) e, também, utilizadas nas análises filogenéticas. A Tabela mostra as

espécies das quais o RABV foi isolado, o Estado de origem, o ano de

isolamento e as referências bibliográficas relacionadas às seqüências.

A) – Seqüências gene N

Nº GenBank Espécies Origem Ano Referências

AB201802 A. lituratus SP 2002 Kobayashi et al., 2007

AB201803 D .rotundus SP 2000 Kobayashi et al., 2007

AB201804 D. rotundus SP 2000 Kobayashi et al., 2007

AB201805 D.rotundus SP 2001 Kobayashi et al., 2007

AB201806 N. laticaudatus SP 1998 Kobayashi et al., 2007

AB201807 N. laticaudatus SP 1998 Kobayashi et al., 2007

AB201808 N. laticaudatus SP 2001 Kobayashi et al., 2007

AB201809 E. auripendulus SP 1998 Kobayashi et al., 2007

AB201810 E. auripendulus SP unknown Kobayashi et al., 2007

AB201811 E. furinalis SP unknown Kobayashi et al., 2007

AB201812 E. furinalis SP 2001 Kobayashi et al., 2007

AB201813 E. furinalis SP 2001 Kobayashi et al., 2007

AB201814 E. furinalis SP 2002 Kobayashi et al., 2007

AB201815 M.molossus SP 1999 Kobayashi et al., 2007

AB201816 M.molossus SP 2002 Kobayashi et al., 2007

AB201817 E. auripendulus SP unknown Kobayashi et al., 2007

AB201818 M. abrasus SP 2000 Kobayashi et al., 2007

AB201819 Unknown SP 2000 Kobayashi et al., 2007

AB201820 Unknown GO unknown Kobayashi et al., 2007

AB083792 Cão GO 1999 Kobayashi et al., 2007

AB083793 Felino GO 1998 Kobayashi et al., 2007

AB083794 Felino GO 1998 Kobayashi et al., 2007

AB083795 Humano GO 1999 Kobayashi et al., 2007

AB083796 Cão MG 1987 Kobayashi et al., 2007

AB083797 Cão MG 1989 Kobayashi et al., 2007

AB083798 Cão GO 1999 Kobayashi et al., 2007

AB083799 Bovino MG 1999 Kobayashi et al., 2007

AB083800 Humano GO 1999 Ito M, 2003

AB083801 Humano GO 1999 Ito M, 2003

AB083802 Suíno GO 1998 Ito M, 2003

AB083803 Bovino GO 1999 Ito M, 2003

AB083804 Eqüino GO 1999 Ito M, 2003

AB083805 Bovino SP 1994 Ito M, 2003

AB083806 D. rotundus SP unknown Ito M, 2003

AB083807 D. rotundus SP 1998 Ito M, 2003

AB083808 Ovino SP 1992 Ito M, 2003

AB083809 Bovino TO 1998 Ito M, 2003

AB083810 Bovino TO 1998 Ito M, 2003

AB083811 Bovino TO 1999 Ito M, 2003

AB083812 D. rotundus unknown Ito M, 2003

AB083813 Bovino MT 1999 Ito M, 2003

AB083814 Bovino MT 1999 Ito M, 2003

AB083815 D. rotundus unknown Ito M, 2003

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AB083816 D. rotundus unknown Ito M, 2003

AB083817 Bovino SP 1989 Ito M, 2003

AB083818 Bovino MT 1999 Ito M, 2003

AB117969 A. lituratus SP 1998 Kobayashi et al., 2007

AB117970 A. lituratus SP 1998 Kobayashi et al., 2007

AB117971 A. lituratus SP 1998 Kobayashi et al., 2007

AB117972 A. planirostris SP 1998 Kobayashi et al., 2007

AB297633 D. rotundus RJ 1998 Kobayashi et al., 2007

AB297634 D. rotundus RJ 1997 Kobayashi et al., 2007

AB297636 D. rotundus SP 2000 Kobayashi et al., 2007

B) – Seqüência gene G

Nº GenBank Espécies Origem Ano Referências

AB070449 D.rotundus unknown Kobayashi et al., 2007

AB110659 Cão SP 1989 Sato G, 2006

AB110662 Eqüino GO 1998 Sato G, 2006

AB110663 Bovino SP 1994 Sato G, 2006

AB110664 D.rotundus SP unknown Sato G, 2006

AB110666 Bovino TO 1999 Sato G, 2006

AB110667 Bovino MT 1999 Sato G, 2006

AB110668 Bovino SP 1989 Sato G, 2006

AB110669 Bovino GO 1999 Sato G, 2006

AB247423 D.rotundus SP 2001 Sato G, 2006

AB247426 D.rotundus RJ 1998 Sato G, 2006

AB247427 D.rotundus RJ 1997 Sato G, 2006

AB247429 D.rotundus SP 2000 Sato G, 2006

Page 120: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

120

4. Resultados

4.1. RT-PCR e Seqüenciamento Genético

Todas as amostras escolhidas para o estudo foram positivas pelo RT-

PCR. Quanto aos seqüenciamentos dos genes N e G do RABV todas as

amostras utilizadas puderam ser seqüenciadas.

4.2. Análise Filogenética

Foi observado que tanto transições como transversões aumentam de

acordo com a distância genética dos genes N e G do RABV e mesmo em

altos valores de distância genética, as transversões não superam as das

transições (Figura 32). Os resultados obtidos com o uso do software DAMBE

e utilizando o modelo de substituição F84 se fez lançando os valores de

transições e transversões versus distância genética e comparando o

alinhamento de nucleotídeos do conjunto de seqüências de cada um dos

dois genes. Portanto, o sinal filogenético das seqüências genéticas

estudadas é informativo em relação ao processo evolucionário que as gerou.

A árvore filogenética do gene N, gerada pelo método de Distância

Neighbor-joining (NJ), baseado no princípio de evolução mínima (Figura 33),

foi construída com o modelo de substituição GTR, incluindo o parâmetro de

distribuição Gamma e com sítios invariáveis, de acordo com o modelo de

substituição selecionado pelo software Modeltest 3.6. Nesta análise

filogenética, dois grandes agrupamentos de linhagens genéticas (Clusters)

foram observados, o Cluster Cão (AgV2) e Cluster Morcegos Brasileiros,

sendo que este último Cluster é subdividido em dois Clados: Clado D.

rotundus (AgV3) e Clado Morcegos Insetívoros (AgV4 e AgV6). O Clado D.

rotundus (AgV3), objeto deste estudo, pôde ser dividido em três Sub-clados.

Um deles é designado por Sub-clado RD1 (formado pelas linhagens da área

RD1), outro por Sub-clado “Antigas” (formado basicamente por linhagens

anteriores a 1998 e das áreas RD1 e RD2) e o terceiro por Sub-clado

RD2/RD3, formado por linhagens das áreas RD2 e RD1.

A

Page 121: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

121

B

Figura 32: Transições (x s) e transversões (∆ v) versus gráfico de

divergência das seqüências genéticas do Gene G da glicoproteina (A) e do

Gene N da nucleoproteína (B).

O Sub-clado RD2/RD3, por sua vez, pôde ser dividido em dois

Grupos, Grupo RD2 e Grupo “Novas RD2/RD3”. O Grupo RD2 é formado

exclusivamente por linhagens da área RD2, enquanto que o Grupo “Novas

Page 122: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

122

RD2/RD3” é formado por linhagens das áreas RD2 e RD3, porém todas elas

posteriores ao ano de 1999. Valores de bootstrap significativos (superiores a

70%) foram obtidos nesta árvore filogenética NJ do gene N. Seqüências de

nucleotídeo recuperadas do GenBank e de diferentes Regiões geográficas

brasileiras foram utilizadas como seqüências de referência (Tabela 16) e

uma seqüência do Lyssavirus Duvenhage (Genótipo 4) foi utilizada como

grupo externo (outgroup).

Em relação às linhagens do RABV AB201803 e AB201804,

recuperadas do GenBank e utilizadas como seqüências de referência, da

cidade Águas de Lindóia, situada na área RD2, segregaram no Clado D.

rotundus, no Grupo RD2. Posicionadas entre o Grupo “Novas RD2/RD3” e o

Sub-clado RD1 segregaram as linhagens AB083804 e AB083803 do Estado

de Goiás e a linhagem AB201802 (morcego frugívoro), de Dracena, cidade

de SP a oeste da área RD3, também recuperadas do GenBank e utilizadas

como seqüências de referência.

No Subclado RD1 encontramos linhagens dos Estados de Goiás,

Tocantins, Rio de Janeiro e de São Paulo. A identificação de seqüências de

linhagens de São Paulo, neste Subclado, não surpreende, pois são de

cidades da área endêmica do Estado de São Paulo, vizinhas à área RD1.

Quanto à identificação de seqüências de linhagens do Rio de Janeiro

também é compreensível, pois este Estado é vizinho a área endêmica

paulista, mas a presença de linhagens dos Estados de Goiás e Tocantins

surpreende, porém indica que as linhagens AgV3 do Brasil possuem grande

identidade entre si.

No Subclado “Antigas”, com exceção da linhagem AB083818 (Estado

de Goiás), todas as outras são de cidades do interior de São Paulo que não

fazem parte das áreas RD1, RD2 e RD3. Entre estas linhagens recuperadas

do GenBank encontramos algumas do Gênero Artibeus (morcego frugívoro),

indicando que este gênero é infectado pelo RABV AgV3 e, possivelmente,

transmitido por D. rotundus. Duas outras linhagens recuperadas do GenBank

(AB201810 e AB201817) são dos Gêneros Eumops e Molossus e, portanto,

indicam que morcegos insetívoros também podem ser infectados pelo RABV

AgV3 transmitido por D. rotundus.

Page 123: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

123

12

34

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29 303132

333435

3637

3839

4041

4243

4445

4647

4849

505152

5354

5556

57585960

6162

6364

6566

676869

7071

7273

74757677

7879

80AB201803AB20180481

828384

8586 87

8889909192

9394

959697

9899

100101

102103

104105

106107

108109110

111AB083804AB083803

AB201802

0.1

112113114115

116117

118119

120121

122123

124125

126127

128129

130131AB083806

AB083807132AB297633

AB297634133

134AB083808AB083810

AB083811AB201820

AB083812AF070449AB083816

AB083815AB201805

AB083817AB117970AB117972AB117971

AB201819AB083805

135136AB117969

AB201810AB201817AB083818

137138

139140141142

143144 AB083813

AB083814 AB201807AB201811

AB201809AB201812

AB201815AB201816

AB201806AB201808AB083792

AB083801AB083800AB083802AB083798

AB083799EF152264

EF152247EF152242

EF152236EF152239

EF152236CVSPV

Duvenhage

100

99

95

96

99

100

100

100

100

100

85

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EF152263

EF152258EF152260

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1516

1718

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2526

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29 303132

333435

3637

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57585960

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74757677

7879

80AB201803AB20180481

828384

8586 87

8889909192

9394

959697

9899

100101

102103

104105

106107

108109110

111AB083804AB083803

AB201802

0.1

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116117

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124125

126127

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130131AB083806

AB083807132AB297633

AB297634133

134AB083808AB083810

AB083811AB201820

AB083812AF070449AB083816

AB083815AB201805

AB083817AB117970AB117972AB117971

AB201819AB083805

135136AB117969

AB201810AB201817AB083818

137138

139140141142

143144 AB083813

AB083814 AB201807AB201811

AB201809AB201812

AB201815AB201816

AB201806AB201808AB083792

AB083801AB083800AB083802AB083798

AB083799EF152264

EF152247EF152242

EF152236EF152239

EF152236CVSPV

Duvenhage

100

99

95

96

99

100

100

100

100

100

85

73

100

100

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333435

3637

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4041

4243

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4647

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505152

5354

5556

57585960

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6566

676869

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74757677

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80AB201803AB20180481

828384

8586 87

8889909192

9394

959697

9899

100101

102103

104105

106107

108109110

111AB083804AB083803

AB201802

0.1

112113114115

116117

118119

120121

122123

124125

126127

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130131AB083806

AB083807132AB297633

AB297634133

134AB083808AB083810

AB083811AB201820

AB083812AF070449AB083816

AB083815AB201805

AB083817AB117970AB117972AB117971

AB201819AB083805

135136AB117969

AB201810AB201817AB083818

137138

139140141142

143144 AB083813

AB083814 AB201807AB201811

AB201809AB201812

AB201815AB201816

AB201806AB201808AB083792

AB083801AB083800AB083802AB083798

AB083799EF152264

EF152247EF152242

EF152236EF152239

EF152236CVSPV

Duvenhage

100

99

95

96

99

100

100

100

100

100

85

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2526

2728

29 303132

333435

3637

3839

4041

4243

4445

4647

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505152

5354

5556

57585960

6162

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6566

676869

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7273

74757677

7879

80AB201803AB20180481

828384

8586 87

8889909192

9394

959697

9899

100101

102103

104105

106107

108109110

111AB083804AB083803

AB201802

0.1

112113114115

116117

118119

120121

122123

124125

126127

128129

130131AB083806

AB083807132AB297633

AB297634133

134AB083808AB083810

AB083811AB201820

AB083812AF070449AB083816

AB083815AB201805

AB083817AB117970AB117972AB117971

AB201819AB083805

135136AB117969

AB201810AB201817AB083818

137138

139140141142

143144 AB083813

AB083814 AB201807AB201811

AB201809AB201812

AB201815AB201816

AB201806AB201808AB083792

AB083801AB083800AB083802AB083798

AB083799EF152264

EF152247EF152242

EF152236EF152239

EF152236CVSPV

Duvenhage

100

99

95

96

99

100

100

100

100

100

85

73

100

0.1

112113114115

116117

118119

120121

122123

124125

126127

128129

130131AB083806

AB083807132AB297633

AB297634133

134AB083808AB083810

AB083811AB201820

AB083812AF070449AB083816

AB083815AB201805

AB083817AB117970AB117972AB117971

AB201819AB083805

135136AB117969

AB201810AB201817AB083818

137138

139140141142

143144 AB083813

AB083814 AB201807AB201811

AB201809AB201812

AB201815AB201816

AB201806AB201808AB083792

AB083801AB083800AB083802AB083798

AB083799EF152264

EF152247EF152242

EF152236EF152239

EF152236CVSPV

Duvenhage

100

99

95

96

99

100

100

100

100

100

85

73

100

100

EF152263

EF152258EF152260

EF152261

Grupo

RD2

Grupo

“Novas”

RD2/RD3

Sub-clado

RD2/RD3

Clado

Desmodus

rotundus

Clu

ste

r M

orc

eg

os

Sub-clado

RD1

Sub-clado

“Antigas”

Clado Morcegos

Insetívoros

Cluster Cão

Page 124: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

124

Figura 33: Árvore filogenética do gene N do RABV, gerada pelo

método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de

referência AgV3 RABV e linhagens do gene N AgV3 RABV isoladas de

bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A seqüência de referência

Duvenhage foi utilizada como outgroup. Os números próximos aos nós dos

ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap. As

linhagens numeradas são descritas na Tabela 13.

Duas outras árvores filogenéticas do gene N utilizando linhagens do

RABV AgV3 foram geradas (Figuras 34 e 35).

Uma destas duas árvores filogenéticas é apresentada na Figura 34 e

foi construída utilizando seqüências com 513 nt de extensão e da região N-

terminal do gene N do RABV, correspondente a região situada entre os nt

189 a 701 da amostra fixa PV Nesta árvore filogenética foram utilizas 48

linhagens representativas das áreas RD1, RD2 e RD3 e mais outras 63

linhagens. Entre estas 63 linhagens, 30 são da região endêmica e do Sul do

Estado de São Paulo e isoladas entre os anos de 1988 e 1999 e

recuperadas do GenBank (AF357285 a AF357316). As outras 33 linhagens,

do grupo de 63, também recuperadas do GenBank (DQ652193; DQ661008 a

DQ661018 e DQ835591 a DQ835611) são do Estado do Rio de Janeiro

(vizinho da área endêmica de São Paulo), isoladas de bovinos entre os anos

de 1999 e 2004.

Para gerar a árvore filogenética da Figura 34, foi utilizado o método

Neighbor-joining (NJ) para a reconstrução filogenética e utilizando o modelo

Maximum Composite Likelihood. Nesta árvore filogenética houve um

“mixing" entre as 63 linhagens recuperadas do GenBank, da área endêmica

e do Sul do Estado de São Paulo, do Estado do Rio de Janeiro, porém, 42

delas agruparam-se com as linhagens isoladas na área RD1, formando o

Clado RD1/RJ/Vale do Paraíba, enquanto que as 21 restantes agruparam-se

no Clado “Antigas” da área RD2. Este resultado permite sugerir duas

hipóteses. A primeira hipótese indica que a área RD1 pode ser uma área de

expansão da região endêmica de SP (Vale do Paraíba). A segunda hipótese

indica que as linhagens anteriores à epidemia 1997-2002 que circulavam em

todo o Estado de São Paulo, inclusive em sua área endêmica e no Estado

do Rio de Janeiro, possuíam grande identidade entre si e, posteriormente,

grande parte delas foi substituída pelas linhagens características da

epidemia 1997-2002 das áreas RD2 e RD3.

Para gerar a árvore filogenética apresentada na Figura 35 também foi

utilizado o método Neighbor-joining (NJ) para a reconstrução filogenética e o

Page 125: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

125

modêlo Maximum Composite Likelihood e foi construída a partir de 70

linhagens representativas das aqui estudadas e outras 30 linhagens do ano

de 2007 e 2008 (gentilmente cedidas pela Pesquisadora Científica do

Instituto Pasteur, Carla Isabel Macedo). Entre estas 30 linhagens, quatro são

de cidades do Estado de Minas Gerais, enquanto que as 26 restantes são do

Estado de São Paulo, das áreas RD2, RD3 e, também, de outras áreas do

Estado de São Paulo. As 30 linhagens isoladas no ano de 2007 e 2008

possuem 800 nt de extensão da região N-terminal do gene N do RABV e

correspondente a região situada entre os nt 01 e 800 da amostra fixa PV. As

30 linhagens do gene N do RABV de 2007-2008 segregaram dentro do

Clado RD2/RD3, sugerindo que não houve mudança significativa nas

linhagens AgV3 isoladas de bovinos e transmitidas pelo D. rotundus após a

epidemia 1997-2002.

A árvore filogenética do gene G, gerada pelo método de Distância

Neighbor-joining (NJ), baseado no princípio de evolução mínima (Figura 36),

foi construída com o modelo de substituição TVM, incluindo o parâmetro de

distribuição Gamma com sítios invariáveis, de acordo com o modelo de

substituição selecionado pelo software Modeltest 3.6 (Posada and Krandall,

1998). Nesta árvore filogenética do gene G, dois Clados principais foram

observados, o Clado D. rotundus e o Clado Cão. O Clado D. rotundus é

semelhante ao Clado D. rotundus da árvore filogenética do gene N e pôde

ser subdivido em três Sub-clados: o Sub-clado “Antigas”, o Sub-clado RD1 e

o Sub-clado RD2/RD3.

No Sub-clado RD1 observa-se três linhagens recuperadas do

GenBank, AB110664, AB247426 e AB247427. A primeira delas é da área

endêmica de SP e as duas últimas do RJ, vizinho à área endêmica de SP.

No Sub-clado RD2 e RD3 observa-se um pequeno agrupamento RD3, com

tamanho relativo ao número de linhagens desta área utilizadas para a

construção da árvore filogenética do gene G (Tabela 14).

No Sub-clado “Antigas”, as linhagens recuperadas do GenBank são

do interior de SP, de áreas geográficas diferentes de RD1, RD2 e RD3 e

uma única exceção é encontrada, a linhagem AB110669, de Goiás.

Seqüências de nucleotídeos obtidas de diferentes regiões geográficas

brasileiras foram utilizadas como seqüências de referência (Tabela 16) e

como grupo externo (outgroup) foi utilizada o Genótipo 4 dos Lyssavirus, o

vírus Duvenhage.

Page 126: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

126

Figura 34: Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo

método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências do Estado

do Rio de Janeiro, Vale do Paraíba (SP) e linhagens representativas da

epidemia 1997-2002. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore

filogenética representam os valores de bootstrap.

DQ835595LVC67 98SALESOPOLIS815

B AF357305B8

AF357288B12 98MOGIDASCRUZES366B

AF357294B18 DQ835610LVC156

DQ835591LVC53 97SALESOPOLIS2127B

AF357300B3 97MOGIDASCRUZES2439B

AF357316B1 DQ661015LVC46 DQ835594LVC62 AF357297B20

AF357289B13 DQ661018LVC149

DQ661013LVC39 AF357299B22 AF357301B4

DQ835603LVC131 DQ835604LVC135

DQ835592LVC57 DQ661008LVC06 AF357296B2

AF357291B15 AF357298B21

AF357295B19 DQ661016LVC47 97STABRANCA2166B 00ARUJA2821E

AF357313VB5 AF357304B7 97SALESOPOLIS1286B AF357293B17 AF357302B5

DQ835611LVC157 DQ835609LVC154

DQ835606LVC144 DQ835598LVC88

98STAIZABEL2028B DQ835597LVC85

DQ661011LVC24 DQ661010LVC14

98SUZANO144B 99ARUJA2690B DQ835605LVC139

DQ835602LVC116 AF357290B14 DQ661012LVC32 DQ652193LVC04 DQ661009LVC12 AF357303B6 98CACONDE272B AF357306B9 98SOCORRO2478B AF357287B11 AF357315VB7 AF357310VB2 DQ661017LVC51

98CAJURU5331B DQ835600LVC100 DQ835601LVC113 DQ835607LVC145

AF357312VB4 97MORUNGABA214B DQ835596LVC77

AF357314VB6 DQ835608LVC150

AF357309VB1 AF357286B10 AF357311VB3 DQ835599LVC92

00SSEBASTIAODAGRAMA232B 01JARINU1500B 01SSEBASTIAODAGRAMA910B

01ITAPIRA40B 01MONTESIAO1433B

00BUENOBRANDAO5572B 99VARGEM2787E

00ITATIBA6261B 01ESTOPINHAL7518B 00BRAGANCAPTA6866B 00BRAGANCAPTA150B 98PIRACAIA4568E 99JOANOPOLIS4680B 00PINHALZINHO3141B 01VALINHOS5458B 98CAMBUI1495B

98JOANOPOLIS4307B 99EXTREMA2417B 00CACONDE7018B 99CACONDE3966B 98SOCORRO3826B 01CAMPINAS142B

00MONTESIAO4812B 99AGUASDELINDOIAB 99SOCORRO1797B 01ITATIBA7343B 00MONTEALEGREDOSUL2986B 99PEDRABELA4533B 00AMPARO2626B 99SOCORRO5599B 00SOCORRO4553B

00BUENOBRANDAO1471B 00MONTESIAO210E

50

62

100

78

64

99

0,005

82

Clado RD1/RJ/Vale do Paraíba

Clado “Antigas”

Clado RD2/RD3

Page 127: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

127

99VARGEM2787E01VALINHOS5458B00BRAGANCAPTA150B00BJPERDOES1959B99VARGEM5767E

98BRAGANCAPTA5114B99PIRACAIA4026B99JOANOPOLIS4680B00ITATIBA6261B98CAMBUI1495B

00BRAGANCAPTA6866B00PINHALZINHO3141B

00BRAGANCAPTA6867B99VARGEM5369B98JOANOPOLIS4849B00MORUNGABA3251B

00ATIBAIA81B99BRAGANCAPTA4705B99BRAGANCAPTA4023B01MORUNGABA272B98PIRACAIA4568E99SOCORRO4067B

98JOANOPOLIS4307B99JOANOPOLIS 3960B

99EXTREMA2417B00BUENOBRANDAO5572B

00BUENOBRANDAO178B08JoanopolisSP3357E08ExtremaMG3500B08SerraNegraSP11445B07PedraBelaSP2957B08LindoiaSP191B08LindoiaSP1599B

07SocorroSP4548B01ESTOPINHAL7518B

08PedregulhoSP180B07ItirapuaSP831B

07PatrocinioPtaSP1594B99VARGEM4750B

00CACONDE7018B01JARINU1500B

01ITAPIRA40B01MONTESIAO1433B

00AMPARO2626B01ITATIBA7343B

01CAMPINAS142B98SOCORRO3826B

00MONTESIAO4812B99PEDRABELA4533B

00BUENOBRANDAO1471B99SOCORRO1797B99AGUASDELINDOIAB99SOCORRO3951B00MONTESIAO210E

00MONTEALEGREDOSUL2986B99SOCORRO5599B

99SOCORRO3780B00SOCORRO4553B

00VARGEM1948E08VargemSP1696E08PedraBelaSP3829E8VargemSP4671B

8TresCoracoesMG1049B8PiracaiaSP8163B

08VargemSP3395B01SSEBASTIAODAGRAMA910B08PiracaiaSP8164B08SJBoaVistaSP10411B

08CacondeSP5037E00CACONDE778B

99CACONDE3966B99CACONDE2394B08DivinolandiaSP10038B

08EspSPinhalSP5881B08SSebGramaSP6049B

08SSebGramaSP5790E08SSebGramaSP5045B

08AndradasMG3355B07AndradasMG1139B

08BragancaPtaSP1038E08SocorroSP8677B

00SSEBASTIAODAGRAMA232B08SocorroSP1600B08ExtremaMG366B

07ItapevaSP4756B99SOCORRO1989B

97MORUNGABA214B98CACONDE272B

98STAIZABEL2028B97JABOTICABAL633B98CAJURU5331B

98SOCORRO2478B97SALESOPOLIS1286B97STABRANCA2166B98SUZANO144B98SALESOPOLIS815B97SUZANO4030B00ARUJA2821E97MOGIDASCRUZES2439B

97SALESOPOLIS2127B98MOGIDASCRUZES366B

99ARUJA2690B

66

99

99

90

0.002

95

84

Clado RD2/RD3_2007_2008

Clado “Antigas”

Clado RD1

Figura 35: Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo

método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de

linhagens representativas da epidemia 1997-2002 (caixa alta) e dos anos de

2007 e 2008 (caixa baixa) isoladas na mesma área epizoótica. Os números

próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores

de bootstrap.

Page 128: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

128

//

0.1

00BragancaPta153B00Piracaia776B99Piracaia1929B00BragancaPta5402B00BragancaPta6867B00BragancaPta2685B01Campinas142B01Amparo1064B00BragancaPta5347B01Itatiba4693E98Piracaia4568E00Vargem4631B00NazarePta3299B99NazarePta5367B00BJesusPerdoes1947B01Morungaba272B98Joanopolis4849B99Joanopolis3960B01Campinas1501B00Vargem555E00Vargem788B98BragancaPta5114B99Joanopolis2193B99Piracaia4026B99Vargem5767E00Atibaia81B99Piracaia1328B98Joanopolis4307B00BragancaPta196B00BragancaPta4545B00Pinhalzinho3141B97Socorro3044B99Socorro3951B00BuenoBrandao1471B00PedraBela5285B01Itapira40B00Socorro4553B00Vargem1040B00PedraBela312B00MonteSiao756B99PedraBela4533B98Socorro3826B01EspStoPinhal7518B

00MonteSiao210E01Mococa7792B

AB11066200Caconde7016B00Caconde778B00Caconde7018B99Caconde2394B

98MogiDasCruzes366BAB11066498Suzano144B97Salesopolis719B97Salesopolis988B98Salesopolis815B98Salesopolis4375B99Aruja2690BAB247426AB24742798Socorro2478B98SJoãoBoaVista4992B98Socorro2119BAB110666

AB110667AB247423AB247429AB110663

AB110669AB11066897Morungaba248B98Ara ç atuba1411B99Socorro1989B98Taquaritinga1192B

AB276310AB276309AB276308

AB276307AB110659

AB276311PV

99

71

79

80

99

////

0.1

00BragancaPta153B00Piracaia776B99Piracaia1929B00BragancaPta5402B00BragancaPta6867B00BragancaPta2685B01Campinas142B01Amparo1064B00BragancaPta5347B01Itatiba4693E98Piracaia4568E00Vargem4631B00NazarePta3299B99NazarePta5367B00BJesusPerdoes1947B01Morungaba272B98Joanopolis4849B99Joanopolis3960B01Campinas1501B00Vargem555E00Vargem788B98BragancaPta5114B99Joanopolis2193B99Piracaia4026B99Vargem5767E00Atibaia81B99Piracaia1328B98Joanopolis4307B00BragancaPta196B00BragancaPta4545B00Pinhalzinho3141B97Socorro3044B99Socorro3951B00BuenoBrandao1471B00PedraBela5285B01Itapira40B00Socorro4553B00Vargem1040B00PedraBela312B00MonteSiao756B99PedraBela4533B98Socorro3826B01EspStoPinhal7518B

00MonteSiao210E01Mococa7792B

AB11066200Caconde7016B00Caconde778B00Caconde7018B99Caconde2394B

98MogiDasCruzes366BAB11066498Suzano144B97Salesopolis719B97Salesopolis988B98Salesopolis815B98Salesopolis4375B99Aruja2690BAB247426AB24742798Socorro2478B98SJoãoBoaVista4992B98Socorro2119BAB110666

AB110667AB247423AB247429AB110663

AB110669AB11066897Morungaba248B98Ara ç atuba1411B99Socorro1989B98Taquaritinga1192B

AB276310AB276309AB276308

AB276307AB110659

AB276311PV

99

71

79

80

99

0.1

00BragancaPta153B00Piracaia776B99Piracaia1929B00BragancaPta5402B00BragancaPta6867B00BragancaPta2685B01Campinas142B01Amparo1064B00BragancaPta5347B01Itatiba4693E98Piracaia4568E00Vargem4631B00NazarePta3299B99NazarePta5367B00BJesusPerdoes1947B01Morungaba272B98Joanopolis4849B99Joanopolis3960B01Campinas1501B00Vargem555E00Vargem788B98BragancaPta5114B99Joanopolis2193B99Piracaia4026B99Vargem5767E00Atibaia81B99Piracaia1328B98Joanopolis4307B00BragancaPta196B00BragancaPta4545B00Pinhalzinho3141B97Socorro3044B99Socorro3951B00BuenoBrandao1471B00PedraBela5285B01Itapira40B00Socorro4553B00Vargem1040B00PedraBela312B00MonteSiao756B99PedraBela4533B98Socorro3826B01EspStoPinhal7518B

00MonteSiao210E01Mococa7792B

AB11066200Caconde7016B00Caconde778B00Caconde7018B99Caconde2394B

98MogiDasCruzes366BAB11066498Suzano144B97Salesopolis719B97Salesopolis988B98Salesopolis815B98Salesopolis4375B99Aruja2690BAB247426AB24742798Socorro2478B98SJoãoBoaVista4992B98Socorro2119BAB110666

AB110667AB247423AB247429AB110663

AB110669AB11066897Morungaba248B98Ara ç atuba1411B99Socorro1989B98Taquaritinga1192B

AB276310AB276309AB276308

AB276307AB110659

AB276311PV

99

71

79

80

99

Grupo

RD2

Grupo

RD3

Subclado

RD2/RD3

Subclado

RD1

Subclado

“Antigas”

Clado

Desmodus

rotundus

Duvenhage

Clado Cão

Figura 36: Árvore filogenética do gene G do RABV, gerada pelo

método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de

referência AgV3 RABV e linhagens do gene G AgV3 RABV isoladas de

bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A seqüência de referência

Duvenhage foi utilizada como outgroup. Os números próximos aos nós dos

ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap.

Page 129: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

129

4.3. Análise de Distância Genética

Em relação ao gene N, o resultado dos cálculos de diversidade

genética das linhagens RABV AgV3 ( variabilidade intra-grupo) foi de 1,31%

± 0,18% (distância ± desvio padrão). A divergência genética entre as

linhagens AgV3 caracterizadas neste estudo e a linhagem da amostra fixa

PV (AgV2) foi 21,08% ± 2,14%, enquanto que a divergência entre as

linhagens analisadas neste trabalho e o Consenso RABV AgV3 brasileiro foi

1,85% ± 0,35%.

Analisando a diversidade genética das linhagens RABV AgV3 de

1997 a 2001, separadamente, foi observado que a diversidade intra-grupo

das linhagens isoladas em 1998 (1,75% ± 0,26%) foi, aproximadamente,

duas vezes maior que as descritas para os outros anos. Entretanto, a

divergência genética entre as linhagens investigadas neste estudo e a

linhagem da amostra fixa PV e o Consenso RABV AgV3 brasileiro

basicamente se manteve constante através dos anos, mesmo que um

pequeno aumento foi observado (Figura 37).

Em relação ao gene G, o resultado dos cálculos da diversidade

genética das linhagens RABV AgV3 (variabilidade intra-grupo) foi de 1,16%

± 0,21%. A divergência genética entre as linhagens AgV3 caracterizadas

neste estudo e a linhagem da amostra fixa PV (AgV2) foi 24,97% ± 3,71%

enquanto que a divergência entre as linhagens analisadas e o Consenso

RABV AgV3 brasileiro foi 1,43% ± 0,33% e ambos resultados foram

semelhantes aos descritos em relação ao gene N. Entretanto, foi observado

um decréscimo constante da diversidade genética de 1997 (1,96% ± 0,41%)

a 2000 (0,51 ± 0,14%); e um pequeno aumento de 2000 a 2001 (0,63% ±

0,18%). A divergência genética entre as linhagens investigadas neste estudo

e a linhagem da amostra fixa PV (AgV2) e o Consenso RABV AgV3

brasileiro se manteve basicamente constante através dos anos (Figura 38).

4.4. Análise do Polimorfismo dos genes N e G

Da tradução putativa das seqüências de nucleotídeos das linhagens

RABV AgV3 para amino ácidos foram encontrados os resultados descritos a

seguir (Figuras 39 e 40).

Dezesseis substituições de amino ácidos (aa) foram identificadas em

todas as linhagens do gene N AgV3 quando comparadas com a linhagem

PV e todas estas substituições também foram observadas no Consenso

Page 130: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

130

Figura 37: A. Média da distância genética entre as linhagens RABV

AgV3 isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intra-

população) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como também entre

o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intra-população) baseado no gene

N da nucleoproteína. B. Diversidade do gene N entre as linhagens RABV

AgV3 isoladas em bovinos no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C.

Divergência do gene N entre as linhagens do RABV AgV3 isoladas no

Estado de São Paulo entre 1997 a 2001 e a linhagem da amostra fixa PV e

entre as linhagens do Consenso Brasileiro RABV AgV3.

B

0.12 0.57 2001

0.08 0.51 2000

0.10 0.69 1999

0.26 1.75 1998

0.13 0.78 1997

SD Diversidade

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

1997 1998 1999 2000 2001

Dis

tân

cia

Ge

tica (

%)

0

5

10

15

20

25

1997 1998 1999 2000 2001

Dis

tân

cia

Ge

tic

a (

%)

PV Consenso BR

2.26 21.61 2001

1.98 21.18 2000

1.97 21.19 1999

1.37 20.66 1998

1.28 20.43 1997

Consenso BR

BR

PV

C

0

5

10

15

20

25

PV Consenso BR

Diversidade Divergência

Dis

tân

cia

Ge

tica (

%)

0.35 1.85 Consenso BR 2.14 21.08 PV

SD Divergência

A

0.18 1.31

SD Diversidade

Page 131: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

131

Figura 38: A. Média da distância genética entre as linhagens RABV

AgV3 isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intra-

população) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como também entre

o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intra-população) baseado no gene

G da glicoproteina. B. Diversidade do gene G entre as linhagens RABV

AgV3 isoladas em bovinos no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C.

Divergência do gene G entre as linhagens do RABV AgV3 isoladas no

Estado de São Paulo entre 1997 a 2001 e a linhagem da amostra fixa PV e

entre as linhagens do Consenso Brasileiro RABV AgV3.

C

B

0.19 0.63 2001

0.14 0.51 2000

0.19 0.91 1999

0.31 1.65 1998

0.41 1.96 1997

SD Diversidade

0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

1997 1998 1999 2000 2001

Dis

tân

cia

Ge

tica (

%)

A B

0.21 1.16

SD Diversidade

0

5

10

15

20

25

30

PV Consenso BR

Diversidade Divergência

Dis

tân

cia

Ge

tica (

%)

(%

)

0.33 1.43 Consenso BR

3.71 24.97 PV

SD Divergência

0

5

10

15

20

25

30

1997 1998 1999 2000 2001

G D

istâ

nc

ia G

en

éti

ca (

%)

PV Consenso BR

1.34 24.96 2001

1.34 24.63 2000

1.42 24.79 1999

1.58 25.44 1998

1.68 25.97 1997

Consenso BR PV

Page 132: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

132

Brasileiro RABV AgV3: C40S, V51G, C59G, S61N, V95L, E110D, K112R,

P135S, S157N, V179A, I257L, A332T, T377A, D378E, V379S, G397S e

I410M (observar Tabela 17 para determinar os símbolos de amino ácidos). A

substituição de aa N10H foi identificada em 97.22% das linhagens AgV3

analisadas neste estudo, mas não encontrada no Consenso RABV AgV3

brasileiro. Três substituições de aa em mais que 90% das linhagens

analisadas e também presentes no Consenso Brasileiro RABV AgV3: T84S

(98.61%), E110D (95.83%) e A143T (99.30%). A prevalência da substituição

N50H aumentou através dos anos, estando presente em 100% das

linhagens de 2001 e ausente nas linhagens de 1997. Entretanto, o oposto é

descrito para a substituição F80Y, a qual foi identificada em 82.33% das

linhagens de 1997 e ausente nas de 2001.

Em relação ao gene G vinte e uma substituições de aa foram

identificadas nas linhagens do RABV AgV3 analisadas quando comparadas

ao gene da linhagem da amostra fixa PV e todas elas também foram

observadas no Consenso Brasileiro RABV AgV3: P3L, V13I, F14S, P15S,

M75V, T109I, H132Q, V152I, R161K, N177K, S179L, V181I, A182T, N201E,

M206T, N213S, R215K, R218K, S223G, A261S e M262I. Três substituições

foram identificadas em mais que 80% das linhagens analisadas e também

presentes no Consenso Brasileiro RABV AgV3: F18L (93.65%), E224K

(87.30%) e E267D (88.89%). Finalizando, a prevalência da substituição

N266D aumentou através dos anos, estando presente em 35.71% das

linhagens de 1998 e 80% das linhagens de 2001.

Pelas análises e resultados mostrados acima se conclui que não

houve pressão seletiva positiva sobre as linhagens RABV AgV3 estudadas.

O padrão de substituição de aa ao longo dos genes N e G claramente

mostraram um excesso de substituições de nucleotídeos sinônimas (dS)

sobre as não sinônimas (dN) e, portanto ambos genes (N e G) encontravam-

se, no período analisado, sob as mesmas restrições seletivas.

Pela análise das 144 seqüências de amino ácidos da nucleoproteína

N das linhagens AgV3 aqui estudadas, foi identificado um sítio informativo

que caracteriza as linhagens isoladas na área RD1 daquelas isoladas nas

áreas RD2 e RD3, ou seja, enquanto na posição 80 há Tirosina nas

linhagens RD1 em todas as outras, inclusive no Consenso brasileiro, há

Fenilalanina. Também foi identificado um sítio informativo que caracteriza as

linhagens isoladas na área RD2 e RD3, pois na posição 50 das linhagens

RD2/RD3 há Histidina enquanto que nas linhagens RD1 e no Consenso

brasileiro há Asparagina (Figura 39). Porém, analisando as mesmas

seqüências na forma de nucleotídeos são observados 35 sítios informativos

que diferenciam as linhagens RD1 das RD2/RD3 e são eles e quando

Page 133: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

133

comparadas ao gene da linhagem da amostra fixa PV: G98A, T104C,

T104C, T122C, C125T, A207C, A230G, A254C, G290A, A2997, C362T,

T374C, C491A, T518C, A554C, T570C, G605A, G624T, C717T, G725A,

A833G, G863A, C896T, C902T, T905C, C914T, G956T, G1142A, G1151A,

G1202A, T1250C, A1259G, A1307G e G1434A.

Quanto às seqüências da glicoproteína G e do gene G não foram

encontrados sítios informativos de amino ácidos ou nucleotídeos que

pudessem caracterizar as linhagens isoladas nas áreas RD1, RD2 e RD3.

4.5.Análise das Regiões com Atividade Biológica da Nucleoproteína N e

da Glicoproteína G

Para descrever as áreas com função biológica da nucleoproteína N e

da glicoproteína G e caracterizadas nas linhagens RABV AgV3 aqui

estudadas, foi escolhida a amostra fixa PV para comparação, isto porque a

grande maioria das vacinas produzidas no Brasil utilizam este vírus fixo. As

descrições abaixo, relacionadas às regiões com atividade biológica da

nucleoproteína N e da glicoproteína G são baseadas nas descrições das

duas proteínas apresentadas na Introdução desta Tese.

A área de interação da nucleoproteína N com o RNA do RABV é

localizada entre os aa 298 a 352. Nesta análise foi identificada a mutação

A332T, enquanto que em PV há Alanina (apolar) nas linhagens AgV3

estudadas há Treonina (polar).

O aa Serina, na posição 389 da Nucleoproteína N, que após sua

união com o RNA viral é fosforilada, é conservada nas linhagens deste

trabalho.

A Nucleoproteína N possui três epítopos antigênicos lineares no sítio

antigênico I (aa 358 a 367) e mais três epítopos antigênicos lineares no sitio

IV (aa 359 a 366 e aa 375 a 383). Em relação às áreas 358-367 e 359-366

elas são conservadas, porém na área 375-383 três mutações, em relação a

PV, foram identificadas. Enquanto que em PV encontramos os aa TDV

(Treonina, Ácido Aspártico e Valina), nas posições 377, 378 e 379, em

todas as linhagens analisadas foram identificados os aa AET (Alanina, Ácido

Glutâmico e Treonina). Além dos sítios antigênicos I e IV, vários epítopos

imunodominantes para células T auxiliares estão presentes e localizados

entre os aa 404 a 418 e nesta área encontramos a mutação I410M, isto é,

enquanto que em PV na posição 410 há Isoleucina, nas linhagens

analisadas há Metionina, ambos não-polares.

Page 134: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

134

As linhagens analisadas da nucleoproteína são 100% conservadas

quanto aos resíduos carregados positivamente que interagem com os

grupos fosfatos das cavidades do RNA genômico do RABV e são

concordantes com a descrição de Luo et al. (2007).

A Glicoproteína G do RABV traduzida possui 524 aa e,

posteriormente, perde os 19 aa da região N-terminal durante seu

processamento. Estes primeiros 19 aa é o Peptídeo Sinal (SP); necessário

para o ingresso da Glicoproteína G pré-processada no Reticulo

Endoplasmático Rugoso. A Glicoproteína G processada, com 505 aa, é

dividida em três regiões: o Ectodomínio (ED) com 439 aa (1 a 439) na região

N-terminal, a região Transmembrana (TM) com 22 aa (440 a 461) e o

endodomínio (ENDO) com 44 aa (462 a 505) na região C-terminal. No

presente trabalho, após edição, foram obtidas seqüências da Glicoproteína

G processada, relativas aos primeiros 250 aa do Ecotodomínio (ED).

A glicosilação da Glicoproteína G, no CG, ocorre pela adição de

oligossacarídeos no resíduo Asparagina (N) no “sequon” NXS/T (S/T=

Serina ou Treonina), onde X é qualquer aa diferentes de Prolina (P). A

glicosilação é importante para a expressão e função da Glicoproteína G, ou

seja, para obter suas atividades biológicas, como, por exemplo, estabilidade

e antigenicidade. Um potencial sítio de glicosilação, o “sequon” NLS, na

posição 36-37-38, foi observado nas linhagens analisadas e, também,

encontradas na seqüência PV.

O primeiro estágio da internalização do RABV na célula hospedeira

ocorre quando a região semelhante à neurotoxina (neurotoxin-like region),

entre os aa 189 a 214, interage com o receptor celular nicotínico de

acetilcolina (nAChR) o qual é, provavelmente, o receptor preferencial do

RABV em muitos tipos de células. Quatro mutações foram encontradas em

todas as linhagens AgV3 estudadas e em relação a seqüência PV, N194S,

R196K, S204G e E205K.

Acredita-se que o domínio de fusão em baixo pH (low pH-induced

fusion domain) da Glicoproteína G se situa entre os aa 102 e 179. Este

domínio protéico da Glicoproteína G é relacionado à interação (fusão) com a

membrana do endossomo no interior da célula para que ocorra a ejeção da

ribonucleoproteína do RABV no citoplasma, desencadeando o ciclo de vida e

infecção do RABV. Foram identificadas em 100% das linhagens deste

trabalho sete mutações nesta área e em relação a PV: H113Q, V133I,

R147K, N158K, S160L, V162I e A182T.

A conservação das Cisteínas da Glicoproteína G dos Lyssavirus foi

confirmada nas seqüências de Glicoproteína G estudadas.

Page 135: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

135

A análise das seqüências da Glicoproteína G mostrou os seguintes

resultados em relação a alguns sítios antigênicos e quando comparadas a

seqüência PV. O sitio antigênico I (amino acido 231) possui 100% de

identidade em relação a PV. Quanto ao sitio antigênico II [que é um sitio

descontinuo (amino ácidos 34 a 42 e 198 a 200)] temos a seguinte situação:

na área 34-42 foi identificada a mutação N37K em quatro linhagens das

áreas RD2 e RD3, enquanto na área do sitio antigênico II e entre os aa 198-

200 foi identificada a mutação R199K em todas as linhagens estudadas.

Tabela 17: Nomenclatura, abreviatura, símbolos e polaridade dos 20

aminoácidos traduzidos a partir do código genético. Fonte: Lodish et al.

(2005).

4.6. Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G

As imagens das Figuras 41 e 42 foram geradas por meio do software

Bioedit e após o alinhamento das seqüências estudadas. As Figuras

permitem uma visão panorâmica dos resultados das Figuras 39 e 40, como

também possibilita identificar as áreas mais homogêneas (conservadas) e

heterogêneas (não conservadas) na composição de nucleotídeos dos genes

N e G, como também na composição de amino ácidos inferidos através do

seqüenciamento dos mesmos genes. As duas imagens foram geradas

utilizando dados de entropia (incerteza) dos alinhamentos das seqüências

Nome Abreviação Símbolo Polaridade

Glicina Gly G Não polar

Alanina Ala A Não polar

Leucina Leu L Não polar

Valina Val V Não polar

Isoleucina Ile I Não polar

Prolina Pro P Não polar

Fenilalanina Phe F Não polar

Triptofano Trp W Não polar

Metionina Met M Não polar

Serina Ser S Polar

Treonina Thr T Polar

Cisteina Cys C Polar

Tirosina Tyr Y Polar

Asparagina Asn N Polar

Glutamina Gln Q Polar

Aspartato ou Ácido aspártico Asp D Ácido (Polar)

Glutamato ou Ácido glutâmico Glu E Ácido (Polar)

Arginina Arg R Básico (Polar)

Lisina Lys K Básico (Polar)

Histidina His H Básico (Polar)

Page 136: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

136

genéticas. Quanto maior a variação de nucleotídeos ou aminoácidos em

uma das posições das seqüências alinhadas menor é a pressão seletiva e,

portanto, menos conservadas são estas áreas, pois o grau de entropia (Hx)

expressa a falta de conteúdo informativo em uma coluna do alinhamento,

onde o limite máximo total de incerteza é definido pelo número máximo de

caracteres diferentes encontrados na coluna.

Entropy (Hx) PlotAlignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Gene N.bio

Alignment Position (residue number)

1.3001.2001.1001.000900800700600500400300200100

Entr

opy (

Hx)

0,75

0,7

0,65

0,6

0,55

0,5

0,45

0,4

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0

Entropy (Hx) PlotAlignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Nucleoproteína N.bio

Alignment Position (residue number)

44042040038036034032030028026024022020018016014012010080604020

Entr

opy (

Hx)

0,5

0,45

0,4

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0

Figura 39: Entropia do gene N (A) e da nucleoproteína N (B). H= Grau

de entropia (incerteza) e x= número de seqüências analisadas.

A

B

Page 137: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

137

Entropy (Hx) PlotAlignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Gene G.bio

Alignment Position (residue number)

80075070065060055050045040035030025020015010050

Entr

opy (

Hx)

0,65

0,6

0,55

0,5

0,45

0,4

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0

Entropy (Hx) PlotAlignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Glicoproteína G.bio

Alignment Position (residue number)

260250240230220210200190180170160150140130120110100908070605040302010

Entr

opy (

Hx)

0,65

0,6

0,55

0,5

0,45

0,4

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0

Figura 40: Entropia do gene G (A) e da glicoproteína G (B). H= Grau

de entropia (incerteza) e x= número de seqüências analisadas.

A

B

Page 138: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

138

5. Discussão

A raiva é uma encefalite com 100% de letalidade, sem tratamento

específico, mas permite tratamento vacinal em regime de pré ou pós-

exposição. É uma zoonose cosmopolita que acomete o SNC dos

mamíferos e é considerada a 11ª causa de mortalidade humana entre as

doenças infecciosas (WHO, 2000). Na América Latina, a raiva continua a

ser um grave problema de saúde pública e veterinária, pois é responsável

pela morte de seres humanos e um grande número de animais.

Esta encefalite tem alto custo social e econômico e o controle de seu

agente causal, o Vírus da Raiva (RABV), pode ser realizado por meio de

intervenção em seu ciclo urbano pela vacinação em massa de animais de

estimação, como o cão, o principal transmissor da raiva humana. A

inoculação da saliva contaminada de um animal com raiva por mordidas, e

com raras exceções por arranhaduras e lambeduras, é a forma pela qual o

vírus se perpetua. Por aspectos ecológicos, sociais e econômicos a raiva

em algumas regiões geográficas é epidêmica. Aproximadamente metade

da população humana vive em áreas endêmicas da raiva (WHO, 2004),

como por exemplo, o Brasil.

Diversos programas governamentais têm demonstrado que a

prevalência de raiva humana tende a diminuir quando um eficiente

programa de controle da doença de cães e gatos é implementado (Briggs et

al., 1998), uma vez que a epidemiologia da raiva humana é geralmente

associada com os reservatórios regionais do RABV (Childs, 2002).

Além dos programas governamentais para a vacinação em massa de

cães e gatos associada à vigilância epidemiológica, também é necessária a

tipificação molecular do RABV para que a dinâmica da manutenção do

vírus na natureza seja conhecida e possibilite estabelecer suas relações filo

geográficas (WHO, 2004). A compreensão dos padrões da emergência das

doenças infecciosas necessita de um número considerável de seqüências

genéticas tipificadas, representativas de toda uma área geográfica

estudada (Smith, 2002) e isto foi realizado neste trabalho como um dos

objetivos propostos.

A tipificação molecular deve estar associada à análise geográfica da

região onde se deram os isolamentos do vírus (Real et al., 2005), isto

porque a emergência de doenças infecciosas é influenciada

simultaneamente por fatores genéticos e ecológicos (Grenfell et al., 2004).

Como a dinâmica de uma epidemia reflete-se nas subpopulações do vírus

da área epidêmica, a caracterização destas subpopulações permite

estabelecer vínculos espaciais e temporais entre elas (Real et al., 2005).

Page 139: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

139

Neste trabalho foram identificadas subpopulações do RABV (Clados,

Subclados e Grupos filogenéticos), dentro de uma área geográfica (áreas

RD1, RD2 e RD3), analisando fatores ecológicos abióticos (relevo,

temperatura e pluviosidade) e cobertura vegetal, circunscritos em um

período de tempo determinado (1997-2002).

Atualmente, o número de casos de raiva em cães vem diminuindo

rapidamente no Brasil em virtude da instituição da campanha anual de

vacinação de cães e gatos. Como conseqüência do controle parcial da

raiva canina a raiva no ciclo silvestre adquiriu grande importância, como o

transmitido pelo D. rotundus, hoje o principal transmissor da raiva no país,

inclusive a raiva humana. Um dos objetivos realizados neste trabalho foi

estudar linhagens do RABV que circulam em populações de D. rotundus

demonstrando que, mesmo em uma área epidêmica, há diferentes

linhagens do vírus circulando.

No Brasil, a contínua expansão das áreas agrícolas promove o

contato do homem com os hospedeiros silvestres da raiva. Paralelamente

ao aumento deste contato, a conscientização adquirida através das

campanhas educativas associadas à raiva promoveu o aumento no número

de casos de raiva diagnosticados em animais silvestres, antes

subnotificados, como também o aumento no número de notificações de

agressões de animais silvestres a humanos (Carnieli et al., 2008).

Vetor ou espécie hospedeira são termos que designam espécies que

fazem parte do ciclo de uma doença numa determinada área geográfica

durante um período específico de tempo. O vetor necessita ser suscetível

ao vírus e capaz de transmiti-lo aos membros da mesma e ou outras

espécies. Espécies com essas características são capazes de sustentar os

seus ciclos epidemiológicos (Müller, 2000) e D. rotundus as possue.

Haydon et al. (2002) sugerem que patógenos (no presente caso o

RABV) infectando mais que uma espécie são encontrados em diferentes

populações animais e, algumas delas, podem ser reservatórios. Os

mesmos autores sugerem a seguinte definição para reservatório: uma (ou

mais de uma) população conectada, na qual o patógeno pode ser

permanentemente mantido e da qual a infecção é transmitida à população-

alvo. Assumindo esta definição, tanto o cão como D. rotundus, são

reservatórios no Brasil, o primeiro urbano e o segundo silvestre. Esta

situação se deve ao fato que a raiva é regularmente identificada nas duas

espécies, isto é, é persistente ao longo do tempo. A persistência de uma

infecção é contínua se ocorre em grandes populações (metapopulações)

Page 140: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

140

(Bingham, 2005; Russel et al., 2006) e D. rotundus e cães pertencem a

distintas metapopulações.

Outra forma para definir o papel e a importância de D. rotundus na

epidemiologia da raiva, pela sua importância como transmissor e sua forma

eficaz de transmissão do RABV, é pensando na história evolutiva do RABV

no continente americano, mas há grande controvérsia em relação a esta

história (Badrane e Tordo, 2001; David et al., 2007; Davis, Bourhy, Holmes,

2006). Todavia, é impossível negar a interação ecológica de quirópteros

com outros potenciais hospedeiros do RABV, como canídeos, em séculos

passados. Não há motivo que possa excluir a possibilidade da existência da

raiva nas Américas em épocas pré-colombianas (Rupprechet, Hanlon,

Hemachuda, 2002). Assim, não é possível afirmar que o RABV foi

introduzido nas Américas na época da sua colonização e, dispersando-se,

infectou a população de, principalmente, canídeos, determinando que as

linhagens do RABV neste continente possuam origem européia, como é

concluído pela análise de dados epidemiológicos (David et al., 2007).

Porém, os mesmos autores afirmam que as linhagens genéticas atuais do

RABV que circulam entre morcegos hematófagos são as mais antigas do

ponto de vista filogenético e, provavelmente, são as ancestrais putativas de

todas as linhagens mundiais contemporâneas.

A descrição de fósseis de morcegos hematófagos como, por

exemplo, a espécie extinta Desmodus draculae, junto aos de canídeos em

alguns sítios arqueológicos (Guidon, 1984); o isolamento de somente o

genótipo 01 dos Lyssavirus nas Américas (Rupprechet, Hanlon,

Hemachuda, 2002); a presença de morcegos hematófagos, também,

somente na América Latina; a presença de fósseis de morcegos

hematófagos datados a partir do Período Pleistoceno somente nas

Américas (Arellano-Sota, 1988), além dos relatos históricos do século XVI

descrevendo morcegos como causadores de doenças semelhantes à raiva

(Wilkinson, 2002), são dados que permitem reivindicar a existência do

RABV no continente americano antes do século XVI e, desta forma, o

dissociar da origem européia.

A infecção causada pelo RABV de D. rotundus em outros animais, ou

seja, transmissão de vírus a partir de um reservatório para animais

susceptíveis (“spillover”), principalmente canídeos, pode ter ocorrido

repetidamente ao longo da História e ainda ocorre, por exemplo, “spillover”

de D. rotundus para carnívoros é calculado ter ocorrido entre 888 a 1459

anos atrás (Badrane e Tordo, 2001), ou seja, antes da descoberta das

Américas. Em contrapartida, David et al. (2007) acreditam que, no estágio

atual da virologia molecular, não é possível calcular datas de “spillover”.

Page 141: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

141

Sato et al. (2004) comparando o gene G e o pseudogene G-L de

amostras do RABV isolados de carnívoros terrestres e morcegos

hematófagos relatam que é difícil fazer afirmações em relação à história

evolutiva do RABV através da comparação de isolados obtidos de

quirópteros e carnívoros do Brasil. Delpietro et al. (1997), na Argentina,

tipificaram antigenicamente o RABV em duas amostras de cachorro do

mato (Cerdocyon thous). Uma foi caracterizada como variante de cão e a

outra como variante de D. rotundus, demonstrando que o RABV pode ser

introduzido em uma população de canídeos silvestres via morcegos. Casos

de “spillover” entre espécies que exploram diferentes nichos ecológicos,

como canídeos e quirópteros, são relatados com freqüência nas Américas

(Velasco-Villa et al., 2006; Velasco-Villa et al., 2005).

A emergência da raiva epidêmica requer mudanças genéticas na

linhagem do vírus original para que esta se adapte ao novo hospedeiro

preferencial (Rupprechet, Hanlon, Hemachuda, 2002). O conceito de

quasiespécies aplicado aos vírus RNA e a ação de seleção ambiental

possibilitam que determinado genótipo selecionado se adapte a um novo

hospedeiro (Solé et al., 1999). A origem de epidemias de raiva pode

emergir inesperadamente e, ocasionalmente, uma espécie susceptível ao

RABV, que não mantêm um ciclo da raiva, pode transmitir a infecção a

outro integrante de sua população e, através do tempo e se as condições

forem favoráveis, estabelecer uma nova epidemia (Bingham, 2005).

Diante das circunstâncias citadas anteriormente, os atuais

reservatórios mundiais (biotipos) do RABV podem abrigar linhagens do

vírus com acentuada diversidade genética cujo ancestral é uma linhagem

pioneira que se estabeleceu em morcegos hematófagos. Sendo assim, esta

possibilidade aumenta a importância de análises de linhagens que circulam

atualmente em D. rotundus.

Somado ao fato da origem do RABV, Delpietro et al. (2009)

encontraram evidências que epidemias de raiva transmitidas pelo D.

rotundus são um risco potencial para os animais silvestres.

Os resultados apresentados neste estudo correlacionam a

divergência genotípica das linhagens do RABV, isoladas nas populações de

bovinos (população-alvo) durante a epidemia 1997-2002 no Estado de São

Paulo, com a distância geográfica existente entre os grupos regionais do

vírus e estabelece vínculos espaciais e temporais, como também

estabelece a dinâmica da circulação do vírus no reservatório (biotipo) da

raiva D. rotundus e na população-alvo.

Page 142: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

142

A correlação entre a distância geográfica e a caracterização genética

das linhagens encontradas nas subpopulações de vírus (como as

encontradas em RD1, RD2 e RD3) permite a caracterização de uma

epidemia (Domingo, Webster, Holland, 1999).

A tendência que as linhagens do RABV possuem em se agrupar

geograficamente, provavelmente, está relacionada ao fato de que a

disseminação das linhagens do RABV está submetida à biologia do

hospedeiro, principalmente em relação à sua área de atuação e na

interação entre as diferentes populações dos hospedeiros (Nadin-Davis,

2007). O fato de D. rotundus ser colonial e se deslocar por áreas de

aproximadamente 20 Km2 (Flores-Crespo e Arellano-Sota, 1991) podem

explicar a origem e identidade das linhagens caracterizadas no estudo.

Este trabalho é o primeiro a estudar a raiva transmitida pelo D.

rotundus para bovinos e eqüinos durante uma epidemia por meio de

métodos moleculares associados a dados epidemiológicos. Os resultados

apresentados são de interesse para a Saúde Pública e Veterinária e podem

ser utilizados durante o planejamento do controle da doença, por

demonstrar a existência da alta identidade genética existente entre as

linhagens do RABV que circulam em D. rotundus.

As infecções de animais silvestres, como D. rotundus, com limitada

possibilidade de interferência, permite que estudos da doença sejam feitos,

como por exemplo, a reconstrução da historia biogeográfica da infecção a

partir de dados moleculares, e neste sentido, os vírus RNA, como o RABV,

são ótimos exemplos, principalmente por exibirem dinâmica evolutiva e

ecológica na mesma escala temporal (Biek et al., 2007). Neste trabalho é

sugerido um modelo da história biogeográfica da epidemia 1997-2002 e o

estabelecimento das relações filogenéticas do RABV na área estudada

permitiu esta reconstrução histórica.

Epidemias de raiva entre bovinos e eqüinos são conhecidas desde o

inicio do século XX no Brasil. Carini (1911) propôs pela primeira vez a

transmissão da raiva por morcegos observando, no Sul do Brasil, morcegos

atacando bovinos e eqüinos durante o dia. Nesta antiga epidemia

aproximadamente 4000 bovinos e 1000 eqüinos foram infectados pelo

RABV, em uma época na qual a população dos animais de criação era

muito menor que a atual.

Desde a época de Carini muitos estudos foram realizados, porém,

uma análise genética associada a dados epidemiológicos, ecológicos,

circunscrita a um espaço geográfico e em um determinado intervalo de

Page 143: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

143

tempo com características únicas, como uma epidemia, não havia sido

realizada até o momento, como a apresentada neste estudo.

No Brasil, a população da espécie D. rotundus pode ser considerada

uma metapopulação, dada à extensão da sua área de abrangência. Como

uma metapopulação é o conjunto de várias populações de uma mesma

espécie em uma grande área e que mantém fluxo de indivíduos entre elas,

basta haver casos de infecção em uma destas populações para que ocorra

a persistência de uma infecção como a raiva, determinada, principalmente,

pelo fluxo migratório (Grenfell e Harwood, 1997; Russel et al., 2006). As

populações de D. rotundus, separadas em subpopulações, mantendo fluxo

migratório entre elas, formam uma metapopulação e este fato é o que pode

explicar a persistência da raiva nesta espécie, como também em outras

populações que possuam estes atributos (Bingham, 2005). Este fluxo

migratório pode ser uma possível explicação para a duração da epidemia

1997-2002, pois a manutenção e o tempo de transmissão de uma infecção

em uma população são freqüentemente instáveis, podendo após algum

tempo se extinguir, enquanto que em uma metapopulação a persistência de

uma infecção é continua (Bingham, 2005).

No Brasil, a epidemiologia molecular da raiva em morcegos sempre

atraiu atenção. Vários estudos foram realizados com estes reservatórios

silvestres do RABV, como por exemplo, Ito et al. (2001); Shoji et al. (2004);

Sato et al. (2004); Kobayashi et al. (2005); Bernardi et al. (2005) e

Kobayashi et al. (2006). Entretanto, nos estudos de epidemiologia

molecular da raiva em morcegos, quando há algum tipo de análise

geográfica dos isolados do RABV, que são designados somente pelo local

do isolamento, não se estabelece nenhum vínculo ecológico ou temporal,

como realizado neste estudo.

O estudo da epidemia 1997-2002 além de estabelecer a associação

regional do RABV com as características ambientais, estabeleu a dinâmica

temporal da epidemia por meio de dados epidemiológicos oficiais. Foi

determinado que os Subclados e Grupos filogenéticos do Clado Desmodus

rotundus, apresentados na Figura 33, estão situados nas áreas RD1, RD2 e

RD3, formando agrupamentos regionais basicamente dentro de um único

relevo, as montanhas do sul da Serra da Mantiqueira, com características

ecológicas definidas, como por exemplo, as mostradas nas Figuras 23, 24,

25, 26 27 e 28. Este fato permite caracterizar os grupos regionais do RABV

estudados como agrupamentos de linhagens regionais, segundo os

critérios expostos em Real et al. (2005), mas com sobreposição dos

agrupamentos filogenéticos.

Page 144: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

144

Desta forma é factível afirmar que as linhagens estudadas que

circulam entre D. rotundus, divergem como conseqüência do seu

posicionamento em áreas de um mesmo ecossistema, não caracterizando

uma adaptação ecológica dos animais, e sim pelo distanciamento

geográfico e temporal, como relatado em Real et al. (2005). Os

agrupamentos filogenéticos das linhagens do RABV estudados não podem

ser interpretados como subdivisão ecológica da população do vírus, pois

são de um único bioma, mas com diferentes coberturas vegetais formadas

por ação antrópica, como mostra a Figura 31.

Os agrupamentos do RABV apresentados foram determinados por

meio de inferências filogenéticas, obtida através do agrupamento de pares

semelhantes (“pair-wise clustering”), com o método Neighbor-joining (NJ).

Com este método é possível analisar a diversidade do RABV (Smith, 2002).

O método NJ é uma versão simplificada do método ME (evolução mínima),

que utiliza distância genética. A distância evolutiva entre um par de

seqüências, geralmente, é medido pelo número de nt (ou aa) substituídos

em cada uma delas e é fundamental para o estudo de evolução molecular,

além de ser útil para reconstruções filogenéticas e a estimativa da

divergência entre linhagens genéticas (Saitou e Nei, 1987).

A formação dos agrupamentos regionais RD1, RD2 e RD3 corrobora

a variação intragenotípica do RABV e, em conseqüência, a diversidade dos

genes N e G do vírus, já determinada por outros pesquisadores como, por

exemplo, Velasco-Villa et al. (2005) no México.

Apesar da grande identidade apresentada pelas linhagens do RABV

isoladas na epidemia 1997-2002 e mostrada nas Figuras 37 e 38, foi

identificada, como esperado, maior variabilidade genética do gene G,

quando comparado com o gene N.

Interessante é notar que nas Figuras 37 e 38 observa-se uma

homogeneização constante entre os anos de 1997 e 2002. No início há

maior variabilidade que no final do período. Este resultado sugere que a

homogeneização do RABV pode ter ocorrido pelo grande contacto entre os

indivíduos da população de D. rotundus, provavelmente pela maior

proximidade entre os animais, possibilitando que poucas linhagens fossem

propagadas entre os indivíduos de diferentes colônias. Outro fator que pode

ter determinado esta homogeneização do vírus foi a introdução ou a

formação por mutação de uma linhagem do RABV com alto valor

adaptativo, como as encontradas ainda hoje nas áreas RD2 e RD3.

O comportamento territorialista e colonial de D. rotundus pode ser

uma das causas de incremento da homogeneização das linhagens do

Page 145: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

145

RABV. O contato físico mais íntimo pode aumentar a infecção intra-

específica. Johnson et al. (2003), estudando canídeos na Turquia,

sugeriram que a transmissão do RABV entre as espécies é facilitada

durante o acasalamento, quando disputas territoriais são mais intensas.

Esta situação aumenta as chances de transmissão intra-específica de um

patógeno.

Além da necessidade de deslocamento do D. rotundus em procurar

sua presa para se alimentar de sangue, que algumas vezes pode atingir

dezenas de quilômetros (Flores-Crespo e Arellano-Sota, 1991), em épocas

de seca os animais se deslocam a procura de água e comida, como

sugerido por Taddei et al. (1991). Os deslocamentos de morcegos ocorrem

facilmente por sua capacidade de vôo. Em contrapartida a maior distância

entre as populações de D. rotundus minimiza a homogeneização das

linhagens do RABV destes hospedeiros; isto porque a distância geográfica

diminui a possibilidade de contacto entre os indivíduos das subpopulações

do animal. Este fato pode explicar a origem dos três agrupamentos

filogenéticos principais: RD1, RD2 e RD3. A maior identidade existente

entre os agrupamentos RD2 e RD3 se deve ao fato de RD3 ser produto da

expansão de RD2, constatado pela alta identidade genética do RABV

encontrada nas duas áreas. Porém, as linhagens das áreas RD2/RD3

podem ter se originado de uma mutação das linhagens RD1 ou estar

isolada em uma colônia de D. rotundus, que entrando em contacto com

outras foi propagada ou, ainda, pode ter sido deslocada pela migração do

hospedeiro de outra região não estudada

O deslocamento da epidemia de RD2 para RD3 pode ser

conseqüência da topografia das duas regiões. As áreas que dividem RD1

de RD2 são mais elevadas que aquelas que dividem RD2 de RD3, como

mostrado na Figura 25. Somado a este fato, a existência de áreas de

floresta nativa (Mata Atlântica), como mostra a Figura 31, também pode ter

tido influência, pois o deslocamento de D. rotundus neste tipo de área é

dificultado. Estes dois fatores ecológicos podem ter determinado a menor

homogeneização das linhagens do RABV das áreas RD1 e RD2, além do

fato de que gado é encontrado em pequeno número em áreas de topografia

elevada e com cobertura vegetal nativa.

A epidemiologia molecular do RABV possui um problema. Para que

se faça um estudo geral e amplo devem ser seguidos alguns critérios de

ordem prática como, por exemplo, em relação ao tamanho das seqüências

a serem analisadas, que devem ter o mesmo tamanho. Entretanto, os

pesquisadores da biologia molecular do RABV determinam individualmente

suas áreas de estudo e a seqüenciam sem se preocupar com possíveis

Page 146: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

146

estudos futuros. Neste contexto, Velasco-Villa et al. (2005) argumenta e

afirma “não há sequer uma área do genoma do vírus escolhida como alvo

global” e a falta deste alvo não permite que muitas comparações sejam

realizadas. Wu et al. (2007) analisando os genes do RABV propõe que

algumas áreas do gene L da polimerase, devido sua conservação, possam

ser “alvo” de uso global.

O trabalho desenvolvido utilizou praticamente toda a região codante

do gene N (1320 nt) e toda a área amino-terminal do gene G (800 nt). Smith

(2002) enfatiza que seqüências genéticas de um gene com pequeno

tamanho, freqüentemente, contêm um número insuficiente de caracteres

informativos, não são estatiscamente significativas e não permitem a

precisa reconstrução das relações evolutivas entre clados.

Ciclos do RABV sobrepostos, como os apresentados, formados pela

mesma espécie de hospedeiros do vírus e com o mesmo nicho ecológico,

provavelmente, não poderiam ser identificados se muitas seqüências de

pequeno tamanho estudadas por outros autores e disponíveis no GenBank

fossem utilizadas, pois ou eram muito curtas ou não analisavam a mesma

área analisada neste trabalho. Felizmente, outros pesquisadores,

estudiosos da genética do RABV do Brasil já haviam produzido outras

seqüências similares as nossas e as depositado no GenBank, ô que

facilitou e auxiliou sobremaneira o estudo desenvolvido. Um exemplo deste

fato foi a Seqüência de Consenso gerada com as seqüências do gene N e

G de linhagens AgV3 apresentadas na Tabela 16.

A origem da epidemia 1997-2002, ainda hoje, é motivo de estudo.

Entretanto, uma nova epidemia de raiva pode emergir inesperadamente,

pois ocasionalmente uma espécie susceptível ao RABV se infecta e pode

transmitir a infecção a outro integrante de sua população e, através do

tempo e se as condições forem favoráveis, estabelecer um ciclo contínuo

(Bingham, 2005) e restrito a uma área.

O RABV é mantido regionalmente pelas espécies de animais que

ocorrem na região, normalmente com altas densidades populacionais e

bem adaptadas aos biomas geográficos (Kusmin et al., 2004). Estas

espécies se comportam como reservatórios regionais do RABV e, por esta

razão, podem ser chamadas de espécies-ecotipo da raiva (Rohde et al.,

1997). D. rotundus é uma espécie bem adaptada as condições ecológicas

da área geográfica aqui analisada. Nas espécies-ecotipo são encontrados

os geo-filogrupos do RABV, os agrupamentos regionais do vírus que, em

última análise, expressam a evolução molecular local do vírus (WHO,

2004).

Page 147: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

147

A origem destes geo-filogrupos se dá por pressões seletivas locais ou

por isolamento geográfico. Nestas circunstâncias, os geo-filogrupos do

RABV se mantêm e ficam circunscritos (Bourhy et al., 1999). As linhagens

genéticas do RABV são responsáveis por ciclos epidêmicos da raiva e

estes agrupamentos de linhagens representam subdivisões da população

do vírus em habitats distintos (Real et al., 2005). Nadim-Davis et al. (1999)

sugerem que o deslocamento das linhagens nas subpopulações de

hospedeiros determina as relações filo-geográficas do vírus. Kusmin et al.

(2004) sugerem que diferenças regionais do RABV, encontrados em

espécies-ecotipo, são determinadas pela adaptação destas espécies aos

biomas geográficos e outras espécies, que não sejam o hospedeiro

preferencial da raiva na área geográfica, normalmente, são hospedeiros

terminais, como os bovinos e todos os outros herbívoros.

Aceitando as condições expostas anteriormente, podemos afirmar

que D. rotundus é uma espécie-ecotipo na América Latina, com uma

característica, é adaptados a diferentes tipos de Biomas, pois é encontrada

em áreas xerofíticas, como a caatinga e cerrado, como também em

hidrofílicas, como a Mata Atlântica, Floresta Amazônica e Pantanal,

tomando como exemplo o Brasil.

No Brasil, estudos com os genes da nucleoproteína (N) e

glicoproteína (G) apontam para a existência de dois filogrupos do RABV,

caracterizando dois ciclos: o urbano e o silvestre (Ito et al., 2001). A

principal espécie responsável pelo ciclo urbano é o cão, designado por

Johnson et al. (2004) como biotipo cão, sendo identificado antigenicamente

no Brasil como variante 2 (AgV2) (Diaz et al., 1994; Favoretto et al., 2002).

O ciclo silvestre é predominantemente composto pelo biotipo D. rotundus,

identificado antigenicamente como variante 3 (AgV3) (Diaz et al., 1994;

Favoretto et al., 2002). Os ciclos urbano e silvestre se sobrepõem em

várias áreas (Ito et al., 2003), ô que aumenta a complexidade da

epidemiologia da raiva.

Na Europa, casos de raiva entre animais susceptíveis, como os de

criação e domésticos ou mesmo silvestres, parecem estar condicionados,

principalmente, ao ataque ou inspeção destes às raposas moribundas em

fase terminal da doença e, portanto, condicionados espacialmente e

temporalmente a proximidade da principal espécie hospedeira infectada

pelo RABV, as raposas (WHO, 2005). No presente caso estudado, a raiva

em bovinos transmitida pelo D. rotundus, a situação é diferente, isto porque

a necessidade para se alimentar do sangue de suas vítimas é o que

determina que D. rotundus infecte herbívoros, sobretudo o gado.

Page 148: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

148

A formação dos grupos regionais do RABV nas áreas RD1, RD2 e

RD3, determinadas na área epidêmicas 1997-2002, expressa diversidade

de linhagens, sugerindo coexistência ou coemergência de novas linhagens

separadas espacialmente, como determinado por Velasco-Villa et al., 2005,

e este fato pode ter determinado e possibilitado a identificação e a origem

do Grupo filogenético “Novas RD2/RD3”, mostrado na árvore filogenética

da Figura 33, em detrimento do Subclado “Antigas”, também identificado

nas árvores filogenéticas das Figuras 33, 34 e 35. Porém, o número de

amostras do ano de 1997, que compõe o subclado “Antigas”, é inferior aos

dos anos 1998, 1999 e 2000, como mostrado na Tabela 15 e este fato pode

ter influenciado na formação do Grupo filogenético “Novas RD2/RD3” e do

Subclado “Antigas”.

As linhagens genéticas do RABV, domésticas e silvestres, podem

disseminar-se entre outras espécies susceptíveis encontradas na mesma

área, ampliando a área de abrangência do vírus pelo contínuo

deslocamento dos animais reservatórios (Krebs et al., 2003; Kusmin et al.,

2004). Este motivo também pode ter sido um fator pelo qual houve a

substitução das seqüências do Sub-clado “Antigas” pelas do Grupo “Novas

RD2/RD3”. Assim sendo, linhagens de alto valor adaptativo, como

encontrado em “Novas RD2/RD3”, migraram e substituíram outras de

menor valor adaptativo como, por exemplo, as “Antigas”.

Os valores de similaridade de seqüências homologas obtidos por

meio de matriz de substituição e expressos nas Figuras 37 e 38, permitem

estimar a probabilidade (“likelihood”) de um resíduo de nt ou aa ser

substituído por outro durante a seleção natural. Algoritmos baseados em

métodos de distância, como o NJ, permitem a obtenção de agrupamentos

filogenéticos e caracterizam a topologia das árvores filogenéticas que

representam uma população subdividida em uma área geográfica (mesmo

que subdividida artificialmente como realizado neste trabalho) na área

estudada (Smith, 2002). Valores de bootstrap superiores a 70% são

considerados grupos filogenéticos (Hillis e Bull, 1993) e todas as

subdivisões do Clado Desmodus rotundus estudado, possuem valores de

bootstrap superiores a 70%, fato que dá segurança em relatar os

agrupamentos descritos.

A polimerase L não possui um sistema que permita a edição ou a

correção do genoma do vírus (“proofreading and post-replication error

correction”) durante a replicação do vírus (Domingo e Holland, 1994). Esta

característica, associada aos mecanismos evolutivos que geram

variabilidade genética dentro da população, como deriva genética, gargalo

evolutivo (“bottleneck”) e seleção ambiental, possibilitam a formação das

Page 149: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

149

linhagens genéticas do RABV (Kissi et al., 1999; Smith, 2002), que são

preferencialmente encontradas nas espécies-ecotipo, ecologicamente e

espacialmente distribuídas.

Bourhy et al. (1999) discutindo a regionalidade do RABV na Europa

reconheceu pequenos agrupamentos dentro dos principais agrupamentos

filogenéticos e sugeriu que há, no mínimo, algum grau de isolamento entre

eles. Real et al. (2005) sugerem que a organização espacial das linhagens

é explicada como conseqüência da evolução neutra aliada a dispersão local

das linhagens e que os agrupamentos destas seqüências indicam

subdivisões da população do vírus. Morimoto et al. (1998) hipotetizaram

que as divergências encontradas entre as linhagens do RABV, permitem

que o vírus se adapte ao ambiente e é um reflexo da interação

hospedeiro/vírus.

O RABV, tal como com outros vírus RNA de sentido negativo, mostra

pouca fidelidade durante a replicação e isto determina que a freqüência

genética da população viral seja alterada continuamente, fazendo com que

haja a criação de linhagens genéticas que formam subpopulações virais

(quasispecies) (Kissi et al., 1999; Morimoto et al., 1998; Nowak, 1992).

Estas subpopulações podem ser introduzidas aleatoriamente em um novo

hospedeiro (Elena et al., 1997), permitindo que a variabilidade genética seja

mantida.

A variabilidade genética do RABV em populações de hospedeiros é

determinada durante o tempo, e estas mudanças ocorrem

independentemente em diferentes áreas geográficas (Bourhy et al., 1999),

gerando as linhagens características das espécies hospedeiras. Um

exemplo deste fato é a menor identidade genética encontrada nas

linhagens isoladas em bovinos e eqüínos e transmitidas pelo D. rotundus

nas áreas RD1 quando comparadas com as das áreas RD2 e RD3, que

provavelmente tem origem diferente, seja pela introdução de um vetor (o D.

rotundus) de colônia diferente e de outra área, ou mesmo, como produto de

mutação, como discutido anteriormente. Entretanto, a Figura 39 evidencia

pontos da nucleoproteína N, inferida pelo sequenciamento do gene N, que

são assinaturas específicas das áreas RD1 e RD2/RD3 e isto representa

seleção positiva (mutação não-sinônima), o que leva a acreditar que as

linhagens estudadas, tanto das áreas RD1 como das RD2 e RD3 possuem

diferentes ancestrais. Os dois pontos de mutação no gene N, responsáveis

pelas duas mutações são: Timina122Citosina (Asparagina na área RD1 e

consenso brasileiro e Histidina na área RD2) e Adenina207Citosina

(Tirosina na área RD1 e Fenilananina na área RD2 e consenso braileiro).

Page 150: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

150

A pequena diversidade genética do RABV pode ser determinada por

recente “bottleneck” ou a pequena variedade de espécies hospedeiras (ou

indivíduos) na região epidêmica (Smith, 2002). Este não é o caso da área

da epidemia 1997-2002, pois a raiva é endêmica na região há tempos como

relatado no trabalho de Gomes (2008), excluindo a possibilidade de recente

“bottleneck”. O grande número de indivíduos é diretamente proporcional ao

grande número de colônias identificadas de D. rotundus nas áreas

estudadas, como mostra a Tabela 10. Este fator permite a manutenção da

variação genotípica do vírus. Aliado a estes fatos um mesmo hospedeiro

pode possuir, e conseqüentemente inocular, várias linhagens,

representadas pelas quasiespécies (Kissi et al., 1999), aumentando assim

a probabilidade de conservação da variação genotípica do RABV.

Como as linhagens são perpetuadas por espécies que atuam como

reservatório regional do vírus (Rupprechet, Hanlon, Hemachuda, 2002) a

homologia entre as linhagens permanece estável, possibilitando o estudo

dos padrões genéticos da infecção (Nadim-Davis, Muldoon, Wandeler,

2006). Por exemplo, a seleção negativa estabiliza o gene N pelo aumento

da taxa de mutações neutras (sinônimas) em populações geograficamente

distintas do vírus e o acúmulo de mutações silenciosas (sinônimas) é,

provavelmente, a fonte de divergência genotípica encontrada nas

populações do vírus (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995). Porém, técnicas

moleculares não são suficientemente precisas para compreender a raiva

epidêmica e, neste caso, as evidências epidemiológicas são necessárias

(Bingham et al., 1999), e estas foram apresentadas no estudo.

Com o objetivo de esclarecer a epidemiologia da raiva entre os

bovinos e outros animais de interesse econômico, o presente estudo

comparou a identidade genética do gene N e da área amino terminal do

gene G de isolados do RABV. Os valores de identidade genética obtidos

indicam que há grande identidade entre as populações do RABV isolados

de gado e típicos de D. rotundus, mesmo entre as das áreas RD1 e

RD2/RD3.

Tomando por base diferentes observações encontradas em Nadin-

Davis (2007), alguns pontos do trabalho são discutidos para justificar os

resultados. A identificação de assinaturas específicas entre as linhagens

estudadas demonstra que a análise molecular apresentada é consistente e,

assim, os marcadores específicos do RABV de cada linhagem podem ser

usados para distinguir as populações do RABV das áreas RD1 e RD2/RD3.

A utilização de toda região codante do gene N e mais da metade da do

gene G determina grande robustez à análise das linhagens. Quanto maior a

seqüência maior o número de sítios informativos e dá maior respaldo para a

Page 151: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

151

árvore filogenética gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ) e

construída com o modelo de substituição GTR (para o gene N) e o modelo

de substituição TVM (para o gene G), incluindo o parâmetro de distribuição

Gamma com sítios invariáveis, de acordo com o modelo de substituição

selecionado pelo software Modeltest 3.6 e, também, pelos testes

estatísticos de confiabilidade (expressos pelo bootstrap). Quanto à seleção

de amostras utilizadas, que para análises de epidemiologia molecular

devem permitir comparações em relação ao tempo e espaço, deve-se evitar

a escolha de amostras provenientes de vigilância passiva, como as

analizadas, pois podem gerar tendências na análise filogenética. Amostras

provenientes de vigilância passiva são, normalmente, relacionadas a um

evento no tempo e espaço e não representam a realidade ecológica do

RABV na área estudada. Apesar das nossas amostras serem provenientes

de vigilância passiva, elas se distribuem dentro de uma grande área, como

também foram escolhidas aleatoriamente dentro do conjunto total de

amostras. As características precedentes fazem com que a tendência de

representar uma única situação dentro da epidemiologia da raiva na região

estudada diminua. Quanto ao período analisado (1997-2002), não foi

aleatório, é diretamente relacionado à disponibilidade de um número

significativo de amostras e que é diretamente relacionado ao período da

epidemia 1997-2002.

A pesquisa molecular do RABV, realizada pelo estudo dos genes N e

G utilizando métodos de análise filogenética baseados em distância e

associado a dados epidemiológicos, pode resolver uma análise de

identidade genética ou evolutiva de forma tão eficiente como os métodos de

máxima parcimônia e máxima verossimilhança, com a vantagem de ser um

método computacionalmente rápido (Smith, 2002). Além destes fatos, a

escolha do método de distância NJ se deve ao fato de ter sido analisado

um número de seqüências volumoso como, por exemplo, o encontrado na

árvore filogenética do gene N apresentada na Figura 33, que possui

incorporada 198 seqüências com 1320 nt de extensão, impossibilitando que

inferências realizadas pelo método de verossimilhança fossem realizados.

O uso do software DAMBE (Xia e Xie, 2001), utilizado para análise de

dados obtidos em biologia molecular e evolução, assegurou que o sinal

filogenético das seqüências genéticas geradas neste trabalho é informativo

em relação ao processo evolucionário que as gerou. O uso de DAMBE

neste trabalho se baseou no lançamento dos valores de transições e

transversões versus distância genética. O uso do software foi importante

porque exibe graficamente transições e transversões e calcula a

divergência. Foi utilizado na geração deste resultado o modelo de evolução

molecular F84 (Felsenstein, 1993), que possui dois parâmetros (transição e

Page 152: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

152

transversão) e é baseado em distância. Com o Modelo F84 tornou-se

possível combinar as diferenças nas taxas de transição e transversão,

representado pela freqüência de pirimidinas e purinas (Xia e Xie, 2001), e

frequência desigual de bases em uma única estatística, ô que permite o

estudo de um modelo de evolução mais realístico para as seqüências de

DNA. Hanada, Suzuki e Gojobori (2004) e David et al. (2007) fizeram uso

do software DAMBE obtendo resultados concordantes com os dados

epidemiológicos associados as suas pesquisas. Os primeiros estudaram os

vírus RNA de maneira geral e os segundos o RABV.

A análise do gene N, quer com base no seu seqüenciamento parcial

ou total, permite os mais significativos agrupamentos de linhagens

semelhantes e, portanto, é o mais adequado para uma abordagem de

epidemiologia molecular da raiva, além do fato de ser o mais conservado

evolutivamente (Smith, 2002).

É consenso que o estudo do gene G é necessário, devido a sua

direta relação com as atividades biológicas do vírus, como resposta imune

do hospedeiro e reconhecimento dos receptores celulares, entre tantas

outras. Badrane et al. (2001), indo além, relaciona as variações de aa da

Glicoproteína G com a emergência de novos Lyssavirus no ambiente, pois

podem permitir adaptações a novos hospedeiros.

Os resultados apresentados da tipificação genética do RABV isolados

de bovinos e eqüinos nas áreas RD1, RD2 e RD3 do Estado de São Paulo,

são concordantes com trabalhos de outros autores, como por exemplo, Ito

et al. (2003), Shoji et al. (2004) e Kobayashi et al. (2005), mesmo que as

interpretações dos dados não sejam totalmente concordantes.

Quanto a análise do gene N da nucleoproteína N das linhagens AgV3

do RABV, os trabalhos de Ito et al. (2003), Shoji et al. (2004), Kobayashi et

al. (2005) e Kobayashi et al. (2007), que estudaram toda região codante do

gene N de linhagens de diferentes áreas do Brasil, inclusive de São Paulo,

obtiveram agrupamentos regionais, como as das áreas RD1, RD2 e RD3.

Analisando detalhadamente os dados dos trabalhos citados acima, se

constata a grande identidade entre as linhagens estudadas. Estas

identidades das linhagens AgV3 são semelhantes às apresentadas neste

trabalho, isto é, raramente ultrapassam 2% de divergência. Nos mesmos

trabalhos, os resultados relacionados aos morcegos do gênero Artibeus e,

também, em relação aos morcegos insetívoros, também foram semelhantes

aos apresentados. As linhagens AgV3 isoladas no gênero Artibeus

possuem a mesma identidade das de D. rotundus e bovinos. Quanto às

linhagens isoladas em morcegos insetívoros, elas são divergentes em

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153

relação às linhagens AgV3, porém algumas linhagens recuperadas do

GenBank de morcegos insetívoros e também utilizadas neste estudo,

segregaram entre as linhagens AgV3 isoladas nos bovinos e eqüínos

estudados. Este resultado indica que morcegos insetívoros podem ser

infectados por D. rotundus.

Os estudos da área N-terminal do gene N de Ito et al. (2001),

Kobayashi et al. (2006) e Kobayashi et al. (2008) também são concordantes

com os estudos realizados. Apesar de não haver concordância quanto aos

valores de identidade (os nossos são superiores) é bom recordar que as

extremidades N-terminal e C-terminal do gene N possui maior variabilidade

genética que a região central (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995; Delmas et al.,

2008). No mesmo contexto se situa o trabalho de Velasco-Villa et al.

(2006), que analisa a região C-terminal do gene N de RABV isolados de

bovinos e D. rotundus e outros animais no México. Apesar de duas

variantes antigênicas (AgV3 e AgV11) do RABV circularem na população

de D. rotundus e bovinos no México, é nítido que a identidade do RABV

AgV3 daquele país também é alta, como as identidades encontradas no

Brasil.

O motivo pelo qual as identidades entre as linhagens AgV3

estudadas se mostraram tão altas é conseqüência da sua origem

epidêmica. Porém, as identidades destas linhagens AgV3 são concordantes

com os autores anteriormente citados e que estudaram linhagens de

diversos Estados brasileiros (e do México).

No trabalho de Heinemann et al. (2002), que estudaram a área N-

terminal do gene N de linhagens AgV3 isoladas em grande parte de

bovinos, na área epidêmica e do sul do Estado de São Paulo (Figura 34),

foram obtidos os resultados mais próximos dos apresentados. Heinemann

et al. (2002) concluem que as divergências existentes ("nucleotide

variabiliy”) entre as linhagens RABV AgV3 é produto de deriva genética, ou

seja, ao acaso. Outro fator, raramente mencionado e que pode gerar

divergências entre linhagens genéticas, é o viés ou tendência que ocorre

durante a geração, edição e análise de seqüências genéticas.

Guarino et al. (2008) analisando parcialmente o gene N de linhagens

AgV3 do Uruguai, isoladas de bovinos e eqüinos em 2007 e 2008,

obtiveram 100% de identidade entre elas e quando comparadas com

linhagens do Norte do Brasil foi obtido 98,4% de identidade. Bordignon et

al. (2005), analisando o gene N de linhagens AgV3 do RABV isoladas de

bovinos no Sul do Brasil, e Cisterna et al. (2005), realizando o mesmo tipo

de análise na Argentina e utilizando linhagens isoladas entre os anos de

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154

1999 e 2001, obtiveram resultados semelhantes aos apresentados neste

trabalho. Estes resultados sugerem que o gene N das linhagens AgV3 da

área Atlântica da América do Sul é muito conservado, indicando que as

linhagens do RABV circulantes entre D. rotundus são adaptadas e

selecionadas em elevado grau por esta espécie;

É provável que a manutenção desta alta identidade do gene N em

linhagens AgV3 ocorra a longo tempo. Holmes et al. (2002) afirmam que o

gene N do RABV evolui sob um modelo de seleção purificadora, isto é,

mantendo a identidade ao longo do tempo, pois as funções da

nucleoproteína N o mantém restringido (“constrained”).

Para a comparação dos resultados obtidos em relação ao gene G da

glicoproteína G são utilizados dois trabalhos de Sato et al. (2004 e 2006). O

primeiro, estuda toda região codante do gene G de linhagens AgV3

isoladas nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Tocantins e Goiás. O

segundo, estuda a mesma área do gene G analisada neste trabalho (os

primers para o gene G aqui utilizados são os publicados em Sato et al,

2006) e são analizadas linhagens AgV3 isoladas em vários Estados do

Brasil das regiões Sudoeste, Centro-Oeste e também do Nordeste. Os

resultados de Sato et al. (2004 e 2006) apresentaram resultados

semelhantes aos do presente trabalho, isto é, as amostras AgV3

permanecem com identidade acima de 98% e formando agrupamentos

regionais. Estes resultados relacionados ao gene G da glicoproteína

chamam a atenção pelo fato do gene G também se mostrar conservado,

porém menos que o gene N, como pode ser observado nas figuras 37 e 38.

Em Wu et al. (2007), que reafirmam a menor conservação do gene G

em relação ao gene N, é discutido o valor dos genes N e G em análises

filogenéticas. Os autores afirmam que a taxa de substituição de nt dos

genes N e G são semelhantes e, sendo assim, ambos (como também os

outros genes) tem, provavelmente, o mesmo valor para análises

filogenéticas.

Neste contexto é interessante comentar o trabalho de Kobayashi et

al. (2007), que estudando os genes P e M do RABV, também obtiveram

agrupamento de linhagens AgV3, isoladas de D. rotundus e do gênero

Artibeus, com grande identidade entre si, indicando que mesmo estes dois

genes, pelo menos entre as linhagens AgV3, também são muito

conservados.

Analisando os artigos relativos a estudos moleculares do RABV no

Brasil, percebe-se que todos sugerem o isolamento geográfico de

populações do vírus, por cadeias de montanhas ou rios, como fator

Page 155: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

155

determinante para a diversificação das linhagens AgV3. Sem eliminar a

importância destas barreiras geográficas para a diversificação genética do

RABV, pois é consenso geral, os resultados deste trabalho não permitem

que se concorde com esta origem de diversificação, pelo menos em relação

à área epidemica estudada (e nela encontramos rios e montanhas).

Inicialmente, quirópteros voam e este fato permite que distâncias e

barreiras geográficas sejam facilmente superadas, o que para outras

espécies, como canídeos, pode ser difícil. D. rotundus pode se deslocar

diariamente dezenas de quilômetros para se alimentar, sua área de ação

(“home-range”) é de 10-20 km2 (Arellano-Sota, 1988). Montanhas com

pouco mais de 2000 m de altura não são obstáculos para morcegos e nem

rios.

No Brasil, a Serra da Mantiqueira é a mais alta, e suas maiores

altitudes raramente ultrapassam 2000 m. É nesta região que as linhagens

do RABV estudadas foram isoladas. As áreas RD2 e RD3 do Estado de

São Paulo, vizinhas ao Estado de Minas Gerais, é uma região alta da Serra

da Mantiqueira e o RABV circulou facilmente e com uma velocidade maior

daquelas citadas em artigos clássicos sobre o assunto, como os de

Delpietro e Russo (1996) e Fornes et al. (1974). Algumas linhagens

estudadas são de cidades de Minas Gerais (ver Tabela 15), “do outro lado

da serra”, vizinhas das áreas RD2 e RD3 e a identidade destas linhagens é

similar às de São Paulo, motivo pelo qual estas linhagens pertencem aos

mesmos agrupamentos filogenéticos das áreas RD2 e RD3. Este resultado

sugere que o RABV circulou entre os dois Estados. Os mesmos resultados

também foram obtidos em relação aos Estados de São Paulo e Rio de

Janeiro.

Quanto a isolamentos geográficos do RABV AgV3 determinados por

rios é difícil concordar, pois o Brasil possui a maior rede fluvial do planeta,

formada por grandes rios, e encontramos o RABV que circula na população

de D. rotundus em todo o país (ver Figuras 12 e 13), demonstrando que,

pelo menos para quirópteros, rios não são barreiras geográficas. Em

verdade, na América do Sul, somente é encontrada uma barreira geográfica

que impede eficientemente a dispersão do RABV, a Cordilheira dos Andes.

Uma afirmação expressa em Kobayashi et al. (2006) e Kobayashi et

al. (2008), a qual os resultados obtidos também não permitem

concordância, é que a raiva transmitida pelo D. rotundus se propaga

através e em direção às terras de baixa altitude (e lembramos que são

nestas áreas onde há as melhores pastagens devido à umidade). As

regiões RD2 e RD3 são áreas de serra, como também o é boa parte da

Page 156: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

156

área RD1, e a epidemia 1997-2002 analisada ficou circunscrita às áreas de

elevada altitude, não se propagando para as áreas vizinhas, de baixa

altitude e encontradas na maior parte do Estado de São Paulo.

Os artigos de Cunha et al. (2006) e Albas et al. (2005) provam que a

epidemia 1997-2002 ficou circunscrita as áreas serranas e que não houve

falta de vigilância epidemiológica da raiva no Estado de São Paulo. Cunha

et al. (2006) diagnosticaram 7.393 morcegos provenientes de 235

municípios do norte e noroeste do Estado de São Paulo, no período de

1997 a 2002. Os autores encontraram 1,3% de positividade (98 animais

positivos) e não foi encontrado nenhum D. rotundus positivo. Albas et al.

(2005) diagnosticaram 4950 amostras de diferentes animais, coletadas

entre 1996 e 2003 na região oeste do Estado de São Paulo e, entre o total,

identificaram o RABV em 74 amostras, sendo 58 (78,4%) em morcegos

não-hematófagos e 16 (21,6%) em bovinos. Ou seja, nas grandes áreas do

Estado de São Paulo analisadas pelos autores no mesmo período da

epidemia 1997-2002 não houve surto epidemico.

Outro trabalho que confirma a área de abrangência da epidemia

1997-2002 é o de Gomes et al. (2007), que utilizando dados geo-

referenciados e dados da Coordenadoria de Defesa Agropecuária da

Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (órgão

responsável pelo controle populacional do D. rotundus) afirmam que a

distribuição espacial dos abrigos dos morcegos é difuso e uma epidemia

pode tomar caminhos difusos, como a epidemia que se desenvolveu na

região da Serra da Mantiqueira. Observação: a epidemia da Serra da

Mantiqueira, a qual se refere os autores, é a mesma das áreas estudadas

neste trabalho. No mesmo artigo os autores concluem que o deslocamento

do D. rotundus se faz em direção à sua fonte de alimento, isto é, o gado,

como também é proposto por Delpietro e Russo, (1996).

Silva et al. (2001) sugerem o uso da terra como determinante da

distribuição da raiva bovina em Minas Gerais, Brasil. Gomes (2008) vai

além e sugere que a raiva bovina para São Paulo se estrutura em torno de

quatro grupos: (1) o relêvo e geomorfologia; (2) as características

relacionadas ao efetivo bovino no contexto do sistema de produção

pecuário; (3) as características dinâmicas do mosaico da paisagem

identificadas a partir da evolução dos tipos de uso e classes de cobertura

da terra e (4) ainda, os elementos relacionados a hidrografia e são as inter-

relações entre os elementos em cada um destes grupos que estão

participando na história natural da enfermidade e determinando as

mudanças observadas nos padrões espaciais das epidemias. O mesmo

autor ainda cita áreas com grande propensão a epidemias, entre elas a

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157

estudada neste trabalho e são elas: a divisa estadual de São Paulo com o

estado de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, as regiões das encostas no

interior e os Vales do Paraíba e Ribeira.

Delpietro e Russo (1996) afirmam que a duração de uma epidemia,

em geral, dura 18 meses. Os mesmos autores afirmam que epidemias de

raiva entre bovinos são dependentes do número de D. rotundus infectados

e ativos, o que é muito lógico. A população destes animais diminuindo, pela

infecção do RABV, cessa a epidemia; a população de D. rotundus

aumentando, no interstício entre epidemias, desencadeia o início de nova

epidemia. O que chama a atenção é que a epidemia 1997-2002

permaneceu durante cinco anos e somente o deslocamento geográfico da

intensidade foi variável. A epidemia estudada neste trabalho não seguiu o

padrão de ondas proposto por Delpietro e Russo (1996).

Uma constatação, que há comum acordo entre os pesquisadores da

raiva em bovinos, é o fato de que o comportamento de D. rotundus pode

explicar a abrangência da raiva propagada por esta espécie, porém pouco

é conhecido da etologia deste animal em relação à raiva. Equipes

multidisciplinares poderão elucidar muitas dúvidas após um período

adequado de estudo, em relação aos quirópteros e, também, a outros

animais silvestres. Romijn et al. (2003) sugere que somente monitorar

casos de raiva de uma região não auxilia muito a epidemiologia da doença

ou seu controle, pois também é necessário relacionar estudos de dispersão

e dinâmica da doença, rotas do D. rotundus, seus abrigos e presença de

alimento.

Atualmente, muito se fala das alterações ambientais como uma das

causas mais prováveis da existência da raiva em bovinos transmitida por D.

rotundus (Mayen, 2003), porém, as áreas aqui estudadas estão se

urbanizando desde o final do século XIX, principalmente devido ao cultivo

do café. Carini (1911) estudou a raiva entre animais de interesse

econômico no Estado de Santa Catarina e naquela época o meio ambiente

estava praticamente inalterado pela ação humana. Halpin et al. (2007),

observam que o estudo das infecções, como por exemplo, a raiva em

morcegos, associadas à ecologia, encontra-se na sua fase infantil.

Silva et al. (2001), analisando a raiva em Minas Gerais, escrevem

“...a raiva bovina é mais associada às lavouras permanentes e temporárias,

às pastagens naturais e plantadas e ao efetivo bovino, e menos associada

às matas naturais e plantadas, às lavouras em descanso e às terras

produtivas não utilizadas...as transformações antrópicas no espaço agrário,

especialmente no uso da terra, influenciaram de modo determinante a

Page 158: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

158

distribuição espacial e temporal da raiva bovina em Minas Gerais”... Em

Minas Gerais, a concentração de bovinos associado à substituição de

matas naturais, em especial à de cerrado, por grandes extensões de

pastagens, propicia alimentação abundante e de fácil acesso às colônias de

morcegos hematófagos, conseqüentemente favorecendo a transmissão da

raiva entre as diversas espécies de quirópteros... A substituição das matas

naturais por lavouras e pastagens e a construção de uma grande

diversidade de estruturas como habitações, túneis, minas, fornos para

carvão, pontes e bueiros sob rodovias, que são proporcionadas, também,

pelos projetos de desenvolvimento agropecuário, imprimem profundas

mudanças ecológicas e sócio-econômicas”.

A vacinação entre bovinos no Brasil não é regular e é pequena e este

fato pode ter sido a origem da epidemia 1997-2002. Nogueira (2003), cita

que no Estado de São Paulo 210 mil animais foram vacinados em 1999,

400 mil em 2000, 2 milhões e setecentos mil em 2001 e 3 milhões e 900 mil

em 2002. Peres (2009), após minuciosa análise dos dados epidemiológicos

relacionados aos casos de raiva no Estado de São Paulo no período de

1997-2007, afirma que o controle da epidemia 1997-2002 obteve êxito após

a vacinação dos bovinos e eqüinos da área epidêmica e o concomitante

contrôle populacional de D. rotundus.

Um fato que chama atenção é o descrito por Menezes et al. (2008).

Os autores estudando a situação epidemiológica do Estado de Minas

Gerais descrevem uma redução constante nos casos de raiva e municípios

com casos positivos no Estado, entre 1998 e 2006, inclusive nos municípios

vizinhos as áreas RD1, RD2 e RD3. Em 1998, 1999, 2000, 2001 e 2002 o

Estado contabilizou 586, 476, 443, 246 e 306 casos de raiva em 180, 167,

150, 90 e 118 municípios, respectivamente. Esta descrição é intrigante,

pois no momento em que os casos de raiva diminuíam em Minas Gerais,

em São Paulo aumentavam. A relação filogenética entre as linhagens da

área epidemica de São Paulo com as de Minas Gerais ainda é

indeterminada e devem ser a próxima etapa para entender a relação

filogeográfica do RABV nestes dois estados brasileiros.

A epidemia estudada contraria muitas afirmações correntes, como

por exemplo, “a emergência e duração de raiva entre bovinos de uma

região dura, em média, 18 meses e cessa repentinamente”; “estas

epidemias se caracterizam por perturbação ecológica seguida da

introdução de bovinos”. Estes dados como outros apontados anteriormente,

devem ser reavaliados, pois os resultados deste estudo sugerem outras

hipóteses.

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159

No Brasil a raiva entre D. rotundus é endêmica. A população deste

animal necessita ser controlada por meios ecológicos eficientes e novos

métodos de vacinação, como o sugerido por Almeida et al. (2008), devem

ser continuamente pesquisados. A vacinação dos herbívoros de criação

deve ser realizada amplamente e o Estado brasileiro deve estimulá-la

através de campanhas educativas.

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160

6.Conclusões

As análises dos resultados deste trabalho permitem expressar, pelo

menos sete conclusões:

1- A área RD1 é produto da expansão da área endêmica do

Estado de São Paulo.

2- A menor identidade encontrada entre as linhagens da área

RD1 quando comparada com as linhagens das áreas RD2 e

RD3 indica que, provavelmente, as epidemias destas áreas

tiveram origens distintas.

3- A área RD3 é uma expansão da área RD2.

4- As análises das linhagens do RABV AgV3 estudadas permite

afirmar que um conjunto de linhagens AgV3 (Subclado

“Antigas”), semelhantes às linhagens de RD1, circulavam

em São Paulo anteriormente ao ano de 1998 e foram

substituídas, a partir deste ano, pelas linhagens das áreas

RD2 e RD3.

5- A origem das linhagens RD2/RD3 é indeterminada.

6- A epidemia 1997-2002 foi decorrente da falta de vacinação dos

animais envolvidos, pois com o incremento de vacinação a

epidemia cessou.

7- A conclusão geral e mais importante dos resultados deste

trabalho é afirmar que as linhagens AgV3 que circulam

entre D. rotundus no Brasil são muito conservadas em

relação ao tempo e ao espaço.

Page 161: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

161

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188

Anexos

Seqüências putativas da nucleoproteína N e da glicoproteína G do

RABV

20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|

PV NNQVVSLKPEIIVDQYEYKYPAIKDLKKPCITLGKAPDLNKAYKSVLSCMSAAKLDPDDVCSYLAAAMQFFEGTCPEDWTSYGIVIARKGDKITPGSLVEIKRTDVEGNW

Consenso BR .............................S...............I..G.N......................S..........L..........D...D.R........

97BI455E H............................S...............I..G.N..................Y...S..........L..........D...D.R........

97CP870E H............................S...............I..G.N..................Y...S..........L..........D...D.R........

97GU3919B H............................S...............I..G.N..................Y...S..........L..........D...D.R........

97JA633B H............................S.........H.....I..G.N......................S..........L..........D...D.R........

97MG1284B H............................S...............I..G.N..................Y...S..........L..........D...D.R........

97MG2439B H............................S...............I..G.N..................Y...S..........L..........D...D.R........

97MR214B H.........................EE.S...............I..G.N..................Y..............L..........D...D.R........

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192

240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340

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PV TAYEDCSGLVSFTGFIKQINLTAREAILYFFHKNFEEEIRRMFEPGQETAVPHSYFIHFRSLGLSGKSPYSSNAVGHVFNLIHFVGCYMGQVRSLNATVIAACAPHEMSV

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98JO4849B ..........................L..........................................................................T........

98MG366B ..........................L..........................................................................T........

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98PO5300B ..........................L..........................................................................T........

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99PI1328B ..........................L..........................................................................T........

99PI1929B ..........................L..........................................................................T........

99PI3602B ..........................L..........................................................................T........

99PI4026B ..........................L..........................................................................T........

99SO1797B ..........................L..........................................................................T........

99SO1989B ..........................L..........................................................................T........

99SO2541B ..........................L..........................................................................T........

99SO3780B ..........................L..........................................................................T........

99SO3951B ..........................L..........................................................................T........

99SO4067B ..........................L..........................................................................T........

99SO4114B ..........................L..........................................................................T........

99SO4672B ..........................L..........................................................................T........

99SO5599B ..........................L..........................................................................T........

99VA2787E ..........................L..........................................................................T........

99VA4750B ..........................L..........................................................................T........

99VA5369B ..........................L..........................................................................T........

99VA5767E ..........................L..........................................................................T........

00AM2626B ..........................L..........................................................................T........

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00AR4597B ..........................L..........................................................................T........

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00AT2824B ..........................L..........................................................................T........

00AT568B ..........................L..........................................................................T........

00AT81B ..........................L..........................................................................T........

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00BR4545B ..........................L..........................................................................T........

00BR5347B ..........................L..........................................................................T.....I..

00BR5402B ..........................L..........................................................................T........

Page 193: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

193

240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340

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PV TAYEDCSGLVSFTGFIKQINLTAREAILYFFHKNFEEEIRRMFEPGQETAVPHSYFIHFRSLGLSGKSPYSSNAVGHVFNLIHFVGCYMGQVRSLNATVIAACAPHEMSV

Consenso BR ..........................L..........................................................................T........

00BR6866B ..........................L..........................................................................T........

00BR6867B ..........................L..........................................................................T........

00BU1471B ..........................L..........................................................................T........

00BU178B ..........................L..........................................................................T........

00BU5572B ..........................L..........................................................................T........

00BU889B ..........................L..........................................................................T........

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00CC7018B ..........................L..........................................................................T........

00CC778B ..........................L..........................................................................T........

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00JR2983B ..........................L..........................................................................T........

00LI2617B ..........................L..........................................................................T........

00LI2885B ..........................L..........................................................................T........

00LI4998B ..........................L..........................................................................T........

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00MO4812B ..........................L...................................................I......................T........

00MO756B ..........................L..........................................................................T........

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00NA3299B ..........................L..........................................................................T........

00PE1559B ..........................L..........................................................................T........

00PE312B ..........................L..........................................................................T........

00PE5285B ..........................L..........................................................................T........

00PE5475B ..........................L..........................................................................T........

00PI776B ..........................L..........................................................................T........

00PN3141B ..........................L..........................................................................T........

00PN5151B ..........................L..........................................................................T........

00SI1333E ..........................L...................................................I......................T........

00SO4553B ..........................L..........................................................................T........

00SS232B ..........................L..........................................................................T........

00TA6195B ..........................L..........................................................................T........

00TU1283B ..........................L..........................................................................T........

00VA1040B ..........................L..........................................................................T........

00VA1948E ..........................L..........................................................................T........

00VA4631B ..........................L..........................................................................T........

00VA555E ..........................L..........................................................................T........

00VA655E ..........................L..........................................................................T........

00VA788B ..........................L..........................................................................T........

01AM1064B ..........................L..........................................................................T........

01AT7590B ..........................L..........................................................................T........

01CA142B ..........................L..........................................................................T........

01CA1501B ..........................L..........................................................................T........

01CC159B ..........................L..........................................................................T........

01ES7518B ..........................L..........................................................................T........

01IB1195B ..........................L..........................................................................T........

01IP40B ..........................L..........................................................................T........

01IT1422E ..........................L..........................................................................T........

01IT4693EQ ..........................L..........................................................................T........

01IT7343B ..........................L..........................................................................T........

01JR1500B ..........................L....................................................T.....................T........

01MC7792B ..........................L..........................................................................T........

01MO1433B ..........................L..........................................................................T........

01MR272B ..........................L..........................................................................T........

01PE1395B ..........................L..........................................................................T........

01SS910B ..........................L..........................................................................T........

01VL5458B ..........................L..........................................................................T........

Page 194: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

194

350 360 370 380 390 400 410 420 430 440 450

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PV LGGYLGEEFFGKGTFERRFFRDEKELQEYEAAELTKTDVALADDGTVNSDDEDYFSGETRSPEAVYTRIIMNGGRLKRSHIRRYVSVSSNHQARPNSFAEFLNKTYSSDS

Consenso BR ....................................AET.................S............M......................T.................

97BI455E ....................................AET.................S............M......................T.................

97CP870E ....................................AET.................S............M......................T.................

97GU3919B ....................................AET.................S............M......................T.................

97JA633B ....................................AET.................S............M......................T.................

97MG1284B ....................................AET.................S............M......................T.................

97MG2439B ....................................AET.................S............M......................T.................

97MR214B ....................................AET.................S............M......................T.................

97MR248B ....................................AET.................S............M......................T.................

97SA1286B ....................................AET.................S............M......................T......G..........

97SA2127B ....................................AET.................S............M......................T.................

97SA3011OV ....................................AET.................S............M......................T.................

97SA3044B ....................................AET.................S............M......................T.................

97SA426B ....................................AET.................S............M......................T.................

97SA719B ....................................AET.................S............M......................T.................

97SA988B ....................................AET.................S............M......................T.................

97ST2166B ....................................AET.................S............M......................T.................

97SU4030B ....................................AET.................S............M......................T.................

98BR5114B ....................................AET.................S............M......................T.................

98CC272B ....................................AET.................S............M......................T.................

98CJ5331B ....................................AET.................S............M......................T.................

98CM1495B ....................................AET.................S............M......................T.................

98JG1192B ....................................AET.................S............M......................T.................

98JO4307B ....................................AET.................S............M......................T.................

98JO4849B ....................................AET.................S............M......................T.................

98MG366B ....................................AET.................S............M......................T.................

98PI4568E ....................................AET.................S............M......................T.................

98PO5300B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SA4375B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SA815B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SI2028B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SJ4992B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SO2119B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SO2478B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SO2956B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SO3826B ....................................AET.................S............M......................T.................

98SO4850E ....................................AET.................S............M......................T.................

98SU144B ....................................AET.................S............M......................T.................

99AGB ....................................AET.................S............M......................T.................

99AR2690B ....................................AET.................S............M......................T.................

99BR4023B ....................................AET.................S............M......................T.................

99BR4705B ....................................AET.................S............M......................T.................

99BR5708B ....................................AET.................S............M......................T.................

99CC2394B ....................................AET.................S............M......................T.................

99CC3966B ....................................AET.................S............M......................T.................

99EX2417B ....................................AET.................S............M......................T.................

99JO2193B ....................................AET.................S............M......................T.................

99JO2566B ....................................AET.................S............M......................T.................

99JO4680B ....................................AET.................S............M......................T.................

99NA5367B ....................................AET.................S............M......................T.................

99PE4124B ....................................AET.................S............M......................T.................

99PE4533B ....................................AET.................S............M......................T.................

99PI1328B ....................................AET.................S............M......................T.................

99PI1929B ....................................AET.................S............M......................T.................

99PI3602B ....................................AET.................S............M......................T.................

99PI4026B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO1797B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO1989B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO2541B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO3780B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO3951B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO4067B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO4114B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO4672B ....................................AET.................S............M......................T.................

99SO5599B ....................................AET.................S............M......................T.................

99VA2787E ....................................AET.................S............M......................T.................

99VA4750B ....................................AET.................S............M.................G....T.................

99VA5369B ....................................AET.................S............M......................T.................

99VA5767E ....................................AET.................S............M......................T.................

00AM2626B ....................................AET.................S............M..........V...........T.................

00AR2821E ....................................AET.................S............M......................T.................

00AR4597B ....................................AET.................S............M......................T.................

00AT1958B ....................................AET.................S............M......................T.................

00AT2824B ....................................AET.................S............M......................T.................

00AT568B ....................................AET.................S............M......................T.................

00AT81B ....................................AET.................S............M......................T.................

00B1959B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BJ1947B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR150B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR153B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR196B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR2685B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR2731B ....................................AET.................S............M......................T..........E......

00BR4545B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR5347B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR5402B ....................................AET.................S............M......................T.................

Page 195: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

195

Figura 41: Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e

deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da N da

nucleoproteína das linhagens do RABV AgV3 estudada. Os amino ácidos

das colunas em tom cinza são aqueles encontrados em todas as linhagens

e, portanto, são assinaturas genéticas. A seqüência Consenso BR está em

vermelho. O nome das seqüências da área RD1 é mostrado em cor verde e

os amino ácidos que caracterizam estas seqüências, as assinaturas da

área RD1, estão circundados também em verde. A numeração da primeira

linha da figura se refere ao número da posição do amino ácido em relação

à amostra fixa Pasteur Virus.

350 360 370 380 390 400 410 420 430 440 450

....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|

PV LGGYLGEEFFGKGTFERRFFRDEKELQEYEAAELTKTDVALADDGTVNSDDEDYFSGETRSPEAVYTRIIMNGGRLKRSHIRRYVSVSSNHQARPNSFAEFLNKTYSSDS

Consenso BR ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR6866B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BR6867B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BU1471B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BU178B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BU5572B ....................................AET.................S............M......................T.................

00BU889B ....................................AET.................S............M......................T.................

00CC5301B ....................................AET.................S............M......................T.................

00CC7016B ....................................AET.................S............M......................T.................

00CC7018B ....................................AET.................S............M......................T.................

00CC778B ....................................AET.................S............M......................T.................

00IT6261B ....................................AET.................S............M......................T.................

00JR2983B ....................................AET.................S............M......................T.................

00LI2617B ....................................AET.................S............M......................T.................

00LI2885B ....................................AET.................S............M......................T.................

00LI4998B ....................................AET.................S............M......................T.................

00MO210E ....................................AET.................S............M......................T.................

00MO4812B ....................................AET.................S............M......................T.................

00MO756B ....................................AET.................S............M......................T.................

00MR3251B ....................................AET.................S............M......................T.................

00MR6093B ....................................AET.................S............M......................T.................

00MT2986B ....................................AET.................S............M......................T.................

00NA1292B ....................................AET.................S............M......................T.................

00NA3299B ....................................AET.................S............M......................T.................

00PE1559B ....................................AET.................S............M......................T.................

00PE312B ....................................AET.................S............M......................T.................

00PE5285B ....................................AET.................S............M......................T.................

00PE5475B ....................................AET.................S............M......................T.................

00PI776B ....................................AET.................S............M......................T.................

00PN3141B ....................................AET.................S............M......................T.................

00PN5151B ....................................AET.................S............M......................T.................

00SI1333E ....................................AET.................S............M......................T.................

00SO4553B ....................................AET.................S............M........................................

00SS232B ....................................AET.................S............M......................T.................

00TA6195B ....................................AET.................S............M......................T.................

00TU1283B ....................................AET.................S............M......................T..........E......

00VA1040B ....................................AET.................S............M......................T.................

00VA1948E ....................................AET.................S............M......................T.................

00VA4631B ....................................AET.................S............M......................T.................

00VA555E ....................................AET.................S............M......................T..........E......

00VA655E ....................................AET.................S............M......................T.................

00VA788B ....................................AET.................S............M......................T...........P.....

01AM1064B ....................................AET.................S............M......................T.................

01AT7590B ....................................AET.................S............M......................T.................

01CA142B ....................................AET.................S............M......................T.................

01CA1501B ....................................AET.................S............M......................T.................

01CC159B ....................................AET.................S............M......................T.................

01ES7518B ....................................AET.................S............M......................T.................

01IB1195B ....................................AET.................S............M......................T.................

01IP40B ....................................AET.................S............M......................T.................

01IT1422E ....................................AET.................S............M......................T.................

01IT4693EQ ....................................AET.................S............M......................T.................

01IT7343B ....................................AET.................S............M......................T.................

01JR1500B ....................................AET.................S............M......................T.................

01MC7792B ....................................AET.................S............M......................T.................

01MO1433B ....................................AET.................S............M......................T.................

01MR272B ....................................AET.................S............M......................T.................

01PE1395B ....................................AET.................S............M......................T.....G...........

01SS910B ....................................AET.................S............M......................T.................

01VL5458B ....................................AET.................S............M......................T.................

Page 196: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

196

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|

PV MVPQALLFVPLLVFPLCFGKFPIYTIPDKLGPWSPIDIHHLSCPNNLVVEDEGCTNLSGFSYMELKVGYISAIKMNGFTCTGVVTEAETYTNFVGYVTTT

Consenso BR .IL.........ISS..L........................................................V.........................

97MR248B ..L.........ISS..L........................................................V.........................

97SA3044B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

97SA719B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

97SA988B .IL.........ISS..L..............R.........................................V.........................

98AC1411B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98BR5114B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98JA1192B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98JO4307B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98JO4849B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98MG366B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98PI4568E .IL....L....ISSS.L........................................................V.........................

98SA4375B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98SA815B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98SJ4992B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98SO2119B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98SO2478B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98SO3826B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

98SU144B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99AR2690B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99CC2394B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99JO2193B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99JO3960B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99NA5367B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99PE4533B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99PI1328B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99PI1929B .IL.........ISSS.L.....................................K..................V.........................

99PI4026B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99SO1989B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99SO3951B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

99VA5767E .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00AT81B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00BJ1947B .IL.........ISS..L.....................................K..................V.........................

00BR153B .IL.........ISSS.L..............R.........................................V.........................

00BR196B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00BR2685B .IL.........ISSS.L.....................................K..................V.........................

00BR4545B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00BR5347B .IL.........ISSS.V........................................................V.........................

00BR5402B .IL.........ISSS.L........................................................V.........................

00BR6867B .IL.........ISSS.L........................................................V.........................

00CC7016B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00CC7018B .IL.........ISS..L.....................................K..................V.........................

00CC778B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00MO1471B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00MO210E .IL.........ISSS.L........................................................V.........................

00MO756B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00NA3299B .IL.........ISSS.L........................................................V.........................

00PE312B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00PE5285B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00PI776B .IL.........ISSS.L..............R.........................................V.........................

00PN3141B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00SO4553B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00VA1040B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00VA4631B .IL.........ISSS.L........................................................V.........................

00VA555E .IL.........ISS..L........................................................V.........................

00VA788B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

01AM1064B .IL.........ISSS.V........................................................V.........................

01CA142B .IL.........ISSS.V........................................................V.........................

01CA1501B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

01ES7518B .IL.........ISSS.V........................................................V.........................

01IP40B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

01IT4693E .IL.........ISSS.L........................................................V.........................

01MC7792B .IL.........ISS..L........................................................V.........................

01MR272B .IL.........ISS..L.....................................K..................V.........................

Page 197: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

197

110 120 130 140 150 160 170 180 190 200

....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|

PV FKRKHFRPTPDACRAAYNWKMAGDPRYEESLHNPYPDYHWLRTVKTTKESLVIISPSVADLDPYDRSLHSRVFPGGNCSGVAVSSTYCSTNHDYTIWMPE

Consenso BR ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

97MR248B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

97SA3044B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

97SA719B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

97SA988B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98AC1411B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98BR5114B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98JA1192B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98JO4307B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98JO4849B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98MG366B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98PI4568E ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98SA4375B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98SA815B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98SJ4992B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98SO2119B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98SO2478B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98SO3826B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

98SU144B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99AR2690B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99CC2394B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99JO2193B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99JO3960B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99NA5367B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99PE4533B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99PI1328B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99PI1929B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99PI4026B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99SO1989B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99SO3951B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

99VA5767E ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00AT81B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BJ1947B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BR153B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BR196B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BR2685B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BR4545B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BR5347B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BR5402B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00BR6867B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00CC7016B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00CC7018B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00CC778B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00MO1471B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00MO210E ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00MO756B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00NA3299B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00PE312B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00PE5285B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00PI776B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00PN3141B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00SO4553B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00VA1040B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00VA4631B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00VA555E ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

00VA788B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01AM1064B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01CA142B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01CA1501B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01ES7518B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01IP40B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01IT4693E ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01MC7792B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

01MR272B ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT..................

Page 198: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

198

Figura 42: Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e

deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da Glicoproteína G

das linhagens do RABV AgV3 estudadas. Os amino ácidos das colunas em

tom cinza são aqueles encontrados em todas as linhagens e, portanto, são

assinaturas genéticas. A seqüência Consenso BR está em vermelho. A

numeração da primeira linha da figura se refere ao número da posição do

amino ácido em relação à amostra fixa Pasteur Virus.

210 220 230 240 250 260

....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|...

PV NPRLGMSCDIFTNSRGKRASKGSETCGFVDERGLYKSLKGACKLKLCGVLGLRLMDGTWVAMQTSNET

Consenso BR E....T......S.K..K....GK....................................XI...DD.

97MR248B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DN.

97SA3044B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

97SA719B E....T......S.K..K....GR....................................SI....D.

97SA988B E....T......S.K..K....GR....................................SI...DD.

98AC1411B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DN.

98BR5114B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

98JA1192B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

98JO4307B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

98JO4849B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

98MG366B E....T......S.K..K....GR....................................SI......

98PI4568E E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

98SA4375B E....T......S.K..K....GR....................................SI....D.

98SA815B E....T......S.K..K....GR....................................SI....D.

98SJ4992B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

98SO2119B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

98SO2478B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

98SO3826B E....T......S.K..K....GK....................................SI...D..

98SU144B E....T......S.K..K....GR....................................SI....D.

99AR2690B E....T......S.K..K....GR....................................SI....D.

99CC2394B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

99JO2193B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

99JO3960B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

99NA5367B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

99PE4533B E....T......S.K..K....GK....................................SI......

99PI1328B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

99PI1929B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

99PI4026B E....T......S.K..K....GK....................................SI......

99SO1989B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

99SO3951B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

99VA5767E E....T......S.K..K....GK....................................SI......

00AT81B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

00BJ1947B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00BR153B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00BR196B E....T......S.K..K....GR....................................SI...DD.

00BR2685B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00BR4545B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00BR5347B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00BR5402B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00BR6867B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00CC7016B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00CC7018B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00CC778B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00MO1471B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00MO210E E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00MO756B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

00NA3299B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00PE312B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

00PE5285B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00PI776B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00PN3141B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00SO4553B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00VA1040B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00VA4631B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

00VA555E E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

00VA788B E....T......S.K..K....GK....................................SI....D.

01AM1064B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

01CA142B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

01CA1501B E....T......S.K..K....GK............................K.......SI...DD.

01ES7518B E....T......S.K..K....GK............................K.......SI...DD.

01IP40B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

01IT4693E E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

01MC7792B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

01MR272B E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD.

Page 199: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

199

Protocolos das Reações de Material e Métodos

CUIDADOS: fazer uso de cabines de fluxo laminar e utilizar controles

positivo e negativo. Para todas as reações utilizar tubos e ponteiras com

filtro RNase e DNase free.

Extração de RNA

Insumos: Trizol® (Invitrogen), clorofórmio, álcool isopropil, etanol 75%, água

ultra pura DNAse, RNAse free.

Aplicação da Técnica

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

1. Macerar e picotar o material do qual se deseja extrair o RNA com

bisturi estéril e descartável.

2. Após a maceração colocar a amostra em tubos de 1,5mL,

acrescentando 1mL de Trizol®.

3. Agitar vigorasamente por aproximadamente 20 segundos e deixar à

temperatura ambiente por 05 minutos.

4. Acrescentar 200µL de clorofórmio.

5. Agitar vigorasamente.

6. Centrifugar por 15 minutos a 12000g na temperatura de 4°C.

7. Após esta centrifugação passar a fase aquosa para outro tubo de

1,5mL.

8. Acrescentar álcool isopropil, no mesmo volume da fase aquosa.

9. Agitar vigorasamente e deixar a temperatura ambiente por 10

minutos.

10. Centrifugar por 10 minutos a 12000g/4°C.

11. Após a centrifugação remover o sobrenadante.

12. Após a remoção do sobrenadante, acrescentar 1mL de etanol a 75%.

13. Agitar vigorasamente e centrifugar por 10 minutos a 7000g/4°C.

Page 200: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

200

14. Após a centrifugação descartar o etanol e secar o conteúdo.

15. Após a secagem ressuspender o RNA final em 25µL de água

DNAse/RNAse free e deixar em banho Maria seco por 10 minutos à

56°C.

16. “Spin” e guardar a -80°C até o momento do uso.

Transcrição Reversa (RT)

Insumos: 5X First Strand Buffer, oligonucleotídeos (dNTP 10Mm), 1,4-

Dithiothreitol (DTT), SuperScript II Reverse Transcriptase, primers senso e

antisenso, água RNase e DNase free, RNaseOUT, todos da marca

INVITROGEN.

Aplicação da Técnica

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

Identificar os tubos de 0,5mL para cada amostra a ser testada.

Descongelar todos os reagentes em gelo.

Agitar vigorasamente e dar spin em cada um dos reagentes.

Fazer um mix de todos os reagentes utilizados na reação para um

total de amostras testadas, seguindo o quadro abaixo:

Reagente Volume em µL por amostra

5x First Strand Buffer 8

dNTPs 10 mM 6

DTT 4

Transcriptase reversa 1

Primer senso 5

Primer antisenso 5

Água 12

RNaseOUT 1

Total de MIX 42

RNA 5

Distribuir 42µL do mix de reagente em cada tubo de amostra a ser

testada e em seguida acrescentar 5µL do RNA extraído de cada

amostra.

Page 201: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

201

Dar spin em cada tubo e levar ao termociclador submetendo a uma

ciclagem de 42ºC por 1 hora.

Em seguida utilizar o cDNA produzido para o PCR ou guardar as

reações a 4ºC até o momento de uso.

Reação em cadeia pela polimerase (PCR)

Insumos: dNTPs à 1,25 mmolar, água ultra pura DNAse/RNAse free, primers

senso e anti-senso, Taq DNA-polimerase (INVITROGEN), 10x PCR Buffer e

cloreto de magnésio (MgCl2).

Aplicação da Técnica

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

Identificar os tubos de 0,5mL para cada amostra a ser testada.

Descongelar todos os reagentes em gelo.

Agitar vigorasamente e dar spin em cada um dos reagentes utilizados

na reação de PCR.

Fazer um mix de todos os reagentes utilizadas na reação para um

total de amostras testadas, seguindo o quadro abaixo:

Reagente Volume em µL

10x PCR Buffer 10

dNTPs 1,25 mM 16

Primer senso 5

Primer anti-senso 5

MgCl2 5

Taq DNA-polimerase 0,5

Água ultra-pura 50,5

Total de MIX 92

cDNA 10

Distribuir 92µL do mix de reagente em cada tubo de amostra a ser

testada e em seguida acrescentar 10µL do cDNA de cada amostra.

Levar ao termociclador programado com os seguintes ciclos:

Page 202: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

202

Ciclo Temperatura/Tempo

Denaturação 95ºC/ 5 min

Amplificação – 35x

94ºC/ 45 seg - denaturação 55ºC/ 45 seg - anelamento

72ºC/ 2 min - extensão

Extensão final 72ºC/ 10 min

Conservação 10ºC

Após a termociclagem, manter a -20ºC até o uso.

Eletroforese

Insumos: Agarose (INVITROGEN); Brometo de etídio (INVITROGEN);

Tampão Tris-Borato EDTA (TBE); Água DNase e RNase free; Peso

molecular (MW) 100 pares de bases (PB) (INVITROGEN); 10X Blue Juice

Gel Loading Buffer (INVITROGEN).

Referência: Sambrook J, Fritsch EF, Maniatis T. Molecular cloning: a

Laboratory Manual, 2nd edition, Cold Spring Harbor Laboratory, New York,

1989.

Gel de agarose

Pesar 1g de agarose e adicionar em 100mL de TBE (gel de agarose a

1%), aquecer a mistura até dissolver a agarose. Adicionar a mistura

na forma com espaçadores da cuba eletrorética e deixar em

temperatura ambiente até a solidificação da agarose.

Preencher a cuba eletroforética com tampão TBE e dissolver 20µL de

Brometo de etídio no tampão da cuba. Colocar a forma com o gel

solidificado dentro da cuba.

Pipetar 08µL do produto do PCR descongelado mais 2 µL de 10X

Blue Juice Gel Loading Buffer e adicionar no poço do gel de agarose.

Adicionar 5µL de peso molecular 100pb em um dos poços.

Ligar os fios da cuba eletroforética até a fonte eletroforética

programada para corrida de 1 hora a 110 Volts. Após este tempo

observar o resultado da corrida eletroforética em transluminador de

UV.

Page 203: Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS …

203

CUIDADOS: O brometo de etídio é carcinogênico e seu uso e descarte

devem seguir as normas adequadas. Toda a técnica tem que ser realizada

somente na sala de eletroforese, evitando contaminações com produtos do

PCR.

Purificação direto do produto do PCR utilizando o kit GFXTM PCR DNA

and GEL Band Purification Kit

Insumos: Tampão de captura (capture Buffer), tampão de lavagem (Wash

Buffer) e tampão de eluição (Elution Buffer – EB) presentes no kit GFXTM

PCR DNA and Gel Band Purification Kit (General Motors Healthcare).

Aplicação da Técnica:

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

Descongelar o produto de PCR.

Adicionar no máximo 100µL do produto de PCR em tubo de 1,5µL e

adicionar 500µL de Capture Buffer, misturar com a ponteira de 4 a 6

vezes.

Transferir a mistura para coluna (presente no kit) já dentro do tubo

coletor (também presentes no kit).

Centrifugar por 30 segundos a 14000g.

Descartar o material do tubo coletor (cuidado para não encostar o

liquido na parte final da coluna interna), voltar a coluna para o tubo

coletor e acrescentar 500µL de Wash Buffer.

Centrifugar por 30 segundos a 14000g.

Descartar o tubo coletor e colocar a coluna no tubo de 1,5mL novo

com identificação da amostra.

Para eluir o DNA da coluna, acrescentar de 50 a 10µL de Elution

Buffer - EB (quantidade depende da concentração de DNA na

amostra e é subjetivo- bandas fortes mais EB, bandas fracas menos

EB), manter por 1minuto a temperatura ambiente e centrifugar por

1minuto a 14000g.

Descartar a coluna e fechar o tubo contendo o DNA purificado.

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CUIDADOS: Toda a técnica tem que ser realizada somente na sala de

eletroforese.

Purificação do produto do PCR à partir do gel utilizando o kit GFXTM

PCR DNA and GEL Band Purification Kit

*Utilizar em caso de identificação de banda espúria no produto de PCR.

Insumos: Tampão de captura (capture Buffer), tampão de lavagem (Wash

Buffer), tampão de eluição (Elution Buffer - EB) presentes no kit GFXTM

PCR DNA and Gel Band Purification Kit ((General Motors Healthcare);

agarose; tampão tris-borato EDTA (TBE); água DNase e RNase free; peso

molecular 100 pares de base (pb); low DNA mass ladder; 10X Blue Juice gel

loading buffer.

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

Purificação

Pesar tubos para micro centrífuga de 1.5mL de capacidade e anotar

seu peso.

Recortar o pedaço do gel de agarose contendo a banda a ser

purificada e colocá-los nos tubos para microcentrífuga de 1.5mL já

pesados e identificados. Pesar os tubos novamente para obter o peso

do pedaço de gel recortado.

Acrescentar o tampão de captura em cada tubo, na proporção de

10µL para cada 10mg de gel.

Fechar o tubo e agitar vigorosamente. Incubar a 60°C, em banho seco

em bloco até a agarose se dissolver por completo (5-15 minutos).

Durante a incubação, acondicionar a coluna (presente no kit) no tubo

coletor (também presente no kit), com a identificação da amostra a

ser utilizada.

Após a completa dissolução da agarose, centrifugar o tubo

rapidamente em microcentrífuga e transferir a amostra do tubo para a

coluna, já dentro do tubo coletor. Incubar a temperatura ambiente por

1 minuto.

Centrifugar por 30 segundos a 14000g.

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Descartar o material do tubo coletor (cuidado para não encostar o

líquido na parte final da coluna), voltar a coluna para o tubo coletor e

acrescentar 500µL de Wash Buffer .

Centrifugar por 30 segundos a 14000g.

Descartar o tubo coletor e colocar a coluna em um novo tubo de

1.5mL identificado.

Para eluir o DNA da coluna, acrescentar de 50 a 10µL de tampão EB

(depende da concentração de DNA na amostra), deixar por 1 minuto a

temperatura ambiente e centrifugar por 1minuto a 14000g.

Descartar a coluna e fechar o tubo contendo o DNA purificado.

CUIDADOS: Toda a técnica tem que ser realizada na sala de eletroforese,

para evitar contaminação por DNA. O brometo de etídio é carcinogênico.

Quantificação do DNA purificado realizado através do uso de Low DNA

mass ladder

Insumos: Agarose; tampão tris-borato EDTA (TBE); água DNase e RNase

free; low DNA mass ladder (INVITROGEN); 10X Blue Juice gel loading

buffer.

Aplicação da Técnica

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

Pesar 1 grama de agarose e adicionar em 50 mililitros de TBE (gel de

agarose a 2%), aquecer a mistura até dissolver a agarose. Adicionar a

mistura na forma com espaçadores da cuba eletrorética e deixar em

temperatura ambiente até a solidificação da agarose.

Preencher a cuba eletroforética com tampão TBE e dissolver 20µL de

Brometo de Etídio no tampão da cuba. Colocar a forma com o gel

solidificado dentro da cuba.

Com ponteiras de 10µL pipetar 4µL do DNA purificado juntamente

com 1µL de 10X Blue Juice gel loading buffer e adicionar no poço do

gel de agarose.

Adicionar 4µL de low DNA mass ladder em um dos poços.

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Ligar os fios da cuba eletroforética até a fonte eletroforética

programada para corrida de 1 hora a 110 Volts. Após este tempo

observar o resultado da corrida eletroforética em transluminador de

UV.

Observar a intensidade da banda de cada amostra e comparar com a

intensidade dos tamanhos de fragmentos de DNA do low DNA mass

ladder, a qual para cada tamanho de fragmento de DNA é fornecido o

volume em ng de DNA da amostra em tabela anexa ao produto.

Em seguida manter a amostra a -20ºC até o momento da técnica de

reação de seqüenciamento.

CUIDADOS: Toda a técnica deve ser realizada na sala de eletroforese para

contaminação por DNA. O brometo de etídio é carcinogênico.

Reação de Seqüenciamento

Insumos: água ultra pura DNA/RNAse free; primers senso anti-senso à 3,2

mmolar; BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit (Amersham

Biosciences™).

Todas as etapas a seguir devem ser realizadas em ambiente pouco

iluminado.

Aplicação da Técnica

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

Identificar os tubos de 0,2mL para cada amostra a ser seqüenciada.

Descongelar todos os reagentes em gelo.

Agitar vigorasamente e dar spin em cada um dos reagentes utilizados

na reação de PCR. Não agitar vigorasamente o BigDye Terminator

v3.1 Cycle Sequencing Kit.

Fazer um mix de todos os reagentes utilizados na reação para um

total de amostras testadas, seguindo o quadro a seguir:

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MIX µL

BigDye 4

Primer 3,2uM 1

PCR Definir pelo resultado de quantificação de DNA

H2O Definir completando até 10 µL

Total 10 µL

A quantidade de água e produto de PCR depende da quantificação do

DNA. Quanto mais concentrado o DNA menos produto será utilizado.

Seguir a tabela abaixo em relação ao tamanho do amplicon:

Produto de PCR Quantidade

100-200bp 1-3ng

200-500bp 3-10ng

500-1000bp 5-20ng

1000-2000bp 10-40ng

>2000bp 40-100ng

Levar ao termociclador programado com os seguintes ciclos:

96°C 1 min

96°C 10 seg

50°C 5 seg 35 ciclos

60°C 4 min

10°C Conservação

Assim que terminar a ciclagem, manter a reação a 4ºC para a

purificação da reação de seqüenciamento.

O controle da reação se faz com a amostra pGEM que faz parte do

BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit (Amersham

Biosciences™).

A reação de controle se faz como especificado na tabela abaixo:

MIX µL

BigDye 4

Primer 0,8uM 4

pGEM 200ng/uL 1

H2O 1

Total 10

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Purificação da Reação de Seqüenciamento e Preparo da Placa de

Sequenciamento

Insumos: Gelo em raspas; água ultra pura DNA/RNAse free; isopropanol

66%; etanol 70 %; formamida HiDi (Applied Biosystems).

Aplicação da Técnica

Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante.

Adicionar 90 µL de isopropanol 66% a cada tubo da reação de

seqüenciamento.

Spin na reação de seqüenciamento e adicionar 10 µL em cada tubo

com isopropanol 66%.

Agite manualmente os tubos para homogeneizar seguido spin. Manter

os tubos à temperatura ambiente por 20 minutos.

Centrifugar os tubos à temperatura ambiente em microcentrífuga por

25 minutos a 14000 g.

Remova o sobrenadante por aspiração. Adicione 170uL de Etanol

70% para lavar o pellet.

Centrifugar os tubos à temperatura ambiente em microcentrífuga por

10 minutos a 14000 g.

Remova o sobrenadante por aspiração e deixe o pellet secar ao ar por

cerca de 30-40 minutos.

Ressuspender o pellet em 10uL de Formamida Hi-Di.

Agitar vigorasamente e manter a 4ºC protegido da luz. Caso as

reações não sejam corridas logo em seguida, secar as reações e

estocar a placa ou os tubos vedados (envoltos por alumínio) à -20ºC

até levar para seqüenciar, sem ressuspender na formamida Hi-Di.

Ressuspender em 10uL de formamida Hi-Di, agitar vigorasamente e

dar spin. Caso as amostras tenham sido estocadas secas, retirar do

freezer e após chegar a temperatura ambiente ressuspender em 10uL

de formamida Hi-Di, agitar vigorasamente e dar spin.

Transferir as amostras para a placa de sequenciamento e dar spin.

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Denaturar a placa por 95ºC durante 5 min e colocar imediatamente

em gelo por aproximadamente 5 min.

Em seguida dar spin novamente na placa e colocar no gelo

imediatamente.

Deixar no gelo até o momento da corrida eletroforética no

seqüenciador.

Após a corrida eletroforética no seqüenciador extrair os dados gerados

(eletroferogramo) para uso com softwares de bioinformática relacionados

aos ácidos nucléicos.