pedimos que nos mostrassem e nstatic.publico.pt/docs/publica/oanodosleitores.pdfera antigo, o sonho,...

26
8 • 30 Dezembro 2007 • Pública 20 o ano dos Pedimos que nos mostrassem e n

Upload: ngokhuong

Post on 16-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

8 • 30 Dezembro 2007 • Pública

20o ano dos

Pedimos que nos mostrassem e n

Pública • 30 Dezembro 2007 • 9

Os acontecimentos mais felizes e marcantes

007s leitores

e narrassem os acontecimentos mais felizes e marcantes

Pública • 30 Dezembro 2007 • 33

MiguelUm pontinho de luz.A eternidade, ainda que por ins-tantes, pode tocar-se.Reconciliou-nos com a magia da vida, o Miguel.Luís António Santos

BirkenauEra antigo, o sonho, daquela triste história: hão-de estes monstros ser apenas memória! Abriu-se o obturador e captou um momento de alegria: Birkenau para sempre se desfazia! Nessa hora chovia, chovia. Hélder Rodrigues

2 Março de 2007No mês de Março, mês da come-moração da mulher, comecei a namorar com uma mulher espetacular: a minha namorda, Patricia Martins.Foi o momento mais feliz para mim no ano de 2007.Cláudio Anaia

As duas irmãs das minhas fi lhase as quatro fi lhas da minha mulherHá 18 anos, um ex – colono “mandou vir” de Angola uma menina negra, de dez anos, bonita, a Antonica.A “Tonica” foi para a escola, em V. N. de Fama-licão. Foi ali que se fez amiga das minhas fi lhas, a Gi e a Micaela.Tonica cresceu, longe da sua África, da mãe e das irmãs que nunca mais viu. Namorou com um branco e marcaram casamento. Um mês antes do casamento, o rapaz abandonou-a por-que ela estava grávida dele. A Cristiana nasceu desta ligação, fez neste Natal oito anos.A pedido da mãe, veio para minha casa com três meses. De nova ligação, nasceu a Núria que fez neste Natal seis anos. Veio também para minha casa com três meses.Para as duas, a minha mulher é a mãe e eu sou o Mário. As minhas fi lhas são as irmãs mais velhas das duas fi lhas mulatinhas da minha mulher.A Cristiana e a Núria têm duas famílias, duas irmãs brancas e duas mães, uma negra e uma branca.Haverá melhor Natal do que um Natal assim?Na foto, da esquerda para a direita: A Gi, a Núria, a Cristiana e a Micaela.Mário C. Martins, V. N. de Famalicão

32 • 30 Dezembro 2007 • Pública

A manhã

Não há dúvida nenhuma, o melhor momento do ano o vivo diariamente, quando acordo e abro a janela para con-templar o novo dia. As cores no céu nunca são iguais e sei que é porque também cada dia é único e irrepetível. Olhar para tal beleza é a inspiração que preciso para sentir que posso fazer qualquer coisa, porque cada dia que começa está a pôr ao pé de mim muitas horas novas, todas por estrear.Não importa que a bruma me impeça de ver ao longe, ou que as nuvens de tormenta tentem obscurecer-me; a luz sempre abre caminho para me guiar. E, se no dia ante-rior tive a fraqueza de ser pessimista ou de não dar o meu melhor, a vida está a dar me este presente, este novo dia para voltar a tentar.Guillermina Gutiérrez, Mozelos

FilhasUm sorriso feliz das maninhas num certo domingo do ano 2007.Jorge Carrega

Varicela Por muito amor e carinho que pro-porcionamos, nunca conseguimos os prote ger de tudo.Patrice Almeida

Pública • 30 Dezembro 2007 • 31

MoçambiqueNa manhã de 28 de Julho de 2007 o avião aterrou em Maputo e nesse momento começou algo de novo, a que chamo de aventura... mas foi muito mais que isso. A luz suave de que tanto ouvi falar estava ali para me saudar e, mais ainda, acolher durante aquelas felizes semanas. Milhares de quilómetros, pelas províncias de Maputo, Gaza, Inhambane e Cabo Delgado, foram, estes sim, os milhares de rostos — simples, sinceros, dig-nos — que me deram a oportunidade de teste-munhar a felicidade que não habita nas coisas, nas palavras ou no ar que respiramos, mas sim em nós próprios. Isso eu já sabia, mas nunca a tinh avisto assim, multiplicada em cada rosto, em cada caminho. Depois veio o mais difícil: trazer essa serena felicidade comigo, nestas imagens. Voltarei a Moçambique? Como não?Ana Roque de Oliveira, Lisboa

Acorda“Acorda!... Acho que é desta”. Nem sabia bem ao que ia, julgando que por ter três sobrinhos “bebés” conhecia as sensações que me esperavam...Hoje, com apenas seis dias contados a partir do dia de S. Valentim, enches a minha vida com uma tal imensidão que mal me consigo lembrar quem era antes de ti; mal consigo imaginar a minha feli-cidade ignorante do teu olhar, dos teus gemidos, dos teus choros, do teu cheiro a bebé, das tuas grandes mãos que envol-vem e apertam o meu dedo com medo que ele fuja.Ainda desconheço uma forma defi nitiva de te descrever, de desenhar a nossa nova família com as linhas contrastadas do

esboço que ainda és e de a pintar com as mais belas cores do espectro “visível”... acho que tens o calor do infra-vermelho e a descrição do ultra-violeta, ocultando os tons do que um dia hás-de ser.Hoje, estás ao meu colo, dormes, sonhas, e eu sonho contigo. Amanhã terás uma semana de Vida. O Sol irá nascer, a Lua irá narrar-nos a mecânica das suas fases, mas nada será igual, nada será tão quente nem tão brilhante como ter-te colado ao meu corpo e ver-te crescer.Querida Ana, ainda estou a acordar!...(Em Fevereiro de 2007 nasceu o nosso primeiro filho. A fotografia e o texto foram tirada/escrita seis dias depois do João nascer, pelo meu marido.)Ana Vasconcelos

Partimos às seisSeria, com certeza, um dia diferente. Des-pertámos cedo e partimos às 06h00, de um dia frio, mas com a promessa raiada de uma manhã solarenga. As crianças arrastaram-se para os lugares no carro. Fizeram-se ouvir os protestos de quem é arrancado da cama e do sossego domin-gueiro a esta hora madrugadora. Tam-bém a paisagem foi acordando durante a viagem, estendendo-se na dianteira do carro e oferecendo um espectáculo revigorante. Chegámos cedo ao Covão d’Ametade, na Serra da Estrela, e, assim, enquanto esperávamos, fomos obser-vando, nas pessoas que chegavam, o bri-lho contagiante de quem se prepara para

fazer algo marcante. Trepámos à Serra, ou melhor, à Candeeirinha e todas aque-las mãos se envolveram no plantio dos carvalhos. Os meus fi lhos rejubilavam e, de tempos a tempos, diziam-me quantos carvalhos já tinham plantado e aponta-vam-me os locais especiais que tinham escolhido para cada um deles. Plantámos muitos carvalhos, mas foi especialmente a sementeira deste sentido do exercício da cidadania, partilhada com a minha família e com estes concidadãos, e con-cretizada por este pequeno contributo para o futuro da Serra da Estrela, que tornou este dia, do ano de 2007, verda-deiramente, singular.A. José Carmo, Abrunheira

30 • 30 Dezembro 2007 • Pública

CaseiEste ano foi especial porque casei-me, tal-vez não propriamente por me ter casado pois já vivia à quatro anos com o meu marido, mas porque sempre sonhei casar com fato e grinalda e nada disso aconte-ceu. MAS SOU MUITO FELIZ À MESMA. Se tiverem um pouco de paciência resumirei a minha vida em poucas linhas, vida essa que como diz a minha mãe começou pelo fi m. Em Agosto de 2003 conheci o meu marido e em Outubro viviamos juntos. Em Setembro de 2004 nascia o nosso Tomás. Em Setembro de 2007 fi nalmente ofi cia-lizámos a nossa relação perante a Conser-vatória do Registo Civil. Até aqui nada de especial. Mas sempre fui uma sonhadora daquelas de casar com vestido branco, lindo e de princesa, pois pensava que isso me iria fazer sentir muito especial, com festa de arromba e coisa e tal... Nada disso aconteceu.Fui com vestido curto, preto e branco e fomos sós os dois (noivos) à cerimónia que contou com um almoço a dois com vista para o mar, mas nem por isso me deixei de sentir como qualquer noiva se sente: linda, radiosa, nervosa e uma especial princesa. Moral de história: o que nos faz realmente sentir bem é o que vivemos, com quem vivemos e acima de tudo como o vive-mos...Andreia Penetra Gonçalves

Viagem de uma vida!

Havia muito que tínhamos, meu marido e eu, vontade de visitar a Terra Santa! Muito por culpa das notícias alarman-tes vindas daqueles lados, o medo era muito, e a vontade desvanecia-se no imaginário do tempo. Em Fevereiro vimos um anúncio na porta da Igreja, perto de nós, com a tão sonhada viagem, descrevia os locais por onde passaria e tudo o que estaria incluido, e fi cámos olhando um para o outro com uma vontade louca de nos inscrevermos. Pensámos, interrogámo-nos mais uma vez sobre o quão perigoso seria e decidimos ir! Que acontecesse o que tivesse que ser! 31 de Julho de 2007, partimos via Frankfurt direitos a Tela-vive. O grupo não se conhecia, mas ia unido numa mesma von-tade de vencer o medo e de conhecer e passar pelos locais de que nos falam desde pequenos. O tempo estava quente, vimos locais que nos emocionaram pelo seu signifi cado e força espiritual, quer fôssemos anima-dos de uma fé estabelecida ou quer simplesmente animados de uma vontade de alargar horizontes. Durante 8 dias, convivemos, visitámos, encantámo-nos, sur-preendemo-nos, rimos, conhecemos, partilhámos vivências únicas. Não vimos armas em riste, não se via temor nas expressões das pessoas, andámos por onde quisemos e passámos o céle-bre muro que divide Israel da Cisjordânia sem visualizarmos qualquer força militar, enfi m, com segurança! As várias religiões existentes, convivem num clima de con-fi ança. Os hotéis são óptimos, a comida igalmente, a amabilidade dos funcionários inquestionável. As cidades limpíssimas, ordeiras, aparentam modernização constante na sua projecção arquitectónica. Tirámos um cem número de fotos para assinalarmos os momentos mais ricos, e hoje não nos cansamos de as olhar, de recordar, de nos reportarmos aos locais novamente, de voltarmos a sentir emoções, cheiros, sabores, tudo! Agora, temos de confessar, já andámos por muitos Países, mas Israel foi em 2007 a viagem da nossa vida! Matilde Luiz

Pública • 30 Dezembro 2007 • 29

A subida ao vulcão do Pico(27-07-2007)

Durante toda a semana a monta-nha jogou às escondidas.Envolta em nuvens e neblinas, ora mostrava a base, ora o cume. Outras vezes não mostrava nada.E nós, com o olho na meteoro-logia, esperávamos e fazíamos algumas manobras de diversão: espreitávamos os cachalotes, pas-seávamos em S. Roque, Madalena ou Lages, e degustávamos, entre outras bênçãos, lapas com o tinto agradável do Pico.Marcámos a subida para sexta-feira, o último dia na ilha.O dia nasceu glorioso, com céu

limpo e vento fraco. O vulcão apre-sentava-se na sua integridade, com as vertentes empinadas de lava e cinzas, majestoso. Subimos devagar, com a difi cul-dade própria de citadinos seden-tários.A vegetação foi rareando com a altitude, e a força também.Deixámos umas poucas nuvens para baixo, envergonhadas, e dis-semos adeus aos aviões que passa-vam ao lado.Ao fi m de três horas de luta con-quistámos o Piquinho — 2351 m (sem oxigénio!).Cantámos VITÓRIA! A vista, do cimo, era de cortar a respiração.Agostinho Sanches, Guima-rães

Maior sonhoSer mãe era o meu sonho maior, mas o medo, contantemente, adiava esse projecto. Um dia, apanhada pelo ardilodo destino... chorei, não sei bem se de alegria se de temor... Havia chegado o momento de perder o receio e ganhar um fi lho! A 23 de Março de 2007, pelas 14.45... encontrei essa parte per-

dida de mim própria! Nasceu a Mara e, com ela, renasci eu. Hoje, juntas, o futuro pertence-nos porque cremos na beleza dos nossos sonhos!Obrigada, filha, por ajudares a mamã a viver! Maria Aline Marques dos San-tos, Condeixa-a-Velha

Momentos felizesA vida é feita de momentos felizes, momentos bons, momentos de alegria, momentos inesquecíveis, momentos de amor, momentos inesperados... Um dos momentos mais felizes de 2007 foi uma viagem a Londres que um turista imortalizou, para sempre, como um momento de felicidade...Sónia Neves

És tu“O momento mais feliz do meu 2007, és tu. Só podia! Todo o ano inteirinho que vivemos juntos, completo e perfeito como qualquer ano partilhado contigo. O tanto que fi zemos e vimos juntos. A cada momento, cada brin-cadeira, cada viagem, a cada risada, cada carinho. Poderia até ter sido apenas mais um ano para riscar no calendário da vida, mas contigo nunca seria assim. Nem nunca será. Nem Euromilhões, nem lotarias, nem viagens à volta do mundo, nem mesmo um concerto do José Cid. Nada disso poderia ser comparado a ti, e ao que signifi cas para mim. És a coisa mais linda que me aconteceu... O melhor do mundo, de 2007, de sempre, somos e seremos NÓS! Amo-te muito Zara Fani.”Rui Pedro Rodrigues

28 • 30 Dezembro 2007 • Pública

Cores da CristinaNo tempo, no apeadeiro em que o comboio não passa…A minha carruagem fi cou temporariamente sem automotora… há tantas linhas por esse mundo fora…Tantos vagões que circulam por ai, vagões vazios, sem historias, sem vontade de anda-rem, apenas à espera que a automotora os venha buscar…Eu não sou um vagão… sou uma carruagem com automotora…As minhas janelas são quadros cuidadosa-mente pintados… cada janela é uma pessoa, um momento vivido, cada vidro tem cores dis-tintas, exclusivas, que representam um retrato da nossa vivencia…As janelas da frente, em alguns casos, não são as mais importantes… são as primeiras… Das muitas existentes, há uma nova a ser pin-tada.As cores, essas foram, cuidadosamente esco-lhidas. Apropriadas a ela.As cores da compreensão, do carinho, do amor, da juventude de tocar a vida… enfi m são as cores da Cristina…Interessante é que as cores da vida são sempre as mesmas… Um pintor vai refi nando a cor com outras que já criou… vai tentado refi nar até chegar á per-feição adequada do momento…Sempre com a possibilidade de criar a cor per-feita… nessa era, o pintor passa a sonhador.O sonhador que já não usa pincel. Usa os dedos para tocar, para pintar, ao mistu-rar a cor na palete… os seus dedos já tocaram algumas misturas físicas, a textura sentida foi trazida para a palete de cores.Vai tentando com que a palete não seque… não perca a água necessária, amor (palavra de tecto máximo para expressar ou abreviar um conjunto de sentimentos), para manter a cor no ponto que deseja…Os dedos emprenham-se em pastas coloridas alimentadas por sentimentos até compor a mis-tura de uma forma cuidada, harmoniosa para uma compreensão fácil. Lino Machado

Nova IorqueForam muuuuito felizes as feriazi-nhas em NY.Helena Cardoso

RexFoi em Fevereiro que o Rex partiu.Somos uma familia de cinco com três crianças,mas para mim e o meu marido foi terrível vê-lo partir.Tinha 11 anos e era o Rex.Dina Azevedo

Pública • 30 Dezembro 2007 • 27

PasseioUm rio te espera. A notícia que um poema de Eugénio de Andrade me tinha trazido, estaria no desleixo do meu subconsciente. Agosto, na companhia da nortada saio de Vila Chã, Vila do Conde, para um passeio pela praia. Depois de percorrer estradões sobre as dunas, areias e penedos, estou na Praia de Labruge. Súbito alcanço uma paisagem bela e nova para mim: um ribeiro sinuoso de água cristalina encon-trando-se com mar. As margens são pontuadas por gaivotas que esvoaçam ou deixam as suas patas marcadas na areia. Ignoro inestéticas construções que ali se ergueram e, no caminho contrário ao das águas descubro deslumbran-tes campos. Venho a saber que se trata não de um ribeiro mas do Rio Onda, ou Calvelhe. Um rio outrora alcançado por caminhos romanos e medievais, onde se construiram vários moinhos. A minha descoberta da foz do Rio Onda, foi, sem des-curar outros, o momento mágico do meu ano, quando algo elemental e telúrico, citando de novo Eugénio, me fez, perto do mar, tropeçar no ar.Alberto Guimarães, Lousada

A praia da Apúlia

A tarde estava plácida, com um sol excepcional para Outono. Ali estava eu na praia da Apúlia, terra de gente castiça, a ver o mar. Como companhia tinha os cinco moínhos que contemplam há décadas, do alto das dunas, o mar, dia após dia, noite após noite. Ao longe, estava também uma velha sargaceira, coisa rara, a recordar-me hábitos ancestrais. São momentos como este, de paz, luz e harmonia, que me aquecem o coração, neste Inverno frio e triste que tanto custa a passar.Ana Dias

George MichaelNão foi o primeiro concerto a que fui, mas foi seguramente um dos mais profi ssionais a que assisti, e por isso também não é difícil aceitar que é o meu melhor momento de 2007. Foi um excelente divertimento e em que qualidade e excelência foram interpretadas por alguém competente e que gosta do que faz, e por isso fazendo feliz quem assiste. Fui a este concerto com a minha família, e foi muito giro como havia um estádio quase cheio tão envolvido com a qualidade e diversão ao mesmo tempo. Tenho 17 anos, também neste ano entrei para a Faculdade, momento importante, mas espe-rado…. Emanuel RegoVila Praia de Âncora

PeregrinaçãoComeçou em Sarria a peregrinação de 112 quilómetros a Santiago de Compostela, pelo mítico Caminho Francês,o itinerá-rio com maior tradição histórica e o mais reconhecido internacionalmente. Há muitos anos que o Caminho me fascina. Já tinha demandado a Santiago em pere-grinação em três vezes anteriores, com grupos de peregrinos e por Caminhos diferentes (pelo Caminho Português e pela Rota da Prata). Quando em Abril de 2007, na segunda-feira de Páscoa, me pus, com o meu melhor amigo, “ao Caminho “sabia que iniciava uma experiência diferente das anteriores. Se nos primeiros dias cami-

nhávamos quase sempre juntos e conver-sávamos muito, com a passagem dos dias e dos quilómetros, fomo-nos afastando e silenciando: caminhávamos umas vezes um pouco distantes um do outro, outras vezes ao lado um do outro, mas cada vez mais, caminhávamos em silêncio.O silêncio assacou-se naturalmente entre nós durante a parte do dia que caminhá-vamos, não porque não tivéssemos nada a dizer um ao outro, mas porque do cami-nhar em silêncio nasciam, a cada passo, dentro de cada um novos horizontes, pes-soais e espirituais. Afi nal, Deus está aqui tão perto, …percebemos ambos!Paulo Torres, Espinho

26 • 30 Dezembro 2007 • Pública

Sair da prateleiraO dia 1 de Outubro foi o dia mais feliz de 2007. Trabalhando eu na “res” pública, apraz-me partilhar com a Pública o dia me que sai da pra-teleira. Só não menciono a instituição porque o segredo continua a ser a alma do negócio. Bem basta se a fotografi a ao lado me denunciar e eu for apontada a dedo como Rafaela, a dissidente e, ainda por cima, atrevida.Rafaela Plácido

A fanáticaEm 2007 um dos momentos mais felizes da minha vida foi aquele em que consegui uma fotografi a ao lado do presidente Pinto da Costa num jantar para festejar o campeonato alcan-çado pelo FC Porto. Para quem é fanática por futebol este foi sem dúvida um momento que marcou muito, tanto pelo titulo que festejamos como pela companhia de que tive direito de desfrutar!Vera Paiva, Romariz-Santa Maria da Feira

A mulher e o futebolDia de aniversário da minha esposa! Claro que nestas alturas um homem tenta o possível e o impossível para agradar e surpreender a mulher que ama. Porém neste ano de 2007 nada que eu lhe pudesse oferecer seria capaz de suplantar o presente que o Vitória Sport Clube lhe tinha prepa-rado ... “O regresso do Rei”, ou seja, a subida à primeira divisão do maior pequeno clube de Portugal depois de um ano de sofrimento.E para tornar a tarde ainda mais memorável, nada como ouvir o nome dela anunciado pelo sistema sonoro do estádio para mais de 30.000 pessoas. Esse foi pois para para ela, para mim e para milhares de vimara-nenses e vitorianos, o momento de maior alegria de 2007!Miguel Ferreira

Sair da prateleiraO dia 1 de Outubro foi o dia mais feliz de 2007. Trabalhando eu na “res” pública, apraz-me partilhar com a Pública o dia em que saí da pra-teleira. Só não menciono a instituição porque o segredo continua a ser a alma do negócio. Bem basta se a fotografi a ao lado me denunciar e eu for apontada a dedo como Rafaela, a dissidente e, ainda por cima, atrevida.Rafaela Plácido

Pública • 30 Dezembro 2007 • 25

ÁfricaEstou a estudar arquitectura na Noruega, e a cadeira de Planeamento Ecológico Urbano deste semestre, levou-nos até ao Uganda durante dois meses. Estivemos em Kampala, a trabalhar com um bairro da lata perto da Universidade de Makerere. Vi a nascente do Rio Nilo no Lago Victória, fi z um safari, passeei numa fl oresta tropi-cal cheia de chimpanzés, provei bananas cozinhadas de todos os tipos possíveis, e conheci gente fantástica que vive abaixo do limiar da pobreza e ainda consegue ter uma força de vontade enorme. O Uganda conti-nua a recuperar dos estragos feitos pela era de Amin, mas ainda é sem dúvida, e como Churchill disse, “a pérola de África”.Filipa Alfaro

Diospiros2007 teve diospiros, felizmente, e esse é sempre um dos momentos mais felizes do ano.2007 foi também o ano em que nasceu a minha fi lha Catarina, e o ano em que a minha fi lha Mariana se tornou crescida: foi para a escola primária. Ambos os momen-tos foram doces como só os diospiros maduros conseguem ser.2007 foi ainda o ano em que o meu grupo “O Contador de Histórias” celebrou uma década de trabalho a levar a poesia e os contos a todos os recantos do país. E isso só aconteceu porque existem o Filipe e o João e o Outono com as árvores de braços levantados oferecendo folhas coloridas e apetitosos diospiros.Em 2007 houve diospiros a derreterem-se na boca da Lena e na minha.E houve muitas pessoas bonitas à nossa volta a quem desejamos que 2008 seja um ano tão saboroso como os melhores dios-piros que comemos em 2007.Nuno Garcia Lopes, Tomar

AmigosO Nuno (à direita) e o Emanuel (à esquerda) são aquelas pessoas com as quais posso con-tar. Fazem-me lembrar os melhores tempos da nossa licenciatura — Jornalismo e Ciências da Comunicação, vertente de Comunicação Mul-timédia, na Universidade do Porto.Foram quatro anos partilhados com estes dois companheiros e grandes amigos. Foi óptimo ser colega de turma e de trabalho. Melhor ainda é ser vossa amiga.Esta fotografi a é de 8 de Maio de 2007, dia do Cortejo Académico da Academia do Porto — semana da Queima das Fitas do Porto. Este dia, sempre especial, foi ainda melhor este ano: fi nalistas, o nosso último cortejo, o único que fi zemos juntos, os três. Foi uma tarde memo-rável; muita alegria, algo que já estávamos habituados das salas de aulas e do convívio nos corredores da faculdade. Tenho saudades vossas. Obrigada por tudo.Alda Silva

Fazer sentidoUm fi m-de-semana grande de Outubro. Objec-tivo: fugir à rotina poluída da metrópole. Rumo ao Sul… Um dia que nasce cinzento no doce vagar de uma manhã sem pressa… Hoje vou dar-lhe as boas-vindas, fazê-lo sentir-se querido!Pego na máquina e saio. Olho em redor… Pro-pondo-me conhecer o local, vagueio, a cada passo, pelos trilhos que se me apresentam… Os equívocos não me incomodam: como saber se esta estrada vai para onde quero sem come-çar a percorrê-la?Quando, fi nalmente, retomo o rumo, deleito-me com a respiração profunda que me sorri no peito… Subitamente, avisto-a: é Ela! Escon-dida por detrás de um manto cinza, de solo dourado e ondas envergonhadas, está mais Bela que nunca…Caminho, contemplo, deixo-me envolver… Aqui e ali; além e acolá, perco-me na compul-são de fotografar. A minha alma está cheia! Aqui, agora, tudo faz sentido.Rita Miguel

24 • 30 Dezembro 2007 • Pública

Índia

Um português cansado e enso-lado, perplexo, e uma indiana com o seu sari e o seu à-vontade — está em casa. Bombaim é o nome português. Há um esforço no momento para o substituir por Mumbai. Na antiga Goa por-tuguesa também quiseram dar outro nome à povoação de Vasco da Gama. A população não dei-xou e o nome Vasco permanece intocável.António da Silva Neves, Trancoso

BarcelonaA Marta sempre imaginou viajar de avião. Este ano viu concretizado o sonho, assim como conhecer a cidade de Barcelona. Foi em Agosto. Passeou nas Ramblas, visitou o Hard Rock, La Pedrera de Gaudi e outros locais de interesse turístico. À chegada desapareceu a mala de viagem da Marta. Tudo faz parte de uma viagem, como escreveu Mário Cesariny.Admar Costa, Póvoa do Varzim

Joyce em LisboaO que de melhor me aconteceu-este ano? Comprei num alfar-rabista o “Finnegans Wake” do James Joyce. Parece estúpido, eu sei. É estúpido, ok! A Dublin de Joyce, a Praga de Kafka, a Lisboa de Pessoa. A Lisboa de Pessoa? Tirando a estátua no Chiado e a casa em Campo de Ourique difi cil-mente encontramos mais Pessoa na cidade. Em Praga, a tamanha praga de turistas vê-se envolvida por uma praga de Kafka-merchan-dising por todo o lado mas tam-bém se sente o escritor nas som-

bras das pedras velhas e a sua vida e obra está exposta num excelente museu a ele dedicado. Parece que Joyce é igualmente bem tra-tado em Dublin; de passeios que recriam o circuito do Ulisses até um dia nacional do escritor. Cidade de Lisboa, 2007. Numa subida de escadas vislumbro o “Finnegans Wake” na montra; da Faber and Faber, edição de 1975, texto original em inglês com as correcções do autor.— Vejo que é um joyceano.— Não chego a tanto, apenas um fã.Leonel de Jesus

Pública • 30 Dezembro 2007 • 23

Um dia morreu-me uma pessoa e não podia e não devia. A parte melhor de mim mor-reu com ele e a outra quis morrer depois e ainda quer. A vida deixou de ter o pouco sentido que a vida por vezes tinha. Um dia alguém me levou pela mão a um barco-bar na Foz do Douro, Durante algumas tardes o rio tentou como pôde devolver-me um bocadinho da paz que perdi. As tardes de sol fi zeram-se noites perante os meus olhos; por instantes, lembrei-me de que já tinha sido feliz. E pensei que talvez pudesse voltar a viver momentos de serenidade. Não sei se serão para mim. Se forem, este sítio junto ao Douro é defi nitivamente o sítio para esperar por eles. Miguel Duarte

A InêsA Inês tem quatro meses é uma experiência fantástica, com a qual, eu e a Marta estamos a aprender coisas boas e novas.Muitas vezes chego a casa, cansado do trabalho desgantante e tenho uma Inês que me espera com um sorriso simples.André Lopes

Não comprei ManolosAo ler as sugestões da “Pública”, pensei: não, não comprei uns Manolos (embora vontade não me faltasse), nem tive um fi lho e também não embelezei o meu jardim. O grande aconte-cimento deste ano para mim foi ter conhecido dois rapazes que se tornaram meus amigos ver-dadeiros... Quando olho para trás, tudo o que me vem de imediato à mente é que alguns dos meus anos da minha existência foram marcados pelo encantamento do encontro e descoberta de pessoas. Muitas delas ainda estão no meu coração e na minha vida com o mesmo entu-siasmo do dia em que as conheci. E os anos vazios não foram os que me separei, ou perdi dinheiro ou extingui um negócio. Foram os anos que não foram preenchidos por essa experiên-cia fantástica e sempre nova do “encontro de almas”... Helena Carmona

Equilíbrio emocionalCada vez mais, a vida não está fácil para quem vive do e para o ensino. O ambiente entre colegas do mesmo ofício degrada-se a olhos vistos, em função de duvidosos critérios de avaliação para progressão de carreira, que vieram instalar a divi-são entre a classe. Em 2007, a fotografi a assumiu-se como um veículo privilegiado para atenuar as angústias do dia-a-dia de professor. O encontro com a natureza, a paisagem (particularmente a alentejana), as plantas e os animais, proporcionaram-me muitas horas de entrega e de puro prazer.Manuel Raphael

22 • 30 Dezembro 2007 • Pública

RisosO ano correu, mais absurdo ou menos absurdo, consoante a vontade dos homens. Felizmente, que do outro lado das televisões desligadas e tablóides reciclados, há um mundo que ainda vale a pena existir.Neste contar dos anos, fi cam para sempre as fotografias do vosso contentamento. Neste momento da criação, entre o sal do mar e a textura única da areia molhada, percebemos como somos idiotas em não olhar mais para os

vossos jogos. Milhões de anos de evolução para esquecermos a força desta necessidade, deste consolo possível, desta destruição evitável.2007 valeu pelos jogos, pelos pulos, pelos saltos, pelos calanizadores, pelos risos, pelos gritos, pelas brincadeiras, pelas lágrimas, pela imaginação, pelas correrias, pelos joelhos magoados, pela alegria pura de viver dos meus fi lhos, dos vossos fi lhos, de todas as crianças deste absurdo planeta… Mário Rui Araújo

O melhor amigoPodia falar do ano 2007, como o fi m do meu curso. O ínicio da vida profi ssional activa, ou mesmo o carro que o meu pai me prometeu. Prefi ro lembrar este ano como um cheiro que permanece na minha memória, do melhor amigo que perdi.Prefi ro lembrar o esquecimento da praia de Miramar que me fez mulher.Sim, prefi ro elevar o meu amor pelo Paulo, que amadureceu num abraço.Esta sou eu, dizem eles!Rita Timóteo

João AfonsoNo dia 14 de Julho de 2007 nasceu o João Afonso. A cesariana era o passo inevitável e estávamos os dois calmos. Quando chegámos à maternidade cumprimos os rituais e pela minha parte, cumpri uma promessa de uma vida inteira e estive “lá”, pre-sente em todos os momentos da chegada dele. Segurei a mão da Catarina e fui-lhe dizendo vezes sem conta (dividindo o protago-nismo com o anestesista) “eu estou aqui”. Vi a vida a passar como se caísse de um prédio altíssimo, uma rapidez vertiginosa e uma queda que não terminava nunca. O suor escorria-me pela cara e eu disfarçava com o sorriso que oferecia à Catarina enquanto lhe repetia a frase chave da minha promessa de uma vida inteira. “Eu estou aqui”. E estava mesmo. Quando ele nasceu o anestesista espanhol baixou a cortina e disse “Mira, olha ele lá” e eu, num refl exo que não sei explicar, tirei a melhor fotografi a da minha vida. Depois sorri-lhe para que ele sou-besse e sentisse... “eu estou aqui”. E estava mesmo. João Artur Peral

Foram muitosForam muios momentos felizes em 2007 foram muitos, muitos mesmo. Mas o mais feliz foi poder partilhar com a família todos esses momentos. Estar próximo, presente, conviver, passear no campo. Apreciar as belezas únicas da natureza. Sentir os fi lhos, a nossa companheira de vida... ter saúde e alegria. Haverá muito mas feliz?Que 2008 seja a repetição de 2007.Vítor Teixeira, Porto

Pública • 30 Dezembro 2007 • 21

E de repente, os dias passaram as ser dias, e as noites, noites

E se esta distinção, entre dia e noite, dei-xasse de querer dizer o equilíbrio entre a actividade e o descanso? E se o dia pas-sasse antes a ser marcado pela sonolência e a noite pelos despertares? E se a noite se transformasse numa “batalha” para respirar e o dia numa “investida” contra a fadiga?Tudo isso acabou este ano! E começou uma vida nova, aquela a que habitualmente cha-mamos de “normal” e onde o acto de dor-mir adquiriu enfi m o signifi cado de “des-cansar no sono”. Se a apneia é um inimigo que (ainda) não se vence, esta máquina do son(h)o desfere-lhe um rude golpe. Quem a usa renova diariamente o poder de concre-tizar votos tão simples como “Dorme bem!” e “Tem um bom dia!”.Família J. Fernandes, Coimbra

Fui pai11 de Maio de 2007, mais um dia como outro qualquer. Não, nem por isso. Na realidade para mim será um dia único e inesquecível. A razão é simples: fui Pai pela primeira vez e isso não se esquece nunca. A felicidade sente-se por dentro e consegue-se ver muito bem por fora... Bem vinda ao planeta Terra, Alice. Luís Pitta

Este ano descobri um segredo!O tempo abranda quando o meu bebé sorri. Quando eu pensava que o tempo fugia e os dias corriam atrás de mim, tudo parou e tudo à nossa volta desapareceu. Olhei para o meu fi lho e descobri que o tempo é o que fazemos dele e este sor-riso pode ser a eternidade de que tanto se fala. É aí que eu me recolho, descanso

e me encontro. A juventude voltou e sou de novo criança. Brinco e páro para não pensar, porque a vida é feita de coisas simples: o sorriso do meu bebé. Imagi-nar o futuro dele é regressar aos sonhos da adolescência. Este ano descobri que afi nal sou feliz: o meu menino nasceu e sorriu para mim. E o tempo parou… Anabela Vasconcelos e Luís Vieira

20 • 30 Dezembro 2007 • Pública

AlemanhaUm dos muitos momentos felizes que tive em 2007 foi a viagem à região de Nordrhein-Wes-tfalen, na Alemanha. Foi um desembrulhar de curiosidade e de assombro, porque nunca lá tinha estado. Pude visitar, fi nalmente, a mag-nífi ca catedral de Colónia, que apenas conhe-cia através dos livros da faculdade. A viagem assentou em vários percursos históricos, mas não me fi quei pela arte e história, também degustei vários tipos de cerveja, apreciei a sua gastronomia, fui a espectáculos, andei de bicicleta… Um sem fi m de coisas boas que vale a pena recordar. Ana Quiñoy

Ve(i)rão 2007 O que é que bebe aqui…? O motivo por si só já era sufi ciente para se criar uma grande amizade… À causa juntaram-se sete doidivanas e o melhor de 2007 estava garantido. Verdadeiras tertúlias sobre o nada, quase sempre a roçar o vácuo deram o mote para aquecer as noites, não muito quentes do Verão passado. Entre blogs e ganadarias com o Pessegueiro na Ilha de Porto Antigo junto às Feiras Novas de Ponte de Lima, elevamos e adoramos o bom-nome do néctar das beiras. Não será muito fácil escolher o melhor de 2007, se com gelo ou sem gelo, se antes ou depois do café… Concluímos apenas que a amizade que se criou foi um verdadeiro brinde à vida. Assim, queira dedicar o melhor de 2007 às conspirações do Agostinho, ao voluntarismo do Madaíl, ao mau feitio do Adriano, à fron-talidade da Inês, aos fl ashes da Joana, à Ana cavaleira e à Catarina a “piquena” no grupo.Amizade… O licor do Ve(i)rão 2007Madail António Semblano Novais

MasaiNo Quénia tive oportunidade de conhecer o orgulhoso povo Masai. Não são primitivos como antigamente, estando até demasiado viciados no capitalismo moderno, tentando explorar os turistas mais incautos. Mas o con-tacto deixa marcas, a incrível fi sionomia lon-gilínea, os adornos das mulheres, as aldeias com imensas crianças e o modo de vida que consegue ser, ao mesmo tempo, primitivo e fascinante. Mas a maiores recordações são das cores, as cores fortes, como só existem em África. O vermelho das roupas Masai em contraste com o azul do Oceano Indico, simboliza um momento de 2007 que fi cará para sempre na minha memória

Hélder Marques de Sousa, Santa Iria de Azóia

44 anosFui mãe da Mariana em 19 de Janeiro de 2007, no Porto, aos 44 anos de idade. Mãe pela segunda vez, vivo agora uma maternidade mais madura onde cada dia que passa me sinto mais apaixonada pela minha fi lha. Sem dúvida, os fi lhos são o melhos da vida...Maria José Rosário Passos, Porto

Pública • 30 Dezembro 2007 • 19

Lugares comuns?Andei anos a ouvir dizer que não há nada que se iguale ao nascimento de um fi lho. Descobri em 2007 que é realmente assim, os lugares comuns como “o Amor Incondicional” tornaram-se ver-dades incontestáveis que regem a minha vida. Todas as descobertas, todos os momentos, os primeiros sorrisos, as primeiras gracinhas, tudo, tudo me enche de felicidade que jamais esquecerei. Mas guardarei para sempre o orgulho que senti quando a levei pela primeira vez à piscina e perante os olhares enternecidos pensei: É MINHA!Sofi a Baptista

Viagem à SicíliaFoi talvez o acontecimento maior deste ano porque há muito pensava fazer esta viagem. Foi o concretizar de um sonho. Na Sicília impressionou-me a luz dourada das paisagens do interior. E aqueles monumentos soltos na paisagem no meio de nada.Fui numa viagem organizada, deixei-me levar sem preocupações de nada. Posso mesmo dizer: stress free.Maria do Rosário António, Porto

Portugal, país adescobrirEm 2007 o acontecimento mais marcante, para mim, foi descobrir o nosso país, em companhia da Ana. Numa altura em que, mesmo em crise, tantos portugueses partem à descoberta de novos destinos, como é possível que, em pri-meiro lugar, não descubram o nosso próprio país? Quantos lisboetas já tiraram uma semana nas suas férias e partiram à descoberta da sua cidade? Gozem Lisboa. Descubram o Porto, Guimarães, Évora, Angra do Heroísmo, o Par-que da Peneda-Gerês e a Floresta Laurissilva da Madeira, descubram Portugal, em 2008. Miguel Coelho, Porto

18 • 30 Dezembro 2007 • Pública

Turista

Natureza na sua pureza quase original ao alcance de um olhar.A não perder: as lagoas, praias a norte e ao sul, passeios pedes-tres.Imperdível a visita ao Ilhéu de Vila Franca do Campo, Ribeira Quente e as correntes de água escaldante brotando do fundo do oceano, o jardim luxuriante do parque do Hotel Terra Nos-tra, a nascente de água gasosa natural das Lombadas com o seu acesso íngreme, a Lagoa das Sete Cidades, lagoa das Furnas e seu cozido, a selva-gem Lagoa do Fogo, o Parque da Paz,a Caldeira Velha e sua queda de água ferrosa, os ana-nases e as hortências omnipre-sentes.Manuel Fernandes Lima Ter-roso, Póvoa de Varzim

Recordações da minhaviagem aos Açores

À cidade que acolheu muitos dos momentos bons do ano, dediquei um dia que foi sem dúvida o melhor do ano! Aquele em que, com agra-dável companhia, aprendi estra-nhas banalidades sobre o Porto… O dia 30 de Julho de 2007!Mariana Soares Moreira Dias

Sem fronteirasO meu momento de eleição de 2007 foi sem dúvida a via-gem com três destinos de eleição que protagonizei em Novembro: Copenhaga, Berlim e Amsterdão. Como qual-quer viagem, foi um momento de relax, prazer, descanso, mas também uma amostra de como vivemos num mundo hiper-cultural, sem fronteiras, sem complexos e com uma grande crescente de autonomia, em que somos nós que ditamos as regras, estando cientes de que moldamos um futuro ultra rápido e volátil.Jorge Jorge

O DiogoPara mim, 2007 foi e será sempre um ano especial. O fi m do curso... o primeiro emprego...Mas o meu “momento mais feliz de 2007” foi pegar, pela primeira vez, no meu sobrinho. Tem apenas 3 meses e já um vasto cardá-pio de nomes e alcunhas: Ele é “Diogo” pelo Avô.“Didi” ou mesmo “quidosca” pela Avó.“Doutor Diogo” pela Mãe.“Sr. Doutor. Engenheiro Diogo”, como o Pai pretende.“Super D” para mim....É que... com aqueles olhos, que têm a capacidade de atravessar-nos como raios cósmicos e de nos fazer corar como vinho tinto ... só pode vir de um Super-Herói. Bruno Santos, Cacém.

Pública • 30 Dezembro 2007 • 17

O lençol imaculadoNão temas o silêncio nem a folha virgemO lençol está imaculado Despido de mimQue neste quarto agora pacífi co respiroAinda não brindo ao que vejoNem tão pouco ao que sintoPorque está dispersoE ao mesmo tempo fortifi cadoNuma organização cósmico-celularEfeito único da Lua O rebentar das águasO correr livre dos riosA propagação de letrasNos teus canais auditivosDe mãe que ésQue oferece o anticorpoPara proteger o corpoForma sublimeArticulação perfeitaRespirar Sentir os cheirosSentidos ApuradosPor ti pelo outroQue brindaNuma explosão ofeganteLigação violenta ao MundoQue te acolheE depois te ceifaLibertação ventralDo sonhoQueda no real Simples e ÚnicaO MilagreO Teu e o MeuNum lençol imaculado. Marco Ferraz (Este Poema foi escrito no dia em que o Vicente nasceu ! O dia mais feliz de 2007 (3/01/07)!)

Início de 2007, com apenas cinco dias de vida, Francisca apresentava-se ao mundo, de corpo franzino e enrugado. O seu olhar sereno contrastava com a super-excitação da Rita, irmã mais velha, enciumada e tra-quinas.Fazia frio lá fora. Em Braga, o Inverno faz-se notar, permitindo esquecer o inferno que é a cidade no pico do Verão.Em 2007, não tive um dia especial-mente marcante. Ser mãe não marca um momento, marca-nos para a vida inteira…Diariamente, toca o despertador, quando elas estão finalmente a dormir bem… Acordá-las é uma luta, luto eu também para conseguir manter-me em pé. Vesti-las, alimentá-las, colocá-las no carro, sempre atenta aos ponteiros do relógio que insistem em fazer uma corrida apres-sada.Chego ao trabalho quase sempre em cima da hora, stressada, estafada e o dia está apenas a começar. Muitas vezes, fi co ao serviço bem para lá das 19 horas. Reuni-ões, atrás de reuniões, prendem-me a um edifício localizado numa encosta. Vivemos num país onde as burocracias ultrapassa-ram a importância da verdadeira acção. Olho frequentemente para o relógio, tenho saudades das minhas fi lhas, entregues aos avós — pais a tempo inteiro e que também foram meus exactamente nos mesmos moldes. Penso, com nostalgia, nos tempos em que a minha mãe tinha disponibilidade para fi car comigo ao colo acariciando os meus cabelos, contando histórias antigas

de heróis já desaparecidos. Nessa altura, o tempo não corria apressado, não tinha meta marcada, não disputava comigo o sabor dos momentos.O dia termina. A noite já pintou de negro o caminho que nos leva de regresso a Braga. Ambas dormem nas cadeiras-auto. Dou um toque ao papá para que desça e ajude no transporte da garagem para os respecti-vos quartos. Parecem anestesiadas de can-saço, chupam o dedo meias sonâmbulas. O sonho parece continuar…Ao fi -de-semana, entre trabalhos penden-tes e a organização doméstica, dou-lhes uns beijos e sussurro ao ouvido: “Gosto muito de ti!” E é verdade. Nada na vida me fez mais feliz. Não se compara a viagem alguma. Não se compara a absolutamente nada! Só lamento não poder aproveitar mais estes momentos, não poder ser mãe com mais dignidade.A maternidade/paternidade transfor-mou-se numa tarefa árdua. Ser mãe é, actualmente, uma verdadeira aventura. Comenta-se a baixa natalidade, fala-se em novas políticas de apoio à maternidade (abono na gravidez, etc.), mas continuam esquecidas as mulheres que trabalham (ao nível da necessidade de horários mais fl exíveis ou mesmo mais reduzidos nos primeiros anos de vida da criança).É urgente mudar! Caso contrário, corre-mos um enorme risco! O risco de viver num grande deserto, despovoado de gar-galhadas eufóricas e inocentes, repleto de sorrisos enrugados e enfadonhos.Ana Cunha

Ser mãe não marca um momento,marca-nos para a vida inteira

16 • 30 Dezembro 2007 • Pública

MarianaEm 2007 recebemos a Mariana. O momento do nascimento é uma explosão de emoções, mas os meses antecedentes são de facto únicos. Um amor ainda sem rosto, sem abraço, sem cheiro, mas um amor que está presente a cada pontapé, está à distância de um toque. O sentimento de materni-dade cresce acompanhando as mudanças do corpo, uma união única que termina quando o bebé nasce e toma como sua a vida. O pai protege no seu abraço os seus amores e também, assim, sente aquela vida que se gera. Este foi o nosso momento, a partilha de emoções e de medos, enquanto se espera uma vida que também é nossa. Somos vidas cruzadas que criam vida pelo amor. Fátima e Luís

Pode o instante de um olhar de quem amamos ser o mais feliz momento do ano? Experimentem amar e respondam-me. Arnaldo Rego

Amar2007 mostrou-me que a vida é um eterno aprendizado, sobretudo pelas surpresas com as quais nos renova! Em 2007, reencontrei-me: encon-trei o meu amor, Artur Fonseca! Obrigada, Universo! Gisele Wolkoff

A Fotografi a do Amor

Pública • 30 Dezembro 2007 • 15

Fui à minimaratonaPara a posteridade aqui fi ca a foto, já em casa, da minha chegada da minimaratona de Lisboa 2007 depois de correr (sim, fui mesmo a correr) os 8 Km se não da mais conhecida, da mais concorrida prova em Portugal. Deu-me uma enorme satisfação parti-cipar nesta prova por várias razões: ter a oportunidade de atravessar uma boa parte da Ponte Vasco da Gama, não de automóvel, mas a pé, juntamente com cerca de 30.000 pessoas de todas as ida-des, feitios e raças, pelo convívio que se fazia sentir entre os todos os participan-tes, antes, durante e depois da prova e pelas vistas fenomenais que o percurso

ofereceu, principalmente sobre o estu-ário do rio Tejo e o Parque da Nações. Foram sem dúvida mais do que motivos para que no próximo ano contem de novo comigo. Foi um desafi o que fi z a mim mesmo e que o consegui superar, com algum esforço é verdade, mas é como em tudo na vida, quando queremos muito uma coisa temos de lutar por ela até atingir os objectivos pelos que nos propusemos e nunca desis-tir, apesar de por vezes não nos darem o merecido valor e surgirem imprevistos, mas como diz o velho ditado “quem corre por gosto, não cansa” e podem ter a cer-teza de que neste caso, suei as “estopi-nhas”, mas não me cansei, pois foi um dos momentos mais felizes de 2007. Luís Miguel Duarte

LivroO momento mais feliz em 2007 foi o lançamento do meu livro “O doente digestivo”.A. Oliveira Bessa

O meu fi lho Vicente Foi um ano pródigo em acontecimentos, o emprego novo do meu marido, o casamento da minha cunhada, mas nada bate o NASCI-MENTO DO MEU FILHO.Contrariamente ao diagnóstico que me tinha sido informado, em 2006 engravidei pela pri-meira vez na minha vida. Estava plenamente convencida que tal não seria possível, mas qual não foi o meu espanto, quando ao fazer um teste de gravidez, este deu positivo.Fiquei tão surpresa que, acreditem ou não, fui fazer mais dois testes so para confi rmar.O tempo foi passando e quanto mais crescia a barriga e o apetite, mas eu me habituava a esta nova presença na minha vida.Quando chegou a altura da ecografi a morfo-lógica, a ansiedade era demais, pois iria saber o sexo do bebe, se ele o permitisse claro, pois podia estar numa posição em que não se conse-guisse ver… Ainda estou a ver a medica: “então? Consegue ver aqui? — enquanto apontava para o ecrã— Não, não vejo nada Dra., o que é? — ela continuava a apontar — Olhe aqui, o que acha que isto é? — o meu marido fazia a mesma cara que eu, também ele a olhar para o ecrã, mas sentado porém, todo confortável numa pol-trona. É um rapaz! — exclamou ela a sorrir ao mesmo tempo que apontava de novo para o ecrã onde desta vez lá vi o que ela queria dizer: via-se uma silhueta algo pontiaguda, que era então o sexo do meu fi lho, o Vicente.Estava desfeita a dúvida, AZUL, ia comprar tudo em azul.É engraçado ir as comprar para o nosso fi lho que ainda não nasceu.Isto é tudo muito bonito, mas de vez em quando dava uma daquelas inseguranças:Será que vou ser boa mãe? Será que vou saber tomar conta dele? E o parto? Será que aguento?E se correr alguma coisa mal?, enfi m, o normal acho eu, para quem nunca tinha sido mãe antes.Lara Fontoura

14 • 30 Dezembro 2007 • Pública

CasámosFaz um ano dia 31 de Dezembro que vivemos o dia mais feliz das nossas vidas: “demos o nó”! É isso mesmo, na última passagem de ano resolve-mos dar um grande passo na nossa relação e celebrámos o nosso oitavo ano de namoro com o nosso casa-mento. É com grande satisfação que chegamos ao fi m do primeiro ano de casados desejando que esta passagem de ano seja de bom pro-núncio para todos tal como foi para nós há nove anos atrás. Araldo Fidalgo e Joana Nunes, Santa Maria da Feira

ELE2007? O que teve de verdadeiramente bom?Acho que vou mesmo pelo único e irrepetí-vel: o concerto do George Michael em Coim-bra. É único e irrepetível, pelo menos para mim e sem querer fazer futurologia! Penso que ele não voltará a Portugal e penso que não irei vê-lo a outro pais. Sou da idade dele, conheço pouco dos Wham mas quase tudo do GM. Por isso, tinha que ir vê-lo!!!O concerto estava marcado para as dez da noite, antecedido dos nossos FingerTips. Eram cinco da tarde e já lá estavamos (eu, a minha fi lha que segue as pisadas da mãe, o namorado e uma amiga), pois, já que ia ser único, queriamos ficar o mais perto possivel!

O tempo foi passando impressionantemente lento. E fi nalmente chegou o momento... era ELE! Ali, ao vivo, à nossa frente! Como sempre, a voz esplendida, aberta, clara, forte, atravessando o espaço e o tempo para me trasnportarem às primeiras vezes que o ouvi. O palco foi todo dele, movimentando-se sem parar, descendo, subindo, correndo, deixando suspensas as respirações de todas as idades. Cantou durante mais de duas horas com uma pequena paragem pelo meio e o tempo voou...Fántastico, único e irrepetível!E não me digam que vida não é feita de pequenos prazeres! Que seria de nós se estivessemos sempre à espera do Momento? Ele está onde nós quisermos que esteja e quando menos esperamos. Fernanda Tavares Coelho

GonçaloPara o amor da minha vida.Natacha

Pública • 30 Dezembro 2007 • 13

O meu avôA 8 de Agosto, o meu avô fez 90 anos. Vemo-lo aqui nesta fotografi a, feliz, no restaurante onde comemorámos o acon-tecimento, ao lado da minha avó, com quem passou os últimos 63 anos.Nasceu em 1917, em plena I Guerra Mun-dial, assistiu em Caminha à miséria pro-vocada pela Guerra Civil de Espanha e as difi culdades após a II Guerra Mundial levaram-no à emigração, para que a sub-sistência não fosse tão difícil.Veio daquilo a que hoje se chamaria uma família disfuncional, mas não permitiu que a sua fosse igual. Numa época em

que os homens iam para a tasca depois do trabalho, o meu avô ia para casa brin-car com os fi lhos. Cresci a ouvir as suas histórias e acompanhou-me sempre em todos os momentos. Admiro a sua tenacidade em manter-se independente, apesar das imensas difi culdades de loco-moção.É este o meu voto de ano novo: que todos possam terminar a vida assim, na sua casa, amados e respeitados pelos que lhes são mais próximos, a aguardar com serenidade e paz que os dias se lhes acabem.Carla Pereira

Comi todos os meus amigos num bolo de choco-late gigante

Não me casei, não fi quei milionária, não descobri a cura para nenhuma doença, não criei a fórmula quimérica dos sonhos de todos. Fui vivendo, cada dia mais um passo, cada dia uma pérola que tentei sempre saber apreciar. Fui construindo momentos, edifi cando sonhos e saltando obstáculos. Com mil proezas e malabaris-mos dei a volta às pedras que cresciam no meu caminho. Com elas construí castelos, como diz o poeta. E em cada uma dessas pedras que erguia sentia a presença de mãos invisíveis e fortes. A certeza de ter na minha vida amigos. O ano acaba, olho em redor e vejo que tenho agora um grandioso castelo, um ano inteiro de doces memórias e gargalhadas, noites de conversas intermináveis e aventuras ines-quecíveis. Assim, no meu 21º aniversário, juntei todos os meus amigos neste delicioso bolo de chocolate. E à hora dos parabéns, lá os reparti por todos, os meus momentos mais felizes do ano a espalharem sorrisos pelos rostos. Joana Filipa Inês Gomes

Vida novaNum mundo ideal, o pai expectante ajuda cari-nhosa e valentemente a mãe em esforço sobre-humano a dar à luz. No mundo real, uma gra-videz que termine em cesariana dispensa sem apelo nem agravo a presença do pai. Reduzido a uma espera nervosa, algures num corredor cinzento de uma maternidade cinzenta, ao pai sozinho serviu-se angústia às colheradas, uma angústia tão espessa, pesada e fria de que não havia memória de outra igual. De repente, por entre as dezenas de choros que se escutavam de baixo, de cima, dos lados, houve um que se destacou, não se sabe bem porquê. O que se sabe é que esse choro afastou toda a angústia e todos os medos e que cravos, imensos cravos, rebentaram do peito do pai naquele preciso momento. O calor, o cansaço, a noite e as horas desapareceram e o corredor cinzento tornou-se profundo, admirável e cinti-lante. Quando chegaram, mãe, pai e fi lho olha-ram-se. 2007 foi o ano em que a promessa de uma vida nova nos foi confi ada, o ano em que, defi nitivamente adultos, aprendemos a desem-baraçarmo-nos do acessório e a guardar apenas aquilo que nos é essencial: o sol que te nasceu da boca quando tu próprio nasceste.Alexandre Monteiro

Uma primeira vezEste ano fi z a minha primeira cor-rida de carros Filipe J. F. Freitas

12 • 30 Dezembro 2007 • Pública

A minha avóOntem foi o funeral da minha avó, estava a tomar o pequeno almoço, triste, à espera que ela aparecesse como fazia todos os dias e que me desse um sorriso a confi rmar que eu não tinha adormecido. Mas ela não apareceu. Para me distrair destes pensamentos, abri a vossa revista e parei neste desafi o. Comecei a ler as perguntas para ver se tinha tido alguma coisa feliz em 2007. Houve de facto um casamento, o do meu irmão que foi um acontecimento feliz pois ele conquistou a mulher dos sonhos dele. Tive com certeza alguns momentos de felici-dade. Mas o o que recordo foi uma separação — apesar de magoada acho que foi melhor assim; acredito que não éramos um para o outro. Estou a um dia de ficar desempregada — é muito mau, já não tenho 20 nem 30, já pas-sei os 40... Devia estar aterrorizada, mas não consigo. Estou com esperança que fi nalmente a minha vida vai mudar para melhor. Agora aquilo que já não tem solução: a partida da minha querida avó. Vou ter muitas sauda-des, no entanto estou tranquila sinto que ela está em Paz e que nos vai proteger. Será uma felicidade conseguir ver as coisas assim? Será fé? Será o espírito do Natal?Cristina Carneiro

E foi há 50 anos!Foi há 50 anos, no dia 5 de Setembro de 1957, que Ricardina e José casaram no Funchal, na bela ilha da Madeira, e iniciaram uma vida em comum. 50 anos depois, os seus oito fi lhos, netos, família e amigos, juntaram-se na mesma capela para celebrar as suas bodas de ouro! Deixam para todos o testemunho de uma vida de amor e trabalho, matizada por alegrias e dores, mas sempre fi el aos princí-pios que receberam das suas famílias e que entregam para os seus fi lhos, netos, família, amigos presentes e ausentes.Isabel Correia Neves, Braga

Pública • 30 Dezembro 2007 • 11

Antes quero burro que me carregue, que cavalo que me derrubeCasar é uma burrice?… há quem o apre-goe…normalmente é casado. Porquê o burro?… porque julgamos ter afi nida-des com este ser de imensa história dignamente representado em Portugal pela a raça mirandesa… trabalhador, teimoso mas gentil e humilde até na desproporcionada interpretação do seu nome que apenas em Portugal e no Brasil lhe conhecemos como nega-tiva. Pois é, aos 41 anos também se casa pela primeira vez, uma festa com conceito de burros, não pela falta de inteligên-cia mas força e teimosia que tivemos para dar este passo, foi um casamento diferente em todos os aspectos. Os convites feitos por nós ofereciam aos convidados sementes da mais variada ordem, desde oregãos, ale-crim, salsa, margaridas, etc... para que estes pudessem plantar acompa-nhando assim esta relação fl orida. As alianças, também essas diferentes, tatuadas no dedo. O aparelho que trago na mão, trata-se

de umas colunas para ipod e a marcha nupcial foi “jugo a la vida” dos Los Tucanes de Tijuana, aliás esta fantás-tica música cheia de alegria fui encon-trá-la no albúm do fi lme “Babel”. Casamento cigano como alguns cha-maram, até pela duração: afi nal foram três dias de preparação nas Casas do Visconde em Canas de Senhorim, casa esta pertença da família Keil do Amaral onde encontrámos enorme afecto. Foi também uma oportunidade para fazer alguma investigação sobre as diferentes raças de burros e chegar à conclusão que a única raça de burro nacional, a raça mirandesa, está em perigo se nada for feito para com-bater. Os noivos Nuno Ribeiro e Palmira Leiria tiveram como objectivo proporcionar aos convidados não só um momento especial de união mas também conju-gar e sensibilizar para alguns elemen-tos fundamentais da nossa tradição rural que a cada dia se vai perdendo. É preciso inverter este sentido poten-ciando a nossa riquíssima cultura. Nuno Ribeiro

IntensoA MINHA FELICIDADE NO MOMENTO MAIS INTENSO DA MINHA VIDA. Raquel Saraiva

10 • 30 Dezembro 2007 • Pública

Retrato de Celeste, 99 anosQue mãos são estas de onde brotam rosas?Que mãos são estas de onde brotam rosas mesmo quando o rei lunático sonha com pão para afastar as aves agoirentas do pinhal de Leiria feito de barcos de papel?Que mãos são estas que quebram os espi-nhos e as rosas são ainda mais rosas ausentes de espinhos enquanto brotam das mãos?Que força é esta capaz de fl orir a própria razão que já não é razão, é emoção, como-ção, delírio de ventríloquo quase vento a roer as encostas do rio de rosas?Quem rescreveu a história para que cada dia se faça de aurora?De quem são estas mãos ponderosas, rosa-das como a madrugada mesmo quando parece não fazer sentido, que deslaçam um sorriso doce que nos mantêm fi rmes até no desvio?Miguel Mansilha e Virgílio Ferreira

A doisViver, viver intensamente, viver a dois, viver no plural, viver com esfusiante alegria, viver com mal contida raiva... Enfi m, viver bem.Sim, temos sorte, porque a vida nos tem dado de tudo um pouco, em doses que nos revigo-ram. Fomos juventude, cartaz, esperança de Abril; levámos, como os outros, o nosso fi lho a ver mais longe, no alto da Estrela; sofremos em Vukovar, à beira do Danúbio; ouvimos sair o sertão da viola do Peixinho, lá no Mato Grosso do Sul; sentimos como na Grande Maçã, tão cerca da Liberdade, os pássaros de Hitchcock podem voar baixo, muito baixo mesmo; par-tilhámos o pão com os amigos... e fomos feli-zes no Vale do Silêncio, junto a Palmira, num remoto oásis sírio.Que mais podemos desejar? Nada, senão con-tinuar a alimentar saudades do futuro.Ana e Luís Raposo