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RECURSOS ESTILÍSTICOS Guilherme Ribeiro INTRODUÇÃO "Só as obras bem escritas hão-de passar à posteridade". Essas palavras foram escritas por um naturalista, o Conde de Buffon, ao tomar posse na Academia Francesa, em 1753. Mais conhecido por uma frase que se tornou famosa (le style c'est l'homme même) do que talvez pelos 36 volumes da sua História Natural, o dito buffoniano, pesando embora as interpretações divergentes que tem suscitado, continua na ordem do dia. Muitas foram e serão as definições de estilo. Algumas marcadas por um certo radicalismo: "ter estilo é não ter estilo". Mas, não é nosso propósito percorrer o universo de teorias que, ao longo das épocas, se foram formando em torno deste assunto. Aqui, tentaremos apenas fazer um levantamento dos principais recursos de que os prosadores, oradores e poetas se servem para tornarem mais sugestivas, expressivas e duradouras a suas ideias, os seus pensamentos, as suas mensagens... ou, porque não dizê-lo, a sua Arte. E, neste sentido, o estilo é o que os particuliza e os eleva à condição de verdadeiros artistas. A propósito, deixemos aqui as palavras de Aquilino Ribeiro, para que o leitor possa reflectir sobre o valor do estilo e, ao mesmo tempo, perspectivar uma definição possível: «Em literatura o estilo é como o álcool para os corpos embalsamados: conserva-a. Toda a literatura que resiste à corrosão do tempo deve-o ao estilo. Homero, Cícero, Shakespeare, Camões, Voltaire, Tolstoi foram grandes estilistas. Quer isto dizer que o estilo seja uma arte? De modo algum. Mas sem estilo nenhuma obra se salva. Acresce que a nossa língua está tão pouco clarificada que apenas pensa com precisão e justeza quem escreve correctamente. Julgar que em nome duma postiça originalidade ou evidenciação do humano haja de se abolir a técnica é pueril. E fazer tábua rasa da experiência adquirida no domínio da expressão não pode deixar de representar um inútil, inglório e malogrado intento. A palavra é como o mármore na estátua; dar a essa matéria semblante de vida, curvas voluptuosas, sombras quentes, frémito, solidez, eis o difícil objectivo que não se alcança de golpe. Com verbo desordenado, segundo a flux apocalíptica da imaginação, só poderá obter-se uma turva e destrambelhada arte.» Por outro lado, queremos que tomem consciência sobre o peso e utilidade da Retórica, termo frequentemente interpretado em sentido pejorativo, tido como Page 1 of 64 Recursos estilísticos 10-09-2011 http://esjmlima.prof2000.pt/figuras_estilo/figurestil.htm

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RECURSOS ESTILÍSTICOS

Guilherme Ribeiro

INTRODUÇÃO       "Só as obras bem escritas hão-de passar à posteridade". Essas palavras foram escritas por um naturalista, o Conde de Buffon, ao tomar posse na Academia Francesa, em 1753. Mais conhecido por uma frase que se tornou famosa (le style c'est l'homme même) do que talvez pelos 36 volumes da sua História Natural, o dito buffoniano, pesando embora as interpretações divergentes que tem suscitado, continua na ordem do dia.

      Muitas  foram  e  serão  as  definições  de  estilo.  Algumas  marcadas  por  um  certo radicalismo: "ter estilo é não ter estilo". Mas, não é nosso propósito percorrer o universo de teorias que, ao longo das épocas, se foram formando em torno deste assunto. Aqui, tentaremos apenas fazer um levantamento dos principais recursos de que os prosadores, oradores e poetas se servem para tornarem mais sugestivas, expressivas e duradouras a suas ideias, os seus pensamentos, as suas mensagens... ou, porque não dizê-lo, a sua Arte. E, neste sentido, o estilo é o que os particuliza e os eleva à condição de verdadeiros artistas.

      A propósito, deixemos aqui as palavras de Aquilino Ribeiro, para que o leitor possa reflectir sobre o valor do estilo e, ao mesmo tempo, perspectivar uma definição possível:

      «Em literatura o estilo é como o álcool para os corpos embalsamados: conserva-a. Toda a literatura que resiste à corrosão do tempo deve-o ao estilo. Homero, Cícero, Shakespeare, Camões, Voltaire, Tolstoi foram grandes estilistas. Quer isto dizer que o estilo seja uma arte? De modo algum. Mas sem estilo nenhuma obra se salva.

      Acresce que a nossa língua está tão pouco clarificada que apenas pensa com precisão e justeza quem escreve correctamente. Julgar que em nome duma postiça originalidade ou evidenciação do humano haja de se abolir a técnica é pueril. E fazer tábua rasa da experiência adquirida no domínio da expressão não pode deixar de representar um inútil, inglório e malogrado intento. A palavra é como o mármore na estátua; dar a essa matéria semblante de vida, curvas voluptuosas, sombras quentes, frémito, solidez, eis o difícil objectivo que não se alcança de golpe. Com verbo desordenado, segundo a flux apocalíptica da imaginação, só poderá obter-se uma turva e destrambelhada arte.»

      Por outro lado, queremos que tomem consciência sobre o peso e utilidade da Retórica, termo frequentemente interpretado em sentido pejorativo, tido como

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sinónimo de verborreia.

      O  tratado  antigo  mais  conhecido  é  a Retórica de Aristóteles. A importância da comunicação oral nessa época era muito grande pois os assuntos públicos eram tratados nos foros públicos. Mesmo nos nossos dias, os que têm a seu cargo as deliberações dos países e os diversos partidos políticos necessitam de estruturar convenientemente os seus discursos para que as suas mensagens sejam acolhidas pelos cidadãos.

      Significa isto que os artifícios e as técnicas discursivas não são exclusivas do texto literário, seja prosa ou poesia. Eles são indispensáveis na própria comunicação, pois é necessário cativar e persuadir para mover à acção. Veja-se, por exemplo, a realização dos anúncios publicitários, sejam os de teor didáctico-pedagógico, sejam os de natureza puramente comercial.

       Após estas  ligeiras considerações,  resta-nos somente precisar as coordenadas em que assentamos para produzir este modesto, mas sério, trabalho.

      É comum distribuirem-se as figuras de estilo em três grandes categorias:

      a) Figuras de Sintaxe ou de Construção (Elipse, Zeugma, Pleonasmo, Anáfora, Anástrofe, Hipérbato, Anacoluto, Assíndeto, Silepse);

      b) Figuras de Pensamento Interrogação (Pergunta de Retórica), Exclamação, Hipérbole, Apóstrofe, Prosopopeia (Personificação ou Animismo), Perífrase, Antítese, Oxímoro, Paradoxo, Gradação);

      c) Tropos (Comparação, Metáfora, Imagem, Alegoria, Ironia, Eufemismo, Disfemismo, Sinédoque, Metonímia).

      Mas  esta divisão encontra-se sujeita a variaçõs, de forma a estabelerem-se nexos semânticos e estruturais entre as várias figuras. Henri Suhamy, por exemplo, agrupa-as em cinco rubricas distintas:

      I.  Os  Tropos: (Catacrese e Glossemas; Imagem, comparação e metáfora; Metonímia e Sinédoque; Perífrase; Os Tropos de Funções: Enálage, Hipálage, Implicação, Hendiadyn, Litote)

      II.  As  Figuras de Repetição e de Amplificação: Repetição de Palavras: Epizeuxe, Anáfora, Epífora, Anadiplose, Simploce, Antanáclase, Epanalepse, Epanadiplose; Repetição de Sonoridades: Rima, Assonância, Aliteração, Apofonia, Paranomásia, Eufuismo, Poliptoto; Redundâncias: Pleonasmo, Batologia, Tautologia, Expleção; Paralelismo e Amplificação: Paradiástole, Hipozeuxe, Paráfrase);

      III.  As  Figuras de Construção: Ritmo; Cláusula; Quiasmo; Antítese; Oxímoro; Paralelismo; Dissimetria; Inversão; Hipérbato; Anástrofe; Histerologia)

      IV. As Figuras de Realce ("de mise en valeur"): Hipotipose, conglobação, Expolição, Onomatopeia, Harmonismo, Exclamação; Interrogação; Apóstrofe; Mitologismo; Antropomorfismo; Prosopopeia; Hipérbole; Litote; Tapinose; Eufemismo;

      V. Elipses: Elipse; Abreviação; Parataxe; Braquilogia; Anacoluto; Zeugma);

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      VI. Figuras de Pensamento: Ironia; Asteismo; Autocategorema; Epítrope; Paradoxo; Tácticas de Argumentação: Precaução, Rejeição, Antecipação, correcção, Retroacção, Antorismo, Antiparástase, Apodioxe, Preterição, Associação, Comunicação)

      Nós,  sem  pretendermos  pôr  em  causa  os  princípios  de  tal  divisão,  optámos  por constituir núcleos relacionais em torno dos quais agrupámos os recusrsos estilísticos. Ou seja, há figuras que resultam de um relação analógica, como a Comparação e a Metáfora; outras que assentam em relações de contiguidade, como a Metonímia e a Sinédoque; e por aí adiante.

      Este procedimento afigura-se-nos mais funcional e rentável, em termos de consulta e de memorização, pois permite compreender melhor o fundamento de cada recurso e, consequentemente, favorece a determinação quer do que de comum existe entre uma série de figuras quer dos traços que as distinguem entre si.

 

I. FIGURAS COM BASE NA ANALOGIA

1. COMPARAÇÃO       A  comparação,  como  o  próprio  nome  indica,  consiste  na  associação  entre  dois termos diferentes, mas entre os quais há algo que permite aproximá-los.

Exemplos:

                  "Dentro da casa o mar ressoa como no interior de um búzio." (Sophia M. B. Andresen);

            "O silêncio pesava como chumbo."

                  "As árvores pareciam velas desfraldadas ao vento."

            "Os olhos de ambos reluziam como pedras preciosas."

                  "... de face mais escura que a noite e coração mais escuro que a face"

            "A rua [...] parece um formigueiro agitado" (Érico Veríssimo)

      Pode, pois, concluir-se:

      __  que  as metáforas  sublinham as  similitudes  entre as  coisas, mas  não  alteram o sentido das palavras;

      __ que existe na associação entre as duas realidades comparadas (termo comparante e termo comparado) uma partícula, ou expressão (como, parecer, ser semelhante a, etc.), que marca explicitamente essa mesma associação;

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      __ e que a riqueza da comparação deriva da sensibilidade e experiência do sujeito para construir associações lógicas, originais e sugestivas.

 

2. METÁFORA       Na  metáfora  está  sempre  implícita  uma  comparação,  ou  seja,  como  que corresponde a uma associação comparativa entre duas realidades, entre duas ideias, mas coladas uma à outra sem quaisquer elementos que explicitem essa associação.

      Porém, apesar de a metáfora se fundar numa associação comparativa, não podemos dizer que o seu valor e expressividade são semelhantes aos atingidos pela comparação.

      A METÁFORA não se limita a procurar a concisão, ela  transfigura igualmente o sentido das palavras, ao mesmo tempo que expande a possibilidade de associações possíveis entre signos diferentes. Isto significa que entre o sentido base e o sentido acrescentado existe uma relação de semelhança, de intersecção de tal modo cerrada que o significado acrescentado passa necessariamente por uma abrangência associativa muito mais extensa e rica que aquela que acontece na comparação.

      A  METÁFORA,  como  precisa  a  sua  etimologia,  além  de  procurar  a  concisão, transfigura o sentido das palavras, dando a ideia de um transporte e de uma mutação. A escrita metafórica surge como um procedimento de codificação, exigindo, da parte do leitor, uma espécie de tradução, tentando decifrar o referente que se encontra detrás do signo.

      METÁFORA PURA: aquela em que apenas existe o termo metafórico, sem a presença do termo real (subsiste o plano do evocado e desaparece o plano do real), cabendo ao leitor tentar descodificar as possibiliades possíveis, por meio de associações que o mesmo terá de realizar:

                  "Eu só queria a coragem

                   De poder adormecer os meus punhais no coração." (José Gomes Ferreira) => Associação entre punhais e palavras, farpas, vinganças, etc.

            "Sua lua de pergaminho

             Preciosa tocando vem." (F. García Lorca) => Associação entre a Lua e a pandeireta.

                  "Vomito horas de tédio

                   De cansaço...

                   Morro os sóis que sempre nascem" (Cari)

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            " É de oiro o silêncio... A tarde é de cristal..."

                  "Trave da tua casa, lume da tua lareira." José Saramago [Referido-se à avó]

      METÁFORA IMPURA (ou SIMPLES): aquela em que o elemento metafórico e o elemento real estão presentes, permitindo-nos estabelecer a associação entre os dois planos (evocado e real):

                  "Fios de sol escorriam de uma azinheira, perto da estrada" (Vergílio Ferreira)

                  "Amor é fogo que arde sem se ver," (Camões)

            "Nossas vidas são os rios que vão dar ao mar."

                  "Que é Poesia?

                   uma ilha

                   cercada

                   de palavras

                   por todos

                   os lados." (Cassiano Ricardo)

            "Os suspiros escapam-se da sua boca de morango" (Rubén Darío)

                  "A lua nova é uma vozinha da tarde..." (Jorge Luís Borges)

            "E lágrimas sonoras, dos sinos velhos..." (António Machado)

      A  metáfora  só  se  pode  descrever  metaforicamente,  não  tendo,  por  isso,  uma definição positiva. A METÁFORA, recriando a linguagem, modifica o facto descrito. Por outro lado, é necessário estar-se consciente de que as metáforas nascem, vivem e morrem, chegando determinadas metáforas a constituir simples expressões directas da língua, enriquecendo-a, mas deixando de ser metáforas (vulgarmente denominadas de metáforas mortas).

  

2.1. CATACRESE        Etimologicamente, CATACRESE (do grego catáchresis), significa erro.

      Em sentido restrito, pode designar um erro involuntário, seja de ordem fónica seja 

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de ordem ortográfica, que frequentemente acontece com os parónimos. Ás vezes, os desvios provêm de associações aberrantes.

        A  catacrese  consiste  na  mudança  da  acepção  de  um  nome,  fazendo  este representar, com base numa pura analogia, um objecto, ou uma parte do objecto, para os quais não existem nomes de referência particulares.

      Exemplos de catacrese:

            __"mão de pilão";

            __"perna de mesa";

            __"ala de edifício";

            __"cabeça da mesa";

            __"costas da cadeira"

      Ao serviço de propósitos especiais,  como nas expressões que não possuem nome ou adjectivo próprio, a CATACRESE aproxima-se da METÁFORA, ou chega mesmo a confundir-se com esta:

            __"E o sol estende, pelas frontarias

            __ Seus raios de laranja destilada" (C. Verde)

            __"Mas eu aportara à cidade de automóvel..." F. Namora)

            __"Lágrimas eloquentes";

            __"romance água com açúcar"

 

2.2. IMAGEM       IMAGEM. __ Em sentido lato, a imagem engloba figuras como a metáfora, o símbolo, a alegoria, etc., figuras criadas por meio de uma comparação, de uma relação analógica.

      Em sentido restrito,  esta  figura designa uma comparação em que todos os termos (comparados e comparantes) se encontram expressos __ pelo que, neste caso, o termo mais apropriado seria SÍMILE.

      A imagem é, pela sobreposição e/ou acumulação de figuras, mais ampla e rica de sugestões que a comparação e a metáfora. A reunião destas duas (da metáfora com a

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comparação) acabam por converter as ideias em representações mais sensíveis, animadas e coloridas:

            __ "O Mondego, como uma cobra na areia, espreguiça a sua trança de águas mortas" (Fialho de Almeida)

            __ "Para os vales, poderosamente cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, de um verde tão moço, que eram como um musgo macio onde

apetecia cair a rolar." (Eça de Queirós)

            __ "Os bons amigos hão-de ser âncoras e amarras na tempestade desta vida." (Frei Heitor Pinto)

            __ "O ar mordido por pequenos dentes dum branco imaculado..." (Bernardo Santareno)

            __ "Voz rouca com claridades ardentes de Sol e negrumes de mar sem fundo." (Bernardo Santareno)

            "Horas mortas... Curvadas aos pés do monte

             A planície é um brasido.. e, torturadas,

             As árvores sangrentas, revoltadas,

             Gritam a Deus a bênção duma fonte." (Florbela Espanca)

 

2.3. SÍMBOLO e EMBLEMA       __  SÍMBOLO è uma representação significativa. A balança, por exemplo, é o símbolo da justiça, a cor verde é símbolo de frescura, de esperança, mas também de imaturidade, de inocência.

      As  metáforas  de  carácter  universalizante  passam  geralmente  a  ser  consideradas símbolos, como acontece, por exemplo, com «Babel», associada a confusão.

      __  O EMBLEMA é um signo deliberadamente escolhido, que, da parte de um indivíduo ou de uma comunidade, pretende afirmar uma personalidade, proclamar a identificação a um valor, como uma divisa expressa visualmente. Os emblemas heráldicos podiam substituir os nomes. Se o leão simboliza a coragem e a majestade, torna-se EMBLEMA para uma nação que se reconheça nestas virtudes.

      Os  adereços  que  as  personagens  transportam  consigo  servem  muitas  vezes  de elementos identificadores, isto é, constituem emblemas, como acontece, por exemplo, com as personagens vicentinas. Porém, segundo nos parece, o emblema conterá sempre em si também um valor simbólico (de virtudes ou vícios)

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2.4. ALEGORIA       A  ALEGORIA é uma composição simbólica, feita de vários elementos que formam um conjunto coerente e reenviam termo a termo para o conteúdo significado.

      A ALEGORIA é um recurso retórico-estilístico em que se fazem corresponder, de modo minucioso e sistemático, um nível de significados literais e um nível de significados figurados. A alegoria pode ser considerada como uma metáfora ou como uma comparação prolongadas, devendo o seu intérprete descobrir sob os significados literais e patentes, que em si mesmos têm coerência, outros significados, significados de outra ordem.

      Assim, por exemplo,

            "a nau que enfrenta um mar encapelado, dirigida por um piloto firme e hábil, responsável pelo leme, que sabe evitar os escolhos e vencer as ondas e os ventos

contrários"

      é  uma  alegoria multissecular  da  vida  política  do  Estado,  agitada  e  perigosa,  que exige um governante com coragem e sabedoria.

      Como  igualmente  alegórico  é  este  extracto  do  Sermão  de  Santo  António  aos Peixes, do Pe. António Vieira:

            "O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha,

parece a mesma brandura, a mesma mansidão."

      O polvo aparece aqui como uma notável representação alegórica da hipocrisia com que se mascara o ser humano e, em particular, alguns membros da igreja.

      A alegoria pode ser global,  isto é, um texto literário pode conter alegorias, mas a alegoria é particularmente utilizada em géneros e subgéneros literários como a sátira, a fábula, a parábola, o sermão e o apólogo (esta lista de géneros e subgéneros demonstra bem o pendor didáctico da alegoria).

      As personagens de alguns autos de Gil Vicente __ Auto da Alma, por exemplo __ são personagens alegóricas, na medida em que constituem representações do mal e do bem, do vício e da virtude.

      Uma  ALEGORIA  na  qual  se  crê  torna-se um MITO, dado que o MITO é uma METÁFORA por projecção, fundada sobre uma analogia entre um fenómeno real e um fenómeno imaginário, que é o reflexo e que adquire importância pelo facto de que o pensamento mítico prefere o imaginário ao real. O imaginário é sempre mais intelegível que o real, mesmo se os filósofos nele denunciam a irrealidade.

  

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2.5. PARÁBOLA       A PARÁBOLA é uma narrativa (récit) alegórica, contendo uma lição moral ou religiosa.

      Fala-se de PARÁBOLA quando todos os elementos de uma acção, exposta ao leitor, se referem, ao mesmo tempo, a uma outra série de objectos e processos. A clara compreensão da acção do primeiro plano elucida, por comparação, sobre a maneira de ser da outra. A PARÁBOLA desenvolve-se no tempo, enquanto a ALEGORIA propriamente dita tem um aspecto mais espacial.

                  "...O semeador saiu a semear.

                   Parte da semente

                   caiu ao longo do caminho,

                   vieram as aves do céu

                   e comeram-na.

                   Parte caiu na pedra,

                   não tinha terra,

                   nasceu, veio o sol e secou.

                   Parte, enfim, caiu em terra boa

                   e deu bons frutos,

                   cem por um, outros sessenta por trinta.

                   Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça."

      Vejamos também um poema, onde se fazem sentir ecos desta mesma parábola:

                  Pensamento vem de fora

                  e pensa que vem de dentro,

                  pensamento que expectora

                  o que no meu peito penso.

                  Pensamento a mil por hora,

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                  tormento a todo momento.

                  Por que é que eu penso agora

                  sem o meu consentimento?

                  Se tudo que comemora

                  tem o seu impedimento,

                  se tudo aquilo que chora

                  cresce com o seu fermento;

                  pensamento, dê o fora,

                  saia do meu pensamento.

                  Pensamento, vá embora,

                  desapareça no vento.

                  E não jogarei sementes

                  em cima do seu cimento.

                       (Arnaldo Antunes) 

      O  termo  grego  Parábola  significa  "desvio do caminho". Mas desviar-se não equivale necessariamente a perder-se. No fundo, recorre-se a uma forma poética para revelar uma realidade abstracta, ou, utilizando um oxímoro, trata-se de um "revelar por ocultação".

      Na  parábola  assiste-se a uma espécie de desvio em relação à literalidade da mensagem, identicamente ao que sucede com o desvio à norma, traço característico e essencial do facto estilístico.

      Como na parábola de Cristo,  também no poema, a semente é metáfora e imagem da palavra. Além disso, "cimento" constitui, relativamente às palavras de Cristo, uma actualização.

      Uma  PARÁBOLA  pode  ser  inventada, mas  um  acontecimento  histórico  ou  uma anedota podem servir de parábolas, fora de tempo (après coup), o que explica o sentido proverbial de certas expressões. As parábolas do Evangelho adquiriram um sentido exemplar e integram-se no discurso de igual modo.

      Na  mesma  ordem  de  ideias,  uma  ALEGORIA  não  é  obrigatoriamente  uma construção imaginária ou efabulação. Uma paisagem de inverno pode simbolizar, por exemplo, a condição humana.

  

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2.6. SINESTESIA       Fala-se de SINESTESIA quando detectamos uma combinação ou fusão de diversas impressões sensoriais __ visuais, auditivas, olfactivas, gustativas e tácteis __ entre si, e também entre as referidas sensações e sentimentos. No fundo, trata-se de um jogo em que a transposição dá origem a metáforas sinestésicas:

            __ "O céu ia envolvendo-a até comunicar-lhe a sensação do azul, acariciando-a como um esposo, deixando-lhe o odor e a delícia da tarde." (Gabriel

Miró)

            __ "Que a alma que pode falar com os olhos também pode beijar com a face."

            __ "Sobre a terra amarga, caminhos têm o sonho." (António Machado)

            __ "Que tristeza de odor a jasmim!" (Juan R. Jiménez)

            __ "Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo.

             O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou

             Gritam-me sons de cor e de perfumes." (M. Sá-Carneiro)

            __ "E fere a vista com brancuras quentes" (Cesário Verde)

 

3. PROSOPOPEIA, PERSONIFICAÇÃO ou ANIMISMO

       A PROSOPOPEIA Consiste em atribuir qualidades ou características humanas a tudo o que não seja humano (ideias, animais, plantas, coisas, objectos inanimados, o irracional, etc.):

                  "A Ilha era deserta e o mar com medo

                   da própria solidão já te sonhava.

                   Ia em vento chamar-te para longe

                   E longamente, em espuma, te aguardava." (Carlos de Oliveira)

            "A chuva é obrigada a sentir que eles nem as encostas lhes estendem." (Jorge de Sena)

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                  "As estrelas foram chamadas e disseram: aqui estamos." (António Vieira)

            "Entretanto, Lisboa arrojava-se aos meus pés." (Eça de Queirós)

                  "Um Sol rijo e pesadão, de todo genésico, espojava-se sobre a terra." (Aquilino Ribeiro)

            "Vêem-se os salgueiros chorando os tradicionais amores de Pedro e Inês." (Fialho de Almeida)

                  "Toda esta noite o rouxinol chorou,

                   Gemeu, rezou, gritou perdidamente." (Florbela Espanca)

            "Naquela manhã de Março, o vento norte levantou-se mal-humorado" (António Botto)

                  "Plácida, a planície adormece, lavrada ainda de restos de calor." (Vergílio Ferreira)

            "A tarde descia, pensativa e doce, com nuvenzinhas cor-de-rosa" (Eça de Queirós)

      Há,  todavia,  quem  estabeleça  distinção  entre  Prosopopeia/Personificação  e Animismo, reservando os dois primeiros para referir a atribuição de qualidades ou comportamentos humanos a seres que o não são e o último termo para a expressão de sinais ou comportamentos vitais atribuídos a coisas inanimadas, como as rochas, os metais, os objectos, etc.., mas sem os elevar à categoria de humanos:

      Exemplificando:

            "As árvores torciam-se e gemiam, vergastadas pelo vento"

      e

            "Chegada a noite, os cumes das montanhas e os picos das serras deixavam-se adormecer no travesseiro celeste. (Cari)

 

II. COM BASE EM OUTRO TIPO DE RELAÇÕES (Contiguidade, Parte-Todo...)

1. METONÍMIA

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      Enquanto  a METÁFORA  se  baseia  numa  relação  de  similaridade  de  sentidos,  a METONÍMIA assenta numa relação de contiguidade de sentidos.

      __ Na METÁFORA, o transporte de sentido opera-se por meio de uma semelhança, analogia. Na METONÍMIA, a transposição de sentido realiza-se através de uma relação, existindo tantas variedades de metonímias quantos os tipos de relação.

      A METONÍMIA (do grego metonymía = mudança de nome) consiste em designar uma determinada realidade por meio de um termo que se refere a uma outra realidade, mas entre as quais (entre as duas realidades) existe uma relação.

      Na metonímia, a associação que se estabelece entre X e Y (entre duas realidades, entre duas ideias) é o resultado de uma relação por contiguidade e não por semelhança. A METONÍMIA funda-se em relações de causalidade, procedência ou sucessão entre as duas palavras que se interligam.

      A METONÍMIA  implica  alteração  de  sentido  de  uma palavra  ou  expressão  pelo acréscimo de um outro significado ao já existente, quando entre eles (um e outro significados) existe uma relação de contiguidade, de inclusão, de implicação, de interdependência, de coexistência. Por exemplo, quando dizemos "As cãs (cabelos brancos) inspiram respeito", estamos a empregar cãs por velhice, porque os cabelos brancos indiciam que a pessoa é idosa e, consequentemente, com muita experiência vivida.

      Exemplos de metonímia:

            __ ser uma pena brilhante = ser um grande escritor

            __ ter cinco bocas para alimentar = ter cinco pessoas para alimentar

            __ foi movimentada a redonda na relva = foi movimentada a bola

            __ ser o Cristo da turma = ser o que sofre todas as consequências

            __ ter óptima cabeça = ter inteligência; ser inteligente

            __ no Médio Oriente, não descansam as armas = ... não descansam os guerreiros

      Vejamos o fenómeno metonimíco, de acordo com os diversos tipos de relação:

      a) A causa pelo efeito, ou vice-versa:

            "As barbas longas merecem ser ouvidas" => deve prestar-se atenção aos mais idosos, porque a longa experiência enriqueceu os seus conhecimentos e clarificou a sua

razão.

      b) O autor pela sua obra:

            __ "leu Cervantes" => obra de Cervantes;

            __ "ler Camões" => obra de Camões; 

            __ "Deleitava-se lendo o seu Camilo" => lendo as obras de Cãmilo.

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      c) O símbolo ou sinal pela coisa simbolizada:

             "a espada, a cruz, os louros" => o exército, a religião cristã, a glória; "o altar e o trono => a religião e o poder monárquico

            "Nas caravelas de Portugal seguia sempre a cruz e a espada" => a religião e a força militar

      d) a divindade em vez do domínio em que exerce as suas funções:

            "amigo de Baco" => 'amigo do vinho'

      e) o lugar de origem pelo produto, ou vice-versa:

            "Bebia Dão às refeições e acabava sempre com o café e uma Carvalho Ribeiro Ferreira" => vinho da região do Dão / aguardente;

            "fumar um Havana" => fumar um charuto

            "Beba um Porto!"

      f) O específico pelo genérico e/ou o objetivo pelos meios:

            "Não sabe ganhar o pão" => não sabe arranjar maneira de sobreviver, de arranjar algumas economias...;

            "ganhar a vida" => conseguir os meios de subsistência para viver.

      g) O abstracto pelo concreto:

            "o amor é egoísta" => o ser possuído pelo amor é egoísta;

            "Reuniu-se em Lisboa a cultura do país." => os homens cultos

            "A juventude veste-se aqui" => os jovens

      h) A matéria pela coisa:

            "o aço" => a espada;

            "os bronzes" => os sinos.

      i) O instrumento por aquele que o maneja:

            "o baixo" => aquele que toca viola baixo;

            "O melhor pincel da sua época" => o melhor pintor da sua época;

      j) O continente pelo conteúdo, ou vice-versa:

            "o teatro aplaudiu o artista" => os espectadores aplaudiram o artista;

            "beber um copo" => beber o líquido contido num copo

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      k) O físico pelo moral:

            "Ele é um grande coração." [=> homem bom, com boas qualidades, generoso...]

            "Aquele rapaz é uma grande cabeça" [=> é muito inteligente]

            "Ele tem maus fígados" [=> é irascível]

      l) O invento pelo inventor:

            "Encontrava-se num dédalo" => (a Dédalo se atribui a invenção do labirinto) =>encontrava-se num labirinto

      m) O edifício ou a propriedade pela pessoa:

            "Belém mantém-se na expectativa" => O Presidente da República

      Na metonímia não acontece uma transposição das partes para o todo, nem do todo para as partes, como na sinédoque. Ainda que assim pareça, o que efectivamente ocorre é a denominação de uma parte pela outra (pars pro parte).

  

2. SINÉDOQUE       A SINÉDOQUE (do grego synedoché = compreensão) Consiste numa alteração da designação da coisa que se pretende referir, no plano do conteúdo conceptual.

A SINÉDOQUE é uma variedade de METONÍMIA, que consiste em exprimir a parte pelo todo (pars pro toto), ora o todo pela parte (totum pro parte): o telhado pela casa, a nação pelo governo, etc.

      Porém, não se pense que se trata apenas de um todo quantitativo, em que cabem as partes da ordem quantitativa. Em termos amplos, a "compreensão" de um conceito é todo o seu conteúdo; num juízo, o sujeito está na posição daquilo que recebe o predicado, de modo que até uma qualidade se diz pertencer ao sujeito como algo que é parte sua. O processo da deslocação opera-se mediante as relações que o ouvinte percebe e que o podem transportar na direcção do novo significado. Neste caminhar, ora vai do todo para as partes, ora das partes para o todo, visto que as relações ocorrem tanto de uma direcção como de outra:

      A SINÉDOQUE funda-se em relações de contiguidade, de vizinhança, em relações de coexistência entre o todo e as suas partes. Vejamos como se podem apresentar esse tipo de relações:

      __ A espécie pelo género: __ Enquanto seres dentro da espécie, a denominação vaga do indivíduo poderá indicar a espécie:

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            "o homem é mortal" (= a natureza humana é mortal),

                  "Por subir os mortais da terra ao céu" (L. Camões) => 'todos os homens' ;

            "Um Nero" => homem cruel;

      __ A parte é expressa pelo todo e o todo é expresso pela parte:

                  "a vela singrou os mares" (= O navio à vela singrou os mares),

            "Este povo que é meu, por quem derramo

             As lágrimas..." (L. Camões) => povo representa aqui apenas os marinheiros de Vasco da Gama e não o povo português

                  "Que, da Ocidental praia lusitana" => Portugal

            "Andar nas bocas do mundo" => de muitas pessoas, mas não de todas as pessoas.

      __ A matéria pelo instrumento (ou pela forma), ou inversamente:

            "Com o ferro o duro Pirro se aparelha" = espada;

                  "Que de Homero para eles a cítara só cobiço" => inspiração

      __ O singular pelo plural ou o plural pelo singular:

            "o português é valente" => os portugueses são valentes

                  "Aqui, o pescador vive em barracas de madeira que têm o aspecto de povoações lacustres." (Raul Brandão) [o pescador => os pescadores]

      A  sinédoque  fomenta  o  vigor  do  estilo,  por  causa  da  concisão  que  lhe  empresta; produzindo a palavra muito mais do que a acepção ordinária lhe atribui, o efeito estético decorrente torna-se apreciável. Mas requer-se que a sinédoque seja facilmente reconhecível, porque de contrário torna o texto enigmático, em vez de sugestivo e vigoroso.

  

3. ANTONOMÁSIA       A antonomásia consiste na substituição de um nome próprio por uma qualidade ou um epíteto, que o identifica ou define:

            "O rio Douro ficou banido da lírica portuguesa com a sua catadura feroz pouco própria para animar os gorgeios dos bernardins, que são sempre

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lamurientos..." (A. Bessa Luís) => ao estilo de Bernardim Ribeiro

                  "Mil relógios, mil fivelas

                   Que aos Adónis muitas deram" => aos amantes

      A antonomásia vossiânica consiste na substituição de um apelativo por um nome próprio (geralmente um ser excepcional da história ou da mitologia):

                  "um Catão" __ assim se referia Ramalho Ortigão a Alexandre Herculano, para expressar que este 'era virtuoso em extremo, um austero'.

III. IDEIAS CONTRADITÓRIAS e CONTRADIÇÃO NO INTERIOR DOS CONCEITOS

1. ANTÍTESE - OXÍMORO - PARADOXO

      ANTÍTESE:  Figura  de  construção,  mas  também  de  pensamento.  Enquanto procedimento literário, e sobretudo poético, a ANTÍTESE não consiste em confrontar dialecticamente teorias opostas, mas sim apenas em jogar com os contrastes e em exprimí-los por meio de construções compactas e bipolares.

      A ANTÍTESE poética não pretende, como a de ordem filosófica, resolver, e muito menos elucidar, as contradições do Universo ou do pensamento; ela pretende somente exprimir todo o 'claro-escuro' da vida através de expressões intuitivas.

      A ANTÍTESE reside na oposição dos contrastes em estado puro e na forma mais ou menos simétrica que os coloca em relevo. A significação ideológica que daí se pode retirar pertence a um outro domínio.

            "Glória do Minho, horror de Salvaterra"

            "Este baixel, nas praias derrotado,

             Foi nas ondas Narciso presumido,

             Esse farol, nos céus escurecido,

             Foi do monte libré, gala do prado." (P. Cultista)

            "Com maior frío vós; eu com mais fogo."(Herrera.)

            "o berço de um era magnífico e de marfim entre brocados; o berço do outro, pobre e de verga"

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            "No terror e esplendor da emoção" (Eça de Queirós)

            "Sentia-se homem, pequenino ou grande, consoante a luzinha interior que na hora o alumiava." (Aquilino Ribeiro)

      __ O OXÍMORON (ou OXÍMORO, ou ANTILOGIA): É uma forma de antítese lúdica e paradoxal, que inculca a uma dada expressão dois sentidos teoricamente incompatíveis.

      O OXÍMORON, assentando na ligação de duas imagens que, na realidade, parecem excluir-se, representa uma intensificação especial da ANTÍTESE.

      A ANTÍTESE  e  o OXÍMORO  são  duas  figuras  que  se  encontram  ao  serviço  da expressão de ideias contraditórias, coabitando no mesmo espaço discursivo. Contudo, há entre uma e outra uma diferença de intensidade, quase semelhante àquela que existe entre a COMPARAÇÃO e a METÁFORA.

      Assim, enquanto na ANTÍTESE, se explicita numa contradição entre dois campos perfeitamente distintos (A / B), no OXÍMORO, assiste-se a uma espécie de sobreposição dos dois campos AB . Tal significa que a lógica do campo A. não só é negada pelo campo B, como também, e simultaneamente, se pretende impor a afirmação dessa mesma negação, instaurando uma 'realidade terceira' que funciona como termo dialéctico da síntese e que ultrapassa o puro movimento de afirmação e negação:

            "Então, falo melhor quando emudeço...

             Que de matar-me vivo..." (Camões)

            "Amor é fogo que arde sem se ver;

             É ferida que dói e não se sente; (Camões)

            "Foste tu que partiste,

             __ Meu amargo prazer, doce tormento!"

      É  verdade  que  o OXÍMORO  corresponde  à  expressão  de  ideias  ou  pensamentos paradoxais, e, por isso mesmo, é ele o termo eleito em detrimento de PARADOXO.

      Embora o OXÍMORO esteja como que colado ao PARODOXO, nós entendemos que seria possível estabelecer, mesmo que de forma um pouco ténue, uma linha de diferenciação entre estes dois termos.

      Assim,  pensamos  nós,  enquanto  o  OXÍMORO  se  prende  com  conceitos  apenas inconciliáveis se considerados dentro de uma mesma esfera de análise, o PARADOXO pressupõe sempre duas ideias antagónicas, em que cada uma delas é necessária à existência da outra, quanto mais não seja em termos conceptuais. Isto é, dizer-se que "A paz nasce da guerra" é um paradoxo, porque é precisamente a apreensão do conceito contrário ao de paz que permite ter consciência desta; e o mesmo se passa em relação aos sentimentos humanos, em que, por exemplo, o ódio pode derivar do amor, etc., como também ao nível das atitudes e comportamentos humanos:

            "O Sr. Pimpão, colado ao povo e sempre defensor da sua simplicidade,

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apareceu sumptuosamente trajado e de olhar pousado no mais alto pedestal" (Cari) [Atente-se no paradoxo entre a que parece defender e a atitude que agora toma]

      Se  pusermos  em  paralelo  duas  realidades  cruéis,  estabelecendo  entre  elas  uma diferença gradativa, podemos criar um oxímoro do género:

      "O tristeza do olhar de Pedro e do irmão espelhava aquele desassossego que o vinho do pai trazia todas as noites ao lar. Mas, quando escutavam o barulho infernal da casa do vizinho, que parecia habitada por duas hostes inimigas, serenavam... e a confusão em que viviam convertia-se numa leve e passageira paz..."

      Significa  isto  que,  no  OXÍMORO,  se  sobrevaloriza  o  efeito  implicado  numa reflexão entre duas realidades cruéis, mas separadas por uma discrepância ao nível da intensidade, e não propriamente o antagonismo entre ideias opostas. Aliás, é perceptível que «paz», aqui, não corresponde verdadeiramente ao sentido de "paz" (ausência de conflito, convivência harmoniosa, etc.), antes acentua o ambiente horrível que se vive em casa do vizinho, e diante do qual o temor que se vive no outro lar quase que é esquecido. A este propósito, é sugestivo o dito popular ao referir que "O mal dos outros é conforto" (porque abranda a dor do nosso próprio mal).

      Em  suma,  enquanto  o  PARADOXO  expressa  duas  realidades  opostas  e inconciliáveis simultaneamente, o OXÍMORO assenta na expressão de efeitos contraditórios face a circunstâncias semelhantes, mas separadas por um relativo grau de intensidade.

      Convirá, no entanto,  ter  sempre presente, que a coabitação de  sentidos contrários assenta numa espécie de sobreposição de planos distintos, como físico / psicológico, material / espiritual, mundo interior / mundo exterior, etc.:

      "Aquela triste e leda madrugada" (Camões) ["leda" refere-se ao aspecto físico duma natureza que acorda suave e se anuncia luminosa e agradável, enquanto "triste" respeita a dor psicológica que a morte de sua amada nele causara. Em suma, essa madrugada alegre é testemunha de um acontecimento marcadamente triste.]

  

2. ANTÍFRASE       A  ANTÍFRASE  consiste  na  Expressão  de  uma  coisa  através  de  um  termo  de significado oposto. Este procedimento é usado para incutir ironia ou sarcasmo (ver IRONIA)

            "Cujo nome do vulgo introduzido

             É Félix por antífrase infelice" (L. Camões)

 

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3. IRONIA       A  Ironia  consiste  em  dar  a  sensação  de  louvar  o  que  se  pretende  condenar,  em exprimir as suas intenções por ANTÍFRASES, em dizer o inverso do que se pretende deixar entender. Com a IRONIA pretende-se sugerir o contrário daquilo que se diz com as palavras.

      A  IRONIA assemelha-se à hipocrisia., mas combatendo-a com as armas que esta mesma utiliza.

      Como  a  ironia  está  especialmente  exposta  ao  perigo  da  incompreensão  (à obscuritas) é o contexto que determina o seu real sentido e, ganha particular evidência por meio da pronuntiatio (a expressividade do tom com que é produzida):

            "Olá, Veloso amigo, aquele outeiro

             É melhor de descer que de subir" (Camões) [maneira subtil de chamar covarde, medroso]

            "Que belo empregado tu me saíste!" [= irresponsável, incompetente...]

 

4. LITOTE (ou LITOTES)       LITOTE É o nome da primeira  figura da  linguagem "imprópria"  (figurada). Nela dá-se a perceber alguma coisa de diverso do que a forma linguística em si mesma significa. Com a LITOTE exprime-se uma afirmativa pela negação do contrário.

      A litote é uma ironia da dissimulação com valor perifrástico, que consiste em obter um grau superlativo pela negação do contrário:

            "nariz alto no meio e não pequeno" (Bocage) => significa 'muito grande';

            "Não nos rimos pouco...!" => 'rimo-nos muito'.

            "Este vinho não é nada mau." => 'é bom'.

 

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IV. EXAGERO e SUAVIZAÇÃO NA EXPRESSÃO DE IDEIAS, EMOÇÕES, etc.:

 

1. HIPÉRBOLE (ou AUXESE)       Na  linguagem  corrente,  seu  domínio  de  preferência,  a HIPÉRBOLE  consiste  em utilizar termos excessivos e impróprios, como "genial", "fantástico", "sublime", "ignóbil", "execrável", etc.; comparações irrealistas ("Forte como um touro"); abuso de superlativos.

      No  fundo,  na  linguagem  corrente  ou  na  linguagem  literária,  a  HIPÉRBOLE corresponde sempre a um exagero, seja do real seja do imaginário, por excesso ou por defeito.

      Pertencente  ao audacior ornatus, a hipérbole possui efeitos poético-evocativos e serve, na retórica, para despertar pateticamente no público afectos partidários e, na poesia, para a criação afectiva de imagens que ultrapassam a realidade, enfatizando deste modo uma determinada ideia.

      __ A Hipérbole pura é um sobrepujamento gradual de sinónimos amplificantes que acabam por ultrapassar os limites da credibilidade:

            "A grita se alevanta ao céu da gente",

            "Agora sobre as nuvens os subiam

             as ondas de Neptuno furibundo,

             agora a ver parece que desciam

             às entranhas do profundo" (L. Camões);

            "Se aquele mar foi criado num só dia, eu era capaz de o escoar todo numa hora... era capaz de o beber só para me ver livre dele." (Agustina Bessa Luís)

            "Vê-se ondear um oceano de cabeças." (Rebelo da Silva)

      __ Hipérbole combinada com outros tropos:

      a) Hipérbole metafórica, quando combinada com a comparação ou com a metáfora:

            "duro como ferro" => 'cruel';

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            "vontade de ferro" => 'vontade inabalável';

            "Peguei a esbugalhar lágrimas como punhos." (Camilo Castelo Branco)

            "A sua alma era um vulcão"

            "Sem ter respeito àquela assim estremada

             Gentileza de luz que a noite escura

             Tornava em claro dia, cuja alvura

             Do Sol a clara luz tinha eclipsada" (Camões)

      b) Hipérbole irónica, na qual se exagera, de maneira provocante, a crítica em relação a alguém:

            "Tão delicada e mimosa era a sua consciência, que não só a picavam os escrúpulos próprios, senão também os alheios" (ª Vieira)

 

2. EUFEMISMO       A realidade quase nunca é aquela que sonhamos. Há muitas circunstâncias adversas ao longo da nossa vida, esperadas ou acidentais. Tomar conhecimento sobre determinados factos, sobretudo quando directamente relacionados com a esfera dos nossos afectos, é extremamente doloroso e pode perturbar enormemente a nossa sensibilidade ou até pôr em causa a nossa saúde.

      O EUFEMISMO surge assim como forma de atenuar a verdade catastrófica, com vista a diminuir a força do impacto que a verdade poderá causar. Isto é, consiste em suavizar o carácter desagradável, horrível, penoso, grosseiro ou indecoroso, de um julgamento, de uma notícia, de um pensamento, etc. Mas também poderá haver casos em que o Eufemismo pode conter um travo de ironia:

            "Entregar a alma ao criador." (por 'morrer')

            "Nunca usava palavras triviais; não dizia vomitar, fazia um gesto indicativo e empregava restituir." (Eça de Queirós)

            "Lhe dá no Estígio lago eterno ninho" (Camões) [= matou-o]

            "Ele não roubou... Digamos que fez um pequeno desvio!"

            "... Só porque lá os velhos apanham de quando em quando uma folha de couve pelas hortas, fazem de nós uns Zés do Telhado" (Aquilino Ribeiro) ["apanham"

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=> furtam, pela associação com o Zé do Telhado]

  

3. DISFEMISMO       O Disfemismo É  precisamente  o  contrário  de  eufemismo.  Em  vez  de  se  atenuar uma dura realidade, opta-se por torná-la real ou mesmo cruel:

            "Qual enganado, qual carapuça... levou foi um lindo par de cornos!" [a sua mulher praticara adultério]

            "Esticou o pernil... Foi fazer tijolo... Bateu a bota..." [= morreu]

            "Deixa em paz a criatura. Está começando a esta hora a apodrecer, não a perturbemos." (eça de Queirós)

 

V. TROPOS DE FUNÇÕES ou TROPOS GRAMATICAIS:

1. ENÁLAGE       A  ENÁLAGE  corresponde  ao  emprego  de  palavras  com  categoria  gramatical diferente daquela que lhe é característica). __ A ENÁLAGE joga com as categorias gramaticais de base: tempo, número, pessoa, funções.

      É  pela  ENÁLAGE  que  o  infinitivo introduzido pela preposição de substitui um tempo conjugado; que uma palavra concreta substitui uma abstracta, ou vice-versa; que se emprega um verbo intransitivo como transitivo, ou vice-versa:

            "O que eu sonhei, morri-o" (F. Pessoa)

            "Mais vale um toma que dois te darei." (Prov.)

            "Enquanto dormias a tua solidão" (Jorge de Sena)

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2. HIPÁLAGE       A Hipálage é a figura que atribui a um ser ou coisa, designados por uma palavra, uma qualidade ou acção que, logicamente, pertence a outro ser ou coisa expressos ou subentendidos na frase.

            "O chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola

             do quintal em frente" (Ramos Rosa)

      A hipálage consiste em atribuir a um substantivo um epíteto que apropriadamente se devia atribuir a outro substantivo do co-texto. Trata-se de uma alteração gramatical e simultaneamente semântica, da relação entre um adjectivo e um substantivo: em vez de o adjectivo se encontrar ligado ao substantivo que semanticamente o exigiria, aparece relacionado com um outro:

            "Houve um ruído domingueiro de saias engomadas" (Eça de Queirós) ['saias domingueiras']

            "Na rua, a estanqueira chegou-se à porta, vestida de luto, estendendo o seu carão viúvo" (Eça Q.) ['carão de viúva']

            "fumar um pensativo cigarro" (Eça Q.) ['fumar pensativamente um cigarro']

            "Abria os olhos molhados de culposas lágrimas." (Camilo C. Branco) [A culpa é relativa ao sujeito e não às lágrimas]

            "E logo a grulhada das suas vozes reanimou o canapé dormente." (Eça de Queiró) [a dormência é a das pessoas que estão instaladas no canapé]

            "Mas depois rebrilhava a estante amável dos Poetas." (Eça de Queirós) [a característica amabilidade dos poetas é deslocada para a estantes]

            "O aro de oiro dos seus óculos burocráticos" (Eça de Queirós)

            "Atacou com um pedal solene o hino da carta." (Eça de Queirós)

            "As tias faziam meias sonolentas" (Eça de Queirós)

  

VI. FIGURAS RELACIONADAS COM REPETIÇÃO

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A. REPETIÇÃO de PALAVRAS e de CONCEITOS

1. ANÁFORA       A Anáfora consiste em  iniciar vários versos ou  frases, ou sucessivos membros de frases por uma mesma palavra ou grupo de palavras (x... / x... / x...). A Anáfora pratica-se tanto em prosa quanto em verso (Ver Simploce):

            "Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba." (A. Vieira: Sexagésima)

            "Lisboa com suas casas

             de várias cores,

             Lisboa com suas casas

             de várias cores, " (F. Pessoa)

            "Castro na boca, Castro n' alma, Castro

             em toda a parte" (A. Castro)

            "Árida palma

             Tem seu licor;

             Tem, como a alma

             Tem seu amor;

             Tem, como a hera,

             Tem seu abril;

             Tem, como a fera,

             Tem seu covil." (João de Deus)

            "Tinha um berço pequenino

             E uma criada velha com um terço...

             Cresci de mais, como destino"

             Cresci de mais para a o meu berço. (José Régio)

            "E negro, negro como a noite morta,

             E negro, negro como negro dia,

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             Senti-me triste como a noite morta.

             Porém, de manso, abriu-se aquela porta....

             E o Sol entrou!

                     E para mais, chovia..." (Pedro Homem de Melo)

 

2. ANADIPLOSE       A Anadiplose  é  um processo  de  repetição  e  de  encadeamento  através  do  qual  se retoma o início de uma proposição precedente (... x / x ...). A concatenação é perfeita quando recai sobre a parte final da anterior e o início da seguinte.:

            "Vou retratar a Marília,

             a Marília meus amores" (Gonzaga);

            "que era perdido de amores

             por uma moça Joana:

             Joana patas guardava

             pela ribeira do Tejo." (Bernardim R.)

            "Outra amante não há, não há na vida" (Antero de Quental)

            "Anos, velhice, desgraça __ e teima. Teima até ao caixão." (Raul Brandão)

 

3. DIÁFORA ou ANTANÁCLASE         A  Diáfora  consiste  em  repetir,  numa  mesma  frase,  palavras  semelhantes  ou homónimas, mas marcando essa repetição por uma oposição de sentido. Trata-se de um procedimento mais intelectual que rítmico.:

            "Em vão, os deuses vãos, surdos e imotos." (Camões, Lus., X, 15)

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            "Esta vida dura, mas que não dura."

            "Os vossos, mores cousas atentando

             Novos mundos ao mundo irão mostrando" (Camões)

 

4. CLÍMAX ou CLÍMACE       O  Clímax  corresponde  geralmente  a  uma  intensificação,  ou  gradação,  que  se efectua em graus simétricos, iguais. E colocámo-la aqui, porque é frequente apresentar, entre o último vocábulo da frase ou oração anterior e o primeiro da frase ou oração seguinte, uma repetição total ou etimológica (com a mesma raiz) do vocábulo, mas contribuindo sempre para acentuar o crescendo (gradação ascendente) da ideia ou do pensamento:

            "__ Onde o bom exemplo calando avisa, avisando emenda e emendando afeiçoa."

            "Da perda do bem nasce o conhecimento; do conhecimento a estimação; da estimação a dor."

5. EPANADIPLOSE (ou CICLO)       Trata-se de uma repetição semelhante à Epanalepse, mas cujo emprego difere quanto à estrutura, pois, este processo refere-se aos casos em que haja duas proposições, e não apenas uma (x... / ... x).

            "O natural é o agradável só por ser natural" (F. Pessoa)

 

6. EPÂNODO

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      EPÂNODO consiste na repetição, em separado, de vocábulos que anteriormente se encontravam juntos.

            "No pregador podem-se considerar cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a matéria, o estilo, a voz. A pessoa que é, a ciência que tem, a matéria que trata, o estilo

que segue, a voz com que fala." (A. Vieira: Sexagésima)

 

7. EPANALEPSE       Consiste  na  repetição  do/dos mesmo/s  vocábulo/s  em  vários  pontos  do  contexto, próximos uns dos outros.

      Pode-se jogar também com variações de sentido, relativamente à palavra repetida...

            "Assim como Deus não é hoje menos Omnipotente, assim a Sua palavra não é hoje menos poderosa." (A. Vieira: Sexagésima)

            "O rio cheio de escamas brilha

             Negra, cheia de luzes, brilha a cidade alheia

             Brilha a cidade nos anúncios luminosos" (Sophia M. B. Andresen)

            "E o ano acaba alguma coisa acaba

             acaba um homem para quem acaba uma viagem. (Ruy Belo)

 

8. EPÍFORA (ou EPÍSTROFE)       É uma  repetição simétrica, em relação à Anáfora. Isto é,  consiste na  repetição de uma mesma palavra, ou grupo de palavras no final dos versos, das proposições ou frases (... x / ... x). (Ver Simploce):

            "Os animais não são criaturas? As árvores não são criaturas? As pedras não são criaturas?" (Vieira; Sermão da Sexagésima)

            "Não sou nada

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             Nunca serei nada

             Não posso querer ser nada" (Álvaro de Campos)

            "Como galhos secos caíam, a um sopro mais forte caíam." (Vergílio Ferreira)

 

9. EPIZEUXE ou REDUPLICAÇÃO ou PALILOGIA       É a mais elementar das repetições estilísticas. Consiste em repetir uma palavra sem conjunção de coordenação. Repetição de uma mesma palavra para amplificar, exortar, ordenar.

            "Dizendo: «fuge, fuge, Lusitano»" (Lus. II, 61)

            "¿Qué es esto? ¡Prodigio! Mis manos florecen;

             rosas, rosas, rosas, a mis dedos crecen..." (Juana de Ibarbourou.)

 

10. SÍMPLOCE (ou COMPLEXÃO)       É  o  resultado  da  combinação  de  dois  processos  de  repetição:  da Anáfora  com  a Epífora, ou, o mesmo será dizer, da repetição da mesma palavra no início e fim da frase:

            "Cavalgada alada de mim por cima de todas as coisas,

             cavalgada estalada de mim por baixo de todas as coisas,

             cavalgada alada e estalada de mim por causa de todas as coisas" (F. Pessoa)

            "Mirrados, si, mas por amor de vós mirrados; afogados, si, mas por amor de vós afogados; comidos, si, mas por amor de vós comidos;" (A. Vieira: Sexagésima)

 

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11. PLEONASMO       Designa as  redundâncias mal  formadas,  sobretudo do ponto de vista gramatical e lexical:

            "Subi para cima"

            "Desceu para baixo"

      Em  sentido  de  plenitude  é  uma  figura  pela  qual  se  acrescenta  à  expressão  do pensamento, para reforçar a clareza ou a energia, palavras que seriam inúteis à integridade gramatical:

            "Vi com estes olhos que a terra hão-de comer"

            "Vi claramente visto o lume vivo

             Que a gente tem por santo" (Camões)

            "Todos nus e da cor da treva escura" (Camões)

            "Vistos com os olhos, palpados com as mãos, pisados com os pés" (A. Vieira)

 

 

VI. FIGURAS RELACIONADAS COM REPETIÇÃO

B. REPETIÇÃO DE ESTRUTURAS (Com ou sem repetição de palavras)

      :

1. PARALELISMO       Genericamente,  PARALELISMO  significa  toda  a  forma  de  construção  que 

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reproduz um mesmo esquema, sobretudo se se trata de correspondências verticais entre as frases.

            "Com estrelas na alma, com visões na mente"; "Bátegas de brasas, turbilhões de sóis." (Junqueiro)

      De igual modo seriam frases paralelas as que seguem:

                  "El cabello es oro endurecido, el labio es un rubí no poseído, los dientes son de perla pura.";

ou estas de Vieira:

            "Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, afia-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos,

divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos."

      Ou estas de Carlos Drummond de Andrade:

                  "E agora José?

                   a festa acabou

                   a luz se apagou

                   o povo sumiu

                   a noite esfriou

                   E agora José?

                   E agora Joaquim?

                   Está sem mulher

                   está sem discurso

                   está sem carinho..."

      A construção paralela torna-se mais intensa quando é sublinhada pela repetição de palavras dominantes sintacticamente, como pode acontecer com a ANÁFORA ou, sobretudo, com o

      PARALELISMO ANAFÓRICO. Este é característico, como se sabe, das Cantigas de Amigo... e não só... e consta da repetição simultânea de palavras ou expressões e de estruturas sintácticas:

            "Ai, flores, ai flores de verde pino,

             Se sabedes novas do meu amigo?

                  Ai, Deus, e u é?

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             Ai, flores, ai, flores, do verde ramo,

             Se sabedes novas do meu amado?

                   Ai, Deus, e u é?

            "Tempo de solidão e de incerteza

             Tempo de medo e de traição

             Tempo de injustiça e de vileza

             Tempo de negação

                   Tempo de covardia e tempo de ira

                   Tempo de mascarada e de mentira

                   Tempo de escravidão

             Tempo de coniventes sem cadastro

             Tempo de silêncio e de mordaça

             Tempo onde o sangue não tem rasto

             Tempo de ameaça. (Sophia M. B. Andresen)

      Tanto  num  como  noutro  casos,  é  fácil  verificar  que,  para  além  da  repetição  de palavras e expressões, há igualmente uma estrutura frásica que se predomina ao longo das várias estrofes dos poemas.

  

2. QUIASMO       O Quiasmo é É a figura mais conhecida das que se fundam na simetria. Trata-se de uma expressão construída principalmente por quatro termos, sendo os dois últimos da mesma natureza dos dois primeiros, mas apresentando uma ordem invertida. O QUIASMO aparece quando duas partes de frase ou frases completas, que contêm uma ANÁFORA, não são construídas paralelamente, mas em oposição, como imagem e reflexo. Habitualmente o QUIASMO é representado por uma figura em cruz, ou pela sigla AB BA.

            "O castelo melhor, o melhor forte...

    o castelo      melhor,     o melhor     forte

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            Na terra as crianças cantavam, cantavam as aves no alto.

            "Ó minha menina loura, / Ó minha loura menina [...]" (F. Pessoa)

            "Crédit Lyonnais: A banca do futuro / a vossa futura banca" (Anúncio publicitário)

  

3. REVERSÃO         Esta  figura  também  aparece  denominada  de  ANTIMETÁBOLE  __  o  termo metábole significa, em princípio, alteração ou deslocamento, o que o torna próximo de TROPO. Trata-se de uma forma primitiva de QUIASMO, que consiste em opor os mesmo termos em ordem invertida. Porém, a inversão provoca, não raras vezes, alteração ao nível do sentido, fazendo lembrar a ANTANACLASE:

            "O rei dos vinhos, o vinho dos reis" (Anúncio publicitário)

VI. FIGURAS RELACIONADAS COM REPETIÇÃO

C. REPETIÇÃO DE SONORIDADES:

 

1. RIMA

      A       B       B       A

    na terra     as crianças     cantavam,     cantavam     as aves     no alto      A       B       C       C       B       A

    Ó minha menina     loura,     ó minha loura     menina      A        B       C       A        C       B

    a banca      do futuro,     a vossa futura     banca      A           B           B       A

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      Repetição de um mesmo som,  total ou parcial, geralmente em final de verso. Por vezes acontece que dentro do verso pode existir rima, pelo que a denominamos de RIMA INTERNA. Embora característica dos textos em verso, não significa que também não possa aparecer em textos em prosa:

            Vem cá dizer-me que sim,

            Ou vem dizer-me que não.

            Porque sempre vens assim

            P' ró pé do meu coração.

 

2. ASSONÂNCIA       É  uma  homofonia  de  sons  vocálicos,  algumas  vezes  prolongando  o  efeito  da RIMA. Pode haver casos em que a ASSONÂNCIA preenche uma impossibilidade de encontrar-se uma combinação de palavras que, ao mesmo tempo que garantem a lógica e a expressividade de sentido, possibilitem também o efeito de RIMA:

                  "As mãos do mar que vêm e vão,

                   As mãos do mar pela areia

                   Onde os peixes estão.

                   As mãos do mar vêm e vão

                   Em vão.

                   Não chegarão

                   Aos peixes do chão.

            "De permeio a morte? Sim, a arrenegada,

             venha rebuçada ou escancarada,

             a que te ceifa inteiro ou se deita, primeiro,

             de esperanças, na tua cama." (Alexandre O' Neill)

                  "Tem dores e ais e as dores dos ais / e os ais das dores;" (F. Namora)

            "Água fria fica quente, / Água quente fica fria / Mas eu fico frio / Sem a tua

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companhia" (Manuel Bandeira)

 

3. ALITERAÇÃO       Enquanto  a  assonância  recai  sobre  a  repetição  de  sons  vocálicos,  a  Aliteração incide sobre a repetição de sons consonânticos. A ALITERAÇÃO tem sobretudo uma função imitativa. Além disso, embora menos que a ASSONÂNCIA, pode substituir o efeito da RIMA.

            "O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia

                  "Antes que o sol se levante

                   Vai Vilante a ver o gado

                   Mas não vê sol levantado

                   Quem vê primeiro a Vilante. (Camões)

            (predominância do som [v]) 

            "Os seus pés descalços pareciam escutar o chão que pisavam" (Sophia M. B. Andresen)

            (predominância do som [s] combinado com [ch] e [z]) 

            "Que o fraco rei faz fraca a forte gente." __ (Camões) ([f] e [R]

                  "Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...

                   O sol, o celestial girassol, esmorece...

                   E as cantilenas de serenos sons amenos

                   Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos... (Eugénio de Castro)

            "Calos, carros, casas, casos.

             Capital

             Encarcerada.

             Colos, calos, cuspo, caspa." (David Mourão-Ferreira)

                  "Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso..." (F. Pessoa)

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4. ONOMATOPEIA       Trata-se do emprego de palavras que sugerem sons produzidos por animais ou pessoas (ronronar do gato, piar do pássaro, gotejar da torneira, etc), ou ruídos produzidos por objectos (chiar do carro, etc.) ou pela natureza (sibilar do vento, ribombar do trovão, etc.) etc.:

                  Troc... troc... troc... troc...

                  Ligeirinhos, ligeirinhos. 

                  Troc... troc... troc... troc...

                  Vão cantando os tamanquinhos... 

            "Galgar com tudo por cima de tudo, hup-lá

             Hé-lá! Hê-hô! Ho-o-o-o-o-o!

             Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

             Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!" (Álvaro de Campos)

 

5. PARONOMÁSIA ou ANNOMINATIO (ou PARAQUESE)

      Quando  se  usa  palavras  com  som  parecido,  seja  com  significado  semelhante  ou com significado diverso. As semelhanças entre as palavras tanto podem resultar do seu parentesco etimológico, como podem ser simplesmente acidentais:

                  "Sagres sagrou então a Descoberta..." (Miguel Torga)

            "D' esta arte a gente força e esforça Nuno" (L. Camões)

                  "Por causa dos privados foi privado" (L. Camões)

            "Em muitas partes toma o navio porto à porta do seu dono" (A. Vieira)

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                  "Fundou-se e fundou-o David na vitória da sua funda" (A. Vieira)

            "Mas não tremas, nem temas" (A. Vieira)

                  "Que a coroa de palma ali coroa" (L. Camões)

            "O Texto não quer dizer calçada, senão calcada" (A. Vieira)

 

6. TROCADILHO ou JOGO DE PALAVRAS       O  TROCADILHO  ou  JOGO  DE  PALAVRAS  está  geralmente  associado  à combinação ou agrupamento de vocábulos com som semelhante.

      Em  sentido  restrito,  o  trocadilho  é  entendido  como  o  aproveitamento  do  sentido duplo de uma palavra:

                  "Joana flores colhia

                   Jano colhia cuidados." (bernardim Ribeiro)

            "__ Aquela ave do Sol e Sol das aves" (Jerónimo Bahia)

                  "Quer que a pinte a cores,

                   quer que a cante a coros...

                   Meti-me em debuxos

                   E caí em tonos.

                   Quem me fora Apeles!

                   Quem me fora Apolo!"

      Nesta estrofe, a PARANOMÁSIA cruza-se com o TROCADILHO ou JOGO DE PALAVRAS resultantes das semelhanças tonais entre cores e coros, Apeles e Apolo.

  

7. POLIPTOTO

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      Consiste na repetição da mesma palavra em diferentes flexões, mas distinguindo-se da alteração referente à criação de palavras pelo facto de não provocar uma alteração ao nível do seu significado nuclear, mas apenas uma alteração da perspectiva sintáctica:

                  "No mar tanta tormenta e tanto dano,

                   tantas vezes a morte apercebida!

                   Na terra tanta guerra, tanto engano

                   tanta necessidade avorrecida" (L. Camões)

            "Um Oriente, ao oriente, do Oriente" (F. Pessoa)

                  "Enquanto vos oferece a luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz" (A. Vieira)

 

8. FIGURA ETIMOLÓGICA       Consiste  na  repetição  do  radical  de  uma  mesma  palavra,  visando  produzir  uma intensificação da força semântica:

                  "Uma vida que é vivida,

                   e outra vida que é pensada" (F. Pessoa)

            "viver uma vida divina" (A. Vieira)

                  "Vi claramente visto o lume vivo" (L. Camões)

 

9. EUFONIA       Efeito  rítmico  e  harmónico  agradável  produzido  pelas  sequências  fónicas  de  um sintagma, de uma micro-estrutura textual. Quando um poema é construído com ritmo, cadência, rima, aliteração, e determinadas intercalações que contribuem para reforçar a harmonia e a musicalidade, diz-se que ele é caracterizado pela eufonia.

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VI. FIGURAS RELACIONADAS COM A INVERSÃO DA ORDEM NATURAL DAS

PALAVRAS:

 

1. INVERSÃO       No  geral  este  termo  refere-se à troca de posição entre o sujeito e o verbo. Na inversão não se intercala qualquer palavra alheia ao grupo sintáctico:

                  "Um ramo na mão tinha.." (Camões)

            "Voavam folhas amareladas por entre saudades emurchecidas" (Cari)

                  "Abandonaram os ninhos as andorinhas e despediram-se na aventura das suas asas." (Cari)

  

  

2. HIPÉRBATO       Designa  a  transferência  de  palavras  e  as  construções  realmente  insólitas  que contribuem para a transformação artística da linguagem. Geralmente, o hipérbato é utilizado seja para que a nossa atenção se centre sobre o elemento deslocado, seja para se obter determinados efeitos fónicos ou outros.

      O HIPÉRBATO é uma  figura de construção que consiste na inversão violenta da ordem normal dos membros de uma frase, podendo manifestar-se pela separação do substantivo e do adjectivo, pela colocação do sujeito ou do verbo no fim da oração, pela alteração do lugar habitual de complementos regidos preposicionalmente, etc.

      O hipérbato foi utilizado com muita frequência na poesia barroca. O deslocamento dos adjectivos constitui o mais clássico e eficaz dos HIPÉRBATOS.

                  "Casos que o Adamastor contou futuros" (L. Camões)

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            "Tamanho o ódio foi e a má vontade" (L. Camões)

                  "Que sejam, determino, agasalhados

                   Nesta costa africana como amigos." (Camões)

            "O céu fere com gritos nisto a gente" (Camões)

                  "E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,

                   Corendo com firmeza, assomam as varinas." (Cesário Verde)

            " Nas pernas me fiava eu." (Aquilino Ribeiro)

                  "Essas que ao vento vêm / Belas chuvas de Junho!" (Joaquim Cardoso)

 

  

3. ANÁSTROFE       É um  tipo de HIPÉRBATO, mas cuja  inversão da ordem natural das palavras na cadeia sintagmática se revela menos violenta:

            "Qual vermelhas as armas faz de brancas," (Lus. VI, 15)

                  "Dos cavalos o estrépido parece" (L. Camões)

            "de África as terras e do Oriente os mares" (L. Camões)

                  "Longas são as estradas da Galileia." (Eça de Queirós)

            "Vingai a pátria ou valentes / Da pátria tombai no chão!" (Fagundes Varela)

 

  

4. ANACOLUTO       Esta  figura  afecta  a  sintaxe  de  forma  abrupta.  A  impaciência  do  pensamento provoca uma violência na lógica formal do discurso. Consiste em fazer subentender o correlativo de uma palavra expressa, em deixar só uma palavra que reclama a presença de uma outra, sua "companheira". Este procedimento resulta do facto do locutor dedicar mais atenção ao pensamento do que à organização sintáctica (ver SÍNQUISE)

      O  anacoluto  verifica-se, por exemplo, quando uma oração que parece ser a principal fica em suspenso pelo aparecimento de outra oração que a faz derivar num

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outro sentido:

                  "A noite

                   __ Como ela vinha!

                   Morna, suave,

                   muito branca, aos tropeções

                   Já solene as coisas descia __ E eu nos teu braços deitado

                   A té sonhei que morria." (António Botto)

            "Amigas, o meu amigo

             dizedes que faz enfinta." (Johan Garcia de Guylhade)

                  "__ Que menos é querer matar o irmão

                   Quem contra o rei e a pátria se alevanta" Camões)

            "Este povo, que é o meu, por quem derramo

             As lágrimas, que em vão caídas vejo [...]

             Por ele a ti rogando, choro e bramo" (Camões)

                  "Tua mãe, não há idade nem desgraça que lhe amolgue a índole rancorosa." (Camilo)

            "Uma das carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas de tão imprestáveis." (José Lins do Rego)

                  "Eu , parece-me que sim; pelo menos nada conheço, que se lhe aparente." (M. de Sá-Carneiro)

 

5. SÍNQUISE       A SÍNQUISE corresponde ao caos da sequência vocabular da frase, o qual resulta do emprego da repetição da anástrofe e do hipérbato e chega quase a obscurecer o sentido da frase:

                  "Com quem foram contino sopeados

                   Estes de quem o estais agora vós,

                   Por Dinis e seu filho sublimados

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                   Senão com os vossos pais e avós?" (Camões)

            "maravilhas em armas estremadas,

             e de escriptura dinas elegante,

             fizeram cavaleiros nesta empresa" (L. Camões)

                  "Lícias, pastor __ enquanto o sol recebe,

                   Mugindo, o manso armento e ao largo espraia,

                   Em sede abrasa, qual de amor por Febe,

                   __ Sede também, sede maior, desmaia." (Alberto de Oliveira)

      [Entenda-se: ''Lícias, pastor, enquanto o manso armento recebe o sol e, mugindo, espraia ao largo __, abrasa em sede, qual desmaia de amor por Febe, sede também, sede maior.''

 

 

VII. FIGURAS CARACTERIZADAS PELA OCULTAÇÃO DE ELEMENTOS FRÁSICOS

 

1. ELIPSE (Propriamente Dita)       A ELIPSE propriamente dita consiste em não utilizar na  frase elementos que, em princípio, aí deveriam figurar. Trata-se da supressão de palavras que seriam necessárias à plenitude da construção, mas em que os elementos expressos permitem compreender o sentido completo, sem que haja obscuridade ou incerteza:

                  "Um automóvel rápido; outro; outro ainda..." (Eugénio de Andrade) [O indefinido "outro" reenvia para automóvel]

            "A cada um o que é seu" (subentende-se 'deve dar-se').

                  "Longe da vista, longe do coração." [Subentende-se «aquele que se encontra afastado]

            "Fizeste a tarefa? __ Já." [ausência da especificação da tarefa, subentendível pelo contexto]

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                  "Desce por fim sobre o meu coração / O olvido. Irrevocável. Absoluto." (Camilo Pessanha) [Subentende-se "o olvido desce irrevocável, o olvido

desce absoluto"]

            "Por que ides sem mim, não me levais?" (Camilo Pessanha) [Subentende-se 'por que']

      A  ELIPSE,  enquanto  recurso  condensador  da  expressão,  evidencia  efeitos estilísticos apreciáveis:

      a) Na descrição esquemática de ambientes, de estados de alma, de perfis:

            "Subiu a escda. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro. E a voz de uma das filhas, em baixo:

             __ Papai! O telefone..." (Aníbal M. Machado)

            "Gente estranha, para os negros, aqueles caçadores quase selvagens, as barbas crescidas, os pés descalços, os rifles nas mãos." (Adonias Filho)

      b) Em anotações rápidas, como as de um diário íntimo, de um caderno de notas:

            "Outubro, 10 __ Depressão. Hipocondria. Reacções súbitas de ódio. Depois, desalento. Pelo menos, antes havia um mistério algo excitante. Agora, mais

melancolia, apenas." (Ciro dos Anjos)

      c) Na enunciação de pensamentoscondensados, nos provérbios, nos ditos sentenciosos ou irónicos:

            "A paciência da Esfinge. Que paciência!" (Aníbal M. Machado) 

            "Tal pai, tal filho." (Prov.) 

      d) Nas enumerações, onde a omissão do artigo definido pode sugerir a ideia de acumulação, de rapidez:

            "Cristais retinem de medo,

             Precipitam-se estilhaços,

             Chovem garras, manchas, laços...

             Planos, quebras e espaços

             Vertiginam em segredo." (M. De Sá-Carneiro)

 

 

2. ZEUGMA

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      Na  Antiguidade,  esta  figura  era  considerada  como  um  erro.  Porém,  os  efeitos surpreendentes que por meio dela se podem alcançar tornanam-na um recurso muito utilizado na literatura cómica. Alguns estudiosos preferem o termo SILEPSE.

      É frequente considerar-se a ZEUGMA como uma das formas da ELIPSE.

      Neste caso, a ZEUGMA consiste em fazer participar de dois ou mais enunciados um termo expresso apenas em um deles:

            "João Fanhoso abriu os olhos pesados de preguiça: primeiro um, depois o outro." (Mário Palmério) [Subentende-se: 'primeiro abriu um, depois abriu o outro']

      Alguns,  porém,  reservam esta  denominação  unicamente  para  os  casos  em que  se subentende um verbo anteriormente expresso, mas sob outra flexão:

            "A igreja era pobre. Os altares, humildes." (C. Drummond de Andrade) [Subentende-se: 'Os altares eram humildes']

      E há ainda quem distancie a área da ZEUGMA, da da ELIPSE propriamente dita, porque, segundo os defensores de tal princípio, na ZEUGMA as palavras suprimidas não se encontram expressas em lado algum, e, além disso, porque a ELIPSE não estabelece qualquer dependência entre as proposições ou os complementos, como sucede com a ZEUGMA.

      Para estes, a ZEUGMA consiste em ligar complementos de naturezas diferentes a um mesmo verbo ou a uma mesma preposição __ o que equivalerá a dizer que a zeugma se realiza sempre que dois ou mais termos de uma frase se encontram ligados a um mesmo verbo ou a uma mesma preposição, mas sem que haja uma ligação natural e evidente entre eles:

            "Rufino reluzia todo de orgulho e de suor" (Eça de Queirós)

            "Entrou, pousou o seu chapéu e uma pergunta" [pousou serve de predicado a duas proposições: pousou o seu chapéu; pousou uma pergunta]

            "Ergueu os olhos e uma perna para o céu." (Stern) [Depreende-se 'ergueu os olhos para o céu e ergueu uma perna']

            "Onde o dia é comprido e onde breve" (Lus. I, 27) [Subentende-se 'onde o dia é comprido e onde o dia é breve']

            "Com um sorriso denegrido pelos dentes e pela raiva..." (Camilo Castelo Branco) [Pressupõe-se que os dentes estão manchados de negro e que essa negritude é,

metaforicamente, acentuada pela raiva]

 

 

3. SILEPSE

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      Esta  figura  refere  a  discordância  em  género,  número  e  pessoa.  O  acordo  entre elementos constitutivos da frase não obedece às regras morfológicas, antes se estabelece «ad sensum», isto é, o sentido de que a palavra ou expressão é portadora é que determina a concordância:

            "A maior parte dos homens buscam a felicidade no dinheiro." ("maior parte" exigiria a forma verbal "busca")

            "Se esta gente [...]

             Não queres que padeçam vitupério" (Camões) (o predicado de "esta gente" seria "padeça")

            "A gente vamos ao cinema" ("a gente" teria por predicado "vai", mas em "a gente" encontra-se implicado "nós")

            "Um bando de abutres pairavam sobre aquele lugar" (pairavam está a concordar com abutres em vez de concordar com bando)

            "Todos os filhos de Adão sofremos a morte." (sofremos, refere-se a nós __ os filhos de Adão __ e não a 'Todos os filhos de Adão', cujo acordo exigia a forma

sofreram)

            "Um grupo mais numeroso descia da ladeira e parava a alguns passos. Falavam alto, comentando ainda as peripécias do leilão." (Afrânio Peixoto)

 

  

 

4. PERÍFRASE       A PERÍFRASE propriamente dita é uma designação descritiva  que substitui uma palavra. Ou seja, consiste em exprimir por meio de expressões ou frases completas o que seria possível dizer-se numa só palavra.

      Na PERÍFRASE o verdadeiro estado de coisas não nos é fornecido directamente, mas terá de ser deduzido por via indirecta:

                  "... a gente chama

                   Aquele que a salvar o mundo veio" (L. Camões) => 'Cristo'.

            "Iam-se sombras lentas desfazendo

             Sobre as flores da terra em frio orvalho" (Camões) => ia amanhecendo.

                  "Lhe dá no Estígio Lago eterno ninho." (Camões) => isto é, mata-o.

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            "Tenho estado doente. Primeiramente, estômago __ e depois, um incómodo, um abcesso naquele sítio em que se levam pontapés..." (Eça de Queirós) [a perífrase

coabita com o eufemismo]

      A PERÍFRASE, enquanto intensificação poética do estranhamento, pode aparecer :

      a) Como alusão mitológica:

                  "Mas assim como os raios espalhados

                   do Sol foram no mundo e num momento

                   apareceu no subido horizonte

                   da moçade Titão a roxa fonte." (L. de Camões) => 'Aurora';

      b) Como Metáfora:

                  "Oh mil vezes cristal afortunado,

                   Alpe luzidio, luminar nevado" (Fénix Renascida) => 'lustre de cristal'.

 

  

 

5. ALUSÃO       A ALUSÃO consiste na utilização de uma frase ou expressão em que o ouvinte terá que fazer uso dos seus conhecimentos para que o sentido se torne claramente perceptível.

            "Fugi das fontes: lembre-vos Narciso." (Reenviando, claro, para a lenda de Narciso, vendo a sua imagem projectada na água).

 

  

 

VIII. FIFURAS RELACIONADAS COM A ENUMERAÇÃO E DEPENDÊNCIA

INTERELEMENTOS

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1. ENUMERAÇÃO/SERIAÇÃO/CONGLOMERAÇÃO       Trata-se de uma técnica de escrita que justapõe palavras ou grupos de palavras, suprimindo ao máximo as partículas de ligação.

      Este  processo  está  intrinsecamente  ligado  a  um  outro  denominado ENUMERAÇÃO, ou seja, a apresentação sucessiva de vários elementos.

      Chama-se ENUMERAÇÃO SIMPLES, quando os vários elementos apresentados sequencialmente são do mesmo género:

            "Flores, perfumes de um jardim aberto

             Canto de aves, murmúrios de água fria." (Cabral do Nasciemnto)

      Toma o nome de ENUMERAÇÃO RECOLECTIVA, se entre os vários elementos, sem relação aparente, apenas o último revela algo que lhes é comum, aproximando-os:

            "Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis

             Ó coisas todas modernas" (F. Pessoa)

      Recebe  a  denominação  de  ENUMERAÇÃO  CAÓTICA,  quando  os  elementos parecem estar dispostos ao acaso, sem qualquer relação entre si:

            "Cão que matinalmente farejava a calçada

             as ervas os calhaus os seixos e os paralelipípedos

             os restos de comida os restos de manhã

             a chuva antes caída..." (Ruy Belo)

      NOTA: Há quem estabeleça uma distinção entre de enumeração, ou seriação:

      __ Quando se trata apenas de enumerar elementos, em que cada um deles conserva a sua independência, denomina-se ENUMERAÇÃO, como acontece vulgarmente na linguagem quotidiana:

            "É preciso comprar massa, arroz, fruta, bebidas..."

      __ Mas quando cada membro enumerado perde a  sua  independêcia e surge como uma espécie de onda isolada num grande movimento transbordante, então fala-se de AGLOMERAÇÃO:

            "Branca e pequenina, ligeirinha e leve,

             Corta por abismos, plagas sem faróis,

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             Stepes infindáveis que ninguém descreve,

             Lúgubres desertos de mudez e neve,

             Bátegas de brasas, turbilhões de sóis." (G. Junqueiro)

      Na  ENUMERAÇÃO  (ou AGLOMERAÇÃO)  está  presente  o ASSÍNDETO ou o POLISSÍNDETO.

 

  

 

1.1. ASSÍNDETO       O ASSINDETO é uma figura de PARATAXE que omite os elementos de ligação entre vocábulos ou orações, sobretudo as conjunções de coordenação, e, em particular a copulativa e (geralmente substituída pela vírgula, mas podendo não aparecer qualquer sinal de pontuação). Este procedimento confere maior vigor à frase ou ao verso e produz, entre outras, uma sensação de movimento:

                  "Mas o Luso, arnês, couraça e malha

                   Rompe, corta, desfaz, abola e talha." (Camões)

            "... uma vasta cidade..., onde o homem tenha durante o dia os clubes, o cavaco, os museus, as ideias, o sorriso de outras mulheres __ a mulher tenha as ruas, as

compras, os teatros, a atenção de outros homens;" (Eça de Queirós)

                  "Cão que matinalmente farejava a calçada

                   as ervas os calhaus os seixos e os paralelipípedos

                   os restos de comida os restos de manhã

                   a chuva antes caída..." (Ruy Belo)

            "Eu que sou feio, sólido, leal, / A ti, que és bela, frágil, assustada" (C. Verde)

                  "... e foi depois tomado e preso e arrastado e decepado e enforcado" (Fernão Lopes)

 

  

 

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1.2. POLISSÍNDETO       Contrariamente ao que acontece com o ASSÍNDETO, o POLISSÍNDETO consiste na repetição intencional da conjunção, visando criar determinadas sugestões, ou pode ocorrer, com ou sem valor sugestivo, para preservar um determinado metro (mesmo número de sílabas):

            "Que as estrelas e o céu e o ar vizinho

            E tudo quanto se via namorava" (Camões)

            "Elas são quatro mulheres, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas e

restos de comida azeda. Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e buchas e

fruta embrulhada em pano limpo." (Maria Velho da Costa)

            "Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos" (Sebastião da Gama)

      Assim,  poder-se-á também utilizar, em vez de assíndeto e polissíndeto, as designações:

      __ SERIAÇÃO ASSINDÉTICA quando os membros  isolados  ficam sem  ligação linguística (como acontece no poema de Junqueiro, e nos exemplos relativos ao assíndeto);

      __  SERIAÇÃO  SINDÉTICA  se  são  unidos  por  e, ou, ou por qualquer outro elemento copulativo (como sucede nos exemplos referentes ao polissíndeto).

      NOTA: Enquanto a PARATXE tem incidência sobre a coordenação de frases, sem relações de dependência, a HIPOTAXE encontra-se relacionada com o processo de subordinação de orações, estabelecendo laços de dependência entre elas:             "Lamentava  a  toda  a  hora  que tivessem acabado os incêndios grandes e devastadores como havia antigamente." (Manuel da Fonseca)

  

 

X. OUTRAS FIGURAS

1. GRADAÇÃO       A gradação consiste numa seriação não de elementos, mas de ideias. Daí que seja natural considerar-se dois tipos de gradação:

      __ GRADAÇÃO ASCENDENTE ou PROGRESSIVA (equivalente a CLÍMAX __ ver ), quando essa seriação é feita segundo uma ordem em crescendo, isto é, que vai

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manifestando uma intensificação progressiva:

                  "Os vales aspiram a ser outeiros, e os outeiros a ser montes, e os montes a ser Olimpos e a exceder as nuvens." (António Vieira)

            "Deu sinal a trombeta castelhana / Horrendo, fero, ingente e temeroso." (Camões)

                  "Correi, subi, voai, num turbilhão fantástico." (G. Azevedo)

            "Correi, subi, voai, num turbilhão fantástico" (G. Azevedo)

      __ GRADAÇÃO DESCENDENTE ou REGRESSIVA, quando a seriação de ideias é feita de forma que as ideias ou os conceitos vão diminuindo de intensidade:

                  "Um clarão no céu incendiou tudo, as formas ergueram-se à sua luz, as aves nocturnas refugiavam-se na penumbra, e logo as trevas invadiram de novo a

aldeia." (Cari)

            "Uma pequena coisa, uma insignificância, uma nica, tudo o afligia."

 

  

 

2. PERGUNTA DE RETÓRICA (ou INTERROGAÇÃO)

      A utilização da pergunta de  retórica não pretende obter ou dar qualquer  resposta. Ela é introduzido seja para tornar mais vivo o discurso, seja para realçar o pensamento, seja para reflectir sobre algo que é inquestionável...

                  "Este inferno de amar __ como eu amo! __

                   Quem mo pôs aqui n' alma... quam foi?

                   Esta chama que me alenta e consome,

                   Que é a vida __ e que a vida destrói __

                   Como é que se veio a atear,

                   Quando __ ai quando se há-de ela apagar?" (Almeida Garrett)

            "Que fica da vida? Os grandes feitos ou o dia?" (Ruy Belo)

                  "Que véu de fogo nos teus ombros arde?" (Carlos de Oliveira)

            "De resto, quem, no nosso século, teria coragem de lapidar a

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Samaritana?" (Aquilino Ribeiro)

 

  

 

3. PERÍFRASE

      Por PERÍFRASE entende-se

 

  

 

4. ALUSÃO

      Por ALUSÃO entende-se

 

 

  

 

5. APÓSTROFE ou INVOCAÇÃO       Por APÓSTROFE entende-se uma interpelação a alguém, presente ou ausente,

leitor ou ouvinte, personagem ou objecto personificado, humano ou divino.

      A  introdução  da  apóstrofe  interrompe  a  linha  de  pensamento  do  discurso, destacando-se assim a entidade a que se dirige e/ou a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo:

                  "Eusébia, que dizes tu nessa voz casquinhenta?" (Agustina Bessa Luís)

            "Homens: porque não nasci apenas no espelho,

             Sem alma deste lado?" (José Gomes Ferreira)

                  "Contra uma dama, ó peitos carniceiros,

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                   Feros vos amostrais e cavaleiros?" (Camões)

            "Mortos! Mortos! Desenganai estes vivos! Dizei-nos que pensamentos e sentimentos foram os vossos quando entrastes e saísrtes pelas portas da

morte!" (António Vieira)

                  "Ó tu, Guarda divina, tem cuidado

                   De quem, sem ti..." (Camões)

 

  

 

6. EPIFONEMA       Por Epifonema Entende-se uma sentença em tom exclamativo com que se finaliza um discurso.

      EPIFONEMA  e  EPÍFRASE  são  por  vezes  utilizados  como  sinónimos  de PAREMBOLE, nomeadamente para designar as exclamações indignadas, as reflexões moralizadoras, as conclusões e ideias gerais em que os oradores ou personagens fictícias comentam os seus próprios discursos.

                  "Tanta veneração aos pais se deve!" (Lus. III, 33)

            "Oh! Grandes e gravíssimos perigos, / Oh! Caminho da vida nunca certo, / Que, aonde a gente põe sua esperança, / Tenha a vida tão pouca

segurança!" (Camões, Canto I) "No mar, tanta tormenta e tanto dano,

                   Tantas vezes a morte apercebida;

                   Na terra, tanta guerra, tanto engano,

                   Tanta necessidade avorrecida!" (Camões)

            "Oyóla el pajarillo enternecido

             y a la antigua prisión volvió las alas:

             ¡que tanto puede una mujer que llora!" (Lope de Vega.)

 

Relacionadas com a REPETIÇÃO de

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SONORIDADES e de CONCEITOS

APOFONIA       APOFONIA: Consiste em passar-se de uma palavra ou de um conjunto de sílabas a um outro, mantendo-se entre os dois uma diferença mínima.

 

  

BATOLOGIA       BATOLOGIA:  É  uma  redundância  que  consiste  em  insistir  sobre  um  tema  de forma rítmica e acumulativa, como é o caso de dizer-se, por exemplo, «morto e enterrado», «morreu, acabou-se». Isto é, um repetição inútil e pouco agradável da mesma ideia no discurso. Corresponderá ao que vulgarmente se diz "estar sempre a bater na mesma tecla".

 

  

PERISSOLOGIA       PERISSOLOGIA:  Consiste  en  reforçar  uma  declaração  por  meio  de  precisões teoricamente inúteis. Trata-se de uma espécie de pleonasmo de sentido supérfluo:

"Vi-o com os meus próprios olhos"

"Que oca verborreia!"

EUFUISMO Por EUFUISMO entende-se o estilo afectado e artificial, resultante, frequentemente, do abuso da aliteração e da antítese, ou do sobrecarregar de conceitos e de alusões a figuras mitológicas.

 

  

TAUTOLOGIA

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      TAUTOLOGIA:  É  uma  definição  repetitiva  fundada  sobre  o  princípio  da identidade. Em retórica, significa toda a expressão que, embora por palavras diferentes, repete o mesmo pensamento, a mesma ideia, sem acrescentar qualquer contributo para a clarificação do sentido.

  

TRUISMO -- PALISSADA --LUGAR-COMUM       __ TRUISMO: um TRUISMO é uma afirmação que não contém nada para além do evidente e do banal.

      __  PALISSADA  (de  La  Palisse):  a  verdade  do  sentido  da  expressão  resulta  das palavras que se utilizam: "É errado confundir a realidade com a aparência."

      __  LUGAR-COMUM: É uma expressão sentenciosa tida como verdadeira: "Os Catagineses são pérfidos."

Por vezes, o LUGAR-COMUM apresenta-se sob uma forma implícita, o que o imuniza contra o cepticismo: "A perfídia cartaginesa".

  

EXPLEÇÃO       EXPLEÇÃO:  Consiste  em  utilizar  palavras  ou  construções  não  indispensáveis, geralmente autorizadas pela gramática prescritiva. Trata-se da utilização de palavras expletivas, ou seja, de palavras que, não exprimindo uma ideia propriamente dita, ou uma ideia nova ou particular, parecem entrar na frase apenas para a encher materialmente e dar-lhe um aspecto de mais completa. Porém, por vezes, a sua utilização serve para reforçar o sentimento por que se é afectado.

  

CALEMBUR       CALEMBUR:  Serve-se da semelhança de som entre duas palavras diversas ou entre dois grupos de palavras.

JUSTAPOSIÇÃO       JUSTAPOSIÇÃO: A  forma mais simples consiste em justapor conjuntos de igual extensão e jogar com a permanência e a variação.

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PARADIÁSTOLE       PARADIÁSTOLE: Alinhamento de segmentos com igual estrutura sintáctica, igual ritmo e extensão.

      HIPOZEUXE  (ou  SUBNEXÂO):  quando  se  trata  de  um  simples  paralelismo perceptível ao nível das ideias, mas não ao nível sonoro.

  

PARÁFRASE       PARÁFRASE: Consiste numa iteração redundante, explicativa e amplificadora.

  

B. Relativas à CONSTRUÇÃO FRÁSICA

RITMO       RITMO:  Todo  o  RITMO  que  se  imprime  ao  discurso  constitui  uma  figura.  O RITMO resulta o mais frequentemente de um arranjo repetitivo das sílabas, sobretudo nas língaus em que os sons se repartem em categorias contrastantes, como o caso das vogais longas que se opõem às vogais breves, e das sílabas acentuadas que se opõem às não acentuadas. O RITMO é indiscutível na poesia, mas surge também na prosa.

      Os  Antigos  praticavam  formas  de  ritmo  não  repetitivas:  na  poesia,  através  da construção de versos chamados logaédicos, isto é, irregulares, feitos de pés diferentes (sendo o pé células rítmicas bem definidas); e na prosa, por meio da

CLÁUSULA ou CURSUS     

      CLAUSULA: A noção de CLÁUSULA pode aplicar-se aos finais de parágrafo que parecem construídos sob uma certa métrica poética. Na, na eloquência antiga, era frequente terminar-se um parágrafo ou um discurso com uma cadência rítmica emprestada à poesia, com vista a imprimir uma forma firme e obter maior força expressiva. As formas mais conhecidas são:

      __ Cursus planus

      __ Cursus tardus

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      __ Cursus velox

 

  

REVERSÃO ou ANTIMETÁBOLE       REVERSÃO (ou ANTIMETÁBOLE __ o termo metábole significa, em princípio, alteração ou deslocamento, o que o torna próximo de TROPO): Trata-se de uma forma primitiva de QUIASMO, que consiste em opor os mesmo termos em ordem invertida. Porém, a inversão provoca, não raras vezes, alteração ao nível do sentido, fazendo lembrar a ANTANACLASE:

"O rei dos vinhos, o vinho dos reis" (Anúncio publicitário)

 

ANTEISAGOGE       ANTEISAGOGE: É uma antítese discursiva, que se poderia classificar dentro das figuras de pensamento ou de destaque. Consiste em descrever um objecto comparando o que ele não é ao que ele efectivamente é.

DISSIMETRIA ou ASSIMETRIA       DISSEMETRIA (ou ASSIMETRIA): Um dos tipos consiste num desenvolvimento desequilibrado de uma frase. O outro tipo consiste em colocar, em funções análogas, termos de natureza diferente: "Ele quer o poder e não partilhá-lo com ninguém."

TMESE       TMESE:  usual  na  poesia,  esta  figura  consiste  na  separação  de  uma  palavra composta por meio da interposição de outros membros da frase: "Dar-te-ei, Senhor, ilustre relação" (L. Camões)

HISTÉRON PROTÉRON ou HISTEROLOGIA       HISTÉRON  PROTÉRON  (ou  HISTEROLOGIA):  É  uma  inversão  estilística praticada na Antiguidade, que afecta não a ordem gramatical das palavras, mas a ordem lógica e cronológica dos factos __ servindo para demonstrar a desordem de espírito que fala; mas também pode corresponder a uma liberdade criativa, vindo em primeiro lugar

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o que a lógica implicaria vir posteriormente.

C. RELATIVAS ao REALCE DAS IDEIAS (Mise en valeur)

HIPOTIPOSE ou ENARGIA       HIPOTIPOSE  (ENARGIA):  É  uma  descrição  ou  um  récit  que  não  só  procura significar o seu objecto por meio da linguagem, mas esforça-se sobretudo por tocar a imaginação do receptor e evocar a cena descrita através de estratagemas imitativos ou associativos. Pode-se ligar a HIPOTIPOSE à arbitrariedade saussurriana do signo linguístico, pela estimulação dos recursos plásticos e miméticos que a linguagem possibilita.

 

ACUMULAÇÃO       ACUMULAÇÃO:  A  ACUMULAÇÃO  descritiva  cristaliza  a  obsessão  e  torna presenrtes à imaginação as cenas evocadas.

  

EPITOCRASMO       EPITROCASMO: É uma enumeração copiosa de elementos justapostos, com ritmo insistente e sacudido.

EXPOLIÇÃO       EXPOLIÇÃO:  É  uma  outra  forma  de  acumulação  retórica,  que  consiste  em enumerar vários argumentos, com uma insistência titânica. Outras vezes a EXPOLIÇÃO consiste em voltar insistentemente ao mesmo argumento, apresentado sob roupagens diferentes.

      HARMONISMO:  Combinação  de  sonoridades  escolhidas,  casadas,  moduladas, com intenções sugestivas.

      INTERROGAÇÃO:  A  interrogação  presta-se melhor que a ACUMULAÇÃO ao ajustameto estilístico, porque permite deslizar de uma função para outra e colocar a sua acção interpelativa ao serviço de uma expressão picante.

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SUBJECÇÃO       SUBJECÇÃO:  proposição  interrogativa  utilizada  em  substituição  de  uma subordinada hipotética ou outra.

      APOSIÇÃO: Designa  uma  construção  gramatical  corrente  que  se  converte  numa figura poética e imaginativa quando se assemelha ao APÓSTROFE ou o prolonga.

EPÍTETO HOMÉRICO       EPÍTETO  HOMÉRICO:  Constitui  um  artifício  ornamental,  entre  outros  que assinalam a pertença de um texto a um estilo literário.

PAREMBOLE       PAREMBOLE: É um corte mais ou menos deslocado em relação ao discurso em que ela se encontra, como um aparte no teatro.

PARÊNTESIS       PARÊNTESIS:  designa  uma  frase  introduzida  sem  ligação  gramatical  ou  lógica aparente com a trama principal do texto, mas criando um contraponto narrativo ou temático e alargando o campo imaginário suscitado pela obra.

TAPINOSE       TAPINOSE:  É  um  procedimento  satíricoatravés  do  qual  se  exprime  uma  ideia pejorativa sob a forma de uma constatação neutra que não compromete: "Ele não é completamente insensível ao charme da sua secretária."

HIPOCORISMO       HIPOCORISMO: Trata-se de uma figura, sobretudo morfológica, através da qual se manifesta o afecto por meio de diminutivos ou apelidos aparentemente depreciativos: "Meu ratinho!"

Relacionadas com a ELIPSE

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BRAQUILOGIA       BRAQUILOGIA: É uma expressão curta, concisa e densa (ramassée), resultante de uma ondensação e não de uma omissão que se pode localizar ou colmatar. Essa concisão, implicando frequentemente omissão de pensamentos necessários a uma perfeita compreensão do sentido, acaba por acarretar uma certa obscuridade.

ANANTAPODOTON       ANANTAPODOTON: É uma forma particular de ABRUPÇÃO ou APOSIÓPESE: São termos eruditos para designar as construções interrompidas por um silêncio e continuadas por uma digressão.

Relativas À EXPRESSÃO DO PENSAMENTO

 

APÓSTROFE ou INVOCAÇÃO

COMINAÇÃO       COMINAÇÃO: Trata-se de uma figura de advertência ou de intimidação (ameaça). O emprego deste termo erudito provém de um outro tipo de figura, o PEDANTISMO.

DIASIRME       DIASIRME:  É  um  discurso  agressivo,  em  que  a  IRONIA  se  torna  áspera  e directamente denunciadora.

ASTEISMO       ASTEISMO: É uma  forma de  IRONIA  invertida, que consiste em adular alguém jogando com a comédia da censura, da reprovação. É zombar com alguém ou alguma coisa, mas de forma um pouco delicada:

"Não há dúvida... és um artista como não há outro nossa pequenina terra!" "Aqui está um palacete que não vale um chavo!"

 

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CONTRAFISÃO       CONTRAFISÃO:  Apresenta-se geralmente como uma exclamação irónica, em forma de conselho.

CLEUASMO ou AUTOCATEGOREMA ou PROSPOLESE

      CLEUASMO  (também  chamado  AUTOCATEGOREMA  ou  PROSPOLESE):  É um arrazoado em forma de confissão.

PERMISSÃO ou EPÍTROPE       PERMISSÃO  (ou  EPÍTROPE):  É  uma  apóstrofe  através  da  qual  se  convida ironicamente o destinatário a perseverar na sua torpeza, vileza. Trata-se de provocar vergonha, de dissuadir sob a aparência de persuadir.

IMPRECAÇÃO       IMPRECAÇÃO: Exprime a raiva e o desejo de vingança. Trata-se de uma praga ou maldição rogada contra uma entidade:

"Que o Diabo te carregue!."

"Que um raio te partisse!"

DEPRECAÇÃO       DEPRECAÇÃO: Atitude pela qual se tenta desviar um mal por meio da oração. É o que frequentemente acontece nas súplicas aos entes sobrenaturais, face às calamidades ou a algo de trágico:

"Ó cristãos, pelas chagas de Cristo, e pelo que deveis a vossas almas, que não queirais que vos aconteça tão grande infelicidade [...]" (A. Vieira)

OPTAÇÃO       OPTAÇÃO:  É  a  expressão  de  um  desejo,  sobretudo  quando  se  desenvolve  em modo lírico, estando a realização do desejo sujeita a decisões supra-humanas e que se procura obter por meio de encantamentos.

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DELIBERAÇÃO       DELIBERAÇÃO: Fase de um discurso durante a qual se delibera.

APORIA       APORIA ou DÚVIDA: Fase do discurso durante a qual se coloca algo em dúvida __ dúvida essa que tanto pode ser real como fictícia.

PARRÉSIA ou LICENÇA       PARRÉSIA ou LICENÇA: Fase do discurso em que se diz, sem restrições, o que vai na alma. Corresponde igualmente a atrevimentos de linguagem, a afirmações arrojadas, com recurso a termos grosseiros e calão.

PARIPONOÏAN       PARIPONOÏAN: É um enunciado violentamente ilógico.

PRECAUÇÃO       PRECAUÇÃO:  É  uma  entrada  no  assunto,  em  que  se  anuncia modestamente  os seus limites.

CONCESSÃO ou PARAMOLOGIA       CONCESSÃO ou PARAMOLOGIA: É um momento do discurso onde se admite até que ponto se está devidamente fundamentado face aos argumentos contrários, a fim de melhor os refutar.

SINCORESE       SINCORESE: É uma CONCESSÃO aparente, mas mais ou menos irónica.

REJEIÇÃO

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      REJEIÇÃO: É uma espécie de CONCESSÃO invertida: rejeita-se provisoriamente um argumento para o retomar em seguida.

ANTECIPAÇÃO ou HIPÓBOLE ou PROLEPSE       ANTECIPAÇÃO ou HIPÓBOLE ou ainda PROLEPSE: È uma manobra pela qual se responde às objecções previstas.

CORRECÇÃO       CORRECÇÃO: Abrange  um conjunto  de  procedimentos  pelos  quais  se  retoma o que fora dito para corrigir, precisar, acrescentar, encarecer (ultrapassar), etc.

RETROACÇÃO ou EPANARTOSE       RETROACÇÃO ou EPANARTOSE: É uma CORRECÇÃO irónica que contradiz o primeiro enunciado.

ANTORISMO       ANTORISMO: É uma réplica que retoma de modo contundente (áspero) as falas de um adversário.

ANTIPARÁSTASE       ANTIPARÁSTASE:  É  uma  argumentação  por  meio  da  qual  se  tenta  reverter  a parte mais frágil do discurso em seu favor.

APODIOXIS ou APODIOXE       APODIOXIS (ou APODIOXE): É a rejeição de um argumento como absurdo, para evitar a discussão.

PRETERIÇÃO       PRETERIÇÃO ou PRETERMISSÃO: Consiste em enunciar que não se vai  tratar um determinado assunto, quando na realidade é dele mesmo que se está a falar. Esta

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estratégia tem por finalidade afastar as objecções e associar o público às teorias que se expõem.

 

 

ASSOCIAÇÃO       ASSOCIAÇÃO:  Consiste  em  dar  lições  incluindo-se entre os destinatários das mesmas. O pronome nós serve de introdutor a tal procedimento. A humildade aparente do moralizador volta-se por vezes contra ele próprio, dado que um público pouco esclarecido acerca das convenções pode incorrer em compreender o sermão como sendo de primeira pessoa e crer que o orador está a fazer a sua autocrítica.

 

 

COMUNICAÇÃO       COMUNICAÇÃO:  É  uma  atitude  pela  qual  se  pretende  persuadir  o  mais eficazmente possível aquele a quem ou contra quem se fala.

 

XI. BIBLIOGRAFIA KAYSER, Wolfgang (1976): Análise e Interpretação da Obra Literária [4ª Ed.

revista pela 16ª alemã por Paulo Quintela]: Arménio Amadado, Editor, Sucessor: Coimbra.

SUHAMY, Henri (1981): Les Figures de Style: Coll. Que Sais-Je?: Presses Universitaires de France. Paris.

CUNHA, Celso (1976): Gramática do Português Contemporâneo [6ª Eed. revista]: Editora Bernardo Álvares, S. A..Belo Horizonte.

PINTO, José M.; PARREIRA, Manuela; LOPES, M. do Céu Vieira: Gramática do Português Moderno: Plátano Editora. Porto.

ALVES, Manuel dos Santos (1978): O Texto Literário __ Linguística, Poética, Estilística, Géneros Literários, Textos: Livraria Popular de Francisco Franco. Lisboa.

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FIGUEIREDO, Jorge V., BELO, Maria Teresa (1985): Comentar Um Texto Literário: Editorial Presença. Lisboa.

(1997) Curso de Português __ Questões de Gramática, Noções de Latim: sob a direcção de Américo Leal: Edições Asa. Porto.

FLÓRIDO, Mª Beatriz, SILVA, Mª Emília D., FONSECA, Joaquim (1981): Novos Caminhos Para a Linguagem __ Análise da Comunicação, Estilística e Análise Textual, Elementos de História da Língua: Porto Editora. Porto.

FIGUEIREDO, José Nunes, FERREIRA, António Gomes (1966): Compêndio de Gramática Portuguesa: Livraria Sá da Costa Editora. Lisboa.

NUNES, Cármen, OLIVEIRA, Mª Luísa, SARDINHA, Mª Leonor (1995): Nova Gramática de Português: Didáctica Editora. Lisboa.

BORREGANA, António Afonso (1996): Gramática Universal __ Língua Portuguesa: Texto Editora. Lisboa

ROSADO, César (1998): O Homem e a Palavra: Grafilarte, Artes Gráficas, L.da. Águeda-Lisboa.

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