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O alfabetizar, nos autoriza a reconhecer a complexidade presente tanto no objeto de conhecimento como naquele que aprende cuja resposta não está somente na descrição de habilidades ou de um vasto repertório de estratégias de ensino, mas da necessária complementaridade das áreas de conhecimento que descrevem o sujeito do ensino e as prováveis interações presentes no codificar.Nessa rede de interações, reconhecemos a necessidade de um suporte muldisciplinar para a compreensão deste ensino, ou seja, melhor compreensão da natureza das operações, que normalmente são necessárias para uma eficiente memorização, uma eficiente organização das percepções e o desenvolvimento da linguagem oral como uma forma de representação mental; conhecer melhor os processos mentais que tornam possível o ler e o escrever.

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MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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Poderemos  supor  que  o  significado  equivocadamente  atribuído,  pelo  uso,  ao termo alfabetização advém da compreensão implícita de que haverá de se ter um produto de todo modo de qualidade. Conseqüentemente, haveria uma didática uma metodologia  implícita e um a priori,  um método a  ser aplicado para  efeito desse sucesso,  mais  ainda,  pressupõe  o  sucesso  na  aprendizagem  na  dependência  na escolha do método.  

Não  desconhecemos  a  significativa  posição  que  ocupou  e  ocupa  a  tradição  de antes de  tudo e até mesmo da projeção da  intervenção a escolha de um método. Reconhecemos  nessa  tradição  a  designação  de  métodos  de  ensino  enquadrados como  os  de  marcha  analítica  os  Analíticos  ou  Fonéticos  que  partem  dos  sinais gráficos isoladamente e aqueles de procedimento sintético ou os globais, isto é, que seguem  uma  seqüência  considerando  um  todo:  a  frase,  a  palavra  a  sílaba.  Um terceiro  designado  como método misto  o  analítico‐sintético.  Vale  dizer  que  esse uso não pressupõe as operações de análise e de síntese do sujeito na sua interação com o objeto de conhecimento. 

È possível identificar nesses procedimentos de ensino a contaminação exclusiva dos  aparatos  de  teorias  psicológicas  da  aprendizagem.  Ao  menos  duas  foram evidentes:  uma  o  behaviorismo  como  a  expressão  psicológica  do  realismo científico  e  uma  outra,  decorrente  de  um  grupo  de  didáticas  ligadas  ao experimentalismo‐estruturalismo  um  certo  relativismo  positivo  científico.  Entre nós tem sido a predominante o behaviorismo, queremos dizer a predominante nos processos  de  tomada de  decisão quanto  às  formas  de  intervenção  e  ao  emprego dos meios de ensino. É possível admitirmos que houve um significativo demorar‐se nessa prática docente (praticamente 80 anos do século XX) que inclusive retardou a  iniciação  à  escrita  e  à  leitura  em  virtude  da  força  ideológica  de  marcadores considerados como pré‐requisitos inflexíveis para essa iniciação ao conhecimento da forma escrita do idioma falado.   

A ênfase desses fundamentos nos ensinou predominantemente a olhar sobre e exclusivamente no quê ensinar, tomando o idioma particularmente por uma razão, a sonora, não ressaltando o  idioma dominado como um repertório  inteligente de significações e representações dos sentidos atribuídos pelos entes, seus usuários. Colocar  em  foco  a  razão  sonora  do  idioma  não  poderá  significar  a  limitação  da produção de  interação comunicativa, e a produção de mais comunicação. O signo lingüístico  construído  historicamente  é  material  da  constituição  da  nossa humanidade. 

Ao compartilharmos da produção de conhecimento especialmente a partir dos anos  70,  identificamos  novos  acréscimos  ao  repertório  teórico  crítico  para  a interpretação  do  fenômeno  aprender  a  ler  e  escrever.  Conhecemos  melhor  a descrição  acerca  do  sujeito  do  ensino. As  ricas  descrições  sobre  os  processos de desenvolvimento  nos  ensinaram  sobre  a  natureza  desse  desenvolvimento, tornando  mais  específico  para  nós  quem  é  esse  sujeito  queremos  dizer: descrevendo‐o melhor para podermos construir e projetar intervenções docentes. Há  inúmeros  exemplos  dessas  contribuições.  Conhecemos  melhor  a  descrição 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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acerca  p.ex  da  evolução  do  grafismo.  Sabemos  melhor  que  para  alcançar‐se  a produção alfabética participam diferentes e integradas condições. Pode‐se admitir que se o traçado se constitui inicialmente na garatuja, uma produção espontânea, progride  para  a  cópia  e  reprodução  de  modelos  alcançando  a  configuração  de letras  num  harmonioso  movimento  visual  práxico  associado  à  constituição  de representações,  a  imagem  mental.  Fortalecendo  essa  contribuição  poderemos também evocar  as  explicações  acerca da plasticidade  cerebral,  a  identificação da memória‐memórias. Nesse caso poderemos citar a memorização de sons e imagens visuais  adquiridas  na  relação  fonemática  grafemática  e  compreensivas  à  relação que  o  sujeito  escrevente  estabelece  entre:  o  referente,  a  coisa,  ou  objeto extralingüístico,  isto  é,  aquilo  que  o  sujeito  identifica  como  um  fenômeno  de alguma  permanência  que  poderá  ser  identificado  no  seu  sistema  simbólico lingüístico  como  representante  de  uma  referência.  Vê‐se,  uma  organização  de sensações  num  inteligente  processo  de  organização  perceptiva.  Queremos  dizer percepção como a constituição de um estado de consciência, a consciência de. 

Os estudos acerca do desenvolvimento da  linguagem oral,  a matéria prima no trabalho de alfabetizar, não ficaram restritos à neurofisiologia estudos necessários mas não suficientes para explicar  todo o complexo  fenômeno da constituição das representações tanto orais como escritas. Ultrapassou‐se essa descrição necessária na  direção da  compreensão das  interações  entre  a  prática  humana não  verbal,  a captação do significado existencial dessa prática e a correspondente representação dessa prática em um sistema de sinais, lingüístico, que se constituirá no repertório de  representações. Aprendemos que a  construção de  significações  representadas na  linguagem  são  resultado  e  resultante  da  exposição  do  sujeito  ao meio  sócio‐lingüístico. Podemos afirmar que os estudos sociolingüísticos reorientaram nossa compreensão  para  a  diferença  entre:  criança  de  código  restrito  de  sujeito  não verbal  e  conseqüentemente  o  papel  de  protagonista  da  linguagem  oral  na aprendizagem da  sua  representação  na  escrita.  Temos  então  a  representação  ao menos em dois níveis. Um o da apreensão dos significados das situações da prática social  representadas  e  fixadas  na  linguagem  oral  e  por  ela  expressa;  outro  o  do entendimento que a produção da escrita, da grafia a essa representação se remete ao  compreender  o  que  é  a  escrita,  o  sistema  de  sinais.  Ou  seja,  não  é  apenas  a reprodução de  sons.  Está  plena de  significados  colhidos na  existência.  Assim um sistema de representações agora na forma alfabética.  

Incorporamos  as  contribuições  da  Sociolingüística,  da  Psicolingüística,  da Psicogênese  à  descrição  Lingüística,  e  às  descrições  tradicionais  da  Psicologia.  O panorama dos estudos relativos ao alfabetizar sustenta melhor o estudo, a análise e interpretação da atividade de transcodificar do sujeito alfabetizado. Fica evidente que conhecemos melhor o sujeito do ensino; o objeto de conhecimento e o entre si ensinar aprender a ler e escrever. 

Como esse repertório partilha do alfabetizar? 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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UM ENSAIO DE APROXIMAÇÃO

“GB”, sexo masculino, nascido em Jan./96 em Pernambuco de parto normal sem intercorrências,  apesar  de  numa  internação  hospitalar  constar  anóxia  neonatal. Peso ao nascer de 3.550 g; primeira convulsão com 1 mês e quinze dias de vida, iniciou  uso  de  medicação  (fenobarbital).  Aos  5  meses  nova  convulsão.  Aos  10 meses  veio  para  São  Paulo.  Em  2000,  aos  4  anos,  apresentou  crises  convulsivas subintrantes controladas com medicação após  internação em UTI pediátrica. Mãe refere  que  tios  paternos  têm  convulsão.  Ao  exame  físico  apresenta  fáscies sindrômica,  implantação  dentária  irregular,  palato  em  ogiva,  mantém  a  boca aberta. Começou a andar aos dois anos e dois meses de idade e a falar com 5 anos. “GB”  tem  sido  acompanhado  por  assistência  médica  neuropediátrica  e  controle constante  por meio  de  exames. Dentre  os  exames mais  relevantes  à  ressonância magnética  cerebral  apesar  de  no  laudo  do  radiologista  constar  como  normal  a neurologista  identificou  discreta  atrofia  cortical  posterior  à  esquerda  e  o eletroencefalograma demonstrou atividade básica discretamente desorganizada às custas  de  aumento  da  atividade  rápida,  surto  de  ondas  lentas  independente  de projeção em região temporal bilateral. 

Aos 7 anos, em 2003, quando do início do atendimento na Escola na 1ª série a queixa pedagógica era “não está aprendendo a ler e escrever; apresenta problemas de fala, coordenação motora, concentração. Ele baba.” A expectativa da professora é  que  “ele  não  vai  aprender”  é  professora  experiente,  25  anos  de  magistério,  e grande vivência em alfabetização. 

“GB”  em  geral  parece  não  se  inteirar  do  que  se  propõe  na  atividade.  Em atividades  do  cotidiano  escolar,  ao  se  trabalhar  com  o  objetivo  de  produção  da escrita, mediante conversas acerca do objeto apresentado, e embora os colegas lhe dissessem que o que se apresentava era, “uma bola e para escrever começava com a letra b” ele dizia: “brinquedo” certamente referindo‐se a bola como pertencendo à categoria de brinquedo. Freqüentemente repetia aquilo que ouvia como um eco; fez  vários  rabiscos  e  círculos  que  segundo  ele  eram:  uma  casa,  uma  boneca,  um helicóptero e uma boca (em. de 16/04/2003) 

À  comanda  para  copiar  da  lousa  os  combinados,  não  executa  a  instrução.  À orientação para desenhar a partir de dois traços em uma folha., observa o desenho que  fizera  diz  que  gosta  da  escola,  e  vinha  à  escola  para  brincar.  Completa  que gostava de comer e que vinha para as sessões de assistência pscopedagógica para conversar.  Nesse momento  pára  de  falar muda  o  assunto  e  diz  que  a mãe  batia nele;  mandava  que  calasse  a  boca  e  que  jogaria  seus  brinquedos  no  lixo.  Seu pensamento não  se mantem  focado. Recupera episódios  fortuitos  talvez  recentes mas ao que parece relevantes para si. Dispara informações Conclui o ano letivo de 2003 submetido ao teste “Raven” é identificado como intelectualmente deficiente. 

Ao  executar  como  os  demais  colegas,  a montagem  do  seu  crachá  registrando nele o seu nome, o faz com traçados primitivos (15/04//04 fig. 01). Não reconhece o crachá com seu nome preparado pela Psicopedagoga (30/04) (os demais alunos 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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do grupo reconhecem). Reage agressivamente ao ser provocado pelo colega que o impacientou pelo que fizera.  

 

Na  escrita  do  próprio  nome  (21  de  Maio)  com  massa  de  modelar:  só  fez “bolinhas”  Suas  representações  estão  sincréticas  em  virtude  de  não  relacionar  a massa de modelar para efeito do seu objetivo. 

No  trabalho  com  esquema  corporal,  (em  28/05)  com  apelo  para  o  ritmo, conhecimento do próprio corpo na montagem de um corpo com diversos pedaços de corpo retirados de revista para montagem de um corpo “esquisito” precisou de ajuda  para  recortar  as  figuras,  não  conseguia  posicionar  seu  corpo  diante  da revista,  recortar  em  volta  das  figuras.  Algumas  vezes  partiu  a  figura  ao  meio. Utilizou a esmo a letra “A” para escrever o seu nome 

Em  Junho  2004  (abaixo)  ainda  apresenta  rabiscos  de  movimento  circular  e movimentos de vaivém  (Greig,  2004),  sem controle  visual  (esse  controle  começa por  volta  dos  dois  anos)  sua  intenção  não  está  na  forma mas  apenas  no  ato. Há repetição de gestos gráficos sem compromisso com a figuração. 

 

 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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Em  Julho  encontramos  a  presença  de  rabisco  em  vaivém  e  o  surgimento  de traços verticais 

A escrita de palavras (em Agosto 13) retiradas da história “Galinha Vermelha”, com letras móveis; tiras e espaços certos para a inclusão de letras para a escrita de galinha, onça,... Não surtiu o efeito esperado. Reconhece‐se que “GB” não executou porque sequer pode compreender as relações contidas no comando do exercício. 

Em Setembro  (19.ª  sessão) escreveu o  seu nome com o auxílio de um modelo mas era preciso apontar letra por letra. Inverte o U e o V inverte também números consegue  identificar  algumas  letras  nessa  sessão,  especialmente  na  atividade  de corresponder a palavra à sua letra inicial. 

Em  17/09  escreve  seu  nome  sem  o modelo  só  colocou  as  vogais  A  e  E  Teve dificuldade em encontrar as letras da palavra elefante. Consegue ligar às palavras a letra inicial. Não escreveu o nome do animal preferido. Está pré‐silabico segundo a hipótese  da  psicogênese  da  escrita.  Utilizou  basicamente  as  letras  “A”  e  “E”  e algumas garatujas. Não identifica letras Precisa da linha para se orientar. Quando ouve qual é a letra casualmente acerta e registra na folha. Suas respostas começam a  nos  ensinar  que  ele  procura  em  alguns  raros  momentos,  por  imitação, corresponder às demandas, mas sem estratégias de organização da tarefa sem ser um comportamento permanente. 

Na atividade de dobradura e colagem, (em 08/10) sob o tema: primavera. Não foi  capaz  de  produzir  a  dobradura  compreender  as  instruções  e  coordenar  os passos  da  construção  da  dobradura.  Em  22/10  frente  à  atividade  de reconhecimento de letras não consegue realizar a tarefa. Permanece pré‐silábico.  

 

 

 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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Em Março 20005 consegue produzir uma cópia. 

Nessa cópia já adota a reprodução de letras sob o comando da ordem. O traçado é  trêmulo e conforme o exercício se repete a  letra vai perdendo a  forma original tornando‐se quase irreconhecível. 

Em Setembro de 2005 exercício de cópia reprodução   

A reprodução da letra “S” acaba se confundindo no traçado com o numeral “5” o traçado  está  mais  firme  em  02  /2006  Cópia  com  traçado  mais  firme  mas entretanto não adota o modelo letra cursiva 

 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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o mesmo se dá na cópia de 04 de 2006 

Em  síntese  “GB”  tem  dificuldades  relativas  à  comunicação  oral  e  escrita, apropria‐se da fala do outro i.é. ecoa o que ouviu; apresenta dificuldades relativas à compreensão cognitiva satisfatória. Aos movimentos motores e ao aprendizado em geral  mostra‐se  desorganizado,  derruba materiais,  é  agitado  levanta‐se  o  tempo todo,  interrompe  conversas,  faz  comentários  descontextualizados,  fala  alto, articula  com dificuldade  as  palavras  e  nem  sempre  é  possível  entender‐se  o que fala.  Além  desse  quadro  de  dificuldades  evidentes,  seu  repertório  lingüístico  é restrito,  é  restrito  também  e,  relativamente,  aos  conhecimentos  acadêmicos. Faltam‐lhe  condições  necessárias  para  a  construção  e  constituição  de representações. A  idéia de permanência,  conservação, organização não aparecem na execução das diferentes propostas. Faltam‐lhe suportes para a compreensão e estabelecimento  de  relações  para,  por  exemplo,  compreender  as  diferenças  e  as relações  entre  fonema‐grafema.  A  coordenação  motora  apresenta comprometimento. Não é capaz de reproduzir símbolos nem copiar traçados. Tem dificuldade para manusear o  lápis, a  tesoura ou o pincel. A representação gráfica (em  2003/2004)  se  apresenta  na  forma  de  traços  com movimento  circular  e  de vaivém  característica  essa,  que  permanece  em 2005  com pequenas  variações  de discretas reproduções de traçados. 

No  ano  de  2006  pode‐se  reconhecer  a  cópia  e  reprodução  de  traçados  de algumas letras de seu nome, traçado esse, “trêmulo” irregular, e em algumas outras situações a reprodução, cópia, de silabas demandadas por estímulos na classe. 

Significando a aprendizagem escolar de GBSS 

Ao  estudarmos  o  caso  de  GBSS  podemos  encontrar  as  significações  que buscamos compreender nas situações comuns de ensinar aprender a ler escrever. Como  apontamos  na  introdução  ao  estudo  reconhecemos  a  complexidade, interatividade  e  complementaridade  de  áreas  de  conhecimento  que  abarca  o 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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exercício  de  alfabetizar.Iniciemos  por  destacar  na  totalidade  de  atos  inteligentes presentes nessa aprendizagem p. ex. a    representação na escrita por meio de um sistema simbólico o código alfabético  Essa representação evoca simultaneamente: a linguagem oral dominada o primeiro recurso simbólico, repertório que contém as significações  atribuídas  pelos  entes,  seus  usuários.  Essas  são  significações  que preservadas no sistema semântico‐léxico disparam a possibilidade da produção da interação comunicativa. Se a linguagem oral é o ambiente para a transposição para a forma escrita, acrescentaremos ai as funções executivas: a praxia e a reprodução do  signo;  o  conhecimento  visual  e  a  organização  da  imagem  mental  em configurações permanentes das formas dos grafemas  

Ao nos aprofundarmos. na expressividade do  registro ortográfico fica evidente a  presença  da  unidade    “relação  fonema  grafema”      de  grande  relevância  não obviamente  para  superdimensionar  o  som    mas    para  reafirmar  a  atividade  de reconhecimento  decifração  das  unidades  alfabéticas    compostas  numa  certa seqüência  para  dizer  de  uma  intenção  de  uma  idéia.  Estes  breves destaques.anunciam e nos ensinam acerca das dificuldades de “GB”.  

Tomemos  como  ponto  de  partida  a  primeira  e  mais  evidente  dificuldade  o retardo  na  aquisição  da  linguagem  oral.  De  modo  restrito  às  condições  de aprendizagem  de  leitura  e  escrita  é  evidente  a  participação  desse  domínio  na transcodificação  verbográfica.  Identificamos  a  ausência,  é  certo,  como  um componente  pressuposto  para  a  representação  na  forma  grafemática.  Como representar se não há significações a serem expressas? Está evidente para nós que se trata da presença de significados compreensíveis à inteligência representada na forma  alfabética.  Nessa  imbricada  rede  de  interações  e  conseqüente  à  ela,  o reconhecimento  na  escrita  incorporando‐se  o  fonológico  o  ortográfico  e  o  léxico isto é, a decodificação a leitura e a interpretação esteve comprometido. 

A  análise  e  síntese  aditiva da  composição dos  sons por mais  evidente que  ela seja  uma  relação  obvia  na  forma  de  representação  escrita,  escrever  não  é obviamente a reprodução de sons, mas, a identificação sonora mediante as marcas alfabéticas  de  um  sentido  culturalmente  atribuído  àquela  palavra.  Portanto  uma representação  sonora  que  ganha  a  forma  ortográfica,  mais  do  que  apenas reprodução de sons. Nessa representação o sujeito busca referência no seu sistema semântico  o  que  reafirma  a  circunstância  da  dificuldade  de  GB  que  conforme sabemos  sua  linguagem oral  sofreu  na  sua  constituição  pelo  atraso  na  aquisição inicial. GB não detinha ao mesmo tempo dos demais sujeitos essas representações disponíveis. 

Conhecemos  em  GB  o  comportamento  dispersivo,  um  olhar  não  direcionado para  um  objetivo  por  algum  tempo.  A  permanência  de  um  objeto  como  foco  foi uma  dificuldade.  Assim  associações  dissociações,  e  a  conseqüente  representação estiveram ausentes como habilidades solidariamente cooperativas   

Podemos identificar por diversos momentos o modo reiterativo pelo qual GB se expressa  graficamente  por  movimentos  circulares  dispersos  na  folha  ou  pela 

MARTINS,  M.  (2007)  Pedagogia  neurocientífica?  Alfabetizar:  a  abordagem  pedagógica  em diálogo  interdisciplinar.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias  (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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garatuja. Na idade de 7‐8anos. O que é segundo a descrição, algo comum em torno dos  dois  anos.  A  garatuja  representava  em  um  dos  momentos  o  seu  nome.  Seu traçado  primitivo  é  circular  por  mais  de  um  ano.  Em  Julho  de  2004  aparecem traços  verticais.  A  oralidade  restrita  acompanha  os  registros  gráficos  de  GB  em geral apartada do contexto e do grupo com o qual ele convive cotidianamente. Com isso  queremos  dizer  que  GB  produz  representações  gráficas  que  não  sendo reconhecíveis por sua forma não nos auxiliam no reconhecimento do objeto que se quer representar já que linguagem oral não completa a descrição da sua intenção. Isso  o  acompanha  na  aprendizagem  da  escrita.  Interessa‐nos  destacar  que  na produção  ortográfica  da  escrita  reproduzimos  modelos  ao  identificar  a  letra configurando‐a. Na relação grafema e seu traçado procedemos a uma cópia, cópia de  um  modelo  que  está  memorizado  certamente,  porque  distinguimos configuramos  cada  objeto  pela  sua  particularidade  e  o  reproduzimos.  A reprodução,  cópia  de  modelos  ocorre  em  substituição  à  produção  gráfica espontânea o que significa que nos processos de crescimento e desenvolvimento nos  equipamos  para  aprimorar  os  modos  de  representar.  O  grafismo  e  sua evolução  oferecem  repertório  para  a  compreensão  da  instalação  da  condição  de reproduzir graficamente a reprodução do modelo alfabético. Nosso sujeito ganhou condição  de  somente  reproduzir  copiar  em  Setembro  de  2005  traçado  que  se aperfeiçoou em Abril de 2006. 

Ao  trazermos  os  modelos  de  representação  para  registrar  o  fenômeno  da aprendizagem inicial da escrita em “GB” queremos reafirmar que ao identificarmos os  modos  como  ele  representa  pelo  grafismo  sua  intencionalidade  aprendemos melhor  acerca  da  complexa  rede  presente  no  ato  de  aprendizagem  inicial  da escrita. O alfabetizador tem à sua frente o compromisso de introduzir na abstrata arte  dos  sinais  lingüísticos  e  todas  as  razões  históricas,  um  sujeito,  as  suas particularidades da ordem psico‐social, das suas condições de inteligir, certamente uma  atividade de  grande  responsabilidade  social  e  por  certo  não  sendo possível ser desenvolvida por leigos. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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