pavesi, v. c. s. efeito da criolesão no remodelamento da matriz extracelular mme. 2008

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO Vanessa Christina Santos Pavesi EFEITO DA CRIOLESÃO NO REMODELAMENTO DA MATRIZ EXTRACELULAR EM MÚSCULO ESQUELÉTICO DE RATO São Paulo, SP 2008

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Page 1: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO

Vanessa Christina Santos Pavesi

EFEITO DA CRIOLESÃO NO REMODELAMENTO DA MATRIZ

EXTRACELULAR EM MÚSCULO ESQUELÉTICO DE RATO

São Paulo, SP

2008

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO

Vanessa Christina Santos Pavesi

EFEITO DA CRIOLESÃO NO REMODELAMENTO DA MATRIZ

EXTRACELULAR EM MÚSCULO ESQUELÉTICO DE RATO

Dissertação de Mestrado

apresentada à Universidade

Nove de Julho, para obtenção

do título de Mestre em Ciências

da Reabilitação.

Orientadora: Profa. Dra. Manoela Domingues Martins

Co-orientadora: Profa. Dra. Raquel Agnelli Mesquita Ferrari

São Paulo, SP

2008

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2

Pavesi, Vanessa Christina Santos.

Efeito da criolesao no remodelamento na matriz extracelular em

músculo esquelético de rato. / Vanessa Christina Santos Pavesi.

São Paulo : 2008.

78f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Nove de Julho, 2008.

Orientador: Profa. Manoela Domingues Martins.

1. Remodelamento muscular. 2. Matriz extracelular. 3. Colágeno IV.

I. Martins, Manoela Domingues.

CDU 612

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3

Dedicatória

Aos meus filhos José Fernando e Maria Júlia, sem sua colaboração e compreensão a mamãe não teria conseguido.

Page 5: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

4

Agradecimentos

A Deus que se fez sentir presente em todos os momentos.

Aos meus pais José e Fátima, por todo apoio, carinho, amor e compreensão.

Muito obrigada por tudo.

Às minhas irmãs, Andressa e Talissa, por não me deixarem nunca desistir

dos meus objetivos.

À minha querida orientadora e amiga Profa. Dra. Manoela Domingues

Martins, pessoa admirável, a quem devo toda a minha trajetória acadêmica,

aprendi a amar a pesquisa graças ao seu exemplo de competência e ao seu

estímulo.

À minha co-orientadora e amiga Profa. Dra. Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari,

profissional e pessoa incrível, agradeço por toda dedicação e paciência.

Às minhas queridas, Profa. Dra. Kristianne Porta Santos Fernandes e Profa.

Dra. Sandra Kalil Bussadori, que sempre acreditaram no meu potencial,

torcendo e comemorando junto comigo cada acerto. Obrigada por todo carinho.

Ao técnico do laboratório de pesquisa, Bruno Duzzi, por toda sua fundamental

colaboração.

Aos técnicos dos laboratórios multidisciplinares da UNINOVE, pela ajuda e

palavras de incentivo.

Ao Prof. Dr. Décio dos Santos Pinto Júnior, Prof. Dr. Fabio Daumas Nunes

e Profa. Dra. Márcia Martins Marques, da Faculdade de Odontologia da USP

que foram essênciais nessa caminhada, colaborando no aperfeiçoamento das

técnicas utilizadas neste estudo.

Page 6: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

5

Ao Prof.Dr.Carlos Alberto Silva pelas conversas e trocas de informações que

foram fundamentais para a conclusão desse projeto. A sua querida co-

orientada Joyce por toda atenção e carinho.

A todos os colegas do Mestrado, em especial Marcos Paulo, Luciane e

Lara, pelo convívio e troca de experiências que contribuíram para meu

crescimento pessoal e profissional

Aos alunos de iniciação científica Dayane Aparecida Mesquita, Juliana

Baptista, Sérgio Bezerra e Aline Cervera, pelo agradável convívio e

empenho na execução deste e de outros trabalhos.

À técnica Elisa Santos, do laboratório de Patologia Bucal da FOUSP, por

sempre se mostrar disposta a ajudar.

Ao Prof. Dr. Marcelo Betti Mascaro e as técnicas do laboratório de

Neurociência do ICB-USP Sra. Joelcimar Martins da Silva e Sra. Amanda

Ribeiro de Oliveira pela disposição e atenção durante a utilização do criostato.

Aos amigos que mesmo distantes, sempre estiveram muito presentes, Marcelo

Cancherini, Mirela Cunha, Adriana Tavares e Dr. Mário Velloni.

Aos professores do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação por

todos os ensinamentos e agradável convívio.

Ao Prof. Dr. João Carlos Ferrari Correa, coordenador do Programa de

Mestrado em Ciências da Reabilitação da UNINOVE, pela oportunidade.

À secretária do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação da

UNINOVE, Srta. Juliana Ribeiro por toda ajuda e atenção.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela

bolsa concedida.

Page 7: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

6

Resumo

O objetivo deste estudo foi investigar os componentes da matriz

extracelular (MEC) durante a regeneração muscular esquelética. Foram

utilizados 60 ratos Wistar sendo que destes, foram organizados 4 grupos

avaliados 1, 7, 14 e 21 dias após a lesão (10 animais/grupo). Esses grupos

foram submetidos à criolesão no músculo tibial anterior do lado esquerdo e os

músculos contralaterais foram os controles. Foi realizado um grupo sham, que

recebeu apenas o procedimento cirúrgico e um grupo de animais controle que

não recebeu nenhuma intervenção. Os músculos foram submetidos à

colorações por hematoxilina & eosina e imuno-histoquímica para detecção de

colágeno tipo IV, MMP-2 e MMP-9. A atividade enzimática de MMPs foi

verificada pela zimografia. Os músculos controle mostraram morfologia normal,

o grupo sham exibiu leve infiltrado inflamatório. No grupo criolesionado foi

observado após 1 dia moderado infiltrado inflamatório e áreas de necrose.

Após 7 e 14 dias pode-se observar redução significativa do processo

inflamatório, ausência de necrose e presença de células musculares imaturas.

Aos 21 dias o músculo mostrou evidência de reparo completo. O colágeno IV

mostrou-se desorganizado por entre as fibras lesadas após 1 dia da criolesão e

se reorganizou gradualmente ao longo dos 21 dias. A imunoreatividade da

MMP-2 e MMP-9, assim como a atividade de MMP-2 se mostraram

relacionadas com a fase do reparo tecidual. Após 1 dia da injúria foi observado

aumento da imunomarcação da MMP-2 e MMP-9 e da atividade da MMP-2.

Conclui-se que, aumento e diminuição dos níveis de marcação e atividade de

MMPs estão relacionados com a degradação e o acúmulo de colágeno IV,

durante o remodelamento da MEC no músculo esquelético.

Palavras chaves: remodelamento muscular, matriz extracelular, colágeno IV,

MMP-2, MMP-9.

Page 8: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

7

Abstract

The aim of the present study was to investigate components of

extracellular matrix (ECM) during the skeletal muscle regeneration after

cryolesion in rats. Sixty adult Wistar rats were used. The animals were divided

into 4 groups: 1, 7, 14 and 21 days post-injury (10animls/group). One of the

tibialis anterior muscles was cryolesioned and the contralateral muscle was

used as the control. One sham group, in which animals received only the

surgical procedure and one group of control animals that do not receive any

intervention were included. The muscles were submitted to hematoxylin-eosin

and immunohistochemistry staining for collagen IV, MMP-2 and MMP-9

detection. The MMP enzymatic activity was verified by zymography. The control

muscles showed normal morphology and the sham group exhibited an

inflammatory infiltrated. After 1 day, the cryolesioned group exhibit moderate

inflammatory infiltrated and necrosis areas. At 7 and 14 days a significant

reduction of the inflammatory process, absence of necrosis and presence of

immature muscular cells could be observed. The injured group revealed total

remodeling after the 21 days. Collagen IV showed a disordered distribution

pattern after 1 day of injury and gradually it was reorganized during the 21 days

of the muscle regeneration. The MMP-2 and MMP-9 immunolabeling, as well,

the MMP-2 activity were related to the phase of skeletal muscle repair. After 1

day, an increase on MMP-2 and MMP-9 labeling and MMP-2 activity were

observed. In conclusion, the increase and decrease of immunolabeling and

activity of MMP were related to the break down and accumulation of collagen IV

during the skeletal muscle remodeling.

Keywords: muscle remodeling, extracellular matrix, collagen IV, MMP-2, MMP-

9

Page 9: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

8

Sumário

1. Contextualização.............................................................................12

2. Estudos............................................................................................15

2.1. Artigo 1- Remodelamento do músculo esquelético: papel da matriz

extracelular..............................................................................................15

2.2. Artigo 2- Distribuição do colágeno IV no remodelamento de músculo

esquelético de rato após criolesão..........................................................32

2.3. Artigo 3- Estudo da imunolocalização e atividade da MMP-2 e MMP-

9 durante o remodelamento muscular após injúria..........…………….…50

3. Considerações Finais.......................................................................70

Referências Bibliográficas...................................................................71

Anexos...................................................................................................74

Page 10: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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Lista de Ilustrações

Artigo 1

Figura 1. Fotomicrografias de marcação imuno-histoquímica para colágeno I, III

e IV em músculos normais........................................ .......................................26

Artigo 2

Figura 1 - Peso corporal médio (g) inicial e final ± desvio padrão dos animais

durante todos os períodos experimentais..........................................................40

Figura 2 - Peso médio (g) do músculo criolesionado e controle ± desvio padrão

dos animais durante todos os períodos experimentais......................................41

Figura 3. Fotomicrografias dos cortes histológicos de músculos controle e

criolesionados corados por hematoxilina & eosina............................................42

Figura 4. Fotomicrografias de marcação imuno-histoquímica para colágeno IV

em músculos controle e criolesionados............ ...............................................44

Artigo 3 Figura 1. Distribuição imuno-histoquímica da MMP-2 no músculo esquelético

em ratos …....................……………………………………………………….....…57

Figura 2. Análise imuno-histoquímica da MMP-9 no músculo esquelético. A

distribuição de MMP-9 foi semelhante à MMP-2.…………………………......…58

Figura 3. Análise da atividade das MMP-2 (62kDa) e MMP9 (82kDa) em extratos de músculo TA por zimografia em SDS-PAGE gelatina1%. ...............59

Figura 4. Concentração de MMP-2 no músculo TA apresentados como a média

e DP.…..………………………………………………………………………………60

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Lista de Abreviaturas e Símbolos

%- Percentual

µg- Microgramas

µm- Micrômetros

ABR- Affinity BioReagents

BSA- Albumina de soro bovina

CaCl2- Cloreto de cálcio

COBEA- Colégio Brasileiro de Experimentação animal

DAB- 3-31-diaminobenzidina

ECM- Extracellular matrix

HCl- Ácido clorídrico

HE- Hematoxilina-eosina

HGF- Fator de crescimento de hepatócitos

HPR- Enzima horseradish peroxidase

ICLAS- International Council of Laboratory Animal Science

ICTP- Concentração intersticial terminal de telopeptideos

IGF- Fator de crescimento insulina-símile

LSAB- Labeled streptavidinbiotin

MEC- Matriz extracelular

mg/mL- Miligrama por mililitro

Min- Minutos

mM- Milimolar

MMP- Metaloproteinase

MyoD- Fator miogênico

NaCl- Cloreto de sódio

NaN3- Azida Sódica

NIH- National Institutes of Health

oC- Graus Celsius

PBS- Tampão salina fosfato

pH- Potencial hidrogeniônico

RNAm- Ácido ribonucléico

s- Segundos

Page 12: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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SDS- Sodium dodecyl sulfate

TA- Tibial anterior

TIMP- Inibidor tecidual de MMPs (metalopeptidases);

TNF- Fator de necrose tumoral

TrisHCl- Tampão contendo Tris 10mM e NaCl (cloreto de sódio) 100mM

ZnCl2- Cloreto de zinco

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1. Contextualização

As lesões musculares, freqüentes dentro das práticas desportivas e

ambiente de trabalho, levam ao comprometimento de atividades ocupacionais e

de lazer1. Assim sendo, existe considerável interesse na regeneração do

músculo esquelético em função de várias situações que necessitam desta

como: transplantes, distrofias musculares, traumas despostivos entre outras2.

Os músculos esqueléticos são tecidos dinâmicos compostos por fibras

musculares e células satélites embebidas em uma matriz extracelular (MEC)

que exibem capacidade de se adaptar ou se modificar frente a diversos

estímulos3,4.

O processo de remodelamento muscular pode ser dividido em três fases

denominadas de destruição, reparo e remodelamento tecidual. Na primeira,

observa-se a formação de hematomas, necrose tecidual, degeneração e

resposta inflamatória celular. Na segunda nota-se fagocitose do tecido

degenerado, regeneração das fibras musculares, produção tecidual e

crescimento vascular. Na última fase denominada de remodelamento ocorrem

os processos de maturação das fibras regeneradas e reorganização tecidual5,6.

O remodelamento fisiológico ou patológico do músculo esquelético

depende, dentre outros fatores, da ação coordenada da degradação e síntese

de proteínas intracelulares e dos componentes da matriz extracelular. Portanto,

modificações nos músculos esqueléticos tais como aumento ou diminuição de

atividade contrátil, lesão muscular que gere inflamação ou atrofia promovem o

remodelamento da MEC. Esta por sua vez, representa um conglomerado de

substâncias com propriedades bioquímicas e biofísicas, que mantém a

integridade estrutural e individual das fibras musculares7. As interações entre

célula-célula e célula–MEC suprem as células com informações essenciais

para homeostase e para o controle da morfogênese, crescimento e

diferenciação 8,9.

As principais macromoléculas que compõem a MEC são representadas

por proteínas colagênicas (colágenos) e não-colagênicas (fibronectina,

tenascina, laminina), proteoglicanas, incluindo-se o ácido hialurônico, sulfato de

condroitina e sulfato de heparana e fosfolipídios7.

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13

Os principais colágenos identificados no músculo esquelético são os

tipos I e III no epimísio, perimísio e endomísio e os tipos IV e V na membrana

basal, em volta das fibras individuais do músculo, fibras de músculo liso de

vasos sangüíneos e células de Schwann7. A associação entre o aumento da

síntese de colágeno e os processos regenerativos que ocorrem no tecido

muscular após dano, principalmente os causados por exercício, tem sido

demonstrada na literatura10-19.

As metaloproteinases de matriz (MMPs) compreendem uma família de

endoproteases que degradam um ou vários componentes da MEC tais como

colágeno, elastina, laminina e proteoglicanos. As MMPs, portanto, estão

envolvidas no remodelamento da matriz extracelular em uma grande variedade

de fenômenos fisiológicos e patológicos nos diferentes tecidos dentre eles, no

músculo esquelético 9,20,21.

A MMP-2 e a MMP-9 parecem ter um papel mais importante na

adaptação do músculo esquelético a alterações de demanda contrátil ou em

resposta a injúria e atividade física. A ativação de MMP-2 e MMP-9 também

está envolvida em várias miopatias e alterações inflamatórias induzidas em

músculos esqueléticos 18,22-26.

Alguns modelos de estudo de remodelamento muscular frente a

diferentes exercícios físicos e a miotoxinas já estão bem estabelecidos na

literatura 26-29 e verificam as modificações do padrão dos diferentes tipos de

colágeno e expressão de MMPs .

O modelo de criolesão promove necrose em uma área delimitada do

músculo, consequentemente edema e reação inflamatória. Alguns trabalhos

estudaram o remodelamento do músculo frente à criolesão 28,30-32 entretanto,

estes não abordaram as características da MEC no remodelamento muscular.

Os estudos sobre as modificações da MEC no músculo esquelético, em

situações fisiológicas e patológicas, vêem sendo desenvolvidos para melhor

compreender o papel da cada proteína tecidual, mas, principalmente, para

desenvolver métodos de prevenção e reabilitação de lesões musculares;

seleção de tipo, carga e duração do exercício em treinamento físico e para

contribuir no desenvolvimento de novas terapias para doenças musculares

congênitas e inflamatórias. O melhor entendimento sobre a participação da

Page 15: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

14

MEC na adaptação tecidual frente aos diversos tipos de demanda torna-se um

ponto crucial para o estabelecimento das vias envolvidas no remodelamento do

músculo esquelético. Assim, o objetivo deste estudo foi investigar os

componentes da MEC, colágeno IV, MMP-2 e MMP-9, durante a regeneração

muscular esquelética em rato.

Page 16: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

15

2. Estudos

2.1. Artigo 1- Submetido para publicação no periódico Fisioterapia em

Movimento (Anexo 1).

Remodelamento do músculo esquelético: papel da matriz extracelular

Skeletal muscle remodeling: role of extracellular matrix

Vanessa Christina Santos Pavesi1, Raquel Agnelli Mesquita-Ferrari2, Dayane

Aparecida Mesquita3, Juliana Baptista4, Manoela Domingues Martins2.

1 Aluna de mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de

Julho e bolsista de Mestrado FAPESP;

2 Docentes do Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de

Julho – UNINOVE;

3 Aluna de Iniciação Científica do Curso de Fisioterapia da Universidade Nove

de Julho e bolsista de Iniciação Científica FAPESP;

4 Aluna de Iniciação Científica do Curso de Fisioterapia da Universidade Nove

de Julho e bolsista PIBIC/CNPq.

Endereço para contato: *Manoela Domingues Martins, Rua Demóstenes, 636

apto 11, Campo Belo, CEP 04614-010, São Paulo-SP, Brasil, 11-83156030 E-

mail: [email protected]

TÍTULO CONDENSADO: Matriz extracelular no remodelamento muscular

Page 17: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

16

Remodelamento do músculo esquelético: papel da matriz extracelular

Skeletal muscle remodeling: role of extracellular matrix

TÍTULO CONDENSADO: Matriz extracelular no remodelamento muscular

Resumo

A plasticidade ou remodelamento do músculo esquelético em resposta a

estímulos diferentes, tanto em situações fisiológicas como patológicas, tem

sido demonstrada em vários modelos experimentais e estudos clínicos. Este

processo depende de uma ação coordenada entre a degradação e síntese da

matriz extracelular (MEC) e, portanto, as alterações nos componentes da

matriz vêm sendo alvo de inúmeros trabalhos nos últimos anos. O objetivo do

presente estudo foi revisar a literatura sobre o papel dos diversos tipos de

colágeno, que são os principais componentes da MEC, das metaloproteinases

(MMPs) e dos inibidores de metaloproteinases (TIMPs) no processo de

remodelamento muscular esquelético.

Palavra-chave: Músculo esquelético; Matriz extracelular, Remodelamento

muscular, Colágeno, Metaloproteinases.

Abstract

The skeletal muscle remodeling in response to several stimuli in

physiological and pathological conditions have been demonstrated by different

experimental and clinical studies. This process depends on an interaction

between the degradation and synthesis of extracellular matrix. Therefore, the

modifications in the extracellular matrix components have been studied in last

years. The aim of this study was to revise the literature about collagen types

that are the main components of the MEC, metalloproteinases (MMPs) and

metalloproteinases inhibitors (TIMPs) during the skeletal muscle healing

process.

Keywords: Skeletal muscle, Extracellular matrix, Muscle remodeling, Collagen,

Metalloproteinases.

Page 18: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

17

Introdução

Os músculos esqueléticos representam cerca de 40 a 45% do peso

corpóreo total e são essenciais para o movimento do corpo, respiração e

manutenção da postura. Esse tecido é dinâmico e pode alterar suas

características fenotípicas, proporcionando uma melhor adaptação funcional

frente a estímulos variados. Sendo que, após o nascimento, a massa muscular

e o fenótipo são determinados, em parte, por influências e sinais ambientais

(1,2).

Existe considerável interesse na regeneração do músculo esquelético

em função de várias situações que necessitam desta como: reparo rápido de

lesões em atletas, transplantes, distrofias musculares, atrofias por desuso ou

permanência no espaço entre outras (2).

O remodelamento tecidual fisiológico ou patológico do músculo

esquelético depende da ação coordenada da degradação e síntese de

proteínas intracelulares e dos componentes da matriz extracelular (MEC). Esta

por sua vez, representa uma enorme e complexa rede de macromoléculas

compostas de várias proteínas versáteis e polissacarídeos que são secretados

localmente e montados em associação com a superfície celular que os produz.

As interações entre célula-célula e célula–MEC suprem as células com

informações essenciais para homeostase e para o controle da morfogênese,

funções tecido-específicas, migração celular, reparo e morte celular (3,4).

As variações nas quantidades relativas dos diversos tipos de

macromoléculas e o modo como são organizadas na MEC geram uma grande

diversidade de formas, cada uma adaptada às necessidades funcionais

particulares de cada tecido. Nos tecidos musculares a MEC circunda as fibras

musculares conferindo suporte e proteção e é importante na manutenção da

integridade funcional das fibras (5).

O objetivo principal do presente estudo foi revisar a literatura sobre o

papel dos diferentes componentes da MEC, das metaloproteinases (MMPs) e

inibidores de metaloproteinases (TIMPs) no processo de remodelamento

muscular esquelético.

1. Regeneração e Remodelamento do Músculo Esquelético

A lesão muscular é um fenômeno comum que pode ocorrer em função de

Page 19: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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exercícios físicos intensos, traumas, contusões, eletroestimulação entre outros

e envolve uma resposta inflamatória seguida de processo de cicatrização e

reparo tecidual. Este processo de remodelamento do músculo esquelético após

injúria é complexo e ocorre em várias etapas interconectadas que envolvem a

ativação de diferentes tipos de células, em especial as inflamatórias e as

células satélites, com a função de manter e preservar a estrutura e função do

tecido muscular (2,6).

O reparo muscular ocorre em quatro fases interdependentes:

degeneração, inflamação, regeneração e fibrose. As duas primeiras fases são

observadas nos primeiros dias após a agressão enquanto que, a regeneração

muscular ocorre por volta de 7 a 10 dias, com pico máximo na 2a semana

diminuindo na 3a semana. A formação de fibrose (escara) inicia-se entre a 2a

semana e 3a semana após injúria aumentando de tamanho com o passar do

tempo (2,6,7) .

Estudos demonstram que após a agressão muscular, ocorre dano ao

sarcoplasma ou reticulo sarcoplasmático levando a necrose das fibras

musculares e os fenômenos de regeneração muscular são iniciados pela

infiltração de neutrófilos, seguidos de fagocitose dos restos necróticos pelos

macrófagos que invadem a área danificada. As células inflamatórias também

auxiliam na formação de um novo tecido muscular por meio da secreção de

fatores quimiotáticos para outras células inflamatórias e produção de fatores de

crescimento que agem na ativação das células satélites (2,7).

Após o aumento da síntese e da liberação de mediadores químicos

como o IGF (Insulin-like Growth Factor) e HGF (Hepatocyte Growth Factor) e

fatores de transcrição como o MyoD, no local da agressão as células satélite

tornam-se ativadas (7,8). Após a ativação, as células satélites passam por uma

série de estágios que envolvem proliferação, diferenciação em mioblastos e

fusão as miofibras para reparar o dano muscular e/ou para facilitar o aumento

de tamanho do músculo (6). Esses fenômenos estão acompanhados do

aumento da síntese protéica e da expressão gênica no tecido muscular.

Assim como pode ocorrer em outros tecidos conjuntivos vascularizados,

o músculo quando agredido, pode ter ao final do processo inflamatório a

regeneração tecidual ou a fibrose (cicatrização da ferida). Alguns fatores são

determinantes para definir qual desfecho irá ocorrer tais como severidade da

Page 20: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

19

injúria, tipo de músculo lesado, intervenção realizada após a lesão, entre outros

fatores (2,9).

Pesquisas vêm sendo desenvolvidas na área de remodelamento tecidual

para desenvolvimento de novas terapias e tecnologias para manter as citocinas

e fatores de crescimentos importantes para a regeneração muscular atuantes,

por longo período de tempo, até que o reparo muscular ocorre por completo.

2. MEC no músculo esquelético

A MEC representa uma complexa rede de macromoléculas composta de

várias proteínas versáteis e polissacarídeos que são secretados localmente e

montados em associação com a superfície celular que os produz. As interações

entre célula-célula e célula–MEC suprem as células com informações

essenciais para homeostase, controle da morfogênese, funções tecido-

específicas, migração celular, reparo e morte celular (3,10,11).

As principais macromoléculas que compõem a matriz extracelular são

representadas por proteínas colagênicas (colágenos) e não-colagênicas

(fibronectina, tenascina, laminina, entre outras), proteoglicanas, incluindo-se o

ácido hialurônico, sulfato de condroitina e sulfato de heparana e fosfolipídios

(3,10,11).

No músculo esquelético, a MEC além de proporcionar a estruturação do

tecido possui um papel bioativo na regulação do comportamento celular,

influenciando assim o seu desenvolvimento e o remodelamento tecidual

fisiológico ou patológico (3,4,12).

A MEC circunda as fibras musculares conferindo suporte e proteção e é

importante na manutenção da integridade funcional das fibras (5). Assim, frente

a qualquer estímulo mecânico existe uma adaptação da MEC que procura

tornar o músculo mais resistente ao dano, para permitir uma transmissão

adequada da força durante a contração muscular (3).

Além disto, a MEC possui importante papel no remodelamento do tecido

muscular, pois este ocorre a partir da ação coordenada da degradação e

síntese de proteínas intracelulares e dos componentes da MEC (3,4,12).

No tecido muscular adulto, um grupo distinto de moléculas da MEC está

envolvido na manutenção da estrutura e função normal deste tecido. As

proteínas predominantes são a laminina-2 e 4 , fibronectina, tenascina,

Page 21: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

20

colágeno I, III e IV, e as proteoglicanas como o sulfato de dermatano e de

heparana. Nas situações onde é necessária a adaptação e regeneração do

músculo a expressão destas moléculas pode estar aumentada e alguns outros

tipos podem ser sintetizados localmente tais como laminina-8,-9,-10, -11 e

sindecano (13).

Os principais colágenos identificados no músculo esquelético são os

tipos I e III no epimísio, perimísio e endomísio (Figura 1 a-f) , sendo que os

tipos IV e V estão presentes na membrana basal, em volta das fibras

individuais do músculo, fibras de músculo liso de vasos sangüíneos e células

de Schwann (3). O tipo e a quantidade de colágeno variam de acordo com o

músculo avaliado devido ao papel que o tecido conjuntivo apresenta em cada

tipo de músculo (3,14). Assim como, nas situações de dano muscular gerado

por exercício tem sido observado aumento da síntese de colágeno durante a

regeneração (15).

O colágeno I é importante para a estabilização da arquitetura tecidual e

é chamado de colágeno intersticial uma vez que forma estruturas fibrilares no

espaço intercelular (Figura 1a,b,c). O colágeno tipo I representa a maior parte

do colágeno intramuscular variando entre 30% e 97% do colágeno total

(2,3,15).

Os colágenos II e III também são chamados de colágenos intersticiais,

uma vez que formam estruturas fibrilares no espaço intercelular. O colágeno III

é mais presente em tecido conjuntivo frouxo, possui uma importante função na

elasticidade do tecido (32).

O colágeno IV é exclusivo de membrana basal e é produzido pelas

células musculares sendo formado por moléculas de colágeno que não se

associam em fibrilas, mas prendem-se umas as outras pelas extremidades,

formando uma rede semelhante a uma tela de arame (Figura 1g,h,i). Ele se

associa as várias moléculas não fibrosas da matriz extracelular e forma uma

membrana contínua que compatimentaliza certos tecidos denominada de

membrana basal (3).

No músculo, o colágeno tipo IV é o principal componente da membrana

basal sendo responsável pela manutenção da estabilidade mecânica da fibra

muscular esquelética. Tem sido sugerido que o colágeno tipo IV tem um papel

crítico no arranjo dentro do tecido, embora ele sozinho constitua uma pequena

Page 22: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

21

parte do total da MEC. No entanto, a tolerância da membrana basal celular ao

―stress‖ pode no caso de lesões extensas, ser dependente da integridade do

componente colagenoso (16).

3. Remodelamento da matriz extracelular em músculo esquelético frente a

estímulos fisiológicos e patológicos

Modificações na composição da MEC em músculo esquelético humano

sob condições fisiológicas e patológicas têm sido demonstradas (3,14,17) e,

em especial, são analisados os colágenos e as MMPs.

No que diz respeito ao componente colagenoso da MEC, uma íntima

relação tem sido estabelecida entre aumento da síntese de colágeno e o

processo regenerativo que ocorre no músculo esquelético em resposta as

diferentes atividades físicas (3). Sendo que, o aumento da síntese de colágeno

após exercício pode representar uma adaptação fisiológica ou parte do

processo de reparo com ou sem dano tecidual evidente (18).

Estudos demonstram que o colágeno IV aumenta nos músculo de ratos

após longos períodos de treinamento (19), após contrações (20, 21), exercícios

agudos (14,15,22,23) e hipertrofia compensatória experimental (40). Assim

como, foi verificado o aumento dos níveis de RNAm de colágeno I e III no

músculo esquelético de ratos após corrida (18).

Koskinen et al.(14) estudaram o efeito do exercício intenso no

remodelamento da MEC do músculo. Estes autores mostraram que o dano

muscular causado pelo exercício agudo em animais ocasiona modificações na

concentração de colágeno IV intramuscular. Neste estudo foi observado que a

MMP-2, enzima que degrada o colágeno tipo IV, esteve aumentada nas fases

de dano muscular severo e o aumento de colágeno IV esteve associado à

regeneração da membrana basal da miofibrilas. TIMP-1, uma enzima que inibe

a atividade de MMP, parece estar ativada durante as fases iniciais do dano

tecidual enquanto que o inibidor TIMP-2 foi ativado nas fases tardias do dano

muscular.

Mackey et al. (21)avaliaram o efeito da contração excêntrica máxima no

remodelamento do colágeno em humanos. Os voluntários realizaram 100

contrações excêntricas máximas voluntárias de extensão do joelho. Foram

realizadas biópsias musculares antes, após 4 e 22 dias de exercício. Os

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22

autores observaram um aumento do colágeno tipo IV no endomísio após uma

única contração excêntrica máxima sugerindo um remodelamento da MEC.

Moore et al. (24) avaliaram o perfil do colágeno e de proteínas

miofibrilares após contração muscular máxima em posição de alongamento e

encurtamento muscular. Ambas as situações de contração máxima provocaram

aumento na síntese das proteínas miofibrilares, entretanto durante o

alongamento este aumento foi mais rápido e maior quando comparado a outra

situação podendo ocasionar hipertrofia muscular. A análise da síntese de

colágeno mostrou aumento desta proteína após contração máxima em ambas

as formas de contração.

Em contraste com o aumento muscular, durante o envelhecimento,

imobilização e denervação, ocorre um aumento na concentração da MEC, em

especial dos colágenos, no músculo (25,26,27). A imobilização de membros de

ratos leva a uma diminuição da atividade de biosíntese de colágeno (3,26,29)

evidenciando-se pela diminuição dos níveis de RNAm dos colágenos I, III e IV

após imobilização (17, 28) e diminuição da taxa de degradação do colágeno

(25,28) promovendo o acúmulo deste componente da MEC.

Metaloproteinases de Matriz (MMPs)

As metaloproteinases de matriz (MMPs) compreendem uma família de

pelo menos vinte enzimas (endoproteases) que degradam um ou vários

componentes da matriz extracelular, portanto, estão envolvidas no

remodelamento da matriz extracelular em situações fisiológicas e patológicas

(30, 31,32).

Com base em sua estrutura primária, organização, especificidade de

substrato e localização celular, as MMPs tem sido classificadas em 6

subfamilias maiores quem incluem as colagenases (MMP-1, MMP-8, MMP-13 e

MMP-18), gelatinases (MMP-2 e MMP-9), estromelisinas (MMP-3, MMP-10 e

MMP-11), MMPs tipo membrana (MMP-14 até MMP-17), e outras MMPs como

a matrilisina (MMP-7),e metaloeslastase (MMP-12) (33). O número de MMPs

descritas tem aumentado, embora o atual conhecimento sobre seus padrões de

expressão em vários tecidos permaneça incompleto (34).

As MMPs podem degradar os componentes da matriz extracelular sendo

que as colagenases (MMP-1 e MMP-8) iniciam a degradação do colágeno tipo

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23

I, colágeno tipo II e outras fibrilas colagênicas; as gelatinases (MMP-2 e MMP-

9) quebram o colágeno tipo IV e outros componentes da matriz extracelular

enquanto que a MMP-9 também é capaz de digerir colágeno tipo XI, and XIV

(5,26).

No músculo esquelético, as MMPs desempenham um importante papel

no desenvolvimento, homeostase e regeneração da matriz extracelular (MEC).

Alterações da exigência do músculo esquelético (sobrecarga ou redução da

atividade contrátil) promovem o remodelamento da MEC e consequentemente

ativam as MMPs específicas que garantirão este processo (35).

As alterações na atividade das MMPs podem também estar associadas

a quadros patológicos uma vez que a excessiva ou inapropriada expressão de

MMPs contribui para a patogênese de muitos processos teciduais destrutivos,

incluindo artrite reumatóide, miosite focal, esclerose múltipla e periodontite (36)

e falhas na atividade de MMPS podem ser notadas nas doenças fibróticas

devido a uma maior deposição de MEC (10,11).

Várias MMPs estão presentes no músculo, mas particularmente duas

possuem um importante papel na adaptação muscular frente a alteração de

demandas contráteis e em resposta a lesão, sendo estas a MMP-2 (também

conhecida como gelatinase A) e MMP-9 (gelatinase B). Ambas pertencem a um

grupo de endoproteinases de cálcio e zinco que degradam o colágeno tipo IV e

tem uma importante função na homeostase da MEC durante a morfogênese,

proliferação e apoptose celular em uma larga gama de tecidos (37).

Nos músculos esqueléticos normais os níveis de MMP-2 ativas são

relativamente baixos na MEC e a atividade da MMP-9 está ausente, sendo que

a expressão destas enzimas sofre regulação por citocinas e fatores de

crescimento (37). No entanto, o aumento de expressão de ambas MMPs, -2 e -

9, têm sido demonstrado em várias miopatias e em condições inflamatórias no

músculo esquelético (37,38). Além disso, o aumento da MMP-2 também tem

sido descrito em situações de proliferação e diferenciação de células

musculares, cicatrização após injúria e manutenção do tecido conjuntivo

circunjacente (35).

Outros estudos evidenciaram que a expressão de MMP-2 nos músculos

esqueléticos sofreu aumento após aplicação de estimulação elétrica crônica

Page 25: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

24

(39), após corrida e após exercícios de alta intensidade (35). Já a expressão de

MMP-9 aumentou após aumento crônico do fluxo sanguíneo (40), após corrida

(35) e em fases iniciais da resposta inflamatória do músculo frente à miotoxina

(41),

Rodolico et al. (36) estudaram o padrão imunoistoquímico das MMPs 2,

7 and 9 em miosite focal e compararam com polimiosite e dermatomiosite. Os

autores observaram que existe um aumento de imunoreatividade para MMP-9

nas células musculares em todas as miopatias e sugerem que a MMP-2 e

MMP-7 não estão implicadas na miosite focal, pois as amostras desta condição

não mostraram imunoreatividade para estas proteínas teciduais.

Reznick (42) avaliaram as MMPs após imobilização e verificaram por

meio de zimografia que a atividade da MMP-2 sofre aumento de expressão

durante as 4 semanas de imobilização. Com relação a MMP-9 também foi

possível observar uma aumento de expressão após esta imobilização e, além

disso, deve ser ressaltado o fato de que esta protease não foi detectada nos

animais controle, que não sofreram imobilização. De acordo com os autores, o

papel da MMP-2 e MMP-9 provavelmente seja diferente uma vez que a MMP-2

é secretada por vários tipos de células do tecido conjuntivo e pode degradar

vários colágenos intersticiais (I-V) e a MMP-9 é produzida nos músculos

principalmente pelas células inflamatórias e sua expressão está aumentada em

condições inflamatórias severas. Apesar de MMP-2 e MMP-9 terem os mesmos

substratos elas são expressas e moduladas por diferentes citocinas e fatores

de crescimento. Por exemplo, TNF (fator de necrose tumoral) secretado pelos

macrófagos regula positivamente mais a MMP-9 do que a MMP-2.

Inibidores de metaloproteinases (TIMPS)

Existem vários mecanismos regulatórios que influenciam na ação das

MMPs sobre a degradação da MEC. Dentre estes, os mais estudados são a

regulação da transcrição, ativação de MMPs latentes e inibição por TIMPs, uma

família de proteínas que inibem seletivamente e reversivelmente as MMPs (43).

Os TIMPs são derivados das células musculares e secretados na MEC e

se ligam as MMPs na forma de zimogênio regulando a formação e a maturação

da MMP-2 e MMP-9 (31). TIMP-2 é conhecido por se ligar mais efetivamente a

Page 26: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

25

MMP-2, enquanto que TIMP-1 possui maior afinidade pela MMP-9. Assim, os

níveis de atividade dos TIMPs mudam em paralelo com as alterações da

atividade da MMP-2 e MMP-9 (14,44).

Alterações no balanço entre MMPs e TIMPs podem causar alterações na

composição da MEC e afetar as funções celulares (45).

Curiosamente, TIMPs são as vezes ativados juntos com as MMPs em

resposta a atividade física indicando estimulação simultânea e inibição da

degradação. Em vez de considerar estas, como ações competitivas, é provável

que a atividade da MMP proceda a atividade dos TIMPs, e portanto, TIMPs

servem como reguladores da degradação terminal para garantir um limite de

degradação. Para sustentar mais que uma reação de integração das MMPs e

TIMPs existentes, TIMP-2 tem se mostrando importante para uma ativação de

pro-MMP-2 in vivo. TIMP-1 tem sido encontrada correlacionada com

concentração intersticial terminal de telepeptídeos (ICTP) em pacientes com

câncer indicando atividade em e controle da degradação de colágeno (3).

Embora MMPs e TIMPs sejam expressados no músculo, pouco é

conhecido sobre seu papel no desenvolvimento, remodelamento e função do

tecido músculo esquelético (46).

Considerações finais

Os estudos sobre as modificações da MEC no músculo esquelético, em

situações fisiológicas e patológicas, vêem sendo desenvolvidos para melhor

compreender o papel da cada proteína tecidual, mas, principalmente, para

desenvolver métodos de prevenção e reabilitação de lesões musculares;

seleção de tipo, carga e duração do exercício em treinamento físico e para

contribuir no desenvolvimento de novas terapias para doenças musculares

congênitas e inflamatórias. Desta forma, o melhor entendimento sobre a

participação de MMPs e respectivos TIMPs na adaptação tecidual frente aos

diversos tipos de demanda torna-se um ponto crucial para o estabelecimento

das vias que estariam envolvidas e que permitiriam o remodelamento do

músculo esquelético.

Page 27: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

26

Figura 1. Fotomicrografias de marcação imuno-histoquímica para colágeno I, III

e IV em músculos normais. O colágeno I (a,40x; b,100x; c,400x) e III (d,40x;

e,100x; f,400x) distribui-se de forma linear em torno do endomísio e perimísio.

O colágeno III mostra uma marcação mais intensa (d,e,f). O colágeno IV no

endomísio (g, 40x) e perimísio (h, 100X; i,400x) mostra marcação mais

delicada.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela

bolsa de IC (processo no 07/55439-6) e de mestrado (processo no 07/52927-0).

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela bolsa

de Iniciação Científica.

Col I

Col III

Col IV

Page 28: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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32

2.2. Artigo 2- Submetido para publicação no periódico Revista Brasileira

de Fisioterapia/Brazilian Journal of Physical Therapy (Anexo II).

Distribuição do colágeno IV no remodelamento de músculo esquelético

de rato após criolesão

Colagen IV distribution during rat skeletal muscle remodeling after

cryolesion

Dayane Aparecida Mesquita1, Vanessa Christina Santos Pavesi2, Raquel

Agnelli Mesquita-Ferrari3, Décio dos Santos Pinto Júnior4, Fábio Daumas

Nunes4, Manoela Domingues Martins3.

1 Aluna de Iniciação Científica do Curso de Fisioterapia da Universidade Nove

de Julho e bolsista de Iniciação Científica FAPESP;

2 Aluna de mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de

Julho e bolsista de Mestrado FAPESP;

3 Docentes do Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de

Julho – UNINOVE;

4 Professor Associado do Departamento de Estomatologia, Disciplina de

Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia da USP.

Endereço para contato: *Manoela Domingues Martins, Rua Demóstenes, 636

apto 11, Campo Belo, CEP 04614-010, São Paulo-SP, Brasil, 11-83156030 E-

mail: [email protected]

TÍTULO CONDENSADO: Colágeno IV no remodelamento muscular

Page 34: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

33

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi investigar a distribuição do colágeno IV

durante a regeneração muscular esquelética em modelo de criolesão em rato.

Foram utilizados 25 ratos da linhagem Wistar submetidos a criolesão no

músculo tibial anterior (TA) do lado esquerdo e o músculo contralateral foi o

controle. Os animais foram divididos aleatoriamente em 4 grupos, os quais

foram avaliados 1 dia, 7 dias, 14 dias e 21 dias após a lesão. Foi realizado um

grupo sham, animais controle, que receberam apenas o procedimento

cirúrgico. O peso corpóreo e dos músculos foram obtidos em todos os tempos

experimentais. Os músculos foram analisados pela coloração de H&E e o

colágeno IV pela técnica imuno-histoquímica. Histologicamente, os músculos

controle mostraram morfologia normal, o grupo sham exibiu leve infiltrado

inflamatório e células musculares com núcleo centralizado. No grupo

criolesionado foi observado após 1 dia moderado infiltrado inflamatório e áreas

de necrose. Após 7 dias pode-se observar redução significativa do processo

inflamatório, ausência de necrose e presença de células musculares imaturas.

Aos 21 dias o músculo mostrou evidência de reparo completo. O colágeno IV

mostrou-se desorganizado por entre as fibras lesadas no primeiro dia após a

criolesão e se reorganizou gradualmente durante as fases de remodelamento

muscular ao longo dos 21 dias. Conclui-se que existem modificações na

distribuição do colágeno IV ao longo do remodelamento muscular após

criolesão e que este componente da MEC leva em torno de 21 dias para se

organizar de forma semelhante aos músculos normais

Palavras chave: músculo esquelético, matriz extracelular, colágeno IV,

remodelamento muscular

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34

ABSTRACT

The aim of the present study was to investigate the distribution of

collagen IV during skeletal muscle regeneration after cryolesion in rats. Twenty-

five adult Wistar rats were used. One of the tibialis anterior muscles was

cryolesioned and the contralateral muscle was used as the control. The animals

were divided into 4 groups: 1, 7, 14 and 21 days post-injury. One sham group,

in which animals received only the surgical procedure was included and

analyzed after 7 days. Animals were sacrificed and the muscles were submitted

to hematoxylin-eosin and immunohistochemistry staining. Histologically, the

control muscles showed normal morphology and the sham group exhibited an

inflammatory infiltrated. After 1 day, the cryolesioned group exhibit moderate

inflammatory infiltrated and necrosis areas. At 7 days a significant reduction of

the inflammatory process, absence of necrosis and presence of immature

muscular cells could be observed. The injured group revealed total remodeling

after the 21 days. Collagen IV revealed a disordered pattern of distribution after

1 day post-injury and gradually it was reorganized during the 21 days of the

muscle regeneration. In conclusion, this study demonstrates that collagen IV

staining vary according to the phase of tissue repair after cryolesion. This

component of the extracellular matrix leads around 21 days to organize itself of

similar form to the normal muscles.

Key Words: skeletal muscle, extracellular matrix , collagen IV, muscle

remodeling

Page 36: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

35

INTRODUÇÃO

O músculo esquelético morfologicamente consiste de fibras musculares,

sendo estas, constituídas de miofibrilas e células satélites embebidas em uma

matriz extracelular (MEC), associados a uma rede de vasos sanguíneos e

nervos 1,8. Frente a estímulos fisiológicos e patológicos distintos, este tecido

possui capacidade de se adaptar, o que caracteriza a sua propriedade de

plasticidade 5,8.

O processo de remodelamento muscular é complexo, ocorre em várias

etapas interconectadas (necrose/degeneração, inflamação, reparo e fibrose)

que envolvem a ativação de diferentes tipos de células e de uma ação

coordenada entre a degradação e síntese da MEC com a função de

restabelecer a estrutura e função do tecido muscular 2,3,4,7,8,9,20,22,23.

No tecido muscular adulto, um grupo distinto de moléculas da MEC está

envolvido na manutenção da sua estrutura e função normal. As proteínas

predominantes são a laminina-2 e 4 , fibronectina, tenascina, colágeno I, III e

IV, e as proteoglicanas como o sulfato de dermatano e de heparana.

Modificações na composição da MEC em músculo esquelético sob condições

fisiológicas e patológicas têm sido demonstradas 9,11 e, em especial , são

analisados os colágenos e as metaloproteinases de matriz (MMPs).

Dentre os diversos tipos de colágenos que podem ser observdos no

músculo, o tipo IV, é o principal componente da membrana basal, sendo

responsável pela manutenção da estabilidade mecânica da fibra muscular

esquelética. Tem sido sugerido que o colágeno tipo IV tem um papel crítico no

arranjo dentro do tecido, embora ele sozinho constitua uma pequena parte do

total da MEC. No entanto, a tolerância da membrana basal celular ao estresse,

como no caso de lesões, serem dependente da integridade desta proteína 9.

Com o intuito de estudar a regeneração muscular e os recursos

terapêuticos utilizados na reabilitação de lesões musculares, vários modelos

experimentais em animais foram desenvolvidos10,11,16,17,19,21,25 tais como:

criolesão, miotoxina, contusão, eletroestimulação, exercício físico,

desnervação, desvascularização que apresentam características próprias de

resposta tecidual. Entretanto, existem lacunas no conhecimento no que diz

respeito a distribuição da MEC durante o remodelamento muscular. Com base

no exposto, o presente estudo teve como objetivo analisar o padrão de

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distribuição do colágeno IV, a curto e longo prazo, durante o remodelamento do

músculo tibial anterior de rato submetido à criolesão.

MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia utilizada neste estudo foi elaborada atendendo às

resoluções 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e aprovada pelo Comitê de

Ética (protocolo ANO13/2007-Anexo III). O protocolo experimental utilizado

neste estudo segue os princípios de ética e experimentação animal, elaborados

pelo COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal), entidade filiada ao

International Council of Laboratory Animal Science (ICLAS) com base nas

normas internacionais, que visam o aprimoramento de condutas na

experimentação animal baseando-se em três princípios básicos: sensibilidade,

bom senso e boa ciência.

Animais

Foram utilizados 25 ratos (Rattus norvegicus albinus, Rodentia,

Mammalia da linhagem Wistar) machos, com 8 semanas de vida, com peso

médio inicial de 234g± 37,99g mantidos no biotério da UNINOVE- Unidade

Vergueiro. Os animais foram mantidos em caixas plásticas apropriadas,

temperatura ambiente (25°C) e luminosidade controlados com ciclo de 12 horas

sendo que os animais possuíram comida e água ad libitum.

Em todos os animais utilizados neste estudo um músculo tibial anterior

(TA) foi criolesionado (pata esquerda) e o TA contralateral (pata direita) foi

usado como controle. Os animais foram divididos randomicamente em cinco

grupos sendo classificados de acordo com os períodos de avaliação após a

lesão em: Grupo 1dia (n=5), Grupo 7 (n=5), Grupo 14 dias (n=5) e Grupo 21

dias (n=5) e Grupo sham 7 dias (n=5) que foram animais controle, que

receberam apenas o procedimento cirúrgico (incisão e exposição do TA), sem

criolesão. Os grupo 1 e 7 dias são considerados períodos de avaliação de

remodelamento muscular de curto prazo, enquanto que após 14 e 21 dias de

agressão muscular pode-se considerar avaliação de longo prazo.

Page 38: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

37

Modelo de Criolesão

Os procedimentos cirúrgicos foram realizados após os animais terem

sido anestesiados com injeção intramuscular de anestésico geral injetável a

base de Ketamina (Dopalen®) e de Xilazina (Anasedan®). Para aplicação da

anestesia intramuscular foram utilizadas seringas da marca BD 100 Unidades

com Agulha BD Ultra-Fine®, modelo insulina com a agulha Ultra-Fine®

(regular), comprimento: 12,7 mm, calibre: 0,33 mm e bisel trifacetado. Cada

animal foi anestesiado utilizando-se uma mistura de ketamina (0,1 ml/100

gramas do animal) e de xylazina (0,1 ml/100 gramas do animal). O modelo de

criolesão que foi utilizado está de acordo com o descrito por Miyabara et al.16 .

A pele que recobre o músculo da pata esquerda foi tricotomizada, limpa, a

seguir foi realizada uma incisão transversal e afastamento da fáscia que o

recobre.

A criolesão foi realizada por meio de duas aplicações (duração de 10

segundos cada), utilizando bastão metálico de extremidade plana, previamente

resfriado em nitrogênio líquido, diretamente na musculatura. O bastão metálico

a ser utilizado no músculo TA foi de 0.4 x 1 cm. Após o procedimento foi

realizada a sutura das áreas incisadas utilizando-se fio de poliamida (6,0) e os

animais foram mantidos em gaiolas com aquecimento para prevenir a

hipotermia.

O modelo de lesão muscular por meio de criolesão foi o escolhido para

este estudo devido ao fato deste, ser um modelo no qual se consegue executar

uma injúria na superfície ventral do músculo, com características semelhantes,

de forma limpa, causando menor variabilidade na severidade da lesão18.

Os animais foram pesados antes da realização da lesão e nos dias de

sacrifício de cada grupo. Os animais foram sacrificados com overdose de

anestésico.

Técnica histológica

Após o sacrifício dos animais, os músculos TA (controle e tratado) foram

cuidadosamente dissecados, divididos em dois fragmentos, proximal e distal,

imediatamente resfriados em isopentano por 10 segundos e congelados a

seguir em nitrogênio líquido. Os fragmentos musculares foram posicionados de

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modo a fornecer, durante a microtomia cortes transversais. Esses materiais

foram armazenados em freezer -70º C.

Cortes seriados de 10 μm foram obtidos em criostato, à temperatura de

−20°C, coletados em lâminas de vidro silanizadas e submergidos em acetona e

secos à temperatura ambiente por 10 minutos em cada etapa.

Para análise morfológica utilizou-se coloração com Hematoxilina e

Eosina (HE) e os cortes histológicos foram avaliados por microscopia de luz

(microscópio Axioplan 2 Zeiss).

Os critérios morfológicos utilizados para avaliar as etapas do

remodelamento tecidual foram a presença e o tipo de infiltrado inflamatório,

edema, necrose, fibras com núcleos centralizados e fibras com nucléolos

proeminentes.

Técnica imuno-histoquímica

Com o intuito de avaliar a imunomarcação do colágeno IV, secções

histológicas foram obtidas e as lâminas passaram pelo procedimento de

bloqueio da peroxidase endógena que consistiu em banhos de: (1) 15min em

solução de metanol 50%; (2) lavagem em água destilada; (3) imersão em

tampão fosfato (PBS1X) por 10 min; (4) imersão em tampão PBS1X / BSA 2%

por 20 e (5) imersão em tampão PBS 1X por 10 minutos.

Após as etapas descritas, as lâminas foram incubadas na presença de

anticorpo primário anti-colágeno IV (Dako, anti-mouse, lote MO785) diluído

1:50 em solução de PBS1X/ BSA por 1 hora. Ao término do período de

incubação, as lâminas foram lavadas com tampão PBS1X por 10 min e

incubadas com anticorpo secundário conjugado a peroxidase HRP do ―Kit

DakoCytomation LSAB plus System HRP‖ por 30 min. Ao final desta incubação,

foi realizada a lavagem novamente com tampão PBS1X por 10 min e

incubação com o anticorpo terciário (deste mesmo kit) por 30min. Retirado o

anticorpo terciário, as lâminas passaram por uma lavagem final com PBS 1X

seguiu-se com o procedimento de detecção. A detecção consistiu de incubação

com solução cromógena, contendo 0,03% de 3-31-diaminobenzidina (tabletes

DAB, Novocastra) em tampão Tris-Hcl 0,05M, pH 7,4 e adicionado peróxido de

hidrogênio a 0,3%. Após a revelação, foi realizada a contra-coloração das

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lâminas com solução de hematoxilina de Mayer, durante 10 minutos, seguida

de lavagem em água corrente por 10 minutos e passagem em água destilada.

A seguir as lâminas passaram pelo processo de desidratação em cadeia

de concentração ascendentes de etanol (etanol 50% a etanol absoluto),

diafanização em xilol e, finalmente, a montagem em meio sintético (Erv-Mount,

Erviegas).

Todas as reações foram acompanhadas de controles positivos. No

controle negativo os anticorpos primários foram substituídos por albumina

sérica bovina (BSA) a 1% diluída em tampão TRIS-HCL, pH 7,4.

Análise estatística

Na análise do peso dos músculos e dos animais os dados obtidos foram

de peso inicial e peso no sacrifício; peso de músculo normal e peso de músculo

criolesionado, medidos em diversos momentos (1, 7, 14 e 21 dias). Para a

análise estatística foi adotado um modelo inteiramente casualizado

considerando 5 momentos com 5 repetições. Os dados não apresentavam

distribuição normal. Neste caso, foram usadas as transformações recíprocas

quadráticas para peso inicial e no sacrifício bem como, logarítmica para os

músculos criolesionados e recíproca para os músculos controle.

Na análise para peso dos animais inicial e no sacrifício os dados

apresentaram distribuição normal e foi feita uma análise da variância Anova

com aplicação do teste F e atribuída significância de 5% (p≤0.05).

RESULTADOS

Peso dos animais e peso dos músculos

Durante todo o período experimental, os animais apresentaram aspecto

saudável, sem manifestação de distúrbios locomotores. A análise estatística

do peso inicial dos animais revelou que o p-valor obtido pelo teste F foi maior

que 5%, mostrando que o peso inicial dos animais para os diversos momentos

não difere significativamente, ou seja, os pesos iniciais podem ser

considerados homogêneos. Entretanto, quando analisados os resultados do

peso dos animais após o sacrifício o p-valor do teste F foi menor que 5%,

indicando que existe diferença entre os momentos para o peso no sacrifício.

Para verificar em quais momentos os pesos diferiam, foi feito um teste de

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40

Tukey para comparações múltiplas. Os resultados mostraram que os animais

do dia 1 não apresentaram diferença de peso no sacrifício em relação aos

animais do dia 7 e sham. Entretanto, quando comparado aos animais após 14

e 21 dias observou-se que os animais ganharam peso com o passar do tempo

de forma estatisticamente significante. A Figura 1 mostra o peso corporal médio

inicial e final dos animais nos diferentes períodos de tempo analisados.

Figura 1 - Peso corporal médio (g) inicial e final ± desvio padrão dos

animais durante todos os períodos experimentais.

A análise do peso dos músculos controles ao longo dos períodos

experimentais mostrou que o p-valor do teste F foi maior que 5%, indicando

que não existe diferença entre os momentos. Entretanto, o peso dos músculos

criolesionados variou de forma a apresentar diferença estatisticamente

significante (p≤ 0.05) indicando que existe diferença entre os grupos analisados

de acordo com o tempo após lesão. Para verificar em quais momentos os

pesos diferiram, foi feito um teste de Tukey para comparações múltiplas. Foi

observado que os animais após 7 dias, tanto com criolesão ou sem (sham)

mostraram perda de peso muscular com diferença estatisticamente significante

entre os demais períodos (Figura 2).

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Figura 2 - Peso médio (g) do músculo criolesionado e controle ± desvio

padrão dos animais durante todos os períodos experimentais.

Análise morfológica

O resultado da análise histopatológica dos músculos controle mostrou

que os mesmo exibem morfologia normal, com presença de fibras com núcleo

periférico, de formato poligonal e sem sinais de lesão ou processo inflamatório

(Figura 3a).

O grupo sham apresentou leve infiltrado inflamatório predominantemente

mononuclear situados em região superficial (Figura 3b).

Na análise de curto prazo, ou seja, 1 e 7 dias após injúria exibiram

processo inflamatório e degeneração de fibras musculares de forma mais

intensa do que os músculos avaliados em longo prazo, 14 e 21 dias, que

mostraram reorganização das fibras musculares e discreto processo

inflamatório residual.

No grupo criolesionado após 1 dia foi observado intenso edema entre as

fibras musculares (Figura 3c), moderado infiltrado inflamatório com neutrófilos e

macrófagos dispersos por entre as fibras de aspecto normal e áreas de

necrose(seta) caracterizadas pelo rompimento e desorganização das fibras

musculares .

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Após 7 dias pode-se observar redução do processo inflamatório (Figura

3d), ausência de necrose e presença de células com núcleo centralizado e

fibras cortadas (separadas) indicando renovação tecidual. Formação de vasos

novos (angiogênese) entre as novas fibras pode ser evidenciada de forma

exuberante nesta fase.

Após 14 dias, apenas algumas células musculares com núcleo

centralizado e fibras separadas foram notadas. Não foram evidenciadas células

inflamatórias após este período (Figura 3e). Aos 21 dias o músculo mostrou

evidência de reparo (regeneração) completa morfologicamente (Figura 3f).

Figura 3. Fotomigrafias dos cortes histológicos de músculos controle e

criolesionados corados por hematoxilina & eosina. Músculo controle exibindo morfologia normal (A, 400x). Grupo sham exibindo processo inflamatório na região superficial do (B, 100x). A área criolesionada após 1 dia

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mostrando edema intercelular, necrose das células musculares (seta) e infiltração de neutrófilos (*) (C, 400x). Após 7 dias nota-se manutenção do edema, diminuição do infiltrado inflamatório e fibras regeneradas imaturas(setas) (D, 100x). Em longo prazo nota-se restabelecimento da arquitetura muscular aos 14 dias, diminuição do edema e células musculares regeneradas pequenas (E, 400x). Aos 21 dias observou-se ausência de edema e de infiltrado inflamatório, células musculares maiores, de aspecto poligonal e com maior grau de maturação. Apenas algumas células exibiam núcleo ainda não totalmente disposto na periferia (F, 400x).

Análise imuno-histoquímica

Na análise imuno-histoquímica dos músculos normais (controle), em

todos os períodos experimentais, foi observado que o colágeno IV esteve

presente como uma linha tênue envolvendo as fibras musculares (endomísio) e

com marcação mais abundante no perimísio (Figura 4 a,b,c) porém houve

alteração na intensidade desta marcação, tanto no endomísio quanto no

perimísio, dependendo do estágio (período) de regeneração muscular.

Após 1 dia de injúria pode-se observar uma modificação no padrão de

marcação e distribuição do colágeno IV tanto no perimíso como no endomísio

(Figura 4 d). A imunomarcação mostra um colágeno IV mais difuso por entre as

células musculares lesadas e em algumas células com nítido rompimento de

sarcolema evidencia-se marcação intra-citoplasmática desta proteína (Figura 4

e,f)

Aos 7 e 14 dias o colágeno IV mostrou uma marcação delimitando as

fibras musculares jovens, com núcleo centralizado entretanto, em áreas focais

onde ainda não houve a fusão completa dos mioblastos, o colágeno IV

encontra-se difuso, disperso na MEC em reorganização (Figura 4 g, h, i). Foi

evidenciada marcação mais intensa para o colágeno IV nos músculos

criolesionados após 14 dias em comparação ao controle e demais períodos

analisados (Figura 4 j, k, l).

Aos 21 dias pós-agressão verificou-se que o padrão de marcação do

colágeno IV foi semelhante ao do músculo controle, mesmo havendo algumas

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Figura 4.Distribuição do colágeno IV no remodelamento do músculo tibial anterior de rato. No músculo controle nota-se linha tênue de marcação do

colágeno IV no endomísio (*) (a, 40x; b, 100X; c,400x) e perimísio (seta)

(a,40x). Após 1 dia de criolesão nota-se o colágeno IV ainda delimitando algumas células lesadas (seta), espalhado no endomísio (d, 40x; e, 100x) e disposto intracelularmente quando há rompimento evidente do sarcolema (*) (f, 400x). Após 7 (g, 40x; h, 100x; i,400x) e 14 dias (j, 40x; k, 100x; l,400x)o colágeno IV em áreas está difuso de permeio as células musculares imaturas e em áreas delimita o sarcolema de células musculares regeneradas pequenas, mas com núcleos periféricos (setas). Aos 21 dias nota-se padrão de

células apresentando aspecto morfológico imaturo, com núcleo centralizado

(setas) (Figura 4 m, n, o).

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normalidade na distribuição do colágeno IV no perimísio e endomísio (m, 40x; n, 100x; o, 400x).

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo mostram que o trauma agudo, por meio de

criolesão em animais, tem impacto importante na distribuição do colágeno IV

nas diferentes etapas do remodelamento muscular. Evidenciou-se que mesmo

havendo colágeno IV presente no tecido, este necessita cerca de 21 dias para

se organizar de forma semelhante ao músculo não agredido, tanto no

endomísio quanto no perimísio.

No que diz respeito à análise morfológica dos músculos após a criolesão

nosso resultados estão de acordo com os descritos por Miyabara et al., que

identificaram regeneração completa após 3 semanas de injúria. Entretanto,

nenhum estudo do arranjo da MEC durante o remodelamento após criolesão foi

encontrado na literatura. Os trabalhos que analisam colágeno IV utilizam

metodologias de treinamento prolongado13, contrações12,14, exercícios agudos

6,10,11,17,21,25, hipertrofia compensatória experimental24 onde os resultados

demonstram um aumento na quantidade desta proteína tecidual. Essas

pesquisas avaliam a relação entre a agressão muscular e a quantidade de

colágeno total ou de algum subtipo de colágeno. Esta forma de análise é

importante, porém o conhecimento da localização e da distribuição do colágeno

é fundamental, pois a presença de colágeno IV disperso pela MEC sem a

organização não garante o suporte mecânico adequado às fibras musculares.

Os achados da análise de curto prazo, após 1 dia de injúria, mostram

que neste modelo de injúria há lesão muscular acompanhada de rompimento

da membrana plasmática da célula muscular, mionecrose, edema intercelular,

inflamação acompanhado da desorganização da estrutura da matriz de

colágeno. Neste momento o colágeno IV é observado delimitando algumas

células musculares, entretanto, devido ao rompimento da membrana

plasmática essa proteína passa a ocupar o espaço intra-citoplasmático. Após

14 dias, um dos períodos de avaliação de longo prazo, a área criolesionada

mostrou restabelecimento das características morfológicas normais sendo que,

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algumas células musculares ainda se encontram imaturas. Ao

correlacionarmos com os achados da distribuição do colágeno IV fica

evidenciado que a MEC ainda não estava madura uma vez que o colágeno IV

apresentou-se disperso por entre as fibras musculares de maneira difusa e

apenas após a organização mais poligonal das células musculares o colágeno

IV se posicionou delimitando a célula como componente da membrana basal

reorganizada. Apenas aos 21 dias pode-se verificar a maturação morfológica e

a distribuição do colágeno IV de forma semelhante ao tecido muscular normal,

tanto no endomísio quanto no perimísio.

Nossos achados diferem dos observados por Koskinen et al.12 no qual

contrações excêntricas não levaram a alteração da imunomarcação do

colágeno tipo I, III e IV no músculo TA de ratos. Esses autores verificaram que

ambos os tipos de colágeno estavam localizados tanto nas fibras aumentadas,

necróticas e regeneradas, observados após 6h, 2 dias e 7 dias, de forma

similar ao músculo não lesionado. Essa diferença de distribuição do colágeno

pode estar relacionada ao fato do dano celular no modelo de criolesão ser

maior do que o observado no modelo de injúria muscular por contração e

corrobora com a afirmação de Koskinen et al.11de que alterações na

concentração de colágeno IV dependem da severidade do dano muscular.

A MEC do músculo possui um papel importante na transmissão lateral

da força produzida nas fibras musculares. Esta transmissão diminui a agressão

causada pela contração conseqüentemente, mudança na composição da MEC

pode conduzir às mudanças na habilidade do músculo de transmitir a força e o

limite entre contração/dano muscular. Dentre as proteínas da MEC, o colágeno

IV, apesar de estar em pequena quantidade, tem sido considerado o

componente da MEC responsável pela estabilização mecânica das fibras

musculares e organização das células musculares no tecido. Assim sendo, a

morfologia tecidual e a resistência tecidual parecem dependentes da

integridade da membrana basal e do seu componente colagenoso9. Os

presentes achados permitiram verificar que a integridade da MEC,

especialmente com relação a distribuição adequada do colágeno IV, foi

alcançada apenas fases mais tardias do processo de regeneração após

criolesão e, desta forma, antes deste período o músculo não possui a

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capacidade total de transmissão de forças geradas por contrações musculares

tornando-se mais vulnerável a uma nova lesão.

Os resultados do presente estudo mostram que uma lesão local pode ter

influência no peso muscular, neste caso observado por meio da diminuição da

massa muscular quando comparado os animais submetidos à criolesão com os

controles. Esses achados podem ser decorrentes da diminuição do número de

células musculares devido à necrose tecidual que foram substituídas por

edema inflamatório. No que diz respeito ao peso corpóreo dos animais não

houve alteração do ganho de peso ao longo dos 21 dias mostrando que este

modelo de agressão muscular não afeta os hábitos alimentares e de

locomoção dos animais. Ambos os resultados corroboram os observados por

Miyabara et al.16 .

Conclui-se que existem modificações na distribuição do colágeno IV ao

longo do remodelamento muscular após criolesão e que este componente da

MEC leva em torno de 21 dias para se organizar de forma semelhante aos

músculos normais. Estes dados são importantes para que condutas

reabilitadoras sejam aplicadas de forma a não gerar maior dano tecidual e

possam propiciar um remodelamento adequado da MEC, restabelecendo a

integridade morfológica e funcional do músculo afetado.

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Page 51: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

50

2.3. Artigo 3- Submetido para publicação no periódico European Journal

Journal of Applied Physiology (Anexo IV).

Estudo da imunolocalização e atividade da MMP-2 e MMP-9 durante o

remodelamento do músculo esquelético após injúria

V. C. S. Pavesi · R.A.Mesquita-Ferrari · S.K.Bussadori · F.D.Nunes ·

K.P.S.Fernandes · D.A.Biasotto-Gonzalez · M.D.Martins.

V. C. S. Pavesi · R.A.Mesquita-Ferrari · S.K.Bussadori · K.P.S.Fernandes ·

D.A.Biasotto-Gonzalez · M.D.Martins, Mestrado em Ciências da Reabilitação,

Universidade Nove de Julho- UNINOVE, São Paulo, Brazil.

F.D.Nunes, Departamento de Estomatologia, Disciplina de Patologia Bucal,

Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil.

Autor Correspondente:

Manoela Domingues Martins

Rua: Demóstenes, 636 apto.11

CEP 04614-013

Campo Belo São Paulo SP

Brazil

Phone/FAX: 11-55425422

[email protected]

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51

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi investigar a imunomarcação e

atividade MMP-2 e MMP-9 durante o reparo muscular após criolesão. Sessenta

ratos Wistar adultos foram usados. O músculo tibial anterior esquerdo foi

criolesionado e o músculo contralateral foi usado como controle. Os animais

foram divididos em 6 grupos: 1, 7, 14 e 21 dias pós-lesão, grupos sham e

controle. Os animais foram sacrificados, foram realizados cortes do tecido que

foram coradas por hematoxilina-eosina e submetidos a imunomarcação, outras

amostras foram submetidas à análise zimografica. O grupo injuriado revelou

total remodelamento tecidual após 21 dias. A distribuição e imunomarcação

das MMP-2 e MMP-9 apresentaram perfil semelhante ao longo de todo o

período estudado. A análise imuno-histoquímica revelou um aumento na

marcação das MMPs após 1 dia, seguido por uma redução de 7 e 14 dias e

aumento 21 dias após a criolesão. A zimografia mostrou uma maior atividade

da MMP-2, depois de 1 dia da criolesão e uma diminuição após 7 dias. Após

14 e 21 dias, a MMP-2 níveis foram semelhantes ao grupo controle. A atividade

da MMP-9 foi detectada, mas foi em pequena quantidade em todos os grupos.

Em conclusão, o presente estudo demonstra que a MMP-2 e MMP-9 a

marcação e a atividade da MMP-2 varia de acordo com a fase de reparo

tecidual, indicando um papel diferente das MMPs musculares em todo o

processo de reparação.

Palavras-chave: Matrix metaloproteinases (MMPs), músculo esquelético,

MMP-2, MMP-9; remodelamento; criolesão.

INTRODUÇÃO

Músculo esquelético é um tecido dinâmico que tem um elevado grau de

plasticidade funcional e estrutural em resposta à atividade contrátil, a danos

diretos (por exemplo, lacerações, contusões, estiramentos) ou a danos

indiretos (por exemplo, isquemia, disfunção neurológica) (Huard et al. 2002;

Cossu e Biressi 2005; Shi e Garry 2006). Muitos modelos têm sido propostos

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para a investigar os mecanismos de regeneração do músculo esquelético,

incluindo esmagamento, congelamento, injúrias químicas ou por veneno

(d'Albis et al. 1988; Garry et al. 1997; Cornelison et al. 2004, Durigan et al.

2008 ).

O modelo de criolesão tem sido eficaz na indução da lesão e posterior

regeneração em uma área bem delimitada do ventre muscular e oferece uma

ferida limpa e fácil reprodutibilidade (Irintchev et al. 2002; Miyabara et al. 2005).

Em todos os modelos, o processo de neoformação muscular exige céluas

quiescentes mononucleadas precursoras de fibras musculares (mioblastos) ao

tornar-se ativado, proliferam, diferenciam e se fundem para formar células

musculares multinucleadas jovens, conhecida como miotubos. Estes miotubos,

em seguida, são submetidos a uma maior diferenciação e maturação de forma

a se tornarem fibras musculares totalmente funcionais (Grounds et al 2002;

Huard et al. 2002; Cossu e Biressi 2005; Shi e Garry 2006). Além disso, novas

exigências no músculo esquelético promovem o remodelamento da matriz

extracelular (MEC), que prevê o apoio estrutural e de proteção, e é importante

na manutenção da integridade funcional das fibras (Birkedal-Hansen et al.1993;

Kjaer 2004; Carmeli et al. 2004).

O remodelamento da MEC do músculo em condições fisiológicas e

patológicas é principalmente realizada pelas metaloproteinases de matriz

(MMPs), que são uma família de enzimas zinco-dependentes que têm a

capacidade de regular a composição célula-matriz (Matrisian 1992; Kjaer 2004;

Carmeli et al. 2004). MMPs são classificados em seis grandes subfamílias com

base em suas estruturas primárias, organização do domínio, especificidade do

substrato e localização na célula. Estas subfamílias são colagenases (MMP-1,

MMP-8, MMP-13, e MMP-18), gelatinases (MMP-2 e MMP-9), estromelisinas

(MMP-3, MMP-10, e MMP-11), MMPs do tipo membrana (MMP-14 e MMP-17),

e outros, tais como matrilisinas MMPs (MMP-7) e metaloelastase (MMP-12)

(Nagase e Woessner 1999; Carmeli et al. 2004).

No músculo esquelético, MMP-2 (também conhecida como gelatinase A)

e MMP-9 (também conhecida como gelatinase B) mostraram-se envolvidos em

processo de resposta à lesão, bem como em miopática e alterações induzidas

por inflamação (Choi & Dalakas, 2000 ; Koskinen et al. 2000; Kieseier et al.

2001, Durigan et al. 2008). Estas gelatinases principalmente quebram

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colágeno tipo IV e outros compostos MEC. Embora haja certa preferência para

as diferentes MMPs no que diz respeito aos tipos de colágeno, a especificidade

de certos tipos de MMPs em relação um determinado colágeno pode ser menor

do que se pensava anteriormente (Kjaer 2004).

A expressão de MMP-2 e MMP-9 no músculo esquelético, foi encontrada

aumentada em diferentes situações patológicas (Kieseier et al. 1999; Haas et

al. 2000, Van Gieson & Skalak 2001, Bani et al. 2008; Brown e Hudlicka 2003,

Durigan et al. 2008). No entanto, a sua participação no remodelamento do

músculo esquelético, especialmente em resposta a criolesão, tem sido pouco

investigada . Além disso, a maioria dos estudos simplesmente observaram a

atividade destas proteínas e não mostraram sua localização específica.

Imunolocalização é importante para determinar a relação entre celulares e

componentes da MEC durante o processo de remodelamento.

Sabendo que a compreensão das mudanças patológicas no músculo

esquelético são essenciais para a concepção de medidas terapêuticas

eficazes, o objetivo do presente estudo foi avaliar a imunolocalização e da

atividade de MMP-2 e MMP-9 na MEC durante remodelamento do músculo

esquelético após lesão .

MATERIAIS E MÉTODOS

Sessenta ratos machos (Rattus novegicus albinus, Rodentia mammalia -

linhagem Wistar) pesando 250 entre 300 g foram utilizados neste estudo. Os

animais foram mantidos sob condições constante de temperatura ambiente (22

◦ C), umidade (40%), com ciclo 12/12 h dia-noite e alimentados antes e durante

o período experimental com ração sólida e água ad libitum. Os protocolos

experimentais utilizados neste estudo estão, em conformidade com os

princípios de experimentação animal formulados pelo Colégio Brasileiro de

Experimentação Animal (COBEA) e foram aprovados pelo Comitê de Ética da

Universidade Nove de Julho.

Em todos os animais, o músculo do tibial anterior (TA) foi criolesionado

(perna esquerda) e o contralateral TA (perna direita) foi utilizado como controle.

Os animais foram divididos aleatoriamente em seis grupos (10 animais / grupo).

Quatro grupos foram divididos de acordo com o período analisado: 1, 7, 14 e

21 dias após a lesão. Outros grupos denominados grupos sham e controle

Page 55: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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foram incluídos. O grupo Sham foi composto por animais que foram submetidos

ao procedimento cirúrgico, porém não sofreram criolesão e foram analisados

após 7 dias. O grupo controle foi representado por animais sem qualquer tipo

de manipulação dos tecidos.

Os procedimentos cirúrgicos foram realizados sob a administração da

ketamina 1mL/kg de 1% HCL (Dopalen, Vetbrands, São Paulo) e xilazina 2%

(Anasedan, Vetbrands, São Paulo, Brasil). Exposição cirúrgica do músculo TA

e criolesão foram realizadas conforme descrito por Miyabara et al. (2005) e

constou de dois ciclos de criolesão do músculo in situ. Congelamento foi

realizado mediante a aplicação de uma peça de aço (0,4 x 1 cm) previamente

resfriado em nitrogênio líquido na superfície do músculo e foi mantido nesta

posição por 10 s. O mesmo procedimento foi repetido duas vezes consecutivas

com um intervalo de tempo de 30 s. Após a criolesão , o ferimento foi fechado

com suturas poliamida (6-0) e os animais foram mantidos por várias horas em

caixas aquecidas (37 ° C) para evitar hipotermia.

Os animais foram sacrificados por uma overdose anestésica e os TA

músculos à esquerda e à direita foram retirados e imediatamente congelados

em isopentano resfriado e armazenado em nitrogênio líquido. Os músculos

congelado foram cortados em secções transversais de 10-μm de espessura em

criostato (Leica CM3050, Nussloch, Alemanha). Os espécimes foram corados

com hematoxilina-eosina para exame histológico e imunoistoquímico (Zeiss

Axioplan 2). Os demais músculos foram congelados em nitrogênio líquido e

armazenadas a -80 ° C.

Análise imuno-histoquímica

Os cortes foram fixados em acetona 20% por 10 minutos, em seguida,

incubadas durante 15 minutos em solução de metanol 50% por duas vezes e

lavados em água destilada, incubados por 10 min em solução fosfato-salina

tamponada (PBS) 1X e 20 min, em PBS1X / 2% de albumina soro bovino (BSA)

para bloquear as ligações inespecíficas. Os cortes foram incubadas por 1 h à

4° com anticorpos primários anti-MMP-2 (ABR, rato monoclonal, MMP2/8B4,

MA1-16641 catálogo) e anti-MMP-9 (ABR, rato monoclonal, clone 2C3, MA1-

12894 catálogo) com diluição 1:50 em 0,1% BSA / PBS, respectivamente.

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Após a incubação com o anticorpo primário, os cortes foram exaustivamente

lavados com PBS1X por 10 min e exposta ao anticorpos secundários (1:100)

(LSAB plus System HRP, Dako) por 30 min e, após uma nova lavagem,

incubadas com estreptavidina-biotina complexo durante 30 min. Os cortes

foram então incubados com diaminobenzidina tetra-hidrocloreto (DAB,

Novocastra) e contracorados com hematoxilina de Mayer. Controles negativos

foram obtidos através da substituição dos anticorpos primários com soro não-

imune. A análise das lâminas foi feita de forma qualitativa objetivando

descrever os achados microscópicos e o padrão de imunomarcação. Todas as

lâminas foram avaliadas por dois examinadores previamente calibrados

Zimografia

A atividade de proteinase foi detectada em géis SDS-gelatina (Cleutjens

et al., 1995). Resumidamente, tecidos congelados (40 mg) foram lavados com

solução salina fria e homogeneizados em 1 mL extração tampão (10 mM

cacodylic ácido, pH 5,0, 150 mM NaCl, 1 M ZnCl2, 20 mM de CaCl2, 1,5 mM

NaN3, e 0,01% Triton X -100). O pH foi aumentado para 7,5, em seguida, com

1 M Tris, pH 8.0. Teor de proteína total foi estimada utilizando o corante BioRad

(BioRad Laboratories, Hercules, CA, E.U.A.), de acordo com o método de

Bradford. Para o ensaio enzimático, géis SDS (10%) foram preparados com 1

mg / mL de gelatina e foram aplicados 30 mg de proteínas por faixa, sem

redução. Após a eletroforese, géis foram lavados duas vezes durante 15

minutos cada um com 2,5% Triton X-100 a fim de eliminar SDS. Os géis foram

então incubadas overnight a 37 º C em tampão substrato (50 mM Tris-HCl, pH

8,5, 5 mM de CaCl2, e 0,02% NaN3). Ambos os géis foram corados por 30 min

com Coomassie blue 0,05% R-250 em ácido acético: metanol: água (1:4:5) e

descorados com a mesma solução. Todos os géis foram preparados e

executados ao mesmo tempo. As bandas foram quantificadas por densitometria

utilizando o software Image J (NIH). A significância estatística foi avaliada por

ANOVA seguida pelo teste Dunnett. Os ensaios enzimáticos também foram

feitos na presença de 15 mM de EDTA no substrato tampão. Foram realizados

três géis independentes (triplicata).

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RESULTADOS

Análise imuno-histoquímica de MMP-2 e MMP-9 revelou um padrão

semelhante de distribuição dessas proteínas no tecido muscular. Os músculos

do grupo controle apresentaram morfologia normal, a presença de fibras

poligonais com núcleos periféricos e sem sinais de lesão. Neste grupo, as

MMPs apareceram como uma tênue linha que envolvem fibras musculares

(endomisio), com imunocoloração mais abundantes no perimísio (Fig.1 a, b e 2

a, b). Os músculos obtidos de animais controle (sem manipulação)

apresentaram resultados semelhantes aos obtidos a partir de músculos TA

contralaterais (perna direita), que foi utilizado como músculos controle.

Um dia após lesão, o músculo esquelético exibiu infiltração neutrofílica,

com edema e fibras necróticas. As MMP-2 e MMP-9 sofreram uma importante

mudança na distribuição, especificamente na área criolesionada. Comparado

com o grupo controle, essas MMPs exibiram mais intensa e difusa

imunomarcação entre as células da região lesionada do músculo esquelético.

Na região da criolesão revelaram-se células necróticas, com ruptura do

sarcolema e a invasão da MMP-2 e MMP-9, no espaço celular (Fig. 1 c, d e 2 c,

d).

Aos 7 dias, o tecido exibiu uma redução do infiltrado inflamatório e o

aparecimento de células imaturas do músculo esquelético. A área criolesionada

ainda exibiu mais intensa marcação das MMP-2 e MMP-9 em comparação com

o grupo controle, mas houve menor marcação em comparação com o 1 º dia

grupo. A distribuição de MMP-2 e MMP-9 revelou ligeira imunomarcação no

endomísio e marcação mais abundante no perimísio (Fig. 1 E, F e 2 e, f).

Aos 14 dias, a imunomarcação das MMP-2 e MMP-9 em áreas com

regeneração de fibras do músculo esquelético foi semelhante à obtida em 7

dias. MMP-2 e MMP-9 mantiveram uma aparência linear em torno das células.

No entanto, em regiões onde a fusão completa dos mioblastos ainda não tinha

ocorrido, nota-se o aumento MMPs, com o aparecimento do MEC

desorganizada e difusa (Figura 1 G, H e 2 g, h).

Com 21 dias, MMP-2 e MMP-9 apresentaram aumento na

imunomarcação em endomísio quando comparado com o musculo controle e

outros dias de análise. A maioria das células já apresentou uma aparência

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madura, mas outras ainda apresentaram uma morfologia imatura com presença

de um núcleo central.

Fig.1. Distribuição imuno-histoquímica da MMP-2 no músculo esquelético em ratos. No grupo controle (A, 400x; b, 1000x) a MMP-2 aparece no endomísio seta) e perimísio (*). Depois de 1 dia pós-criolesão, um aumento de imunomarcação da proteína pôde ser observada (C, 400x; d, 1000x). Nota-se desorganização da MEC (seta) e células necróticas (*). Em 7 dias (e, 400x, f, 1000x) e 14 dias (g, 400x; h, 1000x) uma diminuição da marcação da MMP-2 é

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notada no endomísio (seta).O perimísio exibe forte marcação (*). Em 21 dias o remodelamento muscular é observado com aumento na marcação da MMP-2.

Fig. 2. Análise imuno-histoquímica da MMP-9 no músculo esquelético. A distribuição de MMP-9 foi semelhante à MMP-2. No grupo controle (A, 400x; b, 1000x) tênue linha no endomísio (seta), com abundantes imunomarcação no perimísio (asterisco). Depois de 1 dia, MMP-9 exibe mais intensiva imunomarcação (C, 400x; d, 1000x), desorganização da MEC (seta ) e células necróticas (*). Após 7 dias (e, 400x, f, 1000x) e 14 dias (g, 400x; h, 1000x) tecido exibiu uma redução da marcação da MMP-9, em espcial no endomísio (seta) O perimísio exibe marcação forte para MMP-9 (*). Após 21 dias, a MMP-9 apresentou um aumento da imunomarcação nesse tecido.

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A Figura 3 mostra a atividade proteolítica dos extratos do TA sobre a

gelatina. Cada faixa representa um pool das amostras dos animais de cada

grupo (n = 5 amostras formando um pool de 30µ). Os extratos musculares dos

animais controle (cont) apresentaram algum grau de atividade gelatinase (Fig.

3B), que foi claramente aumentado no grupo 1 dia após criolesão (Fig.3E). As

massas moleculares das bandas lítica estão aproximadamente em 62 kDa,

sugerindo a forma ativa da MMP-2. No grupo 7 dias após criolesão (Fig3. D)

foi verificada uma diminuição na atividade MMP-2, quando comparado com os

outros grupos, mas nos grupos após 14 (Fig.3F) e 21 (Fig.3G) dias um

aumento de MMP-2 atividade pode ser notado mostrando que a atividade e foi

semelhante ao sham (Fig.3A), os animais do grupo controle (Fig.3B) e ao

controle 1 dia (fig.3C). Assim, concluiu-se que este modelo de lesão, por si só

aumentou actividade da MMP. As amostras que foram testadas com

etilenodiamina tetraacetic (ácido EDTA; não mostrados) não exibiram atividade.

Fig.3. Análise da atividade das MMP-2 (62kDa) e MMP9 (82kDa) em extratos de músculo TA por zimografia em SDS-PAGE gelatina1%. Cada faixa representa um conjunto de amostras (n = 5; 30µ de cada grupo) a partir de diferentes grupos animais - A: Sham; B: Controle; C: Controle 24h; D: Criolesão 1 dia; E: Criolesão 7 dias; F : Criolesão 14 dias; G: Criolesão 21 dias. Antes da coloração com Coomassie o gel foi incubado por 20 h em tampão substrato a 37 ° C.

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Géis foram analisados por densitometria utilizando o software Image-J (NIH) e

a atividade foi expressa em unidades arbitrárias, considerando-se um valor

para o grupo controle. Os valores são apresentados por média e desvio padrão

(DP), P <0,05. * Diferença estatisticamente significativa entre os grupos foi

analisada através de análise de variância (ANOVA) e o teste de Dunnet.

Concentração de MMP-2 no músculo TA apresentada como a média e o

desvio padrão estão representados na Figura 4. A concentração da MMP-2 foi

determinada pela soma da densidade óptica integrada (IOD) obtida (expressos

em unidades arbitrárias) para as três faixas (pró-MMP, intermediária e forma

ativa). Nenhuma diferença estatística foi encontrada entre o controle, o controle

1 dia, sham, criolesionado 14 e 21 dias grupos. Todavia, pode-se notar um

aumento significativo da concentração da MMP-2 no grupo criolesionado 1 dia

e uma diminuição significativa da concentração presente no grupo

criolesionado 7 dias (* P <0,05, ** P <0,01; ANOVA - Dunnet's teste).

Fig.4. Concentração de MMP-2 no músculo TA apresentados como a média e DP. A concentração de MMP-2 foi determinada pela soma da densidade óptica integrada (IOD) obtida (expressos em unidades arbitrárias) para as três faixas (pró-MMP-2, intermediário e forma ativa). Nenhuma diferença estatística foi encontrada entre o controle, o controle 1 dia, sham, grupos crioelsionados 14 e 21 dias grupos. Todavia, pode-se notar um aumento significativo na concentração MMP2 no grupo criolesionado 1 dia e uma diminuição significativa da concentração presente no grupo criolesionado 7 dias (* P <0,05, ** P <0,01; ANOVA - teste de Dunnet) .

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A MMP-9 atividade foi detectada, mas a sua actividade foi em pequena

quantidade e similares em todos os grupos analisados.

DISCUSSÃO

Este estudo demonstra o comportamento da imunomarcação das MMP-

2 e MMP-9 durante o processo de remodelamento do músculo esquelético

após criolesão. Além disso, análise zimografica distingue a forma ativa da

MMP-2 em todos os grupos durante cada fase de remodelamento do músculo

esquelético, no entanto, diferenças no seu nível foi observada somente no

grupo criolesionado. Estes resultados indicam um papel diferente para MMPs

durante todo o processo de reparação muscular.

As MMPs formam um grupo de mais de 20 enzimas com a capacidade

de degradar componentes da matriz extracelular, especialmente proteínas

colagênicas e são essenciais ao desenvolvimento embrionário, reprodução,

remodelamento tecidual e inflamação (Carmeli et al. 2004), bem como de

alterar o funções biológicas das macromoléculas da MEC (Marqueti et al.

2006).

Tem sido relatado que as MMP-2 e MMP-9 em condições normais do

músculo esquelético têm expressão relativamente baixa e que essas proteínas

aumentam poucos dias após lesão (Carmeli et al. 2005) ou na distrofia

muscular (Bani et al. 2008; Kherif et al . 1999). MMP-2 e MMP-9 nativas

degradam colágenos tipos IV e V, bem como colágenos intersticial desnaturado

(Aimes e Quiley 1995). Sabe-se que a MMP-2 é também secretados no

músculo esquelético por fibroblastos e células satélites, já a MMP-9 é um

importante produto de leucócitos (Carmeli et al. 2004; Kherif et al. 1999;

Trocmé et al. 1998).

No presente estudo, os músculos esqueléticos controle apresentaram

uma tênue linha de MMP-2 e MMP-9 no endomísio e maior depósito no

perimísio. O grupo músculo criolesionado exibiu nas diferentes fases de

rmodelamento , como a degeneração, inflamação e regeneração, um perfil

diferente na distribuição de MMP-2 e MMP-9. Para explicar essas variações de

MMP-2 e MMP-9 a imunoistoquimica foi importante para demostrar que o

remodelamento fisiológicos e patológicos do músculo esquelético depende da

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coordenação entre degradação e síntese de proteínas intracelulares e matriz

extracelular componentes (Kjaer, 2004). Assim, é necessário estabelecer um

paralelo entre as MMPs, inflamação e colágeno.

Degeneração muscular e inflamação ocorrerem nos primeiros dias pós-

lesão, enquanto a regeneração muscular ocorre normalmente sete a dez dias

após o estímulo. O pico do processo de regeneração geralmente se dá em

duas semanas e, em seguida, diminui em três a quatro semanas pós-lesão. A

formação de tecido cicatricial (fibrose) começa entre a segunda e a terceira

semana pós-lesão e tecido cicatricial aumenta de tamanho ao longo do tempo

(Huard et al. 2002).

Em um dia (degeneração e inflamação fases), na sequência , necrose da

região da criolesão e um processo inflamatório agudo foram observados. A

imunomarcação das MMP-2 e MMP-9 e a atividade aumentada da MMP2 na

área lesada, quando comparado com o controle músculos. Estes resultados

corroboram uma série de estudos que demonstram uma participação destas

MMPs no transporte de células linfóides da circulação para os tecidos,

macrófagos,células T-adesão e células endoteliais para a matriz, e a

propagação da resposta inflamatória (Phillips et al. 1990, Watt et al. 1994).

Além disso, é possível que MMPs eliminem fibras necróticas (Guerin e Holland

1995) para facilitar a migração das células satélites através da membrana

basal, a fim de criar uma passagem n MEC (NISHIMURA et al 2008) durante a

regeneração muscular ( Phillips et al. 1990, Watt et al. 1994).

O aumento inicial da imunomarcação da MMP2 e de sua atividade pode

ser explicada pelo fato de que ela desempenha um papel fundamental na

proliferação e diferenciação dos mioblastos ,a recuperação após lesão e a

homeostase local dos tecidos. Imediatamente após uma lesão, as células

satélite são ativadas e tornam-se precursoras células musculares, chamadas

mioblastos, que expressam um elevado nível de MMP. Este aumento no nível

MMPs resulta na migração celular á áreas lesionadas, com a posterior

diferenciação e fusão de mioblastos em miofibras (Marqueti et al, 2008). Além

disso, produção de MMP-2 parece estar correlacionada com a gravidade da

lesão muscular e provavelmente reflete a regeneração das membranas basais

das miofibras (Koskinen et al. 2001).

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63

Aos 7 e 14 dias (fase regenerativa), a marcação das MMP-2 e MMP-9 foi

menor do que em um dia pós-lesão, mas maior que no grupo controle,

especialmente no perimísio. Além disso, a atividade da MMP2 após 7 dias foi

menor que todos os grupos e após 14 dias foi semelhante ao grupo controle.

Estes resultados podem ser explicados pelo fato de que a área danificada foi

substituída por células imaturas do músculo esquelético e da necessidade de

biossíntese de matriz extracelular para restabelecer as propriedades

morfológicas e funcionais do músculo. Assim, um baixo nível de MMPs é

necessário. Alguns autores (Mackey et al. 2004; Koskinen et al. 2002)

relataram que, após a lesão, o músculo apresenta um aumento de colágeno e

uma diminuição na MMPs é necessária a fim de aumentar a biossíntese de

colágeno no tecido muscular esquelético de ratos.

Com 21 dias, a área lesada exibiu a restauração da arquitetura celular e

houve um aumento de marcação das MMP-2 e MMP-9, no entanto, a atividade

da MMP-2 foi semelhante ao grupo controle. Este período é caracterizado pela

maturação das células musculares e sua membrana basal, bem como a

formação de tecido cicatricial (fibrose) (Goetsch et al. 2003). Assim, a fim de

prevenir ou manter a fibrose em níveis aceitáveis, as MMP-2 e MMP-9 deve

estar presente no endomísio e perimísio. No presente estudo, não foi

observada fibrose, em qualquer momento e, portanto, a combinação entre

síntese e degradação mecanismos bioquímicos foi bem coordenada.

A marcação imuno-histoquímica e atividade das MMPs analisadas no

presente estudo poderiam ser comparadas com as mudanças na marcação do

colágeno IV. Em um nosso estudo anterior (dados não publicados), a

imunomarcação de colágeno IV no mesmo modelo lesão revelou que, no dia 1,

colágeno exibiu marcação elevada e com um padrão difuso de distribuição, que

é semelhante à distribuição das MMPs. Aos 7 e 14 dias, colágeno IV

apresentou um aumento gradual na marcação, decorrentes da organização da

nova MEC no endomísio e perimísio. O remodelamento do Colágeno IV foi

semelhante ao que no grupo controle apenas em 21 dias pós-lesão.

Comparando os resultados do entre os dois estudos, os altos e baixos níveis

de MMPs estão relacionados com a degradação do colágeno IV e ou seu

acumulo durante o remodelamento do músculo esquelético.

Page 65: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

64

Parece que o equilíbrio entre síntese e ativação de MMP-2 e MMP-9 é

uma processo fundamental na degeneração e regeneração da fibra muscular

esquelética, com diferentes padrões de expressão em todo o percurso da

regeneração muscular. No presente estudo, a imunomarcação de MMP-2 e

MMP-9 foi semelhante e as duas enzimas mostraram-se aumentadas no grupo

criolesionado. Depois de 1 dia de lesão a marcação das MMPs foi aumentada e

diminuiu após 7 e 14 dias. No entanto, somente a atividade MMP-2 foi detetada

em todos os períodos analisados. Outros estudos confirmam que a MMP-2 é

amplamente expressa no dia seguinte a criolesão, atingindo um pico entre 3 e

7 dias pós-lesão, enquanto que 10 dias pós-lesão, ele retorna a níveis basais

na regeneração do músculo esquelético (Kherif et al. 1999; Ferre et al. 2007,

Durigan et al. 2008). Nossos resultados mostraram que a atividade de MMP-2

no dia 7 divergem com a obtida por Duringan et al., 2008. Estes autores

detectaram a máxima ativação da MMP-2 em 7 dias que 10 dias pós-lesão a

MMP retornou ao nível basal. No nosso estudo a MMP-2 retornou ao menor

nível em 7 dias. Atividade de MMP-9 não foi quantificada nos géis de

zimografia. Na maioria dos estudos não se detectou a atividade de MMP-9 em

diferentes modelos de remodelação muscular (Ahtikoski et al., 2004; Hass et al.

2000). Curiosamente, Durigan et al., 2008 observaram um aumento na

atividade MMP-9 apenas após 3 dias de criolesão.

Na maioria dos estudos, a MMP-2 está relacionada com a regeneração

de novas miofibras, possivelmente devido à degradação do colágeno tipo IV na

membrana basal (Kherif et al. 1999; Ohtake et al. 2006; Fukushima et al. 2007).

Por outro lado, a MMP-9 está relacionada à ativação inflamatória inicial e a

ativação de células satélites (Kherif et al. 1999; Fukushima et al. 2007).

Contudo, Fukushima et al. (2007) sugerem que ambas as MMPs (2 e 9) estão

relacionadas com a degeneração e regeneração das fibras do músculo

esquelético.

A maior imunomarcação de MMP-2 e MMP-9 em 1 e 21 dias pós-lesão

pode refletir o impacto das MMPs na degradação do MEC durante a fase

inflamatória, a fim de permitir a proliferação de células satélites musculares e

manter níveis adequados de proteínas colágenas durante a remodelação, a fim

de evitar fibrose tecidual. MMPs são geralmente encontradas na forna inativa

(pró-MMPs) nos tecidos e sua expressão é altamente regulada por fatores de

Page 66: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

65

crescimento e citocinas durante a remodelação tecidual (Marqueti et al. 2008).

Com base nesta propriedade, não se pode diferenciar moléculas ativas das

inativas das MMPs através análise imuno-histoquímica, porque os anticorpos

utilizados identificam os dois tipos. No entanto, imunomarcação permite a

identificação, distribuição e localização dessas proteínas em comparação com

a morfologia tecidual. Outras técnicas são mais indicadas para avaliar os

aspectos quantitativos (RNAm expressão, Western blot) e atividade (zimografia

e específicos ensaio enzimático) das MMPs. Utilizamos a zimografia para

verificar a atividade de MMP-2 e MMP-9 no entanto apenas a MMP-2 foi

detectada.

O músculo TA apresenta MMP-2 e MMP-9 durante o remodelamento

após criolesão, mas este perfil varia nos diferentes tipos de músculos são

estudados. Fibras-lentas do músculos de ratos contêm mais colágeno na MEC

que fibras-rápidas (Zimmerman et al. 1993; Ahtikoski et al. 2003). Assim, é

concebível que a respostas de adaptação dos músculos com predominância de

fibras-lentas seja diferente dos de fibras-rápidas e isso pode traduzir-se em

mudanças na expressão das MMPs.

O papel das MMPs no processo inflamatório e reparativo após a

criolesão necessita de mais investigação, especialmente no que respeito à sua

atividade e outros marcadores imunológicos (por exemplo, quimiocinas,

interleucinas, etc) Este modelo pode ser usado para estudar diferentes técnicas

terapêuticas para melhorar a reparação muscular e compreender melhor os

efeitos desses procedimentos sobre componentes desse tecido.

Agradecimentos

Os autores são gratos à Sras. Elisa Santos, Joelcimar Martins da Silva e

Amanda Ribeiro de Oliveira pelos seus excelentes conhecimentos técnicos e

assistência, e ao apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa de São

Paulo (FAPESP, número: 07/52927- 0).

Page 67: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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Page 71: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

70

3. Considerações Finais

Os nossos trabalhos mostraram a distribuição e a interação entre alguns

componentes da MEC, como colágeno IV, MMP-2 e MMP-9, durante o

remodelamento do músculo esquelético em rato após criolesão. Estas

proteínas teciduais sofrem modificações durante a organização da MEC nas

diferentes etapas do remodelamento do músculo TA.

A análise da MEC foi realizada nestes estudos pela técnica

imunoistoquímca que permite a observação da distribuição das proteínas

teciduais juntamente com a análise da morfologia. Assim pode-se estabelecer

uma correlação entre a imunomarcação do colágeno IV, da MMP-2 e MMP-9 e

as diferentes fases do reparo muscular. Esta metodologia tem sido pouco

utilizada em músculos esqueléticos, principalmente para avaliar a composição

e distribuição da MEC.

A análise morfológica dos músculos depois da criolesão mostrou

remodelamento completo após 3 semanas e a imunomarcação mostrou uma

correlação inversa entre o colágeno IV e as MMP-2/ MMP-9.

Na fase de remodelamento muscular após 7 dias houve aumento da

presença de colágeno IV e foi verificada a diminuição da marcação da MMP-

2/MMP-9, concomitantemente com a diminuição da atividade enzimática da

MMP-2.Neste momento, morfologicamente há maior formação de novas fibras

ainda imaturas e síntese de colágeno tecidual.Assim sendo, justifica-se o

aumento da imunomarcação de colágeno IV e diminuição das MMPs tanto do

ponto de vista imunoistoquímico como de atividade enzimática.

Nas fases mais tardias (14 e 21 dias) o colágeno IV mostrou diminuição

gradual da imunomarcação enquanto que, as MMPs aumentaram. Na

zimografia a MMP-2 exibiu, nestes dois períodos, atividade semelhante aos

músculos controles.

No período de 14 dias, morfologicamente o músculo apresentava-se

remodelado, porém algumas células exibiam ainda núcleo centralizado,

indicativo de imaturidade celular e a MEC não se mostrou remodelada de forma

semelhante ao músculo controle. O colágeno IV delineou de forma tênue

apenas as fibras maduras e esteve de forma difusa nas áreas de fibras

Page 72: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

71

imaturas. Paralelamente as MMPs mostraram pequena imunomarcação e baixa

atividade enzimática. Se correlacionarmos estes achados entre si pode-se

inferir que a diminuição da atividade de MMP-2 neste período ocorre para que

o colágeno IV possa se manter em níveis teciduais necessários, maior do que o

normal (controle), para auxiliar na orientação e maturação das fibras que só

ocorrem após 21 dias.

Aos 21 dias pode-se verificar tanto morfologiamente, como do ponto de

vista imunoistoquímico e enzimático, que há um restabelecimento morfológico

do tecido muscular e um padrão de MEC semelhante ao controle.

Neste contexto, estes dados são importantes para que condutas

reabilitadoras sejam aplicadas de forma a não gerar maior dano tecidual e

possam propiciar um remodelamento adequado da MEC, restabelecendo a

integridade morfológica e funcional do músculo afetado.

O modelo de criolesão se mostrou importante para o estudo da MEC e

poder ser utilizado para estudar diferentes técnicas terapêuticas que visem

melhorar a reparação muscular e para entender de forma mais detalhada os

efeitos desses processos nos componentes teciduais.

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Page 76: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

75

ANEXO I

Prezado (a) Colaborador (a)

Vimos pela presente, acusar o recebimento de seu artigo

“Remodelamento do músculo esquelético: papel da matriz extracelular”

manuscrito 626 ao Conselho Editorial desta revista. Solicitamos que grave o

número do mesmo, pois todo contato posterior a esse será feito através desse

número.

No momento estamos apreciando o conteúdo de seu artigo, assim que

tivermos um parecer entraremos em contato.

Sem mais para o momento, agradecemos com os votos de estima e

consideração.

Conselho Editorial

Prof a Dra Auristela Duarte Lima Moser

Editora da Revista

―Fisioterapia em Movimento‖

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76

ANEXO II

Page 78: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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ANEXO III

Page 79: Pavesi, V. C. S. Efeito da Criolesão no Remodelamento da Matriz Extracelular MME. 2008

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ANEXO IV