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VOLUME II: ADIÓS, LITE DE RATURA. PAULO VITOR GROSSI

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VOLUME II: ADIÓS, LITE DE RATURA.

PAULO VITOR GROSSI

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Volume 2: Adiós, Lite de Ratura.

ÍNDICE, (DES)ORDEM:

1. Isto infantil; Isto

infantil?

2. influência “du róqui”. 3. A (um espécime diferente).

4. O mosaico (ou o segundo livro dos restos).

5. “O velho”.

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NOTA INICIAL Este livro é como um álbum, conjunto, rito de passagem, pistola apontada pra todos os lados;

quem é você; algo de alguém que muitas vezes só ele, que fez, sabe o significado total. Mas não tem problema, dá pra levar. E é mesmo a última vez, pois 20 “Dias da Independência” foram passados... Adiós, querida Lite de Ratura – pode me dar uma licencinha poética, por favor?

o autor, em 2006

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“leitores,” Volume II foi o melhor, o mais legal daquela época – ou seria safra? Apostei minhas mais

apostáveis fichas nele, tanto que “esqueci” o resto dos escritos – mesmo que, ainda assim, tenha aproveitado e utilizado algo dos “restos”. As partes do Volume II foram feitas separadas, e poderiam até ter vivido bem longe umas das outras, como livros à parte. Entretanto, uma afinidade as juntou, transformando em retrato, síntese – são histórias independentes, casadas; cada livro, uma fase da vida. Eu mesmo estou nestas páginas, com você, caro leitor. Obrigado, eu ainda existo, permaneço – é claro que muitos e muitas também fizeram parte da produção, servindo de manequins; esses são ocultos.

Este Volume II, escrito entre 2003 e 2006, três anos no “Palácio do Exílio”, em plena efervescência de agonia literária (pois há pouco eu descobrira estar inquieto com o fato de exorcizar, reproduzir minha forma escrita) mal nasceu, natimorto viveu, sucumbiu à catarse, à molecagem, ao descaso total. O que disse, disse sinceramente – e foi bom. Escrevi intensamente – e com muitos percalços, acasos, problemas de ordem financeira e de “azar” –, pois amei o que fiz, o que fiz questão de estudar errado para fazer como gosto. E, ah, as revisões... como reler estraga a idéia inicial, como também pode ser benéfica... como é tudo relativo em se tratando de Literatura, existir, ter paciência...

... E agora choro ao dizer adiós, Lite de Ratura... Não solucionei nada e, ainda pior, me enchi

ainda mais de dúvidas ao enfrentar a Lite de Ratura. Eu a amo, amante, mas tenho que deixá-la. O mundo me venceu – entrei em contradição! –, e ele não era como nos meus disparates juvenis: pura ilusão controlada pela ilusão em algo; jogo onde o que existe é farsa pruma tela-sonho... O mundo existe, e ele é cruel – é uma busca idiota, sem fim, boba: a vida, a sociedade... É tudo uma questão de escolha, eu não vou continuar.

... Espero que se divirtam como tantas vezes me diverti e sorri ao acabar um destes livros. Por

um tempo é bom, então aproveitem enquanto é gostoso. Pensem só se houver um depois, mergulhe nas histórias – ainda que pequenas... –, deslembre a vida.

Agradeço (onde quer que estejam) aos meus autores favoritos, autoras favoritas e a todos que

me ajudaram quando ativo (estes sabem o que fizeram), e digo aos que me prejudicaram ou irritaram-me: que se danem! (eles sabem quem são!).

Olho tudo e todos ao meu redor mas só consigo achar TOSCO, nada tem mais efeito sobre

mim – é o metafórico ou apenas palavras, imagens, o real? Já não acredito, nem vejo futuros frutos ou soluções; é que estou tão cansado... e... Fugir, minha sina... largar esta miséria... ah... hunf... Recuei, como um bicho-do-mato... dos demônios interiores, e do lado podre de cada um... Futilidade & desespero não. Adeus...

Se fui egoísta, mentiroso, solitário, esquisito ou intenso, não entenda mal, leitor, é coisa que acontece. Os que conheceram um Paulo Vitor Grossi diferente do Paulo Vitor Grossi escritor e guitarrista que falem coisas agradáveis de mim. Eu vou não me elogiar, apenas criticar.

Não me importei com nada – olha: mas também há alegria nesta despedida; e viverei mais

para mim, enfim! –, apenas às vontades espontâneas da minha mente. Acho que isso é Liberdade. E vou, também, tão facilmente, alienar de cultura; Tomarei um navio español...

Com amor,

Paulo Vitor Grossi

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“Tudo era mentira; tudo, fedor; tudo recendia a falsidade, tudo criava a ilusão de significado, felicidade, beleza e, todavia, não passava de putrefação oculta. Amargo era o sabor do mundo. A

vida era um tormento” “Não era ele um samana, um homem sem raízes, um peregrino?”

“[...] o verdadeiro buscador, aquele que realmente se empenhasse em achar algo, jamais poderia submeter-se a nenhuma doutrina”

Sidarta (Hermann Hesse)

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Isto infantil; Isto infantil?Isto infantil?Isto infantil?Isto infantil?

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Eu quero falar sobre O peixe e o grande Aquário da Loja.

Alguma vez, num tempo perdido e num lugar desconhecido, ocorreu uma história bem curta, e essa, por sua vez, era a de um mísero peixe. E esse peixe, aqui nomeado de Peixe, porque nunca lhe deram um nome, nasceu em Qualquer Lugar do Sul, a qualquer hora e era filho de pais Nenhum e Ninguém Sabe.

Sua vida precoce foi estritamente marcada pela residência no Aquário da Loja, e ninguém que lá morava se lembra de como ele e os outros pequenos órfãos chegaram.

Somente depois de apagadas semanas foi que ele deu conta de sua existência. Até então era apenas um filhotinho incrivelmente confuso e desorientado, além de muito pequeno. Mesmo assim, sempre foi alegre e brincalhão com os outros seres marinhos do Grande Aquário da Loja. Mas, depois que, através de seu amiguinho mais legal, Zé Escama, ele soube quem era, Peixe ficou muito triste, naquele dia, por estar tão deslocado do seu verdadeiro habitat, o Rio Desconhecido (largo e profundo rio de onde todos os outros peixes acreditavam ter se originado). Mesmo assim ele superou esse trauma. Apesar de estar sempre dependendo da própria infortunada sorte. Esse seu amigo e, logo depois, seus novos amiguinhos – Nadadeiro, Guelrazita e Carla Raia – foram muito importantes no seu desenvolvimento como um ser marinho, já que Peixe não tinha mais ninguém com quem conversar e aprender. Eles o adoravam. Ele tinha muita energia pra viver.

Peixe era de três cores: cor de abóbora, azul, e verde em suas manchinhas. Muito astuto e valente, sempre zelando por seu espaço e comida. Corria e ficava cansado e, à noite, dormia num canto escuro do Aquário, onde havia uma casa de brinquedo para peixes – apesar de todos sabermos que peixes não precisam de casas do modelo das nossas! –, e de manhã voltava às atividades com seus amigos. Eles brincavam de corrida, esconde-esconde e quem-come-mais? Tinham uma vida pacata e sem aspirações a algo mais que isso. Contudo, Peixe nunca havia percebido o que ocorria no grande Aquário da Loja; somente seus amigos, que eram mais velhos e feios, que o poupavam daquilo que ocorria quando alguém chegava à Loja e olhava muito pra eles – particularmente para os peixes mais bonitos. Peixe achava engraçado aqueles rostos grandes, embaçados e disformes.

(...) Então, nessas horas, chegam pessoas e todos os peixes ficam desesperados, correndo de um lado pro outro e alguns, de tão assustados e confusos, ficam parados nos seus cantos. Peixe ficava muito elétrico quando os via assim. Era muito corriqueiro: ele não sabia o que ocorria, por ser desinformado e burrinho, e achava que aquilo era pura brincadeira. Como era ingênuo, o pobre Peixe... Já os seres de fora do Grande Aquário... eles achavam aquele corre-corre de peixes uma coisa linda de se ver.

Dias antes de ir à Loja, o menino e sua mãe haviam comprado num supermercado um aquário

para abrigar o novo bicho, as pedrinhas artificiais coloridas, o pote com reserva de comida, as plantas flutuantes que dariam ar ao peixe que lá moraria, e a casa do fundo do aquário, pra ele – supostamente – dormir.

Então, ele viu Peixe, e disse: “Oi, peixe, quer ir pra minha casa? Gostei tanto de você e seu corpinho colorido e jeito alegre”.

A mãe do menino, ainda muito amorosa por não ter sido aborrecida, lhe disse: “Quer este? Já escolheu, filho?”, e depois de um tempo esperando o menino se decidir: “Olha só, querido... aiii... tô com pressa. Preciso ir pro trabalho, já estou atrasada. Escolha logo o seu novo bichinho de estimação e vamos embora”. O humor dela já estava ficando vermelho!... Ele escolheu. “Peixe bom, garoto. Boa sorte!”, disse o Senhor Dono da Loja.

Então nosso pequeno Peixe reflete um pouco e nos conta o que lhe ocorreu posteriormente: “Sou um peixe. Estava numa loja de animais que fedia a ração. Chegou um garoto e me

comprou por uma quantia reduzida. Ele me olhou e me achou lindo. Colocaram-me num saco plástico.

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Daí cheguei ao que seria minha casa. Me deram um aquário próprio, comida nova e diferente... Tudo muito gentil da parte deles.

Três horas depois eu faleci. Não sei o porquê. Talvez tenha ficado sem ar, talvez desconfiasse, talvez não quisesse ficar preso, talvez fosse pra eu morrer.

É isso, estou morto agora. Acho que estou no céu para peixes neste momento, e compreendo as coisas. Espero que seja divertido. Se ainda for um peixe, estou no lugar certo...

O garoto comprou outro peixe, eu vi daqui. Por que o céu de peixes é tão cheio? Por que o céu está ficando lotado? “

Ele entendeu tudo ao seu redor, aquela sua vida. No final, ninguém sabe o que acontece depois que os peixes se vão. Mas, depois que o seu

peixinho se foi, o menino fez algo por ele – e por querer pedir, de certa forma, desculpas ao Peixe: ele lhe deu um enterro digno, ou digno no entender do menino, lhe embalsamando o pequeno resto de matéria. Ele, o menino, depositou o corpinho mole de Peixe numa vasilha e foi pingando cera quente de uma vela em cima do corpo falecido até que a vasilha estivesse cheia. Ele guardou Peixe num lugar escondido e ficou alguns minutos em silêncio pensando no seu quase amigo da vida toda. Até hoje o garoto mantém sua pequena cerimônia. Hoje, ele tem 20 anos de idade, tem um altar.

Bom, esse é o final – eu não disse que essa história era curta? Devo dizer que Peixe não foi feliz para sempre; ele era como o padrão. Ele morreu para sempre, entretanto deve também ser lembrado para sempre.

Agora, leiam isso, eu quero lhes falar sobre o Peixe. Falo-lhes sobre um peixe com uma ferida

de ferro em sua alma: O peixe.

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Calango do Rio. Coitado, caiu do muro de onde se espreitou a vida inteira. Nasceu naquele muro mesmo, num

buraco do tijolo, e de lá de dentro viu ao alto a parede chapiscada onde muito escalou até que encontrou a planície vasta (mas não larga) de muro. O calango adorava o horizonte.

O muro foi sua vida, o Sol seu refresco. Mas, no meio dum dia ruim, uma pedrada vinda de não se sabe onde o atingiu, e ele tombou do lado de cá. Caiu na casa de piscina grudada no muro, de parede lisa e terreno fechado, no meio do churrasco de domingo – essa não, ah, não, é a família!... Durante poucos segundos somente vasos de plantas o viram. Mas ele estava encurralado, sem saída, devastado de incompreensão... Ele só via o azul e a longitude do começo do muro, agora de baixo pra cima. O calango já era!

– Já era... – pensou o garoto. – Olha aquele dragão de novo, pai – berrou o molequinho. Correria! – Mata esse bicho, Sid – exclamou de medo a matriarca. A caçada seria violenta... e foi: o calango se escondendo atrás dos vasos de plantas assustadas

e o pai, já empunhando a vassoura, desferindo pancadas como um bate-estaca. Perde o calango, perde a cadeia alimentar. De tanto fugir, de tanto ficar imóvel, pobre

calango, a vassoura o acertou... Paulada! Na cabeça, paulada no rabo, esmagada de cabeça, tripa e gosma pra todo lado: o calango virou pasta... e comida de formiga no saco de lixo do quintal. Coitado, ele nem teve tempo de se despedir do muro, dizer que era feliz; e do Sol, para o qual faria uma oração, dizendo: – Perdão, perdão.

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ele, o cão da rua. ele estava dormindo. O homem passa bem perto, ao seu lado. ele acorda assustado, como que pensando num perigo

de vida. Mas o homem olha tranqüilamente e sorri; e pensa querendo falar ao cão ali perto: – Calma, amigo, não vou te fazer nenhum mal, tudo vai dar certo. Calma. Volte a dormir. ele deita novamente. O homem passa. ele continuará lá. Desconfia, mas volta a relaxar. O homem pensa: – Tenho medo de pensar que ele um dia vai morrer como todos... Todos o acham um vadio,

mas ele apenas não teve uma chance... ele é ela!

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O Gato Folgado. Galante está o gato manhoso, tinhoso e folgado, Gato Folgado. Gato Folgado não parece

querer nada, ali, dormindo. Mas eu quero: começar a história. No meio da casa, no corredor, na cozinha, nos quartos, na varanda e muito mais no terraço,

ele descansa e causa os olhares sorridentes e indignados com sua preguiça; ele nem aí com isso. Folga mesmo e tem bochecho na sua cara de sono sem sono. Gato Folgado é o melhor, nem

liga... apenas olha para tudo com olhos calmos, piscando e pedindo carinho. Aliás, carinho esse que deve ser muito, e da melhor qualidade, senão ele volta a implorar... aliás – já sei, novamente –, o tempo todo paparicado, acariciado, elogiado por sua esbelta beleza, ele se ama. Nós gostamos de amá-lo; ele gosta.

Fecha os olhos e sente: que moleza!, que beleza de aconchego, carinho, satisfação. E quando ele persegue sua sombra? Que engraçado! E quando ele corre atrás de linha e

plástico emendados em forma de marimba? Muito bom! E contra ele mesmo? É um caçador, um predador fácil, predador elegante, um gato domesticado, selvagem. Mas às vezes cai e não cai em pé. Que brincalhão. E daí a queda... Bom, ele é reto e não desce do salto, ou melhor, botas!, como aquele outro... poderia ser um primo, quem sabe!?

Calmo. E espera a comida nas horas em que lhe convém a fome. É pedinte, cético. E mia, mia miau, mia méuuu pra tudo; tudo e até quando não tem motivo faz méuuu... e nós o olhamos, e lhe entregamos atenção: ele vence.

Nós o amamos, preto e branco, bigodudo, de olhos puxados cor de mel: o gato. Que barriga branca... ui, gato. Galante como já disse, amante, diletante. É um gato de primeira, mesmo; no quesito olhar, segue a regra da conquista. Quase uma escultura, espetáculo da natureza, galã, galhardo.

Descansado de que, gato? Que ato é esse, Rei? Do de ser, ué! Claro!, porque ele é amado. Faz graça e riem dele, faz besteiras, acham que é brincadeira. Até quando está tentando o seu instinto ele é fofo.

É bem pouco e um pouco de sua vida está aqui. E tudo isso sem contar as saídas para a vida noturna, gatuna e a algazarra da farra. Já sai, já sabe mesmo sair e andar por aí em dias curtos & noites mais longas. Ele é o melhor de sua categoria. Já nasce sabendo e carregando muito bem a bandeira da família dos gatos. Eles são o que são e são, como Gato Folgado é.

Resumindo, ele não liga pra nada, apenas curte e é adorado, beijado, lindo, rápido, esperto, extasiado. Ele pode, ele é o tal Gato Folgado. Ele pode fazer do seu jeito e ponto final.

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Pega: formiga! Um rapazinho de vinte anos chamado V. estava com um problema: suas unhas já o estavam

incomodando – era uma coceira dos diabos! Por esqueci-relaxamento ele sempre deixava isso acontecer – certo, ele também achava que cortar as unhas com elas grandes era mais gostoso!, e se ele as corta ainda muito pequenas, elas viram uns cotocos que machucam e irritam os dedos na hora de fazer algo, como, por exemplo, tocar violão.

Então V. pegou o cortador de unha de seu pai, o senhor S., e foi para a piscina da sua casa, pois lá perto havia um pequeno jardim e, para não sujar a casa e ouvir reclamações, ele sempre sentava num degrau da piscina e cortava as unhas lá e as jogava no jardim – onde viravam comida de insetos e a mãe de V. não reclama que ele é sujão.

Desta vez, enquanto ele aliviava tranqüilamente seus dedos das sobras de suas unhas e cutículas, ele viu algo: era uma formiga!, e ela estava levando suas unhas! Ela estava levando um pedaço de unha que era muito maior que seu minúsculo corpo! Como ela iria conseguir carregar aquele pedação?, como ela pôde surpreender tanto?

Que coisa engraçada... Aconteceu um ato de bondade nesses dias de hoje: o tal V. tirou a lasca de unha das patas da formiga atrevida – e a ladra deve ter ficado assustada naquela hora – e lhe deu um outro, menor e mais fácil de carregar. Ela saiu correndo com seu prêmio na mesma hora. Não é engraçado como uma coisa simples é muito melhor do que uma reclamação?

V. é uma vitória? F. é uma força? A formiga deve ter achado que seres humanos são bons.

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Chega de inho, inha, zinho, zinha, nino. Eu estava deitado no chão e... tentei levantar. Então, um gato me viu e subiu no meu chinelo.

Este gato era muito querido como inocente malicioso. Era dela, aquela menina esperando do outro lado da rua; sua propriedade, como um livro.

Havia pessoas que se pareciam com aquele treco que vi na televisão, os microorganismos patogênicos, no local. Eles sorriam sem ninguém ver, quando ao mesmo tempo o vento da chuva vinha a meu encontro. Eram, na verdade, esboços de um não-encontro.

Fui caminhar para esquecer tudo aquilo. E continuava a andar no limiar daquela rua. Vento, pedras, etéreos... Formigas felizes com seu trabalho não me notaram. E continuo indo para o meu refúgio... Não passou nenhum carro nem carruagem de parentes meus. Que bom...

Pedaço de ser humano... já estou em casa. Hum... gotas de chuva me fazem dormir. Amanhã, vou fazer coisas que não faço todos os dias; como um escravo alforriado, pedirei outro emprego, tomarei banho, estudarei, terei dias de inspiração; mas ainda estou com sono... Será que estou dormindo? Dormindo dentro de um sonho? Mamãe, mamãe, aquele garoto é mimado!... Deve ser algum tipo de fadiga... Olhe, digo a mim, é aquele gato novamente. Ele está correndo de um palhaço de sapatinhos grandinhos e vermelhinhos. Venha aqui, queridinho, o diazinho, pequenino, está tão chatinho... Hei, por que estou falando no diminutivo? Inho, inha, zinho, zinha, nino... poeira e cinza na rua, deve ser o tempo infantil que já se mandou, ops!, aliás, se mancou.

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O menino que virou livro. Entrou lá, pois assim gostava, e lá ficou como nome para todo o sempre, todos a olhar. Ele não ficou mais triste, somente alegre de mão em mão, de anos em anos, até que do pó ao

pó. Mas eis que havia outro livro cópia seu, perdido. E nesse antes de desaparecer no mundo das

lembranças, o menino se refez e continuou sua história. “E viu Deus que era bom”. E virou letra, letras, palavra, palavras, frase, frases, capítulo, capítulos, grande texto, textos

muitos, muitos livros, obra.

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Azul claro, azul escuro, fofinho. Elefante da Parede, eu vejo você balançando. Você é de madeira – tenho quase certeza que é

compensado. O vento te faz agitar, Elefante da Parede. O barbante que te pendura dá um tom de pêndulo à tua dança. O vento do ventilador é por causa do calor, querido enfeite. Acho que sua noite vai ser de insônia, companheiro de quarto. Olhe pra mim e diga que não está chateado. É, eu sei que é difícil a solidão. Pra te alegrar, vou tirar uma foto tua e fazer uma historinha pra dizer o quanto você é gente-fina e camarada meu também daquelas outras horas, as horas de escrita ilusória frente-a-frente ao computador, sozinho e chorando. Você é.

Diga xis!

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O demônio da janela. Ele está lá, no canto da janela, entre a grade e a tela contra mosquitos. Ele é feião. Tem

cinzas, cocô de mosquito e teias de aranha sobre o corpo. Putz, vive entre insetos que estão pela tela, vive entre os insetos morridos na tela. Tem bichinhos sem vida nele. Ele vive entre mortos. Ele não liga, nem se mexe. Só o guri que observa o boneco do Mundo.

Sabe como é sua fisionomia? Saído duma caverna medieval de desenho animado, empoeirado, azul, chapéu de coco na cuca, vestido marrom com manga curta, mãos grandes, pezão, dedos tortos e unhas encravadas. Uma mão fechada, a outra com seu bastão de madeira infestado de vulcões... Cara de macaco... a orelha pontiaguda e com cera, olhos esbugalhados e centrados, nariz pros lados, beiço e dentes pra fora, alcançando altitudes de pico... POSIÇÃO DE ATAQUE PARADO!

– AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH, MÃÊEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! – Querido, pára com isso.

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Brasileira. Esta última história aconteceu justamente quando o presente autor estava fechando este Isto

infantil; Isto infantil? Pois bem, ela, a história, é mais do que real... Minha mãe me acordou. Eram 27 de novembro de 2007. Minha mãe disse: – Brasileira morreu –. É, é duro e simples. Nem me mexi ou saí da cama – justo neste dia que

eu tinha tirado pra descansar, depois de várias noites mal dormidas e de muito trabalhar... Tomei meu café da manhã e saí à procura de uma pazinha. Cavei um buraco no canteiro –

pois é, o mesmo canteiro que há muito enterro meus amigos bichos –; também usei os dedos. A terra estava dura e úmida, e eu a tinha impregnada... tive tanta certeza das coisas... Ainda me sobrou tempo pra olhar pra trás.

É triste, realmente, ter que relatar isso, mas, lá na gaiola, estava o corpinho dela. E seu companheiro, o outro periquito, o Costeleta, cantava algo vago.

Brasileira estava deitada no pote d’água, estirada, morta. Não se perguntem detalhes da morte ou detalhes mais... tem vezes que simplesmente não importa.

Eu não sou supersticioso, ou mesmo lá muito crente. Entretanto, o que aconteceu logo após me tocou:

“Quando eu peguei o pote, olhei o rostinho sem expressão de Costeleta – coitado do seu companheiro, Brasileira... tão sozinho no seu canto, sem poder mais dar beijinhos de bico... – e saí pela varanda em direção ao canteiro, vários cachorros da rua uivaram. E foi assim até eu dar o adeus final, tapar a sepultura e colocar 5 pedrinhas em cima da terra remexida, pra demarcar. E, na volta, ao levar o pote pra lavar, com a água do corpo da Brasileira – ah, o nome dela é esse porque tinha as cores da bandeira nacional –, por mais incrível que pareça, os cachorros uivaram de novo – me arrepio ao lembrar disso. Estava tudo tão sóbrio e embaçado na atmosfera... pedi ao Costeleta que fosse, não agora...”

Não dá pra fugir de coisas consagradas...

***

pureza!

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“Se alguma vez as aventuras de um homem comum pelo mundo mereceram vir a público, e ser consideradas aceitáveis quando publicadas, o editor deste relato acredita ser o caso.

Os prodígios da vida desse homem ultrapassam tudo o que (crê o editor) existe; a vida de um homem raramente seria capaz de maior diversidade”

“[...] havia algo de fatal nessa minha natural propensão, a qual conduziria diretamente a uma vida de desgraça, que iria me acometer”

“[...] todas as agradáveis distrações e todos os prazeres desejáveis eram bênçãos à disposição da condição intermediária da vida; que, desse modo, os homens passavam silenciosa e suavemente

pelo mundo, e, comodamente, o deixavam, sem os constrangimentos da labuta das mãos ou da mente, sem se vender à escravidão do pão de cada dia, ou se atormentar com situações atônitas,

que roubam a paz da alma e o descanso do corpo; não se enfurecer com a paixão da inveja, ou com o arder secreto da ânsia da ambição por causas notáveis; mas, em cômodas condições, deslizar suavemente pelo mundo, e provar com sensatez a doçura do viver, sem amargor, sentindo que é

feliz e aprendendo pela experiência cotidiana a conhecer o que é mais sensato” Robinson Crusoé

(Daniel Defoe)

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influência “du róqui”influência “du róqui”influência “du róqui”influência “du róqui”

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prefácio “punk-porco” acabado

se eu contar, perde a graça... então vou apenas adiantar alguns porquês: isso começou com letras de músicas, aquilo veio como vontade de escrever. Escrever ao som rock, sob influência du róqui.

é uma compilação – são músicas; é tudo amontoado sendo contado pelas vozes disputando com o som das bandas, e anotado em

folhas de caderno no show mesmo, festival, e depois da apresentação...

NO SHOW, FESTIVAL

nosso grande dia. morno, escuro e depressivo, a tal banda homônima de rock londrino de Seattle da Zona Sul carioca resvala em si e nos ouvintes: vinham eles à moda 60’s no frio abril do Rio tocar rebeldemente num domingo de páscoa às 22 horas para, no máximo, 20 pessoas desatentas, além do organizador e o dono do bar mais badalado do shopping mais vazio prestes a falir de desgraça. tocaram raivosos e pseudobêbados (eles xingavam) algumas músicas e covers mal feitos, pra tentar chocar e serem os novos donos da cena underground roqueira – sensação do litoral! – é claro que a cerva estava mais atraente... as pessoas que lá morriam aplaudiram mais por pena e reflexo do que por vida. Os músicos foram embora sem falar com ninguém – mesmo tendo tocado ao nível do público – não num palco alto – e os terem visto, mas não olhado nos olhos –, e na segunda tem escola. failures ou fracassos. (, dá no mesmo) tumtumpááá... pããã... pã, pã... prodígios. pããã... pã, pã... arrumar shows. pããã... pã, pã... divulgar o trabalho. pããã... pã, pã... fazer mais cds. pããã... pã, pã... falta de público. despesas, desavenças... mudança de estilo... sacanagem. solo! Solo! Solo! nem que pra duas pessoas ou pra quem tem os mp3’s, o show será show; a apresentação é um ensaio. tumtá! solo! Solo! Solo! embola, solo! Solo! Solo! xííí, pratos, póum, baixo vibrante e grave, solo!, solo!, solo! Acabar aos poucos... uma espera. um tal poeta

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saía da praça pra festa em dia morto, de muita claridade, com a mesma roupa. o que escrever? o que presenciar? um amigo, um dia... e a música? muitos planos, mesma poesia sem nexo. o fim, qual é? várias árvores, bancos e areia, tranqüilidade, faculdade – não mental, mas sim astral... o tal poeta diz à autora: “eu não posso ainda dizer que sou poeta, seria muita pretensão. Eu sou um molequinho!”. um soneto? não, muito chato. ir pra casa? não, muito longe. pensar no futuro – muito esperado –, é ser vago, como a vaga fútil de carro que ficará molhada pela mesma chuva daqui e dali que eles brigam, e que molha e dá frio. e naquele lugar ao sul?... não conheço pessoas lá, nem me conheço. essas experiências ruins só servem pra mostrar o que não se deve fazer. então... já, já começou, a inundar tudo. sou forte, mas não tenho guarda-chuva. sou rígido, mas não sei ser um Ser. (pausa, talvez pra me afinar). está escurecendo na aurora, nem acabei o livro, mas tocam canções ao fundo. ainda escrevo, escrevo, escrevo sem perceber...

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agora falo abertamente pra quem quiser ouvir: onde se fará um legado? música, ela, eu? tem que ser longe, pois aqui, onde moro, já cansei! o encontro-ou-não na noite da festa. ...onde eu comparo épocas antigas da sociedade carioca com a européia antiga e o hoje, e vejo que só mudou o tempo. A frieza forçada, a tentativa de discrição, os grupinhos fechados, o jeito de imitar... tudo o mesmo. na festa, ela. na festa, eu também. todos sabemos, mas não damos o braço a torcer. em coro, vamos lá: é hora de ceder! (1.000 vezes repetido). hoje é o encontro. onde ela está? oi, lembra de mim? coincidência, não? não, não respondi suas ligações. novamente amigos. O brinde é pra todas as festas de amanhã. somos felizes, claro. Ele me ama e é super-fiel. é hora de ceder! (1.000.000,00 vezes repetido). coro nº2: “e quais trajes a pobre moça irá usar para todas as festas de amanhã para cada criança de Quinta há um palhaço de Domingo por quem ninguém irá lamentar”1 (nisso, uma banda toca) indizível é uma coisa? eeei, rapaz... Você tem um vício! eeei, namorada... É indizível! eeei, alguém... Vamos passear de mãos dadas! eeei, senhora... É o descaso! está escrito na revista: reduza as cifras! eeei... Sou eu... Chamando nomes do portão! eeei... A mesma... De cima do sofá gritando! está claro que sou a cifra da revista! eeei... está claro que zero é indizível, pseudo-relativo!...

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está claro, depende do conjunto!... está claro, sou a chave!... está claro, indizível é uma parte do conjunto!... eeei... adolescente? (ou a primeira letra do CADERNO 1). o garoto cantarola pro amigo, no intervalo das bandas: intrépida relação autodestrutiva. inveja num enfoque familiar. o retorno da solidão. lâminas cheias de sangue. torturas e ódio por si mesmo. idéias de um surrealista ultrapassado. curtindo a própria tristeza. cuidado com as facas. poder morrer a qualquer hora... eu tenho mesmo ódio de coisas concretas... da puberdade tentando à virilidade... viver um momento.

alguma história aí. por muitas vezes encurralado pelas escolhas da vida, eu poderia ter feito tanta coisa (melhor), mas não fiz. Poderia até ter sido ladrão, contudo... bom... esta é a história de um comprador, dum músico e um pobre, que, na verdade, são a mesma pessoa: o guitarrista barulhista. Bléim, bléim, tóum, pííííí! sua inverídica morte em vida o transformou em ícone cult; tudo que lutou enquanto não fazia 27 anos. E ele, ele era a alma dos que não a tinham; não tinham formado a sua própria. Mas o seu segredo era: inspiração alheia! Na verdade ele era a cópia da cópia dum original, e dizia-se único em si. Besteira pura! Ele só sabia o que dizer e quando recolher os dados e época certa... contudo não tiro seu mérito: ele fez algo, e BEEEM! Bléim, bléim, tóum, pííííí! ele trocava as palavras e as reinterpretava, como quando perguntado sobre seu material: “O que devo lhes esclarecer é quanto à aquisição de pedais; sofridos aos poucos e economizados ao máximo... meu dinheiro os comprou, os melhores barulhistas. Daí eu comecei a aparecer... É a sorte roqueira? É o que eu nasci pra ser, é o que aprendi”. mimetismo, contexto atual, retrô, vagabundo, artista ou humano demais? necessidade, troca de acordes, re-, re-algumahistóriaaí. E ele se fez se ferrando nas noites às escuras no seu quarto, ouvindo música, escrevendo, sonhando, treinando, desafinando e se preparando á, é, í, ó, ú. Quanta besteira... (quem conhece? Quem viu) onde “Maria” vive. ela vive nas ruas. ela sente fome e raiva. quando aquele garoto rico jogou lixo nela, ela se sentiu como se realmente fosse aquela sujeira. ela vive num lugar onde quase não há sinal de liberdade, igualdade ou fraternidade. no seu coração “Maria” é tomada por seus ódios sociais e preconceitos raciais. onde “Maria” vive? oh, “Maria”!

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oh... a inibição, a vergonha e o sentimento de inferioridade são fundamentos da sua vida. Ainda por cima, ela não gosta de ser comparada com a punk rocker. onde “Maria” vive? oh, “Maria”! oh... (o agito da música no cérebro durante) “não seja especial”. tudo é bem pensado, somos todos iguais. nada pode ser exagerado, nós temos tudo e todos. ninguém é diferente, não! Não seja especial! não podemos pensar, entregue-se à banalidade. esse é um a menos. não... não seja especial. não pense... Aqui. não seja... Aqui. não ao autêntico. não ao melhor. um a um, idiotas. não acreditar em si é raiva adolescente... e raiva adolescente é merda. johnny, os Beduínos, e agora os Tupiniquins. intragável, não? e o outro é intratável, não acham?! ou intangível? essa sutileza, leveza na fala, cala com rima o asselvajado. ai, homem brutal! ui, Johnny! era na música jovem, agora até na importante família lingüística do Brasil. é só uma visitinha... nada mais que isso. quando falta rima, nem sina em cima do amor à terra mãe gentil onde vive... monta em cima de mim, rock n’ roll, eu sou lerdo demais... até repeti de ano. vivo no deserto ou tenho quatro dedos numa das mãos (esquerda ou direita?), e por isso não faço bem um riff de guitarra. ei, Johnny!, ouça – ainda com letra minúscula no seu imperialismo – isso: vai se fuder!

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“hey, Joe, i said where you goin’ with that gun in your hand?”2

1995: aquela velhice. a senhora ou o senhor (...) abria o jornal todas as vezes pelas 7 da manhã, religiosamente; tomava o café – pouco açúcar –, olhava pela janela e via a rua gritando. Era o seu despertar. Alimentava-se de ar no café da manhã, que reaproveitava no jantar. No almoço, ia até a esquina procurar algo barato e rápido. Na rádio tocava bossa. Sim, já estava definhando, bem à moda MPB.

chega uma carta – mais uma amigo(a) se foi. Pensa: “E ele(a) já foi rock n’ roll...”. “Olha à minha volta, carteiro: cortinas, mofo, bigodes, pelancas e cadeiras; pêlo de gato, gota de chuva, crucifixo de 1920 e calças jeans de 1989; louça de uma semana, lençol aconchegante, foto da banda de 1968, pente com cabelo de 1950; cafeteira preta, janela presa com fita isolante, caderno de poesias de 1963, medalha de 1944, discos de 1965 a 1979 na prateleira, livros de 1959 e 1974 etc”. O carteiro fica quieto, diz ‘até’ e vai embora. outros dias se passam. “o que te sirvo em bandeja? Não tenho petiscos, amigo – um visitante”. “oi, minha fofa. Como vão os estudos, Invisível?”. outras situações... “hei, pêlo de gato de novo! Troca o sapato! Hei, conheço esse paletó!”. E alguém singular diz algo estranho: “vim tirar seu retrato, meu amigo, você se foi”. no fun desse jeito. e minhas veias eles fumam e destroem oh yeah chateação cuzão clichês... arte é subjetiva. – clichezão. – cocozão... rimei também! o nada, o lugar e a garota. o nada. não pense aqui, entre logo. nada. uísque. sei que está escuro, mas vamos nos disfarçar para entrar em outro estágio. silêncio. vou dormir no meu céu... deslizar nos meus sonhos... quebrar meus pensamentos,

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bloquear meu amor, até que ela volte... vou segurar meu choro, lembrar dela na minha mão e desenhos esboçados. até amanhã. fontes (ou a pré-inspiração pra letra). na casa há uma fonte e nela havia uma boneca, e essa era linda. Tinha lembranças e virtudes, mas estava a virar pó, pois em “vida” jogou muito, de lugar em lugar, e estragou e estragou; seu dono, amado e devoto, lhe fez mal... te deixei cair num poço para ser alguém mais livre de mim! tão banal; era a Morte/Fome feia (...). eu posso? eu posso fazer um objeto ser dócil? talvez a água de chuva traga uma cara nova; mais pálida, livre de mim. livre de mim, não precisa ser uma boneca... para minha amiga, A máscara da Alice. máscara de olhos negros e fundos, diga o que pensa depois de algumas perguntas: que cabelos ruivos são esses? hei, que falta de expressão é essa? não precisa responder diretamente. eu sinto sua falta, senhorita Alice, pois no fundo esta foto é cinza, e adoro cores, mas cinza não é uma cor aqui. nossa, que coisa horrível! seu nariz está quebrado e o penteado ficou bem ondulado. por que não se lavou? por que não é o que é? um... no dois te confesso algo. dois... porra, espere um pouco! três... pára!, vou contar um outro segredo: ouvi algumas canções antigas para escrever isto.

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escrevo mesmo no escuro. e no escuro mesmo escrevo; sem luz e sem saber o que escrevo: traço objetivos e faço tudo o que quero. imagino, imagino até apagar, de sono, para o escuro. ouço o disco escuro feito no escuro, que traz escuro musical para elevação, nirvana. escrevo, mesmo no escuro, sem nem saber o que digo; tudo embaralhado. escrevo mesmo no escuro: para um amanhã claro feito no escuro, ainda escura noite e pincelado de escuro escrito. para um amanhã, claro, feito no escuro. ainda escuro, noite, e pincelado, de escuro, escrito. (– e aí, o que achou?).

a música que ficou na minha cabeça lembrando você. um relapso no quesito “e-mails enviados à mulher que ama” é o que eu sou. Desculpe, querida, mas é que penso tanto em você ao longo do dia ultimamente, que esqueço de lhe enviar algo. Não chateia, vou me redimir. Eu sei. Já ouviu a música “Eu sei”, do Legião Urbana? Eu sei: vou tentar não ter vergonha na hora de cantar um pedaço dela ao telefone... e olha que nem vou estar na sua frente, com você me olhando: ‘com quem você quer falar por horas e horas e horas?’... ‘não quero lembrar que eu erro também’.

27. j, J, J, J são o clube dos 27, são os monstros imortais do rock, são as estrelas eternamente jovens, são os símbolos de um belo cadáver, e eles são as cartas do baralho... Se você chegar, empunhando sete cartas no começo, aos vinte e sete, você entrará para o clube. Apenas vá somando números e chegue à casa dos vinte e sete – cada jogador na sua vez –, de onde você nunca mais sairá, pois, se passar, você morrerá de verdade, e morrerá mesmo, até porque, depois dos vinte e sete, você começa a envelhecer – isso eu vi na televisão um dia desses. regras: 1. o J é o valete, ele é vinte e sete. Quando você tiver um J, jogue-o!, pois ele é o próprio clube; no começo, no meio ou no fim do jogo, ele ganha. 2. sempre se começa com sete cartas neste jogo, sempre!, mesmo quando acabar uma rodada e você tiver baralho na mão. Compre. E... Mas durante o jogo só compre uma vez. 3. Q ou K, ou rainha e rei, não valem nada – pra que até no carteado eles teriam que interferir? Servem apenas pra enfeitar o niilismo! 4. e mais!: se você tiver uma carta sete, e o adversário anterior jogar uma carta dois e for a sua vez, assim formando 2 + 7 = 27!, você fatura a jogada. 5. apenas o coringa poderá zerar o seu jogo, e apenas ele poderá valer um ponto, ou número um, quando você estiver com vinte e seis e estiver na sua vez de jogar para chegar aos vinte e sete. E também poderá anular a jogada do outro, depois que jogar J e for atirado o coringa (ou Joker, pra alguns ditos mais esclarecidos), ele faz com que ninguém fique com nada. Nada. 6. seu A (ou ás, se preferir, porra) dobra o número de pontos, quer dizer, anos, que você tem. Ex.: se estiver com uns quinze pontos, ficará com trinta... mas trinta, não, 27... 27 é o jogo do rock n’ roll! típico em si menor. – oi, eu tenho um problema.

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– oi... é foda. Eu também tenho um problema. banda de rock. banda de rock banda de rock banda de rock procurar montar treinar ensaiar desmontar gastar treinar estressar arrumar tocar vibrar gritar descansar observar chorar sair ir rir tocar quebrar consertar comprar tocar aborrecer entender cessar banda de rock banda de rock banda de rock poucas são bandas de rock. o conjunto tem que amadurecer. em palco. performance segurança tranqüilidade e ser uniforme. ajeitar o som e ainda agradar ao público apático que já se esgotou com o som hiper-contagiante-fabricado das apresentações anteriores, disse o cara da mesa de som pro amigo, enquanto gravava os shows para a Coletânea do Festival. aspirinas pra mim, analista pra eles. meus amigos têm uma banda comigo, e eles vivem pensando nela e na cerveja,

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a ponto de deixar de pensar no amigo aqui. e, à tarde, em casa, sozinho, digo “chega dessa criancice”. quando arrumo uma namorada, alguém que posso compartilhar e completar as coisas e eu mesmo, e que posso ser feliz, além do que geralmente faço e deixo me darem, então ciúmes deles; eles a repudiam por acharem que me afastei e eu fico triste em casa e sem nenhum telefonema, por não conciliar a dupla. “grandma take me home”3 pra eles! ócio, Narciso, ócio e eu. as histórias de pessoas derrotadas: não quero o mesmo. uma vidinha paralisada: não quero o mesmo. os esconderijos tranqüilos: não quero o mesmo... pelo menos agora não, nem neste escrito. a música virtuosa: não gosto. o sol doente: não gosto. a inércia: não gosto. o trabalho: odeio. a facilidade: odeio. o jogo: eu amo. a controvérsia: eu amo. o eu: eu amo. pequena descrição que ninguém entende do amorzinho jovem e começando a fazer aniversários. ela gosta do Belle, ele do Velvet, mas ambos se completam. nos filmes ou no cinema, é tudo tão parecido, que sabem o que gostam antes de dizer, amorrr, rrrrr... transbordar! ela: indizível, ele: sem perfume, entretanto, Lagartixo e Cactácea (espinhenta, ui*), Literária e Deslocado, Preto ou Molinha, gostosa, gostoso, tchau*, tchau*******também, casal. namorada, namorado, contrapartida feminina, meu lindo – ainda que ache mentira... ok, pode dizer –, Sereine, nhá,

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hum... beijoca, bobo, boba. oi, mô... Tudo bão? beleza! mil clichês românticos??? que nada!!! Menina das Lentes, CandyBoy, Fadinha, Pão Vitor, carinho, Carina. aiii, mudêusu, distraídos, sobre 8 de abril, romance moderno, aliás, pós-moderno, Srta. Morgado & Sr. Grossi, mais e mais palavrinhas intraduzíveis etc. numa planície. “eu estou numa planície eu não posso reclamar”4 acho que Kurt tinha razão, só não acho que deva falar tão francamente a quem não merece, e que não deve voltar pra casa. Eu prefiro a planície. Obs.: ouçam a canção original, “on a plain”, do Nirvana. altos no meio. (pessoas, viagem, bebedeira, doidão, vícios pequenos...) pai, mãe: eu sou homem, eu sei me tentar rebelar! pai, mãe: eu sou mulher, eu sei me tentar rebelar! pai, mãe: eu sou homem e mulher, eu me sei me tentar rebelar-me! pai e mãe me se descabelados-se!!! problemas na noite. voz um: “Outro problema na noite”. voz dois: “Problemas!...”. eu cantando: “Hummuuumumnn... Oh, problemas na noite... que gravação ruim! problemas na minha mente...”. descida ao outro lado. estou caindo, não vejo nada, apenas pecado. não ouço nada,

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não sou nada. estou viva, mas onde eu vim parar? dá uma razão pra tudo isso... ela me levou ao limite a que estou acostumada. olá, meu Herói! estou tão confusa. olá! estrelas, agora estamos perdidas... (a música deve continuar).

13.07.06 ou “O dente”.

sentia-se o cheiro de podre, dentadura; de postiço, de velho com mau hálito; um fedor de cuspe de semanas, de carne preta. Era o dente descolando, e cuspe entrando pelas frestas da prótese... e ele não podia fazer nada, apenas esperar o dia de amanhã – portanto, dormir mal – e pela manhã ir correndo pro telefone marcar a consulta de emergência no consultório – e todas as que lá atendem já sabem: caiu de novo. Pobre garoto... o dente já estava amarelão, cheio de massa, diferente em seu esmalte, como um brinquedo toscamente colocado. é guerra. Dor na cara, angústia e melancolia, pois aconteceu a inesperada vergonha! É de dar pena mesmo, e esta história poderia ser incluída na biografia de Jonas C., lembram dele? Claro que não. Realmente é uma pena. Continua, sempre continua o tratamento... Jesus, quando vai acabar? Por que você não deixa ele em paz? dentro de si ele xingava, e estava doido pra fugir, ouvir “The eternal”5 e calar. logo em público? Soltinho, pendendo, apenas encaixado, o dente... pronto pra cair e ficar naquele pratinho de metal dos dentistas, pra fazer barulho de pedra caindo no metal: trinn. Que suplício, minha gente! Pouco depois de ser refeito, ele dá defeito... “Choro como uma criança, embora estes anos me tornem mais velho”. o que a palavra não pode explicar, a ação nada determina. eu já percebo que ele está indo embora. miséria. ainda não acabou isso, sons de troca. divisão do prazer, paranóico, descolorir, coraçãopartido, superfuzz bigmuff plus, um monte de efeitos psicotrônicos...

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segunda, terça, quarta e no domingo... tín tóum tum tátá, tuntá... tum tátá, tuntá... joão é pedreiro... e não vai melhorar, ar. tum tátá, tuntá... tum tátá, tuntá... joão está doente... e não vai melhorar, ar. tum tátá, tuntá... tum tátá, tuntá... alê não faz nada... (e todos sabem) não vai melhorar, ar. zummm... (a filha dela disse zimmm... que não era filha dele). (distorção!). (fraseado limpo). tum tátá, tuntá... tum tátá, tuntá... a mãe se perdeu (então) não vai melhorar, ar. tum tátá, tuntá... tum tátá, tuntá... a família toda desiste (pois) não vai melhorar, ar. tum tátá, tuntá... tum tátá, tuntá... e todo mundo já sabe: que não vai melhorar, ar. tum tátá, tuntá... tum tátá, tuntá... tuntá. joão olha pra fachada do clube repleta de figuras caricatas. ritual fora de contexto. este é um convite à dança dos lobos, onde crianças são iscas de ladrões disfarçados e libertinagem é uma religião banal. psicologia idiota... Psicólogos só querem se expor. forças: carreguem-me, levem-me daqui. a todas as seitas de magia assassinas de meninas: quanto maior o corte, mais haverá dor! as presas são fracas, e há deficiência no ensino. grande porcaria!

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por favor, acendam as luzes de dia (, esta frase podre!) injustiça, injustiça! sacrifício. sacrifício. coisa do mal é o gutural, e está chegando o final, e ninguém está mais lá... canção esquecida. vamos, vamos, há um sítio a se aprender e dispersar. o que há a dizer e fazer ali? ohh, nosso terreno é assim, ohh, mas queremos mesmo assim. ohh. olá, olá, vamos dividir. olá, olá, quero dividir. lá, si, mi menor, fim... sem estribilho. descrição simplista. literal ou não literal, escrito sobre outro livro e papel reciclado, como catarro, de agora e de ontem falado e cuspido por canetas vagabundas com sêmen e dicionário ao lado. hei, eu sou machão! cadê a cerva? E... Hã... e o, hã... um orgasmo forçado traria o que é, mas com folhas e cardápio parecido com os de museus: “tosse, desgraçado!”, isso não é um grito, é castigo feito com televisão desligada. sem entender, como na faculdade, há insegurança e bolsistas. sem entender, como nos vídeos, filmes e gavetas que procuramos. aqui neste sofá há uma lagartixa, sujeira e um rasgo. nós somos esse rasgo!

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música para nos agitar! Ih, acabou! ops, o Tãntãn já chegou com a pizza... até! trummm, trum... fiuuu... ti, ti, ti, ti... pííí_______________trãm_______pi___pí___--zip!

DEPOIS DA APRESENTAÇÃO... música de banda imaginária traduzida para curiosidade. sobre a cabeça de Mozart numa revista dum conjunto, morra, morra pra mim, chore, chore pra mim. tudo isso é merda. ou isso é merda? ou aquela é merda. enfim, é merda, certo, Jim? eu quero matar você, agora... apocalipse agora. ah. the end, Russo, meu amigo...

“enterro dos ossos” numa banda de indie rock. um homem acenou, uma mulher fez uhuu. Mas o show já havia acabado. A mini platéia ainda sorria e degustava da ida até as cadeiras para sentarem e esperarem a próxima apresentação que não viria, e os músicos começavam a guardar seus instrumentos. subitamente, um dos guitarristas parou e disse ainda timidamente ao microfone precário remendado com fita isolante: que bom que gostaram dessa salada. Fico muito feliz... Esta foi minha última apresentação... eu sairei da banda... Por muito tempo acreditei num ideal e nos meus amigos de banda... confiei... mas nem todos compartilhamos da mesma preguiça.... e disse um crítico ao lado: “...círculo vicioso, perda de tesão pela coisa x, y e z.”. o guitarrista recomeça: devia ter ouvido minha mãe e estudado; agora sei que me fudi... Vou é vender todo o meu equipamento e lançar um livro! eu cansei, eu cresci, enfim... a quem fica: boa noite. e some largando tudo pra trás. “ah, esse menino ressuscitou algo, é diferente, audacioso. Qual é mesmo o nome dele?”, disse o crítico... cifras finais: – deixa que eu baixo da Internet.

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– não, vem errado. Vou tirar de ouvido. – aí complica. – esquece isso e vemos comer um ratão. – boa. Também tô com fome. – ok. – ok. – ok. – ok. – ok. – adoro aquelas pausas nas trocas de faixas nos cds.

indie do sol. o indie, aliás, o sol: escaldante, cheio de ondas ante o rapaz descaracterizado. É, aliás, não, não é de fora, como os realmente de fora, é daqui, perto da praia; relaxando – é indie dos novos, da nova safra, diferente dos primeiros, que eram pobres universitários. Enfim, moderninho, vocês sabem. no mormaço, abana a camisa, pensa em tirá-la mas não tira – odeia a roupa humana comum do dia-a-dia; não é tão ruim assim o calorão... É uma adaptação ao cá. A música dele é de lá. não estamos no meio da semana, entretanto sinta o clima “Rio” de ser. Será que o indie está gostando do calor? Acho que não, no seu apê não é quente assim, lá no alto. Ele está fora de casa, coitado. o indie está lendo a programação cult do panfleto que pegou naquele cinema conhecidão da Cinelândia – ele pensa, olha pros prédios do outro lado da rua. Será que não vai dar um ‘olá’ pra areia e invejar os banhistas? O indie está de calça e allsssssssssssssstar. é preciso? comédia palpitante. fachada duns estilos que este pobre narrador não sabe nomear. palmeiras... onde está a casa dele? Há festa onde mais? Há uma ela? Ou um ele? Ou um andrógino? riqueza, beleza, sucesso: nada mais a dizer. O que descrevo é autista, é alto no salto, ego pré-concebido. aqui acontece. deus é sol. 24 horas sem dormir, voltando duma festa infestada de retrô. do lugar donde veio estava frio: o ar era condicionado, as pessoas tristes de alegria. saindo de lá, ele viu os filhos do vento, e, ao amanhecer, as nuvens saíram pra passear também, e deram boas-vindas ao seu senhor, o sol. deus é sol. ilusão.

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noir. esporte-clube por perto, gente saindo, conversando. ele veio caminhando de lá até aqui pra descansar a cabeça, as pernas finas e acalmar o coração que tremia ainda da música com baixo grave sem passos decorados. em casa não poderia estar assim. a noite foi tão pós. um homem de verdade passa na sua frente, um operário. Desdém. domingo é dia de cinema? indian Summer na memória musical. alternativo, indiferente, colecionador de Lp’s, tranqüilo, conhecedor de tudo que ninguém conhece – olha como ele está sendo filmado e não está!... e gosta de mostrar isso, ora essa... A praia cresce, observa. pombos o notam; ele lembra de “Os pássaros”, do hitcccocoococock – foi mal, não sei escrever certinho –, e faz pose com um cigarro. pombos. pombos voam em cima da empresária-mulher do banco ao lado – ela se irrita, afasta. Os pombos voam em cima do indie, e ele os espanta e os pombos vazem voar arreia e folhas: sujeira em cima do indie. E o indie é envolvido pela nuvem de arreia e pombos que se formou ironicamente: o indie é assassinado, bicado, asfixiado, morre sozinho, derrete como rã no asfalto, ninguém se preocupa em ver. Ali, na beira-mar, estendido como um mendigo que nem ele mesmo olhou nos olhos cansados, longe de casa, calado como gosta. Fim trágico como ele esperava que fosse, como deveria ser: morreu feliz por estar triste! Daí a praia olha. O indie virou sol. música cochichada. diga à família que aprendi algo, no final decadente: ouvidos bons e ruins podem aprender mesmo que com ensino pobre, que dentro da música cochichada e sempre dita muito jovem para parecer amadurecida e/ou conflitante, é, pois, que da chilena à da favela relaxada continua contendo dó, ré, mi, fá, sol, lá, si... e aos ouvidos, dó...

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A A A A (um esp(um esp(um esp(um espécime diferente).écime diferente).écime diferente).écime diferente).

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Dedico à C.M., J.F.S. e, por fim, C.L.. Não é nada. Para quem vir: não faça mais nada, leia. Não é confuso, tampouco engraçadinho, somente meio novo. A A é o nome de uma pessoa muito especial. Só não vou descrevê-la fisicamente, porque não consigo. Não vou fazer uma retrospectiva de seu passado, porque não interessa tanto. Apenas será revelado algo muito grande. Ele ou ela, não se sabe ao certo, tinha um único e findo desejo: fazer uma declaração. Essa declaração, aqui descrita e conseguida por meio de pequenos bilhetes entregues a mim, X, acabou ficando em várias partes e tendo vários assuntos, e plano de fundo em tudo; uma coisa. A foi quem idealizou a forma deste imenso recado. Foi quem decidiu negociar com a sorte e com as pessoas ao seu redor. Foi quem enfatizou a filosofia de algumas pequenas coisas. Foi quem começou a escrever estas coisas aqui mal organizadas. Foi quem teve realmente o fluxo de idéias. Foi alerta, reflexão, vício. E eu apenas estou lhes mostrando. Simples, não é mesmo? Nada rebuscado no começo... Como eu ia dizendo, tudo aqui é coisa de A... A é o começo de si. A é como a angústia do Ser. A é como vem. Vem como filosofia, vem como uma vida largada. A é como um desenho tentando obter forma, gênero e número. A é andarilha, ou ermitão? A é atual, é conceito, situação e situações vividas. Há. Não é só uma letra, nem um grande efeito, é estar fácil, meio suave no seu interior. A não pode ser adeus, A continua aqui, pois é tudo o que nós, comuns, somos... e gostaríamos de ter feito... A é o humano, o imperfeito, o par e ímpar; é constante. Muitas coisas mais...

Ainda. Atenção, calma. Até. A. A. A... e mais Ás na manga. A:

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A) A chuva que cai e traz água é a mesma que me molhou as meias e os cabelos já aparados, que ainda estavam molhados pelo banho quente. É água transparente infiltrando terra e asfalto com lentidão fina e mansa para depois ficar composta de pequenas e negras sujeiras comuns das ruas. Agora descanso e paraliso meus olhos nesta cena. Aguço minha capacidade de recriar as coisas que vejo e reescrevê-las. Tempo. Irei me resfriar, tanto que já preparei minha cama e meus antibióticos para quando chegar em casa – já deixei tudo no banquinho de cabeceira. Daqui do alto deste prédio espero a aula de frente pra janela do quinto andar, e a olho nu, olho a chuva... a cair e molhar carros, praça da faculdade, faculdade e estudantes que vão entrando. Caindo e trazendo frio e finas gotas levadas pelo leve vento, até a grama molhada e as árvores encharcadas de água de chuva. Observo também poças borrifadas pelas gotas d’ água, como uma figura de revista. É noite úmida de setembro, e tenho usado casacos. O calor está de férias. É quase outubro, e estudo estudando olhando e seguindo a chuva. Tenho em minhas mãos vários escritos colados reunidos num caderninho 202x140 mm. Abro-o. B) Do que é feito um sonho? É alguma matéria aquele desejo? Tanto que se priva – você – para realizar os seus anseios. Até mesmo perde-se a juventude; deixa-se de lado, parecendo mais vivido e pobre para quem te olha. Há algo que o deixa triste e pensativa no quanto você sente-se menor quando ainda está tentando. Esse meio-termo – entre o começo e o fim –, é marcado sempre por desilusões, perdas, resto, preguiça, diminuição perante os que já conseguiram etc. Daí você escreve sozinho na sala, na cadeira de madeira, à noite; palavras sem palavras difíceis; somente um monte de palavras livres. Tudo pra dizer, e sempre ao som da nova onda, da música. São tempos, também, difíceis – que é liberdade? –, só resta pensar e voltar a aprender (A situação do “ainda desejo” a ser atingido).

Ei, psiu! Aqui entre nós: Por que ter medo de tudo? Alguém te impõe limites? C) Um não-comum homem deve seguir o seu caminho, isso eu aprendi. Alguém um dia disse a mim: “Sobre o mundo e sobre a vida: dizem que quem segue sua própria trilha é forte”. Eu vejo essa força, numa trilha solitária, contemplativa, mas nada bucólica e antiquada, MUITO MENOS ultrapassada. Nada mais me será bom, meu caminho eu traçarei; sou meu único remédio, sou o melhor que faço a mim mesma. Um toque de Rimbaud. Não sou nenhum animal, sei me controlar. Mas terei, entre outras, estas sinas: Morrerei na miséria material ou será rápida a minha ascensão? Morrerei na miséria da ostentação vital ou será rápida a minha ascensão? O certo é que eu acho que vale a pena. Assim ela é muito mais real... (A trilha). Por favor, poderiam ler com os intervalos? Irão gostar e entender mais. Obrigado Percebam: Demora,

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e aprende-se línguas e signos. Tudo termina? Tudo já foi dito? Mas eu ainda não falei!... (Além, aquém, a antigamente). D) Algo grande está acontecendo; evolução, ou um futuro. Posso até cometer loucuras, ter uma catarse, ou o amor. Desfazer-me de pertences, tudo o que tenho, pelo maior, eu, meu interior. (– Clichezão. – Cocozão... rimei também! Arte é subjetiva). Desabafar, dialogar com meu eu, ser sensível... Escrever um livro difícil e mal interpretado tem sido tão comum. Hoje é assim.

Quantas vezes você olhou seu caminho ou pelo seu interior se meteu? Só estou aqui tentando ser entendida e passar algo que acho relevante. “Siga uma meta e faça o melhor... e não vá por vários caminhos”, diria algum livro de auto-ajuda barato.

Sim, deixe que eu pense, tente e seja o que sou, assim: contente e altruísta. Talvez eu tenha mudado de idéia, talvez eu sempre tivesse essa vontade, mas... Podem construir impérios, cidades, edifícios e tecnologia, mas as palavrinhas sempre resistirão mais bravamente ao tempo e à destruição de bens materiais. São verdades eternas, as palavras... as coisas do povo, da língua, dos que escrevem. (Às idéias). E) Bolhas de sabão, músicas lentas e suaves, flutuavam e davam uma nova sensação tão antiga como quando estava eu comendo chocolates. Manias, manias! Música! O mundo agora é retrô. É a nova. É tão ruim de se situar. Sssssss... antigamente pode ser renovado, como livros, sebos, brechós, música e moda e modismos. (Antigamente novamente). F) Tenho a tendência de gostar (e me sentir) melhor em lugares pequenos, apertados; ficar dentro do armário escuro e fechado – ado, ado. É o contrário da claustrofobia: eu. Um gosto pela exclusão... que já vem desde a infância. É intuitivo. A arte, a escrita, tudo o que minha cabeça expulsa, tenho que passar pro papel mesmo que sem ordem declarada. Hum... pensamentos. Gostaria de fazer uma revista, ter um movimento, fazer algo desorganizado ser bonito, ser eu e todos adorarem, ser subjetiva quando quiser; odiar os pedantes mas me odiar. Arte é compilação? Talvez. Arte é complicação? Não. Não em (Arte, lugares pequenos e apertados e escrita intuitiva). G) Quando eu era pequena, meu pai me prometeu que subiríamos na maior montanha que nossos olhos viam daqui de casa – distante do meu horizonte –, mas ele nunca cumpriu a promessa. Talvez por esquecimento, ele não me levou lá... talvez por prudência de pai. Mas o certo é que eu não esqueci. E fiquei a sonhar com ela, me exilando em suas imagens que a tornaram mítica e a abraçar as lembranças como as meninas “Amigo da Infância”. Um refúgio sem lanche da tarde ou cama aconchegante, entretanto, de uma complexidade de tons e alcance, e simplicidade de viver: eu me tornei como minha montanha. Pena não ter virado um ermitão como Grenouille...

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Por que dizer que a fé remove montanhas? Ela é tão boa e macia, por que retirá-la? Penso que sou como um pássaro de suas árvores que foi perdido pela mãe, mas ele volta, ele sempre volta ao lar, ele sempre voa Bach. (À lembrança de minha montanha).

“Fala-me dos anjos, ser celeste. Fale dos chicletes que vinham com anéis na minha época. Onde nós vamos parar? Meu pai não me disse o que viria, nem o que era pra fazer quando fosse até a porta de uma mulher. Mas não é a ele que culpo. Agora já foi, apesar de já amar e ter amantes, não consigo ter anorexia, então... deixa pra lá. Agora segue, e eu já tenho a barba e cabelo grande que iriam me dizer pra não deixar crescer, não é mesmo, Pai? Antes de sorrir, falo algo pra começar a conversa... Obrigado. Obrigado, por não comparar religiões... Ser divino, pra dizer e não dizer, mascarar as dificuldades com um sorriso, fale-me dos anjos agora, ser celeste, e eu te digo: Ante a estrela Manhã, antemanhã diletante. Anjo, diga a Deus Todo Foderoso que eu cresci, discordo, às vezes até dele, tenho cheiro, e, principalmente, odor próprio”. (Antes de dormir, uma oração). H) Trabalho num dia ensolarado e ansioso. É... O Trabalho espera o tal Amor e é, é sensibilidade. Leve leveza... Amo... amor, amor, desconstrói na contemporaneidade. É meloso? Gentil? Opa!... como é bom leve, livre, a dois, compartilhando o mesmo cachorro-quente e a passagem de volta do ônibus-lata-de-sardinha – há quanto tempo nós fazemos isso? E ela também nunca ligou pra métricas. O trabalho é o processo intuitivo que ama o amor e convive; o amor é moldura. (Amor, amor, amor, é).

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I) A vida, a vida, a viva: acha. Se existe um jeito de achar um sentido pra ela, o que seria do ato de eternamente tentar? A vida, a vida... como sou idiota. A minha está aqui, contudo não precisa me conhecer pra me ler. Não tem graça chegar a um fim lógico e acabar com o mistério. A vida... Essa é a vida com câmera cinematográfica. (A vida, a vida). Hoje encontrei um pássaro morto no quintal. Só pude enlatar o pequenino e jogá-lo no lixo – e, ah..., peguei seu corpinho e beijei e abracei, coisa que não poderia ter feito antes, já que os pássaros não deixam. Aves trazem esperança? Mas e se as aves estiverem mortas e apodrecidas? Precisam de atenção e carinho, como meu pássaro falecido precisaria de cuidados se ainda estivesse vivo. “Meu dono, lave-me! Traga-me de volta pra perto de você”. “Somente me sirva o prato. Ligue pra mim somente sete vezes por semana... Por favor, me faça um ser completo. Se você ainda me gosta, entregue-me um pouco do seu dia e noite e madrugada. Não se esqueça de mim senão vou te jogar no meu prato”. “Meu dono, lave-me! Traga-me de volta pra perto de você”. Ainda vou em frente? Tadinho do pássaro, o mundo é tão rápido. Preciso conversar mais com minha metade racional. Pra qualquer lugar... Onde será que foram parar os nossos pássaros com suas esperanças? Debaixo da terra? Em sua sepultura de penas? No meu banheiro sujo? Nas coisas divinas? O pássaro então diria: “Meu dono, lave-me! Traga-me de volta pra perto de você”. Já eu, não digo mais nada. (Ave-marias à minha ave ângelus, uma segunda oração). Anteluz, o quarto. Luz vindo do sol da tarde adentrando o quarto vazio. E nela, fragmentos de poeira como neve flutuando no ar... Luz, tablete de feixes brancos de luz. Anteluz perante a luz... (Anteluz, anteluz). Antiquários, edifícios e estilos: Levo a mim para o lado da fachada, simples e doce – projeto de lugarejo –, feito em Paris e aqui mesmo na Zona Franca, pra dar uma volta na Cinelândia. (...). Senhor Alguém, levo a mim, eu mesmo, para o lado que quer vencer.

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Dê-me uma boa inspiração e desdém, senhor Alguém. Por favor, me ajude. Não sei se tenho um estilo. (...). Alguém, senhor Alguém... tenho uma pasta repleta de poemas e histórias que escrevi, mas não sou poetisa. O que é Tudo? Senhor, me ajude... Não sei o que faço, não sei o que é ter certeza, não sei nem qual a diferença entre capa e contra-capa. Será que procuro um lugar? Será que escrevo um livro? Será que entenderão meu jeito? Será que sou apenas um chato? Por favor, me ajude, me ajude, senhor Alguém. Não sei se tenho um algo-relevante. Não sei se eles sabem que é intencional, intensional. Posso deixar algo para o senhor ler, senhor Alguém? Reticências. (A terceira oração... oração a ninguém). J) A um espécime diferente: por quê?... Dentre tantas pessoas, eu me escolheria?, ou optaria por escolher uma só pessoa? Existem tantos seres iguais ou melhores do que nós, que uma escolha é muito vaga diante da multidão. Então, eu digo: é especial aquele que não se prende a uma só pessoa ou grupo. É diferente aquele que se vê e percebe as possibilidades sem um documento ou ficha comprobatória; é diferente aquele, aquela ou aquilo que é incomum distraidamente. Ká) Minha caneta é um canal para meus dedos que são meus diários... Um dia eu vi e anotei: amizade que se desfaz no vento com o tempo... que passa e carrega os antigos amigos a lugares distintos...

Ao passar pela rua, um 'oi' murcho e a sensação de tristeza ao saber que já se foi, já compartilhamos experiências... Que passando para a outra calçada vai um antigo melhor amigo. Ou quando revejo aquela garota do sábado... Nenhuma reação. Mas isso é natural... acontece, infelizmente; natural da natureza, natural dos seres vindos de barrigas. (Amizade/laços desfeitos e/ou desligados). L) Com medo, fico travado e tenho o coração apertado e entro em pânico e fico com dentes batendo e começo a suar e ter dor de cabeça e alguma apreensão. Isso é medo. Medo em alguns exemplos. (Ao ter medo). M) Eu rio para não me assustar, rio para não parecer antipática; rio também mais por falta de ação, assunto, susto ou até por desconfiança. Eu rio uma resposta; rio como quem vai dizendo: “É... é isso aí... valeu!”, ou “Obrigado”. “Caramba... que chato!”, “É foda”. E por aí vai. Ao rir, distraio, saio da falta de assunto. Fazer o quê? Tudo é ridículo mesmo, e está indo pelos ares neste campo de concentração mundano. Fazer o que, meus caros e minhas caras?... vamos abraçar a nossa lenta destruição e nos embebedar de risos. Não há nada mais a fazer hoje. (A não ser rir). N) Quando sonhei com uma criança – uma menina que parecia uma boneca qualquer e era dura e falava como um robozinho –, lembrei de uma conversa, que não vou dizer qual, mas que tive com meus supostos pais inventados para esta história. E na conclusão, eu dizia: “Dar auto-estima a um filho não é a mesma coisa que dar riqueza e bens materiais. Se faltou algo, é porque quem criou não teve a preocupação e maturidade para fazê-lo”. Engraçado como ainda me sensibilizo... Isso é porque eu nunca tive palavras de incentivo... (Ao jovem filho). O) Pais: dêem um livro de filosofia pros seus filhos. Mesmo que pareça doida a idéia – não achem que parecerão cultos metidos –, eu garanto que não se arrependerão, nem será vago de sua parte.

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Começar desde cedo é a chave. (Putz, que frase idiota. Ainda assim vou deixar aqui...) Inicie/comece com algo didático... Por exemplo, algo como O P. Príncipe – tente entender essa perspectiva: eu dou importância a algo como vocês, mas, é claro, diferente de seu jeito. Faça a criança ler um livro com a sensibilidade e minimalismo com que ele foi concebido. Passe depois para F. C. Gaivota, e verão que trarão uma coisa inimaginável para dentro de si. Nenhuma obra é tão vazia quanto parece, como para algumas pessoas. Existem tantas mensagens, já disse que até me perco?

Um livro é um tratamento psicológico: você contra você mesmo, e sempre vencendo. Mas não esqueça de comentar sobre o clima desses dois livros: é algo... é algo tão branco e sonífero... (Aos pais, enfim). Chega? P) A cópia da cópia e o original... já nem saíram tão boas quanto se pretendia. Reclamou e reclamou das outras folhas e dos borrados, manchados e falhados de tinta preta na folha, mas ler por ler superficialmente, copiar e colar, praticidade e facilidade, comodismo e burrice, já dizem como é a situação. É a xerox ou quem a tira? É a idéia, que vem antes e pra satisfazer o ego. Quem acabou com os dedos digitando os textos acharia legal uma cópia? Não. É a cópia da cópia se revelando; o original já está aí e é reproduzido pela preguiça de reformar o já feito. É um conto, uma história rápida. Tudo é uma cópia fiel; as cópias das cópias e o original platônico. Também somos uma cópia, também imitamos até nossa constituição, também vivemos naquelas sombras cavernosas. Somos o referente. Cobrar universitários e seus livros xerocados, cobrar um escritor pelo trabalho feito em xerox... Uma máquina fotocopiadora já fez falta algum dia, não é mesmo? O que dizer do original? Quê?) Ah... esse questionamento: “...entre os céus e o inferno, essa segregação”. Uma religião não era pra ser algo consolidado e que unisse os seres humanos? A relação de bem e mal é como vender uma apólice, mas quem está certo? O bobo que adquire, ou o esperto que diz ajudar? E quem é ateu é realmente o que pensa? Você 'jura por Deus', 'seja o que Deus quiser', 'Deus te ouça', 'ai, meu Deus', 'só Deus mesmo' ou 'Deus me livre'? Então, o que falar no dia-a-dia? Tentativa de salvação! Vida nova, carro novo, semblante novo! Avisado em sonhos, como um rei (ou rainha, quem sabe...), tomei outro caminho. R) As pessoas só dão crédito aos empregos alternativos quando estes trazem algum lucro. Hipoteticamente: A música, por exemplo, só não é desmerecida quando o músico chega e diz, balançando as notas à família reunida no domingo gorduroso: “Aqui está o fruto do meu empenho: o dinheiro. É meu ofício, queiram vocês ou não. Vocês não têm nada a ver com o que faço ou deixo de fazer. Agora eu sou pessoa?”. O lucro faz nascer o mérito do que você faz, e, gostando ou não, tem de demonstrar o ganho à sociedade. É como dizem: “Teus olhos crescem, os olhos crescem ao contemplar alguém em melhores condições...”. (A valorização de algumas coisas). S) A pompa... a pompa... a pompa! Iupi, uêba. Segundo o dicionário conhecidão: Sf. 1. Aparato suntuoso e magnífico. 2. Grande luxo; fausto; gala. Segundo eu: – Vão se foder. Não me enche os olhos a pompa, nem o trabalhar a vida inteira por uma tranqüila e estável velhice. O financeiro não é tudo, não é o realmente necessário... há tanto mais, tanto a mais, tantos mais que todos precisamos descobrir, mas muita gente não percebe. Esse é o fim? Esse é o primordial? E aí? E quando acabar, como fica? Para que o luxo da casa, lucro cada vez mais almejado, comida, filhos

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bonitos, vida social, status, poder, cosméticos, anel de ouro, títulos, pompa... tudo isso é Fútil (com F maiúsculo e em negrito, por favor). Acabou o quê? E depois? Ostentou? Foi ética e moralmente correto? É a pompa. Fútil. Nietzsche ainda é atual pra caralho! (A pompa). T) O que dizer de um homem que dá bons conselhos? Obrigado, talvez. Ou talvez: “Obrigada pelo estímulo aos meus sonhos em conjunto dos amigos”. Elas, as amigas, dizem: “Com a nossa ajuda e união, conquistaremos o sucesso”. Brega, mas o que mais poderíamos falar de um homem cheio de bons conselhos, adquiridos pela vivência e sofrimento, mas que pouco os expõe ou escreve? Seus conselhos ficam, eles ficam guardados! Ele apenas guarda o melhor pra si – ou então algum dia podem ser descobertos e publicados como a última promessa literária. E às vezes coisas bregas servem. Tudo bem... enfim, mesmo assim, obrigado, amigo. Que tenha uma mudança de casa proveitosa – novos ares para a sua vida escondida, e mais ventos na fronte, ainda que do terraço –, e que seus bons conselhos sejam tão importantes – nestas horas doídas –, apesar de nem sempre todos os acatarem... acatarem a relevância... É uma qualidade! Fique consigo. (A um homem de bons conselhos). Algumas soluções: Fuja. Corra. Esconda-se. E reflita. Pense. Observe. Pense. Pense muito, até ter dores de cabeça. Pense. U) Um bilhete é o melhor presente!, até porque, o que vou fazer com grandes jóias e ornamentos, apartamentos, entos e mais entos quando estiver sonhando? Um bilhete surpresa revela um acontecimento. (Ali, no mundo todo daqui?). Infelizmente, o certo seria só matar se tivesse fome... Parei aqui O clima mudou... Aqui eu tive uma revelação, um estalo, um galo!, um documentário, li um livro incrível e mudei meu ver; É OUTRA MÚSICA, MAIS RÁPIDA! Sou televisão, informação ao vento, uma negação até nos títulos. Deixar pra lá? Estes escritos são eu, eu sou A. Começo pelo final, e neste final há esse desgaste de palavras. Se houver algo errado, tudo bem.

Um alguém palpável? Ou algo inanimado? imparcial

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complemento verbal objeto direto e indireto complemento nominal agente da passiva adjunto adnominal e verbal e revisão gramatical análise sintática ...sempre tive dificuldade em entender... e o porquê? Eu quero ser Supervisor-Geral de Bem Estar, Higiene e Saúde!!! Mas, graças ao destino, virei Distribuidor de Produtos Alternativos de Alta(?) Rotatividade... LIGOU O FODASSE & DEUSSALVESALVEOBRASIL! Um diálogo pra se divertirem: – Ei, me deixa ver a novela, pô. – Fala direito comigo, menina. – Ai, ai... posso ver a novela logo?, esse episódio é importante. – Não, ele é como todos. – Mas, por quê? – Não. – Por quê? Diz um motivo convincente. – Porque você não pediu direito. – Arghnnn. – Olha a birra, assim eu não deixo. – Papai, por favor, posso ver a novela? – Sim, minha filha. – Obrigado! – Foi aí que aprendeu a ser hipócrita. – Ah, minha filhinha... Ainda há dúvida do que está escrito? Escritos assexuados! O mundo não é mais de manuscritos, o mundo é vazio, e as pessoas também, além de cegas. É estranho pensar que o estranho é ruim. E o esquisito? É a mesma coisa! Eu digo: “Não digam não, não, não, digam não ao não, não ao não, não ao não”. Ah, eu encontrei a bússola, no entanto, não pode ser tocada; ela está em mim, assim como o pensamento universal está contido em. E não irei “guerrear” e “pagar” por Deus, não serei enganada. Minha mente é livre. Dancem, escravos. Vamos nos divertir na pseudo-revolução? Não, não é isso o que vocês querem. Música tem sido escape, climinha de teclado pra algo melhor. Como uma letra é boa sem estar bem escrita? ? Onde eu ponho isso? Algo, andrógino e... inquieta.

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Sabem daquela história de 'rir pra não chorar'? Já disse isso? Então... Ir. Ópio em mim Zumbi-semente Desejo Onde está a diversão de verdade? Quem paga por riscos? Às vezes a mensagem tem que ser violenta, do contrário não há vida. Pausa pra reflexão Tomemos um mate agora Sabe, talvez A nem seja gente. E se for multidão, qual será a diferença? Deixo isso por sua conta, leitor. Sei que deve ser difícil assimilar a falta de tudo – inclusive identidade –, contudo, são fatos de pedra. Aliás, se eu fosse você, continuava lendo Páginas avulsas: continuo Anúncio: Eu ainda não sou ninguém, sou apenas uma peça de jogo que quero adentrar. Só quero me despir e me despir com os outros que são como eu... Escrever num periódico, sem propagandas, e poucas imagens. Pouca informação visual. Sim, sim, uma chatice para os ávidos por cores. É para quem gosta de Lite de Ratura, é pra quem quer e já pensa. Hum... Você se acha um etc? Um deslocado com seus livros debaixo do braço, ou aí em sua casa, de lado? Gostaria de publicá-los de alguma forma, mas não consegue... Tudo impede sua idealização e realização. É aquela velha história de valorizar o produto nacional, da falta de incentivo e de uma cultura literária, leitora, do pouco dinheiro, público, cocô, xixi, sexo, espaço etc. Todos sabemos que nada cai do céu, é preciso buscar, e não só ficar enviando livros para editoras, como muitos fazem. Apenas isso é como chutar no escuro, dar dinheiro pros correios, matar o orçamento familiar. “EU NÃO QUERO FAMA-OCA!”. Ah, o fluxo de idéias. Utilizar os velhos manuscritos, textos, poemas, poesias para garotas legais, DELÍRIOS, escritores reconhecidos pelos seus trabalhos, blá, blá, blá, blá. Fazer um livro perturbado, algo fora do comum e completamente novo: é isso? Hum... Hum, interjeição... exprime hesitação, dúvida ou desconfiança. Hum? Já está acontecendo, passando, passando, indo. Quanta liberdade, então não arrumo um serviço de gente normal... O ALTERNATIVO É A SOLUÇÃO! SEJAMOS INDEPENDENTES! Segurança. Saúde. Saneamento básico. Safadeza para o polvo. Vote em Silva Sá Souza, o filho bastardo do Seu Redundante. Partidarismo Que nada, docinho, vamos ser controversos... ou não?

Já sei, é um monte etc incapaz: incapacidade para o autor dizer o melhor de si Sei lá!

Então continua, menina

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Cinema. Imagens clássicas. Imagens clássicas inconfundíveis de pessoas e suas épocas. Narcisismo. Contos. Escritores vendendo seus trabalhos na entrada de centros culturais. Papel e caneta. Máquinas. Plágio. Diarréia mental. Palavrões. Má caligrafia. Arte. Texto. Rolos de celulóide. Nosferatu. Desenho animado. Vitamina C. Intelectuais de fim-de-semana. Baque histórico. Patê. Vertigem. Páginas avulsas. Mosaico. Mutantes. Romance. Xadrez. Humor. Cafona. Guerras imperialistas. Teatro. Filme. Gravidez. Vestimenta ornamentada. Realidade cruel ou risível. Alice no país das maravilhas. Estátuas. Pop. Dança. Letras. Sexo. Capa. Antologias. Contraceptivos. Rádio chiando. Guarda de filhos. Joana “despojada” D’arc. Quebra-cabeças. Liberdade. E-books. Besteirol. Laboratórios. Divórcio. “Criar imagens para dar rostos a povos e idéias”. Antibióticos. Sopa de moral e respeito dentro de crânios abertos com tempero de massa encefálica, comidos com aqueles palitinhos dos japoneses, ou chineses das pastelarias, sei lá. História. Minha família é preta, e daí? Texto caótico. Mensagem subliminar aqui no meio da bagunça. Lite de Ratura. Reality show. Vírus. Fronteiras. Antiarte, contracultura. Pseudonova escritora desconhecida. Símbolos. Sexo livre. Paz e amor. Ilustrações e quadrinhos. Versos. Fracasso, transformação e sucesso. Homossexualismo. Sem algo novo, recriar com liberdade. Épocas. nonsense. Consumo de drogas. Diarréia mental continuando. Pinturas. Bebês. Artigos de revista. Internet. Inseminação artificial. Críticos. Blogs e Sites. Mulheres dos anos 60. Ismos e mais ismos. Incentivo à cultura. Encontro de escritores ruins e iludidos. Bigodes e calças jeans dos anos 80. Licença poética. Fetiche. Poesia. Irreverência. Mercado editorial. Isso, isso, aquilo. Vida, né. Viu o quanto já passou e não vimos?, e ainda assim ficou tudo nas revistas retrospectivas. Poderia até dizer adeus agora. Mas não. Continua. TRECHO AVELUDADO: Vou te dizer uma coisa: A, é um banqueiro e A, é uma balconista. Ambos economizam dinheiro, há. E quando eles chegam em casa, do trabalho, uuuh, sentando perto do fogo, ooh! O rádio toca música clássica, X. “A marcha dos soldados de madeira”. Com o protesto das crianças, você pode ouvir A, dizendo, prepare-se, ah, Doce A! Ah venha baby! Doce A! Ho-oh-oh-a! Doce A! ... (A mulher chamada) Mulher Inventada: de chamá-la minha, observá-la, desejá-la, editá-la. Feita zero, um, bits, máquina, ligação bioelétrica, tecnomasturbação. De tanto vê-la na minha tela, tenho dores de cabeça e tenho que limpá-la, a tela, claro. Até posso dizer que enjoei de ver mulheres reais já que na máquina acho o meu perfil ideal. Hoje as circunstâncias mudaram. Oh, Mulher Inventada LÁ, energia elétrica à mão... O que você prefere, querida? Querido ou querer? Querida ou meu coração feminino? Ao desligar o PC, você morre. Oh! nem palpável ela é, coitada, nem de mero papel, como antigamente se fazia. Ela reside é nos sonhos, no desejar algo perfeito, num holograma, cores atraentes, self-service, rapidez e impulsividade, publicidade, simulação; é adversária das mulheres ciumentas, esse grupo tão vasto. Depois dela, o mundo ficou tão menor. É tudo: graça, leveza, formato do arquivo... Infelizmente é frígida, frívola... meu amor.

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Dê uma olhada e dê sua opinião: Querem me comprar, comparar. Mas sou uma caixa de sapatos, sou a formiguinha que desce descarga abaixo dentro de uma caixinha de fósforos que é filha da caixa de sapatos. Sou também uma bonita e cara caixa de papelão revestida de figuras para se colocar miudezas – mãe de todas as outras caixas... Sou uma caixa grande, um baú em desenvolvimento. E escaneando-me, vejo um ET branco de cabeça em forma de lâmpada com os olhos negros e uma garota normal, lendo e tomando café num Café Sebo no Centro da Cidade. Eles dizem: “Que porra é essa, nesta caixa?”. (Talvez este livro, a declaração de A, seja rejeitado, jogado fora, ou vá parar num sebo muito feio e esquecido por todos, mas A cumpriu sua vontade: disse. Desculpem se foi ruim de alguma forma). A sala tinha uns três metros quadrados e continha uma janela com grades e tela para proteger dos mosquitos. As paredes do quarto eram pintadas de branco. Em cima de cômoda, estava uma mochila e jornal velho, e no teto um ventilador numa velocidade mansa. Caráter contestador, irônico, zombeteiro, crítico, satírico, humorístico, jocoso? Não, nada disso, pô. Paródia então? Também, não! Caraca, tá ruim, heim? Insubordinação cômica? Tá frio... {...}. “Modificar a realidade, desequilibrá-la de modo inventivo e gratuito”. Pegar uma história normal e desfazê-la, destruí-la, com um fim ou começo doido, ou começo sem fim... Pichação Saber o mínimo que é necessário pra saber fazer algo. Oi, massa, oi, povão. Onde está SENTIDO? Acabou o que ia fazer? Volte, então. Sem grandes imagens detalhadas. Sem regras, A nada em piscina de plástico junto com situações e sentidos não-vistos. ¡Puta!, hijo de puta!, ¿Des es la palavra? Está certo? Quem sabe?... Decadência Darti veider écsi-mêin De que vale esse consumismo, meu amigo? This is the end, my only friend, the end6. E a ecologia? E Bin? E Bin? Buuuumm! Há, há, há, lucro e poder exacerbado. Hihihi, falsidade vital... Ui*, Sistema, como tenho dó de nós, meros urbanos bebedores de leite em caixinha. “Vou transar com Nietzsche”, dizia A a um tablóide sensacionalista . E continua: “Vou fazê-lo chegar ao Fim! Algum problema com isso? Depois vou abraçar o mundo com as pernas”. “Logos vou me cagar toda porque sou louco”. Estudo de mercado. Quem atendeu ao telefone? Culto ao culto, culto ao deus que precisa de dinheiro. Cult Prostitui-se por prazer, depois por necessidade: A. Cala a boca! Não. Tubo de ensaio... e a banda ainda continua na garagem. O que há hoje? O que há hoje, por favor, o que há? Hoje tem Porra Nenhuma da Silva aqui onde moro, só ficou Preguiça e Dona Inércia... ou

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Punk, o movimento subordinado pela mídia; pornô, o movimento entra-e-sai de elenco. E na tv: telejornal cheio desses desastres causados pelo homem, brigas causadas pelo homem, assassinatos causados pelo homem, mentiras ditas pelos homens, roubos causados pelo homem, gente normal – causada pelo homem. Celular abre e fecha, dígitos maleáveis, olho azul, lista de contatos, mensagens de 8 centavos, joguinho da cobrinha que cresce, cronômetro, alarme, agenda, calculadora, créditos com bônus, ônus de consumista etc, etc, etc, etc, etc, etc, ufa! A nem racista é, pois é híbrida (ou amálgama?). Posso verificar no dicionário. Isso: dicionário! Se fosse se matar, morreria aos 27, como os monstros do rock. E se fragmentaria? Viraria purpurina? Viraria livro? Seria notado? Ou? O quê? Entraria pro clube. Oh, the guilt. É… desculpe, ela gosta de existir. Praticidade Repressão religiosa? Repressão amorosa? De quem? Hoje em dia? É o agora e o entender a mim que me interessam. O resto é passado chato. Amor? Amor é clichê. Hum... informação com hambúrguer, batatas fritas e refrigeréco... para acompanhar, sorvete borrifado de chocolate granulado e castanhas... tudo em cima... com tubaína!!!!!! É fácil: a matriz estilizada, a aparência desejável é o que queremos. Iogurte Moda indie. Tudo forçado É sensacional, pleibói. Gíria “Curriculum vitae com foto, por favor. Ok, obrigado. Deixe em cima da mesa e pode ir. Bom dia. Próximooo!”. I don’t care7. Bah, que isso… relaxe. Unissex A é homem-retalho, mulher-plural. Infla-ego é o amigo do amigo daquele teu conhecido. Como A conhece pessoas... Confuso? Bula, burla. Meu, meu, meu! Meu próprio Eu, meu próprio Ajuda-eu. E dês, dês-tudo, destruí-la, destruído. Peço ajuda? Não aqui. Em clima de final Mais vale um referente na mão do que dois voando. Nós é minoria? Contextualizar é verbo? Contextualizar é o verbo sim, e daí? Eu disse que sim e ponto final. a nossa ação dos grandes dias de hoje. Strange days have found us…8 A é um livro assim: definição de A: intertextual, provocativa, perturbado e simples de ser. E o trabalho? Ali... PELOS DIREITOS DOS ESCRITORES, EU TENHO A FOOOORRRRÇÇÇÇAAAAA. VOTE 666! CONFIRMA. Não, não acabou. Aguarde mais um pouco Café, cigarros, cerveja, chá. Decote, bunda pro alto, Funk, Smack my bitch up9. A se veste mal, combina mal e porcamente as roupas coloridas que põe pra sair. A nem tem roupa mesmo! A vive nua em casa, passeando e se refrescando do calor, mas quando resolve sair pra rua veste a melhor tendência européia pro nosso verão. Despojada, rosa, caveirinha tristonha, carinha de káxôrrô chuxú, tema infantil, emotivo da classe média, ô dó! RÁ!!!!!!! VAI PRO CARALHO, PÔURRA!

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Lamentar-se Olhar Renascimento cultural? Herói urbano. Apatia Satisfação Fabulazita Tratamento médico-hospitalar, ou em consultórios, tratamento. Alguma outra palavra. Amôéba Buda Dominó DVD’s de filmes esquecidos remasterizados vendidos por R$ 9,90. Gurus Estereótipo do perfeito da sociedade a ser seguido. Irreal atraente e mais aceitável. Israel. Fantasia e realização de desejos refletidos. Cultura de massa Informática A escrita fragmentada e abreviada. Satírico Pasticheira Sem esperança. repetição Rock Ausência de valores e sentidos para a vida. Deus desacreditado e largado nas paredes das igrejas. Filosofia: homem indiferente e fútil; vago, vazio. Jornal Trava-língua Signos Puta que pariu! Muita informação e comunicação. Pouca humanocomunicaçãoafetiva. Muito a recordar! Ai, ai, vou entrar em parafuso! See you later, baby, oh yeah!10 A humanidade é um ser humano só, morrendo e passando a viver na evolução. A humanidade é, na verdade, um indivíduo só. Uma idéia dura pouco, é perecível como a vontade. Marginalizado, extracomum, não-bandido, fora dos padrões, pulmões pretos. Conceitual Objetos Matéria Momento Risos e mais risos, seus palhaços. Sem msgs, sem protestos! Sim ou não. Consumo Desregulado da cabeça é apelido! Sedução Calejada.

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Aceita aê... é bem bobo, eu sei.... mas foi pra tu o scrap. Leviana. Hiper-real Chipzinho Eclética Dêsconstruir!, é a palavra novamente again! O previsível bagunçado. Inacabada, indecidível. DNA Marketing, merchandi... porra, como escreve? Fotos em preto e branco. CD’s piratas. Pílula Motel de beira de estrada infestado de baratinhas francesas. Programa de computador não-compatível com seu PC antigo. Repetição mil vzs Falta de revisão. Preguiça sainha Serviços Embelezamento mendigo com pirú de fora Perversão Loucura Grotesco Intertextual Provocar você aí, lendo. Cotidiano banalizado. Desvalorização: “Isto é uma merda!”. Apresentação Sem consciência, sem linha evolutiva, sem final feliz. Caminhar pra todos os lados. Supérfluo Esboço Cárie (Rudolf Schwarzkogler nu). Acontecimento Cansaço mental, dor de cabeça. Chatice infinita Pane. Caralho, tô cansado... O autor se perdendo Acréscimos de frases que gostaria de dizer, mas nunca tive oportunidade: “Se se impressiona com algo, já basta pra achar que aquilo lhe é ruim. Nada como o inconsciente no consciente achando, tendo impressão de, imaginando, transformando no real”. “Real e real... C.L. muito nos ensina”. “Nem posso me ofender, me martirizar, que ela me defende de mim. Estranho, não?”. “Mesmo amarga, eu gosto de tu”.

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“– Não vai!, não me larga aqui não! – disse ele a mim”. “Tenho muito mais a lhe falar. Por enquanto, direi apenas coisas como eu te amo...” "É importante? Sim, mas importante não é só falar que é importante e ficar por aí mesmo, é fazê-lo. Isso é importante”. “O perigo nos seduz, excita, atraindo-nos corpo a corpo no ímã de desejos”. “Sim... o vírus do amor é terrível, mas tem cura. Ele gruda como uma melodia fácil”. Êêêeta!, soltando as palavras, vamos lá! ; ) :# As pessoas não têm mais tempo pra ler. Eu sei, eu sei... mas a dificuldade está em fazer algum hábito que nunca existiu retornar. :# Diógenes e os Cínicos, Epicuro e seu porto seguro, Simpfilhos e seus anti-heróis. Reagir ao certo e ao errado? Mas o que é certo pra um e pro outro? Nada é errado, apenas culturalmente adverso. :# Desvencilhar-se de entraves e dominações: liberdade acima de tudo! Transbordar idéias, pôr pra fora, libertar-se de dentro pra fora. :# Mística, mítica, nítida, banheiro: “Foi a mistureba”. :# Cética, não-fumante, vegetariano. :# Recorte, refeito, e, para depois, ser re-lido. ;# Na hora de registrar isso, eu queria que soubessem que ocultei “coisa/nome/referência-que-gosto” que ainda não podem ser ditas por motivos legais. :/ “Te vejo às 6, na hora do seriado, A”. A nos diz: “Faltou direção, faltou algo----e some largando tudo pra trás. Merda na cabeça? Tentação? Mundo novo? Não era pra ser engraçado A: leque de informações = pensar, pensar, pensar: fique louco!, A. • A geração atual precisa disso! Leiam os intervalos, já disse! • Honra a que mérito? Prozac, depressão, rir por empatia, sair por antipatia, rir por antipatia, sorria!, alguém te filmou!, alguém te olhou... • Servente do posto de gasolina com o shortinho enfiado no c..., rapaz do estacionamento, caixa de supermercado, subemprego é a onda!, é deprê, é cinza. Porteiro de edifício, cozinheira do restaurante... todos juntos no busão lotado e cheio de sovacos azedos, e chegando em casa lá pelas dez e porrada da noite, num cagaço de ser assaltado. Passar necessidade não é bonito como nos filmes • Vanguardismo é falar difícil; eu sou fácil. Intelectuais e acadêmicos se batendo, e eu fazendo o que quero: isso é a verdadeira arte – sem ser pedante. Arte é pura liberdade e expressão, não importa a forma... fazemos o que queremos! É isso, basta! Diz aí, pô? (berro!) (risos) (povão alegre) (êêê!). Pensando: – Chuta a bola, A. – O.K... Mentira, eu menti: sou A. Sem medo de correr riscos. Ou sim? Ou não? Anti-perfeccionismo, anti-beleza-pela-beleza. Pá, pá, pá, páaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Nada de decadência em mim! Ama! Um céu de A, espelhado, ama! O campo das imagens é muito vasto e de difícil acesso, jovem ser de letras. É

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melhor me contentar em melhorar os meus limites. Fujo igual “diabo da cruz” de Dona Rotina, aquela safada! Por isso friso tanto. O ser humano é música, mas ainda não se tocou que sabe tocar. É uma pena. Antes de tentarem me demitir, eu me demito! “Eu não preciso rir pra você me ouvir, não é?”, disse A para Crase, em entrevista coletiva pro programa “EU TB POSSU ERRAR”. Fenômenos contemporâneos, narcotráfico, sodomia, sob efeitos, quebravam o gelo, perdia o juízo quando bebia, cias., de calúnia, negra e mestiça, branca, amarela, índia, virou fumaça, época, caos urbano, masturbação vista pelos pais, circuncisões e cauterizações, evolução, caso de polícia, se fizer igual aos outros, ninguém me ouve, dura e pobre e sem grana, onde está a salvação, apologia... despida de atrativos, nem estereótipos, mundo hostil, por que o esforço, por que a tarefa, por que tentamos? Nulidade. Máxima. Crucial. Esgotado. Moribundo. Marimbondo. Leitor, o espaço é livre, a escrita é livre, é puro desprendimento. Bibliografia utilizada: hehe, foi brincadeira! E não podem se dar o luxo de apostar errado se não houver um mínimo de possibilidade de retorno... Ter lucro para permanecer viva; avareza. Um convite à oposição. Divulgue uma idéia. Comprar, vender, ganhar, fechar acordo. Ainda por cima é ambígua. Alta rotatividade. Sazonal. Tentativa editorial. Todas as forças numa só tacada: eu mesma... pro tudo: eu quero existir, ser uma arte de criança... livre de mim. Li e reli e fiquei encasquetado de tanto pensar. Li e reli e fiquei encasquetada de tanto pensar: fiz leitura de mim! Lei, violência, homicida, crise... ruptura, estranhamento, desconforto. O que é, o que quer, o que se deve ser e querer. Muda com muita rapidez Flexibilidade intelectual Malfadada Maldade Velocidade Fragmentação Ciberespaço O não-existir Hamlet Disfunções Genes Não vai dar tempo, não vai dar pra atravessar a rua. EspaçoBudismoResultados rápidos, mesmo que superficiaisPensadorHipnoseImpressãoColoridaNovas formas de relacionamento, papéis de homem, papéis de mulherMal-estarDelinqüênciaToxicomiaIndiferençaHorrorXenofobiaFundamentalismoMassificaçãoObscenidadeObesidadeDesinibidasBibelôsBalangandãsObjetos de fetichePlasticidadeVersátilMais sugere do que mostraProduto não tóxicoPeso líquido 0,0AgApertadoArrghnnSufoco Ã... Desculpem-me novamente pelas palavras repetidas. Não precisa não ser mirabolante, pessoa P. Sete vezes A, pra ser cabalística: quanta bela coisa, quanta coisa feia; poderíamos ficar todo o transcorrer da ocasião aqui, não é?! Falando e escrevendo bagunça, ou, neste caso, escrevendo e

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lendo bagunça, baboseira. Será que me arrisco a falar do silicone ou do teor fabricado de anatomia? Tanta coisa, A; paremos para refletir. É bom perder tempo de vez em quando.

Pausa de 30 minutos ou um dia inteiro – parem mesmo! Se fizeram direitinho, podem recomeçar. Obrigado Enquanto A passava, encarnavam: – Olha a artezinha dele! – Tu acha que ela sabe o que é arte? – Que nada, é pura intuição. – Mas o que é que é arte, gente? – Tudo merda de viado. – Tudo isso é pra quê? Tantos de nós, ali no livro. – É a declaração, esqueceu? É pra ler e entender, eu acho. – Ah, sim! Ops! Apesar de tudo, grande-artista-podre-de-rica-famosa-sem-sal-da-mídia, você morrerá tosca, sempre será tosca, e lembrada como filha de chi-xo. Caraca, como é maneiro fazer isso! Rouca, digo mais nestes últimos acréscimos: Robôs, naves espaciais, alienígenas, crimes, sangue, mocinhas em trajes ínfimos, jovens transviados, múmias, vampiros, efeitos especiais bizarros, filmes B... Discurso direto: Vou te dizer o que vou dizer: – Eu não quero uma noite de autógrafos, eu não quero ir pra ÁbêÉle, eu quero é escrever, e ser lido por quem realmente gosta de mim – digo isso e só. Transformar um fato histórico em ficção. “Só é louco aquele que não sonha, pois o sonho é loucura. E não é o delírio uma tentativa de loucura?”. Rico vira-lata legítimo. Exposição, sitiada, gozo, mendiga, leitor. Assim como Piva, não sou piedoso. T-t-t-tiiiiick. E sei que vou ser processada em pleno processo. Sem perder-se no passado, esgotando-se ou em estrangeirismos; sem forma fixa... Eu não preciso saber tanto pra escrever, não é mesmo? Chega de barroco pra suprir o vazio. Eu não sou um eco. Mente instintiva, anti-lógica, iR-racional. Dito e não-dito, múltipla, experimentação e descoberta. Liberta, liberto. Mero suporte visual; apenas referente em si nos seus modos de fazer imagética. Diálogo diverso. Tabu? Herói. Narrativas. Falsa auréola. Tudo. Isso. É. Decaída em crise. Pseudo-enigma. Quê. Deseja. Ser. Prisma. Discurso oral. Nós tradicionais. Como se fala, não é? Não é assim? Acho que também sei, sei aprender. Que se dane, erudição emblemática e vazia! Sou síntese, multiuso, miojo mesmo. Hum... cansaço.

Pausa novamente: horário de almoço Tornei a mexer neste livro só porque obtive algumas frases e fragmentos. E por falta de espaço e coerência em outros livros meus, aqui está feito XX, XY, XYX? Mais que isso aqui, aí não dá; tenho muito que aprender.

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Até essa porra de niilismo na cabeça já tá enjoando. E, infelizmente, nem excepcional eu sou. Logo, logo serei esquecida, como tantas tristes, como uma criança jogando o brinquedo novo pra dar lugar à novidade. Iupiehei! Casto... parto--------------vazio Pão nosso de cada dia: Glória, glória, Jesus, Aleluia. O mundo é um absurdo, menino Jesus. Meu filho tem câncer e eu arrumo uma grana de piedade no trem, aleluia. O bêbado que acha que não é viciado recita as suas melhores passagens bíblicas da bíblia evangélica, Deus! Deus, como é fácil! Glória, glória, Deus, aleluia. Deus salva, Deus é a salvação, Deus, salva o absurdo inicial. legal

Prosa... ainda do trem A criança chocolate chora, esperneia e faz birra das grossas pra mãe diante de todos no vagão velhão, heh – tudo parece ir, tudo pra aparecer. A mãe, potranca branca já de peito caído, exibe a tatuagem já meio fora de moda lá embaixo, perto da xana, e levanta a saia que está quase revelando o âmago do seu rabo – ó, jovenzinha, você dispensa comentários. A avó está irritadiça também, fazendo ondas com a banha dos seus 54 anos cheios de churrascos e cerveja, além do evidente pudor que demonstra, agora que se arrepende de ter furado o cérebro de passarinho com tanta maconha nos anos 70 – tudo foge ao controle dela! O pai... que merda!, é um preto vagabundo e flamenguista que, acima de tudo, é corno... e dos mansos-cegos, mas tudo certo, está tudo certo... Tem tanto mais pra reclamar, nem me reconheço aqui escrevendo, tamanha a indignação com a gente-brazuca. Puta que pariu, leiam o que vi num caderno do governo; distribuição gratuita: ouçam o coro: Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil Querido símbolo da terra Da amada terra do Brasil. Urêbahá!

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Vou trocar de letra para B, pois começar com “A:” já Deus no saco. Até essa porra de Lite de Ratura infantil, de fazer livros rememorando a infância já deu no cu. Tô com uma bosta de dor de cabeça novamente... Vai, vai, pode reclamar, chamar de depressivo, cético, burro. Eu plano. Sei que vai ser difícil encarar a alta sociedade. Pelo que vi nos programas da t.v, a grande arte está lá. Será? Vou é voltar pras ruas, vou começar pela Lapa, pela escadaria. VOU ASSASSINAR TODOS OS POETAS Enquéti: Manias: cotonete no ouvido; banho com música; doce com salgado no café da manhã. Não é pra escrever mais uma chatice sobre a Segunda Guerra, muito menos uma balada de amor batido... é pra dizer que somos pessimistas; a verdade é que tudo tem girado em torno de pessimismo acumulado e disfarçado. Pra depois de algo “engraçado”: Ironia? Não, não tem nada de irônico aqui. * Que se danem as provas da faculdade. Eu vou reler isso daqui. *** V) A saída pelos fundos... Eu não estou com sono, mas vou fechar meus olhos para não poder ver esta selva terrível que atende pelo nome de civilização. Tudo até agora só serviu pra me desestimular, encher lingüiça, falar merda, falar verdades. (Obs.: riscar isso) W, X, Y, Z) Este mundo é um desgaste. Eu vou embora de tudo, não agüento pessoas e seu jeito tão ruim e hipócrita... Não que eu seja um modelo de ser, mas pelo menos tento melhorar. Eu odeio pessoas, eu sou esquisito, eu sou atípica, essa é a verdade. E como eu sou contra o Planeta Terra, eu dou tchau. (A real letra A de A é “O desgaste”). Imediato, caricata, fantasioso, mentirosa; um tiro nazista na cabeça, uma guitarra preta ligada a um pedal de distorção com muita microfonia e cravada no peito; um grito; sem gênero: isso é um suicídio. If se matou (ou matou-se?), morreu aos 27 anos, como os(as) monstros(as) do rock. E fragmentou-se? Virou purpurina? Virou obra? Ou? O quê? Oh, the guilt11. É… desculpe. Ela gostou mesmo de existir por um tempo. Contudo, já estava no fim, por isso começou a escrever, deixando as memórias que vocês lêem... tipo um profeta mesmo. Louca. Criança. Gente. Semitentativa..

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A grande imagem será essa: o corpo sem forma! A se matou por banalidade. A foi uma cópia de uma história velha. A foi gay. A foi atéia devota. E se foi por pura militância. A foi um diagrama de si, uma demo caseira. A foi carnaval, carnal, música batucada, estrago, cinza, pouco de si e uma grande e cotidiana ratazana da cidade revolta com seu habitat. A foi gorda, epilético, inútil, consumista, feia e lindo por dentro. A foi puro borrão do seu reflexo, e cochicho de um acontecimento destoado. “Agrada-me essa desgraça. Vem comigo? É o momento. É o não-futuro”. “Eu não sei criar. Eu fui criada, eu sou um xerox”. A cópia da cópia e A original. Aaaaaaaaaaaa... A... ª... A foi grito desafinado, estridente. Aaaaaaaaaaaa... Arrrghn... aah, ha ha... cof, cof... humrum. Cuspe. Foi mal. Um monte de palavras, um monte de trecos, aporte & morte das palavras; um espasmo, um raio, uma verdade: A é X, A e X são a dupla personalidade em um só ser, e X é o prefácio, que na verdade é história contada pelo autor. A é o autor. A é tudo. A é niilismo... sem ilusão de grandes soluções. A saída de cena... um só ser místico deslocado, destoado, etéreo; tudo o que viveu só serviu pra... Saber que tudo já foi. Num grande outdoor estará escrito: “Niilismo! O nada, o lugar e a garota não atraem ninguém assim como o velho Velho”. Niilismo mesmo, gente! Ele começa doce e silencioso, meio jocoso; acaba podre e ácido e sem educação. Para este final não há final feliz católico nem americano, ele é anti e não tem culpa nem é temeroso. Ele é o nada, o ‘não existe’... a tentativa de alguém neste mundão desconhecido. Aleluiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... Esquisofreniaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... Percebo que fui negado na pública e já estou reprovado na particular. Nepotismo. Paralelepípedo.

Esdrúxulo. Propedêutica. Morfossintaxe. Escatológico. Transmorfo. Biomolecular. Prolixo. Burrice! X? A! A se foi, mas deixou estes escritos. E se eu, o narrador X, sou A, então eu morri, então já estou morto; então sou passado... pensei em Machado. “Eu sou a personagem: hedônico, psicológico, freudiana, experimental, improdutivo, vaga, transparente”. “A mente flui, o sentimento esvazia. Poderia ser melhor”.

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...por fim, enfim, isso tudo foi só uma doideira psicológica. Tudo para fazer do cansaço e do tédio desse dia algo menos ocioso e mais visto pra ser discutido. Até? Calma! A verdade, a grande verdade que este livrinho quer passar é que (Fim não, o certo é) acabou.

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1 Porque, por quê, quê? E o Q? E daí, e daí? Tentei descobrir, compreender, achar sentido pros outros. Não faz diferença, é o fim do mundo, é tudo mentira, é uma referência à nova religião de B. que acaba com ismo, que agora nem é tão nova assim, pois já tem quase uns 50 anos. É lindo, meu Deus, é lindo e não sei fazer. Roda gigante. Gira mesmo. – Sim? – Ah, tá. E ele disse “estupidez humana”. – Então eu também digo, e re-digo, digo que já está esgotando como todo escritor que se preze. – Hihihi!... genial. – Ela é maluca! – Talvez não. – Confusa? – Inocente. – Música calma...

2 Acabei o livro. Fácil, fácil, legal, legal, ok, ok. Agora eu posso tomar banho e acender um cigarro – mesmo sabendo que cigarro e cerveja em casa não são tão bons quanto na rua, faço. É o cigarro da vitória, e posso, sem sombra de dúvida, dizer: felicidade extraterrena!

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A diz, como epílogo tardio: – Pra enterrar a reputação destes escritos e fechar sua tampa de uma vez por todas, tenho por últimas palavras que dizer: não sei escrever! (e prezo a mim por não ligar e continuar a ser o que tento!).

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O mosaicoO mosaicoO mosaicoO mosaico (ou O segundo livro dos restos)(ou O segundo livro dos restos)(ou O segundo livro dos restos)(ou O segundo livro dos restos)

A outra parte do ano

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“Querendo ou não, certos textos são autobiográficos” (Maíza Grossi)

Cacos, partes, quadro... É o passar. Dias e dias. Um ano inteiro?... Um tipo de álbum branco.

Mas onde está “A primeira metade do ano”? Eu não sei mais. Quis esquecer.

07

03.07.06: Nos livros e nas pessoas.

Você acha que quando fico só, em casa, dormindo ou jogando videogame, não faço NADA?

Não, eu fico me preparando, escrevendo, porque sei que uma hora alguma coisa vai chegar,

e eu vou estar feliz – eu estou feliz! –, e grato ao mundo por estar aprendendo rápido, crescendo como música. Aço de Via Láctea.

O nome dela ainda é Mistério.

A grande prostituta “desolada e nua”, que “comerão a sua carne,

e a queimarão no fogo”. O que ela é?

Ela é o nosso desejo Ela é a nossa mágoa

Crista de livros Cidade maldita

Ode, ode Aos prodígios

Eu li e quis ver com os meus olhos

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Sem ajuda alheia ou interpretação devota O próximo capítulo

06.07.06:

Hora do almoço no Flamengo. Sabe como é bonito o Rio?

Putz, eu já tinha até esquecido, depois de tanto vagar pela parte podre, o Centro. Lembrei quando passava pelo Parque do Flamengo, fazendo hora pro curso, e fui à praia.

Olhei, fui abduzido; tirei meu tênis e caminhei pela areia. Ao meio-dia o frio da manhã já se foi e até minha vergonha boba: tirei a camisa e fiquei só de calça

jeans, com o Pão de Açúcar e pássaros à minha frente. Eu parecia um homem de ressaca, um turista – estrangeiro na minha pátria.

Fiz sombra com minha mão e olhei os aviões decolando. Algumas famílias escassas se divertiam, pessoas jogavam vôlei, crianças saíam das escolas... é

julho. Eu estava sentado; já não me sentia mais como um estranho.

Ao som da água senti algo como paz. E eu, simples, olho a linha onde os navios caíam...

***

daqui a alguns meses eu terei asfalto...

eu sou um monstro, mas tenho uma situação nova e desconhecida,

e dias diferentes um do outro.

Numa de minhas idas eu trouxe o Novo Testamento. Um puta vazio.

Li algumas passagens da Bíblia, em especial o “Apocalipse”, e fiquei triste com tanto ódio, tamanho era o sonho.

Vi o temor à morte, e li sobre a morte... Só consegui sentir um vazio e frio no peito ao pensar na minha.

A morte é tão ruim. Não vejo por que exaltá-la como tantos o fizeram (e ainda fazem).

É aquele lance de intensidade, sempre... E a religião? Como é um conforto (ou confete?)...

Como ela poderia abranger todos os povos naquele mundo antigo e não globalizado? Coitada da Babilônia.

Nada existe, esperamos que tudo continue existindo. (Parágrafo)

Nada existe, esperamos que tudo continue existindo. Será que toda vez que abrir meus olhos eu vou me decepcionar?

É tão ruim... Nada existe, esperamos que tudo continue existindo. Que bela glória de artista e narrador arrebatada!12

Um conto de Psiquê e o Cupido.

– Garoto, fala um pouco sobre Psiquê e o Cupido.

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– Cupido era aquele anjinho do desenho animado, não é? E a Psiquê era aquela mulher branquela sempre de vestido tão branco quanto ela, que estava desenhada no tarô mitológico

favorito da minha tia. Isso mesmo! Lembrei – acaba de falar e dá um sorrizinho murcho.

Lá no fundo, outro garoto pensa – é um decorador de falas! – em fazer uma surpresa ao professor:

“Sabe, sempre fui ruim com deveres de casa... mas posso ler aqui no meu dicionário que psique é o conjunto de fenômenos da vida mental, e que inclui processos conscientes e inconscientes; e que

cúpido é o ávido de dinheiro ou bens materiais”.

Ainda existe Moral da História? Tudo bosta! Mais uma vez a diferença tem ficado por conta de detalhes, e o elo sofre alterações. Canal ruim.

Caça, competição, mãos levantadas

07.07.06:

i. Aquilo como isso ou

isso como filo? Uma vez conheci um moleque

chamado Nilo – nome feio, e ele era pior ainda, além de babacão.

Mas o que eu quero falar, saindo das voltas, é:

– Cadê? Por que ela é fria e não responde?

Ou eu é que não sou nem um pouco conquistador? – A letra é N.

08.07.06:

A sem-graça do Homem-Desconhecido. Ele queria dizer: eu sou um escritor. Na rua diziam: bom era o escriba.

Mamãe murmurou: arrume um bom emprego. Espaço, Aço de Via Láctea.

Poema dentro de poema é a graça do escrevedor.

Quem melhor lê senão eu mesmo? Ninguém me lê.

10.07.06:

Desafio às 23h45min. Um: lavar a jaqueta jeans fedida;

Dois: instalar a TV antiga no quarto; Três: anunciar a venda dos instrumentos musicais;

Quatro (e último): conseguir dormir.

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11.07.06: Dona Violeta.

Perfume de lixo, Casa de ratos,

Fotos e roupas mofadas, Céu branco,

Entulho espanhol.

Adeus, senhora Reclusa.

12.07.06:

Tempo pra ser grande. Pelos próximos sete

anos... Nesta profissão, se

é que chega a ser algo sério assim,

mentir não é mentir, é fantasiar.

*

Do pó ao pó? Não,

Quando morremos, Viramos tudo,

Viramos “Deus” Novamente.

18.07.06:

Isso não era pra ter acontecido. Uma semana,

alguns dias sem dar às caras: como é fácil ser esquecido;

se não estou aí, logo ninguém lembra de mim.

É banda de fanfarrões, é um banquete de porcos.

Deus é consciência.

(E tudo o que existe).

(...) e depois ficou um bom tempo sem dizer mais nada.

19.07.06:

E apaguei o fogo com as mãos. Não, não... não vou sujar pensamentos: ela ruim fora!

Digam à obra:

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Livro de sonhos que foi um sonho até pro autor; Histórias infantis bizarras com finais trágicos;

Romance niilista inclassificável; Contos esquisitos;

Poemas indomesticáveis... etc

Homem maleável e sombrio por dentro, cheio de confiança e preguiça – um homem jovem demais.

20.07.06: Tem que tocar ainda assim.

É uma necessidade oculta, um esforço em vão pro Eu – ele é vinte vezes pouco!

Nenhum outro talento me foi dado – então escrevo. E é chato pedir

“posso?”.

23.07.06: A voz no salão natural, vazio.

Ecoa, como guitarra dos anos 80. Leio o jornal, mando cartas, dôo em xerox, falo tentando criar interesse nos que consigo falar. O

que fazer com minha receita? Novamente sozinho. Radical. Original? Debutante mesmo? Isolado no sarau? Não, não no evento literário. Enojado. Como será a herança de A? Difícil me decifrar? É o desconhecido? Algo como

Soy yo, Mas em qual movimento, ou escola?

Intensidade. Aí está a oferta; aqui vem o jovem-homem improvável. Conformidade é não, absurdo é existência.

Sugeri muito, Dragões das Prateleiras? – cadê São Jorge quando se precisa de um??? Atrás dos óculos de armação de plástico estão as multidões pequenas – penso nas dentaduras de

vampiro de plástico pra crianças. Tão fantástico eu tento ser.

Repulsa e devoção aos poucos (ou por poucos?). Aqui escrevo mais uma por pura diversão.

25.07.06:

A tentativa, a reverberação. a admiração

e a indolência própria será que Homero era relaxado? como ele aprendeu a escrever?

certamente por assimilação, ouvindo,

escrevendo e Shakespeare?

e Sófocles? a partir do nada quem eu sou?

quem foram todos? nobre em minhas fontes,

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tento ser mais eu do que eles tento escrever bem como eles

obrigado, mas não dá!

O homem elefante.

Nada jamais está terminado morrerá

Durma como a gente que é.

08

07.08.06: De forma didática.

Ou coisas do humano, nº 2? E daí?!... Não importa.

Imitar o mito

Separar determinadas coisas, ídolos de gente normal Didático eu sou?

Mais e mais Aço de Via Láctea??? Saber diferenciar

Garotos(as) vêem e querem ter até (alguns) mudarem

de estágio (supervisionado?)... ou se arrepender.

É do senso comum que a “pancada” amadurece

um pode e outro não? Respondam por si mesmos Contestador Conquistador

Vocês acreditam em todos os médicos? Por que confiam plenamente suas vidas aos outros?

Quem pode pensar por nós? Uma série de questionamentos batidos

Quem vai deduzir se ninguém sabe tanto quanto nós? Casos

Geração pra geração

Ouvi na aula de Filosofia & Ética que o Mito é perigoso. Bem... Hã...

Eu não resolvo problemas de ninguém. Nada de professor de auto-ajuda.

É só o escorrer do que sinto, do que reflito; palavras.

E o meu bem. Bem, meu bem...

E pro resto de vocês, eu posso apenas dar esse conselho:

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hum... Bem... Ã... Aço de Via Láctea!!!

Itens de resmungo nôvo. Coleção de cartas de

“Obrigado, mas não nos interessa a publicação”... Ah, um dia eu as jogarei no chão liso lustrado de

elogios – e, juntos, mijar até secarrrr, em cima de tudo.

nãnãnãlaiálaiálá.

Aço de Via Láctea.

Beber na fonte Sugar o melhor

mestre!

Mui. Ter semicosteletas

É como ouvir O ‘ui’ de 34 anos atrás.

17.08.06:

A gincana podre. Elas não cantam Muita vergonha De não saber?

Ou tentar É vergonha

Cheia de Isso é chato.

18.08.06: Não se preocupem com a ausência. – O sujeito quer ficar sozinho!

– Isso, família, deixa o cara sozinho no espaço dele. – Eu só preciso estar distante algumas vezes; é pedir muito? – disse eu. Pego um ônibus,

desço por aí e ando.

Oh, eu lamento

19.08.06: Amigos (estimados).

Amigos. Meus amigos...

??? Quem são meus amigos? Quais são meus amigos?

Eu já não sei mais. É o progresso!

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Testem--me, ---Profissionais. É, é isso, eu sou um desconhecido zero à esquerda...

pro mundo globalizado em que existe uma gama de pessoas razoáveis para formar o mesmo grupo elitizado

– ah, esse que não existe mais excepcionais hegemônicos. E como eu sou um micróbio que não se mistura,

não nasceu em berço-de-ouro numa época (ou mesmo hoje) onde é tudo mais fácil, eu virei uma ostra!

...já pode me chamar de chato resmungão, mas a coisa vai----

T, T... pra fechar o assunto.

TTTTTTTTTTTTTTTUUUUUUUUUUUUUUUUUVVVVVVVVVVVVVVVVVVV VXXXXXXXXXXXXXXXXXXZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

ZZZZZZZZZZZZZ... ...e cai com a língua enrolada!

UH! OH! Nossa!

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAABBBBBBBBBBBB BBBBBBBBBBBBBBBBBCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIJJJJJJJJJJJJJ JJJJJJJJJJJJJJKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM MMMMMMNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTUUUUUUUUUUUUUUUUUUVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ! Um milhão de reticências moderninhas

20.08.06:

Querido TPSTU,

Você é o único que me entende, o último a me dar crédito e é o grande benevolente...

que não me abandonou quando deixou de me ver em carne e osso. Tudo bem que eu também não fui má pessoa em qualquer aspecto contigo

– e por isso você é exceção. Bom, enfim.

Eu te amo, amigo. Você é o verdadeiro, pra mim...

Obrigado.

Com carinho, Paulo Vitor Grossi

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Sina: Começa e não termina...

Aço de Via Láctea. Aço de Via Láctea. Aço de Via Láctea.

24.08.06:

Dê de presente um bom título. ELEGIA! DESPERTA!

a única esperança de o pensamento não desaparecer se dá com: a transmissão da mensagem por meio palpável

ou uma semente, um filho

Descolado sou. quer fazer merda?

xingar? ser irresponsável?

malucóide? tudo bem, contanto que não atinja minha paz interior...

eu não dou a mínima. A experiência fica egoísta com as rugas!

26.08.06: Oi, tchau!

“Olá, estou aqui pra lhes falar do poema. Ele foi feito durante uma de minhas viagens. É um poema ambiental. Na sua crosta estão coisas como:

Interesses econômicos. Supressão cultural. Submissão esquemática. Trabalho de filósofos. Recursos naturais escassos. Industrialização...” – assim começou a falar, pausadamente.

“O meio ambiente está no meio duma guerra ocultada pelo consumismo. Quem é selvagem? A vida é numa jaula. A selva é o resguardo do cotidiano social, fechado, assassino – muito, realmente –,

nocivo pras próximas gerações. Sejamos ativistas, senhoras e senhores universitários e futuros gestores do mundo!!!

Somos noivos. OLHEM A NATUREZA!

ESTAMOS MORRENDO D(!)”

– Chamaram uma múmia pra presidir a palestra! é sinistro... Ele não sabe nem ajeitar a droga do microfone.

– Vergonhoso. – É.

Então o cara do poema é advertido

“Bom” – diz o poeta –, “é isso. E na sua totalidade, o poema é esse:

Oi, tchau!”

“É pra refletir isso???”– disse um universitário ao outro, incrédulo, impaciente.

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27.08.06: Fantasia.

duas feras se olham estranhamento

espécies conflitantes há uma briga

fúria, velocidade o rapaz se entrega ao início

o cachorro à espuma a selvageria os consome

eles rolam no chão a via é tomada por sustos

recriminação, dúvidas existência resistência eles sofrem

há um tipo de silêncio florestal algo mongolóide em suas concepções

então um grande salto em cima do outro

todos sentem o prazer contido e animal eles mesmos sabem que isso é natural

como sempre instinto

e ambos: animais até que o rapaz segura com as duas mãos a boca do cachorro e a abre até quebrar

o maxilar sangue espirra

som abafado de agonia demência caída

o rapaz está murcho, aliviado,

digno, macho.

Poema de caneta vermelha. (Mas aqui está preto)

Plutão não é mais planeta – agora que você lê isso já deve ter passado muito tempo, então já sabe

que não é novidade alguma. Meu espelho está cheirando

a pano de chão. O jornal de sábado

ficou pobre. Talvez hoje não tenha

Ensaio – todos estão cansados, de férias forçadas. O almoço saiu ruim.

28.08.06:

Prece. Compreendo o mundo,

contudo não sou cúmplice.

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Aço de Via Láctea.

Pressa em realizar-se. Estou vivo,

perdi-me na essência-própria, escrevo desordenadamente,

estou viciado. Não tenho vergonha de dizer que Álvares de Azevedo me fascina;

coincidências que acho que são coincidências – afogados em livros,

nossos quartos...

Do papelzinho da mesa do telefone. Olha, mãe... eu esqueci de propósito de fazer as tarefas que me mandou.

Fiquei lendo um livro que achei na biblioteca do quarteirão. Não fique irritada novamente. Já está acabando.

Eu vou parar, juro. Não vou estorvar mais ninguém.

***

Mamãe nunca entende!

Nunca absorve nada, Distorce pro contrário Minhas falas, o ideal.

Sua linguagem é trabalhar, a minha, fugir Nada nunca além

Todos somos infantis e não nos damos conta!!!

Perdoa. Perdoa, Lite de Ratura.

Perdoa já Fui lascivo

e medonho contigo, falando comigo mesmo.

Só aqui, quase no final, é que compreendo o clássico canto morto que ensaiei.

09

02.09.06: Uma luz ou não?

O tal possessivo se irritou quando alguém disse um ‘não’!

Quebra de criação.

04.09.06: Uma observação Carcajus.

Devo essa pra tu,

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amigo grande herói... anti-herói.

Até hoje você continua o melhor, ícone máximo na minha galeria de imitações.

Por isso, Logan, aqui tem uma alusão tímida,

xará.

09.09.06: Sábado típico.

Sábado típico! – quase adventista. O vizinho trata

o cão melhor do que o filho.

Um dos cães é Touro o outro menina.

O cão melhor é a cadela, menina.

um gran día!

10.09.06: A morte do comilão. voltei da geladeira...

depois daquele podrão feito em casa... iuhuu

pão, ovo frito, lingüiça frita, maionese, quétxupi vou morrer, heim

mas matarei a fome primeiro!

Leia pra mim, ou História contada sobre o sereno (e mosquitos na perna!). Uma amiga de infância disse que leu sobre o anjo,

o anjo da beleza incrível a todos os modos de olhares. E os olhos eram masculinos.

Eles queriam invadir a casa onde o anjo visitava sua mensagem. Eles desejavam o anjo, não as filhas da mensagem, mensagem essa que era um homem bom.

Suas filhas foram a isca para que os olhares insaciáveis masculinos largassem a idéia. Está escrito.

Onde? Eu não sei

Quem é ou quem foi o anjo?

Isso tá é cheio de poucas luzes de contentamento.

***

Um lugar inteiro que ia desaparecer. E na modernidade é igual, pois desde Caim tudo é igual, sempre igual.

Coisa de Deus. E eu também não estou fazendo nada de diferente.

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Eu sou um passageiro sem religião.

11.09.06: Janta logo, Robértison.

Max tá difíçu... Essas porra di azinha dêssis bichinhú qui avua tão mi pertubanu. Tá fóda.

6 e pôca da noiti e elix dévi tá tudu doidu. Talveix pra trepá, ou só largá essas porra di azinha ni mim.

Tem um monti delix. Já, já vão tá tudu mortu pelo chão mérmo.

Porra... max antix mi tiram a porra da paciênça mi acertanu toda hora, e até grudânu na minha péli. Porra!

Momentos de vigília.

Criança, você acaba de fazer uma das descobertas

mais descobertas da história!!!

12.09.06: CLICK.

Essa/ Geração/ é/ a/ individualidade,/ era/ da/ arte/ individualista.

14.09.06: Seco. X diz: blz?

XXX diz: opa

o que manda? X diz:

nadimais como c tá? XXX diz: meio vivo

X diz: rss comassim?

XXX diz: meio vivo XXX diz:

estável

18.09.06:

Alguns rabiscos do caderno escolar. O que são os nomes da humanidade, os astros?

A SOBREvivência do mais forte. *

Alien-semente PB Mão-em-mão grátis

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Destinos via aérea Quando chegará a resposta

“legal!”??? *

quantas vezes por dia você fica com raiva (mesmo que pouca ou idiotinha) de alguém? isso, somado aos anos e acontecimentos: dá nojo!

*

fudido e NÃO pago fudido e NÃO pago

Uma segunda-feira cheia de sono, mau hálito; acordar no meio da tarde depois dum cochilo pra suprir a noite anterior mal dormida. Enxaqueca. Moleza no corpo, a pé pra faculdade.

situação c de ciúme.

esse filho-da-puta vem aqui direto me encher a porra do saco reclamando da merda da rotina dele. daí o que acontece? uma ruptura na sua rotina. e ele fica como? baratinado! dá pra entender?

22.09.06:

Ohohoooooohoho~~oh~!!! Ao lado a pré-adolescente

Puxou à mãe Cantoras líricas

Evangélicas que ouvem funk carioca quando querem “variar” No domingo de manhã

Como devotas Agudos trônxos

Graves desafinados

Em inglês a família Toda arrasa

O canto dos desesperados A linha vocal não regular,

Nada de segurar a nota Fina

Feia pra caralho Favelada, escandalosa Música pros ouvidos

Canções de quebrar vidros, Mulher acabada

Espelhos quebrados Rio.

28.09.06:

Um chá de erva-doce, por favor. Eu entrei nessa porra.

Ou me mato ou fico louco ou saio por aí assassinando a gente estragada que eu amo falar besteiras. Cocô, cocô que sempre foi onde nadei; acho e tenho certeza disso e aquilo.

Tou onde sempre estive.

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Fundi-me e afundei. Nunca consegui chegar aonde realmente desejei.

Tudo o que escrevi foi insuficiente – estas últimas passagens mesmo confirmaram, certo? Ânsia por mês-que-vem.

E estou aqui reclamando, bêbado e no lixo... Uma nota pelo impacto.

Areia movediça...

10

06.10.06: sem título. Ah, o baile

dos mortos-vivos no acidente de avião

biografia Minha arte não é arte,

é arte de criança. Tão jovem

sozinho entre poemas soltos

conjunto ritmos africanos

bêbados.

morrer é alívio, e pra morrer basta estar vivo,

como papai disse.

Procurar por morte: Décadas sem título.

09.10.06:

Falho e inconseqüente. 1

ser humano é ser

lastimável e celestial, algo como

“SEMPRE FOI E SEMPRE

SERÁ”. Essa é uma LEI

BÁSICA – pra ser repetida também como Lei aos alunos. 2

se o rock não acabou “realmente”, como tantos disseram,

por que seria diferente com a LITERATURA?

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A barata sempre resiste. 3

oh, eles querem paz.

oh, eles são burros. oh, o pior é a

“moral e os bons costumes”. a religião é o pinto da galinha MORAL.

* * *

“pra cada ação existe uma reação”,

ou uma frase toscamente lembrada e reescrita

15.10.06: O poema do próximo nômade:

O perdido, Não batizado.

Num ofício pagão, Apreciação errante,

E sem residência fixa Como personagem lendário...

“Para isso desprende-te

Dos humanos laços Dos vãos entusiasmos!

E voa ao acaso...”13

Cimério em idolatria É desejo.

páginas-espelho. páginas-espelho e

“Frase entre aspas”... “Entre aspas: algo!”.

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páginas-espelho de algo que com certeza já foi dito em outras palavras... (páginas e mais páginas por outras

páginas-espelho! Pura brincadeira!!!

(páginas e mais páginas-espelho) (páginas e mais

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páginas-espelho)

e frente-a-frente, quase Alice,

os espelhos se juntam. Infinito.

E sínteses se movem, rastejam. Tudo diz como a arte é levada a

um extremo de cada um; tudo o que se pode dizer pensante.

Quartos de hotel que aonde irão, ainda.

Sem título. Eu sou um leão Cabelo de leão Saído de festa

Jovial E aos pêlos Libertário.

Pequeno astro,

* (ponto intermediário)

Copos escondidos Acuado e frágil corpo

Indo embora Cheio de delícias

Angelicais.

Maria Aparecida reclama.

O pai consente.

Mil espectros

Nada arrependidos.

16.10.06: pele índio.

o rosto não nega. brilha o emblema, passaporte de eras.

Ascendência sem fotos Misticismo embutido

Natureza

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Sangue Lar longe

Eu voltarei,

vagarei, vingarei

em contradição.

18.10.06: Os desaparecidos.

Possivelmente já estão mortos. Podemos cancelar as buscas,

o acidente foi trágico, incompreendido.

Louvemos os túmulos de sambaquis. E, daqui por diante,

todos – figuras que sucumbiram – virarão terra, ar, água

e fogo, matéria reciclável

e (talvez) pensante (e oculta).

20.10.06: A jornada mágica. Mundo invisível, amigo de Thot,

o deus da escrita, seja complacente em

minha viagem (im)paciente – que pode ser a primeira e última do gênero. Deixe ser inesquecível

e fantástica a busca.

Agora eu sou um

homem livre, O “espírito livre”14.

Tem um unicórnio

que me protege – não tenho medo.

É meu escapismo!

(outubro estranho já passou)

amei alguns poemas!

*** para paulo vitor grossi, por ele mesmo: garoto, você escolheu um caminho poético demais,

que é o da “arte-fraca; arte-bruta, sem lapidações” e “rebeldia literária”. você entende a sua vista;

você está sozinho, paulo vitor grossi

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Autodidata, leitor compulsivo, vagabundo; à margem, expondo;

abduzido; coincidências reencarnadas...

Quem de nós sabe contestar a falta de contestação??? Aço de Via Láctea.

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o novo começo para 10 de novembro, o derradeiro dia:

Adiós, Lite de Ratura. Foi bom pacas essa brincadeira, mas entenda a tentativa e a frustração

sublime que obtive – será que num futuro sem futuro eu me arrependo? A observação é terrível depois dum tempo. Eu sou terrível depois dum tempo. As pessoas são... enfim. Chega. Já não tenho mais o que fazer também. Fui vencido. Arrumarei um emprego, serei poupador... Não é brincadeira,

nunca foi. *

inúmeras revisões punhalada nas idéias

original falha falha

de transmissão acidez encefálica

escurecedora de visão revisão

premonição um gelatinoso adeus.

***

Parei aqui.

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“Mas o homem que vem de cruzar de novo a porta da muralha jamais será igual ao que partira para essa viagem. Será, daí por diante, mais sábio, embora menos arraigado em suas convicções, mais feliz, ainda que menos satisfeito consigo mesmo, mais humilde em concordar com a própria

ignorância, embora esteja em melhores condições para compreender a afinidade entre as palavras e coisas, entre o raciocínio sistemático e o insondável mistério que ele procura, sempre em vão,

compreender” As portas da percepção

(Aldous Huxley)

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“O Velho”“O Velho”“O Velho”“O Velho”

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“O Velho” já era? Entrou pra galeria das ameixas vivas?

Só Folgato pode reanimá-lo? Noite adentro com a perdição, maldição induzida: solidão.

Ele espera. Reclama, bebe seu vinho, come queijo.

Até que aconteça algo...

“Abandonar o homem a seu destino opaco” (André Breton)

“O suplício é lento” [...]

“Ela foi encontrada! Quem? A eternidade

É o mar misturado Ao sol”

(Arthur Rimbaud)

Fase salgada: Vinho e Podrões

“Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas esfregando a barriga!”15

1. “O Velho” chega Huuu, o velho viciado em saídas, ou junkie, se fosse americano – mas é do Brasil, portanto é apenas viciado, drogadão –, volta pra casa – a eterna segurança – sóbrio. Vagou pela noite fria do final de julho, pálida-com-neblina; uma cascata de visões e poucas pessoas no sereno. Veio de bicicleta e nesse percurso viu um sapo – ou rã, sei lá – que estava morto e virou casca no asfalto, pra depois ser visto como documento de chão há algum tempo desconhecido. Foi o que ele classificou. Em casa, a tv ligada, mas ele não presta atenção; um colchão surrado ao lado e a sala vazia. Ele prepara um hambúrguer com queijo e maionese excessiva. Deita pra comer e descansar de nada. Estava bom, e é o começo: pega o vinho barato, de R$ 3,49, na geladeira. Ferrugem não o atrapalha.

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E bebe um gole, outro, outro e deita no colchão. Desliza pela fadiga e noite extasiante: é a vida, o andar, o não-emprego; são as relações; é o início, em plena quinta-feira. 2. Ócio controlado Era pra sair novamente?, estava ficando paranóico. Ele também era um gato comum das ruas; um transmissor da hora – cheio de resina de tartaruga? Não. Ele já foi período, agora é deslocamento e liberdade sem namoro. Ele pausa, olha pra frente. Pausa e pensa: – O que estou dizendo em terceira pessoa? Sou eu mesmo aqui. Meu pensar flui... Tempo de natureza, guerra. Em cada nota uma mensagem! Assalto sem armas, sinfonia de desilusões com o mundo, reação coletiva, corpo, reflexões, obra natural e a história dum homem; Peça e apresentação porca – em quem ele se inspirou? A contemplação foi antiga; tudo sonho, e termina. Pedal de atraso na cabeça! Alô! Boa noite e até amanhã. ... lá vem o gordo! Adiós, jornal-página-de-vida, amizade, comercial de tv. o hamster antes de morrer roeu alguns botões do controle remoto. Como posso trocar de canal? Tédio sovino. Foge, ratinho... O ratinho fugia, Talvez eu te mate. Desta vez não voltou... Correria pra cozinha: eu sou um ator não desenvolvido. Onde estão meus papéis de ator? Fumaça densa. 3. Desgosto ante o fim de noite Ele é culto demais, daí estraga, cara irmã (que não existe mais). A cara descabelada, minha cara. “O que não diz no anterior, fosso aqui”: Traição!... traição, lua brilhante, sol brilhante; e a lua brilhante para o querido corpo e alma... Um som sem escutar. Dormir, vinho pra dormir. 1. É belo feio mesmo!: sorte, sorte! Another day, não é? E acordo pesado, torto, morto, fedido, gosmento na boca, bafento, feio e fraco. Tudo normal, como parece. Mas é lindo; bela a vida. Além de tudo – que, aliás, é uma comédia –, eu sou sortudo. Sempre lembro que sou sortudo. Isso mesmo... Por quê? Eu ganhei na loteria! Há três anos eu fui um felizardo que enriqueceu da noite pro dia ou dia pra noite, não lembro. Só de sacanagem, por bobeira comprei, apostei no escuro. Comprei dois apartamentos e vivo de aluguéis... Como posso ser triste? Sou incrivelmente feliz; Jesus sorriu pra mim! Isso sim é alegria: a vida eterna fácil. Já posso ser ateu! Já consegui. Agora eu posso rir tranqüilamente; mãos nos bolsos, meia no pé e tomar café na padaria. Eu não preciso de estresse. Caraca, do que posso reclamar? E além de tudo, meu lar infantil desapareceu... Tudo, tudo, tudo, tudo fácil! Bom dia! Eu já estava esperando por isso há muito tempo.

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2. Daqui não saio Livro novo da biblioteca. História interessante: vida cotidiana estraçalhada por assassinato escatológico. Leio na cama, deitado. Como biscoitos. Tarde quente. Ventilador em cima de mim. Será que ficarei barrigudo? No livro há a sensação do definhar, do podre no humano. Eu sou isso? Que se dane! Não devo nada a ninguém. Sou artesanal e registro. 3. Estou bem servido agora Pão, queijo, salsicha frita, catchup, mostarda, maionese e a carne: suculento esse hambúrguer – hum... comedor de hambúrguer noturno! Quando saio de casa é o podrão e/ou cachorro-quente com coca. Morte lenta e deliciosa. Aleluia! Bom apetite, crianças. A fita K7 vai escorregar do som. Salve a noite solitária e a mão engordurada. Pança cheia. Sento e só posso rir. ... “noites vampíricas” em que olho o horizonte... BAH! Ahhhhh, que ressaca agradável, que só se cura com outro porre... Senhor do meu destino, teimoso em admitir que sou obsessão por nada. Se alguém tentar me telefonar, eu saio. Se não, vou me afundar em gravações antigas, memórias culturais. Estoque lotado. Demorou Eu vou morgar até perder o saco com a tv. Então fujo novamente sem ninguém ver. Estou bem servido agora. 4. Resmungo sem fim??? Prato vazio, bateria esporrenta na minha cabeça. Fiquei mecânico, virei uma fábrica? Vinho pra dormir. Cooperativa, coletivo pra driblar a agonia. Hoje vou tomar banho, 3 dias já se passaram sem eu notar. Calmos. Calados. Quem deveria organizar tudo? Na prática é diferente: não consigo. Com a ajuda dos amigos eu vou conseguir? Que amigos? Nem Zaratustra tem conseguido, enquanto leio-o... Talvez Grenouille pra ser mais perfeccionista. Merda, virei um mendigo reclamão; resmungando bêbado pro vazio. Não queria sentir saudade do Bar, do fracasso daquelas pessoas e a cerveja mais barata com meus antigos amigos; ou relembrar o sinucão. É tão difícil. Mas adoro sensações. Novas sensações. E se subisse o Esqueleto? Poderia procurar pelo russo sem letra maiúscula. Será que ele ainda está vivo? O prédio já era, a tia vazou, a Lapa se foi. A segurança é turística. Boemia se foi, Jesus habita filmes e bilhões de assembléias de Deus por todos os cantos. Ciganos não existem. É o poder, M de merda, das grandes. Quantas lembranças... cachaça de R$ 0,50. Impunidade pelas ruelas. É uma pena que vivo tão em casa, e da MORAL todo o mundo já falou mal. Os remédios têm me viciado, tudo me vicia pra viver. Barbitúricos eu não encontro. Adjacências dão um aliviozinho. Multidão sem casa na minha mente. Aspirador de Pó de Dedetizador? Bela referência... Hoje tem pouca coisa. Mas vou tocar tudo na base da fé no álcool em si, róliudi vermelho e vinho pra dormir. São tempos difíceis. Onde está o passado? Jovem ainda? Quem é meu pai? Eu sou “O Velho” ainda. Aliso a barriga. Tudo vira poesia. “E a noite toda me surpreendeu, fechada em seu egoísmo surdo e tenebroso”16. Cadê Folgato nestas horas??? 1. Muitas vezes típica segunda-feira Segunda-feira. Dia de merda. Ócio puro. Corpo cansado. Saliva de cigarro. Desânimo. Ontem dei uma passada no Bar Código, pra ver umas bandas de rock alternativo. Achei legal. Mas a cerva e todo o resto de pinga chique e lanchinho de batata frita com calda de queijo era caríssimo

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pros meus padrões que vieram de baixo da cadeia alimentar. Peguei uma Ráinequen, R$ 3,50 – fazer o quê?, não tinha Brama –, e sentei no balcão. Ouvia o som das apresentações. Som frio prum domingo cinza e chuvoso – por que eles não fazem algo diferente? Essa segunda não é muito diferente. Contudo, estou de meias pretas com furo no dedão, bermudinha e casaco. Tosco. Li quadrinhos M! e estou pra ir preparar um ratão-de-casa. O colchão me espera. * O dia será longo, mas tenho livros. Tenho tempo de sobra! O vinho da geladeira está no fim À tarde tem VHS que aluguei dez anos atrás Noite é só vadiagem Oh, a rima é tão selvagem... 2. sa-í-da. Muita mosca em casa. Pano de chão cheio de terra. Tênis mofado pela água da chuva ao lado da porta. Batata-palha. A geladeira está triste. A música de fundo é do extremo norte da América. Folgato ainda não voltou. Os insetos e as sombras se alastram – Folgato me ajudaria... Jornal hoje. É preciso lavar o sanitário e botar as toalhas pra secarem. Limpar a pia e jogar o lixo fora fica pra mais tarde. Hoje tentarei matar COTIDIANO. Ele me assola como peste. Mas primeiro vou espantar os demônios do dia: as moscas!, antes da saída. Vento na cara. Orelha gelada. Borda do jeans molhada. Jaqueta. Mãos nos bolsos. Guarda-chuva encaixado na alça da mochila. Cara anestesiada e repentina. Espera. Parado. Imóvel e olhando ao redor. 3. Ao que seria uma tia Salvação Ruas úmidas, escombros, casas fechadas. Verde escuro nas árvores. Poças d’água. Fumaça do cigarro como um rastro. Neblina à frente. Carros passando com os vidros fumê fechados. Cochichos. Passos meus. Eu estou esperando meu cara. Toca o orelhão, o fone está fora do gancho. Onde está o asfalto? Aspirinas pra minha cabeça latejante. Passos fora de compasso. Rotina, saí de casa em pedaços. Ao lado, uma árvore seca, árvore que racha o chão. Pichação na casa de veraneio da Princesa Isabel. Eu voltei. Bar. Esquina. As velhinhas me olharam mijar. O cão abaixou a cabeça. Ninguém viu, ninguém vê. Caminho. A avenida é larga. Profunda. O final é branco. Toda a cidade é rachadura e erosão. Beco escuro. Ratinhos. Casa. Escadas e um novo amanhecer. Eu sou umidade. Ela veio. Eu sou um, voltei. Mas espere, espere, espere, espere: susto! Um carro passa voado! Nada, era outra carruagem morta. Tudo bem, ainda não era minha princesa risível. 4. Fictícia não é mais a entrada É a Rua Santo. A fachada da casa está ensopada de letrinhas. Entro. 5. Caiu o prato Eu pego Ah, já vou... Escuro

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Profunda lerdeza E se eu não impuser Um limite, já era. gargalhada louco. Eu sou tudo aqui Meus amigos já morreram antes de mim Que bom que nunca me desesperei Tremedeira Sandinista Cala a boca! Imbecil Sarjeta e paranóia Sua mãe vai chegar Fudeu! Coração na mão e memórias. Um em cima do outro, mais e mais. Hoje eu não tenho limites. Ergo o dedo! Alto, alto, alto 1. Sheila Droga, droga. Sheila quer tremer na sexta. Eu não te amo, Sheila. Você é só tesão. Por que insiste? Sheila, sua idiota. Pára de me procurar por aí. Você não é Joana D’Arc! Mais parece Dalila. ... – Como assim ela não está? – Não está. – Eu é que procuro. – Dá pra perceber. Eu não queria tê-la na minha cozinha mesmo. Era só diversão e gozo-pra-dormir. É hora de esquecer... Você foi muito rápida, Sheila. Eu estou fora. Às vezes sumo por necessidade. Um tempo nos dias. Ninguém me acha. Minha fuça vai dar uma corridinha por aí. Se alguém pensar em me procurar: não tente, não achará. Ninguém vê mesmo! Desligue-me a tv. 2. Fim de Carreira mas melhor do que cantar sozinho num videokê em festa de criança, bêbado e abraçando uma futura tiazona baranga. 1. Nada São os dias que passam. Não tive força de vontade pra memorizar nada. 1. Turnê Decadência É uma turnê primitiva esta que atende pelo nome Decadência. Minha cabeça está pra explodir; as dores pulsam como um pênis se animando. Todos os dias tenho sofrido (sem porquê concreto). Mas

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todos os dias me curo em escapismo. Analgésicos. A dor é Decadência. Minha cama está fedida a couro cabeludo de anos, e meu travesseiro é duro. É uma pedra o existir. Cadê você, Folgato? Eu preciso conversar com um amigo que não me questione, eu preciso de algo novo. Vou comprar o primeiro álbum do Mutantes e dosar a saída pro novo bem-estar. 2. comentário sobre o disco: um dia darei um comentário sobre o disco que não ouvi 1. Dias passam devagar Dias passam devagar... Hunf... ai, ai... O tempo e as intempéries me cansam. Mais complexo vitamínico pra me deixar em 60% da minha capacidade humana. Dias passam devagar, E daí? 1. p.r.o.s.m.a.17 auto-recriminação a platéia está apática a casa é de prazeres a força está com filtros de voz 2. 2544 Digam que dá pena. Chame-me, eu sou vendedor de cartões de crédito em stand de shopping na galáxia 2544: não bati a meta. 3. Sem asas Memórias(?) de agora que não voltam... são o lembrete do póstumo esquecimento que ainda não se concretizou; um passarinho burro que tenta todos os dias fazer seu ninho urbano na caixa de correio duma casa número 6 qualquer – e que os donos sempre o reprimem, retirando os primeiros galhinhos. Antiácido analgésico. 4. cof, cof órfão de pai Tosse, tosse, infeliz. É o castigo cof, cof. Você precisa é de um banho de sal, desintoxicação, duma mãe... Não!, deixa a mãe fora disso. É imoral. Edipiano. Eu não sei... 5. passagem cinco tudo corrompido. Tudo avariado. 6. passagem seis sebo nos cabelos 1. Sol das 17 horas Uma tarde bonita. Grama, onde não devem as coisas ruins passar, sol sobre as flores. Frescura. Sol das 17 horas. É sábado. Hora de caminhada, pão, café. Mas eis que surge: dum bueiro, um sujão, ele vai soltar pipa ali mesmo. Mesmo acabado, gameover pro mundo, ele está feliz agora... não tem responsabilidade... eu também não tenho, mas por que não tenho a cara de felicidade dele?

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2. 18:32 Eu não sou um morto-vivo, amigo. Eu sei andar. Eu ando desde a adolescência, mesmo que só pro colégio pra me irar. Eu sei andar, Velouria18. Confundam, por favor. Olhar e caminhos também se confundem – tantos são eles! Hoje. Eu sou de hoje, e hoje tem muita gente, meu mundo é plural, e é difícil ser escutado como algo. 3. Ultra-romântico? Azia. Queimação estomacal ou fígado? Bílis? Bah. É a minha teimosia. Eu não desejo isso a ninguém. Que se dane mesmo. Eu sempre soube: algo em mim fervia verborragicamente. Tenho 20 anos e daqui a 3 meses vou pra idade ultra-romântica. Mas o que sou, enfim? Talvez um pouco de tudo, sei lá. 4. “El bien suena, y el mal vuela”19 Enfim, como vou interpretar a estrutura da realidade? Nem eu sei por que estou aqui, pois é tudo sobra, tudo que meu cérebro não quer – um tipo Rimbaud rejeitando seu passado. Subliminar & limiar. Pré-, pré-, pré- Uma mina terrestre, chão de ovos... Perfeição longe sempre vai eu sou incapaz mesmo. Contudo, não é pra dar importância Puta teia de emoções que se movem... É horrível e abro a dispensa, e a cerveja não está gelada como no comercial. E intertextualizar é como Interzone20 Ah, aqui está infestado! 5. Espaço vazio/O corpo sofre Fruto das noites sem companheira... papel higiênico pra guardar sementinhas... descarga do vaso sanitário, 5 pra 1... pro ‘adeus’. 6. Personalidade Doido pra saber quem sou, como eu sou e meu porquê? Não é? Certo? Estou aqui absurdo há mó tempão e ainda não sei. Chego da noitada fedido a álcool, cigarro e batom de mulé, e não tomo banho; no outro dia lavo o corpo, mas a cabeça fica pra outra ocasião. Como pizza velha da geladeira. Minhas camisas brancas são encardidas e minhas cobertas têm buracos. Meu único par de tênis possui três bocas. Quase nunca lavo meus jeans. A toalha fica na cama... 7. fundo do poço ou ressaca Querido Álcool... coisa amarga irritante magia gole dos infernos eu perdi a vida desatenção em mim Um clima terrível! Hamlet é meu pai. Maria Madalena é minha mãe.

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1. talento, dádiva, presente ébrio Insanidade forçada. Evangelho caseiro. Pretensão. Ruído fraco. Após sair de casa para ouvir novos sons e ler algumas revistas das bancas, ainda em mim “the gift” 21. Leio mais letreiros. Água borbulhante Esquisitice Lado de lá Experimento Desencanado Descolado Aí Imagens de Piva O que é assepsia? Queimei meu dicionário de bolso. Já era! Injustiça Loucura bacana Luz, compasso Eu também não sei cantar A quarta dura pouco Quem vai mixar isso aqui? Escroto Pecados Obstinação É a trilha desta aqui Talvez inferno calmo Bruxas do Jimbo Gemidos Órgão Transe Tortura Faça Falta de possibilidade Oh, goodbye! 1. O olhar crítico do mundo Uma mulher gritou na avenida: – TÁ CAGADO! VAZA DAQUI, BABACA! Outra: – Joga a tv pela janela: está passando o “Esperança Criança”! Bom, o laboratório vai me chamar. Até quando tem trem no domingo? Chuveiro... pra tirar o fedor das axilas e sexo. A massa nos dentes. A remela. O cotovelo russo. Dinossauro enfaixado!!! Bola de cristal de vidro. Gênio “pirú-de-fora” da lâmpada. Retrato meu vestido de marinheiro na escola aos 9 anos. Tadinhas das pessoas que me jogaram aqui... Relógio do camelô!!! Protetor solar. Globo de 20 cm. Bíblia virando pó. Peixe empalhado. Poeira, discos da velha. Eu bebê... como pude ser tão...??? Coisas da escola... Minha estante antiga está de lado...

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2. Retrógrado, ou besteira Barriga pra frente!... Pêlos esparsos nas costas. Antigo piercing juvenil no mamilo esquerdo. Cicatrizes. Sujeiras nas unhas. Barba grande. 20 anos. Canceroso e aidético por afinidade. Inutilizado pelos prazeres desconhecidos da bebida e tudo quanto é tóxico que vejo pela frente; é atração. E pouquíssimas perspectivas na “vida”. Eu estou semi-morto e vejo. Tudo o que quero é acabar... e desaparecer. ... Esta porra de necessidade de entorpecer está me consumindo, atrasando, atraindo cada vez mais dor de cabeça. Minha moléstia é ninguém menos que eu mesmo. Fecho os olhos. Enjôo. Vomito. Cara de cu. 3. Ajuda mútua secreção inseto Kafka pra ler? De Quincey pra ler? e pra ajudar no caso de Folgato, o desaparecido, Patrícia M.? 1. Inversão (onanismo diário pra relaxar ao acordar) dia, volta espanque-o mais e mais até ter aquele sono mamãe não está aqui espanque-o fotos no cérebro onde elas estarão neste exato momento? Quanto tempo passou desde o dia da gravação? espanque-o até dizerem: cacete, por que diabos você fez isso? até não querer mais nada só aquele sono-acordado de alívio. 2. Deitado, pensando Mentir, roubar e dar voltas. Quanto é preciso por um banquete? Uma figura sinistra Papel de goma de mascar O olhar das pessoas lá embaixo O nervosismo Calma, merda! Não ligo pra eles lá fora se exaurindo pra morrer Eu morrê bem Descascar caroços Densidade Levitação Os pôsteres dos meus ídolos me olhando Estou errado? Meus caros, eu não entendi o que está escrito nas suas cabeças Vivo? Sem torturas, mas metralhadoras no cérebro O escuro e o ventilador de teto

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Eu na cama, deitado Calmaria Súditos Eu me fecho ê... n.d.a. mais... 3. Saio, mas retorno Voltando pra casa depois de três cervas alone no bar do Senvida, eu paro na extremidade da compreensão e olho dois vagabundos jogando cartas, e na lata de lixo com rádio acoplado toca Jovem Guarda. Os vagabundos viram-me e sorriram, eu sorri e fui embora, correndo. Ostrava satisfeito. 4. Trocadilhos Que horas são? Vou comer jornal de anteontem pra me atualizar. Aposto que estou fatigado e lesado e apático agora tanto quanto o universo. Chamo esse todo de Real/Realidade. Qual a pergunta certa? Eu não posso mais dizer. 5. Jantar alto nível Mesmo com o friozinho e mesmo com a madruga aos meus pés, os mosquitos saem das roupas, sapatos, cortinas, sofá, cama. No Tibet tem mosquito? Como eles são? Será que agüento aqueles sete anos? Carne, pêlo, leite... o caminho da fronteira e conversa com chá. Paisagem exuberante em qualidade americana. O que acha, Buda? ... Acho que já posso ouvir e apreciar o barulho da gandaia de Folgato – ou será mais um engano do meu desejo? Talvez ele já esteja a caminho pra pular dentro do cesto de lixo... e rolar... e sair com a cabeça cheia de farofa, com a tradicional cara-de-pau e sorriso “hehehe, foi mal”. Possivelmente ficarei de cabeça pra baixo ao saber o que aconteceu com ele: quantas histórias; por quantas aventuras ele passou? Hum... e se ele invadiu uma casa à procura de acasalamento e encontrou apenas ração?... E se nessa ração estivessem, escondidas pelo próprio Salomão, 3 suculentas pepitas de diamante? Ou recém postas ali por outro pirata que as escondeu no interior dos biscoitos cheirosos, na fábrica? (...) Folgato foge e caga o que comeu. Um moleque pisa na bosta. Ele vê o paraíso! Sou eu esse garoto? Atravancado, Tortuosamente estrume de vida pós- 6. Paranóia com Folgato O ladrão não está atrás de Folgato. Ele sabe do garoto, seus passos são de glória. Sua mochila é divina. (...) O escorrego é flácido e a mochila vai parar na Baía de Guanabara. Os próximos farão o show continuar. Tudo pode acontecer com o aprendiz de sósia. (...) Não temos celular, Folgato. Pai e mãe não nos trarão copos de leite com chocolate... Boa noite, amigo... onde quer que esteja vagando. 1. conto da ilha desconhecida Consciência. Terça-feira. Acordar preguiçoso. Padaria. Supermercado. Suprimentos. Biblioteca. Livro... e um tal de conto da ilha desconhecida, no qual me espelho mar para entender que me falta um barco. ... a situação deste momento é: necropsia em mim erro médico ao me dar à luz

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inquérito e a sentença é: o depoimento da testemunha diz que: ... Obrigado(a)! 2. Sons Todas as noites são de camisa preta, bermuda-pijama e meias furadas. Meus pêlos crescem como cachoeira e a calda de morango do sorvete é meu sangue. Minha urina é vodca e meu cocô, o sorriso do anunciante das belezas mundanas. O sofá cresce como ondas marítimas, o cheiro é de madeira e a música ambiente é o gotejar do chuveiro... Sabem as maravilhas sonoras produzidas por controles remotos, caixinhas de música, relógios e radinhos de pilha, colocados junto à captação duma guitarra??? Um dia eu fiz isso, adicionei microfonia e dedilhados grunge. Aí, meu quarto virava estúdio de banda de garagem e eu fantasiava um cd cheio de fundos. Quão idiota é a adolescência! 3. A fome é feia Transformo-me num roedor e deslizo pelo piso até a carrocinha de x-tudo/cachorro-quente/refri, mas substituo as bolhas dos gases daquela merda de refrigeréco por um digestivo melhor: pinga da boa. (...) O cara é de longe, lá do norte. O líquido é marrom e a textura de couro: “hambúrguer de papelão não vale, heim, bacana...” Calor, calor, calor e riso! 4. Os cães me acompanharam até em casa Os cães me acompanharam até em casa – uivamos. Praguejo com eles e lamentamos ter que repor o sono noturno para não sermos devorados pelo dia. Todos já fomos surrados demais. Um dia nós contamos como toda essa miséria começou... 5. ninar (com chá mate e biscoitos de sal) espantar demônios exorcizar meu bebê interior roer unhas me cobrir deitar de bruços mão por baixo do travesseiro mão apontando como D. Pedro (I ou II???) batalha!!! “...e mesmo diante do abismo dançar ainda”22. (Delírios) Matar com água minhoquinhas de banheiro. Reverberação do gotejar da bica. O reflexo do espelho mostra o pano de chão que já foi lençol, e eu, Tristo, abaixo pra pegar o chinelo, ao sair do chuveiro: minha bunda livre de cuecas, meu cu largado. Que coisa horrível, Jesus Tristo!

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Um verme gigante sai do ralo: ele é mãe das minhoquinhas do box 1. Aquilo me observa, mas não dou bola isqueiro cinzas pela manhã dedos fedidos bafo terrível café é mágica! 2. e a cabeça explode, como o conflito no Oriente Médio; sem fim. 3. cortes rápidos a rolha levanta vôo quando eu a atiro pro teto. Ela cai ali no lugar onde viverá pra sempre. A garrafa do vinho novo me encharca por dentro. Tudo o que consigo lembrar agora é o depois, caído no chão, mole e descansando algumas lágrimas de descaso. Amo muito. Oh, sim, então é isso, ou melhor, não, não, é o tal TUMOR, TUMOR, deitado em forma de estrela, mas minha hora não chegou. ...Nunca mais faço isso??? 4. A TRANQÜILIDADE FOI FATAL, E, REPETINDO: Como posso ficar aqui? ISSO O DIA TODO. A TRANQÜILIDADE FOI FATAL, anterior a tudo, fatal no final. 5. Quando dou por mim estou levantando do piso. O cabelo pro alto, cara espantada, olhos de amêndoa e pés sem meia. Sento na borda do sofá, olho pra frente. Ajeito o cabelo, recoloco as meias pra não ter nas pernas um cardápio supremo pros mosquitos. Digo siiim, e caio novamente. 6. Sonho dentro de sonho Acho que no sonho atual o que me dizem é: você é um gentil ou um palhaço??? As pessoas passam e me espiam parado, fitando as cartas amigas, amorosas, familiares inexistentes. Todos balançam a cabeça em sinal de reprovação, e pensam: só daqui a 40 anos haverá reconhecimento (de cadáver?). Você não consegue. Contudo, olho um lugar: mendigos na entrada. Lá dentro, um padre (ou algo parecido) me empurra algumas imagens, eu recuso... quero aquela maior, a dele, o tal... quero ser ele... 1. A frase Folgato me olharia. Ele estaria imóvel. Depois viraria desdém. Ele é sincero. Sabe que eu é que sou o atrasado nesta história. 2. eu estou mesmo morrendo??? eu estou morrendo eu estou morrendo, Jimbo, amigo que não conheci. Jimbo cantou, Dean olhou, ambos alisaram a barriga.

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3. abandonar mais uma vez??? relutante em fechar a mala até que outra viagem me consuma por completo. 4. ainda o velho sono... Afundo a cara no travesseiro E me espreguiçar. 5. com continuação de meses até milênios num cubículo cheio de papéis espalhados, livros, lençóis e colchão; roupas penduradas, cacarecos e mais cacarecos... sem febre sem doença alguma só a consciência filosófica e banalidade e chatice gato por lebre

O ínterim Os caminhos pra Iluminação Anunciação do Estige 1. erro cessando desferindo golpes na auto-estima até reacender Acho que vou tacar tudo o que fiz pela janela, mas antes vou colocar numa caixa de madeira com gravuras em preto e branco como decoração, e deixar cair guimba de róliudi; vai virar uma beleza de poluição, meu expurgo... Aí, sim, eu jogo pela janela: numa sacola de papelão, FOGO NO CÉU. Tchau. Digo o que digo, ou melhor, imaginei essas besteiras porque meu braço direito me denuncia, e já doeu muito; meus dedos estão sem unhas. Será que refaço tudo, ou desisto? Café pra pensar! 2. Mas o sonífero é de vinho. 3. O desjejum de ontem será de podrão

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4. Lembro de algo como: “Sinto falta de sofrer”... ou de tristeza? Sei lá, mas a idéia central é: o deprê produz mais. É, mas odeio toda essa merda. Huuu, eu estou num fundo-de-poço, fim-de-mundo em mim. Entretanto, é voluntário como gripe, é ópio caseiro pirata. Desculpem-me. Não, não me desculpem. 5. Bocejar. Chinelos que fazem barulho Por nada Copo d’água Luz da geladeira Bolo com gotas de chocolate Mãos pelas paredes Deslizar brilhoso Vestimentas pelo caminho Caminhar, caminhar Refrescar Vultos de pensamento. 6. Alma penada, eu estava bêbado pela milésima vez – tinha convulsões e ânsias de vômito na minha cama. Sonolento, pensei que a palavra sarjeta era linda. Vi minha identidade no chão... percebi que tudo o que tinha estava uma bosta, até mesmo eu, quem diria?! Minha cara estava de cabeça pra baixo, Tudo lixoso e fodido... É foda saber descrever, lembrar, bom... pensem na desordem total, em algo que odiamos: era assim que estava minha visão tremida, mais ou menos isso... isso que vemos. Então, me pus nu, pra escrever uma carta louca a Folgato, meu grande e único amigo. Eu disse tudo o que estava passando; a Folgato, o único que não me dizia o quanto eu adiava à toa. Folgato, Já visitou seu primo, o gato de Cheshire? Sinto falta de nossas conversas. Estou de porre neste monólogo horrível. Volte, camarada. Traga o aliquod23 estranho logo. Tudo está lerdo... um seqüestro, um baú envernizado pra parecer conservado, e eu lá, perdido. Dom Quixote me dá cotoveladas pra prestar atenção aos moinhos daqui da vizinhança. Chaves olha pra mim com aquela expressão comovedora do episódio de Natal. Kafka e eu nos perguntamos: pode se enquadrar??? Folgato, demora não. Eu terei vários assuntos acumulados... tipo GIGASENA. ... pela manhã, ponho a carta na caixa de correio da esquina. Não há remetente. xxx

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Ruas

Quem sabe como são as ruas? Como são incompreensíveis e lastimáveis as ruas... Desertos são tranqüilos e misteriosos. Mas o meio da multidão é que é bizarro e extremo – estão na rua! O calor. O fedor. A ruína. O subúrbio. O centro do caos, da cidade. A cidade fictícia. (...) e digo, isso pois tenho nojo de aglomerações cegas. Fico apreensivo e contemplativo ao ver a miséria humana. E isso tudo pra apenas ir ao supermercado comprar mantimentos (material pra hambúrguer e garrafas novas de vinho tinto – comprei um espanõl também, além dum brasileiro; o braseiro, mato agora, o espanõl eu espero passar um cado)... e voltar pro lar em transporte público no horário de pico do trampo dos normais, a ida do povão pras suas residências. Abro a danadinha, usando o saca-rolhas do meu canivete suíço. Som oco. Sorrizinho do Curinga. Adoro a cor de gelado da garrafa escura. Rolha meia-bomba. Canção. Gole um: vou rezar pela volta de Folgato. Está difícil. Gole dois: eu acho que agüento... Como um deus, nenhum respeito pela vida daqui. “Uma visão memorável”24.

O panorama

Panorama desolador... ele é pastor. Suas cabras são domésticas e violentas. Ainda é complicado, intrigante e arquitetonicamente como coração de aprendizes. Pergunte a um especialista, ele dirá que pra colar os selos da promoção e rezar pelo futuro. – Opa!, café expresso, por favor. Hoje eu conservo a vida dos outros longe e não poluo o meio ambiente. Protege eu, Folgato. Ainda nem sonhei em ver um fio de cabelo branco, contudo minha seriedade vital está na minha mão – e sou “O Velho”, como você mesmo me apelidou. Nada de badalação. Sinuca em mim! Ilha deserta de água cristalina ou acordar da quimera induzida? *** Subitamente: PAZ, PAZ MIL VEZES!!! Sinto algo bom, fácil... Sinto uma ILUMINAÇÃO. “Eu não mais anulado!”. *** puta merda! Acho que isso é a glória mística! *** O que posso dizer? Do nada, eu melhorei completamente! Sou feliz! Acordei! (Daí “O tempo passa como que banhado em vaselina”). “Chegara enfim o dia desejado, Ambos unidos, soluçara um beijo, Era o supremo beijo de noivado!”25 1. O encontro É chegada a hora. Lembro de quando achei Folgato num meio-fio, junto de seus irmãos abandonados. Escolhi o que mais fugia: era como eu, igualzinho! Ouço o remexer do novo batendo à porta. O Calor da ansiedade. Oi. 2. A conversa flui... – Pra finalizar, Folgato, tenho que lhe contar um fato muito relevante, revelador, fantástico, simples pra caralho: a modéstia do mamão!

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– ? – Isso, o mamão... Uma mulher que passava na minha reta na hora que desci pra tomar um café no Portuga deixou cair uma sacola – essas coloridas, de feira – contendo mamões. Acho que ela era meio doida, descabelada e sem marido, na certa, sabe? Simpatizei com a dona, e, incrivelmente, ninguém a ajudou. Eu fui, né... Peguei as tais frutas caídas e recoloquei na sacola. Ela agradeceu – tão simpática, coitada – e ainda me chamou de gentil(!). E, pra me presentear, deu um mamão. Caceta, como era feio por fora, com machucados e manchas pretas. – Você já tinha visto ou comido um? – Há mó era que eu nem me lembrava da existência... – E aí? – Vou pular toda essa cena e voltar logo pra casa, é melhor. – Claro. – Levei o feioso pra cozinha, peguei uma faca e parti-o ao meio: vi uma estrela! – Onde? – O mamão é uma estrela de casca. Acho que sou um mamão, Folgato! – Explica melhor, Velho. – O mamão cortado em dois... o centro dele forma uma estrela. E a estrela é feita de sementes. E comigo é o mesmo. Agora sei que meu melhor está no interior, e que por fora é só esse coisa casca-de-mamão que você vê. Entendeu? – Mas é claro. – Eu sou um mamão, Folgato. – Sorte sua então. – Acho até que cheiro igual a um... – Não sei se gosto do cheiro. – Que bom que foi sincero, Folgato. – Miau pra você também. – Palhaço... – Estou pensando a respeito... – Vamos fechar esse papo. Já estou com vontade de abraçar meu travesseiro e virar uma estrela na cama. Teu dormitório continua o mesmo. – Não percebeu nada de estranho no ar daqui? – Não, por quê? – Vim aqui ontem, secretamente. Você nem percebeu, estava apagado. Deixei algo novo. Um ar, um vidrinho destampado atrás do sofá, emanando seu cheiro, libertando seus duendes em navios. – Ah é? – Sim... Me parece que você está meio de bom humor... – É... espera, era esse o aliquod? – Isso se chama Estige.

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Fase agridoce: Vinho, Estige, Queijo e a Beleza.

“O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova” Provérbios do Inferno

(William Blake) 1. Presente de Folgato – Respire, ficará aliviado de tudo que tem ou ainda terá. – O que é? – Não me pergunte mais nada, tem coisas que não têm esclarecimento. – Claro, amigo. Demorou tanto só por mim? – Não vou responder. – Já esperava. Mas obrigado. – De nada. “Voe, o quebra-cabeças foi desfeito...” A voz de Folgato é sussurrada, longe, grande.

Um oscilar entre díspares

Agora o Sol, o Calor depois do frio... Estige26 é O Alimento, aliquod dum Matrimônio do Céu e Inferno “Voe, o quebra-cabeças foi desfeito...” “Voe, o quebra-cabeças foi desfeito...” 2. Para as ruas (de idéias) Pingos gelados na cara, jaqueta jeans, braços cruzados, ar latente, clima, cães atropelados apodrecendo na beira de estrada, gatos correndo na minha frente, assutado. Agosto. Derrapagem. ... Vinho, Estige, Queijo e a Beleza... O presente de Folgato: “Eis aí a felicidade! Uma colherzinha bem cheia! A felicidade com toda a sua embriaguez, todas as suas loucuras, todas as suas criancices! Pode engolir sem medo, disto não se morre”27. “Que enlevo do espírito! Que mundos interiores!”28. Agora eu caminho bem, sou um espectro vivo, suspenso, viajante. 3. Comentário Quem é o cachorro molhado? Um bebê sentiu meu odor de cachorro molhado, uma criança disse pros amiguinhos que eu cheirava a cachorro molhado, uma adolescente me xingou de fedido a cachorro molhado, uma sereia me chamou de cachorro molhado e disse “vem cá”. Então, eu sou um cachorro molhado. “O Velho”..., mas pode me chamar também de cachorro molhado. Foi a chuva boa, foi, eu disse. E nas minhas veias, fluidos vitaminados – que importa minha casca agora? Eu sou um mamão!

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4. Rabiscos reclamões não mais! Sei que sou farrapozão dos bons, e nada jamais em mim vai ter charme ou beleza estética... é porque sou anestesiado. Estige em grande volume! Ohhhh... o mar é meu! Por que eu estou nessa? Eu não me dou muito bem com os outros seres. A solitária é legal. Feche a tampa, eu sou um gambá. As conversas com O mijo – não mais! Auto-reflexões de frente para o vaso – não mais! Todo o planeta é ruim, sempre foi, sempre será. Daí a Beleza do meu refúgio! Estige é paz amorfa. GUIMBAS são feitas pra serem o resto do fumo, pois então, vamos existir. Já me disseram que a vida é um cigarro: se não fumá-lo, ele se apaga e acabará de qualquer maneira. Então, somos todos GUIMBAS ao final... e sempre aparecerá um puto pra nos pisar e extinguir. Alguns cigarros são apagados ainda no começo; esses são mártires, ou bobos... quem sabe!? Sorte minha mais uma vez: eu tenho Estige só pra mim. Muito obrigado milhões de vezes, Folgato. – Não precisa agradecer – respondeu meu amigo felino. 5. Lembranças do aliquod sagrado... o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia, a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição, o Santo Graal não é nada, frente à facilidade do Estige... Um alguém palpável? Ou inanimado? Nada sei! Apenas imparcialidade Questionamentos secretos ...sempre tive dificuldade em entender... e o porquê??? Logo, logo, estou imerso em banho de idéias, O aliquod – há quanto eu não sabia o que era isso? –, se é que já soube o que é ser feliz... As situações do mundo aos meus pés... Tétis tentou tornar Aquiles invencível mergulhando-o no Estige. * (eis que) No lugar da fala, silêncio, destruição E profunda recusa de Todo o sentido... Odisséia sem retorno Solidão e independência Desaparecido! Nos momentos de impasse, e ao tentar simplificar tudo,

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ou mesmo esquecer o passado, acabei me aborrecendo. Em euforia, estupidez, Estige, salva eu. ... Estige me salvou!!! As lembranças foram vencidas!!! O aliquod será eterno! 6. Efeito Estige (prolongará!) “Eu sou o Rei pagão no meu trono fechado. Eu não tenho súditos, nem memória de pedra. Amor, amor, amor, luzes.” 7. canto aos ídolos sou um DEUS (eu posso fazer qualquer coisa) 8. durante o percurso entre enxaquecas, ondas e ilhas esquecidas, dores no peito anos de excesso destino trágico contraculturas o agonizar o precoce profundidade abjeção humana trajetória impossibilidades invisibilidade abismo artificialismo indução mares, desertos: dilaceramentos, defasagem, opacidade, crueldade, catástrofe... Ah, a obra do Estige, que maravilha, sobrepõe tudo. * seu ancestral, Folgato, O Rei dos Gatos29, ele foi incrível ao te botar na linha de produção, amigo admiração 9. festa, a festa não tem fim... sem futuro? O futuro é o delírio de agora: pelancudos emperucados dançam ao som desafinado do cantor enegrecido de clima. Correndo pela casa depois de acordar na cama dos outros, cheio da vontade suprema de ir ao banheiro... Alívio dos deuses! Opa, Folgato, você está aí? Acho que você engoliu diamantes e se esconde de mim; “Os donos da fortuna estão loucos, certo? Compreendo”. Complicado Não morra num telhado qualquer, amigo. Dois anos depois, quem achar a tua carcaça recheada da fortuna humana será um mendigo de casa.

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Não o deixe ter uma vida boa. Nós não merecemos. viagem sem hora pra acordar trama simples rosto limpo dedos cansados de nada, e risadas. Bom Veludo azul... já usei uma calça assim, e ela era engraçada. Bons tempos infantis. A figura do ídolo O assassino do filho Deu-se uma jogada. Não, não de sueca... Você tem alguma opinião? Que noite sozinha, que virada Sozinho A mesa... De onde vem tanto Estige assim??? Trip Trap Zip Zap!!! Quem disse que me importo? Peripécias estalo Abertura de vidrinho! Qual nova manhã novamente da nova outra vez eu terei? A CHEGADA AO ESTIGE talvez seja este o cume do Everest estigiano, o debutar dos sentidos a virgindade do corpo renascida, seduzida pelo aroma das águas do Estige. Sertão habitado por índios bravos... há um quadro em mim o Nirvana dos bobos acabou o equivalente atual é o campo de espinhos até se chegar à Floresta de Ressurreição, da “fila de homens cegos”. E eu lá, na porta, rindo de todos! O Caminho da Cessação do Sofrimento... veio-me apresentado pelo Estige, onde: “a jangada é um meio para se atravessar, não pra se guardar”

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em “fila de homens cegos”. agora não mais cego, nada mais traz asco e repulsa decrepitude E o “desaparecer todo o meu orgulho por minha vida” está na página do pergaminho invisível Ilusões perturbadoras nada são perante o caminho iluminado do Nirvana dos que não sabem o que é o Nirvana, Nirvana é ejaculação precoce ante o Estige (está perto, perto, perto!) * Logo, logo, vão querer reprimir a prática do Estige, pois dá prazer, belisca a seriedade. Contudo, é minha obrigação fazer um fojo (pelo menos uma vez na vida) e mostrar os trechos cintilantes... “Uma visão memorável”30, memorável, incorpórea, murmúrio espectral, lasciva pela incompreensão compreendida fácil do Estige. Inomináveis continentes de saturação relaxante, arquibancada de espectadores invejosos... tão transparentes pra mim... Ascendente indígena, mas de qual tribo, local, época? A jornada começa sem fim, nem presente, é descoberta! Insonoro grito pasmo de alegria – eu estou vivo!!! Nostalgia em poesia. eu sou disforme, tudo é disforme, incomum no comportamento e mundo da lua. concepção mítica. ... traduzir-me? falem por si próprios. a liberdade é minha, a compreensão é sua. não há mistério mais. há uma nova e decisiva incorporação por parte dos que não mais existem – e eu existo mesmo!, eu sou puro Estige!!! ... Anda, anda, é rápido e lento. Nada em minha estrutura. Eu vejo o outro mundo, agora que sou REI-DEUS-SUPREMO-UNIVERSAL Eu corro, o planeta Terra é meu brinquedo de mão, Hoje é o dia do Planeta Terra,

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Hoje é meu aniversário. 10. orgasmo pelo Estige e ao final do “dia”, vejo-me: solitário, anti-social esquecido escondido, enevoado denso introspectivo mas claro 11. Calmaria... Ah, nova Beleza, infernal; lúgubre. Estige! Estige com meu adorado Vinho... Perfeição! Pra curar dor de Estige evaporando, só Estige ... fazer o impossível, dar origem a eu mesmo, como um deus. EU SOU MEU SENHOR E QUE SE DANE O RESTO! 12. Dionísio me salva da morte Dionísio veio me buscar, falei dele sem saber quem era e nem o conheci. Mas então apareceram um sufista e um sofista pra estragarem a festa – a morte seria iminente!, os deuses também correm perigo –, entretanto, Dionísio e Folgato salvaram-me de novo – Dionísio, com a vigilância de Folgato, escondeu-me em sua coxa, assim como seu pai, e entendeu e consentiu o Estige em mim. Então eu jurei, e virei pra sempre servo do Estige. Chamei-os pra tomar vinho e celebrar, agradecendo. Os deuses também comemoram! Eu me apresento bêbado, simulando e profanando somente a mim. Isso que é candura, redenção, beatificação própria. Nada de mal a ninguém... Por isso, digo claramente: sou um completo (eu posso fazer qualquer coisa) 13. O Final Falho (porque o aliquod de agora irá reverberar em todo o resto) Novo, novo dia triste estaria pra vir. Eu vou ficar sendo atacado por palavras soltas – agora que desci do Plano Astral. “e pétalas-tempo, estou no meu paraíso”. Anotar mentalmente: Nove vezes: “pelas águas do Estige” – Folgato me trouxe o mapa, pra sempre irmos buscar Estige.... Olá, Estige! Quantas eras já se passaram desde nosso encontro? Quanto poderia ter sido e agora é? É incrível ser espuma do seu mar... Abro os olhos, tudo está como deveria ser...

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“Permanecei em silêncio. O tempo passa, e é chegada a hora de eu me extinguir” (Buda)

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“... E embora eu caminhe no vale das sombras da morte, não hei de temer o mal...”; “...tu me preparaste uma mesa diante de meus inimigos...”

“Wow, I’m sick of doubt Live in the light of certain

South” The severed garden

(Jim Morrison / The Doors)

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CITAÇÕES, ESCLARECIMENTOS:

1 Música: “All tomorrow's parties”, por The Velvet Underground & Nico 2 Música: “Hey Joe”, por Jimi Hendrix 3 Música: “Sliver”, por Nirvana 4 Música: “On a plain”, por Nirvana 5 Música: “The eternal”, por Joy Division 6 Música: “The end”, por The Doors 7 Música: “I don’t care”, por Ramones 8 Música: “Strange days”, por The Doors 9 Música do Prodigy 10 Música: “I’m Your Villain”, por Franz Ferdinand 11 Música: “Oh, the guilt”, por Nirvana 12 Poema: “Adeus”, por Arthur Rimbaud 13 Poema: “Fome”, por Arthur Rimbaud 14 Expressão do Nietzsche – não me pergunte de onde, esqueci 15 Frase do Diógenes de Sínope, (...) da vez em que estava se masturbando em público e exclamou: “Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas esfregando a barriga!” 16 Conto: “Demônios”, por Aluízio Azevedo 17 p.r.o.s.m.a. é poema “sem” aroma 18 Música: “Velouria”, por Pixies 19 “El bien suena, y el mal vuela” é algo como: “As notícias ruins voam” 20 Do livro: “Almoço nu”, por William S. Burroughs 21 Música do Velvet 22 Do livro: “Assim falava Zaratustra”, Nietzsche 23 “Algo” em latim 24 Do livro: “As núpcias do Céu e do Inferno”, por William Blake 25 Poema: “Noivado”, por Augusto do Anjos 26 O que é Estige, segundo a Mitologia Greco-Romana? 1. Filha de Oceano e Tétis, ajudou Júpiter em sua batalha contra os Gigantes. Teve quatro filhos com Palas: Zelo, Vitória (Nike), Violência (Bia) e Poder (Cratos). Ao morrer foi transformada em um dos rios dos infernos – quem fizesse um juramento por suas águas tinha que cumprir, ou sofreria amplas penas pelos Deuses. 2. Rio que corria nove vezes em torno dos infernos. “Pelas águas do Estige” consistia um dos mais temíveis juramentos de então, pois os próprios deuses se comprometiam tão gravemente por ele que, segundo se afirmava, sendo perjuros, ficavam privados da divindade durante um século. 3. Rio do Peloponeso que os antigos colocavam nos infernos. É hoje o Mavro-Nero. 4. A Divina Comédia

Notas explicativas Canto VII

(...) 7.7 – O Rio Estige (Styx) é um dos rios do inferno clássico. Os outros são o Aqueronte, o Flegetonte, o Letes e o Cócito. O Estige é um rio pantanoso que cerca a cidade de Dite. É também o quinto círculo onde ficam submersos os iracundos. 7.8 – Os vencidos pela ira são amontoados no rio Estige junto com seus semelhantes que não conseguiram controlar a raiva. São submetidos assim aos efeitos da ira causados por seus semelhantes, e então se mordem, se batem e se torturam. No fundo do Estige estão os rancorosos que, por nunca terem externado sua ira, não podem subir à superfície e ficam a gorgolar a lama no fundo do rio.

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5. (...) o mundo inferior era cortado de rios por todos os lados. Eram correntes de água que deslizavam vagarosamente através de túneis que apenas de vez em quando abriam para uma gruta onde se fazia um cruzamento. O Estige era o rio que circundava a parte do Hades chamada Tártaro, no lado do oriente e seus afluentes – Aqueronte, e mais quatro, circundavam o resto. A travessia era feita, geralmente sobre o Estige, mas nunca se o óbolo tivesse sido esquecido ou perdido, ou se a sombra do morto fosse tão pobre que não pudesse pagar. Neste caso ficava sempre à espera na margem sem qualquer esperança, porque o Estige tinha um barqueiro que pedia a portagem a todos que usassem o seu barco. Este barqueiro era o terrível Caronte. (...) Hermes deixava sua carga nas margens do Estige. Ali, a sombra tinha que tomar o barco, os remos de Caronte mergulhavam silenciosamente nas águas sombrias e o barco afastava-se da praia, levando os passageiros para sempre da terra dos vivos. Na outra margem estava o monstruoso cão de três cabeças, Cérbero. Apesar de seu aspecto ameaçador, Cérbero não fazia mal às sombras que desciam do barco de Caronte. A sua missão era impedir-lhes o caminho, se mais tarde tentassem tornar a atravessar o Estige para fugirem do Mundo Inferior. Também guardava a entrada contra visitantes intrusos. (...) O terceiro caminho por onde os juízes mandavam também os mortos levava ao Tártaro, cercado num dos lados pelo rio Estige. (Nalgumas versões, o nome de Tártaro é dado a todo o Hades.) Tinha um largo portão de bronze que era cautelosamente fechado por dentro, abrindo-se apenas para dar entrada a mais um morto. O Tártaro era semelhante ao inferno dos cristãos, um lugar de penas e danação eternas, reservado aos maus e àqueles que tinham desafiado ou ofendido os deuses. Os gritos de angústia ecoavam permanentemente nas altas muralhas triplas que rodeavam os condenados, e não consta que nenhum conseguisse escapar. 27 Do livro: “Os paraísos artificiais – O teatro de Serafim”, por Charles Baudelaire 28 Do livro: “Os paraísos artificiais – Volúpias do ópio”, Baudelaire de novo 29 Conto: “Monsier Tibault, O Rei dos Gatos”, por Stephen Vincent 30 W. Blake, do mesmo livro citado mais acima...

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REVISÃO: Isto infantil; Isto infantil? – Carina Morgado

influência “du róqui” – Carina Morgado A (um espécime diferente) – Maíza Grossi

O mosaico (ou o segundo livro dos restos) – Maíza Grossi “O Velho” – Maíza Grossi

REVISÃO FINAL:

Luiz Antonio de Souza Jr ________________________________________________________________________________

Pode “xerocar” este livro, desde que a fonte, o nome do autor e o devido respeito à obra sejam observados, citados.

EDIÇÃO DO AUTOR

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Produzido entre 2003-2007 Registrado em 2008

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