“pátria, revolução e renascimento” - cut · esses lucros sem antes haver assegurado um...

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américa latina de 28 de fevereiro a 6 de março de 2013 14 Leonardo Wexell Severo e Felipe Bianchi de Quito (Equador) OS AVANÇOS do governo do presidente Rafael Correa e de sua Revolução Cidadã saltam a olhos vistos, cobrindo a ceguei- ra de agências internacionais. Nesta entrevista, a ministra da Inclu- são Econômica e Social, Doris Soliz Car- rión esquadrinha as vitórias obtidas con- tra a miséria, a partir de um compro- misso com o “Bem-Viver”. Doris denun- cia a dolarização – uma bomba ainda a ser desarmada – como herança deixa- da pelo neoliberalismo, que ceifou em- pregos, achatou salários e desapareceu com poupanças, fazendo com que mi- lhões de equatorianos tivessem de aban- donar o país à procura de trabalho. Fir- me, fala de mais-valia, de salários dignos, de construção coletiva, de planicação, e descortina novos horizontes para a inte- gração latino-americana. Conra a en- trevista abaixo. Brasil de Fato – De forma breve, contextualize o antes e o depois da Revolução Cidadã. Doris Soliz Carrión – É importante conhecer o processo para compararmos o antes e o depois de 2006 e 2007. Na- queles anos, o Equador havia tocado o fundo do poço com a aplicação do mo- delo neoliberal, que privilegiou os inte- resses do sistema nanceiro e socializou as perdas da crise bancária com todo o seu povo. Dolarizou-se a economia, ge- rando impactos desastrosos para a gran- de maioria dos equatorianos, gerando o êxodo de milhões de pessoas como mi- grantes, que tiveram de buscar condições de vida fora, já que o país não lhes ofere- cia esta oportunidade. Milhares de aposentados viram dimi- nuir enormemente seus benefícios pela dolarização e houve até gente que se sui- cidou porque perdeu todos os seus depó- sitos nos bancos. Creio que a crise bancá- ria colocou a descoberto uma velha insti- tucionalidade, a de que o Estado estava absoluta e cinicamente a serviço de pe- quenos grupos de poder econômico e po- lítico. Daí surgiu a tese defendida pelo jo- vem ministro da Economia e depois candidato a presidente, Rafael Correa, de que devíamos caminhar para uma Constituinte com o objetivo de refundar o país. Correa vislumbrou que não ha- via condições do povo equatoriano fazer as transformações que necessitava den- tro de um marco da velha Constituição, pois ela privilegiava o modelo neoliberal e estava claramente a serviço dos ban- cos. A lei era feita para eles, para asse- gurar seus lucros. A Assembleia servia a eles e as entidades, como o poder elei- toral, também. Tudo estava a serviço da “partidocracia”, termo que foi cunha- do para designar esse velho sistema de partidos que abarcava todo tipo de inte- resses minoritários e particulares da so- ciedade, gerando a enorme exclusão da grande maioria. Isso explica também o alto índice de pobreza que herdamos: quase 40% de pobreza e 17% de pobreza extrema. Números que temos revertido nos últimos seis anos. Houve uma enorme multiplicação dos investimentos do Estado, particularmente nas áreas sociais. De que forma a luta política garantiu que este seja mais do que o êxito de uma política de governo, mas de uma política de Estado? A própria Constituição estabelece prio- ridades para o Orçamento: investimen- tos em saúde, educação, nos setores so- ciais – se destina 25% do Orçamento a todas estas áreas. Mas, além disso, é um tema de políticas públicas, de raciona- lização e bom investimento dos recur- sos do Estado. Antes de 2007, boa par- te dos recursos do Estado era direciona- da ao pagamento da dívida externa. Es- te é um ponto muito importante. O pre- sidente nomeou uma comissão de audi- toria da dívida externa que determinou o que, de alguma forma, sabíamos, mas que nos deu muito mais certeza: a dívida estava praticamente paga e muito desta dívida era ilegal e imoral. Isso nos deu a base técnica e políti- ca para renegociar e para comprar parte desta dívida e aliviar a carga orçamentá- ria que tínhamos comprometida. O Equador foi pioneiro e sem medo nesta questão da auditoria. Essa força moral tinha claro de que o primeiro que tínhamos de fazer era colocar os recur- sos do país para saldar a dívida histórica com o nosso povo. E temos investido nis- so, incrementando em mais de 300% os investimentos em educação. As escolas do nosso país caiam aos pe- daços. A chamada escola pública e gra- tuita simplesmente não existia. Todos os pais de família tinham que dar, no míni- mo, a chamada “quota voluntária” de 20 dólares para a matrícula. Logo, tinham que investir nos uniformes escolares, nos livros, apostilas, e tudo era cobrado na escola pública. Para um lar pobre, com dois ou três lhos, era impossível matri- cular os lhos, porque uma família que vive com 200 ou 300 dólares não podia assumir este tipo de gastos de mais de 100 dólares mensais para a educação. Havia um grande contingente de crianças fora da escola... Havia muitíssimas crianças fora da es- cola. Hoje já cumprimos o Objetivo do Milênio para a educação básica e uni- versal, com equidade de gênero: pratica- mente 100% dos meninos e meninas es- tão estudando. Mas garantir a gratuidade e a qualidade da educação pública não é tão fácil. Para isso houve a valorização e a dignicação da atividade docente. An- tes os professores ganhavam 300 dóla- res, quando muito. Hoje o professor que recebe menos, aquele que recém ingres- sa na carreira docente, ganha 700 dóla- res, recebe capacitação e é avaliado pe- riodicamente para assegurar a evolução do nível e da qualidade. Aprovamos na Assembleia uma nova lei de educação, intercultural, que permite também ga- nharmos em eciência e excelência com a aplicação de todos os princípios da edu- cação pública. O que também pode se comprovar na questão da saúde pública. Sim, o mesmo acontece na saúde. Os hospitais caiam aos pedaços. O enfer- mo que precisava ser hospitalizado tinha de levar a seringa, o gás e o medicamen- to, porque a linha neoliberal era a priva- tização total da saúde, o que excluía mi- lhões de equatorianos do serviço de aten- ção pública. Junto com a Seguridade So- cial, os hospitais do Ministério da Saúde são cada vez melhores. Estamos também tapando os buracos históricos de um modelo territorializa- do que começa com o nível básico. Re- cuperamos o conceito de médico da fa- mília, com subcentros nos bairros para a medicina de atenção primária, a medici- na preventiva, além de hospitais especia- lizados da mais alta qualidade. Por isso alguns serviços públicos estão colapsa- dos pelo crescimento da procura, porque hoje as pessoas estão buscando o servi- ço público. Há portanto uma recupera- ção signicativa do público como sinôni- mo de qualidade, como sinônimo do di- reito que temos cada um dos equatoria- nos a estes serviços. Os 100 maiores êxitos da Revolução Cidadã foram sintetizados num pequeno livro em que compara o antes e o depois do governo de Rafael Correa. O que consideras mais importante? Poderia citar nesta pequena síntese das 100 conquistas da nossa revolução o in- vestimento forte em moradias sociais, construímos mais de 200 mil, núme- ro que supera a todos os últimos gover- nos juntos. Também para resolver o dé- cit em infraestrutura, houve investimen- to junto aos governos locais em água po- tável, saneamento, serviços básicos... E projetamos que o país possa fechar as brechas para as necessidades básicas in- satisfeitas até 2021, se seguir mantendo este ritmo de investimento em políticas sociais, o que signicaria baixar em 20 pontos a pobreza. Devemos ressaltar que a pobreza se mede por necessidades básicas insatis- feitas, carência de moradias, serviços bá- sicos, educação, saúde. A outra forma de medir a pobreza é pelos salários. Esta é uma grande conquista que o presiden- te sempre destaca com justa razão: não é que diminuímos a pobreza com bô- nus ou medidas assistenciais, vamos di- minuindo com redistribuição dos recur- sos, diminuindo a desigualdade e geran- do oportunidades, que é o que assegura um país focado em políticas públicas vol- tadas ao bem comum e não para peque- nos grupos. Como está a questão da seguridade social? Este é um dos méritos do esforço do Equador: combater a pobreza fechan- do as brechas da desigualdade. Aí entra a questão da geração de emprego digno. O presidente chegou inclusive a defender que entre as perguntas da consulta popu- lar estivesse o fato de que fosse um de- lito penal o fato da não vinculação dos trabalhadores à seguridade social. Por- que aqui isso era negado por muitas em- presas. Havia muitos empregados domésticos a quem seus patrões simplesmente não pagavam a seguridade social, barran- do o acesso a esse direito básico. Graças ao apoio popular, que disse um sim ro- tundo na consulta, agora esse é um deli- to penal e milhares de trabalhadores re- cuperaram esse direito, contando com a proteção do seguro social. Foram gera- dos mais empregos, mas dignos, em boas condições, não mais precários ou tercei- rizados. A Constituinte nisso foi bastante radical: eliminou a terceirização. O pre- sidente tem uma losoa bem clara, pa- ra nós vem primeiro o trabalho, depois o capital. Para essa revolução o ser huma- no está em primeiro lugar. O Equador utiliza dois conceitos: o do salário mínimo e o do salário digno. Explique o seu signicado. Esta é outra mudança bem interessan- te. Antes as empresas declaravam sua mais-valia, que era posteriormente re- partida entre os trabalhadores. Entre as mudanças normativas importantes está o de que nenhuma empresa redistribua esses lucros sem antes haver assegurado um salário digno. Hoje o salário básico está em 329 dólares e o salário digno es- tá em 351. Vamos chegando a este salário com a repartição dos lucros, porque não é justo que acionistas, empresários e tra- balhadores recebam a participação nos lucros e resultados sem antes garantir o salário digno. Estamos realmente orgu- lhosos de que o aparato produtivo equa- toriano vai melhorando a qualidade de vida das pessoas porém com trabalho de- cente, com direitos sociais. “Pátria, revolução e renascimento” ENTREVISTA Ministra da Inclusão Econômica e Social, Doris Soliz Carrión explica as razões da reeleição do presidente Rafael Correa “Correa vislumbrou que não havia condições do povo equatoriano fazer as transformações que necessitava dentro de um marco da velha Constituição” “As escolas do nosso país caiam aos pedaços. A chamada escola pública e gratuita simplesmente não existia” “Já cumprimos o Objetivo do Milênio para a educação básica e universal, com equidade de gênero: praticamente 100% dos meninos e meninas estão estudando” Em janeiro deste ano, Rafael Correa comemora o 6º aniversário do governo da revolução cidadã A ministra equatoriana Doris Soliz Carrión Mauricio Muñoz/Presidencia de la República Felipe Bianchi/Comunica Sul

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américa latinade 28 de fevereiro a 6 de março de 201314

Leonardo Wexell Severo e Felipe Bianchi

de Quito (Equador)

OS AVANÇOS do governo do presidente Rafael Correa e de sua Revolução Cidadã saltam a olhos vistos, cobrindo a ceguei-ra de agências internacionais.

Nesta entrevista, a ministra da Inclu-são Econômica e Social, Doris Soliz Car-rión esquadrinha as vitórias obtidas con-tra a miséria, a partir de um compro-misso com o “Bem-Viver”. Doris denun-cia a dolarização – uma bomba ainda a ser desarmada – como herança deixa-da pelo neoliberalismo, que ceifou em-pregos, achatou salários e desapareceu com poupanças, fazendo com que mi-lhões de equatorianos tivessem de aban-donar o país à procura de trabalho. Fir-me, fala de mais-valia, de salários dignos, de construção coletiva, de planifi cação, e descortina novos horizontes para a inte-gração latino-americana. Confi ra a en-trevista abaixo.

Brasil de Fato – De forma breve, contextualize o antes e o depois da Revolução Cidadã.Doris Soliz Carrión – É importante conhecer o processo para compararmos o antes e o depois de 2006 e 2007. Na-queles anos, o Equador havia tocado o fundo do poço com a aplicação do mo-delo neoliberal, que privilegiou os inte-resses do sistema fi nanceiro e socializou as perdas da crise bancária com todo o seu povo. Dolarizou-se a economia, ge-rando impactos desastrosos para a gran-de maioria dos equatorianos, gerando o êxodo de milhões de pessoas como mi-grantes, que tiveram de buscar condições de vida fora, já que o país não lhes ofere-cia esta oportunidade.

Milhares de aposentados viram dimi-nuir enormemente seus benefícios pela dolarização e houve até gente que se sui-cidou porque perdeu todos os seus depó-sitos nos bancos. Creio que a crise bancá-ria colocou a descoberto uma velha insti-tucionalidade, a de que o Estado estava absoluta e cinicamente a serviço de pe-quenos grupos de poder econômico e po-lítico.

Daí surgiu a tese defendida pelo jo-vem ministro da Economia e depois candidato a presidente, Rafael Correa, de que devíamos caminhar para uma Constituinte com o objetivo de refundar o país. Correa vislumbrou que não ha-via condições do povo equatoriano fazer as transformações que necessitava den-tro de um marco da velha Constituição, pois ela privilegiava o modelo neoliberal e estava claramente a serviço dos ban-cos. A lei era feita para eles, para asse-gurar seus lucros. A Assembleia servia a eles e as entidades, como o poder elei-toral, também. Tudo estava a serviço da “partidocracia”, termo que foi cunha-do para designar esse velho sistema de partidos que abarcava todo tipo de inte-resses minoritários e particulares da so-ciedade, gerando a enorme exclusão da

grande maioria. Isso explica também o alto índice de pobreza que herdamos: quase 40% de pobreza e 17% de pobreza extrema. Números que temos revertido nos últimos seis anos.

Houve uma enorme multiplicação dos investimentos do Estado, particularmente nas áreas sociais. De que forma a luta política garantiu que este seja mais do que o êxito de uma política de governo, mas de uma política de Estado?

A própria Constituição estabelece prio-ridades para o Orçamento: investimen-tos em saúde, educação, nos setores so-ciais – se destina 25% do Orçamento a todas estas áreas. Mas, além disso, é um tema de políticas públicas, de raciona-lização e bom investimento dos recur-sos do Estado. Antes de 2007, boa par-te dos recursos do Estado era direciona-da ao pagamento da dívida externa. Es-te é um ponto muito importante. O pre-sidente nomeou uma comissão de audi-toria da dívida externa que determinou o que, de alguma forma, sabíamos, mas que nos deu muito mais certeza: a dívida estava praticamente paga e muito desta dívida era ilegal e imoral.

Isso nos deu a base técnica e políti-ca para renegociar e para comprar parte desta dívida e aliviar a carga orçamentá-ria que tínhamos comprometida.

O Equador foi pioneiro e sem medo nesta questão da auditoria. Essa força moral tinha claro de que o primeiro que tínhamos de fazer era colocar os recur-sos do país para saldar a dívida histórica com o nosso povo. E temos investido nis-so, incrementando em mais de 300% os investimentos em educação.

As escolas do nosso país caiam aos pe-daços. A chamada escola pública e gra-tuita simplesmente não existia. Todos os pais de família tinham que dar, no míni-mo, a chamada “quota voluntária” de 20 dólares para a matrícula. Logo, tinham que investir nos uniformes escolares, nos livros, apostilas, e tudo era cobrado na escola pública. Para um lar pobre, com dois ou três fi lhos, era impossível matri-cular os fi lhos, porque uma família que vive com 200 ou 300 dólares não podia assumir este tipo de gastos de mais de 100 dólares mensais para a educação.

Havia um grande contingente de crianças fora da escola...

Havia muitíssimas crianças fora da es-cola. Hoje já cumprimos o Objetivo do Milênio para a educação básica e uni-versal, com equidade de gênero: pratica-mente 100% dos meninos e meninas es-tão estudando. Mas garantir a gratuidade e a qualidade da educação pública não é tão fácil. Para isso houve a valorização e a dignifi cação da atividade docente. An-tes os professores ganhavam 300 dóla-res, quando muito. Hoje o professor que recebe menos, aquele que recém ingres-sa na carreira docente, ganha 700 dóla-

res, recebe capacitação e é avaliado pe-riodicamente para assegurar a evolução do nível e da qualidade. Aprovamos na Assembleia uma nova lei de educação, intercultural, que permite também ga-nharmos em efi ciência e excelência com a aplicação de todos os princípios da edu-cação pública.

O que também pode se comprovar na questão da saúde pública.

Sim, o mesmo acontece na saúde. Os hospitais caiam aos pedaços. O enfer-mo que precisava ser hospitalizado tinha de levar a seringa, o gás e o medicamen-to, porque a linha neoliberal era a priva-tização total da saúde, o que excluía mi-lhões de equatorianos do serviço de aten-ção pública. Junto com a Seguridade So-cial, os hospitais do Ministério da Saúde são cada vez melhores.

Estamos também tapando os buracos históricos de um modelo territorializa-do que começa com o nível básico. Re-cuperamos o conceito de médico da fa-mília, com subcentros nos bairros para a medicina de atenção primária, a medici-na preventiva, além de hospitais especia-lizados da mais alta qualidade. Por isso alguns serviços públicos estão colapsa-dos pelo crescimento da procura, porque hoje as pessoas estão buscando o servi-ço público. Há portanto uma recupera-ção signifi cativa do público como sinôni-mo de qualidade, como sinônimo do di-reito que temos cada um dos equatoria-nos a estes serviços.

Os 100 maiores êxitos da Revolução Cidadã foram sintetizados num pequeno livro em que compara o antes e o depois do governo de Rafael Correa. O que consideras mais importante?

Poderia citar nesta pequena síntese das 100 conquistas da nossa revolução o in-vestimento forte em moradias sociais, construímos mais de 200 mil, núme-ro que supera a todos os últimos gover-nos juntos. Também para resolver o défi -cit em infraestrutura, houve investimen-to junto aos governos locais em água po-tável, saneamento, serviços básicos... E projetamos que o país possa fechar as brechas para as necessidades básicas in-satisfeitas até 2021, se seguir mantendo

este ritmo de investimento em políticas sociais, o que signifi caria baixar em 20 pontos a pobreza.

Devemos ressaltar que a pobreza se mede por necessidades básicas insatis-feitas, carência de moradias, serviços bá-sicos, educação, saúde. A outra forma de medir a pobreza é pelos salários. Esta é uma grande conquista que o presiden-te sempre destaca com justa razão: não é que diminuímos a pobreza com bô-nus ou medidas assistenciais, vamos di-minuindo com redistribuição dos recur-sos, diminuindo a desigualdade e geran-do oportunidades, que é o que assegura um país focado em políticas públicas vol-tadas ao bem comum e não para peque-nos grupos.

Como está a questão da seguridade social?

Este é um dos méritos do esforço do Equador: combater a pobreza fechan-do as brechas da desigualdade. Aí entra a questão da geração de emprego digno. O presidente chegou inclusive a defender que entre as perguntas da consulta popu-lar estivesse o fato de que fosse um de-lito penal o fato da não vinculação dos trabalhadores à seguridade social. Por-que aqui isso era negado por muitas em-presas.

Havia muitos empregados domésticos a quem seus patrões simplesmente não pagavam a seguridade social, barran-do o acesso a esse direito básico. Graças ao apoio popular, que disse um sim ro-tundo na consulta, agora esse é um deli-to penal e milhares de trabalhadores re-cuperaram esse direito, contando com a proteção do seguro social. Foram gera-dos mais empregos, mas dignos, em boas condições, não mais precários ou tercei-rizados. A Constituinte nisso foi bastante radical: eliminou a terceirização. O pre-sidente tem uma fi losofi a bem clara, pa-ra nós vem primeiro o trabalho, depois o capital. Para essa revolução o ser huma-no está em primeiro lugar.

O Equador utiliza dois conceitos: o do salário mínimo e o do salário digno. Explique o seu signifi cado.

Esta é outra mudança bem interessan-te. Antes as empresas declaravam sua mais-valia, que era posteriormente re-partida entre os trabalhadores. Entre as mudanças normativas importantes está o de que nenhuma empresa redistribua esses lucros sem antes haver assegurado um salário digno. Hoje o salário básico está em 329 dólares e o salário digno es-tá em 351. Vamos chegando a este salário com a repartição dos lucros, porque não é justo que acionistas, empresários e tra-balhadores recebam a participação nos lucros e resultados sem antes garantir o salário digno. Estamos realmente orgu-lhosos de que o aparato produtivo equa-toriano vai melhorando a qualidade de vida das pessoas porém com trabalho de-cente, com direitos sociais.

“Pátria, revolução e renascimento”ENTREVISTA Ministra da Inclusão Econômica e Social, Doris Soliz Carrión explica as razões da reeleição do presidente Rafael Correa

“Correa vislumbrou que não havia condições do povo equatoriano fazer as transformações que necessitava dentro de um marco da velha Constituição”

“As escolas do nosso país caiam aos pedaços. A chamada escola pública e gratuita simplesmente não existia”

“Já cumprimos o Objetivo do Milênio para a educação básica e universal, com equidade de gênero: praticamente 100% dos meninos e meninas estão estudando”

Em janeiro deste ano, Rafael Correa comemora o 6º aniversário do governo da revolução cidadã

A ministra equatoriana Doris Soliz Carrión

Mauricio Muñoz/Presidencia de la República

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