passos em volta - edição 6 (novembro 2015)

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Jornal ISPA

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Page 2: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

Passos em Volta | 6ª Edição

Passos em Volta

Alexandre Magalhães Vaz

Rafael Martinez Cláudio

José Candeias

Margarida Bessa Monteiro

Tereza Bínová

Raquel Matos

Diogo Vilaça Santos

Alexandre Magalhães Vaz

José Candeias

Paula Cortes

Rafael Martinez Cláudio

Tiago A. G. Fonseca

Ana Carla Nunes

Rita Alves

Jornal Académico do ISPA

Fundado por alunos da faculdade em colaboraçãocom a Associação de Estudantes (AEISPA)

Direcção e Edição

Co-Direcção

Revisão e Edição

Logótipo

Escritores Residentes

Presidente AEISPA

[email protected] | +351 91 406 53 40

Imagem de Capa: Jorge Molder, da série "Nox" (1998)

facebook.com/jornalispa

C O N T A C T O S

Page 3: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

ÍNDICE

POESIA E PSICOLOGIA CONCURSO AEISPAFERNANDO PESSOA

01 EDITORIALPor Alexandre Vaz

Por Alexandre Vaz e Tiago A. G. Fonseca

Por Paula Cortes

Por José Canderias

08 10

02

RELAXA QUE ENCAIXA06

03

AFINIDADES

ENTREVISTA A ANTÓNIOBRANCO VASCO

TERAPEUTA, CONHECE-TEA TI MESMO!

07 TYRION LANNISTER CONFIMASARTE

INTEGRAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EM PSICOTERAPIA

DA FOTOGRAFIA À PSICOLOGIA

Por Rafael Martinez Cláudio

09 O CRIME DESCOMPENSA

Por Tiago A. G. Fonseca

11 DENTRO DO CONSULTÓRIO

A MORTE SEM MESTRE

SER INTEGRATIVO: DA TEORIA À PRÁTICA

Page 4: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

EDITORIAL

por Alexandre Vaz

Ódio gera ódio. Não é (apenas) uma banalidadebonita, um slogan para canção: é ciência. A psicologia

social há muito que estuda o modo como opensamento dicotómico, o "nós" e o "eles", tem

consequências claras e impiedosas. Uma das melhores coisas que podemos fazer no

combate contra o fundamentalismo é evitar usar omesmo tipo de lógica que o leva a existir.

Os profissionais de psicologia têm, pelo menos, doisgrandes deveres sociais a cumprir.

O primeiro é ao nível individual, especificamente noapoio à pessoa em sofrimento.

O segundo é muito mais abrangente, contínuo, semfim: temos o dever de ajudar na luta contra o

pensamento rígido, dogmático e fundamentalista.Mieux vaut prévenir que guérir.

PASSOS EM VOLTA | 1

Page 5: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

W W W . F R A M E M A G . C O M | 2 0

AFINIDADESDA FOTOGRAFIA À PSICOLOGIA

Desocupar

O psicólogo parece por vezes assemelhar-se àimagem de um lugar que se quer aparentementedesocupado para cada paciente.

Diria que esta é uma tarefa sua, solitária.

Pegar em juízos, crenças e (pre)conceitos ecolocá-los de fora é desafio sessão a sessão. Pois,afinal, onde chegaríamos se levássemos um outrodistante dele próprio?

O outro seria incapaz de entrar sem espaço.

Por Paula Cortes

PASSOS EM VOLTA | 2 Imagens por Jorge Molder

Observar

O psicólogo costuma sentar-se num banco dejardim. Leva consigo os óculos e um pequenobloco de anotações.

Aquilo para o qual olhamos diz o que somos. Opsicólogo a maior parte do tempo, observapessoas. O que escolhe ver?

Fala-se mais em ensinar a pensar do que a ver.Poderíamos falar em ensinar o pensamento a ver?

O que vejo influencia o alcance do pensar.

Page 6: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

António Branco Vasco

P S I C Ó L O G O , P S I C O T E R A P E U T A , P R O F E S S O R E

F O R M A D O R N A F A C U L D A D E D E P S I C O L O G I A E

N A A S S O C I A Ç Ã O P O R T U G U E S A D E T E R A P I A S

C O M P O R T A M E N T A L E C O G N I T I V A ( A P T C C )

Conheci o professor Branco Vasco em 2012 na Faculdade dePsicologia, Universidade de Lisboa. Um ano depois, fui alunode uma cadeira de mestrado dele, “Perspectivas Integrativas eEcléticas em Psicoterapia”. Lá, tomei conhecimento de dezenasde livros e artigos que ainda hoje me servem de bússolaintelectual. Entrei a pés juntos num mundo ao qualintrinsecamente sempre tinha subscrito. Estou a falar domovimento integrativo em psicoterapia – isto é, os váriosesforços teóricos e práticos com objectivo de conciliarcientificamente abordagens terapêuticas distintas. O professorBranco Vasco foi talvez o principal profissional a trazer,investigar e leccionar os modelos integrativos em psicoterapiaem Portugal. Continua a dar a mesma cadeira que tanto memarcou, fazer investigação no seu modelo de terapiaintegrativa e a formar psicoterapeutas na APTCC.

PASSOS EM VOLTA | 3

Entrevista por Alexandre Vaz

BV: Eu depois fui para os Estados Unidos, em 1982, fazero mestrado.

AV: Nessa altura estava associado mais a que modelopsicoterapêutico?

BV: Ou seja… A minha aspiração de base nem sequer eraestudar psicologia – era fazer psicanálise e sociologia.Fazer uma complementaridade entre o que é acompreensão intra-individual e a compreensão social.Portanto, a articulação ou dialéctica entre o Homem e asociedade. Por vicissitudes da minha história pessoal,acabei em psicologia. Tendencialmente, nessa altura,tinha muito presente o modelo psicanalítico. Já tinha lidoFreud, Lacan... Wilhelm Reich, que foi muito marcantepara mim, com "Escuta, Zé Ninguém", "O CombateSexual da Juventude", "Função do Orgasmo"...

AV: Mas depois o professor pensou que se calhar um tipoque constrói uma máquina para encapsular os poderes doorgasmo era um bocado maluco?... [risos]

BV: O gajo passou-se, a certa altura. [risos] Isto é tudo emPortugal, ainda. Depois começo a fazer psicanálise,porque supostamente queria ser psicanalista. Portanto, eem paralelo, estava a a fazer psicanálise pessoal e a daraulas cognitivo-comportamentais na faculdade.

AV: Como é que isso aconteceu?

BV: Quem me convidou para ser assistente foi para essecargo. Na altura, comecei a dar as cadeiras de "introduçãoà psicoterapia" e "escolas de psicoterapia individual".Portanto, essas nem sequer eram vinculadasideologicamente a nenhum modelo. O que de certaforma também me ajudou a interessar pela psicoterapia,eu diria, por um lado mais antropológico: pelo fenómenopsicoterapêutico. Sempre me interessei pela história, pelaquestão da filosofia e antropologia associada àpsicoterapia. E acho que nunca fui fundamentalista denada. Sempre tive um espírito muito...

AV: No fundo, integrativo.

Branco Vasco: [referindo-se ao título deste jornal]Curiosamente, o título da minha conferência no 1ºCongresso Nacional da Ordem dos Psicólogos era umahomenagem ao Herberto Helder: Quando um PeixeEncarnado nos Começa, de Súbito, a Revelar a sua Tambémcor Negra Pintemo-lo, então, Digamos, de Amarelo: Em Voltada Integração em Psicoterapia.

Alexandre Vaz: Estamos em sintonia, então! Queria-lheperguntar como foi aquela época dos anos 80 e 90 emque o professor começou a trazer estas ideias dapsicoterapia integrativa para Portugal. Com queresistências se esbarrou?

BV: Eu acabei o curso em 80. Nessa altura, tudo erafundamentalista. Para já, havia quatro sociedades depsicoterapia em Portugal, ou algo do género…

AV: Modelo psicodinâmico, principalmente?

BV: Psicanalítico. Nem se falava de modelopsicodinâmico, na altura. Depois, havia a de TerapiaFamiliar, a Rogeriana e a Cognitiva-Comportamental.Talvez já existisse também a de Grupanálise.

AV: O professor acaba o mestrado em que ano?

ENTREVISTA

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ENTREVISTA

BV: Exacto. Quando acaba a cadeira de "escolas de psicoterapiaindividual", depois da saída do professor que me tinhaconvidado, comecei a dar cadeiras especificamente cognitivo-comportamentais. Seja como for, na faculdade tive tambémformação rogeriana. Portanto, psicanálise, cognitivo-comportamental e rogeriana, isto em 1980, 1981.

AV: Nessa altura em que deu aulas cognitivo-comportamentais,deu-as contra a sua vontade ou estava interessado?

BV: Estava interessado. Às vezes costumo usar nas aulas a frasede John Stuart Mill: "quando duas partes estão em desacordo,ambas estão certas no que afirmam e erradas no que negam".Ligando mais à terapia, se por um lado a minha identificaçãoinicial era mais psicanalítica... O que tinha que ver com oespírito da época, também! Além do mais, em termoshistóricos, tem que ver com outra coisa que é a libertaçãosexual. Quando foi o 25 de Abril eu tinha 19 anos. Eeventualmente comecei a ler psicanálise antes porque tambémestava preocupado com a sexualidade - o sexo era proibido.Como se a ligação à psicanálise fosse também umareivindicação à liberdade sexual. Daí a minha associação àpsicanálise. Por outro lado, sempre fui um gajointelectualmente curioso. Não só isso, como o contacto que tivecom o Carl Rogers. Foi um livro fundamental, para mim, o"Tornar-se Pessoa". É um livro que ainda hoje cito, e aindahoje utilizo a expressão mesmo aplicada à terapia: "está-se atornar pessoa". Portanto, o componente fenomenológico ehumanista sempre foram fulcrais para mim.Retrospectivamente, sempre tive muita dificuldade em ficarfechado numa gaveta. Tinha um interesse pessoal e social napsicanálise, um interesse humanista e fenomenológico a níveldo Rogers... E depois tenho uma parte cientista: aquela históriados cognitivo-comportamentais terem resultados e teremcomeçado a estudar eficácia, é claro que ficou e é claro quetambém tenho curiosidade nisso. E foi aí que li um livro quefoi fundamental para mim, o "Persuasion and Healing" doJerome Frank. Foi aquela sensação... Eu ainda era um puto, efoi uma sensação de "epá, há gajos crescidos que tambémpensam como eu!".

AV: "Não estou sozinho!" [risos]

BV: Exacto, exacto! Outras influências: a anti-psiquiatria, tiposcom o Ronald Laing e Cooper; o estruturalismo francês e alinguística, que eu gostava muito. E que, de certa forma, meajudou a pensar em psicoterapia, o que é interessante: a ideiadas fases, para mim, vem da linguística. Eu construía pensandoem termos dos "sintagmas" e dos "paradigmas" da linguísticaque tinha lido em Ferdinand de Saussure. Julia Kristeva, RolandBarthes, Michel Foucault... E um professor português, EduardoPrado Coelho, cuja tese de doutoramento, em literatura, foiuma coisa importantíssima para mim. Porque ele mencionavauma série de filósofos da ciência que comecei a ler ouaprofundar na altura. Popper, Kuhn, a noção de revoluçãocientífica... Tudo isto na minha cabeça.Quando eu estava a fazer psicanálise, andava a ler muitoPopper e... epá, as descritivas de Popper quanto à psicanálise.[risos] Depois tive de interromper a análise para ir fazer omestrado para os Estados Unidos - porque, aliás, não havia

mestrados em psicologia em Portugal, na altura. E confesso queera um bocado paradoxal estar no divã a pensar no Popper[risos].

AV: Nunca disse ao seu psicanalista que o que estavam para ali afalar não era falsificável?

BV: Uma das situações mais caricatas da minha vida foi ter dedizer ao psicanalista que tinha de interromper a análise para irpara os Estados Unidos fazer o mestrado. E tinha a certeza queele estava a ouvir uma coisa muito diferente.

AV: Resistência... [risos]

BV: Claro! E lembro-me de estar a falar com ele e a adivinhar oque lhe devia estar a passar pela cabeça! E portanto, vou para osEstados Unidos. A pessoa com quem queria fazer o mestradoestava, infelizmente, de licença sabática, um senhor que sechamava Michael Mahoney. Não sei se já leu alguma coisa dele.

AV: O construtivista.

BV: Sim, embora na altura ainda não se falava emconstrutivismo. É alguém que começou numa vertente maiscomportamentalista e que fez uma evolução que acheiextraordinária. Na altura, ele aconselhou-me a Diane Arnkoff,da Catholic University em Washington, para me orientar nomestrado. Curiosamente, foi lá que acabei por escrever epublicar o que viriam a ser os primeiros artigos sobreconstrutivismo em Portugal. Outra coisa importante é que foilá que conheci a SEPI [Society for the Exploration ofPsychotherapy Integration], que tinha sido recentementecriada. Na altura, o conceito de integração em psicoterapiaainda não estava completamente desenvolvido, masclaramente eu pensava em termos integrativos.

AV: Portanto, foi em Washington que o professor contactou deforma mais oficial com a possibilidade de integração empsicoterapia.

BV: Exacto. Penso que a primeira vez que fui a uma conferênciadeles foi em Londres, em 1991.

AV: E já que diz isso, a sua tese de doutoramento foi, mais tarde,orietada por um londrino, Windy Dryden.

BV: Sim, mas isso foi por mera conveniência de serviço, eu nãopenso como ele. Mas uma coisa que quis desde logo fazer foiestudar os psicoterapeutas portugueses, porque ainda ninguémo tinha feito. Não queria um trabalho meramente descritivo, atéporque eu não seria capaz de o fazer assim, tinha também deter uma componente reflexiva. E muita da ideia da"complementaridade paradigmática" [nome do metamodelointegrativo criado pelo próprio] começou a surgir aí. E aícomeçou a haver problemas com o eu ser integrativo.

AV: Que tipo de problemas?

BV: Logo no doutoramento. Tive problemas comum psicanalista, que não me deu unanimidade no louvor com

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ENTREVISTA

considerações completamente ridículas. Primeiro, porque nãotinha citado o trabalho dele, que não tinha nada que ver comaquilo que eu fiz. E segunda, e essa ficou famosa: eu naintrodução do doutoramento faço uma citação do AlexandreDumas, e cometo um lapso imperdoável que é trocar oAlexandre Dumas pai pelo Alexandre Dumas filho. [risos] Eobviamente que para um psicanalista isto é a morte do pai! Masobviamente, e ao mesmo tempo, havia claramente umdesconforto da comunidade psicanalítica ao perceber que euestava a transgredir. Porque eu era bastante bom naquilo e elesestavam na esperança que eu fosse um bom psicanalistaportuguês.

AV: Nessa altura, suponho que o professor já considerassedesonestidade intelectual a hipótese de se tornar psicanalista.

BV: Já não havia hipótese. Percebi que para isso teria de meconverter, e eu não me converto. Sou um bocado como oGroucho Marx, "nunca aceitaria pertencer a um clube que meaceitasse como membro". [risos] Acima de tudo seria umatentado à minha liberdade individual, e acho que as pessoaspara pensarem precisam da sua liberdade. Houve váriosmomentos de alívio na minha vida, e alguns dos maismarcantes foram quando eu cortei mais claramente comorientações [terapêuticas]. Portanto, nessa altura fui "comido"pelos psicanalistas, e na minha agregação pelos cognitivo-comportamentais. A história repete-se, mas como o Marx dizia,a primeira vez como drama, a segunda como comédia! Mas eunão acredito que todas as orientações sirvam para tudo.Quando eu era novo, lembro-me de haver gajos na feira quevendiam banha da cobra, que servia para tudo. E eu nãoacredito nisso. E não sou só eu, está aqui na investigação!

AV: Já não é só "fé".

BV: Claro! E claro que se sofrem consequências. A liberdadetem custos.

AV: E, mais tarde, nos anos 90, o professor começa a criar einvestigar um metamodelo de integração psicoterapeutica,chamado "modelo de complementaridade paradigmática".Queria-lhe fazer o desafio cruel de o descrever em poucaspalavras.

BV: O processo terapêutico tem uma lógica, ou tem váriaslógicas, mas uma é certamente a lógica sequencial. Isto tambémtem que ver com algo que costumo dizer: a terapia tem umestar, tem um quê, tem um quando e um como. As "fases" daterapia são simultaneamente um quando e um quê . Portanto, háuma sequência, e essa sequência tem que ver com fases. Asfases capturam dois lados de uma coisa: aquilo que o terapeutapromove e aquilo que o paciente está capaz de receber. Sendoque com mais investigação começamos a ser mais específicossobre como e quando podemos promover a "novidade" emterapia.

AV: Uma ideia que me foi útil, que o professor disse uma vezem aula, era de que a psicoterapia vivia de uma dialécticafundamental de validação-desafio.

BV: Sim, sim. Essa, para mim, é a dialéctica fundamental. Aliás,temos investigação já antiga que nos sugere que o que contribuimais para o resultado em terapia é o "desafio", ou a "novidade",desde que haja o chão da validação.

AV: Esse chão, no fundo, é o chão relacional.

BV: Sim, porque inicialmente a relação constrói-seprincipalmente pela validação. Mas os desafios adequados,havendo suficiente validação, também contribuem para a forçada aliança. Quando a pessoa sente "eu preciso disto, isto faz-mesentido". Aliás, já o disse directamente a um paciente, daquelascoisas que às vezes saem: "eu lamento ter de o tirar do seudesconforto confortável, mas se não o fizer, vai ficar tudo namesma". Gosto muito desta dialéctica: desconforto confortávelou conforto desconfortável. Que é o Inferno que conhecemos.

AV: E, às vezes, mais vale saltar para o Inferno quedesconhecemos.

BV: Por vezes, as respostas que damos, e que não sãoadaptativas, são aquelas que mais estamos habituados a dar.Portanto, há uma sensação de familiaridade - paradoxalmentee, talvez, perversamente - que nos dá uma sensação desegurança.

AV: Voltando à integração em psicoterapia, uma meta-análiserecente sugere que cada vez mais terapeutas se identificamcomo "integrativos".

BV: Hoje em dia, infelizmente, acho que a integração está aficar na moda. E eu não gosto que as pessoas adiram às coisaspor moda, e não por convicção. Há vários tipos de integração, eessas pessoas que se dizem integrativas... O problema é quemuitas vezes as pessoas identificam integração com "à balda".E há modelos de integração desenvolvidos e investigados, nãoé à balda. Eu detesto a pessoa "eu faço um bocadinho de cadacoisa". Para mim, isso é o protótipo de quem não sabe o queestá a fazer.

AV: Só para terminar, professor, não sei se quer deixar umasúltimas palavras.

BV: Eu gosto de ver muitas pessoas a pensar. Mas também gostoque o pensamento das pessoas não fique num Evangelho - queadiram a uma determinada sociedade ou ideologia por fé. Achoque as coisas têm de ser investigadas. Eu não sou umcientificista - acho que a estatística é apenas um tipo deargumento. Mas esses palermas que vão sempre à televisão, umQuintino Aires ou Alberto Lopes, vão vender treta. O que elesfazem é treta, não tem investigação, não vão aos congressos, nãodiscutem com os pares. É marketing. E assusta-me imenso verisso. Até porque são as pessoas que dão mais nas vistas, que sãomais mediáticas, e depois o público geral fica com estarepresentação de "então isto é que são os psicoterapeutas".Portanto, e só para terminar, eu defendo integração esclarecida.

AV: Obrigado, professor.

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RELAXA QUEENCAIXAI n tegração e I nves t igação em Ps ico te rap ia

R U B R I C A

Este mês queremos fazer um apanhado geralde algumas ideias fundamentais que nossurgem a partir das investigações empsicoterapia feitas até hoje - e não forampoucas! O objectivo é, acima de tudo, o dereflexão informada.

Infelizmente, é impossível colocar todas asreferências bibliográficas que gostaríamos(oh, a angústia das limitações de espaço...).Por isso, deixamos em baixo duas referências,dois compêndios excelentes e recentes daprincipal investigação em psicoterapia.

Vamos a isto:

1.Após décadas de estudos, não foramencontradas diferenças consistentes quantoà eficácia das diferentes abordagensempiricamente estudadas, no geral e paraperturbações específicas. Quer isto dizer queestudar 20 anos de psicanálise, ou tantosoutros anos de cognitiva-comportamental,NÃO É o factor decisivo para obter melhoresresultados em psicoterapia. Como já temosvindo a descrever, a estrutura teórica é tãoimportante quanto a flexibilidade de quem autiliza.

2.Os efeitos do terapeuta têm maior impactono resultado que a abordagem ou técnicasutilizadas. Quer isto dizer que, quandotentamos prever o sucesso de umaintervenção psicológica, é mais significativa avariável "terapeuta" - com todas as suascaracterísticas pessoais e profissionais - que avariável "modelo" ou "técnicas" utilizadas.

Por Alexandre Vaz e T iago A . G. Fonseca

3.A psicoterapia é, em muitos casos,igualmente eficaz quando comparada aintervenções medicamentosas. Os ganhosterapêuticos da primeira são também,geralmente, mais duradouros.

4.40% dos resultados em psicoterapia sãoexplicados por factores extraterapêuticos,como factores do cliente e influências doseu ambiente fora da terapia. Isto significaque quase metade da percentagem deresultados não pode ser atribuída à própriapsicoterapia ou psicoterapeuta.

5.Uma percentagem considerável dapopulação termina uma intervençãoterapêutica em pior estado do que quandocomeçou. Estamos a falar de casos no qual asaúde mental deteriora, apesar doacompanhamento psicológico (ou devido aeste!). Os números: cerca de 10% dapopulação em psicoterapia deteriora. Estevalor passa para 20% no caso da populaçãoinfantil! Para reflectir: isto significa queexiste ainda um conjunto de pessoas para oqual não estamos suficientemente bempreparados. A solução passará, comosempre, por um misto de investimento emmais formação pessoal e um continuar dainvestigação dos factores que promovem aeficácia em psicoterapia.

Para rematar, e porque fica sempre bem,uma dica do mestre Carl Rogers: “I haveperhaps been slow in coming to realize thatthe facts are always friendly”.

Lambert, M. J. (2013). Bergin and Garfield’s handbook of psychotherapy and behavior change (6ª ed.). John Wiley & Sons.

Wampold, B. E., & Imel, Z. E. (2015). The great psychotherapy debate: The evidence for what makes psychotherapy work. Routledge.

PASSOS EM VOLTA | 6

Page 10: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

PASSOS EM VOLTA | 7

O caro leitor está a ler este texto e issosignifica que em princípio se encontravivo. Parabéns. Estar vivo significatambém que o leitor pode de factomorrer hoje. A sério. Não é precisoassim tanto para se morrer hoje. Lixoespacial pode cair-lhe aleatoriamenteem cima da cabeça, pode tropeçar nasescadas e partir o pescoço ou ummaluco qualquer preso a uma ideologiaantiga pode decidir que é uma boa ideiadar-lhe um tiro. Heidegger referia estaeventual inevitabilidade da morteenquanto o caminho para o nada (dasnicht) do qual ninguém pode salvarninguém. Foucault referia-se a essenada enquanto a origem fulcral davontade de viver. Já Nietzscheconsiderava que pensar no nada assimdo nada é muito provavelmente umsinal de fraqueza fisiológica e até dedecadência. É por estas e por outras queele não tinha muitos amigos.Ignoremos Nietszche.

Esta confrontação com a finitude abre aporta a um conjunto de pensamentosmuito engraçados que podem serresumidos na seguinte frase: “O que éque eu ando a fazer com a minha vida?”.As respostas a esta pergunta irãoobviamente variar de pessoa parapessoa e as possibilidades de respostaoscilam algures entre “ando a ser mongebudista, estudante de psicologia ou

serralheiro.” Seja qual for a respostaexistirá para Sartre sempre umdenominador comum: A situação emque o sujeito se encontra na vida é desua exclusiva responsabilidade.

Para defender essa posição de totalresponsabilização do individuo Sartrerecorria ao conceito de liberdaderadical. Imaginemos que o caro leitor éum serralheiro. Ser serralheiro implicarealizar quotidianamente algum tipo detrabalho de transformação com amatéria-prima denominada de ferro.Um serralheiro desenvolveu umconjunto de aptidões para trabalharcom o ferro; aptidões essas que utilizacom o objectivo de receber dinheiro egarantir a sobrevivência. Existemportanto diversas forças a trabalhar emconjunto para que o serralheirocontinue a ser serralheiro: A força dohábito, as pressões familiares, aspressões financeiras...

No entanto, fisicamente falando, nadaimpede o serralheiro de, por exemplo,se despir totalmente a meio do dia detrabalho e ir para a rua anunciar a alto ebom som a nova era onde os sereshumanos voltam a viver nas florestasem plena comunhão com a natureza;seguindo assim caminho paraMonsanto com o objectivo deestabelecer uma comunidade hippie.

Tyrion Lannisterconfima Sartre

Não há nada físico que o impeça de deixar deser serralheiro de um momento para o outro.Portanto, e voltando ao conceito de liberdaderadical; se nada impede o serralheiro de sedespir e tornar-se hippie; a decisão decontinuar a ser serralheiro éexclusivamente dele. E ninguém pode salvaro serralheiro das suas decisões pessoais (damesma forma que ninguém o pode salvar dainevitabilidade da sua morte).

E esta é a grande “ironia” da conceptualizaçãode liberdade de Sartre. Enquanto que diversasperspectiva filosóficas apontam as suas armasora na destruição do conceito de livre-arbítrioora no destaque dado às condicionantessocioeconómicas e culturais impostas sobreaquilo que podemos fazer; Sartre sublinhaque o supremo desespero surge quandosentimos na pele uma combinação implacávelentre a finitude e a insignificância da nossavida associada à infinitude de possibilidadesancoradas na liberdade radical. Eledenominou este estado de espírito enquantoecstasy negativo. Em palavras maiscorriqueiras o ecastasy negativo pode surgirquando nos sentimos otários pelas decisõesque tomámos (ou que não tomámos) que nosconduziram até ao ponto actual da nossa vida.

Mas o confronto com a liberdade radical ecom a finitude não tem que sernecessariamente negativo. Heidegger referiaque o caminho para o nada é inevitável. Aliberdade radical recorda-nos que o caminhonão é inevitavelmente vazio. Recorda-nostambém que por muito miserável que seja anossa situação actual ela tem algo de comumcom todas as outras situações: pode sermudada. E que a mudança está no nossocontrolo. Caminhemos então para o olvidocom o nosso toque de estilo pessoal. Façamosrodopiar o sol. Quebremos os padrões quenecessitam de ser quebrados. Há de factoespaço para a virtuosa arruaça.

"Death is so final, whereas life is full ofpossibilities!" – Tyrion Lannister

(P.S.: Em caso de avaria mental provocadapelo confronto conceptual com a morte,contactar Yalom.)

Por José Candeias

O P I N I Ã O

Page 11: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

"Aonde quer que vá, descubro que um poeta esteve lá antes de mim."Sigmund Freud

F E R N A N D OP E S S O A

A única maneira de teres sensações novas é construíres-te

uma alma nova. Inútil esforço o teu, se queres sentir outras

coisas sem sentires de outra maneira, e sentires-te de outra

maneira sem mudares de alma. Porque as coisas são como

nós as sentimos – há quanto tempo julgas tu saber isto sem

o saberes? – e o único modo de haver coisas novas, de

sentir coisas novas, é haver novidade no senti-las.

Muda de alma. Como? Descobre-o tu.

Fernando Pessoa/Bernardo Soares, in Livro do Desassossego

Page 12: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

PASSOS EM VOLTA | 9

No passado dia 13 de Novembro,um grupo de homens armadosatacou vários locais da cidade deParis causando a morte a mais de130 pessoas. Na véspera, emBeirute, dois atentados bombistasmataram mais de 40 pessoas. Epodíamos ficar por aqui. Aviolência com que se abate ahumanidade à força do tiro e daexplosão bastava-se com estasduas frases. Não precisávamos deteorizar sobre a génese do EstadoIslâmico e da Al-Qaeda. Nãoprecisávamos de encher painéis decomentadores a discutirsegurança, mais ou menos segurosdo assunto. Não precisávamos defrases rampantes que enchem asredes sociais para nos preencher ovazio de não termos o que dizerperante a morte violenta einexplicável. Não precisávamos defiltros de uma ou duas bandeiraspara decorar as nossas fotografiasno facebook. E acima de tudo, nãoprecisávamos que um estudantede psicologia como eu nos viesseinfestar de consideraçõescognitivas, pois essas tretas damente nada importam quando ocoração pára de bater. Nestes doisdias mais de 170 pessoasperderam a vida, e isto devia sersuficiente. Depois de actos de talviolência o silêncio deveria ser aprimeira opção, para que todos

pudessem apenas sentir, temere depois resistir. Mas não foiassim. Não foi assim nosjornais, não foi assim nastelevisões, não foi assim nasredes sociais, não foi assim nomundo e se calhar não deviaser.

Não podemos reduzir um actocomo os de Paris e de Beirute aum simples acontecimentoisolado, que se basta nas balasdisparadas e no sanguederramado. Não podemosreduzir o bestiário que levou acabo este tipo de actos a ummero conjunto de cidadãos comdistorções cognitivasacentuadas o suficiente para osconduzir a uma acçãodesviante. Falta-nos técnica ejargão na hora de avaliar algoque é muito maior que tudoisso. A barbárie tende a escaparao nosso entendimento. E queEllens (2002) nos explique queexiste em muitos dosterroristas uma crençaprofunda que cada baladisparada apenas cumpre umdesígnio divino. E queSagerman (2004) nos pinte quepara um terrorista é uma honrasacrificar a vida pelo seu Deus.E que Hudson (1999) nosindique que cada membro de

A morte semmestre

um grupo extremista tem incutida aideia de estar mandatado por Deuspara castigar o ocidente. E queIbrahim (1988) nos demonstre asperversões originadas pelo ódio.Poderemos compreender isto tudo,mas fica-nos sempre a faltar algopara entender estes actos. Ficamossempre aquém. A nossa ambiçãojustificativa nunca consegue sersatisfeita. Perante este tipo deviolência nasce em nós uma inibiçãoque nos impede de ir mais além, dedar o passo necessário paracompreender o que se poderiapassar na cabeça de cada umdaqueles tipos que apontaramindiscriminadamente as suas armase dispararam sem pruridos.Compreender esse acto, iria fazer-nos sentir cúmplices. Entender esseacto faria com que sentíssemosestar ao nosso alcance um tipo deperversidade que esperamos nuncaencontrar nem em nós nem nosoutros. Talvez por isso nuncaconsigamos perceber o terrorismo.Ou talvez valha muito mais a penaperceber a história de cada um das170 pessoas, pois todas elas tinhamsonhos (que nós podemosimaginar), todas elas tinhamprojectos (que nos poderíamospartilhar), todas elas eram pessoas(que nós podíamos conhecer) eacima de tudo, todas elas deixaramuma história que não se reduzàquele tiro nem àquela bomba...

Por Rafael Martinez Cláudio

R U B R I C A : O C R I M E D E S C O M P E N S A

Page 13: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

9 | BOOK I S H MAGA Z I N E

Desenvolvimento deCompetências Pessoais

e Profissionais

TEATRO DOQUOTIDIANO

Workshops: penúltima quinta feirade cada mês.

Horários:Na penúltima Quinta-feira de cada

mês, das 19H30 às 21H30

Destinatários: Todas as pessoas que queiram

aprender ou experimentar Teatro edesenvolver competências através

do mesmo.

Preços:15€ por sessão

SUPERVISÃO DECASOS

Muito mais do que verificar uma“check-list” do que foi ou não feito, écriar uma relação de confiança quefomente uma prática reflexiva dosprofissionais. É identificar forças edificuldades, e explorar soluçõescriativas para os desafios que o

dia-a-dia coloca.

Horários:O grupo reúne-se duas vezes por mês,

em sessões com uma duração 2h.Todas as sessões são dinamizadas por

técnicos especializados emintervenção clínica de abordagem

sistémica (Terapeutas Familiares oudoutorados em Psicologia da Família).

Valor avulso: 30 euros para sessõesde intervisão

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Qualitativas:Metodologias de investigação

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NVivo10 e supervisão de projectos.

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Page 14: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

Por Tiago A . G . Fonseca

Doutorando em psicologia cl ínica

pela Faculdade de Psicologia

er integrativo não nasceconnosco. E seria difícil que assimfosse, pois as faculdades estãodirecionadas para uma linha deorientação, para uma estrutura decompreensão dos indivíduos e deconceptualização dos seus casos.Mas então, como se chega àcompreensão da integração?

Não acho que seja umacompreensão, apenas, teórica. Daminha experiência, é, até, muitoprática. Pode a teoria da integração -da afirmação de que pessoasdiferentes precisam de respostasdiferentes em diferentes momentosda sua vida -, fazer muito sentido,mas apenas é compreendida na suatotalidade na prática.

Eu sempre fui muito céptico face àPsicoterapia Integrativa. Eu, queagora me digo um integrativoconvicto. Porque haveria de serintegrativo se a minha linha deorientação – Psicoterapia Cognitiva-Comportamental – explica oindivíduo, os seus comportamentos,os seus pensamentos, assuas perturbações? Para que precisode mais teorias, de mais linhas deorientação? E foi com esta posiçãoque fui para a minha primeirasessão de psicoterapia, com o meuprimeiro paciente.

A queixa inicial era “ansiedade comataques de pânico”, como o própriodefiniu após breve pesquisa on-line.

Ser Integrativo : da Teoria à Prática

S

DENTRO DOCONSULTÓRIO

E lá fui eu, também ansioso, com apercepção de que, assim que mesentasse à sua frente, ele iaperceber. Mas ele também o estava.

À medida em que ia aprofundando ocaso, as razões da sua vinda, ascausas do que trazia, o que pensavae sentia face ao que me dizia eexperienciava, esta pessoa iarevelando um entendimento de sifantástico, uma diferenciação muitoprofunda, com muita facilidade deinsight, que só era ultrapassada pelanão compreensão pessoal das suasdificuldades mais prementes: ummedo muito específico para com umobjecto banal. Demasiado banalpara o seu entendimento.

Uma vida de estudos, um bomtrabalho, com boas relaçõespessoais amorosas e familiares, umapessoa viajada e realizada, que comtoda a tristeza que tinha me disse“não consigo fazer a minha vidanormal com este medo”. É umachapada muito grande, quando noscontam, com a maior tristeza domundo, que têm medo de algo tãobanal. Põe em perspectiva a dor e aforma como a sentimos. É a formamais presente que tenho deaprendizagem neste sentido, deperceber que a dor dos outros nãoé, nem pode, ser medida pelagrandeza do acontecimento massim, pela grandeza quepercepciona e sente face aoacontecimento.

Lembro-me do meu orientador, noque diz respeito a este medo, medizer, com algum gozo, “encaixa láisso num dos quadros conceptuaisdo [Aaron] Beck”. As peças nãoencaixavam, não era possível. Aslinhas não eram direitas, nem osquadros se correlacionavam comoseria suposto. Como vou olhar paraeste caso? Como vou darseguimento às dificuldades destapessoa? É aqui, depois destasperguntas, depois das tentativasfalhadas de conceptualização, quepercebemos que, mais do queteoria, a integração é umanecessidade da psicoterapia, éuma necessidade do terapeutapara melhor perceber e aceitar oseu paciente e é uma necessidadedo paciente, que precisa de maisdo que uma linha para seexprimir.

A integração em psicoterapia é,também, um acto de humildade doterapeuta. Não é possível saber-setudo. Ser integrativo é querer sabermuito sobre muito, e caminharnesse sentido, mas afirmar sempreque, quanto maior o conhecimentoque se tem do ser humano, melhorpoderemos ser para cada pessoaque nos procura como seupsicólogo.

http://psicologiaparapsicologos.pt

PASSOS EM VOLTA | 11

Page 15: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

ERA UMA VEZ QUATRO PSICÓLOGOS QUE SEREUNIRAM POR UMA CAUSA COMUM: UNIR EDIVULGAR A PSICOLOGIA EM PORTUGAL.

www.mais-psi.com

Quiseram assim criar caminhos numaPsicologia onde faltava comunicação e partilhaentre os estudantes de psicologia,profissionais, as entidades empregadoras e acomunidade.

Os esforços uniram-se e em 2015 surgiu aMaisPSI, uma plataforma gratuitaespecializada na área, concebida a pensar nãosó nos profissionais da Psicologia, mastambém nos estudantes e entidades, semesquecer a sociedade em geral e todos aquelesque procuram "informação fidedigna acerca daárea ou serviços".

Logo à entrada, o site tem assim uma áreapública onde existe um Diretório deEstudantes, Psicólogos e Empresas e umespaço de notícias e informações úteis paraquem procura informações ou serviços dePsicologia. Existe ainda uma área reservadapara profissionais, entidades e outra paraestudantes. Oferecendo desta forma áreasrestritas pensadas em cada público. Criar operfil é gratuito e rápido e a partir daí podepesquisar formações com condições especiais,ter acesso à investigação portuguesa que estáa ser feita na área, partilhar artigos (quercientíficos, quer de opinião), notícias ou

empregos e estágios profissionais. Partilharé, com efeito, uma das palavras de ordem.Ao nosso jornal, o grupo de psicólogosesclarece que mais do que "meramente umlocal de consulta" a MaisPSI foi pensadacomo uma plataforma de "comunicação einteração, construída pelas pessoas" e umespaço de "partilha, de crescimento e deenvolvimento" feito pelos utilizadores quepodem assim partilhar livrementeinvestigações que estejam a desenvolver,artigos, sebentas, colocar anúncios oudúvidas.

"Os psicólogos portugueses e entidades daárea careciam de um espaço especializado,focado na população portuguesa, atualizadodiariamente e fidedigno", referem os quatroautores da MaisPSI. Posto isto, os membrosda MaisPSI estabelecem o retrato de umaPsicologia que "se encontra a percorrer umlongo trilho e está de facto a travar algumasbatalhas, com danos colaterais para muitospsicólogos, mas essencialmente para acomunidade". Falam, assim de um processode luta. Mas a última mensagem da equipa éde otimismo: "a Psicologia só pode crescercom a comunidade em interação direta ecomplementar".

Page 16: Passos em Volta - Edição 6 (Novembro 2015)

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Passos em Volta

Jornal de Psicologia