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Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011 Suplemento Especial - Não pode ser vendido separadamente Passo Fundo 154 anos Histórias de uma cidade que cresce

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Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011Suplemento Especial - Não pode ser vendido separadamente

Passo Fundo

154 anos

Histórias de umacidade que cresce

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Múcio de Castro Filho

Múcio de Castro Neto

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A melhor para fazer carreira

O município é a 28ª melhor cidade brasileira para construir uma vida profissional. No Estado, o município só fica atrás de Porto Alegre (6º lugar) e Caxias do Sul (26º lugar) e na região sul do país, ele está na sétima posição, segundo pesquisa da Revista Você S/A. Em 2007, quando passou a integrar a lista, a cidade aparecia na 54ª posição. No ano seguinte, subiu dois postos e em 2009 figu-rava em 44º na lista. No ano passado, trocou de posto com Santa Maria, assumindo a 42ª colocação e neste ano subiu 14 posições ficando a frente de cidades gaúchas como Santa Maria e Canoas.

Uma cidade de influênciaPasso Fundo é o município gaúcho com os

melhores índices de desempenho econômico dos últimos anos. Medido pela Fundação de Economia e Estatística e IBGE, se consolida na 9ª posição do PIB entre os 496 municípios. Na área de serviços, seu desempenho é ainda me-lhor: 6ª posição. Além disso, por meio do estudo do IBGE (2008), Passo Fundo foi classificado

como Capital Regional A ou de primeiro nível, que faz alusão a municípios com capacidade de gestão em nível imediatamente inferior àquele das metrópoles e que possuem área de influência de âmbito regional, sendo referidas como desti-no para um conjunto de atividades por grande número de municípios (Anuário Passo Fundo Gigante do Norte 2011, Cleide Moretto).

Isso representa dizer que o desempenho econômi-co da cidade está num patamar de influência só per-dendo para cidades pólos de regiões metropolitanas. Como capital regional de primeiro nível, segundo o IBGE, o município tem uma população sob sua in-fluência direta de 1.079.810 habitantes, distribuída em uma área de 33.096,22 Km² e 1.321 municípios brasileiros.

Arrecadação do ICMSAno Valor(R$) Evolução(%)2005 88.255.3742006 79.044.343 10,44%2007 100.538.993 27,19%2008 142.530.250 41,77%2009 170.217.813 19,43%2010 162.700.905 04,42%

Retorno do ICMSAno ICMS(emR$) Evolução(%)2005 37.240.991,60 2006 39.498.113,81 6,062007 36.788.924,61 -6,862008 40.383.062,65 9,772009 41.530.492,97 2,842010 50.593.776,08 21,82%

Orçamento MunicipalAno ReceitaTotal(emR$) Evolução(%)2005 125.305.392,76 14,69%2006 135.477.120,50 8,122007 153.048.680,05 12,972008 173.646.594,98 13,462009 185.136.845,62 6,622010 218.281.903,45 17,36%

Fonte: Anuário Passo Fundo Gigante do Norte 2011

PIB GERALPasso Fundo está na 9ª posição geral e em 6ª colocação na área de serviços

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3Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011 Passo Fundo 154 Anos

Nomes peculiares, surgidos a partir da vontade popular marcaram época nas vilas e bairros do município

Histórias que fazemparte da nossa históriaRedação ON

Há pelo menos duas décadas a organi-zação urbana de Passo Fundo se trans-formou. Novas regras a partir do Plano Diretor foram determinantes para definir a ocupação geográfica do município. Mas, nem sempre foi assim. Na data em que o município comemora os seus 154 anos de emancipação o Jornal O Nacional de-dica o especial de aniversário a contar a histórica de vilas e bairros da cidade que surgiram a partir de histórias e nomes pe-culiares e nada convencionais.

Brasílias que nada se pareceram com a Capital Federal, Vila Pipoca, Cachorro Sen-

tado, Sovaco da Cobra. Nomes que vieram da imaginação popular, que foram dados a partir de realidades de épocas ou que sur-giram de brincadeiras. Ao longo do tempo tornaram-se folclóricos, alguns odiados e até estigmatizados pela comparação espe-cialmente com a violência ou prostituição.

Mas, a cidade cresceu. A totalidade destes bairros e vilas mudou de nome. As comunidades locais também passaram por transformações. Os dados do último censo revelam, pela primeira vez, a rea-lidade dos nossos bairros e vilas. Quais são as áreas mais populosas, onde estão

as de menor densidade demográfica e que demandas podem ser apontadas a partir destes números.

A área central de Passo Fundo conti-nua sendo a mais populosa com um total de 25.314 habitantes. A região da grande Vera Cruz, que compreende os bairros No-noai, Dona Eliza, Parque Leão XIII, Lote-amento São Bento e Vila Hípica, ficou na segunda posição totalizando 19.797 mil habitantes. Logo atrás, vem a região do bairro Boqueirão com 19.500 mil.

O levantamento demonstra uma redu-ção significativa em relação ao número de

habitantes por residência em Passo Fundo. Desde o último censo realizado em 2000, o dado que era de 3,5 caiu para 2,99, se-guindo tendência da região Sul do País.

O levantamento do IBGE aponta para a redução da população em alguns bairros de Passo Fundo. Na Victor Issler, o núme-ro caiu de 4.312 para 3.806. No Záchia, a redução foi de 4.790 para 3.342. A cons-trução do PAR na vila Vera Cruz, com capacidade para 800 apartamentos, atraiu parte dos moradores do Záchia e contri-buiu para esta migração de moradores de uma região para outra.

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4 Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011Passo Fundo 154 Anos

Há cerca de 50 anos, formaram-se alguns corredores às margens das estradas do município com casas simples habitadas por trabalhadores rurais desempregados ou por pessoas em situação de subemprego. Esses corredores ficaram conhecidos como brasíliasBrasílias

As brasílias de Passo FundoTexto e fotos: Natália Fávero/ON

Dezenas de vilas de Passo Fundo são chamadas de brasílias. Uma alusão a cons-trução da capital do país na década de 1960. Mas, ao contrário da bela arquitetura projetada por Oscar Niemeyer, as brasílias passo-fundenses eram ranchos construídos com madeira velha, costaneira, zinco e lo-nas às margens das estradas nos chamados corredores. As vilas Bom Jesus, Ipiranga, Santa Marta, Jardim e a Beira Trilho são alguns desses lugares. Atualmente, apenas a Beira Trilho e parte da Vila Jardim con-servam os padrões daquela época.

O processo de desintegração da proprie-dade pastoril levou muitas famílias, idosos e pessoas doentes que não tinham mais ca-pacidade produtiva no campo a habitarem na beira das estradas próximas as cidades. Segundo o historiador e membro da Aca-demia Passo-Fundense de Letras, Paulo

Monteiro, eles eram acomodados nos cor-redores pelos próprios proprietários rurais que, na maioria das vezes, forneciam as madeiras ou construíam os ranchos. “Es-sas pessoas ganhavam uma indenização miserável e acabavam sendo despejadas nos corredores”, diz.

Essa situação também teve grande in-fluência do êxodo rural. Naquela época, grande parte da população começou a dei-xar o campo em busca de melhores con-dições nos centros urbanos. No entanto, com a dificuldade de encontrar emprego, as famílias acabavam instalando-se nas estradas. “Geralmente habitavam ruas es-treitas. Viviam do subemprego formando um grupo chamado sociologicamente de lumpemproletariado, ou seja, pessoas sem formação profissional em situação miserá-vel”, explica o historiador.

Brasílias

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5Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011 Passo Fundo 154 Anos

Lembrança Roselaine Chaves Lemes mora em uma das casas

antigas localizadas na área da Brigada Militar, na vila Ivo Ferreira, na divisa com a Bom Jesus. Ela vive neste local há cerca de 20 anos. O marido dela é militar e tem quase 30 anos de carreira. Quando era criança morava no bairro Planaltina, que fica ao lado da Bom Jesus. “Eu lembro que um dia estava passando e chamei a Bom Jesus de brasília e a mi-nha mãe ficou brava. Ela disse que as pessoas que moravam ali não gostavam que a gente chamasse o lugar assim”, relembra Roselaine.

Uma das casas de madeira foi construída pelo avô do morador Cristiano da Silva, de 19 anos. Ele conta que o avô, hoje com quase 70 anos, levantou a casa há cerca de cinco décadas. “Naquela época não havia concurso para a Brigada Militar. Então, as pessoas começavam como carpinteiro e iam subin-do de cargo. Foi o que aconteceu com o meu avô. Também havia muitos militares que vinham de fora e que acabavam construindo casas simples, porque não tinham onde morar”, conta o rapaz.

Hoje, a vila oferece toda a infraestrutura ne-cessária como escolas, creches, supermercados, farmácias, ambulatório de saúde e dezenas de estabelecimentos. Mas, nem sempre foi assim. “Lembro que antigamente tínhamos que amarrar sacolas plásticas nos pés para andar na rua que não tinha asfalto e as condições não eram boas”, revela um dos moradores.

Brasílias

A brasília da Bom JesusA vila Bom Jesus é ainda chamada por muitos morado-

res de brasília, porque as primeiras moradias se formaram nos corredores. Hoje as características estão camufladas. Os casebres viraram casas de alvenaria e as moradias feitas de madeira foram reformadas. Em alguns lugares, como nas margens das ruas do Rosário e Brigada Militar dá para per-ceber algumas características devido a proximidade das ca-sas com a rua. “Aqui na Vila Ivo Ferreira entre a Bom Jesus e São Cristóvão há uma área da Brigada Militar ocupada por antigas casas que fizeram parte das brasílias. Essa caracte-rística fica ainda mais evidente porque de um lado tem uma área urbanizada com casas novas e do outro há casas antigas de madeira no meio rural”, diz Monteiro.

Na entrada da vila Donária as casas foram retiradas pelo

governo das margens da rua, mas as árvores frutíferas mostram

que o local já foi habitado Cristiano da Silva e Roselaine Chaves relembram algumas histórias contadas pelos antepassados

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6 Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011Passo Fundo 154 Anos Brasílias

Movimento comunitário muda o perfil das brasílias

A partir dos anos 1970, começa a crescer o mo-vimento comunitário e as associações de moradores começam a se desenvolver. Essa organização comu-nitária passa a reivindicar melhores condições de mo-radia, de trabalho e de edu-cação e solicitam também áreas para as pessoas que moram em condições de vulnerabilidade social. Foi o que aconteceu na vila Do-nária. “O pessoal que mora-va na brasília foi colocado dentro da vila Santa Marta. A prefeitura criou o projeto Fundo para Habitação de Populações de Baixa Renda (Fubar). A ideia era vender terrenos a fundo perdido para abrigar essas pessoas”, explica Monteiro.

Dessa forma, surgiram, por exemplo, os loteamen-tos Jaboticabal e Alvorada. Esses locais se formaram com pessoas vindas das brasílias. Com os projetos habitacionais que surgiram os corredores diminuíram. Mesmo tendo alguns res-quícios de brasílias no mu-nicípio, as pessoas aumen-taram a sua renda e através de financiamento consegui-ram melhorar as condições de vida. “Das brasílias res-tam ainda alguns idosos. Mas, aquela geração desa-pareceu. Atualmente, são os filhos ou netos que moram nestas casas e já estão inse-ridos na realizada urbana. Muitos conseguiram melho-rar as condições das mora-dias”, diz o historiador.

O historiador Paulo Monteiro explicou que a Beira Trilhos tem características típicas dos corredores chamados de brasílias

No Loteamento Ipiranga, às margens da rua Luiz Lângaro também havia uma brasília

Típicas brasíliasParte da vila Jardim, às margens da ERS 324, retrata perfeitamente as antigas brasílias. Segundo o

historiador, Paulo Monteiro, o cenário atual mostra o que eram os corredores. “As casas são construídas com madeira velha, costaneira, zinco e lonas. As pessoas vivem do subemprego, catando papel. A gaiota, a criação de galinhas e cavalos e o pátio rural expõem características típicas dos corredores”, diz Monteiro.

A Beira Trilho, que vai da Victor Issler ao Bairro Valinhos, também guarda cenários de brasílias. As casinhas construídas próximo aos trilhos do trem ilustram os corredores. Monteiro revela que hoje é difícil encontrar moradores daquela época, mas que os casebres foram passando de geração em geração.

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7Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011 Passo Fundo 154 Anos

A baixada da vila Lucas Araújo ficou conhecida em meados da década de 1970 como “Buraco Quente”. A união da comunidade mudou a realidade

Buraco Quente

A transformação atravésda amizade e solidariedadeTexto e fotos: Natália Fávero/ON

Literalmente um buraco quente. Assim era chamada há cerca de 40 anos a parte baixa da vila Lucas Araújo, no quarteirão entre as ruas Minas Gerais e Pio VI. O local era covil de criminosos, como Jorge Cabeludo, e também registrava brigas frequentes entre vizinhos e no próprio ambiente familiar. As pinguelas do riacho Pinheirinho chegaram a ganhar nomes de ponte do tiroteio e da faca-da. A fama foi desaparecendo e hoje o apelido de Buraco Quente só serve como ponto de referência para localiza-ção no bairro.

Na época, era impossível construir imóveis e boa

parte dos terrenos pertencia a prefeitura. A região do Buraco Quente abrangia terrenos irregulares e muitos banhados. Mas, algumas pessoas que não tinham onde morar não se importavam com a situação e passaram a ocupar a área que também compreende o riacho Pi-nheirinho da Lucas Araújo. O historiador Paulo Mon-teiro conta que o lugar era famoso pelas confusões. “As pessoas não podiam realizar festas ou encontros porque sempre aconteciam cenas de violência. Havia muita bebedeira e brigas de casais. Daí o nome Buraco Quente”, conta Monteiro.

O historiador relembra que quando a antiga Associa-ção da Baixada da Lucas foi criada, na década de 1980, foi realizada uma festa no salão comunitário. Algumas figuras conhecidas do local quiseram arrumar confusão e os moradores puxaram facões e garruchas e deram uma surra nos intrusos. “A própria comunidade se uniu para esfriar os ânimos dos bandidos que aqueciam o buraco”, relembra. O trabalho dos Vicentinos, com atos de solida-riedade e projetos sociais, também foi essencial. Montei-ro esclarece que o local deixou de ser chamado de Buraco Quente há aproximadamente duas décadas.

Buraco Quente

Buraco Quente está localizado entre as ruas Minas Gerais, São Lázaro, Pio VI e Guia Lopes

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8 Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011Passo Fundo 154 Anos

O comerciante Ildo Benedetti conta que as pinguelas do riacho Pinheirinho receberam apelidos como Ponte do Tiroteio devido a violência da época no Buraco Quente

Infraestrutura O estabelecimento do comercian-

te Ildo Benedetti completa 20 anos nas dependências do Buraco Quen-te. Ele foi presidente da Associação da Baixada da Lucas durante cinco anos naquela época. “Logo que vim morar aqui era muito perigoso. As pessoas eram difíceis e era uma violência só. As pinguelas recebe-ram apelidos como a ponte da faca-da e a ponte do tiroteio por causa da violência”, afirma o morador.

Nos últimos anos, a infraestrutu-ra melhorou e a violência foi subs-tituída pela amizade. “Conheço to-dos e todos me conhecem. Buraco quente ainda é referência para a po-pulação, principalmente nas rádios. Tenho orgulho de morar aqui pela amizade que tenho por esse povo. Têm pessoas que saem e acabam voltando pra cá”, comemora Bene-detti.

O empresário Sérgio Luiz da Silva Xarão presidiu cinco anos a Associação Amigos da Lucas Araú-jo que representava a parte alta da vila. A entidade foi criada em 1981. Uma das lembranças mais fortes do morador são os campeonatos de fu-tebol de campo da época. Com or-gulho, ele até hoje pendura na pare-de do escritório as fotos dos times. “As novas gerações nem sabem que existiu o Buraco Quente. O local era muito descriminado pela popu-lação. A história da vila está muito ligada a baixada. A Lucas Araújo meio que se formou a partir dali”, relembra o ex-presidente da asso-ciação.

O empresário Sérgio Luiz da Silva Xarão exibe os retratos dos saudosos campeonatos de futebol de campo da Lucas Araújo

Buraco Quente

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10 Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011Passo Fundo 154 Anos

O covil de Jorge CabeludoOs moradores revelam que um dos mais temidos cri-

minosos da década de 1970 morou no Buraco Quen-te. Jorge Cabeludo era líder de uma quadrilha forma-da por jovens que aterrorizou a cidade e o Estado. As ações violentas da gangue deram a Passo Fundo a fama de “Chicago dos Pampas”. A gangue era formada por outros comparsas famosos como Jorge Borracha, Jorge Tripa, Arroz, Rasga Diabo e Ringo, que por muitas ve-zes se esconderam da polícia na baixada da Lucas.

Um pouco de históriaO morador Renato Carlassara cres-

ceu no bairro e revela que a vila se originou a partir das doações de terras feita pelo tenente coronel Lucas José de Araújo. A área começava na Briga-da Militar e terminava na Sete de Se-tembro até a Perimetral Sul. Foi criada então a Fundação Lucas Araújo e os terrenos comercializados fizeram sur-gir a vila.

ReivindicaçãoNo buraco quente também existe um

problema histórico. O presidente da Associação dos Moradores, Clédio Pa-tias explica que o bairro teve uma evo-lução significativa. Foram conquis-tadas a capela mortuária, a cobertura do colégio, a canalização de parte da sanga e hoje a principal reivindicação da comunidade é a drenagem da outra parte do riacho. “A prefeitura fez a to-pografia e o cadastro das 31 famílias lindeiras do Rio Pinheirinho e agora esperamos que o problema seja solu-cionado de uma vez por todas. “Anti-gamente crianças e jovens se divertiam nesse riacho no verão. Era uma espécie de prainha. Mas, hoje todo o esgoto cloacal é largado na sanga e se tornou um problema de saúde pública”, expli-ca Patias.

O criminoso Jorge Cabeludo que era notícia frequente nas páginas policiais morou na baixada da Lucas

Buraco Quente

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11Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011 Passo Fundo 154 Anos

Há aproximadamente 30 anos, dois bairros localizados na grande São Cristóvão foram apelidados de Sovaco da Cobra e Cachorro Sentado

Cachorro Sentado e Sovaco da Cobra

Os apelidos não condizemmais com a realidadeTexto e fotos: Natália Fávero/ON

Ao contrário dos demais lugares já citados nesta série, o Sovaco da Cobra e o Cachorro Sentado não se destaca-vam pela criminalidade, mas pelo fato de serem pontos de prostitutas. Casas comandadas por “mulheres da vida” eram alugadas pelas empresas para oferecer hospitalidade aos funcionários que vinham de outras cidades. A fama era tanta que outras moradoras acabavam sendo confundidas com garotas de programa. O caso gerou polêmica na época e a comunidade promoveu uma campanha para expulsar as meretrizes do local. O Sovaco da Cobra está localizado na baixada do Loteamento Santo Antonio da Pedreira e o Ca-

chorro Sentado fica nos fundos do bairro Copacabana. Es-ses lugares foram batizados pelo ex-vereador Bolívar Doro, parlamentar mais votado na época com 1,6 mil votos, que legislou entre 1989 e 1992. Ele popularizou os apelidos em seus discursos na Tribuna da Câmara de Vereadores e na im-prensa.

Doro revela que os moradores não gostam muito dos codinomes, mas ele se orgulha em dizer que vive no Ca-chorro Sentado. “Tenho orgulho do lugar que vivo há 40 anos e só parto daqui quando me levarem para o cemité-rio. Eu gosto desse lugar e tenho a maior parte dos ami-

gos morando aqui”, diz orgulhoso.Uma das testemunhas do auge do Sovaco da Cobra e do

Cachorro Sentado é o comunicador Júlio Rosa. “Os prefei-tos de outras cidades que não tinham assistência social co-locavam os habitantes em caminhões e desovavam em ter-renos baldios aqui em Passo Fundo”, revela o comunicador.

Rosa relembra que esses bairros nunca se destacaram pela criminalidade, mas pelas casas de prostituição que já foram extintas há décadas. “Lá existiam as maiores zonas de me-retrizes de Passo Fundo. Eram casas de prostituição moder-nas, finas e bem organizadas”, relembra o radialista.

Cachorro Sentado

e Sovaco da Cobra

Ex-vereador Bolívar Doro não está mais no cenário político. Mora em uma casa na Avenida Tristão de Almeida, próximo ao Cachorro Sentado

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12 Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011Passo Fundo 154 Anos

Cachorro SentadoBolivar Doro conta que há cerca de 30 anos, a

vila era empobrecida e os funcionários que cole-tavam o registro da água e da energia elétrica re-clamavam dos inúmeros cães que ficavam soltos nas ruas. Como vereador recém eleito levantou a bandeira em busca de uma solução. Propôs alguns projetos, mas disse que não obteve apoio dos de-mais vereadores. “O pessoal me procurou e disse que não aguentava mais a cachorrada. Tentei re-verter a situação através de alguma lei, mas uma andorinha sozinha não faz verão. A população achou sugestivo o nome de Cachorro Sentado e ele pegou”, confessa.

Revoltado com a política, ele desabafa: “Fui di-versas vezes contestado. Fui o vereador mais vo-tado de todos os partidos. Fiz 1.677 votos só com uma motoquinha, sem dinheiro e um filho peque-no para criar. Prova de que não precisa de posição e dinheiro para se eleger vereador”. Por mais que a comunidade diga que foi o ex-vereador quem colocou o apelido, Doro afirma que apenas popu-larizou o nome. O comerciante Antonio Trindade que mora há 30 anos nas imediações revela a ori-gem do apelido. “Um vizinho que veio do interior tinha um cachorro bem grande que ficava atado na corrente e passava o dia sentado. Um dia o Bolívar passou, viu a cena e apelidou o local”, conta.

Trindade assegura que a vila faz jus ao apelido. “Aqui tem cachorro sentado, deitado, de pé...”, brinca o comerciante.

Outro morador, Irmélio Cartelli esclarece que o Cachorro Sentado era uma área verde e foi ocupa-da aos poucos pela população. “Antigamente não tinha água e nem luz. Hoje as casas são de material e as ruas estão asfaltadas. O pessoal acha graça, mas o apelido ainda é ponto de referência”, decla-ra o morador.

Já o comunicador Júlio Rosa conta que no mês de agosto, quando as cadelas entravam no cio causavam um alvoroço na vila incomodando os moradores. “Eram tantos cachorros disputando as fêmeas que alguns ficavam correndo atrás e outros sentavam para esperar a sua vez”, conta Rosa.

Cachorro Sentado e Sovaco da Cobra

A área apelidada de Cachorro Sentado está localizada nos fundos do bairro Copacabana, divisa com a São Cristóvão II

O morador Irmélio Cartelli e o comerciante Antonio Trindade ajudaram a recuperar histórias do local

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14 Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011Passo Fundo 154 Anos

“Sovaco da Cobra? Mas, cobra não tem sovaco!”Segundo os moradores mais antigos, o apelido virou uma espécie de lenda. Até hoje, não

se sabe ao certo o motivo do codinome Sovaco da Cobra. Casas simples, ruas sem asfalto e famílias de baixa renda compõem o cenário. A moradora Vergelina Amer Ribeiro, de 78 anos, vive no Sovaco da Cobra há mais de 30 anos. Ela é natural de Campo do Meio e veio com o marido que havia conseguido um emprego em Passo Fundo. O marido dela, Dorneles Alves Ribeiro, já falecido, foi quem apelidou o local. “Cobra não tem sovaco e esse apelido é sem fundamento. Mas meu esposo era muito brincalhão. Havia só mato e cobras aqui naquela época e ele colocou esse nome”, revela Vergelina.

A moradora relembra que havia muitas brigas no passado e a polícia estava sempre no bair-ro. Uma realidade que não pertence mais ao local. “Hoje as coisas mudaram. Os vizinhos são amigos e as condições melhoraram muito”, diz.

Quando Antonia Lima da Rosa, de 72 anos foi morar no Sovaco da Cobra, ela não sabia do apelido, mas não se incomoda com o nome. Perdeu o marido em um acidente há 25 anos e teve que criar os cinco filhos, sozinha. “Não tinha água, luz e estrada. Tinha que buscar a água em um poço na casa de uma amiga para dar para as crianças. Cansei de trazer tábuas nas costas para levantar a minha casa. Ela caiu muitas vezes até que meus filhos cresceram e me ajudaram a construir uma de material”, conta a moradora.

Atualmente, as condições melhoraram. O único problema é quando chove demais e a água invade a casa. Alguns móveis estão deteriorados e um buraco teve que ser aberto na parede da cozinha para a água escoar.

Desenvolvimento é a palavra de ordemA presidente da Associação dos Moradores do Loteamento Santo Antonio, Maria de Fátima

Ferreira explica que hoje o bairro é tranquilo e está em desenvolvimento. Cerca de três mil pessoas vivem no loteamento. “Há muitas empresas se instalando aqui. Temos escola e acaba-mos de ser contemplados com um PSF que deverá ser instalado no próximo ano. Vamos lutar agora por uma escola de Educação Infantil”, garante Maria.

Ela diz que a juventude do bairro ainda escuta muito as histórias do Sovaco da Cobra. “Os pais e os mais antigos sempre comentam. Elas até brincam com os outros dizendo que moram no Sovaco da Cobra”, brinca a presidente da associação dos moradores.

Cachorro Sentado e Sovaco da Cobra

A presidente da Associação de Moradores, Maria de Fátima diz que o Sovaco da Cobra é quase uma lenda

Vergelina Amer Ribeiro e Antonia Lima da Rosa viram o Sovaco da Cobra nascer

O Sovaco da Cobra fica na baixada do Loteamento Santo Antonio da Pedreira, no final da Avenida Clemente Tarasconi, em direção a Perimetral Sul

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“Todo dia pipocava uma casinha”. Esse é o relato dos moradores do loteamento Alvorada, chamado carinhosamente de vila Pipoca. Na década de 1990, a área de propriedade priva-da foi ocupada rapidamente pelas pessoas que não tinham onde morar ou pagavam aluguéis em outras regiões da cidade. O lugar foi alvo de conflito entre o proprietário e os ocupantes e o caso acabou na Justiça. Devido ao impasse, o juiz aconselhou o município a tornar a área de utilidade pública para fins de moradia. Atu-almente, restam poucos terrenos livres para a construção de casas e muitas histórias para con-tar.

A antiga vila Pipoca faz divisa com o lotea-mento Jaboticabal e com o Parque Recreio. O historiador Paulo Monteiro, que naquele tempo integrava o movimento comunitário, relembra que a área do Jaboticabal que fica na região mais alta pertencia a uma imobiliária que faliu e foi desapropriada pela prefeitura. No entanto, a parte baixa, onde se formou o loteamento Al-vorada era particular. O dono pediu a reintegra-ção de posse e os ocupantes estiveram a beira de serem despejados. “O movimento comunitá-rio prestou assistência aos ocupantes e conse-guiu com o depositário da área uma autorização de proposta de cedência. Como naquela época não havia programas de financiamentos para habitação entramos em contato com um banco da Holanda que financiava moradias. Acaba-mos criando uma confusão jurídica”, relembra Monteiro.

A Justiça aconselhou a prefeitura que decla-rasse o local como área de utilidade pública para habitação. Por meio do Fundo para Habi-tação de Populações de Baixa Renda (Fubar), os terrenos começaram a ser vendido e a situ-ação dos ocupantes passou a ser regularizada.

Antes de transformar-se em loteamento Alvorada o local foi apelidado de vila Pipoca. As casas eram construídas de um dia para o outro de forma disseminadaVila Pipoca

Pipocando moradiasTexto e fotos: Natália Fávero/ON

Vila Pipoca

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A comerciante Vânia exibe com orgulho a foto com o primeiro nome do estabelecimento comercial da família

Pipocando os negóciosVânia Teresinha dos Santos mora há cerca de 20 anos no local. Ela

conta que as casas surgiam que nem pipoca. “Dormíamos a noite e ao amanhecer já tinha mais uma casinha. Os moradores diziam que as ca-sas estouravam que nem pipoca”, explica a moradora.

Ela trocou o centro da cidade e o aluguel por um pedacinho de terra na vila Pipoca. O difícil acesso até a cidade e a existência dos filhos pe-quenos influenciaram Vânia a largar o emprego. Com a ajuda do marido construiu uma casa com duas peças e montou um bar. A vila Pipoca foi tão marcante que o apelido deu nome ao negócio da família. “Quando cheguei, o loteamento era campo e tinha pouquíssimas moradias. Colo-quei a bodega, mas não tinha rua. Preguei uma plaquinha com o nome Mini Mercado Pipoca na esquina da rua principal para os vendedores acharem o bar. Com o tempo fomos queimando o capim e abrimos um acesso até a casa”, conta Vânia.

A moradora revela que nos dois primeiros anos não havia energia elétrica. A caixa de isopor com gelo era o refrigerador que mantinha a carne de um dia para o outro e a água era puxada de outra rua por meio de canos e a TV era a bateria.

Vila Pipoca

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A felicidade de morar na Vila Pipoca

Dona Vânia declara ainda que tem orgulho de morar na vila Pipoca. Neste lugar criou os cinco filhos e todos escolheram viver no mesmo bairro dos pais. “Aqui eles conse-guem casa barata e ainda ficam pertinho de mim”, declara a moradora.

Ela revela que não vive sem o celular e internet. Para evitar que os netos e os filhos mais novos entrem no vício das drogas ela usa a tática do amor e da tecnologia. “Faço ir na Igreja. A fé é o único caminho para evitar essas drogas. Ninguém tá livre, mas procuro dar amor e fazer com que eles realizem ati-vidades dentro de casa. O computador e os joguinhos são nossos aliados”, revela.

Outra moradora, Teresinha de Jesus Melo Chaves conta que o marido já falecido pra-ticamente fundou a vila Pipoca e lutou para permanecer nas terras. “Há alguns anos veio a polícia e tratores para derrubar as casinhas. Meu marido dizia que se tentassem nos tirar eles iriam ver a pipoca estourar. Faz 29 anos que moro aqui. Só saio daqui pro cemitério”, conta Teresinha.

O comerciante Benhur Tibola, que vive há 18 anos na vila, relembra a falta de infraestrutu-ra no início da formação do bairro. “Não havia acesso adequado para os ônibus e aqui na fren-te era estrada de chão. Hoje podemos dizer que estamos no céu”, comemora o comerciante.

Vila Pipoca

Essa é a atual vila Pipoca, agora chamada de Loteamento Alvorada

Essa era a vila Pipoca na década de 1990

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Quem passa pelas ruas da vila União não imagina que o seu primeiro nome foi Vila Sapo. O banhado pertencente a vila Operá-ria, na divisa com o loteamento Independen-te parecia um Pântano. O historiador Paulo Monteiro ajuda a relembrar alguns episódios da época. Pessoas que frequentavam o lo-cal contam que também receberam apelidos nada agradáveis, mas que permanecem na memória das pessoas até hoje. Uma das nos-sas personagens é a Dona Sapatinho. Uma senhora muito alegre e querida pelas pessoas do bairro. O local também era covil de la-drões devido ao difícil acesso.

O historiador explica que há 50 anos, a prefeitura fornecia áreas para empreendedo-res fazerem loteamentos na cidade. Confor-me o acordo, parte do local era destinada ao poder público. Geralmente, os lugares mais nobres os loteadores vendiam e a outra par-cela que não servia para a construção, como as áreas verdes, eram destinadas a prefeitura para construção de equipamentos comunitá-rios (creches, escolas, áreas de lazer). Uma dessas áreas que não servia para a edificação foi a vila Sapo. “Não havia fiscalização na-quela época. Os loteadores deixavam para o município áreas de menor valor como banha-dos de difícil edificação. A vila Sapo era um verdadeiro pântano”, relembra Monteiro.

Mas, algumas pessoas que não tinham onde morar levantaram as moradias em cima do banhado. As casas eram construídas apoiadas em estacas de madeira e o acesso era atra-vés de pinguelas. Para chegar até as casas em meio aos corredores, foram instaladas tábuas em falso. De fato, essa estrutura dificultava o acesso de desconhecidos, principalmente o da polícia. “Muitos criminosos se ocultavam no local e durante a noite era comum os maus elementos tirarem as pinguelas para evitar que a polícia entrasse. Era um banhado e só quem conhecia entrava. Entrava quem queria e saia quem podia”, revela o historiador.

Na década de 1960 formou-se uma comunidade em meio a um banhado. O lugar era de difícil acesso e já foi esconderijo de ladrões. Nem a polícia conseguia chegar

Vila Sapo

Urbanizaçãoa partir do banhadoTexto e fotos: Natália Fávero/ON

Vila Sapo

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A vila Sapo transformou-se em vila UniãoA antiga vila Sapo cresceu em função do movimento comunitário. Ganhou

um nome que representa a força da comunidade: União. Os banhados foram drenados e a Sapo desapareceu. O local ganhou infraestrutura como asfalto, canalização, creche, ambulatório e outras melhorias. A área fica próxima do centro e quase todos os terrenos foram ocupados. A maioria dos moradores não gosta que se refira ao local como vila Sapo, mas o historiador afirma que apesar dessa marca ser considerada negativa pelos habitantes daquela região, esse passado é real no ponto de vista histórico.

Vila Sapo

A vila Sapo está localizada na baixada da Operária e hoje chama-se vila União

“Não gosto que me chamem de Maria Sapatinho”

Maria Alves dos Santos, de 68 anos, mora há mais de 50 anos nas proximidades da vila Sapo. Presenciou de perto o desenvolvimento do lugar que hoje tem escola, ônibus, comércio e vários armazéns. Ela sabe bem os motivos que levaram o local a ser chamado de Sapo. “Tinha 14 anos quando conheci a vila Sapo. Não tinha rua, havia apenas trilhos em meio a capoeira e tinha poucas casas. Tinha muitos sapos e eles gritavam no ba-nhado a noite”, esclarece a moradora.

Um dos fatos que Maria não gosta nem de lem-brar é do apelido que um conhecido amigo botou nela. “O meu apelido começou na vila Sapo. Eu comprei um sapatinho novo e um conhecido me apelidou, porque o calçado era muito bonito”, diz Maria. Todos sabem quem é a dona Maria, mas muitos só relacionam o nome a pessoa quando é mencionado o apelido. “Eu não gosto que me cha-mem assim. Sei que foi apenas uma brincadeira, mas meu nome é Maria”, afirma a moradora.

Dona Maria viu a vila Sapo nascer. Ela é uma pessoa muito querida pela comunidade e conhecida por todos na região da Vila União

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Orgulho de viver na Vila Sapo

Leni Teresinha Ribeiro conta com alegria e orgulho a sua história de carinho com a vila Sapo. A moradora vive há 33 anos em uma casa de dois andares entre as ruas Coronel Mostardeiro e Diogo de Oliveira. Esse foi o lugar que ela escolheu para construir a sua família. Os primeiros anos na vila não foram fáceis. Não tinha água e nem luz. O mato dominava a paisagem e existiam poucas residências. O so-frimento foi necessário para o casal sair do aluguel. “Morá-vamos na vila Luiza e quando se mudamos para cá, ficamos quase um ano usando água do poço e lampião”, diz Leni.

A moradora relembra o passado de insegurança da vila Sapo e comemorou os dias de tranquilidade de hoje. “Aqui era igual ao Rio de Janeiro, tinha polícia e tiro pra tudo que é lado. A violência era diária. Mas, graças a Deus, aquele tempo terminou. A barra pesada não existe mais”, come-mora.

Leni também conta que depois que ela e o marido termi-naram a casa uma desgraça aconteceu. “Meu filho estava hospitalizado e eu vim buscar umas roupas. Acho que deixei o ferro ligado e a casa pegou fogo. Perdemos tudo e tivemos que reconstruir tudo de novo. Não desistimos e acho que vamos viver os restos dos anos aqui”, conta a moradora.

Vila Sapo

Leni criou os três filhos na Vila Sapo e agora se dedica a cuidar do marido, dos nove netos e de um bisneto

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23Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011 Passo Fundo 154 AnosVila Sapo

Para onde cresce Passo Fundo?Leonardo Andreoli/ON

Passo Fundo é uma cidade de crescimento planejado desde a década de 1950. Áreas espe-cíficas dentro do perímetro urbano são destina-das a instalação de investimentos residenciais e industriais. Apesar de pipocar a construção de edifícios no Centro, um crescimento horizontal é observado. Áreas que antes eram consideradas distantes do Centro, hoje já possuem uma po-pulação densa, atendimento a saúde, escolas e transporte coletivo.

Bairros às margens da ERS-153 na direção de Ernestina são determinados pelo Plano Diretor do município como áreas para ocupação residencial

(FOTO: LEONARDO ANDREOLI/ON)

(segue)

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ConstruindoPasso Fundo

ConstruindoPasso Fundo

Passo Fundo possui Plano Diretor desde o final da década de 1950. Desde lá foram feitas duas no-vas legislações municipais que determinam o uso de cada parte da cidade, conforme as necessidades da população. O plano em vigor foi elaborado em 2006 e é constantemente atualizado para acom-panhar a dinâmica da cidade. As determinações atuais definem a região da Santa Marta, Donária, Jardim América e Jaboticabal para a expansão re-sidencial urbana.

CrescimentourbanoConforme o secretário de Planejamento Rene Cec-

conello investimentos estão sendo realizados nessas áreas. “Do ponto de vista macro, o Plano Diretor de-termina que o processo do nosso crescimento urba-no, em termos de construção de moradia tradicional com terreno e casa, vai se dar efetivamente para o lado de Ernestina, nas duas grandes regiões ao lado da ERS-153”, completa. Segundo ele essas regiões que pareciam ser muito distantes do centro hoje estão completamente povoadas. “As pessoas não têm ne-nhum problema de estar morando naquelas regiões. O desafio é poder proporcionar equipamentos públi-cos para atender a essas comunidades”, pontua. Na região a tendência é que a expansão dos domicílios seja mais horizontal em relação ao centro que con-centra os prédios mais altos.

AdensamentopopulacionalA liberação para a construção de condomínios

verticais depende do adensamento populacional. O secretário de Planejamento Rene Cecconello explica que na cidade existe a chamada zona de ocupação intensiva que é onde se permite um adensamento ur-bano maior. Nestas áreas também é permitida a cons-trução de prédios e edificações verticais. “Há uns 15 anos atrás não era permitida a construção de prédios em algumas partes da Rua Moron no sentido Boquei-rão, e depois isso foi permitido porque já estava bem

adensado de prédios na Avenida Brasil e já tinha vá-rios prédios sendo construídos na Rua Paissandu”, exemplifica. Recentemente também foi liberada a construção de prédios com mais de quatro andares na Avenida Presidente Vargas a partir da Escola Cecy Leite Costa até o Estádio Vermelhão da Serra.

PlanejamentoA definição do uso de cada parte da cidade facili-

ta a tomada de decisão para a instalação de escolas, unidades de saúde e projetos em determinadas regi-ões. Em Passo Fundo, por exemplo, é necessária uma equipe da saúde da família para cada 4,8 mil habitan-tes. “O último Censo do IBGE estratifica a população por regiões e nos ajuda muito a fazer o planejamen-to”, acrescenta o secretário.

RegiãoindustrialA região do município próxima às saídas para Ca-

razinho e Pontão - no entorno do entroncamento da ERS-324 com a BR-285 – é uma área determinada para a ampliação da questão industrial e de empresas logísticas e não de moradias.

PlanoDiretorO Plano Diretor dá as diretrizes para o ordenamen-

to urbano de um município. O primeiro Plano Diretor de Passo Fundo foi aprovado em 1957, o segundo em 1984 e o terceiro, que está em vigência, é de 2006. Neste ano ele deverá passar por alguns ajustes para acompanhar a dinamicidade da cidade. Ele delimita o perímetro urbano e faz o zoneamento que orienta qual tipo de edificação é possível ser feito em cada lugar e ao mesmo tempo que tipo de uso é possível de se fazer em determinada área. O Plano Diretor em vigor já foi aprovado de acordo com o que prevê o Estatuto da Cidade de 2002. “Até então não tínhamos uma legislação Federal que orientasse esse tema da questão urbana, então cada município fazia a própria dinâmica”, finaliza Cecconello.

Plano Diretor Municipal prevê expansão da área urbana residencial na direção da Santa Marta, Donária, Jardim América e Jaboticabal

Definição das áreas destinadas à ocupação residencial é fundamental para a implantação de serviços públicos e transporte coletivo

Partes da Donária e do Jabuticabal tiveram um adensamento residencial nos últimos anos

Plano Diretor Municipal prevê expansão da área urbana residencial na direção da Santa Marta, Donária, Jardim América e Jabuticabal

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