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- 1 - PARTO NO POSTO DE SAÚDE E EM CASA: UMA ANÁLISE DA ASSISTÊNCIA AO PARTO ENTRE AS MULHERES KUKAMAS KUKAMIRIAS DO PERU BIRTH AT THE HEALTH CENTER OR AT HOME: AN ANALYSIS OF BIRTHING CARE AMONG THE KUKAMAS KUKAMIRIAS WOMEN OF PERU Rosário del Socorro Avellaneda Yajahuanca 1 , Claudia Valença Fontenele 2 , Brena Figueiredo Sena 3 , Simone Grilo Diniz 4 Journal of Human Growth and Development 2013; 23(3): 1-9 ORIGINAL RESEARCH RESUMO Objetivo: conhecer e descrever a cultura e tradições relacionadas à gravidez, parto e pós-parto das mulheres Kukama kukamiria, da Amazônia peruana, suas experiências de atendimento à saúde materna, tradicional e institucional, e razões de sua preferência por um ou outro sistema. Método: estudo de base etnográfica, analisando saberes e práticas de cuidado, e como são vividas nos diferentes cenários da assistência: o parto domiciliar atendido por parteira indígena, e o parto em instituição de saúde atendido por profissional treinado. Resultados: o parto em casa considera o conforto da mulher, com banhos, uso de chás, preceitos alimentares e atenção a aspectos ambientais como o frio, vento, penumbra e quietude, e rituais específicos para a placenta, com base nas noções culturais de vulnerabilidade da parturiente. No posto de saúde, a exposição ao frio e umidade, rotinas como a falta de privacidade, aceleração do parto com drogas, corte da vagina, imobilização deitada durante o parto, e o descarte da placenta, são percebidas como inadequadas e agressivas. Conclusão: a preferência das pacientes pelo cuidado tradicional é justificada por se sentirem negligenciadas e vulneráveis no posto de saúde, como resultante da desconsideração de aspectos culturais e do bem-estar das parturientes, por parte dos serviços de saúde. Palavras-chave: população indígena, saúde materna, serviços de saúde, etnografia. ABSTRACT Objective: to describe and analyze the culture and traditions related to pregnancy, childbirth and postpartum care of the Kukama kukamiria women, living in the Peruvian Amazon, and their experiences and perceptions of care at home compared to that received at the health center. Methods: a qualitative study based on ethnography that seeks to analyze traditional knowledge and practices of self-care, taking into account descriptions of home births attended by traditional midwives, compared to that of birth care at the health institution. Results: home delivery prioritizes women’s’ comfort, through the use of teas, baths and specific rituals in caring for the placenta; dietary regulations and attention to environmental aspects such as temperature and lighting are built into care. At the health facilities, routine interventions include acceleration of labor with the use of drugs, vaginal cutting (episiotomy), immobilization in lithotomy position, and the disposal of the placenta as garbage; which is perceived as inadequate and aggressive. Conclusion: a preference for traditional care is justified based on feelings of neglect and vulnerability at institutionalized health centers, resulting from the lack of consideration by the health services for the cultural and well-being specificities of the Kukama Kukamiria women. Key words: indigenous population, maternal health, health services, ethnography. 1 Doctoral Research Associate. Department of Maternal and Child Health, Universidade de São Paulo (FSP/USP), São Paulo, Brasil. 2 Post-doctoral Research Associate. Department of Maternal and Child Health, Universidade de São Paulo (FSP/USP), São Paulo, Brasil. 3 Master’s in Public Health MPH. Department of Sociomedical Sciences and Global Health. Columbia Mailman School of Public Health, New York, NY, USA 4 Associate Professor. Department of Maternal and Child Health, Universidade de São Paulo (FSP/USP), São Paulo, Brasil. Corresponding author: [email protected] Suggested citation: Yajahuanca RSA et al. Birth at the health center or at home: an analysis of birthing care among the kukamas kukamirias women of Peru. Journal of Human Growth and Development 2013; 23(3): 322-330 Manuscript submitted dec 28 2012, accepted for publication Jul 20 2013.

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Birth at the health center or at home: an analysis of birthing care among the kukamas kukamirias women of Peru Journal of Human Growth and Development 2013; 23(3): 322-330

PARTO NO POSTO DE SAÚDE E EM CASA: UMA ANÁLISE DAASSISTÊNCIA AO PARTO ENTRE AS MULHERES KUKAMAS KUKAMIRIAS

DO PERU

BIRTH AT THE HEALTH CENTER OR AT HOME: AN ANALYSIS OFBIRTHING CARE AMONG THE KUKAMAS KUKAMIRIAS WOMEN OF PERU

Rosário del Socorro Avellaneda Yajahuanca1, Claudia Valença Fontenele2,Brena Figueiredo Sena3, Simone Grilo Diniz4

Journal of Human Growth and Development2013; 23(3): 1-9

ORIGINAL RESEARCH

RESUMO

Objetivo: conhecer e descrever a cultura e tradições relacionadas à gravidez, parto e pós-parto dasmulheres Kukama kukamiria, da Amazônia peruana, suas experiências de atendimento à saúdematerna, tradicional e institucional, e razões de sua preferência por um ou outro sistema. Método:estudo de base etnográfica, analisando saberes e práticas de cuidado, e como são vividas nosdiferentes cenários da assistência: o parto domiciliar atendido por parteira indígena, e o parto eminstituição de saúde atendido por profissional treinado. Resultados: o parto em casa considera oconforto da mulher, com banhos, uso de chás, preceitos alimentares e atenção a aspectos ambientaiscomo o frio, vento, penumbra e quietude, e rituais específicos para a placenta, com base nas noçõesculturais de vulnerabilidade da parturiente. No posto de saúde, a exposição ao frio e umidade,rotinas como a falta de privacidade, aceleração do parto com drogas, corte da vagina, imobilizaçãodeitada durante o parto, e o descarte da placenta, são percebidas como inadequadas e agressivas.Conclusão: a preferência das pacientes pelo cuidado tradicional é justificada por se sentiremnegligenciadas e vulneráveis no posto de saúde, como resultante da desconsideração de aspectosculturais e do bem-estar das parturientes, por parte dos serviços de saúde.

Palavras-chave: população indígena, saúde materna, serviços de saúde, etnografia.

ABSTRACT

Objective: to describe and analyze the culture and traditions related to pregnancy, childbirth andpostpartum care of the Kukama kukamiria women, living in the Peruvian Amazon, and their experiencesand perceptions of care at home compared to that received at the health center. Methods: a qualitativestudy based on ethnography that seeks to analyze traditional knowledge and practices of self-care,taking into account descriptions of home births attended by traditional midwives, compared to thatof birth care at the health institution. Results: home delivery prioritizes women’s’ comfort, throughthe use of teas, baths and specific rituals in caring for the placenta; dietary regulations and attentionto environmental aspects such as temperature and lighting are built into care. At the health facilities,routine interventions include acceleration of labor with the use of drugs, vaginal cutting (episiotomy),immobilization in lithotomy position, and the disposal of the placenta as garbage; which is perceivedas inadequate and aggressive. Conclusion: a preference for traditional care is justified based onfeelings of neglect and vulnerability at institutionalized health centers, resulting from the lack ofconsideration by the health services for the cultural and well-being specificities of the KukamaKukamiria women.

Key words: indigenous population, maternal health, health services, ethnography.

1 Doctoral Research Associate. Department of Maternal and Child Health, Universidade de São Paulo (FSP/USP), São Paulo, Brasil.2 Post-doctoral Research Associate. Department of Maternal and Child Health, Universidade de São Paulo (FSP/USP), São Paulo, Brasil.3 Master’s in Public Health MPH. Department of Sociomedical Sciences and Global Health. Columbia Mailman School of Public Health,

New York, NY, USA4 Associate Professor. Department of Maternal and Child Health, Universidade de São Paulo (FSP/USP), São Paulo, Brasil.

Corresponding author: [email protected]

Suggested citation: Yajahuanca RSA et al. Birth at the health center or at home: an analysis of birthing care among the kukamaskukamirias women of Peru. Journal of Human Growth and Development 2013; 23(3): 322-330Manuscript submitted dec 28 2012, accepted for publication Jul 20 2013.

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Birth at the health center or at home: an analysis of birthing care among the kukamas kukamirias women of Peru Journal of Human Growth and Development 2013; 23(3): 322-330

INTRODUÇÃO

A saúde das mães e dos bebês, especialmenteentre as populações mais vulneráveis, tem sidomotivo de políticas públicas prioritárias internacio-nalmente, entre elas as Metas do Milênio. No Peru,muitas políticas sociais têm sido criadas para aten-der aos grupos mais vulneráveis, incluindo as po-pulações indígenas. Entre estas políticas, estãoaquelas que buscam aumentar o acesso das mu-lheres ao parto atendido por profissionais treina-dos, realizados nos serviços de Saúde1.

Os partos institucionais, ou seja, feitos noequipamento de saúde representam 15% do total,na zona rural no Peru. Na Região de Loreto, em2010, os Postos de Saúde atenderam 198 partu-rientes na zona rural (este dado não especifica nú-meros para a população indígena), enquanto 391partos foram atendidos pelas parteiras tradicionais2.

No Peru em geral, a média de filhos por mu-lher é de 2,0. Não existem números específicos denatalidade que digam respeito às mulheres indí-genas, mas a experiência com essa realidade per-mite estimar uma média de seis a dez filhos pormulher. A taxa de fecundidade é maior na selva ena zona rural3,4.

A mulher rural indígena e amazônica é a maisafetada pela pobreza rural: tem menor escolarida-de, taxas maiores de analfabetismo e altos índicesde mortalidade materna5. Assim, é necessária umaanálise integral dos fatores que influem nesta si-tuação de saúde, e também ressaltar a existênciade carências e disparidades no interior da região,que carece da assistência sanitária mais elemen-tar. Estas inequidades, e também a deficiência dofuncionamento dos serviços de saúde – quando elesexistem – resultam num contexto onde a materni-dade pode se converter numa condição de risco paraa vida das mulheres e dos recém-nascidos.

Entre as mulheres Kukamas kukamirias, agestação é acompanhada por um conjunto de açõesancestrais, costumes que são transmitidos de umageração à outra e que compreende uma série depostulados e atitudes muito específicos. Esta rea-lidade impõe a necessidade de compreender opapel das práticas tradicionais de cuidado na saú-de materna6.

Embora a institucionalização do serviço mé-dico e os avanços tecnológicos tenham proporcio-nado benefícios importantes para a saúde maternae infantil, tem igualmente levado à incorporaçãode uma série de intervenções, algumas delas con-sideradas desnecessárias ou mesmo prejudiciais7,8.Da mesma forma, essa institucionalização tambémlevou à desvalorização do modo da condução doparto na prática da parteira tradicional e o trabalhoque realiza no seu conjunto9.

A população Kukama kukamiria tem uma con-cepção de saúde complexa e relativamente distin-ta das concepções biomédicas, pois consideram quea saúde depende de uma convivência harmônicado ser humano com forças da natureza, consigo

mesmo e com as demais pessoas, para um bem-estar integral. Não raro, estas concepções estãoem conflito com as abordagens dos serviços ofi-ciais de saúde, contribuindo para reduzir o impactopositivo que tais serviços possam ter na saúde dapopulação. Estes conflitos são especialmente im-portantes quando temos em alguns contextos daAmérica Latina um “paradoxo perinatal”, ou seja, auma maior oferta de serviços não encontramos umamelhora proporcional nos indicadores de saúde,exigindo que estes sejam mais bem programadospara servir aos interesses de saúde das diversaspopulações8,10.

Assim o objetivo é descrever a cultura e tra-dições relacionadas à gravidez, parto e pós-partodas mulheres Kukama kukamiria, da Amazônia pe-ruana, suas experiências de atendimento à saúdematerna, tradicional e institucional e as razões desua preferência por um ou outro sistema de saúde.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de baseetnográfica, realizada através de um método des-critivo, analítico e exploratório. Foram realizadas25 entrevistas individualizadas com mulheres grá-vidas, puérperas, parteiras (os), médicosherbalistas, parceiros e prestadores de saúde, as-sim como observação dos serviços.

A pesquisa foi realizada na região Loreto,província de Loreto, capital de Iquitos, no Peru, nacomunidade de San Regis, que possui aproximada-mente 1.200 moradores que pertencem ao grupoétnico Kukama kukamiria. A língua falada em pú-blico é o espanhol, embora na esfera privada a po-pulação fale seu idioma nativo, que é o Kukamakukamiria.

Loreto é um dos Departamentos mais exten-sos do Peru. Caracteriza-se, principalmente, por suaextensão territorial, clima tropical, alta dispersãopopulacional e multiculturalidade. Existem 42 gru-pos etnolinguísticos, que apresentam característi-cas culturais, econômicas e políticas diferentes deoutras populações do Peru11.

Desse universo, se investigou especificamen-te a etnia Kukama kukamiria da comunidade SanRegis, no rio Marañón. Organizados em famíliasnumerosas exercem, em sua maioria, atividadesde pesca e caça.

Da perspectiva etnográfica se descreveu oscenários culturais, crenças, experiências, atitudes,pensamentos e reflexões das mulheres da comuni-dade de San Regis, tendo em consideração os mes-mos termos e significados que os/as participantesconsideravam suas ações.

A experiência de acompanhar o trabalho dosservidores de saúde permitiu observar como é oatendimento em uma consulta médica: O atendi-mento às crianças, o atendimento ao pré-natal, bemcomo às parturientes, às vésperas do parto. Entreas mulheres entrevistadas, todas possuíam estu-

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dos básicos incompletos, a exceção de uma quenunca estudo. Os prestadores de saúde entrevis-tados foram técnicos de enfermagem e enfermei-ras com estúdios técnico e universitário respecti-vamente.

As técnicas utilizadas para a captação da rea-lidade empírica foram a observação participantecom descrições em diários de campo, e a entrevis-ta. A observação participante foi fundamental paramapear diversos aspectos da comunidade. Essatécnica possibilitou uma aproximação entre o queera narrado pelos sujeitos e os significados de suasações. Como afirma Haguette12, representa um pro-cesso de interação entre a teoria e os métodos dopesquisador em sua jornada na construção de umconhecimento. Durante a convivência com os mo-radores da comunidade de San Regis, tudo era ano-tado, todos os dias, observações de diálogos, ostrabalhos, e as reuniões periódicas que havia entrea comunidade. As anotações eram executadas sem-pre ao final do dia, e às vezes com ajuda da luz deuma lanterna.

Quando, posteriormente, após um longo pe-ríodo de imersão junto a comunidade, as entrevis-tas vieram complementar com mais abrangência eespecificidade, as informações na perspectiva dos

sujeitos da comunidade de San Regis: suacosmovisão, opiniões e avaliações, tanto no quedizia respeito aos partos realizados em casa quan-to no posto de saúde.

As entrevistas foram gravadas e transcritassempre que houve consentimento, algumas situa-ções cotidianas e de parto foram registradas pormeio de fotografias.

A coleta de dados teve início após aprovaçãopelos Comitês de Ética da Faculdade de Saúde Pú-blica e Comitê de Ética do Instituto Nacional deSaúde do Peru. Para preservação e anonimato dasparticipantes e dos prestadores de saúde, tiveramseus nomes verdadeiros substituídos por fictícios.

Com os prestadores de saúde pelo maior tem-po disponível a entrevistas foram mais tranquilas,à noite no posto de saúde. As entrevistas com asmulheres foram realizadas nas suas casas.

Cada conversa durou em média uma hora,entretanto, tomaram mais tempo, principalmenteno caso das mulheres. Com algumas delas a entre-vista foi interrompida por ter que ir à chácara, cozi-nhar ou lavar roupas.

Em alguns casos combinava-se uma hora paracontinuar no dia seguinte. As entrevistas erammarcadas de acordo com a disponibilidade das

Mapa: Etnolinguística mapa do Peru (2007)

Referencia: Instituto Nacional de Estadistica e Informática (INEI) 2007. II Censo de comunidades indígenas de laAmazonia Peruana.

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mulheres. Em algumas ocasiões a pesquisadora eentrevistadas tinham que encontrar-se até três ve-zes para terminar a entrevista. Nestes encontroselas mostravam também mais confiança e faziammaiores relatos, mais pessoais, focando em pro-blemas familiares e histórias de suas vidas que lem-bravam nesses momentos. Em alguns momentosexpressavam raiva frente a violência que recebiamquando buscaram os serviços de saúde e eram aten-didas por alguns servidores com desrespeito, mal-trato e não se sentiram escutadas.

O roteiro utilizado durante as entrevistas in-cluíam perguntas como: qual a diferença de rece-ber atenção com uma parteira e no posto de saú-de? Se o parto foi na sua casa: Por que não foi aoCentro de Saúde para ter seus filhos? Que cuida-dos houve durante o parto e pós-parto? Que posi-ção costuma adotar para dar à luz? O que costu-mam tomar, comer entre outros? Qual é a diferençaentre o parto em casa e no serviço de saúde? Quaisas principais razões para as mulheres grávidas nãoprocurarem os serviços de saúde?

Os dados foram analisados baseados na lei-tura e releitura das entrevistas, complementadascom a observação participante e articuladas pelosconhecimentos teóricos. Buscou-se dar visibilida-de aos conhecimentos da cultura KukamaKukamiria.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base na descrição e análise do materialempírico, foram surgidas as seguintes temáticasconcernentes aos discursos das Kukamaskukamirias: a organização da assistência ao parto,o destino da placenta, e os cuidados pós-parto.

Cuidados pré-natais tradicionaisNa cosmovisão do mundo da cultura Kukama

Kukamiria, o canto dos pássaros é um sinal de quea mulher está grávida, por exemplo. Os sinais esintomas precoces da gravidez são muito ligadoscom o ambiente natural, e são consideradas comoeventos especiais6,13. Complementando esse conhe-cimento “mágico”, a mulher Kukama kukamiria tam-bém reconhece a gravidez como uma ocorrênciaque segue a ausência da menstruação.

A gravidez é um evento muito importante nãosó para a estrutura da família, mas também para aparteira, bem como a comunidade como um todo.Neste contexto, a parteira está presente desde oprimeiro momento, oferecendo cuidados e orienta-ções à mãe e ao bebê para evitar riscos, a “kutipa”,que pode prejudicar a saúde da mãe e do bebê.“Kutipa” é um termo usado para nomear todos oseventos que estão relacionados com os aspectossaudáveis da vida cotidiana, descrito como umaimpureza que entra no corpo ou na alma. O estar“kutipada” tem relação com a doença - física, emo-cional ou espiritual.

A kutipa pode ser referida tanto à ação deespíritos malignos, quanto a sequelas advindas doparto ou de sua assistência uma vez que a mulhersofre intervenções durante o parto no serviço desaúde, tais como: feridas vaginais decorrentes daepisiotomia, a dor, resultante do aumento deoxitocina, hematomas, resultante do Kristeller(pressão uterina), entre outros. Além disso, ques-tões relacionadas com os maus espíritos, tambémpodem ocorrer entre os prestadores de saúde, re-veladas no trato distante, frio e insensível com asparturientes.

Durante a gravidez, a mulher segue restri-ções assim como dietas, que são importantes parater um bom parto. Estas ocorrências são comunsentre muitas comunidades indígenas14. Geralmen-te consomem mandioca, farinha, banana, peixe ealguns tipos de carne de animais do mato, mas nãotodos.

“Aqui quando você está assim [grávida] faz dietade várias coisas, como a melancia: não se comeporque faz kutipa, pois deixa grande demais acabeça do llullo [bebê]; no se come, nem se tomaa canha [caldo de canha] por que se diz que dámuito sangue como hemorragia; não se come coi-sas ácidas, como a cidra, porque o sangue se fazágua e então você incha [tem edema]; a paca tam-bém não se come, porque deixa os llullos [bebês]chorões.” (Karen, grávida, 41 anos)

Entre o quarto e sexto mês da gravidez, asmulheres procuram a parteira para a realização da“sobada”, que são massagens terapêuticas que amulher grávida recebe no ventre. A “sobada” é rea-lizada frequentemente em todas as gestantes du-rante o pré-natal, numa indicação significativa deque o cuidado e atenção no período gestacional têminicio bem antes do parto.

Durante a gravidez a mulher continua exe-cutando tarefas, tais como: ir para a chácara, cozi-nhar, cuidar dos pequenos animais, lavar roupa,fazer artesanato e todos os pequenos afazeresconcernentes ao cuidado com a casa, consideradosexercícios importantes que ajudam a preparar ocorpo para o parto. Há entre as Kukamaskukamirias, a ideia de equilíbrio: nem inércia, nemexcesso de tarefas.

Um cuidado muito importante dentro da cul-tura Kukama kukamiria é com a relação entre o frioe o quente. Para isso, tem como costume fazer ostratamentos a base de folhas de plantas para to-mar banhos quentes, para “ligar” ou “fazer ligadu-ra”, para eliminar o frio do corpo da mulher grávidae preparar o corpo para o parto.

“Tem que ligar – tomar banho com plantas – porcausa do frio, porque às vezes estamos resfria-das, e o frio também faz doer nossa barriga eentão nos ligam. As plantas que utilizam são afolha de malva, sapucho [banana madura],verbena-limão, cidra. Com isso minha mãe me liga;isso se coloca na água fervendo e depois na ba-

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cia, e aí pode ficar sentada ou parada, com a per-na aberta para que suba a quentura, e aí vais sa-ber se é frio, pois vai descer um suor bem friopela tua perna”. (Marcela, grávida, 25 anos)

Poto 2: Mulher grávida deve bebr chá durante o parto

O tratamento tradicional em trabalho de par-to e parto

Quando começa o trabalho de parto, a mu-lher continua fazendo seu trabalho doméstico atéque as dores sejam mais intensas. Durante esteperíodo, elas tomam uma bebida quente para apres-sar as contrações. Os chás de folhas de algodão,albaca branca, orégano, malva, sharamasho, entreoutros, garantem um parto rápido com menos dore complicações.

As parteiras monitorizam a sudoração da ca-beça da mulher, a intensidade do pulso, e sabem -a partir de sua experiência - que uma vez iniciadoo trabalho de parto há um tempo determinado parao nascimento do bebê. Elas não realizam o toquevaginal, mas verificam os movimentos do bebê emcada contração, e sabem diferenciar quando a crian-ça pode estar em sofrimento fetal, (movimentosfracos) ou sem complicações (boas e contínuas con-trações). O ambiente para atenção do parto e pós-parto deve ser fechado, com iluminação tênue e

sem barulho para que o bebê possa nascer rápidoe em um ambiente mais calmo, no entanto, a par-turiente também é acompanhada por seu marido,algum outro familiar, ou uma parteira.

As posições preferidas para o parto variammuito: sentada, semi-deitada, em pé, de joelhosou de cócoras. Durante a pesquisa, nenhuma mu-lher fez referência ao dar à luz deitada. Estudostêm mostrado os benefícios de adotar uma posi-ção vertical durante o trabalho de parto15. Quandoexiste em instituições uma norma para que as mu-lheres escolham uma posição de parto, a prefe-rência por parte das mulheres é dada para a posi-ção vertical14.

Quando o bebê nasce, a parteira não corta ocordão umbilical de imediato. É costume esperar asaída da placenta como continuação do parto. Aespera para cortar o cordão possibilita a disponibi-lidade de mais oxigênio para o bebê16.

Após o nascimento do bebê, a parteira pros-segue em seus cuidados com a puérpera, atenden-do para que a placenta expulsada tenha o destinocorreto. Este movimento tem muito significado nacultura Kukama Kukamiria, e está diretamente re-lacionado com o futuro da criança dentro do am-biente familiar e social.

Foto 1: Banho quente conhecido como “ligadura”

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O Posto de SaúdeA população Kukama kukamiria, até meados

da década de 1990, só buscava a ajuda do serviçode saúde em casos considerados mais graves, ouenvolvendo problemas de saúde que não conse-guia resolver. A ajuda do posto de saúde represen-tava um recurso final, devido ao tratamento hostilpor parte dos prestadores de saúde17.

O pré-natal no serviço de saúde consiste,primeiramente, em passar por uma triagem paracontrole de funções vitais, medição da alturauterina, e pela escuta dos batimentos fetais6,14. Emalgumas circunstâncias, nem mesmo essas medi-ções foram feitas: seja por falta de equipamento(tensiômetro, fita métrica, estetoscópio), ou por mávontade do prestador de saúde.

Assim, é evidente que existe uma distânciaentre a atenção oferecida pelo modelo tradicional,como é o caso, entre parteira dentro da comunida-de San Regis, e o modelo de biomédico, que come-ça a se difundir por meio das políticas de saúde.

Todo este panorama revela que osprestadores de saúde ainda não têm uma orienta-ção no sentido do entendimento e compreensão dainterculturalidade18, um tratamento maisabrangente dos povos indígenas, os valores, o res-peito e o reconhecimento de seus saberes tradicio-

nais. Existe, igualmente, um desconhecimento so-bre os benefícios que o diálogo pode proporcionarentre diferentes participantes dentro dos sistemasde cuidado10,19,20.

O processo de assistência ao parto nos ser-viços de saúde seguem procedimentos específicos,tais como: o uso de instrumentos obstétricos, exa-mes vaginais frequentes, isolamento, “banho frio”,antes e depois do parto, a administração deocitocina, episiotomia, a pressão sobre o útero(manobra de Kristeller), entre outros. Estes méto-dos são desconhecidos para a maioria das mulhe-res e são frequentemente rejeitados, por seremconsiderados desnecessários e invasivos.

Foto 4: A episiotomia

Photo 3: Trabalho de parto em casa

Estudos mostram que enquanto o conheci-mento expert do sistema oficial de saúde e, espe-cificamente, do profissional de saúde, ignorar adiversidade cultural, haverá consequentemente umaresistência por parte das parturientes na utilizaçãodos serviços de saúde18,21.

Esse contexto faz com que as mulheres sesintam desconfortáveis com a opção de dar àluz no posto de saúde. Há uma falta de preparodos profissionais de saúde na compreensão dosmodos de vida e os cuidados na comunidade. Aimpossibilidade de realização de rituais associa-dos com o cuidado para a placenta, da interdição

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da oferta dos chás, da falta de cuidados tradicio-nais na atenção ao parto e pós-parto, são perce-bidas como ameaças à mulher e saúde e bem-estar do recém-nascido. O abandono das mulheresdurante o parto, um tempo considerado altamentevulnerável, fisicamente e espiritualmente, é per-cebido não apenas como inapropriado e prejudi-cial, mas como potencialmente causando má sorteque pode surgir da falta de mecanismos simbóli-cos de proteção19.

A diferença de visão de mundo entre o pro-fissional de saúde e a dos usuários torna-se umabarreira cultural, o que limita o acesso destes últi-mos22. Um sentimento de frustração é frequente-mente expressado pela população de San Regis,frente à maneira com que os prestadores de saúdeoferecem atenção, e pelo trato recebido no postode saúde.

“Em minha casa, se vou dar à luz, vou buscar mi-nha parteira. É normal que não queira ir ao posto[risadas], lá a enfermeira é muito brava. Há umasenhora que veio ter seu filho assim de minha ida-de. Ela é de outra comunidade e diz que estavacom medo, e a enfermeira dizia: ‘quem mandouquerer filho, já tão velha? Quando somos velhasjá não se quer ter filhos’. Assim lhe dizia e tam-bém ralha duro com a pessoa” (Karen grávida 41anos)

Alguns procedimentos considerados benéfi-cos pelos prestadores de saúde podem ser consi-derados prejudiciais e traumáticos, tal como des-crito por Teresa:

“Eu decidi dar à luz no posto de saúde, ondeo técnico de enfermagem fez o corte [episiotomia]com uma navalha.” (Teresa grávida 29 anos)

O frio (do ambiente) e a frieza (do tratamen-to pelos prestadores de saúde), tão temidos e evi-tados na sua cultura são percebidos tanto no olhardo servidor de saúde que atende, quanto na pele,pelo banho gelado que deve tomar para ficar “lim-pa” e preparada para o parto.

A invisibilidade da violência foi desvelada pelafalta de sensibilidade dos prestadores de saúde parainteragir com as parturientes, e essa violência éreforçada pela maior vulnerabilidade física, emo-cional e social vivida durante o processo de traba-lho de parto e pós-parto. Adicionando a essa vul-nerabilidade física, outras, como as questõesrelacionadas à situação social delas, como o fatode serem de camadas de baixa renda e de perten-cer a um grupo étnico que se destaca como umaminoria no Peru tornasse esse sentimento aindamais intensificado.

Sepultado em solo sagrado, ou no lixo: pla-centa e cuidados pós-parto em casa versus nosistema de saúde.

A placenta tem uma representação simbóli-ca dentro do universo Kukama Kukamiria que os

organiza e dá sentido às suas existências. A pla-centa tem um significado sagrado. E, sobre o sa-grado, Geertz23 afirma que:

“(...) Os símbolos sagrados relacionam umaontologia e uma cosmologia de uma estética e umamoralidade: seu poder peculiar provém de sua su-posta capacidade de identificar fato com o valorno nível mais fundamental, para dar um sentidonormativo abrangente àquilo que, de outra for-ma, seria apenas real “(p. 144)

Depois do nascimento do bebê o segundo atoimportante é o destino correto da placenta, pois éconsiderada uma “vida que deu vida a outro ser”(Dolores, 25 anos). Há um entendimento de quesem a placenta, não haveria esse novo ser, ou seja,ela (a placenta) é uma parte constitutiva dele, dafamília e, por extensão, parte constitutiva do povoKukama kukamiria. Portanto, para eles, não é umdesejo a ser desprezado no pós-parto.

A placenta na história de vida das famílias,não só entre os povos indígenas amazônicas, mastambém na região andina de Peru24, a placenta deveser enterrada pelo pai da criança, na horta da casa.O enterro da placenta simboliza e significa prote-ção e força para o novo integrante da família, as-sim como saúde para a mãe.

Entre os Kukamas kukamirias como em ou-tras culturas14,24 a relação entre o bebê e a pla-centa é muito importante, existindo a associaçãobebê-placenta-mãe, onde os três permanecemunidos durante os nove meses da gravidez, comouma ponte de intercambio na comunicação ma-terna e fetal.

No posto de saúde, a placenta é consideradaexpurgo, tem encaminhamento semelhante aos cis-tos, sangue, pus e curativos em geral: o lixo. Ob-serva-se, que, em algumas circunstâncias, foi eli-minada até mesmo em qualquer lugar. Fato que,por si só, já denuncia a falta de estrutura mínimapara uma adequada assistência ao parto. Nestecontexto, a rotina e os procedimentos de saúde sãoorganizados de modo a privilegiar as técnicas emdetrimento das pessoas, com foco nas interven-ções25, e a conduta dos prestadores de saúde – aotratar estas dimensões como irrelevantes – assus-ta as mulheres que procuram assistência ao parto.

Depois de um parto a relação cultural doscuidados é marcante por ser um período de res-guardo, que incluem dietas e quarentena com ob-jetivo a prevenção ao adoecimento.

A puérpera deve amarrar um lenço em voltade sua cabeça e devem colocar pequenos maçosde algodão nos ouvidos para evitar a entrada dequalquer forma de ar. A mãe é mantida em repou-so junto ao recém-nascido. Esses cuidados são con-siderados muitos importantes, pois a mulher está“aberta” e “ofendida” (refere-se, especificamente,a situação “aberta” do útero, denominado comu-mente por elas, “a casa do bebê”).

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É importante essa descrição comparativaentre um e outro modo de assistência ao parto paraque se possa examinar a configuração dos fatos domodo como se apresentam no cotidiano das mu-lheres de San Regis. Assim sendo, a depender naevolução da mãe e do bebê no posto de saúde,estes podem ter alta em até 24 horas.

Em qualquer circunstancia a mãe recebe an-tibióticos e anti-inflamatórios (megacil inaintramuscular, e ibuprofeno por via oral), que ge-ralmente não gostam pois, sabem, por via de co-nhecimentos difundidos na comunidade, que essesmedicamentos influenciam negativamente no alei-tamento materno (no linguajar delas, “contaminaro leite”), o que as leva à ideia de que esses medi-camentos podem “matar” o corpinho do bebê queainda é indefenso.

No posto de saúde, as mulheres são força-das ao banho, o que evidencia um mal-estar deambas as partes: delas, por se sentirem maltrata-das e desrespeitadas. Alguns prestadores de saú-de vêm essa “resistência para tomar banho” comoum sinal de incivilidade por parte das mulheres.

“No posto de saúde não te cuidam, para eles éigual se pegas água fria, para eles uma vez que amulher deu a luz deve ir a tomar banho com águafria, isso é ruim para a saúde da mulher há quecuidar dela. Igual com o llullo [bebê] não podenos primeiros dias banhar porque ele é pequeno eperde calor. Aí no posto de saúde deveriam mu-dar esses costumes” (Laura, pós-parto, 43 anos)

Ademais, a Organização Pan-americana daSaúde (OPAS) afirma que a interculturalidade refe-re-se ao relacionamento e interação entre diferen-tes culturas. A interculturalidade está baseada nodiálogo, no sentido de respeitar as particularida-des, e aos indivíduos, não se baseando em imposi-ção ou opressão, mas em ter solidariedade paracom o outro e buscando equidade dos cuidados25.

Os serviços de saúde são oferecidos comouma oportunidade para atender diferentes neces-sidades10, doenças, assim como o pré-natal, partoe também complicações no parto. Uma vez que aspuérperas se sentem desrespeitados por meio dodesprezo de seus costumes, a comunidade podepassar a interpretar o serviço de saúde como umlugar que coloca a sua saúde em risco.

A pesquisa revelou que os conhecimentospautados na história cultural e nos costumes dosKukamas kukamirias, não são considerados pelaorganização da assistência pelos prestadores desaúde. Seus conhecimentos são desconsiderados eexcluídos, sendo avaliados como “abaixo do padrão”,primitivo e inadequado. Quando as mulheres pro-curam o serviço do posto de saúde por ocasião donascimento de suas crianças, sentem-se desres-

peitados em relação a seu modo de vivenciar omomento de dar à luz.

É necessário reconhecer que estes conheci-mentos “prévios” são parte do cenário em que, paraessa população, a vida adquire sentido e um senti-mento de pertença. E para que esse reconhecimentoaconteça é preciso repensar os protocolos do siste-ma oficial de saúde.

Para que se compreenda a riqueza desses“outros saberes”, diferentes abordagens e manu-seios, percebidos como eficazes e com desdobra-mentos satisfatórios, não apenas é importante a“inclusão” como também a busca de estratégias quefacilitem o diálogo, para que haja a comunicação epara que a relação seja efetivamente intercultural.

O acolhimento tem sido destacado por ou-tros estudos26, por ser um fator-chave para que “ooutro”, do cuidador aja positivamente no espaçoassistencial tornado suas demandas efetivas comoo norte das intervenções propostas nos seus meiose finalidades27.

As mulheres não estão dispostas a deixar seuscostumes para enfrentar condições “ameaçadoras”no posto de saúde. A presença da parteira conti-nua sendo muito importante, pela compreensão,confiança, amabilidade, conhecimentos culturais equalidade do cuidado que oferecem.

No caso da comunidade de San Regis, a as-sistência ao parto dispensada às mulheres pelosprestadores de saúde tem demonstrado uma faltade consideração em relação à cultura indígenaKukama kukamiria, diferentemente dos cuidadosdispensados pelas parteiras. Seria importante queas tecnologias na assistência ao parto pudessemdialogar com o conhecimento tradicional.

A preferência das pacientes pelo cuidado tra-dicional é justificada por se sentirem negligencia-das e vulneráveis no posto, como resultante dadesconsideração de aspectos culturais e do bem-estar das parturientes, por parte dos serviços desaúde.

A parceria entre estes dois métodos e visõesdo mundo pode fazer com que essa população sebeneficie de ambas as assistências procurando for-necer o melhor cuidado no parto e nascimento, in-dividualmente e em conjunto, para a melhoria dasaúde materna e infantil entre as mulheres Kukamakukamiria no Peru, assim como outras populaçõesindígenas no resto do mundo.

AGRADECIMENTOSA Fundação Ford (processo Nº 15056762)

pelo apoio financeiro durante a realização do pro-grama de Mestrado em Saúde Pública, junto à Fa-culdade de Saúde Pública da Universidade de SãoPaulo.

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