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– 1 - AÇÕES INTERSETORIAIS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL: OPINIÕES DO PROFESSOR E CONHECIMENTOS DOS ALUNOS INTER-SECTOR ACTIONS TO PREVENT ACCIDENTS IN CHILDREN EDUCATION: TEACHER’S ASSESSMENTS AND STUDENTS’ KNOWLEDGE Edinalva Neves Nascimento 1 , Sandra Regina Gimeniz-Paschoal 2 , Luciana Tavares Sebastião 3 , Natália de Paula Ferreira 4 1 Pós- Graduanda da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário. CEP: 17525-900. Marília-SP. 2 Docente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário. CEP: 17525-900. Marília-SP. Departamento de Fonoaudiologia. 3 Docente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário. CEP: 17525-900. Marília-SP. Departamento de Fonoaudiologia. 4 Graduanda da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário. CEP: 17525-900. Marília-SP. Departamento de Fonoaudiologia. Corresponding author: [email protected] Suggested citation: Nascimento EN et al. Inter-sector actions to prevent accidents in children education: Teacher’s assessments and students’ knowledge; Journal of Human Growth and Development 2013; 23(1): 99-106 Manuscript submitted Aug 22 2012, accepted for publication Dec 30 2012. Journal of Human Growth and Development 2013; 23(1): 99-106 ORIGINAL RESEARCH Resumo As políticas públicas de saúde e de educação privilegiam a escola para atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde. Objetivo: este estudo descreve uma ação intersetorial de prevenção de acidentes infantis, as opiniões do professor e conhecimentos dos alunos envolvidos. Método: foi realizado em uma Escola Municipal de Educação Infantil do interior paulista. Participaram 30 alunos do Pré II, entre cinco e seis anos, e a professora, mediante Termo de Consentimento assinado. As ações ocorreram na sala de aula. Foram utilizados questionários com a professora e materiais didáticos com as crianças, elaborados por estagiárias de Fonoaudiologia, que também conduziram as ações na escola. Resultados: os resultados mostraram ampliação de conhecimentos sobre riscos para acidentes infantis e formas de prevenção pelas crianças e professora. Conclusões: a atividade educativa foi avaliada positivamente pelos dois segmentos de participantes, sendo sugestiva para outras turmas e/ou escolas, com a parceria de profissionais da saúde e da educação. Palavras-chave: prevenção de acidentes; promoção da saúde; educação infantil; Fonoaudiologia. Abstract Introduction: public health politics and education privilege school for disease prevention and health promotion activities. Objective: this paper describes inter-sector action for childhood accidents prevention, teachers’ assessments and the knowledge of the students involved. Methods: it was done in a kindergarten City School in São Paulo interior. Thirty students from the Pre school second year, in the 5-6 age range and the teacher through a signed Consensus Term. The actions were performed in the classroom. Questionnaires were used with the teacher and school books with the children, formulated by speech and language pathology interns, who lead the actions in school. Results: the results showed an improvement in knowledge about children accident risks and forms of prevention by children and teacher. Conclusions: the educational activity was positively evaluated for both participant segments, being suggestive for other classes and/or schools, with health and education professionals’ partnership. Key words: accident prevention; health promotion; childhood education; speech and Language pathology.

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AÇÕES INTERSETORIAIS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES NA EDUCAÇÃOINFANTIL: OPINIÕES DO PROFESSOR E CONHECIMENTOS DOS ALUNOS

INTER-SECTOR ACTIONS TO PREVENT ACCIDENTS IN CHILDRENEDUCATION: TEACHER’S ASSESSMENTS AND STUDENTS’ KNOWLEDGE

Edinalva Neves Nascimento1, Sandra Regina Gimeniz-Paschoal2, Luciana Tavares Sebastião3,Natália de Paula Ferreira4

1 Pós- Graduanda da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário.CEP: 17525-900. Marília-SP.

2 Docente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário.CEP: 17525-900. Marília-SP. Departamento de Fonoaudiologia.

3 Docente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário.CEP: 17525-900. Marília-SP. Departamento de Fonoaudiologia.

4 Graduanda da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”. Av. Higyno Muzzi Filho, 737. Campus Universitário.CEP: 17525-900. Marília-SP. Departamento de Fonoaudiologia.Corresponding author: [email protected]

Suggested citation: Nascimento EN et al. Inter-sector actions to prevent accidents in children education: Teacher’sassessments and students’ knowledge; Journal of Human Growth and Development 2013; 23(1): 99-106Manuscript submitted Aug 22 2012, accepted for publication Dec 30 2012.

Journal of Human Growth and Development2013; 23(1): 99-106 ORIGINAL RESEARCH

Resumo

As políticas públicas de saúde e de educação privilegiam a escola para atividades de prevenção dedoenças e promoção da saúde. Objetivo: este estudo descreve uma ação intersetorial de prevençãode acidentes infantis, as opiniões do professor e conhecimentos dos alunos envolvidos. Método: foirealizado em uma Escola Municipal de Educação Infantil do interior paulista. Participaram 30 alunosdo Pré II, entre cinco e seis anos, e a professora, mediante Termo de Consentimento assinado. Asações ocorreram na sala de aula. Foram utilizados questionários com a professora e materiais didáticoscom as crianças, elaborados por estagiárias de Fonoaudiologia, que também conduziram as açõesna escola. Resultados: os resultados mostraram ampliação de conhecimentos sobre riscos paraacidentes infantis e formas de prevenção pelas crianças e professora. Conclusões: a atividadeeducativa foi avaliada positivamente pelos dois segmentos de participantes, sendo sugestiva paraoutras turmas e/ou escolas, com a parceria de profissionais da saúde e da educação.

Palavras-chave: prevenção de acidentes; promoção da saúde; educação infantil; Fonoaudiologia.

Abstract

Introduction: public health politics and education privilege school for disease prevention and healthpromotion activities. Objective: this paper describes inter-sector action for childhood accidentsprevention, teachers’ assessments and the knowledge of the students involved. Methods: it wasdone in a kindergarten City School in São Paulo interior. Thirty students from the Pre school secondyear, in the 5-6 age range and the teacher through a signed Consensus Term. The actions wereperformed in the classroom. Questionnaires were used with the teacher and school books with thechildren, formulated by speech and language pathology interns, who lead the actions in school.Results: the results showed an improvement in knowledge about children accident risks and formsof prevention by children and teacher. Conclusions: the educational activity was positively evaluatedfor both participant segments, being suggestive for other classes and/or schools, with health andeducation professionals’ partnership.

Key words: accident prevention; health promotion; childhood education; speech and Languagepathology.

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INTRODUÇÃO

As políticas públicas atuais na área da saúdeconsideram o ambiente escolar um local privilegia-do para a realização de atividades preventivas epromotoras da saúde.

Em 2002 o Ministério da Saúde informouque o período escolar é fundamental para se tra-balhar a promoção da saúde e realizar ações deprevenção de doenças e fortalecer os fatores deprevenção, envolvendo os setores da educação eda saúde1.

A Secretaria de Gestão Estratégica e Partici-pativa (SGEP) do Ministério da Saúde propôs, em2003, a articulação dos programas de saúde exis-tentes do próprio Ministério, buscando identificarestratégias pedagógicas que pudessem reorientaros processos de educação em saúde de forma atorná-los mais críticos e reflexivos. Essa busca re-sultou no fortalecimento da parceria já existenteentre os Ministérios da Saúde e da Educação, o que,por sua vez, desencadeou a formulação de diretri-zes para a Política Nacional de Educação em Saúdena Escola2.

Esses dois Ministérios instituíram em 2006 apolítica pública denominada Programa Saúde naEscola (PSE), cujo objetivo é reforçar a promoçãoda saúde dos alunos e construir uma cultura de paznas escolas. As ações em saúde previstas no âmbi-to do PSE consideram a atenção, promoção, pre-venção e assistência e são realizadas no contextodas redes públicas de ensino e de saúde, pautadasnos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).Neste Programa foram propostos dezessete temaspara serem trabalhados pelas equipes parceiras. Oartigo ora apresentado envolve o tema de númeroIX, a saber, a redução da morbimortalidade poracidentes e violências3.

Os acidentes e as violências são importan-tes ameaças para a saúde e bem-estar de crian-ças e adolescentes no mundo4. Além do risco àvida, sua ocorrência traz complicações clínicas in-tensivas, internações hospitalares, seqüelas físi-cas e emocionais que podem permanecer pelo restoda vida5,6.

Dentre todos os tipos de acidentes, a litera-tura6- 7 indica que as quedas são os principais res-ponsáveis pelas injúrias em crianças. Podem ocor-rer da própria altura, de móveis, de bicicletas, deescadas, de árvores e de outros locais8,5,9. Em rela-ção à faixa etária, tais acidentes ocorrem com maiorfreqüência entre crianças de 3 a 5 anos de idade10.

As recomendações do governo federal pro-põe a identificação dos riscos no ambiente escolare a elaboração de projetos voltados para a promo-ção da segurança e prevenção de acidentes na es-cola e entorno11.

Assim, o objetivo desta pesquisa é descre-ver ação intersetorial de prevenção de acidentesinfantis e desvelar opiniões de professores e dealunos no cenário educacional sobre a acidentesinfantis.

MÉTODOTrata-se de estudo descritivo, realizado no

período de agosto a novembro de 2007 junto a umaEscola Municipal de Educação Infantil (EMEI) deMarília, interior do Estado de São Paulo.

A seleção da escola, dentre as vinte qua-tro escolas municipais de educação infantil, con-siderou a presença das estagiárias do Curso deFonoaudiologia da FFC e a autorização do diri-gente da instituição. Neste estudo as estagiári-as de Fonoaudiologia representam o setor dasaúde e os integrantes da escola o setor da edu-cação promovendo, assim, uma ação intersetorial.

O projeto de pesquisa foi inicialmente enca-minhado para apreciação da Secretaria Municipalde Educação e, posteriormente, ao Comitê de Éticada Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Uni-versidade Estadual Paulista, Campus de Marília,tendo sido aprovado sob o protocolo 2458/2007.

A atividade foi desenvolvida com uma turmado Pré II que contava na época do estudo com 30alunos com idades entre cinco e seis anos. Partici-pou também da pesquisa a professora responsávelpor essa turma. A opção por trabalhar com tais alu-nos justifica-se tanto pela maior incidência de aci-dentes, em especial de quedas, em crianças nessafaixa etária, quanto pelo fato de a professora e osalunos terem sido receptivos em participar da ati-vidade.

A seguir será realizada a descrição dos ma-teriais didáticos confeccionados pelas estagiáriasde Fonoaudiologia para o desenvolvimento das ati-vidades educativas.

Um dos materiais didáticos confeccionadosfoi uma maquete com o cenário da estória dos “TrêsPorquinhos” adaptada, contendo uma árvore, trêscasinhas (de tijolo, de madeira e de palha), alémde três porquinhos e do lobo mau, todos em situa-ções de acidentes. A base da maquete foi em isoporcom 100 centímetros de comprimento e 50 centí-metros de largura. A árvore, as casas e os objetos(tesoura, bicicleta e escada) foram confeccionadostambém em isopor e coloridos com tinta guache.Os personagens foram desenhados em papel sulfitebranco, coloridos com caneta hidrocor e fixados namaquete com o auxílio de palitos de sorvete.

As cenas de acidentes com os porquinhosilustravam as seguintes situações: o corte nodedo, quando um dos porquinhos ao cortar apalha com tesoura com ponta e sem ajuda de umadulto; a queda da bicicleta ao andar sem rodinhano asfalto com pedras e buracos; a queda da ár-vore ao subir para brincar nos galhos, bem comoa queda da janela sem proteção. Os acidentescom o lobo mau ilustraram as situações de que-da da escada ao tentar subir no telhado da casi-nha de tijolo; a queimadura ao entrar pela cha-miné da casa de tijolo e cair dentro do caldeirãode água fervendo; a perfuração da mão com pre-gos ao empurrar a casinha de madeira; a quedado telhado na cabeça ao derrubar a casinha depalha. Para a representação dos machucados dos

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porquinhos e do lobo mau foram desenhadasestrelas na cor amarela e gotas na cor vermelhaem papel sulfite, fixadas na maquete em palitosde dente.

Figura 1: Maquete da estoria.

Figura 2: Cena do porquinho que cortou o dedocom a tesoura.

Figura 3: Cena do porquinho que caiu dabibicleta.

Um livro com a versão segura da estória foifeito com cartolina contendo cinco páginas. Estelivro ilustrava situações preventivas e comporta-mentos de segurança para os acidentes mostra-dos na maquete. Por exemplo, os porquinhos pe-diram a ajuda da mãe para cortar a palha;andaram em bicicleta com rodinhas e no grama-do; construíram a casinha de madeira com cola(e não pregos pontiagudos) para evitar perfura-ção das mãos. O lobo mau tocou a campainhadas casinhas, pediu um pedaço de pão e foi em-bora. Nesta versão da estória, o lobo não subiuno telhado das casas, o que preveniu o acidenteenvolvendo a queda e a queimadura.

Juntamente às ilustrações do livro foram in-seridas as seguintes sentenças informativas queseriam destacadas no momento da contagem daestória:

• Sempre quando formos utilizar objetospontiagudos devemos pedir ajuda a umadulto;

• O porquinho decidiu andar de bicicletana grama. Se ele cair não se machuca-rá, pois a grama ajudará a amortecer suaqueda;

• Não devemos utilizar materiais pontiagu-dos e cortantes como prego, tesoura componta, estilete, faca, etc.;

• As árvores não foram feitas para subir esim para dar flores, frutos e sombra;

• É perigoso subir em lugares altos edesprotegidos de telas e grades;

• Sempre devemos descer e subir os de-graus das escadas bem devagar e commuita atenção. Se a escada tiver corri-mão, devemos segurar nele firmemente.Não subir ou descer com muita bagagem,por exemplo, mochilas e sempre que pos-sível devemos dar a mão a um adulto.

• Não devemos brincar com fogo. Precisa-mos tomar muito cuidado com os cabosdas panelas, água fervendo, fogo aceso ecom óleo quente.

Figura 4: Página do livro mostrando situação se-gura

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Figura 5: Página do livro mostrando situação se-gura

Além da maquete e do livro foi utilizado umpainel confeccionado com papel pardo e pincelatômico. Nesse painel foram anotadas as infor-mações relatadas pelas crianças durante a dis-cussão da estória. Também foram utilizados pa-pel sulfite, lápis preto e colorido para as criançasdesenharem situações de acidentes. Utilizaram-se ainda fantoches representativos dos perso-nagens da estória. Esses fantoches eram con-feccionados de tecido e estavam disponíveis nabrinquedoteca do Centro de Estudos da Educa-ção em Saúde (CEES) da UNESP de Marília parautilização pelos estagiários.

PROCEDIMENTOS

Previamente ao trabalho educativo com osalunos, foi aplicado um questionário com a profes-sora. Este questionário inicial foi apreciado pelospesquisadores do Grupo de Pesquisa “Educação eAcidentes” (EDACI), os quais apresentaram suges-tões em relação à estrutura e conteúdo das ques-tões. Por fim, o instrumento foi composto por setequestões abertas que visavam investigar os seguin-tes aspectos: a realização anterior de qualquer outrotipo de atividade educativa sobre acidentes infan-tis na escola, tanto pelo professor quanto por outroprofissional; o conhecimento do educador em rela-ção às Leis Municipais 6.435/200612 e 6.508/200713

que abordam o tema sobre acidentes; a opinião doprofessor sobre os profissionais aptos a propor prá-ticas educativas sobre o tema em questão, bemsua opinião sobre a parceria entre o professor e ofonoaudiólogo no desenvolvimento de uma ativi-dade educativa intersetorial. Este questionário foiavaliado por dois juízes com experiência em pes-quisa na temática de acidentes infantis, de forma aadequar o instrumento de coleta de dados ao seg-mento que seria investigado.

As atividades foram realizadas na sala deaula, em horário acordado com a professora de

forma a não interferir no planejamento das ati-vidades escolares da turma e das demais clas-ses que utilizavam a sala em sistema de rodíziode horários.

Finalizada esta etapa da pesquisa, deu-seinício ao desenvolvimento das práticas educativassobre prevenção de acidentes infantis com os alu-nos da turma selecionada.

Serão apresentadas as atividades realizadasem cada encontro.

Primeiro encontroO objetivo deste encontro foi identificar o

conceito dos alunos envolvidos em relação aos aci-dentes infantis, bem como identificar suas vivên-cias pessoais em relação a este problema. Visouainda o levantamento das situações de risco paraacidentes e quedas infantis. As informações relata-das pelas crianças foram anotadas no papel pardopara seu registro e posterior retomada.

Concluído este levantamento cada aluno re-cebeu uma folha de papel sulfite branco e lápis pretoe colorido para a realização de desenhos represen-tativos dos objetos e situações relatadas no mo-mento anterior. Esta atividade visou à sistematiza-ção das situações discutidas com o grupo dealunos.

Considerando os aspectos mencionados pe-los alunos, as estagiárias de Fonoaudiologia reali-zaram exposição dialogada com as crianças com oobjetivo de informá-los sobre como evitar as situa-ções indicadas.

Este primeiro encontro teve a duração deaproximadamente uma hora.

Segundo encontroO objetivo deste encontro foi a exposição dos

aspectos relacionados aos comportamentos e si-tuações de risco para acidentes infantis, bem comoas estratégias de cuidado que devem ser adotadaspara sua prevenção. Destaca-se que esta exposi-ção foi feita de forma lúdica considerando a idade eescolaridade dos alunos envolvidos.

Neste dia foi realizada a contagem erecontagem da estória dos Três Porquinhos, adap-tada à prática educativa em andamento. Foram in-seridas na estória situações e comportamentos derisco para acidentes infantis, especialmente que-das. A estória mostrou as conseqüências de umacidente, como, por exemplo, a dor e a diminuiçãoda agilidade motora dos três porquinhos ao fugirdo lobo mau. Para a contagem da estória foramutilizados os fantoches dos três porquinhos e o dolobo mau, além da maquete explicitada anterior-mente.

A estória foi contada pelas estagiárias erecontada pelos alunos, destacando-se as situaçõesde perigo e as medidas de segurança que pode-riam ser realizadas.

Em seguida foi apresentado aos alunos umlivro feito de cartolina e com desenhos que mos-travam a versão segura da estória. Novamente

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foi realizada a contagem e a recontagem, desta-cando-se as vantagens obtidas pelos trêsporquinhos e pelo lobo mau ao se protegeremcontra acidentes.

Os relatos das crianças durante a discus-são e a recontagem da estória foram anotadosno painel.

Este segundo encontro teve a duração deaproximadamente uma hora e meia.

Terceiro encontroO objetivo deste encontro foi a avaliação dos

resultados das atividades realizadas nos dois pri-meiros encontros.

As estagiárias apresentaram o painel conten-do os relatos das situações de risco e de acidentesapontadas pelas crianças no primeiro dia. A seguirquestionaram os alunos sobre como as ações de-veriam ter sido realizadas para evitar as quedas eoutros acidentes. Buscou-se propiciar a reflexão dascrianças sobre medidas preventivas que deveriamser adotadas na escola e no lar. As informações desegurança foram registradas em outro painel.

Concluída esta atividade, cada aluno rece-beu novamente uma folha de papel sulfite branco elápis preto e colorido. Foi solicitado que realizas-sem um novo desenho, desta vez, representativodas medidas preventivas discutidas. Esta atividadevisou também à sistematização das situações abor-dadas com o grupo de alunos, enfocando a preven-ção de acidentes infantis.

Este terceiro e último encontro teve a dura-ção de aproximadamente uma hora.

É importante ressaltar que a professora res-ponsável pela turma participou de todos os encon-tros e atividades realizadas. Finalizado o trabalhoeducativo, esta educadora respondeu um novo ques-tionário que, assim como aquele aplicado antes doinício das atividades com os alunos, continha setequestões abertas e foi avaliado por dois juízes. Esteinstrumento de coleta de dados buscou, desta vez,analisar a opinião do professor sobre o trabalho edu-cativo desenvolvido, bem como sobre os materiaisutilizados. Buscou ainda analisar a visão da educa-dora sobre o envolvimento dos participantes dos di-ferentes segmentos (professor, alunos e estagiáriasde Fonoaudiologia) nas atividades e, ainda, sua opi-nião a respeito da parceria de trabalho estabelecidacom as estagiárias de Fonoaudiologia.

RESULTADOS

Obtidos mediante a aplicação do questioná-rio. Esta informação foi contemplada em Método,no primeiro parágrafo de “Procedimentos”

De acordo com os dados obtidos neste ques-tionário, verificou-se que a professora não haviaparticipado de qualquer tipo de atividade relacio-nada à prevenção de acidentes infantis. Além dis-so, esta educadora disse não ter conhecimento so-bre as leis municipais 6.435/200612 e 6.508/200713

que tratam da necessidade de ações de preven-ção de acidentes no ambiente escolar.

Em relação à opinião do professor sobre osprofissionais aptos a propor práticas educativassobre o tema, a respondente referiu achar que estaseria uma atividade para ser desenvolvida por pro-fissionais da saúde.

Questionada sobre a parceria entre o profes-sor e o fonoaudiólogo no desenvolvimento de umtrabalho educativo sobre acidentes infantis, respon-deu que as estagiárias de Fonoaudiologia poderiamser parceiras na execução de um mini-curso sobreo tema, justificando pelo fato dessas estagiáriasconversarem e contarem histórias de formaprazerosa e informativa. Disse ainda achar queembora a turma fosse “numerosa e falante”, o mini-curso traria resultados positivos.

Obtidos a partir do desenvolvimento das açõeseducativas com os alunos

No primeiro encontro, quando questionadossobre o conceito de acidentes, os alunos apresen-taram as seguintes respostas: fazer dodói; quandoo carro bate e morre; carro de bombeiro; ficar in-ternado no hospital; acidente de moto, carro, ôni-bus e bicicleta; acidentes com pessoas; cair deavião; tirar sangue; bater numa árvore e atropela-mento. Os alunos relataram ainda algumas situa-ções de acidentes infantis como: carro atropelarbicicleta; bater com o carro porque o motoristaestava correndo e queimadura no fogão.

Solicitados a relatar suas vivências em que-das, as crianças responderam: “eu já cai da árvo-re”; “meu amigo caiu da janela”; “eu corro emchão molhado”, “meu tio caiu da escada e que-brou o braço”.

Em relação às situações de risco para aci-dentes, conforme explicitado no item Metodologia,à medida que os alunos apontavam tais situações,as estagiárias de Fonoaudiologia realizavam expo-sição dialogada com o objetivo de informar a clas-se sobre comportamentos seguros.

Quando relatado pelas crianças que elas su-biam e desciam escadas correndo, foi explicada aimportância de andar devagar e com muita aten-ção, segurar no corrimão, evitar subir e descer commuita bagagem e, se possível, segurar na mão deum adulto.

Frente ao relato de experiências de quedasde lugares altos (árvores, janelas, guarda-roupa,escorregador, muro e mesa), bem como de cadei-ras, bicicletas e ônibus, as estagiárias ressaltarama relevância de se evitar tais acidentes consideran-do suas possíveis conseqüências como: machucara cabeça, o braço, a perna ou mesmo a morte.

Mediante o relato de situações de quedasem chão molhado, as estagiárias explanaramsobre os diferentes tipos de chão e convidaramas crianças a imaginar que estavam andandosobre eles. O primeiro foi o chão de pedras, res-saltando-se que não se pode correr sobre ele esim andar devagar e firme. Depois foi trabalhado

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o chão molhado, destacando-se que as criançasprecisam evitá-lo ou dar passos curtos e andardevagar. Por fim, mencionaram o gramado queoferece maior segurança.

É importante destacar que neste primeiroencontro as crianças mostraram-se bastanteparticipativas quando requisitadas a forneceremexemplos pessoais.

No segundo encontro até mesmo durante aatividade de contagem de estória, os alunos rela-taram, espontaneamente, algumas situações queevitariam os acidentes mencionados na estória. Estecomportamento indica que a atividade desenvolvi-da no encontro anterior havia contribuído para des-pertar a atenção sobre situações de risco para aci-dentes e estratégias de prevenção.

Os alunos realizaram os seguintes comentá-rios: “eu só uso tesoura sem ponta”, quando foi apre-sentada a situação em que o porquinho utilizou umatesoura com ponta e cortou o dedo; “eu não subomais em árvore”, quando o porquinho subiu na ár-vore, caiu e quebrou o braço; “ele caiu da bicicletaporque não tem rodinha”, referindo-se ao porquinhoque tinha caído de bicicleta no buraco.

Assim como no primeiro encontro, as crian-ças também tiveram uma participação ativa, destavez, escutando a estória e recontando-a adequa-damente.

No terceiro encontro que objetivou a avalia-ção dos conhecimentos construídos, as criançasrelataram que para não cair de escadas como a daescola, era necessário “segurar na mão da mamãe”,“andar devagar” e “não usar mochila pesada por-que cai pra trás”.

Quando as estagiárias apresentaram o pai-nel confeccionado no primeiro encontro e solicita-ram opiniões sobre ações que poderiam evitar que-das na escola e no lar, foram obtidas as seguintesrespostas:

Chão molhado: “andar devagar e de chinelopara não escorregar”.

Gramado: “pode correr”.Bicicleta: “andar de bicicleta na grama para

não machucar.Escada sem corrimão: “subir a escada do

escorregador segurando”; “não pode subir em es-cadas correndo”; “tomar cuidado para não prendera mão”.

Escada com corrimão: “tem que subir segu-rando”; “não pode subir e descer correndo”; “caipra frente e para trás”.

Balanço: “não balançar alto”; “não passaratrás do balanço”; “segurar nas correntes”.

Janela sem grade: “não pode subir nas ja-nelas porque cai”; “tem que ficar com a janelafechada”.

Janela com grade: “quando tem grade podeolhar porque não cai”.

Cadeira, mesa e árvores: “não pode subirnas cadeiras porque ela é pra sentar”; “não podesubir em árvores porque cai”; “árvores dão florese frutos”.

Objetos cortantes: “não pode por a mãono ventilador”; “não pode por a mão noliquidificador”; “não pode por a mão na batedei-ra porque corta, sai sangue e tem que ir pro hos-pital”.

A análise dos desenhos realizados no primei-ro e terceiro encontro representativos de conceitose situações de risco para acidentes, bem comode medidas preventivas, observou-se que as fi-guras que tiveram maior ocorrência foram: oporquinho cortando o dedo com a tesoura ponti-aguda; acidente de carro; queda de árvores e deescada, bem como os porquinhos felizes na casade tijolos.

Obtidos mediante a aplicação do questionáriocom a professora pós-atividade educativa

A professora referiu que suas expectativasiniciais foram alcançadas. Ponderou que o mate-rial educativo utilizado foi bem elaborado, princi-palmente a maquete, ressaltando que as criançasadoraram.

Em relação ao envolvimento dos participan-tes dos diferentes segmentos, avaliou que partici-pou das atividades como ouvinte, interferindo so-mente quando os alunos não se comportavam.Mencionou a dedicação das estagiárias de Fonoau-diologia e o grande interesse e participação dascrianças.

No tocante à sua opinião a respeito da par-ceria de trabalho estabelecida com as estagiáriasde Fonoaudiologia, ponderou que essa parceria nodesenvolvimento de um projeto sobre prevençãode acidentes infantis deveria ser ampliada de for-ma a envolver toda a escola e a comunidade.

DISCUSSÃO

A Lei nº. 8069 de 1990 apresenta o Estatutoda Criança e do Adolescente. Consta do Artigo 7ºque “a criança tem direito à proteção e à saúde,mediante a efetivação de políticas sociais públicasque permitam o nascimento e o desenvolvimentosadio e harmonioso em condições dignas de exis-tência” 14.

A proteção e a promoção à saúde estão tam-bém previstas na Constituição Federal de 198815 ena Lei Orgânica de Saúde nº. 8080 de 199016. Hámais de vinte anos a legislação nacional prevê aatuação preventiva no cuidado em saúde, mas ape-sar deste tempo as práticas educativas ainda sãopouco valorizadas pelos gestores, profissionais dasaúde e comunidade.

Em 2001 o Ministério da Saúde implantou aPolítica Nacional de Redução da Morbimortalidadepor Acidentes e Violências. A Portaria nº. 737 de2001 foi aprovada pela Comissão IntergestoraTripartite (CIT) e pelo Conselho Nacional de Saúde(CNS) com o objetivo de incentivar ações conjun-tas, articuladas e sistematizadas para a reduçãodos efeitos dos acidentes e violências no país17.

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A formulação das leis municipais nº. 6435/200612 e 6508/200713 sobre prevenção de aciden-tes infantis em Marília retomou a importância dasatividades preventivas para a preservação da saú-de das crianças. Nesta mesma época surgiu o Pro-grama Saúde na Escola que também contemplouem suas diretrizes a prevenção de acidentes e vio-lências no âmbito escolar2.

Os problemas de saúde oriundos dos aci-dentes infantis ultrapassam as barreiras do mu-nicípio e do país, sendo também observados emdiferentes lugares do mundo. Uma Revisão Bibli-ográfica de 71 artigos publicados entre os anosde 1997 e 2007 mostrou dados epidemiológicosdo Irã, Arábia Saudita, Egito, Kuwait, Paquistão,Tunísia, Jordânia, Iraque, Afeganistão, Marrocos,Omã e Emirados Árabes Unidos. Nestes países amaior ocorrência de acidentes infantis é na faixaetária de 0 a 5 anos. A maior parte deles aconte-ce dentro da própria residência18.

A análise dos dados de um sistema de in-formação do Canadá denominado “CanadianHospitals Injury Reporting and PreventionProgram (CHIRPP) também revelou a epidemiolo-gia dos acidentes infantis neste país. Entre osanos de 1999 e 2002 foram socorridas 5876 crian-ças acidentadas, sendo que 3141 sofreram que-das do mesmo nível ou de outros locais. Um totalde 1160 crianças tinham entre 1 e 3 anos de ida-de19.

Embora os acidentes infantis aconteçampredominantemente dentro dos lares, o ambien-te escolar não está isento de riscos para quedase outros tipos de acidentes, especialmente du-rante as brincadeiras. Estudo realizado no Brasile em Portugal mostrou que na escola as criançaspreferem brincar com atividades de categoriamotora justapostas às cognitivas. Desta forma,o risco se torna maior20.

A participação de graduandos da área dasaúde foi fundamental para o favorecimento deuma cultura de intersetorialidade desde a forma-ção inicial com uma temática proposta pelos Mi-nistérios da Saúde e da Educação.

A prevenção de acidentes na infância é deresponsabilidade de qualquer área profissional. Pro-fissionais da saúde de Fortaleza, Ceará, realizaramdiferentes atividades de promoção da saúde, in-cluindo prevenção de acidentes, em uma escola deensino infantil. As autoras relataram que a açãointersetorial foi fundamental, mas ainda existe umdesafio em relação à integração com a equipe pe-dagógica, uma vez que os temas da saúde aindasão vistos como de responsabilidade unicamentedos profissionais da saúde21.

Embora as práticas educativas realizadas vi-sassem trabalhar a prevenção de acidentes infan-tis, pode-se afirmar que tais práticas objetivaramainda a promoção da saúde, na medida em quepropiciou aos alunos conhecimentos que contribuempara a adoção de comportamentos individuais e

coletivos saudáveis no tocante às situações debrincar com segurança.

Segundo Czeresnia22 a promoção da saúdeabrange tanto o ambiente quanto os aspectos físi-cos, psicológicos e sociais. Além disso, as estraté-gias de promoção se voltam para a transformaçãodas condições de vida e demandam atuaçãointersetorial.

Ressalta-se que o trabalho ora apresenta-do envolveu a atuação de profissionais formadose em formação dos setores saúde e educação efortaleceu a escola trabalhada em seu papel deEscola Promotora da Saúde.

As Escolas Promotoras da Saúde são aque-las que buscam a construção de ambientes sau-dáveis e práticas de educação e saúde em suaintegralidade. Consolidam-se com metodologiasparticipativas e envolvem a comunidade em açõesintegradas com os diferentes setores, inclusiveentre a saúde e educação2.

A educação em saúde é uma das estraté-gias sugeridas pelo Ministério da Saúde para arealização das práticas promotoras da saúde. Elaé definida como um conjunto de práticas peda-gógicas de caráter participativo e emancipatório,que perpassa vários campos de atuação e tem oobjetivo de sensibilizar, conscientizar e mobilizarpara o enfrentamento de situações individuais ecoletivas que interferem na qualidade de vida23.

Neste sentido, a educação em saúde confi-gura-se como uma ferramenta potente para o tra-balho de prevenção de acidentes infantis. O pro-fessor e profissionais de saúde podem lançar mãodessa ferramenta e utilizar estratégias educativascomo estórias infantis e atividades lúdicas nos par-ques e demais áreas externas da escola, identifi-cando os riscos junto com as crianças e refletindosobre possíveis mudanças no meio e no comporta-mento.

Cardoso, Reis e Iervolino24 relatam que paraque a escola se torne promotora da saúde é neces-sário um planejamento de ações interdisciplinarese intersetoriais entre as Secretarias da Saúde e daEducação, a fim de planejarem temas transversaisque podem ser contemplados no currículo. No en-tanto, para isso é preciso capacitar os professores,sendo sugestivo, por exemplo, a articulação entrea Unidade de Saúde da Família e as Escolas da áreade abrangência

Paes e Gaspar25 afirmaram que é essencial acompreensão dos profissionais de saúde sobre aimportância da prevenção das injúrias, pois se atu-arem de forma sistêmica, ampliando a ação paraalém da área estritamente de saúde, em um pro-cesso intersetorial, as possibilidades de redução dosíndices de acidentes passarão a ser reais.

Tais práticas estão alicerçadas nas políti-cas públicas de saúde e educação vigentes háalguns anos, bem como em políticas recentes quetambém abordam essa temática, a saber, a Por-taria nº. 227 de 201126 que reitera e fortalece a

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Portaria nº. 737 de 200117. Dentre os objetivosdesta Portaria datada de 2011, consta do Arti-go 6° o apoio a programas e projetos pré-esco-lares e escolares, com vistas a contribuir com odesenvolvimento das crianças em situação derisco, bem como vulnerabilidade às violências.Consta ainda a realização de intervenções emambientes e entornos escolares.

Além da importância da atuaçãointersetorial, para fortalecer ou transformar aescola em um espaço de produção de saúde, faz-se necessária a inclusão dessa temática no pro-jeto político-pedagógico da escola23.

Espera-se que o trabalho ora apresentadocontribua para a disseminação da experiência aquirelatada e para fomentar discussões sobre a im-

portância da execução de práticas educativasintersetoriais voltadas à prevenção de acidentese estimular novas ações nesta direção.

CONCLUSÃO

Este trabalho apresentou uma açãointersetorial de prevenção de acidentes infan-tis realizada em ambiente escolar, envolvendoum dos temas preconizados pelas políticas pú-blicas vigente no Brasil sobre a temática edu-cação e saúde. As opiniões da professora e dascrianças mostraram que os procedimentos rea-lizados podem ser replicados em outras sériese/ou escolas.

REFERÊNCIAS

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2 Brasil. Ministério da Saúde. Organização Pan-americana da Saúde. Escolas promotoras dasaúde: experiências no Brasil. Brasília: Minis-tério da Saúde; 2006.

3 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria deAtenção à Saúde. Departamento de AtençãoBásica. Saúde na escola. Brasília: Ministérioda Saúde; 2009.

4 Mattos IE. Morbidades por causas externasem crianças de 0 a 12 anos: uma análise dosregistros de atendimento de um hospital doRio de Janeiro. Inf. Epidem. SUS. 2001; 10(4):189-98.

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6 Filócomo FRF, Harada MJCS, Silva, CV, Pedrei-ra, MLG. Estudo dos acidentes na infância emum pronto-socorro pediátrico. Rev. Latino-AmEnfermagem. 2002; 10(1): 41-7.

7 MALTA, D. C.; MASCARENHAS, M. D. M.;BERNAL, R. T. I.; VIEGAS, A. P. B.; SÁ, N. N. B.;SILVA JÚNIOR, J. B. Acidentes e violência nainfância: evidências do inquérito sobre aten-dimentos de emergência por causas exter-nas- Brasil, 2009. Ciência e Saúde Coletiva.2013; 17 (9): 2247-9.

8 Unglert CVS, Siqueira AAF, Carvalho G A. Ca-racterísticas epidemiológicas dos acidentesna infância. Rev. Saúde Pública. 1987; 21(3):234-43.

9 Pickett GE, Campos-Benitez M, Keller JL,Duggal N. Epidemiology of Traumatic SpinalCord Injury in Canada. Spine J. 2006; 31(7):799-805.

10 Amaral JJF, Paixão AC. Estratégias de preven-ção de acidentes na criança e no adolescen-te. Rev Pediatria. 2007; 8(2): 66-72.

11 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ges-tão Estratégica e Participativa. Departamen-to de Monitoramento e Avaliação da Gestãodo SUS. Prevenção de violências e promoçãoda cultura da paz. Painel Indicadores SUS“Promoção da Saúde”. 2009; 6: 38-39.

12 Câmara Municipal de Marília. Lei nº. 6.435 de23 de junho de 2006. Autoriza o executivo acriar o Programa “Criança em Segurança” des-tinado à promoção de ações voltadas à pre-venção de lesões não intencionais em crian-ças. Câmara Municipal de Marília. Marília,2007. Disponível em: <http://www.camar.sp.gov.br/>. Acesso em 21nov.2011.

13 Câmara Municipal de Marília. Lei n. 6.508 de05 de janeiro de 2007. Institui, no municípiode Marília, o Projeto semestral de prevençãoaos acidentes que vitimam crianças. CâmaraMunicipal de Marília. Marília, 2006. Disponívelem: <http://www.camar.sp.gov.br/>. Acessoem 21 nov.2011.

14 Brasil. Lei nº. 8.069 de 13 de julho de 1990.Dispõe sobre o Estatuto da criança e do ado-lescente e dá outras providências. Diário Ofi-cial da União. Brasília. 1990. Disponível em<http://www010.dataprev.gov.br/sislex/pa-ginas/33/1990/8069.htm>. Acesso em 22nov. 2011.

15 Brasil. Constituição da República do Brasil.Brasília: Senado; 1988.

16 Brasil. Lei nº. 8.080 de 19 de setembro de1990. Dispõe sobre as condições para a pro-moção, proteção e recuperação da saúde, aorganização e o funcionamento dos serviçoscorrespondentes e dá outras providências.Diário Oficial da União. Brasília, 1990. Dispo-nível em <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1990/8080.htm>. Acessoem 22 nov. 2011.

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17 Brasil. Portaria GM/MS nº. 737 de 18 de maio de2001. Política nacional de redução damorbimortalidade por acidentes e violências. Diá-rio Oficial da União, Brasília, n.96, seção 1e, 2001.

18. Othman N, Kendrick D. Epidemiology of burninjurires in the East Mediterrnean Region: asystematic review. BMC Public Health. 2010;10(83). Disponível em: http://www.biomedcentral. com/1471-2458/10/83

19. Flavin MP, Dostaler SM, Simpason K, BrisonRJ, Pickett W. Stages of development andinjury patterns in the early years: apopulation-based analysis. BMC PublicHealth. 2006; 6(187). Disponível em: http://www.biomedcentral.com/1471-2458/6/187.

20 Cordazzo STD, Vieira ML, Almeida AMT. Brin-cadeiras de crianças brasileiras e portugue-sas no contexto escolar. Revista Brasileira deCrescimento e Desenvolvimento Humano.2013; 22(1): 1-13.

21 Gonçalves FD, Catrib AMF, Vieira, NFC, VieiraLJES. A promoção da saúde na educação in-fantil. Rev. Interface. 2008; 12(24): 181-92.

22 Czeresnia D. O conceito de saúde e a dife-rença entre prevenção e promoção. In:Czeresnia D, Freitas CM. Promoção da saú-

de: conceitos, reflexões, tendências. Rio deJaneiro: Fiocruz; 2003. p. 39-54.

23 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ges-tão do Trabalho e da Educação na Saúde. De-partamento de Gestão da Educação na Saú-de. A educação que produz saúde. Brasília:Ministério da Saúde; 2005.

24 Cardoso V, Reis AP, Iervolino AS. Escolas pro-motoras de saúde. Revista Brasileira de Cres-cimento e Desenvolvimento Humano. 2008;18(2): 107-115.

25 Paes CEN, Gaspar VLV. As injúrias não inten-cionais no ambiente domiciliar: a casa segu-ra. J Pediatria. 2005; 81(5): 146-54.

26 Brasil. Portaria nº. 227 de 9 de setembro de2011. Estabelece o mecanismo de repassefinanceiro do Fundo Nacional de Saúde aosFundos Estaduais, Municipais e do Distrito Fe-deral, por meio do piso variável de vigilânciae promoção da saúde, para implantação, im-plementação e fortalecimento da política na-cional de promoção da saúde, com o objeti-vo de fomentar ações de vigilância, prevençãoe redução das violências e acidentes e pro-moção da saúde e cultura da paz para o anode 2011. Diário Oficial da União, Brasília, 2011.