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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 71 suficientes para as unirem, outros diziam que esse método era demasiado frágil para a fortaleza, que a madeira do forte tinha que ser unida com pregos. Até que alguém se lembrou dos estranhos minerais encontrados no escoadouro, e comentou que esses minérios poderiam ser usados para fabricar pregos. Logo um grupo de animais entrou no túnel que atravessava a quinta para trazer esses minerais, e estes regressaram com as patas carregadas deles. Foi identificado como sendo minério de ferro, ou seja, o escoadouro tinha jazidas de ferro prontas a explorar, que seriam úteis depois do fim da guerra. E logo se descobriu uma utilidade para esse minério: cortando o mineral com um arado ou uma foice na forma desejada, podiam-se obter pregos. Agora, parecia não haver obstáculos à construção de um forte na Quinta da Confusão. Mas, na verdade, faltava ainda uma coisa importante: o projecto. Os animais não tinham nenhum instrumento para escrever nem nenhum sítio onde o fazer. Todavia, um deles conseguiu resolver esse problema, riscando uma tábua de madeira com a ponta de uma foice. Usando-se as réguas do antigo celeiro, poder-se-iam fazer os desenhos à escala de cada lado da construção. Um grupo de 10 animais ofereceu-se para fazer o projecto. Então, enquanto os companheiros fabricavam pregos e tábuas de madeira, esses 10 animais desenharam em algumas tábuas a nova fortaleza da Quinta da Confusão, que foi baptizada de abrigo nocturno. A construção teria 10 metros de lado e 5 de altura, com 2 andares. Haveriam duas janelas por parede e por andar, sendo que a única porta do abrigo nocturno ficaria no lado norte do edifício. Quanto à capacidade, estava previsto a fortaleza poder abrigar 300 animais, 150 por andar. Não haveriam guaritas, o forte em caso de ataque seria um paralelepípedo fechado com várias dezenas de animais no seu interior, juntamente com comida e água, e duas lanternas penduradas no tecto de cada andar para os iluminar. O objectivo era fazer os funcionários esperarem tanto tempo lá fora que desistissem do ataque. Para evitar que estes conseguissem arrombar as paredes, estas tinham 5 cm de espessura, com trancas da mesma espessura a fechar as janelas e a porta. Ilustração 7 – Projecto da parede norte do Abrigo Nocturno da Quinta da Confusão, sessão do rés-do-chão.

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Parte XV de «O nascimento de um império»

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Page 1: Parte XV

Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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suficientes para as unirem, outros diziam que esse método era demasiado frágil para a fortaleza, que a madeira do forte tinha que ser unida com pregos. Até que alguém se lembrou dos estranhos minerais encontrados no escoadouro, e comentou que esses minérios poderiam ser usados para fabricar pregos.

Logo um grupo de animais entrou no túnel que atravessava a quinta para trazer esses minerais, e estes regressaram com as patas carregadas deles. Foi identificado como sendo minério de ferro, ou seja, o escoadouro tinha jazidas de ferro prontas a explorar, que seriam úteis depois do fim da guerra. E logo se descobriu uma utilidade para esse minério: cortando o mineral com um arado ou uma foice na forma desejada, podiam-se obter pregos. Agora, parecia não haver obstáculos à construção de um forte na Quinta da Confusão. Mas, na verdade, faltava ainda uma coisa importante: o projecto. Os animais não tinham nenhum instrumento para escrever nem nenhum sítio onde o fazer. Todavia, um deles conseguiu resolver esse problema, riscando uma tábua de madeira com a ponta de uma foice. Usando-se as réguas do antigo celeiro, poder-se-iam fazer os desenhos à escala de cada lado da construção. Um grupo de 10 animais ofereceu-se para fazer o projecto. Então, enquanto os companheiros fabricavam pregos e tábuas de madeira, esses 10 animais desenharam em algumas tábuas a nova fortaleza da Quinta da Confusão, que foi baptizada de abrigo nocturno. A construção teria 10 metros de lado e 5 de altura, com 2 andares. Haveriam duas janelas por parede e por andar, sendo que a única porta do abrigo nocturno ficaria no lado norte do edifício. Quanto à capacidade, estava previsto a fortaleza poder abrigar 300 animais, 150 por andar. Não haveriam guaritas, o forte em caso de ataque seria um paralelepípedo fechado com várias dezenas de animais no seu interior, juntamente com comida e água, e duas lanternas penduradas no tecto de cada andar para os iluminar. O objectivo era fazer os funcionários esperarem tanto tempo lá fora que desistissem do ataque. Para evitar que estes conseguissem arrombar as paredes, estas tinham 5 cm de espessura, com trancas da mesma espessura a fechar as janelas e a porta.

Ilustração 7 – Projecto da parede norte do Abrigo Nocturno da Quinta

da Confusão, sessão do rés-do-chão.

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Os 10 animais que fizeram o projecto do abrigo nocturno desenharam-no tão bem, de tal forma não deixaram nenhum aspecto de fora, que foram considerados pelos outros animais como os primeiros cientistas da Quinta da Confusão, animais intelectuais que fizessem progredir a tecnologia e projectassem as grandes obras da quinta. Mas os 250 animais sabiam que os funcionários poderiam atacar a qualquer momento, e por isso começaram a construção. Escolheram o ponto central da metade direita da Quinta da Confusão, a 250 metros da ribeira, para construírem o abrigo, limparam a neve e as pedras do espaço e começaram a escavar buracos para porem os alicerces. Estes eram 8 cilindros de madeira com 5 metros de comprimento e 20 cm de espessura, que se meteriam nos buracos. Depois, o chão do abrigo seria montado em cima deles e pregado ao seu topo. Metade dos alicerces já estava pronta. O resto ainda estava a ser feito: cortavam-se grandes árvores, tirava-se-lhe a casca e a copa e por fim raspava-se o interior, até se obter um cilindro liso com 5 metros de comprimento e 20 cm de espessura. Não havia qualquer previsão para o fim da construção da fortaleza, mas os animais sabiam que quanto mais cedo acabassem, melhor.

18:30 Habitantes: 195

Duas horas e meia após o começo da construção do abrigo nocturno, os animais conseguiram acabar o rés-do-chão da fortaleza. Até tinham as escadas para o andar superior, que ainda não passava do tecto do edifício.

Índice de Tecnologia:

Militar -0 Transportes-1 (Aéreos-0) (Marítimos -0) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -3 (arado, foice, madeira, caixa de madeira) Construções-2 (estufas, abrigo nocturno)

A noite caíra durante a construção, mas por sorte havia luar. Os 10 cientistas que projectaram o abrigo nocturno, quando os companheiros deram por terminado o rés-do-chão do edifício, foram então ver se tudo estava em ordem, se a fortaleza estava suficientemente bem construída para abrigar 300 animais no seu interior. Mas, antes de entrarem no edifício, ouviu-se uma série de motores ao longe e, na outra margem da ribeira, acenderam-se vários faróis. Os funcionários tinham acabado as reparações dos seus veículos, e juntamente com os donos estavam agora a caminho da

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outra margem para capturarem os animais. Os camiões e as carrinhas estavam muito longe dos animais para serem vistos por eles, mas quando as luzes que se viam na outra margem começaram a avançar para norte os animais perceberam que os veículos estavam em movimento. Então, quatro deles entraram nos dois camiões ainda à disposição dos animais, e avançaram rumo à frota inimiga. Eles sabiam que, com apenas dois camiões, nada mais podiam fazer do que atrasar a chegada dos funcionários. Por isso mesmo, disseram aos companheiros para fugirem enquanto era tempo. Uns nadaram até à outra margem da ribeira, outros esconderam-se nas árvores, nas construções da quinta ou no túnel. Mas a nova fortaleza, o abrigo nocturno, recebeu 55 animais. Estes fecharam a porta e as janelas e trancaram-nas com trancas de 5 cm de espessura. Depois, acenderam as duas lanternas do tecto e aguardaram que tudo passasse. Quase 1 km para norte, os dois camiões guiados pelos companheiros alcançaram os veículos inimigos, iniciando-se a 2ª Batalha da Nascente da Ribeira. Quatro camiões foram destacados pelos donos para atacarem os inimigos e os manterem longe da restante frota, para que esta pudesse avançar sem problemas e alcançar a metade direita da quinta. Os animais bem tentaram lutar, mas os seus camiões tinham sido danificados na batalha anterior e, ao contrário dos veículos inimigos, não tinham tido quaisquer reparações. Ainda conseguiram atacar a frota que passava pela nascente da ribeira, abalroando e imobilizando 5 carrinhas, e fizeram cair de lado mais 1 camião atacante. Mas os problemas mecânicos ditaram a sorte dos veículos: avariaram junto à ribeira depois das pancadas dos camiões inimigos. Apesar de tudo os seus ocupantes conseguiram escapar, mergulhando na ribeira e desaparecendo na noite. Dessa vez, os donos tinham triunfado.

2ª Batalha da Nascente da Ribeira

• Data: 18:30 – 18:35 do Dia 3 • Local: Nascente da ribeira • Resultado: Vitória dos donos, início da 2ª Batalha da Quinta da

Confusão • Combatentes: Donos X Animais • Forças: Donos – 4 camiões, 8 funcionários; Animais – 2

camiões, 4 animais • Líderes: Donos – Afonso Gomes e Aníbal Gomes; Animais -

Nenhum • Baixas: Donos – 1 camião, 5 carrinhas; Animais – 2 camiões

(todos)

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Mal os funcionários chegaram ao território ocupado pelos animais até poucos minutos atrás, dirigiram-se logo ao abrigo nocturno, porque como este estava fechado era sinal de que havia alguém lá dentro. Os 55 animais barricados no abrigo nocturno perceberam, pelo ruído dos motores, que os funcionários estavam próximos, e não fizeram um único ruído para que se pensasse que o abrigo estava vazio. Mas isso não os salvou da captura. Os funcionários já esperavam que a porta estivesse trancada, portanto usaram uma das suas carrinhas para a forçar a abrir. Quando a tranca cedeu, os animais perceberam que estavam perdidos. Tentaram subir ao primeiro andar, que ainda não passava do tecto do abrigo nocturno, mas a construção estava cercada pelos funcionários. Os 55 animais foram então apanhados, e distribuídos por 3 dos camiões inimigos. Depois, os funcionários tentaram andar pela zona em busca de mais animais, mas não apanharam nenhum. Os que se esconderam na zona tinham visto a invasão do abrigo nocturno, e trataram de fugir para ainda mais longe. Como já era noite, e os animais não se recordavam de ter havido capturas nocturnas na Quinta da Confusão, estes achavam que os funcionários se iriam embora. Infelizmente, estavam errados. Eles tiraram tendas e outros equipamentos das carrinhas, passaram pela nascente da ribeira para recolherem as que estavam nas carrinhas avariadas e, por fim, cada grupo de funcionários acampou, com a permissão dos donos, onde achou melhor. O resultado foi a Quinta da Confusão ficar coberta de acampamentos (eram 16), que tanto podiam ter 6 como 50 funcionários cada. Os animais chamavam-lhes aldeias de perigo, pois de facto ficaram em perigo com a instalação de tantos acampamentos. Para onde quer que olhassem, viam sempre uma ou mais fogueiras, sinal de que ali estavam aldeias de perigo. Nas mais pequenas, havia uma única fogueira e as tendas formavam um círculo à volta dela. Nas maiores haviam várias fogueiras, e as tendas estavam alinhadas como casas numa rua. A maior aldeia de perigo da quinta tinha 50 funcionários e 25 tendas (cada tenda tinha 2 funcionários), e ocupava o abrigo nocturno, que deveria ser a fortaleza dos animais. Era um jogo do gato e do rato, entre os funcionários e os animais, em que ninguém sabia qual seria o vencedor. O jogo tinha nome, era a 2ª Batalha da Quinta da Confusão.

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Ilustração 8 – Mapa da Quinta da Confusão no final do Dia 3, com as

suas 16 aldeias de perigo. Legenda: Castanho – Casa dos donos; Azul

claro – 6-8 funcionários (6 aldeias); Azul-escuro – 10-18 funcionários (4

aldeias); Verde – 20-28 funcionários (2 aldeias); Amarelo – 30-38

funcionários (1 aldeia); Laranja – 40-48 funcionários (2 aldeias);

Vermelho – 50 funcionários (abrigo nocturno)

Os funcionários estavam em vantagem nessa batalha. Eram mais do que os animais, e tinham melhores armas. Cada aldeia de perigo mantinha funcionários a patrulhar à volta do acampamento, e sempre que estes encontravam animais anestesiavam-nos com dardos tranquilizantes. Depois, era só arrastá-los até às tendas e mantê-los lá até de manhã, quando fosse levados para Bragança. Mas os animais também tinham as suas defesas. Ao contrário dos funcionários, que tinham acampamentos com fogueiras que se viam ao longe, os animais podiam passar incógnitos a escassas dezenas de metros das aldeias de perigo, rastejando pela neve. Andavam pela quinta a pares ou em grupos de 3 a 5 animais, comiam onde encontrassem ervas, dormitavam uns minutos onde quer que fosse (nunca eram todos ao mesmo tempo, alguém ficava a vigiar) e tentavam atacar os funcionários. Tal como as patrulhas tentavam apanhar animais desprevenidos, também estes tentavam atacar funcionários distraídos (ao contrário dos animais, patrulhavam o terreno sozinhos). Tiravam a espingarda do inimigo e anestesiavam-no. Depois, deixavam-no ali e continuavam a andar, com a arma do funcionário atacado. Qualquer um, funcionário ou animal, podia ser atacado sem aviso, e todos eles sabiam bem isso. Aquela noite iria ser longa…

20:00 Habitantes: 185

Um dos grupos de animais que vagueava pela Quinta da Confusão sem destino certo, procurando apenas não ser capturado, chegou a uma aldeia de perigo com 8 funcionários, no sudeste da quinta. Os 3 animais que compunham o grupo deitaram-se no chão e rastejaram para detrás de uma das 4 tendas, observando os funcionários. Estes estavam sentados a jantar, comendo comida enlatada com talheres e tabuleiros de plástico, apoiados nos joelhos. Os animais acharam que, enquanto aqueles funcionários estivessem a comer, não representariam grande perigo, e prepararam-se para ir embora. Um deles, todavia, reparou num pormenor: os funcionários estavam desarmados. Eles, para jantar, tinham cometido a imprudência de deixarem as espingardas tranquilizantes e as cordas dentro das tendas. E os animais aproveitaram-se disso. Bastou-lhes espreitar para dentro das tendas para verem as armas, pelo que cada animal tirou uma espingarda de uma