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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 91 14:30 Três cientistas repararam no barco a remos dos donos, um veículo que os animais ainda não tinham visto depois de se tornarem racionais. Os donos, naquele veículo parecido com as carroças que os animais tinham, tinham conseguido atravessar a ribeira sem sequer se molharem, ao contrário deles que tinham de nadar nas águas geladas. Decidiram copiá-lo, e quando completaram o barco lançaram-no à água. O veículo, de 2 metros de comprimento, 1 de largura e 25 cm de calado, funcionava na perfeição, dando assim o primeiro transporte marítimo à Quinta da Confusão: o barco a remos de Modelo 1. Índice de Tecnologia: Militar-1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos-1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil-6 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos) Construções-2 (estufas, abrigo nocturno) O barco era revolucionário, pois permitia não só transportar animais como também mercadorias pela ribeira, sem sequer se molharem (até ali só se podia levar alguns objectos leves através da ribeira, pois a travessia era a nado). Alguns animais viram os cientistas a fazer o barco, e tentaram logo imitá-los para terem em sua pose o novo meio de transporte da quinta. Mas o que não foi imitado foram os testes ao barco de Modelo 1: velocidade, peso e lotação máxima. Chegou-se à conclusão de que: Com bons remadores, o barco poderia alcançar os 10 km\h; A lotação máxima era de 5 animais; O peso máximo que o barco podia transportar, ocupantes e mercadoria, era de 500 kg Os estudos foram divulgados, mas nada diminuiu a popularidade do Modelo 1, como foi chamado, pois os animais queriam poder atravessar a ribeira com mercadorias sem terem que nadar nas águas geladas. Ao fim de pouco tempo já havia mais de 20 barcos a navegar na ribeira, e vários outros animais fabricavam os seus. Os cientistas que projectaram a feira acabaram por decidir alterar o projecto, para que se pudesse aceder à construção de barco. Pegaram em novas tábuas de madeira, em foices e réguas e começaram a desenhar as suas propostas. De todas elas foi

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Parte XIX de «O nascimento de um império»

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Page 1: Parte XIX

Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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14:30 Três cientistas repararam no barco a remos dos donos, um veículo que

os animais ainda não tinham visto depois de se tornarem racionais. Os donos, naquele veículo parecido com as carroças que os animais tinham, tinham conseguido atravessar a ribeira sem sequer se molharem, ao contrário deles que tinham de nadar nas águas geladas. Decidiram copiá-lo, e quando completaram o barco lançaram-no à água. O veículo, de 2 metros de comprimento, 1 de largura e 25 cm de calado, funcionava na perfeição, dando assim o primeiro transporte marítimo à Quinta da Confusão: o barco a remos de Modelo 1.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -6 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos) Construções-2 (estufas, abrigo nocturno)

O barco era revolucionário, pois permitia não só transportar animais como também mercadorias pela ribeira, sem sequer se molharem (até ali só se podia levar alguns objectos leves através da ribeira, pois a travessia era a nado). Alguns animais viram os cientistas a fazer o barco, e tentaram logo imitá-los para terem em sua pose o novo meio de transporte da quinta. Mas o que não foi imitado foram os testes ao barco de Modelo 1: velocidade, peso e lotação máxima. Chegou-se à conclusão de que:

• Com bons remadores, o barco poderia alcançar os 10 km\h; • A lotação máxima era de 5 animais; • O peso máximo que o barco podia transportar, ocupantes e

mercadoria, era de 500 kg

Os estudos foram divulgados, mas nada diminuiu a popularidade do Modelo 1, como foi chamado, pois os animais queriam poder atravessar a ribeira com mercadorias sem terem que nadar nas águas geladas. Ao fim de pouco tempo já havia mais de 20 barcos a navegar na ribeira, e vários outros animais fabricavam os seus. Os cientistas que projectaram a feira acabaram por decidir alterar o projecto, para que se pudesse aceder à construção de barco. Pegaram em novas tábuas de madeira, em foices e réguas e começaram a desenhar as suas propostas. De todas elas foi

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escolhida uma, que consistia no seguinte: um espaço no armazém, junto à ribeira, com 7 metros de comprimento, 2 de largura e 1 de profundidade. De metro em metro haveria uma plataforma de madeira com o comprimento igual à largura do cais, para o embarque e desembarque. No resto do espaço ficariam os barcos, num total de 5. Para facilitar o atracar, haveria dois postes de madeira à frente de cada espaço destinado a barcos, para se amarrarem as cordas que prendiam o barco a terra.

Ilustração 11 – Planta do armazém da feira da Quinta da Confusão no

Dia 4. Legenda: Verde – Espaço para mercadorias; Azul-escuro – Cais

do armazém; Amarelo – Plataformas de embarque; Vermelho – Postes

de madeira para amarrar barcos; Castanho – Corredor para a feira

Como o armazém estava encostado à ribeira, bastaria escavar o cais para este ter ligação ao curso de água. Assim, alguns dos animais que estavam a fazer o armazém seguiram as orientações dos cientistas para escavar um buraco no lugar do cais, com as suas medidas. Os donos foram também chamados para escavar e, depois de se terem tirado as tábuas do sítio onde ficaria o cais (no projecto original aquele lugar teria só chão), começaram a escavar, tendo como instrumentos apenas as mãos. O esforço que tinham feito naquela obra tinha espantado os animais, que imaginavam os donos como pessoas que nada mais faziam do que ver televisão; ajudar os funcionários a prender os animais quando estes vinham à Quinta da Confusão; ir na carrinha a Carrazeda de Ansiães, ao Porto ou a Bragança; e de vez em quando caçar na quinta com os colegas do clube de caça a que pertenciam. Obviamente que os donos faziam mais do que isso, tinham

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uma vida mais activa. Na verdade, iam duas vezes por semana à sede do clube de caça a que pertenciam, a Sociedade de Caça de Carrazeda de Ansiães8, para fazer diversas actividades, como passeios a pé e de bicicleta pelas montanhas transmontanas; tiro ao alvo; exercício físico no ginásio do clube (tinham inclusive uma pequena piscina, tudo devido à riqueza dos membros do clube, que possuíam terrenos e que enriqueciam de forma semelhante, ou não, à dos donos); e ainda uma actividade com mais risco: montar cavalos selvagens e aguentar o máximo de tempo possível em cima deles. Os membros do clube iam, por vezes, ao campo em busca de cavalos selvagens e, sempre que os viam, apanhavam-nos com cordas. Depois, um dos membros montava o cavalo e aguentava o máximo de tempo em cima dele enquanto o animal se tentava livrar do seu «cavaleiro», até este se cansar ou até a pessoa cair. Os donos eram dos melhores do clube nessa actividade. Foi isso que os donos explicaram aos animais perante o seu espanto devido ao grande trabalho dos dois Gomes no estaleiro, que faziam muito mais do que aquilo que os animais pensavam. Se não tinham ido ao clube nos últimos dias era porque este estava fechado por causa do Natal e do Ano Novo, mas no dia seguinte já lá iriam. Um dos animais comentou: «Ah, então nós estávamos quase certos! Fora as idas ao clube, os senhores continuam a não fazer rigorosamente nada a não ser ver televisão e pouco mais». Os donos não tiveram palavras para responder.

Depois de se escavar o buraco com as dimensões pretendidas, sendo que à medida que se ia escavando a água ia invadindo o espaço, o futuro cais foi selado com uma placa de madeira com o seu comprimento e um pouco mais do que a sua altura, para que pudesse ser esvaziado. O problema surgiu quando os animais começaram a tentar tirar os 14.000 litros de água do cais. Foi retirada uma parte da parede do armazém para que eles pudessem lançar a água para a ribeira com as patas, mas isso revelou-se uma tarefa muito demorada. Era necessário um instrumento para se poder esvaziar o cais mais rapidamente, algo que os animais não possuíam. Como os destroços do celeiro, onde eles encontravam várias coisas úteis, já tinham sido enterrados para se erguer a Casa da Moeda nesse local, os animais tiveram que pensar. Por fim, um cientista inventou o balde.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas)

8 Clube fictício.

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Civil -7 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde) Construções-2 (estufas, abrigo nocturno)

Mal tomaram conhecimento da invenção, os trabalhadores do cais do armazém fizeram também os seus baldes, e rapidamente este ficou a seco. Então, como estava previsto, colocou-se madeira nas paredes e no fundo do cais, em toda a sua extensão. Por fim, retirou-se a placa de madeira que separava o cais da ribeira, e a sua água encheu-o em segundos. O espaço do cais estava acabado, mas faltava o resto. Construíram-se as quatro plataformas no armazém, e depois fixaram-nas à borda do cais. Para evitar que as plataformas cedessem quando alguém estivesse em cima delas, reforçaram-se as junções entre as plataformas e o armazém com madeira e pregos extra. Depois, colocaram-se os postes de madeira, dois para cada lugar, para os barcos que ali atracassem pudessem amarrar as suas cordas. Por último, fez-se uma placa de madeira suficientemente grande para fechar o cais, incluindo a abertura na parede para os barcos passarem, que se colocou por cima dessa mesma abertura. Havia duas cordas que estavam presas ao alto da placa, junto aos seus cantos, e que passavam por duas roldanas fixadas à parede. Quando a feira estava aberta, dois animais puxavam as cordas até se poder entrar no cais de barco, e atavam-nas aos postes mais próximos. Quando a feira encerrava, soltavam as cordas e deixavam a placa descair até bater no fundo do cais, fechando-o. Os donos não puderam deixar de admirar a inteligência dos seus animais, de tal forma que em casa diriam o seguinte sobre eles:

«Estes animais são trabalhadores, inteligentes, e sobretudo amam a liberdade e fazem tudo para a conseguir. O facto de serem animais não os impede de cultivarem largas parcelas da Quinta da Confusão. O facto de não terem formação intelectual não os impede de criarem novos instrumentos, cada vez mais avançados. O facto de não terem apoio de ninguém não os impede de explorarem os recursos da Quinta da Confusão e de erguerem edifícios cada vez maiores. O facto de terem tido a nossa hostilidade não os deteve, pelo contrário, só os fez trabalhar ainda mais. Em resumo: esta gente tem futuro. Sabe-se lá aonde irão ter, mas uma coisa é certa: só provam que o progresso, uma vez posto em marcha, é imparável. Pode-se abrandá-lo, mas detê-lo é impossível».

Ignorando as conclusões dos donos, os animais continuaram a trabalhar. O cais do armazém estava concluído e pronto a trabalhar, mas nenhuma das restantes obras da Quinta da Confusão estava terminada. A nova economia da quinta estava a ter um bom arranque, pois as produções de madeira e de ferro não podiam parar para fazer face ao consumo dos estaleiros. Os agricultores também trabalhavam, pois era preciso alimentar todos os habitantes da quinta. Podia dizer-se que, nessa altura do Dia 4, os estaleiros

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da Quinta da Confusão eram o centro da sua nova economia monetária, pois a maioria da produção industrial da quinta convergia para lá. Ironicamente, ainda não havia dinheiro em circulação. Os estaleiros recebiam os materiais de que precisavam grátis.

Durante as duas Batalhas da Nascente da Ribeira, dezenas de carrinhas e camiões haviam sido abandonados na nascente do curso de água, quer por terem avariado quer por terem caído de lado (no caso dos camiões) e não poderem erguer-se de novo. Quando os funcionários abandonaram a Quinta da Confusão, no final da II Guerra dos Animais, não se tinham dado ao trabalho de tentar rebocar um só veículo, por já estarem atrasados para irem cumprir outros serviços. Sendo assim, aparentemente os veículos iriam continuar onde estavam por algum tempo, até possivelmente os donos repararem neles e mandarem removê-los. Se isso não aconteceu foi porque o Matadouro do Porto, interessado em reaver os seus veículos, mandou uma empresa ir à Quinta da Confusão buscá-los. Os veículos dessa empresa encontraram-nos na nascente da ribeira. Então, endireitaram os que estavam caídos de lado através de correntes e alguns mecânicos fizeram uma revisão aos veículos. Os que não tinham conserto foram levados para a sucata, e os que podiam ser reparados foram levados para a oficina de Carrazeda de Ansiães. O Matadouro do Porto conseguiu reaver todos os seus 5 camiões, mas teve que substituir a carrinha atirada para o fundo do Rio Tua, por uma exactamente igual à anterior. Seriam nesses veículos que, no dia 6 de Janeiro, os protagonistas do filme «Matadouro: a História de um Industrial» seriam levados para a estreia do filme, adiada no dia 3 por falta de segurança. Quanto às empresas de captura e transporte de animais de Bragança, não tiveram tanta sorte. Recuperaram os seus camiões, mas nenhuma das carrinhas sobreviveu. Aliado ao facto de não terem conseguido trazer nenhum animal da Quinta da Confusão (o que por si mesmo já seria um grande prejuízo, por terem gasto combustível e munições à toa); de terem atrasado significativamente outros serviços que tinham que fazer; de terem perdido armas e de alguns dos funcionários terem adoecido devido ao frio nocturno de Trás-os-Montes (as empresas perdiam a sua força de trabalho, mas tinham que lhe continuar a pagar o salário), o saldo do mês de Janeiro de 2009, para essas empresas, foi bastante negativo. «Os animais da Quinta da Confusão são terríveis», disseram os seus directores quando souberam da situação.

16:00 Após 4 horas de trabalho, ficaram concluídas as obras da Quinta da

Confusão: a feira e a Casa da Moeda. A feira estava pronta a funcionar, com todas as suas estruturas concluídas, mas sem mercadorias ou dinheiro.