parte 7

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1. APLICAO DA LEI NO TEMPO.O PROBLEMA as leis sucedem-se no tempo, pois a cada passo o legislador modifica os regimes jurdicos. Tambm os factos e situaes jurdicas perduram no tempo, e quando estas nascem, vivem e morrem sobre o imprio da mesma lei no se suscitam problemas, mas por vezes um facto ou situao jurdica constitudo no passado prolongam-se no futuro, sendo abrangidos simultaneamente por um diploma legal antigo e por um novo.

Configura-se ento um problema de aplicao de leis no tempo quando se verificam cumulativamente trs requisitos existncia de duas leis que se sucedem no tempo, estabelecimento de regulamentaes jurdicas diferentes para a mesma situao por parte de uma e de outra lei, e verificao de um caso concreto que potencia a aplicao dessas leis e esta situao no se pode resolver por fora do princpio lex posterior derrogat legi priori (artigo 7). Nestas situaes, como proceder?Primeiro que tudo h que compreender que cabem ao Direito duas funes diferentes, e talvez seja da relao antinmica que entre elas se estabelece que resulta este problema:

- funo estabilizadora que procura garantir a continuidade da vida social e os direitos e expectativas legtimas das pessoas,

- funo dinamizadora e modeladora que ajusta a ordem estabelecida evoluo social e chega mesmo a promover esta evoluo num determinado sentido.

(- a funo dinamizadora e modeladora assume nos tempos hodiernos uma dimenso particular face s mudanas tecnolgicas e econmicas e s presses de uma sociedade pluralista que depende de um ordenamento jurdico aberto e dinmico que crie uma modificao e evoluo ordenada e gradativa da a notria proliferao de textos legislativos que por vezes cria conflitos no tempo, mas assim tem de ser quando a funo do legislador e do direito so de verdadeiros instrumentos de modelao da sociedade. - contudo, no se pode negar que a funo do direito essencialmente estabilizadora e ordenadora de condutas e de expectativas de conduta: a regra jurdica destina-se a orientar e determinar a conduta dos seus destinatrios, e como tal seria absurdo apreciar uma conduta em face de uma regra que ainda no existia ou vigorava aquando dessa conduta.

e necessrio respeitar a estabilidade das situaes jurdicas pois nada prejudica mais a funo social do direito do que a perda de confiana nas suas normas em consequncia da frustrao de expectativas legtimas nelas fundadas.

( da que, numa sntese entre as tendncias sociais e colectivistas que defendem a engenharia social e as tendncias democrticas e conservadoras que procuram imprimir estabilidade sociedade (porque necessrio transformar a realidade no sentido pretendido pelo Estado mas sem ferir as expectativas legtimas dos particulares), se afirme o princpio da no retroactividade que postula a aplicao a uma situao jurdica apenas das leis que estavam, no momento da sua criao, em contacto com ela, pois no justo condenar uma conduta luz de uma norma que ainda no estava em vigor.Na apreciao da retroactividade podem distinguir-se trs graus:

- grau mximo: aquela em que a lei nova se aplica a todas as relaes jurdicas passadas, no respeitando sequer as sentenas transitadas em julgado, as causas finitas ( gera a maior instabilidade.

- grau intermdio: aquela em que a lei nova respeita as causas finitas mas no se detm perante efeitos jurdicos j produzidos no passado que no tenham sido objecto e uma deciso judicial ou cobertas um ttulo equivalente ( pode conduzir desigualdade de situaes materialmente iguais.

- grau menor: aquela que respeita os efeitos de direito j produzidos pela situao jurdica sob a lei antiga ( a retroactividade de grau normal, admissvel segundo o artigo 12 nr. 1 do CC. O princpio da no retroactividade no assume foros de preceito constitucional, com a excepo:

- do direito penal (artigo 29 nr. 1, 3 e 4), onde:

- se probe a retroactividade em matria de leis penais incriminadoras ou agravadoras de penas e medidas de segurana,

- vigora at o princpio da retroactividade in mitius, de acordo com a qual as leis penais mais favorveis ao arguido tm fora retroactiva, para favorecer os particulares quando tal favor no ponha em causa a segurana jurdica (este princpio tende a alargar-se para alm do direito penal, a casos que favoream o cidado em relao ao poder poltico, leis confirmativas ou direito fiscal). - de leis restritivas de direitos, liberdades e garantias.

- de leis que ofendam o caso julgado (283 nr. 3)- de leis que criem impostos (103 nr. 3)

( fora destes domnios o legislador ordinrio no est constitucionalmente impedido de conferir retroactividade s leis que edita, salvo se atravs dessa retroactividade vier a violar direitos fundamentais constitucionalmente tutelados ou qualquer outro princpio ou garantia constitucional. AS SOLUES para resolver alguns dos problemas levantados pela aplicao da lei no tempo:

- por vezes uma LN resolve imediatamente os problemas da sua entrada em vigor mediante a consagrao de disposies transitrias adrede formuladas e com um mbito de vigncia temporal, que podem ter carcter formal quando se limitam a determinar qual das leis, a LA ou LN aplicvel a determinadas situaes de conflito, ou carcter material quando para uma situao de conflito estabelecem uma regulamentao prpria que no coincide nem com LA nem com a LN. - quando o legislador nada diz sobre a lei aplicvel a situaes de conflito o jurista ento remetido para o princpio da no retroactividade da lei, nos termos do artigo 12, e rege-se pelos critrios e normas de direito transitrio, que so os deduzidos deste princpio. CRITRIO DE DEFINIO DE RETROACTIVIDADE se a lei nada estabelece quanto sua aplicao no tempo h que encontrar uma forma de o fazer sem ferir o princpio de no retroactividade que vigora em todos os ramos do direito, pelo que cabe doutrina, lei e jurisprudncia apurar um critrio para definir a retroactividade e assim desenhar nitidamente a fronteira do mbito de competncia da LA e da LN. A definio de retroactividade foi objecto:

- da doutrina dos direitos adquiridos segundo a qual, para no ser retroactiva, a LN deveria respeitar os direitos adquiridos ( uma doutrina muito imprecisa e por isso posta de parte.

- da doutrina dos factos passados segundo a qual, para no ser retroactiva, a LN s se poderia aplicar a factos futuros, nunca a factos passados e aos seus efeitos. ( uma doutrina que, quando complementada com o princpio de aplicao imediata da LN a situaes em curso no momento do IV, a que tende a predominar. Contudo esta doutrina s seria totalmente exacta se a aplicao da LN a quaisquer factos passados antes do seu IV implicasse retroactividade, mas na verdade s o quando se aplica a factos constitutivos (modificativos ou extintivos) de situaes jurdicas verificados antes do seu IV. Surge ento: - a ideia mitigada da teoria do facto passado segundo a qual, para no ser retroactiva, a LN s no se pode aplicar a factos passados por ela prpria assumidas como factos constitutivos (modificativos ou extintivos) de situaes jurdicas. E caso se conclua que o facto constitutivo da situao jurdica se passou sob a vigncia da LN, torna-se esta a lei competente, podendo aplicar-se a factos passados que ela assume como meramente impeditivos ou desimpeditivos da validade ou admissibilidade da constituio da situao jurdica, questo essa que da sua exclusiva competncia. O que se determina a lei competente, no os factos a que cada lei se aplica, porque uma vez fixada a lei competente (aplicvel) cabe a esta definir o seu campo de aplicao. PRINCPIOS GERAIS E O ARTIGO 12 - este artigo, inspirado na doutrina do facto passado, que contm os princpios gerais sobre a aplicao da lei no tempo para todo o nosso ordenamento jurdico. ARTIGO 12

APLICAO DAS LEIS NO TEMPO. PRINCPIO GERAL.

1. A lei s dispe para o futuro; ainda que lhe seja atribuda eficcia retroactiva, presume-se que ficam ressalvados os efeitos j produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.

2. Quando a lei dispe sobre as condies de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dvida, que s visa os factos novos; mas, quando dispuser directamente sobre o contedo de certas relaes jurdicas, abstraindo dos factos que lhe deram origem, entender-se- que a lei abrange as prprias relaes j constitudas, que subsistam data da sua entrada em vigor.

O princpio geral de que a lei s dispe para o futuro (n 1)O CC adopta a teoria do facto passado e recusa a retroactividade de grau mximo ou intermdio, distinguindo entre dois tipos de leis: (n 2)- leis que dispem sobre os requisitos de validade substancial (idoneidade do sujeito, objecto e formao perfeita da vontade) ou formal (observncia da forma legalmente exigida) de quaisquer factos ou sobre os efeitos de quaisquer factos ( s so aplicveis a factos novos. (primeira parte sobre a constituio de SJ)

- leis que dispem sobre o contedo de certas relaes jurdicas (sobre os seus DeO) modelando-o sem olhar aos factos que deram origem a tal situao ( so aplicveis com fora imperativa s relaes e situaes jurdicas constitudas antes da LN mas subsistentes ou em curso data do seu IV. (segunda parte sobre contedo da SJ)- possibilidade implcita de leis que regulem o contedo das relaes jurdicas atendendo aos factos que lhes deram origem ( so aplicveis apenas de forma supletiva ou interpretativa, respeitando um eventual acordo das partes em sentido contrrio. (sobre o contedo da SJ. Acerca deste ponto ver tambm os estatutos dos contratos, frente)LEIS SOBRE PRAZOS E O ARTIGO 297 - quando surge uma LN que modifica a durao ou o momento de contagem de um prazo em curso, a questo da competncia da LN porque, tendo o decurso global do prazo o valor de um facto constitutivo (ou extintivo) de uma situao jurdica, se tal prazo ainda se achava em curso no momento de IV da LN, porque o facto constitutivo no se verifica no mbito da LA mas da LN, qual fica subordinado. ARTIGO 297

ALTERAO DE PRAZOS.

1. A lei que estabelecer, para qualquer efeito, um prazo mais curto do que o fixado na lei anterior tambm aplicvel aos prazos que j estiverem em curso, mas o prazo s se conta a partir da entrada em vigor da nova lei, a no ser que, segundo a lei antiga, falte menos tempo para o prazo se completar.

2. A lei que fixar um prazo mais longo igualmente aplicvel aos prazos que j estejam em curso, mas computar-se- neles todo o tempo decorrido desde o seu momento inicial.

3. A doutrina dos nmeros anteriores extensiva, na parte aplicvel, aos prazos fixados pelos tribunais ou por qualquer outra autoridade. Se a lei vier encurtar um prazo ou antecipar o momento a partir do qual o prazo se comea a contar) ( a LN aplica-se aos prazos em curso, mas o novo prazo s se conta a partir do seu IV, salvo quando segundo a LA faltava menos tempo para o prazo se completar (n1).Se a lei vier prolongar um prazo ou postcipar o momento a partir do qual o prazo se comea a contar ( a LN aplica-se aos prazos em curso, mas estes continuam a contar-se desde o seu momento inicial, e o tempo passado relevante (n2).- mas quando o decurso do tempo do prazo no representa um facto constitutivo mas um simples facto pressuposto (para reconhecimento de uma faculdade, fundamentao de uma presuno legal, acrscimo a um facto principal para que este se torne relevante e produza consequncias jurdicas) ( a LN aplica-se imediatamente, sem necessidade de fazer as acomodaes referidas no artigo. LEIS INTERPRETATIVAS E O ARTIGO 13 - tambm o artigo 13 consagra regras gerais de direito transitrio por estabelecer que a lei interpretativa se integra na lei interpretada, querendo com isto significar que nas leis interpretativas no h que aplicar o princpio da no retroactividade consignado no artigo 12, embora ressalva certas situaes. ARTIGO 13

APLICAO DAS LEIS NO TEMPO. LEIS INTERPRETATIVAS.

1. A lei interpretativa integra-se na lei interpretada, ficando salvos, porm, os efeitos j produzidos pelo cumprimento da obrigao, por sentena passada em julgado, por transaco ainda que no homologada, ou por actos de anloga natureza.

2. A desistncia e a confisso no homologadas pelo tribunal podem ser revogadas pelo desistente ou confitente a quem a lei interpretativa for favorvel.

Distino entre lei interpretativa e lei inovadora a lei interpretativa aquela que, num quadro de controvrsia gerado por uma regra jurdica incerta, vem definir uma soluo admissvel, que o prprio julgador ou intrprete poderia ter adoptado dentro dos limites de interpretao e aplicao da lei. Caso a lei fixe um sentido que o julgador o intrprete no se poderia sentir autorizado a adoptar por no ter correspondncia no texto a lei inovadora, e no pode aplicar-se retroactivamente porque fere expectativas legtimas. - realmente importante que a lei apenas fixe uma das interpretaes possveis da lei antiga com que os interessados podiam e deviam contar, porque desta forma a sua fora retroactiva no susceptvel de violar expectativas seguras e legitimamente fundadas, apenas uma retroactividade formal e no substancial. Alcance e limites da chamada retroactividade da lei interpretativa nos termos atrs definidos a lei interpretativa no substancialmente retroactiva, ou pelo menos s o na mesma medida em que o so as variaes na jurisprudncia quanto interpretao do direito. E a retroactividade formal da lei interpretativa no atinge os efeitos j produzidos pelo *nr. 1* porque nestes casos as situaes jurdicas que dantes eram duvidosas ou controvertidas foram j pacificadas por um ttulo que firmou a convico de se achar arrumado o assunto, sem possibilidade de uma reabertura que ferisse expectativas legtimas.LEIS CONFIRMATIVAS quando a LN vem aligeirar formalidades exigidas pela LA como requisitos de validade de certos negcios jurdicos ou admitir actos que pela LA eram inadmissveis, que sucede aos actos praticados sob o imprio da LA e por esta considerados nulos ou anulveis? Ficam convalidados pela entrada em vigor da LN mais permissiva?- a primeira parte do artigo 12 nr. 1 diz no fundo que a lei da validade ou invalidade de quaisquer factos a lei vigente ao tempo da prtica desse mesmo acto, o que uma resposta negativa.

- existem porm LN que contm disposies confirmativas dos actos anteriores, para facilitar o trfico jurdico ou reflectir uma mudana na concepo do legislador ( nestes casos os actos anteriormente invlidos ou controversos ficam expressamente confirmados.

- mas como proceder quando a LN mais liberal no contm essa disposio confirmativa?

- de acordo com a doutrina clssica e o artigo referido a confirmao pela LN seria contrria ao princpio da no retroactividade pelo que no se deve aceitar a figura da lei confirmativa tcita.

- por outro lado, o fundamento do princpio da no retroactividade garantir a estabilidade e a segurana jurdica, mas estas leis confirmativas estariam no fundo a reforar a estabilidade (porque afastariam as perturbaes causadas pela declarao de nulidade de actos que as mesmas partes logo poderiam celebrar validamente no dia seguinte), e o apego ao princpio da no retroactividade nestes termos parece apenas uma exigncia formalista e intil. Alm do mais, neste domnio considera-se que deve valer uma ideia de retroactividade in mitius que conduzisse aplicao da LN sempre que esta seja mais favorvel aos interesses do particular sem prejuzo do interesse de uma contraparte ou de terceiros.

ESTATUTO DO CONTRATO o estatuto contratual est submetido a regras transitrias bastante especficas em relao ao estatuto legal pois regulado pela lei vigente ao tempo da concluso do contrato (salvo quando alguma clusula do contrato conflitue com disposies da LN ditadas por razoes atinentes ao estatuto das pessoas ou dos bens), enquanto que os restantes domnios jurdicos esto sujeitos aplicao imediata da LN ( a razo desta especificidade o respeito pela autonomia privada, porque se o contrato um acto criado por um equilbrio de interesses acordado entre as partes tendo em conta o regime vigente, se este for alterado pelo legislador por em causa o equilbrio entre as partes e a segurana jurdica. De um modo geral:- o estatuto pessoal e o estatuto real esto sujeitos ao princpio da aplicao imediata da lei nova,

- o estatuto do contrato, nas partes que no entrem em conflito com regras imperativas dos estatutos pessoal e real, regulado pela lei vigente ao tempo da concluso do contrato,

- o estatuto sucessrio regido pela lei vigente ao tempo da abertura da sucesso.

2. APLICAO DA LEI NO TEMPO. Tal como as normas jurdicas vem o seu mbito de eficcia limitado pela fronteira temporal, tambm o vem limitado pelo factor espao: as normas jurdicas no podem ter a pretenso de regular factos que se passaram ou passam sem qualquer contacto com o Estado que as edita.

E tal como existem situaes jurdicas que se prolongam no tempo de tal forma que contactam com duas ou mais leis que se sucedem temporalmente, tambm existem situaes em contacto com mais de um ordenamento jurdico estadual.- surgem ento os conflitos de leis no espao, dirimidos mediante normas de conflitos que so normas sobre normas (artigos 14 a 65) e tambm aqui prevalece a ideia de que s se deve aplicar a uma situao jurdica as leis que estavam em contacto com esta.

PARTE VII APLICAO DA LEI NO TEMPO E NO ESPAO.

a questo determinao da competncia diz respeito ao problema da aplicabilidade de cada uma das leis da questo da determinao dos factos a abranger nas hipteses das normas que se refere ao problema da aplicao das normas das leis.

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