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Parte 5 Estado e industrialização Sessão 2 Reinaldo Gonçalves

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Parte 5Estado e industrialização

Sessão 2

Reinaldo Gonçalves

2

Sumário1. Estratégias de industrialização e desenvolvimento: razões

para intervenção

2. Estado e industrialização2.1 Grã-Bretanha2.2 Alemanha2.3 Estados Unidos2.4 Rússia

3. Estado e industrialização: países em desenvolvimento3.1 Modelo Centro-Periferia3.2 Substituição de importações: América Latina3.3 Export-led growth: Ásia3.4 Capitalismo monopolista de Estado: China

4. SínteseBibliografia

3

3. Estado e industrialização: países em desenvolvimento

3.1 Estado e industrialização em perspectiva histórica

3.2 Modelo Centro-Periferia

3.3 Substituição de importações: América Latina

3.4 Export-led growth: Ásia

3.5 Capitalismo monopolista de Estado: China

4

3.1 Estado e industrialização em perspectiva histórica (Gerschenkron, 1962)

Tese principal� industrialização em países retardatários ocorre de forma diferente

� velocidade (taxa de crescimento da produção industrial)

� estruturas produtivas e organizacionais� arranjos institucionais

Comparativamente ao modelo clássico: Grã-Bretanha

5

Quanto mais atrasado o país

� Maior a ênfase na produção de BK vis-à-visBC

� Maior ênfase na produção de bens intensivos em K vis-à-vis bens intensivos em L

� Maior a escala de produção e maiores as empresas

� Maior uso de tecnologias importadas vis-à-vis tecnologias domésticas

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Quanto mais atrasado o país, cont...

� Menor papel da agricultura como mercado para novas indústrias

� Maior ênfase no aumento de produtividade

� Maior o peso da ideologia que favorece a industrialização

� Maior a intervenção estatal na remoção dos obstáculos institucionais (bancos, escravidão, unificação política)

7

Exemplo: Industrialização na Rússia séc. XIX

� Início dependeu do fim das relações feudais em 1861

� Características específicas da sociedade russa� Escassez de recursos� Servidão� Inexistência de “cottage industries”

� Estado movido por interesses militares

� Estado: papel protagônico no processo de industrialização

8

3.2 Modelo Centro-Periferia: enfoques

� CEPAL: economias primário-exportadoras (Prebisch, 1949)� eixos estruturantes do pensamento cepalino 1950s, 1960s

� desemprego estrutural� deterioração dos termos de troca� desequilíbrio externo

� Dependência (Santos, 1970)

� Pobreza permanente – plantations e enclaves (Beckford, 1972)

� Desenvolvimento do subdesenvolvimento (Frank, 1967)

9

Centro versus Periferia

Centro

a. Homogêneas

b. Diversificadas

c. Manufaturados

d. Industrialização

e. Emprego

f. Equilíbrio BOP

g. ETs: excedente global

h. Instabilidade sistêmica

do capitalismo

i. Origem de crises e

transmissão

Periferiaa. Heterogêneas

b. Concentradas

c. Especialização:

commodities

d. Primário-exportadora

e. Desemprego estrutural

f. Déficit crônico BOP

g. ETs: transferências

h. Instabilidade específica

(TT e receita de X)

i. Vulnerabilidade externa

estrutural

10

E o modelo Centro-Periferia continua no século XXI: Exemplos recentes

a. Dependência em relação às

commodities

b. Instabilidade de preços

c. ETs: apropriação do excedente

d. Experiência brasileira: TT e CPI

11

a. Importância das commodities

(UNCTAD, 2008)

12

b. Instabilidade de preços: commodities vs manufaturados

(UNCTAD, 2008)

13

c. ETs: apropriação do excedente

(UNCTAD, 2008)

14

d. Brasil - Termos de troca e capacidade de importar: 1974-2008

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1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

Termos de troca - índice (média 2006 = 100)

Capacidade de importar (média 2006 = 100)

15

Termos de troca da economia brasileira em perspectiva histórica – tendência e volatilidade: 1901-1975

Brasil: Termos de troca 1901-1975 (índice 1995 = 100)

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1901

1905

1909

1913

1917

1921

1925

1929

1933

1937

1941

1945

1949

1953

1957

1961

1965

1969

1973

16

Exportação de commodities : problemas

1. baixa elasticidade-renda da demanda por produtos primários

2. elasticidade-preço da demanda desfavorável

3. Reduzida absorção dos benefícios do progresso técnico

4. estruturas de produção retrógradas –concentração / excedente / poder econômico

17

Exportação de produtos primários: problemas (cont.)

5. efeitos negativos: concentração da riqueza e da renda –grandes propriedades (vazamento / mercado interno débil)

6. restrição externa: commodities – volatilidade de preços / instabilidade da receita de exportação

7. transmissão internacional dos ciclos econômicos

8. maiores barreiras de acesso ao mercado internacional

18

Exportação de produtos primários: problemas (cont.)

9. escalada tarifária10. menor valor agregado11. dumping ambiental: custos e

riscos crescentes12. dumping social: custos e riscos

crescentes

19

3.3 Substituição de importações: América Latina

� Argumento da indústria nascente� Longo prazo

� Relembrando:

“os países atualmente desenvolvidos (PADs) recorreram a políticas industrial, comercial e tecnológica intervencionistas a fim de promover as indústrias nascentes”.

(Chang, 2006, p. 210)

20

Desenvolvimentismo: América Latina

Trinômio

� industrialização substitutiva de importações

� intervencionismo estatal

� nacionalismo

21

Influências intelectuais

� Grã-Bretanha nos séculos XVI (Henrique XVII e Elizabete I) e XVII (Robert Walpole)

� França no século XVII (Jean-Baptiste Colbert)

� Estados Unidos no final do século XVIII (Alexander Hamilton) e na primeira metade do século XIX (Henry C. Carey)

� Alemanha no século XIX (Friedrich List)

22

Nacional-desenvolvimentismo (ND): América Latina (1930-80)

� Ideologia do desenvolvimento econômico assentado na� Industrialização� Soberania

� Processo político� deslocar o poder econômico e político na direção da burguesia industrial

� em detrimento dos grandes proprietários de terras e recursos naturais

23

ND: Plano estratégico

Foco: crescimento econômico

� mudança da estrutura produtiva� industrialização substitutiva de importações

� redução da vulnerabilidade externa estrutural

24

ND e redução da vulnerabilidade externa estrutural: pilares

� alteração do padrão de comércio exterior� menor dependência em relação à exportação de commodities

� mudança na estrutura de importações� redução do coeficiente de penetração das importações industriais

� encurtamento do hiato tecnológico� fortalecimento do sistema nacional de inovações

� tratamento diferenciado para o capital estrangeiro� ausência de tratamento nacional via, por exemplo,

discriminação nas compras governamentais� restrição de acesso a determinados setores� imposição de critérios de desempenho� restrição na obtenção de incentivos governamentais

25

ND: plano da política econômica

� planejamento econômico

� política industrial pró-ativa� incentivos ao investimento privado na indústria de transformação� investimento estatal nos setores básicos� preferência revelada pelo capital privado nacional

� subordinação da política de estabilização macroeconômica àpolítica de desenvolvimento� política fiscal expansionista� juro real negativo� expansão de crédito seletivo� câmbio diferenciado

� política comercial protecionista

26

A. Argumento da indústria nascente

� A proteção gera resultados positivos no longo prazo

� Geração de vantagem comparativa� Setor específico� Dimensão temporal

� Vantagem comparativa dinâmica � Economias de aprendizado� Economias de escala

27

Economia aberta: equilíbrio

28

Economia fechada: tarifa proibitivaperda de bem-estar no curto prazo

29

Entretanto, no longo prazo ...

30

Economias de escala (Q) e economias de aprendizado (t)

31

B. ISI: Política comercial

� Importante instrumento� Pró-ativo: strategic trade policy e ISI� Impactos significativos

� Renda� Emprego� BOP� Distribuição� Desenvolvimentoetc

32

Protecionismo, indústria nascente nos países atualmente desenvolvidos (PADs)

(Chang, 2006, p. 114)

33

ISI: Pontos a favor

� Acumulação de capital

� Economias de escala

� Economias de aprendizado

� Vantagens comparativas dinâmicas (sequência)

� Necessária para romper com o modelo Centro-Periferia

� Upgrade do padrão de comércio

34

C. ISI: Problemas

� Ineficiência alocativa

� Ineficiência técnica

� Ineficiência sistêmica

� Reduzida geração de emprego

� Mercados: Baixa contestabilidade

� Concentração de riqueza e renda

35

ISI: problemas....

� Vulnerabilidade externa na esfera produtiva (ETs)

� Vulnerabilidade externa na esfera financeira (passivo externo)

� Estado “contaminado”

� Governança - seletividade: temporal e setorial/produto

� Inviabilidade técnica (tamanho do mercado) => integração regional

36

3.4 Export-led growth: Ásia

� Tigres e gansos: desde anos 1960s

� Coréia do Sul, Filipinas, Taiwn, Hong Kong, Malásia, Cingapura

� Razões do sucesso relativo� Dotação de fatores (LQ)� Estabilidade macroeconômica� Reforma financeira� Eficiência econômica (competitividade internacional)� Políticas governamentais (reformas, subsídios)� Razões políticas

37

ELG bem sucedida na origem

� Política internacional: acesso a mercados desenvolvidos: EUA, GB => enfrentaram menores barreiras que os países América Latina

� Políticas de governo� Reformas estruturais (terra)� Investimento em educação� Controle de salário real� Subsídios exportação� Acordos de investimento (garantias)

� Estado “não-contaminado”: stick and carrot

� Foco: competitividade internacional

� Sequência bem sucedida: ISI => ELG

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Sucesso: Fatos estilizados (Stiglitz, 1999)

� Estabilidade macroeconômica� Controle da inflação� Redução do déficit fiscal� Redução do déficit do BOP� Redução das flutuações da produção

� Crescimento sustentado no LP

39

Fatos estilizados, cont...

� Reforma financeira� Liberalização cum regulamentação

� Competição� setor substituidor de importações� setor exportador

� Privatização� Propriedade privada cum competição

40

Fatos estilizados, cont...

� Governo e mercado: complementaridade� Formação de capital humano� Transferência de tecnologia

� Governo eficiente� Reformas institucionais� Redução de rent seeking (busca de renda)

41

3.5 Capitalismo monopolista de Estado: China

� Excepcional dotação de fatores

� Taxa elevada de exploração L

� Investimento elevado: ∆K e ∆LQ

� Investimento em tecnologia

� Foco na competitividade internacional

� Sequência ISI → ELG

� Sobe escala de VC

42

Capitalismo monopolista de Estado na China, cont...

� Economia de escala� Políticas macroeconômicas adequadas

� Políticas pró-ativas: produção e comércio

� Financiamento adequado� Controles direto: 4 esferas

Capitalismo mais dinâmico: economia mista, planejamento e forte intervenção do Estado

43

Capitalismo monopolista de Estado

� Estado: força econômica significativa� Alocativa� Produtiva� Estabilizadora� Distributiva

� Estado diretamente envolvido na acumulação de capital, no progresso técnico e no controle do trabalho

� Grandes empresas e bancos

44

4. Síntese

Lições da história

� Forças sociais e econômicas (“mundo dos interesses”) mais determinantes do que o “mundo das ideias” (pensamento econômico)

� Pensamento econômico hegemônico vigente expressa interesses grupos dominantes

45

Estado, industrialização e comércio internacional: Visões e enfoques

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Experiências industriais comparadas

� Uso generalizado da intervenção governamental no início dos processos de industrialização� política comercial restritiva� políticas industriais� políticas de financiamento

� Questão-central: indústria nascente

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Tarifa média dos manufaturados, países selecionados

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1820 1875 1913 1925 1931 1950 2010

Alemanha Grã-Bretanha Estados Unidos

Fontes: Bairoch (1993, p. 4); Chang (2004, p. 36); WTO portal.

Política comercial

48

Política comercial: Evidência empírica (países

desenvolvidos - correlação positiva)(Tena-Junguito, 2009)

49

Política comercial: Evidência empírica, cont... (mundo - Correlação neutra)

50

Política comercial: Evidência empírica, cont... (América Latina - Correlação negativa)

51

Política industrial: incentivos

Intervenção governamental - incentivos: indústria e serviços

(% PIB)

1,21,4

2,1

1,6

1,9

1,2

2,6

1,7

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

França Alemanha Grã-Gretanha Estados Unidos

1979 1982

Fonte: Colletis, G. Aides publiques et structure productive. In: Arena et al, 1988, p. 858.

52

Modelo clássico de industrialização: GB

� Estado: intervenção no século XVIII

� Depois: perfil baixo� Modelo de vantagens comparativas� Elevada competitividade da GB

� Industrialização sequencial� Economia agrária (séc. XVIII) Bens de consumo duráveis (1830) → produtos intermediários → bens de capital (1870)

� Processo de industrialização: sobe a escala de VC

� Perfil alto do Estado: relações internacionais – Pax Britannica

Modelo GB: não pode ser generalizado

53

Alemanha: Estado - papel protagônico

� Estado prussiano: unificação política

� Expansão e integração do mercado interno

� Políticas estímulo investimento e comércio internacional

� Políticas protecionistas elevadas

� Investimento estatal significativo: infraestrutura

� Estado e construção das instituições� Capital financeiro (bancos + indústria)

� Modelo: indústria nascente� Foco: competitividade internacional

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Estados Unidos: Estado - papel protagônico

� Instrumento-chave da industrialização: protecionismo

� Integração regional: Guerra de Secessão (1860-65)

� Abolição da escravidão: ampliação do mercado interno

� Promoção de pesquisas agrícolas

� Financiamento de C&T

� Investimentos públicos

� Compras governamentais: indústria de defesa� Complexo industrial-militar

� Perfil alto do Estado: relações internacionais – Pax Americana

55

Países em desenvolvimento: Experiências diversas de ISI

� Países grandes vs países pequenos� Chances de sucesso variam

� Necessária para romper com o modelo Centro-Periferia

� Principal fonte de expansão de DA: absorção interna

� Papel protagônico do Estado� Planejamento� Empresas estatais� Financiamento� Alocação de recursos

56

ISI: problemas estruturais

� Ineficiência

� Mercados: Baixa contestabilidade

� Concentração de riqueza e renda

� Vulnerabilidade externa na esfera produtiva (ETs)

� Vulnerabilidade externa na esfera financeira (passivo externo)

� Estado “contaminado”

� Governança - seletividade: temporal e setorial/produto

� Inviabilidade técnica (tamanho do mercado) => integração regional

57

Capitalismo monopolista de Estado na China

Capitalismo mais dinâmico: economia mista, planejamento e forte intervenção do Estado

� Políticas macroeconômicas adequadas� Políticas pró-ativas: produção e comércio� Financiamento adequado� Controles direto: 4 esferas

58

Capitalismo monopolista de Estado

� Estado: força econômica significativa� Alocativa� Produtiva� Estabilizadora� Distributiva

� Estado diretamente envolvido na acumulação de capital, no progresso técnico e no controle do trabalho

� Grandes empresas e bancos

59

Bibliografia

� Chang, H-J., Chutando a Escada. A Estratégia do Desenvolvimento em Perspectiva Histórica. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

� Ballance, R. H., Absari, J. A, Singer, H. W. TheInternational Economy and Industrial Development: The Impact of Trade andDevelopment on the Third World. Londres: Wheatsheaf Books, 1982.

� Eshag, E. Fiscal and Monetary Policies andProblems in Developing Countries. Cambridge: CUP, 1983.

60

Cont,...

� Polany, K. A Grande Transformação. As origens da nossa época. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1980 (1944).

� Bairoch, P. Mythes et Paradoxes d l´HistoireÉconomique. Paris: La Découverte, 1999.

� Cano, W. América Latina: do Desenvolvimentismo ao Neoliberalismo. In: Fiori, J. L. (org.). Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

� Barbosa, W. do N. Relembrando a formação da CEPAL. Pesquisa & Debate. PUCSP, vol. 15, n. 2 (26), 2004, p. 176-199.

61

Obrigado!

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