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Parte 5 Estado e industrialização Sessão 1 Reinaldo Gonçalves

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Parte 5Estado e industrialização

Sessão 1

Reinaldo Gonçalves

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Sumário

1. Estratégias de industrialização e desenvolvimento: razões para intervenção

2. Estado e industrialização2.1 Grã-Bretanha2.2 Alemanha2.3 Estados Unidos2.4 Rússia

3. Estado e industrialização: países em desenvolvimento3.1 Modelo Centro-Periferia3.2 Substituição de importações: América Latina3.3 Export-led growth: Ásia3.4 Capitalismo monopolista de Estado: China

4. SínteseBibliografia

3

1. Estratégias de industrialização e

desenvolvimento: razões para intervenção

Visão clássica-neoclássica

Forças de mercado em regime de concorrência perfeita tendem, no longo prazo, a maximizar uso de recursos e sua eficiência alocativa de forma gerar o nível de bem-estar social ótimo (ótimo de Pareto).

Intervenção governamental éprejudicial

Visão crítica

Laissez-faire nem sempre garante níveis ótimos de investimento que é o determinante principal do crescimento econômico

O padrão de alocação de recursos via mecanismo de mercados raramente é o mais apropriado em termos de promoção do bem-estar.

Necessidade de intervenção governamental

4

Razões para a intervenção governamental

A. Reduzida eficácia do mecanismo de mercado

B. Distribuição desigual da rendaC. Divergência entre custos e

benefícios sociais e privadosD. Dinâmica de acumulação

5

A. Reduzida eficácia do mecanismo de mercado

Baixa mobilidade dos fatores: resposta dos fatores de produção aos sinais do mercado: lenta

� Baixa diversificação da produção� Baixa diversificação das competências (L)� Sistemas ineficientes de transporte e

desenvolvimento� Expectativa desfavorável quanto à durabilidade

dos incentivos via preços� Agricultura voltada para subsistência � Produção familiar: não-otimizadores� Rstrição de acesso a crédito

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B. Distribuição desigual da renda e da riqueza

Padrões de produção e investimento dependem da demanda final

� Concentração cria viés para produção e importação de produtos de luxo

� Baixo investimento em “basic needs”

� Vazamento de renda via contas externas: problema estrutural BOP

� Demanda de importados com baixa elasticidade-preço: menor grau de liberdade nas políticas de ajuste

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C. Divergência entre custos e benefícios sociais e privados

� Externalidades positivas e negativas� Uso de divisas� Efeito ambiental

� Quanto maior a diferença entre custos e benefícios (sociais e privados) maior a necessidade de intervenção governamental� Bens públicos

� Política de pleno emprego: mobilizar fatores com custo de oportunidade zero

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D. Dinâmica de acumulação

D. 1 Argumento da indústria nascente

� economias de escala e aprendizado� efeitos transbordamento (spill-overeffect)

=> Intervenção� Subsídios� Política comercial restritiva (MTs e MNTs)

9

Dinâmica de acumulação, cont...

D. 2 Argumento da Estabilidade� Concentração da produção (ex. commodites)

� Volatilidade de preços, produção e renda� Crise de BOP

=> intervenção governamental� diversificação da estrutura de produção e

comércio (Modelo Centro-Periferia)� Políticas: padrão de investimento

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Dinâmica de acumulação, cont...

D.3 Vulnerabilidade externa

� Esferas� Comercial� Produtiva� Tecnológica� Monetário-financeira

=> Intervenção governamentalmudanças de preços relativoscontroles diretos: produtos, fatores e ativos intangíveis

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2. Estado e industrialização em

países desenvolvidos

2.1 Grã-Bretanha

2.2 Alemanha

2.3 Estados Unidos

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2.1 Grã-Bretanha

� Smith e Ricardo: crítica à Escola Mercantilista

� Papel-chave divisão do trabalho e comércio internacional

� Smith interessado nas políticas governamentais

� GB (sécs. XVI e XVII): dominação do Estado sobre a sociedade civil era menor do que na Europa continental

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Estado e iniciativa privada

� Atividade econômica interna e externa (expansão colonial Américas): principalmente privada

� Políticas protecionistas: século XVII e início século XVIII

� Liberalização comercial a partir do final do século XVIII

� Estado: “low profile”� garantia o “exclusivo colonial”

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Século XVII (take-off)

� Grupo dominante: comerciantes (expansão colonial)

� Convergência de interesses de frações de classe (processo virtuoso): � exportação para colônias � progresso técnico � aumento da renda capitalistas (frações

mercantil e industrial) e dos proprietários de terra =>

� Financiamento da acumulação de capital

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Comércio triangular: pilar da industrialização e

do desenvolvimento (sécs. XVII e XVIII)

16

GB: Expansão colonial e Export-led growth

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Intervenção governamental

� Política comercial restritiva: séc. XVIII� Proibida a importação de produtos têxteis da

Ásia

� Início reversão protecionismo: 1774� Comércio de escravos: proibição 1807� Privilégios monopolistas da Companhia da

Índia Oriental: diminuiu em 1774� Abolidas as Corn Laws: 1846� Meados séc. XIX: adesão ao Liberalismo

18

GB: século XVIII

(Chang, 2006, p. 42)

19

Séculos XVII e XVIII

� Mudanças estruturais profundas� Estrutura da produção arícola� Progresso técnico

� Padrões de propriedade� Grandes empresas: setores comercial e

financeiro� Setor industrial: pequenas unidades –

artesãos

20

Séculos XVII e XVIII, cont...

� Smith (1776): teoria da vantagem absoluta� especialização� divisão internacional do trabalho

� Crítica ao mercantilismo

� Ausência de intervenção governamental: Rejeição� regulamentação� protecionismo

21

Tratado de Methuen, 1703

� Portugal concede tratamento preferencial para produtos britânicos em detrimento dos produtos da Alemanha e Holanda

� Triângulo de comércio: déficit de Portugal financiado com ouro do Brasil

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Século XIX: David Ricardo(On the Principles of Political Economy and Taxation, 1817)

Ricardo: intelectual orgânico da industrialização britânica assentada no liberalismo

Diretriz estratégica: livre comércio

23

Conceito-chave: vantagem comparativa

� Ricardo (1817): teoria da vantagem comparativa: livre comércio� Especialização� Aumento da renda� Evitar efeito dos rendimentos decrescentes da

terra (elevação dos preços dos produtos agrícolas)

� Reduzir pressão sobre salário real� Elevar eficiência alocativa� Aumentar lucros� Estimular acumulação de capital

24

25

2.2 Alemanha

� Mercantilismo: forte influência na Alemanha desde século XVII

� Estado: papel central convergência dos interesses nacionais (econômicos, privados) com os interesses do próprio Estado

� Início século XVIII: alguns principados da Alemanha já eram relativamente desenvolvidos

� Fortes laços comerciais com GB e França� Importação tecnologia e mão-de-obra qualificada

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Obstáculos à industrialização

� Mais importante: “balkanização” – mias de 350 principados (Tratado de Westfália, 1648)

� Superação via unificação política

� Processo de unificação política caminha junto com processo de consolidação da industrialização (1814-70)

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Século XIX: Friedrich List(Sistema Nacional de Economia Política, 1841)

List: intelectual orgânico da industrialização alemã assentada na intervenção estatal

Diretriz estratégica: argumento da indústria nascente, papel ativo do Estado

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List: estratego

� Identificou ponto fracos e enorme potencial da Alemanha

� Diretriz política: nacionalismo

� Mudança => reverter tendências

� Estágios do desenvolvimento: caça => agricultura => agricultura + manufaturas => agricultura + manufatura + comércio

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Diretrizes estratégicas

� Enfoque: Economia Política (poder e riqueza)

� Econômica: industrialização cum indústria nascente � Protecionismo� Política comercial depende do nível de

competitividade internacional� Política de investimentos (política industrial)

� Política: unificação dos principados sob hegemonia da Prússia� Integração regional: união aduaneira (1828-88) -Zollverein

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Argumento da indústria nascente

� Não contradiz a lógica do livre comércio

� Proteção gera resultados positivos no longo prazo

� Vantagem comparativa dinâmica � Economias de aprendizado� Economias de escala

� Geração de vantagem comparativa� Setor específico� Dimensão temporal

31

Política comercial depende do nível de competitividade internacional

32

Unificação política e econômica

� Zollverein (1828-88) – união aduaneira� Harmonização de estruturas tarifárias� Harmonização de estruturas tributárias� Eliminação de barreiras (tarifas) internas na

Prússia: 1816-17� Liberalização do comércio regional� Mercado regional ampliado� Estímulo à especialização: grãos, carvão, têxtil

� Unificação grandes avanços: 1834-51

� Sistema de transporte regional (estradas)

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Zollverein: união aduaneira dos estados alemães: 1828-88

34

Industrialização acelerada

� Impulso da integração: ferrovias –acesso a mercados regionais

� Expansão da produção industrial (1830 em diante)� Mineração, metalurgia� Grande escala (tecelagem lã)

� Progresso técnico (meados séc. XIX)� Siderurgia, metalurgia

35

Industrialização, ...

� Importação mão-de-obra qualificada (britânicos e belgas)

� Expansão das exportações depois de 1863

� Mudanças organização da produção� do artesão à grande empresa –

sociedade anônima� Empresas estatais: carvão,

siderurgia, armamentos, ferrovias

36

Industrialização,...

� Financiamento: bancos com investimentos na indústria (capital financeiro)

� Estado: participação acionária em empresas industriais e bancos

� Uso de recursos externos (K, L, tecnologia) sob controle nacional

� Expansão colonial (China, África Oriental)� Mercados� Fontes de matéria-prima

� Absorção interna: mais importante que DEL

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Alemanha - síntese

� Estado como instrumento de organização econômica nacional

� Papel ativo e abrangente do Estado

� Estímulo à acumulação de capital, progresso técnico e concorrência

� Liberalização: controlada pelo Estado

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2.3 Estados Unidos

� Protecionismo: papel-chave na industrialização

� Industrialização: impedimentos políticos� Período colonial: GB Depois da

independência (1776): interesses agrárias do Sul

� Norte dos EUA: pressão política a favor da industrialização

39

EUA, século XIX: Alexander Hamilton(Report on Manufactures, 1791)

Hamilton: intelectualorgânico daindustrializaçãoestadunidense

Diretriz estratégica:substituição deimportações, indústria nascente

40

Report on Manufactures

� Concorrência estrangeira impede industrialização

� Intervenção governamental: política da indústria nascente� proteção� subsídio

� Tarifas de importação (ou proibição)� Convergência das visões walpoliana

(1724) e hamiltoniana (1791)

41

Protecionismo

� Guerra com GB (1812) => aumento das tarifas

� Guerra: proteção “natural”

� Proteção “natural”: elevado custo de transporte transatlântico (vapor, 1870)

� Lei tarifária 1816: tarifas 35%

� Reação negativa dos estados do Sul

� Entretanto, novos aumentos de tarifa: protecionismo moderado (1846-61)

� Influência: Henry C. Carey (primeira metade do século XIX)

42

Protecionismo: Reino Unido, Estados Unidos e Brasil, 1820-1950

Tarifa média: 1820-1975 (%)

0

10

20

30

40

50

60

1820 1875 1913 1925 1931 1950

Reino Unido Estados Unidos Brasil

Média: EUA = 38% > Brasil = 24%

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Ponto de inflexão: Guerra de Secessão (1861-65)

� Causas: escravidão e protecionismo (tarifas)

� Lincoln (1860) � antiescravista moderado

� Abolição: 1862

� defensor ferrenho da proteção àindústria nascente

44

(Chang, 2006, p. 56)

Estados Unidos, guerra civil e protecionismo

45

46

Grande Depressão, 1930

� Tarifa Smoot-Hawley: tarifa média subiu

� 1925 = 37%� 1931 = 48%

� Liberalização comercial: só depois da II GG

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EUA - síntese

� Instrumento-chave da industrialização: política comercial restritiva (protecionismo)� Início séc. XIX: têxtil� Meados séc. XIX: ferro e aço

� Integração regional: Guerra de Secessão (1860-65)

� Abolição da escravidão: ampliação do mercado interno

48

Cont...

� EUA nunca praticaram o livre-comércio

� Uso de MNTs no período mais recente

� EUA: 1800-1920� Maior crescimento� Mais elevado protecionismo

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Intervenção governamental além do protecionismo

� Promoção de pesquisas agrícolas� Financiamento� Criação de institutos de pesquisa � Concessão de terras

� Financiamento de C&T� Indústria farmacêutica, etc

� Investimentos públicos� educação pública� infra-estrutura

� Compras governamentais: indústria de defesa� Complexo industrial-militar

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3. Estado e industrialização: países em

desenvolvimento

3.1 Estado e industrialização em perspectiva histórica

3.2 Modelo Centro-Periferia

3.3 Substituição de importações: América Latina

3.4 Export-led growth: Ásia

3.5 Capitalismo monopolista de Estado: China

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Bibliografia

� Chang, H-J., Chutando a Escada. A Estratégia do Desenvolvimento em Perspectiva Histórica. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

� Ballance, R. H., Absari, J. A, Singer, H. W. TheInternational Economy and Industrial Development: The Impact of Trade andDevelopment on the Third World. Londres: Wheatsheaf Books, 1982.

� Eshag, E. Fiscal and Monetary Policies andProblems in Developing Countries. Cambridge: CUP, 1983.

52

Cont,...

� Polany, K. A Grande Transformação. As origens da nossa época. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1980 (1944).

� Bairoch, P. Mythes et Paradoxes d l´HistoireÉconomique. Paris: La Découverte, 1999.

� Cano, W. América Latina: do Desenvolvimentismo ao Neoliberalismo. In: Fiori, J. L. (org.). Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

� Barbosa, W. do N. Relembrando a formação da CEPAL. Pesquisa & Debate. PUCSP, vol. 15, n. 2 (26), 2004, p. 176-199.

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Obrigado!

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