parecer - consumidor.mppr.mp.br · justiça de defesa dos direitos do consumidor da comarca ......

23
CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782 [email protected] CMPNL 1 Parecer Procedimento administrativo PA nº 34/2014 Ementa: Produtos impróprios ao consumo – Data de validade vencida – Previsão artigo 31 do CDC Resolução 259/2002 ANVISA - Embalagem avariada/amassada – Irregularidade - Normas da ANVISA – Portaria SVS/MS nº 326/1997 – Resolução RDC nº 12/2001 - Entendimento do artigo 7º, inciso IX da lei 8137/90 c/c artigo 18, §6º, I, II, segunda parte da Lei 8.078/90– Norma penal em branco - Vício de natureza formal – Perigo abstrato – Não exigência de lesão ou dano – Caracterização apenas com a transgressão da norma - Desnecessidade de perícia para atestar a impropriedade – Prova idônea – Auto de Apreensão – Auto de Infração realizado pelos órgãos competentes pela fiscalização - Entendimento dos tribunais: TJPR, TJRS, TJMS, TJMG e do STJ. 1. Relatório Este CAOPCON recebeu o Ofício nº 598/2014 da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca de Foz do Iguaçu que trata da efetiva necessidade de elaboração de perícia em produtos, para caracterização de crime do art. 7º, inciso IX, da Alei 8.137/90. Neste caso, o Promotor de Justiça, relatou que em sede de Procedimento Administrativo nº MPPR-0053.13.000960-7, foram apreendidos produtos cujas embalagens estavam comprometidas e o Laboratório Central do Paraná – LACEN afirmou que não faria a análise ‘microbiológica’ para atestar a impropriedade das mercadorias, emitindo o ofício nº 59/2014-UA no qual fez a seguintes considerações:

Upload: vokhanh

Post on 10-Dec-2018

227 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 1

Parecer

Procedimento administrativo PA nº 34/2014 Ementa: Produtos impróprios ao consumo – Data de validade vencida – Previsão

artigo 31 do CDC – Resolução nº 259/2002 ANVISA - Embalagem

avariada/amassada – Irregularidade - Normas da ANVISA – Portaria SVS/MS nº

326/1997 – Resolução RDC nº 12/2001 - Entendimento do artigo 7º, inciso IX da lei

8137/90 c/c artigo 18, §6º, I, II, segunda parte da Lei 8.078/90– Norma penal em

branco - Vício de natureza formal – Perigo abstrato – Não exigência de lesão ou

dano – Caracterização apenas com a transgressão da norma - Desnecessidade de

perícia para atestar a impropriedade – Prova idônea – Auto de Apreensão – Auto de

Infração realizado pelos órgãos competentes pela fiscalização - Entendimento dos

tribunais: TJPR, TJRS, TJMS, TJMG e do STJ.

1. Relatório

Este CAOPCON recebeu o Ofício nº 598/2014 da Promotoria de

Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca de Foz do Iguaçu que

trata da efetiva necessidade de elaboração de perícia em produtos, para

caracterização de crime do art. 7º, inciso IX, da Alei 8.137/90.

Neste caso, o Promotor de Justiça, relatou que em sede de

Procedimento Administrativo nº MPPR-0053.13.000960-7, foram apreendidos

produtos cujas embalagens estavam comprometidas e o Laboratório Central do

Paraná – LACEN afirmou que não faria a análise ‘microbiológica’ para atestar a

impropriedade das mercadorias, emitindo o ofício nº 59/2014-UA no qual fez a

seguintes considerações:

Page 2: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 2

Considerando a Resolução da ANVISA RDC nº 12/2001, no seu item 5.6. “no laboratório, a amostra é submetida à inspeção para avaliar se apresenta condições para a realização da análise microbiológica. Nas seguintes situações, a análise não deve ser realizada, expedindo-se laudo referente à condição da amostra: a) quando os dados que acompanham a amostra revelarem que a mesma, no ponto de colheita, se encontrava em condições inadequadas de conservação ou acondicionamento;” (grifo no original); Considerando o Decreto-lei nº 986/96/MS – Normas básicas sobre alimentos no seu artigo nº 41, “Consideram-se alimentos corrompidos, adulterados, falsificados, alterados ou avariados os que foram fabricados, vendidos, expostos à venda, depositados para a venda ou de qualquer forma, entregues ao consumo, como tal configurados na legislação penal vigente”. (grifos no original); Considerando a Lei nº 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo 18, inciso 6, item II, são impróprios ao uso e consumo: “os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos, à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação.” Considerando o Código de Saúde do Paraná, no seu artigo 379, “Só poderão ser oferecidos ao consumo alimentos mantidos sob condições adequadas de conservação” E concluiu o LACEN: De acordo com as considerações supracitadas, informo que quando for identificada a presença de latas amassadas e/ou enferrujadas há evidências de condições inadequadas de conservação, sendo, portanto, desnecessária a realização de análise. Tendo em vista que nestes casos, as intervenções legais e penalidades cabíveis não dependem das análises e de laudos laboratoriais. Caso haja a necessidade de laudo analítico, relatando o dano ao produto, aplicar-se-á o disposto na resolução da ANVISA, RDC nº 12 de 2001, expedindo-se um laudo analítico informando apenas as condições da amostra, sendo que o produto, conforme resolução, não será submetida a análise microbiológica e/ou físico-química.

Informou também o Sr. Promotor de Justiça, que para o melhor

entendimento doutrinário e jurisprudencial, trata-se de crime formal, mitigando a

necessidade de perícia quando se trata de “prazo de validade vencido”, nada

obstante nem sempre seja este o entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná,

como no acórdão nº 738784-6.

É o relato.

Page 3: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 3

2. Fundamentação

Da análise da documentação que compõe o presente

procedimento, verifica-se que a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca de Foz do Iguaçu solicita parecer em relação à

desnecessidade de realização de perícia criminal para a configuração do delito

constante do artigo 7º, IX1 da lei 8.137/90 quando forem apreendidos produtos cujas

embalagens estejam comprometidas, como no caso das latas amassadas.

Segundo a mencionada Promotoria de Justiça acima mencionada,

para a configuração do delito referido não haveria necessidade de laudo pericial,

posto que se trata de crime formal, de perigo abstrato e presumido quando se trata

de “prazo de validade vencido”. Não obstante, nem sempre seja este o entendimento

do Tribunal de Justiça do Paraná conforme acórdão nº 738794-6.

Cumpre-nos, antes de adotar qualquer posicionamento acerca do

tema aqui abordado, analisar o delito em questão.

É certo o entendimento de que o artigo 7º, IX da lei 8.137/90 se

trata de norma penal em branco, sendo possível sua complementação com o § 6º do

artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor.

Neste sentido, tem decidido o Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná:

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME PREVISTO NO ARTIGO 7º, INCISO IX, PARÁGRAFO ÚNICO, C.C O ARTIGO 12, INCISO III, DA LEI Nº 8.137/90 E COM OS ARTIGOS 18, § 6º, INCISO I DA LEI Nº 8.078/90 (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE CONSUMO) - ARTIGO 7º, INC. IX, PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI 8137/90 - NORMA PENAL EM BRANCO - POSSIBILIDADE DE COMPLEMENTAÇÃO PELO ARTIGO 18, § 6º, INC. I, DA LEI 8.078/90 - SENTENÇA CONDENATÓRIA - PRETENTIDA ABSOLVIÇÃO - NÃO CABIMENTO - CONJUNTO PROBATÓRIO IDÔNEO A ENSEJAR A CONDENAÇÃO - DESNECESSIDADE

1Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo: IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo; (grifado) Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II, III e IX pune-se a modalidade culposa, reduzindo-se a pena e a detenção de 1/3 (um terço) ou a de multa à quinta parte.

Page 4: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 4

DE REALIZAÇÃO DO EXAME DE CORPO DE DELITO DIRETO NOS PRODUTOS COM DATA DE VALIDADE EXPIRADOS EXPOSTOS À VENDA - DELITO DE PERIGO ABSTRATO. (Apelação Criminal 6750729 – Relator: Carlos Augusto A. de Mello – Julgamento: 12/05/2011 – 2º Câmara Criminal – DJ: 638). (grifado)

Em complemento à referida norma penal em branco, dispõe o

artigo 18, § 6º, do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 18. [...] § 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

As hipóteses do inciso II, primeira parte (os produtos deteriorados,

alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à

vida ou à saúde e perigosos) e do inciso III (os produtos que, por qualquer motivo,

se revelem inadequados ao fim a que se destinam) são de perigo concreto, cuja

comprovação exige prova técnica acerca da impropriedade ao uso e consumo.

Por outro lado, nas hipóteses do inciso I (os produtos cujos

prazos de validade estejam vencidos) e inciso II, segunda parte (aqueles em

desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação), o crime é de perigo abstrato, pois basta que haja o desrespeito a

determinada norma para que esteja configurado, sendo irrelevante a constatação

por perícia de que o produto não tinha condições de ser consumido.

Agora, passo a analisar as hipóteses do inciso I (os produtos

cujos prazos de validade estejam vencido) e a segunda parte do inciso II (aqueles

em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou

apresentação).

Page 5: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 5

2.1 Produtos com prazo de validade vencido

O artigo 18, §6º, I da legislação consumerista dispõe: Art. 18. (...) §6º. São impróprios ao uso e consumo. I – os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos. Neste caso, basta à embalagem do produto conter a informação

obrigatória da data de validade para que se possa verificar o que determina a lei e

se for constatado que está fora do prazo de validade, o produto torna-se impróprio

para o consumo.

Esta obrigação está estabelecida no artigo 31 do CDC: Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. (destaquei). E também na Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002

da ANVISA: 5. INFORMAÇÃO OBRIGATÓRIA Caso o presente Regulamento Técnico ou um regulamento técnico específico não determine algo em contrário, a rotulagem de alimentos embalados devem apresentar, obrigatoriamente, as seguintes informações: Denominação da venda do alimento; Lista de ingredientes; Conteúdos líquidos; Identificação da origem; Nome ou razão social e endereço do importador, no caso de alimentos importados; Identificação do lote; Prazo de validade; Instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário. (grifei). 6. APRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO OBRIGATÓRIA 6.6. Prazo de Validade; 6.6.1. Caso não esteja previsto de outra maneira em um Regulamento Técnico específico, vigora a seguinte indicação do prazo de validade: a) deve ser declarado “o prazo de validade”; b) o prazo de validade deve constar de pelo menos: o dia e o mês para produtos que tenham o prazo de validade não superior a três meses; o mês e o ano para produtos que tenham prazo de validade superior a três meses. Se o mês de vencimento for dezembro, basta indicar o ano, com a expressão “fim de ...” (ano); c) o prazo de validade deve ser declarado por meio de uma das seguintes expressões: “consumir antes de ...”; “válido até”; “validade...” “Val:...”; “vence:...”; “vencimento...”; “vto:...”; “venc:...”; “consumir preferencialmente antes de ...” d) as expressões estabelecidas no item “c” devem ser

Page 6: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 6

acompanhadas: do prazo de validade; ou de uma indicação clara do local onde consta o prazo de validade; ou de uma impressão através de perfurações ou marcas indeléveis do dia e do mês ou do mês e do ano, conforme os critérios especificados em 6.6.1 (b). Toda informação deve ser clara e precisa.

Diante do exposto e tendo em vista que a informação referente ao

prazo de validade é obrigatória, quando forem expostos à venda produtos com data

de validade vencida, trata-se, de crime formal, pois basta à visualização

consubstanciada em uma norma (Resolução nº 259/2002 – ANVISA), bem como na

lei 8.078/90, não havendo necessidade da realização de perícia, para configurar o

crime previsto no artigo 7º, IX da Lei 8.137/1990, bastando o auto de infração

realizado pelo órgão competente (PROCON, ANVISA) para comprovar o delito.

Este entendimento já foi exarado pelo Tribunal de Justiça do

Estado do Mato Grosso em julgamento recente:

APELAÇÃO – PENAL – CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DECONSUMO – ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA – TERMO DE APREENSÃO ATESTANDO QUE A MERCADORIA SE ENCONTRAVA EXPOSTA AO AO COMÉRCIO COM O PRAZO DE VALIDADE EXPIRADO – IDONEIDADE – PROSSEGUIMENTO DO FEITO – PROVIMENTO. A caracterização do crime previsto no art. 7º, IX, da Lei n.º 8.137/90, prescinde de laudo pericial atestando que os produtos comercializados encontravam-se impróprios para o consumo, vez que tal situação é presumida pelo vencimento do prazo de validade. Apelação ministerial à qual se dá provimento a fim de determinar o prosseguimento da ação penal. (...) Analisando-se o dispositivo extrai-se que são considerados impróprios para o consumo aqueles cujos prazos de validade estejam vencidos, situação que se subsume ao caso concreto. Com efeito, o "Termo de Apreensão" de f. 09/12 evidencia que o "Supermercados Santos", de propriedade de GENILSON , expunha à venda produtos com prazo de validade vencido, sendo certo que a responsabilidade de retirar os aludidos ítens das gôndolas era de CLEBER , GIOVANI , CLAUDIANO e EDIMAR . Verifica-se que o aludido documento descreve os produtos, bem como informa a data que expirou a validade dos mesmos. Dessarte, não se mostra imprescindível a existência de laudo pericial atestando que os produtos comercializados encontravam-se impróprios para o consumo, vez que tal situação é presumida pelo vencimento do prazo de validade. O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em julgamento atualíssimo acerca da matéria manifestou-se, in verbis: "RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS – CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO – (ARTIGO 7º, INCISO IX, DA LEI 8.137/1990) – INQUÉRITO POLICIAL –

Page 7: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 7

TRANCAMENTO – EXPOSIÇÃO À VENDA DE PRODUTOS COM A DATA DE VALIDADE VENCIDA – EXISTÊNCIA DE LAUDO PERICIAL ATESTANDO QUE A MERCADORIA SE ENCONTRAVA EM EXPOSIÇÃO AO CONSUMO COM O PRAZO DE VALIDADE EXPIRADO – PROVA IDÔNEA DA MATERIALIDADE DELITIVA – DESPROVIMENTO DO RECLAMO. Da leitura do artigo 7º, inciso IX, da Lei 8.137/1990, percebe-se que se trata de delito não transeunte, que deixa vestígios materiais, sendo indispensável, portanto, a realização de perícia para a sua comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal. Doutrina. Precedentes do STJ e do STF. Na espécie, o laudo pericial acostado aos autos, ao explicitar a data de validade das mercadorias apreendidas no estabelecimento comercial, é suficiente para a comprovação do delito em tela, uma vez que, nos termos do artigo 18, § 6º, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, são impróprios ao uso e consumo os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos. Se a própria legislação consumerista considera imprestáveis para utilização os produtos com a data de validade expirada, revela-se totalmente improcedente o argumento de que seria necessária a realização de exame pericial de natureza diversa da que foi realizada na hipótese, sendo suficiente a constatação de que o prazo de validade do produto já se encontrava expirado no momento da apreensão . (...) (TJMS. Apelação nº 0001675-84.2012.8.12.0028. Relator: Des Carlos Eduardo Contar. 28.04.2014).

2.2 Produtos com embalagens comprometidas (latas amassadas)

A Portaria SVS/MS nº 326, de 30 de julho de 1997 da ANVISA

estabelece no item 8.8.1:

8.8.1. As matérias primas e produtos acabados devem ser armazenados e transportados segundo as boas práticas respectivas de forma a impedir a contaminação e/ou a proliferação de microorganismos e que protelam contra a alteração ou danos ao recipiente ou embalagem. (destaquei)

Tem-se também o que dispõe a RDC nº 12/2001 do mesmo órgão

regulador no item 5.6:

5.6. No laboratório, a amostra é submetida à inspeção para avaliar se apresenta condições para a realização da análise microbiológica. Nas

Page 8: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 8

seguintes situações, a análise não deve ser realizada, expedindo-se laudo referente à condição da amostra. a) quando os dados que acompanham a amostra revelarem que a mesma, no ponto de colheita, se encontrava em condições inadequadas de conservação ou acondicionamento. grifei)

Vejamos novamente o que dispõe o artigo 18, II, segunda parte

do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 18. (...) §6º São impróprios ao uso e consumo: II – os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação. (destaquei).

Isto posto, constata-se que os produtos que são postos a venda

no mercado de consumo e apresentam embalagens amassadas estão violando as

normas acima citadas, já que a função da embalagem é proteger e viabilizar a

distribuição dos produtos e garantir que eles cheguem aos consumidores

apropriados para o consumo.

Neste sentido, a Associação Brasileira de Embalagem (ABRE) se

manifesta2: A embalagem é um recipiente ou envoltura que armazena produtos temporariamente, individualmente ou agrupando unidades, tendo como principal função protegê-lo e estender o seu prazo de vida “shelf life”, viabilizando sua distribuição, identificação e consumo. (destaquei) A embalagem tornou-se ferramenta crucial para atender à sociedade em suas necessidades de alimentação, saúde, conveniência, disponibilizando produtos com segurança e informação para o bem estar das pessoas. Assim, quando um produto tem a sua embalagem amassada é

porque ocorreu um choque mecânico, que rompe o verniz sanitário e o produto entra

em contato direto com a recipiente, tornando-o inadequado para o consumo.

2 Disponível em http://www.abre.org.br/setor/apresentacao-do-setor/a-embalagem, acesso em 17.11.2014 às 13h20min.

Page 9: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 9

Não é outro o entendimento da Fundação PROCON do Estado de

São Paulo3: ENLATADOS – Ao comprar enlatados, leia com atenção os dados contidos na embalagem, como composição, data de validade, nome do fabricante, endereço e CGC e peso (bruto, liquido e drenado). Fique atento à aparência da lata, que deve estar íntegra, sem partes amassadas, estufadas ou enferrujadas, o que indica que pode haver comprometimento do produto. Recuse as embalagens que apresentarem estes defeitos, pois a ferrugem significa que seu transporte ou armazenamento foram feitos em condições impróprias, o estufamento indica a produção de gás decorrente da alteração do produto por contaminação microbiológica ou química, amassadas, podem ter sofrido algum choque mecânico, afetando sua hermeticidade permitindo assim, a entrada de ar e, consequentemente, podendo causar contaminação por microorganismos. O choque pode originar, ainda, uma reação do produto com a lata, tornando-o impróprio para o consumo. (grifei)

O risco de ocorrer dano à saúde do consumidor se for consumido

um produto com embalagem amassada fica evidente no acórdão transcrito abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS EXTRAPATRIMONIAIS. MOFO EM EMBALAGEM DE CHANDELLE MOUSSE DUE. VÍCIO DO PRODUTO. COMPROVAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA. COMERCIANTE. A RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO COMERCIANTE, PELO VÍCIO DO PRODUTO, É PREVISTA NO “CAPUT” DO ART. 18 DO CDC, SENDO SEU DEVER COMERCIALIZAR SOMENTE PRODUTOS ADEQUADOS E COM INFORMAÇÕES DEVIDAS. LEGITIMIDADE PASSIVA QUE SE AMPLIA E PERMITE A ESCOLHA PELO CONSUMIDOR DE QUEM DEMANDAR EM CASO DE VÍCIO DO PRODUTO. INOCORRÊNCIA DE CASO DE ROMPIMENTO DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA, CUJAS HIPÓTESES ESTÃO PREVISTAS NO ART. 18, § 5º E ART. 19, § 2º, AMBOS DO CDC. VÍCIO DO PRODUTO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO FORNECEDOR DO PRODUTO. O FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS RESPONDE, INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA DE CULPA, PELA REPARAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS POR DEFEITOS RELATIVOS AOS PRODUTOS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS QUE DISPONIBILIZA NO MERCADO DE CONSUMO. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. EXISTÊNCIA DO VÍCIO DO PRODUTO. ART. 18 DO CDC. DEVER DE INDENIZAR O DANO EXTRAPATRIMONIAL EM VIRTUDE DA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. FIXAÇÃO DO

3 Disponível em http://www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=1467, acesso em 17.11.2014 às 13h43min.

Page 10: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 10

QUANTUM INDENIZATÓRIO, PARA QUE ATENDA À CONDIÇÃO ECONÔMICA DAS PARTES, À REPERCUSSÃO DO FATO E À CONDUTA DO AGENTE. O VALOR DA INDENIZAÇÃO DEVE SER SUFICIENTE PARA ATENUAR AS CONSEQÜÊNCIAS DA OFENSA À HONRA DA PARTE AUTORA, SEM SIGNIFICAR ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA, DEVENDO, AINDA, TER O EFEITO DE DISSUADIR O RÉU DA PRÁTICA DE NOVA CONDUTA. PRECEDENTES DO TJRS. NEGADO SEGUIMENTO AOS APELOS, NOS TERMOS DO ART. 557, CAPUT, DO CPC. RECURSO ADESIVO PROVIDO, NA FORMA DO ART. 557, § 1º-A, DO CPC. (...) Além da incidência, no caso concreto, das regras e princípios do Código de Defesa do Consumidor, não se pode olvidar a aplicação, para fins de responsabilidade das indústrias alimentícias, bem como dos fornecedores de tais produtos, a ampla gama de normatização referente ao direito sanitário, em especial os textos normativos sobre qualidade alimentar e nutricional. A exigência de que o produto seja adequado ou próprio para o consumo contribui para a proteção da saúde do consumidor. Como aduz o mencionado artigo 18, §6º, do Código de Defesa do Consumidor, há violação do dever de adequação quando o produto estiver deteriorado, alterado, adulterado, avariado, falsificado, corrompido ou fraudado. Outrossim, quando for nocivo à vida ou à saúde, perigoso ou, ainda, em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação. Relativamente aos alimentos, aplicando o citado conceito de produto próprio para consumo, a matéria prima utilizada deve chegar em boas condições sanitárias, muito embora possa ser contaminada ou deteriorada no trajeto entre a fonte produtora e a indústria, sendo que o próprio tratamento industrial pode constituir-se em fator de contaminação ou deterioração. Logo, as indústrias possuem o dever de assegurar o controle de qualidade de seus produtos, requisito este relacionado com o próprio conceito de produto defeituoso do Código de Defesa do Consumidor. Na hipótese em exame, o produto não oferece a segurança que os consumidores legitimamente esperam quando, por exemplo, há violação das BPFS (boas práticas de fabricação)4 e dos POPS (procedimentos operacionais padronizados).5 Na hipótese de encontrar nos alimentos e bebidas matérias estranhas ou sujidades, há fortes elementos para a conclusão de violação da legislação sanitária. No caso dos autos, a demandante entregou a embalagem para análise em 02.02.2010 (fl. 16), enquanto que a requerida Nestlé apresentou o laudo somente em 03.05.2012, ou seja, após mais de dois anos (fl. 227). Consta do laudo: “Avaliação realizada pela fábrica sobre a mostra do produto

4 Sobre boas práticas de fabricação de alimentos, estabelece a RDC 216/2004: “2.3 Boas Práticas: procedimentos que devem ser adotados por serviços de alimentação a fim de garantir a qualidade higiênico-sanitária e a conformidade dos alimentos com a legislação sanitária.” 5 Sobre procedimentos operacionais padronizados na produção de alimentos, refere a RDC 216/2004: 2.18 “Procedimento Operacional Padronizado - POP: procedimento escrito de forma objetiva que estabelece instruções seqüenciais para a realização de operações rotineiras e específicas na manipulação de alimentos.”

Page 11: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 11

reclamado: analisamos o pote e foi observado que o mesmo encontrava-se amassado e com rachaduras na lateral, devido a choque mecânico ocorrido possivelmente no transporte ou ponto de venda, deixando o produto em contato com o ambiente ocasionando a presença de mofo” (fl. 227). A presença de mofo na embalagem configura o vício do produto, em virtude do que se assenta a responsabilidade objetiva do seu fabricante e do comerciante, uma vez que caracterizada a violação do dever de adequação do produto. Tal situação implica violação à boa-fé objetiva, consistente na não-realização de conduta que razoavelmente poderia esperar-se do fornecedor do produto, provocando danos extrapatrimoniais decorrentes da frustração da expectativa legítima do consumidor por ocasião da aquisição de um bem no mercado de consumo. (...) (TJRS. Apelação Cível nº 70053761706. Relator: Dês. Leonel Pires Ohlweiler. Julgamento: 23/10/2013). (destaquei)

Ainda, para corroborar com o entendimento de que o consumo de

produtos com embalagens amassadas causam riscos à saúde de quem o consome,

tem-se a decisão administrativa prolatada pelo PROCON de UBERABA/MG6:

Frise-se que, independentemente do tempo transcorrido após expirado o prazo de validade e da quantidade de mercadorias expostas à venda, a infração se consuma sempre que produtos nessa situação são ofertados ao público, já que produto com validade vencida coloca em risco a saúde do consumidor. Para definir o prazo de validade do produto, o fabricante realiza testes laboratoriais e detecta a data-limite para a sua ingestão ou uso seguro, de modo a evitar risco à saúde do adquirente. E, não se exige a comprovação de má-fé do fornecedor para justificar a aplicação da penalidade. Pouco importa se a infração ocorreu por descuido, lapso, falha operacional ou descaso com a saúde do consumidor. Evitar o vício de qualidade do produto é dever legal de todos os fornecedores da cadeia de produção, cuja responsabilidade nasce com a mera violação desse dever. Quanto aos produtos com embalagens danificadas, os argumentos acima também servem para justificar a ação fiscal em relação a tais produtos, visto que a oferta de produtos nessas condições não atende ao padrão exigido pelas normas consumeristas. Latas amassadas e embalagens plásticas rasgadas ou furadas são sinais de comprometimento da qualidade dos produtos. Afinal, as latas passam por um preparo para conservar os alimentos e, quando amassadas, podem sofrer algum choque mecânico capaz de romper o verniz interno e afetar a sua hermiticidade, permitindo a entrada de ar e, consequentemente, a contaminação microbiológica do produto. No

6 Disponível em http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/acervo/procon/decisoes_administrativas/Supermercado%20Bretas.pdf, Acesso em 18.11.2014 às 15h06min.

Page 12: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 12

caso em tela, a situação das latas amassadas preocupa ainda mais, pois são latas de leite em pó que, na maioria das vezes, alimentam crianças. A verdade é que, havendo ou não a contaminação, não se pode esquecer que o produto ofertado em embalagem danificada não atende ao padrão exigido de apresentação. Esse vício compromete a qualidade que se espera do produto, porquanto, como bem leciona o Professor João Batista de Almeida: “Considera-se inadequado o produto quando é incapaz de satisfazer os tipos determinantes de sua aquisição, ou seja, a legítima expectativa do consumidor, bem como quando não se mostra conforme outros produtos no mercado ou quando não são observadas normas ou padrões estabelecidos para a aferição da qualidade.” Destarte, mesmo que algum dano na embalagem não autorize, por si só, afirmar que o produto também esteja avariado, há de se reconhecer que a mercadoria que apresente tal irregularidade se revela inadequada ao fim a que se destina e, em consequência, não deve ser posta á venda (art. 18, §6º, III, do CDC). É bom lembrar que, em se tratando de alimentos, todo cuidado é pouco, e justamente por isso o legislador federal estabeleceu que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não podem acarretar riscos à saúde ou à segurança dos consumidores (art. 8º do CDC). (destaquei).

Outrossim, no intuito de proteger a saúde dos consumidores a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA elaborou um Guia de Alimentos

e Vigilância Sanitária7 recomendando que na hora da compra o consumidor:

Certifique-se da qualidade dos produtos. Verifique o prazo de validade, identificação do fabricante e as condições da embalagem. Se ela estiver violada, amassada ou rasgada,não compre.No caso das latas, não compre nem utilize aquelas que estiverem enferrujadas, estufadas ou com qualquer outra alteração.

Desta forma, conclui-se que quando são expostos para a venda

produtos com a embalagem (lata, caixa) amassada fica tipificado um crime formal,

pois houve infração as normas da ANVISA, especificamente a Portaria SVS/MS nº

326/1997 e a RDC nº 12/2001, obedecendo expressamente o que estabelece o

artigo 18, §6º, II, segunda parte da Lei 8.078/90 sendo desnecessária a realização

de laudo pericial para configurar o crime previsto no artigo 7º, IX da Lei 8.137/1990,

pois basta para a comprovação do delito o auto de apreensão/auto de infração

realizado pelo órgão competente pela fiscalização.

7Disponível em http://www.anvisa.gov.br/ALIMENTOS/guia_alimentos_vigilancia_sanitaria.pdf, acesso em 18.11.2014 às 15h55min.

Page 13: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 13

Importante ressaltar que este entendimento abrange qualquer

outro produto que seja colocado a venda no mercado de consumo em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição e apresentação.

Neste sentido, vejamos um julgado do Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná:

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. AUTOS DE INFRAÇÃO. VIGILÂNCIA SANITÁRIA. SENTENÇA QUE CANCELOU OS AUTOS (ANULAÇÃO). REALIZAÇÃO DE ATIVIDADE DE VENDA ATACADISTA SEM A COMPETENTE AUTORIZAÇÃO VIA LICENÇA SANITÁRIA. AUTUAÇÃO CORRETA. ROTULAGEM DE VIDROS DE CONSERVA (PALMITO E PEPINO) POR EMPRESA MERA DISTRIBUIDORA DOS PRODUTOS. VEDAÇÃO. ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DO PRODUTOR. RDC 18/99 DA ANVISA. APLICABILIDADE. APREENSÃO DOS PRODUTOS. ATITUDE CORRETA DA POLÍCIA SANITÁRIA. AUTOS DE INFRAÇÃO DE TODO ESCORREITOS. IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO DAS MERCADORIAS POR SEREM PRODUTOS IMPRÓPRIOS AO CONSUMO. ARTIGO 18, § 6º DO CDC. RECURSO DE APELAÇÃO PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA, INCLUSIVE EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO. 1. A obediência às normas estabelecidas pelo Poder de Polícia Sanitária, antes de ser uma mera questão de proibição ou autorização, diz com a saúde de toda a população; daí porque deve-se seguir de forma rígida tais normas, sem espaço para reticência, sob pena de se subverter o sistema administrativo que visa proteger os cidadãos dos maus produtos, sejam irregulares, sejam até mesmo nocivos; 2. A RDC 18/99 da ANVISA proíbe expressamente que distribuidoras de palmito em conserva façam o rótulo do produto, sendo esta atribuição exclusiva do produtor. Quebrada esta regra, o produto passa a ser impróprio para o consumo de acordo com o § 6º do artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor. (...) Vale lembrar que a proibição de que a mera distribuidora rotule tais produtos é expressa; constando da Resolução n. 18 da ANVISA (RDC 18/99, que trata da identificação e qualidade do palmito em conserva). Evidente, portanto, que a autuação da empresa se deu de forma escorreita, eis que não há mais como se ter certeza da procedência de tais produtos, os quais não foram identificados na origem. E assim, a mera afirmação da possível fornecedora da autora acaba por sucumbir aos fatos, já que o produto sem a identificação pode ter vindo de qualquer lugar. Diante disso, correta também a apreensão das conservas, posto se tratar de produtos impróprios para o consumo no que conceitua o Código de Defesa do Consumidor. O artigo 18 do CDC assim pontifica: "§ 6° São impróprios ao uso e consumo: II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda,

Page 14: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 14

aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação";Ora, não há de se cogitar, portanto, da devolução destes produtos à parte autora da demanda, posto que são produtos impróprios para o uso e consumo.Note-se ainda que, na espécie, a impropriedade dos produtos em questão não é aferida por sua qualidade, mas sim por desconformidade com as normas de apresentação e distribuição, daí porque desnecessária a perícia no caso. E mesmo no que se refere àquelas poucas embalagens que vieram rotuladas, há fortes indícios de que tenham sido rotuladas pela autora, diante das demais provas, daí porque sua impropriedade não se desfaz. Além do que, no que alude aos rótulos encontrados, apontam-se outros elementos destoantes da legislação, como ausência do registro da marca ANGA, prazos de validade de registro vencidos, etc. Tudo a corroborar ainda mais com que seja sim mantido o auto de infração e deliberado, mediante devido processo administrativo, pela necessidade ou não de sanção à empresa autora. Assim sendo, porque as três autuações da autoridade sanitária estão escorreitas - lembrando que a autora da ação não foi sequer multada ainda, pois a autuação apenas abriu prazo para defesa --- não há como manter a sentença no sentido de cancelar os autos de infração (na verdade anulá-los; devendo assim ser dado provimento ao recurso do Município, mantendo hígidos os referidos autos. (...) (TJPR. Apelação Cível nº 732.909-9. Relator: Juiz Rogério Ribas. Substituto 2º grau. Data de Julgamento: 12 de abril de 2011) (destaquei).

2.3 Da caracterização do delito previsto na lei que define os crimes contra as relações de consumo

O delito que consta no artigo 7º, IX da lei 8.137/90 (crime contra

as relações de consumo), analisado juntamente com o inciso I e inciso II, segunda

parte, do artigo 18, §6º do Código de Defesa do Consumidor, é de perigo abstrato ou

presumido e sua verificação, portanto, dispensa perícia com o objetivo de atestar a

impropriedade para o consumo da mercadoria apreendida, bastando que fique

constatada sua exposição em desconformidade formal com regramentos

consumeristas.

Aliás, este é o entendimento recente do Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná exarado nos seguintes julgamentos datados de 03/07/2014 e

30/01/2014: APELAÇÃO CRIME Nº 1.153.522-1, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA (3ª Vara Criminal). Apelante : DOMINGOS LUIZ LORENS. Apelado : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. Relator : JUIZ SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU MÁRCIO JOSÉ TOKARS. Designado : Des. JOSÉ MAURÍCIO PINTO p/o acórdão DE ALMEIDA

Page 15: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 15

APELAÇÃO CRIME. EXPOSIÇÃO À VENDA DE PRODUTO IMPRÓPRIO PARA O CONSUMO, NA FORMA CULPOSA (ART. 7º, IX, PARÁGRAFO ÚNICO, C/C ART. 12, III, DA LEI Nº 8.137/90). MATERIALIDADE. PERÍCIA, EM REGRA, IMPRESCINDÍVEL. DESNECESSIDADE, PORÉM, DESDE QUE A IMPROPRIEDADE DO PRODUTO SEJA DE PLANO VERIFICÁVEL. OCORRÊNCIA EM RELAÇÃO A UM DOS FATOS DESCRITOS NA DENÚNCIA. CONSUMIDORA QUE SOFREU INTOXICAÇÃO ALIMENTAR. AUTORIA COMPROVADA. FUNÇÃO DE GERÊNCIA. CULPA DEMONSTRADA. DEVER DE CUIDADO E DE FISCALIZAÇÃO EM RELAÇÃO AOS PRODUTOS IMPRÓPRIOS AO CONSUMO, EXPOSTOS À VENDA. CONDENAÇÃO MANTIDA. DOSIMETRIA DA PENA. NULIDADE AFASTADA. APLICAÇÃO DA REPRIMENDA ACIMA DO MÍNIMO COM APOIO AOS ELEMENTOS CONCRETOS EXISTENTES NOS AUTOS. SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. PENA DE MULTA. POSSIBILIDADE. ART. 44, § 2º, DO CÓDIGO PENAL. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE, TODAVIA, EM RELAÇÃO AO OUTRO FATO NARRADO NA DENÚNCIA, PORQUANTO AUSENTE A PERÍCIA. POR MAIORIA, RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A materialidade do crime previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/90, quando aferível de plano (pela deterioração, mau cheiro etc.), prescinde de laudo pericial para atestar a impropriedade do produto ao consumo. Ao revés, necessária, sempre, a parícia. 2. O gerente do estabelecimento comercial possui a atribuição e o dever de verificar a regularidade das mercadorias expostas à venda, e, quando há falha desse controle, deixando produtos impróprios para o consumo à venda, acarretando, por consequência, a efetiva intoxicação de uma pessoa, deve responder pelo crime, na modalidade culposa, pela quebra do dever de cuidado. 3. Não há que se falar em nulidade da dosimetria da pena quando o aumento realizado na primeira fase encontra apoio em elementos concretos existentes nos autos. 4. É possível a substituição da pena corporal por uma restritiva de direitos e multa, a teor do art. 44, § 2º, do Código Penal. I. (TJ/PR – Apelação Criminal 1153522-1 – Relator: Marcio José Tokars – Rel. Designado p/ o Acórdão: José Mauricio Pinto de Almeida – 2ª Câmara Criminal – Julgamento: 03/07/2014) (grifado) APELAÇÃO CRIMINAL N° 1.075.081-7 (NPU 0000052- 64.2006.8.16.0163), DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE SIQUEIRA CAMPOS RELATORA1: JUÍZA LILIAN ROMERO APELANTE: WILSON VIEIRA DA SILVA APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO PENAL. APELAÇÃO. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. EXPOR À VENDA MERCADORIAS EM CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS PARA CONSUMO. ART. 7º, INCISO IX, DA LEI 8.137/90, C.C. ART. 18, §6º DA LEI 8.078/90 - CDC. NORMA QUE INTEGRA O TIPO LEGAL, ESTABELECENDO O ALCANCE DA LOCUÇÃO `CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS', OU SEJA, PRODUTOS COM DATA DE VALIDADE VENCIDA OU SEM A INDICAÇÃO DA DATA DE FABRICAÇÃO E DE VALIDADE NA EMBALAGEM. EXAME PERICIAL PARA ATESTAR A NOCIVIDADE DOS PRODUTOS APREENDIDOS. DESNECESSIDADE

Page 16: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 16

QUANDO A IMPROPRIEDADE PARA O CONSUMO FOR FATO AFERÍVEL DE FORMA OBJETIVA. HIPÓTESE EM QUE A DENÚNCIA IMPUTOU AO APELANTE A EXPOSIÇÃO À VENDA DE MERCADORIAS OU COM A DATA DE VALIDADE VENCIDAS OU COM EMBALAGENS QUE NÃO INDICAVAM A DATA DE FABRICAÇÃO E DE VALIDADE. DEMAIS TESES DEFENSIVAS REJEITADAS. TIPO LEGAL QUE NÃO EXIGE O DOLO DIRETO DO AGENTE DE LESAR OS CONSUMIDORES, MAS APENAS A CONDUTA VOLUNTÁRIA DE VENDER, TER EM DEPÓSITO E/OU EXPOR À VENDA MERCADORIAS EM CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS. INVIABILIDADE DA DESCLASSIFICAÇÃO PARA A MODALIDADE CULPOSA. HIPÓTESE EM QUE O AGENTE EXPUNHA VARIADOS PRODUTOS EM CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS, INCLUSIVE VENCIDOS HÁ QUASE UM ANO. CONDENAÇÃO CONFIRMADA. DOSIMETRIA DA PENA READEQUADA DE OFÍCIO. INIDONEIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO EMPREGADA PARA EXASPERAR A PENA-BASE. RECURSO NÃO PROVIDO, COM READEQUAÇÃO DA PENA, DE OFÍCIO. 1 Em substituição ao Desembargador Lidio José Rotoli de Macedo TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação Criminal nº 1.075.081-7 1. O tipo penal do art. 7º, inc. IX da Lei 8.137/90 é integrado pelo art. 18, §6º do CDC, que especifica e esclarece o alcance da locução "produtos impróprios" para uso e consumo. 2. É evidente que produtos deteriorados, alterados, adulterados ou malconservados são naturalmente impróprios para o uso e consumo. E não raro tais condições não são aferíveis de plano, requerendo exame pericial para atestá-las. 3. O exame pericial, contudo, não é exigível quando os fatos imputados na denúncia (como a violação da norma consumerista que impõe que as embalagens das mercadorias contenham a data de validade, assim como o vencimento das datas de validade indicadas), forem aferíveis de plano, pelo mero exame das embalagens dos produtos apreendidos. 4. O crime de vender, ter em depósito para a venda ou de expor à venda produto em condições impróprias para consumo - art. 7º, IX da Lei 8.137/90 - não é de dano ou de lesão (para cuja consumação exige-se a efetiva lesão do bem jurídico) e sim de perigo. Ou seja, tal crime se consuma com a exposição do bem jurídico penalmente tutelado a uma situação de perigo, bastando para a sua caracterização a mera probabilidade de dano. (TJ/PR – Apelação Criminal 1075081-7 – Relatora: Lilian Romero, Juíza Substituta em Segundo Grau. Julgamento: 30/01/2014) (grifado) Pode-se observar que nos julgados acima colacionados, o TJ/PR

entendeu que tanto na hipótese prevista no inciso I do §6º, do artigo 18 do CDC,

quanto na hipótese da segunda parte do inciso II do mesmo artigo, é desnecessária

a prova pericial, apesar de haver no mesmo tribunal entendimento divergente8.

8EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE Nº 830.621- 4/01 DA 7ª VARA CRIMINAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. EMBARGANTE: MARCIO

Page 17: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 17

O Superior Tribunal de Justiça também tem se manifestado

recentemente pela desnecessidade de perícia, conforme se verifica no julgamento

do RHC 42499/SP ocorrido em 22/04/2014:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. (ARTIGO 7º, INCISO IX, DA LEI 8.137/1990). INQUÉRITO POLICIAL. TRANCAMENTO. EXPOSIÇÃO À VENDA DE PRODUTOS COM A DATA DE VALIDADE VENCIDA. EXISTÊNCIA DE LAUDO PERICIAL ATESTANDO QUE A MERCADORIA SE ENCONTRAVA EM EXPOSIÇÃO AO CONSUMO COM O PRAZO DE VALIDADE EXPIRADO. PROVA IDÔNEA DA MATERIALIDADE DELITIVA. DESPROVIMENTO DO RECLAMO. 1. Da leitura do artigo 7º, inciso IX, da Lei 8.137/1990, percebe-se que se trata de delito não transeunte, que deixa vestígios materiais, sendo indispensável, portanto, a realização de perícia para a sua comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal. Doutrina. Precedentes do STJ e do STF. 2. Na espécie, o laudo pericial acostado aos autos, ao explicitar a data de validade das mercadorias apreendidas no estabelecimento comercial, é suficiente para a comprovação do delito em tela, uma vez que, nos termos do artigo 18, § 6º, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, são impróprios ao uso e consumo os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos. 3. Se a própria legislação consumerista considera imprestáveis para utilização os produtos com a data de validade expirada, revela-se totalmente improcedente o argumento de que seria necessária a realização de exame pericial de natureza diversa da que foi realizada na hipótese, sendo suficiente a constatação de que o prazo de validade do produto já se encontrava expirado no momento da apreensão. 4. Recurso improvido. (STJ Recurso em Habeas Corpus nº 42.499 - Relator: Ministro Jorge Mussi – Julgamento: 10/12/2013). (grifado)

KRAINSKI. EMBARGADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. RELATOR: DES. ANTONIO LOYOLA VIEIRA. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE - CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - ARTIGO 7º, INCISO IX, DA LEI Nº 8.137/1990 - PRODUTO IMPRÓPRIO PARA CONSUMO - DECISÃO PROFERIDA PELA MAIORIA NO SENTIDO DA CONDENAÇÃO - VOTO VENCIDO QUE ENTENDIA PELA ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL - EMBARGOS ACOLHIDOS. Caracterização do crime previsto no artigo 7º, inciso IX, da Lei nº 8.137/1990 dependente da realização de laudo pericial para que se verifique se o produto se encontra em condições impróprias para o consumo. Precedentes do STF e do STJ. Processo 830621-4/01. Relator: Antonio Loyola Vieira. Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal em Composição Integral. Data de Julgamento: 07/11/2013.

Page 18: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 18

No entanto, no julgamento do AgRg no AREsp 333459/SC9 o STJ

manifestou-se de forma diversa, entendendo pela imprescindibilidade do laudo

pericial para comprovar a impropriedade dos produtos.

Importante destacar, ainda, o que leciona Antonio Cezar Lima da

Fonseca10 no tocante a esta matéria:

A matéria prima ou a mercadoria devem estar “sem condições de consumo”, ou em condições “impróprias ao consumo”. Como ensina Filomeno, a impropriedade para consumo visou exatamente a espancar as dúvidas sobre saber se, para tanto, se deveria ou não considerar o dano efetivo à saúde pública ou se bastaria a simples constatação de avaria ou outra anomalia sanitária. Neste aspecto, igualmente, é crime formal e consubstancia norma penal em branco no que toca à definição das “condições impróprias para consumo” (AP. n. 986.761/2, 2ª Câm. Crim. TACrimSP, Juiz Erix Ferreira, j. 30.11.95, Boletim IBC-Crim nº 39/96). Não se exige prova pericial, porque o crime é de perigo abstrato, aperfeiçoando-se com a mera transgressão da norma incriminadora. Veja-se, v.g., o caso de farmácia que vende medicamentos com prazo de validade vencido (RT-730/566 e 750/601), embora exista quem pense o contrário (voto vencido no TAMG, na RT-731/630). Todavia, o só-fato do prazo de validade do produto estar vencido caracteriza a infração penal, porque a lei de defesa do consumidor já predetermina que tal produto é impróprio ao uso e ao consumo (art. 18, §6º, inc. I, CDC). Não há o que tergiversar, porque a lei do consumidor deve ser vista como um microssistema, onde nela nada ocorre por acaso. Da mesma forma, o crime será facilmente caracterizado, quando as condições impróprias ao consumo forem facilmente verificáveis por comprovação visual até de leigos no assunto ou prova testemunhal. Veja-se o caso de um leite ou de um iogurte malconservados, fins de venda ao consumidor, porque fora do devido recipiente ou da refrigeração adequada quando violados. Qualquer pessoa sabe que isso é condição imprópria ao consumo. Desnecessária a perícia, bastando a materialidade (auto de apreensão da matéria ou da mercadoria) e/ou prova testemunhal. (destaquei)

9 AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ART. 7º, IX, DA LEI N. 8.137/1990. MERCADORIAS SEM PRAZO DE VALIDADE EXPOSTO. TIPICIDADE. LAUDO PERICIAL. IMPRESCINDIBILIDADE. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA IMPROPRIEDADE AO CONSUMO. 1. O crime previsto no art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/90 possui como elementar do tipo "a impropriedade das mercadorias apreendidas ao consumo humano". Logo, para fins de comprovação da elementar, é imprescindível a realização de prova pericial apta a comprovar que os produtos encontram-se impróprios ao consumo humano, não sendo, pois, suficiente para a caracterização da infração a mera exposição das mercadorias sem o prazo de validade exposto na embalagem. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. 10 Fonseca. Antonio Cezar Lima. Direito Penal do Consumidor. Doutrina e Jurisprudência. Editora: Livraria do Advogado. Porto Alegre. 1999. pág. 274.

Page 19: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 19

O crime previsto no artigo 7º, IX da lei 8.137/90 caracteriza-se de

perigo abstrato e não se faz necessária a realização de perícia para a sua

configuração, bastando à mera potencialidade do ato lesivo a que é exposto o

consumidor.

Este entendimento também é exarado pelo doutrinador Rui

Stocco11: O preceito constante do art. 7º, inciso IX, da Lei 8.137/90 coíbe e pune a ação física de “vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma entregar matéria-prima ou mercadorias, em condições impróprias ao consumo.” Esta disposição contém um tipo aberto, através de múltiplas ações, expressadas pelos verbos ou núcleos do tipo “vender”, “ter em depósito para vender” ou “expor à venda”. Caracteriza-se como crime de perigo abstrato, que não exige lesão ou dano, Contenta-se com a só potencialidade lesiva. Veja-se que a previsão é genérica quando fala em matéria-prima ou mercadorias. Portanto deve-se entender que se trate de qualquer produto in natura ou manufaturado. (...) A norma em estudo particulariza-se como norma penal em branco, cujo núcleo do tipo é preenchido pelo art. 18, §6º, inciso I do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90). Isto porque só outra disposição legal ou regulamentadora poderá esclarecer o que é “impróprio para o consumo”, considerando que a lei penal de regência não o fez. E o CDC definiu os produtos impróprios para o consumo, dentre os quais aqueles cujos prazos de validade estejam vencidos ou, ainda, os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos á vida ou à saúde, perigosos ou em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação. Não obstante entendimento em contrário, parece-nos que a só superação do prazo de validade do produto já caracteriza o crime, mostrando-se desimportante se a mercadoria, posta ou permanecendo à venda após o decurso do seu prazo de validade é, ou não, imprópria para o consumo ou mostra-se deteriorada ou tenha perdido o seu princípio ativo. A dicção daquela disposição não deixa margem a dúvida. Cuida-se de crime de perigo abstrato, que se aperfeiçoa com a só transgressão da norma através de consumação antecipada. Basta a ação de vender, ter em depósito para vender ou expor à venda mercadoria imprópria para o consumo para o delito se configurar. Ocorre que a Lei considera o produto impróprio para o consumo, pelo só fato de o seu prazo de validade ter expirado, não se podendo condicionar a realização de tipo legal à prova de que a mercadoria é efetivamente inadequada e encontra-se estragada. (sem grifos no original)

11 Stocco Rui. Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial. Coordenação: Alberto Silva Franco. Rui Stocco. Editora Revista dos Tribunais. Volume 1. 7ª edição. 2002. Pág. 1480.

Page 20: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 20

Diante de todo o exposto, percebe-se que em relação ao delito

previsto no artigo 7º, IX da lei 8.137/90 c.c os incisos I e II (segunda parte) do § 6º

do art. 18 do CDC, os tribunais e o Superior Tribunal de Justiça vem se

manifestando em julgados recentes no sentido de que é desnecessária a perícia

técnica para demonstrar a impropriedade do produto para consumo, sendo o auto de

apreensão ou auto de infração realizado pelos órgãos responsáveis pela

fiscalização, documento idôneo para comprovar o crime, haja vista tratarem-se de

delito formal.

É este o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Minas

Gerais: EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA AS RELACOES DE CONSUMO - ART. 7º, IX DA LEI Nº 8.137/90 - EXPOSIÇÃO À VENDA DE PRODUTOS COM PRAZO DE VALIDADE VENCIDO - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - ATIPICIDADE - INCABÍVEL - AUSÊNCIA DE PERÍCIA PARA COMPROVAR A IMPROPRIEDADE DOS BENS - PRESCINDIBILIDADE - PRODUTOS COM DATA DE VALIDADE EXPIRADA - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA - NÃO PROVIDO. - O delito disposto no art. 7º, IX, da Lei nº 8.137/90 é de natureza formal, consumando-se com a mera exposição de produtos com prazo de validade vencido. - "O Código de Defesa do Consumidor dispõe, em seu art. 18, § 6º, I, que os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos são impróprios para o consumo. Logo, estando expirada a validade de uma mercadoria é desnecessária a existência de laudo pericial acerca da impropriedade." (...) A materialidade do delito restou consubstanciada por meio do Termo de Interdição, Apreensão e Inutilização de fl s.08/09, pelo Auto de Apreensão de fl.11 e pelo Laudo Pericial de fls.16/22. Ocorre que o delito disposto no art. 7º, da Lei nº 8.137/90 é de natureza formal, sendo prescindível a realização de perícia para a comprovação de efetivo prejuízo à sociedade, já que o que se busca proteger com o tipo penal em voga são as relações de consumo e não a saúde pública. Diante deste contexto, creio que a elaboração de um minucioso exame pericial que evidencie os riscos gerados pelo consumo de um produto é mesmo prescindível, tal como bem ponderado pelo Douto Representante do órgão ministerial, bastando que haja uma exposição objetiva e clara que determinada mercadoria não poderia ter sido posta à disposição dos consumidores. No caso em testilha, observa-se que foram apreendidos diversos produtos com prazo de validade vencido, tais como pacotes de biscoito, embalagens de tintura, dentre outros descritos no auto de apreensão de fl.11, não havendo, portanto, quaisquer dúvidas de que tais mercadorias

Page 21: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 21

estivessem impróprias para o consumo, tal como exige o tipo penal em voga, vazado nos seguintes termos: "Art. 7º Constitui crime contra as relacoes de consumo: (...) IX-vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias para o consumo."Segundo se deflui da redação supracitada, o tipo penal em apreço não dispõe em que condições se dá a referida impropriedade ao consumo, e por tais razões, trata-se de norma penal em branco, cujo complemento é trazido pelo art.18º§ 6ºº, doCódigo de Defesa do Consumidor, que assim preceitua: "Art.18º. Os fornecedores de produto de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.§ 6º6º São impróprios ao uso e consumo:I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;" II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Com efeito, razão não assiste ao apelante quando afirma que a adequação típica se dá somente quando o produto é passível de causar danos aos consumidores acima. Muito pelo contrário. Basta que o recorrente, no caso, proprietário de um estabelecimento comercial, exponha à venda produtos com data de validade expirada. Neste sentido, assim vem sendo decidido pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça: CRIME. RELAÇÕES. CONSUMO. LAUDO PERICIAL. Trata-se de produtor de vinho denunciado nas sanções do art. 7.º, IX, da Lei n. 8.137/1990 c/c o art. 18, § 6.º, II, do CDC, porque adicionava corretivo ao vinho em quantidade acima da permitida, além de também o estocar em desacordo com as normas vigentes e sem registro no Ministério da Saúde. Note-se que o corretivo é o ácido sórbico usado como inibidor da levedura em vinho que deve ser utilizado na proporção de 20 mg/100ml, segundo a Res. n. 4/1988 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Por isso, ele foi condenado à pena de três anos e quatro meses de detenção, sendo que a pena privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direitos. Entretanto, em apelação, foi absolvido nos termos do art. 386, VI, do CPP - entendendo o TJ ser necessária a realização de perícia para comprovar a materialidade do delito em comento. Então, sobreveio o REsp interposto pelo MP. Para o Min. Relator, de acordo com a análise da sentença condenatória, trata-se da prática do crime de exposição ou depósito para a venda de produtos em condições impróprias para o consumo (art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/1990), que, segundo precedentes, é crime formal e de perigo abstrato para cuja caracterização basta colocar em risco a saúde de eventual consumidor da mercadoria, sendo desnecessária sua constatação por laudo pericial. Diante do exposto, a Turma deu provimento ao

Page 22: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 22

recurso para restabelecer a sentença." Precedentes citados: (REsp 620.237-PR, DJ 16/11/2004; RHC 15.087-SP, DJ 5/2/2007, e REsp 1.111.672-RS, DJe 30/11/2009. REsp 1.163.095-RS, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 9/11/2010) grifo nosso; (...) Neste rumo, trago à baila o recente julgado emanado deste Egrégio Tribunal de Justiça: "EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA AS RELACOES DE CONSUMO - EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS EM CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS AO CONSUMO - AUSÊNCIA DE PERÍCIA ATESTANDO A IMPROPRIEDADE - IRRELEVÂNCIA - PRODUTOS COM A DATA DE VALIDADE VENCIDA - CONDENAÇÃO MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. I - O delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/90 é de natureza formal, não sendo necessária a comprovação da efetiva lesão ao bem jurídico para a sua configuração, pois o bem jurídico protegido por este tipo penal são as relações de consumo e não a saúde pública. II - O Código de Defesa do Consumidor dispõe, em seu art. 18, § 6º, I, que os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos são impróprios para o consumo. Logo, estando expirada a validade de uma mercadoria é desnecessária a existência de laudo pericial acerca da impropriedade." (Apelação Criminal 1.0451.09.013074-6/001, Relator (a): Des.(a) Alberto Deodato Neto , 1ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 18/06/2013, publicação da sumula em 28/06/2013) Portanto, com espeque no entendimento acima exposto, concluo que o réu praticou a conduta típica do art. 7,inciso IX, da Lei nº 8.072/90 e deve sujeitar-se às respectivas sanções penais. (...) (TJMG. Apelação Criminal 1.0451.09.013074-6/001, Relator (a): Des.(a) Alberto Deodato Neto , 1ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 18/06/2013, publicação da sumula em 28/06/2013). (destaquei)

3. Considerando tudo o que foi exposto, conclui-se:

a) Que os crimes previstos no artigo 7º, IX da lei 8.137/90, incisos I (prazo de

validade vencido) e segunda parte do inciso II (desacordo com as normas

regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação) do §6º do artigo

18 do Código de Defesa do Consumidor são crimes formais, de perigo

abstrato, sendo desnecessário o laudo pericial com o objetivo de atestar que

os produtos encontram-se impróprios ao consumo, pois a mera potencialidade

do dano lesivo a que é exposto o consumidor, basta para a configuração do

delito.

b) Que para a caracterização dos crimes acima referidos bastam o auto de

infração ou auto de apreensão realizado pelo órgão competente pela

Page 23: Parecer - consumidor.mppr.mp.br · Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca ... (CRIME CONTRA A RELAÇÃO DE ... bastando o auto de infração realizado pelo órgão

CENTRO DE APOIO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR Rua Paraguassu, 478, Juvevê - Curitiba/Pr – CEP 80030-270 - Fone (41) 3250-8782

[email protected] CMPNL 23

fiscalização, como o PROCON, ANVISA, pois se tratam de crimes formais,

conforme decisão recente do Superior Tribunal de Justiça no RHC nº

38.568/AM: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS

RELAÇÕES DE CONSUMO (ARTIGO 7º, IX, DA LEI 8.137/90). APREENSÃO DE

BEBIDAS LÁCTEAS ARMAZENADAS SOB TEMPERATURAS SUPERIORES AS

ESTIPULADAS PELO FABRICANTE. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PERÍCIA

(ANÁLISE QUÍMICA) ATESTANDO A IMPROPRIEDADE DOS PRODUTOS PARA

CONSUMO. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR AUSÊNCIA DE

MATERIALIDADE. IMPOSSIBILIDADE. PRESENÇA DE CONJUNTO PROBATÓRIO AMPLO. AUTO DE APREENSÃO. AUTO DE INFRAÇÃO. RELATÓRIO DA INSPEÇÃO TÉCNICA. PERÍCIA FÍSICA (EXTERNA) DOS PRODUTOS. PRAZO DE VALIDADE EXPIRADO. RECURSO NÃO PROVIDO.

(STJ. RHC Nº 38.568-AM. Relatora: Ministra Marilza Maynard – (Desembargadora

Convocada do TJ/SE.) Data de Julgamento: Brasília, 26 de novembro de 2013)

(destaquei).

c) Que apenas os delitos previstos na primeira parte inciso II (produtos

deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,

fraudados) do §6º do artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor

necessitam de perícia para comprovar a impropriedade dos produtos para

consumo para configuração do crime previsto no artigo 7º, IX da lei 8.137/90.

Por fim, determino o encaminhamento deste parecer a

Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca de Foz do Iguaçu, a fim de tomar conhecimento da conclusão a que chegou este

CAOPCON.

Curitiba, 02 de dezembro de 2014.

CIRO EXPEDITO SCHERAIBER

Procurador de Justiça

Coordenador do Centro de Apoio das

Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

CAOPCON/MPPR