2005 - a ampla defesa e noticia de infração disciplinar

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JÚLIO CÉSAR RIBEIRO DUTRA Delegado de Polícia FederalAMPLA DEFESA E A NOTÍCIA DE INFRAÇÃO DISCIPLINARBelo Horizonte 2005JÚLIO CÉSAR RIBEIRO DUTRA Delegado de Polícia FederalAMPLA DEFESA E A NOTÍCIA DE INFRAÇÃO DISCIPLINARMonografia apresentada ao Centro de Pesquisa e PósGraduação da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais e a Escola de Governo de Minas Gerais da Fundação João Pinheiro, como requisito para obtenção do título de especialista em Gestão Estratégica de Segurança Públi

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JÚLIO CÉSAR RIBEIRO DUTRADelegado de Polícia Federal

AMPLA DEFESA

E

A NOTÍCIA DE INFRAÇÃO DISCIPLINAR

Belo Horizonte2005

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JÚLIO CÉSAR RIBEIRO DUTRADelegado de Polícia Federal

AMPLA DEFESA

E

A NOTÍCIA DE INFRAÇÃO DISCIPLINAR

Monografia apresentada ao Centro de Pesquisa e Pós-Graduação da Academia de Polícia Militar de MinasGerais e a Escola de Governo de Minas Gerais daFundação João Pinheiro, como requisito paraobtenção do título de especialista em GestãoEstratégica de Segurança Pública.Área de concentração: Direito AdministrativoOrientadora: Professora e Especialista Mirtes Spitale

de Queiroz.

Belo Horizonte2005 

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D E D I C A T Ó R I A

Dedico e homenageio, com este singelo trabalho, um Homem que

escolheu por profissão a arte de fazer segurança pública nestePaís. Já cumpriu sua jornada, mas nunca esquece a Corporação

da Polícia Militar de Minas Gerais, que o acolheu, transmitindo-

lhe todo o conhecimento necessário para trilhar tão difícil

caminho, e que, há exatos 50 anos, saiu dos umbrais desta

Academia de Polícia Militar a fim de cumprir sua árdua missão:

 Meu pai, SENILO PEREIRA DUTRA

CORONEL QOR PMMG

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 I N M EM O R I A M 

Neste ano de 2005, dois entes queridos aceitaram o convite e

atenderam ao chamamento de Deus.

Ficou um grande vazio em nossos lares, mas permanecem sempre

vivos em meu coração e em minha mente. A saudade é grande. A

lembrança é muito maior.

Não poderia deixar de registrar nesta obra o quanto fazem falta

suas ausências em meu dia- a- dia.

Suas bênçãos, e estejam com Deus,

Minha amada e querida Mãe,

LÍGIA DA ANUNCIAÇÃO RIBEIRO DUTRA

Meu querido e saudoso Avô,

JOÃO PEREIRA DUTRA

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A G R A D E C I M E N T O S

A Deus, por conceder-me a graça de existir.

À minha esposa Sãozinha e  nossas filhas Juliana e Marina, sou

especialmente grato: pelo amor e carinho que me dedicam, pela paciência e compreensão em

razão do tempo que não lhes dei, e por todo apoio na realização deste trabalho.

À minha orientadora, Profrª Mirtes Spitale de Queiroz pela sabedoria, atençãoe disponibilidade.

Aos meus colegas e professores de curso, pelo crescimento compartilhado

durante a nossa profícua e salutar convivência.

Àqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste

trabalho.

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R E S U M O

Esta monografia teve a pretensão de estudar diante da legislação vigente o instituto da ampla

defesa e seu exercício pelo servidor público do Departamento de Polícia Federal, em tempoanterior à determinação de instauração de procedimentos disciplinares, ou seja, a partir do

momento que desse a entrada em seu órgão de lotação, de expediente com notícia de

cometimento de irregularidades e/ou desvios de conduta praticadas pelo mesmo. Buscou-se

através de uma pesquisa bibliográfica e documental encontrar fundamentos que

comprovassem a tese de que o funcionário público pudesse exercer a ampla defesa em

momento anterior à decisão da autoridade pública de determinar o arquivamento do

expediente, ou instaurar processo disciplinar. Confirmou-se que para permitir o exercício

pleno da ampla defesa pelo servidor, diante da tese apresentada, basta a autoridade pública

observar e obedecer às normas estipuladas na Lei 9.874/99.

Orientação de Conteúdo: Profrª Mirtes Spitale de Queiroz, da Faculdade de Direito deConselheiro Lafayette em Minas Gerais.

Orientação Metodológica: Profrª Maria Helena Rossi Valon, da Escola de Governo de MinasGerais -Fundação João Pinheiro

Orientação de Normas Técnicas da ABNT:Profrª Helena Schirm, da Escola de Governo de Minas Gerais -Fundação João Pinheiro

Revisão Ortográfica: Profr. Hugo de Moura , da Academia de Polícia Militar de MinasGerais

Palavras chaves:

AMPLA DEFESA, SERVIDOR PÚBLICO, INFRAÇÃO DISCIPLINAR; DIREITO e

PROCESSO ADMINISTRATIVO.

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A B S T R A C T

This monograph had the pretension to study ahead of the current law, the institute of legal

defense and its exercise for a public server of the Department of Federal Policy, in previoustime to the determination of instauration of procedures to discipline, or either, from the

moment that of this the entrance in its agency of capacity, of expedient with notice of 

commitment of irregularities and/or shunting lines of behavior practiced by exactly. One

searched through documentary a bibliographical research and to find beddings that proved the

thesis of that the public officer could exert legal defense at previous moment to the decision

of the public authority to determine the filling of the expedient, or to restore labor dispute on

grounds of discipline. One confirmed that to allow the full exercise of legal defense for the

server, ahead of the presented thesis, is enough the public authority to observe and to obey the

norms stipulated in Law 9.874/99.

Orientation of Content: Profrª Mirtes Spitale de Queiroz, of the Law school of LafayetteCouncil member in Minas Gerais;

Methodological orientation: Profrª Maria Helena Rossi Valon, of the School of Governmentof Minas Gerais - Foundation João Pine;

Orientation of norms techniques of the ABNT:Profrª Helena Schirm, of the School of Government of Minas Gerais - Foundation João Pine;

Orthographic Revision: Profr. Hugo de Moura, of the Academy of Military Policy of MinasGerais.

Words keys

LEGAL DEFENSE, PUBLIC SERVER, INFRACTION TO DISCIPLINE; RIGHT and

ADMINISTRATIVE PROCEEDING.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA DA PESQUISA .............................................. 15 3 DIREITO ............................................................................................................... 20 

3.1  O uso e costumes reconhecidos como direito .............................................. 22 3.2  Direito Objetivo e Direito Subjetivo ............................................................... 24 

3.3  Direito Natural e Direito Positivo .................................................................. 25 4 PRINCÍPIOS COMO PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO ............ 32 

4.1  Princípios gerais e fundamentais do Direito ................................................. 33 4 O princípio da ampla defesa ................................................................................. 40 

4.1  Princípios gerais e fundamentais do Direito ................................................. 41 

5  O PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA ...................................................................... 48 5.1  A Ampla Defesa ........................................................................................... 50 5.2  A AMPLA DEFESA DIANTE DA HISTÓRIA ................................................ 54 5.3  A Ampla Defesa e a legislação constitucional brasileira .............................. 60 

6  DIREITO ADMINISTRATIVO E OS PRINCÍPIOS QUE REGEM O PROCESSO

ADMINISTRATIVO ................................................................................................ 81 6.1  Direito Administrativo ................................................................................... 81 6.2  Processo Administrativo ............................................................................... 83 6.3  Os princípios do Processo Administrativo .................................................... 87 

6.3.1  Princípios Constitucionais ............................................................................... 87 

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6.3.2  Princípios do Processo Administrativo e a Lei 9.784/99 ........... ....................... 95 

7  A NOTÍCIA INFRACIONAL ................................................................................. 107 8  CONCLUSÃO ..................................................................................................... 111 9  REFERÊNCIAS ................................................................................................... 118 

ANEXOS .............................................................................................................. 122 ANEXO “A”  MAGNA CARTA ............................................................................ 123 ANEXO “B”  DECLARAÇÃO DE DIREITOS DA INGLATERRA-(1689) ............ 133 

ANEXO “C”  DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA NORTE-AMERICANA ..... 135 ANEXO “D”  CARTA DE DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA . 140 ANEXO “E”  DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO ...... 142 ANEXO “F” LEI Nº 9.784, DE 29 DE JANEIRO DE 1999. ................................ 145 

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1 INTRODUÇÃO

Trata-se de um marco histórico do Brasil a aprovação de sua Carta Política de

1988, por ter devolvido ao povo brasileiro o Estado Democrático de Direito, assegurando-lhedireitos e garantias individuais essenciais e ainda não exercidos. Entretanto, alguns agentes

públicos insistem em manter práticas regulamentares do passado, valendo-se do suposto poder

que lhes é outorgado pelo Estado ou pelo próprio povo.

A Carta Magna estabelece princípios básicos e regras genéricas de suma

importância para a organização da sociedade e do próprio Estado, com bases mais justas, e

adaptada ao anseio da sociedade para a qual ela foi constituída. Além disso, o texto

constitucional não só é a Lei Fundamental de um país, mas constitui-se no verdadeiroinstrumento de cidadania.

A administração pública e os seus agentes devem obediência irrestrita à Carta

Magna. A sua inobservância, principalmente por aqueles que são detentores de poder, é

atitude grave e fere os princípios do Estado Democrático de Direito instituídos, colocando em

dúvida se essas autoridades encontram-se atualizadas com os ideais da moderna sociedade

liberal brasileira.

Os constituintes deram uma nova roupagem aos direitos e garantias

individuais, quando os relacionaram logo no princípio da Carta Política. Pela primeira vez, o

cidadão brasileiro, em relação às outras constituições anteriores, passa a ter um lugar

privilegiado em detrimento da própria organização política do Estado Brasileiro. Foram

necessários mais de duzentos anos para o país se submeter à forma da Declaração dos Direitos

do Homem concebida na França em 1789: primeiro o homem como cidadão, e depois o

Estado como organização.

Dentre as setenta e sete garantias individuais asseguradas aos cidadãosbrasileiros, na Constituição da República de 1988, encontra-se o instituto da ampla defesa

que, além de ser um direito fundamental, constitui-se também um direito natural, revelando-

se, insofismavelmente, como o esforço humano que enobrece o indivíduo e o reconhece como

digno de integrar o processo que a humanidade lhe outorgou , além de configurar o traço mais

proeminente e característico de toda uma civilização.

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Consentir-se em arbitrariedades e desmandos, e principalmente, tolher o direito

de defesa, equivale a colaborar, eficazmente, para o fortalecimento contínuo das injustiças.

O Artigo 5°, inciso LV1 da Constituição Brasileira é norma de eficácia plena,

assegurando o exercício da ampla defesa e do contraditório para os litigantes e acusados em

geral em todas as modalidades de processos judiciais e administrativos. Contudo, apesar da

clareza da norma fundamental e de sua auto-aplicabilidade na dinâmica administrativa, o

cerceamento do direito de defesa concretiza-se na insipiência daqueles que têm o poder

administrativo para determinar, ou não, a instauração de apurações disciplinares,

consumando-se em ação infundada ou omissão por parte da autoridade hierárquica, e

exaurindo-se, às vezes, em um constrangimento desnecessário ao subordinado sujeito a

responder uma injusta apuração disciplinar.

Nesse contexto, o Departamento de Polícia Federal (DPF), como órgão estatal

encarregado, dentre outras atribuições, de dar cumprimento às leis, não pode de forma

alguma, abster-se de observar um preceito constitucional de relevante importância para o

servidor e para a própria administração. É interesse fundamental da administração pública que

a repressão disciplinar se realize de forma mais legítima, a fim de que, comprovados fatos

desabonadores imputados ao servidor, a sanção dela resultante possa servir como fator

preponderante da regularidade e da seriedade administrativa.

Também é obrigação da autoridade pública evitar que injustiças sejam

cometidas. Ao não permitir que o servidor acusado de ter cometido alguma irregularidade

tome conhecimento oficial daquilo que lhe é imputado, impedindo-lhe de apresentar sua

versão dos fatos antes da decisão de se determinar, ou não, pela instauração do procedimento

disciplinar, claramente, configura-se, de imediato, uma decisão em desacordo com o

equilíbrio necessário de justiça, indo, inclusive, em confronto direto com o que estipula a

garantia do exercício de ampla defesa prevista na norma constitucional.

Transcorridos 17 anos desde a edição da Carta de 1988, ainda se observa que

processos administrativos originados de expedientes sobre irregularidades cometidas por

servidores do DPF são decididos sem que os funcionários envolvidos tomem conhecimento

dos fatos. Se o processo tiver como solução o arquivamento, seja por qualquer motivo, o

1 “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados ocontraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”

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servidor “acusado” sequer tomará ciência. Terá, sim, conhecimento dos fatos contra si

imputados, somente, e depois da decisão de se determinar a apuração através de processo

disciplinar. Esta situação enseja que a dinâmica de prosseguimento dessas notícias careçam

de ajustes, de forma a garantir aos servidores o exercício da ampla defesa, com toda suaplenitude em obediência à garantia constitucional que lhe é assegurada.

O presente estudo é de extrema relevância para o DPF, e, também, para outras

instituições públicas, pois se trata da busca de uma compreensão mais ampla possível de uma

garantia fundamental prevista na Magna Carta, que trouxe profundas modificações para a

dinâmica do processo administrativo em geral.

Busca-se, assim, mostrar a necessidade de uma reformulação nos trâmites

daqueles procedimentos no âmbito da Polícia Federal, para que estejam em sintonia com a

Constituição de 1988, garantindo os direitos líquidos, certos e indisponíveis ao provável

“acusado”, além da possibilidade de permitir que este afaste, de pronto, uma notícia de

cometimento de irregularidades e, se for o caso, tomar medidas legais contra aqueles que o

acusam. Sem contar com a economia que se propiciará à administração, pois, se o servidor

comprovar sua inocência, evitar-se-ão gastos desnecessários inerentes à apuração disciplinar

que seria realizada.

Tem-se como objetivo geral, nesta pesquisa, identificar, a favor do servidoracusado da prática de ato infracional disciplinar, como da própria instituição policial, de qual

seria o melhor momento e maneira para propiciar a ele o exercício da ampla defesa.

Constitui-se objetivo específico buscar um referencial legal que permita a

elaboração de normas internas pela administração do DPF, no sentido de regulamentar os

procedimentos a serem adotados, a partir do conhecimento de irregularidades cometidas por

seus funcionários, a fim de permitir e propiciar à autoridade que exerce as atividades

funcionais de avaliação desses expedientes, elaborar com maior equilíbrio e justiça suamanifestação.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental. Foram consultadas leis

pertinentes à matéria, autores que atuam na área processualista administrativista disciplinar,

monografias e artigos jurídicos que fundamentassem os argumentos ora defendidos. Para um

melhor entendimento do estudo, e sendo necessário apresentar conceitos da ciência jurídica,

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buscaram-se, em dicionário da língua pátria, significados e origens etimológicas de palavras

utilizadas nas definições jurídicas.

Para se levar a efeito o presente estudo, optou-se pela seguinte estruturação:

-Na segunda seção, contextualizou-se o tema da pesquisa e apresentaram-se as

 justificativas que levaram o autor a pesquisar sobre a matéria;

-na terceira seção, são inseridos conceitos da Teoria Geral do Direito que

permitirão ao leitor entender melhor o instituto da ampla defesa;

-na quarta seção, conceituam-se os princípios gerais e fundamentais que

regulam a ciência jurídica;

-na quinta seção, estudam-se os princípios fundamentais da ampla defesa;

-na sexta seção, apresentam-se algumas noções de Direito Administrativo e

estudam-se os princípios que regem o Processo Administrativo;

-na sétima seção, trabalha-se o tema notícia infracional;

-na oitava seção, conclui-se a linha de raciocínio elaborada, apresentando, ao

final, sugestões para a regulamentação da matéria junto a Administração do DPF;

-na nona seção encontram-se as referências e anexos.

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA DA PESQUISA

Na estrutura organizacional da Polícia Federal, é prevista uma Corregedoria

Geral, subordinada diretamente à Direção Geral do DPF, sendo o Corregedor Geral indicadopelo Diretor Geral e nomeado pelo Senhor Ministro da Justiça (Figura 1):

Figura 1 – Localização da Corregedoria Geral no âmbito do Departamento de Polícia Federal

Da mesma forma, em cada Superintendência Regional do DPF existe uma

Corregedoria Regional, subordinada diretamente ao Superintendente Regional, sendo o

Corregedor Regional indicado por este, e nomeado pelo Senhor Ministro da Justiça (Figura

2):

Figura 2: Localização da Corregedoria Regional no âmbito das Superintendências Regionaisdo Departamento de Polícia Federal

Em regra, as notícias de cometimento de desvio de conduta de servidores são

apuradas no próprio Estado de origem do servidor envolvido e/ou do acontecimento do fato.

A autoridade instauradora no âmbito do DPF é, nas Superintendências Regionais, o

Superintendente e, quando foge à alçada deste, a autoridade instauradora passa a ser o Diretor

Geral e/ou Corregedor Geral do DPF.

As Corregedorias Regionais são estruturadas com um Núcleo de Correições e

um Núcleo de Disciplina. (Figura 3):

DIRETOR GERAL

OUTROS ÓRGÃOS CORREGEDORIA GERAL(COGER)

OUTROS ÓRGÃOS

SUPERINTENDENTE REGIONAL

OUTROS SETORESCORREGEDORIA REGIONAL

(COR) OUTROS SETORES

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.Figura 3: Estrutura das Corregedorias Regionais de Polícia

O primeiro cuida das correições nos inquéritos policiais que tramitam na

Regional. O Segundo é responsável pela fiscalização de toda parte disciplinar da Regional,

dentre elas o oferecimento de pareceres, após a conclusão de Processo Administrativo

Disciplinar (PAD) e sindicância (SIND). Na prática, para este setor são encaminhados todos

os expedientes de natureza disciplinar que dão entrada na Regional, a fim de se elaborar

pareceres sobre a necessidade ou não de instauração de procedimentos disciplinares.

O trâmite do expediente de natureza disciplinar, quando originário de órgão

externo ou de particular, dá entrada na Regional através do setor de protocolo, e é

encaminhado ao Superintendente Regional. Este, por sua vez, em despacho, envia o

documento para a COR, que o remete para o Chefe do NUDIS para análise e manifestação.

Elaboradas estas, o documento é devolvido ao Corregedor Regional, que analisa a sugestão

oferecida e, em despacho, insere seu posicionamento, remetendo ao Superintendente Regional

para decisão de instauração de procedimento disciplinar ou arquivamento do expediente.

Da mesma forma, as notícias internas de natureza disciplinar são direcionadas

ao NUDIS, o qual as analisa e prolata opinião, prosseguindo o procedimento, a partir daqui,

com o mesmo trâmite das notícias de origem externa.

Na Regional de Minas Gerais, convencionou-se, a partir da entrada da notícia

de infração disciplinar no NUDIS, registrar e abrir um expediente denominado Procedimento

Diverso. Como primeira medida, sendo conhecido o servidor envolvido no fato noticiado, a

este se encaminhava cópia do expediente originário solicitando que informasse, em prazo

certo, sua versão circunstanciada dos fatos contra ele noticiados. A partir da informação

apresentada, ou negada, o Chefe do NUDIS analisava as informações conhecidas e elaborava

sua manifestação.

Com a mudança do Superintendente Regional do órgão, em determinado

momento, o novo dirigente entendeu que ao se dar conhecimento antecipado do fato de

CORREGEDORIA REGIONALCOR

NÚCLEO DECORREI OES

NÚCLEO DE DISCIPLINANUDIS  

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natureza disciplinar a servidor envolvido e, não estando tal situação prevista em regimento

interno, não deveria ser mais realizado, com a argumentação de que agindo de tal forma se

permitiria por parte do funcionário apresentação de uma defesa prévia, como também,

permitir-se-ia a antecipação de uma destruição ou sumiço de provas contra ele, porventuraexistentes. A COR deveria, a partir de então, apenas manifestar pela necessidade ou não de

instauração de procedimento disciplinar e, em caso positivo, ainda, indicar as possíveis

transgressões porventura cometidas pelo servidor. Quanto ao NUDIS, este passaria a

manifestar opinião somente após a conclusão de procedimentos disciplinares, caso tenham

sido instaurados.

O âmago da questão ficou, apesar da falta de regulamentação para a situação

convencionada, se diante da situação determinada estar-se-ia cerceando o exercício da ampla

defesa por parte do servidor envolvido em notícia de cometimento de ato infracional. Além do

mais, fora os constrangimentos morais inerentes aos servidores que se vêem envolvidos em

uma apuração de natureza disciplinar que trazia em seu bojo fatos sem a menor consistência

 jurídica e, facilmente rebatíveis para ensejar uma tipificação infracional, verificava-se,

também, um prejuízo de natureza administrativa ao se ter que envolver, efetivamente, mais

servidores do órgão convocados para comporem comissões disciplinares, ou presidirem

sindicância, por períodos até de quatro meses por conta dessas apurações, que ao final nada

levavam, a não ser propostas de arquivamento.

O desconhecimento de trabalhos doutrinários e/ou científicos que abordem a

matéria, trâmites dos expedientes que versem sobre cometimento de irregularidades de

servidores, aliados à falta de normatização interna que regulamentasse tais acontecimentos,

motivou a elaboração desta pesquisa, para compreender se a partir do conhecimento oficial

pelo dirigente do órgão, da notícia infracional de cometimento de irregularidades ou desvios

de conduta por parte do servidor do DPF, ao não se permitir a este tomar conhecimento da

mesma, formalmente, antes da autoridade determinar, ou não a instauração de procedimentodisciplinar, estar-se-ia, ou não, obstruindo o direito da ampla defesa do funcionário.

A Lei 8.112/90 – Estatuto do Servidor Público da União, em seu artigo 1432,

responsabiliza as autoridades cientificadas de uma irregularidade, determinando que estas

2 “Art.143.- A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover asua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada aoacusado ampla defesa.”

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façam a promoção imediata da apuração. Entretanto, a notícia de desvio de conduta dentro da

estrutura policial, antes de se dar a ela uma decisão diante do mandamento constitucional,

segue por todo um tramite dentro da instituição.

Cuidou o Estado de bem normatizar, pela própria lei infraconstitucional e

seus regulamentos, a forma de como e quando o servidor acusado irá exercitar sua defesa,

após a determinação de instauração de processo disciplinar. Mas, ao não regulamentar como a

administração deveria proceder diante de todas as notícias de desvios funcionais que dão

entrada na instituição, em tese, praticados pelos seus administrados, deixou a critério do

administrador como fazê-lo.

A norma fundamental, Artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal (CF),

concomitantemente, assegura aos administrados, quando litigante (parte) em processo

administrativo, poder exercer em sua plenitude a ampla defesa e o contraditório.

Em face do texto elaborado no direito fundamental descrito no inciso LV do

artigo 5º da CF, e, confrontando esse texto com o da legislação infraconstitucional em matéria

de natureza disciplinar, verificou-se ocorrer que a materialização do exercício da “ampla

defesa” acontece, somente, após a regular instauração de processos administrativos

disciplinares adotados pela administração pública, emergindo-se assim, o seguinte problema:

Nos processos administrativos cuja origem são noticias de desvio de conduta de

servidor no âmbito do Departamento de Polícia Federal, de acordo com o previsto

na Constituição, o instituto da ampla defesa está sendo permitido exercer em sua

plenitude?

Do problema retro mencionado e na ausência de uma normatização

institucional que incida sob o trâmite dos expedientes que dão entrada no DPF com notícias

de desvio de conduta, em tese, praticada por servidor, em dissonância com a legislação

constitucional, verificou-se a possibilidade de se configurar um cerceamento de defesa para oacusado.

Elaborou-se como hipótese básica que, diante da forma como inicialmente

tramitam no DPF expedientes contendo notícia de atos de desvio de conduta de seus

servidores, não estão sendo assegurados, na sua totalidade, a ampla defesa e o contraditório.

E como hipótese secundária, que da forma atual de como os expedientes

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contendo notícia de atos de desvio de conduta de servidores tramitam no DPF, têm sido

assegurados aos servidores acusados o exercício de sua ampla defesa e o contraditório.

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  20

3 DIREITO

Para um melhor entendimento do tema proposto, torna-se necessário apresentar

alguns conceitos e rever alguns conhecimentos básicos de noções gerais de Direito.

Etimologicamente, a palavra “direito” deriva do latim “directum”, que designa

aquilo que é reto. Num sentido figurado, passou a designar o que estava de acordo com a lei.

O direito, enquanto ordenamento da sociedade, é uma verdadeira constante na

história da humanidade e sendo fenômeno universal comum a todos os povos. Civilização e

direito nasceram juntos. Suas histórias se confundem e são as histórias de como se pode

entender o homem como um ser social. Em uma retrospectiva do passado das sociedades

humanas, o direito está presente, mesmo que em estado rudimentar regulando as relações

humanas.

Desde os primórdios da humanidade, quando o homem ainda se refugiava nas

cavernas, tempo dos primeiros agrupamentos humanos, o costume representava a regra não

escrita, a norma que imperava entre os seus membros. Nesses sistemas sociais primitivos, a

parcialidade vigia, já que diante de um conflito carecia-se de mecanismos legais de controle

reprobatório. A solução ficava nas mãos dos líderes, chefes tribais, anciãos ou, até de parentes

da parte lesada. Não havia escrita, nem governo e a regra era:  a utilização exacerbada da

 força. Dessa forma, foi que nasceu o direito entre os homens.

Segundo o filósofo inglês John Locke, a sociedade civil originou-se quando a

lei moral deixou de ser respeitada e o homem passou a exercer seu direito natural de punir os

transgressores. A vida em sociedade seria impossível sem a existência de normas reguladoras

do comportamento humano, e pelos homens julgadas obrigatórias e acompanhadas de

punições para os seus transgressores.

Locke sustenta que o estado da sociedade e, conseqüentemente, o poder político,

nascem de um pacto entre os homens. Antes desse acordo, os homens viveriam em

estado natural. Ao entrar em sociedade, os homens renunciam à igualdade, à

liberdade e ao poder executivo que cada um teria no estado natural. 3 

3 COBRA, Rubem Queiroz. - John Locke: vida, época, filosofia e obras de John Locke. Internet, Brasília,DF: 1998.

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Poderia se questionar se o direito é “um sentimento” e, provavelmente, ter-se-ia

uma resposta afirmativa. Não é exagero afirmar que todos sentem o direito e o empregam a

todo instante nas relações da vida diária. Representa-se em idéias esboçadas com expressões

cotidianas, mais ou menos vagas, tais como: “Isto é direito ...”; “Meu direito foi violado ...”;“O meu direito foi reconhecido ...”, e assim por diante.

No cotidiano jurídico, emprega-se o vocábulo em situações variadas, com

sentidos nitidamente diversos, retratando realidades distintas, conforme exemplificam as

expressões relacionadas no quadro 1:

Quadro 1: Exemplos dos significados das formas de se empregar a palavra direito

Empregos da palavra Significado

O “direito” pátrio proíbe o casamento entre pessoas domesmo sexo

indica lei ou a norma jurídica

O locador tem o “direito” de cobrar o aluguel do locatário indica faculdade ou poder de agir

O salário é um “direito” do trabalhador indica o que é justo

O estudo do “direito” requer método próprio indica uma disciplina científica

O “direito” é um setor da realidade social indica um fenômeno social

Os especialistas, entretanto, dada à precariedade dessas noções comuns,

procuram, objetivamente, um conceito mais aprofundado do que seja direito. Hans Kelsen4, 

verificando que o significado do uso da palavra direito, em alemão – recht, em inglês – law,

em francês – droit e, em italiano – diritto, indicavam fenômenos sociais com características

comuns, definiu o direito “ [...] como ordem de conduta humana [...]”.

Sem intenção de um maior aprofundamento no estudo da filosofia jurídica,

mesmo porque isto fugiria aos propósitos deste trabalho, firmar-se-á no conceito de que

“ Direito é um complexo de normas reguladoras da conduta humana, com força coativa.”5 

Ainda, segundo Kelsen6: 

‘Uma ordem é um sistema de normas cuja unidade é constituída pelo fato de todas

elas terem o mesmo fundamento de validade’. Assim, as normas singulares

pertencentes a esta ordem jurídica, funcionam como esquema de interpretação do

sistema, significando que algo ‘deve ser ou acontecer’ de acordo com a ordem

4 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 5. ed. Coimbra, Portugal: Sucessor, 1979, p. 56.5 BEVILÁQUA, Clóvis. Código civil dos Estados Unidos do Brasil comentado , 12. ed. Rio de Janeiro, RJ:

Livraria Francisco Alves, 1959, v. 1, p. 70.6 KELSEN, op. cit., p. 57.

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 jurídica indicada no todo, especialmente, que o ‘homem se deve conduzir desta ou

daquela maneira’.

No entanto, uma norma jurídica isolada não se identifica, unicamente, com

suas palavras que constituem apenas um meio de comunicação e, em regra, imperfeito. Não sedeve restringir ao sentido imediato oriundo de sua expressão morfológica, mas indagar e

buscar o que o texto encerra diante de todo o sistema jurídico ao qual se integra.

Desenvolvendo todos os espectros possíveis da norma até alcançar o seu real conteúdo e

objetivos é que se conseguirá entender a intenção da norma,

Neste sentido afirma Ferraz Junior apud Oliveira da Costa7 :

A validade da norma não é uma qualidade intrínseca, isto é, normas não são válidas

em si: dependem do contexto, isto é, dependem da relação da norma com as demais

normas do contexto. O contexto, como um todo, tem que ser reconhecido como uma

relação ou conjunto de relações globais de autoridade, afirmando que, tecnicamente,

então, a validade de uma norma depende do ordenamento no qual está inserida.

Maximiliano8 acrescenta,

Incumbe ao interprete aquela difícil tarefa. Procede à análise e também à

reconstrução ou síntese. Examina o texto em si, o seu sentido, o significado de cada

vocábulo. Faz depois obra do conjunto: compara-o com outros dispositivos damesma lei, e com os de leis diversas, do país ou de fora.

Portanto, a partir da definição apontada, a finalidade do direito se resume em

regular as relações humanas, a fim de que haja paz e prosperidade no seio social. Sem o

direito, estaria a sociedade em constante processo de contestação, onde a lei do mais forte

imperaria sempre, num verdadeiro caos.

3.1 O uso e costumes reconhecidos como direito

As relações jurídicas nas sociedades humanas iniciaram-se através dos usos e

costumes. Os autores definem o costume como a norma constante não-escrita obrigatória, só

diversa da lei no aspecto formal, pois a lei é escrita e o costume não. Outra diferença é que a

7 COSTA, Walmir Oliveira da. A norma jurídica: espécies normativo – jurídicas. [S.l.:s.n., 199-].8 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 9. ed. Rio de Janeiro, RJ: Forense,

1979. , p. 10.

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lei é intencionalmente elaborada, enquanto o costume forma-se espontaneamente:

USO: Aplicação, utilidade, emprego, prática, exercício [.. .]9. 

Prática constante e ininterrupta, por um certo tempo, oriunda de praxe cotidiana nosnegócios; decorrido certo período, sua observância pode tornar-se obrigatória.10 

COSTUME: Procedimento reiterado e acompanhado da convicção do que é

necessário [...]11. 

[...] os actos constitutivos do costume têm de ser praticados na convicção de que

devem ser praticados. Esta convicção pressupõe, porém, um acto de vontade

individual ou colectivo cujo sentido subjectivo é do de que nos devemos conduzir de

acordo com o costume.12

O costume é fonte originária do Direito ocupando longo período da sua

história, recebendo a denominação de Direito Costumeiro ou Consuetudinário: “[...] direito

não estatutário produzido pela vontade jurídica geral de uma coletividade, manifestada

normalmente mediante uso [...].” 13.

Foi a partir do século XII e sobretudo no século XIII é que cada reino formado

na Europa começava a desenvolver o seu próprio sistema jurídico com base em costumes

locais, na legislação e decisões reais ou senhoriais. Gradativamente se formaram os direitosdos Estados modernos, não de forma simultânea, mas conforme os fatores políticos,

econômicos e sociais ao longo do tempo em que se formavam as nações.

Assim, dois tipos de sistemas jurídicos se desenvolveram, distinguindo um do

outro em face, primordialmente, da ausência de uniformidade entre os povos:

a) tradição anglo-americana, sistema Common law: sistema jurídico

elaborado na Inglaterra a partir do século XII pelas decisões das jurisdições reais. É um

direito jurisprudencial, elaborado pelos juízes reais e mantido graças à autoridade reconhecida

9 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rev. Aum. Riode Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1997, p.1744.

10 MAGALHÃES, Humberto Piragibe; MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Dicionário jurídico. 8. ed.Rev. Atual. por Clovis C. Piragibe Magalhães e Marcelo C. Piragibe Magalhães. Rio de Janeiro, RJ:Destaque, 1997, p. 933.

11  Ibid ., p. 249.12 KELSEN, 1979, p. 314.13 MAGALHÃES, op. cit., p. 296

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aos precedentes judiciários. Salvo na época de sua formação, a lei não desempenha qualquer

papel na sua evolução;

b) tradição romanista, Civil law: sistema de direito primado por um

processo legislativo formal, onde o exercício de direitos tem por obediência a existência de

leis escritas, que são imprescindíveis. Iniciado na Itália e, a partir do século XII, recebeu forte

influência pelo desenvolvimento da ciência do direito elaborada nas universidades da época,

onde o ensino do direito era quase exclusivamente baseado no estudo do direito romano.

No direito pátrio, que segue a tradição romanista, existe previsão legal

concedendo ao juiz a possibilidade para invocar um costume no julgamento de uma lide: Art.

126 da Lei 5.869/7314:

O Juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da

lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo,

recorrerá à analogia, aos costumes (grifo nosso) e aos princípios gerais do direito.

Como, também, se oferecido pelo Autor de uma ação, deverá ser provado:

CPC, art. 33715: A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro, consuetudinário

(grifo nosso), provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o Juiz.

Assim, a partir dessas referências, verifica-se o quanto foram, e continuamsendo importantes no âmbito das ciências jurídicas os USOS E COSTUMES, sendo tratados

no direito, como fonte originária e, inclusive, apta a produzir efeitos em juízo, apesar de

imperfeita, pois, ao ser invocada exigirá ser provada, não propiciando qualquer garantia de

permanência.

3.2 Direito Objetivo e Direito Subjetivo

A ciência jurídica ainda estuda o sentido da palavra direito quando vinculada a

duas significações diversas, traduzidas no mundo jurídico pelos brocardos latinos norma

agendi16  , e facultas agendi17 . 

14 NEGRÃO, Theotonio. Código de processo civil. 26. ed. Atual. São Paulo, SP: Saraiva, p.161.15  Ibid., p. 302. 16 O direito como norma, lei ou regra de ação - norma de conduta.17 O poder de ação - faculdade de agir.

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Os dois significados, embora intimamente ligados, são inconfundíveis e

mantêm nítidas correlações entre eles. O primeiro, norma agendi, trata-se do direito objetivo e

representa o conjunto de normas impostas ao comportamento humano, autorizando-o a fazer

ou impedindo-o de fazer algo. O segundo, facultas agendi, configura-se no direito subjetivo,tratando-se da permissão que tem o ser humano de agir conforme o direito objetivo. Um não

existe sem o outro, e o segundo deriva do primeiro. O direito subjetivo é a conseqüência

lógica:

Direito Objetivo é o complexo de normas providas de eficácia e vigorantes em um

ou mais lugares18.

Direito Subjetivo é a possibilidade de agir e de exigir que os demais ajam de acordo

com o direito objetivo; poder de ação ou de agir para o exercício e defesa deinteresses juridicamente protegidos.19 

Desta forma, direito objetivo é o complexo de normas jurídicas que regem o

comportamento humano, de modo obrigatório, prescrevendo uma sanção no caso de sua

violação.

E o direito subjetivo, por sua vez, é o poder que tem o homem de exigir

garantias para a realização de seus interesses quando estes estão de conformidade com o

interesse social. São prerrogativas de que uma pessoa é titular, no sentido de obter efeito

 jurídico, em virtude da regra de direito. A expressão designa uma faculdade reconhecida à

pessoa pela lei e que lhe permite realizar determinados atos.

3.3 Direito Natural e Direito Positivo

Embora só se possa falar em história do direito com o aparecimento dos

primeiros documentos escritos, muito antes do descobrimento da escrita vários povos já

aplicavam conceitos jurídicos em sua vida prática. Com a organização dos povos e sua

evolução na vida social, mesmo desconhecendo a escrita, nessas organizações foram

constituídas instituições civis tais como o casamento, poder paternal ou maternal sobre os

filhos, propriedade, sucessão, doação.

18 MAGALHÃES, 1997, p. 305.19  Ibid ., p. 309.

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  26

Os direitos antigos eram relativamente diversificados, constatando-se muitas

semelhanças entre os diversos costumes e, sem exceção, impregnados de religiosidade. O

homem arcaico vivia sobre o temor dos poderes sobrenaturais, de forma que as regras morais,

 jurídicas ou religiosas são uma e mesma coisa. O conceito de justiça nesse mundo antigocaracterizava-se como sendo justo tudo aquilo que interessava para manter a coesão social.

Foi da íntima ligação com as crenças religiosas desenvolvidas pelo ser humano

e das bases filosóficas nas quais a razão humana saiu em busca do direito inerente à

personalidade humana, que nasceram e se desenvolveram os sistemas jurídicos, tal como são

conhecidos até os tempos atuais.

Conforme as várias classificações dadas ao direito com relação à sua origem,

até o final do século XVIII, sua natureza era dividida em duas correntes: a naturalista e a

positivista. Entretanto, essas duas correntes ultrapassaram os tempos.

No pensamento grego se encontra a idéia da existência de um direito, baseado

no mais íntimo da natureza humana, como ser individual ou coletivo, como nos esclarece

Queiroz20:

[...] ninguém melhor que o povo grego soube situar o homem em seu mundo. Em

contraste com a exaltação oriental dos homens deuses, solitários porque acima de

toda a medida natural, a história grega surge dando uma nova valorização ao homem

e com uma filosofia prenhe de forte sentimento da dignidade humana

a) Escola Naturalista 

O direito natural consubstancia-se em regras impostas ao indivíduo pelo

Estado, a partir de uma lei anterior e superior, que se impõe a todos os povos pela própria

força dos princípios supremos dos quais resulta, constituído pela própria natureza e não pela

criação dos homens: “[...] o direito natural, como inerente ao ser humano e imanente a ele,

encontra sua gênese no momento mesmo em que o homem é criado.21”.

20 QUEIROZ, Mirtes Spitale. Fundamentos do direito natural na filosofia pré-socrática. 2000. Monografia - Universidad Del Museo Social Argentino. Barbacena/MG , 2000.– ConvênioUNIAAL/UNIPAC, f.. 8

21  Ibid., f .. 9

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Nas concepções jurídicas do período arcaico dos gregos, conhecidas através

das obras épicas de Homero e do poeta Hesíodo, constata-se que desde aquela época se

considerava a lei emanada dos deuses sendo transmitida à humanidade por uma revelação da

vontade divina.

Conforme informa Queiroz22:

Homero, considerado por muitos o primeiro tratadista do direito e da política,

idealiza na Ilíada (grifo da autora), o mito da deusa Themis que, conhecedora das

leis da sociedade que são de origem divina, torna-se esposa de  Zeus e sua

conselheira jurídica. Os reis e juízes humanos, instruídos por  Zeus, aplicavam em

cada caso concreto o Direito pertinente. A conduta justa aparentemente era de Zeus

mas, no fundo era uma determinação de Themis. A atividade Jurisdicional, o que o

direito chama falculta agendi (grifo da autora), isto é a pretensão jurídico subjetiva,

é encontrada em Homero como  Dike23 (grifo da autora). 

O Poeta Hesíodo, observando a natureza, constatou que os animais se entre

devoravam porque desconheciam a lei, só concedida aos homens por  Zeus. Assim, o poeta

contrastava os nomos24  da natureza irracional com o mundo racional dos homens.

A doutrina clássica do direito natural o situa em três períodos da história

humana: o primeiro se dá quando as sociedades viviam sob uma visão geocêntrica; o segundo,esta visão passa a ser teocêntrica; e, finalmente, quando o homem parte para uma visão

antropocêntrica do mundo.

A concepção de um direito supra-real nasce com a visão geocêntrica da antiga

filosofia grega quando então o direito natural deriva do cosmos, ou seja, direito oriundo da

própria essência do universo. Para eles, o direito natural era idêntico à lei da razão, e o

homem, como parte da natureza cósmica, era uma criação essencialmente racional:

A escola estóica reservava ao conceito de natureza o centro de seu sistema

filosófico. Seu fundador, Zenão de Citium (334-262),.[...].Na filosofia estóica,[...], o

Deus supremo e universal não era outro senão o mundo, a substância do mundo e

razão do mundo. [...]. O homem, como parte da natureza e essencialmente racional.,

devia conduzir sua vida conforme os ditames de sua razão, libertando-se de todas as

22 QUEIROZ, 2000 , f. 1423 Filha dos deuses gregos Zeus e Themis.24 Princípios ordenadores: disposições gerais, uniformes e iguais para todos.

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paixões e emoções, pois, assim estaria agindo conforme a lei de sua própria

natureza25.

No medievo nasce a segunda forma de iusnaturalismo: a teocêntrica. Nesta

fase as influências religiosas são enormes. O pensamento cristão, no tocante ao direito natural,

é herdeiro imediato do estoicismo e da jurídica romana. A noção objetiva teocêntrica do

direito natural pode ser encontrada muita bem figurada, no texto de São Paulo:

[...] quando os gentios, que não têm lei, cumprem naturalmente o que a lei manda,

embora não tenham lei, servem de lei a si mesmos; mostram que a lei está escrita em

seus corações. 26 

Nesse período, o mundo civilizado se encontrava dominado pelo cristianismo,

e a fonte reveladora do direito agora passa a ser Deus. O que não estivesse conforme o direito

divino, ou não seria direito ou seria nulo. Segundo Bodenheimer apud Magalhães27, Santo

Agostinho (354-430 d.C.) pregava em sua doutrina:

O governo, o direito, a propriedade, a civilização toda como produto do pecado, e a

Igreja, como guardiã da Lei Eterna de Deus, poderia intervir nessas instituições

quando julgasse oportuno. Para Santo Agostinho, se as leis terrenas (lex temporalis)

contêm disposições claramente contrárias à Lei de Deus, estas normas não têm

vigência e não devem ser obedecidas.

Por ultimo, a terceira versão, onde se tem o iusnaturalismo a partir de uma

visão antropocêntrica. O homem assume o papel de criador de todo o direito, porém, ainda

com respaldo em algo que não é tão-somente sua vontade livre. É a fase que corresponde à

tomada de consciência do homem. Desenvolveu-se a partir da impressão gráfica da 1ª Bíblia

de Gutenberg em 1455, e, com o aperfeiçoamento da imprensa, os livros passaram a ser

impressos e traduzidos, e as idéias circularam com maior rapidez e para um maior número de

pessoas. A realidade social existente passa a ser objeto de indagação, e, com a corrente de

questionamento e de proposição de mudanças, nasce o Iluminismo:

O Iluminismo é fundado no Racionalismo. Todas as coisas poderiam e

deveriam ser explicadas através da razão. O poder estatal, exercido

25 QUEIROZ, op. cit., f. 36-37.26 BIBLIA. Romanos 2: 14-15.Português. BIBLIA SAGRADA: nova versão internacional. Traduzido pela

comissão de tradução da Sociedade Bíblica Internacional. São Paulo,SP: Vida, 2000, p. 900.27 MAGALHÃES, José L. M. de. Direitos humanos: evolução histórica. [S.l.:s.n., 199-].

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pelos reis e explicado pela vontade divina, passa a ser compreendido como força de

vontade popular. O Direito Natural é completamente revisto. Na Idade Média este

Direito Natural era visto como vinculado à vontade de Deus. A partir da Escola de

Direito Natural de Grotius (1625) não é mais entendido desta forma. Os Direitos

Naturais são produtos da razão 28. 

A doutrina jurídica.29 moderna apresenta o direito natural como aqueles

princípios que se supõem existentes em todas as legislações ou que nelas devem estar

presentes, por se fundarem em uma idéia superior de justiça, da qual os homens não podem se

arredar

b)  Escola Positivista

“O plano da phisis e o plano do nomos são claramente distinguidos. A

natureza é o que une os homens e a lei o que os divide”. 30 

O direito positivo compreende o conjunto de regras jurídicas em vigor num

país determinado e numa determinada época. É o direito histórico, e objetivamente

estabelecido, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, costumes, decretos,

regulamentos. É o direito cuja existência não é contestada por ninguém.

No período denominado antropológico da história do pensamento grego, é queo interesse dos filósofos passou a girar, não mais em torno da natureza, mas em torno do

homem colocado no centro do mundo.

Esse período esplêndido do pensamento grego - século IV a.C.- compreende

um número relativamente pequeno de grandes pensadores. Estes, denominados sofistas

(Protágoras, Górgias, Crítias, Antifonte), despojam do conceito de justiça os atributos

metafísicos31, passando a analisá-lo conforme as características psicológicas do homem ou de

28 SALGADO apud MAGALHÃES, [S.l.:s.n., 199-]. 29 MAGALHÃES, 1997, p. 304.30 QUEIROZ, 2000, p. 39.31 Metafísica: Parte da filosofia, que com ela muitas vezes se confunde, e que, em perspectivas e com

finalidades diversas, apresenta as seguintes características gerais, ou algumas delas: é um corpo deconhecimentos racionais (e não de conhecimentos revelados ou empíricos) em que se procura determinaras regras fundamentais do pensamento (aquelas de que devem decorrer o conjunto de princípios dequalquer outra ciência, e a certeza e evidência que neles reconhecemos), e que nos dá a chave doconhecimento do real, tal como este verdadeiramente é (em oposição à aparência) – (FERREIRA,1997 .,p.1126).

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interesses sociais. Através do pensamento dos sofistas, de Platão e o realismo de Aristóteles,

construíram-se os primeiros alicerces teóricos da discussão jusfilosófica.

Com os sofistas marcou-se a passagem do período cosmológico para o período

antropológico, centrado em questões lingüísticas, gramaticais, epistemológicas e jurídicas. A

partir de suas idéias, inicia-se a escola positivista do direito.

Os sofistas estabelecem uma oposição especial entre a lei da natureza e a lei

dos homens, quer política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado,

mortificador, uma pura convenção, e entendendo por natureza, não a natureza humana

racional, mas a natureza humana sensível, animal, instintiva. Em Gouveia32, é citado

Protágoras (481 a.C - 411 a.C.), considerado como o pensador grego que antecipou as

opiniões dos positivistas modernos. Ele sustentava que as leis feitas pelos homens eram

obrigatórias e válidas, sem considerar o seu conteúdo moral.

A diferença entre o direito positivo e o natural pode ser estabelecida a partir de

suas respectivas origens. O direito natural compreende um conjunto de regras identificadas

em todos os tempos, que não foram elaborados pelos homens, mas pertencem à sua própria

natureza humana, como se emanasse de uma vontade superior (direito de reproduzir, direito

de constituir família, direito de viver ). Quanto ao direito positivo, compreende um conjunto

de regras definidas pelos homens para regular suas relações na vida em sociedade.

Em uma síntese, o direito positivo é o direito que depende da vontade humana,

enquanto o direito natural, é o que independe do ato de vontade, por refletir exigências sociais

da natureza humana, comum a todos os homens.

São muitas as grandes conquistas verificadas com a aplicação do direito

positivo, especialmente as inerentes ao princípio da legalidade. Não se deve esquecer,

entretanto, que a norma deve servir como referencial na aplicação dos casos concretos, tendo

em vista a sua generalidade, o que muitas vezes necessita de uma maior adequação por parte

do intérprete e do operador do direito. É assim que alerta Maximiliano33 na introdução de sua

obra:

32 GOUVEIA, Alexandre Grassano F. Direito Natural e Direito Positivo . Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n.27, dez. 1998.

33 MAXIMILIANO, 1979, p.1.

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  31

As leis positivas são formuladas em termos gerais; fixam regras, consolidam

princípios, estabelecem normas, em linguagem clara e precisa, porém ampla, sem

descer a minúcias. É tarefa primordial do executor a pesquisa da relação entre o

texto abstrato e o caso concreto, entre a norma jurídica e o fato social, isto é aplicar

o Direito. (grifo nosso).

Condicionadas ao desgaste pela evolução da sociedade, as normas inseridas no

direito positivo não são perfeitas. É dessa forma que, quando leis decretadas pelo poder

governante (nomos) se opõem a conceitos de uma natureza ou princípio natural (phýsis), 

assinalam a diferença entre as normas jurídicas convencionais e quase sempre se identificam

com os interesses do grupo mais forte. São uma das razões de não se poder abandonar a

escola Naturalista de plano. Seria uma decisão muito grave, porque tal renúncia

corresponderia à tese de que não há para o Estado qualquer limite na sua tarefa de legislar,permitindo-se, assim, a formação de qualquer tipo de regimes totalitários.

Os costumes e as tendências sociais têm que ser observados e respeitados, para

que uma norma seja inserida em um ordenamento jurídico. É no direito natural que a escola

positivista encontra soluções para o conflito de normas e litígios existentes.

A partir da premissa de que o direito positivo não é perfeito, em razão das

normas nele inseridas estarem condicionadas ao desgaste pela evolução da própria sociedade,

Gouveia34 confirma sua posição de que o direito positivo depende do direito natural, pois,

será na busca de costumes e princípios do  jusnaturalismo,, sendo através da manifestação da

sociedade que ele se expressa, a existência do verdadeiro direito. 

34 GOUVEIA, 1998.

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  32

4 PRINCÍPIOS COMO PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO

PRINCÍPIO: Momento ou local ou trecho em que algo tem origem; começo.35;

Teoria, doutrina, idéia básica, entendimento que deve guiar vários outros, ou mesmo

um sistema de direito.36. 

Firmando-se no conceito de idéia básica, um princípio será reconhecido como

tal se sua premissa for imediatamente evidente e admitida como universalmente verdadeira,

sem a necessidade de ser demonstrada ou provada.

Nas relações humanas, como preceito axiomático, o princípio surgiu

posteriormente ao costume. Primeiro o costume, após, a norma (direito consuetudinário) e, emsua essência , os costumes e os princípios em forma de regra de direito.

No sistema jurídico, o termo  princípio, sozinho, se traduz com o mesmo

significado de seu entendimento comum.

A palavra no plural,  princípios, é mais abrangente, indicando o entendimento

do termo ser de proposições diretoras da ciência, às quais todos os desenvolvimentos

posteriores devem estar subordinados. Toda forma de conhecimento filosófico ou científico

implica a existência de princípios, assim confirma Cretella Jr, apud Di Prieto37:

Princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas que

condicionam todas as estruturações subseqüentes . Princípios neste sentido, são os

alicerces da ciência.

No campo da ciência jurídica não é diferente, quer nas relações cotidianas com

as pessoas, quer nas atividades forenses, para a vida do direito e sua prática diária, os

princípios são a ela inerentes, empregados na doutrina como princípios gerais e fundamentais

do direito.

Portanto, chega-se à conclusão de que princípios são os pontos básicos e que

servem de pilares para a elaboração e aplicação do direito.

35 FERREIRA, 1997, p.1393.36 MAGALHÃES,1997, p. 710.37 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 12. ed. São Paulo, SP: Atlas, 2000, p. 66.

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  33

E, reforçando esse entendimento, no âmbito da doutrina jurídica nacional

verifica-se a semelhança de conceitos jurídicos elaborados pelos doutrinadores:

Princípios são certos enunciados lógicos admitidos como condição ou base de

validade das demais asserções que compõem dado campo do saber.38 

Princípios são o conjunto de regras ou preceitos que se fixam para servir de norma a

toda espécie de ação jurídica, traçando a conduta a ser tida em uma operação

 jurídica.39 

Princípios são elementos fundamentais da cultura jurídica humana.40 

Princípios são os pressupostos lógicos e necessários das diversas normas

legislativas.41

 

Os princípios jurídicos diferem das demais regras de ‘tudo ou nada’ porque, quando

são aplicáveis, não ‘obrigam’ a uma decisão, mas apontam para uma decisão, ou

afirmam uma razão que pode ser afastada.42 

Os princípios jurídicos têm sua fundamentação básica no direito natural, e sua

vigência independe da existência de qualquer documento ou preceito escrito. A idéia é de que

são regras ou preceitos que antecedem a própria norma ou podem influenciar a criação desta,

exercendo, com isso, raio de ação aplicável a toda espécie de movimento jurídico.

Enorme é a importância de um princípio no sistema jurídico, de maneira que,

sem contra-argumentos, ao se deixar de observar um princípio, diretamente, estar-se-á

desobedecendo a uma norma do sistema, em cuja essência estivesse ele embutido.

4.1 Princípios gerais e fundamentais do Direito

Em ciências jurídicas como em todas outras, o estudante tem que saber

diferenciar o entendimento dos termos “geral” e “ fundamental”:

38 MIGUEL REALE apud   AMARAL, Júlio Ricardo de Paula. Princípios de processo civil naConstituição Federal. [S.l.:s.n., 199-]. 

39 DE PLÁCIDO E SILVA apud AMARAL, [S.l.:s.n., 199-]. 40 CLÓVIS BEVILÁQUA apud AMARAL, [S.l.:s.n., 199-].41 COVIELLO apud AMARAL, [S.l.:s.n., 199-].42 HART apud PEDRA, Anderson Sant'Ana. Os fins sociais da norma e os princípios gerais de direito . Jus

Navigandi, Teresina, ano 7, n. 62, fev.2003.

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  34

GERAL: (do latim generale) [...] que abrange ou compreende um todo; total.43 

FUNDAMENTAL: [...] básico, essencial, necessário.44 

Quaisquer sistemas jurídicos conhecidos têm inserido em suas bases princípiosgerais de direitos e, contextualmente, indicam os princípios fundamentais jurídicos pelos

quais nortearam as normas posteriores a serem criadas.

a) Princípios gerais do Direito 

Os princípios gerais do direito são definidos:

Enunciações normativas de valor genérico que condicionam e orientam a

compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer

para a elaboração de novas normas.45 

Normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais que

informam o ordenamento jurídico, ou enunciações normativas de valor genérico,

que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a

sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem tanto o

campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua atualização prática.46

Ao invocar os princípios gerais, o operador do direito investiga o pensamento

mais alto da cultura jurídica. Percorre-se desde o pensamento filosófico superficial, aos

históricos conhecimentos basilares que sustentam o sistema jurídico. É o administrativista

Armando Costa47 que afirma:

 Honeste vivere, neminem laedere e suum cuique tribuere (viver honestamente, não

lesar a ninguém e dar a cada um o que é seu) eram princípios prevalentes na

elaboração do Direito Romano, os quais se espraiaram para o aconchego de todas as

legislações civilizadas do globo terráqueo, e ainda hoje inspiram aos cultores da

ciência jurídica.

43 FERREIRA, 1997, nota 9, p.84744  Ibid., p. 820.45 MIGUEL REALE apud MAGALHÃES, 1997, p. 712.46  COSTA , [S.l.:s.n., 199-].47 COSTA, José Armando da. Teoria e prática do direito disciplinar. Rio de Janeiro, RJ: Forense, 1981.,

p. 64.

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  35

Quanto aos princípios gerais, pode-se dizer que o legislador, em regra, não os

especifica, já que seus enunciados são manifestações do próprio espírito de uma legislação.

Dentre tantos conhecidos e aplicáveis, mencionam-se os seguintes princípios gerais de direito

apresentados no quadro 2, usualmente identificados no mundo jurídico pelos brocardos emlatim:

Quadro 2: Exemplos de brocardos jurídicos e suas traduções. BROCARDO EM LATIM  TRADUÇÃO

 Beneficium juris nemini est denegandiA ninguém dever ser denegado o benefício dodireito

Cogitationis poenam nemo patitur  Ninguém pode sofrer pena pelo pensamento

Culpa ubi non est, nec poena esse debet  Onde não existe culpa, não deve haver pena

 Dare nemo potest quod non habet  Ninguém pode dar o que não tem

 Neminem ignorantia legis excusat  A ignorância da lei não escusa ninguém

 Nemo auditur propriam turpitudinem allegans Ninguém é dado alegrar a própria torpeza em seuproveito

 Nemo debet inauditus damnari Ninguém deve ser condenado sem ser ouvido

 Nemo deferre se cogitur  Ninguém é obrigado a se denunciar

 Nemo demnatur nisi per legale judiciumNinguém pode ser condenado a não ser em um juízo legal

 Nemo potest ignorare leges A ninguém é dado alegar a ignorância da lei

Fonte: Dicionário de Latim Jurídico. Disponível no  site: <:http://www.direito.fib.br/dicionario/ >.

Pode-se identificar em cada ramo do direito princípios gerais sem maiores

critérios, às vezes até não escritos e percebidos por indução, conforme exemplos apresentadosno quadro 3:

Quadro 3: Exemplos de princípios gerais e sua aplicação práticaRamo do direito Principio geral Aplicação prática

Penal Reserva legalNão há crime sem lei anterior que o defina. Juiz não poderáaceitar denúncia sobre fato que não é definido como crime

Administrativo Legalidade Os atos da administração têm que estar sujeitos ao direito

TrabalhoProteção dotrabalhador

 In dúbio pro misero, na dúvida, deve o juiz trabalhistadecidir a favor do trabalhador

Processual

Duplo grau de

 jurisdição

De toda sentença de primeira instância existe possibilidade

de se recorrer da decisão.Internacional

PúblicoEfetividade

A validade da norma internacional depende de sua eficáciaem âmbito nacional

O operador do direito, ao invocar os princípios gerais do direito, o faz com

apelo às inspirações mais altas da humanidade civilizada, permitindo, assim, suprir a

deficiência legislativa com a adoção de uma regra que o legislador não chegou a ditar sob a

forma de preceito, mas que se contém imanente no espírito do sistema jurídico.

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  36

b) Princípios fundamentais do Direito

O homem, através de seus atos, materializa seus pensamentos. No mundo

 jurídico não é tão diferente, pois, através de normas expressas, formaliza-se uma ordem, um

sistema jurídico.

Kelsen48, para elaborar seu conceito de norma fundamental, se questionava:

“Por que é que uma norma vale? O que é que constitui seu fundamento de validade? Por que

uma norma determinada pertence a uma determinada ordem? O que é que fundamenta a

unidade de uma pluralidade de normas?” Como conclusão, explicou que: 

O fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade de uma outra

norma. Uma norma que representa o fundamento de validade de uma outra norma é

figurativamente designada como norma superior [...].

Princípios jurídicos fundamentais não deixam de ser normas ou preceitos

historicamente aceitos pelos homens, progressivamente introduzidos na consciência jurídica e

que encontram uma recepção expressa ou implícita em uma ordem jurídica superior.

A compreensão dos princípios fundamentais parte, geralmente, dos conceitos

que se encontram expressos na lei maior de um País.

Não se deve, entretanto, descuidar da existência de princípios, mesmo que não

se encontrem expressamente consignados em um texto constitucional vigente ou, até em leis

ordinárias. Deverão ser levados em consideração pelo profissional da ciência jurídica, pois,

representam axiomas universais indicativos de proteção de direitos que toda sociedade

organizada tem a obrigação de assegurar a qualquer cidadão.

Os princípios fundamentais e gerais do direito não devem ser confundidos,

apesar de estarem paralelamente muito próximos um do outro, como, também, tem-se que

distinguir entre princípios constitucionais fundamentais e princípios gerais do direito

constitucional. Os primeiros integram o direito constitucional positivo, e são traduzidos em

normas fundamentais que explicitam as valorações políticas do legislador originário. Quanto

aos princípios gerais, estes constituem temas de uma teoria geral do direito constitucional, por

48 KELSEN, 1979, p. 267.

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  37

envolver conceitos gerais, relações, objetos, que podem ter seu estudo destacado da dogmática

 jurídico-constitucional.

Princípios gerais de natureza constitucional, constantes em qualquer Carta

Política atual, originária de uma nação que invoca o Estado de Direito Democrático, são

aqueles que tiveram por referência, principalmente, dos ordenamentos descritos na

Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, originária da Revolução Francesa de 1789,

que dentre outros preservem para todos direitos e garantias de igualdade perante as leis sem

distinção de qualquer natureza, de liberdade, de prosperidade, de segurança e de resistência à

opressão.

Na Lei Maior nacional, os princípios constitucionais gerais e fundamentais,

facilmente podem ser localizados no texto descrito no artigo 5º, caput e em seu parágrafo § 2º

da Constituição da República Federativa do Brasil: 

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:[...]49.

...

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”

Como, também, pode ser constatado que grande parte desses princípios sempre

se fizeram presentes em nossas Cartas Magnas passadas, inclusive, na Constituição do

Império, que, apesar da natureza de regime monarquista, nela foram assegurados direitos e

garantias, como se vê nos caput dos artigos, que se encontram no quadro 4.

Com essas breves considerações, explicitaram-se, sob variados aspectos de

suas terminologias, conceitos e práticas, alguns dos importantes institutos da ciência jurídica.

Inicia-se, agora, o exame do tema principal desta pesquisa, o real entendimento

na ciência jurídica da terminologia  AMPLA DEFESA e, após, o exame da existência,

49 78 direitos e garantias constitucionais.

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  38

preservação e prática do Princípio da Ampla Defesa, mediante a análise minuciosa da

repercussão de referido instituto dentro da órbita do Direito Administrativo, que é o objeto

deste estudo.

Quadro 4: Princípios Constitucionais gerais (liberdade, segurança individual e apropriedade) e fundamentais (os relacionados pelos artigos), asseguradospor garantias e direitos individuais, estipulados nas ConstituiçõesBrasileiras passadas.

Período deVigência

PRINCÍPIOS GERAIS E FUNDAMENTAIS

1824 a 1891“Art. 179. A inviolabilidade dos direitos civis, e políticos dos cidadãos brasileiros, que têmpor base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição

do Império, pela maneira seguinte: [...]”50.

1891 a 1934

“Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à

propriedade, nos termos seguintes: [...]51.[...]Art 78 - A especificação das garantias e direitos expressos na Constituição não excluioutras garantias e direitos não enumerados, mas resultantes da forma de governo que elaestabelece e dos princípios que consigna.”

1934 a 1937

“Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual

e à propriedade, nos termos seguintes:[...]52.[...]Art 114 - A especificação dos direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluioutros, resultantes do regime e dos princípios que ela adota.”

1937 a 1946

“Art 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o direito

à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:[...]

53

.[...]Art 123 - A especificação das garantias e direitos acima enumerados não exclui outrasgarantias e direitos, resultantes da forma de governo e dos princípios consignados naConstituição. O uso desses direitos e garantias terá por limite o bem público, asnecessidades da defesa, do bem-estar, da paz e da ordem coletiva, bem como as exigênciasda segurança da Nação e do Estado em nome dela constituído e organizado nestaConstituição.”

1946 a 1967

“Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à

propriedade, nos termos seguintes:[...]54. [...]Art 144 - A especificação, dos direitos e garantias expressas nesta Constituição não exclui

outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios que ela adota.”Continua...

50 35 direitos e garantias constitucionais.51 31 direitos e garantias constitucionais.52 38 direitos e garantias constitucionais.53 17 direitos e garantias constitucionais.54 38 direitos e garantias constitucionais.

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  39

Continuação

1967 a 1988

“Art 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade,

nos termos seguintes:[...]55. [...]

Art 150 § 35 - A especificação dos direitos e garantias expressas nesta Constituição nãoexclui outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios que ela adota.” 

55 35 direitos e garantias constitucionais.

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  40

4 O PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

PRINCÍPIO: Momento ou local ou trecho em que algo tem origem; começo.56;

Teoria, doutrina, idéia básica, entendimento que deve guiar vários outros, ou mesmo

um sistema de direito.57. 

Firmando-se no conceito de idéia básica, um princípio será reconhecido como

tal se sua premissa for imediatamente evidente e admitida como universalmente verdadeira,

sem a necessidade de ser demonstrada ou provada.

Nas relações humanas, como preceito axiomático, o princípio surgiu

posteriormente ao costume. Primeiro o costume, após, a norma (direito consuetudinário) e, emsua essência , os costumes e os princípios em forma de regra de direito.

No sistema jurídico, o termo  princípio, sozinho, se traduz com o mesmo

significado de seu entendimento comum.

A palavra no plural,  princípios, é mais abrangente, indicando o entendimento

do termo ser de proposições diretoras da ciência, às quais todos os desenvolvimentos

posteriores devem estar subordinados. Toda forma de conhecimento filosófico ou científico

implica a existência de princípios, assim confirma Cretella Jr, apud Di Prieto58:

Princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas que

condicionam todas as estruturações subseqüentes . Princípios neste sentido, são os

alicerces da ciência.

No campo da ciência jurídica não é diferente, quer nas relações cotidianas com

as pessoas, quer nas atividades forenses, para a vida do direito e sua prática diária, os

princípios são a ela inerentes, empregados na doutrina como princípios gerais e fundamentais

do direito.

Portanto, chega-se à conclusão de que princípios são os pontos básicos e que

servem de pilares para a elaboração e aplicação do direito.

56 FERREIRA, 1997, p.1393.57 MAGALHÃES,1997, p. 710.58 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 12. ed. São Paulo, SP: Atlas, 2000, p. 66.

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  41

E, reforçando esse entendimento, no âmbito da doutrina jurídica nacional

verifica-se a semelhança de conceitos jurídicos elaborados pelos doutrinadores:

Princípios são certos enunciados lógicos admitidos como condição ou base de

validade das demais asserções que compõem dado campo do saber.59 

Princípios são o conjunto de regras ou preceitos que se fixam para servir de norma a

toda espécie de ação jurídica, traçando a conduta a ser tida em uma operação

 jurídica.60 

Princípios são elementos fundamentais da cultura jurídica humana.61 

Princípios são os pressupostos lógicos e necessários das diversas normas

legislativas.62

Os princípios jurídicos diferem das demais regras de ‘tudo ou nada’ porque, quando

são aplicáveis, não ‘obrigam’ a uma decisão, mas apontam para uma decisão, ou

afirmam uma razão que pode ser afastada.63

Os princípios jurídicos têm sua fundamentação básica no direito natural, e sua

vigência independe da existência de qualquer documento ou preceito escrito. A idéia é de que

são regras ou preceitos que antecedem a própria norma ou podem influenciar a criação desta,

exercendo, com isso, raio de ação aplicável a toda espécie de movimento jurídico.

Enorme é a importância de um princípio no sistema jurídico, de maneira que,

sem contra-argumentos, ao se deixar de observar um princípio, diretamente, estar-se-á

desobedecendo a uma norma do sistema, em cuja essência estivesse ele embutido.

4.1 Princípios gerais e fundamentais do Direito

Em ciências jurídicas como em todas outras, o estudante tem que saber

diferenciar o entendimento dos termos “geral” e “ fundamental”:

59 MIGUEL REALE apud   AMARAL, Júlio Ricardo de Paula. Princípios de processo civil naConstituição Federal. [S.l.:s.n., 199-]. 

60 DE PLÁCIDO E SILVA apud AMARAL, [S.l.:s.n., 199-]. 61 CLÓVIS BEVILÁQUA apud AMARAL, [S.l.:s.n., 199-].62 COVIELLO apud AMARAL, [S.l.:s.n., 199-].63 HART apud PEDRA, Anderson Sant'Ana. Os fins sociais da norma e os princípios gerais de direito . Jus

Navigandi, Teresina, ano 7, n. 62, fev.2003.

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  42

GERAL: (do latim generale) [...] que abrange ou compreende um todo; total.64 

FUNDAMENTAL: [...] básico, essencial, necessário.65

Quaisquer sistemas jurídicos conhecidos têm inserido em suas bases princípiosgerais de direitos e, contextualmente, indicam os princípios fundamentais jurídicos pelos

quais nortearam as normas posteriores a serem criadas.

a) Princípios gerais do Direito 

Os princípios gerais do direito são definidos:

Enunciações normativas de valor genérico que condicionam e orientam a

compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer

para a elaboração de novas normas.66

Normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais que

informam o ordenamento jurídico, ou enunciações normativas de valor genérico,

que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a

sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem tanto o

campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua atualização prática.67 

Ao invocar os princípios gerais, o operador do direito investiga o pensamento

mais alto da cultura jurídica. Percorre-se desde o pensamento filosófico superficial, aos

históricos conhecimentos basilares que sustentam o sistema jurídico. É o administrativista

Armando Costa68 que afirma:

 Honeste vivere, neminem laedere e suum cuique tribuere (viver honestamente, não

lesar a ninguém e dar a cada um o que é seu) eram princípios prevalentes na

elaboração do Direito Romano, os quais se espraiaram para o aconchego de todas as

legislações civilizadas do globo terráqueo, e ainda hoje inspiram aos cultores da

ciência jurídica.

64 FERREIRA, 1997, nota 9, p.84765  Ibid., p. 820.66 MIGUEL REALE apud MAGALHÃES, 1997, p. 712.67  COSTA , [S.l.:s.n., 199-].68 COSTA, José Armando da. Teoria e prática do direito disciplinar. Rio de Janeiro, RJ: Forense, 1981.

p. 64.

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  43

Quanto aos princípios gerais, pode-se dizer que o legislador, em regra, não os

especifica, já que seus enunciados são manifestações do próprio espírito de uma legislação.

Dentre tantos conhecidos e aplicáveis, mencionam-se os seguintes princípios gerais de direito

apresentados no quadro 2, usualmente identificados no mundo jurídico pelos brocardos emlatim:

Quadro 2: Exemplos de brocardos jurídicos e suas traduções. BROCARDO EM LATIM  TRADUÇÃO

 Beneficium juris nemini est denegandiA ninguém dever ser denegado o benefício dodireito

Cogitationis poenam nemo patitur  Ninguém pode sofrer pena pelo pensamento

Culpa ubi non est, nec poena esse debet  Onde não existe culpa, não deve haver pena

 Dare nemo potest quod non habet  Ninguém pode dar o que não tem

 Neminem ignorantia legis excusat  A ignorância da lei não escusa ninguém

 Nemo auditur propriam turpitudinem allegans Ninguém é dado alegrar a própria torpeza em seuproveito

 Nemo debet inauditus damnari Ninguém deve ser condenado sem ser ouvido

 Nemo deferre se cogitur  Ninguém é obrigado a se denunciar

 Nemo demnatur nisi per legale judiciumNinguém pode ser condenado a não ser em um juízo legal

 Nemo potest ignorare leges A ninguém é dado alegar a ignorância da lei

Fonte: Dicionário de Latim Jurídico. Disponível no site: <:http://www.direito.fib.br/dicionario/ >.

Pode-se identificar em cada ramo do direito princípios gerais sem maiores

critérios, às vezes até não escritos e percebidos por indução, conforme exemplos apresentados

no quadro 3:

Quadro 3: Exemplos de princípios gerais e sua aplicação práticaRamo do direito Principio geral Aplicação prática

Penal Reserva legalNão há crime sem lei anterior que o defina. Juiz não poderáaceitar denúncia sobre fato que não é definido como crime

Administrativo Legalidade Os atos da administração têm que estar sujeitos ao direito

TrabalhoProteção dotrabalhador

 In dúbio pro misero, na dúvida, deve o juiz trabalhistadecidir a favor do trabalhador

ProcessualDuplo grau de

 jurisdição

De toda sentença de primeira instância existe possibilidade

de se recorrer da decisão.InternacionalPúblico

EfetividadeA validade da norma internacional depende de sua eficáciaem âmbito nacional

O operador do direito, ao invocar os princípios gerais do direito, o faz com

apelo às inspirações mais altas da humanidade civilizada, permitindo, assim, suprir a

deficiência legislativa com a adoção de uma regra que o legislador não chegou a ditar sob a

forma de preceito, mas que se contém imanente no espírito do sistema jurídico.

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b) Princípios fundamentais do Direito

O homem, através de seus atos, materializa seus pensamentos. No mundo

 jurídico não é tão diferente, pois, através de normas expressas, formaliza-se uma ordem, um

sistema jurídico.

Kelsen69, para elaborar seu conceito de norma fundamental, se questionava:

“Por que é que uma norma vale? O que é que constitui seu fundamento de validade? Por que

uma norma determinada pertence a uma determinada ordem? O que é que fundamenta a

unidade de uma pluralidade de normas?” Como conclusão, explicou que: 

O fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade de uma outra

norma. Uma norma que representa o fundamento de validade de uma outra norma é

figurativamente designada como norma superior [...].

Princípios jurídicos fundamentais não deixam de ser normas ou preceitos

historicamente aceitos pelos homens, progressivamente introduzidos na consciência jurídica e

que encontram uma recepção expressa ou implícita em uma ordem jurídica superior.

A compreensão dos princípios fundamentais parte, geralmente, dos conceitos

que se encontram expressos na lei maior de um País.

Não se deve, entretanto, descuidar da existência de princípios, mesmo que não

se encontrem expressamente consignados em um texto constitucional vigente ou, até em leis

ordinárias. Deverão ser levados em consideração pelo profissional da ciência jurídica, pois,

representam axiomas universais indicativos de proteção de direitos que toda sociedade

organizada tem a obrigação de assegurar a qualquer cidadão.

Os princípios fundamentais e gerais do direito não devem ser confundidos,

apesar de estarem paralelamente muito próximos um do outro, como, também, tem-se que

distinguir entre princípios constitucionais fundamentais e princípios gerais do direito

constitucional. Os primeiros integram o direito constitucional positivo, e são traduzidos em

normas fundamentais que explicitam as valorações políticas do legislador originário. Quanto

aos princípios gerais, estes constituem temas de uma teoria geral do direito constitucional, por

69 KELSEN, 1979, p. 267.

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envolver conceitos gerais, relações, objetos, que podem ter seu estudo destacado da dogmática

 jurídico-constitucional.

Princípios gerais de natureza constitucional, constantes em qualquer Carta

Política atual, originária de uma nação que invoca o Estado de Direito Democrático, são

aqueles que tiveram por referência, principalmente, dos ordenamentos descritos na

Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, originária da Revolução Francesa de 1789,

que dentre outros preservem para todos direitos e garantias de igualdade perante as leis sem

distinção de qualquer natureza, de liberdade, de prosperidade, de segurança e de resistência à

opressão.

Na Lei Maior nacional, os princípios constitucionais gerais e fundamentais,

facilmente podem ser localizados no texto descrito no artigo 5º, caput e em seu parágrafo § 2º

da Constituição da República Federativa do Brasil: 

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:[...]70.

...

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”

Como, também, pode ser constatado que grande parte desses princípios sempre

se fizeram presentes em nossas Cartas Magnas passadas, inclusive, na Constituição do

Império, que, apesar da natureza de regime monarquista, nela foram assegurados direitos e

garantias, como se vê nos caput dos artigos, que se encontram no quadro 4.

Com essas breves considerações, explicitaram-se, sob variados aspectos de

suas terminologias, conceitos e práticas, alguns dos importantes institutos da ciência jurídica.

Inicia-se, agora, o exame do tema principal desta pesquisa, o real entendimento

na ciência jurídica da terminologia  AMPLA DEFESA e, após, o exame da existência,

70 78 direitos e garantias constitucionais.

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preservação e prática do Princípio da Ampla Defesa, mediante a análise minuciosa da

repercussão de referido instituto dentro da órbita do Direito Administrativo, que é o objeto

deste estudo.

Quadro 4: Princípios Constitucionais gerais (liberdade, segurança individual e apropriedade) e fundamentais (os relacionados pelos artigos), asseguradospor garantias e direitos individuais, estipulados nas ConstituiçõesBrasileiras passadas.

Período deVigência

PRINCÍPIOS GERAIS E FUNDAMENTAIS

1824 a 1891“Art. 179. A inviolabilidade dos direitos civis, e políticos dos cidadãos brasileiros, que têmpor base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição

do Império, pela maneira seguinte: [...]”71. 

1891 a 1934

“Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à

propriedade, nos termos seguintes: [...]72.[...]Art 78 - A especificação das garantias e direitos expressos na Constituição não excluioutras garantias e direitos não enumerados, mas resultantes da forma de governo que elaestabelece e dos princípios que consigna.”

1934 a 1937

“Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual

e à propriedade, nos termos seguintes:[...]73. [...]Art 114 - A especificação dos direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluioutros, resultantes do regime e dos princípios que ela adota.”

1937 a 1946

“Art 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o direito

à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:[...]

74

.[...]Art 123 - A especificação das garantias e direitos acima enumerados não exclui outrasgarantias e direitos, resultantes da forma de governo e dos princípios consignados naConstituição. O uso desses direitos e garantias terá por limite o bem público, asnecessidades da defesa, do bem-estar, da paz e da ordem coletiva, bem como as exigênciasda segurança da Nação e do Estado em nome dela constituído e organizado nestaConstituição.”

1946 a 1967

“Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à

propriedade, nos termos seguintes:[...]75.[...]Art 144 - A especificação, dos direitos e garantias expressas nesta Constituição não exclui

outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios que ela adota.”Continua ...

71 35 direitos e garantias constitucionais.72 31 direitos e garantias constitucionais.73 38 direitos e garantias constitucionais.74 17 direitos e garantias constitucionais.75 38 direitos e garantias constitucionais.

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Continuação

1967 a 1988

“Art 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade,

nos termos seguintes:[...]76.[...]

Art 150 § 35 - A especificação dos direitos e garantias expressas nesta Constituição nãoexclui outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios que ela adota.” 

76 35 direitos e garantias constitucionais.

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5 O PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

Os princípios do direito são dogmas que se estabeleceram socialmente desde o

surgimento do homem sobre a face da terra e existem, independentemente, de sua previsão emnormas ou preceitos escritos. A lei envelhece, cai em desuso. Os princípios a tudo resistem,

vencem o tempo, enfrentam todas as espécies de governo, sobrevivem a todos os regimes

políticos mesmo que não sejam contemplados, de maneira explicita, no ordenamento

legislativo de um País, ou pior, sejam contemplados, mas não observados e respeitados.

Defender-se é uma reação resultante do próprio instinto de se proteger que

orienta todo ser vivo. Nos seres irracionais se manifesta toda vez que os animais se vêem

diante de uma situação de perigo. Aos seres racionais, além de uma reação a perigo eminente,também se apresenta de forma imediata diante de uma adversidade, identificada por ato de

manifestação contrária a valores e conceitos pessoais.

No estudo sobre fundamentos metafísicos do direito natural, José da Silva77.

comenta:

À diferença dos animais irracionais, que seguem instintivamente as leis de sua

natureza, o homem também as segue por instinto, porém, com a diferença especial

residente em obedecer-lhes naturalmente, mas com liberdade; tem, pois, o homem,dado o seu caráter racional e inteligente, o privilégio de seguir e de poder afastar-se

da ordem natural. (grifos do autor).

Não há margens de dúvidas que o ato de defender-se é uma reação natural e

subjetiva inerente ao ser humano, quando este se confronta com uma situação que lhe

apresente qualquer discordância, posto ser da natureza humana a inconformação. A mesma

conclusão é apresentada por diversos doutrinadores administrativos:

A defesa é um instituto do direito natural. Não se concebe a possibilidade deinstauração de processo administrativo contra agente público, sem que tenha ele sido

intimado para apresentar defesa [...].78 (grifo nosso).

O ato de defesa não é apenas um direito natural ou constitucional, é bem mais

77 SILVA, Osmar José da. Ponderações sobre direito natural e direito positivo. 1998.78 CRETELLA JR., José. Prática do processo administrativo. 4. ed. Rev. Atual. São Paulo, SP: Revista dos

Tribunais, 2004, p. 92.

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que isso, revelando-se insofismavelmente como o esforço humano que enobrece o

indivíduo e o reconhece como digno de integrar o processo que a humanidade lhe

conferiu, além de configurar o traço mais proeminente e característico de toda uma

civilização.79 (grifo nosso).

O direito à ampla defesa que, em certa medida, contém o contraditório, é uma

inspiração de direito natural e divino, à medida que contém a própria essência

daquilo que é justo em si mesmo. Estes institutos são a materialização da justiça dos

homens, na igualdade perante a lei. 80(grifo nosso). 

A análise da ampla defesa, como princípio geral do direito, se traduz em algo

da maior importância para a sua aplicação no campo do conhecimento jurídico. Por isso é que,

a cada dia, se torna mais freqüente e fascinante o estudo desse instituto pelos operadores do

direito de nosso tempo, visando sempre a que se descortinem novos setores da ciência jurídica

onde a sua temática deva fincar profundas raízes.

Dessas considerações, pode-se reconhecer como foi imperioso ao longo da

existência das sociedades humanas, que o princípio do exercício da ampla defesa, de uma

forma ou de outra, fosse preservado nos mais variados ordenamentos jurídicos, inclusive,

gozando sempre de status constitucional, nas legislações de nações cujos regimes têm

natureza democrática, ao lado de uma série variada de outros princípios de igual importância,

que asseguram o direito ao exercício do ius postulandi, não importando a posição que o

homem ocupe em qualquer relação jurídica.

A ampla defesa no direito pátrio representa uma das garantias individuais

constitucionais, e se encontra preservada, dentre outros, no inciso LV do Art. 5º da

Constituição Federal de 1988:

Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados

em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa. com os

meios e recursos a ela inerentes.

79 COSTA, José Armando da. Teoria e prática do processo administrativo disciplinar. 2. ed. Ampl. Rev.Atual. Brasília, DF: Brasília Jurídica, 1996, p. 111

80 SILVA, Marcelo Carlos da. A ampla defesa e o contraditório no processo administrativo disciplinar,na sindicância e na parte disciplinar na Polícia Militar de Minas Gerais. 2000. Ensaio monográfico(Especialização) – Academia da Polícia Militar Polícia do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000.

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Tal concepção possui seu fundamento legal no princípio geral do direito de que

“ninguém pode ser condenado sem ser ouvido”. A lei maior não fez nenhuma restrição a seus

destinatários. A posição de acusado – ACUSADOS EM GERAL – foi colocada na forma mais

ampla possível, entendendo assim de forma extensiva, que a ampla defesa deve ser permitidaa todos que estejam sendo imputados na prática de qualquer tipo de infração, seja de natureza

civil, penal ou administrativa.

5.1 A Ampla Defesa

 Ampla:  do latim amplus, quer dizer - de grandes proporções; muito extensa, muito

grande; sem restrições, ilimitada.81 

 Defesa: do latim. Defensa, [...] Ato de defender, socorro, auxílio; defensa,

defensão, defendimento [...] Aquilo que serve para defender [...] Ato ou forma de

repelir um ataque; resistência [...] Contestação de uma acusação; refutação,

impugnação [...] Justificação, alegação [...] Resguardo, proteção [...] uso Legítima

defesa. Jur.: O emprego dos meios necessários e ao alcance para resistir à força ou

agressão, sem que ultrapassem os limites da razão ou da justiça natural82;

É o conjunto de argumentos que o indiciado reúne a seu favor, complementados por

documentos e testemunhas.83 

 Ampla Defesa: Deve-se entender o asseguramento que é feito ao réu de

condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a

esclarecer a verdade84;

A oportunidade que deve ter o acusado de apontar as suas razões85;

Deve ser compreendida a ampla defesa: garantia de poder defender-se e articular

suas razões, garantia de que essas razões serão apreciadas e levadas em conta,

garantia de um processo legitimo e garantia de respeito a um Estado Democrático de

81 SILVA, 2000.82 FERREIRA, 1997, p. 528.83 CRETELLA JR., 2004, p. 91.84 CELSO BASTOS apud  LESSA, Sebastião José. Do processo administrativo disciplinar e da

sindicância: doutrina, jurisprudência e prática. 3 ed. Rev. Atual. Brasília, DF: Brasília Jurídica, 2001,p. 38.

85. MEDEIROS, Paulo Roberto de. Diagnóstico do exercício da ampla defesa e- do contraditório nosprocedimentos administrativos disciplinares da Polícia Militar de Minas Gerais. 2003. Monografia(Especialização) – Academia da Polícia Militar Polícia do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.

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Direito.86

A noção de ampla defesa remonta às histórias mais antigas. É da cultura e de

domínio vasto o exemplo bíblico do julgamento de Adão, onde, neste caso, o próprio Deus

concedeu-lhe o direito de defesa:

Mas, o SENHOR Deus chamou o homem perguntando: “Onde está você”? — E ele

respondeu: “Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; Por 

isso me escondi.” — E Deus perguntou: “Quem disse que você estava nu? Você

comeu do fruto da árvore da qual lhe proibi comer?” — Disse o homem: “Foi a

mulher que me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu

comi.”87 

Daquele ato, o chamamento, seguiu-se o interrogatório do primeiro homem e,

por conseqüência a oportunidade dele apresentar sua defesa. Rica em exemplos, a Bíblia

descreve o caso em que o evangelista Paulo, após ser preso e levado a enxovia 88, exigiu o

direito à ampla defesa, por ser cidadão romano:

[...] o comandante ordenou que Paulo fosse levado à fortaleza e fosse açoitado e

interrogado,... Enquanto o amarravam a fim de açoitá-lo, Paulo disse ao centurião

que ali estava: “Vocês têm o direito de açoitar um cidadão romano sem que ele

tenha sido condenado?”89. 

Vale a pena, também, transcrever a passagem bíblica citada por Costa90 

quando identificou na mensagem o milenar apotegma inauditus nemo damnari potest 

(Ninguém pode ser punido sem antes ser ouvido): “ Acaso a nossa lei julga um homem, sem

 primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez (João Cap. 7,Versículo 51)”.

Desses episódios, extrai-se uma idéia de contraditório como elemento

preponderante da ampla defesa. E Celso Bastos apud Lessa91 confirma esta vinculação:

86 MOREIRA, Egon Bockmann. Processo administrativo: Princípios constitucionais e a Lei 9 784/1999. 2.ed. Atual. Rev. Aum. São Paulo, SP: Malheiros, 2003, p. 298.

87 BÍBLIA. Gênesis, 3:9-11.Português. BÍBLIA..., 2000 , p. 2.88 Cárcere térreo ou subterrâneo, escuro, úmido e sujo.89 BÍBLIA. Atos dos Apóstolos 22:24-25.Português. BÍBLIA..., id., p. 892.90 COSTA, 1996, p. 114.91 LESSA, 2001, p. 38.

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É por isso que a defesa ganha um caráter necessariamente contraditório. É pela

afirmação e negação sucessivas que a verdade irá exsurgindo nos autos. Nada

poderá ter valor inquestionável ou irrebatível. A tudo terá será assegurado o direto

do réu de contraditar, contradizer, contraproduzir e até mesmo de contra-agir

processualmente. 

O termo contraditório vem do latim contradictoriu. Holanda Ferreira92  lhe dá o

significado de oposto, de duas proposições: de tal forma que um afirma o que o outro nega.  

Magalhães93 o apresenta como um princípio segundo o qual ambas as partes devem ser

ouvidas antes de decidir-se a propósito da reivindicação de qualquer delas. 

O contraditório significa a faculdade de manifestar o próprio ponto de vista,

diante de fatos, documentos ou de outros pontos de vista. Literalmente seria a possibilidade

de contradizer a posição contrária.

Trata-se de princípio geral constitucional de natureza processual, cujo escopo é

oportunizar a parte demandada de ser informada daquilo que está sendo alegado pelo

demandante, a fim de que possa produzir defesa de qualidade e indicar prova necessária, lícita

e suficiente para alicerçar sua peça contestatória. Em seu artigo jurídico, Silva94 afirma: “O

princípio do contraditório é uma garantia, um direito constitucionalmente assegurado. Ele

possui uma história e não se mostra de forma alguma indiferente às circunstâncias e valores

da época em que é exercido”.

Moreira95, vinculando o princípio do contraditório com o Estado Democrático

de Direito, concluiu: “O princípio do contraditório é, antes do que dever despido de efeitos

processuais concretos, a configuração da possibilidade de influência positiva do administrado

na constituição da vontade estatal.”

O contraditório implica o direito que têm as partes de serem ouvidas nos autos.

O embate é marcado pela bilateralidade da manifestação dos opositores. Essa regra deequilíbrio decorre do denominado princípio da igualdade das partes, tão importante para um

embate jurídico quanto qualquer um dos demais princípios orientadores do processo. É dessa

92 FERREIRA, 1997, p. 466.93 MAGALHÃES,1997, p. 231.94 SILVA, Andréa Pereira da Evolução histórica do contraditório e da ampla defesa. [S.l.:s.n., 200-]. 95 MOREIRA, 2003,  p. 279.

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maneira que Di Pietro96 demonstra: “O Princípio do contraditório, que é inerente ao direito de

defesa, é decorrente da bilateralidade do processo: quando uma das partes alega alguma coisa,

há de ser ouvida também a outra, dando-se-lhe oportunidade de resposta.” 

Dos princípios do exercício da defesa e do contraditório, verifica-se uma íntima

relação e interação. Desdobra-se o contraditório em dois momentos: a partir do conhecimento

da informação, apresenta-se a possibilidade de reação.

É da defesa a garantia do primeiro momento, se fazendo possível a partir da

possibilidade dada ao acusado de tomar conhecimento daquilo que lhe está sendo imputado.

Emerge-se o contraditório por intermédio de seu segundo momento, a reação. Inquestionável

assim, que é do contraditório que brota a própria ampla defesa.

No campo jurídico, o raio de aplicação da ampla defesa e do contraditório não

se limitam, exclusivamente, a amparar o acusado. Apesar da literalidade do conceito de

"ampla defesa" vincular-se à reação de quem sofre uma agressão, em face da íntima interação

dos dois princípios, o exercício da ampla defesa, também, abrange todos os sujeitos da relação

 jurídica. Sendo assim, não é errôneo dizer que a ampla defesa constitui um direito que protege

tanto o acusado quanto ao acusador, bem como terceiros juridicamente interessados.

Confirma-se esse entendimento nas assertivas apresentadas:

O princípio da ampla defesa é aplicável em qualquer tipo de processo que envolva

situações de litígio ou o poder sancionatário do Estado sobre as pessoas físicas e

 jurídicas. 97

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel

Dinamarco (1999) entendem que o contraditório e a ampla defesa estão assegurados

também nos processos administrativos desde que neles haja litigantes ou

acusados.98

O princípio do contraditório não trata apenas do direito à prova mas a garantia de

participação processual como pressuposto de validade de toda atividade instrutória.

Participação esta compreendida em sentido amplíssimo. (grifo do autor)99.

96 DI PIETRO, 2000, p. 491.97 DI PIETRO, 2000, p. 491.98 ROZA, Cláudio. Processo administrativo disciplinar & ampla defesa. Curitiba, PR: Juruá, 2002, p. 23.99 MOREIRA, 2003 , p. 287

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Não há como negar que o conhecimento, ínsito no contraditório, é pressuposto

válido para o exercício da defesa. Em outro ponto de vista, é igualmente válido afirmar que a

defesa é que garante o contraditório, conquanto nele se manifeste.

Diferentemente dos demais princípios constitucionais, os princípios do

contraditório e da ampla defesa não permitem admitir exceções. Devem ser observados

integralmente, objetivando proporcionar às partes igualdade de oportunidades e instrumentos

 jurídicos para que todos tenham condições de assegurar seus direitos e pretensões da forma

mais ampla possível.

Frederico Marques apud Ferreira100 manifesta que o direito de defesa é uma

decorrência do princípio constitucional do devido processo legal. É ele imanente a todo o

sistema processual em que se adote o procedimento contraditório.

São prerrogativas que devem alcançar todos os fatos jurídicos que envolvem

oponentes. Dessa forma, abrange desde o direito de peticionar e representar por parte de quem

procura a administração pública, como, também, ser garantido ao representado, denunciado

ou acusado de ter cometido ato contrário aos deveres administrativos.

5.2 A AMPLA DEFESA DIANTE DA HISTÓRIA

Toda divisão da história em períodos, a rigor, implica sempre certo arbítrio.

Com a história do Direito não poderia ser diferente, até porque esta história se confunde com

a própria história das sociedades humanas.

Seria muita pretensão querer identificar dentro do período passado da

existência humana, o grande momento em que ocorreu o nascimento e reconhecimento pelo

próprio homem, de querer e poder se defender. Seria o mesmo que descobrir como e quando o

homem inventou a roda.

Para fins de buscar registros históricos, especificamente, centrando o tema

proposto e a natureza deste trabalho, na busca de fatos que marcaram a trajetória da formação

das sociedades modernas, que poderiam ser identificados como diretamente responsáveis

entre a manifestação natural de se defender dos homens e os princípios jurídicos fundamentais

100 FERREIRA, Sergio de Andréa. A garantia da ampla defesa no direito administrativo processualdisciplinar. Revista do Direito Público , Rio de Janeiro, RJ, v.19: p. 60-68, 1972.

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que regulam o pleno exercício da ampla defesa, tal qual são verificados dentro da ciência

 jurídica moderna, poder-se-iam pontuar os seguintes e importantes marcos históricos101:

a)  Carta Magna de 1215 ( Magna Charta Libertatum), na Inglaterra;

b)  Declaração de Direitos ( Bill of Rights) em 1689, na Inglaterra;

c)  Carta da Declaração da Independência de 1776, dos Estados Unidos;

d)  Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789, na França.

Nos quatro momentos históricos indicados, têm-se como pontos convergentes

movimentos revolucionários da sociedade organizada contra atos dos detentores do poder.

Nos dois últimos acontecimentos, identifica-se a grande revolução jurídica

ocorrida nas sociedades civis contemporâneas. A partir do momento que os limites impostos

aos detentores do poder passaram a valer de fato e de direito, e que os demais componentes

das sociedades foram reconhecidos, também, como detentores de direitos, obrigou-se ao

Estado assegurar o pleno exercício dessas garantias. O jurista francês A. Esmeins apud  

Magalhães102 escreveu em 1914:

Momento marcante para o direito constitucional, a Revolução Norte-Americana de

1776 e a Revolução Francesa de 1789. Os Direitos Fundamentais serão reafirmados

pela declaração de independência dos Estados Unidos e pela Declaração dos direitos

do homem e do cidadão de 1789, na França. .

A Carta Magna de 1215 trata do pacto firmado entre o rei João Sem Terra e

nobres ingleses, tendo sido motivada por uma reação destes contra atos cometidos pelo

monarca em detrimento de suas posses. A cientista política Tostes 103 relata:

A Magna Carta de João sem Terra (de 1215) resultou de uma rebelião da nobreza

inglesa em circunstâncias de insatisfações de bispos e barões com os atos do

soberano e visava obrigar o rei a respeitar certos direitos individuais.

O texto estipulava direitos e garantias, em tese, que abrangeria o povo em geral

101 V. Anexos “A” à “D”.102 MAGALHÃES, [S.l.:s.n., 199-]. 103 TOSTES, Ana Paula B. Estados Unidos e União Européia e os regimes de proteção dos direitos

humanos. in: Encontro Nacional da Associação Brasileira de Ciência Política, Rio de Janeiro, RJ. 2002.

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(homens livres). Porém, à época da elaboração do documento, originalmente escrito em latim

e traduzido para o inglês somente no século XVII, o povo não foi beneficiado imediata e

diretamente, permanecendo as normas ali estipuladas, inacessíveis à grande massa da

população inglesa. Magalhães104

afirma que o texto da  Magna Charta Libertatum de 1215 ,trata-se muito mais de uma garantia dos direitos dos Barões, proprietários de terra, do que de

uma ampla garantia dos direitos de todo o povo.

Sua importância para a ciência jurídica se justifica, pois nela são encontrados

alguns fundamentos essenciais do constitucionalismo moderno, tais como limitações ao poder

Estatal e a declaração explicita dos direitos da pessoa, razão pela qual é considerada por

alguns teóricos do Estado como a primeira Constituição do mundo moderno.105 

No que diz respeito ao direito do exercício da ampla defesa, este não se

encontra, explicitamente, contido no texto, mas, a partir da análise do alcance da norma

consignada na cláusula 48106 do documento: “Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado

dos seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude de julgamento de seus Pares segundo

as leis do país.”

De fato, ao se assegurar que os ‘homens livres do reino’ não teriam alguns de

seus direitos expropriados, a não ser por julgamento de seus pares e segundo as leis do país,

nascia um princípio fundamental do direito, posteriormente assimilado pela ciência jurídica

através da locução due process  of   law (princípio do devido processo legal). Foi desse

princípio, considerado gênero, é que, tratado como espécie, se desenvolveu o princípio do

contraditório, e por conseqüência, o exercício da ampla defesa.

Foi necessário que mais de 450 anos se passassem para que as liberdades e

garantias pessoais, previstas na  Magna Charta fossem, efetivamente, colocadas em prática.

Durante aqueles quatro séculos e meio, as normas ali previstas não foram acatadas na íntegra

pelos monarcas ingleses, que buscaram por outras formas garantir e justificar o aumento deseus poderes.

Somente com a conclamação do fim do absolutismo monárquico na Inglaterra

104 MAGALHÃES, op. cit.

105 TOSTES, 2002.106  INGLATERRA. Magna Carta: outorgada pelo Rei João Sem Terra, em Runnymede, perto de Windsor.

1215. 

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(Revolução Gloriosa de 1688), os direitos pactuados foram restabelecidos com a Declaração

de Direitos (Bill of Rights) 107em 1689, tudo conforme consta ao término da petição levada ao

rei inglês:

A esta petição de seus direitos fomos estimulados, particularmente, pela declaração

de S. A. o Príncipe de Orange, que levará a termo a liberdade do país, que se acha

tão adiantada, e esperamos que não permitirá sejam desconhecidos os direitos que

acabamos de recordar, nem que se reproduzam os atentados contra a sua religião,

direitos e liberdades. (grifo nosso).

A sociedade norte-americana se desenvolveu fomentada pelos ideais de

liberdade de cidadãos ingleses que fugiram da opressão do governo autoritarista que passou a

vigorar na Inglaterra desde o início do séc. XVI em face do fortalecimento do regime

absolutista, desavenças religiosas e o descobrimento de novas terras à oeste da Europa:

Durante nove semanas, 102 homens e mulheres, apinhados num navio com 27,5 m

de comprimento e 7,5 m de largura, enfrentaram as ondas geladas do Atlântico

Norte. A tripulação manteve o Mayflower na rota para a América do Norte, levando

um grupo de puritanos através do oceano em busca da liberdade religiosa e de novos

lares numa terra nova108.

É a partir da Declaração da Independência Norte-americana, ocorrida em 4 de

 julho de 1776, que se identifica o grande marco histórico para o estudo da ampla defesa. De

seus fundamentos, extraem-se as aspirações dos ideais iluministas de autonomia que se

expandiram pela Europa, especialmente, as defendidas por John Locke, que constituíram o

ponto de partida para o liberalismo do século XVIII. Na América, suas repercussões tiveram

maior eco:

Para Locke, os homens nascem livres e com direitos iguais: nascemos livres na

mesma medida em que nascemos racionais. O governo e o poder político são

necessários, mas assim também é a liberdade do cidadão. (grifo do autor).109 

No preâmbulo da Declaração da Independência Americana, verifica-se a

prática imediata dos ensinamentos de Locke, no que concerne à idéia de que existem direitos

107 INGLATERRA. Declaração de Direitos: Bill of Rights. 1689.108  GRANDES acontecimentos que transformaram o mundo. Rio de Janeiro, RJ: Reader’s Digest Brasil,

2000, p. 154.109 COBRA, 1998.

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naturais inerentes ao do ser humano:

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um

povo dissolver laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os

poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis danatureza e as do Deus da natureza, o respeito digno às opiniões dos homens

exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.

Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os

homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos

inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da

felicidade. 110 

Diretamente, a Declaração de Independência Americana foi a principal fonte

de inspiração para que os franceses se insurgissem em 1789 contra a monarquia absolutista de

Luís XVI, estimulando-os, igualmente, à redação de um documento tão sensacional -

 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – aprovado pela Assembléia Nacional

francesa em 4 de agosto de 1789, numa Paris rebelada. Tostes111 confirma a importância

desses dois grandes eventos históricos:

Foi depois da Inglaterra que surgiram nos EUA Declarações que

inspiraram a mais conhecida: a Declaração das Liberdades

Fundamentais proclamadas pela Revolução Francesa de 1789.

Finalmente, os direitos aí consagrados foram copiados pelas

constituições do mundo ocidental.

E nesses dois últimos marcos históricos, com relação ao princípio do devido

processo legal, imprescindível foi a manutenção e o seu fortalecimento, originalmente nascido

e preservado da Carta Magna de 1215.

A Carta de Direitos Norte-americana112 é formada pelas dez primeirasEmendas à Constituição dos Estados Unidos da América. Foi redigida pelo Congresso dos

EUA em 1789 e ratificada pelos estados em 15 de dezembro de 1791. Nos artigos V e VI da

Constituição Americana, verificam-se todos os fundamentos necessários para o exercício da

110 ESTADOS UNIDOS. Declaração da Independência Norte-Americana. 1776.111 TOSTES, 2002.112 ESTADOS UNIDOS. Carta de Direitos dos Estados Unidos da América. 1789.

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ampla defesa:

ARTIGO V Ninguém será detido para responder por crime capital, ou outro

crime infamante, salvo por denúncia ou acusação perante um Grande Júri, exceto em

se tratando de casos que, em tempo de guerra ou de perigo público, ocorram nasforças de terra ou mar, ou na milícia, durante serviço ativo; ninguém poderá pelo

mesmo crime ser duas vezes ameaçado em sua vida ou saúde; nem ser obrigado em

qualquer processo criminal a servir de testemunha contra si mesmo; nem ser privado

da vida, liberdade, ou bens, sem processo legal; nem a propriedade privada poderá

ser expropriada para uso público, sem justa indenização.

ARTIGO VI Em todos os processos criminais, o acusado terá direito a um

 julgamento rápido e público, por um júri imparcial do Estado e distrito onde o crime

houver sido cometido, distrito esse que será previamente estabelecido por lei, e de

ser informado sobre a natureza e a causa da acusação; de ser acareado com as

testemunhas de acusação; de fazer comparecer por meios legais testemunhas da

defesa, e de ser defendido por um advogado.

A Declaração Francesa113, composta de um preâmbulo e 17 artigos referentes

ao indivíduo e à Nação, define direitos naturais e imprescritíveis como a liberdade, a

propriedade, a segurança e a resistência à opressão. A Declaração reconhece também a

igualdade, especialmente perante a lei e a justiça, e, do texto elaborado, são nos artigos 7º a 9º

que se podem extrair fundamentos para o pleno exercício da ampla defesa pelo cidadãoperante fatos que, porventura, lhe sejam imputados:

Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos

determinados pela lei e de acordo com as formas por esta, prescritas. Os que

solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser

punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve

obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.

Art. 8.º A lei só deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias eninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada

antes do delito e legalmente aplicada.

Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e,

caso seja considerado indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à

guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.

113 FRANÇA. Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. 1789.

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5.3 A Ampla Defesa e a legislação constitucional brasileira

No início do século XVI, época do descobrimento do Brasil, na Europa

ocidental, predominavam os regimes de governo absolutista. As idéias de que o poder do rei

era de origem divina e ilimitado foram desenvolvidas durante os séculos seguintes por muitos

filósofos, tais como Nicolau Maquiavel (1469-1527), Thomas Hobbes (1588-1679) e Jacques

Bossuet (1627-1704).

Foi uma época em que nos reis se concentravam todos o poderes (legislativo,

executivo e judiciário). Leis eram criadas sem participação ou aprovação política da

sociedade. Os luxos e gastos da corte eram mantidos pelos impostos pagos pela população

mais pobre. Os monarcas utilizavam a força e a violência de seus exércitos para extorquir

riquezas das terras colonizadas, e a seu juízo, mandavam reprimir, prender ou até mesmo

matar qualquer pessoa que fosse contrária aos seus interesses ou, de suas leis: 

Conforme Norberto Bobbio apud  Alves114, para Thomas Hobbes (1588-1679)

"somente as normas postas pelo Estado são normas jurídicas porque são as únicas

que são respeitadas graças à coação do Estado. A partir do momento em que se

constitui o Estado, deixa, portanto, de ter valor o Direito Natural (que na realidade

não era respeitado tampouco antes, no estado de natureza) e o único Direito que vale

é o Civil ou do Estado."

Dentro desse contexto, não há de se falar em legislação brasileira, ou melhor,

direito brasileiro, pois, desde o evento do descobrimento do Brasil até a proclamação de sua

Independência em 1822, as normas que vigeram naquele período foram as mesmas normas

que vigoravam em Portugal: Ordenações Afonsinas, Ordenações Manuelinas e as Ordenações

Filipinas, como confirmado por Tanus Ferreira115:.

Vigoravam, à época, as Ordenações Manuelinas (corpo de leis, promulgado em

1521, substituindo às Ordenações Afonsinas, que eram o primeiro código de leis de

Portugal). Aquelas, as Ordenações Manuelinas, foram substituídas pelas Ordenações

Filipinas (contendo princípios mais avançados do que os do estatuto revogado) e

vigeram no Brasil, no campo criminal, até a edição do Código Criminal de 1830 e,

no cível, até a promulgação do Código Civil de 1916. 

114 ALVES, Ricardo Luiz. A concepção de Estado de Thomas Hobbes e de John Locke . Jus Navigandi,Teresina, a. 9, n. 558, 16 jan. 2005.

115  FERREIRA, Megbel Abdala Tanus. 500 anos da Justiça brasileira. [S.l.:s.n., 200-].

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Assim, sempre respeitando o tema do presente trabalho, e focando que, de fato,

o exercício das garantias de direitos individuais e dos cidadãos só foi reconhecido e

assegurado a partir de movimentos revolucionários que tinham por objetivo romper, no mundo

ocidental, com as formas de governo de natureza absolutista, buscar-se-ão pontuar, dentro dahistória nacional, fatos marcantes que ensejaram, pelo Estado brasileiro, o reconhecimento

para com seus cidadãos das garantias inovadoras apresentadas a partir dos textos da

Declaração da Independência Norte-Americana e da Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão.

Na busca de legislações genuinamente nacionais, que permitam ao cidadão

brasileiro, pelo menos em tese, ter a garantia de poder exercitar o direito de ampla defesa,

identificar-se-ão, como marcos históricos, as edições das Cartas Políticas Brasileiras, já que,

no período de 180 anos passados da independência, a sociedade “ ficou protegida” sob a égide

de sete dispositivos constitucionais.

a) A Constituição do Império outorgada de 1824 

A primeira Constituição Brasileira, outorgada em 25 de março de 1824,

instituiu a “constitucionalização do absolutismo”. Tratava-se na verdade de uma contra-mão

diante da história política que acontecia no mundo ocidental, onde a tendência era limitar

poderes dos governantes e ampliar direitos aos governados. Mas, a Constituição, mesmo comsua natureza ambígua e focada em um passado decadente e absolutista, estendeu aos cidadãos

brasileiros uma série de direitos individuais, tais como liberdade de pensamento, de imprensa,

sigilo da correspondência. É assim, que comenta Di Pietro116 em seu retrospecto sobre a

história do direito administrativo brasileiro: “Elaborada sob o influxo dos princípios

inspiradores da Revolução Francesa, a Constituição do Império foi liberal a ponto de muitas

de suas disposições serem repetidas na primeira Constituição da República”.

A palavra DEFESA aparece uma única vez no texto constitucional de 1824, emseu artigo 148, com o sentido de permissão ao direito de reação para proteger o território do

Império ou o próprio regime, onde se estipulou a competência do poder executivo para o

emprego da força de terra e mar para este fim.

A terminologia  AMPLA DEFESA não aparece no texto. Como esclarece

116  DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 anos de Direito Administrativo brasileiro. [S.l.:s.n., 199-].

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Maximiliano117, em uma visão teleológica a norma será interpretada de modo que melhor

corresponda àquela finalidade e assegure plenamente a tutela de interesse para qual foi

redigida. 

E a partir dessa análise foi que, no artigo 179, item 8º da Constituição Imperial,

verificou-se ter sido assegurado o exercício da ampla defesa como uma garantia

constitucional, entretanto, diante do texto elaborado, devendo ser compreendida como um

direito público subjetivo dos acusados em crimes, como se vê:

TITULO 8º DAS DISPOSIÇÕES GERAIS, E GARANTIAS DOS

DIREITOS CIVIS, E POLÍTICOS DOS CIDADÃOS BRASILEIROS.

[...]

Art. 179 A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros,

que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida

pela Constituição do Império, pela maneira seguinte:

[...]

Item 8º Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos

declarados na Lei; e nestes dentro de vinte e quatro horas contadas da entrada na

prisão, sendo em Cidades, Vilas, ou outras Povoações próximas aos lugares da

residência do Juiz; e nos lugares remotos dentro de um prazo razoável, que a Lei

marcará, atenta à extensão do território, o Juiz por uma Nota, por ele assignada, fará

constar ao Réu o motivo da prisão, os nomes do seu acusador, e os das testemunhas,

havendo-as.

b) A 1ª Constituição Republicana promulgada em 1891

Seria um exagero afirmar que a chegada da república tenha sido um episódio

épico, pois, como a declaração da independência brasileira, sequer teve participação popular.

A Proclamação da República se deveu pela união de duas forças muito diferentes, os militares

e as elites civis dos grandes estados. Quanto à classe agrícola (os grandes fazendeiros), esta só

aderiu ao movimento por responsabilizar o antigo regime pela perda de sua mão de obra

barata. A passagem do regime monárquico para o republicano não poderia ser considerada um

movimento revolucionário social em busca de ideais liberais. O fato em si não trouxe grandes

117 MAXIMILIANO, 1979, p.152.

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abalos para a história brasileira. Poder-se-ia até considerar mais um exemplo de “transição

transada”,

O primeiro texto constitucional republicano brasileiro fundou seu referencial

nos Estados Unidos da América. Os constituintes visaram corresponder na América do Sul ao

seu modelo na América do Norte. Até o novo nome do país, daquele foi tomado emprestado:

“Estados Unidos do Brasil” (nome que vigorou até a Constituição de 1967). Uma Assembléia

Constituinte foi convocada logo no mês seguinte (21 de dezembro de 1989), mas o

anteprojeto de uma nova constituição ficou sob a responsabilidade de apenas cinco

constituintes tendo, como revisor, Rui Barbosa. Maximiliano118 , um dos constituintes da

Carta de 1934, sugere:

Compare-se o texto vigente com a Constituição Imperial e a dos Estados Unidos,

não olvidando que o espírito destas duas, bem como os casos da Common Law e

 Equity, colhidos em clássicos e brilhantes comentários, guiam o escrupuloso

interprete da Lei básica de fevereiro de 1891.

A palavra DEFESA aparece por seis vezes na Constituição de 1891.

A terminologia  AMPLA DEFESA não foi usada no texto constitucional.

Utilizou-se a terminologia MAIS PLENA DEFESA no texto do artigo 72 § 16, e devendo ser

interpretada da mesma forma que visto na norma do artigo 179, inciso 8º da ConstituiçãoImperial, ou seja, a garantia constitucional estabelecida foi mantida como direito público

subjetivo dos acusados de crimes:

TÍTULO IV DOS CIDADÃOS BRASILEIROS 

SEÇAO II Declaração de Direitos 

[...]

Art 72 A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à

propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 16 Aos acusados se assegurará na lei a mais plena defesa, com todos os

118 MAXIMILIANO, 1979, p. 310.

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recursos e meios essenciais a ela, desde a nota de culpa, entregue em 24 horas ao

preso e assinada pela autoridade competente com os nomes do acusador e das

testemunhas. (grifo nosso).

c) A 2ª Constituição republicana promulgada em 1934

Em termos gerais, a derrubada da Primeira República – embora tenha

sido o mais complexo e sangrento golpe a instaurar um novo governo

no Brasil - foi uma operação relativamente rápida, razoavelmente fácil

e tremendamente bem sucedida. Como na Proclamação da

Independência e na derrubada do Império, a antiga ordem caiu como

caem as frutas que estão mais que maduras119.

A terceira Carta Política pátria decorreu de Assembléia Constituinte eleita pelo

povo em 1933. O congresso, bastante heterogêneo, foi formado por representantes das antigas

bancadas oligárquicas e deputados classistas120.

A nova constituição foi promulgada em 16 de julho de 1934, com 91 artigos,

trazendo em si a marca das cartas de pós-guerra (1ª Grande Guerra) e a primeira do Brasil

que tratou de assuntos da ordem econômica e social.

A palavra DEFESA aparece dezoito vezes na Constituição de 1934.

A terminologia  AMPLA DEFESA foi utilizada duas vezes no texto

constitucional, sendo uma no artigo 113 item 24:

TÍTULO III DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS

CAPÍTULO II Dos Direitos e das Garantias Individuais

[...] 

Art 113 A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança

individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

119 BUENO, Eduardo. História do Brasil. 2. ed. São Paulo, SP: Publifolha, 1997, p.222.120 Representantes de grupos profissionais ou corporativistas: 18, representavam os trabalhadores; 17, os

empregados; 3, os profissionais liberais e, 2, os funcionários públicos.

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24) A lei assegurará aos acusados ampla defesa (grifo nosso), com os meios

e recursos essenciais a esta.

A novidade está que o sentido de direito público subjetivo passa a ser mais

amplo, ou seja dos acusados em geral. Implicitamente, poder-se-iam considerar todosaqueles que aparecerem como acusados ou réus em processos criminais, civis ou

administrativos. E, com a mesma natureza (direito público subjetivo), a garantia, também, foi

estendida aos Membros do Ministério Público no artigo 95 § 3º:

TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO FEDERAL

CAPÍTULO VI Dos Órgãos de Cooperação nas Atividades Governamentais

SEÇÃO I Do Ministério Público

[...]

Art 95 O Ministério Público será organizado na União, no Distrito Federal e nos

Territórios por lei federal, e, nos Estados, pelas leis locais.

[...]

§ 3º Os membros do Ministério Público Federal que sirvam nos Juízos

comuns, serão nomeados mediante concurso e só perderão os cargos, nos termos da

lei, por sentença judiciária, ou processo administrativo, no qual lhes será assegurada  

ampla defesa (grifo nosso). 

A terminologia PLENA DEFESA aparece duas vezes no texto constitucional,

trazendo em si o mesmo sentido dado à terminologia ampla defesa, ou seja, direito público

subjetivo, dessa vez, assegurados aos deputados passíveis de perderem o cargo (art. 33 § 5º)

por infringência ao art. 33 incisos 1 e 2 e § 1º e incisos 1 a 4 e, aos funcionários públicos

(art. 169 caput ), que só poderiam ser demitidos mediante processo administrativo ou por

sentença judiciária.

TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO FEDERAL

CAPÍTULO II Do Poder Legislativo

SEÇÃO I Disposições Preliminares

Art 33 Nenhum Deputado, desde a expedição do diploma, poderá:

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1) celebrar contrato com a Administração Pública federal, estadual ou

municipal.

2) aceitar ou exercer cargo, comissão ou emprego público remunerados, salvas

as exceções previstas neste artigo e no art. 62.

§ 1º Desde que seja empossado, nenhum Deputado poderá:

1) ser diretor, proprietário ou sócio de empresa beneficiada com privilégio,

isenção ou favor, em virtude de contrato com a Administração Pública;

2) ocupar cargo público, de que seja demissível ad nutum;

3) acumular um mandato com outro de caráter legislativo, federal, estadual ou

municipal;

4) patrocinar causas contra a União, os Estados ou Municípios.

[...]

§ 5º A infração deste artigo e seu § 1º importa a perda do mandato, decretada

pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, mediante provocação do Presidente da

Câmara dos Deputados, de Deputados ou de eleitor, garantindo-se plena defesa ao

interessado. (grifo nosso).

TÍTULO VII Dos Funcionários Públicos

[...]

Art 169 Os funcionários públicos, depois de dois anos, quando nomeados em

virtude de concurso de provas, e, em geral, depois de dez anos de efetivo exercício,

só poderão ser destituídos em virtude de sentença judiciária ou mediante processo

administrativo, regulado por lei, e, no qual lhes será assegurada plena defesa. (grifo

nosso).

Ainda se utilizou a terminologia TODAS AS GARANTIAS DE DEFESA no

item “c” do art. 107, com sentido de direito público subjetivo dos brasileiros naturalizados,

para o exercício de suas defesas em processos judiciais onde constarem como partes, sujeitos

de terem suas naturalizações canceladas, em face de serem acusados de exercerem atividades

sociais ou políticas nocivas ao interesse nacional.

d) A 3ª Constituição republicana outorgada em 1937

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A quarta Constituição do país foi outorgada por Getúlio Vargas em 10 de

novembro de 1937, violando a ordem democrática em vigor e instalando uma ditadura com o

golpe de Estado. O Congresso havia sido fechado e, presos vários parlamentares. O golpe foi

radical, se comparado com o golpe de 1934.

Em 10 de novembro de 1937, o presidente Getúlio Vargas anunciou pela rádio a

instauração do Estado Novo, um regime ditatorial que durou até 1945, marcado por

perseguições políticas e repressão policial, com abolição dos partidos políticos,

cancelamento das eleições, intervenção federal nos estados, forte censura aos meios

de comunicação e subordinação do poder judiciário ao executivo.121 

Era um golpe radical dentro do golpe brando que fora a eleição indireta de 34, após

o golpe revolucionário de 1930. O golpe dentro do golpe dentro do golpe, portanto.

E foi dado sem grande esforço: “a ameaça comunista”, a aliança momentânea com

os integralistas, o apoio das forças econômicas a Getúlio, a passividade do

Congresso e a prisão dos comunistas – tudo faria de Getúlio Vargas um ditador sem

adversários 122 

A palavra DEFESA aparece dezesseis vezes na Constituição de 1937.

As terminologias AMPLA DEFESA ou PLENA DEFESA não foram utilizadas.

Utilizou-se a terminologia GARANTIAS DE DEFESA no art. 122, inciso 11, trazendo-se em si

a natureza de direito público subjetivo inerente àqueles que se virem ‘conservados’ em prisão.

DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS

[...]

Art 122 A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o

direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

11) à exceção do flagrante delito, a prisão não poderá efetuar-se senão depois

de pronúncia do indiciado, salvo os casos determinados em lei e mediante ordem

escrita da autoridade competente. Ninguém poderá ser conservado em prisão sem

culpa formada, senão pela autoridade competente, em virtude de lei e na forma por

121 GRANDES acontecimentos que transformaram o mundo. Rio de Janeiro, RJ: Reader’s Digest Brasil,2000, p. 324.

122 BUENO, 1997 , p. 229.

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ela regulada; a instrução criminal será contraditória, asseguradas antes e depois da

formação da culpa as necessárias garantias de defesa. (grifo nosso).

e) A 4ª Constituição Republicana promulgada em 1946.

A quinta Carta Política Brasileira, quarta da era republicana e segunda que teve

seu nascedouro de forma realmente democrática, pois, para ser promulgada, suas normas

foram regularmente discutidas e aprovadas por uma Assembléia Nacional Constituinte eleita,

especialmente, para este fim:

A Assembléia instala-se em 02.fev.1946 e elege a comissão

constitucional que se baseia na Carta de 34, pois o governo,

empossado dois dias antes, não apresenta um anteprojeto. A comissão

trabalha até 27.maio, o projeto vai a votação a 13.agosto, a

Constituição é promulgada a 18.setembro.123 

A palavra DEFESA aparece dezesseis vezes na Constituição de 1946.

A terminologia  AMPLA DEFESA foi utilizada duas vezes no texto

constitucional, com o sentido de direito público subjetivo do exercício da ampla defesa

assegurados aos Membros do Ministério Público (art. 127) e aos funcionários públicos (art.

189, inciso II).

TÍTULO III DO MINISTÉRIO PÚBLICO 

Art 127 Os membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos

Territórios ingressarão nos cargos iniciais da carreira mediante concurso. Após dois

anos de exercício, não poderão ser demitidos senão por sentença judiciária ou

mediante processo administrativo em que se lhes faculte ampla defesa e nem

removidos, a não ser mediante representação motivada do Chefe do Ministério

Público, com fundamento em conveniência do serviço. (grifo nosso).

TÍTULO VIII DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Art 189 Os funcionários públicos perderão o cargo:

[...]

123 ISTOÉ Brasil 500 anos: Atlas Histórico. São Paulo: Três, 1998, p. 147.

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II quando estáveis, no caso do número anterior, no de se extinguir o cargo

ou no de serem demitidos mediante processo administrativo em que se lhes tenha

assegurado ampla defesa. (grifo nosso).

A terminologia PLENA DEFESA aparece uma única vez no textoconstitucional, com o mesmo sentido dado à terminologia ampla defesa, ou seja, direito

público subjetivo, garantia esta assegurada aos acusados de crimes (art. 141 § 25º).

TÍTULO IV DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS

CAPÍTULO II Dos Direitos e das Garantias individuais 

Art 141 A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança

individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 25 É assegurada aos acusados plena defesa, com todos os meios e recursos

essenciais a ela, desde a nota de culpa, que, assinada pela autoridade competente,

com os nomes do acusador e das testemunhas, será entregue ao preso dentro em

vinte e quatro horas. A instrução criminal será contraditória. (grifo nosso).

Usada a terminologia PLENITUDE DA DEFESA (art. 141 § 28) com a mesma

natureza, direito publico subjetivo garantido aos réus denunciados por crime contra vida.

TÍTULO IV DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS

CAPÍTULO II Dos Direitos e das Garantias individuais

Art 141 A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança

individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 28 É mantida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,

contanto que seja sempre ímpar o número dos seus membros e garantido o sigilo das

votações, a plenitude da defesa do réu e a soberania dos veredictos. Será

obrigatoriamente da sua competência o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

(grifo nosso).

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f) A 5ª Constituição Republicana outorgada em 1967

De todas as constituições nacionais, a carta política de 1967 teve sua origem

formal de uma maneira sui generis. Em se tratando de matéria constitucional, a rigor, não se

poderia afirmar que a mesma tenha sido outorgada e muito menos promulgada.

Não teria sido outorgada porque, na prática, os militares que tomaram o poder

em 1964 não a “impuseram  de imediato”  para a sociedade brasileira por ato de simples e

confessado arbítrio.

Sequer poderia ter sido promulgada, pois não ocorreram convocação e eleição

de uma Assembléia para discussão e aprovação de projeto. O Congresso que a aprovou foi

convocado, extraordinariamente, durante o recesso de fim de ano pela junta militar quegovernava o país. Juridicamente é inaceitável que uma força militar substituísse o povo,

delegando, em seu nome, poder constituinte ao Congresso.

E ainda não se pode deixar de relevar, à época, que o Congresso apresentava-se

bastante deformado. Grandes líderes brasileiros tinham sido excluídos compulsoriamente da

vida pública por ato do golpe de 1964. Não vigorava, outrossim, no país, o clima de liberdade

indispensável à reunião de uma Assembléia Constituinte. Desta forma, também, não seria

absurdo poder se afirmar que a Constituição de 1967 foi “semi-outorga” ou sido “auto-

 proclamada promulgada”.

A Constituição de 1967 tenta institucionalizar e consolidar o regime de 64, [...]. O

anteprojeto da nova carta é obra de quatro juristas [...]. O ATO INSTITUCIONAL

nº 04 (AI-4) convoca extraordinariamente o Congresso, durante o recesso de fim de

ano, para homologar a nova carta em 33 dias. A Comissão Constitucional, com 11

deputados e 11 senadores,examina o texto e dá seu parecer em 07 dias. [...] O texto

final é votado em 21.janeiro e promulgado em 24.janeiro, estritamente dentro do

calendário ditado pelo AI-4. 124 

A palavra DEFESA aparece doze vezes na Constituição de 1967.

No artigo 108, § 2º, a palavra aparece com sentido de direto publico subjetivo

assegurado aos magistrados.

124 ISTOÉ..., 1998, p. 183.

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TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO NACIONAL 

CAPÍTULO VIII Do Poder Judiciário

SEÇÃO I  Disposições Preliminares

Art 108 Salvo as restrições expressas nesta Constituição, gozarão os Juízes das

garantias seguintes:

[...]

§ 2 º O Tribunal competente poderá, por motivo de interesse público, em

escrutínio secreto, pelo voto de dois terços de seus Juízes efetivos, determinar a

remoção ou a disponibilidade do Juiz de categoria inferior, assegurando-lhe defesa.

Os Tribunais poderão proceder da mesma forma, em relação a seus Juízes. (grifo

nosso).

A terminologia  AMPLA DEFESA foi utilizada cinco vezes no texto

constitucional, em todas com o sentido de direito público subjetivo. A garantia foi assegurada

aos servidores públicos estáveis (art. 103, inciso II), aos Membros do Ministério Público (art.

138 § 1º), aos ‘ pacientes’ que correrem risco de perderem os direitos políticos (art. 144 § 2º),

aos acusados em geral (art. 150 § 15) e, no artigo 151 “assegurada aos pacientes que

subverterem a ordem pública”.

TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO NACIONAL

CAPÍTULO VII Do Poder Executivo

SEÇÃO VII Dos Funcionários Públicos

Art 103 A demissão somente será aplicada ao funcionário:

[...]

II estável, na hipótese do número anterior, ou mediante processo

administrativo, em que se lhe tenha assegurado ampla defesa.(grifo nosso).

CAPÍTULO VIII Do Poder Judiciário

SEÇÃO IX Do Ministério Público

Art 138 O Ministério Público Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da

República, o qual será nomeado pelo Presidente da República, depois de aprovada a

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escolha pelo Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos Indicados no art.

113, § 1º.

§ 1º Os membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos

Territórios ingressarão nos cargos iniciais de carreira, mediante concurso público deprovas e títulos. Após dois anos de exercício, não poderão ser demitidos senão por

sentença judiciária, ou em virtude de processo administrativo em que se lhes faculte

ampla defesa; nem removidos, a não ser mediante representação do Procurador-

Geral, com fundamento em conveniência do serviço. (grifo nosso).

TÍTULO II DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS

CAPÍTULO II Dos Direitos Políticos

Art 144 Além dos casos previstos nesta Constituição, os direitos políticos:

I - suspendem-se:

II - perdem-se:

[...]

§ 2º A suspensão ou perda dos direitos políticos será decretada pelo Presidente

da República, nos casos do art. 141 I e II, e do nº II, b e c [Perda da nacionalidade

brasileira] , deste artigo e, nos demais, por decisão judicial, assegurando-se sempre

ao paciente ampla defesa (destaque e grifo nosso).

CAPÍTULO IV Dos Direitos e Garantias Individuais

Art 150 A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes

no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e

à propriedade, nos termos seguintes:

§ 15 A lei assegurará aos acusados, ampla defesa com os recursos a ela

Inerentes. Não haverá foro privilegiado nem Tribunais de exceção. (grifo nosso).

Art 151 Aquele que abusar dos direitos individuais previstos nos §§ 8º, 23. 27 e

28 do artigo anterior125 e dos direitos políticos, para atentar contra a ordem

125 § 8º É livre a manifestação de pensamento, de convicção política ou filosófica e a prestação deinformação sem sujeição à censura, salvo quanto a espetáculos de diversões públicas, respondendo cadaum, nos termos da lei, pelos abusos que cometer. É assegurado o direito de resposta. A publicação delivros, jornais e periódicos independe de licença da autoridade. Não será, porém, tolerada a propaganda deguerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de raça ou de classe.

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democrática ou praticar a corrupção, incorrerá na suspensão destes últimos direitos

pelo prazo de dois a dez anos, declarada pelo Supremo Tribunal Federal, mediante

representação do Procurador-Geral da República, sem prejuízo da ação civil ou

penal cabível, assegurada ao paciente a mais ampla, defesa (grifo nosso).

A terminologia PLENA DEFESA foi utilizada no art. 37, § 2º, com o mesmo

sentido dado à terminologia ampla defesa, ou seja, direito público subjetivo, assegurada a

garantia aos deputados e senadores. 

TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO NACIONAL 

CAPÍTULO VI Do Poder Legislativo

SEÇÃO I Disposições Gerais

Art 37 Perde o mandato o Deputado ou Senador:

[...]

III que deixar de comparecer a mais de metade das sessões ordinárias da

Câmara a que pertencer em cada período de sessão legislativa, salvo doença

comprovada, licença ou missão autorizada pela respectiva Casa ou outro motivo

relevante previsto no Regimento Interno;

[...]

§ 2º No caso do item III, a perda do mandato poderá verificar-se por

provocação de qualquer dos membros da Câmara, de Partido Político ou do primeiro

suplente do Partido, e será declarada pela Mesa da Câmara a que pertencer o

representante, assegurada a este plena defesa (grifo nosso).

g) A 6ª Constituição Republicana promulgada em 1988.

A Carta Política Brasileira em vigor, sexta da era republicana e terceira que

teve sua origem conforme os ditames de um sistema democrático. A Assembléia Constituinte

que a apresentou para a nação, não só foi eleita pela sociedade brasileira, como, também,

§ 23 É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, observadas as condições de capacidade que alei estabelecer.

§ 27 Todos podem reunir-se sem armas, não intervindo a autoridade senão para manter a ordem. A lei poderádeterminar os casos em que será necessária a comunicação prévia à autoridade, bem como a designação,por esta, do local da reunião.

§ 28 É garantida a liberdade de associação. Nenhuma associação poderá ser dissolvida, senão em virtude dedecisão judicial.

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elaborou seu próprio anteprojeto, discutiu e o aprovou:

A Constituinte é instalada em 01.fev.1987, pelo Presidente do Supremo Tribunal

Federal; na praça em frente, caravanas da CUT, CGT, e movimentos populares

reúnem 15 mil manifestantes, em clima de festa e reivindicação. A Assembléia votaseu presidente, mesa e regimento interno. Procurando contornar as dificuldades

geradas pela inexistência de um anteprojeto inicial, criam-se sete comissões

temáticas, [...].126 

A palavra DEFESA aparece por setenta vezes na Constituição de 1988.

A terminologia  AMPLA DEFESA foi utilizada 11 vezes no texto

constitucional. No artigo 5º, inciso LV, o sentido é de direito público subjetivo e de forma

bastante ampla, pois os titulares da garantia não são somente os acusados em geral, como,também, passa o direito ser garantido aos litigantes em processos judiciais ou administrativos.

Mas o constituinte não se satisfez e, tendo sido meticuloso, cuidou da mesma forma como foi

utilizado na Carta de 1967, assegurar a garantia constitucional, especificamente, consignando-

a em outras normas da Carta, onde os titulares do direito são plenamente identificados: aos

servidores públicos (art. 41 § 1º incisos II e III e art. 247), para os Deputados e Senadores (art.

55 §§ 2º e 3º), aos Magistrados (art. 93 inciso II alíneas “d” e “e” e, art. 103-B, § 4º inciso

III), e, finalmente aos membros do Ministério Público (art. 128, inciso I alínea “b” e art. 130-

A § 2º inciso III).

TÍTULO II DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

[...]

LV aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em

geral são assegurados o contraditório e ampla defesa (grifo nosso) com os meios e

recursos a ela inerentes;

126 ISTOÉ..., 1998, p. 256.

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TÍTULO III DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

CAPÍTULO VII Da Administração Pública

Seção II Dos Servidores Públicos

Art. 41 São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados

para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público.

§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:

[...]

II mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla

defesa (grifo nosso);

III mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma

de lei complementar, assegurada ampla defesa (grifo nosso).

TÍTULO IX DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS GERAIS

Art. 247 As leis previstas no inciso III do § 1º do art. 41 e no § 7º do art. 169

estabelecerão critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor

público estável que, em decorrência das atribuições de seu cargo efetivo, desenvolva

atividades exclusivas de Estado.

Parágrafo único Na hipótese de insuficiência de desempenho, a perda do cargo

somente ocorrerá mediante processo administrativo em que lhe sejam assegurados o

contraditório e a ampla defesa (grifo nosso).

TÍTULO IV DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

CAPÍTULO I Do Poder Legislativo

Seção V Dos Deputados e dos Senadores

Art. 55 Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

[...]

§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela

Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta,

mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no

Congresso Nacional, assegurada ampla defesa (grifo nosso).

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[...]

§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa

da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros,

ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampladefesa (grifo nosso).

CAPÍTULO III Do Poder Judiciário

Seção I Disposições Gerais

Art. 93 Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá

sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

[...]

II promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e

merecimento, atendidas as seguintes normas:

[...]

d)  na apuração de antigüidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais

antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme

procedimento próprio, e assegurada ampla defesa (grifo nosso)., repetindo-se a

votação até fixar-se a indicação;

e)  o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por

interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo

tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa (grifo

nosso).

Art. 103-B O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de quinze membros com

mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis anos de idade, com mandato de

dois anos, admitida uma recondução, sendo:

[...]

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira

do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-

lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da

Magistratura:

[...]

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III receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder

Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores

de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou

oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais,

podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, adisponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao

tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa

(grifo nosso).

CAPÍTULO IV Das Funções Essenciais à Justiça

Seção I Do Ministério Público

Art. 128 O Ministério Público abrange:

I as seguintes garantias:

[...]

b)  inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do

órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de

seus membros, assegurada ampla defesa (grifo nosso).

Art. 130-A O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze

membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolhapela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida

uma recondução, sendo:

[...]

§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da

atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos

deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe:

[...]

III receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do

Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços

auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da instituição,

podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a

disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao

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  78

tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa 

(grifo nosso).

A partir do levantamento retro elaborado e deste estudo sobre o princípio da

ampla defesa, onde se afirmou na seção 5 que os princípios a tudo resistem, vencem o tempo,

enfrentam todas as espécies de governo, sobrevivem a todos os regimes políticos, e diante do

retrospecto histórico das Constituições Brasileiras, de imediato verifica-se confirmar a

assertiva. O país vivenciou uma Monarquia Absolutista (1822-1889) e passou por dois

períodos autoritários (Estado Novo – 1937-1945 e Ditadura Militar – 1964-1987). Entretanto,

nas Cartas Políticas que vigeram durante esses momentos, conservou-se grande parte dos

princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático (originários das Constituições

Norte-Americana e Francesa, ambas editadas no final do século XVII), que já existiam nas

cartas políticas que antecederam os golpes (exceto a 1824).

Com foco no tema proposto, elaborou-se o quadro 5, onde se relacionou o

principal titular, com a garantia de ampla defesa que lhes foi assegurada, personalisticamente.

Facilmente se constata, que, no final do século XIX, a preocupação dos

constituintes era assegurar o direito subjetivo de se poder exercer a ampla defesa, como

garantia constitucional individual, apenas para os envolvidos em crimes, preocupações

aquelas revitalizadas nas constituições de 1937 e 1946.

Quadro 5: Princípio da Ampla Defesa assegurada nas Constituições Brasileiras1824/1888

Titular DireitoConstituições Brasileiras

1824 1891 1934 1937 1946 1967 1988

Acusados de Crime X X X X

Acusados em Geral X X X

Membros Poder Legislativo X X X

Membros Poder Judiciário X X

Membros Minist. Público X X X X

Servidores Públicos X X X X

As lições de hermenêutica passadas por Maximiliano127 instruem que, quando

uma Constituição nova mantém em alguns de seus artigos a mesma linguagem da antiga,

presume-se que pretendeu não mudar a lei nesse particular, continuando a vigorar a

interpretação dada a lei anterior.

127 MAXIMILIANO, 1979, p. 311.

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Ora, se nos enunciados das Cartas Políticas de 1824, 1891, 1937 e 1946, o

exercício da ampla defesa assegurado nos capítulos de direitos individuais estava vinculado,

explicitamente, a procedimentos criminais, nos enunciados das outras Constituições (1934,

1967 e 1988), não. Nestas, o princípio constitucional geral mantido em todas elas, no capítulodas garantias individuais, abrangeu genericamente os acusados.

Se nos enunciados correlatos (Constituições de 1934, 1967 e 1988) não

ocorreu nenhuma menção sobre a natureza jurídica especifica dos procedimentos (seja Penal,

Civil, ou Administrativo), a interpretação a ser dada diante dos enunciados das Cartas

Políticas de 1934 e 1967, obrigatoriamente, tem que ser entendida como aplicáveis para os

procedimentos de quaisquer naturezas, pois, implicitamente, é isto que se deve extrair do

princípio ali assegurados.

Já na Carta de 1988, os constituintes não permitiram que se deixasse levantar

quaisquer dúvidas quanto a quais procedimentos seria o direito assegurado. Além do mais,

ampliou a garantia não só para os acusados em geral, como, também, para os litigantes em

processos judiciais (entenda-se ações civis ou penais) e em qualquer tipo de processo

administrativo.

O enunciado do inciso LV do art. 5º é bastante claro, permitindo assim que

basta a realização de uma interpretação literária do texto legal, para se entender aonde quischegar o legislador: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo , e aos acusados

em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes.” (grifo nosso)

Cuidaram ainda os constituintes das Cartas de 1934, 1946, 1967 e 1988 de

assegurar o principio do exercício da ampla defesa, especificamente, para os agentes

públicos/políticos que se vissem diante da possibilidade de perderem seus cargos públicos,

com se vê no quadro 6:

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Quadro 6: Princípio da Ampla Defesa assegurado nas Constituições Brasileiras aosagentes públicos e políticos no caso de Perda/destituição/demissão de seuscargos - 1934/1988.

Titular DireitoConstituições Brasileiras

1934 1946 1967 1988

Membros Poder Legislativo X X X

Membros Ministério Público X X X

Servidores Públicos X X X X

O que se verifica , como garantia constitucional a partir da carta de 1934, é o instituto do

processo administrativo como alternativa para se apurar os motivos de demissão dos membros

do Ministério Público e dos funcionários públicos, e com relação a este último, a manutenção,

desde a instituição do enunciado (com poucas alterações que sequer lhe alteraram o

entendimento) nas constituições de 1946, 1967 e 1988.

Como o tema deste estudo é sobre o exercício da ampla defesa diante da

notícia infracional em desfavor de servidor público, e constatado até o presente momento que

nas constituições pátrias, AMPLA DEFESA é princípio geral, e a garantia de seu exercício por

funcionário público foi tratada como princípio fundamental, inclusive, aparecendo de uma

forma ou de outra, nas quatro últimas Cartas Políticas, necessário se faz introduzir algumas

informações e conceitos de direito administrativo, a fim de se poder prosseguir e concluir o

presente trabalho.

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6 DIREITO ADMINISTRATIVO E OS PRINCÍPIOS QUE REGEM O

PROCESSO ADMINISTRATIVO

Conforme afirma Maximiliano128, as leis fundamentais devem ser maisrigorosamente obrigatórias que as leis ordinárias. Uma Constituição condensa princípios e

normas asseguradoras do progresso, da liberdade e da ordem. A Carta Política é a lei suprema

de um país, e contra sua letra, ou espírito, não prevalecem resoluções dos poderes federais,

decretos ou sentenças federais, nem tratados, ou quaisquer outros atos diplomáticos. Em sua

interpretação, aplica-se todo o processo sistemático de hermenêutica, mas a preponderância

será sempre do processo teleológico. Podem-se até decretar leis orgânicas para execução

completa do Código supremo, entendendo-se como normas complementares, mas não

interpretativas. E quando as palavras do termo constitucional forem suscetíveis de duas

interpretações, uma estrita outra ampla, adota-se a interpretação mais adequada com o fim

transparente da norma positiva.

Assim, diante da norma descrita no art. 5º inciso LV da Constituição Federal

de 1988, pode-se afirmar que se encontra assegurado o exercício da ampla defesa para os

litigantes e aos acusados em geral em qualquer processo administrativo.

Um dos objetivos deste trabalho é verificar, quanto ao servidor público federal

acusado, denunciado ou representado de ter cometido desvio funcional no exercício de suas

atividades, ser possível iniciar sua defesa logo após o momento em que a administração

pública toma conhecimento de sua conduta infracional, e antes da efetiva decisão da

autoridade administrativa de determinar, ou não, a instauração do respectivo processo

administrativo disciplinar ou sindicância.

Antes de se dar prosseguimento à tese apresentada, se faz necessário registrar

alguns conceitos utilizados na ciência jurídica, especificamente, no ramo do Direito

Administrativo.

6.1 Direito Administrativo

Apesar de já existir desde o início do Império uma administração pública

organizada, somente a partir da Constituição de 1934, em face da extensão da atividade do

128 MAXIMILIANO, 1979, p. 305-315.

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  82

Estado brasileiro nos âmbitos social e econômico, é que no país o Direito Administrativo

experimentou sua grande evolução em decorrência da própria previsão constitucional.

Hely Lopes Meirelles129 define “ Direito Administrativo como sendo ramo

autônomo do Direito, abrangendo um conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem

os órgãos, os agentes e as atividades públicas, tendendo a realizar concreta, direta, e

indiretamente os fins desejados pelo Estado”. (grifo nosso)

Bandeira de Mello130 caracteriza o Direito Administrativo classificando-o

como uma “disciplina normativa peculiar que, fundamentalmente, se delineia” em função da

 consagração de dois princípios’: supremacia do interesse público sobre o privado e

indisponibilidade pela administração dos interesses públicos. (grifo nosso)

Di Pietro131 definiu o Direito Administrativo como:

[...] ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas

 jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade

 jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a consecução

de seus fins, de natureza pública.

Ensina ainda que:

O Direito Administrativo começou a se desenvolver, concomitantemente com o

conceito de Estado de Direito, já na fase do Estado moderno, a partir do momento

em que governantes passaram a se submeter à lei, em especial à fundamental que é a

Constituição. Encontrando estruturado, principalmente, sobre dois grandes

princípios jurídicos: o princípio da legalidade, em decorrência da subordinação dos

governantes diante da lei e, o princípio da separação dos poderes que tem por

objetivo assegurar a proteção dos direitos individuais, não apenas em relação aos

particulares, mas também entre estes e o Estado. (grifo nosso)

O que se pode extrair dos conceitos apresentados é que o DireitoAdministrativo é um ramo do direito que prescreve as normas de atividade da administração

pública e tem por fundamentos um conjunto de princípios que deverão ser observados pela

autoridade administrativa ao atuar em suas atividades.

129  MAGALHÃES, 1997 , p. 294.130 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 7. ed. rev. atual. e ampl. São

Paulo, SP: Malheiros, 1995, p. 24.131 DI PIETRO, 2000, p. 52.

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Cuidou o constituinte brasileiro de consignar na Carta Política vigente (artigo

37 caput ), quais seriam os princípios fundamentais constitucionais a serem observados pela

administração pública e obedecidos pela autoridade administrativa na aplicação do direito em

suas atividades, e, evidentemente, em detrimento de seus administrados:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. (grifos nossos)

É em cada ato praticado nos processos administrativos, que a autoridade

administrativa deverá ser criteriosa, obedecendo, rigorosamente, aos preceitos constitucionais

em todas as suas formas e ações. Ressalta-se, que além dos princípios, explicitamente

expressos na Lei Maior, existem, no contexto constitucional, conforme será visto, princípiosimplícitos ou decorrentes daqueles. Além desses suscitados, cuidou o legislador de

regulamentar o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, razão

pela qual editou-se uma legislação infraconstitucional132, a Lei. 9.784/99, que estipulou outros

princípios em seu art. 2º, caput que deverão ser observados pela Autoridade Pública:

Art. 2º A Administração Pública obedecerá dentre outros, aos princípios da

legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,

moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,

interesse público e eficiência: [...] (grifo nosso).

6.2 Processo Administrativo

Antes de discorrer sobre os conceitos jurídicos dos princípios aos quais deverão

ser submetidos os atos praticados pela autoridade administrativa, explicar-se-á o que deve ser

entendido por processo no âmbito de direito administrativo, pois, conforme determina a Lei

Maior, o exercício da ampla defesa será assegurado para quem esteja integrando um processo

administrativo.

Para Magalhães133, no Direito, a palavra processo trata-se de um   método

estatal regido pelo direito processual, empregado para a solução de conflitos de interesse. O

132 V. Anexo “E”.133 MAGALHÃES,1997, p. 720.

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  84

termo sempre traz a idéia de forma, instrumento, modo de proceder. Frederico Marques apud 

Di Prieto o classifica como um fenômeno em desenvolvimento 134. 

Em uma democracia, num sentido mais amplo, processo abrangeria o

instrumento utilizado pelo qual os três poderes do Estado (legislativo, judiciário e executivo)

viabilizam a consecução de seus fins. Daí, Di Pietro135 definir e classificá-lo como uma série

de atos coordenados para a realização dos fins estatais , separando-se de um lado o processo

legislativo pelo qual o Estado elabora a lei, e de outro, os processos, judicial e administrativo, 

pelos quais o Estado aplica a lei. 

Os processos legislativo e judicial não interessam neste trabalho, mas se faz

necessário saber diferenciar o processo judicial do administrativo, por terem ambos a mesma

finalidade. Tanto num como no outro, a causa poderá ser iniciada por uma das partes, ou pelo

próprio Estado que será considerado parte. Uma das diferenças é que no processo judicial a

causa será julgada por um juiz independente, e, no administrativo, é o próprio Estado (a

administração) quem julgará o litígio. A diferença fundamental é que a decisão do judiciário

faz coisa julgada, e a do administrativo, não. Razão pela qual a parte perdedora, em regra o

administrado, poderá recorrer ao poder judiciário para rever, e se for o caso, modificar a

decisão apresentada pela administração.

No Direito Administrativo, a expressão PROCESSO ADMINISTRATIVO, no

dia-a dia, é utilizada com sentidos diferentes. Assim informa Di Prieto136:

-Pode designar o conjunto de papéis e documentos organizados numa pasta e

referentes a um dado assunto de interesse do funcionário ou da Administração;

-É utilizado como sinônimo de processo disciplinar, pelo qual se apuraram infrações

administrativas e se punem os infratores;

-Com um sentido mais amplo, designa o conjunto de atos coordenados para a

solução de uma controvérsia no âmbito administrativo;

-Em sentido ainda mais amplo, abrange a série de atos preparatórios de uma decisão

final da administração, nos casos de processos administrativos que não envolverem

controvérsias.

134 DI PIETRO, 2000, p. 481.135  Ibid.

136 Ibid., p. 482-483.

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Di Prieto, ao definir que a terminologia é usada como sinônimo de Processo

Disciplinar, exemplificou que, com o sentido de Processo Administrativo Disciplinar, o

constituinte usou a terminologia na Norma Constitucional137. do artigo 41, § 1º. 

Cretella Junior138 conceituou:

-Processo administrativo numa acepção é o conjunto de documentos que formam a

peça administrativa;

-Processo administrativo, num sentido amplo, é a série ordenada de atividades da

administração que prepara a edição do ato administrativo;

-Processo administrativo é o conjunto de atos praticados na esfera administrativa

quer apenas pela Administração, quer pela autoridade competente e pelo

administrado, até a decisão final da autoridade competente, nessa esfera.

O mesmo autor139 ainda oferece em esclarecimentos que o processo

administrativo se classifica com relação ao ato administrativo a ser editado:

-Se o ato não depender do pronunciamento do administrado ou do funcionário, o

processo é, como iniciativa do Estado, fase unilateral, preparatória, vinculante do

ato;

Se o ato envolver o administrado ou funcionário, teremos processo administrativodisciplinar, conforme estejam em jogo faltas disciplinares, crimes ou atividades

(ações ou omissões).

Hely Lopes Meirelles apud por Lessa140 indica que na administração pública o

processo administrativo tem por fim registrar seus atos, controle da conduta de seus agentes, e

solução de controvérsias dos administrados, utilizando-se para isso diversificados

procedimentos.

137 “Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo deprovimento efetivo em virtude de concurso público. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: II- mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa.” (grifo nosso)

138 CRETELLA JR., 2004, p. 50-51.139  Ibid. 140  LESSA, 2001, p. 29.

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Procedimentos ou processos são conceitos que trazem muitas controvérsias

pelos doutrinadores administrativistas. Lessa141 para explicar a complexidade das diferenças

entre estes dois conceitos jurídicos registrou em sua obra a lição de Antônio Carlos de Araújo

Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Dinamarco, a qual é transcrita abaixo in verbis : 

Terminologicamente é muito comum a confusão entre processo, procedimento e

autos. Mas, como se diz, procedimento é o mero aspecto formal do processo, não se

confundido conceitualmente com este; autos, por sua vez, são a materialidade dos

documentos em que se corporificam os atos do procedimento. Assim, não se deve

falar, por exemplo, em fases do processo, mas do procedimento; nem em ‘consultar o

processo’, mas aos autos. Na Legislação Brasileira, o vigente Código de Processo

Civil é o único diploma que se esmerou na precisão da linguagem (Teoria Geral do

Processo, RT, São Paulo, 1990, p. 248).

Moreira142 definiu processo administrativo como sendo as relações jurídicas

dinâmicas, coordenadas por normas que estabelecem vínculo de segundo grau entre os sujeitos

que dele participam. Explica, ainda, que na relação processual os direitos e deveres das partes

são de direito público, independentes da natureza jurídica das partes e dos interesses em jogo.

Em outra lição, afirma que:

[...] a principal preocupação de quem estuda o Direito Administrativo não hão

de ser as prerrogativas da Administração, mais sim os direitos do administrado,entendendo, desta forma, que o processo administrativo é como instrumento de

garantia e satisfação dos direitos individuais celebrados na Constituição e leis

infraconstitucionais. (grifo nosso)

Para os fins que se propõe este estudo, o conceito apresentado por Moreira é o

melhor indicado, pois nele, além de encontrarmos implícitas as demais características

implementadas pelos outros autores, seu sentido é bem amplo, portanto adequando-se aos

objetivos do texto constitucional exposto no art. 5º, inciso LV.

Em regra, os doutrinadores administrativistas classificam como processo

administrativo disciplinar aqueles expedientes que têm por finalidade a apuração de falta ou

desvios funcionais praticados por servidores públicos. Não é pretensão deste trabalho

aprofundar sobre este assunto, pois, grande parte das obras jurídicas que tratam sobre ampla

141  Ibid., p. 29-30.142 MOREIRA, 2003, p. 57-64.

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defesa e servidor público indicam o exercício desse direito para momento após a abertura ou

instauração dos processos disciplinares. E como se entende que essa matéria já se encontra

bastante exaurida com relação à legislação vigente e a doutrina disponível, não se tem

propósito de discuti-la. Além do mais, pretende-se comprovar que o simples fato da autoridadepública tomar conhecimento de notícia que traz em seu conteúdo provável cometimento de

falta disciplinar por parte de um subordinado, não lhe autoriza transformar esta notícia em um

procedimento disciplinar, e sim, dar início a um processo administrativo em seu entendimento

mais amplo.

6.3 Os princípios do Processo Administrativo

Como afirmado na seção 4, princípios jurídicos têm sua fundamentação básica

no direito natural e sua vigência independe da existência de qualquer documento ou preceito

escrito, como, também, deixar de observar um princípio, diretamente, estar-se-á

desobedecendo a uma norma do sistema, em cuja essência estivesse ele embutido.

O Professor Armando Costa143 afirma que no Direito Administrativo, como

ramo autônomo da ciência do Direito que é, não poderia deixar de ter os seus princípios

próprios, os quais lhe servem como elementos informativos e interpretativos.

6.3.1 Princípios Constitucionais

O constituinte brasileiro ao estipular os fundamentos que deverão ser

observados pela Administração Pública e obedecidos pela autoridade administrativa,

relacionou no caput do Artigo 37  da Constituição cinco princípios fundamentais: da

 Legalidade, da Impessoalidade, da Moralidade, da Publicidade e, da Eficiência. Bandeira de

Mello144 indica este artigo como o cânon145 regente da Administração Pública.

Constata-se que ao se entender cada princípio acima explicitado vai se

descobrindo que não foi à toa que o legislador os fez mencionar no texto legal, pois,

implicitamente, para cada princípio fundamental do Direito Administrativo indicado, existe no

texto constitucional sua razão de ser.

143 COSTA, 1981, p. 59.144 MELLO, 1995, p. 59.145 Regra geral de onde se inferem regras especiais.

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a)  Princípio da Legalidade

[Do lat. med. legalitate.] S. f. Qualidade ou estado de legal; conformidade com a lei;

legitimidade. ext. Juridicidade146.

Pelo Princípio da Legalidade, tem-se que administração pública é uma

atividade que se desenvolve debaixo da lei, na forma da lei, nos limites da lei e para atingir os

fins assinalados pela lei. Por isto é sempre necessária a previsão legislativa como condição de

validade de uma atuação administrativa, porém, é essencial que tenham, efetivamente,

acontecido os fatos para os quais a lei estipula uma conseqüência.

Não se aplica na administração pública o princípio da autonomia da vontade.

Há muito foi abandonado o entendimento segundo o qual a discricionariedade que a lei

confere ao agente público legitima qualquer conduta deste, impedindo assim, o exame pelo

poder judiciário.

O professor Costa147 inicia seu entendimento do princípio da legalidade como

o brocardo jurídico de que o cidadão tudo pode fazer desde que não esteja proibido, mas a

Administração Pública somente poderá fazer aquilo a que por lei estiver autorizada. Afirma

que tal comando axiomático configura uma obediência, e não uma prerrogativa da autoridade

pública.

Bandeira de Mello148 salienta, com relação ao princípio, que a administração é

completamente submissa à lei e afirma que  o princípio da legalidade se assenta na própria

estrutura do Estado de Direito e do sistema constitucional como um todo. O autor indica como

raízes constitucionais do Princípio da Legalidade os artigos 5º, caput e seu inciso II, e 84,

inciso IV:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidadedo direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

146 FERREIRA, 1997, p.1017.147 COSTA, 1996, p. 47.148 MELLO, 1995, p. 57-58.

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II ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei;

Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da República:

IV sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e

regulamentos para sua fiel execução;

O Princípio da Legalidade não pode ser entendido como um simples

cumprimento formal das disposições legais. Di Prieto149 afirma que em decorrência desse

princípio não pode a administração pública, por simples ato administrativo, conceder direitos

de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações ao administrado. O princípio não se

coaduna com a mera aparência de legalidade, mas, ao contrário, requer uma atenção especial

para com o espírito da lei e para com as circunstâncias do caso concreto.

b) Princípio da Impessoalidade

[De impessoal + -(i)dade.] S. f. Qualidade ou caráter de impessoal; Significação de

impessoal: Que não se refere ou não se dirige a uma pessoa em particular, mas às

pessoas em geral; Independente de, ou sobranceiro a qualquer circunstância ou

particularidade150.

O Princípio da Impessoalidade resume a idéia de que a administração pública

tem o dever de tratar a todos os administrados sem favoritismo nem perseguição. Di Prieto151 

assinala que o princípio estaria relacionado com a finalidade pública que deve nortear toda

administração pública: significa que a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar

ou beneficiar pessoas determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que

nortear o seu comportamento.

Bandeira de Mello152 é quem confirma que o princípio encontra suas raízes no

preâmbulo do artigo 5º  da Constituição. O princípio não é senão o próprio princípio da

igualdade: se todos são iguais perante a lei, logo, todos são iguais perante a administração.

Interesses particulares não podem interferir na atuação administrativa.

149  DI PRIETO, 2000, p. 68.150 FERREIRA, 1997, p. 922.151 DI PRIETO, op. cit ., p. 71152 MELLO, 1995, p. 68.

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Desta forma, é que, ao decidir, deverá a autoridade pública tratar todos os

administrados sem discriminações benéficas ou prejudiciais. Devem ser considerados

intoleráveis os atos de favoritismos ou de perseguições. A administração não deve se deixar

envolver por interferências políticas ou ideológicas, simpatias ou animosidades pessoais.Deve, ainda, evitar e não se permitir emitir decisões sectárias ou oriundas de facções ou

grupos de qualquer espécie.

c) Princípio da Moralidade Administrativa

[Do lat. moralitate] S. f. Qualidade do que é moral. P. ext. Significação de moral:

Filos. Conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo

absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada153..

A Constituição Federal elegeu como um de seus princípios fundamentais a

Moralidade como um todo, esperando-se, assim, poder confiar em uma nova ordem

administrativa baseada na confiança, na boa-fé, na honradez e na probidade.

A própria Carta Política configura como cometimento de crime de

responsabilidade (Artigo 37, caput , § 4º) a não observância desse princípio, inclusive,

indicando e ensejando a propositura de ação popular (Art. 5º, inciso LXXIII):

Art. 5º inciso LXXIII qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popularque vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado

participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio

histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas

 judiciais e do ônus da sucumbência.

Art. 37 § 4º   Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos

direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o

ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação

penal cabível. (grifo nosso).

Em obediência ao princípio, a administração e seus agentes devem atuar

observando os padrões éticos. A autoridade pública deve proceder, em relação aos

administrados, de forma sincera, sendo-lhe vedado qualquer comportamento astucioso, que

153 FERREIRA, 1997, p. 1158.

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confunda ou dificulte o exercício do direito por parte do cidadão. Di Prieto 154 apresenta uma

distinção entre moral e direito representando-os como dois círculos concêntricos, onde o

maior corresponde à moral e o menor ao direito, e onde, a licitude e a honestidade seriam os

traços distintivos entre os institutos jurídicos, o que indicaria a verdade implícita no brocado,non omne quod licet honestum est 155.

Bandeira de Mello156 ressalta que violar este princípio implicaria a violação do

próprio direito configurando ilicitude, sujeitando a conduta violada à invalidação. O Princípio

da Moralidade Administrativa está em sintonia com a finalidade do artigo 37 da Carta Magna,

compreendendo em suas origens os princípios da boa fé e lealdade com os administrados.

O Princípio da Moralidade Pública contempla a determinação jurídica da

observância de preceitos éticos produzidos pela sociedade, variável segundo as circunstâncias

de cada caso. A administração tem que proceder em relação aos administrados com

sinceridade e lisura. A autoridade pública fica impedida de agir através de comportamentos

astuciosos produzidos no sentido de confundir, dificultar ou minimizar o exercício de direitos

por parte dos administrados.

É possível zelar pela moralidade administrativa por meio da correta utilização

dos instrumentos para isso existentes na ordem jurídica, entre os quais merece posição de

destaque, exatamente, o processo administrativo pela extrema amplitude de investigação que

nele se permite, dando, assim, oportunidade à autoridade pública oferecer uma decisão justa e

equilibrada.

d)  Princípio da Publicidade

[De público + -(i)dade; fr.  publicité .]; Relativo a Publicação de matéria geral de

interesse de uma organização, por veículo de comunicação. [Nesta acepção a

publicidade não é paga.]; Caráter do que é feito em público: a publicidade dos

debates judiciais.157 

O artigo 37 da Constituição estampa o Princípio da Publicidade, aplicável a

todos os poderes e em todos os níveis de governo. O princípio exige ampla divulgação dos

154 DI PRIETO, 2000, p. 77.155 Nem tudo o que é legal é honesto.156 DI PRIETO, 2000, p. 69.157 FERREIRA, 1997, p. 1414.

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atos praticados pela administração pública, impondo, assim, a plena transparência na atividade

administrativa, exatamente, para que os administrados possam conferir se está bem ou mal

conduzida.

Na administração pública, só se admite o sigilo quando imprescindível à

segurança da sociedade e do Estado, pois é assim que determina a norma Constitucional do

Artigo 5º, Inciso, XXXIII (direito à informação) numa das sustentações fundamentais do

princípio. Ainda, para reforçar as bases constitucionais do Princípio da Publicidade, cuidou o

constituinte de assegurar ao cidadão não só o direito de obter informações sobre sua pessoa

 junto à administração, como, também, lhe assegurar a garantia de que se esse pedido lhe for

negado por motivo não previsto em lei, poderá recorrer ao judiciário, tudo conforme as

normas do artigo 5º, incisos XXXIV, alínea ‘b’, LX e LXXII, alínea ‘a’158:

Inciso XXXIII todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de

seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no

prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Inciso XXXIV são a todos assegurados, independentemente do pagamento de

taxas:

[...]

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e

esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Inciso LXXII conceder-se-á habeas-data:

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,

constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de

caráter público;

É a regra geral, os atos praticados pelos Agentes Administrativos não devem

ser sigilosos. Portanto, salvo as ressalvas legalmente estabelecidas e as decorrentes de razões

de ordem lógica, o processo administrativo deve ser público e acessível, principalmente, a

todos que nele se entender existir interesses pessoais.

158 MELLO, 1995, p. 68-69.

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Di Prieto159 observa, quanto à restrição constitucional para o princípio

verificado na norma do inciso LX, que se houver conflito entre o interesse público com o

direito à intimidade, prevalecerá em detrimento deste, a supremacia do interesse público sobre

o individual:

Inciso LX a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais

quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Ora, não se deve compreender diante deste entendimento que se é o interessado

que tiver correndo risco de ter exposta sua intimidade, não seria plausível que a autoridade

pública decidindo petição do administrado, negasse a informação solicitada para proteger-lhe

a intimidade.

e) Princípio da Eficiência

[Do lat. efficientia.] S. f. Ação, força, virtude de produzir um efeito;160 

O Principio da Eficiência foi acrescentado à norma constitucional originária,

através da Emenda Constitucional no 19/1998. O princípio não é originário da ciência jurídica,

e, sim, típico de atividades privadas, sendo estudado nas áreas de administração e economia,

onde o conceito do termo eficiência vincula-se às relações entre trabalho, tempo, investimento

e resultado lucrativo obtidos no mundo empresarial. Eficiência contrapõe-se `a lentidão, àomissão, à negligência.

Trata-se de um princípio desejável no campo da administração pública, pois,

está ligado diretamente à obtenção de um resultado positivo. A autoridade pública deve agir

de modo rápido para produzir resultados que atendam à sociedade e ao administrado. É um

princípio que já estava implícito, como um anseio do cidadão, porém, ao torná-lo explícito,

pretendeu o legislador demonstrar a importância que ele passou a ter.

Hely Lopes Meirelles apud Di Prieto161 é quem informa sobre a definição do

princípio que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com presteza,

perfeição e rendimento. O dever de eficiência corresponde ao dever da boa administração:

159 DI PRIETO, 2000, p. 75.160 FERREIRA, 1995, p. 620.161 DI PRIETO, 2000, p. 83.

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É o mais moderno principio da função administrativa, que já não se contenta em ser

desempenhada apenas com legalidade, exigindo-se resultados positivos para o

serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus

membros.

Em termos práticos, deve-se considerar que, quando mera formalidade

burocrática for um empecilho à realização do interesse público, o formalismo deve ceder

diante da eficiência. Moreira162 afirma que o Princípio da Eficiência exigirá da administração,

sempre, aprimorar o cumprimento dos demais princípios constitucionais, e que, sendo a

finalidade básica da administração pública a manutenção do Estado Democrático de Direito,

encontrará o princípio, escopo no art. 1º da Carta Política163, prescindindo, assim, a

maximização do respeito à dignidade da pessoa humana.

Finalizando esta exposição, e, sintetizando o que foi pesquisado, elaborou-se o

quadro 7, onde se indicam os princípios estudados e suas bases constitucionais:

Quadro 7: Princípios Fundamentais do Processo Administrativo e suas basesConstitucionais

Principio Base Constitucional Texto Constitucional

Legalidade

Art. 5º, II

Art. 37 caput 

Art. 84, IV 

Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazeralguma coisa senão em virtude de lei;

A administração pública direta e indireta de qualquer

dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federale dos Municípios obedecerá aos princípios delegalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade eeficiência;.

Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bemcomo expedir decretos e regulamentos para sua fielexecução;

Impessoalidade

Art. 5º caput 

Art. 37 caput  

Todos são iguais perante a lei, sem distinção dequalquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aosestrangeiros residentes no País a inviolabilidade dodireito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e apropriedade, nos termos seguintes.

A administração pública direta e indireta de qualquerdos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federale dos Municípios obedecerá aos princípios delegalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade eeficiência.

Continua ...

162 MOREIRA, 2003 , p. 181.163 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do

Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]. (grifo nosso).

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Continuação

MoralidadeAdministrativa

Art. 5º, LXXIII

Art. 37 caput, § 4º  

Qualquer cidadão e parte legítima para propor açãopopular que vise a anular ato lesivo ao patrimôniopúblico ou de entidade de que o Estado participe, àmoralidade administrativa, ao meio ambiente e ao

patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvocomprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônusda sucumbência;

Os atos de improbidade administrativa importarão asuspensão dos direitos políticos, a perda da funçãopública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimentoao erário, na forma e gradação previstas em lei, semprejuízo da ação penal cabível.

Publicidade

Art. 5º, XXXIII

Art. 5º, XXXIV ‘b’

Art. 5º, LX

Art. 5º, LXXII ‘a’

Todos têm direito a receber dos órgãos públicosinformações de seu interesse particular, ou de interessecoletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo

sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade edo Estado;

São a todos assegurados, independentemente dopagamento de taxas: b) a obtenção de certidões emrepartições públicas, para defesa de direitos eesclarecimento de situações de interesse pessoal;

A lei só poderá restringir a publicidade dos atosprocessuais quando a defesa da intimidade ou ointeresse social o exigirem;

Conceder-se-á habeas-data: a) para assegurar o

conhecimento de informações relativas à pessoa doimpetrante, constantes de registros ou bancos de dadosde entidades governamentais ou de caráter público;

Eficiência Art. 1º caput  

A República Federativa do Brasil, formada pela uniãoindissolúvel dos Estados e Municípios e do DistritoFederal, constitui-se em Estado Democrático de Direitoe tem como fundamentos:

6.3.2 Princípios do Processo Administrativo e a Lei 9.784/99

Não se satisfez o legislador ordinário com os fundamentos indicados no texto

constitucional, cuidando, ainda, de elencar outros princípios do Direito Administrativo no

ordenamento infraconstitucional (Lei 9.784/99) que regulamenta os Processos Administrativos

Federais: Finalidade, Motivação, Razoabilidade, Proporcionalidade, Ampla Defesa,

Contraditório, Segurança Jurídica, e Interesse Público.I 

a)  Princípio da Finalidade

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[De final + -(i)- + dade; lat. tard. finalitate, 'desinência', 'terminação'.]; S. f. Fim a

que se destina uma coisa; objetivo, alvo; destinação.164 

Segundo o Princípio da Finalidade, a norma administrativa deve ser

interpretada e aplicada da forma que melhor garanta a realização do fim público a que se

dirige.

Deve-se ressaltar que o que explica, justifica e confere sentido a uma norma é

precisamente a finalidade a que se destina. A partir dela é que se compreende a racionalidade

que lhe presidiu a edição. Logo, é na finalidade da lei que reside o critério norteador de sua

correta aplicação, pois é em nome de um dado objetivo que se confere competência aos

agentes da administração. Tal raciocínio encontra amparo no processo teleológico de

interpretação das leis, que podem ser extraídos de Maximiliano165 

Considera-se Direito como uma ciência primariamente normativa ou finalística; por

isso mesmo sua interpretação há de ser na essência, teleológica. O hermeneuta

sempre terá em vista o fim da lei, o resultado que a mesma precisa atingir em sua

atuação prática.

É preciso examinar à luz das circunstâncias do caso concreto se o ato aplicado

atendeu ou concorreu para o atendimento específico do interesse público almejado pela

previsão normativa que o ampara. Bandeira de Mello166 afirma que:

O Princípio da Finalidade em rigor não é uma decorrência do princípio da legalidade.

É muito mais do que isso: é uma inerência dele; está nele contido, pois, corresponde

à aplicação da lei tal qual é; ou seja, na conformidade de sua razão de ser, do

objetivo em vista do qual foi editada.

O Princípio da Finalidade encontra seu escopo constitucional na própria

consagração do principio da legalidade, estampado no art. 37 da Carta Política. Ainda se

firmando nos ensinamentos de Bandeira de Mello167, este vê no artigo 5º, inciso LXIX daConstituição outra referência para o princípio. É o instituto do Mandado de Segurança que

seria cabível, quando se configurar a não observância do princípio como abuso de poder por

parte da autoridade administrativa:

164 FERREIRA, 1997 , p. 781.165 MAXIMILIANO, 1979, p. 151-152.166 MELLO, 1995, p. 62.167  Ibid.

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LXIX conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,

não amparado por habeas-corpus ou habeas-data, quando o responsável pela

ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no

exercício de atribuições do poder público;

E assim, Bandeira de Mello168 acrescenta que justificar e conferir sentido a

uma norma é precisamente a finalidade que a anima. Razão pela qual não se justifica tomar

uma lei e praticar um ato desconforme à sua finalidade. É buscar a Lei sob pretexto de cumpri-

la, porém, isto não é aplicar a lei e sim desvirtuá-la.

b) Princípio da Motivação

[De motivar + -ção.]; S. f. Ato ou efeito de motivar. Exposição de motivos ou

causas.169 

A motivação é uma exigência do Estado de Direito ao qual é inerente, entre

outros direitos dos administrados, o direito a uma decisão fundamentada, motivada, com

explicitação das justificativas. O Princípio da Motivação determina que a autoridade

administrativa deve apresentar as razões que a levaram a tomar uma decisão.

O princípio há muito é consagrado pela doutrina e jurisprudência. Di Prieto170 

afirma que não existe mais espaço para as velhas doutrinas que discutem sobre a

obrigatoriedade apenas para os atos vinculados ou para os atos discricionários: a sua

obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade necessária

para permitir o controle da legalidade dos atos administrativos.

Bandeira de Mello171 assinala:

A motivação deve ser prévia ou contemporânea à expedição do ato. Em algumas

hipóteses de atos vinculados, isto é, naqueles em que há aplicação quase automática

da Lei, por não existir campo para interferência de juízos subjetivos do

administrador, a simples menção do fato e da regra de direito aplicada pode ser

suficiente, por estar implícita a motivação

168  Ibid.

169 FERREIRA, 1997, p.1164.170 DI PRIETO, 2000, p. 82.171 MELLO, 1995, p. 66.

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Sem a explicitação dos motivos, torna-se extremamente difícil sindicar, sopesar

ou aferir a correção daquilo que foi decidido. Por isso é essencial que: se apontem os fatos, as

inferências feitas e os fundamentos da decisão.

A falta de motivação no ato discricionário abre a possibilidade de ocorrência de

desvio ou abuso de poder, dada à dificuldade ou, mesmo, a impossibilidade de efetivo controle

 judicial, pois, pela motivação é possível aferir a verdadeira intenção do agente.

O Professor Armando Costa172 discorrendo sobre a validade do ato aos

motivos declinados afirma “que se um ato foi praticado em razão de um determinado motivo

e, ao depois, constata-se que ele nunca existiu, embora seja discricionário, sob o ponto de

vista jurídico formal, logicamente que sobre-restará comprometida sua validade”.

Bandeira de Mello173 apresenta os fundamentos constitucionais da obrigação

de motivar, como implícitos tanto no inciso II do artigo 1º da Carta Política, como no

preâmbulo do parágrafo único do citado artigo e, também, no artigo 5º inciso XXXV:

Artigo 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos:

[...]

inciso II a cidadania;

[...]

Parágrafo único Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Artigo 5º inciso XXXV a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão

ou ameaça a direito

Mello174 justifica seu posicionamento em razão de que:

O Princípio da Motivação é reclamado quer como afirmação do direito

público dos cidadãos ao esclarecimento do porquê (grifo do autor) das

172 COSTA, 1996, p. 50.173 MELLO ,1995 , p. 67.174  Ibid.

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ações de quem gere negócios que lhes dizem respeito por serem titulares últimos do

poder, quer como direito individual a não se as sujeitarem a decisões arbitrárias, pois

só têm que se conformar às que forem ajustadas às leis. 

Não se pode esquecer de que a Lei 9.784/99 (artigo 50 inciso I175),explicitamente, estabelece a obrigatoriedade do administrador público de apresentar sua

motivação, com a indicação de fatos e fundamentos jurídicos, quando sua decisão negar,

limitar ou afetar direitos ou interesses do administrado.

c) Princípio da Razoabilidade

[De razoável + -(i)dade, seg. o padrão erudito.] S. f. Qualidade de razoável.

Significado de razoável: [Do lat. rationabile.] Moderado, comedido; aceitável,

regular: atuação razoável. Justo, legítimo; Ponderado, sensato.176 

A partir do exame dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade é que se

encontra a perfeita compreensão do princípio da legalidade. Ambos (razoabilidade e

proporcionalidade) têm forte incidência sobre os atos discricionários permitidos ao

administrador público. No exercício da discricionariedade é que desvios desproporcionais e

irrazoáveis se tornam mais evidentes.

Enuncia-se com este Princípio da Razoabilidade que autoridade administrativa,

ao atuar de forma prudente, terá de obedecer a critérios aceitáveis do ponto de vista racional

em sintonia com o senso normal de pessoas equilibradas e respeitando as finalidades que

presidiram a outorga da competência exercida. É mais uma tentativa do legislador para impor

limites ao poder discricionário da autoridade pública.

Di Prieto177 repassa os estudos de Gordilho:

A decisão discricionária do funcionário será ilegítima, apesar de não

transgredir nenhuma norma concreta e expressa, se é irrazoável, o que podeocorrer principalmente quando:

a) não dê os fundamentos de fato e de direito que a sustentam ou;

175 Art. 50 - Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: inciso I: neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

176 FERREIRA, 1997, p. 1455. 177  DI PRIETO, 2000, p. 80.

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b) não leve em conta os fatos constantes do expediente, ou públicos e

notórios; ou

c) não guarde uma proporção adequada entre os meios que emprega e o

fim que a lei deseja alcançar, ou seja, que se trate de uma medidadesproporcionada, excessiva em relação ao que se deseja alcançar.

(grifo da autora).

O Princípio da Razoabilidade é uma diretriz de senso comum, ou mais

exatamente, de bom-senso aplicado ao direito. Esse bom-senso jurídico se faz necessário à

medida que as exigências formais que decorrem do princípio da legalidade tendem a reforçar

mais a palavra da lei e o texto das normas, que o seu espírito. O aspecto teleológico mais uma

vez se manifestará nos objetivos discricionários do agente público, que terá na razoabilidade

um freio para não ultrapassar limites. A decisão apresentada tem que ser adequada e

compatível de modo que o ato praticado atenda fielmente a finalidade específica da lei,

contribuindo com eficiência para que esta seja atingida.

Como os demais princípios, implicitamente, encontrar-se-ão na Carta Política

os fundamentos para se exigir do administrador público a fiel observância e obediência ao

Princípio da Razoabilidade. E, mais uma vez, é o administrativista Bandeira de Mello178 

quem indica como é fácil ver que, constitucionalmente, a razoabilidade fundamenta-se nos

mesmos preceitos que arrimam os princípios da legalidade (artigos 5º, II, 37 E 84 IV) e da

finalidade (artigos art. 5º, LXIX e 37).

d) Princípio da Proporcionalidade

[Do lat. tard. proportionalitate.] S. f. Qualidade ou propriedade de proporcional. 

Significado de proporcional: Relativo à proporção matemática.179.

O Princípio da Proporcionalidade tem o objetivo de coibir excessos

desarrazoados, por meio da aferição da compatibilidade entre os meios e os fins da atuaçãoadministrativa, para evitar restrições desnecessárias ou abusivas.

Di Prieto180 afirma que o Princípio da Proporcionalidade, na realidade,

constitui um dos aspectos do princípio da razoabilidade, pois, este exige proporcionalidade

178 MELLO, 1995, p. 64.179 FERREIRA, 1995, p. 1403.

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  101

entre os meios de que utiliza a administração e os fins que ela almeja alcançar. Acrescenta

ainda: “Essa proporcionalidade deve ser medida, não pelos critérios pessoais do administrador,

mas segundo padrões comuns na sociedade em que vive; e não pode ser medida diante dos

termos frios da lei, mas diante do caso concreto. ” 

O princípio se desdobra em três exigências: conformidade de meios,

exigibilidade e proporcionalidade em sentido restrito. Nas lições de Gomes Canotilho apud 

Moreira181 é que se encontram os entendimentos dessas exigências:

A “conformidade” impõe que a medida adotada para a realização do interesse

público deve ser “apropriada” ao prosseguimento do fim ou fins a eles subjacentes;.

Pressupõe a investigação e a prova de que o ato do poder público é apto e conforme

os fins justificativos de sua adoção; Não se podem prestigiar comportamentos

administrativos inadequados à hipótese concreta.

A “exigibilidade” coloca a tônica de que o “cidadão tem direito à menor 

desvantagem possível”; Mesmo que a medida adotada seja conveniente a fim legal,

há de se perquirir se não há alternativa adequada e menos desvantajosa em todos

esses aspectos práticos; À Administração é vedada a opção de uma conduta que

cause gravames desnecessários ao particular.

A “proporcionalidade” em sentido restrito, significa mais que a relação entre os

meios empregados e os fins visados, englobando a situação fática à qual se aplica adecisão administrativa; Quando se chegar a conclusão da necessidade e adequação

da medida coativa do Poder Público para alcançar determinado fim, mesmo neste

caso deve perguntar-se se o resultado obtido com a intervenção é proporcional à

carga coativa da mesma.

Bandeira de Mello182 afirma que o Princípio da Proporcionalidade nada mais é

que uma faceta do princípio da razoabilidade. E nesta linha de pensamento, indica como

respaldo constitucional para o princípio, os mesmos indicados para o da razoabilidade (artigos

5º, II e LXIX, 37 e 84 IV).

Com a proporcionalidade, visa-se a adequação entre os meios e os fins,

vedando-se a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas

180 DI PRIETO, 2000, p. 81.181 MOREIRA, 2003, p. 81.182 MELLO, 1995, p. 66.

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  102

estritamente necessárias ao atendimento do interesse público. Por força deste princípio, não é

lícito à administração pública valer-se de medidas restritivas ou formular exigências aos

particulares além daquilo que for estritamente necessário para a realização da finalidade

pública almejada.

e) Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório

Os Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório, como foram vistos neste

estudo, se completam, de forma tal que não existindo um, o outro também não existirá. São

garantias de exercícios de direito asseguradas para qualquer um que se encontre como parte

nas relações administrativas, pois é assim que é previsto na Carta Política como garantia de

direito fundamental, como se vê no artigo 5º, inciso LV .

A professora Ada Pellegrini Grinover183 é quem afirma que foi a grande

inovação da Constituição de 1988:

Com efeito, as garantias do contraditório e da ampla defesa, para o processo não-

penal e para os acusados em geral, em processos administrativos, já eram extraídas,

pela doutrina e pela jurisprudência, dos textos constitucionais anteriores, tendo a

explicitação da Lei Maior em vigor natureza didática, afeiçoada à boa técnica, sem

apresentar conteúdo inovador. Mas agora a Constituição também resguarda as

referidas garantias aos litigantes, em processo administrativo.

Ao exigir a obediência ao Princípio da Ampla Defesa, na verdade estão se

buscando os meios para isto necessários, dentre eles, assegurar à parte interessada o acesso aos

autos, possibilitando-lhe a apresentação de razões e documentos, permitir a produção provas

testemunhais ou periciais, dar-lhe ciência dos fundamentos e a motivação da decisão proferida,

enfim, permitir todos os meios de ação que configure o pleno exercício da ampla defesa.

Moreira184 esclarece que o principio constitucional é ilimitado, sempre que o

processo albergar conflito de interesses (efetivo ou potencial) ou imputação de ilicitudes.

Pouco importa tratar-se de processo penal, trabalhista, cível ou administrativo: a regra é

aplicação máxima da ampla defesa.

183 GRINOVER, Ada Pellegrini. Do direito de defesa em inquérito administrativo. Revista do DireitoAdministrativo, Rio de Janeiro, RJ, 1991, n. 183, p. 9-18.

184 MOREIRA, 2003, p. 297.

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  103

O direito à ampla defesa impõe à autoridade o dever de fiel observância das

normas processuais e de todos os princípios jurídicos incidentes sobre o processo, inclusive, o

contraditório que é um direito inerente ao exercício da ampla defesa.

Dentro da amplitude que enseja o direito de se defender, protegido pela Lei

Maior, nada impede, e nem poderia proibir, que a um administrado acusado, cujo expediente

com a notícia de cometimento de irregularidade, seja de conhecimento da autoridade

administrativa, e que se encontra em fase de aguardo para decisão de se determinar, ou não

instauração de procedimento disciplinar, tenha aquele oportunidade de, oficialmente, tomar

conhecimento daquilo de que é noticiado, e oportunizar ao mesmo a possibilidade de ofertar

sua versão sobre os fatos conhecidos, e, somente após, a administração decidir sobre o caso.

Diante de tudo até agora examinado não há como se entender que, para a

instrução de qualquer processo onde se tenha conhecimento de fatos e de autoria, deixe a

autoridade que preside esse processo, de aplicar os Princípios do Contraditório e da Ampla

Defesa. É essencial que ao interessado ou acusado lhe seja dada a possibilidade de produzir

suas próprias razões e provas e, mais que isso, que lhe seja dada a possibilidade de examinar e

contestar argumentos desfavoráveis, e apresentar fundamentos e elementos probantes que lhe

sejam favoráveis.

f)  Princípio da Segurança Jurídica

O Princípio da Segurança Jurídica ou da estabilidade das relações jurídicas

impede a desconstituição injustificada de atos ou situações jurídicas, mesmo que tenha

ocorrido alguma inconformidade com o texto legal durante sua constituição.

Di Prieto185 afirma que o objetivo da inclusão do Princípio da Segurança

Jurídica no art. 2º da Lei 9.784/99 foi vedar a aplicação retroativa de nova interpretação de

lei no âmbito da administração pública, pois, era comum na esfera administrativa haver

mudança de interpretação de determinadas normas legais, com a conseqüente mudança de

orientação, em caráter normativo, afetando situações já reconhecidas e consolidadas na

vigência de orientação anterior.

185 DI PRIETO, 2000, p. 84-86.

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  104

A autora, ainda, alerta pela cautela em se aplicar o princípio, para não levar ao

absurdo de impedir a administração de anular atos praticados com inobservância da Lei.

As anulações e revogações são praticadas em nome da restauração da

legalidade ou da melhor satisfação do interesse público, mas na verdade, o que se verificava é

que as modificações eram para satisfazer interesses subalternos, configurando abuso ou desvio

de poder. Mesmo que assim não seja, a própria instabilidade decorrente desses atos é um

elemento perturbador da ordem jurídica, exigindo que seu exame se faça com especial

cuidado.

Muitas vezes o desfazimento do ato ou da situação jurídica por ele criada pode

ser mais prejudicial do que sua manutenção, especialmente quanto a repercussões na ordem

social. Por isso, não há razão para invalidar ato que tenha atingido sua finalidade, sem causar

dano algum, seja ao interesse público, seja a direitos de terceiros. Em face da aplicação do

Principio da Segurança Jurídica, em outra lição de Di Prieto186 ressalta que:

Não significa que a interpretação da lei não possa mudar; ela freqüentemente muda

como decorrência e imposição da própria evolução do direito. O que não é possível é

fazê-la retroagir a casos já decididos com base em interpretação anterior, considerada

válida diante das circunstâncias do momento em que foi aplicada.

g) Princípio do Interesse Público.

O Princípio do Interesse Público ou também chamado do Princípio da

Supremacia do Interesse Público é presente, tanto no momento da elaboração da lei, como nos

momentos de sua execução em concreto pela administração pública. Ele inspira o legislador e

vincula a autoridade administrativa em toda sua atuação.

Sobre o princípio, Bandeira de Mello187 comenta:

Trata-se de verdadeiro axioma reconhecível no moderno direito público. Proclama a

superioridade do interesse da coletividade, firmando a prevalência dele sobre o do

particular, como condição até mesmo, da sobrevivência e asseguramento desse

último.

Mello188, ainda, esclarece que muito ligado a este princípio encontra-se outro,

186  DI PRIETO, 2000, p. 85.

187 MELLO, 1995, p. 27.

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o da indisponibilidade pela administração dos interesses públicos, significando que:

Sendo interesses qualificados como próprios da coletividade – “internos ao setor 

 público” – não se encontram à livre disposição de quem quer que seja, por

inapropriáveis. O próprio órgão administrativo que os representa não temdisponibilidade sobre eles, no sentido de que lhes incumbe apenas curá-los – “o que

também é um dever” – na estrita conformidade do que predispuser a intentio legis (a

finalidade da lei).

A finalidade da lei sempre será a realização dos interesses públicos, entendidos

como o interesse da coletividade. Cada norma visa à satisfação de um determinado interesse

público, mas a concretização de cada específico interesse público concorre para realização do

interesse público em sentido amplo (interesse comum a todos os cidadãos).

O interesse público pode ser conceituado como interesse resultante do conjunto

dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de

membros da sociedade.

Não são somente esses princípios, como um todo, que regem o processo

administrativo, mas, os demais são princípios ou que derivam desses que foram conceituados,

ou, um ou outro que o legislador faz mencionar em leis esparsas. O que realmente interessa é

que a autoridade pública, diante de um fato concreto, deverá permanecer sempre ciente daobrigação de se submeter aos princípios fundamentais e gerais acima elencados.

E, terminando esta seção abaixo, se sintetiza no quadro 8 elaborado o que foi

visto, onde se relacionaram os princípios acima estudados, com suas bases constitucionais:

188 Ibid., p. 31. 

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 Quadro 8: Princípios (art. 2º da lei 9.784/99) do processo administrativo e suas bases

constitucionais – 1988.Principio Base Constitucional Texto Constitucional

Finalidade

Art. 5º, LXIX

Art. 37 caput 

Conceder-se-á mandado de segurança para proteger

direito líquido e certo, não amparado por habeas-corpusou habeas-data, quando o responsável pela ilegalidadeou abuso de poder for autoridade pública ou agente depessoa jurídica no exercício de atribuições do poderpúblico;

A administração pública direta e indireta de qualquerdos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federale dos Municípios obedecerá aos princípios delegalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade eeficiência.

Motivação

Art. 1º, II

Art 1º Parág. Único

Art. 5º, XXXV

A cidadania;

Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio derepresentantes eleitos ou diretamente, nos termos destaConstituição.

A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciáriolesão ou ameaça a direito;

Razoabilidade

Art. 5º, II

Art. 5º, LXIX

Art. 37 caput 

Art. 84, IV

Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazeralguma coisa senão em virtude de lei;

Conceder-se-á mandado de segurança para protegerdireito líquido e certo, não amparado por habeas-corpusou habeas-data, quando o responsável pela ilegalidade

ou abuso de poder for autoridade pública ou agente depessoa jurídica no exercício de atribuições do poderpúblico;

A administração pública direta e indireta de qualquerdos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federale dos Municípios obedecerá aos princípios delegalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade eeficiência.Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bemcomo expedir decretos e regulamentos para sua fielexecução;

Proporcionalidade

Ampla Defesa

Art. 5º LV

Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,

e aos acusados em geral são assegurados ocontraditório e ampla defesa, com os meios e recursos aela inerentes;

Contraditório

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7 A NOTÍCIA INFRACIONAL

Para esta pesquisa se definirá notícia infracional ou fato infracional como o

conhecimento de irregularidade (seja por representação, denúncia, queixa ou qualquer outroexpediente formal) levado à autoridade pública, de que seu subordinado tenha, em tese,

cometido falta disciplinar ou desvio funcional, pressupondo-se ser conhecido o autor.

Portanto, necessário saber se o expediente que tem em seu conteúdo a notícia

infracional trata-se de processo administrativo em seu sentido amplo, ou apenas um mero

documento passível de um despacho por parte da autoridade pública, por onde será

manifestada sua opinião.

Na legislação de interesse desta monografia, existem duas referências sobre

esta notícia, sendo uma de forma implícita constante na norma constitucional do inciso II do

§ 1º Artigo 41, e outra na forma explícita, constante no Estatuto do Servidor Público Federal

(Lei 8.112/90), em seus artigos 143, 144 e parágrafo único.

Constituição Federal

Art. 41 São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados

para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público.

§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:

[...]

II mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;

Lei 8.112/90

Art. 143 A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é

obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo

administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

Art. 144 As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração, desde que

contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam formuladas por

escrito, confirmada a autenticidade.

Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar evidente infração

disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada, por falta de objeto. 

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  108

A evidência de se estar implícita a notícia de desvio funcional no texto

constitucional é a própria menção na norma da terminologia Processo Administrativo. Se

existe um processo, existem partes conhecidas (o Estado e servidor ou administrado), e

obviamente, fatos nele noticiados. E se o processo tem por objeto a perda do cargo doservidor que o responde, presume-se que este possa ter cometido alguma irregularidade grave

durante o exercício de suas atividades funcionais, e esta notícia chegou ao conhecimento do

administrador público de quem é subordinado.

Da compreensão do texto utilizado na norma do Estatuto dos Servidores

Públicos da União, seria um contra-senso estar trabalhando na tese levantada neste estudo se,

simplesmente, utilizasse um processo gramatical (filológico) para interpretar e entender a

finalidade da norma descrita no artigo 143, onde se cria uma obrigação de fazer para a

autoridade pública, no sentido de determinar, de imediato, instaurar uma sindicância ou

processo disciplinar diante da irregularidade que tomar ciência. Entretanto, Maximiliano189 

sobre a interpretação gramatical, comenta:

A interpretação verbal fica ao alcance de todos, seduz e convence os indoutos,

impressiona favoravelmente, maravilhados com a riqueza de conhecimentos

filológicos e primores de linguagem ostentados por quem é, apenas um profissional

do Direito. Com toda meia ciência, deslumbra encanta e atrai, porém fica longe da

verdade, as mais das vezes, por envolver um só elemento de certeza, e precisamenteo menos seguro.

Ainda, quanto ao processo de interpretação filológica, afirma Maximiliano190 

que o processo gramatical será o primeiro na ordem metódica, em a gradação tradicional;

porém não em valor, importância: interpretação por excelência, é a que se baseia no elemento

ideológico.

Assim, como já visto neste trabalho, a validade de uma norma depende do

ordenamento no qual está inserida, e, desta forma, é confrontando o texto do caput do artigo

143 da Lei 8.112/90, com o parágrafo único do artigo 144 do mesmo dispositivo legal, que

extraímos a necessidade inerente da autoridade pública de exercitar seus conhecimentos e

elaborar uma decisão fundamentada obediente a todos os princípios que regem um processo

189  MAXIMILIANO, 1979 , p. 112.190  Ibid ., p. 120-121.

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administrativo, para manifestar sua posição de determinar a instauração de procedimento

disciplinar, ou, arquivar o expediente analisado.

E não seria diferente, pois ao comentar o § 2º do artigo 14 da Lei

8.429/1992191 

À Autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho fundamentado,

se esta não contiver as formalidades estabelecidas no ,§ 1º deste artigo. A rejeição

não impede a representação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta Lei. 

Lessa192 é quem afirma:

De resto é bom repetir que o legislador procurou, ao estabelecer o  juízo de

admissibilidade (grifo do autor), evitar a proliferação de denúncias absolutamenteinconsistentes e até por motivos pessoais, o que acarretaria evidentes prejuízos ao

Serviço Público e ao próprio servidor, cuja honra, como a de todos os cidadãos,

recebeu a proteção da Constituição, ex vi do artigo 5º , incisos IV, V e X, verbis:

IV é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo além da

indenização por dano material, moral ou à imagem;

X São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem daspessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral

decorrente de sua violação;

E nem precisaria o legislador fazer positivar o preceito, pois, ao administrador

obediente, é necessário que se submeta aos princípios fundamentais e gerais, já conhecidos,

do processo administrativo. Razão pela qual, e sempre, ao decidir deverá manifestar sua

motivação, com a indicação de fatos e fundamentos jurídicos, quando sua decisão negar,

limitar ou afetar direitos ou interesses do administrado. Desta forma, o mesmo comentário de

Lessa serve para o previsto no parágrafo único do artigo 143 da Lei 8.112/90, como, também,

e obviamente, para a decisão de determinar a instauração de Procedimento Disciplinar contra

o servidor.

191 Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito.192 LESSA, 2001, p. 64.

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E seguindo esta linha de raciocínio, ou seja, se a decisão para instauração de

processo disciplinar é uma conseqüência de uma decisão em um outro expediente, por lógica,

há de se concluir que o processo disciplinar e o processo que o precede são expedientes

distintos. E esta assertiva é verdadeira, pois, dos diversos conceitos estudados de processoadministrativo, verificou-se que este é gênero quando reconhecido pelo seu sentido mais

amplo, e o outro, processo administrativo disciplinar é espécie, classificado de acordo com

seu fim especifico, no caso, apurar prováveis desvios cometidos por servidores. O processo

administrativo transita sem a existência do processo disciplinar, mas este, não poderá existir

sem antes ter sido aberto um processo administrativo regular com o fim de se verificar a

admissibilidade de sua instauração, ou não.

Portanto, pode-se afirmar que o expediente que traz em seu bojo notícia de

cometimento de desvio infracional por parte do servidor federal deverá ser tratado no âmbito

da administração pública, obedecendo aos preceitos legais da Lei 9.784/99 que regulamenta

os processos administrativos federais.

E se assim for, o direito constitucional previsto no artigo 5º, inciso LV da

Carta Política assegura ao servidor acusado de cometimento de desvio funcional exercer sua

ampla defesa a partir do nascedouro do processo, ou melhor, assim que tomar conhecimento

oficial do expediente contra sua pessoa. Todos os artigos que regulamentam o exercício da

ampla defesa pelo administrado, previstos na Lei 9.784/99, deverão ser observados pela

autoridade pública antes de decidir pelo arquivamento, ou instauração de processo disciplinar,

que neste último caso, a partir de sua instauração passa a obedecer às leis específicas de

instrução, pertinentes a cada órgão federal.

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  111

8 CONCLUSÃO

Defender-se, como visto, é um ato natural do ser humano. Mas, para que ele

possa exercitar esta reação, deverá ser provocado. 

Dentro do que foi apresentado, acredita-se não restar dúvidas de que diante de

uma notícia de cometimento de irregularidades por parte do servidor, essa deverá ser tratada

como um processo administrativo no sentido amplo, desde sua origem até sua conclusão,

com a apresentação da decisão final por parte da autoridade responsável, seja para arquivar,

seja para determinar a instauração de processo administrativo disciplinar.

Não houve a pretensão de contestar, com este trabalho, uma decisão legítima

da autoridade pública. Já se pensou da mesma maneira, inclusive, quando no exercício da

chefia do Núcleo de Disciplina da Polícia Federal nesta Capital, chegou-se à elaboração de

parecer com a indicação de que o servidor teria, no âmbito do processo administrativo

disciplinar, o local certo para poder exercitar sua ampla defesa, tudo conforme os

entendimentos e inteligência dados à legislação e regulamentos vigentes. Até porque, o

assunto, exercício da ampla defesa antes da instauração de processo disciplinar, sequer

chegou a ser tratado pelos doutrinadores administrativistas disciplinares conhecidos.

Mas, agora, completada a pesquisa, constatou-se a necessidade de adequar a

dinâmica de instrução do processo administrativo originário, inerente à entrada oficial em

órgão público e conhecimento do expediente por parte da autoridade pública responsável, cujo

teor seja notícia sobre cometimento de desvios praticados por funcionário, dando a este

ciência daquilo que lhe é imputado e, dele solicitar uma explicação, ou versão prévia sobre os

fatos informados, antes de se dar uma decisão para o procedimento, quer seja arquivamento

ou instauração de processo disciplinar.

A revisão sobre os conhecimentos gerais de direito, de imediato, apontou queas dúvidas, porventura existentes no início deste trabalho, tinham sua razão de ser. Quando os

filósofos gregos trabalhavam a idéia da compreensão sobre a origem natural do direito,

tinham como instrumento de pesquisa, nada mais do que o mundo que lhes rodeava. Eram

observadores incessantes das realidades que viviam. Sua herança foi a certeza de que certos

direitos são inerentes ao ser humano, e que nenhum poder terá condições de eximá-los da

convivência social. Dentre esses direitos, encontrava se o de reação a uma ameaça, seja ela

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  112

qual fosse e de onde partisse. O direito de defender-se nasce junto com a própria vida, e

quando esta deixa de existir, também morre o direito.

Para que este direito fosse compreendido e respeitado, passaram-se muitos

séculos, muitos homens morrerem e sociedades inteiras desaparecerem. Mas, como

concluíram os gregos, o direito, por ser inerente ao homem, se sobrepôs a tantos que tentaram

lhe extinguir.

Reencontrar com os conceitos dos fundamentos da ciência jurídica reforçou a

idéia de que o caminho tomado era o correto. Aliás, bastaria se ater e observar com quais

princípios jurídicos se une o tema proposto, para dirimir a dúvida colocada. Não haveria

nenhuma necessidade de positivar qualquer norma, no sentido de se permitir o exercício de

um direito tão forte quanto o de se defender.

Entender melhor do que, realmente, se trata o princípio da ampla defesa já

seria suficiente para encerrar o trabalho. E o legislador brasileiro, a partir do momento que

lhe foi dada liberdade para elaborar as próprias leis, o manteve sempre, em todas as

Constituições. É certo, em todas as sete Leis que vigoraram no país, o princípio estava

presente, sempre esteve presente, mesmo que implicitamente. E foi interessante observar que

os constituintes brasileiros, à medida que elaboravam os novos textos constitucionais, não se

contentaram em manter o princípio como um único mandamento, e se o mantiveram de formaconstante no capítulo dos direitos individuais, passaram a reforçar a segurança de sua

manutenção noutras normas constitucionais.

Encontraram-se, na história mundial, quatro grandes marcos que ensejaram a

sociedade humana, cada vez mais, a proteger e assegurar o exercício da ampla defesa,

principalmente, para aqueles que se encontravam em desvantagem diante dos senhores do

poder. Mesmo assim, desde o evento da Carta Magna de João Sem Terra, foram necessários

quase quinhentos anos para a sociedade contemporânea reagir aos desmandos dos Governosdespóticos. Entretanto, um direito criado no ano de 1215, à época apenas para proteger os

Senhores Barões, ressurgiu com mais força, agora, sendo garantido a todos os cidadãos. Trata-

se do “devido processo legal”. A repercussão desta garantia refletiu na Carta da

Independência Americana, que pode ser considerada como ponto de partida para a

manutenção das garantias individuais nos tempos modernos. Mas, nada há de tirar da

Revolução Francesa o mérito de ter fortalecido entre as classes dominadas, o poder de exigir

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das classes dominantes a subserviência aos direitos inerentes ao ser humano.

E foi a partir da Declaração dos Direitos do Homem que o legislador brasileiro

encontrou os parâmetros para elaborar a primeira Constituição e lá, timidamente, estipulou

como garantia fundamental o direito da ampla defesa. Estava lançado o marco inicial

nacional. Passaram-se sete Cartas Magnas, dentre elas, duas que vigeram durante regimes

ditatoriais. Certamente, direitos registrados nessas duas legislações não foram respeitados,

mas sobreviveram como garantias para o cidadão brasileiro. Enfim, a Constituição Federal de

1988, minuciosa e extensa, mas, de todas, a que mais garantiu para todos o pleno exercício

dos direitos ali consignados.

Portanto, não há duvidas de que o direito de se defender existe, é real, e a atual

Constituição garante o seu exercício da forma mais ampla possível, conforme expressa a

norma do artigo 5º , inciso LV, que mais uma vez, neste trabalho, se transcreve:

Art.5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos

seguintes:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral

são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a elainerentes;

E para se entender como deverá tramitar em um órgão público uma notícia

dando conta de cometimento de irregularidades praticadas por servidor público, buscou-se

amparo no ramo autônomo da ciência jurídica: o Direito Administrativo.

Qualquer notícia de irregularidade cometida contra servidor, se bem elaborada

(não precisa ser verdadeira), possui todos os quesitos, para de pronto, cumprir a norma (art.

143 da Lei 8.112/90)193, que determina, a partir de seu conhecimento, a imediata instauração

de procedimento disciplinar. E esta medida, por si só, gera um grande constrangimento para o

funcionário acusado, principalmente, se terminado o apuratório, for constatada sua inocência

com o fundamento da inexistência do acontecimento noticiado. Situação esta, como tantas

193 A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuraçãoimediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampladefesa.

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outras, que perfeitamente poderia ser evitada, se o servidor tivesse sido perquirido a partir do

conhecimento do fato. Mas, a interpretação literal da lei é implacável.

Este é só um exemplo do perigo a que os doutrinadores, com o objetivo de se

fazer justiça, passaram a entender e escrever que sobre notícias de cometimento de

irregularidade por parte do servidor, a este seria assegurado o exercício da ampla defesa,

apenas, no âmbito do processo disciplinar.

Com o advento da nova Carta Política, e utilizando-se de uma interpretação

mais ideológica e finalística da intenção do constituinte, verifica-se, claramente, que a norma

do artigo 5º, inciso LV, ampliou, e muito, o universo de sua inteligência, para assegurar e

garantir o exercício da ampla defesa.

Recordando os conceitos de Direito Administrativo, Processo Administrativo,

e principalmente, um estudo mais criterioso dos Princípios Fundamentais que os regem, é que

se extrai a rigidez severa do entendimento com que os administrativistas trataram a matéria e

que, infelizmente, tornou-se prática usual na administração pública.

A notícia infracional não pode ser tratada como um documento que surge do

nada. Ela exige um tratamento próprio e especial, pois, afinal pode estar ali a solução de

problemas administrativos graves que ocorrem em qualquer órgão público. A autoridade que

tem competência para decidir, tem que fazê-lo com a consciência de que faz o melhor

possível para administração pública, mas respeitando os direitos dos administrados. Portanto,

ao decidir, deverá esmerar-se em suas motivações, tanto para determinar o arquivamento

daquela notícia, como para determinar uma rigorosa apuração dos fatos nela noticiados.

O conceito de processo administrativo que defendemos como mais coerente de

acordo com a nova legislação infraconstitucional, Lei 9.784/99, foi aquele trabalhado pelo

paranaense, Mestre em Direito do Estado, Egon Bockmann Moreira194, do qual novamente,

toma-se a liberdade de transcrever: “Processo Administrativo são ‘relações jurídicas

dinâmicas, coordenadas por normas que estabelecem vínculo de segundo grau entre os

sujeitos que dele participam’.”

194 MOREIRA, 2003, p. 57-64.

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E dentre seus ensinamentos, destaca-se, ainda, aquele onde ele defende que o

processo administrativo é o instrumento de garantia e satisfação dos direitos individuais

celebrados na Constituição e leis infraconstitucionais.

Na perspectiva dessa inteligência, passamos a verificar se foi atingido o

propósito da monografia:

Nos processos administrativos cuja origem são noticias de desvio de conduta de

servidor, no âmbito do Departamento de Polícia Federal, de acordo com o previsto

na Constituição, o instituto da ampla defesa está sendo permitido exercer em sua

plenitude?

Do problema apresentado, observa se atentamente que dos princípios

elencados no art. 37 da Carta Política, não ocorrendo, oficialmente, a ciência do servidor,

solicitando-lhe informações sobre fatos a seu desfavor, estará o agente público em dissonância

explicita, não só com relação ao princípio da publicidade, como também de outras garantias

constitucionais que dão suporte ao princípio desobedecido.

Como o caput 195 do artigo citado determina obediência a todos os princípios,

concomitantemente, a não observância de qualquer um deles tem que ser considerada como

cerceamento de defesa ao servidor acusado, e com relação à autoridade pública configurar-se-

á o cometimento de abuso de poder. Aliás, verifica-se a inteligência do texto constitucionalque amarra cada princípio fundamental a outros existentes na própria Carta Política. Portanto,

a resposta ao problema colocado é: não, não se está oportunizando ao servidor, contra quem

se tem notícia de cometimento de irregularidades, exercitar na sua plenitude o exercício de se

defender.

Diante dessa linha de raciocino, verifica-se objetivamente que das hipóteses

apresentadas, a básica196 passa a ser uma assertiva verdadeira, eliminando-se com este estudo

195 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do DistritoFederal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e eficiência

196 Diante da forma como, inicialmente, tramitam no DPF expedientes contendo noticia de atos de desvio deconduta de seus servidores não estão sendo assegurados, na sua totalidade, a ampla defesa e ocontraditório;

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a possibilidade de acontecimento da hipótese secundária197. Por conseqüência, a solução para

eliminar o problema acusado é que a administração do Departamento de Polícia Federal

regulamente a forma como irá transitar, em suas regionais, o expediente que trouxer notícia de

cometimento de irregularidade por parte de seu servidor, dando a este oportunidade deconhecer a notícia contra sua pessoa, e, se assim quiser, oferecer sua versão dos fatos

noticiados, antes do dirigente apresentar sua manifestação de determinar ou não a instauração

de procedimento disciplinar.

Acredita-se desta forma ter alcançado os objetivos perseguidos durante a

elaboração deste estudo. Entende-se que a forma como andam transitando os expedientes de

notícias de irregularidades cometidas por servidores no DPF é injusta, pois, não se pode

permitir que em um momento, se assegure a esse ou aquele servidor que tome ciência de fato

contra sua pessoa antes da decisão de instauração de procedimento disciplinar, e noutro

momento, resolva-se que o servidor só terá ciência do fato, se vier a responder procedimento

disciplinar.

O princípio da Ampla Defesa, garantido em nossa Carta Magna, tem que ser

observado e regiamente assegurado, sob pena de se possibilitar retornar aos tempos inglórios

dos regimes ditatoriais já vividos pelas gerações anteriores.

De tudo que foi visto, nada obsta diante da legislação vigente, permitir que oservidor acusado de cometimento de irregularidade tenha a oportunidade de tomar

conhecimento deste fato, antes de se decidir pela instauração de apuratório de natureza

disciplinar.

E, de concreto, só basta entender e colocar em prática os mandamentos

estabelecidos nas normas descritas na Lei 9.784/99, complementando-a, em termos de

autonomia do próprio órgão, apenas no que consta como regulamentar o expediente de

natureza acusatória que irá transitar pelos setores competentes, até a decisão final do dirigenteregional, obviamente, constando no regulamento forma e prazo com que se dará ciência ao

servidor interessado, da notícia em seu desfavor, e da obrigação de apresentar sua informação,

inclusive, porque esta é fundamental para se permitir e propiciar à autoridade que exerce as

197 Da forma inicial de como os expedientes contendo notícia de atos de desvio de conduta de servidorestramitam no DPF, têm sido assegurados aos servidores acusados o exercício de sua ampla defesa e ocontraditório

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atividades funcionais de avaliação desses expedientes, elaborar com maior equilíbrio e justiça

sua manifestação e decisão.

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9 REFERÊNCIAS

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<www.infojus.com.br/area4/julio_amaral3.htm>. Acesso em 16.jul.2005.

2 BEVILÁQUA, Clóvis. Código civil dos Estados Unidos do Brasil comentado, 12. ed.Rio de Janeiro, RJ: Livraria Francisco Alves, 1959.

3 BIBLIA SAGRADA: nova versão internacional. Traduzido pela comissão de traduçãoda Sociedade Bíblica Internacional. São Paulo,SP: Vida, 2000.

4 BRASIL. Constituição, 1988: Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.Disponível em <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 2.out.2005.

5 BRASIL. Constituições do Brasil. 5. ed. rev. Atual. São Paulo,SP: Saraiva, 1967.

6 BRASIL. Departamento de Policia Federal: Legislação pertinente. . 2 ed. Brasília, DF:ANP/DPF, 2003. Apostila distribuída para o Curso de Procedimentos AdministrativosDisciplinares da Academia Nacional de Policia / Departamento de Policia Federal

7 BUENO, Eduardo. História do Brasil. 2. ed. São Paulo, SP: Publifolha, 1997.

8 CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Constituições do Brasil:Compilação e atualização dos textos, notas, revisão e índices. 12. ed., São Paulo, SP:Atlas, 1998.

9 CASTILHO, Maria Augusta de. Roteiro para elaboração de monografia em ciências

 jurídicas. 2 ed. Rev. São Paulo, SP: Saraiva, 2000.

10 COBRA, Rubem Queiroz. - John Locke: vida, época, filosofia e obras de John Locke..Disponível em: <www.cobra.pages.nom.br>, Internet, Brasília, DF: 1998. Acesso  em:2.out.2005.

11 COSTA, José Armando da. Teoria e prática do direito disciplinar. Rio de Janeiro, RJ:Forense, 1981.

12 COSTA, José Armando da. Teoria e prática do processo administrativo disciplinar.2. ed. Ampl. Rev. Atual. Brasília, DF: Brasília Jurídica, 1996.

13 COSTA, Walmir Oliveira da. A norma jurídica: espécies normativo – jurídicas.[S.l.:s.n., 199-]. Disponível em <http://www.ufpa.br/posdireito/caderno2/texto5.html>.Acesso em: 12.set.2005.

14 CRETELLA JR., José. Prática do processo administrativo. 4. ed. Rev. Atual. SãoPaulo, SP: Revista dos Tribunais, 2004.

15 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 anos de Direito Administrativo brasileiro.[S.l.:s.n., 199-]. Disponível em: <http://www.iedc.org.br/publica/500anos/maria.htm>.Acesso em: 06.out.2005.

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16 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 12. ed. São Paulo, SP:Atlas, 2000.

17 ESTADOS UNIDOS. Carta de Direitos dos Estados Unidos da América. 1789.Disponível em <http://www.embaixada.americana.org.br>. Acesso em: 5.out.2005.

18 ESTADOS UNIDOS. Declaração da Independência Norte-Americana. 1776.Disponível em: <http://www.embaixada.americana.org.br>. Acesso em: 5.out.2005

19 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2.ed. Rev. Aum. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1997.

20 FERREIRA, Megbel Abdala Tanus. 500 anos da Justiça brasileira. [S.l.:s.n., 200-].Disponível em: <http://www.tj.ma.gov.br/Artigos/artigos04.pdf>. Acesso em23.ago.2005.

21 FERREIRA, Sergio de Andréa. A garantia da ampla defesa no direito administrativo

processual disciplinar. Revista do Direito Público , Rio de Janeiro, RJ, 1972, v.19: p.60-68,

22 FRANÇA. Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão.1789. Disponível em<http://www.direitoshumanos.usp.br/counter/Doc_Histo/Doc_historic.html>. Acessoem: 31.out.2005.

23 GOUVEIA, Alexandre Grassano F. Direito Natural e Direito Positivo . Jus Navigandi,Teresina, ano 3, n. 27, dez. 1998. Disponível em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6>. Acesso em: 06.set.2005.

24 GRANDES acontecimentos que transformaram o mundo. Rio de Janeiro, RJ: Reader’s

Digest Brasil, 2000.

25 GRINOVER, Ada Pellegrini. Do direito de defesa em inquérito administrativo. Revistado Direito Administrativo, Rio de Janeiro, RJ, 1991, n. 183 p. 9-18.

26 GRINOVER, Ada Pellegrini. Garantias do contraditório e da ampla defesa. Jornal doAdvogado, São Paulo, SP. OAB, n. 175, p. 9, 1990.

27 INGLATERRA. Declaração de Direitos:  Bill of Rights.  1689. Disponível em:<http://professores.unirp.edu.br/azor/site/adeclara.htm>. Acesso em: 1.out.2005.

28 INGLATERRA. Magna Carta: outorgada pelo Rei João Sem Terra, em Runnymede,

perto de Windsor. 1215. Disponível em:<http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/magna.htm>. Acesso em: 31.out.05.

29 ISTOÉ Brasil 500 anos: Atlas Histórico. São Paulo: Três, 1998.

30 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 5. ed. Coimbra, Portugal: Sucessor, 1979

31 LESSA, Sebastião José. Do processo administrativo disciplinar e da sindicância:doutrina, jurisprudência e prática. 3 ed. Rev. Atual. Brasília, DF: Brasília Jurídica,2001.

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32 MAGALHÃES, Humberto Piragibe; MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Dicionário jurídico. 8. ed. Rev. Atual. por Clovis C. Piragibe Magalhães e Marcelo C. PiragibeMagalhães. Rio de Janeiro, RJ: Destaque, 1997.

33 MAGALHÃES, José L. M. de. Direitos humanos: evolução histórica. [S.l.:s.n., 199-].

Disponível em <www.dhnet.org.br/direitos/anthist/joselm.htm>. Acesso em: 6.out.2005.

34 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 9. ed. Rio de Janeiro,RJ: Forense, 1979.

35 MEDEIROS, Paulo Roberto de. Diagnóstico do exercício da ampla defesa e- docontraditório nos procedimentos administrativos disciplinares da Polícia Militar deMinas Gerais. 2003. Monografia (Especialização) – Academia da Polícia Militar Políciado Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.

36 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 7. ed. rev. atual.e ampl. São Paulo, SP: Malheiros, 1995.

37 MORAIS, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo, SP: Atlas, 1997.

38 MOREIRA, Egon Bockmann. Processo administrativo: Princípios constitucionais e aLei 9 784/1999. 2. ed. Atual. Rev. Aum. São Paulo, SP: Malheiros, 2003.

39 NEGRÃO, Theotonio. Código de processo civil. 26. ed. Atual. São Paulo, SP: Saraiva,1995.

40 PEDRA, Anderson Sant'Ana. Os fins sociais da norma e os princípios gerais de direito.Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 62, fev.2003. Disponível em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3762>. Acesso em: 3.set.2005.

41 QUEIROZ, Mirtes Spitale. Fundamentos do direito natural na filosofia pré-socrática.2000. Monografia - Universidad Del Museo Social Argentino. Barbacena/MG , 2000.–Convênio UNIAAL/UNIPAC.

42 RIGOLIN, Ivan Barbosa. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis.3. ed. Atual. São Paulo, SP: Saraiva, 1994.

43 ROZA, Cláudio. Processo administrativo disciplinar & ampla defesa. Curitiba, PR:Juruá, 2002.

44 SCHIRM, Helena. Apresentação de referências, citações e notas de rodapé. Belo

Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2004. Apostila distribuída para o Curso deEspecialização em Gestão Estratégica de Segurança Pública/Curso Superior de Policia daPolícia Militar de Minas Gerais /2005 (CEGESP/CSP/PMMG).

45 SCHIRM, Helena. Apresentação de trabalhos acadêmicos. Belo Horizonte: FundaçãoJoão Pinheiro, 2004. Apostila distribuída para o Curso de Especialização em GestãoEstratégica de Segurança Pública/Curso Superior de Policia da Polícia Militar de MinasGerais /2005 (CEGESP/CSP/PMMG).

46 SILVA, Andréa Pereira da. Evolução histórica do contraditório e da ampla defesa.

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[S.l.:s.n., 200-]. Disponível em:<http://conjur.estadao.com.br/static/text/37545,1conjur.com.br>. Acesso em:26.set.2005.

47 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 9. ed. São Paulo, SP:

Malheiros, 1993.

48 SILVA, Marcelo Carlos da. A ampla defesa e o contraditório no processoadministrativo disciplinar, na sindicância e na parte disciplinar na Polícia Militarde Minas Gerais. 2000. Ensaio  monográfico (Especialização) – Academia da PolíciaMilitar Polícia do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000.

49 SILVA, Osmar José da. Ponderações sobre direito natural e direito positivo.1998.Disponível em: <www.prgo.mpf.gov.br/doutrina/OSMAR-12.htm>. Acesso em:6.out.2005.

50 TOSTES, Ana Paula B. Estados Unidos e União Européia e os regimes de proteção

dos direitos humanos. in: Encontro Nacional da Associação Brasileira de CiênciaPolítica, Rio de Janeiro, RJ. 2002. Disponível em:<http://www.cienciapolitica.org.br/encontro/relint5.2.doc>. Acesso em: 28.set.2005.

51 VALLON, Maria Helena Rossi. Metodologia do trabalho científico. Belo Horizonte:Fundação João Pinheiro, 2005. Apostila distribuída para o Curso de Especialização emGestão Estratégica de Segurança Pública/Curso Superior de Policia da Polícia Militar deMinas Gerais /2005 (CEGESP/CSP/PMMG).

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ANEXOS

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ANEXO “A” MAGNA CARTA

 Magna Charta Libertatum Outorgada pelo Rei João Sem Terra, em Runnymede, pertode Windsor, no ano de 1215.

1.  – Temos resolvido e prometido ante Deus, confirmando a presente Carta

perpetuamente, e para nossos sucessores, que a Igreja da Inglaterra seja livre e goze de

seus direitos em toda sua integridade, permanecendo ilesas suas liberdades, de modo

que resulte a liberdade nas eleições como a mais indispensável e necessária para a

sobredita Igreja da Inglaterra. Por esta razão, assim o temos concedido e confirmado

por nossas simples e espontânea vontade, antes de nossas discórdias com nossos

Barões, e obtivemos a devida confirmação do Sumo Pontífice Inocêncio III, obrigando-

nos à sua observância, e desejando que nossos herdeiros a guardem e cumpram

perpetuamente e com boa fé.

2.  – Também concedemos perpetuamente, em nosso nome e no de nossos sucessores, para

todos os homens livres do reino de Inglaterra, todas as liberdades, cuja continuação se

expressam, transmissíveis a seus descendentes.

3.  – Se algum de nossos Condes ou Barões, ou outro que tenha recebido de nós terras em

paga do serviço militar ( "tenentium de nobis in capite" ), morrer desejando que seu

herdeiro de maior idade entre na posse de seu feudo, esse herdeiro ou herdeira de um

condado, por todo seu feudo, pagará cem marcos; o herdeiro ou herdeira de uma

baronia por todo seu feudo cem xelins, rebaixando-se aos demais em proporção,

segundo o antigo direito habitual dos feudos.

4.  – Entretanto, se o herdeiro mencionado for de menoridade e se achar sob tutoria, a

pessoa de quem dependa seu feudo não será seu tutor, nem administrará suas terras

antes que lhe renda homenagem, e, uma vez que o herdeiro tutelado chegue à

maioridade, quer dizer, tenha completado 21 anos, receberá sua herança sem abonar

nada ao posseiro; e se em sua menoridade for armado cavaleiro, nem por isso perderá

seu tutor o cuidado de seus bens até o termo sobredito.

5.  – O que administrar terras de um menor não tomará delas senão o ajustado, conforme

costumes, eqüidade e bom serviço, sem prejuízo nem detrimento para as pessoas ou

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coisas. E, no caso de que confiemos a administração das ditas terras ao Visconde (

"viccecomiti" ) ou outro qualquer empregado, sujeito à responsabilidade até nós, se

causar qualquer dano ou prejuízo, tomamos o compromisso de obrigá-lo à sua

reparação ou indenização, confiando então a guarda da herança a dois homens honradose inteligentes, que serão responsáveis perante nós, do mesmo modo.

6.  – Todo administrador de um feudo manterá em bom estado, tanto as casas, parques,

víveres, tanques, moinhos e bens análogos, como as rendas, restituindo-as ao herdeiro,

quando este haja chegado à sua maioridade, cuidando que as terras destinadas ao

cultivo estejam providas de arados e demais instrumentos da lavoura, ou, ao menos,

com os mesmos que tinham quando tomou o seu encargo. Estas disposições são

aplicáveis à administração dos bispados, abadias, priorados, igrejas e dignidades vagas;

mas este direito de administração não poderá ser alienado por meio de venda.

7.  – Os herdeiros contrairão matrimônio sem desproporção, isto é, conforme a sua

respectiva condição e estado. Não obstante, antes de contrair o matrimônio, se dará

notícia do mesmo aos parentes consangüíneos do referido herdeiro.

8.  – Logo que uma mulher fique viúva, receberá imediatamente sem dificuldade alguma,

seu dote e herança, não ficando obrigada a satisfazer quantia alguma por esta

restituição, nem pela pensão de viuvez, de que for credora, no tocante aos benspossuídos pelo casal, até à morte do marido; poderá permanecer na casa principal deste

por espaço de quarenta dias, contados desde o do falecimento; e se lhe consignará,

entretanto, dote, caso não o tenha sido antecipadamente. Estas disposições serão

executadas, se a sobredita casa principal não for uma fortaleza; mas, se o for, ato

contínuo, será oferecida à viúva outra casa mais conveniente, onde possa viver com

decência até que se designe o seu dote, segundo aviso prévio, percebendo dos bens

comuns de ambos os cônjuges o necessário para sua honesta subsistência. A pensão

será conforme a terça parte das terras possuídas pelo marido, a não ser que lhe

corresponda menor quantidade em virtude de um contrato celebrado ao pé dos altares (

" ad ostium Ecclesiae" ).

9.  – Nenhuma viúva poderá ser compelida, por meio do embargo de seus bens móveis, a

casar-se de novo, se prefere continuar em seu estado; ficará, porém, obrigada a prestar

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caução de não contrair matrimônio sem nosso consentimento, se estiver debaixo de

nossa dependência, ou do senhor de quem dependa diretamente.

10.  – Nem Nós, nem nossos empregados embargarão as terras ou rendas por dívida de

qualquer espécie, quando os bens móveis do devedor sejam suficientes para solver a

dívida e o devedor se mostre disposto a pagar ao seu credor. Muito menos se procederá

contra os fiadores, quando o devedor se ache em condições de pagar.

11.  – Se o devedor não pagar, seja por falta de meios, seja por má vontade, exigir-se-á o

pagamento dos fiadores, que poderão gravar com hipotecas ou bens e rendas do

devedor, até à importância que eles tiverem satisfeito, a não ser que ele prove haver

entregue a seus abonadores a importância das fianças.

12.  – Se alguém celebrar com judeus o contrato denominado " mútuo" e falecer antes de o

haver satisfeito, o herdeiro de menoridade não pagará os interesses, enquanto

permanecer em tal estado. Se a dívida for a nosso favor observaremos as disposições

contidas nesta "Carta".

13.  – Se alguém morrer devendo qualquer quantia a um judeu, sua mulher perceberá o dote

integral, sem que a dita dívida a afete de qualquer modo. E se o defunto tiver deixado

filhos menores, se lhes adjudicará o necessário conforme os bens pertencentes ao

defunto, e com o restante se pagará a dívida, sem prejuízo da contribuição ou tributos

correspondentes ao senhor. Estas disposições são aplicáveis, completamente, às demais

dívidas contraídas com os que não sejam judeus.

14.  – Não se estabelecerá em nosso Reino auxílio nem contribuição alguma, contra os

posseiros de terras enfeudadas, sem o consentimento do nosso comum Conselho do

Reino, a não ser que se destinem ao resgate de nossa pessoa, ou para armar cavaleiros a

nosso filho primogênito, consignação para casar uma só vez a nossa filha primogênita;

e, mesmo nestes casos, o imposto ou auxílio terá de ser moderado ( " et ad hoc non fiet

nisi rationabile auxilium " ).

15.  – A mesma disposição se observará a respeito dos auxílios fornecidos pela cidade de

Londres, a qual continuará em posse de suas liberdades, foros e costumes por mar e

terra.

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16.  – Concedemos, além disto, a todas as cidades, distritos e aldeias, aos Barões dos cinco

portos e a todos os demais o gozo dos seus privilégios, foros e costumes, e a faculdade

de enviar Deputados ao Conselho comum para convir nos subsídios correspondentes a

cada um, salvo nos três casos sobreditos. (Veja-se o número 14.)

17.  – Quando se tratar da fixação de pagamentos correspondentes a cada um, no tocante à

contribuição dos posseiros, convocaremos privadamente, por meios de nossas cartas, os

Arcebispos, Bispos, Abades, Condes, e principais Barões do Reino.

18.  – Do mesmo modo, convocaremos em geral, por meio de nossos Viscondes ou

"sheriffs" e "bailios", a todos que tenham recebido, diretamente, de nós, a posse de suas

terras, com quarenta dias de antecipação, para que concorram ao sítio designado; e nas

convocatórias expressaremos a causa ou causas que nos tenham decidido a convocar a

Assembléia.

19.  – Uma vez expedida a convocação, proceder-se-á, imediatamente, à decisão dos

negócios, segundo o acordo dos presentes, ainda que não concorram todos os que foram

convocados.

20.  – Prometemos não conceder a nenhum senhor, seja quem for, permissão para tomar

dinheiro aos homens livres, a não ser que se destine ao resgate de sua pessoa, ou para

armar cavaleiro a seu filho primogênito, ou constitua pecúlio para casar uma vez a sua

filha primogênita; e, mesmo nestes casos, o imposto ou auxílio terá de ser moderado.

21.  – Não poderão ser embargados os móveis de qualquer pessoa para obrigá-la, por causa

do seu feudo, a prestar mais serviços que os devidos por natureza.

22.  – O Tribunal de Queixas ou pleitos comuns ( "Plaids Communs") não acompanhará por

todas as partes a nossa pessoa, devendo permanecer fixo em um ponto dado. Os

assuntos jurídicos que versem sobre interditos de reter ou recobrar, a morte de umantecessor ou apresentação de benefícios, ventilar-se-ão na província onde se ache

situado o domicílio dos litigantes; assim, pois, Nós, ou, em caso de estarmos ausentes

do Reino, Nosso primeiro magistrado, enviaremos anualmente a cada condado juízes

que, com os cavaleiros respectivos, estabeleçam seus tribunais na mesma província.

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23.  – Os assuntos jurídicos que não possam terminar em uma só sessão, não poderão ser

 julgados em outro lugar correspondente ao distrito dos mesmos juízes; e os que, por

suas dificuldades não possam ser decididos pelos mesmos, serão remetidos ao Tribunal

do Rei.

24.  – Esta última disposição é aplicável, em seu todo, aos assuntos concernentes à última

apresentação às igrejas, sendo começados, continuados e decididos, exclusivamente,

pelo Tribunal do Rei.

25.  – Um possuidor de bens livres não poderá ser condenado a penas pecuniárias por faltas

leves, mas pelas graves, e, não obstante isso, a multa guardará proporção com o delito,

sem que, em nenhum caso, o prive dos meios de subsistência. Esta disposição é

aplicável, por completo, aos mercadores, aos quais se reservará alguma parte de seus

bens para continuar seu comércio.

26.  – Do mesmo modo um aldeão ou qualquer vassalo nosso não poderá ser condenado a

pena pecuniária senão debaixo de idênticas condições, quer dizer, que se lhe não poderá

privar dos instrumentos necessários a seu trabalho. Não se imporá nenhuma multa se o

delito não estiver comprovado com prévio juramento de doze vizinhos honrados e cuja

boa reputação seja notória.

27.  – Os Condes e Barões só poderão ser condenados a penas pecuniárias por seus Pares, e

segundo a qualidade da ofensa.

28.  – Nenhum eclesiástico será condenado a pena pecuniária, guardando proporção com as

rendas de seu benefício, que não incida, exclusivamente, nos bens puramente

patrimoniais que possua, e segundo a natureza de sua falta.

29.  – Nenhuma pessoa ou população poderá ser compelida, por meio de embargo de seus

bens móveis, a construir pontes sobre os rios, a não ser que haja contraído previamenteessa obrigação.

30.  – Não se porá nenhum dique nos rios que os não tenham tido desde o tempo de nosso

ascendente o Rei Henrique.

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31.  – Nenhum " sheriff " (corregedor), condestável, chefe ou bailio nosso sustentará os

litígios da Coroa.

32.  – Os condados, povoado de cem habitantes (" hundred " ) e demais distritos ajustar-se-

ão a seus antigos limites, salvo as terras de nosso domínio particular.

33.  – No caso de falecer um possuidor de bens patrimoniais, submetidos diretamente à

nossa dependência, e o " sheriff " ou bailio exibir provas de que o defunto era devedor

nosso, será permitido selar e registrar os bens móveis encontrados no sobredito feudo,

correspondente à dívida; porém esta diligência não se praticará senão com a inspeção de

homens honrados, para que nada se desperdice de seu devido objeto, até o pagamento

definitivo da dívida. O resto entregar-se-á aos testamenteiros do defunto. Mas, se este

não era nosso devedor, tudo será transmitido ao herdeiro, tendo-se em conta os direitos

da viúva e filhos.

34.  – Se o possuidor morrer " ab intestato " , repartirão seus bens móveis entre seus

parentes mais próximos e amigos, com a inspeção e consentimento da Igreja, salvo

somente o que corresponder aos credores do defunto, se os houver deixado.

35.  – Nenhum " sheriff " , condestável ou funcionário tomará colheitas nem bens móveis de

uma pessoa que não se ache debaixo de sua jurisdição, a não ser que satisfaça, à vista,

seu importe ou tenha convencionado, de antemão, com o vendedor a fixação da época

do pagamento. Se o vendedor estiver sujeito à jurisdição do funcionário, o pagamento

será feito no prazo de quarenta dias.

36.  – Não poderão ser embargados os bens móveis de qualquer cavaleiro, sob o pretexto de

pagar gente para guarnecer as fortalezas, se o sobredito cavaleiro se oferecer a

desempenhar por si próprio este serviço, ou delegar alguém em seu lugar, alegando

escusa legítima para desempenho desta obrigação.

37.  – Se um cavaleiro for servir na guerra, ficará dispensado de guardar os castelos e praças

fortes, enquanto se achar em serviço ativo por causa do seu feudo.

38.  – Nenhum " sheriff " ou " bailio " poderá tomar à força carroças nem cavalos para

nossas bagagens, salvo se abonar o preço estipulado nos antigos regulamentos, a saber

10 dinheiros, por dia de uma carroça de dois cavalos, e 14 pela de três.

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39.  – Prometemos que não se tomarão as carroças ou outras carruagens dos eclesiásticos,

dos cavaleiros e das senhoras de distinção, nem a lenha para o consumo em nossas

situações, sem o consentimento expresso dos proprietários.

40.  – Não conservaremos em nosso poder as terras dos réus convictos de deslealdade ou

traição senão pelo prazo de um ano e um dia, transcorridos os quais as restituiremos aos

senhores dos feudos respectivos.

41.  – Não se permitirão redes para colher salmões ou outros peixes em Midway, Tâmisa e

demais rios de Inglaterra, excetuando-se as costas desta proibição.

42.  – Não se concederá para o futuro nenhum “writ ” ou ordem chamada “ proecipe” , em

virtude da qual um proprietário tenha de perder seu pleito.

43.  – Haverá em todo o Reino uma mesma medida para o vinho e a cerveja, assim como

para os cereais (grãos). Esta medida será a que atualmente se emprega em Londres.

Todos os panos se ajustarão a uma mesma medida em largura, que será de duas varas.

Os pesos serão, também, os mesmos para todo o Reino.

44.  – Não se cobrará nada para o futuro pelos “writ ” ou cédulas de inspeção a favor de

quem queira uma informação, por haver perdido a vida ou algum dos seus membros

qualquer indivíduo, pelo contrário, serão dadas grátis e nunca serão negadas.

45.  – Se alguém tiver recebido de Nós em feudo uma posse de qualquer gênero que seja, ou

terras pertencentes a uma pessoa com obrigação de serviço militar, não invocaremos

esta circunstância como direito para obter a tutela do herdeiro de menoridade, ou a

administração das terras pertencentes a outro feudo, nem, também, aspiraremos à

administração das posses submetidas à nossa dependência, senão forem garantia anexa

do serviço militar.

46.  – Não desejaremos tutela de um menor, nem a administração da terra que possua com

dependência de outro e com a obrigação do serviço militar, sob o pretexto de que nos

deve alguma pequena servidão, como a subministração de adagas, flechas e coisas

semelhantes.

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47.  – Nenhum bailio ou outro funcionário poderá obrigar a quem quer que seja a defender-

se por meio de juramento ante sua simples acusação ou testemunho, se não for

confirmado por pessoas dignas de crédito.

48.  – Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado dos seus bens, costumes e liberdades,

senão em virtude de julgamento de seus Pares segundo as leis do país.

49.  – Não venderemos, nem recusaremos, nem dilataremos a quem quer que seja, a

administração da justiça.

50.  – Nossos comerciantes, se não estão publicamente inabilitados, poderão transitar

livremente pelo Reino, entrar, sair, permanecer nele, viajar por mar e por terra, comprar

e vender conforme os antigos costumes, sem que se lhes imponha qualquer empecilhono exercício de seu tráfico, exceto em tempo de guerra ou quando pertençam a um país

que se ache em guerra conosco.

51.  - Os estrangeiros, mercadores que se encontrarem no Reino ao princípio de uma guerra,

serão postos em segurança, sem que se faça o menor dano a suas pessoas ou coisas e

continuarão em tal estado até que Nós ou nossos magistrados principais se informem de

que modo tratam os inimigos ou nossos mercadores: se estes são bem tratados, aqueles

o serão igualmente por Nós.

52.  - Para o futuro poderão todos entrar e sair do Reino com toda a garantia, salvante a

fidelidade devida, exceto, todavia, em tempo de guerra, e quanto seja, estritamente

necessário para o bem comum de nosso Reino; excetuando-se, além disto, os

prisioneiros e proscritos segundo as leis do país, os povos que se achem em guerra

conosco e os comerciantes de uma Nação inimiga, conforme o que deixamos dito.

53.  – Se alguém proceder de uma terra que se agregue, em seguida, às nossas possessões

por confisco ou qualquer outra coisa, como Wallingford Bolônia, Nottingham eLancaster, que se acham em nosso poder, e o dito indivíduo falecer, seu herdeiro nada

deverá, nem será obrigado a prestar mais serviços que o que prestava, quando a baronia

estava em posse do antigo dono, e não era nossa. Possuiremos dita baronia debaixo das

mesmas condições que os antigos donos, sem que, por causa disso, pretendamos o

serviço militar dos vassalos, a não ser que algum possuidor de um feudo pertencente à

dita baronia depende de Nós por outro feudo, com a obrigação do serviço militar.

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54.  – Os que têm suas habitações fora de nossos bosques não serão obrigados a comparecer

ante nossos juízes de ditos lugares por prévia citação, a não ser que se achem

complicados na causa, ou que sejam fiadores dos presos ou processados por delitos

cometidos em nossas florestas.

55.  – Todas as selvas convertidas em sítio pelo Rei Ricardo, nosso irmão, serão

restabelecidas à sua primitiva situação; excetuando-se os bosques pertencentes a nossos

domínios.

56.  – Ninguém poderá vender ou alienar sua terra ou parte dela, com prejuízo de seu

senhorio, a não ser que lhe deixe o suficiente para desempenhar o serviço a que se achar

obrigado.

57.  – Todos os patronos de abadia que tenham em seu poder cartas dos Reis de Inglaterra,

contendo direito de patronato, ou que o possuam desde tempo imemorial, administração

as ditas abadias, quando estiveram vagas, nas mesmas condições em que deviam

administrá-las, segundo o declarado anteriormente.

58.  – Ninguém será encarcerado a pedido de uma mulher pela morte de um homem, a não

ser que este tenha sido seu marido.

59.  – Não se reunirá o “Shire Gemot ” ou tribunal do condado, senão uma vez por mês,

exceto nos lugares em que se costuma empregar maior intervalo, em cujo caso

continuarão as práticas estabelecidas.

60.  – Nenhum “sheriff ” ou outro funcionário reunirá seu Tribunal senão duas vezes por ano

e no lugar devido e acostumado, uma vez depois da Páscoa de Ressurreição, outra

depois do dia de São Miguel. A inspeção ou exame das finanças, que, mutuamente, se

prestam os homens livres de nosso Reino, se verificará no mencionado tempo de São

Miguel, sem obstáculo nem vexação de qualquer espécie; em maneira que cada umconserve suas liberdades, tanto as que teve e se acostumou a Ter em tempo de nosso

ascendente o Rei Henrique, como as que adquiridas posteriormente.

61.  – A dita Inspeção se verificará de modo que não se altere a paz, e a dízima ( " tithe " )

se conserve íntegra, como é de costume.

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62.  – Ficará proibido ao “sheriff” oprimir e vexar a quem quer que seja, contentando-se

com os direitos que os “sheriffs” costumavam exercer em tempo de nosso ascendente o

Rei Henrique.

63.  – Não se permitirá a ninguém para o futuro ceder suas terras a uma comunidade

religiosa para possuí-las, depois, como feudatário da dita comunidade.

64.  – Não se permitirá às comunidades religiosas receber terras de modo sobredito para

restituí-las, imediatamente, aos donos como feudatários das mencionadas comunidades.

Se para o futuro intentar alguém dar suas terras a um mosteiro, e resultar a convicção

desta tentativa, a doação será nula, e a terra dada reverterá em benefício do senhorio.

65.  – Para o futuro se perceberá o direito de “scutage” (contribuição do posseiro) como eracostume perceber-se no tempo de nosso ascendente o Rei Henrique. Os “sheriffs”

evitarão molestar a quem quer que seja e se contentarão em exercer seus direitos de

costume.

66.  – Todas as liberdades e privilégios concedidos pela presente Carta, em relação ao que

se nos deve por parte de nossos vassalos, compreende só eclesiásticos e seculares, diz

respeito aos senhores que possuam diretamente os bens cujo domínio útil lhes pertença.

– Continuam subsistentes os direitos dos Arcebispos, Bispos, Abades, Priores,

Templários, Hospitalários, Condes, Barões, cavaleiros e outros tantos eclesiásticos

como seculares, e exercidos antes da promulgação da presente Carta.

Observação:

Extraída do site: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/magna.htm>

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ANEXO “B” DECLARAÇÃO DE DIREITOS DA INGLATERRA-(1689)

 Bill of Rights 

Os  Lords 1ºs espirituais e temporais e os membros da Câmara dos Comuns

declaram, desde logo, o seguinte:

1.  que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu

cumprimento;

2.  que, do mesmo modo, é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para

dispensar as leis ou o seu cumprimento, como anteriormente se tem verificado, pormeio de uma usurpação notória;

3.  que tanto a Comissão para formar o último Tribunal, para as coisas eclesiásticas, como

qualquer outra Comissão do Tribunal da mesma classe são ilegais ou perniciosas;

4.  que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o concurso do Parlamento,

sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo diferentes dos designados por ele

próprio;

5.  que os súditos têm direitos de apresentar petições ao Rei, sendo ilegais as prisões

vexações de qualquer espécie que sofram por esta causa;

6.  que o ato de levantar e manter dentro do país um exército em tempo de paz é contrário

à lei, se não proceder autorização do Parlamento;

7.  que os súditos protestantes podem ter, para a sua defesa, as armas necessárias à sua

condição e permitidas por lei;

8.  que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento;

9.  que os discursos pronunciados nos debates do Parlamento não devem ser examinados

senão por ele mesmo, e não em outro Tribunal ou sítio algum;

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10.  que não se exigirão fianças exorbitantes, impostos excessivos, nem se imporão penas

demasiado severas;

11.  que a lista dos Jurados eleitos deverá fazer-se em devida forma e ser notificada; que os

 jurados que decidem sobre a sorte das pessoas nas questões de alta traição deverão ser

livres proprietários de terras;

12.  que são contrárias `as leis, e, portanto, nulas, todas as concessões ou promessas de dar

a outros os bens confiscados a pessoas acusadas, antes de se acharem estas convictas

ou convencidas;

13.  que é indispensável convocar com freqüência os Parlamentos para satisfazer os

agravos, assim como para corrigir, afirmar e conservar as leis.

Reclamam e pedem, com repetidas instâncias, todo o mencionado, considerando-o como um

conjunto de direitos e liberdades incontestáveis, como também, que para o futuro não se

firmem precedentes nem se deduza conseqüência alguma em prejuízo do povo.

A esta petição de seus direitos fomos estimulados, particularmente, pela declaração de S. A. o

Príncipe de Orange (depois Guilherme III), que levará a termo a liberdade do país, que se

acha tão adiantada, e esperamos que não permitirá sejam desconhecidos os direitos que

acabamos de recordar, nem que se reproduzam os atentados contra a sua religião, direitos e

liberdades.

Observação:

Extraído em 01out05 do site: < http://professores.unirp.edu.br/azor/site/adeclara.htm>.

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ANEXO “C” DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA NORTE-AMERICANA

 No Congresso, 4 de julho de 1776 

 Declaração Unânime dos Treze Estados Unidos da América

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um povo dissolver laços

 políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e

separada, a que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno

às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.

Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram

criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes

estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.

Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando

seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de

governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e

instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela

 forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade. Narealidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo

 por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os

homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se

desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de

abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio de

reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais

governos e instituir novos-Guardas para sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento

 paciente destas colônias e tal agora a necessidade que as força a alterar os sistemas

anteriores de governo. A história do atual Rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidos

danos e usurpações, tendo todos por objetivo direto o estabelecimento da tirania absoluta

sobre estes Estados. Para prová-lo, permitam-nos submeter os fatos a um cândido mundo.

 Recusou assentimento a leis das mais salutares e necessárias ao bem público.

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Proibiu aos governadores a promulgação de leis de importância imediata e urgente, a menos

que a aplicação fosse suspensa até que se obtivesse o seu assentimento, e, uma vez suspensas,

deixou inteiramente de dispensar-lhes atenção.

 Recusou promulgar outras leis para o bem-estar de grandes distritos de povo, a menos que

abandonassem o direito à representação no Legislativo, direito inestimável para eles temível

apenas para os tiranos,

Convocou os corpos legislativos a lugares não usuais, sem conforto e distantes dos locais em

que se encontram os arquivos públicos, com o único fito de arrancar-lhes, pela fadiga o

assentimento às medidas que lhe conviessem

 Dissolveu Casas de Representantes repetidamente porque: opunham com máscula firmeza àsinvasões dos direitos do povo.

 Recusou por muito tempo, depois de tais dissoluções, fazer com que outros fossem eleitos; em

virtude do que os poderes legislativos incapazes de aniquilação voltaram ao povo em geral

 para que os exercesse; ficando nesse ínterim o Estado exposto a todos os perigos de invasão

externa ou convulsão interna.

Procurou impedir o povoamento destes estados, obstruindo para esse fim as leis de

naturalização de estrangeiros, recusando promulgar outras que animassem as migrações

 para cá e complicando as condições para novas apropriações de terras.

 Dificultou a administração da justiça pela recusa de assentimento a leis que estabeleciam

 poderes judiciários.

Tornou os juízes dependentes apenas da vontade dele para gozo do cargo e valor e

 pagamento dos respectivos salários.

Criou uma multidão de novos cargos e para eles enviou enxames de funcionários para

 perseguir o povo e devorar-nos a substância.

 Manteve entre nós, em tempo de paz, exércitos permanentes sem o consentimento de nossos

corpos legislativos.

Tentou tornar o militar independente do poder civil e a ele superior.

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Combinou com outros sujeitar-nos a jurisdição estranha à nossa Constituição e não

reconhecida por nossas leis, dando assentimento a seus atos de pretensa legislação:

Por aquartelar grandes corpos de tropa entre nós;

Por protegê-las por meios de julgamentos simulados, por punição de assassinatos que

viessem a cometer contra os habitantes deste estados;

Por fazer cessar nosso comércio com todas as partes do mundo;

Pelo lançamento de taxas sem nosso conhecimento;

Por privar-nos,em muitos casos, por benefícios do julgamento pelo júri;

Por transportar-nos para além mar para julgamento por pretensas ofensas;

Por abolir o sistema livre de leis inglesas em província vizinha, aí estabelecendo governo

arbitrário e ampliando-lhes os limites, de sorte a torná-los, de imediato, exemplo e

instrumento apropriado para introdução do mesmo domínio absoluto nestas colônias;

Por tirar-nos nossas cartas, abolindo nossas leis mais valiosas e alterando fundamentalmente

a forma de nosso governo;

Por suspender nossos corpos legislativos, declarando-se investido do poder de legislar para

nós em todos e quaisquer casos.

 Abdicou do governo aqui por declarar-nos fora de sua proteção e movendo guerra contra

nós.

Saqueou nossos mares, devastou nossas costas, incendiou nossas cidades e destruiu a vida de

nosso povo.

 Está, agora mesmo, transportando grandes exércitos de mercenários estrangeiros para

completar a obra da morte, desolação e tirania, já iniciada em circunstâncias de crueldade e

 perfídia raramente igualadas nas idades mais bárbaras e totalmente indignas do chefe de

uma nação civilizada.

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Obrigou nossos concidadãos aprisionados em alto-mar a tomarem armas contra a própria

 pátria, para que se tornassem algozes dos amigos e irmãos ou para que caíssem por suas

mãos.

Provocou insurreições internas entre nós e procurou trazer contra os habitantes das

 fronteiras os índios selvagens e impiedosos, cuja regra sabida de guerra é a destruição sem

distinção de idade, sexo e condições.

 Em cada fase dessas opressões solicitamos reparação nos termos mais humildes;

responderam a nossas apenas com repetido agravo. Um príncipe cujo caráter se assinala

deste modo por todos os atos capazes de definir tirano não está em condições de governar um

 povo livre. Tampouco deixamos de chamar a atenção de nossos irmãos britânicos. De tempos

em tempos, os advertimos sobre as tentativas do Legislativo deles de estender sobre nós

 jurisdição insustentável. Lembramos a eles das circunstâncias de nossa migração e

estabelecimento aqui. Apelamos para a justiça natural e para a magnanimidade, e os

conjuramos, pelos laços de nosso parentesco comum, a repudiarem essas usurpações que

interromperiam, inevitavelmente, nossas ligações e nossa correspondência. Permaneceram

também surdos à voz da justiça e da consangüinidade. Temos, portanto, de aquiescer na

necessidade de denunciar nossa separação e considerá-los, como consideramos o restante

dos homens, inimigos na guerra e amigos na paz.

 Nós, Por conseguinte, representantes dos Estados Unidos da América, reunidos em

Congresso Geral, apelando para o Juiz Supremo do mundo pela retidão de nossas intenções,

em nome e por autoridade do bom povo destas colônias, publicamos e declaramos

solenemente: que estas colônias unidas são e de direito têm de ser Estados livres e

independentes, que estão desoneradas de qualquer vassalagem para com a Coroa Britânica,

e que todo vínculo político entre elas e a Grã-Bretanha está e deve ficar totalmente

dissolvido; e que, como Estados livres e independentes, têm inteiro poder para declarar 

guerra, concluir paz, contratar alianças, estabelecer comércio e praticar todos os atos e

ações a que têm direito os estados independentes. E em apoio desta declaração, plenos de

 firme confiança na proteção da Divina Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas,

nossas fortunas e nossa sagrada honra.

 John Hancock 

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New Hampshire Josiah Bartlett 

William Whipple

 Matthew Thornton

Rhode IslandStep. Hopkins

William Ellery

Connecticut Roger Sherman

Sam'el Huntington

Wm. WilliamsOliver Wolcott  

Nova YorkWm. Floyd 

Phil. Livingston

Frans. Lewis

 Lewis Morris 

New Jersey Richd. Stockton

 Jno. Witherspoon

Fras. Hopkinson

 John Hart 

 Abra. Clark  

Pensilvânia Robt. Morris

 Benjamin Rush

 Benj. Frankllin

 John Morton

Geo. Clymer 

 Jas. Smith

Geo. Taylor 

 James Wilson

George Ross

Massachusetts-BaySaml. Adams

 John Adams Robt. Treat Paine

 Elbridge Gerry 

DelawareCaesar Rodney

Geo. Read 

Tho. M'Kean 

MarylandSamuel Chase

Wm. Paca

Thos. Stone

Charles Carroll of 

Carrollton 

VirgíniaGeorge Wythe

 Richard Henry Lee

Th. Jefferson

 Benj. Harrison

Ths. Nelson, Jr.

Francis Lightfoot Lee

Carter Braxton 

Carolina do NorteWm. Hooper 

 Joseph Hewes

 John Penn 

Carolina do Sul Edward Rutledge

Thos. Heyward, Junr.

Thomas Lynch, Junr.

 Arthur Middletown 

Georgia Button Gwinnett 

 Lyman HallGeorge Walton 

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ANEXO “D” CARTA DE DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

 A Carta de Direitos é formada pelas dez primeiras Emendas à Constituição dos Estados

Unidos da América. Foi redigida pelo Congresso dos EUA em 1789 e ratificada pelos

estados em 15 de dezembro de 1791

 ARTIGO I 

O Congresso não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre

exercício dos cultos; ou cerceando a liberdade de palavra, ou de imprensa, ou o direito do

 povo de se reunir pacificamente, e de dirigir ao Governo petições para a reparação de seus

agravos.

 ARTIGO II 

Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem

organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido.

 ARTIGO III 

 Nenhum soldado poderá, em tempo de paz, instalar-se em um imóvel sem autorização do

 proprietário, nem em tempo de guerra, senão na forma a ser prescrita em lei.

 ARTIGO IV 

O direito do povo à inviolabilidade de suas pessoas, casas, papéis e haveres contra busca e

apreensão arbitrárias não poderá ser infringido; e nenhum mandado será expedido a não ser 

mediante indícios de culpabilidade confirmados por juramento ou declaração, e

 particularmente com a descrição do local da busca e a indicação das pessoas ou coisas a

serem apreendidas.

 ARTIGO V 

 Ninguém será detido para responder por crime capital, ou outro crime infamante, salvo por 

denúncia ou acusação perante um Grande Júri, exceto em se tratando de casos que, em

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tempo de guerra ou de perigo público, ocorram nas forças de terra ou mar, ou na milícia,

durante serviço ativo; ninguém poderá pelo mesmo crime ser duas vezes ameaçado em sua

vida ou saúde; nem ser obrigado em qualquer processo criminal a servir de testemunha

contra si mesmo; nem ser privado da vida, liberdade, ou bens, sem processo legal; nem a propriedade privada poderá ser expropriada para uso público, sem justa indenização.

 ARTIGO VI 

 Em todos os processos criminais, o acusado terá direito a um julgamento rápido e público,

 por um júri imparcial do Estado e distrito onde o crime houver sido cometido, distrito esse

que será previamente estabelecido por lei, e de ser informado sobre a natureza e a causa da

acusação; de ser acareado com as testemunhas de acusação; de fazer comparecer por meios

legais testemunhas da defesa, e de ser defendido por um advogado.

 ARTIGO VII 

 Nos processos de direito consuetudinário, quando o valor da causa exceder vinte dólares,

será garantido o direito de julgamento por júri, cuja decisão não poderá ser revista por 

qualquer tribunal dos Estados Unidos senão de acordo com as regras do direito costumeiro.

 ARTIGO VIII 

 Não poderão ser exigidas fianças exageradas, nem impostas multas excessivas ou penas

cruéis ou incomuns.

 ARTIGO IX 

 A enumeração de certos direitos na Constituição não poderá ser interpretada como negando

ou coibindo outros direitos inerentes ao povo.

 ARTIGO X 

Os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição, nem por ela negados aos

 Estados, são reservados aos Estados ou ao povo.

OBSERVAÇÃO: Extraídas do site: <http://www.embaixada-americana.org.br>. 

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ANEXO “E” DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

França, 26 de agosto de 1789 

Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a

ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos

males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos

naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em

todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres;

a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer

momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais

respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios

simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral.

Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser

Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:

Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem

fundamentar-se na utilidade comum.

Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e

imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a

resistência à opressão.

Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação,

nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.

Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o

exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que

asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites

apenas podem ser determinados pela lei.

Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei

não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.

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Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer,

pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para

todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e

igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a suacapacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.

Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e

de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou

mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou

detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de

resistência.

Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém

pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e

legalmente aplicada. 

Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar

indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser

severamente reprimido pela lei.

Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desdeque sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.

Art. 11º. A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do

homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo,

todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.

Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta

força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem

é confiada.

Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é

indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo

com suas possibilidades.

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Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da

necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e

de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.

Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua

administração.

Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a

separação dos poderes não tem Constituição.

Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser

privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob

condição de justa e prévia indenização.

 In Textos Básicos sobre Derechos Humanos.Madrid. Universidad Complutense, 1973,

traduzido do espanhol por Marcus Cláudio Acqua Viva. APUD.FERREIRA Filho, Manoel G.

et. alli. Liberdades Públicas São Paulo, Ed. Saraiva, 1978.

OBSERVAÇÃO: Extraído do site:

< http://www.direitoshumanos.usp.br/counter/Doc_Histo/texto/Direitos_homem_cidad.html>. 

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ANEXO “F” LEI Nº 9.784, DE 29 DE JANEIRO DE 1999.

 Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal .

1.1.1.1  O PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

1.1.1.2  Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º - Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo noâmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção dosdireitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração.

§ 1º - Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo eJudiciário da União, quando no desempenho de função administrativa.

§ 2° - Para os fins desta Lei, consideram-se:

I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e daestrutura da Administração indireta;

II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica;

III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder de decisão.

Art. 2º - A Administração Pública obedecerá dentre outros, aos princípios dalegalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampladefesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos, serão observados, entre outros, oscritérios de:

I - atuação conforme a lei e o Direito;

II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderesou competências, salvo autorização em lei;

III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal deagentes ou autoridades;

IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;

V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigiloprevistas na Constituição;

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VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições esanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interessepúblico;

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;

VIII - observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dosadministrados;

IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza,segurança e respeito aos direitos dos administrados;

X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, àprodução de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultarsanções e nas situações de litígio;

XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;

XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dosinteressados;

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta oatendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

CAPÍTULO II DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS

Art. 3° - O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração sem

prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o

exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;

II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição deinteressado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer asdecisões proferidas;

III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serãoobjeto de consideração pelo órgão competente;

IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória arepresentação, por força de lei.

CAPÍTULO III DOS DEVERES DO ADMINISTRADO

Art. 4° - São deveres do administrado perante a Administração, sem prejuízo deoutros previstos em ato normativo:

I - expor os fatos conforme a verdade;

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II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;

III - não agir de modo temerário;

IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o esclarecimento

dos fatos.

CAPÍTULO IV DO INÍCIO DO PROCESSO

Art. 5º - O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a pedido deinteressado.

Art. 6º - O requerimento inicial do interessado, salvo casos em que for admitidasolicitação oral, deve ser formulado por escrito e conter os seguintes dados:

I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige;

II - identificação do interessado ou de quem o represente;

III - domicílio do requerente ou local para recebimento de comunicações;

IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus fundamentos;

V - data e assinatura do requerente ou de seu representante.

Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada de recebimento dedocumentos, devendo o servidor orientar o interessado quanto ao suprimento de eventuaisfalhas.

Art. 7° - Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar modelos ouformulários padronizados para assuntos que importem pretensões equivalentes.

Art. 8º - Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados tiverem conteúdo efundamentos idênticos, poderão ser formulados em um único requerimento, salvo preceitolegal em contrário.

CAPÍTULO V DOS INTERESSADOS

Art. 9° - São legitimados como interessados no processo administrativo:

I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de direitos ou interessesindividuais ou no exercício do direito de representação;

II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos ou interesses que possamser afetados pela decisão a ser adotada;

III - as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e interessescoletivos;

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IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quanto a direitos ouinteresses difusos.

Art. 10 - São capazes, para fins de processo administrativo, os maiores de dezoitoanos, ressalvada previsão especial em ato normativo próprio.

CAPÍTULO VI DA COMPETÊNCIA

Art. 11 - A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a quefoi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos.

Art. 12 - Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimentolegal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhesejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias deíndole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação decompetência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.

Art. 13 - Não podem ser objeto de delegação:

I - a edição de atos de caráter normativo;

II - a decisão de recursos administrativos;

III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

Art. 14 - O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.

§ 1º - O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites daatuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendoconter ressalva de exercício da atribuição delegada.

§ 2º - O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.

§ 3º - As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente estaqualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado.

Art. 15 - Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamenteinferior.

Art. 16 - Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publicamente os locais dasrespectivas sedes e, quando conveniente, a unidade fundacional competente em matéria deinteresse especial.

Art. 17 - Inexistindo competência legal específica, o processo administrativo deveráser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico para decidir.

CAPÍTULO VII DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO

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Art. 18 - É impedido de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridadeque:

I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;

II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou representante,ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceirograu;

III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivocônjuge ou companheiro.

Art. 19 - A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar ofato a autoridade competente, abstendo-se de atuar.

Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedimento constitui faltagrave, para efeitos disciplinares.

Art. 20 - Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizadeíntima ou inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges,companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.

Art. 21 - O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, semefeito suspensivo.

CAPÍTULO VIII DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO

Art. 22  - Os atos do processo administrativo não dependem de forma determinadasenão quando a lei expressamente a exigir.

§ 1º - Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com a datae o local de sua realização e a assinatura da autoridade responsável.

§ 2º - Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente será exigido quandohouver dúvida de autenticidade.

§ 3º - A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá ser feita pelo órgãoadministrativo.

§ 4º - O processo deverá ter suas páginas numeradas seqüencialmente e rubricadas.

Art. 23 - Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, no horário normal defuncionamento da repartição na qual tramitar o processo.

Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os atos já iniciados, cujoadiamento prejudique o curso regular do procedimento ou cause dano ao interessado ou àAdministração.

Art. 24 - Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou autoridade responsávelpelo processo e dos administrados que dele participem devem ser praticados no prazo de

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cinco dias, salvo motivo de força maior.

Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado até o dobro,mediante comprovada justificação.

Art. 25 - Os atos do processo devem realizar-se preferencialmente na sede do órgão,cientificando-se o interessado se outro for o local de realização.

CAPÍTULO IX DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS

Art. 26 - O órgão competente perante o qual tramita o processo administrativodeterminará a intimação do interessado para ciência de decisão ou a efetivação de diligências.

§ 1º - A intimação deverá conter:

I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade administrativa;

II - finalidade da intimação;

III - data, hora e local em que deve comparecer;

IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar;

V - informação da continuidade do processo independentemente do seucomparecimento;

VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.

§ 2º - A intimação observará a antecedência mínima de três dias úteis quanto à data decomparecimento.

§ 3º - A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por via postal com avisode recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado.

§ 4º - No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com domicilioindefinido, a intimação deve ser efetuada por meio de publicação oficial.

§ 5º - As intimações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais,mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade.

Art. 27 - O desatendimento da intimação não importa o reconhecimento da verdadedos fatos, nem a renúncia a direito pelo administrado.

Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garantido direito de ampladefesa ao interessado.

Art. 28 - Devem ser objeto de intimação os atos do processo que resultem para ointeressado em imposição de deveres, ônus, sanções ou restrição ao exercício de direitos eatividades e os atos de outra natureza, de seu interesse.

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CAPÍTULO X DA INSTRUÇÃO

Art. 29 - As atividades de instrução destinadas a averiguar e comprovar os dadosnecessários à tomada de decisão realizam-se de ofício ou mediante impulsão do órgão

responsável pelo processo, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuaçõesprobatórias.

§ 1º - O órgão competente para a instrução fará constar dos autos os dados necessáriosà decisão do processo.

§ 2º - Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados devem realizar-se domodo menos oneroso para estes.

Art. 30 - São inadmissíveis no processo administrativo as provas obtidas por meiosilícitos.

Art. 31 - Quando a matéria do processo envolver assunto de interesse geral, o órgãocompetente poderá, mediante despacho motivado, abrir período de consulta pública paramanifestação de terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para a parteinteressada.

§ 1º - A abertura da consulta pública será objeto de divulgação pelos meios oficiais, afim de que pessoas físicas ou jurídicas possam examinar os autos, fixando-se prazo paraoferecimento de alegações escritas.

§ 2º - O comparecimento à consulta pública não confere, por si, a condição deinteressado do processo, mas confere o direito de obter da Administração respostafundamentada, que poderá ser comum a todas as alegações substancialmente iguais.

Art. 32 - Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade, diante da relevância daquestão, poderá ser realizada audiência pública para debates sobre a matéria do processo.

Art. 33 - Os órgãos e entidades administrativas, em matéria relevante, poderãoestabelecer outros meios de participação de administrados, diretamente ou por meio deorganizações e associações legalmente reconhecidas.

Art. 34 - Os resultados da consulta e audiência pública e de outros meios departicipação de administrados deverão ser apresentados com a indicação do procedimentoadotado.

Art. 35 - Quando necessária a instrução do processo, a audiência de outros órgãos ouentidades administrativas poderá ser realizada em reunião conjunta, com a participação detitulares ou representantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a ser juntadaaos autos.

Art. 36 - Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo dodever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto no art. 37 desta Lei.

Art. 37 - Quando o interessado declarar que fatos e dados estão registrados emdocumentos existentes na própria Administração responsável pelo processo ou em outro órgão

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administrativo, o órgão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dosdocumentos ou das respectivas cópias.

Art. 38 - O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada da decisão, juntardocumentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações referentes

à matéria objeto do processo.

§ 1º - Os elementos probatórios deverão ser considerados na motivação do relatório eda decisão.

§ 2º - Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provaspropostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ouprotelatórias.

Art. 39 - Quando for necessária a prestação de informações ou a apresentação deprovas pelos interessados ou terceiros, serão expedidas intimações para esse fim,mencionando-se data, prazo, forma e condições de atendimento.

Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o órgão competente, seentender relevante a matéria, suprir de ofício a omissão, não se eximindo de proferir adecisão.

Art. 40 - Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao interessado foremnecessários à apreciação de pedido formulado, o não atendimento no prazo fixado pelaAdministração para a respectiva apresentação implicará arquivamento do processo.

Art. 41 - Os interessados serão intimados de prova ou diligência ordenada, comantecedência mínima de três dias úteis, mencionando-se data, hora e local de realização.

Art. 42 - Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão consultivo, o parecerdeverá ser emitido no prazo máximo de quinze dias, salvo norma especial ou comprovadanecessidade de maior prazo.

§ 1º - Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emitido no prazo fixado, oprocesso não terá seguimento até a respectiva apresentação, responsabilizando-se quem dercausa ao atraso.

§ 2º - Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser emitido no prazofixado, o processo poderá ter prosseguimento e ser decidido com sua dispensa, sem prejuízoda responsabilidade de quem se omitiu no atendimento.

Art. 43 - Quando por disposição de ato normativo devam ser previamente obtidoslaudos técnicos de órgãos administrativos e estes não cumprirem o encargo no prazoassinalado, o órgão responsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro órgãodotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes.

Art. 44 - Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de manifestar-se no prazomáximo de dez dias, salvo se outro prazo for legalmente fixado.

Art. 45 - Em caso de risco iminente, a Administração Pública poderá motivadamenteadotar providências acauteladoras sem a prévia manifestação do interessado.

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Art. 46 - Os interessados têm direito à vista do processo e a obter certidões ou cópiasreprográficas dos dados e documentos que o integram, ressalvados os dados e documentos deterceiros protegidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.

Art. 47 - O órgão de instrução que não for competente para emitir a decisão final

elaborará relatório indicando o pedido inicial, o conteúdo das fases do procedimento eformulará proposta de decisão, objetivamente justificada, encaminhando o processo àautoridade competente.

CAPÍTULO XI DO DEVER DE DECIDIR 

Art. 48 - A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processosadministrativos e sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência.

Art. 49 - Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o

prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamentemotivada.

CAPÍTULO XII DA MOTIVAÇÃO

Art. 50 - Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos edos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem depareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de atoadministrativo.

§ 1º - A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir emdeclaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisõesou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

§ 2° - Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meiomecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ougarantia dos interessados.

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§ 3º - A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões oraisconstará da respectiva ata ou de termo escrito.

CAPÍTULO XIII DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO DO

PROCESSO

Art. 51 - O interessado poderá, mediante manifestação escrita, desistir total ouparcialmente do pedido formulado ou, ainda, renunciar a direitos disponíveis.

§ 1º - Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia atinge somente quem atenha formulado.

§ 2º - A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, não prejudica oprosseguimento do processo, se a Administração considerar que o interesse público assim oexige.

Art. 52 - O órgão competente poderá declarar extinto o processo quando exaurida suafinalidade ou o objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por fatosuperveniente.

CAPÍTULO XIV DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO

Art. 53 - A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício delegalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados osdireitos adquiridos.

Art. 54 - O direito da Administração de anular os atos administrativos de quedecorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data emque foram praticados, salvo comprovada má-fé.

§ 1º - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á dapercepção do primeiro pagamento.

§ 2º - Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridadeadministrativa que importe impugnação à validade do ato.

Art. 55 - Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse públiconem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidadospela própria Administração.

CAPÍTULO XV DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO

Art. 56 - Das decisões administrativas cabe recurso, em face de razões de legalidade ede mérito.

§ 1º - O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, se não a

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reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará a autoridade superior.

§ 2º - Salvo exigência legal, a interposição de recurso administrativo independe decaução.

Art. 57 - O recurso administrativo tramitará no máximo por três instânciasadministrativas, salvo disposição legal diversa.

Art. 58 - Têm legitimidade para interpor recurso administrativo:

I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo;

II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela decisãorecorrida;

III - as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e interessescoletivos;

IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses difusos.

Art. 59 - Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo para interposição derecurso administrativo, contado a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida.

§ 1º - Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso administrativo deverá serdecidido no prazo máximo de trinta dias, a partir do recebimento dos autos pelo órgãocompetente.

§ 2º - O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser prorrogado por igualperíodo, ante justificativa explícita.

Art. 60 - O recurso interpõe-se por meio de requerimento no qual o recorrente deveráexpor os fundamentos do pedido de reexame, podendo juntar os documentos que julgarconvenientes.

Art. 61 - Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito suspensivo.

Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparaçãodecorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente superior poderá, de ofícioou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso.

Art. 62 - Interposto o recurso, o órgão competente para dele conhecer deverá intimar

os demais interessados para que, no prazo de cinco dias úteis, apresentem alegações.Art. 63 - O recurso não será conhecido quando interposto:

I - fora do prazo;

II - perante órgão incompetente;

III - por quem não seja legitimado;

IV - após exaurida a esfera administrativa.

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§ 1º - Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a autoridade competente,sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.

§ 2º - O não conhecimento do recurso não impede a Administração de rever de ofícioo ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão administrativa.

Art. 64 - O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar,anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de suacompetência.

Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer gravame àsituação do recorrente, este deverá ser cientificado para que formule suas alegações antes dadecisão.

Art. 65 - Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, aqualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstânciasrelevantes suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada.

Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento da sanção.

CAPÍTULO XVI DOS PRAZOS

Art. 66 - Os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial,excluindo-se da contagem o dia do começo e incluindo-se o do vencimento.

§ 1º - Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o vencimentocair em dia em que não houver expediente ou este for encerrado antes da hora normal.

§ 2º - Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo.

§ 3º - Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a data. Se no mês dovencimento não houver o dia equivalente àquele do início do prazo, tem-se como termo oultimo dia do mês.

Art. 67 - Salvo motivo de força maior devidamente comprovado, os prazosprocessuais não se suspendem.

CAPÍTULO XVII DAS SANÇÕES

Art. 68 - As sanções, a serem aplicadas por autoridade competente, terão naturezapecuniária ou consistirão em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado sempre o direitode defesa.

CAPÍTULO XVIII DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 69 - Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei

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própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Art. 70 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília 29 de janeiro de 1999; 178º da Independência e 111º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Renan Calheiros Paulo Paiva

OBSERVAÇÃO: Publicada no Diário Oficial da União em 1º de fevereiro de 1999.