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Panorama sobre Alimentos e Sustentabilidade SIBELLY RESCH Universidade Municipal de São Caetano do Sul [email protected] RAQUEL DA SILVA PEREIRA USCS - Universidade Municipal de São Caetano do Sul [email protected]

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Panorama sobre Alimentos e Sustentabilidade

 

 

SIBELLY RESCHUniversidade Municipal de São Caetano do [email protected] RAQUEL DA SILVA PEREIRAUSCS - Universidade Municipal de São Caetano do [email protected] 

 

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Panorama sobre Alimentos e Sustentabilidade

Resumo

No cenário atual, são muitos os problemas que afligem a sociedade e, dentre eles, a

produção e o fornecimento de alimentos. Esse trabalho tem como objetivo identificar e

analisar os principais temas de pesquisa que relacionam sustentabilidade e alimentos, a

partir dos trabalhos publicados na base de dados SCOPUS nos últimos cinco anos

(2009-2013). Para atingir o propósito desse estudo utilizou-se o software VOSviewer,

um programa que possibilita a criação de mapas, utilizando a técnica de mapeamento e

agrupamento a partir de um corpo de texto. A pesquisa resultou em 359 artigos.

Realizou-se o processo de análise a partir do título, resumo e palavras-chaves desses

documentos. Criou-se um mapa de palavras-chaves, um mapa de densidade e um mapa

com o agrupamento das palavras por clusters. Os resultados apontaram uma ampla

agenda de pesquisa para a agricultura e produção de alimentos no Brasil.

Internacionalmente, as pesquisas que relacionam sustentabilidade e alimentos seguem

por diferentes rumos: agricultura, indústria, mercado e consumo; nutrição e saúde; e

urbanismo e alimentação, sendo a segurança alimentar um conceito central. O estudo

realizado sinaliza oportunidades de pesquisa e de mercado, bem como indica áreas

estratégicas para as políticas públicas no contexto brasileiro.

Palavras-chave: sustentabilidade; alimentos; agricultura.

Overview of Food and Sustainability

Abstract

In the present scenario, there are many problems afflicting society and, among them, the

production and supply of food. This paper aims to identify and analyze the main

research topics that relate sustainability and food, from papers published in the

SCOPUS database in the last five years (2009-2013). To achieve the aim of this study

was used the VOSviewer software, a program that allows the creation of maps, using

the technique of mapping and clustering from a body of text. The search resulted in 359

articles. It was carried out the analysis process from the title, abstract and keywords of

the documents. It was created one map of keywords, one map of density and one map

with the words grouping by clusters. The results indicated a broad research agenda for

agriculture and food production in Brazil. Internationally, the researchs linking

sustainability and food by following different paths: agriculture, industry, market and

consumption; nutrition and health; and urbanism and feeding, and food safety as a

central concept. The study indicates the opportunities for research and market as well as

strategic areas for public policies in the Brazilian context.

Keywords: sustainability; food; agriculture.

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1 Introdução

O ser humano se deu conta de que o planeta Terra é um sistema. Esse movimento não

ocorreu da noite para o dia. Ao contrário, há alguns anos começou-se a perceber as

consequências das ações dos homens sobre o meio ambiente, como detectou Rachel

Carson em 1962, no documento denominado Primavera Silenciosa. Com a compreensão

da importância do meio ambiente para a vida na Terra, a dimensão ambiental foi

incorporada ao que se denomina atualmente como sustentabilidade.

As questões sociais também emergiram com maior força nas últimas décadas. O

processo de industrialização fez com que grande parte da população se tornasse

operária, modificando substancialmente seu modo vida. A intensa migração para a zona

urbana ocasionou inúmeros problemas sociais, dentre eles a própria condição de

trabalho. Crescem, a partir de então, os movimentos sociais incumbidos de lutar pela

garantia de direitos. Por outro lado, há um processo de conscientização por parte dos

cidadãos-consumidores e nesse cenário, a dimensão social também é incluída na

perspectiva de sustentabilidade que vem se configurando nas últimas décadas.

A concepção de sustentabilidade incorporou as dimensões social e ambiental. A

percepção da necessidade de uma forma de desenvolvimento que seja mais sustentável,

amplamente divulgada a partir de 1987, com o Relatório Brundtland, especialmente

após a ECO 92, aponta a necessidade de se pensar o desenvolvimento não só em termos

econômicos, como naquele período e até hoje é compreendido por muitos. Nesse

sentido, o equilíbrio das dimensões econômica, social e ambiental forma a base da

concepção do que se entende por sustentabilidade no contexto desse estudo.

Desde então, a sustentabilidade tem sido discutida, debatida e as mais diferentes

ações tem sido desenvolvidas por grande parte da sociedade, das organizações públicas,

privadas e do terceiro setor. Cabe ressaltar que não se tem uma visão ingênua acerca

desse movimento, mas, não se podem negar os avanços em distintos campos e setores,

sejam eles provenientes da cultura, da tecnologia, da legislação ou da gestão. Todavia,

os desafios a serem superados são enormes e resultantes de um processo histórico, por

isso não serão resolvidos no curto prazo.

No contexto atual, são muitos os problemas que afligem a sociedade e dentre

eles, a produção e o acesso aos alimentos. Em 2050, estima-se que a população mundial

chegará a 9.6 bilhões de pessoas, com o aumento da expectativa de vida para 76 anos

(ONU, 2013).

O processo de urbanização continuará crescendo nos próximos anos e

aproximadamente 70% da população mundial viverá em áreas urbanas. A renda per

capita crescerá, especialmente nos países em desenvolvimento. As mudanças climáticas

poderão impactar na produção de alimentos, fatores que pressionam o sistema

agroalimentar. A FAOi projetou em 2009 que será necessário aumentar a produção de

alimentos em 70% até 2050.

O cenário atual demanda mais do que a elevação da produção mundial de

alimentos. O Comitê para a Segurança Alimentar Mundial (CFSii, 2013) destaca que

atualmente cerca de 925 milhões de pessoas sofrem com a fome e mais de 200 milhões

de crianças menores de cinco anos de idade sofrem com a desnutrição. Trata-se,

portanto, de garantir a segurança alimentar e nutricional, ou seja, deve-se compor a dieta

com alimentos nutritivos que supram as necessidades do organismo garantindo uma

vida saudável (CFS, 2013).

No Brasil, a alimentação foi incorporada ao rol de Direitos Sociais expressos no

Artigo 6° da Constituição Federal, pela Emenda Constitucional n° 64, de 04 de fevereiro

de 2010 (BRASIL, 2010). Ademais, para o país, o setor agroalimentar é fundamental

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para a economia. O Brasil é o 3° maior exportador de produtos agrícolas e um dos mais

importantes produtores de alimentos do cenário mundial (MCT, 2010).

Considerando a conjuntura exposta, entende-se como fundamental para a

comunidade política, científica e empresarial conhecer as tendências de discussões e

negócios relacionados à sustentabilidade e à produção de alimentos. Nesse sentido, o

presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar os principais temas de

pesquisa relacionados à sustentabilidade e alimentos, a partir dos trabalhos publicados

na base de dados SCOPUS nos últimos cinco anos (2009-2013), com o aporte do

software VOSvieweriii.

2 Revisão Bibliográfica

Considerando a concepção de desenvolvimento sustentável publicado pelo Relatório

Brundtland como “... aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a

possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”

(BRUNDTLAND, 1987, p. 46), pode-se vislumbrar inúmeras frentes de pesquisa

relacionadas à produção e ao consumo de alimentos, englobando as discussões no

contexto da agricultura, da gestão pré e pós colheita, da indústria de alimentos, seus

canais de distribuição, embalagens, do próprio consumo de alimentos relacionado à

segurança, à nutrição e à saúde, ao desperdício, e sobre o descarte dos resíduos, ou seja,

do ciclo de vida de um alimento e de sua embalagem. Nesse sentido, a revisão

bibliográfica realizada buscou identificar trabalhos publicados no Brasil que abordem

algumas dessas questões.

Em relação aos impactos da agricultura ao ambiente, uma das preocupações que

se tem é o manejo das terras cultiváveis. No agropolo de Mossoró/Assú – RN, em

fazendas produtoras de frutas, Moura e Oliveira (2013) detectaram diversos impactos

adversos no processo do cultivo das frutas. O desequilíbrio da fauna e da flora tem entre

seus fatores causadores o uso de defensivos agrícolas, que eliminam diversas espécies

de plantas, sejam maléficas ou não ao cultivo.

Outro problema detectado pelas autoras é a monocultura e o cultivo intensivo,

ambos os problemas impactam na fertilidade do solo, podendo ocasionar um

esgotamento dos nutrientes, um possível processo erosivo que pode levar a

desertificação, e até mesmo diminuir a resistência natural das plantas a doenças e

pragas.

Lopes (2014), presidente da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária), observa que aproximadamente 60% do crescimento da produção

explica-se pelo aumento da produtividade. O Brasil avançou na transformação do solo,

trabalhando com a questão da erosão e da fertilidade. Entre os desafios à agricultura e à

produção de alimentos, destacam-se o crescimento vertical, ou seja, melhorar a

eficiência da produção, a descarbornização dos processos agrícolas, a automação dos

processos agrícolas, a segurança nutricional, a assimetria no fornecimento de alimentos

e a segurança biológica, cujo risco aumenta com a maior circulação de alimentos no

mundo. Ressalta ainda que um dos principais desafios do país é a intensificação

sustentável. Trata-se de diversificar o uso do solo entremeando árvores, lavoura e pasto.

Os pesquisadores brasileiros estão trabalhando no desenvolvimento de culturas para

responder às mudanças do clima. A biotecnologia e a nanotecnologia trazem potencial

inovador, mas torna-se necessário trabalhar com a lógica de sistema (LOPES, 2014).

Claudino e Talamini (2013, p. 78), destacam a importância do uso de

ferramentas como a Análise do Ciclo de Vida (ACV) frente às exigências da sociedade

para a redução dos impactos ambientais, visando uma produção sustentável “limpa”,

além da tendência mundial às rotulagens e certificações que incluam critérios

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ambientais. A “ACV é uma técnica para avaliar o desempenho ambiental de

determinado produto incluindo a identificação e a quantificação da energia e das

matérias-primas utilizadas no seu ciclo de fabricação”. No contexto analisado, do

agronegócio, observa-se que esses frameworks podem contribuir na avaliação dos

efeitos da produção agrícola e da agroindústria para o meio ambiente. Concluiram,

nesse estudo, que a Análise do Ciclo de Vida (ACV) é pouco utilizada como ferramenta

no agronegócio brasileiro e também pouco estudada pela academia.

Nitzke et al (2012) trazem a tona à discussão acerca do consumo de energia na

produção de alimentos. Os autores apontam a tendência que cresce nos Estados Unidos

e na Europa, da valorização da “comida local”, objetivando diminuir os impactos

ambientais decorrentes do transporte e comercialização dos alimentos, corroborando

com o Relatório Stern (2007). Além da questão do transporte, o processo de

industrialização dos alimentos consome uma grande quantidade de energia, quando

comparado à produção de frutas, grãos e cereais, que por sua vez são muito mais

benéficos ao organismo.

Rodrigues, Zaneti e Laranjeira (2011), reforçam a visão de que é necessário

utilizar produtos industrializados com moderação e apontam a importância de valorizar

os produtos regionais e a culinária tradicional. No relato dos resultados de um projeto de

extensão que busca promover a alimentação saudável, aliada à educação ambiental,

realizado pela UNB no período de 2007-2011, esses autores apontam a necessidade de

ações intersetoriais, por meio de políticas públicas.

O direito à alimentação, conforme mencionado anteriormente, é

constitucionalmente garantido no Brasil. É, portanto, responsabilidade de todos os entes

da federação garantirem não somente o acesso a alimentação, mas também

implementarem políticas públicas que contribuam para que a alimentação seja

adequada. Além disso, os problemas decorrentes da má alimentação impactam

diretamente na saúde, como é o caso da diabetes, da obesidade, do colesterol, entre

outros. Por isso, a atuação do Estado deve se estender para legislar e regular a produção

de alimentos mais saudáveis, como foi o caso da medida estabelecida para o uso do

sódio nos alimentos (NITZKE et al , 2012).

Em relação à insegurança alimentar, no caso brasileiro, Rolim et al (2014)

argumentam que não se trata de insuficiência de oferta de alimentos. A questão continua

sendo a desigualdade social, econômica e política no país, resultado de um processo

histórico. De acordo com Belik (2014), 8% da população brasileira encontra-se em

situação de subnutrição, ou seja, 16 milhões de pessoas.

Sob diferente prisma, existe uma preocupação com a contaminação dos

alimentos. Anualmente, ocorrem “2,2 milhões de mortes anuais em função da ingestão

de alimentos e/ou água com contaminação”, segundo dados da Organização Mundial de

Saúde (OMS, 2006 apud NITZKE et al, 2012). McKenna (s/d, s/p) frisa que o Brasil

não possui estatísticas na área de contaminação alimentar, porém, trata-se de um sério

problema de saúde pública, pois “anualmente nos Estados Unidos há 48 milhões de

casos, 128 mil internações e 3 mil óbitos relacionados a elas segundo estimativa feita

em 2011 pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças”.

As consequências de longo prazo da uma contaminação ou intoxicação alimentar

ainda são pouco estudadas, segundo McKenna (s/d). Porém, já existem complicações

detectadas, entre as quais estão: artrite reativa, afecções do trato urinário e danos

oculares, decorrentes de infecções por Salmonella e Shigella, colite ulcerativa, resultado

da contaminação por Campylobacter; e insuficiência renal e diabetes, consequência de

intoxicações causadas por Escherichia coli. Shinohara et al (2008) sustentam que

ocorreu um aumento da incidência da salmonelose, causada pela contaminação dos

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alimentos com a bactéria Salmonella – “um dos microorganismos mais amplamente

distribuídos na natureza” (idem, p. 1675). Além das bactérias, Morillo e Timenetsky

(2011) ressaltam que nas últimas décadas o número de agentes virais associados à

gastroenterites tem aumentado progressivamente. A proliferação de vírus, bactérias e

parasitas está relacionada às condições de higiene e saneamento da população. Em

2010, 6,12% da população brasileira residia em domicílios com abastecimento de água e

esgotamento sanitário inadequado. Em alguns estados, como Pará e Acre esse

percentual se aproxima de 30% da população (ATLAS BRASIL, 2013).

Para Portilho, Castañeda e Castro (2011), um novo movimento eclodiu frente à

insegurança gerada por doenças como a vaca louca, febre aftosa, gripe suína, entre

outros. Defendem que o consumo dos alimentos é uma forma de ação política, na

medida em que as ações e escolhas dos consumidores podem influenciar rumos globais.

Nesse sentido, o consumo de alimentos passa a incorporar valores como solidariedade e

responsabilidade social, ao compreenderem-se as consequências ambientais e sociais

resultantes do processo de consumo. Para as autoras, há uma lacuna de pesquisa no

Brasil acerca dessa temática, especialmente porque há diversos movimentos em curso,

como “redes de produtores e consumidores, associações de compras coletivas, boicotes,

buycotts e, ainda, a adoção do consumo político por diversos movimentos sociais [...],

por exemplo, os movimentos de economia solidária e comércio justo” (idem, p.105).

Os consumidores estão buscando, cada vez mais, identificar características

“como a rastreabilidade e a garantia de origem, e os certificados de sistemas de gestão

de qualidade e segurança” (NITZKE et al, 2012, p.8), bem como muitos países exigem

essa rastreabilidade dos alimentos para as importações. Entretanto, como discutem

Nitzke et al (2012), o consumidor brasileiro enfrenta dificuldades na busca de

informações para tomada de decisão sobre a escolha de produtos. A rotulagem dos

alimentos no Brasil é regulada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância

Sanitária), que normatiza questões como segurança e riscos, propriedades funcionais e

benefícios à saúde oferecidos pelos alimentos, questões comumente expostas nas

embalagens como atrativo para venda dos produtos. Dessa forma, objetiva-se dar

maiores subsídios aos consumidores para que possam tomar melhores decisões de

consumo para sua saúde. A despeito dessas exigências em relação à rotulagem dos

produtos, os consumidores muitas vezes não conseguem compreender as informações

pelo modo como são apresentadas (NITZKE et al, 2012).

Percebe-se, nesse contexto, uma ampla agenda de pesquisa na área da agricultura

e da produção de alimentos no Brasil, podendo abranger diferentes aspectos da

produção e do consumo de alimentos, bem como dos resíduos decorrentes desse

processo. Observou-se no levantamento bibliográfico que se trata de um tema ainda

incipiente no Brasil e a pesquisa realizada numa base internacional pode indicar

direções para a comunidade brasileira.

3 Metodologia

Para atingir o propósito desse estudo utilizou-se o software VOSviewer, um

programa criado por Eck e Waltman (2010), disponibilizado gratuitamente e que

possibilita a criação de mapas, utilizando a técnica de mapeamento e agrupamento. O

software destina-se, principalmente, à análise bibliométrica de grandes volumes de

dados e, diferentemente de outros programas, a ênfase se dá na representação gráfica do

mapa. Ele pode, por exemplo, ser usado para criar mapas de publicações, autores ou

revistas com base em uma citação, cocitação, ou rede de acoplamento bibliográfico ou

ainda, para criar mapas de palavras-chave com base em uma rede de coocorrência, que é

a proposta desse estudo.

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O software desenvolve uma análise por meio de um algoritmo de mapeamento –

VOS – que busca minimizar a distância entre elementos semelhantes. A similaridade é

definida como a força de associação da coocorrência de um par de elementos ponderada

pela coocorrência de cada elementoiv. A coocorrência ocorre quando dois termos estão

presentes simultaneamente numa linha de análise. Depois de calculados os scores para

cada coocorrência são selecionados os termos mais relevantes. No caso de palavras

similares (exemplo: livraria e livrarias), é selecionada somente a palavra de maior score

em termos de relevância (ECK, WALTMAN, 2010).

Para identificar as tendências de pesquisa que relacionam a sustentabilidade com

o termo alimentos, realizou-se uma busca na Base de Dados Scopus, atualmente

composta por 2917 periódicos das diferentes áreas do conhecimento. A opção pela

utilização dessa base se deu pela disponibilização dos resumos, além dos títulos e

palavras-chave, permitindo a construção de um mapa a partir dos termos mais

relevantes.

A busca foi realizada utilizando as palavras-chave: food no título e sustainability

no resumo, por se tratar de um estudo exploratório. Optou-se pela pesquisa de artigos

publicados no período de 2009 a 2013, possibilitando a análise das discussões mais

recentes, com restrição para a busca somente em artigos.

Os resultados da busca (359 documentos) foram exportados com a delimitação

de título, palavras-chave e o resumo. Os arquivos foram exportados no formato “.ris” e

posteriormente convertidos para “.doc” com o auxílio do software Bibexcel. Após esse

procedimento, o arquivo pode ser inserido no software VOSviewer. Utilizou-se a opção

criação de mapa baseado num corpo de texto.

O processo de análise no VOSviewer demanda a escolha dos parâmetros de

corte. No período analisado optou-se pela seleção de termos com no mínimo 10

ocorrências, resultando em 343 termos. O cálculo do escore apresentou 205 termos

relevantes para o período analisado. Dentre esses, selecionaram-se os termos mais

relevantes para a discussão. Os resultados são apresentados na próxima sessão.

4 Apresentação e Análise dos Resultados

A pesquisa realizada identificou 359 documentos, distribuídos anualmente conforme

Tabela 1. Observa-se um crescimento no número de publicações, o que pode ser

considerado um indicativo do interesse da comunidade científica em relacionar a

produção de alimentos com o movimento em prol da sustentabilidade. Tabela 1 - Produção Científica Anual

Ano Total de Publicações

2013 100

2012 67

2011 88

2010 55

2009 49

Fonte: dados da pesquisa, a partir de Scopus (2009-2013).

A produção científica relacionada com esses termos, conforme se observa na

Figura 1 está centrada nos Estados Unidos e no Reino Unido, que, juntos com Itália,

Canadá e Holanda, somam 54% da produção científica publicada nessa base de dadosv.

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Figura 1- Produção Científica por Países

Fonte: dados da pesquisa, a partir de Scopus (2009-2013).

O resultado do processo de mapeamento dos termos mais relevantes é

apresentado na Figura 2. Visualiza-se a diversidade de conexões entre a sustentabilidade

e os alimentos, expressa por meio dos mais diversos termos: segurança alimentar –

termo de maior destaque - produção de alimentos, fornecimento de alimentos, nutrição,

dieta, indicadores, mercado de alimentos, consumo de alimentos, indústria de alimentos,

eficiência, biodiversidade, consumo sustentável, desperdício, educação, comportamento,

atitude, alimentação saudável, consumo local, governo, ciclo de vida, colheita, energia,

água, biocombustíveis, emissões, espécies, vizinhanças, adultos, crianças, humanos,

obesidade, produção de culturas, seca, agricultura urbana, teia alimentar, promoção da

saúde, países, entre outros. Figura 2 - Mapeamento de Termos Relevantes

Fonte: elaborado pelos autores com dados da Base Scopus, com o aporte do software BibExcel

para preparação dos dados e do software VOSviewer para a geração do mapa.

Na Figura 3 pode-se observar a densidade dos termos. A cor vermelha indica

maior densidade, seguida pela laranja, amarela, verde e azul. Destaca-se, portanto, a

segurança alimentar como o foco principal das discussões no período analisado.

Observa-se que a produção e o abastecimento dos alimentos também tem recebido

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grande atenção nos estudos internacionais. Destaca-se ainda a alimentação local, o ciclo

de vida, a nutrição e os indicadores, com menor intensidade nesse contexto de

discussão. Figura 3 - Densidade dos termos

Fonte: elaborado pelos autores com dados da Base Scopus, com o aporte do BibExcel para

preparação dos dados e do software VOSviewer para cálculo da densidade e proximidade das palavras-

chave.

Além da análise da densidade dos termos, o software disponibiliza o

agrupamento em cluster de palavras por força de associação. Na Figura 4 observam-se

os clusters formados pela força de associação dos elementos, cuja soma das distâncias

quadradas entre os pares de elementos foram minimizadas, obtendo a similaridade entre

os pares.

Figura 4 - Clusters

Fonte: elaborado pelos autores com dados da Base Scopus, com o aporte do software BibExcel

para preparação dos dados e do software VOSviewer para cálculo da densidade e proximidade das

palavras-chave.

No cluster vermelho, a palavra central é segurança alimentar. Num contexto

amplo, o conceito de segurança alimentar é formado por questões como disponibilidade,

acessibilidade e adequação, que por sua vez pode ser compreendida tanto em termos de

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nutrição como também de segurança em relação à contaminação de alimentos (SNEYD,

2013).

As discussões em torno desse conceito podem seguir em diferentes direções. No

contexto das correlações estabelecidas no processo de análise, observa-se que esse

cluster retrata as discussões mais relacionadas à produção de alimentos, ligadas à

agricultura, ao rendimento e a eficiência das culturas e aos recursos necessários à sua

produção, tais como água e energia, condições para produção, em que se destaca a seca,

e implicações relacionadas à expansão das terras cultivadas e do uso de defensivos

agrícolas, à biodiversidade e à preservação de espécies, questões compreendidas na

perspectiva de teia alimentar. Também aparece nesse conjunto a discussão sobre os

serviços de ecossistema que a agricultura pode oferecer (CLARK e NICHOLAS, 2013).

A água é um recurso natural importante para toda a sociedade e sua escassez traz

preocupações à agricultura, que por um lado carece de irrigação em muitos locais

(BRAUMAN, SIEBERT e FOLEY, 2013) e por outro, é contaminada pelo uso de

defensivos agrícolas (MOURA e OLIVEIRA, 2013). A China, por exemplo, a despeito

do aumento de 20% na sua produção de alimentos, sofre sérios problemas de

contaminação da água e também do ar, em decorrência do uso de defensivos agrícolas

(LI et al, 2013). A água também é um recurso fundamental no processo de

industrialização de alimentos (MUSHTAQ et al, 2009).

No contexto da produção de alimentos pela agricultura, a energia é discutida em

termos de disputa das terras cultiváveis para produção de biocombustíveis ou de

alimentos (FAO, 2012), mas também é analisada pela perspectiva do seu consumo na

produção de alimentos (GEERAERT, 2013).

A biodiversidade impacta naturalmente a produção de alimentos. Um exemplo

disso é o serviço ambiental de polinização realizado pelas abelhas. De acordo com

Fonseca (2014 apud TOLEDO, 2014), aproximadamente 75% da alimentação humana

depende direta ou indiretamente do processo de polinização animal. O crescimento da

produção agrícola demanda aumento nos serviços de polinização das abelhas.

Entretanto, o que tem se observado é um desaparecimento das colônias. No hemisfério

Norte, aproximadamente 30% das colônias desaparece a cada ano. O uso de herbicidas e

pesticidas, desmatamento e ocupação do solo por extensas monoculturas são fatores que

impelem o desaparecimento das abelhas (TOLEDO, 2014).

O cluster delimitado pela cor verde demonstra uma discussão centrada na

produção dos alimentos, na indústria de alimentos, no mercado de alimentos e no

consumo de alimentos. As discussões realizadas no âmbito internacional indicam

preocupações em diferentes frentes, corroborando as questões indicadas por Nitzke et al

(2012).

Em relação à rotulagem, por exemplo, Engels, Hansmann e Scholz (2010)

desenvolveram um estudo para analisar a aceitação do mercado para um rótulo que

incorpore valores ambientais, econômicos e sociais do produto, identificando que essas

informações podem influenciar consideravelmente os padrões de consumo, facilitando a

comparação entre as opções oferecidas pelo mercado. Gladema e Oglethorpe (2011)

também fizeram análise de rotulagem, porém analisaram a inclusão da pegada de

carbono no Reino Unido e ao final indicam a importância dessas informações para o

processo de tomada de decisão do consumidor, que precisa ser educado para entender as

informações constantes no rótulo corroborando com a análise feita por NITZKE et al

(2012).

Sob diferente perspectiva, White, Gallegos e Hundloe (2011) estudaram a

influência dos padrões estéticos dos alimentos, mais especificamente das bananas, os

resíduos gerados em decorrência desses padrões e os efeitos desses padrões no sistema

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alimentar e nutricional australiano. Identificaram que a maioria dos resíduos de banana

é causada por padrões estéticos arbitrários definidos pelos varejistas, resultando em

perdas nutricionais, ambientais e econômicas significativas.

No cenário de escassez de alimentos, o desperdício deve ser discutido e

combatido por toda a sociedade. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para

Agricultura e Alimentação) apontam que “1,3 bilhão de toneladas de alimentos são

perdidos ou desperdiçados por ano em todo o mundo – o equivalente a 30% de tudo o

que é produzido” (FREITAS, 2014, s/p.). Dentre os motivos levantados para o

desperdício está à estética dos alimentos. No Brasil, o percentual de desperdício é maior

no manuseio e no transporte, fatores responsáveis por 50% do total de alimentos

desperdiçados no país. Nas centrais de abastecimento e comercialização as perdas

somam 30% do total, supermercados e consumidores são responsáveis por 10% desse

prejuízo e no campo também 10% (FREITAS, 2014).

Ainda no contexto da produção de alimentos, o processo de industrialização está

integrado à ACV e à cadeia de abastecimento. A ACV busca identificar os efeitos

ambientais de um produto durante todo o seu ciclo. Dessa forma, devem-se analisar

também os resíduos descartados após o consumo e a reinserção desses resíduos na

cadeia produtiva. No Brasil, conforme Claudino e Talamini (2013), há carência de

estudos focados na ACV com enfoque na produção de alimentos.

Acrescenta-se, ainda, o incentivo ao consumo de alimento local (NITZKE et al,

2012). Existem diferentes razões para que se apoie o consumo de alimentos produzidos

no local, que vão desde a diminuição dos impactos ambientais referentes ao transporte,

até a geração de renda para a comunidade, o quê impacta nos aspectos sociais

(RODRIGUES, ZANETI e LARANJEIRA, 2011). Por sua vez, Svenfelt e Carlsson-

Kanyama (2010), buscaram identificar a conexão entre os consumidores e as bases de

recursos de que a produção de alimentos depende e ressaltam a necessidade de um papel

educativo para a população sobre o sistema alimentar local.

No cluster azul identifica-se uma tendência relacionada com a nutrição e com a

saúde tendo como discussões centrais a fome e da desnutrição, fato que possivelmente

guarda relação com o número de pessoas que sofrem com esses problemas. Para o CFS

(Committee for World Food Security) (2013), as questões centrais relacionadas com

essa mazela que atinge a sociedade são: fatores como estabilidade institucional,

governos fortes, prioridades políticas, financiamento da agricultura e políticas públicas

para lidar com a fome e a desnutrição. Esses exemplos ilustram como a governança é

afetada.

Também se destacam os problemas econômicos e de produção. Um exemplo

desse cenário é a desigualdade de renda que dificulta e até mesmo impede, o acesso aos

recursos, incluindo aos alimentos. A desigualdade também interfere na produção de

alimentos, já que pequenos agricultores nem sempre tem recursos para investir na sua

produção (CFS, 2013).

O acesso à tecnologia impacta na produção, não só na agricultura, mas também

na produção de alimentos. Num contexto de crescimento populacional, migração rural-

urbana e desigualdades, as questões demográficas e sociais se evidenciam como

relevantes para esse problema. As incertezas relacionadas com os fatores do clima e do

ambiente também influenciam na segurança alimentar, além da exposição a fatores de

risco, tais como degradação do solo, inundações, secas que são mais evidentes nas

comunidades mais vulneráveis (CFS, 2013).

O problema da fome e da miséria no mundo é central na agenda política dos

governos. Em 2000, ao se analisar os maiores problemas mundiais, a ONU estabeleceu

como principal objetivo das nações reduzirem para a metade a porcentagem de pessoas

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que sofre com a fome até 2015. Um relatório publicado em 2013 avaliou que a meta

estava próxima de ser alcançada. Entretanto, o panorama está longe de um cenário ideal,

pois 1,2 bilhões de pessoas ainda vivem em condição de extrema miséria (ONU, 2013).

Nesse cluster, as discussões expressam não somente a preocupação com a falta

de alimentos e de nutrientes que resultam em subnutrição, mas também com uma dieta

altamente calórica que resulta em obesidade, causando sérios problemas à saúde. Nesse

aspecto, não se trata do acesso ao alimento, mas à forma como consumimos os

alimentos. Portanto, o consumo de alimentos se relaciona ao comportamento do ser

humano no que tange à educação alimentar. Para Pezzana et al (2010), uma das

questões centrais para pensar sobre a sustentabilidade da saúde e o consumo de

alimentos é a educação para uma dieta saudável. A dieta e o estilo de vida estão

associados com diversas doenças, tais como câncer, doenças metabólicas, obesidade e

doenças neurodegenerativas.

No contexto brasileiro, a despeito da alimentação ser considerada como um

direito social, do país ter diminuído consideravelmente o percentual de pessoas que

vivem em condições de extrema pobreza e do cenário favorável à produção de

alimentos, observam-se muitos desafios para a garantia da segurança alimentar,

especialmente quando se considera a questão da nutrição. De acordo com a Sociedade

Brasileira de Endocrinologia e Metabologiavi o percentual de obesos aumentou de

42,7% em 2006 para 48,5% em 2011, enquanto dados da FAO (2012) apontam que,

apesar da redução da fome no país, o percentual de subnutridos no Brasil ainda é de

6,9%, ou seja, aproximadamente 14 milhões de pessoas em situação de subnutrição.

A saúde é uma dimensão importante da sustentabilidade, pois afeta diretamente

a qualidade de vida da sociedade. Numa perspectiva mais ampla, os problemas em

relação à nutrição pressionam o sistema de saúde contribuindo para a oneração do setor.

O cluster amarelo delimita a discussão de emissões, combustíveis e

biocombustíveis. O Brasil aparece em destaque nesse cluster possivelmente por ser um

dos principais produtores de biocombustíveis e um dos principais exportadores de

alimentos do mundo. Harvey e Pilgrim (2011) destacam a competição do uso da terra

para produção de energia proveniente dos biocombustíveis e de alimentos, num cenário

de mudanças climáticas. Há uma forte discussão sobre o impacto da produção de

biocombustíveis sobre o preço dos alimentos. Para os autores, é necessário regulamentar

a produção a partir do trilema energia-ambiente-sistema alimentar direcionando-a à

intensificação sustentável da agricultura. No Brasil, conforme destacou Lopes (2014) a

intensificação sustentável está sendo estimulada pela EMBRAPA.

O cluster roxo demonstra uma discussão ainda embrionária sobre agricultura

urbana. A urbanização ocorreu de modo intenso nos últimos anos. A vida na cidade se

desenvolveu sem a cultura da produção de alimentos na área urbana. Entretanto,

conforme destaca Besthorn (2013), a agricultura urbana, entendida como agricultura

vertical, tem sido discutida como uma possibilidade para as comunidades que tem

problemas de segurança alimentar. Nicholas e Clark (2013) afirmam que há um

potencial inexplorado da silvicultura urbana como contribuição para a sustentabilidade

urbana por meio do aumento da segurança alimentar e da multifuncionalidade da

paisagem, ou seja, o cultivo de árvores frutíferas nas cidades conformando o que

denominam como abordagem multifuncional, pois se reúne a agricultura urbana, a

arborização urbana e ainda os sistemas agroflorestais.

5 Considerações Finais

Nesse trabalho buscou-se um panorama das discussões realizadas no âmbito

acadêmico que estabelecem relação entre alimentos e sustentabilidade. A partir da

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análise dos dados construíram-se três mapas. O primeiro deles indica os termos mais

utilizados. O segundo, indica a densidade dos termos, em que se destaca a segurança

alimentar. O terceiro mapa fornece os clusters formados pelo conjunto de dados

analisados. A despeito de a segurança alimentar ser alocada num cluster, a partir da

compreensão do conceito como disponibilidade, acessibilidade e adequação e da visão

de que se trata de tema pungente para a sociedade global, entende-se que esse é o

conceito central para se discutir e agir quando se trata de sustentabilidade e produção de

alimentos. A partir dessa compreensão, pode-se seguir em várias direções, sintetizadas

na Figura 5.

Figura 5 - Síntese das Tendências de Pesquisa em Alimentos e Sustentabilidade

Fonte: Desenvolvido pelos autores

No contexto brasileiro, conforme se destacou no decorrer desse estudo,

obtiveram-se progressos em algumas dessas áreas, porém, o país ainda tem muitos

desafios para superar em termos de pesquisas, de negócios e de políticas públicas.

No âmbito acadêmico, o processo de revisão bibliográfica realizado indicou que

as discussões sobre sustentabilidade e alimentos tem espaço para avançar em temas

como agricultura urbana, consumo local, análise do ciclo de vida, intensificação

sustentável da agricultura, biodiversidade, análise de políticas públicas que tenham

como foco a agricultura e a produção de alimentos, hábitos de consumo, entre outros.

No campo das políticas públicas, entende-se que o Brasil avançou em termos

quantitativos no que se refere ao fornecimento, pois diminuiu consideravelmente o número de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza e aumentou

consideravelmente a produção de alimentos por meio da eficiência produtiva. Porém,

precisa avançar nas políticas públicas que incluam a nutrição, ou seja, o fornecimento

adequado de nutrientes para a população, evitando a subnutrição e a obesidade.

Também se podem vislumbrar novas perspectivas para o mercado de

alimentação, pois conforme destacam Portilho, Castañeda e Castro (2011), o consumo

de alimentos se tornou uma ação política. A partir dessa concepção, o consumidor passa

a demandar inovações em produtos, processos e serviços, como é o caso da rotulagem

de alimentos. Considerando os aspectos nutricionais, relacionados à saúde da

população, negócios que visem fornecer uma alimentação mais saudável deverão

conquistar cada vez mais mercados.

Vislumbra-se, portanto, diversas oportunidades para estudos futuros que se

aprofundem sobre essas temáticas. Em algumas áreas, como a contaminação alimentar,

é necessário consolidar sistemas de indicadores que possam subsidiar análises sobre o

contexto brasileiro.

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