palavras sofridas

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TÍTULO DA OBRA : PALAVRAS SOFRIDAS AUTORA : MÓNICA GODINHO CUNHA PSEUDÓNIMO : VÉNUS

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Page 1: Palavras Sofridas

TÍTULO DA OBRA: PALAVRAS SOFRIDAS

AUTORA: MÓNICA GODINHO CUNHA

PSEUDÓNIMO: VÉNUS

Page 2: Palavras Sofridas

Este livro é dedicado ao meu marido e filhos.

Page 3: Palavras Sofridas

Se ao menos pudesse tirar a máscara.

Page 4: Palavras Sofridas

Se eu fosse uma palavra seria Amor

Se eu fosse uma palavra seria Amor

Para resgatar da noite os adormecidos

E dar alento aos que se sentem sós e perdidos.

Se eu fosse uma palavra seria Amor

Para ser vivida com intensidade

E revelar toda a verdade

Escondida no choro da saudade.

Se eu fosse uma palavra seria Amor

Para ser a eleita dos apaixonados

E influenciar todos os fados.

Para ser a musa dos poetas

E despertar a inspiração dos profetas.

Se eu fosse uma palavra seria Amor

Para derrubar as certezas

E despoletar os sonhos.

Se eu fosse uma palavra seria Amor

Para provocar desassossego

Para perturbar o silêncio

E inquietar a alma.

Page 5: Palavras Sofridas

Se eu fosse uma palavra seria amor

Para desafiar a morte e vencer.

Page 6: Palavras Sofridas

Palavra de poeta

O poeta vive de palavras

As palavras são o alimento do poeta.

O poeta dá corpo às palavras

As palavras são a alma do poeta.

O poeta atribui sentido às palavras

As palavras ganham vida nas mãos do poeta.

O poeta reinventa as palavras

As palavras são as musas do poeta.

O poeta sente-se órfão sem palavras

As palavras nascem do poeta.

O poeta ilumina as palavras

As palavras são o sol do poeta.

O poeta faz amor com as palavras

As palavras são as amantes do poeta.

Page 7: Palavras Sofridas

Os Outros

Não compreendem a ternura por detrás do olhar que ficou por trocar

Os outros não sabem quem sou

Não alcançam a verdade da lágrima que ficou por chorar

Os outros não sabem quem sou

Não imaginam a tristeza encerrada no sorriso por esboçar

Os outros não sabem quem sou

Não descortinam a desilusão do sonho que não chegou a ser

Os outros não sabem quem sou

Não adivinham a emoção contida na palavra que ficou por dizer

Os outros não sabem quem sou

Não vêem a beleza escondida no gesto que não chegou a acontecer

Os outros não sabem quem sou

Porque não querem

E nem desconfiam

Que eu também não.

Page 8: Palavras Sofridas

Paz podre

De olhos fechados

Finges que não vês

A pobreza no meio da rua

Em cada esquina a solidão.

De olhos fechados

Finges que não vês

O olhar desabitado de amor

No rosto sulcado pelo sofrimento.

De olhos fechados

Finges que não vês

O luto carregado do poeta

Esvaziado de sonhos.

De olhos fechados

Finges que não vês

A dura desilusão

Da esperança desvanecida.

Abre os olhos

Pára de fingir que não vês.

Page 9: Palavras Sofridas

Ser criança

Ser criança é ser genuíno

É ser espontaneamente verdadeiro

Ser criança é ser puro

É descobrir inocentemente cada emoção

Ser criança é ser alegre

É rir naturalmente de tudo

Ser criança é ser esperança

É trazer no olhar um novo mundo

Ser criança é ser livre

É brincar ao faz de conta

Ser criança é ser futuro

É ser hoje o amanhã.

Page 10: Palavras Sofridas

Quando o poema abana as asas, soltam-se melodias de luz.

Page 11: Palavras Sofridas

Amar-te em segredo não é fácil

Reprimir o desejo de ti

Afastar-te do pensamento

Despir-me da tua pele

Amar-te em segredo não é fácil

Silenciar o eco da tua voz

Apagar-te da memória do meu corpo

Arrancar-te dos meus sonhos

Amar-te em segredo não é fácil

Sofrer rindo da dor de não te ter

Amar negando o sentimento

Sufocar o grito da saudade

Amar-te em segredo não é fácil

Page 12: Palavras Sofridas

Quando a vida desilude

É a ti que regresso

À procura de paz.

Page 13: Palavras Sofridas

Não há amor

Não há amor

Na frieza do olhar escondido

Por mãos vazias

Não há amor

Na dureza da palavra perdida

Na memória esquecida

Não há amor

Na delicadeza do beijo liberto

Por um coração distante

Não há amor

Na pureza do gesto disfarçado

Pela ausência de emoção

Não há amor

Na beleza triste mergulhada

No canto da sereia

Não há amor

Na leveza da carícia solta

Pela indiferença do desejo.

Page 14: Palavras Sofridas

Eu e tu

Entre o mar e o céu

Num lugar incerto

As ondas vieram beijar-nos os pés

O sol inundou-nos de luz

Estás aqui amor

Perto de mim.

Entre o mar e o céu

Num lugar incerto

A lua nos nossos olhos

As estrelas a iluminar o nosso caminho

Estou aqui amor

Junto a ti.

Entre o mar e o céu

Num lugar incerto

A água murmura poesia

As nuvens cobrem-nos de sonhos

Tu e eu aqui

Entre o mar e o céu

Num lugar incerto

Trocamos rosas de fogo.

Page 15: Palavras Sofridas

Trago-te comigo

Nos meus olhos.

E tu nem sabes

Que és o meu olhar.

Page 16: Palavras Sofridas

Falar de amor

Olhos que teimam em falar

Do amor

Que os lábios silenciam.

Page 17: Palavras Sofridas

Esculpido na areia

O nosso amor esculpido na areia

Foi levado pelas ondas

Quando o mar se apaixonou pela areia

E o céu ficou mais perto da terra.

Page 18: Palavras Sofridas

Sombra de luz

És luz e sombra

Sombra de luz.

Page 19: Palavras Sofridas

A outra

Olhas para mim mas não sou eu

Eu sou a outra

Aquela que não vês por mais que olhes.

Page 20: Palavras Sofridas

A solidão da alma dói mais que a do corpo.

Page 21: Palavras Sofridas

Como?

Como é que conseguimos viver num mundo assim?

Num mundo em que as pessoas não se olham, não se sorriem.

Num mundo em que a indiferença é regra e a solidariedade excepção.

Como é que conseguimos viver num mundo assim?

Num mundo em que é mais importante ter do que ser, em que a mentira se sobrepõe à verdade.

Num mundo em que a competitividade vence a amizade.

Como é que conseguimos viver num mundo assim?

Num mundo em que o tempo comanda a vida, e a rotina supera a criatividade.

Num mundo em que a fome é ainda uma realidade.

Como é que conseguimos viver num mundo assim?

Num mundo em que a violência é tolerada, e a justiça apenas uma palavra.

Num mundo em que o amor não vale nada.

Como é que conseguimos viver num mundo assim?

Num mundo em que a solidão é envergonhada, e a diferença sinónimo de marginalidade.

Num mundo onde não existe liberdade.

Page 22: Palavras Sofridas

O Amor está para além das palavras, no silêncio.

Page 23: Palavras Sofridas

Não digas nada

De ti, não quero palavras

Só o som do silêncio.

Page 24: Palavras Sofridas

Quero ser silêncio

Apenas silêncio.

Do silêncio nasce a voz da palavra.