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PAISAGEM E ARTE: UM OLHAR CONTEMPORÂNEO NO CAMPO DO ESTILISMO. SANTOS, Neuza Maria de Oliveira 1. Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrado Ambiente Construído Patrimônio Sustentável, Escola de Arquitetura [email protected] RESUMO Este trabalho traz algumas reflexões e um olhar em perspectiva sobre a paisagem cultural como um conceito em construção, algo simultaneamente físico e uma imagem mental. Paisagem não é natureza, mas uma dimensão em movimento, um relato, um ponto de vista, uma visão de um sujeito; mais que isso, a paisagem tem em sua essência, como nos mostram vários autores, a importância da narrativa. Como se sabe, o próprio conceito de natural se sustenta graças a um artifício permanente, sendo uma construção humana a separação de sujeito e objeto, paisagem e homem. Assim, nos séculos XVII e XVIII percebe-se paisagem como um sentimento estético e a natureza como um espelho do objeto humano, um reconhecimento de quem está lá. Nos anos 1980, discussões no âmbito da Unesco, ao perceberem a limitação da distinção muito rígida entre o patrimônio cultural e o natural, terminam por desembocar na ideia da paisagem cultural, assumida por aquele órgão desde 1992. Essa ideia vai ser desenvolvida, propondo-se, nos anos seguintes a distinção entre três categorias de paisagens culturais: a planejada, a construída e a associativa, que têm o seu valor determinado de acordo com associações feitas acerca delas, como as associações espirituais de povos tradicionais com determinadas paisagens. A construção de uma narrativa se estabelece, a partir da noção de “paisagem cultural associativa” – na qual têm especial importância a significância cultural, o valor simbólico, os valores cotidianos e a apropriação cultural estabelecer um diálogo com o trabalho do estilista Ronaldo Fraga, que em sua Coleção de Verão em 2009 apresenta o rio São Francisco como apropriação cultural de um povo. “O Rio São Francisco é mais que Rio, é mais que água. Ele é gente, é cultura, é história, ele é ancestralidade. O desastre ambiental como no Rio São Francisco é mais que um desastre, é dizimar uma cultura", escreve Ronaldo Fraga. A narrativa criada pelo estilista sobre a paisagem do Rio São Francisco vai ter grande repercussão, que, após seu lançamento, foi exibida em desfiles no Chile e no México, sendo o universo gráfico exposto em várias exposições itinerantes no Brasil e mesmo no MOT, Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, no Brasil. Então, vamos mostrar que a apropriação cultural pode envolver elementos materiais e imateriais como a introdução de formas do vestir e seus desdobramentos teóricos e práticos. Assim, perceber ou identificar o que não é aparente, o que não é imediatamente perceptível, o que está nas entrelinhas, a memória e as tradições são relevantes para que a preservação da paisagem cultural. Para isso, vamos utilizar o material de pesquisa utilizado pelo estilista envolvendo a história do rio São Francisco como apropriação cultural do povo que vive nas cidades ribeirinhas, mostrando como através dele a reconstrução de uma história vivida, o documento escrito ou não, pode constituir uma fonte preciosa para a leitura, pela arte de uma determinada paisagem cultural. Palavras-chave: Paisagem cultural, memória, apropriação cultural, arte, estilismo.

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PAISAGEM E ARTE: UM OLHAR CONTEMPORÂNEO NO CAMPO DO

ESTILISMO.

SANTOS, Neuza Maria de Oliveira

1. Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrado Ambiente Construído Patrimônio Sustentável, Escola de Arquitetura

[email protected]

RESUMO

Este trabalho traz algumas reflexões e um olhar em perspectiva sobre a paisagem cultural como um

conceito em construção, algo simultaneamente físico e uma imagem mental. Paisagem não é natureza,

mas uma dimensão em movimento, um relato, um ponto de vista, uma visão de um sujeito; mais que

isso, a paisagem tem em sua essência, como nos mostram vários autores, a importância da narrativa.

Como se sabe, o próprio conceito de natural se sustenta graças a um artifício permanente, sendo uma

construção humana a separação de sujeito e objeto, paisagem e homem. Assim, nos séculos XVII e

XVIII percebe-se paisagem como um sentimento estético e a natureza como um espelho do objeto

humano, um reconhecimento de quem está lá. Nos anos 1980, discussões no âmbito da Unesco, ao

perceberem a limitação da distinção muito rígida entre o patrimônio cultural e o natural, terminam por

desembocar na ideia da paisagem cultural, assumida por aquele órgão desde 1992. Essa ideia vai ser

desenvolvida, propondo-se, nos anos seguintes a distinção entre três categorias de paisagens

culturais: a planejada, a construída e a associativa, que têm o seu valor determinado de acordo com

associações feitas acerca delas, como as associações espirituais de povos tradicionais com

determinadas paisagens. A construção de uma narrativa se estabelece, a partir da noção de “paisagem

cultural associativa” – na qual têm especial importância a significância cultural, o valor simbólico, os

valores cotidianos e a apropriação cultural – estabelecer um diálogo com o trabalho do estilista Ronaldo

Fraga, que em sua Coleção de Verão em 2009 apresenta o rio São Francisco como apropriação cultural

de um povo. “O Rio São Francisco é mais que Rio, é mais que água. Ele é gente, é cultura, é história,

ele é ancestralidade. O desastre ambiental como no Rio São Francisco é mais que um desastre, é

dizimar uma cultura", escreve Ronaldo Fraga. A narrativa criada pelo estilista sobre a paisagem do Rio

São Francisco vai ter grande repercussão, que, após seu lançamento, foi exibida em desfiles no Chile e

no México, sendo o universo gráfico exposto em várias exposições itinerantes no Brasil e mesmo no

MOT, Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, no Brasil. Então, vamos mostrar que a apropriação

cultural pode envolver elementos materiais e imateriais como a introdução de formas do vestir e seus

desdobramentos teóricos e práticos. Assim, perceber ou identificar o que não é aparente, o que não é

imediatamente perceptível, o que está nas entrelinhas, a memória e as tradições são relevantes para

que a preservação da paisagem cultural. Para isso, vamos utilizar o material de pesquisa utilizado pelo

estilista envolvendo a história do rio São Francisco como apropriação cultural do povo que vive nas

cidades ribeirinhas, mostrando como através dele a reconstrução de uma história vivida, o documento

escrito ou não, pode constituir uma fonte preciosa para a leitura, pela arte de uma determinada

paisagem cultural.

Palavras-chave: Paisagem cultural, memória, apropriação cultural, arte, estilismo.

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Introdução

Em recentes pesquisas o jornal O globo e escola Britannic, apresenta o rio “São francisco”,

nasce na Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, com 2.820 km, atravessa

o estado da Bahia, segue até o estado de Pernambuco, na divisa dos estados de Alagoas e

Sergipe para desaguar no Oceano Atlântico. Sua primeira grande cachoeira, a Casca d'Anta,

com 186 metros de altura, fica no distrito de São José do Barreiro (MG), seguindo neste

percurso com 158 afluentes, dos quais 90 são perenes e 68 temporários, formando a Bacia do

São Francisco, com extensão de 641.000 km², em seu percurso encontra-se, quedas d'água e

cânions que chegam a 80 metros de altitude, formando, uma das mais belas paisagens

naturais do Brasil, devido sua importância social, econômica e cultural tornou-se conhecido

como o “Rio da Integração Nacional” que liga o sudeste ao Nordeste do país. A bacia do rio

São Francisco é dividida em: Alto São Francisco: estende-se da nascente até a cidade mineira

de São Francisco; Médio São Francisco: compreende o trecho entre São Francisco até a

cidade baiana de Remanso; Submédio São Francisco: estende-se de Remanso até a cidade

baiana de Paulo Afonso e Baixo São Francisco: situa-se em áreas dos estados da Bahia,

Pernambuco, Sergipe e Alagoas, estendendo-se de Paulo Afonso até a foz. Essa narrativa

começa então, a pensar a paisagem cultural e o olhar contemporâneo e artístico do estilista, a

“nascente do Rio São Francisco”.

FIG1: Nascente Rio São Francisco

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FIG2: “ De gota em gota se faz o mar” - a nascente do Rio. Espaço interativo para que as pessoas desenhem na grande lousa circular imagens particulares ligadas ao universo ribeirinho visto na exposição.

Fonte fig. 1: fsindical.org.br/mídias/image/18991-francisco.jpg Fonte fig. 2: Exposição de Ronaldo Fraga, outubro de 2010.

PENSAR A PAISAGEM CULTURAL E INTERPRETAÇÕES POSSÍVEIS

A chancela da paisagem define em sua Portaria nº 127, de 30 de Abril de 2009, CONSIDERANDO,

que a conceituação da Paisagem Cultural Brasileira fundamenta-se na Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, segundo a qual o patrimônio cultural é formado por

bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de

referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as

criações científicas, artísticas e tecnológicas, as obras, objetos, documentos, edificações e

demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, os conjuntos urbanos e sítios

de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

(IPHAN,2009).

Weissheimer (2010), em publicação na revista Ipea desafios do desenvolvimento, Ano

7. Edição 62 - Edição Especial, “A chancela da Paisagem Cultural: uma estratégia para o

futuro e corrobora dizendo;

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A chancela Paisagem Cultural busca assinalar a diversidade de relações que o homem estabeleceu com seu meio, criando cenários de vida que diferenciam os lugares e por isso, testemunham a inteligência, a criatividade e contribuem para a riqueza humana. É preciso estabelecer o entendimento de que a uniformização das paisagens significa o empobrecimento dos cenários de vida e da alma humana. O reconhecimento e a perpetuação de contextos singulares buscam a igualdade na diferença, o equilíbrio pela diversidade, a compreensão de cada um pela existência do outro. (WEISSHEIMERW, 2010).

Assim, podemos perceber então, que a narrativa do estilista sobre o rio São Francisco pode

também, ser entendida como uma paisagem cultural brasileira, tendo em vista a singularidade

que norteia seus atributos culturais e ambientais, apresentados em exposição.

Carta de Bagé ou Carta da Paisagem Cultural foi aprovada durante a Jornada “Paisagens

culturais: novos conceitos, novos desafios”, realizada em Bagé, Rio Grande do Sul, no dia

17/8/2007.Segundo a Carta de Bagé, a paisagem cultural é “o meio natural ao qual o ser

humano imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma

de todos os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza, e,

reciprocamente, da natureza com o homem”. Entre os sítios que estão sendo considerados

para chancela como paisagens culturais brasileiras estão o vale do Ribeira (SP), a serra da

Bodoquena (MS), o vale do Itajaí (SC) e Canudos (BA).

Segundo IPHAN (2003), diferentes formas de manifestação cultural podem ser entendidas

como patrimônio cultural imaterial que, segundo a “Convenção para a Salvaguarda do

Patrimônio Cultural Imaterial”, é caracterizado como “práticas, representações, expressões,

conhecimento e técnicas – junto com instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que

lhes são associados”, transmitidos de geração em geração e constantemente recriados e

inovados em função da necessidade e/ou ambiente ao redor. Essa Convenção indicou o uso

do termo “salvaguarda” com intuito de alertar a necessidade de identificar, documentar,

preservar e promover o patrimônio cultural imaterial (IPHAN, 2003).

Neste contexto, conhecer a etimologia da palavra artesanato, que tem origem do Latim “ars”

que significa a capacidade de fazer algo, e que mais tarde assumiu o significado Arte, que têm

especial importância a significância cultural e a apropriação cultural como comenta Ferreira;

O design é uma qualidade adicional na busca pela valorização cultural de um produto ou até no resgate da tradição que, progressivamente, é perdida dentro de uma comunidade. Desta interação, resultam o reconhecimento da importância do valor e o fortalecimento da identidade cultural coletiva (FERREIRA,2006).

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Pretende-se então pensar aqui, a ideia de paisagem cultural, bem como, possibilidades de

gestão.

Duncan (1990) considera que os significados da paisagem são moldados pelas ideias,

posição social e circunstâncias do observador que escolhe determinadas leituras ou

compreensões em detrimento de outras interpretações possíveis. (DUNCAN,1990).

A Convenção Europeia da Paisagem (2000), salienta que, a gestão de uma paisagem deve

buscar harmonizar as alterações resultantes dos processos sociais, econômicos e

ambientais, na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Já na esfera da UNESCO (2009)

observa que o caráter dinâmico de uma paisagem cultural deve ser tomado como base de

orientação à gestão:

O propósito da gestão das paisagens culturais inscritas na Lista do Patrimônio

Mundial é proteger o valor universal excepcional para as gerações presentes e

futuras. A gestão tem como papel orientar as mudanças na paisagem cultural,

mantendo os valores importantes. (UNESCO, 2009, p.33)

Marc Antrop. (2005) considera que as paisagens sempre mudam em função de motivos

variados, sendo isto o seu aspecto mais comum, pois elas “[...] são a expressão da interação

dinâmica entre as forças naturais e culturais no ambiente” e completa dizendo que cada

indivíduo lê ou interpreta a paisagem dentro de seu próprio contexto cultural. (ANTROP, 2005,

p.2).

Dados da Convenção Europeia da Paisagem ANTROP (2005), corrobora ao dizer que a

paisagem é algo complexo de gerir, já que consiste de inúmeros elementos materiais e

imateriais que interessam a vários atores. Neste contexto, a questão imposta por ela não

refere à fixação de seus valores, o que seria impossível devido a seu caráter dinâmico e

holístico, mas sim o monitoramento e a avaliação das mudanças através de inventários

nacionais. (ANTROP, 2005).

PENSAR A SIGNIFICÂNCIA CULTURAL

No que diz respeito a significância, é possível identificar que, diferentes metodologias vêm

sendo desenvolvidas a fim de, construir significâncias que expressem de maneira clara e

congruente, com os valores orientadores das ações pensadas para as novas categorias

patrimoniais, como a paisagem cultural, que ainda apresenta uma certa deficiência na

construção e efetivação de significâncias que orientem os gestores do patrimônio. Para

Mason (2002), ainda faltam métodos voltados para a atribuição de valores à paisagem cultural

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enquanto bem patrimonial, ocasionando problemas na operacionalização desta categoria.

(MASON, 2002).

A Carta de Burra (1999) define a significância cultural como sendo o “conjunto de valores

estéticos, históricos, científicos, sociais ou espirituais para as gerações passadas, presentes e

futuras”. ICOMOS (1999).

Relph (1979), acrescenta dizendo, "Esses ambientes palpáveis são paisagens, que não

somente possuem conteúdo e substância, mas também são os cenários significantes das

experiências diárias e das excepcionais. "(EDWARD RELPH, 1979, p.13).

Na opinião de Dardel (1952), "Algo mais que uma justaposição de detalhes pitorescos, a

paisagem é um conjunto, uma convergência, um momento vivido. Há uma ligação interna,

uma 'impressão', unindo todos os elementos." (ERIC DARDEL, 1952, P.41).

Assim, a percepção da significância cultural passa pela identidade e o cotidiano das

atividades realizadas pelos ribeirinhos do Rio São Francisco, em que a narrativa do estilista

Ronaldo Fraga, tenta mostrar que, a apropriação cultural pode envolver elementos materiais e

imateriais como a introdução.

PENSAR A ÁGUA DO RIO SÃO FRANCISCO E SUAS POSSIBILIDADES

Assim como Ronaldo fraga, muitos autores compartilharam suas impressões e diálogos pelo

rio afora. Os engenheiros norte-americano Willian Milnor Roberts, o baiano Teodoro Sampaio,

fizeram a expedição que partiu do Rio de Janeiro em julho 1879, que deveria percorrer desde

sua foz, na divisa entre as províncias de Alagoas e Sergipe, até Pirapora, Minas Gerais.

Lessa (2007), em sua pesquisa de campo no baixo São Francisco também descreve em suas

memórias;

A travessia começa. Da janela vejo o Rio ainda com águas barrentas, reflexo da última cheia. Sentindo a velocidade da embarcação se alterar ao longo do percurso, observo que o ritmo da viagem é ditado pela natureza, a profundidade rege a orquestra do motor, o tempo é regido pelo próprio Rio, vê-se que o tempo e o lugar do homem é o tempo e o lugar do Rio. Mais adiante um barco aportado no meio das águas – lembro-me rapidamente do conto de Guimarães Rosa, “A terceira margem do rio”, ali o ribeirinho parece ter encontrado um lugar. Apesar da imensidão das águas que avistamos, o Rio parece-nos acolher.

[...] Há muito tempo não observava um pôr do sol assim, o céu laranja, uma energia que ilumina dentro da alma. Todos os esforços desses últimos dois anos de pesquisa faziam sentido naquele momento. O Rio São Francisco é o lugar do meu encontro com a natureza e com as minhas lembranças de infância, desde as brincadeiras na foz até as feiras científicas no colégio. (LESSA,2007, p.99; 103104).

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A narrativa criada pelo estilista Ronaldo Fraga, sobre a paisagem e as águas do Rio São

Francisco também apropriou-se da vida de um povo, ao criar uma coleção, um olhar

contemporâneo, cheio de sentidos, cheiros, histórias e memórias associativas ao jeito e

trejeitos de viver sob o império das águas do rio, como escreve Mello (1987);

A lei do rio não cessa nunca de impor-se sobre a vida dos homens. É o império da água. Água que corre no furor da correnteza, água que leva, água que lava, água que arranca, água que se oferta cantando, água que se despenca em cachoeira, água que vai [...]. (MELLO, 1987, p. 22).

Oliveira (2009), deixa também, sua contribuição;

[...] esse rio, que é um acidente geográfico da natureza, configura a vida das pessoas, na arte, na musicalidade, nas suas tradições, com seus rituais e crenças. Nas águas do rio, homens e mulheres vão desenhando suas histórias de vida. OLIVEIRA (2009, p. 15)

Assim como vemos em Gratão (2002);

São paisagens... descritas e interiorizadas em sentimentos, numa introspecção de lugares, registrando intimidades e resguardando percepções e experiências significativas, desvelando “O Rio” [...] experiências vividas que constroem o conhecimento geográfico do lugar, sua afetividade e suas condutas e, que levam à construção da Identidade do Rio. (GRATÃO, 2002, p.15).

FIG1: Município de Pirapora Minas gerais. FIG2: “O Rio tece e veste” - Roupas criadas pelo estilista Ronaldo Fraga que ilustram a cultura, a alma, o ofício dos bordados feitos ao longo do rio São Francisco. Neste ambiente, a memória das bordadeiras, ofício muito presente nas cidades ribeirinhas, principalmente na região de Pirapora (MG), recebe homenagem por meio de grande parede simulando os bastidores de bordados.

Fonte 2: Exposição de Ronaldo Fraga, outubro de 2010 Para Oliveira (2009, p. 19), a vida do rio vem a nós, em seu acontecer.

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Quando olhamos para o rio, a beleza que nos chega aos olhos está na água que corre para o seu destino. Os nossos olhos fazem com que o rio e suas águas tornem-se espaços e cenários cheios de significados e logo eles interferem com as nossas paisagens interiores que, num remexer vivo, tocam nosso imaginário, resinificando as nossas geografias interiores e exteriores a nós. Os lugares, as paisagens, os espaços se entrelaçam com a vida que vem do rio a nós, em seu acontecer.

A construção de uma narrativa se estabelece, a partir da noção de “paisagem cultural

associativa”, que perpassa o olhar do estilista: “Rio São Francisco é mais que Rio, é mais que

água. Ele é gente, é cultura, é história, ele é ancestralidade. O desastre ambiental como no

Rio São Francisco é mais que um desastre, é dizimar uma cultura, de formas do vestir e seus

desdobramentos teóricos e práticos”. (RONALDO FRAGA,2010).

FIG 1: http://www.reidaverdade.net/wp-content/uploads/2011/09/rio-s%C3%A3o-francisco-3.jpg

FIG2: Vestidos inpirados nas cores e curvas do rio São francisco.

Fonte1: http://www.reidaverdade.net/wp-content/uploads/2011/09/rio-s%C3%A3o-francisco-3.jpg

Fonte 2: Exposição de Ronaldo Fraga, outubro de 2010

Esse brincar com a imaginação aborda em seu devaneio, um olhar artístico, sobre a moda

suas vestimentas, “uma imagem nem sempre reproduzida, muitas vezes, criada pelo

devaneio... pela imaginação...” (CHIAPETTI; GRATÃO, 2010, p. 277).

A água é matéria e imaginação...

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Assim concebida, a água é matéria, e, por mais material que seja, embala os sonhos, é fonte de inspiração poética, tal como se manifesta nas imagens e símbolos humanos, em seus atos, na morte e na vida: a água move e umedece o real. Manifesta em atos e símbolos humanos, é substância, é água sonhada, é matéria, é imaginação! (GRATÃO, 2007b, p. 52).

FIG1:http://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/04/2e/61/5f/parque-nacional-da serra.jpg FIG2: “O Chico morre no mar” – a foz do rio - O Chico encontra o mar em cardumes de peixes de garrafas Pet e colchões que estampados como se fossem águas de tábuas.

Fonte1:http://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/04/2e/61/5f/parque-nacional-da serra.jpg

Fonte 2: Exposição de Ronaldo Fraga, outubro de 2010

Assim, observa Fraga (2010), “as águas do Rio São Francisco estão vivas nas mais belas

manifestações da cultura barranqueira que compõem forte simbologia da identidade da

cultura brasileira e revelam as riquezas desse patrimônio, que inspirou grandes literários

como Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade

e Ariano Suassuna”.

Águas e Mágoas do Rio São Francisco

Está secando o velho Chico. Está mirrando, está morrendo. Já não quer saber de lanchas-ônibus nem de chatas e seus empurradores. Cansou-se de gaiolas e literatura encomiástica e mostra o leito

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pobre, as pedras, as areias desoladas onde nenhum minhocão ou cachorrinha-d’água, cativados a nacos de fumo forte, restam para semente de contos fabulosos e assustados.

Ei, velho Chico, deixas teus barqueiros e barranqueiros na pior? Recusas frete em Pirapora e ir levando pro Norte as alegrias? Negas teus surubins, teus mitos e dourados, teus postais alucinantes de crepúsculo à gula dos turistas? Ou é apenas seca de junho-julho para descanso e volta mais barrenta na explosão da chuva gorda?

Já te estranham, meu Chico. Desta vez, encolheste demais. O cemitério de barcos encalhados se desdobra na lama que deixaste. O fio d’água (ou lágrimas?) escorre entre carcaças novas: é brinquedo de curumins, os únicos navios que aceitas transportar com desenfado. Mulheres quebram pedra no pátio ressequido que foi teu leito e esboça teu fantasma.

Não escutas, ó Chico, as rezas músicas dos fiéis que em procissão imploram chuva? São amigos que te querem, companheiros que carecem de teu deslizar sem pressa (tão suave que corrias, embora tão artioso que muitas vezes tiravas a terra de um lado e a punhas mais adiante, de moleque). É gente que vai murchando em frente à lavoura morta e ao esqueleto do gado, por entre portos de lenha e comercinhos decrépitos; a dura gente sofrida que carregas (carregavas) no teu lombo de água turva mas afinal água santa, meu rio, amigo roteiro de Pirapora a Juazeiro. Responde, Chico, responde!

Não vem resposta de Chico, e vai sumindo seu rastro como rastro da viola se esgarça no vão do vento. E na secura da terra

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e no barro que ele deixa onde Martius viu seu reino, na carranca dos remeiros (memória de outras carrancas, há muito peças de living), nas tortas margens que o homem não soube retificar (não soube ou não quis? paciência), de pontes sobre o vazio, na negra ausência de verde, no sacrifício das árvores cortadas, carbonizadas, no azul, que virou fumaça, nas araras capturadas que não mandam mais seus guinchos à paisagem de seca (onde o tapete de finas gramíneas, dos viajantes antigos?), no chão deserto, na fome dos subnutridos nus, não colho qualquer resposta, nada fala, nada conta das tristuras e renúncias, dos desencantos, dos males, das ofensas, das rapinas que no giro de três séculos fazem secar e morrer a flor de água de um rio.

“Discurso de Primavera e Algumas Sombras” – 1978

Carlos Drummond de Andrade

Paisagem e arte, sob o olhar contemporâneo do estilista que diz, “a diversidade de costumes

e crenças; a multiplicidade de raças, que vão dos índios, aos negros e brancos; o encanto das

lendas, que são mágicas e ao mesmo tempo assustadoras; a poesia musical das cores, tudo

no rio São Francisco encanta e impressiona”, afirma Ronaldo Fraga (2010).

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FIG1:http://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/04/2e/61/5f/parque-nacional-da serra.jpg FIG 2: “O gosto que o Chico tem” referência aos mercados com seus cheiros, sabores e cores.

Fonte1: Foto Max David.

Fonte 2: Exposição de Ronaldo Fraga, outubro de 2010.

Chegando à cidade de Penedo, Damázio, descreve em seu artigo que, no perfil do homem

ribeirinho, traçado por Teodoro Sampaio “em seu diário, também, merece destaque os relatos

em que descreve o caráter sofredor e conformado do mesmo”.

A população da cidade estava muito aumentada com a gente emigrada dos

sertões pela seca. Viam-se nas ruas muito povo faminto e sem trabalho,

levas de mendigos andrajosos esmolando ou estendidos pelo chão à sombra

das árvores, homens que foram robustos, belos tipos de uma adaptação

admirável, como se forma esqueletos vestidos de couro.

A fome, que os tinha depauperado e dizimado aos centos, cedera lugar á

varíola, que devorava famílias inteiras destes desgraçados de tão longe,

fugindo às misérias da seca, tinham vindo procurar socorro às margens do

grande rio.

O São Francisco, como um oásis no deserto, através dos sertões adustos da

Bahia ao Ceará, de Pernambuco ao Piauí, é, na verdade, a terra da

promissão e o refúgio daqueles povos assolados pela seca prolongada e

periódica. (SAMPAIO, 2002, p.61-62).

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FIG1: Centro histórico de Penedo, em Alagoas, às margens do Rio São Francisco – Sedetur/Divulgação. FIG 2: “O gosto que o Chico tem” referência aos mercados com seus cheiros, sabores e cores.

Fonte1: Sedetur/Divulgação.

Fonte 2: Exposição de Ronaldo Fraga, outubro de 2010.

No trabalho do Fraga (2010), pensar no povo que vive em torno do Rio São Francisco,

significa, acolher a criatividade num contexto de sobrevivencia. Podemos citar o depoimento

do estilista ao apresentar a exposição dos seus trabalhos: “É um diálogo entre a minha

narrativa de moda e a rica cultura do rio que mais desperta afeto entre os brasileiros. As

“águas” do São Francisco não cabem em uma só coleção de moda, em um só livro e muito

menos em uma única exposição, portanto essa não é uma mostra de acervo. São instalações

costuradas entre a moda e a cultura ribeirinha. (RONALDO FRAGA,2010).

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FIG1: Jaciobá, nome indígena que significa “Espelho da Lua”. O povoado passou a ser cidade em 1877. Sua origem vem de uma fazenda de gado chamada Pão de Açúcar. FIG2: O olhar do estilista Ronaldo Fraga em “Canoas”.

Fonte1: Sedetur/Divulgação.

Fonte 2: Exposição de Ronaldo Fraga, outubro de 2010.

FIG1: Piranhas - A cidade encanta seus visitantes pela hospitalidade e preservação do acervo de estilo barroco, dos séculos 18 e 19. FIG2: Delmiro Gouveia - Vista dos cânions do Rio São Francisco a partir da trilha do Talhado, em Delmiro Gouveia -

Fonte1 e 2: Foto de tom Alves.

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Segundo Camila Fróis (2016), em especial para O GLOBO, Piranhas tem vários sítios

arqueológicos e belas paisagens, um destino perfeito para quem gosta de passeios

ecológicos e de aventura. Das várias trilhas em meio à vegetação da caatinga se vislumbram

o belo panorama do Velho Chico. As trilhas do Rio Capiá, da Via Férrea, do Mirante do

Talhado, da Pedra do Sino são testemunhas da história do sertão. Conhecido pelos delicados

bordados de redendê, o povoado também se orgulha de ter recebido visita de Dom Pedro II no

século XIX. A atração ali é a singeleza da rotina das mulheres que passam o dia na soleira de

casa bordando, conversando e ensinando a arte para filhas e netas.

A mesma fonte traz também, que em 1913, Delmiro Gouveia construiu, no alto de um paredão,

a Usina de Angiquinhos, a primeira hidrelétrica da América Latina, aproveitando as quedas da

Cachoeira de Paulo Afonso. Em 1914 construiu a Companhia Agro Fabril Mercantil, a primeira

na América do Sul a fabricar linhas para costura e fios para malharia, sendo conhecida como

fábrica da Pedra. Foi nesse mesmo ano que chegou o primeiro automóvel no município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A narrativa criada pelo estilista sobre a paisagem do Rio São Francisco vai ter grande

repercussão, que, após seu lançamento, foi exibida em desfiles no Chile e no México, sendo o

universo gráfico exposto em várias exposições itinerantes no Brasil e mesmo no MOT, Museu

de Arte Contemporânea de Tóquio, no Brasil.

Percebemos que, a apropriação cultural pode envolver elementos materiais e imateriais como

a introdução de formas do vestir e seus desdobramentos teóricos e práticos.

Algumas interpretações, na maneira de pensar o cotidiano, trouxe ideias, um olhar em

perspectiva sobre a paisagem cultural como um conceito em construção, que permeia, o

material de pesquisa utilizado pelo estilista, envolvendo a história do rio São Francisco como

apropriação cultural do povo que vive nas cidades ribeirinhas, mostrando como através dele a

reconstrução de uma história vivida, o documento escrito ou não, pode constituir uma fonte

preciosa para a leitura, pela arte de uma determinada paisagem cultural como nos conta em

arte, a própria história do estilista Ronaldo fraga:

Desde a infância, minhas memórias são banhadas pelas águas do São Francisco. Meu pai, que nem “barranqueiro” era, vivia pescando por aquelas “bandas”. Sua volta era sempre uma festa, quando ele trazia surubins gigantes, lendas e casos do mágico universo ribeirinho. Eram histórias e estórias, cultura, música, gente e bicho em cada conto trazido de lá. Meus sonhos eram povoados por caboclos d’água, uiaras, tutumarambás, serpentes do rio.... Eu já tinha a certeza de que o São Francisco é mais que um rio.

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