paim - mudanças da linguagem televisiva com as inovacões tecnologicas

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1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP 682 Mudanças da linguagem televisiva com as inovações tecnológicas PAIM, Luciana RESUMO A TV brasileira está baseada na linguagem radiofônica. Com o passar do tempo, adquiriu uma linguagem própria, que foi se consolidando aos poucos e que tende a passar por mais uma mutação com o advento da TV digital de alta definição e da interatividade. Assim como o rádio não eliminou os jornais e o cinema não deixou de existir, ao chegar ao Brasil, a televisão aprendeu a conviver com os outros meios. É através da linguagem que os homens transmitem suas experiências de geração em geração, sendo que boa parte delas são hoje passadas pelos meios de comunicação, principalmente pela televisão. Este artigo propõe um estudo sobre como se desenvolveu a linguagem da televisão e as alterações consequentes da introdução das novas tecnologias nesse meio de comunicação. A entrada do videotape, da imagem colorida, da transmissão via satélite e agora, com a implementação da TV Digital no país, a TV aos poucos foi alterando sua linguagem inicial. Melhora na qualidade da imagem e do som, convergência midiática, múltiplas plataformas e formatos de telas, e interatividade. Todos esses recursos oferecidos pela TV Digital comporão a nova linguagem televisiva. O que era apenas audiovisual receberá a influência das ferramentas computacionais e do próprio telespectador, que poderá ter uma atitude nova diante da telinha. Esses fatores alterarão a forma como se produz e se consome esse meio de comunicação que é um dos mais importantes do nosso país. Seria a TV Digital uma nova televisão ou apenas uma evolução do meio que já é conhecido pelos brasileiros? Sua linguagem sofrerá alterações bruscas O presente artigo foi elaborado a partir de consultas bibliográficas e entrevistas com profissionais da área, visando compor o novo cenário da linguagem audiovisual na TV digital. Como considerações, tem-se possibilidades teóricas sobre o estudo da linguagem e alguns desafios enfrentados pelos produtores de conteúdo. PALAVRAS-CHAVE: Televisão. Linguagem. Digital. Interatividade. Convergência.

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1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP

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Mudanças da linguagem televisiva com as inovações tecnológicas

PAIM, Luciana

RESUMO

A TV brasileira está baseada na linguagem radiofônica. Com o passar do tempo, adquiriu uma linguagem própria, que foi se consolidando aos poucos e que tende a passar por mais uma mutação com o advento da TV digital de alta definição e da interatividade.

Assim como o rádio não eliminou os jornais e o cinema não deixou de existir, ao chegar ao Brasil, a televisão aprendeu a conviver com os outros meios.

É através da linguagem que os homens transmitem suas experiências de geração em geração, sendo que boa parte delas são hoje passadas pelos meios de comunicação, principalmente pela televisão. Este artigo propõe um estudo sobre como se desenvolveu a linguagem da televisão e as alterações consequentes da introdução das novas tecnologias nesse meio de comunicação. A entrada do videotape, da imagem colorida, da transmissão via satélite e agora, com a implementação da TV Digital no país, a TV aos poucos foi alterando sua linguagem inicial. Melhora na qualidade da imagem e do som, convergência midiática, múltiplas plataformas e formatos de telas, e interatividade. Todos esses recursos oferecidos pela TV Digital comporão a nova linguagem televisiva. O que era apenas audiovisual receberá a influência das ferramentas computacionais e do próprio telespectador, que poderá ter uma atitude nova diante da telinha. Esses fatores alterarão a forma como se produz e se consome esse meio de comunicação que é um dos mais importantes do nosso país. Seria a TV Digital uma nova televisão ou apenas uma evolução do meio que já é conhecido pelos brasileiros? Sua linguagem sofrerá alterações bruscas O presente artigo foi elaborado a partir de consultas bibliográficas e entrevistas com profissionais da área, visando compor o novo cenário da linguagem audiovisual na TV digital. Como considerações, tem-se possibilidades teóricas sobre o estudo da linguagem e alguns desafios enfrentados pelos produtores de conteúdo.

PALAVRAS-CHAVE: Televisão. Linguagem. Digital. Interatividade.

Convergência.

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Introdução

Os estudos da linguagem começaram na Antiguidade e aguçam a

curiosidade de estudiosos até os dias de hoje. Seu estudo é fundamental para

a compreensão do ser humano. Sem a linguagem seria impossível nos

comunicar já que ela é a responsável pela nossa forma de raciocinar, pois para

isso, é necessário usufruir de alguma forma de linguagem seja ela verbal,

visual, gestual, escrita, etc. (BIZZOCCHI, 2000).

Por ter se tornado um meio de comunicação de maior abrangência, a

televisão passou por adaptações ao longo dos anos e a inserção da tecnologia

na sua produção fez com que sua linguagem fosse modificada ao longo do

tempo.

Como o objetivo de entreter e informar, a televisão alcança uma

audiência massiva em todos os continentes e por ter uma linguagem hibrida,

pode utilizar-se de várias técnicas de linguagens, juntas ou separadas.

Sozinha, ela contém: a linguagem visual, verbal, sonora.

O início das transmissões da TV Digital e a convergência desse meio de

comunicação com as novas tecnologias, a televisão deve se reinventar

novamente e acoplar a sua linguagem mais uma técnica, a do

hipertexto/hipermídia, que proporcionará a possibilidade de interação dos

telespectadores no conteúdo televisivo.

O acesso fácil aos conteúdos a partir da mobilidade dos aparelhos, fará

com que os telespectadores, habituados a ficarem parados em frente ao

aparelho mudem sua percepção com relação a linguagem televisiva.

Assim como aconteceu com a introdução do videotape, das cores na TV

e do controle remoto no século passado, dessa vez, a televisão terá que criar

novamente uma nova linguagem televisiva. Porém, os desafios dessa vez são

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maiores já que agora, além de agradar o público cativo da TV, terá que

conquistar a nova geração, que já estão sendo chamados de ‘nativos digitais’.

As mudanças tecnológicas e a convergência midiática já são uma

realidade e o que se espera é que a TV Digital Interativa também passe a fazer

parte do dia a dia da sociedade brasileira, assim como a televisão tradicional

faz.

Se atualmente a linguagem televisiva utiliza três tipos de linguagens que

são: a verbal, visual e sonora, com a introdução de todos esses avanços

tecnológicos, a televisão poderá se transformar em uma plataforma ainda mais

ampla e acessível do que já é, o que possivelmente, alterará a maneira de se

produzir e se consumir televisão.

O presente texto foi elaborado a partir de consultas bibliográficas com

autores experientes na área da comunicação como Umberto Ecco e Arlindo

Machado, bem como autores e pesquisadores das novas tendências

tecnológicas na comunicação como Valdecir Becker e Carlos Montez, Henry

Jenkis e Vicente Gosciola. Visando compor o novo cenário da linguagem

audiovisual na TV digital, foram realizadas entrevistas com profissionais ligados

a área de tecnologia de duas emissoras. Pela TV Globo, o Assessor de

Planejamento e Projetos de Engenharia Carlos de Brito Nogueira e pela TV

Bandeirantes, o Diretor de Interatividade Luiz Olivalves.

A proposta desse artigo é realizar um estudo sobre como se

desenvolveu a linguagem da televisão e as alterações consequentes da

introdução das novas tecnologias nesse meio de comunicação.

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Evolução da linguagem na TV brasileira

Quando a televisão chegou ao Brasil, o rádio e o jornal já tinham um

público cativo. Muitos acreditavam que com sua chegada, os outros deixariam

de existir. Mas não foi o que ocorreu e a televisão aprendeu a conviver com os

outros meios, assim como o rádio não eliminou os jornais e o cinema não

deixou de existir.

A história da televisão brasileira pode ser apresentada a partir de quatro

importantes momentos: Fase de Instalação - (1950-1964) – chegada da

televisão no país; Fase de expansão – (1965 – 1984) – organização das

grandes redes de emissoras e fortalecimento do meio como ferramenta de

poder e integração nacional; Fase da consolidação – (1985-2002) – a televisão

se consolida e passa a ter um poder próprio, independente do governo.

Período que marca o auge e o declínio do veículo e a Fase da convergência –

(2002) – devido o poder econômico das empresas de telecomunicações e

efeitos da convergência midiática, a televisão foi colocada em xeque. Nessa

fase também teve inicio as negociações para a implementação da TV Digital no

Brasil, um assunto que será abordado mais adiante (CRUZ, 2008, p. 49-50).

Os primeiros testes para emissão de imagens através de um tubo de

raios catódicos aconteceram em 1920 pelo russo Wladimir Zworykin, mas só se

tornou televisão eletrônica a partir das pesquisas do americano Philo T.

Farnsworth e, 25 anos depois, começou a ser produzida em escala industrial

pelos Estados Unidos (HINGST, 2004, P. 25).

A popularização da televisão só aconteceu na década de 1950, ano em

que o aparelho chegou ao Brasil pelo do jornalista Francisco de Assis

Chateaubriand Bandeira de Melo em 18 de setembro de 1950.

Quando chegou ao Brasil, a televisão não possuía uma linguagem

própria. Boa parte de seus profissionais vieram do rádio, o que transformou a

linguagem televisiva num primeiro momento, algo estático. Com o tempo, a TV

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começou a tomar forma e uma das primeiras modificações foi à exploração da

imagem como maneira de cativar o telespectador. (LOPEZ, 2004).

Desde sua concepção, a televisão tem um conceito polissêmico que

mescla vários tipos de linguagens já conhecidas por outros meios (som, fala

imagem), organizadas de maneira similar ao cinema (constituídas por planos,

cenas e sequências) (CARDOSO; SANTOS; GOULART, 2007, p.58).

Com a inserção das inovações tecnológicas no meio televisivo, a

linguagem aos poucos, se transformou.

Quando a televisão chegou ao Brasil, a linguagem apresentada tinha

grande influência do rádio. Por não ter profissionais específicos para essa

mídia, técnicos, locutores e artistas radiofônicos migraram do rádio para a

televisão e começaram a construir uma linguagem nova em que a imagem

falava era mais importante que as palavras (CARDOSO; SANTOS; GOULART,

2007).

Por ser um veículo polissêmico (transmite som, palavra escrita e falada,

som, e imagens em movimentos) trouxe também influência do cinema, já que é

constituída por planos, cenas e sequências.

Ainda na fase de implantação - nos anos 60 – a televisão passou por

seu primeiro processo de mutação. Em 1960 surgiu o VT (videotape) no Brasil

e a televisão passou a transmitir programas pré-gravados e a realizar

produções externas (CARDOSO; SANTOS; GOULART, 2007, p.60) Esse

recurso passou a ser utilizado principalmente pelo jornalismo na época, mas

hoje se tornou uma linguagem fixa televisiva, durante toda a programação.

Durante sua consolidação, ela se renova novamente e passa a receber

influência de outras novas e importantes tecnologias. Em 1972 iniciou-se a

transmissão em cores e via satélite, o que proporcionou a chegada do sinal em

todo o país, o que aumentou sua visibilidade e aceitação entre a população

brasileira (CARDOSO; SANTOS; GOULART, 2007, p.60).

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O controle remoto também foi um marco do desenvolvimento

tecnológico que tanto os produtores de conteúdo televisivo quanto

telespectadores aprenderam a usar ao seu favor, cada um a seu modo.

Para Arlindo Machado, o controle remoto criou o conceito que ele chama

de ‘efeito zapping’ e que, através dele, não é mais possível se contar histórias

completas ou manter um gênero e formato durante a exibição de um programa

(MACHADO, 1993, p.161).

“Hoje, não apenas sabemos que o zapping deriva da televisão, como também a própria televisão já se apropria de seus modelos formativos mais ousados: canais e programas simulam o efeito zapping; técnicas de comutação rápida de imagens, inclusive com reciclagem de material de outras fontes, são largamente utilizados, por exemplo, em aberturas de programas” (MACHADO, 1993, p. 153).

Nesse momento a televisão brasileira passa por outro processo de

aprendizagem. Agora ela terá que lidar com a digitalização de áudio e imagem

e com os meios digitais como o celular e a internet. Todos convergindo entre si.

A tecnologia também se associou aos programas televisivos quando

entrou na internet e possibilitou aos telespectadores a terem acesso aos canais

de TV aberta. Pela WebTV é possível assistir aos programas da televisão a

qualquer hora ou ainda obter conteúdos exclusivos que complementam o

programa. Com a implementação da TV Digital, a qualidade de imagem e

som aumentou radicalmente. Com a imagem sendo transmitida em alta

definição e som digital, o telespectador passou a perceber detalhes que antes

passavam desapercebidos. Além disso, o tamanho da imagem também foi

alterado. A proporção da tela de um aparelho era de 4:3 aumentou para 16:9.

Essa mudança atingiu a linguagem televisiva que teve que se preocupar com

disposição de âncoras e atores, além de ter que desenvolver novos grafismos,

vinhetas, logotipos e o cuidado com a profundidade (CARDOSO; SANTOS;

GOULART, 2007, p.63) que a muito não eram repensados dentro de um

conceito televisivo.

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Outro fator que irá mudar consideravelmente a maneira de se fazer e

assistir televisão será a introdução da interatividade na TV Digital brasileira,

que será discutido mais a frente.

O avanço tecnológico é algo inerente para a população. Sua inclusão

em todos os âmbitos, principalmente na comunicação trará para a atualidade,

um futuro que só era possível visualizar em filmes e ou desenhos animados. A

interação máquina e homem estão cada vez mais próximos e a interatividade

proporcionada pela TV Digital transformará esse meio de comunicação em uma

forma multimídia, alterando a percepção do telespectador e confundindo o real

com o imaginário.

A importância da linguagem e seus conceitos

Para abordar linguagem televisiva, é importante discernir o que é

linguagem e quais são aquelas utilizadas pela televisão.

Para Ferdinand de Sausurre, considerado o pai da lingüística moderna,

a linguagem é a “faculdade geneticamente programada que todos os homens

normais dotados de órgãos fonadores dispõem” e explica que a língua é uma

parte integrante da linguagem (appud FREIXO, 2006, p.116).

Por ser de extrema importância para o conhecimento do comportamento

humano ao longo do temo, a linguagem e seu uso atraem estudiosos e

cientistas sociais ao longo do tempo (FREIXO, 2006, p.112), tendo nas

diversas formas de linguagem, uma forma de comunicação humana, ao

pensamento.

Para a comunicação, a linguagem é:

“qualquer sistema de signos – não só vocais ou escritos, como também visuais, fisionômicos, sonoros e gestuais – capaz de servir à comunicação entre indivíduos. Instrumento pelo qual

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os homens estabelecem vínculos no tempo e determinam os tipos de relações que matem entre si” (RABAÇA, 2001, p. 53).

Lorenzo Vilches fez uma analogia entre a linguagem dos meios de

comunicação e a convergência tecnológica. Vilches aponta que essa

linguagem não é diferente dos sistemas políticos e econômicos que regulam os

mercados da multimídia. “A linguagem audiovisual está estreitamente

relacionados com a língua nas quais os conteúdos são escritos e falados”

(VILCHES, 2003, p.96).

A linguagem é responsável pela transmissão das experiências humanas

de geração em geração, sendo que boa parte delas são hoje passadas pelos

meios de comunicação, principalmente da televisão.

A televisão explora três tipos de linguagens: a visual, a escrita e a oral,

que se articulam entre si e produzem efeitos complexos e difíceis de serem

identificados (GUIMARÃES; BARRETO, 2008).

Umberto Eco divide a linguagem em três códigos: icônico – processo de

percepção visual, Código Lingüístico – formulações verbais de uma

transmissão e Código Sonoro - sons e ruídos. Todos esses códigos descritos

por Umberto Eco possuem suas subdivisões ou subcódigos, em que ele

detalha cada um desses processos para uma melhor compreensão da

mensagem. (appud REZENDE, 2000, p.38).

Com as inovações tecnológicas associadas a televisão, esse meio de

comunicação se tornará ainda mais abrangente. A mobilidade e portabilidade

oferecida com a TV Digital e a convergência midiática proporcionarão uma

nova releitura do que é televisão e o a estrutura de sua linguagem, se tornará

de maneira geral, ainda mais importante.

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A televisão brasileira fora da caixa

Em 29 de junho de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinou

o Decreto nº 5.820 que estabeleceu as diretrizes para a transição do serviço de

radiodifusão de sons, imagens e de retransmissão de televisão do sistema de

transmissão analógica para o digital.

Foi definido que o padrão japonês ISDB-T seria a base do Sistema

Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) e no dia 02 de dezembro

de 2007, o sinal da TV Digital aberta passa a ser transmitido no Brasil na

cidade de São Paulo.

Com a implementação da TV Digital os produtores já começam a pensar

em desenvolver conteúdos direcionados para essa nova mídia. Qualidade em

imagem e som tem sido inseridos aos poucos na programação da TV brasileira

de modo que os consumidores já sentem a diferença.

Além da melhora na recepção dos sinais, outros dois pontos ainda estão

sendo discutidos e testados pelas emissoras: a interatividade – um processo

que visa à participação ainda mais ativa dos telespectadores e a convergência

midiática – que já está sendo transmitida por alguns canais de TV aberta em

aparelhos móveis e portáteis que recebem o sinal digital. Entretanto, o que

ainda se espera são conteúdos exclusivos para essa nova mídia, já que a ideia

é oferecer ao público o assunto de interesse em todos momentos e em

qualquer lugar.

Antes de abordar como funcionará a linguagem na TV Digital Interativa é

importante abordar a diferença entre digital e interativo.

Valdecir Becker e Carlos Montez explicam que a TV Digital é a

transmissão digital dos sinais audiovisuais e quanto que a TV interativa:

“[...] não é uma simples junção ou convergência da internet com a TV, nem a evolução de nenhuma das duas, é uma nova mídia que engloba ferramentas de várias outras, entre elas a

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TV como conhecemos hoje a navegabilidade da internet” (BECKER;MONTEZ, 2005, p.36) .

Já a interatividade na televisão é outra questão a ser explicada. Para

Vilches: “a interatividade não é um meio de comunicação, mas uma função

dentro de um processo de intercâmbio entre duas entidades humanas ou

máquinas” (VILCHES, 2006, p. 234).

O impacto da interatividade na televisão brasileira, como está sendo

proposto por algumas emissoras é imenso.

Lauro Teixeira apresentou modelos de interatividade durante a grade de

programação, incluindo a publicidade, descrita por ele como “momento de

respiração” para os telespectadores. Ele aponta que é possível se criar

interatividade durante os intervalos o que proporcionaria ao telespectador a

sensação de rapidez durante o comercial e também sugere que a possibilidade

de consumir conteúdo audiovisual de acordo com o interesse do telespectador

o transforma não em um simples receptor, mas sim um “interagente” da

televisão.

“Somos telespectadores quando repousamos o controle remoto no sofá e confiamos nossa satisfação à habilidade do programador. Somos usuários quando usamos os recursos ou reagimos a eles, quando nos satisfazemos com a usabilidade desses recursos. E somos interagentes quando temos poder sobre o conteúdo” (TEIXEIRA,2008).

A introdução da interatividade na TV aberta brasileira alterará forma de

produzir, distribuir e consumir conteúdo televisivo.

“Essa quebra de paradigmas não representa o fim da televisão, pois a atual forma de ver TV pode continuar. Representa isso sim, o surgimento de uma nova mídia, com características próprias e peculiares a sua natureza tecnológica” (MONTEZ; BECKER, 2005, P. 58).

Essa interação oferecida a partir da TV Digital mudará por completo o

conceito da linguagem televisão. O conteúdo audiovisual ganha também mais

uma linguagem: a do hipertexto. Esse termo já é conhecido na linguagem da

computação e agora está tomando espaço na televisão. Para Pierre Lévy “o

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hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões”. Esses nós podem ser

“palavras, páginas, imagens, gráficos ou parte de gráficos, sequências sonoras,

documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos”. (LEVY,

2000, p.32).

A interatividade proporcionará ao telespectador uma participação mais

ativa durante a programação. Com esse recurso, os produtores de conteúdos

poderão oferecer opções de ângulos de câmeras, alterarem padrões de

contexto como cores e áudio (CARDOSO; SANTOS; GOULART, 2007, p.64)

além de poder obter informações mais detalhadas sobre o tema do programa

preferido.

A televisão que já era hibrida agora se transformará em um meio

hipermidiático ou multimídia. Roger Laufer e Domenico Scavetta definiram a

hipermídia:

“o conjunto de meios que permite acesso simultâneo a textos, imagens e sons de modo interativo e não linear, possibilitando fazer links entre elementos de mídia, controlar a própria navegação e, até, extrair textos, imagens e sons cuja sequência constituirá uma versão pessoal desenvolvida pelo o usuário” (appud GOSCIOLA,2003, p.30)

A convergência midiática é outro fator importante que transformará a

linguagem televisiva conhecida hoje. Ela chega para por um fim no paradigma

de que para assistir televisão é necessário estar em casa, em frente a um

aparelho. Atualmente, já é possível ter acesso a conteúdos televisivos através

de outros suportes midiáticos como no celular ou internet. Com isso, o

telespectador pode acessar informações que podem ser complementares ou

criadas especificadamente para aquele veículo, de acordo com o interesse

individual de cada um.

“Convergência é uma palavra que consegue definir transformações

tecnológicas, mercadológicas, culturas e sociais”, coloca Henry Jenkis

(JENKIS, 2008, p.27). Jenkis expõe que os meios de comunicação não estão

sendo substituídos, mas sim modificados a partir da introdução das novas

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tecnologias, o que alterará a maneira de produzir e principalmente de consumir

os conteúdos.

Vilches acredita que a convergência dos meios novos e antigos

representa uma integração de efeitos e funções que aumentarão seu alcance a

níveis universais e coloca a interatividade como sendo uma “divergência e

ruptura com uma cultura que se encontra além das tecnologias” (VILCHES,

2006, p. 234).

Almir Almas defende essa alteração a partir de dois parâmetros de

conceitos de linguagem televisiva: a de uso – que é a maneira de utilizar e

interagir com a interface e a de produção – que é o aprendizado dos

profissionais para produzir e distribuir a informação através do meio (ALMAS,

2005, p.27).

Almas também acredita que haverá mudanças tanto para quem produz

como para quem consome o conteúdo:

“para o telespectador, a maneira de se relacionar com o meio muda substancialmente. Ele deve “aprender” uma nova linguagem de utilização/usufruto dessa mídia, deve criar uma nova aproximação com o meio, um novo “approach”. Ao produzir conteúdo para esse novo meio deve-se pensar numa nova linguagem e não apenas em modos de produção com uma linguagem baseada na televisão convencional atual em que, na maior parte do tempo, o telespectador é apenas um receptor passivo de informação” (ALMAS, 2005, p.27).

Para não perder esse público que espera por novidades na linguagem

televisiva que as empresas de comunicação têm iniciado as pesquisas e testes

para o desenvolvimento desses novos conteúdos.

A idéia é oferecer cada vez mais conteúdos com valores agregados e

que ofereçam aos telespectadores mais informações e de maneira ainda mais

individualizada, atingindo a um público cada vez mais específico.

As grandes corporações que estão por trás dessas emissoras

pretendem desenvolver serviços que englobem todos os interesses dos

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telespectadores, reunindo o máximo de informações em uma “plataforma

multitecnológica”.

“As tecnologias da comunicação que permitirão a convergência dos meios não se destinarão a produzir informações ou conteúdos, mas principalmente, a gerir as relações com os usuários. (...) Pretendem instalar-se na vida dos usuários de maneira que a empresa de comunicação consiga estar presente em grande parte das atividades da pessoa” (VILCHES, 2003, p.29).

Entre as empresas que já estão investindo no desenvolvimento dessa

nova linguagem televisiva está as Organizações Globo, que aproveitaram a

convergência midiática para ampliar seus produtos e oferecerem ao

consumidor, o mesmo conteúdo em linguagens diferentes.

Os telejornais da emissora já mostram sinais de mudanças e começam

a convergir à linguagem televisiva com os outros meios de comunicação como

a internet e celular.

O Jornal Nacional, carro chefe da Central Globo de Jornalismo é o

próximo a ter sua linguagem televisiva alterada, já que, segundo os diretores

da emissora, apresentará um conteúdo exclusivo distribuído através dos

celulares (NOGUEIRA, 2009) .“O Jornal Nacional já está sendo transmitido

para os aparelhos que tem TV digital. O que se poderá fazer é assistir o jornal

em outro lugar, ou conteúdos de interesse individual. Mas os modelos de

negócios ainda estão sendo discutidos, não há nada fechado ainda. Hoje, o

investimento é a distribuição do conteúdo do canal aberto para as TVs

portáteis”, explica o Assessor de Planejamento e Projetos de Engenharia da TV

Globo Carlos de Brito Nogueira (NOGUEIRA, 2009).

Para atingir esse público de maneira mais eficaz, a emissora terá de

repensar a o que se é transmitido na televisão, já que no celular, a linguagem

deve ser rápida, dinâmica e mais fácil de ser compreendida em um curto

espaço de tempo.

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Além disso, a emissora também está em fase de testes para o

desenvolvimento de conteúdo para dispositivos móveis como trens e metrôs.

Desde 2008, há um investimento em protótipos de aplicativos interativos para

os programas, inclusive, já envolvendo os profissionais da área de produção e

criação, como é o caso do aplicativo desenvolvido para a novela Caminho das

Índias. ‘[...] desde o ano passado passamos a envolver as áreas de produção

da empresa nessas iniciativas de interatividade na TV aberta proposta pelo

SBTVD’, afirma diretor de engenharia da TV Globo São Paulo, Raimundo

Correa (LUCCA, 2009).

Segundo Carlos de Brito Nogueira (NOGUEIRA, 2009), mesmo com a

tendência de se assistir televisão em celulares a qualquer momento do dia, ele

acredita que o horário nobre não vai mudar: “Ele será o mesmo, porque são os

programas mais atrativos como novelas, realitys, telejornais são transmitidos

no horário convencional que é entre 18h e 24h, um horário que o próprio

público criou como demanda. O que vai acontecer é que a TV portátil vai ter

outros picos de audiência adicionais”(NOGUEIRA, 2009).

A emissora também pensa em criar conteúdos exclusivos para esse

público, mas de acordo com Nogueira, tudo irá depender da demanda: “À

medida que existir demanda, a emissora terá de aprender a se adaptar,

realizará pesquisas e desenvolverá um conteúdo específico para o público.

Mas ainda é tudo suposições e aprendizado” (NOGUEIRA, 2009).

Como todas as outras emissoras, a TV Globo ainda está em fase de

testes e experimentações com relação a interatividade. Apesar de ter sido uma

das primeiras a popularizar as escolhas da audiência com o programa Você

Decide, na década de 80, a emissora ainda não disponibiliza interatividade real

para o público. O assessor afirma que já foram feitos vários testes, entre eles

com o reality Big Brother, por exemplo, mas que tudo ainda é muito novo: “A

interatividade sempre chega depois, mas é normal porque em todos os países

foram assim, como nos Estados Unidos e Japão. Existem boas possibilidades

para se construir uma série de novas formas de se relacionar com os

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telespectadores e vice-versa, boas perspectivas. Mas não existem fórmulas

prontas para a interatividade. Estamos em fase de experimentação, mas no

mundo inteiro ainda não está nada fechado” (NOGUEIRA, 2009).

Outra empresa de comunicação que tem apresentado alguns resultados

a partir da convergência com as novas mídias é o Grupo Bandeirantes. Além

das emissoras de televisão rádios e jornais impressos, a Bandeirantes também

têm investido em outros nichos de mercado entre eles a TV Minuto, um canal

informativo veiculado no metrô de São Paulo. Além disso, também tem

desenvolvido aplicativos para a TV Digital Interativa e já começa a produzir

conteúdo exclusivo para o celular.

Para Luis Olivalves (2009), diretor de Interatividade do Grupo

Bandeirantes é preciso entender que a TV Digital é um meio novo e que vai

requerer adaptação tanto da parte de quem produz, quanto da parte de quem

assiste. Ele afirma que a TV Digital Interativa ainda será uma interface

dominante, que agregará valores e de maneira gratuita para o telespectador.

Com relação à linguagem, ele acredita que com a entrada da

interatividade, os formatos dos programas passarão por alterações, mas que

quando os profissionais se habituarem a incluir essa nova formatação no

conceito do programa, isso o tornará mais atraente e cativará ainda mais o

público.

Para a linguagem da televisão direcionada aos dispositivos móveis,

Olivalves é categórico. Ele acredita que o canal 1 Seg será o futuro da

televisão e que para atingir esse público, será necessária uma programação

exclusiva: “Tem que ser uma linguagem rápida, dinâmica com uma duração

diferente. Pode oferecer conteúdos mais aprofundados do que uma TV aberta

e de acordo com o público que estará assistindo” (OLIVALVES, 2009).

Olivalves concorda que as empresas devem se preparar para atingir a

todos os públicos com a expansão da TV Digital: “o que precisa é atingir os

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dois pólos extremos de telespectadores: os que já estão acostumados a assistir

televisão e os jovens que querem interagir” (OLIVALVES, 2009).

Os desafios de uma nova linguagem

A televisão tem sua matéria prima principal vinda do rádio: a fala

(Machado, 2001). Mas, a imagem aos poucos, foi criando seu espaço dentro

desse meio e se tornando algumas vezes, tão ou mais importante que a fala

em alguns momentos.

Para se ter uma ideia do alcance que a imagem representa, é possível

citar sua utilização nos telejornais, que muitas vezes, com a exposição da

imagem de algum fato, transmite ao telespectador a informação necessária

sem a necessidade de qualquer comentário.

Mas com a convergência midiática, a produção de conteúdo audiovisual

para a televisão terá que ser repensada, uma vez que através de dispositivos

móveis, os vídeos longos terão que ser editados e a linguagem verbal ainda

mais dinâmica.

Durante a National Association of Broadcasters de 2009, realizada em

Las Vegas (EUA), a opinião dos mais de 80 mil participantes era que “o futuro

da televisão aberta é móvel”. De acordo com a colunista americana Daisy

Whitney (2009) , o Mobile-DTV foi o produto mais comentado durante o evento

e está em fase de testes por algumas empresas em todo o mundo. Eles vêem

nesse nicho um novo modelo de negócios para a televisão aberta.

Entre as empresas que estão investindo estão os grupos de radiodifusão

Open Mobile Video Coalition e outras 21 emissoras, entre elas: Belo, Cox, Ion,

Hearst-Argyle, NBC Universal, Correios Newsweek, Scripps e Sinclair.

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Aqui no Brasil, a TV Digital proporcionou a possibilidade das emissoras

transmitirem seus conteúdos através de celulares ou dispositivos móveis. Mas

com tanto investimento em qualidade de imagem e som para televisão

“convencional”, como essa qualidade será repassada para esses

retransmissores? E quanto à linguagem, os gêneros e formatos já tradicionais

da televisão brasileira, irão ser mantidos ou as empresas estão pensando em

um produto diferenciado para atingir a essa nova demanda de público?

O jornalista e presidente do Instituto Brasileiro de Estudos da Televisão

(IETV) Nelson Hoineff (2009), acredita que as emissoras devem se preocupar

em criar uma nova linguagem audiovisual diferenciada para esse novo

mercado. “O conteúdo para TV móvel não deve e não pode ser o mesmo para

a TV fixa” (HOINEFF, 2009). Hoineff aponta que além da localização, esse

novo público é muito mais segmentado do que o que assiste a televisão em

casa.

“A programação móvel vai buscar o espectador onde ele estiver. (...) a

TV está se tornando mais individual e isso não tem volta”, afirma Hoineff.

(HOINEFF, 2009).

É importante pensar que essa nova maneira de ver televisão alterará a

forma de produzir e de receber esse conteúdo, tendo em vista que o

telespectador de celular não está necessariamente em busca do mesmo

conteúdo da televisão.

Se as emissoras mantêm uma grade fixa de programação em um

determinado horário (matutino, por exemplo), muitos homens ou adolescentes

que poderiam acessar a televisão através dos dispositivos móveis, tendo como

recurso a portabilidade oferecida pela TV Digital, pode não sentir interesse em

assisti-la.

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Pode estar aí um novo modelo de negócio para as empresas de

comunicação brasileiras, que terão de rever seus ‘horários nobres’ e readaptar

seus conteúdos de acordo com o público.

Hoineff acredita nessa tendência para o Brasil: “Os horários nobres

serão o de qualquer momento em que o espectador tenha com sua tv uma

relação mais individual, porque ela não estará mais pendurada em lugar algum,

estará na palma da sua mão” (HOINEFF, 2009).

Sites como o YouTube, o Justin.tv ou o Ustream.tv impulsionaram essa

nova maneira de assistir e de produzir televisão. A migração digital oferecida

pela tecnologia na televisão aponta que o usuário estará cada vez mais no

controle do conteúdo produzido pelas organizações (TIRABOSCHI, Galileu,

2009).

“A televisão deixou de ter o monopólio da distribuição da informação

audiovisual” (VILCHES, 2006, p.238). Vilches explica que devido aos suportes

que estão sendo desenvolvidos para o armazenamento de informações sonora

e visual, é possível que o espectador tenha opções de escolha e de

interatividade com a produção.

Essa possibilidade de participar da produção de conteúdo de uma

maneira mais ativa é o momento mais esperado pelos telespectadores

brasileiros.

Conclusão

A linguagem em todos os aspectos verbal, sonora ou visual permite ao

homem se expressar, se conhecer e se transformar ao longo da vida. É através

dela que as pessoas conseguem transformar pensamentos em ações e

transmitem idéias e ideais.

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Por esse motivo, a linguagem televisiva é muito importante para o meio

social e deve oferecer tanto para quem transmite quanto para quem a recebe,

as informações de maneira clara e objetiva, não importando seu formato ou

gênero.

Com a revolução tecnológica, a televisão passará a oferecer aos

telespectadores a possibilidade de interagir, de trocar informações através da

caixa. Aliás a própria televisão ultrapassou a caixa, e a explanação de Adorno

que dizia que os homens logo enjoariam de ver imagens em uma tela pequena,

bem diferente do cinema, não só estava erradas, como as pessoas estão cada

vez mais afoitas para verem essas imagens cada vez menores, a qualquer

hora em qualquer lugar.

Mas é importante lembrar que a televisão não pode perder jamais seu

principal atrativo que é criar conteúdos que atenda a grande maioria do público,

conhecida como ‘massa’. A televisão já possui uma linguagem consolidada e a

convergência midiática, assim como os novos recursos oferecidos pela TV

Digital, devem respeitar essa linguagem, já que muitos telespectadores não

terão acesso às novas tecnologias ou simplesmente por opção, continuarão a

assistir a televisão assim como ela é apresentada hoje.

Entretanto, a linguagem da televisão mudará e muito da maneira que se

é conhecida hoje. Mas, será que os distribuidores conseguirão incluir

aplicativos sem transformar radicalmente a visão que as pessoas possuem da

televisão?

A função da televisão poderá deixar de ter o conceito apenas de

entretenimento e informativo e, em algum tempo tomará seu lugar de direito

dentro da sociedade que é oferecer conhecimento e auxílio em todos os

âmbitos.

Com a inclusão da interatividade, o governo poderá transformar a TV

Digital Interativa em um meio de comunicação com a população, oferecendo

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serviços sociais, cultura, ensino a distância entre outros benefícios, tudo pela

televisão.

A definição de linguagem apresentada por Eco (icônico, lingüístico e

sonoro) terá que convergir com a tecnologia e os aplicativos desenvolvidos a

partir de software passarão a interagir em um único espaço, aumentando a

gama das linguagens acopladas na televisão.

Essa nova linguagem poderá trazer a sociedade uma nova maneira de

se relacionar com os distribuidores de conteúdo, possibilitará que essas

pessoas possam fazer.

Mas como lidar com os analfabetos digitais? Será que a TV Digital

Interativa é a chave para a verdadeira inclusão digital no país? Porque não se

utilizar de um aparelho que faz parte da vida de 98% da população nacional

para diminuir a taxa de analfabetismo, além de usar esse sistema para a

educação e saúde nesse país?

Os desafios para encontrar a linguagem televisiva ideal para a TV Digital

Interativa ainda precisam ser vencidos e as perspectivas são muitas. A fase de

testes dentro das emissoras de televisão durará alguns anos até que seja

possível oferecer um produto definitivo. Não será fácil atingir um público que

está dividido entre permanecer assistindo televisão ou transformar esse meio

em mais uma maneira de intercâmbio, alterando ainda mais sua percepção

com o mundo.

Mas, com a possibilidade de interação do telespectador, ele poderá

ajudar nesse processo de transformação, indicando o melhor caminho para as

emissoras, mostrando o que dá certo e o que precisa ser mudado.

A televisão fora da caixa já é uma realidade. É possível assistir a

programas da televisão em horários e dias diferenciados nos conteúdos

distribuídos on demand, ou seja, no momento em que o telespectador quiser

assistir, ele acessa o set-top-box, e acompanha o programa preferido. Muitos

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desses conteúdos são distribuídos pelas emissoras nos sites, depois de sua

exibição na televisão ou até antes de acontecer. A TV Globo, por exemplo,

permite que se assista a uma notícia minutos depois dela entrar no jornal pela

internet, assim como os capítulos de suas novelas, enquanto que emissoras

como a TV Cultura, apostou em oferecer na internet, conteúdos ainda não

apresentados na tv. Então, como lidar com um público que pode acessar o

conteúdo antes ou depois de sua exibição? Será que se deve mostrar esse

conteúdo na integrar ou utilizar uma linguagem diferenciada para, ao invés de

perder esse público fazer com que ele possa convergir entre as duas mídias?

Essa é uma barreira que os produtores de conteúdo terão que descobrir e

enfrentar.

O telespectador será agora a peça mais importante desse avanço. Se

antes a preocupação era com a audiência, os distribuidores de conteúdo

também devem estar atentos com a intervenção direta do telespectador, já que,

dessa vez, ele será o maior responsável pela construção da nova linguagem

televisiva.

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